tese cobrança uso d agua - harlen_santos2002 - goias
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Tese quanto à Cobrança do uso da águaTRANSCRIPT
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SUMRIO 1 INTRODUO................................................................................................................7
1.1 FUNDAMENTOS JURDICOS DA COBRANA PELO USO DA GUA.................... 8 1.2 FUNDAMENTOS ECONMICOS DA COBRANA PELO USO DA GUA............ 10 1.3 DISPONIBILIDADE HDRICA E USOS MLTIPLOS DA GUA ............................. 15 1.4 A EXPERINCIA INTERNACIONAL NA COBRANA PELO USO DOS
RECURSOS HDRICOS.................................................................................................. 21 1.4.1 A cobrana pelo uso da gua na Frana............................................................... 22 1.4.2 A cobrana pelo uso da gua nos Estados Unidos ............................................... 23 1.4.3 A cobrana pelo uso da gua na Alemanha ......................................................... 24 1.4.4 A cobrana pelo uso da gua na Holanda ............................................................ 24 1.4.5 A cobrana pelo uso da gua no Chile................................................................. 25 1.4.6 A cobrana pelo uso da gua no Mxico ............................................................. 25 1.4.7 A cobrana pelo uso da gua na Colmbia .......................................................... 26
1.5 A EXPERINCIA BRASILEIRA NA COBRANA PELO USO DA GUA............... 26 1.5.1 A cobrana pelo uso da gua no Estado do Cear ............................................... 27 1.5.2 A cobrana pelo uso da gua no Estado da Bahia................................................ 29 1.5.3 A cobrana pelo uso da gua no Estado de So Paulo......................................... 30 1.5.4 A cobrana pelo uso da gua no Paraba do Sul .................................................. 31
1.6 A BACIA HIDROGRFICA DO RIO DOS BOIS ......................................................... 34 1.6.1 Caracterizao fsico-climatolgica..................................................................... 34 1.6.2 Caracterizao scio-ambiental ........................................................................... 36 1.6.3 A Sub-Bacia Do Rio do Peixe ............................................................................. 54
1.7 CONCLUSES ................................................................................................................ 57 1.8 RECOMENDAES....................................................................................................... 57 1.9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 60
2 AVALIAO DAS VAZES ALOCVEIS NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO DOS BOIS E SUB-BACIA DO RIO DO PEIXE, ESTADO DE GOIS. ....................66 2.1 INTRODUO ................................................................................................................ 68 2.2 A BACIA HIDROGRFICA DO RIO DOS BOIS ......................................................... 70
2.2.1 Do Rio do Peixe................................................................................................... 72 2.3 METODOLOGIA............................................................................................................. 74 2.4 RESULTADOS E DISCUSSO...................................................................................... 79 2.5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 85
3 ANLISE DA COBRANA PELO USO DA GUA VINCULADO AOS CUSTOS DO TRATAMENTO DE ESGOTOS DOMSTICOS, NA BACIA DO RIO DOS BOIS, ESTADO DE GOIS..........................................................................................87 3.1 INTRODUO ................................................................................................................ 88 3.2 REA DE ESTUDO......................................................................................................... 92 3.3 METODOLOGIA............................................................................................................. 94 3.4 RESULTADOS ................................................................................................................ 98 3.5 DISCUSSO .................................................................................................................. 100 3.6 CONCLUSES .............................................................................................................. 105 3.7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................ 106
ANEXOS............................................................................................................................109
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1 INTRODUO
Esta tese est estruturada em dois artigos interrelacionados, ambos
encaminhados para publicao, sendo que o primeiro j oficialmente aceito e com data
programada para publicao.
Os artigos tratam da aplicao de dois instrumentos de gesto dos recursos
hdricos: a outorga de direito e a cobrana pelo uso da gua no Brasil. A discusso feita
luz dos resultados obtidos em trabalhos de campo e pesquisa bibliogrfica e ainda em
bancos de dados relacionados gesto de recursos hdricos e aos custos de implantao de
estaes de tratamento de efluentes domsticos. Os estudos foram realizados na rea da
Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, Estado de Gois.
A Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois uma bacia de nvel quatro, segundo
a metodologia de codificao de Otto Pfafstetter e apresenta o cdigo 8494. Esta
metodologia orienta a subdiviso e codificao de Bacias Hidrogrficas, utilizando dez
algarismos, com base na configurao natural do sistema de drenagem e na sua rea,
abstraindo-se da diviso poltica dos municpios, estados ou pases. A codificao feita
inicialmente para o continente e consiste em agrupar a rede da drenagem em trs classes:
aquelas que drenam diretamente para o mar (podendo ser uma bacia ou uma regio
hidrogrfica), as que drenam para bacias fechadas e as que so tributrias dos dois
primeiros casos. O nvel das bacias crescente de jusante para montante e envolve, nessa
ordem, nmero crescente de algarismos no cdigo atribudo s bacias (PFAFSTETTER,
1989).
O primeiro artigo trata da sustentabilidade dos usos atuais na Bacia
Hidrogrfica do Rio dos Bois, a partir da comparao de critrios de alocao de gua em
onze estados brasileiros e valendo-se de modelo especfico para transposio de dados, a
partir da regionalizao de vazes obtidas por estaes fluviomtricas e de medies em
campo na sua Sub-Bacia do Rio do Peixe.
O segundo artigo versa sobre a avaliao da cobrana pelo uso da gua para
abastecimento urbano e diluio de esgotos domsticos gerados nos 37 municpios com
rea urbana na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois e analisa a receita potencial comparada
aos custos financeiros para implantao de estaes de tratamentos dos esgotos.
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A tese em discusso a validade da aplicao do instrumento da cobrana
pelo uso da gua como forma de promover a efetiva recuperao ambiental dos
mananciais, pelo controle da principal forma de poluio hdrica da regio, que o
lanamento dos efluentes domsticos sem tratamento prvio.
No sentido de contextualizar os dois artigos e apresentar os conceitos e
dados que subsidiaram o trabalho de pesquisa, a presente introduo a seguir est dividida
em sete partes: a primeira, sobre os fundamentos jurdicos da cobrana pelo uso da gua; a
segunda, sobre os fundamentos econmicos; a terceira que trata da disponibilidade hdrica
global e regional e ainda dos usos mltiplos da gua; a quarta parte sobre as diversas
experincias internacionais na cobrana pelo uso dos recursos hdricos; a quinta sobre a
experincia brasileira na cobrana pelo uso dos recursos hdricos e a sexta parte sobre a
rea de estudo que a Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, no Estado de Gois. A stima e
ltima parte um conjunto de recomendaes resultantes desse trabalho, visando o
aperfeioamento do sistema de gerenciamento de recursos hdricos no Brasil.
1.1 FUNDAMENTOS JURDICOS DA COBRANA PELO USO DA GUA
No Brasil e em vrios outros pases a gua considerada um bem pblico
inalienvel, sendo o seu uso possibilitado por autorizao ou concesso do poder pblico,
outorgado para fins especficos e em volumes ou vazes determinadas e por perodos de
tempo estabelecido.
Ao longo da histria, o domnio das guas interiores brasileiras teve
diferentes tratamentos das Constituies Federais. A atual Carta Magna, promulgada em
1988, estabeleceu que a gua um bem da coletividade, sob domnio dos Estados ou da
Unio, nos termos relacionados nos artigos 26 e 20, respectivamente. Portanto, no h no
Brasil guas de domnio privado ou municipal. De acordo com o artigo 22 da referida
Constituio tambm competncia privativa da Unio legislar sobre recursos hdricos
(BRASIL, 1988).
A principal referncia na legislao federal a Lei 9.433, de 08 de janeiro
de 1997, que estabelece a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, cujos princpios bsicos
so: o reconhecimento da gua como um bem pblico, finito e vulnervel, dotado de valor
econmico; a necessidade do uso mltiplo e integrado das guas; a prioridade do uso dos
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recursos hdricos em situaes de escassez para o consumo humano e dessedentao de
animais; a adoo da Bacia Hidrogrfica como unidade territorial de planejamento e
gesto das guas e a participao dos diferentes nveis do poder pblico; dos usurios e da
sociedade civil no processo de tomada de deciso (BRASIL, 2003).
A Constituio Estadual, promulgada em 1989, estabelece vrios artigos
referentes aos recursos hdricos de domnio do Estado de Gois. Destaca-se o artigo 140,
que determina obrigao ao Estado de elaborar e manter atualizado o Plano Estadual de
Recursos Hdricos e o artigo 144 que cria reas prioritrias para a recuperao dos
recursos hdricos, localizadas entre os paralelos 13 e 15, meridianos 46 e 48,
especialmente nos vales dos Rios Crixs, Vermelho, Ferreiro e das Almas (GOIS,
2004).
Os principais instrumentos legais relacionados com o tema no Estado de
Gois so: a Lei 13.123 de 16 de julho de 1997, que estabelece a Poltica Estadual de
Recursos Hdricos e institui o Sistema Estadual de Recursos Hdricos (GOIS, 2004); a
Lei 13.583 de 11 de novembro de 2000, que trata das guas subterrneas, sob a tica da
gesto de recursos hdricos, proteo ambiental e sade pblica (GOIS, 2004) e o
Regulamento de outorga de direito de uso das guas de domnio estadual, objeto da
Resoluo n 09/2005 do Conselho Estadual de Recursos Hdricos (CERH, 2005). O
Estado no possui lei especfica sobre cobrana pelo uso da gua.
A cobrana pelo uso da gua bruta freqentemente entendida como o
pagamento que se faz pela produo, reservao e distribuio de gua potvel. Mas neste
caso no cobrado o valor econmico da gua (TUNDISI, 2003a).
Segundo POMPEU (2001) o Cdigo de guas, editado em 1934, j adotava
medidas semelhantes ao princpio do poluidor-pagador, na medida em que previa, alm da
responsabilidade criminal, quando existente, a obrigao de responder por perdas e danos
a quem conspurcar as guas.
A diferena entre os estgios das iniciativas para a implantao da cobrana
pelo uso da gua, observada entre a Unio e os Estados e entre os prprios Estados, pode
ser explicada pela disposio da Constituio Brasileira em vigor de atribuir domnio
estadual ou federal s guas interiores. Uma outra explicao se deve necessidade de
adoo prvia de outras providncias para o incio da cobrana, dentre elas a criao do
comit de Bacia Hidrogrfica e a aprovao do Plano de Bacia.
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Especificamente a Lei Federal 9.433/97 que estabelece a Poltica Nacional
de Recursos Hdricos, dispe sobre o assunto. O artigo 19 da referida Lei define os
objetivos da cobrana pelo uso de recursos hdricos: reconhecer a gua como bem
econmico e dar ao usurio uma indicao real de seu valor; incentivar a racionalizao do
uso da gua e ainda obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e
intervenes contemplados nos planos de recursos hdricos. Este ltimo dispe
objetivamente sobre o tema tratado nessa tese.
SILVA (1994) ao examinar a questo sob os aspectos ambientais, afirma
que o artigo 24 da Constituio Brasileira prev competncia concorrente da Unio, dos
Estados e do Distrito Federal para legislar sobre florestas, caa, pesca, fauna, conservao
da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo do meio ambiente, controle
da poluio e responsabilidade por danos ao meio ambiente.
1.2 FUNDAMENTOS ECONMICOS DA COBRANA PELO USO DA GUA
Segundo BAUMOL & OATES (2000) uma busca de instrumentos
potenciais de poltica revela a existncia de um largo espectro de mtodos para controle
ambiental, indo da proibio direta de atividades poluidoras at formas mais brandas de
persuaso moral envolvendo comprometimento voluntrio.
Como est demonstrado na Figura 1, os setores da sociedade que se
manifestam interessados em defender os recursos naturais devem considerar, alm do
estoque limitado desses recursos, o seu valor econmico como estratgia.
Figura 1. A valorao dos recursos naturais como estratgia de defesa do capital natural, segundo MOTA (2001).
Defesa do Capital Natural
Estoque do Capital Natural
Funo Estratgica
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A caracterstica diferencial dos recursos naturais, para PERMAN et al.
(1999), que estes no se comportam como outros bens em que o mercado consegue fazer
alocao eficiente, pois no se sabe at que ponto eles so substituveis por outros.
Para NORTON (1997), o problema em economia ambiental a ausncia de
conhecimento suficiente para calcular o valor econmico da maioria das espcies da
diversidade biolgica. Nesse raciocnio, um grande obstculo para a valorao dos
recursos naturais renovveis, quando utilizados como insumos a quase completa
inexistncia de mercados e, quando eles existem, no so competitivos. Segundo MOTA
(2001), mesmo que no seja possvel estimar o valor dos ativos naturais, calcula-se uma
importncia que possa simbolizar um sinal de preo.
A corrente dos economistas ecolgicos, segundo ROCHA & MUNIZ
(2003), se desenvolveu a partir do reconhecimento de que, de um lado, o sistema scio-
econmico baseia-se e depende dos sistemas naturais, e, de outro lado, ele interfere e
transforma o funcionamento destes ltimos. Deste modo, a atual problemtica ambiental e
as perspectivas de um desenvolvimento sustentvel no podem ser devidamente
compreendidas apenas nos marcos da economia convencional. Segundo esses autores,
esta corrente tem como seu maior objetivo assistir os pases subdesenvolvidos mediante
fornecimento de capital para financiamento a projetos que visem reduo de gases do
efeito estufa. Nessa modalidade, pases desenvolvidos que no atinjam metas de reduo
podem contribuir financeiramente com estes projetos.
Os mesmos autores acima ainda acrescentam que a grande diferena entre
os neoclssicos e os economistas ecolgicos, que os primeiros se preocupam primeiro
com a eficincia alocativa para depois se preocupar com a escala, e os ecolgicos
definem primeiro a escala para depois determinar a alocao. Isto garantiria a capacidade
do ambiente em suprir recursos e assimilar dejetos, permitindo que seja alcanado o
Desenvolvimento Sustentvel.
A viso dos economistas e a dos ecologistas convergem, porm, na
considerao da existncia de fluxos entre os sistemas: os economistas consideram os
fluxos de produtos, de recursos e de capital, enquanto os ecologistas consideram fluxos
entre sistemas naturais (MOURA, 2003), conforme demonstrado na Figura 2.
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Figura 2. Organograma das relaes entre fluxos de produtos e fluxos em sistemas
naturais, segundo MOURA (2003).
DINAR (2002) sugere alguns critrios necessrios alocao de recursos
escassos, como a gua: a flexibilidade na alocao dos recursos; a segurana aos usurios
j preestabelecidos; os custos de oportunidade real para aquisio dos recursos pagos pelo
usurio; a previsibilidade dos resultados do processo de alocao; a equidade do processo
de alocao e a aceitao poltica e pblica do processo de alocao. Considerando que a
alocao eficiente pressupe um pacto, nem sempre explcito, de diviso da gua aos
usurios da Bacia Hidrogrfica, o ltimo critrio elencado a aceitao poltica e pblica
do processo.
No Brasil, FREITAS & LOPES (2003) avaliaram como exitoso o processo
de alocao negociada na Sub-Bacia do Rio Verde Grande, que se baseou na negociao
compartilhada de guas estocadas em reservatrios e tambm em processo semelhante
empregado no Estado do Cear. Na bibliografia consultada, destacada nestas iniciativas,
entre outros fatores, a forte participao pblica nos processos e o conseqente consenso
da sociedade sobre a alocao realizada.
Alm da viso dos economistas e ambientalistas, importante considerar a
dos setores usurios de recursos naturais: indstria, piscicultura, agricultura e pecuria,
saneamento bsico e outros. Os setores usurios expressam suas preferncias, alm das
variveis relacionadas a scio-economia, porque incluem valores ticos e
comportamentais.
Quando o tema em anlise a gesto das guas, essa abordagem crtica
desempenha papel de grande relevncia. No se pode perder de vista que a gesto de guas
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reflete os processos econmicos, polticos e sociais que ocorrem no mbito de uma
sociedade ( PERRY & VANDERKLEIN, 1996).
Para MOTA (2001) a aplicao de instrumentos de gerenciamento dos
recursos naturais, como a cobrana pelo uso da gua, no visa apenas reparar o dano
ambiental, mas tambm, induzir os usurios a desenvolver ou adquirir tecnologias limpas
e sustentveis.
Segundo SEROA DA MOTTA (2000), o fator mais relevante para um
sistema de gesto de Recursos Hdricos a capacidade institucional de fazer valer
cobranas realistas, plenamente cumpridas e monitoradas e cujas receitas sejam dirigidas
para os investimentos necessrios. O sistema mais exitoso seria com uma cobrana
impositiva federal, associada outra, local ou adicional, por deciso dos comits de
usurios, gerido por um sistema descentralizado de gesto (por bacias, por exemplo),
coleta da cobrana e de aplicao dos recursos arrecadados orientados por planos federais
e locais de gesto por um determinado perodo.
O autor ainda preconiza que os principais mtodos de valorao que podem
ser utilizados para atribuir preos para a gua so assim classificados: mtodos da funo
da produo e mtodos da funo da demanda. Os primeiros so mtodos da produo
marginal e de mercados de bens substitutos como reposio, gastos defensivos ou custos
evitados. Os mtodos da funo de demanda so definidos como mtodos de bens
complementares e mtodos de valorao contingente. Estes mtodos consideram a
influncia da disponibilidade do recurso ambiental na disposio de pagar dos agentes
consumidores.
MOTA (2001) ainda defende que o conceito mais usado na valorao de
ativos naturais o de disposio a pagar e refere-se a mxima propenso a pagar que uma
pessoa revela ao usar um recurso ambiental, considerada sua renda, preferncia e senso
tico.
Segundo TUNDISI (2003a), uma anlise econmica dos benefcios
produzidos pelos mltiplos usos de guas superficiais, subterrneas, lagos, rios, represas,
tanques e outros sistemas aquticos deve avaliar as diversas atividades e tambm o custo
da poluio e degradao, uma vez que usos mltiplos so comprometidos com a
degradao de guas superficiais e subterrneas.
Para o entendimento dos diferentes mtodos de valorao da natureza
necessrio atentar para a diversidade dos recursos naturais utilizados na produo,
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sobretudo para a forma de disponibilidade na natureza de cada recurso, ou seja, se o
recurso natural estudado existe como um fluxo ou como um estoque na natureza. Quando
se trata de recursos naturais renovveis, que por alguma forma de reproduo seu estoque
sempre reposto, a sua disponibilidade futura vai depender da taxa de uso, maior ou
menor que a capacidade de multiplicao natural (PEARCE & TURNER, 1990).
Vrios fatores estranhos gesto de recursos hdricos e at mesmo os
aspectos polticos eleitorais podem afetar a atribuio de preos cobrados pela gua. Esta
situao mais comum com relao gua potvel, quando comparada gua bruta.
MADHOO (2004), constatou que polticos das Ilhas Maurcio, durante perodos eleitorais
manipularam subsdios aos preos cobrados pela gua alocada agricultura irrigada.
CONSTANZA (1997) estima o valor de servios promovidos anualmente
por rios, lagos e represas em 1,7 x 10 dlares por ano, trs vezes o valor total da
produo mundial. Esse mesmo autor defende ainda que o conceito da sustentabilidade, do
ponto de vista de sua dimenso ecolgica, deve obrigatoriamente passar pela capacidade
de suporte dos ecossistemas.
Especificamente, quando se discute a valorao da gua, dois obstculos
maiores se apresentam: o primeiro a falta de um produto substituto, cujo valor pudesse
ser utilizado como parmetro de comparao e o segundo a inexistncia de um mercado
de transaes onde a disposio de pagar dos usurios pudesse ser efetivamente avaliada.
Dessa forma tem-se como objeto de cobrana os excedentes de gua, alm de sua vazo
ecolgica e que podem significar insumos na economia. O estudo de gerenciamento
integrado das atividades desenvolvidas na Bacia Hidrogrfica do Rio So Francisco,
(ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2003), concluiu que estas vazes, denominadas vazes de
restrio, devem ser determinadas atravs de mtodos adequados que possibilitem o
atendimento dos usos no consuntivos, mas que considere os demais usos atuais e futuros
em cada sub-bacia ou sees dos rios. No entendimento de SANTOS et al. (2003), vazo
ecolgica aquela que atende s exigncias da biota enfocada, seja mantendo as
condies existentes antes da interveno antrpica, seja para garantir condies
estabelecidas, que busquem mitigar os impactos dessa interveno.
Os principais objetivos da cobrana pelo uso da gua so: o incentivo ao
uso racional da gua, minimizando a ocorrncia de conflitos; a reverso das externalidades
negativas pela consecuo de recursos financeiros e a promoo da preservao e
recuperao ambiental, sobretudo da qualidade da gua.
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A adoo de mecanismos econmicos na gesto dos recursos hdricos foi
efetivada atravs de diferentes estratgias, julgadas adequadas e oportunas em diferentes
pases, porm cada setor usurio responde de uma forma a esta situao. Onde a cobrana
est efetivada, estudos mostram que os reguladores devem estar atentos mudana dos
custos para prover gua. No sudoeste da Frana, BONTEMPS & COUTURE (2002),
demonstraram que estes custos podem variar de 0,30 francos/m em perodos chuvosos at
1,60/m em perodos de estiagem severa.
Alguns setores usurios alegam bi-tributao. O setor industrial tem custos
adicionais relacionados com a gua, que para REYNAUD (2003) podem ser considerados
como custos com o pagamento pela gua bruta, para tratamento prvio da gua e custos
para aquisio de gua j tratada, em alguns casos.
Os usurios da agricultura irrigada e da pecuria so tradicionalmente os
mais resistentes ao pagamento pelo uso da gua, alegando principalmente a dificuldade de
incorporar estes custos ao seu preo final. Segundo GOMEZ-LIMON & RIESGO (2004),
possvel avaliar o impacto do custo da gua na renda agrcola. Estes custos foram
estimados no Vale Duero, Espanha, observando a disposio da Unio Europia de exigir
dos pases membros a implementao de polticas de precificao da gua que
signifiquem a recuperao dos custos do estado para prov-la aos produtores rurais.
1.3 DISPONIBILIDADE HDRICA E USOS MLTIPLOS DA GUA
Conforme os dados obtidos pelo Plano Nacional de Recursos Hdricos
(MMA/ANA, 2003), o Brasil tem 81,2% de sua populao em reas urbanas, sendo que na
Regio Hidrogrfica do Paran, onde se inclui a rea de estudo deste trabalho, esse
percentual chega a 90,5%. natural que os problemas ambientais gerados pelas atividades
de saneamento bsico despertem grande ateno e sejam prioritrios na aplicao dos
recursos arrecadados com a cobrana pelo uso da gua, em funo principalmente dos
reflexos observados nos principais indicadores de sade pblica.
Como conseqncia dessa situao, s a diarria, doena principal entre as
de veiculao hdrica, responsvel pela ocorrncia de 1,5 milho de casos anuais,
enquanto a clera foi identificada em 150.000 casos entre 1992 e 1994, conforme apurado
na Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico (IBGE, 2004). Outras doenas relacionadas
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com a gua tambm devem ser consideradas, como a hepatite A, febre tifide, dengue e a
esquistossomose.
recente a percepo pela sociedade humana de que a gua, apesar de
relativamente abundante e renovvel, um bem finito. Em regies com baixa
disponibilidade hdrica esta idia mais evidente, sobretudo pela inibio de processos
econmicos e pela busca incessante de tecnologias de aproveitamento mltiplo e reuso da
gua.
No Brasil, onde o tema se tornou uma preocupao da sociedade apenas na
ltima dcada, ainda pode-se observar o que chamado de cultura da abundncia. Este
sentimento se comprova pelo desperdcio e pelo emprego de vazes expressivas de gua
em usos considerados pouco nobres ou de baixo retorno econmico ou social.
Dados do Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de gua do
Ministrio das Cidades (PNCDA, 2004) demonstram que s as atividades de produo e
distribuio de gua potvel implicam em perdas mdias de 35% de gua. Isso significa
que 1/3 das vazes captadas no so efetivamente faturadas, o que inclui as perdas por
acidentes e os volumes evaporados e gastos na manuteno dos sistemas de tratamento. A
meta reduzir essas perdas fsicas para 20%, margem aceitvel internacionalmente.
O reuso da gua como forma de economia adotado em muitos pases
como resposta taxao ou cobrana elevada pela gua. A reutilizao de efluentes
lquidos um modo eficiente para se contrapor escassez de recursos hdricos. Baseado
nas disponibilidades regionais da China, CHU et al. (2004) desenvolveram um modelo
para a otimizao do uso destes efluentes e o clculo da economia de gua bruta para os
usurios.
A quantidade de gua na Terra da ordem de 1386 milhes de Km, e este
total tem permanecido constante nos ltimos 500 milhes de anos (REBOUAS et al,
2002).
Dada a distribuio no uniforme das vazes de gua em um Pas ou Estado
e, ainda, s diferentes densidades populacionais humanas nestas unidades geopolticas, a
disponibilidade hdrica melhor expressa em metros cbicos per capita/ano. Esta
apresentao permite a compreenso da abundncia relativa de gua e a conseqente
possibilidade de incremento de atividades usurias de recursos hdricos, assim como das
situaes de escassez e a sinalizao para a adoo de instrumentos de gesto e tecnologia
que resultem em uso mais racional.
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As vazes mdias encontradas em uma regio pela vazo estimada de
consumo individual representam a efetiva abundncia ou escassez de recursos hdricos.
O ndice considerado suficiente para a vida em comunidade, para o
exerccio normal das atividades humanas, sociais e econmicas, de 2.500 m de
gua/hab/ano. Abaixo de 1.500 m/hab/ano, a situao considerada crtica (THAME ,
2000).
Segundo SETTI (2001), os usos que recaem sobre os estoques de guas
doces, superficiais ou subterrneas, expressam mdias mundiais de consumo superiores na
agricultura e pecuria quando comparadas quelas do abastecimento domstico e da
atividade industrial. Atualmente, na Terra, 70,1% dos volumes captados destinam-se
agricultura e a pecuria, enquanto 9,9% para o abastecimento urbano e 20,0% para o setor
industrial. Nos pases em desenvolvimento, em funo da baixa industrializao, a parcela
utilizada pelo setor agrcola alcana 80% dos volumes totais.
XABADIA et al (2004) afirmam que a agricultura a principal
contribuinte de numerosos problemas ambientais, incluindo o uso intenso dos recursos
hdricos. Esses autores, estudando plantaes de algodo no Vale San Joaquin, Califrnia,
propuseram um modelo que pode determinar o preo socialmente timo da gua.
Segundo TUNDISI (2003a), estudos j demonstraram que em pases de
baixa renda, entre U$ 200 e U$ 500 per capita/ano, o consumo de gua para uso
domstico representa 4%, enquanto no setor agrcola representa 91% das vazes
utilizadas. Em pases de renda per capita/ano entre U$ 5.000 e U$ 20.000, esta relao
pode chegar a 14% para o consumo domstico e 47% para o consumo agrcola. Isto
significa que a incorporao das possveis receitas advindas do setor agrcola poderia
incrementar significativamente a arrecadao total em uma Bacia Hidrogrfica.
A Tabela 1 demonstra os volumes de gua consumidos pelas diferentes
atividades e estima os valores a serem consumidos nos prximos 20 anos.
O Brasil destaca-se no cenrio mundial pela grande descarga de gua doce
de seus rios, com uma produo hdrica de 177.900 m/s e, mais, 73.100 m/s da
Amaznia Internacional, o que perfaz 53% da produo de gua doce da Amrica do Sul e
12% do total mundial (REBOUAS et al, 2002). Os dados revelam uma aparente
abundncia de guas doces no Brasil. Uma anlise mais profunda leva compreenso de
que as vazes de gua mais expressivas no pas so encontradas em regies com menor
adensamento populacional.
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Tabela 1. Dinmica do uso da gua no mundo por setor (Km/ano), segundo
SHIKLOMANOV (1997). Calculado Estimao SETOR 1900 1940 1950 1960 1970 1980 1990 1995 2000 2010 2025
Populao (milhes de hab.)
2493 2963 3527 4313 5176 5520 5964 6842 8284
rea Irrigada (milhes de hab.)
47 76 101 142 173 200 243 254 264 288 329
Uso agrcola 525 *407 891 678
1124856
15411183
18501405
21911698
24121907
25031952
2595 1996
27922133
31622377
Uso Industrial 38 *3 127 10
18214
33425
54838
68362
68173
71580
748 87
863111
1106146
Abastecimento 16 *4 37
9 5314
8320
13029
20842
32153
35457
386 62
46468
64581
Reservatrios 0,3 3,7 6,5 22,7 65,9 119 164 188 211 239 275
TOTAL 579 *415 1066 705
1365894
19851250
25741539
32001921
35802196
37602275
3940 2354
43602550
51872879
*Volume de gua efetivamente consumido
Como forma de ordenar os esforos de gesto dos recursos hdricos, o
territrio brasileiro foi dividido em doze Regies Hidrogrficas: Amazonas; Tocantins;
Parnaba; So Francisco; Paran; Paraguai; Uruguai; Costeira do Norte; Costeira do
Nordeste Ocidental; Costeira do Nordeste Oriental; Costeira do Sudeste e Costeira do Sul
(CNRH, 2005). Uma regio hidrogrfica uma bacia ou conjunto de Bacias Hidrogrficas
contguas onde o rio principal desgua no mar ou em territrio estrangeiro (ANA, 2004).
importante considerar a distribuio das vazes brasileiras e a densidade
populacional nestas diferentes regies hidrogrficas para compreender a ocorrncia de
situaes de escassez e conflitos pelo uso da gua. Os extremos desta relao so
observados, respectivamente, na Regio Hidrogrfica do Amazonas, que detm 73% das
vazes mdias nacionais contra apenas 4% da populao e na Regio Hidrogrfica do
Paran que detm apenas 10% das vazes mdias para 32% da populao brasileira (ANA,
2002a).
A regio Hidrogrfica Paran, que significa aproximadamente 10% do
territrio brasileiro, est inserida na Bacia Hidrogrfica do Prata e tem intensa atividade
econmica, incluindo territrios dos Estados de Minas Gerais, Gois, So Paulo, Mato
Grosso do Sul, Distrito Federal e Paran.
-
19
A rea total desta Regio Hidrogrfica de 879.860 Km, o que significa
aproximadamente 10% do territrio brasileiro. O territrio goiano nesta regio de 14%
da rea total. A vazo mdia da regio de 10.371 m/s (6,4% do total do pas).
A Figura 3 ilustra a demanda total de recursos hdricos na Regio
Hidrogrfica do Paran, que de 589,6 m/ s. importante notar que, a exemplo de outras
regies hidrogrficas, a irrigao representa o setor usurio que requer mais volume.
32%
4%6%25%
33%Urbana
Rural
Animal
Industrial
Irrigao
Figura 3. Demanda total de recursos hdricos na Regio Hidrogrfica do Paran (ANA,
2002a). O territrio do Estado de Gois constitui-se em um grande divisor de Bacias
Hidrogrficas, pois contribui com guas que drenam para o Sul (Bacia Hidrogrfica do
Paranaba), para o Norte (Bacia Hidrogrfica do Tocantins- Araguaia) e para o Leste
(Bacia Hidrogrfica do Rio So Francisco). A Bacia Hidrogrfica do Rio Paranaba tem
uma rea total de 220.195 Km, dos quais 69% no Estado de Gois, e inclui ainda
territrios dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal. A
poro goiana da Bacia Hidrogrfica do Rio Paranaba ocupa uma rea de 149.488 Km o
que significa aproximadamente 44% do territrio do Estado de Gois. A populao total
dessa Bacia Hidrogrfica, que corresponde 75% da populao total do Estado, de
3.907.769 habitantes (IBGE, 2005 & SEMAH, 2004), conforme se observa na Figura 4.
Na Bacia Hidrogrfica do Rio Paranaba os principais afluentes de domnio
do Estado de Gois, definidores das Sub-Bacias hidrogrficas estaduais so: Rio Corumb,
Rio Piracanjuba, Rio Meia Ponte, Rio dos Bois, Rio Verdo, Rio So Marcos, Rio Claro,
Rio Verde, Rio Apor e Rio Corrente.
-
20
Os usos de guas no Estado de Gois so expressivos e, em boa parte
conhecidos, cadastrados e outorgados. Nos rios de domnio da Unio o principal uso
refere-se ao aproveitamento hidreltrico. O Rio Paranaba, por exemplo, abriga quatro
usinas hidreltricas em funcionamento (So Simo, Cachoeira Dourada, Itumbiara e
Emborcao).
Figura 4. Distribuio populacional do Estado de Gois, por Bacias Hidrogrficas (IBGE,
2003 & SEMARH, 2004).
Os dados de usos de guas de domnio do Estado de Gois que detm maior
confiabilidade so os gerados pelo sistema de outorga da Secretaria Estadual do Meio
Ambiente e dos Recursos Hdricos (SEMARH, 2004). O sistema foi implantando
paulatinamente e, inicialmente, s eram outorgados os usurios da agricultura irrigada e
abastecimento urbano.
Atualmente so processados os requerimentos de outorga de direito de uso
de guas de domnio do Estado de Gois para os seguintes fins: abastecimento urbano;
agricultura irrigada; dessedentao animal; lazer; aqicultura; gerao de energia
hidreltrica; canalizao de cursos dgua; minerao e abastecimento industrial. O
sistema inclui direitos de usos de guas superficiais e tambm subterrneas.
Os dados da Superintendncia de Recursos Hdricos (SRH) da SEMARH
sugerem que cerca de 75% dos usos significativos de guas estaduais esto cadastrados
neste sistema de outorga. Em novembro de 2004, as outorgas em vigor totalizavam 4.476
439.655
3.907.769
91.202
867.833
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
POPU
LA
O
EM
N
DE
HA
BIT
AN
TES
BACIA DO RIOARAG UAIA
BACIA DO RIOPARANABA
BACIA DO RIO SOFRANCISCO
BACIA DO RIO TO CANTINS
BACIAS HIDRO G RFICAS
DIST RIBUIO DA POPULAO TO TAL DO ESTADO POR BACIAS HIDRO GRFICAS
-
21
usurios, sendo que a grande maioria destes usos concedida na forma de autorizao e
tem validade de 05 anos (Figura 5).
Figura 5. Nmero atualizado (novembro de 2004) de outorgas vlidas de usos de gua em Gois, adaptado de SEMARH (2004).
1.4 A EXPERINCIA INTERNACIONAL NA COBRANA PELO USO DOS RECURSOS HDRICOS
O uso de diferentes ferramentas de gesto de recursos hdricos de forma
integrada pode responder de forma eficaz ao desafio do uso crescente de gua. No
sudoeste da Frana, na Bacia Hidrogrfica do Adour-Garonne, CAVITTE & MOOR
(2004) estudaram a aplicao integrada de mecanismos fiscais (taxas e impostos);
mecanismos de regulao (autorizao) e de mecanismos financeiros (cobrana e
subsdios).
Baseado em dados do Programa PROGUA (2001), desenvolvido pelo
Ministrio do Meio Ambiente e dos Recursos Hdricos e do Projeto PLANGUA
(SEROA DA MOTTA, 1998), parte da Cooperao Tcnica Brasil-Alemanha, algumas
experincias na implantao da cobrana e as formas de aplicao dos recursos obtidos,
em diferentes pases so enumeradas a seguir.
8 8 1 7
202
2 1397968
1108
1680
1273
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800Ab
ast.
Pbl
ico
Bar
ram
ento
Bom
beam
ento
Can
aliz
aa
Ext
r. M
inr
ios
Ger
ao
de
Ener
gia
Indu
stria
Irrig
ao
Laze
r
Pis
cicu
ltura
Po
o A
rtesi
ano
Uso
Dom
stic
o
Out
ros
Pivot central = 1.424 OUTORGAS EM VIGOR: 4.476
-
22
possvel concluir que as metodologias e preos hoje praticados para
cobrana pelo uso da gua no contemplam o que se denomina critrios econmicos de
otimizao, objetivando de forma mais prtica a racionalizao dos usos e gerao de
recursos financeiros para o financiamento das atividades de recuperao e controle da
poluio nas Bacias Hidrogrficas.
1.4.1 A cobrana pelo uso da gua na Frana
importante considerar a experincia francesa que serviu de inspirao
elaborao da atual legislao brasileira de recursos hdricos, principalmente na concepo
dos comits de bacias, agncia de guas e aplicao da cobrana. Observa-se, porm, um
diferencial: a redevance (cobrana pela gua) estabelecida junto aos usurios,
condicionada ao interesse desses setores neste instrumento. Em particular ela est
condicionada a obras e aes de recuperao ambiental que a justificam e sejam assumidas
como necessrias pelos pagadores.
Na Frana, os usurios das atividades agropecurias, os mais significativos
em todos os pases, so os que menos contribuem ou aderem ao instrumento da cobrana
pelo uso da gua. A Figura 6 evidencia que o saneamento bsico (coletividades) e a
atividade industrial so os principais contribuintes.
Figura 6. Cobrana arrecadada pelas seis agncias francesas de bacia durante o VI
Programa de Interveno (1992-1996), por elemento gerador e setor usurio (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2003).
Estudo que antecedeu a implantao da cobrana na Bacia Hidrogrfica do
Paraba do Sul (PROGUA, 2001), identifica as principais caractersticas do sistema
francs de gesto das guas. O estudo atribui um carter duvidoso constitucionalidade
-
23
da cobrana naquele pas, fato que ensejou iseno de pagamento a alguns setores
usurios, por vias judiciais, mas no abalou o sistema de gesto, considerado satisfatrio e
inovador. O maior problema ocorreu justamente com a cobrana pelo uso domstico da
gua, inicialmente atribuda aos municpios e que, por deciso judicial, passou a ser
cobrada diretamente da populao consumidora, atravs da conta de gua e esgoto.
Na prtica, a eliminao da poluio por esgotos se tornou possvel pelo
financiamento da expanso das redes coletoras de esgotos pelas agncias de bacia, atravs
da adoo de coeficientes especficos para este fim, incidentes sobre a cobrana pela
poluio paga pelos muncipes. Nessa linha cada comit de bacia francs pode instituir um
coeficiente incidente sobre o valor de cobrana para financiar uma atividade especial
relacionada ao setor usurio. Segundo BRANDELON & POINT (1997), a agncia de
bacia Adour-Garonne, usando esta manipulao de coeficientes triplicou o valor final da
cobrana, que passou de 2 para 6 francos por 100 m.
Pela legislao estabelecida em 1964 e implementada a partir de 1968, foi
adotada a Bacia Hidrogrfica como unidade geogrfica de planejamento do uso de
recursos hdricos, onde foram institudos os comits e as agncias de Bacia Hidrogrficas,
tendo sido criados seis desses e, ainda, a cobrana pelo uso da gua. Para o consumo de
determinada quantidade de gua, o principal critrio o custo da proviso, enquanto para a
poluio utilizam-se os custos do tratamento dos efluentes. A cobrana pelo uso da gua
na Frana hoje responsvel por aproximadamente 40% dos recursos financeiros
investidos nas Bacias Hidrogrficas e o restante provido pelo oramento federal. Os
recursos auferidos propiciaram a aplicao do equivalente a 3,5 bilhes de reais anuais,
principalmente no tratamento de efluentes industriais e domsticos (PROGUA, 2001).
1.4.2 A cobrana pelo uso da gua nos Estados Unidos
Diferente do sistema francs, que se caracteriza pela gesto compartilhada
entre usurios, governo e comunidades, o sistema americano centralizado pelo governo
central atravs do BOR Bureau of Reclamation.
um sistema de criao de mercados de gua, voltados a gerar recursos
para a proviso da gua. O modelo americano privilegia os agricultores, atravs de
preferncias nas outorgas de direito de usos de gua e tambm atravs de subsdios,
-
24
variando de 57% a 97% do custo total, dependendo da regio (SEROA DA MOTTA,
1998).
As outorgas podem ser comercializadas, porm existem muitas restries
normativas. A cobrana pelo lanamento de efluentes nos Estados Unidos, est limitada s
experincias localizadas em alguns estados, nem sempre bem sucedidas. Para TUNDISI
(2003 b), a experincia americana, assim como ocorreu tambm na Alemanha, Japo e
Inglaterra, est baseada na combinao de cobrana efetiva com o controle e regulao das
descargas de poluentes para garantir economia de gua e adoo de tecnologias de reuso
dos recursos hdricos.
1.4.3 A cobrana pelo uso da gua na Alemanha
Na Alemanha, a gesto de recursos hdricos, estabelecida pela Lei Federal
de 1957 e atualizada em 1968, apesar de descentralizada, utiliza-se de rgos regionais e
no propriamente de Bacias Hidrogrficas, como o caso brasileiro e francs.
O diferencial do sistema alemo a atuao de consrcios municipais,
alguns com mais de cem anos de existncia, que conferem escala favorvel cobrana e
aplicao dos recursos em funo do uso dos recursos hdricos. O sistema basicamente o
poluidor-pagador, no sendo cobrado por quantidades de gua derivadas ou consumidas.
A cobrana realizada por uma taxa estabelecida pelo Governo Federal e
arrecadada pelos Estados e abrange os usurios urbanos e industriais. Os preos so
calculados pela quantidade de cada poluente, multiplicada pela taxa de nocividade.
1.4.4 A cobrana pelo uso da gua na Holanda
A particularidade da Holanda que, apesar de possuir inmeros cursos de
gua em seu territrio, o pas tem uma alta densidade populacional e industrial, o que afeta
sobremaneira a qualidade da gua.
A exemplo do sistema alemo, a Holanda utiliza-se de rgos regionais
para efetuar a cobrana pelo uso da gua, e no de Bacias Hidrogrficas. No h
participao popular no processo e a adoo da cobrana opcional, de acordo com a
regio e a legislao especfica para cada regio, adotada a partir de 1983. Outra
-
25
semelhana com a Alemanha a existncia de uma unidade de poluente que
multiplicada pela quantidade para cada usurio.
Os valores cobrados so calculados pelos custos de construo e operao
de estaes de tratamento dos efluentes e podem variar em cada regio.
Na Holanda, cobra-se tambm por quantidades de guas utilizadas, sendo
que para as guas subterrneas o preo praticado US$ 0,005/m e para as guas
superficiais de US$ 0,17/m. Em funo dos altos preos cobrados, o pas o que mais
arrecada com a cobrana pelo uso da gua na Europa, podendo-se considerar o sistema
como eficiente no sentido de promover o controle da poluio hdrica (SEROA DA
MOTTA, 1998). O setor agrcola no participa do sistema, que restrito aos usos urbanos
e industriais.
1.4.5 A cobrana pelo uso da gua no Chile
No Chile observa-se uma experincia nica na Amrica do Sul, de
comercializao de direito de usos de guas, que ocorre desde 1920.
O Cdigo da gua, de 1981 estabelece as normas gerais para alocao da
gua para associaes privadas, controladas pela Diretoria Geral da gua.
Mesmo os usurios no autorizados, isto , irregulares, tm seus direitos
reconhecidos e conseguem transacionar seus usos. Calcula-se que mais de 90% das
comercializaes de guas no Chile sejam feitas entre fazendeiros. O estabelecimento de
preos est mais vinculado a situaes de escassez e presses dos diferentes usos do que a
qualquer custo de controle e recuperao ambiental.
1.4.6 A cobrana pelo uso da gua no Mxico
Atualmente, no Mxico, a cobrana pelo uso da gua, apesar de ter
claramente o objetivo de gerao de receita, feita pelo sistema de custo-eficincia. Ou
seja, os usurios so estimulados a melhorar seus sistemas de tratamento de efluentes e
padres de lanamento.
Os corpos de guas so classificados em trs tipos, de acordo com o nvel
de tratamento requerido para atender ao padro ambiental desejado, o que se assemelha ao
-
26
sistema de enquadramento de corpos hdricos no Brasil. O clculo do preo a ser cobrado
feito tanto pelo tipo de efluente como pela concentrao de cada poluente.
O sistema mexicano considerado ineficiente, sobretudo por ser
centralizado e enfrentar importantes barreiras polticas para sua implementao. Calcula-
se que, atualmente, a arrecadao total no pas inferior a 10 milhes de dlares por ano.
1.4.7 A cobrana pelo uso da gua na Colmbia
Apesar da legislao prever a cobrana pelo uso da gua na Colmbia desde
1942, o instrumento no apresenta bons resultados de aplicao. Os motivos, a exemplo do
Mxico, residem na falta de participao da comunidade e dos usurios no processo e a
ausncia de estrutura institucional, alm de forte oposio poltica cobrana pelo uso da
gua.
A atual legislao ambiental colombiana, de 1993, vincula a cobrana ao
valor dos servios ambientais e aos custos de recuperao dos danos ao meio ambiente.
Calcula-se que a arrecadao do sistema no ultrapasse 2% do potencial da receita anual.
1.5 A EXPERINCIA BRASILEIRA NA COBRANA PELO USO DA GUA
Para REBOUAS et al. (2002), o termo gua no est vinculado ao uso ou
utilidade. Nesse sentido, a expresso gua refere-se substncia com suas caractersticas
fsico-qumicas e sua importncia biolgica na manuteno dos ecossistemas, enquanto
recursos hdricos utilizado para designar as vazes excedentes e alocveis.
A rigor, a legislao brasileira no enseja a proposio de preo da gua e
sim a cobrana pelo direito de uso desse bem, o que pode ser entendido como o princpio
do poluidor-usurio-pagador.
Segundo CARRERA-FERNANDEZ & GARRIDO (2002), inmeros
estudos foram ou esto sendo realizados no Brasil, no sentido da valorao da gua nos
diferentes setores usurios, visando oferecer aos Comits de Bacias Hidrogrficas
parmetros para a proposio de valores a serem cobrados. Entre os mais importantes,
cita-se os realizados na Bacia do Paraba do Sul (So Paulo, Minas Gerais e Rio de
-
27
Janeiro); no Vaza-Barris (Bahia e Sergipe) e nas Bacias do Capivari e Piracicaba (So
Paulo).
A questo no Brasil, atualmente, conseguir eficincia alocativa e escala
favorvel, o que parece s ser possvel atravs da efetiva implantao dos instrumentos
institudos pela Lei Federal 9.433/97, considerados adequados para reverter o quadro
pessimista de escassez e de disputas pela gua nos prximos anos. A no aplicao de
instrumentos econmicos na gesto ambiental e nos recursos hdricos certamente uma
das causas de muitos insucessos no esforo de consolidao das polticas nacionais, apesar
do pas contar com uma legislao avanada e uma razovel institucionalizao desses
setores (GARRIDO, 2004).
A seguir so apresentadas as principais experincias brasileiras na
implementao da cobrana pelo uso dos recursos hdricos.
1.5.1 A cobrana pelo uso da gua no Estado do Cear
O Estado do Cear antecipou-se legislao federal, pela promulgao de
sua Lei Estadual 11.996, de 24 de julho de 1992 (CEAR, 1992), que dispe sobre a
Poltica Estadual de Recursos Hdricos. Essa lei cria o Sistema Integrado de Gesto desses
recursos e dispe sobre a cobrana pelo uso da gua.
A Companhia de guas e Esgoto do Cear (CAGECE), iniciou a cobrana
de R$0,01/m de gua retirada dos audes, sendo cobrados das indstrias, pela gua bruta
recebida, R$1,20/m de gua, situao que resultou em negociao e em novo acordo, no
qual o preo foi reduzido para R$0,60/m de gua.
Buscando definir uma poltica global de cobrana, o Estado do Cear
definiu, segundo GONDIM FILHO (2003), estabeleeu os seguintes critrios:
As indstrias pagam o equivalente a 50% do valor da gua tratada fornecida pela CAGECE para o uso industrial, quando o consumo
for superior a 70 m/ms;
As concessionrias de servios de abastecimento de gua potvel pagam o equivalente a 1/60 do valor para usos e usurios industriais
referenciados no item anterior;
As atividades de irrigao, piscicultura e aqicultura pagam os valores estabelecidos pelo Comit da Bacia e na ausncia do Comit
-
28
pagam o valor estabelecido pela Companhia de Gesto dos Recursos
Hdricos (COGERH). O valor para a irrigao dever ser, no
mnimo, equivalente a 1/600 do valor do usurio industrial de gua
bruta.
Pelo modelo cearense, a cobrana deveria ser efetivada sobre os usos
consuntivos atravs dos volumes outorgados a cada usurio, volumes efetivamente usados
e ainda pelos volumes alocados anualmente a cada usurio pelos Comits de Bacias, a
partir das condies hidroclimatolgicas ocorridas em cada ano. Sobre os usos no
consuntivos, em particular a diluio de efluentes, a cobrana seria efetivada pela carga
poluidora.
Esses estudos de modelos tarifrios foram desenvolvidos no mbito de um
Grupo de Trabalho, liderado pela Companhia de Gesto dos Recursos Hdricos
COGERH, e com a participao de tcnicos locais e consultores externos.
O modelo de cobrana proposto por ARAJO (1996), denominado CPS
Capacidade de Pagamento e Subsdio Cruzado, baseia-se na seguinte equao bsica:
T(u) = (1 + r) x TM x Va (u), onde:
T (u) a tarifa do usurio,
r o termo de subsdio cruzado,
TM a tarifa mdia de uso e
Va(u) o volume alocado anualmente ao usurio.
O sucesso da experincia do Cear deve-se ao fato da cobrana pelo uso da
gua ter sido implantado de uma s vez, com forte base na legislao, na imposio do
governo sobre o setor de saneamento e, ainda, na negociao com reduo de tarifas para o
setor industrial (OSNY, 2002).
Na prtica, o sistema cearense pode ser entendido no simplesmente como
cobrana pelo uso da gua, mas sim como o rateio dos custos de acumulao e distribuio
de gua aos usurios. Ou seja, est baseado nos custos de alocao da gua e no inclui a
reduo das externalidades ambientais negativas.
Outro aspecto importante, comprovado por visita tcnica ao Cear durante a
elaborao desta pesquisa, que os irrigantes, os quais tm reflexo importante nos usos
consuntivos, no participam do sistema de cobrana, sobrecarregando os setores de
saneamento e indstria. OSNY (2002) explica esta resistncia por parte dos agricultores
pelas dificuldades econmicas e tambm pelos traos culturais e polticos da regio.
-
29
Um exemplo dessa situao foi verificada no Vale do Acarape, onde um
acordo tarifrio com a Associao de Irrigantes estabeleceu o preo de R$ 0,004/m, o que
representaria um arrecadao de R$ 4.000,00 por ms, valor no arrecadado, face
inadimplncia generalizada. Outro exemplo ocorreu no Canal do Trabalhador, onde s
possvel manter vazes para irrigao a partir de operaes de bombeamento contnuo,
cujo custo seria superior a arrecadao prevista com base numa tarifa de R$ 0,002/m, que
tambm no se efetivou pela resistncia dos irrigantes.
O setor industrial cearense mantm o pagamento pelo uso da gua porque
depende da operao do sistema para que tenha segurana da disponibilidade desse
importante insumo e tambm pela facilidade de incorporao desses custos em seus
produtos. importante concluir que parte dos insucessos observados no sistema cearense
deve-se baixa disponibilidade hdrica e pela intermitncia dos principais cursos de gua
do Estado.
1.5.2 A cobrana pelo uso da gua no Estado da Bahia
No Estado da Bahia, apesar da cobrana no se encontrar ainda plenamente
implantada, estudo de CARRERA-FERNANDEZ (1996) define critrios de cobrana pelo
uso da gua. Para SEROA DA MOTTA (1998) este estudo constitui-se em um timo
exemplo para aplicao de preos pblicos. A pesquisa foi realizada particularmente para
os usos de saneamento bsico, agricultura irrigada, gerao de energia eltrica e poluio
por lanamento de cromo nas Bacias Hidrogrficas ao Alto Paragua e Itapicuru e define
as medidas da disposio de pagar pelo uso da gua pelos usurios e os confronta com os
custos de proviso, e no caso da poluio por cromo com os custos de controle da
poluio. O estudo conclui que o montante de recursos financeiros que seriam arrecadados
com base na disposio a pagar dos usurios seria insuficiente para custear os
investimentos de controle da poluio.
Apesar de representar uma importante referncia das implicaes
econmicas da cobrana pelo uso da gua, utilizando a regra de preos pblicos, o Estado
da Bahia no iniciou efetivamente o processo de cobrana em suas Bacias Hidrogrficas.
O estudo para formao de preos a serem cobrados pelo uso das guas da
Bacia Hidrogrfica do Rio Vaza-Barris, que um rio de domnio federal por banhar os
-
30
estados da Bahia e Sergipe, utilizou a metodologia de preos timos (CARRERA-
FERNANDEZ, 1999).
A pesquisa concluiu que a agricultura irrigada representa a maior demanda
por vazes da gua, ou seja, aproximadamente 45% de toda a demanda na Bacia e
culminou com a proposio de preos diferenciados por categorias de usos, que sugere a
possibilidade de aplicao de subsdios cruzados. Nesse sistema, os usos com maior
capacidade de pagamento, principalmente pela possibilidade de incorporao dos custos
pelo uso da gua em seus preos, pagam mais para possibilitar menores preos s
categorias de usos com menor capacidade de pagamento. Os preos propostos esto
discriminados na Tabela 2.
Tabela 2. Preo pelo uso da gua para a Bacia do Vaza-Barris, por modalidade de uso, em R$/m (1) e R$ / kg de DBO (2), segundo CARRERA-FERNANDEZ (1999).
USOS PREO DE DEMANDA PREO TIMO PREO DE RESERVA
Abastecimento humano(1) 0,247 6,14 x 10 0,49 Abastecimento
industrial(1) 1,300 1,75 x 10-1 2,74
Irrigao(1) 0,005 1,73 x 10-1* 9,54 x 10-3 Diluio de esgotamento
sanitrio(2) 0,020 1,05 x 10-2 0,04
Diluio de efluentes industriais(2) 0,205 2,51 x 10-2 0,41
1.5.3 A cobrana pelo uso da gua no Estado de So Paulo
Em So Paulo, a gesto de recursos hdricos est fortemente
institucionalizada pela presena do Departamento de gua e Energia Eltrica, (DAEE),
instituio que executa a poltica de recursos hdricos estadual, hoje normatizada pela
Secretaria Estadual de Recursos Hdricos por intermdio do Conselho Estadual de
Recursos Hdricos. Esta situao privilegiada explica, ao menos em parte, a liderana
exercida por este estado no processo de estudos e implantao da cobrana pelo uso da
gua no Brasil.
A lei Estadual n 7.663, de 30 de dezembro de 1991 (SO PAULO, 1991),
estabelece a Poltica Estadual de Recursos Hdricos, sendo que a cobrana pelo uso da
gua em So Paulo, foi estabelecida por Resoluo do Conselho Estadual de Recursos
Hdricos.
-
31
CARRERA-FERNANDEZ & GARRIDO (2002), destacam que os
primeiros estudos para a cobrana no Estado de So Paulo, realizados pela Fundao do
Desenvolvimento Administrativo, FUNDAP (1993), nas bacias dos rios Capivari e
Piracicaba, apresentam, como caracterstica principal, a clara distino de preos para usos
consuntivos e no consuntivos, e ainda a previso de subsdio do Estado nos custos de
gerenciamento da Bacia Hidrogrfica nos primeiros dez anos.
No sistema de cobrana pelo uso da gua proposto por So Paulo,
destacam-se: a universalizao da cobrana, que recai sobre todos os usos, inclusive
navegao e recreao; a referncia da cobrana a partir do preo unitrio bsico (PUB);
preo unitrio mximo (PUM) e o custo mdio referencial de produo anual (CMR). O
valor do preo unitrio bsico obtido de forma diferente para captao e para o consumo
(volume captado no retornvel) e inclui DBO, DQO, resduo sedimentvel e carga
inorgnica.
importante observar que nesse sistema o uso para consumo penalizado
com preos maiores, pois a no reposio das vazes tomada como fato mais danoso ao
meio ambiente, encarecendo os custos de proviso e oferta, enquanto a derivao, devido
ao fato de no reduzir significativamente as vazes e no provocar poluio, tem PUB
menor.
Em 1996, outro relevante estudo realizado pela Fundao Instituto de
Pesquisas Econmicas e pelo Consrcio Nacional de Engenheiros Consultores (FIPE,
1996), desenvolveu duas metodologias para cobrana pelo uso da gua no Estado de So
Paulo, com nfase nas Bacias Hidrogrficas do Rio Piracicaba, do Alto Tiet e Baixada
Santista. A proposio de preos a serem cobrados foi feita com bases em estimativas
atravs das funes de demandas por gua e da disponibilidade efetiva. Foram aplicados
720 questionrios nas trs Bacias Hidrogrficas, no sentido de avaliar a disposio de
pagar por parte dos usurios.
1.5.4 A cobrana pelo uso da gua no Paraba do Sul
A cobrana pelo uso da gua na Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul
o mais importante exemplo da implementao desse instrumento no Brasil. Primeiro, por
estar sendo realizada efetivamente desde 2003, transformando-se em um laboratrio de
observao para todo o pas, e tambm pelo fato de que, mesmo sendo um rio de domnio
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federal, o processo est sendo conduzido pelo Governo Federal em conjunto com os
Estados de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. o primeiro teste da aplicao
plena da Lei 9.433/97.
Trata-se de uma Bacia Hidrogrfica com rea de drenagem de 55.400 Km,
localizada na regio Sudeste do Brasil. Apesar da pequena dimenso, esta bacia representa
uma das reas mais industrializadas do Brasil, sendo responsvel por 10% do PIB do pas
e abastece aproximadamente 14 milhes de pessoas, incluindo a regio metropolitana do
Rio de Janeiro. Os usos mais expressivos de gua destinam-se gerao de energia
eltrica; agricultura irrigada; abastecimento pblico e industrial (ANA, 2005).
A forma de clculo a mesma para todos os setores usurios, exceto o de
gerao de energia eltrica, para o qual foi definida metodologia especfica, conforme se
observa na Tabela 3.
Segundo o Ceivap, os recursos previstos para serem arrecadados em 2003
totalizavam R$ 10.400.000,00, e, em sua maior parte foram programados para aplicao
em projetos e obras relacionadas ao esgotamento sanitrio, atravs da implantao de
coletores, elevatrias e estaes de tratamento de esgotos. Os recursos efetivamente
arrecadados somaram R$ 5.778.797,69 no ano de 2003 e R$ 6.319.394,43 em 2004,
totalizando R$ 12.098.192,12 nos dois anos (Ceivap, 2005).
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Tabela 3. Mecanismos de cobrana aprovados pelo Ceivap Comit para Integrao da Bacia Hidrogrfica do Rio Paraba do Sul e pelo CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos para a Bacia do Rio Paraba do Sul (PEREIRA & JOHNSON, 2003).
Setor usurio Metodologia de cobrana Critrios de Cobrana Uso insignificante
Abastecimento pblico e esgotamento sanitrio
Equao Ceivap PPU = R$ 0,02 / m KO = 0,4
As derivaes e as captaes para usos de abastecimento pblico com vazes de at um L/s, com seus efluentes correspondentes
Industrial Equao Ceivap R$ 0,02 / KO = 0,4
As derivaes e as captaes com vazes de at um L/s, com seus efluentes correspondentes
Agropecurio (irrigao e pecuria)
Equao Ceivap
PPU = R$ 0,0005 / m KO = 0,4 DBO igual a zero, exceto para suinocultura confinada . A cobrana final no poder exceder a 0,5% dos custos de produo
As derivaes e as captaes para usos agropecurios com vazes de at um L/s, com seus efluentes correspondentes
Aqicultura Equao Ceivap
PPU = R$ 0,0004 / m KO = 0,4
Consumo e DBO nulos
A cobrana final no poder exceder a 0,5% dos custos de produo
As derivaes e as captaes com vazes de at um L/s, com seus efluentes correspondentes
Minerao com caractersticas industriais
Equao Ceivap
O mesmo aplicvel ao setor industrial:
PPU = R$ 0,02 / m
KO = 0,4
O mesmo aplicvel ao setor industrial: derivaes e captaes com vazes de at um L/s, com seus efluentes correspondentes
PCHs(Pequenas Centrais Hidreltricas) isentas da compensao financeira
a mesma aplicada s hidreltricas sujeitas cobrana nacional desde 2000 (percentual sobre valor de energia produzida)
O valor percentual P definido a ttulo de cobrana de 0,75% sobre a energia gerada
PCHs com potncia instalada de at 01 Mv
Transposio A cobrana pela transposio dever ter prazos diferenciados, de acordo com critrios a serem negociados e aprovados no mbito da ANA, do governo do Estado do Rio de Janeiro, do Ceivap e do Comit da Bacia do Rio Guandu
Extrao de areia e demais atividades mineradoras
As demais atividades mineradoras que alteram o regime dos corpos d'gua tero metodologia definida no prazo mximo de um ano
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1.6 A BACIA HIDROGRFICA DO RIO DOS BOIS
A Bacia Hidrogrfica, como base geogrfica de planejamento e estudo,
consiste numa unidade muita bem caracterizada e seu uso permite a integrao
multidisciplinar entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudo e atividade ambiental
e, alm disso, permite a aplicao adequada de tecnologias avanadas (MARGALEF,
1983,1997; NAKAMURA & NAKAJIMA, 2002; TUNDISI, 2003 b).
A Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, onde se localiza a rea de estudo,
inclui territrios de 53 municpios, dos quais 37 com reas urbanas na bacia, que abrigam
cerca de 520.224 habitantes, o que significa 9,8 % da populao total do Estado de Gois
(IBGE, 2004).
O Comit da Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois foi criado pelo Decreto
Estadual n 5.826, de 11 de Setembro de 2003 (GOIS, 2004), e encontra-se com a
Diretoria provisria designada e em fase de definio de sua composio final e seu
Regimento. Estas providncias devem iniciar a discusso sobre a cobrana pelo uso da
gua na regio.
No Rio Paranaba, para o qual aflui o Rio dos Bois, quatro usinas
hidreltricas encontram-se em funcionamento, a saber: UHE So Simo; UHE Cachoeira
Dourada; UHE Itumbiara e UHE Emborcao, o que exigir a implementao de todos os
instrumentos de gesto de recursos hdricos existentes, no sentido de assegurar as vazes
necessrias gerao de energia
1.6.1 Caracterizao fsico-climatolgica
O Rio dos Bois nasce na Serra do Congum, na Fazenda Quilombo, na cota
920 metros, no municpio de Americano do Brasil, e percorre uma extenso de 528 Km
at sua foz na margem direita do rio Paranaba, na cota de aproximadamente 380 metros,
no municpio de Gouvelndia.
Seus principais afluentes pela margem direita so: Crrego Boa Vista;
Crrego Areado; Crrego Pedra Grande; Ribeiro Areias; Crrego Boi Vermelho; Crrego
Cabeceira; Crrego Lajeado; Crrego Ja; Crrego Descoberto; Crrego Cana Brava;
Crrego Capo da Ponte; Ribeiro Paraso; Crrego So Loureno; Crrego das Traras;
Crrego da Volta Grande; Crrego Capo Alto; Crrego Encoberto; Crrego So Bento;
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Crrego Sucuri; Crrego Campo Limpo; Crrego Ona; Crrego Macabas; Crrego
Quinhentos Reis; Ribeiro Castelo e Crrego Grande.
Os principais afluentes pela margem esquerda so : Ribeiro Anicunzinho;
Rio Anicuns; Ribeiro dos Pereiras; Crrego Jernimo; Crrego Sap; Crrego Queixada;
Crrego Gruta Vermelha; Crrego Mata; Ribeiro Salobro; Ribeiro gua Limpa;
Ribeiro das Flores; Crrego Veredo; Crrego Santa Ana; Crrego gua Limpa; Crrego
Marimbondo; Ribeiro So Bento; Crrego Caetano; Crrego Guariba; Crrego Taioba;
Ribeiro do Retiro; Ribeiro da Ressaca; Crrego Cervo; Crrego Pai Nosso; Crrego
Catingueira; Ribeiro das Pombas; Crrego Fundo; Crrego do Brejo; Crrego Fortaleza;
Crrego Grande; Crrego Gado; Crrego Barraquinha; Crrego Mariana; Crrego Limo;
Crrego dos Olhos D'gua; Crrego Retiros; Crrego Pontalzinho; Crrego Canoas;
Ribeiro Bom Sucesso; Ribeiro Bom Jesus e Ribeiro Campo Grande.
O clima da regio, tpico clima tropical de Cerrado, tem duas estaes bem
definidas, o inverno (maio a setembro) seco e o vero (outubro a abril) chuvoso. Nesta
rea a temperatura mxima anual em torno de 27 a 30C. Em alguns pontos localizados
mais ao norte a temperatura mdia pode atingir 33C. A temperatura mdia anual oscila
entre 21 a 24C e a temperatura mnima anual fica em torno de 18 a 21C. As temperaturas
mais baixas ocorrem nos meses de junho e julho e as mais altas entre setembro e outubro,
no qual ocorrem tambm as taxas mais baixas da umidade do ar (INMET, 2005).
A Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois apresenta uma boa intensidade de
precipitao pluviomtrica mdia, em torno de 1500 mm ao ano, sendo que a regio do
municpio de Rio Verde apresenta um dos maiores ndices de precipitao pluviomtrica
do Estado. O perodo chuvoso de outubro a abril. A concentrao da pluviosidade
observada entre os meses de dezembro e maro, perodo no qual ocorrem 80% do total de
chuvas (SEMARH, 2001).
Na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois registra-se um perodo entre 210 e
240 dias de ocorrncia de precipitao pluviomtrica. A insolao aproxima-se de 2700 a
3000 horas/ano. A nebulosidade de 4 a 5 1/10 ao ano, sendo que a umidade relativa do ar
apresenta uma variao de 60 a 70 %,em mdia, ao ano. A intensidade de evaporao de
1200 mm a 1600 mm/ano. Estes dados foram obtidos a partir de balano climtico em uma
srie histrica de 59 anos (SECTEC, 2005).
As drenagens que compem a Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois se
desenvolveram ao norte/noroeste sobre rochas de idade Arqueana do Complexo Goiano e
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36
do Complexo Granultico Anpolis-Itau, rochas do perodo Neoproterozico do
Complexo Mfico-Ultramfico tipo Americano do Brasil, rochas do Proterozico Mdio,
pertencentes ao Grupo Arax e rochas do perodo Mesozico da formao Serra Geral
(LACERDA FILHO, 2000). Os sedimentos aluvionares quaternrios ocorrem ao longo
dos rios, principalmente no interflvio do Rio dos Bois com o Rio Turvo (PROJETO
RADAM BRASIL, 1983).
Segundo MAMEDE (1993), a Bacia do Rio dos Bois atravessa duas
unidades geomorfolgicas: o Planalto Central Goiano ao norte e o Planalto Setentrional da
Bacia do Paran ao sul. O Planalto Central Goiano cujas caractersticas de relevo so
feies de modelados tabulares e colinosos, observados em amplos interflvios separados
por vales incipientes, apresenta padro de drenagem predominante dendrtico a
subretangular, estando condicionado a processos de pediplanao, dissecao mais intensa
e estruturas lineares como fraturas ou falhas. O Planalto Setentrional da Bacia do Paran
caracterizado por chapades, planaltos e superfcies rebaixadas, apresentando padro de
drenagem predominante retangular a subretangular em conseqncia do controle estrutural
exercido por falhas ou sistemas de diaclasamentos.
1.6.2 Caracterizao scio-ambiental
O povoamento da Provncia de Goyaz, em particular das reas da Bacia
Hidrogrfica do Rio dos Bois e da Bacia Hidrogrfica do Rio Meia Ponte, que so
limtrofes, se deu entre os anos de 1811 a 1890, durante o perodo que os historiadores
definem como a Ocupao Pecuarista de Gois. Os primeiros povoados que surgiram na
regio foram os de Santa Rita do Paranaba (Itumbiara), Nossa Senhora do Monte do
Carmo (Morrinhos), Santa Rita do Pontal (Pontalina), Pouso Alto (Piracanjuba), Rio
Verde e Caldas Novas (PALACIN & MORAES, 1975).
A ento Provncia permanecia margem da economia nacional, devido ao
seu isolamento, dado a inexistncia de vias de circulao de mercadorias e a completa
ausncia de sistemas de comunicao. Segundo BRANDO (1978) os esforos de
integrao hidroviria da provncia foram iniciados pelo Rio dos Bois, como o autor
descreve:
A primeira explorao nos rios da Provincia de Goyaz foi feita por Estanislo Gutierres em 1808, que procurava communicar Goyaz com So Paulo, por meio
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de uma linha fluvial entre o Rio dos Bois, Paranahyba e Tiet, no levando a effeito estes projectos pelas grandes difficuldades com que teve de lutar. Antonio Jos Leite no anno de 1824 embarcou no Rio dos Bois, entrou no Paranhyba, subiu o Rio das Velhas e foi ter na povoao de SantAnna em Minas Geraes. Ultimamente em 1873 o Dr. Aguiar Witaker entrou no Rio Meia Ponte, desceu at o Paranahyba, subindo por este at o Rio dos Bois. Diz este doutor que pode-se estabelecer uma linha de pequenos vapores desde o canal de So Simo at a Cachoeira Dourada. A pronvincia por falta de vias que facilitem a conduco, no tem quase exportao, pois o caf, assucar e outros gneros que produz, so consumidos na mesma, porque o custo do transporte excederia do seu valor.
Segundo FUNES (1998), isolada do contexto econmico, a ento Provncia
viu predominar uma economia de subsistncia, que teve por base a agropecuria. O
perodo caracterizado pela migrao de um grande nmero de pecuaristas com seus
rebanhos para o Estado de Gois, em sua maioria, vindos de So Paulo e Minas Gerais e
utilizando-se de acessos e caminhos consolidados pela minerao, a partir do Sudoeste do
Estado.
Com a construo da estrada de ferro em 1913 esta situao foi melhorada
atravs da interligao de parte doEstado a outras regies do pas. Movidos pelo
desenvolvimento da cafeicultura paulista, os trilhos da Mogiana incentivaram a explorao
agrcola nas cercanias e a burguesia do tringulo mineiro foi expandindo seus negcios e
abrindo canais mercantis pela extremidade sul de Gois (ESTEVAM, 1998).
Apesar do isolamento geogrfico, o domnio das guas no Brasil j era
preocupao em Gois neste perodo, conforme registro de pronunciamento na Cmara
Federal, na sesso de 17 de setembro de 1914 pelo ento deputado S. Fleury Curado, em
que prenunciava o uso mltiplo das guas e eventuais conflitos (CURADO, 1989).
O perodo compreendido entre 1930 e 1960 caracterizou-se por
modificaes relevantes na ordem estrutural de Gois, como: a construo de Goinia; a
localizao estratgica de Anpolis; o avano da imigrao para o mdio norte; a
construo de Braslia e as obras da rodovia Belm-Brasilia (ESTEVAM, 1998). Em
funo do histrico de ocupao da regio a populao se encontra distribuda de forma
heterognea, com a conseqente consolidao de municpios plos. Estes municpios so
principalmente: Bom Jesus de Gois, Trindade, Itabera, So Luiz de Montes Belos,
Anicuns, Acrena, Palmeiras de Gois, Pontalina, Inhumas, Quirinpolis, Santa Helena de
Gois e Rio Verde, onde se encontram aproximadamente 56,7% da populao total dos
municpios contidos na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois. As maiores populaes so
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encontradas em Rio Verde, Inhumas, Quirinpolis, Santa Helena de Gois e Goiatuba
(IBGE, 2005).
A populao dessa Bacia predominantemente urbana e encontra-se
detalhada na Tabela 4. Considerando os 37 municpios com reas urbanas dentro da Bacia,
constatou-se que a populao concentrada nos ncleos urbanos , em mdia, de 93%
(IBGE, 2005 & Saneago, 2004).
Tabela 4. Populaes urbanas dos municpios com rea urbana na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois em 2004, (IBGE, 2005 & Saneago, 2004).
POPULAO MUNICIPAL
POPULAO MUNICIPAL
MUNICPIOS
IBGE Saneago
MUNICPIOS
IBGE Saneago
Acrena 20.477 17.532 Jovinia 7.151 6966
Adelndia 2.522 2707 Mairipotaba 2.269 1.895
Americano do Brasil 4.970 4931 Maurilndia 9.815 9.949
Anicuns 19.035 18.713 Montividiu 8.834 8.406
Ara 4.351 4311 Nazrio 6.830 8.579
Avelinpolis 2.595 2593 Palmeiras de Gois 18.431 13.473
Bom Jesus de Gois 17.491 16.555 Palminpolis 3.526 3.096
Campestre de Gois 3.604 2932 Parana 11.348 9.801
Castelndia 4.277 3729 Porteiro 2.934 2.826
Catura 4.431 4164 Rio Verde 130.211 123.362
Cezarina 6.909 6308 Santa Brbara de Gois
5.500 5.063
Edealina 3.682 3085 Santa Helena de Gois 35.265 33.974
Edia 10.851 10.166 Santo Antnio Barra 4.455 3.397
Firminpolis 9.987 8951 Trindade 96.016 94.461
Gouvelndia 3.944 3221 Turvnia 5.005 5.129
Guap 14.957 12.052 Turvelndia 4.082 3.399
Inaciolndia 5.384 4264 Varjo 3.568 2.803
Indiara 12.828 13.222 Vicentinpolis 6.415 6.500
Jandaia 6.274 5373
TOTAL 520.224 487.888
Observa-se que na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, a partir de 1970, o
desenvolvimento industrial e o crescimento populacional dos municpios da Bacia
afetaram negativamente a quantidade e qualidade das guas. A qualidade das guas est
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potencialmente comprometida em funo do intensivo uso antrpico, destacando-se um
desmatamento significativo das matas ciliares, o que compromete no s a qualidade como
a quantidade de gua, o uso intensivo de produtos agroqumicos e o lanamento de
efluentes diretamente nos mananciais (AGMA, 2001).
A agropecuria , portanto, a atividade econmica mais intensa nessa Bacia
Hidrogrfica e as culturas mais importantes so o milho, arroz, soja, cana-de-acar,
feijo, frutferas e hortalias. O rebanho bovino voltado tanto para a produo de carne
como de leite e est concentrado principalmente nos municpios de Rio Verde,
Quirinpolis, Santa Helena, Parana, Goiatuba, Palmeiras de Gois e Acrena (SEPLAN,
2003).
Segundo AGMA (2001), em relao poluio causada pela agricultura, os
problemas mais srios so decorrentes da no realizao de manejo integrado de pragas
nas propriedades rurais. Geralmente feita aplicao excessiva de agrotxicos causando,
alm do desperdcio de produtos qumicos, a poluio do solo e das guas, situao
agravada pela disposio inadequada das embalagens descartadas que, na maioria das
vezes, ficam amontoadas nas propriedades, expostas ao das chuvas e do fogo.
So tambm preocupantes os desmatamentos, inclusive de matas ciliares. A
cobertura vegetal nativa remanescente bastante acanhada, inclusive ao longo dos corpos
d'gua, o que ficou evidente no decorrer dos trabalhos de campo e no manejo de algumas
imagens de satlite (SEMARH, 2001).
Segundo dados do GEOGOIS 2002 (AGMA, 2003), na rea da Bacia
Hidrogrfica do Rio dos Bois e Bacias limtrofes, esto concentrados inmeros pontos de
extrao de areia e produo cermica, devido proximidade de plos consumidores
importantes como Goinia, Braslia, Anpolis, Aparecida de Goinia e Morrinhos, dentre
outros. O aproveitamento de minerais como a areia lavada e a argila para cermica,
provocam o desmatamento de mata ciliar e reas de vrzeas, ocasionando processos
erosivos severos com aumento dos nveis de turbidez das guas, poluio qumica atravs
de leos, graxas e detergentes e forte assoreamento da rede de drenagem.
Nessa Bacia Hidrogrfica predominam as indstrias do ramo alimentcio e,
dentre estas, destacam-se as indstrias de produtos lcteos. Existem, ainda, indstrias de
carnes, fub, milho pr-cozido, agroindstrias que atuam no beneficiamento de gros,
algodo e outras atividades poluidoras ligadas produo de alimentos como
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suinoculturas e granjas. As usinas de lcool e acar esto em nmero considervel na
regio da bacia, representando cerca de 50% do total do Estado (SEPLAN, 2004).
A Tabela 5 mostra a quantidade de estabelecimentos industriais, distritos e
condomnios agro-industriais, destilarias, frigorficos e laticnios nos municpios da Bacia
Hidrogrfica do Rio dos Bois. Estes nmeros demonstram a importncia da Bacia
Hidrogrfica na economia do Estado, permitindo inferir o potencial poluidor dessas
industrias e da presso exercida sobre os recursos hdricos na bacia.
Tabela 5. Estabelecimentos industriais instalados na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, (Adaptado de SEPLAN, 2004).
MUNICPIOS ESTABELE-CIMENTOS
DISTRITOS INDUSTRIAIS
DESTILA- RIAS
FRIGOR- FICOS
LATICNIOS
Abadia de Gois 24 - - - - Acrena 38 - - - - Adelndia 2 - - - - Americano do Brasil 8 - - 1 1 Anicuns 39 1 1 - 1 Ara 13 - - - - Aragoinia 15 - - - - Avelinpolis 6 - - - - Bom Jesus de Gois 23 - - - 1 Caiapnia 16 - - - - Campestre de Gois 9 - - - - Castelndia 1 - - - - Catura 9 - - - - Cezarina 23 - - 1 1 Cromnia 6 - - - - Edealina 6 - - - 1 Edia 7 - - - - Firminpolis 21 - - - 1 Goianira 54 1 - 2 - Goiatuba 61 1 1 - 2 Gouvelndia 2 - - - - Guap 29 - - - - Inaciolndia 5 - - - - Indiara 22 - - - 1 Inhumas 117 1 1 3 1 Itabera 47 - - 2 Itau 24 - - - - Itumbiara 162 1 - - 3 Jandaia 16 - 1 - - Jovinia 07 - - - 1 Mairipotaba 09 - - - - Maurilndia 10 - - - - Montividiu 23 - - - - Mossmedes 01 - - - - Nazrio 23 - - 1 1 Palmeiras de Gois 34 - - 1 1 Palminpolis 07 - - 1 1 Parana 09 1 - - 2
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Tabela 5. Estabelecimentos industriais instalados na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, (Adaptado de SEPLAN, 2004). (Continuao)
MUNICPIOS ESTABELE-CIMENTOS
DISTRITOS INDUSTRIAIS
DESTILA- RIAS
FRIGOR- FICOS
LATICNIOS
Pontalina 38 1 - - 1 Porteiro 01 - - - - Quirinpolis 69 1 - 1 2 Rio Verde 209 3 1 2 3 Sanclerlndia 34 - - - 1 Santa Brbara de Gois 17 1 - - 2 Santa Helena de Gois 53 - 1 - 1 Santo Antonio da Barra 03 - - - - So Joao da Parana 02 - - - 1 So Luiz de M. Belos 59 1 - 1 3 Trindade 142 - - - 2 Turvnia 15 - - - 2 Turvelndia 02 - 1 - - Varjo 01 - - - - Vicentinpolis 04 - - - - TOTAL DA BACIA 1557 13 07 15 39 ESTADO DE GOIS 12.668 - - -
Na maioria dos municpios da Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois a coleta
de lixo nas reas urbanas feita diariamente atravs de trator e carreta ou de caminhes de
prensa. Os resduos domsticos, juntamente com os resduos dos servios de sade so
coletados e descarregados a cu aberto em reas prximas s cidades nos chamados lixes.
A coleta atende a aproximadamente 74% dos domiclios, percentual coincidente com o
constatado para o total de domiclios do Estado de Gois, que de 71,8%, segundo
AGMA (2001).
Atravs do Programa do Governo Estadual Aterro Controlado de Resduos
Slidos Urbanos foram implantados aterros controlados em alguns municpios dessa
Bacia Hidrogrfica com o objetivo de realizar a disposio adequada dos resduos slidos
urbanos. No entanto, a maioria desses aterros no est em funcionamento de acordo com
as tcnicas adequadas, quer por carncia de maquinrio especfico ou de mo de obra
capacitada.
Como demonstrado, na Bacia Hidrogrfica observa-se um processo de
urbanizao e industrializao crescente, com incremento da captao, do consumo e das
acumulaes de gua. Os principais usos identificados de gua bruta so: abastecimento
urbano; diluio de efluentes domsticos e industriais; abastecimento industrial,
agricultura irrigada e atividades de lazer.
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O uso das guas para abastecimento pblico feito, principalmente, pelas
guas de superfcie e, secundariamente, por guas subterrneas atravs de concesses
feitas pelos municpios Saneamento de Gois S. A. (Saneago). Nos municpios de
Vicentinpolis e Mossmedes os sistemas so operados pelas prprias Prefeituras.
O abastecimento pblico de gua potvel atende a 89,6% da populao
urbana da Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, sendo 83% deste total por guas
superficiais e 17% abastecidos por guas subterrneas.
A Tabela 6 mostra a relao de cidades da Bacia Hidrogrfica do Rio dos
Bois que tm abastecimento pblico de gua, o manancial onde feita a captao e o
percentual da populao atendida.
Tabela 6. Mananciais de abastecimento pblico de gua e populao atendida (%) nos municpios que possuem suas reas inseridas na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois em 2004, segundo Saneago (2004).
Municpio Manancial % da Populao atendida Abadia de Gois Ribeiro Dourados + Poo Artesiano 88,1 % Acrena Crrego do Comprido 74,8 % Adelndia Rio So Manoel 87,1% Americano do Brasil Crrego do Pepe 87,5% Anicuns Crrego Boa Esperana 91,0% Ara Crrego Fundo 92,6% Aragoinia Crrego Vereda 92,3% Avelinpolis Crrego Dois Irmo 91,0% Bom Jesus de Gois Ribeiro Bom Jesus 76,5% Caiapnia Crrego das Galinhas 91,9% Campestre de Gois Crrego Guariroba 82,5% Castelndia Poo Artesiano 85,5% Catura Rio do Peixe 87,0% Cezarina Crrego Bor 96,8% Cromnia Ribeiro gua Limpa 82,6% Edealina Crrego Matinha 94,2% Edia Ribeiro Fala Verdade 90,3% Firminpolis Crrego Campestre 94,8% Goianira Poo Artesiano 63,0% Goiatuba Crrego Lageado 90,0% Gouvelndia Poo Artesiano 93,4% Guap Ribeiro dos Pereiras 83,9% Inaciolndia Crrego Pindaba 78,9% Indiara Ribeiro Galheiros 89,4% Inhumas Rio Meia Ponte 90,0% Itabera Crrego das pedras 98,5% Itumbiara Ribeiro Santa Maria 90,8% Jandaia Crrego do Ouro Fino 88,2% Jovinia Ribeiro Santa Brbara 94,7% Itau Rio Meia Ponte 89,8%
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Tabela 6. Mananciais de abastecimento pblico de gua e populao atendida (%) nos municpios que possuem suas reas inseridas na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois em 2004, segundo Saneago (2004). (Continuao)
Municpio Manancial % da Populao atendida Mairipotaba Crrego Lageado 95,4% Maurilndia Crrego da Vertente 100,0% Montividiu Crrego da Raiz 91,3% Mossmedes Crrego Cafund 90,0% Nazrio Crrego Burutizinho 79,2% Palmeiras de Gois Poo Artesiano/Crrego Alemo 94,3% Palminpolis Crrego do Retiro 99,4% Parana Crrego Samambaia/Crrego So Jos 93,0% Pontalina Ribeiro Boa Vista 93,9% Porteiro Poo Artesiano 84,9% Quirinpolis Rio das Pedras 92,2% Rio Verde Ribeiro Abboras/Crrego das Lages 92,9% Sanclerlndia Riberio Cerrado 91,2% Santa Brbara de Gois Crrego gua Limpa 97,0% Santa Helena de Gois Ribeiro So Toms 95,0% Santo Antnio da Barra Poo Artesiano 90,6% So Joo da Parana Crrego So Joo 92,2% So Lus de Montes Belos Crrego Santana 89,9% Trindade Crrego Arrozal 84,7% Turvnia Crrego Tamandu 92,4% Turvelndia Poo Artesiano 82,1% Varjo Crrego dos macacos 91,4% Vicentinpolis Poo Artesiano 100,0%
A vazo captada pelo conjunto dos sistemas de tratamento de gua dos 37
municpios que possuem rea urbana na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, calculada a
partir do somatrio das captaes mensais de cada sistema de 28.997.983,80 m/ano,
conforme exposto na Tabela 7.
No sentido de aferir a confiabilidade dos dados de vazes captadas em cada
municpio no ano de 2004, procedeu-se a anlise de regresso entre os volumes captados
para abastecimento pblico e as populaes urbanas da Bacia Hidrogrfica, anualmente de
1995 a 2004, cujos grficos obtidos esto nas Figuras de 7 a 16. Os coeficientes de
determinao obtidos variam de 95,98% a 99,45%, no se observando, portanto, nenhum
ano atpico entre eles.
-
44
Tabela 7. Volume bruto captado nos municpios com rea urbana inserida na Bacia Hidrogrfica do Rio dos Bois, em 2004.
MUNICPIOS VOLUME BRUTO
CAPTADO (m) MUNICPIOS
VOLUME BRUTO
CAPTADO (m)Adelndia 99.383 Jovinia 427.991Acrena 852.617 Mairipotaba 115.846Americano do Brasil 203.112 Maurilndia 889.580Anicuns 1.000.380 Montividiu 502.518Ara 223.895 Nazrio 342.808Avelinpolis 103.839 Palmeiras de Gois 654.992Bom Jesus de Gois 883.671 Palminpolis 187.191Campestre de Gois 127.158 Parana 604.615Catura 173.745 Porteiro 137.940Castelndia 155.718 Rio verde 8.304.208Cezarina 428.486 Santa Brbara de Gois 238.668Edealina 163.438 Santa Helena de Gois 2.727.497Edia 632.595Firminpolis 458.869
Santo Antnio da Barra 120.641
Gouvelndia 161.618 Trindade 5.521.768Guap 632.741 Turvnia 248.760Inaciolndia 159.957 Turvelndia 167.543Indiara 548.154 Varjo 121.962Jandaia 274.078 Vicentinpolis 380.000TOTAL 28.977.983,80
A correlao uma combinao entre duas variveis, cujo grfico
aproxima-se de uma linha ou curva. O grfico cartesiano que representa essa linha ou
curva denominado diagrama de disperso. Para poder avaliar melhor a correlao entre
as variveis, interessante obter a equao da reta ou curva (linha); essa reta ou curva
chamada de reta ou curva de regresso e a equao que a representa a equao de
regresso (TOLEDO & OVALLE, 1985). O modelo matemtico que representa o melhor
ajuste da reta ou curva de regresso obtido pelo teste dos seguintes modelos
matemticos: linear, logartmico, exponencial, polinomial e potncia. O melhor modelo
definido pelo valor de R que mais se aproximar de 1 (TIBONI, 2003).
-
45
1995
V = 0,0771pop - 40,801R2 = 0,9883
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
7.000
0 20000 40000 60000 80000 100000
populao atendida (hab)
volu
me
capt
ado
(100
0 m
3 )
Figura 7.