tese sobre scheller
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IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009
IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação
PUCRS
A metafísica da realidade na última fase de Max Scheler: o dualismo espírito e vida.
Sérgio Augusto Jardim Volkmer, Prof. Dr.Eduardo Luft (orientador)
Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, PUCRS
Resumo
Introdução
“O homem não tem a opção de formar ou deixar de formar uma idéia metafísica e um sentimento metafísico, isto é, uma idéia que sirva de fundamento ao próprio homem e ao mundo, (...). O homem tem sempre necessidade de uma tal idéia e de tal sentimento – consciente ou inconsciente (...)” (Max Scheler, Visão filosófica de mundo, p.9)
Abrimos a apresentação deste trabalho com esta citação de Scheler para dizer que não
somente há uma metafísica por trás de toda proposta filosófica ética, política, social, etc., que
por vezes não está explicita e que por isto precisa vir a ser elucidada e submetida a uma
crítica de sua adequação à realidade, como ainda que é necessário haver uma metafísica o
mais explícita e elucidada possível. Porque toda proposição se assenta sobre um modo de
estruturar o que é visto. Assim também o é por trás das propostas éticas, políticas, sociais e
pedagógicas de Scheler, de sua compreensão dos valores, de sua compreensão de homem, de
realidade, do divino e do universo ou macrocosmos.
Por outro lado, na atualidade, quando se lançam propostas éticas, políticas, sociais,
quando se lançam programas globais de saúde para o mundo, ou para a população de um país,
muitas vezes ouvimos argumentações que se dizem baseadas em visões objetivas e
cientificamente fundamentadas sobre as necessidades do ser humano, pretensamente
alicerçadas em dados que viriam da natureza, sem a intervenção de uma metafísica ou o
aporte de preconceitos. Mas há algo além ainda, ou mais anterior, do que a determinação do
que é objetivo e do que é natural. Como Popper já mostrou no problema da base empírica, há
uma estrutura metafísica de visão de realidade mesmo na observação e descrição científica.
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Objetivos
Este trabalho tem como objetivo principal investigar a existência de uma visão
metafísica estruturadora e contínua no evoluir das diversas fases do pensamento de Scheler,
metafísica esta baseada principalmente na teoria de um princípio dualista do universo, o
dualismo entre o espírito impotente e o impulso vital capaz de atualização, e na teoria da
realidade como resistência ao organismo vital, e o possível relativismo vitalista que daí
decorre, também no que diz respeito à teoria do tempo e do espaço. Ainda relacionados à
teoria da realidade como resistência, surge a questão do fundamento motor da percepção e de
todo possível dado do conhecimento. Que implicações apresentam estes conceitos e teorias
para a ética, a antropologia, pedagogia, sociologia e outras ciências? Estas questões
apareceriam em toda a obra de Scheler, talvez já como uma tendência de evolução do
pensamento, ou somente em suas obras da última fase anterior à sua morte prematura, como
uma ruptura com as fases anteriores de seu pensamento? O foco será sobretudo a obra
Idealismo-Realismo, e as obras póstumas que expõem a metafísica inacabada de Scheler.
Apresentamos aqui citações de alguns trechos destas obras de Scheler que mais
despertaram questionamentos para o desenvolvimento do projeto desta tese:
1) A metafísica na visão de mundo, do homem e do absoluto: “(...) o homem é um microcosmos (...); todas as gerações essenciais do ser, o ser físico, químico, vivo, espiritual, se encontram e se cruzam no ser do homem; e portanto também é possível estudar no homem o fundamento supremo do ‘grande mundo’ do macrocosmos. E por isso o ser do homem enquanto microteos é também o primeiro acesso a Deus. Assim, a metafísica moderna não é mais uma cosmologia e metafísica dos objetos, mas é metantropologia e metafísica da ação” (Visão filosófica de
mundo, p.16). “O homem tem que aprender novamente a compreender a grande e invisível solidariedade de todos os seres vivos entre si na vida total, a solidariedade de todos os espíritos no espírito eterno e, ao mesmo tempo, a solidariedade do processo do mundo com o destino da evolução do seu fundamento supremo e a solidariedade deste fundamento com o processo do mundo” (O homem
na era da conciliação, p.120). “Reflexões análogas valem para a metafísica. (...). Isolar e separar o homem do seu contato imediato com a existência e a vida, com o fundamento de todas as coisa, significa uma limitação terrível do homem (...)”(O homem na
era da conciliação, p.122).
2) A compreensão de realidade como resistência (esferas de ser e realidade são campos
metafísicos distintos que se interpenetram) e a anterioridade desta em relação à auto-
consciência:
“Para um sujeito puramente intelectual, não haveria diferença entre o real e o irreal”(Idealismo-realismo,p.47).
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“É a resistência primariamente vivida em forma ekstátika a que recém aporta o actus da re-flexio, por meio do qual recém se converte em capaz de
ser consciente o impulso instintivo”(Idealismo-realismo,p.54). 3) Onipotência do impulso vital e impotência do espírito:
“Eu afirmo que o espírito possui em verdade uma essência e uma legalidade próprias, mas de maneira alguma uma energia originária própria” (A posição do homem no cosmos, p.55). “O mais poderoso que há no mundo são os centros de força ‘cegos’ em relação às idéias, às formas e figuras, os centros de força característicos do mundo inorgânico como o ponto de atuação mais baixo deste impulso supracitado” (A posição do homem no cosmos,p.64).
Metodologia
Metodologia própria de trabalhos filosóficos: Consulta à bibliografia, a professores,
leitura dos textos originais e em traduções; reflexão pessoal; participação em eventos
filosóficos e culturais; elaboração de resumos; comentários pessoais; elaboração de textos
explicativos, descritivos e dissertativos; discussão dos principais problemas, em confronto
com posições de outros autores. Elaboração de tese, identificando o problema central que
norteia a visão metafísica final de Scheler, problemas, críticas e possíveis soluções.
Conclusão O que até o momento concluímos, neste estágio inicial de nosso trabalho, é que, ao se
iniciar a apresentação de um problema metafísico tendo como partida um dualismo inicial,
como o faz Max Scheler, e muitos outros na história da filosofia, se torna muito difícil, senão
impossível, posteriormente solucionar o problema de forma a superar este dualismo numa
visão unificadora como é pretensão de toda metafísica. O problema de uma origem única, de
um ponto de partida estável, seja o espírito impotente, seja o impulso vital capaz de realizar as
representações do espírito, pelo que pudemos refletir até o momento neste estágio inicial de
nosso trabalho, fica enredado numa exposição de conceitos inconciliáveis. No decorrer deste
trabalho procuraremos elucidar as conseqüências do modo scheleriano de abordar o problema
da realidade.
Referências Básicas SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. Trad. Marco A. Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. ______.Conocimiento y trabajo. Ed. Nova: Buenos Aires, 1969. ______.Idealismo-Realismo. Trad. Agustina S. Castelli. Buenos Aires: Nova, 1962. ______.La esencia de la filosofia. Trad. Elsa Tabernig. Buenos Aires: Nova, 1964. ______.Visão Filosófica do Mundo. Trad. Regina Winberg. São Paulo: Perspectiva, 1986.
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