textos sobre desigualdades sociais.2015

8
TEXTOS SOBRE DESIGUALDADES SOCIAIS MUNDO 10/06/2015 09:55 Novo escândalo de violência policial contra negros nos EUA REUTERS/Mike Stone Protesto em McKinney: Depois de ser suspenso no domingo, o policial apontado por ter agido de forma excessiva, Eric Casebolt, decidiu renunciar Um policial americano que sacou a arma para deter adolescentes negros que organizavam uma festa em uma piscina no Texas renunciou ao cargo após a difusão viral de imagens na internet. O vídeo sobre o incidente na pequena cidade texana de McKinney, localizada 50 km ao norte de Dallas, reavivou o tenso debate que sacudiu os Estados Unidos nos últimos meses sobre o uso excessivo da força por parte dos policiais brancos quando devem agir contra suspeitos negros. Depois de ser suspenso no domingo, o policial apontado por ter agido de forma excessiva, Eric Casebolt, decidiu renunciar, anunciou nesta terça-feira o chefe da polícia de McKinney, Greg Conley, durante uma coletiva de imprensa. "Nossa política, nosso treinamento, nossa prática, não apoiam estas ações", disse Conley à imprensa. Quando o agente chegou estava "fora de controle e, como mostra o vídeo, estava fora de controle durante o incidente", acrescentou. Um vídeo filmado por um dos adolescentes e publicado no YouTube mostra Casebolt gritando obscenidades aos jovens enquanto ordena que eles se deitem no chão. Em uma cena caótica, na qual é possível ver jovens correndo ao redor de uma piscina para escapar da polícia, Casebolt aparece jogando uma menina em traje de banho no chão, e depois sacando sua pistola quando dois adolescentes negros se aproximam, ao que parece para tentar ajudá-la. As autoridades lançaram uma investigação após ficarem cientes da existência do vídeo, que também foi divulgado por várias redes de televisão nos Estados Unidos. "As ações de um indivíduo não definem nossa comunidade", enfatizou o prefeito Brian Loughmiller. No incidente "vimos doze policiais agirem no local, e onze deles se comportam de acordo com a formação que receberam", disse o chefe policial Conley, que fez toda a responsabilidade recair sobre Eric Casebolt. Segundo a polícia, a comunidade pediu sua presença porque um grupo de jovens que não estavam convidados à festa se apoderaram da piscina e se negavam a sair.

Upload: ricardo-ogusku

Post on 02-Dec-2015

104 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

TEXTOS SOBRE DESIGUALDADES SOCIAIS

MUNDO 10/06/2015 09:55

Novo escândalo de violência policial contra negros nos EUA REUTERS/Mike Stone

Protesto em McKinney: Depois de ser suspenso no domingo, o policial apontado por ter agido de forma excessiva, Eric Casebolt, decidiu renunciar

Um policial americano que sacou a arma para deter adolescentes negros que organizavam uma festa em uma piscina no Texas renunciou ao cargo após a difusão viral de imagens na internet.

O vídeo sobre o incidente na pequena cidade texana de McKinney, localizada 50 km ao norte de Dallas, reavivou o tenso debate que sacudiu os Estados Unidos nos últimos meses sobre o uso excessivo da força por parte dos policiais brancos quando devem agir contra suspeitos negros.

Depois de ser suspenso no domingo, o policial apontado por ter agido de forma excessiva, Eric Casebolt, decidiu renunciar, anunciou nesta terça-feira o chefe da polícia de McKinney, Greg Conley, durante uma coletiva de imprensa.

"Nossa política, nosso treinamento, nossa prática, não apoiam estas ações", disse Conley à imprensa. Quando o agente chegou estava "fora de controle e, como mostra o vídeo, estava fora de controle durante o incidente", acrescentou.

Um vídeo filmado por um dos adolescentes e publicado no YouTube mostra Casebolt gritando obscenidades aos jovens enquanto ordena que eles se deitem no chão.

Em uma cena caótica, na qual é possível ver jovens correndo ao redor de uma piscina para escapar da polícia, Casebolt aparece jogando uma menina em traje de banho no chão, e depois sacando sua pistola quando dois adolescentes negros se aproximam, ao que parece para tentar ajudá-la.

As autoridades lançaram uma investigação após ficarem cientes da existência do vídeo, que também foi divulgado por várias redes de televisão nos Estados Unidos.

"As ações de um indivíduo não definem nossa comunidade", enfatizou o prefeito Brian Loughmiller.

No incidente "vimos doze policiais agirem no local, e onze deles se comportam de acordo com a formação que receberam", disse o chefe policial Conley, que fez toda a responsabilidade recair sobre Eric Casebolt.

Segundo a polícia, a comunidade pediu sua presença porque um grupo de jovens que não estavam convidados à festa se apoderaram da piscina e se negavam a sair.

A advogada de Casebolt, Jane Bishkin, disse que ele decidiu renunciar à polícia após uma reunião com "autoridades de assuntos internos a respeito das eventuais acusações que podem ser formuladas contra ele".

Nos últimos meses vários casos de agressões e uso excessivo da força por parte de policiais, em particular contra membros das comunidades negras e de outras minorias nos Estados Unidos, geraram protestos que em alguns casos se tornaram violentos e levaram o governo do presidente Barack Obama a se envolver abertamente.

Na semana passada o departamento de Justiça abriu uma investigação sobre denúncias de práticas discriminatórias na polícia de Baltimore (leste), onde a morte no dia 19 de abril de Freddy Gray, um negro de 25 anos, provocou fortes manifestações de repúdio.

Gray morreu dias depois de sofrer graves ferimentos na coluna após sua prisão pela polícia.

Seu funeral foi seguido de protestos e distúrbios que deixaram centenas de lojas saqueadas, dezenas de policiais feridos e centenas de manifestantes presos nesta cidade portuária de 620.000 habitantes do nordeste dos Estados Unidos.

Ao incidente de Baltimore se somam muitos casos de mortes de negros desarmados pelas mãos da polícia, como aconteceu em Ferguson (Missouri, centro) e Nova York (leste), que foram seguidos também de violentos protestos nas ruas.

http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/novo-escandalo-de-violencia-policial-contra-negros-nos-eua

O palpiteiro Alexandre Garcia e as cotas Postado em 24 out 2015 por : Cidinha Silva

Dia desses um palpiteiro global de política, economia, educação e costumes fez mais uma. Alexandre Garcia, em incursão midiática diária, deu voz histriônica à Casa Grande ao atribuir às cotas a responsabilidade pela institucionalização do racismo no Brasil.

A atribuição ocorreu como ataque ao Simples Nacional. Um siste-ma adotado pelo Governo Federal desde 2007 para tributar de maneira diferenciada as microempresas e empresas de pequeno porte com renda bruta anual de até 360 mil reais. Um dos argu-

Ele

mentos do palpiteiro foi de que o processo seria complicado pelo quesito raça/cor do formulário.

Operadores de mídia como Alexandre Garcia vivem em um mundo particular de invenção de verdades, à revelia da pes-quisa séria feita na universidade e institutos de pesquisa científica. Ao mesmo tempo veicula discurso descolado da vida do povo e o vende a este mesmo povo, como ópio, via televisão. O jato verborrágico sobre as cotas e a institucionaliza-ção do racismo é exemplar.

O palpiteiro não sabe que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE é um dos órgãos de recenseamento mais respeitados do mundo. Nosso IBGE exporta tecnologia para a América Latina, Caribe e África pelo menos desde a década de 1980. Tem assessorado processos diversos e complexos de contagem humana, por exemplo, aqueles levados a termo no Haiti, pós-terremoto de 2010.

Foram os técnicos do IBGE que depois de décadas de pesquisa, produção de conhecimento qualificado e debate com a sociedade civil organizada chegaram à categoria raça/cor, no afã de abarcar os complexos e diversificados sistemas de classificação racial vigentes no Brasil, desde o recenseamento de 1872. São cinco as categorias adotadas pelo IBGE: preto, pardo, indígena, amarelo e branco. Atribuídas às pessoas por elas mesmas, ou seja, por auto-classificação.

O levantamento dessa informação pelo IBGE atende a dois vetores fundamentais: primeiro, respeita o levantamento do tema feito pelos recenseamentos no país desde 1872. Quem trabalha com números comparados, mesmo de maneira rudimentar (procedimento evitado por quem inventa verdades), sabe que as categorias precisam ser mantidas ao longo do tempo para que possam ser comparadas. Por isso, a partir de estudos de viabilidade técnica, o IBGE concluiu que a melhor forma de levantar informações para retratar o matiz racial da sociedade brasileira e compreender as mudanças e flutuações dos grupos raciais e étnicos é pela aferição da categoria raça/cor.

Quanto ao segundo vetor, desde o censo de 1991, o IBGE tem se notabilizado pelo diálogo com a sociedade civil e pela sensibilidade para a reformulação de alguns itens já constantes do questionário, bem como a inclusão de outros, quando possível e tecnicamente sustentados. Vale lembrar que a incompetência e descaso da equipe de Fernando Collor com a

manutenção do Censo a cada decênio interrompeu uma longa série. Como resultado o Censo de 1990 foi realizado em 1991.

No escopo desse diálogo, discutiu-se a partir de meados dos anos 1990, a possibilidade de incluir o quesito negro, como opção de auto-classificação no Censo que seria realizado em 2010. Tecnicamente não foi possível fazê-lo, pois além de quebrar a série histórica seria oneroso. Contudo, adota-se desde aquela década a estratégia de somar as informações demográficas de pessoas autodeclaradas pardas e pretas para configurar a informação geral sobre o grupo negro. Isso é possível porque as diferenças entre os dois grupos, pretos e pardos, não são demograficamente significativas. Atende-se assim a uma demanda da sociedade civil organizada e respeita-se a forma como cada indivíduo recenseado percebe a si mesmo do ponto de vista do pertencimento racial.

Pois bem, informamos a Alexandre Garcia que é pelos motivos elencados nessa crônica que o IBGE mantém o quesito raça/cor em seu questionário. É por este motivo também que as pessoas e instituições preocupadas com o conhecimento aprofundado da realidade brasileira o valorizam e aplicam.

O preenchimento do item raça/cor nos possibilita saber quantos negros auferem lucro suficiente para serem aceitos na Federação das Indústrias de São Paulo, a FIESP, e quantos são pequenos e microempresários. Este item nos questioná-rios permite-nos quantificar o número de negros e brancos em determinados setores, a exemplo do Ministério Público, do corpo docente das universidades, das demais categorias profissionais de prestígio.

É óbvio que para pessoas como Alexandre Garcia perceber onde estão negros e brancos nos extratos sociais do país não passa de mera constatação visual. Nesse exercício, abundâncias e ausências são naturalizadas. Dessa forma, a presença massiva de trabalhadores negros nas imagens da greve dos garis de 2013, no Rio de Janeiro, bem como a ausência de pessoas negras em qualquer turma de formandos de Medicina verificada em qualquer universidade federal do Brasil, no período pré-cotas (antes de 2002) são demonstrações de que as coisas estão nos seus devidos lugares.

As cotas para negros nas universidades públicas, a lei de cotas referendada no STF em 2013, desestabilizam esse terre-no, provocam rachaduras incômodas nos alicerces da Casa Grande. Elas provocam as conexões de Alexandre Garcia com a ditadura civil-militar e com Paulo Maluf, tornando mais peçonhento o veneno que escorre pelo cantinho de seus lábios todas as vezes que a cabine de controle da casa grande é ameaçada.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-palpiteiro-alexandre-garcia-e-as-cotas-por-cidinha-da-silva/

Comissão da Mulher Advogada da OAB dá uma aula a um professor promotor ignorante sobre gênero Por Conceição Oliveiraoutubro 29, 2015 15:52 NOTA DE REPÚDIO Considerando o trabalho desenvolvido pelo Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva – CAO – do Ministério Público do Estado de São Paulo, em estrita consonância com o princípio da dignidade humana, nuclear no ordenamento Constitucional Brasileiro, nós, advogadas e advogados defensores dos Direitos da Mulher e Direitos Humanos, e demais membros da sociedade civil sorocabana, vimos manifestar REPÚDIO ao posicionamento público jocoso emanado do DD Promotor de Justiça e Professor Dr. Jorge Alberto de Oliveira Marum em postagem na rede social, desrespeitando a dignidade das mulheres a pretexto de criticar questão veiculada no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

Conforme exaustivamente sabido e discutido tanto pelo CAO como pelos órgãos de garantia e defesa dos direitos das mulheres e meninas, os índices de violência e exclusão contra as mulheres nas diversas sociedades são alarmantes e inaceitáveis. Pois diferente de outros tipos de violências, esta não se processa apenas como violência entre pessoas, mas sim como violência de gênero, aplicada pelo fato de uma das partes coisificar e desumanizar a outra, por ter sido socializado por uma cultura que legitima esta violência atribuindo papéis sociais desiguais.

Salientamos que a desigualdade não é o mesmo que a diferença, a diferença/diversidade é positiva, somos diferentes e isso é bom, mas a desigualdade implica injustiça, e nenhuma injustiça deve ser perpetrada contra um ser humano devido a seu gênero.

Cabe aqui outra explicação de conceitos que o referido professor parece não ter conhecimento: gênero não é o mesmo que sexo, o sexo é biológico, nascemos com o sexo, já o gênero é uma construção social. Análise esta, pontuada nos estudos das ciências humanas e da sociedade como a Sociologia, a História por exemplo. Portanto a propositura deste conteúdo em avaliações como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mostra consonância

com a realidade social brasileira e internacional, sua historicidade e contemporaneidade.

Somos seres sociais, influenciados por padrões de pensamento e comportamento repetidos diariamente, construídos ao longo da história. Desenvolvemos nossa identidade neste processo ao longo da vida e este desenvolvimento é bloqueado pela sociedade machista, o machismo este que afeta não só as mulheres, mas todas as pessoas.

A feminilidade assim como a masculinidade são construções sociais. Os números da violência contra as mulheres e meninas, estão diretamente relacionados a esta perpetuação de pensamento e comportamento sexista/machista que coloca as mulheres como cidadãs/pessoas de segunda classe na sociedade por gerações e gerações.

Assim, consideramos como inaceitável tal comportamento vindo de um Promotor que atua como professor universitário de uma das mais qualificadas e respeitadas Faculdades de Direito do Estado de São Paulo. Posicionamento este que fere, silencia e deslegitima uma luta, que por séculos vem reivindicando e conquistando os direitos humanos das mulheres e meninas, ponto acordado não só na Constituição Federal, mas por tratados internacionais.

Sendo assim, posturas contrárias à Constituição Federal, e Tratados Internacionais de Direitos Humanos, e manifestações públicas sexistas e discriminatórias contra a mulher proferidas pelo Promotor de Sorocaba em seu perfil em redes sociais (Facebook), mesmo que em tom de ironia, comprometem sua atuação profissional e demostram a ignorância quanto ao tema, tão importante e relevante para a conquista de uma sociedade mais justa para todos e todas. Reiteramos nossa nota de repudio ao mesmo.

Sorocaba, 29 de Outubro de 2015. Comissão da Mulher Advogada da 24.ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil – Sorocaba/SP.

http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/10/29/comissao-da-mulher-advogada-da-oab-da-uma-aula-um-professor-e-promotor-ignorante-sobre-genero/

Elisa Lucinda, Conceição Evaristo e Lívia Natália Publicado há 19 horas - em 30 de outubro de 2015 » Atualizado às 15:10 A performance das três autoras citadas, reconhecidas por seu trabalho como escritoras e poetas, sinaliza um tempo novo que não nos encarcera em cercadinhos de fazeres possíveis às mulheres negras. É a consolidação de um caminho sem volta que aponta para nossa chegada a lugares que nos pertencem

Por Cidinha da Silva*, do Revista Fórum

Aquela segunda quinzena de outubro entrou para a História. O rosa se transformou em negra. Três escritoras estiveram em destaque. Era a consolidação de um caminho sem volta que aponta para nossa chegada a lugares que nos pertencem.

Elisa Lucinda, poeta consagrada, em sua estreia como roman-cista tornou-se finalista do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria “Autor estreante com mais de 40 anos”. O romance Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (Record), muito elogiado e lido, cria uma biografia do poeta português a partir de uma leitora que conhece profundamente a obra e o autor, Elisa Lucinda.

Conceição Evaristo, decana da Literatura Negra no Brasil, recebeu o reconhecimento do cânone por meio da indicação do esperado livro de contos, Olhos d’Água (Pallas), ao Prêmio Ja- buti na categoria “Contos e Crônicas”. No livro constam os melhores e mais conhecidos textos da autora publicados na série Cadernos Negros do Quilombhoje, iniciativa de 37 anos de vida ininterrupta na Cidade de São Paulo.

Lívia Natália, poeta e teórica de literatura, teve participação antológica na Festa Literária de Cachoeira, FLICA, ao lado de Sapphire, autora do premiado romance Preciosa (Record). Lívia desfilou e destilou conhecimento, sagacidade, ironia, posi-cionamento político. Beleza e apuro de linguagem deram a tônica dos versos do livro novo, Correntezas e outros estudos marinhos (Ogum’s Toques Negros) e de sua intervenção como um todo, puxando para cima todas nós que sonhamos escrever com a mesma desenvoltura.

A performance das três autoras sinaliza um tempo novo que não nos encarcere em cercadinhos de fazeres possíveis às mulheres negras. De horizontes amplos, de machados e perfume, de canetas de ferro e melaço na tinta. Tempo de plenitude nas polifonias, policromias, ressignificações. Tempo da divindade Tempo e seu movimento de fazer dançar a memória, de ir e vir em curvas, do devir e das encruzilhadas.

*Cidinha da Silva é escritora. Publicou, entre outros, Racismo no Brasil e afetos correlatos (Conversê, 2013) e Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil (FCP, 2014). Despacha diariamente em sua fanpage ( https://www.facebook.com/cidinhadasilvaescritora ).

http://www.geledes.org.br/elisa-lucinda-conceicao-evaristo-e-livia-natalia/#gs.oE=M4SU

Comissão da Verdade: Ao menos 8,3 mil índios foram mortos na ditadura militar Amazônia Real - 11/12/2014 20:44

KÁTIA BRASIL e ELAÍZE FARIAS

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) incluiu em seu relatório final um número limitado de 10 etnias indígenas entre as 434 vítimas de graves violações de direitos humanos ocorridas no Brasil durante a ditadura militar entre 1964 a 1985. Segundo o relatório, no período investigado ao menos 8.350 indígenas foram mortos em massacres, esbulho de suas terras, remoções forçadas de seus territórios, contágio por doenças infecto-contagiosas, prisões, torturas e maus tratos. Muitos sofreram tentativas de extermínio.

No capítulo “Violações de direitos humanos dos povos indígenas” consta que entre os índios mortos estão, em maior número 3.500 indígenas Cinta-Larga (RO), 2.650 Waimiri-Atroari (AM), 1.180 índios da etnia Tapayuna (MT), 354 Yanomami (AM/RR), 192 Xetá (PR), 176 Panará (MT), 118 Parakanã (PA), 85 Xavante de Marãiwatsédé (MT), 72 Araweté (PA) e mais de 14 Arara (PA).

O relatório afirma que o número real de indígenas mortos no período pode ser maior.

Deve ser exponencialmente maior, uma vez que apenas uma parcela muito restrita dos povos indígenas afetados foi analisada e que há casos em que a quantidade de mortos é alta o bastante para desencorajar estimativas”.

A investigação sobre as mortes dos índios brasileiros foi publicada no capítulo do relatório denominado “Violações de direitos humanos dos povos indígenas” de responsabilidade individual da psicanalista Maria Rita Kehl. O capítulo não responsabiliza os autores dos crimes, mas recomenda a continuidade das investigações, pedidos públicos de desculpas do Estado, regularização das terras, desintrusão, recuperação ambiental das reservas e a reparação coletiva.

O capítulo reconhece “o Estado brasileiro pela ação direta ou omissão, no esbulho das terras indígenas ocupadas ilegalmente no período investigado e nas demais graves violações de direitos humanos que se operaram contra os povos indígenas articuladas em torno desse eixo comum”.

Atualmente a população brasileira é composta por 900 mil índios de 305 etnias, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai).

O pesquisador Maiká Schwade, integrante do Comitê Estadual de Direito à Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, disse à Amazônia Real que o relatório final da CNV é, em parte, uma vitória dos movimentos sociais de modo geral e em particular dos movimentos que puseram em discussão a questão indígena, mas ele criticou a “superficialidade” do capítulo dedicado aos povos indígenas.

Maiká Schwade, que é doutorando em Geografia Agrária, defendeu a criação de uma comissão cujos trabalhos completem a investigação da CNV.

“São mais de 8.500 mortos que permanecem sem direito a identidade pessoal e política, como se fossem pessoas de segunda categoria ou nem isso. É preciso ficar claro de que não são 434 vítimas, mas 8.934 ou mais. Todos têm nome, todos morreram por uma causa. Que causa defendiam os 8.500 nomes esquecidos?”, questionou Maiká que, junto com seu pai, Egydio Schwade, realizou um vasto trabalho de pesquisa de violações nas décadas de 70 e 80 contra o povo Waimiri-Atroari, no Amazonas. Parte das apurações do Comitê serviu de base para o relatório da CNV.

Maiká Schwade destaca que é preciso uma nova investigação formada por uma comissão pluricultural.

“Isso é importante para que não seja criado um espaço segregado aos mortos e desaparecidos indígenas, mas concluir a relação das vítimas da ditadura militar no Brasil, incluindo a luta política indígena e camponesa por seus territórios invadidos. Reconhecê-los como protagonistas e vítimas são passos importantes para conhecermos o Brasil, nossa diversidade cultural e política e para a reparação das injustiças históricas, como a necessária desintrusão dos territórios invadidos por grileiros”, disse.

Veneno e pistolagem mataram índios Cinta-larga A psicanalista Maria Rita Kehl começou a investigar as violações de direitos humanos contra os indígenas e componeses brasileiros em novembro de 2012. Ela visitou aldeias indígenas das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul do país.

Segundo a investigação, os índios da etnia Cinta Larga, que vivem entre o noroeste do Mato Grosso e sudeste de Rondô-nia, foram violentamente atacados. Desde a década de 50, estima-se que uma população de 5 mil Cinta Larga morreu por diversos motivos: envenenamento por alimentos misturados com arsênico; aviões que atiravam brinquedos contamina-dos com vírus da gripe, sarampo e varíola; e assassinatos em emboscadas, nas quais suas aldeias eram dinamitadas ou por pistoleiros.

“Muitas dessas violações de direitos humanos sofridas pelo povo Cinta Larga foram cometidas com a conivência do go-verno federal, por meio do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), e depois da Funai, o que permitiu a atuação de seringalis-tas, empresas de mineração, madeireiros e garimpeiros na busca de ouro, cassiterita e diamante no território dos Cinta Larga, omitindo-se a tomar providências diante dos diversos massacres que ocorreram na área indígena”, diz o relatório.

O genocídio dos 2.650 Waimiri-Atroari Em 2013, a psicanalista Maria Rita Kehl esteve na Terra Indígena Waimiri-Atroari, entre o Amazonas e Roraima, para investigar o massacre de 1.500 a 2.000 indígenas. O relatório final da comissão concluiu que foram mortos 2.650 índios da etnia.

O capítulo “Violações de direitos humanos dos povos indígenas” diz que os índios da etnia Waimiri-Atroari foram massacrados entre os anos 1960 e 1980. Neste período, a terra indígena foi afetada pela abertura, cons-trução e pavimentação da BR-174 (que liga Manaus à Boa Vista (RR)), pela obra da hidrelétrica de Balbina, e pela atuação de mineradoras e garimpeiros interessados em explorar as jazidas que existiam no território.

A CNV relata que, conforme Censo da Funai (Fundação

O povo Waimiri-Atroari sofreu ameaça de extinção nos anos 80 (Foto: PWA)

Nacional do Índio) em 1972, a população de Waimiri-Atroari era de 3 mil indígenas. Em 1987 eram 420 índios e em 1983 apenas 350 pessoas.

Segundo o relatório, além da atividade mineradora, as terras dos Waimiri-Atroari foram também invadidas por posseiros e fazendeiros que se instalavam às margens da BR-174 e ao sul da reserva, em Roraima.

O documento diz que um estudo da Funai apontou que, em 1981, o governo do Estado do Amazonas emitiu 338 títulos de propriedade incidentes sobre a área da reserva Waimiri-Atroari. O esquema ficou conhecido como “grilagem paulista”. “No bojo desse processo, o governo militar apoiou ainda iniciativas de colonização do território Waimiri-Atroari, com financiamentos de atividades agropecuárias por meio dos programas Polo Amazônia e Proálcool, que beneficiaram, entre outras empresas, a Agropecuária Jayoro”, afirma o relatório da CNV.

O indigenista José Porfírio Carvalho, responsável pelo Programa Waimiri Atroari, prestou depoimento à Comissão da Verdade em 2013. Ele foi testemunha do desaparecimento dos índios waimiri-atroari durante a construção da BR-174. “Em 1987 encontrei apenas 375 índios na reserva [antes havia 1.500]”, disse ele em entrevista à Folha de S. Paulo.

Carvalho também pediu a CNV uma investigação sobre a morte do sertanista Gilberto Pinto Figueiredo Costa, em 1974. “A versão dos militares é que encontraram o Gilberto morto pelos índios. Não vimos o corpo porque o caixão foi lacrado. Não sabemos se ele morreu flechado ou a tiro”, afirmou.

Em entrevista à agência Amazônia Real nesta quinta-feira (11), o indigenista José Porfírio Carvalho disse que, mesmo sem ter lido o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, mas pelo que tem acompanhando até momento da investigação, os casos de mortes e desaparecimentos devem continuar a serem apurados, assim como buscar os responsáveis pelos crimes.

“A apuração precisa continuar, ouvindo também o Exército, que deveria disponibilizar os arquivos com os documentos sobre as construções das estradas. Todos envolvidos no processo estão nesses documentos. Ficou faltando essa conversa com o Exército. Esta foi a minha primeira sugestão à CNV”, afirmou Porfírio.

O indigenista disse que, quando Maria Rita Kehl esteve na reserva Waimiri-Atroari ouviu os depoimentos dos índios na metade do ano passado.

“Ela conversou com os índios. Eles falaram o que tinham que falar. Eles são desconfiados, mas responderam todas as perguntas dela. Ela saiu satisfeita. Então, acho que é necessário que seja feita uma investigação real do que aconteceu. Aquelas mortes não podem ficar impunes. Que as pessoas que a executaram sejam punidas. Os índios não estavam fazendo revolução, eles estavam cuidando da terra deles, como é até hoje”, afirmou José Porfírio Carvalho.

As mortes de 354 Yanomami Segundo o capítulo “Violações de direitos humanos dos povos indígenas” do relatório da Comissão da Verdade, a aber-tura do trecho da Perimentral Norte (BR 210), entre o município de Caracaraí e o limite entre os Estados de Roraima e Amazonas, provocou as mortes de 354 índios Yanomami e impactou diretamente cerca de 250 pessoas das aldeias do rio Ajarani e seus afluentes, além de 450 índios de malocas do rio Catrimani na década de 70.

O documento diz que a consequência da omissão da Funai (responsável pela saúde indígena na década de 70), causou diversas epidemias de alta letalidade, como sarampo, gripe e, malária, caxumba, tubercu-lose, além da contamina-ção por DSTs (Doenças Sexualmente Trans-missíveis), eclodiram entre os Yanomami, vitimando, já no primeiro ano da construção da estrada, cerca de 22% da população de quatro aldeias. No extremo leste do território Yanoma-mi, estima-se que cerca de 80% da população tenha morrido em meados da década de 1970.

Conforme a investigação, na década seguinte, o impacto contra os Yanomami aumentou com o avanço do garimpo ilegal, um problema que persiste até os dias de hoje. “O efeito contra a população indígena foi devastador com milha-res de mortos de indígenas”, diz o documento.

Trecho do depoimento de Davi Kopenawa, principal liderança Yanomami, foi reproduzido no relatório:

“Eu não sabia que o governo ia fazer estradas aqui. Autoridade não avisou antes de destruir nosso meio ambiente, antes de matar nosso povo. […] A Funai, que era para nos proteger, não nos ajudou nem avisou dos perigos. Hoje estamos reclamando. Só agora está acontecendo, em 2013, que vocês vieram aqui pedir pra gente contar a história. Quero dizer: eu não quero mais morrer outra vez”.

Yanomami anda em pista próxima a aldeia Surucuru nos anos anos 90 (Foto: Kátia Brasil/AR).

A reportagem procurou Davi Kopenawa nesta quinta-feira (11) para comentar sobre o relatório da CNV, mas ele disse que ainda não tinha lido e por isso não poderia dar declaração.

Mas ele reiterou o que vem denunciando há vários anos: a atividade minerária ilegal na reserva Yanomami aumenta, apesar das operações de retiradas dos garimpeiros. “A gente consegue mandar eles embora, mas eles voltam. Parece que o garimpo nunca vai sair daqui enquanto os garimpeiros tiverem apoio das autoridades, dos homens que têm dinheiro. Esses nunca vão presos”, disse.

A invasão de empresas no território Sateré-Mawé O relatório da Comissão Nacional da Verdade cita a invasão de território que acarretou em quatro mortes de índios da etnia indígenas Sateré-Mawé, na área do baixo rio Amazonas (AM). O relatório diz que em agosto de 1981, resguardada por um contrato de risco firmado com a Petrobras, a empresa estatal francesa Elf Aquitaine invadiu o território Sateré-Mawé, efe-tuando um levantamento sismográfico que visava descobrir lençóis petrolíferos.

De acordo com a investigação, a empresa abriu 300 quilômetros de picadas (caminho na floresta) e cla-reiras para possibilitar o pouso de helicópteros na região do rio Andirá (em Barreirinha), derrubando indiscriminadamente a mata. Em setembro de 1982, após um convênio ilegalmente

O líder Davi Yanomami em manifestação contra a violência aos índios em 1991, em Roraima (Foto: Kátia Brasil/AR)

firmado entre a Funai e a Petrobras, a mesma empresa voltou a a invadir o território Sateré-Mawé, segundo o relatorio. Dessa vez, a Braselfa, subsidiária da Elf-Aquitaine no Brasil, e a Companhia Brasileira de Geofísica (CBG), operaram nas áreas da cabeceira do Marau e no Andirá, efetuando novo levantamento sismográfico. “Mesmo após a retirada da empresa da área, os danos permaneceram, já que a mesma deixou enterradas nas picadas inúmeras cargas de dinamite, levando à morte Maria Faustina Batista, Calvino Batista, Dacinto Miquiles e Lauro Freitas”, diz o relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Participaram do grupo de trabalho “Graves violações de Direitos Humanos no campo ou contra indígenas”, além de Maria Rita Kehl, os pesquisadores Heloísa Starling e Wilkie Buzatti, além do colaborador voluntário Inimá Simões.

http://amazoniareal.com.br/comissao-da-verdade-ao-menos-83-mil-indios-foram-mortos-na-ditadura-militar/

Bolsa Família reduziu pobreza, mas inclusão social é questionável FERNANDO CULYT - DA DEUTSCHE WELLE

31/10/2013 10h52

Quando, em 2003, foi lançado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família dividiu a opinião dos brasileiros. Para os críticos, o programa era uma medida assistencialista que não colabo-raria, de fato, para a inserção social. Para seus defensores, era um projeto de transferência de renda capaz de levar a uma revolução social no Brasil.

Uma década depois, os números são positivos. De acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Bolsa Família foi responsável por reduzir em 28% a extrema pobreza ao longo de dez anos. Atualmente, o programa atende a cerca de 13,8 milhões de famílias --o equivalente a 50 milhões de indivíduos ou um quarto da população brasileira.

"O Bolsa Família atende às necessidades de alimentação das famílias mais pobres e move, principalmente, a economia local de pequenas cidades, trazendo impactos sobre a qualidade de vida?, afirma Marcel Guedes Leite, economista da PUC-SP." É um programa relativamente barato que abrange uma população bem ampla e não utiliza nem 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano."

O investimento do governo no Bolsa Família previsto em 2013 é cerca de 24 bilhões de reais. O valor médio do auxílio passou de 73,70 reais em outubro de 2003 para 152,35 reais em setembro deste ano.

Guedes Leite diz ainda que, dos cerca 5.600 municípios do Brasil, aproximadamente 2.300 têm menos de 5.000 habitantes e não têm, geralmente, estrutura econômica para gerar ocupação para a sua população. E se a dificuldade de as famílias encontrarem meios de sobrevivência nos municípios pequenos já é grande, ela é maior ainda nos municípios mais pobres. E é nesses locais que o Bolsa Família teve uma grande importância nesta última década.

"Há estatísticas que mostram que alguns municípios recebem mais recursos do Bolsa Família do que do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Isso mostra o quanto esses municípios eram miseráveis e dependem da transferência do governo federal. Senão, eles não subsistem", diz Guedes Leite.

DEMANDA REPRIMIDA Segundo o livro "Programa Bolsa Família - uma década de inclusão e cidadania", lançado na quarta-feira (30) pelo Ipea, 72% das famílias inscritas no programa são extremamente pobres, e 64% dos responsáveis pelas famílias não chegaram a completar o ensino fundamental. A maioria dos benefícios é recebida por habitantes do Nordeste do país (50%), especialmente dos estados do Maranhão e do Piauí. Apenas 38% têm, ao mesmo tempo, acesso a água tratada e coleta de esgoto.

"Qualquer adição de renda que essas famílias recebem acabam se transformando num aumento de consumo. E isso vai repercutir sobre a economia local?, afirma Claudia Satie Hamasaki, professora de economia da Universi-dade Presbiteriana Mackenzie. Essa orientação de consumo local acaba tendo um efeito multiplicador dessa renda adicional sobre a economia local, principalmente nas regiões mais afastadas."

Para a especialista, o impacto é maior nos municípios menores, já que cidades têm custos de vida diferentes e uma família considerada pobre em São Paulo pode não necessariamente receber o mesmo status no sertão nordestino. "Setenta reais a mais na renda em São Paulo não significa o mesmo que no Piauí. Pobre em São Paulo não é pobre na região do Nordeste, e pobre lá pode ser considerado miserável aqui", explica.

Os especialistas, porém, dizem que a inclusão social promovida pelo Bolsa Família não pode ser avaliada no curto prazo e afirmam ser necessário esperar um ciclo maior. Eles estimam que daqui a cerca de cinco anos poderá ser avaliado se as famílias beneficiárias do programa obtiveram melhores condições de vida.

Parte dos questionamentos ao Bolsa Família se deve ao fato de o governo federal não disponibilizar para as famílias programas de inclusão no mercado de trabalho, como a qualificação de mão de obra. Outra crítica é que, apesar de exigir frequência escolar dos beneficiados, não há medidas paralelas para melhorar a qualidade do ensino.

"Sinto falta de algumas políticas de inclusão. Assim como houve políticas para a distribuição do benefício, deveria haver programas de inserção no mercado de trabalho", opina Guedes Leite. "E isso a gente não viu ainda, não foi criado até o momento."

IDH ALAVANCADO Especialistas dizem que as condicionalidades para que as famílias recebam o benefício é um dos pontos positivos do programa. Para isso, as crianças devem estar matriculadas na escola e terem frequência de, no mínimo, 85%. Além disso, as mulheres grávidas devem estar em dia com o pré-natal e as crianças, com a carteira de vacinação. E, como resultado, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) --que considera a renda, educação e saúde-- teve um salto no período de dez anos. De acordo com o Ipea, em 2000, 41% dos municípios brasileiros apresentaram IDH muito baixo. Em 2010, esse patamar foi reduzido para 0,6%.

"Com as condicionalidades você dá uma perspectiva futura para as crianças e as torna indivíduos mais aptos para buscar emprego e a entrar numa instituição de ensino superior. Dessa forma, separa-se a família do que seria a armadilha da pobreza, que é pobreza intergeracional, afirma Hamasaki. Esse é um dos grandes feitos do programa, ele rompeu com esse ciclo."

http://www1.folha.uol.com.br/dw/2013/10/1364612-bolsa-familia-reduziu-pobreza-mas-inclusao-social-e-questionavel.shtml