texto nº. 04 - a crise Ético-moral em nossa sociedade

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  • 8/18/2019 Texto Nº. 04 - A Crise Ético-moral Em Nossa Sociedade

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    TEXTO Nº. 04: A CRISE ÉTICO-MORAL EM NOSSA SOCIEDADE

     NILO AGOSTINI

    Vivernos num “mundo” de perguntas, de incertezas. Ninguém tem segurana nas

    respostas a serem dadas. As mudanas s!o permanentes" o antigo, o tradiciona# parecem n!omais servir para as novas gera$es. O moderno se imp$e. % &em sa&emos 'o(e )ue estemoderno tam&ém entra em crise" *a#amos, ent!o, do  pós-moderno. Se(a )ua# *or a “era”, ocerto é )ue vivemos num vazio" andamos a&orrecidos" *azemos a e+perincia da ausncia desentido e de normas" nos a*undamos num individua#ismo narcisista" somos tomados por umnii#ismo, ou se(a, por urna descrena a&so#uta *rente - atua# situa!o e sua 'ierar)uia deva#ores, ( )ue nada e+istiria de rea#mente a&so#uto.

    Temos a impress!o de )ue o  “mundo” est escapando de nossas m!os. %#e ( n!o émais marcado pe#a unanimidade, t/pica de um passado ainda recente, no )ua# as pessoas seentendiam *aci#mente so&re os *atos e os proemas )ue *aziam parte de nossa vida e dasociedade. %stes eram perce&idos e ava#iados de maneira &astante parecida pe#o con(untodas pessoas e da sociedade, pois estava c#aro o padr!o a ser seguido por todos. 0o(e ( n!oé mais assim. 1or isso, dizemos )ue o mundo de nossos dias é p#ura#, po#icntrico, p#anetrio,ecumnico. %#e n!o gira mais em torno de uma idéia s2 das coisas, nem de uma dire!o3nica dada - vida. Os s/m&o#os )ue usamos e a #inguagem )ue *az parte de nosso dia4a4dias!o d/spares, ou se(a, reve#am di*erentes p2#os de origem, apontam para di*erentes dire$es,tm di*erentes sentidos e nos *azem assumir prticas di*erentes. 1. O choque da mode!"dade

      N2s ainda nos #em&ramos dos traos da sociedade tradidona#, na )ua# as mudanasaconteciam muito #entamente. Tudo tin'a seu #ugar preesta&e#ecido. 5a&ia a cada pessoa seencai+ar no es)uema de vida ( esta&e#ecido. Os papéis )ue cada um devia desempen'ar,&em como os s/m&o#os e a re#igi!o, tin'am de antem!o o seu #ugar" e ai de )uem ousasse)uestionar. %ra uma sociedade marcada *ortemente pe#a *igura paterna. A *am/#ia era coesa. %tudo devia conduzir para 6eus, numa vis!o “teocntrica”. O es*oro de todos era o de integrar esta ordem, esta&e#ecida de uma vez por todas. A#ém disso, era pr2prio dessa época umavis!o tam&ém “cosmocntrica”, t/pica das sociedades agrrias" o ser 'umano sentia4se muito#igado - natureza e, de certa *orma, dependente e até su&(ugado -s suas *oras, as )uaisdeveria aca#mar com a invoca!o de 6eus 7ou dos deuses8 e seus santos 7ou mediadores8.9as a modernidade veio &a#anar tudo isso, mudando muita coisa" muitos dos grandes

    desa*ios )ue encontramos 'o(e vem de#a. A modernidade aca&ou mudando o modo de pensar e de viver das pessoas. 9as ser )ue tudo o )ue e#a trou+e é con)uista e va#or: Vamos ver isso.

    ;.;.   A afirmação da autonomia

      Inicia#mente é &om sa&er )ue a modernidade comeou a e+istir ' uns

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    I#uminismo e com a importFncia dada - produ!o pe#a evo#u!o Industria# 7estes dois 3#timoss!o dos sécu#os HVIII e HIH8.

      A modernidade tem como e#emento centra# a a*irma!o de )ue o ser 'umano éaut>nomo, su(eito de si e da 'ist2ria. Eusca, assim, marcar sua independncia *rente a toda

    determina!o )ue ven'a de *ora 7tradi$es, re#igi$es, autoridades, *oras da natureza...8, ouse(a, de toda heteronomia. 1or isso, é revo#ucionria *rente - sociedade tradiciona#, por)ueesta é marcada mais pe#os padr$es preesta&e#ecidos pe#os papéis, ritos e cu#tos )ue cada umtem )ue desempen'ar &em de#imitados, por uma integra!o de todos ao status quo, sem)uestionar nada" ne#a tudo estava praticamente previsto de antem!o.

    Isto ( n!o é o mesmo na modernidade. %sta se constr2i numa #2gica di*erente e atéoposta. Ve(amos as idéias divu#gadas por seus maiores pensadores. O *rancs ené6escartes 7;

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     Driedric' Nietzsc'e 7;K??4;==8 nega a e+istncia de princ/pios ético4po#/ticos gerais

    para a conduta 'umana, c'egando a negar o pr2prio 6eus como princ/pio. Numa cr/tica -sociedade e+istente, e#e mostra as disparidades s2cio4cu#turais das morais e dos costumesem vigor, re(eita a mora# e+istente e nega a va#idade da organiza!o po#/tica vigente. 1ara e#e,

    n!o ' verdade mora# nem 'ierar)uia de va#ores. 1rega )ue o progresso da sociedade s2acontecer depois )ue destruirmos sua organiza!o atua#. o nii#ismo proc#amado" c'ega4sea *a#ar até na “morte de 6eus”.

    5#aude Lévi4Strauss, nascido em ;=K, mostra )ue o cogito, este eu penso, *unciona nointerior de uma cu#tura da )ua# e#e é re*#e+o. Ou se(a, eu penso como pensa o “mundo” emvo#ta de mim. %+iste a/ uma reciprocidade entre o “su(eito” e o “outro” No estrutura#ismo 7deLévi4trauss!, o centro n!o est no “eu”, mas no “outro”. Toda a vida co#etiva seguiria esta#2gica.

    6ito e reco#'ido isto, o ser 'umano n!o seria t!o poderoso assim, como imaginaram os

    modernos %#e dependeria, na verdade, de toda uma rede de re*erncias tecidas *ora de simesmo, condicionando4o *ortemente. como se a percep!o de si, dos outros e das coisas*osse re*#e+o de uma vis!o vinda de *ora. Isto in*#uenciaria a *orma!o da pr2pria consci"nc#a.  Nos 3#timos dois sécu#os, cresceu muito a convic!o de )ue ninguém escapa deste tipode in*#uncias. Todos somos, so& a#guma *orma e medida, condicionados. 1or e+emp#o,vivemos continuamente &om&ardeados pe#as ideo#ogias )ue &uscam no in*#uenciar e, muitasvezes, somos por e#as #itera#mente manipu#ados.

    #. O $a%c&!"o da 'odu()o 5omo vimos, a modernidade deu uma importFncia crucia# $ ra%ão. Ao mesmo tempo, fe% 

    da produção a mo#a4mestra para a satis*a!o de suas necessidades. As cincias passaram aimperar. Va#e o )ue pode ser comprovado cienti*icamente. Ao mesmo tempo, um processo desecu#ariza!o co#ocou4se em movimento por todos os #ados.

    &.'. A era das ci"ncias, das tcnicas e da competição

      1odemos *a#ar da racionalidade como uma das pi#astras da modernidade. S2 )ue, parao ser 'umano moderno, a raz!o é acionada para conhecer e  produ%ir. 1assamos, ent!o, a*a#ar de uma produ!o cient/*ica 7através das cincias8 e de uma produ!o */sica, de o&(etospara o consumo 'umano 7através das técnicas8.

     A raz!o est na &ase do mundo técnico4cient/*ico de nossos dias. %ste imp>s a#gumasregras de va#or. 1or e+emp#o, o con'ecimento produzido pe#o ser 'umano deve passar pe#ocrivo da e)peri"ncia para ser v#ido. Va#e o )ue pode ser comprovado por e+perinciascient/*icas. 1ara isso, cada cincia, )ue cuida de um campo da rea#idade, constr2i4se so&reregras pr2prias, métodos e e+perimenta$es. 6emarcado o seu campo pr2prio, e#a passa aorganizar os con'ecimentos e diz o )ue é #eg/timo ou n!o.

    %m primeiro #ugar est o interesse técnico. %ste vai esta&e#ecer o )ue é 3ti#, e*iciente e#ucrativo. Tudo passa a ser medido, ca#cu#ado, veri*icado. O sucesso est na produtividade,numa po#/tica de resu#tados. Importa, por isso, competir. O mercado mundia#, g#o&a#izado,

    trans*orma4se no grande campo de &ata#'a. No mercado, é necessrio ser agressivo" diantedo concorrente, é &om sempre descon*iar 7costuma ser um conspirador8" os )ue n!o

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    conseguem usu*ruir dos produtos deste mercado, )ue se(am e+c#u/dos, mesmo com osacri*/cio de suas vidas. Dicam os “&ons” 7vencedores8, ou se(a, os )ue, des&ancando osconcorrentes, imp$em a sua “#2gica”, e+c#uindo os inaptos a participar deste se#ecionadomercado dos )ue tm din'eiro.

     A voracidade do ter, capita#izado, aparece como a tenta!o constante deste sistema.uem conta, na verdade, s!o os )ue conseguem competir e so&reviver. Os demais, e+c#u/dosdo sistema, s!o entregues - pr2pria sorte, sacri*icados. % a natureza, por sua vez, é sugadaao m+imo, numa vis!o uti#itarista, #ucrativa e de ac3mu#o. Isto #evou a uma“#2gica” da depreda!o, apontando para a e+istncia de um desenvo#vimento insustentve#.

    &.' * processo de seculari%ação

      5om a *ora das cincias e das técnicas, o ser 'umano &uscou emancipar4se, #ivrar4sede toda determina!o )ue viesse de *ora" passou a va#er o )ue pode ser comprovado técnico4cienti*icamente. O re*erencia# re#igiosotranscendente *oi su&stitu/do, criando um novo tipo de

    re#a!o entre as sociedades modernas e a re#igi!o. Pm processo de secu#ariza!o muitopro*undo *azia4se presente.

    O certo é )ue o %stado moderno )ueria ser so&erano, n!o to#erando mais estar so& odom/nio da instFncia re#igiosa" *oi o momento da separa!o entre a Igre(a e o %stado, comoaconteceu no Erasi# em ;K;, ano da promu#ga!o da primeira constitui!o repuicana. A#émdisso, a re#igi!o *icou restrita - es*era do privado e a teo#ogia perdeu o estatuto de cinciarecon'ecida pe#o %stado. Vivia4se um momento de re#ativiza!o dos sa&eres, cada umcon*inado a um campo espec/*ico. O mesmo acontecia com a re#igi!o, *ato n!o superado aténossos dias. 5ai a idéia de uma cincia das cincias 7a teo#ogia8 )ue teria a *un!o deordenar a tota#idade dos con'ecimentos.

    %sta modernidade, t!o ciosa de sua autonomia, mostrou, por sua vez, )ue pode cair em vis$es reducionistas do ser 'umano e da rea#idade como um todo. Isso acontece )uandoassume uma vis!o cientista, estatista ou laicista. Vamos e+p#icar isso.

    Se, no passado, a teo#ogia tin'a a pretens!o de intervir em todas as es*eras, mesmoem matéria “pro*ana”, com o surgimento das cincias modernas cai4se, n!o poucas vezes, nocientismo. O )ue é isto: a pretens!o de uti#izar as #eis de uma determinada cincia paratodos os outros campos e dar e+p#ica$es para tudo, mesmo na re#igi!o 7muitas vezes paraesvazi4#a8.

    Na es*era (ur/dico4po#/tica, pode4se cair nos e+ageros do estatismo. Isto signi*ica )ue o%stado *az4se dono do sentido )ue as coisas devem ter. e#e a es*era 3#tima e e+c#usiva )uea tudo con*ere um sentido. Os regimes tota#itrios e os dis*arces tota#itrios de regimes 'o(eno poder mostram )ue a e+istncia deste e+agero n!o é s2 coisa do passado.

    O laicismo )uer a)ui apontar para a)ue#a *orma de ocupar o espao p3ico paradesva#orizar ou ridicu#arizar os di*erentes credos. Da#amos, ent!o, de uma sociedade “#aica”,ou se(a, sem os re*erenciais re#igiosos. N!o raro, o #aicismo endoutrina as mentes através docientismo e do estatismo.

    Segundo o 5onc/#io Vaticano II 7;BC4;B

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    'umana e socia# 7c*. +, nC B8. econ'ece a e+istncia de duas ordens de sa&eres distintos,o da *é e o da raz!o. Da#a em “autonomia das rea#idades terrestres”, recon'ecendo osprinc/pios &sicos da modernidade e seu processo de secu#ariza!o. 1orém, a Igre(a #em&ra,neste mesmo 5onc/#io, )ue o recon'ecimento da “autonomia” e da “di*erena” n!o signi*icaaceitar a sua “independncia” e a “separa!o”. N!o se separa *é pro*essada e vida )uotidiana

    7c*. GS, nQ. ?8.

    O certo é )ue a autonomia do tempora# n!o garante por si s2 a rea#iza!o do ser 'umano. A sociedade moderna n!o pode ac'ar )ue, uma vez emancipada do re#igioso, teriaencontrado para todas as es*eras da vida um *undamento apropriado, estve#, regu#ador. Acrise em nosso dia4a4dia nos mostra o )uanto ' de ser *eito neste campo, so&retudo )uandoveri*icamos um dese)ui#/&rio nos e#ementos vitais do 'umano.

    *. A c"%e !o d"a-a-d"a

    O processo de moderniza!o de nossa sociedade est causando um *orte impacto navida das pessoas, nas *am/#ias e na organiza!o da pr2pria sociedade. O processo deur&aniza!o e o da industria#iza!o, das 3#timas décadas, trou+e mudanas considerveis eminstitui$es como a *am/#ia, a esco#a e a Igre(a. A#ém disso, aca&ou inter*erindo so&re aunanimidade em torno de todo um sistema de va#ores e s/m&o#os )ue estruturavam a vida decada dia. Os meios de comunica!o aca&aram ad)uirindo uma *ora maior do )ue a da*am/#ia, a esco#a e a Igre(a (untas. 0o(e, ( se diz )ue a te#evis!o é como uma &a& )ue educae deseduca as crianas.

    .'. * indivduo “perdido” 

     Pm ponto4c'ave é, sem d3vida, a emergncia do “indiv/duo” como e#emento piv> damodernidade. Na sociedade tradiciona#, o indiv/duo tin'a o seu #ugar no con(unto socia#. Nasociedade moderna, a re*erncia primeira e 3#tima é e#e mesmo. 5a&e ao indiv/duo encontrar o seu #ugar na sociedade, ( )ue n!o é mais esta )ue #'e *i+a um #ugar, )ue o casa, )ue oemprega, )ue o enga(a num es)uema de pensamento e vis!o do mundo. 5a&e ao indiv/duocaptar, esco#'er, decidir4se e “virar4se” diante de uma gama muito grande de sa&eres e decapacidades e+igidas.

     Acontece uma virada nas estruturas sim&2iicas )ue sustentam a re#a!o do ser 'umano com a natureza, com o outro, consigo mesmo e com 6eus. A virada ou mudana

    tam&ém marca a re#a!o *undamenta# 'omem4mu#'er. Na verdade, esse conte+to novo estna raiz de um indiv/duo moderno e+tremamente *rgi#, com di*icu#dade de uma auto4identi*ica!o, incapaz de esta&e#ecer re#a$es durveis e de assumir enga(amentos por umtempo mais #ongo. O indiv/duo da sociedade moderna aca&a sendo muito vu#nerve#. 9esmose auto4proc#amando como capaz de autodetermina!o, e#e cai *aci#mente na ma#'acondicionadora e até manipu#adora de *ora. Easta ver, por e+emp#o, como os meios decomunica!o condicionam e manipu#am as pessoas.

      A crise é, portanto, permanente, acrescida pe#a constante insatis*a!o com re#a!o ao

    presente, pois os “progressos” modernos criam a i#us!o de um aman'! sempre me#'or, porémnunca con)uistado. Nos (ogam, assim, num consumismo sem *reios como *orma de

    compensar os vazios criados.

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    .&. A crise afetiva e espiritual 

     A corrida atrs do )ue é e*iciente, 3ti# e )ue d #ucro est con*undindo o ser 'umano denossos dias, pois e#e aca&a ac'ando )ue a/ est a sua rea#iza!o. Na verdade, cria4se umacon*us!o de va#ores, prioridades e necessidades vitais. Logo perce&e )ue tudo isso cria um

    vazio e+istencia#" v )ue isso, por si s2, n!o rea#iza ninguém, pois aca&a atro*iandodimens$es e+tremamente importantes para a sua vida, tais como o a*etivo, o espiritua# e tudoo )ue representa o comunicativo, o 'umano, o comunitrio e o socia#. Veri*ica4se umdese)ui#/&rio grave dos e#ementos vitais, sem os )uais criam4se vazios, verdadeiros rom&osno ser 'umano, )ue o #evam a correr atrs de compensa$es para preenc'4#os,compensa$es muitas vezes redutoras do 'umano e, n!o raro, desastrosas.

     A modernidade a*irma )ue o “su(eito” é o importante. 1orém, passa a v4#o a partir doprocesso produtivo. O ser 'umano constitui4se na)ue#e )ue trans*orma a natureza, produz&ens de consumo e, so&retudo, se entope destes &ens, na i#us!o de a/ estar a sua rea#iza!o. A dimens!o a*etiva aca&a *icando em segundo p#ano. O espiritua# n!o tem espao. O )ue

    importa “*azer”, é “produzir”, ter “resu#tados” e, so&retudo, ser capaz de “consumir” muito.ue *e#icidadeR

    %ste processo é reve#ador de uma situa!o )ue aca&ou reduzindo o ser 'umano, t!orico em suas m3#tip#as dimens$es, a uma pea para produzir e consumir. O ativismo passa adominar. 9uitas vezes, isso acontece até em nome de enga(amentos s2cio4po#/ticos eec#esiais. Sacri*ica4se o ser 'umano, a sua su&(etividade, pois e#e aca&a n!o a#imentando etra&a#'ando em si dimens$es, verdadeiras pi#astras de sua vida, como o a*etivo, o espiritua#, ogratuito, o sim&2#ico, etc. Insta#a4se, é c#aro, uma crise )ue é, so&retudo, a*etiva e espiritua#.

    uantos mi#itantes e pessoas enga(adas de nossas comunidades sentem4se vaziasa*etiva e espiritua#mente. uantos outros desco&rem, depois de um #ongo per/odo metidosnum ativismo de produ!o e consumo, )ue #'es *a#ta “tra&a#'ar” a)ue#as dimens$es 'umanast!o &sicas, sem as )uais *e#icidade nen'uma se constr2i. Isso e+p#ica muito das *rustra$esde nossos dias, &em como as depress$es, as compu#s$es e a &usca de sa/dascompensat2rias de todo tipo, c'egando ao suic/dio em casos e+tremos.

    .. A usca de novas religiosidades

    O rom&o criado no ser 'umano com a *a#ta do cu#tivo do espiritua#transcendente é t!ogrande )ue dei+ou o ser 'umano num vazio )ue ( compromete a )ua#idade de sua vida. %st

    nas suas ra/zes primeiras, sustentadoras do seu ser, a necessidade de re#acionar4se com6eus. 1or isso, vem4#'e do mais pro*undo uma sede )ue necessita saciar, O surgimento e osucesso das “novas re#igiosidades” seitas e outras s!o a e+press!o desse ser 'umanomoderno )ue necessita cu#tivar o espiritua#.

    Incapazes de um discernimento maior *ace - sua sede voraz de 6eus, pe#o vaziocriado, as pessoas aca&am compensando esta sede com )ua#)uer o*erta do re#igioso,engo#indo “produtos” de &ai+a )ua#idade, muitos de#es se constituindo numa verdadeirae+tors!o por parte de grupos proposita#mente organizados. Numa vers!o individua#ista,re*#e+o da modernidade, essas novas re#igiosidades dispensam a comunidade, separam4se dosocia#, en*atizam o indiv/duo e o intimismo.

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    %ssas “novas re#igiosidades” conseguem, inc#usive, cana#izar a &usca desesperada deso&revivncia de vastas camadas empo&recidas de nossa popu#a!o. %stas se #anam na&usca de um “sa#vador” 7re*#e+o da miséria8, do maravi#'oso e espetacu#ar, das curasmi#agrosas e so#u$es mgicas 7das igre(as e#etr>nicas8.

    Tais re#igiosidades nos a#ertam so&re o )uanto s!o importantes as dimens$es a*etiva eespiritua# no ser 'umano. % nos *azem ver )ue as nossas institui$es, por demais pesadas evagarosas, nem sempre atendem ade)uadamente aos mem&ros de nossa Igre(a" estes&uscam *ora o ca#or 'umano e a a(uda para o contato com 6eus )ue n2s n!o conseguimossuprir. A#ém desta cr/tica -s nossas institui$es, estas novas vertentes re#igiosas mostram )ue ( se veri*ica uma satura!o do ser 'umano em re#a!o a este materia#ismo, no )ua# s2 temva#or o )ue é concreto, pa#pve#, cienti*icamente veri*icve#. O “produzir” e o “consumir”reduziram a pessoa ao “ter” num n/ve# )ue ( saturou.

    ./. A se)ualidade0 o que di%er1

    %ste )uadro a*etivo4espiritua# em crise pegou a Igre(a desprevenida ao se deparar coma rpida #i&era!o se+ua#. 9ais - vontade no campo s2cio4econ>mico e po#/tico, a Igre(amostra4se um tanto constrangida )uando o assunto é se+ua#idade. %sta situa!o d, porém,sinais de mudana - medida )ue comea a surgir uma nova maneira de a&ordar a ri)ueza dodinamismo se+ua#. %ste perpassa a g#o&a#idade da pessoa 'umana en)uanto ser individua# esocia#merite se+uado.

    O modo de viver a se+ua#idade e+p#ica muito a crise 7so#id!o, vazio, compensa$es,compu#s$es...8 )ue o ser 'umano vive 'o(e. Temos certamente )ue re*azer o edi*/cio decompreens!o e das prticas tendo como ei+os a a#teridade 7ser *ace aos outros8, a'umaniza!o 7na supera!o do iso#amento8, a integra!o da mascu#inidade e da *emini#idade7por po#aridade, comp#ementaridade eou reciprocidade8.

    .2. A 3uventude0 um desafio permanente

     A (uventude é particu#armente atingida pe#a crise devido - pecu#iaridade do momentopsicossocia# vivido nessa sua *ase da vida. 5onstitui4se numa *ase de op$es e de de*ini$es.Grandes desa*ios a/ se apresentam, tais comoM 5omo desenvo#ver4se pessoa#mente e c'egar en*im - p#ena maturidade diante da atua# situa!o 7*ami#iar, econ>mico4socia#, po#/tica, a*etivo4espiritua#...8: 5omo de*inir4se e rea#izar4se dentro desta rede de interesses e ideo#ogiastentando nos capturar de )ua#)uer (eito:

    Sa&emos )u!o estreitas e di*/ceis s!o as reais oportunidades em todos os n/veis nestasociedade moderna. 1or outro #ado, o dese(o )ue empurra a (uventude para a rea#iza!opessoa# dever superarevitar, por um #ado, os processos autodestrutivos e, por outro #ado, asimp#es satis*a!o imediata de suas pu#s$es. A (uventude tem uma tr/p#ice tare*aM construir uma persona#idade v#ida 7cr/tica8, depurar novos va#ores, criar novas re#a$es superando oiso#amento, tendo como e#ementos *undamentais a centra#idade da pessoa 'umana, com ocu#tivo de suas di*erentes dimens$es.

    .4. * desequilrio da qualidade de vida

    N!o d mais para tapar o so# com a peneira. N!o adianta *azer de conta )ue tudo est&em, criando i#us$es e simu#ando mundos paradis/acos numa *uga da rea#idade )ue est a/

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    diante de n2s. Vivemos, 'o(e, num dese)ui#/&rio do )ue é vita# para n2s. Vidas s!o e+c#u/das esacri*icadas Os indicadores econ>.. micos e Socia/s em nosso  pa/s apontam para umescFnda#o mora# diante das despropor$es e+istentes em termos de oportunidade de vidadigna. A menta#idade ca#cu#ista e tecnicista, a#iada - rpida industria*iza!o est reduzindo oser 'umano a pea de uma m)uina de produ!o e consumo, O individua#ismo e+acer&ado

    em&aa nossa vis!o" e#egemos o indiv/duo como a medida de tudo, inc#usive do )ue esta#ém de#e mesmo. Agredimos a natureza, depredandoa A po#/tica continua sendo um pa#coprivi#egiado para nossas e#ites corruptas continuarem sua *orma arcaica de dom/niooportunista e irresponsve# 5om isso, até as institui$es andam de&i#itadas" sua #egitimidade éposta em d3vida.

     A modernidade est em crise. Daz4se necessrio &uscar o “novo” sem medo. 0 sinaisde )ue estamos entrando numa nova *ase da 'ist2ria, 9uitos a c'amam de p2s4modernidade%sta vem marcada por uma cr/tica - modernidade e e+ige a de#imita!o de novas &asessustentadoras do 'umano. necessrio acompan'ar o ser 'umano ade)uadamen neste novotempo. ecusar4se a este empen'o 5onstitui4se num desservio - 'umanidade" é a&andonar 

    o ser 'umano num camin'o sem suporte ade)uado, pass/ve# de muitas )uedas ecapitu#a$es" é torn4#o presa *ci# de *oras 'egem>nicas e muito &em apare#'adas )uedese(am sug4#o sem escr3pu#os, amarr4#o em *un!o de interesses traioeiros, a(ustando4oe acomodando4o como “pea” do sistema, re&ai+ando4o assim ao estado de “o&(eto”. 

    %TIA6O 6%M

     AGOSTINI, Ni#o. A crise ético4mora# em nossa sociedade. InM 5eologia 6oral.  1etr2po#isM%ditora Vozes, pp.C;4.

    EXERC+CIO DE EX,LORAO DO TEXTO

    1. Le/a!e o% '"!c"'a"% que%"o!ame!o% a'e%e!ado% 'eo auo2 !o% 3%'"me"o% 'a5a$o%.

    #. A 'a" da 'e%'ec"/a do auo2 %"ue-%e d"a!e da Idade Mode!a e caace"6eo% 'e!%adoe% co!%"deado% 'ecu%oe% da me%ma 'eo auo.

    *. O que d"$ee!c"a a Idade Mode!a da Idade M7d"a e qua o 'o%"c"o!ame!o doauo $e!e ao% '"!c"'a"% e8"co% c"ado% 'o ee9

    4. ,o que um 'e!%ado da Moa e da É"ca 'oema"6a a Idade Mode!a2

    %oeudo !aqu"o que a me%ma em como %eu% ma"oe% u!$o%9

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