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Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRNCentro de Ciências Exatas e da Terra – CCETPrograma de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG
TESE DE DOUTORADO
CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOFÍSICA DO MEIO
AQÜÍFERO FISSURAL: UMA CONTRIBUIÇÃO AOS
MODELOS DE FLUXO E ARMAZENAMENTO
DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
Autor:Carlos César Nascimento da Silva
Orientador:Prof. Dr. Walter Eugênio de Medeiros
Co-orientador:Prof. Dr. Emanuel Ferraz Jardim de Sá
Tese n° 07 / PPGG
Natal/RN, junho de 2004.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRNCentro de Ciências Exatas e da Terra – CCETPrograma de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG
TESE DE DOUTORADO
CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOFÍSICA DO MEIO
AQÜÍFERO FISSURAL: UMA CONTRIBUIÇÃO AOS
MODELOS DE FLUXO E ARMAZENAMENTO
DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
Autor:Carlos César Nascimento da Silva
Tese de Doutorado apresentadaem 09 de Junho de 2004 paraobtenção do Título de Doutor emGeofísica pela Pós-Graduação emGeodinâmica e Geofísica daUniversidade Federal do RioGrande do Norte.
Comissão examinadora:
Prof. Dr. Walter Eugênio de Medeiros (Orientador – UFRN)Prof. Dr. Emanuel Ferraz Jardim de Sá (Co-Orientador – UFRN)
Prof. Dr. José Geraldo de Melo (UFRN)Prof. Dr. Augustinho Rigoti (UFPR)Prof. Dr. Sérgio Luiz Fontes (ON)
Tese n° 07 / PPGG
Natal/RN, junho de 2004.
“Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático
daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do
que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em
relação a seus próximos e à comunidade. Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contatos vivos com os professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais.
É assim que se expressa e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor "asHumanidades", quero recomendar esta cultura viva, e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitando qualquer vida cultural e
chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico, na inteligência do jovem. Ora, a sobrecarga de espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o recolha como um
dom inestimável, mas nunca como obrigação penosa.“
Albert Einstein em "Como vejo o mundo"
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Agradecimentos
Agradecimentos
Em uma das etapas mais importantes do trabalho, que reflete o mérito
àqueles que participaram de uma forma ou de outra para a conclusão do Curso de
Doutorado e da presente tese, o autor, sem relacionar ordem de citação com grau
de importância, agradece de forma extremamente atenciosa:
A Deus, por ter me dado a força para seguir adiante ao longo dos tantos
percalços durante estes anos de trabalho árduo (por vezes, nem tão árduos!) e
concluir esta tese.
Aos meus orientadores, Walter Eugênio de Medeiros e Emanuel Ferraz
Jardim de Sá, por todos os ensinamentos passados, lições de vida, paciência,
amizade e crédito de confiança. É em casos como este que se verifica o verdadeiro
papel do orientador como professor e amigo!
Ao Geólogo Elmo Marinho de Figueiredo, o qual me deixou “extremamente
emocionado” diversas vezes pelo conhecimento, juventude e ânimo demonstrados
durante os trabalhos de campo.
À CAPES pela concessão de bolsa de doutorado durante alguns anos.
Ao PADCT3-FINEP-CNPq pelo apoio financeiro à pesquisa.
Ao PPGG pelo apoio quanto à infra-estrutura disponibilizada.
À Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte pelo
fornecimento de dados pertinentes ao trabalho.
Ao Hidrogeólogo José Braz Diniz Filho pelas contribuições e análise crítica do
trabalho.
Ao Projeto Água Subterrânea no Nordeste do Brasil (PROASNE), pelos dados
relacionados ao levantamento geofísico aeroportado, nas pessoas de seus
coordenadores Samir Nahass (lado brasileiro) e Yvon Maurice (lado canadense).
Ao Serviço Geológico do Brasil (CPRM) pela interatividade com dados e
profissionais.
Aos demais professores do PPGG/UFRN, pelo compartilhamento dos
conhecimentos ao longo de tantas disciplinas, bem como à sua Coordenação, na
pessoa do Professor Fernando César Alves da Silva, pelos votos de confiança.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Agradecimentos
página ii
À Nilda de Araújo Lima pela extrema eficiência e amizade.
Aos amigos de trabalho, alunos do PPGG, que muitas vezes auxiliaram em
discussões. Em especial a Jesimael Avelino da Silva, Josibel de Oliveira Gomes,
Marcelo José de Carvalho, Maria da Guia Lima, Ana Catarina Fernandes Coriolano e
Cristina Aparecida Domingueti, pelo acompanhamento durante as diversas viagens
de campo. Aos colegas de sala Luciano Formiga Camarão Júnior e Hugo César
Brandão de Miranda, por tantos momentos de descontração e reflexão,
principalmente na análise e interpretação de imagens pertinentes ao trabalho. Ao
colega de curso e agora de profissão, Pedro Xavier Neto, pelo processamento das
linhas de GPR. A Marcos Antônio Leite do Nascimento, Debora do Carmo Souza e
Alex Francisco Antunes, pela disponibilidade na elucidação de tantas dúvidas.
Aos membros externos da comissão examinadora da presente tese, Drs. José
Geraldo de Melo, Augustinho Rigoti e Sérgio Luiz Fontes, pelas valiosas
contribuições acerca dos dados e interpretações aqui contidos.
Aos amigos Alexandre Rodrigo Maul e Andrei de Souza Nissen, pela
oportunidade de tempo que muito auxiliou para a conclusão da tese.
Em especial, aos meus pais, João Gomes da Silva e Maria Violeta
Nascimento da Silva, e meu irmão Sérgio Luiz Nascimento da Silva, pela força e
humildade dispensados nos mais diversos momentos e nas mais diversas situações.
Em especialíssimo, à minha amada esposa, Rita de Cássia Confessor da
Silva, a qual pacientemente me deu incentivo e “me aturou” do seu jeito único de ser
durante tantos anos (que sejam multiplicados por milhões!) e, principalmente, nos
diversos períodos em que estive ausente.
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Resumo
Resumo
A região Nordeste do Brasil apresenta substrato composto principalmente por
rochas cristalinas (em torno de 60% de sua área). Além disso, esta região apresenta
um clima semi-árido ocasionando secas periódicas. Estas características envolvem a
má qualidade da água explotada dos poços existentes na região, associadas a
elevados índices de sais dissolvidos. Não obstante, os recursos hídricos
subterrâneos nesta região ainda são uma fonte muito importante de água para os
consumos humano e animal. Os poços perfurados em rochas cristalinas no Nordeste
do Brasil envolvem um índice médio de sucesso quanto aos poços produtivos da
ordem de 60%, sendo considerado poço produtivo aquele com vazão superior a 0,5
m3/h. Este baixo índice revela a falta de conhecimento sobre as verdadeiras
condições de fluxo e armazenamento da água subterrânea em rochas cristalinas.
Dois modelos de estruturas de fluxo e armazenamento de água subterrânea
em terrenos cristalinos para o Nordeste do Brasil tem sido propostos na literatura. O
primeiro modelo, tradicionalmente utilizado para locar poços desde a década de
sessenta, está baseado no controle de drenagens retilíneas por zonas de falhas ou
fraturas. Este modelo é referido comumente na literatura hidrogeológica brasileira
como o “modelo riacho-fenda”. Com base neste modelo, são enfatizados os locais
mais densamente fraturados – particularmente os pontos de interseção de
drenagens. Com base no modelo riacho-fenda, o trabalho subseqüente de campo
envolve normalmente a análise geológico-estrutural do terreno. Já o segundo
modelo é denominado de “calha elúvio-aluvionar”; este modelo também é descrito
na literatura mas ainda não é incorporado à prática de locação de poços. A estrutura
tipo calha baseia-se na hipótese de que drenagens retilíneas também podem ser
controladas pela foliação da rocha. Eventualmente, dependendo do grau de
intemperismo, uma estrutura pré-existente preenchida por sedimentos (aluvião e
regolito) pode ser desenvolvida de modo a armazenar e produzir água.
Com base na análise de diversos estudos de casos, esta Tese apresenta uma
análise detalhada dos modelos citados, além de propor um novo. A análise está
baseada em uma técnica metodológica integrada que envolveu levantamentos
geofísicos e análise geológica enfatizando a neotectônica. Foram utilizados
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Resumo
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levantamentos geofísicos terrestres (eletro-resistividade e Ground Penetrating Radar
– GPR) e aeroportados (magnéticos e eletromagnéticos no domínio da freqüência).
A análise estrutural enfatizou aspectos da neotectônica. Em geral, foram
identificadas fraturas na direção E-W relativamente abertas, quando comparadas
com as fraturas na direção N-S. Este comportamento é regido pelo campo de
tensões neotectônico do Nordeste do Brasil, o qual é controlado por compressão E-
W e distensão N-S.
O modelo riacho-fenda é válido onde drenagens são controladas por fraturas.
O grau de fraturamento e o intemperismo associado ditam o potencial hidrogeológico
da estrutura. Levantamentos de campo enfocando a geologia estrutural revelam que
as fraturas subverticais apresentam direções consistentes com as feições frágeis
observadas em afloramentos e fotografias aéreas. Levantamentos geofísicos
identificam anomalias de condutividade associadas à rede de fraturas que controla a
drenagem; nestas anomalias, uma de suas bordas coincide com a drenagem. Um
aspecto importante e particular para validar o controle estrutural por fratura é a
presença de anomalias de condutividade relativamente profundas que não
apresentam continuidade ou propagação para a superfície. A origem da elevada
condutividade da anomalia decorre do grau de intemperismo da rocha ou
sedimentos (aluvião ou regolito) armazenando a água subterrânea ao longo da rede
de fraturas. Levantamentos magnéticos são insensíveis a estas estruturas. Em
casos específicos, nos quais a cobertura sedimentar ou o solo são resistivos (> 100
Ohm.m), o GPR pode ser utilizado para imagear precisamente a rede de
fraturamento. Uma limitação principal ao modelo riacho-fenda, revelado por imagens
de GPR, está associada ao fato de que fraturas subhorizontais têm um importante
papel interconectando as diversas fraturas em subsuperfície e por sua vez,
conectando-as com as zonas de recarga em superfície. Por outro lado, caso as
fraturas apresentem um controle secundário da drenagem, o modelo riacho-fenda
terá validade limitada. Neste caso, amplas porções da drenagem não coincidem
espacialmente com as fraturas e desta forma, os poços locados ao longo da
drenagem geralmente são secos. Normalmente, este controle secundário da
drenagem somente pode ser identificado a partir de levantamentos geofísicos.
O modelo calha elúvio-aluvionar é válido onde drenagens são controladas
pela foliação. O grau de intemperismo da foliação dita o potencial hidrogeológico da
estrutura. Análises de afloramentos revelam que as direções da foliação e da
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Resumo
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drenagem são compatíveis entre si e que, caso existam fraturas, a sua direção será
diferente da direção da drenagem. Levantamentos geofísicos indicam condutividade
elevada que pode resultar da resposta de uma calha de sedimentos e/ou regolito
preenchendo os espaços gerados pela forma do relevo e influenciado pelo
intemperismo que atua sobre os planos da foliação. Neste caso, levantamentos
magnéticos podem identificar a direção da foliação. Um aspecto importante para
validar o controle da foliação é a presença de anomalias mostrando porções rasas e
profundas que se interconectam. Na presença de coberturas sedimentares
expressivas, os controles da drenagem segundo as estruturas tipo riacho-fenda ou
calha elúvio-aluvionar podem ser facilmente confundidos na ausência de dados
geofísicos. Certamente, este fato pode ser útil para explicar grande parte do índice
de insucesso na locação de poços em terrenos cristalinos.
Já o modelo bolsões de intemperismo é proposto para explicar casos nos
quais ocorre uma alteração extremamente forte nas rochas cristalinas gerando uma
porosidade intersticial secundária. A água é então armazenada nos poros do regolito
de forma semelhante ao que ocorre nas rochas sedimentares. Um possível exemplo
para este modelo foi detectado em levantamento geofísico terrestre, no qual uma
anomalia de condutividade relativamente profunda foi detectada. A partir do
momento em que esta estrutura tenha a capacidade de armazenar água, é
necessário conectá-la à superfície para garantir o seu suprimento sazonal. Este
modelo pode ser utilizado para explicar as vazões anômalas, superiores a 50 m3/h,
que algumas vezes são encontradas em poços perfurados em rochas cristalinas no
Nordeste do Brasil.
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Abstract
Abstract
Northeastern Brazil is mainly formed by crystalline terrains (around 60% in
area). Moreover, this region presents a semi-arid climate so that it is periodically
subject to drought seasons. Furthermore, ground water quality extracted from wells
usually presents poor quality because of their high salinity contents. Nevertheless,
ground water is still a very important source of water for human and animal
consumption in this region. Well sitting in hard rocks terrains in Northeastern Brazil
offers a mean success index of about 60%, given that a successful sitting is defined
by a well producing at least 0.5 m3/h. This low index reveals lack of knowledge about
the true conditions of storage and percolation of ground water in crystalline rocks.
Two models for structures storing and producing ground water in crystalline
rocks in Northeastern Brazil have been proposed in the literature. The first model,
traditionally used for well sitting since the sixties, is based on the hypothesis that
rectilinear drainages are controlled by faults or fractures zones. This model is
commonly referred, in Brazilian hydrogeological literature, as the “creek-crack” model
(riacho-fenda in Portuguese). Sites appearing to present dense drainage network are
preferred for water well sitting – particularly at points where the drainages cross-cut
each other. Field follow up work is usually based only on geological criteria. The
second model is the “eluvio-alluvial through” (calha elúvio-aluvionar in Portuguese); it
is also described in the literature but it is not yet incorporated in well sitting practice.
This model is based on the hypothesis that rectilinear drainages can also be
controlled by the foliation of the rock. Eventually, depending upon the degree of
weathering, a through-shaped structure filled with sediments (alluvium and regolith)
can be developed which can store and water can be produced from.
Using several field case studies, this Thesis presents a thorough analysis of the
two above cited models and proposes a new model. The analysis is based on an
integrated methodological approach using geophysics and structural geology. Both
land (Resistivity and Ground Penetrating Radar – GPR) and aerogeophysical
(magnetics and frequency domain eletromagnetics) surveys were used.
Structural analysis emphasized neotectonic aspects; in general, it was found
that fractures in the E-W direction are relatively open, as compared to fractures in the
N-S direction, probably because E-W fractures were opened by the neotectonic
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Abstract
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stress regime in Northeastern Brazil, which is controlled by E-W compression and N-
S extension.
The riacho-fenda model is valid where drainages are controlled by fractures.
The degree of fracturing and associated weathering dictate the hydrogeological
potential of the structure. Field work in structural analogues reveals that subvertical
fractures show consistent directions both in outcrop and aerophotograph scales.
Geophysical surveys reveal subvertical conductive anomalies associated to the
fracture network controlling the drainage; one of the borders of the conductive
anomaly usually coincide with the drainage. An aspect of particular importance to the
validation of fracture control are the possible presence of relatively deep conductive
anomalies without continuation or propagation to the surface. The conductive nature
of the anomaly is due to the presence of weathered rock and sediments (alluvium
and/or regolith) storing ground water which occur associated to the fracture network.
Magnetic surveys are not very sensisitive to these structures. If soil or covering
sediments are resistive (> 100 Ohm.m), GPR can be used to image precisely the
fracture network. A major limitation of riacho-fenda model, revealed by GPR images,
is associated to the fact that subhorizontal fractures do play a very important role in
connecting the fracture network, besides connecting shallow recharge zones to
relatively deep subvertical fracture zones. If fractures play just a secondary control on
the drainage, however, riacho-fenda model may have a very limited validity; in these
cases, large portions of the drainage do not coincide with fractures and most of the
wells located in the drainage surrounding would result dry. Usually, a secondary
control on the drainage by the fracture network can be revealed only with detailed
geophysical survey.
The calha elúvio-aluvionar model is valid where drainages are controlled by
foliation. The degree of weathering of the foliation planes dictates the
hydrogeological potential of the structure. Outcrop analysis reveals that foliation and
drainage directions are parallel and that no fractures, or fractures with different
directions of the drainage direction occur. Geophysical surveys reveal conductive
anomalies in a slab form associated to the through of the weathered rock and
sediments (alluvium and/or regolith). Magnetic surveys can offer a very good control
on foliation direction. An important aspect to validate foliation control are the
presence of conductive anomalies showing shallow and deep portions area which
are linked. If there is an extensive soil cover, riacho-fenda and calha elúvio-aluvionar
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Abstract
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controls can be easily misinterpreted in the absence of geophysical control. Certainly,
this fact could explain at least a part of the failure index in well sitting.
The model weathering sack (bolsão de intemperismo in Portuguese) is
proposed to explain cases where a very intensive weathering occur over the
crystalline rock so that a secondary interstitial porosity is created. The water is then
stored in the porous of the regolith in a similar manner to sedimentary rocks. A
possible example of this model was detected by using land geophysical survey
where a relatively very deep isolated conductive anomaly, in a slab form, was
detected. If this structure does store ground water, certainly there must be a link of
the deep structure with the surface in order to provide water feeding. This model
might explain anomalous water yields as great as 50 m3/h that sometimes can occur
in crystalline rocks in Northeastern Brazil.
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Índice
Índice
Agradecimentos ......................................................................................... pág. i
Resumo ....................................................................................................... pág. iii
Abstract ....................................................................................................... pág. vi
Lista de Figuras........................................................................................... pág. xiv
Lista de Tabelas ......................................................................................... pág. xxii
Capítulo I – Introdução
1.1 – Apresentação ...................................................................................... pág. 1
1.2 – Abordagem do problema e objetivos da pesquisa .............................. pág. 2
1.3 – Localização geográfica das áreas estudadas ..................................... pág. 4
1.4 – Guia de leitura ..................................................................................... pág. 6
Capítulo II – Arcabouço geológico regional
2.1 – Apresentação ...................................................................................... pág. 8
2.2 – As rochas pré-cambrianas .................................................................. pág. 8
2.2.1 – O Complexo Gnáissico-Migmatítico ........................................ pág. 8
2.2.2 – O Grupo Seridó ....................................................................... pág. 11
2.2.3 – O Plutonismo Paleoproterozóico ............................................. pág. 12
2.2.4 – O Plutonismo Brasiliano .......................................................... pág. 12
2.3 – Evolução Tectonometamórfica da Faixa Seridó .................................. pág. 13
2.4 – A evolução Meso-Cenozóica ............................................................... pág. 14
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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Capítulo III – Modelos de ocorrência de água subterrânea
em terrenos cristalinos
3.1 – Apresentação do artigo: Reavaliação da abordagem estrutural e
modelos de ocorrência de água subterrânea em terrenos
cristalinos ........................................................................................... pág. 18
3.2 – Introdução ........................................................................................... pág. 19
3.3 – Conceitos clássicos e problemas levantados ...................................... pág. 20
3.4 – Conceitos básicos de geologia estrutural: a deformação frágil ........... pág. 23
3.5 – Cronologia e nível crustal da deformação ........................................... pág. 30
3.6 – O contexto tectônico regional e suas implicações:
o exemplo da Borborema .................................................................... pág. 32
3.7 – Neotectônica e a evolução crustal holocênica .................................... pág. 35
3.8 – Implicações para a hidrogeologia de terrenos cristalinos ................... pág. 37
3.9 – Efeito da exumação e do intemperismo sobre
a permo-porosidade das rochas .......................................................... pág. 45
3.10 – Modelos de ocorrência de água subterrânea
em terrenos cristalinos ...................................................................... pág. 48
3.11 – Observações finais ............................................................................ pág. 51
3.12 – Agradecimentos ................................................................................ pág. 52
3.13 – Referências bibliográficas ................................................................. pág. 52
Capítulo IV – Análise neotectônica: uma abordagem
objetivando a identificação de fraturas abertas
4.1 – Apresentação ...................................................................................... pág. 59
4.2 – Análise neotectônica – caso no domínio centro-sul do RN:
Fracture chronology and neotectonic control of water wells
location in crystalline terrains: an example from the Equador
region, Northeasternmost Brazi ........................................................... pág. 60
4.2.1 – Abstract ................................................................................... pág. 60
4.2.2 – Introduction .............................................................................. pág. 61
4.2.3 – Regional framework ................................................................ pág. 62
4.2.3.1 – The regional geological framework ............................. pág. 62
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4.2.3.2 – The Phanerozoic brittle deformation ........................... pág. 62
4.2.4 – Geology of the Equador area .................................................. pág. 63
4.2.4.1 – Stratigraphic and structural framework ........................ pág. 63
4.2.4.2 – The brittle structures .................................................... pág. 64
4.2.5 – Criteria for location of water wells in crystalline terrains .......... pág. 66
4.2.6 – Correlation between the neotectonic framework
and water well location in the equador area ........................... pág. 67
4.2.7 – Discussions ............................................................................. pág. 68
4.2.8 – Acknowledgments ................................................................... pág. 69
4.2.9 – References .............................................................................. pág. 69
4.3 – Análise neotectônica – casos no domínio leste do RN: Structural
and neotectonic criteria for location of water wells in semi-arid
crystalline terrains: a preliminary approach in the eastern
domain of Rio Grande do Norte State, Northeast Brazil ..................... pág. 71
4.3.1 – Abstract ................................................................................... pág. 71
4.3.2 – Introduction .............................................................................. pág. 72
4.3.3 – Regional geologic and neotectonic framework ........................ pág. 73
4.3.4 – The structural and neotectonic approaches ............................ pág. 74
4.3.5 - Case studies ............................................................................ pág. 75
4.3.6 – Discussion ............................................................................... pág. 78
4.3.7 – Acknowledgments ................................................................... pág. 78
4.3.8 – References .............................................................................. pág. 79
Capítulo V – Análise detalhada do modelo riacho-fenda:
estudo de caso na região de Equador-RN
5.1 – Apresentação do artigo: Resistivity and ground penetrating
radar images of fractures in a crystalline aquifer: a case
study in Caiçara Farm – NE Brazil ....................................................... pág. 81
5.2 – Abstract ............................................................................................... pág. 82
5.3 – Introduction .......................................................................................... pág. 83
5.4 – Geological context ............................................................................... pág. 85
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página xii
5.5 – Geophysical survey ............................................................................. pág. 86
5.6 – Geophysical interpretation ................................................................... pág. 88
5.6.1 – Resistivity method ................................................................... pág. 88
5.6.2 – Ground Penetrating Radar ...................................................... pág. 92
5.6.3 – Compatibility between GPR and resistivity images ................. pág. 94
5.7 – Field analogues ................................................................................... pág. 95
5.8 – Discussions ......................................................................................... pág. 97
5.9 – Conclusions ......................................................................................... pág. 98
5.10 – Acknowledgments ............................................................................. pág. 99
5.11 – References ........................................................................................ pág. 99
Capítulo VI – Aplicação de levantamentos geofísicos
aerogeofísicos na hidrogeologia de terrenos
cristalinos: o caso de Serrinha-RN, NE do Brasil
6.1 – Apresentação ...................................................................................... pág. 102
6.2 – Introdução ........................................................................................... pág. 103
6.3 – A área de Serrinha-RN ........................................................................ pág. 105
6.4 – Descrição do levantamento geofísico aeroportado ............................. pág. 108
6.4.1 – O sistema magnetométrico ..................................................... pág. 109
6.4.2 – O sistema eletromagnético ...................................................... pág. 110
6.4.3 – Os outros sensores ................................................................. pág. 114
6.5 – Interpretação dos dados do levantamento geofísico aeroportado ...... pág. 115
6.5.1 – Interpretação magnética .......................................................... pág. 115
6.5.2 – Interpretação do Modelo Digital de Terreno (MDT) ................. pág. 118
6.5.3 – Interpretação dos dados eletromagnéticos ............................. pág. 119
6.5.4 – Interpretação conjunta ............................................................. pág. 123
6.6 – Poços existentes na área ................................................................... pág. 127
6.7 – Teste de algumas anomalias de condutividade
com geofísica terrestre ....................................................................... pág. 128
6.7.1 – Anomalia compatível com estrutura
tipo calha elúvio-aluvionar ....................................................... pág. 128
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Índice
página xiii
6.7.2 – Anomalia compatível com estrutura
tipo riacho-fenda ...................................................................... pág. 131
6.7.3 – Outros testes realizados .......................................................... pág. 132
6.8 – Considerações finais ........................................................................... pág. 135
6.9 – Referências ......................................................................................... pág. 138
Capítulo VII – Considerações finais ......................................................... pág. 140
Capítulo VIII – Referências ........................................................................ pág. 144
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Lista de figuras
Lista de figuras
Figura 1.1 – Área geográfica do Polígono das Secas ........................................................... pág. 2
Figura 1.2 – Localização geográfica das áreas estudadas ................................................... pág. 5
Figura 2.1 – Contexto geológico da Província Borborema ilustrando a localização dasáreas estudadas (modificado de Jardim de Sá 1994) ............................................................ pág. 9
Figura 2.2 – Localização das áreas estudadas no contexto geológico do Estado do RioGrande do Norte (modificado do Mapa Geológico do Rio Grande do Norte 1998) ............... pág. 10
Figura 2.3 – Evolução tectono-sedimentar da Bacia Potiguar conforme Françolin eSzatmari (1985): (a) Jurássico; (b) final do Neocomiano; (c) aptiano e albiano; (d)Santoniano; (e) Maastrichtiano .............................................................................................. pág. 15
Figura 2.4 – Evolução tectono-sedimentar das Bacias do Nordeste oriental conformeMatos (1994): (a) estágio Sin-Rifte I no Jurássico superior; (b) estágio Sin-Rifte II durante o Neocomiano; (c) estágio Sin-Rifte III no Barremiano Inferior .............................................. pág. 16
Figura 2.5 – Configuração das tensões regionais neotectônicas no NE do Brasil. As setas em preto a oeste representam a compressão da Cadeia Andina; em preto a leste estárepresentada a compressão da Cadeia Meso-oceânica; as setas em branco representamo stress extensional transversal à linha de costa (modificado de Assumpção 1992) ............
pág. 18
Figura 3.1 – Estruturas que controlam a ocorrência de água subterrânea em rochascristalinas. (a) Juntas; (b) Falhas e zonas de falhas; (c) Contatos geológicos; (d)Superfícies de foliação (incluindo zonas de cisalhamento), quando intemperizadas (oefeito do intemperismo é indicado por traços mais grossos, próximos à superfície) ............. pág. 21
Figura 3.2 – O conceito de riacho-fenda. As fraturas são inferidas a partir de trechosretilíneos e cotovelos da drenagem. É necessário verificar, em campo, a ocorrência deintenso fraturamento em afloramentos adjacentes, paralelo ao trend fotointerpretado, para validar o modelo. Trechos retilíneos da drenagem também podem ser controlados pelafoliação das rochas ................................................................................................................ pág. 22
Figura 3.3 – Formação ou reativação de fraturas, visualizada no diagrama de Mohr. (a)Atuando numa rocha cuja condição de ruptura é dada pelo envelope de Mohr, o estado de tensões 1 (tensão diferencial mais baixa) originaria juntas de distensão (ângulo θ próximo de 90°); o estado de tensões 2 originaria fraturas de cisalhamento (ângulo θ próximo de60°). (b) O estado de tensões 1 não origina fraturas na rocha; com aumento da pressão de fluidos (Pf) nos poros e aberturas, a tensão normal efetiva é reduzida (o círculo se desloca para a esquerda no gráfico, configurando o estado de tensões 2) e a rocha seria fraturada. (c) Considerando um estado de tensões específico, o mesmo é insuficiente para originarfraturas numa rocha sã (envelope 1), reativa fraturas pré-existentes, parcialmente seladas, um trend determinado (envelope 2, com parâmetro c reduzido), e reativa um amplo leque(direcional) de fraturas não cimentadas, desprovidas de coesão (envelope 3, parâmetro cnulo) ....................................................................................................................................... pág. 26
Figura 3.4 – Regimes de cisalhamento e estruturas frágeis resultantes. Atentar para o tipo e relação angular das fraturas desenvolvidas. O esboço é válido para mapa ou cortesverticais; todavia, as falhas, conforme representadas pelos símbolos usuais, seriam assim desenvolvidas num contexto de transcorrência – ver Figura 3.5 (ou seja, no caso das
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falhas, a figura representa adequadamente a visão em mapa). No cisalhamento geral, ocomponente de cisalhamento puro poderia ser de contração (conforme representado;corresponderia a uma cinemática de transpressão no contexto de transcorrência) ou dedilatação (designado de transtração no caso de transcorrência) ........................................... pág. 26
Figura 3.5 – Falhas, eixos de tensões e regimes cinemáticos. Por simplicidade e além das falhas, foram representadas apenas as juntas de distensão, em cada caso. O eixo σ2 ésempre ortogonal aos demais. Convencionamos representar σ1 como compressão e σ3como tração. Todavia, qualquer um (ou todos) dos três eixos pode ser compressivo outrativo (ou neutro), embora necessariamente obedecendo à relação σ1 = σ2 = σ3 .............. pág. 27
Figura 3.6 – Conexões e a geometria 3-D dos tipos básicos de falhas. Em qualquer umdos regimes cinemáticos principais (contracional, distensional, transcorrente), falhas derejeito direcional convivem com falhas normais, inversas ou oblíquas .................................. pág. 28
Figura 3.7 – Movimento relativo de blocos crustais ou litosféricos (placas), e o regimecinemático e estruturas induzidas nos seus limites. O diagrama é esquemático erepresenta a superfície da Terra (visão em mapa). No centro do diagrama, estãocolocados dois blocos/placas na posição original, adjacentes. As setas indicam omovimento relativo dos blocos, que na periferia da figura estão deslocados entre si,lateralmente (linha horizontal no diagrama), ortogonalmente (coluna vertical, com lacunasou áreas de sobreposição) ou obliquamente (linhas diagonais). As estruturas resultantesestão representadas esquematicamente ao lado de cada par de blocos. As abreviaturassão: IC, falhas inversas ou contracionais; ND, falhas normais ou distensionais; TD e TS,falhas transcorrentes dextrais e sinistrais, respectivamente; ODD/TTD e ODS/TTS, falhasoblíquas distensionais/transtrativas, dextrais e sinistrais, respectivamente; OCD/TPD eOCS/TPS, falhas oblíquas contracionais/transpressivas, dextrais e sinistrais,respectivamente ..................................................................................................................... pág. 29
Figura 3.8 – (a) Arcabouço tectônico da Província Borborema e bacias mesozóicas,Nordeste do Brasil. (b) O detalhe reproduz a Faixa Seridó e, a norte, a Bacia Potiguar.Adaptado de Jardim de Sá (1994) e do Mapa Geológico do Estado do Rio Grande doNorte (1998) ........................................................................................................................... pág. 33
Figura 3.9 – Cinemática dos principais episódios de deformação e estruturas frágeisfanerozóicas na Faixa Seridó e domínios adjacentes (Província Borborema, Nordeste doBrasil). (a) Final do Neoproterozóico ao Cambro-Ordoviciano, durante a exumação dacadeia colisional/transpressiva brasiliana; (b) À esquerda (i), rifteamento no Cretáceoinferior (Neocomiano), sucedido (conforme ilustrado à direita) pela (ii) evoluçãotransformante ao longo da margem equatorial, a partir do Barremiano-Aptiano; (c)Domeamento intraplaca durante o Neógeno-Pleistoceno, cujos efeitos sãosumperimpostos (e eventualmente dominantes) sobre outros regimes contemporâneos;(d) Tectônica holocênica; compressão E-W através da Placa Sul-Americana,provavelmente ativa desde o final do Cretáceo; na margem equatorial, o regime B(i)também condiciona a deformação desde o final do Cretáceo ............................................... pág. 34
Figura 3.10 – Modelo cinemático para a deformação Neógena na crosta superior doNordeste do Brasil (Jardim de Sá et al. 1999). O alçamento do Platô da Borborema éatribuído a uma anomalia térmica (pluma mantélica); a porção superior, frágil, da litosfera(incluindo boa parte da crosta continental) teria sido submetida a uma distensão geral(esforços tracionais) no plano horizontal, mais acentuada na direção E-W. Variações napressão litostática (erosão, deposição) e na pressão de fluidos ocasionam permutaçõesentre eixos de magnitude similar (σ1, σ2), conduzindo à formação alternada detranscorrências e falhas normais ........................................................................................... pág. 35
Figura 3.12 – Nível de erosão e extensão de fraturas em profundidade. Os casos (b) e (c) correspondem a fraturas com bom potencial hidrogeológico (por vezes inesperado, casob). Em (d), a fratura desaparece rapidamente em profundidade, conduzindo a resultadosnegativos na perfuração de um poço ..................................................................................... pág. 39
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Figura 3.13 – O sucesso de um poço é função do número de fraturas produtorasinterceptadas. Em regiões com fraturas dominantemente de alto ângulo (como noNordeste do Brasil) e seguindo este parâmetro, os poços deveriam ser inclinados, demodo a obter maiores vazões. Poços verticais são mais adequados para regiõesdominadas por fraturas de baixo ângulo. Ver discussões adicionais no texto ....................... pág. 40
Figura 3.14 – Conectividade de fraturas e a permo-porosidade estruturalmente induzidaem rochas cristalinas. Contrastar as situações: (i) juntas e falhas isoladas (menorfavorabilidade, salvo grandes fraturas em orientação favorável, abertas) vs. uma rede defraturas interconectadas ao longo de uma zonas de falha (maior favorabilidade); (ii)fraturas isoladas (poço seco ou de baixa produção), fraturas de baixo ângulo conectandojuntas de distensão isoladas (vazões medianas), idem, também interconectando zonas de falhas (poços com maiores vazões). Ver discussões adicionais no texto .............................. pág. 41
Figura 3.15 – Alguns condicionantes para o fluxo de fluidos ao longo de fraturas emrochas cristalinas, gerando sistemas naturais de bombeamento. (a) e (b) são situações na ausência de tensões neotectônicas, todavia presentes em (c) e (d). As setas simplesindicam o fluxo de água. (a) Infiltração dominada pela gravidade; fluxo ascensional capilar subordinado.(b) Infiltração idem; fluxo ascensional controlado pela carga litostática; a água infiltrada e acumulada em fraturas de baixo ângulo (em “fechamento”), é pressurizada eescoada para cima ao longo de descontinuidades abertas (fraturas em alto ângulo). (c)Descontinuidade em baixo ângulo, interceptada por falha com reativação normal; no bloco do teto, o movimento (aliado ao peso do bloco) expulsa água contida ao longo dadescontinuidade, que migra para o bloco do muro (descomprimido ao longo dadescontinuidade) e para cima, aproveitando a falha. (d) Fluxo de água ao longo de umafalha transcorrente, de um sítio em transpressão/contração a um sítio emtranstração/dilatação .............................................................................................................. pág. 43
Figura 3.16 – Sistemas de bombeamento tectônico; as setas simples indicam o fluxo deágua. (a) Sítios de contração (onde ocorre expulsão da água) e de dilatação(acumuladores de água), em terminações e cotovelos (jogs) de falhas ativas. (b) Abertura intermitente de fraturas de cisalhamento conjugadas, durante deformação progressiva ...... pág. 43
Figura 3.17 – Lineamentos e zonas de fraturas: o problema da escala. (a) Lineamentointerpretado a partir de uma imagem de satélite (escala 1:100.000 ou menor),representado como um traço único; (b) No detalhe de uma fotografia aérea (1:10.000 a1:70.000), o mesmo lineamento pode se apresentar segmentado; (c) Na escala de campoe da locação final do poço, podem ocorrer fraturas em orientações distintas ....................... pág. 44
Figura 3.18 – Intemperismo e abertura de fraturas e outros tipos de descontinuidades, em profundidades rasas. (A) Isoladamente, os fatores descompressão + intemperismotendem a abrir os planos de descontinuidades com orientações variadas. (B) Na presença de tensões neotectônicas, algumas fraturas (em baixo ângulo com σ1) serãopreferencialmente abertas. Na figura, a espessura do traço das fraturas é proporcional ao seu comportamento de abertura ............................................................................................ pág. 46
Figura 3.19 – Corte esquemático ilustrando o desenvolvimento de câmaras ou bolsões de rocha intemperizada em subsuperfície, controlados por litologias e, em especial,estruturas, podendo se conectar com sítios vizinhos. As águas superficiais, infiltradas apartir de coberturas e do escoamento superficial via fraturas, formam acumulações nosbolsões porosos. Notar a produtividade diferencial dos poços, em função do tipo e volume de material (rocha fresca ou alterada) interceptado. A escala vertical, exagerada na figura, pode superar uma ou mais centenas de metros .................................................................... pág. 47
Figura 3.20 – Modelo Riacho-Fenda. Observar o intenso fraturamento paralelo ao trechoretilíneo da drenagem, que também inclui “cotovelos”. As fraturas são periodicamenterecarregadas pela drenagem. Simbologia cf. Figura 3.19 ..................................................... pág. 49
Figura 3.21 – Modelo Calha Elúvio-Aluvionar. Neste modelo, a drenagem não evidenciacontrole por fraturas; trechos retilíneos podem ser paralelos à foliação do cristalino. A
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drenagem flui sobre uma calha de aluviões antigos e paleo-regolito. Simbologia cf. Figura3.19 ........................................................................................................................................ pág. 50
Figura 3.22 – Modelo Bolsões ou Câmaras de Intemperismo. Caracterizado porintemperismo diferencial pronunciado, controlado por fraturas, fabric, litologias e tensõesneotectônicas. A permo-porosidade aumenta na zona intemperizada, que pode seconectar com outras adjacentes, via rede de fraturas e outros tipos de descontinuidades.Simbologia cf. Figura 3.19 ...................................................................................................... pág. 51
Figure 4.1 – Geographical (1a), geological (1b) and lineament (fracture) (1c) maps of theEquador area .......................................................................................................................... pág. 64
Figure 4.2 – Simplified geologic and structural map of the Caiçara area, Equador (location in Figure 4.1c) ........................................................................................................................ pág. 68
Figure 4.3 – Geographic location of the studied areas .......................................................... pág. 72
Figure 4.4 – (a) Photolineament map of Santo Antônio region; (b) location of the alluvium and regolith ............................................................................................................................. pág. 76
Figure 4.5 – (a) Photolineament map of Santa Cruz region; (b) location of the group thewells, in Santa Rita Farm; (c) schematic section of the through-type model .......................... pág. 77
Figure 5.1 – Regional geographic (a) and geological (b) contexts of Caiçara farm, which is localized near Equador city, Rio Grande do Norte State, Northeastern Brazil ....................... pág. 84
Figure 5.2 – Photograph of an outcrop of quartzite, near Caiçara farm, displayingsubvertical fractures orthogonally distributed along N-S and E-W directions (the head ofthe hammer points to the North). E-W fractures are relatively open in comparison withthose of N-S trend. Probably, E-W fractures were opened by the current neotectonic stress field ......................................................................................................................................... pág. 86
Figure 5.3 – (a) Lithologic map of Caiçara farm. Drilled wells, the main drainage and lines along which the geophysical survey was done are superposed. (b) Photograph of the sitetaken from point and direction identified in (b) by a black arrow on line -140 m. Thedistance between a productive and a dry well can be of only 20 m. Apparent resistivity data were measured at all lines. GPR data was obtained only in line 0 m using 200, 80, and 40 MHz ........................................................................................................................................ pág. 87
Figure 5.4 – Schlumberger sounding and its interpretation using 1-D model with fourlayers parallel to the Earth’s surface. Because mean resistivity values for soil andsedimentary cover is around 100 Ohm.m, GPR imaging was possible ................................. pág. 89
Figure 5.5 – Apparent resistivity map of the site (a) and its interpretation (b). Schlumberger array, AB/2 = 50 m. In (b), superposed to a dominant high resistivity discontinuity,approximately localized by the dashed line, a pattern of N-S and E-W ortoghonal fractureswas interpreted (black lines). The discontinuity is associated to the lithologic contactbetween micashists in the NW side and quartzite in the SE side, of the map area. Wellyield results can be explained as a function of their siting in relation to the fracture set (see text for discussion) ................................................................................................................. pág. 90
Figure 5.6 – Apparent resistivity pseudo-sections along lines +50 m (a), + 25 m (b), 0 m(c), -35 m (d), -70 m (e), -105 m (f), and -140 m (g). Schlumberger array. Stations weredone at regular interval of 20 m and, in each station, apparent resistivity data weremeasured using AB/2 values equal to 2, 5, 10, 20, and 50 m. Black lines representinterpreted discontinuities associated to fracture zones ......................................................... pág. 91
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Figure 5.7 – Processed radargram (200 MHz) along line 0 m (a) and its interpretation (b).Bottom surface of the alluvium deposit was identified. Diffraction patterns betweenstations -60 m and 0 m are generated at the top of the fractures in quartzite. Relatively low quality image between stations 40 m and 0 m is probably due to conductive soil resultingfrom the micaschist weathering. Vertical exaggeration is approximately equal to 5 .............. pág. 93
Figure 5.8a – Processed radargram (40 MHz) along line 0 m ............................................... pág. 93
Figure 5.8b – Processed radargram (40 MHz) along line 0 m and its interpretation. Threesets of structures were interpreted: subhorizontal fractures dipping to SW (parallel to theductile foliation), subhorizontal fractures dipping to NE (oblique to the ductile structures),and subvertical fractures. Vertical exaggeration is approximately equal to 4 ......................... pág. 94
Figure 5.9 – Geometric elements (bottom surface of the alluvium deposit and fracturesets) obtained from GPR interpretation shown without vertical exaggeration. True dips arethen represented .................................................................................................................... pág. 94
Figure 5.10 – Apparent resistivity pseudo-section along line 0 m with superposition offracture sets interpreted from 40 MHz radargram. Good superposition of conductivityanomalies with fracture sets occur, particularly for subhorizontal fractures dipping to NEand oblique to the ductile foliation. This set of fractures probably plays a very importantrule in connecting subvertical fractures with recharge zones (alluvium deposits). Verticalexaggeration is approximately equal to 2. See text for details about depth conversion inboth methods .......................................................................................................................... pág. 95
Figure 5.11 – Photographs taken in the plateau scarpment near Caiçara farm, where thequartzite is exposed (a and b). (a) Shows subvertical (or high angle) fractures and two sets of subhorizontal structures, one of them parallel to the foliation of the quartzite. In the field, this last set of structures was identified as relief joints. (b) Shows subvertical fracturesalmost regularly spaced at about 20 m. Compare these field anologues with Fig. 5.9,obtained by the GPR interpretation. (c) Shows a block diagram summarizing structuralinterpretation at this site ......................................................................................................... pág. 96
Figure 5.12 – Schematical representation of main drainage, lithologic contact andsubvertical fracture sets at Caiçara farm. It appears that the drainage is dominantlycontrolled by the lithologic contact and has only minor influence of the fractures. A rank ofhydrogeologic potentiality of possible water well sites as function of fracture density andproximity to the recharge zone is suggested (see text for detailed description) ..................... pág. 98
Figura 6.1 –Localização geográfica da área de Serrinha e sua contextualização geológica no MSJC (baseado no Mapa Geológico do Estado do RN) ................................................... pág. 106
Figura 6.2 – Mapa geológico da porção a NW de Serrinha-RN. Os diagramas de rosetademonstram a disposição angular das fraturas identificadas naqueles setores da área(Lima 2002) ............................................................................................................................ pág. 107
Figura 6.3 – Sistema de aquisição geofísica: (a) montagem fotográfica em visãopanorâmica do sistema geofísico aeroportado durante o vôo; (b) detalhe do momento dadecolagem da aeronave e do bird que comporta os sistemas eletromagnetométrico(Aerodat-DSP-99) e magnetométrico ..................................................................................... pág. 109
Figura 6.4 – Mapa do campo magnético total reduzido do IGRF .......................................... pág. 110
Figura 6.5 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 900 Hz, arranjo horizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o. pág. 112
Figura 6.6 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de4.500 Hz, arranjo horizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az einclinação 45o ......................................................................................................................... pág. 112
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Figura 6.7 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de33.000 Hz, arranjo horizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az einclinação 45o ......................................................................................................................... pág. 113
Figura 6.8 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 900 Hz, arranjo vertical coaxial. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o ...... pág. 113
Figura 6.9 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de4.500 Hz, arranjo vertical coaxial. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o .. pág. 114
Figura 6.10 – Mapa pseudo-iluminado do Modelo Digital do Terreno (MDT). Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o ................................................................................ pág. 115
Figura 6.11 – Mapa do campo magnético total reduzido do IGRF com aplicação de filtrolow-pass de 5 km. É interessante notar as duas regiões magneticamente contrastantes(centro-norte e centro-sul), além do trend NNE regional que inflete para E-W na porçãocentral do mapa ...................................................................................................................... pág. 116
Figura 6.12 – Mapa do campo magnético total com aplicação de filtro high-pass de 5 km.Neste caso são ressaltadas as anomalias de menor comprimento de onda relacionada aestruturas dúcteis ................................................................................................................... pág. 117
Figura 6.13 – Mapa interpretado do campo magnético total com aplicação de filtro high-pass de 5 km. Neste caso são ressaltados os trends dúcteis observados em campo (embranco), bem como o que define um dos ramos da Zona de Cisalhamento Rio Jacu (curva em preto) ................................................................................................................................ pág. 118
Figura 6.14 – Mapa pseudo-iluminado interpretado do Modelo Digital do Terreno – MDT(vide versão não interpretada na Figura 6.10). Os traços brancos representam osprincipais lineamentos identificados; de uma forma geral, os de trend NNE estãoassociados à foliação, enquanto que os NW a zonas de fratura; em preto, a linha de altatensão existente na área. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o .............. pág. 119
Figura 6.15 – Caracterização de campo de domínios geoelétricos contrastantes: (a)domínio relativamente condutivo representado por regiões capeadas por coberturassedimentares arenosas (fotografia obtida nas proximidades do ponto de coordenadas9310000 km N e 209000 km E, na porção extremo E da área, com visada na direçãoleste) e (b) domínio relativamente resistivo caracterizado por regiões com embasamentosubaflorante, e ausência de capeamento ou solo espessos (fotografia obtida no ponto decoordenadas 9307000 km N e 214000 km E, na porção centro-sul da área) ........................ pág. 120
Figura 6.16 – Mapa de condutividade aparente para freqüência de 4.500 Hz, arranjohorizontal coplanar, com aplicação de filtro low-pass de 2 km. O traço em preto esboça olimite aproximado da ocorrência de coberturas sedimentares mais espessas (a norte), otracejado indica um exemplo de anomalia condutiva de grande amplitude, enquanto que o branco contínuo representa o leito do Rio Jacu, principal drenagem da área ....................... pág. 121
Figura 6.17 – Mapas residuais pseudo-iluminados de condutividade aparente, com filtrohigh-pass de 2 km não interpretado (a) e interpretado (b) para a freqüência de 4.500 Hz,arranjo vertical coaxial. Em (b), as principais feições incluem fraturas (em preto contínuo),foliação (amarelo tracejado com contorno preto) e limite da zona de cobertura (pretopontilhado com contorno branco). Os círculos amarelos numerados indicam os poços para água existentes na área (vide Tabela 6.2). O ponto em vermelho (SE), a leste do poço 5,representa o local no qual foi executada sondagem elétrica, enquanto que a simbologiaSG com o traço ENE, imediatamente a norte do poço 3, representa a seção geoelétricarealizada transversalmente à Lagoa do Bom Pasto. Em preto pontilhado na porção lestedo mapa, com direção NE, a localização de uma linha de tensão. Declinação da fonte deiluminação 45o e inclinação 45o .............................................................................................. pág. 122
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Figura 6.18 – Superposição das principais feições interpretadas do mapa decondutividade aparente (em azul), do mapa magnetométrico (em vermelho, ao longo dotrend dúctil) e do MDT (em preto, ilustrando as drenagens). Em cinza, a zona comcobertura sedimentar mais espessa ou solo mais desenvolvido delimitados a partir demapas de condutividade aparente. As elipses em laranja representam exemplos empotencial de estruturas de acumulação de água subterrânea do tipo riacho-fenda (1 e 4 ?) e calha elúvio-aluvionar (2 e 3 ?). Vide maiores explicações no texto ................................... pág. 125
Figura 6.19 – Composições do mapa residual da condutividade aparente (freqüência de4.500 Hz, arranjo vertical coaxial e filtro high-pass de 2 km) com o MDT (forma de relevo). Em (a) as setas em cinza marcam uma estrutura NW associada a uma anomaliacondutiva e topografia rebaixada, enquanto que a elipse em branco marca uma anomaliacondutiva NW, subparalela ao trend frágil, em alto topográfico; em (b) as setas em cinzamarcam a anomalia condutiva ao longo do Rio Jacu, o qual flui ao longo de uma zona de cisalhamento, enquanto que a elipse em branco marca uma anomalia condutiva NE emalto topográfico, subparalela ao trend dúctil. Exagero vertical de 20x, declinação da fontede iluminação 45o e inclinação 45o ......................................................................................... pág. 126
Figura 6.20 – Detalhe do mapa pseudo-iluminado de condutividade aparente (freqüênciade 4.500 Hz, arranjo vertical coaxial, Fig. 6.17), mostrando drenagem (em preto)associada à anomalia condutiva e com trechos controlados alternadamente por foliação(NE – retângulo em branco) e por fratura (NW – retângulo em amarelo). O polígono embranco representa a posição do levantamento geofísico terrestre de eletro-resistividade,ao longo da estrutura tipo calha elúvio-aluvionar. O polígono em amarelo indica olevantamento de eletro-resistividade ao longo de estrutura riacho-fenda. O círculo amarelo representa o poço produtivo existente na área. Declinação da fonte de iluminação 45o einclinação 45o ......................................................................................................................... pág. 129
Figura 6.21 – Mapa de resistividade aparente obtido com o método da eletro-resistividadeno arranjo Schlumberger (AB/2 = 50 m) ao longo de anomalia condutiva aero-eletromagnética mostrada na Figura 6.20. A drenagem está representada em tracejado,ao longo da estação 0 m. A foliação é concordante com a drenagem no local e mergulha35o para NW ........................................................................................................................... pág. 130
Figura 6.22 – Seção geoelétrica 0 m (vide localização na Fig. 6.21) ortogonal ao trecho da drenagem controlado pela foliação. Observam-se linhas de isoresistividade aparentehorizontalizadas a NW da estação 0 m (posição da drenagem) imersas em uma zonacondutiva e um padrão de linhas com gradiente mais elevado na porção SE, indicandodomínio resistivo .................................................................................................................... pág. 130
Figura 6.23 – Mapa de resistividade aparente obtido pelo método da eletro-resistividade(arranjo Schlumberger, AB/2 de 50 m), ao longo de anomalia condutiva eletromagnética.Trecho da drenagem, em preto tracejado, compatível com direção de fraturas NWobservadas em campo ........................................................................................................... pág. 131
Figura 6.24 – Seção geoelétrica 90 m (vide localização na Fig. 6.23), ortogonal ao trecho da drenagem (estação 0 m) controlado por fratura. Nas estações -20 m e 60 m observam-se anomalias condutivas verticalizadas, que podem indicar zonas fraturadas emprofundidade. Toda a região condutiva, observada para pequenas aberturas de eletrodos, está associada com material argilo-arenoso saturado em água, carreado pela drenagem ... pág. 132
Figura 6.25 – Seção geoelétrica ortogonal à Lagoa do Bom Pasto, a qual apresentadireção similar à direção de fraturas na região (NW). As bordas da lagoa, delimitadas em superfície pelas estações 0 e -100 m, apresentam linhas de isoresistividadesubverticalizadas, além daquelas observadas na estação -60 m, para AB/2 superiores a50 m. Pode-se ainda observar uma feição condutiva subhorizontalizada entre as estações 40 e 160 m (AB/2 de 50 m), imersa em uma zona resistiva, a qual pode significar umacentuado grau de alteração das rochas (“bolsão de intemperismo”?) ................................. pág. 134
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Figura 6.26 – Sondagem elétrica realizada na Lagoa de Baixa Verde (vide Figura 6.17b),para verificar a espessura dos capeamentos sedimentares daquela região. Para pequenas aberturas de eletrodos AB/2 (em torno de 8 m), os valores de resistividade aparente já seencontram associados à assíntota de 45o, a qual define o substrato cristalino e ocaracteriza como raso (em torno de 3 m de profundidade) ................................................... pág. 135
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Lista de tabelas
Lista de tabelas
Tabela 6.1 – Skin Depth (SD) e Profundidades de investigação (DP) para as diversasfreqüências utilizadas (f) no método Aerodat-DSP-99, com base na resistividade teóricado substrato (ρ) .................................................................................................................... pág. 111
Tabela 6.2 – Dados de profundidade, vazão e resíduo seco dos poços existentes naárea do levantamento geofísico aerotransportado (SERHID/RN, 2000) ............................. pág. 127
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
Capítulo I – Introdução
1.1 – Apresentação
Grande parte da região Nordeste do Brasil (NE) constitui o chamado Polígono
das Secas (Fig. 1.1), que engloba uma área de 1.237.000 km2 (cerca de 80% da
região), na qual há grande escassez de água. O clima ali predominante é o semi-
árido, o qual se caracteriza por curtos períodos de chuvas, normalmente de 3 a 4
meses por ano, alternados por períodos mais longos de estiagem que,
eventualmente, podem perdurar por vários anos. Nos períodos de estiagem, as
taxas de insolação são elevadas e provocam intensa evaporação da água contida
nos reservatórios de superfície, da ordem de 1,5 metros por ano, afetando a sua
preservação durante os longos períodos de estiagem. Por outro lado, o clima semi-
árido não afeta fortemente as reservas hídricas em subsuperfície, basicamente
interferindo apenas na recarga sazonal do meio aqüífero. Em função da pequena
variação das reservas de água subterrânea, ao menos quando comparadas com as
superficiais, o meio aqüífero é tido como estratégico para a subsistência da
população da região e para o seu desenvolvimento econômico, muitas vezes
representando o único meio de suprimento d’água.
De modo independente, mas contribuindo para agravar os efeitos provocados
pelo clima semi-árido, cerca de 70% do substrato da área do Polígono das Secas é
composto por rochas cristalinas, em geral rochas metamórficas e ígneas plutônicas
(Fig. 1.1). Do ponto de vista hidrogeológico, a principal característica destas rochas
é o fato de que a sua porosidade intergranular é desprezível. Desta maneira, a
principal forma de percolação e armazenamento da água ocorre ao longo das
descontinuidades aproximadamente planares existentes no substrato.
Geologicamente, estas descontinuidades são representadas por falhas, fraturas,
foliações ou contatos geológicos intemperizados. Tipicamente, é muito difícil
identificar/localizar com precisão estas estruturas, bem como caracterizá-las quanto
ao mergulho, grau de interconectividade e atual comportamento (“aberto” ou
“fechado”). A presença de coberturas de diversas naturezas (autóctones e/ou
alóctones), capeando o substrato, e a ausência de modelos que ilustrem o real modo
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
página 2
de percolação e acumulação da água subterrânea contribuem ainda mais para
dificultar a tarefa de caracterização do meio aqüífero fissural.
MA
PI PB
PE
BA
AL
CERN
Polígono das Secas
Rochas sedimentares
Rochas cristalinas
L E G E N D A
Natal
João Pessoa
Recife
Maceió
Aracaju
Fortaleza
São Luis
5 So
10 So
40 Wo
35 Wo
45 Wo
Oceano
Atlân
tico
SE
15 So
Salvador
NEBRASIL
Figura 1.1 – Área geográfica do Polígono das Secas.
1.2 – Abordagem do problema e objetivos da pesquisa
Em função das características supracitadas, é possível perceber que a
identificação dos locais mais propícios à perfuração de poços em terrenos cristalinos
é uma tarefa difícil. Sabe-se, a partir da observação de diversos casos de campo,
que o deslocamento do ponto de perfuração, de apenas algumas dezenas de metros
(menos que 10 metros de distância, em alguns casos), pode ocasionar a diferença
entre um poço produtivo e um seco. É importante ressaltar que poço seco
corresponde àquele no qual é economicamente inviável ser instalado algum tipo de
equipamento para explotação de água, tal como uma bomba submersa ou um
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
página 3
catavento. Normalmente, o menor valor aceitável de vazão é igual 500 litros por
hora, vazão essa que é aqui considerada como o patamar abaixo do qual o poço é
considerado “seco”.
Tradicionalmente, a locação de poços em terrenos cristalinos envolve tão
somente a interpretação de fotografias aéreas convencionais e o mapeamento
geológico básico de campo através do exame de afloramentos. O uso destes
critérios resulta em um índice de poços secos de aproximadamente 30%, conforme
informações colhidas junto a técnicos da Secretaria de Recursos Hídricos do RN –
SERHid-RN. Este índice pode ser ainda mais elevado, em torno de 50%, em regiões
com capeamentos expressivos, os quais dificultam ainda mais a análise de
afloramentos. Esporadicamente são utilizadas técnicas geofísicas, em geral métodos
elétricos e eletromagnéticos, para auxiliar na locação dos poços. No entanto, dados
estatísticos referentes ao seu emprego ainda não se encontram disponíveis.
Observe-se que nenhum critério de qualidade foi adicionado ao critério de
quantidade para definir um poço improdutivo, não obstante o fato de que águas
muito salinas são comumente encontradas. As razões que embasam essa opção de
definição de poço produtivo prendem-se ao fato de que já existe tecnologia
disponível para dessalinização e porque, mesmo na ausência de dessalinizadores,
águas de teores muito elevados de salinidade podem servir para consumo animal.
Os trabalhos aqui descritos buscam atender à demanda por estudos mais
aprofundados acerca da percolação e retenção da água subterrânea ao longo dos
planos de anisotropia nas rochas cristalinas, principalmente no que diz respeito à
crítica ao modelo existente (o modelo riacho-fenda) e a proposição de novos
modelos. Esta pesquisa é parte do esforço desenvolvido por pesquisadores e alunos
do Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG)
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que vêm analisando o
problema da locação de poços em terrenos cristalinos utilizando, de forma integrada,
as ferramentas do sensoriamento remoto, da geologia estrutural e da geofísica.
Trabalhos ao nível de mestrado e doutorado já foram apresentados (Silva 2000,
Coriolano 2002). Em particular, a presente tese foi realizada em associação com um
acordo de cooperação firmado entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e a
Canadian International Development Agency (CIDA), através do Projeto Água
Subterrânea no Nordeste Brasileiro (PROASNE), beneficiando-se do levantamento
aerogeofísico realizado pelo PROASNE na área piloto de Serrinha/RN (para
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
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detalhes, ver Capítulo VI). O PROASNE teve como principal objetivo pesquisar os
fatores condicionantes do armazenamento e percolação da água subterrânea em
terrenos cristalinos. Diversas outras instituições fizeram parte deste projeto,
merecendo destaque o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e o Geologic Survey of
Canada (GSC).
A presente pesquisa é apoiada no estudo de casos reais de locação de poços.
Para todos os casos estudados, foram interpretadas fotografias aéreas, executados
mapeamentos geológicos de detalhe, enfatizando a neotectônica, além de empregar
técnicas geofísicas elétricas, magnéticas e eletromagnéticas (terrestres e
aeroportadas) de modo a reavaliar modelos existentes (modelos riacho-fenda e
calha elúvio-aluvionar) e propor um novo modelo (bolsão de intemperismo)
conceitual de percolação e retenção de água subterrânea em terrenos cristalinos.
Espera-se que a discussão dos modelos existentes e a proposta de um novo modelo
possam ajudar o técnico de campo a aumentar o índice de acerto nas locações,
mesmo na hipótese de que ele faça uso apenas das técnicas tradicionais de
locação.
1.3 – Localização geográfica das áreas estudadas
Três áreas foram estudadas no Estado do Rio Grande do Norte (RN) (Figura
1.2), sendo a escolha de cada uma delas realizada por pesquisadores do PPGG-
UFRN, em conjunto com técnicos da SERHid-RN, de modo que elas contivessem
casos típicos de locação de poços apresentando dificuldades similares quanto à
obtenção de poços produtivos. Na escolha dessas áreas foram levados em
consideração os seguintes aspectos: embasamento composto por rochas cristalinas,
diferentes graus de exposição de afloramentos e presença de poços perfurados a
pequenas distâncias entre si (da ordem de poucas dezenas de metros) e
apresentando resultados discrepantes quanto às suas vazões. Em todas as áreas, o
clima é semi-árido.
A primeira área localiza-se nas imediações do município de Equador, porção
centro-sul do RN. As suas principais características são: área predominantemente
formada por quartzito, ampla exposição de afloramentos e topografia elevada e
plana, na forma de um platô, facilitando o escoamento superficial. A segunda área
engloba casos de locação nos municípios de Nova Cruz, Santo Antônio e Serrinha,
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
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na porção sudeste do RN. As suas principais características são: embasamento
formado por gnaisse ou granito com ampla cobertura sedimentar ou de solo que,
apesar de pouco espessa (tipicamente menor que 2 m), dificulta bastante a análise
de fotografia aérea, topografia ondulada e proximidade do litoral, favorecendo uma
média pluviométrica relativamente mais elevada. Esta área engloba uma parcela de
aproximadamente 100 km2, localizada imediatamente a oeste do município de
Serrinha, que foi alvo do levantamento geofísico aeroportado realizado pelo
PROASNE. Por fim, a terceira área está situada nas imediações do município de
Santa Cruz, porção centro-leste do RN, sendo formada por gnaisse e tendo também
uma topografia ondulada, mas apresentando-se em situação intermediária entre as
já citadas do ponto de vista de exposição rochosa e presença de coberturas.
A área próxima ao município de Santa Cruz já foi estudada por Silva (2000),
também com finalidades hidrogeológicas, utilizando técnicas geofísicas elétricas e
eletromagnéticas terrestres. Também com fins hidrogeológicos, a área da porção SE
do RN já foi alvo de pesquisa realizada por Coriolano (2002) em seu trabalho de
doutoramento, utilizando as ferramentas da análise estrutural, com ênfase à
neotectônica, e fortemente apoiada em produtos de sensores remotos aéreos e
orbitais.
P A R A Í B A
CE
AR
Á
R I O G R A N D ED O N O R T E
Equador
Parelhas
Caicó
Acari
Currais Novos
Açu
Mossoró
Santa Cruz SantoAntônio
100 km
O c e a n o
At l â
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o
Nova Cruz
Serrinha
7 SO
37O38 WO 36O 35O
6O
5O
BR226
BR427
BR304
RN160
RN288
RN086
Rodovia Federal
Rodovia Estadual
BarragensBR226
RN160 Áreas estudadas
Figura 1.2 – Localização geográfica das áreas estudadas.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
página 6
1.4 – Guia de leitura
Esta tese está apresentada no formato “aglutinação de artigos”, atualmente
recomendado pelo PPGG/UFRN para favorecer a publicação dos trabalhos de
pesquisa na forma de artigos. À exceção dos capítulos introdutórios (I e II) e de
fechamento (capítulo VII), todos os demais constituem material destinado a
publicações, alguns deles já se encontrando publicados (material apresentado nos
capítulos III e IV), em processo de revisão, após aceite preliminar do periódico
(capítulo V) ou em fase de adequação às normas do periódico escolhido (capítulo
VI). Pelo fato de que cada capítulo no formato artigo tem que ser auto-consistente e
auto-explicativo, é inevitável a repetição de alguns assuntos ou temas. Ao final de
cada capítulo, que se encontre em formato artigo, constam as referências a ele
associadas. Adicionalmente, para facilitar a consulta às referências citadas ao longo
de toda a tese, bem como para contemplar aquelas mencionadas em capítulos
escritos no formato tradicional, pode ser consultada, no final, a listagem de todas as
referências.
Uma característica importante do formato adotado é a capacidade de interação
com o leitor, deixando-o à vontade para a leitura dos capítulos de seu interesse, sem
no entanto perder informações significativas que possam prejudicar o entendimento
da tese como um todo. Deste modo, o leitor mais interessado com as questões
“geológicas” pode se deter mais detalhadamente aos capítulos II, III e IV. O Capítulo
II trata da contextualização geológica da região na qual as áreas estudadas
encontram-se inseridas, abrangendo, dentre outros aspectos, a estratigrafia e os
eventos tectônicos. O Capítulo III trata do “estado da arte” da geologia estrutural e
da sua aplicação como ferramenta de caracterização do meio aqüífero fissural. Este
capítulo é bastante amplo e representa um dos Capítulos do livro “Hidrogeologia:
conceitos e aplicações”, editado pela CPRM, sendo voltado ao profissional
interessado em discutir o fluxo e armazenamento da água subterrânea em terrenos
cristalinos, bem como os fatores que condicionam o fluxo subterrâneo. O Capítulo IV
consiste da aplicação da análise neotectônica à hidrogeologia de terrenos
cristalinos, abrangendo dois artigos publicados na Revista Brasileira de Geologia.
Por outro lado, o leitor mais interessado nos aspectos “geofísicos” pode se
deter mais detalhadamente nos capítulos V e VI, os quais tratam da aplicação de
métodos de prospecção geofísica aos casos estudados de modo a substanciar a
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo I – Introdução
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crítica e proposição de modelos de acumulação de água em terrenos cristalinos. O
Capítulo V contém os resultados obtidos de técnicas geofísicas elétricas e
eletromagnéticas terrestres, aplicadas a drenagens supostamente controladas por
zonas de fraturas e constitui assim, basicamente, uma crítica aprofundada do
modelo riacho-fenda. Já o Capítulo VI é mais abrangente no tocante às técnicas
utilizadas. Foram empregados métodos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos
desde terrestres até aeroportados, em uma área mais ampla, para entender de uma
forma mais detalhada como ocorrem e se inter-relacionam os casos de
armazenamento e percolação de água em diferentes modelos.
Para o Capítulo VII, sugere-se a sua a leitura por qualquer modalidade de
leitor. Este capítulo trata das discussões acerca do que foi apresentado ao longo de
toda a tese, abrangendo as características dos modelos de acumulação de água
analisados e suas respectivas respostas quanto à aplicação de ferramentas de
análise geológica ou de métodos geofísicos. No entanto, apesar de cada capítulo,
quando analisado individualmente, apresentar um maior peso quanto à geologia ou
à geofísica, é interessante ressaltar que, para todos os trabalhos executados
procurou-se empregar o maior número de ferramentas disponíveis de forma
integrada. Desta forma, quando o leitor se depara com um determinado capítulo ele
vai encontrar tanto informações de cunho geológico como geofísico, porém com uma
ênfase maior a uma determinada ferramenta a depender da característica do modelo
analisado.
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
Capítulo II – Arcabouço geológico regional
2.1 – Apresentação
As áreas que serviram de base para o estudo de casos de locação de poços
em terrenos cristalinos estão inseridas no contexto geológico da Província
Borborema (Almeida et al. 1977), mais precisamente em um de seus subdomínios
denominado de Faixa Seridó, localizada a Norte do Lineamento Patos (Fig. 2.1). A
principal característica desta província é a atuação do ciclo orogênico Brasiliano
como o último evento deformacional, gerando lineamentos de trend E-W de grandes
dimensões, como os de Patos e de Pernambuco, além de megaestruturas de trend
NE. A feição básica resultante é a de faixas supracrustais ladeadas por blocos
gnáissico-migmatíticos de idade arqueana a paleoproterozóica. Os limites da
Província Borborema são estabelecidos a sul pelo Cráton do São Francisco, a oeste
pela Bacia do Parnaíba e a norte e a leste pelas bacias costeiras Potiguar e
Pernambuco-Paraíba, respectivamente.
2.2 – As rochas pré-cambrianas
Ao longo das áreas estudadas, as rochas cristalinas englobam diversas
unidades que vêm sendo estudadas há várias décadas (Fig. 2.2). O embasamento
gnáissico-migmatítico representa a unidade litoestratigráfica mais antiga, a qual é
sobreposta pelas metasupracrustais do Grupo Seridó. Estas unidades são intrudidas
por diversas suítes granitóides proterozóicas.
2.2.1 – O Complexo Gnáissico-Migmatítico
O termo Complexo Caicó foi originalmente utilizado por Meunier (1964) para
caracterizar as rochas gnáissico-migmatíticas que ocorrem na região de Caicó,
Cruzeta e São Vicente. O termo Complexo Caicó é utilizado por diversos autores
(Jardim de Sá 1984, 1994; Macedo et al. 1991; Souza et al. 1993) para designar,
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
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de forma indistinta, o embasamento no qual repousa discordantemente a unidade de
rochas supracrustais.
OCEANOATL Â
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Fortaleza
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Recife
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no-J
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á
BRASIL
100 km
Figura 2.1 – Contexto geológico da Província Borborema ilustrando a localização das áreas estudadas(modificado de Jardim de Sá 1994).
As datações U/Pb em zircões e Rb/Sr em rocha total evidenciaram que o
embasamento é formado por uma seqüência magmática diferenciada, de idade em
torno de 2,17-2,18 Ga (Hackspacher et al. 1990; Souza et al. 1993) e 2,24 Ga
(Legrand et al. 1991). Dantas (1996) e Dantas et al. (1997, 1998) interpretaram
dados geocronológicos de rochas do Maciço São José de Campestre (bloco a leste
da faixa de afloramentos do Grupo Seridó, vide Fig. 2.2) e identificaram núcleos
arqueanos com idades modelo Nd (TDM) máximas variando de 3,5 a 3,77 Ga, e
U/Pb em zircões com 3,45 até 2,2 Ga. De posse destes argumentos a arquitetura,
ao menos de parte do complexo do embasamento, pode ser descrita como um
mosaico de pequenos blocos crustais mostrando diferentes processos de formação
de crosta durante o Arqueano e o Paleoproterozóico (Dantas et al. 1996).
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Figura 2.2 - Localização das áreas estudadas no contexto geológico do Estado do Rio Grande do Norte (modificadodo Mapa Geológico do Rio Grande do Norte 1998).
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0 20 40 60km20km
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
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2.2.2 – O Grupo Seridó
Este grupo representa uma megasseqüência deposicional disposta em
discordância sobre o complexo do embasamento. Apesar do crescente nível de
conhecimento acerca da estratigrafia da região do Seridó, o empilhamento das
rochas metasupracrustais ainda é controverso. A maior parte das discussões teve
início nas décadas de 60 e 70, estando sumarizada por Jardim de Sá e Salim
(1980), que propõem sua subdivisão, da base para o topo, nas formações Jucurutu,
Equador e Seridó. Segundo Jardim de Sá (1994), a Formação Jucurutu é composta
principalmente por biotita±epídoto paragnaisses com intercalações de mármores e
calciossilicáticas, micaxistos, quartzitos, formações ferríferas, metavulcânicas
dominantemente básicas e alguns metaconglomerados basais; a Formação Equador
é constituída por quartzitos com intercalações de metaconglomerados (mono ou
polimictos), calciossilicáticas e micaxistos; a Formação Seridó é representada por
micaxistos feldspáticos ou aluminosos com intercalações basais de mármores,
calciossilicáticas, paragnaisses, metavulcânicas básicas, quartzitos e
metaconglomerados. As formações Jucurutu e Equador representam um ambiente
deposicional marinho raso, enquanto que a Formação Seridó é interpretada como
um espesso pacote de turbiditos de caráter flyschóide.
Todavia, trabalhos de Archanjo e Salim (1986), defendidos por outros autores
tais como Caby et al. (1991), postulam uma outra subdivisão do Grupo Seridó. Neste
caso, as metasupracrustais seriam englobadas nos grupos Jucurutu e Seridó (base
e topo, respectivamente) separados por uma discordância estratigráfica de nível
regional. Com isto o seguinte empilhamento estratigráfico é sugerido: o Grupo
Jucurutu basal, composto pelas formações Jucurutu na base e Equador no topo
(representando uma variação lateral de fácies), e o Grupo Seridó, compreendendo a
Formação Parelhas na base (refletindo uma discordância estratigráfica representada
por metaconglomerados mono a polimictos, quartzitos, paragnaisses, mármores e
calciossilicáticas) e a Formação Seridó no topo.
A idade das supracrustais foi atribuída como paleoproterozóica por Jardim de
Sá (1994) a partir da existência de contatos gradacionais e interdigitados, bem como
pela presença de ortognaisses G2, intrusivos sincronicamente à deformação D2 (vide
ítem 2.2.3). Todavia, segundo Van Schmus et al. (1995) a possibilidade da
existência de dois conjuntos de supracrustais aparentemente semelhantes, pré e
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
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pós-ortognaisses G2 é sugerida a partir de: (a) idades modelo Nd (TDM) em
metassedimentos das formações Jucurutu e Seridó, as quais ocorrem distribuídas
no intervalo de 1,6 a 1,2 Ga, além de uma isócrona Sm-Nd de 1,4 Ga para as
vulcânicas básicas da Formação Seridó; (b) idades U/Pb em zircões dos micaxistos
da Formação Seridó variando de 740 a 700 Ma, os quais podem refletir grãos
detríticos ou contribuições vulcanogênicas e; (c) idades de 2,2 e 1,75 Ga em zircões
de paragnaisses correlatos à Formação Jucurutu e idades TDM da ordem de 2,6 a
2,4 Ga. Desta forma, Van Schmus et al. (1995) atribuíram idade neoproterozóica ou
um máximo de 1,7 Ga para o Grupo Seridó, com fonte incluindo terrenos do
embasamento paleoproterozóico a arqueano e arcos magmáticos neoproterozóicos.
2.2.3 – O Plutonismo Paleoproterozóico
Esta unidade representa um conjunto de rochas metaplutônicas dominado por
augen gnaisses graníticos, com tipos subordinados de composição granodiorítica-
tonalítica, leucogranitos e pegmatitos. Os augen gnaisses possuem protólitos ígneos
de textura porfirítica média a grossa que foram posteriormente deformados no
evento tangencial D2 (vide item 2.3) e ocorrem sob a forma de batólitos, diques e
sheets (Jardim de Sá 1994, 1996). Devido ao fato de serem concomitantes à
deformação D2, são chamados de granitóides G2, por alguns autores.
O contexto orogênico sin a tardi-colisional é comprovado a partir de dados
geoquímicos. Além de intrudir o embasamento, algumas relações com enclaves e
apófises indicam que esta unidade intrude a Formação Jucurutu e, com
controvérsias, a Formação Seridó (Jardim de Sá 1994, 1996). A idade de
alojamento destas rochas, 1,9±0,1 Ga, foi obtida a partir de datações U/Pb em
zircões, refletindo a deformação D2 que atingiu o Grupo Seridó e o seu
embasamento. Devido a estes fatos, questiona-se a idade mesoproterozóica ou
mais jovem a estas metaplutônicas, inferindo-se a existência de um lapso temporal
expressivo entre os eventos D2 e D3 (Jardim de Sá 1994, 1996).
2.2.4 – O Plutonismo Brasiliano
O plutonismo brasiliano na Faixa Seridó é contemporâneo à fase
deformacional D3 (vide ítem 2.3) sendo por isto designado de associação G3 (Jardim
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
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de Sá et al. 1981). Esta unidade representa uma importante atividade ígnea da
região, truncando as estruturas D2 presentes nas unidades do embasamento,
supracrustais e plutons G2, além do bandamento gnáissico relacionado à fase D1,
restrito ao embasamento gnáissico-migmatítico.
O plutonismo brasiliano envolve quatro tipos petrográficos distintos (Jardim de
Sá 1994): (a) monzogranitos, apresentando tendência subalcalina a monzonítica e
textura porfirítica média a grossa, ocorrendo sob a forma de grandes plútons
isolados ou maciços compostos, normalmente associados a rochas básicas a
intermediárias; (b) suítes diferenciadas de gabro-dioritos a quartzo diorito e quartzo
monzonito, com textura fina a média e tendência shoshonítica com feições de
contemporaneidade (mingling) com os granitos porfiríticos; (c) biotita leucogranitos
de textura média a fina e tendência peraluminosa, cronologicamente mais recentes,
ocorrendo sob a forma de stocks, veios de pequenas dimensões ou associados a
batólitos e; (d) quartzo monzonitos e quartzo sienitos de afinidade alcalina tardi a
pós-tectônicos, apresentando clinopiroxênio±fayalita e raros ortopiroxênios, ou ainda
a associação aegirina±augita±granada±riebeckita.
A idade brasiliana para as rochas desta unidade é evidenciada a partir de
datações, tais como: 579±7 Ma para a suíte diorítica do Maciço de Acari pelo
método U/Pb em zircões; 553±22 Ma a partir do método Rb/Sr em rocha total
(Jardim de Sá 1994) e 555±5 Ma pelo método U/Pb em zircões (Legrand et al.
1991) para a fácies porfirítica do Maciço de Acari; 547±6 Ma pelo método Rb/Sr em
rocha total para o pluton de Monte das Gameleiras (Galindo 1982); pelo método
RbSr em rocha total, 631±23 Ma para os granitóides Tourão e Caraúbas a 575±15
Ma para o Complexo Serra do Lima.
2.3 – Evolução Tectonometamórfica da Faixa Seridó
Segundo Jardim de Sá (1994), são individualizados três eventos
tectonometamórficos para a Faixa Seridó: D1/M1, D2/M2 e D3/M3. O evento
deformacional D1, mais antigo, é restrito às rochas do embasamento e envolve um
bandamento gnáissico S1 em geral transposto, associado a um metamorfismo M1
que atingiu condições de pressão e temperatura (PT) da fácies anfibolito. Já D2
representa uma deformação tangencial relacionada a um ciclo orogênico de idade
1,9±0,1 Ma (Ciclo Transamazônico; Jardim de Sá 1994), ou alternativamente ao
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo II – Arcabouço geológico regional
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Ciclo Brasiliano (Caby et al. 1991 e Archanjo e Bouchez 1991), gerando uma
superfície S2 representada por uma xistosidade ou bandamento gnáissico,
relacionada a planos axiais de dobras apertadas a isoclinais. Esta fase afeta e
paraleliza o acamamento S0 das rochas metassedimentares do Grupo Seridó, bem
como a superfície S1 do embasamento, à superfície S2. Nesta etapa ocorreu o
alojamento dos corpos granítóides G2. O metamorfismo M2 associado caracteriza-se
por atingir condições PT da fácies xisto verde a anfibolito, chegando em casos
particulares à isógrada da anatexia. Por fim, D3 representa uma deformação
predominantemente transcorrente dúctil dextral, que gerou uma superfície S3 de
mergulho médio a forte e uma lineação de estiramento e/ou mineral L3x de baixo
rake (Archanjo e Bouchez 1991). Este evento afeta a superfície S2//S1 do
embasamento, bem como S2//S0 das supracrustais e está associado com intrusões
granitóides de idade brasiliana. O metaformismo M3 apresenta condições PT da
fácies anfibolito de baixa pressão e alta temperatura (Lima 1987), além da presença
de núcleos granulíticos na unidade do embasamento (Trindade et al. 1993).
2.4 – A Evolução Meso-Cenozóica
As coberturas cenozóicas ocorrem ao longo da costa, representadas pelas
bacias Potiguar (a norte) e Pernambuco-Paraíba (a leste), preenchidas
principalmente por sedimentos de idade cretácea e terciária. No interior, a Formação
Serra do Martins ocorre sob a forma de platôs a altitudes comumente superiores a
700 m. Um soerguimento regional ocorrido ao final do Terciário produziu clásticos
que foram transportados para ambas as bacias costeiras. Estes clásticos são
agrupados no Grupo Barreiras, unidades correlatas e mais jovens.
Segundo Matos (1987), durante o Mesozóico e mais precisamente no
Neocomiano, os processos de ruptura do Gondwana provocaram a reativação das
estruturas pré-cambrianas geradas durante os episódios tectônicos anteriores,
culminando com a abertura do Oceano Atlântico. Estes esforços promoveram a
implantação de algumas bacias intracontinentais transtracionais, além das bacias
marginais que formam o sistema de riftes do Nordeste do Brasil, formado pelas
bacias do Recôncavo-Tucano-Jatobá, Araripe, Rio do Peixe, Sergipe-Alagoas e
Potiguar (Matos 1992). Com base na gênese, a Bacia Potiguar representa um rifte
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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intracontinental on-shore (o Rifte Pendências) e uma bacia tipo pull-apart em sua
porção off-shore.
Diversos modelos evolutivos são propostos para explicar a orientação de
esforços e mecanismos responsáveis pela implantação destas bacias sedimentares.
Dentre estes, Françolin e Szatmari (1987) propõem uma seqüência representada por
cinco fases evolutivas: (a) variação de esforços entre o final do Jurássico e o
Cretáceo, provocado pela migração das placas Sul-Americana e Africana, tendo
como principal representante o enxame de diques de diabásio de afinidade toleítica,
com direção E-W, designado Magmatismo Rio Ceará Mirim (Fig. 2.3a); (b) durante o
Neocomiano, a rotação dextrógira em torno de um pólo na Placa Sul-Americana
provocou esforços compressivos N-S (Fig. 2.3b); (c) distensão N-S oriunda do alívio
das tensões intraplaca durante o aptiano e o albiano (Fig. 2.3c); (d) durante o
Santoniano, esforços distensionais E-W ao longo das placas Sul-Americana e
Africana provocaram movimentos transcorrentes/transformantes (Fig. 2.3d); (e)
inversão de esforços após o Campaniano, evidenciada por discordância regional
entre litotipos na Bacia Potiguar, além de falhas e dobramentos denotando
compressão N-S (Fig. 2.3e).
++
+
++
+
+
+
+ +
+
+
+
++
+++
+
África
JURÁSSICO
a b c
FINAL DO NEOCOMIANO
Américado Sul África
Pólo derotação
++
+
++
+
+
+
+
+
++
++++
++
+
Pólo derotação
FINAL DO ALAGOAS
África
Américado Sul
d
Américado Sul
Américado Sul
África
+
+ +
+
+ +
+ + +
+
+
+
+
+
+
+++
+
++
+
++
CRETÁCEO SUP.(Pré-compressão)SANTONIANO
++
++
+
+
+++
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
++
+
+
++
+
e
Américado Sul
África
CRETÁCEO SUP.(Pós-compressão)MAASTRICHTIANO
++
++
+
+
+++
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
++
+
+
++
+
Embasamento
Zona de distensão
Zona de compressão
Sedimentos Paleozóicos
Corpos intrusivos pós-Paleozóicos
Contorno da linha de costa
Contorno do embasamento
Eixo de compressão
Eixo de distensão
+ +
L E G E N D A
Falhas/fraturas
Rifte de Marajó
Oceano
Figura 2.3 – Evolução tectono-sedimentar da Bacia Potiguar conforme Françolin e Szatmari (1987): (a)Jurássico; (b) final do Neocomiano; (c) aptiano e albiano; (d) Santoniano; (e) Maastrichtiano.
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O modelo de Matos (1992) difere do modelo de Françolin e Szatmari (1987)
por não considerar a atuação de uma fase compressiva no Cretáceo superior
(Santoniano-Maastrichiano), propondo uma evolução puramente distensional no
desenvolvimento do sistema de riftes do Nordeste do Brasil, separada nos estágios
tectônicos Sin-Riftes I, II e III. O estágio Sin-Rifte I (Fig. 2.4a) representa o
desenvolvimento de uma rasa depressão no Jurássico superior provocada pela
reativação de zonas de cisalhamento brasilianas, ocasionando a sedimentação nas
bacias Recôncavo-Tucano-Jatobá, Sergipe-Alagoas e Araripe, limitadas a norte pelo
Lineamento Patos. O estágio Sin-Rifte II (Fig. 2.4b) marca a principal fase de
rifteamento originada pelo fraturamento da crosta superior, durante o Neocomiano-
Barremiano (diferindo do modelo de Françolin e Szatmari 1987, que postulam o
início a partir do Jurássico superior), com o desenvolvimento dos trends de riftes
Recôncavo-Tucano-Jatobá e Cariri-Potiguar (no caso, Bacia Potiguar on-shore). Por
fim, o estágio Sin-Rifte III (Fig. 2.4c) marca uma tectônica transtracional E-W,
promovendo a deposição dos sedimentos das bacias marginais do leste brasileiro,
tal como a Bacia Potiguar off-shore.
Figura 2.4 – Evolução tectono-sedimentar das Bacias do Nordeste oriental conforme Matos (1992): (a)estágio Sin-Rifte I no Jurássico superior; (b) estágio Sin-Rifte II durante o Neocomiano; (c) estágio Sin-Rifte III no Barremiano Inferior.
a b
c
PO
RTJ
GSA
LEGENDA
Cratons
Bacia do Parnaíba (Paleozóica)Zonas de cisalhamentoBrasilianas/Pan-Africanas
Magmatismo Rio Ceará-Mirim
Sedimentação
Trend Gabão - Sergipe-Alagoas (GSA)
Trend Recôncavo Tucano Jatobá (RTJ)
Trend Cariri - Potiguar (PO)
Sedimentação RTJ/GSA/PO
Depressão de Benue
Falhamentos
Jurássico Tardio
Neocomiano
Sedimentos do Barremiano Sup.
Eixo principalde distensão
Américado Sul
África
Sin-Rifte IJurássico Superior
Sin-Rifte IINeocomiano
Sin-Rifte IIIBarremiano Inferior
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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A partir do desenvolvimento da margem passiva entre os continentes Sul
Americano e Africano, ocorreram diversos episódios de reajustes internos durante o
Cenozóico. O vulcanismo Macau, durante o Mioceno, e a deposição da Formação
Serra do Martins e do Grupo Barreiras podem ser indícios da implantação da
Cadeia dos Andes (Saadi 1993) a partir de uma tectônica compressiva de trend
geral E-W, também influenciada pela expansão da Dorsal Meso-Atlântica
(Assumpção 1992).
Durante o Holoceno, a reativação tectônica é evidenciada a partir de abalos
sísmicos em diversas regiões, como em João Câmara (Coriolano 1998), bem como
pela deformação de marcadores dessa idade e pelo controle estrutural da paisagem
(Dantas 1998). Estruturas observadas em beach rocks holocênicos também
fornecem indicações sobre o sistema de tensões atuante nessa idade (Caldas et al.
1997). Neste caso, os diferentes indicadores demonstram a atuação de compressão
regional E-W, combinada com tensões distensionais perpendiculares à linha de
costa (Fig. 2.5), gerada pela combinação da expansão da cadeia meso-oceânica
com a compressão Andina e pela flexura litosférica da margem continental devido ao
aporte sedimentar (Assumpção 1992, Ferreira et al. 1998).
Figura 2.5 – Configuração das tensões regionais neotectônicas no NE do Brasil. As setas em preto aoeste representam a compressão da Cadeia Andina; em preto a leste está representada a compressão da Cadeia Meso-oceânica; as setas em branco representam tensões distensionais transversais à linha decosta (modificado de Assumpção 1992).
Oceano
Atlân
tico
BRASIL
Natal
Recife
Fortaleza
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. III – Mod. de ocorr. de água subt. em terr. cristalinos
Capítulo III – Modelos de ocorrência de água
subterrânea em terrenos cristalinos
3.1 – Apresentação
A vasta literatura disponível, bem como trabalhos práticos e rotineiros de
locação de poços em terrenos cristalinos, deixam claro que a água subterrânea
contida nas rochas cristalinas encontra-se acumulada em planos de anisotropia.
Percebe-se ainda que o fenômeno da percolação e retenção da água subterrânea
nestes terrenos é relativamente recente sendo necessária, portanto, uma análise
bastante criteriosa dos efeitos ditos “atuais” que governam tal fluxo subterrâneo.
Neste capítulo apresentamos uma reavaliação dos critérios já existentes de
análise estrutural de terrenos cristalinos, com fins hidrogeológicos (p. ex. Siqueira
1963, 1967; Costa 1965; Costa e Silva 1997). Apesar destes critérios serem
utilizados sistematicamente em trabalhos de locação de poços cristalinos, resultando
em índices de acerto por vezes elevados, há um grande avanço no conhecimento da
geologia estrutural (principalmente sob a ótica da neotectônica), bem como nas
ferramentas geofísicas agora disponíveis (técnicas elétricas e eletromagnéticas mais
apuradas), que justificam uma atualização e reavaliação de modelos e critérios de
locação existentes com vistas ao aumento no índice de acerto em locações
produtivas.
O presente capítulo é parte integrante do livro “Hidrogeologia: conceitos e
aplicações”, da CPRM – Serviço Geológico do Brasil que está no prelo. O mesmo
trata do “estado da arte” da geologia estrutural, em particular da neotectônica e seus
efeitos no fluxo de água subterrâneo no meio aqüífero fissural. Além de outros
aspectos, é feita a descrição dos principais modelos de acumulação de água
subterrânea em terrenos cristalinos e as respectivas respostas quando do emprego
de diversas ferramentas de prospecção, incluindo as técnicas geofísicas.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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Feitosa, F.A.C. e Manoel Filho, J., eds.
HIDROGEOLOGIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES
3ª Edição, 2003
Serviço Geológico do Brasil – CPRM
CAPÍTULO 3.1
REAVALIAÇÃO DA ABORDAGEM ESTRUTURAL E MODELOS DE
OCORRÊNCIA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA EM TERRENOS CRISTALINOS
Emanuel Ferraz Jardim de Sá1,2,4, Carlos César Nascimento da Silva1,
Ana Catarina Fernandes Coriolano1, Walter Eugênio de Medeiros1,3,4
1 Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica - UFRN, 2 Departamento de Geologia -
UFRN, 3 Departamento de Física Teórica e Experimental - UFRN, 4 Pesquisador do CNPq
3.2 – Introdução
Décadas de prospecção hidrogeológica no Nordeste do Brasil e em outros
terrenos cristalinos conduziram a um arcabouço teórico-metodológico que é
amplamente utilizado para a locação de poços, por parte de profissionais
autônomos, empresas privadas e companhias governamentais. É amplamente
reconhecido que, neste tipo de terreno, a percolação e acumulação de água são
controladas por fraturas e outras descontinuidades no maciço rochoso, o que requer
dos hidrogeólogos uma base de conhecimentos em Geologia Estrutural, tarefa que
foi desempenhada com sucesso, em nosso país, pelas sínteses de Siqueira (1967),
Costa (1965) e, na primeira edição deste compêndio, Costa e Silva (1997). Todavia,
muitos dos conceitos referidos nessas contribuições datam das décadas de 1950-60
e assim demandam uma revisão que complemente e atualize esses textos.
A proposta deste trabalho é efetuar uma análise crítica dos conceitos e
procedimentos clássicos. Em seguida, serão discutidos conceitos modernos de
Geologia Estrutural e da evolução tectônica dos continentes, como base para
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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orientar uma reformulação da metodologia, num esforço conjunto a ser desenvolvido
com hidrogeólogos experientes na pesquisa de água subterrânea no cristalino. Dois
aspectos são considerados básicos na linha de pensamento aqui explorada:
(i) O enorme progresso ocorrido na compreensão dos processos de
deformação ao longo das quatro últimas décadas, incluindo o contexto tectônico, os
parâmetros decorrentes do nível crustal e as relações cronológicas entre diferentes
estruturas, o que permite explicar, de modo adequado, situações sugeridas ou
constatadas pela prática de locação;
(ii) O papel de controle que deve ser exercido pelos sistemas de tensões
neotectônicos, atuando em condições superficiais ou muito rasas na crosta, em
consonância com o fato de que a migração e acumulação da água explotável é um
processo superficial e geologicamente muito recente, em pleno curso.
Faz parte da proposta uma ênfase em métodos e conceitos simples, de
aplicação direta e de baixo custo. Abordagens sofisticadas e de custo elevado teriam
escassa utilidade para a pesquisa hidrogeológica em regiões semi-áridas e
economicamente carentes. O tema e conhecimentos aqui abordados fazem parte de
projetos de pesquisa financiados pelo Programa PADCT3 (FINEP e CNPq), com
apoio de várias entidades (com destaque para a CPRM / Serviço Geológico Nacional
e um projeto de cooperação internacional Brasil / Agência Brasileira de Cooperação /
CPRM e o Canadá / Canadian International Development Agency / Geological
Survey of Canada) e conduzidos por professores e pós-graduandos do Programa de
Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG) da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN, com apoio CAPES e CNPq).
3.3 – Conceitos clássicos e problemas levantados
O termo “clássico” refere-se à abordagem hidrogeológica usual, adotada no
Nordeste do Brasil e em outras regiões dominadas por rochas cristalinas, no país e
em outros continentes. Como fontes preferenciais de informação, remetemos o leitor
às referências acima citadas (em especial o Capítulo de responsabilidade de Costa
e Silva 1997, na primeira edição deste compêndio).
Além de outros fatores, que não serão objeto de consideração no presente,
podemos dizer que existe consenso sobre a importância das estruturas frágeis na
criação de espaços nas rochas, permitindo a acumulação de reservas de água no
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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cristalino; falamos aqui de fraturas, estruturas que de um modo geral são
consideradas como “abertas”, na trama de uma rocha cristalina. O termo fraturas
engloba juntas (descontinuidades ao longo das quais o movimento relativo entre os
blocos é muito pequeno na escala considerada) e falhas (ou zonas de falhas), cujas
dimensões (comprimento) de interesse no caso variam de métricas a dezenas de
quilômetros (Figura 3.1). Todavia, dois outros tipos de estruturas ainda devem ser
considerados, pela possibilidade de proverem espaços abertos nas rochas. É o caso
dos contatos entre litologias distintas, mecanicamente contrastantes, a exemplo das
paredes de diques e filões, zonas que já são consideradas como favoráveis na
prática atual de locação. Finalmente, também devem ser considerados planos de
foliações e zonas miloníticas. Embora originalmente “fechadas”, essas estruturas
dúcteis (formadas em profundidade) podem ser “abertas” quando submetidas a
processos de reativação, intemperismo e descompressão, próximo à superfície da
Terra.
(A)
Juntas Zonas de falha
Contatos geológicos Superfícies de foliação intemperizadas
(B)
(C) (D)
Figura 3.1 – Estruturas que controlam a ocorrência de água subterrânea em rochas cristalinas. (a)Juntas; (b) Falhas e zonas de falhas; (c) Contatos geológicos; (d) Superfícies de foliação (incluindo zonas de cisalhamento), quando intemperizadas (o efeito do intemperismo é indicado por traços mais grossos, próximos à superfície).
Em função de sua dimensão, o reconhecimento de fraturas e outras
estruturas pode envolver a análise de imagens de satélites e fotografias aéreas
convencionais, e/ou o estudo de afloramentos. A fotointerpretação é direcionada à
localização de estruturas favoráveis - em especial, as zonas fraturadas, bem como a
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estabelecer seu relacionamento com possíveis fontes de recarga - coberturas e a
rede de drenagem. Bourguet et al. (1980-81) ilustram a interpretação de vários
casos de drenagem. Siqueira (1963, In: Siqueira 1967) elaborou o conceito de
riacho-fenda, quando uma drenagem teria seu curso controlado por uma
fratura/zona de fratura, e condições de recarga periodicamente asseguradas (Figura
3.2). O conceito é amplamente utilizado em regiões semi-áridas, condicionando, até
mesmo, o processo de fotointerpretação (fraturas são identificadas pelos trechos
retilíneos e “cotovelos” ao longo da drenagem). Em campo, os afloramentos
adjacentes devem mostrar uma boa frequência de fraturas orientadas segundo a
direção foto-interpretada - o segmento retilíneo de um riacho. Todavia, a análise de
casos de locação de poços (Coriolano et al. 2000; Coriolano 2002; Nascimento da
Silva e Jardim de Sá 2000) mostra que a correlação de dados estruturais entre
essas diferentes escalas não é uma tarefa simples.
Riacho-fenda !
Riacho-fenda ?
Figura 3.2 – O conceito de riacho-fenda. As fraturas são inferidas a partir de trechos retilíneos ecotovelos da drenagem. É necessário verificar, em campo, a ocorrência de intenso fraturamento emafloramentos adjacentes, paralelo ao trend fotointerpretado, para validar o modelo. Trechos retilíneos da drenagem também podem ser controlados pela foliação das rochas.
Existe uma prática firmada, no Nordeste do Brasil e em regiões cristalinas
similares na África (Bouguet et al. 1980-81; Wright e Burgess 1992), de que a
profundidade máxima para a ocorrência de fraturas abertas, com água, não
ultrapassa a faixa de 60 a 100 m (segundo diferentes avaliações). Na verdade, a
ocorrência de água minando a partir de fraturas, em galerias mineiras profundas, ou
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as fontes termais que drenam água desde profundidades de 1 a 3 km (Berthier
1982), alertam que aquele valor é mínimo, sendo na verdade fortemente
condicionado a aspectos técnico-econômicos da sondagem e do bombeamento.
Um ponto crítico na avaliação de terreno reside na detecção das fraturas
“abertas”, mais propícias ao fluxo e acumulação de água. Neste caso, a abordagem
clássica demanda uma análise crítica face à evolução tectônica regional, incluindo a
cronologia e condições crustais da deformação, impressas nas estruturas hoje
aflorantes ou subaflorantes. Frequentemente, os critérios propostos para selecionar
ou priorizar locações estão baseados em feições e estruturas relacionadas a uma
etapa antiga e profunda da evolução crustal. Tomando o exemplo do Nordeste
brasileiro, a deformação principal do terreno ocorreu, pelo menos, no final do
Precambriano (há cerca de 550 Ma atrás !), quando as estruturas hoje expostas
estavam sendo desenvolvidas numa faixa entre 8 a 15 km de profundidade ! Apoiar-
se no contexto original de formação dessas estruturas é um procedimento
injustificável, de vez que o fluxo e acúmulo da água normalmente explotável é um
processo geologicamente recente e superficial, possivelmente abrangendo, no
máximo, um nível de 0,5 a 1 km na crosta. Quanto às estruturas frágeis, é
necessário considerar a ocorrência de sucessivos eventos de deformação, desde o
final do Precambriano até os tempos atuais. A rede de fraturas presente nos
terrenos cristalinos tem assim uma cronologia complexa, sendo em sua maior parte
herdada dos eventos antigos, que igualmente não possuem relação direta com o
campo de tensões atual. Pelas suas implicações, é importante que o hidrogeólogo
do cristalino conheça os principais aspectos da evolução tectônica da sua região de
trabalho.
3.4 – Conceitos básicos de geologia estrutural: a deformação frágil
Nas duas últimas décadas, a relação entre estruturas e as condições de
permeabilidade/porosidade de um maciço rochoso estão sendo abordadas com
crescente interesse, especialmente em países do hemisfério norte, a partir de um
número de contribuições multidisciplinares. Muitas dessas contribuições (ver revisão
em Odling 1998, p.ex.) foram impulsionadas não apenas pela prospecção de água
no cristalino, mas exatamente por um objetivo oposto – a procura de rochas
cristalinas “sêcas”, impermeáveis, adequadas para o armazenamento de lixo nuclear
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(Carlsson e Olsson 1980-81; Almén 1994). A indústria do petróleo somou uma
enorme parcela de conhecimentos, dedicada aos problemas de porosidade e
permeabilidade em reservatórios fraturados (Nolen-Hoeksema e Howard 1987;
Heffer e Lean 1993; Sibson 1994; Barton et al. 1997; Aydin 2000). A esses enfoques
mais específicos, é acrescida a expansão de conhecimentos na Geologia Estrutural,
na Neotectônica e sobre a evolução da crosta continental, de um modo mais amplo
(ver diversos artigos em Hancock 1994, p.ex.). Alguns dos tópicos desenvolvidos
constituem temas de ponta, cuja aplicabilidade na prática de locação ainda não foi
estabelecida.
A hidrogeologia do cristalino demanda uma renovação de conhecimentos,
incorporando os modelos 3-D da geometria de sistemas de juntas e zonas de falhas,
sua cinemática e o funcionamento mecanicamente integrado de sistemas
complexos. Na avaliação do potencial hidrogeológico de fraturas, os seguintes
pontos devem ser considerados:
(i) Geometria do sistema de fraturas, incluindo as feições (abertura,
rugosidade) de uma fratura individual, bem como a orientação, dimensões e
conectividade entre diferentes famílias; essa geometria é controlada pelo campo de
tensões atuante na época de formação das fraturas, bem como pelo tipo de rocha
fraturada e as condições crustais em que tal fenômeno ocorreu;
(ii) Tendência atual de comportamento – “abertura” vs. “fechamento” das
diferentes famílias, o que é condicionado pelo campo de tensões atual/neotectônico
e pela evolução recente do terreno, no tocante à sua exumação e processos de
intemperismo.
O ítem (i) acima diz respeito ao reconhecimento de conjuntos de fraturas que
estejam relacionados a um mesmo regime cinemático e respectivo campo de
tensões. Vários livros textos e artigos recentes sumarizam este tipo de
conhecimento (Hancock 1985,1994; Ramsay e Huber 1987; Twiss e Moores 1992;
Angelier 1994; Choukroune 1995; Hatcher Jr. 1995; van der Pluijm e Marshak 1997;
Aydin 2000).
As tensões atuantes nos corpos geológicos podem ser do tipo uniaxial (que
produziriam juntas de distensão – com tendência dilatacional/“aberta”, ou
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estilolíticas, com tendência contracional/“fechada”), biaxial (quando poderiam ser
desenvolvidas juntas de distensão, juntas estilolíticas e/ou fraturas de cisalhamento,
estas últimas com movimento paralelo às paredes) ou triaxial (sistemas complexos
com múltiplas famílias de fraturas). Nos dois primeiros casos, os eixos de tensões
(σ1 ≥ σ2 ≥ σ3) guardam uma relação angular simples com respeito às fraturas; nos
sistemas triaxiais essa relação é complexa. Em geral e numa primeira abordagem,
as famílias de fraturas naturais podem ser tratadas, simplificadamente, como
desenvolvidas em sistemas biaxiais.
Em função das tensões atuantes, podem ser distinguidos regimes de
cisalhamento puro, simples ou geral. Em cada um desses casos, e a depender do
tipo de rocha e das tensões atuantes (magnitude e orientação), podem ser
desenvolvidas as juntas de distensão (em geral desenvolvidas sob esforços trativos
e/ou com a participação de fluidos, reduzindo a tensão efetiva atuante nas rochas –
Figura 3.3a,b), fraturas de cisalhamento ou falhas, juntas estilolíticas (em rochas
passíveis de dissolução em condições superficiais, o que não ocorre nos litotipos
cristalinos aqui considerados) e juntas/fraturas híbridas (cisalhamento + dilatação ou
contração). A Figura 3.4 sintetiza a orientação das fraturas em relação ao regime de
tensões atuante. As fraturas híbridas, não representadas na figura, são
desenvolvidas com relação angular intermediária aos outros tipos. O cisalhamento
puro produz sistemas de fraturas simétricos; são características as fraturas de
cisalhamento conjugadas. Regimes de cisalhamento simples ou geral (cisalhamento
simples + componente de dilatação ou contração) são condicionados pela
movimentação de falhas e resultam em sistemas de fraturas assimétricos. Nesses
casos, é muito utilizada a notação de fraturas T (juntas de distensão), R, R’ e P
(fraturas de cisalhamento, com movimento contrário ao da falha principal, dito
fraturas antitéticas – caso de R’, desenvolvida em alto ângulo com respeito à zona
de falha, ou com movimento semelhante, dito fraturas sintéticas – caso de R e P),
para designar o fraturamento de segunda ordem, relacionado a uma falha principal.
A atuação desses regimes é função do movimento diferencial de blocos na crosta da
Terra (ou em maior escala, das placas litosféricas) e também dependente da escala
considerada. Isoladamente, as fraturas de cisalhamento conjugadas do regime de
cisalhamento puro definem, em maior detalhe, regimes de cisalhamento simples (ou
geral).
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12
2213
2
(A) (B)
(C)
1
23
Pf
1
13 3 31 1
2
Figura 3.3 – Formação ou reativação de fraturas, visualizada no diagrama de Mohr. (a) Atuando numarocha cuja condição de ruptura é dada pelo envelope de Mohr, o estado de tensões 1 (tensão diferencialmais baixa) originaria juntas de distensão (ângulo θ próximo de 90°); o estado de tensões 2 originariafraturas de cisalhamento (ângulo θ próximo de 60°). (b) O estado de tensões 1 não origina fraturas narocha; com aumento da pressão de fluidos (Pf) nos poros e aberturas, a tensão normal efetiva é reduzida (o círculo se desloca para a esquerda no gráfico, configurando o estado de tensões 2) e a rocha seriafraturada. (c) Considerando um estado de tensões específico, o mesmo é insuficiente para originarfraturas numa rocha sã (envelope 1), reativa fraturas pré-existentes, parcialmente seladas, com um trend determinado (envelope 2, com parâmetro c reduzido), e reativa um amplo leque (direcional) de fraturasnão cimentadas, desprovidas de coesão (envelope 3, parâmetro c nulo).
Falha de empurrão/contracionalFalha de normal/distensional
Falha transcorrente
EstilólitoJunta de distensão
Cisalhamento puro Cisalhamento simples
Cisalhamento geral
Figura 3.4 – Regimes de cisalhamento e estruturas frágeis resultantes. Atentar para o tipo e relaçãoangular das fraturas desenvolvidas. O esboço é válido para mapa ou cortes verticais; todavia, as falhas,conforme representadas pelos símbolos usuais, seriam assim desenvolvidas num contexto detranscorrência – ver Figura 3.5 (ou seja, no caso das falhas, a figura representa adequadamente a visãoem mapa). No cisalhamento geral, o componente de cisalhamento puro poderia ser de contração(conforme representado; corresponderia a uma cinemática de transpressão no contexto detranscorrência) ou de dilatação (designado de transtração no caso de transcorrência).
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Em função da orientação dos eixos de tensões na crosta ou litosfera (mais
uma vez, condicionados pelo movimento relativo de blocos crustais ou das placas),
são distinguidos os regimes de deformação (ou regimes cinemáticos) distensionais,
contracionais e transcorrentes, cada um deles (e em diferentes escalas) podendo
operar sob condições de cisalhamento puro, simples ou geral. A Figura 3.5 ilustra a
orientação de falhas e juntas de distensão em cada um desses regimes, em
condições de cisalhamento puro.
3
1
3
1
3
1
Regime distensional Regime contracional
Regime transcorrente
Falhas de empurrão/contracionais
Falhas normais/distensionaisJuntas de distensão
Falhas transcorrentes
Eixos de tensões
Figura 3.5 – Falhas, eixos de tensões e regimes cinemáticos. Por simplicidade e além das falhas, foramrepresentadas apenas as juntas de distensão, em cada caso. O eixo σ2 é sempre ortogonal aos demais.Convencionamos representar σ1 como compressão e σ3 como tração. Todavia, qualquer um (ou todos)dos três eixos pode ser compressivo ou trativo (ou neutro), embora necessariamente obedecendo àrelação σ1 = σ2 = σ3.
Cada um desses regimes cinemáticos é caracterizado pela dominância de um
tipo de falha específico – os empurrões/falhas inversas ou falhas contracionais, as
falhas normais ou falhas distensionais e as falhas transcorrentes. Todavia, a
geometria 3-D das falhas é mais complexa (Davison 1994 e outras referências no
texto). Além das fraturas de segunda ordem, diferentes tipos de falhas podem
funcionar mecanicamente integrados, em “coerência cinemática” (falhas de
transferência ou rampas laterais; falhas contracionais ou distensionais em zonas de
ponte ou de escalonamento em transcorrências; zonas de descolamento em baixo
ângulo, etc). A Figura 3.6 ilustra alguns desses casos.
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RL FT
TP
TT
RF
Falha de empurrão/contracional
Falha de normal/distensional
Falha transcorrente
Empurrões (RF, rampa frontal)e rampas laterais (RL)
Falhas normais e de transferência (FT)
Zonas de transtração (TT) e transpressão (TP)
Figura 3.6 – Conexões e a geometria 3-D dos tipos básicos de falhas. Em qualquer um dos regimescinemáticos principais (contracional, distensional, transcorrente), falhas de rejeito direcional convivemcom falhas normais, inversas ou oblíquas.
A Figura 3.4 simplifica os três regimes cinemáticos, que todavia são
transicionais entre si, como ilustrado na Figura 3.7. Nesses regimes com cinemática
oblíqua (riftes com abertura oblíqua, colisões oblíquas, etc.) ocorrem falhas oblíquas
com componentes de empurrão ou movimento normal, ou estruturas de
transpressão ou transtração (estruturas em flor, etc.). Falhas oblíquas também são
desenvolvidas em em regimes de tensões triaxiais, ou quando formadas por
reativação de fraturas pré-existentes (Hancock 1985; Angelier 1994).
Regimes de distensão caracterizam riftes continentais ou oceânicos. Com a
separação e deriva dos continentes, este tipo de regime deformacional fica melhor
preservado nas margens continentais passivas, nas seções rifte e transicional das
bacias marginais mesozóicas (no caso brasileiro) e seu embasamento, ou no próprio
interior continental, no caso de riftes não evoluídos (“abortados”). Os regimes de
contração tipificam margens continentais ativas (a exemplo dos Andes) e cadeias de
montanhas colisionais; no caso brasileiro, a maior parte das estruturas frágeis deste
tipo de regime foram desenvolvidas em etapas tardias dos processos colisionais do
ciclo orogênico Brasiliano, há 550-500 Ma atrás. Os regimes de transcorrência, que
em geral envolvem a atuação de um eixo compressivo tangencial à crosta, podem
ser encontrados em uma ampla variedade de ambientes, nos limites (ditos
transformantes) de placas ou no seu interior. No bloco brasileiro, os regimes de
transcorrência atuaram em várias etapas da evolução precambriana a fanerozóica,
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desde a evolução das cadeias orogênicas brasilianas (em colisões oblíquas e
contextos de extrusão lateral de blocos) até os regimes neotectônicos, onde a
compressão Andina e a expansão do Atlântico transmitem tensões compressivas
através da Placa Sul-Americana. Mais recentemente, constata-se que as cadeias
orogênicas, tradicionalmente caracterizadas por estruturas contracionais (dobras e
falhas inversas), podem sofrer processos de colapso tardio, em zonas fortemente
espessadas e soerguidas, gerando estruturas distensionais que procuram re-
estabelecer o equilíbrio de massas (ver descrições em Park 1988; Hancock 1994;
Choukroune 1995; van der Pluijm e Marshak 1997; Moores e Twiss 1995; Cordani et
al. 2000).
ND
ODS/TTS ODD/TTD
TS TD
IC
OCD/TPDOCS/TPS
Figura 3.7 – Movimento relativo de blocos crustais ou litosféricos (placas), e o regime cinemático eestruturas induzidas nos seus limites. O diagrama é esquemático e representa a superfície da Terra(visão em mapa). No centro do diagrama, estão colocados dois blocos/placas na posição original,adjacentes. As setas indicam o movimento relativo dos blocos, que na periferia da figura estãodeslocados entre si, lateralmente (linha horizontal no diagrama), ortogonalmente (coluna vertical, comlacunas ou áreas de sobreposição) ou obliquamente (linhas diagonais). As estruturas resultantes estãorepresentadas esquematicamente ao lado de cada par de blocos. As abreviaturas são: IC, falhas inversas ou contracionais; ND, falhas normais ou distensionais; TD e TS, falhas transcorrentes dextrais esinistrais, respectivamente; ODD/TTD e ODS/TTS, falhas oblíquas distensionais/transtrativas, dextrais esinistrais, respectivamente; OCD/TPD e OCS/TPS, falhas oblíquas contracionais/transpressivas, dextraise sinistrais, respectivamente.
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3.5 – Cronologia e nível crustal da deformação
As condições externas (P, T, fluidos) que governam a deformação de minerais
e rochas, ativando diferentes mecanismos, são agora bem conhecidas (idem
referências em Geologia Estrutural e Tectônica, acima citadas). Consequentemente,
o nível crustal de desenvolvimento das estruturas pode ser inferido com base nos
marcadores cinemáticos impressos nas rochas (em especial, o tipo de
preenchimento, veios e películas minerais em juntas de distensão e falhas; foliações
em zonas de cisalhamento dúcteis ou em protólitos argilosos). Adicionando relações
de interseção mútua e sua assinatura em diferentes unidades estratigráficas, é
possível elaborar uma sequência cronológica da deformação frágil, o que permite
avaliar adequadamente o papel de cada sistema/geração de fraturas (p.ex.) no
condicionamento da água subterrânea ou de outros bens econômicos.
Os diversos conjuntos de fraturas compõem uma trama que, a princípio, pode
ter um papel apenas “passivo”, no sentido de prover espaços abertos para o
movimento ou acúmulo de água, em especial quando o terreno é soerguido e
descomprimido. A interconectividade de sistemas de fraturas é determinada pela sua
geometria original e pelas interseções com famílias mais jovens (Bradbury e
Muldoon 1994; Aydin 2000) . Todavia, a maior ou menor “abertura” (e consequente
favorabilidade) de cada conjunto de fraturas, na sua posição atual na crosta, não
tem relação direta, a priori, com sua cinemática original, vigente em épocas antigas.
Neste sentido e no outro extremo da escala de tempo geológico, os campos de
tensões “neotectônicos”, ou de idade holocênica, é que podem influenciar mais
diretamente sobre o grau de “abertura” de cada família de planos; sua configuração
deve ser estabelecida com base em estruturas reconhecidamente jovens (impressas
em marcadores estratigráficos quaternários, p.ex.), em feições morfotectônicas ou a
partir de dados sismológicos (soluções de mecanismo focal em falhas ativas).
Os eventos de deformação frágil estão superimpostos às estruturas dúcteis
do substrato cristalino, sendo que o reconhecimento dessa trama profunda, em geral
creditada ao último evento orogênico regional, é também importante, embora não
condicione diretamente as ocorrências de água subterrânea, salvo pela interferência
do intemperismo (ver adiante). A evolução geológica subseqüente, nos escudos
cristalinos, envolve um longo processo de soerguimento e exumação de níveis mais
profundos, continuamente e/ou em “pulsos”. Considerando o nível atual de erosão
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(exposição do substrato rochoso) e a evolução temporal, as seguintes situações
podem ser encontradas em afloramentos de rochas cristalinas precambrianas:
(i) Os conjuntos de fraturas mais antigos apresentam feições indicativas de
níveis crustais mais profundos, ou seja, indicadores cinemáticos de temperatura
mais elevada; em geral, os eventos subseqüentes exibem feições indicativas de
níveis crustais gradativamente mais rasos, representados por estruturas mais “frias”;
(ii) Um plano de fratura “antigo” pode ser reativado com o desenvolvimento de
uma segunda família de estrias (slickenlines) as quais, em geral, são de temperatura
mais baixa;
(iii) Unidades estratigráficas mais antigas, a exemplo do embasamento
cristalino, tendem a mostrar múltiplos sistemas de fraturas, com sucessivas
reativações, o que torna necessário separar os conjuntos de diferentes idades, para
identificação dos respectivos modelos cinemáticos (Figs. 3.4 e 3.5). Ao contrário,
unidades mais jovens e coberturas sedimentares exibem arranjos mais simples e
mais facilmente correlacionáveis com os modelos citados, salvo nos casos de
herança tectônica, quando fraturas reativadas no embasamento impõem trends
peculiares a uma cobertura;
(iv) Nas bordas de bacias tipo rifte, um regime de fluxo de calor mais elevado,
durante sua evolução, pode conduzir à formação de estruturas relativamente
“quentes”, em comparação a regiões distais (com fraturas mais antigas e mais
“frias”), modificando o ordenamento previsto nos parágrafos precedentes.
Levando em conta que o processo de percolação e acumulação de água é
geologicamente muito recente e superficial, não é possível conceber um
relacionamento direto (exceto indiretamente, através da atuação do intemperismo;
ver adiante) com as estruturas dúcteis (dobras, foliações, zonas miloníticas) de
idade precambriana (o caso nos escudos cristalinos do Brasil e da África, p.ex.),
originadas em ambiente crustal profundo (e há > 500 Ma atrás !). Nesse mesmo
sentido, classificações de juntas de acordo com a sua orientação em relação às
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estruturas dúcteis regionais são de escassa utilidade prática na avaliação do seu
potencial hídrogeológico.
3.6 – O contexto tectônico regional e suas implicações: o exemplo daBorborema
Em cada região da crosta continental, a deformação frágil pode ser
caracterizada em termos geométricos e cinemáticos, compondo sucessivos eventos
que podem ser alocados nos seus respectivos nichos no espaço (incluindo a
profundidade crustal) e (com auxílio de métodos cronoestratigráficos) no tempo. A
integração de dados através de áreas de escala (sub)continental permite relacionar
esses episódios a processos nas margens ou no interior de placas, em arranjos
pretéritos (neoproterozóicos, mesozóicos) ou atuais, aos quais correspondem
sistemas de tensões específicos.
No Nordeste do Brasil (ou mais especificamente, na Província Borborema;
Almeida e Hasui 1984; Mapa Geológico do Brasil 2001; Figura 3.8), o último evento
de deformação dúctil foi o ciclo orogênico Brasiliano, ca. 600±100 Ma atrás. Com o
soerguimento regional e exumação do terreno, já no Cambro-Ordoviciano, estruturas
frágeis tardi-brasilianas foram desenvolvidas e hoje estão expostas, caracterizadas
por marcadores cinemáticos relativamente “quentes” (fraturas preenchidas por veios
de quartzo, pegmatito, mica branca, sericita, clorita e outros minerais de origem
hidrotermal; o quartzo pode ocorrer como fibras “estiradas”, etc.). Na chamada Faixa
Seridó e em outros domínios adjacentes, o fraturamento tardi-brasiliano,
dominantemente com forte mergulho, também é reconhecido pela sua relação
geométrica (p.ex., as fraturas de distensão são ortogonais ou escalonadas,
bissectando falhas e fraturas de cisalhamento) com lineações de estiramento e
zonas miloníticas transcorrentes NE/NNE (Jardim de Sá 1994). A Figura 3.9
reproduz simplificadamente os trends de fraturas observados.
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Zonas de CisalhamentoBrasilianas
Terrenos Gnáissico-Migmatíticos
Faixas de Metasupracrustais Proterozóicas
Coberturas Fanerozóicas
Embasamento Cristalino Precambriano
Natal
Fortaleza
Recife
Aracaju
Remígio
100 KmN
Patos
L i n e a m e n t o P a t o s
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Santa CruzCurraisNovos
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Macau
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Caicó
Ortognaisses Proterozóicos
Zonas de CisalhamentoBrasilianas
Cr
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bri
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o
EmbasamentoGnáissico-Migmatítico
Grupo Seridó
Granitóides Brasilianos
Bacia Potiguar
Bacias Interioranas
Faixa Seridó
Formação Serra do Martins
Formações Açu e Jandaíra
Grupo Rio do Peixe
Coberturas Neógeno-Quaternárias
L I T O E S T R A T I G R A F I A
Souza
Figura 3.8 – (a) Arcabouço tectônico da Província Borborema e bacias mesozóicas, Nordeste do Brasil.(b) O detalhe reproduz a Faixa Seridó e, a norte, a Bacia Potiguar. Adaptado de Jardim de Sá (1994) e do Mapa Geológico do Estado do Rio Grande do Norte (1998).
A tectônica no restante do Paleozóico é pouco conhecida. A partir do
Jurássico superior e até o Cretáceo superior, o processo de separação continental e
criação do Oceano Atlântico imprimiu outros conjuntos de fraturas, numa evolução
complexa, polifásica (Matos 1992, 1999, 2000), com feições que em geral refletem
níveis crustais mais rasos. Os eixos de rifteamento no interior e na margem do
continente obedeceram inicialmente a uma direção de distensão NW, com eventos
precoces que mostram uma deflexão nessa direção (distensão N-S é inferida a partir
dos enxames de diques Rio Ceará-Mirim). Posteriormente, a margem equatorial do
continente foi estruturada (numa visão simplificada) em transcorrências dextrais E-W
e falhas normais-oblíquas NW (Matos 2000; Jardim de Sá 2001). A Figura 3.9
também ilustra esquematicamente este evento polifásico.
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(C)Neógeno ao Pleistoceno
Junta de ]distensão
Falhanormal
Falhatranscorrente
Enxame de diques
(D)Holoceno
Eixoscinemáticos
(B)Cretáceo
(i)
(ii)
(A)Final do Neoproterozóicoao Cambro-Ordoviaciano
Figura 3.9 – Cinemática dos principais episódios de deformação e estruturas frágeis fanerozóicas naFaixa Seridó e domínios adjacentes (Província Borborema, Nordeste do Brasil). (a) Final doNeoproterozóico ao Cambro-Ordoviciano, durante a exumação da cadeia colisional/transpressivabrasiliana; (b) À esquerda (i), rifteamento no Cretáceo inferior (Neocomiano), sucedido (conformeilustrado à direita) pela (ii) evolução transformante ao longo da margem equatorial, a partir doBarremiano-Aptiano; (c) Domeamento intraplaca durante o Neógeno-Pleistoceno, cujos efeitos sãosumperimpostos (e eventualmente dominantes) sobre outros regimes contemporâneos; (d) Tectônicaholocênica; compressão E-W através da Placa Sul-Americana, provavelmente ativa desde o final doCretáceo; na margem equatorial, o regime b (i) também condiciona a deformação desde o final doCretáceo.
A partir do final do Cretáceo, o regime tectônico vigente deve(ria) ter sido
similar ao atual, que tipifica as margens continentais passivas, evoluídas a partir de
limites de placas divergentes (caso da Margem Atlântica Leste, de Natal para sul) ou
transformantes (caso da Margem Atlântica Equatorial, de Natal para oeste). Todavia,
na margem e em boa parte do interior continental, estão bem caracterizadas falhas
transcorrentes e normais filiadas a um regime com eixo principal de tensão (σ1,
compressão ?) N-S ou, mais apropriadamente, distensão geral no plano horizontal;
falhas normais, juntas de distensão e fraturas híbridas são comuns neste evento.
Essas estruturas cortam os sedimentos cretáceos da Bacia Potiguar, penetram no
cristalino (onde, em geral, reativam fraturas mais antigas) e também afetam as
formações Serra do Martins (Paleógena, ocorrendo em platôs interioranos) e
Barreiras, esta última na costa, indicando que este regime tectônico perdurou até o
Plioceno, pelo menos. O nível crustal dessas estruturas é bastante raso;
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preenchimentos com calcedônia e óxidos/hidróxidos de ferro são freqüentes. O
mecanismo tectônico para gerar essa compressão N-S ainda não está bem
explicado. Coincidentemente, durante o Neógeno (Terciário superior), registra-se a
presença de um outro elemento tectônico, um domeamento térmico associado a
magmatismo alcalino intraplaca (o Vulcanismo Macau; Carneiro et al. 1989),
atribuído como responsável pelo soerguimento do Planalto da Borborema. Um
contexto hipotético de domeamento assimétrico (com distensão geral no plano
horizontal, e mais pronunciada - σ3, na direção E-W) e a participação de fluidos no
fraturamento (indicado pela freqüência dos precipitados), poderiam explicar este
conjunto particular, porém importante, de estruturas (Figura 3.10). Todo esse
arcabouço está ainda em processo de reconhecimento e detalhamento (Matos
1992,1999,2000; Jardim de Sá et al. 1999; Jardim de Sá 2001).
3
1 2ou
10 - 100 km
Figura 3.10 – Modelo cinemático para a deformação Neógena na crosta superior do Nordeste do Brasil(Jardim de Sá et al. 1999). O alçamento do Platô da Borborema é atribuído a uma anomalia térmica (pluma mantélica); a porção superior, frágil, da litosfera (incluindo boa parte da crosta continental) teria sidosubmetida a uma distensão geral (esforços tracionais) no plano horizontal, mais acentuada na direção E-W. Variações na pressão litostática (erosão, deposição) e na pressão de fluidos ocasionam permutações entre eixos de magnitude similar (σ1, σ2), conduzindo à formação alternada de transcorrências e falhasnormais.
3.7 – Neotectônica e a evolução crustal holocênica
Várias investigações confirmam o papel do campo de tensões atual em ditar
um ou outro comportamento (“aberto” ou “fechado”) das fraturas, com
correspondente implicação na sua capacidade hídrica (Carlsson e Olsson 1980-81;
Heffer e Lean 1993; Sibson 1994; Banks et al. 1996; Barton et al. 1997; Aydin 2000).
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A definição temporal da neotectônica é variável, entre autores e regiões, mas
de um modo geral englobaria o período de tempo durante o qual o regime tectônico
atual esteve vigente. No Nordeste do Brasil, este lapso cronológico certamente
engloba o Holoceno (o que é suficiente para as nossas necessidades de prospectar
água no cristalino !), sem detrimento de sua extensão a todo o Quaternário (Saadi
1993). A definição de campos de tensões com base nos dados sismológicos (a
sismotectônica) ou nas medidas diretas em poços, como disponível no Nordeste do
Brasil (Lima et al. 1997, Ferreira et al. 1998; Lima Neto 1998), são ferramentas das
mais importantes para identificar os sistemas de tensões atuais. No Planalto da
Borborema, interior do Nordeste setentrional, os vários tipos de dados disponíveis
definem este campo de tensões em termos de compressão (σ1) E-W e distensão (σ3)
N-S. No prisma de sedimentos na borda continental, o sistema de tensões é mais
complexo (Assumpção 1992; Lima Neto 1998; Jardim de Sá 2001) mas essas
considerações são de menor importância no momento.
Dados morfotectônicos também podem ser utilizados para conhecer os
sistemas de tensões recentes (Saadi 1993; Bezerra et al. 1998; Nascimento da Silva
e Jardim de Sá 2000). Neste sentido, a neotectônica também interfere e se reflete na
rede de drenagem, nos blocos soerguidos e rebaixados e, conseqüentemente, nos
processos de erosão, intemperismo e deposição de coberturas, todos os quais são
fatores que influenciam no processo de locação de poços.
A deformação neotectônica vai gerar estruturas novas em marcadores (rochas,
unidades litoestratigráficas) recentes e mesmo de idade Neógena, como a Formação
Barreiras (Bezerra et al. 1998, 2001). No cristalino precambriano, a geração de
novas fraturas parece ser bastante restrita ao nível da superfície atual, como no
caso da Falha Sísmica de Samambaia, em João Câmara, RN (Coriolano et al. 1997).
A situação mais comum, no embasamento cristalino, é a reativação da trama de
fraturas pré-existentes (cambrianas, juro-cretáceas, terciárias), como já foi
demonstrado em sítios localizados, com auxílio de marcadores muito jovens e de
nível crustal raso (precipitados minerais ou preenchimentos por cascalho; Coriolano
et al. 1997,2000; Menezes e Jardim de Sá 1999), ou por feições morfotectônicas
(Nascimento da Silva e Jardim de Sá 2000). O tipo de reativação em cada fratura
será função da sua orientação em relação ao elipsóide de tensões local; se não
conhecido, este último pode ser estimado a partir do sistema de tensões
regionalmente ativo. Outros fatores influentes incluem a pressão de fluidos nas
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rochas e fraturas, e a resistência coesiva das mesmas (parâmetro “c” do critério de
ruptura de Coulomb), ditada pelo selamento ou abertura (inclusive pelo
intemperismo) prévia das fraturas (Figura 3.3c).
3.8 – Implicações para a hidrogeologia de terrenos cristalinos
A partir do último parágrafo, esta seção de implicações pode iniciar
considerando o modo de reativação neotectônica da trama de fraturas pré-
existentes. Vários trabalhos (Carlsson e Olsson 1980-81; Heffer e Lean 1993; Banks
et al. 1996; Barton et al. 1997; Finkbeiner et al. 1997; Aydin 2000) reportam
resultados consistentes, nos quais as fraturas orientadas em baixo ângulo
(subparalelas) ao eixo de compressão principal (ou distensão mínima) σ1 são
aquelas mais “abertas” (funcionam como juntas de distensão) e, assim, apresentam
maior potencial hidrogeológico; em situação oposta, situam-se as fraturas em forte
ângulo com σ1 (corresponderiam a fraturas “fechadas”, em função de um
componente de compressão ou, quando menos, de um eixo de distensão mínima).
Podem ser visualizadas várias situações “intermediárias” possíveis, equivalentes a
fraturas de cisalhamento ou fraturas híbridas. Esta regra oferece, pelo menos à
primeira vista, uma relação simples, fundamentada e útil, para avaliação do potencial
hidrogeológico das fraturas no cristalino (Figura 3.11). Também fica claro a
inexistência de uma relação direta entre fraturas precambrianas ou cretáceas (juntas
de distensão preenchidas por veios ácidos, de quartzo ou diabásio), e seu
comportamento atual “aberto” ou “fechado”.
3
1
Figura 3.11 – Abertura de fraturas em relação a campos de tensões neotectônicos (exemplo do Nordestedo Brasil, provavelmente também válido para amplas regiões no interior do Brasil). Fraturas em altoângulo com σ3 (ou subparalelas a σ1) são preferencialmente abertas. Na figura, a espessura do traço das fraturas é proporcional ao seu comportamento de abertura.
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No Nordeste Setentrional, a coincidência da direção de distensão principal,
horizontal NNE a N-S, em tempos tardi-Brasilianos, no Cretáceo inferior-médio e no
Holoceno, condicionando (em cada período citado; ver Figura 3.9) o funcionamento
de fraturas E-W como estruturas de distensão, mais “abertas”, deve ser considerada
como uma ocorrência fortuita. A distinção entre fraturas “antigas” e “jovens” pode ser
esboçada com critérios de campo, o que permite uma avaliação mais adequada do
seu significado tectônico e potencial hidrogeológico. Em terrenos cristalinos, a
determinação dos sistemas de tensões atuais (neotectônicos), em escala local, sofre
severas restrições pela escassez de marcadores apropriados, o que pode ser
superado com inferências regionais, dados morfotectônicos e o exame detalhado do
fraturamento, com especial atenção a estrias argilosas e outros indicadores
cinemáticos de baixa temperatura (Coriolano et al. 1997,2000; Menezes e Jardim de
Sá 1999; Nascimento da Silva e Jardim de Sá 2000).
No tocante a um plano de fratura específico, o estudo de rochas de falhas
(brechas e cataclasitos) e mineralizações hidrotermais deixa claro a possibilidade de
geração de uma trama porosa e permeável, através da qual pode circular um
enorme volume de fluidos (Sibson 1977,1981,1994; Muir Wood 1994). Quando
cimentados, brechas e cataclasitos reduzem consideravelmente sua permo-
porosidade, que todavia pode ser re-estabelecida em um novo pulso de movimento.
O resultado final desses ciclos é difícil de prever; todavia, em condições muito rasas,
as brechas tendem a ser incoesivas e permo-porosas, em função da ausência de um
fluido cimentante. Juntas de distensão podem experimentar ciclos semelhantes de
abertura e preenchimento (o mecanismo crack-seal) (Ramsay e Huber 1987; Dunne
e Hancock 1994). Deste modo e no tocante a fraturas antigas, o seu potencial
hidrogeológico é variável e controlado por múltiplos fatores (orientação, abertura,
rugosidade, selamento, reativações, etc.; ver também Costa e Silva 1997). Uma
junta de distensão, ou uma zona de falha com múltiplas interseções, teoricamente
estruturas “abertas”, podem ser impermeabilizadas por precipitados minerais. Sua
“re-abertura” poderia se dar em uma ou ambas das seguintes instâncias: (i)
intemperismo do preenchimento (que todavia também pode selar a fratura; ver
adiante); (ii) reativação da fratura, especialmente em contexto neotectônico (devido
à idade recente, a possibilidade de um novo selamento seria menor).
A geometria dos sistemas de fraturas deve ser estudada em cada localidade,
aqui incluída a sua classificação em conjuntos com idade similar ou distinta, e
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cinemática própria. O padrão tridimensional resultante tem implicações no tocante às
possibilidades de interseções mútuas e conectividade do sistema (Black 1994). O
aspecto mais simples, a ser inicialmente considerado pelo hidrogeólogo, é a
provável/possível extensão de uma fratura em profundidade. Quanto mais profunda,
maior a probabilidade de drenarem e estocarem água, inclusive pela possibilidade
de se interconectarem com outras estruturas. Estatisticamente, essa extensão pode
ser avaliada pela dimensão média das fraturas fotointerpretadas (ou estimadas no
campo). Todavia, a consideração da forma da fratura, em relação ao nível de
erosão, deixa claro a possibilidade de surpresas nas locações (Figura 3.12).
Frequentemente, as fraturas correspondem a uma seção elíptica com eixo maior
subhorizontal (Davison 1994; Nicol et al. 1996, p.ex.), com bordas por vezes
recortadas; a depender do nível de erosão atual, uma fratura pode se expor na sua
dimensão máxima aproximada (se o corte corresponde à parte mediana), ou pode
aumentar (corte no topo) ou diminuir (corte na porção inferior) em profundidade. Tal
fato justifica a aplicação, quando possível, de métodos geofísicos na locação de
poços em áreas problemáticas.
a
a'
a"
b"
c"
d"
e"
b'
c'
d'
e'
a
b
b
c
c
d
d
e
e
Perímetro da fratura(tip line)
Superfície de erosão
a = fratura “cega”b = a extensão aumenta com a profundidadec = extensão máxima da fraturad = a fratura desaparece em profundidadee = fratura “erodida”
Figura 3.12 – Nível de erosão e extensão de fraturas em profundidade. Os casos (b) e (c) correspondem a fraturas com bom potencial hidrogeológico (por vezes inesperado, caso b). Em (d), a fratura desaparecerapidamente em profundidade, conduzindo a resultados negativos na perfuração de um poço.
Fraturas com alto ângulo (ou mesmo subverticais) são de ocorrência
dominante no Nordeste do Brasil/Planalto da Borborema, o que é decorrente da
cinemática transcorrente ou distensional vigente durante o seu desenvolvimento, ao
final do Precambriano e no rifteamento cretáceo, os dois episódios que atingiram
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magnitudes expressivas (também no fraturamento Neógeno) (comparar Figuras 3.9
e 3.5). Já foi chamado atenção, na literatura (Costa e Silva 1997), de que nesses
casos, a perfuração de poços inclinados forneceria melhores resultados (vazões) em
relação aos poços verticais usuais, permitindo interceptar múltiplas fraturas;
problemas tecnológicos, ligados ao bombeamento, restringem a aplicação deste
princípio geométrico simples (Figura 3.13).
Figura 3.13 – O sucesso de um poço é função do número de fraturas produtoras interceptadas. Emregiões com fraturas dominantemente de alto ângulo (como no Nordeste do Brasil) e seguindo esteparâmetro, os poços deveriam ser inclinados, de modo a obter maiores vazões. Poços verticais são mais adequados para regiões dominadas por fraturas de baixo ângulo. Ver discussões adicionais no texto.
A natureza da rocha e a magnitude das tensões envolvidas também
influenciam na geometria do fraturamento. Tensões de grande magnitude,
persistentemente ativadas, resultam em estruturas comparativamente maiores.
Rochas cristalinas maciças, com anisotropias mais fracas (p.ex., granitóides),
tendem a desenvolver fraturas mais longas porém mais espaçadas, em relação
àquelas presentes em rochas fortemente anisotrópicas (xistos, gnaisses com
bandamento fino), nas quais o fraturamento tende a ser mais denso e com
dimensões mais reduzidas; um contraste similar é observado comparando uma
mesma rocha, fresca ou parcialmente alterada, respectivamente. Em um mesmo
litotipo foliado, a orientação dessa anisotropia pode ser favorável (baixo ângulo com
σ1) à sua reativação como fraturas, que neste caso tendem a ser menores e mais
densas; com os planos de anisotropia em forte ângulo com σ1, as fraturas tendem a
se desenvolver de modo mais espaçado e com maiores dimensões (Bourguet et al.
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1980-81, Twiss e Moores 1992; Dunne e Hancock 1994; van der Pluijm e Marshak
1997; Aydin 2000).
A interconexão de fraturas é um fator extremamente positivo para o seu
potencial hidrogeológico, contribuindo para desenvolver condições de porosidade
(fraturas abertas) e permeabilidade (fraturas interconectadas). Assumindo o caso
comum de fraturas predominantemente com alto ângulo (como acima referido para o
Nordeste/Planalto da Borborema), as interconexões podem ser formadas no
encontro de diferentes famílias, ou quando as mesmas são interceptadas por
fraturas de baixo ângulo, em geral associadas à descompressão do terreno (Figura
3.14); as fraturas de baixo ângulo permitem distribuir a água superficial infiltrada
através de uma área mais ampla, com possibilidades de alimentar um maior número
de fraturas disponíveis. Pela multiplicidade e interconexão das fraturas presentes
(tipos T, R, R’, P), zonas de falhas (embora equiparáveis às fraturas de
cisalhamento, teoricamente fechadas) podem ser tão ou mais interessantes quanto
um sistema de juntas de distensão paralelas, estruturas abertas mas que não
necessariamente se interconectam (a não ser através de outros tipos de
fraturas)(Black 1994; Aydin 2000).
Juntas e falhas isoladas
Redes de fraturas em zonas de falha
Poço seco Poço com baixa vazão Poço com alta vazão
Figura 3.14 – Conectividade de fraturas e a permo-porosidade estruturalmente induzida em rochascristalinas. Contrastar as situações: (i) juntas e falhas isoladas (menor favorabilidade, salvo grandesfraturas em orientação favorável, abertas) vs. uma rede de fraturas interconectadas ao longo de umazonas de falha (maior favorabilidade); (ii) fraturas isoladas (poço seco ou de baixa produção), fraturas de baixo ângulo conectando juntas de distensão isoladas (vazões medianas), idem, tambéminterconectando zonas de falhas (poços com maiores vazões). Ver discussões adicionais no texto.
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Ao longo da trama de fraturas, o escoamento da água obedece a gradientes
de pressão, quer sejam de origem (neo)tectônica, relacionadas à força da gravidade
(mais importante para a água escoando ao longo de fraturas abertas, de mergulho
médio a forte) ou ao pêso da coluna de rocha suprajacente – que neste caso tende a
fechar as fraturas (a importância deste último fator seria maior no escoamento em
fraturas de baixo a médio ângulo). A combinação dessas possibilidades (que
também interagem com tensões capilares e são influenciadas pela geometria de
detalhe e a rugosidade da fratura; Costa e Silva 1997), em cada sítio, deve imprimir
uma anisotropia de escoamento ao longo do maciço rochoso, gerando sistemas
naturais de bombeamento, também designados de “bombeamento tectônico” (Figura
3.15). O predomínio dos dois últimos fatores condicionaria linhas de fluxo com forte
mergulho (ou forte rake no plano de uma fratura). Por outro lado, tensões
neotectônicas podem criar gradientes com orientação diversificada, inclusive
subhorizontais (ou de baixo rake). Num sistema de falhas transcorrentes (ver
também a Figura 3.16), pode ser instalado um fluxo a partir dos sítios de
transpressão, em direção aos espaços abertos, em transtração (aberturas em
dominó ou pull-apart); efeito semelhante pode ocorrer com outros tipos de falhas
(migração dos sítios em contração para os sítios em dilatação). O funcionamento
penecontemporâneo de fraturas de cisalhamento conjugadas (ou a reativação
simultânea de quaisquer fraturas oblíquas entre si) pode resultar na “abertura”
alternada de segmentos desses planos de cisalhamento, que de outro modo são
usualmente referidos como “fechados”. Esses padrões de fluxo são bem conhecidos
a partir do estudo de fluidos hidrotermais e de reservatórios de hidrocarbonetos
(Sibson 1987,1994; Hodgson 1989; Muir Wood 1994). Os mesmos são também
controlados pela abertura e rugosidade (e tipos de preenchimentos) das várias
fraturas, em cada local.
Em virtude dos múltiplos fatores envolvidos e da dificuldade em obter
parâmetros simples e pertinentes, este último tópico dificilmente pode ser abordado
num trabalho de campo “usual”, na prospecção hidrogeológica. Todavia, este tipo de
conhecimento permite entender melhor os processos de fluxo da água e alimentação
das fraturas.
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superfície de erosão
fraturas
Aumento da pressão litostática
(A) (B)
(C) (D)
Figura 3.15 – Alguns condicionantes para o fluxo de fluidos ao longo de fraturas em rochas cristalinas,gerando sistemas naturais de bombeamento. (a) e (b) são situações na ausência de tensõesneotectônicas, todavia presentes em (c) e (d). As setas simples indicam o fluxo de água. (a) Infiltraçãodominada pela gravidade; fluxo ascensional capilar subordinado. (b) Infiltração idem; fluxo ascensionalcontrolado pela carga litostática; a água infiltrada e acumulada em fraturas de baixo ângulo (em“fechamento”), é pressurizada e escoada para cima ao longo de descontinuidades abertas (fraturas emalto ângulo). (c) Descontinuidade em baixo ângulo, interceptada por falha com reativação normal; nobloco do teto, o movimento (aliado ao peso do bloco) expulsa água contida ao longo da descontinuidade, que migra para o bloco do muro (descomprimido ao longo da descontinuidade) e para cima,aproveitando a falha. (d) Fluxo de água ao longo de uma falha transcorrente, de um sítio emtranspressão/contração a um sítio em transtração/dilatação.
Sítios de contração (c) ou de dilatação (d) em zonas de falhas
Evolução no tempo
c
d
dc
c
d
c d
(A)
(B)
Figura 3.16 – Sistemas de bombeamento tectônico; as setas simples indicam o fluxo de água. (a) Sítiosde contração (onde ocorre expulsão da água) e de dilatação (acumuladores de água), em terminações ecotovelos (jogs) de falhas ativas. (b) Abertura intermitente de fraturas de cisalhamento conjugadas,durante deformação progressiva.
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O trabalho de locação de um poço inicia com uma avaliação do terreno
através de fotografias aéreas e (mais recentemente) imagens de satélite. No
momento, as imagens usualmente comercializadas (e mais baratas) mostram
restrições pela pequena escala; por outro lado, elas permitem tratamentos
computacionais que podem, ao menos em parte dos casos, realçar condições de
maior ou menor umidade ao longo de trechos de riachos, bem como a localização de
coberturas arenosas que propiciem condições de recarga nas fraturas (Coriolano
2002; Boeckh 1992; Sander 1996).
Em geral, o confronto entre lineamentos fotointerpretados com a realidade de
terreno fornece resultados discrepantes, a exemplo da discriminação errônea entre
fraturas, zonas miloníticas e traços de foliação, o que todavia pode ser sanado com
alguma prática por parte do geólogo/hidrogeólogo. As fraturas são, em princípio, as
estruturas de maior potencial hidrogeológico. Todavia, é comum que as zonas
miloníticas exibam estágios ou reativações tardias de natureza cataclástica,
engendrando uma trama de fraturas com maior favorabilidade (aumento dos fatores
porosidade e permeabilidade). Uma situação mais complexa, a ser tratada caso a
caso, é a mudança, por vezes radical, entre o contexto estrutural fotointerpretado
(p.ex., uma zona de fratura em fotografia aérea 1:40.000, cuja direção geral tem
baixo potencial de “abertura”) e aquele presente na escala dos afloramentos em
torno do poço (aonde a trama de fraturamento pode incluir sistemas “abertos”, bem
desenvolvidos apenas em escala mesoscópica). A Figura 3.17 ilustra essa questão
da escala de lineamentos e fraturas. Deste modo, o estudo de campo é uma etapa
imprescindível na abordagem estrutural e na pesquisa de água subterrânea.
1-10 km 100-1000 m 1-100 m
Imagem Orbital Fotografia Aérea Campo
(A) (B) (C)
Figura 3.17 – Lineamentos e zonas de fraturas: o problema da escala. (a) Lineamento interpretado a partir de uma imagem de satélite (escala 1:100.000 ou menor), representado como um traço único; (b) Nodetalhe de uma fotografia aérea (1:10.000 a 1:70.000), o mesmo lineamento pode se apresentarsegmentado; (C) Na escala de campo e da locação final do poço, podem ocorrer fraturas em orientações distintas.
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3.9 – Efeito da exumação e do intemperismo sobre a permo-porosidade dasrochas
Um outro aspecto importante a ser reavaliado é a questão da “abertura” de
fraturas e outros tipos de descontinuidades, próximo à superfície (< 60-80 m, p.ex.),
o que é apoiado por dados estatísticos, que relatam o “aumento na freqüência do
fraturamento”, em profundidades rasas, por processos intempéricos (Bourguet et al.
1980-81; Carlsson e Olsson 1980-81; Avias 1982). Neste sentido, os fatores que
devem ser considerados incluem: (i) o papel do intemperismo (já cogitado por
Siqueira 1967), “abrindo” (ou ao contrário, selando) os vários planos de
descontinuidades, incluindo foliações proeminentes e contatos litológicos. Além de
fatores químicos e climáticos, a efetividade do processo intempérico vai ser
influenciada pela mineralogia e fabric da rocha original e, no caso das
falhas/fraturas, pelo grau de cataclase/cominuição das rochas e a sua eventual
cimentação por soluções e precipitados minerais; (ii) o alívio de carga
(descompressão) com a exumação rápida do terreno (também criando fraturas de
baixo ângulo, abertas) e/ou a expansão superficial no topo de amplas áreas
dômicas.
No tocante a um plano de fratura específico, a ação do intemperismo é muito
variável. Rochas cristalinas fortemente cominuídas, e precipitados ricos em
feldspatos, tendem a formar zonas e bolsões argilosos durante o intemperismo. Em
regiões úmidas, com lençol freático elevado e estável, esses “tampões” argilosos
provavelmente mantêm as fraturas fechadas durante longo tempo. Esta situação
pode requerer a estimulação de poços com injeção de água pressurizada (Waltz e
Decker 1981), para lavar as fraturas (que, todavia podem rapidamente colmatar). Em
regiões com eventos rápidos de infiltração e recarga (chuvas torrenciais, rios
temporários), os tampões argilosos tenderiam a ter vida mais curta e seriam menos
efetivos; gerado a partir de rochas quartzo-feldspáticas, o material de preenchimento
intemperizado, lavado naturalmente, perderia a fração argila e se tornaria mais
granular (quartzoso) e permeável.
No Nordeste do Brasil, a pronunciada dissecação do Planalto da Borborema
constitui um cenário possível do fator combinado (ii) (Figura 3.10). Tendo em vista
que a descompressão gera fraturas subhorizontais próximas à superfície (que em
decorrência, decrescem em freqüência com a profundidade), e que estas atuam
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conectando diferentes famílias de alto ângulo (Figura 3.14), boa parte das quais
também “abertas” na descompressão (Waltz e Decker 1981), deve estar refletido nas
estatísticas e na prática usual de limitar a perfuração de poços à faixa máxima de 80
a 100 m. Provavelmente desta forma, justifica-se o relativo sucesso dos poços
verticais rasos, que terminam por interceptar, direta ou “indiretamente” (ou seja,
através de fraturas subverticais conectadas), fraturas de baixo ângulo (ver Figura
3.13).
A presença de tensões diferenciais (= neotectônicas) no plano horizontal (o
que pode ser avaliado a partir das estruturas observadas em campo) pode introduzir
um componente de anisotropia, realçando a “abertura”, por intemperismo e/ou
relaxamento, de planos com orientação mais adequada. Todavia, atuando
isoladamente, ambos os fatores acima referidos poderiam “abrir” planos em
orientações variadas (Figura 3.18).
3
1
Soerguimento do terreno, denudação e descompressão
Idem, todavia submetido a um campo de tensões neotectônico
1 a 2 hm
(A) (B)
Figura 3.18 – Intemperismo e abertura de fraturas e outros tipos de descontinuidades, em profundidades rasas. (a) Isoladamente, os fatores descompressão + intemperismo tendem a abrir os planos dedescontinuidades com orientações variadas. (b) Na presença de tensões neotectônicas, algumas fraturas (em baixo ângulo com σ1) serão preferencialmente abertas. Na figura, a espessura do traço das fraturas é proporcional ao seu comportamento de abertura.
Um aspecto importante para avaliar o papel do intemperismo na ocorrência de
água em terrenos cristalinos advém da sua provável extensão a níveis mais
profundos, sejam os 60-80 m que constituem os alvos habituais da sondagem,
sejam profundidades ainda maiores (centenas de metros), até aqui pouco
aproveitadas em nosso país. Essa extensão é comprovada em galerias e outros
trabalhos mineiros, escavações profundas ou mesmo em afloramentos naturais
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distribuídos em cotas diferenciadas (ou mesmo em um único afloramento!). A
intensidade do intemperismo, reconhecidamente diferencial, é controlada por fatores
litológicos e/ou estruturais – em especial as zonas de falhas ou fraturas. Provido
adequado aporte de água a partir da superfície (Olofsson 1994), o processo
intempérico pode criar em profundidade “bolsões” ou “câmaras”, nas quais a
alteração imprime às rochas condições de permo-porosidade similares (ou
intermediárias) às de uma rocha sedimentar, granular, o que pode conduzir ao
acúmulo de grandes reservas de água. Esta hipótese ainda deve ser testada com
dados sistemáticos e medidas de laboratório (incluindo correlações com parâmetros
de salinidade e indicações sobre a “idade” da água). Mesmo assim, esta parece ser
uma explicação viável para poços que, embora locados sem indicação favorável de
superfície, forneceram vazões favoráveis. Em especial, para o caso dos super-poços
no cristalino, cujas vazões anomalamente elevadas (incluindo casos > 10 mil l/h, p.
ex.) exigiriam, alternativamente, condições muito especiais (e talvez improváveis) de
recarga e geometria (dimensões, conectividade) do fraturamento. A proposta,
ilustrada na Figura 3.19, é retomada no próximo tópico.
Aluviões Coberturas Zonas de alteraçãoLitotipos cristalinos
Fraturas Foliações e zonas de cisalhamento
Figura 3.19 – Corte esquemático ilustrando o desenvolvimento de câmaras ou bolsões de rochaintemperizada em subsuperfície, controlados por litologias e, em especial, estruturas, podendo seconectar com sítios vizinhos. As águas superficiais, infiltradas a partir de coberturas e do escoamentosuperficial via fraturas, formam acumulações nos bolsões porosos. Notar a produtividade diferencial dos poços, em função do tipo e volume de material (rocha fresca ou alterada) interceptado. A escala vertical, exagerada na figura, pode superar uma ou mais centenas de metros.
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3.10 – Modelos de ocorrência de água subterrânea em terrenos cristalinos
Esta contribuição será complementada com a revisão, aperfeiçoamento e
novas propostas, em torno de modelos de ocorrência de água subterrânea em
rochas cristalinas. Todos esses modelos possuem nítida relação com a estrutura do
terreno, o que justifica sua inclusão no fecho deste capítulo. Esses modelos são
muito úteis para a compreensão do problema, para esboçar estratégias de
prospecção e para direcionar novos avanços no tema.
A literatura tornou clássico o modelo Riacho-Fenda (Siqueira 1967), no qual
trechos retilíneos de riachos coincidem com zonas fortemente fraturadas; isto
permite que as fraturas sejam periodicamente recarregadas pela drenagem (Figura
3.20). “Cotovelos” e trechos retilíneos de riachos constituem aspectos favoráveis em
fotografias aéreas, sendo diagnósticos do modelo quando subsidiados por intenso
fraturamento nos afloramentos, compatível com a orientação da drenagem.
Requisitos adicionais para o sucesso deste modelo incluem a presença de
coberturas/aluviões e topografia/regime de chuvas favoráveis, ensejando a criação
de zonas de recarga. A estratégia prospectiva inclui:
* Fotografias aéreas – distinção dos trends dúcteis e de estruturas frágeis em
ângulo; as estruturas frágeis (inclusive longitudinais) são inferidas por acentuado
controle da drenagem/topografia e por feições de intemperismo;
* Imagens de satélites, incluindo processamento digital – melhor
caracterização e discriminação (umidade, razão areia/argila) de fotolineamentos,
aluviões e coberturas nas áreas de recarga;
* Levantamentos de campo – estudo das litologias e, em especial, dos
padrões de fraturamento;
* Geofísica – definição da geometria da zona fraturada e indicação de grau de
fraturamento/intemperismo.
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Figura 3.20 – Modelo Riacho-Fenda. Observar o intenso fraturamento paralelo ao trecho retilíneo dadrenagem, que também inclui “cotovelos”. As fraturas são periodicamente recarregadas pela drenagem.Simbologia cf. Figura 3.19.
O modelo Calha Elúvio-Aluvionar (Figura 3.21) foi objeto de caracterização
recente (Silva 2000; Nascimento da Silva et al. 2001), ainda que seus aspectos
básicos de favorabilidade – recarga a partir de uma calha de sedimentos, já fossem
reconhecidos na literatura (McFarlane 1992; Olofsson 1994; Costa e Silva 1997) e
na prática regional. Neste modelo, a drenagem não evidencia controle por fraturas
aflorantes; ao oposto, trechos retilíneos podem estar controlados pela foliação das
rochas. A drenagem flui sobre uma calha de aluviões antigos e paleo-regolitos,
utilizando-os para recarregar as descontinuidades no substrato capeado. Deste
modo, os aspectos diagnósticos do modelo incluem: seção espessa de aluviões e
regolito ao longo de drenagens retilíneas ou curvilíneas, a ausência de relação direta
com zonas fraturadas, e sua ocorrência em zonas topograficamente rebaixadas.
Condições favoráveis de topografia, drenagem e clima são requeridas para
desenvolver uma cobertura mais espessa. A estratégia prospectiva inclui:
* Fotografias aéreas – drenagem controlada pela foliação ou contatos
geológicos; pequenos vales com aluviões associados;
* Imagens de satélites, incluindo processamento digital – caracterização de
aluviões e coberturas (teor de umidade, razão areia/argila);
* Levantamentos de campo – estudo estrutural de afloramentos;
reconhecimento da cobertura sedimentar;
* Geofísica – definição da geometria da calha e a natureza do material de
preenchimento.
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Figura 3.21 – Modelo Calha Elúvio-Aluvionar. Neste modelo, a drenagem não evidencia controle porfraturas; trechos retilíneos podem ser paralelos à foliação do cristalino. A drenagem flui sobre uma calha de aluviões antigos e paleo-regolito. Simbologia cf. Figura 3.19.
O modelo Bolsões ou Câmaras de Intemperismo (Figura 3.22) está
baseado em processos de intemperismo diferencial acentuado, controlados por
fraturas, fabric, litologias e tensões neotectônicas. O modelo se caracteriza pelo
aumento da permo-porosidade das rochas na zona intemperizada, que pode se
conectar a outras através de fraturas ou outros tipos de descontinuidades. Aspectos
diagnósticos do modelo incluem: zonas de intemperismo avançado no cristalino,
originando bolsões/câmaras (em subsuperfície), com feições de permo-porosidade
similares às de rochas sedimentares; poços com vazões anomalamente elevadas;
por observação direta o processo é reconhecível em superfície (ou em
profundidades rasas), mas é de difícil extrapolação para a profundidade, o que fica
dependente do acesso via galerias ou escavações profundas. Este modelo,
provavelmente o de maior potencial para obter locações aptas a abastecer
comunidades e vilas de maior porte, é ao mesmo tempo o de diagnóstico mais difícil.
Em termos de estratégias prospectivas:
* Fotografias aéreas e imagens de satélite – o modelo não é diagnosticado
em superfície. Pode ser possível desenvolver tratamentos espectrais para identificar
zonas intemperizadas rasas;
* Levantamentos de campo – o processo de intemperismo diferencial
pronunciado pode ser reconhecível, mas extrapolado unicamente para
profundidades rasas (< 10 m ?); a presença de super-poços, na região, deve ser
levado em conta na estratégia de trabalho;
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* Geofísica – zonas intemperizadas podem ser localizadas, e ter sua
geometria esboçada, em casos mais favoráveis; constitui a grande ferramenta de
aposta para investigar este tipo de modelo.
Figura 3.22 – Modelo Bolsões ou Câmaras de Intemperismo. Caracterizado por intemperismo diferencialpronunciado, controlado por fraturas, fabric, litologias e tensões neotectônicas. A permo-porosidadeaumenta na zona intemperizada, que pode se conectar com outras adjacentes, via rede de fraturas eoutros tipos de descontinuidades. Simbologia cf. Figura 3.19.
3.11 – Observações finais
Estudos sofisticados do fraturamento e do fluxo de água nessas estruturas, no
campo, em laboratório e mediante modelizações matemáticas, encabeçam o avanço
do conhecimento na Hidrogeologia de Meios Fraturados (Black 1994; Bradbury e
Muldoon 1994; Banks et al. 1996; Manoel Filho 1996; Odling 1998). Ao mesmo
tempo, é necessário discutir abordagens que possam ser incorporadas ao trabalho
prático da locação de poços, que exige rapidez e baixo custo, sem perder de vista as
limitações das condições de trabalho e os recursos humanos disponíveis. A contínua
reavaliação da base teórica, em parte defasada, constitui um primeiro passo neste
sentido. É necessário promover a interação entre hidrogeólogos de cristalino, com
prática de campo, e os geólogos estruturais que lidam com temas aplicados. Parte
do material aqui exposto constitui um conjunto de prognósticos, ou um modelo
conceitual simplificado e preliminar, que se soma às contribuições pré-existentes
(muito bem representadas pelo capítulo de Costa e Silva na primeira edição deste
volume). Faz-se necessário testar esses modelos em situações práticas - programas
de sondagens piloto, planejadas consoante aos princípios desenvolvidos. Trata-se
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de um trabalho de longo prazo. Existem dificuldades quanto à qualidade/utilidade
dos atuais arquivos de dados, o que reduz drasticamente a dimensão estatística de
amostragem possível. A opção alternativa é um estudo detalhado de casos bem
documentados/documentáveis, cujos resultados começam a ser divulgados.
3.12 – Agradecimentos
Os autores agradecem ao colega Fernando Antonio Carneiro Feitosa (Serviço
Geológico Nacional, CPRM) pelo honroso convite para contribuir neste volume e
pela atenção despertada para a contribuição da Geologia Estrutural na
Hidrogeologia do Cristalino. Agradecemos às discussões, ensinamentos, incentivos
e dados obtidos junto a colegas hidrogeólogos (Dr. Waldir Duarte Costa, UFPE e
visitante na UFRN em 1999; Elmo Marinho de Figueiredo, Secretaria de Recursos
Hídricos do Rio Grande do Norte e antiga CDM/RN; Fernando A. C. Feitosa e
Clodionor Carvalho de Araújo, da CPRM), outros pesquisadores (Dr. Fernando
César Alves da Silva, Dr. Venerando Eustáquio Amaro) e alunos do PPGG (em
especial, Jesimael Avelino da Silva), nestes últimos anos. O programa PADCT3, a
FINEP, o CNPq, a CAPES e o Projeto Água Subterrânea no Nordeste do Brasil
(PROASNE), em execução no âmbito de um Convênio Brasil/Canadá (este último na
pessoa dos seus coordenadores, Dr. Samir Nahass e o Dr. Yvon Maurice),
concederam apoio financeiro e estímulo às pesquisas deste grupo.
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
Capítulo IV – Análise neotectônica: uma abordagem
objetivando a identificação de fraturas abertas
4.1 – Apresentação
Este capítulo tem como finalidade discutir a relação existente entre as tensões
atuais presentes em subsuperfície e a produtividade de poços para água perfurados
em rochas cristalinas. A idéia unificadora é tentar relacionar o grau de abertura de
fraturas pré-existentes, a depender das suas direções, com a direção dominante dos
esforços hoje atuantes na crosta superior, os chamados “esforços neotectônicos”.
Para tanto, foram analisados diversos casos de locação de poços no Estado do Rio
Grande do Norte, os quais foram separados em dois domínios geográficos
diferentes: a região centro-sul, exemplificada com casos na região de Equador, e a
região leste, abordando diversos casos nas imediações dos municípios de Santa
Cruz e Santo Antônio. Os resultados obtidos constituem dois artigos publicados na
Revista Brasileira de Geociências (Nascimento da Silva e Jardim de Sá 2000c;
Coriolano et al. 2000).
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 60
4.2 – Análise neotectônica: estudo de casos no domínio centro-sul do RN
Fracture chronology and neotectonic control of water wells location in
crystalline terrains: an example from the Equador region, Northeasternmost Brazil*
Carlos César Nascimento da Silva1
Emanuel Ferraz Jardim de Sá2
* Financial support from FINEP/PADCT1 UFRN/CCET/PPGG, Campus Universitário, CEP: 59.078-970, Caixa Postal 1639,
Natal-RN, Brasil, CAPES Scholarship, [email protected] UFRN/CCET/PPGG, Campus Universitário, CEP: 59.078-970, Caixa Postal 1639,
Natal-RN, Brasil, CNPq Research Fellow, [email protected]
4.2.1 – Abstract
The brittle deformation in the Equador area, in the center-south domain of the
Rio Grande do Norte State, NE Brazil, was analyzed in order to establish the
chronological sequence of the different tectonic episodes and their stress fields,
emphasizing the neotectonic activity on the basis of structural and morphotectonic
criteria. The aim of this study was to test the relationship between local and/or
regional neotectonic stress field and the yield of water wells drilled in the region. The
local neotectonic structures and morphotectonic features agree with the regional
stress field, defined by E-W compression (σ1 or SH) and N-S extension (σ3 or Sh).
The current kinematics of the fracture sets, with an “open” or “closed” behavior,
seems to be related to the neotectonic stresses and to be highly influential upon the
water-yielding potential of the fissural aquifer. Besides other controls, water wells
located along roughly E-W trending fractures, which presently act as extension joints,
display higher hydric potential than the ones located along N-S fractures which
present a “closed” tendency. NE-or NW-trending old fractures tend to reactivate by
shearing. In this region, E-W tension joints generated at end of the Brasiliano Cycle
(filled with pegmatite or quartz veins), were reactivated under the N-S to NNW
extensional deformation related to rifting and development of the Cretaceous basins.
The same N-S extension direction is once again active as part of the Holocene stress
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 61
field. In the Caiçara area, 2 km NW of Equador, the wells drilled in quartzite and
metaconglomerate, located along E-W(± 20o) extension fractures and NE or NW
shear fractures have been pumped in a full-time regime since the last 20 years,
without major variations in their dynamic levels. On the other hand, wells located
along longitudinal, N-S fractures or in poorly fractured sites frequently have very low
yields.
Keywords: Brittle structures, neotectonic deformation, crystalline fissural
aquifers, NE Brazil
4.2.2 – Introduction
In crystalline basement terrains, underground water flow and storage is
essentially controlled by fractures. The most important fractures are those with high
porosity and/or permeability which, in fact, correspond to extension joints and to
multi-fractured fault zones. Therefore, the basic problem in the location of water wells
in such terrains rests essentially in the identification of these fracture sets. Fracture
recognition becomes more difficult when the bedrock is hidden below thicker soil,
alluvium or colluvium covers, although recharge may be favoured in that way.
The criteria currently used for hydrogeological exploration remain attached to
old structural concepts established in the 1950’ and 1960’s (Siqueira 1967), including
the association of straight-line drainages to fracture zones. The best sites for well
drilling correspond to the more intensely fractured zones; the influence of fracture
chronology, crustal depth and kinematics were not considered at that time.
It is now known that fracture sets usually represent brittle structures generated
during different tectonic events and their respective stress fields. The chronological
sequence of the fracture systems, established on the basis of structural,
morphotectonic and seismological criteria, constrains the neotectonic stress fields,
represented by the latest structures. Subjected to the neotectonic stress regime, and
depending on their angular relations, some fractures will tend to “open” (acting as
extension joints, normal to σ3 or Sh), others will tend to “close” (those normal to σ1 or
SH), and the ones at an intermediate position will be reactivated with a shear
component. Therefore, the “water yielding potential” (depending on the porosity and
permeability) of the fracture systems will be a function of their original geometry and
of the neotectonic stress regime. A critical reappraisal of structural concepts and the
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 62
development of a practical methodology for location of water wells are part of an
ongoing research project in the semi-arid basement crystalline terrains of Rio Grande
do Norte State.
The Equador area, located in the center-south portion of this State, along the
border with the State of Paraíba (Figure 4.1a), provides an excellent case study to
test the hypothetical correlation between neotectonic fracture reactivation and the
water yield of wells drilled in crystalline terrains. The preliminary results of this study
are reported below.
4.2.3 – Regional framework
4.2.3.1 – The regional geological framework
The study area is located in the northeast part of the Borborema Province
(Almeida et al. 1977), known as the “Seridó Belt”, and more precisely in its central
domain, immediately to the north of the E-W-trending Patos Shear Zone. The Seridó
Belt comprises a Proterozoic supracrustal sequence (the Seridó Group, including the
Jucurutu, Equador and Seridó formations), which overlies a Paleoproterozoic
gneissic-migmatitic basement (the Caicó Complex). These rocks were strongly
deformed and intruded by granitoid plutons during the late Neoproterozoic Brasiliano
orogeny. The Precambrian units are covered by the Meso-Cenozoic sediments of the
coastal basins and, inland, by the subhorizontal, Early Tertiary sandstones of the
Serra do Martins Formation. The latter is currently undergoing dissecation after a
regional uplift (the Borborema Plateau) which started in the Late Tertiary, producing
siliciclastics that were transported to the coastal basins. In the coast, these
siliciclastic units correspond to the Barreiras Formation (Miocene to Pleistocene) and
to other, younger units.
4.2.3.2 – The Phanerozoic brittle deformation
Several phases of Phanerozoic brittle deformation are recorded in the rocks of
the Seridó Belt (Jardim de Sá et al. 1999). An older set includes brittle-ductile and
brittle structures developed at the end of the Brasiliano Cycle, related to E-W
compression, regional uplift, cooling and late movement of the shear zones (Jardim
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 63
de Sá 1994, Coriolano et al. 1997, Jardim de Sá et al. 1999). The Potiguar and other
coastal basins are related to another tectonic episode which lasted from the late
Jurassic to the Cretaceous, due to the rifting between South America and Africa
(known as the “Gondwanic Reactivation”; Almeida et al. 1977). According to Matos
(1992), this period is marked by extensional deformation along N- to NW-trending
(σ3) axes, reactivating the Precambrian structures. An E-W-trending swarm of
diabase dikes, named the Rio Ceará-Mirim Volcanism, was emplaced between 140
and 120 Ma (Martins and Oliveira 1992). During the Late Tertiary to the Pleistocene,
a new tectonic episode controlled by N-S compressive stresses (Dantas 1998)
created and reactivated strike-slip fault zones. A regional dome, associated with
alkaline basic volcanism, uplifted the Borborema Plateau (Jardim de Sá et al. 1999).
During the Holocene, the neotectonic regime is dominated by E-W compression
and N-S extension, as shown by the important seismic activity in several areas, such
as João Câmara (Ferreira et al. 1998, Coriolano et al. 1997). The neotectonic
structures are also recognized in stratigraphic markers such as the Barreiras
Formation, gravel deposits and younger holocenic covers (Caldas et al. 1997,
Coriolano et al. 1999, Jardim de Sá et al. 1999), as well as by a number of
morphotectonic features (i.e., Dantas 1998).
4.2.4 – Geology of the Equador area
4.2.4.1 – Stratigraphic and structural framework
The following stratigraphic units crop out in the Equador area: a) migmatitic
gneisses related to the Caicó Complex; b) paragneisses, quartzites and micaschists
respectively correlated to the Jucurutu, Equador and Seridó formations of the Seridó
Group; c) late-Brasiliano acid dikes; d) ferruginous sandstones (Serra do Martins
Formation) and e) Holocene sandy cover and more localized alluvium and colluvium
deposits. The macro-scale structures were produced mostly during the main high
temperature, Brasiliano ductile event, named as D3 (Jardim de Sá 1994). This event
was responsible for the development of the dextral, transcurrent Serra dos Quintos
Shear Zone, located in the western portion of the area, and for the alternating
antiforms and synforms along the Serra das Queimadas, folding an earlier, D2 fabric
(Figure 4.1b).
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 64
4.2.4.2 – The brittle structures
The determination of the relative age of the fracture systems (Figure 4.1c),
combined with the morphotectonic framework, is the first step in investigating the
effect of the neotectonic stress field upon potential structures for water storage. The
chronological criteria used to determine the relative formation and/or reactivation of
the fractures were: a) type of affected markers and filling materials, the latter also
used to interpret the crustal level of fracturing; b) kinematics; c) cross-cutting
relationships between different fracture sets; d) geomorphologic features which are
associated to the youngermost structures, being consistent with other neotectonic
and regional seismotectonic data (Jardim de Sá et al. 1999).
Figure 4.1 – Geographical (1a), geological (1b) and lineament (fracture) (1c) maps of the Equador area.
36 45' Wo
36 45' Wo
36 39' Wo
36 39' Wo
06
52
'30”
So
06
52'3
0”
So
06
57
’3
0”
So
06
57’
30
”S
o
Equador
b
c
a
Caicó
CurraisNovos
Santa Cruz
9 0 k m
Equador
NATAL
RIO GRANDEDO NORTECEARÁ
PARAÍBA
ATLANTIC
OC
EA
N
BRAZIL
38º W 35º W
05º
S07
ºS
Caiçara
Equador
Micaschist (Seridó Formation)
Limonitized sandstones(Serra do Martins Formation)
Unconsolidated cover
Paragneisses with quartzites lenses ( ) (Jucurutu Formation)
Migmatitic gneisses (Caicó Complex)
Quartzite (Equador Formation)
Highways
Secundary RoadCity
Drainage
Dextral TranspessiveShear Zone
Antiform Synform
Fracture
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In chronological order, the structures were grouped as:
a) Late-Brasiliano, Cambrian-Ordovician Structures: these occur in kinematic
continuity with structures generated during the high temperature deformation stage of
the Brasiliano Cycle, and were developed during a brittle to ductile-brittle regime
consistent with tectonic denudation and regional cooling. The structures of this
system result from a E-W main compression (σ1) with N-S extension (σ3), coupled
with dextral shearing along NNE-trending zones (i.e., a transpressional environment).
They include E-W extensional joints, sometimes filled by pegmatitic, quartz or aplite
veins, besides dextral N to NNE longitudinal (shear) fractures and conjugate NE
dextral and NW sinistral shear fractures.
b) Jurassic-Cretaceous Structures: these structures comprise roughly E-W
trending faults displaying low-temperature slickenlines with a down-dip movement,
indicative of a N-S extensional deformation. They reactivated the late-Brasiliano
extension joint set, generating cataclastic zones and may be occasionally filled with
basic dikes.
c) Late Tertiary-Pleistocene Structures: these structures are not kinematically
compatible with any of the other groups, consisting of NE sinistral and NW dextral
shear fractures sets, and N-S extensional joints or normal faults. Regional N-S
compression and E-W extension axes may be inferred for this system. Their regional
tectonic setting has been related to the thermal doming effect which uplifted the
Borborema Plateau since Miocene times, overprinting the regional E-W
compressional regime currently in operation (see below). With regard to the
geomorphologic evolution, it is noteworthy the structural control of the sandstone
occurrences of the Serra do Martins Formation, preserved as down-faulted blocks
due to the E-W extension, which reactivated the NNE-trending Serra dos Quintos
shear zone.
d) Holocene Structures: these correspond to reactivated late-Brasiliano (or
Cretaceous) fractures, especially those trending E-W ± 20o, which show low
temperature slickenlines defined by clayminerals. This group has a normal fault
kinematics, sometimes with a subordinate strike slip component, or simply
correspond to extension joints, being systematically more open as compared to the
other sets. The morphotectonic expression of N-S extension includes the tilting of the
pediplane built on the top of quartzite ridges of the Serra das Queimadas, along the
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E-W fracture planes. These fracture surfaces are also well marked by gorges,
bearing dense vegetation, cross-cutting the quartzite ridges.
4.2.5 – Criteria for location of water wells in crystalline terrains
The choice of location of water wells in crystalline terrains is still based on
criteria defined in the 1950’s and 1960’s decades (Costa 1965; Siqueira 1967).
These criteria include the widely used association between drainages and fracture
zones. “Extensional fractures” are often determined as such using precambrian
markers (!); densely fractured zones (such as fracture intersection zones) are
prospected through the examination of aerial photographs and outcrops. However, in
many cases, these fractures are old structures, generated at depth under an old
stress field, different from the present one. These structures would not necessarily
present an “open” behavior, even if they originally correspond to extensional
fractures. Besides generating a network of discontinuities, these old stress fields
cannot, by any chance, control the water flow and storage, either nowadays or in
very recent geological times.
It is very likely that the relationship between the neotectonic stress field and the
trend of the fracture (whether old, generated at a relative depth, or younger,
developed at near-surface conditions) will influence their “open” or “closed” behavior
and, thus, the water flow regime. Relatively to this stress field, fractures that are
roughly perpendicular to the main tensional stress (σ3) will have, in theory, higher
hydraulic potential. On the other hand, fractures which are perpendicular to the main
compression direction (σ1) will tend to the closed. At intermediate angles, shear
fractures tend to be somewhat closed but do present other possibilities for opening,
such as conjugate or intersecting sets, and transtensional sites.
The structural analysis of crystalline terrains identifies several fracture systems
which, when individually analyzed, indicate their parent stress field. The
chronological ordering of these structures and their corresponding stress fields may
help identifying the youngest structures, i.e., those related to the neotectonic regime,
as previously discussed. The local neotectonic stress field may be quite difficult to
determine in crystalline rocks, at a given place. It may be the same as the regional
scale one or it may vary, due to local anisotropies (topographical anomalies or major
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geological discontinuities). Due to the general lack of appropriate markers in
crystalline rocks, it is the regional stress field that is usually taken for comparisons.
Another useful criteria is the morphotectonic analysis of the area, especially
those with diversified topography, determining areas of uplift, depression or tilting.
Furthermore, regional and (less frequently available) local seismological data may
give the best clues to the corresponding present stress field.
Other important criteria for water productivity, such as regional and local
drainage and superficial runoff patterns, availability of recharge zones, alochthonous
or autochthonous covers, etc., are beyond the scope of this contribution.
4.2.6 – Correlation between the neotectonic framework and water well
location in the equador area
In this work, emphasis was given to the set of water wells that supply, almost
entirely, the Equador city. The wells are located in the area called Caiçara,
approximately 2 km NW of Equador (Figure 4.2). At this place, 8 wells were drilled at
the beginning of 1980’s, located in quartzite and metaconglomerate, with depths
ranging from 33 to 60 meters. Their location followed the traditional method including
analysis of aerial photographs and investigation of outcrops. 3 out of the 8 wells are
not productive, one of them due to mechanical obstruction (well 02). The remaining 5
wells currently yield from 2000 to 6000 l/h; two of them are pumped by weather vane
(wells 03 and 04) and three by electric pumps (wells 06, 07 and 08).
In the area, there is a white, quartz-sand sedimentary cover, partly aluvionar,
partly autochthonous, with a maximum thickness of approximately 1,5 m, which must
be acting, at least partially, as a recharge zone for the fracture systems. The streams
are intermittent and flow from the quartzite hills to the east, minimizing water
salinization due to the low content of clays in these rocks.
The data obtained through the geologic-structural and morphotectonic analyses
attest the neotectonic compression and extension directions as E-W and N-S,
respectively. These directions are in agreement with the regional stress field. In this
way, the structures with higher water potential are those with E-W (± 20o) trend,
presently working as extension fractures, followed by NE and NW-trending fractures,
which reactivate as shear surfaces (with a more closed behavior, although still able
to channel flow and retain water).
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At Caiçara, the main drainage is controlled by NW-trending fractures, flowing in
that direction, with small tributaries coming from NE. The main fracture zones
observed at the outcrop scale have ENE, NNW and WNW directions. Longitudinal,
NNE fractures are also observed. The spacing between fractures varies from
centimetric to metric. The E-W (± 20o) fractures correspond to late-Brasiliano
extension joints (filled with quartz and pegmatite, e.g.) and presently display a
distinctly open behavior, as also shown by the regional (gorges) and outcrop scale
microtopographic features.
The wells located around E-W (± 20o), NE and NW structures still present good
yields after nearly 20 years of exploitation. On the other hand, the “dry” wells yield
320 to 600 l/h, were located according to the “closed”, N-S(± 20o) structures, or in
less fractured sites.
Figure 4.2 – Simplified geologic and structural map of the Caiçara area, Equador (location in Figure 4.1c).
4.2.7 – Discussions
The geological, structural and morphotectonic analyses of the Equador area, in
the light of modern techniques, provide some new insights to improve the
hydrogeological prospecting in semi-arid crystalline terrains.
0 10 20 m10 m
Graph Scale:
105o
100o
095o
110o
012o
070o
122o
070o
115o
150o
110o
110o
110o 178
o
170o
015o
11o
09o
11o
argilaceoussoil
Fracture
Foliation
Active well
Dry well
Roads
Geologic contact
L E G E N D
Intermitent drainage
sandy cover(alluvial-autochthonous)
Pegmatite
alluvium
alluvium
alluvium
alluvium
P.01
P.05
P.05
P.04
......
.
.... .
...
. .
...
.
.
. .. ..
. ..
.
. ..
.
..
.
.
P.06
P.07
P.08
P.06Micaschist
. ..
.
..
.. .
..
....
....
.........
.......
........
.... .
.
..
...... .
....
....
.......
...
.
.
P.02
P.03
Quartzite
Quartzite
Quartzite
Metaconglomerate
155o
135o
Metacon-glomerate
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The correlation between fracture trends and the local or regional neotectonic
stress fields, may allow the prediction of an “open” or “closed” behavior of the
structures and their capability of storaging groundwater resources.
This hypothesis is being tested at different areas in the Rio Grande do Norte
State. The wells controlled by E-W trending fractures (thus perpendicular to the
current extension vector, σ3), that usually display an open behavior, tend to present
relatively high yields. At the opposite side, N-S trending fractures tend to be closed
and, as such, “dry.” The higher hydrogeological potential of the “transverse”, E-W
structures was noticed some time ago (Costa 1965, for instance). The neotectonic
approach improves our knowledge on the controls of the fracture systems upon water
flow and storage.
It should be emphasized that the correlation between the current stress field
and the preexisting fracture zones alone will not necessarily arrive at a high yield
water well. This is only one though important criterion, to which others must be added
in order to obtain a complete evaluation of the best location site for a given water
well. We hope that with an increasing number of case studies, a more sound
statistical basis will support and improve this model.
4.2.8 – Acknowledgments
The authors acknowledge stimulating discussions and the involvement of other
colleagues from PPGG (Ana Catarina F. Coriolano, Jesimael A. da Silva, Mário N.C.
de Araújo), UFPE (Dr. Waldir Duarte Costa) and the late CDM/RN (Elmo Marinho de
Figueiredo). This research is financially supported by a FINEP/PADCT grant, CAPES
and CNPq. We acknowledge the corrections kindly suggested by an anonymous
referee, which significantly improved this text.
4.2.9 – References
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Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
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4.3 – Análise neotectônica: casos no domínio leste do RN
Structural and neotectonic criteria for location of water wells in semi-arid crystalline
terrains: a preliminary approach in the eastern domain of Rio Grande do Norte State,
Northeast Brazil
Ana Catarina Fernandes Coriolano, Emanuel Ferraz Jardim de Sá
and Carlos César Nascimento da Silva
Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caixa
Postal 1639, 59.078-970, Natal-RN, Brazil. E-mails: [email protected],
[email protected], [email protected].
4.3.1 – Abstract
The traditional methods to locate water wells in crystalline terranes are being
re-evaluated aiming to improve the success rate of the procedures. We describe the
preliminary approach being used in the eastern crystalline domain of Rio Grande do
Norte (NE Brazil), encompassing areas around Santo Antônio and Santa Cruz cities.
Emphasis is given to re-evaluate the classical structural criteria in the light of modern
concepts on rock deformation and the regional tectonic framework, especially in the
context of the neotectonic stress regime.
At a first step, the structural analysis is applied to better understand the
formation and/or reactivation of brittle structures, their chronology, and past and
present kinematics. Then, these informations are used to understand water flow and
accumulation in fracture aquifers, and the reasons for success or failure in the
location of water wells already drilled in the region, in the hope to establish a more
consistent and practical routine methods. Lineament maps of the studied areas were
generated to determine the main fracture sets for well location.
Structural data were collected near selected water wells, locally combined with
geophysical data. Neotectonic reactivation is evaluated both from regional and local
information, as available. In some cases, as in Tararaca Farm near Santo Antônio, a
correlation was found between a fracture zone and a photointerpreted lineament
following a drainage; the favorable orientation of the fractures, at a high angle to the
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present (neotectonic) extension direction, appears to convey an important control in
water accumulation and well production. In other cases, as in the Santa Rita Farm
near Santa Cruz, the photolineament and the drainage do not correspond to a
fracture zone; and the accumulation of water is related to the opening of foliation
surfaces by weathering, its intersection with different fracture sets and favorable
recharge conditions provided by locally thicker, alluvial covers, forming a through-like
structure.
Keywords: water wells, semi-arid terrains, structural criteria, Northeast Brazil
4.3.2 – Introduction
The hinterland of Northeast Brazil, like in the Rio Grande do Norte State, is
characterized by a semi-arid climate in extensive areas of crystalline rocks. In this
kind of terrain, the best places for drilling water wells generally coincide with narrow
and densely fractured zones that may or not be related to major faults. In these
zones, the choice of the best sites for drilling, based on the classical approaches of
lineament identification in aerial photographs followed by field checking, is a difficult
and misleading task, frequently with a low success rate. Aiming to improve the
success statistics of these locations, a research program is being undertaken in the
eastern domain of the Rio Grande do Norte State, involving areas near the cities of
Santo Antônio and Santa Cruz (Fig. 4.3).
Natal
Ocean
BRAZILAtlantic
JoãoPessoa
Santa CruzSantoAntônio
Studied Areas
35º W36º W38º W 37º W
05º
S06º
S07
ºS
08º
S
Figure 4.3 – Geographic location of the studied areas.
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Current location methods are based on structural concepts that date back to
the 1950-60 (Costa 1965, Siqueira 1967), which deserve a critical re-evaluation in
the light of modern concepts on rock deformation, regional tectonic evolution
(emphasizing brittle deformation episodes), and reactivation of different structures
under neotectonic stress regimes. The classical methodology does not considers that
most fractures in the crystalline basement formed at greater depths and under old
stress fields, which differ significantly from to the present, neotectonic regime. The
latter probably has a stronger influence in the near-surface conditions for water flow
and accumulation than hitherto assumed. Thus, fractures regarded as favorable for
water storage (precambrian extension joints, for instance) could nowadays be acting
as “closed”, if their orientation is at a high angle to the present subhorizontal
compressional axis (σ1 or SH, as named by neotectonicists and seismologists). In an
ideal case and apart from other required conditions, the best, “open” structures would
be those at a high angle to the present extension direction (σ3 or Sh). This is one of
our main assumptions, or working hypotheses and this paper describes how this
analysis is being applied in selected study cases, and how the field context may differ
significantly from the simple interpretation frequently assumed from aerial
photographs.
4.3.3 – Regional geologic and neotectonic framework
The study areas are located in the Borborema Province (Almeida et al. 1977),
a tectonic domain affected by the Neoproterozoic Brasiliano orogeny. In Rio Grande
do Norte, the precambrian rocks (known as the Seridó Belt) comprise a sequence of
metasupracrustals (the Seridó Group) and its basement (Gneiss-Migmatite
Complex), both intruded by Brasiliano and pre-Brasiliano granitoids.
In NE Brazil, brittle deformation episodes occurred at different times during the
Phanerozoic (Jardim de Sá et al. 1999), starting with the uplift, exhumation and
cooling of the crust at the end of the Brasiliano orogeny (Neoproterozoic to
Cambrian-Ordovician). These processes superimposed a set of low temperature,
ductile-brittle or brittle structures, frequently reworking the structures of the
preceding, high temperature stage, roughly under the same kinematics (Coriolano et
al. 1997). Another major episode is related to the rifting and formation of the
continental margin basins, from late Jurassic-Cretaceous to the beginning of the
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Tertiary (Matos 1992). Based on kinematic markers, mineral fillings and other
features, bearing on their approximate PT conditions of formation, the bulk of the
fracture network in the crystalline rocks of this region formed during one of these two
events.
The tectonic evolution from the late Tertiary to the Holocene is represented by
the sedimentary and volcanic deposits, both inland and offshore, and is well
preserved in the geomorphologic and morphotectonic evolution, including a crustal
scale doming that formed the Borborema Plateau, later subject to present erosion
(Saadi 1993, Jardim de Sá et al. 1999). In this context, the best records of the
Neogene structural evolution are found in the late Tertiary to Holocene markers and
morphotectonic features (Bezerra et al. 1993, Coriolano et al. 1997, Caldas et al.
1997, Dantas 1998), additional to the important seismic activity in the region (Ferreira
et al. 1998). Recognition of neotectonic reactivation in the crystalline domain has
been reported from a few localities (Coriolano et al. 1997, Menezes and Jardim de
Sá 1999).
The seismic activity in NE Brazil, exemplified by the Samambaia Seismic Fault
(near João Câmara, Rio Grande do Norte) and many other sites, allows to establish
the present stress field as a transcurrent regime with E-W compression (σ1) and N-S
extension (σ3) axes. This stress field is related to spreading of the Atlantic Ridge
and/or to the Andean compression, which are responsible for more localized
extensional stresses, perpendicular to the coast, due to the mass unbalance in the
continent-ocean transition (Assumpção 1992, Ferreira et al. 1998). The present
stress field justifies our assumption that, whatever their age, steep-dipping, roughly
E-W fractures tend to behave as “open”, being more favorable for water flow and
accumulation, while those roughly N-S tend to be “closed”. NE- and NW-trending
fractures act as shear surfaces that may be also productive, especially at intersection
zones and transtensional sites.
4.3.4 – The structural and neotectonic approaches
The classical method to locate water wells in crystalline rocks involves the
interpretation of aerial photographs and examination of outcrops, especially with
regard to the “degree of fracturing” of the rocks (Costa 1965, Siqueira 1967). Based
on their field characteristics (vein filling, shear indicators), the structures are
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interpreted in the light of stress fields (and the related crustal depth and environment)
which were active at the time of their development, which dates back to Cretaceous r
even Cambrian times (Coriolano et al. 1997, Jardim de Sá et al. 1999).
Comprehensively, the stress regimes related to these old fractures may have little (or
directly, any) relationship with the present dynamic conditioning of groundwater
percolation and accumulation in the fractured reservoirs. In this case, the role of the
old structures resides in the formation of a high “porosity/permeability” zone, one of
the requirements (but not the only) for accumulation of water reserves.
A widely used concept for location of water wells is the riacho-fenda (“stream-
fracture”; Siqueira 1963) that represents the association of the hydrography with
geology. It provides the best infiltration conditions and water storage in fractured
crystalline rocks. The riacho fenda corresponds to the situation in which the drainage
coincides with a fracture zone, being recognized in aerial photographs and even in
the field, due to the linear segments of a given river channel.
For the present paper, reinterpreted water wells that were located according to
the classical approach. Initially, a research of the records from the late Mineral
Resources Development Company of Rio Grande do Norte (the CDM/RN) were used
as a data base to select areas containing wells that contrast in water production.
Unfortunately, the sample population had to be reduced after fieldwork, due to
unreliable well data records or to the lack of nearby outcrops.
In the field, fracture sets were characterized style, geometry, chronological
relationships, and kinematics, and compared with the photointerpreted lineaments.
The kinematics of the fracture sets was assessed through a comparison with the
neotectonic and present seismotectonic framework to establish their “open” or
“closed” behavior regarding groundwater flow and storage. The fracture chronology is
obtained according to the type of affected markers, vein filling and coating materials,
and other related features intersection of different fracture sets and relationships with
morphotectonic elements. The youngest fractures identified on such grounds are
those that may be related to the neotectonic stress regimes.
4.3.5 – Case studies
Two areas, located near Santo Antônio and Santa Cruz cities, were selected
to illustrate the complexities eventually involved in what appears, at a first glance, to
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be simple examples of the riacho-fenda concept. In both cases, the approach began
with the interpretation of 1:70,000 scale aerial photographs commonly used for water
prospecting in the region, from which lineament maps emphasizing brittle structures
were produced. A more sophisticated approach is in course, using TM Landsat
images and different treatment procedures. In Santo Antônio, a water well in the
Tararaca Farm, located close to the intersection of two streamlets and near outcrops
of “basement” orthogneisses was studied. The well is regarded as unproductive due
to its low yield, about 100 l/h. In aerial photographs, it is possible to identify a N-S
and NEtrending lineaments, both following local riacho-fendas. The well was located
near the intersection of these features (Fig. 4.4a).
In the field, the streams do not have expressive alluvium thickness, especially
the one with a N-S direction. Structural analysis of the outcrops determined
predominantly NW-trending fractures. NE trending fractures are not noticeable,
although the gneiss foliation locally trends NE, dipping to NW (Fig. 4.4b). This casts
doubt on the application of the riacho-fenda concept to this place. Judging from
outcrops, the NE trend of the larger stream seems to be controlled by the rock
foliation. Geophysical data at this site, using VLF (Very Low Frequency) and
apparent resistivity (Silva 2000), confirm the presence of a N-trending fracture along
the smaller stream. In spite of the well having been located in a fracture zone, its
yield is quite low. Therefore, the N-S structure probably corresponds to a closed
fracture, what could have been anticipated by its angular relation to the neotectonic
stress axes (orthogonal to the E-trending σ1 or SH axes).
Rio Grande do Norte State
St. Antônio
Natal
TararacaFarm90 m
2 km ba
Road
Stream
Old fracture
Fracture withquartz and epidote
Farm
Deactived well
St.Antonio
30o
L E G E N D
Figure 4.4 – (a) Photolineament map of Santo Antônio region; (b) location of the alluvium and regolith.
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Near Santa Cruz City, five wells were drilled in the Santa Rita Farm. Two of
them are in operation, two were disabled, and a fifth was dry. The place is once
again sited on “basement” orthogneisses, with minor amphibolite bands and cut by
metric veins of granite and pegmatite. The interpretation of aerial photographs
identified an ENE-trending lineament that controls the drainage and along which the
wells were drilled (Fig. 4.5a). Here, the riacho-fenda concept was applied once again.
In the field, ENE-trending fractures parallel to the stream were not identified.
The fractures are predominantly NW trending (Fig. 4.5b). The gneiss foliation follows
the ENE direction of the stream, dipping about 45oS. The local drainage controls a
small through-like structure. Sandy to clay-rich alluvium is quite thick (up to 3 m or
even more). In outcrops, weathering is intense and “open” the foliation, which is
frequently filled with regolith and alluvial sands. The NW-trending fractures
interconnect these discontinuities (Fig. 4.5c).
Geophysical data in the area (Silva 2000) confirm the absence of a major
fracture zone along the ENE-trending stream. The field data indicate a though-like
structure, with a considerable amount of well, in Tararaca Farm. In this case, the
difference between dry and disabled, as compared to productive wells, might be
related to the geometry (especially the differential depth) of the structurally controlled
weathering surfaces and the thick alluvial and regolith covers that provide adequate
recharge conditions. The productive wells probably coincide with places where
weathering deepens along the foliation, “opening” it and increasing the rock porosity
and permeability.
Figure 4.5 – (a) Photolineament map of Santa Cruz region; (b) location of the group the wells, in SantaRita Farm; (c) schematic section of the through-type model.
Gneiss
Fracture
Alluvium
L E G E N D
Productive well
Dry well
? ?c
NS
Rio Grande do Norte State
Sta. Cruz
Natal
45o
60o
60 m
Santa RitaFarm
2 km
a
b
Sta. CruzSanta Cruz
Road
Stream
Fracture
Farm
Deactived well
L E G E N D
Productive well
Dry well
Dam
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 78
4.3.6 – Discussion
These studies illustrate the difficulties arising in the uncritical association of
photolineaments to the riacho-fenda concept. Water well location essentially based
on this concept may lead to pronounced discrepancies of well yields.
In the studied areas, the photolineaments do coincide with the stream
directions (as a consequence of the usual method of interpretation). However, they
may not correspond to major or even minor fracture zones. Furthermore, if this
coincidence happens, the fracture does not necessarily behave as an open fracture,
as reported from the Tararaca Farm, near Santo Antônio. In this case, the
neotectonic framework forecasts a low yield potential for a N-trending fracture. The
small number of structures along this direction minimizes the potential porosity due to
fracture intersections that characterize a fault zone.
In the case of Santa Rita Farm, near Santa Cruz, the stream does not coincide
with any fracture structure. The underground water flow and storage appears to be
related to the thicker alluvial cover and to the weathering following (and “opening”)
the rock foliation, increasing its porosity and permeability.
The reported results are preliminary and essentially illustrate the approach
adopted in this on going research. Nevertheless, they call attention to the misleading
results that may be found in a quick, uncritical application of the riacho-fenda concept
and in the correlation of photolineaments and field-scale structures. The assessment
of the potential, present “open” or “closed” behavior of fractures (and eventually the
control of weathering even along “old”, “closed” foliation surfaces) through
neotectonic and morphotectonic data seems to be a promising prospect to be tested
along this research and by water resources development companies in the region.
4.3.7 – Acknowledgments
To Jesimael Avelino da Silva, Walter Eugênio de Medeiros (PPGG-UFRN),
Waldir Duarte Costa (CAPES Visiting Professor at PPGG-UFRN) and Elmo Marinho
Figueiredo (IDEMA and the late State Mineral Development Company - CDM/RN) for
helpful discussions. To FINEP/CNPq/PADCT for financial support and fellowships to
the authors. To two anonymous referees of RBG for the critical review of the
manuscript.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo IV – Análise neotectônica
página 79
4.3.8 – References
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo V – Análise detallhada do modelo riacho-fenda
Capítulo V – Análise detalhada do modelo riacho-
fenda: estudo de caso na região de Equador-RN
5.1 – Apresentação
O presente capítulo visa discutir a real adequação do modelo riacho-fenda
(Siqueira 1963), principalmente na questão da associação de trechos retilíneos de
drenagens a zonas de fraturas. Neste caso, optou-se por um estudo envolvendo
basicamente técnicas de imageamento geofísico (eletro-resistividade e GPR),
auxiliado pela análise estrutural de afloramentos. Além da questão da
compatibilidade entre lineamentos e drenagens, discute-se também o papel das
fraturas subhorizontais e dos aluviões como meio de recarga e de percolação da
água na trama de fraturas. Como resultado do trabalho, foi possível explicar
satisfatoriamente a produtividade dos poços perfurados na região, até mesmo no
tocante a resultados bastante discrepantes em termos de vazão, apesar da
proximidade dos poços.
Os resultados apresentados nesse capítulo constituem um artigo que foi
submetido ao Journal of Applied Geophysics, sendo aceito.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo V – Análise detallhada do modelo riacho-fenda
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Resistivity and ground penetrating radar images of fractures in a
crystalline aquifer: a case study in Caiçara Farm – NE Brazil
Carlos César Nascimento da Silva1,2, Walter Eugênio de Medeiros1*,
Emanuel Ferraz Jardim de Sá1, Pedro Xavier Neto1,2
1 Programa de Pós-graduação em Geodinâmica e Geofísica – PPGG, Centro de
Ciências Exatas e da Terra, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,
59.072-970, Natal, RN, Brazil, Phone: 55-84-215-37942 Petrobras / UN-RNCE / ATEX-PS, Av. Euzébio Rocha, 1000, Cidade da Esperança
59.064-100, Natal, RN, Brazil, Phone: 55 84 235 3249
* Correspondent author
e-mail: [email protected], [email protected], [email protected],
5.2 – Abstract
Current hydrogeological research in NE Brazil aims to better understand factors
controlling storage and percolation of ground water in crystalline terrains, due to the
fact that a large proportion (about 60%) of this region is formed by igneous and
metamorphic rocks. As part of this effort, we present an integrated geophysical-
geological study of a fractured bedrock aquifer located in the Caiçara farm, near
Equador city, Rio Grande do Norte State, NE Brazil. Pumped wells in this site present
very different yields, in spite of short distance of only 20 m. The main lithologies of
the site are quartzite and micaschist.
Combined interpretation of geophysical images (Resistivity and Ground
Penetrating Radar – GPR) and field structural geologic data revealed that the
fractured bedrock aquifer is composed of three sets of discontinuities: SW-dipping
subhorizontal joints, parallel to the ductile fabric of the country rocks which are
probably release joints; NE-dipping subhorizontal fractures, oblique to ductile trend;
and subvertical fractures which are orthogonally distributed along N-S and E-W
directions. Important subvertical fracture zones occur at a regular spacing of about
ten of meters. Fractures in the E-W direction are relatively open, as compared to
fractures in the N-S direction. Probably, E-W fractures were opened by the current
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neotectonic stress regime in NE Brazil, which is controlled by E-W compression and
N-S extension.
It was possible to rank the hydrogeologic potentiality of water well siting as a
function of fracture density and proximity to recharge zones, in this way explaining
why wells could present very different yield results on the site. The most favorable
places for well siting are intersections of subvertical fracture zones located near
drainage, because highly fractured zones could be, in this way, connected with
recharge zones mainly in alluvial deposits. On the other hand, the least favorable
places for well siting lie outside subvertical fractures and far from recharge zones.
Intermediate hydrogeological potentialities occur in two cases: at a point near the
recharge zone but where there is a low density of fractures, or at point far from the
recharge zone but where there is a high density of fractures.
Additional key words: fractured bedrock aquifer, GPR imaging, resistivity,
ground water, Northeastern Brazil.
5.3 – Introduction
Northeastern Brazil is predominantly formed by crystalline terrains (about 60%
of the area). Additionally, this region presents a semi-arid climate so that it
periodically suffers drought seasons. Furthermore, ground water quality extracted
from wells usually presents poor quality because of their high salinity content.
Nevertheless, ground water is still a very important source of water for human and
animal consumption in this region.
Usually, well siting is based on conventional aerophotographic interpretation
using scales ranging from 1:25,000 to 1:70,000. The fundamental model or
hypothesis guiding well siting is that rectilinear drainages are controlled by faults or
fractured zones, a model commonly referred, in Brazilian hydrogeological literature
(Siqueira 1963), as the “creek-crack” model (riacho-fenda in Portuguese). Sites
appearing to present dense drainage network are preferred for water well siting,
particularly points where the drainages cross-cut each other. Field follow-up work is
usually based only on geological criteria.
If a successful siting is defined by a well producing at least 0.5 m3/h (0.14 l/s),
the above described siting approach offers a maximum success index of about 70%.
Furthermore index decreases in areas covered by soil because it introduces
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additional difficulties in aerophotographic interpretation. Because of these facts,
efforts have being done to better understand factors affecting storage and percolation
of ground water in hard rocks terrains in Northeastern Brazil. A good summary of the
earlier concepts involved are described by Costa and Braz da Silva (2000). In order
to analyze the riacho-fenda model and its associated well siting criteria, we have
done some studies in typical well sites in Rio Grande do Norte State (Silva 2000,
Nascimento da Silva et al. 2001, Jardim de Sá et al. 2003).
The study here presented is part of this effort. An integrated geological-
geophysical characterization was done in the fractured bedrock aquifer in the Caiçara
farm, near Equador city, Rio Grande do Norte State, NE Brazil (Fig. 5.1a and 5.1b).
In the Caiçara farm, along the seventies, four wells were drilled to supply water to the
Equador city (around 5,000 inhabitants). The wells have a mean depth of about 50 m
and present very different yield results nonetheless they are close to each other.
Equadorcity
Fig.3a
36 40' Wo36 42' Wo36 44' Wo
0654'S
o06
56'So
7 SO
37 WO
35 WO
5 SO
b
a
b
Atlantic Ocean
Figure 5.1 – Regional geographic (a) and geological (b) contexts of Caiçara farm, which is localized nearEquador city, Rio Grande do Norte State, Northeast Brazil.
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The site where the wells were located presents good outcrops of quartzite so
that the associated soils have, in general, a very high content of quartz-sand.
Because of these particular characteristics, both field structural geological analysis
and near-surface geophysics (Resistivity and Ground Penetrating Radar – GPR)
were successfully applied in this site. From the geophysical images it was possible to
characterize the fracture network and to establish its connection with the drainage
and recharge zones. As a result of this study, it was possible to rank the
hydrogeological potentiality of water wells as function of fracture density and
proximity to the recharge zone, in this way explaining why the wells present very
different yields in this site.
5.4 – Geological context
The study area is part of the Serido Belt (Jardim de Sá, 1994) in the Borborema
Province (Almeida et al., 1977), and is located at the north of the Patos shear zone.
Outcropping rocks in the area (Fig. 5.1b) are micaschist (top) and quartzite (bottom),
the latter containing metaconglomerate lenses. A thin sedimentary layer (thickness
around 1 m), partially formed by soil, covers the hard rocks. Along drainages also
occur narrow alluvium deposits, which act as recharge zones to the fractured
bedrock aquifer. Structural analysis reveals a shallow dipping ductile fabric mainly
formed during a Precambrian orogeny. On the other hand, brittle structures were
formed or reactivated during at least three episodes of deformation along the
Phanerozoic (Nascimento da Silva and Jardim de Sá, 2000a, 2000b).
In order to set the Caiçara farm in the regional context, an aerophotographic
interpretation (at a scale of 1:25,000) was done. It allowed the recognition and
mapping of ductile and brittle lineaments, besides alluvium deposits. From this
interpretation and field follow-up, two main sets of fractures were characterized (Fig.
5.2), following orthogonal N-S and E-W directions. The N-S set of fractures is parallel
to the ductile trend. Observe that E-W fractures are relatively open in comparison
with N-S fractures. E-W fractures are probably open due to their orientation to the
current neotectonic stress field in the Northeastern region of Brazil (Nascimento da
Silva and Jardim de Sá, 2000b), which is controlled by E-W compression and N-S
extension, according to earthquake (Ferreira et al., 1998; Assumpção, 1992),
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structural (Coriolano et al., 1999; Caldas et al., 1997) and morphotectonic data
(Dantas, 1998).
The main lineament observed at this particular site has 325oAz trend and is
associated with a creek along which the wells were drilled (Fig. 5.3). This creek is
also parallel and close to a subvertical lithologic contact between micaschist and
quartzite (Fig. 5.3a). This contact can be observed both in outcrops (where dips can
be measured) and aerophotographies. Wells shown in Fig. 5.3b present very
different yield results, even being closely located. Best producers are W3 (9 m3/h or
2.5 l/s) and W4 (4 m3/h or 1.11 l/s), W1 offer intermediate production (1 m3/h or 0.28
l/s) and W2 is almost dry (less than 0.5 m3/h or 0.14 l/s).
From a geomorphologic viewpoint, the study area is localized in the top of a
plateau (around 600 m above sea level), near its escarpment, so that a fast drainage
of rain water always occurs. Furthermore, because the climate is semi-arid,
characterized by a short raining season (around four months by year), the quartz-
sand cover is usually dry.
Figure 5.2 – Photography of an outcrop of quartzite, near Caiçara farm, displaying subvertical fracturesorthogonally distributed along N-S and E-W directions (the head of the hammer points to the North). E-Wfractures are relatively open in comparison with those of N-S trend. Probably, E-W fractures were opened by the current neotectonic stress field.
5.5 – Geophysical survey
Near-surface geophysical techniques (Resistivity and GPR) were used to obtain
detailed images of the fractured bedrock aquifer around the creek where the wells
were drilled (Fig. 5.3a). Geophysical profiles were done approximately orthogonal to
the creek.
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Resistivity surveys are commonly used to map fractures zones in hard rock
terrains (e.g.. Barker et al. 1992; Carruthers and Smith 1992; Medeiros and Lima
1990; Medeiros 1987), because high resistivity contrasts usually occur between fresh
rock and saturated fractured zones. On the other hand, GPR applications to
hydrogeological research in hard rock terrains are not common because weathered
rocks and soils usually present high conductivity. Because of the specific condictions
at the Caiçara farm, reported in the previous section, leading to the formation of dry
quartz-sand soil, GPR images of good quality were obtained. GPR technique has
been used commonly to map fractures in quarries (e.g.. Grasmueck 1996; Grandjean
and Gourry 1996).
Line +25 m
Line +50 m
Line 0 m
Line -35 m
Line -70 m
Line -105 m
-60 m40 m
-60 m40 m
-60 m40 m
-60 m40 m
-60 m40 m
-60 m40 m
Line -140 m
-60 m40 m
0
0
0
0
0
0
0
a
b
b
Figure 5.3 – (a) Lithologic map of Caiçara farm. Drilled wells, the main drainage and lines along which the geophysical survey was done are superposed. (b) Photography of the site taken from point and direction identified in (b) by a black arrow on line -140 m. The distance between a productive and a dry well can be only 20 m. Apparent resistivity data were measured along all lines. GPR data was obtained only in line 0m using 200, 80, and 40 MHz.
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Seven resistivity profiles were obtained (Fig. 5.3a) using the Schlumberger
array. In each resistivity profile, recording stations were placed at a regular interval of
20 m and, in each station, five measurements of apparent resistivity were done using
AB/2 values equal to 2, 5, 10, 20, and 50 m. As a result, it was possible to construct
apparent resistivity maps and pseudo-sections. To allow a better control on resistivity
interpretation, a complete Schlumberger sounding was also performed near the
creek (Fig. 5.3a). The equipment used in the resistivity survey was a ABEM-
Terrameter SAS 300C.
Three GPR profiles were done along the same line (line 0 m in Fig. 5.3a) but
using different frequency values (200, 80, and 40 MHz). It was used a GSSI SIR
System 2. The GPR data were processed in order to correct attenuation effects
(Xavier Neto et al. 2001) and to minimize the influence of reflections associated to
scatters above the Earth surface. Time-depth conversion was done using a velocity
equal to 0.1 m/ns. This velocity value was estimated by fitting hyperboles associated
to diffractions caused by vertical fractures.
5.6 – Geophysical interpretation
5.6.1 – Resistivity method
The complete Schlumberger sounding is shown in Fig. 5.4. A 1-D resistivity
model with four layers can approximately explain the measured data (Fig. 5.4). For
AB/2 values greater than 20 m, the measured data conform to an ascending curve
displaying an angle larger than 45o, thus revealing the presence of important lateral
heterogeneities. Fig. 5.5a shows the apparent resistivity map associated to AB/2
equal to 50 m. As a matter of fact, this map reveals a very strong lateral discontinuity
in the apparent resistivity values, which is interpreted as the effect of different
weathering products resulting from micaschist, in the SW side of the map, and from
quartzite, in the NE side (compare Fig. 5.5b with Fig. 5.3a). The base line joining
stations 0 m from each profile (dashed line in Fig. 5.5b) approximately locate this
discontinuity.
A detailed analysis of Fig. 5.5a reveals second order conductive anomalies,
associated to anomaly truncations (black lines in Fig. 5.5b) and superposed to the
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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broad resistivity contrast above discussed. These conductive anomalies are
associated with saturated subvertical fracture zones. The interpreted structures in the
quartzite (Fig. 5.5b) consist of two sets of orthogonal fractures following N-S and E-W
directions, in a pattern similar to the one observed in rock outcrops. An explanation to
the very different yield results from the wells can be offered on the basis of the
interpretation shown in Fig. 5.5b. Productive (W1, W3, and W4) wells were located
near the intersection of fracture zones while dry (W2) wells were located outside
fracture zones. Furthermore, best producing wells (W3 and W4) were located inside
relatively large E-W fracture zones. This feature suggests that the observed behavior
of the E-W fractures, opened at the in outcrop scale (Fig. 5.2), can be extrapolated to
the scale of the geophysical survey (Fig. 5.5b).
1 10 100
100
1000
10000
AB/2 (m)
a(O
nm
.m)
Legend:
Measured values
Fitted model
Layer Resistivity (Ohm.m) Thickness (m)
01 90 2.0
02 600 1.2
03 60 5.0
04
45O
Fig. 5.6 shows the apparent resistivity pseudo-sections. There is no general
relationship between depth and AB/2 electrode distance. However, from the
quantitative interpretation of the sounding shown in Fig. 5.4, it is possible to construct
Figure 5.4 – Schlumbergersounding and itsinterpretation using 1-Dmodel with four layersparallel to the Earth surface.Because mean resistivityvalues for soil andsedimentary cover is around 100 Ohm.m, GPR imagingwas possible.
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an approximate rule of thumb valid only for this area, as described below. There is
about 8 m of cover (soil, sediment and/or regolith) over the fresh quartzite; besides,
fitted sounding begins its ascending part, due to the effect of high resistivity fresh
quartzite, around AB/2 equal to 20 m. So, we can associate this value of AB/2 with a
depth of about 8 m, thus leading the rule of thumb: depth = 0.4 x AB/2.
-140
-105
-70
-35
0
35
-60-40-2002040Station (m)
Lin
e(m
)
-140
-105
-70
-35
0
35
-60-40-2002040
500 1500 2500 3500 4500 5500 6500
0 20 40 60 80
(m)Productive well
Unproductive well
Axis of conductiveanomaly
(a) (b)
Station (m)
Lin
e(m
)
Axis or border ofconductive anomaly
Resistivity sounding
Figure 5.5 – Apparent resistivity map of the site (a) and its interpretation (b). Schlumberger array, AB/2 =50 m. In (b), superposed to a dominant high resistivity discontinuity, approximately localized by thedashed line, a pattern of N-S and E-W ortoghonal fractures was interpreted (black lines). Thediscontinuity is associated to the lithologic contact between micaschists in the NW side and quartzite inthe SE side of the map area.
ρa (Ohm.m)
W1
W2
W3
W4
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SW Station (m) NE SW Station (m) NE
-60-40-200204025
10
20
50
-60-40-200204025
10
20
50
40 20 0 20 40 60---25
10
20
50
-60-40-200204025
10
20
50
-60-40-200204025
10
20
50
-60-40-200204025
10
20
50
-60-40-200204025
10
20
50
Figure 5.6 – Apparent resistivity pseudo-sections along lines +50 m (a), + 25 m (b), 0 m (c), -35 m (d), -70 m (e), -105 m (f), and -140 m (g). Schlumberger array. Stations were placed at regular intervals of 20 m and, in each station, apparent resistivity data were measured using AB/2 values equal to 2, 5, 10, 20, and50 m. Black lines represent interpreted discontinuities associated to fractured zones.
ρa (Ohm.m)
(a) (b)
AB
/2(m
)
(c)
(e) (f)
(g)
AB
/2(m
)A
B/2
(m)
AB
/2(m
)
Axis or border of conductive anomaly
LEGEND
(d)
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From sections shown in Fig. 5.6, sets of subhorizontal and subvertical fracture
zones were interpreted, besides the broad resistivity contrast associated to the above
described lithologic contact trend. Subhorizontal fractures dip to NE and, because
they occur at shallow depths, they may connect shallow recharge zones (alluvium
deposits) to the relatively deep subvertical fracture zones.
5.6.2 – Ground Penetrating Radar
Resistivity values for soil and sedimentary cover in the study area are around
100 Ohm.m, according to the Schlumberger sounding (Fig. 5.4), suggesting that
GPR images could be successfully obtained in this area. Based on this fact, the
previously described GPR profiles (200, 80, and 40 MHz along line 0 m in Fig. 5.3a)
were performed as a case test. Because of the similarities of results obtained with
the 80 and 40 MHz, only radargrams using 200 and 40 MHz will be presented.
Processed radargrams obtained with the 200 and 40 MHz are shown in Figs.
5.7a and 5.8a, respectively. From the radargram obtained with the 200 MHz, it was
possible to identify the bottom surface of the alluvium deposit, around station 0 m
(Fig. 5.7b). Furthermore, many diffraction patterns (hyperbolas) can be seen between
stations -60 m and 0 m, while there are almost no diffraction patterns between
stations 40 m and 0 m. We interpret these results also as the influence of different
weathering products resulting from micaschist in the SW side of the radargram, and
from quartzite, in the NE portion of the radargram. Absence of reflectors at SW of
position 0 m would be caused by relatively conductive soils resulting from micaschist
weathering, while the better resolution and diffraction patterns NE of position 0 m
would be related to fractured quartzite (Fig. 5.7b).
On the other hand, from the radargram obtained with the 40 MHz, it was
possible to interpret three sets of structures (Fig. 5.8b): subhorizontal fractures
dipping to SW (parallel to the ductile foliation), subhorizontal fractures dipping to NE
(oblique to the ductile structures), and subvertical fractures. All sets of fractures and
the bottom surface of alluvium deposits were schematically drawn in Fig. 5.9, without
vertical exaggeration, so that true dips are shown. Apparently, all sets of fractures
appear to be regularly spaced.
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo V – Análise detallhada do modelo riacho-fenda
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40 20 0 -20 -40 -600
50
100 b
Station (m)
40 20 0 -20 -40 -60
SW NE
0
50
100
0
2,5
5,0
De
pth
(m)
v=
0.10m
/ns
Two
-way
tim
e(n
s)
a
alluviumquartzite
micaschist
0
2,5
5,0
Station (m)
Dep
th(m
)v
=0.10
m/n
sTw
o-w
ayti
me
(ns)
Figure 5.7 – Processed radargram (200 MHz) along line 0 m (a) and its interpretation (b). Bottom surfaceof the alluvium deposit was identified. Diffraction patterns between stations -60 m and 0 m are generated at the top of the fractures in quartzite. Relatively low quality image between stations 40 m and 0 m isprobably due to conductive soil resulting from the weathered micaschist. Vertical exaggeration isapproximately equal to 5.
Station (m)40 20 0 -20 -40 -60
0 0
Dep
th(m
)/
v=
0.10m
/ns
Two
-way
tim
e(n
s)
2,5
5,0
7,5
10,0
12,5
15,0
17,5
50
100
150
200
250
300
350
400
450
SW NE
aSW NE
Figure 5.8a – Processed radargram (40 MHz) along line 0 m.
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40 20 0 -20 -40 -60
0 0
2,5
5,0
7,5
10,0
12,5
15,0
17,5
50
100
150
200
250
300
350
400
450 b
subhorizontal fractures obliqueto the foliation
subhorizontal fractures parallelto the foliation
subverticalfractures
hyperbole due toa weather vane
Station (m)D
epth
(m)
/v
=0.10
m/n
sTw
o-w
ayti
me
(ns)
Figure 5.8b – Processed radargram (40 MHz) along line 0 m and its interpretation. Three sets of structures were interpreted: subhorizontal fractures dipping to SW (parallel to ductile trend), subhorizontal fractures dipping to NE (oblique to ductile trend), and subvertical fractures. Vertical exaggeration is approximatelyequal to 4.
40 20 0 -20 -40 -60
0
5
10
15
De
pth
(m)
Station (m)SW NE
subhorizontal and subverticalfractures oblique to the foliation
alluviumsubhorizontal fracturesparallel to the foliation
Figure 5.9 – Geometric elements (bottom surface of the alluvium deposit and fracture sets) obtained from GPR interpretation shown without vertical exaggeration. True dips are then represented.
5.6.3 – Compatibility between GPR and resistivity images
Using the rule of thumb to associate AB/2 with depth, in resistivity sections, and
the time-depth conversion for the radargrams, previously described, Fig. 5.10 was
constructed in order to test the mutual consistency between interpretations done by
using resistivity and GPR data along the same line (0 m in Fig. 5.3a). There is a very
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good overall superposition of conductivity anomalies with fracture sets. In particular,
the best fitting occurs for the set of subhorizontal fractures dipping to NE and oblique
to the ductile foliation. This set of fractures probably plays a very important role in
connecting recharge zone (alluvium deposits) to subvertical fractures.
SW Station (m) NE
40 20 0 20 40 6025
10
20
50
5
10
15
0
Figure 5.10 – Apparent resistivity pseudo-section along line 0 m with superposition of fracture setsinterpreted from 40 MHz radargram. Good superposition of conductivity anomalies with fracture setsoccur, particularly for subhorizontal fractures dipping to NE and oblique to the ductile foliation. This setof fractures probably plays a very important role in connecting subvertical fractures with recharge zones (alluvium deposits). Vertical exaggeration is approximately equal to 2. See text for details about depthconversion in both methods.
5.7 – Field analogues
Photographies shown in Fig. 5.11a and 5.11b were taken in the plateau
escarpment near Caiçara farm, where the quartzite is exposed in approximately
vertical cross sections. Because these photographies are at the same scale of the
geophysical sections, they can be used as field analogues in order to test the
geophysical interpretation.
Fig. 5.11a shows three sets of discontinuities: a set of subvertical (or high
angle) fractures and two sets of subhorizontal structures, one of them parallel to the
quartzite foliation. Because the ductile foliation gently dips to SW, it was inferred that
the group of interpreted fractures in Fig. 5.9, dipping to SW, are release joints. Also in
the field, it was verified that the other set of subhorizontal fractures is oblique to the
ductile foliation and dips to NE, in agreement with interpreted structures in the
radargram (Fig. 5.9). Fig. 5.11b shows a set of subvertical fractures almost regularly
AB
/2(m
)D
epth
(m)
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spaced at about 20 m, in a manner also consistent with resistivity and radargram
interpretations. Fig. 5.11c summarizes structures observed in the Caiçara farm.
Figure 5.11 – Photographies taken in the plateau escarpment near Caiçara farm, where the quartzite isexposed (a and b). (a) Shows subvertical (or high angle) fractures and two sets of subhorizontalstructures, one of them parallel to the foliation of the quartzite. In the field, this last set of structures was identified as release joints. (b) Shows subvertical fractures almost regularly spaced at about 20 m.Compare these field anologues with Fig. 5.9, obtained by the GPR interpretation. (c) Shows a blockdiagram summarizing structural interpretation at this site.
~8
m~
30m
b
subhorizontal fractureparallel to the foliation
subvertical fractures athigh angle to the section
a
high angle fracture
fracture plane parallel to the section
c
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5.8 – Discussions
The detailed geophysical imaging of the fractured bedrock aquifer in the
Caiçara farm reveals that rectilinear segments of drainage are not necessarily
associated to fracture zones. In this case, it appears that the drainage is dominantly
controlled by the lithologic contact and has only minor influences of the fractures.
Probably, the mean trend of the drainage is associated to the lithologic contact or
foliation trend while sinuosity may be associated to the set of orthogonal fractures
(Fig. 5.12).
In the Caiçara farm, it is possible to rank hydrogeological potentiality of well
siting as a function of fracture density and proximity to the recharge zone (Fig. 5.12).
The most favorable places for well siting are intersections of fracture zones localized
near the drainage, because highly fractured zones can be, in this way,
interconnected with recharge zones provided mostly by alluvium deposits. On the
other hand, the least favorable places for well siting are points outside fracture zones
and far from the recharge zones. Intermediate hydrogeological potentialities occur in
two cases: at points near the recharge zone but where there is a low density of
fractures, or at points far from the recharge zone but where there is a high density of
fractures.
The riacho-fenda model (Siqueira 1963) has a very limited validity in the
Caiçara farm. If the creek was simply interpreted as controlled by a fractured zone,
probably most of wells located in its surrounding would be dry (Fig. 5.12). In fact,
locating a well in Caiçara farm based only on aerophotographies and field criteria, as
was really done by Geol. Elmo Figueiredo, is a very difficult task because
geophysical images reveals that a distance of just 10 m between two possible well
sites may result in highly different hydrogeological potentialities. Furthermore, in the
riacho-fenda model, horizontal fractures play no important role, in contrast to what
has been inferred in the fractured bedrock aquifer of Caiçara farm. It is interesting to
register a comment by Geol. Elmo Figueiredo, about the first period of well pumping
in the Caiçara farm, because this comment does confirm the importance of
subhorizontal fractures in connecting the fracture network. According to him, Caiçara
farm had initially a plantation of mango trees. After the beginning of the continuous
pumping process, the water level was depressed so fast that, in a very short period
of time, many mango trees died. This fact reveals that the entire fractured bedrock
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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aquifer behaves approximately as an unconfined aquifer. In this way, it must exist an
efficient connection between vertical fractures in the whole area, like the one
provided by subhorizontal fractures.
Fractures
River-140
-105
-70
-35
0
35
-60-40-2002040Station (m)
20 40 60 80
(m)
Lithologic contact
Hydrogeologic Potential
micashist
quartzit
LEGEND
0
Lin
e(m
)
Figure 5.12 – Schematical representation of main drainage, lithologic contact and subvertical fracturesets at Caiçara farm. It appears that the drainage is dominantly controlled by the lithologic contact andhas only minor influence of the fractures in its sinuosity. A rank of hydrogeologic potentiality of possible water well sites as function of fracture density and proximity to the recharge zone is suggested (see text for detailed description).
5.9 – Conclusions
A good characterization of the fractured bedrock aquifer in the Caiçara farm
was obtained by the integrated use of geophysical images and field structural
analysis. Apparent resistivity maps and pseudo-sections allowed to characterize the
spatial pattern of fractured zones while radargrams better individualize single
fractures. GPR imaging was possible because the main lithology at this site is
quartzite and the climate in the region is semi-arid, so that associated soils are in
general dry and present a very high content of quartz-sand.
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In the Caiçara farm the riacho-fenda model has a very limited validity. If the
main creek was simply interpreted as being controlled by a fractured zone, probably
most of the wells located in its surrounding would be dry. Additionally, subhorizontal
fractures do play a very important role in connecting the fracture network, besides
connecting shallow recharge zones to relatively deep subvertical fracture zones, so
that the entire fractured bedrock aquifer behaves approximately as an unconfined
aquifer. Apparently, spatial characteristics of fractures observed at the outcrop scale,
as trend, regularity of spacing and openness, appear to repeat in larger scales.
Well location in Northeast Brazil, using additional geophysical criteria is far
from the customary current practice, which is based only in aerophotographic
interpretation and minor field follow-up. However, even in the case that geophysical
images are not used, if the interpreter is aware of the limits of the most used model
(the riacho-fenda model) better results could be obtained even using conventional
well siting techniques.
5.10 – Acknowledgements
Finantial support to this research was given by PADCT III/CNPq/FINEP. We
thank Geol. Elmo Marinho de Figueiredo (formerly SERHID – State of Rio Grande do
Norte Government) for suggesting Caiçara farm as a site for detailed studies of
geophysics and for providing all information about the wells. C. C. Nascimento da
Silva thanks CAPES for PhD fellowship. W. E. Medeiros and E. F. Jardim de Sá
thank CNPq for research fellowships (PQ). Jesimael A. Silva, Josibel G. Oliveira Jr.,
Cristina A. Domingueti, and Marcelo J. Carvalho took part in the geophysical surveys.
5.11 – References
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
Capítulo VI – Aplicação de levantamentos
aerogeofísicos na hidrogeologia de terrenos
cristalinos: o caso de Serrinha-RN, NE do Brasil
6.1 – Apresentação
A principal vantagem das técnicas aerogeofísicas é analisar vastas áreas com
uma boa relação custo/benefício. O método e técnica a serem aplicados dependem
da natureza do levantamento e objetivos propostos. Dentro do contexto do Projeto
Água Subterrânea no Nordeste do Brasil (PROASNE), foram realizados três
levantamentos aerogeofísicos nas áreas-pilotos de Serrinha/RN, Samambaia/PE e
Juá/CE, no período de 15 de março a 01 de maio de 2001. Nesta tese, são
apresentados e interpretados os dados do levantamento da área de Serrinha/RN,
em conjunto com o mapa geológico da área resultante do Relatório de Graduação
de Lima (2002). Foram também utilizados métodos geofísicos terrestres para
averiguar/confirmar algumas anomalias aerogeofísicas. O presente capítulo será
transformado em manuscrito que será submetido para publicação no Journal of
Applied Geophysics.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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Aplicação dos levantamentos aerogeofísicos magnético e eletromagnético
na pesquisa hidrogeológica em terrenos cristalinos:
o caso de Serrinha/RN, Nordeste do Brasil.
Carlos César Nascimento da Silva1,2, Walter Eugênio de Medeiros1
Emanuel Ferraz Jardim de Sá1, Maria da Guia Lima1
1 UFRN/CCET/PPGG, 2 Petrobras / UN-RNCE / ATEX-PS
e-mails: [email protected], [email protected], [email protected]
6.2 – Introdução
Na Região Nordeste do Brasil o clima dominante é semi-árido e caracterizado
por taxas de pluviosidade baixas e irregulares, além de elevadas taxas de insolação
e evaporação, o que desfavorece a retenção da água durante longos períodos em
reservatórios superficiais. Por outro lado, aproximadamente 50% do substrato do NE
brasileiro é composto por rochas cristalinas, em geral rochas metamórficas e ígneas
plutônicas, que apresentam baixíssima porosidade primária, desfavorecendo e por
vezes eliminando a capacidade de armazenamento de água nos interstícios das
rochas. Em função destes fatores, a água subterrânea no NE do Brasil é tida como
um recurso mineral estratégico.
Do ponto de vista hidrogeológico, a principal característica das rochas
cristalinas se traduz pela capacidade de percolar ou reter água somente ao longo de
descontinuidades que definem a porosidade secundária e que podem estar
associadas com fraturas, juntas, falhas, foliação e zonas intensamente
intemperizadas. Todavia, nos trabalhos de locação de poços em terrenos cristalinos,
discernir as estruturas com potencial hidrogeológico mais elevado é tarefa difícil. Os
métodos de trabalho rotineiramente utilizados fazem uso apenas da interpretação de
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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fotografias aéreas convencionais, seguido da análise geológica-estrutural de campo.
O modelo de percolação e retenção de água subterrânea que embasa as locações é
o chamado modelo riacho-fenda (Siqueira 1963) que associa trechos retilíneos de
drenagens a zonas de fraturas subverticalizadas. Modelos alternativos ao do riacho-
fenda são ainda especulativos e carecem de trabalhos de confirmação (Jardim de
Sá et al., 2003). Esporadicamente, são também utilizados métodos geofísicos, em
geral elétricos ou eletromagnéticos terrestres. Nas condições usuais, a locação
ainda envolve índices de acerto relativamente baixos, em torno de 70%,
considerando como poço produtivo aquele cuja vazão é superior a 500 l/h,
independentemente da qualidade da água.
Em conseqüência da abordagem metodológica utilizada na locação de poços
em terrenos cristalinos, várias questões importantes ainda encontram-se em aberto,
a exemplo de: (i) existem zonas de fraturas hidrogeologicamente importantes, não
relacionadas à rede de drenagem? (ii) como é o comportamento 3D das
descontinuidades (fraturas, foliação, etc.) capazes de armazenar água? (iii) os
modelos de armazenamento e percolação de água subterrânea em terrenos
cristalinos descritos na literatura são adequados (Jardim de Sá et al., 2003)? (iv) em
particular, o modelo da calha elúvio-aluvionar (Silva 2000), associado à formação de
calhas de sedimento e/ou regolito aproveitando espaços gerados pela
intemperização de planos de foliação, poderá ter elevada importância
hidrogeológica, apesar da sua caracterização em poucos sítios, ou ele representa,
na maioria das vezes, somente uma “armadilha” para o intérprete na locação de
poços, que pode explicar boa parte do insucesso nas locações?
Para responder estas questões, dentre outras, foi firmado entre instituições
brasileiras e canadenses, um convênio multidisciplinar denominado Projeto Água
Subterrânea no Nordeste do Brasil (PROASNE). Dentre outras instituições,
participaram, do lado brasileiro, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Pós-
Graduação em Geodinâmica e Geofísica (PPGG) da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN) e a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Rio
Grande do Norte (SERHID-RN), e, do lado canadense, a Canadian International
Development Agency (CIDA) e o Geological Survey of Canada (GSC). Em particular,
dentre as ferramentas disponibilizadas pelo PROASNE, foi executado pela Lasa
Engenharia e Prospecções S/A, de forma inédita para as condições geológicas
(rochas cristalinas), climáticas (semi-árido) e de objetivos (recursos hidrogeológicos
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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subterrâneos), um levantamento aerogeofísico que incluiu medidas de campo
magnético natural e de campo eletromagnético artificial no domínio da freqüência
(FDEM – frequency domain eletromagnetic). Foram realizados três levantamentos
aerogeofísicos nas áreas-piloto de Serrinha/RN, Samambaia/PE e Juá/CE, no
período de 15 de março a 01 de maio de 2001. Nesta tese, apresentaremos a
interpretação dos dados do levantamento da área de Serrinha/RN, em conjunto com
o mapa geológico da área resultante do Relatório de Graduação de Lima (2002). O
objetivo da presente interpretação é principalmente discutir os modelos de
ocorrência de água subterrânea no cristalino e contribuir nas respostas às questões
anteriormente formuladas. É nossa esperança que, mediante estas análises mais
exaustivas de adequação de modelos de fluxo e armazenamento de água
subterrânea em rochas cristalinas, possa haver um aumento no índice de acerto nas
locações, mesmo utilizando as ferramentas tradicionais de locação.
6.3 – A área de Serrinha-RN
O município de Serrinha está situado na porção leste do Estado do Rio
Grande do Norte (NE do Brasil), a aproximadamente 70 km a SW da cidade de Natal
(Fig. 6.1). A escolha desta área foi feita em conjunto com técnicos da Secretaria
Estadual de Recursos Hídricos do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Os
dois principais motivos para a sua escolha foram o elevado índice histórico de poços
improdutivos na região e a presença extensiva de cobertura sedimentar ou solo,
ainda que pouco espessos, o que dificulta a abordagem usual de locação. Como
conseqüência, existe um déficit de abastecimento de água para as comunidades da
região.
Geologicamente, a área de Serrinha encontra-se inserida na Província
Borborema (Almeida et al. 1977), mais precisamente na parte central do Maciço São
José de Campestre (MSJC), situado a leste do Sistema de Dobramentos Seridó
(Brito Neves 1983). O MSJC representa um complexo mosaico de blocos gnáissicos
formados durante diferentes pulsos de acresção crustal entre o Arqueano e o
Paleoproterozóico, delimitado por zonas de cisalhamento e intrudido por corpos
granitóides de idade brasiliana (Dantas 1998).
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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Ocean
oA
tlântico
São Josédo Campestre
Santa Cruz Tangará
SantoAntônio
Serrinha
Lagoa de Pedras
Lagoa Salgada
Bom Jesus
Parnamirim
Macaíba
Serra Caiada
Monte Alegre
BR226
BR226
BR226
BR101
RN002
RN003
RN002
35 00’O35 15’O35 30’O35 45’O36 00’ WO
05 45’O
06 00’O
06 15’ SO
10 km
BRASIL
Complexo Gnáissico-Migmatítico
Micaxisto da Formação Seridó
Granitóideporfirítico
Sedimentos do Grupo Barreiras e paleocascalheiras
Depósitos sedimentares recentes
Granitoequigranular
Suíte básica a intermediária
L I T O E S T R A T I G R A F I A C O N V E N Ç Õ E S E S T R U T U R A I S CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS
BR101
RN002
Diques de diabásio e basalto doMagmatismo Rio Ceará-Mirim
NATAL
Figura 6.1 – Localização geográfica da área de Serrinha e sua contextualização geológica no MSJC(baseado no Mapa Geológico do Estado do RN).
Foi realizado um mapeamento geológico da área de Serrinha-RN, na escala
de 1:50.000 (Lima 2002, Fig. 6.2), de forma a ser compatível com a escala dos
mapas obtidos pelo levantamento aerogeofísico (vide subítem 6.4). O principal
objetivo do levantamento geológico foi discriminar litologias, trends estruturais
dúcteis e frágeis (distribuição angular e densidade) e zonas de recarga (áreas com
coberturas sedimentares mais porosas e permeáveis), de tal forma a fornecer
subsídios para a correlação com as anomalias geofísicas identificadas e destas, por
sua vez, com a potencialidade hidrogeológica do meio analisado. Precedendo e ao
longo de todo o mapeamento, foram utilizadas informações obtidas a partir de
produtos de sensores remotos, tais como fotografias aéreas (na escala aproximada
de 1:70.000) e imagens de satélite Landsat 5 TM. Porém, em função da escala das
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 107
fotografias e imagens de satélite e da ausência de afloramentos, somente foi
possível obter informações de cunho regional (Coriolano 2002).
O mapeamento permitiu discernir cinco unidades litológicas (Fig. 6.2),
descritas em ordem cronológica da mais antiga à mais recente (Lima 2002): (a)
ortognaisses bandados de composição tonalítica a granítica; (b) ortognaisses
sienograníticos; (c) diques de anfibolitos nos ortognaisses bandados e corpos
metabásicos-intermediários precedentes ou síncronos aos ortognaisses
sienograníticos; (d) granitos porfiríticos na forma de diques e enclaves associados
de quartzo-dioritos e dioritos de textura fina; e (e) coberturas sedimentares
holocênicas, estas com menor espessura e/ou descontínuas na parte sul, e mais
espessas na porção norte, dificultando ali a caracterização da geologia do substrato.
Figura 6.2 – Mapa geológico da porção a NW de Serrinha-RN. Os diagramas de roseta demonstram adisposição angular das fraturas identificadas naqueles setores da área (modificado de Lima 2002).
Foram distingüidos três episódios deformacionais dúcteis, D1, D2 e D3, que
afetaram os litotipos cristalinos, gerando diversas estruturas e feições. A
ZCRJ
ZCRJ 54o
75º
45o
20º
20º
79º
25o
55º
75o
48o45o
10º
55o
54o
65o
47o
25º
35º
35o
75o 25º
9..3
04.0
009
.308
.00
09.
312
.000
kmN
212.000 km E 216.000 220.000
Cobertura sedimentar holocênica
D1
Granito porfiríticoDique e enclave sin-magmáticode quartzo-diorito e diorito
Ortognaisse sienograníticode Jacu-Mirim
Ortognaisse bandado de composição tonalítica a granítica
D2
D3
LITOESTRATIGRAFIA
MunicípioSerrinha
PendênciaLocalidade
Rodovia estadual
Drenagem
LEGENDA CARTOGRÁFICA
LEGENDA GEOLÓGICA
Área do levantamento geofísico aeroportado
Zona de cisalhamento transtracional sinistral Rio Jacu
Foliação commergulho indicado
Lineação commergulho indicado
ZCRJ
Fratura
2 Km
NatalÁrea mapeada
Fortaleza
Recife
Aracaju
26%
n=168
17%n=127
20%
n=407
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 108
estruturação dúctil observada em macroescala está relacionada principalmente ao
evento D3, o qual dobrou, seccionou e provocou inflexões nas estruturas pré-
existentes. A sua principal feição é a Zona de Cisalhamento Rio Jacu (ZCRJ),
gerada sob cinemática distensional e posteriormente reativada durante um evento
retrometamórfico com cinemática transcorrente sinistral. A ZCRJ exerceu forte
influência para o posicionamento do principal corpo granítico da área (porção SE da
área, Fig. 6.2), além de imprimir um aspecto de augen às bordas dessa intrusão.
Quanto às estruturas frágeis, foram identificadas diversas fraturas em macro e
mesoescala, ao longo de toda a área mapeada (vide Fig. 6.2), e que são correlatas a
diversos episódios tectônicos. Um episódio frágil mais antigo gerou fraturas com
trend NNE e, subordinadamente, NW, e é caracterizado por fraturas preenchidas por
material ácido (quartzo, pegmatito, aplito e minerais de alteração retrometamórfica
como sericita, clorita e epídoto), por vezes mostrando sinais de reativação. Um
evento mais recente se caracteriza por fraturas NE preenchidas por material de
baixa temperatura (carbonato) ou caracterizado por estrias de abrasão, denotando
um nível crustal relativamente raso. Fraturas E-W também podem ser observadas
principalmente no setor centro-leste da área, porém com menor representatividade.
A análise da cinemática, truncamento de marcadores e tipo de preenchimento
mineral das estruturas frágeis mais recentes demonstra compatibilidade do campo
de tensões neotectônico local com o campo regional (Ferreira et al. 1998,
Assumpção 1992). Este campo de tensões é representado por uma compressão no
plano horizontal E-W e distensão N-S, e deve controlar o comportamento (“aberto”
ou “fechado”) dos planos de anisotropia das rochas, quer sejam foliação ou fraturas.
Deste modo, e desconsiderando outros critérios tais como grau de
interconectividade ou associação a zonas de recarga, as estruturas mais
importantes para o acúmulo de água seriam as fraturas E-W por estarem
subparalelas à direção da compressão máxima. Por outro lado, estruturas N-S,
ortogonais à direção de compressão, apresentariam menor potencialidade e, em
situação intermediária, estariam as estruturas NE e NW.
6.4 – Descrição do levantamento aerogeofísico
A geofísica aérea foi realizada em uma área com cerca de 104 km2. As linhas
de vôo estão na direção E-W, com 13 km de extensão e eqüidistantes de 100 m; as
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 109
linhas de controle estão na direção N-S, com 8 km de extensão e espaçamento de
500 m. Foram utilizados três tipos de sensores (Lasa 2001a,b), os quais foram
rebocados em dois birds à velocidade de 144 km/h (sistema towed bird, Fig. 6.3a) e
às alturas de 30 e de 45 m do solo. O primeiro bird (Fig. 6.3b) transporta os
sensores eletromagnetométrico e magnetométrico, enquanto o segundo, o sistema
Very Low Frequency (VLF). A taxa de amostragem temporal dos sensores é de 0,1
amostra por segundo, a qual, associada à velocidade de vôo, propicia uma taxa de
amostragem espacial de aproximadamente 4 m. Em função da grande distância
existente entre a estação transmissora de ondas VLF e o local do levantamento, o
sinal de VLF foi bastante degradado e o nível do sinal registrado não pôde ser
discernido do nível de ruído local e, por este motivo, os dados de VLF não serão
apresentados.
Os diversos dados coletados em campo foram submetidos a etapas de pré-
processamento, as quais tinham como objetivo principal retirar a influência das
principais anomalias culturais existentes (Lasa 2001a,b).
Figura 6.3 – Sistema de aquisição geofísica: (a) montagem fotográfica em visão panorâmica do sistemageofísico aeroportado durante o vôo; (b) detalhe do momento da decolagem da aeronave e do bird quecomporta os sistemas eletromagnetométrico (Aerodat-DSP-99) e o magnetométrico.
6.4.1 – O sistema magnetométrico
A bordo da aeronave foi utilizado um magnetômetro Minimag, modelo
Geometrics G-822A, acoplado a um sensor de bombeamento ótico de vapor de
césio que trabalha na faixa de 20.000 a 95.000 nT, com resolução de 0,001 nT. Em
terra, para controle diário das variações do campo magnético terrestre, foi utilizado
um sistema semelhante. Este conjunto de equipamentos gerou diversos dados,
dispostos na forma de mapas. Porém o resultado mais apropriado e que melhor
a b
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 110
evidencia as feições de interesse para os objetivos do trabalho é o mapa de campo
magnético total reduzido do IGRF (International Geomagnetic Reference Field),
mostrado na Figura 6.4 e doravante simplesmente designado de mapa magnético de
campo total. Na Figura 6.4 podem ser visualizados os principais trends estruturais
dúcteis da área, por vezes identificando zonas de cisalhamento e, em outras,
contatos geológicos.
Figura 6.4 – Mapa do campo magnético total reduzido do IGRF.
6.4.2 – O sistema eletromagnético
O sistema eletromagnético utilizado foi o Aerodat-DSP-99 que consiste em
um conjunto de cinco bobinas transmissoras/receptoras que funcionam no domínio
da freqüência e são espaçadas entre si de 6,4 m. Foram utilizados dois pares de
bobinas dispostas no arranjo coaxial, com as freqüências de 900 e 4.500 Hz,
verticalizadas e alinhadas segundo a direção de vôo, além de três pares de bobinas,
horizontalizadas no arranjo coplanar, com as freqüências de 900, 4.500 e 33.000 Hz.
Para cada par transmissor/receptor, foram registradas as respostas em fase e em
quadratura. O principal intuito destes diversos arranjos foi energizar os condutores
em diversas direções e disposições para analisá-los detalhadamente: o arranjo
coplanar permite um maior acoplamento com fontes condutivas subhorizontalizadas
enquanto que o arranjo coaxial energiza melhor as fontes subverticais.
nT400
375
350
325
290
210
a930
600
0km
N93
0800
09
310
000
9312
000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 111
Estes dados permitem compor mapas de condutividade aparente a diferentes
profundidades de investigação (Tabela 6.1), a depender do skin depth – SD (McNeill
e Labson 1991) (1), dado por:
f
?503SD ≈ (1)
onde ρ é a resistividade do substrato em Ohm.m e f, a freqüência utilizada em Hz.
O termo skin depth é utilizado para quantificar a profundidade na qual as
ondas eletromagnéticas emitidas pelo sensor decaem para 1/3 da amplitude inicial.
Admite-se que a profundidade de investigação DP (Tabela 6.1) é aproximadamente
igual a:
SD3
2DP = (2)
SD (m) para diferentes ρ (Ω.m) DP (m) para diferentes ρ (Ω.m)f
(Hz) 1000 Ω..m 500 Ω..m 100 Ω..m 10 Ω..m 1000 Ω..m 500 Ω..m 100 Ω..m 10 Ω..m
900 530 m 375 m 168 m 53 m 353 m 250 m 112 m 35 m
4500 237 m 168 m 75 m 24 m 158 m 112 m 50 m 16 m
33000 88 m 62 m 28 m 9 m 59 m 41 m 19 m 6 m
Tabela 6.1 – Skin Depth (SD) e Profundidades de Investigação (DP) para as diversas freqüênciasutilizadas (f) no método Aerodat-DSP-99, com base na resistividade teórica do substrato (ρ).
A partir de levantamentos geofísicos terrestres de campo (vide item 6.7),
sabemos que o valor 100 Ohm.m é bem representativo da resistividade do terreno
na área do levantamento, exceto nos locais de maior cobertura sedimentar. De
acordo com a Tabela 6.1, para o valor de 100 Ohm.m, a profundidade de
investigação varia de 20 m (freqüência mais elevada) a 110 m (freqüência inferior),
ficando em torno de 50 m para a freqüência de 4.500 Hz, que foi a mais utilizada
neste trabalho.
Os vários mapas de condutividade aparente estão apresentados nas Figuras
6.5, 6.6, 6.7, 6.8 e 6.9; estas figuras representam, respectivamente, os mapas do
arranjo horizontal coplanar segundo as freqüências de 900, 4.500 e 33.000 Hz, e os
mapas do arranjo vertical coaxial para as freqüências de 900 e 4.500 Hz. Para
realçar as anomalias, foi escolhida após diversos testes, uma fonte de iluminação
com declinação e inclinação de 45o.
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 112
Figura 6.5 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 900 Hz, arranjohorizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o.
Figura 6.6 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 4.500 Hz, arranjohorizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o.
930
6000
kmN
9308
000
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000
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000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
930
6000
kmN
9308
000
9310
000
9312
000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
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7,5
2
1,5
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página 113
Figura 6.7 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 33.000 Hz, arranjohorizontal coplanar. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o.
Figura 6.8 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 900 Hz, arranjovertical coaxial. Declinação da fonte de iluminação 45o Az e inclinação 45o.
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6000
kmN
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210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
930
6000
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210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
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Figura 6.9 – Mapa pseudo-iluminado da condutividade aparente para a freqüência de 4.500 Hz, arranjovertical coaxial. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o.
6.4.3 – Os outros sensores
Em conjunto com os sensores geofísicos, diversos outros equipamentos
foram utilizados para compor os dados coletados, bem como para assegurar a sua
qualidade. Dentre estes, utilizaram-se um registrador analógico RMS modelo GR-33,
um sistema de vídeo VHS, um radar altímetro modelo TRT-3000, um barômetro de
precisão Digibaro 215A-101, um sistema VLF Totem Hertz 2A de dois canais, além
de dois sistemas GPS com receptor NovAtel de 12 canais (um instalado na
aeronave e outro na base em terra).
Em particular, os dados de elevação GPS (corrigidos diferencialmente e
subtraídos dos valores registrados pelo radar altímetro) foram utilizados para compor
o Modelo Digital do Terreno (MDT), ilustrado na Figura 6.10. O MDT representa a
variação topográfica com elevado nível de precisão, sendo bastante util para
analisar feições geomorfológicas e estruturais.
930
6000
kmN
930
8000
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000
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2000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
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Figura 6.10 – Mapa pseudo-iluminado do Modelo Digital do Terreno (MDT). Declinação da fonte deiluminação 45o e inclinação 45o.
6.5 – Interpretação dos dados do levantamento aerogeofísico
6.5.1 – Interpretação magnética
Anomalias magnéticas identificam basicamente contrastes de susceptibilidade
magnética, que podem ser atribuídos à distribuição de minerais magnéticos nas
rochas. Esses minerais são comumente descritos como minerais “opacos” e
representam normalmente montantes inferiores a 5 % em volume da rocha. Devido à
presença volumétrica residual dos minerais opacos e à ausência de uma correlação
precisa entre mineralogia de opacos e de não opacos, não é sempre clara a
associação de domínios magnéticos com domínios litológicos (Grant 1985). Não
obstante, segundo Grant (1985), o mineral magnético mais importante – a magnetita
– pode ser utilizado como um marcador da história evolutiva da área, servindo como
discriminador da litoestratigrafia metamórfica pelo fato de que os processos de
formação e depleção de magnetita são bastante sensíveis à pressão, temperatura e
presença de fluídos.
A principal utilização dos dados aeromagnéticos nesta interpretação foi
identificar os trends dúcteis da área. Foram aplicados alguns processos de filtragem
espacial com o intuito de separar as feições de escala regional daquelas de menor
930
6000
kmN
9308
000
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0000
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2000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
68
115
100
95
90
88
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83
80
75
47
m
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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comprimento de onda. Testes de filtragem evidenciaram que o comprimento de onda
de corte mais eficaz está em torno de 5 km. As Figuras 6.11 e 6.12 representam,
respectivamente, os mapas do campo magnético regional e residual. Em particular,
o mapa residual apresenta as anomalias magnéticas de menor comprimento de
onda que estão associadas às fontes mais rasas. Uma característica importante é a
sua similaridade com o mapa do campo magnético não filtrado (Fig. 6.4), o que
evidencia que as estruturas aflorantes e não aflorantes fazem parte de uma mesma
estrutura, a qual encontra-se enraizada a níveis relativamente profundos.
No mapa do campo magnético regional (Fig. 6.11) é possível observar o trend
regional NE ao longo de quase toda a área e que verga para E-W na porção centro-
sul, em função de zonas de cisalhamento, conforme correlação com o mapeamento
geológico (vide Fig. 6.2). Além disso, são individualizadas duas regiões
magneticamente contrastantes: a porção norte da área, caracterizada pelas “cores
quentes” e que define regiões com baixo conteúdo de minerais magnéticos e a
porção sul da área, denotada pelas “cores frias”, que indicam regiões com conteúdo
mais significativo de minerais magnéticos. O limite entre estas duas unidades
magnéticas pode ser definido por uma zona de cisalhamento.
Figura 6.11 – Mapa do campo magnético total reduzido do IGRF com aplicação de filtro low-pass de 5 km.É interessante notar as duas regiões magneticamente contrastantes (centro-norte e centro-sul), além dotrend NNE regional que inflete para E-W na porção central do mapa.
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6000
kmN
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210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
nT400
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Já no mapa de campo magnético residual (Fig. 6.12 e sua versão interpretada
na Fig. 6.13), o trend NNE é compatível com a direção das zonas de cisalhamento
existentes em campo (vide correlação com a Fig. 6.2). Esta compatibilidade pode ser
também evidenciada analisando os locais de vergamento do trend NNE para E-W ou
pelo posicionamento espacial da Zona de Cisalhamento Rio Jacu (vide Fig. 6.2).
Neste caso, a ocorrência de zonas de cisalhamento pode explicar as elevadas
amplitudes magnéticas observadas, provavelmente geradas pela maior mobilização
e concentração de minerais magnéticos ao longo destas descontinuidades.
Figura 6.12 – Mapa do campo magnético total com aplicação de filtro high-pass de 5 km. Neste caso são ressaltadas as anomalias de menor comprimento de onda relacionada a estruturas dúcteis.
A correlação entre domínios magnéticos e litotipos é complexa pois, dentro do
litotipo dominante (os gnaisses) ocorrem marcantes contrastes magnéticos,
provavelmente associados com diferenças composicionais (gnaisses graníticos ou
granodioríticos, bandas anfibolíticas) e/ou metamórficas (zonas com migmatização
mais pronunciadas, Lima 2002), por sua vez refletidas em variações menores no
conteúdo de magnetita.
As coberturas sedimentares presentes na área mapeada não podem ser
discernidas a partir dos dados magnéticos, o que é revelado pelo fato de que são
delineadas feições tipicamente dúcteis sob o capeamento sedimentar. Estas feições
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350
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representam o traço da foliação regional do embasamento cristalino sotoposto, deste
modo condizente com a presença de um capeamento sedimentar pouco espesso.
Figura 6.13 – Mapa interpretado do campo magnético total com aplicação de filtro high-pass de 5 km.Neste caso são ressaltados os trends dúcteis observados em campo (em branco), bem como o quedefine um dos ramos da Zona de Cisalhamento Rio Jacu (curva em preto).
Do ponto de vista hidrogeológico, o delineamento das feições dúcteis e a sua
correlação com a distribuição espacial da rede de drenagem local fornecem
subsídios para delimitar trechos de ocorrência potencial do modelo calha elúvio-
aluvionar. Isto se dá pela compatibilidade direcional do trend dúctil e com as
anomalias magnéticas e condutivas (por exemplo, a anomalia magnética associada
ao Rio Jacu, na porção sul da área). Por sua vez, a favorabilidade destes trechos
pode ser avaliada através do delineamento de anomalias condutivas e da correlação
com os dados geológicos.
6.5.2 – Interpretação do Modelo Digital de Terreno (MDT)
Em terrenos cristalinos, os planos de anisotropia que compõem o meio
aqüífero normalmente apresentam reflexos em superfície, através de variações
planialtimétricas, por vezes com alinhamentos característicos. Por conseguinte, a
análise de elementos da paisagem, sob a forma de baixos ou altos topográficos,
pode fornecer subsídios para interpretar indiretamente estruturas potenciais ao
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acúmulo de água. O padrão topográfico da área condiz com as drenagens
estruturalmente controladas da região. A Figura 6.14 apresenta uma interpretação
de trends lineares no mapa pseudo-iluminado do MDT, possivelmente
estruturalmente controlados.
Figura 6.14 – Mapa pseudo-iluminado interpretado do Modelo Digital do Terreno – MDT (vide versão não interpretada na Figura 6.10). Os traços brancos representam os principais lineamentos identificados; de uma forma geral, os de trend NNE estão associados à foliação, enquanto que os NW a zonas de fratura;em preto, a linha de alta tensão existente na área. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o.
6.5.3 – Interpretação dos dados eletromagnéticos
Comparando os mapas de condutividade aparente (Figuras 6.5 a 6.9) com o
mapa geológico (Figura 6.2), observa-se a ocorrência de um efeito “regional” na
condutividade provocado pela presença da cobertura sedimentar, a qual mascara as
feições lineares de interesse (Fig. 6.15). De uma certa forma, todos os mapas
obtidos pelo levantamento eletromagnético aeroportado apresentam as mesmas
características gerais, no que diz respeito ao trend condutivo e à magnitude das
anomalias. Isto pode ser verificado tanto para os mapas gerados pelo arranjo de
bobinas coplanar (Figuras 6.5, 6.6 e 6.7) quanto pelo arranjo coaxial (Figuras 6.8 e
6.9). Esta característica denota que as fontes condutivas são suficientemente largas,
permitindo detectá-las por ambos os arranjos. Além disso, o enraizamento
relativamente profundo destas anomalias pode ser avaliado a partir do seu
m
930
6000
kmN
9308
000
931
0000
931
2000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
68
115
100
95
90
88
85
83
80
75
47
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 120
mapeamento com base nas distintas freqüências utilizadas, desde aquelas que
mapeiam superficialmente (freqüências elevadas) até aquelas que imageiam
maiores profundidades (freqüências mais baixas). Em todos estes casos, as
anomalias condutivas apresentam trend linear (por vezes acompanhando fraturas ou
foliação) validando a sua interpretação 2D usual. Esta característica é importante do
ponto de vista prático da locação pois atesta a eficiência da análise estrutural
seguida de levantamentos geofísicos na identificação dos locais mais favoráveis
para a perfuração de poços, numa abordagem tipicamente 2D.
Figura 6.15 – Caracterização de campo de domínios geoelétricos contrastantes: (a) domínio relativamente condutivo representado por regiões capeadas por coberturas sedimentares arenosas (fotografia obtidanas proximidades do ponto de coordenadas 9310000 km N e 209000 km E, na porção extremo E da área,com visada na direção leste) e (b) domínio relativamente resistivo caracterizado por regiões comembasamento subaflorante, e ausência de capeamento ou solo espessos (fotografia obtida no ponto decoordenadas 9307000 km N e 214000 km E, na porção centro-sul da área).
b
a
N S
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 121
De modo a remover o efeito da cobertura sedimentar nos mapas de
condutividade aparente, vários processos de filtragem foram testados e o mais
eficiente foi uma filtragem high-pass usando o comprimento de onda de corte igual a
2 km. Como exemplos dos resultados deste processo de filtragem, apresenta-se na
Figura 6.16 o mapa regional (low-pass) na freqüência de 4.500 Hz, arranjo horizontal
coplanar e, na Figura 6.17, o mapa residual (high-pass) também na freqüência de
4.500 Hz mas no arranjo vertical coaxial. Como o primeiro arranjo é mais sensível a
condutores subhorizontalizados, ele é bem adequado para realçar o efeito regional
da cobertura sedimentar. Observe que há discrepância entre o limite para a área de
cobertura sedimentar, obtida pelo mapeamento geológico, com o limite interpretado
do mapa regional de condutividade (compare as Figuras 6.2 e 6.16), devido ao fato
da ferramenta geofísica ser mais sensível às zonas de maior condutância ou, em
primeira aproximação, de solo mais condutivo. Por outro lado, o mapa residual na
freqüência de 4.500 Hz, arranjo vertical coaxial, é mais adequado para realçar as
estruturas subverticalizadas. O mapa “residual” de condutividade (high-pass de 2
km, 4.500 Hz, arranjo vertical coaxial) permite visualizar diferentes trends lineares
condutivos, conforme versão interpretada mostrada na Figura 6.17b.
Figura 6.16 – Mapa de condutividade aparente para freqüência de 4.500 Hz, arranjo horizontal coplanar,com aplicação de filtro low-pass de 2 km. O traço em preto esboça o limite aproximado da ocorrência de coberturas sedimentares mais espessas (a norte), o tracejado indica um exemplo de anomalia condutiva de grande amplitude, enquanto que o branco contínuo representa o leito do Rio Jacu, principal drenagem da área.
930
6000
kmN
9308
000
9310
000
9312
000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
75
40
30
20
15
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5
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2
1,5
mS/m
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Figura 6.17 – Mapas residuais pseudo-iluminados de condutividade aparente, com filtro high-pass de 2km não interpretado (a) e interpretado (b) para a freqüência de 4.500 Hz, arranjo vertical coaxial. Em (b),as principais feições incluem fraturas (em preto contínuo), foliação (amarelo tracejado com contornopreto) e limite da zona de cobertura (preto pontilhado com contorno branco). Os círculos amarelosnumerados indicam os poços para água existentes na área (vide Tabela 6.2). O ponto em vermelho (SE), a leste do poço 5, representa o local no qual foi executada sondagem elétrica, enquanto que a simbologiaSG com o traço ENE, imediatamente a norte do poço 3, representa a seção geoelétrica realizadatransversalmente à Lagoa do Bom Pasto. Em preto pontilhado na porção leste do mapa, com direção NE, a localização de uma linha de tensão. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o.
930
6000
kmN
9308
000
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000
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000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
930
6000
kmN
9308
000
9310
000
9312
000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
b
a
SE
SG
9
4
3 5
1
1110
2
768
Fig. 6.20
75
40
30
20
15
10
5
7,5
2
1,5
mS/m
75
40
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20
15
10
5
7,5
2
1,5
mS/m
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página 123
Com base na Figura 6.16, verifica-se que a região de cobertura sedimentar
mais expressiva (limite sul definido pela curva em preto) está bem delimitada neste
mapa “regional” de condutividade. Além disto, este mapa mostra duas grandes
estruturas de interesse hidrogeológico. A primeira é uma anomalia condutiva ao
longo do Rio Jacu (linha branca contínua na Figura 6.16), certamente associada com
aluvião e regolito. Esta mesma estrutura também está marcada no mapa mostrado
na Figura 6.17 (residual de 4.500, coaxial). Pode-se assim concluir que o Rio Jacu
está dominantemente controlado por trends dúcteis e, deste modo, ele pode conter
estruturas hidrogeológicas do tipo calha elúvio-aluvionar. O Rio Jacu pode ter
grande importância hidrogeológica em função das dimensões do leito da drenagem
e do aluvião associado. A segunda anomalia condutiva, também presente no mapa
mostrado na Figura 6.17 (residual de 4.500, co-axial), é um lineamento de direção
NW (linha branca pontilhada na Figura 6.16), que é interpretado como uma
importante zona de fratura.
6.5.4 – Interpretação conjunta
A hipótese de interpretação aqui utilizada baseia-se nas relações angular e
espacial existentes entre os lineamentos condutivos, identificados a partir dos mapas
eletromagnéticos, lineamentos magnéticos que marcam o trend dúctil, e lineamentos
do MDT, conforme é abaixo descrita.
Onde trends condutivo e magnético forem paralelos e aproximadamente
superpostos, é inferida a possível existência de uma estrutura formada pela ação do
intemperismo sobre planos de foliação ou outras feições, tais como contatos
geológicos e diques anfibolíticos intemperizados. Se, adicionalmente, o par de
trends condutivo e magnético for aproximadamente coincidente com uma feição
geomorfológica negativa, é inferida a possível existência de uma estrutura de
acumulação de água subterrânea do tipo calha elúvio-aluvionar. A ausência da
feição geomorfológica coloca em questão a existência ou não de alvos
hdrogeológicos importantes fora dos vales.
Por outro lado, onde trends condutivo e magnético estiverem em diferentes
direções, é inferida a possível existência de uma estrutura formada pela ação do
intemperismo sobre falhas e/ou fraturas, ou ainda outras feições geológicas de
posicionamento espacial discordante do trend dúctil. Se, adicionalmente, o trend
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 124
condutivo for aproximadamente coincidente com uma feição geomorfológica
negativa, é inferida a possível existência de uma estrutura de acumulação de água
subterrânea do tipo riacho-fenda. A ausência da feição geomorfológica coloca
novamente em questão a existência ou não de alvos hidrogeológicos importantes
fora dos vales.
Qualquer que seja o caso, e mesmo na existência da feição geomorfológica
negativa, existem hipóteses geológicas que podem explicar a conjunção das
anomalias e que resultem numa estrutura que não é um bom alvo hidrogeológico.
Dito de outra forma, o resultado da interpretação conjunta ora proposta não está
isento de ambigüidade. Assim sendo, deve-se entender que a metodologia de
interpretação conjunta constitui o primeiro passo, ao qual deveria se seguir, no
mínimo, uma verificação de campo.
Um mapa interpretativo simplificado unindo trends condutivos (vide Figura
6.17b), magnéticos (vide Figura 6.13) e de feições negativas do MDT (vide Figura
6.14) está mostrado na Figura 6.18. Nessa figura, os traços em vermelho
representam as anomalias magnéticas, os traços em preto, os lineamentos
topográficos negativos e, os traços em azul, as anomalias condutivas. Como
exemplos, as elipses 1 e 2 marcam locais em que são inferidas a existência de
estruturas dos tipos riacho-fenda e calha elúvio-aluvionar, respectivamente. Por sua
vez, as elipses 3 e 4 marcam locais em altos topográficos em que se coloca a
questão da existência ou não de alvos hidrogeológicos importantes fora dos vales.
Sem controle de perfuração, não há como testar essa hipótese.
Além de caracterizar a área como um todo, a análise da Figura 6.18 pode
também delimitar setores de maior probabilidade de ocorrência de uma ou outra
estrutura de acumulação de água subterrânea. A estrutura do tipo riacho-fenda
parece ser mais freqüente na área estudada e ocorre tanto na região sob a
cobertura sedimentar (em cinza), como na região de afloramento do cristalino (em
branco). Mesmo sem controle de perfuração, avaliamos também que é possível
atestar a co-existência entre os modelos dos tipos riacho-fenda e calha elúvio-
aluvionar, inclusive com riachos mudando de um tipo de controle para o outro (como
será discutido, em detalhe, nas seções 6.7.1 e 6.7.2, adiante). Como critérios
adicionais de favorabilidade hidráulica, poderiam ser usados o grau de conectividade
da trama condutiva (interpretada em detalhe) e a proximidade com a área de
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
página 125
cobertura sedimentar, delimitada em cinza na Figura 6.18, a qual deve servir de
potencial zona de recarga para o meio aqüífero.
Figura 6.18 – Superposição das principais feições interpretadas do mapa de condutividade aparente (em azul), do mapa magnetométrico (em vermelho, ao longo do trend dúctil) e do MDT (em preto, ilustrandoas drenagens). Em cinza, a zona com cobertura sedimentar mais espessa ou solo mais desenvolvidodelimitados a partir de mapas de condutividade aparente. As elipses em laranja representam exemplosem potencial de estruturas de acumulação de água subterrânea do tipo riacho-fenda (1 e 4 ?) e calhaelúvio-aluvionar (2 e 3 ?). Vide maiores explicações no texto.
As Figuras 6.19a e 6.19b representam duas composições do MDT (Fig. 6.10)
com o mapa residual de condutividade aparente (filtro high-pass de 2 km, 4.500 Hz,
arranjo vertical coaxial, Fig. 6.17), que fornecem boas visões para a identificação de
estruturas potencialmente favoráveis. A feição topograficamente negativa de direção
NW, com direção compatível com as fraturas da região, evidenciada pelas setas em
cinza na Figura 6.19a, também associada a uma anomalia condutiva, exemplifica
outro caso associado ao modelo riacho-fenda. Mais uma vez observa-se que o Rio
Jacu (porção sul da área, marcada pelas setas em cinza na Figura 6.19b), está
controlado por uma zona de cisalhamento E-W e encontra-se associado com uma
anomalia condutiva e desta forma, deve obedecer ao modelo tipo calha elúvio-
aluvionar. A julgar pelas dimensões da drenagem e da anomalia, em determinados
setores, o Rio Jacu deve estar associado a estruturas do tipo calha elúvio-aluvionar
em estágio de evolução bastante elevado.
930
6000
kmN
9308
000
9310
000
9312
000
210000 km E 212000 214000 216000 218000 220000 222000
3
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2
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Figura 6.19 – Composições do mapa residual da condutividade aparente (freqüência de 4.500 Hz, arranjo vertical coaxial e filtro high-pass de 2 km) com o MDT (forma de relevo). Em (a) as setas em cinza marcamuma estrutura NW associada a uma anomalia condutiva e topografia rebaixada, enquanto que a elipse em branco marca uma anomalia condutiva NW, subparalela ao trend frágil, em alto topográfico; em (b) assetas em cinza marcam a anomalia condutiva ao longo do Rio Jacu, o qual flui ao longo de uma zona de cisalhamento, enquanto que a elipse em branco marca uma anomalia condutiva NE em alto topográfico,subparalela ao trend dúctil. Exagero vertical de 20x, declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação45o.
Regiões topograficamente elevadas, como é o caso da elevação proeminente
na porção centro-sul da área, sem associação com anomalias condutivas, indicam a
presença de embasamento subaflorante e ausência de estruturas
hidrogeologicamente importantes. Contudo, de mais difícil interpretação são os
casos de anomalias de condutividade que estão associadas com altos topográficos,
a exemplo das estruturas condutivas NW (riacho-fenda ?, marcada pela elipse em
branco na Figura 6.19a) e NE (calha elúvio-aluvionar ?, evidenciada pela elipse em
branco na Figura 6.19b). Teriam estas anomalias significado hidrogeológico ou elas
representariam apenas a presença de zonas mais argilosas resultantes do
7530102
a
b7530102
mS/m
mS/m
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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intemperismo? Em particular, para a anomalia de condutividade paralela ao trend
dúctil, é mais provável tratar-se de zonas argilosas resultantes da ação do
intemperismo sobre a foliação ou sobre possíveis corpos de anfibolito, de dimensões
expressivas, não aflorantes. Todavia, em qualquer dos casos, não há como fornecer
resposta conclusiva a estas questões na ausência de controle por sondagem.
6.6 – Poços existentes na área
Na Tabela 6.2 encontram-se as informações disponíveis sobre os poços pré-
existentes na área, cujas localizações estão indicadas na Figura 6.17b. A ausência
de informações completas acerca desses poços dificulta uma análise estatística.
Mesmo assim, parece não haver uma correlação muito forte entre profundidade,
vazão, salinidade e intensidade de anomalia condutiva. Em alguns casos, a
perfuração se deu ao longo de anomalias resistivas, como no caso dos poços 01,
03, 05 e 10, aparentemente explicando as locações de pior vazão. Alguns poços
foram locados ao longo de anomalias condutivas compatíveis com o modelo riacho-
fenda, ou seja, estruturas NW (poços 04 e 09), enquanto outros foram perfurados ao
longo de anomalias condutivas compatíveis à estrutura calha elúvio-aluvionar (de um
modo geral ao longo de anomalias condutivas de NE a E-W), tais como os poços 02,
07 e 11. A julgar pelos dados de vazão, as estruturas do tipo calha podem ser
produtivas na área. Os poços 06 e 08, por estarem localizados na parte limítrofe da
área, não puderam ser analisados neste contexto.
Poço Profundidade (m) Vazão (l/h) Resíduo Seco (ppm)
01 60,00 300 Não disponível02 47,00 9.000 22.97003 36,60 1.800 7.26504 60,00 Não disponível Não disponível05 59,00 2.571 81306 42,00 Não disponível Não disponível07 24,00 7.000 Não disponível08 42,00 Não disponível Não disponível09 50,00 2.400 2.90610 50,00 1.760 76911 60,00 10.000 Não disponível
Tabela 6.2 – Dados de profundidade, vazão e resíduo seco dos poços existentes na área do levantamento geofísico aerotransportado (SERHID/RN, 2000).
Nascimento da Silva, C.C. 2004
UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Cap. VI – Aplicação da aerogeof. na hidrog. do cristalino
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6.7 – Teste de algumas anomalias de condutividade com geofísica terrestre
Foi realizado um levantamento terrestre de modo a averiguar algumas
anomalias condutivas, identificadas a partir do levantamento aerogeofísico, em
locais específicos que pudessem auxiliar o entendimento dos modelos de
acumulação de água subterrânea em rochas cristalinas. Foi utilizado o método da
eletro-resistividade, segundo o arranjo Schlumberger. O uso deste método é
bastante difundido e sua eficácia comprovada ao longo de diversos levantamentos
em localidades do NE do Brasil, as quais apresentam características geológicas e
climáticas semelhantes às da área de estudo (por exemplo, Medeiros 1987 e Silva
2000).
Após a localização em campo da posição das anomalias selecionadas, foram
realizadas sondagens elétricas no centro e bordas da anomalia, transversalmente ao
seu eixo principal, de tal forma a definir as melhores aberturas de eletrodos de
corrente (AB/2), para compor pseudo-seções de resistividade aparente. As aberturas
de eletrodos escolhidas foram 2, 5, 10, 20 e 50 m, além de 100 m em casos
específicos. O espaçamento entre estações foi de 20 m.
6.7.1 – Anomalia compatível com estrutura tipo calha elúvio-aluvionar
A Figura 6.20 mostra um detalhe da Figura 6.17, onde uma mesma drenagem
(traço em preto) apresenta um trecho, a juzante (retângulo em branco), controlado
segundo a direção de foliação (NE), e um trecho, a montante (retângulo em
amarelo), controlado segundo a direção de fraturas (NW). Respectivamente, estes
trechos de drenagens representam controles segundo as estruturas tipo calha
elúvio-aluvionar e riacho-fenda. De acordo com os valores de condutividade do
levantamento aéreo, a condutividade aparente é mais elevada no trecho NW da
drenagem. Nesta seção, apresentamos um teste de campo no trecho de direção NE
e, na próxima seção, um teste no trecho de direção NW.
A Figura 6.21 (equivalente ao retângulo em branco) apresenta um mapa de
resistividade aparente de medidas em terra realizadas, com abertura de eletrodos de
corrente AB/2 igual a 50 m. Podem ser observados dois domínios geoelétricos
contrastantes: um, a SE, mais resistivo; e outro, a NW, mais condutivo. Esses dois
domínios estão separados por uma zona relativamente condutiva associada ao leito
Nascimento da Silva, C.C. 2004
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página 129
da drenagem, em campo demarcada pela estação 0 m. Próximo do local deste
levantamento geoelétrico e no mesmo trend, há um poço bastante produtivo, de
acordo com informações de moradores da região, o que atesta a presença de água
ao longo dessa estrutura NE. Por motivo da ausência de qualquer identificação junto
ao poço, a sua associação com o poço 11 (Figura 6.17) é dúbia.
Figura 6.20 – Detalhe do mapa pseudo-iluminado de condutividade aparente (freqüência de 4.500 Hz,arranjo vertical coaxial, Fig. 6.17), mostrando drenagem (em preto) associada à anomalia condutiva ecom trechos controlados alternadamente por foliação (NE – retângulo em branco) e por fratura (NW –retângulo em amarelo). O polígono em branco representa a posição do levantamento geofísico terrestrede eletro-resistividade, ao longo da estrutura tipo calha elúvio-aluvionar. O polígono em amarelo indica o levantamento de eletro-resistividade ao longo de estrutura riacho-fenda. O círculo amarelo representa opoço produtivo existente na área. Declinação da fonte de iluminação 45o e inclinação 45o.
A partir dos dados de eletro-resistividade apresentados na forma de seção
pode-se visualizar melhor o comportamento do substrato cristalino associado ao
trecho da drenagem controlado pela foliação, conforme ilustrado ao longo da seção
geoelétrica 0 m (Fig. 6.22). Na porção SE desta seção, os valores mais elevados de
resistividade aparente indicam o substrato cristalino subaflorante, enquanto que na
porção NW, o setor relativamente mais condutivo, com linhas de igual condutividade
aparentemente horizontalizadas (subparalelas à foliação local), que se propagam
desde a superfície até níveis mais profundos, compatíveis com a presença de uma
calha de sedimentos.
9308
000
kmN
931
000
09312
000
210000 km E 212000 214000 216000211000 213000 215000
9309
000
9311
000
90 m 0 m
0 m
Fig. 6.23
Fig. 6.21
60 m
75
40
30
20
15
10
5
7,5
2
1,5
mS/m
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Figura 6.22 – Seção geoelétrica 0 m (vide localização na Fig. 6.21) ortogonal ao trecho da drenagemcontrolado pela foliação. Observam-se linhas de isoresistividade aparente horizontalizadas a NW daestação 0 m (posição da drenagem) imersas em uma zona condutiva e um padrão de linhas comgradiente mais elevado na porção SE, indicando domínio resistivo.
A calha de sedimentos deve ser composta por uma mistura de solo (rochas
cristalinas totalmente intemperizadas) e sedimentos oriundos da drenagem,
conforme modelo descrito por Silva (2000). Além disto, o gradiente elevado que
separa os dois domínios geoelétricos (entre as estações 0 e -20m) possivelmente
representa uma zona com rochas foliadas totalmente intemperizadas, saturadas em
-100-80-60-40-20020406080100
Estação (m)
AB
/2(m
)
NW (310 Az) SE (130 Az)oo
10
20
50
25
10 20 30 60 100 180 350 550
Resistividade Aparente (Ohm.m)
0
30
60
Seção
(m)
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
Estação (m)
5 15 25 40 60 80 100 180 350 550
Resistividade Aparente (Ohm.m)
0 20 40 60
Escala Gráfica (m)
Figura 6.21 – Mapa deresistividade aparente obtidocom o método da eletro-resistividade no arranjoSchlumberger (AB/2 = 50 m) aolongo de anomalia condutivaaero-eletromagnética mostradana Figura 6.20. A drenagemestá representada emtracejado, ao longo da estação0 m. A foliação é concordantecom a drenagem no local emergulha 35o para NW.
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página 131
água. Diante do exposto, concluímos que essa estrutura é uma calha elúvio-
aluvionar. O poço perfurado no mesmo trend atesta a produtividade da estrutura tipo
calha nesta área.
6.7.2 – Anomalia compatível com estrutura tipo riacho-fenda
A Figura 6.23 apresenta o mapa de resistividade aparente com abertura de
eletrodos AB/2 de 50 m, ao longo do trecho de drenagem controlado por fraturas
(vide localização através do polígono amarelo na Figura 6.20). Neste mapa se
observa a existência de uma zona mais condutiva localizada a SW do leito da
drenagem (definida pela estação 0 m), que deve ser correlata a uma acumulação
mais espessa de sedimentos areno-argilosos depositados pela drenagem.
Figura 6.23 – Mapa de resistividade aparente obtido pelo método da eletro-resistividade (arranjoSchlumberger, AB/2 de 50 m), ao longo de anomalia condutiva eletromagnética. Trecho da drenagem, em preto tracejado, compatível com direção de fraturas NW observadas em campo.
Por sua vez, na Figura 6.24, que representa a seção geoelétrica 90 m (vide
localização nas Figuras 6.20 e 6.23), observam-se feições condutivas, nas
imediações das estações -20 m e 60 m, que não se irradiam ou propagam até
0
30
60
90
Seção
(m)
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
100
Estação (m)
5 20 40 100 250 550
Resistividade Aparente (Ohm.m)
0 10 20 30 40
Escala Gráfica (m)
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pequenas aberturas de AB/2. Elas devem, portanto, refletir a presença de fraturas
em profundidade afetando o substrato cristalino. Neste caso, o condicionamento da
água subterrânea deve ocorrer ao longo de zonas de fraturas, conforme descrito por
Siqueira (1963) em seu modelo riacho-fenda.
Figura 6.24 – Seção geoelétrica 90 m (vide localização na Fig. 6.23), ortogonal ao trecho da drenagem(estação 0 m) controlado por fratura. Nas estações -20 m e 60 m observam-se anomalias condutivasverticalizadas, que podem indicar zonas fraturadas em profundidade. Toda a região condutiva, observada para pequenas aberturas de eletrodos, está associada com material argilo-arenoso saturado em água,carreado pela drenagem.
6.7.3 – Outros testes realizados
Observa-se uma anomalia condutiva nas imediações da Lagoa do Bom Pasto,
na porção NW da área estudada (vide localização através da Figura 6.2 e da
simbologia SG contida na Figura 6.17b). Trata-se de uma feição condutiva de trend
NW-SE, que tem associada uma lagoa alongada nesta mesma direção, a qual
apresentava-se seca no momento do levantamento geofísico terrestre. Neste caso,
como a direção da anomalia é condizente com a direção de fraturas observadas em
suas imediações, que por sua vez são ortogonais ao trend dúctil local, o
levantamento elétrico poderia confirmar se a lagoa está condicionada por uma zona
de fratura.
Para compor uma seção geoelétrica transversal à lagoa (Fig. 6.25), foram
realizadas diversas sondagens elétricas com aberturas máximas de AB/2 de 100 m,
na tentativa de imagear os níveis mais profundos do substrato cristalino. A Figura
6.25 mostra que a área da lagoa (localizada em campo entre as estações 0 e -100
m) está associada com uma zona condutiva rasa, que é provavelmente resultante do
efeito superficial de sedimentos areno-argilosos existentes em seu leito, visto que a
zona condutiva não se propaga em profundidade. Neste caso, mesmo a lagoa
Resistividade Aparente (Ohm.m)
10 25 60 140 350
SW (210 Az) NE (030 Az)oo
AB
/2(m
)
-100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100
Estação (m)
10
20
50
25
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estando seca no momento do levantamento, deve haver um certo grau de saturação
de água nos níveis mais superficiais (profundidade de até 1 m). No entanto, em
ambas as bordas (estações 20 e -120m) observam-se zonas anômalas, em um
padrão subverticalizado e que atinge aberturas de eletrodos AB/2 da ordem de 50 m.
O mesmo ocorre na porção central, nas imediações da estação -60 m. Estas zonas
condutivas subverticalizadas podem ser indícios de controle estrutural da lagoa a
partir de uma ampla zona de fraturas, que possivelmente apresenta três ramos
principais (definidos pelas anomalias condutivas). Estes ramos podem ser
visualizados através de uma anomalia NW presente nas imediações do traço da
seção geoelétrica (SG), indicada na Figura 6.17b.
Observa-se ainda na Figura 6.25 uma anomalia condutiva subhorizontalizada,
localizada entre as estações 60 e 140 m, para aberturas de AB/2 superiores a 50 m.
Neste caso, esta anomalia não pode ser causada por efeitos superficiais porque ela
não se propaga até a superfície, está imersa em um substrato relativamente resistivo
e se encontra distante da influência das coberturas areno-argilosas presentes na
Lagoa do Bom Pasto. Percebe-se ainda que há um certo grau de interconectividade
desta zona com as fraturas subverticalizadas que definem as bordas da lagoa. Esta
característica é importante do ponto de vista de conectar a zona subhorizontalizada
em profundidade a zonas de recarga em superfície.
A anomalia condutiva subhorizontal acima descrita pode ser tentativamente
explicada como o produto do intemperismo acentuado de zonas de fraturas
subhorizontalizadas, ou do próprio bandamento, originando uma espécie de “bolsão
de intemperismo”, conforme modelo sugerido por Jardim de Sá et al. (2003). É
importante ressaltar ainda que esta anomalia não apresenta indícios que permitam
identificá-la a partir do mapeamento geológico. Além disto, a análise de mapas de
condutividade aparente também não permitiu localizá-la, identificando somente
anomalias condutivas que delimitam as bordas da Lagoa do Bom Pasto (vide, por
exemplo, a Figura 6.17).
Estruturas de acumulação de água subterrânea desse tipo são
potencialmente capazes de explicar elevadíssimas vazões observadas em alguns
poços de cristalino (por vezes, superiores a 50.000 litros por hora) e que não são
facilmente explicáveis através do fluxo de água ao longo de planos de fratura ou
foliação. Uma melhor explicação para estruturas desse tipo, do ponto de vista
hidrogeológico, é que elas estão associadas com rochas de porosidade e
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permeabilidade elevadas, embora secundárias, não decorrentes do período de
formação da rocha e sim de condições particulares de intemperismo. O acúmulo de
água ocorreria ao longo dos interstícios rochosos em uma pseudo-porosidade; o
grau de conectividade entre os poros seria fruto do grau de intemperismo e da
presença de zonas de fratura que porventura existam.
Figura 6.25 – Seção geoelétrica ortogonal à Lagoa do Bom Pasto, a qual apresenta direção similar àdireção de fraturas na região (NW). As bordas da lagoa, delimitadas em superfície pelas estações 0 e -100m, apresentam linhas de isoresistividade subverticalizadas, além daquelas observadas na estação -60 m, para AB/2 superiores a 50 m. Pode-se ainda observar uma feição condutiva subhorizontalizada entre asestações 40 e 160 m (AB/2 de 50 m), imersa em uma zona resistiva, a qual pode significar um acentuadograu de alteração das rochas (“bolsão de intemperismo”?).
Por fim, foi realizada uma sondagem elétrica de modo a testar a anomalia
regional de condutividade que ocorre em toda a porção norte, e em parte da porção
oeste da área estudada, conforme ilustrado na Figura 6.17. Esta anomalia regional
não é ocasionada por anisotropia ou descontinuidade do embasamento, mas deve
estar relacionada ao capeamento sedimentar ou ao substrato argiloso das lagoas da
região. Uma sondagem elétrica foi realizada no centro de uma destas anomalias, na
Lagoa de Baixa Verde, porção centro-norte da área (vide localização através da
simbologia SE existente na Figura 6.17b). Foi utilizada uma abertura de AB/2
máxima de 300 m, na tentativa de analisar se o efeito das coberturas areno-
argilosas existentes refletem capeamentos sedimentares mais espessos (Figura
6.26). A sondagem atesta que a anomalia condutiva observada reflete apenas
pequenas acumulações sedimentares, pois, para valores de AB/2 inferiores a 10 m,
a presença da assíntota de 45o indica que a fonte condutiva da anomalia encontra-
se a níveis bastante rasos, da ordem de 3 m de profundidade. Possivelmente, os
AB
/2(m
)
-160 -140 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 120 140 160
Estação (m) NE (060 Az)oSW (240 Az)o
10
20
50
100
25
10 25 60 140 350
Resistividade Aparente (Ohm.m)
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elevados valores de condutividade aparente observados nos mapas
eletromagnéticos refletem tão somente a natureza predominantemente argilosa dos
depósitos lacustres da região. Informações de moradores locais indicam que o nível
freático encontra-se a apenas poucos metros de profundidade. Neste caso, a argila
saturada em água funcionaria como condutor, explicando os elevados valores de
condutividade aparente das rochas da região.
AB/2 (m)
Res
istiv
idad
eap
aren
te(O
hm.m
)
45o
110 100 1000
10
100
1
Figura 6.26 – Sondagem elétrica realizada na Lagoa de Baixa Verde (vide Figura 6.17b), para verificar aespessura dos capeamentos sedimentares daquela região. Para pequenas aberturas de eletrodos AB/2(em torno de 8 m), os valores de resistividade aparente já se encontram associados à assíntota de 45o, a qual define o substrato cristalino e o caracteriza como raso (em torno de 3 m de profundidade).
6.8 – Considerações finais
A partir dos diversos resultados obtidos, constata-se que, na grande maioria
dos casos, as estruturas passíveis de acumular água em terrenos cristalinos
correspondem a descontinuidades discretas e isoladas. A complexidade e
heterogeneidade do embasamento cristalino dificultam a extrapolação, em
profundidade, das estruturas observadas em mapeamentos geológicos. Neste
contexto, os métodos geofísicos apresentam-se como elo de ligação entre as feições
geológicas mapeadas e as reais estruturas contidas no substrato cristalino.
Os diferentes relacionamentos existentes entre os locais potenciais de
acumulação de água subterrânea e o tipo de estrutura analisada resultam em
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distintos modelos de fluxo e armazenamento. Cada modelo, quando analisado
individualmente, apresenta as suas próprias características e respostas a uma
determinada ferramenta. Além disto, a coexistência entre estas estruturas é um fato.
As anomalias condutivas que não ocorrem associadas a drenagens, por vezes
presentes ao longo de altos topográficos, não se enquadram nos modelos
tradicionalmente utilizados nos trabalhos de locação de poços e geralmente só
podem ser detectadas através de técnicas geofísicas. A inexistência de poços ao
longo de altos topográficos, nos quais ocorrem diversas anomalias condutivas, não
permitiu comprovar na prática a sua potencialidade.
O comportamento tridimensional das estruturas potencialmente importantes
ao acúmulo de água reflete, de uma forma geral, descontinuidades planares. Este
comportamento já foi descrito ao longo dos modelos já existentes de locação
atestando a linearidade em superfície das feições (principalmente para os modelos
riacho-fenda e calha elúvio-aluvionar). Cada modelo normalmente é composto por
diversas estruturas, embora planares quando analisadas individualmente, mas que
fazem parte de um complexo sistema de descontinuidades que se interconectam em
subsuperfície em diferentes padrões e que apresentam peculiaridades não
visualizadas a partir da pura análise superficial do terreno.
Por vezes, os modelos de percolação e retenção de água subterrânea
mostram-se adequados à realidade dos trabalhos de locação, contudo é necessário
atentar para algumas de suas características. Quanto ao modelo riacho-fenda, a
geologia estrutural afirma que o condicionamento da drenagem ocorre ao longo de
zonas de fraturas que normalmente ocorrem subverticalizadas. Estas zonas de
fraturas, por sua vez, podem ser visualizadas através da análise de afloramentos ou
imageadas através de técnicas geofísicas, que utilizem como propriedade a ser
investigada a condutividade do terreno. Neste caso, deverão ocorrer feições
condutivas normalmente subverticalizadas, geralmente localizadas no eixo da
drenagem. No entanto, casos particulares podem apresentar anomalias condutivas
em suas bordas ou com mergulho moderado.
O modelo tipo calha elúvio-aluvionar envolve a compatibilidade angular
existente entre a direção de drenagens com a foliação da região. Dados
magnetométricos e eletromagnéticos são úteis para caracterizá-los. Neste caso,
pode haver ambigüidade quanto às fontes das anomalias, visto que o aumento da
condutividade também pode ser causado por argilo-minerais que ocorrem com
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freqüência ao longo de planos de foliação intemperizados. A estrutura tipo calha
elúvio-aluvionar, ainda pode conter, a depender do seu grau de evolução,
sedimentos areno-argilosos, em geral associados ao leito da drenagem. Estes
sedimentos podem servir como zona de acúmulo de água para os planos de foliação
intemperizados em subsuperfície. A julgar pelos dados de poços disponíveis na área
analisada, estruturas do tipo calha podem, efetivamente, ter potencial hidrogeológico
elevado.
Além destes, um outro modelo foi proposto ao longo deste estudo, com
potencial existência em pelo menos um caso: o modelo intitulado bolsão de
intemperismo. Este caso, por não apresentar indícios superficiais, tem a sua
identificação, a partir de trabalhos de mapeamento geológico, fortemente
prejudicada. Ferramentas geofísicas aerotransportadas também não foram eficazes
à detecção de anomalias referentes ao modelo. Somente a partir de métodos
geofísicos terrestres, no caso a eletro-resistividade, puderam ser visualizadas as
anomalias condutivas que delimitam a zona intensamente intemperizada. Neste
caso, a estrutura é ocasionada por uma sucessão de efeitos intempéricos que
afetam indiscriminadamente fraturas e foliação, gerando uma pseudo-porosidade
intersticial, na qual a água subterrânea acumula-se. O modelo bolsão de
intemperismo não está necessariamente associado a feições topográficas positivas
ou negativas, em superfície. Daí a dificuldade ou inabilidade em caracterizá-lo a
partir de modelos digitais do terreno ou do mapeamento tradicional. No entanto, é
imprescindível, para a sua ocorrência, um certo tipo de conectividade com a
superfície, de forma que a zona intemperizada possa ser sazonalmente recarregada
por água. Esta conectividade pode ocorrer através de zonas de fraturas, por
exemplo, as quais por sua vez chegam às zonas de recarga em superfície.
Deve-se ressaltar que é muito provável que perfurações em calhas elúvio-
aluvionares pouco evoluídas expliquem parte do insucesso das locações de poços
no cristalino. Do ponto de vista de caracterização de superfície, a estrutura calha
elúvio-aluvionar apresenta características muito semelhantes ao tipo riacho-fenda:
drenagens lineares estruturalmente controladas. Naqueles locais nos quais não é
possível definir com exatidão as direções dos trends dúctil e frágil, por exemplo, em
regiões com capeamentos sedimentares expressivos, é difícil determinar o modelo
associado a cada trecho de drenagem. Neste caso, o hidrogeólogo pode
inadvertidamente locar um poço em uma estrutura tipo calha não desenvolvida
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pensando que se trata de uma estrutura tipo riacho-fenda. Possivelmente, a vazão
do poço será bem inferior à esperada. Já a estrutura que define o modelo tipo bolsão
de intemperismo pode ser utilizada para explicar a existência de vazões
anomalamente elevadas em alguns poços, por vezes superiores a 50.000 litros por
hora. Certamente estas vazões não refletem um fluxo subterrâneo ao longo de
fraturas ou foliação. Para este modelo, de forma semelhante aos poços perfurados
em regiões com rochas sedimentares, a água contida no substrato deve estar
armazenada ao longo dos poros formados pela ação intempérica acentuada ao
longo de planos de fratura ou foliação pré-existentes. Apesar da diversidade das
ferramentas empregadas ao longo dos trabalhos de pesquisa, a identificação do
modelo bolsões de intemperismo somente foi possível através da técnica geofísica
terrestre da eletro-resistividade.
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UFRN/CCET/PPGG – Tese de Doutorado Capítulo VII – Considerações finais
Capítulo VII – Considerações finais
O problema da locação de poços em terrenos cristalinos envolve dois
aspectos básicos e práticos: o primeiro se refere ao fato da água subterrânea
percolar ou encontrar-se retida ao longo de descontinuidades discretas, em geral
planares e em muitas vezes, isoladas; o segundo e o mais importante aspecto,
quanto à praticidade, se refere à capacidade do profissional de campo em localizar e
caracterizar as descontinuidades mais importantes no substrato. O primeiro aspecto
reflete um caráter passivo sobre o qual o técnico de locação não pode exercer
nenhuma influência. Resta ao profissional de campo utilizar o seu conhecimento,
técnicas, equipamentos e métodos geofísicos disponíveis para imagear as estruturas
em subsuperfície, para com isto indicar os melhores locais para a perfuração de
poços.
O uso de forma integrada das diversas ferramentas geológicas e geofísicas
terrestres e aerotransportadas, atestou a elevada complexidade de estruturas e
feições que definem o meio aqüífero em rochas cristalinas. Esta complexidade
explica perfeitamente o elevado índice de insucesso quanto à locação de poços
produtivos (com vazões mínimas de 500 litros por hora) em torno de 60 %. A pura e
simples análise de superfície, mesmo quando é bem executada, ainda comporta
uma relativa imprecisão, quando as estruturas observadas em imagens de sensores
remotos ou afloramentos são extrapoladas em profundidade. Não se conhece, a
priori e sem as devidas ferramentas, se estas estruturas mantêm em profundidade,
as mesmas características de superfície.
A abordagem de trabalho da presente tese envolveu algumas premissas
básicas na escolha das áreas estudadas, tais como: embasamento cristalino com
afloramentos, presença de poços para água já perfurados e resultados discrepantes
quanto às suas vazões. Neste contexto, encontrar locais que suprissem todos estes
critérios já foi um obstáculo. Contornado este obstáculo, a insuficiência de dados
quanto ao cadastro dos poços existentes, em cada área de estudo (vazão,
profundidade, entradas d’água, etc.), não permitiu realizar um trabalho estatístico
mais aprofundado, o qual certamente produziria resultados mais confiáveis.
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A evolução geológica das áreas estudadas é bastante complexa. Esta
complexidade é traduzida pelas constantes variações no campo de tensões ao longo
de diferentes episódios tectônicos. Atualmente, em função dos sucessivos eventos
de soerguimento e denudação do terreno, ao longo do tempo geológico, estruturas
geradas em diferentes níveis crustais podem ser observadas lado a lado, em um
mesmo afloramento. Contudo, do ponto de vista hidrogeológico, o campo de tensões
ativo é o que determina se uma dada estrutura tem comportamento “aberto” ou
“fechado”. A partir da análise de diversos dados (tipo de estrutura, preenchimento,
cinemática, correlação com dados sismológicos, etc.), foi possível inferir que o
campo de tensões neotectônico, para as diversas áreas estudadas, é caracterizado
por esforços compressivos na direção E-W e distensivos na direção N-S, compatível
com o regional. Isto torna as estruturas E-W mais propícias ao acúmulo d’água por
estarem mais “abertas”. No entanto, a presença de anisotropias ou irregularidades
(variações topográficas marcantes, estruturas pré-existentes como falhas ou zonas
de cisalhamento, dentre outras) pode ser suficiente para acarretar uma mudança
local no campo de tensões neotectônico.
O agrupamento dos diversos aspectos inerentes ao modo de percolação e
retenção de água subterrânea permite esboçar diversos modelos hidrogeológicos. O
modelo mais comum é o chamado riacho-fenda. Neste caso, a água ocorre ao longo
de planos de fraturas com diferentes dimensões. A forma mais comum de detectar
este modelo é identificar trechos retilíneos de drenagens que estejam controlados
por zonas fraturadas. Esta análise é eficaz a partir de produtos de sensores remotos
e modelos digitais de terreno, identificando as feições topograficamente negativas,
associando-as com os cursos de drenagens. A drenagem supre as fraturas com
água, com certa sazonalidade, aumentando o contraste de condutividade entre
zonas saturadas e a rocha sã. Por sua vez, esta interface geoelétrica demarca
anomalias condutivas que podem ser observadas tanto em mapas gerados por
sensores eletromagnéticos aerotransportados, quanto em mapas de resistividade
aparente e pseudo-seções de métodos geofísicos terrestres. A análise mais
detalhada a partir da eletro-resistividade e do GPR (Radar Penetrante no Solo)
permitiu identificar as regiões mais fraturadas, o seu grau de interconectividade, bem
como a relação com zonas de recarga em superfície e descontinuidades situadas
em níveis mais profundos. Neste caso, a drenagem não necessariamente ocorrerá
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associada à estrutura mais importante do ponto de vista hidrogeológico, podendo a
mesma nem aflorar. A geofísica, neste caso, é imprescindível para localizá-la.
Quanto ao modelo calha elúvio-aluvionar verificou-se que a sua área de
ocorrência é bastante comum, situada em importância semelhante à do modelo
riacho-fenda. Drenagens superficiais comumente encontram-se controladas pelo
trend dúctil do terreno. Por vezes, estas drenagens apresentam forma sinuosa, ora
associada a uma fratura, ora a uma foliação, demonstrando um típico controle
estrutural. A identificação de uma estrutura tipo calha elúvio-aluvionar pode ser feita,
por exemplo, a partir dos pontos de superposição entre anomalias magnéticas,
definindo o trend dúctil, e anomalias condutivas eletromagnéticas. Em maior detalhe,
as pseudo-seções transversais ao trecho da drenagem apresentarão dois padrões
geoelétricos distintos, separados por uma anomalia condutiva: um padrão com
linhas de resistividade aparente com alto gradiente, demonstrando que o
embasamento está aflorante a subaflorante, e outro com linhas de resistividade
aparente subhorizontais, indicando a região composta pelo material elúvio-aluvionar.
Já o modelo bolsão de intemperismo, pela possibilidade de ocorrer a dezenas
de metros de profundidade, pode não apresentar indícios de sua existência em
superfície. Expressivas ações intempéricas provocaram o desgaste da rocha,
possivelmente ao longo de planos de foliação e de fraturas pré-existentes, gerando
uma pseudo-porosidade intergranular, na qual a água fica armazenada. Métodos
magnéticos e eletromagnéticos aeroportados se revelaram ineficazes na sua
detecção. No entanto, o método da eletro-resistividade, por permitir maior
profundidade de exploração, mostrou-se eficaz neste sentido. Apesar do bolsão de
intemperismo não apresentar necessariamente reflexo em superfície, existe a
obrigatoriedade de sua conexão com a superfície por algum tipo de estrutura. Disto
depende a sua recarga sazonal. Estas estruturas fazem o papel de conectar à
superfície o sítio de armazenamento da água em profundidade; elas podem
apresentar baixo mergulho e também podem ocorrer nos demais modelos de
armazenamento de água subterrânea em terrenos cristalinos.
Do ponto de vista prático, como as características de locação ao longo dos
diversos modelos descritos são distintas, um engano na interpretação de campo do
modelo existente em um determinado local, pode ser suficiente para explicar parte
do insucesso nas locações. Por exemplo, como as características superficiais dos
modelos riacho-fenda e calha elúvio-aluvionar são semelhantes (trechos retilíneos
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de drenagens estruturalmente controladas), o técnico de campo pode,
inadvertidamente, locar um poço ao longo de uma estrutura tipo calha não
desenvolvida, imaginando que está em um modelo fenda. Isto se torna mais crítico
naqueles locais em que não é possível visualizar as direções dos trends dúctil e
frágil, por exemplo, em decorrência de capeamentos sedimentares ou solos bem
desenvolvidos. Por outro lado, poços de elevadíssimas vazões, de ordem superior a
50.000 litros por hora, não podem ser facilmente explicados a partir da explotação
da água contida em planos de fratura ou zonas foliadas intemperizadas. Pelo volume
expressivo, uma melhor explicação seria o armazenamento da água em uma
porosidade intersticial semelhante à de uma rocha sedimentar. O modelo bolsão de
intemperismo reflete este caso.
Entende-se que muitas das técnicas citadas e que foram trabalhadas ao longo
da presente tese de doutorado por vezes não são compatíveis com a realidade de
trabalho no Nordeste brasileiro e em outras regiões, tanto no que diz respeito a
custo como à qualificação de pessoal. No entanto, o estudo aprofundado de casos
isolados, através de trabalhos de pesquisa, pode fornecer subsídios únicos para o
melhor entendimento e elaboração de modelos mais detalhados de acumulação de
água em terrenos cristalinos, bem como reavaliar aqueles já existentes. Além disto,
a comprovação dos resultados, a partir da perfuração de poços utilizando todos os
critérios disponíveis é extremamente relevante para o sucesso dos trabalhos futuros.
Por sua vez, de posse destes modelos devidamente comprovados e reavaliados, o
profissional de campo poderá utilizar os critérios tradicionais de locação de uma
maneira mais efetiva e, certamente, obterá resultados mais satisfatórios.
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