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TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO E APROPRIAÇÃO DAS ÁGUAS NO CERRADO BAIANO Joice Silva Bonfim 1 Jéssica Siviero Vicente 2 Resumo Considerando o processo de modernização da agricultura, a consolidação do modo de produção capitalista no campo através do avanço do agronegócio, o contexto do boom das commodities na década de 2000 e a implementação do Plano de Desenvolvimento Agropecuário Matopiba, o presente artigo pretende voltar-se especialmente para compreender como tem se dado a apropriação das águas pelo agronegócio no cerrado Baiano, e qual o papel dessa apropriação na sua territorialização. Parte-se do entendimento de que o Cerrado brasileiro, uma das principais reservas hídricas do país, assume dimensão estratégica para expansão das fronteiras e territorialização do agronegócio, e que a apropriação das águas se configura como um fator determinante na territorialização e na dinâmica de acumulação capitalista, seja ela produtiva ou especulativa. Palavras-chave: Apropriação, Águas, Agronegócio. Introdução Desde a segunda metade do século XX, a agricultura brasileira tem vivenciado transformações profundas nas suas bases de produção e acumulação, sendo o período pós- Segunda Guerra Mundial considerado marco da modernização da agricultura. Modernização esta que, mais atualmente, se traduz em ampla e difusa articulação de capitais sob o controle de determinados grupos econômicos, e tem como reflexo o fortalecimento do projeto político e econômico do agronegócio (DELGADO, 2012). Segundo destaca Oliveira (2007), um dos pilares da agricultura sob o capitalismo mundial monopolista é a produção de commodities, o qual tem como objetivo transformar toda a produção agropecuária em mercadorias para o mercado global. Diante disso, a produção de alimentos perde a sua dimensão estratégica nacional e assume a sua condição de mercadoria global, realizada através de processos intensos de apropriação e controle das terras, das águas e dos demais recursos naturais. 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: [email protected] 2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: [email protected]

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TERRITORIALIZAÇÃO DO AGRONEGÓCIO E APROPRIAÇÃO DAS ÁGUAS NO CERRADO BAIANO

Joice Silva Bonfim1 Jéssica Siviero Vicente2

Resumo

Considerando o processo de modernização da agricultura, a consolidação do modo de produção capitalista no campo através do avanço do agronegócio, o contexto do boom das commodities na década de 2000 e a implementação do Plano de Desenvolvimento Agropecuário Matopiba, o presente artigo pretende voltar-se especialmente para compreender como tem se dado a apropriação das águas pelo agronegócio no cerrado Baiano, e qual o papel dessa apropriação na sua territorialização. Parte-se do entendimento de que o Cerrado brasileiro, uma das principais reservas hídricas do país, assume dimensão estratégica para expansão das fronteiras e territorialização do agronegócio, e que a apropriação das águas se configura como um fator determinante na territorialização e na dinâmica de acumulação capitalista, seja ela produtiva ou especulativa.

Palavras-chave: Apropriação, Águas, Agronegócio.

Introdução

Desde a segunda metade do século XX, a agricultura brasileira tem vivenciado

transformações profundas nas suas bases de produção e acumulação, sendo o período pós-

Segunda Guerra Mundial considerado marco da modernização da agricultura. Modernização

esta que, mais atualmente, se traduz em ampla e difusa articulação de capitais sob o controle de

determinados grupos econômicos, e tem como reflexo o fortalecimento do projeto político e

econômico do agronegócio (DELGADO, 2012). Segundo destaca Oliveira (2007), um dos

pilares da agricultura sob o capitalismo mundial monopolista é a produção de commodities, o

qual tem como objetivo transformar toda a produção agropecuária em mercadorias para o

mercado global. Diante disso, a produção de alimentos perde a sua dimensão estratégica

nacional e assume a sua condição de mercadoria global, realizada através de processos intensos

de apropriação e controle das terras, das águas e dos demais recursos naturais.

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: [email protected] 2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Email: [email protected]

Neste contexto, o Cerrado brasileiro, considerado o berço das águas e principal reserva

hídrica do país, assume dimensão estratégica para expansão das fronteiras e territorialização

do agronegócio, categoria compreendida aqui como um processo que, a partir das relações de

poder estabelecidas, se configura como domínio e apropriação de um determinado território e

imposição de novas territorialidades (HAESBAERT, 2004). Com o desenvolvimento e avanço

tecnológico – aliado a incentivos estatais materializados através de projetos voltados à

promoção da ocupação territorial de espaços tidos como improdutivos e atrasados (a exemplo

do Prodecer), crédito subsidiado, garantia de infraestrutura etc – as terras e as águas do bioma

cerrado passaram a ser considerados como meios físicos mais seguros e rentáveis para o

desenvolvimento do agronegócio. Atualmente o cerrado brasileiro, que já conta com cerca de

52% do bioma devastado, é o principal território do agronegócio no país e ainda a principal

fronteira agrícola para a sua expansão.

Destaca-se também que o Cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira e

possui os maiores aquíferos do planeta, a exemplo do Urucuia e do Guarani. Para Porto-

Gonçalves (2014), este bioma é a mais importante área de recarga hídrica de todo o país e uma

das maiores reservas de água doce do mundo. Portanto, considerando o contexto atual de quase

total controle do agronegócio sobre o cerrado brasileiro, entende-se como fundamental se

discutir a apropriação das águas. Neste sentido, o objetivo do presente artigo é compreender

como tem se dado a apropriação das águas pelo agronegócio no cerrado Baiano, e qual o papel

dessa apropriação na sua territorialização.

Territorialização do agronegócio no Cerrado Baiano.

Svampa (2013) define o contexto atual de predominância do agronegócio (que tem

como alicerce a exportação de bens primários, de baixo valor agregado, em larga escala) como

estratégia econômica, política, social, ambiental e cultural da América Latina como “consenso

das commodities”. Segundo a autora, o consenso das commodities se conforma como um pacto

que gera um processo de reprimarização das economias latinoamericanas a partir de uma

perspectiva de um modelo de desenvolvimento neoextrativista e também leva ao

aprofundamento da dinâmica de expropriação de terras e de recursos naturais, considerados

aqui como bens comuns, conformando um padrão de acumulação baseado na superexploração

da natureza e na expansão de fronteiras para territórios considerados como improdutivos.

Pode-se dizer que, ao mesmo tempo que o agronegócio pode ser compreendido como

um projeto político e econômico atrelado às classes dominantes em suas diferentes escalas que

envolve uma ampla, difusa e livre articulação de capitais sob o controle de grupos econômicos

(em sua maioria multinacionais), ele se viabiliza por meio da apropriação de espaços e

territórios locais para garantir recursos naturais e condições políticas e jurídicas para o

desenvolvimento de suas lucratividades (CAMPOS, 2011).

Para entender o processo de territorialização do agronegócio nos cerrados baianos,

importante compreender o território como um espaço (físico, social, econômico, cultural) de

poder, sendo que a sua construção implica em um processo ao mesmo tempo de domínio

(político-econômico que se perfaz de maneira mais concreta) e de apropriação (perspectiva mais

simbólica, impondo novas formas de uso) (HAESBAERT, 2004). Neste sentido, para o mesmo

autor, a territorialização se constitui como um processo de dominação e apropriação do espaço,

buscando controlar processos produtivos, produzir e impor novos significados e novas

territorialidade, sufocando outras possilidades de reapropriação, mas também constituindo

multiterritorialidades, que seriam a “sobreposição de territórios hierarquicamente articulados”.

Seguindo na mesma direção, Porto-Gonçalves (2012) afirma a centralidade do conceito

de território para enfrentar o desafio ambiental contemporâneo, entendendo que a disputa pelo

controle (econômico e simbólico) do território é central para o capitalismo, cuja a demanda por

recursos naturais e tecnologia se mostra de maneira sempre crescente. Para ele, o modo de

apropriação e dominação do território conforma territórios diversos, constitui diferentes

territorialidades e, neste sentido, compreender a forma como acontece a apropriação dos

recursos naturais (inclusive a água) é importante para também entender as relações sociais de

poder entre os diversos sujeitos do território.

A apropriação de espaços, terras, territórios e recursos naturais é, neste sentido, um

elemento que marca o ‘desenvolvimento’ da agricultura brasileira desde o período colonial,

passando pela “modernização conservadora”, e chegando à “economia do agronegócio”

(DELGADO, 2012). O fenômeno da corrida por terras e por recursos naturais, presente

historicamente na dinâmica agrária brasileira, é impulsionado pelo processo de modernização,

que com o contínuo desenvolvimento de tecnologias e políticas de desoneração de riscos, estava

garantindo cada vez mais segurança e rentabilidade às empresas agrícolas. Neste sentido, a

busca por terras teve como objetivo intensificar o processo de acumulação capitalista através

da produção de bens primários voltados à exportação e também de atividades especulativas.

Destaca-se que este movimento (que perdura, com especificidades, até os dias atuais) tem como

base a expropriação violenta de camponeses e povos tradicionais o que garante o acesso à terra

a um custo muito baixo (ou mesmo custo zero), tornando a atividade agrícola ainda mais

lucrativa e a acumulação capitalista ainda mais intensa.

Oliveira (2010) ressalta a dimensão histórica da apropriação de terras no Brasil por

capitais nacionais e estrangeiros, remontando à década de 60, destacando sobretudo o Relatório

Velloso, que é fruto da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada em 1968 com o objetivo

de apurar as ilegalidades e grilagens nas aquisições de terras por estrangeiro, e que evidencia o

escândalo do repasse ilegal de terras para estrangeiros e a ação da ditadura militar neste sentido.

No que diz respeito ao Estado da Bahia, o Relatório destaca que os municípios atingidos foram

Cocos, Correntina, São Desidério, Bom Jesus da Lapa e Formosa do Rio Preto, que juntos

tiveram um total de 5.600.000 hectares apropriados, distribuídos em 53 fazendas, representando

uma dimensão superior a 10% do Estado. Para Oliveira (2010), isso é resultado da política

orquestrada no Brasil, na ditadura militar (período da chamada ‘modernização conservadora’),

com o objetivo de garantir a transferência de terras e recursos naturais para capitais nacionais e

estrangeiros.

Considerando isto, destaca-se que, no caso brasileiro e mais especificamente da Bahia,

o cerrado foi e continua sendo alvo de intensa dominação e ocupação pela agricultura

capitalista. Como dito antes, o cerrado baiano, localizado principalmente na região Oeste,

assume dimensão importante e estratégia para a territorialização do agronegócio. Atraído pelo

incentivo do Estado, pela lógica de terras vazias, pela grande quantidade de terras disponíveis

e baratas, pelas relações locais coronelistas que facilitam processos de grilagem de terras e uso

indiscriminado da violência e pela grande oferta de água (guardada em reservatórios hídricos

naturais e disponível também superficialmente), o agronegócio percebeu o cerrado baiano como

território propício para a apropriação e dominação.

A territorialização do agronegócio no cerrado baiano já vem sendo alvo de estudos e

aprofundamentos. Mondardo (2010) evidencia que a região Oeste da Bahia tem vivido grandes

transformações vinculadas à modernização da agricultura, à mobilidade de capital e trabalho,

desde a década de 80 através da expansão da fronteira agrícola. Para ele, nesta região o

capitalismo busca se reproduzir por meio da sua expansão (tecnológica e territorial) e

“expraiamento” do agronegócio sob novas áreas do cerrado brasileiro, causando sérios

problemas como o desmatamento indiscriminado e sem planejamento, uso demasiado dos

recursos hídricos, além do êxodo rural e disseminação da pobreza.

Mais recentemente, com a crise de 2008, percebe-se a intensificação do processo de

apropriação de terras, águas e outros recursos naturais, com a perspectiva de produção de

commodites para o mercado global. O agronegócio – mesmo considerando o contexto atual de

diminuição dos preços das commodites – continua sendo o responsável pelo superávit da

balança comercial brasileira representando, segundo CARVALHO (2013), 37% do valor total

das exportações do Brasil. A economia brasileira se constitui, então, como agroexportadora e

necessariamente dependente do capital internacional, materializado nas empresas

transnacionais de insumos, de agroindustrialização e de comercialização de commodites e tem

na apropriação de terras e recursos naturais uma de suas bases fundamentais.

Há análises (FLEXOR, LEITE, 2017) que afirmam que após a crise de 2008, que tem

caráter financeiro, alimentar (aumento do preço dos alimentos/commodities) e energético (com

o intenso incentivo à produção de agrocombustíveis), há um aumento significativo de demanda

por terras e recursos naturais em países exportadores de gêneros primários, a exemplo do Brasil,

que acaba por aquecer o mercado de terras, inclusive em escala global, e provocar um aumento

no preço dos ativos ligados à terra neste países. Os autores destacam o rápido crescimento do

agronegócio e dos investimentos internacionais em recursos naturais estratégicos, que pela

dinâmica do capital são percebidos como ativos, a exemplo da terra e da água, além de

identificarem também, neste processo, novas formas de apropriação da renda que esses recursos

permitem, as quais estão permeadas pela dominância da financeirização (FLEXOR, LEITE,

2017).

Importante ressaltar que os referidos autores relacionam este processo, denominado de

land grabbing, que provoca efeitos direitos na intensificação do mercado global de terras, ao

período de alto de preço das commodites, o chamado boom das commodites na década de 2003

a 2013. Destacando que o investimento em terras no Brasil é uma alternativa sólida e não

recente para valorização do capital e acesso a créditos, e afirmando que a dinâmica dos preços

das terras também depende, de modo diferenciado e não necessariamente simultâneo, de

diversos fatores a exemplo da fertilidade do solo, da localização da terra, do preço dos

alimentos, dos recursos naturais associados etc, identificam a correlação entre o aquecimento

atual do mercado de terras, a corrida recente por terras, com o boom das commodities. Neste

sentido, trazem dados importantes sobre o preço das terras, destacando que entre 2010-2015 o

preço médio da terra sofreu um aumento de 112%, sendo que esta tendência foi ainda mais

intensa nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde as variações médias dos preços foram

maiores que 150% (FLEXOR, LEITE, 2017).

É justamente nestas regiões onde o bioma cerrado está majoritariamente localizado,

sendo o cerrado apresentado como área de expansão de fronteira agrícola e como território

privilegiado de reprodução do capital seja através de meios produtivos ou através dos processos

de financeirização ligados tanto à agricultura (a exemplo dos mercados de futuros e bolsas de

commodities) quanto à terra, que passa a se constituir, de forma mais intensa, como ativo

financeiro em si e lastro para outras dinâmicas especulativas. Evidencia-se, neste contexto, o

Plano de Desenvolvimento Agropecuário Matopiba do governo federal, que pretende expandir

e consolidar o agronegócio em uma área de mais de 73 milhões hectares de terras sobre o bioma

cerrado (91% da área total do projeto), e de partes da Amazônia e da Caatinga nos estados do

Maranhão, Tocatins, Piauí e Bahia.

O PDA Matopiba está sendo implementado pelo Estado Brasileiro e tem atraído

investimentos de empresários que representam o grande capital nacional e internacional

oriundos principalmente do Japão, China e Emirados Árabes que, contando com o apoio do

Estado na concessão de crédito, nas pesquisas técnicas, na flexibilização da legislação

ambiental e agrária, na atitude permissiva diante da grilagem, no favorecimento de relações

locais de poder, na realização de obras de infraestrutura, pretendem expandir e intensificar a

territorialização do agronegócio no cerrado baiano. Segundo Pitta (2017), o MATOPIBA

apresenta condições ideais para o aumento na produtividade de grãos, pois permite aos

produtores a extração tanto da renda diferencial I (relativa à localização, disponibilidade de

recursos naturais – exemplo da água – e fertilidade do solo) quanto da renda diferencial II

(obtida através da incorporação de capital intensivo/tecnologias às características específicas

do solo, a exemplo dos sistemas de captação de água e irrigação). Para o autor, este fator

colabora para o aumento do preço da terra e de seus ativos associados, tornando-se um negócio

ainda mais vantajoso e lucrativo, pois é possível acumular tanto através da produção das

commodities em si, como também através da valorização patrimonial dos imóveis, que numa

dinâmica de abertura de fazendas e início da produção tem seus preços elevados, ou mesmo

através de valorização das próprias ações das empresas investidoras, evidenciando “o caráter

especulativo desse tipo de negócio”. (PITTA, 2017)

Evidenciando o atual contexto de valorização dos preços das commodities

(principalmente aquelas de cultivos dinâmicos, como soja e milho, e os agrocombustíveis),

Rubio (2014) também ressalta o papel exercido pela formação e apropriação da renda da terra,

destacando o seu ressurgimento. Segundo a autora, a revalorização dos bens agrícolas,

percebidos como ativos, os tornam meios rentáveis e lucrativos para investimentos do capital.

Com o aumento dos preços, associado ao aumento da demanda, gera-se renda da terra nos países

que detém terras boas, férteis, com disponibilidade de recursos naturais e bem localizadas e este

fator tem provocado, inclusive a nível mundial, uma estratégia de domínio espacial capitalista,

que também resulta em um significativo aumento da concentração fundiária, e na exclusão dos

povos do campo.

A apropriação das águas na dinâmica capitalista.

Conforme ja destacado que o cerrado possui os maiores aquíferos do planeta e nele estão

as nascentes das principais bacias hidrográficas do país. Além disso é distribuidor das águas

que alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul, em razão dos aquíferos que

nele se encontram, sendo que a perenização do São Francisco está na dependência direta de

seus afluentes que o alimentam pela margem esquerda, os quais são alimentados principalmente

pelo aquífero Urucuia (BARBOSA, 2014). Abaixo encontra-se o mapa, apresentado pela

Agência Nacional da Águas (ANA) na XXIX Reunião Plenária do Comitê da Bacia

Hidrográfica do Rio São Francisco, que delimita o Aquífero Urucuia e mostra que o mesmo

está localizado majoritamente no Oeste da Bahia, no bioma cerrado:

Para Porto-Gonçalves (2014), o cerrado é uma verdadeira floresta invertida, se

constituindo como a mais importante área de recarga hídrica de todo o país, assim como uma

das maiores reservas de água doce do mundo. As águas no cerrado se infiltram e alimentam os

lençóis, as nascentes, as veredas. É por isso que, no processo de territorialização do agronegócio

no cerrado baiano a dimensão da apropriação das águas assume um papel importante, visto que

o uso da água tem sido colocado como recurso natural estratégico (PORTO-GONÇALVES,

2012). A agricultura, sobretudo aquela realizada de modo intensivo destinada para produzir

mercadorias para o mercado global, é uma das atividades produtivas que mais consome água

(cerca de 70%) e mais que mais afeta os cursos d´águas, seja pela captação intensiva para

irrigação ou pela poluição em decorrência do uso de agrotóxicos. Neste sentido, partindo do

pressusposto de que o capitalismo não pode prescindir da água, Porto-Gonçalves (2012)

considera que a disputa da água tem ganhado dimensão estratégica nos útlimos períodos.

A apropriação das águas pelo agronegócio tem provocado hoje no Oeste da Bahia um

intenso estresse hídrico que se manifesta na diminuição da vazão dos rios, secamento de

nascentes, desaparecimento de veredas. Além da captação direta de águas superficiais e

subterrâneas pelo agronegócio para fins de irrigação, o próprio desmatamento do cerrado para

o plantio de soja, algodão, milho, café e outras commodities, impacta severamente na dinâmica

dos rios e aquíferos e na dinâmica social relacionada aos territórios impactados. Segundo dados

apresentados pelo IBAMA3, Formosa do Rio Preto, São Desidério e Correntina, todos

municípios do Oeste da Bahia, foram os municípios que mais desmataram o cerrado no período

de 2002-2008, estando este desmatamento mais intensamente localizado na área com maior

indíce pluviométrico do município e onde se localiza a maior densidade do aquífero Urucuia.

Destaca-se que a remoção da vegetação natural e a introdução, seja de pastagem ou de

lavoura, trazem como consequência a redução na velocidade de infiltração básica de água no

solo, diminuindo o volume dos aquíferos e consequentemente dos rios, nascentes e veredas,

causando intensos conflitos e impactando a vida de camponeses e povos tradicionais. Segundo

dados do Caderno de Conflitos do Campo da Comissão Pastoral da Terra (MALVEZZI, 2015),

o ano de 2014 registrou o maior número de conflitos por águas (127 ocorrências), sendo a

maioria deles em razão do modo de uso e preservação.

Portanto, é importante considerar que apesar da produção capitalista no campo ter se

intensificado e modernizado a partir do desenvolvimento de tecnologias capazes de garantir a

diminuição das incertezas do capital e que a propriedade da terra seja não mais um “laboratório

natural” e que possa oferecer “liquidez, segurança e rentabilidade” (SANTOS, 2007), o

agronegócio ainda não conseguiu romper sua dependência de grande quantidades de água para

produzir, sendo também a disponibilidade de água um elemento importante a influenciar o valor

da terra e sua renda. Inclusive, os mapas produzidos pela Embrapa, demonstram o aumento

significativo, no período de 20 anos (1990-2010), do cultivo de soja e do uso de pivôs centrais

para a irrigação no Oeste da Bahia:

3 Dados apresentados em Audiência Pública realizada no dia 29 de julho de 2016 no município de Correntina.

A situação demonstrada nos dados e nos mapas em destaque tende ainda a se agravar

diante do contexto de avanço das fronteiras agrícolas que está sendo promovido principalmente

pela implementação do MATOPIBA, que, como dito, pretende expandir a produção de

commodities nas regiões do cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No que diz respeito

à Bahia, a expansão se dará principalmente para as regiões com menor indíce pluviométrico,

como se pode observar no mapa abaixo, o que aumentará ainda mais a necessidade de irrigação.

Fonte: Agência Nacional de Águas

De acordo com o relatado na Revista Porantim4, na implementação do MATOPIBA

estão previstas a instalação de 17 poços com profundidade de 240 metros, que pretendem retirar

dois bilhões de litros de água do lençol freático, e a construção de dez reservatórios, conhecidos

como piscinões, sendo que boa parte desta estrutura já está construída e sendo utilizada, o que

tem gerado intensa mobilização social na região Oeste da Bahia5. Neste sentido, analisando

sobretudo os mapas acima, entende-se que a dinâmica de apropriação das águas do Oeste

Baiano tem assumido um dos papéis centrais na territorialização do agronegócio e na lógica

atual de apropriação de terras no cerrado.

4 Revista Porantim. Publicação do Conselho Indigenista Misssionário (CIMI). Jan/Fev 2016. ISSN 0102-0625. 5 Problematizando e denunciando a intensa captação de águas subterrâneas no município de Correntina – BA e a diminuição da vazão dos rios que atravessam o município foram realizadas diversas mobilizações locais, que culminou na Audiência Pública convocada pelo Ministério Público Estadual em 29 de julho de 2016.

É importante ressaltar que, diante deste contexto, tem-se fortalecido, inclusive através

da atuação efetiva dos organismos internacionais multilaterais (a exemplo da ONU, do FMI e

Banco Mundial), o discurso da escassez, o qual, segundo Porto Gonçalaves (2012), é base para

a consolidação da água enquanto mercadoria e para a sua privatização. Para o autor, a

privatização consiste no poder do capital de definir onde e como se dá uso da água, sendo um

pressuposto para a mercantilização (PORTO-GONÇALVES, 2012).

Na agricultura, o capital tem desenvolvido tecnologias de alto custo e dependentes de

máquinas especializadas para a captação de águas subterrâneas, o que fortalece ainda mais o

acesso desigual aos recursos hídricos. Neste sentido, o capital busca se apropriar das águas nos

lugares onde ela está e onde estão as populações que dão a elas outros usos, com o objetivo de

mapeamento das fontes e reservas, visando processos de mundialização do comércio das águas,

e objetivando garantir a sua reprodução mais imediata, seja pela via produtiva ou especulativa.

Assim, entende-se que que na discussão sobre territorialização do agronegócio no cerrado a

apropriação das águas assume uma dimensão muito maior do que 'simplesmente' uma

consequência desastrosa.

Compreende-se, então, que a escassez de água, assim como de outros recursos naturais,

não é algo natural, sendo um produto social. A questão a ser enfrentada não é a escassez de

água em seus termos gerais, e sim um processo de espoliação (HARVEY, 2004), de apropriação

de águas, no qual a água vai perdendo o seu caráter de bem comum e tornando-se, assim como

a terra, um instrumento de acumulação, que tem como pressuposto um processo de privatização.

De acordo com Silva (2010), o Banco Mundial, em conjunto com outros organismos

internacionais multilaterais, alicerçados no discurso da escassez de água (que esconde as reais

razões provocadoras dos impactos sobre as águas) e no discurso de que o Brasil, assim como

outros países do sul global de economias dependentes, é ineficiente em sua política de gestão

de recursos hídricos, constrói a argumentação pela universalização do acesso à água. Para o

Banco Mundial, o acesso universal à água deve ser garantido de maneira a atender o

desenvolvimento sustentável e, para isso propõe a cobrança como forma de garantir a

racionalização do consumo, o incentivo a investimentos no setor, a melhor distribuição. Ou

seja, para o Banco Mundial, a valoração e a privatização são as bases para a chamada

universalização. (SILVA, 2010)

Evidenciando o discurso do Banco Mundial, tido como meio de impor uma agenda de

abertura econômica aos países do sul global que inclui a facilitação de acesso a recursos naturais

estratégicos, Silva (2010) destaca que o instrumento legal brasileiro que instituiu a Política

Nacional de Recursos Hídricos (a Lei 9433/97) é fruto dessa imposição. Segundo o autor, com

a Lei 9433/97 ocorre uma mudança significativa no que diz respeito à política de águas, pois a

água deixa de ser compreendida como um bem público de uso comum e passa a ser tida como

um bem público limitado, dotado de valor econômico, que tem na cobrança do uso dos recursos

hídricos o seu principal instrumento de racionalização e universalização. Para Silva (2010), a

Lei 9433/97 caminhou no sentido de promover as bases para a privatização das águas no país,

para a sua constituição enquanto mercadoria, criando o alicerce para a formação de um mercado

global de águas.

Neste sentido, no contexto de controle e dominação do agronegócio sobre o cerrado

brasileiro (territorialização), e sendo o cerrado um dos principais biomas de armazenamento

hídrico, a discussão sobre a apropriação das águas, como ela influencia esta territorialização e

como se relaciona com o processo atual de intensificação de apropriação de terras se mostra

fundamental. Tratando sobre a conceituação de renda diferencial, Marx (2017) considera que

as terras têm rendimento desigual para o mesmo emprego de capital se tiverem fertilidade do

solo e acesso a recursos naturais diferenciados, sendo as terras com maior acesso a recursos

hídricos mais capazes de gerarem renda.

É com base no conceito de renda diferencial que Rubio (2014) afirma que o contexto de

valorização dos bens agrícolas e a decorrente emergência da renda da terra provocam um

aumento significativo do preço da terra nos países da América Latina, conforme os dados já

apresentados. Segundo Edelman (2013), o estudo sobre apropriação de terras (land grabbing)

não deve se restringir à extensão territorial apropriada, visto que a rentabilidade das terras

agrícolas é afetada pela ‘renda diferencial’, pelas diferenças relacionadas aos diversos tipos de

sistemas de produção e recursos naturais associados à terra. Para o autor, a análise do fenômeno

de intensificação da apropriação de terras deve considerar as dimensões de escala, o tipo de

capital aplicado à terra, a disponibilidade de água e os modos de acumulação e reprodução

social que estes fatores facilitam ou impedem (EDELMAN, 2013).

Neste sentido, pode-se supor, então, que a renda diferencial baseada na disponibilidade

de águas colabora com a dinâmica atual de valorização constante do preço terra, que propicia a

acumulação a partir de uma dinâmica especulativa que tem como base a constituição da terra

como um ativo em si e como meio de valorização de outros ativos e também garante viabilidade

da acumulação por meios produtivos. Além disso, com a apropriação das terras que têm acesso

facilitado à água há um controle direto da água em si, podendo haver uma antecipação em

relação à constituição de um mercado de águas.

Violências e resistências.

Como ressaltado anteriormente, o fenômeno da territorialização se configura enquanto

uma estratégia de poder que envolve tanto do domínio como a apropriação. Ou seja, se

circunscreve como uma dinâmica de controle tanto econômica (com a expropriação de

territórios físicos, de terras e de recursos naturais, sendo a água elemento estratégico) quanto

sócio-cultural (através de desconstituição de territórios e de sistemas de relações socio-

econômicas, políticas e culturais pré-existentes).

Entende-se, portanto, que um dos elementos presentes no processo de territorialização

do agronegócio no Oeste da Bahia, que envolve, como vimos a apropriação das águas como um

fator central, é a violência. Por esta razão, considera-se importante reivindicar o conceito de

necropolítica apresentado por Mbembe (2011) para compreender o caráter estrutural do

genocídio e da expropriação territorial e de recursos naturais no estabelecimento das relações

entres os povos do campo, o capital e o Estado brasileiro. A necropolítica se configura quando

a “expressão última da soberania estatal reside amplamente no poder e na capacidade de decidir

quem pode viver e quem deve morrer” (MBEMBE, 2011, p. 19), sendo o Brasil emblemático

neste sentido, visto que o processo contínuo e sistemático de expropriação de terras e águas

aliado à violência física, cultural, simbólica e territorial contra indígenas, camponeses,

quilombolas, expressa de forma trágica como esse poder de matar ou de exposição à morte tem

sido exercido historicamente pelo Estado e pelo capital.

Quando reivindicamos aqui o conceito de “necropolítica”, é importante compreendê-lo

tanto em sua dimensão de provocar a morte física (extermínio, genocídio) quanto na dimensão

de morte simbólica (desconstituição de povos, de territórios, de relações sociais historicamente

construídas). Neste sentido, um aspecto que está atrelado ao processo de expropriação e de

violência, que merece ser destacado, é a ocupação, pelo capital, de territórios, destruindo as

relações e as vidas (físicas e simbólicas) preestabelecidas e impondo, sob as lógicas coloniais e

imperialistas, novas relações sociais, econômicas.

Tratando especificamente do avanço do agronegócio no Oeste da Bahia, Santos (2015)

evidencia, para além da dimensão econômica, que um dos fundamentos para a promoção estatal

da ocupação dos cerrados pelo agronegócio e para o “desencadeamento de uma nova dinâmica

agrícola” é a tese da “superioridade da cultura econômica dos gaúchos e sulistas”. Segundo o

autor, este movimento produz uma dinâmica de estratificação diretamente racial, sendo que

“essa falsa superioridade vem originando uma diáspora e um desencaixe das relações vitais e

tradicionais que ocorriam historicamente nesses espaços” (SANTOS, 2015, p. 32).

Para melhor compreender a dimensão racial deste processo de expropriação das terras e

das águas promovido por toda a dinâmica anteriormente descrita, importante evidenciar o

conceito de racismo desenvolvido por Carlos Moore:

o racismo é uma recuperação cultural de um conjunto de comportamentos agressivos, violentos e egoístas cuja finalidade é a estruturação e a sustentação de sistemas de gestão dos recursos em termos racialmente monopolistas. Nas sociedades multirraciais, é por intermédio do fenótipo que se organiza a gestão dos recursos. Na medida em que o racismo visa a ejetar esse “Outro Total” do circuito do usufruto dos recursos de um espaço definido, garantindo a sua marginalização completa, ele almeja a substituição do Outro, a sua erradicação mediante a assimilação ou qualquer outra forma radical. (MOORE, 2007, p. 285)

Portanto, percebe-se então que a expropriação de águas e de terras, que alia violência e

institucionalidade, e se baseia numa lógica extrativa, colonialista e racista de saqueamento e

desconstituição social de territórios, é um dos motores centrais da acumulação capitalista.

Entende-se, portanto, importante localizar a expansão da fronteira agrícola para o cerrado como

meio de reprodução do capital, visto que a 'organização espacial' e 'expansão geográfica' são

produtos necessários para o processo de acumulação capitalista, que tende a se intensificar em

contextos de crise, assumindo o Estado papel ativo crucial visto que o poder estatal e suas

instituições se vinculam, de modo diáletico, com as relações sociais capitalistas (HARVEY,

2005).

Neste sentido, pode-se afirmar que as águas, que por sua natureza correm e atravessam

caminhos e estruturas, se configuram também como espaço de expansão geográfica para a

reprodução do capital, seja em uma lógica produtiva ou em uma lógica especulativa. Ou seja,

através da renda da terra ou da renda financeira, o processo de apropriação da águas se mostra

como um dos fatores centrais para a territorialização do agronegócio no cerrado baiano e para

a dinâmica do capital, o que nos faz pensar em uma dimensão de espaço para além de um lugar

específico, localizado e determinado.

Por fim, é importante ressaltar que segundo Santos (2007), apesar do cerrado ter se

constituído nos últimos trinta anos como o espaço que mais materializou transformações

radicais em sua dinâmica territorial, ambiental e social em decorrência da invasão do

agronegócio, a modernização não ocupou todos os espaços de fronteira, havendo ainda muitos

espaços com outros modelos de agricultura.

Os cerrados além de contarem com uma intensa diversidade de espécies de fauna e flora

e com uma grande importância ambiental e hídrica para o país é, ainda, território de muitos

povos tradicionais que sobrevivem e protegem seus recursos naturais e suas águas e que ocupam

os territórios ainda não devastados pelo agronegócio. São povos indígenas, quilombolas,

geraizeiros, ribeirinhos, vazanteiros e outros que vivem processos constantes de expropriação

de terras, águas e territórios através da grilagem e violência, e que convivem com mudanças

constantes e violentas na dinâmica social que historicamente construíram.

Neste sentido, é importante considerar que a dinâmica de expropriações que alijou e

marginalizou camponeses, indígenas, quilombolas e demais povos do campo também foi

provocadora de resistências, de organização popular e de enfrentamentos que fizeram (e fazem)

com que parte destas populações ainda permaneçam no campo, resistindo, ocupando e

retomando terras e constituindo relações específicas com base em seus territórios, as quais lhes

permitem viver e afirmar suas próprias identidades.

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