testemunhas de jeova relatorio final praticas sociais

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Universidade Federal de São Carlos Pró-Reitoria de Pesquisa Coordenadoria de Iniciação Científica e Tecnológica Relatório de Práticas Sociais Quando O Que Quero Não É A Vontade do Grupo: Processos Educativos em um grupo de Testemunhas de Jeová na cidade de São Carlos Nome do Aluno: Roosevelt Carlos de Oliveira Nome do Curso de Graduação: Pedagogia 2014 Nome do Orientador: Profa. Dra. Elenice Maria Cammarosano Onofre Departamento/Centro: CECH São Carlos / 2015

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Universidade Federal de São Carlos

Pró-Reitoria de Pesquisa

Coordenadoria de Iniciação Científica e Tecnológica

Relatório de Práticas SociaisQuando O Que Quero Não É A Vontade do Grupo: Processos

Educativos em um grupo de Testemunhas de Jeová na cidade de São Carlos

Nome do Aluno:Roosevelt Carlos de Oliveira

Nome do Curso de Graduação:Pedagogia 2014

Nome do Orientador:Profa. Dra. Elenice Maria Cammarosano Onofre

Departamento/Centro:CECH

São Carlos / 2015

1 Introdução

A religiosidade é um dos elementos que podem ser considerados pela pessoa

humana para a consecução de uma vida feliz. Em um contexto democrático e laico, no

qual se deve reconhecer a pluralidade e primar pelo respeito às escolhas individuais, em

matéria de religiosidade tem-se o direito da personalidade liberdade religiosa que

consiste, genericamente, no ter, não ter ou trocar de religiosidade, bem como em

manifestar as convicções religiosas nas esferas pública e privada.

Questões como se articulam a modernidade tecnológica e religião dentro do

grupo de idosos participantes da pesquisa no espaço das Testemunhas de Jeová? Até que

ponto esta modernidade cresce e se torna um obstáculo ao ensino religioso para os

idosos que ali estão? Diante do aumento da longevidade e do acelerado processo de

envelhecimento populacional, questões envolvendo a qualidade de vida da população,

em especial dos idosos, passaram a ganhar espaço nas agendas de pesquisa.

O objeto deste trabalho, a priori, foi inserir-se entre os participantes mais velhos

e, através de entrevistas, compartilhar sentimentos sobre o uso de tecnologias,

integração de jovens e participação na obra educacional das Testemunhas de Jeová nas

abordagens de casa em casa.

O texto de Freire (1981) aborda a responsabilidade do pesquisador no que tange

à escolha da bibliografia. O que se desperta no leitor são anseios do aprendizado e uma

inquietação que leva à um diálogo mais profundo com os textos citados. Mais do que

indicar a leitura, deve haver um respeito tripo para quem se dirige as referências, aos

autores de quem se fala e a si mesmo.

Por outro lado, a educação bancária priva o seu aluno de pensar de modo crítico.

Ensina-lhe o que quer que o mesmo pense. Mero fantoche, memoriza, faz-se uma prova

e, uma vez aprovado, conteúdo esquecido. Outra questão é pesquisar com um viés

bancário. Referir-se com termos “os pesquisandos” é olhar os participantes como

objetos de pesquisa. Na verdade, somos todos participantes da pesquisa e há uma troca

nesta relação de pesquisador com participantes. Não há uma superioridade entre estes.

As sugestões de Bosi (2003) permitem uma reflexão sobre o estudo da memória

e a postura do entrevistador frente ao depoente: como entrar no ambiente do depoente,

criar o espaço necessário e ser integrado com a família ao ponto de permitir um fluxo de

memória através da própria assimilação? Assim, ter conhecimento prévio dos

entrevistados, de seus gostos, de sua história, do momento em que viveu e de suas

experiencias, fará com que sua pesquisa obtenha mais daqueles que, devido a sua e

mesmo as nossas limitações, até se calem.

O texto de Freire (1993) traz uma reflexão sobre seu aprendizado e a memória de seu

trajeto como aprendiz e professor, dos momentos da infância, da memória de infância e

da importância do saber aprender. As memórias de Freire identificam-no em seu próprio

trajeto e a formação de sua própria identidade frente à própria escolarização e sua

aversão primária da gramatiquice escolar. Todas estas experiências se tornaram

indissociáveis de seu caráter que vieram a ser manifestas ao longo de sua vida e carreira

acadêmica.

Através da reflexão sobre a leitura, pudemos repensar o papel do

educador-político/político educador que não deve se acomodar frente às aspirações das

classes populares; somente trabalhamos em favor das classes populares quando

trabalhamos com elas. Toda a trajetória dese educador foi pautada em sua mobilidade e

sua recusa em não estagnar-se por ser responsável pelo próprio progresso.

Em Silva (2010), faz-se uma busca de referências epistemológicas de origem

não eurocêntrica para abordar o tema da identidade africana, mesmo que tais fontes não

sejam oficialmente reconhecidas. Isso se dá visto que as fontes existentes são

predominantemente européias e, portanto, fornecendo uma visão unilateral dos fatos.

No decorrer das várias entrevistas com afrodescendentes de diversas origens

geográficas - Guiné, Brasil, Nigéria, entre outras – podemos observar o sentimento de

estigma presente na interação destes e a aspiração de poder assumir sua própria

identidade afro. Tais sentimentos são oriundos de um esmaecer constante de nossa

identidade (sic) em virtude de uma educação de origem européia. A importância da

perspectiva de Silva está no sulear – termo cunhado para determinar a visão de pesquisa

não-européia, visão que pode partir do sul, sem a necessidade de nortear os dados por

uma perspectiva que ainda estigmatiza nossa maneira de pensar e pesquisar, como se o

sul não pudesse produzir sua própria cultura e identidade.

Em Oliveira (2014, p. 29-46) Várias questões foram levantadas, entre elas a)

Onde e Como as pessoas se educam? b) Em que relações? c) Além da escola, em que

outras práticas sociais nos educamos? d) De que maneira processos educativos

integrantes destas práticas sociais podem contribuir para aqueles que ocorrem na

escola?

A primeira parte discorre sobre as diferentes relações e práticas sociais e sua

pluralidade na pesquisa para que haja uma compreensão dos processos educativos

desencadeados em tais relações.

Tomando por exemplo, processos educativos em contextos das quais as práticas

são marginalizadas, existe a crença de que nada se aprende ou de que se absorve apenas

valores tidos como negativos. No entanto, todos os agentes reproduzem e circulam

saberes, úteis para a convivência de seus integrantes e familiares.

Outros exemplos de aprendizagem e convivência com jovens em comunidades

chamadas carentes, ou entre grupos de trabalhadores, e também com jovens de um

programa de amamentação, mostraram que as práticas sociais serviam para uma melhor

interação de seus participantes, bem como a troca de informação originária da

observação dos jovens da mesma comunidade. O trabalho de Giusti concluiu que a

participação das pessoas em conselhos locais pôde dar novas percepções às pessoas;

tiveram uma nova leitura de sua realidade, acesso à informação, desenvolveram

percepções e habilidades. Tais transformações revelaram as possibilidades de aprender,

participar, interagir e pôr em prática tais saberes.

A partir do exposto, a pergunta que surge por se observar que nas práticas sociais

ocorrem processos de aprendizagem é: Para quê e por quê pesquisar processos

educativas em práticas sociais?

É preciso olhar para entender ao invés entender para olhar. As dimensões da

pesquisa requer o respeito pelo eu-no-outro e a construção que ocorre nestas práticas.

Para entrar em um grupo, há o tempo da aceitação de seus membros e o nosso exercício

de (re)conhecer o que é desenvolvido entre os mesmos.

O ambiente escolhido para a inserção utiliza-se de processos educativos com e

sem o uso de tecnologias. Com tecnologias, há o uso de vídeos, sites, áudios e arquivos

eletrônicos. Todo este material é encontrado no site oficial do grupo (www.jw.org/pt).

Os processos educativos sem tecnologia ocorrem através de leituras de livros, revistas e

a Bíblia Sagrada.

Cabe lembrar que a primeira inserção permitiu a compreensão destes processos

formais. Não ocorreram às perguntas sobre a interação dos participantes idosos quanto

ao uso dos recursos tecnológicos na primeira inserção. A seguir, descreveremos o

espaço físico.

Figura 1. Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. O espaço não possui imagens sacras pois o gruponão faz uso religioso das mesmas.

Figura 2. Jovens e idosos convivem de forma amigável no mesmo espaço.

2 Objetivos, Apresentação, Justificativa e Pergunta.

O objetivo da pesquisa foi observar a integração de novas tecnologias nos

processos educativos das Testemunhas de Jeová, principalmente entre participantes

idosos do grupo localizado em uma congregação da cidade de São Carlos, São Paulo.

Ao longo das inserções, percebemos que o grupo utiliza de processos formais para o

ensino de conceitos bíblicos através de revistas, livros e da Bíblia Sagrada.

O espaço lembra um auditório com púlpito, telão, um quadro com um texto

bíblico dizendo “Venha o Teu Reino”, baseado no texto de Mateus Cap. 6, versículo 10.

Cerca de 100 cadeiras distribuídas dentro do salão ficam de frente para a tribuna. Na

tribuna, encontram-se mesas com micronofones, pedestal com microfone para leitura

pública e vasos de flores. No fundo do salão, há mais uma sala para estudos, escritório e

um balcão onde publicações gratuitas são expostas para os visitantes e publicadores

locais.

O tema deste trabalho – Quando o que quero não é a vontade do grupo – foi

escolhido pois a intenção inicial do trabalho foi observar o uso de tecnologia pelo grupo

de participantes idosos. No entanto, conforme as inserções foram acontecendo, a ordem

do grupo e os processos rotineiros de evangelização foram mais presentes do que a

pretensa dificuldade que pudesse ser encontrada no uso destes recursos modernos. A

prática formal de ensino da Bíblia nos Salões do Reino também incluem sessões de

explicação do uso dos recursos eletrônicos, independente da idade e conhecimentos

anteriores.

Figura 3. O uso de Tablets é presente nas mãos de jovens e idosos no grupo de Testemunhas de Jeovádurante as Reuniões.

3 Metodologia

De acordo com Falkembach (1987) O Diário de campo (DdC) é um instrumento

para anotações, comentários e reflexão, para uso individual do investigador durante

sua pesquisa. Todas as observações de fatos concretos, fenômenos sociais,

acontecimentos, relações verificadas, experiências pessoais do investigador, suas

reflexões e comentários devem ser anotadas. O diário de campo descritivo procura

captar uma imagem real da pesquisa, o que inclui:

a)aspectos do local, b) pessoas, c) ações e conversas observadas. Os registros são

descritos em ordem cronológica durante ou logo após o encontro.

Já o diário de campo reflexivo capta o ponto de vista do observador, suas ideias,

preocupações e percepções. Anotações analíticas referem-se às reflexões pessoais. Estas

incluem idéias, percepções e sentimentos surgidos durante a ação, nos contatos formais

e informais, registrados. De qualquer forma, o DdC facilita criar o hábito de observar

com atenção, descrever com precisão e refletir sobre os acontecimentos de um dia de

trabalho, como observar gestos, registrar com fotos, ter uma participação e não apenas

estar presente no local.

O Diário de Campo é um recurso muito utilizado pela etnografia como forma

ideal para registrar o cotidiano da pesquisa (LOPES, 2002). O uso de Diário de Campo

define o esforço intelectual do pesquisador que objetiva uma descrição densa. Aí se

tenta 'a construção das construções de outras pessoas.'

O texto de Costa (2002) permite-nos entender que o diário de campo não é apenas um

registro dos fatos ocorridos. Este instrumento vai além disso e como se dará seu

aproveitamento metodológico vai depender do olhar atendo do pesquisador para captar

detalhes do trabalho de campo.

A prática sistemática do diário de campo deve ser realizada para que se tenha um

aproveitamento satisfatório quando se faz a discussão teórica do que se foi pesquisado.

O trabalho deve ser refletido em grupo, o que se dá o nome de dialética intersubjetiva:

dialética pois permite pontos de vistas diferentes e intersubjetiva quanto à interação com

os demais pesquisadores e os diferentes nichos abordados como objeto da pesquisa.

BOGDAN (1994) faz o percurso sobre a importância de notas de campo bem

detalhadas que serão utilizadas para a análise qualitativa. As gravações de áudio,

embora mais detalhadas, não permitem captar aromas, texturas, observar o espaço

(visão) e os comentários extras. Tais gravações são importante mas não substituem a

presença do pesquisador.

Para a observação no Salão do Reino das Testemunhas de Jeová, uma

congregação localizada em São Carlos, optou-se por participar das atividades do grupo

em inserções, conversas informais e anotações. Gravações de áudio não foram

realizadas. Fotos foram feitas com o consentimento dos participantes embora as mesmas

tenham sido borradas para fins de relatório.

O espaço de observação é de entrada pública, visto que a legislação da cidade

exige que seja assim. Qualquer pessoa pode entrar durante os dias de reuniões públicas

e participar nas sessões de perguntas e respostas. O local é bem arejado, um auditório

equipado com microfones, tribuna, cadeiras e mesas no palco. A assistência possui

cadeiras distribuídas para o público em geral. As pessoas se vestem formais; mulheres

de saia ou vestido. Os homens se vestem de terno ou calça social e camisa e gravata. As

crianças seguem o mesmo padrão dos adultos. Não há separação de assentos (feminino

ou masculino). Famílias e amigos sentam-se juntos para participação em comum da

atividade religiosa. O grupo tem reuniões de 2 (duas) horas apenas 2 (duas) vezes por

semana. Nestes encontros, todos participam de leituras bíblicas e cãnticos. De forma

geral, o grupo concentra-se mais nas explicações e passagens bíblicas. Não há gritarias

ou manifestações calorosas ou tumulto. Tudo ocorre por ordem e as pessoas falam

conforme o microfone volante é levado até elas. Todos agiam de forma gentil e

receptivos para conversar após a reunião principal.

As primeiras inserções foram saídas de campo, com o objetivo de evangelizar de

casa em casa. O grupo foi formado por mais mulheres do que homens. A maioria era

mulher. Uma leitura de um texto bíblico era considerado e, após designar pares para a

saída de casa em casa, o grupo se dirigia para as casas no bairro onde a congregação

está localizada.

Percebemos que, entre uma casa e outra, os pares conversavam de assuntos

diversos do dia a dia, família, estudos, amigos. Em geral, o processo de estar com as

pessoas deste grupo de Testemunhas de Jeová mostrava que a integração entre eles se dá

por afinidade e o desejo de ensinar algo biblico aos moradores.

4 Resultados Esperados

Conforme dito anteriormente, a expectativa de observar e analisar o uso de

tecnologia entre idosos foi rápida, já que o grupo recebe ajuda formal para o uso de tais

recursos, portanto, os membros, sejam idosos ou jovens, estão familiarizados com

tablets, smartphones e outros recursos portáteis.

Por outro lado, as entrevistas mostraram o desejo dos idosos em interagir mais

com os jovens com relação ao tempo de conversa, demonstração de afeto, mostrar que

se importam. As vozes sempre demonstravam o desejo de expandir com os membros

mais novos, para que eles vissem os idosos com outro olhar, como amigos presentes. Se

a tecnologia podia ser útil, o valor dado pelos idosos estava mais na companhia física do

momento das reuniões: um apertar de mãos, um beijo no rosto e conversas informais.

Figura 4. O companheirismo entre jovens e mais velhos foi citado como algo de grande importância. Atecnologia poderia ser um separador entre jovens e adultos no Salão do Reino.

Oliveira et al (2014. p. 131) diz que apenas na convivência é que se pode

detectar as conversas, depoimentos e informações sobre dada realidade. A percepção do

que cotidianamente aflige os mais idosos está presente nas interações entre jovens,

adultos e idosos e a coexistência de tecnologias.

5 Forma de Análise dos Resultados

Se é o pesquisador que tem as ferramentas, nestas inserções o aprendizado foi no

caminho oposto. Oliveira et al (2014, p. 52) mostra que o sulear é possível se tomarmos

o ponto de vista do outro. O grupo de Testemunhas de Jeová que foi visitado nesta

pesquisa usa processos de ensino formais para os conteúdos religiosos. As práticas

voltadas para a divulgação da mensagem do grupo incluem a oratória, uso de materiais

impressos, livros, a própria Bíblia Sagrada e também recursos de vídeo e áudio em

tablets e celulares.

O grupo sempre sai em pares para o trabalho de casa em casa e aproveitam esta

oportunidade para conversarem entre si fatos do dia a dia, fazendo com que pesquisador

e participantes da pesquisa não exerçam neutralidade. O grupo tem este objetivo: fazer

as pessoas interagirem, sejam estes membros do grupo ou moradores em suas casas.

Este ato de levar conhecimento bíblico de casa em casa tem seus ares políticos ao

levantarmos questionamentos como que valores são compartilhados, para que, contra

que, a favor de que, de quem se engajam... (Oliveira et al, 2014, p. 59).

Figura 5. Consideração para Saída de casa em casa. Os pares dividos recebem uma designação deterritório e levam suas bíblias para consideram com os moradores que desejam ouvir sua mensagem.

6 Cronograma de Trabalho e Considerações finais

As atividades ocorreram conforme o cronograma abaixo:

2015 Março Abril Maio Junho Julho

Aulas Teóricas X X

Atividade de Campo X X

Apresentação em Grupo sobre as atividades deCampo

X

Elaboração do Relatório final X

Entrega do Relatório X

As aulas teóricas, leitura de textos, pesquisa bibliográfica aconteceram na Universidade

Federal de São Carlos, em AT-8, área Sul, nos dias 5/3, 12/3, 19/3, 26/3, 2/4, 9/4, 23/4.

As inserções ocorreram nas datas 16/4, 19/4, 30/4, 17/5. A apresentação do dia 18/6

agrupou outros pesquisadores de espaços religiosos distintos: Grupo de Jovens

Católicos, Grupo de Terço Católico, Inserção em Umbanda, e Trabalho voluntário na

Igreja Batista. Todos aconteceram na cidade de São Carlos.

Este trabalho permitiu aguçar o olhar como educador em face de uma atividade

religiosa, porém, com características próprias para ensino formal da bíblia, da

participação e integração de jovens e idosos no mesmo grupo, de observar o papel da

mulher como número maior na tarefa de ensinar de casa em casa e como o uso de novas

tecnologias não intimidam estes participantes idosos em seu trabalho voluntário de

evangelizadores.

A contribuição desta abordagem permite o desenvolvimento de uma consciência

ética (Oliveira, 2014. p. 60) nas relações sociais e a percepção das práticas educativas

que acontecem nos grupos religiosos. Além disso, a convivência é um ato de partilha: o

participante da pesquisa também envolve o pesquisador em suas atividades e anseios, e

também se dispõem a investigar sua realidade, indo além dos nossos próprios interesses,

conforme dito no título “quando a minha vontade não é a vontade do grupo”, assumindo

assim, uma dimensão mais compartilhada do que apenas os aspectos iniciais

preconcebidos do próprio pesquisador (Oliveira, 2014. p. 61).

O encontro face a face com os idosos da congregação pesquisada mostrou uma

disposição de acolhimento mútuo dos participantes e sua disponiblidade para o diálogo

também (Oliveira, 2014. p. 65).

Por último, mas não menos importante, a pesquisa de campo nos traz a

possibilidade de posicionarmos a favor ou contra alguém. A ciẽncia fala de algum lugar

social. Quem é a pessoa que faz a pesquisa – o eu pesquisador – frente ao grupo

pesquisado em seu local e suas intenções que embora parecesse ocultas, sempre

estiveram lá, apenas aguardando a nossa chegada para se revelar em uma atividade

anacrônica e conjugada com os anseios do próprio grupo.

7 Referências Bibliográficas

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Notas de Campo. In: ________. Investigação

Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto

Editora, 1994. p. 150-175.

BOSI, Ecléa. Sugestões para um jovem pesquisador. In. ______. O tempo vivo da

memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê, 2003. p. 59-67.

COSTA, Sidiney Alves. Diário de Campo como dialética intersubjetiva. In:

WHITAKER, Dulce C. A. Sociologia Rural: questões metodológicas emergentes.

Presidente Venceslau: Letras à Margem, 2002. p. 151-157.

FALKEMBACH, Elza Maria Fonseca . Diário de campo: um instrumento de

reflexão. Contexto & Educação, Ijuí, v. 2, n.7, p. 19-24, 1987.

FREIRE, Paulo. Considerações em torno do ato de estudar. In: ________.

Educação como prática para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 9-12

FREIRE, Paulo. Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos

fazemos. In: _____. Política e Educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993. p. 79-88.

LOPES, Dulcelaine L. L. et al. O Diário de Campo e a Memória do Pesquisador. In

Whitaker , D, C, A . Sociologia Rural: questões metodológicas emergentes. Presidente

Venceslau, São Paulo: Letras à Margem, 2002. p. 131-134.

OLIVEIRA, Maria Waldenez et al. Processos educativos em práticas sociais:

pesquisas em educação. São Carlos: EdUFSCar, 2014.

__________________. Processos educativos em práticas sociais: reflexões teóricas e

metodológicas sobre pesquisa educacional em espaços sociais. In: OLIVEIRA, Maria

Waldenez; Sousa, Fabiana R. de. Processos educativos em práticas sociais: pesquisas

em educação. São Carlos: EdUFSCar, 2014. p. 29-46

SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Aprender a conduzir a própria vida:

dimensões do educar-se entre afrodescendentes e africanos. In: Barbosa, L. M. de A.;

Silva, P. B. G.; Silvério, V. R. (orgs). De preto a afrodescendente. Trajetos de pesquisa

sobre relações étnico-raciais no Brasil. São Carlos: EdUFSCar, 2010. p. 181- 197.

8 Anexo 1: Diários de Campos

1ª Inserção - DIÁRIO DE CAMPO – Field Notes

DATA – date 16/04/2015 Horário – Time: das - from 8h30 às – to 11h15_

Local – Venue: Salão do Reino das Testemunhas de Jeová – Rua Luis Roher, 1159 e

arredores Aluno(a) Student: Roosevelt Carlos de Oliveira

O que vi (what I observed)

(Anotações do Tipo Descritiva)

(1) Um grupo de 15 pessoas, idades entre 20 a 75 anos, reunido para pregação de casa

em casa.

A entrevistada, Sra. Eunice, 70 anos, estava acompanhada de uma outra mulher,

Giovana B. de cerca de 40 anos de idade. Enquanto estavam reunidas, aguardavam

instruções quanto ao local a ser visitado no mesmo bairro e qual quadra seriam

designadas.

O Salão do Reino: um espaço com capacidade para 200 pessoas sentadas, com um

púlpito sem imagens, apenas flores, cadeiras e uma TV para projeção, na parte anterior

das cadeiras, há um quadro de anúncios e uma antesala de estudos. Também existe um

balcão de publicações onde ficam as revistas e folhetos que são distribuídos de casa em

casa.

(2) Após a consideração para a saída de casa em casa, Eunice e Giovana pegaram

revistas e folhetos para uso no campo. As conversas entre nós falavam sobre o clima que

estava bom embora o sol ainda representasse um motivo para começarmos cedo, já que

o sol do meio dia precisava ser evitado. Tanto Giovana como Eunice pararam em uma

casa onde encontraram uma conhecida e ali ficaram por um longo período.

(3) Neste momento, fiquei em um quarteirão oposto ao delas. Eu estava na companhia

do Sr. Arlindo, 68 anos, e de Antonio Junior, 50 anos. Paramos em uma casa para

conversar com o morador Fernando, 43 anos.

Fernando nos recebeu tranquilamente e, aparecendo mancando, Antonio perguntou o

que havia acontecido. Fernando falou que havia passado por uma cirurgia no joelho e

que ainda estava em repouso antes de voltar ao trabalho.

Fernando ficou conosco por cerca de 40 minutos, e alternava entre falar de sua cirurgia

e de ouvir sobre o que o Sr. Arlindo apresentava como motivo de nossa visita (uma

publicação sobre estudos bíblicos e outra sobre a disciplina das crianças).

(4) Enquanto isso, à distância, Eunice e Giovana continuavam com a outra moradora,

que era amiga da Sra. Eunice.

Fernando recebeu bem as revistas e enfatizou que gostava muito de lê-las. Pediu para

que voltássemos para dar sequência no assunto. Ele também pediu para que cada um de

nós fizéssemos um check-up médico já que todos havíamos passado dos 40 anos e que

cuidar da saúde seria muito importante para cada um de nós. Seguimos para as casas

seguintes e então perdemos de vista a Sra. Eunice e Giovana. As duas foram

encontradas próximo às 11h da manhã.

Quando voltamos a falar com elas, disseram que havia sido proveitoso o encontro com a

Moradora X (nome não anotado). Eunice já a conhecia por serem vizinhas em outra

ocasião. Elas haviam conversado sobre os amigos que haviam falecido e o que

pensavam sobre o futuro delas também. Se despediram prometendo se encontrar

novamente.

(5) O Sr. Arlindo, Antonio Junior e eu encerramos esta primeira manhã às 11h15 e

combinamos de nos encontrar no domingo seguinte, dia 19 de abril, e também nos dias

20 de abril (segunda-feira) e 21 de abril (terça-feira).

O que penso sobre o que vi (My thoughts)

(Anotações do Tipo Reflexiva-Analítca)

(1) A maneira como se reúnem é organizada: possui uma hierarquia androcêntrica, visto

que a liderança feminina só ocorre na ausência de um homem adulto. As atividades

obedecem um conscentimento de grupo: fazem a atividade de maneira não imposta e,

portanto, de caráter voluntário. Não há uma meta senão à de divulgar a mensagem

bíblica aos interessados. O espaço estava limpo, bem conservado, de aparência nova.

(2) existe uma preferência na formação de pares embora há um incentivo, da parte dos

dirigentes de grupo, de que pessoas que nunca trabalharam juntas antes, possam formar

um par novo.

As duas pessoas mencionadas já se conheciam e tinham uma afinidade entre si.

(3) Os dois senhores que acomapanhei pareciam bem seguros do que faziam. A

experiência de tantos anos neste serviço davam para eles este ar de serenidade, sabendo

que o objetivo era contactar apenas aquelas pessoas que desejavam ouvir.

(4) eu não ouvia a conversa delas, apenas o som das vozes. A conversa parecia efusiva,

de pessoas que se conheciam há tempos, fato que confirmei logo após o final de serviço

de campo.

(5) a manhã foi proveitosa, do ponto de vista de que tudo ocorreu com tranquilidade.

Fiquei sabendo que, qualquer pessoa que queira acompanhá-los, mesmo não sendo do

grupo das Testemunhas de Jeová, podem fazê-lo por se dirigir até o grupo e se

apresentar, solicitando acompanhamento nas atividades de casa em casa.

Reflexões Teóricas

(Theoretical Insights)

Algumas nomeclaturas são explicadas aqui para melhor compreensão das anotações:

Anciãos = responsáveis pela condução do grupo durante às saídas de campo. Não

possuem status de pastor.

Servos ministeriais = assistentes do grupo / congregação.

Pioneiros = membros do grupo que dedicam mais de 30 horas mensais nas atividades

da congregação.

Congregação = o grupo de pessoas (igreja) que se reunem 2x por semana nos Salões do

Reino espalhados ao redor do planeta.

Salão do Reino = o local onde as testemunhas de Jeová se reúnem. Estes locais não são

chamados de igreja por questões etimológicas. (veja o vídeo:

http://download.jw.org/files/content_assets/bf/502014315_T_cnt_1_r360P.mp4 )

Publicador = qualquer testemunha de Jeová que apóia a obra de pregação e está

habilitada a conduzir estudos bíblicos com material de apoio. Todos os anciãos, servos

ministeriais pioneiros e qualquer pessoa que vá de casa em casa regularmente, são

considerados publicadores. (veja o vídeo:

http://download.jw.org/files/content_assets/dc/502013390_T_cnt_1_r360P.mp4)

Estudo bíblico = acompanhamento de um publicaor batizado aos interessados em

conhecer a Bíblia. Cada publicador é incentivado à não forçar a pessoa interessada a ser

tornar uma testemunha de Jeová, visto que esta é uma decisão pessoal e não ocorre por

coação. Vídeo sobre estudos biblicos:

http://download.jw.org/files/content_assets/3b/502014311_T_cnt_1_r360P.mp4 )

Serviço de campo ou Pregação= é a atividade principal das testemunhas de Jeová

como grupo religioso. Consiste em visitar residências e estabelecimentos comerciais,

locais de aglomeração de pessoas, asilos, prisões, orfanatos, com o objetivo de

esclarecer ensinamentos bíblicos e conduzir estudos sistematizados com a Bíblia de

cada pessoa.

Referências de Mídia:

video 1:

http://download.jw.org/files/content_assets/7f/502013341_T_cnt_1_r360P.mp4

Video 2:

http://download.jw.org/files/content_assets/ee/502014235_T_cnt_1_r360P.mp4

Video 3:

http://download.jw.org/files/content_assets/5c/702012013_T_cnt_1_r360P.mp4

Video 4:

http://download.jw.org/files/content_assets/c3/502012372_T_cnt_1_r360P.mp4)

Tradução do Novo Mundo = a mais nova versão da Biblia Sagrada utilizada pelas

testemunhas de Jeová. De fácil leitura, ela possui referências cruzadas e extenso

material de orientação para que cada pessoa possa lê-la sem dificuldades.

Referências de Mídia

video 1:

http://download.jw.org/files/content_assets/79/502015161_T_cnt_1_r360P.mp4

Video 2:

http://download.jw.org/files/content_assets/33/502015505_T_cnt_1_r360P.mp4)

Video 3:

http://download.jw.org/files/content_assets/4f/702012009_T_cnt_1_r360P.mp4

Observações: Notas, Detalhes, fotos, registros. Gestos, contextos, participação,

Contagem de participantes. Evitar juízo de valores

2ª Inserção - DIÁRIO DE CAMPO – Field Notes

DATAS – dates 19 , das - from 6h00 às – to 18h30 e 30/04/2015 Horário – Time: das

- from 8h30 às – to 11h00

Local – Venue: Salão do Reino das Testemunhas de Jeová – Rua Luis Roher, 1159 e

arredores Aluno(a) Student: Roosevelt Carlos de Oliveira

O que vi (what I observed)

(Anotações do Tipo Descritiva)

(6) No dia 19 de Abril foi possível estar com o Grupo a partir das 6 a.m. pois viajariam

para a cidade de Sertãozinho. Neste dia, cerca de 25 pessoas, (10 idosos, entre os casais

e crianças que aguardavam a chegada do ônibus). Enquanto aguardávamos, conversei

um pouco com a Sra. Cida, que havia me contado como foi que ela havia deixado uma

outra igreja e passou a frequentar o Salão do Reino: “-Cresci com este outro grupo e

casei-me com um homem muito ruim. É... a vida não foi fácil com ele. Depois que ele

morreu, fizeram de tudo para eu casar novamente mas eu não quis. Já tinha meus filhos,

e estavam criados. Daí, tinha essa moça, uma Testemunha... ela ia em casa e me dava os

estudos na Biblia. Eu devo tudo para ela do que aprendi a ler e escrever. Antes eu não

sabia nadinha... eu abria a biblia mas não entendia era nada... Agora eu leio e, depois

que entendi o que estava lendo, parei de ir na outra igreja. Agora ninguém de lá fala

mais comigo. Fiquei sozinha... os parentes que eram de lá não falam mais comigo. Tive

de mudar de vizinhança. Só minhas filhas que hoje frequentam o salão do reino é que

estão comigo. O outro povo foi-se embora.”. Assim que nossa conversa foi continuando,

o dia foi clareando e embarcamos no ônibus. Cada pessoa levava uma bolsa com

comida e bebida para o dia, mais seus livros e bíblias para acompanharem o conteúdo

que iriam aprender durante aquele dia. Uma vez no ônibus, algumas pessoas

conversavam sobre o dia-a-dia. Ouvi uma senhora (não perguntei o nome) de uns 70

anos, falando sobre a mudança de casa que ela estava fazendo “-Agora tá tudo

empacotado. Ainda preciso organizar tudo. Que loucura. Mudança não é fácil. Na outra

semana meu filho passa de lá para instalar o chuveiro. Tem de colocar lampada também.

Mas a casa é boa...”. Depois de 1h50 de viagem, chegamos à Sertãozinho e todos nós

descemos em um estacionamento. O dia estava quente e já havia muitas pessoas neste

salão de Assembléias. As pessoas iam para o salão para guardarem as cadeiras próximo

ao palco. Logo na entrada, havia uma pessoa entregando o programa do dia (em anexo).

O Tema era “Busque a paz e empenhe-se por ela”. Perguntei para um senhor o quanto

tinham de pagar pelos folhetos e materiais distribuídos no local. Ele respondeu “- nada.

Tudo é de graça. As pessoas que querem contribuir algo colocam donativos voluntários

nas caixas que estão nos cantos do outro lá (e apontou o local), mas aqui o conteúdo é

de graça.

Agradeci e fui procurar um local para me sentar. Enquanto observava as pessoas, vi

grupos de pessoas conversando à distância e estavam animados, falavam alto como que

não se viam há muito tempo. Perguntei para um jovem de uns 20 anos se todos eram da

mesma cidade e ele respondeu que não. Havia um circuito de vários lugares ali e viam

desde São Carlos, Sertãozinho, Jaú e até mesmo Marília. Era uma Assembléia regional.

Aquelas pessoas pareciam não estarem preocupadas com pertences largados no lugar.

No total, estavam presentes cerca de 2.000 (duas mil) pessoas. O dia passou rápido até

às 15h50 quando encerraram o evento. Durante o dia, todos ficaram sentados e ouviam

em silêncio o que era passado do palco principal e transmitido em 1 telão. Não havia

tumulto e o local estava limpo. As pessoas estavam aparentemente vestidas

formalmente. Não como uniformes mas como que estivessem com as melhores roupas

que a condição deles permitia vestir. Ao final, houve um chamado para que voluntários

pudessem recolher algo que estivesse no chão e que varressem e colocassem em sacos

plásticos a sugeira. Em menos de 20 minutos o local estava repleto de voluntários e de

pessoas limpando o local. Voltei para o ônibus e retornamos para casa. A mesma

senhora, dona Cida, disse que estava feliz com o conteúdo: “-você viu só? A gente fica

satisfeita de ouvir o que Deus ensina prá gente. Óia, aquela experiência do homem que

assustava a mulher só porque ela lia a biblía foi muito bonita, né? Depois ele passou a

acreditar porque a mulher dele não dava motivos para ele falar mal dela, não é? Que

bom, né? Graças a Deus...

(7) Chegamos em São Carlos às 18h20 e voltei para minha casa assim que dei carona

para 2 senhoras (Lurdinha e Maria). As duas disseram que estavam cansadas mas que

tinha valido a pena passar o dia com os “irmãos”.

****

(8) No dia 30, quinta-feira, encontrei o grupo novamente o grupo no Salão do reino e

estavam os Srs. Arlindo, José Fernando, alguns jovens e quatro senhoras. O dia estava

claro e parecia que faria calor. Fomos designados para um território próximo à rua

Raimundo Correia. O Sr. José Fernando foi quem eu acompanhei neste dia. Ele parecia

já conhecer a vizinhança. De fala tranquila, ele ia de casa em casa com folhetos na mão

para entregar à quem saísse para atender. Na primeira oportunidade, encontramos uma

Senhora chamada Sueli. Ela dizia ser avó de um garoto que já estudava a Bíblia

conosco. Puxando uma perna, ela veio até o portão para atender-nos e falar do neto. “ah,

é muito bom estudar a bíblia né? - dizia ela - “quando os moços vêm dar o estudo para o

menino, eu fico ouvindo na cozinha”. O Sr. José Fernando sugeriu que outra pessoa,

uma mulher, viesse na casa dela para fazer o mesmo estudo. Gentilmente, ela disse que

gostava de ouvir o que o menina aprendia mas ela não tinha tempo pois precisava cuidar

da casa: “dona de casa cê já viu. Precisa limpar, cozinhar, cuidar das roupas... a gente

não pára. Mas um dia dá certo a gente vai visitar vocês.” O Sr. José Fernando deixou

uma revista com ela e agradeceu a hospitalidade. Ficamos uns 10 minutos falando com

Dona Sueli. Assim que fomos para outra casa, um senhor de uns 70 anos nos recebeu e

conversou conosco por uns 10 minutos também. O Sr. José Fernando perguntava para

ele o que esperava do futuro e ofereceu um folheto. O homem respondeu algo

ininteligivel e sorria. Embora não falasse coisas com sentido, ele sorria e queria que

ficássemos. Notei que o Sr. José Fernando ficou um pouco impaciente e sua linguagem

de corpo mostrava que queria sair logo dali, pois parecia que o homem não entendia

muito bem o que falávamos. Assim que nos despedimos do morador, ao afastarmos

daquela casa, o Sr. José Fernando comentou: você viu? Ele não sabe nada. A gente fala e

fala mas ele não entendia. Eu não sabia era nada do que eu falava. Vamos seguir.

Continuamos circulando o quarteirão à procura de pessoas interessadas. Falamos

brevemente com uma dona de casa que estava ocupada e com pressa. Ela ficou com um

par de revistas e falou que já participava da catequese. Ela estava um pouco triste pois o

filho mais velho dela não ia mais à missa. Ele casou-se e então não acompanhava mais a

mãe. Pediu licensa pois precisava terminar almoço e então fomos para outra casa. A

senhora que nos atendeu chamava-se Alice, uns 68 anos, problema de vista e estava

cheirando água sanitária. Ela disse “- ah. Para a palavra de Deus eu páro meu serviço.

Eu estava lavando o banheiro mas depois eu continuo. O Sr. José Fernando também

deixou duas revistas que falavam de estudo bíblico e da disciplina dos filhos. Ela

recebeu as revistas e agradeceu muito. Disse que os filhos já estavam grandes mas que

sempre a visitavam. Ela disse também que conhecia uma senhora que frequenta o Salão

do Reino: “ah, ela era minha inquilina. Muito boa pessoa. Diz para ela que vocês

passaram aqui em casa. Ela sempre vem me visitar. Como é seu nome mesmo? Vou falar

para ela assim que ela voltar aqui.” Nos despedimos dela. Uma senhora muito

simpática. Assim finalizamos a visita da manhã. Levei o Sr. José Fernando e o Sr.

Arlindo para suas casas. Descobri que o Sr. José Fernando estava vendendo a casa dele.

Perguntei quanto queria e ele disse R$ 300.000,00 na mão. Era o preço de mercado.

Agradeci a informação. Eram 11h00 quando o deixei na Rua Luiz Roher e voltei para

casa.

O que penso sobre o que vi (My thoughts)

(Anotações do Tipo Reflexiva-Analítca)

(6) não foi a primeira vez que participei desta atividade: a impressão que tenho, quando

chego neste local, é que há sempre uma aura de tranquilidade, já que todos participam

com o objetivo de aprender algo relacionado à Biblia. Todos chegam organizados, bem

vestidos, pois é solicitado que venham assim. Um ou outro participante aparece de

jeans ou mais informal por não conhecer as normas do grupo. Vejo que, pelo fato de os

membros do grupo receberem instruções antes da ida para o local de Assembleias, eles

já vão preparados, o que transmite esse ar de tranquilidade.

(7) o dia foi bastante exaustivo. Os participantes parecem não se importar tanto mas era

visível o cansaço estampado nas faces dos mais velhos, seguido de um sorriso que

parecia expressar um dever cumprido. Não houve milagres, nem manifestações mais

calorosas tanto por parte daqueles que estavam responsáveis pelo evento quanto pelos

participantes. O objetivo era um dia de aprendizado e foi o que pareceu: palestras com o

tema proposto e as pessoas anotando o que ouviam ou conferindo os textos citados em

suas traduções bíblicas.

(8) o bairro e as pessoas já estavam familiarizados com a nossa presença. As pessoas se

mostraram amigáveis, já que aqueles que nos atendiam também tinham uma reverência

pela Bíblia. O que achei interessante é que o trabalho não requer a coleta de dinheiro ou

donativos. As pessoas são incentivadas a lerem partes da bíblia com o intuito de

receberem esclarecimento sobre temas centrais do cristianismo. Até mesmo as revistas

são entregues sem custo, embora as mesmas sejam produzidas com donativos

volunários que são entregues no Salão do Reino, como é chamado o local de reunião das

Testemunhas de Jeová.

Reflexões Teóricas

(Theoretical Insights)

(Referência Bibliográfica: OLIVEIRA, M. W. de. et. al. (Org). Processos Educativos em

Práticas Sociais – Pesquisas em Educação. Edufscar, São Carlos. 2014.)

Os aspectos educativos que ocorrem entre este grupo são de origem bíblica

(hebraica-aramaica, grega-cristã) e organizadas, em sua expressão moderna, pela sede

dos Estados Unidos. As influências que ocorrem da organização de grupo são mais de

caráter específico, no que diz respeito aos costumes locais, hábitos do grupo e posição

sócio-econômica, enquanto o caráter mais genérico é expresso através das crenças

globais que formam o manifesto das Testemunhas de Jeová. Despir-se das formações

que embasaram minha formação antes de fazer parte do grupo remete-me ao exercício

de exterioridade: ter o ponto de vista do outro como critério de avaliação (Oliveira et. al.

Edufscar. São Carlos. 2014, p.47). A passo que há uma influência direta de uma cultura

norte-americana que direciona o trabalho das Testemunhas de Jeová nos dias de hoje,

procuramos “sulear” (p.48) este trabalho por ser cândido nas anotações de campo no

que concerne às atividades do grupo em seus aspectos intra-religiosos – quanto às

atividades relacionadas ao estudo da Bíblia – e extra-religiosos – o dia-a-dia expresso

em conversas informais, a interação com outras pessoas que não pertencem ao grupo e

suas atividades fora da esfera do Salão do Reino. Tendo em vista de que há um número

grande de idosos que pertence ao grupo e também um número crescente de jovens e

suas novas tecnologias têm penetrado o espaço de convívio coletivo das Testemunhas de

Jeová. Procuramos levar em consideração o caráter local da pesquisa, limitando apenas

ao grupo da Congregação Leste, observando as atividades internas durante reuniões e

encontros, bem como as atividades de pregação de de casa em casa. Por fazer parte do

grupo, como pesquisador procuro me colocar no lugar dos participantes, embora não

haja uma completa neutralidade já que compartilho das mesmas idéias do grupo, no que

tange os aspectos genéricos mais globais. (p.55). A minha responsabilidae está em

analisar os dados abordados para melhor entender a realidade vivida por estes idosos e

jovens, em um momento de readaptações sociais, econômicas e tecnológicas.

3ª Inserção - DIÁRIO DE CAMPO – Field Notes

DATA – date 07/05/2015 Horário – Time: das - from 9h00 às – to 11h30

Local – Venue: Salão do Reino das Testemunhas de Jeová – Rua Luis Roher, 1159 e

arredores Aluno(a) Student: Roosevelt Carlos de Oliveira

O que vi (what I observed)

(Anotações do Tipo Descritiva)

Por ter participado no evento do dia 19 de abril, não fiz a inserção do dia 7 em virtude

do tempo dedicado naquele dia.

O que penso sobre o que vi (My thoughts)

(Anotações do Tipo Reflexiva-Analítca)

Reflexões Teóricas

(Theoretical Insights)

Video 30.0 minutos: http://download.jw.org/files/media_video/b6/ivjwo_T_r360P.mp4

Vídeo 0:25 min

http://download.jw.org/files/content_assets/bf/502012373_T_cnt_1_r360P.mp4

4ª Inserção - DIÁRIO DE CAMPO – Field Notes

DATA – date 17/05/2015 Horário – Time: das - from 19h00 às – to 21h00

Local – Venue: Salão do Reino das Testemunhas de Jeová – Rua Luis Roher, 1159 e

arredores Aluno(a) Student: Roosevelt Carlos de Oliveira

O que vi (what I observed)

(Anotações do Tipo Descritiva)

Entrei em contato com 12 pessoas acima de 50 anos para marcar um dia e conversarmos

sobre o envelhecimento deles na organização, integração com novas tecnologias e como

tem sido o apoio de familiares e as maiores dificuldades relacionadas com o

envelhecimento.

O que penso sobre o que vi (My thoughts)

(Anotações do Tipo Reflexiva-Analítca)

Entrando em contato com algumas das pessoas, todas foram bastante solicitas e

concordaram em participar da pesquisa. Exceto duas pessoas ficaram de responder a

posteriori se participariam ou não.

Reflexões Teóricas

(Theoretical Insights)

Obs: Um material de leitura online das Testemunhas de Jeová, de Segunda-feira, 18 de

maio, começou com o seguinte conselho:

[Virão] os dias calamitosos [e chegarão] os anos em que dirás: “Não tenho agrado

neles.” — Eclesiastes. 12:1.

Chega uma hora em que o idoso talvez não consiga mais cuidar de si mesmo como

antes; ele precisa de ajuda. (Ecl. 12:2-7) Ele e seus filhos devem determinar qual o

melhor tipo de assistência e encontrar soluções acessíveis. Em geral, é bom fazer uma

reunião de família para considerar como cada um pode ajudar, quais são as necessidades

e que estratégias usar para suprir essas necessidades. Todos os envolvidos, em especial

os pais, devem se expressar abertamente e tratar dos fatos de modo realístico. Eles

talvez considerem se, com ajuda, os pais podem continuar em sua própria casa. Eles

também podem considerar como cada parente ajudará nos cuidados do dia a dia ou

prover ajuda em sentido material. (Pro. 24:6) Todos devem estar cientes de que cada um

tem seu papel e que esse papel pode mudar à medida que o tempo passa, tornando

necessário um revezamento nas tarefas. w14 15/3 4:3

Disponível em: http://wol.jw.org/en/wol/dt/r5/lp-t/2015/5/18

5ª Inserção - DIÁRIO DE CAMPO – Field Notes

A inserção aconteceu mas não houve a elaboração do diário de campo.