tese cinema
TRANSCRIPT
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Faculdade de Letras
O CINEMA NA CONSTRUO E PROMOO DE
TERRITRIOS TURSTICOS: A IMAGEM DO RURAL NO
CINEMA PORTUGUS
Ficha Tcnica: Tipo de trabalho Dissertao de Mestrado
Ttulo O CINEMA NA CONSTRUO E PROMOO DE TERRITRIOS TURSTICOS: A
IMAGEM DO RURAL NO CINEMA PORTUGUS
Autor Ana S ofia Carre ira Duque
Orientador Doutor J oo Lus Jesus Fernandes
Jri Presidente: Doutor Norberto Nuno P into d os Santos
Vogais:
1. Doutora Elisabete Maria Melo Figueired o
2. Doutor J oo Lus Jesus Fernandes
Identificao do Curso 2 Ciclo em Lazer, Patrimn io e Desenvolvimento
rea cient fic a Geografia - Turismo
Data da defesa 24-10-2013
Classificao 17 valores
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A presente dissertao de Mestrado foi realizada no mbito do projeto Rural
Matters - Meanings of the rural in Portugal: between social representations,
consumptions and development strategies (PTDC/CS-GEO/117967/2010),
financiado pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) e cofinanciado pelo
COMPETE, QREN e FEDER.
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Agradecimentos
Quero agradecer aos meus pais e irmo pelo facto de estarem sempre ao meu lado,
no s agora, mas sempre e por me terem dado fora para seguir em frente.
Ao Hugo, mil obrigadas. Pela ajuda e motivao constantes, pelo apoio e
principalmente por no ter desistido, mesmo nas alturas em que eu fui uma coisa
ruim.
Ao Professor Doutor Joo Lus Fernandes, que me orientou na tese e no projeto
Rural Matters, agradeo a sua disponibilidade, sugestes e conselhos, sem os quais
este trabalho no seria possvel.
Aos Professores e Colegas do projeto Rural Matters, pessoas com as quais muito
aprendi.
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Para os meus avs Mimi, Manuel, Antonieta e Z.
Nenhum trabalho no mundo ser suficiente para agradecer o que me deram e o
que fizeram por mim.
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Resumo
O setor do Turismo tem sido alvo de grandes desenvolvimentos nas ltimas
dcadas e hoje em dia um dos poucos a conseguir resistir, revelando valores
positivos, perante a conjuntura econmica menos favorvel pela qual estamos a
atravessar.
O mercado turstico extremamente competitivo, o que faz com que os agentes
responsveis pela promoo dos destinos, tenham que estar atentos e que criem
novas estratgias de divulgao dos territrios. Isto porque, os turistas esto cada
vez mais exigentes, informados e as suas decises tendem a ser individualizadas, o
que marca um afastamento da oferta massificada que tantas vezes se sente no
turismo. O facto das fontes utilizadas na promoo dos destinos e do turismo
serem cada vez mais difusas e multifuncionais, tambm desempenha um papel
importante na atual situao do setor.
neste sentido, que o cinema se integra nesta investigao. Por um lado, surge
como condicionador da imagem dos territrios ao estar associado a estratgias
de marketing territorial; e por outro, o cinema como construtor de territrios
tursticos uma vez que cria fluxos tursticos em territrios que aparecem no ecr
e uma tipologia que vai ao encontro das novas tendncias do setor, como o
turismo criativo.
Esta tipologia de turismo encaixa-se na tentativa da inovao da oferta e da fuga
massificao, pois permite aos turistas o desenvolvimento das suas capacidades
criativas, integrando-os em atividades que vo alm da observao passiva de um
lugar ou objeto.
A componente prtica do documento consiste na anlise de duas obras
cinematogrficas portuguesas, realizadas no meio rural. O que se pretende
averiguar so as representaes sociais associadas ao espao rural portugus.
Palavras-chave:
Cinema; Turismo Criativo; Turismo Cinematogrfico; Representaes sociais;
Espao Rural
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Abstract
Tourism has developed a lot in recent decades and nowadays it is one of the few
sectors that is able to resist, revealing positive values, in view of the less favorable
economic environment in which we are going through.
The tourism market is extremely competitive, which causes the agents responsible
for the promotion of destinations having to be vigilant and to create outreach
strategies for the territories. Because tourists are increasingly demanding,
informed and their decisions tend to be individualized, marks a departure from the
massification offer that you often feel in tourism. The fact that sources used in the
promotion of destinations and tourism are increasingly diffuse and
multifunctional, also plays an important role in the current situation of the sector.
It is in this way that cinema is part of this investigation. In one hand, cinema
emerges as an image conditioner of the territories associated with territorial
marketing strategies; on the other hand, as a builder of touristic territories it
creates tourist flows in territories that appear on the screen and is a typolog y that
meets the new industry trends, like creative tourism.
This kind of tourism fits as an attempt of innovation of supply and to escape the
masses. At the same time it allows tourists to develop their creative abilities,
integrating them in activities that go beyond passive observation of a place or
object.
The practical component of this document consists in the analysis of two
Portuguese movies, filmed in rural areas. The intention is to find out what are the
social representations associated with the Portuguese countryside.
Key-Words:
Cinema; Creative Tourism; Movie-induced Tourism; Social Representations;
Countryside
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ndice Geral
ndice Geral ................................................................................................................................................................ 1
ndice de Figuras ..................................................................................................................................................... 3
ndice de Tabelas..................................................................................................................................................... 5
Acrnimos .................................................................................................................................................................. 6
1. INTRODUO .................................................................................................................................................. 7
1.1 Tema e mbito de investigao ............................................................................................................ 7
1.2 Objetivos......................................................................................................................................................... 9
1.3 Plano de trabalho......................................................................................................................................10
1.4 Metodologia ................................................................................................................................................12
2. OS NOVOS PARADIGMAS DO TURISMO .................................................................................................15
2.1 A importncia do setor do Turismo .................................................................................................15
2.2 As tendncias do setor ...........................................................................................................................19
2.2.1 O Novo Turismo ................................................................................................................................19
2.2.2 Turismo Criativo...............................................................................................................................25
3. IMAGEM, INDSTRIAS CRIATIVAS E REPRESENTAES SOCIAIS ...........................................31
3.1 Indstrias criativas o que so? ........................................................................................................31
3.2. Representaes sociais: definio e evoluo do conceito....................................................36
3.3 Marketing territorial e a imagem dos lugares..............................................................................40
4. CINEMA E TURISMO QUE RELAO? ..................................................................................................46
4.1 Cinema e a representao dos lugares ............................................................................................46
4.2 Cinema e marketing territorial ...........................................................................................................49
4.3 Cinema na construo de lugares tursticos - Turismo cinematogrfico.........................51
5. CINEMA, REPRESENTAES E IMAGEM DO RURAL...................................................................57
5.1 Dinmicas recentes do rural multifuncionalidade do rural ...............................................57
5.2 Representaes do rural, no cinema portugus..........................................................................62
6. ANLISE DOS FILMES COISA RUIM (2005) E DOT.COM (2007).................................................70
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6.1 Seleo dos filmes justificao ........................................................................................................70
6.2 Identificao das obras ..........................................................................................................................78
6.3 Territrios dos filmes .............................................................................................................................82
6.4 Representaes do rural nos filmes .................................................................................................86
6. 5 Atividade turstica nos territrios potencialidades e propostas ....................................92
7. CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................................................96
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................................... 100
FILMOGRAFIA...................................................................................................................................................... 107
WEBGRAFIA ......................................................................................................................................................... 108
ANEXOS .................................................................................................................................................................. 110
Anexo I ............................................................................................................................................................... 111
Anexo II.............................................................................................................................................................. 113
Anexo III ............................................................................................................................................................ 116
Anexo IV ............................................................................................................................................................ 118
Anexo V .............................................................................................................................................................. 121
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ndice de Figuras
Figura 1 Alguns dos principais aspetos nos quais a investigao vai incidir ... 9
Figura 2 Valores do turismo no Mundo: previso at 2030 ..... 17
Figura 3 Velho Turismo VS Novo Turismo ..... 19
Figura 4 Evoluo hipottica de um destino turstico . 21
Figura 5 - A emergncia do Turismo Criativo ... 23
Figura 6 Museu Guggenheim em Nova Iorque . 28
Figura 7 Museu Guggenheim em Veneza 28
Figura 8 Museu Guggenheim em Bilbao .. 28
Figura 9 Museu Guggenheim em Abu Dhabi .. 28
Figura 10 Modelo dos crculos concntricos de David Throsby .. 33
Figura 11 Elementos que fazem parte do processo de marketing territorial . 41
Figura 12 Marca territorial da cidade do Porto ...... 42
Figura 13 O novo branding da regio do Alentejo ..... 43
Figura 14 O processo de formao da imagem turstica .... 45
Figura 15 Jaws (1975) o filme de Spielberg que lanou o terror em praias de todo o
Mundo .... 54
Figura 16 Mapa da Europa com a tipologia rural-urbano para as regies NUTS 3 58
Figura 17 Evoluo da procura das viagens de turismo e lazer no meio rural, na Europa
.. 61
Figura 18 Capa do filme A aldeia da roupa branca (1938) ....... 63
Figura 19 Capa do filme Uma abelha na chuva (1971) ... 65
Figura 20 Valezim: igreja onde so rodadas algumas cenas do filme Cosa Ruim ... 74
Figura 21 Uma rua de Valezim, com as casas tpicas de granito () ....................................... 74
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Figura 22 Rua principal de guas Altas enfeitada para as festas de Nossa Sra. do
Pranto . 75
Figura 23 Rua principal de Dornes ..... 75
Figura 24 Rua de Dornes, com o casario branco e cho em paralelos . 76
Figura 25 Vista geral de Dornes, encaixada em harmonia com o rio e a Natureza .. 76
Figura 26 Capa do filme Coisa Ruim terror .... 77
Figura 27 Capa do filme Dot.Com comdia . 77
Figura 28 Mapa com a localizao dos stios onde foram gravados os filmes .. 82
Figura 29 Sinalizao de um local onde se pratica turismo rural . 93
Figura 30 - Sinalizao de um local onde se pratica turismo flmico (sugesto). 93
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ndice de Tabelas
Tabela 1 Alteraes verificadas nas nomenclaturas de alguns setores das indstrias
criativas . 32
Tabela 2 Tipologias e respetivas indstrias criativas do modelo Symbolic Texts . 32
Tabela 3 Modelo WIPO das indstrias criativas .. 34
Tabela 4 - Estudos sobre o papel do cinema na criao da imagem turstica dos territrios
.. 46
Tabela 5 - Os impactos na procura turstica, dos territrios que surgem nos filmes .. 52
Tabela 6 Caractersticas e motivaes dos turistas flmicos ... 55
Tabela 7 Breve ficha tcnica das obras em anlise ... 78
Tabela 8 Representaes do rural nos dois filmes analisados . ..91
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Acrnimos
DCMS - Department for Culture, Media and Sport (Reino Unido)
DGSDR Direo-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural
DMO Destination Marketing Organization
DOP - Denominao de Origem Protegida
FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia
FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
NUTS Unidades Territoriais Estatsticas
OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico
OMT Organizao Mundial de Turismo
ONU Organizao das Naes Unidas
PREC - Processo Revolucionrio em Curso
TER Turismo em Espao Rural
UC Universidade de Coimbra
WIPO - World Intellectual Property Organization
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1. INTRODUO
1.1 Tema e mbito de investigao
A presente dissertao, com o ttulo O cinema na construo e promoo de
territrios tursticos: a imagem do rural no cinema portugus foi realizada no
mbito do Mestrado em Lazer, Patrimnio e Desenvolvimento, da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
Esta dissertao tambm, resultado de um trabalho de investigao integrado no
projeto Rural Matters Meanings of the rural in Portugal: between social
representations, consumptions and development strategies, projeto este que envolve
a Universidade de Coimbra (UC), Universidade de Aveiro (UA), Instituto Superior
de Agronomia de Lisboa (ISA) e Universidade de Trs os Montes e Alto Douro
(UTAD).
Os principais objetivos do projeto so a identificao e estudo das representaes
sociais relacionadas com o meio rural portugus, presentes em diferentes
tipologias de documentos, tais como imprensa escrita, obras flmicas, documentos
institucionais/ governamentais e folhetos de promoo turstica.
Para a presente investigao, o que ser alvo de anlise sero as representaes do
rural portugus, no cinema.
O desenvolvimento de estudos sobre o rural no um fenmeno recente, mas tm-
se vindo a intensificar nos ltimos anos, motivado por diversos fatores tais como:
as mudanas sociais e econmicas, que colocam o rural como ponto de chegada
para algumas populaes; o crescente interesse em lazeres e prticas tursticas
alternativas, realizados em lugares no convencionais, que possibilitem
experincias nicas e inovadoras; e ainda, porque o espao rural atravessa uma
fase de reconstruo da sua identidade e imagem, que vai muito para alm da
conceo agrcola a ele associada.
Por outro lado, um estudo sobre o efeito do cinema na imagem dos territrios
afigura-se pertinente, uma vez que estamos inseridos numa sociedade onde a
dimenso digital sobejamente valorizada e onde esta indstria criativa, em
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particular, tem um poder de alcance muito vasto, sendo que cada vez mais
utilizada como meio de promoo turstica.
Estes e outros aspetos sero desenvolvidos no mbito desta investigao.
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1.2 Objetivos
Esta investigao tem como ponto de partida uma questo: Como que o cinema
influencia a imagem e a atividade turstica dos territrios?
Com este trabalho pretende-se responder pergunta anterior, bem como explicar
o potencial turstico do cinema enquanto modelador de lugares. Eis alguns dos
objetivos que foram delineados para a presente investigao:
- Identificar o papel do Cinema, uma importante indstria criativa, enquanto
elemento modelador da imagem dos territrios (tursticos);
- Relacionar o fenmeno das representaes sociais dos territrios com a imagem
que transmitida pelo cinema;
- Entender as dinmicas recentes do espao rural portugus e fazer a recolha das
representaes sociais apreendidas na visualizao de duas obras flmicas
portuguesas.
Figura 1 Alguns dos principais aspetos nos quais a investigao vai incidir
Fonte: Prpria
Novas tendncias do Turismo
TURISMO CRIATIVO
Influncia das Indstrias Criativas
nos territrios e nas representaes
dos mesmos
CINEMA | TURISMO CINEMATOGRFICO
Representaes sociais do espao
rural portugus veiculadas atravs
do cinema
REPRESENTAES DO ESPAO RURAL
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1.3 Plano de trabalho
A presente dissertao conta com sete captulos principais.
O Captulo 1 a Introduo, na qual se pode averiguar os temas que fazem parte
desta investigao, os objetivos que se pretendem atingir, o plano de trabalho do
documento, onde esto explicitados os diversos tpicos a abordar e por fim, a s
metodologias utilizadas nas diversas fases de execuo do documento.
O Captulo 2 - Novos paradigmas do Turismo surge como uma breve introduo a
um dos temas centrais da investigao, o Turismo. feita uma contextualizao da
importncia da atividade turstica escala nacional e internacional, que inclui a
apresentao de alguns dados estatsticos. Depois de afirmada a importncia deste
setor, sero exploradas duas das tendncias que tm sido desenvolvidas nas
ltimas dcadas, por um lado a teoria do Novo Turismo, elaborada por Auliana
Poon e por outro lado, a teoria mais recente, que remete para o Turismo Criativo,
desenvolvida por vrios autores, sendo Greg Richards o pioneiro.
No Captulo 3 referente Imagem, indstrias criativas e representaes sociais so
explorados trs conceitos indstrias criativas, marketing territorial e
representaes sociais - que no mbito desta investigao se combinam e cuja
anlise fundamental para o estudo.
O Captulo 4 sobre Cinema e Turismo- que relao?, gira em torno de uma indstria
criativa em particular, o Cinema e o seu papel enquanto modelador e construtor de
espaos tursticos. Numa primeira instncia ser abordada a questo do cinema e
da representao dos lugares, tendo em conta que os filmes so ferramentas
poderosas no que diz respeito criao e difuso de representaes dos lugares
(filmados). Tambm feita referncia ao papel do cinema enquanto estratgia de
marketing turstico e por ltimo, ser dado nfase vertente do cinema enquanto
construtor de espaos tursticos, remetendo-nos para o Turismo Cinematogrfico.
O Captulo 5 foca as questes do Cinema, representaes e imagem do rural e aqui
dado destaque ao espao rural em si, sendo exploradas algumas das dinmicas
atuais do rural e a sua multifuncionalidade. Uma vez que esta investigao analisa
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as representaes do rural presentes no cinema, neste captulo so apresentadas
as diferentes fases pelas quais o cinema portugus passou, desde o seu
aparecimento at ao presente. Nesta anlise diacrnica ser dada particular
ateno presena/ausncia das questes do rural no cinema portugus.
O Captulo 6 intitulado Anlise dos filmes Coisa Ruim e Dot.Com, o estudo de caso
da dissertao. Aqui justificada a escolha das duas obras selecionadas e o seu
interesse para este estudo; feita a apresentao das respetivas narrativas; so
enumerados os aspetos apresentados nos filmes, que esto diretamente
relacionados com as representaes do espao rural; h tambm uma anlise aos
territrios retratados nas pelculas, com uma comparao entre o territrio real e
aquele que apresentado no ecr; e por ltimo h uma identificao das
potencialidades tursticas dos territrios em questo e a sugesto de propostas de
patrimonializao.
O ltimo captulo (o stimo) o das Consideraes finais e contm as concluses
resultantes da investigao. neste ponto que ficamos a saber se os objetivos
propostos inicialmente foram atingidos e so ainda propostas ideias para futuras
investigaes.
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1.4 Metodologia
Foram vrias as metodologias utilizadas na elaborao da dissertao.
Em primeiro lugar procedeu-se recolha de bibliografia, documentos, artigos
cientficos e dados estatsticos sobre temas como: marketing territorial; turismo
cultural e criativo; indstrias criativas; turismo cinematogrfico; turismo em
espao rural; novas tendncias do turismo e do espao rural; e ainda sobre anlise
de contedo e anlise flmica.
Posteriormente recolha e leitura do material realizaram-se de fichas de leitura,
que permitiram a compilao e organizao da informao existente. Finda a
anlise bibliogrfica, deu-se incio anlise da componente flmica.
Para selecionar a metodologia adequada a esta investigao deve-se ter em conta
uma ideia de Jacques Aumont, um dos experts na rea dos estudos
cinematogrficos, que diz que no h nenhuma metodologia universalmente aceite
para se proceder anlise flmica (conf. AUMONT, 2011).
Porm, apesar de no haver uma metodologia universal para a anlise flmica,
consensual entre os investigadores, a utilizao da tcnica de anlise em recorte
(dcoupage, em francs), pelas razes explicadas em seguida.
Esta anlise tal como o nome indica, traduz-se no recorte da pelcula em diversas
unidades e consiste em algo semelhante reescrita do filme posteriori, com a
inteno de se construir um banco de dados suficientemente alargado, para futuro
tratamento e anlise do tema, com elementos objetivamente recolhidos.
(SEABRA,2011:2).
PENAFRIA (2009:1) afirma que o objetivo da anlise o de explicar/esclarecer o
funcionamento de um determinado filme e propor-lhe uma interpretao. A
autora vai mais alm e acrescenta que uma anlise flmica s bem executada se
tiver por trs a decomposio da obra. Da que para esta investigao se tenha
optado pela anlise em recorte, que numa primeira fase decompe o filme em
unidades narrativas suscetveis de anlise (plano, cena e sequncia) e numa
segunda etapa permite uma interpretao desses mesmos elementos.
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A anlise das obras cinematogrficas ter sido uma das partes mais morosas de
toda a investigao, uma vez que necessrio criar uma estrutura narrativa, para
cada filme, que depois servir de suporte para chegar s concluses necessrias. A
estrutura narrativa tem a forma de uma tabela, para que a sua consulta seja rpida
e fcil. Esta tabela serve de instrumento de apoio ao investigador, para que este se
consiga situar rapidamente, na obra em anlise.
Para elaborar a estrutura narrativa para cada uma das obras necessrio fazer o
levantamento dos planos, cenas e sequncias presentes em cada filme, que so as
trs unidades que definem uma obra cinematogrfica. SEABRA (2011:4) define o
plano como a poro de pelcula impressionada entre dois cortes ou paragens de
mquina, constituindo a unidade mnima aparente que apercebida pelo
espetador; a cena um segmento maior que o anterior, que pode envolver
apenas um plano () mas onde o normal ser constitudo por vrios planos () a
cena no obedece a qualquer elemento fsico, os critrios temporais e espaciais
podero ou no auxiliar; a sequncia a maior das trs unidades e tem por
funo fornecer uma perspetiva global sobre a narrativa, enunciando os grandes
temas que a constituem.
As estruturas narrativas dos dois filmes aqui em estudo podem ser consultadas nos
anexos II e IV.
Ainda sobre a anlise flmica podemos identificar a existncia de quatro tipologias,
que PENAFRIA (2009:5) explora no seu trabalho:
Anlise textual: encara-se o filme como um texto e tem como objetivo
decomp-lo dando conta da sua estrutura.
Anlise de contedo: considera o filme um relato e tem apenas em conta o
tema do filme. Depois de identificado o tema, faz-se um resumo da histria e
a decomposio do filme tendo em conta o que o filme diz a respeito do
tema.
Anlise potica: nesta anlise em primeiro lugar identificam-se os efeitos
da experincia flmica (as sensaes, sentimentos e sentidos que o filme
proporciona) e em segundo lugar, a partir dos efeitos tenta-se chegar
estratgia que levou criao daquele efeito.
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Anlise da imagem e som: esta anlise tambm apelidada de
cinematogrfica centra-se no espao flmico e recorre utilizao de
conceitos cinematogrficos (por exemplo: grandes planos, ngulos picados
e contrapicados, entre outros).
Para este trabalho optou-se pela conjugao entre a anlise textual e a anlise de
contedo, uma vez que a mesma autora considera pertinente a combinao de
duas (ou mais) tcnicas em vez da utilizao de uma s.
No captulo 6 relativo anlise dos filmes voltar a ser abordada esta questo da
anlise de contedo, tendo em conta que foi a metodologia privilegiada nos
estudos desenvolvidos para o Projeto Rural Matters, que antecederam este
trabalho.
Para compreender melhor a relao entre a imagem real dos lugares e a imagem
representada no ecr, o passo seguinte da investigao foi a deslocao aos dois
territrios onde foram rodados os filmes - a aldeia de Dornes, em Ferreira do
Zzere e Valezim e Torroselo, no concelho de Seia - onde se procedeu ao confronto
com os territrios.
Foram trs os objetivos das deslocaes aos territrios: em primeiro lugar a
recolha de fotografias, sobretudo de lugares e paisagens retratados nas pelculas,
para posterior comparao entre a realidade e a fico; o segundo propsito da
visita era a anotao de vrios elementos referentes situao atual daqueles
territrios, por exemplo, a densidade e caractersticas da populao, se existe
alguma referncia ao facto de ali terem sido gravados os filmes, a sua
predisposio para a atividade turstica, entre outros fatores; e por ltimo, tentou-
se aceder a alguma informao estatstica sobre o volume de turistas que visita
aquelas freguesias, se possvel antes e depois da rodagem e lanamento dos filmes.
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2. OS NOVOS PARADIGMAS DO TURISMO
2.1 A importncia do setor do Turismo
Numa altura em que o mundo atravessa graves problemas econmicos, polticos e
sociais, em que o cenrio se revela desolador para grande parte dos setores da
economia global, o setor do turismo parece contrariar esta tendncia.
As ltimas informaes disponibilizadas pelo World Tourism Barometer, da
Organizao Mundial do Turismo (OMT) do conta dessa atitude positiva e do
crescimento da atividade turstica a nvel mundial. Em Novembro de 2012 o ttulo
de destaque era: Turismo internacional mantm a sua fora, apesar da incerteza
econmica. J no incio do corrente ano, em Janeiro de 2013, pde-se ler O
turismo internacional manter um crescimento forte em 2013 e os dados mais
recentes, de Abril de 2013 informam que as receitas do turismo internacional
cresceram 4% em 2012, todos estes so factos que comprovam o crescimento que
o setor do turismo est a vivenciar.
Em Portugal a situao semelhante, a atividade turstica tem evoludo de forma
positiva e mostra sinais de crescimento, contrariando o clima de crise econmica
que paira sobre o pas.
As informaes seguintes constam do ltimo relatrio do Turismo de Portugal,
com dados referentes ao Turismo em 2011 e que validam o que foi escrito no
pargrafo anterior.
O movimento de fluxos tursticos cresceu 8,6% quando comparado com
2010, contabilizando 12,2 milhes de passageiros desembarcados de voos
internacionais, nos aeroportos nacionais;
As receitas tursticas atingiram os 8,1 mil milhes de euros em 2011, que
corresponde a um aumento de 7,2% face a 2010. Este crescimento
superior mdia da Regio do Mediterrneo que registou um aumento
homlogo de 4,9%;
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Em 2011, registaram-se 39,4 milhes de dormidas nos estabelecimentos
hoteleiros, aldeamentos e apartamentos tursticos, que corresponde a um
crescimento de 5,5% face ao ano anterior;
Este crescimento, do nmero de dormidas, deveu-se ao aumento de 10,1%
registado pelo mercado externo. J o mercado interno teve um decrscimo
no consumo de 2,5%.
No entanto, apesar de no geral a evoluo do Turismo em Portugal ser positiva,
quando se analisa mais atentamente o mercado interno e o consumo turstico a
nvel nacional denota-se uma atitude diferente.
De acordo com o mesmo documento O Turismo em 2011 o mercado interno
revelou uma atitude retrativa. Vejamos:
Registaram-se menos 1,2% das viagens tursticas realizadas por residentes,
do que no ano de 2010, o que corresponde a 15,2 milhes;
36,9% da populao residente realizou pelo menos uma viagem turstica,
menos 0,5% do que em 2010 e menos 3,2% do que em 2009;
A despesa mdia diria por turista tambm diminuiu, atingindo o valor de
26,73 em 2011 (34,48 em 2010).
A OMT, em 2011, publicou um relatrio onde consta a evoluo da atividade
turstica at ao presente, contando ainda com uma previso at 2030. Ver Figura 2.
No grfico da figura seguinte podemos observar a variao da atividade turstica a
nvel mundial e constatar que se ir manter o crescimento, apesar do ritmo
moderado.
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Figura 2 - Valores do turismo no Mundo: previses at 2030
Fonte: OMT (2011)
A relevncia do setor turstico para a economia portuguesa evidente, de acordo
com dados do Banco de Portugal, relativos rubrica Viagens e Turismo da Balana
de Pagamentos de 2012, apurou-se que as receitas tursticas cresceram de 2011
para 2012, assim como tem vindo a acontecer em anos anteriores. O crescimento
foi de 5,6%, o que corresponde a 8606 milhes de euros. (INE, 2013:23)
No entanto, h outras implicaes do Turismo, que vo para l do setor econmico.
A nvel social no se pode deixar de ter em conta que o turismo uma atividade
que gera fluxos de pessoas e necessria uma boa gesto para evitar problemas de
sobrecarga dos territrios, conflitos entre a populao residente e os turistas e
ainda, para evitar problemas ambientais.
Na dimenso poltica, tambm est patente a importncia do setor turstico que
marca presena nas estratgias de desenvolvimento e promoo dos lugares. Hoje
em dia difcil encontrar um territrio, independentemente da sua dimenso e
localizao (urbana ou rural), que no recorra s potencialidades tursticas para se
promover.
Constatmos que em pleno perodo de crise econmica e social, o turismo continua
a revelar valores positivos, o que em parte se deve capacidade de ajustamento
dos mercados tursticos. Os agentes que gerem os destinos e produtos organizam-
nos de modo a atrair um pblico cada vez maior.
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O turismo j passou por diversas fases, algumas de forte crescimento, outras de
alguma estagnao, mas o que importa reter que este setor foi capaz de se
adaptar a todas elas e superar os obstculos.
Este processo evolutivo do turismo estudado por muitos investigadores, sendo
que alguns vo mais longe e propem modelos que explicam as mudanas que
aconteceram e as que devem acontecer para o mercado turstico se manter
competitivo e interessante para os turistas. No prximo tpico iremos abordar
alguns destes modelos, propostos nas ltimas dcadas, que exploram as tendncias
do turismo.
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2.2 As tendncias do setor
2.2.1 O Novo Turismo
O setor turstico um dos mais competitivos da economia mundial, por isso torna-
se imperativo para as empresas que trabalham neste setor e para os territrios que
dependem desta atividade, que se mantenham a par das inovaes e procurem
manter-se atualizados, em conformidade com os gostos e necessidades dos
turistas.
A imagem que um territrio cria para si e na qual aposta para se promover no
deve ser esttica, desta forma corre o risco de ficar para trs na competio feroz
em que se encontra o setor turstico. H uma forte necessidade dos espaos se
reinventarem, diferenciando-se assim dos demais concorrentes.
No incio da dcada de 1990 (em 1993) Auliana Poon sugeriu um modelo que
introduziu grandes modificaes na conceo de atividade turstica, existente
data. O principal trabalho desenvolvido pela autora marcou a distino entre Velho
e Novo Turismo. O Velho Turismo esteve em vigor entre 1950 (ps 2 Guerra
Mundial) e a dcada de 80 e era caracterizado pela massificao, estandardizao
e rigidez dos pacotes de frias, hotis e turistas (POON, 2003).
J o Novo Turismo, a autora apelidou-o de turismo do futuro, caracterizado pela
flexibilidade, segmentao e experincias tursticas mais autnticas. (idem,
ibidem)
Velho Turista Novo Turista
Anda em grupo
Procura o sol
Segue as massas
Gosta de se mostrar
D valor ao TER
Motivao fuga rotina
Prefere andar sozinho
Gosta de viver a Natureza
Afirmao de individualismo
Procura diverso
D valor ao SER
Motivao autorrealizao
Figura 3 Velho Turista versus Novo Turista
Fonte: Adaptado de POON (1993)
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20
Feita a distino entre o Velho e o Novo turista (ver figura 3), importa referir que
mudanas operaram no setor turstico, que caracterizam a era do Novo Turismo.
Para a autora h quatro fatores que influenciaram a mudana no paradigma do
turismo que so:
Segmentao: deu-se a diviso do mercado turstico e deixou de haver uma
procura e oferta nicas. Com o mercado turstico segmentado passou a
haver uma oferta mais diversificada, que abrange vrios pblicos, com
gostos e necessidades diferentes;
Flexibilidade: passou a haver flexibilidade a vrios nveis - na organizao;
na produo e distribuio das viagens; na escolha, reserva, compra e
pagamento das frias; e no consumo e aproveitamento da experincia das
frias;
Integrao diagonal: uma nova estratgia adotada, que engloba a formao
de alianas e parcerias com empresas tursticas, com o objetivo de melhorar
e facilitar o acesso dos produtos/servios aos consumidores (turistas);
Evoluo do turismo para um sistema de criao de riqueza: o
crescimento do setor do turismo traz inevitavelmente consequncias a nvel
econmico, muitas vezes positivas. A criao de riqueza para as populaes
e territrios que vivem do turismo uma realidade.
Este trabalho, apesar das duas dcadas que decorreram desde o seu
desenvolvimento at atualidade, ainda hoje utilizado para explicar o
comportamento, atitudes e escolhas de muitos turistas. Para alguns territrios
tursticos, apenas agora, est a dar-se a viragem do velho turismo massificado para
o novo turismo alternativo.
Contudo, o modelo do Novo Turismo de Poon comea a ser questionado, em
parte devido ao surgimento de novos paradigmas do turismo.
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21
Ao ritmo a que as sociedades se tm desenvolvido, o papel da evoluo tecnolgica,
as influncias dos meios de comunicao, as linhas de pensamento que esto em
vigor, bem como outros fatores que caracterizam a sociedade atual, fazem com que
hoje em dia a maioria dos turistas se encaixe no segmento do Novo Turista,
sendo legtimo afirmar que essa conceo, outrora alternativa, hoje se encontra
massificada.
Os destinos tursticos, semelhana do que acontece com outros produtos, tm um
ciclo de vida, que se inicia com a introduo do produto/destino no mercado.
Na figura 4 podemos visualizar um esquema com o modelo que BUTLER (1980)
sugeriu, sobre o ciclo de vida de um destino turstico, com as diferentes
possibilidades de desenvolvimento.
Figura 4 Evoluo hipottica de um destino turstico
Fonte: BUTLER (1980:7)
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22
O que se conclui da observao do esquema anterior que todos os destinos
passam por uma fase de introduo no mercado, que coincide com um baixo valor
da procura turstica. Passado algum tempo, com a implementao de aes e
estratgias de promoo territorial o destino vai ganhando pblico ,
desenvolvendo-se.
Numa fase posterior do ciclo de evoluo, o territrio entra num perodo de
estagnao e a diferena entre os vrios lugares tursticos reside neste ponto. A
partir daqui tem que haver alguma proatividade por parte dos agentes locais, que
vai levar ao rejuvenescimento do local. Por outro lado, quando no se toma
nenhuma atitude que tenha em vista melhorias para o territrio, ir traduzir-se
numa situao de declnio. No tpico seguinte do documento, este esquema voltar
a ser alvo de anlise, desta vez recorrendo a um exemplo nacional, sobre o turismo
de Sol e Mar.
Nos ltimos anos, outros autores foram desenvolvendo modelos e teorias que
explicam o comportamento que os turistas esto a adotar. Uma dessas novas
teorias foi desenvolvida por Greg Richards e est relacionada com o conceito de
Turismo Criativo (desenvolvido com mais detalhe, em seguida).
Na figura 5 encontra-se representada, a evoluo dos paradigmas do turismo, nas
ltimas dcadas, desde a definio de lazer de Dumazedier , passando pelo modelo
do Novo Turismo de Poon e finalizando com o conceito de Turismo Criativo, de
Richards.
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23
Figura 5 A emergncia do Turismo Criativo
Fonte: GONALVES (2008)
Foi no perodo do ps-II Guerra Mundial, que o Turismo e o Lazer comearam a
adquirir maior importncia para as sociedades. O tempo para descanso e para
frias passou a ser uma necessidade e posteriormente um direito adquirido por
parte dos trabalhadores.
Na dcada de 70, o francs Joffre Dumazedier sugeriu uma definio de lazer que
se revelou bastante popular, tanto que ainda hoje tida como referncia.
DUMAZEDIER (1974) definiu o lazer como sendo o conjunto de ocupaes s
quais o indivduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, para se
divertir, se recrear e entreter-se ou ainda para desenvolver a sua formao
desinteressada, a sua participao social voluntria ou a sua livre capacidade
criadora, aps livrar-se ou desembaraar-se das suas obrigaes profissionais,
familiares e sociais.
Como se pode constatar, atravs da anlise da figura anterior (Figura 5), numa
primeira etapa do desenvolvimento do turismo e lazer a definio de lazer de
Dumazedier, serve de mote e mostra que houve um aumento dos consumos
tursticos e da valorizao do tempo livre. Nesse contexto, entre a dcada de 70 e
80, o Turismo Cultural foi ganhando destaque.
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24
Porm, na dcada de 90, quando a atividade turstica se encontrava bem
consolidada e a ganhar cada vez mais importncia no quotidiano dos indivduos,
surge a diferenciao dos tipos de turistas existentes, sendo irrefutvel o
contributo de Poon.
No entanto, tal como j foi referido anteriormente, este modelo tem vindo a perder
fora e no incio do sculo XXI surge o conceito de Turismo Criativo, que se
apresenta como uma tendncia do Turismo atual, ainda que no muito divulgada.
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2.2.2 Turismo Criativo
O turismo um setor que necessita de atualizaes constantes, de acordo com as
tendncias mais recentes e para ir ao encontro das necessidades dos turistas, que
estando cada vez mais informados, so tambm mais exigentes nos servios e
produtos que escolhem.
fcil de identificar, alguns episdios relacionados com a atividade turstica, que
mostram a necessidade de reinveno desta. Retomando o esquema da figura 4
(Modelo do ciclo de vida de um destino turstico de BUTLER, 1980) iremos
exemplificar com o caso do turismo de Sol e Mar. A escolha desta tipologia turstica
para exemplo, deve-se ao facto de em Portugal este ser o produto turstico com
maior desenvolvimento e ser uma das imagens de marca do pas.
No incio do sculo XX, apenas se deslocavam s estncias balneares os indivduos
que pertenciam a uma classe econmica superior, a uma elite. Esta altura
corresponde introduo dos destinos balneares no mercado turstico. Ao longo
do sculo, deu-se o desenvolvimento do produto Sol e Mar e dos destinos que o
promoviam. A partir da dcada de 1950, a experincia balnear intensificou-se e os
destinos balneares consolidaram-se, sendo que nos ltimos anos alguns entraram
em estagnao. Nas estncias balneares em Portugal possvel encontrar as duas
situaes previstas por BUTLER (1980):
1) Da fase de estagnao, os destinos evoluem positivamente e rejuvenescem
(exemplo: Peniche, que associou ao seu territrio o conceito do surf e de
outras prticas desportivas e que se apelida como Capital da Onda);
2) H destinos balneares que permanecem presos imagem e qualidades do
passado. Como no se atualizam entram em declnio (exemplo: Figueira da
Foz, que outrora foi a Rainha das Praias de Portugal, mas que hoje em dia
revela caractersticas bastante diferentes das do passado, mas ainda se quer
fazer valer do ttulo).
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26
Quando o turismo de Sol e Mar se comeou a generalizar, houve uma necessidade
de criar novos produtos tursticos, que servissem de alternativa, para os que
procuravam a diferena. Foi ento que se comeou a expandir o Turismo Cultural,
uma tipologia turstica que pode ser desenvolvida em (quase) todos os territrios e
que pode ser praticada o ano inteiro, no sendo to afetado pela sazonalidade,
como acontece com o Turismo Balnear.
Porm, tal como aconteceu com o Turismo de Sol e Mar, o Turismo Cultural
desenvolveu-se at atingir uma situao limite, no presente. Para muitos
territrios, onde este tipo de turismo inicialmente era uma alternativa, hoje
tambm j se encontra massificado.
Tendo como ponto de partida esta situao a massificao do Turismo Cultural
importa referir o que tem vindo a ser desenvolvido para colmatar esta falha. Isto ,
que alternativa tem vindo a ser elaborada, para continuar a atrair turistas e a faz-
los voltar a determinados lugares.
Para muitos territrios a alternativa passa pelo Turismo Criativo , um conceito que
deriva da combinao entre Turismo e Indstrias Criativas que se define como um
tipo de turismo que oferece aos turistas/visitantes a oportunidade de estes
desenvolverem o seu potencial criativo atravs da sua participao em cursos e
experincias de aprendizagem que so tpicas dos destinos onde estes se
encontram de frias (RICHARDS, 2001, citado em GONALVES, 2008)
Antes de explorarmos o conceito de Turismo Criativo em si, importa refletir um
pouco sobre a situao que levou ao seu surgimento, e que j foi referida
brevemente, no incio deste tpico.
O Turismo Cultural est em voga, a nvel nacional, europeu e mundial. So
inmeros os territrios que recorrem vertente cultural para se promoverem e
para competirem entre si. Tomemos como exemplo o acontecimento da Capital
Europeia da Cultura. Todos os anos h imensas cidades europeias que elabora m
propostas e concorrem, na esperana de ganharem esse ttulo. A partir do
momento em que so eleitas, pode-se mesmo afirmar que a existncia desse
territrio nunca mais ser a mesma. D-se incio a uma srie de projetos,
construes, aes de promoo, sensibilizao e desenvolvimento, que mesmo
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27
depois de terminado o evento, os efeitos positivos do ttulo conquistado continuam
a fazer-se sentir.
escala nacional podemos encontrar trs exemplos, o caso da cidade de Lisboa,
Porto e de Guimares, Capitais Europeias da Cultura em 1994, 2001 e 2012,
respetivamente.
O Turismo Cultural contempla o movimento de pessoas a atraes culturais, longe
dos seus lugares de residncia habituais, com a inteno de adquirir novas
informaes e experincias que satisfaam as suas necessidades culturais.
(Projeto ATLAS, in RICHARDS, 1996:24)
O papel central que este tipo de turismo alcanou na sociedade e no mercado
turstico mundial irrefutvel, contudo muitos consumidores, cansados de
encontrar uma reproduo em srie dos mesmos produtos, em diferentes destinos,
esto procura de alternativas (Fundao Serralves, 2008:32)
Ainda no documento anterior surge uma referncia pertinente, sobre a situao
que agora se vive em muitas cidades culturais. A criao de marcas como o
Guggenheim ou a Capital Europeia da Cultura tm a vantagem da familiaridade
com o consumidor, mas ao tornarem-se selos culturais estes cones veem
reduzido o seu carcter distintivo . (idem, ibidem:33)
Esta rplica de infraestruturas culturais, em vrias cidades, tem sido alvo de
debate por parte de alguns autores RICHARDS (1996); MATHUR (2005);
RICHARDS & WILSON (2007: 3); WARD (2002) que utilizam a expresso
McGuggenheim Effect, como referncia a esta massificao cultural.
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Figura 6,7, 8 e 9 (de cima para baixo) Museu Guggenheim em Nova Iorque, Veneza,
Bilbao e Abu Dhabi.
Fonte: www.guggenheim.org
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Ainda sobre a posio decadente da cultura face criatividade, RICHARDS &
WILSON (2007) escreveram que a cultura vista como sendo relativamente
esttica e geralmente ancorada ao passado. necessrio criatividade para injetar
dinamismo e soltar o potencial das pessoas e lugares. Acrescentam ainda que
muitas da polticas e estratgias de desenvolvimento esto a mudar o seu foco, das
indstrias culturais, para as indstrias criativas.
No trabalho As comunidades criativas, o Turismo e a Cultura, GONALVES (2008)
enumerou uma srie de vantagens que esto associadas a este tipo de experi ncia
turstica criativa: a criatividade possui maior potencial para criar valor pela sua
escassez; a criatividade permite aos destinos inovar e conceber novos produtos
com maior rapidez; a criatividade um processo, pelo que, os recursos criativos
so mais sustentveis e infinitamente renovveis; a criatividade mvel, podendo
inclusive ser produzida nalguns casos, de forma virtual.
Outra expert nesta temtica Catriona Campbell (2010), seguidora dos ideais de
Richards, que define Turismo Criativo como o tipo de turismo que oferece aos
visitantes uma procura criativa (que inc lui artes, artesanato e workshops de
culinria), com a oportunidade de permanecer em alojamentos de alta qualidade e
de se relacionar com a populao local.
CAMPBELL (2010) refere que o Turismo Criativo no um fenmeno
completamente novo, o que tem acontecido o aumento da sua popularidade,
havendo cada vez mais pessoas procura de experincias autnticas.
Sobre as origens do Turismo Criativo, a autora menciona que as suas razes esto
em Portugal, quando em meados da dcada de 90, a Comisso Europeia criou o
projeto Eurotex1 para ajudar os artesos portugueses a distinguir os seus trabalhos
manuais, daqueles que eram produzidos em massa.
1 O projeto Eurotex surgiu de uma candidatura ao Programa Cultura 2007 -2013, promovido pela Comisso Europeia, que integra 4 pases europeus Portugal, Espanha, Frana e Itlia. Este projeto pretende contribuir para o renascer da indstria txtil na Europa, permitindo a circulao de jovens criadores e dos seus projetos. O Eurotex baseia-se na construo de uma rede interdisciplinar que promove a cooperao entre operadores culturais e os territrios em questo, enaltecendo a indstria txtil na Europa. (www.museudaindustriatextil.com)
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30
Esta primeira experincia criativa fez com que vrios visitantes/turistas entrassem
em contacto com os artesos, observassem o seu trabalho e ainda permitiu a sua
participao na produo de txteis.
Pelo mundo fora vo surgindo territrios que aliam sua imagem e sua
estratgia de promoo turstica o Turismo Criativo. No caso portugus a regio do
Norte a que mais tem investido nessa tipologia, porm uma experincia que
pode (e deve ser alargada) ao restante territrio.
O trabalho desenvolvido pela Fundao Serralves (2008), sobre o Desenvolvimento
de um cluster de indstrias criativas na regio Norte e o trabalho de MOTA et al
(2010), sobre Ponte de Lima, so dois dos exemplos desta aposta na integrao do
Turismo Criativo nas estratgias de desenvolvimento local, em Portugal.
Numa perspetiva mais global, destaca-se a Nova Zelndia como sendo o pas que
esteve (e ainda est) na vanguarda do Turismo Criativo. Em 2003, Greg Richards e
Crispin Raymond criaram uma estrutura inteiramente dedicada a este tipo de
turismo, naquele pas. Das vrias experincias que ali se podem vivenciar, uma das
mais populares a escultura em ossos uma tcnica praticada pela tribo Maori,
que pode ser realizada por turistas, que fazem as suas prprias esculturas,
podendo depois traz-las consigo.
O conceito que acabmos de desenvolver turismo criativo deriva de um outro, o
de indstrias criativas, que ser explorado no tpico seguinte. Este tem sido alvo
de grande interesse por parte de vrios autores e organizaes, como se ir
verificar.
A importncia que as indstrias criativas assumem no dia-a-dia das sociedades
contemporneas tal, que h pases que criam entidades dedicadas gesto da
atividade e do impacto destas indstrias. Neste documento o destaque vai para o
cinema e para a influncia que este tem na construo da imagem dos lugares e
consequentemente, nos impactos dessa imagem, na procura turstica dos
territrios.
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31
3. IMAGEM, INDSTRIAS CRIATIVAS E REPRESENTAES SOCIAIS
3.1 Indstrias criativas o que so?
O conceito de indstrias criativas relativamente recente. Ter sido utilizado pela
primeira vez na Austrlia, no incio da dcada de 1990 (em 1994), no relatrio
Creative Nation. O conceito foi utilizado para classificar a ligao entre as
atividades do comrcio cultural e os novos meios de comunicao emergentes,
resultantes das mudanas tecnolgicas (COUTO, 2010:4).
Foi no entanto em Inglaterra que este conceito ganhou maior destaque e
desenvolvimento. A importncia deste setor para o pas tal que foi criado um
Ministrio que gere as Indstrias Criativas - Department for Culture, Media and
Sport (DCMS). Em 1998, esta entidade identificou treze indstrias criativas:
1. Antiguidades,
2. Arquitetura;
3. Artesanato;
4. Artes performativas;
5. Cinema;
6. Design;
7. Edio
8. Moda;
9. Msica;
10. Publicidade;
11. Software;
12. Software de entretenimento;
13. Televiso e rdio.
Ainda de acordo com este organismo (DCMS, 1997), a definio de indstrias
criativas passa pelas atividades que tm a sua origem na criatividade individual,
habilidade e talento e com potencial de criao de emprego e riqueza, atravs da
gerao e explorao da propriedade intelectual.
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No presente, as treze categorias indicadas mantm-se, mas com pequenas
alteraes nas suas designaes, tornando-as mais abrangentes (DCMS, 2001).
Definio criada em 1997 Definio aps 2001
Antiguidades Mercado das artes e antiguidades
Cinema Filmes e vdeos
Moda Design de moda
Software Software e servios de informtica
Software de entretenimento Software de lazer interativo
Tabela 1 Alteraes verificadas na nomenclatura de alguns setores das indstrias criativas
Fonte: Adaptado de DCMS
Nos ltimos anos tm surgido vrios modelos que exploram e acrescentam
informao temtica das indstrias criativas. Um desses modelos j foi abordado
em cima, conhecido como o Modelo DCMS. De seguida, encontra-se uma
apresentao sumria de outros modelos relacionados com as indstrias criativas.
O Symbolic texts model consiste na diviso das indstrias criativas em trs: Core
Cultural Industries, Pheripheral Cultural Industries e Borderline Cultural Industries.
Tipos de indstrias criativas Subsetores das indstrias criativas
Core Cultural Industries
Publicidade, Msica, Edio, Televiso e
Rdio, Jogos de vdeo, Software, Internet,
Cinema
Pheripheral Cultural Industries Artes criativas
Borderline Cultural Industries Moda, Desporto, Eletrnica de consumo
Tabela 2 Tipologias e respetivas indstrias criativas do modelo Symbolic Texts
Fonte: Adaptado de ONU (2008) e COUTO (2010)
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33
O modelo dos crculos concntricos (Concentric circles model) foi concebido por
David Throsby, em 2001. Baseia-se na premissa de que o valor cultural dos bens
culturais, a caracterstica mais distintiva das indstrias criativas (ONU, 2008).
Este modelo contempla quatro grupos: Core Creative Arts; Other Core Cultural
Industries; Wider Cultural Industries; e Related Industries. Ver figura 10.
Figura 10 Modelo dos crculos concntricos de David Throsby
Fonte: Adaptado de THROSBY (2007) e Fundao Serralves (2008)
No crculo mais pequeno (Core Creative arts) encontram-se atividades como a
literatura, msica, artes performativas e artes visuais. Em Other Core Cultural
Industries encontramos o Cinema, Museus e Livrarias. Wider Cultural Industries
compreende os servios de patrimnio, edio, gravao de discos, televiso e
rdio e vdeo e jogos de computador. O crculo exterior, das Related Industries
insere a Publicidade, Arquitetura, Design e Moda.
Na lgica de COUTO (2010:5) as atividades que se encontram no centro so as
indstrias que se pronunciam de forma mais marcante na construo de valor
cultural.
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34
O modelo World Intellectual Property Organization (WIPO) baseado nas
indstrias que esto direta ou indiretamente relacionadas na criao, manufatura,
produo, difuso e distribuio de trabalhos protegidos com direitos de autor
(WIPO, 2003).
A estrutura deste modelo conta com trs grupos de indstrias criativas - Core
Copyright Industries, Parcial Copyrights Industries, e Independent Copyright
Industries, onde se faz a distino entre as indstrias que produzem obras de
propriedade intelectual e aquelas cujo negcio centrado na distribuio de bens e
servios (ONU, 2008).
Core Copywright
Industries
Interdependent
Copywright Industries
Partial Copywright
Industries
Publicidade;
Filmes e Vdeo;
Msica;
Artes Performativas;
Edio;
Software;
Televiso e udio;
Arte grfica e visual
Eletrnica para consumir;
Instrumentos musicais;
Papel;
Fotocopiadoras e
equipamento fotogrfico
Arquitetura
Roupa e Calado
Design
Moda
Objetos para casa
Brinquedos
Tabela 3 - Modelo WIPO das indstrias criativas
Fonte: Adaptado de THROSBY (2007)
Os quatro modelos apresentados so os mais comuns no meio acadmico, no
entanto deve-se ter em conta que h outros modelos que abordam a questo das
indstrias criativas, por exemplo o IUS Trade-related Model e o American for the
Arts Model.
A relevncia das indstrias criativas para as sociedades atuais imensurvel, tanto
para indivduos como para empresas. Mas neste estudo o que importa destacar a
sua influncia junto das populaes.
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35
No por acaso que muitas das estratgias de promoo de produtos, servios e
destinos (como se ir ver mais frente no documento) recorrem a indstrias
criativas, de forma a atingirem mais eficazmente o seu pblico -alvo.
A maneira como estas indstrias atuam, tem na base o fenmeno das
representaes sociais. Utilizando como exemplo o caso do cinema, a imagem do
territrio que transmitida pode no corresponder realidade, porm os
espetadores vo ser influenciados e vo criar nas suas mentes uma representao
daquele espao, com base na imagem que veem no ecr.
por isso que o estudo do papel do cinema enquanto criador da imagem dos
lugares to relevante para o setor do turismo, porque se a imagem transmitida
for negativa, esse territrio corre o risco de uma diminuio na procura turstica.
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36
3.2. Representaes sociais: definio e evoluo do conceito
Apesar de hoje em dia, o conceito de representao social atravessar as cincias
humanas e no ser patrimnio de nenhuma rea em particular (ARRUDA, 2002) a
sua origem est vinculada Sociologia.
Foi o socilogo francs mile Durkheim, considerado um dos pais da Sociologia,
que deu o primeiro contributo para este conceito. No entanto, a obra de referncia,
mais conhecida e estudada relacionada com este tema da autoria de Serge
Moscovici e data de 1961. Este autor responsvel pelo grande desenvolvimento
da disciplina da Psicologia Social e um dos seus maiores contributos foi com o
desenvolvimento da teoria das representaes sociais.
Na sua obra La psychanalyse, son image, son public, MOSCOVICI (1961) estudou de
que forma alguns meios de comunicao franceses (media) abordavam a questo
da psicanlise. Para o seu estudo, o autor analisou a revista Elle, um jornal cristo
(La Croix) e um jornal comunista (LHumanit).
OLIVEIRA (2004:181) acerca do estudo de Moscovici sintetiza as concluses em
trs pontos principais:
1) Entre a definio cientfica de psicanlise e o entendimento que a sociedade
francesa tinha do conceito, existia um intermedirio de peso, o fenmeno
das representaes sociais;
2) As representaes sociais no so as mesmas para todos os membros da
sociedade, dependem do conhecimento de senso comum e do contexto
sociocultural em que os indivduos se inserem;
3) O processo de representao segue uma sequncia lgica, de duas etapas:
primeiro torna familiares objetos desconhecidos, por meio de um
mecanismo chamado ancoragem e depois, atravs da objetivao os
indivduos (ou grupos) acoplam imagens reais e concretas, existentes no
seu quotidiano, aos novos esquemas conceituais que se apresentam.
-
37
Ao longo da sua vida, Serge Moscovici aprimorou a definio de representaes
sociais, fazendo pequenos acrescentos e retificaes:
Representao social um sistema de valores, ideias e prticas com duas funes:
primeiro, estabelecer uma ordem que permita aos indivduos orientar-se no seu
mundo material e social e domin-lo; e em segundo lugar permitir que haja
comunicao entre membros de uma comunidade, providenciando-lhes um cdigo
para trocas sociais e um cdigo para nomear e classificar sem ambiguidades, os
vrios aspetos do seu mundo e da sua histria de grupo (MOSCOVICI, 1973 citado
por HIJER, 2011:5)
Representaes sociais [...] Esto relacionadas com os contedos do quotidiano, que
servem de suporte s ideias que do coerncia s nossas crenas religiosas, ideais
polticos e s conexes que criamos to espontaneamente como respiramos. Elas
tornam possvel classificar pessoas e objetos, comparar e explicar comportamentos e
objetiv-los como parte do nosso ambiente social. Enquanto as representaes esto,
frequentemente, alojadas nas mentes dos homens e das mulheres, elas podem ser
encontradas "no mundo" e como tal, serem examinadas separadamente.
(MOSCOVICI, 1988:214 citado por HIJER, 2011:5)
[] a partir de um ponto de vista dinmico, as representaes sociais aparecem como uma rede de ideias, metforas e imagens, mais ou menos agarradas entre si.
(MOSCOVICI, 2000: 153 citado por HIJER, 2011:5)
Ainda devido ao contributo de MOSCOVICI (1988) para estas questes, possvel
distinguir trs tipologias de representaes hegemnicas, emancipadas e
polmicas.
O primeiro tipo de representaes, as hegemnicas so aquelas que a maioria dos
membros de um grupo estruturado (exemplo: pas, cidade, partido poltico)
compartilha. So uniformes e coercitivas, refletindo a homogeneidade e a
estabilidade das representaes coletivas (MORAES, 2003:35). Dando um
exemplo aplicado, vejamos o caso da conceo agrcola do rural. A maioria da
populao portuguesa associa o territrio rural a um ambiente onde a atividade
agrcola domina. Esta pode encarada como uma representao hegemnica sobre o
rural.
O segundo tipo de representaes so as emancipadas, que esto relacionadas com
subgrupos que criam as suas prprias verses e que revelam um certo grau de
-
38
autonomia relativamente aos outros segmentos da sociedade (MOSCOVICI, 1988
citado por MORAES, 2003 e HIJER, 2011). Os indivduos que vo deixando para
trs a conceo agrcola e comeam a associar o meio rural a prticas tursticas e
criativas e o veem como um espao de negcios podem ser os subgrupos de que os
autores atrs mencionados referem, concebendo e difundindo representaes
emancipadas.
Por ltimo, as representaes polmicas esto relacionadas com conflitos sociais e
problemas entre grupos e a sociedade enquanto um todo no compartilha dessas
representaes. Este tipo de representaes devem ser vistas no contexto de uma
oposio ou luta entre grupos (MORAES, 2003:35) Para ilustrar este tipo de
representaes com recurso a intervenientes do meio rural, vejamos o exemplo
emblemtico dos agricultores e caadores. A luta entre estes dois grupos no
recente e frequentemente vem tona. Por um lado esto os donos das terras que
querem manter longe das suas colheitas os caadores e as espcies cinegticas. Por
outro lado os caadores, que querem levar a cabo a sua prtica de lazer, e para tal
tm que atravessar terrenos e perseguir as espcies. Este conflito tem inerentes
duas representaes diferentes sobre um mesmo assunto. Decerto que a opinio
de um agricultor sobre a caa diferente da de um caador. No entanto as suas
opinies e representaes pouco influenciam a representao geral que a
populao tem sobre o rural e a caa.
Para finalizar este captulo das representaes sociais e retomando a perspetiva
turstica, deve-se ter em conta que na elaborao de estratgias de promoo
turstica, um dos aspetos que merece maior destaque a imagem que est
associada a esse lugar, que por sua vez chega aos turistas. Essa imagem deve ser
forte e positiva, chamando ateno dos indivduos fazendo-os investir numa
visita ao local.
Com a competitividade acrrima existente no setor turstico cada vez mais
importante que os agentes e organizaes responsveis pelo marketing territorial
invistam em estratgias diferentes para promover os destinos. aqui que se
encaixa o papel das indstrias criativas, que com o seu largo poder de difuso,
abrangem pblicos mais dispersos.
-
39
No se poderia deixar de abordar a questo das representaes sociais neste
trabalho, uma vez que o processo de criao uma determinada imagem, de um
objeto, pessoa ou lugar, e a coloca na mente de um indivduo, ou grupo de
indivduos. Recorremos novamente ao cinema para exemplificar esta ideia: os
indivduos ao verem filmes sobre um determinado territrio, mesmo sem nunca l
terem estado, criam na sua mente uma imagem daquele espao, de acordo com o
que retiram dos filmes. Essa imagem que passa nos ecrs pode corresponder
realidade, mas pode tambm ser uma iluso, que s se verifica se o indivduo
passar de espetador a turista.
este um dos poderes do cinema nos territrios, que por ser to importante, deve
ser explorado e aproveitado, mas com os devidos cuidados.
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3.3 Marketing territorial e a imagem dos lugares
O conceito de Marketing vrias vezes utilizado incorretamente, j que muitas
vezes o marketing associado venda de produtos e/ou servios. Esta uma ideia
errnea, que torna o conceito demasiado redutor.
O marketing ocorre desde a conceo do produto, continuando depois de o mesmo
ser vendido, envolvendo a adequada gesto da composio da procura e cobrindo
tambm o marketing das organizaes, das pessoas, dos locais e das ideias.
(RUIVO, 2006 e KASTENHOLZ, 2002)
Para a presente investigao, que aborda questes como a imagem e promoo de
territrios, entramos no domnio do marketing territorial.
Importa desde j esclarecer que o marketing tradicional e o marketing territorial,
apesar de terem alguns pontos em comum, no so sinnimo s, uma vez que a
promoo de um destino mais exigente e requer outro tipo de atenes, que a
promoo de um objeto/servio no exige. RAINISTO (2003:33) refora esta ideia
ao afirmar que os territrios no so produtos ou servios normais, mas um
pacote de bens, servios e percees dos consumidores e todas as suas
combinaes.
De acordo com a sistematizao de RUIVO (2006: 23), as principais funes do
marketing territorial so:
Atrao de investidores, residentes e visitantes;
Valorizao da identidade e das especificidades locais;
Promoo de desenvolvimento socioeconmico equilibrado e sustentvel;
Identificao, pela diferenciao, de uma vantagem competitiva chave para
a sustentabilidade econmica a longo prazo.
Em suma, o marketing territorial tem que ver com a criao e divulgao de
imagens fortes e positivas dos territrios em questo, tal como explica
FERNANDES (2008:9) o marketing territorial procura a criao de imagens
positivas de cidades, regies ou pases, recorrendo a tcnicas que reduzam os
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receios e os preconceitos e amplifiquem as qualidades dos lugares que se
pretendem promover.
Uma vez definido o conceito, vamos explicar como decorre o processo de criao
de uma estratgia de marketing territorial. RAINISTO (2003:36) indica que em
primeiro lugar, deve ser feita uma anlise estratgica ao territrio, tendo em conta
a misso e a viso delineadas previamente para aquele espao. A melhor forma de
fazer esta anlise atravs da metodologia SWOT, onde so identificadas as foras,
fraquezas, oportunidades e ameaas daquele territrio. S depois da anlise que
se pode partir para a criao de uma estratgia.
CO
NSU
MID
OR
ES
POPULAES
(necessidades | desejos | procura)
Segmentao
CLIENTE
Escolhas estratgicas
ME
RC
AD
O
ESTRATGIAS DE MARKETING
Medidas de Marketing
Promocionais Espaciais/Funcionais Organizacionais
(ex: criao de imagens) (ex: estruturas de design) (ex: prticas internas)
PR
OC
ED
IME
NT
OS
Produto | Estratgias de organizao
PRODUTO
Comodificao
RECURSOS
Figura 11 Elementos que fazem parte do processo de marketing territorial
Fonte: Adaptado de RAINISTO (2003)
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O esquema da pgina anterior (figura 11) contm os vrios elementos que devem
ser tidos em conta no processo de marketing territorial - consumidores, mercado e
procedimentos envolvidos - bem como as aes estratgicas que devem ser
levadas a cabo em cada fase do processo de marketing.
H um aspeto que ainda no foi mencionado, mas que est intimamente
relacionado com estas questes do marketing territorial - o Place Branding (a
marca dos territrios).
Este fenmeno tem despoletado interesse em vrios autores - KAVARATZIS &
ASHWORTH (2005); RAINISTO (2003); KAVARATZIS (2007), entre outros e
apresentado como uma estratgia adotada por alguns territrios que assim
conseguem associar o seu espao fsico a uma marca (imagens, conceitos, ideias)
tornando-o mais popular e reconhecido.
Para ilustrar este fenmeno, que vai surgindo com cada vez mais frequncia no
territrio nacional, ficam os exemplos de duas regies portuguesas, a primeira
mais urbana e a segunda mais rural, que j apostaram na criao de uma marca
territorial
A cidade do Porto, com a criao da marca Oportonity City, pensada e criada para
tornar a cidade mais atrativa e competitiva no setor do turismo, a nvel
internacional. Esta marca inspirada nas dinmicas tpicas de uma cidade que est
em constante mutao e que potencia oportunidades dirias para as mais diversas
reas e interesses. (GOMES, 2012)
Figura 12 Marca territorial da cidade do Porto
Fonte: GOMES, 2012
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43
No mesmo trabalho, GOMES (2012) referiu outra marca territorial nacional, desta
feita na regio alentejana Alentejo, tempo para ser feliz. A nova imagem,
acompanhada de um posicionamento moderno e atrativo, pretendem elevar a
regio do Alentejo categoria de destino de eleio dos mais diversos pblicos,
quer a nvel nacional, quer internacional. O slogan tem implcita uma promessa
para quem for ao Alentejo ali ir encontrar tranquilidade e uma multiplicidade
de contrastes e emoes, que proporciona momentos de felicidade (idem, ibidem).
Figura 13 O novo branding da regio do Alentejo
Fonte: GOMES (2012)
Ainda sobre os tipos de marcas territoriais (place branding), KAVARATZIS &
ASHWORTH (2005:511) distinguem trs tipos:
1. Nomenclatura geogrfica (geographical nomenclature) acontece quando
um produto tem a designao de uma localizao geogrfica. O exemplo
mais recorrente deste tipo de marca territorial o do Champagne (local de
produo de um vinho, que d nome ao produto tambm).
Os autores referem que o marketing territorial no consiste na utilizao
das qualidades de um lugar para promover um produto local, nos mercados
nacionais e internacionais. Por outro lado, faz parte do marketing territorial
usar as qualidades dos produtos locais para atribuir significados e
associaes aos lugares em questo.
2. Marca partilhada pelo produto e pelo local (Product-place co-branding):
Este tipo de estratgia consiste na associao de um produto a um
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determinado lugar, em que se acredita que as caractersticas desse lugar
sejam benficas para a imagem do produto. So exemplos deste tipo de
estratgias o caso de fish and chips, no Reino Unido e os relgios suos,
para a Sua).
3. Marca como um elemento de gesto do lugar (Branding as a place
management): a gesto territorial depende muito da maneira como os
utilizadores/consumidores veem o territrio e das mudanas que nele
ocorrem.
Mas como que se processa a criao de uma imagem turstica de um lugar? Como
que os turistas antes de escolherem e partirem para um determinado lugar
concebem ideias sobre esse mesmo espao? E de que forma que o cinema e
outras indstrias criativas influenciam esta deciso? A resposta para estas
questes comeou a ser dada em tpicos anteriores, na abordagem s indstrias
criativas e s representaes sociais, mas em seguida tenta -se aprofundar um
pouco mais esta questo.
consensual para vrios autores a existncia de dois tipos de imagem turstica dos
lugares: a imagem orgnica e a imagem induzida. (ASHWORTH & GOODALL, 1988;
BORDAS & RUBIO, 1993; COOPER et al, 1993; WAITT, 1996; citados em
RODRIGUZ et al, 2011).
A imagem orgnica forma-se a partir da informao transmitida por fontes que no
esto diretamente relacionadas com a promoo do destino. A construo deste
tipo de imagem tem por base conselhos de amigos, familiares e conhecidos, atravs
do fenmeno conhecido como word of mouth e ainda, pela informao que
disponibilizada nos meios de comunicao.
A imagem induzida, por outro lado, aquela que resulta do trabalho das entidades
tursticas (pblicas e privadas) que trabalham na promoo dos destinos e que
querem induzir os turistas a visitar as respetivas reas.
H ainda outros autores (ECHTNER & RITCHIE,1991; FAKEYE & CROMPTON,1991;
GUNN,1988; SANCHZ & SANZ, 2003 citados por RODRGUEZ et al, 2011) que
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pressupem a existncia de um terceiro tipo de imagem, a imagem complexa,
resultante da visita real ao destino.
A maioria dos autores supracitados considera que o fenmeno da formao da
imagem turstica de um lugar um processo evolutivo, iniciado na imagem
orgnica, passando para a imagem induzida e que culmina na imagem complexa.
Figura 14 O processo de formao da imagem turstica
Fonte: Adaptado de RODRGUEZ et al (2011)
A informao que os turistas consideram mais fidedigna aquela que transmitida
atravs de conversas informais com familiares, amigos e conhecidos, uma vez que
estes transmitem a sua opinio acerca dos destinos, sem as intenes de venda,
inerentes aos promotores dos destinos. E a par desta fonte de informao credvel,
h uma outra que referida que remete para os meios de comunicao e para as
indstrias criativas, onde se insere o cinema.
Imagem Orgnica Informao adquirida passivamente, atravs
dos media ou conversas informais
Imagem Complexa
Procura ativa de informao (fontes
promocionais e no promocionais)
Visita ao destino
Imagem Induzida
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4. CINEMA E TURISMO QUE RELAO?
4.1 Cinema e a representao dos lugares
A imagem que cada territrio cria e transmite para o exterior um tema muito
recorrente na investigao em Turismo. Contudo, a competio tenaz que
caracteriza o setor e a multiplicidade da oferta existente levam a que os territrios
adotem medidas que se diferenciem das praticadas pela maioria dos destinos.
Tendo em conta os temas desta investigao e os seus objetivos principais, importa
estabelecer uma relao entre as representaes dos territrios (rurais),
difundidas por uma indstria criativa em particular, o cinema, e o impacto turstico
que estas provocam, nos respetivos territrios.
H diversos estudos sobre a influncia da atividade turstica nos territrios, que
identificam as vantagens e desvantagens, da realizao de filmes para os locais que
servem de cenrio. Para esta investigao, fez-se o levantamento de estudos que
evidenciam o papel que o cinema desempenhou na criao da imagem turstica dos
territrios que surgem nos filmes.
Autor (Ano) Filme (Realizador, Ano) Objetivos do estudo
GUNDLE (2002) La Dolce Vita (Federico
Fellini, 1960)
De que forma o filme, transformou a imagem da
cidade de Roma
KIM & RICHARDSON (2003)
Before Sunrise (Richard Linklater, 1995)
Mostrar que o filme afetou significativamente
a imagem de alguns componentes do destino
Viena, na ustria
FROST (2004) Vrios filmes do tipo
Western
De que forma, a rodagem de filmes do tipo western, modificou o lugar de Lone
Pine (Califrnia)
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MERCILLE (2005) 7 Years in Tibete (Jean-
Jacques Annaud, 1997)
Examinar o impacto das
representaes inerentes
ao filme (e outros media),
no destino Tibete.
LPEZ & OSCAR (2008) Todo sobre mi madre
(Pedro Almodvar, 1999)
Analisaram a imagem da cidade de Barcelona, transmitida no filme
FERNANDES (2009) O Fiel Jardineiro
(Fernando Meirelles, 2005)
Analisar as imagens e percees do continente
africano, transmitidas
pelo filme
KRAAIJENZANK (2009) Lord of the rings Trilogy
(Peter Jackson, 2001,
2002, 2003)
Examinar como que a imagem do destino foi afetada pelos filmes e como que o nvel de
autenticidade do destino foi afetado.
RODRGUEZ et al (2011) Vicky, Cristina, Barcelona
(Woody Allen, 2008);
Estudaram as principais imagens apreendidas
pelos cinfilos, sobre a cidade de Barcelona, aps
a visualizao do filme
Tabela 4 - Estudos sobre o papel do cinema na criao da imagem turstica dos territrios
Fonte: Prpria
Alguns investigadores, nomeadamente os que se encontram referidos na tabela
anterior, comprovaram que a imagem de um destino, transmitida atravs de um
filme, uma estratgia muito poderosa no que diz respeito criao da imagem
turstica do territrio. Entramos uma vez mais, na influncia que o cinema exerce
na promoo dos lugares e na criao de imagens dos mesmos. O caso mais
emblemtico que ilustra esta situao o da Nova Zelndia, que um destino de
turismo flmico por excelncia e que serve de exemplo em vrios tpicos desta
dissertao.
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Dos vrios estudos analisados, o desenvolvido por MERCILLE (2005) sobre o
Tibete um dos mais pertinentes e que se ajusta s questes que tentamos
investigar neste trabalho. O autor estudou o Tibete e focou-se na imagem que o
destino transmite para o exterior, nas representaes que os turistas tm do lugar
antes de o visitarem, na confirmao ou negao das perspetivas dos visitantes
aps a visita ao local e ainda, na influncia que os meios de comunicao tm na
construo das representaes daquele espao.
Eis algumas concluses do estudo de MERCILLE (2005) que revelam a importncia
do cinema, para este territrio em questo: quarenta e trs porcento (43%) dos
inquiridos viram o filme Sete anos no Tibete (1997) antes de visitar o pas; a
segunda ferramenta mais consultada foi o guia da Lonely Planet sobre o pas e em
terceiro, ficou outro filme Kundun (1997), com 11% de consultas. Verificou-se que
por diversas vezes as representaes que os turistas tinham sobre o Tibete, foram
defraudadas depois da verificao da imagem real.
Conclui-se portanto que, no caso do Tibete, h imagens transmitidas em filmes que
os turistas associam quele espao, mas que no correspondem realidade. Por
outro lado, destaca-se o papel do cinema enquanto promotor turstico, uma vez
que a maioria dos turistas do Tibete recorreu visualizao de dois filmes de
Hollywood para ficar a conhecer melhor aquele pas.
Este caso aqui em discusso remete-nos para duas questes fulcrais neste estudo:
a primeira j foi analisada e diz respeito presena do cinema na formao da
imagem turstica dos territrios, que pode surgir tanto na imagem orgnica como
na induzida; a segunda questo levantada prende-se com os esteretipos, que
podem ser positivos (quando a imagem transmitida no filme se revela mais
positiva do que a realidade) ou negativos (quando o filme revela uma imagem
negativa de um territrio, que no corresponde realidade). Quanto a esta
questo, no ponto 4.3 do documento ser retomada.
No seguimento da ideia do cinema enquanto promotor da imagem dos territrios
tursticos, transitamos para o tpico seguinte, onde ser abordada a relevncia do
cinema enquanto ferramenta de marketing territorial.
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4.2 Cinema e marketing territorial
No decurso desta investigao, j tivemos a oportunidade de verificar que o cinema
uma indstria criativa, das mais prestigiadas e influentes para a sociedade; e por
outro lado, analismos o conceito de marketing territorial, onde ficou estabelecido
que muito importante que os territrios faam uma anlise prvia onde conste o
levantamento dos seus problemas, necessidades e capacidades, para ento depois
delinear uma estratgia adequada promoo desse mesmo terr itrio.
Neste ponto do documento, tal como o nome indica, ser feita uma anlise
relao entre o cinema e o marketing territorial, ou seja, de que forma o cinema
pode contribuir (ou no) para a promoo dos lugares tursticos.
Estudos recentes, sobre turismo cinematogrfico e sobre o papel que o cinema
desempenha na divulgao das imagens dos lugares filmados, tm revelado que h
vrios territrios que tentam chamar a ateno e fechar negcios com empresas
produtoras de filmes, oferecendo-lhes regalias e bons preos, em troca da
promoo da imagem do territrio. HUDSON & RITCHIE (2006), RODRGUEZ et al
(2011), VAGIONIS & LOUMIOTI (2011), BRIC et al (2013) so apenas alguns dos
investigadores que revelam nos seus trabalhos o interesse que muitas
organizaes, encarregues da gesto do marketing territorial (DMOs Destination
Marketing Organizations) tm nas empresas produtoras de filmes. O Reino Unido
um bom exemplo, no que diz respeito a estes contratos. O Governo ingls fez um
convite aos produtores indianos, de Bollywood, para produzirem os seus filmes em
territrio ingls, mesmo aqueles que tm como cenrio outros pases.
Na Austrlia, aconteceu uma situao semelhante, mas desta vez a empresa
produtora de filmes foi a Disney. A Comisso de Turismo da Austrlia firmou um
contrato com a Disney, para promover o filme Finding Nemo ( procura de Nemo,
2003) no territrio em questo, tornando-se assim o primeiro destino a promover-
se com base num filme de animao.
O investimento que as empresas responsveis pelo marketing territorial fazem em
publicidade e promoo muito elevado e na maior parte das vezes o resultado
final so flyers, cartazes, pequenos vdeos promocionais, entre outros elementos j
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bem conhecidos do pblico em geral. Este tipo de ferramentas de promoo
encontram-se massificadas e muito vistas, por isso os turistas, que esto expostos a
centenas de anncios impressos, na rdio e na TV, ficam ainda mais confundidos
nos seus consumos do dia-a-dia (RILEY, 1994).
A grande vantagem competitiva dos territrios que se promovem atravs do
cinema o facto de a sua promoo ser feita atravs de um canal de distribuio
pouco convencional e o efeito que surte na populao ser mais apelativo e de
grande alcance.
Para reforar a ideia anterior, no seu texto sobre Indstrias culturais,
representaes de lugares e marketing territorial, FERNANDES (2009) afirma que
no conjunto das indstrias culturais, o cinema merece destaque, uma vez que as
imagens cinematogrficas tm sido usadas em estratgias formais e diretas de
marketing territorial mas, mesmo no estando vinculadas a qualquer campanha
organizada, as obras de cinema (pela sua componente visual) so fortes
condicionadoras do imaginrio coletivo sobre determinados espaos geogrficos.
Com isto se conclui que o cinema pode ser um importante aliado do turismo, em
particular da promoo dos territrios. O debate em torno deste assunto continua
no tpico seguinte.
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4.3 Cinema na construo de lugares tursticos - Turismo
cinematogrfico
A relao entre turismo e cinema tem-se vindo a estreitar ao longo dos ltimos
anos. Para alm das caractersticas comuns a estes dois setores implicam
movimentaes de grandes quantias de dinheiro e de pessoas; so ambas
indstrias que trabalham na produo e venda de sonhos; e tanto o cinema como
o turismo esto associados aos momentos livres e de lazer podemos afirmar que
tem vindo a crescer uma relao de grande afinidade entre ambos, que culmina no
Turismo Cinematogrfico.
O Turismo Cinematogrfico um fenmeno que tem vindo a crescer um pouco por
todo o mundo, sendo exemplos do seu expoente mximo a Nova Zelndia e o Reino
Unido (curiosamente, so tambm os destinos pioneiros no que diz respeito ao
Turismo Criativo). Em Portugal, a sua expresso quase nula, mas se for concebida
uma estratgia que integre os locais onde foram rodados filmes (portugueses e
estrangeiros) possvel que se consigam alguns resultados.
Film-induced tourism, media-induced tourism, movie-induced tourism,
cinematographic tourism, screen tourism, media pilgrim so algumas das
nomenclaturas utilizadas para denominar o que nos pases lusfonos entendido
como turismo cinematogrfico, ou cine-turismo. Mas em que consiste este tipo de
turismo?
uma nova forma de turismo cultural (REWTRAKUNPHAIBOON,2009), que
MACIONIS (2004) considera ser uma experincia da ps-modernidade em que um
turista visita um local, que apareceu previamente em algum tipo de media . Este
autor acrescenta, que este tipo de experincia personalizada e nica para cada
indivduo, porque depende da sua interpretao das imagens veiculadas nos
media.
Numa perspetiva mai