tese filipe machado
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de
Drenagem Sustentvel Dissertao apresentada para a obteno do grau de Mestre em Engenharia Civil na
Especialidade de Hidrulica, Recursos Hdricos e Ambiente
Autor
Filipe Miguel Coelho Machado
Orientador
Jos Alfeu Almeida de S Marques Nuno Eduardo da Cruz Simes
Esta dissertao da exclusiva responsabilidade do seu
autor, no tendo sofrido correes aps a defesa em
provas pblicas. O Departamento de Engenharia Civil da
FCTUC declina qualquer responsabilidade pelo uso da
informao apresentada
Coimbra, 31 de Julho de 2013
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel AGRADECIMENTOS
Filipe Miguel Coelho Machado i
AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar aqui os meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que de uma forma
ou de outra contriburam para a concretizao deste trabalho.
Aos meus orientadores, o Professor Doutor Jos Alfeu Almeida de S Marques e o Professor
Doutor Nuno Eduardo da Cruz Simes, pela orientao, conhecimento transmitido e tempo
despendido para que fossem atingidos os objetivos a que me propus.
Aos meus pais pelo apoio incondicional, pelas condies providenciadas, trabalho e esforo
dedicado durante a minha formao, conselhos ao longo do curso e sobretudo pela pacincia
ao longo de todos estes anos. Aos meus irmos, Alexandre e Maria Francisca, pela
companhia, diverso, apoio e incentivos dirios.
Rita pela cumplicidade, apoio, motivao, pacincia, ajuda e carinho ao longo dos ltimos
anos.
Ao resto da minha famlia, colegas e amigos agradeo o companheirismo, lealdade, confiana
e pelos momentos nicos passados, no s durante a realizao da dissertao, mas durante
toda a vida, sem os quais tornariam este percurso muito mais difcil.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel RESUMO
Filipe Miguel Coelho Machado ii
RESUMO
A nvel mundial tem-se verificado um crescimento exponencial de reas urbanizadas,
principalmente durante o ltimo sculo. Um dos principais fatores est relacionado com a
mudana no estilo de vida de grande parte da populao. Como se sabe existiu, e ainda existe,
um grande fluxo de pessoas a mudar-se de zonas rurais para as cidades, esta mudana levou a
um aumento e crescimento das reas urbanas.
Esse aumento est diretamente relacionado com o aumento da rea de solo impermevel,
porque a construo de edifcios, infraestruturas e vias de comunicao numa cidade leva
impermeabilizao do solo, que aliado s constantes alteraes climatricas poder levar a um
aumento da ocorrncia de inundaes nas cidades.
No sentido de contrariar a ocorrncia de inundaes tm surgido novos conceitos que visam
fugir aos mtodos adotados at ao passado recente, que contemplavam essencialmente o
aumento dos elementos das redes de drenagem. Deste modo surgem os Sistemas Urbanos de
Drenagem Sustentvel (SUDS), medidas que tm como objetivo tornar o escoamento de
guas pluviais nas cidades o mais parecido possvel com o escoamento em meio natural.
Este trabalho teve como objetivo modelar um sistema de drenagem dual 1D/1D da bacia da
zona central da cidade de Coimbra, recorrendo ao software SWMM. O modelo serviu para
que fosse possvel serem efetuados estudos onde fossem implementados SUDS, mais
precisamente bacias de reteno, com o objetivo de avaliar os vrios cenrios propostos para
resoluo do problema existente. O problema prende-se com a ocorrncia de inundaes na
Praa 8 de Maio, sem que a rede de coletores entre em carga, havendo por isso, grandes
quantidades de gua superfcie.
Apresenta-se neste trabalho uma metodologia que permite modelar sistemas de drenagem dual
no SWMM, controlando, o caudal entre caminhos superficiais e a rede de coletores.
Foram tambm avaliados diversos cenrios, variando a localizao, nmero e volume das
bacias de reteno, onde se mostra que a implementao de bacias de reteno pode
minimizar o problema das inundaes, mas a escolha da sua localizao e volume de
armazenamento tm um papel fundamental.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel ABSTRACT
Filipe Miguel Coelho Machado iii
ABSTRACT
All over the world there has been an enormous growth of urban areas. One of the main
factors is related to changes in the lifestyle of the population. A large flux of people moving
from rural areas to cities, led to a growth of urban areas.
This change make the soil more impervious soil, because the construction of building,
infrastructures and roads. The growth of impervious areas together with climate changes
could lead to an increased occurrence of floods in cities.
In order to decrease the occurrence of floods new concepts have emerged. Traditional
methods mainly focused in construction of greater elements of drainage networks. New
strategies are emerging: The Urban Systems Sustainable Drainage (SUDS) aim to make the
runoff in cities as close as possible to the flow in the natural environment.
The goal of this work is to model a urban catchment with a 1D1D dual drainage system dual
1D/1D; model the flow between the sewer system and the overland system; implement
retention basins and analyze its locations, volume and costs, all this using SWMM software.
This work presents a methodology to model a urban catchment with a 1D1D dual drainage
system, controlling the interaction between the sewer system and the overland system.
Retention basin where implemented and several scenarios were also evaluated. It was shown
that the retention basins may solve the existing flood problem, but its location and volume
have an important role.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel NDICE
Filipe Miguel Coelho Machado iv
NDICE
1 Introduo ....................................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento....................................................................................................................... 1
1.2 Objetivos ................................................................................................................................. 1
1.3 Estrutura da tese ..................................................................................................................... 2
2 Reviso Bibliogrfica ....................................................................................................................... 4
2.1 Introduo ............................................................................................................................... 4
2.2 Drenagem Urbana ................................................................................................................... 4
2.3 Impactos da Urbanizao ........................................................................................................ 7
2.4 Inundaes urbanas .............................................................................................................. 10
2.5 Modelao hidrulica/hidrolgica ........................................................................................ 12
2.5.1 Enquadramento ............................................................................................................. 12
2.5.2 Modelos fisicamente baseados ..................................................................................... 14
2.5.3 Precipitao ................................................................................................................... 15
2.5.4 Modelos Hidrolgicos .................................................................................................... 16
2.5.5 Modelos Hidrulicos ...................................................................................................... 19
2.6 SWMM ................................................................................................................................... 25
2.7 Drenagem urbana e Sistemas de Informao Geogrfica (SIG) ............................................ 26
2.7.1 Introduo ..................................................................................................................... 26
2.7.2 Modelos digitais do terreno .......................................................................................... 27
2.7.3 Gerao de redes de escoamento superficiais ............................................................. 27
2.8 SUDS ...................................................................................................................................... 30
2.8.1 Enquadramento ............................................................................................................. 30
2.8.2 Tipos de SUDS mais comuns.......................................................................................... 31
2.8.3 Bacias de Reteno........................................................................................................ 33
2.9 Tendncia para as cidades futuras ........................................................................................ 35
3 Caso de estudo / Metodologia ...................................................................................................... 37
3.1 Caso de Estudo ...................................................................................................................... 37
3.2 Metodologia .......................................................................................................................... 39
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel NDICE
Filipe Miguel Coelho Machado v
3.2.1 Introduo ..................................................................................................................... 39
3.2.2 Precipitao ................................................................................................................... 39
3.2.3 Rede de drenagem dual ................................................................................................ 40
3.2.4 Quantificao de custos das bacias ............................................................................... 41
4 Exemplos de Aplicao .................................................................................................................. 44
4.1 Preparao do Modelo de Drenagem Dual ........................................................................... 44
4.2 Modelo utilizado ................................................................................................................... 45
4.3 Caso de estudo Bacia da zona central de Coimbra ............................................................ 52
4.3.1 Introduo ..................................................................................................................... 52
4.3.2 Implementao da bacia num modelo de drenagem dual ........................................... 54
4.3.3 Solues implementadas .............................................................................................. 55
4.3.4 Resultados ..................................................................................................................... 56
4.3.5 Anlise de resultados .................................................................................................... 64
4.3.6 Observaes sobre simulaes de sistemas de drenagem dual e bacias de reteno no
SWMM 65
5 Concluses e Trabalhos Futuros.................................................................................................... 69
5.1 Concluses............................................................................................................................. 69
5.2 Trabalhos Futuros.................................................................................................................. 70
Referncias Bibliogrficas ..................................................................................................................... 72
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel NDICE DE QUADROS
Filipe Miguel Coelho Machado vi
NDICE DE FIGURAS
Figura 2.1 Galeria do sistema de esgotos romano (thehistoryblog@ 2013) ....................................... 5
Figura 2.2 - a) Drenagem Natural, b) Drenagem Urbana (Lima et al. 2013) ........................................... 7
Figura 2.3 Evoluo percentual do destino das guas pluviais com o aumento da urbanizao de um
determinado local (Shaw et al. 2011) ..................................................................................................... 8
Figura 2.4 - Hidrograma: natural, aps a construo da urbanizao e aps as medidas corretivas
(Lima et al. 2013) ..................................................................................................................................... 9
Figura 2.5 Cheia fluvial no Rio Mondego, Coimbra (bela@ 2013) ..................................................... 10
Figura 2.6 Cheias causadas pelo mau tempo em Sorriso, Brasil (camarasorriso@ 2013) ................. 11
Figura 2.7 Inundao costeira em Scituate, Estados Unidos da Amrica (gazettenet@ 2013) ......... 11
Figura 2.8 Relao entre vrias fases no modelamento hidrolgico e hidrulico (adaptado de Mark
et al. (2004)) .......................................................................................................................................... 14
Figura 2.9 Curvas tempo-rea para trs tipos de geometria de bacia (Leito et al. 2008) ................ 17
Figura 2.10 Princpio da sobreposio aplicado a hidrogramas unitrios (Leito et al. 2008) .......... 18
Figura 2.11 Mtodo hidrolgico utilizado pelo SWMM (adaptado do manual SWMM (2013)) ........ 18
Figura 2.12 Modelo de sub-bacia utilizada no SWMM (adaptado de SWMM (2013)) ...................... 19
Figura 2.13 Campo de aplicao das equaes de Saint-Venant e respetivas simplificaes
(adaptado de Maksimovic (1996)) ........................................................................................................ 22
Figura 2.14 - Fenda de Preissmann (Butler e Davis 2011) ..................................................................... 23
Figura 2.15 - Drenagem dual (Lima et al. 2013) .................................................................................... 24
Figura 2.16 Rede superficial 1D e rede superficial 1D-1D com o caminho superficial gerado pelo
AOFD ..................................................................................................................................................... 28
Figura 2.17 - Canais e zonas de acumulao de gua (Leito et al. 2008) ............................................ 29
Figura 2.18 Esquema simplificado dos passos para obteno de uma rede de drenagem dual
(adaptado de Adeyemo (2007)) ............................................................................................................ 30
Figura 2.19 - Objetivos dos SUDS (Balmforth et al. 2006)..................................................................... 31
Figura 2.20 Bacia de reteno a cu aberto de Melun-Snart, Frana (STU 1994) ........................... 33
Figura 2.21 Bacia de reteno subterrnea em Porto Alegre, Brasil (foto de Simes, N.) ................ 34
Figura 2.22 - Transformao das cidades em WSC (adaptado de Brown et al. (2009)) ........................ 36
Figura 3.1 Localizao da cidade de Coimbra, Portugal (fonte: Google Earth) .................................. 37
Figura 3.2 - Modelo digital da zona de estudo com pormenor da zona onde ocorrem cheias com
maior frequncia (Simes et al. 2010) .................................................................................................. 38
Figura 3.3 - Vista rea sobre a bacia em estudo (coimbraantiga@ 2013) ............................................ 39
Figura 3.4 Mtodo dos blocos alternados para Tr = 100 anos ........................................................... 40
Figura 3.5 Relao Largura-Volume de beto necessrio para diferentes alturas das bacias ........... 42
Figura 3.6 Relao Volume de beto necessrio-Custo da bacia ....................................................... 42
Figura 4.1 Praa 8 de Maio 09/06/2006 (Simes et al. 2010) ......................................................... 44
Figura 4.2 Praa 8 de Maio 21/09/2008 (Simes et al. 2010) ......................................................... 44
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel NDICE DE QUADROS
Filipe Miguel Coelho Machado vii
Figura 4.3 Modelo criado inicialmente no SWMM ............................................................................ 46
Figura 4.4 Resultados obtidos para o modelo inicial ......................................................................... 46
Figura 4.5 Separao por meio de outlets do sistema superficial e de coletores .......................... 47
Figura 4.6 - Grfico representativo dos pontos utilizados da curva de entrada de caudal .................. 48
Figura 4.7 Resultados para o modelo simplificado aps introduo da curva de controlo nos
outlets ................................................................................................................................................ 48
Figura 4.8 Verificao da subida de caudal atravs da insero de outlets para esse efeito ............ 49
Figura 4.9 Resultados aps introduo de outlet de sada com sistema em carga ........................ 49
Figura 4.10 Modelo simplificado final ................................................................................................ 50
Figura 4.11 Vista em planta de uma parcela de rede com as alteraes finais ................................. 50
Figura 4.12 Caudal superfcie, junto Praa 8 de Maio com Tr = 5, 20 e 100 anos ........................ 51
Figura 4.13 - Caudal superfcie, junto Praa da Repblica com Tr = 5 anos .................................... 52
Figura 4.14 Vista rea dos locais onde as bacias sero implementadas: A Praa da Repblica; B
Estacionamento em frente ao Mercado Municipal e locais onde foram implementadas sondas
numricas para leituras de resultados .................................................................................................. 53
Figura 4.15 Caudal registado nos coletores (214.1 + 213.1) da Rua Loureno de Azevedo .............. 57
Figura 4.16 - Caudal registado nos coletores (124.1) da Rua Almeida Garrett ..................................... 57
Figura 4.17 - Caudal registado nos coletores (129.1) da Rua Alexandre Herculano ............................. 58
Figura 4.18 - Caudal registado superfcie (212.A) da Rua Loureno de Azevedo ............................... 58
Figura 4.19 - Caudal registado superfcie (129.A) na Rua Alexandre Herculano................................ 59
Figura 4.20 - Caudal registado nos coletores (138.1 + 1_536.1) da Av. S da Bandeira imediatamente
aps a Praa da Repblica ..................................................................................................................... 59
Figura 4.21 - Caudal registado superfcie (138.A + PON_2047.A) da Av. S da Bandeira
imediatamente aps a Praa da Repblica ........................................................................................... 60
Figura 4.22 - Caudal registado nos coletores (308.1) da Av. S da Bandeira, pr Estacionamento do
Mercado ................................................................................................................................................ 61
Figura 4.23 - Caudal registado superfcie (340.A) na Av. S da Bandeira, pr Estacionamento do
Mercado ................................................................................................................................................ 61
Figura 4.24 - Caudal registado nos coletores (516.1) da Av. S da Bandeira, ps Estacionamento do
Mercado ................................................................................................................................................ 62
Figura 4.25 - Caudal registado superfcie (588.A) na Av. S da Bandeira, ps Estacionamento do
Mercado ................................................................................................................................................ 62
Figura 4.26 - Caudal registado nos coletores (517.1 + 588.1) da Praa 8 de Maio ............................... 63
Figura 4.27 - Caudal registado superfcie (1_677.A) na Praa 8 de Maio .......................................... 63
Figura 4.28 Esquema representativo das simulaes efetuadas ....................................................... 66
Figura 4.29 Altura de gua superfcie a montante da bacia de reteno no modelo simplificado . 67
Figura 4.30 Caudal registado superfcie a montante da bacia de reteno no modelo simplificado
............................................................................................................................................................... 67
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel NDICE DE QUADROS
Filipe Miguel Coelho Machado viii
NDICE DE QUADROS
Quadro 2.1 SUDS mais comuns (adaptado de Woods-Ballard et al. (2006)) ..................................... 32
Quadro 4.1 Quadro-resumo das caractersticas das bacias de reteno aplicadas a cada soluo .. 56
Quadro 4.2 reas drenantes para cada uma das bacias .................................................................... 56
Quadro 4.3 Estimativa do custo para cada soluo ........................................................................... 65
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 1 INTRODUO
Filipe Miguel Coelho Machado 1
1 INTRODUOEQUATION CHAPTER 1 SECTION 1
1.1 Enquadramento
Desde o final do sculo XVIII tem-se registado um aumento exponencial da populao
mundial, que aliada tendncia para a procura de estabilidade nas grandes cidades tem levado
a um grande crescimento dos centros urbanos (Crossette e Kollodge 2011).
Em paralelo com o crescimento urbano, est tambm o aumento de problemas inerentes
ocupao do territrio de forma pouco ordenada. O aumento de reas impermeveis est
intimamente relacionado com o aumento de escoamento superficial resultante de uma
chuvada e, consequentemente, leva a um aumento do caudal de ponta de cheia
comparativamente a zonas com reas permeveis (Lima et al. 2013).
Estes problemas levaram ao estudo de novas solues.
Durante vrios anos optou-se pelo aumento das dimenses dos elementos de drenagem do
escoamento gerado durante uma precipitao. Mas, com o constante crescimento das cidades,
esta soluo poder no ser a melhor opo, como explica Balmforth et al. (2006). Verificou-
se que no era de todo sustentvel aumentar a capacidade de escoamento de uma determinada
rede indefinidamente. Por essa razo, comeou a abordar-se o problema de forma diferente.
Nasce ento o conceito de sistemas urbanos de drenagem sustentvel, esta ideia consiste em
aplicar s cidades alteraes que permitam o escoamento com comportamento semelhante ao
ocorrido no meio natural.
No sentido de testar e avaliar intervenes que possibilitem uma melhor performance dos
sistemas de drenagem de um determinado local necessrio recorrer a modelos
hidrulicos/hidrolgicos. E, desse modo, obter resultados que permitam uma correta
avaliao.
1.2 Objetivos
O aumento do nmero de inundaes registadas em todo o mundo mostra a vulnerabilidade
dos ambientes urbanos s condies hidrolgicas extremas. Este incremento do nmero de
cheias resulta de uma conjugao de fatores onde so parte ativa as alteraes climticas e o
crescimento dos meios urbanos.
Como foi dito anteriormente, o aumento dos elementos das redes existentes deixa de ser
eficiente e vivel a partir de determinada dimenso.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 1 INTRODUO
Filipe Miguel Coelho Machado 2
Os sistemas urbanos de drenagem sustentvel cujo princpio de funcionamento consiste na
mimetizao do ciclo hidrolgico natural, permitem resolver as limitaes das redes de
drenagem. Este conceito, relativamente recente, utiliza tcnicas inovadoras como a construo
de pavimentos permeveis, canais abertos com vegetao, bacias de reteno, entre outros
elementos. Todas estas alteraes tm como objetivo atenuar os picos de cheia, diminuir o
risco de cheias e reduzir a concentrao de poluentes das guas da chuva nas reas urbanas.
O principal objetivo deste trabalho foi estudar o impacto da construo de bacias de reteno
na bacia central da Cidade de Coimbra, nomeadamente a localizao, nmero de bacias e
custo. De modo a atingir este objetivo, outros tiveram de ser concretizados: Modelar a bacia
com um sistema de drenagem dual 1D-1D com o SWMM a controlar a interao entre o
sistema superficial e o sistema de coletores.
Como se ir verificar posteriormente, o estudo ir incidir sobre a avaliao de vrios cenrios,
tendo em conta aspetos, tais como a previso dos custos das operaes a realizar e danos
evitveis, o comportamento hidrulico para cada soluo e a sua possvel utilidade para alm
da preveno de inundaes.
1.3 Estrutura da tese
No primeiro captulo apresenta-se o enquadramento da dissertao, os objetivos e a estrutura
da tese.
No segundo captulo da dissertao faz-se a apresentao do tema geral, onde elaborado um
breve resumo histrico acerca dos meios de drenagem, bem como a evoluo registada at aos
dias de hoje. Posto isto, sero abordados os principais problemas da drenagem urbana e os
efeitos desta no escoamento das guas pluviais. De seguida so abordados os modelos
hidrolgicos e hidrulicos existentes, assim como os tipos de comportamento admitidos pelos
modelos para sistemas em carga e drenagem dual. feita tambm uma breve introduo ao
software que se vai utilizar. O passo seguinte consistiu em dar a conhecer algumas das
solues sustentveis existentes, com especial nfase a bacias de reteno, pois sero os
elementos a utilizar no desenvolvimento da presente dissertao.
No terceiro captulo aborda-se o local onde sero feitos os estudos e os mtodos utilizados
para obteno do modelo.
No quarto captulo apresenta-se os desenvolvimentos para a obteno do modelo final
utilizado, cenrios avaliados e respetivos resultados, foi tambm feita uma anlise a
instabilidades do software.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 1 INTRODUO
Filipe Miguel Coelho Machado 3
Para finalizar, no quinto captulo, sero apresentadas concluses e observaes sobre o
trabalho realizado e ser feita uma abordagem acerca das potencialidades do mesmo em
aplicaes futuras.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 4
2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Introduo
Os problemas associados a inundaes j existem h milhares de anos. No entanto, graas ao
aumento da urbanizao tem aumentado o risco de ocorrncia destas.
Sero abordados conceitos base para uma melhor compreenso e contextualizao dos temas
estudados na presente dissertao. A clarificao de conceitos relativos drenagem urbana,
impactos da urbanizao, modelos hidrolgicos e hidrulicos existentes, sistemas em carga,
drenagem dual, o software utilizado, sistemas urbanos de drenagem sustentvel e tendncias
futuras para as cidades, servir para obtermos uma melhor perceo do estudo desenvolvido
nesta dissertao.
2.2 Drenagem Urbana
A gua esteve, est e estar sempre presente no quotidiano das populaes. Historicamente a
necessidade de controlar o seu curso surge quando comeam a aparecer as primeiras
civilizaes durante o segundo milnio antes de Cristo. Segundo Burian e Edwards (2002) foi
nesta poca que se comeou a olhar para a gua como um bem vital e pela primeira vez foi
posta a possibilidade da existncia de inundaes bem como as preocupaes relativamente
qualidade da gua. Os registos arqueolgicos mostram que os primeiros sinais de drenagem
existentes foram encontrados nas civilizaes da Mesopotmia, Minica e Grega.
Os primeiros elementos relacionados com a drenagem quer de gua residual, quer de gua
pluvial construdos por estas populaes foram sistemas simples de esgotos a cu aberto.
nesta poca que comea a existir uma preocupao relativa ao aproveitamento da gua pluvial
como recurso de gua potvel e foi tambm nesta altura que apareceu a ideia de utilizar a gua
como meio de transporte para matria residual (Burian e Edwards 2002).
A grande evoluo tecnolgica da drenagem urbana deu-se durante a poca da civilizao
Romana. Os romanos foram a nica civilizao em toda a Europa e sia ocidental a construir
uma rede de estradas cuidadosamente planeada e com um sistema de drenagem adequado,
desde a antiguidade at ao sculo XVIII (Hill 1984). Nesta poca foram construdas as
primeiras redes de drenagem, tanto a cu aberto como cobertas. Foi explorada em maior
escala a utilizao de gua pluvial j armazenada com vista a uso local, foram criados
aquedutos para transporte de gua para as ruas da cidade e banhos pblicos, segundo Hodge
(1992), foi tambm construda uma rede de esgotos com escoamento permanente que permitia
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 5
populao livrar-se dos resduos para longe das zonas habitacionais (Figura 2.1).
Concluindo, foram os Romanos os primeiros a estabelecer um ciclo de gua urbano ligando o
abastecimento e a drenagem da gua (Burian e Edwards 2002).
Figura 2.1 Galeria do sistema de esgotos romano (thehistoryblog@ 2013)
No que diz respeito ao desenvolvimento tecnolgico, aps um longo perodo de estagnao,
foi no incio do sculo XVIII que se comearam a registar novos desenvolvimentos na
construo de redes de drenagem urbana. Na Amrica do Norte foram construdos sistemas de
drenagem de grande escala, redes de esgotos subterrneas, e houve uma preocupao na
drenagem das vias de comunicao terrestres. Nesta poca, os materiais usados foram a
madeira, o tijolo e a pedra. Comea assim o esboo elementar das redes de drenagem urbana
que viriam a ser padronizadas no futuro (Burian e Edwards 2002).
As prticas utilizadas na Amrica do Norte eram similares s existentes na Europa. No
entanto, foi no incio do sculo seguinte que se iniciou a drenagem urbana com base em
muitos parmetros que se mantm nos dias de hoje. Os principais desenvolvimentos
registados na drenagem urbana nos Estados Unidos durante os sculos XIX e XX foram
sintetizados por Burian et al. (1999) em nove categorias:
Aperfeioamento dos materiais das condutas, mtodos de construo e nas prticas
de manuteno;
Utilizao da gua no sistema de transporte e remoo de resduos;
Sistema de esgotos bem projetado e completo;
Sistemas separativos versus sistemas unitrios;
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 6
Identificao de doenas transmitidas pela gua;
Introduo de tratamentos a guas residuais;
Avanos no estudo em hidrologia urbana;
Avanos computacionais;
Preocupao ambiental.
Uma vez apresentadas as diretrizes sobre as quais a drenagem urbana evoluiu, sabido que
essa transformao se deu devido a fatores como: as constantes inovaes tecnolgicas,
mudana de mentalidade em relao importncia do saneamento, avanos nas ferramentas
de clculo, evoluo computacional, monotorizao da quantidade e qualidade das guas
drenadas, preocupaes ambientais, de sade pblica e de risco de inundao e a novas
tcnicas de construo e planeamento. Em jeito de concluso, a drenagem urbana
acompanhou e continua a acompanhar a rpida evoluo da poca onde est inserida (Burian
e Edwards 2002).
Atualmente a drenagem responsvel por garantir em condies apropriadas a recolha,
transporte e rejeio nos meios recetores das guas residuais domsticas, comerciais,
industriais e guas pluviais (Lima et al. 2013). A presente dissertao ir focar-se na
drenagem de guas pluviais.
As guas pluviais necessitam de drenagem quando a precipitao se d sobre reas
urbanizadas, o que torna extremamente importante garantir um bom sistema de drenagem.
Um mau planeamento poder levar a consequncias graves para as populaes, tornando mais
frequente o aparecimento de cheias e com isto sujeitar a populao a problemas sanitrios e a
perda de bens materiais. Estes inconvenientes levam a prejuzos econmicos elevados e, em
casos mais graves, pode mesmo existir a perda de vidas humanas, como indicam os autores
Butler e Davis (2011) e Lima et al. (2013).
A atividade humana em qualquer regio leva a uma alterao profunda da morfologia do
terreno e de esperar que tenha grande influncia na drenagem local. O percurso da gua em
meio natural ou urbanizado completamente diferente, como possvel observar na Figura
2.2.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 7
Figura 2.2 - a) Drenagem Natural, b) Drenagem Urbana (Lima et al. 2013)
Com o aumento dos consumos de gua por parte da populao e com o crescimento dos
grandes centros urbanos procura-se, atualmente, que as solues sejam vantajosas quer em
termos econmicos quer a nvel ambiental.
Resumindo e seguindo a linha de pensamento de Lima et al. (2013), atualmente a drenagem
urbana tem como objetivos: A reduo de reas inundadas, a proteo do trfego rodovirio e
pedestre, a reduo de gastos com manuteno das vias pblicas e reas adjacentes
permeveis e impermeveis, o escoamento das guas superficiais, a eliminao de guas
estagnadas, o abaixamento do nvel fretico, a reduo da eroso hdrica do solo, permitir o
reaproveitamento da gua pluvial e o aumento da resistncia do solo em zonas verdes.
2.3 Impactos da Urbanizao
Na natureza a gua pluvial segue vrios rumos: Parte infiltra-se no solo, parte escoada
superfcie e uma percentagem regressa atmosfera, quer por evaporao, quer por
transpirao. Como de esperar, a urbanizao tem grande influncia em todos os
mecanismos naturais de recolha de guas da chuva, como sugerem os autores Butler e Davis
(2011) e Shaw et al. (2011).
A urbanizao leva a um aumento considervel da rea impermevel, originando um aumento
do caudal de gua superficial. Com o aumento dos grandes centros urbanos, tanto a nvel de
rea, como a nvel de populao, torna-se imperial possuir uma rede de drenagem eficaz e
com as devidas ferramentas de apoio ao escoamento feito pela rede com o intuito de reduzir a
frequncia e a grandeza das inundaes. A Figura 2.3 quantifica a evoluo do destino das
guas pluviais durante o crescimento urbano de um dado local.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 8
Figura 2.3 Evoluo percentual do destino das guas pluviais com o aumento da urbanizao de um determinado local (Shaw et al. 2011)
A alterao da superfcie ir levar a uma diminuio do caudal infiltrado e,
consequentemente, a um aumento do caudal superfcie. Isto leva a um aumento considervel
da rapidez com que a mesma quantidade de gua escoada chega ao destino final para locais
urbanizados. Este facto, aliado a falhas no funcionamento da rede, como por exemplo o sub-
dimensionamento dos rgos de entrada de caudal ou a entrada em carga dos sistemas de
escoamento subterrneo, leva ao aumento do caudal de ponta de cheia e diminuio do
tempo que esse caudal demora a ser atingido, percebendo-se assim o aumento do risco de
inundaes. Na Figura 2.3 notria a evoluo do caudal gerado superfcie num local com
drenagem natural e em locais com drenagem urbana.
Outro problema, proveniente da urbanizao o aumento da poluio e sedimentos, que pode
provocar um deficiente funcionamento nos elementos que compem a rede de drenagem e
consequentemente levar descida da qualidade das guas dos rios e das linhas de gua.
Os problemas que acompanham o aumento da urbanizao levaram a uma mudana de atitude
por parte de quem gere e projeta as redes de drenagem urbana. At h bem pouco tempo, a
prioridade era esconder a gua o mais rpido possvel, isto , encaminhar a gua para as
redes de drenagem. O aumento dos caudais fez com que se tivesse de repensar em novas
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Filipe Miguel Coelho Machado 9
abordagens. Nascem assim vrios conceitos relacionados com um plano geral que trata a
criao ou adaptao de sistemas, tornando-os em sistemas urbanos de drenagem sustentveis,
SUDS.
Os principais objetivos dos SUDS, segundo Butler e Parkinson (1997), so:
Manuteno eficaz da sade pblica;
Preveno de inundaes;
Preveno da degradao/poluio da gua, solo e ar;
A minimizao da utilizao de recursos naturais;
A garantia de adaptao a cenrios ainda no conhecidos;
As medidas a tomar tm de ter viabilidade econmica e aceitao social.
Caso se cumpram estes objetivos na sua totalidade ou parte deles, a performance das redes de
drenagem nos grandes centros urbanos pode melhorar significativamente. Quando a
implementao destes conceitos for feita corretamente, pode mesmo ser possvel transformar
o hidrograma do comportamento da gua ps-urbanizao num hidrograma com aspeto
natural como possvel observar na Figura 2.4.
Figura 2.4 Hidrograma: Natural, aps a construo da urbanizao e aps as medidas corretivas (Lima et al. 2013)
Fica claro que o impacto da urbanizao altera o curso natural da gua, sujeita a populao a
problemas com prejuzos a vrios nveis e que necessrio, um correto dimensionamento do
sistema de drenagem e um comportamento responsvel de todos os intervenientes, para que a
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 10
resoluo, ainda que parcial, dos problemas causados pela urbanizao na drenagem de guas
pluviais seja cada vez mais eficiente.
2.4 Inundaes urbanas
As inundaes urbanas acontecem quando num dado intervalo de tempo existe uma
quantidade de gua superfcie fora do normal e que por qualquer razo, esta gua no entra
na rede de drenagem, causando problemas para as populaes locais. A gua pode surgir
superfcie por diversos motivos: Acontecimentos climatricos fora do comum, a rede de
coletores entrar em carga, obstruo dos rgos de entrada de gua na rede de drenagem,
eventos naturais no previstos, entre outros. O aparecimento de inundaes em reas
urbanizadas pode ser assim qualificado consoante a sua origem, como explica Estells (2010):
Inundao fluvial: Este tipo de inundao acontece quando as margens do rio so
galgadas pela gua que corre no mesmo, sendo que a gua tem tendncia para
permanecer em zonas planas perto do leito do rio. Pode visualizar-se um exemplo
de inundao fluvial na Figura 2.5.
Figura 2.5 Cheia fluvial no Rio Mondego, Coimbra (bela@ 2013)
Inundao pluvial: De causa pluvial, pode acontecer aps chuvadas extremas onde
a rede de drenagem, por razes de incapacidade ou deficincia na entrada de gua
no sistema, no permite um escoamento eficaz, levando dessa maneira existncia
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 11
de gua superfcie. Na Figura 2.6 pode ver-se um dos muitos problemas causados
por este tipo de cheias.
Figura 2.6 Cheias causadas pelo mau tempo em Sorriso, Brasil (camarasorriso@ 2013)
Inundaes costeiras: Este tipo de inundaes acontece quando o nvel do mar
sobe de tal maneira que tem capacidade para atingir reas urbanizadas, na Figura
2.7 possvel observar um caso onde o mar chega a atingir habitaes.
Figura 2.7 Inundao costeira em Scituate, Estados Unidos da Amrica (gazettenet@ 2013)
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 12
O tipo de inundaes que ir ser estudado neste trabalho o de origem pluvial. Este tipo de
inundaes causa inmeros problemas s populaes, que podem ir desde danos integridade
fsica e psicolgica das populaes, danos nas infraestruturas e bens da comunidade,
transtornos no trfego, bem como danos indiretos, como por exemplo a impossibilidade de
assistncia mdica urgente. Todos estes problemas tm um custo a contabilizar quando se
quantificam os danos causados por uma inundao. Segundo Konig et al. (2002), podem ser
considerados trs tipos de danos causados pelas inundaes:
Dano direto: Geralmente danos materiais;
Dano indireto: Perturbaes no trfego, custos adicionais a nvel administrativo ou
de trabalho, perdas de produo, entre outros;
Danos sociais: Danos psicolgicos de longo termo para a populao, como a perda
de valor das propriedades em zonas mais frequentemente afetadas pelas
inundaes ou atrasos no desenvolvimento econmico dessas zonas.
Apesar de estarem bem definidos os tipos de danos existentes e de cada vez mais se
conseguirem fazer previses sobre os mesmos, ainda difcil ou mesmo impossvel estimar os
custos reais de uma determinada cheia.
2.5 Modelao hidrulica/hidrolgica
2.5.1 Enquadramento
Os modelos so usados com o intuito de simular situaes reais e o seu uso facilita o
entendimento humano sobre determinados tpicos de estudo, oferecendo a hiptese de teste
sobre vrios cenrios, o que permite obter explicaes e tomar decises sobre os resultados
obtidos. Um bom modelo deve ser o mais simples e coerente possvel, deve possibilitar a
previso de vrios cenrios e a informao deve surgir de uma forma clara e intuitiva, para
permitir uma fcil leitura e interpretao dos dados obtidos, como indicam Tucci (1998) e S
Marques et al. (2013).
Relativamente rea de drenagem urbana, podem ser encontrados dois tipos de modelos: os
que servem para testar o comportamento hidrulico e hidrolgico dos sistemas de drenagem
de guas pluviais e os modelos de qualidade da gua nos sistemas. No presente trabalho sero
abordados aqueles que permitem simular os comportamentos da rede a nvel hidrolgico e
hidrulico. Atualmente, a principal funcionalidade dos modelos utilizados a de simular
comportamentos de redes j existentes ou analisar projetos futuros, avaliar o correto ou
incorreto dimensionamento das redes, possveis respostas do sistema a vrias alteraes e
formas de melhorar o sistema/projeto.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 13
Segundo Tucci (1998) os modelos podem ser classificados consoante a abordagem utilizada
como:
Contnuos ou discretos: Nos contnuos, os fenmenos como o prprio nome indica,
so contnuos no tempo, j nos discretos as mudanas de estado do-se em
intervalos no contnuos;
Concetuais ou empricos: Nos concetuais as funes utilizadas na elaborao do
modelo tm em considerao processos fsicos, no caso de se usarem modelos
empricos os valores calculados so ajustados aos valores observados sem que
exista influncia dos processos fsicos envolvidos;
Concentrados ou distribudos: Sendo que para os concentrados a variabilidade
espacial no levada em conta e nos distribudos as variveis e parmetros do
modelo dependem do espao e/ou tempo;
Estocsticos ou determinsticos: Nos modelos estocsticos, para diversas
simulaes, o programa gera diferentes outputs para o mesmo input. No caso dos
determinsticos, o resultado gerado constante para o mesmo input, independente
do nmero de simulaes.
A abordagem mais utilizada nos modelos hidrulicos , regra geral, do tipo determinstico.
Este tipo de modelo utilizado pela sua simplificao no tratamento da informao imposta
pelo utilizador. Outra caracterstica deste modelo que no tem em considerao fatores de
aleatoriedade, permitindo assim a obteno de um nico resultado ao invs de uma gama de
resultados. O uso deste tipo de modelo implica um profundo conhecimento do seu
funcionamento, leis em se baseia e as simplificaes por ele realizadas, de modo a que se
consiga ter um espirito crtico em relao aos resultados obtidos.
Na elaborao de modelos duais de redes drenagem urbana, como ilustra a Figura 2.8, so
necessrios inmeros dados para que se possa fazer um modelo minimamente real. Nestes
modelos existe uma componente referente a aspetos hidrolgicos e outra a componentes
hidrulicos. O modelo hidrolgico responsvel pela simplificao do ciclo hidrolgico ou de
qualquer uma das suas componentes, com o objetivo de estimar a quantidade de gua gerada
para um determinado acontecimento. O modelo hidrolgico, como se pode ver na Figura 2.8,
trata da obteno do hidrograma de escoamento. Para que isso seja possvel cruza informao
relativa chuvada que se pretende simular, rea de captao, isto , o local onde ocorrer a
chuvada e tem em considerao informao relativa ocupao do terreno, reas permeveis
e impermeveis. O modelo hidrulico corresponde forma como a gua gerada pelo modelo
hidrolgico escoa ao longo da rede atravs dos elementos que a compem. Como possvel
observar no esquema da Figura 2.8, o modelo hidrulico pode ser dividido em duas reas:
Superficial e rede de coletores, o superficial responsvel por simular como a gua se
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 14
propaga superfcie e, com isso, tem em considerao caminhos superficiais, zonas de
acumulao de gua e os nveis de gua nesses elementos. Relativamente rede de coletores,
o modelo tem elementos que simulam as caixas de visita, sumidouros e sarjetas que servem
para encaminhar a gua superficial para elementos correspondentes s condutas da rede.
Figura 2.8 Relao entre vrias fases no modelamento hidrolgico e hidrulico (adaptado de Mark et al. (2004))
Nos subcaptulos seguintes ser feita abordagem mais extensa para cada um dos modelos
apresentados.
2.5.2 Modelos fisicamente baseados
Como j foi referido anteriormente, os modelos hidrolgicos/hidrulicos so, regra geral, do
tipo determinstico, e segundo Estells (2010), estes podem ser:
Modelos empricos: J apresentados no subcaptulo 2.5.1;
Modelos fisicamente baseados: Podem existir um ou mais processos descritos, que
envolvem leis fsicas, onde os parmetros tm um significado fsico e so
mensurveis.
Os modelos fisicamente baseados so os mais utilizados para simulaes de sistemas de
drenagem de guas pluviais, como explica Adeyemo (2007), estes simulam as transforaes
que ocorrem ao longo da bacia, com base nas suas caractersticas, leis fsicas e tendo em conta
todo o tipo de elementos existentes.
Mo
delo
da
red
e
de
co
leto
res
ColetoresEscoamento na rede de
coletores
Nivel de descarga
da gua
Mo
delo
Hid
ru
lico
Mo
delo
da
sup
erf
icie
Ruas
Escoamento superficial
e zonas de acumulao
de gua
Nvel de gua e
niveis de inundao
Caixa de
visita
Sumidouro
/Sargeta
Caixa de
visita
Sumidouro/
Sargeta
Mo
delo
s
Hid
rol
gic
os
Chuvada rea de captao rea impermeavel
Hidrograma de
escoamento
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Filipe Miguel Coelho Machado 15
Em modelos fisicamente baseado existem fases, que so consideradas essenciais, para a sua
correta elaborao. Segundo Adeyemo (2007), aps o conhecimento dos dados relativos
chuvada a aplicar ao modelo deve-se proceder :
Modelao do terreno. Na modelao do terreno elaborado um modelo digital do
terreno onde so aplicados mtodos para calcular as zonas de armazenamento de
gua, intercees e infiltrao. Esta anlise feita com base na ocupao,
topografia, tipo de solo, entre outras caractersticas do terreno;
Diviso da bacia, ou seja, dividir a bacia principal em vrias sub-bacias. Com isto
possvel saber o detalhe com que se trabalha a bacia em estudo. Uma maior
diviso leva a um maior detalhe e, consequentemente, a resultados mais prximos
da realidade;
Escoamento nas sub-bacias. Nesta fase utilizado um mtodo que transforme a
chuva em escoamento superficial. Uma grande diferena entre os modelos
fisicamente baseados e os modelos conceptuais reside no facto de para os modelos
fisicamente baseados, para alm das equaes de continuidade, so tambm
utilizadas equaes dinmicas no escoamento;
Escoamento nas condutas. Uma percentagem do escoamento superficial entra na
rede de coletores atravs de ns, que ligam os caminhos superficiais rede
subterrnea. necessrio existir um cadastro da rede, caractersticas das condutas
como o comprimento, dimetro, seco, material, cotas dos ns, para uma correta
modelao da rede de coletores. Para o escoamento nestes elementos, inmeras
tcnicas podem ser utilizadas.
Apesar de teoricamente se conhecer o funcionamento destes modelos, a verdade que os
resultados obtidos por eles dependem de inmeros fatores, desde simplificaes feitas por
cada um dos softwares at aos erros no trajeto do escoamento.
2.5.3 Precipitao
Este trabalho retrata cenrios onde a gua surge superfcie atravs de acontecimentos
meteorolgicos sob a forma de precipitao, especificamente chuva. Por essa razo
importante conhecer as diversas caractersticas da mesma.
A durao de uma certa chuvada o tempo que ocorre entre o incio e o fim de precipitao e
como indica Dunkerley (2008) para estudos que englobem modelos hidrolgicos necessrio
informao precisa e clara acerca dos eventos que se pretendem analisar.
Outro dado importante numa chuvada o seu volume. A intensidade de uma chuvada o
volume de gua precipitada por unidade de tempo.
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importante referir que a intensidade de uma chuvada varia durante a mesma. Por essa razo
constroem-se histogramas que representam a intensidade da chuvada num determinado
intervalo de tempo. A intensidade tambm no pode ser considerada constante espacialmente,
isto , varia consoante fatores como a topografia e centro da chuvada.
A obteno de dados sobre as chuvadas de extrema importncia quando se trabalha com
modelos cujo objetivo estudar o comportamento de sistemas de drenagem num determinado
local. No software utilizado, o Storm Water Management Model, SWMM, a introduo da
precipitao feita introduzindo dados relativos intensidade da chuvada registada em
determinados espaos temporais.
2.5.4 Modelos Hidrolgicos
Os modelos hidrolgicos so utilizados como instrumentos cuja funo trata da compreenso
do funcionamento de uma bacia hidrogrfica (Tucci 1998). O escoamento produzido pela
precipitao depende de fatores hidrolgicos como: a durao da chuvada, a sua intensidade,
perdas e infiltraes.
Segundo Leito et al. (2008) os modelos hidrolgicos mais utilizados so os seguintes:
Mtodo Racional;
Mtodo Curva-Tempo;
Hidrograma Unitrio;
Modelos de Reservatrio.
O mtodo racional o mais utilizado pela comunidade hidrulica para a estimativa do caudal
de ponta de cheia para bacias hidrogrficas de pequena dimenso (S Marques e Sousa 2009).
As bacias para a aplicao deste mtodo devem ter no mximo 25 km2.
Neste mtodo a precipitao transformada em caudal quando a chuvada tem intensidade
constante e considerada sobre toda a rea da bacia. Esta situao verificada quando a
durao da chuvada superior ao tempo de concentrao, podendo o caudal resultante ser
obtido pela seguinte equao (2.1):
Qs = C i A (2.1)
Em que:
Qs Caudal escoado superficialmente
C Coeficiente de escoamento
i Intensidade da chuvada
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Filipe Miguel Coelho Machado 17
A rea de Drenagem
As limitaes na utilizao deste mtodo esto relacionadas com as simplificaes feitas nos
diferentes fatores que influenciam o caudal resultante. Por exemplo: Aceitar que a
precipitao no varia a longo do tempo e do espao, considerar a relao linear na
transformao da precipitao em escoamento e admitir que o caudal de ponta de cheia s
ocorre quando toda a bacia est a contribuir para o escoamento so algumas das
simplificaes apontadas por S Marques e Sousa (2009) para possveis erros aquando a
utilizao do mtodo racional.
O mtodo da curva tempo-rea considera que o volume do escoamento superficial
influenciado por trs fatores: Perdas iniciais, rea da bacia e perda hidrolgica continua. O
tempo de concentrao da bacia e a curva tempo-rea controlam o hidrograma do escoamento,
sendo que a curva tempo-rea traduz a forma da bacia. Os trs formatos mais comuns para a
geometria das bacias, como sugerem Leito et al. (2008), so os apresentados na Figura 2.9.
Figura 2.9 Curvas tempo-rea para trs tipos de geometria de bacia (Leito et al. 2008)
Leito et al. (2008) explica que nas diferentes fases de clculo o volume de escoamento
acumulado numa determinada parcela da rede movido para a parcela seguinte a jusante,
dessa forma o volume total existente em cada parcela obtido com recurso a um equilbrio
entre o volume que chega, o gerado e o de sada dessa parcela. O volume que sai da ltima
parcela da bacia representa o hidrograma do escoamento superficial da bacia.
O mtodo de hidrograma unitrio define um hidrograma resultante do escoamento gerado por
uma precipitao til sobre uma bacia, em que para eventos com durao igual usado o
hidrograma unitrio com variao linear para diferentes intensidades, este modelo utiliza
simplificaes como intensidades constantes, a precipitao distribuda de forma uniforme
na bacia, considerada a sobreposio de hidrogramas resultantes de perodos de precipitao
til contnuos e/ou isolados, ver Figura 2.10, e para uma determinada bacia o hidrograma
resultante traduz as condies constantes da bacia.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 18
Figura 2.10 Princpio da sobreposio aplicado a hidrogramas unitrios (Leito et al. 2008)
Nos modelos de reservatrio apenas considerada a lei de conservao da massa e como no
tida em conta a equao da conservao da quantidade de movimento a resposta da bacia
considerada instantnea. Neste modelo a bacia tem um comportamento de um reservatrio,
como o prprio nome indica e tambm importante referir que para este modelo o caudal que
sai est relacionado linearmente com o volume de armazenamento (Leito et al. 2008).
No SWMM o modelo hidrolgico utilizado admite as sub-bacias como elementos de reserva
de gua no lineares. O caudal resultante de cada sub-bacia calculado atravs de um balano
hdrico e hidrulico, onde a gua que entra provm da precipitao e sub-bacias a montante e
a sada de gua inclui infiltraes, evaporao e escoamento superficial, como ilustra a Figura
2.11. A capacidade de armazenamento da sub-bacia est relacionada com a sua configurao,
onde se incluem zonas de acumulao de gua e capacidade de escoamento superficial.
Figura 2.11 Mtodo hidrolgico utilizado pelo SWMM (adaptado do manual SWMM (2013))
No SWMM as bacias so representadas com uma largura e comprimentos definidos, sendo
que a rea da bacia est dividida em zona impermevel e permevel como possvel
visualizar na Figura 2.12.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 19
Figura 2.12 Modelo de sub-bacia utilizada no SWMM (adaptado de SWMM (2013))
2.5.5 Modelos Hidrulicos
Os modelos hidrulicos simulam o comportamento da gua proveniente da precipitao na
bacia e na rede, compreende os processos hidrulicos da gua e as interaes fsicas com o
local.
As leis matemticas que servem de suporte a estes modelos tm origem na integrao vertical
das equaes de Navier-Stokes. Na integrao das equaes de Navier-Stokes considera-se:
A componente da velocidade e acelerao do eixo vertical desprezvel;
A presso hidrosttica;
O fundo com baixa inclinao;
Admite-se que a velocidade horizontal constante na vertical;
Considera-se de uma forma conjunta os resultados dos efeitos da turbulncia e das
tenses tangenciais.
Aplicando estas condies resultam as equaes de Saint-Venant, como explica S Marques et
al. (2013).
Consoante o tipo de escoamento que se pretende simular necessrio avaliar a necessidade de
se usar modelos unidimensionais ou bidimensionais. Os modelos unidimensionais, 1D, so
usados quando se pretende avaliar o escoamento em coletores, canais ou em seces com uma
direo predominante e dimenso bem definidas. As equaes de Saint-Venant para o modelo
1D, (2.2) e (2.3), permitem determinar a altura e caudal mdio do escoamento numa dada
seco, e so descritas da seguinte forma (Lima et al. 2013):
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 20
0A Q
t x
(2.2)
2
0
1 1f
Q Q hg g S S
A t A x A x
(2.3)
Onde:
A rea molhada;
Q caudal;
t tempo;
h altura do escoamento;
x direo do escoamento;
g acelerao gravtica;
S0 declive do canal;
Sf funo do atrito.
Quando por outro lado, se tem a necessidade de avaliar comportamentos onde existe a
possibilidade de escoamento superficial multidirecional, tm de ser utilizadas as equaes de
Saint-Venant para modelos 2D ((2.4), (2.5) e (2.6)):
0h hu hv
t x y
(2.4)
2 2 01
2x fx
uhhu gh huv gh S S
t x y
(2.5)
2 2 01
2y fy
vhhuv hv gh gh S S
t x x
(2.6)
Onde:
u velocidade na direo x;
v velocidade na direo y;
x direo principal do escoamento;
y direo do escoamento perpendicular a x;
S0x declive do canal na direo x;
S0y declive do canal na direo y;
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 21
Sfx funo do atrito na direo x;
Sfy funo do atrito na direo y.
As equaes gerais de Saint-Venant, para os modelos 1D e 2D nem sempre so utilizadas de
forma integral. Existem simplificaes passiveis de serem feitas, mediante o tipo de
simulao/aplicao pretendida. As equaes simplificadas resultam para regimes
permanentes, modelos de onda difusa, de onda cinemtica e de onda dinmica.
Para regimes permanentes as variaes ao longo do tempo no so tidas em conta, resultando
assim as equaes simplificadas ((2.7) e (2.8)):
0Q
x
(2.7)
2
0
1f
Q hg g S S
A x A x
(2.8)
Nos restantes modelos mencionadas so consideradas variaes ao longo do tempo mas a
conservao da massa mantida, logo a equao (2.9) comum a todos os modelos:
0A Q
t x
(2.9)
O que difere entre os vrios modelos a equao da conservao da quantidade de
movimento. Como possvel observar na equao (2.10) para o modelo de onda cinemtica
so desprezados os termos de acelerao e inrcia e apenas se considera o declive e atrito, na
onda difusa (2.11) desprezada a acelerao local e convectiva, e para a onda dinmica (2.12)
considerada a equao completa.
0 0fg S S (2.10)
0 0fh
g g S Sx
(2.11)
2
0
1 10f
Q Q hg g S S
A t A x A x
(2.12)
O campo de aplicao das equaes de Saint-Venant e respetivas simplificaes pode ser
observado na Figura 2.13 (Maksimovic 1996). O grfico da Figura 2.13 apresenta os
resultados em funo do nmero geomtrico (G*) (2.13) e nmero de Froude (F*) (2.14),
sendo que estes parmetros so adimensionais, como indica Leito (2009):
*
e
hG
qS
i
(2.13)
-
Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 22
*q
Fh gh
(2.14)
Em que:
q caudal afluente de percurso;
ie intensidade de precipitao til;
h altura de gua;
g acelerao da gravidade;
S declive do canal.
Figura 2.13 Campo de aplicao das equaes de Saint-Venant e respetivas simplificaes (adaptado de Maksimovic (1996))
2.5.5.1 Sistemas em Carga
Por vezes, devido excessiva precipitao, um dado sistema pode atingir a capacidade
mxima dos coletores, tornando-o num sistema sob presso. Para este caso necessrio
aplicar o conceito de fenda de Preissmann (Butler e Davis 2011). Isto acontece porque as
equaes de Saint-Venant so aplicadas para escoamentos em superfcie livre e em situaes
onde os coletores entrem em carga o escoamento sob presso.
Este conceito admite que quando atingida a capacidade mxima de um coletor considerada
uma abertura imaginria na sua parte superior, fenda de Preissmann (Figura 2.14), permitindo
o escoamento em superfcie livre na conduta e desse modo simular o escoamento sob presso.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 23
Figura 2.14 - Fenda de Preissmann (Butler e Davis 2011)
Uma vez registado este fenmeno sinonimo que o coletor est em carga, logo existe a
possibilidade de o aparecimento de gua superfcie.
A gua superfcie leva a problemas relacionados com inundaes e para um estudo
quantitativo do impacto das mesmas foi necessrio recorrer a novas ferramentas na modelao
de redes de drenagem. Nos anos 90 comeou ento o cruzamento de dados geogrficos com
os modelos de drenagem, que levaram ao desenvolvimento da drenagem dual (Butler e Davis
2011).
2.5.5.2 Drenagem dual
A drenagem dual representa os dois tipos de sistemas existentes num sistema urbano de
drenagem pluvial, o major e o minor (S Marques et al. 2013). O sistema major
representa os caminhos superficiais do terreno, desde ruas, zonas baixas, canais naturais ou
artificias, entre outros elementos. O sistema minor representa a rede de coletores. Na Figura
2.15 possvel observar, num esquema representativo, a distino feita entre o sistema
major e minor.
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Figura 2.15 - Drenagem dual (Lima et al. 2013)
Conforme sintetizam S Marques et al. (2013) a drenagem dual pode ter dois tipos de
abordagens distintas, a 1D-1D e a 1D-2D. As duas abordagens seguem o mesmo modelo
unidimensional para representar o escoamento na rede de coletores, sendo que a diferena
reside no facto de uma assumir o escoamento superficial como unidimensional, 1D-1D, e a
outra representar a superfcie do terreno como bidimensional, tornando-o assim num modelo
1D-2D.
No modelo 1D-1D a superfcie do terreno ir ser representada por canais e zonas de
acumulao de gua (sistema major) que, por sua vez, est ligado ao sistema de coletores
(sistema minor). Os dois sistemas interagem por orifcios que representam os elementos de
entrada e sada de gua dos coletores existentes na rede (Maksimovic et al. 2009). A diferena
na abordagem 1D-2D reside no tratamento dado ao modelo do terreno que, como j foi
referido anteriormente, considerado um modelo bidimensional. Leito et al. (2012) dizem-
nos que o modelo do terreno caraterizado por malhas onde todos os pontos esto definidos
num sistema de coordenadas (X, Y e Z).
Ambos os modelos tm vantagens e desvantagens, a opo por um ou por outro tem em conta
vrios fatores:
No caso do modelo 1D-1D os modelos so mais leves para os softwares e em situaes onde
necessrio correr inmeras simulaes levam grande vantagem sobre os modelos 1D-2D
explicam Allitt et al. (2009). Contudo apenas devem ser aplicados a casos onde a topografia
do terreno seja favorvel simulao 1D-1D, isto , locais onde existam linhas de escoamento
bem definidas.
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
Filipe Miguel Coelho Machado 25
O modelo 1D-2D considerado mais realista pois as superfcies de escoamento no so
limitadas como nos modelos 1D-1D. Isto permite uma visualizao mais clara dos resultados
e estes podem ser demonstrados num mapa o que no acontece num modelo unidimensional,
onde os resultados esto sujeitos a tratamento, tornando a elaborao de mapas de risco e
inundao mais fcil. Estes modelos so mais utilizados quando a superfcie no delimita de
uma forma exata o percurso da gua pluvial, por exemplo, em reas planas. So tambm
muito requeridos quando se pretende simular eventos extremos onde grande parte da
superfcie est coberta por gua (Allitt et al. 2009).
2.6 SWMM
No desenvolvimento desta dissertao, o software utilizado foi o EPA Storm Water
Management Model, SWMM. Este software existe desde 1971 e desde ento tem sofrido
inmeras atualizaes no sentido de ser melhorado, a verso 5.0.022 foi a ltima a ser
disponibilizada e data do ano 2011. O SWMM um modelo dinmico usado para eventos
singulares ou de longo termo em reas urbanas. O programa composto pelos dois tipos de
modelos necessrios simulao para o presente caso de estudo, modelo hidrolgico e
hidrulico.
O escoamento gerado atravs da chuvada criada sob vrias sub-bacias e simula o
escoamento da gua atravs de um sistema de canais, dispositivos de tratamento ou
armazenamento, redes de coletores, bombas e elementos reguladores na rede at ao destino
final. possvel obter no SWMM dados relativos ao volume gerado em cada sub-bacia,
caudais, altura do escoamento e qualidade da gua em cada coletor ou canal.
Uma das ferramentas mais teis do SWMM, para o presente trabalho, a possibilidade de
simular o comportamento hidrulico das redes de drenagem, com a introduo de elementos
criando, desse modo, diferentes cenrios para a rede em estudo.
O SWMM enuncia uma srie de aplicaes bastante comuns na sua utilizao, como por
exemplo:
Dimensionar bacias de reteno para o controlo de cheias e qualidade da gua;
Projetar e dimensionar componentes de um sistema de drenagem para controlo de
cheias;
Mapeamento dos sistemas de canais naturais de escoamento superficial;
Avaliar o impacto da infiltrao e de caudais nos coletores.
Das aplicaes anteriores a que diz respeito ao dimensionamento de bacias de reteno a
que est mais prxima dos objetivos do presente trabalho.
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O SWMM permite ao utilizador escolher entre trs modelos para a simulao do escoamento:
regime permanente, onda cinemtica e onda dinmica.
O modelo de regime permanente bastante simples, para cada intervalo de tempo o
escoamento uniforme e permanente.
O modelo de onda cinemtica simula a variao espacial e temporal do escoamento numa
conduta. Este modelo no tem em considerao curvas de regolfo, logo apenas pode ser
utilizado para condutas com inclinaes positivas.
O modelo dinmico o nico que tem em considerao as equaes de Saint-Venant sem
simplificaes, fornece ao utilizador o nvel da gua no ns e no escoamento ao longo das
condutas e pode ser utilizado em qualquer tipo de rede.
2.7 Drenagem urbana e Sistemas de Informao Geogrfica (SIG)
2.7.1 Introduo
A drenagem dual e os Sistemas de Informao Geogrfica, SIG, so duas reas de estudo que
se podem complementar. Esta relao de tal forma evidente que hoje em dia os SIG
constituem uma ferramenta importantssima na hidrulica e hidrologia. Os SIG so
ferramentas que permitem armazenar, gerir e analisar informao georreferenciada relativa ao
espao e fenmenos que ocorram no mesmo. Segundo Leito (2009) os SIG exploram trs
conceitos a nvel cientfico:
Simplificao no processo de criao de mapas;
Ajudar a relacionar diferentes fenmenos no espao, permitindo novos
desenvolvimentos em inmeras reas;
Serve como base a novos conceitos matemticos.
A capacidade para analisar caractersticas complexas do terreno permitiu nos ltimos anos
elaborar inmeros projetos e modelos com base nos SIG (Estells 2010). Uma rea muito
explorada pela hidrulica quando se conjugam SIG com ferramentas de anlise da superfcie
do terreno, permitindo a criao de modelos digitais do terreno, redes superficiais de
escoamento, informao acerca dos declives, orientaes geogrficas, elaborao de
diferentes mapas para uma determinada zona, entre outros elementos muito uteis em modelos
com caminhos superficiais.
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2.7.2 Modelos digitais do terreno
Na modelao 1D-1D necessrio um modelo digital do terreno. Este tipo de modelos pode
ser obtido atravs da tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging), uma tcnica que
comeou a ser utilizada nos anos 90 (Leito 2009). Com recurso a um transporte areo
utilizado um laser para se medir a distncia entre a aeronave e o solo, o que torna possvel
obter as diferentes alturas superfcie, e com isso, obter o modelo digital do terreno, DTM
(Digital Terrain Model). O DTM resultante possui uma preciso vertical entre 10 e 15 cm e
horizontal de 1 m por 1 m.
2.7.3 Gerao de redes de escoamento superficiais
Uma vez obtido o modelo digital do terreno, necessrio proceder-se ao estudo do mesmo
para que possa ser utilizado em modelos. Nesse estudo pode ser utilizada a metodologia de
Delineao Automtica do Escoamento superficial, AOFD (Automatic Overland Flow
Delineation). Uma ferramenta desenvolvida pelo Urban Water Research Group (UWRG) do
Imperial College of London (Maksimovic et al. 2009). O software AOFD analisa
automaticamente o terreno e a sua ocupao criando a rede respetiva, 1D ou 2D conforme o
pretendido. Na Figura 2.16 possvel visualizar uma zona com caminhos superficiais 1D
gerados pelo AOFD em comparao com uma rede apenas composta por coletores.
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Filipe Miguel Coelho Machado 28
Figura 2.16 Rede superficial 1D e rede superficial 1D-1D com o caminho superficial gerado pelo AOFD
Maksimovic et al. (2009) indicam que este mtodo pode gerar diferentes tipos de caminhos
superficiais, por exemplo:
Entre duas zonas de acumulao de gua;
Zonas de acumulao de gua e as caixas de visita a jusante;
Zonas de acumulao de gua para sadas de gua da bacia;
Duas zonas de acumulao unidas entre si.
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E caso o sistema entre em carga o AOFD consegue representar os caminhos entre uma caixa
de visita:
E a caixa de visita a jusante;
Uma zona de acumulao de gua a jusante;
E sadas de gua da bacia.
Na Figura 2.17 possvel observar o esquema conceptual do modelo criado pelo AOFD. Este
modelo tem de ser ligado rede de coletores existentes de modo a criar a rede final a utilizar.
Figura 2.17 - Canais e zonas de acumulao de gua (Leito et al. 2008)
A rede superficial gerada pelo AOFD, juntamente com a rede de coletores existente,
exportada para o Infoworks, que a par do software SIPSON so os nicos programas para o
qual o AOFD exporta resultados. Como o software utilizado foi o SWMM teve de se adaptar
a rede de modo a que esta pudesse ser utilizada pelo mesmo. Os processos explicados
anteriormente at a elaborao da rede final esto resumidos no esquema da Figura 2.18.
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Figura 2.18 Esquema simplificado dos passos para obteno de uma rede de drenagem dual (adaptado de Adeyemo (2007))
2.8 SUDS
2.8.1 Enquadramento
Nos ltimos anos, como j foi referido anteriormente, o aumento das cidades e da populao
levou a que se tivesse de pensar em solues que no inclussem o aumento dos elementos de
recolha e escoamento de guas pluviais. Comeou por se refletir como seria possvel reverter
a situao registada na Figura 2.3, e chegou-se concluso que teria de se reduzir o caudal de
ponta de cheia mximo. Este facto, aliado filosofia j existente de desenvolvimento
sustentvel, levou ao aparecimento dos Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel, SUDS.
Os SUDS aparecem com o intuito de diminuir o escoamento superficial e ao mesmo tempo
favorecer, sempre que possvel, aspetos ambientais (Figura 2.19). O conceito dos SUDS tem
como propsito estabelecer a ligao entre trs reas distintas, onde se pretende minimizar os
efeitos do crescimento da quantidade e m qualidade da gua e, sempre que possvel,
aumentar a comodidade e biodiversidade nas cidades (Balmforth et al. 2006).
Rede de drenagem
dual
Delimitao das
zonas de acumulao
de gua (ponds)
Delimitao dos
caminhos superficiais
Gerar as seces
transversais
Dados da rede
superficial
Preparao dos
dados para o
software a utilizar
Leituras com o
sistema LiDAR
Preparao dos dados
obtidos (DEM)
Introduo dos dados
no software AOFD
Anlise da superficie pelo
AOFD
Dados da rede de
coletores para o
software a utilizar
Rede de coletores
existente
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Figura 2.19 - Objetivos dos SUDS (Balmforth et al. 2006)
2.8.2 Tipos de SUDS mais comuns
Existem vrias abordagens possveis para a instalao de SUDS nas cidades. O tipo de SUDS
a aplicar numa determinada zona esto condicionados pelo objetivo a atingir, pelas
caractersticas do local, tipo de construo existente, legislao em vigor, propriedades do
solo, entre outras condicionantes. Os elementos mais utilizados, segundo Woods-Ballard et al.
(2006), esto sintetizados no Quadro 2.1.
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Quadro 2.1 SUDS mais comuns (adaptado de Woods-Ballard et al. (2006))
Como possvel verificar, existem diversas solues passveis de serem aplicadas no sentido
de melhorar o comportamento das cidades quando sujeitas a condies hidrolgicas extremas.
No subcaptulo seguinte ser feita uma abordagem mais pormenorizada acerca do mtodo a
utilizar no caso de estudo, bacias de reteno.
Vala
artificial
So canais, relativamente, largos e no muito profundos,
cobertos por vegetao. Esto desenhados para transporte e
armazenamento de escoamento e, consoante o tipo de solo
presente podem permitir infiltrao de gua no solo.
Bacias de
deteno
As bacias de deteno so depresses com superfcie
permevel, onde possvel armazenar gua proveniente da
precipitao. Muitas vezes so parte integrante da esttica e
comodidade paisagstica que um local tem para oferecer.
Bacias de
deteno
extensas
Bacias com maior rea que as bacias de deteno comuns,
retm o escoamento durante um perodo de tempo que pode
ir at 24 horas, levando a uma reduo no pico de descarga.
Bacias de
reteno
Estruturas de armazenamento de gua pluvial. Estas podem ser
a cu aberto ou cobertas e possuir, ou no, gua de uma
forma permanente.
Pntanos
Artificias
A construo de pntanos artificiais leva criao de zonas
inundveis que constituem habitats para animais e plantas.
Trincheiras
de
infiltrao
Geralmente so usadas ao longo de passeios ou caminhos
impermeveis. So compostas por materiais porosos que
permitem a infiltrao das guas provenientes das reas
impermeveis adjacentes.
Superfcies
permeveis
Existem zonas onde pode ser favorvel a adaptao da
superfcie alterando-a para permevel como certos parques de
estacionamento ou passeios onde os solos sejam favorveis
infiltrao de gua.
Telhados
verdes
Consiste em cobrir o topo de um edifcio com vegetao. Tem
de existir um cuidado especial na construo deste tipo de
aplicaes pois necessrio garantir a proteo do edifcio.
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2.8.3 Bacias de Reteno
As bacias de reteno, de todos os SUDS apresentados, so os que tm maior relevncia no
presente trabalho.
A principal funo da bacia de reteno, segundo Matias (2006), a de armazenar gua
proveniente da chuva, atuando como reguladora de caudal a jusante da mesma, isto porque
permite a restituio do caudal a jusante consoante os limites da rede existentes. Esta
funcionalidade permite, para situaes onde o caudal mximo admitido pela rede
ultrapassado, escoar caudais mais baixos durante um maior perodo de tempo, reduzindo
assim o risco de inundaes. As bacias podem ter outras funes como:
A contribuio para o melhoramento da qualidade das guas pluviais;
Caso se tratem de bacias com gua de uma forma permanente podem ter interesse
paisagstico, ambiental e tambm no desenvolvimento da biodiversidade do local
onde esto inseridas, principalmente se forem integradas no meio urbano;
Podem tambm constituir reservas para incndios ou para fins de rega.
Existem dois tipos de bacias, a cu aberto, onde pode haver ou no gua de uma forma
permanente, ver Figura 2.20, ou bacias subterrneas, ver Figura 2.21. Sero abordadas com
mais ateno as bacias de reteno subterrneas, pois sero as utilizadas no presente trabalho.
As bacias subterrneas so estruturas, geralmente, construdas em beto armado e o seu uso
mais frequente em locais com elevada densidade urbanstica.
Figura 2.20 Bacia de reteno a cu aberto de Melun-Snart, Frana (STU 1994)
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Figura 2.21 Bacia de reteno subterrnea em Porto Alegre, Brasil (cortesia de Simes, N.)
Os elementos constituintes de uma bacia so os seguintes, segundo o Artigo 178 da Seco II
Bacias de reteno do RGSPPDADA:
Corpo da bacia;
Dispositivos de funcionamento normal destinados a assegurarem a regularizao
do caudal efluente e a manuteno de um nvel a montante, caso sejam bacias com
gua de uma forma permanente;
Dipositivos de segurana, entenda-se descarregadores de superfcie e
eventualmente diques fusveis. Estes elementos tm a funo de garantir o
escoamento das guas em condies excecionais;
Descarga de fundo, com o objetivo de assegurar o esvaziamento completo das
bacias para tarefas de limpeza e manuteno. Em certos casos pode tambm
funcionar como sistema de segurana.
O dimensionamento hidrulico de uma bacia de reteno consiste no clculo do volume
necessrio ao armazenamento do caudal afluente. Esse caudal corresponde precipitao para
um determinado perodo de retorno ou a um hidrograma de cheia conhecido, isto porque
necessrio controlar o caudal efluente mximo. Na presente dissertao utilizou-se o mtodo
simplificado no clculo do pr-dimensionamento das bacias. Este mtodo baseia-se no
conhecimento das curvas IDF para a bacia em estudo e permite fazer uma estimativa do
volume necessrio para armazenar o caudal afluente que resulte de uma chuvada com
determinado perodo de retorno, de modo a que o escoamento sada da bacia tenha o valor
da capacidade mxima de vazo da rede a jusante. A expresso (2.15) utilizada para clculo
do volume de armazenamento foi retirada do Artigo 179 do RGSPPDADA:
1
60.10 .
1 1
bbqs qsVa C A
b a b
(2.15)
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
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Onde:
6q
qsCA
(2.16)
Em que:
Va Volume armazenamento, m3;
qs caudal especifico efluente, ou seja, o caudal por unidade de rea ativa da bacia de
drenagem, em milmetros/minuto;
C coeficiente de escoamento;
a, b parmetros da curva intensidade-durao;
q caudal mximo efluente, em metros cbicos/segunda;
A rea da bacia de drenagem, em hectares.
importante referir que a equao (2.15) sofreu uma pequena correo. No regulamento no
existe a multiplicao do qs por 60, mas aps revises feitas noutros trabalhos e como
apresenta Matias (2006) concluiu-se que essa correo teria de ser implementada.
2.9 Tendncia para as cidades futuras
Water Sensitive Cities, WSC, e Blue-Green Dream, BGD, so conceitos recentes que tm
como objetivos principais tornar as cidades sustentveis a nvel hdrico e no s. Uma cidade
sensvel aos recursos hdricos disponveis pode beneficiar largamente com o seu bom
aproveitamento. Algumas ideias gerais dos defensores das WSC so que se deve aumentar e
proteger os cursos de gua e zonas hmidas existentes nas cidades, minimizar o risco de
inundaes, e com isto criar espaos verdes que permitam uma limpeza e reciclagem natural
da gua. Estas medidas tero influncia direta no microclima das cidades, permitindo que
estas se tornem mais agradveis paras populaes e sustentveis a nvel hdrico, pois tm
mecanismos que lhes permitem ter um comportamento semelhante ao de uma bacia natural
(CRC@ 2012). Na Figura 2.22 apresenta-se um esquema ilustrativo do caminho a seguir para
se conseguir chegar at s WSC. O conceito BGD defende que se deva interligar a gua
superficial com espaos verdes previamente pensados no ordenamento do territrio de modo a
diminuir o risco de cheias, basicamente defende a criao de uma rede de espaos verdes ao
longo da cidade que escoe para rios ou ribeiras existentes no local, segundo Skilton (2010).
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 2 REVISO BIBLIOGRFICA
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Figura 2.22 - Transformao das cidades em WSC (adaptado de Brown et al. (2009))
Os SUDS, como de esperar, esto intimamente relacionadas com os conceitos abordados no
presente subcaptulo, mas enquanto os SUDS so vistos como elementos singulares
construdos com o intuito de reduzir o caudal de ponta de cheia de um local, os WSC/BGC
so conceitos muito mais abrangentes e profundos para serem aplicados nas cidades. Estes
conceitos defendem uma cidade onde se d um ciclo hidrolgico completo. Para isto ser
possvel so necessrias medidas para que a populao esteja recetiva a mudar os seus hbitos
de modo a se adaptar a um estilo de vida num local ecologicamente sustentvel, a prpria
indstria ter de ser regulada e estar preparada para respeitar regras impostas e as polticas dos
governos e os planeamentos das cidades tero de se direcionar para objetivos ecologicamente
sustentveis (Wong 2008).
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 3 CASO DE ESTUDO/METODOLOGIA
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3 CASO DE ESTUDO/METODOLOGIA
3.1 Caso de Estudo
A zona de estudo do presente trabalho ir ser a bacia da zona central da cidade de Coimbra,
cidade que se situa na zona centro de Portugal, como possvel verificar na Figura 3.1.
Coimbra capital do distrito e considerada uma cidade universitria, onde dos perto de 150
mil habitantes cerca de 40 mil sero estudantes. A Universidade de Coimbra uma
universidade conhecida mundialmente pela sua tradio no ensino e pela sua histria j longa,
por essas razes entre tantas outras, esta universidade tornou-se recentemente Patrimnio
Mundial.
Figura 3.1 Localizao da cidade de Coimbra, Portugal (fonte: Google Earth)
A nvel topogrfico Coimbra possui caractersticas muito irregulares do terreno, por essa
razo recorrente o aparecimento de inundaes na bacia central da cidade. A bacia tem uma
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Modelao Hidrulica de Sistemas Urbanos de Drenagem Sustentvel 3 CASO DE ESTUDO/METODOLOGIA
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rea aproximada de 1.5 km2 e descarrega na ribeira de Coselhas, se