tese mestrado entomologia

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  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

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    UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE CINCIASDEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

    ENTOMOLOGIAFORENSE:ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUSSCROFA

    (LINNAEUS),NAREGIODEOEIRAS,PORTUGAL

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

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    UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE CINCIASDEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL

    ENTOMOLOGIAFORENSE:ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUSSCROFA

    (LINNAEUS),NAREGIODEOEIRAS,PORTUGAL

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    NOTA PRVIA

    Esclarece-se que os Captulos da presente dissertao de Mestrado iro ser

    submetidos a revistas internacionais, depois de sujeitos a correco. Tendo sido

    realizados em colaborao, a candidata esclarece que participou integralmente no

    planeamento, na anlise e discusso dos resultados e na elaborao de todos os

    trabalhos apresentados.

    Os artigos esto apresentados segundo as normas das revistas a que sero

    posteriormente submetidos:

    - Ecological Society of America:

    Anlise da entomofauna em cadver de Sus scrofa (Linnaeus), naregio de Oeiras, Portugal

    Lista de artrpodes associados a cadver de porco domstico (Sus

    scrofa) em Oeiras, Portugal

    - Forensic Science International:

    Armadilha demogrfica de isco

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    AGRADECIMENTOS

    Este trabalho beneficiou da contribuio de vrias pessoas, s quais gostariade agradecer.

    Em primeiro lugar, minha orientadora a Professora Doutora Maria Teresa

    Rebelo (FCUL, Portugal), agradeo ter-me ajudado na realizao do projecto deste

    mestrado, um rduo arranque desta disciplina em Portugal. Agradeo tambm as

    ideias e correces que foram imprescindveis ao bom termo desta tese.

    Gostaria de agradecer ao Mrio e ao Israel do laboratrio por terem aturado a

    minha msica e as minhas manias, apoiando-me sempre.

    Este trabalho certamente no seria possvel sem a Margarida Lima e a MarisaSolapa. Tenho que lhes agradecer pelas manhs passadas na EAN e pelos

    cafezinhos no ITQB. Sei que era to chato acordar as 8h para apanhar o metro e ir

    olhar para uma porca morta, mas valeu a pena. Gostei dos nossos passeios na praia

    enquanto chovia muito e das fotos ao parque de estacionamento para ces

    Estiveram presentes quer chovesse torrencialmente, quer chovesse, sempre

    com o fatinho verde. Afinal no cheirava assim to mal

    Tenho tambm que agradecer Catarina Faustino e Rita Branco. Elas so,

    sem dvida uma parte importante de mim. J l vo muitos anos e muitas loucuras,

    muitos momentos de teste e muitos momentos srios. Tenho que lhes agradecer pelas

    horas de apoio psicolgico e reflexes existenciais que me propuseram. Todas asnoitadas na discoteca, as noites no Flyman com o tradicional cafezinho, as conversas

    sobre o futuro e as baboseiras (principalmente minhas) inspiraram-me para continuar

    este trabalho e para ser sempre melhor.

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    Catarina Santos por me ajudar no aliviar do stress do dia a dia, estes ltimos

    meses tm sido uma correria com direito a muita cafena e loucura. Agradeo tambm

    pelos momentos de riso e aqueles em que no nos devamos rir, mas rimos.

    Queria tambm agradecer ao meu caloiro Toms Azevedo (que agora

    Mestre) pelo apoio constante e pela insanidade partilhada. Um dia vamos ser Dr. e

    vamos ser importantes

    Aos meus familiares, amigos, colegas, mestres e todos aqueles que

    contriburam, ao longo deste caminho, para que aqui chegasse (espero no me ter

    esquecido de ningum, mas j sabem como eu sou). Sabendo que aprendi muito

    com todos, usarei esses ensinamentos para continuar a aprender (e dominar o

    mundo!!!).

    Por fim e sempre importantes quero agradecer aos meus pais, por me terem

    criado e por me terem aturado ao longo destes anos todos, devo-lhes quase () tudo

    o que sou hoje. Ao meu pai que teve a incrvel pacincia e habilidade de construir a

    minha armadilha, minha me e ao meu mano simplesmente por estarem l sempre

    que preciso. Sem eles esta tese no teria sequer comeado. Obrigado por me

    aturarem todos estes anos.

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    ABSTRACT

    For many years insects have been overlooked in forensic investigationsalthough, with the development of biological studies and the expansion of information

    related to sarcosaprofagous insects this group was considered significant in the

    estimation of post-mortem interval (PMI). Through the use of model animals like the

    domestic pig (Sus scrofa), the succession of insect fauna can be analysed and data

    can be extrapolated to humans, due to similar biological functions.

    The classification of the different states of decomposition in initial (fresh),

    putrefaction, dark putrefaction, butyric fermentation and dry, allowed, in temperate

    regions, the establishment of a parallel between these states and the insect fauna in

    the carrion, although they might be somewhat inconspicuous.

    The insects found were classified according to their feeding habits: necrofagous,

    necrofilous, omnivorous, opportunists and accidentals. Within this classification, the

    families expected to be linked with the forensic field were: Calliphoridae, Muscidae,

    Phoridae, Staphylinidae and Ptinidae. Of all the families that can be related to

    decomposing animals, the Calliphoridae were the most abundant and most relevant,

    since they were the first ones to arrive at the carrion.

    A strong relationship between the succession of animals and the climacteric

    conditions was anticipated. Later on, this data was confronted with the different stages

    of decomposition so that such a pattern of entomofauna could be found. The previously

    delimited stages of decomposition were related with the most important families, but

    both the climacteric data and the succession data didnt reveal any apparent pattern.

    Key words: Forensic entomology, Post mortem, Carrion, Diptera

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    RESUMO

    Durante muitos anos, os insectos foram ignorados no campo da investigaoforense mas, com o desenvolvimento do estudo da ecologia, da biologia e da

    sucesso dos insectos sarcosaprfagos, este grupo tornou-se importante para a

    estimao do intervalo ps-morte (IPM). Atravs do uso de animais modelo, como o

    porco domstico (Sus scrofa), pode-se estudar as sucesses de entomofauna, sendo

    possvel posteriori extrapolar os dados obtidos para os humanos, devido a uma

    semelhana biolgica e funcional entre eles.

    A classificao dos estdios de decomposio em inicial (fresco), putrefaco,

    putrefaco escura, fermentao butrica e seco, permite, em climas temperados,

    estabelecer um paralelo entre estes e a entomofauna que aparece no cadver,

    embora seja, por vezes, complexo devido aos estdios pouco conspcuos.

    A classificao dos insectos foi realizada de acordo com o seu modo dealimentao: necrfagos, necrfilos, omnvoros, oportunistas e acidentais. Dentro

    desta classificao e das famlias relacionadas com a decomposio de animais, as

    consideradas de maior relevncia no campo forense foram: Calliphoridae, Muscidae,

    Phoridae, Staphylinidae e Ptinidae. Os Calliphoridae foram o grupo mais abundante e

    de maior importncia, uma vez que foram os primeiros a chegar ao cadver.

    Antecipou-se uma relao causal entre a presena destes insectos e as

    condies climticas, embora tal no tenha sido verificado. Estes dados foram depois

    confrontados com os dados dos diferentes estdios de decomposio do cadver, de

    modo a obter um padro de sucesso da entomofauna, ou seja, analisou-se a

    associao de cada fase de decomposio delimitada com as famlias mais

    importantes mas, tanto os dados climatricos como os de sucesso no revelaramqualquer padro aparente.

    Palavras chave: Entomologia forense, Sucesso entomolgica, Porco domstico,

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    NDICE

    NOTA PRVIA ..................................................................................................................... i

    AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... ii

    ABSTRACT ........................................................................................................................ iv

    RESUMO ............................................................................................................................. v

    NDICE ............................................................................................................................... vi

    NDICE DE FIGURAS ...................................................................................................... viii

    NDICE DE TABELAS ........................................................................................................ ix

    INTRODUO GERAL ....................................................................................................... 1

    Contexto histrico ....................................................................................................... 2

    A decomposio e o cadver ..................................................................................... 4

    O solo e o cadver ..................................................................................................... 6A entomofauna e o cadver........................................................................................ 7

    Enquadramento no mestrado ..................................................................................... 8

    Objectivos ................................................................................................................... 9

    CAPTULO I: Anlise da entomofauna em cadver de Sus scrofa(Linnaeus), na regio de

    Oeiras, Portugal................................................................................................................. 101. Resumo .............................................................................................................. 11

    2. Abstract .............................................................................................................. 11

    3. Introduo .......................................................................................................... 12

    3 1 Sucesso entomolgica 12

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    4.6. Anlise estatstica ........................................................................................ 18

    5. Resultados ......................................................................................................... 19

    5.1. Estdios de decomposio .......................................................................... 195.2. Dados climatricos ...................................................................................... 22

    5.3. Dados de sucesso de entomofauna .......................................................... 22

    6. Discusso ........................................................................................................... 26

    7. Referncias bibliogrficas .................................................................................. 27

    CAPTULO II: Lista de artrpodes associados a cadver de porco domstico (Sus scrofa)

    em Oeiras, Portugal........................................................................................................... 30

    1. Resumo .............................................................................................................. 31

    2. Abstract .............................................................................................................. 31

    3. Introduo .......................................................................................................... 31

    4. Material e Mtodos ............................................................................................. 32

    5. Resultados ......................................................................................................... 33

    6. Discusso ........................................................................................................... 35

    7. Referncias bibliogrficos .................................................................................. 36

    CAPTULO III: Armadilha demogrfica de isco................................................................. 37

    1. Resumo .............................................................................................................. 38

    2. Abstract .............................................................................................................. 38

    3. Introduo .......................................................................................................... 38

    4. Esquema geral da armadilha .............................................................................. 39

    5. Especificaes de construo ............................................................................ 40

    6. Agente de conservao ...................................................................................... 41

    7. Amostragem ....................................................................................................... 428. Referncias bibliogrficas .................................................................................. 42

    CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 43

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    NDICE FIGURAS

    INTRODUO GERAL .................................................................................................... 1Figura 1 a e b Ilustraes do tempo da Idade Mdia, talhas em madeira do sculo

    XV Dances of the Death, a Dana da Morte (Benecke 2004) .................................. 2

    Figura 2 Escultura de um esqueleto em marfim Skeleton in the Tumba, onde o

    corao substitudo por uma mosca. Muito comuns na poca da Renascena

    (Benecke 2004) .......................................................................................................... 3

    CAPTULO I: Anlise da entomofauna em cadver de Sus scrofa (Linnaeus), na regio

    de Oeiras, Portugal ......................................................................................................... 10

    Figura 1 Localizao da armadilha numa imagem da EAN por satlite

    (www.google.com) .................................................................................................... 16

    Figura 2 Material usado na recolha diria das amostras do cadver (foto de A.

    Marques) .................................................................................................................. 17

    Figura 3 Fotos ilustrativas das principais alteraes sofridas pelo cadver em cada

    estdio de decomposio. a) Estdio inicial; b) Estdio de Putrefaco; c) Estdio de

    Putrefaco escura; d) Estdio de Fermentao butrica (foto de A. Marques) ....... 20

    Figura 4 Condies ambientais (temperatura e humidade relativa) na regio de

    Oeiras, no perodo de amostragem. Dados fornecidos pelo INMG .......................... 22Figura 5 Significncia (em %) de cada ordem em relao ao nmero de indivduos

    recolhidos na amostra .............................................................................................. 23

    Figura 6 Abundncia das famlias mais importantes a nvel forense em relao aos

    diferentes estdios de decomposio ...................................................................... 24

    Figura 7 Dados das famlias consideradas de importncia forense e a sua relao

    com dados climatricos como temperatura e humidade relativa .............................. 25

    CAPTULO III: Armadilha demogrfica de isco............................................................... 37

    Figura 1 Armadilha demogrfica. (a) Vista superior sem cpula, setas mostram

    t d dilh t d f d lh (b) Vi t l t l d

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    NDICE DE TABELAS

    CAPTULO I: Anlise da entomofauna em cadver de Sus scrofa (Linnaeus), na regiode Oeiras, Portugal ......................................................................................................... 10

    Tabela 1 Durao dos diferentes estdios de decomposio no cadver de porco

    domstico, atravs da observao das fotografias dirias do local de amostra ....... 20

    Tabela 2 Nmero (abundncia) total e percentagem de famlias atradas ao longo

    dos diferentes estdios de decomposio ................................................................ 21

    CAPTULO II: Lista de artrpodes associados a cadver de porco domstico (Sus scrofa)

    em Oeiras, Portugal........................................................................................................... 30

    Tabela 1 Indivduos adultos recolhidos numa zona de vinha na Estao

    Agronmica Nacional (EAN) em Oeiras, Portugal, de Dezembro de 2007 a Maro de

    2008 ......................................................................................................................... 33

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    Introduo Geral

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    INTRODUOGERAL

    INTRODUO GERAL

    Contexto histrico

    Os primeiros casos de Entomologia Forense documentados reportam para um

    advogado chins e para o investigador Sung Tzu, no sculo XIII no livro mdico-legal

    deste mesmo investigador (Sung Tzu 1981). No seu livro, Sung Tzu descreve o caso

    como um agricultor que foi vtima de esfaqueamento perto de um campo de arroz; no

    dia aps o homicdio, o investigador rene todos os suspeitos e as suas ferramentas

    (gadanhas) foram colocadas no solo. No se encontraram evidncias bvias, mas uma

    das gadanhas atraiu inmeros insectos do gnero Calliphora (Blowflies),

    aparentemente devido a vestgios invisveis de sangue na lmina. Confrontado com os

    achados, o culpado confessou o homicdio do agricultor (Benecke 2001).

    No Ocidente, a correlao entre as larvas num cadver e a oviposio de

    moscas adultas no foi reconhecida. A ideia de gerao espontnea prevalecia,acreditando-se que os insectos se poderiam desenvolver a partir de matrias como a

    serradura (Amendt et al. 2004). No entanto, alguns especialistas legais e mdicos,

    escultores, pintores e poetas dedicaram-se a observar de perto a decomposio de

    corpos humanos. Os documentos mais antigos que ilustram larvas em corpos

    humanos datam da Idade Mdia, incluindo talhas em madeira do sculo XV Dances of

    the Death (Figura 1), e o intrincado trabalho no marfim Skeleton in the Tumba

    (Figura 2), do sculo XVI.

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    INTRODUOGERAL

    Este tipo de arte descreve pormenorizadamente o padro da reduo de massacorporal mediada pela aco dos insectos, particularmente a esqueletizao do crnio

    e a reduo dos rgos internos, com grande parte da pele ainda intacta (Figuras 1 e

    2) (Benecke 2004). O poema Une Charogne do poeta francs Charles Baudelaire

    (1821-1867) muitas vezes mencionado neste contexto, visto conter observaes dos

    estdios de decomposio dos cadveres humanos, incluindo uma referncia exacta

    ao som das larvas no interior do corpo (fleursdumal.org/poem/126). Um sculo mais

    cedo, em 1767, o bilogo Carl von Linn faz uma observao bastante famosa; ele diz

    que trs moscas conseguem destruir um cavalo mais depressa que um leo (no

    sentido de produzirem grandes massas larvares) (Benecke 2004).

    Durante as exumaes em massa, na Frana e Alemanha, nos sculos XVIII e

    XIX, mdicos legais observaram que corpos enterrados so habitados por muitos tiposde artrpodes.

    No incio do sculo XIX, comeou a verificar-se que os insectos eram atrados

    pelos cadveres num estado precoce de decomposio, tendo sido compilada uma

    Figura 2 Escultura de um esqueleto em marfim Skeleton in the Tumba, onde o corao substitudo por uma mosca. Muito comuns na poca da Renascena (Benecke 2004).

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    INTRODUOGERAL

    Nos anos seguintes, diversos assuntos relacionados com a Entomologia

    Forense foram explorados, como por exemplo a fauna presente nas sepulturas, a

    esqueletizao dos corpos e as alteraes sofridas no cadver pelos insectos (Amendtet al. 2004). Todavia, dados de biologia, ecologia e sucesso de insectos necrfagos

    (Bornemissza 1957) no foram considerados nos estudos forenses. Leclercq e

    Leclercq (1948); Nuorteva (1959a, 1959b); Nuorteva (1965) e Leclercq (1983), foram

    os primeiros a usar a Entomologia Forense na determinao do intervalo ps-morte,

    na Europa.

    No final do sculo XX, a Entomologia Forense foi aceite em muitos pases

    como uma ferramenta forense importante (Goff et al.1991; Greenberg 1991; Catts e

    Goff 1992; Introna et al.1998, 2001). Esta disciplina manteve-se principalmente devido

    ao mdico Leclercq e ao bilogo Nuorteva, que conservaram um interesse nos casos

    judiciais, criando mais bases para o desenvolvimento desta disciplina.

    Desde ento, foram realizadas investigaes fundamentais e aplicaesavanadas da Entomologia Forense nos Estados Unidos, Rssia e Canad com o

    intuito de resolver casos judiciais de rotina. Actualmente, investigadores em todo o

    mundo usam a entomologia em investigaes criminais, incluindo homicdios e casos

    mediticos.

    A decomposio e o cadver

    A taxa de decaimento ps-morte pode ser afectada por vrias variveis de

    diferente natureza, quer seja em relao ao corpo (factores intrnsecos) como ao

    ambiente externo (factores extrnsecos) (Knight 1991). Entre os factores intrnsecos

    que podem afectar a decomposio esto a idade (putrefaco mais lenta em fetos e

    recm-nascidos), a constituio (corpos obesos decompem mais rapidamente devido maior quantidade de lquido nos tecidos que facilita a propagao de bactrias), a

    causa da morte (putrefaco favorecida em corpos com infeces spticas ou em

    morte por asfixia, pois promove a difuso bacteriana), a integridade do cadver (cortes

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    INTRODUOGERAL

    Aps a morte, os fenmenos que acontecem no corpo so divididos em

    fenmenos abiticos, logo aps a cessao das actividades vitais (marcadores

    negativos) e fenmenos transformativos, seguindo uma linha temporal que causamodificaes extensivas da morfologia e da estrutura do cadver (marcadores

    positivos) (Henssge et al.1995).

    Fenmenos abiticos podem ser imediatos, ou seja, evidentes assim que as

    funes vitais do corao, pulmes e crebro param (perda de conscincia,

    sensibilidade, movimento, rigidez muscular, ausncia de respirao e circulao).

    Estes fenmenos tambm podem ocorrer algum tempo aps a morte (arrefecimento

    do corpo, hypostasis, rigor mortis, desidratao e acidificao) (Henssge et al. 1995).

    Os fenmenos transformativos podem ser mais destrutivos, causando a

    decomposio da matria orgnica (autlise, autodigesto e putrefaco), ou mais

    conservativos, causando uma transformao anormal no corpo consoante as

    condies ambientais (macerao em cadveres imersos ou mumificao emambientes extremamente secos) (Campobasso et al. 2001).

    Depois da morte, a maioria dos cadveres inicia a putrefaco que considerado

    o processo mais importante de destruio de matria orgnica; aqueles que no

    iniciam este processo podem sofrer de mumificao ou converso para uma

    substncia cerosa chamada adipocera (Campobasso et al.2001).

    Para uma anlise mais detalhada das alteraes pelas quais o cadver passa,

    seguiu-se a diviso da taxa de decomposio em cinco estdios principais, segundo

    Bornemissza (1957): inicial (fresco), putrefaco, putrefaco escura, fermentao

    butrica e seco. No estdio inicial, a carcaa s apresenta decomposio

    internamente, sendo propcia para a actividade de microorganismos como bactrias,

    protozoa e nemtodes, presentes no corpo antes da sua morte. Escherishia coli eoutras bactrias comeam a multiplicar-se, atacando o sangue e os intestinos, levando

    formao de gs (Clark et al. 1997 ver em Haglung e Sorg 1996; Introna e

    Campobasso 2000). No estdio de putrefaco, a carcaa comea a acumular gases

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    INTRODUOGERAL

    decomposio diminui, e a carcaa seca at se esqueletizar por completo. Esta ltima

    fase s visvel no Vero, pois necessita de condies especiais para ocorrer, como

    temperatura elevada e parca humidade relativa (Arnaldos et al. 2004), para no haveruma rehidratao dos tecidos.

    Estes estgios so muitas vezes usados para caracterizar alteraes sofridas no

    cadver, mas podem no ser conspcuos. A durao e caracterizao destes estdios

    grandemente afectada pela sazonalidade, temperatura, modo de exposio

    (enterrado, imerso, sobre o solo) e acessibilidade dos insectos, entre muitos outros

    factores, o que os torna por vezes difceis de caracterizar e relacionar com o

    aparecimento da entomofauna (Schoenly et al. 2006), como foi descrito em cima.

    Alguns autores como Schoenly e Reid (1987) afirmam que apenas numa minoria dos

    casos, os estdios de decomposio coincidem com episdios de alterao da

    entomofauna, logo estes estdios devem ser usados com precauo e apenas como

    indicadores das alteraes fsicas sofridas pelo cadver.Para alm da diviso da taxa de decomposio do indivduo, importante

    retratar mais detalhadamente algumas das alteraes sofridas por este imediatamente

    aps a sua morte, sendo bastante conspcuo o aparecimento de algumas

    caractersticas determinantes. A temperatura corporal diminui (algor mortis) e a pele

    ruboriza (livor mortis), o que se torna evidente aps duas horas ps-morte. Isto

    consequncia da aco da fora da gravidade sobre o sangue nas diferentes partes do

    corpo (Pooling). Aps algumas horas, a cor muda de vermelho para prpura quando

    h uma dissociao gradual do oxignio da hemoglobina. Cerca de quatro a seis horas

    aps o bito, a lividez fixada, porque a gordura da derme solidifica nos capilares.

    Outro indcio da morte o enrijecimento das fibras musculares devido ao catabolismo

    do glicognio e acumulao de cido lctico (rigor mortis). Isto primeiramentevisvel nos msculos faciais, duas a trs horas ps-morte e atinge o seu mximo aps

    vinte e quatro horas (Amendt et al.2004).

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    INTRODUOGERAL

    Por outro lado, h um vigoroso crescimento da vegetao na orla do cadver, o

    que indica que os fluidos de decomposio no esto to concentrados nessa rea e

    que estes podem ter um efeito estimulante nas plantas da zona. As larvas de vriosinsectos da fauna sarcosaprfaga que se enterram no solo para puparem e os seus

    resduos biolgicos (excrementos, etc.) tambm podem ter contribudo para este maior

    crescimento da vegetao. Esta uma das poucas contribuies que se podem

    observar da fauna do cadver para a alterao do solo (Bornemissza 1957).

    A entomofauna e o cadver

    A diferena de explorao do corpo ao longo de cada etapa de decomposio,

    assim como o conhecimento de cada perodo de tempo ocupado por cada estgio de

    desenvolvimento do insecto, associado a parmetros abiticos como temperatura e

    humidade, permitem a utilizao destes artrpodes para a estimao do intervalo ps-

    morte (Catts e Goff 1992).Cada grupo de artrpodes desempenha um papel diferente nos diversos estdios

    de decomposio da matria orgnica. O seu desenvolvimento no cadver afectado

    por vrios factores, sendo a temperatura o mais importante, afectando a taxa de

    desenvolvimento e podendo provocar diapausa (o suspender completo do

    desenvolvimento), o que afecta os posteriores estudos de sucesso entomolgica

    (Lefebvre e Pasquerault 2004).

    Espcies de insectos com uma grande distribuio geogrfica sofrem com as

    alteraes significativas na durao do dia ao longo do ano. Estando estas espcies

    adaptadas a diferentes nichos ecolgicos, a mesma espcie pode ser encontrada em

    vrios fotoperodos diferentes, condicionando o seu desenvolvimento. O fotoperodo

    crtico que induz a diapausa vai ser maior em populaes que ocupam umadistribuio mais a Norte (Amendt et al. 2004). Mas no s o fotoperodo que

    influencia a incidncia de diapausa; Amendt et al. (2004) assumem no seu trabalho

    que as moscas necrfagas cessam a sua actividade abaixo dos 10-12C, o que pode

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    INTRODUOGERAL

    A oviposio tambm afectada por estes factores, sendo, de um modo geral,

    mais propcia a ocorrer no incio da tarde, quando a temperatura mais elevada.

    noite, ela tende a no ocorrer (Nuorteva 1959a), mas alguns autores recomendam queo fenmeno de oviposio nocturna seja tomado em considerao tambm

    (Greenberg 1990), visto j ter sido observado em certos grupos de insectos.

    Vrios autores sugerem que tem que haver um cuidado na interpretao dos

    resultados dos estudos em carcaas animais. Norris (1965) observou que experincias

    realizadas em condies diferentes das naturais e com alteraes mnimas em alguns

    parmetros podem alterar grandemente o resultado das experincias. Por exemplo, os

    insectos respondem diferentemente a um cadver retalhado comparando com um

    cadver intacto. O tamanho do cadver e a espcie animal usada tambm afectam o

    comportamento da entomofauna (Keh 1985).

    Em relao entomofauna que se espera encontrar no cadver, os grupos que

    so considerados de maior importncia forense so os Diptera, os Coleoptera, osHimenoptera e os Araneida. Estes quatro grupos podem representar cerca de 78% da

    fauna sarcosaprfaga (Payne 1965). Dentro destas ordens, famlias como os

    Staphylinidae, Ptinidae, Calliphoridae, Sarcophagidae e Muscidae tomam uma

    importncia elevada como indicadores forenses ajudando no clculo do intervalo aps

    a morte. Outras famlias podem ser consideradas como indicadores forenses da rea,

    mas para isso, necessrio que seja elaborada uma lista com todos os insectos do

    local, quer associados ao cadver, quer associados flora presente (Carvalho et al.

    2000).

    Enquadramento no mestrado

    No mbito do mestrado em Biologia Humana e Ambiente, este trabalhorepresenta uma abordagem pioneira rea de Entomologia Forense, sendo de grande

    importncia a construo de uma lista, relativa ao local de estudo, de todos os

    insectos que podem constituir a fauna sarcosaprfaga e a fauna associada flora do

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    INTRODUOGERAL

    O trabalho realizado com um animal modelo como o porco domstico permite

    que os resultados sejam extrapolados para os humanos, o que pode trazer um

    renovado interesse sobre esta disciplina.

    Objectivos

    Neste trabalho teve-se como objectivo principal a caracterizao da diversidade

    e sucesso da entomofauna colonizadora de um corpo de porco domstico (Sus

    scrofa), considerando as diversas alteraes que ocorrem nos diferentes estdios de

    decomposio do cadver.

    Pretendeu-se tambm estudar o grau de correlao entre a sucesso da

    entomofauna e os estdios de decomposio do cadver de porco domstico.

    Para isso, foi construda uma nova armadilha baseada na construda por

    Schoenly (1981), mas que permite o estudo de indivduos de maiores dimenses,

    assim como a fauna do solo. Esta armadilha permitiu salvaguardar o cadver deoutros animais que o pudessem danificar e assim prejudicar a anlise (scavengers). A

    armadilha tambm permitiu a recolha mais eficaz da fauna sarcosaprfaga, visto ter

    frascos de recolha prprios.

    Fez-se uma observao directa das fotos retiradas diariamente e, com essa

    informao, construiu-se a linha temporal de alteraes do cadver, marcando os

    eventos significantes e relacionando-os com alteraes significativas da constituio

    da entomofauna. Aps essa anlise, ainda se confrontou essa linha temporal com os

    dados climatricos fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofsica

    (INMG) para tentar encontrar alguma relao.

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    Captulo I

    Anlise da entomofauna em cadver de Sus scrofa

    (Linnaeus), na regio de Oeiras, Portugal

    MARQUES, Ana; REBELO, Maria Teresa

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    1. RESUMO

    Embora os insectos sejam os primeiros organismos a colonizar um cadver, hpouca informao sobre a entomofauna associada decomposio de vertebrados em

    Portugal. Este estudo visou investigar a diversidade e abundncia de insectos

    recolhidos na vizinhana de uma carcaa de porco domstico Sus scrofa(Linnaeus),

    na regio litoral de Portugal, Oeiras. Uma armadilha semelhante descrita por

    Schoenly (1981) foi depositada numa pequena clareira rodeada por arbustos e vinha.

    Os insectos foram colectados diariamente durante um perodo de 2 meses.

    Das 53 famlias que foram recolhidas durante a anlise, 5 foram consideradas de

    maior importncia forense (Phoridae, Muscidae, Calliphoridae nos Diptera e Ptinidae e

    Staphylinidae nos Coleoptera).

    Houve diferenas no padro de diversidade de insectos de acordo com a fase de

    decomposio, embora muitos grupos tenham ocorrido em todos os estdios.Os estdios de decomposio definidos por Bornemissza no foram todos

    observados na anlise; o estdio seco no se apresentou e no se quantificaram

    diferenas entre o estdio de putrefaco escura e o estdio de fermentao butrica.

    As quatro categorias ecolgicas dos insectos associados decomposio da

    carcaa foram registadas: necrfagos, predadores ou parasitides, omnvoros e

    visitantes acidentais, embora s as primeiras duas tenham sido consideradas por

    serem de maior importncia forense.

    Palavras chave: Entomologia Forense, Diptera, Oeiras, Decomposio, Porco

    Domstico

    2. ABSTRACT

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    From the 53 families collected during the analyses, 5 were considerate of utmost

    importance in Forensic Entomology (Phoridae, Muscidae, Calliphoridae in Diptera and

    Ptinidae and Staphylinidae in Coleoptera).There were differences in the pattern of distribution of insects according to the

    decomposition stage, although many different groups occurred in several stages.

    The decomposition stages defined by Bornemissza werent all observed; the dry

    stage didnt occur and the dark putrefaction and butyric fermentation didnt show any

    significant differences.

    The four ecological categories of insects associated with the decomposition

    process were registered: necrophagous, predators or parasites, omnivores and

    accidental visitors, although only the first two categories have been considered of

    forensic importance.

    Key words: Forensic Entomology, Diptera, Oeiras, Decomposition, Domestic Pig

    3. INTRODUO

    Com o avano da cincia em Portugal, importante o estudo e desenvolvimento

    da disciplina de Entomologia Forense, uma cincia que, mesmo a nvel global se

    classifica ainda como emergente (Benecke 2004).

    Na regio mediterrnea, mais especialmente em Portugal continental, existe

    pouca informao sobre a fauna associada a cadveres. Este tipo de estudos pode

    ajudar em inmeros contextos, incluindo o social, visto ser possvel a extrapolao dos

    resultados para os humanos, ajudando assim na resoluo de casos judiciais.Neste trabalho, a pesquisa da entomofauna associada ao cadver foi feita

    atravs do uso de um cadver de porco domstico, considerado como animal modelo

    (Schoenly et al. 2006). Usando a observao directa do cadver, a fauna recolhida

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    tempo de desintegrao, sendo mais rpido na presena dos insectos do que na sua

    ausncia (Payne 1965).

    O cadver um micro ecossistema discreto e efmero com padresdependentes do tempo e, por isso, torna-se um sistema ideal para o estudo das

    comunidades nele presentes e as suas sucesses ao longo do tempo (Schoenly e

    Reid 1987).

    Aps a morte, uma sucesso de fungos, bactrias e animais colonizam o

    cadver. Como resultado da sua actuao e do avanar da decomposio, o substrato

    onde o cadver se encontra vai sofrer alteraes na sua composio (Bornemissza

    1957).

    Os insectos, por serem os primeiros a detectar um cadver e por estarem

    presentes em todos os estdios de decomposio so de grande importncia para as

    investigaes criminais. Algumas espcies so especficas de certas reas e estaes

    do ano, sendo a sua incidncia fortemente marcada pela flora e fauna da regio(Carvalho et al. 2000).

    Os insectos apresentam uma atraco selectiva para os diferentes estdios de

    decomposio do corpo, formando comunidades complexas dentro das espcies

    necrfagas e seus predadores, parasitas e parasitides. Uma sucesso de alteraes

    rpidas e contnuas no permite ao micro ecossistema do cadver um estdio estvel

    e de equilbrio dentro da comunidade animal (Turchetto e Vanin 2004). Assim, a

    comunidade apresenta-se como uma srie de sucesses faunsticas, que permitem

    estimar quando (e onde) a morte ocorreu.

    3.2. Caracterizao do hbito alimentar da entomofauna

    Os grupos de insectos so, muitas vezes, divididos pelos seus hbitosalimentares (Bornemissza 1957). A classificao usual da fauna sarcosaprfaga

    realizada em cinco grupos ecolgicos distintos: necrfagos, que chegam primeiro e se

    alimentam do cadver; necrfilos, que se alimentam dos necrfagos, dentro do corpo,

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    3.3. Efeito do clima na decomposio

    Poucos estudos so realizados no Mediterrneo, no sentido de entender as

    sucesses de entomofauna deste tipo particular de clima. Tem-se vindo a verificaruma crescente preocupao em conhecer e catalogar as espcies que podem surgir,

    de modo a criar um elo de ligao entre a sucesso de entomofauna presente no

    cadver e as condies atmosfricas exteriores (Henssge et al. 2000a, 2000b;

    Grassberger e Reiter 2001; Romera et al. 2003; Arnaldos et al. 2004; Lefebvre e

    Pasquerault 2004; Turchetto e Vanin 2004).

    Os insectos so um grupo muito verstil, onde cada elemento apresenta um

    papel diferente nos diversos estdios de decomposio da matria orgnica. Vrios

    factores ambientais podem afectar os insectos, sendo que o mais importante a

    temperatura. Este factor abitico pode afectar a taxa de desenvolvimento do insecto,

    podendo provocar diapausa (o suspender completo do desenvolvimento), o que altera

    os estudos de sucesso entomolgica e a incidncia das diferentes espcies ao longodo tempo (Lefebvre e Pasquerault 2004). Amendt et al. (2004) defendem que a

    actividade de certas espcies de moscas necrfagas pode ser reduzida abaixo dos 10-

    12C, o que influencia o ritmo biolgico da espcie (oviposio e tempo de colonizao

    do cadver), especialmente noite, quando a temperatura desce (Nuorteva 1959a).

    Introna et al.(2001) afirmam que temperaturas abaixo dos 0C podem provocar a

    morte de algumas larvas (maioria do primeiro e segundo instar), contudo, se os ovos

    forem colocados em locais protegidos ou as larvas completamente desenvolvidas se

    mantiverem numa massa, ento elas podem sobreviver a esta baixa da temperatura.

    Os agregados larvares so capazes de produzir calor, conseguindo assim aumentar a

    temperatura do seu habitat vrios graus acima da temperatura ambiente (mais 10C

    que a temperatura ambiente).Outra maneira da temperatura afectar a decomposio , quando em ambientes

    extremamente secos, o cadver inicia rapidamente o processo de mumificao.

    Fmeas de moscas conseguem reconhecer tecidos mais desidratados como lugares

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    Alguns autores como Schoenly et al. (2006) afirmam que estes estdios devem

    ser considerados apenas como indicadores das alteraes fsicas sofridas pelo

    cadver e no como orientadores da anlise, visto eles poderem no ser conspcuos.A durao dos estdios grandemente afectada por factores abiticos, assim

    como pela acessibilidade que os insectos tm ao cadver (se este est emerso,

    enterrado, coberto com tecido, etc.), logo apenas numa minoria dos casos, os estdios

    de decomposio coincidem com episdios de alterao da entomofauna (Schoenly e

    Reid 1987).

    No Mediterrneo, os primeiros estudos desenvolvidos em Entomologia Forense

    foram realizados por Tantawi (1996), usando como isco cadveres de coelhos. O seu

    estudo concentrou-se mais na correlao de algumas espcies de insectos com a

    fauna sarcosaprfaga. Ainda hoje, estudos sobre a entomofauna so escassos e as

    relaes entre os insectos no cadver desconhecidas para vrios locais da PennsulaIbrica, incluindo Portugal. Tem-se vindo a verificar uma crescente preocupao em

    conhecer e catalogar as espcies que podem surgir, de modo a criar um elo de ligao

    entre a sucesso de entomofauna presente no cadver e as condies atmosfricas

    exteriores.

    4. MATERIAL E MTODOS

    4.1. Local de estudo

    O local onde o trabalho foi realizado apresenta a uma latitude de 38N e a uma

    longitude de 9W e situado na Estao Agronmica Nacional (EAN), em Oeiras, nolitoral de Portugal (Figura 1). O clima Mediterrnico, sofrendo uma influncia dos

    ventos vindos do Deserto do Saara, que o tornam mais quente e seco.

    O clima mediterrneo quente e seco no Vero e instvel e hmido no Inverno.

    ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUS SCROFA (LINNAEUS) NAREGIODEOEIRAS PORTUGAL

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    A flora existente perto do local de colocao da armadilha era caracterizada pela

    presena de uma grande vinha e um bosque.

    O solo apresentava uma constituio barrenta, com vrios afloramentos rochososde origem calcria. A capacidade higromtrica do solo era baixa, apresentando-se,

    quando chovia, com pouco escoamento da gua incidente e, aquando em perodos de

    seca, apresentava sinais de aridez evidentes. A vegetao circundante era na sua

    maioria constituda por cedros, havendo tambm arbustos e muitas plantas rasteiras

    como silvas. A armadilha tambm foi colocada perto de uma vinha, numa regio

    demarcada do vinho de Carcavelos.

    A vegetao circundante, assim como o tipo de solo em que o cadver deposto,

    Figura 1 Localizao da armadilha numa imagem da EAN por satlite (www.google.com)

    ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUS SCROFA (LINNAEUS) NAREGIODEOEIRAS PORTUGAL

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    Este tipo de armadilha permite uma amostragem multidireccional das comunidades

    de artrpodes, eliminando o contacto fsico com o isco. O design desta armadilha

    adequa-se ao uso de cadveres de animais de reduzidas e mdias dimenses.Os insectos foram recolhidos pela utilizao da armadilha, onde se encontravam 5

    frascos contendo lquido conservante (etileno glicol e lcool a 70%). Os insectos

    adultos foram recolhidos destes frascos e manualmente do interior da cpula,

    enquanto que a recolha das larvas, pupas, puprios vazios e ovos, foi executada

    manualmente e directamente do cadver. Para o efeito foram utilizados vrios frascos

    e pinas com diferentes caractersticas para recolha de imaturos e adultos, assim

    como pincis para recolha de outro material biolgico de importncia (Figura 2).

    As larvas de alguns espcimes foram depois armazenadas em caixas perfuradas,

    com farelo e carne. Posteriormente, em laboratrio, permitiu-se o restante

    desenvolvimento at fase adulta, fase onde melhor se poderia realizar a sua

    identificao.Os animais foram recolhidos diariamente, num perodo de tempo entre as 9h e as

    11h da manh, perodo equivalente maior actividade dos insectos.

    ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUS SCROFA (LINNAEUS) NAREGIODEOEIRAS PORTUGAL

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

    torcica de humano com 65 kg). Esta espcie tambm partilha com os humanos uma

    dieta omnvora muito semelhante, o que leva existncia de uma fauna intestinal

    idntica (Amendt et al. 2004). Todos estes factores permitem a extrapolao dosresultados deste estudo para um equivalente nos humanos (Amendt et al.2004).

    O animal escolhido tinha cerca de 50 cm, um peso aproximado de 10kg e 1 ms

    de idade.

    4.4. Identificao do material entomolgico

    Aps a recolha do material entomolgico presente na armadilha, o mesmo foi

    conservado em frascos de plstico de 3x5 cm. Posteriormente em laboratrio, o

    material entomolgico correspondente a cada dia foi separado, segundo ordens e

    depois segundo famlias, tendo ficado cada exemplar isolado em Eppendorfs. A

    identificao dos grupos taxonmicos foi realizada lupa (Olympus), com o auxlio de

    fibras pticas. A identificao taxonmica foi realizada de acordo com Borror e DeLong(1988).

    4.5. Dados climticos

    Os dados climatricos usados no estudo da sucesso foram fornecidos pelo

    Instituto Nacional de Meteorologia e Geofsica de Lisboa e recolhidos na estao do

    Instituto de Geofsica (38 N, 9 W) (http://www.iniap.min-agricultura.pt).

    Os dados adquiridos na estao meteorolgica foram importantes para estabelecer

    um paralelo entre as fases de decomposio do corpo e os insectos presentes, de

    maneira a criar uma linha cronolgica de todos os factores a afectarem a

    decomposio do cadver, com especial ateno a perodos de grandes alteraes

    dos factores considerados.

    4.6. Anlise estatstica

    Neste trabalho, a anlise estatstica consistiu na observao directa de grficos

    ANLISEDAENTOMOFAUNAEMCADVERDESUS SCROFA (LINNAEUS),NAREGIODEOEIRAS,PORTUGAL

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    5. RESULTADOS

    5.1. Estdios de decomposioAo longo do perodo de amostragem, foram retiradas fotos diariamente para se

    poder realizar a caracterizao e descrio das alteraes sofridas pelo cadver de

    porco domstico. Atravs da anlise directa das fotos (Figura 3), conseguiu-se

    observar o perodo crtico das alteraes ocorridas nas condies fsicas do cadver

    (Tabela 1). No primeiro dia, o cadver apresentava-se fresco, sem sinais externos de

    alteraes em relao hora da morte. No dia seguinte, houve uma precipitao do

    sangue, o que levou formao do livor mortis, isto , uma ruborizao do cadver

    nas zonas de contacto com o solo. Nesta altura tambm era visvel o rigor mortis. Do

    terceiro ao oitavo dias, observou-se o incio da decomposio, com o incio da

    formao de gs no interior do cadver e com uma colonizao de insectos mais

    acentuada.Ao nono dia, a produo de gs no interior do cadver aumentou muito e

    comeou-se a observar a presena de manchas verdes, especialmente na zona de

    contacto do cadver com o solo e na zona do trax entre os membros anteriores e

    posteriores. O odor a decomposio intensificou-se a partir do 30 dia. Comeou-se

    tambm a notar a presena de larvas no interior do cadver, os tecidos moles dos

    orifcios naturais de entrada (lngua, olhos, genitais) comearam a desaparecer.

    No 37 dia, notou-se a exposio dos tecidos vermelhos e um escape dos gases

    do interior do cadver. O odor a decomposio atinge o seu mximo. At ao 45 dia

    houve a exposio de mais de 80% do cadver ao ambiente, sendo visveis os

    agregados de larvas particularmente nas zonas do trax e coxas. Deu-se o incio da

    migrao das larvas, uma vez que estas comearam a ser observadas na zonacircundante da armadilha.

    A partir do 46 dia iniciou-se a ltima fase de decomposio observada, onde os

    tecidos vermelhos comearam a desaparecer e a secar, as larvas continuaram a sua

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    ( )

    Tabela 1 Durao dos diferentes estdios de decomposio no cadver de porco domstico,

    atravs da observao das fotografias dirias do local de amostra

    Estdio dedecomposio

    Intervalo

    de

    cada

    estdio

    Dias

    em

    cada

    estdio

    Inicial (fresco) Dia

    1

    a

    8

    8

    Putrefaco Dia9a36 27Putrefaco escura Dia37a45 7

    Fermentao butrica Dia46a64 18

    SecoNo

    se

    0

    Figura 3 Fotos ilustrativas das principais alteraes sofridas pelo cadver em cada estdiode decomposio. a) Estdio inicial; b) Estdio de Putrefaco; c) Estdio de Putrefacoescura; d) Estdio de Fermentao butrica (foto de A. Marques)

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    Portanto, a anlise da percentagem de famlias atradas em cada estdio e qual a sua

    representao nos outros estdios importante para a caracterizao da fauna

    sarcosaprfaga.Quando se relacionam os diferentes estdios de decomposio, em relao ao

    nmero de famlias atradas em cada um deles, observa-se que existe uma relao

    significativa (63%) entre o estdio inicial e o estdio de putrefaco, ou seja, 63% das

    espcies presentes no estdio inicial tambm esto presentes no estdio de

    putrefaco. J a relao contrria apresenta apenas uma percentagem de 31% (ver

    Tabela 2).

    A putrefaco escura e a fermentao butrica apresentam percentagens baixas

    (29 e 32%, respectivamente) em relao ao estdio inicial. Das 19 famlias presentes

    no estdio inicial, apenas uma pequena percentagem (entre 29 e 32%) aparece nos

    restantes estdios.

    No estdio de putrefaco esto presentes 39 famlias, das quais 82% tambmforam capturadas nos estdios seguintes (putrefaco escura e fermentao butrica).

    Este estdio o que apresenta o maior nmero de famlias e o perodo em que

    estas comeam a ser mais atradas para o cadver, permanecendo no estdio de

    putrefaco escura.

    As 28 famlias dos estdios de putrefaco escura e fermentao butrica esto

    representadas por 42% no estdio inicial, 59% no estdio de fermentao e 75% nos

    estdios subsequentes. Estes dois ltimos estdios no apresentam diferena na

    percentagem de famlias atradas entre si, o que significa que as 28 famlias recolhidas

    esto, na sua grande maioria, presentes nestes dois estdios.

    Tabela 2 Nmero (abundncia) total e percentagem de famlias atradas ao longo dosdiferentes estdios de decomposio

    Estdio dedecomposio

    Total de famliaspor estdio

    % de famlias atradas noutros estdios de decomposio

    Inicial(fresco)

    PutrefacoPutrefaco

    escuraFermentao

    butrica

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    5.2. Dados climatricos

    A temperatura e a humidade relativa so os parmetros abiticos que mais

    influenciam a presena e o desenvolvimento dos insectos no cadver.

    A amostragem iniciou-se a 10 de Dezembro e prolongou-se at ao dia 15 de

    Fevereiro (Figura 4). A temperatura mais alta registada foi de 16C, no dia 7 de

    Janeiro, e a mais baixa foi de 7,7C no dia 16 de Dezembro. A temperatura mdia foi

    de 13C. A variao da temperatura ao longo do perodo de amostragem foi muitobaixa, sendo que apresentou uma ligeira tendncia para aumentar (Figura 4).

    Em relao humidade, a mais alta registada foi de 100% no dia 5 de Janeiro e

    a mais baixa foi de 59% no dia 14 de Dezembro. A humidade relativa mdia no

    perodo de amostragem registou-se nos 81,7%. A variao da humidade embora tenha

    sido visvel, apresentou valores mais baixos que os esperados para a altura do ano,

    apresentando uma ligeira tendncia para diminuir no decurso da experincia (Figura

    4).

    5 3 Dados de sucesso de entomofauna

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    10-Dez

    12-Dez

    14-Dez

    16-Dez

    18-Dez

    20-Dez

    22-Dez

    24-Dez

    26-Dez

    28-Dez

    30-Dez

    1-Jan

    3-Jan

    5-Jan

    7-Jan

    9-Jan

    11-Jan

    13-Jan

    15-Jan

    17-Jan

    19-Jan

    21-Jan

    23-Jan

    25-Jan

    27-Jan

    29-Jan

    31-Jan

    2-Fev

    4-Fev

    6-Fev

    8-Fev

    10-Fev

    12-Fev

    14-Fev

    16-Fev

    18-Fev

    20-Fev

    C

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100 %

    .

    Figura 4 Condies ambientais (temperatura e humidade relativa) na regio de Oeiras, no perodo de

    amostragem. Dados fornecidos pelo INMG

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    34/66

    para os Himenoptera e 3% para os Coleoptera. Os Diptera dominaram adecomposio do cadver na maioria do tempo de amostragem, sendo que a famlia

    Calliphoridae foi a que apresentou mais indivduos, especialmente nos estdios

    crticos da decomposio como a putrefaco escura e a fermentao butrica. Logo a

    seguir as famlias Formicidae (Himenoptera) e Staphylinidae (Coleoptera) foram as

    mais relevantes apresentando-se em nmeros moderados, mas dispersos por todo o

    perodo de amostragem (Figura 6).

    Os dados de abundncia de famlias e os dados climatricos foram divididos

    consoante os estdios de decomposio do cadver para se poder verificar a sua

    relao.

    No estdio inicial, vemos que existe uma ligeira tendncia para a temperatura e a

    humidade relativa aumentarem, mas a temperatura manteve-se, em mdia, abaixo dos12C. A humidade rondou os 77% em mdia.

    Neste primeiro perodo, embora as famlias apresentassem nmeros bastante

    reduzidos, os Muscidae no estiveram representados (ver Figura 7).

    Figura 5 Significncia (em %) de cada ordem em relao ao nmero de indivduos recolhidos na

    amostra

    Abundncia relativa de cada ordem

    3%

    6%

    82%

    9%Araneida

    Coleoptera

    Dptera

    Himenoptera

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    35/66

    No estdio de putrefaco escura, a temperatura manteve-se constante nos

    14C e a humidade relativa nos 80%. A maioria das famlias continuou a aparecer

    esporadicamente, apenas os Calliphoridae se mantiveram presentes durante todo o

    perodo.

    No ltimo estdio, o de fermentao butrica, a temperatura mdia desceu para13C e a humidade relativa para 75%. Todas as famlias analisadas estavam

    presentes ao longo do perodo de amostragem. Todas as famlias, excepto os

    Calliphoridae apresentam valores abaixo dos 5-6 indivduos por dia. Os Calliphoridae

    Estdio Inicial

    34%

    11%

    0%

    22%

    0%

    Estdio d e Ferm entao Butrica

    8%

    0%

    0%

    3%

    82%

    7%

    Estdio de Putefac o

    4%

    0%

    0%

    2%82%

    12%

    Estdio de putr efaco escur a

    2%

    1%

    7%

    1%

    88%

    1%

    MuscidaeStaphylinidae Ptinidae Phoridae Calliphoridae Formicidae

    Estdio Inicial

    34%

    11%

    0%

    22%

    0%

    Estdio d e Ferm entao Butrica

    8%

    0%

    0%

    3%

    82%

    7%

    Estdio de Putefac o

    4%

    0%

    0%

    2%82%

    12%

    Estdio de putr efaco escur a

    2%

    1%

    7%

    1%

    88%

    1%

    Estdio Inicial

    34%

    11%

    0%

    22%

    0%

    Estdio d e Ferm entao Butrica

    8%

    0%

    0%

    3%

    82%

    7%

    Estdio de Putefac o

    4%

    0%

    0%

    2%82%

    12%

    Estdio de putr efaco escur a

    2%

    1%

    7%

    1%

    88%

    1%

    MuscidaeStaphylinidae Ptinidae Phoridae Calliphoridae FormicidaeMuscidaeStaphylinidae Ptinidae Phoridae Calliphoridae Formicidae

    Figura 6 Abundncia das famlias mais importantes a nvel forense em relao aos

    diferentes estdios de decomposio

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    6. DISCUSSO

    A classificao dos estdios de decomposio do cadver foi feita atravs daobservao directa das fotos tiradas diariamente ao cadver, podendo por isso

    apresentar incorreces. Usou-se a classificao de Bornemissza (1957) em 5

    estdios, mas atravs da observao das fotos, apenas 4 estdios foram descritos,

    visto o estdio seco s ser visvel no Vero (Payne 1965). Alguns autores,

    nomeadamente Schoenly et al. (2006) afirmam que estes estdios so apenas

    indicadores das alteraes fsicas sofridas pelo cadver e que no podem ser

    considerados como orientadores da anlise.

    Na escolha do animal para a anlise, o peso e dimenso foram levados em

    considerao pois sabe-se haver uma diferente atractividade da entomofauna,

    particularmente nas famlias Calliphoridae e Sarcophagidae, que preferem carcaas de

    maiores dimenses (Nuorteva 1959b; Povoln e Verves 1997).O estdio que apresentou uma maior abundncia de espcies foi o de

    putrefaco, mas tambm foi o estdio que se estendeu pelo maior perodo de tempo.

    Em relao aos estdios subsequentes, este estdio representou o verdadeiro incio

    da colonizao do cadver pela entomofauna. Os estdios de putrefaco escura e

    fermentao butrica no apresentaram qualquer diferena em relao entomofauna

    recolhida, pelo que poder-se-ia ter considerado apenas o estdio de putrefaco

    escura. O perodo inicial foi um perodo muito curto, o cadver ainda no apresentava

    indcios de estar a ser reconhecido pela entomofauna do local e a temperatura inferior

    a 12C pode ter limitado o reconhecimento por parte desta.

    As famlias consideradas (Staphylinidae, Ptinidae, Phoridae, Muscidae e

    Calliphoridae) foram escolhidas devido ao seu modo de alimentao, ou seja, asfamlias com elementos necrfagos e necrfilos que se alimentavam directamente do

    cadver ou da fauna presente neste (ver Captulo II).

    Considerando a caracterizao do clima Mediterrnico (de um Vero quente e

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    38/66

    dias de amostragem, o que no normal para a poca. Em relao a outros anos,

    este Inverno foi muito seco, no sendo possvel observar grandes interaces entre os

    dados climatricos e os dados de abundncia diria das famlias consideradas.Embora tenham sido recolhidas 53 famlias no total, a maioria destas eram

    acidentais, no sendo por isso relevantes para o estudo da entomologia forense

    (Carvalho et al. 2000). Em relao s ordens, os Diptera foram o grupo recolhido em

    maior nmero com uma distribuio em todos os estdios de decomposio. Os

    Diptera so vistos como a ordem mais importante a nvel forense (Arnaldos et al.

    2004), da a recolha manual realizada ter incidido mais sobre este grupo em

    detrimento de outros.

    Em termos de famlias, apenas as 5 famlias com maior interesse forense e com

    hbito alimentar necrfago e necrfilo foram comparadas com os dados climatricos. A

    temperatura total manteve-se abaixo dos 12C por um grande perodo de tempo, mas

    no foi visvel qualquer sinal de diapausa (Amendt et al. 2004). Tambm no foipossvel observar qualquer relao entre os dados climatricos e os dados de

    abundncia das famlias, o que se pode dever tanto a erros de recolha como ao facto

    das condies ambientais se terem mantido muito constantes. Sem grandes

    alteraes na temperatura ou humidade no possvel criar um paralelo entre estes

    factores e a incidncia maior/menor de cada famlia. Tal como foi observado por

    Arnaldos et al. (2001), os Calliphoridae so a famlia mais representada em toda a

    anlise, sendo tambm o grupo de maior importncia a nvel forense porque so as

    primeiras a chegar ao cadver, aparecendo durante todo o tempo de amostragem e

    sendo cruciais para a estruturao complexa da comunidade sarcosaprfaga.

    No obstante das concluses retiradas pela anlise da entomofauna, mais

    trabalhos na catalogao e caracterizao de Artrpodes nas diferentes regies daPennsula Ibrica so essenciais, para permitirem a obteno de dados mais robustos

    nos trabalhos de Entomologia Forense.

    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

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    ANLISE DA ENTOMOFAUNA EM CADVER DESUS SCROFA(LINNAEUS), NA REGIO DE OEIRAS, PORTUGAL

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    41/66

    Captulo II

    Lista de artrpodes associados a cadver de porco

    domstico (Sus scrofa) em Oeiras, Portugal

    MARQUES, Ana; REBELO, Maria Teresa

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

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    1. RESUMO

    Insectos necrfagos, principalmente Diptera e Coleoptera, so atrados emestdios especficos da decomposio da carcaa, num processo de sucesso

    faunstica. So muito importantes para a estimao do intervalo ps-morte, ou seja, o

    tempo de intervalo entre a ocorrncia da morte e o tempo de descoberta do cadver.

    No estudo realizado com carcaa de porco exposto a condies naturais na regio de

    Oeiras, no centro litoral de Portugal, 5 de 53 famlias recolhidas foram consideradas de

    importncia forense (Phoridae, Muscidae, Calliphoridae nos Diptera e Ptinidae e

    Staphylinidae nos Coleoptera), visto terem sido recolhidas em grande nmero, quer

    por visitar o cadver, quer por o usar como substrato de reproduo.

    Palavras chave: Entomologia Forense, Diptera, Coleoptera, Decomposio

    2. ABSTRACT

    Necrophagous insects, especially Diptera and Coleoptera, are attracted in

    specific stages of the carcass decomposition, in a process of faunal succession. They

    are very important for the estimation of the post-mortem interval (the time between the

    death and the discovery of the body). In the present study a pig carcass was exposed

    to natural conditions in Oeiras, in the littoral of Portugal, and 5 of the 53 families

    collected were rendered as of forensic importance (Phoridae, Muscidae, Calliphoridae

    in Diptera and Ptinidae and Staphylinidae in Coleoptera), since they were collected in

    great number and used the corpse for reproduction and feeding.

    Key words: Forensic Entomology, Diptera, Coleoptera, Decomposition

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

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    Depois da morte, o corpo sofre alteraes naturais, passando por diferentes

    estdios de decomposio que so atractivos para insectos necrfagos. Segundo

    Bornemissza (1957), a comunidade decompositora de uma carcaa sofre um processode sucesso entomolgica. Por isso, os insectos chegam numa determinada

    sequncia, produzindo uma adio e/ou substituio de espcies. A diferena de

    explorao do cadver ao longo de cada etapa de decomposio, assim como o

    conhecimento de cada perodo de tempo ocupado por cada estgio de

    desenvolvimento do insecto, associado a parmetros abiticos como temperatura e

    humidade, permitem a utilizao destes artrpodes para a estimao do intervalo ps-

    morte. Os insectos podem tambm ser utilizados para confirmar a causa da morte e

    determinar se o corpo foi movido (Catts e Goff 1992), visto certas espcies serem

    especficas de certas zonas e estaes do ano.

    relevante referir que os insectos de importncia forense no so s aqueles

    que visitam o cadver na forma adulta, mas tambm aqueles que se reproduzemusando-o como substrato porque, sabendo o tempo de desenvolvimento do seu

    estado larvar, possvel estimar o tempo ps-morte. tambm importante considerar

    que a oviposio pode ocorrer minutos aps a morte (Smith 1986).

    Os objectivos deste trabalho foram a apresentao de uma lista de insectos

    relacionados com os diferentes estdios de decomposio pelo qual o cadver passa

    e a determinao dos insectos de maior importncia na estimao do intervalo ps-

    morte para a rea estudada.

    4. MATERIAL E MTODOS

    O estudo foi desenvolvido num local situado no centro da Estao Agronmica

    Nacional de Oeiras, na proximidade de uma vinha e de um bosque. A amostragem foi

    realizada de Dezembro de 2007 a Fevereiro de 2008.

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

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    44/66

    pequena clareira rodeada por arbustos, permitindo assim que a armadilha se

    mantivesse constantemente sombra (Arnaldos et al. 2001). A armadilha foi

    desenhada para a colheita de indivduos adultos, contendo 5 frascos de recolha cometileno de glicol e lcool a 70%. Os indivduos imaturos (larvas e pupas) foram

    recolhidos da gua depositada na base da armadilha. A amostragem das larvas foi

    realizada esporadicamente, sendo feita manualmente. As amostras foram colocadas

    em frascos com serradura, onde se permitiu o seu total desenvolvimento at

    emergncia do adulto, sendo assim mais fcil a sua identificao.

    As amostras foram identificadas e separadas por ordens e por famlias, e sempre

    que possvel, as famlias foram tambm classificadas de acordo com o seu tipo de

    alimentao, sabendo assim quais as famlias de maior relevncia forense para

    estimar o intervalo ps-morte. Uma famlia foi considerada relevante a nvel forense,

    quando classificada como predadora, parasita ou omnvora, ou seja, se se alimentava

    directamente do cadver ou dos insectos presentes neste. Os grupos que usavam ocadver para substracto da oviposio tambm foram considerados de importncia

    forense. Assim, consituiu-se como evidncia que um corpo exposto pode servir tanto

    como fonte de comida para os insectos adultos como um substrato para a deposio

    de ovos e desenvolvimento dos estdios imaturos.

    O trabalho experimental foi realizado at no se observarem mais modificaes

    no cadver e a sucesso de entomofauna estabilizar.

    A amostragem dos indivduos adultos foi realizada diariamente, no intervalo entre

    as 9 e as 10h da manh. Os animais recolhidos foram posteriormente contados e

    identificados no laboratrio. A identificao dos insectos foi feita de acordo com Borror

    e DeLong (1988).

    5. RESULTADOS

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

    45/66

    Armadilidiidae X

    Diplopoda Spirobolida Spirobolidae X

    Chilopoda Lithobiomorpha Lithobiidae X

    Arachnidae Chelonethida Atemnidae X

    Araneida Atypidae X

    Cyrtaucheniidae X

    Zoropsidae X

    Dictynidae XZoridae X

    Anyphaenidae X

    Thomisidae X

    Insecta Thysanura Lepismatidae X

    Collembola Arrhopalitidae X

    Oncopoduridae X

    Thysanoptera Thripidae X

    Hemiptera Lygaeidae X

    Homoptera Cicadellidae X

    Aphididae X

    Neuroptera Chrysopidae X

    Coleoptera Scaphidiidae X

    Staphylinidae X

    Malachiidae X X

    Phalacridae X

    Nitidulidae X

    Ptinidae X

    Lepidoptera Pyromorphidae X

    Pterophoridae X

    Diptera Trichoceridae X

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

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    46/66

    Heleomyzidae X

    Muscidae X

    Calliphoridae X

    Hymenoptera Braconidae X

    Eulophidae X

    Torymidae X

    Figitidae X

    Diapriidae X

    Platygasteridae X

    Formicidae X X

    6. DISCUSSO

    Um corpo exposto representa um habitat temporrio e uma fonte de alimento

    para uma variedade de organismos que vo desde bactrias e fungos a vertebrados(Schoenly 1987). Independentemente do local onde o corpo est exposto, os insectos

    so os agentes de decomposio mais importantes na carcaa do porco, estando

    presentes durante todos os estdios de decomposio (Carvalho et al.2000).

    O facto da armadilha ter sido colocada sombra previne o efeito directo da luz

    solar que pode provocar um aumento da temperatura do corpo, conduzindo a que

    tanto a decomposio do corpo como o desenvolvimento dos estdios larvares se

    realizem a uma taxa mais baixa (Grassberger e Reiter 2001).

    A maioria das famlias da ordem Coleoptera podem ser consideradas como

    visitantes acidentais, sendo apenas alguns gneros nestas famlias consideradas

    como indicadores forenses.

    No foi possvel fazer a lista das espcies importantes a nvel forense para area, devido ao elevado nmero de famlias recolhidas, tornando impossvel a

    identificao at espcie em tempo til.

    A classificao realizada de acordo com a alimentao dos insectos recolhidos,

    LISTA DE ARTRPODES ASSOCIADOS A CADVER DE PORCO DOMSTICO (SUS SCROFA) EM OEIRAS, PORTUGAL

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    47/66

    da entomofauna presente num cadver de porco domstico na regio de Oeiras,

    Portugal.

    Estudos mais detalhados, com um nmero maior de cadveres paraamostragem, assim como experincias onde se tenha um cadver isolado da

    entomofauna (jaula de acrlico), para descrio das fases de decomposio consoante

    o ambiente do local, so necessrios (Payne 1965).

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Payne J A (1965) "A Summer Carrion Study of the Baby Pig Sus ScrofaLinnaeus".

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

    48/66

    Captulo III

    Armadilha demogrfica de isco

    MARQUES, Ana; REBELO, Maria Teresa

    ARMADILHA DEMOGRFICA DE ISCO

  • 7/23/2019 Tese Mestrado ENTOMOLOGIA

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    1. RESUMO

    Uma armadilha dodecadrica com um cadver como isco permite umaamostragem omnidireccional da entomofauna. Um conjunto de 5 tubos colectores

    colocados estrategicamente nos lados e no topo da armadilha possibilitam uma

    amostragem simultnea dos insectos imigrantes e emigrantes (que conseguem entrar

    na armadilha e que se encontram no redor desta respectivamente).

    Palavras chave: Armadilha demogrfica, Entomofauna, Amostragem

    2. ABSTRACT

    A dodecahedral trap with a carcass as bait allows a omnidirecional sampling ofthe entomofauna. A set of 5 collecting flasks in strategic positions within the trap (in the

    sides and the top) allow a simultaneous sampling of immigrant and emigrant insects

    (insects that enter the trap and insects that are in the surrounding of it, respectively).

    Key words: Demographic trap, Entomofauna, Sampling

    3. INTRODUO

    Tradicionalmente, as armadilhas de isco foram desenvolvidas para fazer census

    de insectos imigrantes (Dodge e Seago 1954; Fukuda 1960; Kawai e Suenaga 1960).Em contrapartida, armadilhas emergentes tm sido desenvolvidas para medir

    populaes emigrantes de diferentes fases do ciclo de desenvolvimento nas bases de

    recurso (Southwood e Siddorn 1965). Na maioria dos casos, desejvel fazer uma

    ARMADILHA DEMOGRFICA DE ISCO

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    4. ESQUEMA GERAL DA ARMADILHA

    O design da armadilha permite que as comunidades de artrpodes tenham umaamostragem omnidireccional e ajuda a eliminar o contacto fsico com o isco. A

    perturbao da sucesso da entomofauna mnima. A armadilha em forma de

    (b)

    Entrada para insectosimigrantes

    Frascos de recolha paraInsectos emigrantes(a)

    (c)

    ARMADILHA DEMOGRFICA DE ISCO

    d d d it i t 4 t b l t 4 f 4 if i

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    dodecaedro permite que existam 4 tubos colectores em 4 faces e 4 orifcios para um

    acesso desobstrudo ao isco. Insectos que no entram nos tubos podem ser

    colectados na base da prpria armadilha, do cimo do cadver ou da cpula desta, noquinto frasco (Figura 1).

    5. ESPECIFICAES DE CONSTRUO

    A armadilha foi construda com contraplacado, de pinho, de 0,8 cm, tendo 120 cm

    de dimetro e 105 cm de altura (Figura 1). Estas so as dimenses adequadas para a

    utilizao de uma carcaa de porco domstico com 1 ms de idade.

    Os 12 painis laterais da armadilha foram colados e pregados, sendo

    posteriormente aplicado um primrio para madeira e tinta castanha para haver uma

    camuflagem com a vegetao circundante. Cada painel lateral media 35 cm por 20cm. Antes da montagem geral, foram realizados furos circulares nos painis com o uso

    de uma serra de copo. Apenas 8 destes painis tm um furo circular no centro; 4

    desses furos tinham um dimetro de 10cm e uma inclinao de 35, para levar os

    frascos de recolha e, os restantes 4 furos, tinham um dimetro de 6 cm e estavam

    abertos ao ar, levando apenas uma proteco de rede plstica para no permitir a

    entrada de roedores ou outros animais que pudessem afectar a experincia. Os

    materiais de recolha foram frascos em vidro transparente, com um dimetro de 10 cm

    e uma profundidade de 30 cm (1.06 litros), a rolha de plstico castanho foi colada com

    silicone aos furos abertos nos painis da armadilha. A cada tampa do frasco foi

    retirado o topo para permitir a entrada dos insectos.

    A base da armadilha consistia numa uma lmina de contraplacado multifacetada,com um hexgono de 60 cm de dimetro recortado no centro. Este recorte foi

    acompanhado por uma proteco de rede plstica (malha de 1 cm), onde foi

    depositado o cadver para permitir um melhor contacto com o solo. Para fazer o topo

    ARMADILHA DEMOGRFICA DE ISCO

    dimenses iguais s da base para permitir maior robustez e um melhor acesso dos

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    dimenses iguais s da base, para permitir maior robustez e um melhor acesso dos

    insectos da base cpula.

    Cortaram-se 6 tiras de madeira de pinho com 60 cm, de modo a que os toposapresentassem ngulos de 30 contrrios. As tiras foram ento colocadas na base da

    tampa, nos vrtices do hexgono, sendo posteriormente colocado um novo hexgono

    no topo das tiras para as manter juntas e formar o topo da cpula. Posteriormente

    colocou-se a rede mosquiteira (malha 0,1 cm, cor branca, plstico), cortando-se

    figuras geomtricas semelhantes aos lados da cpula. A rede foi colocada de forma a

    impedir a fuga dos insectos voadores do interior da cpula sendo agrafada s tiras de

    madeira desta e levando uma camada de silicone para a manter mais estanque. No

    topo da cpula, no hexgono mais pequeno, recortou-se com a serra de copo um

    circulo de 6 cm de dimetro, onde se colocou um tubo colector de plstico branco,

    semelhante ao de uso sanitrio, e um frasco de recolha semelhante aos usados nos

    painis laterais, tambm com lquido de recolha. O tubo colector era extensvel, o quepermitia que o frasco de recolha no topo da armadilha estivesse numa posio mais

    vertical, permitindo uma melhor recolha dos insectos voadores.

    A cpula foi anexada base por duas dobradias em lato e, por questes de

    segurana, tambm foram colocados 3 fechos com cadeado, no permitindo o acesso

    ao interior da armadilha por parte de estranhos. Para tornar a armadilha mais

    estanque colocou-se uma tira de espuma ao longo do crculo da base, vedando assim

    o contacto entre a cpula e a base da armadilha.

    O acesso ao interior da armadilha para as recolhas do material entomolgico do

    cadver foi realizado atravs do levantamento da cpula de madeira.

    Todas as superfcies de madeira da armadilha levaram um tratamento de primrio

    prprio para madeira de pinho e verniz esmaltado sem cheiro para proteger a madeira.Todas as junes foram seladas com o uso de silicone transparente, levando depois

    uma camada de verniz por cima deste.

    ARMADILHA DEMOGRFICA DE ISCO

    realizada de dois em dois dias A mesma soluo de etileno glicol e lcool a 70% foi

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    realizada de dois em dois dias. A mesma soluo de etileno glicol e lcool a 70% foi

    usada na preservao dos insectos aps a sua recolha.

    7. AMOSTRAGEM

    Cerca de 1 m2de terreno foi limpo e aplanado para que a colocao da armadilha.

    fosse o mais horizontal possvel. Depois da colocao da armadilha, os frascos de

    recolha foram preenchidos at um quinto com o liquido conservante.

    Procedeu-se depois colocao do cadver do porco domstico Sus scrofa na

    rede hexagonal que se encontrava na base da caixa dodecadrica, sendo o contacto

    com o solo assegurado.

    Aquando da realizao da amostragem, teve-se sempre cuidado no levantamento

    da cpula da armadilha, porque um movimento que fizesse a armadilha balanar,poderia influenciar as comunidades estabelecidas na superfcie de contacto entre esta

    e o solo. A armadilha permitiu a recolha dos exemplares entomolgicos que

    conduziram realizao dos trabalhos apresentados nos Captulos I e II da presente

    dissertao.

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Dodge H R e Seago J M(1954) "Sarcophagidae and other Diptera taken by trap and

    net on Georgia mountain summits in 1952". Ecology. 35: 50-59.

    Fukuda M (1960) "On the effects of physical condition of setting place upon thenumber of flies collected by fish baited traps". Endemic Dis Bull Nagasaki Univ. 2:

    222-228.

    Kawai S e Suenaga O (1960) "Studies on the method of collecting flies. III. On the

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    Consideraes Finais

    CONSIDERAESFINAIS

    CONSIDERAES FINAIS

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    CONSIDERAES FINAIS

    A definio inicial dos objectivos e dos aspectos a estudar pretendem colmatar afalta de informao sobre Entomologia Forense em Portugal, assim como a escassez

    de listas de entomofauna associadas a cadveres.

    No que se refere s listas de entomofauna, conseguiu-se recolher um total de 53

    famlias ao longo dos 2 meses de amostragem, o que mostra uma elevada diversidade

    de grupos associados ao cadver. O facto da amostragem ser realizada perto de uma

    vinha e de um bosque, fez com que vrios animais fitfagos fossem recolhidos

    juntamente com a fauna sarcosaprfaga do cadver, sendo esses considerados como

    acidentais. Um dos grupos mais abundantes e importantes a nvel forense foi o dos

    necrfilos e/ou parasitas.

    Contudo, no se conseguiu criar uma lista dos insectos indicadores forenses da

    rea, nem os diagramas para definir curvas de crescimento (Grassberger e Reiter2001), isto porque o tempo para identificao do material foi reduzido e porque no se

    constituiram listas gerais dos insectos da regio.

    A relao antecipada entre os dados climatricos e a presena de certos grupos

    de insectos no foi observada, principalmente porque as variaes dos dados

    climatricos na altura da amostragem no foram significativas, ou seja, a temperatura

    manteve-se constante e perto dos 12C, o que alguns autores (Amendt et al. 2004)

    definem como a temperatura que pode influenciar a actividade e o ritmo biolgico de

    certas espcies (oviposio, tempo de colonizao do cadver, diapausa). Em relao

    humidade relativa, embora no influencie to directamente a presena da fauna, ela

    importante devido relao que tem com a condio fsica do cadver. Quando huma grande humidade, a taxa de decomposio torna-se mais lenta (Schoenly 1987),

    atrasando ento a sucesso da entomofauna, dai a maioria dos trabalhos nesta rea

    serem realizados no Vero, quando as condies para a decomposio e para a

    CONSIDERAESFINAIS

    correspondeu a nenhuma alterao na presena da entomofauna, no sendo por isso

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    p p , p

    possvel separar estes dois ltimos estdios.

    Em relao a perspectivas futuras, a construo de listas intensivas com todos os

    artrpodes associados ao cadver e os indicadores forenses de rea so vitais para o

    desenvolvimento desta disciplina. So tambm necessrios mais estudos para

    caracterizar as fases de decomposio do cadver e as fases de desenvolvimento

    larvar dos principais insectos, usando o clima de Portugal como referncia. Em relao

    ao crescimento desta rea no nosso pas, um longo caminho ainda tem que ser

    percorrido.

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    Referncias

    Bibliogrficas

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

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    Benecke M (2001) "Forensic Entomology: the next step". Forensic Science

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    Benecke M (2004) Forensic Entomology: Arthropods and Corpses em: Tsokos M.

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    effect of its decomposition on the soil fauna". Australian Journal of Zoology. 5: 1-12.

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