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ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO PERSONALIDADE, PSICOPATIA E AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia Lisboa 2010

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ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO

PERSONALIDADE, PSICOPATIA E

AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO

ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO

Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Psicologia

Lisboa

2010

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ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO

PERSONALIDADE, PSICOPATIA E

AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO

ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia

Lisboa

2010

Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapias, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha mãe, que nunca desistiu e sucumbiu apesar do sofrimento.

Às minhas amigas que têm um lugar especial no meu coração e que me acompanham para

a eternidade, principalmente aquelas que dão tudo sem pedir algo em troca como a Andreia Ferreira

e a Ana Simões.

Aos que se entregam de corpo e alma às causas solidárias, que lutam pelos caminhos da

acção social e da psicologia e são pouco reconhecidos.

Aos que sofrem no isolamento, e se escondem devido àquilo que a sociedade considera

como anormal, lembrem-se que não estão sozinhos.

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Agradecimentos

Ao Prof. Doutor João Pedro Oliveira, orientador e mentor, agradeço o apoio

incondicional, o voto de confiança que depositou no meu empenho e na minha determinação

neste projecto.

Ao Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém, agradeço a disponibilidade e

o facto de me concederem a autorização para a realização do presente estudo.

À Exma. Sra. Directora do Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém,

agradeço a disponibilidade, a cordialidade com que me recebeu e a forma como também abraçou

este projecto.

Aos Docentes do mesmo estabelecimento de ensino, sem eles não seria possível a

concretização deste estudo.

A todos os funcionários da escola Secundária de Sacavém, agradeço a solicitude, a

forma como me receberam, a orientação e o apoio disponibilizados.

A todos os alunos que aceitaram participar neste projecto, agradeço a simpatia e a sua

colaboração.

À minha família que desde sempre encorajou-me, motivou-me e prestou o apoio

incondicional em todos os campos, tanto emocionais como académicos, essenciais para o

progresso dos meus objectivos.

Aos meus amigos e amigas que eternamente acreditam e nunca desistem de mim,

sempre próximos e sempre à altura da amizade verdadeira.

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Resumo

Esta investigação centra-se no estudo dos factores que facilitam o desenvolvimento das

condutas violentas e delinquentes. Estes factores podem ser intrínsecos, ou seja, respeitantes à

personalidade do indivíduo e à sua predisposição para desenvolver as perturbações associadas à

criminalidade. O estudo destas variáveis permite analisar a forma como os indivíduos actuam em

concordância com a sua personalidade, o que possibilita o delineamento de programas de

prevenção que se adaptem a este tipo de população, com vista a diminuir o risco de conflitos inter-

sociais e os comportamentos disruptivos.

Este estudo analisa a associação entre traços de personalidade, traços psicopáticos e

atributos agressivos. A amostra utilizada é constituída por 123 estudantes do ensino básico e

secundário de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17, 82 e DP

= 1,713), em que 59 estudantes são do sexo masculino e 64 estudantes do sexo feminino). As

medidas utilizadas são: a Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus e Delroy, 1998) para avaliar a

desejabilidade social; o Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez e John, 1998). com o objectivo de

avaliar a personalidade; a Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e

Fitzpatrick, 1995) de forma a avaliar os traços psicopáticos e o Aggression Questionnaire (AQ,

Buss e Perry, 1992) para avaliar as diferentes variantes da agressividade. Os resultados obtidos

demonstram a existência de correspondências positivas e significativas entre a dimensão de

neuroticismo e os atributos agressivos; entre a psicopatia primária e a agressividade física e verbal,

entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade; e entre a psicopatia secundária e o

traço de neuroticismo. Assim como, de correlações negativas entre a psicopatia secundária e o traço

de amabilidade e entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade.

Palavras-chave: Personalidade; Psicopatia; Agressividade; Adolescentes.

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Abstract

This research focuses on the study of factors that facilitate the development of violent

and delinquent behavior. These factors may be intrinsic, in other words, related to the subject

personality and to his predisposition to develop disturbances associated to criminality. The study

of these variables allows an analysis of the way subjects act in accordance to their personality,

which may help in designing preventive programs in order to reduce the risk of inter-social

conflicts and disruptive behavior.

This study analyses the association between personality traits, psychopathic features and

aggressive attributes. The sample is constituted by 123 students of the basic education and high

school systems with and ages between 16 and 22 years old (M= 17, 82 and SD= 1,713), 59 males

and 64 females. The measures used are: the Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus and Delroy,

1998) to evaluate the social desirability; the Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez and John,

1998) with the objective of evaluating personality triats; the Levenson`s Self-Report Psychopathy

Scale (LSRP, Levenson, Kiehl and Fitzpatrick, 1995) to evaluate the psychopathic traits; and the

Aggression Questionnaire (AQ; Buss and Perry, 1992) to assess the different types of

aggressiveness. The results obtained show significant positive correspondences between

neuroticism and aggressive attributes; between primary psychopathy and physical and verbal

aggression, between secondary psychopathy, irritability and hostility; and between secondary

psychopathy and the trait of neuroticism. Negative correlations were found between secondary

psychopathy and the trait of conscientiousness.

Key words: Personality; psychopathy; aggressiveness; teenagers.

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Abreviaturas

AQ- Aggression Questionnaire

BFI - Big Five Inventory

DP – Desvio Padrão

LSRP- Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale

M - Média

PDS- Paulhus Deception Scale

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Índice

Introdução ....................................................................................................................................10

Capítulo 1 - Personalidade..........................................................................................................12

1.1.- Conceito de personalidade ..................................................................................12

1.2.- Teoria dos traços .................................................................................................14

1.3.- Modelo dos cinco factores ..................................................................................16

Capitulo 2 - Psicopatia ................................................................................................................20

2.1.- Descrição clínica .................................................................................................20

2.2. - Psicopatia primária e secundária ........................................................................32

2.3.- O papel da agressividade na psicopatia...............................................................36

Capitulo 4 - Método.....................................................................................................................46

4.1. - Objectivo e hipóteses…………………………………………………………..46

4.2.- Descrição da amostra ..........................................................................................48

4.3.- Descrição dos instrumentos.................................................................................49

4.3.1.- Questionário sócio-demográfico………………………………………….....49

4.3.2.- Paulhus deception scale (PDS)……………………………………………. .49

4.3.3.- Big Five inventory (BFI)……………………………..……………………..50

4.3.4.- Levenson’s self-report psychopathy scale (LSRP)………………………….52

4.3.5.- Aggression questionnaire (AQ)……………………………………………..53

4.4.- Procedimento…………………………………………………………………...54

4.5.- Resultados ...........................................................................................................55

4.6.-Discussão dos resultados......................................................................................67

Conclusão ..................................................................................................................................75

Bibliografia...................................................................................................................................78

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Anexos……………………………………..……………………………………………………. 87

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus

opostos………………………………………………………………………………….19

Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider

(1968) e as suas principais características ……………………………………………..22

Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas……………………………………………… 49

Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas……………………………….56

Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões da personalidade, da

desejabilidade social, da psicopatia e da agressividade ………………………………..58

Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de

desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade ………………………………..59

Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos

sem problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social,

de psicopatia e de agressividade……………………………………………………….61

Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias

psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade,

de desejabilidade social, de psicopatia e de

agressividade………………………………………………………………………… ..63

Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos

agressivos e traços psicopáticos……………………………………………………… ..65

Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos

agressivos……………………………………………………………………………….66

Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos

…………………………………………………….……………………………………67

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Introdução

A pertinência deste estudo prende-se com a prioridade em estudar os antecedentes das

formas de expressão das condutas violentas e delinquentes de modo a apelar ao desenvolvimento

de politicas e ao delineamento de programas de prevenção e de controlo dos comportamentos

problemáticos assumidos pelos jovens e adolescentes, com o propósito de evitar futuras

consequências na sociedade portuguesa.

Os jovens e os adolescentes estão mais susceptíveis a transgredir as normas e as regras

sociais, isto porque nesta fase de desenvolvimento existem mais probabilidades para se tornarem

perpetuadores ou vítimas de violência interpessoal.

Os comportamentos são expressões da personalidade individual, podendo ser

justificáveis através da avaliação dos traços de personalidade (Paunonen e Ashton, 2001). Allport

e Allport (1921) afirmou que os traços de personalidade representam predisposições para

responder ou reagir de modo semelhante a diferentes tipos de estímulos, ou seja, são

considerados como formas constantes e duradouras de reacção aos estímulos do meio ambiente.

São dotados de individualidade, determinam o comportamento e são passíveis de demonstração

empírica, sendo detentores de variações situacionais e inter-relacionais (Schultz e Schultz, 2002).

Born (2005) refere que as pessoas caracterizadas por uma conduta delinquente

demonstram mais agressividade, são mais impulsivos, detendo um fraco controlo sob os próprios

impulsos. A conduta delinquente está igualmente correlacionada com a psicopatia, as pessoas

com este tipo de personalidade revelam ser mais severas, frias, agressivas, menos preocupadas

com os outros, mais insensíveis e hostis, bem como, mais solitárias, não temendo o perigo ou os

riscos e sentindo prazer a praticar o que é erróneo aos olhos da sociedade.

Torna-se essencial também no estudo desta temática abordar o papel da agressividade,

de forma a perceber até que ponto esta se encontra correlacionada com os traços de personalidade

e com os traços psicopáticos dos jovens ou adolescentes. Sabe-se que a agressividade entre os

jovens tem vindo a aumentar, sendo um fenómeno que pode estar associado à resposta face aos

modelos sócio-culturais actuais.

De acordo com Sanmartin (2002) a agressividade consiste num mecanismo inato

presente em todos nós, e a expressão emocional ou a linguagem corporal constitui um dos

mecanismos capazes de inibir as acções de teor agressivo.

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Lorenz (1981) postula que existe uma tendência filogenética para a luta, logo a

agressividade é uma necessidade natural tanto nos seres humanos como nos animais, fazendo

parte do instinto de protecção de cada um.

Fromm (1975) defende que existem dois tipos de agressão: a agressão benigna que é

adaptativa em termos biológicos, ou seja, é accionada em situações de fuga ou de ataque como

forma de defesa e a agressão maligna, marcada pelos pretextos cruéis e caprichosos.

A agressão pode surgir e permanecer consoante alguns factores, tais como: os factores

fisiológicos, o uso de substancias tóxicas, os antecedentes familiares de violência, o abuso sexual

na infância, o facto de pertencer a comunidades violentas, o baixo desempenho escolar, uma

baixa auto-estima e poucas expectativas futuras, bem como, o facto de estar inserido numa

cultura familiar desadaptativa, e a exposição regular a vídeo jogos ou programas de TV com

características violentas.

Este estudo pretende analisar o perfil psicológico dos jovens e adolescentes pertencentes

à Escola Secundária de Sacavém. A análise em questão é executada a partir do modelo dos 5

factores, que inclui o estudo dos seguintes traços de personalidade: o traço de extroversão, de

amabilidade, de conscienciosidade, de neuroticismo e de abertura à experiência. Aborda-se

igualmente a variável psicopatia, mais precisamente os traços de psicopatia primária, de

psicopatia secundária e os atributos agressivos, ao nível dos factores de agressividade física e

verbal, da irritabilidade e da hostilidade.

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1. Personalidade

1.1. Conceito de personalidade

Allport (1937) classificou a personalidade como uma organização dinâmica do

indivíduo, condicionada por sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e os

pensamentos considerados típicos num indivíduo.

Neste sentido, a personalidade consiste numa entidade única, que reflecte a forma como

uma pessoa pode pensar, agir, ou como se comporta em diversos contextos (Allport, 1974).

Allport (1937) delimitou sete estádios do desenvolvimento do “Eu”, ou seja, da

personalidade. O primeiro diz respeito à primeira infância, em que as crianças ainda não possuem

o “Eu” formado, sendo incapazes de se diferenciarem dos outros, ou seja, não são detentoras de

uma consciência real, apesar de serem conscientes em relação às pessoas ou aos objectos, pois

quando as mesmas fazem mal a si próprias não tem noção que auto-infligiram a dor. O segundo

estádio corresponde ao “Eu corporal”, existindo já consciência das sensações corporais por volta

dos 6 meses de idade, isto porque os órgãos sensoriais se tornam operacionais. O terceiro estádio

denomina-se por auto-identificação, surge aproximadamente no segundo ano de vida, altura em

que os sistemas mnésicos ganham forma e com a aprendizagem da linguagem apela-se a uma

continuidade do próprio “Eu”. O quarto estádio apelida-se de auto-estima e surge no terceiro ano

de vida, quando a criança começa a demonstrar iniciativa própria e deseja realizar algo sozinha.

O quinto estádio é caracterizado pela extensão do “Eu” e da auto-imagem, surge

aproximadamente aos 4 anos, nesta fase a criança torna-se egocêntrica, ganhando uma visão

própria do ambiente onde está inserida, manifestando por esta altura aspirações e expectativas

face ao que os outros comentam ou falam sobre ela. O sexto estádio apelidado de racional surge

entre os 6 e os 12 anos, dá-se lugar ao desenvolvimento do raciocínio e da solução de problemas.

Por último, o sétimo estádio consiste num período de esforço que se prolonga ate à adolescência,

marcando o início da planificação do futuro, ou seja, aprende-se que o êxito depende da

preparação e que é imperioso estabelecer objectivos próprios.

O desenvolvimento da personalidade não cessa, na idade adulta a personalidade pode ser

considerada madura se obedecer aos seguintes critérios: autonomia; capacidade para estabelecer

relações afectuosas com os outros, tolerância à frustração, percepções realistas e aptidões; insight

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e humor; e auto-determinação no alcançar dos objectivos que foram propostos ou planificados

(Veríssimo, 2001).

Por outro lado, Cattell (1950) encara a personalidade como uma predição do que uma

pessoa num dado contexto pode realizar, ou a forma como esta se vai comportar nesse ambiente

em especifico.

Mischel (1996) concebe o constructo personalidade como uma combinação de todas as

dimensões relativamente duráveis das diferenças individuais, sendo as mesmas passíveis de ser

medidas.

Linton (1845) perspectivou a personalidade como um processo organizado de processos

e de estados psicológicos específicos de um indivíduo.

Para Oliveira (2002, p. 52), a análise da personalidade do sujeito “pressupõe a

compreensão da organização idiossincrática de todos os seus atributos mentais e dos registos em

que estes se manifestam”.

Carver e Scheier (2000) reuniram os contributos das diversas teorias acerca da

personalidade, conceptualizando-a da seguinte forma: é um constructo dinâmico e psicológico,

possuindo bases fisiológicas, assim como, consiste numa força interna que determina o

comportamento, marcada por padrões de respostas recorrentes e consistentes.

Eysenck (1979) perspectivou a personalidade como uma organização relativamente

firme e durável do carácter, do temperamento, da inteligência, e da dimensão física de um

indivíduo, determinando a sua adaptação ao meio.

A personalidade é um constructo ambíguo, Skinner (1987) encara-a como um conjunto

de comportamentos originados por contingências de reforços específicos, enquanto que Rogers

(1961) defende que as pessoas possuem a liberdade para escolher o que pretendem ser e para

desempenhar um papel social à sua medida. Por outro lado, Gray (1994) e Tellegen (1985)

postulam que a personalidade é mediada em grande parte por factores biológicos.

Através dos contributos dos diversos seguidores do estudo da personalidade, no presente

este conceito é concebido como uma combinação de factores biológicos e de factores ambientais,

estando presente na vida psíquica de cada um de nós, ao nível dos processos cognitivos e na

expressão particular das emoções (Hansenne, 2004).

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1.2. A teoria dos traços

As teorias dos traços são dimensionais, pois centram-se na classificação da

personalidade de acordo com descrições em termos de características, que podem variar ao longo

de uma distribuição sem descontinuidades. O traço consiste num conjunto de comportamentos ou

de tendências correlacionadas com o agir, estes pretendem descrever e predizer o comportamento

que o indivíduo apresenta ou possui probabilidade de apresentar, não descrevem assim somente

um estado persistente. A teoria dos traços nasce com a análise factorial, esta baseia-se no estudo

das intercorrelações entre as formas de responder e de reagir habituais (Hansenne, 2004).

Allport (1937) afirma que os traços são predisposições para se responder sempre do

mesmo modo diante de diferentes estímulos, estes asseguram a estabilidade dos comportamentos

ao longo do tempo e nas várias experiências de vida, condicionando a percepção que os

indivíduos têm das circunstâncias. De acordo com esta lógica, os traços não podem ser encarados

como hábitos, e os mesmos podem ser medidos e estudados empiricamente.

Allport (1937) distinguiu os traços de duas formas: existindo os traços comuns e os

traços individuais ou as disposições pessoais, os primeiros são classificados como nomotéticos e

distribuem-se normalmente na população, realçando as características pertencentes a uma dada

cultura, os segundos possuem três categorias: cardinal correspondente às características mais

marcantes de uma pessoa; central associada às características qualificativas de um indivíduo,

podendo ser qualidades como a generosidade, timidez ou meticulosidade; e os traços secundários

ou individuais que dizem respeito a uma disposição pessoal que é própria do indivíduo, todavia

não é empregue de forma regular pelo mesmo.

Segundo McCrae e Costa (1992) os traços de personalidade são tendências, no sentido

em que são determinantes absolutos do comportamento, ou também podem ser considerados

como disposições que são coordenadas por outros factores, como sejam o papel social, a situação

ou o humor, condicionam por isso a reacção das pessoas num dado momento ou situação.

Diferenciam-se dos comportamentos aprendidos ou das condutas repetitivas e mecânicas, são por

outro lado padrões consistentes no indivíduo, podendo ser observáveis ao longo do tempo,

constituindo uma predição adequada do comportamento de uma pessoa a longo prazo. Os traços

de personalidade podem ser ainda considerados como dimensões das diferenças individuais, estes

podem ser representados por uma escala, onde uma dada pessoa pode ser contextualizada. De

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acordo com esta teoria todas as pessoas possuem traços e estes variam de acordo com o grau em

que são manifestados e possuem uma distribuição que se aproxima da curva normal, em que

quanto maior for a pontuação num traço, maior a probabilidade do sujeito reagir em consonância

com o comportamento em causa. Todavia, um traço não é um valor fixo, existindo maior

instabilidade em alguns traços comparativamente aos outros (McCrae e Costa, 1992).

Segundo Guilford (1975) o traço é definido de acordo com uma sequência:

primeiramente observa-se em que aspectos as pessoas diferem em termos de comportamento e de

qualidades comportamentais, estas qualidades serão descritas a partir de advérbios, por exemplo

ao referirmos que aquela pessoa agiu cautelosamente. Após este primeiro passo, aplica-se a

qualidade à pessoa que executou a acção com recurso a adjectivos, sendo a qualidade transferida

da acção para o actor, estabelecendo uma descrição com estabilidade futura, ou seja, existe uma

tendência para atribuir uma descrição à maioria dos actos pertencentes a um indivíduo. O

comportamento do sujeito passa deste modo a ser descrito através de uma qualidade ou de um

substantivo, por exemplo referimo-nos ao sujeito como sendo detentor de um traço de cautela.

Cattell (1950) recorreu a uma análise estatística para criar 171 variáveis, que

posteriormente foram alvo de uma análise factorial, onde extraiu 36 traços que apelidou de

superficiais, reduzindo-os a 12, que mais tarde designou de traços originais ou essenciais, a estes

foram acrescentados 4, constituindo os 16 traços avaliados pelo questionário 16PF. Afirma que os

traços podem ser únicos ou comuns, dinâmicos ou temperamentais. Constituem entidades

permanentes que são herdadas e que se desenvolvem ao longo da vida, possuindo uma hierarquia:

um traço comum pode ser medido em todos os indivíduos, recorrendo ao mesmo teste e que

difere mais em intensidade do que na forma. Enquanto que os traços denominados únicos

correspondem aos traços específicos de um indivíduo, que lhe são próprios e que dificilmente

estão presentes em outras pessoas. No topo superior da hierarquia localizam-se os traços de

segunda ordem, ou apelidados de super-traços, diferenciando os traços fortes dos traços de

superfície, os primeiros constituem os traços de base, cujas variações em valor são determinadas

por um único factor ou influência. Estes tipos de traços encontram-se repartidos em três

categorias: numa primeira categoria estão inseridos os traços relacionados com a habilidade, ou

seja, são classificados ou caracterizados de acordo com a forma como o sujeito realiza uma tarefa

em concordância com objectivos claros; na segunda encontram-se os traços associados ao

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temperamento do sujeito e às suas emoções; a última categoria envolve os traços dinâmicos que

dizem respeito às motivações e aos interesses individuais.

Os traços de superfície definem-se pelas características da personalidade que estão

intercorrelacionadas entre si e frequentemente são visíveis, apesar de não constituírem um factor.

Craig, Hogan e Wolf (1993) consideraram os traços como disposições cognitivo-

dinâmicas gerais, isto porque estes guiam ou dirigem o comportamento de diversas formas:

informam acerca das situações consideradas interessantes e determinam em quais nos devemos

envolver voluntariamente; predizem o estilo de comportamento mais provável numa determinada

circunstância; influenciam naquilo que pode ser entendido como reforçador ou não numa dada

situação, ou seja, determinam o modo como a situação vai ser percebida; e constituem

mecanismos auto-reguladores que se auto-sustêm, sendo neste sentido preditores

comportamentais mesmo sob grande intensidade situacional.

Kluckhohn e Murray (1953) elaboraram as disposições motivacionais dividindo-as em

disposições de realização e de associação. Defendem que os traços de interacção a que chamaram

de expressivos e de estilo, manifestam-se pela polidez, pela loquacidade, pela coerência, pela

indecisão, pelo espírito crítico e pela sociabilidade.

Eysenck (1979) teorizou quatro níveis inseridos na personalidade, que são: os tipos, os

traços, as respostas habituais e as respostas especificas. Na sua concepção os traços consistem em

construções teóricas baseadas em correlações entre as respostas habituais dos indivíduos, ou seja,

os traços são compostos por respostas habituais e especificas, as primeiras dizem respeito aos

comportamentos que surgem em determinadas situações, enquanto que as segundas são

desencadeadas ocasionalmente em situações particulares.

1.3. Modelo dos cinco factores

O modelo dos cinco factores da personalidade foi criado a partir de análises executadas

ao nível dos adjectivos que se adequavam à descrição do conceito de personalidade, e através da

realização de análises factoriais com o fim de delimitarem a personalidade em cinco factores

(John e Srivastava, 1999). Os cinco factores constituem disposições duradouras associadas aos

padrões comportamentais existentes e os traços de personalidade que compõem estes factores são

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manifestos nas diferentes faixas etárias, em ambos os sexos, nas várias etnias ou nacionalidades,

no entanto podem variar de acordo com certas culturas.

McCrae e Costa (2006) afirmam que os cinco factores consistem em tendências básicas

com uma base biológica, isto porque são disposições para agir e sentir de determinadas formas,

não sendo estas directamente influenciados pelo meio. Neste sentido, os traços de personalidade

são resultantes da biologia humana comparativamente à influência exercida pelas experiências ou

pelo desenvolvimento pessoal, não descurando a importância da adaptação do indivíduo ao seu

meio e as influências exercidas também por este, já que tais elementos determinam as escolhas e

as decisões individuais ao longo do tempo em concordância com os valores da pessoa.

Este modelo é hierárquico, sendo operacionalizado a partir de dois níveis: no nível

inferior situam-se os traços muito específicos, enquanto que no nível superior encontram-se

inseridos os cinco factores mais vastos (McCrae e Costa, 2006).

Neste sentido, as diferenças individuais podem ser divididas em cinco dimensões

principais: o primeiro factor designa-se por extroversão; o segundo por amabilidade, em que uma

pessoa com valores altos neste traço é caracterizada como atenciosa e afectuosa; o terceiro

corresponde à conscienciosidade, esta dimensão insere-se nas qualidades de honestidade,

persistência e planificação dos comportamentos, valores altos neste traço indicam que o indivíduo

pode ser escrupuloso, atento ou sério; o quarto factor denomina-se por neuroticismo ou

emocionalidade, correspondendo de modo específico à ansiedade; e por último o factor de

abertura à experiência (Hansenne, 2004).

O traço de abertura à experiência também apelidado de “imaginação”, está presente em

indivíduos geralmente considerados curiosos, com interesses variados, originais, criativos,

imaginativos, que não apreciam a rotina, uma pontuação baixa neste traço pode estar patente

numa pessoa com uma predisposição para o convencional, para a sensatez, com interesses

limitados e pouca expressão criativa (Pervin e John, 2004). Segundo Benet-Martínez e John

(1998) este traço também representa a complexidade, a abertura e a profundidade da mente

humana.

O traço de conscienciosidade é marcado pelo controlo da impulsividade ou da volição,

existindo assim controlo sob os impulsos e os comportamentos são dirigidos frequentemente para

um objectivo planeado à priori, tendo em conta o cumprimento de obrigações impostas pelo

próprio ou por outros (Benet-Martínez e John, 1998). Os indivíduos considerados conscienciosos

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são frequentemente cautelosos, demonstram ser dignos de confiança e organizados, cumprindo a

rigor as suas responsabilidades, são também ambiciosos e perseverantes. Todavia, os indivíduos

destituídos desta particularidade mostram-se desorganizados, descuidados, ociosos, negligentes,

relaxados e hedonísticos (Friedman e Schustack, 2004). Esta dimensão da personalidade prediz

eficazmente o desempenho escolar e o desempenho profissional (Freitas, Teixeira e Pasquali,

2005).

A dimensão de extroversão encontra-se associada a características como o entusiasmo, a

actividade, a sociabilidade, a dominância, a eloquência, o optimismo e o divertimento. Enquanto

que, a introversão está correlacionada com o retraimento, a submissão e a serenidade (Friedman e

Schustack, 2004).

A amabilidade apelidada igualmente de agradabilidade está presente nos indivíduos

considerados cooperativos, confiantes, prestativos, clementes e honestos. Os indivíduos com

baixos valores nesta dimensão são caracterizados como frios, indelicados, desconfiados,

vingativos, inescrupulosos e manipuladores (Friedman e Schustack, 2004).

O neuroticismo designado também por instabilidade emocional é marcado pela

ansiedade, sensibilidade emotiva, por uma preocupação excessiva, pela experiência frequente de

tensão e de insegurança. Os indivíduos sem este traço demonstram-se mais calmos, seguros,

pouco emotivos e descontraídos (Friedman e Schustack, 2004). Segundo McCrae e Costa (2006)

os sujeitos com resultados altos nesta dimensão possuem uma predisposição para sentir irritação,

melancolia e vergonha, possuem pouca tolerância à frustração, principalmente quando não

atingem os seus objectivos ou não satisfazem as suas vontades, assim como, possuem pouco

controlo sob os seus impulsos. Os comportamentos dos indivíduos considerados neuróticos

podem evoluir para algo compulsivo, podem se tornar imprudentes e exprimir a sua inquietude ou

angústia interiores com recurso a acções desadequadas.

Segundo Hansenne (2004) os adjectivos que se associam aos cinco factores da

personalidade são os seguintes: a extroversão é típica de uma pessoa faladora, feliz, enérgica,

gregária, confiante, espontânea, segura e activa no seu dia-a-dia; a amabilidade está presente

numa pessoa considerada como afectuosa, amável, educada, altruísta, submissa, modesta e

sensível; a conscienciosidade está presente nas pessoas caracterizadas como sérias, responsáveis,

cuidadosas, disciplinadas, detentoras do sentido do dever, perseverantes na procura do êxito,

deliberantes e assertivas; o neuroticismo é marcado pela ansiedade, cólera, depressão, timidez

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social, impulsividade e vulnerabilidade, estando associado à labilidade emocional e em relação ao

modo como cada indivíduo lida com a intensidade das suas reacções emocionais.

Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus opostos Os Factores e os seus

Opostos

Adjectivos

Extroversão/

Confiança; Espontaneidade; Assertividade; Actividade

Introversão Timidez; Inibição; Passividade; Submissão

Amabilidade/

Afectividade; Cortesia; Educação; Bondade

Hostilidade Frieza; Maldade; Rispidez; Irritabilidade

Conscienciosidade/

Seriedade; Responsabilidade; Cuidado; Disciplina

Impulsividade Frigidez; Irresponsabilidade; Negligência; Hesitação

Neuroticismo/ Ansiedade; Stress; Excitabilidade; Instabilidade

Estabilidade Emocional Calma; Relaxamento; Apaziguamento; Estabilidade

Abertura à Experiência/

Imaginação; Criatividade; Novidade; Curiosidade

Convencional

Concretude; Falta de originalidade; Rotina; Circunspecção

Hansenne (2004)

Eysenck (1992) foi um dos primeiros investigadores a associar os traços de

personalidade à activação neurofisiológica. Afirmava que a introversão correspondia a um nível

mais elevado da activação do sistema nervoso central, isto porque os introvertidos tendem a ser

mais vigilantes comparativamente aos extrovertidos, sendo que os primeiros reagem com mais

intensidade numa situação de perigo (Stelmack, 1990).

Bartol e Costello (1976) descobriram a partir dos seus estudos que os introvertidos

possuem uma tolerância mais baixa à dor, e sendo mais sensíveis protegem-se dos estímulos

exteriores.

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De acordo com Eysenck (1992) o traço de abertura à experiência encontra-se

correlacionado com a extroversão, pois existe uma propensão para sentir aborrecimento nas

pessoas com estes dois traços, no entanto isto não tem a ver necessariamente com a capacidade de

sociabilidade, típica da extroversão. Tal evidência é reforçada por Zuckerman (1991), afirmando

que a base biológica do traço de abertura à experiência é similar à do traço de extroversão, em

que os indivíduos que buscam frequentemente novas sensações apresentam maiores índices de

respostas à novidade em certos sistemas cerebrais, sobretudo ao nível do sistema de

neurotransmissores com a enzima monoaminoxidade, que tem como transmissores a dopamina e

a norepinefrina.

Nos seus estudos Zuckerman (1991) constatou que os indivíduos com maior

predisposição para a procura de novas experiências possuíam um nível baixo de norepinefrina, o

que faz com que busquem situações de risco e de perigo para estimularem o funcionamento da

norepinefrina neste sistema neuronal. Os indivíduos que consomem substâncias psicoactivas são

considerados pela maioria das investigações realizadas neste âmbito como detentores do traço de

abertura à experiência, a sua constante procura de sensações novas é influenciada pelos sistemas

de recompensa dos seus cérebros, que são mediados pela dopamina.

2. Psicopatia

2.1. Descrição clínica

Morel (1857) classificou os indivíduos com este tipo de personalidade como “maníacos

instintivos” que desde a infância manifestam comportamentos de desrespeito pelas normas

sociais, sendo portadores de tendências inatas para perpetuar o mal, eram por isso autores de

actos como o roubo, os incêndios, ou outros de categoria delituosa, desrespeitando facilmente as

normas sociais vigentes, mostrando-se desta forma destituídos de valores morais.

Lombroso nos finais dos anos 1880 (citado por Innes, 2004) interessou-se pelo estudo da

criminalidade, dando início à sua investigação com a dissecação de cérebros de cadáveres, a fim

de encontrar as causas estruturais para a loucura, sem no entanto obter êxito na sua busca. Ao

investigar também em relação às fisionomias de indivíduos criminosos encarcerados, inclusive

autopsiou um corpo de um criminoso que fora executado, concluiu que o mesmo possuía uma

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particularidade incomum no crânio, tais descobertas e estudos contribuíram para a divisão dos

casos em duas tipologias ou classificações: os “criminosos ocasionais” que cometiam os crimes

de acordo com as circunstâncias e os “criminosos naturais” que cometiam os crimes com grande

frequência, possuindo um defeito hereditário ao nível da sua estrutura física, pois eram

classificados como “atávicos” e possuíam características estruturais primitivas (braços

compridos, uma visão apurada idêntica à visão das aves de rapina, mandíbulas pesadas e orelhas

grandes). Tal teoria foi alvo de inúmeras críticas, pois fundamentava-se essencialmente em

aspectos morfológicos e anatómicos humanos.

Kraepelin (1988) desconsiderava a causa neurológica da psicopatia, afirmou que se

tratava de uma perturbação constitutiva, existindo por detrás do surgir da perturbação os factores

genéticos. Criou as seguintes tipologias de psicopata: os psicopatas excitáveis, mitómanos,

intuitivos e fantásticos ou instáveis.

Schneider (1974) contribui em muito para a definição actual de psicopatia, pois descobre

que esta consiste numa perturbação ao nível da personalidade, isto é, envolve desvios

quantitativos de características normais da personalidade. A partir dos seus estudos consegue

estabelecer vários subtipos de psicopata: os hipertímicos; os depressivos; os inseguros; os

fanáticos; os carentes de atenção; os emocionalmente lábeis; os explosivos; os perversos; os

abúlicos; os asténicos; os anéticos; e os frenasténicos. Neste sentido, os indivíduos com esta

perturbação eram destituídos de sentido moral, de honra, de pudor, de arrependimento e inclusive

de consciência. Afirmando também que as pessoas com este tipo de características eram

impossíveis de tratar ou de alterar a sua condição diagnóstica, a única solução possível seria o

internamento dos mesmos num local seguro, longe da sociedade.

As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1974)

obedeceram aos critérios de anormalidade de carácter psicossocial, à presença de impulsividade e

de incapacidade de controlo dos impulsos.

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Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1968) e as suas principais características

As Subtipologias de Personalidade Psicopática

Características

Abúlico

Indivíduo com avolição, que cede facilmente às sugestões, vulnerável às circunstâncias que o induzem à prática de crimes e comporta-se de acordo com as suas próprias deduções sobre a realidade.

Anético

Indivíduo que exibe juízos e condutas isentas de valores morais, não possui escrúpulos no sentido em que é desfavorecido em termos de compaixão e de outros sentimentos, assim como, é atroz e pungente nas suas acções, com severas dificuldades de adaptação à escola e ao seu meio, sendo frequente praticar actos ilícitos, danos corporais e até homicídios.

Asténico

Indivíduo com traços neuróticos de personalidade, mais precisamente sintomas hipocondríacos, detendo um perfil psicológico de abatimento contínuo, focalizando o seu bem-estar nas fugas ao esforço e à auto-realização.

Carentes de Atenção

Indivíduo que mostra carências de afecto e de reconhecimento, possui traços histriónicos de personalidade, logo demonstra um comportamento “melodramático” com o intuito de atrair as atenções, bem como, sente-se frustrado com grande facilidade, principalmente nas situações em que não lhe é demonstrado afecto, atenção e elogios.

Hipertímico Equilibrado

Indivíduo que não possui sentido crítico, age conforme a sua interpretação imediata dos estímulos e é muito influenciável.

Hipertímico Agitado

Indivíduo conflituoso, de humor lábil e indeciso, sendo passível o cometimento de acções agressivas e criminosas.

Depressivo

Ao nível do humor é um indivíduo com uma angústia fácil, inseguro, duvida das suas próprias capacidades e o seu pensamento encontra-se centrado na sua própria imperfeição ou nos erros cometidos. É encarado como auto-exigente, obsessivo na execução daquilo que é considerado correcto, e com um temperamento irascível.

Explosivo

Indivíduo impulsivo, violento, capaz de actos desumanos, quando executa crimes cruéis raramente se recorda do sucedido, isto porque é comum possuir alterações ao nível da consciência e da memória.

Fanático

Indivíduo que se deixa dominar pelas ideias sobrevalorizadas que constrói, é frequente seguir com grande veemência uma doutrina religiosa, uma política ou uma filosofia. Quando é detentor de um QI acima da média, torna-se perigoso ao ponto de induzir os demais a aceitarem e a praticarem uma doutrina elegida pelo próprio.

Frenasténico

Indivíduo que foi vítima de alguma patologia ou acidente que afectou o seu sistema neuronal, apesar de conservar a capacidade de juízo concreto, compreende as relações de forma superficial e é detentor de um juízo crítico abstracto, sendo o seu percurso de vida talhado por sucessivos fracassos.

Schneider (1968)

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Cleckley (1988) encarou a psicopatia como uma doença mental, correspondendo a uma

“demência semântica”, ou seja a um défice ao nível da compreensão dos sentimentos humanos

em profundidade. Baseou-se na história clínica e de vida de 15 pessoas para definir a perturbação

em causa através de 16 características elementares: o facto de possuir um encanto superficial e

boa inteligência; não possuir alucinações ou outros sinais de pensamento irracional; incapacidade

de sentir ansiedade ou de manifestações neuróticas; mostrar-se indigno de confiança, mente e é

insincero no seu dia-a-dia, sendo uma atitude reforçada pela ausência de sentimentos de culpa ou

de vergonha, exibindo igualmente comportamentos anti-sociais sem escrúpulos aparentes; é

detentor de um raciocínio pobre e de uma incapacidade para aprender com a experiência;

predomina um egocentrismo patológico e uma incapacidade para amar, o que promove a pobreza

geral nas relações afectivas; possui incapacidade de intuição (insight), assim como, mostra-se

incapaz para responder na generalidade das suas relações interpessoais; há a manifestação

frequente de um comportamento fantasioso e pouco recomendável, que pode ser explicado ou

não pela ingestão de bebidas alcoólicas; executa ameaças de suicídio para obter o que pretende

dos outros, estas são raramente concretizadas; a sua vida sexual impessoal é trivial e pouco

integrada; e por último, é incapaz de seguir um plano de vida ou estabelecer objectivos de vida.

Apesar da boa impressão que um indivíduo psicopata transmite inicialmente aos outros,

à posteriori torna-se evidente que o mesmo não possui sentido de responsabilidade

independentemente das suas obrigações, sejam elas importantes ou não, este desconsidera

também o valor da moral ou da verdade, não experimenta sentimentos de culpa, não sente mal-

estar por mentir ou praticar actos ilícitos, e ao não sentir remorsos não aprende com os erros que

comete e remete a culpa das suas falhas noutra pessoa ou no sistema social. Este é dotado de uma

inteligência acima da média, no entanto ao ser punido pelas suas acções não altera o seu padrão

comportamental (Cleckley, 1988).

Ao nível da personalidade estes indivíduos são egocêntricos, sendo indiferentes ao

sofrimento alheio ou ao mal-estar que provocam nos outros, não possuem ressonância afectiva,

nem capacidade de insight, o que prejudica gravemente a sua avaliação da realidade, são também

incapazes de sentir empatia, por isso não respondem de forma convencional aos sentimentos e à

manifestação de afectos (Cleckley, 1988). Existindo uma predisposição para consumirem álcool,

o que os induz mais facilmente à adopção de condutas extravagantes e anti-socais,

frequentemente exibem práticas sociais desviantes e incestuosas, a tendência homossexual está

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raramente presente e as relações que estabelecem são impessoais e temporárias, não implicam

assim compromissos ou afectos duradouros (Cleckley, 1988).

A definição de psicopatia elaborada por Hare (2003) é baseada nas características

assinaladas por Cleckley (1988) de que o psicopata é encarado como um indivíduo temerário,

arrogante, insensível, dominante, superficial, egocêntrico, falso e manipulador. No âmbito

afectivo, estes indivíduos são detentores de emoções lábeis e superficiais, o seu perfil psicológico

é igualmente marcado pela ausência de empatia, do sentimento de ansiedade e de culpabilidade

ou de remorsos, assim como, é incapaz de estabelecer vínculos duradouros com as outras pessoas,

ou seguir qualquer tipo de princípios (Hare, 2003).

O psicopata leva um estilo de vida criminal, utilizando com regularidade substâncias

ilícitas, e ao ter um fraco insight torna-se incumpridor de qualquer tipo de responsabilidade

(Hare, 1991; Hart, Hare e Harpur, 1992). Os indivíduos com esta perturbação ao nível da

personalidade possuem um encanto fácil, manipulam e controlam os outros através da

agressividade e da intimidação, com vista a satisfazerem os seus desejos internos e a elevarem a

sua auto-estima (Hare, 1999; Oliveira, 2004). Isto deve-se em parte à incapacidade para perceber

o estado emocional dos outros, assim como, desconhecem o sentimento de lealdade, são desleais

para todos os que lhe são próximos e para o sistema social em si.

Os psicopatas possuem uma necessidade voraz por estimulação, o que contribui para o

desejo de praticar acções anti-sociais, sem reflectirem sobre as consequências que podem advir

dos seus comportamentos delituosos (Oliveira, 2008, 2009), são deste modo considerados como

depredadores sociais, não seguindo qualquer lei ou regras sociais, cometem acções perversas

tendo como única e principal prioridade a satisfação dos seus próprios objectivos (Hare 1999).

Hare (1993) defende que a psicopatia é uma perturbação destituída de consciência, ou

seja, existe um handicap na formulação de juízo crítico acerca das acções do psicopata e a sua

agressividade é accionada de forma instrumental e fria, dependendo da natureza individual deste

e das influências sociais provenientes do seu meio envolvente. Apesar de tudo, o psicopata é

capaz de distinguir o que é errado do que é certo e no seu íntimo sabe os danos que provoca, logo

pode decidir entre o “mal” e o “bem”.

Os psicopatas são absolutamente competentes para enfrentar uma decisão promulgada

pelos sistemas de justiça, isto porque tem capacidade para optar e possuem plena consciência das

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consequências advindas dos seus actos, mas é frequente simularem uma perturbação mental para

não serem punidos judicialmente (Hare, 1993).

A facilidade que o psicopata possui para provocar a dor e o sofrimento alheio pode ser

justificada em parte pelo seu egocentrismo marcado, pela sua auto-avaliação exagerada, pelo seu

fraco controlo sob os impulsos e pela sua necessidade de controlo e de domínio (Hare, 1993).

Segundo Hare (2009) ninguém nasce psicopata, certas pessoas podem no entanto possuir

uma predisposição para a psicopatia. A psicopatia não consiste numa categoria descritiva, mas

sim numa medida que varia em proporção.

As perturbações psicopáticas consistem num diagnóstico já elaborado através da recolha

de histórias, de biografias, da observação de comportamentos e de atitudes. Neste sentido, a

psicopatia é uma semiologia psiquiátrica e também social, que é marcada por um percurso de

vida instável, dominado pelos encontros repetidos e sucessivos com a lei e por reincidências, isto

porque há ausência de aprendizagem com os erros passados. Nesta perturbação os

comportamentos agressivos são uma constante e os indivíduos psicopatas tornam-se cada vez

mais repressivos, anónimos e violentos, detentores de uma expressão mental pobre, assim como,

por um lado rejeitam mas por outro tem uma necessidade voraz de afecto, tornam-se impulsivos e

também pragmáticos, a sua solidão contrasta com uma grande dependência, sentem o

aborrecimento com grande facilidade e possuem uma predisposição para a mitomania,

considerados igualmente como exuberantes e possuidores de uma linguagem empobrecida.

Hare (2009) considera que a instabilidade motora, relacional, profissional e social faz

parte da disposição para a psicopatia e na sua escala para medir esta perturbação, a PCL-R, os

principais indicadores desta perturbação são avaliados a partir das seguintes características:

ausência de sentimentos morais, como o remorso ou a gratidão e a tendência para mentir e para

manipular.

A PCL-R foi elaborada com vista a medir os níveis de psicopatia e também para avaliar

a personalidade do indivíduo, permitindo a definição do risco que um determinado indivíduo

pode representar para a sociedade em questão (Hare, 2009). Esta escala foi construída com base

na assumpção de que a personalidade e o comportamento dos indivíduos agressores

diagnosticados com psicopatia diferem muito dos outros indivíduos considerados criminosos, isto

porque os psicopatas são os responsáveis pela maioria dos crimes violentos em vários países,

iniciam também os trilhos criminosos numa idade precoce, cometem uma grande variedade de

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crimes com grande regularidade, e inclusive apresentam um maior número de faltas disciplinares

no meio prisional, assim como, existe um maior índice de fracasso ao nível dos programas de

reabilitação destinados aos indivíduos com esta perturbação e os mesmos apresentam também

elevados índices de reincidência criminal (Hare, 1998).

A escala de psicopatia de Hare (1999) avalia quatro facetas: a faceta interpessoal contém

itens que avaliam a loquacidade, o encanto superficial, a sobrestima de si, a tendência para a

mentira patológica e o logro ou a manipulação; a faceta afectiva inclui itens que abordam a

ausência de remorsos ou de culpabilidade, o afecto superficial, a insensibilidade, a ausência de

empatia e a incapacidade para aceitar as responsabilidades pelos seus actos e gestos; a faceta ou

estilo impulsivo/irresponsável possui itens que medem a necessidade de estimulação, a tendência

para o aborrecimento e para o estilo de vida parasitário, a incapacidade para assumir a

responsabilidade pelos seus actos e gestos e ainda a impulsividade; e a faceta anti-social abrange

questões que colocam ênfase no fraco auto-controlo, na manifestação precoce de problemas ao

nível do comportamento, na delinquência juvenil e na diversidade de tipos de delitos cometidos

pelo sujeito.

Os psicopatas dificilmente sentem ansiedade, bem como, no geral não experienciam o

medo, sendo quase imunes ao stress, pois permanecem calmos em situações perigosas que

colocam em causa a sua própria segurança (Goleman, 2006). Em experiências onde os

participantes recebem antecipadamente a informação de que vão receber um choque eléctrico,

constatou-se que os participantes considerados psicopatas não manifestaram apreensão ou receio

(Edens e al, 2001). Ao nível fisiológico não apresentaram níveis de sudação ou níveis de

aceleração do ritmo cardíaco, o que era de esperar nas pessoas ditas normais, não possuem deste

modo medo por antecipação e permanecem calmos e serenos em situações de grande perigo ou

pressão (Edens e al, 2001).

Estes indivíduos demonstram dificuldades no reconhecimento do medo ou da tristeza ao

nível da expressão facial ou do timbre da voz das pessoas, o que pode explicar a ausência de

empatia ou de respostas afectivas (Goleman, 2006).

Um estudo de imagiologia cerebral realizado com um grupo de psicopatas perigosos

(Kiehl e al, 2001) apontou para a presença de um défice ao nível dos circuitos da amígdala, mais

precisamente num local cerebral que tem como funções principais interpretar e identificar as

emoções, bem como, descobriram-se anormalidades ao nível da região pré-frontal, que domina a

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função de inibição dos impulsos. Por outras palavras, os circuitos neuronais destes indivíduos

fazem com que os mesmos não sintam emoções do espectro do sofrimento com a intensidade dita

“normal”, sendo incapazes de vivenciar a aflição, não identificam também a dor humana (Mealey

e Kinner, 2002).

Os psicopatas podem ser socialmente hábeis, conseguindo através do seu encanto

dissuadir as pessoas quanto à sua verdadeira intuição, os psicopatas criminosos podem inclusive

ler livros de auto-ajuda com o intuito de manipularem eficazmente os seus “alvos”, de modo a

obterem o que desejam (Goleman, 2006). Isto constata-se também nos psicopatas que foram

sempre bem sucedidos e nunca foram punidos pelos seus actos ou crimes, principalmente no

tráfico de drogas e na extorsão, pois possuem uma grande capacidade de encanto superficial, de

mentira patológica e uma história de impulsividade, ao contrário dos outros que foram castigados

estes escaparam ao sistema judicial graças às suas reacções mais ansiogénicas, associadas às

ameaças antecipatórias, comportando-se com mais cautela e discrição (Goleman, 2006).

Já na infância estes indivíduos demonstram ser portadores de uma grande frieza ao nível

dos sentimentos, tendo uma vida interior pobre são incapazes de manifestar ternura por outrem

devido também à sua dificuldade precoce na identificação da dor emocional dos outros, não

inibindo as suas reacções cruéis. Desde cedo não mostram reticência em torturar animais, em

perseguir e intimidar os colegas, assim como, frequentemente despoletavam quezílias e faziam

parte das mesmas e ateavam fogos, na adolescência é comum fazerem recurso à violência de

modo a estabelecerem relações sexuais (Goleman, 2006).

Oliveira (2004) refere que permanecem como sinais identificatórios da existência de

psicopatia: a presença de respostas de evitamento afectivo, baixa ansiedade e baixa insegurança;

conteúdos narcisisticas e de auto-percepção grandiosa; o recurso exagerado a fantasias e

deficiente apreensão da realidade; e uma grande dificuldade na tradução de estímulos externos

em conteúdos internos que sejam significativos.

O funcionamento do psicopata pode ser entendido e delimitado em três níveis, que são

os seguintes: ao nível biológico, as pessoas com esta perturbação possuem um baixo teor de

activação, inclusive estudos científicos demonstram que as pessoas consideradas como

delinquentes são detentoras de uma sub-activação psicofisiológica crónica, avaliadas

principalmente pelos métodos de medição dos índices electrodérmicos, cardiovasculares e

corticais; ao nível inconsciente, que justifica a presença de relações objectais narcísicas e defesas

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primitivas; e ao nível pré-consciente ou consciente, revelado por um estilo cognitivo imaturo que

se desenvolve a partir das defesas primitivas e que está por detrás da elaboração de erros

específicos em termos de pensamento, onde transparecem as auto-percepções narcisistas (Meloy,

1988).

Os sujeitos considerados psicopatas são capazes de reter representações de si super-

grandiosas que por outro lado são isentas de valorização, estas determinam os seus

comportamentos externos de agressividade, ou seja, exteriorizam a agressividade como modo de

provarem a sua omnipotência e de afastarem o caos de fragmentação (a angústia), que poderão

sentir caso permitirem serem inundados pela percepção do vazio e pelo sentimento de vergonha

acerca de si próprios (Meloy, 1988).

Estes indivíduos caracterizam-se por um estilo cognitivo imaturo, em que predomina um

pensamento concreto, perspectivando os outros como objectos parciais, o que conduz à

incapacidade para sentir empatia ou de fazer perdurar os seus relacionamentos, que alternam

entre o aparente apego e o mais completo afastamento (Oliveira, 2004). Existe ainda uma

tendência para generalizar abusivamente a partir de diminutos acontecimentos concretos e pela

incapacidade em aprender com os erros cometidos. Neste sentido, o mundo e os objectos

imediatos são percebidos segundo um processo primitivo de recompensas e de punições, onde a

atenção é concentrada a curto prazo nos objectos considerados como recompensadores, isto

porque vêem no controlo sobre os objectos um meio eficaz para reforçar o seu “eu” grandioso e

que os impede de perceber as consequências, as ameaças ou danos que daí podem advir (Meloy,

1988).

Em suma, uma das respostas fisiológicas que distingue os psicopatas dos indivíduos

considerados anti-socias, consiste no sentimento de apego, que se encontra perturbado, ou seja,

existe na psicopatia uma incapacidade de apego (Meloy, 1988; Oliveira, 2004).

Hare e Schalling (1978) realizaram um estudo com psicopatas e indivíduos sem esta

perturbação, os psicopatas e os outros sujeitos foram expostos a uma determinada experiência

com uma contagem regressiva de 10 a 1, no final desta contagem sentiriam um pequeno choque

eléctrico em um dos seus dedos da mão. Durante a simulação, constataram que os indivíduos

considerados psicopatas demonstravam uma diminuição da taxa cardíaca, em vez de registarem

um aumento do índice cardíaco tal como se verificou nos outros sujeitos incluídos nesta

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experiência, tornando evidente que os psicopatas protegiam-se da dor desconectando os sinais de

medo que proviam do ambiente em que se encontravam inseridos.

Levenson (1990) define a psicopatia como o desejo pelo perigo e pela procura de

sensações ou de experiências de risco. Considera que esta perturbação não é originada por um

défice no funcionamento dos sistemas neuronais que medeiam os processos de ansiedade ou de

evitação, já que o comportamento anti-social intrínseco do indivíduo psicopata é baseado em

julgamentos que dão primazia aos seus próprios caprichos e desejos.

A clínica psiquiátrica actual conservou as seguintes particularidades na definição da

psicopatia (Braconnier, 2006): a psicopatia revela-se na facilidade de passagem ao acto, pela

impulsividade e agressividade assumidas pela regularidade de acções hetero e auto-agressivas

secundárias a frustrações, estas acções são inadequadas ao propósito individual ou em relação às

circunstâncias que poderão estar por detrás das mesmas, sendo a passagem ao acto a única

resposta ao conflito sentido, desvalorizando o diálogo ou qualquer tipo de elaboração psíquica;

existem evidências de dependência e de dificuldades de identificação; há procura intensiva de

novas experiências e de novas emoções devido à preponderância para sentir aborrecimento;

verificam-se também exigências megalómanas ou desmesuradas e uma vida afectiva muito pobre

em vínculos, que origina insatisfação, o mesmo se constata ao nível da vida sexual que

permanece pobre e insatisfeita, as relações são igualmente mantidas pela superficialidade e

impessoalidade, o que gera separações regulares com manifestações excessivas; existe uma

instabilidade em termos afectivos marcada pela hiperemotividade, pelas expulsões momentâneas

de angústia e de emoções, pela aparente falta de afecto e de interesse pelo outro e pela labilidade

emocional, caracterizada pelo aborrecimento e pelo mal-estar que depressa evoluem para a

exaltação ou excitação; está igualmente patente o sentir de uma insatisfação que não cessa,

podendo levar aos comportamentos perversos; e podem existir traços histéricos e paranóides.

Todavia, os conceitos actuais de personalidade anti-social e de psicopatia

frequentemente são confundidos, ambas as conceptualizações encontram-se centradas nos traços

de personalidade, como a manipulação, a ausência de remorsos e o egocentrismo. Os critérios de

diagnóstico de personalidade anti-social presentes na DSM-IV (2003) focam-se essencialmente

no comportamento, sendo a conduta criminosa uma condição essencial para o diagnóstico da

perturbação (Lilienfeld, 1998).

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A perturbação anti-social da personalidade é caracterizada segundo o DSM-IV (2003),

por um padrão global de desrespeito e violação dos direitos dos outros ocorrendo desde os 15

anos de idade, indicado por três ou mais dos seguintes critérios: existe incapacidade para se

conformar com as normas sociais no que diz respeito à legalidade dos seus comportamentos,

demonstra actos repetidos que são motivo de detenção; a evidência de falsidade, explícita nas

mentiras e na adopção de nomes falsos, assim como, tende a contrariar os outros para obter lucro

e prazer, tendo também como características predominantes a impulsividade ou a incapacidade

para planear antecipadamente; a irritabilidade e a agressividade presente nos conflitos constantes

e nas lutas físicas. Estes fenómenos explicam-se pela existência do desrespeito temerário em

relação à segurança de si próprio e dos outros, bem como, uma irresponsabilidade consistente

patente na incapacidade repetida para manter um emprego ou honrar com as obrigações

financeiras e pela incapacidade em sentir remorsos, dotada de uma racionalização e indiferença

após ter magoado ou ter roubado alguém.

Os 18 anos de idade constituem a idade mínima para que esta perturbação seja passível

de diagnóstico, apesar de existir evidência de uma perturbação ao nível do comportamento antes

dos 15 anos de idade. Este tipo de comportamento não deve ocorrer exclusivamente durante a

evolução da esquizofrenia ou de um episódio maníaco (DSM-IV, 2003).

Neste sentido, os critérios de diagnóstico do DSM-IV (2003) da perturbação anti-social

da personalidade não são eficazes na identificação dos indivíduos psicopatas que não possuem

condutas ou registos criminosos.

Millon (1998) critica a conceptualização de personalidade anti-social, referindo que os

critérios de diagnóstico primam pela identificação de comportamentos anti-sociais, delinquentes e

criminais descurando o papel dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação.

Weiner (1995) afirma igualmente que a conceptualização do DSM-IV (2003) no que

refere aos critérios de diagnóstico da perturbação anti-social possui restrições, isto porque reserva

o enfoque às condutas anti-sociais, e estas caracterizam a delinquência em termos associais, ou

seja, as condutas que vão contra as normas sociais, não considerando os traços afectivos e

interpessoais típicos da perturbação.

Segundo este autor a delinquência caracterológica é precursora da psicopatia, esta

desenvolve-se a partir do egocentrismo do indivíduo, que centrado em si próprio e nos seus

interesses faz uso das acções anti-sociais. O que demonstra o quão imperioso é considerar a

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presença dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação em questão, para que não se

cometam erros em termos de classificação.

A personalidade dissocial segundo o CID-10 (1992) aproxima-se da conceptualização do

DSM-IV (2003) acerca da personalidade anti-social, pois na classificação do CID-10 (1992) esta

é igualmente marcada pela indiferença ou pela insensibilidade total aos sentimentos dos outros e

pela ausência de capacidade de empatia, exibindo uma atitude muito acentuada e persistente de

irresponsabilidade e desrespeito pelas normas, regras e obrigações sociais, o que pode levar à

incapacidade para estabelecer relações duradouras, aliada à baixa tolerância da frustração, assim

como, à incapacidade para se sentir culpado e de aprender com a experiência ou com as sanções

que habitualmente são aplicadas devido à manifestação frequente de comportamentos delituosos

e de acções agressivas, perpetuadas e consumadas através do sentimento de uma irritabilidade,

que é persistente.

Segundo Kernberg (1984) o anti-social é uma pessoa centrada em si mesma, com um

self grandioso, com uma ambição desmesurada e uma atitude de superioridade, existindo também

um segundo rasgo ao nível da sua personalidade na relação de objecto: a inveja, a ideia de

exploração dos demais e a necessidade de desvalorizar outrem.

As personalidades narcisistas e anti-sociais possuem um self dividido em dois níveis

estruturais: num dos níveis estruturais o self real destas personalidades encontra-se isolado, vazio,

incapaz de qualquer tipo de aprendizagem, inferior e inseguro; e num outro nível está oculto por

uma máscara que se sobrepõe, esta mascara é grandiosa no caso do narcisista e destrutiva no

indivíduo com a perturbação anti-social da personalidade (DSM-IV, 2003).

Vários autores associam os traços de personalidade narcísicos à psicopatia, isto porque

os indivíduos considerados psicopatas recorrem a meios imorais e pouco pacíficos para

reforçarem a sua reputação, de forma a engrandecerem o seu próprio ego e serem detentores de

um estatuto invulnerável e indestrutível. E quando sentem que o seu estatuto encontra-se

ameaçado ou é desrespeitado respondem com grande agressividade, ameaçando quem se opõe ou

os ignora (DSM-IV, 2003).

Os indivíduos que integram os chamados grupos gangs ou outros grupos constituídos

por delinquentes e marginais, partilham este tipo de perfil psicológico, pois procuram

impressionar os outros através da exibição de actos violentos e as suas acções encontram-se

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direccionadas para a busca de liderança, oprimindo os outros com vista a atingirem tal fim (Born,

2005).

2.2. Psicopatia primária e secundária

Karpman (1961) distinguiu dois tipos de psicopatia, em que um denominou de

psicopatia idiopática ou primária e o outro tipo nomeou de sintomática ou secundária. A primeira

manifestava-se predominantemente por reacções psicopáticas, enquanto que a segunda incluía

também reacções similares às psicopáticas, no entanto estas correspondiam sobretudo a processos

neuróticos. O psicopata primário caracteriza-se pela sua frieza e crueldade, principalmente ao

nível do estabelecimento das relações interpessoais, por outro lado este mostra-se capaz de

simular emoções e vínculos afectivos de modo a obter ganhos próprios.

Cleckley (1988) verificou a partir das suas investigações a existência de algumas

diferenças importantes ao nível da agressividade dos psicopatas, pois um dos subgrupos formados

por este tipo de indivíduos manifestava hostilidade, enquadravam-se num perfil belicoso,

imprudente, e susceptível ao consumo de substâncias; enquanto que um segundo subgrupo

abrangia indivíduos marcadamente agradáveis e bem ajustados em termos psicológicos, todavia

demonstravam-se imprevisíveis ao nível do comportamento, sendo indignos da possível

confiança que os outros pudessem depositar nos mesmos; o terceiro subgrupo era constituído por

indivíduos que reuniam um perfil misto, ou seja, manifestavam episódios de grande irritabilidade

e agressividade, interpostos por momentos de cordialidade e de cooperativismo.

Hare (1984) estabeleceu três tipos de psicopatia: o psicopata primário que

corresponderia à descrição realizada por Cleckley (1988); o psicopata secundário ou o psicopata

neurótico, conhecido pela sua capacidade em estabelecer relações afectivas, conseguindo

igualmente sentir culpa ou remorsos pelos seus actos e ansiedade; e o psicopata dissocial que

possuía uma subcultura própria integrada e formada em meios marginais, era capaz também de

sentir culpa, de ser leal e de transmitir afecto, sendo a sua conduta dissocial devida a factores

ambientais.

Karpman (1961) e Poythress e Skem (2006) defendiam que o psicopata secundário era

semelhante ao psicopata primário ao nível do fenótipo, mas desigual ao nível constitucional.

Ambos os tipos de psicopata exibem indiferença e insensibilidade emotiva, não olhando os seus

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meios para atingir os seus próprios fins, pois utilizam e manipulam outrem para que os seus

objectivos se tornem atingíveis, sendo igualmente detentores de uma conduta anti-social. O

psicopata primário distingue-se do secundário pela sua organização emocional instintiva, já que o

psicopata secundário é capaz de expressar em algumas situações empatia, ansiedade, depressão e

o desejo de aceitação social, vivenciando com mais intensidade os conflitos neuróticos.

Para além disto, os psicopatas primários actuam de modo a obterem o máximo de

excitação possível, enquanto que o psicopata secundário actua segundo as suas emoções, em

concordância com o ódio sentido ou o desejo de vingança, sendo um perfil típico do conflito

neurótico, por outro lado demonstram-se capazes de realizar uma aprendizagem social, tornando-

se possível incluir uma abordagem psicoterapêutica no delineamento da intervenção para estes

casos de psicopatia secundária (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).

Segundo Zágon (1995) tanto a psicopatia primária como a secundária podem ser

condicionadas pela presença de um défice neurológico ao nível do sistema de inibição do

comportamento, que tem a finalidade de regular a reactividade a estímulos aversivos e encontra-

se conexado com as experiências de afecto negativo, como a ansiedade, podendo também existir

uma desregulação ao nível do sistema de activação comportamental, este por sua vez rege a

motivação apetitiva e encontra-se associado com a experiência de afecto positivo e com a

impulsividade. Por outras palavras, o psicopata primário sofre de uma incapacidade ao nível do

funcionamento do sistema de inibição comportamental, que lhe conserva um temperamento

“audaz”, enquanto que a psicopatia secundária está subjacente ao mau funcionamento do sistema

de activação comportamental, que se mostra hiperactivo nos indivíduos com este tipo de

perturbação.

Porter e Woodworth (2006) apoiam-se noutro tipo de perspectiva, declarando que o

conflito patente na psicopatia secundária é mais de natureza dissociativa do que neurótica, as suas

características de afecto superficial e as emoções pobres e um estilo de vida marcadamente

egocêntrico, centrado na obtenção dos seus próprios fins, correspondem de certo modo ao

aparente problema dissocitaivo.

Eysenck (1981, 1995) postulou que a psicopatia primária caracteriza-se pela ausência de

sentimentos, de culpabilidade, de empatia ou de sensibilidade, deste modo os indivíduos com esta

perturbação possuem mais probabilidades de cometimento de actos puramente delitivos e

agressivos.

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Enquanto que, os psicopatas considerados secundários possuem altos valores de

extroversão e de neuroticismo, estes reagem com grande intensidade aos estímulos externos e

tendem a permanecer pouco activados durante os períodos de descanso ou durante a sua vida

diária, são deste modo detentores de uma grande distractibilidade e são relativamente desinibidos.

No entanto ao cometerem actos prejudiciais a outrem sentem-se culpabilizados e são capazes de

experimentar remorsos (Eysenck, 1995, 2006; Eysenck e Eysenck, 1976).

Por outro lado, Blackburn (1971) afirma que o psicopata primário é mais extrovertido,

seguro de si mesmo, dominante, apresentando níveis baixos de ansiedade, possuindo uma

socialização adequada e uma ausência de insight, caracterizada pela sua rigidez mental, enquanto

que o psicopata secundário sofre de alterações ao nível emocional, vivenciando com mais

intensidade e frequência a ansiedade social, isto deve-se também a um narcisismo mais atenuado,

marcado por uma auto-estima pobre, sendo um indivíduo retraído, propenso ao sentimento de ira

e de irritação, mostrando-se igualmente mais submisso e isolado socialmente, estes sintomas são

característicos dos traços neuróticos ao nível da sua personalidade (Blackburn, 1998).

Poythress e Skeem (2006) consideram que o psicopata primário sofre de um défice

afectivo congénito, enquanto que o psicopata secundário apresenta uma alteração afectiva que foi

adquirida, logo os psicopatas secundários tornam-se mais propensos à adopção de

comportamentos transgressivos e à ideação suicida, existindo assim um maior risco de suicídio

nestes indivíduos, podendo este ser reforçado pela sua ansiedade e pela sua impulsividade.

Neste sentido, os psicopatas primários são caracterizados pela sua violência

instrumental, sendo a partir desta que pretendem alcançar um objectivo exterior, enquanto que o

comportamento dos psicopatas secundários é marcado por um tipo de violência reactiva regular

associada à sua predisposição para sentir ansiedade e ira (Poythress e Skem, 2006). Sendo estes

últimos encarados como defensivos, rancorosos e susceptíveis à frustração e à critica (Blackburn,

1971).

Segundo Levenson, Kiehl e Fitzpatrick (1995), a psicopatia primária é marcada por

atitudes egoístas e despreocupadas, o individuo com esta perturbação tende a possuir uma postura

manipulativa em relação aos outros, enquanto que a psicopatia secundária encontra-se associada a

um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como a um pobre controlo dos impulsos e na falha

para aprender com os erros do passado.

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Levenson (1995) criou a escala de avaliação dos índices de psicopatia (Levenson´s Self-

Report Psychopathy Scale) aplicável à população em geral, sendo um grande contributo para o

estudo da psicopatia, isto porque anteriormente a maioria das medidas que avaliavam esta

perturbação destinavam-se à população institucionalizada, enquanto que esta escala pode ser

aplicada à população em geral.

Patrick (2000) e Blair (2003) estabeleceram uma diferenciação entre a psicopatia e a

perturbação anti-social da personalidade, afirmando que não são duas perturbações semelhantes,

pois possuem factores causais diferentes: a psicopatia primária é descrita e caracterizada por

défices emocionais e afectivos e pelo sentimento constante de egoísmo, enquanto que a

personalidade anti-social equipara-se à psicopatia secundária, pois este tipo de psicopatia é

marcada por alterações ao nível do comportamento, concretamente pelas acções anti-socias, sem

existir deterioração das emoções.

Eysenck (1992, 1994) nos seus estudos acerca da personalidade de indivíduos

considerados criminosos, constatou que os sujeitos considerados extrovertidos tendem a

manifestar comportamentos delituosos, sendo que a base neurofisiológica da extroversão está

relacionada com o funcionamento do sistema reticular ascendente e o consequente nível de

activação (arousal) cortical é mais baixo nos extrovertidos comparativamente aos introvertidos.

Os extrovertidos mostram-se mais rápidos no desenvolvimento da inibição reactiva, que

posteriormente levam mais tempo a fazer desaparecer, e por este motivo possuem mais

dificuldades em aprender ou a condicionar em relação aos introvertidos.

Neste âmbito, também é adequado abordar a preponderância do traço de neuroticismo,

visto que uma pessoa com um neuroticismo alto tende a reagir excessivamente aos estímulos,

quer externamente caso seja extrovertido, quer internamente se for introvertido. A base

neurológica deste traço encontra-se centrada na actividade do sistema nervoso autónomo, que é

demarcado por reacções excessivas e ansiosas principalmente nas situações marcadas por

estimulações aversivas, interferindo sobretudo na capacidade de aprendizagem social (Eysenck,

2006). Seguindo esta lógica, para qualquer nível de extroversão quanto mais alto for o

neuroticismo, maior será o nível de comportamento delituoso esperado. O indivíduo que situa a

sua personalidade neste nível será menos socializado, isto porque possui dificuldades de

condicionamento, e uma labilidade emocional exagerada (Eysenck, 2006).

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No que concerne ao traço de abertura à experiência, Zuckerman (1991) revela que o

mesmo é assinalado por uma tendência em procurar sensações e experiências novas variadas,

complexas e intensas, as pessoas com valores altos neste traço possuem uma predisposição para

correr riscos com a finalidade de satisfazer os seus objectivos, estando esta particularidade

associada aos comportamentos de risco, como sejam o consumo de substâncias ou à condução

perigosa sob o efeito do álcool (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira e Mestre, 2006).

Segundo Pinatel, citado por Borlandi, Mucchielli, Blanckaert e Sibeud (2001) existem

quatro traços particulares que constituem uma nova organização da personalidade e são idênticos

nas pessoas com comportamentos delituosos ou violentos: o egocentrismo, o indivíduo

egocêntrico percebe o mundo em função dos seus próprios interesses, logo existe uma certa

indiferença quanto às consequências dos seus actos em relação às suas vítimas e em relação aos

julgamentos de outrem, acerca dessas mesmas acções. Por outras palavras, uma pessoa com

egocentrismo e considerada delinquente sente frustração e passa para o acto sem se interrogar. A

labilidade constitui outro traço deste tipo de personalidades, sendo esta referente à dificuldade de

adaptação às diversas situações, em que o indivíduo não é capaz de medir as consequências das

suas acções e reage sem ter em consideração o passado nem o futuro, assim como não dá

importância às ameaças de sanções, não possuindo uma conduta estável ao longo do seu percurso

de vida, nem conseguindo gerir racionalmente as suas actividades ou relações. A agressividade

também é outra característica presente, sendo definida como uma tendência para agir e reagir

com violência, ou seja a pessoa recorre à força para atingir os seus fins e para fazer face às suas

frustrações sem se preocupar com as consequências futuras. E por último, a existência de

indiferença afectiva, marcada pela ausência de empatia (Oliveira, 2004), os indivíduos com esta

característica são insensíveis ao sofrimento alheio, e ao não sentirem compaixão podem provocar

sofrimento sem se deterem, não têm noção da dor que podem infligir, por conseguinte as suas

acções são marcadas pela frieza, mantendo as incapacidades de vinculação e as suas carências

afectivas.

2.3. - O papel da agressividade na psicopatia

As investigações empíricas realizadas no âmbito da psicopatia confirmam a existência

de uma forte relação entre psicopatia e o comportamento violento nos indivíduos do género

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masculino considerados delinquentes (Oliveira, 2004, 2007, 2008, 2009; Oliveira, Anciães e

Faria, 1999; Patrick, Zemplolich e Levenston, 1997). Os investigadores Williamson, Hare e

Wong (1987) enunciam que pontuações altas em psicopatia encontram-se associadas com a

prática frequente de crimes violentos e de acções agressivas, sobretudo no que concerne ao

comportamento dos psicopatas reclusos, que utilizam a agressividade como forma de controlarem

ou de liderarem os demais no mesmo meio prisional. Fora do contexto prisional os psicopatas

utilizam as estratégias de coacção ou de ameaças na prática dos crimes considerados mais graves,

assim como utilizam armas e a perseguição de desconhecidos com o intuito de obterem ganhos

pessoais.

Segundo Serin e Amos (1995), os psicopatas libertados por cumprirem a pena de prisão

que lhes foi atribuída cometem mais crimes violentos do que outrora, antes de serem punidos

judicialmente.

Buss (1961) e Dodge (1991) baseiam-se na teoria de Cleckley (1988) acerca do

psicopata verdadeiro para concluírem que a agressão deste indivíduo é de carácter mais

instrumental do que proactivo, ou seja, não é accionada como meio de defesa, sendo sim

motivada pelas circunstâncias. O psicopata verdadeiro é teorizado como um indivíduo predador,

que faz recurso regular da violência, sendo uma estratégia usual para intimidar e para atingir as

suas próprias metas.

A agressão passional ou reactiva é executada como produto das circunstâncias e insere-

se mais nas condutas ditas anti-sociais, ou seja é mais frequente nos indivíduos considerados anti-

socais reincidentes, já que estes preservam menos frieza em termos emocionais

comparativamente aos indivíduos considerados psicopatas verdadeiros (Buss, 1961 e Dodge,

1991).

As teorias de Cleckley (1988) estão em concordância com o postulado de Buss e Dogde

(1961), pois o primeiro conceptualiza a diferença entre os psicopatas e os delinquentes

reincidentes em termos de ressonância emocional, referindo que os psicopatas são incapazes de

sentir culpa ou remorsos, são egocêntricos ao ponto de não conseguirem amar ou transmitir

afectos, fazem um recurso diligente da insinceridade e da mentira patológica, bem como, do

encanto superficial para manipularem outrem e são indiferentes ao nível das suas relações

interpessoais.

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Neste sentido, a insensibilidade emocional é mais camuflada e preponderante nos

psicopatas delinquentes comparativamente à insensibilidade dos delinquentes reincidentes.

A psicopatia pode ser distinguida de outras formas de comportamento anti-social e

agressivo, que podem constituir características mais sintomáticas correlacionadas com as

perturbações de base emocional, como a delinquência neurótica, ou reflectem a socialização

dentro de uma subcultura que funciona em oposição à sociedade (Shine e Ferraz, 2000). Ao

contrário dos psicopatas, os delinquentes neuróticos e subculturais experimentam o sentimento de

culpa e de remorso em relação ao seu comportamento transgressivo e conseguem inclusive

estabelecer com os outros relações afectivas. A distinção clínica é efectuada pelos estudos que

utilizam o método electroencefalograma (EEG), que auxiliou na constatação de várias

irregularidades ao nível cerebral nos indivíduos psicopatas, sobretudo em relação à actividade

exagerada de ondas cerebrais lentas, que nos psicopatas fortemente impulsivos e agressivos

encontram-se localizadas nas regiões temporais do cérebro (Mata, 1999).

Em termos fisiológicos e hormonais, a hormona epinefrina assume uma grande

importância na explicação das condutas agressivas consideradas fora da normalidade. Esta

hormona controla o fluxo sanguíneo, melhora a força muscular e incrementa a intensidade e o

ritmo respiratório, preparando fisiologicamente uma pessoa para reagir com medo, com a fuga ou

com o ataque, dando origem a um estado apelidado de estimulação cortical. As pessoas com uma

estimulação cortical diminuta são habitualmente agressivas e quando se sentem ameaçadas,

sentem menos stress e ansiedade, respondendo de forma mais violenta e intensa. Por essa razão,

os indivíduos considerados criminosos e os psicopatas necessitam de experimentar estímulos

mais intensos para sentir mais excitação, comparativamente às pessoas ditas normais, e inclusive

demoram mais tempo para retornar aos níveis fisiológicos normais. A capacidade de

aprendizagem também se encontra associada a este handicap, pois os indivíduos com história

criminosa e com personalidade psicopática possuem mais dificuldades para apreender um

comportamento aceitável em termos sociais a partir de estímulos negativos ou até positivos

(Innes, 2004).

Richards (1998) também defende que uma base biológica pode explicar o facto do

psicopata possuir dificuldades de apego e de identificações malignas, pois isto pode ocorrer

segundo duas hipóteses: o psicopata possui um défice na capacidade de apego e de vinculação,

que pode advir do funcionamento de vias neurológicas inespecíficas ou por uma configuração

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politética de genes, assim como, pode possuir um defeito que resulta do excesso de impulsos

agressivos, ou da presença de um handicap nas funções inibitórias, ou podem coexistir ambas as

limitações. E os efeitos das experiências infantis precoces aliados com a predisposição biológica

referida anteriormente reúnem as condições necessárias para o desenvolvimento de psicopatia.

Os psicopatas secundários são considerados os indivíduos mais transgressivos em

termos sociais, e evidências científicas confirmam a existência de maiores anormalidades

neuronais que podem justificar o porquê destes indivíduos reagirem com mais fúria face a

ameaças físicas e verbais (Blackburn, 1998).

Millon (1998) possui uma perspectiva similar, afirmando que a agressividade nas

personalidades com estas particularidades diz respeito a um contra-ataque preventivo, que

provém de um julgamento antecipatório em relação a uma possível humilhação ou ameaça que

pode ser dirigida ao próprio. Em síntese, estas condutas estão intimamente relacionadas com as

crenças interpessoais, que por sua vez encontram-se associadas a uma rigidez cognitiva,

conduzindo às reacções de carácter hostil e aversivo como resposta a um comportamento de

outrem que foi mal interpretado ou avaliado pela pessoa que possui a perturbação.

As subtipologias de psicopatia realizadas por Millon (1998) demonstram características

que são comuns a todos os psicopatas, como o egocentrismo acentuado e a ausência de empatia: o

psicopata carente de princípios possui traços narcísicos e histéricos ao nível da sua personalidade,

ao nível comportamental as suas condutas são marcadas pela arrogância, existindo também uma

auto-desvalorização acentuada e uma indiferença face ao sofrimento dos outros. Levam um estilo

de vida fraudulento, exploram e manipulam os demais, são dotados de uma extrema

irresponsabilidade social, devido em parte às suas fantasias grandiosas, à sua capacidade para a

mentira, à sua incapacidade para se sentirem culpabilizados pelos seus actos e devido à sua

exímia capacidade para enganarem outrem através do seu encanto, e colocam-se no papel de

outra pessoa com grande facilidade, conseguindo marcar as pessoas através de uma amabilidade e

cortesia falsas; o psicopata malévolo é caracterizado pelas suas atitudes hostis e por um desejo

apurado de vingança, possui uma conduta constante de desafio face à sociedade, dando azo aos

seus impulsos de forma extremamente nociva. Possuem traços paranóides, permanecendo em

frequente desconfiança diante os comportamentos dos outros, antecipam sob falsas interpretações

possíveis traições ou punições, por exemplo a amabilidade dos outros serve de motivo para as

suas suspeitas, julgam que estão a iludi-lo e a enganá-lo, podendo praticar o assassínio e outras

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acções graves. Ao serem punidos pelos seus actos a sua adaptação à sociedade torna-se nula,

aumentado ainda mais o seu desejo de vingança e a sua agressividade, apesar de possuírem juízo

crítico e de conseguirem diferenciar o errado do certo. E com base nesta capacidade de

discernirem o certo e o errado tornam-se verdadeiros oportunistas e dissimulam as suas

verdadeiras atitudes ou condutas perante as figuras de autoridade, são igualmente selectivos na

escolha das suas vitímas, identificam à priori os indivíduos mais vulneráveis e aqueles que se

mostram mais submissos na concretização dos seus próprios desejos. Retiram sensações de

grande prazer ao provocarem a dor alheia; o psicopata dissimulado utiliza a sua versatilidade para

enganar, é igualmente dramático e teatral nas suas inter-relações, tem uma necessidade incessante

por atenção e estimulação, os seus comportamentos e atitudes são manifestados segundo o

principio da sedução, quando deseja atrair os outros ao seu plano e à satisfação dos seus

objectivos. Não sente igualmente culpabilização pelos seus actos, a culpa é sempre projectada em

terceiros, a sua falsidade e a sua capacidade de premeditação são engenhosas ao ponto de usufruir

de outrem para a concretização dos seus próprios fins. Quando são punidos ou os seus

“esquemas” são expostos, tendem a reagir de forma explosiva e agressiva; o psicopata ambicioso

age com vista somente aos seus interesses pessoais, julga-se privado de direitos e de regalias que

os outros têm, logo tenta compensar tal privação com recurso a acções como o roubo ou a

violação dos direitos dos outros, todavia não se sente preenchido apesar dos seus esforços ilícitos,

experimentando permanentemente o sentimento de inveja e de vazio, aprecia também a

ostentação do seu poder ou das suas propriedades luxuosas; e o psicopata explosivo faz uso da

sua hostilidade de forma imprevisível, age sem controlo sob a sua própria agressividade, sendo

agressivo sem motivo aparente. É hipersensível aos sentimentos de traição, julga que está a ser

enganado pelos outros em todas as circunstâncias, explodindo ao menor indício (Millon, 1998)

O ser humano pode evidenciar agressividade afectiva e agressividade predatória

(Oliveira, 2004). Segundo Oliveira (2004) a agressividade afectiva é executada em estados

emocionais intensos, sendo caracterizada como uma reacção face a um estímulo considerado

perigoso e que ameaça a segurança do indivíduo.

Oliveira (2004) revela também que os indivíduos considerados psicopatas possuem um

outro tipo de agressividade especifica, marcada por fantasias de ensaio, e caracterizada como

predatória. Estes indivíduos que manifestam agressividade predatória planeiam o acto que irão à

posteriori executar, tal agressividade pode advir de uma questão filogenética mal resolvida e está

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patente na psicopatia grave, sendo realizada a partir da fantasia de ensaio, esta fantasia existe na

realidade e realiza-se como se um projecto se tratasse, permanecendo uma fantasia repetitiva,

ritualista, mas detentora de mais detalhes, sendo gradualmente enriquecida até à execução da

acção ansiada.

Em suma, na agressividade predatória não existe activação emocional e o objectivo do

indivíduo que a manifesta reduz-se à obtenção de um fim previamente determinado, para tal

executa acções repetitivas de perseguição e de agressão. Adopta este tipo de comportamento

como uma estratégia para engrandecer o seu “self”, porque teme o sentimento de inferioridade e

não pretende de modo algum tornar-se vítima dos outros, fomentando desta forma as suas

fantasias de omnipotência.

Focando agora nos factores de risco inerentes à agressividade e ao desenvolvimento de

psicopatia verificamos que um factor preditivo da agressividade futura de uma criança pode

consistir no nível de agressividade do seu progenitor quando tinha a mesma idade do seu filho.

Por outro lado, a separação dos pais concebida durante a infância da criança pode

promover a conduta anti-social e a delinquência.

Investigações realizadas neste âmbito confirmam que as relações entre ambos os

progenitores marcadas pelos conflitos pessoais e pelas agressões, reproduzem-se igualmente na

dinâmica relacional com os filhos, influenciando negativamente o percurso de vida destes,

conduzindo-os às práticas anti-sociais ou delinquenciais ou aos comportamentos disruptivos.

Assim como, o facto de existir um filho mais velho considerado anti-social na família, a

probabilidade dos outros irmãos adoptarem também uma conduta delinquente é maior (Goleman,

1995).

Os traumas de infância conhecidos como “desordem dissociativa de identidade” são

encarados como uma estratégia de sobrevivência que a criança implementa para “fugir” aos

abusos físicos, sexuais e emocionais que sofre no meio familiar ou social onde esta se encontra

inserida. Durante esta dissociação a criança não é capaz de associar uma dada informação como

habitualmente fazemos no nosso quotidiano, o que possibilita um escape mental limitado das

experiências de tortura, de dor e das situações angustiantes que vive, disto pode resultar um lapso

de memória, afectando o sentido da história pessoal da mesma criança e prejudicando gravemente

a sua própria identidade, surgindo uma “fragmentação”, que poderá prolongar-se até à idade

adulta (Innes, 2004).

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Em síntese, a propensão para o crime e para o desenvolvimento de psicopatia pode ser

desencadeado pelos traumas infantis que são originados por uma família disfuncional, que utiliza

a agressividade na resolução de quezílias ou de outros aspectos e a criança ao conviver só com

este tipo de ambiente, desenvolve mais cedo ou mais tarde a crença de que a agressividade é a

forma ideal para lidar com as outras pessoas (Innes, 2004).

Athens (1992) é um criminologista americano que realizou vários estudos com

criminosos violentos em regime de reclusão, verificou a partir das suas investigações um padrão

de desenvolvimento social distintivo na maioria dos indivíduos considerados violentos e

agressivos. Este processo possui quatro etapas e dá-se num meio familiar que se demonstra

violento e pouco estimulativo, marcado por experiências angustiantes ocorridas durante a

infância destes indivíduos com história criminal. A primeira fase é denominada como

“brutalização”, isto porque a criança é forçada a submeter-se a uma figura de autoridade

agressiva que implementa comportamentos opressores, ameaças de agressão ou atitudes de

coacção. O que leva a criança a interiorizar através deste modelo educativo desadequado que a

agressão pode ser utilizada como uma estratégia para resolver qualquer tipo de problema que

surgirá futuramente. A segunda fase denominada por “beligerância”, surge no momento em que a

criança decide evitar futuras subjugações violentas e agressivas recorrendo à própria

agressividade. A terceira fase conhecida como “desempenho violento”, é marcada pela conquista

do respeito por parte da criança através do mesmo método coactivo e agressivo de que fora

vítima, ou seja os outros passam a respeitá-la porque a mesma é autora de actos violentos que

causam temor ou receio da sua própria perigosidade. A última e quarta fase é designada por

“virulência”, a criança torna-se orgulhosa quando confrontada com o seu êxito, determinando e

acreditando veemente que a violência e a agressão constituem o único meio fiável para lidar com

as pessoas e passa a socializar e a estabelecer inter-relações com as pessoas que partilham os

mesmos princípios que ela

Neste sentido, muitos são os factores de risco subjacentes ao início de uma carreira

delinquente, como o facto de ter nascido num meio hostil, favorável à criminalidade, onde esta

constitui um estilo de sobrevivência; a família pode não possuir também as condições necessárias

para proteger e cuidar da criança devidamente, que muitas vezes sofre de maus-tratos ou com o

desinteresse demonstrado pelos pais em relação à mesma; ou pelo facto de a criança pertencer a

uma classe social pobre (Goleman, 1995).

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Segundo Hare (1999) o comportamento delinquente tem origem na infância, existindo

uma continuidade conductual na infância, na adolescência e na adultez, sendo a psicopatia ou os

traços psicopáticos identificáveis numa fase precoce do indivíduo. Por outras palavras, os

psicopatas podem iniciar actividades anti-socias numa idade precoce, continuando com estes

actos durante uma grande parte das suas vidas, apesar de aos 35 anos ou a partir dos 40 anos os

índices de criminalidade tendem a diminuir, tal não significa que diminua o seu grau de

agressividade, pois este tende a manter-se ao longo dos anos (Hare, 2004).

A diferença entre a psicopatia e a perturbação anti-social da personalidade reside no

facto da primeira perturbação constituir num conjunto de traços de personalidade e de

comportamentos desviantes em termos sociais, enquanto que a perturbação anti-social refere-se

principalmente a um conjunto de condutas delitivas e anti-socias, onde são incluídos nesta

categoria psiquiátrica vários delinquentes que não são psicopatas. Todavia a relação entre a

psicopatia e a perturbação da personalidade anti-social é assimétrica, isto porque 90% dos

psicopatas delinquentes cumprem os critérios de diagnóstico da perturbação anti-social da

personalidade, mas só 25% destes poderiam ser diagnosticados com psicopatia (Hare, 2003).

Megargee, citado por Rossi e Sloore (2008) ao estudar homicidas definiu dois tipos de

personalidade: as sobre-controladas e as sub-controladas. As primeiras envolvem as tendências

agressivas muito fortes, que no entanto são contidas em consonância com as normas internas, que

são muito rígidas. Por outras palavras, as pessoas com este tipo de perfil em termos de

personalidade são capazes de manifestarem um comportamento conformista durante vários anos,

todavia se existir a inversão do equilíbrio entre os factores inibidores e os estimulantes,

provavelmente assiste-se à explosão violenta dos impulsos reprimidos, deste modo ao vencerem

as barreiras do controlo interno podem levar a cabo acções anti-sociais mais violentas, sendo

passível o cometimento do homicídio. Contrariamente, as pessoas detentoras de uma

personalidade sub-controlada não possuem mecanismos que possam inibir a sua própria

agressividade, no entanto mesmo estando mais propensas ao envolvimento em eventos agressivos

não significa que exibam mais acções violentas, ou seja, os actos violentos como o homicídio

ocorrem mais por acaso ou devido às circunstâncias. Neste tipo de personalidade não se evidencia

uma acumulação de tensões associada a uma premeditação do acto, como se observa na

personalidade sobre-controlada.

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Slabin e Guerra (1988) realizaram um estudo com jovens delinquentes condenados

devido à prática de crimes graves e com jovens estudantes do ensino secundário com altos níveis

de agressividade, verificaram que ambos os grupos partilhavam uma característica em comum,

pois quando possuem problemas ou um mau relacionamento com outrem adoptam no momento

uma postura de oposição, considerando essa pessoa como uma ameaça, apesar de nada

conhecerem sobre a mesma ou de adoptarem uma estratégia mais adequada na resolução das

divergências. Não reflectem nas possíveis consequências dos seus actos agressivos, interiorizam

que o facto de eles próprios serem violentos é normal e se deve a alguém que os irritou, por esse

motivo agridem e lutam, pois caso não o fizerem de acordo com o seu raciocínio são

considerados cobardes pelos outros, e que à partida as suas vítimas não sofrem tanto como os

outros julgam.

Os comportamentos para-delinquenciais são os comportamentos que “ mostram

dificuldade séria de adaptação a uma vida social normal, pela sua situação, pelo seu

comportamento ou pelas tendências que haja revelado” e “se entreguem à mendicidade,

vadiagem, prostituição, libertinagem, abuso de bebidas alcoólicas ou uso ilícito de

estupefacientes” (OTM, 1978).

Um estudo nacional levado a cabo por Reis (2007) acerca da evolução da delinquência,

desde a idade pré-escolar ate à adolescência, constatou que os primeiros comportamentos para-

delinquenciais se desenvolvem por volta dos 9 ou 10 anos de idade. Aos 11 e 12 anos de idade as

crianças com estes precedentes começavam a envolverem-se com grupos de pares delinquentes,

afastando-se progressivamente da escola, e ao adoptarem uma postura desregrada eram

facilmente impulsionadas para a execução de actos transgressivos, motivadas também pelos

colegas ou parceiros de grupos, que proporcionavam a atribuição de um estatuto elevado dentro

dessa pequena associação, levando ao aumento da sua auto-estima e ao sentimento de lealdade

para com esse grupo.

Aos 13 anos de idade os indivíduos iniciam-se no consumo de drogas, como o haxixe e o

pólen, assim como, no consumo de álcool, o que aumenta a impulsividade dos mesmos, e ao

mesmo tempo possibilita a prática de furtos, de roubos e a exposição ao perigo (Reis, 2007).

Verificou-se também que os jovens que adoptam este tipo de conduta numa idade mais

avançada tornam-se mais propensos à prática de crimes violentos, mais especificamente

relacionados com a ofensa à integridade física, à condução de veículos sem carta de condução,

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aos crimes de extorsão e de profanação de cadáveres e ao vandalismo, este tipo de

comportamentos são quase sempre accionados em grupo (Reis, 2007).

A escola revela-se um local vulnerável à concentração dos furtos e dos roubos,

sobretudo de telemóveis, de peças de vestuário de marca, de dinheiro e de bicicletas. E a grande

generalidade dos crimes é cometido com recurso à hostilidade, às ameaças e à agressividade

física, em que os roubos e furtos são executados de acordo com algumas metas definidas à priori:

podem servir para a aquisição de dinheiro com a venda dos materiais roubados, tornando possível

a compra de outros produtos ou objectos que legalmente não seriam obtidos; podem ser

praticados por diversão, pela procura de excitação a partir do desrespeito das normas; ou podem

servir como forma para ocupar os seus tempos livres (Reis, 2007). Tornando explicito o facto do

sistema escolar poder constituir o berço das futuras carreiras criminosas ou dos percursos

implícitos na psicopatia.

Este tipo de condutas pode ser seguido por um indivíduo que no passado fora vítima de

agressões por parte dos colegas, em que este passa assumir mais tarde o papel de agressor, como

uma necessidade voraz de transferir a angústia interior nos seus comportamentos ou acções, já

que muitos destes indivíduos foram vítimas de mau tratos, de negligência ou de abandono por

parte dos pais, assim sendo à posteriori elaboram uma ideia baseada no negativismo e na sua

revolta em relação aos outros, isto vai debilitar os seus vínculos pessoais e sociais, bem como,

condicionará negativamente o estabelecimento de futuras relações inter-pessoais. Estes factores

induzem à formação de um sentimento de não pertença à sociedade ou à escola, que os leva a

enveredar pela delinquência e futuramente poderão cair nas malhas do crime violento,

possibilitando o desenvolvimento de perturbações ao nível da personalidade, como a psicopatia

(Reis, 2007).

Uma das teorias que explica a problemática da agressividade consiste na teoria da

aprendizagem social, que refere que quando um jovem ou adolescente manifesta uma conduta

agressiva, está a reagir perante um conflito que pode resultar dos seguintes factores: problemas ao

nível das suas relações sociais, ao nível do relacionamento com pessoas mais adultas, devido ao

desrespeito pelas normas impostas pelos indivíduos mais velhos, que por sua vez punem os seus

comportamentos desrespeitosos, ou em relação aos indivíduos pertencentes à mesma faixa etária

do jovem ou adolescente, que despoletam quezílias de teor agressivo (Marsellach, 2002).

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O jovem ou adolescente aprende assim a comportar-se de forma agressiva através da

imitação do comportamento dos pais, de outros indivíduos adultos ou através dos seus colegas e

amigos, a este processo dá-se o nome de modelagem e ocorre quando o sujeito torna-se vítima

dos seus próprios pais que seguem padrões educativos com recurso à agressão física ou verbal, e

quando o mesmo encontra-se rodeado de modelos agressivos, adquirindo um reportório

comportamental centralizado na tendência para responder e reagir de forma agressiva face à

apresentação de eventuais conflitos (Marsellach, 2002).

Segundo Palomero e Fernández (2001) as estruturas sociais possuem uma grande ênfase

na problemática que a agressividade constitui actualmente, isto porque, geram três tipos de

agressividade: a agressividade indirecta, cultural e estrutural. A cultura ocidental apresenta a

rivalidade, a competência, as quezílias, o confronto e a violência como variáveis desejáveis e

inevitáveis e os processos de socialização e de educação continuam a dar formação aos

adolescentes e aos jovens de acordo com este modelo agressivo.

4. Método

4.1. Objectivo e hipóteses

O objectivo deste estudo prende-se com a análise da associação entre traços de

personalidade, traços psicopáticos e atributos agressivos. Propõe-se a abordar a associação das

variáveis já mencionadas no sentido de colmatar a falta de intervenções no âmbito da

investigação da carreira criminosa e da personalidade ou das condutas dos psicopatas jovens,

demonstrando o quão necessário é a identificação precoce no desenvolvimento dos traços

psicopáticos. Sendo igualmente imperioso conhecer de que forma o processo de desenvolvimento

do adolescente pode torná-lo vulnerável, existindo uma maior exposição a situações de risco que

envolvem sobretudo a agressividade, os comportamentos anti-sociais e a utilização de substâncias

ou de estupefacientes.

Neste sentido foram formuladas as seguintes hipóteses:

H1 - O traço de neuroticismo estará directamente relacionado com os atributos

agressivos. Segundo Eysenck (1981), o sujeito com uma conduta anti-social geralmente possui

traços de neuroticismo ao nível da sua personalidade. Tranah, Harnett e Yule (1998) referem

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igualmente que os indivíduos com uma emocionalidade negativa, com uma baixa auto-estima,

assim como, com condutas agressivas, desadaptativas em termos sociais possuem traços

neuróticos. Benet-Martinez (1998) revela que o traço de personalidade neuroticismo diz respeito

à estabilidade emocional com uma afectividade negativa, estando presente uma predisposição

para sentir ansiedade, tristeza, irritabilidade, assim como para manifestar comportamentos

ofensivos ao nível da agressividade física, da hostilidade e da irritabilidade.

H2 - A psicopatia secundária estará associada de forma positiva ao traço de abertura à

experiência e irá associar-se de forma negativa com o traço de amabilidade. A psicopatia

secundária encontra-se relacionada com um perfil psicológico derrotista, com incapacidades ao

nível do controlo dos impulsos e com um processo de aprendizagem limitado face aos erros

cometidos, assim como, a um estilo de vida impulsivo, centralizado na procura de novas

experiências (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995). O psicopata secundário é um indivíduo que

prima pelas condutas delinquentes, sendo frequente experienciar sentimentos de ira e de

irritabilidade, utiliza em várias circunstancias uma violência reactiva, devido à sua incapacidade

para tolerar criticas e para lidar com a frustração, o que possibilita a prática de acções e a

manifestação de comportamentos aversivos ou rancorosos (Blackburn, 1998; Poythress e Skem,

2006).

H3 - A expressão da agressividade física e verbal será maior na psicopatia primária,

enquanto que a manifestação de irritabilidade e hostilidade será mais marcada na psicopatia

secundária. O psicopata primário possui um perfil psicológico típico de um agressor ou

manipulador, existe nele a inaptidão para sentir culpabilidade e empatia, comete mais facilmente

actos de teor agressivo, reagindo a partir de uma violência instrumental (Eysenck, 1981, 1995;

Blackburn, 1971; Poythress e Skeem, 2006). Enquanto que, o psicopata secundário possui traços

neuróticos, estando susceptível à sensação de ansiedade e de culpabilidade, ou seja, sente afectos

negativos com grande intensidade e quando provoca danos prejudicais a terceiros pode sentir

remorsos, sendo passível a realização de aprendizagem em termos sociais e esta necessidade de

se sentir integrado e de ser aceite socialmente inibe com mais eficácia as suas respostas

agressivas. No entanto, devido ao seu fraco controlo sob os seus prórios impulsos, as suas

reacções a partir de actos antisociais são acentuadas, descontrolando-se facilmente, o que lhe

confere um estatuto habitualmente deliquencial (Karpman, 1961; Eysenck, 1976, 1995, 2006;

Poythress e Skeem, 2006).

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H4 - Existirá uma correlação positiva e significativa entre psicopatia secundária e o traço

de neuroticismo e uma correlação negativa entre psicopatia secundária e o traço de

conscienciosidade. Os psicopatas secundários possuem traços de neuroticismo ao nível das suas

personalidades, adoptam com mais frequência comportamentos transgressivos, assim como,

encontram-se mais vulneráveis à execução de ideações suicidas, devido à sua predisposição para

sentir ansiedade e para agir com impulsividade (Eysenck, 1976, 1995, 2006; Poythress e Skeem,

2006; Blackburn, 1998).

4.2. Descrição da amostra

Na tabela 3 apresentam-se as características demográficas da amostra utilizada para esta

investigação: a amostra é constituída por 123 estudantes do ensino básico e secundário com

idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17,82; DP= 1, 713).

No que respeita ao género, 59 dos estudantes (48 %) são do género masculino e 64

(52%) do género feminino.

Em termos de etnia, 57 estudantes (46.3%) são de etnia branca ou caucasiana e 66

(53.7%) são de etnia negra.

Em relação ao estado civil, 117 elementos da amostra (95.1%) revela ser solteiro, 4

deles (3.3%) refere ser casado e 1 dos alunos ( 8%) afirma viver em união de facto.

Na sua grande generalidade, os estudantes frequentam o 10º ano escolar (M= 10,32;

DP= 1,437).

Treze dos alunos inquiridos, ou seja, 10.6% da amostra revelam possuir problemas com

a justiça, enquanto que 110 dos estudantes (89.4 %) afirmam não possuir problemas com a

justiça.

Relativamente à toma de medicação, 20 dos estudantes (16,3%) afirmam utilizar

medicamentos, enquanto que 103 dos estudantes (83.7%) referem não utilizar qualquer tipo de

medicamento.

No que concerne ao recurso a substâncias psicotrópicas e estupefacientes, oito alunos

(6.5%) afirmam ter experimentado esse tipo de substâncias, enquanto que 114 dos alunos

(92,7%) negam a utilização das mesmas.

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Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas

4.3. Instrumentos

4.3.1. Questionário de informação demográfica, com as seguintes variáveis: idade, sexo,

etnia, estado civil, habilitações literárias, ano escolar que frequenta, se já teve problemas com a

justiça, se toma medicação e se já tomou ou toma algum tipo de estupefacientes ou de substâncias

psicotrópicas.

4.3.2. Desejabilidade Social. Avaliada através da Paulhus Deception Scale (PDS) de

Paulhus e Delroy (1998). Este questionário possui 40 itens que avaliam a tendência para dar

respostas desejáveis em termos sociais, é constituído por duas escalas: a sub-escala de auto-

apresentação favorável (AF) constituída pelos itens de 1 ao 20, avalia a tendência de dar auto-

descrições honestas mas enfatizadas, representando o enviesamento inconsciente favorável

N % Mínimo Máximo M DP Idade 16 22 17.82 1.713 Género

Masculino 59 48.0 Feminino 64 52.0

Etnia

Branca/ Caucasiana 57 46.3 Negra 66 53.7

Outra 0 0 Estado civil

Solteiro 117 95.1 Casado 4 3.3 União de facto 1 .8 Divorciado 0

Viúvo 0 Habilitações literárias 9.58 1.570 Ano escolar 10.32 1.437 Problemas com a Justiça

Sim 13 10.6 Não 110 89.4

Medicação Sim 20 16.3 Não 103 83.7 Substâncias

Sim 8 6.5 Não 114 92.7

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intimamente relacionado com o narcisismo (Paulhus e John, 1998), como por exemplo: “Tenho

muita confiança nos meus julgamentos” (item17) e a sub-escala de gestão da imagem (GI) que

envolve os itens 21 ao 40, esta analisa a tendência para fornecer auto-descrições enfatizadas de

forma exagerada à audiência, centrando-se na avaliação das categorias de desejabilidade social,

mais conhecidas por fingimento ou mentira, nesta sub-escala os indivíduos são solicitados a

classificar até que ponto concordam com os vários comportamentos desejáveis socialmente, por

exemplo: “Obedeço sempre à lei, mesmo que seja improvável ser apanhado” (item 26) ou com os

comportamentos indesejáveis (“Já meti baixa por doença no emprego ou na escola, apesar de não

estar realmente doente.”, item 37). O formato de resposta é dado numa escala de 5 pontos, em que

o 1 corresponde a “nada verdade” e o 5 corresponde a “bastante verdade”.

Ao nível das qualidades psicométricas, o PDS obteve um Alfa de Cronbach entre .83 e

.86, sendo detentor de uma consistência interna satisfatória em relação à população escolar (.83;

N=289), assim como em relação a outras amostras, como a população geral (.85), os novos

reclusos (.86; N= 603) e os recrutas militares (.85; N= 124).

No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .80 para a escala

de gestão da imagem, .76 para a escala de auto-apresentação favorável .78 para a escala total.

No que respeita à validade convergente, a sub-escala AF correlaciona-se

significativamente com o optimismo medido pelo questionário LOT de Scheier e Carver (1985),

(r = .41); com o inventário de mecanismos de defesa de Ihilevich e Gleser´s (1986), (r =. 34); e

com a reavaliação positiva (r = .44), com o distanciar (r = .33), e com o escape de evasão (r =

.39), operacionalizados pela escala de formas de coping de Lazarus e Folkman, (1984). Enquanto

que a sub-escala GI associa-se de forma significativa com as escalas que avaliam a mentira,

presentes no questionário Eysenck`s EPI e no MMPI e com as escalas de role-playing, existente

por exemplo no questionário Wiggins Sd. Ao nível das intercorrelações, a correlação entre a

escala AF e GI utilizando uma amostra de estudantes universitários é baixa (. 20; N= 180); o

mesmo se sucede no estudo com 320 estudantes universitários, as duas sub-escalas

correlacionam-se entre si de forma igualmente baixa (. 23).

4.3.3. Personalidade. Avaliada através do questionário Big Five Inventory (BFI) de

Benet-Martínez e John (1998). O questionário é constituído por 44 itens que se distribuem por

cinco dimensões: a extroversão constituída por 8 itens (1, 6, 11, 16, 21, 26, 31 e 36); a

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amabilidade constituída por 9 itens (2, 7, 12, 17, 22, 27, 32, 37 e 42); a conscienciosidade

constituída por 9 itens (3, 8, 13, 18, 23, 28, 33, 38 e 43); o neuroticismo constituído por 8 itens

(4, 9, 14, 19, 24, 29, 34 e 39), e a abertura à experiência constituída por 10 itens (5, 10, 15, 20,

25, 30, 35, 40, 41 e 44). O formato de resposta é de tipo Likert de 5 pontos, que varia de 1

(discordo fortemente) a 5 (concordo fortemente). Nas dimensões de extroversão e de

neuroticismo a amplitude dos resultados varia de 8 a 40; para as dimensões de amabilidade e de

conscienciosidade os valores variam entre 9 e 45, e para a dimensão de abertura à experiência o

resultado varia entre 10 e 50. Os resultados mais elevados demonstram que uma dada dimensão

da personalidade se acentua comparativamente às outras.

Ao nível da consistência interna, o questionário ostenta um coeficiente Alfa de

Cronbach entre .75 e .90 na variação das escalas do BFI, com uma média de .80.

Em relação à adaptação do questionário BFI para a população dos Estados Unidos,

obtiveram-se os seguintes coeficientes do Alfa de Cronbach para as cinco dimensões do BFI:

extroversão (. 88; N= 711); amabilidade (. 79; N= 711); conscienciosidade (. 82; N= 711);

neuroticismo (. 84; N=711); e abertura à experiência (. 81; N=711); com uma média de .83

(Benet-Martínez e John, 1998).

No que concerne à adaptação do questionário BFI para a população Espanhola, foram

calculados os seguintes coeficientes para as cinco dimensões: extroversão (. 85; N= 894);

amabilidade (. 66; N= 894); conscienciosidade (. 77; N= 894); neuroticismo (. 80; N=894); e

abertura à experiência (. 79; N= 894); com uma média de.78 (Benet-Martínez e John, 1998). A

confiança de teste-reteste realizada num intervalo de três meses apresenta um coeficiente entre

.80 e .90, com uma média de.85.

No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .73 para a escala

de extroversão, .71 para a escala de amabilidade, .72 para a escala de conscienciosidade, .70 para

a escala de neuroticismo e .70 para a escala de abertura à experiência.

Relativamente à validade, as intercorrelações entre as cinco escalas tendem a ser baixas,

a maioria está abaixo dos .20 e só duas ultrapassam os .30. Ao nível da validade convergente as

escalas do BFI têm uma correlação mais elevada com as escalas de McCrae e Costa (1997) e de

Goldberg (1993), (média r =.75 e .80, respectivamente) comparativamente à correlação entre as

escalas do BFI (média r = .65).

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4.3.4. Psicopatia. Operacionalizada através do questionário Levenson`s Self- Report

Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995).

Esta medida consiste num questionário de auto-avaliação para adultos de aplicação

individual com 26 itens no total, que pretendem avaliar os traços de comportamento e da

personalidade geralmente associados à psicopatia na literatura (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick,

1995). A medida é constituída por duas sub-escalas, em que uma é relativa à psicopatia primária

(16 itens: 1- 16) e a outra à psicopatia secundária (10 itens: 17-26). O formato de resposta é dado

numa escala de tipo Likert, de 4 pontos, em que 1 corresponde a “nunca”, 2 a “poucas vezes”, 3 a

“algumas vezes” e 4 a “quase sempre”. Os itens da sub-escala de psicopatia primária foram

elaborados para aceder às atitudes egoístas, despreocupadas e a uma postura manipulativa em

relação aos outros, por exemplo “O sucesso é baseado na sobrevivência dos mais aptos; os

vencidos não interessam” (item 1) ou “As pessoas que são suficientemente estúpidas para serem

enganadas, geralmente merecem-no” (item 7). Enquanto que os itens da sub-escala de psicopatia

secundária foram desenvolvidos para aceder a um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como

a um pobre controlo sob os próprios impulsos e na falha para aprender com os erros anteriores,

tais como “Não planeio nada com muita antecedência” (item 20) ou “Quando fico frustrado,

alivio a tensão através da irritação” (item 25).

Relativamente às qualidades psicométricas, o questionário LSRP ostenta um Alfa de

Cronbach de .82 para a sub-escala psicopatia primária e de .63 para a sub-escala de psicopatia

secundária, manifestando desta forma consistência interna. É de referir que este instrumento tem

sido utilizado em estudos portugueses (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira, Faria e Fazendeiro, 2003).

No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .76 para a escala

de psicopatia primária e .64 para a escala de psicopatia secundária.

Em relação à validade convergente, a sub-escala de psicopatia primária correlacionou-se

de forma significativa com a escala “acção anti-social”, igualmente elaborada por estes

investigadores (r = .44; p≤.001), com a sub-escala “evitamento ao mal” da medida

correspondente ao questionário Multimensional Personality Questionnaire (MPQ) (r = -. 17;

p≤.001), e com as sub-escalas “susceptibilidade ao aborrecimento” e “desinibição” relativa à

medida pertencente ao questionário Sensation Seeking Scale (r = . 34 e r =. 39; p≤.001; N=

487). A sub-escala psicopatia secundária associou-se de forma significativa com a escala “acção

anti-social” referida anteriormente (r =. 29; p≤.001), com a sub-escala “reacção ao stress” do

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MPQ (r =. 41), e com a sub-escala “ susceptibilidade ao aborrecimento” relativa ao questionário

Sensation Seeking Scale (r =. 27; N=487). As duas sub-escalas de psicopatia presentes na medida

LSRP associaram-se de forma significativa (r =. 40; p≤.001; N= 487).

4.3.5. Agressividade. Avaliada através do Aggression Questionnaire (AQ) de Buss e

Perry (1992).

Este questionário é constituído por 29 itens que se encontram distribuídos por quatro

factores: agressão física (9 itens), agressão verbal (5 itens), irritabilidade (7 itens), e hostilidade

(8 itens). Cada item consiste num estado em que os participantes se enquadram, classificando

numa escala de Likert de 5 pontos: desde “nada”, “quase nada”, “por vezes”, “bastante” a

“muito”.

No que concerne às qualidades psicométricas, as sub-escalas do questionário AQ exibem

consistência interna, os Alfas de Cronbach calculados para as quatro sub-escalas foram: agressão

física (. 75; N= 69); agressão verbal (. 51; N= 69); irritabilidade (. 67; N=69); e hostilidade (. 69;

N= 69). O factor geral apresentou um Alfa de .86. Num estudo realizado por Léon, Reys, Vila,

Pérez, Robles e Ramos (2002) utilizou-se uma amostra constituída por 345 estudantes de

nacionalidade Espanhola, onde a consistência interna das quatro sub-escalas do questionário AQ

calculada a partir do Alfa de Cronbach assumiu os seguintes valores: agressão verbal (. 57);

agressão física (. 63); irritabilidade (. 77); e hostilidade (. 67). O factor geral corresponde a um

Alfa de .82. No que respeita ao cálculo da fidelidade teste-reteste, estes mesmos investigadores

recorreram a uma amostra de 154 estudantes também de nacionalidade Espanhola, onde

constataram que esta foi relativamente estável, tendo sido analisada num intervalo de 5 semanas,

obtendo os seguintes coeficientes para as sub-escalas do AQ: agressão verbal (. 72); agressão

física (. 81); irritabilidade (. 88); e hostilidade (. 57); com um valor geral de .81.

No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .78 para a escala

de agressividade física, .74 para a escala de agressividade verbal, .70 para a escala de

irritabilidade, .72 para a escala de hostilidade e .85 para a escala total.

Em relação à validade convergente, o questionário Cook-Medley Hostility Scale (HO)

correlaciona-se de forma significativa com o questionário AQ (r =. 59; p ≤.01; N=384), assim

como, existe uma associação significativa entre o questionário Buss-Durkee Hostility Inventory e

o questionário AQ (r =. 79; p≤.01; N= 384). A sub-escala irritabilidade do questionário AQ

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estabeleceu uma correlação significativa com as sub-escalas impaciência e hostilidade do

questionário Jenkins Activity Scale, Forme H (JASE-H), (r =. 63; p ≤ . 01; N= 384). As sub-

escalas agressão física e agressão verbal do questionário AQ estabeleceram também uma

correlação significativa com as sub-escalas irritabilidade-expressão (r =. 22 e r =. 25

respectivamente; p ≤ . 01); N= 384) e irritabilidade-traço (r =. 32 e r =. 25 respectivamente; p ≤ .

01; N= 384) do questionário State-Trait Anger Expression Inventory (STAXI) de Léon, Reys,

Vila, Pérez, Robles e Ramos (2002). Segundo Buss e Perry (1992), as sub-escalas do questionário

AQ não estão fortemente intercorrelacionadas, sendo que a maioria está abaixo dos .50, em que a

sub-escala agressão verbal apresenta uma correlação moderada com a sub-escala agressão física

(r = . 54; p≤.001); a sub-escala irritabilidade mantém uma correlação moderada com a sub-escala

agressão física (r =. 47; p≤. 001) e com a sub-escala agressão verbal (r = . 56; p ≤.001); e a sub-

escala hostilidade possui correlações moderadas com as seguintes sub-escalas: agressão física (r

=. 45; p≤. 001); agressão verbal (r =. 50; p≤.001); e irritabilidade (r =. 57; p≤ .001). Morren e

Meesters (2002), testaram as correlações entre as sub-escalas do AQ através de uma amostra

constituída por 73 estudantes de nacionalidade Holandesa, concluindo que: a sub-escala agressão

física estabelece uma correlação baixa com a sub-escala hostilidade (r =. 26; p≤.02; N= 73); a

sub-escala agressão verbal possui uma correlação fraca com a sub-escala hostilidade (r = .27;

p≤.02; N= 73); e as 2 sub-escalas agressão física e agressão verbal correlacionam-se entre si de

forma moderada (r =. 38; p≤.02; N= 73).

4.4. Procedimento

Os participantes foram informados individualmente sobre o objectivo geral do estudo,

solicitando a sua participação voluntária e sendo o protocolo em questão entregue em mão para o

seu devido preenchimento, após o consentimento dos mesmos. Foi igualmente solicitado o

consentimento para aplicação do respectivo questionário à Presidente do Conselho Executivo da

Escola Secundária de Sacavém e aos encarregados de educação dos alunos de idade menor (ver

Anexo 2).

Foi transmitido aos participantes que as informações disponibilizadas pelos mesmos

seriam confidenciais e que poderiam desistir do preenchimento do protocolo a qualquer

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momento. A aplicação dos 123 protocolos ocorreu nas instalações da escola, ou seja, nas salas de

aulas.

O presente estudo é de carácter transversal, uma vez que os participantes só foram

avaliados uma única vez, relativamente à relação entre traços de personalidade, traços

psicopáticos e atributos agressivos. O desenho deste estudo é de cariz correlacional, isto porque

pretende-se analisar a associação entre as variáveis traços de personalidade, traços psicopáticos e

atributos agressivos.

4.5. Resultados

Todos os dados obtidos nos questionários foram introduzidos numa base de dados e

tratados no programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 17.0 para

o Windows.

A tabela 4 mostra os dados descritivos das seguintes variáveis: as cinco dimensões da

personalidade operacionalizadas pelo questionário Big Five (BFI); as duas sub-escalas de

desejabilidade social do questionário Paulhus Deception Scale (PDS); os quatro factores de

agressividade do questionário de agressividade (AQ); e as duas sub-escalas de psicopatia,

presentes na Levenson Psychopathy Scale (LSRP). Esta tabela contém os valores mínimos e

máximos para cada dimensão, assim como os valores médios e de desvio padrão.

Relativamente à variável personalidade obtivemos-se os seguintes valores para as cinco

dimensões: na extroversão, os valores variam entre 14 e 40, com um valor médio de 27,88 e um

desvio padrão de 5,386; na amabilidade, os valores variam entre 21 e 43, possuindo uma média

de 33,85 e um desvio padrão de 4,943; os valores na dimensão de conscienciosidade variam entre

17 e 38, com um valor médio de 29,82 e um desvio padrão de 4,860; no factor neuroticismo, os

valores variam entre 14 e 35, onde o valor médio é de 23,54 e o desvio padrão de 4,507; e na

dimensão de abertura à experiência, os valores variam entre 18 e 46, detendo um valor médio de

34, 89 e um desvio padrão de 5,477.

No que concerne à variável desejabilidade social, na dimensão de gestão da imagem, os

valores variam entre 0 e 11, o valor médio obtido é de 3,17, com um desvio padrão de 2,660; para

a dimensão de auto-apresentação favorável, os valores variam entre 2 e 17, com um valor médio

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de 8,85 e um desvio padrão de 3,355; e para a dimensão de desejabilidade social total, os valores

variam entre 3 e 25, com uma média de 12.02 e um desvio padrão de 4.785.

No que diz respeito à variável agressividade, os valores patentes nos quatro factores são:

na agressividade física, os valores variam entre 11 e 44, demonstrando uma média de 22,03 e um

desvio padrão de 6,453; para a dimensão de agressividade verbal, os valores variam entre 7 e 25,

com um valor médio de 14,25 e um desvio padrão de 3,220; no factor irritabilidade, os valores

variam entre 7 e 32, possuindo uma média de 17,30 e um desvio padrão de 5,298; na dimensão de

hostilidade, os valores variam entre 12 e 40, exibindo um valor médio de 23,59 e um desvio

padrão de 5,399; e na agressividade total, os valores variam de 48 e 133, apresentando um valor

médio de 77,18 e um desvio padrão de 15, 417.

Quanto à variável psicopatia, verifica-se que ao nível da dimensão de psicopatia

primária, os valores variam entre 19 e 55, com um valor médio de 35,33 e um desvio padrão de

7,290 e na psicopatia secundária, os valores variam entre 13 e 32, demonstrando um valor médio

de 22,71 e um desvio padrão de 3,765.

Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas

A tabela 5 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por idades, para as dimensões

do Big Five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de agressividade (AQ),

bem como o resultado do teste t de Student para amostras independentes. Constata-se a partir da

Mínimo Máximo M DP Extroversão 14 40 27.88 5.386 Amabilidade 21 43 33.85 4.943 Conscienciosidade 17 38 29.82 4.860 Neuroticismo 14 35 23.54 4.507 Abertura à experiência 18 46 34.89 5.477 Gestão da Imagem 0 11 3.17 2.660 Auto-apresentação Favorável 2 17 8.85 3.355 PDS_TOT 3 25 12.02 4.785 Agressividade Física 11 44 22.03 6.453 Agressividade Verbal 7 25 14.25 3.220 Irritabilidade 7 32 17.30 5.298 Hostilidade 12 40 23.59 5.399 Agressividade Total 48 133 77.18 15.417Psicopatia Primária 19 55 35.33 7.290 Psicopatia Secundária 13 32 22.71 3.765

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tabela 5, que existem diferenças significativas entre idades em relação ao traço de amabilidade (t

(123) = - 2.352; p =, 020), sendo que os sujeitos com idade inferior a 17 anos (valor considerado

a partir de um ponto de corte estabelecido em função do percentil 50) apresentam um valor médio

superior (M= 35, 49; DP= 5,365) comparativamente aos sujeitos com idade superior ou igual a 17

anos (M= 33,20; DP= 4,639), (ver tabela 5).

Na análise da variável psicopatia, encontram-se igualmente diferenças significativas

entre idades, mais precisamente em relação à psicopatia primária (t (123) = 2,211; p =, 029),

onde os indivíduos com idade superior ou igual a 17 anos revelam um valor médio mais elevado

(M= 36,23; DP=7,095) face ao valor obtido pelos indivíduos com idade inferior a 17 anos (M=

33,06; DP=7,380). Nas restantes variáveis não se verificam diferenças significativas entre idades,

(ver tabela 5).

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Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade

* p<0,05

A tabela 6 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por géneros, para as

dimensões do Big Five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de

agressividade (AQ), bem como o resultado do teste t de Student para amostras independentes.

A partir da análise das dimensões ao nível da personalidade, verificam-se diferenças

significativas entre géneros no traço de conscienciosidade (t (123) = -2,087; p =, 039), no qual os

sujeitos do sexo feminino revelam um resultado médio superior (M= 30,69; DP= 4,556),

Idade >= 17 Idade < 17 M DP M DP t p Extroversão 27.91 5.642 27.80 4.758 .101 .920 Amabilidade 33.20 4.639 35.49 5.365 -2.352 .020* Conscienciosidade 30.10 4.730 29.11 5.178 1.017 .311 Neuroticismo 23.12 4.541 24.57 4.313 -1.616 .109 Abertura à experiência 34.88 5.544 34.94 5.385 -.062 .951 Gestão da Imagem 3.18 2.680 3.14 2.647 .073 .942 Auto-apresentação Favorável 8.64 3.238 9.40 3.623 -1.140 .256 PDS_TOT 11.82 4.706 12.54 5.008 -.757 .451

Agressividade Física 22.43 7.114 21.03 4.294 1.089 .278 Agressividade Verbal 14.27 3.396 14.20 2.774 .113 .911 Irritabilidade 17.18 5.613 17.60 4.467 -.394 .695 Hostilidade 23.12 5,332 24.77 5.462 -1.535 .128 Agressividade Total 77.01 16.614 77.60 12.098 -.190 .849 Psicopatia Primária 36.23 7.095 33.06 7.380 2.211 .029*

Psicopatia Secundária 22.85 3.911

22.34 3.395 .676 .501

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comparativamente ao resultado obtido pelos indivíduos do género masculino (M= 28,88; DP=

5,041).

Em termos de agressividade, verificam-se diferenças significativas entre géneros ao

nível da agressividade física (t (123) = 2,577; p =, 011), em que o género masculino destaca-se

com um valor médio superior (M= 23,56; DP= 7,630) em comparação com o género feminino

(M= 20,62; DP= 4,779), (ver tabela 6)

Existem igualmente diferenças significativas entre géneros relativamente à psicopatia,

em que na psicopatia primária (t (123) = 2,902; p =, 004) o género masculino obteve um valor

médio mais elevado (M=37,25; DP= 7,305) comparativamente ao género feminino (M= 33,55;

DP= 6,861), (ver tabela 6).

Não se verificam diferenças significativas entre géneros nas restantes variáveis (ver tabela

6).

Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade

* p<0,05; ** p<0,01.

A tabela 7 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por indivíduos com

problemas judiciais e por indivíduos sem problemas judiciais, para as dimensões do Big five

Masculino Feminino M DP M DP t p Extroversão 27.54 5.224 28.19 5.555 -. 662 .509 Amabilidade 33.32 4.922 34.34 4.951 -1.147 .254 Conscienciosidade 28.88 5.041 30.69 4.556 -2.087 .039* Neuroticismo 23.07 4.958 23.97 4.039 -1.109 .270 Abertura à experiência 34.85 5.420 34.94 5.572 -.091 .928

Gestão da Imagem 3.34 2.502 3.02 2.809 .672 .503

Auto-apresentação Favorável 8.24 3.334 9.42 3.299 -1.979 .050 PDS_TOT 11.58 4.430 12.44 5.089 -.997 .321 Agressividade Física 23.56 7.630 20.62 4.779 2.577 .011* Agressividade Verbal 14.54 3.202 13.98 3.239 .960 .339 Irritabilidade 17.66 5.809 16.97 4.801 .723 .471 Hostilidade 24.15 5.545 23.08 5.250 1.104 .272 Agressividade Total 79.92 17.411 74.66 12.951 1.910 .058 Psicopatia Primária 37.25 7.305 33.55 6.861 2.902 .004** Psicopatia Secundária 22.95 4.171 22.48 3.366 .682 .496

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(BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de agressividade (AQ), bem como

o resultado do teste t de Student para amostras independentes. Através da análise da tabela em

questão verifica-se a existência de diferenças significativas entre os indivíduos com problemas

judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, relativas ao traço de amabilidade (t (123) = -3,

206; p =, 002), em que os indivíduos sem problemas judiciais possuem um valor médio superior

(M= 34,33; DP= 4,696) em comparação ao valor médio obtido pelos indivíduos com problemas

judiciais (M = 29,85; DP= 5,352). Em relação ao factor de conscienciosidade (t (123) = 3,582; p

=, 000) constatam-se igualmente diferenças significativas, em que os indivíduos sem problemas

judiciais superam com um resultado médio elevado (M= 30,34; DP= 4,685) face ao resultado

médio obtido pelos indivíduos com problemas judiciais (M= 25,46; DP= 4,215), (ver tabela 7).

No que respeita aos atributos agressivos, observam-se também diferenças significativas

entre os indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, sobretudo

no que refere à agressividade física (t (123) = 4,590; p =, 000), em que os indivíduos com

problemas judicias são detentores de um valor médio superior (M= 29,23; DP = 9,382) em

relação ao valor médio obtido pelos indivíduos que não possuem problemas judiciais (M= 21, 18;

DP= 5,478); o mesmo se verifica ao nível da irritabilidade (t (123) = 3,474; p =, 001), em que os

indivíduos com problemas judiciais revelam um valor médio superior (M = 21,92; DP= 5,188),

face ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M= 16,75; DP = 5,060);

e em relação à agressividade total (t (123) = 3,514; p =, 001), em que os indivíduos com

problemas judiciais revelam um valor médio superior (M= 90,77; DP= 18,217)

comparativamente ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M=

75,57; DP= 14.313), (ver tabela 7).

Relativamente aos traços psicopáticos, verificam-se diferenças significativas entre os

indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, especificamente em

relação ao factor psicopatia secundária (t (123) = 2,200; p =, 030), em que os indivíduos com

problemas judiciais possuem um valor médio mais elevado (M= 24,85; DP= 3,460),

comparativamente ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M=

22,45; DP = 3,733), (ver tabela 7).

Não se verificam diferenças significativas entre os indivíduos com problemas judiciais e

os indivíduos sem problemas judiciais nas restantes variáveis (ver tabela 7).

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Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos sem

problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e

de agressividade

* p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001

A tabela 8 contém os valores médios e de desvio padrão, por indivíduos consumidores e

por indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, para as

dimensões do Big five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP), e de

agressividade (AQ), assim como, o resultado do teste t de Student para amostras independentes.

A partir do exame da tabela 8, constatam-se diferenças significativas entre os indivíduos

consumidores e os indivíduos não consumidores, sobretudo ao nível do traço de amabilidade (t

(123) = - 2,381; p =, 019), observam-se diferenças significativas, sendo que os indivíduos não

consumidores são detentores de um valor médio superior (M= 34,11; DP = 4,759) face ao valor

médio apresentado pelos indivíduos consumidores (M = 29,88; DP= 6,357); e o traço de

conscienciosidade (t (123) = 2,192; p=, 030) apresenta igualmente diferenças significativas entre

os indivíduos consumidores e os não consumidores, sendo que os indivíduos não consumidores

Problemas com a

Justiça Sem problemas com

a Justiça M DP M DP t p Extroversão 27.00 5.477 27.98 5.391 -.620 .536 Amabilidade 29.85 5.352 34.33 4.696 -3.206 .002** Conscienciosidade 25.46 4.215 30.34 4.685 -3.582 .000*** Neuroticismo 25.08 5.634 23.35 4.351 1.307 .194 Abertura à experiência 33.15 6.669 35.10 5.317 -1.214 .227

Gestão da Imagem 3.00 2.082 3.19 2.728 -.244 .808

Auto-apresentação Favorável 7.23 2.682 9.05 3.385 -1.863 .065 PDS_TOT 10.23 3.004 12.24 4.919 -1.435 .154 Agressividade Física 29.23 9.382 21.18 5.478 4.590 .000*** Agressividade Verbal 14.23 4.065 14.25 3.129 -.025 .980

Irritabilidade 21.92 5.188 16.75 5.060 3.474

.001** Hostilidade 25.38 6.252 23.38 5.281 1.268 .207 Agressividade Total 90.77 18.217 75.57 14.313 3.514 .001** Psicopatia Primária 38.62 8.827 34.94 7.032 1.735 .085 Psicopatia Secundária 24.85 3.460 22.45 3.733 2.200 .030*

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possuem um valor médio elevado (M= 30,10; DP= 4,786) comparativamente ao valor médio

obtido pelos indivíduos consumidores (M= 26, 25; DP= 5.007), (ver tabela 8).

No que concerne à desejabilidade social, constatam-se diferenças significativas entre os

indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de

estupefacientes, sobretudo ao nível da dimensão auto-apresentação favorável (t (123) = -2,308;

p=, 023), sendo que os indivíduos não consumidores possuem um valor médio superior (M=

9,04; DP= 3,382) comparativamente ao valor obtido pelos indivíduos consumidores (M= 6,25;

DP= 1,753), (ver tabela 8)

No que respeita aos atributos agressivos denotam-se igualmente diferenças

significativas, especificamente ao nível da agressividade física (t (123) = 3,653; p =, 000), em

que os indivíduos consumidores são detentores de um valor médio mais elevado (M= 29,62; DP=

7,708) em relação ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M = 21,43; DP=

6,022); na dimensão irritabilidade (t (123) = 2,339; p =, 021), também se verificam diferenças

significativas, em que os indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 21,50;

DP= 6,392) comparativamente ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M=

17,04; DP= 5,127); e ao nível da variável agressividade total (t (123) = 3,100; p =, 002), em que

os indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 93,00; DP= 16,204)

relativamente ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M= 76,04; DP=

14.875), (ver tabela 8).

Na análise dos resultados apresentados ao nível da psicopatia, observam-se diferenças

significativas entre os indivíduos consumidores e os não consumidores de substâncias

psicotrópicas e de estupefacientes na variável psicopatia primária (t (123) = 2,223; p =, 028), os

indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 40,75; DP= 9,192) em relação

ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M= 34,90; DP= 7,048), (ver tabela 8).

Não se verificam diferenças significativas entre os indivíduos consumidores e os

indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes nas restantes

variáveis (ver tabela 8).

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Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias

psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social,

de psicopatia e de agressividade

* p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001

Foram ainda efectuadas correlações através do coeficiente de Pearson com o intuito de

verificar a associação entre as variáveis traços de personalidade com base no modelo dos 5

factores, em relação à desejabilidade social, aos traços psicopáticos e aos atributos agressivos.

No que respeita às correlações entre traços de personalidade e desejabilidade social, na

gestão da imagem verifica-se uma correlação no sentido positivo com a dimensão de

conscienciosidade (r =. 250; p≤.01). Ao nível do factor auto-apresentação favorável surge uma

correlação moderada no sentido positivo com a dimensão de amabilidade (r =. 399; p≤.01), e com

a dimensão de conscienciosidade, a correlação ocorre no sentido positivo (r =. 299; p≤.01),

enquanto que relativamente à desejabilidade social total existem correlaçoes moderadas no

sentido positivo com as seguintes dimensões da personalidade: amabilidade (r =. 363; p≤.01) e

consciensiocidade (r =. 348; p≤.01), (ver tabela 9).

Consumidores Não Consumidores

M DP M DP t p Extroversão 30.12 7.160 27.71 5.268 1.223 .224 Amabilidade 29.88 6.357 34.11 4.759 -2.381 .019* Conscienciosidade 26.25 5.007 30.10 4.786 2.192 .030* Neuroticismo 26.25 6.606 23.38 4,310 1.755 .082 Abertura à experiência 37.62 6.046 34.75 5.410 1.440 .152

Gestão da Imagem 3.75 2.053 3.12 2.711 .641 .523

Auto-apresentação Favorável 6.25 1.753 9.04 3,382 -2.308 .023* PDS_TOT 10.00 3.251 12.17 4.873 -1.236 .219 Agressividade Física 29.62 7.708 21.43 6.022 3.653 .000 ***

Agressividade Verbal 15.00 3.381 14.22 3.225 .660 .511

Irritabilidade 21.50 6,392 17.04 5.127 2.339

.021* Hostilidade 26.88 4.673 23.35 5.411 1.794 .075 Agressividade Total 93.00 16.204 76.04 14.875 3.100 .002** Psicopatia Primária 40.75 9.192 34.90 7.048 2.223 .028*

Psicopatia Secundária 24.62 4.534 22.56 3.706 1.501 .136

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A respeito da análise das correlações entre traços de personalidade e agressividade, em

termos de agressividade física verifica-se uma correlação moderada no sentido negativo em

relação à dimensão de amabilidade (r = -. 427; p≤.01), enquanto que para a dimensão de

conscienciosidade a correlação ocorre no sentido negativo (r = -. 242; p≤.01), e na dimensão de

neuroticismo surge no sentido positivo (r =. 187; p≤.05). Constatou-se inclusive que ao nível da

agressividade verbal há uma correlação no sentido positivo com a dimensão de extroversão (r =.

211; p≤.05), (ver tabela 9).

Quanto à irritabilidade observam-se correlações no sentido negativo com as seguintes

dimensões da personalidade: amabilidade (r = -. 339; p≤.01) e com a dimensão de

conscienciosidade (r = -. 268; p≤.01). O traço de neuroticismo estabelece uma correlação

moderada no sentido positivo com a irritabilidade (r =. 434; p≤.01), (ver tabela 9).

A variável hostilidade mantém uma correlação no sentido positivo com a dimensão de

neuroticismo (r =. 216; p≤.05), (ver tabela 9).

Enquanto que ao nível da agressividade total existe uma correlação moderada no sentido

negativo com a amabilidade (r = -. 370; p≤.01), assim como, ocorre uma correlação no sentido

negativo entre a agressividade total e a conscienciosidade (r = -. 234; p≤.01) e entre a

agressividade total e o neuroticismo, onde a correlação encontra-se no sentido positivo (r =. 325;

p≤.01)

Na análise da associação entre traços de personalidade e de psicopatia, evidenciam-se

correlações ao nível da psicopatia primária, existindo uma correlação no sentido negativo com a

dimensão de amabilidade (r = -. 338, p≤.01). Ao nível da psicopatia secundária existe uma

correlação no sentido negativo com a dimensão de amabilidade (r = -. 327; p≤.01) e o traço de

conscienciosidade estabelece uma correlação moderada também no sentido negativo (r = -. 375;

p≤.01), por outro lado constata-se igualmente uma correlação no sentido positivo com o traço de

neuroticismo (r =. 314; p≤.01), (ver tabela 9).

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Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos agressivos e traços psicopáticos

* p<0,05; ** p<0,01

No que se refere às associações entre a psicopatia e a desejabilidade social, encontrou-se

ao nível da psicopatia primária uma correlação moderada no sentido negativo com a variável

auto-apresentação favorável (r = -. 353; p≤.01) e com a desejabilidade social total, onde a

correlação se efectua no sentido negativo (r = -. 232; p≤.01). Na psicopatia secundária constatam-

se correlações no sentido negativo com as seguintes variáveis: gestão da imagem (r = -. 303;

p≤.01) e auto-apresentação favorável (r = -. 312; p≤.01). Na desejabilidade total, a correlação é

moderada e encontra-se também no sentido negativo (r = -. 387; p≤.01). (ver tabela 10).

No que respeita às correlações entre psicopatia e agressividade verificam-se associações

significativas, sendo que ao nível da psicopatia primária ocorrem correlações moderadas no

sentido positivo com as seguintes dimensões da agressividade: agressividade física (r =. 513;

p≤.01); agressividade verbal (r =. 436; p≤.01); irritabilidade (r =. 364; p≤.01); hostilidade (r =.

358; p≤.01) e agressividade total (r =. 556 p≤.01); Em relação à psicopatia secundária,

evidenciam-se correlações moderadas no sentido positivo com as seguintes dimensões da

agressividade: agressividade física (r =. 376; p≤.01); irritabilidade (r =. 370; p≤.01); hostilidade (r

=. 428; p≤.01); e agressividade total (r =. 454; p≤.01) (ver tabela 10).

Extroversão Amabilidade Conscienciosidade Neuroticismo Abertura à Experiência

Gestão da Imagem .170 .149 .250** .001 .0138 Auto-apresentação Favorável -.048 .399** .299** -.008 .040 PDS_TOT .061 .363** .348** .000 .105 Agressividade Física .126 -.427** -.242** .187* -.036 Agressividade Verbal .211* -.138 .030 .108 .141 Irritabilidade .158 -.339** -.268** .434** .000 Hostilidade -.167 -.131 -.133 .216* .024 Agressividade Total .093 -.370** -.234** .325** .023 Psicopatia Primária .043 -.338** -.140 -.031 -.073 Psicopatia Secundária -.130 -.327** -.375** .314** .015

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Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos agressivos

* p<0,05; ** p<0,01

Da análise das correlações entre desejabilidade social e agressividade, verificam-se

associações significativas, sobretudo ao nível da relação entre a auto-apresentação favorável e a

agressividade física, onde a correlação é moderada no sentido negativo (r = -. 388; p≤.01);

existindo também uma correlação entre a auto-apresentação favorável e a irritabilidade, que

ocorre no sentido negativo (r = -. 225; p≤.05); entre a dimensão auto-apresentação favorável e a

hostilidade, em que a correlação é também no sentido negativo (r = -. 296; p≤.01); e entre a

dimensão auto-apresentação favorável e a agressividade total, em que a correlação é também

moderada no sentido negativo (r = -. 375; p≤.01), (ver tabela 11).

Ao nível da relação entre a desejabilidade social total e a agressividade, verificam-se

associações significativas, especificamente entre a desejabilidade social total e a agressividade

física, onde existe uma correlação no sentido negativo (r = -. 222; p≤.05); entre a desejabilidade

social total e a hostilidade, onde a correlação é igualmente no sentido negativo (r = -. 252; p≤.01);

e entre a desejabilidade social total e a agressividade total, em que a correlação encontra-se

também no sentido negativo (r = -. 246; p≤.01), (ver tabela 11).

Psicopatia Primária

Psicopatia Secundária

Gestão da Imagem .029 -.303** Auto-apresentação Favorável -.353** -.312** PDS_TOT -.232** -.387** Agressividade Física .513** .376** Agressividade Verbal .436** .091 Irritabilidade .364** .370** Hostilidade .358** .428** Agressividade Total .556** .454**

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Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos

* p<0,05; ** p<0,01

4.6. Discussão dos resultados

O objecto de estudo da investigação em causa consiste na análise da associação entre

traços de personalidade, traços psicopáticos e atributos agressivos.

Um dos aspectos a salientar neste estudo diz respeito ao facto de se debruçar na análise

da associação entre estas três variáveis, utilizando uma amostra que na realidade não é

considerada como amostra clínica ou forense. Todavia, os indivíduos que constituíram esta

amostra podem ser contextualizados num grupo com características desviantes, pois na sua

grande generalidade são detentores de comportamentos que vão contra às normas sociais vigentes

e que são o resultado de um fraco controlo emocional.

A idade contitui uma variável importante neste estudo, na medida em que após a análise

dos resultados obtidos a partir do teste t de Student ao nível das diferenças de médias entre idades

para as dimensões estudadas, verifica-se que existem diferenças significativas entre idades para o

traço de amabilidade, sendo que os indivíduos com idade inferior a 17 anos possuem um valor

médio superior em comparação com os indivíduos com idade superior ou igual a 17 anos.

Constatam-se diferenças significativas entre idades no que respeita ao traço de psicopatia

primária, onde os alunos com idade superior ou igual a 17 anos demonstram um valor médio

elevado, o que vai de encontro ao postulado de Marietan (1998) segundo o qual os traços de

personalidade psicopática manifestam-se na infância, acentuam-se na adolescência e

desenvolvem-se plenamente na fase adulta de um indivíduo.

O género tornou-se também uma variável imperiosa nesta investigação, constatou-se

através da análise estatística dos dados obtidos pelo teste t de Student, que existem diferenças

Gestão da Imagem

Auto-apresentação Favorável

PDS_TOT

Agressividade Física .090 -.388** -.222* Agressividade Verbal .085 -.148 -.057 Irritabilidade .007 -.225* -.154 Hostilidade -.079 -.296** -.252** Agressividade Total .030 -.375** -.246**

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significativas entre géneros em relação ao traço de conscienciosidade, sendo que os elementos do

sexo feminino demonstram um resultado médio superior nesta dimensão.

No que respeita aos atributos agressivos, encontram-se diferenças significativas entre

géneros em relação à agressividade física, os indivíduos do género masculino obtiveram um

resultado médio superior, reagindo com mais violência no estabelecimento de relações sociais.

Deve-se considerar que nos rapazes existe uma maior influência em termos biológicos que dita

este tipo de actuação menos adequada, enquanto que nas raparigas a influência cultural pesa mais

na explicação da sua agressividade (Carrasco e Barrio, 2007). Vários investigadores sugerem que

a hormona sexual masculina, a testosterona está directamente associada a crimes agressivos e

anti-sociais, como a violação e o homicídio e com a busca de novas sensações. Estando patente

neste estudo a associação da agressividade com esta hormona sexual, em que os indivíduos com

idade superior ou igual a 17 anos apresentam maiores níveis de psicopatia primária, possuindo

uma predisposição para a agressividade em termos comportamentais. De acordo com Innes

(2004), os níveis de testosterona aumentam na puberdade e aos 20 anos, sendo esta época de

desenvolvimento mais associada às taxas elevadas de crime. O sistema límbico que controla as

emoções como a raiva, o amor-ódio, o ciúme e a devoção religiosa pode ser afectado pela

testosterona, sendo passível o cometimento de acções agressivas e impulsivas (Innes, 2004).

Estudos transculturais demonstram que os níveis hormonais em conjunto com as normas

e os valores socioculturais contribuem largamente para a manifestação de comportamentos e das

atitudes agressivas no género masculino, o que leva estes indivíduos a adquirir esta actuação

comportamental como própria do seu género e da sua identificação (Vasconcelos, Gouveia,

Pimentel e Pessoa, 2008).

Os indivíduos do género feminino por outro lado tendem a reprimir a agressividade e

possuem dificuldades na manifestação da ira ou de emoções negativas. Apesar de sentirem mais

ansiedade, culpa e constrangimento comparativamente ao género masculino face à realização de

acções agressivas (Vasconcelos, Gouveia, Pimentel e Pessoa, 2008). Tal evidência encontra-se

em consonância com os resultados obtidos neste estudo, pois os elementos do género feminino

mostram-se mais conscienciosos em relação aos elementos do género oposto, possuindo mais

auto-domínio nas suas reacções comportamentais.

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Ao nível dos traços psicopáticos, verificam-se diferenças significativas relativamente à

dimensão de psicopatia primária, em que os indivíduos do género masculino demonstram um

resultado médio superior comparativamente aos elementos do sexo feminino.

A variável problemas com a justiça também se tornou imperiosa nesta investigação, a

análise estatística dos resultados obtidos pelo teste t de Student permitiu conhecer que ao nível do

traço de amabilidade e de conscienciosidade existem diferenças significativas entre os indivíduos

com problemas com a justiça e os indivíduos que relatam não possuirem problemas com a justiça.

Os indivíduos que referem não possuirem problemas com a justiça são maioritários, ou seja,

possuem um nível médio elevado de amabilidade e de conscienciosidade, o que confirma

novamente o facto de que a amabilidade e a conscienciosidade estejam relacionadas com as

características psicológicas, como a disciplina, o controlo das emoções e dos impulsos (McCrae e

Costa, 2006).

Relativamente aos atributos agressivos existem igualmente diferenças significativas,

tornando-se clarividente que os indivíduos que possuem problemas com a justiça possuem um

índice médio elevado de agressividade física, de irritabilidade e de agressividade total.

Na análise dos dados relativos aos traços psicopáticos verificam-se também diferenças

significativas, mais especificamente em relação à psicopatia secundária, onde constata-se que os

indivíduos com problemas judiciais ou que já foram punidos pelo seu comportamento apresentam

um nível médio mais elevado. O que vai de encontro com o postulado de que os indivíduos que

possuem traços de neuroticismo demonstram uma maior vulnerabilidade para o cometimento de

acções delituosas, sendo punidos judicialmente por este tipo de comportamentos. Eysenck (1981,

1995) revela que um indivíduo considerado criminoso pelo sistema judicial tende a possuir níveis

mais elevados de neuroticismo, sendo que o psicopata secundário é detentor de uma

particulariade neurótica ao nível da sua personalidade. Poythress e Skeem (2006), e Blackburn,

(1998) também referem que o psicopata secundário tende a cometer mais acções transgressivas

devido à sua tendência para sentir ira ou irritabilidade.

O facto dos indivíduos consumirem ou não substâncias psicotrópicas e estupefacientes

constitui uma variável essencial na compreensão do perfil psicológico dos adolescentes ou jovens

com problemas ao nível do comportamento. Verificou-se a partir da análise estatística dos

resultados obtidos pelo teste t de Student que existem diferenças significativas entre os indivíduos

consumidores e os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes

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ao nível do traço de amabilidade e de conscienciosidade, sendo que os indivíduos não

consumidores revelam um resultado médio superior, não possuindo uma predisposição para

recorrerem à utilização deste tipo de substâncias, esta evidência corrobora a teoria de McCrae e

Costa (2006), de que os sujeitos com estes traços ao nível da sua personalidade mostram-se mais

responsáveis e disciplinados na sua actuação social, sem a necessidade de procurarem novas

estimulações.

No que concerne à desejabilidade social, existem diferenças significativas entre os

indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores, em relação à variável auto-

apresentação favorável, em que os indivíduos que não consomem substâncias ilícitas apresentam

um resuldado médio superior. Tal evidência demonstra que as pessoas que fazem uma utilização

regular de substâncias que afectam o seu funcionamento fisiológico, cognitivo e até emocional

não possuem a preocupação de transmitir uma imagem favorável de si próprios a terceiros, sendo

vulgarmente consideradas como anti-sociais pela sociedade, devido também ao desabrochar dos

comportamentos delinquenciais a partir da utilização destes químicos, que conduzem

inexoravelmente à dependência (Manita, 1997).

Relativamente aos atributos agressivos existem diferenças significativas ao nível da

agressividade física e da irritabilidade, em que os indivíduos consumidores possuem um valor

médio mais elevado. O que significa que os indivíduos que manifestam frequentemente

agressividade física e irritabilidade possuem uma tendência para o consumo de substâncias

psicotrópicas e de estupefacientes, assim como, é frequente os consumidores crónicos

apresentarem irritabilidade e agressividade, e neste caso especifico, os adolescentes ou jovens

tendem a infringir as regras sociais sob o efeito deste tipo de substâncias (Heim e Andrade,

2008).

Em suma, a agressividade em geral encontra-se interligada com o consumo de

substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, tal facto confirma-se neste estudo, existindo

diferenças significativas entre os indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores no

que concerne à dimensão de agressividade total, onde os sujeitos que afirmam consumir

substâncias deste teor revelam um resultado médio superior.

Neste sentido, o adolescente ou jovem que executa este tipo de hábitos de adição sofre

de alterações do humor, tornando-se mais hostil, ansioso e com défices ao nível do seu sistema

cognitivo (Messas, 2009).

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No que diz respeito aos resultados obtidos na variável psicopatia, existem diferenças

significativas ao nível da psicopatia primária, onde os indivíduos consumidores possuem um

nível médio mais elevado. O que demonstra que os psicopatas primários possuem uma maior

predisposição para o consumo de substâncias psicotrópicas, em comparação com os psicopatas

secundários. Tal evidência confirma a teoria de Karpman (1961) de que os psicopatas primários

actuam de modo a obterem o máximo de estimulação possível, sendo passível a utilização regular

deste tipo de substâncias.

Os resultados obtidos foram de encontro à primeira hipótese colocada (H1), isto é,

verifica-se uma associação significativa no sentido positivo entre o traço de neuroticismo e os

atributos agressivos, sobretudo ao nível da irritabilidade. Estudos realizados anteriormente

também reforçam o facto do neuroticismo se relacionar expressamente com a agressividade

(Caprara e Pastorelli, 1993; Kroes, Veerman e de Bruyn, 2005). Um indivíduo com neuroticismo

apresenta habitualmente uma forte instabilidade emocional e intensas reacções emocionais, o que

faz com que actue de forma irracional em situações adversas e conflituosas, fazendo um recurso

imoderado da agressividade (Sisto e Oliveira, 2003). Pontuações altas neste traço indicam que a

pessoa tem uma predisposição para sentir ansiedade, tensão e emotividade, apresentando

frequentemente problemas ao nível da sua auto-estima, possuindo comportamentos que se

afastam dos ideais sociais, sendo mais fácil catalogar a pessoa com este perfil como anti-social ou

psicopata, tornando-se por vezes uma vítima de exclusão social, o que proporciona por outro lado

a escolha individual por caminhos menos adequados como os trilhos criminosos ou do roubo.

Enquanto que, a conscienciosidade estabelece uma correlação negativa com os atributos

agressivos e com a psicopatia secundária, isto porque esta dimensão da personalidade é marcada

pela capacidade de controlo de impulsos e pela capacidade de permanecer calmo e dar azo à

razão mesmo em situações muito complexas de perigosidade, esta evidência é também

confirmada por vários investigadores (Heaven, 2008; Pervin e John, 2001). O mesmo ocorre com

a amabilidade que se correlaciona negativamente com os atributos agressivos e com os traços

psicopáticos, ou seja, com ambas as dimensões de psicopatia. A amabilidade é definida como um

traço de personalidade que tem como características principais as atitudes e os comportamentos

pró-sociais, ou seja, os indivíduos com este traço são socialmente agradáveis, calorosos, dóceis,

generosos e leais. Enquanto que, os psicopatas e os indivíduos agressivos possuem um perfil

contrário, dando primazia à frieza e à crueldade na sua actuação social. A amabilidade surge

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correlacionada de forma significativa, mas no sentido negativo com os traços de psicopatia neste

estudo, principalmente com a psicopatia primária, o que corrobora a teoria de Cleckley (1982), de

que a loquacidade e a amabilidade dos psicopatas primários seria a característica mais importante

da sua personalidade, pois estes indivíduos utilizam uma cortesia e uma amabilidade falsas para

dissimular as suas próprias intenções dos outros.

Normalmente associa-se a extroversão à agressividade, mas neste estudo só se verificou

uma associação significativa no sentido positivo com a agressividade verbal, o que vai de

encontro com as conclusões obtidas pelos investigadores Caprara, Barbaranelli e Zimbardo,

(1996). Esta evidência contradita a teoria de Eysenck (2006), de que os indivíduos com níveis

altos de extroversão estão mais predispostos a reagir com grande intensidade aos estímulos

externos e sendo também mais desinibidos manifestam com facilidade acções agressivas e

delituosas.

A segunda hipótese (H2) formulada neste estudo não se confirmou, pois não se

evidenciou uma associação significativa no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o

traço de abertura à experiência. No entanto, verifica-se uma associação negativa entre a

psicopatia secundária e o traço de amabilidade. Como já se referiu anteriormente, estudos

efectuados neste âmbito demonstram que a variável amabilidade se correlaciona negativamente

com os traços psicopáticos (Cleckley, 1982).

A inexistência de uma correlação significativa no sentido positivo entre a psicopatia

secundária e o traço de abertura à experiência neste estudo invalida a hipótese (H2). Não

confirma por isso os dados científicos de Levenson (1995), onde a psicopatia secundária

relaciona-se claramente com o traço de abertura à experiência. O novo modelo de Esterly e Neely

(1997) propõe tal como a teoria de Levenson (1995), que a psicopatia secundária possui traços de

personalidade ligados ao neuroticismo, ou seja, o psicopata secundário sente mais ansiedade e

pode-se tornar mais facilmente dependente do álcool e de substâncias psicotrópicas ou de outros

estupefacientes, sendo mais provável manifestar comportamentos impulsivos dirigidos para a

procura de novas experiências, frequentemente associadas ao perigo e ao risco, como as

aventuras de cariz sexual, o jogo patológico ou os crimes de furto. Enquanto que o psicopata

primário não prima pela procura de novas sensações ou experiências, sendo improvável

manifestar comportamentos impulsivos, mas quando se verificam este tipo de condutas

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habitualmente têm como finalidade a redução do mal-estar que este possa sentir (Esterly e Neely,

1997).

Por outro lado, nos estudos realizados por Carrasco e Barrio (2007), os traços

psicopáticos e os atributos agressivos não se associam de forma significativa com o traço de

abertura à experiência. Estes autores consideram que são escassos os casos actuais em que estas

duas variáveis estabeleçam uma relação significativa com o traço de abertura à experiência, tal

pode-se explicar pelo facto deste traço de personalidade se encontrar mais correlacionado com o

rendimento escolar. Este resultado diverge da teoria de Zuckerman (2006), de que os indivíduos

com valores altos no traço de abertura à experiência, apresentam com mais probabilidade

comportamentos anti-sociais, comportando-se de acordo com os seus desejos ou caprichos,

mostram-se frequentemente em conflito com as normas sociais e com as regras familiares,

exibindo um gosto ávido pelas situações de risco, não temendo o perigo alheio.

A terceira hipótese (H3) estabelecida neste estudo confirma-se, existindo uma

associação significativa no sentido positivo entre a psicopatia primária e a agressividade física e

verbal e entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade. Segundo alguns estudos

científicos actuais realizados por Zágon (1995) e por Poythress e Skem (2006), o indivíduo com

psicopatia primária é considerado como o mais impulsivo em comparação com o psicopata

secundário, recorrendo mais frequentemente à agressividade como forma de atingir os seus

desejos mais íntimos, e ao não possuir controlo sobre os seus impulsos reage de forma mais

violenta e desinibida nas suas inter-relações (Zágon, 1995; Poythress e Skem, 2006). Enquanto

que, na psicopatia secundária o espectro emocional encontra-se muito afectado, pois o indivíduo

com esta perturbação tem têndencia a evidenciar neuroticismo, demonstrando instabilidade na

sua actuação social, ou seja, verificam-se comportamentos marcados pela ira e pelas acções

delinquenciais (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).

A última hipótese (H4) colocada é igualmente confirmada, a psicopatia secundária

encontra-se correlacionada de forma significativa no sentido positivo com o traço de

neuroticismo e associa-se de forma negativa com o traço de conscienciosidade, isto porque os

psicopatas secundários possuem maiores índices de ansiedade, sendo capazes de vivenciar em

algumas ocasiões depressão, empatia e desejo de ser aceite pela sociedade, estando propensos a

sentir os conflitos neuróticos com regularidade (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).

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Quanto aos resultados obtidos para a variável de desejabilidade social, a gestão da

imagem apresenta uma correlação no sentido positivo com a dimensão de conscienciosidade,

enquanto que a auto-apresentação favorável apresenta correlações no sentido positivo com as

dimensões de amabilidade e de conscienciosidade. No entanto, a dimensão de auto-apresentação

favorável correlaciona-se negativamente com o traço de neuroticismo.

Na análise das associações entre a psicopatia e a desejabilidade social, verificou-se que a

psicopatia primária correlaciona-se significativamente de forma moderada e no sentido negativo

com a dimensão auto-apresentação favorável, bem como, estabelece uma correlação no sentido

negativo com a desejabilidade social total. Em contrapartida, a psicopatia secundária associa-se

de forma significativa no sentido negativo com as dimensões de gestão de imagem e de auto-

apresentação favorável e com a dimensão de desejabilidade social total estabelece uma

associação significativa de forma moderada, também no sentido negativo

Em termos de associações entre a desejabilidade social e os atributos agressivos,

constatam-se correlações significativas de forma moderada no sentido negativo entre a auto-

apresentação favorável e as dimensões de agressividade física e de agressividade total, assim

como, verificam-se correlações significativas no sentido negativo entre a auto-apresentação

favorável e as dimensões de irritabilidade e de hostilidade.

No mesmo sentido, a dimensão de desejabilidade social total estabelece correlações

significativas no sentido negativo com as dimensões de agressividade física, de hostilidade e de

agressividade total. O que pressupõe que os alunos que desejam passar uma auto-imagem

favorável a outrem não assumem, ou não desejam demonstrar agressividade no seu quotidiano

social, controlando este tipo de características comportamentais.

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Conclusão

A psicopatia é uma condição psicológica de difícil identificação. Na sua acepção comum

este conceito surge frequentemente associado a crimes e a contravenções, ou seja, na sua

semiologia confunde-se psicopatia com marginalidade, isto deve-se ao facto de existirem poucos

estudos acerca desta perturbação na literatura clínica e cientifica, e o indivíduo que possui esta

perturbação não se assume como um doente, não busca por auxílio especializado nem por

qualquer tipo de tratamento, quem toma este tipo de iniciativas normalmente é a família ou as

pessoas que foram vítimas dos seus actos, sendo quase inacessível o contacto com quem padece

de psicopatia, o que dificulta a recolha de informação imperiosa para preencher as lacunas

expostas no diagnóstico e na caracterologia desta perturbação.

Este estudo foi efectuado com o princípio de servir como clarificador desta terminologia

psicológica, que como se constatou abarca os comportamentos ligados à agressividade e os traços

de personalidade, que devem ser estudados e abordados com mais dilação e cientificismo. Tendo

como objectivo primordial a indagação da associação entre os traços de personalidade, os traços

psicopáticos e os atributos agressivos.

Através da análise dos resultados referentes à diferença de médias entre os indivíduos

com idade igual ou superior a 17 anos e os indivíduos com idade inferior a 17 anos, verifica-se

que os indivíduos com idade inferior a 17 anos possuem valores mais elevados ao nível do traço

de amabilidade.

No exame dos resultados referentes aos traços psicopáticos, os alunos com idade

superior ou igual a 17 anos possuem valores mais elevados ao nível da psicopatia primária.

No que diz respeito à diferença entre géneros, constata-se que os indivíduos do género

masculino possuem resultados superiores ao nível da agressividade fisica, assim como,

evidenciam valores superiores em relação à psicopatia primária. Enquanto que os indivíduos do

género feminino possuem valores mais elevados ao nível do traço de conscienciosidade.

Relativamente às diferenças entre os indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos

sem problemas judiciais, verifica-se que os indivíduos sem problemas na justiça evidenciam

resultados superiores ao nível do traço de amabilidade e de conscienciosidade.

Em relação aos resultados obtidos nos atributos agressivos, os indivíduos com

problemas judiciais possuem maiores índices de agressividade física, de irritabilidade e de

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agressividade total. O mesmo se constata em relação aos traços psicopáticos, pois os indivíduos

com problemas judiciais apresentam superioridade em termos de valores médios na psicopatia

secundária.

A partir do exame dos dados relativos às diferenças entre os indivíduos consumidores e

os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, verifica-se que

os indivíduos que não consomem este tipo de substâncias possuem resultados superiores ao nível

do traço de amabilidade e de conscienciosidade.

Relativamente à desejabilidade social, os indivíduos que relatam não consumirem

substâncias psicotrópicas ou estupefacientes possuem resultados superiores ao nível da dimensão

auto-apresentação favorável.

Os indivíduos que referem a utilização de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes

possuem maiores índices de agressividade física, de irritabilidade e de agressividade total. Os

mesmos sujeitos apresentam igualmente maiores níveis de psicopatia primária.

Com vista a confirmar as hipóteses colocadas nesta investigação, analisou-se as

associações entre as variáveis incluídas neste estudo, onde se verificou uma associação

significativa no sentido positivo entre o traço de neuroticismo e os atributos agressivos, inclusive

a irritabilidade mantém uma relação expressiva com o neuroticismo, estando em consonância

com a hipótese (H1) estabelecida nesta investigação.

Contudo, a hipótese (H2) não se confirma, não se observou uma associação significativa

no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o traço de abertura à experiência, assim como,

este traço de personalidade não manteve correlações significativas com nenhuma das variáveis

incluídas neste estudo. Todavia, a psicopatia secundária estabeleceu uma correlação negativa com

o traço de amabilidade neste estudo, tal como se verificou em investigações realizadas

anteriormente.

A hipótese (H3), de que a psicopatia primária se associa de forma significativa no

sentido positivo com os atributos agressivos, mais precisamente em relação à agressividade física

e verbal é válida. Também se comprova a existência de uma correlação significativa entre a

psicopatia secundária e as variáveis irritabilidade e hostilidade. Constata-se que a psicopatia

primária relaciona-se manifestamente com a agressividade no geral, e que o indivíduo com

psicopatia secundária sofre de alterações ao nível emocional e ao nível do humor, que o tornam

frequentemente hostil e encolorizado.

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A última hipótese (H4) é igualmente corroborada, verifica-se uma associação

significativa no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o traço de neuroticismo e uma

associação negativa entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade, atribuindo uma

característica ansiosa na classificação desta perturbação psicopática.

Uma das limitações presente nesta investigação prende-se com o número reduzido de

participantes na amostra, sendo que a distribuição dos protocolos foi realizada numa escola

secundária, logo é essencial e ético solicitar a autorização prévia do director do conselho

directivo, dos docentes e dos encarregados de educação para a aplicação dos mesmos, o que

limitou esta aplicação, pois o acesso às turmas escolares executou-se em consonância com o

consentimento dos respectivos responsáveis mencionados anteriormente. Verificou-se também a

inerência da desejabilidade social nas respostas às questões relacionadas com a personalidade e

com os comportamentos que os estudantes adoptam face a situações complexas.

O facto dos alunos terem que preencher os questionários na presença dos colegas e dos

docentes fez com que existissem momentos de distracção e de burburinho entre eles, perturbando

a concentração dos mesmos no preenchimento dos respectivos protocolos.

Futuras investigações sobre esta temática, recorrendo a este tipo de amostra deverão

aumentar o tamanho da mesma e a sua heterogeneidade, assim como, seria adequado um aluno

por mesa de modo a evitar a desordem e a partilha de ideias pessoais durante o preenchimento

individual dos protocolos.

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