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    O prprio fato de que no Palcio dos Bandeirantes, sede do governopaulista, esteja-se tramando um projeto de supostas cotas tnico-sociais jdeveria causar estranheza, visto que em duas dcadas de seu controlepoltico, a educao pblica uma das reas que mais se ressente de suaao. Embora o histrico da privatizao das universidades possa ser

    apontado desde h muito, sem dvida o choque de gesto neoliberal temcomo marcos as gestes sucessivas de Mrio Covas [2005-2001], de seuoutrora vice, Geraldo Alckmin [2001-2006; 2011-] e de Jos Serra [2007-2010].

    Aponte-se, primeiramente, a crescente presena de fundaes dedireito privado nos campi bem como a adoo de mtodos empresariais degesto que aproximam as universidades da forma-empresa. Alm do que,convnios, alianas e investimentos do grande capital, e pesquisas quebeneficiam os poderosos, no deixam dvida da crescente orientao

    privatizante da universidade.Mas algumas coisas merecem ser pontuadas, como a expanso de

    vagas [2003], sem correspondente expanso de verbas, das trs pbicaspaulistas ao longo da ltima dcada, atendendo a objetivos eleitoreiros deAlckmin; a recente criao de 11 cursos de engenharia da UNESP somenteo termo mais recente de um longo processo; em um momento deagudizao da crise na educao bsica e na sade pblica, o foco emcursos de engenharia facilmente cooptveis por grandes empresas -indicam bem o cerne da poltica universitria estadual, bastante emconsonncia com o que ocorre a nvel federal.

    O governo de Jos Serra deve ser bem demarcado, tanto pela suatruculncia, quanto pelo fato de que, desde seu primeiro dia de mandato,elegeu as universidades como ponto nodal de suas reformas o que chegoumesmo a reorientar as principais pautas do movimento unificado estadualde estudantes, trabalhadores e professores. Os clebres Decretos Serra,alm de mudanas pontuais, retiravam das universidades estaduais aautonomia didtica, financeira e cientifica, pois conferiam ao Governo doEstado a prerrogativa de indicar o presidente do Conselho de Reitores dasEstaduais Paulistas, na figura de Jos Aristodemo Pinotti, ento titular da

    recm-criada Secretaria de Ensino Superior, ao mesmo tempo em quepostulava o privilgio da pesquisa operacional sobre a pesquisa emcincia bsica e institua grave controle sobre as contas da universidade:qualquer compra ou gasto deveria ser autorizado diretamente pelogovernador.

    Embora uma forte luta estadual tenha forado um recuo parcial dogoverno, sua linha mestra de atuao em nada se alterou. Objetivandoimplantar seu programa pr mercado, elaborou-se programas e projetosparciais, ou seja, tticas diferentes para uma mesma finalidade estratgica.No mbito da legislao, aponte-se a Lei de Inovao Paulista [2008], naesteira da Lei de Inovao Tecnolgica [2005], que no s facilitava comoincentivavam os convnios entre universidades e institutos de pesquisa e

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    fomento com empresas. Um Plano Decenal de DesenvolvimentoInstitucional [PDI] tangente UNESP, brutal expanso mercadolgica de16% de vagas na UNICAMP, PROADE na USP e UNIVESP so os outrosingredientes da receita neoliberal. Por fim, aponte-se a necessria repressoreinante nas universidades, que atinge trabalhadores, professores e

    estudantes, contrapartida necessria privatizao progressiva.

    Ainda assim, diante de um histrico de brutalidade e privatizao, oPIMESP impressiona mesmo os mais chegados ao estilo neoliberal degovernar. Primeiro, pelo momento em que proposto, com estudantes etrabalhadores sendo processados pelo Ministrio Pblico, a USP sitiada pelaPM h quase dois anos e rondando muitos campi da UNESP e a UNICAMP emprofunda apatia poltica. Impressiona tambm pelo grau de demagogia,visto apoiar-se nos anseios de estudo da populao a mais precarizada paraimplantar um ataque neoliberal brutal, que desfigura completamente a

    universidade. O presente texto tem como intuito informar o que o PIMESPcomo primeiro passo para a construo da luta estadual unificada quederrote mais uma vez o governo e, desta feita, imponha de vez umauniversidade publica, gratuita, acessvel, laica, de qualidade e a servio dopovo trabalhador que a custeia.

    O Programa de Incluso com Mrito no Ensino Superior PblicoPaulista (Pimesp) inicia-se com um apanhado de estatsticas referentes asuposta quantidade de alunos advindos das Escolas Pblicas e Particularesque adentraram o Ensino Superior, incluindo tambm dados comporcentagens de pessoas classificadas por etnias como pretos, pardos,

    brancos e indgenas que adentraram ou no o Ensino Superior. O Programano apresenta em sua estrutura nenhuma fonte de onde provm estasestatsticas. Em outras crticas e textos sobre o Pimesp, vimos que estesdados podem prover do Senso do IBGE de 2011. Porm, como podemosperceber, as estatsticas so frequente e facilmente manipuladas de todasas maneiras possveis para facilitar e direcionar a interpretao favorvel edesejada pelos desenvolvedores dos programas, projetos e pesquisas.Podemos facilmente chegar a esta concluso quando nos alertamos ao fatode que no podemos ter acesso s perguntas que originaram estes dados e,menos ainda, a forma como foram conduzidas, ou seja, as distintas

    situaes sociais, polticas e econmicas que esto includas emporcentagens; um grande nmero de histrias, pessoas e sofrimentos. Aestatstica vem para mascarar e massacrar questes que necessitam serresolvidas com urgncia, como por exemplo, o acesso pblico, gratuito epara todos Educao, seja ela de nvel bsico, mdio ou superior.

    Como exemplo de desumanizao destas questes podemos elencaralguns dos dados abrangidos inicialmente pela apresentao do Pimesp,vejamos:

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    1) No Brasil:

    a) 1,9 milho de pessoas concluram o Ensino Mdio em 2005,

    equivalendo a 28,8% dos 6,6 milhes de alunos ingressantes na 1a

    srie do Ensino Fundamental em 1995.

    b) 870 mil concluram o Ensino Superior em 2011, equivalendo a

    13,1% dos 6,6 milhes de alunos ingressantes na 1a srie do Ensino

    Fundamental em 1995.

    - Primeiramente, o que houve com o restante dos alunos (71,2%) queingressaram a 1 srie do Ensino Fundamental em 1995? Este dado nosmostra claramente a defasagem das questes estruturais do ensino e doacesso educao em nosso pas. Defasagem esta que, desde osprimrdios da educao dificulta e impossibilita o acesso, a permanncia e aprpria formao crtica do indivduo, j que o desenvolvimento do senso

    crtico faz com que a pessoa se enxergue enquanto sujeito ativo social,poltico e crtico das atuais estruturas.

    2) No Estado de So Paulo:

    a) Os concluintes do Ensino Mdio em 2005 foram 59% dos

    ingressantes no Ensino Bsico em 1995.

    b) Os concluintes do Ensino Superior em 2011 foram 32% dos

    ingressantes no Ensino Bsico em 1995.

    - Nestes dados esto inclusos alunos de diferentes rendas socioeconmicas,tnicas e advindos tanto de Escolas Pblicas quanto Particulares, h deressaltar o direcionamento destes dados, j que os mesmos soapresentados para pautar um Programa de Incluso (na verdadeexcluso!) de pessoas que concluram o Ensino Mdio em Escolas Pblicas ede classificados enquanto pretos, pardos e indgenas (que no Programa soclassificados como PPIs, como se distintos grupos e distintas questes eculturas pudessem ser classificados conjunta e igualmente para o acesso aoEnsino Superior). H de destacar tambm que nem ao menos metade dosalunos (50%) ingressantes no Ensino Bsico em 1995 conseguiram ou

    tiveram a oportunidade de concluir o Ensino Superior em 2011.3) No Brasil, apenas 11% dos concluintes do Ensino Mdio tm

    proficincia em Matemtica.

    - Por proficincia entendemos: capacidade para realizar algo, dominar certoassunto e ter aptido em determinada rea do conhecimento. importanterelembrar que um dos argumentos utilizados pelos elaboradores do Pimesp(os REItores das Universidades Estaduais, Usp, Unesp e Unicamp) de que apoltica de cotas para acesso ao Ensino Superior nestas Universidadesreduziria a qualidade das mesmas. fato, alis, que no existem dados

    estatsticos disponveis que comprovem que estudantes de baixa rendasocioeconmica, negros, pardos e indgenas tenham rendimento inferior aos

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    As informaes solicitadas esto disposio de qualquer interessado nos

    relatrios anuais que a Vunesp publica de seus Vestibulares. Tendo em vista a

    resposta dos candidatos pergunta 27 (Como voc classifica a sua cor de pele? Classes adotadas pelo IBGE), perante as opes branca, parda, preta, amarela,

    indgena ou no respondida, o questionrio aplicado pela Vunesp apresentou o

    seguinte resultado:

    Medicina Integral Botucatu 0%Direito Diurno Franca 0%Arquitetura e Urbanismo Integral Bauru 2,2%Engenharia Civil Integral Bauru 0%Engenharia de Produo Mecnica Integral Guaratinguet 0%Direito Noturno Franca 1,7%Engenharia Ambiental Integral Rio Claro 0%Engenharia Mecnica Integral Bauru 0%Cincias Biomdicas Integral Botucatu 0%

    Engenharia Civil Integral Guaratinguet 0%Ressaltamos que, no Vestibular de 2011, 19% dos candidatos e 17% dos ingressantes sedeclararam negros e pardos. Apenas 4% dos candidatos inscritos se declararam negros e3% se matricularam. Entre os pardos, os dados apontam para 15% de inscritos e 13% dematriculados.

    (Fonte: http://www.unesp.br/aci_ses/noticia.php?artigo=7877)

    6) No Estado de So Paulo 76% dos matriculados no Ensino

    Superior Pblico so brancos, mas apenas 9% destes pertencem

    aos 20% mais pobres. Tambm h 21% de matriculados que so

    autodeclarados PPIs, mas apenas 13% destes pertencem aos 20%

    mais pobres da populao.

    - necessrio questionar novamente, como se do os critrios declassificao socioeconmica de pobres, mais pobres e ricos. At porque,dado os altos custos de vida nas grandes cidades, como So Paulo,Campinas, etc, famlias que conseguem sobreviver com uma renda familiarigual ou inferior 1 salrio mnimo e meio, sobrevivem na linha da misria ecom muita dificuldade de garantir sua sobrevivncia, o que implica em

    gastos com moradia, alimentao, impostos pagos nas contas de gua e luz,etc.

    7) Identifica-se que, efetivamente, tambm no Estado de So Paulo

    h necessidade de promoo de aes afirmativas para incentivo ao

    acesso ao Ensino Superior de parte da populao menos

    privilegiada financeiramente, em especial aos autodeclarados

    como PPIs.

    - Esta necessidade mais do que clara, bvia! Esta questo salta-nos aos

    olhos diariamente atravs das contradies sociais, e no necessrio umapanhado de estatsticas e porcentagens desumanas para enxergar tal

    http://www.unesp.br/aci_ses/noticia.php?artigo=7877http://www.unesp.br/aci_ses/noticia.php?artigo=7877
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    necessidade gritante! Mas no ser um Programa que exclui atravs dameritocracia, do ensino distncia, e da separao em tempo de conclusoe acesso ao Ensino Superior como o Pimesp que assegurar essapossibilidade e direito populao.

    8) Um dos mitos mais recorrentes no debate sobre ensino superiorno Brasil que os ricos estudariam nas instituies pblicas e os

    pobres nas instituies privadas. Os dois quintis de renda

    inferior (Q1 e Q2) respondem por 22% dos matriculados no Ensino

    Superior Pblico e por 16% dos matriculados no Ensino Superior

    Privado. No quintil de menor renda (Q1) o percentual de estudantes

    nos ES Pblico quase o dobro dos 6% matriculados no ES Privado.

    - necessrio saber se nestes dados estatsticos constam alunos quecursam o Ensino Superior Privado atravs de programas governamentaiscomo Pr-Uni e Fies, j que a maioria dos estudantes de baixa rendasocioeconmica conseguem o acesso ao Ensino Superior por meio destaspolticas governamentais que investem direta e/ou indiretamente nasInstituies de Ensino Privada.

    Todas estas crticas e apontamentos foram feitos sem mencionarmoso fato de que, ao concluirmos a leitura deste Programa de segregaomeritocrtica, econmica, social e tnica, percebemos claramente quepessoas, situaes e questes emergenciais so tratadas como simplesnmeros, porcentuais e quantidade de matrculas. Tanto que o Programano descreve, menos ainda detalha as condies que garantiro de fato quealunos matriculados possam tem condies (no s econmicas e de

    permanncia estudantil) de se manterem e conclurem o curso. O que nostorna clara a inteno do governo e do estado de corresponderem adeterminaes e exigncias polticas, tanto internas quanto externas(internacionais), ao apresentar nmeros de alunos que, ilusoriamente, pormeio deste processo podero ter a possibilidade de adentrar Universidadeou aos cursos tcnicos oferecidos pelo Centro Paula Souza.

    Toda estatstica oculta um sofrimento, guardando um sonho assassinado emsua gnese, massacrando com nmeros, tabelas e grficos o que h dehumano neste mundo.

    Atualmente, o caminho para ingressar nas universidades no Brasil se d atravsdo vestibular. Mascarado como um suposto meio para incluso das pessoas no ensino

    superior, o que na verdade o vestibular faz excluir os que no possuem os

    conhecimentos (ou informaes, visto que o que medido nessas provas um acumulo

    de informaes e no conhecimentos consolidados de fato) solicitados das

    universidades, o que pode ser comprovado quando comparamos os ndices de pessoas

    que ingressam nas universidades e os que so barrados.

    O fato que possuir ou no esse acumulo de informaes estar condicionadopor uma srie de fatores que esto relacionadas com a estrutura de diviso social de

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    classes que nossa sociedade est organizada. Estudantes da classe trabalhadora e mais

    pobres que estudam nas escolas pblicas dificilmente tero acesso ao conjunto de

    conhecimento solicitado tanto no ENEM quanto nas provas de vestibular (isso mesmo

    quando chegam a concluir o ensino fundamental e mdio), j que como abordado no

    incio do texto, o projeto de educao em voga no o de garantir que todos/as tenham

    acesso a uma educao de qualidade. H a educao para formar os intelectuais e

    tericos para ocupar cargos burocrticos e de direo e a educao para formar mo-de-

    obra e ainda um contingente de mo-de-obra de reserva.

    As universidades, sobretudo as universidades pblicas, ditas de excelncias,

    esto a servio de grandes empresas e dos governos, basta olhar de onde vem os

    financiamentos, para que e quem servem as pesquisas e o que so feitas com elas. Para

    esse fim que existe a defesa de que a construo desse conhecimento de ponta seja

    feita pelos melhores, pelos que conseguem fazer uma maior pontuao nessas provas

    de nivelamento e depois seguem tendo um alto nvel de desempenho ao longo da

    graduao, de acordo com os respectivos critrios de avaliao.

    Alm de tais critrios de avaliao partirem de um direcionamento especifico o

    que j ir limitar e delimitar as vias e possibilidades de atuao dentro das

    universidades, extremamente difcil que filhos da classe trabalhadora possam se

    manter estudando, haja vista que devero trabalhar, j que as polticas de permanncia

    estudantil no so prioridade das reitorias e governos, e, tendo que exercer algum

    trabalho remunerado, a dedicao nas atividades acadmicas de longe no sero as

    mesmas que outro estudante que tenha condies financeiras de se manter somente se

    dedicando aos estudos......

    Talvez como resposta a denuncias de falta de condies para alunos mais pobres

    se manterem nas universidades, consta no projeto que como forma de promoo de

    permanncia dos alunos no Ensino Superior (ponto A.1.2), estudantes com rendamensal familiar igual ou inferior a 1,5 salrio mnimo, recebero uma bolsa de

    R$311,00 por ms, sendo que tero que passar por avaliaes mensais em relao as

    atividades escolares. Alm do valor da bolsa ser ridculo, tendo em vista que muito

    difcil manter ao menos a alimentao e transporte que, conforme consta no projeto,

    o destino das bolsas com esse dinheiro, nos dados oramentrios que iro para bolsas

    assistenciais que so apresentados, j levado em conta um alto ndice de desistncia

    por parte dos estudantes. O que denuncia que o objetivo desse plano no que osestudantes que passaro pelo curso sequencial concluam os cursos universitrios, como

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    expresso tambm quando apresentado como objetivo apenas o aumento dos ndices

    de matriculados e no de concluintes.

    Para fazer valer tal projeto de educao tirado o peso dos fatores sociais e do

    projeto de sociedade da desigualdade no acesso efetivo a um ensino de qualidade e tal

    peso posto em cima dos indivduos, cabendo a cada indivduo ter o mrito e

    competncia de entrar na universidade, de conclu-la, de conseguir um bom emprego, de

    se bem sucedido na vida, enfim. Mesmo a prpria democracia burguesa defendendo a

    educao como um direito de todos, o vestibular serve justamente para legitimar que o

    ensino, mesmo o pblico, ser para poucos.

    Nesse sentido, o PIMESP, se implantado, servir para intensificar mais ainda tal

    lgica. explicito que a partir dele a insero dos candidatos se dar por via do suposto

    mrito individual, contando tambm com outros mecanismos de barreira.

    Nesse sentido, o PIMESP, se implantado, servir para intensificar mais ainda tal

    lgica. explicito que a partir dele a insero dos candidatos se dar por via do suposto

    mrito individual, contando tambm com outros mecanismos de barreiras, como o

    prprio curso sequencial que os estudantes tero que fazer. Com a criao do ICES

    (Instituto Comunitrio de Ensino Superior), a ideia de ter um curso sequencial a

    distncia de dois anos, em que ao fim do primeiro ano, estudantes que atinjam o

    aproveitamento de 70% podero ingressar em FATECs e, ao fim do segundo ano, se

    atingirem o aproveitamento tambm de 70%, podero optar por outras instituies de

    ensino superior paulista (USP, UNESP, UNICAMP, FAMEMA e FAMERP). Nesse

    sentido, a defesa e argumentos dos que so a favor tanto do PIMESP quanto das

    exigncias dos vestibulares, so a contemplados, visto que o papel para fins privados

    das universidades poder ser mantido com esses moldes de insero elitizados e

    meritocrticos.

    O Instituto Comunitrio de Ensino Superior possui como referncia o sistema decommunity colleges implantado em alguns pases como EUA, Austrlia e Canad que

    oferecem cursos superiores de formao profissionalizante voltado apara atender as

    demandas locais dentro de um perodo de dois anos com certificado de graduao.

    No a primeira vez que a profissionalizao integrada ao ensino mdio no Brasil.

    Durante a ditadura militar foi implantado a diviso das cincias em humanas, exatas

    e biolgicas com a inteno de encaminhamento profissionalizao bsica. A

    proposta do college brasileiro seria de uma preparao prvia para a populao

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    classificada como Pretos, Pardos, Indgenas e Pobres para o ingresso na universidade,

    cumprindo um papel de cotas na universidade.

    A implantao do programa apresentado se daria atravs do ensino a distncia, o

    que traz graves problemas e apresenta uma srie de questionamentos como:

    A excluso social por meio do ensino a distncia, visto que os alunos de escolas

    pblicas no teriam acesso estrutura da universidade e a comunidade

    universitria, elitizando ainda mais o espao universitrio.

    A excluso se d tambm pelo fato de necessariamente ter acesso a tecnologia,

    da necessidade de ter um computador, acesso a internet, impresso de material,

    etc.

    Como seriam computadas ou dadas as presenas? Seria semi-presencial? Teria

    uma periodicidade de freqncia pessoal? Onde sero essas sedes, tem estrutura?

    Se sim como se daria o auxlio transporte, tendo em vista que um dos critrios

    para se tirar a passagem de estudante de que o curso seja obrigatrio como

    ensino mdio, fundamental, o que exclui cursos pr vestibulares, por exemplo, e

    que o programa pretende atender alunos de baixa renda.

    Por quem seriam ministrados esses cursos? Qual a estrutura de assistncia,

    dvidas, distribuio de material, correo, acompanhamento?

    Outra questo do PIMESP a de renegar a dialtica com os problemas

    estruturais da educao pblica. O projeto mantm uma estrutura de reforo de

    ensino mdio que sero ministradas por duas instituies (ICES e UNIVESP). Qual

    a necessidade de duas instituies para oferecer esse reforo? Se necessrio um

    reforo deixa claro que tem problemas estruturais dentro da educao pblica. Os

    problemas estruturais da educao tambm podem ser observados na carga horria e

    quantidade de mdulos das disciplinas. Disciplinas bsicas como portugus e

    produo de texto possuem o dobro de carga horria que as demais, fato que

    denuncia o analfabetismo.

    Para atingir os 70% proposto pelo projeto como seriam o mtodos de avaliao,

    o nvel dos cursos que apresentam disciplinas que no foram introduzidas no ensino

    mdio privado e muito menos pblico?

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    As disciplinas apresentadas pelo projeto fogem claramente do processo de

    ingresso na universidade pelo sistema de cotas. So totalmente voltadas para satisfazer e

    manter um projeto neoliberal de educao uma vez que se produz um conhecimento

    fragmentado e tcnico voltado para o mercado de trabalho e no para a produo de

    saber. Como por exemplo, analisemos a rea de Linguagens que composta por

    quatro mdulos de Leitura e Produo de Texto com a carga horria de 80 horas cada

    mdulo num total de 320 horas; quatro mdulos de Ingls com a carga horria de 40

    horas cada mdulo num total de 240 horas; Textos Fundamentais de Literatura

    composta por dois mdulos com a carga horria de 40 horas cada mdulo num total de

    80 horas. Matrias como por exemplo, Administrao do Tempo, Inovao e

    Empreendedorismo, Liderana e Trabalho em Equipe, Sociedade, tica e

    Cidadania contribuem claramente para a formao voltada exclusivamente para o

    mercado de trabalho, o que alis est descrito no prprio programa e em sua

    estruturao, j que aps 1 ano de realizao do curso na modalidade distncia o aluno

    j poder ingressar em cursos tcnicos oferecidos pelo Centro Paula Souza, mas no nas

    universidades. Estas so matrias que de forma alguma preparam os alunos para uma

    formao crtica, de abordagem histrica, social e poltica, mas que os condicionam a

    conhecimentos de abordagem mercadolgica e tecnicista. O que acrescentar aos

    ingressantes na maioria dos cursos das universidades estaduais? Qual a relao dessas

    disciplinas com o ingresso no ensino superior pelo sistema de cotas? Quais deficincias

    do ensino mdio, proposto pelo prprio projeto, esses cursos pretendem sanar? So

    matrias voltadas para o lucro privado, sendo matrias que no proporcionam

    conhecimentos especficos bsicos exigidos por alguns cursos. Como por exemplo, a

    rea de Cincias Biolgicas e da Sade que composta somente por Vida e Meio

    Ambiente I e II; Atividade Fsica, Sade e Qualidade de Vida. A ausncia de

    matrias bsicas da rea cincias humanas, como Histria e Geografia, no por umacaso, demonstra claramente o real interesse do Governo de acabar com a formao

    histrica, social e crtica do indivduo. Como exemplo disto, devemos citar tambm o

    Projeto que foi implementado este ano no estado de So Paulo, que aboliu das grades

    dos cursos integrais do Ensino Fundamental e Mdio, as matrias de Histria, Geografia

    e Cincias, todos estes planos, que por sinal foram e esto sendo muito bem elaborados,

    fazem parte do Projeto Neoliberal de Educao oferecido pelo Estado em aliana com

    grandes coorporaes, o marcado de trabalho e o ensino privado.

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    O PIMESP estabelece um regime de metas cujo objetivo garantir o acesso aoensino superior, de forma equilibrada, a alunos oriundos de escolas pblicas e,dividindo as vagas destinadas a estes com as chamadas PPIs (pretos, pardos eindgenas). Como atingir tal equilbrio? A resposta apresentada pelo programa que50% das matriculas do Ensino Superior nas universidades pblicas e no Centro PaulaSouza sejam destinadas a essa parcela da populao. Considerando o projeto, os meiosapresentados para atingir tal meta, fica evidente a incoerncia entre o mtodo e oobjetivo proposto, entretanto, permanece a questo, como garantir um acesso efetivo universidade de forma que o ensino no seja apenas mais uma mercadoria?

    A partir da dcada de 90 o Estado brasileiro, aplicando as politicas neo-liberais,foi, aos poucos, abrindo caminho para setores privados dentro das universidades

    pblicas. Essa abertura, consequentemente, permeia a produo cientifica dentro doEnsino Superior (tradicionalmente tida como a principal atividade nas universidades),

    voltando esta para os interesses de grandes empresas. Ao mesmo tempo em que seinsere o setor privado no domnio pblico o Estado se desresponsabiliza. Evidencia-seento o carter lucrativo que assume o ensino superior.

    O processo de mercantilizao do ensino superior vem acompanhado de umdiscurso democratizante, no qual se estabelece uma relao entre os investimentos

    privados e um amplo acesso s universidades. Apoiados nessa poltica criam-se diversosprogramas educacionais: Programa Universidade Para Todos (Pro Uni), ensinos adistancia (EaD), Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso dasUniversidades Federais (Reuni).

    Durante o debate realizado na Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp/Marliasobre o tema, levantamos, como medida paleativas, a proposta de estabelecer cotas

    proporcionais, levando em conta a populao enquadrada no parmetro scial-etnico decada estado, para o acesso ao ensino superior. Contudo, entendemos que essas soapenas medidas imediatas, sendo necessrio a construo de uma ampla luta pelo acessoamplo da populao pobre na universidade, firmando ento a possibilidade de que oconhecimento produzido dentro desta instituio seja realmente til para o povo.

    imprescindvel que para chegar a uma resoluo sobre tais problemas selevante um extenso debate sobre a atual situao das universidades, considerando a

    massiva entrada de capital privado dentro destas, suas polticas de permannciaestudantil, a herana violenta que atinge a populao negra e indgena, amercantilizao do ensino e o prprio sistema do vestibular em si tido como uma

    barreira para o livre acesso s universidades.