tese mestrado_raquel santana

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA UM CAMINHO PARA UMA MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA Carla Raquel Lourenço Santana MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA 2011

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Page 1: Tese Mestrado_Raquel Santana

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA

UM CAMINHO PARA UMA MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA

Carla Raquel Lourenço Santana

MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

2011

Page 2: Tese Mestrado_Raquel Santana

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA

UM CAMINHO PARA UMA MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA

Carla Raquel Lourenço Santana

MESTRADO EM MUSEOLOGIA E MUSEOGRAFIA

Dissertação Orientada pelo Prof. Doutor Luís Jorge Gonçalves e Coorientada pelo Prof. Doutor Paulo Sá Caetano

2011

Page 3: Tese Mestrado_Raquel Santana

Para o meu pai.

Page 4: Tese Mestrado_Raquel Santana

iv

Agradecimentos

Agradeço a todos os que me ajudaram na realização desta investigação e

que conseguiram conviver comigo durante o último ano, em particular ao

Professor Doutor Luís Jorge Gonçalves, pela orientação e por partilhar

comigo um projeto que antes de ser “nosso” foi dele.

Também ao Professor Paulo Caetano pela coorientação, porque

desempenhou um papel muito importante e sempre se mostrou disponível.

Um agradecimento especial aos que partilharam a minha ânsia de respostas

e a dificuldade em formular perguntas, em particular ao Professor Manuel

Calado, ao Miguel Manso, ao João Ventura, ao Ricardo Mendes, à Carla

Pereira e à Elisa Ochôa, mas também a todos os que em alguma conversa

me cederam a sua opinião. Obrigada Teresa, pelas traduções.

Devo também agradecer a todas as pessoas que constantemente

impressionadas me dizem: Mestrado em Museologia? Mas isso não tem

nada que ver com Design de Comunicação!. Espero com este estudo

conseguir elucidá-las.

À minha família e amigos pelo apoio incondicional e por acreditarem num

projeto que passou também a ser deles, especialmente ao Renato.

Page 5: Tese Mestrado_Raquel Santana

v

PARQUE DA PRÉ-HISTÓRIA DA ARRÁBIDA: UM CAMINHO PARA UMA

MUSEOLOGIA PARTICIPATIVA

Resumo:

Partindo do estudo do património natural e cultural da Serra da Arrábida e

com base no resultado das investigações arqueológicas levadas a cabo no

território de Sesimbra, mais propriamente na Serra do Risco, propõe-se a

criação de um Parque da Pré-história da Arrábida.

Para a construção do projeto são lançadas as bases para uma Museologia

Participativa em que se pretende, a par da salvaguarda e valorização do

património, uma efetiva aproximação e responsabilização da comunidade

local através da sua interação no processo construtivo.

São equacionadas questões relacionadas com a musealização de sítios e

monumentos arqueológicos e analisados parques semelhantes em Portugal e

na Europa.

A falta de exemplos que consigam abarcar todas as questões envolvidas

neste projeto leva a que a temática se torne inaugural no panorama das

instituições culturais.

Palavras-chave: Comunicação, Comunidade, Museologia Participativa,

Arqueologia, Património Natural, Património Cultural, Parque da Pré-história.

Page 6: Tese Mestrado_Raquel Santana

vi

PRE-HISTORIC PARK OF ARRÁBIDA: A WAY TO A PARTICIPATING

MUSEOLOGY

Abstract:

Based upon studies carried out at the natural and cultural heritage sites of the

Serra da Arrábida and bearing in mind the results of archaeological

investigations undergone in the Sesimbra area namely Serra do Risco, we

propose the creation on a Pre-historic Park of Arrábida.

For the construction of this project there must be basis for a Participating

Museology in which we project safeguard and valorize the heritage an

effective approximation and responsibilisation of the local community through

the interaction in the constructing process is paramount.

There are similar questions related with the creation of museums of sites and

archaeological monuments in parks analysed in Portugal and in Europe.

The lack of existing examples that embrace all the questions in this project

gives rise to a theme wich turns it inaugural in the panorama of cultural

institutions.

Keywords:

Communication, Community, Participating Museology, Archaeology, Natural

Heritage, Cultural Heritage, Pre-historic Park.

Page 7: Tese Mestrado_Raquel Santana

vii

Índice

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

I. Pertinência da Temática e Objectivos da Investigação ............................... 2

II. Metodologia de Investigação ...................................................................... 3

III. Organização do Trabalho .......................................................................... 5

Capítulo 1 – Caminho Para Uma Museologia Participativa ....................... 9

1.1 – A Construção do Museu ...................................................................... 11

1.1.1 – Ecomuseu ............................................................................. 21

1.1.2 – Património e Comunidade ...................................................... 23

1.1.2.1 – O Projeto Educativo ..................................................... 26

1.1.3 – Museologia Participativa ........................................................ 28

1.2 – Museologia e Arqueologia ................................................................... 30

1.2.1 – Processo de Musealização de Sítios Arqueológicos ............. 32

1.2.1.1 – Escavação e Investigação ........................................... 33

1.2.1.2 – Critérios de Representatividade do Sítio ..................... 33

1.2.1.3 – Política de Intervenção ................................................ 34

1.2.1.4 – Interpretação / Reconstituição ..................................... 34

1.2.1.5 – Gestão e Manutenção .................................................. 36

1.2.1.6 – Infraestruturas .............................................................. 36

1.2.1.7 – Comunicação ............................................................... 37

1.2.1.8 – Sinalização ................................................................... 38

1.2.2 – Parques Arqueológicos .......................................................... 39

1.2.2.1 – Caracterização geral .................................................... 41

1.2.2.2 – Organização ................................................................. 41

1.2.2.3 – Programação ................................................................ 42

1.2.2.4 – Divulgação ................................................................... 43

1.2.3 – Um Estudo de Caso - Algaba de Ronda ................................ 44

Page 8: Tese Mestrado_Raquel Santana

viii

Capítulo 2 – As Terras do Risco ................................................................. 51

2.1 – A especificidade da Paisagem ............................................................. 52

2.1.1 – Factores Naturais ................................................................... 52

2.1.2 – Factores Culturais .................................................................. 57

2.1.3 – Factores Turísticos e Económicos ......................................... 61

Capítulo 3 – Parque da Pré-história da Arrábida ...................................... 63

3.1 – Enquadramento de Um Projeto ........................................................... 63

3.2 – O Papel da Museologia Participativa ................................................... 65

3.3 – Objectivos Estratégicos ....................................................................... 66

3.4 – Modelo de Implementação .................................................................. 67

3.5 – Narrativas ............................................................................................ 68

3.6 – Programa Museológico: Um Projeto Duas Possibilidades .................. 69

3.6.1 – A Utopia do Risco .................................................................. 69

3.6.2 – A Realidade no Risco ............................................................. 71

3.7 – Modelo de Comunicação ..................................................................... 72

3.8 – Matriz FOFA ......................................................................................... 75

SÍNTESE FINAL ........................................................................................... 77

BIBLIOGRAFIA .................................................... 81

WEBGRAFIA .................................................... 85

Page 9: Tese Mestrado_Raquel Santana

ix

Índice de Figuras

Figura 1: Variáveis basilares na nova museologia ....................................... 25

Figura 2: Evolução da Instituição Museal .................................................... 28

Figura 3: Mapa do parque Algaba de Ronda ............................................... 45

Figura 4: Vista aérea da recriação do povoado de Pré-história

Recente da Algaba de Ronda ....................................................................... 46

Figura 5: Atividades educativas e didáticas dirigidas a públicos escolares . 47

Figura 6: Detalhe do acesso a uma das cabanas do povoado .................... 47

Figura 7: Trabalho experimental do sílex mediante a técnica da pressão ... 48

Figura 8: O Rosto do Risco .......................................................................... 51

Page 10: Tese Mestrado_Raquel Santana

x

Índice de Tabelas

Tabela 1: A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu ............ 23

Tabelas 2, 3 e 4: Fases do Projeto Educativo .............................................. 26

Tabela 5: Evolução do discurso museológico .............................................. 29

Tabela 6: Parques arqueológicos analisados ............................................... 40

Tabela 7: Escala cronostratigráfica do Meso-Cenozóico ............................. 54

Tabela 8: Matriz FOFA do projeto do Parque da Pré-história da Arrábida ... 76

Page 11: Tese Mestrado_Raquel Santana

xi

Índice de Anexos

Anexo I: As Terras do Risco .......................................................................... II

Anexo II: Roteiro do Parque da Pré-história da Arrábida .............................. III

Anexo III: Galeria de Imagens ...................................................................... IV

Page 12: Tese Mestrado_Raquel Santana

xii

Lista de Abreviaturas

ICOM - International Council of Museums

MINOM - Movimento Internacional para uma Nova Museologia

CNRS - Centro Nacional de Pesquisa Científica de França

PNA - Parque Natural da Arrábida

PPA - Parque da Pré-história da Arrábida

Page 13: Tese Mestrado_Raquel Santana

xiii

(...) não poderei deixar à posteridade mais do que o meu testemunho,

a que ela chamará vestígio se chegar até ela.

Paul Veyne

Page 14: Tese Mestrado_Raquel Santana

1

INTRODUÇÃO

Page 15: Tese Mestrado_Raquel Santana

2

I. Pertinência da Temática e Objectivos da Investigação

A necessidade de comunicação inerente aos indivíduos pauta a sua

vivência ao longo dos tempos. Os modos de expressão utilizados como meio

para comunicar variam consoante o contexto cronológico, natural, cultural e

social dos seus criadores. Todos os homens, em todas as épocas sentiram

esta necessidade que fez deles inevitavelmente comunicadores, mesmo nas

comunidades primitivas, das quais os meios de comunicação se mostram

eficazes passados milhares de anos após a sua utilização. O papel dos

investigadores da atualidade será então ler os vestígios destes testemunhos, e

contar a sua história ou a “nossa” história. Este é o mote para a realização da

presente investigação.

O conjunto de vestígios descobertos na Serra da Arrábida, mais

propriamente nas Terras do Risco deve, pela sua excepcionalidade

comprovada neste estudo, ser interpretado e comunicado através da criação

de um Parque da Pré-história da Arrábida, que se pretende que seja construído

para e pela comunidade local. Aliar a unicidade natural e cultural deste território

num projeto coerente e sustentável é vital para a sua correta salvaguarda e

divulgação.

O processo de construção de um projeto patrimonial está subjugado aos

princípios da museologia como ciência que pretende valorizar e divulgar os

testemunhos do homem. A relação que se estabeleceu entre a instituição

museal e os seus públicos sofreu mutações constantes e significativas ao

longo da sua existência, encontrando-se hoje num patamar em que a

interatividade e a experimentação funcionam como catalisadoras do processo

construtivo.

Neste contexto são objectivos nucleares desta investigação:

a) Entender o desenvolvimento da instituição museal ao longo dos tempos,

mas em particular recair sobre o seu papel na formação social e

intelectual dos cidadãos;

b) Estabelecer os princípios de uma nova concepção da museologia, com

aplicabilidade prática, tendo em consideração a sua relação com as

comunidades;

Page 16: Tese Mestrado_Raquel Santana

3

c) Conhecer processos de valorização e musealização do património

arqueológico e em particular projetos que aliem o património natural ao

património cultural;

d) Reconhecer a particularidade da Serra do Risco no universo da

Arrábida, tendo em vista a criação de uma estrutura museológica a ela

subordinada;

e) Propor a criação de um projeto impar com características peculiares e

em que se inaugure uma nova concepção da museologia;

f) Verificar as reais possibilidades para a realização do projeto através da

apresentação de objectivos e estratégias de atuação concretas.

II. Metodologia de Investigação

As prospecções arqueológicas iniciadas no ano de 2009 na Serra da

Arrábida revelaram um conjunto de elevado valor patrimonial, para o qual

desde logo se pretendeu criar um propósito. Considerando a dificuldade de

apresentação das temáticas relacionadas com as comunidades pré-históricas,

a solução mais viável pareceu a criação de uma estrutura museológica que

cumprisse a função de exposição e comunicação das descobertas, de uma

forma lúdica e pedagógica. A concepção de um projeto com estas

características suscitou muitas dúvidas, essencialmente pela falta de referentes

e exemplos que abarcassem todas as áreas em estudo, nomeadamente a

Biologia, Geologia, Arqueologia e Museologia.

O processo inicial passou então pela recolha de informação dos

exemplos que mais se aproximariam do proposto, como parques arqueológicos

ou museus de arqueologia com ênfase na reconstituição histórica. As questões

acerca do objectivo primordial do projeto começaram então a surgir: Será um

espaço maioritariamente de lazer e diversão? Poderão conciliar-se a vertente

lúdica e pedagógica em atividades motivadoras que desenvolvam a

investigação arqueológica? Terá o parque um impacto efetivo junto da

comunidade local?

A análise dos exemplos nacionais e europeus considerados como

amostra revelou algumas lacunas nas respostas procuradas. Assim, foi

Page 17: Tese Mestrado_Raquel Santana

4

necessária uma reflexão detalhada sobre a museologia e o modo como se

poderia adaptar e evoluir para permitir a efetiva participação dos visitantes na

construção do museu.

A concepção proposta baseia-se na análise de exemplos de projetos

educativos em que as instituições procuram estabelecer uma relação estreita

com os seus visitantes, o ambiente e a comunidade local.

A bibliografia analisada serviu essencialmente para o cruzamento de

dados e teorias que permitissem uma visão abrangente sobre o mundo dos

museus, o seu caminho e possibilidades futuras.

No que concerne à vertente arqueológica, foram considerados

essencialmente estudos e ensaios sobre a valorização do património

arqueológico na atualidade e o modo como se estabelece a incursão da

arqueologia experimental em projetos de investigação.

A aproximação ao universo em estudo, a Serra da Arrábida, foi

trabalhada pelo meio de visitas ao local, acompanhadas por técnicos e

investigadores envolvidos nos trabalhos arqueológicos ou ligados à vertente

científica do estudo da paisagem, possibilitando assim a recolha de

testemunhos relevantes quanto ao impacto do projeto a nível ambiental,

cultural e social.

O facto de se projetar uma estrutura no seio do Parque Natural da

Arrábida, levanta questões pertinentes no que concerne à legislação a que o

espaço está subordinado, sendo então fulcral equacionar estratégias

sustentáveis que não inviabilizem a realização do projeto. Foi também

considerada a propriedade dos terrenos e os interesses a ela inerentes, bem

como a necessária institucionalização do processo, dado que o espaço

abrange os concelhos de Sesimbra e Setúbal.

As entrevistas realizadas na investigação, a técnicos da Câmara

Municipal de Sesimbra e a elementos da equipa que trabalhou no terreno

desde o início das descobertas, foram de cariz informal. Os testemunhos

recolhidos, não obedecendo a regras metódicas próprias da entrevista,

serviram essencialmente para se apurarem as opiniões dos entrevistados, de

modo a possibilitar o cruzamento dos dados recolhidos para organização do

pensamento construtivo do processo de realização do Parque da Pré-história.

Page 18: Tese Mestrado_Raquel Santana

5

III. Organização do Trabalho

O enquadramento teórico da investigação apresentada está estruturado

de modo a refletir as temáticas que concorrem à formulação do processo de

criação do Parque da Pré-história da Arrábida.

A presente nota introdutória pretende dar a conhecer a pertinência da

temática bem como os objectivos a atingir com a realização da investigação,

sua metodologia e organização teórica.

Museologia e Arqueologia são conceitos basilares trabalhados no

Capítulo 1. Inicialmente é dada a conhecer a construção da instituição museal

desde a sua origem e sobretudo a importância da relação que estabelece com

os públicos desde então. O conceito de Ecomuseu é inevitavelmente estudado,

para que as relações entre património e comunidade se compreendam. São

analisados métodos que concorrem à realização de projetos educativos com

comunidades, numa tentativa de estabelecer os princípios orientadores da

Museologia Participativa. A inauguração deste conceito é fulcral visto que

pretende estabelecer uma aproximação cuidada e trabalhada aos públicos, de

modo a que estes se tornem parte integrante do processo construtivo do

museu. A existência de serviços educativos nas instituições culturais teve um

impacto significativo no que toca à diversificação da oferta e aumento de

visitantes. Contudo, está ainda numa fase inicial o reconhecimento destas

instituições no campo social e intelectual, como integrantes do processo

educacional dos indivíduos. Pretendesse então reconhecer este papel e

enaltecê-lo para que nos dias de hoje e no futuro se possam construir

processos em parceria, valorizando a identidade cultural dos locais e sua

comunidade, bem como contribuir para o seu desenvolvimento social e

económico.

No campo da Arqueologia são explicitados os princípios, estratégias e

dificuldades inerentes ao processo de musealização de sítios arqueológicos

para que melhor se entenda o universo a tratar posteriormente. A escassa

informação sobre parques arqueológicos ou da pré-história dificultou a tarefa

essencial de análise da sua organização e funcionamento. Contudo, a

pesquisa levou à seleção de uma amostra significativa analisada segundo os

seguintes critérios: caracterização geral, organização, programação e

Page 19: Tese Mestrado_Raquel Santana

6

divulgação. Será ainda analisado com maior pormenor o caso específico da

Algaba de Ronda, pela sua semelhança no que diz respeito à tentativa de

aproximação aos públicos através da arqueologia experimental.

O Capítulo 2 apresenta o território que servirá de cenário ao projeto, as

Terras do Risco. Pretende-se esmiuçar a especificidade da paisagem de modo

a que se compreendam as variáveis naturais, culturais e simbólicas que a

tornam passível de ser, urgente e devidamente, salvaguardada e divulgada. A

sua geodiversidade e biodiversidade serão assim exploradas para que se

conheça o território desde a sua formação à atualidade, abordando-se as

questões que levaram à sua ocupação pelas comunidades pré-históricas. Esta

ocupação será também caracterizada e mapeada através do estudo das

evidências arqueológicas existentes.

Considerando a hipótese de realização de uma estrutura museológica

neste contexto, deve perceber-se a relação que se estabelece entre ele e a

comunidade local, daí a necessidade de enquadrar a Arrábida nas dinâmicas

turísticas e económicas vigentes na região.

Após análise do território a trabalhar e passando à fase de apresentação

do projeto, no Capitulo 3, devem refletir-se as políticas de valorização do

património no concelho de Sesimbra, de modo a enquadrar o Parque da Pré-

-história e entender as razões que o tornam necessário. O entendimento deste

projeto passa pela explicação do papel da já referida Museologia Participativa

na sua realização, de modo a que se estabeleçam objectivos estratégicos e se

desenhe um modelo de implementação. A conjuntura ambiental da Arrábida é

equacionada assim como os parâmetros legislativos de que depende.

Acrescendo a este contexto a atual escassez de meios financeiros, na

concepção do programa museológico sentiu-se a necessidade de apresentar

duas possibilidades. Ambas são viáveis e cumprem os objectivos propostos,

sendo a primeira para a criação da estrutura in situ, ou seja, na Serra do Risco,

e a segunda para a criação deslocalizada do polo aglutinador do parque.

Os fenómenos culturais da atualidade estão marcadamente

dependentes do contexto social e económico dos indivíduos, daí a necessidade

de se refletir sobre o modo como se pode comunicar o património e motivar os

públicos quando não estão asseguradas todas as condições vitais à sua

adequada sobrevivência. É então objectivo nesta fase, conceber um modelo de

Page 20: Tese Mestrado_Raquel Santana

7

comunicação eficaz e que possa ter um impacto efetivo e positivo junto dos

potenciais frequentadores do parque.

Para a concepção de qualquer projeto é considerada essencial uma

avaliação do ambiente e condições em que se insere. Para tal, foi criado um

quadro de análise FOFA (ou SWOT) em que se apresentam pontos fortes e

pontos fracos inerentes ao projeto, e oportunidades e ameaças provenientes

do ambiente externo em que está inserido.

Finalmente, as Considerações Finais pretendem esclarecer o lugar da

Museologia Participativa enquanto modeladora do processo de construção do

Parque da Pré-história da Arrábida, lançando questões no campo da

valorização do património natural e cultural. São tecidas sínteses conclusivas

que, em resposta aos objectivos traçados, procuram efetivar o melhor caminho

para a implementação e comunicação do Parque como estrutura patrimonial

autossustentável.

Page 21: Tese Mestrado_Raquel Santana

8

Page 22: Tese Mestrado_Raquel Santana

9

Capítulo 1

Caminho Para Uma Museologia Participativa

Comunicação

(nome feminino)

1. ato ou efeito de comunicar;

2. troca de informação entre indivíduos através da fala, da escrita, de um código comum

ou do próprio comportamento;

3. o facto de comunicar ou estabelecer uma relação com algo ou com alguém; relação;

correspondência;

4. o que se comunica; mensagem; informação; aviso; anúncio;

5. meio técnico usado para comunicar; transmissão;

6. capacidade de entendimento entre as pessoas através do diálogo;

7. passagem de um local a outro; acesso; via; órgãos de comunicação social; conjunto

dos jornais, revistas e dos meios audiovisuais que têm como missão principal informar

o público.

(Do latim communicatiōne-, «ação de participar»)1

Museologia

(nome feminino)

Ciência que trata da construção, disposição e equipamento dos museus, no sentido de criar as

condições internas que mais bem valorizem a exposição do recheio e lhe assegurem a

longevidade em perfeito estado, bem como o arranjo e realce da distribuição desse recheio.

(Do grego mouseĩon, «museu» +lógos, «tratado; estudo» +-ia)2

1 http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/comunicação 2 http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/museologia

Page 23: Tese Mestrado_Raquel Santana

10

O aparecimento do segundo indivíduo na terra, constitui em si, o mote

para o modo como as relações se estabelecem desde aí à atualidade. Sendo

características únicas do Homem a linguagem e a capacidade intelectual, a

atividade social depende das relações que se estabelecem e do modo como se

estabelecem. O como, é o elo de ligação das comunidades. A comunicação

estabelecesse assim, desde o início, como meio fundamental para a vida em

sociedade.

Nem em todos os momentos a comunicação se estabeleceu da mesma

maneira, mas quer através da fala, da escrita ou da criação de objetos, os

homens começam a criar modos de expressão que possibilitam a interação,

quer uns com os outros (em comunidade), quer com o meio que os rodeia (na

construção de estruturas básicas que melhorem o dia a dia), quer com o que

não compreendem (o lado místico da inevitabilidade da morte ou a

incompreensão de fenómenos naturais de grande expressão).

A comunicação deu assim origem a variados testemunhos de todas as

épocas aos quais é conferido determinado estatuto e importância, quer pelo

seu valor estético e simbólico, quer pelo seu valor histórico e pelo contributo

que podem fornecer na compreensão das civilizações.

A necessidade de agrupar esses testemunhos, artísticos ou

documentais, estabelece as origens do museu, e consequentemente, ao longo

dos tempos, da ciência que se encarrega de estabelecer os seus princípios e

funções, a museologia.

Pretende-se então, nestas primeiras páginas, explanar a evolução da

instituição museal e da museologia até à atualidade, para que se

compreendam e justifiquem os caminhos e desafios que se apresentam num

futuro próximo às instituições que se encarregam, em primeira instância, do

depósito e exposição dos testemunhos da humanidade.

Page 24: Tese Mestrado_Raquel Santana

11

1.1 – A Construção do Museu

Conceito de Museu3 1 – Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem

fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) Garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da

investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação,

exposição e divulgação, com objectivos científicos, educativos e lúdicos;

b) Facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção

da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

2 – Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as

características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu,

ainda que o respectivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas,

testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes

ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.

Funções do museu4

O museu prossegue as seguintes funções:

a) Estudo e investigação;

b) Incorporação;

c) Inventário e documentação;

d) Conservação;

e) Segurança;

f) Interpretação e exposição;

g) Educação.

3 Artigo 7.º da Lei n.º 47/2004 4 Artigo 3.º da mesma Lei.

Page 25: Tese Mestrado_Raquel Santana

12

O início da história dá-se com a invenção da escrita, “Por essência, a

história é conhecimento através de documentos”5, sistema que através da

associação de símbolos gráficos comuns a um conjunto de indivíduos que os

reconhecem e descodificam, lhes permite comunicar de modo simples e eficaz.

Mas, já na pré-história, ou seja, aquando da existência de civilizações antes da

escrita, era possível estabelecer relações de significação para que os

indivíduos se entendessem com facilidade. As relações deviam estabelecer-se,

como referido acima, em comunidade, com o espaço físico, mas também com

o lado místico e incompreensível. A misticidade da vida e da morte, tanto no

que se refere ao homem como ao universo, pode considerar-se marcante

nestas civilizações, dela fazem depender as suas rotinas e rituais. Interessa

nesta relação abordar a importância dada aos túmulos que construíam para os

mortos e seus pertences. A crença na vida após a morte, pauta assim a

construção dos primeiros depósitos de objetos, que, sem qualquer lógica ou

discurso, serviam de meio entre a vida terrena e a sagrada, ou o desconhecido.

Neste contexto, é compreensível que já na pré-história determinados objetos,

detentores de um estatuto que os elevava da sua mera função utilitária, fossem

depositados em locais sagrados.

A perda de função para permanecimento na memória colectiva, é pois

uma característica do objecto de museu. O objecto pode dizer tanto da sua

época, para além do seu valor estético e artístico, que deve ser exposto e dar

o seu contributo na construção e no não esquecimento da história.

O saber foi então “guardado” ao longo dos tempos em locais mais ou

menos organizados e com, ou sem, a preocupação de ser dado a conhecer

democraticamente.

A palavra museu deriva do grego mouseĩon, nome dado pela civilização

grega aos Templos das Musas, locais de estudo e criação onde se reuniam os

saberes. Os objetos belos ou provenientes do conhecimento científico e

filosófico eram então acumulados em espaços sagrados, onde apenas a elite

académica ou religiosa poderia privar, de que é exemplo a Pinacoteca de

Atenas.

5 VEYNE (2008): 13

Page 26: Tese Mestrado_Raquel Santana

13

As grandes conquistas da época romana foram retratadas e dadas a

conhecer nos locais públicos para exaltação do poder imperial e como epíteto

da eternidade. Nesta época é permitida a exposição de coleções privadas à

sociedade e a investigação é levada a cabo não apenas pela ânsia do saber,

mas pelo gosto pelo colecionismo.

O cristianismo relega toda a vida terrena para segundo plano e centra a

intelectualidade na igreja e seu imaginário. A arte serve de suporte para a

transmissão da doutrina e como meio para educar o povo na cristandade,

sendo então patrocinada e apoiada pelos poderes vigentes. Os mosteiros e os

palácios da época medieval são assim autênticos depósitos de tesouros com

elevado valor artístico, simbólico e económico.

A ânsia pelo saber e o gosto pelo colecionismo acima referidos acabam

por culminar, no Renascimento, na multiplicação das câmaras de maravilhas

(Wunderkammer) e das câmaras de arte (Kunstkammer), os gabinetes dos

humanistas e dos príncipes adquirem um importante papel na formação do

gosto. Os artistas, gradualmente, são reconhecidos pelos seus saberes

filosóficos e matemáticos e deixam o universo do simples artesão executante.

A investigação passa para níveis mais refinados, notando-se na pintura o gosto

pela ruína, fruto de uma investigação arqueológica emergente. Os estudos

científicos são cada vez mais elaborados e começam a desenhar-se os

primeiros museus de ciência natural.

Giorgio Vasari (1511-1574), funda em 1563 a Accademia del Disegno,

em Florença, lançando o mote para o ensino académico das artes e impul-

sionando a formação de coleções ímpares que pudessem servir de modelo aos

aprendizes. Vasari elaborou estudos sobre vários génios do Renascimento

contribuindo para o reconhecimento de um estatuto próprio para as artes e os

artistas, conferindo-lhes identidade própria e valorizando as suas obras.

As grandes galerias da renascença ostentavam o poder e a riqueza do

colecionador. As paredes eram forradas a quadros dos grandes mestres, para

melhor se entenderem motivações e técnicas, que através da comparação

serviriam de modelo às artes do futuro. Contudo, esta organização confusa e

sem pretensões ao nível da narrativa ou discurso vinha estabelecer o primeiro

modelo de exposição das obras.

Page 27: Tese Mestrado_Raquel Santana

14

As cortes mais abonadas começam pois trocas comerciais para

engrandecer as suas coleções dando-se o mote para um mercado artístico

nem sempre lícito.

É premente referir que a catalogação das obras vai gradualmente

evoluindo. Os primeiros documentos que pretendem inventariar os pertences

das famílias mais ricas são os seus testamentos, que possibilitam hoje, saber a

origem de determinadas obras. No decorrer dos séculos XVI e XVII verifica-se

a preocupação de descrever, mesmo que sumariamente, a constituição das

coleções pelo seu crescente valor económico num mercado da arte que se

começa a formar.

As conquistas do território pelas nações imperiais levam a descobertas

de valor científico e etnográfico elevado. Descobertas essas, que eram também

tidas como testemunhos colecionáveis e passíveis de serem estudados.

A primeira instituição que surgiu na história com o nome de museu foi o

Ashmolean Museum, “Founded in 1683, the Ashmolean is Britain’s first public

museum and home to the University of Oxford’s world-class collections of art

and archaeology.” 6

A partir de meados do século XVIII os museus propagam-se pelo

território e crescem em número e progressivamente em qualidade. Iniciam-se

grandes mudanças na sociedade e no modo de entender a história que pautam

o desenvolvimento da instituição museal. Neste século Johann Joachim

Winckelmann (1717-1768) estabelece os fundamentos para o estudo da

história da arte, apesar do seu reconhecimento académico apenas se

consolidar em 1844 na Universidade de Berlim. 7 O modelo sistemático e

científico da história da arte começa a ser delineador do discurso da

museologia. As obras passam a ser apresentadas cronologicamente por

escolas nacionais e começam a notar-se esforços para uma maior coerência

na apresentação/exposição. A revolução cultural do Iluminismo contribui para a

sistematização dos campos temáticos dos museus, o que do ponto de vista do

discurso museológico, é fulcral para o desenvolvimento do papel desta

instituição na sociedade.

6 http://www.ashmolean.org/transforming/ 7 http://pt.wikipedia.org/wiki/História_da_arte

Page 28: Tese Mestrado_Raquel Santana

15

A Revolução Francesa (1789-1799) altera completamente a direção que

tomava o mundo. O “tempo das luzes” clarifica mentalidades e, apesar de

marcada por muitas disputas com consequências negativas, desbrava caminho

para políticas sociais e culturais democráticas, dando direitos iguais aos

indivíduos.8 O ensino e o conhecimento devem ser para todos. As coleções

começam gradualmente a passar do domínio privado para o público, sendo

mesmo algumas transferidas para o património estatal. A acessibilidade às

obras vai aumentando e a instituição pública museu, apercebesse das suas

potencialidades formativas e didáticas e, sem fins lucrativos, toma como

principal objectivo o serviço público.

O Museu do Louvre abre portas a 10 de Agosto de 1793 com o intuito de

inaugurar estes princípios de igualdade. As coleções reais são apresentadas

ao público em geral segundo uma seleção rigorosa. Evidentemente passamos

de uma museologia da contemplação, onde em primeira instância as obras

seriam individualmente contempladas com fins de aprendizagem, para uma

museologia do discurso, onde organizado cronologicamente e por escolas, o

conjunto das obras acarreta uma mensagem que deve ser transmitida ao seu

público.

Aquando destas transformações, os museus de arqueologia seriam os

mais numerosos, servindo de inspiração para os artistas e prestigiando os seus

colecionadores, contundo, possibilitando uma maior aceitação de novos ideias

artísticos com o início dos museus de arte contemporânea, para exaltação do

espírito cultural do presente.

Em 1815 dá-se outra alteração diplomática a nível global de grande

importância, o Tratado de Viena. Nos museus algumas das repercussões são a

criação dos descentralizados museus de província e a abertura de academias

das artes com sede em coleções locais.

Esta descentralização havia de ser posta à prova com a tão relevante,

Revolução Industrial que tem início em Inglaterra em meados do século XVIII e

se propaga gradualmente pelo mundo ao longo do século XIX. A

8 Como todas as revoluções, apesar de se apoiar em ideais de “liberdade, igualdade e fraternidade”, teve o seu lado negro, que não passou aquém dos museus. As pilhagens de bens artísticos e tesouros foram uma constante, fazendo com que alguns se perdessem completamente da sua origem nunca tendo regressado. É um facto que o conhecimento deve ser de todos, mas sendo o património delineador da memória colectiva de um povo, é essencial que as questões de pertença não sejam descuradas.

Page 29: Tese Mestrado_Raquel Santana

16

industrialização e a proletarização trazem ao mundo alterações económicas e

sociais consideráveis, iniciando-se mudanças que pautariam as tecnologias e

os processos de fabrico do futuro.

As classes sociais sofrem mudanças no que toca ao seu poder

económico, sendo a classe dominante a burguesia. A fuga massiva dos meios

rurais para os centros urbanos é também característica desta época em que se

buscam melhores condições de vida a todo o custo.

Vários movimentos artísticos pretendiam chegar a todos os indivíduos,

e, para que isso fosse possível, havia que diminuir os custos de produção dos

objetos e produzi-los em quantidades significativas, perdendo-se assim a

importância dada ao génio artístico e sua individualidade. As artes decorativas

surgem como resposta a estas necessidades. A exaltação do mundo industrial

tem o seu apogeu nas grandes exposições universais, onde se mostram ao

mundo as possibilidades cada vez mais democráticas das industrias

emergentes. Continuamos então perante um discurso

museológico/museográfico que pretende exaltar de modo elitista (porque as

soluções continuam inalcançáveis à maioria dos indivíduos), mas democrático

(todos podem ser espectadores dos progressos tecnológicos e artísticos da

ideologia triunfante).

A perda de poder da igreja e da realeza culmina na transferência dos

seus bens culturais para o estado, o que possibilita a criação de um maior

número de museus estatais. Ao longo do século XIX os museus vão

gradualmente ocupando o seu lugar na sociedade e no ensino artístico.

Os ideais positivistas resultantes de tantas alterações filosóficas,

científicas e sociais no mundo, têm também os seus reflexos no modo de

pensar o museu. A datação, a classificação e a documentação (agora também

com o apoio da fotografia que surge em 1826) começam a ser encaradas como

essenciais nas coleções, e com o desenvolvimento das profissões técnicas

relacionadas com o museu, o restauro assume também o seu papel na

preservação das obras.9

Os desenvolvimentos científicos e tecnológicos são também evidentes

no campo da arqueologia, em que os progressos físicos e químicos contribuem

9 RIVIÈRE (1989): 100

Page 30: Tese Mestrado_Raquel Santana

17

para a identificação e datação das descobertas arqueológicas e

paleontológicas, e abrem o caminho à pesquisa do retrato tecnológico,

económico, social e cultural dos primeiros homens. 10 Essencial para esta

investigação é também o estudo da terra e da sua antiguidade, que se inicia

com a necessidade de exploração dos recursos geológicos e mineiros.

A mobilização do povo para as grandes cidades leva à perda das

sociedades rurais notando-se a necessidade de reunir e preservar os

testemunhos deixados para trás nos museus de antropologia.

A demarcação temática e multidisciplinar dos museus vai-se delineando

crescendo estes exponencialmente em número e na qualidade da oferta aos

seus públicos alvo.

Paralelamente a estes acontecimentos, as ciências naturais ganham

também em estatuto e os territórios naturais começam a ser vistos também

como património preservável. Os parques nacionais ganham identidade e

legislação próprias e são organizados de modo a que se possa tirar deles todo

o partido possível, respeitando ecossistemas característicos que necessitam de

maior cuidado e vigilância. O primeiro parque natural do mundo é o

Yellowstone National Park, criado em 1872 no estado do Wyoming, Estados

Unidos da América. Os museus de natureza selvagem propagam-se assim

pelos Estados Unidos e pelo mundo.

As revoluções e progressos acima descritos, e muitos mais que não têm

lugar nestas páginas mas são de igual relevância, conduzem-nos até ao século

XX, século de consolidação, mas também de ruptura no que toca ao campo

dos museus.

Os museus são agora instituições reconhecidas pelo seu valor

patrimonial e educativo, e organizados sistemática e metodologicamente,

possibilitam o desenvolvimento de novas linguagens e discursos. São

construídos museus de raiz para albergar coleções de renome, ou para

constituição de novas coleções, contemporâneas. As galerias e os centros de

arte desempenham também um papel fundamental, principalmente no que toca

ao desenvolvimento de um mercado da arte cada vez mais rico e globalizado.

10 Ibidem: 100

Page 31: Tese Mestrado_Raquel Santana

18

Os desafios colocados à museologia são crescentes e proporcionais às

transformações da sociedade. Os diretores dos museus apercebem-se de que

estes desempenham um papel relevante na formação dos cidadãos e iniciam

atividades públicas cada vez mais frequentes, como visitas guiadas ou

conferências e palestras subordinadas a variados temas. A aproximação aos

públicos através do discurso começa a fazer cada vez mais sentido até se

tornar vector estruturante do programa museológico.

Contudo, aquando da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), é evidente a

destruição ou fecho de muitos museus com coleções de grande importância.

Nesta altura, como nas revoluções anteriormente apresentadas, as pilhagens

são uma constante e a alienação de património volta a verificar-se.

Em 1937, Jean Perrin (1870-1942) cria o Palais de la Décoverte, em

Paris. Este museu pedagógico da ciência e da tecnologia pretendia dar aos

públicos a possibilidade de ver e experimentar a ciência, aproximando-os do

conhecimento, sobretudo os mais jovens.

A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) tem também repercussões

significativas na museologia, sobretudo no que toca à exaltação do patriotismo

e à predominância das ideologias políticas de cada nação. O museu é utilizado

de novo, como meio de comunicação entre o poder e os cidadãos.

O prelúdio da crescente importância da função educativa nos museus,

foi já explicitado, mas é verdadeiramente a partir de meados do século XX, que

os museus na sua generalidade se começam a encaminhar nesta direção.

A criação em 1946, do International Council of Museums (ICOM), a

primeira organização profissional não governamental dedicada aos museus,

vem alterar substancialmente o modo como estes se autogeriam e avaliavam.

Com sede em Paris, "o ICOM é a maior organização internacional de museus e

profissionais de museus dedicada à preservação e divulgação do património

natural e cultural mundial, do presente e do futuro, tangível e intangível.”11 O

auxílio aos profissionais de museus passa por áreas como “cooperação e

intercâmbios profissionais; sensibilização e divulgação dos museus; formação

profissional; promoção da ética profissional dos museus; preservação do

património e combate ao tráfico ilícito da propriedade cultural.”12

11 http://www.icom-portugal.org/pagina,123,152.aspx 12 Ibidem

Page 32: Tese Mestrado_Raquel Santana

19

As conferências gerais do ICOM passaram a desempenhar um papel

fundamental no desenvolvimento dos museus a partir de então. É assumido

que a museologia é uma ciência prática, subsidiada a conhecimentos de outras

ciências, sendo assim multidisciplinar, mas autónoma no toca à criação do seu

discurso e pensamentos delineadores.

Em 1985, em Lisboa aquando do segundo Workshop Internacional da

Nova Museologia, nasce o Movimento Internacional para uma Nova

Museologia (MINOM)13, apoiado em princípios de justiça e igualdade aplicados

na sociedade e que levam à reflexão do conceito de museologia global. As

diferenças sociais e culturais dos indivíduos podem ser ultrapassadas num

pensamento único e gerador de melhores condições de vida, sendo a

museologia um meio para atingir este fim.

As funções da museologia, recolher, preservar, investigar, gerir e

divulgar os testemunhos do homem e da natureza com fins de educação e

deleite, estão completamente consolidadas e alterando o significado e

produzindo novo conhecimento apoiado na reflexão teórica e prática, esta

ciência pode servir de suporte educacional na formação dos cidadãos, não

apenas a nível cultural e artístico, mas também intelectual e social.

Chegamos então a uma época em que os públicos são parte integrante

e indissociável dos museus, como geradores de discussão e reflexão para

melhor satisfazer as necessidades e expectativas da sociedade em constante

mutação a nível político, económico, social e artístico. Os museus de hoje,

estudam os públicos para melhorar a sua oferta e estreitar laços.

A linha de pensamento seguida até ao momento parece de fácil

compreensão, sendo justificada a evolução do museu até aos nossos dias.

Mas será hoje o museu essa instituição completamente virada para os seus

públicos? Serão as ofertas culturais suficientemente interessantes? Estará o

património verdadeiramente salvaguardado?

“A recente explosão de iniciativas propatrimoniais, muitas vezes

incompetentes ou orientadas por interesses egoístas, e o crescimento das

indústrias do turismo de lazer e do turismo cultural têm gerado numerosos

efeitos negativos no campo social e sobre a preservação do próprio

13 http://www.minom-icom.net/index.php

Page 33: Tese Mestrado_Raquel Santana

20

património.”14 A afirmação de Adília Alarcão parece responder às questões

acima colocadas.

Por um lado podemos refletir sobre as mais valias dos museus de hoje

como a maior salvaguarda do património, a aproximação aos públicos ou a

melhor eficácia na comunicação, mas por outro, não podemos esquecer os

perigos que acarretam determinadas ideias pré-concebidas e

institucionalizadas que são tidas em conta sem uma interpretação válida para

cada um dos casos.

Vivemos na sociedade dos excessos e da múltipla oferta a todos os

níveis. Os visitantes dos museus aumentam, mas exigem consequentemente

atividades mais ricas em conteúdo e experiência, que nem todos podem

oferecer. O excessivo número de museus, nacionais, locais, regionais, públicos

ou privados, leva-nos a situações de precariedade e deficiência ao nível dos

recursos económicos e consequentemente humanos. O défice em número e

formação dos recursos humanos dos museus públicos acarreta consequências

inevitáveis e por vezes irreversíveis para os museus, ou para as obras, no que

toca a problemas relacionados conservação, ou conservação preventiva.

Durante muitos anos o inventário (ou o bom inventário) não foi

considerado essencial para o bom funcionamento do museu, hoje sabemos

que é fulcral, pois através dele a salvaguarda do património é mais eficaz, e a

política de incorporações da instituição pode também ser mais fundamentada.

O património in situ, ou seja, o património que deve ser salvaguardado

no seu local de origem sem que possa ser transferido para as instalações do

museu, é também uma preocupação.

A degradação de alguns museus e a falta de recursos que viabilizem a

sua correta manutenção tem estado também em discussão. As instituições que

dependem somente dos subsídios estatais, tendem a correr sérios riscos dada

a atual situação económica global.

Estas são apenas algumas questões prementes que podem ser tidas

em conta quando falamos na falência do museu de hoje.

As políticas de gestão dos museus são estanques e devem obedecer à

legislação em vigor, o que faz com que muitas entidades gestoras de museus

14 ALARCÃO (2009): 9

Page 34: Tese Mestrado_Raquel Santana

21

não procurem soluções viáveis e criativas, conforme a lei, para melhor

responder às suas necessidades.

O museu depende somente das pessoas. Das pessoas que o gerem e o

fazem funcionar, e das pessoas que o visitam e através dele adquirem

conhecimento. O individuo é em todos os sentidos parte integrante desta

instituição, e ela dependerá consequentemente dele.

1.1.1 – Ecomuseu

Após entendimento da evolução da instituição museal ao longo dos

tempos, é vital para este projeto uma passagem explicativa sobre o conceito de

ecomuseu. As repercussões do museu na sociedade serão então cada vez

mais evidentes ao longo das próximas páginas. Este conceito é considerado

por muitos autores utópico e inalcançável, mas por outros, o início de uma era

para uma nova museologia, não apenas do discurso mas da comunidade.

A palavra ecomuseu é aplicada pela primeira vez por Robert Poujade

(1928), ministro do ambiente de França, em 1971 aquando da 9ª conferência

geral do ICOM, contudo, os ideais deste conceito haviam sido explanados por

Georges Henri Rivière (1897–1985) e Hugues de Varine (1935), seu substituto

no cargo de presidente do ICOM em 1965.

A relação entre o homem e o seu ambiente natural deverá ser o mote

para o desenvolvimento destes museus do tempo e do espaço, contribuindo a

alteração da visão da política de ordenamento do território com vista às

receitas provenientes do turismo e a valorização das áreas protegidas com

estruturas museográficas que permitissem um maior diálogo com a

comunidade, para a sua real concretização.

O público e a qualidade da relação que mantem com o referente

(museu, exposição, obra) são então as razões motivadoras para novas

concepções na forma de devolver o espaço e o tempo à comunidade. “Un

espejo en el que dicha comunidad se mira para reconocerse, en el que indaga

la explicación del territorio en el que está arraigada, junto a las colectividades

predecesoras, tanto en la discontinuidad como en la continuidad de las

generaciones. Un espejo que esta comunidad ofrece a sus huéspedes para

Page 35: Tese Mestrado_Raquel Santana

22

hacerce comprender mejor, com el respeto debido a su trabajo, sus

comportamientos y su intimidad.” 15 Os membros da comunidade, em conjunto

com as instituições que detêm o poder, devem ser fazedores do processo

museológico e nele encontrar retorno melhorando substancialmente a sua vida.

“Un ecomuseu es un instrumento concebido, construido y explotado

conjuntamente por un poder y una comunidad.” 16 A parceria entre a

comunidade e as instituições detentoras de poder administrativo e económico

deve resultar numa construção benéfica para ambas e para o património que

pretendem salvaguardar e valorizar.

Ecomuseu pode então ser caracterizado segundo as seguintes

variáveis: una expresión del tiempo (apresentando o passado, o presente e

preparando o futuro); una interpretación del espacio (de espaços privilegiados

que mantêm uma relação estreita com a sua comunidade ao longo dos tempos

e ao mesmo tempo são dela caracterizadores); un laboratório (onde o estudo

histórico, a formação, a investigação e a cooperação são variáveis

indissociáveis); un conservatório (na medida em que pretende preservar e

conservar o património); una escuela (subordinando as suas atividades a

temáticas ricas à comunidade com vista à compreensão e resolução dos seus

problemas).17

Como instituição do e para o território e a comunidade, o ecomuseu

traduz a ocupação de um espaço físico por um conjunto de pessoas através da

interpretação dos seus testemunhos patrimoniais ao longo dos tempos. Assim

sendo, pode diferenciar-se do museu tradicional no que toca aos seus vectores

caracterizadores. A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu, foi

sintetizada por Varine em 1974, no quadro seguidamente apresentado.

15 BOLAÑOS (2002): 284 16 Ibidem. 284 17 Esta sintetização o é resultado da análise dos textos BOLAÑOS (2002)2 RIVIÈRE (1989)2 e HUBERT (1989). Os pontos em comum nas teorias são caracterizadores do conceito interdisciplinar de ecomuseu, que aqui, se pretende servir de apoio à formulação de novas ideias geradoras do projeto a apresentar no decorrer deste trabalho.

Page 36: Tese Mestrado_Raquel Santana

23

Museu Tradicional Ecomuseu

Coleção Património

Público Comunidade18

Edifício Território

Tabela 1: A diferenciação entre o museu tradicional e o ecomuseu19

1.1.2 – Património e Comunidade “Le musée est une institution en perpétuelle mutation.” 20 Esta afirmação

de Rivière caracteriza genérica e sumariamente o que ele considera como

museu, ou ecomuseu. As constantes transformações a que se refere são

simplesmente fruto da incontornável relação de dependência entre o museu e

os seus públicos. Ora se estes estão em constate desenvolvimento porque

inseridos numa sociedade mutável, o museu terá também constantemente de

acompanhar essa evolução para melhor se adequar a novas necessidades.

Como se comprovou nas páginas anteriores, ao longo dos séculos, mas

principalmente no século XX, as alterações sociais e culturais foram constantes

e fulcrais para o modo como hoje se encara a mediação entre o museu e os

públicos. Assim, numa sociedade onde as ofertas são múltiplas a todos os

níveis, o museu tem a tarefa de encarar na sua missão uma preocupação

crescente no que toca a modelos de comunicação e interação. As

componentes lúdica e pedagógica nunca devem ser descuradas, devendo

devolver-se ao destinatário da mensagem de modo claro e apelativo os pontos

de partida e de chegada às conclusões apresentadas.

A diversidade de públicos é hoje encarada como uma mais valia para o

museu, sendo as diferenças sociais, económicas, intelectuais ou culturais

trabalhadas para melhor se chegar a cada grupo. As interpretações possíveis

devem ser tratadas pelos técnicos do serviço educativo do museu para que a

18 Pode dizer-se que a comunidade, como criadora e paralelamente destinatária do seu próprio discurso, tem um valor acrescentado. Este princípio será tão válido, que atualmente nas novas concepções museológicas, se pretende dos públicos dos museus que sejam criadores e simultaneamente fruidores do produto do museu. (Esta afirmação será retomada, e devidamente explanada, nas páginas seguintes) 19 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecomuseu 20 DESVALLÉES (1989): 346

Page 37: Tese Mestrado_Raquel Santana

24

comunicação gere conhecimento e massa crítica, influenciando os modos de

ver e de compreender o mundo. “Los educadores deben ser capaces de dotar

a los visitantes de instrumentos para cuestionar la comprensión, el significado y

la voz de los mensajes expositivos, aportando nuevas lecturas que

proporcionarán una visión más amplia e crítica de la institución museística.” 21

A aposta na criação de serviços educativos em Portugal apenas se deu

há relativamente 10 anos, com o projeto do Centro de Pedagogia e Animação

do Centro Cultural de Belém. Primeiramente, as atividades centravam-se num

público infantil e juvenil que visitava as instituições no âmbito escolar. “A

escola, ao encaminhar as crianças e os jovens para esses espaços, pressupõe

que a problematização dos usos sociais da memória, das relações e produções

materiais e simbólicas do homem ao longo do tempo, em diferentes sociedades

e culturas possa contribuir para o desenvolvimento de uma atitude cidadã.” 22

Esta efetiva envolvência dos jovens nas problemáticas do museu,

pretende através da memória cultural, da aquisição de conhecimento e da

emoção, sensibilizá-los não apenas para a salvaguarda do seu património, mas

para o entendimento de um mundo que é consequência do passado e no qual

as transformações contemporâneas devem ser cuidadosamente equacionadas.

Este pensamento parecerá conservador, mas não devemos esquecer que o

desequilíbrio global do presente, pela total mediatização da vida pública e até

da privada, pode causar nos jovens o desinteresse pelas suas origens e o culto

das novas formas de comunicação, que devem ser aproveitadas com total

consciência e tentando ao máximo salvaguardar a esfera individual. “El museo

es un elemento de integración educativa y social en tanto que puede articular

una educación formal com la no formal, relacionando las personas com su

barrio, com los medios de comunicación y com las nuevas tecnologías.” 23

A necessidade dos museus de ir ao encontro dos seus públicos efetivou-

-se também com outros grupos como séniores, portadores de deficiência,

minorias (população imigrante e etnias marginalizadas) e comunidades locais,

ansiando os públicos por experiências novas que justifiquem uma relação

efetiva com a instituição museal.

21 JUANOLA e COLOMER (2005): 37 22 NASCIMENTO e ALMEIDA (2008): 3 23 JUANOLA e COLOMER (2005): 33

Page 38: Tese Mestrado_Raquel Santana

25

Neste contexto, aproximamo-nos novamente dos princ’pios do

ecomuseu. Tendo a instituiç‹o museal atravŽs do serviço educativo a miss‹o

de proteger e divulgar o patrim—nio em estreita relaç‹o com a comunidade, que

deve ser interveniente regular e n‹o apenas visitante pontual, atravŽs de

parcerias que promovam o desenvolvimento cultural e social de determinado

territ—rio.

A aproximaç‹o de indiv’duos desinteressados pelo seu meio cultural e

social do museu, promove ou pode promover a n’vel local (em primeira

inst‰ncia) a melhoria das condiç›es de vida das comunidades, que fazedoras

do seu discurso e intervenientes na hist—ria quer pelo conhecimento do

passado ou pela construç‹o do futuro, se apresentam no in’cio e no final de

uma cadeia social e cultural, como criadoras e fruidoras do patrim—nio.

Figura 1: Vari‡veis basilares na nova museologia (elaboraç‹o pr—pria)

Sucintamente, a intervenç‹o dos projetos educativos combina assim as

três vari‡veis basilares da nova museologia:

¥ Comunidade: gerou e gera os testemunhos culturais e com eles aprende

sobre o seu passado, presente e futuro;

Comunidade

Patrim—nio Museu

Page 39: Tese Mestrado_Raquel Santana

26

• Património: os testemunhos culturais da comunidade do passado ou do

presente que são interpretados para um melhor entendimento do mundo

e do outro (do passado ou do presente);

• Museu: construído pela e para a comunidade é local de memórias,

conhecimento e encontros com a história e com os outros (do passado

ou do presente).

1.1.2.1 – O Projeto Educativo Pretendesse agora refletir sobre as fases necessárias à realização de

um projeto educativo. Esta organização metodológica do modo como se pode

verdadeiramente envolver a comunidade num projeto, pretende abrir caminho a

uma visão rica de acontecimentos museológicos possíveis, que não se

confinam apenas ao domínio ou ao espaço físico da instituição.

A crescente falta de financiamento para atividades culturais tem com

certeza minado o trabalho das instituições, mas cada vez mais se aprenderá a

trabalhar com um mínimo, não razoável, mas inevitavelmente suficiente. A

criatividade desempenha aqui um papel relevante, servindo de apoio à criação

de projetos aliciantes e com parcerias válidas.

O museu pode então ter um papel importante na formação dos

cidadãos, auxiliando os poderes vigentes nas suas tarefas, cada vez mais

difíceis de cumprir.

1ª Fase

Levantamento dos Recursos (diagnóstico da situação)

- sociais grupos sociais e de solidariedade social

- económicos empresas; sectores de atividade; índices de produtividade; população ativa

- culturais equipamentos públicos e privados; situação geográfica; faixas etárias; estratos sociais dos públicos

- educativos rede escolar; educação de adultos; número de professores

- mentais atitudes dominantes; inovações de ponta – artísticas, científicas, tecnológicas

- políticos estrutura político-administrativa; forças políticas e sua organização

Page 40: Tese Mestrado_Raquel Santana

27

2ª Fase

Metas a alcançar: Objectivos (quanto mais concretos mais realizáveis)

- no terreno das instituições incentivar a proliferação de instituições para promover a discussão e reflexão democrática

- no tecido social comunicação entre os grupos para enriquecimento social; roteiros turísticos e culturais

- na animação do tecido económico formação profissional e novos postos de trabalho

- na renovação de estratégias educativas novas pedagogias para formação dos alunos

- na dinamização cultural da região estabelecendo parcerias

museu como recurso da comunidade escolar e com produtos culturais de qualidade

- no desenvolvimento integral da região captando parceiros

ambiente; urbanismo; qualidade de vida; desenvolvimento sustentado

- nos comportamentos societários desenvolver atitudes com as minorias

- na animação comunitária centros históricos revitalizados com espaços de entretenimento e lazer

3ª Fase

Estratégias de intervenção museológica

- exposições no museu, em associações e instituições culturais e itinerantes (pelos equipamentos escolares)

- organização de novos projetos nas empresas, centros de saúde ou escolas

- recolha, estudo e constituição de coleções, inventário e pesquisa

apelo à comunidade do seu sentido de preservar as memórias e passado histórico

- partilha de saberes técnico museológicos

fichas de património desenvolvendo o interesse para os jovens levem os seus familiares e amigos; voluntariado nas tarefas de recepção do museu e apoio às exposições

- atividades de extensão educativa promover o estudo da história local e ensino de expressões artísticas

- intervenção comunitária relacionando população ativa com as escolas em temas comuns nas exposições

- discussão de temas importantes para a região e seu futuro debates; congressos; colóquios; encontros...

- protocolos com universidades e museus para novos projetos de investigação e reflexão museológica

Tabelas 2, 3 e 4: Fases do projeto educativo 24

24 Esquema realizado através da análise e resumo do documento DUARTE (2010)

Page 41: Tese Mestrado_Raquel Santana

28

1.1.3 Ð Museologia ParticipativaÒ(�) d'impressions sensitives fortes qui accompagnent la vision de l'objet

et renforce son impact ou son message. L'Žcrit devient alors inutile ou

minimum: la pŽdagogie, la signification passent par l'object, as prŽsentation au

visiteur, et non plus par le texte. Cet apport de Georges Henri Rivière est

fondamental. Le exposition ne pourra plus jamais être cet affichage gŽant das

pages d'un livre que l'on serait tenu de dŽchiffrer.Ó 25

A alteraç‹o de paradigma presente na afirmaç‹o advŽm da evoluç‹o

hist—rica do museu que atr‡s se explicitou. A t—nica n‹o pode continuar na

informaç‹o textual, por vezes dif’cil de decifrar (pois Ž constru’da por

investigadores numa linguagem pouco corrente), mas no objecto e nas

emoç›es que o muse—logo e equipa de tŽcnicos do serviço educativo lhe

pretendem atribuir. Como j‡ foi comprovado, as possibilidades de interpretaç‹o

s‹o t‹o infinitas quanto a individualidade de cada ser, mas cabe ˆ equipa do

museu estudar significados e emoç›es para transmitir aos pœblicos o que se

pretende ensinar e o modo como se d‡ a conhecer cada objecto expositivo.

Figura 2: Evoluç‹o da instituiç‹o museal 26

25 LAVALOU (1989): 36126 Esquema baseado na teoria de D’az Balerdi, apresentada na obra La Mirada Inquita (2005): 28(...) tres grandes etapas, cada una de las cuales gira en torno a un vector prioritario al que se supeditan todos los dŽmas. La primera se caracterizar’a por la preponderancia del objeto. La segunda, por la del sujeto. La tercera, por el acento que se pone en la relaci—n entre el sujeto y el objeto. O lo que es lo mismo, conservaci—n, pœblico y communicaci—n.

Objeto ¥  conservaç‹o

Sujeito ¥  pœblico

Objeto + Sujeito ¥  comunicaç‹o

Page 42: Tese Mestrado_Raquel Santana

29

O modo como interpretamos a evolução da instituição museal pode

também ser diverso, mas a sua ideologia inerente acaba por caminhar para as

mesmas conclusões.

No esquema acima representado, observamos a evolução tendo em

conta as duas variáveis base, o objeto e o sujeito. É de fácil compreensão que

a comunicação é a fase em que nos encontramos atualmente. Esta deve ser

geradora de emoção e conhecimento para uma verdadeira relação entre a

instituição e os públicos.

Os públicos e a sua experiência são agora mais importantes que tudo o

resto. Não descurando de todas as preocupações inerentes ao museu, como a

preservação, a conservação ou a investigação. O museu deve ser capaz de

equacionar todas as variáveis da melhor forma para que a comunicação se

faça através da experimentação. O público hoje deve ser construtor do museu

e do seu discurso, com as parcerias que se inauguraram com a evolução do

conceito de ecomuseu e com os projetos dos serviços educativos.

Num crescendo cronológico, podemos no esquema abaixo identificar as

fases de evolução do discurso museológico.

Acumulação Objetos Culto

Classificação Contexto Apresentação

Reconstituição Espetáculo Público / espectador

Interatividade Experimentação Público / fazedor

Tabela 5: Evolução do discurso museológico (elaboração própria)

Hoje, e no futuro a museologia deve ser cada vez mais uma ciência da

participação, da investigação teórica, mas também da investigação prática. Os

investigadores e técnicos dos museus devem munir de ferramentas os seus

públicos para que estes se encontrem capazes de fazer o museu.

Conciliando a museologia participativa com o turismo e a cada vez mais

facilitada mobilidade dos indivíduos, é possível aumentar a oferta cultural de

modo cuidado e não gratuito.

Page 43: Tese Mestrado_Raquel Santana

30

1.2 – Museologia e Arqueologia

Conceito e âmbito do património arqueológico e paleontológico27

1 – Integram o património arqueológico e paleontológico todos os vestígios, bens e outros

indícios da evolução do planeta, da vida e dos seres humanos:

a) Cuja preservação e estudo permitam traçar a história da vida e da humanidade e a sua

relação com o ambiente;

b) Cuja principal fonte de informação seja constituída por escavações, prospecções,

descobertas ou outros métodos de pesquisa relacionados com o ser humano e o

ambiente que o rodeia.

2 – O património arqueológico integra depósitos estratificados, estruturas, construções,

agrupamentos arquitectónicos, sítios valorizados, bens móveis e monumentos de outra

natureza, bem como o respectivo contexto, quer estejam localizados em meio rural ou urbano,

no solo, subsolo ou em meio submerso, no mar territorial ou na plataforma continental.

3 – Os bens provenientes da realização de trabalhos arqueológicos constituem património

nacional, competindo ao Estado e às Regiões Autónomas proceder ao seu arquivo,

conservação, gestão, valorização e divulgação através dos organismos vocacionados para o

efeito, nos termos da lei.

4 – Entende-se por parque arqueológico qualquer monumento, sítio ou conjunto de

sítios arqueológicos de interesse nacional, integrado num território envolvente marcado

de forma significativa pela intervenção humana passada, território esse que integra e dá

significado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios, e cujo ordenamento e gestão

devam ser determinados pela necessidade de garantir a preservação dos testemunhos

arqueológicos aí existentes.

5 – Para os efeitos do disposto no número anterior, entende-se por território envolvente o

contexto natural ou artificial que influencia, estática ou dinamicamente, o modo como o

monumento, sítio ou conjunto de sítios é percebido.

27 Artigo 74.º da Lei n.º 107/2001

Page 44: Tese Mestrado_Raquel Santana

31

As comunidades e os forasteiros (turistas) podem em conjunto, se

motivados para tal, viver experiências culturais cada vez mais ricas,

construindo memórias que justifiquem o passado, o presente e também o

futuro.

Nesta fase deve estabelecer-se um paralelo entre a instituição museal e

o património arqueológico, para que se entenda a relação entre museologia e

um conceito comummente relegado para fins de entretenimento e lazer, o de

parque. Pretende caracterizar-se não um tipo de museu ou de parque, mas um

museu-parque onde os dois conceitos se fundem para lúdica, pedagógica e

comunitariamente se apresentarem a origem do homem, da arte e da

ocupação e apropriação de um território. Para esta caracterização contribuem

os conhecimentos anteriormente explicitados, de nova museologia, ecomuseu

e projeto educativo, de modo a que temáticas tão ricas e complexas do ponto

de vista educacional, como as da pré-história, possam ser fruídas pelos

públicos, e compreendidas pela comunidade, de forma simbólica e divertida,

mas também direta e séria.

Nas páginas seguintes é objecto de estudo a arqueologia e sua correta

valorização. A criação de estruturas culturais que abordem estas temáticas é

frequente, mas o que se pretende no projeto a apresentar, é o estudo de todas

as problemáticas que concorrem para uma instituição cultural inovadora, cujos

princípios basilares se apoiam na já apresentada museologia participativa.

“Bens a defender, a usufruir, a explorar de mil maneiras, o património

cultural e natural entra a pouco e pouco na Escola (como objecto de estudo

para os mais velhos, como objecto de sensibilização para os mais novos) e

invade as esferas da governação local e central, já para garantir a sua

preservação, já para atrair turismo e financiamento ou, ainda, prestígio e

poder.”28 Adília Alarcão refere-se aqui às transformações de meados do século

XX que ainda hoje se verificam no que concerne às motivações da salvaguarda

e proteção do património cultural e natural considerando que, “Quando não

alicerçada em bases conceptuais largamente debatidas e experimentadas, a

ânsia de proteger, restaurar e rendibilizar (cultural e/ou economicamente) um

bem patrimonial pode conduzir aos piores resultados.”29

28 ALARCÃO (2009): 12 29 Ibidem. 13

Page 45: Tese Mestrado_Raquel Santana

32

1.2.1 – Processo de Musealização de Sítios Arqueológicos

A musealização in situ de testemunhos arqueológicos é uma constante

desde os anos 80 do século XX, o papel do arqueológo ganhou importância

acrescida. Este investigador que interpreta vestígios à primeira vista inócuos

para a maioria dos observadores, tem desde então, a árdua tarefa de

interpretação e construção de metodologias de abordagem de modo a

comunicar e simultaneamente preservar os testemunhos mais antigos da

humanidade. Daí à atualidade esta temática foi-se consolidando quer através

de encontros e congressos, quer através da realização de intervenções

pioneiras que abriram caminho a discussões cada vez mais prementes.

A educação pela arqueologia passou também a desempenhar o seu

papel na consciencialização social para a preservação e conservação do

património com vista à formação da memória colectiva. A valorização dos sítios

para sua apresentação pública é uma forma de conservação ativa, estando

assegurados os meios necessários à manutenção dos vestígios arqueológicos.

A valorização de sítios arqueológicos não pode nunca ser promovida

gratuitamente, e deve apoiar-se em critérios mais ou menos estabelecidos, que

pautam a validade futura do projeto. “Inequivocamente, qualquer ideia de

projecto só será possível depois de terem sido levados a cabo trabalhos de

escavação e investigação. O projecto só poderá alicerçar-se num plano

específico interdisciplinar. O segundo passo será o de avaliar se o local se

inscreve dentro dos critérios estabelecidos, para ser seleccionado como

representativo num plano nacional dos sítios arqueológicos a investir a nível da

sua interpretação e abertura ao público. Ou seja, afirma-se a importância

científica de todas as áreas arqueológicas, mas nem todas apresentam perfil

turístico nem correspondem aos critérios de selecção referenciados.

Eliminados estes problemas e aceite o local como tendo as condições exigidas

para ser aberto ao público, há toda uma série de decisões a ser planeadas em

conjunto: a definição de orçamentos e a filosofia de intervenção – conservação,

restauro e soluções para a optimização de leituras, estruturas de acolhimento,

constituição de equipas, manutenção e tutela da gestão, integração em

circuitos ou itinerários regionais, sinalização correcta e eficaz divulgação.30

30 MATOS (2008): 44

Page 46: Tese Mestrado_Raquel Santana

33

Com base nestas sucintas linhas orientadoras apresentadas por Olga Matos,

apresentam-se agora os passos essenciais para a valorização/musealização

de um sítio arqueológico.

1.2.1.1 – Escavação e Investigação “A investigação científica tem que ser o motor inicial e primordial da

actividade arqueológica.” 31 O resultado dessa investigação, apoiada na

descoberta de vestígios relevantes para a construção de teorias sobre o

passado do homem, serve de mote à proteção do património e da memória

colectiva das comunidades. Os vestígios arqueológicos podem surgir em locais

mais ou menos remotos, mas o seu papel no panorama geral pode ser fulcral

para o desenvolvimento de novas teorias e conclusões.

É dado adquirido que a investigação arqueológica pode contribuir para o

desenvolvimento das sociedades atuais, principalmente como já se referiu, na

formação da consciência de um passado que nos é comum, e sem o qual o

presente seria completamente diferente.

1.2.1.2 – Critérios de Representatividade do Sítio Os vestígios do passado devem ser devidamente estudados e

inventariados, para posteriormente se avaliarem as suas reais capacidades de

demonstração dessa memória colectiva aos públicos.

No passado, as escavações eram consideradas local de interesse

científico, mas ingenuamente ou por falta de meios, eram deixadas ao

abandono, o que resultou muitas vezes na sua destruição ou pilhagem.

Hoje, apesar de se reconhecer a escassez de informação em alguns

sítios que consequentemente não podem ser valorizados, todo o seu contributo

é devidamente documentado e são acionados os meios necessários para a sua

possível salvaguarda. Por outro lado, o reconhecimento cultural de outros

sítios, leva a que sejam devidamente classificados segundo as leis vigentes, e

como consequência, protegidos de modo a que se reúnam as condições

favoráveis à sua posterior valorização. Podem considerar-se o valor cultural

dos sítios, a sua adequada conservação e integração em paisagens naturais

31 Ibidem.: 34

Page 47: Tese Mestrado_Raquel Santana

34

de comprovado interesse, e a sua inserção geográfica num destino turístico por

excelência, variáveis essenciais para que se considere a sua

valorização/musealização.32

1.2.1.3 – Política de Intervenção Quando é do interesse geral a valorização para posterior abertura ao

público do sítio arqueológico deve ter-se presente a necessidade de integração

do mesmo “na estrutura cultural, social e económica do espaço geográfico”33,

tornando-o num polo dinamizador turística e pedagogicamente.

O distanciamento natural dos públicos em relação aos sítios

arqueológicos é justificado com a sua falta de ferramentas interpretativas para

descodificação dos seus longínquos significados, devendo ser este o princípio

orientador da política de valorização. Para que se forneçam estas ferramentas

tão necessárias, é vital preparar o local evidenciando as suas características e

pormenores, quer através da limpeza e do restauro, quer através da sua

interpretação arqueológica, geológica e antropológica.

Os objectivos culturais e educacionais devem ser delineados para que

se definam as estratégias a seguir.

1.2.1.4 – Interpretação / Reconstituição “Muitas pessoas entendem que a interpretação do património (móvel ou

imóvel) dá dele uma visão sempre mais ou menos distorcida, mas todos

sabemos quanto ajuda a usufruir um monumento ou um sítio ou uma colecção,

se deles tivermos uma informação inteligente, motivadora.”34 Este é o desafio,

tornar a investigação acessível aos públicos de modo motivador, para que

estabeleçam com o património uma verdadeira relação de pertença e memória

do seu passado. Para a concretização deste princípio interpretativo dos

vestígios arqueológicos concorrem inúmeros factores devendo destacar-se as

características do sítio, enaltecendo-as e conferindo-lhes o protagonismo

devido.

32 CALADO e ROCHA (2008): 85 33 SILVA e SILVA (2008): 93 34 ALARCÃO (2009): 14

Page 48: Tese Mestrado_Raquel Santana

35

As interpretações, como já foi referido, são tantas quantos os indivíduos

que as fazem, mas neste campo, cabe ao arqueológo e ao museólogo em

conjunto delinear a interpretação que melhor pode tornar o sítio num local de

fruição o mais abrangente possível. Os públicos são variados, é certo, e não se

podem descurar as diferentes elações que serão tiradas tanto por

investigadores e especialistas, como por jovens estudantes ou crianças, pela

população local ou pelos turistas. A tarefa é árdua, mas deve ser trabalhada

para que os resultados sejam os melhores.

A interpretação da informação deve transparecer as motivações,

contextos e modus operandi dos primeiros homens num discurso criativo e

apelativo para que o interesse e análise crítica dos públicos sejam estimulados

e consequentemente se compreenda a origem dos vestígios apresentados e

suas implicações e importância na atualidade.

As reconstituições são elementos aglutinadores das variáveis

apresentadas, pois a interpretação tem a sua realização máxima na

reconstituição do sítio como seria aquando da sua construção e utilização.

Embora seja uma temática cara aos investigadores, o evoluir das tecnologias e

a descoberta de novos sítios por todo o mundo, tem facilitado a tarefa de

interpretação física e até simbólica destes espaços milenares.

A evocação do passado deve na reconstituição ser o mais cuidada

possível, pois é comum a proliferação de reconstituições inócuas em

significado e que apenas apelam ao sentido cénico dos visitantes. As novas

tecnologias no que concerne a materiais para construção de maquetas ou

reconstituições gráficas, audiovisuais ou virtuais estão também suficientemente

desenvolvidas e possibilitam ao investigador e ao técnico ou artista a

construção de modelos que respeitem os vestígios arqueológicos,

reconstruindo o que hipoteticamente seria a sua estrutura e apresentação

inicial. Não se devem mistificar estes processos construtivos. Ao visitante deve

ser fornecido todo o material possível para que saiba de antemão estar perante

uma reconstituição hipotética fundamentada por uma investigação rigorosa.

No que toca a reconstituições é passível ainda referir as reconstituições

de ambientes e vivências nos afamados ateliers. Aqui, mais uma vez, deve

pensar-se cuidadosa e criativamente para que estes não sejam apenas

Page 49: Tese Mestrado_Raquel Santana

36

repetições supérfluas de instituição para instituição. Aos públicos deve ser

fornecida a experiência, mas também a investigação que a possibilitou.

Parecerá excessiva a quantidade de informação que deve ser fornecida

aos públicos, mas não será, se as estratégias para a sua apresentação forem

prévia e rigorosamente estudadas.

1.2.1.5 – Gestão e Manutenção A gestão dos sítios musealizados dependerá diretamente do projeto de

intervenção. Esta poderá estar a cargo de organismos públicos ou privados e

daí decorreram todas as especificidades orçamentais e de recursos humanos a

que o projeto estará vinculado.

Contudo, convém aqui reter que mesmo um bom projeto dependerá

crucialmente da sua gestão e manutenção futuras. A manutenção do sítio e de

estruturas afectas, quando se verificam, deve ser convenientemente trabalhada

de modo a que se evitem situações constantes de abandono e degradação

precoces. A relação do sítio com as atividades turísticas da região a que está

afeto pode ser uma mais valia, quando os programas de gestão e manutenção

funcionam inequivocamente.

1.2.1.6 – Infraestruturas A existência ou não de infraestruturas de apoio ao sítio arqueológico

depende normalmente dos recursos económicos disponíveis e da sua

relevância patrimonial.

Mas, existindo ou não centros de acolhimento ou de interpretação, o

visitante deve sentir-se recebido e perceber que o sítio comunica com ele e foi

valorizado para que essa relação se estabeleça com o menor ruído possível.

Assim, pede-se aos autores dos projetos a humildade necessária para com os

vestígios arqueológicos e para com os seus visitantes, em construções que

respeitem as características históricas, artísticas, simbólicas e funcionais dos

bens culturais em questão.

Nesta altura deve também referir-se a importância das paisagens

naturais que normalmente servem de pano de fundo aos sítios arqueológicos.

A diversidade natural dos locais deve ser trabalhada para que se tire o melhor

Page 50: Tese Mestrado_Raquel Santana

37

partido possível do envolvimento paisagístico dos sítios que, muitas vezes

desempenha a função de acolhimento dos visitantes.

1.2.1.7 – Comunicação O objectivo primordial da musealização in situ de estruturas

arqueológicas é a recuperação de memórias apagadas pelo tempo e

consequente devolução aos públicos das descobertas sobre os modos de vida

dos seus antepassados, consciencializando-os da urgência da sua

preservação. As políticas de comunicação desempenham então um papel vital

na apresentação e divulgação dos sítios de modo claro e apelativo, mas

informado e rigoroso.

Considerando que as relações do património com os públicos estão a

ser repensadas e estruturadas de modo a que se estabeleça um diálogo efetivo

entre estas duas variáveis, essencialmente através de experiências, devem os

modelos de comunicação ser também repensados.

Os públicos esperam atividades aliciantes e que respondam às suas

necessidades específicas, a comunicação deve satisfazê-las quer se trate de

um grupo de turistas estrangeiros, um grupo de investigadores ou um grupo de

crianças de uma escola local. A oferta deve assim ser variada no que toca por

exemplo a itinerários e visitas propostas. Os materiais de apoio devem também

agrupar vários níveis de informação, para os mais curiosos e para os que

apenas buscam informação sumária. O discurso deve ser acessível e através

de estratégias gráficas em painéis interpretativos e brochuras, ou multimédia

em quiosques digitais ou áudio e vídeo guias o visitante deve iniciar um

processo de descoberta do sítio como melhor lhe convier.

É importante relembrar que quando se trata de património arqueológico

os referentes de que os visitantes dispõem para o seu entendimento, são na

maioria dos casos mínimos, daí a importância das representações hipotéticas

da vida dos primeiros homens. A aproximação é mais evidente quando se

disponibilizam maquetas, documentários ou ilustrações que permitam visualizar

espaços e artefactos desconhecidos nos seus contextos de utilização.

A promoção e divulgação dos sítios devem também ser projetadas com

igual rigor e criatividade. Não esqueçamos que o modo como se divulga o sítio

Page 51: Tese Mestrado_Raquel Santana

38

funciona como convite para os visitantes. Nos dias de hoje é inevitável a

presença na internet. Uma boa página de apresentação com acesso à

programação das atividades e a disponibilização de materiais didáticos de

qualidade despertam o interesse de potenciais visitantes. A integração em

circuitos internacionais, nacionais ou regionais pode também ser equacionada

e trazer mais valias não só ao monumento mas também à comunidade local. A

divulgação jornalística quer na televisão ou rádio, embora comporte custos

representa um crescendo no número de visitantes. No campo mais científico é

importante valorizar a investigação sobre o sítio arqueológico em edições da

especialidade que possam de algum modo contribuir para sua divulgação, mas

também para outras descobertas semelhantes. A programação direcionada à

comunidade é também um modo de divulgação, assim como as parcerias com

escolas ou associações locais.

1.2.1.8 – Sinalização A facilidade nas deslocações é hoje um fenómeno caro no que diz

respeito às motivações turísticas dos indivíduos. Assim, para que o património

se inscreva nas suas atividades de eleição, deve o mesmo ser

convenientemente sinalizado e de fácil acesso. Podemos definir duas variáveis

caracterizadoras deste tipo de sinalética, a exterior e a interior.

A exterior é referente à sinalização rodoviária, que deve funcionar a

nível internacional e ser complementada pela sinalização regional e local que

melhor encaminharão os visitantes aos sítios arqueológicos.

A interior, nos percursos e sítios em questão, deve sempre que possível

ser bilingue e visível para que a visita se dê confortável e naturalmente.

Page 52: Tese Mestrado_Raquel Santana

39

1.2.2 – Parques Arqueológicos Após entendimento das medidas necessárias à musealização de sítios

arqueológicos, é altura de se passar para um nível mais elevado dessa

valorização e interpretação, a criação de parques arqueológicos.

A criação de parques desta natureza é relativamente recente, tem as

suas origens na criação dos parques naturais, mas apenas se começa a

aproximar do território da investigação arqueológica na década de 90 do século

passado, o que faz com que os projetos ainda não estejam completamente

estruturados e se mantenham em constante evolução.

Estas estruturas caracterizam-se sumariamente pela musealização de

sítios arqueológicos agregada a um museu ou centro interpretativo próprios, ou

encaminhada para os museus normalmente locais, que os tutelam, e pela

existência de uma programação específica que tende a aproximar os públicos

dos testemunhos e contextos do passado.

São poucos os exemplares a que se pode fazer referência, e ainda

menos, a quantidade de informação que na sua generalidade disponibilizam.

Na tabela que se segue, são enumerados os parques que se tomaram

de exemplo. A aproximação a cada um deles, apenas foi possível através da

informação que é disponibilizada na web, que servirá de ponto de partida para

o entendimento das suas características históricas, arqueológicas e espaciais,

organização, estratégia de abordagem aos públicos e programação.

Os exemplos analisados foram divididos em dois grupos dada a sua

natureza. No grupo 1 estão os que não dependem dos sítios arqueológicos

para a realização das suas atividades, apoiando a sua interpretação e

abordagem temática em reconstituições. O grupo 2 refere-se aos parques que

desenvolvem a sua atividade nos sítios arqueológicos a que dizem respeito,

podendo nalguns casos, como já foi ressalvado, existir infraestruturas onde se

encaminham os visitantes e lhes é dada a conhecer a extensão do parque e

suas atividades.

Page 53: Tese Mestrado_Raquel Santana

40

Tabela 6: Parques arqueológicos analisados

NOME / SITE REGIÃO PAÍS

1

Parc de la Préhistoire do Musée du Malgré-Tout http://users.skynet.be/cedarc/parc/parc.html Treignes Belgique

Musée de Préhistoire des Gorges du Verdon http://www.museeprehistoire.com/ Quinson France

Parc de Préhistoire de Bretagne http://www.prehistoire.com/index2.php Malansac France

SESTA - Site officiel du Service d'Exploitation des Sites Touristiques de l'Ariège http://www.sesta.fr/

Tarascon-sur- -Ariège France

Le Musée de Préhistoire de Tautavel http://www.tautavel.com/articles-5/99-168-le-musee-de-prehistoire-de-tautavel/ Le Musée de Tautavel – Centre Européen de Pré-histoire http://www.450000ans.com Chasseur de La Préhistoire – L'Homme de Tautavel, Il y a 450 000 ans http://www.tautavel.culture.gouv.fr/

Tautavel France

Flag Fen Archaelogy Park http://www.flagfen.com/ Peterborough England

Archaeolink Prehistory Park http://www.archaeolink.co.uk/ Aberdeenshire Scotland

Parque Arqueológico de Atapuerca http://www.elpais.com/static/viajero/castillaleon/atapuerca/ parque_arqueologico.html http://www.visitasatapuerca.com/

Atapuerca España

Museo de Altamira http://museodealtamira.mcu.es/ Cantabria España

Parque Prehistórico de Málaga http://www.complejohumo.org/ La Araña España

Algaba de Ronda http://www.algabaderonda.com/ Málaga España

Valle Camonica - Archaeopark http://www.invallecamonica.it/aree/risorseculturali/parchitematici/scheda.aspx?IdRisorsa=310&Lingua=ITA http://siti.voli.bs.it/itinera/05/05/preistorica/default.htm

Valle Camonica Italia

2

Parque Nacional Serra da Capivara http://www.fumdham.org.br/parque.asp Piauí Brasil

Parque Arqueológico do Vale do Côa http://www.igespar.pt/pt/monuments/53/ http://www.arte-coa.pt/

Vila Nova de Foz Côa Portugal

Museu de Arte Pré-Histórica e do Sagrado do Vale do Tejo http://81.193.119.47/~museu/direita.html http://www.museumacao.pt.vu/

Mação Portugal

Page 54: Tese Mestrado_Raquel Santana

41

1.2.2.1 – Caracterização geral Os parques arqueológicos analisados têm em comum o facto de se

apoiarem em investigações arqueológicas consistentes e rigorosas. Na sua

maioria funcionam agregados a museus de arqueologia, pois o património

arqueológico, objecto do parque, é por eles tutelado. Existem casos em que a

relevância de um conjunto de sítios foi o mote para a criação de uma estrutura

independe que pretende dinamizá-los e interpretá-los, com o objectivo de os

devolver à comunidade com condições de acesso e informação melhoradas. A

interpretação dos sítios é apresentada normalmente no local, através de

painéis explicativos, em ambiente rural (quando o espaço do parque é para

isso destinado) através de reconstituições, ou pela realização de exposições

permanentes ou temporárias em infraestruturas criadas para o efeito.

O funcionamento destas estruturas é fundamentado num conjunto

diversificado de atividades para públicos variados, mas maioritariamente

pretende-se atrair a comunidade escolar, que se apresenta como o seu meio

de subsistência.

1.2.2.2 – Organização

O conceito de parque arqueológico ou da pré-história está ainda em

construção, pelo que a escassa oferta tende a procurar cativar os seus

públicos através das experiências cénicas que possibilitam, o que leva a que

muitas vezes acabem por descurar do sentido pedagógico e investigacional em

reconstituições pouco rigorosas.

É também importante que se entenda que a denominação parque,

funciona para estruturas delimitadas espacialmente e que circunscrevem as

suas atividades na sua área limítrofe, mas também, num sentido lato, para

agrupar conjuntos de sítios arqueológicos que podem ser percorridos com ou

sem a presença de pessoal especializado. Neste segundo caso é comum a

existência de uma estrutura de acolhimento que fornece as informações

necessárias sobre a oferta do parque. Normalmente neste centro de

acolhimento existem serviços básicos como sanitários, cafetaria ou restaurante,

mas também de apoio como lojas e salas ou auditórios para a realização de

encontros ou atividades.

Page 55: Tese Mestrado_Raquel Santana

42

Retomando a temática das reconstituições, constatou-se nestes

exemplos que elas são o elemento primordial, sendo a partir delas dados a

conhecer os modos de vida da pré-história, comummente através da

reconstrução de sítios arqueológicos em maquetas à escala ou em tamanho

real. É também recorrente o recurso a ilustrações de cenas do quotidiano nas

exposições e nos painéis explicativos e a áudio-guias para apoio às visitas.

No que toca à gestão destes parques, pouca informação é fornecida,

talvez porque na sua maioria dependem de instituições estatais e dos seus

subsídios, ou de apoios e parcerias. A realidade é que em todos a entrada é

paga e os preços semelhantes tanto nos privados como nos públicos, entre os

€5 e os €10 a entrada normal, sendo todas as atividades ou visitas guiadas

acrescidas de valores variáveis. De salientar é o facto de muitos promoverem a

sua autossuficiência, quer através dos lucros com a bilheteira, ou do aluguer de

espaços para eventos e nalguns casos através da venda de produtos

regionais, o que representa uma mais-valia pela aproximação à comunidade.

1.2.2.3 – Programação A diversidade da oferta destes parques é lugar comum, e embora

tenham como público mais frequente a comunidade escolar, é objectivo atingir

um espectro alargado de visitantes. Assim, a programação é nalguns casos

rica e diversificada e conjuga com a pré-história temáticas variadas. Música,

dança, teatro, artes plásticas, literatura e desporto são algumas das áreas que

se pretendem conjugar.

O papel dos serviços educativos acaba por ser fulcral no encontro entre

as sociedades da pré-história e a investigação arqueológica com os diversos

públicos. A oferta no que toca a ateliers é semelhante em todos os parques.

Existem ateliers de arqueologia, caça, pintura, fogo, ferramentas, cerâmica,

pistas e acampamento, na sua maioria com preocupações pedagógicas e não

apenas de entretenimento. Destacam-se algumas variantes interessantes em

que se pode fazer a visita com base em determinado período cronológico, o

que engrandece a oferta e multiplica os itinerários possíveis.

Nos exemplos analisados a facilidade no acesso a visitas guiadas com

marcação prévia é bastante enfatizada, bem como a capacidade para receber

Page 56: Tese Mestrado_Raquel Santana

43

pessoas portadoras de deficiência, embora em alguns casos seja visível a falta

de meios ou a existência de acessos próprios para pessoas em cadeiras de

rodas.

A existência de programas de investigação conceituados e em constante

evolução contribui para que se melhore a informação disponibilizada tornando-

-a mais especializada e rigorosa. Normalmente existem centros de estudos e

pesquisa associados aos parques ou aos museus.

A tónica na experiência do visitantes é, ou deverá ser estruturante neste

tipo de instituições, mas nem em todas existe investigação associada à

arqueologia experimental tão relevante nos dias de hoje.

Sendo a sua implantação em ambiente rural e não nos grandes centros

urbanos, é vital nestes parques uma estreita relação com a comunidade local.

As suas memórias e testemunhos devem ser enquadrados numa perspectiva

de cooperação para o enriquecimento cultural, social e económico da região.

1.2.2.4 – Divulgação A tecnologia permite hoje a disseminação da informação a um nível

planetário e instantâneo, o que faz com que seja mais simples e eficaz a

qualquer instituição dar a conhecer a sua existência e a sua programação,

apelando à visita dos públicos através de páginas apelativas. As ferramentas

são cada vez mais acessíveis e através de uma simples página na web os

resultados são visíveis. Contudo, nos exemplos descritos verificou-se a fraca

aposta neste meio de comunicação, e a não atualização de conteúdos, em

alguns casos com anos de atraso. Somos levados a pensar se o parque

encerrou por algum motivo ou se simplesmente não aposta na divulgação.

Contudo, a organização da informação é normalmente invariável, as

diferenças verificam-se na quantidade e qualidade dos conteúdos e na aposta

em visitas ou animações virtuais que permitam ao cibernauta, potencial

visitante, viajar no tempo e sentir o apelo à visita.

Algumas reconstituições com animações multimédia e ilustrações de

qualidade são o suficiente para que se desperte o interesse para temáticas

caras, normalmente tratadas de modo científico e complexo.

Page 57: Tese Mestrado_Raquel Santana

44

A acrescentar a estes factores é essencial disponibilizar materiais

pedagógicos de apoio às visitas ou de promoção, o que na generalidade se

verificou. Esses materiais devem ser instrumentos para entendimento das

visitas e atividades do parque, e sempre que possível devem ser específicos

quanto ao público alvo que se pretende atingir.

Uma das áreas mais importantes nestes sites é a dos contactos e

acessos, que muitas vezes foi relegada para segundo plano. É de extrema

importância o destaque que se dá aos acessos e localização do parque, bem

como alojamentos na área limítrofe, para que os visitantes não tenham

qualquer dificuldade na viagem e para que percebam que é simples a chegada

ao destino.

1.2.3 – Um Estudo de Caso - Algaba de Ronda A análise que se segue pretende complementar as conclusões acima

apresentadas através do estudo-caso de um projeto premiado a nível europeu,

que se assemelha nas suas características estruturais ao que se pretende

apresentar posteriormente.

“La labor científica enriquece la labor educativa de forma que ambas

consolidan el proyecto integral para la investigación, conservación y difusión

del patrimonio que se inició en el Centro Algaba de Ronda.”35

A Algaba de Ronda está situada numa propriedade rural nas imediações

da cidade de Ronda, enquadrada por uma paisagem de tipo mediterrâneo com

reconhecida riqueza a nível histórico, geológico e natural. Os trabalhos de

investigação no campo da pré-história recente e os consequentes achados

patrimoniais culminaram na criação de um projeto que se pretende

interdisciplinar, com o principio basilar da interpretação dos dados

arqueológicos através de experiências concretas e didáticas.

O projeto comtempla um parque científico da pré-história e um centro de

educação e congressos onde é objetivo primordial a compreensão dos modos

de vida e conteúdos culturais dos homens da pré-história em cada momento da

sua existência. A estrutura organizacional do parque pressupõem a ordenação

do território e a existência de atividades de subsistência, como a agricultura ou

35 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 146

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45

a pecuária, que desempenham assim papéis fundamentais, ao gerar

conhecimento através dos ateliers e ao gerar lucro através das receitas

provenientes da venda dos produtos.

Figura 3: Mapa do parque 36

A visão da experiência proveniente da investigação e da investigação

possibilitada pela experimentação, sendo a última uma ferramenta que permite

interpretar os dados arqueológicos, é o que nos convém analisar no

denominado “proyecto arqueoexperimental” da Algaba de Ronda.

O projeto teve início em 2003 com a construção de um povoado com 60

hectares para contextualização da paisagem e recursos originais da pré-

-história, através da investigação arqueoexperimental. Para a sua realização foi

fulcral, através da experimentação arqueológica, chegar a um conhecimento

profundo sobre como seria a organização e os processos de trabalho destas

sociedades longínquas. O entendimento das indústrias da pedra e da

metalurgia e as suas técnicas construtivas teve em consideração os recursos

disponíveis na época.

36 http://www.algabaderonda.com/

Page 59: Tese Mestrado_Raquel Santana

46

Figura 4: Vista aérea da recriação do povoado de Pré-história Recente da Algaba de Ronda (Foto: Juan Terroba)37

A complementar o carácter científico desta experimentação encontramos

a sua função didática pela criação de estruturas que permitem comunicar as

conclusões encontradas, bem como os processos inerentes às mesmas. Os

programas de atividades contemplam o conhecimento do passado pré-histórico

através de experiências lúdicas, para o desenvolvimento intelectual dos

indivíduos e para o aproveitamento dos recursos naturais do território, e

também o desenvolvimento de um turismo alternativo. Os ateliers disponíveis

são organizados segundo temáticas nucleares como a agricultura e pecuária, a

pré-história e arqueologia, a educação ambiental, a geologia e a ornitologia.

A difusão do conhecimento e a política de sensibilização face ao

património arqueológico e natural local é facilitada pela envolvência da

comunidade, em especial dos artesãos que contribuem com os seus

conhecimentos tecnológicos para a realização do projeto.

37 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 98

Page 60: Tese Mestrado_Raquel Santana

47

Figura 5: Atividades educativas e didáticas dirigidas a públicos escolares (Foto: Juan Terroba)38

Os programas educativos e os seus materiais de apoio são desenhados

considerando as características heterogéneas dos variados grupos que

procuram o parque e o centro de educação. É enfatizada a metodologia de

investigação que possibilita as conclusões aplicadas nas atividades e a

proveniência e correta utilização das matérias primas na organização de

cursos, exposições ou documentários.

Figura 6: Detalhe do acesso a uma das cabanas do povoado (Foto: David García)39

O povoado foi construído de raiz no local do parque, o que leva a que a

justificação seja trabalhada com maior rigor para o entendimento correto da

envolvência da paisagem. Numa primeira fase foi necessária a colaboração de

38 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 141 39 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 113

Page 61: Tese Mestrado_Raquel Santana

48

especialistas e artesãos para correta aplicação dos dados resultantes da

investigação acerca dos recursos utilizados, formas de extração,

comportamentos e técnicas construtivas. Deve evidenciar-se o facto de todos

os processos terem sido recriados à maneira das primeiras sociedades da pré-

história, desde a utilização das matérias até às formas de construção. Todos os

processos foram organizados e documentados com vista à investigação

arqueoexperimental. A caracterização das sociedades, os contextos e recursos

geológicos e a caracterização da paisagem, nomeadamente pela flora e fauna,

foram experimentados aquando da construção do povoado, e as conclusões

daí resultantes, contribuíram para desenvolvimentos significativos no que toca

à investigação a nível nacional e internacional.

A recriação das industrias da pré-história é em tudo um processo

complexo, não só pela escassa informação comprovada e a proliferação de

teorias hipotéticas não comprovadas, mas pelo carácter laborioso das

experiências necessárias à sua compreensão.

Figura 7: Trabalho experimental do sílex mediante a técnica da pressão (Foto: Juan Terroba)40

No que toca à indústria lítica, este projeto possibilitou o entendimento e

desmistificação de algumas teorias no que concerne a possíveis utilizações

das matérias e as suas relações de distribuição e intercâmbio no território da

península ibérica. As parcerias desempenham aqui um papel relevante,

nomeadamente pela colaboração da Universidade de Granada e do Centro

Nacional de Pesquisa Científica de França (CNRS). 40 ELENA, ARIAS, GONZÁLEZ e VERGARA (2008): 119

Page 62: Tese Mestrado_Raquel Santana

49

A experimentação metalúrgica, cerâmica e têxtil são também focadas, e

apesar do seu carácter trabalhoso e moroso as peças que resultam destas

produções são consideradas de grande qualidade e utilizadas no povoado para

as atividades do quotidiano.

As atividades agropecuárias centram-se no cultivo de cereais e na

fabricação e utilização de ferramentas com base nas técnicas da pré-história,

sem recurso a qualquer componente utilizado na atualidade, com vista ao

entendimento da mobilidade dos povos e aproveitamento dos recursos naturais

disponíveis à milhares de anos.

Numa perspectiva global do entendimento deste projeto com

características tão próprias, somos levados a concluir que o que se objectiva

efetivamente é a possibilidade de se privar num espaço que verdadeiramente

nos transporta para uma sociedade do III e II milénios a.C., visando na sua

estrutura organizacional princípios de autossuficiência e aproveitamento dos

recursos disponíveis para a fomentação de práticas de conservação do

património e intercâmbio de conhecimentos e experiências científicas.

Contudo, a acrescentar à dificuldade no acesso e à escassa sinalização,

é de salientar que o funcionamento deste espaço depende estritamente da

marcação prévia da visita ou atividade, não estando disponível para os turistas

ocasionais que procuram, sem conhecer o projeto, experiências culturais para

enriquecer a sua viagem.

Page 63: Tese Mestrado_Raquel Santana

50

Page 64: Tese Mestrado_Raquel Santana

51

Capítulo 2

As Terras do Risco

Figura 8: O Rosto do Risco (Foto: autora)

Oh, como surge majestosa e bela, Com viço da criação, a natureza No solitário vale! E o leve insecto E a relva e os matos e a fragrância pura Das boninas da encosta estão contando Mil saudades de Deus, que os há lançado, Com mão profusa, no regaço ameno Da solidão, onde se esconde o justo. E lá campeiam no alto das montanhas Os escalvados píncaros, severos, Quais guardadores de um lugar que é santo; Atalaias que ao longe o mundo observam, Cerrando até o mar o último abrigo Da crença viva, da oração piedosa, Que se ergue a Deus de lábios inocentes. Sobre esta cena o sol verte em torrentes Da manhã o fulgor; a brisa esvai-se Pelos rosmaninhais, e inclina os topos Do zimbro e alecrineiro, ao rés sentados Desses tronos de fragas sobrepostas, Que alpestres matas de medronhos vestem; O rocio da noite à branca rosa No seio derramou frescor suave, E inda existência lhe dará um dia. Formoso ermo do sul, outra vez, salve! 41

41 Excerto do poema A Arrábida (1830) de Alexandre Herculano.

Page 65: Tese Mestrado_Raquel Santana

52

É chegado o momento de nos focarmos sobre o património que serve de

pretexto à realização deste estudo, a Serra da Arrábida, mais concretamente

as Terras do Risco, pois “a par do legado cultural, resultante da actividade

humana, também a natureza é considerada um património que pode ser

preservado e explorado para o bem comum ou irreversivelmente delapidado”.42

É essencial dar a conhecer a riqueza histórica e natural que torna a

Serra da Arrábida num local passível de receber um projeto semelhante aos

analisados anteriormente, não apenas para enaltecer a sua importância no que

diz respeito a vestígios arqueológicos da pré-história, mas sobretudo para que

seja reconhecido e preservado como um ecossistema particular, possuidor de

uma biodiversidade e geodiversidade com características únicas a nível

nacional, peninsular e, até nalguns casos, mundial.

O abismo que por vezes se cria entre a população e locais protegidos e

com restrições peculiares como a Arrábida, pode ser transposto através da sua

correta valorização e aproveitamento, numa perspectiva de devolução à

população visando uma estreita relação com a sua memória cultural.

2.1 – A especificidade da paisagem

2.1.1 – Factores naturais A Serra da Arrábida está localizada na extremidade meridional da

Península de Setúbal (Estremadura) e ocupa os concelhos de Setúbal, Palmela

e Sesimbra, numa faixa aproximadamente com largura de 7 quilómetros e

comprimento de 35 quilómetros, sendo a sua altitude máxima de 501 metros no

anticlinal do Formosinho. A área, que compreende 10 800 hectares, é tutelada

pelo Parque Natural da Arrábida (PNA) desde 1976, estando todo o seu

território classificado como Sítio de Especial Interesse para a Conservação da

Natureza. São objectivos do PNA “proteger os valores geológicos, florísticos,

faunísticos e paisagísticos locais bem como testemunhos materiais de ordem

cultural e histórica.”43

42 ALARCÃO (2009): 12 43 http://portal.icnb.pt/ICNPortal/vPT2007-AP-Arrabida?res=1680x1050

Page 66: Tese Mestrado_Raquel Santana

53

A cadeia rochosa da Arrábida é formada quase exclusivamente por

rochas sedimentares que funcionam, geológica e morfologicamente de barreira

entre o oceano e o continente. A formação das unidades geológicas desta

região remonta aproximadamente ao início do período Jurássico, há cerca de

200 milhões de anos (Tabela 7), quando os continentes Europeu e Americano

ainda faziam parte da mesma massa continental. Até ao final do Cretácico

Inferior (há cerca de 100 milhões de anos) toda esta região da Arrábida esteve

exposta aos fenómenos que originaram a abertura e formação do Oceano

Atlântico, mas, durante o Miocénico a compressão causada pelos movimentos

das placas tectónicas africana e europeia deu origem a um forte enrugamento

que culminou, há cerca de 18 milhões de anos, no alinhamento de relevos que

conhecemos hoje como a cadeia montanhosa da Arrábida.44

Durante milhões de anos a ação da erosão sobre as rochas deu forma

aos relevos que hoje se observam. A Serra do Risco, o ponto mais alto do

litoral continental português, com 380 metros, descrita por Sebastião da Gama

como “fóssil de uma onda”, será o palco do projeto a apresentar, não apenas

pela sua excepcionalidade natural, mas também histórica e pela sua ocupação

milenar hoje comprovada.45

É também importante verificar que os fenómenos erosivos sobre as

rochas calcárias levou ao desenvolvimento de monumentos naturais e

geológicos como as inúmeras grutas que se estendem ao longo da costa,

algumas com elevada relevância no que toca à ocupação humana, os campos

de lapiás e as “marmitas de gigante” da ribeira do Risco. A abundância de

cursos de água nos terrenos argilosos, em conjunto com as cavidades criadas

nos calcários por ação da erosão, levou também à formação de algumas

aberturas particulares nos terrenos, que dão pelo nome de sumidouros, sendo

que o mais conhecido é o Sumidouro da Brecha ou Grande Sumidouro.

A riqueza geológica da Arrábida foi substancialmente explorada pelo

homem para a extração de materiais de construção, como o calcário e o gesso.

Até meados da década de 70 era permitida a extração de Brecha da Arrábida,

uma rocha de origem sedimentar com características únicas a nível nacional e

provavelmente mundial, utilizada como material nobre para fins ornamentais,

44 CAETANO (2010): 17 e 23 45 CALADO et alii (2009): 13-31

Page 67: Tese Mestrado_Raquel Santana

54

que pode ser encontrada, por exemplo, na Igreja do Cabo Espichel, no

Convento de Jesus em Setúbal e no Palácio da Pena, em Sintra. Apesar da

indústria extrativa estar cada vez mais dependente e condicionada pela

legislação ambiental que abrange o património natural, na Serra da Arrábida,

perto da Serra do Risco existem em funcionamento pedreiras que se ocupam

da extração de calcário e dolomito, com enorme dimensão e com um impacte

visual muito significativo numa paisagem única.

Tabela 7: Escala cronostratigráfica do Meso-Cenozóico (M.a. – Milhões de anos)46

46 CAETANO et alii (2009): 32

Page 68: Tese Mestrado_Raquel Santana

55

A unicidade da paisagem das terras do Risco é indissociável das suas

características florísticas, que pela sua especificidade apresentam complexos

de vegetação sem paralelo em Portugal e provavelmente no Mundo.

A flora da Arrábida é composta por núcleos de vegetação maquis

mediterrânico dada a especificidade do clima temperado com influência

atlântica e do relevo caracteristicamente “acidentado que permitiu a

diferenciação de microclimas e a existência de uma grande diversidade de

espécies que, em determinados lugares, atingem portes inigualáveis”.47

O clima mediterrâneo, que pressupõe duas estações que se opõem de

forma extrema, o verão e o inverno, intercaladas por outras de características

mais amenas, o outono e a primavera, somado à localização litoral na costa

ocidental portuguesa, que se traduz em valores mais elevados de humidade e

maior amenidade nas temperaturas, influenciam a tipicidade da flora,

possibilitando condições ecológicas que culminam na existência de

configurações particulares.

As áreas onde a vegetação se mantém próxima do original foram

classificadas como reservas integrais do PNA, onde o acesso apenas é

permitido para observação e estudo científico, com vista à inalteração dos seus

ecossistemas particulares. São disso exemplo a Mata do Solitário, a Mata

Coberta e a Mata do Vidal.

Neste contexto, e acrescendo a influência humana no uso dos terrenos

na atividade agrícola e pastorícia, a configuração atual da vegetação da

Arrábida permite a identificação de 1450 espécies e subespécies registadas

passíveis de serem utilizadas pelo homem em variados campos. Dessas

espécies destacam-se o carvalho-português (Quercos faginea), a azinheira

(Quercus rotundifolia), o medronheiro (Arbutus unedo), o loureiro (Laurus

nobiles), o zambujeiro (Oleaeuropaea var. sylvestris), o carrasco (Quercus

coccifera), o folhado (Viburnum tinus), a murta (Myrtus communis), o aderno

(Phillyrea latifolia) e, com valor acrescido pela sua raridade, o Narcissus

calcicola (espécie particular com distribuição comedida no território nacional), a

Convolvulus fernandesii e a Euphorbia Pedroi, até agora apenas registadas no

território arrabidense. Podem ainda identificar-se espécies mais comuns como

47 PEREIRA e MENDES (2009): 130

Page 69: Tese Mestrado_Raquel Santana

56

orquídeas, orégãos, tomilho, alfazema, rosmaninho, alecrim, salva, aroeira,

zimbro, pilriteiro, funcho, rosa albardeira, pinheiro, cardo e variadas espécies

de cogumelos.48

O coberto vegetal que chegou aos nossos dias não foi em muito

alterado tendo em conta a sua configuração de há três milénios, pelo que é

fácil concluir que as utilizações que hoje reconhecemos na variedade de

espécies de que dispomos na Serra da Arrábida, devem ter também sido

exploradas pelos primeiros ocupantes deste território.

Desde essas sociedades pré-históricas, que estudaremos adiante, até

aproximadamente ao século XIX este território desenvolveu-se naturalmente e

com escassa intervenção humana. Local privilegiado para a prática da caça,

pela fauna terrestre diversificada, viu extintos no início do século XX lobos,

veados e javalis, podendo no entanto hoje encontrar-se os últimos com grande

facilidade dado terem sido recente e anonimamente reintroduzidos. Na

atualidade estão registadas 213 espécies de vertebrados, e inventariadas 130

espécies de insetos e cerca de 450 de escaravelhos.49

No que toca aos vertebrados terrestres identifica-se, essencialmente nas

grutas e arribas, espécies particulares de morcegos como o morcego-de-

peluche (Miniopterus schreibersii), o morcego-rato-grande (Myotis myotis) e o

morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus mehelyi), os dois últimos em

perigo de extinção. No restante território podemos encontrar mamíferos como o

coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), o gato-bravo (Felis silvestris), a geneta

(Genetta genetta), o texugo (Melles melles), o saca-rabos (Herpestes

ichneumon), a doninha (Mustella nivallis), a raposa (Vulpes vulpes) e a fuínha

(Martes foina). As condições de inacessibilidade dos afloramentos rochosos

permitem a existência de aves com elevado interesse como a rara águia-de-

bonelli (Hieraetus fasciatus) sendo o caso único a nível nacional de nidificação

em escarpa sobre o mar, o francelho-de-dorso-liso (Falco naumanni) e o

falcão-peregrino (Falco peregrinus), estas espécies protegidas, mas também o

pombo-das-rochas (Columba livia), a coruja-das-torres (Tyto alba), o

andorinhão-real (Apus melba), o Melro-azul (Monticula solitarius), o rabirruivo-

preto (Phoenicurus ochrurus), o bufo-real (Bubo bubo), o bufo-pequeno (Asio

48 Ibidem: 130 49 Ibidem: 132

Page 70: Tese Mestrado_Raquel Santana

57

otus), o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficollis) o andorinhão-pálido

(Apus pallidus), o abelharuco (Merops apiaster), o pica-pau-malhado-grande

(Dendrocopos major).50

A salamandra-comum (Salamandra salamandra), o sapo-comum (Bufo

bufo), a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), a cobra-de-ferradura

(Coluber hippocrepis), a cobra-de-escada (Elaphe scalaris), o sardão (Lacerta

lépida), a lagartixa-ibérica (Podarcis hispânica), são alguns dos anfíbios e

répteis identificáveis.51

De entre as milhares de espécies de invertebrados inclui-se uma das

poucas classificadas como em Perigo Crítico de Extinção pela União

Internacional para a Conservação da Natureza, a aranha cavernícola do Frade

(Anapistula ataecina).52

A riqueza natural a nível nacional e europeu, não se verifica apenas no

plano terrestre, sendo que em 1998 foi delimitada a reserva marinha do PNA.

Intitulada de Parque Marinho Professor Luiz Saldanha contempla cerca de 53

km2 correspondentes a 38 km de costa, onde habitam mais de 1000 espécies

de fauna e flora marinha, entre as quais o roaz corvineiro (Tursiops truncatos)

no estuário do Sado.53 A indissociável relação económica e emocional das

gentes de Sesimbra com o “seu” mar tem alimentado polémicas variadas em

torno da reserva.

2.1.2 – Factores culturais Não é ao acaso que a paisagem da Arrábida aparece cantada por

poetas ao longo dos tempos. A misticidade do local foi desde cedo

reconhecida, e o facto de se manter praticamente inalterado torna-o passível

de um recolhimento e contemplação até hoje explorados.

A passagem de monges anacoretas dos séculos VI a XVIII por esta

região é verificada nos vestígios descobertos em grutas, que utilizavam como

escape ao mundo e para aproximação ao divino, remontado as origens do

topónimo Arrábida, do árabe Rabita, que significa convento.54

50 Ibidem.: 132 51 Ibidem.: 133 52 http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Natural_da_Arrábida 53 PEREIRA e MENDES (2009): 133 e http://www.ccmar.ualg.pt/biomares/parque_marinho.html 54 CALADO et alii (2009): 37

Page 71: Tese Mestrado_Raquel Santana

58

No século XVI, com as mesmas motivações, Frei Agostinho da Cruz

(1540-1619) lá se recolheu durante mais de quatro décadas, descrevendo a

serra e as emoções que lhe proporcionava na sua poesia.55

O anteriormente citado Alexandre Herculano (1810-1877) acabou

também por utilizar a sua poesia como meio de enaltecer as maravilhas deste

local, recorrendo igualmente à sua relação estreita com a entidade divina e

com a natureza no seu estado mais selvagem.56

Já no século XX, aconselhado pelos seus médicos devido à sua

debilitada saúde, Sebastião Artur Cardoso da Gama (1924-1952) acaba por

eleger a Arrábida para sua morada permanente. Natural de Vila Nogueira de

Azeitão, desde cedo manteve com a serra uma relação de dependência

emocional que se reflete na sua obra literária. “A Arrábida vai ocupando

Sebastião da Gama. Pela serra passeia, lá contempla, observa, sente o viver

da natureza; transforma-a em espaço de leitura e de escrita; demora-se no

aprofundamento de uma relação intensa com ela. Isso lhe servirá para a cantar

e para a trazer para tema principal do seu primeiro livro, “Serra-Mãe”, datado

de 1945 (…)”57 que teve como mote o poema escrito dois anos antes, assinado

com o pseudónimo de Zé d’Anicha (derivando da denominação da Pedra da

Anicha, um afloramento rochoso do Portinho da Arrábida) que viria a receber o

mesmo nome. Relevante é também o texto de 1949 “A região dos Três

Castelos – circuito turístico” que serve de enquadramento a atividades

realizadas atualmente, nomeadamente em 2009 no âmbito do programa

Ciência Viva no Verão, “A Geologia da Região dos Três Castelos de Sebastião

da Gama”.58

As características morfológicas, biológicas, geológicas, culturais e

simbólicas da Arrábida foram evidenciadas por obras literárias, mas também

pelas marcas da ocupação territorial deixadas ao longo dos tempos. Porto de

abrigo natural na época Romana, lugar ermo e de difícil acesso, como era

considerada na Idade Média, lugar sagrado, comprovado pela construção do

Convento da Arrábida no século XVI, ou residência nobre, pela riqueza dos

55 Elegia II (Da Arrábida) (s/d) 56 A Arrábida (1830) 57 RIBEIRO (2011): 13 58 CALADO et alii (2009)

Page 72: Tese Mestrado_Raquel Santana

59

solos e abundância da caça de que é exemplo a Quinta de Calhariz, a Arrábida

teve uma longa ocupação ao longo da história, mas também da pré-história.

Hoje, é possível precisar com maior exatidão os períodos de ocupação

dos nossos antepassados mais remotos, dada a investigação arqueológica que

tem sido levada a cabo no território sesimbrense, desde os finais do século XIX

que possibilitou a edição de uma das primeiras cartas arqueológicas em

Portugal, pelas mãos de Eduardo da Cunha Serrão. “Na verdade, a

investigação arqueológica sesimbrense começou, como vimos, por se focar

exclusivamente no Paleolítico, envolvendo, aliás, alguns dos nomes mais

sonantes da arqueologia portuguesa dos finais do séc. XIX e da primeira

metade do século XX.”59

A grande densidade de vestígios arqueológicos descobertos ficou

durante várias décadas, confinada a teorias de difícil comprovação a nível

global, mas de elevada relevância a nível individual, de que são exemplo a

Lapa do Fumo, referência obrigatória no meio científico nacional, ou a Roça do

Casal do Meio, de que nos ocuparemos com mais pormenor adiante.

A localização marítima privilegiada pela estreita ligação aos estuários

dos rios Tejo e Sado e pela abertura ao oceano Atlântico devem ter sido

preponderantes para o desenvolvimento territorial, económico e social do

território da Arrábida. Embora alguns factos sejam hoje comprováveis, a

investigação dos solos subaquáticos que circundam este território poderá ser

determinante no preenchimento de lacunas temporais nas teorias elaboradas.

Em falta está ainda o intensivo trabalho de inventariação e estudo dos

vestígios recolhidos e a sua comprovação através das técnicas atuais da

arqueologia experimental.60

A investigação iniciada em 2007 e aprofundada em 2009 por técnicos,

alunos e professores da Câmara Municipal de Sesimbra, da Faculdade de

Belas-Artes e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da

Universidade de Évora, originou uma nova carta arqueológica de Sesimbra,

atualizada e com avanços significativos no que concerne à importância das

comunidades pré-históricas sesimbrenses. O território de Setúbal constitui

também alvo de prospecções, visto ser cada vez mais provável a existência de

59 CALADO et alii (2009): 13 60 Ibidem.: 17

Page 73: Tese Mestrado_Raquel Santana

60

um proto-estado que abarcaria toda a região da Arrábida. “No decorrer do

projeto «Carta Arqueológica de Sesimbra», foi identificado um vasto complexo

arqueológico da Idade do Bronze (cerca de 1200 a.C.), cuja evidência de maior

escala é o Povoado do Risco, com cerca de 100 hectares, o que o torna num

dos maiores povoados deste período da Europa. Este vasto complexo estende-

se pela Arrábida, o que faz pensar na existência de um «proto-estado» nesta

região, na época da Guerra de Tróia e do tempo dos heróis Aquiles, Heitor ou

da bela Helena, no mundo grego, de Ramsés II no Egito, ou do êxodo dos

judeus com Moisés. Por outro lado, a «Carta Arqueológica de Sesimbra» e a

«Carta Arqueológica de Setúbal», cujo projeto de investigação está a decorrer,

têm possibilitado entender os momentos, as estratégias de ocupação e o

aproveitamento dos recursos do Homem nesta região (…).”61

A excepcionalidade arqueológica da Arrábida, e especificamente das

Terras do Risco, é então justificada pela existência de um povoado da Idade do

Bronze, acima mencionado, de um povoado Neolítico, do monumento Roça do

Casal do Meio e do valioso espólio descoberto na Lapa da Cova.

O povoado do Risco (Idade do Bronze, cerca de 1200 a.C.) apresenta

características únicas, não apenas pela sua extensão, aproximadamente até

ao Portinho da Arrábida, mas também por se situar num local sem estruturas

defensivas construídas ou naturais, mas com um domínio visual privilegiado

sobre todo o território. As prospecções no terreno levam a crer que terá sido de

curta duração, mas que poderia ter um papel comercial fundamental.

As questões simbólicas que marcam a Serra do Risco não foram com

certeza descuradas, o que terá levado os nossos antepassados a reutilizar a

Roça do Casal do Meio, “um caso isolado no que diz respeito às práticas

funerárias da Idade do Bronze em Portugal”62, descoberta por Konrad Spindler

nos anos 70, arqueológo que estudou o Homem do Gelo, Otzi. O monumento

terá sido construído antes de ser utilizado como sepultura para dois indivíduos,

enterrados com objetos votivos e peças de adorno.

Apesar de complexa, a leitura dos vestígios cerâmicos é de elevada

importância na caracterização das ocupações pré-históricas. Na Arrábida é

notável, pela estreita relação entre a terra e o mar, a utilização de grutas para

61 GONÇALVES (2011) 62 CALADO (1993): 67

Page 74: Tese Mestrado_Raquel Santana

61

rituais variados, comprovada hoje pela interpretação dos “restos” dos objetos

utilizados.

Anterior ao povoado do Risco, terá sido o dos Prados (Neolítico Final,

cerca de 3000 a.C.), de menor dimensão que se estabelece pela busca dos

recursos agrícolas e pastoris, caracterizadora da revolução neolítica.63

Por fim, é de referência obrigatória a recente descoberta do espólio da

Lapa da Cova, onde se situaria um santuário fenício do qual nos restam contas

de colares, materiais de adorno em ouro e restos de cerâmica manual e

também de roda.

Esta caracterização resumida do espólio arqueológico do Risco é

suficiente para se entender a necessidade emergente de o preservar, estudar,

mas sobretudo apresentar à comunidade. A investigação não deverá servir

apenas para satisfazer os estudiosos que a conseguem perceber e valorizar,

mas sim para se criarem motivos de identificação e construção de

conhecimento na comunidade e nos visitantes, para que a sua relação com o

passado se dê efetiva e adequadamente, e se entenda que os nossos

antepassados não seriam “homens das cavernas”, como é primariamente

instituído no imaginário infantil, mas sim indivíduos pensantes e em constante

construção na busca de meios de subsistência que são hoje adquiridos à priori,

porque por eles foram explorados e inventados.

2.1.3 – Factores Turísticos e Económicos Grande parte dos terrenos da Serra da Arrábida constituem a Quinta de

Calhariz, propriedade do Duque de Palmela, D. Pedro Domingos de Sousa e

Holstein Beck. A agricultura, a pecuária, a vinha, a produção florestal e a

produção de queijos são atividades regulares, das quais se tira proveito dos

recursos naturais do território.

A par destas atividades é de destacar a importância turística da

Arrábida, que nos últimos anos tem levado à sua exploração por empresas do

meio que ai realizam visitas organizadas como percursos pedestres pela serra

e grutas. Estas empresas são detentoras de autorização não apenas do PNA,

como do Duque de Palmela, que numa tentativa de condicionar o trânsito na

63 Para percepção territorial das evidências arqueológicas consultar o Anexo I.

Page 75: Tese Mestrado_Raquel Santana

62

área do Parque, optam por autorizar estas atividades em detrimento da

utilização inadequada do espaço. Também a Câmara Municipal de Sesimbra

tem procurado dar a conhecer este património natural e cultural através de

visitas guiadas ou passeios de BTT. A presença domingueira de visitantes

oriundos dos concelhos limítrofes é também relevante, sobretudo na estrada

que “rasga” a Serra desde o concelho de Sesimbra até ao concelho de Setúbal.

Contudo, e apesar de ser condenável pelo impacto negativo que exerce

sobre a paisagem e os ecossistemas naturais deste local, bem como sobre o

espólio arqueológico que se pode ter perdido, a atividade económica por

excelência na Serra da Arrábida, é a extração de inertes.

Page 76: Tese Mestrado_Raquel Santana

63

Capítulo 3

Parque da Pré-história da Arrábida

3.1 – Enquadramento de Um Projeto O concelho de Sesimbra tem atualmente cerca de 50 000 habitantes

distribuídos por três freguesias. Até à década de sessenta teve como

atividades económicas centrais as pescas e a agricultura, verificando-se

apenas no último quartel do século XX um crescendo na importância da

atividade turística. Destino turístico com ênfase nos factores sol e praia, sofre

inevitavelmente da instabilidade característica da sazonalidade.

A partir de finais da década de noventa do século XX, outros produtos

turísticos começaram a emergir baseados na viabilização dos recursos dos

patrimónios natural e cultural, que até à data permaneciam marginais dos

fluxos regulares do turismo em Sesimbra. O pretexto da inquestionável riqueza

natural do PNA, atrás explicitada, era então relegado para segundo plano, não

se criando condições de exploração turística convenientes.

A classificação das jazidas de pegadas de dinossauro da Pedra da Mua,

de Lagosteiros e da Pedreira do Avelino como Monumento Natural em 1997, a

criação dos percursos “Chã dos Navegantes” (PR1 - SSB) e “Maravilhas do

Cabo” (PR2 - SSB) em 2005, e a criação da “Rota de Cezimbra” (PR3 -SSB),

percurso pedestre do Castelo medieval à vila, em 2007, foram alguns dos

importantes avanços para a necessária preservação, valorização e divulgação

do património natural.

Quanto ao património cultural, foi em 1998 aprovado o plano

museológico de Sesimbra, agora em fase de revisão. Sesimbra começa a ser

entendida como espaço museológico para o qual é necessário criar uma

narrativa patrimonial coerente. Por todo o território, os monumentos e a

paisagem deixam sobressair vestígios da ocupação humana ao longo dos

tempos. O Castelo reporta a uma paisagem medieval, a Capela do Espírito

Santo dos Mareantes ao hospital medieval do século XV e à arte sacra, a

Fortaleza de Santiago à defesa da costa e às atividades marítimas.

Page 77: Tese Mestrado_Raquel Santana

64

De 2007 a 2009 as descobertas arqueológicas, atrás descritas, no

âmbito do projeto da carta arqueológica acabam por completar algumas

lacunas na história e pré-história deste território. A dimensão da descoberta

arqueológica em termos europeus, pela existência do grande complexo da

Idade do Bronze, aliada à importância geológica, biológica e simbólica da

paisagem, devem ser aproveitadas para a construção da narrativa territorial

que se pretende ser motivadora de “uma viagem no tempo” desde a formação

da Terra (recuando 200 milhões de anos) à atualidade.

Hoje, pode considerar-se que reside na valorização e divulgação do

património sesimbrense o meio por excelência de se distinguir e evoluir como

concelho turístico, trabalhando-se o território com uma visão pro-patrimonial e

sustentável, de modo a construir vetores caracterizadores e distintivos no

panorama turístico nacional. O Plano Estratégico de Turismo do Concelho de

Sesimbra, realizado em 2009 e que atualmente se encontra em fase de

implementação, contribuiu também para uma visão mais abrangente do

concelho e dos seus referenciais turísticos. Inaugurando políticas de

valorização e sustentabilidade desafiantes para toda a comunidade pretende-

-se caracterizar e estabelecer a autenticidade de Sesimbra.

A par desta política de valorização deve encorajar-se uma estreita

relação e efetiva participação da comunidade local nas estratégias patrimoniais

adoptadas. Como se viu desde o início neste trabalho, o património do passado

deve ser lugar comum da população do presente de modo a que esta dele se

orgulhe e nele se reveja. A identidade cultural e a memória coletiva são o

caminho para a referida, e necessária, museologia participativa, que conciliada

com a visão turística local deve resultar no aumento quantitativo e,

essencialmente, qualitativo da oferta cultural e turística de modo cuidado e não

gratuito.

Está então lançado o mote para a criação de um Parque da Pré-história

da Arrábida (PPA), onde os visitantes podem viajar no tempo e entender

conceitos tão complexos como longínquos da sua realidade.

Page 78: Tese Mestrado_Raquel Santana

65

3.2 – O Papel da Museologia Participativa O abismo que por vezes se cria entre a população e locais protegidos e

com restrições peculiares como a Arrábida, pode ser transposto através da sua

correta valorização e aproveitamento, numa perspectiva de devolução à

população visando uma estreita relação com a sua memória cultural.

É vital reter que apesar de não ser um museu, na primária acepção da

palavra, o PPA deverá ser organizado através dos princípios estruturais da

museologia. A desmistificação desta temática foi já suficientemente abordada

no Capitulo 1, mas deve ser agora realmente assimilada a efetiva importância

pedagógica e social da museologia nos dias de hoje.

O sistema educativo nacional promove cada vez menos a formação nas

áreas da História, Arqueologia e Artes, sendo esta de geração em geração

cada vez mais elementar. Será, neste contexto lugar comum, a importância

destas áreas de estudo na formação dos indivíduos e da sua estrutura

intelectual bem como da sua identidade cultural, fulcrais para o relacionamento

em sociedade.

A atitude dos públicos perante estas temáticas é normalmente

contemplativa, sendo visível o abismo entre eles e os monumentos,

principalmente os de épocas mais remotas. O caminho será então “quebrar o

gelo” dando-as a conhecer através de paralelismos com o presente e

sobretudo através da experimentação. O ato comummente designado por “pôr

a mão na massa” facilita a apreensão e entendimento de conceitos e técnicas

desconhecidos como os dos nossos antepassados.

O PPA deverá ser construído a partir da investigação já constituída,

pelos técnicos e investigadores envolvidos, mas também em parceria com a

comunidade local, promovendo-se o debate sobre as temáticas do património,

a sua salvaguarda, preservação, importância e potencial turístico e no modo

como pode ser catalisador de novas atividades económicas rentáveis. O

envolvimento das pessoas num projeto que se quer para as pessoas, pode ser

um fator vital para o seu sucesso, não só por ser inovador, mas porque será

com certeza motivador. A relação descomprometida que se estabelece com o

património da Arrábida, pode ser contrariada e mesmo, num futuro próximo,

invertida.

Page 79: Tese Mestrado_Raquel Santana

66

3.3 – Objectivos Estratégicos

Para a construção do PPA devem então considerar-se os seguintes

objectivos estratégicos:

• consolidar as investigações levadas a cabo nos domínios da geologia,

biologia e arqueologia do território da Arrábida para construção de uma

narrativa pedagógica e acessível a diversos públicos;

• promover a divulgação do património natural e cultural através da

reconstituição histórica apoiada na investigação científica e

arqueológica do território;

• rentabilizar social, cultural e economicamente a Arrábida com vista à

construção de um novo polo de atração turística através de um projeto

inovador que se baseia nos princípios da museologia participativa;

• construir um referente cultural identificável para que a promoção do

parque possa verdadeiramente considerar-se diferenciadora no

panorama turístico nacional e europeu;

• devolver à comunidade local um espaço que lhe estava restrito quer

através do seu envolvimento nas fases de construção do parque, quer

através das atividades que de uma forma lúdica e pedagógica devem

refletir os modos de vida e de exploração dos recursos locais dos seus

antepassados;

• dinamizar a economia local através da promoção dos produtos da

região;

• criar atividades para os mais jovens relacionadas com o conhecimento

e salvaguarda do passado patrimonial na lógica da arqueologia da

paisagem e da arqueologia experimental;

• promover o reaproveitamento de estruturas pré-existentes para a

concretização do parque de modo a que o impacto na paisagem seja

nulo;

• apostar na qualificação e exigência no que diz respeito aos recursos

humanos afetos à equipa de trabalho do parque;

• continuar as prospecções no terreno para que a investigação se

engrandeça com o aparecimento de novas evidências;

Page 80: Tese Mestrado_Raquel Santana

67

• identificar e musealizar outros sítios de interesse natural e cultural do

PNA inserindo-os nos circuitos turísticos nacionais;

• motivar a comunidade e os visitantes para a possibilidade de

construção de projetos com escassos recursos financeiros, numa altura

em que a conjuntura nacional e mundial afetam a vivência quotidiana

das famílias.

3.4 – Modelo de Implementação O PPA deverá funcionar como polo dinamizador da atividade natural,

cultural e consequentemente turística da Arrábida, e inevitavelmente como

estudo de caso nos panoramas arqueológico e museológico em Portugal.

Como tal, o carácter inovador da experiência, mas também a atual situação

económica nacional pautam a sua concepção.

Partindo dos escassos recursos financeiros disponíveis e do vasto

processo de investigação, pretendesse construir um processo baseado na

máxima work in progress, em que a participação dos visitantes e da

comunidade dará o mote à criação das estruturas que devem funcionar como

apoio às visitas e aos ateliers.

Numa fase inicial de experimentação e investigação arqueológica, em

parceria com alunos e professores da Universidade de Belas-Artes da

Faculdade de Lisboa, deve iniciar-se a construção de uma cabana, de

cerâmicas, ferramentas e objetos do quotidiano essenciais às comunidades

pré-históricas, em atividades lúdicas e pedagógicas segundo os princípios da

arqueologia experimental.

Esta tipologia de atividades deverá ser desenvolvida ao longo da

construção do parque, dando a conhecer à comunidade local o projeto, para

que se estabeleçam relações de pertença e identificação. Os públicos devem

sentir a necessidade do parque mesmo antes da sua efetiva criação.

O processo participativo que se pretende inaugurar tem em vista os

objectivos da museologia participativa, sendo aberto aos públicos, para que

eles se sintam participantes ativos no mesmo. As conclusões resultantes desta

investigação participada devem sempre que possível ser devolvidas à

comunidade através de debates públicos, colóquios, edição de pequenas

Page 81: Tese Mestrado_Raquel Santana

68

publicações ou até através do meio com maior eficácia com a criação de uma

página na web, devidamente trabalhada e atualizada pela equipa de trabalho

envolvida no projeto.

Está em vigor desde o dia 12 de Setembro de 2011 um protocolo de

cooperação entre os municípios de Sesimbra e Setúbal, a Faculdade de Belas-

-Artes da Universidade de Lisboa e a Casa de Calhariz que visa a continuação

da recolha de informação arqueológica e o aprofundamento da investigação

científica para a elaboração dos conteúdos necessários à construção do PPA.

Até ao final de 2013 (período em que vigorará o protocolo), uma comissão de

trabalho eleita pelos representantes do protocolo, com a participação essencial

de representantes do PNA, deverá trabalhar com vista a uma definição oficial

do PPA, um modelo de gestão, negócio e governação, bem como um estudo

de viabilidade económica e um estudo de impacte ambiental. Neste último são

fatores a considerar, as questões sensíveis relacionadas com a fauna e flora

do local, a mobilidade e acessibilidade, a gestão ambiental e o impacto na

paisagem que um projeto no coração do PNA possa acarretar.

3.5 – Narrativas O facto do projeto ter como ponto de partida uma paisagem classificada

com comprovado valor natural e cultural, fá-lo depender inevitavelmente de

duas valências estruturais, a da narrativa natural e a da narrativa cultural.

Para a concepção da narrativa natural do parque concorrem a

necessária descodificação dos enquadramentos geológico, florístico e

faunístico do território, considerando a sua evolução e ocupação ao longo dos

tempos, bem como o importante papel que o PPA pode desempenhar na

organização do espaço e no controle da circulação arbitrária que por vezes tem

consequências tremendas para os habitats. Viabilizando um estudo de impacte

ambiente, o parque deverá sujeitar-se a regras que possibilitam o seu bom

funcionamento, nomeadamente no que diz respeito ao livre trânsito de

visitantes e ao número máximo de participantes em visitas ou atividades

específicas. Existem duas hipótese a equacionar que podem também valorizar

ecologicamente este projeto, a existência de um centro de recuperação de

Page 82: Tese Mestrado_Raquel Santana

69

animais selvagens, inexistente na região, e a criação de um espaço de

agricultura biológica à semelhança dos cultivos das comunidades neolíticas.

No que concerne à narrativa cultural, esta de maior complexidade

representativa, deve apostar-se na reconstituição de duas aldeias, uma

correspondente ao povoado Neolítico e a outra ao povoado da Idade do

Bronze, as épocas com maior relevância no território, embora possam ainda

existir reconstituições de períodos anteriores como o Mesolítico. Os dois

espaços museológicos que se pretende que sirvam de ponto de partida aos

percursos pelo parque, são subjugados às temáticas da origem e evolução do

homem, e ao enquadramento cultural, cronológico e territorial do períodos em

questão, novamente com ênfase no Neolítico e na Idade do Bronze.

3.6 – Programa Museológico: Um Projeto Duas Possibilidades No decorrer deste trabalho foram explicitadas e justificadas as variáveis

que concorrem à criação do PPA, numa lógica de preservação e valorização do

património natural e cultural inigualável que caracteriza a Serra da Arrábida.

Deve então, na lógica de construção do programa museológico, considerar-se

o carácter peculiar de uma intervenção deste género num território que

obedece a políticas de preservação e utilização bastante restritivas como as

que pautam o PNA. Neste contexto, é viável e considera-se mais prudente, a

apresentação de duas possibilidades para a efetiva criação do PPA, uma in situ

e uma outra deslocalizada.

3.6.1 – A Utopia do Risco64 A criação do PPA é motivada, em primeira instância, pela descoberta do

grande povoado da Idade do Bronze, pelo que a solução ideal para a sua

concretização será a apropriação do território que outrora foi habitado pelas

sociedades pré-históricas, as Terras do Risco.

Nesta solução, o acesso é efetuado através da estrada de Calhariz até

ao portão das Terras do Risco, onde se encaminham os visitantes para o local

reservado ao estacionamento das viaturas. Nesta área de pedreiras artesanais

abandonada onde não seriam necessárias intervenções para o cumprimento

64 Consultar Anexo II e III.

Page 83: Tese Mestrado_Raquel Santana

70

desta função, poderá também existir uma pequena zona de recepção e

acolhimento e uma primeira abordagem à envolvente natural, através do

aproveitamento das pequenas pedreiras para leitura geológica da paisagem.

O percurso para a área central do parque pode depois ser efetuado a

pé, ou de mini bus (elétrico), sendo a informação sobre a paisagem (geologia,

mas em particular fauna e flora) disponibilizada através de painéis fixos ao

longo do percurso, audioguias ou até meios audiovisuais para visionamento no

mini bus ou através de dispositivos portáteis alugados à entrada do parque.

Durante todo o percurso são possíveis derivações, devidamente

controladas, para visitar monumentos dispersos pelo território como as

marmitas de gigante ou grutas de interesse comprovado. Os visitantes devem

na primeira zona de acolhimento ter acesso a toda a informação (guias e

folhetos) necessária à programação da sua visita e às variáveis de segurança e

boa conduta a equacionar durante as visitas.

O percurso continua até ao Casal do Meio onde pode existir uma

cafetaria, através do reaproveitamento de ruínas existentes, e o polo de

interpretação sobre a origem e evolução do homem. Nas imediações é

apresentada uma reconstrução das duas fases do monumento Roça do Casal

do Meio, aproveitando uma clareira natural, partindo do interesse dos visitantes

a visita, ou não, aos vestígios do monumento.

Continuando o percurso pela estrada, sempre com a preocupação de

abordar aspectos paisagísticos e culturais, aproxima-se o grande sumidouro e

o carvalho milenar onde se pode teatralizar a vivência de um xamã na época

pré-histórica.

É chegada então a área central e de serviços de apoio ao parque e aos

visitantes, nas antigas cavalariças (estrutura em ruínas passível de ser

reaproveitada) onde se devem instalar sanitários, uma loja, e espaços

exteriores e interiores para atividades múltiplas de educação e animação

patrimonial. As exposições sobre os períodos culturais em análise, o

Mesolítico, o Neolítico, o Calcolítico, e a Idade do Bronze, devem também ser

equacionadas nesta estrutura. Pretende-se que a abordagem a estas temáticas

passe do global ao local, para que se entenda a relevância dos povoados da

Arrábida no panorama internacional do estudo e investigação da pré-história.

Page 84: Tese Mestrado_Raquel Santana

71

Perto desta área de exposições e serviços, devem existir os momentos

de reconstrução das aldeias. A ocupação mesolítica apresentada através de

um acampamento, a revolução neolítica e a Idade do Bronze através de

aldeias. Estes espaços devem ser devidamente delimitados e interpretados, de

modo a que seja visível a evolução técnica e cultural de época para época.

Apelando ao sentido cénico e simbólico do território, propõe-se nas

imediações, a reconstrução da gruta da Lapa da Cova com referência ao

santuário fenício que ai se descobriu. Os visitantes podem neste momento ser

convidados a participar na descoberta do tesouro através da recriação de uma

escavação arqueológica. Associados aos aglomerados habitacionais

reconstruídos funcionam os ateliers, pautados pelas atividades do quotidiano

das comunidades em estudo, como o talhe da pedra, o fogo, a cerâmica, a

tecelagem, a fundição, a caça, a pastorícia, a agricultura, a alimentação, as

artes da guerra ou as artes da morte.

Nos pastos que marcam a paisagem das Terras do Risco é passível a

introdução de animais selvagens como touros e cavalos (num espaço

devidamente delimitado, por questões de segurança evitando qualquer tipo de

acidente) enquadrando o cenário do quotidiano da pré-história.

A concepção apresentada apesar de acarretar variáveis complexas,

para as quais se procuram soluções, nomeadamente no que diz respeito às

questões ambientais e legislativas, deve ser verdadeiramente equacionada. A

realização do PPA com estas características confere-lhe uma identidade

própria e vinculativa como estrutura museológica de relevo no panorama

nacional. O seu sucesso dependerá com certeza da eficaz participação da

comunidade local e da capacidade criativa da equipa de trabalho que

desenvolverá as primeiras atividades.

3.6.2 – A Realidade no Risco

Pelo facto de a Serra do Risco, como área protegida, estar subjugada à

restrita legislação do PNA e pela escassez dos recursos financeiros

disponíveis, é vital equacionar a hipótese da não realização in situ do PPA.

Propõe-se então a sua concepção deslocalizada.

Page 85: Tese Mestrado_Raquel Santana

72

Ao conceber o território pela sua riqueza natural, como tem sido

trabalhado ao longo das anteriores páginas, e considerando os vestígios

culturais disponíveis para contar a sua história, rapidamente se apreende o

conceito de Parque da Pré-história da Arrábida, pois ele existe, mesmo sem

uma estrutura física delimitada. Os vestígios e monumentos arqueológicos, os

monumentos geológicos e as particularidades da fauna e da flora da Arrábida,

podem ser agrupados em inúmeros percursos temáticos e atividades

específicas, que organizados numa programação coerente organizada através

de um pensamento científico e comunicacional comum, dão corpo à estrutura

museológica que se pretende.

Na impossibilidade de se reconstruir o passado no seu local concreto,

deve conceber-se um centro expositivo de interpretação (que poderá funcionar

fora dos limites da Serra) onde que se dão a conhecer os contextos e

narrativas trabalhados na investigação e onde se disponibiliza a informação

necessária ao encaminhamento dos visitantes para os percursos existentes. As

atividades de arqueologia experimental, propostas anteriormente, bem como a

construção de cabanas são passíveis com poucos recursos e essenciais para a

lógica construtiva do parque no imaginário da população.

Esta solução depende da correta musealização dos sítios de interesse

que se referem nos percursos e, inevitavelmente, da boa organização do

centro interpretativo que se pretende que descentralize as atenções pelo

território. A oferta variada e criativa no que toca às atividades é também fulcral

para que os públicos se sintam motivados a visitar o PPA e a participar na sua

construção.

3.7 – Modelo de Comunicação Uma das temáticas mais debatidas na atualidade no mundo dos museus

é a sua importância na vida social para que se justifique o seu financiamento

público. É um facto que neste trabalho já foi suficientemente justificada essa

importância, e que o que estará em causa não será o financiamento quer seja

ele público ou privado. O que falta explanar, é que a importância social só

poderá ser efectivada consoante a visão estratégica, objectivos e modelos

Page 86: Tese Mestrado_Raquel Santana

73

construídos. As estruturas museológicas têm hoje de ser concebidas

criativamente através de modelos de gestão e comunicação sustentáveis.

A vivência da maioria das famílias, potenciais visitantes destas

estruturas, é hoje desenhada segundo critérios prioritários de sobrevivência.

Para estes critérios concorrem necessidades básicas como a habitação, a

alimentação, o vestuário, e outras, numa lista em que a educação, mais

concretamente a educação patrimonial, as atividades culturais e o lazer estão

no vértice mais distante.

Neste contexto, devem exigir-se aos públicos contribuições que vão de

encontro às suas possibilidades, mas sobretudo, devem criar-se factores

motivadores que caracterizem as experiências disponibilizadas como únicas,

onde a par da diversão, quase que subliminarmente, exista construção de

conhecimento. A instituição museal pode considerar-se assim um equipamento

social e educacional básico.

Estas variáveis devem ser parte integrante do modelo de divulgação e

comunicação do PPA, funcionando ele para qualquer uma das propostas acima

apresentadas, e no processo de construção de referentes sugestivos que

apelem ao imaginário dos visitantes.

O público escolar da grande Lisboa, os visitantes ocasionais de fim-de-

-semana, o público dos aglomerados urbanos limítrofes, os turistas que

procuram atividades diferentes no âmbito do turismo cultural e da natureza, os

estudantes, investigadores e interessados nas temáticas abordadas, e a

população local, são o universo que frequentará o PPA. A diversidade entre os

públicos leva a que seja fulcral o desenvolvimento de várias níveis de

conhecimento e linguagem para que nenhum grupo seja excluído. Apenas os

estudantes e investigadores da área têm facilidade em apreender conceitos tão

distantes e de percepcionar a monumentalidade dos sítios arqueológicos,

mesmo em casos em que os vestígios sejam praticamente inexistentes. A

maioria dos públicos não terá essa facilidade, pelo que a utilização de uma

linguagem simples e apelativa com referentes da atualidade, facilita a

compreensão dos modos de vida das primeiras comunidades. Na realidade, as

atividades são semelhantes, a caça, a construção, a cerâmica, apenas variam

as técnicas e matérias disponíveis à data, e o modo como se percepcionaria o

Page 87: Tese Mestrado_Raquel Santana

74

território. Podem então estabelecer-se paralelos concretos com vista à eficácia

do discurso patrimonial.

Na ótica do utilizador, devem considerar-se os fatores surpresa,

inovação e experimentação em atividades o mais ricas possível. No que

concerne ao património natural devem equacionar-se parcerias com empresas

ou associações que operam na Arrábida para a realização de percursos

pedestres, escalada e rapel, espeleologia, BTT ou observação da fauna e flora.

No campo do património cultural, os referidos ateliers são vitais e devem

funcionar com uma periodicidade específica, dependente das condições

logísticas disponíveis. A atividade arqueológica permanente e inserida em

visitas de grupo desempenha também um importante papel para o

entendimento da missão do PPA. A programação cultural pode ser tão vasta

quanto o que se desejar, sempre tendo em vista os objectivos e missão do

parque. O teatro, a música, a dança ou as artes plásticas podem ser inseridos

em encontros ou espetáculos específicos. É também de extrema importância o

desenvolvimento da atividade científica através de colóquios, encontros e

debates abertos à comunidade, e da edição de estudos resultantes dos

avanços nas investigações.

Para que o PPA seja considerado uma estrutura de relevante interesse

é necessária a aposta na sua comunicação, interna e externa.

A comunicação interna prende-se com todos os problemas de

sinalização e acessibilidade dos percursos e monumentos que se pretendem

atores principais neste processo de construção. A correta marcação e limpeza

dos percurso é essencial, para que os visitantes identifiquem que estão no

parque e não num simples trilho abandonado. A informação disponibilizada

pelos diversos meios de comunicação interna como painéis, audioguias ou

suportes multimédia deve ser cuidada e trabalhada considerando a diversidade

de públicos existente, para que se possa ter maior retorno. Neste campo é

ainda necessário um vasto trabalho de identificação e musealização dos

monumentos arqueológicos de interesse comprovado que se podem divulgar

no PPA para que a sua importância seja compreensível e não questionada.

O plano de divulgação externa do parque deve passar não apenas pelos

suportes gráficos de apoio às visitas como folhetos, roteiros e mapas, mas pela

criação de uma plataforma de fácil acesso (página web) onde, através de

Page 88: Tese Mestrado_Raquel Santana

75

animações multimédia, vídeos, jogos ou recriações sejam dados a conhecer os

conteúdos científicos da estrutura museológica. É de máxima importância a

promoção nas escolas, junto dos professores e alunos através de atividades

especificas que os tornem interessados e os levem a divulgar o parque junto

das suas famílias e amigos. A proximidade à comunidade local passa pela

conjugação da atividade do parque com atividades comerciais locais e pela

promoção de debates sobre temáticas de interesse comum. As publicações já

referidas e a edição de suportes multimédia, como DVD’s, bem como a

realização de exposições temporárias, itinerantes ou não, são também meios

relevantes. A atual parceria com a Faculdade de Belas-Artes deve ser

aproveitada com vista à criação de atividades de investigação que possam

lançar a discussão sobre o caso inédito do PPA, em Portugal e na Europa, com

vista a divulgá-lo à comunidade científica.

O processo de construção peculiar que deve ser inaugurado na criação

do PPA, fá-lo depender em grande parte do sucesso e impacto da sua

comunicação. Deverão então ser equacionadas, desde o início do processo,

estratégias comunicativas de curto prazo, que em constante mutação, devem

refletir e dar a conhecer todas as fases do processo de construção.

3.8 – Matriz FOFA É essencial à realização de qualquer projeto a sua análise segundo uma

matriz FOFA, em que as Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças são

equacionadas para melhor se construírem as suas estratégias e objectivos. A

análise apresentada é possível dada a conjuntura atual de fatores que

concorrem à realização do PPA, podendo a mesma ser alterada à medida que

se alteram as condições do projeto.

Assim, este cruzamento hipotético de fatores, deve ser realizado a cada

fase do projeto para que através de uma avaliação eficaz, o mesmo se possa

moldar às necessidades identificadas.

Page 89: Tese Mestrado_Raquel Santana

76

Tabela 8: Matriz FOFA do projeto do Parque da Pré-história da Arrábida

FORÇAS FRAQUEZAS

• Proximidade de grandes centros urbanos, nomeadamente de Lisboa;

• Facilidade e rapidez dos acessos; • Riqueza natural e cultural inexplorada; • Binómio natural serra e mar; • Riqueza natural que propícia o desporto de

aventura; • Reconhecimento da população em geral na

necessidade de criar polos turísticos dinamizadores e atrativos que possam desenvolver economicamente a região;

• Projeto pioneiro no território nacional que pretende seguir as lógicas de sucesso comprovadas noutros países da Europa;

• Interesse público e privado na viabilização, rentabilização e divulgação do território e seu património, nomeadamente dos municípios de Sesimbra e Setúbal e da Casa de Calhariz;

• A atratividade do lugar baseada na sua invulgar beleza cénica;

• A especial relevância científica, pedagógica e cultural do património natural e cultural da região.

• Deficiente exploração do interesse científico e natural da Arrábida até aos dias de hoje;

• Falta de referentes para criação de um discurso comum a diversos públicos pela inexistência de um marco cultural facilmente identificável;

• Sinalética insuficiente ao longo de todo o PNA e abandono de estruturas de contemplação ou interpretação da paisagem;

• Défice de sinalização nos percursos pedestres que levam aos sítios de interesse arqueológico;

• Falta de material de divulgação; • Inexistência de propostas turísticas concretas e

sustentáveis em torno do património natural e cultural da Arrábida que possam motivar os operadores turísticos e consequentemente os seus clientes;

• Falta de alojamento turístico em áreas rurais que promovam o desenvolvimento do turismo de natureza;

• Fiscalização insuficiente dos usos indevidos do território do PNA;

• Inexistência de estruturas de apoio aos visitantes e de centros interpretativos.

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

• Preservação da paisagem de modo mais controlado;

• Criação de um produto cultural, pedagógico e turístico inovador;

• Devolução da história à comunidade local; • Valorização da região numa época de crise

económica e social; • Divulgação internacional na rede de parques

arqueológicos; • Possibilidade de parcerias nacionais e

internacionais com universidades e instituições que operam nos campos da arqueologia experimental e da museologia;

• Inauguração de parcerias efetivas com a comunidade na construção do parque;

• Criação de postos de trabalho diretos e indiretos, muitos deles qualificados;

• Possibilidade de reabilitação de edificações degradadas e inutilizadas, com vista à criação de locais de interpretação do património natural e cultural.  

• Existência de políticas patrimoniais que visam a lógica inversa à utilização e rentabilização do património cultural e sobretudo do património natural;

• Concorrência de destinos com maior oferta cultural e maior capacidade de promoção e divulgação da sua programação;

• Relutância do PNA quanto à exploração do território protegido;

• Legislação por vezes castradora no que toca à mobilidade dos visitantes pelo parque;

• Relação descomprometida e por vezes desinteressada da população local com a Serra da Arrábida;

• Relação hostil da população local com o PNA pelas constantes proibições, nomeadamente quanto à Reserva Marítima;

• Falta de interesse por parte da comunidade local; • Dificuldade em fidelizar públicos pela escassa

oferta de turismo da natureza; • Excessiva massificação que se prevê para

empreendimentos turísticos em Sesimbra.

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77

SÍNTESE FINAL

Page 91: Tese Mestrado_Raquel Santana

78

A Arrábida, hoje candidata a Património Mundial da UNESCO ergue-se

na paisagem há milhões de anos e presencia a vivência do homem desde a

pré-história. Não será impossível imaginar este território aquando da sua

ocupação pelas comunidades do Neolítico ou da Idade do Bronze, mas será

para isso como se verificou, necessária uma interpretação cuidada dos

vestígios dessa ocupação para que possa ser comunicada sem se

desconfigurar a riqueza natural e cultural que o caracteriza.

Neste contexto, a investigação apresentada pretende despoletar o

debate saudável que antecede a realização do Parque da Pré-história e

apresentar um caminho possível para a sua concretização.

A caracterização das fases da construção do museu nos diferentes

contextos cronológicos apresentados e a percepção da direção que seguiu, no

que concerne ao seu relacionamento com os públicos, possibilitou a introdução

do conceito de Museologia Participativa neste estudo. É certo que os princípios

que lhe estão intrínsecos têm vindo gradualmente a ser implementados e

testados pelas instituições culturais, nomeadamente na realização de

atividades com públicos escolares, mas pretende-se agora vincar a sua

importância na medida em que poderá estabelecer-se aquando da criação das

instituições, visando a participação das comunidades locais numa ótica

construtiva em que se consideram especificações culturais e sociais

características do contexto, bem como o desenvolvimento do sentido estético,

artístico, critico e intelectual dos sujeitos.

A salvaguarda do património será assegurada se as comunidades locais

desempenharem o seu papel de protetoras e comunicadoras da sua identidade

cultural. Para isso, devem estas ser motivadas pela apresentação de dados

concretos e apelativos para construção de uma memória histórica comum e

para possibilitar ou facilitar a sua leitura da paisagem e compreensão do

território.

Esta concepção museológica na qual se pretende uma transformação

fundamental dos visitantes, comummente agentes passivos, em agentes ativos

no contexto patrimonial, deve agora ser trabalhada no caso concreto do Parque

da Pré-história da Arrábida, com base no modelo de implementação e no

modelo de comunicação apresentados.

Page 92: Tese Mestrado_Raquel Santana

79

Verificou-se que a dispersão e falta de informação no que diz respeito

ao património arqueológico do concelho de Sesimbra despoleta o desinteresse

dos públicos. Acrescendo a esse factor existe ainda a restrita política de

valorização e divulgação do património natural do Parque Natural da Arrábida.

A educação patrimonial deve ser então um objetivo assumido na criação

desta instituição que permite aglutinar o conhecimento cultural e natural do

território da Arrábida num programa coerente e rico que lhe possa atribuir novo

valor e significado junto dos públicos da atualidade.

Embora se tenha verificado que a valorização de sítios arqueológicos, e

sobretudo a apresentação de contextos relacionados com as comunidades pré-

históricas, se encontra ainda num nível primário de desenvolvimento no

território nacional, é exequível a sua exploração em projetos participados e que

primem pela valorização dos recursos locais. A necessidade de criar uma

estrutura que encaminhe e organize o território e os seus testemunhos

reforçando a identidade cultural poderá possibilitar, nestes moldes, a maior

proteção do património e o desenvolvimento de atividades económicas e

turísticas sustentáveis em torno dele.

A presente investigação poderá então contribuir para:

a) a reflexão acerca do lugar da chamada Museologia Participativa na

construção conceptual e programática das instituições museológicas a

partir do desenvolvimento de princípios inaugurados na concepção da

ecomuseologia e da nova museologia;

b) despoletar uma nova leitura do património arqueológico e natural e sua

valorização, programação e divulgação tendo em vista a sua

salvaguarda e investigação constantes;

c) equacionar as variáveis sociais, económicas, ambientais, culturais e

turísticas do território na criação de um projeto que pretende valorizar a

região em que se insere e os seus habitantes;

d) congregar vários conhecimentos para construção de narrativas em torno

do património natural e cultural num só projeto;

e) aglutinar os resultados da investigação do património da Arrábida de

modo a que se possam, segundo critérios pedagógicos, chegar a

narrativas concretas para apresentação pública de dados biológicos,

geológicos e arqueológicos;

Page 93: Tese Mestrado_Raquel Santana

80

f) dar o mote para o diálogo entre as instituições e a comunidade com

vista à criação do Parque da Pré-história da Arrábida;

g) lançar hipóteses de concretização práticas em torno das quais se podem

iniciar os trabalhos de divulgação e comunicação do Parque apoiados

na máxima work in progress.

Neste contexto, pode sumariamente descrever-se a organização do

Parque da Pré-história da Arrábida considerando as seguintes linhas

orientadoras:

1. existência de duas narrativas base, uma em torno do património cultural e

outra em torno do património natural:

1.1. património cultural: abordar as temáticas que concorrem à

compreensão das origens do homem e sua evolução, bem como

características específicas dos movimentos culturais em análise através

de exposições e reconstituições variadas;

1.2. património natural: possibilitar várias leituras da paisagem segundo

critérios geológicos e biológicos para o entendimento da utilização dos

recursos naturais do território, mas também com vista a promover a

valorização e proteção de ecossistemas particulares;

2. equacionar as reais hipóteses de realização do projeto segundo as duas

propostas apresentadas:

2.1. in situ: no território das Terras do Risco criar infraestruturas que

permitam a visita e permanência no local, para atividades específicas

inseridas na programação do PPA relacionadas com as exposições,

monumentos e reconstituições existentes;

2.2. deslocalizada: organizar o território de modo conceptual para que possa

ser comunicado como um todo num polo centralizador que encaminhe

os visitantes e lhes dê a conhecer as atividades do PPA;

3. iniciar o processo de criação do PPA (considerando qualquer uma das

propostas acima apresentadas) segundo os princípios da Museologia

Participativa em atividades experimentais que visem a continuidade da

investigação e o início dos trabalhos da instituição cultural;

4. implementar o modelo de comunicação para que o PPA se institua no

imaginário local como necessário e fulcral para o desenvolvimento das

atividades culturais e turísticas da região.

Page 94: Tese Mestrado_Raquel Santana

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Page 102: Tese Mestrado_Raquel Santana

ANEXOS

Page 103: Tese Mestrado_Raquel Santana

Fontes: http://maps.google.pt/maps?hl=pt-PT&tab=wl e http://sesimbrar.blogspot.com/2009/01/os-riscos-e-o-risco.html

ANEXO I

As Terras do Risco

Pedreiras Industriais

Pedreiras Artesanais

Quinta de Calhariz

1 Marmitas de Gigante

2 Roça do Casal do Meio

3 Povoado do Risco (Idade do Bronze)

4 Povoado dos Prados(Neolítico)

1

2

3 4

II

Page 104: Tese Mestrado_Raquel Santana

Fonte: http://maps.google.pt/maps?hl=pt-PT&tab=wl

ANEXO II

Roteiro do Parque da Pré-história da Arrábida

III

1

2 4

3

5

6

789

10

1112

Acesso ao Parque

Zona de estacionamento com recepção e acolhimento

Marmitas de Gigante

Polo expositivo 1:- origem e evolução do Homem - reconstituição da Roça do Casal do Meio

Roça do Casal do Meio

O grande sumidouro e o carvalho milenar

Área de serviços e Polo expositivo 2: - interpretação dos períodos culturais em análise

Acampamento Mesolítico

Aldeia Neolítica

Aldeia da Idade do Bronze

Reconstituição da Lapa da Cova

Pastos com gado em liberdade

1

2

4

3

5

6

7

8

9

10

11

12

Page 105: Tese Mestrado_Raquel Santana

IV

As Terras do Risco. (29/05/2011)

ANEXO III

Galeria de Imagens(Fotos: autora)

Page 106: Tese Mestrado_Raquel Santana

V

As Pedreiras. (17/10/2010)

Ruínas do Casal do Meio. (17/10/2010)

Page 107: Tese Mestrado_Raquel Santana

VI

Marmita de Gigante da Ribeira do Risco. (18/04/2011)

Vestígios do monumento Roça do Casal do Meio. (29/05/2010)

Page 108: Tese Mestrado_Raquel Santana

VII

O Grande Sumidouro. (29/05/2010)

O pequeno sumidouro. (29/05/2010)

Page 109: Tese Mestrado_Raquel Santana

VIII

O carvalho milenar. (29/05/2010)

Antigas cavalariças do Risco. (02/04/2011)

Page 110: Tese Mestrado_Raquel Santana

IX

O fogo. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)

Uma refeição pré-histórica. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)

Page 111: Tese Mestrado_Raquel Santana

X

O talhe da pedra. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)

Construção de um machado pré-histórico. (02/04/2011)Atelier de Arqueologia Experimental por Pedro Cura (cavalariças do Risco)

Page 112: Tese Mestrado_Raquel Santana

XI

Os prados do Risco. (29/05/2010)

Do Cabeço do Jaspe. (26/03/2011)

Page 113: Tese Mestrado_Raquel Santana

XII

Anfiteatro natural da Pedreira de Brecha da Arrábida. (26/03/2011)

Marcas de extração da Brecha da Arrábida. (26/03/2011)

Page 114: Tese Mestrado_Raquel Santana

XIII

O acervo arqueológico da Arrábida. (18/04/2011)

Maqueta de uma cabana pré-histórica. (12/08/2011)