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Textos de caráter autobiográfico

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texto autobiográfico

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Page 1: Textos de caráter autobiográfico(1)

Textos de caráter autobiográfico

Page 2: Textos de caráter autobiográfico(1)

Textos de caráterautobiográfico

Autobiografia

Autorretrato Memórias

DiárioCarta intimista

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Autobiografia

“...autobiografia é a narração retrospetiva, em prosaque uma pessoa real faz da sua própria vida, quandopõe a tónica na sua vida individual, e em particular nahistória da sua personalidade.”

Philipe Lejeune, “Definir autobiografia”, in Autobiografia – Autorepresentação, Lisboa, Colibri, 2003

Page 4: Textos de caráter autobiográfico(1)

A autobiografia é um género textal que apresenta os seguintestraços:

• autorrepresentação;

• narração em prosa retrospetiva;

• identificação entre autor e narrador/enunciador e protogonista;

Page 5: Textos de caráter autobiográfico(1)

Caraterísticas linguístico-discursivas

1. organização cronológica dos acontecimentos com recurso adesvios temporais, analepses, prolepses, associações entreepisódios pertencentes a tempos diferentes.

2. enunciação de tipo narrativo, em prosa;3. articulação da narração com o diálogo, a descrição, a

reflexão...;4. articulação entre tempos gramaticais do passado e tempos

gramaticais do presente/futuro;5. expressões com valor locativo e temporal;6. enunciação de primeira pessoa;7. registo intimista;8. modalização do discurso com valor epistémico (saber,

acreditar, pensar), avaliativo (gostar, detestar), volitivo (desejar, esperar, tencionar);

9. recursos expressivos, com função estética.

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Autobiografia

O Jornal, Lisboa, 1987

Contar a minha vida. Sempre que me falam nisso, imagino-mesentado num banco de cozinha, com um grosso camisolão, ombroscaídos, a olhar por uma janela alta e estreita o que ela deixa ver dafloresta. Alguém deixou um machado na pequena clareira em frenteda janela. Andarão a rachar lenha. Grandes aves esvoaçam lá porfora, não muito alto decerto. E, além disto, silêncio. O profundosilêncio do que não volta mais.

Mas que floresta? Nunca vivi em nenhuma floresta. Nem sequer pertode. Talvez uma lógica interna — penso então — comande os própriosdesmandos do nosso pensamento. E esse indivíduo mais ou menosruço, no meio da cozinha lajeada, olhando o que não existe, queiradizer apenas que tudo foi bastante diferente do que eu teria desejado.Ou será a suspeita (uma quase certeza) de que contar a nossa vida éimpossível. Por isso, à ideia de lembrar o que vivi e como, correrei ameter-me na pele de um qualquer em que mal me reconheço. É o quese chama atropelamento e fuga.

Mário Dionísio

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Autorretrato

O autorretrato é um texto autobiográfico na medida em queo emissor não só se autorrepresenta como também refletesobre si próprio, dando a conhecer a forma como se vê.

No autorretrato predominam sequências descritivas,orientando-se por critérios de ordem lógica ( por exemplodo geral para o particular, de cima para baixo, do físicopara o psicológico...)

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AUTO-RETRATO

Espáduas brancas palpitantes:asas no exílio dum corpo.Os braços calhas cintilantespara o comboio da alma.E os olhos emigrantesno navio da pálpebraencalhado em renúncia ou cobardia.Por vezes fêmea . Por vezes monja.Conforme a noite. Conforme o dia.Molusco. Esponjaembebida num filtro de magia.Aranha de ouropresa na teia dos seus ardis.E aos pés um coração de louçaquebrado em jogos infantis.

Natália Correia, Poemas, 1955

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Vinícius de Moraes - A PORTA

Sou feita de madeiraMadeira, matéria mortaNão há nada no mundoMais viva que uma porta

Eu abro devagarinhoPra passar o meninhoEu abro bem com cuidadoPra passar o namoradoEu abro de sopetãoPra passar o capitão

Eu fecho a frente da casaFecho a frente do quartelFecho tudo no mundoSó vivo aberta no céu.

Page 10: Textos de caráter autobiográfico(1)

Memória

“A memória define-se como género em que alguém narra a suahistória integrada na do seu tempo, contando não sóacontecimentos de natureza privada e individual (como o faz aautobiografia) como outros, de que o protogonista e narrador foiagente, coagente ou testemunha.”

Paula Mourão, “Memorialismo”In Dicionário do Romantismo Português, Lisboa, Caminho, 1997

Page 11: Textos de caráter autobiográfico(1)

Caraterísticas linguístico-discursivas

1. organização cronológica dos acontecimentos com recurso adesvios temporais, analepses, prolepses, associações entreepisódios pertencentes a tempos diferentes.

2. enunciação de tipo narrativo, em prosa;3. articulação da narração com o diálogo, a descrição, a

reflexão...;4. articulação entre tempos gramaticais do passado e tempos

gramaticais do presente/futuro;5. expressões com valor locativo e temporal;6. enunciação de primeira pessoa;7. registo intimista;8. modalização do discurso com valor epistémico (saber,

acreditar, pensar), avaliativo (gostar, detestar), volitivo (desejar, esperar, tencionar);

9. recursos expressivos, com função estética.

Page 12: Textos de caráter autobiográfico(1)

PEQUENAS MEMÓRIAS

"Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago nãoera um apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecidana aldeia. Que indo o meu pai a declarar no Registo Civil da Golegã o nascimentodo seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estavabêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos doálcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, porsua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu paipretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a umaintervenção por todas as mostras divina, refiro-me, claro está, a Baco, deus dovinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar umpseudónimo para, futuro havendo, assinar os meus livros. Sorte, grande sorteminha, foi não ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga que, naqueletempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas dePichatada, Curroto e Caralhana. Entrei na vida marcado com este apelido deSaramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos sete anos, quando, parame matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão denascimento, que a verdade saiu nua do poço burocrático, com grande indignaçãode meu pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunhadesgostava..“

José Saramago

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Diário

“num diário encontramos geralmente uma sucessão denotas, que correspondem a uma narração dita intercalada,ou seja, em que o registo dos factos narrados alterna com aocorrência desses mesmos factos.”

Clara Rocha, “Diário” in Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de LínguaPortuguesa, vol. 2, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1997

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O diário pode ser definido como um género textual:

• Baseado na escrita fragmentária e continuamente interrompida;

• Aborda temas variados relacionados com a interioridadehumana ou acontecimentos vividos/experienciados/conhecidos;

• Nasce de uma situação de isolamento/necessidade decomunicação do emissor e que pode ter comodestinatário/recetor o próprio diário, encarado como confidente;

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Caraterísticas linguístico-discursivas

1. organização cronológica dos acontecimentos (escritadiária/periódica, datada);

2. enunciação de tipo narrativo, em articulação com a descrição,a argumentação/reflexão ou sequências dialogais;

3. Marcação de uma situação de interlocução específica:enunciação na primeira pessoa, dirigida ou nãoexplicitamente a uma segunda pessoa;

4. articulação entre tempos gramaticais do passado e temposgramaticais do presente;

5. enunciação de primeira pessoa;6. registo intimista e confessional;7. recursos expressivos, com função estética.

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Coimbra, 4 de Junho de 1992 - Conferência internacional no Rio de Janeiro paradefesa do ambiente físico. Do metafísico já ninguém cuida. E, do outro, mais valiaque os delegados, em vez de discursos sujos, lavassem a hipocrisia nas águas aindalustrais de Guanabara. O mundo está irremediavelmente perdido, porque éincorrigível a voracidade capitalista e a nossa obstinação consumista. Queremos,queremos, queremos. E os abnegados senhores do progresso fabricam, fabricam.Saturam, diligentes, os mercados do útil e do inútil. Atravancam o planeta das suassedutoras mercadorias. Para tanto, esventram-no, derrubam-lhe as florestas,empestam-lhe os rios, os mares e os ares. Poucos dos que assistem ao colóquioestão ali de boa fé ou em nome dela. Quando a farsa terminar, nenhum petroleirovai recolher ao estaleiro, nenhum alto forno deixará de arder, nenhum motor derodar.Contemporâneos passivos de uma civilização técnica e industrial, que nos serve onecessário poluído e o supérfluo esterilizado, já nem sequer nos indignamos de aver acabar assim, pletórica e podre. Sornamente, vamos vegetando intoxicados, naesperança secreta de que o dilúvio não acontecerá na nossa vida, e, se acontecer,haverá sempre na Arca de salvação lugar para mais um.

Miguel Torga, Diáriovol. XVI, Coimbra, 1993

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Carta intimista

Destinadas a familiares ou amigos, as cartas intimistas têmum caráter autobiográfico, dado que nelas se procede aorelato do percurso biográfico de quem escreve. Entre oescrevente e o destinatário mantem-se uma relação deproximidade e de familiaridade, permitindo aexpressão dointimismo.

Page 18: Textos de caráter autobiográfico(1)

Caraterísticas linguístico-discursivas

1. Estrutura relativamente fixa composta por.- local e data, no cimo da página, à direita ou à esquerda;- saudação inicial;- corpo da carta, em que se comunica o assunto, de forma,

natural, expressiva e subjetiva;- fórmula de despedida e assinatura;- P.S. (abreviatura do latinismo post scriptum);

2. Linguagem informal, marcada pelo registo corrente e familiare pelo tom intimista;

3. Marcação clara da situação de interlocutor: enunciação naprimeira pessoa dirigida explicitamente a uma segundapessoa.

Page 19: Textos de caráter autobiográfico(1)

Meu querido amorzinho:

Hoje tenho tido imenso que fazer, quer fora do escritório, quer aqui mesmo.Vão só duas linhas, para te provar que te não esqueço- como se fosse muito fácil eu esquecer-te!Olha: mudo de Benfica para a Estrela no dia 29 deste mês de manhã; estiveagora mesmo a combinar a mudança. Isto quer dizer que no domingo que vemnão nos veremos, pois passarei o dia lá em Benfica a arrumar tudo, pois não énatural que tenha tempo para o fazer durante a semana.Estou cansadíssimo, e ainda tenho bastante de que tratar hoje. São 5 horas emeia, segundo me diz o Osório.Desculpa-me eu não te escrever mais, sim? Amanhã, à hora do costume nosencontraremos e falaremos.Adeus, amor pequenininho.

Muitos e muitos beijos do teu, sempre teu

Fernando24.3.1920

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PROPOSTA de ATIVIDADE

Depois de teres abordado os textos de caráterautobiográfico, propomos–te que elabores umtexto-modelo para cada um dos génerosmencionados. Assim deves, elaborar o texto e fazera sua legenda mencionando as caraterísticasespecíficas de cada um dos textos autobiográficos.

BOM TRABALHO!