texto adelino gomes

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Apresentação do livro de Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo Por Adelino Gomes Não quero abusar dos adjectivos. Mas não deixarei de dizer, logo no primeiro minuto desta intervenção, que estamos perante uma obra marcante. Marcante pelos dados que nos dá a conhecer sobre o ambiente mediático em que, em Portugal, ocorrem as mudanças em curso. Marcante pelas reflexões e os contributos teóricos que Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo nos oferecem acerca dessas mudanças no sistema mediático. E marcante por uma outra característica a que atribuo muitíssimo valor: porque é o resultado de uma série de anos de trabalho de um núcleo de investigadores portugueses... sob coordenação portuguesa... e que souberam criar um pensamento próprio a partir dos dados que recolheram e trabalharam. Marcante, por fim - descubro-o agora, já aqui -, pelo ambiente particular que rodeia este lançamento, aqui, nesta bela sala da histórica livraria Férin, Não por acaso, o lançamento deste livro coincide com a colocação no mercado também de uma outra obra de um outro grupo de investigadores potugueses, sob coordenação portuguesa e que souberam igualmente criar um pensamento próprio a partir dos dados que recolheram e trabalharam ao longo dos últimos anos. Estou a referir ao livro Estudos sobre os Jornalistas Portugueses. Metamorfoses e encruzilhadas no limiar do século XXI. O organizador e figura central é José Luís Garcia (como aqui é Gustavo Cardoso) A obra cujo lançamento hoje saudamos tem envolvida uma equipa de nove investigadores; a de José Luís Garcia, 7. Penso que a universidade portuguesa está de parabens – o ISCTE e o ICS (instituições-mãe destas obras), mas também o ISCSP, a Escola Superior de C.S., a Lusófona e, num outro plano, enquanto coordenadores da colecção Comunicação, da Porto Editora, dois professores de alto gabarito da universidade do Minho, Manuel Pinto e Joaquim Fidalgo. Dedicarei o final desta intervenção à primeira parte do livro, assinada por Gustavo Cardoso, e na qual se propõe um novo modelo de comunicação, a juntar-se aos modelos tradicionais.

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Apresentação do livro de Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo Por Adelino Gomes Não quero abusar dos adjectivos. Mas não deixarei de dizer, logo no primeiro minuto desta intervenção, que estamos perante uma obra marcante. Marcante pelos dados que nos dá a conhecer sobre o ambiente mediático em que, em Portugal, ocorrem as mudanças em curso. Marcante pelas reflexões e os contributos teóricos que Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo nos oferecem acerca dessas mudanças no sistema mediático. E marcante por uma outra característica a que atribuo muitíssimo valor: porque é o resultado de uma série de anos de trabalho de um núcleo de investigadores portugueses... sob coordenação portuguesa... e que souberam criar um pensamento próprio a partir dos dados que recolheram e trabalharam. Marcante, por fim - descubro-o agora, já aqui -, pelo ambiente particular que rodeia este lançamento, aqui, nesta bela sala da histórica livraria Férin, Não por acaso, o lançamento deste livro coincide com a colocação no mercado também de uma outra obra de um outro grupo de investigadores potugueses, sob coordenação portuguesa e que souberam igualmente criar um pensamento próprio a partir dos dados que recolheram e trabalharam ao longo dos últimos anos. Estou a referir ao livro Estudos sobre os Jornalistas Portugueses. Metamorfoses e encruzilhadas no limiar do século XXI. O organizador e figura central é José Luís Garcia (como aqui é Gustavo Cardoso) A obra cujo lançamento hoje saudamos tem envolvida uma equipa de nove investigadores; a de José Luís Garcia, 7. Penso que a universidade portuguesa está de parabens – o ISCTE e o ICS (instituições-mãe destas obras), mas também o ISCSP, a Escola Superior de C.S., a Lusófona e, num outro plano, enquanto coordenadores da colecção Comunicação, da Porto Editora, dois professores de alto gabarito da universidade do Minho, Manuel Pinto e Joaquim Fidalgo. Dedicarei o final desta intervenção à primeira parte do livro, assinada por Gustavo Cardoso, e na qual se propõe um novo modelo de comunicação, a juntar-se aos modelos tradicionais.

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Antes de apresentar e desenvolver essa proposta, deixem-me fazer uma abordagem, breve, das restantes quatro partes da obra, assinadas em conjunto pelos três autores, mas em que se assinala a presença de dados recolhidos e trabalhados por seis outros investigadores em Ciências Sociais: Pedro Neto, Rita Cheta, Sandra Amaral, Sandro Mendonça, Susana Santos e Tiago Lapa. Farei também uma referência ao posfácio, de Rita Espanha que defende a imperiosidade de uma crowdsourcing de novas metodologias de análise que envolva toda a comunidade científica, de forma apoder-se captar a plenitude destas mudanças. A obra, para além do tal capítulo essencialmente teórico e do meu ponto de vista marcante, como procurarei demonstrar, debruça-se específicamente sobre os produtores de mensagens, as audiências e os media em rede. Nos produtores de mensagens incluem-se não apenas os jornalistas, mas também os autores de blogues e participantes activos nos actos de comunicação (quer interagindo com os media tradicionais quer produzindo eles próprios conteúdos). A blogosfera portuguesa, sustentará Rita Espanha no posfácio, pode apresentar-se como a sucessora dos cafés públicos do seculo XIX pelo seu papel na criação de uma nova esfera pública, no sentido em que, tal como então, é um número reduzido de pessoas que centram a sua actividade em torno das questões comunicativas e políticas que criam o tecido das sociedades democráticas. Um inquérito por questionário aplicado a 341 jornalistas portugueses e complementado pela observação participante nas redacções dos principais jornais, televisões e rádio nacionais, dá-nos o olhar dos jornalistas sobre a catadupa de mudanças que marcaram o final do século XX. O inquérito centra-se nas atitudes e expectativas dos jornalistas perante a Internet (o modo como a utilizam, alterações por ela provocadas nas rotinas produtivas e no próprio conceito de notícia). Impressiona a naturalidade com que os jornalistas se dispuseram a tomar conhecimento e a utilizar as novas ferramentas disponíveis (e-mail, telemóvel, a proliferação do online) bem como tranquilidade com que encararam os desafios trazidos pelo novo meio. Os resultados do trabalho remontam aos primeiros anos deste século. Do ponto de vista dos jornalistas, a Sociedade em Rede introduzia uma nova dinâmica ao campo do jornalismo mas não lhe alterava as suas bases. Não sei se igual inquérito e semelhante observação, a realizar-se hoje, iriam encontrar o mesmo grau de optimismo que destes ressalta... A terceira parte da obra aborda a forma como os consumidores se apropriam e consomem os media. Centrando-se na análise de dados do Inquérito A Sociedade em Rede em Portugal 2006, são-nos fornecidos quadros das dietas mediáticas dos portugueses, uma tipologia dos consumidores de media no país e uma análise entrecruzada dos vários perfis – os

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diletantes do pequeno ecrã, os diletantes do entretenimento, os hackers informativos e os trabalhadores da informação. Por diletantes, esclarecem os autores (e na verdade era necessário), entende-se aqueles que exercem uma determinada actividade por gosto e não por obrigação formal; e por hackers os entusiastas. Os diletantes do pequeno ecrã são constituidos por idosos reformados com forte consumo de televisão: os diletantes do entretenimento agrupam maioritariamente estudantes com forte apetência paras as TIC e com elevado consumo de conteúdos de entretenimento; os hackers informativos são maioritariamente jovens adultos qualificados e trabalhadores adeptos das novas tecnologias que valorizam conteúdos informativos em todos os media; e os trabalhadores da informação são os que valorizam os conteúdos informativos por motivos essencialmente profissionais. Das entrevistas realizadas aos vários perfis (numa análise entrecruzada) concluiu-se que a televisão ocupa um lugar central nas dietas mediáticas e que nela os diferentes perfis procuram ou a informação ou o entretenimento, sendo que a procura da informação ocupa uma parte importante do tempo dedicado à televisão em todos os grupos. Outras conclusões interessantes: os não-leitores de jornais encontram-se entre os mais jovens (15-24 anos) – curiosamente até a informação on line é pouco procurada pelos não-leitores de jornais neste grupo etário – e entre os mais velhos (mais de 55 anos); os jornais desportivos são lidos por entrevistados de todas as classes sociais, sexos e idades, que associam o seu jornal preferido ao clube da sua preferência; os telemóveis fazem parte do quotidiano da esmagadora maioria dos entrevistados, com o grupo dos mais jovens a apontá-lo como o objecto mais importante do seu quotidiano. Os que têm acesso à Internet usam-na de diferentes formas e com objectivos diferentes. Os mais jovens são os que lhe dão um uso mais intenso, combinando actividades de lazer com canais de conversação, realização de trabalhos escolares, consulta de correio electrónico, num quadro de utilização que decorre muitas vezes numa fruição simultânea de vários media. Este fenómeno do multitasking atinge hoje amplitudes impressionantes – estudos norte-americanos de 2006 mostraram que os consumidores devido a ele, vivem dias equivalentes a jornadas de 43 horas, incluindo 16 horas de interacção com media e tecnologia. Em Portugal, estudos realizados no mesmo ano mostram que mais de metade dos inquiridos comem ou fazem uma refeição enquanto vêm televisão, cercade um terço enviam mensagens por SMS, um quarto falam ao telefone e um pouco mais de um quinto navegam na internet ou escrevem mensagem de correio electrónico – o que significa que ver televisão cruza-se com o tempo para fazer outras actividades, acabando por constituir às vezes apenas o pano de fundo das suas actividades. Os autores salientam a prática do multitasking durante a utilização da Internet – ouvir música, utilizar chats ou programas de mensagens instantãneas, falar ao telemóvel,

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ouvir rádio e ver televisão, num usufruto multifacetado e simultãneo de práticas em rede que impregna o quotidiano dos jovens. A parte IV desta obra debruça-se sobre a forma como os meios tradicionais – jornais, rádio e televisão – estão a responder aos desafios da nova era da comunicação em rede. Apesar da prudência aconselhável nesta matéria, os autores não hesitam em avançar com previsões dir-se-ia arriscadas. Por exemplo quando defendem que tanto Negroponte, há 20 anos, como a revista The Economist, em 2007, se terão precipitado quando previram a morte próxima dos jornais. Tal perspectiva “dificilmente se virá a concretizar”, sustentam. A era do jornal de papel assente nas receitas de publicidade, venda de rua, e venda de produtos tangíveis (livros, Cd’s) terminou; mas há outras opções – experiências em novos mercados e novas formas de dar notícias. São defendidas a tese de Gustavo Cardoso da proximação da imprensa escrita do modelo de funcionamento das agências noticiosas internacionais e estratégias online e ofline, exemplificadas neste momento pela instalação praticamente de todos os velhos jornais na net e por uma tendência que marcou 2007 e parte de 2008 – a criação de jornais gratuitpos a cargo dos próprios jornais pagos – vide a efemeridade do Sexta, da Sonaecom e as fracas performances do Global Notícias, da Controlinveste e do Meia Hora, da Cofina A experiência, porém, ou falhou, caso do Sexta, ou não parece de grande saúde. No que respeita ao renascimento do jornal enquanto agência de notícias de integração vertical e multimédia, defende-se aquilo que poderei qualificar como a optimização ad infinitum de duas das funções mais básicas da história dos jornais: a busca da novidade absoluta e do aprofundamento e actualização do que já se sabe; e a selecção e validação dos factos (assente, o texto não o diz, mas pareceu-me claro) no reforço da credibilidade. Deixem-me agradecer aos autores, em particular a vera Araújo, primeira subscritora deste capítulo: Num tempo em que será dificil encontrar muitos jornalistas, no interior de algumass das mais prestigiadas redacções, dispostos a apostar na sobrevivência do seu próprio jornal, é consolador, confesso, deparar com esta confiança no futuro proclamada por ela, citando Gustavo Cardoso, no último parágrafo do capítulo 7, sobre os jornais: “O jornal não está apenas na rede. O jornal está a constituir um novo nó da rede que liga os media entre si. E a reconfigurar-se como um elemento central da comunicação em rede, tal como o foi na comunicação de massa.” (Adelino Gomes recorre à edição daquele dia do Público, exemplificando a forma insuperável como o jornal fez a cobertura da morte de João Bénard da Costa. Salientou, em particular, a super-entrada do texto de Alexandra Prado Coelho, constituída apenas pelas 100 palavras que Bénard escreveu mais vezes; e o último parágrafo da crónica de Miguel Esteves Cardoso: “Deus, apresento-te João Bénard. João Bénard, apresento-te Deus”.)

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A Internet ofereceu uma terceira vida à rádio, defendem Vera Araújo, Rita Espanha, et al . As novas tecnologias vieram permitir à rádio chegar por mais vias ao ouvintes. A Rádio, constata-se, é, porventura, o meio que em Portugal melhor explorou as potencialidades da Internet – nomeadamente as rádios de entretenimento e musicais. Rádio e Internet completam-se, na procura de uma mais forte proximidade com aqueles que ontem a ouviam e hoje continuam a ouvi-la, em diferentes ambientes (mais no carro e no trabalhos do que em casa), a qualquer altura (e não, como no passado, apenas na hora e no minuto da emissão), em novas plataformas e com maior qualidade e universalização mais baratas (o computador, o telemóvel, deixando de depender como até agora da difusão do sinal), oferecendo ao ouvinte novas interacções, as inéditas possibilidades de leitura e visualizaçãobem como de selecção e armazenamento de conteúdos. À semelhança da rádio, também com a televisão ocorreu uma mutação assinalável no que respeita aos modos de consumo – antes confinada à sala de estar e a um horário de prorgamação, ela passou a estar diponível noutros ecrãs (do computador, de pequeno telemóvel) em qualqer lugar a qualquer hora. Ela tornou-se em suma um tipo de conteúdo com características próprias quer na ficção quer na informação e que pode ser visto num conjunto vasto de ecrãs, por uma infinidade de pequenas audiências de nicho e comunidades Também sobre a televisão esta obra nos dá a conhecer a dieta dos portugueses e que pode resumir-se nesta frase: a televisão é o meio favorito, tanto para entretenimento como para informação em todos os escalões etários, grupos socioprofissionais e regiões de origem. Vem crescendo, porém, o papel da Internet, enquanto simultaneamente meio de comunicação de massas e interpessoal. A segmentação das audiências e os desenvolvimentos tecnológicos, nomeadamente a televisão digital criam condiçoes favoráveis à interactividade e abrem maiores possibilidades de controlo e de autonomia dos indivíduos, permitindo a passagem a prazo de uma televisão de massas para uma televisão personalizada, assente na lógica do Do it yourself. Por enquanto tal ocorre apenas em camadas mais jovens e que gozam de maior literacia tecnológica, podendo acontecer que largas camadas permaneçam ainda longamente adictas a modelos mediáticos tradicionais e consumo Deixei para o fim, como avisei, o capítulo que tenho por mais marcante desta obra. O primeiro capítulo, precisamente: Da Comunicação de massa à comunicação em rede: modelos comunicacionais e a sociedade de informação.. Li este texto na sua versão – julgo que original, em inglês –, por amável empréstimo do autor. Fiquei muito impressionado. Disse-lhe, uns dias depois: “Tenho muita curiosidade em saber quais vão ser as reacções internacionais a ele”. Vão ter ocasião de o ler e de o estudar. Nele Gustavo Cardoso defende que um novo sistema comunicacional emergiu e tem vindo a estabelecer-se ao longo da última década.

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Aos modelos da comunicação interpessoal – de um para um ou para poucos; da comunicação de um para vários; e da comunicação de massas – de um para muitos, virtualmente para todos- o modelo em que nascemos e crescemos; sucede agora um quarto modelo – o da comunicação em rede, que combina mecanismos interpessoais de mediação com mecanismos de mediação de massa. . Trata-se, como podem já concluir, de algo muito importante: em primeiro lugar porque muda o ângulo de compreensão destas mudanças que estamos a viver. A centralidade das mudanças tecnológicas é nele substituída pela centralidade dos processos de mediação empreendidos pela organização em rede do sistema e pela acção dos utilizadores de media. Nos vários níveis ou plataformas de intervenção – públicas, privadas, de trabalho. Ao contrário do que se disse e muitos pensam ainda, o sistema de media hoje não está organizado em torno da ideia da convergência tecnológica, mas em torno da articulação em rede de aparelhos, conteúdos e seus usos. À volta de dois nós principais que se baseiam na Televisão – caracterizada pela baixa interactividade que gera, e na Internet que prporciona alta interactividades. Televisão e Internet , que comunicam entre si usando várias tecnologias de comunicação e informação (o telefone, o rádio, a imprensa escrita, etc). Como seres sociais, explica Gustavo Cardoso, não usamos um único meio como fonte de comunicação, informação, acção e entretenimento, mas combinamo-los, usamo-los em rede. Um dos exemplos de que se socorre o autor – um exemplo clássico porque já o usou anteriormente em trabalhos académicos – é o dos atentados do 11 de Março de 2004 em Madrid e o das eleições gerais espanholas, quatro dias depois. O papel do telemóvel nesses acontecimentos, ao divulgar duas mensagens essenciais – a de que o governo ao atribuir os atentados à ETA estava a mentir deliberadamente; e a de que, como forma de protesto, as pessoas deviam vir para a rua, manifestar-se – mostrou como o uso de um aparelho de comunicação interpessoal podia adquirir a dimensão de um fenómeno colectivo (no caso de reflexão sobre o que diziam a rádio e a televisão) transformando-o num meio de comunicação de massa, mais poderoso do que os tradicionais meios de comunicação de massas, pelo apelo novo que dessa utilização ressumava. Um outro exemplo, pouco tempo de depois, aquando dos atentados de Londres, veio mostrar-nos a articulação possível complementar da ligação em rede dos telemóveis e da sua função de aparelho fotográfico, com a imprensa e a televisão (isto é, dos media interpessoais com os mass media). O autor demonstra como assistimos a uma mudança de paradigma comunicacional. através da análise de quatro dimensões: 1ª - A centralidade da retórica da imagem em movimento na era a informação – é a componente visual que domina hoje o mundo mediático mesmo no reino da Internet:

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2ª - As novas dinâmicas de acessibilidade da informação – é possível hoje que todos escrevam sobre tudo, o que traz consigo novos modelos de gatekeeping, nota citando Castells 3ª dimensão – Os utilizadores tornaram-se progressivamente inovadores ou pelo menos como definidores de tendências, entrando na arena da criatividade. É muito reduzida ainda a percentagem dos utilizadores que produzem conteúdos, mas – para me conter no campo espcífico do jornalismo – experiências como as do chamado jornalismo participativo ou de cidadão tiveram enorme impacto por exemplo, sobre o campo jornalístico. Pela primeira vez na história, o jornalista gatekeeper via o seu papel de mediador desafiado por outros porteiros ou guardiões da noticia e até de produtores de informação. 4ª e última dimensão –Alteraram-se a forma como a mediação acontece e o nosso envolvimento nela. Essas mudanças afectaram quer as notícias (a forma como nos são apresentadas e as que preferimos), quer os modelos de entretenimento. O autor detem-se longamente nesta dimensão, bastando aqui notar que vivemos imersos, hoje, num ambiente noticioso onde se encontram tantos modelos de produção de notícias e estatégias como possíveis audiências. Gustavo Cardoso conclui que um novo sistema de media tem vindo a estabelecer-se lentamente ao longo da última década Depois das tais 3 idades – a da comunicação interpessoal, a da comunicação de um para muitos; e e a da comunicação de um para um nº indeterminado de pessoas, virutualmente todas; chegámos pois ao modelo de comunicação baseado na comunicação em rede- que é hoje a característica organizacional central da sociedade informacional em que vivemos. Um modelo caracterizado pela fusão da comunicação interpessoal e em massa, e que liga audiências, emissores e editores sob uma matriz de media em rede – do jornal aos jogos de vídeo - e que oferece aos utilizadores novas mediações e novos papéis. Este modelo não substitui os anteriores, articula-os. Produzindo novos formatos de comunicação e permitindo ao mesmo tempo novas formas de facilitação de empowerment e consequentemente de autonomia comunicativa. Não sei ainda quais foram ou se as houve. Aquilo que eu digo não tem, como é óbvio, nenhum relevo. Representa apenas a opinião de um prático do jornalismo com incursões estudantis (para mais, serôdias) nesta área.) Salvaguardada essa irresponsabilidade de quem não representa mais ninguém nem mais nada do que a sua pessoa e a sua irrelevância institucional e no entanto insiste em pronunciar-se sobre a matéria, não tenho dúvidas nenhumas em repetir publicamente que este texto constitui uma contribuição teórica de altíssimo relevo quando olhamos o estado da arte neste área. Lisboa, 22.05.2009, Adelino Gomes