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19 TEX::NOLOGIA, ESTADO E CAPITALISMO Nil ton de Bri to Cavalcan ti * RESUMO Do nomadí smo à agricultura sedentária, o homem passou por fases d í.s tintas, em que o desenvolvimento de al gumas tecnologias determinou seu progresso socioeconômicõ. Contudo,esse avanço foi carregado de conflitos e interruE. ções, que deixaram marcas em seu processo evoluti vo, no qual a incorporação cada vez maior do sistema agrícola mo derno levou o homem ao desenvolvimento de diferentes ti= pos de EStados, que cresceram e evoluíram paralelamente à produção agrícola. 1r" Mestrando em Extensao Rural - Departamento de Rur ai da UFV. Economia

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TEX::NOLOGIA, ESTADO E CAPITALISMO

Nil ton de Bri to Cavalcan ti *

RESUMO

Do nomadí smo à agricultura sedentária, o homempassou por fases dí.s tintas, em que o desenvolvimento de algumas tecnologias determinou seu progresso socioeconômicõ.Contudo,esse avanço foi carregado de conflitos e interruE.ções, que deixaram mar cas em seu processo evoluti vo, noqual a incorporação cada vez maior do sistema agrícola moderno levou o homem ao desenvolvimento de diferentes ti=pos de EStados, que cresceram e evoluíram paralelamente àprodução agrícola.

1r" Mestrando em Extensao Rural - Departamento deRur ai da UFV.

Economia

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TEX::NOLOGIA,ESTADOE CAPITALISMO

1. INTRODUÇÃO

Desde seu primeiro pas s o , o homem, quando mudoudo nomadismo para a agricultura sedentária, o que lhe permitiu o cultivo do solo e abriu o caminho para a agricul~tura, passou por fases que marcaram o crescimento agríco-la e representaram passos importantes, determinando, as-sim, o progresso socioeconômico.

Para GUIMARKES(1982), tal ?rogresso se eviden-cia por um movimento não-linear, mas cheio de conflitos einterrupções, que deixaram marcas em seu processo evolut~vo.

Numpassado remoto,como observa GUIMARÃES(1982) ,a grande agricultura latifundiária, escravista e patriar-cal colocou em evidência o que seria a sociedade agríco-la, em que sempre se deu uma luta desigual, cuja vantagemera favorável aos interesses dos grupos que ostentavam opoder.

Segundo BUSCHe SACHS(1981), a partir do sécu-lo XVII, o sistema agrícola moderno, a que o homem foi seincorporando cada vez mais foi caracterizado pela diferenciação de três tipos de ES!ados '9ue cresceram e evoluíramparalelamente com a pr oduça o agn.cola: os EStados do Cen-tro, que impulsionaram o s is tema de produção capi talista,dedicado à produção de mercadorias de primeira necessida-de; os_EStados Semiperiféricos, que se identificaram oelaproduçao de mercadorias de posiçao inferior; e os EStadosDependentes, estabelecidos nas áreas periféricas, cujaprodução foi basicamente a monocultura, visando à expor-tação para os países do centro. O resultado foi uma amplaexp ans ão das cul tur as obti das, bas i camente, do comérci oou tráfico de material genético, tanto .para os países docentro quanto para suas colônias nos países periféricos.

2. TEX::NOLOGIAE SISTEMASDE PRODUÇÃOA introdução de materiais genéticos provocou a

criação de jardins botânicos, que mais tarde se transfor-maram em es taçõ es e xperimen tais, dispers ando-se por todo omundo. Comoindica Brockway, citado por BUSCHe SACHS(1981), a ciência exerceu um papel de suma importância

dando origem aos es tudos pioneiros do que viria a ser oprocesso de geração de tecnologia moderna.

O processo de pesquisa ,que se iniciou nessas estações expe r í mentais ,segui u uma linha dis tin ta de orien tãção segundo sua locali zação (BUSCHe SACHS,1981). Os parses centrais se especia li zaram em gerar alternativas, em

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que trabalho e capital eram altamente remuneradas; já ospaíses periféricas, dominados pelo coLo ni aLí smo, eram 0-

rientadas para expandir seus cultivos de exportação.Comoconsequência imediata, a tecnologia agrí-

cola transformou-se num elemento propulsor, por excelên-cia, da dominância tecnológica estruturada em relaçõessociais, de acordo com as condições da própria dinâmicade produção capitalista. Assim, o processo de pesquisafoi direcionado pela ideologia dominante, que estabele-ceu dois sistemas de produção bem diferenciados entre si(BUSCHe SACHS,1981).

O primeiro, denominado sis tema mundiaL de pro-dução intensiva,teve como objetivo principal responderaos interesses capitalistas. A produção-meta, nos paísescentrais, era a de culturas de primeira necessidade, comtecnologia prÓpria. t-fospaíses periféricos, ou do Terce~ro Mundo, a meta era as culturas de exportação, destina:"das aos países do centro, com dupla finalidade: exportarpara mercado de consumo máquinas e agroquímicos de fabricação industrial e satisfazer às demandas de alimentos e-às necessidades básicas das países centrais, fatores es-tes que, juntamente com o impacto ecológico e social, nãosão considerados para regiões produtoras.

O segundo sistema, o tradicional ou de subsis-tência,desenvolveu-se como consequência indireta nos paises periféricas. A produção-meta foi a de mercadorias deposição inferior e menor recompensação, mas de primeiranecessidade e uso diário, cujo objetivo era suprir prin-cipalmente as necessi dades e demandas de alimentos ime-diatas das populações carentes exp loradas que mantinhamimposto o sistema produtivo intensivo.

3.. TEX::IDLOGIAE CAPITALISMODentro dessa configuração, o processo de gera-

ção de tecnologia estruturou-se de acordo com os coj e t.í,>vos impostos pelo próprio capitalismo. Desse modo, a tecnologia mais apropriada é equeLa que gera o maior lucrõpossível, cumprindo, assim, com as duas funções básicasdo capitalismo: propiciar lucro extraordinário para a capital individual atuar como forma de dominação social,cüja finalidade é a exploração por meio da divisão s oc í afdo trabalho (SILVA, 1988).

Comoobeerva esse autor, não exis te umpr cole-ma de escolha de tecnologia a ser gerada, o que é eminentemente um processo poLf tico-ideológico, já que a deci=são final depende das relações de poder no sistema emque essa tecnologia vai ser utilizada. No caso das eco-nomias capitalistas, as regras de eficiência predominan-

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tes são as que maximizam os benefícios privados dos pro-prietários capitalistas, o que demonstra que a própriapesquisa agropecuária foi ajustada a essa concepção ideológica modernizante. Portanto, a pesquisa seguiu os ru=-mos ditados pelos interesses em jogo dos setores que compõem o moderno complexo agroindustrial, viabilizando a ãgricultura intensiva de insumos agrícolas e subordinandõa produção familiar a mesma, como afirma CASTRO(1984).

A ideologia dominante, além de lucratividade,caracteriza-se pela superexploração da força de trabalho,corrupção, geração de miséria para a maioria da classetrabalhadora, degradação e contaminação do meio ambientee dependência dos países subdesenvolvidos para com o ca-pi tal in ternaci onal, o que leva a subordinação e domina-ção da criatividade intelectual a esse paradigma anti-social, arrastando o mundo à dinâmica intrínseca do capitãUsmo (CARVALHO,1986). -

Comessa ideologia de modernização, a representação do homem rural é fortemente es tereotipada, :í á quese centra nos pre conce.í tos de classe e acompanha a difusão da prática capitalista no campo (sistema de produçãõcampesina), mediante a imposição das tecnologias propos-tas, que foram denominadas "modernas ", "boas ", e "efici-entes" (SOUZAe SINGER, 1984).

Na realidade, essa concepção modernizante dosetor agrícola é determinada pe 10 setor comercial,por intermêdio dos meios de comunicação e de outras formas deassistência técnica,cuja orientação é a imposição de inovações t.ecnol.oêí.c as para a adoção as quais têm sido gerãdas basicamente para estimular o consumo dos produtos indus tr iais de be ns de produção, corno imp1ementos agrí co- -las (maquinaria) e agroquímicos (fertilizantes e defensivos agrícolas) (CASTRO,1984). Isso determina a forma eo grau de modernização da produção, o que demonstra, se-gundo SILVA (1988), que nesse' setor as inovações são decaráter "incrus tado".

4. COOCLUSÕESO progresso socioeconômico da humanidade é re-

sultante das diversas etapas de transformação com desta-que para a passagem do nomadismo para a agricultura se-dentária. Nestas etapas de transformação, algun s gruposjá apresentavam certas vantagens, para superar os conflitos de maneira favorável aos interesses da classe domi--nan te.

O desenvolvimento do sistema agrícola resultouna diferenciação de três tipos de EStado: os EStados doCentro, que impulsionaram o sis tema de produção capi ta-lista de uso intensivo do capital, deicado à produção de

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mercadorias de primeira necessidade; os EStados Semiperi-fericos, que se identificaram pela produção de mercado-rias de posição inferior ;e os EStados Dependentes ,que foram es tabelecidos nas áre as periféricas, cuja produção -foi basicamente de monocul tura visando à exportação, paraos países do centro.

O processo de geração de tecnologias orientou-se de acordo com os objetivos impostos pelo próprio capi-talismo, isto é, a tecnologia mais apropriada é a que produz o maior lucro possível. -

REFER~NCIABIBLIOGRÁFICAl. BUSCH,L., SACHS,C. 'lhe agricultural s cí.ence and the

modern word sistem. In: BUSCH,L. (ed ), Science andagricultural development. OtéWa: Allan HeTd. Osmun &Co., 1981. p.131-s6.

2. CARVALHO,H.M. de. A tecnologia e o pequeno produtorrural. Curitiba: B86 (mimeol.

3. CASTRO,A.C. Ciência e tecnologia para a agricultura:uma análise dos planos de desenvolvimento. Cadernos -Difusão de Tecnologia, v.l, n.3, p.309-344, 1984.

4. SILVA, J.G. O pro~resso técnico na a1ricultura. Campi-nas: Instituto e Campinas, 1988. texto didático para uso interno, UNICAMP). -

5. GUIMARÃES,.A...P.A crise agrária.2.ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1982.

6. SOUZA,L S.F., SINGER,E.G. Tecnologia e pesquisa agropecuária: considerações preliminares sobre geraçãõde tecnologia. Caderno Difusão de Tecnologia, v.l,n.l, p.1-25, 19s::l.