tese cinema

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  • Faculdade de Letras

    O CINEMA NA CONSTRUO E PROMOO DE

    TERRITRIOS TURSTICOS: A IMAGEM DO RURAL NO

    CINEMA PORTUGUS

    Ficha Tcnica: Tipo de trabalho Dissertao de Mestrado

    Ttulo O CINEMA NA CONSTRUO E PROMOO DE TERRITRIOS TURSTICOS: A

    IMAGEM DO RURAL NO CINEMA PORTUGUS

    Autor Ana S ofia Carre ira Duque

    Orientador Doutor J oo Lus Jesus Fernandes

    Jri Presidente: Doutor Norberto Nuno P into d os Santos

    Vogais:

    1. Doutora Elisabete Maria Melo Figueired o

    2. Doutor J oo Lus Jesus Fernandes

    Identificao do Curso 2 Ciclo em Lazer, Patrimn io e Desenvolvimento

    rea cient fic a Geografia - Turismo

    Data da defesa 24-10-2013

    Classificao 17 valores

  • A presente dissertao de Mestrado foi realizada no mbito do projeto Rural

    Matters - Meanings of the rural in Portugal: between social representations,

    consumptions and development strategies (PTDC/CS-GEO/117967/2010),

    financiado pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) e cofinanciado pelo

    COMPETE, QREN e FEDER.

  • 2

    Agradecimentos

    Quero agradecer aos meus pais e irmo pelo facto de estarem sempre ao meu lado,

    no s agora, mas sempre e por me terem dado fora para seguir em frente.

    Ao Hugo, mil obrigadas. Pela ajuda e motivao constantes, pelo apoio e

    principalmente por no ter desistido, mesmo nas alturas em que eu fui uma coisa

    ruim.

    Ao Professor Doutor Joo Lus Fernandes, que me orientou na tese e no projeto

    Rural Matters, agradeo a sua disponibilidade, sugestes e conselhos, sem os quais

    este trabalho no seria possvel.

    Aos Professores e Colegas do projeto Rural Matters, pessoas com as quais muito

    aprendi.

  • 3

    Para os meus avs Mimi, Manuel, Antonieta e Z.

    Nenhum trabalho no mundo ser suficiente para agradecer o que me deram e o

    que fizeram por mim.

  • 4

    Resumo

    O setor do Turismo tem sido alvo de grandes desenvolvimentos nas ltimas

    dcadas e hoje em dia um dos poucos a conseguir resistir, revelando valores

    positivos, perante a conjuntura econmica menos favorvel pela qual estamos a

    atravessar.

    O mercado turstico extremamente competitivo, o que faz com que os agentes

    responsveis pela promoo dos destinos, tenham que estar atentos e que criem

    novas estratgias de divulgao dos territrios. Isto porque, os turistas esto cada

    vez mais exigentes, informados e as suas decises tendem a ser individualizadas, o

    que marca um afastamento da oferta massificada que tantas vezes se sente no

    turismo. O facto das fontes utilizadas na promoo dos destinos e do turismo

    serem cada vez mais difusas e multifuncionais, tambm desempenha um papel

    importante na atual situao do setor.

    neste sentido, que o cinema se integra nesta investigao. Por um lado, surge

    como condicionador da imagem dos territrios ao estar associado a estratgias

    de marketing territorial; e por outro, o cinema como construtor de territrios

    tursticos uma vez que cria fluxos tursticos em territrios que aparecem no ecr

    e uma tipologia que vai ao encontro das novas tendncias do setor, como o

    turismo criativo.

    Esta tipologia de turismo encaixa-se na tentativa da inovao da oferta e da fuga

    massificao, pois permite aos turistas o desenvolvimento das suas capacidades

    criativas, integrando-os em atividades que vo alm da observao passiva de um

    lugar ou objeto.

    A componente prtica do documento consiste na anlise de duas obras

    cinematogrficas portuguesas, realizadas no meio rural. O que se pretende

    averiguar so as representaes sociais associadas ao espao rural portugus.

    Palavras-chave:

    Cinema; Turismo Criativo; Turismo Cinematogrfico; Representaes sociais;

    Espao Rural

  • 5

    Abstract

    Tourism has developed a lot in recent decades and nowadays it is one of the few

    sectors that is able to resist, revealing positive values, in view of the less favorable

    economic environment in which we are going through.

    The tourism market is extremely competitive, which causes the agents responsible

    for the promotion of destinations having to be vigilant and to create outreach

    strategies for the territories. Because tourists are increasingly demanding,

    informed and their decisions tend to be individualized, marks a departure from the

    massification offer that you often feel in tourism. The fact that sources used in the

    promotion of destinations and tourism are increasingly diffuse and

    multifunctional, also plays an important role in the current situation of the sector.

    It is in this way that cinema is part of this investigation. In one hand, cinema

    emerges as an image conditioner of the territories associated with territorial

    marketing strategies; on the other hand, as a builder of touristic territories it

    creates tourist flows in territories that appear on the screen and is a typolog y that

    meets the new industry trends, like creative tourism.

    This kind of tourism fits as an attempt of innovation of supply and to escape the

    masses. At the same time it allows tourists to develop their creative abilities,

    integrating them in activities that go beyond passive observation of a place or

    object.

    The practical component of this document consists in the analysis of two

    Portuguese movies, filmed in rural areas. The intention is to find out what are the

    social representations associated with the Portuguese countryside.

    Key-Words:

    Cinema; Creative Tourism; Movie-induced Tourism; Social Representations;

    Countryside

  • 1

    ndice Geral

    ndice Geral ................................................................................................................................................................ 1

    ndice de Figuras ..................................................................................................................................................... 3

    ndice de Tabelas..................................................................................................................................................... 5

    Acrnimos .................................................................................................................................................................. 6

    1. INTRODUO .................................................................................................................................................. 7

    1.1 Tema e mbito de investigao ............................................................................................................ 7

    1.2 Objetivos......................................................................................................................................................... 9

    1.3 Plano de trabalho......................................................................................................................................10

    1.4 Metodologia ................................................................................................................................................12

    2. OS NOVOS PARADIGMAS DO TURISMO .................................................................................................15

    2.1 A importncia do setor do Turismo .................................................................................................15

    2.2 As tendncias do setor ...........................................................................................................................19

    2.2.1 O Novo Turismo ................................................................................................................................19

    2.2.2 Turismo Criativo...............................................................................................................................25

    3. IMAGEM, INDSTRIAS CRIATIVAS E REPRESENTAES SOCIAIS ...........................................31

    3.1 Indstrias criativas o que so? ........................................................................................................31

    3.2. Representaes sociais: definio e evoluo do conceito....................................................36

    3.3 Marketing territorial e a imagem dos lugares..............................................................................40

    4. CINEMA E TURISMO QUE RELAO? ..................................................................................................46

    4.1 Cinema e a representao dos lugares ............................................................................................46

    4.2 Cinema e marketing territorial ...........................................................................................................49

    4.3 Cinema na construo de lugares tursticos - Turismo cinematogrfico.........................51

    5. CINEMA, REPRESENTAES E IMAGEM DO RURAL...................................................................57

    5.1 Dinmicas recentes do rural multifuncionalidade do rural ...............................................57

    5.2 Representaes do rural, no cinema portugus..........................................................................62

    6. ANLISE DOS FILMES COISA RUIM (2005) E DOT.COM (2007).................................................70

  • 2

    6.1 Seleo dos filmes justificao ........................................................................................................70

    6.2 Identificao das obras ..........................................................................................................................78

    6.3 Territrios dos filmes .............................................................................................................................82

    6.4 Representaes do rural nos filmes .................................................................................................86

    6. 5 Atividade turstica nos territrios potencialidades e propostas ....................................92

    7. CONSIDERAES FINAIS ..............................................................................................................................96

    BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................................... 100

    FILMOGRAFIA...................................................................................................................................................... 107

    WEBGRAFIA ......................................................................................................................................................... 108

    ANEXOS .................................................................................................................................................................. 110

    Anexo I ............................................................................................................................................................... 111

    Anexo II.............................................................................................................................................................. 113

    Anexo III ............................................................................................................................................................ 116

    Anexo IV ............................................................................................................................................................ 118

    Anexo V .............................................................................................................................................................. 121

  • 3

    ndice de Figuras

    Figura 1 Alguns dos principais aspetos nos quais a investigao vai incidir ... 9

    Figura 2 Valores do turismo no Mundo: previso at 2030 ..... 17

    Figura 3 Velho Turismo VS Novo Turismo ..... 19

    Figura 4 Evoluo hipottica de um destino turstico . 21

    Figura 5 - A emergncia do Turismo Criativo ... 23

    Figura 6 Museu Guggenheim em Nova Iorque . 28

    Figura 7 Museu Guggenheim em Veneza 28

    Figura 8 Museu Guggenheim em Bilbao .. 28

    Figura 9 Museu Guggenheim em Abu Dhabi .. 28

    Figura 10 Modelo dos crculos concntricos de David Throsby .. 33

    Figura 11 Elementos que fazem parte do processo de marketing territorial . 41

    Figura 12 Marca territorial da cidade do Porto ...... 42

    Figura 13 O novo branding da regio do Alentejo ..... 43

    Figura 14 O processo de formao da imagem turstica .... 45

    Figura 15 Jaws (1975) o filme de Spielberg que lanou o terror em praias de todo o

    Mundo .... 54

    Figura 16 Mapa da Europa com a tipologia rural-urbano para as regies NUTS 3 58

    Figura 17 Evoluo da procura das viagens de turismo e lazer no meio rural, na Europa

    .. 61

    Figura 18 Capa do filme A aldeia da roupa branca (1938) ....... 63

    Figura 19 Capa do filme Uma abelha na chuva (1971) ... 65

    Figura 20 Valezim: igreja onde so rodadas algumas cenas do filme Cosa Ruim ... 74

    Figura 21 Uma rua de Valezim, com as casas tpicas de granito () ....................................... 74

  • 4

    Figura 22 Rua principal de guas Altas enfeitada para as festas de Nossa Sra. do

    Pranto . 75

    Figura 23 Rua principal de Dornes ..... 75

    Figura 24 Rua de Dornes, com o casario branco e cho em paralelos . 76

    Figura 25 Vista geral de Dornes, encaixada em harmonia com o rio e a Natureza .. 76

    Figura 26 Capa do filme Coisa Ruim terror .... 77

    Figura 27 Capa do filme Dot.Com comdia . 77

    Figura 28 Mapa com a localizao dos stios onde foram gravados os filmes .. 82

    Figura 29 Sinalizao de um local onde se pratica turismo rural . 93

    Figura 30 - Sinalizao de um local onde se pratica turismo flmico (sugesto). 93

  • 5

    ndice de Tabelas

    Tabela 1 Alteraes verificadas nas nomenclaturas de alguns setores das indstrias

    criativas . 32

    Tabela 2 Tipologias e respetivas indstrias criativas do modelo Symbolic Texts . 32

    Tabela 3 Modelo WIPO das indstrias criativas .. 34

    Tabela 4 - Estudos sobre o papel do cinema na criao da imagem turstica dos territrios

    .. 46

    Tabela 5 - Os impactos na procura turstica, dos territrios que surgem nos filmes .. 52

    Tabela 6 Caractersticas e motivaes dos turistas flmicos ... 55

    Tabela 7 Breve ficha tcnica das obras em anlise ... 78

    Tabela 8 Representaes do rural nos dois filmes analisados . ..91

  • 6

    Acrnimos

    DCMS - Department for Culture, Media and Sport (Reino Unido)

    DGSDR Direo-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural

    DMO Destination Marketing Organization

    DOP - Denominao de Origem Protegida

    FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia

    FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

    NUTS Unidades Territoriais Estatsticas

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OMT Organizao Mundial de Turismo

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PREC - Processo Revolucionrio em Curso

    TER Turismo em Espao Rural

    UC Universidade de Coimbra

    WIPO - World Intellectual Property Organization

  • 7

    1. INTRODUO

    1.1 Tema e mbito de investigao

    A presente dissertao, com o ttulo O cinema na construo e promoo de

    territrios tursticos: a imagem do rural no cinema portugus foi realizada no

    mbito do Mestrado em Lazer, Patrimnio e Desenvolvimento, da Faculdade de

    Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).

    Esta dissertao tambm, resultado de um trabalho de investigao integrado no

    projeto Rural Matters Meanings of the rural in Portugal: between social

    representations, consumptions and development strategies, projeto este que envolve

    a Universidade de Coimbra (UC), Universidade de Aveiro (UA), Instituto Superior

    de Agronomia de Lisboa (ISA) e Universidade de Trs os Montes e Alto Douro

    (UTAD).

    Os principais objetivos do projeto so a identificao e estudo das representaes

    sociais relacionadas com o meio rural portugus, presentes em diferentes

    tipologias de documentos, tais como imprensa escrita, obras flmicas, documentos

    institucionais/ governamentais e folhetos de promoo turstica.

    Para a presente investigao, o que ser alvo de anlise sero as representaes do

    rural portugus, no cinema.

    O desenvolvimento de estudos sobre o rural no um fenmeno recente, mas tm-

    se vindo a intensificar nos ltimos anos, motivado por diversos fatores tais como:

    as mudanas sociais e econmicas, que colocam o rural como ponto de chegada

    para algumas populaes; o crescente interesse em lazeres e prticas tursticas

    alternativas, realizados em lugares no convencionais, que possibilitem

    experincias nicas e inovadoras; e ainda, porque o espao rural atravessa uma

    fase de reconstruo da sua identidade e imagem, que vai muito para alm da

    conceo agrcola a ele associada.

    Por outro lado, um estudo sobre o efeito do cinema na imagem dos territrios

    afigura-se pertinente, uma vez que estamos inseridos numa sociedade onde a

    dimenso digital sobejamente valorizada e onde esta indstria criativa, em

  • 8

    particular, tem um poder de alcance muito vasto, sendo que cada vez mais

    utilizada como meio de promoo turstica.

    Estes e outros aspetos sero desenvolvidos no mbito desta investigao.

  • 9

    1.2 Objetivos

    Esta investigao tem como ponto de partida uma questo: Como que o cinema

    influencia a imagem e a atividade turstica dos territrios?

    Com este trabalho pretende-se responder pergunta anterior, bem como explicar

    o potencial turstico do cinema enquanto modelador de lugares. Eis alguns dos

    objetivos que foram delineados para a presente investigao:

    - Identificar o papel do Cinema, uma importante indstria criativa, enquanto

    elemento modelador da imagem dos territrios (tursticos);

    - Relacionar o fenmeno das representaes sociais dos territrios com a imagem

    que transmitida pelo cinema;

    - Entender as dinmicas recentes do espao rural portugus e fazer a recolha das

    representaes sociais apreendidas na visualizao de duas obras flmicas

    portuguesas.

    Figura 1 Alguns dos principais aspetos nos quais a investigao vai incidir

    Fonte: Prpria

    Novas tendncias do Turismo

    TURISMO CRIATIVO

    Influncia das Indstrias Criativas

    nos territrios e nas representaes

    dos mesmos

    CINEMA | TURISMO CINEMATOGRFICO

    Representaes sociais do espao

    rural portugus veiculadas atravs

    do cinema

    REPRESENTAES DO ESPAO RURAL

  • 10

    1.3 Plano de trabalho

    A presente dissertao conta com sete captulos principais.

    O Captulo 1 a Introduo, na qual se pode averiguar os temas que fazem parte

    desta investigao, os objetivos que se pretendem atingir, o plano de trabalho do

    documento, onde esto explicitados os diversos tpicos a abordar e por fim, a s

    metodologias utilizadas nas diversas fases de execuo do documento.

    O Captulo 2 - Novos paradigmas do Turismo surge como uma breve introduo a

    um dos temas centrais da investigao, o Turismo. feita uma contextualizao da

    importncia da atividade turstica escala nacional e internacional, que inclui a

    apresentao de alguns dados estatsticos. Depois de afirmada a importncia deste

    setor, sero exploradas duas das tendncias que tm sido desenvolvidas nas

    ltimas dcadas, por um lado a teoria do Novo Turismo, elaborada por Auliana

    Poon e por outro lado, a teoria mais recente, que remete para o Turismo Criativo,

    desenvolvida por vrios autores, sendo Greg Richards o pioneiro.

    No Captulo 3 referente Imagem, indstrias criativas e representaes sociais so

    explorados trs conceitos indstrias criativas, marketing territorial e

    representaes sociais - que no mbito desta investigao se combinam e cuja

    anlise fundamental para o estudo.

    O Captulo 4 sobre Cinema e Turismo- que relao?, gira em torno de uma indstria

    criativa em particular, o Cinema e o seu papel enquanto modelador e construtor de

    espaos tursticos. Numa primeira instncia ser abordada a questo do cinema e

    da representao dos lugares, tendo em conta que os filmes so ferramentas

    poderosas no que diz respeito criao e difuso de representaes dos lugares

    (filmados). Tambm feita referncia ao papel do cinema enquanto estratgia de

    marketing turstico e por ltimo, ser dado nfase vertente do cinema enquanto

    construtor de espaos tursticos, remetendo-nos para o Turismo Cinematogrfico.

    O Captulo 5 foca as questes do Cinema, representaes e imagem do rural e aqui

    dado destaque ao espao rural em si, sendo exploradas algumas das dinmicas

    atuais do rural e a sua multifuncionalidade. Uma vez que esta investigao analisa

  • 11

    as representaes do rural presentes no cinema, neste captulo so apresentadas

    as diferentes fases pelas quais o cinema portugus passou, desde o seu

    aparecimento at ao presente. Nesta anlise diacrnica ser dada particular

    ateno presena/ausncia das questes do rural no cinema portugus.

    O Captulo 6 intitulado Anlise dos filmes Coisa Ruim e Dot.Com, o estudo de caso

    da dissertao. Aqui justificada a escolha das duas obras selecionadas e o seu

    interesse para este estudo; feita a apresentao das respetivas narrativas; so

    enumerados os aspetos apresentados nos filmes, que esto diretamente

    relacionados com as representaes do espao rural; h tambm uma anlise aos

    territrios retratados nas pelculas, com uma comparao entre o territrio real e

    aquele que apresentado no ecr; e por ltimo h uma identificao das

    potencialidades tursticas dos territrios em questo e a sugesto de propostas de

    patrimonializao.

    O ltimo captulo (o stimo) o das Consideraes finais e contm as concluses

    resultantes da investigao. neste ponto que ficamos a saber se os objetivos

    propostos inicialmente foram atingidos e so ainda propostas ideias para futuras

    investigaes.

  • 12

    1.4 Metodologia

    Foram vrias as metodologias utilizadas na elaborao da dissertao.

    Em primeiro lugar procedeu-se recolha de bibliografia, documentos, artigos

    cientficos e dados estatsticos sobre temas como: marketing territorial; turismo

    cultural e criativo; indstrias criativas; turismo cinematogrfico; turismo em

    espao rural; novas tendncias do turismo e do espao rural; e ainda sobre anlise

    de contedo e anlise flmica.

    Posteriormente recolha e leitura do material realizaram-se de fichas de leitura,

    que permitiram a compilao e organizao da informao existente. Finda a

    anlise bibliogrfica, deu-se incio anlise da componente flmica.

    Para selecionar a metodologia adequada a esta investigao deve-se ter em conta

    uma ideia de Jacques Aumont, um dos experts na rea dos estudos

    cinematogrficos, que diz que no h nenhuma metodologia universalmente aceite

    para se proceder anlise flmica (conf. AUMONT, 2011).

    Porm, apesar de no haver uma metodologia universal para a anlise flmica,

    consensual entre os investigadores, a utilizao da tcnica de anlise em recorte

    (dcoupage, em francs), pelas razes explicadas em seguida.

    Esta anlise tal como o nome indica, traduz-se no recorte da pelcula em diversas

    unidades e consiste em algo semelhante reescrita do filme posteriori, com a

    inteno de se construir um banco de dados suficientemente alargado, para futuro

    tratamento e anlise do tema, com elementos objetivamente recolhidos.

    (SEABRA,2011:2).

    PENAFRIA (2009:1) afirma que o objetivo da anlise o de explicar/esclarecer o

    funcionamento de um determinado filme e propor-lhe uma interpretao. A

    autora vai mais alm e acrescenta que uma anlise flmica s bem executada se

    tiver por trs a decomposio da obra. Da que para esta investigao se tenha

    optado pela anlise em recorte, que numa primeira fase decompe o filme em

    unidades narrativas suscetveis de anlise (plano, cena e sequncia) e numa

    segunda etapa permite uma interpretao desses mesmos elementos.

  • 13

    A anlise das obras cinematogrficas ter sido uma das partes mais morosas de

    toda a investigao, uma vez que necessrio criar uma estrutura narrativa, para

    cada filme, que depois servir de suporte para chegar s concluses necessrias. A

    estrutura narrativa tem a forma de uma tabela, para que a sua consulta seja rpida

    e fcil. Esta tabela serve de instrumento de apoio ao investigador, para que este se

    consiga situar rapidamente, na obra em anlise.

    Para elaborar a estrutura narrativa para cada uma das obras necessrio fazer o

    levantamento dos planos, cenas e sequncias presentes em cada filme, que so as

    trs unidades que definem uma obra cinematogrfica. SEABRA (2011:4) define o

    plano como a poro de pelcula impressionada entre dois cortes ou paragens de

    mquina, constituindo a unidade mnima aparente que apercebida pelo

    espetador; a cena um segmento maior que o anterior, que pode envolver

    apenas um plano () mas onde o normal ser constitudo por vrios planos () a

    cena no obedece a qualquer elemento fsico, os critrios temporais e espaciais

    podero ou no auxiliar; a sequncia a maior das trs unidades e tem por

    funo fornecer uma perspetiva global sobre a narrativa, enunciando os grandes

    temas que a constituem.

    As estruturas narrativas dos dois filmes aqui em estudo podem ser consultadas nos

    anexos II e IV.

    Ainda sobre a anlise flmica podemos identificar a existncia de quatro tipologias,

    que PENAFRIA (2009:5) explora no seu trabalho:

    Anlise textual: encara-se o filme como um texto e tem como objetivo

    decomp-lo dando conta da sua estrutura.

    Anlise de contedo: considera o filme um relato e tem apenas em conta o

    tema do filme. Depois de identificado o tema, faz-se um resumo da histria e

    a decomposio do filme tendo em conta o que o filme diz a respeito do

    tema.

    Anlise potica: nesta anlise em primeiro lugar identificam-se os efeitos

    da experincia flmica (as sensaes, sentimentos e sentidos que o filme

    proporciona) e em segundo lugar, a partir dos efeitos tenta-se chegar

    estratgia que levou criao daquele efeito.

  • 14

    Anlise da imagem e som: esta anlise tambm apelidada de

    cinematogrfica centra-se no espao flmico e recorre utilizao de

    conceitos cinematogrficos (por exemplo: grandes planos, ngulos picados

    e contrapicados, entre outros).

    Para este trabalho optou-se pela conjugao entre a anlise textual e a anlise de

    contedo, uma vez que a mesma autora considera pertinente a combinao de

    duas (ou mais) tcnicas em vez da utilizao de uma s.

    No captulo 6 relativo anlise dos filmes voltar a ser abordada esta questo da

    anlise de contedo, tendo em conta que foi a metodologia privilegiada nos

    estudos desenvolvidos para o Projeto Rural Matters, que antecederam este

    trabalho.

    Para compreender melhor a relao entre a imagem real dos lugares e a imagem

    representada no ecr, o passo seguinte da investigao foi a deslocao aos dois

    territrios onde foram rodados os filmes - a aldeia de Dornes, em Ferreira do

    Zzere e Valezim e Torroselo, no concelho de Seia - onde se procedeu ao confronto

    com os territrios.

    Foram trs os objetivos das deslocaes aos territrios: em primeiro lugar a

    recolha de fotografias, sobretudo de lugares e paisagens retratados nas pelculas,

    para posterior comparao entre a realidade e a fico; o segundo propsito da

    visita era a anotao de vrios elementos referentes situao atual daqueles

    territrios, por exemplo, a densidade e caractersticas da populao, se existe

    alguma referncia ao facto de ali terem sido gravados os filmes, a sua

    predisposio para a atividade turstica, entre outros fatores; e por ltimo, tentou-

    se aceder a alguma informao estatstica sobre o volume de turistas que visita

    aquelas freguesias, se possvel antes e depois da rodagem e lanamento dos filmes.

  • 15

    2. OS NOVOS PARADIGMAS DO TURISMO

    2.1 A importncia do setor do Turismo

    Numa altura em que o mundo atravessa graves problemas econmicos, polticos e

    sociais, em que o cenrio se revela desolador para grande parte dos setores da

    economia global, o setor do turismo parece contrariar esta tendncia.

    As ltimas informaes disponibilizadas pelo World Tourism Barometer, da

    Organizao Mundial do Turismo (OMT) do conta dessa atitude positiva e do

    crescimento da atividade turstica a nvel mundial. Em Novembro de 2012 o ttulo

    de destaque era: Turismo internacional mantm a sua fora, apesar da incerteza

    econmica. J no incio do corrente ano, em Janeiro de 2013, pde-se ler O

    turismo internacional manter um crescimento forte em 2013 e os dados mais

    recentes, de Abril de 2013 informam que as receitas do turismo internacional

    cresceram 4% em 2012, todos estes so factos que comprovam o crescimento que

    o setor do turismo est a vivenciar.

    Em Portugal a situao semelhante, a atividade turstica tem evoludo de forma

    positiva e mostra sinais de crescimento, contrariando o clima de crise econmica

    que paira sobre o pas.

    As informaes seguintes constam do ltimo relatrio do Turismo de Portugal,

    com dados referentes ao Turismo em 2011 e que validam o que foi escrito no

    pargrafo anterior.

    O movimento de fluxos tursticos cresceu 8,6% quando comparado com

    2010, contabilizando 12,2 milhes de passageiros desembarcados de voos

    internacionais, nos aeroportos nacionais;

    As receitas tursticas atingiram os 8,1 mil milhes de euros em 2011, que

    corresponde a um aumento de 7,2% face a 2010. Este crescimento

    superior mdia da Regio do Mediterrneo que registou um aumento

    homlogo de 4,9%;

  • 16

    Em 2011, registaram-se 39,4 milhes de dormidas nos estabelecimentos

    hoteleiros, aldeamentos e apartamentos tursticos, que corresponde a um

    crescimento de 5,5% face ao ano anterior;

    Este crescimento, do nmero de dormidas, deveu-se ao aumento de 10,1%

    registado pelo mercado externo. J o mercado interno teve um decrscimo

    no consumo de 2,5%.

    No entanto, apesar de no geral a evoluo do Turismo em Portugal ser positiva,

    quando se analisa mais atentamente o mercado interno e o consumo turstico a

    nvel nacional denota-se uma atitude diferente.

    De acordo com o mesmo documento O Turismo em 2011 o mercado interno

    revelou uma atitude retrativa. Vejamos:

    Registaram-se menos 1,2% das viagens tursticas realizadas por residentes,

    do que no ano de 2010, o que corresponde a 15,2 milhes;

    36,9% da populao residente realizou pelo menos uma viagem turstica,

    menos 0,5% do que em 2010 e menos 3,2% do que em 2009;

    A despesa mdia diria por turista tambm diminuiu, atingindo o valor de

    26,73 em 2011 (34,48 em 2010).

    A OMT, em 2011, publicou um relatrio onde consta a evoluo da atividade

    turstica at ao presente, contando ainda com uma previso at 2030. Ver Figura 2.

    No grfico da figura seguinte podemos observar a variao da atividade turstica a

    nvel mundial e constatar que se ir manter o crescimento, apesar do ritmo

    moderado.

  • 17

    Figura 2 - Valores do turismo no Mundo: previses at 2030

    Fonte: OMT (2011)

    A relevncia do setor turstico para a economia portuguesa evidente, de acordo

    com dados do Banco de Portugal, relativos rubrica Viagens e Turismo da Balana

    de Pagamentos de 2012, apurou-se que as receitas tursticas cresceram de 2011

    para 2012, assim como tem vindo a acontecer em anos anteriores. O crescimento

    foi de 5,6%, o que corresponde a 8606 milhes de euros. (INE, 2013:23)

    No entanto, h outras implicaes do Turismo, que vo para l do setor econmico.

    A nvel social no se pode deixar de ter em conta que o turismo uma atividade

    que gera fluxos de pessoas e necessria uma boa gesto para evitar problemas de

    sobrecarga dos territrios, conflitos entre a populao residente e os turistas e

    ainda, para evitar problemas ambientais.

    Na dimenso poltica, tambm est patente a importncia do setor turstico que

    marca presena nas estratgias de desenvolvimento e promoo dos lugares. Hoje

    em dia difcil encontrar um territrio, independentemente da sua dimenso e

    localizao (urbana ou rural), que no recorra s potencialidades tursticas para se

    promover.

    Constatmos que em pleno perodo de crise econmica e social, o turismo continua

    a revelar valores positivos, o que em parte se deve capacidade de ajustamento

    dos mercados tursticos. Os agentes que gerem os destinos e produtos organizam-

    nos de modo a atrair um pblico cada vez maior.

  • 18

    O turismo j passou por diversas fases, algumas de forte crescimento, outras de

    alguma estagnao, mas o que importa reter que este setor foi capaz de se

    adaptar a todas elas e superar os obstculos.

    Este processo evolutivo do turismo estudado por muitos investigadores, sendo

    que alguns vo mais longe e propem modelos que explicam as mudanas que

    aconteceram e as que devem acontecer para o mercado turstico se manter

    competitivo e interessante para os turistas. No prximo tpico iremos abordar

    alguns destes modelos, propostos nas ltimas dcadas, que exploram as tendncias

    do turismo.

  • 19

    2.2 As tendncias do setor

    2.2.1 O Novo Turismo

    O setor turstico um dos mais competitivos da economia mundial, por isso torna-

    se imperativo para as empresas que trabalham neste setor e para os territrios que

    dependem desta atividade, que se mantenham a par das inovaes e procurem

    manter-se atualizados, em conformidade com os gostos e necessidades dos

    turistas.

    A imagem que um territrio cria para si e na qual aposta para se promover no

    deve ser esttica, desta forma corre o risco de ficar para trs na competio feroz

    em que se encontra o setor turstico. H uma forte necessidade dos espaos se

    reinventarem, diferenciando-se assim dos demais concorrentes.

    No incio da dcada de 1990 (em 1993) Auliana Poon sugeriu um modelo que

    introduziu grandes modificaes na conceo de atividade turstica, existente

    data. O principal trabalho desenvolvido pela autora marcou a distino entre Velho

    e Novo Turismo. O Velho Turismo esteve em vigor entre 1950 (ps 2 Guerra

    Mundial) e a dcada de 80 e era caracterizado pela massificao, estandardizao

    e rigidez dos pacotes de frias, hotis e turistas (POON, 2003).

    J o Novo Turismo, a autora apelidou-o de turismo do futuro, caracterizado pela

    flexibilidade, segmentao e experincias tursticas mais autnticas. (idem,

    ibidem)

    Velho Turista Novo Turista

    Anda em grupo

    Procura o sol

    Segue as massas

    Gosta de se mostrar

    D valor ao TER

    Motivao fuga rotina

    Prefere andar sozinho

    Gosta de viver a Natureza

    Afirmao de individualismo

    Procura diverso

    D valor ao SER

    Motivao autorrealizao

    Figura 3 Velho Turista versus Novo Turista

    Fonte: Adaptado de POON (1993)

  • 20

    Feita a distino entre o Velho e o Novo turista (ver figura 3), importa referir que

    mudanas operaram no setor turstico, que caracterizam a era do Novo Turismo.

    Para a autora h quatro fatores que influenciaram a mudana no paradigma do

    turismo que so:

    Segmentao: deu-se a diviso do mercado turstico e deixou de haver uma

    procura e oferta nicas. Com o mercado turstico segmentado passou a

    haver uma oferta mais diversificada, que abrange vrios pblicos, com

    gostos e necessidades diferentes;

    Flexibilidade: passou a haver flexibilidade a vrios nveis - na organizao;

    na produo e distribuio das viagens; na escolha, reserva, compra e

    pagamento das frias; e no consumo e aproveitamento da experincia das

    frias;

    Integrao diagonal: uma nova estratgia adotada, que engloba a formao

    de alianas e parcerias com empresas tursticas, com o objetivo de melhorar

    e facilitar o acesso dos produtos/servios aos consumidores (turistas);

    Evoluo do turismo para um sistema de criao de riqueza: o

    crescimento do setor do turismo traz inevitavelmente consequncias a nvel

    econmico, muitas vezes positivas. A criao de riqueza para as populaes

    e territrios que vivem do turismo uma realidade.

    Este trabalho, apesar das duas dcadas que decorreram desde o seu

    desenvolvimento at atualidade, ainda hoje utilizado para explicar o

    comportamento, atitudes e escolhas de muitos turistas. Para alguns territrios

    tursticos, apenas agora, est a dar-se a viragem do velho turismo massificado para

    o novo turismo alternativo.

    Contudo, o modelo do Novo Turismo de Poon comea a ser questionado, em

    parte devido ao surgimento de novos paradigmas do turismo.

  • 21

    Ao ritmo a que as sociedades se tm desenvolvido, o papel da evoluo tecnolgica,

    as influncias dos meios de comunicao, as linhas de pensamento que esto em

    vigor, bem como outros fatores que caracterizam a sociedade atual, fazem com que

    hoje em dia a maioria dos turistas se encaixe no segmento do Novo Turista,

    sendo legtimo afirmar que essa conceo, outrora alternativa, hoje se encontra

    massificada.

    Os destinos tursticos, semelhana do que acontece com outros produtos, tm um

    ciclo de vida, que se inicia com a introduo do produto/destino no mercado.

    Na figura 4 podemos visualizar um esquema com o modelo que BUTLER (1980)

    sugeriu, sobre o ciclo de vida de um destino turstico, com as diferentes

    possibilidades de desenvolvimento.

    Figura 4 Evoluo hipottica de um destino turstico

    Fonte: BUTLER (1980:7)

  • 22

    O que se conclui da observao do esquema anterior que todos os destinos

    passam por uma fase de introduo no mercado, que coincide com um baixo valor

    da procura turstica. Passado algum tempo, com a implementao de aes e

    estratgias de promoo territorial o destino vai ganhando pblico ,

    desenvolvendo-se.

    Numa fase posterior do ciclo de evoluo, o territrio entra num perodo de

    estagnao e a diferena entre os vrios lugares tursticos reside neste ponto. A

    partir daqui tem que haver alguma proatividade por parte dos agentes locais, que

    vai levar ao rejuvenescimento do local. Por outro lado, quando no se toma

    nenhuma atitude que tenha em vista melhorias para o territrio, ir traduzir-se

    numa situao de declnio. No tpico seguinte do documento, este esquema voltar

    a ser alvo de anlise, desta vez recorrendo a um exemplo nacional, sobre o turismo

    de Sol e Mar.

    Nos ltimos anos, outros autores foram desenvolvendo modelos e teorias que

    explicam o comportamento que os turistas esto a adotar. Uma dessas novas

    teorias foi desenvolvida por Greg Richards e est relacionada com o conceito de

    Turismo Criativo (desenvolvido com mais detalhe, em seguida).

    Na figura 5 encontra-se representada, a evoluo dos paradigmas do turismo, nas

    ltimas dcadas, desde a definio de lazer de Dumazedier , passando pelo modelo

    do Novo Turismo de Poon e finalizando com o conceito de Turismo Criativo, de

    Richards.

  • 23

    Figura 5 A emergncia do Turismo Criativo

    Fonte: GONALVES (2008)

    Foi no perodo do ps-II Guerra Mundial, que o Turismo e o Lazer comearam a

    adquirir maior importncia para as sociedades. O tempo para descanso e para

    frias passou a ser uma necessidade e posteriormente um direito adquirido por

    parte dos trabalhadores.

    Na dcada de 70, o francs Joffre Dumazedier sugeriu uma definio de lazer que

    se revelou bastante popular, tanto que ainda hoje tida como referncia.

    DUMAZEDIER (1974) definiu o lazer como sendo o conjunto de ocupaes s

    quais o indivduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, para se

    divertir, se recrear e entreter-se ou ainda para desenvolver a sua formao

    desinteressada, a sua participao social voluntria ou a sua livre capacidade

    criadora, aps livrar-se ou desembaraar-se das suas obrigaes profissionais,

    familiares e sociais.

    Como se pode constatar, atravs da anlise da figura anterior (Figura 5), numa

    primeira etapa do desenvolvimento do turismo e lazer a definio de lazer de

    Dumazedier, serve de mote e mostra que houve um aumento dos consumos

    tursticos e da valorizao do tempo livre. Nesse contexto, entre a dcada de 70 e

    80, o Turismo Cultural foi ganhando destaque.

  • 24

    Porm, na dcada de 90, quando a atividade turstica se encontrava bem

    consolidada e a ganhar cada vez mais importncia no quotidiano dos indivduos,

    surge a diferenciao dos tipos de turistas existentes, sendo irrefutvel o

    contributo de Poon.

    No entanto, tal como j foi referido anteriormente, este modelo tem vindo a perder

    fora e no incio do sculo XXI surge o conceito de Turismo Criativo, que se

    apresenta como uma tendncia do Turismo atual, ainda que no muito divulgada.

  • 25

    2.2.2 Turismo Criativo

    O turismo um setor que necessita de atualizaes constantes, de acordo com as

    tendncias mais recentes e para ir ao encontro das necessidades dos turistas, que

    estando cada vez mais informados, so tambm mais exigentes nos servios e

    produtos que escolhem.

    fcil de identificar, alguns episdios relacionados com a atividade turstica, que

    mostram a necessidade de reinveno desta. Retomando o esquema da figura 4

    (Modelo do ciclo de vida de um destino turstico de BUTLER, 1980) iremos

    exemplificar com o caso do turismo de Sol e Mar. A escolha desta tipologia turstica

    para exemplo, deve-se ao facto de em Portugal este ser o produto turstico com

    maior desenvolvimento e ser uma das imagens de marca do pas.

    No incio do sculo XX, apenas se deslocavam s estncias balneares os indivduos

    que pertenciam a uma classe econmica superior, a uma elite. Esta altura

    corresponde introduo dos destinos balneares no mercado turstico. Ao longo

    do sculo, deu-se o desenvolvimento do produto Sol e Mar e dos destinos que o

    promoviam. A partir da dcada de 1950, a experincia balnear intensificou-se e os

    destinos balneares consolidaram-se, sendo que nos ltimos anos alguns entraram

    em estagnao. Nas estncias balneares em Portugal possvel encontrar as duas

    situaes previstas por BUTLER (1980):

    1) Da fase de estagnao, os destinos evoluem positivamente e rejuvenescem

    (exemplo: Peniche, que associou ao seu territrio o conceito do surf e de

    outras prticas desportivas e que se apelida como Capital da Onda);

    2) H destinos balneares que permanecem presos imagem e qualidades do

    passado. Como no se atualizam entram em declnio (exemplo: Figueira da

    Foz, que outrora foi a Rainha das Praias de Portugal, mas que hoje em dia

    revela caractersticas bastante diferentes das do passado, mas ainda se quer

    fazer valer do ttulo).

  • 26

    Quando o turismo de Sol e Mar se comeou a generalizar, houve uma necessidade

    de criar novos produtos tursticos, que servissem de alternativa, para os que

    procuravam a diferena. Foi ento que se comeou a expandir o Turismo Cultural,

    uma tipologia turstica que pode ser desenvolvida em (quase) todos os territrios e

    que pode ser praticada o ano inteiro, no sendo to afetado pela sazonalidade,

    como acontece com o Turismo Balnear.

    Porm, tal como aconteceu com o Turismo de Sol e Mar, o Turismo Cultural

    desenvolveu-se at atingir uma situao limite, no presente. Para muitos

    territrios, onde este tipo de turismo inicialmente era uma alternativa, hoje

    tambm j se encontra massificado.

    Tendo como ponto de partida esta situao a massificao do Turismo Cultural

    importa referir o que tem vindo a ser desenvolvido para colmatar esta falha. Isto ,

    que alternativa tem vindo a ser elaborada, para continuar a atrair turistas e a faz-

    los voltar a determinados lugares.

    Para muitos territrios a alternativa passa pelo Turismo Criativo , um conceito que

    deriva da combinao entre Turismo e Indstrias Criativas que se define como um

    tipo de turismo que oferece aos turistas/visitantes a oportunidade de estes

    desenvolverem o seu potencial criativo atravs da sua participao em cursos e

    experincias de aprendizagem que so tpicas dos destinos onde estes se

    encontram de frias (RICHARDS, 2001, citado em GONALVES, 2008)

    Antes de explorarmos o conceito de Turismo Criativo em si, importa refletir um

    pouco sobre a situao que levou ao seu surgimento, e que j foi referida

    brevemente, no incio deste tpico.

    O Turismo Cultural est em voga, a nvel nacional, europeu e mundial. So

    inmeros os territrios que recorrem vertente cultural para se promoverem e

    para competirem entre si. Tomemos como exemplo o acontecimento da Capital

    Europeia da Cultura. Todos os anos h imensas cidades europeias que elabora m

    propostas e concorrem, na esperana de ganharem esse ttulo. A partir do

    momento em que so eleitas, pode-se mesmo afirmar que a existncia desse

    territrio nunca mais ser a mesma. D-se incio a uma srie de projetos,

    construes, aes de promoo, sensibilizao e desenvolvimento, que mesmo

  • 27

    depois de terminado o evento, os efeitos positivos do ttulo conquistado continuam

    a fazer-se sentir.

    escala nacional podemos encontrar trs exemplos, o caso da cidade de Lisboa,

    Porto e de Guimares, Capitais Europeias da Cultura em 1994, 2001 e 2012,

    respetivamente.

    O Turismo Cultural contempla o movimento de pessoas a atraes culturais, longe

    dos seus lugares de residncia habituais, com a inteno de adquirir novas

    informaes e experincias que satisfaam as suas necessidades culturais.

    (Projeto ATLAS, in RICHARDS, 1996:24)

    O papel central que este tipo de turismo alcanou na sociedade e no mercado

    turstico mundial irrefutvel, contudo muitos consumidores, cansados de

    encontrar uma reproduo em srie dos mesmos produtos, em diferentes destinos,

    esto procura de alternativas (Fundao Serralves, 2008:32)

    Ainda no documento anterior surge uma referncia pertinente, sobre a situao

    que agora se vive em muitas cidades culturais. A criao de marcas como o

    Guggenheim ou a Capital Europeia da Cultura tm a vantagem da familiaridade

    com o consumidor, mas ao tornarem-se selos culturais estes cones veem

    reduzido o seu carcter distintivo . (idem, ibidem:33)

    Esta rplica de infraestruturas culturais, em vrias cidades, tem sido alvo de

    debate por parte de alguns autores RICHARDS (1996); MATHUR (2005);

    RICHARDS & WILSON (2007: 3); WARD (2002) que utilizam a expresso

    McGuggenheim Effect, como referncia a esta massificao cultural.

  • 28

    Figura 6,7, 8 e 9 (de cima para baixo) Museu Guggenheim em Nova Iorque, Veneza,

    Bilbao e Abu Dhabi.

    Fonte: www.guggenheim.org

  • 29

    Ainda sobre a posio decadente da cultura face criatividade, RICHARDS &

    WILSON (2007) escreveram que a cultura vista como sendo relativamente

    esttica e geralmente ancorada ao passado. necessrio criatividade para injetar

    dinamismo e soltar o potencial das pessoas e lugares. Acrescentam ainda que

    muitas da polticas e estratgias de desenvolvimento esto a mudar o seu foco, das

    indstrias culturais, para as indstrias criativas.

    No trabalho As comunidades criativas, o Turismo e a Cultura, GONALVES (2008)

    enumerou uma srie de vantagens que esto associadas a este tipo de experi ncia

    turstica criativa: a criatividade possui maior potencial para criar valor pela sua

    escassez; a criatividade permite aos destinos inovar e conceber novos produtos

    com maior rapidez; a criatividade um processo, pelo que, os recursos criativos

    so mais sustentveis e infinitamente renovveis; a criatividade mvel, podendo

    inclusive ser produzida nalguns casos, de forma virtual.

    Outra expert nesta temtica Catriona Campbell (2010), seguidora dos ideais de

    Richards, que define Turismo Criativo como o tipo de turismo que oferece aos

    visitantes uma procura criativa (que inc lui artes, artesanato e workshops de

    culinria), com a oportunidade de permanecer em alojamentos de alta qualidade e

    de se relacionar com a populao local.

    CAMPBELL (2010) refere que o Turismo Criativo no um fenmeno

    completamente novo, o que tem acontecido o aumento da sua popularidade,

    havendo cada vez mais pessoas procura de experincias autnticas.

    Sobre as origens do Turismo Criativo, a autora menciona que as suas razes esto

    em Portugal, quando em meados da dcada de 90, a Comisso Europeia criou o

    projeto Eurotex1 para ajudar os artesos portugueses a distinguir os seus trabalhos

    manuais, daqueles que eram produzidos em massa.

    1 O projeto Eurotex surgiu de uma candidatura ao Programa Cultura 2007 -2013, promovido pela Comisso Europeia, que integra 4 pases europeus Portugal, Espanha, Frana e Itlia. Este projeto pretende contribuir para o renascer da indstria txtil na Europa, permitindo a circulao de jovens criadores e dos seus projetos. O Eurotex baseia-se na construo de uma rede interdisciplinar que promove a cooperao entre operadores culturais e os territrios em questo, enaltecendo a indstria txtil na Europa. (www.museudaindustriatextil.com)

  • 30

    Esta primeira experincia criativa fez com que vrios visitantes/turistas entrassem

    em contacto com os artesos, observassem o seu trabalho e ainda permitiu a sua

    participao na produo de txteis.

    Pelo mundo fora vo surgindo territrios que aliam sua imagem e sua

    estratgia de promoo turstica o Turismo Criativo. No caso portugus a regio do

    Norte a que mais tem investido nessa tipologia, porm uma experincia que

    pode (e deve ser alargada) ao restante territrio.

    O trabalho desenvolvido pela Fundao Serralves (2008), sobre o Desenvolvimento

    de um cluster de indstrias criativas na regio Norte e o trabalho de MOTA et al

    (2010), sobre Ponte de Lima, so dois dos exemplos desta aposta na integrao do

    Turismo Criativo nas estratgias de desenvolvimento local, em Portugal.

    Numa perspetiva mais global, destaca-se a Nova Zelndia como sendo o pas que

    esteve (e ainda est) na vanguarda do Turismo Criativo. Em 2003, Greg Richards e

    Crispin Raymond criaram uma estrutura inteiramente dedicada a este tipo de

    turismo, naquele pas. Das vrias experincias que ali se podem vivenciar, uma das

    mais populares a escultura em ossos uma tcnica praticada pela tribo Maori,

    que pode ser realizada por turistas, que fazem as suas prprias esculturas,

    podendo depois traz-las consigo.

    O conceito que acabmos de desenvolver turismo criativo deriva de um outro, o

    de indstrias criativas, que ser explorado no tpico seguinte. Este tem sido alvo

    de grande interesse por parte de vrios autores e organizaes, como se ir

    verificar.

    A importncia que as indstrias criativas assumem no dia-a-dia das sociedades

    contemporneas tal, que h pases que criam entidades dedicadas gesto da

    atividade e do impacto destas indstrias. Neste documento o destaque vai para o

    cinema e para a influncia que este tem na construo da imagem dos lugares e

    consequentemente, nos impactos dessa imagem, na procura turstica dos

    territrios.

  • 31

    3. IMAGEM, INDSTRIAS CRIATIVAS E REPRESENTAES SOCIAIS

    3.1 Indstrias criativas o que so?

    O conceito de indstrias criativas relativamente recente. Ter sido utilizado pela

    primeira vez na Austrlia, no incio da dcada de 1990 (em 1994), no relatrio

    Creative Nation. O conceito foi utilizado para classificar a ligao entre as

    atividades do comrcio cultural e os novos meios de comunicao emergentes,

    resultantes das mudanas tecnolgicas (COUTO, 2010:4).

    Foi no entanto em Inglaterra que este conceito ganhou maior destaque e

    desenvolvimento. A importncia deste setor para o pas tal que foi criado um

    Ministrio que gere as Indstrias Criativas - Department for Culture, Media and

    Sport (DCMS). Em 1998, esta entidade identificou treze indstrias criativas:

    1. Antiguidades,

    2. Arquitetura;

    3. Artesanato;

    4. Artes performativas;

    5. Cinema;

    6. Design;

    7. Edio

    8. Moda;

    9. Msica;

    10. Publicidade;

    11. Software;

    12. Software de entretenimento;

    13. Televiso e rdio.

    Ainda de acordo com este organismo (DCMS, 1997), a definio de indstrias

    criativas passa pelas atividades que tm a sua origem na criatividade individual,

    habilidade e talento e com potencial de criao de emprego e riqueza, atravs da

    gerao e explorao da propriedade intelectual.

  • 32

    No presente, as treze categorias indicadas mantm-se, mas com pequenas

    alteraes nas suas designaes, tornando-as mais abrangentes (DCMS, 2001).

    Definio criada em 1997 Definio aps 2001

    Antiguidades Mercado das artes e antiguidades

    Cinema Filmes e vdeos

    Moda Design de moda

    Software Software e servios de informtica

    Software de entretenimento Software de lazer interativo

    Tabela 1 Alteraes verificadas na nomenclatura de alguns setores das indstrias criativas

    Fonte: Adaptado de DCMS

    Nos ltimos anos tm surgido vrios modelos que exploram e acrescentam

    informao temtica das indstrias criativas. Um desses modelos j foi abordado

    em cima, conhecido como o Modelo DCMS. De seguida, encontra-se uma

    apresentao sumria de outros modelos relacionados com as indstrias criativas.

    O Symbolic texts model consiste na diviso das indstrias criativas em trs: Core

    Cultural Industries, Pheripheral Cultural Industries e Borderline Cultural Industries.

    Tipos de indstrias criativas Subsetores das indstrias criativas

    Core Cultural Industries

    Publicidade, Msica, Edio, Televiso e

    Rdio, Jogos de vdeo, Software, Internet,

    Cinema

    Pheripheral Cultural Industries Artes criativas

    Borderline Cultural Industries Moda, Desporto, Eletrnica de consumo

    Tabela 2 Tipologias e respetivas indstrias criativas do modelo Symbolic Texts

    Fonte: Adaptado de ONU (2008) e COUTO (2010)

  • 33

    O modelo dos crculos concntricos (Concentric circles model) foi concebido por

    David Throsby, em 2001. Baseia-se na premissa de que o valor cultural dos bens

    culturais, a caracterstica mais distintiva das indstrias criativas (ONU, 2008).

    Este modelo contempla quatro grupos: Core Creative Arts; Other Core Cultural

    Industries; Wider Cultural Industries; e Related Industries. Ver figura 10.

    Figura 10 Modelo dos crculos concntricos de David Throsby

    Fonte: Adaptado de THROSBY (2007) e Fundao Serralves (2008)

    No crculo mais pequeno (Core Creative arts) encontram-se atividades como a

    literatura, msica, artes performativas e artes visuais. Em Other Core Cultural

    Industries encontramos o Cinema, Museus e Livrarias. Wider Cultural Industries

    compreende os servios de patrimnio, edio, gravao de discos, televiso e

    rdio e vdeo e jogos de computador. O crculo exterior, das Related Industries

    insere a Publicidade, Arquitetura, Design e Moda.

    Na lgica de COUTO (2010:5) as atividades que se encontram no centro so as

    indstrias que se pronunciam de forma mais marcante na construo de valor

    cultural.

  • 34

    O modelo World Intellectual Property Organization (WIPO) baseado nas

    indstrias que esto direta ou indiretamente relacionadas na criao, manufatura,

    produo, difuso e distribuio de trabalhos protegidos com direitos de autor

    (WIPO, 2003).

    A estrutura deste modelo conta com trs grupos de indstrias criativas - Core

    Copyright Industries, Parcial Copyrights Industries, e Independent Copyright

    Industries, onde se faz a distino entre as indstrias que produzem obras de

    propriedade intelectual e aquelas cujo negcio centrado na distribuio de bens e

    servios (ONU, 2008).

    Core Copywright

    Industries

    Interdependent

    Copywright Industries

    Partial Copywright

    Industries

    Publicidade;

    Filmes e Vdeo;

    Msica;

    Artes Performativas;

    Edio;

    Software;

    Televiso e udio;

    Arte grfica e visual

    Eletrnica para consumir;

    Instrumentos musicais;

    Papel;

    Fotocopiadoras e

    equipamento fotogrfico

    Arquitetura

    Roupa e Calado

    Design

    Moda

    Objetos para casa

    Brinquedos

    Tabela 3 - Modelo WIPO das indstrias criativas

    Fonte: Adaptado de THROSBY (2007)

    Os quatro modelos apresentados so os mais comuns no meio acadmico, no

    entanto deve-se ter em conta que h outros modelos que abordam a questo das

    indstrias criativas, por exemplo o IUS Trade-related Model e o American for the

    Arts Model.

    A relevncia das indstrias criativas para as sociedades atuais imensurvel, tanto

    para indivduos como para empresas. Mas neste estudo o que importa destacar a

    sua influncia junto das populaes.

  • 35

    No por acaso que muitas das estratgias de promoo de produtos, servios e

    destinos (como se ir ver mais frente no documento) recorrem a indstrias

    criativas, de forma a atingirem mais eficazmente o seu pblico -alvo.

    A maneira como estas indstrias atuam, tem na base o fenmeno das

    representaes sociais. Utilizando como exemplo o caso do cinema, a imagem do

    territrio que transmitida pode no corresponder realidade, porm os

    espetadores vo ser influenciados e vo criar nas suas mentes uma representao

    daquele espao, com base na imagem que veem no ecr.

    por isso que o estudo do papel do cinema enquanto criador da imagem dos

    lugares to relevante para o setor do turismo, porque se a imagem transmitida

    for negativa, esse territrio corre o risco de uma diminuio na procura turstica.

  • 36

    3.2. Representaes sociais: definio e evoluo do conceito

    Apesar de hoje em dia, o conceito de representao social atravessar as cincias

    humanas e no ser patrimnio de nenhuma rea em particular (ARRUDA, 2002) a

    sua origem est vinculada Sociologia.

    Foi o socilogo francs mile Durkheim, considerado um dos pais da Sociologia,

    que deu o primeiro contributo para este conceito. No entanto, a obra de referncia,

    mais conhecida e estudada relacionada com este tema da autoria de Serge

    Moscovici e data de 1961. Este autor responsvel pelo grande desenvolvimento

    da disciplina da Psicologia Social e um dos seus maiores contributos foi com o

    desenvolvimento da teoria das representaes sociais.

    Na sua obra La psychanalyse, son image, son public, MOSCOVICI (1961) estudou de

    que forma alguns meios de comunicao franceses (media) abordavam a questo

    da psicanlise. Para o seu estudo, o autor analisou a revista Elle, um jornal cristo

    (La Croix) e um jornal comunista (LHumanit).

    OLIVEIRA (2004:181) acerca do estudo de Moscovici sintetiza as concluses em

    trs pontos principais:

    1) Entre a definio cientfica de psicanlise e o entendimento que a sociedade

    francesa tinha do conceito, existia um intermedirio de peso, o fenmeno

    das representaes sociais;

    2) As representaes sociais no so as mesmas para todos os membros da

    sociedade, dependem do conhecimento de senso comum e do contexto

    sociocultural em que os indivduos se inserem;

    3) O processo de representao segue uma sequncia lgica, de duas etapas:

    primeiro torna familiares objetos desconhecidos, por meio de um

    mecanismo chamado ancoragem e depois, atravs da objetivao os

    indivduos (ou grupos) acoplam imagens reais e concretas, existentes no

    seu quotidiano, aos novos esquemas conceituais que se apresentam.

  • 37

    Ao longo da sua vida, Serge Moscovici aprimorou a definio de representaes

    sociais, fazendo pequenos acrescentos e retificaes:

    Representao social um sistema de valores, ideias e prticas com duas funes:

    primeiro, estabelecer uma ordem que permita aos indivduos orientar-se no seu

    mundo material e social e domin-lo; e em segundo lugar permitir que haja

    comunicao entre membros de uma comunidade, providenciando-lhes um cdigo

    para trocas sociais e um cdigo para nomear e classificar sem ambiguidades, os

    vrios aspetos do seu mundo e da sua histria de grupo (MOSCOVICI, 1973 citado

    por HIJER, 2011:5)

    Representaes sociais [...] Esto relacionadas com os contedos do quotidiano, que

    servem de suporte s ideias que do coerncia s nossas crenas religiosas, ideais

    polticos e s conexes que criamos to espontaneamente como respiramos. Elas

    tornam possvel classificar pessoas e objetos, comparar e explicar comportamentos e

    objetiv-los como parte do nosso ambiente social. Enquanto as representaes esto,

    frequentemente, alojadas nas mentes dos homens e das mulheres, elas podem ser

    encontradas "no mundo" e como tal, serem examinadas separadamente.

    (MOSCOVICI, 1988:214 citado por HIJER, 2011:5)

    [] a partir de um ponto de vista dinmico, as representaes sociais aparecem como uma rede de ideias, metforas e imagens, mais ou menos agarradas entre si.

    (MOSCOVICI, 2000: 153 citado por HIJER, 2011:5)

    Ainda devido ao contributo de MOSCOVICI (1988) para estas questes, possvel

    distinguir trs tipologias de representaes hegemnicas, emancipadas e

    polmicas.

    O primeiro tipo de representaes, as hegemnicas so aquelas que a maioria dos

    membros de um grupo estruturado (exemplo: pas, cidade, partido poltico)

    compartilha. So uniformes e coercitivas, refletindo a homogeneidade e a

    estabilidade das representaes coletivas (MORAES, 2003:35). Dando um

    exemplo aplicado, vejamos o caso da conceo agrcola do rural. A maioria da

    populao portuguesa associa o territrio rural a um ambiente onde a atividade

    agrcola domina. Esta pode encarada como uma representao hegemnica sobre o

    rural.

    O segundo tipo de representaes so as emancipadas, que esto relacionadas com

    subgrupos que criam as suas prprias verses e que revelam um certo grau de

  • 38

    autonomia relativamente aos outros segmentos da sociedade (MOSCOVICI, 1988

    citado por MORAES, 2003 e HIJER, 2011). Os indivduos que vo deixando para

    trs a conceo agrcola e comeam a associar o meio rural a prticas tursticas e

    criativas e o veem como um espao de negcios podem ser os subgrupos de que os

    autores atrs mencionados referem, concebendo e difundindo representaes

    emancipadas.

    Por ltimo, as representaes polmicas esto relacionadas com conflitos sociais e

    problemas entre grupos e a sociedade enquanto um todo no compartilha dessas

    representaes. Este tipo de representaes devem ser vistas no contexto de uma

    oposio ou luta entre grupos (MORAES, 2003:35) Para ilustrar este tipo de

    representaes com recurso a intervenientes do meio rural, vejamos o exemplo

    emblemtico dos agricultores e caadores. A luta entre estes dois grupos no

    recente e frequentemente vem tona. Por um lado esto os donos das terras que

    querem manter longe das suas colheitas os caadores e as espcies cinegticas. Por

    outro lado os caadores, que querem levar a cabo a sua prtica de lazer, e para tal

    tm que atravessar terrenos e perseguir as espcies. Este conflito tem inerentes

    duas representaes diferentes sobre um mesmo assunto. Decerto que a opinio

    de um agricultor sobre a caa diferente da de um caador. No entanto as suas

    opinies e representaes pouco influenciam a representao geral que a

    populao tem sobre o rural e a caa.

    Para finalizar este captulo das representaes sociais e retomando a perspetiva

    turstica, deve-se ter em conta que na elaborao de estratgias de promoo

    turstica, um dos aspetos que merece maior destaque a imagem que est

    associada a esse lugar, que por sua vez chega aos turistas. Essa imagem deve ser

    forte e positiva, chamando ateno dos indivduos fazendo-os investir numa

    visita ao local.

    Com a competitividade acrrima existente no setor turstico cada vez mais

    importante que os agentes e organizaes responsveis pelo marketing territorial

    invistam em estratgias diferentes para promover os destinos. aqui que se

    encaixa o papel das indstrias criativas, que com o seu largo poder de difuso,

    abrangem pblicos mais dispersos.

  • 39

    No se poderia deixar de abordar a questo das representaes sociais neste

    trabalho, uma vez que o processo de criao uma determinada imagem, de um

    objeto, pessoa ou lugar, e a coloca na mente de um indivduo, ou grupo de

    indivduos. Recorremos novamente ao cinema para exemplificar esta ideia: os

    indivduos ao verem filmes sobre um determinado territrio, mesmo sem nunca l

    terem estado, criam na sua mente uma imagem daquele espao, de acordo com o

    que retiram dos filmes. Essa imagem que passa nos ecrs pode corresponder

    realidade, mas pode tambm ser uma iluso, que s se verifica se o indivduo

    passar de espetador a turista.

    este um dos poderes do cinema nos territrios, que por ser to importante, deve

    ser explorado e aproveitado, mas com os devidos cuidados.

  • 40

    3.3 Marketing territorial e a imagem dos lugares

    O conceito de Marketing vrias vezes utilizado incorretamente, j que muitas

    vezes o marketing associado venda de produtos e/ou servios. Esta uma ideia

    errnea, que torna o conceito demasiado redutor.

    O marketing ocorre desde a conceo do produto, continuando depois de o mesmo

    ser vendido, envolvendo a adequada gesto da composio da procura e cobrindo

    tambm o marketing das organizaes, das pessoas, dos locais e das ideias.

    (RUIVO, 2006 e KASTENHOLZ, 2002)

    Para a presente investigao, que aborda questes como a imagem e promoo de

    territrios, entramos no domnio do marketing territorial.

    Importa desde j esclarecer que o marketing tradicional e o marketing territorial,

    apesar de terem alguns pontos em comum, no so sinnimo s, uma vez que a

    promoo de um destino mais exigente e requer outro tipo de atenes, que a

    promoo de um objeto/servio no exige. RAINISTO (2003:33) refora esta ideia

    ao afirmar que os territrios no so produtos ou servios normais, mas um

    pacote de bens, servios e percees dos consumidores e todas as suas

    combinaes.

    De acordo com a sistematizao de RUIVO (2006: 23), as principais funes do

    marketing territorial so:

    Atrao de investidores, residentes e visitantes;

    Valorizao da identidade e das especificidades locais;

    Promoo de desenvolvimento socioeconmico equilibrado e sustentvel;

    Identificao, pela diferenciao, de uma vantagem competitiva chave para

    a sustentabilidade econmica a longo prazo.

    Em suma, o marketing territorial tem que ver com a criao e divulgao de

    imagens fortes e positivas dos territrios em questo, tal como explica

    FERNANDES (2008:9) o marketing territorial procura a criao de imagens

    positivas de cidades, regies ou pases, recorrendo a tcnicas que reduzam os

  • 41

    receios e os preconceitos e amplifiquem as qualidades dos lugares que se

    pretendem promover.

    Uma vez definido o conceito, vamos explicar como decorre o processo de criao

    de uma estratgia de marketing territorial. RAINISTO (2003:36) indica que em

    primeiro lugar, deve ser feita uma anlise estratgica ao territrio, tendo em conta

    a misso e a viso delineadas previamente para aquele espao. A melhor forma de

    fazer esta anlise atravs da metodologia SWOT, onde so identificadas as foras,

    fraquezas, oportunidades e ameaas daquele territrio. S depois da anlise que

    se pode partir para a criao de uma estratgia.

    CO

    NSU

    MID

    OR

    ES

    POPULAES

    (necessidades | desejos | procura)

    Segmentao

    CLIENTE

    Escolhas estratgicas

    ME

    RC

    AD

    O

    ESTRATGIAS DE MARKETING

    Medidas de Marketing

    Promocionais Espaciais/Funcionais Organizacionais

    (ex: criao de imagens) (ex: estruturas de design) (ex: prticas internas)

    PR

    OC

    ED

    IME

    NT

    OS

    Produto | Estratgias de organizao

    PRODUTO

    Comodificao

    RECURSOS

    Figura 11 Elementos que fazem parte do processo de marketing territorial

    Fonte: Adaptado de RAINISTO (2003)

  • 42

    O esquema da pgina anterior (figura 11) contm os vrios elementos que devem

    ser tidos em conta no processo de marketing territorial - consumidores, mercado e

    procedimentos envolvidos - bem como as aes estratgicas que devem ser

    levadas a cabo em cada fase do processo de marketing.

    H um aspeto que ainda no foi mencionado, mas que est intimamente

    relacionado com estas questes do marketing territorial - o Place Branding (a

    marca dos territrios).

    Este fenmeno tem despoletado interesse em vrios autores - KAVARATZIS &

    ASHWORTH (2005); RAINISTO (2003); KAVARATZIS (2007), entre outros e

    apresentado como uma estratgia adotada por alguns territrios que assim

    conseguem associar o seu espao fsico a uma marca (imagens, conceitos, ideias)

    tornando-o mais popular e reconhecido.

    Para ilustrar este fenmeno, que vai surgindo com cada vez mais frequncia no

    territrio nacional, ficam os exemplos de duas regies portuguesas, a primeira

    mais urbana e a segunda mais rural, que j apostaram na criao de uma marca

    territorial

    A cidade do Porto, com a criao da marca Oportonity City, pensada e criada para

    tornar a cidade mais atrativa e competitiva no setor do turismo, a nvel

    internacional. Esta marca inspirada nas dinmicas tpicas de uma cidade que est

    em constante mutao e que potencia oportunidades dirias para as mais diversas

    reas e interesses. (GOMES, 2012)

    Figura 12 Marca territorial da cidade do Porto

    Fonte: GOMES, 2012

  • 43

    No mesmo trabalho, GOMES (2012) referiu outra marca territorial nacional, desta

    feita na regio alentejana Alentejo, tempo para ser feliz. A nova imagem,

    acompanhada de um posicionamento moderno e atrativo, pretendem elevar a

    regio do Alentejo categoria de destino de eleio dos mais diversos pblicos,

    quer a nvel nacional, quer internacional. O slogan tem implcita uma promessa

    para quem for ao Alentejo ali ir encontrar tranquilidade e uma multiplicidade

    de contrastes e emoes, que proporciona momentos de felicidade (idem, ibidem).

    Figura 13 O novo branding da regio do Alentejo

    Fonte: GOMES (2012)

    Ainda sobre os tipos de marcas territoriais (place branding), KAVARATZIS &

    ASHWORTH (2005:511) distinguem trs tipos:

    1. Nomenclatura geogrfica (geographical nomenclature) acontece quando

    um produto tem a designao de uma localizao geogrfica. O exemplo

    mais recorrente deste tipo de marca territorial o do Champagne (local de

    produo de um vinho, que d nome ao produto tambm).

    Os autores referem que o marketing territorial no consiste na utilizao

    das qualidades de um lugar para promover um produto local, nos mercados

    nacionais e internacionais. Por outro lado, faz parte do marketing territorial

    usar as qualidades dos produtos locais para atribuir significados e

    associaes aos lugares em questo.

    2. Marca partilhada pelo produto e pelo local (Product-place co-branding):

    Este tipo de estratgia consiste na associao de um produto a um

  • 44

    determinado lugar, em que se acredita que as caractersticas desse lugar

    sejam benficas para a imagem do produto. So exemplos deste tipo de

    estratgias o caso de fish and chips, no Reino Unido e os relgios suos,

    para a Sua).

    3. Marca como um elemento de gesto do lugar (Branding as a place

    management): a gesto territorial depende muito da maneira como os

    utilizadores/consumidores veem o territrio e das mudanas que nele

    ocorrem.

    Mas como que se processa a criao de uma imagem turstica de um lugar? Como

    que os turistas antes de escolherem e partirem para um determinado lugar

    concebem ideias sobre esse mesmo espao? E de que forma que o cinema e

    outras indstrias criativas influenciam esta deciso? A resposta para estas

    questes comeou a ser dada em tpicos anteriores, na abordagem s indstrias

    criativas e s representaes sociais, mas em seguida tenta -se aprofundar um

    pouco mais esta questo.

    consensual para vrios autores a existncia de dois tipos de imagem turstica dos

    lugares: a imagem orgnica e a imagem induzida. (ASHWORTH & GOODALL, 1988;

    BORDAS & RUBIO, 1993; COOPER et al, 1993; WAITT, 1996; citados em

    RODRIGUZ et al, 2011).

    A imagem orgnica forma-se a partir da informao transmitida por fontes que no

    esto diretamente relacionadas com a promoo do destino. A construo deste

    tipo de imagem tem por base conselhos de amigos, familiares e conhecidos, atravs

    do fenmeno conhecido como word of mouth e ainda, pela informao que

    disponibilizada nos meios de comunicao.

    A imagem induzida, por outro lado, aquela que resulta do trabalho das entidades

    tursticas (pblicas e privadas) que trabalham na promoo dos destinos e que

    querem induzir os turistas a visitar as respetivas reas.

    H ainda outros autores (ECHTNER & RITCHIE,1991; FAKEYE & CROMPTON,1991;

    GUNN,1988; SANCHZ & SANZ, 2003 citados por RODRGUEZ et al, 2011) que

  • 45

    pressupem a existncia de um terceiro tipo de imagem, a imagem complexa,

    resultante da visita real ao destino.

    A maioria dos autores supracitados considera que o fenmeno da formao da

    imagem turstica de um lugar um processo evolutivo, iniciado na imagem

    orgnica, passando para a imagem induzida e que culmina na imagem complexa.

    Figura 14 O processo de formao da imagem turstica

    Fonte: Adaptado de RODRGUEZ et al (2011)

    A informao que os turistas consideram mais fidedigna aquela que transmitida

    atravs de conversas informais com familiares, amigos e conhecidos, uma vez que

    estes transmitem a sua opinio acerca dos destinos, sem as intenes de venda,

    inerentes aos promotores dos destinos. E a par desta fonte de informao credvel,

    h uma outra que referida que remete para os meios de comunicao e para as

    indstrias criativas, onde se insere o cinema.

    Imagem Orgnica Informao adquirida passivamente, atravs

    dos media ou conversas informais

    Imagem Complexa

    Procura ativa de informao (fontes

    promocionais e no promocionais)

    Visita ao destino

    Imagem Induzida

  • 46

    4. CINEMA E TURISMO QUE RELAO?

    4.1 Cinema e a representao dos lugares

    A imagem que cada territrio cria e transmite para o exterior um tema muito

    recorrente na investigao em Turismo. Contudo, a competio tenaz que

    caracteriza o setor e a multiplicidade da oferta existente levam a que os territrios

    adotem medidas que se diferenciem das praticadas pela maioria dos destinos.

    Tendo em conta os temas desta investigao e os seus objetivos principais, importa

    estabelecer uma relao entre as representaes dos territrios (rurais),

    difundidas por uma indstria criativa em particular, o cinema, e o impacto turstico

    que estas provocam, nos respetivos territrios.

    H diversos estudos sobre a influncia da atividade turstica nos territrios, que

    identificam as vantagens e desvantagens, da realizao de filmes para os locais que

    servem de cenrio. Para esta investigao, fez-se o levantamento de estudos que

    evidenciam o papel que o cinema desempenhou na criao da imagem turstica dos

    territrios que surgem nos filmes.

    Autor (Ano) Filme (Realizador, Ano) Objetivos do estudo

    GUNDLE (2002) La Dolce Vita (Federico

    Fellini, 1960)

    De que forma o filme, transformou a imagem da

    cidade de Roma

    KIM & RICHARDSON (2003)

    Before Sunrise (Richard Linklater, 1995)

    Mostrar que o filme afetou significativamente

    a imagem de alguns componentes do destino

    Viena, na ustria

    FROST (2004) Vrios filmes do tipo

    Western

    De que forma, a rodagem de filmes do tipo western, modificou o lugar de Lone

    Pine (Califrnia)

  • 47

    MERCILLE (2005) 7 Years in Tibete (Jean-

    Jacques Annaud, 1997)

    Examinar o impacto das

    representaes inerentes

    ao filme (e outros media),

    no destino Tibete.

    LPEZ & OSCAR (2008) Todo sobre mi madre

    (Pedro Almodvar, 1999)

    Analisaram a imagem da cidade de Barcelona, transmitida no filme

    FERNANDES (2009) O Fiel Jardineiro

    (Fernando Meirelles, 2005)

    Analisar as imagens e percees do continente

    africano, transmitidas

    pelo filme

    KRAAIJENZANK (2009) Lord of the rings Trilogy

    (Peter Jackson, 2001,

    2002, 2003)

    Examinar como que a imagem do destino foi afetada pelos filmes e como que o nvel de

    autenticidade do destino foi afetado.

    RODRGUEZ et al (2011) Vicky, Cristina, Barcelona

    (Woody Allen, 2008);

    Estudaram as principais imagens apreendidas

    pelos cinfilos, sobre a cidade de Barcelona, aps

    a visualizao do filme

    Tabela 4 - Estudos sobre o papel do cinema na criao da imagem turstica dos territrios

    Fonte: Prpria

    Alguns investigadores, nomeadamente os que se encontram referidos na tabela

    anterior, comprovaram que a imagem de um destino, transmitida atravs de um

    filme, uma estratgia muito poderosa no que diz respeito criao da imagem

    turstica do territrio. Entramos uma vez mais, na influncia que o cinema exerce

    na promoo dos lugares e na criao de imagens dos mesmos. O caso mais

    emblemtico que ilustra esta situao o da Nova Zelndia, que um destino de

    turismo flmico por excelncia e que serve de exemplo em vrios tpicos desta

    dissertao.

  • 48

    Dos vrios estudos analisados, o desenvolvido por MERCILLE (2005) sobre o

    Tibete um dos mais pertinentes e que se ajusta s questes que tentamos

    investigar neste trabalho. O autor estudou o Tibete e focou-se na imagem que o

    destino transmite para o exterior, nas representaes que os turistas tm do lugar

    antes de o visitarem, na confirmao ou negao das perspetivas dos visitantes

    aps a visita ao local e ainda, na influncia que os meios de comunicao tm na

    construo das representaes daquele espao.

    Eis algumas concluses do estudo de MERCILLE (2005) que revelam a importncia

    do cinema, para este territrio em questo: quarenta e trs porcento (43%) dos

    inquiridos viram o filme Sete anos no Tibete (1997) antes de visitar o pas; a

    segunda ferramenta mais consultada foi o guia da Lonely Planet sobre o pas e em

    terceiro, ficou outro filme Kundun (1997), com 11% de consultas. Verificou-se que

    por diversas vezes as representaes que os turistas tinham sobre o Tibete, foram

    defraudadas depois da verificao da imagem real.

    Conclui-se portanto que, no caso do Tibete, h imagens transmitidas em filmes que

    os turistas associam quele espao, mas que no correspondem realidade. Por

    outro lado, destaca-se o papel do cinema enquanto promotor turstico, uma vez

    que a maioria dos turistas do Tibete recorreu visualizao de dois filmes de

    Hollywood para ficar a conhecer melhor aquele pas.

    Este caso aqui em discusso remete-nos para duas questes fulcrais neste estudo:

    a primeira j foi analisada e diz respeito presena do cinema na formao da

    imagem turstica dos territrios, que pode surgir tanto na imagem orgnica como

    na induzida; a segunda questo levantada prende-se com os esteretipos, que

    podem ser positivos (quando a imagem transmitida no filme se revela mais

    positiva do que a realidade) ou negativos (quando o filme revela uma imagem

    negativa de um territrio, que no corresponde realidade). Quanto a esta

    questo, no ponto 4.3 do documento ser retomada.

    No seguimento da ideia do cinema enquanto promotor da imagem dos territrios

    tursticos, transitamos para o tpico seguinte, onde ser abordada a relevncia do

    cinema enquanto ferramenta de marketing territorial.

  • 49

    4.2 Cinema e marketing territorial

    No decurso desta investigao, j tivemos a oportunidade de verificar que o cinema

    uma indstria criativa, das mais prestigiadas e influentes para a sociedade; e por

    outro lado, analismos o conceito de marketing territorial, onde ficou estabelecido

    que muito importante que os territrios faam uma anlise prvia onde conste o

    levantamento dos seus problemas, necessidades e capacidades, para ento depois

    delinear uma estratgia adequada promoo desse mesmo terr itrio.

    Neste ponto do documento, tal como o nome indica, ser feita uma anlise

    relao entre o cinema e o marketing territorial, ou seja, de que forma o cinema

    pode contribuir (ou no) para a promoo dos lugares tursticos.

    Estudos recentes, sobre turismo cinematogrfico e sobre o papel que o cinema

    desempenha na divulgao das imagens dos lugares filmados, tm revelado que h

    vrios territrios que tentam chamar a ateno e fechar negcios com empresas

    produtoras de filmes, oferecendo-lhes regalias e bons preos, em troca da

    promoo da imagem do territrio. HUDSON & RITCHIE (2006), RODRGUEZ et al

    (2011), VAGIONIS & LOUMIOTI (2011), BRIC et al (2013) so apenas alguns dos

    investigadores que revelam nos seus trabalhos o interesse que muitas

    organizaes, encarregues da gesto do marketing territorial (DMOs Destination

    Marketing Organizations) tm nas empresas produtoras de filmes. O Reino Unido

    um bom exemplo, no que diz respeito a estes contratos. O Governo ingls fez um

    convite aos produtores indianos, de Bollywood, para produzirem os seus filmes em

    territrio ingls, mesmo aqueles que tm como cenrio outros pases.

    Na Austrlia, aconteceu uma situao semelhante, mas desta vez a empresa

    produtora de filmes foi a Disney. A Comisso de Turismo da Austrlia firmou um

    contrato com a Disney, para promover o filme Finding Nemo ( procura de Nemo,

    2003) no territrio em questo, tornando-se assim o primeiro destino a promover-

    se com base num filme de animao.

    O investimento que as empresas responsveis pelo marketing territorial fazem em

    publicidade e promoo muito elevado e na maior parte das vezes o resultado

    final so flyers, cartazes, pequenos vdeos promocionais, entre outros elementos j

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    bem conhecidos do pblico em geral. Este tipo de ferramentas de promoo

    encontram-se massificadas e muito vistas, por isso os turistas, que esto expostos a

    centenas de anncios impressos, na rdio e na TV, ficam ainda mais confundidos

    nos seus consumos do dia-a-dia (RILEY, 1994).

    A grande vantagem competitiva dos territrios que se promovem atravs do

    cinema o facto de a sua promoo ser feita atravs de um canal de distribuio

    pouco convencional e o efeito que surte na populao ser mais apelativo e de

    grande alcance.

    Para reforar a ideia anterior, no seu texto sobre Indstrias culturais,

    representaes de lugares e marketing territorial, FERNANDES (2009) afirma que

    no conjunto das indstrias culturais, o cinema merece destaque, uma vez que as

    imagens cinematogrficas tm sido usadas em estratgias formais e diretas de

    marketing territorial mas, mesmo no estando vinculadas a qualquer campanha

    organizada, as obras de cinema (pela sua componente visual) so fortes

    condicionadoras do imaginrio coletivo sobre determinados espaos geogrficos.

    Com isto se conclui que o cinema pode ser um importante aliado do turismo, em

    particular da promoo dos territrios. O debate em torno deste assunto continua

    no tpico seguinte.

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    4.3 Cinema na construo de lugares tursticos - Turismo

    cinematogrfico

    A relao entre turismo e cinema tem-se vindo a estreitar ao longo dos ltimos

    anos. Para alm das caractersticas comuns a estes dois setores implicam

    movimentaes de grandes quantias de dinheiro e de pessoas; so ambas

    indstrias que trabalham na produo e venda de sonhos; e tanto o cinema como

    o turismo esto associados aos momentos livres e de lazer podemos afirmar que

    tem vindo a crescer uma relao de grande afinidade entre ambos, que culmina no

    Turismo Cinematogrfico.

    O Turismo Cinematogrfico um fenmeno que tem vindo a crescer um pouco por

    todo o mundo, sendo exemplos do seu expoente mximo a Nova Zelndia e o Reino

    Unido (curiosamente, so tambm os destinos pioneiros no que diz respeito ao

    Turismo Criativo). Em Portugal, a sua expresso quase nula, mas se for concebida

    uma estratgia que integre os locais onde foram rodados filmes (portugueses e

    estrangeiros) possvel que se consigam alguns resultados.

    Film-induced tourism, media-induced tourism, movie-induced tourism,

    cinematographic tourism, screen tourism, media pilgrim so algumas das

    nomenclaturas utilizadas para denominar o que nos pases lusfonos entendido

    como turismo cinematogrfico, ou cine-turismo. Mas em que consiste este tipo de

    turismo?

    uma nova forma de turismo cultural (REWTRAKUNPHAIBOON,2009), que

    MACIONIS (2004) considera ser uma experincia da ps-modernidade em que um

    turista visita um local, que apareceu previamente em algum tipo de media . Este

    autor acrescenta, que este tipo de experincia personalizada e nica para cada

    indivduo, porque depende da sua interpretao das imagens veiculadas nos

    media.

    Numa perspetiva mai