textos de popper sobre a ciÊncia e a induÇÃo

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TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO 1 Entrevista a Karl Popper Rai - Qual é o critério de cientificidade de uma teoria? Popper — Nas minhas primeiras publicações propus como critério do carácter científico (ou empírico porque em inglês o termo "ciência" denota a ciência empírica) a falsificabilidade ou controlabilidade, isto é, a possibilidade de submeter a teoria a controlo. Procurei mostrar que a controlabilidade equivale à falsificabilidade. Uma teoria é controlável se existem ou podemos conceber testes que possam refutá-la. Trata-se de algo semelhante ao exame de um estudante. Um estudante é examinável se existem possíveis perguntas que permitam testar se não sabe nada ou se sabe o suficiente para passar no exame. Falsificabilidade significa que uma teoria pode ser examinada e, no caso de não passar no exame, ser declarada falsa. Mas isto não significa que essa teoria seja de deitar para o caixote. Podemos de facto, corrigir a nossa teoria, modificá-la. E, por vezes as correcções, mesmo limitadas, podem fazer uma enorme diferença, pode acontecer que uma pequena correcção reforce de tal modo a teoria que ela acabe por explicar muito mais do que esperaríamos. O falsificacionismo pode conduzir, nos casos extremos, à rejeição total de uma teoria e, noutros casos, pode conduzir a um melhoramento extraordinário. Segundo a minha concepção, todos os testes ou controlos científicos, os experimentos, são tentativas de refutação. Rai — Isso é verdade no que respeita a uma refutação conseguida. Mas e quando não conseguimos refutar ou provar a falsidade de uma teoria? Popper - Se o teste não refutar a teoria, só podemos dizer que a teoria passou no exame. Não podemos dizer muito mais. Não tem grande significado o facto de a teoria passar numa certa prova. Significa simplesmente que nada nos obriga a abandonar a teoria e que, se até agora não a tínhamos levado muito a sério, é altura de o fazer. Mas isto não nos leva a muito. E muito menos a afirmar que a teoria seja verdadeira. O que podemos dizer é que a teoria foi controlada sem ser refutada e nada mais. Não podemos chamar "verificação" à passagem no exame ou teste a que a teoria foi submetida. À letra, o termo verificação significa tornar verdadeira uma teoria, "veri-ficar-la" (verificar vem do latim verum facere). Na realidade, não podemos "fazer verdadeira" nenhuma teoria, nem mesmo mostrar que é verdadeira. O único objectivo dos testes a que submetemos as teorias é o de falsificá- - las, não o de verificá-las. Entrevista de Karl Popper à R. A. I. em 26 de Julho de 1989 no site da Enciclopedia Multimediale delle Scienze Filosofiche http://www.emsf.rai.it/interviste/ (Adaptado) 2 Popper: a indução não é um procedimento científico De acordo com uma tese que tem bastante aceitação — e a que aqui nos oporemos —, as ciências empíricas podem caracterizar-se pelo facto de empregarem os chamados "métodos indutivos": segundo esta tese, a lógica da investigação científica seria idêntica à lógica indutiva, ou seja, à análise lógica de tais métodos indutivos.

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TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO1

Entrevista a Karl PopperRai - Qual é o critério de cientificidade de uma teoria?Popper — Nas minhas primeiras publicações propus como critério do carácter científico (ou empírico porque em inglês o termo "ciência" denota a ciência empírica) a falsificabilidade ou controlabilidade, isto é, a possibilidade de submeter a teoria a controlo. Procurei mostrar que a controlabilidade equivale à falsificabilidade. Uma teoria é controlável se existem ou podemos conceber testes que possam refutá-la. Trata-se de algo semelhante ao exame de um estudante. Um estudante é examinável se existem possíveis perguntas que permitam testar se não sabe nada ou se sabe o suficiente para passar no exame.Falsificabilidade significa que uma teoria pode ser examinada e, no caso de não passar no exame, ser declarada falsa. Mas isto não significa que essa teoria seja de deitar para o caixote. Podemos de facto, corrigir a nossa teoria, modificá-la. E, por vezes as correcções, mesmo limitadas, podem fazer uma enorme diferença, pode acontecer que uma pequena correcção reforce de tal modo a teoria que ela acabe por explicar muito mais do que esperaríamos. O falsificacionismo pode conduzir, nos casos extremos, à rejeição total de uma teoria e, noutros casos, pode conduzir a um melhoramento extraordinário. Segundo a minha concepção, todos os testes ou controlos científicos, os experimentos, são tentativas de refutação.

Rai — Isso é verdade no que respeita a uma refutação conseguida. Mas e quando não conseguimos refutar ou provar a falsidade de uma teoria?Popper - Se o teste não refutar a teoria, só podemos dizer que a teoria passou no exame. Não podemos dizer muito mais. Não tem grande significado o facto de a teoria passar numa certa prova. Significa simplesmente que nada nos obriga a abandonar a teoria e que, se até agora não a tínhamos levado muito a sério, é altura de o fazer. Mas isto não nos leva a muito. E muito menos a afirmar que a teoria seja verdadeira. O que podemos dizer é que a teoria foi controlada sem ser refutada e nada mais. Não podemos chamar "verificação" à passagem no exame ou teste a que a teoria foi submetida. À letra, o termo verificação significa tornar verdadeira uma teoria, "veri-ficar-la" (verificar vem do latim verum facere). Na realidade, não podemos "fazer verdadeira" nenhuma teoria, nem mesmo mostrar que é verdadeira. O único objectivo dos testes a que submetemos as teorias é o de falsificá- -las, não o de verificá-las.

Entrevista de Karl Popper à R. A. I. em 26 de Julho de 1989no site da Enciclopedia Multimediale delle Scienze Filosofiche

http://www.emsf.rai.it/interviste/(Adaptado)

2

Popper: a indução não é um procedimento científicoDe acordo com uma tese que tem bastante aceitação — e a que aqui nos oporemos —, as ciências empíricas podem caracterizar-se pelo facto de empregarem os chamados "métodos indutivos": segundo esta tese, a lógica da investigação científica seria idêntica à lógica indutiva, ou seja, à análise lógica de tais métodos indutivos.É vulgar chamar "indutiva" a uma inferência quando passa de enunciados singulares (chamados, às vezes, enunciados "particulares"), tais como descrições dos resultados de observações ou de experiências, para enunciados universais, tais como hipóteses e teorias.Ora bem, de um ponto de vista lógico, está longe de ser óbvio que a inferência de enunciados universais a partir de enunciados particulares, por mais elevado que seja o seu número, esteja por si mesma justificada; pois qualquer conclusão a que cheguemos por esta via corre sempre o risco de um dia se tornar falsa: assim, seja qual for o número de exemplares de cisnes brancos que tenhamos observado, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes sejam brancos.A obra de Hume devia ter mostrado claramente que o princípio da indução pode facilmente gerar incoerências que só poderemos evitar, se é que podemos — com muita dificuldade. […]Acredito que a teoria — pelo menos alguma teoria ou expectativa rudimentar — vem sempre primeiro; que precede sempre a observação: e que o papel fundamental das observações e dos testes experimentais é mostrar que algumas das nossas teorias são falsas e, assim, estimular-nos a produzir outras melhores.Consequentemente, afirmo que não partimos de observações, mas sempre de problemas — de problemas práticos ou de uma teoria que caiu em dificuldades. Uma vez que defrontemos um problema, podemos começar a trabalhar nele. Podemos fazê-lo por meio de tentativas de duas espécies: podemos prosseguir tentando primeiro supor ou conjecturar uma solução para o nosso problema; e podemos depois tentar criticar a nossa suposição, habitualmente fraca. Às vezes, uma suposição ou uma conjectura podem suportar por certo tempo a nossa crítica e os nossos testes experimentais. Mas, via de regra, logo descobrimos que as nossas conjecturas podem ser refutadas ou que não resolvem o nosso problema ou que só o solucionam em parte; e verificamos que mesmo as melhores soluções — aquelas capazes de resistir à crítica mais severa das mentes mais brilhantes e engenhosas — logo dão origem a novas

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dificuldades, a novos problemas. Assim, podemos dizer que o crescimento do conhecimento avança de velhos problemas para novos problemas, por meio de conjecturas e refutações.

Montagem e adaptação de textos de Karl POPPER,Conhecimento Objectivo e A Lógica da Descoberta Científica

TEXTO 1:"A razão que me leva a pensar que devo começar com alguns comentários em torno da teoria do conhecimento reside no facto de estar em desacordo com toda a gente a este respeito, excepto com Charles Darwin e Albert Einstein.(...) O ponto fundamental é a relação entre observação e teoria. Creio que a teoria vai sempre à frente, pelo menos uma teoria ou expectativa rudimentar precede sempre as observações cujo papel fundamental, como o das contrastações experimentais, é mostrar que algumas das nossas teorias são falsas estimulando-se deste modo à construção de outras melhores.Por conseguinte, afirmo que não partimos de observações mas sempre de problemas seja de problemas práticos ou de uma teoria que se encontra em dificuldades.(...) inverto os termos daqueles que pensam que a observação deve preceder as expectativas e os problemas."

Popper, Conhecimento Objectivo: 238NOTA: A noção popperiana 'teoria do conhecimento' corresponde, na linguagem dos povos latinos, à noção de Epistemologia.O pressuposto deste Texto é o esquema normalmente conhecido do método experimental, cujo costuma ser assim exposto: 1ª fase - observação; 2ª fase - invenção de hipótese, seguida de dedução das suas consequências; 3ª fase - experimentação, com o objectivo de comprovar/verificar a hipótese; finalmente, 4ª fase - lei.A ciência, neste esquema, é de carácter indutivo/dedutivo.Ora K. Popper encontrou razões para justificar o carácter não-indutivo da ciência. Partindo de informações do modo como alguns cientistas investigavam, concluiu com uma exposição genérica do método científico - o método crítico - e, a partir daí, extraiu uma peculiar teoria do desenvolvimento da ciência.QUESTÕES:1. Qual a tese central que K. Popper defende neste Texto?2. Intui, a partir do Texto, alguma diferença entre afirmar que o ponto de partida da ciência é a observação e o ponto de partida ciência é o problema posto na observação? Justifique.3. É capaz de dar algum exemplo justificativo contra ou a favor da tese de Popper, mesmo que não seja de carácter científico?

TEXTO 2:"Quando abordamos um problema, podemos começar a trabalhá-lo, o que se pode fazer em dois momentos: podemos começar em primeiro lugar por tecer ou conjecturar uma solução para o problema, para, de seguida, criticar a nossa suposição que geralmente será muito débil. Por vezes, a nossa suposição ou conjectura poderá manter-se durante algum tempo face à crítica e às nossas constatações experimentais. Mas, geralmente, depressa veremos que as nossas conjecturas se podem refutar, que não resolvem o nosso problema ou só o resolvem parcialmente. Além disso, verificaremos inclusive que as melhores soluções as que são capazes de resistir às críticas mais rigorosas das inteligências mais penetrantes ou engenhosas suscitarão dificuldades e problemas. Assim podemos dizer que o aumento do conhecimento vai dos velhos para os novos problemas devido a conjecturas e refutações."

K. Popper, Conhecimento Objectivo: 2371. Identifique os conceitos-chave que estruturam este Texto?2. Descreva, na perspectiva do autor, o que é que um cientista faz quando defronta um problema?3. Faça um esquema comparativo do método científico na perspectiva tradicional do método científico e do método crítico, tal como este é proposto por Popper.

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4. Há neste Texto alguma afirmação de Popper que nos indique como concebe a evolução/progresso da ciência? Indique-a.

TEXTO 3:"Nunca podemos ter a certeza absoluta de que a nossa teoria não esteja perdida. A única coisa que podemos fazer é procurar o conteúdo de falsidade da nossa melhor teoria, o que realizamos tentando refutá-la, isto é, tentando contrastá-la de um modo vigoroso à luz de todos os nossos conhecimentos objectivos e de toda a nossa inteligência. Há sempre, naturalmente, a possibilidade de que a teoria seja falsa ainda que saia airosamente de todos esses contrastes. Se sai airosa de todos estes contrastes, podemos ter boas razões para supor que a nossa teoria, que, como sabemos, possui um conteúdo de verdade superior ao da sua predecessora, possa não possuir um conteúdo de falsidade maior.Porém, se não conseguirmos refutar as novas teorias, especialmente nos domínios em que a sua antecessora tenha sido refutada, então podemos considerar isto como uma das razões objectivas a favor da hipótese de que a nova teoria constitua uma aproximação da verdade maior do que a anterior.(...)Em conclusão: nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, isto é, a pretensão de que conhecemos a sua verdade, mas, se tivermos sorte, podemos justificar racionalmente a preferência provisória por uma teoria sobre todo um conjunto de teorias rivais.(...) Ainda que não possamos justificar a pretensão de que uma teoria seja verdadeira, podemos justificar que tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade maior do que qualquer das teorias rivais propostas até ao momento."Popper, Conhecimento Objectivo, Technos, Madrid: 83/841. Considerando este Texto, o ponto de vista de Popper sobre a experimentação é um ponto de vista verificacionista ou falsificacionista?2. Quando Popper afirma que uma teoria/hipótese pode ser falsa mesmo que saia airosamente de todos os contrastes experimentais, o que é que Popper quererá dizer?3. Se os cientistas não conseguirem refutar uma teoria, isso significa que essa teoria é uma verdade ou possivelmenete uma aproximação à verdade? Justifique.4. Em que é que consiste e qual a finalidade do processo de refutação, segundo Popper?5. Copie para a sua folha de resposta todas as frases presentes no Texto que se refiram à noção de verdade científica.

TEXTO 4:"Vou partir do princípio que se chegou a acordo acerca do carácter conjectural das teorias científicas: que as nossas teorias nunca deixam de ser incertas ainda que bem sucedidas e bem apoiadas por provas pelo resultado da discussão, e que nós podemos ser incapazes de prever que género de mudança é que virá a ser necessário. (Lembremo-nos da mecânica de Newton!) Por conseguinte, partirei do principio de que, se aqui falamos de crença racional na ciência e nas teorias científicas, não pretendemos dizer que é racional acreditar na verdade de alguma teoria em particular. (...)O que é, então, o objecto da nossa crença racional? É, proponho, não a verdade, mas sim aquilo a que podemos chamar a verosimilhança (the truthlikeness or "verisimiIitude") (N. do T.) das teorias da ciência, tanto quanto elas tenham suportado uma crítica severa, incluindo testes. O que nós acreditamos (bem ou mal) não é que a teoria de Newton ou a de Einstein sejam verdadeiras mas sim que são boas aproximações à verdade, ainda que podendo ser superadas por outras melhores.Mas esta crença, afirmo-o eu, é racional mesmo se aceitarmos que amanhã iremos descobrir que as leis da mecânica (ou aquilo que nós temos por lei da mecânica) mudaram subtilmente (...).Estas considerações mostram que a crença na verosimilhança de resultados científicos bem corroborados (tais como as leis da mecânica) é realmente racional, e continua a sê-lo mesmo depois de esses resultados terem sido superados. Além disso, é uma crença que pode ter graus.

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Temos de distinguir duas dimensões ou escalas graduadas diferentes: o grau da verosimilhança de uma teoria, e o grau de racionalidade da nossa crença de uma certa teoria ter atingido (um certo grau de) verosimilhança.Chamei ao primeiro destes dois graus grau de verosimilhança, e ao segundo grau de corroboração. Ambos são comparativos no sentido em que duas teorias podem ser comparadas relativamente à verosimilhança ou à corroboração, sem, porém, que isso leve, em geral (isto é, com a excepção possível de teorias probabilísticas) a estimativas numéricas.Se duas teorias em competição tiverem sido criticadas e testadas tão completamente quanto nos tenha sido possível, dai resultando que o grau de corroboração de uma delas seja maior do que o da outra, teremos, em geral, razões para acreditar que a primeira teoria será uma melhor aproximação à verdade do que a segunda. (Também é possível dizer-se de uma teoria ainda não corroborada que ela é potencialmente melhor do que outra; quer isto dizer, que seria sensato aceitá-la como sendo uma melhor aproximação à verdade, desde que passasse em certos testes.Segundo esta perspectiva, a racionalidade da ciência e dos seus resultados - e, portanto, da crença neles - é inseparável por essência, do seu progresso, com a discussão, sempre a ser actualizada, dos méritos relativos de novas teorias; é inseparável do progressivo derrube de teorias, e não só da pretensa consolidação progressiva (ou probabilidade crescente) resultante da acumulação de observações apoiantes, como crêem os indutivistas."

K. Popper, Pós-Escrito à Lógica da Descoberta Científica: 85-881. Que diferença há entre 'grau de verosimilhança' e 'grau de corroboração'?2. Por que conceito Popper substitui a convencional noção de ' verdade científica '?3. Explique sumariamente a tese popperiana ' A ciência é objecto da nossa crença racional '.4. O que é que Popperr afirma sobre a evolução da ciência? Extraia as ideias do Texto.

TEXTO 5:"A ciência, a filosofia e o pensamento racional surgem todos do senso comum. O senso comum, contudo, não é um ponto de partida seguro: o termo senso comum que aqui emprego é muito vago porque denota algo vago e mutante - os instintos e opiniões das gentes, muitas vezes adequados e verdadeiros, mas muitas outras inadequados ou falsos. (...) Toda a ciência é tida como a filosofia com senso comum ilustrado.(...) A minha primeira tese é que partimos do senso comum, sendo a critica o nosso grande instrumento de progresso."

Karl. Popper, Conhecimento Objectivo: 41. O que é que Popper entende por 'senso comum'?2. Qual a tese epistemológica defendida por Popper neste Texto?3. Qual é, segundo Popper, o processo que produz progresso científico?

TEXTO 6:"Ainda que deva ser criticado, o senso comum tem de ser sempre o nosso ponto de partida.(...) A teoria do senso comum é muito simples. Se qualquer um de nós desejar conhecer algo que desconhece sobre o mundo, não terá mais que abrir os olhos e olhar em volta. Temos de dirigir as orelhas e ouvir os ruídos, (...) Os diversos sentidos são pois as nossas fontes de conhecimento - as fontes ou os acessos à nossa mente. Referi-me muitas vezes a esta teoria, designando-a a teoria da mente, como um balde.A nossa mente é, em principio, um balde, mais ou menos vazio, que se enche através dos sentidos.(...) No mundo filosófico esta teoria é designada por teoria da mente como tábua rasa! A nossa mente é um recipiente vazio em que os sentidos gravam as mensagens. (...) A tese importante da teoria do balde é que aprendemos a maioria das coisas, senão todas, mediante a entrada da experiência através das aberturas dos nossos sentidos, de modo que toda a experiência consta de informação recebida através dos sentidos.(...) A teoria do senso comum está errada em vários pontos. É essencialmente uma teoria sobre a génese do conhecimento: a teoria do balde debruça-se sobre a nossa aquisição de conhecimentos - em grande medida passiva -, pelo que também constitui uma teoria do que

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denominei o aumento de conhecimento, ainda que como teoria do aumento de conhecimento seja manifestamente falsa. (...) A teoria da tábua rasa é absurda: em cada estádio da evolução da vida temos de supor a existência de algum conhecimento sob a forma de disposições e expectativas.Posto isto, o aumento de conhecimento consiste na modificação do conhecimento prévio, quer alterando-o, quer destruindo-o.O conhecimento não parte nunca do zero, pressupõe sempre um conhecimento básico - conhecimento que se dá por suposto num momento determinado - juntamente com algumas dificuldades e alguns problemas. Regra geral surgem do choque entre as expectativas inerentes ao nosso conhecimento básico e algumas descobertas novas, corno observações ou hipóteses sugeridas por eles."

Karl Popper, Conhecimento Objectivo: 65-74.1. Explique por que é que 'o senso comum é sempre o ponto de partida inicial de uma ciência'.2. Em que é que consiste a 'teoria da mente como tábua rasa'?3. Que crítica faz Popper da 'teoria da tábua rasa'?4. Justifique a tese popperiana: 'o aumento de conhecimento consiste na modificação do conhecimento prévio'. (= Exponha as premissas que permitem extrair esta conclusão)

TEXTO 7:"Tudo isto pode ser expresso dizendo que o crescimento do nosso conhecimento é o resultado de um processo semelhante ao que Darwin chamou 'selecção natural', isto é, a selecção natural de hipóteses: o nosso conhecimento consiste, a cada momento, daquelas hipóteses que mostraram a sua aptidão (comparativa) para sobreviver até agora na sua luta pela existência, uma luta de competição que elimina aquelas hipóteses que são incapazes."K. Popper, Conhecimento Objectivo - S . Paulo: 237-2381. Considerando todos os Textos, poderíamos afirmar que o modelo popperiano da evolução da ciência é um modelo biológico? Justifique.

Tarefas Finais:1. Descreva o método científico tal como Popper o concebe, servindo-se dos seguintes conceitos: ' expectativas ou conhecimento prévio ', ' problema ', ' conjectura ', ' falseamento ', 'corroboração'.2. Descreva

IMPRIMA ESTA FOLHA

RESPONDA, AGORA, NUMA FOLHA NORMAL, ÀS QUESTÕES QUE SE PROPÕEM

Texto 1:"Excepto em domínios como a Bioquímica, que tem origem na combinação de especialidades já existentes, os paradigmas são uma aquisição a que se chega relativamente tarde no processo de desenvolvimento científico. Durante os seus primeiros anos uma ciência trabalha sem recurso a eles ou pelo menos de forma menos inequívoca e limitadora do que a dos casos atrás referidos. A óptica física antes de Newton ou o estudo do calor antes de Black e Lavoisier são exemplos de esquemas de desenvolvimento pré-

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paradigmáticos (...) Enquanto esse desenvolvimento continua, isto é, até que se chegue a um primeiro paradigma, o desenvolvimento duma ciência aproxima-se mais do desenvolvimento das artes e da maior parte das Ciência Sociais do que a Astronomia, por exemplo, que tinha já adquirido na antiguidade e que hoje é comum a todas as ciências.Para perceber a diferença entre desenvolvimento científico pré- e post-paradigma, consideremos um exemplo simples. No começo do século XVIII, como no século XVII e antes dele, havia quase tantos pontos de vista sobre a natureza da electricidade como o número de experimentadores importantes, homens como Haukbee, Gary Desaguliers, Du Fay, Nollet, Watson e Franklin. Todos os conceitos que eles possuíam sobre a electricidade tinham origem nas experiências e observações e também numa ou noutra das versões da filosofia mecânico-corpuscular que orientava toda a investigação científica da época. Contudo, esses elementos comuns davam aos seus trabalhos apenas uma vaga semelhança. Somos forçados a admitir a existência de várias escolas e sub-escolas em competição, indo cada uma buscar a sua força à sua ligação com uma versão particular (cartesiana ou newtoniana) da metafísica corpuscular, e dando cada uma delas relevo especial ao conjunto de fenómenos eléctricos mais facilmente explicáveis por ela. As outras observações eram explicadas usando construções ad hoc ou eram deixadas como problemas importantes para investigações futuras.(...)Em épocas diferentes, cada uma dessas escolas trouxe contribuições significativas para o corpo de conceitos, fenómenos e técnicas de onde Franklin extraiu o primeiro paradigma para as ciências eléctricas. Uma definição do cientista que exclua os membros dessas escolas deverá excluir igualmente os seus sucessores modernos. Contudo, alguém que se debruce sobre o desenvolvimento da electricidade antes de Franklin pode muito bem tirar a conclusão de que, embora os praticantes no ofício fossem cientistas, o resultado imediato da sua actividade era algo menos do que ciência. Cada experimentador em electricidade era forçado a construir o seu domínio de novo a partir da base, uma vez que o conjunto de convicções que ele podia tomar como certas era muito limitado. Ao fazer isso, a sua escolha de experiências e observações fundamentais era relativamente livre, porque o conjunto de métodos, padrão e fenómenos que cada teórico da electricidade podia utilizar e explicar era extraordinariamente reduzido. Como consequência, durante a primeira metade do século, as investigações em electricidade tendiam a andar em círculo, voltando sempre ao mesmo ponto. Descobriam-se novos efeitos repetidas vezes, mas muitos deles perdiam-se rapidamente de novo." (Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, página 53-56)

1. Segundo Kuhn, fala-se de Ciência antes ou a partir do momento em que a comunidade científica se une na base de um paradigma? Justifique a sua resposta.2. Dê exemplos de investigações pré-paradigmáticas.

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3. Extraia do Texto todas as frases que caracterizam o denominado 'período pré-paradigmático'.4. Todas as ciências têm um período pré-paradigmático? Justifique a sua resposta transcrevendo uma frase significativa existente no Texto.

TEXTO 2:"(Estas) observações já devem começar a esclarecer o que é que considero ser paradigma. É, em primeiro lugar, um resultado científico fundamental que inclui ao mesmo tempo uma teoria e algumas aplicações tipo aos resultados das experiências e da observação. Mais importante ainda, é um resultado cuja conclusão está em aberto e que põe de lado toda a espécie de investigação ainda por fazer. E, por fim, é um resultado aceite no sentido de que é recebido por um grupo cujos membros deixam de tentar opor-lhe rival ou de criar-lhe alternativas. Pelo contrário, tentam desenvolvê-lo e explorá-lo numa variedade de formas (...).(...) Os praticantes duma especialidade científica madura aderem profundamente a determinada maneira de olhar e investigar a natureza baseada num paradigma. O paradigma diz-lhe qual o tipo de entidades com que o universo está povoado e qual a maneira como essa população se comporta; além disso informa-os de quais as questões sobre a natureza que podem legitimamente ser postas e das técnicas que podem ser devidamente aplicadas na busca das respostas a essas questões." (Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, página 59+61)

1. Extraia do texto pequenas frases que definam um 'paradigma'.2. Elabore uma definição pessoal de 'paradigma'.3. Quais as funções de um paradigma?

TEXTO 3:"Talvez que a característica mais extraordinária da educação científica, (...), seja a de se fazerem, com os manuais, obras escritas especialmente para estudantes.(...) esses livros (os Manuais) apresentam, desde o começo, soluções concretas de problemas que a profissão aceita como paradigmas, e então pede-se aos estudantes que, quer usando um lápis e papel quer servindo-se dum laboratório, resolvam por si mesmos problemas modelados à semelhança, na substância e no método, dos que o livro lhes deu a conhecer."

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(TH. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, página s 48+50)

1. Haverá alguma relação entre Manual e aprendizagem de um paradigma? Justifique a sua resposta.

TEXTO 4:"O paradigma que ele (o jovem cientista) adquiriu graças a uma preparação prévia fornece-lhe as regras do jogo, descreve as peças com que se deve jogar e indica o objectivo que se pretende alcançar. A sua tarefa consiste em manipular as peças segundo as regras, de maneira a que sela alcançado o objectivo em vista. Se ele falha, como acontece com a maioria dos cientistas, pelo menos na primeira tentativa de atacar um problema, esse fracasso só revela a sua falta de habilidade. As regras fornecidas pelo paradigma não podem então ser postas em causa, uma vez que sem essas regras começaria por não haver puzzle para resolver. Não haja portanto dúvidas de que os problemas (ou puzzles), pelos quais o praticante da ciência madura normalmente se interessa, pressupõem a adesão profunda a um paradigma. (...) A experiência mostra que, em quase todos os casos, os esforços repetidos, quer do indivíduo quer do grupo profissional, acabam finalmente por produzir, dentro do âmbito do paradigma, uma solução, mesmo para os problemas mais difíceis. Esta é uma das maneiras como a ciência avança." (Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, página 65)

1. Segundo o autor, qual é(são) a(s) função(ões) do paradigma?2. No seio da comunidade científica, aceitando-se um paradigma, o que é que caracteriza o trabalho dos cientistas?

TEXTO 5:"(...) 'algo especial' é o que chamarei a exclusividade dos paradigmas. Em qualquer época os praticantes duma dada especialidade poderão reconhecer numerosos clássicos, alguns dos quais (...) praticamente incompatíveis entre si. Mas um dado grupo, se tem mesmo um paradigma, só pode ter um. (...)Esta característica dos paradigmas está estreitamente ligada a outra (...). Ao aceitar um paradigma, a comunidade científica adere toda ela, conscientemente ou não, à atitude de considerar que todos os problemas resolvidos o foram de facto, e de uma vez para sempre. (...)" (Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, páginas 51-52)

1. O que é que Kuhn entende por 'exclusividade dos paradigmas'?2. Quando se aceita um paradigma, qual é a concepção que tem a comunidade científica de verdade científica?3. Extraia a frase do Texto que lhe permitiu extrair a conclusão da questão 2.

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TEXTO 6:"A minha posição ficará ainda mais clara se eu agora perguntar o que é que fica para a comunidade científica fazer quando existe um paradigma. A resposta - tendo em vista a resistência a inovações que existe e que é frequentemente escondida debaixo do tapete - é que, dado um paradigma, os cientistas esforçam-se, usando todas as suas capacidades e todos os seus conhecimentos, para o por cada vez mais de acordo com a natureza. Muito do seu esforço, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento do paradigma, procura torná-lo preciso em áreas em que a formulação original fora, como não podia deixar de ser, vaga. Por exemplo, sendo já conhecido que a electricidade era um fluido com partículas em interacção mútua à distância, os teóricos da electricidade após Franklin podiam tentar determinar a lei quantitativa da força entre partículas eléctricas. (...) Este tipo de problemas não constitui o único campo a conquistar que um paradigma propõe à comunidade que o aceita. Há sempre muitos outros campos onde o paradigma supostamente pode funcionar, mas em que não foi, de facto, ainda aplicado. O ajustamento do paradigma à natureza em tais casos ocupa com frequência os melhores talentos duma geração. As tentativas no século XVIII de desenvolver a teoria de Newton das cordas vibrantes constituem um exemplo significativo, (...).Além disso, existe sempre um trabalho imenso, fascinante, para melhorar o acordo num campo onde se demonstrou já existir um certo acordo aproximado. Trabalho teórico em problemas desse tipo é ilustrado no século XVIII com a investigação das perturbações que fazem desviar os planetas das suas órbitas keplerianas (...) E acompanhando todos esses problemas e muitos outros coloca-se toda uma série ininterrupta de barreiras experimentais. Teve de ser inventada e construída uma aparelhagem especial para permitir a determinação por Coulomb da lei da força eléctrica." (Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, páginas 62+63)

1. Kuhn, ao período de aceitação de um paradigma por parte da comunidade científica denomina-o de 'ciência normal'. Considerando este Texto, o que é que caracteriza a ciência normal?

TEXTO 7:"Mas é claro que a ciência normal nem sempre tem êxito e ao reconhecer esse facto deparamos com a segunda grande vantagem da investigação de base paradigmática. Ao contrário de muitos dos antigos teóricos da electricidade, o praticante duma ciência madura sabe com precisão razoável a que tipo de resultado pode chegar com a sua investigação. Está, pois, numa posição especialmente favorável para detectar um problema de investigação que saia fora do esperado. Por exemplo, como Galvani ou R"ontgen, ele pode deparar com um efeito que sabe não ter razão para

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ocorrer. (...) Como se vê por este(s) exemplo(s) e por muitos outros, a prática científica normal de solucionar puzzles pode levar, e leva de facto, ao reconhecimento e isolamento de uma anomalia. Um reconhecimento dessa natureza é, penso eu, pré-condição para quase todas as descobertas de novos tipos de fenómenos e para todas as inovações fundamentais da teoria científica. Depois de um primeiro paradigma ter sido alcançado, uma quebra nas regras do jogo pré-estabelecido é o prelúdio habitual para uma inovação científica importante. (...).O processo para os (os factos) fazer ajustar-se melhor dá origem a muitos dos problemas standard da ciência normal. E há, quase sempre, cientistas convictos que conseguem resolvê-los. Porém, nem sempre conseguem, e quando falham repetidas vezes e cada vez mais, então o seu sector da comunidade científica depara com o que algures chamei de 'crise'. Ao reconhecer que algo está fundamentalmente errado na teoria com que trabalham, os cientistas tentarão articulações mais fundamentais da teoria do que as que eram admitidas antes. (...) Ao mesmo tempo, irão começar mais ou menos ao acaso experiências na zona da dificuldade, na esperança de descobrir algum efeito que sugira a maneira de por a situação a claro. É só em situações desse género que, penso eu, uma inovação fundamental na teoria científica é, não só inventada, mas aceite."(Th. Kuhn, A Função do Dogma na Investigação Científica - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, página 67-68 + 70-71)

1. Que relação Kuhn estabelece entre anomalia e 'crise científica'?2. Anomalia pode identificar-se com a noção kuhniana de 'problema'? Justifique a sua resposta.3. Como é que a comunidade científica reage à anomalia?4. O que é que resulta de uma 'crise científica'?

TEXTO 8:"Para kuhn, uma revolução científica define-se como uma mudança do paradigma de uma comunidade. De facto, não se pode imaginar transformação mais total, mais profunda, se nos lembrarmos do carácter da dominação paradigmática, da sua influência sobre os membros da comunidade e do seu papel primordial na investigação que conduzem. Kuhn descreve as revoluções científicas a dois níveis que importa não confundir: a actividade e as concepções do membro individual da comunidade e a actividade da comunidade como tal. Enquanto que, durante os períodos normais, uma comunidade se caracteriza justamente pela estreita semelhança desses dois níveis de descrição, em período de 'crise' é necessário recorrer ao estudo das relações que ligam e opõem o comportamento do membro ao da sua comunidade para compreender os traços mais característicos das revoluções científicas.(...)É durante o período de indecisão entre um (paradigma) e outro (paradigma)

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que a comunidade se entrega ao que Kuhn chama uma investigação 'extraordinária'. Desde que a existência de um paradigma rival, adoptado por um certo número de membros da sua comunidade, coloque ao homem de ciência o problema da legitimidade do seu próprio paradigma, este já não pode servir de 'regra do jogo' e a investigação normal torna-se, em virtude desse facto, impossível. (...)Em época de crise, os problemas já não são estudados enquanto puzzles mas para provar o valor do tipo de solução baseado num paradigma e refutar o rival. Em cada campo, as experiências têm por objectivo demonstrar o poder e a fecundidade dum paradigma e apanhar em falso o adversário.É no fim deste período, o único em que o valor dum paradigma é realmente confrontado com a prova dos factos, que a decisão é tomada, com a eventual conversão da maioria dos membros da comunidade. Nesse momento, o paradigma vencido será radicalmente suprimido da memória da comunidade. (...)"(Isabelle Stengers, A Descrição da Actividade Científica por T. S. Kuhn - in História e Prática das Ciências, A Regra do Jogo, páginas 109+112-113)

1. Caracteriza uma 'revolução científica'.2. O que é que se entende por ''Investigação extraordinária' ou 'Ciência extraordinária'? (Relacione a resposta a esta questão com a questão 3 do Texto anterior)3. Qual é a relação entre dois paradigmas?

TAREFA FINAL:Elabore uma pequena síntese da teoria kuhniana sobre a evolução da ciência (ordene o seu discurso pessoal abordando os seguintes conceitos: período pré-paradigmático - paradigma e ciência normal - anomalia, crise e investigação extraordinária - mudança de paradigma, revolução).

IMPRIMA ESTA PÁGINA

RESPONDA, DEPOIS, NUMA FOLHA NORMAL, ÀS QUESTÕES QUE SE LEVANTAM

TEXTO 1:

"(...) os continuistas gostam de reflectir sobre as origens, instalam-se na zona de elementaridade da ciência. Os progressos científicos foram primeiramente lentos,

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muito lentos. Quanto mais lentos são, mais contínuos parecem. E como a ciência sai lentamente do corpo dos conhecimentos comuns, pensa-se ter a certeza definitiva da continuidade do saber comum e do saber científico. Em suma, eis o axioma epistemológico posto pelos continuistas: visto que os inícios são lentos, os progressos são contínuos."

TAREFAS:

1. Bachelard foi ou não um Epistemólogo Continuista?

2. Identifique as teses continuistas presentes neste Texto.

3. Explicite o argumento-base que Bachelard considera ser próprio dos epistemólogos continuistas (P. Duhem, por exemplo)

TEXTO 2:

"Pareceu-me sempre cada vez mais evidente (...) que o espírito científico contemporâneo não podia ser colocado em continuidade com o simples bom senso, que este novo espírito científico representava um jogo mais arriscado, que ele formulava teses que inicialmente podem chocar o senso comum. Nós acreditamos, com efeito, que o progresso científico manifesta sempre uma ruptura, perpétuas rupturas, entre o conhecimento comum e o conhecimento científico, desde que se aborde uma ciência evoluída, uma ciência que, pelo facto mesmo das suas rupturas, traga a marca da modernidade. (...) Podemos, pois, colocar a descontinuidade epistemológica em plena luz (...)

A própria linguagem da ciência está em estado de revolução semântica permanente.

Às vezes o epistemólogo continuista é enganado quando ele julga a ciência contemporânea por uma espécie de continuidade das imagens e das palavras. Quando foi necessário imaginar o inimaginável domínio do núcleo atómico, propuseram imagens e fórmulas verbais que são inteiramente relativas à ciência teórica. Não se deve tomar essas fórmulas verbais ao pé da letra e dar-lhes um sentido directo. Uma constante transposição da linguagem rompe, então, a continuidade do pensamento comum e do pensamento científico. Sem cessar, é preciso recolocar as expressões novas na perspectiva das teorias, que as imagens e as fórmulas resumem. Tal é o caso, por exemplo, da imagem que Niels Bohr apresentou para condensar certas leis do núcleo atómico sob o nome de ‘gota de água’. Esta imagem ‘ajuda admiravelmente a compreender o como e o porquê da

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fissão’ (...). Sob a capa desta imagem da ‘gota’ onde se aglomeram os núcleos, poder-se-ia dizer que a incorporação de um neutrão suplementar aumenta a energia interna do núcleo, por outras palavras, a ‘temperatura’ do núcleo. Mas, as palavras ‘gota’ e ‘temperatura’ devem ser colocadas entre aspas. (...)

Não há, pois, nenhuma continuidade entre a noção da temperatura do laboratório e

a noção da ‘temperatura’ de um núcleo. A linguagem científica é, por princípio, uma

neolinguagem." (Bachelard: O Materialismo racional: 210, 212, 215, 217)

TAREFAS:1. Extraia do Texto a(s) frase(s) mais significativa(s) da posição de Bachelard sobre a relação entre senso comum (bom senso) e ciência2. O que é que Bachelard pensa sobre a linguagem científica?2. Que exemplo(s) é(são) dado(s) por Bachelard para justificar a tese identificada na questão anterior?TEXTO 3:

"As mecânicas contemporâneas : mecânica relativista, mecânica quântica, mecânica ondulatória são ciências sem antepassados. (...) Uma ciência assim não possui análogo no passado. Fornece um exemplo particularmente nítido da ruptura histórica na evolução das ciências modernas." (Bachelard: L’ Activité Rationaliste de la Physique Contemporaine: 23-24)

TAREFA:

1. O que é que Bachelard entende por 'Ruptura Histórica'?

TEXTO 4:

"Quando se procuram as condições psicológicas dos progressos da ciência, em breve se chega à convicção de que é em termos de obstáculos que se deve pôr o problema do conhecimento científico. E não se trata de considerar os obstáculos externos, nem de incriminar a fraqueza dos sentidos e do espírito humano; é no próprio acto de conhecer, intimamente, que aparecem, por uma espécie de necessidade funcional, lentidões e perturbações. É aqui que residem as causas da estagnação e mesmo de regressão, é aqui que iremos descobrir causas de inércia, a que chamaremos obstáculos epistemológicos. O conhecimento do real é uma luz que sempre projecta algures umas sombras. Nunca é imediato e pleno. (...) O real nunca é ‘aquilo que se poderia crer’, mas é sempre o que se deveria ter pensado. (...) Ao desdizer um passado de erros, encontramos a verdade num autêntico arrependimento intelectual. Com efeito, conhecemos contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal feitos, ultrapassando o que, no próprio espírito, constitui um obstáculo à espiritualização.

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A ideia de partir do zero para fundar algo que se pretende só pode vir de culturas de simples justaposição, nas quais um facto conhecido constitui uma riqueza. Mas, perante o mistério do real, a alma não pode, por decerto, fazer-se ingénua. Torna-se então impossível, de repente, fazer tábua rasa dos conhecimentos usuais. Face ao real, aquilo que se julga saber claramente ofusca o que se deveria saber. Quando se apresenta à cultura científica, o espírito nunca é jovem. É mesmo muito velho, pois tem a idade dos seus preconceitos. Ter acesso à ciência é, espiritualmente, rejuvenescer, é aceitar uma mutação brusca, que deve contradizer um passado." (Bachelard: A Formação do Espírito Científico: 13-14)TAREFAS:

1. Qual é a tese bachelardiana presente no Texto?

2. Extraia para a sua Folha de Resposta todas as frases que definam (pela negativa ou pela afirmativa) a noção de 'obstáculo epistemológico'.

3. É capaz de justificar a tese bachelardiana 'O Senso comum é um obstáculo epistemológico'?

TEXTO 5:

"A racionalidade nas ciências físicas contemporâneas não se desenvolve simplesmente por um alargamento progressivo. Estende-se por um processo dialéctico que não é um simples jogo lógico de contrários, mas que de certa maneira dobra as bases. O primeiro sucesso desta dialéctica das bases foi a relatividade einsteiniana. A relatividade instituiu o que se pode chamar uma física não newtoniana no estilo em que os matemáticos falam de uma geometria não-euclidiana. (...) [A ‘filosofia do não’] não destroi nada. Pelo contrário, consolida o que ela ultrapassa. A mecânica newtoniana permanece válida na sua esfera bem designada de aplicação. (...)" (Bachelard: L’ Engagement Rationaliste: 95-97)

TAREFAS:

1. Que tese defende Bachelard neste Texto?

2. Sublinhe os conceitos nucleares do Texto.

3. De que exemplos se serve Bachelard para ilustrar a sua tese?

TEXTO 6:

"A negação deve permanecer em contacto com a formação primeira. Deve permitir uma generalização dialéctica. A generalização pelo não deve incluir aquilo que nega. De facto, todo o desenvolvimento do pensamento científico de há um século para cá provém de tais generalizações dialécticas daquilo que se nega. Assim, a Geometria não-euclidiana envolve a geometria euclidiana; a mecânica não-

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newtoniana envolve a mecânica newtoniana; a mecânica ondulatória envolve a mecânica relativista. (...)"

Bachelard: Filosofia do Novo espírito Científico

TAREFAS:1. O que é que Bachelard entende por 'generalização dialéctica'?2. Quais são os exemplos dados para ilustrar a tese anterior?2. Conjugando os Textos 5 e 6, é capaz de explicar, agora, o que Bachelard entende por 'evolução dialéctica da ciência'?Ainda não? Então, leia o exemplo justificativo da tese que estamos a tentar esclarecer.TEXTO 7:"O carácter dialéctico da ciência é o sinal de que a ciência progride por contradições superadas.1. Newton - Teoria corpuscular - considerou a luz constituída por pequenos corpúsculos projectados no espaço pelos corpos luminosos. Permitia compreender os fenómenos da reflexão e refracção. Porém, na época, descobriram-se os factos da difracção e interferência, não explicáveis por esta teoria.2. Huygens - propõe uma nova teoria com o fim de explicar os novos factos e os anteriores. Surge a teoria ondulatória, mais tarde desenvolvida por Fresnel. Segundo esta teoria, a luz propaga-se a partir de fontes luminosas por ondas concêntricas (...).3. Maxwell - retoma a teoria ondulatória. Tendo calculado a velocidade de propagação das ondas electromagnéticas e verificado que era igual à da luz, identificou os dois fenómenos. Surge a teoria electromagnética da luz, com que realiza a unificação da luz e da electricidade (...)4. Max Planck - Regressa à teoria corpuscular. Estudando certos aspectos da emissão da luz pelos corpos incandescentes, considerou-os inexplicáveis dentro da teoria ondulatória. Formula a teoria dos ‘quanta’ (...)5. Louis de Broglie - mecânica ondulatória - Síntese do que permanece válido nas teorias ondulatórias com o que só é explicável pelas teorias corpusculares."TAREFAS:1. Faça um esquema da evolução da Teoria da Luz, segundo a perspectiva do Autor do Texto.2. Tente responder agora à questão 'o que é que Bachelard entende por 'evolução dialéctica da ciência'?TEXTO 8:"O edifício científico encontra-se em desequilíbrio e constantemente em progresso. O erro não desempenha aí apenas o papel de um acidente psicológico, mas faz, por assim dizer, parte integrante do movimento do espírito que cria a ciência; a tal ponto que se poderia pensar em definir o conhecimento científico como o conhecimento erróneo. Entendamos por isto apenas que este conhecimento implica a possibilidade de conferir um

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sentido preciso ao erro, de o reconhecer, e de dele partir para um novo progresso.(...)Mas talvez se não tenha observado suficientemente que há uma maturação própria dos erros. Poder-se-ia mesmo dizer que o progresso da ciência consiste, em parte, em fazer passar um erro do estado de erro vulgar quer dizer : de saber não formulado e ambíguo ao estado de erro científico, quer dizer, de saber refutável. Neste sentido, a ciência não pára de se destruir a si própria para renascer, ou melhor, para nascer verdadeiramente." (Gilles-Gaston Granger, Pensamento Formal e Ciências do Homem: Presença: 22-25)TAREFAS:1. Segundo o Texto, o erro (científico) é algo de positivo ou negativo? Justifique a sua resposta.2. Relacione esta cncepção do erro com a noção bachelardiana de 'generalização dialéctica'.

TAREFA FINAL:1. Resuma a teoria bachelardiana da evolução da ciência.

TAREFA TERMINADA? ÓPTIMO!

COMPARE AGORA AS SUAS RESPOSTAS COM AQUELAS QUE LHE FORNECEMOS

SOLUÇÕES

- Questões sobre o pensamento de Bachelard -

TEXTO 1:

1. Bachelard é um opositor do continuismo epistemológico. É um descontinuista.

2. Teses: a) Progressos lentos; b) progressos contínuos: c) continuidade entre o saber comum e o saber científico.

3. Argumento:

Quanto mais lentos são os progressos, mais contínuos parecem;

A ciência sai lentamente do corpo dos conhecimentos comuns;

Logo, os progressos são contínuos.

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TEXTO 2:

1. 'O progresso científico manifesta sempre uma ruptura, perpétuas rupturas, entre o conhecimento comum e o conhecimento científico'.

'O espírito científico não podia ser colocado em continuidade com o simples bom senso'

'O espírito científico formulava teses que inicialmente podem chocar o senso comum.'

'Podemos pois colocar a descontinuidade epistemológica em plena luz'

2. "o epistemólogo continuista é enganado quando ele julga a ciência contemporânea por uma espécie de continuidade das imagens e das palavras; Uma constante transposição da linguagem rompe a continuidade do pensamento comum e do pensamento científico'; a linguagem científica é, por princípio, uma neo-linguagem'.

3. Não há continuidade entre a noção de temperatura do laboratório e a noção da "temperatura" de um núcleo; imagem que Niels Bohr apresentou para expressar certas leis do núcleo atómico.

TEXTO 3:

1. Literalmente: Uma ciência não possui análogo no passado.

Por ruptura histórica ou descontinuidade histórica entende-se o facto das teorias contemporâneas enunciadas não terem um passado histórico: cada uma delas surgiu numa determinada época histórica; mais genericamente significa que cada uma das disciplinas científicas nasce em descontinuidade com o passado, ultrapassando limites (obstáculos epistemológicos) numa determinada conjuntura ideológica de ordem social, política, económica e teórica. Por exemplo, a Física Moderna (Física Galilaica) surgiu no século XVII em oposição à teoria física de Aristóteles (fundamentalmente), cuja não era nada mais do que a racionalização do senso comum.

TEXTO 4:

1. O problema do conhecimento científico coloca-se em termos de obstáculos que é necessário ultrapassar para se produzir.

2. Negativamente:

a) Não se trata de considerar os obstáculos externos;

b) Não se trata da fraqueza dos sentidos;

c) Não se trata da fraqueza do espírito humano;

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Afirmativamente:

a) é no próprio acto de conhecer que aparecem lentidões e perturbações;

b) É na intimidade psicológica do cientista que residem causas de estagnação e mesmo de regressão;

c) É na intimidade psicológica do cientista que residem causas de inércia.

3. A investigação científica passa pela 'ultrapassagem de limites'. Isto significa que não há investigação sem interferência de obstáculos - obstáculos epistemológicos. Estes não são propriamente as dificuldades próprias da complexidade do objecto que se está a investigar; também não são propriamente os limites conceptuais e técnicos dos investigadores; eles são fundamentalmente elementos internos, isto é inerentes ao cientista, que atrasam, dificultam, travam, impedem, desvirtuam a investigação científica. O racionalismo bachelardiano mostra que o próprio acto de conhecer está eivado de impurezas, de imensos segredos que escapam ao controlo do cientista, provocando riscos, cujos se devem fundamentalmente a que, no acto de conhecer, o cientista coloca mais de si próprio do que vulgarmente ele pensa. Daí a necessidade de uma psicanálise do inconsciente do cientista, isto é, a necessidade de mostrar a existência de uma filosofia nocturna (filosofia espontânea dos cientistas, em linguagem de Louis Althousser), encontrar a acção dos valores inconscientes, das íntimas representações filosóficas, que de um modo mais ou menos disfarçado e inconsciente incorrem na própria base do conhecimento científico. Um obstáculo epistemológico designa os efeitos, na prática do cientista, da relação imaginária que o cientista mantém com ela mesma.

Segundo Bachelard, há descontinuidade epistemológica ou ruptura com o conhecimento vulgar - senso comum , com a filosofia que anteriormente tratava desses problemas, com as categorias, evidências, explicações anteriormente concebidas e que se demonstram serem de ordem puramente ideológica. Bachelard insurge-se contra as pretensas continuidades do conhecimento vulgar e do conhecimento científico, defendendo que este se desenvolve sempre contra aquele, contra os dados do senso comum e do conhecimento sensível e que a passagem de um ao outro exige, para poder ser pensada, os conceitos de obstáculo e ruptura epistemológicas. A opinião constitui um entrave ao desenvolvimento da ciência. Recorde-se o exemplo de Galileu e o conjunto das objecções de senso comum que lhe foram despejadas para negar a possibilidade científica do heliocentrismo: a terra não se move, porque eu a vejo parada; o sol não está parado, porque eu vejo-o mover-se; se a terra estivesse em movimento nós seríamos lançados no espaço, as aves nunca encontrariam os seus ninhos, nenhum objecto cairia verticalmente junto de nós, as nuvens ficariam para trás, etc. o que náo acontece. Etc. O espírito conhece sempre contra o seu passado, contra os seus preconceitos, contra o seu conservadorismo incorrigível (no plano do conhecimento e da educação). O senso comum conhece passivamente, sem crítica, não constrói o real, pois as coisas são-

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lhe dadas. A experiência inicial é alheia à crítica, pois inspira-se pelo sensualismo e pelo entusiasmo natural. A observação, que precede a experiência científica, não pode ser a simples recolha passiva de dados: ela implica um conjunto de precauções que levam a reflectir antes de olhar, que modificam a primeira visão: a observação é toda ela polémica, transcendendo o dado imediato, implicando reflexão, demonstração, reconstrução. O facto científico constroi-se: nenhum facto se deixa apreender tal como nos aparece espontaneamente.

Exemplos: quando se dizia que a terra era uma espécie de pedra redonda, era porque a vemos chata e o horizonte se apresenta circular. Do mesmo modo se inferia um pretenso movimento circular do sol a partir da observação ingénua que se pode diariamente fazer da sua marcha.

Ruptura epistemológica (corte epistemológico) é o efeito de ruptura pelo qual se inicia um novo campo científico ultrapassando o campo ideológico anterior. É o início do processo de aparecimento de uma nova disciplina científica. Sendo assim, cada uma das disciplinas científicas surgiu historicamente contra o senso comum ou contra a filosofia que a subsume, como são os casos da filosofia aristotélica, no que diz respeito à física, e da alquimia, no que diz respeito à química, por exemplo.

TEXTO 5:

1. "A racionalidade científica não se desenvolve simplesmente por um alargamento progressivo. Estende-se por um processo dialéctico."

2. alargamento progressivo versus processo dialéctico; o processo dialéctico não é um simples jogo lógico de contrários; o processo dialéctico é um processo que dobra as bases; a filosofia do não não destroi nada; a filosofia do não consolida o que ultrapassa.

3. Geometria e mecânica.

SÍNTESE ANTECIPADA - O continuismo epistemológico, defendido, por exemplo, por Pierre Duhem (século XIX) e por Emile Meyerson (século XX), é uma posição epistemológica que defende que o objecto da ciência e a verdade científica são pressentidas e que seriam, ao longo da História, objecto de sucessivas aproximações num processo, embora lento, de evidente progresso contínuo e de alargamento progressivo. Ao longo do tempo, descobrir-se-iam novas verdades que se acumulariam às outras já adquiridas. Genericamente, os continuistas sustentam:

- a existência de influências que estão ‘no ar’, pelo que as transformações nunca são súbitas;

- a continuidade das imagens e das palavras (linguagem científica) e, por consequência a continuidade entre senso comum e ciência.

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Bachelard discorda, porque constatou o surgir inesperado de teorias absolutamente novas, e, como vimos, mostrou que a linguagem da ciência é, em princípio, uma neo-linguagem.

"O processo dialéctico não é um simples jogo lógico de contrários, mas que de certa maneira dobra as bases", afirma o Texto. Quando se fala em dialéctica recordamo-nos quase sempre de Hegel e Marx. E estes grandes filósofos do século XIX conceberam-na como um processo triplo genericamente conhecido como tese, antítese e momento da superação lógica dos contrários. O que Bachelard entende por dialéctica é algo diferente e que neste Texto se pode averiguar na frase seguinte: "a 'Filosofia do não' não destroi nada; pelo contrário consolida o que ela ultrapassa." Isto quer dizer que o que há de errado nas teorias anteriores é posto evidentemente de lado, mas o que há de positivo nessas mesmas teorias não é pura e simplesmente destruído, mas sim reestruturado num todo/teoria mais ampla. Por exemplo, a teoria de Eisntein nega a teoria de Newton, mas, ao negá-la, conserva-a. Isto quer dizer que a teoria de Einstein explica os factos que a teoria newtoniana já explicava e explica aqueles outros factos que a teoria de Newton era incapaz de explicar. Mas a teoria de Einstein não é simplesmente a teoria de Newton corrigida, já que a teoria de Eisntein se fundamenta em pressupostos novos, concretamente nas noções de relatividade do espaço e do tempo, impensáveis em Newton. Costuma dizer-se de forma simples: Newton + h constante de Planck = Einstein e Einstein - h constante de Planck = Newton.

Assim, à pergunta, 'como se desenvolve uma ciência formada?', Bachelard responde: por correcção de erros, negação e generalização dialécticas. É que Bachelard constatou que no processo de evolução de uma dada ciência, havia súbito rebentamento de teorias novas, emergência de teorias que subvertiam inclusivamente teorias julgadas definitivas; autocrítica elaborada pelos próprios cientistas/trabalhadores de laboratório que contradizia em muitos aspectos tudo o que poderia pensar-se relevar duma influência e, ainda, o facto da linguagem da ciência estar em estado de revolução semântica permanente.

Assim, concluiu que o conhecimento científico actual não é fruto de uma acumulação progressiva de problemas sempre mais complexos; o progresso científico tem lugar numa articulação dialéctica em que o saber científico não atinge a sua verdade pelo aprofundamento gradual das verdades precedentes, mas por rupturas e reorganizações completas.

Quando se fala de carácter dialéctico da evolução da ciência a categoria ‘dialéctica’ designa em Bachelard:

- o processo de ajustamento recíproco da teoria e da experiência. Este ajustamento não é adequação formal, mas sim processo histórico: é a ocasião de um trabalho: uns cientistas irão rever as suas teorias e formularão hipóteses novas ou corrrecções das existente), outros precisarão (tornarão mais precisas) as

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experiências e controlarão os instrumentos. Tanto uns como outros não hesitarão em reconstruir ‘de alto a baixo’ o edifício da sua ciência, se necessário (negação dialéctica).

- a negação dialéctica permite a generalização dialéctica, isto é, a nova teoria, que nega a anterior e que, de certo modo, inclui aquilo que nega. A velha teoria permanece válida, embora limitadamente e que, por isso mesmo, se encontra reformulada.

Exemplos: a mecânica de Galileu representa a submissão à dialéctica das qualidades sensíveis secundárias; a mecânica relativista representa a submissão à discussão dialéctica dos conceitos absolutos de espaço e tempo newtonianos; a mecânica ondulatória envolve a mecânica relativista.

Concluiu, assim, que a ciência se caracteriza historicamente por uma extrema sensibilidade dialéctica, que o seu progresso é descontínuo e que este se faz por ultrapassagem de obstáculos, em que o erro tem um papel positivo.

TEXTO 6:

1. A generalização pelo não deve incluir aquilo que nega.

2. A geometria não-euclidiana engloba a geometria euclidiana; a mecânica não-newtoniana engloba a mecânica newtoniana.

3. "A generalização pelo não deve incluir aquilo que nega".

3. Reler o que se diz na resposta anterior.

TEXTO 7:

1.

Newton - teoria

corpuscular:

explica a reflexão e a refracção;

não explica a difracção e a interferância

Max Planck - REGRESSO à teoria

corposcular.

Teoria dos quanta para explicar fenómenos inexplicáveis dentro da teoria ondulatória.

Louis de

Broglie:

mecânica ondulatória - generalização dialéctica de todas as teorias

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anteriores, sem os seus erros e defeitos.

Maxwell: associa os fenómenos da luz e do electromagnetis

mo

RETROCESSO: teoria corpuscular

Huygens - teoria ondulatória

Fresnel - continua a teoria de Huygens: explica a reflexão, a refracção, a difracção e a interferência

TEXTO 8:1. O erro tem um papel positivo na evolução da ciência.2. No processo dialéctico, o saber não é uma progressiva aquisição da verdade com total expulsão do erro, que seria definido como falso saber, mas o resultado de um processo em que é preciso interpretar o papel positivo do erro. A partir de um certo ponto do trabalho científico constata-se um conjunto de imprecisões das teorias científicas aceites. Gera-se a dúvida e surge, por isso, a necessidade de pôr em questão/reconsideração os fundamentos dessa ciência. Os resultados desta perturbação não são necessariamente negativos. Pelo contrário, o repôr em causa o que até então se aceita, o submeter uma teoria à discussão dialéctica, pode constituir, e constitui, o meio adequado para um novo passo na aproximação da verdade, na aquisição de teorias mais amplas explicativas do real conhecido e, inclusivamente, desconhecido.3. Se considerarmos o exemplo-esquema da questão 7.2. constatamos que foram os limites da teoria newtoniana que levaram à criação de uma nova hipótese. Esta explicava vários fenómenos desconhecidos, mas incriminava como falsa a teoria de Newton, o que se veio a verificar, quando Max Planck, para ultrapassar os limites da teoria ondulatória descobriu a constante h retomando/regressando à teoria corpuscular de Newton na sua concepção da matéria. Afinal, qual a teoria verdadeira? A luz é onda ou é corpúsculo? A experiência demonstrava que ela era as duas coisas. Mas nenhuma teoria satisfazia o espírito, porque ambas explicavam determinados fenómenos, mas nenhuma delas os explicava todos de forma coerente. Os erros e limitações de cada uma dessas teorias levou à criação de uma nova Teoria: a Mecânica Ondulatória, onde se considera a luz simultaneamente como onda e corpúsculo, explicando de forma homogénea e coerente todos os fenómenos conhecidos até então. Esta teoria, não sendo nenhuma das

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outras (negando-as), engloba-as - generalização dialéctica - (aproveita o que havia de positivo nelas sem ser nenhuma delas).TAREFA FINAL: discurso pessoal que cada aluno deve elaborar e, por isso, o professor não deve fornecer, a fim de evitar a memorização e a impessoalidade do discurso.

SOLUÇÕES- Questões sobre o ponto de vista de Th. Kuhn -

TEXTO 1:1. Fala-se de ciência somente a partir do momento em que a comunidade científica investiga na base de um paradigma, porque antes da existência de um paradigma cada cientista é autónomo, isto é, tem sobre um assunto um ponto de vista diferente de outros cientistas que eventualmente trabalhem no mesmo campo de investigação. Daí a existência de múltiplos pontos de vista.2. A óptica física antes de Newton; o estudo do calor antes de Black e Lavoisier.3. a) "No começo do século XVIII, como no século XVII e antes dele, havia quase tantos pontos de vista sobre a natureza da electricidade como o número de experimentadores importantes".b) "Todos os conceitos que eles possuíam (...) tinham origem nas experiências e observações e também numa ou noutra das versões da filosofia (...) que orientava toda a investigação científica da época. Contudo, esses elementos comuns davam aos seus trabalhos apenas uma vaga semelhança"c) "a existência de várias escolas e sub-escolas em competição, indo cada uma buscar a sua força à sua ligação com uma versão particular";d) "cada uma delas (dessas escolas) dava relevo especial ao conjunto de fenómenos (...) mais facilmente explicáveis por ela. As outras observações eram explicadas usando construções ad hoc ou eram deixadas como problemas importantes para investigações futuras."e) "embora os praticantes no ofício fossem cientistas, o resultado imediato da sua actividade era algo menos do que ciência. Cada experimentador (...) era forçado a construir o seu domínio de novo a partir da base, uma vez que o conjunto de convicções que ele podia tomar como certas era muito limitado. Ao fazer isso, a sua escolha de experiências e observações fundamentais era relativamente livre, porque o conjunto de métodos, padrão e fenómenos que cada teórico (...) podia utilizar e explicar era extraordinariamente reduzido."f) "Descobriam-se novos efeitos repetidas vezes, mas muitos deles perdiam-se rapidamente de novo."4. Praticamente, todas as ciências são precedidas por um período pré-paradigmático. O autor refere apenas uma excepção: "Excepto em domínios como a bioquímica, que tem origem na combinação de especialidades já existentes, os paradigmas são uma aquisição a que se chega relativamente tarde no processo de desenvolvimento científico."

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TEXTO 2:1. Um paradigma é:- um resultado científico que inclui simultaneamente uma teoria e algumas aplicações-tipo.- um resultado cuja conclusão está aberto e que põe de lado toda a espécie de investigação ainda por fazer.- é um resultado aceite por um grupo cujos membros deixam de tentar opor-lhe uma teoria rival ou criar-lhe alternativas..- é um resultado que os membros da comunidade tentam desenvolver e explorar numa variedade de formas.Nota complementar: Num contexto de desenvolvimento pré-paradigmático, a investigação é, de certo modo, caótica, já que cada cientista analisa o mesmo fenómeno com base em pressupostos diferentes: escolas e sub-escolas são o possível cenário do surgir de uma ciência.

Kuhn o processo de desenvolvimento das ciências 12. Nesta definição o estudante/leitor deve produzir uma definição em que se englobem os seguintes itens: o paradigma como conjunto de teorias aceites pela comunidade científica (não há individualismo científico); as técnicas comuns de exploração; os exemplos-tipo verificadores do paradigma.Eventual definição:Um paradigma é um modelo que dá nascimento a tradições particulares e coerentes de pesquisa científica, quer esboçando as teorias aceitáveis quer os dispositivos experimentais que suscitam, isto é, é um modelo interpretativo e seleccionador dos factos presente na mente dos cientistas e que inclina a dirigir a investigação segundo as teorias dele derivadas. É uma estrutura de conhecimento aceite epocalmente pela maioria dos cientistas, a partir do qual analisam e interpretam os factos e desenvolvem teorias e regras que, descobrindo novos factos ou novas relações entre factos, comprovam a justeza dos princípios por que o paradigma se afirma. Deste modo, um paradigma científico assenta socialmente num grupo relativamente coeso de investigadores que o aceitam como melhor interpretação dos factos e despoleta neles um modo epistemológico comum de conceber a natureza. É com base nesta perspectiva epistemológica comum que os cientistas elaboram teorias e procedimentos técnicos particulares racionalmente explicadores das suas observações. Não há, portanto, factos brutos, mas factos construídos: por detrás do sujeito científico e dos factos existe sempre um paradigma mental no qual o sujeito foi educado escolarmente e pelo qual observa e interpreta a natureza. Diferentemente de August Comte, Th. Kuhn considera que a observação reiterada dos factos, bem como a sua experimentação laboratorial ou a sua matematização por via de relações universais (leis quantitativas) não são suficientes para que se construa uma teoria científica, isto é, o observador científico não é neutro, não analisa os factos segundo uma transparência mental totalmente despreconceituada ou sem prévios esquemas de

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conhecimento que o orientam na análise dos factos. O cientista observa os factos partindo de teorias ou pressupostos teóricos. Caso fosse neutro, o conhecimento científico tornar-se-ia uma acumulação contínua e crescente de novas descobertas, sempre cada vez mais profundas ou cada vez mais extensas, não negando as teorias anteriores, apenas as ultrapassando em profundidade ou em relação extensiva com outros factos. Portanto, Kuhn defende que as novas descobertas sobre os factos científicos forçam a uma revolução das teorias interpretativas anteriores sobre esses mesmos factos, levantando deste modo uma ruptura racional entre a teoria anterior e a nova.3. Funções de um paradigma:- fazer com que os cientistas olhem a natureza de uma certa maneira.- dizer ao cientista qual é o tipo de entidades com que o universo está povoado e qual a maneira como se comporta.- informa os cientistas acerca do tipo de questões que podem ser legitimamente postas e quais as técnicas que podem ser devidamente aplicadas na busca de respostas para essas mesmas questões.TEXTO 3:1. Sim porque a aprendizagem de um paradigma começa com a instrução ministrada nos manuais escolares, sobretudo universitários. Os Manuais servem para introduzir o estudante no universo paradigmático da comunidade científica.

Nota complementar: a unidade de uma comunidade científica obtém-se pela iniciação que precede a entrada dum jovem cientista nessa comunidade - os manuais. O estudante é preparado para ver a natureza de uma certa maneira, algo de semelhante aos exemplos que vêm nos manuais. A educação científica forja uma mentalidade de amador de puzzles e inculca a todos os membros duma mesma comunidade a mesma visão paradigmática que permite descobrir puzzles na natureza.

TEXTO 4:1. Função do paradigma: "O paradigma (...) descreve as peças com que se deve jogar e indica o objectivo que se quer atingir."Nota complementar - O Papel do paradigma:- são o instrumento de integração do estudante na comunidade científica;- o paradigma funciona como uma grelha de selecção dos fenómenos e como um catálogo (relativamente em aberto) dos problemas que se podem estudar eficazmente. É certo que, à medida que a sua formação progride, o homem de ciência é confrontado com situações que se assemelham de um modo cada vez menos imediato aos exemplos partilhados dos seus manuais; no entanto, é por ‘ver’ que um problema oferece uma certa semelhança com o paradigma que ele sabe ser capaz, em princípio, de o resolver, pois sabe, então, de que modo aplicar-lhe as regras teóricas e metodológicas da sua

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disciplina de maneira a obter uma solução ‘semelhante’ à sua solução paradigmática.2. Tarefas dos cientistas: a) manipular as peças segundo as regras do jogo (incutidas pelo paradigma); b) se o trabalho do cientista falha, o fracasso revela a sua falta de habilidade; c) em caso de fracasso, as regras do jogo não podem ser postas em causa; d) a actividade científica pressupõe a adesão profunda ao paradigma.

Nota complementar: A ciência é uma actividade localizada: é somente nas comunidades científicas que se faz ciência. Sendo assim, uma das características mais assinaláveis do funcionamento da investigação científica é a ausência de escolas rivais que se ocupem de problemas semelhantes, através de métodos mutuamente incompatíveis.Uma comunidade científica caracteriza-se:- pela profunda unidade que em tempo normal reina entre os membros duma mesma comunidade. Não obstante se encontrarem dispersos pelo mundo, estão unidos por estreitos laços: lêem os mesmos livros, os mesmos jornais, têm o mesmo vocabulário e os mesmos interesses científicos. A sua educação muniu-os de modelos e critérios metodológicos comuns que determinam os problemas a resolver e as soluções admitidas pelo grupo.- pela noção de competência: uma das regras da comunidade científica é que todos os seus membros submetam as suas investigações ao juízo dos seus confrades sem tentar eventualmente dirigir-se a uma autoridade exterior, mas incompetente, quer seja ela o poder económico, político ou a opinião pública.- Como não necessita de defender o resultado dos seus trabalhos senão perante o público que com ele partilha convicções e critério, nada encoraja o investigador a meditar sobre os fundamentos da sua ciência e a interrogar-se sobre as hipóteses e pressupostos que orientam a sua investigação. O que dele se espera é que se consagre ao estudo dos problemas especializados que a sua educação lhe ensinou a seleccionar e a resolver.

Como consequência, a imagem do cientista como solitário explorador do mundo é ilusória. O cientista não é esse intrépido explorador do desconhecido em constante procura do novo em permanente processo de invenção. Uma investigação científica normal não tem como objectivo descobrir factos novos e insuspeitados; o inesperado é antes mesmo considerado como um falhanço, pois o verdadeiro triunfo consiste em obter a solução que a teoria permitia prever e confirmar desse modo a submissão da natureza ao quadro estreito do paradigma.Não há ciência solitária nem génio científico eremita: a ciência tem os limites que a comunidade dos membros que a praticam lhe traça, limites que são ao mesmo tempo:

- institucionais: porque a comunidade assume o exclusivo da produção do saber científico, dos mecanismos do seu ensino e do controlo da sua distribuição;- sociais: porque impõe ao corpo social os contornos de uma imagem do não-cientista e da não-ciência;- cognitivos, porque define com uma extrema nitidez os problemas interessantes de que se poderá ocupar, delimitando os campos do saber e as suas configurações mais persistentes, fora das quais não há conhecimento científico.

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TEXTO 5:1. Por exclusividade dos paradigmas entende-se que a comunidade aceita um, e somente um, paradigma numa determinada época e sobre um concreto objecto científico.

2. A comunidade é dogmática, pois considera que as suas teorias (o paradigma) foram comprovadas/verificadas na experiência e, portanto, a verdade científica é absoluta e definitiva.

3. "Ao aceitar um paradigma, a comunidade adere toda ela à atitude de considerar que todos os problemas resolvidos o foram de facto, e de uma vez para sempre"

TEXTO 6:1. 'resistêcnia a inovações'; 'os cientistas esforçam-se para pôr (o paradigma) cada vez mais de acordo com a natureza'; 'muito do seu esforço (é torná-lo) preciso em áreas em que a formulação original fora vaga'; há sempre muitos outros campos onde supostamente o paradigma pode funcionar, mas em que não foi, de facto, aplicado'; 'existe sempre um trabalho imenso, fascinante, para melhorar o acordo num campo onde se demonstrou já existir um certo acordo aproximado'; 'coloca-se toda uma série ininterrupta de barreiras experimentais'.

Em época de ciência normal, a comunidade científica:- procura proceder à determinação de factos científicos;- proceder à concordância dos factos e da teoria;- proceder à precisão da teoria (‘operações de limpeza);- construir tecnologias adequadas às investigações.

A ciência normal consiste no trabalho tranquilo da comunidade científica não na descoberta de novas teorias ou explicações, mas na confirmação das que adoptou, isto é, recorrendo ao paradigma que toda a comunidade aceita, procede a aplicações e resolvendo problemas previstos ou previsíveis no âmbito paradigmático. A ciência normal é aquela que progride explicando factos integrando as descobertas no quadro das teorias existentes numa certa época.A ciência normal é investigação que a comunidade faz com base num conjunto de teorias, regras, métodos e análises interpretativas que se aprendem na escola e na universidade e que têm como fim solidificar na consciência de novos grupos de futuros cientistas a estrutura interpretativa da natureza ou do universo ou da sociedade do paradigma anteriormente formado. Deste modo, a investigação no interior da ciência normal não tem como fim revolucionar, inovar ou contestar a estrutura paradigmática em que assenta o pensamento da maioria dos cientistas, mas comprovar o bem acertado daquelas teorias. O que o cientista faz é resolver puzzles que representam os problemas específicos que dão a cada um a ocasião de provar a sua engenhosidade ou habilidade no âmbito de um paradigma e das regras

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que lhe estão ligadas. A ciência normal, que se dedica à solução de puzzles, é claramente um empreendimento cumulativista e que atinge de modo perfeito o seu fim, o aumento contínuo da extensão e de precisão do conhecimento científico. Em suma, enquanto solucionadora de enigmas, compete à comunidade científica:

- investigar os grupos de factos de que o paradigma fornece uma explicação perfeita;- investigar factos preditos, mas não ainda verificados ou descobertos;- investigar factos enigmáticos ou ambíguos à luz do paradigma científico dominante.

É que o paradigma é um quadro mental geral e comum de interpretação e não um quadro onde tudo esteja desde logo resolvido e solucionado. Por isso, com base nos utensílios teóricos fornecidos pelo paradigma, os cientistas levantam eles próprios ou são-lhe postos espontaneamente pela prática ou por outros cientistas um conjunto de enigmas relacionados com os factos observáveis ou com cálculos matemáticos. A ciência normal assenta na resolução destes enigmas que consolida e aperfeiçoam o paradigma sem o criticar.

TEXTO 7:1. O cientista, porque absolutamente familiarizado com o paradigma, é capaz de detectar anomalias. E por anomalia entende-se aquele problema especial que é insustentável pelo paradigma. Não é um problema normal, não é um enigma, não se trata de mais um puzzle, mas sim de algo que exige a mudança das regras do jogo. O Rei que nos acuda! A lebre levantada traz problemas: a crise entre a comunidade científica.

2. Não, porque um problema é um facto que ainda não tendo explicação, pode ser explicado com base no paradigma, mesmo que seja necessário aperfeiçoá-lo, enquanto que uma anomalia é um facto que exige mudança das regras do jogo, isto é, à partida divide a comunidade científica, já que é algo que para os mais futuristas exige novas regras, isto é, novo paradigma. Uma anomalia é 'algo (que) está fundamentalmente errado na teoria com que (os cientistas) trabalham', diz o texto.

3. Divisão: os conservadores, fazendo experiências para tentarem mostrar que a 'anomalia' não é mais do que um 'problema' mais difícil: tudo se irá solucionar no âmbito do paradigma; o(s) revolucionáro(s) que vislumbram que somente uma nova hipótese é capaz de tudo resolver.

4. Resulta o surgir conflituoso de uma nova hipótese que, derrubando o paradigma, originará um outro paradigma. Estamos perante uma revolução científica.

TEXTO 8:1. Uma revolução científica consiste na mudança de paradigma. O novo paradigma

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não é uma simples correcção do anterior, mas a sua negação total: os paradigmas são incomensuráveis entre si.

2. Da ciência normal à ciência em crise: a actividade científica, vivendo tão intensamente o seu paradigma, procurando com tanta insistência proceder a aplicações e resolver problemas no seu âmbito, acaba por se tornar extraordinariamente capaz de detectar anomalias. Quanto mais minucioso for o seu funcionamento conservador, tanto mais fácil se torna a detecção daquilo que vai precisamente impedir a manutenção da ciência normal, ou seja, dos indicadores de anomalias.Quando é que se dá a revolução científica no âmbito do paradigma? Ela não se pode dar no interior da ciência normal. É preciso que haja uma descoberta que não se enquadra nas teorias paradigmáticas ou nas regras de aplicação instrumental das ciências. Ou seja, é preciso que se verifique uma anomalia.A anomalia científica é, então, o estudo ou a descoberta de um fenómeno natural para o qual o paradigma não dá indicações teóricas ao investigador. Gera-se, assim, uma contradição entre o quadro mental em que o cientista pensa e os novos resultados a que se chegou.Depois de selectivamente e rigorosamente unificados, como os resultados não podem enganar, o cientista é obrigado a re-interpretar o paradigma à luz dos novos e inesperados factos e, deste modo, inicia a formação de um novo paradigma ou, pelo menos, o desenvolvimento de um conjunto de teorias, muitas vezes erradas, que acabarão por gerar um novo paradigma.O aparecimento de anomalias caracteriza o período de crise, que se caracteriza por o antigo paradigma já não servir e não haver ainda consenso sobre um novo paradigma. A crise exige dos homens de ciência um novo olhar, exigência de reflexão sobre os métodos utilizados e seus pressupostos, o que só é possível abandonando o anterior paradigma. (Popper contra Kuhn: Este defende a ideia de que há quadros de referência - os paradigmas - no âmbito dos quais se faz a ciência e que não são, em rigor, racionalmente discutíveis. Popper diz-nos que é sempre possível discutir os pressupostos da ciência no quadro da racionalidade).Este novo paradigma, interpretando os fenómenos de um outro modo, atrairá para si um conjunto de cientistas que tentarão provar, cada vez mais minuciosamente, a validade das suas teses. Assiste-se, assim, a um lento conflito entre dois paradigmas, com a expressão polémica entre antigos de revistas científicas, em colóquios universitários e em livros.O novo paradigma acabará por vingar, uma vez que explique melhor que o outro, embora não explique tudo, os mesmos factos e os novos.Este período é o único em que o valor do paradigma é confrontado com os factos; mas, uma vez aceite pela maioria dos membros da comunidade, termina o período de ciência extraordinária, desaparece a necessidade de comprovação e o novo paradigma apresenta-se de novo com carácter irrefutável.Papel da crise:

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- função de motivação contra a inércia teórica das comunidades científicas;- função de invenção que procura anular o mal-estar que acompanha a crise;- função de aceitação, pois conduz à reposição da ciência normal, sendo por tudo isto um verdadeiro operador da revolução científica.

3. Kuhn rejeita os modelos continuistas e cumulativistas da história das ciências e procura pensar a história das ciências em termos de mutação não-cumulativos: os paradigmas são incomensuráveis e a adopção de um novo paradigma implica a recusa completa do anterior. O progresso científico não deve ser definido como uma progressão para um objectivo futuro, ainda que inacessível, e que seria a VERDADE ou a ‘descrição objectiva’ da natureza.A ‘árvore evolucionária diz-nos fundamentalmente que:

- não há progresso para um fim, mas tão somente a partir de uma origem primitiva;- esta evolução irreversível caracteriza-se pela precisão das previsões que uma teoria torna possível, o grau de especialização, o número, mas não o alcance dos problemas resolvidos.

TAREFA FINAL: discurso pessoal sobre os conteúdos abordados.

SOLUÇÕES- Questões sobre Karl Popper -

TEXTO 1:1. O ponto de partida da investigação (o primeiro momento da investigação) é, não propriamente a observação, mas o problema posto na observação.Os problemas que se colocam na investigação são os factos que se insurgem/ou parecem insurgir contra a teoria existente e 2. Faça a seguinte experiência, que aliás, foi feita por Popper: mande alguém observar e anote as respostas que lhe vão dando.NOTA: Suponhamos que o ponto de partida é a observação. Solicito-vos uma tarefa de investigação, a vós que sois cientistas ou não: observem. E vocês responder-me-ão: observar o quê? Foi esta a experiência que Popper fez com os seus próprios colegas e cientistas num Colóquio. Ninguém sabia por onde começar. Só começamos a investigar se soubermos o que queremos investigar e isto acontece em duas circunstâncias: quando surge um problema (facto que contradiz ou pode contradizer a teoria aceite) ou uma dupla teoria sobre o mesmo objecto e, neste caso, o cientista averigua o valor de cada uma dessas teorias.

3. .........................Nota complementar:Defende-se o primado da teoria sobre a observação: a observação é sempre selectiva, pois não se resume nunca a sensações ou percepções que o

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observador se limitaria a transcrever em relatórios escritos, e é parcialmente determinada pelas expectativas e problemas que existem no espírito do investigador e que ele retira do conhecimento anterior. Não existe observação e conhecimento que não esteja à partida impregnado de teoria. As observações aparentemente passivas do cientista estão sempre impregnadas com hipóteses mais ou menos frustradas que as animam e organizam.

TEXTO 2:1. Problema - Conjectura/suposição/hipótese/teoria - Crítica - Refutabilidade.2. Inventa uma hipótese = conjectura uma solução. Se há um problema é sinal de que há desajustamento da teoria à experiência, ao real ou, então, controvérsia nas capacidades de resposta de teorias diferentes criadas para o mesmo objecto. Face aos problemas, o homem de ciência, sinal de audácia e imaginação, constrói cenários/hipóteses/conjecturas (hipóteses), que são tentativas que visam a sua resolução.

3. Método Experimental

(simplificado)Método Crítico

1ª fase - observaçãoProblema que se coloca na observação ou teorias rivais sobre o mesmo assunto.

2ª fase - hipótese e dedução das consequências da hipótese.

hipótese-conjectura

4. O segundo momento da investigação consiste na submissão das conjecturas a testes apertados e sistemáticos (processo de testagem) que se revelarão tanto mais fecundos quanto mais conseguirem refutá-los ou declará-los falsos. Pode demonstrar-se que um teoria é falsa recorrendo, por um lado, aos resultados da observação e da experimentação, (exemplo: observou-se que um corvo não é preto, logo, conclui-se que nem todos os corvos são pretos); e, por outro, partindo de enunciados observacionais singulares como premissas, pode chegar-se, por dedução, à falsificação de teorias e leis universais. Testada que é a conjectura, ela pode ser pura e simplesmente falsificada, e, neste caso, a hipótese é posta de lado, o que leva o cientista à invenção de uma outra conjectura, ou pode ser parcialmente corroborada e o grau de corroboração exige a correcção da conjectura, que deverá ser novamente levada à testagem: observação sistemática e/ou experiência, ou, finalmente, pode ser corroborada, o que quer apenas dizer que não foi ainda falsificada."as nossas conjecturas podem-se refutar"; "que as nossas conjecturas não resolvem o nosso problema" (neste caso são postas de lado); "que as nossas conjecturas só resolvem parcialmente 'o problema' (o que vai exigir que se corrija a conjectura inicial); as melhores soluções são capazes de resistir às

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críticas mais rigorosas, (mas) suscitarão dificuldades e problemas" (o que quer dizer que uma conjectura nunca é verificada em absoluto.5. "TEXTO 3:1. Falsificacionista.

2. Refutação é o processo em que se põe à prova a conjectura ou teoria.Na questão 5 do grupo anterior respondi já a esta questão.Frases do Texto sobre refutação:"se sai airosa de todos estes contrastes, podemos ter boas razões para supor que a nossa teoria contem um conteúdo de verdade superior ao de outra teoria";"se não conseguirmos refutar as novas teorias, então poderemos considerar isto como uma das razões objectivas a favor da hipótese".

3. "nunca podemos justificar racionalmente uma teoria, isto é, a pretensão de que conhecemos a sua verdade"; "podemos justificar racionalmente a preferência provisória por uma teoria"; "tudo parece indicar que a teoria constitui uma aproximação da verdade".

4. Uma teoria, segundo Popper, é apenas uma conjectura (carácter conjectural das teorias) que ainda não foi falsificada. Depois de testada, é aceite, porque foi corroborada na experiência. Digo 'corroborada' e não 'verificada', isto é, os testes parecem indicar que a teoria/conjectura está de acordo com a realidade. Mas isto também quer dizer que um teste ainda mais apertado e sofisticado possa levantar novos problemas e, assim, por diante. Em suma, uma teoria é apenas uma hipótese ainda não falsificada, mas que pode vir a ser falsificada. Por isso, mantém-se no corpo científico como hipótese e a sua verdade é apenas de carácter aproximado e provisório.TEXTO 4:1. Qualquer teoria é de carácter conjectural.2. Uma teoria é uma hipótese, uma tentativa que tem em vista compreender o mundo, nunca pode ser verificada, mas ser corroborada: se resistir com êxito aos testes mais severos e não tenha sido substituída com vantagem por uma teoria rival. Uma hipótese corroborada é uma hipótese aceite pela comunidade científica mas cujo destino é um dia ser desmembrada pelo aparecimento de novos factos.3. Em vez de verdade fala de 'verosimilhança ou verisimilitude'.Nota complementar:Verdade e certeza não se identificam: a verdade é um ideal regulador. A ciência procura certezas verosímeis: nem cepticismo nem relativismo, mas sim: o fabilista acredita no carácter inventivo do cientista. Se o cientista amplia o erro, isto é, procura sistematicamente os erros das suas conjecturas, é porque vê nele o caminho mais seguro para a verdade. Assim, em vez de verdade, Popper fala de verosimilitude, verisimilaridade (estado

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de aproximação à verdade que uma teoria pode atingir). Uma teoria aproxima-se da verdade quando, para além de toda a experiência singular, os seus conteúdos de ‘verdade’ parecem ser superiores aos seus conteúdos de ‘falsidade’. É assim que uma teoria, caso parcialmente refutada, pode conservar uma parte importante de ‘verisimilaridade’. Todas as teorias científicas não são mais do que hipóteses, conjecturas, cujo sucesso poderá ser mais ou menos duradouro, mas que poderão vir a ser total ou parcialmente refutadas, originando novos problemas que, por sua vez, irão conduzir à elaboração de novas teorias, susceptíveis de serem ou não um sucesso conforme a sua capacidade de resistência à discussão crítica.

4. Grau de verosimilhança:´é o grau de adequabilidade de uma teoria à realidade. Grau de corroboração é o grau de aceitação resultante do processo de testagem por que passou e problemas que deixa em aberto, o que faz com que duas teorias diferentes possam ter graus de corroboração diferentes. O grau de corroboração das teorias é variável.5. Uma vez que a experiência não demonstra/verifica a verdade das conjecturas, mas apenas se limita a corroborá-la em determinado grau (grau de corroboração), então, as teorias que aceitamos como científicas são objecto de crença racional. Isto quer dizer que até ao momento temos boas razões para acreditar que essas teorias são uma aproximação à verdade, que uma teoria é potencialmente melhor do que outra e, por preferência, aceitamos como científica uma dessas teorias, porque, ao ser testada, passou os testes apertados e sofisticados a que foi sistematicamente submetida com o objectivo de a falsificarem. Além disso, essa teoria corroborada explica mais e com maior coerência o conjunto de fenómenos a que diz respeito.TEXTO 5:1. Popper entende por 'senso comum' "os instintos e opiniões das gentes, muitas vezes adequados e verdadeiros, mas muitas outras inadequados ou falsos."2. A ciência parte do senso comum.3. O grande instrumento de progresso científico é a crítica.TEXTO 6:1. O senso comum é o ponto de partida da ciência, porque ele é o resultado do uso dos nossos sentidos. A primeira forma de conhecimento é empírica. Portanto, como os conhecimentos de senso comum podem estar errados ou inadequados, a ciência começa quando inicia o processo de crítica do senso comum, produzindo, assim, conhecimentos novos que, lentamente, vão dando corpo ao saber científico.2. A 'mente como tábua rasa' é um conceito de John Locke: o homem quando nasce é uma tábua rasa, como se estivesse encerada. Isto é, o espírito do homem quando nasce, nada possui. Mas as experiências por que passa cada homem vão fazendo marcas na ´tábua´, isto é, os órgãos sensoriais são afectados pelos objectos do mundo e são estes que produzem em nós as ideias. RELER teoria lockiana da origem do conhecimento.

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3. A teoria da ´mente como tábua rasa' ou 'teoria do balde vazio' é criticada, porque pressupõe a passividade do sujeito no processo de aumento do conhecimento. Ora, segundo Popper, qualquer observação pressupõe já algo: expectativas, conhecimentos erróneos, conhecimentos de qualquer ordem. E é por esta razão que as observações, quando chocam com as expectativas ou os conhecimentos prévios, é que levam o homem à busca de novo conhecimento. Recorde-se que, segundo Popper, o ponto de partida da investigação não é a observação, mas os problemas postos pela observação. O último parágrafo do Texto informa-nos exactamente disto. Neste contexto, enquanto a teoria da ´tábua rasa' tem inerente a si a teoria da cumulatividade do conhecimento, Popper defende o aumeneto do conhecimento como modificação do conhecimento prévio, seja ele ou não científico.4. Num determinado momento do tempo há expectativas e/ou conhecimento. Os problemas que surgem levam, pelo processo da crítica, à tentativa de solução - criação de uma nova conjectura - que, como se disse nas respostas anteriores, vão ser testadas, falsificadas ou corroboradas. As teorias que vão surgindo são 'cada vez melhores', isto é, mais adequadas à realidade.TEXTO 7:1. O Modelo popperiano da evolução da ciência é um modelo de matriz biológica (modelo evolucionista)Por influência de Darwin, Popper defende que o progresso do conhecimento é um processo de descoberta progressiva e que este resulta do método das tentativas, erros e descobertas provisórias.O conhecimento científico não partiu do zero: teve como base o senso comum. Não sendo este um conhecimento seguro, partiu-se dele e foi, e é, a crítica o instrumento do progresso científico.O autor nega o optimismo epistemológico que pressupõe que o conhecimento nos é dado, nos é revelado. Bastaria, então, estar atento, sensorialmente atento, para a verdade nos ser patenteada.Pelo contrário, defende que a descoberta científica é intrinsecamente dinâmica: processa-se mediante a procura e resolução de problemas, indo de problema em problema e o seu método é o método crítico que consiste em deixar morrer as hipóteses. O aumento do conhecimento consiste, assim, na modificação do conhecimento prévio, quer alterando-o, quer destruindo-o.Os homens, ao exteriorizarem as suas teorias, ao criticá-las colectivamente (intersubjectividade: a aplicação do método das tentativas e erros implica, por parte do homem de ciência, uma renúncia às certezas individuais e uma aceitação sem reservas de que as conjecturas devem sers publicamente debatidas, isto é, combatidas no seio da comunidade científica), ao procurarem com celeridade as suas falhas e eliminarem com eficácia as mais pobres, mostram a superioridade adaptativa de uma teoria, a teoria mais forte. Do resultado de uma experiência falsificante pode depender a adopção provisória de uma teoria e, ao mesmo tempo, a eliminação definitiva das

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teorias inferiores, isto é, menos fortes. Portanto, as experiências permitem que os cientistas façam selecções entre as teorias concorrentes.Neste processo, o erro é factor dinâmico de progressoComo pode uma conjectura científica ter sucesso? Popper responde-nos com a sua teoria do erro. A tecnologia da experiência e do erro é a melhor para dinamizar o crescimento do saber. Os erros instruem-nos. É por isso que Popper convida os cientistas a procurarem nas suas próprias teorias o erro, a falha, o improvável, em vez de quererem a todo o custo fundamentar o verosímil. Convida-os a tentarem derrubar as teorias e não a defendê-las tentando verificá-las a todo o custo: o método da investigação não consiste em defender teorias de maneira a provar que temos razão, pelo contrário, é um método em que se procura derrubá-las. Usando todas as armas da lógica e da matemática ao nosso alcance, tenta-se provar que as nossas antecipações/conjecturas/hipóteses/teorias são falsas de modo a podermos colocar no seu lugar outras antecipações/hipóteses por justificar ou talvez injustificáveis.A descoberta de um erro instrui-nos sobre a nossa própria ignorância e abre ao mesmo tempo o caminho de um novo conhecimento. Por isso, a ciência não é mais do que a eliminação indefinida do erro. Testes e experiências permitem eliminar o erro e, em consequência, seleccionar as teorias tão seguramente como a natureza se encarrega de eliminar as espécies incapazes de sobreviver às mutações do ambiente. A tensão é perpétua entre o homem que por intermédio das suas teorias tenta compreender de forma cada vez mais minuciosa o mundo que o rodeia e esse mundo complexo e volátil que continua a frustrar as antecipações (conjecturas, hipóteses) mais sábias. O sucesso de uma teoria ou conjectura não é garantido pela verificação mas pela corroboração. Só podem ter sucesso aquelas teorias que são refutáveis, testáveis, falsificáveis (capazes de serem demonstradas como falsas) e que tendo subsistido, tal como acontece na selecção natural ao nível dos seres vivos, são confirmadas, isto é, corroboradas. Escolhe-se a teoria que melhor se aguenta na competição, aquela que por selecção natural demonstra ser a mais apta a sobreviver. Pode acontecer que o sucesso não seja duradouro à semelhança do que se passa com a sobrevivência das espécies que podem num futuro mais ou menos longínquo vir a desaparecer que uma nova luta surja, isto é, que uma nova teoria, que pode ser proposta inclusivamente pelo próprio cientista ou por qualquer outro (carácter público da ciência), entrando em competição com a hipótese sobrevivente seja capaz de a eliminar mostrando a sua falsidade. A ‘teologia do erro’ preserva do dogmatismo e do conformismo, ao mesmo tempo que excita a curiosidade e priva a pesquisa das facilidades da ‘ciência normal’ de que nos fala Th. Kuhn, tendo em vista fazer triunfar nela a ‘revolução permanente’ das conjecturas e refutações. Popper situa-se, assim, entre o trotskismo epistemológico e o anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend. A única coisa que sabemos é que não sabemos, não existe saber infalível: o ideal de um conhecimento seguro, de uma episteme, está fora do alcance do

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nosso intelecto. Somos capazes de identificar os nossos erros. O pensamento científico condena intransigentemente a ligação a noções ultrapassadas, mas, ao mesmo tempo, tem plena consciência de que este esforço não está ainda acabado e que uma estrutura cognoscitiva mais abstracta (uma nova teoria) se esconde por detrás daquela que acaba de alcançar, reconhecendo-lhe, assim, o seu carácter provisório. Popper situa-nos assim numa dialéctica da certeza e da dúvida: certeza de progredir e dúvida de ter chegado ao fim.Visto que o progresso surge a maior parte das vezes de estruturas novas que substituem e contradizem as estruturas precedentes, o processo de conhecimento é uma constante remodelação.O progresso da ciência exclui a efectuação de modificações nas teorias destinadas simplesmente a protegê-las da falsificação ou de uma falsificação ameaçadora (modificações ad hoc, como por exemplo, a adição de mais um postulado sem consequências que não tenham sido já comprovadas.No entanto o falsificacionismo aceita a introdução de modificações que não são ad hoc. Exemplo: ‘o pão alimenta’; no entanto, em França, o pão comido produziu efeitos nefastos. Foi a teoria falsificada? Não, embora assim o pareça. Uma modificação ad hoc e, portanto, inaceitável seria ‘o pão alimenta, excepto o que é produzido no lugar Y. Uma modificação não-ad-hoc poderia ser ‘o pão alimenta, excepto aquele cujo trigo está contaminado por um determinado tipo de parasita’. Esta nova teoria não é ad hoc, porque leva a novas comprovações, isto é, é contrastável de forma independente.Marcha progressiva e regressiva (o passado ilumina-se retrospectivamente à luz da nova teoria que afasta a antiga, ao mesmo tempo que justifica a parte de êxito que esta havia encontrado), Popper está contra a teoria cumulativista positivista, segundo a qual haveria simples acumulação ou justaposição de descobertas tomando sucessivamente o seu lugar sem perturbar o antigamente adquirido.AS TAREFAS FINAIS são da exclusiva responsabilidade do aluno, porque o fundamental é a produção de um discurso pessoal.A QUESTÃO DO PROGRESSO DA CIÊNCIA:CONTINUIDADE OU DESCONTINUIDADE?

A noção que o homem teve da ciência variou ao longo da História da Humanidade, desde o seu surgir na Grécia Clássica (séculos VI a.c. - III a.c.) até aos tempos hodiernos.Por outro lado, a noção que o homem contemporâneo tem da ciência só se compreende a partir do seu nascimento, concretamente finais do Renascimento e Idade Moderna (séculos XVI - XVII).Estas afirmações justificam-se, porque não nos podemos esquecer de duas ideias fundamentais:- carácter contemplativo da ciência/filosofia greco-medieval.- diferenciação da noção de ciência moderna e contemporânea.Enquadrando-se no sentido etimológico de Filosofia - a Filosofia é amizade pelo saber -, Platão e Aristóteles conceberam e classificaram os saberes particulares, cada qual à sua maneira, mas ambos defenderam que a

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Filosofia era uma actividade racional teórica e suprema. Aristóteles caracterizou-a como a Rainha das Ciências, superior à Física e Matemática. O objectivo da ciência/Filosofia era a compreensão do mundo, a sua interpretação e não a sua transformação. Daí a inexistência de aliança entre teoria e técnica.A partir do Renascimento e, objectivamente, com Francis Bacon (século XVI), começou a conceber-se a ciência como um saber que deve ter não só objectivos teóricos - a explicação objectiva da realidade, segundo leis e teorias - como também, objectivos práticos imediatos: o domínio da natureza. Conhecer para dominar, é o lema de Bacon. Assim, a ciência, saber considerado objectivo, visou, e continua a visar hoje, a previsão fenoménica e, hodiernamente, o controle e reprodução artificial dos próprios fenómenos.Passou-se, portanto, de uma concepção contemplativa para uma concepção operativa da ciência. Esta deixou, com e a partir de Galileu, de confundir-se com a Filosofia.É neste contexto que se levantam as questões do estatuto da ciência e do sentido da evolução científica.

Abordemos sinteticamente o pensamento de dois homens do século XIX: A. Comte e Pierre Duhem.

EVOLUÇÃO E NOÇÃO POSITIVISTA DE CIÊNCIA

SEGUNDO AUGUST COMTE (SÉC. XIX)O conhecimento científico é um saber que decorre, com e depois de Galileu (séc. XVII), da aliança entre observação, razão (razão matemática) e experimentação, isto é, do método experimental. Este método, por generalização indutiva, permite, segundo o espírito positivista (século XIX) e neo-positivista (princípios do século XX), a formulação de leis invariáveis, absolutas, definitivas. O saber científico foi, então, considerado como o único saber válido.

Segundo Comte, a ciência produzida segundo os parâmetros deste método caracteriza-se pela objectividade e positividade. Pela objectividade, porque se julga que na investigação científica o sujeito epistémico não interfere de modo algum no objecto que se investigava: a subjectividade, emotividade, interesses, preferências do sujeito não interferiam, assim se pensava, na produção do conhecimento científico. Em linguagem filosófica: pensava-se que existia, no contexto da investigação, total separação entre sujeito epistémico e objecto. Pela positividade, porque os enunciados só eram considerados como enunciados pertencentes ao corpo científico depois de terem sido submetidos à verificação experimental: facto positivo é o facto fiscalizado na/e pela experiência.

August Comte, analisando as sociedades e respectivas mentalidades, também pôde concluir que a humanidade passou historicamente por três fases de

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evolução de mentalidade, cujas especificam modos diferentes de explicar/interpretar a realidade.

Primeiramente (Estádio Teológico, também designado por estádio fictício), o homem centrou-se na pesquisa, sem bases sobre as causas de tudo, não lhe interessando saber o que era uma pedra, mas sim quem ou o que foi o criador universal das pedras. Incapaz de explicar os acontecimentos naturais com base em leis rigorosas, atribuiu a tudo o que existe a intervenção de factores espirituais ou acção de deuses. O espírito humano, ao dirigir as suas investigações para a natureza íntima dos seres, as suas causas primeiras e finais de todos os efeitos, transpôs para eles a sua vontade, os seus sentimentos, as suas paixões, isto é, representou os fenómenos como produtos da acção directa, arbitrária e contínua de agentes sobrenaturais invisíveis (visão animista e antropomórfica da realidade).

Temporalmente há diferenciações genéricas: o homem passou primeiramente pelo feiticismo (atribuindo aos corpos da natureza um espírito idêntico ao espírito humano, embora mais poderoso do que ele), pelo politeismo (os espíritos são então sintetizados num restrito conjunto de individualidades todo-poderosas e invisíveis que guiam arbitrariamente a vida dos homens e o curso da natureza) e, finalmente, o que é falso historicamente, pelo monoteismo (unificação de todas as forças cósmicas e de todos os deuses num único deus superior, transcendente e perfeito, negando assim o antropomorfismo e animismo inicial).

Depois - Estádio Metafísico, também designado de abstracto - o homem tendeu para os conhecimentos absolutos, embora os agentes sobrenaturais tenham si substituídos por forças abstractas, verdadeiras entidades (abstracções personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo e concebidos como sendo capazes de gerar por si mesmos todos os fenómenos observáveis (ser, essência, substância, espírito, pensamento, bem, uno, devir, etc.)

Finalmente - Estádio Positivo - nos finais da Renascença e Época Moderna surgiu o espírito positivo. O homem renunciou à procura da origem e destino do universo, ao conhecimento das causas íntimas dos fenómenos, atitude própria dos cientistas/filósofos desde Aristóteles, e começou a dedicar-se à descoberta, através do emprego bem conjugado da observação e do raciocínio (método experimental), das leis efectivas do universo.

Subjacente a esta concepção de ciência temos, como seu fundamento cosmológico-metafísico, a concepção de universo regido pelo princípio do determinismo e pela lei da causalidade; o universo, como máquina, é regido por leis mecânicas, uniformes, onde o absurdo e os factos casuais são excluídos.

A. Comte lançou as bases que iriam fundamentar a regra fundamental do espírito positivista: qualquer proposição é estritamente redutível ao enunciado de um facto verificável, experimentado ou experimentável e demonstrável objectivamente por métodos científicos.

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O espírito científico, ou positivo, não só foi considerado como forma suprema de conhecimento como também o coroamento do desenvolvimento racional da Humanidade: existiu neste período histórico, que é o final do séc. XIX, uma identificação plena entre conhecimento racional, universal, objectivo, verdadeiro, absoluto com conhecimento científico-experimental.

Finalmente Comte considera que os saberes positivos se cientificaram ao longo da História, o que quer dizer que o processo não eclodiu ao mesmo tempo e ao mesmo ritmo. A positivização do saber humano registou, segundo Comte, os seguintes critérios:

- grau de complexidade: as ciências estabeleceram-se segundo o critério do objecto mais simples para o mais complexo: foi por isso que o objecto matemático, sendo o mais simples, se transformou na primeira Ciência, com Euclides.

- fundação do saber partindo da exterioridade do objecto para o homem: o conhecimento positivo começou por abordar os objectos mais afastados do homem (números: matemática; astros: astronomia; fenómenos naturais: física) para se aproximar progressivamente do homem (química, biologia e sociologia);

Como o progresso se processou do estado teológico para o estádio positivo, a cientificação significou libertação progressiva das teses teológicas (mentalidade religiosa) e metafísicas (mentalidade filosófica e, portanto, puramente racional) para uma visão positiva, tal como foi supra definida.

Por outro lado, porque a razão humana não é capaz de conhecer de um modo imediato e total a natureza e a sociedade, isto é, o real, a ciência é um processo progressivo de carácter acumulativo, de evolução contínua, sem rupturas: cada nova lei e teoria descoberta permite avançar, no sentido de aumentar, o conhecimento e o domínio do homem sobre a natureza.

TEORIA CONTINUISTA DE PIERRE DUHEM (1861-1916)

Na obra 'Sobre a História das Ciências', de Michel Pécheux e Michel Fichaant, encontramos resumidamente a teoria deste grande Historiador e Filósofo da Ciência

Dizem-nos eles:

"Todo o trabalho consagrado por Duhem ao estudo da ciência antiga e medieval, visa a eliminação do mito da Renascença, do mito da constituição ex-nihilo do saber científico clássico, pela rejeição das filosofias religiosas e da teologia. É necessário pois estabelecer que os conceitos que honram a ciência moderna, foram enunciados, formados, pré-constituídos na Idade Média;" (pag. 84)

'O estudo das origens da Estática levou-nos (...) a uma conclusão: à medida que fomos avançando nas nossas investigações históricas e em direcções mais variadas, esta conclusão impôs-se ao nosso espírito com uma força crescente.

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Assim, ousamos formulá-la na sua forma mais generalizada: a ciência mecânica e física, de que se orgulham os tempos modernos, decorre, através de uma série ininterrupta de aperfeiçoamentos quase imperceptíveis, das doutrinas professadas nas escolas da Idade Média; as pretensas revoluções intelectuais não foram, a maior parte das vezes, senão evoluções lentas e longamente preparadas; as supostas renascenças, apenas foram reacções, frequentemente injustas e estéreis; o respeito pela tradição é uma condição essencial do progresso científico.'(O.C., tomo I: 111)

Deste texto extrai-se uma primeira tese que se refere directamente à história das ciências: não existem nesta história nem revoluções nem rupturas. A História de uma ciência é uma evolução, e esta evolução é lenta. (...) A caracterização da evolução por Duhem fornece a regra do trabalho do historiador: mostrar o que, numa obra científica de determinada época, é fruto natural do passado, indicando também os germes do futuro." (84-85)

(...)

Duhem ainda acrescenta à sua tese: a aceleração do curso da história não faz desaparecer a continuidade, ela simplesmente "condensa" a evolução (p. 386). Por outro lado, se não existe revolução, não há origem do saber científico, o que significaria uma primeira ruptura. Numa outra linguagem: se não há um refundir no curso do devir de uma ciência constituída, não há ruptura instauradora da ciência. A continuidade interna da história da ciência implica também a continuidade do saber científico e do conhecimento vulgar." (pag. 86)

Ora, as mudanças verificadas nos finais do século XIX e princípios do século XX - crise das matemáticas e da física - implicou a morte dos absolutos. Einstein, Heisenberg, Planck, Louis de Broglie, etc. contribuíram para o repensar da ciência, invalidando a concepção mecanicista-determinista-causalista da natureza e o carácter linear e acumulativo da ciência. O saber científico não é cumulativo nem as suas verdades são absolutas: a incerteza, o carácter de aproximação e de revisibilidade é contemporaneamente uma realidade universalmente aceite.Neste contexto, pergunta-se: como evolui a ciência? E neste campo os epistemólogos não têm opinião unânime, cada um deles justificando-se com casos históricos ...!O presente Site visa estabelecer o pensamento de três autores fundamentais na interpretação do progresso científico: Bachelard, Kuhn e Popper.

O FALSIFICACIONISMO DE KARL POPPER

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David Papineau

1. Indução

Uma linha de resposta bastante diferente para o problema da indução deve-se a Karl Popper. Popper olha para a prática da ciência para nos mostrar como lidar com o problema. Segundo o ponto de vista de Popper, para começar a ciência não se baseia na indução. Popper nega que os cientistas começam com observações e inferem depois uma teoria geral. Em vez disso, primeiro propõem uma teoria, apresentando-a como uma conjectura inicialmente não corroborada, e depois comparam as suas previsões com observações para ver se ela resiste aos testes. Se esses testes se mostrarem negativos, então a teoria será experimentalmente falsificada e os cientistas irão procurar uma nova alternativa. Se, pelo contrário, os testes estiverem de acordo com a teoria, então os cientistas continuarão a mantê-la não como uma verdade provada, é certo, mas ainda assim como uma conjectura não refutada.

Se olharmos para a ciência desta maneira, defende Popper, então veremos que ela não precisa da indução. Segundo Popper, as inferências que interessam para a ciência são refutações, que tomam uma previsão falhada como premissa e concluem que a teoria que está por detrás da previsão é falsa. Estas inferências não são indutivas, mas dedutivas. Vemos que um A é não-B, e concluímos que não é o caso que todos os As são Bs. Aqui não há hipótese de a premissa ser verdadeira e a conclusão falsa. Se descobrirmos que um certo pedaço de sódio não fica laranja quando é aquecido, então sabemos de certeza que não é o caso que todo o sódio aquecido fica laranja. Aqui o facto interessante é que é muito mais fácil refutar teorias do que prová-las. Um único exemplo contrário é suficiente para uma refutação conclusiva, mas nenhum número de exemplos favoráveis constituirá uma prova conclusiva.

2. Falsificabilidade

Assim, segundo Popper, a ciência é uma sequência de conjecturas. As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por novas hipóteses quando são falsificadas. No entanto, esta maneira de ver a ciência suscita uma questão óbvia: se as teorias científicas são sempre conjecturais, então o que torna a ciência melhor do que a astrologia, a adoração de espíritos ou qualquer outra forma de superstição sem fundamento? Um não-popperiano responderia a esta questão dizendo que a verdadeira ciência prova aquilo que afirma, enquanto que a superstição consiste apenas em palpites. Mas, segundo a concepção de Popper, mesmo as teorias científicas são palpites — pois não podem ser provadas pelas observações: são apenas conjecturas não refutadas.

Popper chama a isto o "problema da demarcação" — qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença? A sua resposta é que a ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas. As leis de Newton, por exemplo, dizem-nos exactamente onde certos planetas aparecerão em certos momentos. E isto significa que, se tais previsões fracassarem, poderemos ter a certeza de que a teoria que está por detrás delas é falsa. Pelo contrário, os sistemas de crenças como a astrologia são irremediavelmente vagos, de tal maneira que se torna impossível mostrar que estão claramente errados. A astrologia pode prever

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que os escorpiões irão prosperar nas suas relações pessoais à quinta-feira, mas, quando são confrontados com um escorpião cuja mulher o abandonou numa quinta-feira, é natural que os defensores da astrologia respondam que, considerando todas as coisas, o fim do casamento provavelmente acabou por ser melhor. Por causa disto, nada forçará alguma vez os astrólogos a admitir que a sua teoria está errada. A teoria apresenta-se em termos tão imprecisos que nenhumas observações actuais poderão falsificá-la.

3. Ciência e pseudociência

O próprio Popper usa este critério de falsificabilidade para distinguir a ciência genuína não só de sistemas de crenças tadicionais, como a astrologia e a adoração de espíritos, mas também do marxismo, da psicanálise de várias outras disciplinas modernas que ele considera negativamente como "pseudo-ciências". Segundo Popper, as teses centrais dessas teorias são tão irrefutáveis como as da astrologia. Os marxistas prevêm que as revoluções proletárias serão bem sucedidas quando os regimes capitalistas estiverem suficientemente enfraquecidos pelas suas contradições internas. Mas, quando são confrontados com revoluções proletárias fracassadas, respondem simplesmente que as contradições desses regimes capitalistas particulares ainda não os enfraqueceram suficientemente. De maneira semelhante, os teóricos psicanalistas defendem que todas as neuroses adultas se devem a traumas de infância, mas quando são confrontados com adultos perturbados que aparentemente tiveram uma infância normal dizem que ainda assim esses adultos tiveram que atravessar traumas psicológicos privados quando eram novos. Para Popper, estes truques são a antítese da seriedade científica. Os cientistas genuínos dirão de antemão que descobertas observacionais os fariam mudar de ideias, e abandonarão as suas teorias se essas descobertas se realizarem. Mas os teóricos marxistas e psicanalistas apresentam as suas ideias de tal maneira, defende Popper, que nenhumas observações possíveis os farão alguma vez modificar o seu pensamento.

David Papineau"Methodology" em A. C. Grayling (org.),Philosophy: A Guide Through the Subject, Oxford University Press, 1998Tradução de Pedro Galvão

17 de Novembro de 2004 ⋅ Epistemologia

A TESE CÉPTICA DE HUME ACERCA DA INDUÇÃOElliott Sober

Universidade de Wisconsin

A todo o momento formas expectativas acerca de como será o futuro ou sobre que generalizações (afirmações com a forma "Todos os As são B") são verdadeiras com base em

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dados que não são dedutivamente conclusivos. As tuas crenças acerca do futuro baseiam-se na percepção e na memória, mas não podes deduzir como será o futuro de premissas que descrevem o presente e o passado.

Concentremo-nos num exemplo para tornar claro o que acabou de ser dito. Supõe que observaste muitas esmeraldas e descobriste que cada uma delas era verde. De seguida prevês que "A próxima esmeralda que eu observar será verde"; ou talvez generalizes e digas "Todas as esmeraldas são verdes." (Para que este seja um exemplo do género que queremos, supõe que as esmeraldas não são verdes por definição.)

O senso comum diz que és racional se, ao acreditares em previsões e generalizações, tens muitos dados para o fazer. Observar muitas esmeraldas e descobrir que cada uma é verde parece justificar a tua expectativa de que a próxima esmeralda que examinares será verde. Mas não podes deduzir generalizações e previsões das tuas observações do passado. Além disso, repara que os dois argumentos seguintes são sensatamente não dedutivos:

(GEN)

Observei numerosas esmeraldas e cada uma delas é verde.

Logo, todas as esmeraldas são verdes.

(PRE)

Observei numerosas esmeraldas e cada uma delas é verde.

Logo, a próxima esmeralda que eu observar será verde.

A dupla linha entre as premissas e a conclusão indica que os argumentos não são dedutivamente válidos.

Em ambos os argumentos pensas que as premissas justificam racionalmente a conclusão. Defendes não ser mero preconceito afirmar que em cada caso as premissas fornecem bons dados a favor da verdade da conclusão. A tese de Hume é que a tua convicção não pode ser racionalmente defendida.

O que é importante perceberes é que Hume não está simplesmente a dizer que os argumentos não são dedutivamente válidos. Isso é óbvio. O que ele diz realmente é que as premissas não justificam racionalmente as conclusões. Para Hume não há qualquer maneira de justificar racionalmente previsões e generalizações.

Na perspectiva de Hume tens simplesmente o hábito de achar que aquelas premissas fornecem boas razões para acreditar naquelas conclusões. É um hábito que não podes abandonar; faz parte da natureza humana esperar que o futuro se assemelhe ao passado. Mas é um hábito que não podes defender racionalmente. Se um céptico te desafiar para justificares racionalmente o padrão de pensamento em questão, apenas podes dizer que essa é de facto a maneira de proceder dos

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seres humanos. Não tens como produzir um bom argumento para justificar racionalmente este hábito mental.

A INDUÇÃO NÃO PODE SER RACIONALMENTE DEFENDIDA

O ARGUMENTO DE HUME

Como chegou Hume a esta conclusão surpreendente acerca da indução? Hume pensava que os argumentos enunciados (GEN e PRE) requerem uma premissa adicional. Tal como se encontram, a premissa não suporta a conclusão. Ora, se a observação tem a intenção de sustentar a generalização ou a previsão, então terás de pressupor que o futuro se assemelha ao passado. A este pressuposto Hume chamou Princípio da Uniformidade da Natureza (PUN).

Hume pensava que este princípio desempenha um papel indispensável em todo e qualquer argumento indutivo. Já viste o exemplo a respeito da cor das esmeraldas. Considera agora a crença de que o sol nascerá amanhã. Esta crença previsiva baseia-se na premissa de que o sol nasceu em cada um dos dias em que, com enfado, te deste ao trabalho de fazer uma observação. Por que razão estas observações do passado sustentam a previsão que fizeste acerca de amanhã? Hume pensava que tens de supôr que a natureza é uniforme — o futuro será semelhante ao passado. Hume diz que sem este princípio o passado não pode ser um guia para o futuro.

Assim, todo e qualquer argumento indutivo pressupõe PUN: terás de pressupor PUN para que a premissa observacional possa sustentar a previsão ou generalização afirmada na conclusão do argumento. Isto significa que, se a conclusão a que chegas é racionalmente defensável, então deverás ter disponível um bom argumento para pensar que PUN é verdadeiro. Se PUN não puder ser defendido, então qualquer crença que dependa de pressupor que PUN é verdadeiro, terá também que ser indefensável.

É este o enunciado do argumento céptico de Hume:

1. Todo o argumento indutivo requer PUN como premissa.2. Se a conclusão de um argumento indutivo é racionalmente justificada pelas premissas,

então estas premissas têm de ser também racionalmente justificáveis.3. Assim, se a conclusão de um argumento indutivo é justificada, terá que haver uma

justificação racional de PUN.4. Se PUN é racionalmente justificável, então terá que haver um bom argumento indutivo ou

um bom argumento dedutivo a favor de PUN.5. Não há um bom argumento indutivo para PUN, uma vez que qualquer argumento indutivo a

favor de PUN é circular. 6. Não há um bom argumento dedutivo a favor de PUN, uma vez que PUN não é uma verdade a

priori nem segue dedutivamente das observações que até hoje fizeste.7. Assim, PUN não é racionalmente justificável.

Logo, não há justificação racional para as crenças que tens com a forma de previsões ou generalizações.

Page 45: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

Resumindo, o que Hume diz é que as crenças que tens acerca da cor das esmeraldas e do nascer do sol amanhã (e muitas outras crenças) não são racionalmente justificáveis porque repousam num pressuposto que não pode ser racionalmente justificado.

POR QUE RAZÃO PUN NÃO PODE SER JUSTIFICADO?

Examina melhor os passos 4-6 do argumento. Vê bem o que PUN afirma; PUN diz que o futuro será semelhante ao passado — as uniformidades do passado continuarão a subsistir no futuro. Será que podes saber que isto é verdadeiro com base na indução? Se puderes, o argumento indutivo parecer-se-á com este:

A natureza tem sido uniforme nas minhas observações do passado.

Logo, a natureza em geral é uniforme.

Lembra-te que para Hume todos os argumentos indutivos requerem PUN como premissa. O argumento enunciado é indutivo. Mas se introduzires PUN como premissa, como Hume requer, o argumento torna-se circular — pressupõe como premissa precisamente a proposição que tenta sustentar como conclusão.

E resultará uma justificação dedutiva de PUN? Também aqui a resposta de Hume é não. O argumento enunciado não é dedutivamente válido; o princípio geral da uniformidade não pode ser deduzido das observações que fizeste no passado.

Hume considera, e rejeita, um outro tipo de argumento dedutivo. Pode ser PUN uma verdade conceptual dedutível das definições dos seus termos? Se PUN fosse uma verdade conceptual teria a mesma espécie de justificação a priori que "Nenhum solteiro é casado" possui. Hume rejeita esta ideia dizendo que não há contradição em supor que o universo deixe subitamente de ser uniforme. Não é uma verdade conceptual afirmar que as regularidades do passado subsistirão no futuro.

Elliott Sober

Tradução de Faustino VazRetirado do livro Core Questions in Philosophy, de Elliott Sober (Prentice Hall, 2008)

LIVROS PARA ENSINAR BEM FILOSOFIA

Luís Rodrigues

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Um dos principais obstáculos à qualidade do ensino e aprendizagem da filosofia é a escassez de material didacticamente adequado a esse objectivo. Embora o panorama seja muito melhor do que há quinze anos, as lacunas ainda são significativas porque pouco se publica e se traduz com a preocupação de servir alunos e professores de filosofia — refiro-me sobretudo ao ensino da filosofia no secundário. E,contudo, para quem tem um domínio razoável da língua inglesa e alguma disponibilidade financeira, o problema reside na escolha. Nas livrarias online encontra-se uma quantidade apreciável de material cuja qualidade pode entusiasmar os menos propensos a tal sentimento.

A finalidade essencial deste trabalho é a de dar a conhecer o que de mais relevante para um bom ensino e aprendizagem da filosofia está ao dispor dos colegas em língua inglesa. Procurarei também apresentar material bibliográfico útil publicado noutras línguas. Para o que está acessível em língua portuguesa remeto para a secção Ensino da Filosofia da Crítica, em especial para "Leituras para Leccionar o 10.° e 11.° ano" (Desidério Murcho) e "Textos de Apoio para o 10.° ano" (Álvaro Nunes).

Abster-me-ei de comentários sobre cada um dos materiais apresentados. A sua recensão poderá ser encontrada seguindo as hiperligações que os acompanham. Dividirei a exposição em várias secções. A secção inicial será dedicada a introduções gerais à filosofia e a noções básicas de argumentação. As secções seguintes, mais específicas, corresponderão a diversas áreas da filosofia relevantes para o ensino da disciplina no secundário.

1. INTRODUÇÕES GERAIS E NOÇÕES DE ARGUMENTAÇÃO

1. Thinking About Basic Beliefs: An Introduction to Philosophy Howard Kahane238 pages Wadsworth ISBN 053401318X

2. An Introduction to Philosophical Analysis John Hospers288 pages Routledge, an imprint of Taylor & Francis Books Lt ISBN 0415157935

3. A Preface to Philosophy Mark B. Woodhouse192 pages Wadsworth ISBN 0534528309

4. Core Questions in Philosophy: A Text with Readings Elliott Sober576 pages Prentice Hall ISBN 0131898698

5. Philosophy in Practice: An Introduction to the Main Questions Adam Morton504 pages

Page 47: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

BlackwellISBN 0631188657

6. The Philosophy Files Stephen Law224 pages Orion Children's ISBN: 1842550535

7. Philosophical Writing: An Introduction Aloysius P. Martinich208 pages BlackwellISBN 063120281

8. Philosophy: Key Themes Julian Baggini160 pagesPalgrave MacmillanISBN 033396487X

9. Ultimate Questions: Thinking About Philosophy Nils Ch. Rauhut272 ppLongmanISBN: 0-321-10893-0

10. The Blackwell Companion to Philosophy Nicholas Bunnin (Editor), Eric Tsui-James (Editor)976 pages Blackwell Publishers ISBN: 0631219080

11. Philosophical Problems and Arguments Cornman, Lehrer and Pappas384 pp.HackettISBN: 0-87220-124-4

12. Invitation to Critical Thinking Joel Rudinow, Vincent E. Barry448 ppWadsworthISBN 0155058835

13. Essentials of Logic Copi/Cohen416 ppPrentice HallISBN 0-13-049797-5

14. A Practical Study of Argument Trudy Govier479 ppWadsworthISBN 0534605257

15. The Logic of Real Arguments Alec Fisher236 pp

Page 48: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

Cambridge University PressISBN 0521654815

16. A Concise Introduction to Logic Patrick J. Hurley672 ppWadsworth ISBN 0534520065

17. Thinking from A to Z Nigel Warburton176 ppRoutledgeISBN 0415222818

18. The Oxford Companion to Philosophy Ted Honderich (Editor)1029 ppOxford University PressISBN 0198661320

19. Argomentare: Corso di filosofia Giovanni Boniolo e Paolo VidaliEdizioni Scolastiche Bruno Mondadori

20. La comunicazione filosofica Domenico MassaroParavia

21. Arguing Well John Shand112 ppRoutledgeISBN 0415166861

22. Critical Thinking Richard L. Epstein440 ppWadsworthISBN 0534580599

3. FILOSOFIA DA RELIGIÃO

1. A Companion to Philosophy of Religion Phillip L. Quinn e Charles TaliaferroBlackwellISBN 0631213287

2. The Question of God: An Introduction and Sourcebook Michael Palmer384 ppRoutledgeISBN 0415223873

3. Contemporary Debates in Philosophy of Religion Michael L. PetersonBlackwellISBN 0631200428

Page 49: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

4. An Introduction to the Philosophy of Religion Brian Davies344 ppOxford University PressISBN 0199263477

5. Atheism: A Very Short Introduction Julian Baggini126 ppOxford University PressISBN 0-19-280424-3

6. Does God Exist? A Dialogue Todd C. Moody112 ppHackettISBN 0-87220-343-3

7. Dialogue on Good, Evil, and the Existence of God John Perry98 ppHackettISBN 0-87220-460-X

8. Philosophy of Religion Louis P. Pojman184 ppMcGraw-HillISBN 0767408195

9. God and Evil Michael Peterson144 ppWestview PressISBN 0813328497

10. Arguing for Atheism: Introduction to the Philosophy of Religion Robin Le Poidevin184 ppRoutledgeISBN 0415093384

11. God? A Debate Between a Christian and an Atheist William Lane Craig, Walter Sinnott-Armstrong176 ppOxford University Press Inc, USAISBN 0195165993

12. Does God Exist?: The Craig-Flew Debate Stan W. Wallace (Editor)248 ppAshgateISBN 0754631907

13. Atheism and Theism (Great Debates in Philosophy) J.J.C. Smart, J.J. Haldane288 ppBlackwell PublishersISBN 0631232591

Page 50: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

14. Godless Morality: Keeping Religion Out of Ethics Richard Holloway163 ppCanongate Books Ltd ISBN 1841950076

15. La question philosophique de l'existence de Dieu Bernard Sève352 ppPUFISBN 2130511368

16. Science and Religion: An Introduction Alister E. McGrath264 ppBlackwell PublishersISBN 0631208429

17. Questions About God: Today's Philosophers Ponder the Divine Steven M. Cahn, David Shatz174 ppOxford University PressISBN 0195150384

18. Philosophy of Religion: An Anthology Louis P. Pojman582 ppWadsworthISBN 0534543642

5. FILOSOFIA DA CIÊNCIA

1. Introduction to the Philosophy of Science Arthur Zucker417 ppPrentice HallISBN 0-02-432104-4

2. Philosophy of Science: A Very Short Introduction Samir Okasha154 ppOxford University PressISBN 0-19-280283-6

3. A Companion to the Philosophy of Science W. H. Newton SmithBlackwellISBN 0631230203

4. Blackwell Guide to the Philosophy of Science Peter Mashamer,Michael SilbersteinBlackwellISBN 0631221085

5. Philosophy of Science Alexander Bird328 pp

Page 51: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

RoutledgeISBN 1857285042

6. Philosophy of Science: The Central Issues Martin Curd, J. A.CoverW. W. Norton & CompanyISBN 0-393-97175-9

7. Understanding Philosophy of Science James Ladyman304 ppRoutledgeISBN 0415221579

7. TEORIA DO CONHECIMENTO

1. Epistemology: The Big Questions Linda Martin AlcoffBlackwell

2. Epistemology: The Theory of Knowledge Daniel Cardinal156 ppHodder & Stoughton Educational ISBN 0719579678

3. A Companion to Epistemology Jonathan DancyBlackwellISBN 0631192581

4. A Guide through the Theory of Knowledge Adam MortonBlackwellISBN 1405100117

5. The Oxford Handbook of Epistemology Paul K. Moser608 ppOxford University PressISBN 0-19-513005-7

6. Epistemology: A Contemporary Introduction Robert Audi368 ppRoutledgeISBN 0415281091

7. Problems of Knowledge: A Critical Introduction to Epistemology Michael Williams288 ppOxford University PressISBN 0192892568

9. HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Page 52: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

1. Ancient Philosophy: A New History of Western Philosophy: v. 1 Anthony Kenny364 ppISBN 0198752733

2. History of Philosophy: Greece and Rome Vol. 1 Frederick Charles Copleston544 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826468950

3. History of Philosophy: Medieval Philosophy Vol 2 Frederick Charles Copleston624 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826468969

4. History of Philosophy: Late Medieval and Renaissance Philosophy Vol 3 Frederick Charles Copleston496 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826468977

5. History of Philosophy: The Rationalists: Descartes to Leibniz Vol 4 Frederick Charles Copleston384 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826468985

6. History of Philosophy: British Philosophy: Hobbes to Hume Vol 5 Frederick Charles Copleston448 pp Continuum International Publishing CompanyISBN 0826468993

7. History of Philosophy: The Enlightenment: Voltaire to Kant Vol 6 Frederick Charles Copleston528 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826469000

8. History of Philosophy: 18th and 19th Century German Philosophy Vol 7 Frederick Charles Copleston512 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826469019

9. History of Philosophy: Utilitarianism to Early Analytic Philosophy Vol 8 Frederick Charles Copleston592 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826469027

10. History of Philosophy: 19th and 20th Century French Philosophy Vol 9 Frederick Charles Copleston512 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826469035

Page 53: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

11. History of Philosophy: Russian Philosophy Vol 10 Frederick Charles Copleston464 ppContinuum International Publishing CompanyISBN 0826469043

12. History of Philosophy: Logical Positivism and Existentialism Vol 11 Frederick Charles Copleston240 pp Continuum International Publishing CompanyISBN 0826469051

13. Voyage of Discovery: A Historical Introduction to Philosophy William F. Lawhead640 ppWadsworthISBN 0534520227

14. A New History of Philosophy, Volume I: From Thales to Ockham Wallace I. Matson336 ppWadsworthISBN 0155078488

15. A History of Western Philosophy: The Classical Mind, Volume I W.T. Jones, Robert J. Fogelin378 ppWadsworthISBN 0155383124

16. The Great Conversation: A Historical Introduction to Philosophy Melchert800 ppMcGraw-HillISBN 0072840641

17. A History of Western Philosophy: The Medieval Mind, Volume II W.T. Jones, Robert J. Fogelin355 ppWadsworthISBN 0155383132

18. A History of Western Philosophy: Hobbes to Hume, Volume III W.T. Jones, Robert J. Fogelin381 ppWadsworthISBN 0155383140

19. A History of Western Philosophy: Kant and the Nineteenth Century (Revised), Volume IVW.T. Jones, Robert J. Fogelin391 ppWadsworthISBN 0155383167

20. A History of Western Philosophy: The Twentieth Century of Quine and Derrida, Volume VW.T. Jones, Robert J. Fogelin475 pp

Page 54: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

WadsworthISBN 0155003798

2. ÉTICA

1. Human Conduct: An Introduction to the Problems of Ethics John Hospers384 ppThomson LearningISBN 0155019597

2. Right and Wrong: A Brief Guide to Understanding Ethics Thomas I. White144 ppPrentice HallISBN: 0-13-781170-5

3. Philosophical Ethics: An Introduction to Moral Philosophy Tom L. Beauchamp396 ppMcGraw-HillISBN: 0070042039

4. Moral Problems: A Coursebook for Schools and Colleges Michael Palmer144 ppLutterworth PressISBN 0718827910

5. How Should We Live? An Introduction to Ethics Louis P. Pojman208 ppWadsworthISBN 0534556574

6. Moral Philosophy: Theories and Issues Emmett Barcalow400 ppWadsworthISBN 0534526489

7. Basic Moral Philosophy Robert L. Holmes256 pagesWadsworthISBN 0155062948

8. Twentieth Century Ethical Theory Steven M. Cahn, Joram Haber736 ppPrentice HallISBN 0-02-318031-5

9. Contemporary Moral Issues: Diversity and Consensus Lawrence M. Hinman592 pp

Page 55: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

Prentice HallISBN: 0-13-182997-1

10. The Moral Philosophers: An Introduction to Ethics Richard Norman240 ppOxford University PressISBN 0198752164

11. Ethics: Inventing Right and Wrong J.L. Mackie256 ppPenguin Books LtdISBN 0140135588

12. Created from Animals: Moral Implications of Darwinism James Rachels250 ppOxford PaperbacksISBN 0192861298

13. Ethical Theory 1: The Question of Objectivity James Rachels 256 ppOxford University PressISBN 0-19-875192-3

14. Ethical Theory 2: Theories About How We Should Live James Rachels330 PPOxford University PressISBN 0-19-875186-9

15. A Companion to Ethics Peter SingerBlackwell PublishersISBN 0631187855

16. A Companion to Bioethics Helga Kuhse e Peter SingerBlackwell PublishersISBN 0631197370

17. A Companion to Applied Ethics R. G. Frey e Christopher Heath WellmanBlackwell PublishersISBN 1557865949

18. Virtue Ethics Stephen DarwallBlackwell PublishersISBN 0631231145

19. Consequentialism Stephen DarwallBlackwell PublishersISBN 0631231080

20. Contractarianism/Contractualism Stephen Darwall

Page 56: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

Blackwell PublishersISBN 0631231099

21. Deontology Stephen DarwallBlackwell PublishersISBN 0631231129

22. Abortion: A Dialogue Selmer Bringsjord96 pp.Hackett PublishingISBN 0-87220-366-2

23. Cloning: For and Against M.L. Rantala , Arthur J. Milgram300 ppOpen Court Publishing CompanyISBN 0812693752

24. Animal Rights and Wrongs Roger Scruton206 ppClaridge PressISBN 1900512815

25. The Human Cloning Debate Glenn McGee280 ppBerkeley Hills BooksISBN 1893163415

26. Animal Rights, Human Wrongs: An Introduction to Moral Philosophy Tom Regan141 ppRowman & Littlefield PublishersISBN 0742533530

27. Animal Rights: A Very Short Introduction David DeGrazia144 ppOxford University PressISBN 0192853600

28. Ethics Harry J. Gensler224 ppRoutledgeISBN 0415156254

4. FILOSOFIA POLÍTICA

1. Western Political Thought: From Socrates to the Age of Ideology Brian Nelson392 ppPrentice HallISBN 0-13-191172-4

Page 57: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

2. Should We Consent to Be Governed? A Short Introduction to Political Philosophy Stephen Nathanson96 ppWadsworthISBN 0534574165

3. The Blackwell Guide to Social and Political Philosophy Robert L. SimonBlackwellISBN 0631221271

4. Reading Political Philosophy: Machiavelli to Mill Nigel Warburton432 ppRoutledgeISBN 0415211972

5. Political Thought (Oxford Readers) Michael Rosen (Editor), Jonathan Wolff (Editor)442 ppOxford PaperbacksISBN 0192892789

6. Political Philosophy: A Beginner's Guide for Students and Politicians Adam Swift208 ppPolity PressB ISBN 0745628478

7. Political Philosophy: A Very Short Introduction David Miller156 ppOxford University PressISBN 0192803956

8. Contemporary Political Philosophy Robert E. Goodin (Editor), Philip Pettit (Editor)672 ppBlackwellISBN 1557868425

9. Democracy: A Very Short Introduction Bernard Crick136 ppOxford Paperbacks

10. Mémento des grandes oeuvres politiques Bruno Ravaz159 ppHachetteISBN 201145297X

11. History of Political Philosophy Leo Strauss, Joseph Cropsey992 ppUniversity of Chicago PressISBN 0226777103

12. Contemporary Political Philosophy: An Introduction Will Kymlicka450 pp

Page 58: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

Oxford University PressISBN 0-19-878274-8

13. Les Idées politiques au XXe siècle Chantal Millon-Delsol272 ppPresses Universitaires de France - PUFISBN 2130439667

6. FILOSOFIA DA ARTE

1. The Art Question Nigel Warburton160 ppRoutledgeISBN 0415174902

2. The Nature of Art Thomas E. Wartenberg360 ppWadsworthISBN 0155070347

3. Arguing About Art: Contemporary Philosophical Debates Alex Neill (Editor), Aaron Ridley (Editor)496 ppRoutledgeISBN 0415237394

4. Aesthetics An Introduction to the Philosophy of Art Anne Sheppard160 ppOxford University PressISBN 0-19-289164-2

5. The Oxford Handbook of Aesthetics Jerrold Levinson838 ppOxford University PressISBN 0-19-825025-8

6. But Is It Art? An Introduction to Art Theory Cynthia Freeland254 ppOxford University PressISBN 0-19-285367-8

7. A Companion to Aesthetics David CooperBlackwellISBN 063119659

8. The Blackwell Guide to Aesthetics Peter KiwyBlackwellISBN 063122131X

Page 59: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

9. Aesthetics: The Big Questions Carolyn KorsmeyerBlackwellISBN 0631205942

10. Philosophical Aesthetics: An Introduction Oswald HanflingBlackwellISBN 0631180354

11. Philosophy of Art: A Contemporary Introduction Noel Carroll288 ppRoutledgeISBN 0415159644

12. The Routledge Companion to Aesthetics Berys Gaut, Dominic McIver Lopes600 pagesRoutledgeISBN 0415290228

13. Introduction to Aesthetics: An Analytic Approach George Dickie208 ppOxford University PressISBN 0195113047

8. METAFÍSICA

1. Metaphysics: A Contemporary Introduction Michael J. Loux320 ppRoutledgeISBN 0415261074

2. A Companion to Metaphysics Jaegwon KimBlackwellISBN 0631199993

3. Blackwell Guide to Metaphysics Richard GaleBlackwellISBN 0631221212

4. The Oxford Handbook of Free Will Robert Kane608 ppOxford University PressISBN 0-19-513336-6

5. How Free Are You? The Determinism Problem Ted Honderich184 ppOxford University PressISBN 0-19-925197-5

Page 60: TEXTOS DE POPPER SOBRE A CIÊNCIA E A INDUÇÃO

6. Free Will and Determinism Clifford Williams86 ppHackettISBN 0-915144-77-8

7. A Dialogue on Personal Identity and Immortality John Perry56 ppHackettISBN 0-915144-53-0

8. The Death of God and the Meaning of Life Julian Young284 ppRoutledgeISBN 0415307899

9. On the Meaning of Life John Cottingham144 ppRoutledge