texto complementar - os efeitos da cocaína no cérebro

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02/09/12 Os efeitos da cocaína no cérebro 1/6 www.cerebromente.org.br/n08/doencas/drugs/anim1.htm Os Efeitos da Cocaína no Cérebro Autores: S.H. Cardoso e R.M.E. Sabbatini Corte cerebral pós-mortem de um adito em cocaína. A lesão mostrada refere-se a uma hemorragia cerebral massiva e está associada ao uso da cocaína. (Credits ) Axônio de um neurônio em contato com o dendrito de outro neurônio (a sinapse). O elemento pós-sináptico mostra sua membrana, bem como os receptores, aos quais o neurotransmissor se liga e intermedia os seus efeitos. (clique aqui para ver uma animação sobre os efeitos da cocaína) Sintetizada em 1859, a cocaína tem como origem a planta Erythroxylon coca, um arbusto nativo da Bolívia e do Peru (mas também cultivado em Java e Sri-Lanka), em cuja composição química se encontram os

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Cocaína

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02/09/12 Os efeitos da cocaína no cérebro

1/6www.cerebromente.org.br/n08/doencas/drugs/anim1.htm

Os Efeitos da Cocaína no Cérebro

Autores: S.H. Cardoso e R.M.E. Sabbatini

Corte cerebral pós-mortem de um adito em cocaína. A lesão

mostrada refere-se a uma hemorragia cerebral massiva e está associada ao uso da cocaína.(Credits)

Axônio de um neurônio em contato com o dendrito de outro neurônio (a sinapse).

O elemento pós-sináptico mostra sua membrana, bem como os receptores, aos quais

o neurotransmissor se liga e intermedia os seus efeitos.

(clique aqui para ver uma animação sobre os efeitos da cocaína)

Sintetizada em 1859, a cocaína tem como origem a planta Erythroxylon coca, um arbustonativo da Bolívia e do Peru (mas

também cultivado em Java e Sri-Lanka), em cuja composição química se encontram os

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alcalóides Cocaína, Anamil e Truxillina (ou Cocamina).

As propriedades primárias da droga bloqueiam a condução de impulsos nas fibras nervosas,quando aplicada externamente, produzindo uma sensação de amortecimento eenregelamento. A droga também é vaso constritora, isto é, contrai os vasos sangüíneosinibindo hemorragias, além de funcionar como anestésico local, sendo este um dos seus usosna medicina.

Ingerida ou aspirada, a cocaína age sobre o sistema nervoso periférico, inibindo areabsorção, pelos nervos, da norepinefrina (uma substância orgânica semelhante àadrenalina). Assim, ela potencializa os efeitos da estimulação dos nervos. A cocaína étambém um estimulante do sistema nervoso central, agindo sobre ele com efeito similar aodas anfetaminas.

A quantidade necessária para provocar uma overdose varia de uma pessoa para outra, e adose fatal vai de 0,2 a 1,5 grama de cocaína pura. A possibilidade de overdose, entretanto, émaior quando a droga é injetada diretamente na corrente sangüínea. O efeito da cocaína podelevar a um aumento de excitabilidade, ansiedade, elevação da pressão sangüínea, náusea eaté mesmo alucinações. Um relatório norte-americano afirma que uma característica peculiarda psicose paranóica, resultante do abuso de cocaína, é um tipo de alucinação na qualformigas, insetos ou cobras imaginárias parecem estar caminhando sobre ou sob a pele dococainômano. Embora exista controvérsia, alguns afirmam que os únicos perigos médicos douso da cocaína são as reações alérgicas fatais e a habilidade da droga em produzir fortedependência psicológica, mas não física. Por ser uma substância de efeito rápido e intenso, acocaína estimula o usuário a utilizá-la seguidamente para fugir da profunda depressão que sesegue após o seu efeito. A Coca-Cola, um dos refrigerantes mais populares, foi originalmente uma beberagem feitacom folhas de coca e vendida como um "extraordinário agente terapêutico para todos osmales, desde a melancolia até a insônia". Complicações legais, todavia, fizeram com que apartir de 1906 o refrigerante passasse a utilizar em sua fórmula folhas de coca descocainadas(revista Planeta, julho,1986).

Veja outras características da cocaína

Os malefícios da cocaína

A cocaína é a droga que mais rapidamente devasta o usuário. Bastam alguns meses oumesmo semanas para que ela cause um emagrecimento profundo, insônia, sangramento donariz e corisa persistente, lesão da mucosa nasal e tecidos nasais, podendo inclusive causarperfuração do septo (12). Doses elevadas consumidas regularmente também causam palidez,suor frio, desmaios, convulsões e parada respiratória. No cérebro, a cocaína afetaespecialmente as áreas motoras, produzindo agitação intensa. A ação da cocaína no corpo époderosa porém breve, durando cerca de meia hora, já que a droga é rapidamentemetabolizada pelo organismo.

Interagindo com os neurotransmissores, tornam imprecisas as mensagens entre os neurônios.

Função Normal da Dopamina no Cérebro

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Veja a animação (135 K) Sabe-se que neurotransmissores como a dopamina (mostrada em vermelho), noradrenalina eserotonina (esta última recentemente descoberta [10]) são catecolaminas sintetizadas porcertas células nervosas que agem em regiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, oprazer e a motivação. Depois de sintetizados, estes neurotransmissores são armazenadosdentro de vesículas sinápticas (em verde). Quando chega um impulso elétrico no terminalnervoso, as vesículas se direcionam para a membrana do neurônio e liberam o conteúdo, porex., da dopamina, na fenda sináptica. A dopamina então atravessa essa fenda e se liga aosseus receptores específicos na membrana do próximo neurônio (neurônio pós-sináptico).Uma série de reações occorre quando a dopamina ocupa receptores dopaminérgicosdaquele neurônio: alguns íons entram e saem do neurônio e algumas enzinas são liberadasou inibidas. Após a dopamina ter se ligado ao receptor pós-sináptico ela é recaptadanovamente por sítios transportadores de dopamina localizados no primeiro neurônio (neurôniopré-sináptico). A recaptura dos neurotransmissores é um mecanismo fundamental para manter ahomeostase e capacitar os neurônios a reagir rapidamente a novas exigências, já que otrabalho do cérebro é constante.

A Entrada de Cocaína no Cérebro

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Veja a animação (290 K)

Quando a cocaína entra no sistema de recompensa do cérebro, ela bloqueia os sítiostransportadores dos neurotransmissores acima mencionados (dopamina, noradrenalina,serotonina), os quais têm a função de levar de volta estas substâncias que estavam agindona sinapse. Desta maneira, ela possibilita a oferta de um excesso de neurotransmissores noespaço inter-sináptico à disposição dos receptores pós-sinápticos, fato biológico cujacorrelação psicológica é uma sensação de magnificência, euforia, prazer, excitação sexual.Por este motivo, denomina-se o consumo da cocaína "Sindrome de Popeye", numa analogiadessa droga com o espinafre do conhecido marinheiro das histórias em quadrinhos (11).Uma vez bloqueados estes sítios, a dopamina e outros neurotransmissores específicos nãonão são recaptados, ficando portanto, "soltos" no cérebro até que a cocaína saia. Quando umnovo impulso nervoso chega, mais neurotransmissor é liberado na sinapse, mas ele seacumula no cérebro por seus sítios recaptadores estarem bloqueados pela cocaína. Acredita-se que a presença anormalmente longa de dopamina no cérebro é que causa os efeitos deprazer associados com o uso da cocaína. Quando imaginamos que ocorrem cerca de trilhõesde trocas neuroquímicas por minuto, fica evidente que o preço pago por viver umaexperiência de euforia é alto demais em relação às características que o indivíduo terá queencarar (11). O uso prolongado da cocaína pode fazer com que o cérebro se adpte a ela, deforma que ele começa a depender desta substânica para funcionar normalmente diminuindoos níveis de dopamina no neurônio. Se o indivíduo parar de usar cocaína, já não existedopamina suficiente nas sinapses e então ele experimenta o oposto do prazer - fadiga,depressão e humor alterado.

Os Efeitos Euforizantes Causados Pelo Uso da Cocaína

Recentemente, cientistas investigaram os efeitos euforizantes dacocaína através de estudos de imagens cerebrais utilizando atomografia PET (Positron Emission Tomography), um sofisticadométodo que permite visualizar a função dos neurônios através doseu metabolismo, usando substâncias radioativas. O trabalho foipublicado na revista Nature [1].

Eles descobriram que a cocaína ocupa ou bloqueia os "sítiostransportadores de dopamina" nas células cerebrais (conforme

dito acima, dopamina é uma substância sintetizada pelas células nervosas que age em certasregiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, a motivação). Os "sítios transportadoresde dopamina" levam a dopamina de volta para dentro de certos neurônios, após ela ter dadouma "passeada" pelo cérebro promovendo seus efeitos. Se a cocaina ocupar o mecanismode transporte da dopamina, esta substância fica "solta" no cérebro até que a cocaína saia, e

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é justamente a presença anormalmente longa dela no cérebro é que causa os efeitoseufóricos associados com o uso da cocaína. Clique aqui para ver as imagens do PET,comparando um paciente não-adito, como dois aditos à cocaína.

Tanto a dopamina como outras substâncias aumentadas no cérebropodem produzir vasoconstrição e causar lesões. Estas lesões podemincluir hemorragias agudas e infarto no cérebro (zona de morte celular,causada por falta de oxigênio), bem como necrose do miocárdio,podendo levar à morte súbita.

Grávidas que usam cocaína podem afetar seus fetos, levando-os aonascimento com baixo peso ou risco de rompimento da placenta e atélesões irreversíveis do cérebro, causando deficiências mentais efísicas. Em muitos países, os "bebês da cocaína" são um sérioproblema de saúde pública, que está se agravando com a ampladisponibilidade do "crack".

Em

vermelho, sítiostransportadores dedopamina. O PETso mostra os sítiosnão ocupados pelasdrogas.

Porque a Cocaína Vicia ?

A dependência à cocaína depende de suaspropriedades psicoestimulantes e açãoanestésica local. A dopamina é consideradaimportante no sistema de recompensa docérebro, e seu aumento pode serresponsável pelo grande potencial dedependência da cocaína (veja videoclips

sobre experimentos em centros do prazer no cérebro de ratos) .

Um estudo de PET, feito por cientistas da Johns Hopkins University e o National Institute onDrug Abuse (NIDA) nos EUA, descobriu que o vício pela cocaína está diretamentecorrelacionado a um aumento no cérebro dos receptores para substâncias opióides, como asendorfinas, que são naturais, e drogas de abuso, como a heroína e o ópio [2]. Quanto maior aintensidade do vício, maior esse número de receptores.

Quando os viciados em cocaína que foram testados na pesquisa ficavam um mês longe dadroga, em alguns deles o número de receptores voltava ao normal, mas em outros continuavaalto. Pode haver uma correlação entre esse fato e a susceptibilidade do drogadito voltar aovício ou não.

Para saber mais:

The Brain & the Actions of Cocaine, Opiates, and Marijuana

The Effects of Cocaine

Cocaine: What are the Risks and Complications?

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A Cure For Cocaine Addiction

Scientists Identify Brain Mechanisms of Cocaine's Euphoric Effects DEA - Drugs of Abuse: Cocaine

The Two Brains

Revista Cérebro & Mente 3(8), jan/mar 1999

Uma Realização do Núcleo de Informática Biomédica

Copyright (c) 1998 Universidade Estadual de Campinas, Brasil

Publicado em 18/Jan/1998

URL: http://www.epub.org.br/cm/n08/doencas/drugs/anim1.htm

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