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" , SUPLEMENTO AO BOLETIM DA fACULDADE DE DIREITO REDACTOR-DELEGADO J. J. TEIXEIRA RIBEIRO VOLUME VI 195 7 FACULDADE DE DIREITO COIMBRA

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~~tETIM ~E ~IEN~IU E~~N~MI~U SUPLEMENTO AO BOLETIM DA fACULDADE DE DIREITO

REDACTOR-DELEGADO

J. J. TEIXEIRA RIBEIRO

VOLUME VI

195 7

FACULDADE DE DIREITO

COIMBRA

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rização desenvolvida dos vários tipos, oom a menção de alguns exemplos que se nos afiguraram mais represen­

tativos. Termina o estudo oom a análise de algumas das

objeoções de oaráoter geral mais repetidamente feitas ao

método do Orçamento Naoional.

2 - Num tempo em que as deoisões do Estado no oampo da Politioa Eoonómioa revestem primordial impor­tânoia, é do maior interesse tudo quanto possa oontri­buir para esolareoer e fundamentar raoionalmente tais deoisões.

Nisto reside a sedução do Orçamento Naoional. Aos olhos deslumbrados do reoém-vindo, apareoe oomo uma fórmula simples e acessível, em que os objectivos da Polítioa se traduzem em números, as várias soluções dos problemas enascem» do quadro das Contas e as conexões entre os fenómenos ganham um relevo quase plástioo.

Assim aoonteoeu com o autor quando, numa ligeira referênoia de um livro de estudo, o Orçamento Naoional veio espioaçar-lhe a ouriosidade.

Mas, sendo um tema sedutor, o Orçamento Nacional tem o seu quê de traiçoeiro. Depois das primeiras pes­quisas, o estudioso deparará oom a falta de elementos de informação, oom a ausênoia de estudos sistemátioos, de conceitos assentes que possam guiá-lo no emaranhado de oonoepções e prátioas que se aoobertam sob esta designação.

O estudo profíouo desta matéria exigiria ampla oul­tura eoonómioa e razoável domínio da problemática e das técnicas da Contabilidade Naoional.

O autor tem, agora, viva oonsoiênoia da radioal

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-desproporção entre o tema e as suas possibilidades de versá-lo convenientemente.

E confessa, com sinceridade (se é que pode haver sinceridade em reconheoer situações evidentes!) que 86 inadiáveis obrigações escolares o decidiram a alinhavar, em fase de tal imaturidade, os seus apontamentos e as suas reflexões sobre um tema que tão largamente exce­dia as Buas forças ( 1 ) .

(1) Decorrido um ano, e um pouco mais enfarinhado na lite­ratura Econ ómica , o autor sente, ainda mais agudamente, as in ufi· ciências deste trabalho. E e houvera de modificar o -desabafo. que aqui deixou expres o, não seria certamente em sentido opti­mi ta!

Outro caminho (e, esse, mais proveitoso!) se oferecia ao alltor: aproveitar e ta oportunidade para empreender uma revi ão sub -tancial de um escrito que ora se atreve a air daquele di creto silên­cio em que, normalmentE". se confinam os trabalho dos alunos.

' ucedeu, porém, que encargos docentes (posteriormente con­traídos) o arrastaram, no campo da Economia, para terrenos muito diver os dos que aqui pisou. E que tal circun lància o inibiu de dar continuidade à tfmida incursão a que se afoitou por e te ingrato domínio do Orçamento Nacional.

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c APir LO I

CONTABILIDADE NACIONAL

1 - A Contabilidade Naoional é uma técnica de apre­sentação dos dados relativos à aotividade economica de

um pais num período determinado. O essencial desta téonica consiste em registar uma

tal actividade sob a forma de «transacções ~ entre <sec­tores», expressas em termos monetários e inscritas num

sistema de contas de dupla entrada. É, como se vê, a aplicação de um tlsquema conta­

bilistico ~ Economia da Nação considerada como um todo, adentro do qual se individualizam apenas os maio­

res componentes. A extensão da Contabilidade Nacional a uma série

suftcientemente ampla de períodos permite, assim, repre­

sentar sinteticamente não só os movimentos da Econo­mia no seu conjunto, mas também as modificações inter­

vindas nas actividades dos seus grandes elementos constituintes (os sectores), pondo em relevo as relações de interdependência desses sectores entre si e com o todo de que fazem parte.

2 - Nos nossos dias, todos os países evoluídos dedi­cam à Contabilidade Nacional grande atenção e interesse.

Empreendem-se investigações teóricas em torno dela ; multiplicam-se as suas utilizações no ensino, na

análise cientiftca, na formulação da política económica;

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desenvolvem-se os serviços estatísticos em ordem a asse­gurar a obtenção de dados mais completos e rigorosos (1).

Porquê este surto espeotacular de uma técnica tão recente 1 (2)

O êxito da Conta bilidade N aoional parece filiar-se em duas ordens de motivos.

Por um lado, ela enquadra-se na linhll de algumas das tendências dominantes na moderna Ciência Econ6-mica. Por outro lado, a cresoente complexidade dos problemas que a Polítioa Econ6mica tem de defrontar evidenciou a necessidade de aperfeiçoar a informação de base, melhorando-a em quantidade e qualidade e, mais que isso, situando-a num esquema geral que permi­tisse oonfrontá·la objectivamente com os grandes pro­blemas a resolver.

3 - A Ciência Econ6mica dos nossos dias está pro­fundamente marcada pela preocupação do quantitativo, do mensurável ( S).

( 1) Durante muito tempo os elementos estatísticos respeitan­tes à realidade económica foram um subproduto da actividade admi­nistrativa.

Hoje, boa parte deles são já recolhidos com vista a obter infor­ma(,'ões úteis para o conhecimento dessa realidade, estando portanto directamente ligados à elaboração da Conto Nac. que fornece os cri­térios para a sua recolha, tratamento e apresentação.

( ~) Com efeito, e bem que possam encontrar· se em época distantes alguns precursores deste método (pode incluir· se nessa -categoria a estimativa do rendimento monetário dos ingleses feita por G. King em 1696, bem como o célebre Tableau Économique de Q uesnay) só após a primeira guerra mundial (com Bowley, tamp, \Tilford King, Kuznets e Colin Clark) se generalizaram os estudos

e, ao seu lado, as avaliações sistemáticas dos elementos ligado à C. N.

( S) Cr. Perroux, Lu compleB de la Nalion, pág. 60.

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A oiênoia esforçl\·se por explicar, por assinalar rela­ções de causalidade entre os fenómeno!!. Ora é entre os fenómenos de natureza quantitativa ( usceptiveis por­tanto de mensuração) que as relações assumem maior rigor e precisão. Neste dominio, o homem de oiência pode não ó afirmar que existe determinada relação de dependência entre dois fenómenos, ma!:! procurar uma expressão rigorosa para essa dependência.

Se foi esta possibilidade de medir de traduzir as leis em relações numéricas que permitiu o progresso espectaoular de certas ciências da natureza, não é de estranhar que a Ciência Eoonómica, vivendo como as outras a ânsia de rigor e de eficácia, sentisse também a atrac~ão do quantitativo.

Outro dos grandes traços da Economia contempo­rânea é a atenção dispensada aos aspectos macroscópi­cos da realidade e à sua expressão em quantidades globais - Rendimento Nacional, Produto Nacional, Inves­timento, Consumo, etc.

O estudo da actividade económica a partir dos seus. elementos globais ultrapassou largamente a fase de ini­ciação e ganhou um relevo e uma maturidade que fazem dele um instrumento imprescindivel, quer no que toca ao simples conhecimento da realidade, quer no que res­peita à fundamentação das decisões que interessam à Politica Económica.

4 - A Contabilidade Nacional fornece uma visão quantitativa da realidade, formulada em termos glo­bais.

Não se pense, porém, que reside aqui a razão única dos seus progressos e da sua expansão.

Também a pressão das necessidades práticas, sobre-

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tudo no terreno da Politica Eoonómica, contribuiu enor­memente para esse resultado (l ).

Quando as nações se defrontam com problemas eco­nómicos tão agudos como os que derivaram da grande depressão e da última guerra mundial, é lógico que se preste redobrada atenção ao desenvolvimento dos ins­trumentos de informação estatística e que, simultânea­mente, se procure melhorar os utensílios teóricos capa­zes de auxiliar os responsáveis pela formulação da política.

Daí a ideia de passar da simples estimativa das quantidades significativas comummente usadas (Rendi­mento Nacional, Produto Nacional, etc.) para um sistema de Contas que, permitindo deduzir, por simples reagru­pamento de algumas das suas rubricas, os valores que traduzem tais quantidades significativas, vão mais longe pois retratam, em síntese, todas as operações realizadas no seio de uma Economia.

5 - Pode dizer-se que a Contabilidade Nacional constitui um «modelo) da Economia, significando-se por esta expressão cuma representação abstracta e simplifi­cada dum mundo económico) (2).

Parte da classificação dos agentes económicos num pequeno número de categorias, cada uma das quais forma um «sector). O conjunto dos sujeitos económicos apa-

( I) • A história da C. N. é inseparãvel da história dos proble­mas económicos suscitados pela grande depressão, pela mobiliza­C;ão industrial originada pela segunda guerra mundial e pelos reajustamentos entre as nações no após guerra •.

Rugless, National income accounting anel i I' relalion lo economic policy, pág. 7.

( 2) Prou, Mélhode8 de la Complabililé Nationale Françai,e, pág. 13.

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rece, assim, dividido em vârios seotores: Partioulares, Empresas, E3tado, E9traDgeiro, eto.

A aotividades dos diversos sujeitos são conoebidas como . transacções) (I) entre sectores diferentes, e regis­tadas pelo seu equivalente monetário.

As tran acções são finalmente insoritas num sistema de contas articuladas segundo o princípio das partidas dobradas.

Torna-se, deste modo, possível elaborar uma conta capaz de retratar a actividade de qualquer dos segmen­tos da Economia e construir um sistema completo de contas que traduza a interrelação dos vários elementos em que esta se considera dividida (t).

( I) Por vezes esta transaoçõe não o ão no sentido real: terem o então transact;'ões -imputadas. . É o caso de certas activi­dade de um ujeito que pertença a dois sectores diferentes. O con­umo de ben no interior da célula produtiva oonstitui um exemplo

típico desta tran acções imputadas. ( 2) A suointas referênoias oontidas no texto respeitam, ape­

na , ao e enoial da técnica da C. N. Na prática os sistemas utili-1!ado pelo erviço oflciaiR dos diver os países ou propostos pelos autores que e têm ooupado desta matérill, variam muito.

Com efeito, podem divergir no ntímero de seotores escolhido : de de 3 no i tema de tone até aos 7 que a Contabilidade Francesa utilizou durante algun anos.

Podem ainda surgir diferenças provenientes da classificação da tran acções egundo a sua natureza , dando lugar ao apareci­mento de -Contas de Capital> ao lado das -Contas de Transacções Correntes . ou, no critério adoptado para o sistema-padrão proposto pela O. ~ . ., S •• teme de Complabili lé Nalionale , 1953, uContas de Exploração . , -Conta de Afectação:>, -Conta de Formação de Capital>.

E ta diversidade quanto ao nCtmero de ectores e à natureza da tra. acções reflecte-se, õbviamente, no nCtmero de contas que integram o sistema.

Por vezes ainda , ao lado da apresentação -clássica. constituída por um conjunto de contas, aparece a representação dos fluxos transaccionais em matrizes rectangulares ou por meio de diagramas.

Pode ver-se uma desenvolvida apreciação dos vários sistemas da Contabilidade Nacional, por exemplo em ltÉtudes et Conjonc-

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6 - As diferentes aplicações práticas da Conta­bilidade Naoional localizam-se principalmente em dois do mini os : a análise económioa e a formulação da Politica.

No que respeita à análise são vários, ainda, os ser­viços que a Contabilidade Nacional pode prestar-lhe :

a) Fornece o quadro para uma descrição sistemá­tica das actividades económioas em dado período.

Com efeito, ela regista os resultados dessa activi­dade, expressos nas quantidades globais mais represen­tativas: Produto, Consumo, Investimento, etc. Partindo destas podem, por sua vez, obter-se outros valores que interessam ao conhecimento da realidade eoonómioa, tais como o rendimento per capita, a produtividade por trabalhador, etc.

b) A Contabilidade Nacional é também de grande auxilio para a análise da estrutura duma Economia.

Ela diz-nos, por exemplo, qual a fraoção de recur­sos nacionais utilizada pelo seotor públioo em compara­ção com a que acorre ao sector privadoj permite saber qual a importância relativa das várias indústrias na obtenção do Produto Nacional, etc.

As aplicações da Contabilidade Naoional à análise económica estão, porém, fora do âmbito do presente tra­balho, dedicado ao estudo do Orçamento Nacional, ins­trumento que representa uma das contribuições da Con· tabilidade Nacional no último dos domínios assinalados : a elaboração da Politica Económica.

t ure., (n CI mero especial) - Lu ComplabiliM. Nalion alee dana le Monde. Comparai8on de8 M~lhode8 .

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APÍT LO II

CONTABILIDADE NACIONAL E POLíTICA ECONÓMICA

1 - A Politica Eoonómica, no sentido primeiro e

mais próprio do termo, é o oODjunto de regras que orien­

tam a atitude do Estado com vista à consecução dos

fins que se propõe na esfera da vida económica. Em acepção um tanto diversa, chama-se também

politioa económioa não já ao oonjunto de regras mas sim

à atitude do Poder Públioo em que elas se traduzem e

conoretizam: à aoção ou iDacção do Estado em face da

«oircunstânoia ~ eoonómioa ( 1 ).

Numa terceira significação (porventura a mais usual)

o termo anda ligado apenas aos aotos e medidas em que

e exprime a posição aotiva que o Estado assume perante

a Eoonomia. Polítioa eoonómioa tem, aqui, os mesmos

contornos que cintervenção~ (2).

Esta intervenção do Poder Público é um dos traços

marcantes na vida económioa dos nossos dias. Embora difira nos objectivos imediatos que pretende,

nos instrumentos de que se serve ou nas modalidades

conoretas que reveste, a presença actuante do Estado,

volvido em sujeito dominante adentro do processo eco­

nómioo, afirma-se por toda a parte.

( I) Ne te sentido, pode dizer-se que o cLaisser laire. consti­tui, tanto como o mais extreme dos dirigismos, uma Política eco­n6mica.

(2) E ta .,posição activa. é, no fundo, a consciência da lici­tude da intervenção e o prop6sito de intervir sempre que tal se ~o tre neces ário. ela cabe também a inacção, se as circunstãn­Clas a aconselharem.

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planos económicos que visavam cuidadoso e severo apro­veitamento de todas as disponibilidades da Nação.

O Orçamento Nacional aparece, pois . marcado por esta preooupação de dirigir a Economia.

Lá enoontramos, em forma contabi1istica, a compara­ção das c:neoessidades. (Consumo, formação de capital e serviços públicos) oom os meios disponíveis para a sua satisfação (Produto Nacional e excesso das importações sobre as exportações).

Sabemos já que, ex post, os dois totais devem igua­lar-se. O elemento escolhido para assegurar esse equili­brio foi exatamente o último citado: o déficit do oomér­cio exterior. Ele representava a diferença que era necessário preencher para conseguir o nivel de satis­fação pretendido para as diferentes neoessidades.

10 - Como reflexo dos largos poderes que o Governo detinha, as estimativas integradas no Orçamento Nacional aproximam-se muito de verdadeiras disposições auto­ritárias.

No dominio do consumo privado fixou-se um nivel global que, atendendo ao crescimento previsto na popu­lação, não permitia a cada familia senão um consumo equivalente a cerca de 75 % do de 1938.

O Investimento foi computado de acordo com um esquema de prioridades que traduziam a urgência de aumentar a produção em certos domínios essenciais. Reflecte, portanto, decisões tomadas no quadro de um c: plano geral de reconstrução:t.

Fixadas as despesas do Seotor público e elaboradas as previsões respeitantes à produção e às exportações, encontrou-se, oomo resultante, o volume de importações necessário para equilibrar a balança de recursos, ou.

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eja, o montante de importações indispensável para que pudessem atingir-se os níveis pretendidos de Consumo,

de Investimento e Despesas públicas. O problema fundamental a que o Orçamento eoonó­

mico visava re ponder pareoe, portanto, delinear-se deste modo: previstos os volumes de Produção e de Exporta­ções, fixar quantitativos de Consumo, de formação de capital e de despesas públicas que, satisfazendo o melhor possivel estas três exigênoias, determinassem um nivel de Importações (e em oonsequência, um déficit nas tro­cas exteriores) compatível com as possibilidades de obter

crédito no estrangeiro (1).

CAPÍTULO "\ III

OBJECÇÕES AO MÉTODO

DO ORÇAMENTO NACIONAL

1 - O Orçamento Económioo não logrou pacifica oaceitação no mundo dos ~conomistas. Teve e tem

.adversários renitentes. Alguns exautoraram-no em termos sumários: «Nas­

cido de concepções totalitárias; tecnicamente criticável; verdadeira heresia no plano didáctico> - assim o quali­fica Delbez (').

Outros exprimem abertamente o receio de que a generalização desta técnica arraste as Nações para sis­temas económicos assentes na planificação integral: «O Estado que elabora um Orçamento Nacional sofre

( 1 ) efr. Dumontier, art. cito pág. 486. ( 2 ) Elemenl. de FinanceB Publique., págs. 13-14.

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uma tentação enorme, quase irresistivel, de obrigar a Economia a oonformar-se oom as suas previsões em vez de adaptar estas previsões aos factos) (1).

Afigura-se-nos que estes receios pecl\m por mani­festo exagero.

Por um lado, o Orçamento Económico não é o qua­dro neoessário de qualquer planifioação. Pode haver Eoonomia dirigida sem que o Poder utilize este processo de estudo e formulação da sua Política.

Por outro, se determinados tipos de Orçamento Eco­nómioo (Orçamento-Programa) traduzem propósitos inter­venoionistas que se aproximam, mais ou menos, do diri­gismo eoonómico, enoontramos outras modalidades (Orça­mentos de diagnóstico e de prognóstico) que pretendem apenas ser instrumento de informação e esclarecimento, e cuja ossatura é integrada principalmente por elementos previsionais.

É certo que a elaboração de um Orçamento Naoio­nal pressupõe sempre a ideia de intervenção. O Estado serve-se dele, mais que não seja, para esolarecer as suas decisões e para integrá-las numa Política económica geral que constitua um todo coerente.

Mas tal Politica pode visar apenas a encaminhar a Economia no sentido de uma estabilização a alto nivel de emprego, no rumo da modernização do aparelhamento

produtivo, etc. Uma Economia destas encontra-se, por maior que

seja ainda o peso da iniciativa privada, bastante longe das Economias desorganizadas de outros tempos. Mas

( 1) Masoin, Le Budllllt dan8 le Cadre de l'Économie Natáonale. Trabalhos da 5." sessão do l. I. F. P., pág. 201 i MichelsoD, pág. 202, e Ameye, pág. 223, exprimem idêntica opinião. Ver ob. cá!.

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encontra-se igualmente afastada de um sistema de plani­fioação autoritária em que o Estado regule minuoiosa­mente a Produção e a repartição do Produto global.

2 _ Além destas objeoções de principio, muitos auto­

res opõem ao Orçamento Naoional reservas que nos pareoem bem mais justificadas, embora não deoisivas.

Alguns negam a utilidade espeoifioa que a Politica possa colher dos Orçamentos Naoionais. Outros limi· tam-se a sublinhar oertas deficiências desta técnioa e a aoautelar-nos contra um optimismo simplista que pretende encontrar no Orçamento Eoonómico a reoeita mágioa para solucionar todos os problemas da Politioa econó-

mica. A maior parte dessas criticas respeitam à possibili-

dade de prever correctamente os diferentes aspeotos da

actividade económica no futuro. As virtualidades práticas do Orçamento Naoional

assentam na possibilidade de formular previsões rigoro­sas e fidedignas. E isso, afirma-se, não pode, no estado actual das téonicas estatísticas e econométricas, oonse­guir-se em medida razoável. Ora a margem de erro das previsões integradas no Orçamento Nacional vai dimi­nuir extraordinàriamente o valor das conclusões a que

pretenda chegar-se com o seu auxHio.

3 - Se com isto pretende dizer-se que a previsão económica está ainda longe do rigor que seria desejável, estamos perante uma verdade evidente. Como é também irrecusável que a utilidade dos Orçamentos Económicos cresceria grandemente se eles pudessem dar-nos uma visão correcta e fiel das situações futuras.

Repare-se, porém, que o Orçamento Nacional não é

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um método autónomo de previsão. Ele contém elemen­tos previsionais; mas estes são-lhe fornecidos por méto­{ios independentes: avaliação directa (com base na infor­mação estatisca disponivel) e previsão econométrica (a partir de modelos matemáticos) (1).

Sendo assim, as defioiências e 08 insucessos de pre­visão não podem imputar-se ao Orçamento Nacional, mas sim às técnicas previsio,nais que, forçosamente, tem de utilizar. E a objecção terá apenas este sentido: o Orça­mento Nacional exige a avaliação rigorosa de situações futuras; esta avaliação não pode fazer·se com o neces­sário grau de exactidão; logo, deve abandonar-se o método porque assenta numa premissa impossivel.

Ocorre porém perguntar: haverá algum método de estudo e formulação da Politica Económica que possa dispensar a previsão '?

Implicitos ou explioitos, elaborados com maior ou menor requinte técnico, os juizos sobre o futuro estão na base de qualquer decisão político-económica ( 2).

4 - Os erros de previsão, no que principalmente interessa ao Orçamento Nacional, podem nascer de duas

fontes:

a) Deficiente conhecimento das relações entre as

( 1) Pode ver-se uma exposição pormenorizada dos métodos de previsão que são utilizados em vários países para o oáloulo das quantidades globais mais signifioativas em Grayson, Econam1c Plon­

flinU under (ree eflterp,i,ll. ( 2 ) cPergunta-se se podemos ajuizar oom razoável exactidão

o caminho futuro da Economia; e se podemos avaliar oa efeitos de certas medidas em estudo. A resposta é inequívoca: Devemos.; COlm, art. cito in Studiel in Incarne and Wealth, voi. x, p6.g. 86.

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grandezas signifioativas (e portanto difiouldad& em oonstruir modelos realistas).

b) Imperfeição dos elementos estatísticos de base.

É muito provável que, por efeito de um ou de ambos estes faotores, a estimativa das grandezas futuras venha ferida de inexaotidões. Mas a verdade é que o Poder se vê obrigado a tomar decisões importantes e não lhe é dado escolher entre boas e más informações aceroa do futuro: qualquer fonte a que reoorra fornecer-Ihe-ã uma. imagem rudimentar, porventura bastante infiel.

O problema que se põe é o de saber se estas pre­

visões imperfeitas podem ou não ser mais úteis à Poli­tica eoonómica quando reunidas nos quadros contabil1s­

ticos de um Orçamento Nacional. A consciência da sua imperfeição deve precaver­

-nos contra entusiasmos fáceis. Não legitima, porém, a rejeição pura e simples do Orçamento Económioo da Nação (I), como técnica auxiliar da Política Económica.

5 - Outra objecção, que se nos afigura de vulto, diz respeito ao género de Politica económica que pode elaborar-se a partir da visão macroeconómica que está

na base do Orçamento Nacional. As Contas que integram a Contabilidade Nacional

(e igualmente o Orçamento Económico) têm carácter global. Proporcionam uma visão de conjunto da Eco­

nomia.

(1) -Embora ainda imperfeito, o método do O. N. representa incontestàvelmente um progresso sen ível em relação aos processos utilizados, até aqui, no domínio da previsão económica aplioada à elaboração da Política do Estado.; Marczewsky, Lu Bud(Jet8 Nalia­

nau:!: in Économie Appliquée, Out.-Dez. 948, pág. 597.

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As relações que tais Contas permitem estabelecer são, portanto, bastante sumãrias porque envolvem, em regra, apenas os grandes agregados. Qualquer tentativa de interpretação dos mecanismos que ligam esses agre­gados cão poderá atender às relações entre os seU8 elementos Da roia is.

E a Politica Eoonómica que pode desenhar-se a partir dessa interpretação é, necessàl iamente, uma Poli­tica global, que olha apenas aos maiores agregados e que assenta na premissa de que o Produto Naoional é uma realidade homogénea ou que os recursos produti­vos podem transferir-se livremente de umas para outras utilizações ( t ).

Ora tal premissa é, em larga medida, irrealista. É-o tanto mais quanto mais rígida e compartimentada se mostrar a EJonomia. Neste caso, dificilmente os efeitos de uma Politioa global se difundirão igualmente por toda a Economia, até irem atingir a zona da vida econó' mica sobre que se pretende especificamente actuar.

Parece necessãria, aqui, uma intervenção descrimi­nada. E, para que esta possa fazer-se, a anãlise deve ter descido do nivel das grandes quantidades para o estudo das relações entre as grand zas que respeitam a grupos mais reduzidos de agentes económicos.

Mas tam bém isto não parece suficiente para conde­nar o Orçamento Económico à inutilIdade.

Um sistema de Contabilidade Naoional (e portanto um Orçamento Nacional) pode ver multiplicadas as suas

( I ) E'ita premissa torna-se bem clara se pensaJmo ,por exem­plo, numa PoUtica de estabilização baseada em -despe a8 compen­sadoras.; ou ainda que um Orçamento-programa se propõe compri­mir o Consumo para aCectar os recursos libertos a quaisquer outros fins, v. g. : a construQão residencial ou o equipamento da indl1stri8.

G

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Contas, na mesma medida em que se subdividem as oate­gorias dos sugeitos eoonómioos (sectores). A visão da realidade eoonómioa (prospeotiva ou restrospeotiva) pode

ser tão pormenorizada quanto se queira. No caso do Orçamento Nacional, esta minúcia de

análise acarretará, oom o aumento do número de termos a calcular, maior complioação do modelo previsional. Mas será esta consideração (bem como a disponibilidade de elementos estatístioos suftcientes) o únioo obstáoulo sério a um Orçamento Eoonómico capaz de auxiliar a elaboração, não só da politioa global, mas também das Politicas diferenciadas que a ri~idez de certas Econo-

mirs torna imprescindíveis.

HER ES AUGUSTO DOS SANTO

Encarrel[&do de Curso da Faculdade de Economia do Porto

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