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www.norte2015.com.pt NORTE 2015 Grupo de Prospectiva: As Actividades Económicas Atelier Temático: Intensificação Tecnológica e Especialização Regional – Eixo Bioquímica/Biotecnologia e Agro-alimentar Biotecnologia e Agro-alimentar – Documento de Enquadramento Preliminar – Perito: Francisco Xavier Malcata Data: Maio de 2005 Todas as posições expressas nos documentos produzidos pelos peritos são da estrita responsabilidade dos seus autores, não vinculando nem comprometendo, em caso algum, a CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte).

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NORTE 2015

Grupo de Prospectiva: As Actividades Económicas

Atelier Temático: Intensificação Tecnológica e Especialização Regional

– Eixo Bioquímica/Biotecnologia e Agro-alimentar

Biotecnologia e Agro-alimentar

– Documento de Enquadramento Preliminar –

Perito: Francisco Xavier Malcata

Data: Maio de 2005

Todas as posições expressas nos documentos produzidos pelos peritos são da estrita responsabilidade dos seus autores, não vinculando nem comprometendo, em caso algum, a CCDR-N (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte).

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Sobre o Trabalho Na sequência da constatação de que a grande aposta estratégica da política regional consiste em fomentar a competitividade regional através da valorização das vantagens competitivas próprias – no intuito de contribuir para a realização do potencial económico das regiões, foi desencadeada em 2005, no seio da Região Norte, uma ampla consulta, com o objectivo de identificar os obstáculos ao desenvolvimento regional e as necessidades de investimento com ênfase estrutural. O presente estudo consiste num exercício de diagnóstico prospectivo – que tem por horizonte o próximo período de programação à escala europeia (2007-2013), e por objectivos a conceptualização de uma visão de futuro e a selecção desejável de prioridades estratégicas para a Região Norte de Portugal. Estas duas características são suportadas por três desideratos transversais: suportar e informar as políticas, construir e reforçar redes, e desenvolver e endogeneizar uma cultura de cenarização prospectiva e delineamento estratégico. Metodologicamente, tal exercício traduziu cinco princípios: antecipação, participação, networking, visão e acção. Estrategicamente, pretendeu-se responder a cinco desafios basilares: promover espaços policêntricos de auscultação e debate; estabelecer procedimentos de estudo e observação da coesão económica, social e territorial; equacionar instrumentos de política capazes de esbater assimetrias inter- e intra-regionais; definir prioridades e vectores de desenvolvimento para aumento da coesão nacional; e gerar consensos alargados sobre questões decisivas para o desenvolvimento da Região. Formalmente, tal esforço tentou providenciar respostas integradas e coordenadas a três questões principais: quem somos e como evoluímos?; o que podemos e que iremos fazer?; e o que queremos e como iremos fazer? Estruturalmente, tal estudo versou em geral a componente temática da biotecnologia – enquanto sector emergente e tecnologicamente qualificado (e, por isso, vector de intervenção privilegiado das futuras actividades económicas), e em particular a vertente temática do agro-alimentar – enquanto sector clássico e socialmente sustentado (e, por isso, vector de intervenção privilegiado das actuais actividades económicas). Especificamente, tal construção pretendeu apresentar um quadro de referência estratégico, identificando pontos fortes e fracos, assim como ameaças e oportunidades, quer numa perspectiva intra- e supra-regional, quer numa perspectiva nacional e comunitária – susceptível de permitir a concepção de políticas públicas de apoio. Como resultado deste trabalho – a ser oportunamente apresentado na respectiva sessão temática do Seminário Norte 2015, são elencadas algumas conclusões referentes ao diagnóstico, visão e objectivos – explicitadas em questões-chave, que actual e futuramente condicionam a concretização da visão estratégica, e incluídas em modelo estratégico, que incorpora uma hierarquia de objectivos a atingir. Igualmente se identificam cinco desafios principais a esta Região naquele horizonte temporal: competitividade, coesão, qualificação, sustentabilidade e organização.

Sobre o Autor

Após ter completado a Licenciatura em Engenharia Química – opção de Bioengenharia pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1986, F. Xavier Malcata recebeu o grau de Doctor of Philosophy pela Universidade de Wisconsin, em Madison (WI-EUA) em 1991, tendo realizado a sua Agregação em Biotecnologia – Ciência e Engenharia Alimentar pela Universidade Católica Portuguesa em 2004. Foi Prof. Auxiliar entre 1991 e 1997 na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, tendo sido promovido a Prof. Associado em 1997, e a Prof. Catedrático em 2004. Foi representante nacional na iniciativa comunitária COST95 entre 1995 e 1999, e no Comité de Gestão da Key Action Food Quality & Safety do VI Framework Program desde 2002; é Presidente da Sociedade Portuguesa de Biotecnologia desde 2003, representante do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas no Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição desde 2003, e Coordenador do Colégio de Engenharia Química da Região Norte da Ordem dos Engenheiros desde 2004. Dos mais de 40 projectos de I&D, com financiamento nacional e internacional, em que colaborou (na maior parte dos casos como coordenador) e das 70 bolsas de Pós-doutoramento, Doutoramento e Mestrado que supervisionou, resultaram 200 artigos em revistas científicas internacionais arbitradas (citados c. 1500 vezes pelos pares), bem como 30 capítulos em livros editados, 40 resumos alargados em actas de congressos, 10 monografias e 5 livros editados, a par de 300 apresentações em congressos técnico-profissionais e 120 conferências convidadas em Portugal e no estrangeiro. De entre as várias distinções com que foi galardoado, incluem-se: o Prémio Centenário e o Prémio Cristiano P. Spratley, atribuidos pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em 1986; o General Mills /John V. Luck Award, atribuido pelo Institute of Food Technologists dos EUA em 1990; a eleição para a Sigma Xi – honor society for scientific research dos EUA em 1990; o Ralph H. Potts Memorial Award, atribuido pela American Oil Chemists’ Society dos EUA em 1991; a eleição para a Tau Beta Pi – honor society for engineering e para a Phi Tau Sigma – honor society for food science dos EUA em 1990; o CANDIA Institute Fellowship, atribuido pelo Centre de Recherches Internationales André Gaillard da França em 1993; o Foundation Scholar Award, atribuido pela American Dairy Science Association dos EUA em 1998; a nomeação como Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques, pelo Primeiro-Ministro francês em 1999; o Young Scientist Research Award, atribuido pela American Oil Chemists’ Society dos EUA em 2001; o Canadian / International Constituency Young Investigator Award in physical sciences and engineering, atribuido pela Sigma Xi dos EUA em 2002 e 2004; e o Estímulo à Excelência, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em 2004. Desde o princípio de 1998, desempenha as funções de Director da Escola Superior de Biotecnologia, que acumula com as funções de Administrador-Delegado da Associação Empresarial para a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica (AESBUC) desde 1998, e do Centro de incubação e Desenvolvimento de Empresas em Biotecnologia (CiDEB) desde 2004.

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Índice Por onde começamos? ……………………………..... 4 Quem somos e como evoluímos? ….………………. 7 O que podemos e que iremos fazer? ………………..38 O que queremos e como iremos fazer? ……….…….51 Onde nos inspiramos? ……………………………...... 60

“Perante o mundo que muda, mais vale pensar a mudança que mudar o pensamento.”

Francis Blanche, humorista francês (1919-1974)

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1. Por onde começamos?

Explicitação de alguns conceitos base, relevantes do ponto de vista económico e disciplinar.

“Tudo nasce das ideias: elas dão origem aos factos, que apenas lhes servem de envelope.”

François René (visconde de Chateaubriand), escritor francês (1768-1848)

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Não existe uma definição única do conceito de biotecnologia – conceptualizada como o conjunto de tecnologias de ponta mais promissoras do séc. XXI, porquanto susceptíveis de proporcionarem uma intervenção horizontal em diversos sectores, e assim possibilitarem uma vasta gama de aplicações para benefício público e privado. De acordo com a OCDE, biotecnologia “é a aplicação de princípios científicos e de engenharia no processamento de materiais por agentes biológicos”, enquanto a OMS prefere afirmar que a biotecnologia é “a aplicação industrial de organismos, sistemas e componentes biológicos para a produção de bens e serviços de valor acrescentado”. O conjunto de processos e produtos sob a égide da biotecnologia tem vindo a ser considerado estratégico para o desenvolvimento industrial, mercê do seu potencial comercial e da perspectiva que as inovações neste sector assumem a nível global. A biotecnologia engloba diversas aplicações, de carácter mais disciplinar ou vertical – de entre as quais se realça o sector agro-alimentar.

Presentemente, assiste-se ao desenvolvimento intensivo de uma terceira vaga da biotecnologia – a biotecnologia industrial, frequentemente referida como a biotecnologia branca, por oposição à biotecnologia vermelha (dirigida para a saúde) e à biotecnologia verde (envolvendo culturas geneticamente modificadas). A biotecnologia industrial, consistindo na utilização de entidades biológicas para a produção em grande escala de entidades químicas úteis e de energia, baseia-se principalmente na biocatálise (que recorre a enzimas para a catálise de reacções químicas) e na tecnologia de fermentação (baseada no uso dirigido de microrganismos) – em combinação de avanços recentes na senda da genética molecular e da engenharia metabólica. Tal conduz a processos limpos, com geração marginal de resíduos, utilização eficaz de energia, taxas de reacção elevadas, grandes eficiências de conversão e elevado grau de pureza dos produtos. Devido a tais vantagens, a penetração da biotecnologia nos processos de produção químicos estima-se actualmente em 5 %, com um aumento esperado para 10-20 % até 2010, e um aumento ainda maior nos anos posteriores. Para tal contribuirá um conjunto de alterações sociais e tecnológicas, tais como a exaustão das reservas de petróleo, a procura maior de matérias primas e energia por uma população em crescimento, a exigência de sustentabilidade e eficiência nos processos produtivos por parte de consumidores mais conscientes e instruídos, e as alterações nas políticas agrícolas comuns.

No caso dos alimentos, trata-se dos vectores de satisfação das necessidades mais básicas dos seres vivos, e em particular dos seres humanos – construção corporal e produção de energia. Porém, para além da satisfação dos princípios nutricionais (justificação primária), os alimentos respondem igualmente aos atributos de conveniência e carácter sensorial apelativo (justificação secundária), e cada vez mais à contribuição pro-activa para a manutenção do estado de saúde (justificação terciária).

Não existe desagregação nos dados estatísticos oficiais em relação às empresas que intervêm em biotecnologia. No caso dos alimentos, para a análise dos dados estatísticos disponíveis em Portugal, foi definido como sector agro-alimentar o somatório das CAEs 011 (empresas agrícolas) e 012 (empresas de produção animal) – como parte do sector primário, bem como das CAEs 151 (Abate de animais, preparação e conservação de carne e de produtos à base de carne), 152 (Indústria transformadora da pesca e da aquacultura), 153 (Indústria da conservação de frutos e produtos hortícolas), 154 (Produção de óleos e gorduras animais e vegetais), 155 (Indústria de lacticínios), 156 (Transformação de cereais e leguminosas, e fabricação de amidos, féculas e produtos afins) 157 (Fabricação de alimentos compostos para animais), 158 (Fabricação de outros produtos alimentares) e 159 (Indústria das bebidas) – como parte do sector secundário. Infelizmente, não existe uma CAE específica para o sector da biotecnologia. Quando a desagregação ao nível de NUTS II dos dados respeitantes ao sectores primário, secundário e terciário, com relevância para o agro-alimentar, o exigia – por ausência de informação completa, procedeu-se do seguinte modo: considerou-se o CAE01 (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura), o CAE02 (Pesca), o CAE15 (Indústrias alimentares), o CAE512 (Comércio por grosso de produtos agrícolas brutos e animais vivos, o CAE513 (Comércio por grosso de produtos alimentares, bebidas e tabaco), o CAE522 (Comércio a retalho de produtos alimentares, bebidas e tabaco em estabelecimentos especializados), o CAE553 (Restaurantes), o CAE554 (Estabelecimentos de bebidas), e o CAE555 (Cantinas e fornecimento de refeições ao domicílio), sendo CAE512+513 e CAE522 estimados para a Região Norte usando a ponderação da Região Norte em Portugal relativamente a CAE51 e CAE52, respectivamente, e a desagregação de CAE51 e CAE52 prevalecente em Portugal relativamente a CAE512 e CAE513, e a CAE522, respectivamente.

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Em termos de dados económicos pertinentes, considerou-se a Região Norte (NUTS II) comparativamente às outras regiões portuguesas (Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), e compreendendo as sub-regiões Minho-Lima, Cávado, Ave, Grande Porto, Tâmega, Entre Douro e Vouga, Douro, e Alto Trás-os-Montes (NUTS III).

Em termos de dados agrários pertinentes, considerou-se a Região Norte como compreendendo as sub-regiões agrárias (e florestais) de Entre Douro e Minho (Ave, Barroso, Basto, Cávado, Grande Porto, Ribadouro, Vale do Minho, Vale do Lima, e Vale do Sousa) e Trás-os-Montes (Alto Tâmega e Alvão Padrela, Beira Douro e Távora, Corgo e Marão, Douro Superior, Planalto Mirandês, Terra Fria, e Terra Quente).

Em termos de dados de consumo pertinentes, considerou-se a Região Norte como compreendendo a área II – Grande Porto do Índice Nielsen de consumo, parte da área III Norte [distritos de Braga, Porto e Viana do Castelo, tendo-se feito o cálculo de quota de mercado por ponderação de superfícies das sub-regiões de Minho-Lima, Cávado, Ave, Tâmega, e Entre Douro e Vouga correspondentes, em relação ao total daquela superfície – que inclui igualmente os distritos de Aveiro e Coimbra, a que correspondem as sub-regiões de Baixo Vouga e Baixo Mondego, i.e. (2219 + 1246 + 1246 + 2619 + 862 km2) / ( 2219 + 1246 + 1246 + 2619 + 862 + 1802 + 2063 km2) = 0.68], e parte da área IV [distritos de Bragança e Vila Real, tendo-se feito o cálculo de quota de mercado por ponderação de superfícies das sub-regiões de Alto Trás-os-Montes e Douro correspondentes, em relação ao total daquela superfície – que inclui igualmente os distritos de Castelo Branco, Coimbra, Leiria, Guarda e Viseu, a que correspondem as sub-regiões de Dão-Lafões, Beira Interior Norte, Beira Interior Sul, Serra da Estrela, Cova da Beira, Pinhal Interior Norte, e Pinhal Interior Sul, i.e. (8168 + 4105 km2) / (8168 + 4105 + 3489 + 4063 + 3738 + 868 + 1375 + 2617 + 1903 km2) = 0.40]; considerou-se igualmente o universo de bens transaccionados em hipermercados, supermercados e tradicionais (i.e. mercearias, livre-serviços e puros alimentares).

É importante salientar a natureza diversa das fontes de informação utilizadas – tendo-se optado por veicular ideias de outros estudos sempre que a sua qualidade e oportunidade o justificavam, numa perspectiva de valorização deste exercício de benchmarking. Por outro lado, as fontes de dados não utilizam necessariamente critérios de classificação coerentes entre si; optou-se, ainda assim, por utilizar tais registos pois, ao contrário dos eventualmente obtidos por inquirição directa, aqueles foram gerados de forma sistemática, seguindo metodologias de trabalho definidas e testadas, e sendo periodicamente actualizados – dando, por isso, uma imagem consistente dos universos tratados. Note-se, porém, que tal pluralidade de dados acarretou, por vezes, alguma dificuldade na elaboração de análises comparativas. Embora as fontes referidas possuam um inegável interesse para uma reflexão do status quo das áreas em apreço, e os dados apresentados tenham carácter oficial, os comentários produzidos e as linhas de discussão seguidas reflectem, em boa medida, a vivência pessoal, a experiência profissional, a visão técnico-científica e a opinião crítica do autor. Por essa razão, o presente estudo pretende, nesta fase preliminar, constituir-se como documento de trabalho, ficando disponível para discussão pública posterior – por forma a obter um consenso alargado no seio das forças vivas da Região Norte, capaz de materializar o desiderato que presidiu a este esforço: contribuir de forma válida para a construção do próximo Quadro Comunitário de Apoio, com enfoque nos sectores agro-alimentar e da biotecnologia (mercê da sua expressão e/ou potencial de desenvolvimento tecnológico, para a Região em particular, e para Portugal em geral).

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2. Quem somos e como evoluímos?

Diagnóstico sintético e quantificado da situação actual e das tendências pesadas de evolução das componentes de demografia, formação, estruturação, consumo, integração de cadeia, internacionalização de mercados, e avanço do conhecimento, em contextos inter- e macro-regionais – consubstanciada em matriz SWOT.

“O homem razoável adapta-se, ele próprio, ao mundo; o homem insensato persiste em querer adaptar o mundo a si mesmo; por isso, todo o progresso advém do homem insensato.”

G. Bernard Shaw, escritor irlandês (1856-1950)

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Uma descrição e avaliação crítica das grandes tendências prevalecentes na Região Norte deve seleccionar criteriosamente um conjunto de factores a analisar – tendo por base a importância dos seus efeitos; tal é o caso da demografia, da formação, da estruturação, do consumo, da internacionalização, da integração de cadeia e do avanço do conhecimento.

Uma abordagem situacional à demografia é importante, porquanto permite quantificar o volume e qualificar a estratificação populacional – por quem e para quem qualquer estratégia e plano de intervenção são, em última análise, executados. A tendência de evolução em número, após repartição regional, é um dado importante para tal análise.

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ano Figura 2.1: Evolução da população portuguesa, e sua distribuição pelas regiões administrativas continentais. Fonte: Anuários Estatísticos de Portugal 1994-2003

Existe, portanto, uma tendência levemente crescente da população portuguesa, a par de uma tendência crescente da população da Região Norte – que, em 2002, correspondia a 35.5% do total nacional (configurando-se assim como o maior núcleo populacional de per se), apesar da área desta região representar apenas a 23.1% de Portugal.

Por sua vez, a população da Região Norte reparte-se de modo não uniforme pelas suas sete sub-regiões constituintes.

Minho-LimaCávadoAveGrande PortoTâmegaEntre Douro e VougaDouroAlto Trás-os-Montes

Figura 2.2: Distribuição da população na Região Norte pelas suas sub-regiões, em 2002. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

O Grande Porto é responsável por 34% da população da Região Norte, aparecendo em segundo lugar, próximas entre si, as sub-regiões limítrofes interiores do Ave e Tâmega com c. 14% cada, e em último lugar as restantes sub-regiões com c. 8% cada.

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A referida heterogeneidade na distribuição populacional torna-se ainda mais evidente ao analisar a distribuição de densidade populacional no seio da Região Norte.

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Figura 2.3: Distribuição da densidade populacional na Região Norte pelas suas subregiões, em 2002. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

Constata-se que a maior densidade populacional se consubstancia no Grande Porto, atingindo 1549 habitantes por km2 – c. 9 vezes superior à prevalecente na Região Norte, a qual é por sua vez c. 53 % superior à média nacional; em segundo lugar aparece a sub-região do Ave, e em terceiro lugar ex aqueo as sub-regiões de Entre Douro e Vouga e Cávado. Estes dados apontam, portanto, para uma faixa populacional densamente povoada, em torno de um eixo de gravidade entre Porto e Braga – que aparentemente possui massa crítica, em termos de malha populacional, para um conjunto de intervenções regionais mais exigentes.

A fim de aprofundar a análise sobre a estrutura demográfica da Região Norte, representa-se de seguida a distribuição da sua população residente pelas diversas faixas etárias.

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ano Figura 2.4: Evolução da distribuição da população, na Região Norte, por grandes grupos etários, entre 1993 e 2002. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1994-2003

Conclui-se da inspecção deste gráfico que existe uma tendência de aumento da população total, embora tal se deva essencialmente ao acréscimo nos extractos etários superiores – o que se pode também dever também a potenciais movimentos migratórios internos.

No entanto, as referidas tendências resultam sobretudo do diferencial entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade – segundo um padrão que se verifica ao arrepio das restantes regiões de Portugal Continental.

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ano Figura 2.5: Evolução da taxa de crescimento natural nas regiões administrativas, entre 1994 e 2002. Fonte: Anuários Estatísticos de Portugal 1994-2003

Constata-se que a diferença entre o número de nados-vivos e o número total de óbitos é consistentemente positiva apenas nas Regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte; não obstante a tendência algo oscilatória mas crescente nos últimos anos para a primeira região, o valor para a segunda região mantém-se consistentemente elevado e acima de 2.5 por mil – pelo que a tendência crescente da população na Região Norte se mantém essencialmente sustentada.

Tal tendência de reforço da população (em termos relativos e absolutos) conduzem de imediato ao desafio acrescido da respectiva educação e formação, consubstanciada quer na escolarização inicial quer na formação ao longo da vida.

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ano lectivo Figura 2.6: Evolução do número de alunos, na Região Norte, matriculados em cada grau de ensino, entre 1995/96 e 2002/03. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1994-2003

Observa-se um abaixamento na dimensão da população escolar ao longo dos anos – o que é compatível com os dados da Fig. 2.1 sobre a evolução crescente da população, por causa do envelhecimento desta. Tal abaixamento verifica-se sobretudo nos níveis de ensino iniciais – designadamente o ensino básico, registando-se, ao invés, aumento do número de alunos do ensino superior. A grande maioria dos jovens encontram-se a frequentar o ensino básico regular; acresce a existência de uma população a frequentar o ensino secundário (com uma percentagem significativa a frequentar a componente profissional), a qual é aproximadamente igual à população a frequentar o ensino superior. Em termos numéricos, apenas metade da população dentro da faixa etária 0-24 anos se encontra em escolaridade activa (cf. Figs. 2.4 e 2.6).

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Uma imagem mais clara de distribuição de formação superior – a que mais interessa no intuito de potenciação da sociedade do conhecimento, ao longo da Região Norte, pode obter-se desagregando mais a análise.

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Figura 2.7: Evolução da fracção do número de alunos matriculados no ensino superior relativamente à população residente, nas subregiões da Região Norte, entre 1993/94 e 2002/03. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1994-2003

Dos c. 122 mil alunos a frequentar o ensino superior na Região Norte (que correspondem a c. 3% da população daquela região), o maior percentual concentra-se no Grande Porto, seguido pelo Cávado e pelo Douro – o que corresponde a uma concentração de oferta de ensino superior público e privado, cujos maiores expoentes em número são a Universidade do Porto, a Universidade do Minho, e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, respectivamente. Tal implantação dominante do ensino superior nas sub-regiões do Grande Porto e Cávado, sugere a existência de uma zona preferencial de produção de competências consubstanciada no eixo geográfico Porto-Braga: no ano lectivo de 2002/03, o número de matriculados no ensino superior nestas duas sub-regiões era de 94 mil alunos – o que correspondia a 77% de todos os alunos daquela tipologia na Região Norte.

Devido à elevada taxa de abandono escolar e ao atraso no percurso universitário e politécnico, o número de estudantes graduados é uma medida mais representativa do entrada de quadros – altamente treinados ao nível académico, no mundo do trabalho.

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ano lectivo Figura 2.8: Evolução da taxa de graduação (i.e. rácio do número de diplomados pelo ensino superior por ano por mil habitantes) nas regiões administrativas, ao longo dos anos lectivos. Fonte: Anuários Estatísticos de Portugal 1997-2003

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Conclui-se que a heterogeneidade das taxas de graduação entre as diversas regiões administrativas tende a esbater-se ao longo dos anos – embora se registe uma dominância de Lisboa e Vale do Tejo, seguida do Centro, sendo que o Norte aparece apenas em terceiro lugar.

Uma descrição mais focalizada no eixo de interesse específico deste estudo pode então ser construída através do cálculo do número global de diplomados em áreas afins aos sectores agro-alimentar e de biotecnologia, em relação ao total de diplomados.

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ano lectivo Figura 2.9: Evolução da fracção de graduados em Portugal, em áreas de interface com agro-alimentar e biotecnologia, ao longo dos anos lectivos. Fonte: Anuários Estatísticos da Portugal 1997-1999

O percentual que ronda 15% não pode ser rotulado de significativo, na medida em que a desagregação disponível não permite aceder apenas às ciências exactas e naturais e às ciências de engenharia especificamente focalizadas nas áreas de formação com interesse específico para o agro-alimentar. Verifica-se que a fracção de licenciados e bacharéis em Portugal em áreas nucleares (ou pelo menos afins) a tal sector tem vindo a crescer ligeiramente, sendo tal crescimento mais notório nas ciências de engenharia e, em menor escala, nas ciências exactas e naturais – ao invés da agricultura, silvicultura e pescas, que está em aparente retracção. Neste momento, são oferecidos mais de uma centena de cursos superiores em áreas relacionadas com a Biotecnologia, que produzem c. 5000 licenciados por ano em todo o País.

Recorde-se que o principal contributo da escolaridade da população para a criação de valor apenas se materializa após o respectivo ingresso na vida profissional – pelo que importa caracterizar o perfil desta população.

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ano Figura 2.10: Evolução do perfil de escolaridade da população activa, na Região Norte, entre 1995 e 2003. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1999-2003

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De facto, regista-se uma tendência sustentada no sentido do aumento do número médio de anos de escolaridade – o que é positivo, sendo tal tendência particularmente notória ao nível do ensino superior.

Em princípio, um aumento da duração da escolaridade da população empregada acarreta uma melhoria do seu estatuto profissional.

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ano Figura 2.11: Evolução do perfil de qualificação de emprego, na Região Norte, ao longo dos anos. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1994-2003

Surpreendentemente, observa-se na Região Norte alguma regressão nos quadros superiores e especialistas das profissões intelectuais e científicas (pessoal superior), e em maior escala dos técnicos e profissionais de nível intermédio e pessoal administrativo (pessoal intermédio), a par de um aumento muito maior do pessoal dos serviços, agricultores, operários e operadores e outros não qualificados (pessoal básico) – o que configura uma tendência para uma maior precaridade e menor especialização no exercício profissional, quiçá fruto de políticas microeconómicas de contenção de custos, designadamente salariais. Tal acaba por configurar um contrassenso, na medida em que a maior especialização é a chave de maior valor acrescentado, conforme exigido por uma economia verdadeiramente baseada na sociedade do conhecimento.

Note-se que a indústria transformadora ocupa c. 58% do pessoal ao serviço no sector agro-alimentar (dados de 1998, referentes a Portugal); por outro lado, os profissionais não-qualificados justificam 73% do pessoal ao serviço das empresas agrícolas e 38% no caso das empresas pecuárias, enquanto no caso das indústrias agro-alimentares os profissionais qualificados e semi-qualificados dominam, justificando 33 e 31%, respectivamente.

Os dados demográficos apresentados anteriormente apontam igualmente para uma menor importância estratégica do sector primário na Região Norte – mercê de pressões de ocupação habitacional (por causa da elevada densidade populacional, e de aumento dessa densidade), devido à necessidade daí decorrente de intensificação na produção de valor para manutenção de um nível de vida média compatível com padrões nacionais e europeus – a qual ocorre tipicamente nos sectores secundário (em termos quantitativos) e terciário (em termos qualitativos). Este é o primeiro passo de uma análise centrada na estruturação do sector.

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ano Figura 2.12: Evolução da população activa e sua distribuição pelos sectores de actividade económica, na Região Norte, entre 1995 e 2003. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1994-2003

A população activa da Região Norte tem aumentado com os anos (o que é um sinal positivo), mas a razão entre vários sectores tem-se mantido quase inalterada; os sectores secundário e terciário são claramente dominantes – mas praticamente equivalentes entre si (c. 43%), não sendo óbvia uma tendência para a terciarização do emprego.

Em particular no que se refere aos subsectores da actividade económica pertinentes para o agro-alimentar e a biotecnologia, obtém-se o seguinte figurino.

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ano Figura 2.13: Evolução da população activa, e sua distribuição pelos ramos de actividade económica relevantes para o sector agro-alimentar e de biotecnologia, na Região Norte, ao longo dos anos. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 2002-2003; Anuários Estatísticos de Portugal 2002-2003

Regista-se, neste caso, uma redução do sector primário e uma ligeira contracção do sector secundário, a par de um ligeiro reforço do sector terciário – que, não obstante, domina, com mais de de 55% da população activa no agro-alimentar pertencente a este terceiro sector. Acresce que a fracção da população activa, que de alguma forma lida com alimentos, atinge c. 60% – score notável, que atesta do peso deste sector na Região Norte.

Vale a pena, neste contexto, verificar se a referida terciarização se verifica igualmente ao nível do volume de vendas.

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ano Figura 2.14: Evolução do volume de negócios (vendas e prestações de serviços), e sua distribuição pelos ramos de actividade económica relevantes para o sector agro-alimentar e de biotecnologia, na Região Norte, ao longo dos anos. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 2002-2003; Anuários Estatísticos de Portugal 2002-2003

Constata-se uma enorme estabilidade do perfil ao longo dos anos, e bem assim que o volume de negócios das indústrias agro-alimentares é mais de 6 vezes superior ao das actividades do sector primário relacionadas com alimentos, mas apenas de 42% do dos serviços – sendo óbvia a maior produtividade de vendas do sector terciário, e, em escala decrescente, do sector secundário e do sector primário.

Especificamente no que se refere às empresas de biotecnologia, a sua distribuição por sectores de actividade é como se segue.

farmacêuticoagroalimentarambientetransf. tecnologiaoutros

Figura 2.15: Distribuição nacional das empresas de biotecnologia, em 2004. Fonte: Biotecnologia em Portugal

Observa-se que o sector farmacêutico é claramente dominante em termos de temática de intervenção, enquanto o agro-alimentar surge em segundo lugar. Porém, em termos de natureza do emprego, os sectores agro-alimentar e do ambiente são dominados pela prestação de serviços (p.ex. estudos de HACCP e auditorias ambientais, respectivamente), enquanto o farmacêutico está mais focalizado no sector secundário – tendo ao sector primário uma intervenção mais reduzida.

Voltando novamente ao sector agro-alimentar (a nível nacional), investiguemos a repartição do VABpm pelos diversos subsectores no seio daquele sector.

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Figura 2.16: Repartição de quota de Valor Acrescentado Bruto pelos diversos subsectores primários e secundários dentro do sector agro-alimentar, em Portugal em 1998. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-Alimentares 2000

Sublinhe-se a dominância do subsector da indústria das bebidas (CAE159) como subsector mais relevante em termos de nutrição humana – no âmbito do qual a fileira do vinho representa 43%, justificando assim um interesse acrescido.

Por outro lado, importa analisar o peso do sector agro-alimentar na perspectiva da contribuição relativa para o valor acrescentado bruto versus a contribuição relativa para o volume de trabalho – na medida em que tal permite aferir da importância do capital humano na geração de valor.

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Figura 2.17: Evolução do peso do Valor Acrescentado Bruto, a preços de mercado, do sector agro-alimentar na economia portuguesa em função do seu peso no volume de trabalho, em Portugal. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares 2000

Em 1998, a agricultura, silvicultura e pescas detinham um peso de 3.2% na economia portuguesa, enquanto as indústrias agro-alimentares detinham um peso de 5.4%; por outro lado, em termos de volume de trabalho, aqueles dois subsectores detinham no mesmo período pesos de 12.0 e 2.5%, respectivamente. Regista-se assim o score notável das indústrias agro-alimentares, em termos de VAB por população empregada, de 2.16, o qual é 8 vezes superior ao registado na agricultura, silvicultura e pescas. Acresce a tendência claramente decrescente do volume de trabalho da agricultura, silvicultura e pescas ao longo dos anos – sempre muito abaixo da média nacional da economia, embora aproximando-se ligeiramente dela; e, ao invés, a ausência de qualquer variação significativa, quer no volume de trabalho quer no VABpm, no caso das indústrias agro-alimentares – que se mantêm acima da média nacional da economia.

Em 1998, o valor da produção do sector agro-alimentar em Portugal foi de c. 10 mil milhões de euros – sendo a maioria da produção (64%) proveniente da indústria transformadora; no que

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respeita ao VABpm gerado por este sector, este foi de c. 1.7 mil milhões de euros, sendo na sua maioria (74%) gerado pela indústrias agro-alimentares, com especial ênfase para o subsector das bebidas (28%). Note-se que, na UE, apenas a Grécia e a Irlanda têm uma proporção de VABpm do sector agro-alimentar superior à de Portugal – o que de novo realça a enorme importância deste sector no nosso País em termos socio-económicos, para além da vantagem, ao nível da robustez e estabilidade, associada às indústrias agro-alimentares.

Em face do exposto, vale a pena dedicar um pouco mais de atenção à evolução do valor acrescentado bruto (calculado como proveitos e ganhos subtraído de custos e perdas) apenas relativamente às indústrias agro-alimentares, quando posicionadas relativamente às indústrias transformadoras como um todo.

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Figura 2.18: Evolução do valor acrescentado bruto das indústrias agro-alimentares (CAE15) e de todas as indústrias transformadoras, na Região Norte. Fonte: Anuários Estatísticos da Região Norte 1999, 2000, 2001, 2002, 2003

Conclui-se que o sector agro-alimentar cresce sem sobressaltos de monta, mas mais lentamente ao longo dos anos – quando comparado com o restante sector de indústrias de transformação, que cresce em média mais rapidamente mas está sujeito a oscilações mais imprevisíveis e de maior amplitude. Por outro lado, o sector industrial agro-alimentar possui ainda potencial intrínseco de crescimento, na medida em que apenas utilizava, em média, 73.3% da sua capacidade produtiva (dados de 1999), enquanto o total da indústria transformadora se cifrava nos 81.9%.

Na ausência de outro tipo de dados regionais – ou até nacionais, fidedignos, talvez valha a pena, por forma a avaliar a dimensão e o potencial da biotecnologia, analisar o peso mundial, em termos de volume de vendas, dos principais produtos industriais obtidos por via biotecnológica (num mercado cujo valor global ronda os 25 mil milhões de euros).

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Figura 2.19: Distribuição mundial de quantidades produzidas e preço unitário dos principais produtos da indústria biotecnológica, em 2003. Fonte: Industrial Biotechnology and Sustainable Chemistry

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Observa-se uma relação praticamente inversa entre preço unitário (medida da procura) e disponibilidade total (medida da oferta) – pelo que a exequibilidade comercial de empresas de biotecnologia em termos de dimensão (produção anual x preço unitário) existe. No entanto, os EUA encontram-se numa posição de liderança quase absoluta em relação à UE, assegurando c. 85% do mercado mundial de biotecnologia.

Do total de empresas registadas no sector agro-alimentar em Portugal, c. 75% são empresas agrícolas; porém, a maioria do valor de produção (75%) é gerado pelas indústrias agro-alimentares. Por outro lado, a maior parte das empresas de CAE01 estão localizadas na Região de Lisboa e Vale do Tejo (32.0% em 1998) – aparecendo a Região do Alentejo em segundo lugar quase ex aqueo com a Região Norte (18.5%); enquanto a maior parte das empresas de CAE15 se encontram na Região Norte (30.1% em 1998), conferindo-lhe assim uma especialização diferenciadora.

A distribuição regional de capacidades específicas de produção de valor também não é uniforme; no caso da capacidade por funcionário, os resultados são conforme se seguem.

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Figura 2.20: Peso do Valor Acrescentado Bruto, a preços de mercado, do sector agro-alimentar nas regiões administrativas, em função do peso do pessoal ao serviço de empresas daquele sector, em 1998. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares

A Região Norte apresenta um VABpm por funcionário do subsector da agricultura e produção animal superior à média nacional, enquanto o VABpm por funcionário do subsector industrial agro-alimentar é praticamente coincidente com a respectiva média nacional – sendo, neste último caso, tal score apenas suplantado pelo de Lisboa e Vale do Tejo.

No que respeita à implantação geográfica, é a seguinte a situação prevalecente em Portugal em relação à indústria da biotecnologia.

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Figura 2.21: Distribuição por regiões administrativas das empresas de biotecnologia, em 2004. Fonte: Biotecnologia em Portugal

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Mais de metade das empresas situam-se na Região de Lisboa e Vale do Tejo, estando a Região Norte relegada para uma posição muito secundária – que não correlaciona com a implantação do sector secundário (designadamente ao nível de indústrias agro-alimentares), nem com o tecido de PMEs prevalecente nesta Região.

Voltando ainda ao sector agro-alimentar, a capacidade de geração de valor comercial por empresa segue a distribuição abaixo.

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Figura 2.22: Peso do Valor Acrescentado Bruto, a preços de mercado, do sector agro-alimentar nas regiões administrativas, em função do peso do número de empresas daquele sector, em 1998. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares

Neste caso, a Região Norte apresenta um VABpm por empresa do sector da agricultura e produção animal superior à média nacional (apenas atrás da Região de Lisboa e Vale do Tejo), enquanto o VABpm por empresa industrial agro-alimentar está novamente em cima da respectiva média nacional – sendo que, neste último caso, tal score é novamente apenas suplantado pelo de Lisboa e Vale do Tejo.

Conclui-se então sobre o carácter notório da Região Norte ao nível das indústrias agro-alimentares, apenas suplantado em capacidade específica de geração de valor acrescentado pelo de Lisboa e Vale do Tejo – o que aponta para este sector como estratégico para a Região, numa perspectiva nacional. Porém, existe espaço para progresso ao nível do aumento unitário de geração de valor – o que exige esforços concertados de inovação, suportada por I&D. Esta conclusão fica ainda enfatizada se se compararem as produtividades entre as diversas regiões administrativas no sector agro-alimentar, conforme se faz de seguida.

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Figura 2.23: Produtividade do trabalho no sector agro-alimentar em Portugal e nas nas regiões administrativas continentais, em 1998. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares 2000

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Constata-se que: a produtividade, a nível nacional, é 2.5 vezes superior nas indústrias agro-alimentares do que nas empresas agrícolas e de produção animal (embora esse rácio desça para 2.1 na Região Norte); e a produtividade em CAE01 na Região Norte é superior à média nacional (aliás, é a única Região em que tal se verifica), o mesmo se registando em CAE15 (embora, neste caso, tal região fique um pouco abaixo de Lisboa e Vale do Tejo).

Vale a pena a este título olhar, de forma comparativa, para a produtividade do trabalho nos diversos subsectores do sector agro-alimentar.

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ano Figura 2.24: Produtividade do trabalho no total da indústria transformadora e nos diversos subsectores agro-alimentares em Portugal, em 1998. Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares & Perfil Sectorial - Vinhos de Mesa

Observa-se que a produtividade das indústrias agro-alimentares está aproximadamente ao nível da das indústrias transformadoras em geral; porém, sobressaem deste panorama o subsector das bebidas, seguido do subsector do leite e lacticínios, com produtividades substancialmente acima da média de CAE15. Por este facto, tais subsectores apresentam potencial único – merecedor de atenção em termos de aplicação de políticas públicas, e designadamente regionais (mercê do peso na economia da região Norte do efectivo leiteiro nacional, e bem assim do efectivo vitivinícola nacional – 36%).

Numa perspectiva supranacional, a produtividade portuguesa compara-se com as dos restantes países da UE conforme se elenca de seguida – providenciando-se, em sobreposição, dados sobre a formação na faixa etária 20-14 anos.

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Figura 2.25: Produtividade do trabalho (em paridade de poder de compra) nos diversos Estados membros, utilizando como referência 100 a média da UE, e percentagem de penetração do ensino superior na faixa etária dos 20 aos 24 anos, em 2003. Fonte: Facing the Challenge – the Lisbon strategy for growth and employment

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Conclui-se, da observação do gráfico anterior, que não só a produtividade portuguesa é, de longe, a mais baixa da Europa comunitária – e que a mesma situação na cauda da UE se regista em relação à taxa de penetração do ensino superior na faixa etária 20-24 anos, mas igualmente que tal produtividade correlaciona com o grau de cobertura educacional superior – pelo que eventuais aumentos de produtividade na Região Norte só serão expectáveis, à custa de um esforço suplementar de escolarização avançada.

Por forma a detalhar ainda mais a tentativa de caracterização dos quadros macro- e microeconómico na Região Norte, e proceder em conformidade a uma caracterização do perfil sectorial subregional ao nível económico – onde ocorre a geração de valor com maior significado estratégico para a região (i.e. sectores primário e secundário), passemos a analisar os números sobre pessoal ao serviço, referido à população activa total em cada domínio regional.

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Figura 2.26: Razão entre o pessoal abrangido pelas secções A+B (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura; Pescas) e DA (Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco) em 2002, em Portugal, na Região Norte e nas suas sub-regiões. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

A Região Norte está claramente abaixo da média nacional no que se refere ao sector primário pertinente para a área agro-alimentar (com excepção da sub-região do Douro), e ligeiramente abaixo no caso do sector secundário correspondente (com excepção das sub-regiões do Ave e Grande Porto).

No que concerne ao número de empresas nas diversas sub-regiões, a situação é como se segue.

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Figura 2.27: Razão entre o número de empresas abrangidas pelas secções A+B (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura; Pescas) e DA (Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco) em 2002, em Portugal, na Região Norte e nas suas sub-regiões. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

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Constata-se que a Região Norte está ligeiramente abaixo da média nacional no que se refere ao sector primário pertinente para a área agro-alimentar (com clara excepção das sub-regiões do Douro e Alto Trás-os-Montes, e a excepção de Minho-Lima), e praticamente igual no caso do sector secundário correspondente (com excepção das sub-regiões de Minho-Lima, Tâmega, Entre Duro e Vouga, Douro e Alto Trás-os-Montes).

A distribuição dos volumes de vendas em cada domínio subregional está explicitada na figura seguinte.

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Figura 2.28: Razão entre o volume de vendas abrangidas pelas secções A+B (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura; Pescas) e DA (Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco) em 2002, em Portugal, na Região Norte e nas suas sub-regiões. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

Verifica-se que a Região Norte está ligeiramente abaixo da média nacional em termos de sector primário pertinente para a área agro-alimentar (com clara excepção da sub-região do Douro), e ligeiramente abaixo no caso do sector secundário correspondente (com excepção das sub-regiões de Douro e Alto Trás-os-Montes).

A caracterização do perfil sectorial ao nível económico pode agora ser complementada pelo número de novas empresas criadas, com sede na Região Norte.

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Figura 2.29: Razão entre o número de novas empresas criadas abrangidas pelas secções A+B (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura; Pescas) e DA (Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco) em 2002, em Portugal, na Região Norte e nas suas sub-regiões. Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

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Embora a Região Norte esteja abaixo da média nacional no que se refere ao sector primário pertinente para a área agro-alimentar (com excepção das sub-regiões de Douro, Alto Trás-os-Montes e Minho-Lima), posiciona-se acima no caso do sector secundário correspondente (com excepção das sub-regiões de Minho-Lima e Cávado) – o que configura um dinamismo empresarial acima da média, que urge cultivar e explorar.

No caso da biotecnologia, uma abordagem da magnitude deste mesmo conceito de empreendedorismo está patente nos dados seguintes.

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Figura 2.30: Evolução do número de novas empresas criadas na área de biotecnologia, em Portugal. Fonte: Technological Entrepeneurship and Capability Building in Biotechnology

É por demais óbvio o crescimento exponencial na taxa de empreendedorismo nesta área técnico-científica de intervenção, bem como também a permanência no activo da grande maioria das novas startups (com inexplicável excepção da empresas constituidas na segunda metade dos anos 90). Naturalmente que, dado o carácter típico de equipment-intensive deste tipo de empresas, a sua gestação deve com vantagem ocorrer no seio de incubadoras tecnológicas – capazes de providenciar, a baixo custo, infra-estruturas de apoio, ao nível analítico e processual.

Finalmente, o rácio entre vendas e pessoal ao serviço conduz à representação gráfica seguinte.

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Figura 2.31: Vendas por funcionário abrangidas pelas secções A+B (Agricultura, produção animal, caça e silvicultura; Pescas) e DA (Indústrias alimentares, das bebidas e do tabaco) em 2002, em Portugal, na Região Norte e nas suas subregiões.

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Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

Observa-se que a Região Norte está ligeiramente abaixo da média nacional no que se refere ao sector primário pertinente para a área agro-alimentar (com excepção das sub-regiões do Ave e Entre Douro e Vouga), e consideravelmente abaixo no caso do sector secundário correspondente (com excepção da sub-região do Grande Porto).

No que concerne o sector da biotecnologia, o perfil das 36 empresas reconhecidamente actuando nessa área é conforme se segue.

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volume de negócios (euro) Figura 2.32: Distribuição do volume de negócios (ou do fundo social, na sua existência) e do pessoal ao serviço nas empresas de biotecnologia em Portugal, em 2004. Fonte: Portuguese Biotechnology Directory

Com algumas (poucas) excepções, este sector é dominado por PMEs, sendo que, do total de trabalhadores ao serviço, a esmagadora maioria é detido pelas maiores empresas – as restantes possuem um número de trabalhadores da ordem de grandeza do respectivo número de accionistas.

Pode, então, a este título, considerar-se em Portugal a existência de três tipos principais de empresas de biotecnologia: (i) empresas com actividade consolidada (em pequeno número, com presença bem estabelecida no mercado, e cujos principais processos biotecnológicos são as fermentações); (ii) empresas com interesses na produção agrícola (com interesses empresariais ainda emergentes e pouco definidos, mas tomando partido da biotecnologia para a propagação de espécies vegetais); e (iii) pequenas empresas emergentes (criadas essencialmente por jovens investigadores, com actividade produtiva e comercial de pequena escala ou quase nula, em fase de desenvolvimento de produtos e procura de mercados, e munidas de boa capacidade científico-tecnológica mas fraca capacidade empresarial e de gestão).

Uma vez feita a caracterização do tecido empresarial existente na Região Norte segundo o eixo agro-alimentar e biotecnológico, importa recordar que as empresas existem enquanto agentes sociais encarregados de produzir valor – para os seus funcionários e accionistas, na forma de salários e dividendos, respectivamente, sendo que outra parte substancial é posteriormente redistribuído pelo Estado através dos impostos. Tal rendimento acaba por ser depois reencaminhado para o consumo – base de funcionamento do mercado.

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Lisboa e Vale do TejoAlentejo

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Figura 2.33: Evolução do Rendimento Disponível Bruto anual per capita, nas regiões administrativas, ao longo dos anos. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Constata-se que, embora haja uma tendência sustentada de aumento do rendimento disponível bruto ao longo dos anos em todas as Regiões, a região Norte é sistematicamente a mais penalizada – estando posicionada abaixo de todas as restantes regiões, sendo que não está sequer a verificar-se convergência com a média nacional (e muito menos com a Região de Lisboa e Vale do Tejo).

Naturalmente que valores mais baixos de rendimentos do agregado familiar tornam mais difícil a expansão do consumo – cuja perfil evolui conforme exemplificado abaixo, e portanto mais difícil o crescimento do mercado que impulsionaria a economia regional.

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1997 1998 1999 2000 2001 2002

alimentos, bebidas e restauraçãovestuário e calçadohabitação e mobiliáriosaúdetransportes e comunicaçõeslazer, educação e culturaoutros

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ano Figura 2.34: Evolução do perfil de consumo dos agregados familiares, em Portugal, ao longo dos anos. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Constata-se que o consumo está a aumentar de forma sustentada, sendo que os maiores aumentos se registam nos transportes e comunicações quase ex aqueo com os bens alimentares. Existe, portanto, uma tendência perene de aumento do consumo alimentar – que pode servir de base à expansão, em quantidade e qualidade, da produção de bens alimentares.

Porém, a produção de bens não se destina apenas ao consumo interno – na medida em que as trocas comerciais subjacentes à internacionalização são factor decisivo de competitividade. Na década de 90, em simultâneo com um crescente grau de abertura da economia, o comércio internacional apresentou um comportamento global pouco positivo – traduzido no agravamento do défice externo e na redução da quota de mercado. Tal evolução teve subjacente a manutenção de uma estrutura produtiva muito polarizada em torno das fileiras têxtil e florestal – as únicas que,

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globalmente, apresentam nítidas vantagens comparativas. A fileira agro-alimentar representava, em 2000, c. 8 e 14%, respectivamente, das exportações e das importações nacionais de mercadorias – sendo as bebidas a única categoria produtiva em que Portugal apresentava claras vantagens comparativas, ainda que em regressão (a perda de competitividade nesta fileira foi de facto mais marcada do que a verificada em termos globais).

Na evolução estrutural das exportações, identificam-se três tendências: o reforço do peso das matérias gordas (incluindo leite e lacticínios), a estabilização das bebidas (que representam 31% das exportações), e a redução da importância de conservas animais.; como produtos emergentes, salientam-se as categorias produtivas de açúcar e confeitaria, e de produtos cerealíferos.

Uma forma de aferir a performance do comércio externo, para cada classe de produtos, toma partido do coeficiente de Balassa. Através deste coeficiente, é possível fazer a distinção entre produtos/sectores com predominância de troca unívoca, i.e. com elevados valores de importação ou exportação – para os quais ele se aproxima de –1 e +1, respectivamente, e aqueles que mostram uma tendência para a troca cruzada – para os quais ele se afasta de 1.

-1.0-0.8-0.6-0.4-0.20.00.20.40.60.81.0

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Figura 2.35: Evolução do índice de especialização de Balassa [definido como (E-I)/(E+I), representando E as exportações e I as importações] das empresas que lidam com produto agro-alimentares.

Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 1994-2003

Os dados supra indicam que os produtos das indústrias alimentares, incluindo bebidas (secção IV), apresentam uma tendência fortemente exportadora (a qual, infelizmente, se tem vindo a atenuar), bem acima da média da Região Norte – sendo que as gorduras e óleos animais e vegetais (secção III), os animais vivos e produtos do reino animal (secção I), e os produtos do reino vegetal (secção II) apresentam, nesta ordem, tendência importadora crescente, a qual se tem igualmente vindo a atenuar ao longo dos anos. Constata-se, assim, algum contraciclo da região Norte em relação à tendência nacional, sendo que tal facto poderá ser aproveitado enquanto vector de diferenciação regional.

De realçar que c. 69% das importações e c. 74% das exportações do sector agro-alimentar ocorrem dentro da UE. Os produtos exportados que se destacam pelo seu valor incluem os vinhos (de mesa, mas sobretudo licorosos), os peixes e crustáceos, o leite e lacticínios, as gorduras animais e vegetais, os preparados de produtos vegetais (que incluem o concentrado de tomate), e os preparados de carnes e peixes (que incluem as conservas de peixe) – sendo que tal perfil não sofreu variações significativas nos últimos anos; dos produtos alimentares importados, destacam-se os peixes, os cereais e as carnes.

Em termos da integração de cadeia, i.e. da relação com a produção a montante e com a distribuição a jusante, sublinhe-se que o eventual aumento da capacidade de resposta ao longo de toda a cadeia operacional agro-alimentar, e que está subjacente à crescente concentração no sector, passa por uma coordenação vertical – i.e. uma integração cada vez maior da indústria com os seus fornecedores e com os seus distribuidores, respectivamente. O crescente nível de integração vertical

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no sector agro-alimentar visa sobretudo reduzir os custos de transacção através da consolidação de contratos a montante com factores de produção primária (i.e. mão-de-obra, terra e outros inputs), e atingir os padrões de qualidade impostos por uma procura a jusante cada vez mais sofisticada. Em termos de integração a montante e a jusante, o conceito de cadeia agro-alimentar é nuclear – sendo esta entendida como todo o sistema através do qual um conjunto de organizações fornece produtos alimentares aos utilizadores finais dos mesmos – sendo os vários passos da cadeia normalmente executados por diferentes intervenientes (ou agentes da cadeia), a saber produtores, transformadores, distribuidores, retalhistas, empresas de serviços e consumidores. As cadeias agro-alimentares podem ser divididas de acordo com o tipo de produtos que envolvem: (i) cadeias de produtos frescos ou minimamente processados (i.e. que lidam com produtos muito perecíveis, sendo extremamente importante que as suas qualidades intrínsecas se mantenham desde a produção, ou processamento, até ao consumidor final); (ii) cadeias de produtos processados (i.e. em que os processos de transformação têm uma influência predominante na qualidade do produto que chega ao consumidor final, não obstante a grande importância da qualidade das matérias-primas); e (iii) cadeias de produtos processados, que são usados como matérias-primas para outras cadeias, que os processam adicionalmente. Os diferentes agentes da cadeia desenvolvem diferentes funções, conforme se esquematiza de seguida.

PRODUTORES desenvolvimento produção armazenagem transporte marketing compra e venda

TRANSFORMADORES desenvolvimento processamento armazenagem transporte marketing compra e venda

DISTRIBUIDORES distribuição armazenagem transporte compra e venda marketing

fluxo de produtos

fluxo de dinheiro

fluxo de informação

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RETALHISTAS compra e venda armazenagem marketing

CONSUMIDORES compra transporte armazenagem

Figura 2.36: Funções dos vários agentes das cadeias agro-alimentares e vectores de inter-relacionamento. Fonte: Engenharia Alimentar em Portugal – avanço, transmissão e aplicação de conhecimento

Porém, a forma como os diferentes agentes da cadeia se inter-relacionam e integram é tão, ou mais, importante do que a forma como estas funções são desempenhadas. De facto, uma cadeia é uma realidade organizacional, mas o seu funcionamento eficiente requer que seja encarada não apenas como um somatório de diferentes actividades ou organizações, mas outrossim como uma estrutura integrada (ou network): os diversos agentes não se podem limitar apenas ao estabelecimento de

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relações bilaterais, devendo partilhar o objectivo comum de entregar ao consumidor o melhor produto possível – e da forma mais eficiente possível. As empresas que tiverem a capacidade de desenvolver, de uma forma continuada, parcerias com outras empresas na mesma cadeia agro-alimentar poderão facilmente obter mais-valias, que lhes permitirão um posicionamento competitivo mais favorável no mercado; por outras palavras, a capacidade de cooperação pode traduzir-se numa vantagem competitiva.

A criação de parcerias tem pretendido sobretudo responder no sentido do aumento do poder negocial, da melhoria da qualidade dos produtos, do planeamento e sincronização da produção, do desenvolvimento de produtos e da diminuição de custos. No caso de parcerias horizontais, podem citar-se como exemplos de sucesso as parcerias entre empresas transformadoras: no subsector dos lacticínios, com o objectivo de negociar protocolos de adaptação da legislação ambiental; no subsector dos vinhos, entre os sete maiores produtores nacionais, com o objectivo de assegurar coerência nas acções de marketing; e no subsector dos óleos e margarinas, com o objectivo de aumentar a eficiência e diminuir os custos através da centralização do aprovisionamento de matérias-primas. No caso de parcerias verticais, podem citar-se, como exemplos de sucesso, as parcerias: entre empresas produtoras e de grande distribuição, no subsector dos hortofrutícolas, com o objectivo de estabelecer contratos de produção visando a melhoria da qualidade dos produtos e a sincronização da produção; entre empresas transformadora, de embalagem e de grande distribuição, no subsector das bolachas, com o objectivo de desenvolver embalagens adaptadas aos produtos e de acordo com requisitos específicos do ponto de venda; entre empresas transformadora e de grande distribuição, no subsector das carnes, com o objectivo do fornecer de forma exclusiva a segunda; entre empresas produtoras e exportadoras, no subsector do vinho do Porto, com o objectivo de desenvolver a competitividade da cadeia em termos de exportação; e entre empresas de embalagem e transformadora, no subsector das águas minerais e refrigerantes, com o objectivo de diminuir os custos e aumentar a eficiência através da instalação de unidades de produção de embalagem na própria instalação fabril.

Uma outra forma de aferir a dinâmica de geração de valor, e de consumo desse valor, ao nível regional pode exemplificar-se com os vinhos – porquanto paradigma de especialização, cujos valores de produção, na região e no país, se elencam abaixo por tipo de produto.

Tabela 2.1: Listagem de produtos dentro da classe de vinhos, e respectiva produção em Portugal, Região Norte e respectivas

sub-regiões (em milhares de hl), em 2002.

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Fonte: Anuário Estatístico da Região Norte 2003

Em termos de produção específica, a Região Norte é caracterizada por 0.108 hl por km2 de vinhos correntes de qualidade per capita, enquanto tal valor desce para 0.070 a nível nacional.

Em relação ao consumo, os dados relativos a vinhos de qualidade, distribuídos por categorias, são conforme se segue.

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Tabela 2.2: Listagem de produtos dentro da classe de vinhos, e respectiva quota de mercado (em %) nas áreas Nielsen IV, III Norte e II, volume de vendas nas áreas Norte Interior (0.40 x IV), Norte Litoral (0.68 x IIIN) e Grande Porto (em milhões de euros), e volume total de vendas na Região Norte e em Portugal (em milhões de euros), em 2003.

Produto IV IIIN II NI NL GP Norte Portugal Vinhos do Alentejo 3 26 15 0.89 13.07 11.09 25.04 73.9 Vinhos de mesa 6 29 16 0.55 4.50 3.65 8.69 22.8 Vinhos Verdes 5 38 26 0.53 6.85 6.89 14.27 26.5 Vinhos do Douro 5 19 23 0.29 1.87 3.34 5.50 14.5 Vinhos do Dão 13 20 14 0.50 1.31 1.34 3.15 9.6 Vinhos da Bairrada 5 27 11 0.06 0.59 0.35 1.00 3.2 TOTAL 2.8 28.2 26.7 57.6 246.7

Fonte: Anuário Nielsen 2003

Em termos de consumo específico, a Região Norte é caracterizada por 15.6 euros de vinhos correntes de qualidade per capita, enquanto tal valor sobe para 23.7 euros a nível nacional.

Comparando estes valores com os índices de produção específica, conclui-se que a Região Norte produz, por unidade de área, 54% mais vinho de qualidade do que o valor daquele que consome per capita, que é de apenas 66% da média nacional – o que traduz um considerável desajuste entre ligação a montante (produção) e ligação a jusante (consumo), e ao mesmo tempo uma especialização numa classe de produtos alimentares que essencialmente “exporta” para o resto do país.

Todos os factores económicos acima explicitados deverão ser geridos por forma a garantir a sua optimização, enquanto inseridos na respectiva cadeia de valor; a palavra-chave aqui é a competitividade. Nas empresas existem três tipos de factores para a competitividade: a dimensão, a experiência e a diversidade.

Tabela 2.3: Vantagens e desvantagens, ao nível das empresas, dos três tipos de factores competitivos.

dimensão experiência diversidade

v a n t a g e n s

Mecanização: mecanização a partir de

determinada dimensão, quando utilização é próxima de 100% da capacidade produtiva e o preço não aumenta proporcionalmente

Custos fixos: redução de custos fixos por diluição em mais produtos, possibilidade de existência de departamentos de staff e massa crítica para equipamentos sociais

Quantidades: possibilidades de usufruto de descontos em quantidade, da parte de fornecedores

Learning curve:

desenvolvimento mais efectivo de tarefas repetitivas, conduzindo a maior produtividade do operariado, nos armazéns, na zona fabril e na logística

Análise de valor: maior capacidade em identificar elos fracos na cadeia e pontos de alto valor acrescentado

Imagem: melhoria da imagem como um

todo Canais de distribuição: intensificação e

optimização dos canais de distribuição Força de vendas: fortalecimento da

capacidade de venda Know-how: aumento dos conhecimentos

disponíveis nos funcionários I&D: possibilidade de montagem de infra-

estruturas de investigação, por centralização de competências

d e s v a n t a g e n s

Motivação: decréscimo da motivação Ineficiência: possibilidade de perda de

eficiência produtiva Políticas: maior regulamentação e

menor personalização das decisões

Decisão: maior lentidão no processo decisório e menor qualidade das decisões

Regras: possibilidade de intensificação da burocracia Inbreeding: potencial perda de

elementos inovadores, provenientes da envolvente externa

Conservadorismo: tendência maior para a manutenção do status quo

Imagem: possilidade de junção de produtos

incompatíveis (p.ex. alimentos e medicamentos, ou alimentos e pesticidas, ou alimentos e pet foods)

Cultura: posturas diferentes (p.ex. alimentos e cosméticos)

Conhecimento: modelos não são necessária ou automaticamente generalizáveis

Fonte: A Universidade e a Empresa – exercício de diagnóstico e prospectiva

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A gestão das referidas vantagens e desvantagens acaba, em última análise, por dirigir a empresa, designadamente no sector agro-alimentar, para o sucesso ou para o fracasso.

Estando as empresas em profunda e contínua mudança, o que as distingue entre si é a capacidade de responder e executar tal mudança. Tal mudança pode ocorrer segundo quatro vectores fundamentais, a saber: (i) a diversidade, (ii) a integração vertical, (iii) o modo de definir o negócio e (iv) a racionalização organizativa. Estes vectores podem ser mais facilmente percepcionados aos pares, através da sua representação gráfica bidimensional proposta de imediato.

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tosracionalização

organizativa Figura 2.37: Representação cartesiana da evolução previsonal da actuação das empresas, em termos de (a) diversidade versus integração vertical) e (b) definição do negócio versus racionalização organizativa. Fonte: A Universidade e a Empresa – exercício de diagnóstico e prospectiva

Verifica-se, portanto, que a tendência reorganizativa das empresas ocorre no sentido da subcontratação (i.e. menores custos fixos), da centralização (i.e. menor número de departamentos), da globalização (i.e. satisfação de necessidades mais complexas e menor deficit na satisfação de cada necessidade), e da concentração (i.e. menos indústrias).

Os responsáveis pelas empresas não se devem preocupar apenas (nem sequer sobretudo) com reestruturação, reengenharia, downsizing ou delayer de uma empresa – embora tudo isso possa acarretar aumentos de eficiência; urge essencialmente assegurar eficácia, a qual advém da visão de futuro e da sua missão (i.e. foresight). Para construir tal visão, abrangendo um período de uma décadas (como é o nosso caso), deverá perspectivar-se a empresa como se se tratasse de uma árvore – a qual é constituída por quatro elementos básicos, a saber (de baixo para cima): competências-chave, produtos-chave, unidades estratégicas de negócio e produtos finais. Desta visão decorrem algumas consequências: (i) para saber se a árvore vai sobreviver às intempéries do futuro, não basta olhar para o topo da árvore mas sobretudo para a sua base; (ii) o papel da liderança consiste sobretudo em identificar tais core competences (que deverão satisfazer vários mercados, fazer contribuições importantes para a utilidade do cliente e serem difíceis de imitar pelos concorrentes) e em identificar tais core products, e depois consolidá-los, harmonizá-los e

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transmiti-los a toda a empresa; e (iii) uma empresa, que não faça esta análise, arrisca-se a perder-se em diversificação ruinosa (e daí a necessidade posterior de spin-offs, desinvesting e recentering), passando a ter prejuízos; ou a não evoluir nem inovar mas, ao invés, engordar e envelhecer, acabando por paralisar (e daí a necessidade posterior de downsizing, restructuring, delayering e reengineering), deixando de ter ganhos.

A inovação acaba, com efeito, por ser a palavra-chave – e é, em última análise, a verdadeira base do conceito de economia baseada no avanço do conhecimento. Mas a inovação com maior potencial de ganho é a que resulta da investigação e desenvolvimento (I&D), porquanto diferenciadora em relação à concorrência – mas que exige capital humano altamente treinado para a sua implementação.

Em termos de contributo do Estado para a preparação de tal capital humano, o posicionamento relativo no panorama da UE e da América do Norte é conforme explicitado de seguida.

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país Figura 2.38: Número de bolsas de doutoramento concedidas pelo Estado na área de Engenharia Bioquímica e Biotecnologia, no período 1994-2000. Fonte: Perfil Sectorial - Biotecnologia

O contributo de financiamento público para a formação de investigadores na área da biotecnologia em Portugal é dramaticamente superior ao registado na generalidade dos outros países desenvolvidos. Tal conduziu à realização de mais de 2400 doutoramentos na última década no campo da biotecnologia, nas áreas (por ordem alfabética) de biologia molecular, biomateriais, biorremediação, cristalografia, doenças genéticas, engenharia bioquímica, estrutura e química de proteínas, imunologia, metabolismo e fisiologia microbianas, purificação de proteinas, regeneração de plantas, selecção de plantas, e tecnologia de fermentação.

A atractibilidade do sector é, de facto, muito elevada – e justificada, dada ser a grande área de intervenção do séc. XXI. Acresce que não pára de crescer, como se pode aferir da observação da figura seguinte.

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Figura 2.39: Evolução do número de doutorados em áreas relacionadas com a biotecnologia, ao longo dos anos. Fonte: Biotecnologia em Portugal

A taxa de formação de doutoramento é crescente em Portugal, pelo que a preparação de capital humano adequado já existe – devendo agora os esforços ser canalizados mais do lado do negócio, no intuito de disponibilizar capital financeiro para conjugação com o referido capital humano (designadamente ao nível da contratação de tais doutorados).

Existem, com efeito, mais de 30 instituições respeitadas de I&D operando em biotecnologia, dispersas um pouco por todo o País. Por outro lado, grande parte dos quadros superiores especializados nesta área actualmente a trabalhar no Estrangeiro estariam na disponibilidade de regressar a Portugal – caso sejam oferecidas condições minimamente competitivas.

Não obstante um tal ritmo de crescimento, o que é um facto é que a situação inicial em número de investigadores era extremamente desfavorável – pelo que o rácio para a população activa permanece baixo.

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país Figura 2.40: Razão entre o número de investigadores e a respectiva população activa em 2000, por ordem decrescente, em diversos países. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Portugal encontra-se, com efeito, na cauda dos membros da CE a 15, e claramente atrás dos EUA ou do Japão – países muito mais avançados em termos de economia baseada no conhecimento.

Entretanto, os investigadores exercem as suas actividades de I&D, distribuindo-se de modo não uniforme pelos diversos sectores em que ela é relevante – como se pode aferir por inspecção do gráfico seguinte.

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ano Figura 2.41: Evolução dos investigadores envolvidos em esforços de I&D, por sector de execução, ao longo dos anos. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Verifica-se que o número global de investigadores tem vindo a aumentar a uma taxa linear, sendo o acréscimo resultante sobretudo das empresas e do ensino superior.

Porém, para que os esforços de I&D titulados e coordenados por detentores do grau de Doutor possam ocorrer e surtir efeito, é necessário que haja alocação adequada de recursos financeiros. A situação prevalecente em Portugal consta da figura seguinte.

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ano Figura 2.42: Evolução da despesa total em I&D a preços constantes, por sector de execução. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Verifica-se um aumento global a uma taxa crescente com o tempo – o qual é obtido à custa sobretudo das Empresas e, em menor escala, do Ensino Superior.

Por outro lado, a distribuição da despesa em I&D – especificamente em biotecnologia, pelos diversos sectores de intervenção apresenta o seguinte perfil.

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engenharia bioquímicbiotecnologia básicaengenharia sanitáriatecnologia alimentar

Figura 2.43: Distribuição estimada da despesa em I&D em Portugal pelos diversos sectores de intervenção da biotecnologia, relativa ao período 1999-2006. Fonte: Perfil Sectorial – Biotecnologia

A tecnologia alimentar absorve percentualmente a maior fatia dos esforços de I&D em biotecnologia, que somam um total de 5.7 milhões de euros.

A tendência crescente observada na Fig. 2.43 pode ser confirmada, ao nível empresarial, desagregando um pouco mais a contribuição para tal tipo de financiamento por parte das empresas – em especial ao último ano em que existem dados fidedignos (e no qual tal contribuição é maior), obtendo-se o seguinte gráfico.

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Figura 2.44: Despesa total em I&D e proveitos e ganhos totais, realizada em 2001 em empresas do sector secundário. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Verifica-se que as indústrias agro-alimentares (CAE15) são a classe do sector secundário responsável pela segunda posição em termos de proveitos e ganhos; porém, ao invés do que se verifica com o sector que detém a primeira posição (indústrias de fabricação de máquinas e equipamentos, eléctricos, médico-cirúrgicos, de precisão e de transporte) encontram-se muito abaixo da média deste sector – que se situa em (apenas) 0.18% dos proveitos e vendas investidos em I&D. Por outras palavras, constata-se uma nítida subvalorização do avanço do conhecimento de fronteira e da sua aplicação por parte das indústrias agro-alimentares, que urge inverter através da alocação de financiamento específico – sob pena de não ser possível diferenciar pela diversidade e qualidade.

Em relação ao sector da biotecnologia, a intervenção (em termos financeiros e de pessoal envolvido) em esforços de I&D é conforme se segue.

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fracção de despesas de I&D (%)

Figura 2.45: Distribuição da fracção do volume de negócios e do pessoal ao serviço investido em esforços de I&D nas empresas de biotecnologia em Portugal., em 2004. Fonte: Portuguese Biotechnology Directory

Conclui-se que, em termos gerais, existe um forte investimento percentual em I&D, embora de acordo com um padrão bimodal – com um grupo de empresas na gama dos 10% e outro acima de 50%, sendo que a disponibilização de pessoal para I&D acompanha de forma similar tal alocação financeira. As áreas da química fina e da farmacêutica são aquelas onde se verifica maior dinamismo, embora o perfil neste sector se caracterize, por um lado, pela evolução de técnicas ligadas a indústrias tradicionais (que permitiram o domínio das tecnologias do desenvolvimento microbiano e das transformações enzimáticas), e, por outro, do esforço feito ao longo dos últimos anos na formação de técnicos e cientistas em Portugal e no Estrangeiro. Ainda assim, continua a registar-se uma fraca sensibilização durante a formação dos investigadores, no sentido de os estimular a desenvolverem projectos próprios que possam conduzir à criação de empresas.

O financiamento para realizar as despesas de I&D provém designadamente de projectos de I&D financiados pela própria entidade ou por entidades terceiras, de natureza pública ou privada, e de raiz nacional ou internacional.

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ano Figura 2.46: Evolução da despesa total em I&D, em Portugal, distribuída pelo sector de origem dos fundos, ao longo dos anos. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Constata-se que o Estado é o principal financiador de I&D, com percentagens que oscilam entre 60 e 70% ao longo dos anos – enquanto as empresas têm vindo, após uma evolução titubeante, a aumentar a sua quota no volume total de fundos utilizados com aquele propósito, com um share de 32% em 2001.

Por outro lado, é nítida a tendência de decréscimo do percentual representado por entidades estrangeiras neste processo – que se resumem quase exclusivamente à Comissão Europeia, e que nunca ultrapassaram 15% do total nacional.

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Figura 2.47: Evolução do número projectos de I&D, com participação de instituições localizadas na Região Norte, distribuídos pelos diversos programas financiadores da CE. Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

Observa-se uma variação quase gaussiana na distribuição do número de projectos ao longo dos anos; de facto, ao crescimento quase exponencial entre 1991 e 1996, segue-se um decréscimo acentuado após 1996. Tal traduz, aparentemente, uma perda crescente de competitividade das instituições da Região Norte em anos recentes, em termos de sucesso na captação de fundos para cobertura de esforços de I&D – tradutora, quiçá, de ideias menos avançadas, ou de equipas com menor qualidade, ou, alternativamente, de aumento da facilidade de obtenção de financiamento nacional para idênticos fins. Conforme se esperaria, a grande maioria dos projectos nas áreas agro-

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alimentar e de biotecnologia tem cabimento nos programas específicos de I&D relacionados directamente com aquela temática (a saber, FLAIR, AAIR e FAIR).

Uma representação alternativa – que complementa e reforça esta análise, usa como base o financiamento gerado por cada projecto (como um todo).

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Figura 2.48: Evolução do valor orçamentado total de projectos de I&D, com participação de instituições localizadas na Região Norte, distribuídos pelos diversos programas financiadores da CE. Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

A evolução temporal é análoga à evidenciada na Fig. 2.48 – e confirma que o valor médio de cada projecto não sofreu alteração dignas de monta, pelo que o contributo financeiro comunitário para os esforços de I&D em Portugal se encontra algo comprometido. Note-se que a participação em projectos transnacionais traz uma mais-valia acrescida para além do mero financiamento pessoal ou institucional; permite, com efeito, a participação em rede, e a interacção com outros investigadores, e consequente exposição a ideias mais avançadas e tecnologias mais sofisticadas.

O perfil de intervenção dos referidos projectos, em termos de tópico tratado, consta do gráfico abaixo.

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ano Figura 2.49: Distribuição do número de projectos científicos, financiados pela CE e levados a efeito por instituições fisicamente localizadas na Região Norte, pelos diversos tipos de produtos (C - carnes e derivados, H - hortofrutícolas e gramíneas, L - leite e lacticínios, O - outros produtos, P - pescado e produtos do mar, e V - vinhos e bebidas alcoólicas). Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

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Constata-se que os subsectores individualizados com mais forte expressão, enquanto tópicos de projectos, são, com peso semelhante, os hortofrutícolas e gramíneas, por um lado, e o pescado e produtos do mar, por outro; porém, a dominância absoluta vai para o subsector dos produtos alimentares indiferenciados (sob a designação genérica de Outros). Por outro lado, a importância relativa destes subsectores não sofre variação significativa ao longo dos anos.

Os programas de investigação mais formais e aprofundados são os conducentes a dissertações de doutoramento, não apenas pela sua longa duração (nunca inferior a 3 anos, e raramente inferior a 4 anos – que permite um amadurecimento do esforço de reflexão sobre o tópico escolhido, baseada na realização de um programa experimental cuidado, extensivo e credível, mas igualmente pela produção de um relatório circunstanciado, na forma de dissertação, onde se descrevem detalhadamente as técnicas utilizadas e se discutem racionalmente os raciocínios seguidos, e ainda pela sua discussão pública (a qual é feita, regra geral, perante um comité com número elevado de elementos de outras universidades, e que incluem, com cada vez maior frequência, universidades estrangeiras), onde se questionam pressupostos, metodologias e conclusões, sem limites de abrangência ou profundidade.

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ano Figura 2.50: Distribuição das dissertações de doutoramento defendidas em biotecnologia alimentar, nas diversas instituições da AURN, pelos principais subsectores agro-alimentares. (C - carnes e derivados, H - hortofrutícolas e gramíneas, L - leite e lacticínios, O - outros produtos, P - pescado e produtos do mar e V - vinhos e bebidas alcoólicas). Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

Verifica-se que o número de dissertações de doutoramento, na área da Biotecnologia Alimentar, tem vindo a aumentar ao longo dos anos de forma sustentada: em números redondos, observa-se que em cada ano o número de dissertações é acrescido de uma unidade em relação ao ano anterior, embora exista uma grande variabilidade entre os vários anos devido ao facto da duração dos programas de Doutoramento não ser fixa, e da taxa de aprovação de Bolsas de Doutoramento não ser constante. Esta tendência enquadra-se no aumento do número anual de Doutoramentos em Portugal, que corresponde a ca. 10% ao ano, nos últimos 10 anos. Por outro lado, a comparação entre estes dados diversos permite aferir do peso relativo da Biotecnologia Alimentar na Região Norte, em relação ao total nacional, o qual se situa na notória marca de c. 3%. Por análise da figura supra, pode ainda inferir-se que as áreas do pescado e produtos marinhos, por um lado, e de hortofrutícolas e gramíneas, por outro, têm fornecido um número significativo de tópicos de dissertações, e de forma equilibrada, ao longo dos anos; tal verifica-se também, embora em menor escala, para a área dos vinhos e derivados. A área dos lacticínios teve intervenção significativa, mas apenas em anos mais recentes, enquanto a área das carnes tende a desaparecer, em importância relativa, ao longo dos anos.

Uma forma de identificar eventuais pólos de excelência no sector agro-alimentar e de biotecnologia baseia-se na distribuição fraccional do número de Doutoramentos nacionais nesta área, conforme explicitado abaixo.

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Figura 2.51: Distribuição fraccional do número de doutoramentos em biotecnologia alimentar, concedidos por universidades portuguesas (universidades localizadas na Região Norte: ESB - Escola Superior de Biotecnologia, UM - Universidade do Minho, UP - Universidade do Porto e UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; universidades não localizadas na Região Norte: UA - Universidade de Aveiro, UBI - Universidade da Beira Interior, UNL - Universidade Nova de Lisboa e UTL - Universidade Técnica de Lisboa). Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

A Escola Superior de Biotecnologia é responsável por c. 35% dos títulos de Doutor concedidos naquela área, sendo a Região Norte, como um todo, responsável por ca. 50% dos doutoramentos em Portugal na referida área.

Por forma a avaliar sobre a adequação dos tópicos versados nas dissertações de doutoramento, relativamente ao seu peso no mercado da Região Norte, elaborou-se o gráfico seguinte.

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Figura 2.52: Distribuição fraccional de dissertações de doutoramento, concluídas nas diversas instituições universitárias da AURN, versus importância fraccional do mercado, em termos dos vários subsectores agro-alimentares (C - carnes e derivados, H - hortofrutícolas e gramíneas, L - leite e lacticínios, O - outros produtos, P - pescado e produtos do mar, e V - vinhos e bebidas alcoólicas). Fonte: Biotecnologia Alimentar na Região Norte – evolução socio-económica e científico-tecnológica, e perspectivas de internacionalização

Conclui-se que as teses de doutoramento se debruçam cada vez mais sobre temas contidos nos subsectores com maior expressão no consumo: a correlação entre a distribuição fraccional de dissertações de Doutoramento e a importância fraccional do mercado aumentou de 0.042 em 1995, para 0.297 em 1996, reduzindo-se então um pouco para 0.189 em 1997, e sofrendo novo aumento significativo para 0.661 em 1998. Tal tendência é digna de nota, pois as dissertações de doutoramento resultam de programas fortemente estruturados, os quais utilizam o estado do conhecimento a nível mundial de forma integrada, com o intuito de resolver um problema. Desta forma, a probabilidade de se endogeneizar o conhecimento produzido é grande, bem como a possibilidade de obter ganhos para a região.

Não obstante os valores globais já disponíveis para financiar I&D (conforme constam da Fig. 2.43), o rácio na produção de valor à escala nacional é ainda manifestamente insuficiente; de facto, a situação prevalecente a nível nacional não é de todo favorável, numa perspectiva europeia.

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país Figura 2.53: Percentagem da despesa total em I&D referida ao Produto Interno Bruto em 2000, por ordem decrescente, em diversos países. Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2003

Portugal aparece na cauda dos países europeus (apenas à frente da Grécia), em termos de fracção do PIB utilizada em despesas de I&D – com um valor per capita que ronda os 153 US$ anuais, quando comparado com os mais de 850 US$ do país líder nesta série (a Suécia).

Em face do leque alargado de dados atrás expostos, e de forma sintetizada, poderemos delinear prospectivamente o impacto das tendências históricas mais pesadas na Região Norte conforme se segue.

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Tabela 2.4: Matriz de suporte da evolução provável das indústrias agro-alimentares na Região Norte até 2015, em termos de

factores e consequências. A intensidade do impacte está representada através da seguinte escala:

impacte fraco

impacte médio

impacte forte

Factores dominantes Importância relativa

Características dominantes

demografia

Região densamente povoada população em crescimento, em termos quantitativos população em rejuvenescimento, em termos qualitativos

formação

metade da população jovem em escolaridade activa aumento da duração média da escolaridade baixa percentagem de incidência do ensino superior concentração da oferta de ensino superior no eixo Porto-Braga tendência decrescente de diplomados em áreas afins tendência decrescente para emprego qualificado

estruturação

terciarização acentuada e crescente, mais ao nível de pessoal e menos ao nível de vendas e VAB

Região abaixo da média nacional, em percentagem de população activa nos sectores primário e secundário agro-alimentares

Região abaixo da média nacional, em percentagem de número de empresas no sector primário, e igual em percentagem de número de empresas no sector secundário agro-alimentar

Região acima da média nacional em percentagem de novas empresas nos sectores primário e secundário agro-alimentares

Região abaixo da média nacional em percentagem de vendas por funcionário no sector secundário, e igual no sector primário agro-alimentar

evolução mais lenta mas mais previsível no seio do sector das indústrias transformadoras

algum enfraquecimento do padrão de especialização no industrial agro-alimentar

posição crescente do sector industrial na cadeia alimentar, em detrimento do primário

consumo

aumento do rendimento familiar em termos absolutos ausência de convergência para a média nacional penalização da taxa de crescimento do consumo aumento da fracção de consumo em alimentos e bebidas

internacionalização

tendência levemente exportadora da Região tendência fortemente exportadora da indústria transformadora agro-

alimentar

integração de cadeia

integração vertical crescente reforço da especialização produtiva em vinhos, em detrimento do consumo

avanço do conhecimento

política pública de concessão de bolsas notável, mas incapaz de assegurar convergência com média europeia

Estado principal financiador dos esforços de I&D tendência para reforço de investigadores nas empresas competitividade decrescente na conquista de financiamento europeu de I&D ênfase regional na geração de conhecimento no sector agro-alimentar em

relação ao resto do País adequação boa a crescente entre tópicos de doutoramento e valor de

mercado dos produtos tratados continuação da criação de novos produtos reforço tecnológico para garantir alimentação saudável, em mercados

segmentados

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

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A análise matricial consubstanciada nesta tabela identifica as principais tendências segundo as quais se estima que irá ter lugar a evolução da envolvente socio-económica condicionante das indústrias agro-alimentares – e que será trabalhada nos capítulos seguintes em termos de cenários possíveis e de medidas aconselhadas.

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3. O que podemos e que iremos fazer?

Identificação de cenários possíveis enquadrando o desenvolvimento da Região Norte em 2015, enquanto afectados pela envolvente comunitária. Identificação de trajectórias prováveis e/ou aconselháveis, enquanto compatíveis com tal cenarização. Explicitação de matrizes SWOT.

“Tudo nasce das ideias: elas dão origem aos factos, que apenas lhes servem de envelope.”

François René (visconde de Chateaubriand), escritor francês (1768-1848)

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A próxima década será marcada pelo impacte de seis grandes desafios: (i) o alargamento e a

coesão; (ii) a estrutura dos sistemas decisórios da UE; (iii) a competitividade global; (iv) o conhecimento; (v) a demografia e o ambiente; e (vi) as assimetrias internas e os conflitos. Porém, a análise clássica a duas dimensões – a convergência real e a convergência nominal, deverá ser complementada com a dimensão da convergência do conhecimento, em particular nas áreas da engenharia e da tecnologia que versam directamente os alimentos e a biotecnologia. De facto, as novas exigências de desenvolvimento para o séc. XXI baseiam-se mais no conhecimento e nas competências, do que nos recursos naturais e no capital fixo.

Naturalmente que o desenvolvimento (e interacção mútua) dos impactes acima referidos é bastante complexo, pelo que é metodologicamente preferível considerar apenas um número discreto de situações previsionais; tal abordagem toma, por isso, partido da construção de cenários hipotéticos. A metodologia de cenarização tem por base a identificação dos vectores fundamentais dos cenários da Economia/Sociedade europeia, que inevitavelmente afectam a realidade regional – tanto mais quando se pretende conceber a utilização de fundos comunitários para o desenvolvimento da Região Norte. Tais vectores podem ser classificados como sendo: (i) o grau de fragmentação/integração da sociedade europeia; e (ii) o grau de protecção/competição no desenvolvimento económico. Estes drivers definem um espaço vectorial, onde é possível definir quatro quadrantes, que constituirão os quatro cenários escolhidos; tal raciocínio está esquematizado de seguida.

Tabela 3.1: Representação esquemática do posicionamento dos cenários de referência para o período até 2015.

Competição

Cenário F

Cenário Fragmentado: a Europa está subdividida, estando o poder situado ao nível das nações que a constituem. Surgem diferentes regiões, cada uma delas com diferentes modelos de desenvolvimento económico, e apresentando, por isso, condições diversas para o negócio. No caso de Portugal, assume-se uma atitude liberal, promotora da competição.

Cenário C

Cenário Competitivo: a envolvente europeia foi alargada e integrada, e as instituições centrais patrocinam a concorrência (levando, por isso, ao desaparecimento de subsídios) – segundo um modelo económico competitivo, onde prolifera uma dinâmica de aquisições e mergers.

Protecção

Cenário P

Cenário Proteccionista: a Europa está subdividida, com o poder situado ao nível das nações que a constituem. As regiões possuem diferentes modelos de desenvolvimento económico, pelo que apresentam condições diversas para o negócio. Em Portugal vigora uma atitude proteccionista, que afecta a dinâmica das empresas.

Cenário S

Cenário social: a envolvente europeia, alargada e integrada, é caracterizada por uma forte instituição central – que orienta quer a economia quer as políticas sociais (assegurando assim um equilíbrio social e ambiental). O modelo económico que está na sua base é proteccionista, e no seu âmbito as empresas lidam com os seus colaboradores porquanto activos de longo prazo.

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Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

Estes quatro cenários, verosímeis e diferenciados, representam outras tantas visões político-institucionais das forças económico-sociais em presença, bem como da evolução da engenharia e da tecnologia – que afectam a Europa no seu todo, e as Regiões em particular. Para produzir um posicionamento estratégico capaz de antecipar a mudança que afecta a Região Norte (enquanto parte de um pequeno país como Portugal), estes cenários alternativos devem ser analisados com rigor, em termos de impactes actuais dos desafios futuros – por forma a potenciar a construção de políticas mais adequadas, e dando a possibilidade às empresas portuguesas de proceder a um

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melhor posicionamento estratégico e à priorização de linhas de acção para fazer face às incertezas futuras. Tais cenários não constituem previsões sobre o futuro, outrossim visões possíveis do que poderá vir a suceder – baseadas numa combinação consistente de pressupostos sobre tendências relevantes, numa metodologia prospectiva.

O cenário competitivo, semelhante à situação actualmente prevalecente nos EUA, baseia-se numa Europa integrada, com um euro forte (mantendo paridade com o US$), onde as empresas são extremamente competitivas, e onde existem muitas oportunidades de negócio – mas ao alcance apenas das empresas mais dinâmicas e eficientes. O euro foi adoptado por todos os membros da UE, que entretanto se alargou; a Polónia e a Hungria juntaram-se também à união monetária, o que proporcionou uma base sólida para as empresas competirem no mercado global. O poder gravita em torno das instituições europeias, não como fornecedoras de subsídios mas como facilitadoras de um ambiente favorável aos negócios, com menor enfoque na agenda social. O individualismo e o empreendedorismo são factores culturais dominantes na Europa. O processo de privatização está essencialmente completo, registando-se uma intensa competição entre um número reduzido de empresas, descendentes das antigas empresas controladas pelo Estado, nas utilities, nas comunicações e nos transportes. Aquisições e mergers sucessivos conduziram a enormes economias de escala, acompanhadas por pequenos negócios inovadores que ocupam nichos de mercado. Existe alguma incerteza em termos de oferta de emprego, com prevalência dos contratos a prazo e trabalho em part-time, enquanto as regulamentações europeias sobre emprego se aproximam reciprocamente. Todos são encorajados a trabalhar, mas o leque salarial radicaliza-se – com um número crescente de trabalhadores muito bem pagos, a par de um número crescente de trabalhadores muito mal pagos. Dada a natureza consumista da sociedade, as necessidades e preferências dos consumidores estão polarizadas entre mercados de elevada e de baixa qualidade, o que implica um posicionamento claro das empresas. Por outro lado, as empresas estão mais conscientes da sua importância na sociedade. O alargamento da UE trouxe crescimento em recursos e no consumo: grandes investimentos têm sido feitos na Europa Central para suportar o crescimento dessa zona, tomando partido do baixo custo dos recursos humanos e naturais.

No âmbito do cenário social, a UE ganhou novos membros e reforçou o seu poder interventor – registando-se um crescimento mais lento, mas estável da economia. Tal expansão associou-se ao surgimento de novas culturas, em particular a anglo-americana, com grande influência na postura ao nível macro- e micro-económico. As instituições europeias estão mais fortes do que nunca. O sistema de decisão foi melhorado, o que trouxe maior eficiência na resolução de problemas fundamentais (p.ex. a Política Agrícola Comum e o sistema de pensões), acabando por se traduzir num aumento de confiança dos cidadãos na UE. A filosofia mais popular é a chamada quarta via, na qual os governos e, por delegação, as instituições de coordenação regional, aumentam o seu envolvimento no Estado Social e na regulação dos mercados; simultaneamente, as aquisições e os mergers de empresas são detalhadamente analisados, não só em termos de impacto na competição mas também em termos de emprego. As taxas foram harmonizadas e os custos de trabalho cresceram. A UE está fortemente envolvida nas questões transnacionais dos transportes (porquanto beneficia a integração económica) e do ambiente (porquanto garante o crescimento sustentado, apesar de exigir ainda recurso a subsídios). Por seu turno, as empresas vêem com apreço a possibilidade de participarem e colaborarem com as iniciativas da UE. Dado o elevado nível de despesa pública, é vital para as empresas socorrerem-se desses fundos, sobretudo para ajudar a financiar a formação, a investigação, e a criação e a manutenção de infra-estruturas. Vive-se um ambiente politicamente estável que, apesar de extremamente regulado, tem a vantagem de estar associado a um elevado grau de previsibilidade; consequentemente, o empreendedorismo não é tão valorizado, dadas as características menos liberais da envolvente. Em termos de negócio, a perspectiva assenta mais no longo prazo, através do desenvolvimento de parcerias para garantir resultados sustentados. Os empregados são considerados activos de longo prazo, com programas de formação e planos de carreira. A política europeia de educação promove actividades que alcançam toda a sociedade. A redistribuição dos rendimentos cria uma grande e forte classe média em toda a Europa, que acompanha o crescimento da UE. O conceito que melhor descreve a importância da UE e as relações entre os vários Estados membros é o de uma Europa Fortaleza. A tecnologia de ponta desenvolve-se porque a existência de programas europeus facilita a ocorrência de sinergias, ao mesmo tempo que os consumidores optam de forma crescente por produtos europeus.

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No caso do cenário fragmentado, a Europa enfrenta sérias dificuldades: se nos anos 90, aquando da união monetária, se falava em Europa a duas velocidades, agora fala-se de Europa a várias velocidades, após a adesão de membros da Europa Central e do Mediterrâneo Leste. O euro ainda subsiste, mas apenas nalguns países. As trocas comerciais, apesar da Internet (que passou a ser bastante regulada), são mais difíceis face ao proteccionismo crescente. Existe um aumento de regulamentação na UE, mas um decréscimo do seu cumprimento por parte dos Estados. Existem restrições ao trabalho e ao capital, representando um problema sério para as grandes empresas – que sempre beneficiaram da vantagem de transferirem tecnologia e know-how entre países. A entrada de países mais pobres, ainda fortemente dependentes do sector primário, combinado com a questão das pensões pressionaram bastante as finanças da UE. A criação de sinergias que patrocinem o desenvolvimento de negócios é extremamente difícil, porquanto vários países detêm o poder sem que as instituições europeias possam actuar; de facto, os mecanismos inicialmente gizados baseavam-se no funcionamento com poucos países. Desenvolveram-se por toda a Europa diferentes culturas políticas e surgiram poderosos Governos regionais – uns mais competitivos e outros mais intervencionistas, com orientações por vezes opostas às do Governo do próprio país onde se inserem. Esta situação cria pressões políticas relevantes, que dificultam as actividades empresariais. Certas regiões políticas favorecem o capitalismo, enquanto outras apoiam actividades de índole comunitária focalizadas na participação das empresas. As empresas que melhor se adaptam são aquelas que conseguiram ultrapassar as barreiras políticas, culturais e geográficas. A gestão eficaz da transferência de conhecimento e tecnologia traz vantagens importantes sobre a concorrência. A resposta preferida pelas empresas de maiores dimensões foi a procura de outros locais para desenvolverem as suas actividades, mormente fora do espaço europeu. Neste cenário, Portugal mostra ser um país aberto e com uma atitude liberal, que promove a entrada de empresas sem excesso de proteccionismo.

No cenário proteccionista, a exemplo do anterior, a Europa atravessa um período de fragmentação política e económica. Portugal, sendo um país pequeno e temendo a dinâmica do Norte da Europa – enquanto mantém um atraso considerável em relação à média europeia, aposta em políticas proteccionistas para a sua indústria; com esta atitude, pretende precaver a incerteza social, enquanto promove as indústrias tradicionais.

A evolução prevista para a estrutura empresarial, sob cada um dos diversos cenários em discussão, é, em termos comparativos, conforme ilustrado abaixo.

Tabela 3.2: Perfil da estrutura empresarial em termos de investimentos, flexibilidade e associação, para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Investimento corpóreo MÉDIO Investimento incorpóreo FRACO Flexibilidade de exploração MÉDIA Associação empresarial MÉDIA

Cenário C Investimento corpóreo FORTE Investimento incorpóreo FORTE Flexibilidade de exploração FORTE Associação empresarial FORTE

Protecção

Cenário P Investimento corpóreo MÉDIO Investimento incorpóreo MÉDIO Flexibilidade de exploração FRACA Associação empresarial FRACA

Cenário S Investimento corpóreo FORTE Investimento incorpóreo FORTE Flexibilidade de exploração MÉDIA Associação empresarial MÉDIA

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

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A capacidade de gerar valor baseado em inovação tecnológica (que está directamente relacionado com o investimento corpóreo), as relações empresariais (que dependem directamente do investimento incorpóreo), a adaptabilidade operacional (que depende directamente da flexibilidade de exploração), e a conjugação de patrimónios e recursos supra-institucionais (que depende directamente da associação empresarial) serão, portanto, conceitos chave – pelo menos tão importantes como o controle de custos e a produtividade.

Ao longo dos últimos dez anos, a estrutura industrial da Europa foi-se alterando – apesar das mudanças terem tido lugar a um ritmo relativamente lento. Estas mudanças têm sido coerentes com os objectivos de coesão na Europa, não tendo criado assimetrias desfavoráveis entre países e favorecendo os países de menores dimensões situados na periferia da UE. Ao mesmo tempo, e em termos de caracterização da situação relativa dos diferentes espaços regionais europeus perante factores que determinam a sua competitividade, verifica-se uma importância crescente atribuída à noção de território – como espaço fisicamente organizado, com os seus equipamentos e as suas infra-estruturas, dotado de uma rede de instituições de base regional capazes de gerar parcerias mais produtivas entre quem tem a percepção da natureza dos problemas e a capacidade para os resolver (i.e. universidades, associações empresariais e instituições de base tecnológica) e todos aqueles que são afectados por ausência de resposta adequada às suas carências de desenvolvimento (i.e. os consumidores tout court). Trata-se, em última análise, de construir organizações, de base local e regional, próximas dos problemas específicos – que não encontram uma solução rápida e eficaz senão pela via da capacidade descentralizada. Por outras palavras, trata-se de conseguir níveis de maior produtividade social em geral, e de maior eficácia em termos regionais.

Os principais determinantes para uma região ser competitiva baseiam-se nos seguintes quatro parâmetros: (i) capacidade de produzir inovação, local e autonomamente, ou de integrar de forma útil, nos seus processos produtivos específicos, a inovação produzida por outros; (ii) capacidade para modificar o perfil da sua especialização produtiva face a regiões com estado de desenvolvimento tecnológico semelhante ou superior; (iii) dotação regional em infra-estruturas, que se traduzem em economias externas e permitem reduzir a situação de perifecidade relativa perante os importantes mercados centrais europeus e mundiais; e (iv) dotação em recursos humanos qualificados, ajustados ao nível de desenvolvimento pretendido. A evolução antecipada destes determinantes, ao nível da distribuição regional, para os diversos cenários em discussão está indicada em termos esquemáticos abaixo.

Tabela 3.3: Perfil da distribuição regional, em termos de inovação, especialização, infra-estruturas e recursos humanos, para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Capacidade de inovação MÉDIA Capacidade de especialização FORTE Dotação em infraestruturas MÉDIA Dotação em recursos humanos MÉDIA

Cenário C Capacidade de inovação FORTE Capacidade de especialização FORTE Dotação em infraestruturas MÉDIA Dotação em recursos humanos FORTE

Protecção

Cenário P Capacidade de inovação MÉDIA Capacidade de especialização FRACA Dotação em infra-estruturas MÉDIA Dotação em recursos humanos FRACA

Cenário S Capacidade de inovação MÉDIA Capacidade de especialização MÉDIA Dotação em infra-estruturas FRACA Dotação em recursos humanos FORTE

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

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Para as regiões portuguesas em geral, e para a Região Norte em particular, são da maior importância (assumindo mesmo carácter decisivo) os factores relacionados com a inovação, a capacidade de modificar a especialização produtiva e a qualificação dos recursos humanos, em comparação com o factor infra-estruturas; curiosamente, as infra-estruturas continuam a ser apresentadas como prioritárias no discurso tradicional, não só de cidadãos comuns menos avisados mas também de técnicos e políticos com poder decisório. Naturalmente que esta afirmação tem de ser algo relativizada – sendo até perigoso deixar no ar a suspeita de que a fase das infra-estruturas já está cumprida; apenas significa que, ao entrar numa nova fase de ajustamento da nossa vida social e económica no âmbito de um novo Quadro Comunitário de Apoio, o que determinará mudanças qualitativas já não está na tradicional insistência nas infra-estruturas – outrossim reclama uma preocupação muito mais qualitativa no aprofundamento dos métodos de valorização dos recursos imateriais e inovadores, repousando, cada vez mais, na eficácia da orgânica educativa, formativa e investigadora. Por outras palavras, mesmo que por hipótese o problema das infra-estruturas fosse totalmente ultrapassado, a situação global ficaria por resolver se nada (ou muito pouco) fosse feito relativamente aos métodos de valorização dos recursos humanos, na senda da inovação.

Os objectivos mais importantes a este título serão a promoção do desenvolvimento sustentável e os contributos parcelares regionais para a coesão nacional global. Tais objectivos deverão ser prosseguidos através de três prioridades estratégicas de desenvolvimento: (i) a melhoria da qualificação dos indivíduos e o aumento das suas condições de empregabilidade – promovendo, com isso, uma maior coesão económica e social; (ii) a criação objectiva de factores de competitividade regional – tendo em vista a valorização dos sistemas produtivos territoriais específicos; e (iii) a promoção das condições para um ordenamento equilibrado e sustentável do território nacional. Estas prioridades são um esforço de síntese, resultado de uma cuidada e reflectida visão prospectiva das grandes questões decisivas que se nos irão colocar.

Os resultados de mais de uma década de apoio a uma política de desenvolvimento regional conduziram a alguns resultados óbvios. O nosso País, como um todo, experimentou uma convergência em relação à média europeia: a relação do nosso PIB per capita com a referida média era, em 1986, de 55.1%, enquanto em 1996 tinha subido para 70.5% – o que é claramente positivo, tendo tido repercussões em todas as parcelas do território nacional. Porém, a convergência não se fez ao mesmo ritmo: enquanto a Região de Lisboa e Vale do Tejo atingiu, em 1996, 83%, a Região Norte alcançou apenas 62% – pelo que estas duas regiões portuguesas mantiveram praticamente intacto o diferencial de ca. 20% que acusavam há 15 anos.

Com efeito, o actual modelo de desenvolvimento português tem conduzido a um crescimento mais forte nos indicadores de produção nas regiões que evoluíram para especializações no sector terciário – onde os ganhos de produtividade e de organização se traduzem em níveis remuneratórios e de bem-estar mais evidentes. Em contrapartida, esse modelo não tem conseguido estimular o desenvolvimento das regiões com maior dependência do sector secundário, em particular nos sectores industriais da chamada base tradicional (onde se inclui especificamente o sector agro-alimentar) ou emergentes mas com um período de incubação longo (onde se inclui especificamente o sector da biotecnologia); e menos ainda aquelas regiões com maior dependência do sector primário (p.ex. Norte Interior).

Relativamente ao sector transformador agro-alimentar, existe uma necessidade de promover globalmente uma imagem de qualidade regional. A evolução da indústria transformadora a partir das actividades de base tradicional tem condições para a diversificação e qualificação das actividades existentes. Uma vez que as pequenas unidades empresariais concorrem em mercados muito exigentes com produtos que reclamam elevado nível de inovação, torna-se necessário o contributo dos serviços de ciência e de tecnologia de proximidade, e que ainda são escassos entre nós. Por outro lado, é necessário superar a falta de escala nas unidades produtivas regionais – pelo estímulo à contratualização agregada de produtores, e ao estabelecimento de compromissos que conduzam à insinuação de uma generalizada imagem de qualidade no exterior dos produtos alimentares portugueses.

Uma das grandes vantagens do sistema de valorização e protecção dos produtos agro-alimentares específicos é que os produtos reconhecidos pela UE com as denominações DOP, IGP e ETG ficam protegidos – quer a nível nacional quer a nível comunitário, contra falsificações e imitações noutros Estados Membros ou em países terceiros. A provar o sucesso deste sistema, estão não só o elevado número de produtos já protegidos, mas também o crescente interesse

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que a grande distribuição alimentar mostra por eles. Com efeito, o mercado não absorve maiores quantidades de produtos tradicionais certificados apenas porque estes não são produzidos em maiores quantidades. A título de análise, inclui-se na figura seguinte a evolução prevista para os principais produtos quanto à sua origem, sob a égide dos diversos cenários anteriormente considerados.

Tabela 3.4: Perfil dos principais produtos, em termos da sua origem, para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Interesse em produtos indiferenciados MÉDIO Interesse em produtos tradicionais FORTE

Cenário C Interesse em produtos indiferenciados FORTE Interesse em produtos tradicionais FORTE

Protecção

Cenário P Interesse em produtos indiferenciados FRACO Interesse em produtos tradicionais FORTE

Cenário S Interesse em produtos indiferenciados MÉDIO Interesse em produtos tradicionais MÉDIO

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

A grande distribuição considera os produtos tradicionais como vectores de diversificação da sua oferta; embora tais produtos não constituam ainda um eixo estratégico de posicionamento para este tipo de cadeias, os distribuidores da Suécia, Holanda, Dinamarca, Espanha e Portugal são unânimes ao afirmar que a procura destes produtos é grande, evidenciando tendências nítidas para o crescimento sustentado. Ao apostar numa política de qualidade, os distribuidores alimentares constatam três factores positivos: os produtos tradicionais específicos (i) valorizam a cadeia e a loja, constituindo mesmo um ponto importante para o posicionamento desta, além do que podem ser usados como matéria pedagógica junto dos clientes; (ii) contribuem para a constante procura de qualidade por parte da cadeia; e (iii) permitem diversificar a oferta. As lojas de mercearia fina procuram sobretudo qualidade nos produtos regionais, ressaltando três atitudes dominantes: (i) a marca da loja é por si só garantia de qualidade, associada por conjugação ou mesmo sobreposição à do produto específico; (ii) os produtos específicos valorizam as lojas, pelo seu requinte e originalidade; e (iii) o nome da cadeia ou da loja ajuda a valorizar os produtos tradicionais, por representar um ponto importante do seu posicionamento.

Se se considerar que a produção actual de produtos típicos de qualidade representa apenas 10% da produção agroalimentar europeia e 20% do seu valor acrescentado bruto (a preços de mercado), e que a procura tem vindo a aumentar continuamente, conclui-se que esta é uma via que pode vir a desempenhar um papel decisivo no progresso económico de regiões mais desfavorecidas – como é o caso da Região Norte, e em particular de algumas das suas regiões mais interiores, na medida em que c. 80% dos referidos produtos são provenientes de zonas desfavorecidas de montanha. Para as regiões do interior de Portugal, onde a desertificação avança a passos largos, a valorização e protecção destes produtos tradicionais de índole regional é uma oportunidade única para tentar estancar a hemorragia populacional. Acresce que a manufactura de tais produtos tem para o desenvolvimento socio-económico das populações rurais uma importância crescente, permitindo fixar famílias de agricultores em zonas desfavorecidas enquanto permite manter a actividade agropecuária e a vida rural, promovendo o marketing das regiões através dos seus produtos locais inimitáveis (devidamente integrados, numa estratégia verticalizante, com o turismo rural), e valorizando a mão de obra familiar através da criação de empregos no próprio local.

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O valor acrescentado da indústria transformadora, a preços constantes, registou um aumento anual na UE de 1.8% entre 1988 e 1998, enquanto o emprego diminuiu em média 1.4% ao ano. Foi um período de crescimento lento, em que a produção e o desempenho do emprego foram baixos – apesar do facto da indústria transformadora em geral, e da indústria agro-alimentar em particular, na Europa terem mantido a sua quota nos mercados mundiais, e terem beneficiado de manutenção (ou mesmo aumento) de qualidade nas suas exportações. O lento aumento de produção pode ser em parte atribuído a factores cíclicos; porém, são notórias algumas debilidades estruturais – nomeadamente ao nível regional, que não permitiram às empresas europeias beneficiar plenamente das novas oportunidades de mercado. Em geral, as economias pequenas e abertas conseguiram melhores desempenhos mercê dos seus índices mais elevados de produtividade e rendibilidade. As expectativas para o período até 2015, em termos deste dois parâmetros, estão descritas abaixo.

Tabela 3.5: Perfis de produtividade e rendibilidade para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Produtividade MÉDIA Rendibilidade MÉDIA

Cenário C Produtividade FORTE Rendibilidade FORTE

Protecção

Cenário P Produtividade FRACA Rendibilidade FRACA

Cenário S Produtividade FRACA Rendibilidade MÉDIA

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

A produtividade concertada das empresas é essencial para permitir o aumento sustentado da massa salarial, o que se traduz no aumento dos índices de conforto e dos indicadores de bem-estar dos seus funcionários – e, por isso, da população em geral. Por outro lado, tal não significa necessariamente um aumento da taxa de desemprego, mas obriga à actualização permanente de qualificações para permitir a adaptação a novos desafios e condicionantes externas inesperadas, as quais deverão ser cada vez mais dirigidas para o consumidor, tomando partido de utilities tecnológicas e informação actualizada.

A decomposição de Solow é frequentemente utilizada na tradução do crescimento económico através de um somatório de três factores produtivos – a saber capital físico, capital de trabalho e capital humano. Entre 1950 e 1970, registou-se uma forte taxa de crescimento do capital físico, e entre 1970 e 1990 do capital humano – devido à intensificação relativamente recente da escolarização. Em termos genéricos, e relativamente ao período global 1950-2000, os principais factores que contribuíram para o crescimento do PIB em Portugal foram o capital físico (assegurando ca. 50%), seguido consideravelmente atrás pelo capital humano (ca. 34%): este é um dos factores mais preocupantes do crescimento económico português, o qual está ligado à ausência de reformas estruturais, sendo o investimento sobretudo canalizado para as infra-estruturas físicas e edifícios não directamente produtivos – a par de uma desaceleração na reestruturação económica por iniciativa empresarial. Por forma a antever a situação no futuro de médio e longo prazo, é

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crucial reflectir sobre questões de ordem demográfica e de formação, i.e. sobre as duas vertentes que constituem o capital humano.

Uma das apostas mais importantes poderá residir no forte peso da população jovem na Região Norte; tal recomenda uma maior relevância de políticas orientadas para a juventude, de que são exemplo nuclear as políticas de educação (estabelecidas a longo prazo) e as políticas orientadas para a diversificação do emprego (como sejam formação contínua, reconversão de activos e incubação de novas empresas).

No cômputo geral dos diversos níveis de educação, representa-se abaixo a evolução prevista da qualificação dos recursos humanos para os diversos cenários em discussão.

Tabela 3.6: Perfis de recursos humanos em termos dos vários graus de formação, para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Qualificação inicial MÉDIA Treino superior FORTE Formação contínua MÉDIA

Cenário C Qualificação inicial FORTE Treino superior FORTE Formação contínua FORTE

Protecção

Cenário P Qualificação inicial FRACA Treino superior FORTE Formação contínua MÉDIA

Cenário S Qualificação inicial FORTE Treino superior MÉDIO Formação contínua FORTE

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

Portugal encontra-se numa situação ímpar no contexto europeu, especialmente quando se observam certos indicadores de desempenho económico. Entre outros, refira-se a fraca cobertura educativa e a sensibilidade científico-tecnológica pouco elevada, a par da baixa satisfação da procura de bens culturais e de inovação – quando comparadas com as prevalecentes noutros espaços europeus, de igual peso demográfico e produtivo. Esta situação configura-se como um problema a médio e longo prazo – não só pelo afastamento verificado em relação às médias comunitárias e à totalidade dos restantes países europeus, mas sobretudo porque a modernização tecnológica das empresas e dos processos na sociedade do conhecimento vai exigir um limiar mínimo de literacia, substancialmente superior ao que tem sido exigido à generalidade da população activa.

O apoio de projectos de investigação, em consórcio das empresas com as universidades e outras instituições de I&D, tem mostrado virtualidades – enquanto incentivo à criação de laços de cooperação; enquanto veículo de fortalecimento das capacidades próprias de investigação das empresas; e enquanto forma de endogeneização, pelo tecido económico, de novas tecnologias relevantes (conseguidas, nomeadamente, pela assimilação de know-how adquirido pela instituição de investigação ao participar como parceira em projectos europeus). A orientação seguida nos últimos anos, segundo a qual a investigação aplicada deve contar com a participação dos utilizadores, revelou-se correcta, apesar da maior exigência em relação à prática tradicional.

A evolução prevista para a endogeneização da ciência e da engenharia nas empresas, enquanto suporte de desenvolvimento de inovação tecnológica, em termos dos quatro cenários postulados, está patente na figura seguinte.

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Tabela 3.7: Perfil da utilização de engenharia e tecnologia em termos do incremento da formação de base, do fortalecimento da formação específica e do investimento em I&D, para cada um dos quatro cenários em estudo: C - Competitivo; F – Fragmentado; P – Proteccionista; S - Social.

Competição

Cenário F Incremento das habilitações básicas MÉDIO Fortalecimento da cultura científica MÉDIO Investimento em inovação FRACO

Cenário C Incremento das habilitações básicas FORTE Fortalecimento da cultura científica FORTE Investimento em inovação FORTE

Protecção

Cenário P Incremento das habilitações básicas FORTE Fortalecimento da cultura científica FRACO Investimento em inovação FRACO

Cenário S Incremento das habilitações básicas FORTE Fortalecimento da cultura científica MÉDIO Investimento em inovação MÉDIO

F r a g m e n t a ç ã o I n t e g r a ç ã o

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

A confirmação destes cenários depende das fórmulas de gestão dos variados programas institucionais de inovação; embora tal possa ser considerado como algo polémico, os programas de inovação mais susceptíveis de sucesso deverão ser liderados por indústrias (em contraponto à tradicional liderança académica), embora executados preferencialmente por instituições de I&D e pelas universidades – no intuito de reorientar estas últimas, por forma a responderem ao desafio da aplicabilidade, com potencial valor acrescentado, dos seus esforços (regra geral, de elevada qualidade) ao nível da investigação fundamental. Tal ideia não pretende relegar para segundo plano os laboratórios e os seus cientistas – bem antes pelo contrário, pretende aplicar com coerência a regra da liderança do mercado nos processos de inovação, por forma a conferir relevância económica aos mesmos e a aumentar o contributo para o financiamento de I&D por parte de quem irá usufruir com os mesmos, em termos de criação de valor, no médio e longo prazos.

As actuais tendências no sector alimentar conduzem necessariamente a uma maior segmentação da procura, e à proliferação de nichos de mercado – dedicados a produtos vocacionados para a saúde, a segurança, a conveniência, o bem estar e o fraco impacte ambiental. Paralelamente, a informação científica, cada vez mais abrangente e mais fiável, sobre os efeitos ao nível pediátrico, geriátrico, nutricional, estético e energético está a contribuir, de forma integrada e gradual, para o desenvolvimento de consumidores mais responsáveis e, por isso, também mais exigentes – i.e. mais habilitados a discernir entre os produtos em oferta. São exemplos desta tendência os substitutos da gordura (designadamente os de origem proteica, derivados de polissacáridos ou combinações entre hidratos de carbono e gorduras) e da proteína animal (derivados de proteina vegetal, devidamente texturizada); ambos estes produtos se centram claramente no impacto em termos de saúde, sendo resultantes de tecnologias avançadas recebidas de forma favorável pelos consumidores.

Existe, porém, uma postura mais holística – segundo a qual o impacto da inovação no sector industrial alimentar deve ser encarado em termos das consequências que são percepcionadas após ingestão de um alimento, a saber: (i) consequências imediatas, as quais estão associadas a respostas sensoriais; (ii) consequências de curto e médio prazo, as quais estão associadas a respostas fisiológicas directas; e (iii) consequências de médio e longo prazo, as quais estão associadas a efeitos indirectos e cumulativos desses produtos sobre o ambiente. Esta argumentação está esquematizada abaixo.

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imediato curto prazo

médio prazo

longo prazo

escala temporal

esca

la e

spac

ial

órgã

os

sens

oria

isco

rpo

hum

ano

ambi

ente

m

undi

al

intensidade de percepção

forte

fraca

fortalecimento das características organolépticas

aumento do impacto nutracêutico

redução do poder poluente

Figura 3.1: Lógica das modificações destinadas a tornar um alimento mais atractivo do ponto de vista do consumidor,

relativamente às escalas temporal e espacial afectadas pela intensidade do efeito correspondente.

Fonte: Journal of Dairy Science

Assim, as modificações destinadas ao melhoramento do carácter apelativo de um alimento sobre um potencial consumidor (e concomitante aumento na sua procura e, portanto, no seu preço) deverão ser focalizadas: (i) no fortalecimento das suas características organolépticas; (ii) no melhoramento do seu impacto nutracêutico; e/ou (iii) na redução do carácter poluente dos produtos secundários associados ao seu processo de fabrico.

Note-se que estas três grandes direcções de evolução assentam todas no pressuposto de um consumidor mais educado e culto e, por isso mesmo, mais exigente e consciencioso. Tal está consubstanciada nos dados seguintes, relativos às condicionantes da escolha dos consumidores em relação à sua dieta – que condicionará a evolução expectável do mercado de produtos agro-alimentares.

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sopahortícolasfrutapãoamiláceospeixecarneleitevinhocerveja

prob

abili

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de

cons

umo

escolaridade média (anos)

a

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1

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3

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0 2 4 6 8 10 12 14

sopahortícolasfrutapãoamiláceospeixecarneleitevinhocerveja

prob

abili

dade

de

cons

umo

escolaridade média (anos)

b

Figura 3.2: Probabilidade de ingestão de classes de alimentos, por a) mulheres e b) homens, em função da escolaridade. Fonte: BMC Public Health

Uma análise dos dados supra permite concluir que a extensão da educação (medida pelo número de anos de escolaridade) e não o orçamento familiar, é o factor determinante para a escolha de alimentos saudáveis, designadamente os constantes da dieta mediterrânica – leite, sopa, vegetais, fruta e peixe; tal ocorre provavelmente pela motivação em relação a valores estéticos, pelo conhecimento acrescido sobre saúde e pela compreensão da informação veiculada pelo rótulo.

Para além de indicar um novo paradigma para a definição de políticas de saúde pública, este estudo permite sustentar um esforço de prospectiva, baseado sobretudo em dados de natureza demográfica e quase independente de considerações económicas; não obstante, a ligação ao mercado não poderá de todo ser eliminada – porquanto processo de validação, periódico e indutor. De facto, constata-se que muitas empresas portuguesas continuam a descurar uma das fases cruciais de todo o processo criativo na criação de um novo produto: o conhecimento do mercado e o perfil do consumidor. Tempos houve em que a inovação resultava da capacidade de uma unidade fabril transformar a matéria prima num produto, que entendia ser de interesse para o consumidor; o processo desencadeava-se então de dentro para fora. Hoje em dia, os manuais de gestão falam do processo de inversão da cadeia, o qual demonstra que, face ao tempo cada vez mais reduzido de vida dos produtos no mercado (c. 10 anos no período 1970-1989, estimado em c. 5 anos no período 1990-2009 e estimado em c. de 2 anos no período 2010-2020), são os comportamentos, as expectativas e os desejos dos consumidores que devem determinar os processos de inovação (i.e. uma inovação centrífuga, no ponto de vista da empresa). Inovar desta forma significa identificar uma oportunidade, ter uma postura de escolha crítica e desenhar um sistema produtivo

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perfeitamente adequado ao caso em questão – e jamais importar inovações tecnológicas ou organizacionais, só porque um determinado fornecedor diz ter novas soluções, ou a concorrência está a trilhar essa trajectória. No processo de inovação, cada caso é, de facto, um caso de per se, e não apenas outro caso.

No caso da biotecnologia, para além da penetração nos domínios mais convencionais dos alimentos e dos produtos de cosmética, existe uma tendência de intervenção crescente na química fina, na síntese de polímeros, na indústria farmacêutica e no sector da energia; as principais vantagens advêm da constatação de que processos e produtos estão essencialmente baseados em matérias primas renováveis, e conduzem a vantagens ecológicas. Porém, o sucesso da biotecnologia nas áreas industriais não é apenas ditado pela ciência e a tecnologia, mas igualmente por factores tais como a aceitação pelo público em geral, o clima de inovação prevalecente e o apoio pelas autoridades competentes – através de políticas credíveis, concertadas e sustentadas de regulamentação, e de investimento em investigação e desenvolvimento.

Finalmente, uma análise de pontos fortes e fracos, por um lado, e de ameaças e oportunidades, por outro, deverá ser efectuada, começando pelo sector agro-alimentar.

Tabela 3.8: Análise SWOT relativa ao sector agro-alimentar.

Pontos fortes elevada variedade de produtos oferecida; produtos com características próprias e únicas,

mercê de condições edafo-climáticas únicas; excelente reputação de alguns produtos e

notoriedade de algumas marcas nos mercados nacional e internacional; e

existência de know-how e capacidade de I&D instalada.

Pontos fracos área limitada de terra arável e sistemas de irrigação deficientes; dependência de variações climáticas e de fornecimentos

externos da maior parte das matérias primas para as indústrias agro-alimentares;

fraca capacidade de negociação das pequenas e médias empresas face à distribuição; tecnologia de produção desactualizada em alguns subsectores; baixo investimento em investigação e desenvolvimento; fraca capacidade empresarial e de práticas de gestão; reduzida orientação para o mercado, fraco

conhecimento dos mercados de destino e investimento reduzido em marcas próprias;

tecido produtivo muito atomizado, com reduzida capacidade financeira e com número muito restrito de grupos económicos de relevo;

condicionantes muito fortes a montante, prejudicando o abastecimento de certos segmentos; reduzida dimensão da produção e dificuldades de

logística, inviabilizando o abastecimento regular a jusante;

redes de distribuição pouco eficientes; falta de tradição associativa e cooperativa; e reduzida instrução e qualificação dos recursos humanos,

e existência de barreiras à profissionalização internas (resistência à mudança) e externas (insuficiente assistência técnica profissional disponível).

Oportunidades aumento do poder de compra e propensão para o

consumo; sofisticação de gostos e apetência por novos

produtos por parte dos consumidores; efeito favorável de campanhas de marketing e

publicidade no exterior, segundo estratégias concertadas de marcas nacionais;

possibilidade de aplicação do desenvolvimento tecnológico para a obtenção de produtos de melhor qualidade e mais seguros; e

Ameaças falsificação de produtos exportados; forte concorrência de economias emergentes; satisfação de hábitos de consumo por produtos alternativos; procura de produtos estrangeiros decorrente de comportamentos xenofílicos do consumidor; e elevado grau de proteccionismo em alguns países de

destino fora da UE, frequentemente encoberto por medidas fitossanitárias.

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vantagem estratégica resultante do posicionamento adequado em segmentos produtivos com características únicas da Região.

Fonte: Perfil Sectorial – Agricultura e Indústrias Agro-alimentares

Registe-se, em particular, a extensa lista de pontos fracos – que colocam desafios importantes em termos socio-económicos, aos quais deverão responder as políticas regionais.

Acresce que uma análise de pontos fortes e fracos, por um lado, e de ameaças e oportunidades, por outro, incidindo desta feita no sector da biotecnologia, conduz aos resultados seguintes.

Tabela 3.8: Análise SWOT relativa ao sector da biotecnologia.

Pontos fortes elevada qualidade de I&D; existência de massa crítica de

investigadores nos centros de I&D por vezes subaproveitada, e de tecnologia de elevada qualidade;

redução drástica do gap tecnológico português; e

capacidade de networking nos centros de I&D e empresas.

Pontos fracos falta de espírito empreendedor; elevados custos de entrada na actividade; tendência para formação pós-graduada se afastar das tendências

de orientação do mercado; fraca rentabilidade dos processos biotecnológicos na obtenção de

produtos que constituem a área principal de actividade; elevado investimento inicial necessário, associado a elevado

tempo de recuperação; elevado risco dos projectos, acrescido de falta de regulamentação

e conhecimento; dificuldade de acesso ao financiamento, sem tradição nem

experiência em capital risco; falta de fundos de capital de risco especializados, e dimensão

reduzida dos existentes face aos necessários; desequilíbrio entre capacidade científico-tecnológica e capacidade

empresarial, e consequente transferência reduzida de I&D para as empresas; e

inexistência de políticas internas de estímulo à criação de spinoffs a partir das unidades de I&D.

Oportunidades crescimento ligado a novas oportunidades

de negócio e a comercialização do potencial de I&D;

intercâmbio de capital humano e informação, através de redes europeias providenciadas por grandes projectos transnacionais;

potenciais parcerias entre instituições de I&D e promotores das empresas a criar, no intuito da formação no e apoio ao empreendedorismo;

realização de parcerias com fundos de capital de risco estrangeiros, especializados no sector;

vulgarização da tecnologia, e consequente redução de custos de instalação; e

desenvolvimento conjunto de esforços de I&D em rede.

Ameaças desconhecimento e dificuldade relativamente ao acesso à

legislação relacionada com a comercialização dos produtos e processos biotecnológicos;

falta de gabinetes de advogados especializados em propriedade industrial, com conhecimentos em biotecnologia;

manutenção da preponderância de orientação tecnológica em detrimento de orientação comercial; e

rejeição social dos produtos geneticamente modificados.

Fonte: Perfil Sectorial – Biotecnologia

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De outra forma, as oportunidades e bloqueios ao desenvolvimento, de um ponto de vista tecnológico, do sector agro-alimentar – em conjugação com a intervenção mais horizontal da biotecnologia, poderão ser analisadas numa perspectiva matricial conforme se elenca de seguida.

Tabela 3.9: Matriz de impactes futuros, com listagem cruzada de áreas de conhecimento em engenharia/tecnologia (eixo vertical) e áreas de negócio/produto (eixo horizontal). A intensidade do impacte é dada por:

impacte fraco

impacte médio

impacte forte

bebidas Bens es senciais

lacticínios

charcutaria congelados enlatados confeitaria comercialização

tecnologias de processo

biotecnologia

tecnologia de materiais

tecnologias de produção discreta

tecnologia de energia

tecnologias de optoelectrónica

tecnologias de informação e comunicação

engenharia de sistemas

tecnologias de infraestruturação e de construção

tecnologias de sistemas ambientais

tecnologias de transportes

Fonte: Engenharia Alimentar – cenários exógenos e análise SWOT

A análise matricial, consubstanciada na tabela supra, é uma componente fundamental de metodologia; de facto, a matriz representa, em análise cruzada, o impacte de áreas de conhecimento em engenharia e tecnologia nas áreas de negócio e de produto mais significativas neste sector. A percepção das áreas de conhecimento mais significativas pode contribuir, assim, para o enfoque dos recursos mais prementes, permitindo a optimização da sua utilização e a compreensão de quais as áreas estratégicas para intervenção.

Em todo o raciocínio anterior, está subjacente uma ideia-força: os centros de produção de conhecimentos são o elo essencial, e ao mesmo tempo a alavanca do avanço no sentido da maior

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competitividade do tecido económico em geral, e das áreas agro-alimentar e da biotecnologia em particular. De facto, gerando dados, produzindo informação a partir desses dados, e transformando essa informação em conhecimento – tais centros materializam o processo de inovação, que será a chave do sucesso para a Região Norte. Este conceito será trabalhado ao longo do capítulo seguinte.

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4. O que queremos e como iremos fazer?

Pré-identificação de grandes objectivos estratégicos e das correspondentes linhas de actuação, susceptíveis de formatar os programas de acção – tendo em vista a promoção do desenvolvimento regional.

“A decisão é, frequentemente, a arte de ser cruel a tempo.”

Henry Becque, dramaturgo francês (1837-1899)

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O incremento nos padrões de vida dos cidadãos ao nível regional (e, por arrastamento, ao nível

nacional e supranacional) exige aumento da taxa de emprego e aumento da produtividade – o que só é possível atingir através de uma gama alargada de reformas, a par de um quadro macroeconómico mais alargado susceptível de suportar o referido crescimento (e por isso procura e emprego). Tal exige intervenção urgente em cinco grandes áreas: (i) a sociedade do conhecimento (tornando a região mais atractiva para investigadores e cientistas); (ii) o mercado interno (liberalizando não apenas a livre circulação de bens e capital, mas igualmente de serviços); (iii) o clima de negócios (reduzindo a carga burocrática, melhorando a legislação, facilitando o surgimento de startups, e criando um ambiente mais favorável ao negócio); (iv) o mercado de trabalho (desenvolvendo estratégias para formação contínua, e identificando parcerias com parceiros sociais para o emprego); e (v) a sustentabilidade ambiental (disseminando inovação ecológicas, e lançando políticas capazes de conduzir a melhoramentos sustentados da produtividade através da eco-eficiência).

Porém, de acordo com as novas teorias de crescimento económico, designadamente as propostas nos anos 80 por Paul Romer, “the former growth-accounting evidence, historical accounts, and everyday experience all suggest that […] something like innovation, invention, technological change, or the discovery of new ideas is needed to understand and explain growth”. Acresce que contribuições mais descritivas do desenvolvimento e difusão da mudança tecnológica (surgidas na mesma altura) consideram também que a tecnologia é interna à economia – sendo que a primeira é gerada e disseminada através das relações e interacções entre empresas, universidades e instituições de I&D, originando a inovação no seio desse sistema. Os modelos lineares dos anos 60 deram, então, lugar ao entendimento da inovação como um processo complexo, em que interagem instituições do sistema educativo, do sistema de ciência e tecnologia, e do tecido industrial, e em que as actividades de I&D determinam (e são determinadas) pelo mercado. Tal modelo interactivo de inovação está ilustrado na figura seguinte.

investigação e desenvolvimento

base de conhecimento disponível

mercado potencial

invenção e criação de conceito

concepção e teste

concepção detalhada e produção

marketing e distribuição

MS

cadeia central de inovação

D

Figura 4.1: Modelo interactivo de inovação; C – cadeia central de inovação; D – ligação directa entre a investigação e a invenção; M – suporte à investigação por máquinas, instrumentos e processos técnicos; e S – suporte da investigação nos domínios subjacentes aos produtos. Fonte: A Universidade/Empresa – exercício de diagnóstico e prospectiva

O modelo é interactivo, e portanto não linear – resultando num intrincado complexo de ligações e retroacções; ilustra ainda o desenvolvimento da inovação ao nível das empresas (onde se insere a

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cadeia central desta), atribuindo-lhes uma posição central no processo de criação de riqueza a partir dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos.

Esta interdependência entre o sistema de ciência e tecnologia e as empresas levou ao conceito de sistema de inovação, onde se geram e difundem as novas tecnologias, e que engloba, em interacção mútua, os sistemas produtivo, educativo, e de ciência e tecnologia, bem como o próprio Estado – ao nível nacional ou regional. Mas tal conceito reflecte o entendimento de que o progresso tecnológico de um país – e o consequente desenvolvimento económico, não dependem apenas do seu sistema científico e tecnológico, sendo também função dos aspectos financeiros, organizacionais e humanos.

factores tecnológicos

factores sócio-económicos

info

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min

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mat

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GERAÇÃO

DIFUSÃO

inve

nção

id

eia

inov

ação

ac

onte

cim

ento

Figura 4.2: Factores determinantes e respectivas interacções no processo de inovação. Fonte: A Universidade/Empresa – exercício de diagnóstico e prospectiva

Neste diagrama, é possível distinguir entre a geração da inovação (de carácter imaterial) e a inovação propriamente dita, bem como a sua difusão no mercado (de cariz material).

A inovação é a base da competitividade; e o rápido aumento da competitividade nacional e internacional do tecido empresarial da Região Norte é um desígnio incontestável e inadiável. Sendo evidente que o essencial da transformação do tecido económico terá de ser levado a cabo pelas empresas – e que delas se espera o principal contributo para o financiamento da inovação, o crescimento económico depende igualmente, de forma crítica, da produção de novos conhecimentos, e da sua transmissão, divulgação e utilização. Consequentemente, é indispensável desenvolver, no tecido técnico-científico, os meios e as competências necessários a uma cultura de cooperação alargada, voltada para a eficiente e sistemática transformação do saber em prosperidade e riqueza – naquilo que se afigura como a única base possível para o desenvolvimento económico sustentável da Região Norte. Assim sendo, existe um conjunto de princípios orientadores – aliás, já previstos em essência no Plano Nacional de Inovação, que aparecem como fundamentais: (i) colocar a empresa no centro da política de inovação, reconhecendo o papel único das empresas, associações empresariais e institutos de interface enquanto vectores da sua própria modernização; (ii) fomentar a inovação tecnológica, incluindo todas as suas interfaces de carácter organizativo; (iii) apoiar a cooperação entre as instituições do sistema de I&D e o sector empresarial, na prestação de serviços de I&D, na produção de propriedade intelectual de alto valor comercial e na dinamização do empreendedorismo de base tecnológica; (iv) desenvolver as instituições do sistema de I&D, em especial pela sua crescente internacionalização e pela sua participação, cada vez mais actuante e significativa, nas grandes áreas de criação científica e tecnológica definidas como objectivos estratégicos da Região; (v) estabelecer plataformas de inovação nas áreas agro-alimentar e biotecnológica – consideradas prioritárias, como instrumento para criar massa crítica e federar os vários actores à volta de ideias claras e concretas, que mobilizem tais subsectores para uma maior competitividade; (vi) adequar as medidas e sistemas de incentivos à realidade empresarial, científica

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e tecnológica regional; e (vii) avaliar medidas, programas e agentes catalisadores da inovação, com base em resultados económicos.

O aumento de despesa com I&D e inovação no seio das empresas só é possível, de forma sustentada, se for assumida como um investimento: (i) capaz de contribuir para o aumento da competitividade da empresa, em consonância com a sua estratégia, criando vantagens competitivas mais ou menos duradouras, e garantindo a sua efectiva implementação intramuros; e (ii) possuidor de retorno dentro de prazos aceitáveis.

As formas de intervenção propostas podem listar-se em cinco grandes linhas de actuação: (i) modernização do sector empresarial; (ii) desenvolvimento do sistema de I&D; (iii) cooperação entre o sistema de I&D e o sector empresarial; (iv) organização e coerência do sistema de I&D; e (v) desenvolvimento de competências.

A modernização do sector empresarial pretende incentivar as empresas existentes a introduzir processos de inovação na sua actividade, a introduzir melhores práticas, e a apostar em investimentos produtivos que lhes permitam subir na cadeia de valor – favorecendo, assim, o aparecimento de novos actores empresariais. Elencam-se aqui sete vertentes de intervenção fundamentais: (i) inovação como função estratégica nas empresas; (ii) projectos de inovação para a internacionalização; (iii) organização, promoção e dinamização sectorial; (iv) criação de novas empresas; (v) investigação de iniciativa empresarial; (vi) promoção da imagem internacional; e (vii) incentivos para a investigação e a inovação.

Tabela 4.1: Principais objectivos e medidas propostas, no âmbito da modernização do sector empresarial agroalimentar e de

biotecnologia da Região Norte.

Objectivos a alcançar Medidas a tomar

i

Indução da concepção e desenvolvimento de projectos e actividades de inovação nas empresas, através da afectação dos recursos necessários e da definição e implementação de planos de acção, visando sobretudo o aumento da competitividade e da internacionalização

Realização de auditorias ao potencial de inovação das empresas Formação de agentes de inovação Colocação de agentes de inovação nas empresas Difusão de técnicas e métodos indutores de inovação (p.ex.

benchmarking, análise de valor, eco-eficiência, qualidade e segurança)

ii

Desenvolvimento de projectos de inovação tecnológica, por empresas ou grupos de empresas, em colaboração com entidades do sector de I&D, que visem a obtenção de vantagens competitivas efectivas e justificadas (de preferência a nível internacional), e que reúnam os recursos e competências necessários à sua execução na íntegra

Medidas de apoio à realização de projectos de inovação, reforçando a aposta em factores intangíveis (p.ex. organização, qualidade, design e marca com notoriedade no mercado externo)

Incentivos específicos para o desenvolvimento de projectos em rede (entre empresas, e entre estas e entidades do sector de I&D), com ênfase nos consórcios e nos recursos necessários, e com valorização sustentada entre entidades

Organização de sistema de informação que permita reduzir os custos de penetração nos mercados externos, através da criação de bases de dados nacional e internacional, estruturada na base de competências, permitindo às empresas identificar os seus potenciais parceiros regionais, nacionais e internacionais, de modo a estimular novos modelos de organização empresarial centrados na orquestração de competências

iii

Desenvolvimento, ao nível sectorial, de capacidade de definição estratégica, de mobilização, de divulgação, de disseminação, e de representatividade e intervenção ao nível regional, nacional e internacional

Dinamização de clusters, e elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento regional

Apoio à preparação de acções e projectos integrados, com grande impacte nos sectores agroalimentar e da biotecnologia, visando o reforço da competitividade e da sustentabilidade global destes sectores

Fomento à criação de uma cultura empresarial cosmopolita, organizando visitas a empresas inovadoras, nacionais ou estrangeiras, que possam funcionar como exemplo.

iv

Fomento da criação de novas empresas, através da criação de um clima favorável ao empreendedorismo e à externalização de grupos e actividades de investigação, visando a transformação gradual da matriz

Garantia da existência de financiamentos no mercado, adequados a este tipo de actividade, nomeadamente capital de risco e capital semente, em condições e volumes compatíveis com as necessidades

Incentivo ao aparecimento de fundos de capital semente privados, com especialização temática, constituidos nomeadamente por grandes

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sectorial da economia regional empresas e grupos económicos Dinamização dos centros de incubação e dos parques tecnológicos

existentes, e reforço da sua ligação a universidades e a institutos de investigação

v

Criação ou desenvolvimento de núcleos ou departamentos de investigação nas empresas, e realização de projectos de I&D promovidos por empresas ou grupos de empresas, em colaboração com entidades do sistema de I&D, visando o desenvolvimento de novas tecnologias ou modelos, potenciando o desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços com elevado grau de inovação, e cujas vantagens e aplicabilidade possam ser testadas e validadas

Apoio à contratação, pelas empresas, de recursos humanos qualificados, capazes de conceber, desenvolver e gerir actividades e projectos de investigação

Desenvolvimento de mecanismos de relacionamento entre empresas e entidades do sistema de I&D, possibilitando o intercâmbio de pessoas, nomeadamente a contratação pelas empresas, a tempo parcial, de investigadores dessas entidades

Incentivo ao envolvimento de entidades do sistema de I&D (nomeadamente como subcontratados) em redes, através de financiamentos específicos

Incentivo para grandes empresas e grupos empresariais liderarem uma parte significativa desses projectos

Possibilidade das unidades de empresas se candidatarem aos programas de financiamento da I&D, com regras de selecção e avaliação idênticas às aplicáveis às entidades do sistema de I&D

vi Melhoria da imagem da Região e das suas empresas e instituições no estrangeiro, como produtores de inovação e de investigação

Identificação de projectos de sucesso, casos de estudo e boas práticas, seguida da respectiva formalização e publicitação nos meios internacionais relevantes (p.ex. conferências técnico-científicas e fora sectoriais)

Dinamização e apoio à participação de empresas e entidades regionais em feiras internacionais de ciência e tecnologia, para publicitação de resultados de projectos de I&D

Dinamização e apoio à participação de empresas produtoras de produtos e serviços inovadores em certames relevantes

Garantia do fornecimento, às entidades responsáveis pela produção de estatísticas, de informação real e atempada sobre o investimento regional em I&D e inovação

Criação do selo “empresa inovadora”

vii

Apoio aos investimentos privados em inovação e I&D, através de incentivos directos e indirectos, nomeadamente isenções fiscais, criando uma forte discriminação positiva e minimizando os riscos envolvidos, sobretudo no caso de empresas que se envolvam pela primeira vez nessas actividades

Criação de programas de incentivos fiscais simples, de contabilização tendencialmente automática – sobretudo no caso de investimentos feitos no âmbito de projectos de inovação e investigação financiados por medidas nacionais e internacionais, e portanto já sujeitos a regras de selecção, avaliação e auditoria

Criação de mecanismos de financiamento com taxas sujeitas a variação temporal, levando a um apoio mais concentrado nos primeiros anos às empresas que decidam investir em inovação – i.e. no período de maiores incertezas e riscos, com a percentagem de financiamento diminuindo gradualmente no tempo

Fonte: Plano Nacional de Inovação

O desenvolvimento do sistema de I&D deve ser promovido, no sentido da sua crescente participação nas grandes áreas de produção científica e tecnológica, e na sua internacionalização. Elencam-se aqui duas vertentes de intervenção fundamentais: (i) produção de conhecimento; e (ii) especialização sectorial.

Tabela 4.2: Principais objectivos e medidas propostas, no âmbito do desenvolvimento do sistema de I&D em agro-alimentar e

biotecnologia na Região Norte.

Objectivos a alcançar Medidas a tomar

i

Produção de conhecimento científico de nível internacional, susceptível de alimentar as actividades de inovação empresarial, através de apoio específico às entidades de I&D, garantindo o desenvolvimento de planos de médio e

Disponibilização de financiamentos, indexados à quantidade e qualidade dos resultados obtidos, dependendo da natureza das instituições, que garantam níveis de produção de conhecimento científico e tecnológico suficientes para alimentar um sistema regional de inovação competitivo

Criação de incentivos adicionais ao relacionamento com o tecido

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longo prazos, e de projectos de I&D preferencialmente em parceria com empresas

empresarial (sob a forma de projectos de investigação conjuntos, formação e consultoria, designadamente através de mecanismos de matching funds

Dependência da concessão de financiamentos públicos de base aos serviços efectivamente prestados ao exterior, e de outros indicadores de criação de riqueza

ii

Fomento da especialização sectorial ou temática das entidades do sistema de I&D, da sua capacidade de integração e de transferência de tecnologias e conhecimentos, e do seu papel enquanto agentes de dinamização e divulgação de actividades de inovação

Disponibilização de apoios financeiros ao desenvolvimento de actividades de I&D e de transferência de tecnologia e conhecimento, baseados em planos de actividades visando o aprofundamento da especialização sectorial ou temática da entidade, e da sua colaboração com o meio empresarial regional

Apoio à articulação em rede das entidades, com o objectivo de assegurar o leque de produtos, competências e conhecimentos necessários aos respectivos sectores de actuação

Disponibilização de apoios financeiros ao desenvolvimento de pacotes informativos e formativos sobre casos de sucesso e de boas práticas, e ao desenvolvimento de actividades de disseminação – baseados em planos de actividades, com impacto efectivo nos respectivos sectores-alvo

Fonte: Plano Nacional de Inovação

A cooperação entre o sistema de I&D e o sector empresarial deve melhorar e agilizar a interface

ciência/indústria, permitindo um melhor conhecimento e confiança mútuos, e facilitando múltiplas formas de colaboração (p.ex. prestação de serviços, produção de propriedade intelectual, utilização de patentes, desenvolvimento de novos produtos, e criação de novas empresas de base biotecnológica). Elencam-se aqui seis vertentes de intervenção fundamentais: (i) acesso aos resultados das actividades de inovação e de I&D; (ii) envolvimento das empresas em projectos internacionais de I&D; (iii) prospecção e vigilância tecnológica, e captação de I&D; (iv) utilização de propriedade intelectual; (v) mobilidade entre o sistema de I&D e o sector empresarial; e (vi) dinamização de plataformas de inovação.

Tabela 4.3: Principais objectivos e medidas propostas, no âmbito da cooperação entre o sistema de I&D e o sector

empresarial agroalimentar e de biotecnologia da Região Norte.

Objectivos a alcançar Medidas a tomar

I

Promoção do acesso das empresas aos resultados das actividades de I&D, regionais, nacionais e europeus, sobretudo aos suportados por fundos públicos, assegurando em paralelo mecanismos efectivos de protecção dos respectivos direitos de propriedade intelectual e industrial

Divulgação dos resultados dos projectos e programas, dos casos de sucesso, e das boas práticas comprovadas

Criação de portal da inovação Dinamização da realização de acções de demonstração Agilização e apoio à utilização dos mecanismos de protecção da propriedade

intelectual e industrial Dinamização de laboratórios de empreendedorismo nas universidades,

apoiando o arranque de novas empresas durante a fase de pré-incubação, através de consultórios de ideias, testes de viabilidade económica, concepção de planos de negócios, e partilha de experiências com outros empreendedores

Ii

Incentivo ao envolvimento de empresas em projectos internacionais, e à sua participação activa nos fora de definição estratégica e política

Garantia de participação activa das empresas (e seus representantes) na definição de políticas regionais, nacionais e comunitárias de I&D

Reforço da participação de entidades nacionais em programas europeus de apoio à inovação e à investigação

Criação de incentivos específicos para a participação de empresas em projectos europeus, através de mecanismos ligeiros de gestão simples (tipo matching funds)

Estabelecimento de programas regionais de apoio, complementares aos programas de base comunitária, cobrindo nomeadamente a fase de desenvolvimento, validação e demonstração

Iii Aproveitamento de recursos materiais e humanos para a identificação de tecnologias

Dinamização do empreendedorismo e promoção da divulgação das suas competências junto de potenciais investidores

Promoção da ligação de antigos bolseiros, que tenham permanecido em países

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relevantes para a captação de I&D

estrangeiros na sequência do seu período de formação, constituindo-se como antenas de prospecção de oportunidades de inovação

Criação de uma rede de prospecção e vigilância tecnológica, com gabinete(s) no exterior

Iv

Fomento da correcta utilização da propriedade intelectual, e dos seus mecanismos de protecção, como forma de financiamento de instituições criadoras de conhecimento, e como ferramenta de transformação do conhecimento em riqueza

Apoio à rede de gabinetes de propriedade industrial Criação de bolsa de invenções, enquanto medida dinamizadora do mercado do

conhecimento Desenvolvimento de mecanismos de partilha dos direitos de propriedade

intelectual em consórcios e parcerias Dinamização de formas alternativas de protecção de direitos, como parte do

percurso conducente à obtenção de patentes Garantia da efectiva protecção dos direitos sobre a propriedade intelectual Reforço de competências na produção de documentos de patentes, na sua

avaliação financeira e na sua relevância Estímulo ao uso efectivo de informação técnica contida em patentes

V Facilitação e encorajamento dos movimentos de pessoas e ideias entre os sistemas de I&D e empresarial

Simplificação e agilização de prestação de serviços a empresas por universitários, sem penalizações salariais ou outras

Promoção de programas de estágios para estudantes recém-licenciados Incentivo a programas de doutoramento em ambiente empresarial Apoio à participação empresarial em actividades de formação universitária, e

na gestão e programação das unidades de I&D Reflexão sobre a participação de universitários neste tipo de iniciativas, para o

progresso na respectiva carreira académica

Vi Promoção da constituição de plataformas de inovação em agro-alimentar e biotecnologia

Dinamização do estabelecimento e operacionalização das plataformas Apoio ao posicionamento de grupos e consórcios regionais na concretização

de parcerias nacionais e internacionais

Fonte: Plano Nacional de Inovação

A organização e coerência do sistema de I&D pretende garantir articulação adequada entre os diferentes organismos públicos e privados e os diversos programas em curso, definindo claramente os objectivos dos seus actores individuais, e melhorando mecanismos de recolha e análise de resultados e de avaliação. Elencam-se de seguida três vertentes de intervenção fundamentais: (i) monitorização, reporte e avaliação; (ii) cooperação entre a entidade local de administração e o sistema de I&D; e (iii) coordenação entre superestruturas administrativas.

Tabela 4. 4: Principais objectivos e medidas propostas, no âmbito da organização e coerência do sistema de I&D em agro-

alimentar e biotecnologia na Região Norte.

Objectivos a alcançar Medidas a tomar

I

Implementação de sistemas e práticas de monitorização, reporte e avaliação efectiva dos resultados dos projectos e programas, devidamente orientados para o cumprimento dos seus objectivos fundamentais, que tenham memória e capacidade de aprendizagem

Garantia da avaliação dos projectos, sobretudo na vertente de execução dos objectivos planeados e do impacto económico real dos respectivos resultados

Produção de análises e estatísticas realistas, e úteis para a gestão e avaliação do sistema

Publicitação dos resultados das avaliações do sistema Avaliação de medidas de apoio à inovação em curso Avaliação regular do conhecimento sobre os programas disponíveis junto dos

potenciais interessados

ii

Garantia de elevado nível de cooperação entre a CCDRN e os agentes do sistema de I&D regional, nomeadamente na definição de programas simples, claros e adequados ao objectivos e à realidade a que se destinam

Promoção da participação activa dos agentes na definição de políticas e programas de apoio à inovação e à I&D, através da criação de grupos ad hoc pelas entidades do sistema de I&D que mais tenham a ver com os progamas a conceber

Promoção da realização de fora de debate sobre o sistema regional de inovação, visando a sua avaliação crítica e a elaboração de propostas de melhoria

Desenvolvimento de modelos e de ferramentas de apoio à gestão dos

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programas, que facilitem a sua operacionalização do lado dos promotores e das entidades gestoras

Implementação de um modelo de proximidade aos promotores, capaz de potenciar uma dinamização e um apoio activos aos seus projectos

Dinamização da participação de peritos regionais em grupos de trabalho lançados pela CE na área da inovação

iii

Garantia de coordenação entre as superestruturas regionais e nacionais, que assegure a imprescindível coordenação de políticas, instrumentos e acções

Garantia de coerência do sistema regional de inovação, e operacionalização eficiente dos modelos de gestão e das ferramentas de suporte

Revisão e simplificação dos processos de preparação e avaliação de candidaturas

Dinamização da discussão sobre o modelo de organização da componente pública do sistema regional de inovação

Identificação de complementaridades e sinergias entre os programas nacionais e os programas regionais de apoio à inovação

Fonte: Plano Nacional de Inovação

O desenvolvimento de competências destina-se a intervir ao nível de preparação avançada e especializada de recursos humanos. Elenca-se de seguida uma vertente de intervenção fundamental: (i) formação para a inovação.

Tabela 4.5: Principais objectivos e medidas propostas, no âmbito do desenvolvimento de competências em agro-alimentar e

biotecnologia na Região Norte.

Objectivos a alcançar Medidas a tomar

I Realização de esforço de formação de recursos humanos, necessário para alimentar o sistema regional de inovação

Inclusão, nos planos de curso de licenciaturas e bacharelatos, de módulos de gestão da inovação empresarial

Criação de cursos de pós-graduação em gestão da inovação e empreendedorismo

Formação sobre propriedade industrial e sobre mecanismos de criação de empresas de base tecnológica, no âmbito de cursos do ensino superior de cariz científico-tecnológico

Arranque de acções de formação profissional, para alunos com o 12º ano, em técnicas e ferramentas de gestão da inovação empresarial

Implementação de acções de formação em gestão da inovação empresarial, para trabalhadores das empresas que venham a desempenhar a função de agente da inovação

Fonte: Plano Nacional de Inovação

A operacionalização deste conjunto integrado de acções, em conjugação com a pressão competitiva nacional e internacional sentida por empresas e por entidades do sistema de I&D – e que tem tendência para se ir agravando ao longo do tempo, forçará necessariamente ao aparecimento de dinâmicas de inovação ao nível regional, que tenderão por sua vez a gerar fenómenos de mercado nesta área em que se ajustam oferta e procura, bem como pagamento e financiamento. A criação deste mercado de inovação é fundamental para atingir os objectivos de desenvolvimento pretendidos para a economia regional e nacional, e bem assim para materializar os objectivos constantes da Estratégia de Lisboa.

Da análise efectuada, salientam-se alguns aspectos que podem ser vistos como nucleares e condicionantes para o estabelecimento de estratégias prospectivas regionais nos sectores agro-alimentar e da biotecnologia.

Em primeiro lugar, a existência de grandes oportunidades que configurarão hipótese de sucesso, designadamente nas áreas da segurança alimentar e dos benefícios para a saúde – no caso do sector agro-alimentar; e das interfaces com as tecnologias da informação (p.ex. genómica, proteómica e bioinformática), das nanotecnologias (p.ex. bioelectrónica, microfluídica e

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nanobiotecnologia), ou das duas (p.ex. biossensores e biochips) – no caso do sector da biotecnologia.

Em segundo lugar, o facto dos produtos estrangeiros serem frequentemente os únicos que se apresentam aos olhos da generalidade dos consumidores como capazes de satisfazer as suas maiores exigências, havendo assim oportunidade de salto qualitativo nos produtos regionais de acordo com novas referências.

Em terceiro lugar, a constatação de que são os comportamentos, as expectativas e os desejos dos consumidores que devem determinar os processos de inovação – os quais, por sua vez, devem recorrer à capacidade instalada de I&D; por isso, os programas de inovação mais susceptíveis de sucesso deverão ser financeiramente liderados por indústrias, em claro contraponto à tradicional liderança exclusivamente académica.

Em quarto lugar, a conclusão de que a capacidade de produção agro-alimentar está estabilizada, pelo que o crescimento deste sector não se fará com significativos acréscimos de produção bruta, mas antes pela forma como souber qualificar e acrescentar valor, nomeadamente através de melhorias distintivas e da modernização da gestão das suas unidades agro-industriais; urge, com efeito, optar por ganhos de gama em detrimento de ganhos de escala, tentando acrescentar valor na transformação e promoção comercial dos produtos alimentares. Dado que as grandes empresas estão orientadas e baseadas em produtos de grande consumo, a questão fundamental assenta, provavelmente, em como se conseguirá desenvolver esta estratégia de forma continuada de modo a permitir disponibilizar às PMEs, a baixo custo, as condições indispensáveis para produzirem bens específicos para nichos de mercado, mais diminutos em tamanho mas mais exigentes em qualidade e mais possantes em recursos financeiros, e que aparentemente possuem fraco interesse para as grandes empresas.

No que respeita em particular ao processo de implementação em Portugal de produtos de qualidade reconhecida, acresce que a metodologia implementada, as designações e os modelos de organização encontrados (que se baseiam essencialmente na abordagem das várias vertentes da qualidade) poderiam conduzir a uma multiplicidade de produtos sem relevância significativa, do ponto de vista económico e de mercado, se não forem conjugados com uma clara estratégia subjacente de organização, identificação e valorização do território e dos seus produtos e serviços. Trata-se, em última análise, de não perder a oportunidade de organizar a nossa diversidade conferindo-lhe escala comercial, e reforçando instituições e procedimentos de organização e comercialização sustentáveis. A valorização do terroir ao nível do capital humano, é indubitavelmente a intervenção prioritária no futuro que se avizinha – em que os cada vez menos recursos comunitários deverão ser cada vez mais bem utilizados, por cada vez menos entidades que provem ser cada vez melhores.

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5. Onde nos inspirámos?

“Na maior parte das vezes, uma ideia nova não passa de uma banalidade, de cuja realidade nos apercebemos subitamente.”

Arthur Schnitzler, dramaturgo austríaco (1862-1931)

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Anon. (2004) Biotecnologia m Portugal – reflexão PNI. Lisboa, Portugal. Anon. (2004) Facing the Challenge – the Lisbon strategy for growth and employment. Cidade do

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