texto 1 - proc. penal - flagrante

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Um tema sempre recorrente nas provas de Processo Penal da OAB é a prisão em flagrante . Mas antes de falar específicamente do flagrante, vale destacar que há três tipos de prisão cautelar previstos no nosso ordenamento jurídico: duas delas estão previstas no CPP (flagrante e preventiva) e uma na Lei 7.960/89 (prisão temporária). Em princípio, “flagrante” indica que o autor do fato está praticando o ato executório do crime. Porém, o art. 302 do CPP ampliou o conceito de flagrante, estabelecendo três tipos de prisão em flagrante: flagrante próprio (ou real), flagrante impróprio e flagrante presumido (ou ficto). O flagrante próprio ocorre em duas situações, previstas no art. 302, I e II, do CPP. O primeiro caso é aquele em que o agente é preso enquanto praticava os atos executórios do crime. Deve-se tomar especial cuidado com os crimes permanentes , em que a situação de flagrância é prolongada no tempo, como no caso do crime de sequestro. O segundo caso é aquele em que o agente é preso quando já terminou os atos executórios, mas ainda se encontra no local do crime. É o que ocorre, por exemplo, quando ladrões são presos no momento em que saíam do local do roubo. O flagrante impróprio é aquele em que o agente é perseguido logo após ter cometido o crime (art. 302, III, do CPP). Nesse caso, o autor já deixou o local do crime e é perseguido após terminar os atos executórios. A perseguição pode ser feita pela autoridade policial ou por qualquer pessoa. Não existe prazo para o encerramento da perseguição, desde que ela seja ininterrupta (art. 290, §1º, do CPP). Portanto, não há prazo de 24 horas, como algumas tramas de novela nos fazem crer. O flagrante presumido ocorre quando o agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor do crime (art. 302, IV). Essa situação se difere do flagrante impróprio porque o acusado não é perseguido, mas sim encontrado na posse de objetos comprometedores. Um bom exemplo é o acusado que furta um carro e pouco tempo depois é parado numa blitz. Embora o CPP só trate dessas três espécies de flagrante, a doutrina ainda o classifica em mais quatro tipos (flagrante preparado, flagrante esperado, flagrante forjado e flagrante retardado). Entende-se por flagrante preparado a hipótese em que um agente provocador (autoridade, vítima etc.) induz alguém a praticar um delito, tomando todas as medidas necessárias para tornar impossível

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Resumo sobre prisão em flagrante no CPP

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Page 1: Texto 1 - Proc. Penal - Flagrante

Um tema sempre recorrente nas provas de Processo Penal da OAB é a prisão em flagrante. Mas antes de falar específicamente do flagrante, vale destacar que há três tipos de prisão cautelar previstos no nosso ordenamento jurídico: duas delas estão previstas no CPP (flagrante e preventiva) e uma na Lei 7.960/89 (prisão temporária).

Em princípio, “flagrante” indica que o autor do fato está praticando o ato executório do crime. Porém, o art. 302 do CPP ampliou o conceito de flagrante, estabelecendo três tipos de prisão em flagrante: flagrante próprio (ou real), flagrante impróprio e flagrante presumido (ou ficto).

O flagrante próprio ocorre em duas situações, previstas no art. 302, I e II, do CPP. O primeiro caso é aquele em que o agente é preso enquanto praticava os atos executórios do crime. Deve-se tomar especial cuidado com os crimes permanentes, em que a situação de flagrância é prolongada no tempo, como no caso do crime de sequestro. O segundo caso é aquele em que o agente é preso quando já terminou os atos executórios, mas ainda se encontra no local do crime. É o que ocorre, por exemplo, quando ladrões são presos no momento em que saíam do local do roubo.

O flagrante impróprio é aquele em que o agente é perseguido logo após ter cometido o crime (art. 302, III, do CPP). Nesse caso, o autor já deixou o local do crime e é perseguido após terminar os atos executórios. A perseguição pode ser feita pela autoridade policial ou por qualquer pessoa. Não existe prazo para o encerramento da perseguição, desde que ela seja ininterrupta (art. 290, §1º, do CPP). Portanto, não há prazo de 24 horas, como algumas tramas de novela nos fazem crer.

O flagrante presumido ocorre quando o agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor do crime (art. 302, IV). Essa situação se difere do flagrante impróprio porque o acusado não é perseguido, mas sim encontrado na posse de objetos comprometedores. Um bom exemplo é o acusado que furta um carro e pouco tempo depois é parado numa blitz.

Embora o CPP só trate dessas três espécies de flagrante, a doutrina ainda o classifica em mais quatro tipos (flagrante preparado, flagrante esperado, flagrante forjado e flagrante retardado).

Entende-se por flagrante preparado a hipótese em que um agente provocador (autoridade, vítima etc.) induz alguém a praticar um delito, tomando todas as medidas necessárias para tornar impossível a sua consumação. Um exemplo já conhecido é o empregador que, suspeitando de estar sendo furtado pelo empregado, aciona a policia e prepara uma situação facilitada para que o empregado furte o dinheiro do caixa. De acordo com a Súmula 145 do STF, o flagrante preparado é nulo por se tratar de crime impossível (art. 17 do CP). Atenção! No caso de crime permanente o flagrante será válido se a situação de flagrância for anteior à atuação do agente provocador. Cuidado! O STJ tem admitido a prisão em flagrante no caso de furto em estabelecimento comercial equipado com sistema de vigilância (STJ, AgRg no REsp 1274878 MT).

O flagrante esperado é aquele em que a autoridade toma conhecimento da ocorrência de um crime e toma as medidas para preder em flagrante o agente no momento da execução. Nesse caso, trata-se de flagrante válido, pois não há provocação.

Há flagrante forjado quando são criadas provas de um delito inexistente apenas para viabilizar a prisão do acusado. Trata-se de flagrante absolutamente nulo, que pode resultar em sanção penal para o autor da farsa por denunciação caluniosa e/ou abuso de autoridade (se for autoridade).

Por último tem-se o flagrante retardado ou diferido, também chamado de ação controlada. Ocorre nas hipóteses trazidas pela Lei 12.850/13 (organizações criminosas) e pela Lei 11.343/06 (tóxicos). Nesses casos, admite-se que a autoridade policial se abstenha de realizar a prisão em flagrante para colher mais provas e efetuar a prisão num melhor momento, quando alcançar os reais mentores do crime. É flagrante válido, até mesmo por conta de expressa previsão legal. Para o caso da Lei de Tóxicos, exige-se autorização judicial (ouvido o MP) e o conhecimento dos infratores, bem como do provável itinerário da droga.