TERRA E O HOMEM: A AGRICULTURA FAMILIAR COMO ESTRATÉGIA DE FIXAÇÃO DO HOMEM NO CAMPO NA ESPACIALIDADE DO MUNICÍPIO DE

LONDRINA

Elizabete Marquezi1

Adriana Castreghini de Freitas Pereira2

Resumo

O presente artigo apresenta e analisa o projeto de intervenção pedagógica realizado com alunos da 6ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual “Nilo Peçanha” EFM, em Londrina, cujo tema foi a agricultura familiar como estratégia de fixação do homem no campo. Ao se propor esta análise, pretendeu-se englobar as quatro Dimensões socioambiental, cultural e demográfica, econômica e política ao mesmo tempo em que foram redimensionados os conteúdos geográficos, concebidos em uma visão ampliada, devido à dinamicidade das mudanças que perpassam o estudo da terra e do homem. Os encaminhamentos metodológicos realizados levaram em consideração o fato de que o conhecimento geográfico se concretiza a partir da intervenção intencional própria do ato docente, mediante um planejamento que articule a abordagem dos conteúdos com a avaliação. Como produto da pesquisa, uma unidade didática foi elaborada, a partir da análise de dados estatísticos sobre a saída do homem do campo nas últimas quatro décadas; bem como sobre a agricultura familiar no norte do Paraná e seus principais produtos. Os resultados obtidos comprovaram a importância de desenvolver atividades que contemplem a emergência das transformações sociais no campo, estabelecendo relações entre as dimensões socioambiental, cultural e demográfica, econômica e política da problemática abordada, com os conteúdos geográficos e de forma específica, nas categorias território e espaço. Palavras-chave: Terra; homem; agricultura familiar.

Abstract

The present paper analyzes the pedagogical intervention project applied with students in the 6th grade of elementary school in Colégio Estadual "Nilo Peçanha- EFM" in Londrina, PR, whose theme was family farming as a strategy for fixing the man in the field. By proposing this analysis, was intended to encompass the four dimensions social and environmental, cultural and demographic, economic and political at the same time they were resized the geographic content, designed for a larger view, due to the dynamics of the changes that underlie the study of the land and man. Referrals made methodological took into account the fact that geographic knowledge is realized from the intentional intervention of the act itself teaching through a plan that articulates the approach to the evaluation of content. As a product of research, a teaching unit was developed, based on the analysis of statistical data on the output of the rural past four decades, and on the family farm in northern

1 Professora PDE 2010.

2 Professora Dra, Orientadora do PDE

2

Paraná and its major products. The results obtained proved the importance of developing activities that address the emergence of social transformations in the field, establishing relationships between social and environmental dimensions, cultural and demographic, economic and policy issues addressed, with geographic content and specifically in the categories of territory and space. Keywords: Earth, man, family farming.

1 Introdução

A agricultura no Brasil tem sido, desde o processo de colonização, uma forte

tendência na economia nacional e certamente afigura-se como uma das fontes de

sustentação do mercado nacional e internacional.

No entanto, o homem do campo enfrenta, historicamente, graves crises que

têm contribuído para o esvaziamento desse setor, seja pela modernização de

maquinários e tecnologia, bem como pela inserção em busca de novas

oportunidades deste importante segmento da nação.

A crescente implantação de técnicas de produção no setor primário,

representado pela agricultura, pecuária e extrativismo, tem contribuído, desde os

anos setenta do século XX, para a redução dos índices de população rural.

Especificamente no Norte do Paraná, não somente a tecnologia, mas também a falta

de diversificação de culturas contribuiu para este fato, como é notório o binômio

soja-trigo.

Dentre os vários fatores responsáveis pelas crescentes correntes migratórias

do campo para a cidade, podem ser citados como principais, a mecanização e a

alteração do perfil agrícola a partir dos anos setenta, com a substituição da cultura

do café pelas culturas temporárias, especialmente soja e trigo. Estes dois fatores

são responsáveis pela redução da demanda de mão de obra, o que gerou a

ociosidade de um grande contingente de pessoas que, habituadas a lidar

diariamente no campo, viram-se progressivamente sem ocupação no meio rural

(DEL GROSSI e SILVA, 2002).

O resultado disto foi a retirada maciça dos camponeses para a cidade, o

êxodo rural que auxiliou para o aumento significativo do contingente de população

nas áreas urbanas e chegou a abrigar, nesta primeira década do terceiro milênio,

mais de oitenta por cento de todo o contingente populacional do país (OLIVEIRA,

2002).

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O grande problema foi que as cidades brasileiras não se encontravam

preparadas para receber as correntes migratórias na época. O resultado dessa

migração rápida foi o crescimento vertiginoso tanto horizontalmente, como

verticalmente, seja nas áreas mais próximas dos grandes centros ou dos médios.

Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2006) existem cerca

de 16,4 milhões de pessoas ocupadas em estabelecimentos rurais, correspondendo

a aproximadamente 10% da população residente em áreas rurais. Tanto a

população quanto o número de estabelecimentos localizados em áreas rurais têm

decrescido no país desde 1985, confirmando uma tendência migratória em direção

aos conglomerados urbanos e áreas periurbanas.

Ainda de acordo com o IBGE (2006), a população residente nas áreas rurais

do país vem decrescendo desde o ano de 1970, quando a população era de 41

milhões de residentes em áreas rurais, número esse que no ano de 1980, já caía

para pouco mais de 37 milhões e, em 2006, chegou a 31,3 milhões de pessoas.

Sobre a modernização da agricultura, deve-se relacionar uma série de

questões, tais como o esgotamento das relações de produção no campo, o avanço

do capitalismo, a industrialização dos grandes centros e o avanço no processo de

exportação e importação de máquinas e insumos.

Decorreu desta situação da modernização do campo e a rápida expulsão

dos trabalhadores rurais colonos e pequenos e médios proprietários, para as áreas

urbanas a ocupação de áreas de riscos e a formação de favelas, especialmente em

grandes centros do Sudeste e do Sul,além do progressivo aumento do desemprego,

da criminalidade e dos problemas ambientais. Com a modernização do campo e a

rápida mudança dos trabalhadores rurais para as áreas urbanas, ocorreram

problemas como o aumento do desemprego, da criminalidade, além de ocupações

em áreas de risco, formação de favelas, consequentemente aumentando os

problemas ambientais.

Deste modo, verifica-se que intervenções didáticas com vistas à retomada

do homem ao campo são bem vindas e necessárias como uma maneira de

solucionar ou amenizar os problemas já implantados por tal situação.

A pesquisa foi aplicada a um total de 39 alunos da 6ª série A do Ensino

Fundamental no Colégio Estadual Nilo Peçanha EFM, em Londrina/PR.

Ao se propor a análise da agricultura familiar como estratégia de fixação do

homem no campo, pretendeu-se englobar as quatro dimensões (socioambiental,

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cultural e demográfica, econômica e política), ao mesmo tempo em que foram

redimensionados os conteúdos geográficos, os quais devem ser concebidos em uma

visão ampliada, dada a dinamicidade das mudanças que perpassam o estudo da

terra e do homem.

Sendo assim, a questão principal definida por esta pesquisa e considerada

como objetivo da mesma foi a seguinte:

De que forma a agricultura familiar pode contribuir para a progressiva

retomada do homem ao campo?

2 Embasamento Teórico

Para Santos (1985), a sociedade é vista como totalidade social. Nesta forma

de percepção, para se compreender a produção espacial é primordial avaliar os

determinantes políticos, culturais e econômicos que se constituem na essência

social e produzem as transformações espaciais.

Santos (1985), afirma que:

O espaço pode ser entendido como um produto social em permanente transformação, ou seja, sempre que a sociedade sofre mudança, as formas (objetos geográficos) assumem novas funções. Novos elementos, novas técnicas são incorporados à paisagem e ao espaço, demonstrando a dinâmica social. Os objetos construídos sobre o espaço são datados e vão incorporando novas tecnologias e novas formas de produzir.

Trata-se, ainda sob a égide do pensamento de Santos (1996, p. 51), de

considerar o espaço como elemento:

[...] formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina.

Deste modo, a análise geográfica da realidade pressupõe um olhar mais

aprofundado para a interação entre as diferentes dimensões que configuram a

sociedade.

Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básico do Estado do Paraná (DCE)

(PARANÁ, 2008) a concepção predominante volta-se para a intencionalidade dos

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sujeitos que conduz as escolhas das localizações; os determinantes históricos,

políticos, sociais, culturais e econômicos de tais ações; as relações que tais

ordenamentos espaciais pressupõem nas diferentes escalas geográficas e as

contradições socioespaciais que o resultado desses ordenamentos produz.

A partir do espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia, as DCE

contemplam uma série de pressupostos que estão diretamente entrelaçados às

noções de espaço e sociedade.

Não restam dúvidas que ao longo da segunda metade do século XX

ocorreram muitas mudanças na forma de estudar o espaço geográfico, decorrentes

das próprias transformações ocorridas nos âmbitos econômicos e político.

Deste modo, a degradação da Natureza gerada pela intensa exploração dos

recursos naturais e suas consequências para o equilíbrio ambiental no planeta; as

desigualdades e injustiças decorrentes da produção do espaço geográfico no modo

capitalista de produção, as questões culturais e demográficas mundiais afetadas

pela internacionalização da economia e pelas relações econômica e política de

dependência materializadas cada vez mais, nos espaços geográficos dos diferentes

países, são alguns dos pontos mencionados pelas DCE (PARANÁ, 2008) para

caracterizar as mudanças que deram novo enfoque ao ensino da Geografia.

No intuito de caracterizar tais transformações, são apresentados, na

sequência, os dados da sociedade brasileira nas últimas décadas, com ênfase para

os fatores que ocasionaram a saída do homem do campo e seus reflexos.

Por outro lado, é fato inegável que importantes transformações vêm

ocorrendo nas áreas rurais brasileiras. A ampliação das culturas, o surgimento de

novas formas de gerenciamento da produção e a crescente modernização do campo

são importantes fatores que caracterizam as mudanças no meio rural.

Segundo dados do IBGE (2004):

[...] O censo demográfico de 2000 revelou que nada menos de 137.669.439 habitantes residem na zona urbana, o que eqüivale a 81,22% do total da população brasileira. De acordo com os censos do IBGE, na década de 1960, 13 milhões de pessoas trocaram o campo pela cidade; nos dez anos seguintes, esse número se elevou para 15,5 milhões. Tudo indica que desde 1970, quando a população rural passou a ser minoritária, até os dias de hoje, mais de 40 milhões de brasileiros migraram do campo para a zona urbana.

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Pode-se, desta forma, falar em um novo rural brasileiro. Parte-se da

premissa de que é difícil delimitar o que é rural e o que é urbano, uma vez que as

cidades não podem apenas ser identificadas como os locais onde se desenvolvem as

atividades industriais, nem os campos como as áreas onde apenas se praticam

atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Observa-se que uma parcela

significativa do espaço rural brasileiro foi se urbanizando gradativamente nas últimas

décadas, como reflexo do processo de industrialização da agricultura e do

transbordamento do mundo urbano para aquelas áreas que tradicionalmente eram

definidas como rurais (DEL GROSSI e SILVA, 2002).

Para Del Grossi e Silva (2002), as políticas de geração de renda e emprego

são as responsáveis diretas por essas mudanças no meio rural. Dentre as dinâmicas

geradas nas últimas décadas para promover a integração entre a cidade e o campo,

os autores mencionam a terceirização dos serviços para a agricultura, as unidades

rurais que se dedicam a serviços de lazer, a criação de espaços para produtos

diferenciados, como orgânicos, hidroponia e outros; a produção e comércio de

artigos artesanais, bem como as agroindústrias.

Verifica-se, conforme as dinâmicas mencionadas pelos autores, que a

diversificação das atividades no meio rural consolidou uma nova imagem para o

campo, diversificando as atividades e explorando diferentes nichos de produção que

atribuíram contornos mais modernos para este segmento da economia.

A agricultura paranaense também se inseriu nesse processo de

modernização. Segundo Melo e Parré (2007, p. 352):

O setor agrícola do Paraná passou por uma reorganização produtiva, apontando para um processo de melhoria da competitividade e para a consolidação de uma estrutura de produção adaptada ao ambiente econômico de maior concorrência, com resultados expressivos para a agropecuária, colocando o estado em destaque.

Reconhecido como o celeiro do país, o Paraná consolidou sua posição como

grande expoente da agricultura nacional. Isto posto, deve-se ainda frisar a posição

de destaque dado ao agronegócio no estado e a influência da agricultura familiar

nesta nova conformação do setor.

De acordo com os autores, entre os anos 80 e meados de 1990, as crises e

instabilidades ocorridas na economia brasileira foram decisivas para estabelecer os

limites ao desenvolvimento agrícola paranaense e brasileiro, embora tenha havido

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mudanças no setor de produção, tais como a inserção de novas tecnologias (MELO

e PARRÉ, 2007).

Não restam dúvidas que o cenário altamente competitivo em que se situa ao

agronegócio demanda novas formas de gestão dos negócios. Por esta razão, a

inserção de recursos advindos da revolução tecnológica que caracteriza as últimas

décadas do século XX e a primeira década do terceiro milênio mostra-se um

componente essencial para explicar a elevação da qualidade no processo produtivo

agrícola.

A seguir, discorre-se sobre o espaço urbano e rural, no intuito de apontar as

questões que os configuram, nas dimensões econômica, ambiental, política e

cultural.

A relação entre o campo e cidade tem sido marcada, na dimensão histórica,

pela interdependência. Estes dois espaços exercem funções estratégicas para a

produção e circulação das mercadorias e para o mundo do trabalho.

Marques (2002, p. 100), “[...] enfatiza que o avanço do processo de

urbanização é responsável por mudanças significativas na sociedade em geral,

atingindo também o espaço rural e aproximando-o da realidade urbana”.

Nesta perspectiva, Oliveira (2005, p.72), aborda que:

[...] O campo e a cidade são produtos da ação das sociedades humanas, mas, simultaneamente, são produtos que comportam as próprias condições materiais da reprodução de sujeitos sociais que eventualmente podem se encontrar em oposição no interior dessas mesmas sociedades.

O espaço rural é socialmente construído pelos seus habitantes, como afirma

Wanderley (2000, p. 30):

[...] Em função das relações fundadas nos laços de parentesco e de vizinhança, e isso tanto no nível da vida cotidiana quanto do ritmo dos acontecimentos que determinam os ciclos da vida familiar, tais como nascimentos, casamentos e mortes e, ainda, no que se refere ao calendário das manifestações de ordem cultural e religiosa. Este é, fundamentalmente, o “lugar” da família, centrado em torno do patrimônio familiar, elemento de referência e de convergência, mesmo quando a família é pluriativa e seus membros vivem em locais diferentes.

O crescimento urbano ocorrido na região norte do Paraná, a partir do norte

novo de Londrina e região ocorreu pela colonização inicialmente pela Companhia de

Terras Norte do Paraná (CTNP) por volta da década de 1920, e foi de maneira

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rápida e planejada pelos ingleses, e ao longo das décadas seguintes houve um

acelerado desenvolvimento, pois os núcleos urbanos serviam de abastecedoras

para as áreas rurais.

As décadas de 1960, 1970 e 1980 começam com a transição e

deslocamento da população oriunda das zonas rurais, que migraram para as áreas

urbanas, configurando o êxodo rural.

Lefebvre (2001, p.43) frisa que:

[...] a urbanização serve para constituir uma nova dinâmica espacial, não somente para cultivar, vender ou alugar, mas para futuramente a construção de grandes núcleos urbanos. As cidades são produzidas para serem lócus da regulação do que se faz no campo, nascendo com um conteúdo e uma finalidade econômica: prestadoras de serviços, concentradoras da renda fundiária e constituintes de uma mão de obra imprescindível à sustentação deste núcleo e da atividade econômica predominante: a agricultura. Assim, é o campo, que passa a direcionar a vida econômica e social do sistema urbano.

Esta nova dinâmica espacial, ao ser tema do ensino de Geografia, ajuda a

firmar a concepção de que as transformações sociespaciais são elementos centrais

da compreensão do espaço, a qual se mostra o ponto seminal de qualquer proposta

de ensino que contemple as especificidades das contínuas transformações a que

está sujeito o espaço – e os indivíduos que nele vivem.

Na sequência, são apresentados dados sobre a agricultura familiar no Brasil

e na região selecionada para esta pesquisa: o norte do Paraná.

A agricultura familiar é um segmento social que retoma conceitos e (re)

definições no que tange às considerações atuais. A dinâmica no tempo e no espaço

alteram os conceitos das sociedades rurais, sejam mundiais, regionais ou

locais. No entanto, devido à abrangência que lhe têm atribuído nestes últimos anos,

novos paradigmas são traçados para diferenciá-la do campesinato tradicional num

processo dificultoso.

A diversificação das atividades no campo tem contribuído para que a

agricultura familiar seja administrada e totalmente orientada para o mercado. Em

virtude das mudanças que ocorrem no campo, o agricultor familiar percebe que sua

renda tende a diminuir mais quando a compara com a de outros agregados do

agronegócio.

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Além disso, a agricultura familiar no Brasil enfrenta alguns problemas, dentre

os quais, destacam-se: aqueles relacionados com o fator “Terra”, com a mão de

obra e com o capital.

A agricultura familiar torna-se importante com a modernização tecnológica,

pois há um aumento dos empreendimentos locais nos setores secundários e

terciários, entretanto, desde que haja desenvolvimento econômico regional e

um ambiente educacional adequado. Dessa forma, a agricultura familiar é

amortecedora das crises no setor agrícola e agente de desenvolvimento local

(VEIGA, 2000, p. 97 apud SCHMITZ, 2003, p. 32).

No que diz respeito à agricultura familiar e sua importância para a economia

brasileira, Sacheto (2006, p.132) enfatiza:

[...] A agricultura familiar exerce papel fundamental na economia de uma parcela significativa das pequenas cidades brasileiras. Em muitos casos, é ela a responsável pelo bom desempenho dos negócios urbanos, pelo suprimento da demanda interna de alimentos e pela manutenção do homem no meio rural. Melhorar a capacidade organizacional dos produtores, agregar valor aos produtos e facilitar o acesso dos mesmos ao mercado, tornando-os mais competitivos são, portanto, alternativas que contribuem para o aumento da renda e do desenvolvimento regional.

Sabe-se que o impacto da mecanização e do implemento de insumos

químicos na agricultura familiar produziram não apenas um incremento da produção

agrícola nacional, mas também possibilitaram a emergência de novas formas de

organização do trabalho na agricultura familiar, como as parcerias e os

arrendamentos.

No Norte do Paraná, foi a agricultura que possibilitou o desenvolvimento,

expansão e o progresso do Estado. Sua conhecida terra roxa que mais tarde seria

não só utilizada para a cultura do café, mas também para cultivar outros grãos,

atraiu povoamento para esta região.

Através desta modernização, e com o apogeu e a decadência já sofridas

pelo café, a soja passa a fazer parte do cenário - paisagem do Paraná, pois onde

havia apenas café, o verde do café, passou a existir o verde da soja, modificando

esta paisagem, que conforme Gonçalves (2000, p.40):

[...] a soja e os grãos tornaram-se um dos principais cultivos do norte - paranaense, ou seja dessa maneira organiza-se no Sul/ Sudeste brasileiro uma ampla base produtiva da moderna agropecuária de grãos que tem como núcleo de produção e principal produtor nacional o norte-paranaense.

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A partir de uma política governamental intensiva de estruturação da moderna agropecuária produtora de grãos e fibras, esses Estados,com destaque para o Paraná, passaram a ser conhecidos como celeiro nacional.

Na legislação brasileira, no inciso II, (do ) artigo 4º do Estatuto da Terra,

a propriedade familiar é definida pela Lei nº 4.504 de 30 de novembro de

1964 , na qual consta o seguinte texto:

“Propriedade Familiar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado

pelo agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de terceiros.

O conceito de agricultores familiares é definido por Bittencourt e Bianchini

(1996, p.14-15):

[...] Agricultor familiar é todo aquele (a) agricultor (a) que tem na agricultura sua principal fonte de renda (+ 80%) e que a base da força trabalho utilizada no estabelecimento seja desenvolvida por membros da família. É permitido o emprego de terceiros temporariamente, quando a atividade agrícola assim necessitar. Em caso de contratação de força de trabalho permanente externo a família, a mão-de-obra familiar deve ser igual ou superior a 75%

do total utilizado no estabelecimento.

A partir da década de 1990 a agricultura familiar passou a ser reconhecida

como a mais importante forma de organização da produção para a manutenção de

capital social no campo. Os dados estatísticos demonstraram a importância

econômica e social das unidades familiares, reconhecendo a agricultura familiar

como responsável pelo maior contingente de pessoas ocupadas no meio rural, pela

maior eficiência da renda agrícola gerada por suas atividades e por ser responsável

pela produção da maioria dos gêneros agrícolas consumidos no país.

A agricultura familiar é relevante para o processo de modernização

tecnológica do agronegócio brasileiro e, principalmente, tem fortes laços regionais.

Dessa forma, a agricultura familiar é amortecedora das crises no setor agrícola e

agente de desenvolvimento local, mas questiona-se, com este trabalho de pesquisa,

se a agricultura familiar constitui-se moderna e competitiva, potencializando o

desenvolvimento local sustentável e a melhoria da qualidade de vida no campo.

Assim, há uma mudança nos processos produtivos, principalmente

associada à intensificação da produtividade, à diminuição do pessoal ocupado

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nessas atividades e à coexistência de diversas atividades produtivas em uma

mesma propriedade.

As bases críticas da Geografia, adotadas pelas DCE, entendem a sociedade

em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos e nas relações que ela

estabelece com a natureza para produção do espaço geográfico, bem como no

estudo de sua distribuição espacial.

Assim, ao avaliar a importância da agricultura familiar como um construto

atrelado a uma concepção crítica de educação, pretende-se trabalhar os conteúdos

estruturantes da Geografia em sua abordagem teórico-metodológica,

contemplando as relações socioespaciais a partir das transformações políticas,

econômicas, sociais e culturais que marcam o contexto brasileiro e mais

especificamente da região Norte do estado do Paraná.

Para tornar mais concretos os resultados do trabalho desenvolvido junto aos

alunos tendo como tema as transformações espaciais a partir da análise sócio-

econômica da agricultura familiar, na sequência apresenta-se o relato das

experiências vivenciadas com os alunos na escola alvo da pesquisa.

3 Metodologia

A abordagem establecida pela pesquisa considera o conhecimento espacial

prévio dos alunos para relacioná-lo ao conhecimento científico, no sentido de

superar o senso comum.

A intervenção didático-pedagógica teve início no dia 12 de agosto de 2011,

tendo como público-alvo os 39 (trinta e nove) alunos da 6ª série “A” do Colégio

Estadual “Nilo Peçanha” EFM, em Londrina/PR.

Iniciou-se os trabalhos com uma conversa informal onde se esclareceu aos

alunos como ocorreria a aplicação da proposta didático-pedagógica estabelecida na

pesquisa.

A maioria dos alunos manifestou interesse, exceto alguns contrários ao

tema. Foram aplicadas então 40 aulas, divididas em dez unidades, conforme

demonstra o quadro 1.

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UNIDADE DURAÇÃO RECURSO E TÉCNICAS

1 4 horas Vídeo, imagem, mapa do Brasil em tamanho ampliado, ilustrações variadas, entrevista familiar, relato oral, atlas.

2 5 horas Textos informativos, vídeo, linha do tempo, computador com programa Excel.

3 4 horas Texto informativo, documento legal, imagens: produtos agrícolas diversos, gráficos variados; laboratório de Informática para elaboração de gráficos em Excel.

4 4 horas

Lendas impressas e vídeo.

5 2 horas

Palestra com profissional da EMATER-PR.

6 4 horas Texto da mídia impressa, palavras cruzadas.

7 4 horas Resultados da pesquisa realizada com agricultores, gráficos, computadores para realização dos gráficos, mapa ampliado do município de Londrina.

8 5 horas Leitura de fábulas, exibição de vídeo, elaboração de história em quadrinhos.

9 4 horas Texto musical, videocilipe, produção coletiva e individual de textos, técnica da sementeira.

10 4 horas Texto informativo, texto poético, slides, representação visual e apresentação em forma e cordel.

Quadro 1- Atividades desenvolvidas

Conforme se observa no quadro 1, na Unidade 1 foi exibido o filme Nem que

a vaca tussa. Muitos alunos já haviam assistido, mas até então não haviam

percebido a mensagem, achavam apenas que se tratava de um filme divertido.

Antes de iniciar a apresentação, foi explicado o desenrolar do filme, os

personagens, o enredo envolvendo uma ação de despejo e ao mesmo tempo a

solidariedade entre os envolvidos.

A aplicação deste recurso, comumente empregado por muitos professores,

demanda uma série de preparativos para que os resultados sejam otimizados. Nesta

direção, antes da exibição do filme, a professora assistiu, analisou e catalogou

partes que seriam utilizadas com a finalidade de atingir os objetivos propostos. Foi

verificado antes se o material em estudo oferecia dados importantes em

consonância com os objetivos a atingir.

Tais ações encontram-se sugeridas pelas DCE (2008, p. 82), quando se

propõe que:

[...] a partir da exibição de um filme, da observação de uma imagem (foto, ilustração, charge, entre outros), deve iniciar-se uma pesquisa

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que se fundamente nas categorias de análise do espaço geográfico e nos fundamentos teóricos conceituais da Geografia. O recurso audiovisual assume, assim, o papel que lhe cabe: problematizador, estimulador para pesquisas sobre os assuntos provocados pelo filme, a fim de desvelar preconceitos e leituras rasas, ideológicas e estereotipadas sobre lugares e povos.

Os alunos foram preparados para assistir, por meio de momentos de

conversa quando tentaram antecipar o que iria ver a partir da leitura do título, tendo

sido orientados a atentar para cenas que lhes chamassem mais a atenção.

Após um breve relato, o filme foi iniciado e com o comentário antecipado, os

alunos ficaram quietos e interessados em assistir, com exceção de 3 alunos que

manifestaram descontentamento em participar da atividade.

No desenrolar das cenas do filme, os alunos riram muito da confusão dos

personagens, mas muitos não perderam a concentração.

Após o término do filme, a turma foi dividida em pequenos grupos para

discussão e realização das atividades propostas.

Relacionando o espaço do filme (Fazenda Caminho do Paraíso), foi

perguntado aos alunos se eles conheciam alguma fazenda, quais os produtos

cultivados, enfim, foi feita a aproximação com a realidade dos alunos.

Na sequência, foi apresentado um mapa do Brasil sobre a produção

agropecuária nos diferentes estados. Os alunos deveriam preencher um infográfico

relacionando alguns produtos (milho, cana-de-açúcar, café, soja e carne bovina) à

produção brasileira e ao estado com maior produção.

Em seguida, foi sorteado um ou dois estados para cada grupo de alunos, no

intuito de pesquisarem sobre os principais produtos agrícolas de cada estado

brasileiro. Sugeriu-se que trouxessem figuras representando a produção agrícola de

cada estado.

Na aula seguinte, trouxeram as figuras e cada grupo realizou a colagem em

um mapa do Brasil que havia sido ampliado.

Na etapa posterior, a elaboração da Unidade 2 visou explorar os conteúdos

de leituras de tabelas, gráficos, texto jornalístico e obras de artes, enfocando uma

análise crítica sobre o tema.

Inicialmente foram apresentados slides organizados pela professora, com

imagens da agricultura familiar.

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Buscando relacionar a distribuição da população rural e urbana no Brasil e

em Londrina, foram explorados tabelas e gráficos a respeito. Foi ainda trabalhado

um texto informativo para dar maior suporte à análise pretendida. O trabalho de

exploração do gráfico foi bastante minucioso, tendo sido solicitado que aos alunos

retirassem informações precisas, como a porcentagemm da população urbana do

Brasil em 2000, a diferença percentual entre a população urbana e rural em 1991,

entre outras.

Esta atividade vai ao encontro do que sinalizam as DCE (PARANÁ, 2008, p.

86), quando sugerem as alternativas de avaliação da disciplina de Geografia:

Será necessário, então, diversificar as técnicas e os instrumentos de avaliação. Ao invés de avaliar apenas por meio de provas, o professor pode usar técnicas e instrumentos que possibilitem várias formas de expressão dos alunos, como: interpretação e produção de textos de Geografia; interpretação de fotos, imagens, gráficos, tabelas e mapas; pesquisas bibliográficas; relatórios de aulas de campo; apresentação e discussão de temas em seminários; construção, representação e análise do espaço através de maquetes, entre outros.

A aula seguinte destinou-se à análise dos gráficos elaborados pelos alunos.

Foi solicitado que os alunos, com base nas informações obtidas, discutissem a

questão do aumento da população urbana e consequente diminuição da população

rural, caracterizando o êxodo rural.

Para aprofundar o assunto, foi apresentado um texto informativo

conceituando êxodo rural e em seguida o texto jornalístico O mundo vai viver nova

onda de Êxodo Rural, cuja leitura foi complementada por questões orais e escritas,

culminando com a sugestão de produção de uma linha de tempo em que os alunos

indicassem os números e percentuais da população mundial urbana de 1900 com

projeção até 2030.

Mantendo o propósito de inserir a discussão no âmbito interdisciplinar, foi

trabalhada a inserção da temática do êxodo rural nas artes em geral. O objetivo

dessa atividade foi levar os alunos a compreender como as obras de arte refletem o

cotidiano e as dificuldades do homem do campo.

Primeiramente analisou-se a obra de arte Retirantes, de Cândido Portinari.

Em seguida foi distribuída a cópia da letra da música Asa Branca, de Luiz Gonzaga,

seguida da audição do CD. Muitos alunos riram e comentaram que a música era

chata, “do tempo do onça”. Comentou-se que a música, apesar de retratar o

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sertanejo nordestino, retrata a realidade como um todo do sofrimento do pequeno

agricultor.

Na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, fizemos leitura coletiva e um

comentário geral sobre o enredo do romance, para melhor entendimento dos alunos.

A Unidade 3 teve início com uma técnica de sondagem, na qual foi solicitada

uma reflexão por parte dos alunos sobre seu conhecimento prévio acerca da

agricultura familiar e os produtos produzidos no município de Londrina.

Essa sondagem busca respaldo no conceito de aprendizagem significativa,

que considera o conhecimento prévio do aluno como uma condição necessária à

construção do conhecimento.

Dividiu-se a sala em pequenos grupos e foi feita a leitura de textos

informativos sobre o conceito de agricultura familiar. Para complementar as

informações, foram trabalhados gráficos explorando a relação entre agricultura

familiar e produção de alimentos no Brasil. Em seguida foram propostas questões

sobre a agricultura familiar no Brasil, na qual todos os alunos participaram e

concluíram as atividades com êxito.

Na aula seguinte, em grupos de 10 alunos, foram levados ao Laboratório de

Informática para confecção do gráfico dos principais produtos produzidos pela

agricultura familiar no município de Londrina. Esta atividade teve a participação do

técnico de informática da escola em que foi realizada a intevenção.

Na Unidade 4, foram trabalhados os produtos da agricultura familiar,

valendo-se da leitura de lendas. A sala foi dividida em 9 grupos, e cada grupo

escolheu uma lenda, a qual deveriam ler e apresentar em forma de dramatização,

música, desenhos e painéis.

Na Unidade 5, foi organizada uma palestra com um Técnico em

Agropecuária do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural,

EMATER/PR- Londrina, o Sr. Paulo Roberto Mrtvi. Na figura a seguir, apresentam-se

imagens deste momento da intervenção didática realizada.

16

Figura 1- Imagens da palestra realizada Fonte: A autora

O foco principal da palestra foi a agricutltura familiar e os alunos foram

preparados em sala de aula sobre os conteúdos que seriam tratados no evento,

realizado na sala de vídeo, um ambiente mais agradável, com espaço mais amplo e

equipado com data-show e telão.

O palestrante se apresentou, iniciou a palestra com algumas brincadeiras,

deixando os alunos bem à vontade. Fez uma explanação sobre o EMATER, o que é,

os objetivos e sua importância no contexto agrícola.

Em seguida, foi comentado um pequeno histórico do surgimento da

agricultura de modo geral, agricultura familiar no Brasil, no Paraná e no município de

Londrina, com textos escritos e apresentação de slides. Foram utilizadas duas aulas.

A Unidade 6 teve início com a leitura do texto da mídia impressa com a

reportagem do Jornal de Londrina Deixar ou ficar no campo, o dilema de José

Aparecido.

Após a leitura e a exploração oral das questões centrais do texto, a turma foi

organizada em pequenos grupos, para a resolução das questões solicitadas.

A Unidade 7 teve início com a apresentação dos resultados da pesquisa,

mas foi detectado que nem todos os grupos realizaram a tarefa.

Após a apresentação das entrevistas, os alunos, reunidos novamente em

grupos, realizaram a colagem no mapa do município dos principais produtos

agrícolas da agricultura familiar do município de Londrina. Foi um trabalho muito

produtivo, havendo um grande desempenho por parte dos alunos.

Na aula seguinte, foram formados grupos de 10 alunos, com o objetivo de

irem ao laboratório de Informática para a elaboração da tabela e do gráfico referente

17

à pesquisa com os agricultores da agricultura familiar. Em sala, organizamos os

dados coletados para a elaboração dos gráficos, e, após sua finalização, os mesmos

foram colocados juntamente com o mapa do município de Londrina nos murais do

colégio.

Tendo em vista a inserção de diferentes mídias no esino e aprendizagem de

Geografia, a unidade 8 constou da exibição do vídeo O rato da cidade e o rato do

campo, juntamente com a leitura da fábula na versão escrita. Ao término da leitura,

os alunos deveriam elaborar a moral para a fábula e apresentaram muitas

dificuldades nesta atividade, pois percebemos que eles não tinham contato anterior

com este tipo de texto.

Em seguida, foram exibidos vídeos Na roça é diferente e Chico Bento no

Shopping, uma animação de histórias em quadrinhos de Maurício de Souza que

trata das dificuldades de dois primos que vão em visita a ambientes diferentes de

seu cotidiano.

Na mesma aula, foram formados pequenos grupos e iniciadas as questões

propostas sobre os vídeos. Em outro momento, os alunos confeccionaram a história

em quadrinhos, com muita criatividade e fazendo uso de ilustrações que

representaram os problemas de cada ambiente retratado nos vídeos exibidos.

Em continuidade ao trabalho com recursos audiovisuais, na unidade 9 foi

trabalhado o videoclipe da música Obrigado ao homem do campo, de Dom e Ravel.

Após entregar a cópia impressa da letra da música aos alunos, foi feito um breve

comentário de que a letra foi escrita na época da ditadura militar, tendo recebido

várias críticas à época e houve alguns questionamentos dos alunos. Foi então

solicitado que os alunos produzissem um texto utilizando as ideias, as palavras

selecionadas, relacionando-as à agricultura familiar.

Na última etapa da aplicação da Produção Didático-Pedagógica, a turma foi

organizada em pequenos grupos, e a cada dois alunos foi distribuída uma cópia da

leitura do cordel Desertificação, cada grupo fez leitura oral e escolheram uma estrofe

e ilustraram-na em papel Kraft com colagem de figuras e outros desenharam.

Finalizando a produção, foi lido em grupo o texto Os problemas ambientais

rurais e observação e análise do cartaz de Campanha Permanente contra os

agrotóxicos e pela vida, apresentado na figura subsequente.

18

Figura 2- Cartaz da Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida

Fonte: www.epsjv.fiocruz.br/upload/d/cartaz_campanha_A3.pdf

4 Resultados e análises

A primeira sugestão de questão a ser discutida com os alunos foi a posse da

terra a partir da análise do filme Nem que a vaca tussa. As principais respostas a

esta questão foram:

Era arrecadada em leilões e seus donos eram obrigados a vendê-las (GRUPO 1). O bandido roubava o gado para deixar o fazendeiro pobre e depois de ter vendido o gado, ele usava o dinheiro para comprar as terras do fazendeiro que ele roubou gado (GRUPO 2). Através de leilões (GRUPO 3). Ela tinha que pagar as dívidas para não perder a fazenda (GRUPO 4).

Observou-se, a partir das respostas dos alunos que a maioria não conseguiu

explicar sobre posse da terra. Isto se deve ao fato de o conteúdo ser complexo para

a faixa etária da 6ª série. Portanto, houve a necessidade de retomar a questão

proposta.

A segunda questão ainda relacionada ao filme Nem que a vaca tussa foi:

Indique o que representa a personagem Alameda Slim no enredo do filme. As

principais respostas a esta questão foram:

Um ladrão de gado ou de terras (GRUPO 1). Um ladrão que roubava gado para ganhar dinheiro (GRUPO 2). Representa um ladrão de terras (GRUPO 3).

19

Era um perigoso bandido que roubava as terras para leiloar (GRUPO 4). Um perigoso ladrão de gado, que após roubar as vacas e os bois, vendia-os e comprava as terras arrematadas nos leilões (GRUPO 5).

Observou-se das respostas que, embora a personagem em questão

(Alameda Slim) deixasse transparecer a imagem de um bem sucedido homem de

negócios, os alunos identificaram sua verdadeira atividade, tendo sido unânimes em

descrevê-lo como um ladrão ou bandido.

Objetivando trazer os fatos narrados no filme para a realidade, foi sugerido

que os alunos relatassem situações reais semelhantes em relação a pequenos

proprietários. Foram obtidas as seguintes respostas:

Sim, meu primo teve que vender o seu sítio para pagar dívidas (ALUNO 1). Sim, igual à história do Alameda Slim, pessoas roubam o sustento da família e a família não tem como pagar e vende os imóveis (ALUNO 1).

Observou-se que os alunos não têm muito contato com pessoas da zona

rural, por isso nem sempre os debates eram produtivos. A discussão, então, foi

conduzida para a questão da solidariedade entre os animais que, estimulados pela

personagem central (vaca), procuram ajudar para impedir que o Alameda Slim

tomasse posse da fazenda.

Quando da realização do infográfico previsto para a atividade 2, esta foi

realizada com bastante atenção pelos alunos, sobretudo quando deveriam

comparar, quantitativamente, a diferença das quantidades produzidas entre estados,

como por exemplo, a quantidade de cana produzida em São Paulo e a soja no Mato

Grosso. Os alunos fizeram as contas e chegaram rapidamente aos resultados

estabelecidos.

Quanto à atividade em que deveriam trazer figuras sobre os principais

produtos agrícolas de cada estado brasileiro, a figura 3 apresenta o resultado final

do trabalho dos alunos.

20

Figura 3 – Agricultura do Brasil. Fonte: A autora

Na próxima atividade, os alunos deveriam fazer um relato oral do estado

brasileiro que tivesse relação com sua história de vida. Dentre as narrativas, foi

selecionada apenas uma, tendo em vista que nem todos os relatos tiveram

consistência e havendo dificuldades na transcrição dos mesmos.

Meus avós vieram do Estado de São Paulo, onde eram colonos, atraídos pela facilidade de comprar terras no norte do Paraná, através da Companhia de Terras do Norte do Paraná. Já tinham conhecidos aqui, o que também facilitou sua vinda. Plantaram café. Muitos já venderam sua pequena propriedade, após a entrada da mecanização, vindo morar na cidade.

Observou-se que os relatos produzidos pelos alunos reproduziam histórias

de vida muito semelhantes, inclusive em relação ao estado de origem. A grande

maioria dos alunos relatou que seus avós vieram de São Paulo, alguns de Minas

Gerais e uns poucos do Nordeste.

Ao término das ações que englobaram a atividade 1, foi possível perceber

que a intencionalidade inicial foi atingida, uma vez que se tratava de despertar o

interesse dos alunos pela atividade agrícola como importante dimensão da análise

da categoria geográfica do espaço.

Na questão de análise da evolução do crescimento da população urbana e o

decréscimo da população rural nas últimas décadas (de l980 a 2010), no Brasil,

21

todos os alunos se apropriaram do conteúdo, comentando que gostaram muito de

realizar esta atividade.

Na construção do gráfico sobre a distribuição da população rural e urbana de

Londrina, 50% dos alunos conseguiram traçar o gráfico com exatidão. Alguns não o

realizaram, por não disporem do material adequado (régua, canetas coloridas ou

lápis de cor etc), outros se negaram a realizar a atividade. A professora estimulou

estes alunos a cumprirem as atividades em parceria com os colegas e aqueles que

não finalizaram a atividade em sala de aula foram orientados a fazer em casa e

trazer na aula seguinte.

Quando questionados sobre as medidas adotadas pelo Fundo Monetário

Internacional e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) para evitar o aumento

da pobreza, a maioria dos alunos transcreveu de forma adequada o trecho “As

organizações advertem os governos para se prepararem não apenas com

infraestrutura adequada, mas também para assegurarem políticas de criação de

emprego”. Nesse quesito, dos 39 alunos, 31 alunos, ou seja, 89%, se apropriaram

da questão. Seis responderam errado e dois deixaram de responder.

Quando deveriam indicar os fatores que ocasionam as migrações do campo

para a cidade, trinta e seis dos alunos responderam a questão corretamente,

perfazendo 97% do total de alunos presentes à aula. Embora os resultados tenham

sido positivos, percebemos que a maior dificuldade dos alunos não se vincula aos

conteúdos em si, mas à dificuldade de atenção na leitura do texto. Da mesma forma,

o trabalho em grupo deu origem a conversas paralelas que se tornam obstáculos à

realização das tarefas.

Quando se propôs a elaboração da linha do tempo, percebeu-se que parte

dos alunos não detinha os conhecimentos necessários à construção prática da

tarefa. Depois da intervenção da professora, os alunos conseguiram elaborar, mas

mesmo assim, alguns realizaram sem indicar os acontecimentos ocorridos no

período.

A partir da linha do tempo, foi sugerido que os alunos representassem em

forma de gráfico as informações trazidas pela linha do tempo. Na figura 4 a seguir,

apresenta-se um dos trabalhos confeccionados.

22

Figura 4- Linha e do tempo e gráfico correspondente Fonte: Resultado do trabalho dos alunos na sala da autora.

Observa-se a partir da análise do gráfico da figura 2 que as alunas, na

elaboração do gráfico, foram fiéis aos dados constantes na linha do tempo, tendo

seguido uma proporção adequada, sobretudo em relação aos anos de 2005 e 2008,

tendo apenas se equivocado na proporcionalidade entre o percentual de 1900 e

2005. Os demais trabalhos também corresponderam às expectativas e os alunos, de

forma geral, conseguiram cumprir a tarefa proposta com êxito.

Verificou-se, após o trabalho da Unidade 3, que o trabalho com jornal em

sala de aula mostra-se uma importante ferramenta de apoio que pode auxiliar o

educando no acesso às informações e aos acontecimentos que integram uma leitura

de mundo necessária à construção dos conhecimentos geográficos.

Na análise da obra Retirantes, os alunos foram unânimes em comparar as

pessoas retratadas na obra às imagens trazidas nos livros didáticos de História e

Geografia, quando mostra a fome e a miséria no continente africano.

O texto Vidas Secas despertou o interesse dos alunos, principalmente pelo

sofrimento da família e de Fabiano, pequeno agricultor que não tinha seu pedaço de

terra, o que obrigava a família a mudar de uma propriedade a outra, sendo explorada

pelos patrões. Alguns até se incentivaram a ler o romance. Trabalhou-se também o

vocabulário, pois algumas palavras eram desconhecidas dos alunos.

23

Em grupos, os alunos deveriam discutir se a realidade atual é a mesma da

época em que as obras foram produzidas. Foram obtidas as seguintes respostas:

Sim, porque há ainda pessoas passando fome (GRUPO 1). Sim, porque o homem ainda sai do campo para a cidade em busca de emprego (GRUPO 2). Não, agora eles vão com carros pelas estradas, e antigamente eles iam a pé, passando fome e sede (GRUPO 3). Não, porque em 1947, não está na realidade atual (GRUPO 4). Não, é melhor porque as condições de trabalho melhoraram (GRUPO 5).

Verifica-se que as respostas dos alunos encontram-se distanciadas da real

vivência do homem do campo no momento atual da história do Brasil. Em muitas

situações, pode-se observar que a seca, a miséria e a exploração são elementos

presentes no cotidiano do trabalhador rural.

Sobre as causas que ocasionam o êxodo rural, os alunos mencionaram a

falta de terra, a falta de dinheiro, a busca por melhores condições de vida, as más

condições de trabalho, moradias precárias, a falta de trabalho no campo, a perda da

terra e o baixo preço dos produtos produzidos no campo.

Quanto aos resultados obtidos após a aplicação dos questionamentos,

tornam possível analisar que não foram satisfatórios, tendo sido acrescentadas

orientações orais para que pudessem cumprir a tarefa. Um dos problemas

constatados deve-se ao comportamento dos alunos durante a aula, atentando-se ao

fato que, ao longo do trabalho em sala de aula, alguns se mostraram

desinteressados e não participaram das atividades.

Em relação aos motivos que originam a saída do campo, verificou-se que os

alunos demonstraram conhecimento a respeito, tendo sido indicado por um número

expressivo de alunos. Percebeu-se ainda respostas mais críticas, relacionadas a

conflitos sociais como a perda da terra e o baixo custo dos produtos agrícolas.

Aproveitamos oportunidade para esclarecer que esses problemas seriam tratados

posteriormente.

Neste ponto, devem ser retomadas as bases críticas da Geografia, adotadas

pelas DCE, as quais contemplam a sociedade em seus aspectos sociais,

econômicos, culturais e políticos e nas relações que ela estabelece com a natureza

para produção do espaço geográfico. Assim, a agricultura, como elemento essencial

à sobrevivência, merece atenção especial, como determinante do desenvolvimento

de uma região, estado ou nação.

24

Para concluir esta unidade, os alunos trouxeram imagens, letras de músicas

e textos jornalísticos, referente ao homem do campo, e compuseram um painel

ilustrado.

No trabalho com as lendas, proposto na Unidade 4, a lenda da cana-de-

açúcar e a da cachaça foram representadas em forma de dramatização. Os alunos

foram bastante criativos, tanto no cenário como nos trajes.

As outras lendas tiveram sua representação também de maneira muito

criativa. Percebeu-se que esse tipo de linguagem é uma forma interessante de

ensino-aprendizagem, pois desperta o lúdico dos adolescentes.

A atividade com as lendas encontra-se amparada pelo que afirmam as DCE

(PARANÁ, 2008, p. 84):

A prática docente no ensino de Geografia também pode ser viabilizada por instrumentos menos convencionais no cotidiano escolar que podem enriquecer o processo de ensino e aprendizagem como, por exemplo, as obras de arte e a literatura.

Assim, a leitura das lendas despertou maior interesse dos alunos que os

textos informativos trabalhados nas unidades anteriores, o que comprova a

efetividade de propostas diferenciadas de trabalho no processo de aprendizagem

dos conteúdos geográficos.

Em relação à palestra realizada, na Unidade 5, percebe-se que, embora

alguns alunos tenham se mostrado dispersos durante a apresentação dos slides, os

resultados da palestra, cuja duração foi de duas horas, mostraram-se positivos, pois

as informações trazidas complementaram os conteúdos já desenvolvidos nas

unidades anteriores.

Deve-se destacar ainda que os alunos reconheceram a importância da

agricultura familiar como componente central da produção agrícola no Brasil e no

município de Londrina. Muitos se interessaram pela explicação do palestrante no

que diz respeito às dificuldades que os agricultores enfrentam e o trabalho

desenvolvido pelo EMATER para auxiliar, sobretudo, os pequenos agricultores.

Na aula seguinte, foi solicitado que os alunos apresentassem oralmente a

síntese do que foi ministrado.

25

No que diz respeito à análise do texto jornalístico que apresentou a vida de

um homem no campo, como proposta de trabalho da Unidade 6, no quadro a seguir

encontram-se algumas das respostas obtidas.

Respostas corretas Respostas distorcidas

- Ele mora e trabalha na propriedade da família.

- Ele mora e trabalha na propriedade da família

de quatro hectares.

- Porque trabalha por conta própria e vive no

campo e tem dois filhos adolescentes que

ajudam os pais nos trabalhos.

- Porque possui quatro hectares de terra.

- Porque desde criança ele faz isso e é difícil de

fazer outra coisa.

- Para o produtor faltam incentivos para os

pequenos agricultores ficarem no campo. Tarefas

simples como comprar insumos agrícolas.

- Porque é um trabalhador honesto e não só

pensa no dinheiro e pensa na família.

- Porque José Aparecido nasceu no campo.

Quadro 2- Respostas dos alunos ao trabalho proposto pela autora.

Fonte: Autora.

Se o conceito de Bittencourt e Bianchini (1996) for retomado, sobre o

agricultor familiar como todo aquele que tem na agricultura sua principal fonte de

renda e cuja base da força trabalho é desenvolvida por membros da família,

percebe-se que as respostas acertadas dos alunos convergiram para a questão de

morar e trabalhar na propriedade, tendo sido reforçado por dois alunos que o texto

tratava de uma pequena propriedade, de quatro alqueires.

Em outra questão sobre o texto jornalístico, foi indagado sobre os motivos

que o agricultor menciona para sair do campo, tendo sido obtidas as seguintes

respostas:

Respostas corretas Respostas distorcidas

- Uma atividade muito desgastante, se eu tivesse um emprego fixo na cidade, sairia daqui. - Falta de incentivo para os pequenos agricultores. - Sair do campo para fazer ou realizar um sonho de cursar Direito. - Exigência de um registro do engenheiro agrônomo para comprar insumos. - Baixo valor pago pelo supermercado pelos produtos. - Baixa renda.

- Porque vive o dilema, entre deixar ou permanecer no campo. - São que todo mundo acha que ele tem dinheiro, sendo que rala muito.

Quadro 3- Respostas dos alunos ao trabalho proposto pela autora. Fonte: Autora

26

Verifica-se que foram elencados vários motivos que podem levar o agricultor

a deixar o campo, mesmo sendo proprietário. Assim, os alunos releram a

reportagem e identificaram, em sua maioria, as causas mais frequentes do êxodo

rural.

Reforça-se, assim, a potencialidade do trabalho com o texto jornalístico em

sala de aula, como ferramenta essencial para que se possa conduzir a construção

dos conhecimentos geográficos em uma dimensão mais próxima da realidade.

Quando questionados sobre as diferenças entre o contexto de vida de José

Aparecido, quando mais jovem e de seus filhos adolescentes, os alunos foram

unânimes em responder que, quando adolescente, Silva trabalhava na terra, ao lado

do pai, sabendo que o sustento estava garantido, enquanto os filhos dele não

possuem esta certeza.

Neste ponto, deve-se considerar a intensidade das transformações

causadas pelo êxodo rural na vida dos agricultores, que nem sequer podem garantir,

com suas pequenas propriedades, o sustento da família. Esta situação foi trabalhada

com os alunos no debate que se seguiu à correção das questões de interpretação do

texto jornalístico.

Tais procedimentos são condizentes com o estabelecido pelas DCE, quando

explicitam que:

O professor deve, ainda, conduzir o processo de aprendizagem de forma dialogada, possibilitando o questionamento e a participação dos alunos para que a compreensão dos conteúdos e a aprendizagem crítica aconteçam. Todo esse procedimento tem por finalidade que o ensino de Geografia contribua para a formação de um sujeito capaz de interferir na realidade de maneira consciente e crítica (PARANÁ, 2008, p. 76).

O objetivo do texto proposto foi atingido, pois os alunos conseguiram

desenvolver criticamente suas ideias sobre a reportagem. Observamos que eles

aliaram o conhecimento aos fatos que acontecem no cotidiano, como por exemplo, o

agronegócio, que recebe incentivos do governo, fazendo paralelo com o agricultor

familiar, que enfrenta muita dificuldade para conseguir empréstimos governamentais.

Para finalizar este tópico da unidade, foi solicitado que os alunos

completassem uma cruzadinha com a indicação de produtos oriundos da atividade

agrícola. Por se tratar de atividade que alia o conhecimento ao aspecto lúdico, os

27

alunos demonstraram grande interesse e não tiveram dificuldade na resolução das

questões formuladas.

A culminância da unidade deu-se pela organização de grupos para que,

seguindo um roteiro pré-estabelecido, entrevistassem um produtor familiar, visando a

aproximação entre a teoria e a prática, necessária para o aprofundamento das

discussões engendradas ao longo da intervenção.

Em atendimento às estratégias utilizadas na Unidade 7, quando os alunos

deveriam apresentar os resultados de uma entrevista com um agricultor familiar, foi

selecionada uma entrevista que atendeu a todos os requisitos constantes do roteiro

sugerido.

A entrevista foi realizada com um pequeno agricultor, cuja propriedade tem três hectares, localizada no Distrito de São Luiz. São cinco pessoas na família, todos trabalhando na propriedade. A propriedade produz vários produtos: café, milho safrinha, e hortaliças diversas. Comercializam seus produtos normalmente na Feira do Produtor, aos domingos de manhã, no centro da cidade e entrega em um supermercado. Seu lucro maior vem da venda do pouco café que produz, e das hortaliças, quando faz bom tempo e conseguem colher toda a produção. Apesar da renda não ser muito, conseguem sobreviver, porque somente os membros da família trabalham na propriedade, não pagam empregados. Mesmo assim, enfrentam muita dificuldade na escoação dos produtos, como: estradas mal conservadas, preço baixo dos produtos, mau tempo e insumos e combustível muito caros (GRUPO 1).

Solicitados a fazer em grupos a colagem no mapa do município dos

principais produtos agrícolas da agricultura familiar do município de Londrina, os

alunos desenvolveram a atividade com bastante interesse. Na figura 5, pode ser

observado o trabalho desenvolvido pelos alunos em atendimento a esta proposta.

28

Figura 5- Trabalho produzido pelos alunos. Fonte: Arquivo próprio da autora, 2011.

Quando foram ao laboratório de Informática para a elaboração da tabela e

do gráfico referente à pesquisa com os agricultores da agricultura familiar,

comprovou-se a importância da utilização dos recursos tecnológicos disponíveis

como forma de tornar mais significativos os momentos de aprendizagem.

Na figura 6 a seguir, apresenta-se um dos gráficos elaborados por um dos

grupos.

Figura 6- Principais produtos da agricultura familiar em Londrina (em hectares de área plantada)

Fonte: EMATER, 2010

29

Sobre esta atividade, verificou-se que a inserção de recursos tecnológicos

fornece melhores resultados, uma vez que quando os alunos precisaram fazer

gráficos valendo-se de material quadriculado, não houve aproveitamento integral, e

no laboratório de informática os resultados foram melhores. Esta experiência

confirma a necessidade de ações efetivas com as tecnologias disponíveis na escola,

as quais nem sempre são utilizadas pelos professores.

A cartografia deve ser estimulada no trabalho com os conteúdos

geográficos, uma vez que, conforme as DCE (PARANÁ, 2008, p. 83) “[...] propõe-se

que os mapas e seus conteúdos sejam lidos pelos estudantes como se fossem

textos, passíveis de interpretação, problematização e análise crítica.”

Em relação ao trabalho em grupo, foram observados alguns problemas: nem

todos os alunos haviam trazido o material solicitado na aula anterior, como figuras,

cola e tesoura; nem todos se empenharam na montagem do mapa ilustrativo e

alguns alunos valeram-se da atividade para conversas paralelas e brincadeiras

inadequadas com o desenvolvimento da tarefa.

Por este motivo, sugere-se que a participação do aluno em trabalhos em

grupo seja constantemente estimulada, tendo em vista a importância da socialização

dos conhecimentos como suporte para a consolidação de uma aprendizagem

realmente efetiva.

A experiência comprovou que o trabalho em grupo, dada sua importância no

processo de discussão e aprofundamento dos conteúdos trabalhados, deve ser

realizado em sala de aula, com as condições necessárias para sua concretização.

No trabalho desenvolvido na Unidade 8, em que se trabalhou com vídeos de

fábulas e histórias em quadrinhos, os alunos gostaram muito das histórias, riram

muito dos personagens e perceberam claramente as diferenças entre o meio urbano

e o rural.

Na Unidade 9, quando se trabalhou o videoclipe da música Obrigado ao

homem do campo, de Dom e Ravel, os alunos deveriam produzir um texto

relacionando a temática à agricultura familiar, mas os resultados não se mostraram

satisfatórios, pois os alunos desenvolveram pequenas frases sem muita coerência,

limitando-se a repetir versos do texto musical.

Após o trabalho com o texto de cordel, os alunos realizaram a apresentação

dos trabalhos, cujos resultados deixaram a desejar, pois muitos grupos, tendo

30

iniciado a atividade em sala, trouxeram-na incompleta ou deixaram sua finalização a

cargo de apenas um integrante da equipe.

Na discussão dos textos sobre problemas ambientais e observação do

cartaz de Campanha Permanente contra os agrotóxicos e pela vida, houve

sugestões e soluções para os problemas, principalmente sobre os agrotóxicos,

discutindo os malefícios para a saúde humana, animal e para o meio ambiente.

Nessa atividade houve uma intensa participação oral dos alunos.

5 Conclusão

Analisando-se os resultados do trabalho de pesquisa ora desenvolvido

observa-se que a intervenção realizada na escola mostrou-se coerente com os

objetivos estabelecidos no projeto que deu origem às atividades práticas descritas

neste artigo.

Algumas ponderações podem ser feitas a partir das experiências

vivenciadas ao longo dos três meses de aplicação das atividades.

Em primeiro lugar, o trabalho com os conteúdos geográficos deixa entrever

uma gama intensa de possibilidades, dada a complexidade das categorias

envolvidas e, acima de tudo, as especificidades de cada grupo social que compõem

o entorno social no qual a escola se encontra inserida.

Deste modo, quando se trabalhou a agricultura familiar nas dimensões

global, regional e local, foi possível perceber que os alunos trouxeram contribuições

sobre gerações anteriores de suas famílias, que vieram para o Brasil e para o

Paraná em busca de melhores oportunidades de trabalho e de vida, mas

aproximaram também os conhecimentos construídos à sua própria vivência, quando

descreveram situações atuais como o êxodo de seus familiares para outros países

na atualidade.

Deste modo, seguindo os pressupostos relacionados nas DCE, percebe-se

que o ensino de Geografia não pode se restringir a uma única análise, e em todas as

situações de ensino deve estar presente a contextualização dos conteúdos, como

requisito essencial para a consolidação de uma aprendizagem significativa.

Outro ponto importante que foi observado diz respeito à diversificação dos

recursos a serem inseridos no trabalho com os conteúdos da disciplina de

Geografia. Foi inegável o interesse despertado pelos trabalhos com os gráficos,

31

sobretudo no laboratório de informática, bem como as atividades com textos

musicais, vídeos, fábulas, cordel e histórias em quadrinhos.

De forma especial, a cartografia trabalhada de forma diferenciada, onde os

alunos se valeram de figuras e gráficos de apoio, mostrou-se uma ferramenta

essencial para ampliar os conceitos da agricultura familiar no Brasil e no município

de Londrina.

Algumas atividades não foram totalmente proveitosas por parte dos alunos,

como a entrevista com produtores rurais e a conclusão do painel com as estrofes da

literatura de cordel. No entanto, entende-se que, dada a faixa etária em que se

concentram os alunos integrantes da turma selecionada para o trabalho, estas

tarefas devem ser estimuladas em trabalhos futuros.

Da mesma forma, os problemas encontrados no trabalho em grupo são

próprios deste tipo de atividade e não podem ser considerados empecilhos para a

proposição de novos trabalhos nesta opção metodológica, a qual revela uma grande

possibilidade de crescimentos das potencialidades dos alunos, contribuindo para a

formação de uma visão crítica necessária à transformação requerida pela

aprendizagem significativa.

A par destas reflexões, percebeu-se que a intencionalidade da intervenção

didática realizada foi atingida, quando se procurou analisar a importância da

agricultura familiar como estratégia de fixação do homem no campo.

A proposição das atividades que englobam as dez unidades que compõem

a produção concretizada ao longo dos meses indicados atendeu às expectativas

iniciais, tendo em alguns momentos superado até mesmo os objetivos previamente

estabelecidos, como no caso da palestra com o técnico da EMATER, durante a qual

foram suscitadas questões como preservação ambientel e qualidade de vida.

Deste modo, comprovou-se a amplitude dos conteúdos geográficos na vida

humana e a importância da Geografia não apenas como disciplina escolar, mas

como norte das transformações sociaoambientais e culturais que a sociedade deste

século exige com urgência.

Portanto, pode-se concluir que a realização da pesquisa mostrou a

existência de múltiplas possibilidades de exploração dos conteúdos geográficos,

contemplando a necessária articulação com as demais disciplinas, além da

contextualização dos conteúdos, como premissa para ultrapassar os limites

impostos pelas dimensões espaciais e como ponto de partida para um contínuo (re)

32

pensar da Geografia, como suporte para a ampliação dos horizontes culturais de

professores e alunos.

Sugere-se, assim, para futuros trabalhos, que as atividades, recursos e

alternativas metodológicas aqui utilizadas sejam aplicadas a diferentes conteúdos

das demais categorias geográficas, no intuito de tornar mais concretas as situações

de aprendizagem.

Acredita-se que o trabalho de pesquisa tenha contribuído para a ampliação

da concepção de profissionais da educação, sobretudo no âmbito da escola pública

paranaense, no que diz respeito à infinitude das possibilidades interpostas para a

educação, tendo em vista os recursos materiais e, inquestionavelmente, os recursos

humanos existentes nas escolas neste atual estágio de evolução do processo

educativo escolar.

Referências

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