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ANA SLVIA MOO APARICIO
A PRODUO DA INOVAO EM AULAS DE GRAMTICA DO ENSINO
FUNDAMENTAL II DA ESCOLA PBLICA ESTADUAL PAULISTA
Tese apresentada ao Departamento deLingstica Aplicada, no Instituto de Estudos da
Linguagem, na Universidade Estadual deCampinas, como requisito parcial para aobteno do ttulo de Doutor em LingsticaAplicada, na rea de Ensino/Aprendizagem deLngua Materna.
Orientadora: Profa. Dra. Ins Signorini
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM
Julho/2006
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Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp
Ap12pAparcio, Ana Slvia Moo.
A produo da inovao em aulas de gramtica do ensinofundamental II da escola pblica estadual paulista / Ana Slvia MooAparcio. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.
Orientador : Ins Signorini.
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Institutode Estudos da Linguagem.
1. Lngua portuguesa - Gramtica - Estudo e ensino. 2. Professoresde ensino fundamental. I. Signorini, Ins. II. Universidade Estadual deCampinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Ttulo.
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BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Profa. Dra. ngela Del Carmen Bustos Romero de Kleiman UNICAMP/IEL/DLA
___________________________________________________________________
Prof. Dr. merson de Pietri USP
____________________________________________________________________Profa. Dra. Ins Signorini UNICAMP/IEL/DLA (orientadora)
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Rodolfo Ilari UNICAMP/IEL/DL
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Sylvia Bueno Terzi UNICAMP/IEL/DLA
Suplentes
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Edwiges Maria Morato UNICAMP/IEL/DL
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Augusta Gonalves de Macedo Reinaldo UFCG/PB
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Terezinha de Jesus Machado Maher UNICAMP/IEL/DLA
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Ao Calman, companheiro em todos os momentos, pelo apoio incondicional.
Aos meus pais, irmos, irm e sobrinho, pelo conforto familiar.
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AGRADECIMENTOS
Ins Signorini, minha orientadora de mestrado e doutorado, pela confiana e apoio
constantes e pelas orientaes, que sempre suscitaram a reflexo, o que muito contribuiu
para o meu crescimento pessoal, acadmico e profissional.
Aos colegas e amigos da ps-graduao: Clara Dornelles, Clecio Bunzen, Cloris Torquato,
Cosme Batista, Janana Behling, Joo Gatinho, Luiz Miguel, Milene Bazarim, Robson de
Carvalho e Wagner Silva, pelas discusses acadmicas e pelos momentos que tivemosjuntos; em especial Marilia Marinho, amiga leal e mais presente em todo o meu percurso
do doutorado, pelo carinho, confiana e incentivo nos momentos bons e ruins.
Aos professores da UFCG: Edmilson Rafael, Maria Auxiliadora Bezerra e Maria Augusta
Reinaldo, pelas discusses e observaes sobre meu trabalho de tese, em Congressos que
participamos juntos e nas reunies do Projeto Prticas de Escrita e de Reflexo sobre a
Escrita em Contextos de Ensino.
professora Ingedore Koch e ao professor Guilherme do Val Toledo Prado, pela leitura
atenta e pelas observaes que me ajudaram na realizao dos trabalhos de qualificao de
rea.
s professoras ngela Kleiman, Anna Bentes e Sylvia Terzi, pelas sugestes importantes
feitas nos exames de qualificao de projeto de tese e de tese.
Aos professores da Universit Stendhal Grenoble 3 na Frana: Francis Grosmann e
Franoise Boch, pela ateno dispensada e pelas orientaes durante o estgio que realizei
no Laboratoire de Linguistique et Didactique des Langues trangres et Maternelle.
Aos Diretores de Ensino da DE de Birigui: Joo Segura e Anna Maria Romera, pelo apoio
na realizao dos encontros com os professores participantes da pesquisa.
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Aos professores participantes desta pesquisa, pela dedicao e pela confiana em mim e em
meu trabalho.
Ao pessoal da secretaria da ps-graduao, em especial ao Cludio, por seu
profissionalismo e ateno dedicada a ns alunos.
CAPES pela concesso da bolsa de doutorado e do estgio na Frana.
Ana Maria de Brito Aires, minha amiga sempre, que mesmo distncia continua sendo o
meu referencial de amizade; sem o seu incentivo eu no teria vindo Campinas fazer omestrado.
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CONVENES PARA A TRANSCRIO1
((...)): comentrios do analista;
...: pausa nos fluxos de fala;
/ : truncamento da fala;
/.../: passagem da transcrio omitida;
::: : prolongamento de vogal ou consoante;
(xxx): fala incompreensvelhfen entre slabas: fala pausada, silabao;
letras maisculas: entonao enftica;
P: para nos referirmos fala do professor;
As: para nos referirmos s mesmas falas, ao mesmo tempo, de vrios alunos;
A1, A2, A3,...: para nos referirmos fala dos diferentes alunos que participam da interao.
Utilizamos tambm, na transcrio, o ponto de interrogao (?).
1Tomamos como base as normas de transcrio do trabalho do NURC/SP.
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SUMRIO
INTRODUO...................................................................................................................14
CAPTULO 1
CONSTRUINDO O OBJETO DE INVESTIGAO.....................................................20
1.1- Construo dos pressupostos tericos da investigao.......................................20
1.2- Caracterizao do tipo de pesquisa.....................................................................28
1.3- Metodologia de gerao e anlise dos dados......................................................31
CAPTULO 2
CARACTERIZAO DOS DADOS DA PESQUISA....................................................36
2.1- Dados gerados pelo questionrio informativo.........................................................36
2.1.1- Dados gerais....................................................................................................36
2.1.2- Dados especficos............................................................................................40
2.1.2.1- Cursos realizados..............................................................................40
2.1.2.2- Leituras realizadas............................................................................43
2.1.2.3- Materiais didticos utilizados...........................................................47
2.2- Dados gerados na interveno.................................................................................52
2.3- Dados gerados na sala de aula.................................................................................70
CAPTULO 3
O TRABALHO PRESCRITO: AS PROPOSTAS DE INOVAO DO ENSINODE GRAMTICA EM TEXTOS OFICIAIS E MANUAIS DIDTICOS..................73
3.1- A introduo do conceito de prtica de anlise lingstica no
contexto escolar...............................................................................................................75
3.2- A prtica de anlise lingstica em documentos oficiais......................................77
3.2.1- Na Proposta Curricular para o Ensino de Lngua Portuguesa no
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1o. Grau do Estado de So Paulo (PCLP)................................................................77
3.2.2- Nos Parmetros Curriculares Nacionais de Lngua
Portuguesa (PCNs)..................................................................................................90
3.3- A anlise lingstica em manuais didticos para o ensino fundamental II...........96
3.3.1- Na coleo Anlise, linguagem e pensamento (ALP)...................................98
3.3.2.- Na coleo Tecendo textos (TT)................................................................113
CAPTULO 4
O TRABALHO REALIZADO: MODOS DE PRODUO DA INOVAO
DO ENSINO DE GRAMTICA NA SALA DE AULA................................................126
4.1- A organizao global das aulas a serem analisadas...............................................128
4.2- A incluso do nvel semntico-pragmtico na anlise de uma categoria
da gramtica tradicional...............................................................................................134
4.3- O questionamento do modo de categorizao da gramtica tradicional a partir
de procedimentos de descrio/anlise disseminados pela Lingstica.......................150
4.4- A contextualizao do estudo de categorias da gramtica tradicional a partir
da explicitao dos procedimentos de descrio/anlise dessas unidades...................177
CONSIDERAES FINAIS...........................................................................................188
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................192
ANEXO 1...........................................................................................................................202
ANEXO 2...........................................................................................................................203
ANEXO 3...........................................................................................................................205ANEXO 4...........................................................................................................................206
ANEXO 5...........................................................................................................................210
ANEXO 6...........................................................................................................................212
ANEXO 7...........................................................................................................................213
ANEXO 8...........................................................................................................................215
ANEXO 9...........................................................................................................................216
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RESUMO
O objetivo deste trabalho investigar como a inovao produzida em aulas de gramtica,
no ensino fundamental II da escola pblica estadual paulista, por professores que esto
buscando transformar sua prtica pedaggica. Considerando o trabalho do professor em
sala de aula uma realidade social complexa, procuramos construir um percurso
transdisciplinar de investigao e gerar diferentes tipos de dados. Desse modo,
mobilizamos referenciais tericos de diferentes disciplinas, na tentativa de no reduzir e
no fragmentar nosso objeto de investigao; e utilizamos a metodologia qualitativo-
interpretativista de natureza etnogrfica, para a gerao e anlise dos dados.Compreendendo a inovao como uma reconfigurao, impulsionada por demandas
institucionais, dos modos rotineiros de agir em questes de estudo e de ensino de lngua,
baseamo-nos nas noes de trabalho prescrito/trabalho realizado, vindas de abordagens
desenvolvidas no campo das cincias da Educao, que compreendem o ensino como
trabalho. Sendo assim, dentre as prescries que regem o trabalho do professor, analisamos
as propostas para a inovao no ensino de gramtica apresentadas por documentos oficiais
(PCLP e PCNs) e pelos livros didticos mais utilizados pelos professores participantes da
pesquisa. No mbito do trabalho realizado, analisamos os modos como a inovao
produzida nas aulas desses professores. Como resultado da investigao, destacamos a
impreciso das prescries dirigidas ao professor pelos documentos oficiais, constitudos
por um amlgama de abordagens terico-metodolgicas; bem como a solidarizao de
noes terico-metodolgicas vindas da tradio gramatical e da teoria lingstica,
apresentada pelos livros didticos, na tentativa de operacionalizao das orientaes
terico-metodolgicas para inovao do ensino de gramtica na escola. Quanto ao trabalho
efetivamente realizado na sala de aula, constatamos, de um lado, que os diferentes modosde inovao produzidos nas aulas analisadas so constitudos por uma interrelao de
atividades e prticas mltiplas e heterogneas mediadas por instrumentos semiticos
tambm heterogneos; de outro lado, que os professores que esto tentando inovar sua
prtica de ensino de gramtica produzem algumas respostas comuns s demandas de
inovao: desenvolvem a anlise lingstica somente com categorias da gramtica
tradicional, ainda que as demandas de inovao proponham tambm o trabalho com outras
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categorias, como as da gramtica funcional ou lingstica de texto, por exemplo; e, para o
estudo de categorias da gramtica tradicional, lanam mo de modos de descrio/anlise
disseminadas pela lingstica, focalizando sobretudo a dimenso semntica da lngua.
Palavras-chave: inovao em sala de aula; ensino de gramtica; saberes do professor.
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ABSTRACT
The aim of this work is to investigate how innovation is produced by teachers that are
trying to transform their pedagogical practice in grammar classes that take place at the
ensino fundamental II of state public schools in So Paulo. Considering the work of the
teacher in the classroom as a complex social reality, we tried to construct a
transdisciplinary trajectory of investigation and generate different kinds of data. This way,
we mobilized theoretical basis from different disciplines, in order not to reduce and not to
fragment our object of investigation; we also made use of the qualitative-interpretive
methodology of ethnographic nature for the data generation and analysis. Understandinginnovation as a reconfiguration, impelled by institutional demands, of the usual ways of
acting in questions related to the study and teaching of the language, we based our work on
the notions of prescribed work/work done, that come from approaches developed by the
sciences of Education and which understand work as job. Therefore, within the prescription
that regulate the work of the teacher, we analyze the proposals for innovation in grammar
teaching presented by official documents (PCLP and PCNs) and by the didactic books that
are most used by the teacher participants of our research. In the scope of the work done, we
analyze the way innovation is produced in the classes of these teachers. The results of the
investigation points to the lack of precision of the prescriptions directed to the teacher by
the official documents, which are constituted by an amalgam of theoretical and
methodological approaches; as well as to the solidarization of theoretical and
methodological notions that come from the grammatical tradition and the theoretical
linguistics, presented by the didactic books, with the aim of operacionalizing the theoretical
and methodological orientations for innovating the teaching of grammar in schools. As for
the work effectively done in class, we found out that, on the one hand, the different ways ofinnovating produced in the classes analyzed are constituted by the interrelation of multiple
activities and practices mediated by heterogeneous semiotic tools; on the other hand, we
found out that the teachers that are trying to innovate their grammar teaching practice
produce some common answers to the demand of innovation: they develop the linguistic
analysis only with categories of the traditional grammar, even though the demand for
innovation also propose the work with other categories, like the ones from the functional
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grammar or textual linguistics, for example; and for the study of the categories of the
traditional grammar, they make use of ways of describing/analyzing disseminated by
linguistics, with special focus on the semantical dimension of language.
Key-words: innovation in the classroom; grammar teaching; teacher knowledge.
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INTRODUO
Neste trabalho, o objeto principal de investigao a produo da inovao na
sala de aula por professores da rede estadual paulista que esto tentando transformar sua
prtica pedaggica de ensino de gramtica. O tema da inovao do ensino de lngua
materna tem nos interessado desde o final da dcada de 1980. As experincias que
vivenciamos, de 1987 a 1996, como assistente tcnico-pedaggico de Lngua
Portuguesa da Diretoria de Ensino de Penpolis, pequena cidade do interior paulista, e
como professora da disciplina Lingstica no Curso de Licenciatura em Letrasoferecido pela nica Faculdade dessa mesma cidade, despertaram esse interesse. Na
Diretoria de Ensino, pudemos acompanhar mais de perto o processo de implementao
da Proposta Curricular para o ensino de Lngua Portuguesa no 1. Grau do Estado de
So Paulo (doravante PCLP), pois tnhamos por funo repassar aos professores da rede
pblica local as orientaes terico-metodolgicas para o ensino de lngua materna
recebidas nos rgos centrais da Secretaria da Educao do Estado de So Paulo
(doravante SEE/SP), orientaes essas quase sempre recebidas de professores de
Universidades, notadamente, USP, UNICAMP e PUC-SP. No Curso de Letras, nossa
atuao passou a ser fortemente marcada pelas orientaes que recebamos no mbito
da SEE/SP.
Essas experincias acabaram nos estimulando a realizar, entre 1997 e 1999, o
Mestrado em Lingstica Aplicada, cujo tema principal de pesquisa foi o ensino de
gramtica dentro do movimento de renovao do ensino de lngua materna no ensino
pblico estadual, via implementao da PCLP (cf. Aparcio, 1999). Naquele momento,
nossas anlises concentraram-se nos conceitos e funes atribudos gramtica e aoensino de gramtica pelos documentos oficiais publicados pela SEE/SP e no impacto
dessas noes na sala de aula do ensino pblico estadual de 5. a 8. sries. Observando
um total de 60 aulas (3 aulas de cada um dos 20 professores participantes da pesquisa)
de Lngua Portuguesa de professores que participaram do processo de implementao
da PCLP, verificamos, quanto ao ensino de gramtica, que eles apresentavam muitas
dificuldades na tentativa de compatibilizao entre a prtica tradicional e as novas
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orientaes. De modo geral, a idia do texto como unidade do ensino da lngua era
recorrente nas aulas que analisamos, mas a idia da gramtica no texto, uma das
principais propostas para a renovao do ensino de gramtica, quase sempre se resumia
retirada de palavras ou frases dos textos para a identificao de tpicos gramaticais.
Verificamos tambm que o livro didtico era referncia sempre presente na maioria das
aulas analisadas, seja na organizao da aula, seja na seleo dos contedos ou na
adoo de procedimentos de descrio/anlise dos contedos. De modo geral, pareceu-
nos equivocada a sugesto, vinda das instncias responsveis pela divulgao aos
professores das novas orientaes (documentos oficiais, textos de divulgao, cursos de
formao), da aplicao de teorias produzidas pela Lingstica como condiosuficiente para a inovao da prtica em sala de aula. Certamente, as contribuies da
Lingstica so ingredientes importantes, mas no so os nicos de que o professor
lana mo em sua prtica. Defendemos, juntamente com Signorini (no prelo a), que o
processo de didatizao de saberes acadmico-cientficos se realiza em prticas
institucionais especficas, dinmico e envolve, continuamente, a disputa, integrao e
negociao de sentidos e posicionamentos, o que vale dizer que varia em funo de
onde e quando se d o processo de didatizao; em que condies; com que objetivo;
para qual pblico-alvo; por quem; como, etc (Signorini, op.cit.). Focando
especificamente o professor como agente responsvel pela educao lingstica de
carter cientfico, Kleiman (2005) defende que tambm integram esse processo outros
saberes pr-construdos do professor sobre a linguagem. Saberes que, nos termos dessa
autora, so scio-histricos e indissociveis das definies da situao segundo as
experincias sociais e cognitivas do sujeito que o orientam nas atividades, em mltiplas
instituies, e lhe permitem atribuir sentidos enquanto as atividades se realizam
(Kleiman, op.cit.:205).Partindo dessas idias e buscando ir alm da identificao dos problemas que
dificultam a inovao no ensino de gramtica, nos propusemos a investigar, no presente
trabalho, como a inovao produzida na sala de aula, em um segundo momento do
movimento de renovao do ensino pblico, por professores empenhados em
transformar sua prtica pedaggica de ensino de gramtica. Esse segundo momento teve
incio no final da dcada de 1990, com iniciativas do Ministrio de Educao e Cultura
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(doravante MEC), como a publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais de Lngua
Portuguesa para 3.e 4. Ciclos -5. a 8 sries- (doravante PCNs) e a implementao de
um programa de avaliao de livros didticos atravs do Programa Nacional do Livro
Didtico (doravante PNLD). De um lado, os PCNs objetivam parametrizar as prticas
educativas, considerando e fomentando as reflexes j em andamento sobre as
propostas curriculares estaduais e municipais (cf. Rojo, 2000). Desse modo,
introduzida a noo de gneros textuais orais e escritos, articulada s noes de texto e
de letramento, como objeto de ensino da leitura e da escrita. De outro lado, o PNLD,
orientado pelos PCNs, procura avaliar continuamente os livros didticos a fim de
assegurar a qualidade dos livrosa serem adquiridos(Batista, 2003:26).No que se refere ao ensino de gramtica, a proposta dos PCNs explicitada
como uma resposta s crticas que foram feitas ao ensino tradicional de gramtica nas
dcadas de 1980 e 1990, dentre elas a prtica do uso do texto como pretexto para o
tratamento de aspectos gramaticais. Tendo isso em vista, os PCNs propem o eixo da
reflexo sobre a lngua ou da prtica de anlise lingstica. As orientaes para o
desenvolvimento dessa prtica, que a partir dos PCNs tm como elementos norteadores,
as noes de texto, gnero e letramento, tambm resultado das discusses sobre
ensino de gramtica desenvolvidas ao longo das dcadas de 1980 e 1990 nas
universidades e nas secretarias estaduais de educao (cf. Silva, 2003).
Os contedos indicados para as prticas do eixo da reflexo sobre a lngua,
como bem ressalta Rojo (op.cit.:32), exigem uma compreenso mais acurada dos
professores e implicam uma rediscusso do ensino de gramtica em geral e, em
particular, do que se tem chamado de gramtica funcional ou gramtica no texto ou
ainda das ditas atividades epilingsticas e metalingsticas. A nosso ver, essa
rediscusso deve se pautar, antes de tudo, pela compreenso de como essas noes vmsendo incorporadas pelo professor em sua prtica pedaggica, ou melhor, de como a
inovao trazida ou inspirada pelas orientaes oficiais vem sendo produzida pelos
professores na sala de aula. Estamos compreendendo inovao no sentido proposto
por Signorini (no prelo a): um deslocamento ou reconfigurao dos modos rotineiros de
raciocinar/agir/avaliar em questes de estudo e de ensino da lngua, reconfigurao
essa impulsionada por demandas institucionais. Nesse sentido, como ressalta essa
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autora, a inovao uma categoria de classificao de fenmenos diversos que s se
sustenta em funo de uma determinada configurao de variveis relacionadas aos
contextos em que ocorrem tais fenmenos e tambm ao contexto em que se d a
classificao.
Com base nessa perspectiva, acreditamos que o presente trabalho pode
contribuir para a discusso sobre a natureza e o funcionamento das prticas de sala de
aula, particularmente as que envolvem a produo da inovao no ensino de gramtica,
oferecendo tambm subsdios para a rediscusso das noes apontadas por Rojo
(op.cit.) e mencionadas acima.
O objetivo geral da pesquisa focalizada neste trabalho :
descrever e analisar os modos como a inovao produzida em aulas de
professores que esto buscando transformar sua prtica pedaggica de ensino de
gramtica.
Os objetivos especficos so:
1- Identificar e discutir as propostas para a inovao no ensino de gramtica
apresentadas pelos principais documentos oficiais (PCLP e PCNs) e pelos livros
didticos utilizados pelos professores participantes da pesquisa;
2- Identificar e descrever os objetos de ensino construdos em aulas de gramtica de
professores voluntrios empenhados em transformar suas prticas de ensino;
3- Identificar e descrever os instrumentos semiticos mediadores da construo dosobjetos de ensino nas aulas selecionadas para anlise;
4- Discutir as implicaes dos resultados das anlises para uma melhor compreenso
da questo da inovao no ensino de gramtica com vistas formao de
professores de Lngua Portuguesa.
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Para tanto, iniciamos este estudo apresentando, no Captulo 1, como
construmos nosso objeto de investigao, considerando-o uma realidade social
complexa. Esse Captulo est organizado em trs sees. Na primeira seo,
explicitamos como construmos os pressupostos tericos da investigao, seguindo a
perspectiva transdisciplinar da Lingstica Aplicada. Mais especificamente,
explicitamos, nessa seo, como articulamos referenciais tericos que concebem a
atividade de ensino como trabalho (Amigues, 2002, 2004; Saujat, 2004; Fata, 2004;
Machado, 2004), mediado por instrumentos semiticos (Schneuwly (2000, 2005), com
referenciais tericos de base sociocognitivo-interacional produzidos no campo da
Lingstica (Mondada, 1994; Mondada & Dubois, 2003; Marcuschi, 2000, 2001; Koch,2005). Na segunda seo, apresentamos os princpios bsicos da pesquisa qualitativo-
interpretativista de natureza etnogrfica que serviram de base para a realizao deste
trabalho. Na terceira seo, descrevemos a metodologia que utilizamos para a gerao e
anlise dos dados da pesquisa.
No Captulo 2, apresentamos a caracterizao dos dados gerados nos diferentes
momentos da interlocuo que estabelecemos com os professores participantes da
pesquisa. Esse Captulo est organizado em trs sees principais. Na primeira seo,
apresentamos os dados gerados por um questionrio preenchido pelos participantes. Na
segunda seo, apresentamos os dados gerados na interveno que realizamos junto aos
participantes. Na terceira seo, apresentamos os dados gerados em sala de aula pelos
prprios participantes.
No Captulo 3, identificamos e discutimos as orientaes para a inovao do
ensino de gramtica apresentadas pela PCLP e pelos PCNs e procuramos descrever a
operacionalizao dessas orientaes nos dois livros didticos mais citados pelos
participantes como de uso corrente para a preparao e desenvolvimento de suas aulas.Esse Captulo est organizado em trs sees principais. Tendo em vista que as
orientaes oficiais para a inovao do ensino de gramtica tm por base o conceito de
prtica de anlise lingstica, na primeira seo desse Captulo, explicitamos essa
noo. Na segunda seo, examinamos as orientaes para o seu desenvolvimento,
apresentadas pela PCLP e pelos PCNs, procurando identificar e discutir as referncias
terico-metodolgicas dos estudos da linguagem que direta ou indiretamente exerceram
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influncia na elaborao dessas orientaes. Na terceira seo, examinamos as
atividades de anlise lingstica propostas pelos dois livros didticos selecionados para
anlise.
No Captulo 4, analisamos os modos como a inovao no ensino de gramtica
produzida concretamente pelos professores voluntrios participantes desta pesquisa, em
trs aulas selecionadas para anlise. Esse Captulo est organizado em quatro sees.
Na primeira seo, descrevemos a organizao global das trs aulas focalizadas,
delimitando as unidades de anlise de cada uma delas. Na segunda, terceira e quarta
seo, desenvolvemos as anlises dessas trs aulas, que evidenciam, cada uma, um
modo de produo da inovao pelos professores participantes.Na seo final do trabalho, apresentamos nossas concluses da pesquisa.
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CAPTULO 1
CONSTRUINDO O OBJETO DE INVESTIGAO
Neste Captulo, caracterizamos a investigao aqui apresentada como uma
pesquisa qualitativo-interpretativista de natureza etnogrfica desenvolvida no campo da
Lingstica Aplicada. Foi realizada com professores do ensino fundamental II (5 a 8
sries) empenhados em inovar sua prtica pedaggica de ensino de gramtica,professores esses lotados em escolas pblicas estaduais jurisdicionadas Diretoria de
Ensino de Birigui, cidade da regio noroeste do Estado de So Paulo (v. anexo 1).
Considerando o trabalho do professor em sala de aula como uma realidade social
complexa, abrimos o Captulo apresentando o percurso de construo dos pressupostos
tericos que adotamos para tentar apreender tal realidade. Na seqncia, apresentamos
os princpios bsicos da pesquisa qualitativo-interpretativista de natureza etnogrfica
que orientaram a gerao e a anlise dos dados de nossa pesquisa. Encerramos o
Captulo descrevendo a metodologia que utilizamos para a gerao e anlise dos dados.
1.1- Construo dos pressupostos tericos da investigao
O trabalho do professor em sala de aula, mais especificamente a produo da
inovao do ensino de gramtica pelo professor em sala de aula - objeto de investigao
desta tese - , a nosso ver, uma realidade social constituda histrica e localmente poruma heterogeneidade de saberes, crenas e valores, e por atores plurais produzidos por
e produtores de relaes sociais variadas. Dito de outra forma, estamos assumindo que
nosso objeto de investigao uma realidade social complexa, no sentido definido por
Morin (1996) de um todo que comporta um emaranhado de aes, de interaes e de
retroaes.
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Mesmo sabendo ser impossvel apreender tal realidade completamente, dado que
nunca se apresenta por inteira a partir de um nico nvel de anlise e nem se deixa
apreender sem restos mesmo quando abordada em vrios nveis de anlise (Signorini,
no prelo b), procuramos construir um percurso transdisciplinar de investigao e gerar
diferentes tipos de dados. Por percurso transdisciplinar de investigao, estamos
compreendendo, de acordo com Signorini (1998), o percurso que procura no reduzir e
no fragmentar o objeto de estudo, de modo a construir um objeto mltiplo e complexo,
que desloca fronteiras disciplinares estabelecidas. Por gerao de dados, entendemos,
de acordo com Mason (1996), a atividade de construo de dados de pesquisa a partir
do exame do contexto de investigao pelo investigador. Na pesquisa qualitativa no hcoleta de informaes completamente neutra em relao ao mundo social, por isso,
consideramos, juntamente com Mason (op.cit.), a expresso gerao de dados mais
adequada que a expresso coleta de dados. Conforme aponta essa autora, o termo
coleta supe que os dados j esto prontos, prestes a serem colhidos, o que no ocorre
em um pesquisa qualitativa, em que os dados so oriundos do trabalho analtico e
interpretativo do investigador.
Na tentativa, ento, de apreender o trabalho do professor em sala de aula em sua
complexidade, inspiramo-nos nas abordagens que compreendem o ensino como
trabalho. Foram desenvolvidas no campo das cincias da Educao, principalmente em
pases francfonos, e, mais recentemente, incorporadas por alguns grupos de pesquisa
em Lingstica Aplicada no Brasil (cf. Machado, 2004). So abordagens que buscam
apreender a atividade de ensino como uma combinao de vrias lgicas e
temporalidades. Nos termos de Amigues (2004:45), a atividade de ensino pode ser
considerada o ponto de encontro de vrias histrias (da instituio, do ofcio, do
indivduo, do estabelecimento...), ponto a partir do qual o professor vai estabelecerrelaes com as prescries, com as ferramentas, com a tarefa2a ser realizada, com os
outros (seus colegas, a administrao, os alunos...), com os valores e consigo mesmo.
Desse modo, podemos entender, conforme a metfora apresentada por Saujat
(2004:29), que os professores em seu trabalho tecem: nesse tecer, h os fios que os
2Tarefa (tche), de acordo com Amigues (2004), refere-se ao que deve ser feito pelo professor em sala deaula em termos de objetivos e de procedimentos.
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ligam aos programas e instrues oficiais, s ferramentas/instrumentos pedaggicos, s
polticas educacionais, s caractersticas dos estabelecimentos de ensino e dos alunos,
s regras formais, ao controle exercido pela hierarquia; assim como os fios que os ligam
a sua prpria histria, a seu corpo que aprende e envelhece, a uma imensa quantidade
de experincias de trabalho e de vida, a vrios grupos sociais que lhes oferecem saberes,
valores, regras s quais se ajustam dia aps dia.
Nesta nossa investigao, para descrever e compreender a produo da inovao
do ensino de gramtica pelo professor em sala de aula, procuramos focalizar, nesse
tecido, os fios que ligam o professor:
- a um coletivo de trabalho, ou seja, a um grupo de professores que apresenta
caractersticas comuns;
- s prescries que lhe so feitas, diretamente, por meio de documentos oficiais e
manuais didticos e, indiretamente, por meio de referncias terico-metodolgicas
sobre lngua e ensino de lngua vindas sobretudo da Lingstica;
- ao seu trabalho de construo de objetos (contedos de ensino) efetivamente
ensinados em sala de aula;
- aos instrumentos semiticos mediadores dessa construo.
Para focalizar os fios que ligam o professor a um coletivo de trabalho, tomamos
como referncia as idias defendidas por Amigues (2002, 2004) e Fata (2004) sobre a
dimenso coletiva do trabalho do professor. Para Amigues (2002), cada professor
pertence a vrios coletivos: o da profisso, o da disciplina, o do estabelecimento de
ensino, o da srie, o da classe, entre outros. Esses coletivos, de acordo com o autor, se
organizam de formas diversas e produzem regras de funcionamento que constituemuma resposta comum s prescries e tambm o suporte a investimentos subjetivos
constantes para responder quilo que as prescries no dizem e para fazer o melhor em
uma zona de incerteza; esse engajamento pessoal tanto mais forte quanto mais ele for
sustentado por um coletivo de trabalho (Amigues, 2002). No caso dos coletivos do
estabelecimento de ensino, da srie e da classe, por exemplo, as relaes se estabelecem
atravs de contatos cotidianos e repetidos, sejam esses contatos motivados pelo
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estabelecimento ou por afinidades interpessoais. Desse modo, os professores,
coletivamente, se autoprescrevem tarefas, que cada professor vai retomar e redefinir
em sua classe ou suas classes. (Amigues, 2004:43).
Mas, de acordo com Fata (2004), h tambm prticas transversais
caractersticas do professorado em seu conjunto, fora dos contatos cotidianos e
repetidos. Um exemplo apresentado por esse autor o de uma pesquisa desenvolvida
por Saujat (2002) que prope considerar a existncia de um coletivo iniciantes no
conjunto do corpo docente. Como explica Fata (op.cit.), essa uma categoria de
professores que apresentam traos comuns, independentes dos lugares de lotao e
exerccio. Nos termos desse autor, os professores iniciantes tm em comum o fato decompensarem ou tentarem compensar a insuficincia transitria de sua capacidade
de tratar de situaes profissionais complexas mediante o desenvolvimento de recursos
intermedirios. (Fata, op.cit.:63). Ressalta-se, por exemplo, a forte dedicao dos
iniciantes no domnio da classe (entradas e sada dos alunos, mudanas de lugar,
regulao dos comportamentos dos alunos, tomadas de palavra, etc). Isso nos permite
supor, no dizer de Fata (op.cit.:62),
que a exposio a dificuldades semelhantes, o fato de encontrar obstculos
comparveis na consecuo dos programas e na realizao das tarefas gere
estratgias e condutas que transcendem limites espao-temporais prprios do meio
profissional localizado. (...) tambm se produzem, em uma esfera de atividade
profissional como o ensino, trocas e circulao de idias que ultrapassam os limites
das situaes observveis, e at mesmo formas de fazer mais ou menos difundidas na
profisso, que no so, entretanto, formalizadas e discutidas. Isso implica a
emergncia de uma nova entidade, um ator coletivo que pode se moldar claramente,
em funo da semelhana de preocupaes, de coeres reiteradas para a ao, sem
que necessariamente realize escolhas e julgamentos explcitos, formalmente
compartilhados e discursivizados.
Nesse sentido, em nossa investigao, consideramos um coletivo especfico: o
dosprofessores empenhados em inovar sua prtica pedaggica de ensino de ensino de
gramtica, professores esses lotados em diferentes escolas de uma mesma regio, j
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apontada acima. Para caracterizar esse coletivo, consideramos duas variveis principais:
os traos histricos comuns referentes tanto s informaes pessoais e de formao e
atuao profissional sistematizadas a partir de um questionrio respondido pelos
interessados em participar da pesquisa, quanto a concepes e prticas desses
professores explicitadas em seus depoimentos na interveno que realizamos com o
intuito de selecionar os participantes da pesquisa; e outros traos comuns que sero
recuperados na anlise das aulas dos professores participantes apresentada no Captulo
4.
Para focalizar os fios que ligam o professor s prescries que lhe so feitas, nos
baseamos nas noes de trabalho prescrito/trabalho realizadodefendidas por Amigues(2002, 2004). Para esse autor, o trabalho prescrito (prescries) refere-se aos aspectos
institucionais e normativos, quer formais ou informais, que regem o trabalho do
professor no seu dia-a-dia. As prescries, de acordo com Amigues (2004), no servem
apenas como desencadeadoras da ao do professor, so tambm constitutivas de sua
atividade. Desse modo, as aes efetivamente realizadas pelo professor (trabalho
realizado) no consistem apenas em seguir prescries, mas tambm em coloc-las
prova e redefini-las em funo dos alunos, de imperativos ligados ao tempo, de
reflexes realizadas durante a prpria ao, dos instrumentos mobilizados, etc. Alm
disso, o autor ressalta o carter vago das prescries, no sentido de que elas dizem o que
preciso ser feito, mas no como se deve faz-lo; o que requer tradues e
reelaboraes pelo professor.
Um outro aspecto sobre as prescries, salientado por Amigues (2002), o fato
de que, na verdade, elas difundem o discurso, no caso da Frana, dos inspetores ou
formadores - especialistas que, juntamente com professores de diferentes categorias de
ensino e representantes das associaes culturais ou profissionais compem os GruposTcnicos Disciplinares. Esses grupos so responsveis pela elaborao dos programas
escolares que, por sua vez, so retomados e discutidos no mbito dos estabelecimentos
escolares.
J no Brasil, as prescries advm de uma cascata hierrquica: no nvel nacional
h a lei de Diretrizes e Bases, os PCNs, depois as Propostas Curriculares estaduais e
municipais, as quais so retomadas/repensadas, no mbito de cada escola, nas
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orientaes para o planejamento escolar e para a elaborao do plano de ensino do
professor. Com relao s prescries dirigidas ao professor de lngua portuguesa do
ensino fundamental II via textos oficiais, podemos dizer que, de modo geral, elas
difundem os discursos de disciplinas da cincia Lingstica, produzidos e divulgados
sobretudo por lingistas. No Estado de So Paulo, o processo de elaborao e
implementao da PCLP, iniciado no final da dcada de 1970, envolvendo tcnicos da
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas (CENP) e representantes de
professores da rede pblica estadual, foi subsidiado por especialistas de universidades
do Estado - USP, UNESP, UNICAMP, PUC/SP , em sua maioria lingistas (cf.
Aparcio, 1999). Com relao aos PCNs, seu processo de elaborao, iniciado em 1995,que partiu da anlise dos currculos vigentes nos estados e municpios de capitais do
pas, tambm envolveu especialistas de universidades principalmente do centro-sul,
alm de professores, tcnicos e consultores nacionais e internacionais. Vale ressaltar
que, no que se refere s propostas dos PCNs para a prtica de anlise lingstica, como
veremos no Captulo 3, a PCLP a principal referncia.
Dentre as prescries que regem o trabalho dos professores participantes desta
investigao, consideramos as orientaes para a inovao do ensino de gramtica na
escola apresentadas pela PCLP e pelos PCNs, procurando identificar e discutir as
referncias terico-metodolgicas dos estudos da linguagem que direta ou
indiretamente inspiraram a elaborao desses documentos. Consideramos tambm as
orientaes dos manuais didticos mais citados pelos professores participantes como de
uso corrente para a preparao e desenvolvimento de suas aulas.
Para focalizar os fios que ligam o professor ao seu trabalho de construo dos
objetos efetivamente ensinados na aula e aos instrumentos semiticos mobilizados na
mediao dessa construo, nos apoiamos em estudos de Schneuwly (2002, 2005),Schneuwly, Dolz & Cordeiro (2005), Schneuwly & Wirthner (2004), Dolz, Moro &
Pollo (2000) e outros pesquisadores do GRAFE (Groupe de Recherche pour Analyse du
Franais Enseign), do Departamento de Didtica de Lnguas da Universidade de
Genebra. Esses estudos propem a construo de uma metodologia de anlise dos
objetos efetivamente ensinados em aulas de francs como lngua materna, elegendo
como unidade de anlise os objetos efetivamente ensinados na aula, com ateno
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particular aos instrumentos semiticos mobilizados pelo professor na construo desses
objetos. Um objeto efetivamente ensinado, para Schneuwly (2005), o resultado de um
processo de transposio didtica interna (Chevallard, 1991), ou seja, do processo em
que os objetos a ensinar/objetos de ensino (contedos de ensino) transformam-se em
objetos efetivamente ensinados em sala de aula. Esse processo, de acordo com
Schneuwly (2000), implica uma dupla semiotizao do objeto de ensino: de um lado,
ele torna-se presente por meio das tcnicas de ensino, materializado sob formas diversas
(objetos, textos, folhas, exerccios, etc) como objeto a ser ensinado, a ser semiotizado, a
partir do qual novas significaes podem e devem ser elaboradas pelos alunos; de outro
lado, ele focalizado como objeto sobre o qual aquele que tem a inteno de ensinarguia/orienta a ateno do aluno, apontando/mostrando as dimenses essenciais desse
objeto, por meio de procedimentos semiticos diversos. Esses dois processos tornar
presente o objeto a ensinar e apontar/mostrar as dimenses essenciais desse objeto ,
assinala Schneuwly (op.cit.), so indissociveis e se definem mutuamente. Nesse
sentido, Schneuwly (op.cit.) define instrumentos semiticos como aqueles que
permitem essa dupla semiotizao do objeto de ensino. Nos termos do autor, esses
instrumentos so de dois tipos:
aqueles que asseguram o encontro/contato do aluno com o objeto a ensinar e aqueles
que asseguram a orientao/direo da ateno do aluno. Os primeiros so,
sobretudo, de ordem material (textos, exerccios, esquemas, objetos reais e muitas
outras coisas), os segundos so, sobretudo, de ordem discursiva; mas o discurso pode
igualmente produzir objetos a ensinar e permitir seu encontro/contato com os alunos,
como tambm os instrumentos materiais podem assegurar, por formas especficas, a
direo da ateno do aluno. (Schneuwly, 2000:23, traduo nossa)3
Esses instrumentos e os processos que eles envolvem, de acordo com Schneuwly
(2005), so especficos de cada disciplina, dado que pressupem a existncia de uma
3(...) ceux qui assurent la rencontre de llve avec lobjet et de ceux qui assurent le guidage dattention. Lespremiers sont plutt de lordre du materiau (textes, exercices, schmas, objets rels, et mille autres choses),les deuximes plutt de lordre du discours; mais les discours peut galement produire des objets et permettreleur rencontre tout comme inversement du materiau peut assurer, par des formes spcifiques, le guidage delattention.
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tradio de prticas profissionais historicamente constitudas, as quais o professor re-
cria, re-inventa em cada aula, a cada momento em que um objeto a ensinar torna-se um
objeto efetivamente ensinado.
Desse modo, essa perspectiva de anlise do trabalho do professor proposta por
Schneuwly (2000, 2005), alm de permitir um maior conhecimento de uma das
dimenses essenciais do trabalho do professor que a dos instrumentos semiticos
materiais (textos, exerccios, etc) e discursivos (definies, explicaes, exposies,
instrues, etc) mediadores da atividade de ensino, permite interpretar o trabalho do
professor luz da tradio e da evoluo recente das prticas de ensino de lngua
materna, e evidenciar as formas, ao mesmo tempo constantes e variveis, que tomam osobjetos de ensino quando se tornam objetos ensinados na aula. Interessa-nos, portanto,
observar, no processo de construo dos objetos ensinados, os instrumentos semiticos
mobilizados, seus usos e suas funes nas aulas selecionadas para anlise.
Dessa perspectiva de anlise, o objeto de ensino visto como um componente
no pronto, anterior ou dado, uma vez que introduzido, conduzido e retomado,
modificando-se medida que a aula se desenrola. Nesse sentido, consideramos o objeto
de ensino como objeto de discurso, isto , um objeto constitutivamente discursivo,
construdo por meios e processos lingsticos (Mondada, 1994). Dito de outra forma,
consideramos que os objetos ensinados na aula so referentes pertinentes aos
participantes da aula quem, de fato, lhes atribuem propriedades especficas, tendo em
vista os fins prticos da situao interacional.
Assim, para melhor compreendermos como um objeto de ensino se torna um
objeto efetivamente ensinado na aula, buscamos focalizar, nos processos de
referenciao aos objetos de ensino, pelo professor em sala de aula, o modo como estes
so categorizados e re-categorizados no decorrer das aulas sob anlise (ver Captulo 4).A compreenso sobre como os indivduos categorizam, de acordo com Lakoff
(1987), essencial compreenso sobre como pensam e agem. Isso significa que
examinar os modos como os professores categorizam os objetos ensinados na aula de
gramtica tambm pode evidenciar os valores que sustentam sua viso sobre o ensino-
aprendizagem da lngua materna, mais especificamente o de gramtica.
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Estamos compreendendo as categorizaes no sentido proposto por Mondada
(1994) e Mondada & Dubois (2003), isto , como construes histrica, cultural e
localmente situadas, negociadas nos processos de referenciao. Mondada (1994) fala
em processos contextuais de construo de categorias, que devem ser entendidas
como fenmenos discursivos, sempre construdas numa dimenso discursivo-
interacional. Nesse sentido, para essa autora, a escolha e a formulao de um objeto
implica processos de categorizao ligados no somente denominao do objeto, mas
especialmente sua configurao no discurso. As categorizaes realizadas nas
atividades referenciais, segundo Mondada (2005), podem ser concebidas como reflexos
das propriedades dos referentes, ou, ainda, como a explorao de recursos para oestabelecimento de um acordo subjetivo ou de um alinhamento, tornando, assim,
pertinente, visvel e presente um referente que tratado no como um objeto do mundo,
mas como um objeto de discurso. Nesse sentido, os objetos ensinados, construdos pelo
professor em sala de aula, ainda que j tenham sido tradicionalmente descritos pela
gramtica, sero enfocados em nossa anlise como objetos de discurso. A noo de
exemplaridade de uma categoria, como ressalta Marcuschi (2000), no suficiente para
lhe dar estabilidade, visto que numa realizao contextual essa categoria pode evocar
focalizaes bem diferenciadas, a depender do tipo de insero discursiva.
Em sntese, entendemos que o percurso de construo do nosso objeto de
investigao e as noes terico-metodolgicas at aqui mobilizadas representam uma
tentativa de evitar redues que simplificariam demais esse objeto.
1.2- Caracterizao do tipo de pesquisa
Esta investigao, que procura apreender o trabalho do professor na sala de aula,
caracteriza-se como uma pesquisa qualitativo-interpretativista, no sentido proposto por
Moita-Lopes (1994:331): tem que dar conta da pluralidade de vozes em ao no mundo
social e considerar que isso envolve questes relativas a poder, ideologia, histria e
subjetividade. Assim, de acordo com esse autor, o objeto de investigao deve ser
estudado em seu contexto natural na tentativa de se dar sentido aos fenmenos levando
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em conta os significados que as pessoas lhes atribuem. E, para isso, a metodologia de
natureza etnogrfica a que utilizamos neste trabalho para gerao e tratamento dos
dados bastante propcia, principalmente, quando se trata de pesquisa que envolve a
sala de aula.
O mtodo etnogrfico de pesquisa foi desenvolvido originalmente pelos
antroplogos para estudar a cultura e a sociedade, atravs da descrio, documentao e
anlise de aspectos cotidianos de povos diversos. Mais recentemente, esse tipo de
pesquisa passou a ser muito empregado no contexto educacional, com o objetivo de se
realizarem anlises sobre o processo da comunicao em sala de aula e suas implicaes
para o ensino, bem como sobre questes educacionais de naturezas diversas centradas,em sua maior parte, na interao professor/aluno (cf. Erickson, 1989; Rech, 1992;
Moita Lopes, 1996; Andr, 2002). De acordo com Andr (2002), existe, no entanto,
uma diferena de enfoque nessas duas reas, o que faz com que certos requisitos
tradicionalmente associados pesquisa etnogrfica (longa permanncia do pesquisador
em campo, o contato com outras culturas e o uso de amplas categorias sociais na anlise
dos dados) no sejam e nem necessitem ser cumpridos por investigadores de questes
educacionais. Enquanto o foco de interesse dos etngrafos geralmente a descrio
holstica da cultura de um grupo social (prticas, hbitos, crenas, valores, linguagens,
significados), a preocupao dos estudiosos de questes de ensino o estudo de formas
localizadas da organizao social, tais como encontros face a face em uma instituio
em particular a escola (cf. Rech, 1992; Andr, 2002).
De modo geral, estudos etnogrficos desenvolvidos em contextos de ensino,
tambm denominados microetnografia educacional ou microetnografia da sala de
aula (cf. Erickson, 1989), tm os seguintes pressupostos bsicos (cf. Rech, 1992;
Andr, 2002):- Os problemas so estudados no ambiente natural em que ocorrem;
- O contato do pesquisador com a situao estudada essencial e o perodo de
tempo desse contato pode variar de acordo com os objetivos especficos do trabalho ou
por decises dos participantes da pesquisa;
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- Devido ao foco em situaes de interao cotidiana, a preocupao maior
com o processo, com aquilo que est ocorrendo e no com o produto ou resultados
finais;
- O significado que os participantes atribuem a suas aes e s dos outros
constitui uma espcie de roteiro para o pesquisador, uma vez que a perspectiva dos
participantes revela o dinamismo interno das situaes sociais e mostra ao pesquisador
qual deve ser o foco de sua ateno especial. Sendo assim, a anlise dos dados
indutiva e o pesquisador vai afunilando suas hipteses e interesses medida em que o
estudo avana;
- Todos os dados gerados so considerados relevantes, uma vez que constroem arotina interacional. Esses dados so essencialmente descritivos e, quando reunidos, do
ao pesquisador o entendimento do problema estudado.
Essas idias bsicas da microanlise etnogrfica tm norteado muitas pesquisas,
em Lingstica Aplicada, sobre a sala de aula de lngua, tanto materna quanto
estrangeira. Algumas dessas pesquisas so ditas de natureza etnogrficapor colocar o
foco na percepo que os participantes tm da interao lingstica e do contexto
social em que esto envolvidos, atravs da utilizao de instrumentos etnogrficos, tais
como notas de campo, dirios, entrevistasetc. (Moita Lopes, 1996:22)
Nesse sentido, caracterizamos nossa investigao como uma pesquisa
qualitativo-interpretativista de natureza etnogrfica, pois, os dados de pesquisa foram
gerados por meio de instrumentos associados etnografia, tais como: anotaes de
campo, questionrios, relatos, entrevistas pesquisador/professor, gravao em udio de
interaes pesquisador/professor e professor/alunos. Esses instrumentos foram
utilizados nos diferentes momentos de interlocuo que estabelecemos com os
professores participantes da pesquisa. Esses momentos e os tipos de dados geradosesto descritos na seo subseqente.
Ressaltamos ainda que os dados gerados foram confrontados com base na
triangulao de dados que consiste, segundo Erickson (1989), na conjugao de
diferentes fontes e tipos de dados com vistas a dar conta dos significados possveis
sobre o objeto em estudo e a garantir a validade da interpretao por parte do
pesquisador.
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1.3- Metodologia de gerao e anlise dos dados
Para o desenvolvimento deste trabalho, estabelecemos uma interlocuo com os
professores participantes da pesquisa. Essa interlocuo teve incio no processo de
gerao dos dados que se deu de dois modos: em presena, ou seja, em encontros face
a face; e distncia. O processo de gerao dos dados em presena ocorreu,
principalmente, em dois encontros, gravados em udio, com os professores
participantes. O processo de gerao dos dados distncia ocorreu em salas de aula de
escolas estaduais, quando os prprios professores participantes gravaram suas aulas.
No primeiro encontro com os professores participantes, tnhamos por objetivogerar dados que nos permitissem identificar um coletivo de professores, isto , um
grupo de professores empenhados em inovar sua prtica pedaggica de ensino de
gramtica. Esses professores seriam convidados a participar de nossa pesquisa e,
portanto, de um segundo encontro, em que discutiramos os procedimentos de gravao
das aulas.
Sendo assim, num primeiro momento, atravs da Diretoria de Ensino local4(v.
localizao em anexo 1), todos os professores de lngua portuguesa (aproximadamente
80 professores) das 21 escolas de ensino fundamental de 5a. a 8a. sries, jurisdicionadas
a essa Diretoria, foram convidados a participar de um encontro de oito horas, com
direito a abono do dia de trabalho. Tal encontro, organizado por esta pesquisadora, tinha
como propsito discutir propostas de transformao do ensino da lngua portuguesa,
com nfase na reflexo sobre novas abordagens de ensino de gramtica, e tinha como
foco as orientaes dos PCNs para a prtica de anlise lingstica.
Com vistas a facilitar a presena de um maior nmero de professores,
realizamos, em junho de 2002, um encontro na cidade de Birigui, onde compareceram15 professores; e outro na cidade de Penpolis, onde compareceram 22 professores.
Nesses dois primeiros encontros, que contaram com um total de 37 professores,
esclarecemos logo de incio aos presentes que se tratava de um encontro cujas reflexes
iriam subsidiar nossa pesquisa de doutorado. Com a anuncia dos professores,
4Estamos nos referindo agora Diretoria de Ensino de Birigi que, a partir de 1999, com as medidas deenxugamento da ento secretria da educao, incorporou a Diretoria de Ensino de Penpolis, ficando,tambm, sob sua jurisdio as escolas que pertenciam Diretoria extinta.
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apresentamos os objetivos desta pesquisa, ressaltando o fato de que nossos dados
seriam obtidos a partir da observao das aulas somente de professores que estavam
tentando transformar sua prtica de ensino de gramtica. Em funo disso, pedimos aos
professores que estivessem interessados em participar da pesquisa para responder a um
questionrio informativo (v. anexo 2). Dentre os 37 professores presentes, 30
responderam ao questionrio. Esse questionrio foi elaborado tendo em vista a
identificao e caracterizao do coletivo de professores, conforme salientamos acima,
que seriam convidados a participar da pesquisa. Desse modo, os dados gerados por
meio desse questionrio correspondem tanto a informaes de cunho mais geral ligadas
identificao dos professores (idade, sexo, perodo em que cursaram a licenciatura,tempo de experincia na docncia, escolas e sries em que atuavam), quanto a
informaes mais especficas ligadas formao e atuao desses profissionais (cursos
de formao continuada freqentados, leituras realizadas, materiais utilizados nas
aulas). A sistematizao dessas informaes ser apresentada no Captulo 2 (seo 2.1),
em que caracterizamos os dados gerados pelo questionrio.
Nesse primeiro encontro, tambm realizamos uma interveno, selecionando,
previamente, para leitura e discusso, alguns textos5que, alm de terem em comum a
busca do professor e/ou do estudante de Letras como interlocutor, caracterizam-se como
obras de divulgao de novas concepes terico-metodolgicas de ensino da lngua,
principalmente aspectos relacionados ao ensino de gramtica. Nossa inteno era a de
provocar reflexes sobre o tema abordado nos textos e assim sensibilizar os professores
para um maior engajamento nas discusses. Interessavam-nos tambm os modos como
relacionavam o que liam com suas prprias concepes e prticas.
Desse modo, sem um roteiro pr-estabelecido, isto , sem questes previamente
elaboradas, distribumos aos professores uma cpia de cada texto e decidimosconjuntamente que eles fariam, em pequenos grupos, a leitura do primeiro texto e, em
seguida, dariam suas opinies sobre o texto lido, levantando os questionamentos que
considerassem pertinentes. Essa dinmica ocorreu com todos os textos selecionados.
5Esses textos sero abordados detalhadamente no Captulo seguinte, quando caracterizamos os dados geradosna interveno.
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Conforme pretendamos, ento, as reflexes tericas e metodolgicas trazidas
por esses textos geraram muitas discusses em que os professores expressaram suas
opinies, convices, dvidas e dificuldades em relao prtica da anlise lingstica
em sala de aula. Os dados gerados nessa interveno foram interpretados a partir da
anlise do contedo das falas dos professores que, posteriormente aos encontros, se
voluntariaram a gravar suas aulas, tornando-se os participantes efetivos desta pesquisa.
Essa anlise ser apresentada no Captulo 2 (seo 2.2), em que caracterizamos os
dados gerados na interveno.
Ainda nesse primeiro encontro com os professores, aps as discusses dos textos
lidos e a ttulo de informao, distribumos uma relao bibliogrfica incluindopublicaes mais recentes sobre o ensino de lngua portuguesa, principalmente as que
enfocam novas abordagens de ensino de gramtica (v. anexo 3).
Para procedermos, ento, identificao de um grupo de professores que seriam
convidados a participar da pesquisa e de um segundo encontro, recorremos aos dados
gerados por meio do questionrio informativo e aos dados gerados na interveno que
realizamos. A partir desses dados escritos e audiogravados, identificamos alguns traos
explcitos comuns entre 18 dos 30 professores que responderam ao questionrio
informativo manifestando interesse em participar desta pesquisa. So esses traos que
consideramos para compor o coletivo de professores participantes:
- tinham cursado a Licenciatura Plena em Letras entre 1992 e 1999;
- tinham no mnimo um ano de experincia no ensino de lngua portuguesa de 5a 8a
sries e/ou ensino mdio, seja no ensino pblico e/ou particular;
- afirmavam continuar freqentando cursos de capacitao na rea de ensino de lngua
aps a concluso da licenciatura;
- afirmavam conhecer a PCLP e os PCNs;- afirmavam estar tentando transformar sua prtica em sala de aula;
- afirmavam organizar suas prprias aulas a partir da seleo de diversos materiais.
Assim, da mesma forma como no primeiro encontro, esses 18 professores foram
convidados, atravs da Diretoria de Ensino, para um segundo encontro, realizado em
setembro de 2002, na sede da Diretoria em Birigi. Nesse encontro, compareceram os
18 professores convidados e o objetivo era a discusso sobre os procedimentos de
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gravao das aulas. Assim, tendo em vista atender s necessidades do grupo,
procuramos estabelecer algumas orientaes, a saber:
- os prprios professores deveriam gravar as suas aulas de gramtica6, em
situaes naturalistas7, obedecendo sua rotina normal de trabalho;
- os professores deveriam, na medida do possvel, fazer anotaes de
informaes consideradas relevantes para o desenvolvimento das aulas, tais como:
fontes dos textos utilizados, manuais didticos utilizados, referncias terico-
metodolgicas mobilizadas nas aulas, entre outras;
- os professores participariam de entrevistas individuais e/ou coletivas junto
pesquisadora para discusses sobre as prticas desenvolvidas nas aulas gravadas etranscritas.
importante ressaltar que uma das decises do grupo foi a no participao do
pesquisador na gravao das aulas, considerando que, segundo eles, nossa presena iria
interferir no comportamento do professor e dos alunos, comprometendo o andamento
natural da aula. Um outro fator relevante que pode justificar nossa ausncia nesse
momento do processo de coleta dos dados o fato de termos lecionado a disciplina
Lingstica, para a maioria dos interessados em participar da pesquisa, quando
cursaram a Licenciatura em Letras. Nesse sentido, embora tenhamos reforado nossa
postura enquanto pesquisadora, nossa presena certamente influenciaria na atuao dos
ex-alunos porque poderiam ter por referncia nossas expectativas em relao ao
potencial de desenvolvimento de suas prticas. Provavelmente isso aconteceu, mas de
forma menos constrangedora.
Em funo disso, ressaltamos aos professores que no pretendamos, com este
trabalho, fazer uma avaliao da competncia deles no desenvolvimento de suas
atividades em sala de aula. Informamos ainda que, na verdade, com este trabalho,pretendamos estar contribuindo para uma melhor compreenso do trabalho do
professor que busca a inovao a partir das orientaes terico-metodolgicas que lhe
so propostas. Tendo isso em vista, manifestamos nossa inteno de dar continuidade a
6Estamos considerando aulas de gramtica as sesses de aula gravadas pelos professores. Essas sessespodem compreender o todo de uma ou mais aulas, ou as partes de um todo maior que corresponde a uma aulade lngua portuguesa, que comumente envolve outras partes com atividades de leitura e produo de textos.7Referem-se a situaes observadas em sua manifestao natural, sem qualquer modificao ou controle por
parte dos atores envolvidos.
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nossa interlocuo, retornando os resultados deste trabalho para os professores
participantes da pesquisa, como tambm para os Cursos de Letras de onde eles so
egressos e para as instituies que tm se incumbido da formao continuada desses
professores nos ltimos anos.
Por fim, dentre os 18 professores que demonstraram interesse em participar
desta pesquisa, apenas 7 se voluntariaram a gravar suas aulas e a continuar nos
fornecendo informaes sobre suas prticas. Os 7 professores gravaram uma aula cada
um. Assim, os dados gerados distncia correspondem aos dados gerados na sala de
aula, isto , s 7 aulas de gramtica gravadas pelos prprios professores e transcritas por
esta pesquisadora.Ressaltamos que, embora no tenhamos acompanhado presentemente as aulas
dos professores nas escolas e no tenhamos elementos objetivos para avaliar o grau de
representatividade das aulas gravadas em relao ao conjunto das aulas habitualmente
ministradas por esses professores, temos convico de que as aulas gravadas
representam o que esses professores tm tentado construir cotidianamente na sala de
aula.
Uma caracterizao geral dessas 7 aulas ser apresentada no Captulo 2 (seo2.3). A anlise das aulas propriamente dita ser apresentada no Capitulo 4.
Cabe ressaltar que, aps o perodo de gravao das aulas, ainda tivemos
conversas informais com os professores participantes, atravs de e-mails ou face a face,
quando necessitamos obter mais informaes sobre os dados de sala de aula j
transcritos.
Enfim, ao assumirmos a metodologia de anlise interpretativa dos dados
gerados, buscamos evitar nossa interpretao exclusiva dos dados, procurando
apreender as subjetividades e interpretaes dos professores participantes do contexto
social sob investigao, como se pode verificar na caracterizao dos dados de pesquisa
apresentada no Captulo 2 a seguir.
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CAPTULO 2
CARACTERIZAO DOS DADOS DA PESQUISA
Neste Captulo, caracterizamos o conjunto dos dados gerados nos diferentes
momentos de interlocuo que estabelecemos com os professores participantes da
pesquisa. Primeiramente, caracterizamos os dados gerados pelo questionrio
informativo. Em seguida, caracterizamos os dados gerados na interveno e, por fim, osdados gerados em sala de aula.
2.1- Dados gerados pelo questionrio informativo
Conforme j apontamos no Captulo 1 (seo 1.3), o questionrio informativo
foi elaborado tendo em vista gerar dados para a identificao e caracterizao do
coletivo de professores que seriam convidados a participar de nossa pesquisa. Nas duas
sees subseqentes (2.1.1 e 2.1.2), caracterizamos os dados gerados por esse
questionrio referentes ao grupo de professores que participaram efetivamente da
pesquisa gravando suas aulas. Chamamos dados gerais os dados de identificao dos
professores participantes e dados especficos os dados referentes formao continuada
e atuao profissional.
2.1.1- Dados gerais
A partir das informaes de cunho mais geral obtidas pelo questionrio
informativo, elaboramos o Quadro I8, a seguir, onde apresentamos dados dos 7
participantes9referentes a: idade, sexo, perodo de graduao, tempo de experincia na
docncia, escolas e sries em que atuam.
8Optamos por apresentar os professores em uma ordem decrescente de acordo com o tempo de experincia noensino.9Os nomes dos professores participantes so fictcios.
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Quadro I- Dados Gerais dos professores participantes
Professor Sexo IdadePerodo degraduao/Instituio(Pblica/Privada)
Tempo deexperincia noensino (anos)
Rede e nvel deensino
Eni F 32 1992-1995/Privada 7 pblica/fundamental emdio
Dani F 28 1994-1997/Privada 6 pblica eprivada/fundamental
Oto M 32 1995-1998/Privada 6 pblica eprivada/fundamental
Aline F 28 1996-1999/Privada 5 pblica eprivada/fundamental
Jade F 39 1993-1996/PblicaFederal
4 pblica/fundamental
Diva F 27 1992-1995/Privada 3 pblica/fundamental emdio
Carla F 30 1994-1997/Privada 2 pblica/fundamental emdio
Conforme indica o Quadro I acima, podemos caracterizar os professores
participantes como sendo, em sua maioria, do sexo feminino (seis dos sete
participantes), com idade entre 27 e 39 anos, formados em Letras nos ltimos 10 anos
(1995-1999). Exceto um professor10, todos os outros cursaram a Licenciatura em cursos
noturnos oferecidos por instituies privadas da regio. Na poca em que geramos os
dados, o tempo de experincia dos professores em sala de aula variava entre 2 e 7 anose todos lecionavam em escolas pblicas no ensino fundamental. Apenas trs professores
atuavam tambm no ensino mdio da rede pblica e outros trs lecionavam tambm em
escolas privadas no ensino fundamental II.
A partir de informaes obtidas em conversas informais com os professores
durante o preenchimento do questionrio, constatamos que os cursos de Licenciatura
em Letras que freqentaram possuem as seguintes caractersticas em comum:
- durao de 7 a 8 semestres;
- habilitao em Portugus/Ingls;
- grade curricular que contempla contedos bsicos ligados rea dos estudos
lingsticos e literrios e contedos de formao profissional ligados prtica de
ensino;
10Esse professor foi formado pela Universidade Federal de Mato Grosso Sul.
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- carga horria de estgios entre 200 e 300 horas, realizados em escolas pblicas
e particulares;
Cabe ressaltar aqui que o curso de Licenciatura em Letras, de onde so egressos
5 dos 7 participantes, j foi focalizado em nossa dissertao de mestrado (cf.Aparcio,
1999). Nesse trabalho, considerando os planos de ensino elaborados entre 1987 e 1997
para as disciplinas Lngua Portuguesa, Lingstica e Prtica de Ensino de
Portugus, desenvolvemos uma anlise das concepes de gramtica e de ensino de
gramtica veiculadas por essas disciplinas nesse espao de 10 anos. Essa anlise nos
permitiu constatar que as questes discutidas no Curso de Letras nesse perodo (que
abrange tambm o perodo em que se graduaram os participantes da presente pesquisa)orientaram-se pelos manuais de Gramtica Tradicional, principalmente no que se refere
disciplina Lngua Portuguesa. Em relao disciplina Prtica de Ensino de
Portugus, constatamos que, embora a PCLP e outros textos de apoio para a
implementao dessa proposta, publicados pela SEE-SP, tenham sido levados para a
sala de aula a partir da segunda metade da dcada de 1990, no houve nas aulas dessa
disciplina qualquer problematizao dos conceitos tradicionais de gramtica e de ensino
de gramtica. J na disciplina Lingstica esses conceitos foram problematizados,
porm as diferenas de orientao entre as propostas no foram abordadas. Para o
professor dessa disciplina o importante era reproduzir as contribuies da Lingstica
terica para a renovao do ensino de lngua e de gramtica, pois acreditava que, de
posse desses conhecimentos, os futuros professores poderiam desenvolver quase que
inevitavelmente prticas renovadoras desse ensino em sala de aula.
Sendo assim, no podemos afirmar que esse curso de Letras no tenha oferecido
pelo menos uma bibliografia mais atualizada de divulgao de conceitos lingsticos.
Mas, a despeito disso, no podemos deixar de considerar tambm que a disciplinaLingstica, entre 1987 e 1997, era ministrada no incio do Curso (nos 4 primeiros
semestres) e com uma carga horria bem reduzida (216 h/a) se comparada carga
horria da disciplina Lngua Portuguesa (432 h/a). Com isso, as orientaes
divulgadas pela disciplina Lingstica, em relao ao ensino de lngua portuguesa sob
novas perspectivas acabavam se perdendo ao longo dos ltimos semestres, em meio
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formao mais tradicional imposta pelas disciplinas Lngua Portuguesa e Prtica de
Ensino de Portugus.
De qualquer forma, depoimentos dos participantes da atual pesquisa, no que se
refere sua formao inicial, sinalizam uma tendncia ainda muito tradicional na
formao oferecida pelos Cursos de Letras de onde so egressos, tanto no mbito das
disciplinas que compem os contedos bsicos, quanto no das que compem os
contedos ligados prtica. Segundo a maioria dos professores, sobretudo aqueles
formados na primeira metade da dcada de 1990 (5 dos 7 participantes), foi atravs das
Orientaes Tcnicas11 e/ou de Cursos de Capacitao realizados pela Diretoria de
Ensino que eles comearam a ter acesso s novas orientaes terico-metodolgicas deensino de lngua portuguesa.
Com relao s escolas onde lecionavam os professores participantes, conforme
demonstra o Quadro I, vemos que todos lecionavam em escolas pblicas estaduais e trs
em escolas privadas. As escolas pblicas esto localizadas em dois municpios
diferentes (4 em Penpolis e 2 em Birigi). O mesmo ocorre com as escolas
particulares, isto , uma localiza-se no municpio de Penpolis e outra no de Birigi.
Dentre as 6 escolas pblicas, 3 so as mais tradicionais de suas respectivascidades, esto localizadas no centro e oferecem tanto o ensino fundamental de 5a. a 8a
sries quanto o ensino mdio. As outras 3 so menores e mais afastadas do centro, onde
funciona apenas o ensino fundamental de 5aa 8asries.
Quanto s escolas privadas, uma a mais tradicional da cidade e, sob direo e
orientao de Irms Franciscanas, oferece desde o ensino bsico at o ensino mdio. A
outra uma escola nova, em funcionamento a partir de 1996 com ensino bsico e
fundamental de 1a. a 8a. sries. Denominada Cooperativa de Ensino, essa escola tem os
pais como responsveis pela sua estrutura de funcionamento administrativo. As
questes pedaggicas so de responsabilidade do diretor e do coordenador pedaggico.
Em sntese, a partir do conjunto dos dados gerais gerados pelo questionrio
informativo, podemos caracterizar o coletivo de professores participantes desta pesquisa
11So encontros de um dia, com durao de aproximadamente 8 horas, promovidos pelas Diretorias de Ensinodestinados capacitao docente. As Orientaes Tcnicas para os professores de Lngua Portuguesadesenvolvidas entre o final dos anos 80 e primeira metade dos anos 90 visavam principalmente aimplementao da PCLP.
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como sendo um grupo relativamente jovem (27-39 anos); com formao em Letras
realizada na dcada de 1990 e ainda bastante tradicional; com experincia entre 2 e 7
anos no ensino fundamental II da escola pblica estadual paulista.
2.1.2- Dados especficos
O questionrio informativo preenchido pelos professores no primeiro encontro
tambm nos forneceu dados sobre sua formao continuada e atuao profissionais (v.
quadro de cada professor em anexo 4), a saber:
-(1) cursos realizados nos ltimos 5 anos (1998-2002), subdivididos emCapacitao (referente a cursos promovidos por instncias de capacitao docente
vinculadas s instituies de ensino onde atuam), Extenso (referente a cursos
promovidos por outras instncias, no especificamente voltadas capacitao docente)
e Especializao(referente modalidade de ps-graduao Lato Sensu);
-(2) leituras de textos de divulgao de conhecimentos sobre lngua e ensino de
lngua materna realizadas nos ltimos 5 anos (1998-2002), ou seja, de textos e/ou
autores que os professores se lembraram, no momento de preencher o questionrio
informativo, de ter lido no perodo indicado;
-(3) materiais didticos utilizados e/ou consultados para a preparao e
desenvolvimento das aulas.
2.1.2.1- Cursos realizados
Quanto aos cursos realizados, todo o grupo participou de Orientaes Tcnicas
desenvolvidas pela Diretoria de Ensino. Segundo informaes dos prprios professores,esses encontros costumavam ser realizados bimestralmente ou semestralmente,
dependendo da disponibilidade dos Assistentes Tcnico-Pedaggicos (ATPs)12 da
Diretoria de Ensino, os encarregados dessa modalidade de capacitao docente. Nessas
12So profissionais que atuam na rea pedaggica das Diretorias de Ensino, tendo, entre outras funes, a derepassar aos professores as orientaes recebidas em outras instncias de capacitao: Coordenadoria deEstudos e Normas Pedaggicas (CENP), rgos educacionais e Universidades envolvidas em projetos decapacitao de docentes de escolas pblicas estaduais.
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orientaes, ainda segundo os professores, discutiam-se diferentes assuntos que iam
desde questes referentes anlise de dados quantitativos, como resultados do Sistema
de Avaliao de Rendimento Escolar do Estado de So Paulo (SARESP), a questes
referentes melhoria da qualidade do ensino pblico, como o desenvolvimento de
Projetos Pedaggicos.
Alm das Orientaes Tcnicas, a maioria do grupo (Eni, Jade, Oto, Aline)
tambm realizou cursos do Projeto de Educao Continuada. Esse projeto, idealizado
pela SEE-SP, solicitando servios das Universidades, desenvolveu-se na Diretoria de
Ensino em questo, no perodo entre 1996 e 1999. Tinha por objetivo bsicopromover
o desenvolvimento profissional dos educadores da rede pblica estadual, constituindoum corpo tcnico capaz de implementar um novo modelo de escola com vistas a
reverter o quadro atual de fracasso escolar, assegurando clientela acesso,
permanncia e aprendizagem bem sucedida. (SEE-SP, 1996) Dessa forma, atravs de
cursos oferecidos pelas Universidades envolvidas, os professores receberam orientaes
que, segundo os participantes desta pesquisa, proporcionaram ampla discusso de suas
realidades, com sugestes de novas e melhores prticas escolares.
Ainda em relao aos cursos de capacitao realizados pelos participantes, trs
professores (Jade, Oto, Carla) participaram de cursos de capacitao relacionados ao
Projeto Correo de Fluxo. Esse projeto teve incio na SEE-SP em 1996, tendo como
referncia os resultados positivos de sua primeira implantao no Estado do Paran.
Ainda em vigncia na rede estadual paulista, o projeto tem como principal objetivo
subsidiar propostas de atuao que tm como meta corrigir as defasagens idade/srie de
alunos de 5a. a 8a sries. Em outras palavras, a Correo de Fluxo visa a oferecer
alternativas de prticas que propiciem ao aluno condies de atingir o nvel de
desenvolvimento correspondente a sua faixa etria e o posterior prosseguimento de seusestudos. Assim, os professores das disciplinas em que os alunos tm apresentado
maiores problemas de aprendizagem e resultados negativos de avaliao recebem
orientaes com material de apoio contendo sugestes de contedo. De acordo com
depoimentos dos participantes, a boa qualidade do material oferecido e as boas
condies de aplicabilidade permitem que a proposta seja utilizada nas classes
convencionais, onde normalmente no h defasagem de idade/srie. Na ausncia de
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melhores propostas, eles dizem utilizar freqentemente esse material em suas aulas,
inclusive nas aulas de gramtica.
Ainda com relao a cursos de capacitao, apenas dois professores (Jade,
Carla) participaram de cursos sobre o Projeto Salto para o Futuro, um projeto baseado
na difuso de programas interativos voltados para a reciclagem de professores; e um
professor (Carla) participou de cursos sobre o Projeto Informtica Educacional, o qual
visa ampliar a utilizao da informtica como mais uma ferramenta pedaggica na
escola.
Em relao aos cursos de extenso, apenas trs professores (Eni, Aline, Diva)
realizaram cursos que, apesar de no serem voltados especificamente para a capacitaodocente, envolvem questes sobre o ensino da lngua. Dois deles (Eni, Aline)
realizaram cursos para correo de redao em provas de concursos (PUC/Campinas e
ENEM) e o outro (Diva), como participante de um Seminrio internacional de literatura
infantil e juvenil, fez mini-cursos.
Por fim, em relao a cursos de Especializao, modalidade de ps-graduao
Lato Sensu, oficializada pelo Conselho Nacional de Educao, com carga horria
mnima de 360 horas, trs professores (Eni, Aline, Diva) obtiveram tal formao.
Dentre os trs, a professora Diva realizou uma Especializao mais voltada para o
ensino da lngua portuguesa em sala de aula; a professora Alineum curso mais voltado
para a teoria lingstica e a professora Eni um curso que enfocou questes de
linguagem mais voltadas para a Educao Especial, ou seja, para o ensino de alunos
portadores de deficincia.
De modo geral, em relao formao continuada, podemos caracterizar o
coletivo de professores que participaram de nossa pesquisa como um grupo de
profissionais que, aps a concluso da graduao (entre 1995-1999), freqentaramcursos voltados para o mbito escolar, enfocando, sobretudo, questes de ensino de
lngua materna, sejam esses cursos apenas de capacitao (Jade, Dani, Oto, Carla),
sejam de capacitao, extenso e especializao (Eni, Aline, Diva).
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2.1.2.2- Leituras realizadas
Quanto s leituras realizadas pelos participantes, conforme j assinalamos, os
professores, no questionrio informativo, indicaram de memria as obras de divulgao
de conhecimentos sobre lngua e ensino de lngua lidas nos ltimos 5 anos (1998-2002).
Por isso, no foi possvel identificar as leituras que foram indicadas pelos cursos
realizados e as leituras que foram realizadas por iniciativa prpria do professor. De
qualquer modo, as referncias bibliogrficas citadas abrangem diferentes domnios
relacionados ao ensino da lngua - leitura, texto, gramtica, alfabetizao, livro didtico
- sendo que algumas foram lidas por mais de um e outras por apenas um professor.H publicaes que foram lidas por quase todo o grupo de participantes. Seis
professoras (Eni, Jade, Dani, Diva, Aline, Carla) dizem ter lido A Coeso Textual
(1989) de Ingedore G.V. Koch e A Coerncia Textual (1990) de Ingedore V. Koch &
L.C. Travaglia. Segundo depoimentos dos professores que leram essas duas obras, no
Curso de Letras e/ou em Cursos de capacitao e/ou Especializao, estas so leituras
importantes e que ajudam muito o professor no dia-a-dia da sala de aula, do uma idia
de como trabalhar a gramtica mais contextualizada ... em funo da construo do
texto ... do sentido do texto ... para dar coeso e coerncia ao texto ... (Professora
Aline). De fato, so duas obras de divulgao dos conhecimentos da rea da Lingstica
Textual muito consideradas no contexto do ensino de lngua portuguesa, certamente em
funo de sua especificidade, que a de tornar acessveis ao estudante de Letras ou ao
professor de lngua portuguesa novas teorias e concepes produzidas no campo
cientfico de estudos da linguagem.
Seguindo essa mesma idia de divulgar novas orientaes terico-metodolgicas
para o ensino da lngua portuguesa, uma outra publicao tambm figura entre asleituras recorrentes. Dentre os sete participantes, quatro (Eni, Jade, Diva, Aline)
afirmam ter lido O texto na sala de aula, organizado por Joo Wanderley Geraldi,
sendo que trs citaram a verso antiga (1984) da referida obra e um a nova verso
(1997). Ainda que na ltima verso trs novos artigos tenham substitudo dois artigos
da primeira verso, essa coletnea organizada por Geraldi apresenta novas concepes
de lngua, texto, leitura e gramtica que, baseadas em uma perspectiva interacionista,
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visam o contexto pedaggico, ou seja, so orientaes voltadas para a prtica de leitura,
produo de texto e anlise lingstica.
Uma outra publicao que tambm recorrente nas indicaes pelos professores
das leituras realizadas Lngua e Liberdade (1993) de Celso Pedro Luft. Trs
professores (Dani, Oto, Carla) citaram esta obra entre suas leituras e, segundo seus
depoimentos, essa leitura, realizada no Curso de Letras que freqentaram na mesma
Faculdade, foi muito significativa para a reformulao de suas idias em relao ao
ensino de gramtica. Isto expresso pelo prprio autor, na apresentao do livro,
quando diz:
Dirigido contra um ensino gramaticalista da lngua materna (...) espero que [o livro]
promova debates, estudos e pesquisas em busca de reformulaes, por um ensino que
faa o aluno desenvolver-se, no encolher-se convencido de que nada sabe. (Luft,
1993:12)
Considerando esse objetivo do autor que, adotando uma perspectiva do
gerativismo chomskyano, prope a considerao da gramtica internalizada da criana
no contexto do ensino/aprendizagem da lngua materna, podemos afirmar que esta mais uma publicao, lida pelos participantes, cujo objetivo principal divulgar
conhecimentos da teoria lingstica aos alunos de Letras e professores de lngua.
Por fim, ainda cabe ressaltar uma publicao indicada como leitura realizada por
dois professores participantes (Aline, Carla): Linguagem, escrita e poder (1991) de
Mauricio Gnerre. Esse autor, preocupado com problemas que envolvem o processo de
aquisio da escrita, apresenta reflexes sobre a lngua, considerando elementos de
natureza poltica, histrica e antropolgica. Dessa forma, de uma perspectiva bem maisterica, diferentemente