terra e cultura, ano xviii, nº 35

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

ENTIDADE MANTENEDORA:INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA

Diretoria:

Agnello Correa de Castilho ................................... Vice-Presidente

Alberto Luiz Cândido Wust ................................... Primeiro Tesoureiro

Wellington Werner ................................................. Primeiro Secretário

Job Rodrigues de Moraes ..................................... Segundo Secretário

Eleazar Ferreira .................................................... Reitor

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TERRA E CULTURA

Ano XVIII - nº 35 - julho a dezembro de 2002

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTETadeu Elisbão

CONSELHEIROS

Ademir Morgenstern Padilha

Damares Tomasin Biazin

João Juliani

Joaquim Pacheco de Lima

José Carlos Rogel

José Martins Trigueiro Neto

Juliana Harumi Suzuki

Maria Eduvirges Marandola

Marisa Batista Brighenti

ISSN 0104-8112

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

REITOR: Dr. Eleazar Ferreira

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO: Prof. Nardir Antonio Sperandio

PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO:Profª. Iracema Cordeiro Carneiro

COORDENADORA DE CONTROLE ACADÊMICO: Profª. Alice Cardamone Diniz

COORDENADORA DE AÇÃO ACADÊMICA: Profª. Vera Aparecida de Oliveira Colaço

COORDENADORA DE PROJETOS ESPECIAIS E ORDENAMENTOS LEGAIS: Profª. Vera Lúcia Lemos Basto Echenique

COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS: Prof. Tadeu Elisbão

COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:Administração Prof. Luiz Antônio FélixArquitetura e Urbanismo Prof. Gílson Jacob BergocCiências Biológicas Profª.Célia Regina Góes GaravelloCiências Contábeis Prof. Eduardo Nascimento da CostaCiências Exatas Prof. Ébano Bortotti de OliveiraDireito Prof. Osmar Vieira da SilvaEnfermagem Profª. Damares Tomasin BiazinFarmácia Profª. Lenita Brunetto BrunieraFisioterapia Profª. Gladys Cely Faker LavadoNutrição Profª. Gersislei Antonia SaladoPedagogia Profª. Yara Maria Borges da SilveiraPsicologia Prof. João JulianiSecretariado Executivo Profª. Creuza Aparecida da RochaTecnologia em Proc. de Dados Prof. Lupércio Fuganti LuppiTeologia Prof. Rev. Silas Barbosa DiasTurismo Profª. Thaís Berbert

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430Fone: (0xx43) 3324-6112 - Londrina - Paraná

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Sumário

• IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO .......................................... II• IDENTIFICAÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL ..................... IV• CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA ................................. VI• EDITORIAL ....................................................................................... 1• NÍVEIS DE SATISFAÇÃO DOS MORADORES EM RELAÇÃO À

INFRA E À SUPERESTRUTURA DOS CONJUNTOSHABITACIONAIS POPULARES DE LONDRINA, PARANÁ ... 3Paulo Adeildo Lopes

• POR UMA ARQUITETURA ECOLÓGICA ................................. 18Antonio Manuel Nunes Castelnou

• CONSIDERAÇÕES SOBRE O URBANISMO DE LONDRINA ESUAS RELAÇÕES COM O MODELO DA CIDADE-JARDIM ........................................................................................................... 25

Juliana Harumi Suzuki• GESTÃO DE PESSOAS EM INSTITUIÇÕES DO TERCEIRO

SETOR: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA................................ 40 Selma Frossard Costa

• GESTÃO DE CUSTOS: UMA VISÃO ESTRATÉGICA SOB OENFOQUE DE ADOÇÃO DA CADEIA DE VALORES ........... 59Luís Marcelo Martins

• IDENTIFICAÇÃO DE CONCORDÂNCIAS E DIVERGÊNCIASSOBRE PREÇOS ENTRE CONSUMIDORES E EMPRESÁRIOS......................................................................................................... 73

Adalberto Brandalize• UTILIZANDO UML PARA WEB: UM CASO PRÁTICO .......... 81

Sérgio Akio TanakaAdemir Morgenstern Padilha

• ENFERMEIROS E EDUCADORES: UM DESAFIO ................... 97Andréia Bendine GastaldiAlda Ap. Mastelaro Hayashi

• A AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA DOCENTE EM ESTÁGIOSUPERVISIONADO EM ENFERMAGEM............................... 101Renata Guizilini Barison

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• IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA AO PACIEN-TE SUBMETIDO A CIRURGIA CARDÍACA ......................... 121Damares Tomasin BiazinLígia Maria Ferreira ColdibelliRenata Perfeito RibeiroMaria Cristina da SilvaMilene Aparecida de AndradeElisangela FlauzinoFernando Nelson Lara

• PROJETO DE EXTENSÃO: VISITA PRÉ E PÓS OPERATÓRIA DE CIRURGIA CARDÍACA ...................................................... 133

Damares T. BiazinRenata Perfeito RibeiroJanaína RecanelloLígia M. F. ColdibelliMaria Caroline F. SimonMaria Cristina da SilvaMilene Andrade

• USO DO LABORATÓRIO DE ENFERMAGEM ....................... 143Damares Tomasin BiazinAriane Guimarães GuerraGislaine de Mari dos SantosMaristela Chinelli de Oliveira

• O ENFERMEIRO E A ERGONOMIA EM UNIDADE DE CEN-TRO DE MATERIAIS ................................................................. 163Patrícia Helena Vivan RibeiroRenata Perfeito Ribeiro

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1EDITORIAL

TERRA E CULTURA dá a público este seu N.º 35, completando a suaprogramação editorial para o corrente ano de 2002, justamente o 18º da suaexistência profícua, semeando idéias e fazendo pensar.

Neste ano em que o Centro Universitário Filadélfia (UniFil) expandiu so-bremaneira e consolidou ainda mais a sua posição no cenário educacional dopaís, a Revista também viu-se robustecida.

Cresceu o número de instituições de ensino superior (IES) e de pesquisaque passaram a figurar na mala-direta para a remessa de exemplares a cadaedição. O ingresso desses novos destinatários deu-se por iniciativa das própriasInstituições, que formalizaram o seu interesse através das respectivas Bibliote-cas.

Neste contexto TERRA E CULTURA vê ampliar a sua área deabrangência a cada ano, fato que consubstancia um dos seus objetivos, clara-mente estabelecido pelo Conselho Editorial. Paralelamente têm sido firmadoscontratos de permuta com Instituições que também possuem periódico de divul-gação científico-cultural, o que é muito salutar para a UniFil, e também para onovo parceiro.

O N.º 35 está rico e atraente através dos 13 artigos que foram seleciona-dos para compô-lo. Mesmo assim a Revista encontra-se permanentemente re-ceptiva a críticas e sugestões, bem como a novos artigos para integrar os Nº 36,37 ...

O Conselho Editorial

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NÍVEIS DE SATISFAÇÇO DOS MORADORES EMRELAÇÃO À INFRA E À SUPERESTRUTURA DOSCONJUNTOS HABITACIONAIS POPULARES DE

LONDRINA, PARANÁ

* Paulo Adeildo Lopes

RESUMO

A qualidade de vida dentro dos conjuntos habitacionais depende da adequaçãodos espaços públicos e dos serviços comunitários. Este artigo apresenta análises dositens: educação, lazer, abastecimento, transporte, saúde e infra-estrutura, obtidas napesquisa Avaliação Pós-Ocupação Aplicada nos Conjuntos Habitacionais Po-pulares em Londrina – Pr: Critérios Básicos para a Manutenção e a Reabilita-ção Predial1. Os conjuntos habitacionais selecionados foram produzidos pela Com-panhia de Habitação de Londrina – COHAB LDA, no final da década de 70 e inícioda década de 80 e representam 84,19% do total de moradias produzidas pelo poderpúblico, entre 1969 e 1997, no Município. Os resultados apresentados expressam asopiniões dos moradores, levantados através da aplicação de questionário estruturado,aplicado em oito conjuntos habitacionais na periferia do Município.

PALAVRA-CHAVE: Casas Populares; Conjuntos Habitacionais; Opinião de Moradores.

ABSTRACT

Life quality in the social housing assemblages depends on the adequacy ofpublic spaces and community services. This article presents analyses on education,entertainment, provisioning, transport, health, and infra-structure, obtained in theresearch: Avaliação Pós-Ocupação Aplicada nos Conjuntos Habitacionais Po-pulares em Londrina – Pr: Critérios Básicos para a Manutenção e a ReabilitaçãoPredial (Post-Occupancy Evaluation of Social Housing Assemblages in Londri-na – Pr: Basic Criteria for Maintenance and Building Rehabilitation). The housing

*Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.Engenheiro Civil.Mestre pela FAU/USP.E-mail: [email protected]ção de mestrado apresentada à FAU/USP, em dezembro de 2000, sob orientação da Profª.Drª. Sheila Walbe Ornstein.

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assemblages selected were built by Companhia Habitacional de Londrina – COHAB-LDA in late 70’s and early 80’s and represent 84,19% of all the social housingproduced with the city governmental funds, between 1969 and 1997. The resultspresented show the users’ opinions, deriving from the application of a structuredquestionnaire, applied in eight social housing assemblages in the city outskirts.

KEY-WORDS: Social Housing; Social Housing Assemblages; Users’ Opinions.

OBJETIVOS

A necessidade de avaliar os níveis de satisfação e de uso da infra e supe-restrutura pode contribuir para o estabelecimento de critérios que orientem naelaboração de projetos futuros. É importante salientar que os resultados apre-sentados são oriundos das opiniões dos usuários sobre os principais serviçossociais, aspectos positivos e negativos. O principal objetivo desta pesquisa égerar subsídios para agentes financeiros, agentes promotores, construtoras, se-guradoras e demais interessados, no sentido de minimizar os problemas detecta-dos e ressaltar os acertos, visando a satisfação e a integração dos moradores emrelação aos conjuntos habitacionais.

CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

Em resposta à crescente demanda por moradias populares existente emLondrina, a Prefeitura Municipal criou a Companhia de Habitação de Londrina –COHAB LDA, em 1965. Em agosto de 1969, a COHAB LDA foi credenciadacomo agente financeiro do Banco Nacional de Habitação – BNH. Com os re-cursos enviados pelo Governo Federal, foi iniciada a construção intensiva dosconjuntos habitacionais em Londrina. A cidade possui 33.031 habitações popula-res, das quais 27.810 foram produzidas pela COHAB LDA. Os conjuntoshabitacionais ocupam as regiões norte, sul, leste e oeste, sendo que a regiãonorte possui 53,80% dos conjuntos habitacionais produzidos pela COHAB LDA.Osoito conjuntos habitacionais que compõem a amostra foram selecionados paraeste trabalho com base nos seguintes critérios: todos foram construídos no finalda década de 70 e início da década de 80, possuem partidos arquitetônicos seme-lhantes, utilizaram-se do mesmo sistema construtivo, são do mesmo período deocupação e tiveram como agente a COHAB LDA. A seguir (figura 01), apre-sentam-se as localizações dos conjuntos habitacionais, objetos de estudo, na malhaurbana do município:

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Figura 01 – Município de Londrina (Fonte: IPPUL, 1995).

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ASPECTOS METODOLÓGICOS

Os principais fatores que influenciam nos níveis da Avaliação Pós-Ocupa-ção são: os prazos, a finalidade e os recursos destinados à pesquisa. O níveldeste trabalho de pesquisa envolve avaliação física e aspectos comportamentais,utilizando diagnósticos, recomendações e especificações técnicas para a realiza-ção dos serviços propostos – cadernos de encargos (ORNSTEIN & ROMÉRO,1992, p.42).

Neste caso, a escolha da amostra contemplou unidades habitacionaisno centro e na periferia dos conjuntos, posição da habitação em função daorientação solar e propagação de sons, a grande quantidade de conjuntoshabitacionais e a distribuição dispersa em quase todo o perímetro urbano dacidade de Londrina. Assim sendo, foi utilizado o Método não probabilístico,com distribuição normal, isto é, uma amostra com no mínimo 30 elementos (n≥ 30).

Os resultados obtidos são oriundos da aplicação de um questionárioestruturado aplicado durante a pesquisa, com entrevista face a face e preenchi-mento supervisionado. O mesmo divide-se em cinco partes, visando facilitar acompreensão do respondente e a tabulação dos dados. A primeira parte trata doperfil do respondente e dos seus familiares; na segunda parte, tem-se a avalia-ção dos serviços sociais; na terceira parte, a avaliação da habitação; na quartaparte, aparecem as questões técnico-construtivas e de materiais utilizados; e aquinta e última parte trata do “as built”.

Para a realização desta análise foram considerados os seguintes itens: edu-cação, lazer, abastecimento, transporte, saúde e infra-estrutura. A seguir seráapresentada a descrição dos serviços sociais existentes.

Educação: Verificou-se que todas as escolas localizadas nos conjuntossão estaduais ou municipais. As mesmas oferecem ensino regular de primeiro esegundo graus. A ênfase no nível de satisfação dos usuários se deu no tocante àdistância entre a escola e a moradia, opinião dos pais ou responsáveis sobre aaprendizagem e a existência de vagas para realização de matrículas.

Lazer: No tocante ao lazer, o morador foi questionado quanto à existênciaou não de áreas de recreação e ainda seu nível de satisfação. Como lazer foramconsiderados os seguintes itens: quadras esportivas, campo para futebol, praçase locais para prática de caminhadas.

Abastecimento: Em relação ao abastecimento, o morador foi questionado

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quanto a seu nível de satisfação em relação à existência e proximidade de mer-cados, mini-mercados, padarias, farmácias, bazares, feiras-livres, enfim, peque-nos comércios, no próprio conjunto.

Transporte: Londrina é servida por duas empresas de transporte coletivo:Transporte Coletivo Grande Londrina Ltda – TCGLL e FRANCOVIG & CiaLtda. As regiões norte, leste e oeste são atendidas pela TCGLL e a região sul éatendida pela FRANCOVIG & Cia Ltda. O transporte coletivo é integrado,possuindo um terminal central, terminais na zona norte e zona sul da cidade,facilitando e reduzindo custos do transporte, tendo em vista que o usuário, paradeslocar-se de uma região a outra da cidade, paga apenas uma passagem.

Saúde: A cidade de Londrina possui onze hospitais, sendo sete na regiãocentral e os demais na periferia. A região norte possui um hospital, “AnísioFigueiredo”, com 56 leitos e número de atendimento oscilando entre 200 e 250pacientes por dia. Possui também oito centros de saúde (CS) para atendimentosnão emergenciais, tais como: triagem, encaminhamento, acompanhamento emarcação de consultas. Neste item o morador foi questionado quanto ao nível desatisfação em relação à qualidade do atendimento, distância entre a habitação ea unidade de saúde e tempo de espera para o atendimento.

Infra-Estrutura: Londrina, em termos de rede de energia elétrica, é aten-dida pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL), que cobre 100%do perímetro urbano. A água tratada e o esgoto sanitário ficam por conta daCompanhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), que atende 100% do perí-metro urbano em termos de água tratada, 75% do perímetro urbano em termosde esgoto sanitário e 80% da zona norte em termos de esgoto sanitário. Osserviços telefônicos são realizados pela SERCOMTEL S.A. – Telecomunica-ções, que possui cabeamento em 100% do perímetro urbano. Cabe salientarneste item que na cidade não existe mais a venda de linhas telefônicas, bastandoo usuário fazer o pedido de ligação (mediante o pagamento de uma taxa quepode ser parcelada na conta telefônica) e o telefone será instalado, o que facilitaa utilização deste serviço também pela população de baixa renda. Assim sendo,o nível de satisfação do usuário foi aferido, em relação a eventuais carências,tarifas e qualidade do atendimento, tendo em vista que os conjuntos são atendi-dos por todos os serviços descritos. A seguir serão apresentados os registrosfotográficos dos principais serviços sociais, infra e superestrutura dos conjuntoshabitacionais da Zona Norte.

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Foto 01: Terminal de transporte coletivo de bairro (promove integração no transporte coletivo).

Foto 02: Supermercado, banco e lojas, em mini shopping.

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Foto 03: Posto de plantão do Corpo de Bombeiros eserviço de transporte de emergência em caso

de acidentes.

Foto 04: Hospital Anísio Figueiredo.

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Foto 05: Um dos reservatórios elevadosde distribuição de água tratada.

Foto 06: Área de lazer – espaço aberto e gramadodestinado à prática de esportes.

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Foto 07: Espaço para lazer, destinado a prática esportiva.O mesmo encontra-se abandonado e sem equipamentos.

Foto 08: Espaço destinado à prática esportiva, contudo,encontra-se com equipamentos quebrados, sem pintura

e em situação de abandono.

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DIAGNÓSTICOS

A seguir apresentam-se os resultados obtidos através da aplicação do ques-tionário. Estes mostram as características dos conjuntos que compõem a amos-tra. A tabulação dos dados apresentada a seguir visa auxiliar no processo decompreensão, análise de resultados e futuras recomendações para projetos simi-lares.

Avaliação dos serviços sociais (opinião dos moradores):

Gráfico 01 – Educação (escolas e creches).

Gráfico 02 – Lazer (áreas de recreação).

Bom54%

Ótimo13%

Razoável30%

Péssimo0%

Ruim3%

Razoável30%

Ótimo7%

Ruim50%

Péssimo0%

Bom13%

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Gráfico 03 – Abastecimento (mercados, padarias, etc).

Gráfico 04 – Transporte (quantidade e qualidade).

Gráfico 05 – Saúde (postos de saúde e hospitais).

Razoável37%

Bom37%

Ruim20%

Péssimo3%

Ótimo3%

Ruim0%

Razoável3%

Péssimo0%

Ótimo27%

Bom70%

Razoável37%

Bom40%

Ótimo13%

Péssimo0%

Ruim10%

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Gráfico 06 – Infra-estrutura (água tratada, luz, etc).

Em relação à avaliação dos serviços sociais realizada pelos moradores quecompõem a amostra, destacam-se alguns pontos, tais como: 54% dos moradoresclassificaram como bom o item educação; no item lazer, a insatisfação dos mo-radores (50% classificaram como ruim) se dá em função da quase inexistênciade espaços públicos destinados ao lazer. Cabe destacar que alguns conjuntospossuem espaços destinados ao lazer, contudo não têm infraestrutura/equipa-mentos ou encontram-se em péssimas condições de uso.

No item abastecimento, é importante salientar que, geralmente, os mini-mercados, padarias, farmácias entre outros são construídos na avenida principal,destinada pelas próprias leis de zoneamento como avenida comercial. Logo, ainsatisfação aumenta na medida em que as habitações levantadas se aproximamda periferia dos conjuntos.

Na questão dos transportes, a zona norte possui terminais urbanos interli-gados ao terminal central, o que facilita o uso dos transportes de massa e diminuio custo dos mesmos. É preciso destacar que praticamente todos os conjuntospossuem linhas exclusivas de ônibus. Os resultados neste item foram bastantesatisfatórios, concentrando-se entre ótimo (27%) e bom (70%) e isto demonstraque os moradores pesquisados aprovam o transporte urbano municipal.

Em relação à infra-estrutura, destaca-se que pavimentação asfáltica, gale-rias de águas pluviais, água tratada e energia elétrica com iluminação pública sãoitens obrigatórios para a concessão do “habite-se”. Contudo, redes de esgotossanitários foram incorporadas aos conjuntos habitacionais, paulatinamente, che-gando hoje a 80% de abrangência.

A seguir (diagrama 01) serão apresentados os resultados das médias daavaliação dos serviços sociais (opinião dos moradores) nos conjuntos habitacionais.

Ótimo83%

Péssimo0%

Razoável0%

Ruim0%

Bom17%

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Para a realização dos cálculos das Médias, Modas e Desvios-Padrão doDiagrama, foram atribuídos valores aos conceitos, conforme segue: 1-péssimo;2-ruim; 3-razoável; 4-bom; 5-ótimo.

Legenda: Médias inferiores ao mínimo aceitável (3,00) Médias superiores ao mínimo aceitável (3,00)

Em relação aos serviços sociais (diagrama 01), destaca-se que o item demaior insatisfação é o lazer. O item de maior satisfação é a infra-estrutura,envolvendo: água tratada, energia elétrica, telefone, asfalto e esgoto sanitário.Em relação ao lazer, a média obtida reflete a situação de abandono dos espaçospúblicos destinados ao lazer, a falta de equipamentos e as péssimas condições deuso dos mesmos, quando existem. Em relação ao item infra-estrutura, é impor-tante destacar que todos os conjuntos habitacionais que compõem a amostrapossuem os itens mencionados. Logo, a pouca insatisfação que existe se dá emfunção dos custos das tarifas ou eventuais falhas no abastecimento, decorrentesde problemas nas redes de água tratada e energia elétrica.

Fazendo-se uma comparação entre a média, a moda e o desvio-padrão decada item do diagrama 01, observa-se que os entrevistados têm opiniões convergen-tes. A moda encontra-se próxima à média e o desvio-padrão é bastante reduzido.

CONCLUSÕES

Neste artigo, destacam-se também os problemas relativos ao desenvolvi-mento urbano. MARICATO (1984) destaca o desprezo da política habitacionalem relação ao desenvolvimento urbano, salientando a má localização dos empre-endimentos (a lógica do terreno barato não se sustenta diante do custo socialembutido na extensão da ocupação urbana até as fronteiras antes desocupadasou com uso predominantemente rural) e ainda o alto custo das redes de infra-estrutura, transporte e demais serviços sociais, para dar condições mínimas aosnovos conjuntos habitacionais. Estes problemas foram detectados em Londrina,

Item Média Moda D.P. Diagrama de ParettoLazer 2,50 2 0,35Abastecimento 3,23 3 0,16Saúde 3,57 4 0,31Educação 3,77 4 0,16Segurança contra crimes 3,90 4 0,07Transporte 4,27 4 0,19Infra-estrutura 4,80 5 0,14

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00

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Salvador, Aracaju, Goiânia e outras cidades.Os grandes conjuntos habitacionais populares, constituídos de casas ou

apartamentos, em sua grande maioria extremamente adensados, com ausênciade espaços para lazer, paisagens áridas, desconsideram qualquer planejamentoe deixam para trás o passado e o presente cultural dos moradores, formandoverdadeiros guetos: os conjuntos populares da COHAB. No caso das habita-ções isoladas, as reformas e as ampliações executadas pelos moradores acabammodificando esta paisagem monótona, segundo DICKOW (1996). No tocanteaos serviços sociais (diagrama 01), a média da satisfação dos usuários enqua-dra-se entre razoável e bom. Recomenda-se atenção especial ao item lazer,pois o mesmo foi alvo de críticas da maioria dos entrevistados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAMORIM, Luiz Manoel Eirado; LOUREIRO, Cláudia. Uma figueira podedar rosas?: um estudo sobre as transformações nos conjuntos popula-res. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAO 2000 – Anais. São Paulo,Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo – NUTAU/Faculdade de Ar-quitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP, 2000, p.391–400 (em CD-ROM).DICKOW, Bernadeth. Habitação popular no Paraná: uma avaliação histó-rica. FAU USP, São Paulo, 1996 (dissertação de mestrado).LOPES, Paulo Adeildo. Avaliação pós-ocupação aplicada nos conjuntoshabitacionais populares em Londrina – Pr: critérios básicos para a reabi-litação e a manutenção predial. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urba-nismo da Universidade de São Paulo -FAUUSP, 2000, (dissertação de mestrado).MARICATO, Ermínia T. M. Indústria da construção e política habitacional.FAU USP, São Paulo, 1984 (tese de doutorado).MASCARÓ, Juan Luis. O custo das decisões arquitetônicas. Porto Alegre:Sagra Luzzatto, 1998.ORNSTEIN, Sheila; ROMÉRO, Marcelo (Colaborador). Avaliação Pós-Ocu-pação do Ambiente Construído. São Paulo, Studio Nobel: Editora da Univer-sidade de São Paulo, 1992.SZÜCS, Carolina Palermo; NASCIMENTO, Lise Longo do. Flexibilidade econtextualização na habitação de interesse social. In: SEMINÁRIO IN-TERNACIONAL NUTAO 2000 – Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa emArquitetura e Urbanismo – NUTAU/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade de São Paulo - FAUUSP, 2000, p.342–351 (em CD-ROM).

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SZÜCS, Carolina Palermo; RAZERA, Alessandra Martini. Espaços abertosem conjuntos habitacionais: um estudo de caso. In: SEMINÁRIO INTER-NACIONAL NUTAU 2000 – Anais. São Paulo, Núcleo de Pesquisa em Arqui-tetura e Urbanismo – NUTAU/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade de São Paulo - FAUUSP, 2000, p.74–83 (em CD-ROM).

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1

POR UMA ARQUITETURA ECOLÓGICA

*Antonio Manuel Nunes Castelnou

RESUMO

Este artigo discute a atual corrente de arquitetura ecológica, identificandoposturas distintas entre seus expoentes, conforme o rebatimento das questõesambientais surgidas no processo de amadurecimento e disseminação do pensa-mento ambientalista durante a segunda metade do século XX. Consiste basica-mente em um trabalho desenvolvido na disciplina “Conservação da Natureza eSustentabilidade Sócio-Ambiental”, do Curso de Doutorado em Meio Ambientee Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná – UFPR.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura Ecológica; Ecologia; Meio Ambiente.

ABSTRACT

This article is a discussion on the current trend of the ecological architecture,identifying distinct postures among its experts, according to the replies toenvironmental issues that came about in the process of maturation anddissemination of the environmental thought during the second half of the TwentiethCentury. It consists basically on the work developed in the subject called“Conservation of nature and Social-Environmental Sustainability, of the DoctorateProgram in Environment and Development of Universidade Federal do Paraná- UFPR.

KEY-WORDS: Green Architecture; Ecology; Environment.

* Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Filadélfia de Londrina – UniFil.Arquiteto e engenheiro civil.Mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pela Escola de Engenharia de São Carlos daUniversidade de São Paulo – EESC/USP.Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná – UFPR.E-mail: [email protected]

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Hoje em dia, as questões ambientais vêm sendo cada vez mais salientadas,não somente pela ação de organismos não-governamentais, como também atra-vés de cientistas, urbanistas, ecólogos e demais estudiosos que acabaram porinfluenciar todo o discurso político mundial. Ouve-se muito falar sobre o equilí-brio ecológico e a preservação da natureza, mas a maioria das pessoas aindadesconhece o verdadeiro significado e papel que estes termos possam ter. Nosúltimos anos, porém, essa preocupação tem aumentado bastante, especialmenteno âmbito da cultura, quando artistas, arquitetos, historiadores e outros peritosem patrimônio – tanto natural quanto cultural – voltaram-se para a defesa dapreservação do meio ambiente.

Como reflexo desse amplo processo de conscientização ambiental, pas-sou-se ultimamente a se designar como ecológica a corrente arquitetônicaque defende o uso de materiais e técnicas que não agridem o meio ambiente,de modo a minimizar seu impacto sobre os recursos naturais reconhecida-mente limitados. O principal objetivo da chamada eco-arquitetura ou ar-quitetura sustentável seria o de produzir uma edificação que se adapte aoclima, iluminação, ventilação e topografia, tirando proveito das condiçõesnaturais do lugar e reduzindo – ou até mesmo eliminando – o desperdícioenergético (STEELE, 1997). Da mesma forma, no campo da arquitetura eurbanismo, ser ambientalmente consciente passou a significar também pre-servar os centros históricos, segundo a tendência de manter a identidadecultural e conservar a história que cada sítio tem em particular. Assim, pre-serva-se a memória do povo para que a nova geração possa desfrutar dabeleza, cultura e tradição de sua própria história.

A preocupação ambiental, a pesquisa de novas técnicas construtivas e areciclagem de materiais, visando diminuir custos e proporcionar soluções projetuaisecologicamente corretas, passaram a se tornar metas da arquitetura ecológi-ca. Entretanto, tal tendência, mesmo que bastante difundida no ambiente inter-nacional, não pode ser vista como homogênea, pois é possível identificar, em seuprocesso de amadurecimento e disseminação, uma dicotomia do ponto de vistaético. Aplicando-se a tipologia sugerida por Foladori (2001a) para o pensamentoambientalista, verifica-se a existência tanto de posturas ecocentristas, que es-sencialmente valorizam o mundo natural e iniciativas individuais de transforma-ção na relação homem/natureza, como também de atitudes tecnocentristas, asquais defendem uma arquitetura baseada na máquina, esta supostamente capazde solucionar os possíveis problemas ambientais.

No decorrer da história, os anseios humanos para dominar o mundo natu-ral e os seus semelhantes serviram para fazer com que se trilhasse caminhosequivocados, já que isto somente pôde ser conseguido a um alto custo

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(CHISHOLM, 1981). Aos poucos, o homem foi desprezando a natureza, aosentir que seu espírito já a havia ultrapassado e que suas máquinas poderiam seencarregar das funções essenciais Segundo Lutzenberger (1980), via-se a econo-mia como algo que transcendia o natural, o que acabou levando “à cegueira ambiental,por um lado, e às contas fictícias e ilusórias, por outro”. Como resultado disso, hojeem dia, a intensidade das características de urbanização em todo o mundo geraramdois grandes problemas: a questão urbana e a questão ambiental (BONDUKI,1997). Foi a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambientee Desenvolvimento – CNUMAD (Rio de Janeiro, 1992), conhecida por Confe-rência da Terra, que se reforçaram as iniciativas visando associar essas duasquestões. Muitos eventos internacionais sucederam-se desde então, tais como aConferência Mundial sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), aConferência sobre o Desenvolvimento Social (Copenhague, 1995) e a Confe-rência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos (Istambul, 1996),esta conhecida por Cúpula das Cidades, que deu ênfase à questão urbana ambientalao definir a sustentabilidade como princípio e os assentamentos humanos sustentá-veis como objetivo mundial a ser perseguido.

Embora a deterioração do meio ambiente seja um problema antigo e quesempre existiu na história da humanidade, nova, porém, é a intensidade dosprocessos de degradação que acompanham a recente urbanização, resultandoem uma acelerada vulnerabilidade das cidades (MUNFORD, 2001). Com oavanço do industrialismo, houve a crescente migração populacional do campopara as cidades. Devido às conseqüentes mudanças sócio-econômicas, muitospassaram a viver na periferia dos centros urbanos, em locais com condiçõesprecárias de habitabilidade. Conforme Benévolo (1994), o século XIX foi mar-cado por inúmeras iniciativas para a melhoria das condições sanitárias dasprimeiras cidades industriais, através de planos e intervenções, sendo os ingle-ses e franceses os pioneiros em propostas urbanísticas. Geralmente, apontam-se duas origens para o planejamento urbano: uma, ideológica, criada eintroduzida por pensadores utópicos, tais como Robert Owen e Charles Fourier,com sua influência política e prática nas formulações atuais; e outra, tecnológica,decorrente das necessidades dos próprios administradores urbanos que, naprocura de meios eficientes para controlar preceitos de saúde e serviços públi-cos, lançaram efetivamente as bases da legislação urbanística, como fez oBarão de Haussmann na cidade de Paris (CHOAY, 1992).

A primeira metade do século XX foi caracterizada pela formação, difu-são e discussão do pensamento moderno, o qual estabelecia que o passadodeveria desaparecer como referência, buscando-se uma arquitetura que nãose prendesse mais à tradição histórica e ao decorativismo eclético. Assim,

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centros históricos passaram a ser dizimados para dar lugar ao progresso, alémda construção de edifícios baseada nos princípios de funcionalidade, eficiênciae uso de materiais artificiais. O desenvolvimento da nova arquitetura e urba-nismo deu-se paralelamente ao da tecnologia moderna, defendendo-se a pa-dronização industrial e a produção em série, através de posturas que acabarampor afetar radicalmente o meio ambiente, tanto natural como cultural, destruin-do-se parte de seu valioso acervo.

Pode-se dizer que o pensamento preservacionista na arquitetura surgiuefetivamente com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939/45), devido aosdanos causados por ela e também pelo posterior desenvolvimento econômico.Depois da reconstrução, entretanto, se a década de 1960 foi um período mar-cado pelo otimismo, quando havia esperança de um mundo novo e melhor,além de idéias cada vez mais progressistas, os anos 70 entraram pouco a pou-co em um clima de reação e isolamento, a partir de quando uma série deconferências da Organização das Nações Unidas - ONU - trouxeram novosrumos de cooperação internacional quanto ao ambientalismo. Segundo Foladori(2001b), foi em 1972 que começaram os diálogos entre governos no âmbitomundial em torno da questão ambiental, a partir da primeira Conferência dasNações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Homem, realizada em Estocol-mo, Suécia. Esta levou os países em desenvolvimento e os industrializados atraçarem juntos “o direito dos seres humanos a um meio ambiente saudável eo dever de protegê-lo e melhorá-lo para as futuras gerações”. Foi assim quese criou o Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente - PNUMA- e, desde então, proliferaram novas iniciativas, onde o campo das preocupa-ções puramente ecológicas estendeu-se amplamente, evoluindo-se do concei-to de eco-desenvolvimento para o de desenvolvimento sustentável, surgidoem meados dos anos 80.

Para Alva (1997), a sustentabilidade pode ser entendida, em termosecológicos, como a capacidade que tem um ecossistema de atender às neces-sidades das populações que nele vivem; ou, em termos políticos, o que limita ocrescimento em função da dotação de recursos naturais, da tecnologia aplica-da no uso desses recursos e do nível efetivo de bem-estar da coletividade. Naverdade, tratam-se de conceitos complementares: a partir de certa capacidade“natural” de suporte, as sociedades organizadas buscariam ampliar sua capa-cidade de sustentação para suprir o aumento de sua população ou a elevaçãodos níveis de consumo.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento –CMMAD, criada a partir do Relatório Brundtland de 1987, estabeleceu quedesenvolvimento sustentável significaria suprir as necessidades do presente

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sem comprometer a capacidade das próximas gerações de suprirem as necessi-dades de seu tempo. Isto significa que seria preciso incorporar no planejamento– e também no projeto arquitetônico – não apenas os fatores econômicos, mastambém as variáveis sociais e ambientais, considerando as conseqüências dasações a longo prazo, bem como os resultados a curto prazo. Deste modo, deacordo com o objetivo traçado inicialmente, é possível discorrer sobre como opensamento ambientalista refletiu-se nas correntes arquitetônicas ditas ecológi-cas, principalmente a partir da década de 1970, quando as discussões passarama ter projeção internacional, e até o presente momento.

Entre os arquitetos ecocentristas, devem ser apontados osneovernaculares, os quais, influenciados pela chamada Deep Ecology, pas-saram a propor o resgate de práticas arcaicas. Estes valorizam fortemente opapel dos povos indígenas e remanescentes de culturas tradicionais, reconhe-cendo que não seriam meros testemunhos do passado, mas que, por sua vivênciae modo como enfrentam o futuro, teriam muito a ensinar sobre o que seria umasociedade verdadeiramente sustentável. Defendendo o retorno ao uso de ma-teriais naturais e técnicas artesanais, a arquitetura neovernacular propõeuma retomada de valores antigos, em que a simplicidade do viver induz àssoluções mais econômicas que aquelas empreendidas até então (PESCI, 2000).De fortes preocupações regionais e sociais, emprega recursos locais, como aarquitetura de terra, defendida por arquitetos pioneiros, como o egípcio HassanFathy (Fig. 01); ou o premiado trabalho em madeira do brasileiro SeverianoMário Porto (Fig. 02).

Já a green architecture – ou arquitetura “verde” – nasceu da intençãoprincipal em conciliar a tradição histórica e as possibilidades modernas, emespecial através da aplicação de tecnologias “limpas” e recursos renováveis.Buscam-se a eficiência energética das construções, a correta especificaçãode materiais, a proteção da paisagem natural e o planejamento territorial,além do reaproveitamento de edifícios existentes, procurando dar-lhes umnovo uso (WINES, 2000). De acordo com Faivre (2000), ao se projetar umaedificação, esta deve pousar em uma paisagem, levemente, “não gerandouma marca ecológica injustificada com materiais propostos.” Na crença namudança de postura dos profissionais, essa arquitetura orienta-se essencial-mente para a defesa da preservação da natureza e da qualidade do ambienteconstruído. Entre os arquitetos ditos “verdes”, são os norte-americanos aque-les que mais se destacam na atualidade, como Sambo Mockbee (Fig. 03),entre outros.

Por fim, a chamada eco-tech architecture, amplamente difundida a partirdos anos 90, defende o uso da alta tecnologia para minimizar os impactos

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ambientais, utilizando para isto sistemas computadorizados e autogestores. Seusdefensores acreditam que, para haver progresso, é necessário que algo sejaperdido, e que, para se obter conforto e bem-estar, é preciso correr riscos. Logo,a própria tecnologia mostraria o caminho para a garantia da qualidade ambiental(SLESSOR, 1997). Essencialmente tecnocentristas, aproximam-se doambientalismo moderado por se enquadrarem nas regras mercadológicas, asso-ciando biotecnologias a preocupações político-econômicas. São vários os seusexpoentes, principalmente no Japão e Europa, destacando-se o alemão ThomazHerzog (Fig. 04), o francês Jean Nouvel (Fig. 05) e o italiano Renzo Piano (Fig.06), entre muitos outros.

Concluindo, a defesa por uma arquitetura ecológica inclui uma reflexãosobre as premissas que norteiam a relação entre homem/natureza e que podeminfluenciar na discussão sobre meio ambiente e desenvolvimento. Um edifício oucidade ecologicamente planejados são resultado de movimentos dirigidos para aconcepção de projetos sustentáveis que levem em consideração a eficiente utili-zação das energias naturais e, ao mesmo tempo, a utilização de materiais etecnologias que não gerem danos ao ambiente como um todo. Conseguir isto éum desafio particular e estimulante para todos os indivíduos e as coletividades,sendo necessário enfrentá-lo o mais cedo possível, pois, à medida que o tempopassa, torna-se cada vez mais difícil implementar as ações necessárias à suaefetiva aplicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALVA, E. N. Metrópoles (in)sustentáveis. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997.BENÉVOLO, L. As origens da urbanística moderna. 4.ed. Lisboa: Presença, 1994.BONDUKI, N. G. (org.) Habitat: as práticas bem sucedidas em habitação,meio ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. 2.ed. São Paulo:Studio Nobel, 1997.CHISHOLM, A. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência. 2.ed. Riode Janeiro: Zahar Editores, 1981.CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidade. 4.ed. São Paulo: Perspecti-va, Col. Estudos, n.67, 1992.FAIVRE, M. Concurso Ambiente 2000: arquitectura y diseño urbanosustentable. In: REVISTA AMBIENTE. Fundación CEPA. Publicação ar-gentino-brasileira: Terceira Época, Ano XXIV, n.82, mar./abr./maio 2000.FOLADORI, G. Una tipologia del pensamiento ambientalista. In: PIERRI,N.; FOLADORI, G. (Ed.). ¿Sustentabilidad? Desacuerdos sobre eldesarrollo sustentable. Montevideo: Trabajo y Capital, 2001a.

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_____________. Limites do desenvolvimento sustentável. Campinas:UniCamp, Imprensa Oficial SP, 2001b.LUTZENBERGER, J. A. Fim do futuro? Manifesto ecológico brasileiro.Porto Alegre: UFRGS, 1980.MUNFORD, L. A cidade na história. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.PESCI, B. Por uma arquitetura manifesto. In: REVISTA AMBIENTE.Fundación CEPA. Publicação argentino-brasileira: Terceira Época, Ano XXIV,n.82, mar./abr./maio 2000.SLESSOR, C. Eco-tech: sustainable architecture and high technology.London: Thames & Hudson, 1997.STEELE, J. Architecture today: ecological architecture. London: Phaidon,1997.WINES, J. Green architecture. Köln: Benedikt Taschen, 2000.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O URBANISMO DELONDRINA E SUAS RELAÇÕES COM O MODELO

DA CIDADE-JARDIM

*Juliana Harumi Suzuki

RESUMO

Este trabalho consiste na análise do surgimento da cidade de Londrina, noParaná, relacionando-o com o modelo urbanístico da Cidade-Jardim, elaboradopor Ebenezer Howard, no século XIX. Para isso, estabelecem-se as principaiscaracterísticas urbanísticas da cidade, bem como do modelo. Acredita-se que,quando a Companhia de Terras Norte do Paraná implantou seu programa deocupação do território norte-paranaense, utilizou-se dos ensinamentos de Howardpara elaborá-lo, transformando a região num exemplo único de urbanização noBrasil.

PALAVRAS-CHAVE: História do Urbanismo; Urbanização Brasi- leira; Cidade-Jardim; História de Londrina.

ABSTRACT

This study consists of an analysis of the origins of the city of Londrina, inthe state of Paraná. A comparison with the urban model of Garden City, createdby Ebenezer Howard, in the Nineteenth Century, is systematized. An approachof the main urban aspects of the city and the urban model is presented. It isbelieved that, when Companhia de Terras Norte do Paraná settled the occupationprogram of Northern Paraná, Howard’s teachings were used, turning the regioninto a singular example of urbanization in Brazil.

KEY-WORDS: History of Urbanism; Brazilian Urbanization; Garden City; History of Londrina.

* Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFIL.Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-sidade de São Paulo (FAU-USP).E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

A cidade de Londrina é um dos mais importantes centros urbanos do sul doBrasil. Apesar de jovem, possui uma história urbanística e arquitetônica peculiar,que a faz distinta das muitas outras cidades brasileiras criadas no século XX. Elafoi rigorosamente planejada através de um plano urbanístico elaborado pela Com-panhia de Terras Norte do Paraná, o que possibilitou o controle de seu cresci-mento e de sua configuração espacial. Tal planejamento fazia parte de umaestratégia elaborada por essa empresa para a comercialização de lotes urbanose rurais em toda a região.

Assim como Londrina, a colonização da região norte do Paraná constituium caso único no Brasil: comandado pela empresa de capital privado inglês,promoveu-se um inédito e espetacular processo de ocupação territorial, comple-tamente distinto do restante do país. A cidade de Londrina, cuja elevação àcategoria de município ocorreu em 1934, tornou-se o exemplo mais bem sucedi-do do empreendimento britânico em terras brasileiras.

Contudo, tal processo ainda é pouco conhecido do grande público, até mesmodos próprios londrirnenses. Este trabalho pretende apresentar um quadro do proces-so de formação da área urbana central de Londrina, traçando um paralelo entre oplano da cidade e a Cidade-Jardim, um dos mais populares modelos urbanísticos doséculo XIX, de autoria do inglês Ebenezer Howard. Para isso, elabora-se preliminar-mente um breve relato dos fatos que conduziram à formação das cidades da regiãonorte-paranaense. A seguir, são apresentadas as principais características do mode-lo da Cidade-Jardim, para então compará-lo à cidade de Londrina.

2. O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ

Em 1929, o norte do Paraná1 era plena mata. Nesse ano, a Companhia deTerras Norte do Paraná (CTNP) tomava posse das terras, dando início à coloniza-ção da região, nascendo o povoado de Três Bocas, primeiro nome de Londrina.

A região é de privilegiadas terras roxas, livres de saúvas, pró-prias para o café. (...) As frondosas árvores deram lugar aprósperas lavouras cafeeiras, as quais foram as responsáveispelas nascentes cidades, que brotavam e cresciam como co-gumelos, de quinze em quinze quilômetros. (...). Tudo se deveuao café (ZORTÉA, 1975, p.107).

1 A região norte paranaense será delimitada neste trabalho a partir de critérios sócio-econômicos ede acordo com o processo histórico de colonização do Estado. Tal critério foi igualmente utilizadoem trabalhos elaborados por CANCIAN (1981), RAZENTE (1984) e BARNABÉ (1989). Sendoassim, o Norte Velho ou Pioneiro compreende as regiões de Jacarezinho e Cambará; o Norte Novo,de Londrina e Maringá; e o Norte Novíssimo, de Paranavaí e Umuarama.

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Para tomar posse das terras, fez-se necessária a abertura de estradas. Aúnica forma de alcançar a região era através de picadas abertas pelos poucosagricultores que ali habitavam.

Narra um pioneiro da região:

(...) desde a década de 20, (...) para vir de Curitiba para cátinha que ir até Bituva – de lá, via Sorocabana, vinha atéParaguassu Paulista e adentrando as matas da ConcessãoMonte Alegre vinha até a confluência do Paraná com o RioParapanema e no desembocadouro do Rio Tibagi, de canoa oatravessava, puxando os cavalos por uma corda enquanto osmesmos passavam o rio a nado até entrar em terra do Paraná,para dali, margeando o rio Tibagi por meio de picadas, che-gar até Jataí (ZORTÉA, 1975, p. 34).

ZORTÉA (1975, p. 35), afirma que, para contornar o problema de deslo-camento até a região, a CTNP comprou, em 1928, uma pequena companhiaferroviária, denominada São Paulo – Paraná, que possuía um trecho de 18 quilô-metros que cortava o território, e que era denominada “estrada dos fazendeirosde café”, posteriormente prolongada para alcançar as terras da Companhia.

A construção de ferrovias era de fundamental importância dentro daestratégia de ocupação empreendida pela CTNP, objetivando, além dainterligação da região ao restante do país, facilitar o escoamento da produ-ção cafeeira até as áreas portuárias. O transporte rodoviário também eraimportante, sendo que Londrina, de acordo com RAZENTE (1984, p.124),desde 1930 já possuía ligação com São Paulo e o Norte Velho através deestradas de terra. O sistema de vias de comunicação também determinou acriação das cidades, alinhadas ao longo das estradas, cuja função era ofere-cer suporte às atividades agrícolas.

Segundo JOFFILY (1985, p. 96), além da comercialização das terras, umadas principais fontes de renda da CTNP era a exportação de madeiras-de-lei atravésdo porto de Paranaguá. Muitas das espécies nativas da região, como a figueira bran-ca, o pau d’alho e a peroba, estão extintas atualmente em função do desmatamentodesenfreado promovido pela empresa, que não respeitava a norma, adotada em muitospaíses, de preservar 20% de vegetação em cada área ocupada 2 . Tal atitude não

2 A professora Yoshiya Nakagawara atribui o fato à velocidade de ocupação do território norte-paranaense. Apesar de haver a legislação para preservar uma porcentagem de mata nativa, não haviaqualquer órgão fiscalizador eficaz. Na época, cerca de 86% do Estado eram compostos por matas– atualmente, a cobertura vegetal nativa não chega a 6% (NAKAGAWARA, 1984, p. 10).

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era fruto da ignorância dos loteadores – na época, já havia a consciência de que,cedo ou tarde, tal prática traria graves conseqüências ambientais para a região,como comprova um comentário irônico de Claude Lévi-Strauss, quando de suavisita ao norte do Paraná em 1935:

(...) no fundo dos vales, as primeiras colheitas, sempre fabulo-sas nessa ‘ terra roxa ’, violeta e virgem, germinavam entre ostroncos das grandes árvores jacentes e as cepas. As chuvas deinverno se encarregariam de decompô-las em húmus fértil, o qual,quase de imediato, seria levado de roldão pelos declives, juntocom o outro que alimentava a floresta desaparecida, cujas raízesfariam falta para retê-lo. Quantos anos levaria, dez, vinte, outrinta, até que essa terra de Canaã adquirisse o aspecto de umapaisagem árida e devastada? (LÉVI-STRAUSS, 1999, p. 113).

Para NAKAGAWARA apud ASARI & TUMA (1978, p. 27), a CTNPrealizou ampla campanha publicitária para vender as terras, distribuindo panfle-tos, produzindo filmes e publicando anúncios em jornais. Havia agentes em Mi-nas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, no próprio Paraná e até noexterior. As “terras roxas sem saúvas” atraíram interessados de todas as partes.

Os primeiros compradores de áreas rurais foram imigrantes japoneses pro-venientes do Estado de São Paulo, adquirindo entre 10 a 20 alqueires paulistas.Os lotes urbanos foram para alemães.

A filosofia da colonização da companhia seguia os princípios ingleses, a saber:♦ terras em florestas, férteis, com títulos legítimos e de posse incontestá-

veis;♦ parcelamento em pequenos e médios lotes planejados do espigão servi-

do por rodovia geral, findando em manancial de água de rios ou córregos;♦ vendas em prestações, com entrada de 30% e restante em 4 parcelas

anuais, com juros de 8% ao ano;♦ nunca tomar a terra ao lavrador, mesmo quando o mesmo não pudesse

pagar, saldavam-se os juros.Embora a CTNP tivesse enfrentado dificuldades nos primeiros anos de

comercialização de suas terras, em virtude da crise econômica mundial de 1929e da revolução de 1932, o sistema de vendas adotado resultou em grande suces-so comercial - em 1937, Londrina, a primeira e a maior das cidades fundadaspela companhia, já possuía 30.000 habitantes, sendo 10.000 na área urbana, comcerca de 1.400 casas, dois bancos e cinco estabelecimentos de ensino primário.

A partir da II Guerra Mundial, e devido às condições favoráveis para a

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cultura cafeeira, o plano de colonização inglês conheceu grande desenvolvimen-to, ampliando seu domínio para áreas situadas a oeste do Estado, movimentoconhecido como “Marcha para Oeste”. Neste período, a CTNP havia sido ne-gociada com um grupo econômico paulista, transformando-se em empresa decapital nacional, denominada Companhia Melhoramentos Norte do Paraná(CMNP). Apesar da mudança da origem do capital, RAZENTE (1984, p.126)observa que a estratégia de ocupação espacial permaneceu inalterada, emborahouvesse uma diversificação das atividades da CMNP, que passaram a incluirinvestimentos nos setores industriais, comerciais e financeiros, convertendo-a nomaior grupo econômico do Paraná.

Ainda de acordo com RAZENTE (1984, p. 126), com o esgotamento dasterras a colonizar, a CMNP contabilizou os seguintes resultados: havia tornadoprodutiva uma área de 546 078 alqueires, ou 6.6% da superfície paranaense;havia fundado um total de 63 cidades e patrimônios; vendido 41 741 lotes ruraise chácaras entre 5 a 30 alqueires e cerca de 70.000 lotes urbanos. Nos anos 60,através de outras companhias colonizadoras ou por processos espontâneos, afrente pioneira atingiu as fronteiras do Estado com o Paraguai, cujo resultado foia criação de inúmeras outras cidades. A esta altura, porém, pouco restava doscritérios estabelecidos pela CTNP nos primeiros anos de colonização. Em me-nos de 40 anos, cerca de 36% do território estadual havia se convertido em áreaagrícola, abrigando, em 1960, 34% da população do Paraná, ou 1 milhão e 843mil habitantes, distribuídos por 172 cidades.

3. A FORMAÇÃO DAS ÁREAS URBANAS

BARNABÉ (1989, p.102) acredita que as cidades criadas pela CTNP sãoum fruto distante das discussões que ocorriam na Europa, particularmente na In-glaterra. As cidades norte-paranaenses seriam um produto do debate europeusobre as cidades e as sociedades industriais. Um dos modelos urbanísticos maisrelevantes do período e que promove esta reflexão é o da Cidade-Jardim, de auto-ria de Ebenezer Howard (1850 - 1928). Para elaborar este paralelo, faz-se neces-sário abordar brevemente algumas características deste, expostas a seguir.

3.1. O MODELO DA CIDADE-JARDIM

Criado por Ebenezer Howard, o modelo da Cidade-Jardim surgiu no finaldo século XIX na Inglaterra, transformando-se no produto urbanístico mais bem-sucedido da discussão que se promovia à época, sobre os prejuízos causados àvida urbana pelo acelerado processo de industrialização nas cidades inglesas.

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Em 1898, Howard publicou o livro Tomorrow: a Peaceful Path to RealReform, posteriormente rebatizado como Garden Cities of Tomorrow3, que seconverteu, segundo SICA (1980, p.13), no maior condensador ideológico do de-bate sobre as cidades dos 30 anos seguintes. Sobre a obra, OTTONI (1996, p.39), comenta:

O marcante êxito do livro contendo suas propostas deve-se, emgrande parte, à eficiência com que sintetizou um século deincomum desenvolvimento econômico, convivendo com extre-mos de miséria e deterioração em cidades de contínuo cresci-mento, o que provocava debates e evidenciava aspirações dasociedade inglesa, frutos das grandes mudanças e conflitosgerados pela revolução industrial.

Com uma linguagem extremamente simples, adequada à classe média in-glesa, Howard propôs uma alternativa de vida, diferente das tradicionalmenteconhecidas, que seriam o campo e a cidade. Esta, apesar dos benefícios ofereci-dos, como maior oferta de empregos e serviços, por outro lado, apresentavaproblemas como a falta de condições higiênicas adequadas, poluição e degrada-ção dos bairros residenciais. O campo, por sua vez, ofereceria uma vida maissaudável, porém, havia o empecilho dos baixos salários, da escassez de serviçosespecializados e o baixo nível da vida associativa. A Cidade-Jardim surgiu, por-tanto, como uma terceira opção, que agregava os benefícios de ambas as alter-nativas de vida.

A proposta de Howard consistia em adquirir áreas agrícolas, relativa-mente distantes das áreas urbanas já consolidadas, a fim de possibilitar suaautonomia. Não haveria intervenção do Estado – tratava-se de uma iniciativaprivada conduzida pelos interessados em residir na Cidade-Jardim, que se or-ganizariam em sistemas cooperativistas, denominados Sociedades para a Ci-dade-Jardim.

A população estimada para esses assentamentos era da ordem de 34 milhabitantes, sendo 32 mil concentrados na parte urbana, correspondente a 1.000acres4 de área, enquanto os 2 mil habitantes remanescentes se fixariam no cam-po, de 5.000 acres de área. As áreas agrícolas (green-belts) exerciam um papelimportante no modelo urbanístico – além de abastecer a população de gênerosalimentícios, servia como instrumento regulador do crescimento urbano.

3 Tradução brasileira: Cidades Jardins do Amanhã. São Paulo: HUCITEC, 1996.4 1 acre corresponde a 4.000,47 m2 de área.

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Howard pretendia transformar o território inglês numa grande rede deCidades-Jardins, “constelação de cidades”, como ele as denominava, todasinterligadas por ferrovias e rodovias. Num esquema apresentado em seu li-vro, há um conjunto de seis cidades de 32.000 habitantes, conectadas entre sie a uma Cidade Central, de maiores dimensões, com cerca de 58.000 mora-dores, que abrigava maiores opções de atividades comerciais, culturais e delazer (FIG. 1/2).

FIG. 1: Sistema de conexão entre Cidades-Jardins.FONTE: HOWARD (1996, p. 190)

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FIG.2: Modelo de agrupamento de Cidades-Jardins.FONTE: HOWARD (1996, p. 190)

DOGLIO apud SICA (1980, p.18) resume assim os pontos mais caracte-rísticos do modelo, que se constituíram nos grandes atrativos para a burguesiainglesa:

♦ imigração planejada;♦ limitação das dimensões da cidade;♦ estreita relação entre cidade e campo; e♦ controle através de um plano urbanístico.A repercussão das idéias de Howard foi imediata – já no início do século, seu

livro já havia sido publicado em diversos países e inspirado a formação de associa-ções interessadas em viabilizar a cidade, em países como França, Alemanha, Espanha,Bélgica, Holanda, Polônia, Tchecoslováquia e, sobretudo, nos Estados Unidos.

Em 1902, Howard fundou a primeira sociedade que construiu a cidade deLetchworth, a cerca de 50 quilômetros de Londres, cujo projeto coube aos arquite-tos Barry Parker (1867 - 1947) e Raymond Unwin (1863 - 1940). A experiêncianão correspondeu aos ideais de seu autor, principalmente porque não conseguiu se

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desligar da influência da capital inglesa, prejudicando a autonomia desejada.De qualquer modo, o modelo da Cidade-Jardim propagou-se pelo mundo:

na avaliação de BENEVOLO (1976, p. 360), não mais como cidade, mas, sobre-tudo, como bairro satélite, suburbano, dotado de uma relação equilibrada entreedificações e áreas verdes, e sujeito a certas normas para garantir a preserva-ção de seu ambiente.

No Brasil, segundo BRUAND (1991, p. 328), as iniciativas inspiradas nomodelo howardiano ocorreram já em 1916, quando Barry Parker foi contratadopara criar bairros destinados à elite paulistana, bairros tais como o Jardim Amé-rica, e os Jardins Europa, Pacaembu e Alto da Lapa, da década seguinte.

Em 1930, o urbanista francês Alfred Agache, em seu plano de reurbanizaçãoda cidade do Rio de Janeiro, previu duas Cidades-Jardins, as ilhas do Governa-dor e Paquetá. Para OTTONI (1996, p. 67), o nome “cidade-jardim” tornou-sesímbolo de status, sendo utilizado para batizar diversos empreendimentos emlocais como Belo Horizonte e São Paulo.

3.2. AS CIDADES DA COMPANHIA DE TERRAS NORTE DO PARANÁ

Para a formação das novas cidades, a CTNP adotou diretrizes bem defini-das. Percebe-se que seu objetivo ia muito além da simples ocupação das terras –foi uma estratégia complexa que envolvia vários setores de atividades, determi-nando as formas de assentamentos humanos, tanto nas áreas rurais como urbanas.

Dispostas ao longo das vias de comunicação, as cidades destinadas a setornarem núcleos econômicos de maior importância foram implantadas de cemem cem quilômetros, aproximadamente. Entre estas, distanciados de 10 a 15 Kmuns dos outros, seriam fundados os “patrimônios”, centros comerciais eabastecedouros intermediários.

A rede de cidades incentivava os produtores rurais a gastar os rendimentosde sua produção dentro da própria região, reforçando o aspecto de fixação dohomem à terra. As distâncias entre os núcleos urbanos eram definidas de modoque nenhum colono estivesse a mais de 7 km distante de uma estação ferroviá-ria, o que evitava longos deslocamentos a pé ou a cavalo, além de impedir oisolamento das comunidades. Dessa forma, surgiram ao longo do leito das estra-das as cidades de Londrina e Maringá, e, entre elas, Nova Dantzig (1930), Rolândia(1932), Arapongas (1935), Apucarana (1938), Jandaia do Sul (1931) e Mandaguari(1937). 5

5 Segundo dados do IBGE, em 1996, as populações das cidades totalizavam: Londrina, 421.343hab.; Maringá, 267.942 hab.; Cambé (antiga Nova Dantzig), 80.867 hab.; Rolândia, 44.379 hab.;Arapongas, 75.038 hab.; Apucarana, 101.083 hab.; Jandaia, 19.179 hab.; Mandaguari, 28.537 hab.

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Trata-se de um rapidíssimo e espetacular processo de surgimento de cida-des em meio à mata nativa, que veio a impressionar a muitos que por ali passa-ram, como foi o caso de Claude Lévi-Strauss, não somente pelo processo em si,mas principalmente pelo contraste dos desenhos geométricos e racionais com anatureza:

O espaço informe ia adquirindo, dia após dia, uma estruturaurbana; diferenciava-se como um embrião que se segmenta emcélulas, as quais por sua vez se especializam em grupos, cadaum marcado por sua função. Londrina já era uma cidade or-ganizada com sua rua principal, seu centro de negócios, seubairro de artesãos e sua zona residencial. Mas que misteriososelementos formadores estavam trabalhando no terreno baldioa que se resumia Rolândia, e sobretudo Arapongas 6, prestes aestimular certos tipos de habitantes numa direção, e distintosem outra, limitando cada zona a uma função e impondo-lheuma vocação particular ? (LÉVI-STRAUSS, 1999, p. 114)

4. O SURGIMENTO DA CIDADE DE LONDRINA

Em 1929, o diretor gerente da Companhia, Mr. Arthur Thomas, acompa-nhado de uma comitiva, saiu de Ourinhos, no Estado de São Paulo, para final-mente ocupar as terras adquiridas. Percorreram a mata durante 3 dias, até que ,em 22 de agosto de 1929, chegaram ao local onde, imediatamente, iniciou-se aderrubada da mata para se construir o hotel da Companhia. RAZENTE (1984,p.238) afirma que a área escolhida para a implantação da cidade atendia aosmesmos critérios adotados para a zona rural, ou seja, a utilização de espigões e aausência de barreira físicas significativas.

O local escolhido, depois de acurados estudos da Cia de Ter-ras, fôra aquele cuja topografia em volta de um alto(onde hojese acha situada a Igreja Matriz de Londrina ) impressionou-oscomo local ideal para uma cidade . 7

6 Na época, Londrina possuía cerca de 3 mil habitantes na área urbana; Nova Dantzig, noventa;Rolândia, sessenta; e Arapongas possuía um único morador (LÉVI-STRAUSS, 1999, p. 113).7 PUPO (1952, s/p).

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O primeiro posto avançado da colonização recebeu o nome de Londrina -filha de Londres - homenagem que um dos primeiros diretores da Companhia deTerras Norte do Paraná, o Dr. João Domingues Sampaio, prestou aos empreen-dedores ingleses. Em 03 de dezembro de 1934, através do Decreto Estadual nº2.519, assinado pelo interventor Manoel Ribas, foi criado o município de Londri-na. A instalação solene deu-se poucos dias depois, a 10 de dezembro.

No final de 1929, conforme ZORTÉA (1975, p. 42), parte do projeto da cidadejá estava pronto, e o mato deu lugar às primeiras vias públicas. Os primeiros serviçosde urbanização estenderam-se por cerca de dois anos, até 1931, devido à falta demão-de-obra, o que não impediu as primeiras vendas de lotes rurais e urbanos.

Inicialmente projetada para abrigar 30 mil habitantes em sua área urbana, aplanta de Londrina apresenta regularidade geométrica, cuja forma tendia ao qua-drado. O perímetro da cidade tangenciava os fundos de vale, a fim de evitar asáreas com declividades acentuadas. A morfologia urbana, como atestaRAZENTE (1984, p. 238), foi determinada pela penetração das vias de acessoregionais. As principais componentes do sistema viário eram a ferrovia e a rodo-via, esta última ocupando o espigão central.

A malha urbana segue um padrão ortogonal com ruas de 12 metros delargura, dispostas nos sentidos LE e NS. As quadras foram projetadas com 110metros de comprimento, divididas em 20 ou 24 lotes. Trata-se de um modelouniversal, elaborado provavelmente para facilitar a subdivisão dos lotes urbanos,tornando-os tanto mais regulares quanto possível.

O desenho cartesiano das cidades que surgiam em meio à mata levaramLévi-Strauss a registrar as seguintes impressões no livro Tristes Trópicos:

Nesses quadriláteros de maneira arbitrária cavados no cora-ção da floresta, as ruas em ângulo reto são, de início, todasparecidas: traçados geométricos, privados de qualidade pró-pria. Entretanto, umas são centrais, outras, periféricas; algu-mas são paralelas e outras, perpendiculares à via férrea ou àestrada; assim, as primeiras estão no sentido do tráfego, assegundas o cortam e o interrompem. O comércio e os negóciosescolherão as primeiras, necessariamente com grande fregue-sia; e, por motivo inverso, as residências particulares e certosserviços públicos preferirão as segundas, ou a elas serão rele-gados. Por sua combinação, essas duas oposições entre, deum lado, central e periférica, e de outro, paralela e perpendi-cular, determinam quatro modos diferentes de vida urbana quemoldarão os futuros habitantes, favorecendo uns edesestimulando outros, gerando sucessos e fracassos.

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E prossegue:

Já vai tempo que não adoramos mais o sol e que deixamos deassociar os pontos cardeais a qualidades mágicas: cores e vir-tudes. Contudo, por mais que nosso espírito euclidiano tenhase tornado rebelde à concepção qualitativa do espaço, nãodepende de nós que os grandes fenômenos astronômicos oumesmo meteorológicos afetem as regiões com um imperceptívele indelével coeficiente; que, para todos os homens, a direçãoleste-oeste seja a da realização; e que, para o habitante dasregiões temperadas do hemisfério boreal, o Norte seja a matrizdo frio e da noite, e o Sul, a do calor e da luz (LÉVI-STRAUSS,1999, p. 114 - 15).

Com efeito, parte da observação de Lévi-Strauss seria rapidamente com-provada, pois desde o início de sua colonização, Londrina já apresentava cama-das sociais distintas: a alta burguesia, representada pelos fazendeiros, pelos em-preendedores responsáveis pelo loteamento; a pequena burguesia, composta porpequenos proprietários de terras, comerciantes locais e profissionais liberais; e acamada de baixa renda, dos trabalhadores da zona urbana e dos peões. Poroutro lado, apesar da visão lírica do etnólogo francês, tudo leva a crer que odesenho da cidade atendia a objetivos mais pragmáticos que poéticos.

Não obstante, a ousadia do empreendimento também teve suas limitações.O plano original previa ruas e avenidas muito maiores, sendo reduzidas por or-dem dos acionistas ingleses, provavelmente por considerá-las exageradas edispendiosas – a crença no desenvolvimento regional não foi tão incondicionalquanto declaram os livros de história.

Segundo depoimento do Dr. Alexandre Rasgulaeff, engenheiro agrimensorgeodesista, contratado pela Paraná Plantations como responsável pela formaçãode todas as cidades de Londrina a Maringá, as dimensões das ruas não foramexecutadas conforme o projeto original:

Tenho críticas à cidade de Londrina. A cidade é muito malprojetada, mas a culpa não é minha, eu vou dizer a verdade.Quando projetei a cidade com as avenidas de 30 metros e asruas de 24 e apresentei esta planta, o presidente que chegou lánaquele tempo, o General Asquith, falou: bom, nós vamos le-var a planta para estudo na Inglaterra e depois de lá vocêrecebe a ordem de executar, e veio a ordem que esse Alexandre

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é louco. Uma cidade você sabe, no meio do mato, abre ruascom 30 metros de largura, ruas com 24 metros, não convém.Quem vai construir ruas? Nós. Quem vai pagar impostos? Nós.Não, não. Então mandaram diminuir, ruas de 16 metros, o má-ximo que aceitei. Eles queriam 12 metros. Máximo que aceitei,avenidas com 24 metros. 8

BARNABÉ (1989, p. 80) observa que o centro da cidade recebeu umtratamento diferenciado. Em posição privilegiada do ponto de vista topográfico,compreende um retângulo de 3 por 2 quadras de lado, cujo centro situa-se sobreum espigão, formando uma elipsóide. O centro articula-se com dois eixos: oprimeiro, formado por uma seqüência de 6 quadras, no sentido N-S, sobrepõe-seao retângulo central até o leito da ferrovia; o segundo eixo é formado pela estra-da aberta pela CTNP, disposta no sentido SE-NW, que resulta em quadras deformas e preços diferentes do padrão. Ao redor da área central estão dispostaspraças, reforçando a demarcação do local.

Percebe-se que o projeto propõe a localização das áreas comerciais eresidenciais a partir do fracionamento das quadras de formas distintas. Nas zonasresidenciais, as quadras possuem lotes igualmente distribuídos por todos os lados.Já na parte central e no eixo diagonal há outro tipo de parcelamento, de modo asugerir outra ocupação. Nesse sentido, fica claro que a CTNP influiu de formadeterminante na ocupação e uso do solo urbano a partir da definição dos padrõesde lotes e quadras. Nos anos 40, o desenvolvimento econômico regional provocouum processo de grande expansão urbana. De acordo com RAZENTE (1984, p.246), ainda na década de 30, a cidade expandiu-se para além do quadrilátero deter-minado pela CTNP. O primeiro loteamento fora do núcleo original foi a VilaMatarazzo, em 1937, executado por capital privado, sem a presença da Compa-nhia. A quebra do monopólio da terra resultou em transformações significativasno espaço urbano local: muitas das diretrizes originais da CTNP sofreram altera-ções, tais como as dimensões das ruas e deficiências de infra-estrutura.

5. CONCLUSÕES

Após o exame do modelo proposto por Howard e as cidades do norte doParaná, sobretudo Londrina, pode-se afirmar que, dentre os pontos de aproxima-ção entre a Cidade-Jardim as cidades da CTNP, destacam-se:

8 PLANO DIRETOR DE LONDRINA (1997, p.34).

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♦ o sistema de aquisição de terras a partir de capital privado;♦ a previsão de redes de cidades menores (Nova Dantzig, Rolândia,

Arapongas, etc.), interligadas por estradas a núcleos urbanos maiores (Londrinae Maringá ); a limitação à expansão excessiva das áreas urbanas através doscinturões agrícolas;

♦ a população residente, em torno de 30.000 habitantes;♦ controle sobre o espaço urbano através de um plano. Cabe ressaltar

que a CTNP, em seus projetos, já previa a localização dos edifícios públicos nacidade e através de doações influía na sua constituição formal.

Contudo, constata-se que, apesar de rigorosamente planejadas, muitas dessasáreas urbanas não mantiveram as diretrizes originais da CTNP – após atingir ospatamares de ocupação previstos nos planos originais, a maioria das cidades nãoelaborou programas que dessem continuidade ao processo de planejamento ur-bano. Ao contrário, passaram a crescer sem maiores preocupações com o con-trole de seu espaço. No caso da cidade de Londrina, somente em 1951 tentou-seelaborar uma estratégia para a retomada do espaço citadino pelo poder público,o que gerou muitas críticas, uma vez que este já estava sujeito a todo o tipo deinteresse privado.

Assim, conclui-se com a importância de se resgatar a história deste pro-cesso de colonização, ressaltando que se torna necessária a preservação dascaracterísticas originais do desenho da cidade de Londrina, com o objetivo de semanter a memória do local. Observa-se também que, dadas as suas caracterís-ticas únicas, a história da cidade mereceria sem dúvida uma investigação maisampla e o reconhecimento de sua relevância, sobretudo pelos londrinenses.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASASARI, Alice Yatiyo; TUMA, Magdalena. Aspectos históricos, físicos, eco-nômicos e institucionais do município de Londrina. Londrina: PrefeituraMunicipal de Londrina, 1978.BARNABÉ, Marcos Fagundes. A organização do território e o projeto dacidade: o caso da Companhia de Terras Norte do Paraná. São Carlos:1989. Dissertação de Mestrado. Departamento de Arquitetura e Planejamentoda Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Pers-pectiva, 1976.BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Pers-pectiva, 1991.

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CANCIAN, Nadir Aparecida. Cafeicultura paranaense – 1900/1970. Curitiba:Grafipar, 1981.HOWARD, Ebenezer. Cidades jardins do amanhã. São Paulo: HUCITEC, 1996.JOFFILY, José. Londres – Londrina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. São Paulo: Companhia das Le-tras, 1996.NAKAGAWARA, Yoshiya. Desenvolvimento urbano de Londrina. In: JornalFolha de Londrina. Londrina: Edição Especial de Cinquentenário, dez. 1984.OTTONI, Dácio A. B. Cidade-jardim: formação e percurso de uma idéia. In:HOWARD, Ebenezer. Cidades-jardins de amanhã. São Paulo: HUCITEC,1996.PLANO DIRETOR DE LONDRINA. Documento para discussão. Londri-na: Prefeitura Municipal de Londrina, 1995.PUPO, Benedito Barbosa. Como nasceu Londrina. Revista A Pioneira. Lon-drina: s/ed., n.5, 1952. Acervo do Museu Histórico Pe. Carlos Weiss.RAZENTE, Nestor. Ocupação do espaço urbano de Londrina. Dissertaçãode mestrado. Recife: Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universida-de Federal de Pernambuco, 1984.SICA, Paolo. Historia del urbanismo. Madrid: Institutos de Estudios deAdministración Local, 1980.ZORTEA, Alberto João. Londrina através dos tempos e crônicas da vida.São Paulo: Juriscredi, 1975.

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GESTÃO DE PESSOAS EM INSTITUIÇÕES DOTERCEIRO SETOR: UMA REFLEXÃO

NECESSÁRIA *Selma Frossard Costa

RESUMO

O presente texto tem como objetivo suscitar uma discussão preliminar so-bre a gestão de pessoas no contexto das organizações da sociedade civil, queatuam sem fins lucrativos em atividades de interesse público; o chamado tercei-ro setor. Trata-se de um tema atual, considerando o profundo e acelerado pro-cesso de mudanças determinantes de uma nova conjuntura social, econômica epolítica, em nível mundial, nacional e regional. O processo de reconfiguração doambiente externo dessas organizações vem despertando-lhes a necessidade derefletir o ambiente interno das mesmas, onde a questão dos recursos humanosaflora como um dos principais setores a serem repensados e trabalhados.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Pessoas; Terceiro Setor; Organi- zações Não- Governamentais.

ABSTRACT

The present article aims at eliciting a preliminary discussion about themanagement of people in the context of civil society organizations, which performactivities of public interest with no lucrative goals; the so-called third sector. It’sabout an up-to-date topic which takes into consideration the deep and acceleratedprocess of significant changes in a new economical, political and social structure,at global, national and regional levels. The process of reconfiguration of theexternal environment of those organizations has called for the need of reflectionabout the internal environment of such organizations, where the issue of humanresources is seen as one of the main sectors to be re-thought and worked on.

KEY-WORDS: People Management; Third Sector; Non-Governmental Organizations.

* Docente (Professor Adjunto) da Universidade Estadual de Londrina - UEL.Assistente Social.Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.Doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo - USP.E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO: O espaço contemporâneo de fortalecimento das orga-nizações da sociedade civil sem fins lucrativos

No decorrer das duas últimas décadas, primeiramente no contexto dos paí-ses de economia central, hegemônicos economicamente, e posteriormente nos paísesperiféricos, dentre eles o Brasil, houve um significativo aumento da atuação deorganizações da sociedade civil sem fins lucrativos voltadas para ações setoriais:assistência social, saúde, educação, meio ambiente, arte e cultura, cidadania, segu-rança alimentar, etc. Essas organizações passaram gradativamente a ocupar tam-bém o espaço público até então considerado como esfera exclusiva do Estado.Esse fenômeno tem ocorrido dentro de um processo maior de reorganização docapital e do mundo do trabalho, em esfera mundial, e na proporção em que ascrescentes demandas para o atendimento às necessidades sociais da populaçãonão encontram ações efetivas e eficientes no Estado. Esses temas servem comopano de fundo para compreendermos esse processo gradativo de avanço das or-ganizações da sociedade civil sem fins lucrativos no espaço público.

Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vin-culadas, mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicama causas e problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civisprivadas, não têm como objetivo o lucro, e sim o atendimento das necessi-dades da sociedade” (TENÓRIO, 2001:07).

Significativos acontecimentos históricos, de caráter político, econômico esocial, marcaram definitivamente o mundo contemporâneo, somados ao avançotecnológico e científico. Novos temas como a globalização, mercado internacional,neoliberalismo, privatização, responsabilidade fiscal, controle social, gestão públi-ca, acordo monetário, passaram a constituir o cenário de discussões e/ou decisõesrelacionadas a políticas públicas que pudessem dar conta de questões emergentesque passaram a afetar, direta ou indiretamente, países, governos e populações.

Apesar da pobreza e miséria sócio-econômica que facilmente identifica-mos em nossa sociedade, não podemos considerar o Brasil um país pobre. Cer-tos setores da indústria, agricultura e comércio são desenvolvidos e geram muitariqueza. O problema é que a riqueza produzida no país encontra-se concentradanas mãos de uma minoria que, direta ou indiretamente, acaba mantendo o con-trole político da nação. Com a concentração de renda nas mãos de poucos, oíndice de desemprego crescendo, os grandes contingentes de migrantes rurais ea mão de obra desqualificada e explorada, o resultado tem sido a ampliação damiséria e da pobreza, sendo evidente que desigualdades sociais acabam por pro-

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vocar um índice crescente de violência e criminalidade.Nesse contexto econômico e político, o processo de exclusão social evi-

dencia-se cotidianamente.

“As conseqüências da implementação do ideário neoliberal nas socie-dades, que, como a brasileira, vivem os impasses da consolidação democrá-tica, do frágil enraizamento da cidadania e das dificuldades históricas desua universalização para a maioria da população, expressam-se pelo acir-ramento das desigualdades, encolhimento dos direitos sociais e trabalhistas,aprofundamento dos níveis de pobreza e exclusão social, aumento da violên-cia, agravamento sem precedentes da crise social que, iniciada nos anos 80,aprofunda-se amplamente na década de 90” (RAICHELIS; 1999:60).

Por outro lado, estão em pauta, de forma acentuada, os direitos humanos, ajustiça social, a participação social, a cidadania, bem como os grupos sociaisorganizados: movimento dos sem terra, dos sem teto, dos negros, dos meninos emeninas de rua, dos homossexuais, das mulheres, etc., todos querendo fazervaler seus direitos e as conquistas jurídicas já efetivadas. A consciência de par-ticipação social e política do povo também cresceu. As Leis Orgânicas1 de cu-nho social promulgadas nos últimos anos criaram espaços efetivos de participa-ção da sociedade civil no planejamento e execução de políticas sociais, atravésdos respectivos Conselhos municipais, estaduais e federal.

No entanto, ao mesmo tempo em que ocorreram essas conquistas, vimoscrescer com grande força política e econômica a ideologia neoliberal, como res-paldo da política governamental, a começar na instância federal, para determinaro “Estado Mínimo”, significando uma clara intencionalidade de repassar à soci-edade civil responsabilidades conferidas à instância pública governamental, con-forme a Constituição Federal de 1988 e todas as Leis Orgânicas decorrentes.

“ A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediantepolíticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e deoutros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços paraa sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196 - C.F./88).

1 Lei Orgânica da Assistência Social – Lei n.º 8.742, de 07/12/93. Lei Orgânica da Saúde – Lei n.º 8080, de 19/09/90. Lei de Diretrizes Básicas da Educação – Lei n.º 9.394, de 20/12/96. Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069, de 13/07/90.

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“A assistência social será prestada a quem dela necessitar, indepen-dentemente da contribuição à seguridade social” (Art. 203 - C.F./88).

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será pro-movida e incentivada com a colaboração da sociedade...” (Art. 205 -C.F./88).

Quando refletimos sobre esse quadro conjuntural, constatamos que, apesardas profundas mudanças ocorridas no contexto brasileiro no decorrer dos últi-mos vinte anos, tendo como marco fundamental a promulgação da ConstituiçãoFederal de 1988 e, no que se refere às políticas sociais, as leis orgânicas dasaúde e da assistência social, o estatuto da criança e do adolescente, a lei dediretrizes e bases da educação, a lei de atenção ao idoso, etc., as diretrizes aliexpressadas e os direitos ali garantidos ficaram muito aquém do patamar deseja-do e almejado pela população brasileira, em sua maioria excluída do acesso aosbens e serviços de atendimento básico à saúde, educação e assistência social.

Na contramão das conquistas sociais citadas acima, percebemos osurgimento do discurso do “Estado falido” e, portanto, incapaz de dar respostaseficazes às demandas sociais, ocorrendo, na verdade, uma retirada gradativa eestratégica do Estado da arena social, sem investimentos significativos na mes-ma, sucateando as políticas sociais públicas e tornando-as ineficazes, não garan-tindo ao cidadão o acesso aos direitos reconhecidos e promulgados legalmente.

A intencionalidade clara que permeia essa questão é a transferência para asociedade civil de ações e responsabilidades até então bastante afetas à área estatal,determinando a implantação do denominado “Estado Mínimo”; isto é, a inserçãocada vez maior das instituições não governamentais na esfera pública, atendendo asegmentos e problemáticas sociais tradicionalmente assistidas pelo Estado.

É nesse contexto de sucateamento das políticas públicas que a sociedadecivil tem encontrado terreno fértil para o surgimento e fortalecimento de ativida-des sem fins lucrativos e de interesse público. Público, porque o serviço prestadoou o benefício gerado é voltado para segmentos da sociedade em situação derisco ou carência, reconhecidos legalmente como direitos de cidadania. Todainstituição que trabalhe em função da garantia desses direitos estará cumprindoum fim público.

Organizações da sociedade civil não têm se negado a atuar em direção àmudança do quadro conjuntural de exclusão social, à medida em que criam emantêm instituições sociais para o atendimento a diferentes segmentos da popu-lação: criança e adolescente, população de rua, usuários de drogas, idosos, entreoutros, em diferentes áreas: educação, saúde, habitação, trabalho, assistênciasocial, arte e cultura, etc.

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FERRAREZI (1997) afirma que, ao pensarmos na dimensão dos proble-mas sociais brasileiros, como desigualdade de renda, pobreza, diversas formasde exclusão social, fome, analfabetismo e baixa qualificação profissional, crian-ças em situação de risco, habitação, etc., nas demandas crescentes e complexase na heterogeneidade sócio-econômica-cultural e regional, fica-nos claro que aquestão social dificilmente será resolvida unicamente pela ação do poder públicoestatal, a não ser que essa questão se torne prioridade política, o que não acon-tece, pois está sempre em detrimento do poder econômico, não somente peloslimites financeiros, organizacionais e gerenciais do Estado mas, principalmente,pelo esgotamento de suas funções tradicionais ligadas ao Estado de Bem-EstarSocial, e pelas novas demandas decorrentes da democratização da sociedadecivil, que ficou mais complexa e dinâmica.

Trata-se de uma característica muito acentuada da Sociedade Civil con-temporânea, a organização em busca de soluções, fora da lógica do Estado e doMercado, para a questão social cada vez mais aguçada pela política econômicaatrelada aos interesses do capital internacional. Na verdade, estão em cursotransformações estruturais, em nível mundial, que têm determinado a necessida-de de ajustes das entidades sociais de caráter privado que, historicamente, sem-pre agiram na perspectiva da filantropia ou da hegemonia religiosa, sob a tutelaestatal, a uma nova conjuntura econômica, social e política. Nesse novo contex-to, a tendência é o delineamento de organizações autônomas, profissionalizadase não-governamentais, onde o caráter técnico do trabalho e os princípios deadministração e gerenciamento ganham relevância.

Isso tem requerido mudanças profundas na cultura institucional para umanova compreensão sobre a forma de relação que deve ser estabelecida entre osatores que integram o campo de atuação dessas organizações: gestores gover-namentais e não-governamentais, trabalhadores da área, dirigentes e coordena-dores de entidades sociais, população usuária dos programas e serviços, etc.

“A institucionalização e legitimação social do chamado ‘terceiro se-tor’ surge à medida em que as crescentes demandas pela democratizaçãodo Estado, bem como para o atendimento às necessidades sociais da popu-lação, não encontram respostas no Estado. Este vazio de resposta decorreda reestruturação do capital e da reorganização do mundo produtivo àmedida que impõe ao Estado novos atributos e funções na sua relação como mundo econômico, político e social” (TUMELERO, 1999:36).

Nessa reconfiguração das relações Estado e Sociedade Civil, o Estado vemdeixando de ser o executor das políticas sociais, assumindo o papel de regulamentador,

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fiscalizador e fomentador, na proporção em que celebra contratos de gestão comórgãos ou entidades de iniciativa privada. Portanto, mesmo agindo à luz de umapolítica de privatização dos serviços públicos, dentre os quais situamos as políticassociais, principalmente nas áreas de educação, saúde e assistência social, o Estadonão pode se furtar ao seu papel, de absoluta importância, garantido pelo marco legale constitucional, conforme já pontuado e ressaltado. O crescimento e fortalecimentodo espaço que se configurou como o terceiro setor da economia e, dentro deste, dasorganizações não-governamentais de interesse público, não anula e nem substitui opapel do Estado, com destaque ao respaldo técnico e financeiro, apoiando e assesso-rando essas instituições no processo de mudança, reestruturação e de implantaçãode projetos, ações e serviços, de acordo com as demandas colocadas. Trata-se doestabelecimento de uma nova relação Estado e Sociedade Civil, caracterizada nãomais como de tutela, mas de “parceria”.

“Embora as organizações do Terceiro Setor venham assumindo a res-ponsabilidade de promover políticas sociais de forma autônoma, mobili-zando doadores privados para financiar suas atividades, ressalta-se que oEstado não pode se furtar de alocar recursos para a realização de proje-tos por essas entidades. O Estado possui condições mais adequadas paraalocar recursos de forma racional e equânime uma vez que detém informa-ções sobre o conjunto da sociedade que permitem, em princípio, compen-sar as desigualdades regionais de renda e riqueza, apontando as priorida-des e evitando que estados e municípios, que possuam menor crescimentoeconômico e menores investimentos privados no social, sejam prejudica-dos” (FERRAREZI, 1997:10).

Em decorrência de toda essa reestruturação histórica e mundial e, portan-to, conjuntural e local, novos paradigmas têm surgido no que se refere aogerenciamento das instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, que atuamcom finalidade pública.

1. O TERCEIRO SETOR EM EVIDÊNCIA

A concepção de gestão institucional tem passado por muitas reflexões eestudos recentes e, em se tratando de instituições da sociedade civil que atuamjunto à políticas sociais setoriais, tem-se observado e apreendido que, cada vezmais há a necessidade de serem gerenciadas de forma técnica e profissional,com ênfase na participação de todos os envolvidos no âmbito institucional; trata-se da gestão participativa.

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Mas, para abordarmos a gestão dessas organizações, há a necessidade deuma reflexão preliminar sobre o terceiro setor, tema que contém significativaimportância pela sua atualidade e abrangência. O crescimento acentuado dasorganizações que integram o terceiro setor passou a ocupar importante papel napolítica econômica de vários países, ganhando expressão no Brasil, no decorrerdos anos 90. A inter-relação setorial entre Estado, Mercado e Terceiro Setorentrou em pauta definitivamente e termos como parceria, voluntariado, filantropiaempresarial foram resgatados como expressões de uma nova forma de relacio-namento entre os três setores da sociedade.

Vários autores têm destacado a importância do reconhecimento do ter-ceiro setor, que se diferencia do primeiro setor (Estado), de finalidade pública, edo segundo setor (Mercado), de finalidade privada:

“...o ponto de vista de que a sociedade pode ser organizada a partirde três setores está se consolidando. Mais do que a adoção de um novoconceito, isso denota uma nova mentalidade, apoiada no reconhecimentoda importância das iniciativas que surgem espontaneamente no seio dasociedade civil e de que o ‘modelo dualista’ não é suficiente para oferecerrespostas plenas aos dilemas sociais da atualidade” (SILVA, 2001, p. 20).

“O Terceiro Setor no Brasil (...) surge para identificar um conjunto deiniciativas da sociedade civil organizada que visam atender interesses públi-cos (...) estamos diante de um novo arranjo institucional, determinado poruma nova relação entre sociedade e Estado” (NASCIMENTO, 2000, p. 01).

“...é o conjunto de instituições, ONGs, fundações, etc. que, desempe-nhando funções públicas, encontram-se fora do Estado, no espaço de in-terseção entre este e o mercado, porém sem declarar fins lucrativos” (MONTAÑO, 1999, p.06).

De forma geral, podemos descrever o terceiro setor por aquele formadopor organizações sem fins lucrativos, incluindo as entidades de defesa de causasespecíficas, fundações que investem na área social e instituições diversas quebuscam dar respostas e soluções que o Estado não tem conseguido resolver. Sãoentidades não governamentais que expressam a sociedade civil organizada paraatendimentos de interesse público em diferentes áreas e segmentos.

SCHIAVO (2001), citando Jeremy Rifkin, autor de “O Fim dos Empregos”,aponta dados que permitem dimensionar o Terceiro Setor em alguns países:

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“Nos Estados Unidos, o setor emprega 9% da mão-de-obra e gera7% do PIB. No Reino Unido, são mais de 350 mil organizações voluntári-as, gerando uma receita de 17 bilhões de libras esterlinas, o que correspondea 4% do PIB inglês. Na França, 6% do emprego total estão no TerceiroSetor (...) Na América Latina, as ONGs que tratam de questões relativas àsmulheres, crianças e idosos, portadores de deficiências, portadores de HIVe doentes de AIDS e a usuários de drogas, para citar apenas os casos maisvisíveis, somam milhares de organizações, milhões de postos de trabalho egiram um capital, que já ultrapassa um bilhão de dólares.”

Segundo, ainda, reportagem do jornal Folha de Londrina, de 20 de maio de2001, esse setor já é considerado por pesquisadores como a oitava força daeconomia mundial, afirmando, quanto ao Brasil, que

“Seguindo o rastro de experiências bem sucedidas nos países desen-volvidos, o Brasil implantou definitivamente o terceiro setor da economia,considerado o fenômeno da área no final do século 20. Movido pelas inúme-ras organizações não-governamentais (Ongs) já implantadas, reflete a bus-ca por soluções de problemas comunitários mundiais, que em muitos casosnão têm sido resolvidos pelo primeiro setor (governo) e segundo (mercado).”

Esta mesma reportagem, repetindo dados fornecidos pelo Conselho daComunidade Solidária,2 declara que o terceiro setor no Brasil já conta

“com aproximadamente 250 mil entidades que empregam 1,5 milhão detrabalhadores, além de agregar uma massa de 12 milhões de voluntários quetrabalham gratuitamente em ações voltadas para a promoção social.”

A configuração e o reconhecimento do chamado terceiro setor tem adqui-rido expressão a partir de dados como os acima mencionados. No entanto, ao setentar uma referência conceitual deste setor, são encontradas algumas dificulda-des determinadas pela diversidade de organizações que ele abarca, pelamultiplicidade de áreas em que atua e pelos diferentes segmentos atendidos.

2 Órgão vinculado ao governo federal que atua na promoção de parcerias entre o governo e asociedade civil e articulando parcerias dentro do próprio governo. Além dos ministros de Estado daSaúde, Educação e Trabalho e do Chefe da Casa Civil da Presidência da República, integram oConselho da Comunidade Solidária 28 lideranças da sociedade civil, com reconhecida atuação naárea social.

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CAMARGO (2001) aponta como os principais grupos integrantes do ter-ceiro setor, as associações, as fundações, os sindicatos, as cooperativas, as igre-jas e as organizações não-governamentais.

Todos esses grupos, com linhas ideológicas, políticas e religiosas específi-cas, transmitindo de forma mais ou de forma menos expressiva vinculações comsetor estatal ou setor privado, acabam atuando em questões direta ou indireta-mente relacionadas ao resgate da cidadania e à garantia de direitos humanos,aviltados pela condição de pobreza, miséria e desinformação de grande parte dapopulação brasileira.

Atuam a partir de ações que histórica e tradicionalmente são marcadaspelo caráter assistencialista e paternalista, como os antigos orfanatos e “casasde recuperação”, geralmente ligados desde a igrejas e/ou denominações religio-sas até às atuais ONGs, que se expandiram nos anos 80 em defesa dos direitoshumanos, do meio ambiente e do desenvolvimento social.

FERNANDES (1996) afirma que

“...o Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, cria-das e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não-governa-mental, dando continuidade a práticas tradicionais de caridade, da filantropia edo mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças, sobretu-do, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestaçõesna sociedade civil.”

Portanto, o que se tem claro é que o espaço delimitado como o do terceirosetor é aquele cuja origem é a participação de cidadãos que, representando asociedade civil organizada, buscam intervir na realidade social, de forma volun-tária, em uma área específica (assistência social, educação, saúde, meio ambi-ente, cultura, habitação, trabalho, etc.), com segmentos definidos (crianças eadolescentes, mulheres, idosos, índios, famílias, dependentes químicos, portado-res de deficiência, portadores de HIV, dentre outros), no sentido de garantir aesses condições de desenvolvimento integral, existindo e coexistindo de formasatisfatória e adequada à condição humana. Por isso, inserem-se na esfera pú-blica não governamental, mantendo sua autonomia administrativa em relação aopoder estatal, embora muitas dessas organizações mantenham com este víncu-los por força de convênios e parcerias.

LANDIN (1993) relata que a maior parte das organizações sem fins lucrati-vos, no Brasil, é composta por associações (77%). São associações beneficentese assistenciais, recreativas e esportivas, culturais, científicas e educacionais.

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Dentre estas, destacam-se entidades assistenciais e educacionais organi-zadas, administradas e mantidas por clube de serviços, igrejas, outras confissõesreligiosas e filosóficas, e associações de voluntários, traduzindo-se em creches,centros de atendimentos a dependentes químicos, instituições de apoio sócio-educativo, de ensino profissionalizante, asilos, etc., que possuem uma área deabrangência mais localizada, municipal ou regional. Também, não podem serignoradas as ações pontuais, realizadas por igrejas de diferentes confissões, cen-tros espíritas, escolas, grupo de jovens, clube de serviços, etc., tais como, distri-buição de alimentos (cestas básicas, sopas, leite...), distribuição de agasalhos,primeiros socorros, dentre outras ações, que não estão institucionalizadas for-malmente, mas que ocorrem durante o ano todo ou em épocas específicas (deinverno, seca, enchentes, etc.), constituindo-se de vital importância para dife-rentes segmentos da população e movimentando um número significativo devoluntários e recursos financeiros captados, gerenciados e distribuídos por inici-ativa de pessoas e organizações da sociedade civil.

Por outro lado, existem também aquelas instituições de caráter não-gover-namental que ganharam expressão nacional pelo volume de pessoas beneficia-das, número de voluntários envolvidos e recursos financeiros captados e aplica-dos. Um exemplo a ser destacado é a Associação de Pais e Amigos dos Excep-cionais - APAE - com 46 anos de existência, possuindo um orçamento anual de200 milhões de reais, aglutinando 21.400 voluntários e beneficiando 200.000 pes-soas. Também, a Associação de Assistência à Criança Deficiente - AACD -pode ser citada pelos seus 51 anos de existência, 42,5 milhões de reais de orça-mento anual, 1.200 voluntários e 4.000 crianças atendidas.3

De vinculação religiosa, com expressão nacional, também despontam or-ganizações como a Pastoral da Criança, que beneficia 1,5 milhões de pessoas,com um orçamento anual de 17,2 milhões de reais, contando com 150.000 volun-tários. Também, podem ser citados, o Fundo Cristão para Crianças e a VisãoMundial. A primeira tem 35 anos de existência, atinge 80.000 beneficiados, con-ta com 4.000 voluntários, com um orçamento de 26,3 milhões de reais. A segun-da, tem 26 anos de funcionamento, alcança 57.000 pessoas, com 70 voluntáriose um orçamento anual de 20 milhões de reais.4

Dentro do âmbito das fundações, a Fundação Bradesco e a FundaçãoAírton Senna são lembradas pela sua atuação na área social e educacional. AFundação Bradesco, com mais de 40 anos de existência, atua na área da educa-

3 Dados obtidos na Revista Veja - Edição Especial - de dezembro de 2001.4 Idem.

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ção, abarcando a Educação Infantil, o Ensino Fundamental, Médio, MédioProfissionalizante, a Educação de Jovens e Adultos e Educação ProfissionalizanteBásica. Durante o ano de 2001 investiu 112 milhões de reais, abrangendo 102.762alunos.5 O Instituto Aírton Senna investe suas ações também na área da educa-ção, beneficiando 180.000 crianças e jovens por ano, com um investimento anualde 18.517 milhões de reais6.

Assim, dentro do espaço do terceiro setor situam-se desde as organizaçõesmais simples, com atuações localizadas, até aquelas que ganharam expressão noâmbito nacional e, inclusive, internacional. Esse fato tem dificultado aos estudio-sos e pesquisadores do assunto um consenso quanto à conceituação do que vema ser o terceiro setor, estando essa definição em processo de construção à me-dida em que as pesquisas e discussões se aprofundam. Já podem, entretanto, serapontados algumas características e alguns desafios para o fortalecimento doterceiro setor.

SALAMON e ANHEIER (1997), citados por SILVA (2001), dentre ou-tros autores, apontam cinco características principais que identificam o terceirosetor:

“Organizadas: institucionalizadas em algum grau; Privadas:institucionalmente separadas do governo; Não distribuidoras de lucros:não retornam quaisquer ganhos gerados a seus ‘proprietários’ ou direto-res; Autogovernadas: aptas a controlar a suas próprias atividades; e Vo-luntárias: envolvendo um grau significativo de participação voluntária”(p. 22) (grifo nosso).

Esse setor comporta um número variado de organizações que atuam en-quanto associações, fundações, sindicatos, cooperativas, ongs, etc., e foram ins-tituídas em diferentes momentos históricos de nossa sociedade, trabalhando comsegmentos diversificados e atendendo a novas demandas, como a AIDS e acamada de ozônio, por exemplo. A abrangência de suas ações vai desde oassistencialismo praticado por grupos religiosos e não religiosos, até pesquisascientíficas financiadas por empresas ou instituições privadas, que buscam res-postas para as grandes questões sociais, educacionais, ecológicas, dentre outras.Certamente a forma de gerenciamento dessas organizações comporta perspec-tivas e visão de mundo de acordo com a base política, ideológica e religiosa queas sustentam institucionalmente.

5 Dados disponibilizados na Internet: http://www.fb.org.br6 Idem: http://www.filantropia.org/ayrton.htm

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Considerando a sua dimensão, é fato que o terceiro setor não é um apêndi-ce da sociedade. Tem ocupado e desempenhado um papel de vital importânciana dinâmica de uma sociedade, cujos cidadãos estão mais conscientes e convic-tos de seus direitos, mas sobretudo da importância de sua participação no pro-cesso de transformação de realidades que não apenas oprimem, massificam,mas também podem destruir o ser humano.

Em decorrência desse conjunto imenso e até mesmo informal de organiza-ções da sociedade civil que atuam em áreas e segmentos que as caracterizam definalidade pública, configurou-se a esfera pública não estatal. Isto é, organiza-ções não estatais podem ter caráter público, superando-se a idéia de que o públi-co é monopólio do Estado.

A emersão desta esfera pública não estatal dentro do contexto conjunturale histórico em que se instituiu e se fortaleceu o terceiro setor determinou não sóa necessidade de uma revisão na forma de gerenciamento dessas instituições,principalmente as de caráter assistencial/filantrópico, como também a reformado marco legal que regula as relações entre os órgãos estatais e as organizaçõesda sociedade civil que atuam com interesse público; ou seja, entre o Estado e aSociedade Civil; ou ainda, em outras palavras, entre a esfera pública estatal e aesfera pública não-estatal.

O Estado, reconhecendo não somente o crescimento do terceiro setor e ovolume de recursos humanos e financeiros que este movimenta, mas, inclusive,percebendo a importância estratégica de regulamentação das ações institucionaisdo terceiro setor, promulgou, em 23 de março de 1999, a Lei Federal 9.790. Estadispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lu-crativos, como organizações da sociedade civil de interesse público.

Com base nessa Lei, organizações do terceiro setor podem ser qualifica-das como “Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público” (OSCIP),desde que “...os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias aten-dam aos requisitos instituídos por esta Lei” (Art.1º).

As instituições não governamentais têm sido obrigadas a repensar suaspráticas e a sua inserção no contexto social, buscando novas formas deenfrentamento aos desafios impostos pelo retorno à política de não intervençãoestatal, e do incentivo à privatização dos serviços públicos. Ser ágil na captaçãode recursos e ter propostas claras e eficientes de trabalho são condições atuaisbásicas para essas instituições continuarem existindo e prestando serviços dequalidade e com competência.

Por comportar uma diversidade de organizações e uma multiplicidade deações e por constituir-se em uma expressão ainda pouco utilizada no Brasil, oterceiro setor enfrenta alguns desafios, dentre os quais destacamos a necessida-

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de de maior divulgação sobre o que ele é, como é formado, como se expressa nopanorama nacional e na execução de ações de interesse público, sua vinculaçãocom o Estado e com o setor Privado, etc. Também são desafios buscar recursosfinanceiros mais estáveis para a sua sustentabilidade e incentivar, mobilizar ecriar condições para maior participação de voluntários, tanto na manutençãofinanceira das organizações que o compõem, como no gerenciamento das mes-mas e também na execução das atividades junto à população beneficiária. Mas,principalmente, consideramos como um dos maiores desafios colocados hoje aoterceiro setor, a melhoria da qualidade e eficiência da gestão de organizações eprogramas sociais, onde necessariamente está incluída a gestão de recursos hu-manos e, consequentemente, o desenvolvimento de competências.

E é esse recorte que nos interessa fazer, a partir desse breve resgate doprocesso de instauração e fortalecimento do terceiro setor, sempre considerandoa conjuntura política e econômica que não só favoreceu esse fato como utilizou-se dele à medida em que interessava à execução do projeto neoliberal deprivatização, publicização e terceirização também das políticas sociais.

2. O TERCEIRO SETOR E A GESTÃO DE PESSOAS

KLIKSBERG (1997:100) afirma que o contexto contemporâneo de atua-ção da gerência institucional é absolutamente diferente daquele das décadasanteriores. A predominância é, cada vez mais, da complexidade, da instabilidadee da incerteza.

Nesse momento histórico de profundas mudanças sociais, econômicas epolíticas configuradas mundialmente, a gestão social ganha importância rele-vante em todos os setores, mas, de forma significativa, no contexto das institui-ções que atuam no terceiro setor.

Voluntariado forte, organizado e participativo, trabalhos administrativo etécnico articulados e definidos com clareza, planejamento estratégico, gestãoparticipativa, transparência nas decisões, desenvolvimento de ações e progra-mas de real interesse da população, etc., são temas e questões que podem serapontadas como prioritárias na pauta de trabalho das organizações da sociedadecivil que atuam sem fins lucrativos e com interesse público. Mas, a gerência derecursos humanos tem adquirido destaque como área prioritária de atenção, emfunção da necessidade cada vez maior dessas organizações atuarem com com-petência, com eficácia e com eficiência.

Nessa perspectiva, o processo de desenvolvimento de competências dosrecursos humanos tem se constituído como um dos principais desafios a seremenfrentados pelas organizações do terceiro setor. Trata-se do alcance de uma

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das metas em direção à superação dos obstáculos que têm impedido o funciona-mento institucional de acordo com as novas demandas da realidade. No cotidia-no institucional, as pessoas envolvidas no desenvolvimento de atividades e servi-ços têm um papel fundamental. Espera-se que sejam pessoas preparadas e ca-pacitadas para as funções.

Como exemplo, lembramos que, segundo a LDB/96, admite-se como for-mação mínima para atuar na educação infantil (creche e pré-escola) a formaçãooferecida em nível médio, na modalidade Normal (art. 62). Mas, com freqüên-cia, essas instituições, que atuam na esfera da assistência social, funcionam maisde oito horas diárias, com um número de crianças além das vagas existentes,devido à grande demanda, com um quadro de pessoal nem sempre habilitadoadequadamente e nem com número suficiente para o atendimento infantil. Oindicado seria um quadro de pessoal diversificado quanto a competências e habi-lidades, suficiente quanto ao número e bem selecionado quanto às característi-cas psicológicas e de saúde para desempenhar com eficiência as diferentes ati-vidades previstas pelo programa institucional.

Ser um profissional que atua diretamente em instituições do terceiro setor,em muitos casos, ainda não é uma profissão regulamentada, e nem nome defini-do ainda tem. Voltando ao exemplo da educação infantil ou mesmo em serviçosde apoio a adolescentes, idosos, etc., observamos que, em sua quase totalidade,a maioria são mulheres, que em diferentes locais são denominadas de diferentesformas: educadoras, monitoras, atendentes, “tias”, etc.

Historicamente, tem-se constatado que vários modelos de instituições semfins lucrativos implantados no Brasil partiram do princípio que para diminuircustos devia-se empregar mão-de-obra barata, com pequena qualificação. Des-ta forma, a qualidade do trabalho apresentado por estes equipamentos ficou, nãoraras vezes, muito comprometida.

Portanto, se faz de fundamental importância que, no contexto institucional,existam trabalhos especificamente voltados para os recursos humanos, prepa-rando-os não apenas para o desempenho de suas atividades cotidianas, mastambém para o alcance de desempenhos que exijam maior complexidade. Inves-tir em desenvolvimento de competências é um dos desafios que tem se configu-rado no seio do terceiro setor para aquelas instituições preocupadas em acompa-nhar a dinâmica da realidade social cada mais complexa.

“Gerenciar não é dirigir para determinados objetivos, mas criar con-dições para que os recursos humanos da organização respondam - indivi-dualmente e com criatividade - a um meio que requer permanente adapta-ção” (KLIKISBERG, 1997:93).

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Percebe-se então a necessidade da formação qualificada daqueles quevão atuar na esfera do terceiro setor, considerando-se principalmente o redesenhodo ambiente externo das organizações e, necessariamente do ambiente interno,determinado por novas demandas e por uma nova visão do significado do traba-lho sem fins lucrativos de finalidade pública.

Um dos fatores determinantes dessa qualificação é que o profissional tra-balhe nessa área não apenas pela necessidade de uma atividade remunerada,mas também por opção pessoal e profissional, pois atuar em instituições do de-nominado terceiro setor, atualmente, tem implicado em ser especialmente trei-nado para tal. A falta de cursos e especializações para esses profissionais acar-reta, por sua vez, um mal entendido quanto às diferentes competências dos quetrabalham nas diferentes organizações que integram esse setor.

“Uma das grandes forças de uma organização sem fins lucrativos éque as pessoas não trabalham nela para viver, mas por uma causa (nemtodas, mas muitas). Isto também cria uma tremenda responsabilidade paraa instituição: a de manter a chama viva e não permitir que o trabalho setransforme em apenas um ‘emprego’ “ (DRUCKER, 1999:110).

Embora esse autor esteja referindo-se mais especificamente ao trabalhodo voluntariado, essa afirmação nos leva a refletir sobre a importância da moti-vação constante do quadro de recursos humanos, em todos os níveis e setores deuma organização do terceiro setor, para que aquele emprego remunerado nãosignifique apenas o ganho salarial obtido a cada mês, mas que, somado a issohaja um verdadeiro e autêntico envolvimento com a missão institucional.

São pessoas singulares e únicas, portadoras de necessidades pessoais efuncionais, que devem ser consideradas em função do desempenho adequadonos programas e serviços institucionais. O desenvolvimento de competências, acapacitação continuada, o relacionamento interpessoal e o atendimento específi-co a necessidades individuais são focos importantes a serem trabalhados noâmbito dos recursos humanos da instituição.

Percebe-se com facilidade que as pessoas que exercem atividade remune-rada nessas instituições apontam como fatores desmotivadores ao trabalho, odesconhecimento do cargo, a falta de habilidades necessárias, a falta de feedbackpositivo, o excesso de rivalidade entre colegas, o estabelecimento de metas im-possíveis, conflitos com os chefes. E como fatores motivadores, a segurança notrabalho, os desafios, as oportunidades de criação, de realização profissional, decrescimento e desenvolvimento pessoal e o contato com a população usuária dosserviços institucionais.

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A questão salarial aparece, como fator preocupante para os diretores e paraos funcionários. Por um lado, é muito difícil para o grupo dirigente da instituiçãomanter um quadro de pessoal treinado e preparado, com baixos salários. Por outrolado, os salários estão sempre aquém do nível de satisfação dos funcionários eestes, não raras vezes, quando encontram melhor oferta de salário no mercado detrabalho, deixam a instituição. Esta necessita, então, começar novamente todo umciclo de treinamento com um novo contratado. Como são instituições sem finslucrativos, sobrevivem com doações, campanhas, eventos e verbas públicas (quandotêm convênios). Essa condição dificulta muito para a instituição manter funcioná-rios treinados e capacitados em seu quadro de pessoal, pois isso implica em maio-res salários e, por conseguinte, em mais encargos sociais.

Como desenvolver metas de desenvolvimento de competências, primordi-al hoje no âmbito do terceiro setor, diante das condições financeiras institucionaissempre precárias, muitas delas sobrevivendo com escassas verbas? Essa reali-dade as tem levado prioritariamente ao exercício de projetos e atividades volta-das para a captação de recursos financeiros. Porém,

“...atualmente, o primeiro passo para o sucesso e a sustentabilidade deuma organização sem fins lucrativos é a formação do quadro profissional,mesmo que isso represente um projeto. Depois, a excelência na captação.Acredito que apenas as organizações capazes de estruturar-se desta manei-ra - selecionando critérios bem definidos, remunerando adequadamente einvestindo em seus quadros - irão atrair potenciais doadores, pois todos elesfarão questão de trabalhar com organizações transparentes que apresentemresultados esperados conforme o determinado no projeto inicial, destacan-do-se assim, pela competência na execução” (CAMPOS, 2002:03).

Uma fato é concreto: há necessidade premente das instituições investiremem seus recursos humanos, se almejarem um trabalho de qualidade e impactosocial, na direção do cumprimento de sua missão e da transformação concreta eefetiva do ambiente (interno e externo) em que atuam.

A rotatividade custa muito alto para a instituição, principalmente quando édesenvolvido todo um trabalho de capacitação profissional. Faz-se necessária acombinação de estratégias para a obtenção de resultados ideais.

Por sua vez, não podemos ignorar que, no contexto do terceiro setor, ovoluntariado ocupa papel de importância fundamental, compondo também o qua-dro de recursos humanos, sem, no entanto, ser assalariado.

Em diferentes literaturas sobre organizações não governamentais, a pre-sença do voluntariado aparece como um dos requisitos essenciais para que se-

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jam classificadas como de terceiro setor. A partir, portanto, da amplitude que asorganizações não governamentais têm assumido na atual conjuntura, surge, commuita força, o resgate do papel e das funções do voluntariado, procurando-sedefinir qual o perfil de voluntário que essa nova realidade demanda.

Mas, o que é necessário ressaltar nesse momento, quase que como umresgate histórico, é que, se as instituições não governamentais chegaram atéaqui, surgiram e têm atravessado dezenas de anos desenvolvendo projetos, ser-viços e ações junto a diferentes segmentos, que em diferentes momentos, sofre-ram o processo de exclusão social de diferentes formas, é porque o trabalho dovoluntariado esteve sempre fortemente presente nessas instituições.

O voluntariado tem atuado nessas instituições em duas grandes frentes detrabalho: através da prestação de serviços diretos aos usuários e/ou compondo ocorpo diretivo das mesmas. No primeiro caso, atua exercendo alguma aptidãoprofissional ou pessoal, colocando à disposição da instituição e dos usuários seusconhecimentos e suas habilidades. No segundo caso, são diretores e gestoresque compõem o grupo que dá sustentação administrativa e financeira ao traba-lho institucional. Realizam ações que, basicamente, estão voltadas para a manu-tenção e sobrevivência das instituições. Decidem as grandes questões em as-sembléias e reuniões, discutem e modificam estatutos e regimentos, que incidemdiretamente na atuação cotidiana da instituição.

Portanto, o voluntariado já vem dando a sua contribuição significativa noâmbito das políticas sociais. O que tem mudado, nesse novo contexto conjuntural,é a forma de exercer e de compreender a ação voluntária. Percebemos quemuitos ainda não têm clareza das mudanças conjunturais e determinantes de umnovo perfil de voluntário. Defendemos a idéia de que ele necessita ser treinado epreparado para o exercício do voluntariado, frente às peculiaridades da atualconjuntura social, econômica e política, seja em qual frente for o trabalho a serdesenvolvido. Da mesma forma que ao funcionário que atua nessas instituiçõesdevem ser proporcionados espaços de capacitação e atualização, o voluntáriotambém necessita ser alvo de processos de desenvolvimento de competências.

CONCLUSÕES

Essas são algumas reflexões relacionadas à gestão de pessoas que, semdúvida, ocupam espaço nas instituições de terceiro setor, principalmente aquelasatuantes na esfera da assistência social. Atributos como responsabilidade, com-promisso, dedicação e envolvimento sincero com o trabalho institucional e comos seus usuários, integram o perfil das pessoas, voluntárias ou contratadas, quecompõem os recursos humanos dessas organizações. Porém, para um trabalho

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qualitativamente diferenciado há de se pensar e de se construir ferramentas degestão que facilitem ao terceiro setor o desenvolvimento de competências envol-vendo não apenas a melhoria do desempenho em termos de conhecimento,habilidades e atitudes para que a pessoa desenvolva suas atribuições eresponsabilidades (DUTRA, 2001:28), mas, também, de capacidade de assu-mir e executar atribuições e responsabilidades de maior complexidade, ocorren-do uma íntima relação entre o desenvolvimento das competências individuais eas competências organizacionais.

Consideramos que, nessa perspectiva e de acordo com as exigências daatual conjuntura, devem integrar o perfil das pessoas que atuam em instituiçõesdo terceiro setor, com enfoque na esfera da assistência social, também os se-guintes desafios: 1º) Conhecer e saber utilizar-se da legislação atual que enfocao trabalho na área das políticas sociais, dentre elas a da Assistência Social, Saú-de e Educação; 2º) Ter clareza da conjuntura em que essas leis foram gestadase implantadas e do contexto social, econômico e político em que estão inseridasas instituições, os usuários e todos os sujeitos envolvidos; 3º) Ter uma participa-ção ativa nas instâncias legais que atuam junto aos segmentos com os quaistrabalham; 4º) Saber estabelecer articulação e parcerias com as demais institui-ções da sociedade civil, através de associações, fóruns, núcleos, grupos, etc.; e5º) Ter clareza de suas concepções sobre quem é o usuário com quem traba-lham, qual a visão que têm deste, e quais os princípios e diretrizes ideológicas,políticas e religiosas que norteiam o trabalho institucional.

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GESTÃO DE CUSTOS: UMA VISÃO ESTRATÉGICASOB O ENFOQUE DE ADOÇÃO DA CADEIA

DE VALORES*Luís Marcelo Martins

RESUMO

A adoção de estratégias de gestão dos custos voltadas para o processo detomada de decisão e não mais para a utilização como um simples controle con-duz à elaboração deste estudo. Desta forma, tem-se como propósito apresentarum relato que busca favorecer uma visão mais ampla de atuação do gerenciamentoestratégico de custos no contexto tradicional relacionado à análise de custos nacadeia de valores e não mais como uma sistemática de controles de valores aserem agregados. Demonstra-se então uma visão estratégica voltada a custoscomo vantagem competitiva na gestão das organizações, como também defini-ções básicas de cadeias de valores, metodologia de seu enquadramento, os elosde ligação dessas cadeias e os perigos de se ignorá-los, além do posicionamentode custos neste enfoque. Ainda, para melhor visualizar a gestão dos custos daforma proposta, apresenta-se também um quadro comparativo da metodologiada utilização da cadeira de valores versus a contabilidade gerencial convencio-nalmente adotada na gestão da empresas. Para tal, foram desenvolvidas pesqui-sas bibliográficas sobre o tema, nas quais se procurou inter-relacionar os focosapresentados. Tais pesquisas direcionaram relatos descritivos, como também amontagem das figuras ilustrativas e elaboração do quadro comparativo.

PALAVRAS-CHAVE: Custos; Decisão; Gerenciamento Estratégi- co de Custos; Cadeia de Valores.

ABSTRACT

The adoption of strategies for the management of costs turned to the decision-making process and not to their use as a mere control led to the development ofthe present study. It aims at presenting a report that favors a broader view ofstrategic management of costs in the traditional context related to the analysis ofcosts in the value chain and not as a system of value control. A strategic viewturned to costs as a competitive advantage in the management of organizations isshown, as well as basic definitions of value chains, fitting methodology, linking ofsuch chains, the dangers for ignoring them, and the positioning of costs according

*Docente do Curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.Mestre em Administração pela Universidade Norte do Paraná - UNOPAR.Mestrando em Administração na Universidade Estadual de Londrina - UEL.E-mail: [email protected]

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to this approach. To better visualize the management of costs according to theway proposed, a comparative frame of the methodology in the use of the valuechain versus the managerial accountancy conventionally adopted in the enterprisemanagement is also presented. For such, bibliographic research about the themewas developed, in an attempt to interrelate the focuses presented. The researchdirected descriptive reports as well as the development of illustrative figures andthe working out of the comparative frame.

KEY-WORDS: Costs; Decision; Strategic Management of Costs; Value Chain.

INTRODUÇÃO

A relação existente entre a Empresa e o Ambiente onde esta atua passapor um conflito constante de interesses, onde cada um dos pontos de relaciona-mento busca a defesa direta de seus interesses; contudo, o objetivo de se obterum completo sucesso de mercado e rentabilidade nos negócios está diretamenterelacionado com uma boa gestão estratégica, em sua forma ampla.

Essa relação entre estratégia e sucesso é relatada por MINTZBER (2000: 222) quando o autor apresenta a estratégia não exclusivamente como um pro-cesso de mudanças, mas de continuidade aos processos, quando estes necessi-tam, além das mudanças, de uma estabilidade desse direcionamento.

Assim, ao se abordar o gerenciamento estratégico de custos, pode-se ob-servar que ainda é pouca a dedicação dada aos estudos do mesmo e sua reper-cussão nas empresas. A maior parte dos estudos aborda questões restritas eadota um ponto de vista a curto prazo. Normalmente, outros fatores são priorizados,relegando a análise dos custos a uma situação secundária ou simplesmente decontrole; não obstante, na atualidade, há uma perda do domínio dos preços pelaempresa, onde o mercado é que passa a determinar o valor de venda e, com isso,a administração dos custos toma maior importância no contexto.

Diferentes razões concorrem para que certas empresas encontrem dificul-dades na organização e manutenção de um serviço de custos. Entre outros, pode-mos relacionar os seguintes motivos: desconhecimento do assunto, falta de especi-alista para o trabalho, despesas elevadas com a manutenção do serviço, etc.

Com isso, o objetivo deste trabalho é apresentar um estudo que favoreceuma visão mais ampla de atuação do gerenciamento estratégico de custos, sob ocontexto tradicional, relacionado à análise de custos na cadeia de valores. Paratal, foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas, as quais direcionaram relatosdescritivos sobre o tema e nas quais se procurou inter-relacionar os focos apre-sentados.

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1.0. – GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

A necessidade de se visualizar custos de uma forma mais dinâmica am-pliou os horizontes dos estudos desse tema. Desta forma, uma conotação maissistêmica passou a ser adotada no gerenciamento e nas análises do processo, oque levou ao desenvolvimento de novas metodologias e abordagens.

KOURY e ANCELEVICZ (2000 : 56) abordam a visão tradicional decustos como uma forma de atender as necessidades de valorização dos esto-ques, sejam de matérias-primas ou de produtos acabados, atender as necessida-des de controles gerenciais sob o foco de sistemas de informações e tambémapurar os custos dos produtos, ou seja, a visão estratégica dos autores não éfocada para o uso estratégico dos custos, mas há, evidentemente, umdirecionamento para a utilização de ferramentas de gestão destes, como gerado-ras de dados ou informações gerenciais.

Para ROBBINS (2000 : 123), a disposição de uma empresa em ser líderem custos no mercado onde atua é o indicativo de que esta opta em adotar umaestratégia de liderança em custos, ou seja, a empresa não deve ser mais uma adisputar posição de mercado no que se refere a este fator, mas aquela que seráa líder.

Em razão disso, faz-se necessária uma abordagem diferenciada da gestãodo que, de alguma forma, irá afetar o processo decisório na gestão daquilo quecomporá tais fatores estratégicos. Abaixo se apresenta uma forma mais sistêmicano que concerne a tal processo estratégico:

Figura 1 – Visão sistêmica da gestão estratégica de custos.

ANÁLISE DA CADEIADE VALORES

ANÁLISE DODIRECIONAMENTO DE

CUSTOS

ANÁLISE DOPOSICIONAMENTO

ESTRATÉGICO

GESTÃOESTRATÉGICA

DE CUSTOS

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Como pode ser visto, gerenciar custos não se restringe apenas aos contro-les básicos existentes na empresa, geralmente após os fatos terem ocorrido. Aconotação de estratégia no gerenciamento visa a abordagem geral ou a partici-pação dos custos em todo o processo de planejamento da empresa.

Segundo PORTER (1990 : 57), “A vantagem de custo é um dos dois tiposde vantagem competitiva que a empresa pode possuir.” Ainda segundo ele, “osadministradores reconhecem a importância do custo, e muitos planos estratégi-cos estabelecem a “liderança de custos” ou a “redução de custo” como meta.”Assim, ratifica-se a posição de grande importância da administração dos custosnas empresas de uma forma mais estratégica e não simplesmente o seu controleou ainda como um instrumento de controle.

A gestão da mudança, como uma forma de se atuar perante um mercadocompetitivo, provoca ações empreendedoras e inovadoras por parte das empre-sas de modo a permanecerem competitivas – em questão de custos. Contudo háa necessidade de força política neste contexto, onde esta estará atuando comoum agente facilitador das mudanças provocadas pelas estratégias traçadas.MINTZBERG (2001 : 367) relata: “A mudança requer desafiar o status quo. Apolítica poderá facilitar isso; se não houver forças empreendedoras ou inovado-ras para estimular a mudança estratégica, talvez seja a única força disponívelpara a mudança”.

Observa-se desta forma que uma visão estratégica de custos é necessáriapara ofertar uma maior competitividade à gestão das organizações, sendo quedeterminados casos necessitarão de mudanças estruturais e até mesmo das pró-prias estratégias sob este foco.

A importância desse fator é abordada por PORTER (1990 : 31) ao relatar:

“A cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividadesde relevância estratégica para que se possa compreender o comporta-mento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação.Uma empresa ganha vantagem competitiva, executando estas atividadesestrategicamente importantes de uma forma mais barata ou melhor doque a concorrência”.

Adota-se, a partir daí, que custo também é um instrumento a ser utilizadocomo uma ferramenta estratégica, num mercado altamente competitivo, ondediferenciais devem ser utilizados visando atingir as necessidades empresariais e,como conseqüência, a satisfação dos consumidores da empresa, além de seuspróprios resultados.

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2.0. – CADEIA DE VALORES

Abordando diretamente o tema, pode-se definir cadeia de valores comosendo o conjunto de atividades geradoras de valores que serão agregados aoproduto, isto desde as fontes de matérias-primas até o produto final estar na mãodo consumidor. Assim, na análise da posição competitiva de um produto, o valor,e não os custos, devem ser utilizados.

Para SHANK e GOVINDARAJAN (1990 : 62), a visão de custos nacadeia de valores pressupõe que:

“A estrutura da cadeia de valores é um método para se dividir a ca-deia – desde as matérias-primas básicas até os consumidores finais – ematividades estratégicas relevantes a fim de se compreender o comporta-mento dos custos e as fontes de diferenciação”.

Todo processo ou todo trabalho realizado na empresa, como também o queé realizado externamente, será agregado; desta forma, cada produto deverá teruma fração dos custos de cada atividade, sejam elas atividades diretas ou indire-tas, ou seja, de planejamento, administração, produção, comercialização, distri-buição e entrega, bem como outras que ocorrerão durante todo o ciclo citadoanteriormente.

O primeiro passo é a determinação da cadeia de valores existentes naempresa, visto a amplitude de sua abrangência dentro do processo. Assim, aidentificação das atividades se faz necessária, uma vez que no processooperacional de cada uma serão agregados valores de insumos, recursos huma-nos e alguma forma de tecnologia empregada.

Podem-se identificar dois tipos de atividades, as primárias e as de apoio.As primárias são aquelas relacionadas com o processo que vai da geração doproduto até seu acompanhamento no pós-venda. As atividades de apoio são asque dão suporte à existência da empresa como um todo, ou seja, dão suporte àsatividades primárias e a si mesmas, como é apresentado por PORTER (1990) epode ser observado na figura a seguir:

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Figura 2 – A Cadeia de Valores Genérica (com algumas modificações).FONTE: PORTER, Michael E., Vantagem Competitiva: Criando e Susten-tando um Desempenho Superior. Rio de Janeiro : Ed. Campus, 1990 – p.35.

Objetiva-se com essa abordagem a determinação de uma vantagem com-petitiva permanente ou duradoura, baseada no custo ou na diferenciação, ouainda nos dois, ou seja, a abordagem do produto de uma forma estratégica, atra-vés de um fator diferencial que seja percebido por aqueles que vão adquiri-lo.

Desta forma, a adoção de uma linha estratégica de baixo custo visa adeterminação de um valor de custo inferior perante os concorrentes, sendo queo diferencial poderá ser obtido ao se buscarem processos de minimização doscustos através de:

♦ Economia de escala de produção;♦ Efeitos da curva de experiência;♦ Rígido controle de custos;♦ Minimização de custos em áreas como pesquisas e desenvolvimento,

prestação de serviços, força de vendas ou publicidade.

O gerenciamento da cadeia de valores de uma empresa, em relação àscadeias de valores dos concorrentes é que determinará a possibilidade de desen-volvimento ou manutenção de vantagens de custos dos produtos ou serviçospostos para comercialização.

INFRA-ESTRUTURA DA EMPRESA

GERENCIAMENTO DE RECURSOS HUMANOS

DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA

AQUISIÇÃO DE INSUMOS EMPREGADOS NA CADEIA

LOGÍSTICAINTERNA

OPERAÇÕES MARKETINGE

VENDAS

LOGÍSTICAEXTERNA

SERVIÇOS

MARGEM

ATIVIDADESDE APOIO

ATIVIDADES PRIMÁRIAS

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O apontamento, através de pesquisas, dos pontos da cadeia de valores dosclientes torna-se então de fundamental importância para se abordar a relaçãocusto versus benefício que esse atribuirá ao produto; assim, a empresa poderátraçar estratégias mais focadas e direcionar esforços visando atingir tais pontose, com isso, obter melhores resultados.

2.1. – METODOLOGIA DA CADEIA DE VALORES

Etapas para o desenvolvimento da cadeia de valores:

1. Identificar a cadeia de valores do setor e atribuir custos, receitas eativos às atividades de valor, ou seja, dividir a unidade em atividadesdistintas, observando se participam significativamente nos custos, se ocomportamento dos custos das atividades são diferentes, se os con-correntes realizam de outra forma, ou ainda se tem um alto potencialpara criar diferenciação;

2. Diagnosticar os direcionadores de custos, regulando cada atividade devalor, dando uma visão mais estratégica sobre estes;

3. Desenvolver vantagem competitiva sustentável através de um melhorcontrole dos direcionadores de custos que os concorrentes, ou ainda,reformulando a cadeia de valores;

3.0. – OS PERIGOS DE SE IGNORAREM AS LIGAÇÕES DA CA-DEIA DE VALORES

Tendo em vista que a estrutura da cadeia de valores é um método para sedividir a cadeia em atividades estratégicas relevantes, a fim de se compreendero comportamento dos custos e as fontes de diferenciação, e uma empresa ébasicamente uma parte de um conjunto maior de atividades do sistema de relaci-onamento fornecedor – empresa – cliente - concorrente, deve haver um cuida-doso trabalho no sentido de analisar os pontos de interseção comuns na cadeiade valores que são mantidos entre esses quatro agentes.

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Graficamente, podemos expressar da seguinte forma:

FIGURA 3 - Relacionamento fornecedor–empresa–cliente–concorrente.

Como pode ser observado, existem pontos comuns entre os quatroagentes,os quais devem ser analisados e apontados como fatores necessários àsatisfação das necessidades de cada um na cadeia de valores.

Estes relacionamentos podem afetar nas atividades de cada um deles, de-pendendo do ponto na cadeia de valores, para onde as ações tomadas vão serdirecionadas.

Assim, para equacionar uma vantagem competitiva e sustentá-la é neces-sário que a organização conheça e analise todo o sistema da cadeia de valores,e não apenas a cadeia da própria empresa, visto que qualquer alteração queocorra em qualquer ponto, mesmo externamente, poderá afetar diretamente asestratégias e, em conseqüência, até mesmo os resultados da empresa.

Também é importante citar que, dentro de cada um dos agentes – empre-sas – concorrentes – clientes – fornecedores, existem suas próprias cadeias devalores que devem ser analisadas e equacionadas.

3.1. – ELOS DENTRO DA CADEIA DE VALORES

Um conjunto de atividades interdependentes, isso é uma cadeia de valores,e cada atividade relaciona-se com outra formando os “elos”. Esses são muitoimportantes para a vantagem competitiva, pois cada um deles demonstrará ospontos de influencia de uma atividade na outra.

São inúmeros os elos entre as atividades na cadeia de valores. Alguns doselos mais comuns são aqueles entre atividades diretas e indiretas - como, porexemplo, a operação de máquina e manutenção; garantia de qualidade e outras

FORNECEDORES

CLIENTES

CONCORRENTES

EMPRESAS

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atividades, como inspeção e serviço pós-vendas; atividades que devem ser coor-denadas, como logística e operações; e entre atividades que são formas alterna-tivas para a obtenção dos resultados, como publicidade e venda diretas.

Como exemplo, podemos considerar a elevação no custo para se obteruma maior precisão na fabricação de peças, equilibrando este com um recuo doscustos de controle de qualidade dos produtos acabados, que pode representarganhos ao processo como um todo.

A identificação dos elos exige o conhecimento de todas as atividades, emoutras partes da empresa, que têm ou que poderiam ter um impacto sobre ocusto da execução da própria atividade. Com isso, modificar o modo de uma dasatividades poderá afetar o custo não só dessa, mas também do produto final.

Também existem os elos entre a empresa e o ambiente, como, por exem-plo, os fornecedores e os clientes. A identificação destes elos pode ser feitaatravés de análise do modo como o comportamento destes afeta o custo de cadaatividade na empresa e vice-versa, sendo o elo, o ponto onde este oferece con-dições para ganhos de todas as partes, através da coordenação e otimização desuas respectivas cadeias de valores.

O desenvolvimento de uma boa estratégia de atuação nesses elos poderepercutir significativamente na redução dos custos totais pela coordenação ouotimização conjunta com todos os elos, o que pode representar em vantagemcompetitiva de grande relevância para a empresa.

3.2. – CONCLUSÕES A RESPEITO DA CADEIA DE VALORES PARADIFERENTES CONCORRENTES

A cadeia de valores é um instrumento básico para determinar os custos daconcorrência. A forma como as atividades são desenvolvidas e a identificação dascadeias de valores dos concorrentes são primordiais para se apontarem seus custos.

Neste sentido, SHANK e GOVINDARAJAN (1990 : 64) abordam o temarelatando que, ao se identificar a cadeia completa dos concorrentes, pode-seconseguir ir avante ou retroceder na gestão, a fim de melhorar o desempenhodas áreas em análise; ou seja, se necessário, um setor poderá ser desativado ouincrementado, respondendo à questão – fazer ou comprar?, e investindo naquelaopção que melhor resultado ofereça.

Em razão das dificuldades em se obterem informações, as estimativas de-vem ser adotadas a partir de dados que circulam pelo ambiente, bem como atra-vés de pesquisas junto a fornecedores e clientes dos mesmos. O fato de que aprodução ou o produto do concorrente é muito similar ao que se produz interna-mente facilita a estimativa, visto que, apesar de não se poder afirmar com segu-

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rança, as cadeias de valores serão muito parecidas. A pesquisa de vários con-correntes poderá apresentar um resultado mais próximo da realidade, uma vezque informações poderão ser analisadas comparando-se e cruzando-as entre si.

Ao concluir tais análises, as empresas podem constatar que existem ativi-dades em seu processo que são mais onerosas que as de seus concorrentes e,assim, optar por eliminar tal processo e adquirir o produto pronto de seus concor-rentes. Desta forma, podem adquirir vantagens competitivas, reduzindo o custoem uma das etapas de sua cadeia de valores, como podem também concluir oprocesso inverso.

4.0. – CADEIA DE VALORES VERSUS VALOR AGREGADO

Adotado pela contabilidade gerencial, o valor agregado tem uma conotaçãoao enfoque interno. O conceito de cadeia de valores dá uma amplitude maior àconceituação de custos, destacando quatro áreas de melhoria dos lucros:

A. Ligações com fornecedores - onde estas podem beneficiar ambos oslados, eliminando etapas na cadeia de valores destes e conseqüentescustos;

B. Ligações com clientes - não desconsiderando que somos fornecedoresde nossos clientes, o relacionamento é muito semelhante ao anterior; oobjetivo é, também, beneficiar ambos os lados, atendo-os da melhorforma possível com o menor custo;

C. Ligações de processo dentro da cadeia de valores de uma unidadeempresarial - as etapas do processo são interdependentes, agregandovalor ao produto final. Estas devem estar equacionadas para atingir oobjetivo final;

D. Ligações através das cadeias de valores da unidade empresarial den-tro da organização – distribuição dos custos entre unidades para bene-ficiar a todas.

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FIGURA 4 – Relacionamentos na Cadeia de Valores.

Assim, como pode ser observado na Figura 4, o horizonte da abordagem dacadeia de valores amplia as fronteiras da análise de custos, atingindo o ambienteexterno da empresa, o que não ocorre com a conceituação de valor agregado.

EMPRESA

ESTRUTURA

PROCESSOS

CLIENTES

CLIENTES DOS CLIENTES

FORNECEDORES DOS FORNECEDORES

FORNECEDORES

“A”

AMBIENTEEXTERNO

“C E D”

AMBIENTEINTERNO

“B”

AMBIENTEEXTERNO

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5.0. – QUADRO COMPARATIVO:

CADEIA DE VALORES VERSUS CONTABILIDADE GERENCIALCONVENCIONAL

Ao se analisarem os processos de gerenciamento de custos, depara-secom posições distintas entre o método da contabilidade gerencial convencional eo enfoque da análise da cadeia de valores, conforme a seguir apresentado:

FIGURA 5: Quadro comparativo da cadeia de valores versus contabilidade gerencial convencional.

CONTABILIDADE GERENCIAL ANÁLISE DA CADEIA DE VALORESNA ESTRUTURA DA GESTÃOESTRATÉGICA DE CUSTOS

FOCO INTERNO EXTERNO

PERSPECTIVA Valor AgregadoFoco nas atividades interligadas do

processo como um todo – dosfornecedores básicos até os clientes

finais

CONCEITO DODIRECIONADOR

DE CUSTO

Aborda direcionador de custoúnico

- o Custo é Função do Volume -

Visão apenas no nível global daempresa

Direcionadores de custo múltiplos:

Direcionadores Estruturais: escala,escopo, experiência, tecnologia,

complexidade;Direcionadores de Execução: gestão

participativa, gestão da qualidade total;

Um único conjunto de direcionadores decusto compõe cada atividade de valor .

FILOSOFIA DECONTENÇÃO

DE CUSTO

Centros de responsabilidade ou decusto do produto, o objetivo deredução de custo é abordado

através destes.

A abordagem do processo é feitaatravés dos trabalhos junto aos

direcionadores, através daAnálise de cada atividade de valor;

Explora as ligações com osfornecedores;

Explora as ligações com os clientes;Explora as ligações de processo dentro

da empresa.

CONCLUSÕESPARA

DECISÕESESTRATÉGICAS

Os controles convencionais nãooferecem informações paraconclusões direcionadas;

Este é motivo para abandono dosmesmos, quando da análise de

custos

Fornece informações direcionadas aonível de atividade/cadeia de valores;

Desenvolve a vantagem decusto/diferenciação ou pelo controle dos

direcionadores ou reconfigurando acadeia de valores;

Aponta questionamentos sobre cadaatividade de valor;

Explora as ligações e quantifica e avaliao poder de negociação entre fornecedor

e comprador.

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6.0. – CONCLUSÕES

A análise de custos na cadeia de valores aponta o modo como uma empre-sa pode estabelecer ou implementar o estudo e determinar uma estratégia decustos a fim de tornar-se mais competitiva. Aborda a interação entre custo ediferenciação, numa realidade de atividades distintas, desenvolvidas para se con-seguir produtos que satisfaçam as necessidades e anseios de seus clientes.

Desta forma, toma-se de fundamental importância a análise da cadeia devalores no processo de gestão de custos nas empresas, uma vez que tal ferra-menta oferece condições de se apontarem e se explorarem as vantagens com-petitivas que podem ser agregadas ou enaltecidas nos produtos, tanto do pontode vista interno quanto externo à empresa.

O método tradicional de custos, quando aborda o valor agregado como ofoco para buscar reduções de custos, age de forma incorreta, uma vez que exis-tem tratamentos diferenciados para itens de insumos a serem incorporados: nãoreconhece potenciais formas de atuar junto a fornecedores e clientes, visandoreduções de custos, como também não aborda a possibilidade de se aumentarinicialmente o custo, para no final, se obter maior valor agregado ao produtoacabado, evitando perdas, desperdícios, sucatas e produtos classificados forados padrões exigidos pelo mercado consumidor.

Assim, pode-se concluir que a eficaz administração dos custos oferecerádiferenciais que serão agregados aos produtos, estabelecendo vantagens quefavorecerão aos consumidores na aquisição destes. Contudo, nem sempre talvantagem será atribuída à redução dos custos, mas ao possibilitar a identificaçãodestas vantagens.

Notadamente, a sistemática deve extrapolar as fronteiras da empresa, pro-curando em cada uma das etapas do processo, do fornecedor inicial até o consu-midor final, identificar as possibilidades de obter resultados, visto que este é ogrande diferencial da análise de custos tradicional.

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IDENTIFICAÇÃO DE CONCORDÂNCIAS EDIVERGÊNCIAS SOBRE PREÇOS ENTRE

CONSUMIDORES E EMPRESÁRIOS *Adalberto Brandalize

RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma contribuição à discussão relati-va ao conhecimento em custos e preços pelos consumidores e empresários apartir de um estudo de cerca de 800 consumidores e 212 empresários na RegiãoMetropolitana de Londrina. A empresa deve descobrir, desenvolver, comparti-lhar e atualizar o conhecimento quanto a seu empreendimento e seus consumi-dores, sob pena de comprometer a sua própria continuidade.

PALAVRAS-CHAVE: Custos; Preços; Resultados; Empresário; Consumidor de Varejo; Necessidades.

ABSTRACT

This paper aims at becoming a contribution to the discussion concerningthe knowledge on costs and prices by the consumers and entrepreneurs basedon a study including about 800 consumers and 212 entrepreneurs in the LondrinaMetropolitan Area. The company should discover, develop, share and moderni-ze the knowledge of its own enterprise and consumers, for the sake of its continuity.

KEY-WORDS: Costs; Pricing; Results; Entrepreneur; Retail Consumer; Needs.

INTRODUÇÃO

As pesquisas a seguir analisadas foram objeto de artigos sob os títulos “OPerfil do Consumidor de Vestuário da Região Metropolitana de Londrina -RML” e“Perfil do Empresário de Vestuário da Região Metropolitana de Londrina – RML”.

*Docente do Curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Londrina - UEL.Mestre em Administração/Finanças.Mestrando em Gestão de Negócios pela UEL.Especialista em Finanças e O&M.Consultor Empresarial.E-Mail: [email protected]

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As definições de raiz refletem culturas de empresários e consumidoresbem distintas, com diferenças que formam, em alguns pontos, um vácuo entreambos, quando deveria haver uma sintonia fina.

1. Dados Informativos sobre as pesquisas

A pesquisa entre os consumidores foi realizada entre os dias 22/02 e 15/03/99, e 29/03 e 03/04/99, abordando as cidades que compõem a RML, buscandoidentificar particularidades do consumidor de vestuário, abordando temas relaci-onados a preços. Foram aplicados 834 questionários, sendo 444 em Londrina e390 nas cidades da região metropolitana, assim distribuídos: 76 em Ibiporã, 119em Cambé, 120 em Rolândia, 45 em Jataizinho e 30 em Tamarana. Destes, 494nas ruas e 340 no interior de lojas (Londrina, Cambé, Ibiporã, Rolândia), 114 numshopping center e 285 no centro de Londrina.

A pesquisa junto aos empresários foi realizada entre os dias 21/10 e 12/11/99. Foram entrevistados 212 responsáveis por estabelecimentos abrangendo ascidades que compõem a RML, buscando identificar particularidades do empre-sário de vestuário, nas ruas e nos shopping centers, abordando temas relacio-nados a preços. As perguntas foram breves e objetivas, uma vez que os empre-sários não dispunham de muito tempo para responder a questionários longos.

Foram implementados levantamentos em fontes primárias. Nas pesquisasfoi utilizado o critério de entrevistar a pessoa responsável pela loja no momentoda visita, com o objetivo de captar dados de quem realmente tem contato com osclientes.

Em ambas as pesquisas, o termo vestuário foi explicitado aos consumido-res como abrangendo os itens: calça, camisa, terno, saia e blusa. Por se trataremde pesquisas não-probabilísticas, as informações obtidas não se destinam a umageneralização, mas são aplicáveis à amostra, servindo como um indicativo decomportamento e tendências.

2. Algumas considerações sobre as pesquisas

Os empresários forneceram dados preciosos, permitindo-nos obter infor-mações de grande valia, que foram confrontadas com as dos consumidores,gerando alguns dados coincidentes e outros conflitantes.

As pesquisas mostraram que os empresários e os consumidores não estãoem sintonia fina, demonstrando a necessidade de um melhor conhecimento e

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entrosamento de ambos. O setor de vestuário da RML, projetando proporcional-mente o volume de recursos financeiros, terá um faturamento aproximado de 11milhões de reais por mês em 1.303 lojas (média do total de vendas de 212 lojasprojetado para 1.303 lojas do setor = R$ 1.777.300/212*1303), o que representaum volume significativo de recursos para a economia regional (a quantia de1.303 lojas foi obtida junto ao Sebrae/PR ou prefeituras).

As lojas têm um faturamento médio expressivo de R$ 8.383,49 mensais e arenda dos consumidores pode ser assim descrita: a renda de 44,60% dos entre-vistados situa-se na faixa de até 2 salários mínimos; 27,22% de 2 a 5 saláriosmínimos; portanto, em sua maior parte, o autor deduz que sejam consumidoresde produtos básicos e de baixo preço.

Parte expressiva dos empresários utilizam o mark-up ou simplesmenteseguem o mercado ou concorrente para determinar seus preços, sendo que asegunda hipótese é arriscada para a empresa, pois se esta possuir custosoperacionais maiores que os de seus concorrentes, estes podem levar a empresaà insolvência, caso esta não adeqüe seus custos. Esta hipótese é viável desdeque a empresa compatibilize seus custos com o preço praticado. A maior partedos empresários utiliza o mark-up, aplicando-o linearmente a todos os produtos.Isto pode distorcer o preço de alguns componentes e, ao longo do tempo, gerarum estoque de difícil comercialização composto de itens fora de moda. A alter-nativa recomendada pelo autor é adequar o mark-up de acordo com o produtoou linha de produtos, observando demanda, custos, quantidade, tempo de esto-que, etc.

A maior parte dos empresários, 88%, acha que o cliente, embora demons-tre insatisfação, acaba aceitando o reajuste de preço; porém os clientes, quandoperguntados sobre seu comportamento se a marca que eles compram tradicio-nalmente elevar o preço em relação à última compra, do total, 71,46% afirma-ram que mudariam de marca (Figura 1), e 60,43% dos consumidores de vestuá-rio afirmaram que se informam sobre preços antes de comprar. Como os clien-tes estão gradativamente descobrindo o poder que podem exercer e até alterarhábitos de empresários, obviamente o empresário que entender melhor o modode pensar de seus clientes e souber fazer uso destas informações terá grandevantagem competitiva. Os empresários do setor de vestuário precisam investirmais em pesquisas para conhecer particularidades sobre os consumidores e de-senvolver uma logística dirigida de modo a torná-los seus clientes regularmente.

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Figura 1 - Comparativo das pesquisas utilizando as médias. Fonte: Dados do autor.

Por outro lado, quando argüidos sobre o serviço que o consumidor maisvaloriza, aproximadamente 65% dos empresários afirmaram que o que o consu-midor mais valoriza é o atendimento; 64% dos consumidores também o afirma-ram, o que demonstra quanto a serviços um afinamento entre empresário e con-sumidor, conforme a Figura 2.

VISÃO DO EMPRESÁRIO QUANTO AATITUDE DO CONSUMIDOR FRENTE A

UMA ELEVAÇÃO DE PREÇOS

COMO O CONSUMIDOR REAJE A UMAALTERAÇÃO DE PREÇOS

(Se elevar o preço o consumidor muda?)

Comparativo das pesquisas utilizando as médias.

48%

40%

8%

4%

SIM

NÃO

71,46%

28,54%

48%

40%

8% 4%

71%

29%

Aceita

Demonstra insatisfaçãoreclamando do preço

Desiste da compra

Outros

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Figura 2 – Os serviços que o consumidor mais valoriza. Fonte: Dados do autor.

Quando comparados os graus de instrução de consumidores e empresári-os, nota-se um melhor nível de instrução por parte dos empresários, o que podeser visualizado na Figura 3.

Figura 3 – Grau de instrução de consumidores e empresários. Fonte: Dados do autor.

010203040506070

Gar

antia

Atend

imen

to

Assist

ência

T...

QUAL O SERVIÇOQUE OCONSUMIDOR MAISVALORIZA,SEGUNDO OSCONSUMIDORES

QUAL O SERVIÇOQUE OCONSUMIDOR MAISVALORIZA,SEGUNDO OSEMPRESÁRIOS

Grau de instrução de consumidores e empresários

0

20

40

60

80

Até o 1º grau Até o 2º grau Superior

CONSUMIDORES %

EMPRESÁRIOS %

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A pesquisa mostrou que os empresários dão um tratamento empírico àdefinição dos preços, pois a grande maioria aprendeu na própria empresa ou emoutra empresa, e apenas 12% aprenderam na escola. Estes teriam, teoricamen-te, condições de dar um tratamento mais técnico e moderno sobre metodologiade formação de preços. Isto é confirmado quando perguntamos como utiliza aapuração de custos e lucro, e a maioria não soube explicar, embora afirme quepossuem sistema de apuração de custos.

A maioria dos empresários tem até 50 anos de idade e o segundo grau deinstrução, o que mostra uma grande participação de elementos relativamentejovens e de bom nível cultural, demonstrando também que uma grande porcenta-gem dos negócios é gerida pelos próprios empreendedores.

Figura 4 – Faixa etária de consumidores e empresários. Fonte: Dados do autor.

Nota-se que não existem grandes disparidades entre os percentuais deempresários e consumidores por faixa etária (Figura 4), o que deveria facilitar orelacionamento e a identificação entre eles; porém, a pesquisa mostrou distorçõesna maneira de pensar e, principalmente por parte do empresariado, algum desco-nhecimento das aspirações e comportamento do consumidor em geral.

FAIXA ETÁRIA DE CONSUMIDORES E EMPRESÁRIOS

0

10

20

30

40

50

60

Até 15anos

de 16 a25 anos

de 26 a40 anos

de 41 a60 anos

acima de60 anos

CONSUMIDORES EMPRESÁRIOS

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Ao trabalhar com pesquisas dessa natureza, com tantos dados, algumasescolhas tiveram que ser feitas. Por exemplo, foram deixadas de lado,deliberadamente, quaisquer comparações entre atividades gerenciais, processose sistemas entre cidades diferentes.

Por fim, apresentaram-se alguns pontos importantes para reflexão e dis-cussão desta convivência entre empresário e consumidor de varejo. As implica-ções deste trabalho para o estudo prático de particularidades do preço no varejode vestuário são relevantes, embora esteja claro que merecem um aprofundamentoem futuros trabalhos.

CONCLUSÕES

Verifica-se a validade prática da crítica pelo desconhecimento e despreparode alguns empresários para enfrentar um mercado de constantes mudanças noambiente, (segundo estas mudanças as empresas de vestuário teriam um papelde liderança na criação e difusão da moda) que tem grande importância para oentendimento da moderna atividade empresarial de atendimento a consumido-res. Além disso, tal investigação é importante para a compreensão das grandesmudanças que a maioria das organizações tem vivido nos últimos anos, bemcomo para o entendimento do papel do consumidor como agente deste processo.

Por fim, ao estudar, detida e empiricamente, os limites da influência dos con-sumidores – na verdade, como agentes externos – na ação organizacional maisglobal, estamos colaborando com o melhor entendimento e ação sobre a maneirapela qual as organizações precisam se transformar e serem transformadas.

Por esses motivos, a linha de pesquisa mais ampla na qual este estudo estáinserido pode produzir diversos frutos. Ela pode ajudar-nos a entender melhor osconsumidores que estão causando sucessivas mudanças nas organizações da RML.Da mesma forma, para muitos empresários, pode não ser necessário experimentara desaprovação de seus clientes, mas precisam analisar melhor o seu negócio paraque consigam efetivamente compreender aquilo que é necessário para se mante-rem no mercado. A impressão que fica é que nos últimos anos os consumidoresevoluíram seus conceitos e percepções numa velocidade superior à dos empresá-rios. Estes consumidores, ao longo do tempo, têm o poder de determinar as empre-sas que continuarão atuando e as que desaparecerão; portanto, cabe aos empresá-rios recuperar o tempo perdido e trabalhar para melhor entender seus consumido-res. Só assim eles passarão a ser realmente seus clientes.

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UTILIZANDO UML PARA WEB: UM CASO PRÁTICO

*Sérgio Akio Tanaka*Ademir Morgenstern Padilha

RESUMO

O trabalho apresentado neste artigo foi desenvolvido no Laboratório deEngenharia de Software da UNIFIL em cooperação com o NIEEL - Núcleo deInformática Aplicada à Educação Especial de Londrina. Este projeto contemplao desenvolvimento do website do NIEEL. O website disponibiliza diversos mate-riais associados à educação especial, por exemplo, divulgação de trabaljos deportadores de necessidades especiais e órgãos de apoio, download de produtosdesenvolvidos pelo Núcleo em caráter demonstrativo, envio de informativos pore-mail aos usuários cadastrados, além de dispor de recursos que viabilizam acomunicação entre os usuários interessados. O trabalho fundamentou–se no pro-jeto de pesquisa do grupo de psicologia do NIELL [9]. A modelagem do desen-volvimento do projeto se baseia nos conceitos aplicados por Jim Conallen [4], deacordo com o RUP (Rational Unified Process), Processo Racional Unificado[10]. Para a modelagem da aplicação foram utilizadas a ferramenta CASE(Computer Aided Software Engineering) Rational Rose [11] e a linguagem deprogramação Delphi [3]. Para a análise e projeto foi utilizada a UML (UnifiedModeling Language), Linguagem Unificada de Modelagem, como padrão nodesenvolvimento, permitindo uma padronização na especificação, visualização,documentação e construção de artefatos de um sistema, que possam ser utiliza-dos nos processos ao longo do ciclo do desenvolvimento [2]. Portanto, o objetivodeste trabalho foi investigar como as técnicas de modelagem de aplicações paraweb e o RUP podem ser aplicados em um ciclo de vida de desenvolvimento dosoftware, utilizando um caso prático e apresentando os diagramas que fazemesta transição.

PALAVRAS-CHAVE: UML; RUP; Modelagem para WEB.

*Docente do Curso de Tecnologia em Processamento de Dados do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.E-mail: [email protected]: [email protected]

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ABSTRACT

The work presented in this paper was developed at the Software EngineeringLaboratory of UNIFIL in cooperation with NIEEL - Nucleus of Informatics Appliedto Special Education of Londrina. This project comprises the development of theNIEEL website. The website provides many resources related to special education,e.g., the spreading of papers by those with special needs and support departmentsand organs, the download of products developed by the nucleus with a demonstrativecharacter, news sent by email to registered users, besides providing features thatmake it possible for the communication among interested users. This paper is basedon a research project by the NIEEL Psychology group [9]. The modeling of theproject development is based on the concepts applied by Jim Conallen [4] inaccordance with the RUP - Rational Unified Process [10].

The CASE (Computer Aided Engineering Software) Rational Rose tool[11], and the Delphi programming language [3] were used for the applicationmodeling. For the analysis and project, the UML (Unified Modeling Language)was used as development pattern, allowing standardization in the specification,visualization, documentation, and construction of artifacts of a system that canbe used in all processes throughout the development cycle [2]. Therefore, theobjective of this paper was to investigate how the modeling techniques of webapplications and the RUP can be applied in a life cycle of software developmentusing a practical case and presenting the diagrams that make this transition.

KEY-WORDS: UML; RUP; WEB Modeling.

1. INTRODUÇÃO

Os objetivos da engenharia de software estão centrados na melhoria daqualidade dos processos de desenvolvimento e na qualidade dos produtos desoftware desenvolvidos. Outra meta importante a ser considerada é a reduçãodos esforços e custos envolvidos na produção de software. Neste trabalho, ob-servou-se que é possível reutilizarmos modelos, uma vez que estes sejam bemespecificados, testados e documentados.

Os recursos computacionais oferecem excelentes recursos no que se refe-re a atualização cultural e a aquisição de informações, que são veículos necessá-rios para integrar o ser humano à sociedade do nosso tempo. Os recursos daMultimídia e da Internet enquadram-se neste contexto. O estímulo à educaçãoespecial através da utilização de novos recursos tecnológicos é de suma impor-tância, já que através deles é possível orientar o indivíduo na busca constante denovos conhecimentos.

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Este projeto contempla o desenvolvimento do website do NIEEL - Núcleode Informática Aplicada à Educação Especial de Londrina, empregando a lin-guagem UML, que, através de seus estereótipos padrões, permite estender suasemântica para modelar aplicações para web.

Este trabalho apresenta um modelo para web utilizando um caso prático. Aseção 2 apresenta os conceitos do RUP que foram utilizados como um guia nodesenvolvimento da modelagem. As seções 3 e 4 discutem as extensões daUML para aplicações web e o projeto e a prototipação do website do NIEEL,respectivamente. A seção 5 apresenta o desenvolvimento do projeto NIEEL.Finalmente, na seção 6, as conclusões e os trabalhos futuros são apresentados.

2. RUP - Rational Unified Process

O RUP é um processo que fornece uma abordagem disciplinada para odesenvolvimento de software, nomeando tarefas e responsabilidades dentro deuma organização. Sua meta é assegurar a produção de software da mais altaqualidade, que satisfaça as necessidades de seus usuários finais dentro de umcronograma e orçamento previsíveis, através da integração das fases do desen-volvimento de software. As atividades do RUP dão ênfase à criação e manuten-ção de modelos, visando minimizar a sobrecarga associada a geração e manu-tenção de documentos e maximizar o conteúdo das informações relevantes [2,12, 7, 1].

O RUP utiliza a UML para desenvolvimento dos diagramas do sistema. Énestes diagramas e suas representações que os analistas e projetistas se basea-rão para finalizar cada ciclo eficazmente, considerando também as mudançasque podem ocorrer após a entrega de um software em relação ao ambiente, aossistemas operacionais, ao banco de dados e ao hardware.

A Figura 1 ilustra a arquitetura global do RUP, que representa o ciclo devida de desenvolvimento de um software. Em cada fase ocorrem várias iterações.Uma iteração representa um conjunto distinto de atividades com um plano delinha de base e um critério de avaliação que resulta em uma versão do sistema.As fases de concepção e de elaboração abrangem as atividades de engenhariado ciclo de vida do desenvolvimento; e as fases de construção e de transiçãoconstituem sua produção. A seguir, são apresentadas as definições das fases doRUP:

concepção: estabelece o contexto de negócios para o projeto;elaboração: estabelece um plano de projeto e uma arquitetura sólida;construção: desenvolve o sistema;transição: fornece o sistema a seus usuários finais.

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Figura 1 – O ciclo de vida de desenvolvimento de um software segundo o RUP [12].

2.1. Workflows

Os workflows são os tipos de artefatos mais importantes do RUP. Umworkflow é uma simplificação da realidade, proporcionando uma melhor com-preensão do sistema que está sendo criado. No RUP, existem nove modelos que,em conjunto, abrangem decisões importantes para a visualização, a especificação,a construção e a documentação de um sistema complexo de software [12]; osworkflows são:

• Modelo de negócio: estabelece uma abstração da organização. É umatécnica para entender os processos de negócios de uma organização. Oobjetivo é encontrar os casos de uso e as entidades de negócios do softwareque são relevantes e que devem ser suportados pelo sistema.

• Requisitos: são definidos os requisitos, funcionais e não funcionais, desoftware de um sistema.

• Análise e projeto: responsável pela transformação dos requisitos emum projeto do sistema. Desenvolve uma arquitetura robusta para o siste-ma e adapta o projeto ao ambiente de implementação.

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• Implementação: o modelo de implementação é uma coleção de compo-nentes e subsistemas. Um componente representa uma parte física deimplementação de um sistema, inclusive código de software (fonte ouexecutável) ou equivalentes, como manuscritos ou arquivos de comando.

• Teste: estabelece os caminhos pelos quais o sistema é validado e verifi-cado.

• Implantação: abrange a configuração do ambiente e do sistema a serentregue;

• Gerenciamento de configuração e mudanças: é referenciada porfornecer a linha base para a construção do produto e os seus mecanis-mos para controlar pedidos de mudanças, que são gerados como resulta-dos de beta-testes e testes de aceitação.

• Gerenciamento de projetos: definição do escopo do projeto e acom-panhamento em todas as fases do ciclo de vida do desenvolvimento dosistema.

• Ambiente: fornece o ambiente para que seja realizado todo o ciclo devida do desenvolvimento do sistema.

Para estabelecer um padrão na comunicação e facilitar o entendimento doprojeto, foi elaborado um glossário, artefato compreendido na fase de concep-ção do modelo de negócios, onde são definidos os termos relevantes utilizados nodesenvolvimento do projeto.

A lista de características, artefato elaborado na fase de concepção domodelo de negócios, contempla um conjunto de atividades que permitem identifi-car as necessidades do usuário de modo a obter uma definição clara das carac-terísticas (requisitos) do sistema. Essas características descrevem o sistema emtermos de funcionalidades, desempenho esperado, restrições de projeto, níveisde qualidade esperados e interfaces com outros elementos do sistema.

O artefato requisitos adicionais, realizado na fase de concepção do mo-delo de negócios, apresenta as descrições dos requisitos necessários para aten-der o propósito do sistema em termos de ambiente, dinamismo, prazo de entregae segurança.

O modelo de negócios, artefato concebido na fase de concepção do mo-delo de negócios, documenta os processos de negócios do NIEEL. O objetivo éencontrar os casos de uso e as entidades de negócios do software que são rele-vantes e que devem ser suportadas pelo sistema.

Nas fases de concepção e elaboração, foram realizados dois modelos decasos de uso, contemplando a divisão do sistema em dois subsistemas: o controlede dados e o website do NIEEL. O controle de dados tem a finalidade de admi-nistrar o banco de dados do sistema independente da internet. Já o website é a

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parte visível do sistema na web. Esta subdivisão é propagada para os diagramasde atividades, diagramas de interação (seqüência e colaboração), diagramas deestados, diagramas de classes, projeto de banco de dados e projeto de interfacegráfica.

O projeto website do NIEEL foi desenvolvido utilizando o ciclo de vida doRUP. O workflow da análise e do projeto foi o foco principal do trabalho e ondefoi feita a modelagem do sistema para web; assim, o estudo desta seção foinecessário para se poder visualizar a modelagem para a web dentro do ciclo devida do processo utilizado, além da clareza e qualidade do desenvolvimento. Aseção seguinte apresenta os principais conceitos da modelagem para web queforam utilizados no projeto proposto.

3. MODELAGEM DE APLICAÇÕES WEB COM UML

A UML é uma linguagem para modelagem de sistemas de software inten-sivos. Para a modelagem de páginas web, algumas extensões foramimplementadas, utilizando estereótipos de acordo com o modelo empregado.

Os criadores da UML reconheceram que o padrão UML não se ajustavaperfeitamente a todos os tipos de aplicações, e, assim, visando satisfazer asnecessidades destas situações especiais, definiram um modo formal para esten-der tais funcionalidades através de uma semântica diferente aplicada aos ele-mentos de modelagem. As aplicações web representam uma destas situações.Neste trabalho, foi tomada como base a extensão que Jim Conalen [4] definiupara o desenvolvimento de aplicações web.

3.1. Extensões da UML

A UML definiu um mecanismo para permitir que certos domínios possamestender a semântica de elementos a modelos específicos. O mecanismo deextensão permite a inclusão de novos atributos, de diferentes semânticas e derestrições adicionais. Parte do mecanismo de extensão de UML é a habilidadepara nomear ícones diferentes a classes estereotipadas.

A extensão da UML para web define um conjunto de estereótipos, valoresetiquetados (tagged values) e regras que permitem a modelagem de aplicaçõesweb. São aplicados estereótipos e regras a elementos que são particulares aaplicações web. Isto permite que estes elementos sejam representados nos mes-mos modelos e diagramas que descrevem o restante do sistema.

Estereótipos podem especificar ícones especiais para serem utilizados emdiagramas, ajudam na identificação de “elementos especiais” em modelos dediagramas, ou seja, é um adorno que nos permite definir um significado semânti-

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co novo para um elemento do modelo.Os valores etiquetados são grupos de valores fundamentais que podem ser

associados a um elemento modelado, permitem “etiquetar” (tag) algum valorsobre um elemento do modelo. Um valor etiquetado está representado em umdiagrama como uma string entre os sinais de maior e menor (ex.<string>).

Restrições são regras que devem ser seguidas ao agrupar os elementos domodelo. Elas podem ser expressas como texto livre entre chaves (<string>).

3.2. Arquitetura para Aplicações web

Segundo [4], alguns padrões foram definidos, testados e reutilizados deacordo com a arquitetura utilizada. Três padrões foram definidos especificamen-te para a arquiteturas web: Thin Web Client, Thick Web Client e Web Delivery.O padrão Thin Web Client é utilizado para aplicações padronizadas nas quais osobjetos estarão sendo executados no servidor web. Já o padrão Thick WebClient permite que alguns objetos sejam executados no cliente. Finalmente, opadrão Web Delivery é utilizado para sistemas de objetos distribuídos. Nesteprojeto foi utilizado o padrão Thin Web Client, por ser mais indicado para aplica-ções para internet.

Na visão do cliente, a página web é um documento HTML (Hyper TextMarkup Language) formatado. No servidor, porém, uma “página” pode mani-festar-se de vários modos diferentes.

A arquitetura básica de uma aplicação web inclui: browsers, uma rede eum servidor de rede. Browsers solicitam “páginas” ao servidor. Cada página éuma mistura de conteúdo formatado de instruções expressas em HTML. Algu-mas páginas clientes incluem scripts que são interpretados pelo browser. Estesscripts definem o comportamento dinâmico adicional para a página em exibiçãoe freqüentemente interagem com o browser. O usuário interage com o conteúdoda página. Às vezes o usuário insere a informação em elementos de campo napágina e os submete ao servidor para processamento. O usuário também podeinteragir com o sistema, navegando entre páginas diferentes através dehyperlinks. O usuário é a contribuição abastecedora ao sistema que pode alte-rar o “estado” do mesmo.

3.3. Modelando Páginas web

Modelos nos auxiliam a entender o sistema, simplificando alguns dos deta-lhes. A escolha do que modelar tem um efeito significativo na compreensão doproblema e na busca de sua solução. Aplicações web são representadas, assimcomo outros sistemas, com um conjunto de modelos.

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A modelagem deve fornecer subsídios que tragam benefícios aos usuáriosdo modelo. O modelo do interior do servidor de rede ou dos detalhes do browsernão ajudará os desenhistas e arquitetos de uma aplicação web. Porém, a mode-lagem das páginas do cliente com suas ligações e seu conteúdo dinâmico é im-portante. São estes os artefatos projetados pelos desenhistas, que são utilizadoscomo instrumento de implementação. Páginas, hyperlinks e conteúdo dinâmicono cliente, e no servidor, é o que deveria ser modelado.

Páginas web, scripts ou páginas compiladas são elementos em UML. Umelemento é a “parte física” e substituível do sistema. A visão de implementação(Visão do Elemento) do modelo descreve os elementos do sistema e seus relaci-onamentos. Em uma aplicação web, esta visão descreve toda a rede, o sistemae as suas relações (hyperlinks).

Os elementos representam o empacotamento físico das interfaces, elesnão são satisfatórios para modelar as colaborações dentro das páginas. Cadapágina web é uma classe da UML na visão de projeto do modelo (visão lógica),e suas relações para outras páginas (associações) representam hyperlinks. Estaabstração considera que qualquer página web pode representar um conjunto defunções e colaborações que só existem no servidor, e um conjunto completa-mente diferente que só existe no cliente.

O comportamento lógico de uma página web no servidor é completamentediferente da página do cliente. Enquanto executado no servidor, tem-se acessoaos recursos de páginas disponíveis no servidor (por exemplo, bancos de dados esistema de arquivos). Em uma página web (ou a produção de HTML daquelapágina), o cliente usa um comportamento e um conjunto de relações completa-mente diferente. No cliente, uma página de script tem relações com o browserpelo DOM - Modelo de Objeto de Documento - e com Java Applet, ou controleActiveX que a página tenha especificado.

Pode-se modelar o servidor e o cliente como páginas web através de clas-ses, usando o mecanismo de extensão da UML para definir estereótipos e íconespara cada um, isto é, «server page» e «client page». Classes estereotipadas eícones podem ser utilizados em um diagrama da UML, ou o nome do estereótipo,representado por guillmets («»), pode ser adicionado no diagrama. Os íconessão úteis para avaliar os diagramas quando atributos e operações de classes sãorepresentados neles.

Para páginas web, os estereótipos indicam que as classes são uma abstra-ção do comportamento lógico de uma página no cliente ou no servidor. As duasabstrações são relacionadas entre si através de uma relação direcional. Estaassociação estereotipada é denominada «builds» desde que uma página do cli-ente seja construída por uma página do servidor. Cada página web dinâmica é

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construída com uma página de servidor. Toda página de cliente é construída poruma única página de servidor, porém, é possível uma página de servidor construirpáginas de cliente múltiplas.

Um hyperlink em uma aplicação web é representado por uma associaçãoestereotipada «link». Esta associação origina-se de uma página de cliente e apontapara uma página de cliente ou uma página de servidor.

Valores etiquetados são usados para definir os parâmetros que são passa-dos junto com um pedido de ligação. O «link» tagged value “Parameters” éuma lista de nomes de parâmetros (e valores opcionais) esperados e usados pelapágina do servidor que processa o pedido.

Usando estes estereótipos, torna-se mais fácil modelar páginas de script eseus relacionamentos. Com o «server page», as operações de classe se tornamfunções no servidor da página script, e seus atributos tornam-se variáveis deescopo de página (globalmente acessíveis pelas funções da página). Com o «clientpage», as operações de classe e atributos tornam-se funções e variáveis igual-mente visíveis no cliente. A vantagem fundamental de separar os aspectos doservidor e do cliente de uma página em classes diferentes está na relação entrepáginas e outras classes do sistema. Páginas de cliente são modeladas comrelações para recursos de cliente (i.e., DOM, Java Applets, controle ActiveX).Páginas de servidor são modeladas com relações para servidor de recursos,elementos de acesso de banco de dados e sistema operacional de servidor.

3.4. Formulários

O mecanismo de entrada de dados principal para páginas de web é o for-mulário. Formulários estão definidos em um documento de HTML com tags<form>. Cada formulário especifica a página que é submetida para o servidor.Um formulário contém vários elementos de entrada os quais são expressos comtags HTML. As tags mais comuns são o <input>, o <select> e o <textarea>. Atag de entrada é sobrecarregada podendo ser: text field, checkbox, radio button,push button, image, hidden field, como também alguns outros tipos menoscomuns. Para a modelagem do formulário, utiliza-se outro estereótipo de classe:«Form». Um «Form» é utilizado em qualquer operação na qual poderia ser defi-nida uma tag <form> existente na página de cliente. Os elementos de entrada deum formulário são todos os atributos estereotipados da classe «Form». Um «Form»pode ter relações com Applets ou controles de ActiveX que agem como contro-les de entrada. Cada formulário também tem uma relação com uma página deservidor, ou seja, a página que processa a submissão do formulário. Nesta rela-ção é utilizado o estereótipo «submit». Desde que formulários são completamen-

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te contidos em um documento HTML, eles são expressos em um diagrama daUML como uma forma de agregação.

3.5. Frames

Frames permitem que múltiplas páginas sejam ativas e visíveis ao usuárioem um determinado momento. Usando scripts do tipo Dynamic HTML(DHTML), os elementos nestas páginas podem interagir entre si. O potencialpara interações complexas no cliente é significativamente maior e a necessidadede modelar isto também.

A utilização de frames como exemplos de browser múltiplos em uma apli-cação web é uma decisão para o engenheiro de software. O modelo deste com-portamento do cliente precisa ser representado no modelo de análise e projeto.Para modelar o uso de frames, mais dois estereótipos de classe foram criados,«frameset» e «target», e um estereótipo de associação, «targeted link». Umaclasse de frameset representa um objeto de recipiente e direciona diretamenteao HTML a tag <frameset>. A classe frameset contém páginas de cliente etargets. Uma classe target é um frame nomeado ou exemplos de browsers quesão referenciados através de outras páginas de cliente. Uma associação detargeted link é um hyperlink a outra página, mas que é feito com um objetivoespecífico.

4. ANÁLISE E PROJETO DO DOMÍNIO WEBSITE DO NIEEL

A modelagem de aplicações para web apresenta uma complexidade pecu-liar. Esta complexidade precisa ser compatibilizada com outros modelos da UMLde forma a proporcionar uma padronização ao longo de todo o ciclo de desenvol-vimento de software.

Para atingir seus objetivos, o website disponibilizará textos dissertativos,publicação de materiais técnicos, trabalhos de pesquisas específicos, links sobreeventos, assuntos ligados à educação especial, divulgação de trabalhos de porta-dores de necessidades especiais e órgãos de apoio, produtos de informáticadirecionados à educação especial, download de produtos desenvolvidos peloNúcleo em caráter demonstrativo e encaminhará informativos por e-mail aosusuários cadastrados, além de dispor de recursos que viabilizem a comunicaçãoentre os usuários interessados.

O diagrama de classes desenvolvido no modelo de análise é considerado a

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contribuição primária às atividades de projeto subseqüentes.A Figura 2 apresenta um diagrama de classe de análise, que compõe o

modelo de análise desenvolvido durante a fase de elaboração. Este diagramaapresenta a visão do projetista em relação à funcionalidade que permite consul-tar produtos do NIEEL, denotando a interação do ator (colaborador do NIEEL)com o requisito do sistema representado pelo caso de uso “ConsultarProdutos”.A rastreabilidade é demonstrada pela aplicação do relacionamento de depen-dência estereotipada <<trace>>, entre o caso de uso e a realização“rConsultarProdutosAnálise”. Esta realização documenta a passagem da visãodo usuário, documentada pelo analista de sistemas no caso de uso, para a visãodo projetista, documentada nas classes. A classe de fronteira“fConsultarProdutos”, que utiliza o estereótipo <<boundary>>, representa ainterface com o usuário. Finalmente, a classe persistente “pProdutos” com oestereótipo <<entity>> representa a persistência das informações utilizadas pelosistema.

A Figura 3 apresenta o diagrama de classe, elemento do modelo de projetodesenvolvido na fase de elaboração. A realização “rConsultarProdutoAnálise” éproveniente do diagrama de classe da análise. Toda realização do modelo deanálise deve ter sua realização correspondente no modelo de projeto. A realiza-ção “rConsultarProdutoProjeto” da Figura 3 está ligada ao pacoteConsultarProdutos, demonstrando a rastreabilidade deste requisito pela depen-dência estereotipada <<trace>>.

Na Figura 4 é apresentado um diagrama de classes de projeto paraaplicações web. Na ilustração, o uso de frames é empregado como exem-plos de browser múltiplos em uma aplicação web, além das classes estereo-tipadas com «frameset» e «target» e o estereótipo de associação «targetedlink».

No exemplo, tem-se uma visão em um browser que emprega dois frames.Um frame é nomeado com um target (menu), contendo uma página de cliente.O outro frame é nomeado com um target (conteúdo). Este frame (menu) dapágina de cliente é o índice do site. São direcionados hyperlinks nesta página,de forma que eles demonstrem o frame (conteúdo), contendo o que a será exibi-do na página de acordo com a opção selecionada no menu. O efeito é um índiceestático no lado esquerdo e o conteúdo das páginas apresentadas dinamicamen-te à direita da página.

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Figura 2 – Diagrama de Classe de Análise do Caso de Uso Consultar Produtos.

Figura 3 – Diagrama de Classe de Projeto do Caso de Uso Consultar Produtos.

Usuario (Internauta)ConsultarProdutos rConsultarProdutos Analise

pP rodutos

(from Controle dos Dados)

CodigoImagem

DescricaoAutor

LinkDownloadProdutoNIEEL

fConsultarProdutos

<<trace>>

<<trace>>

rConsultarProdutosAnalise

(from WebSi te)

rCons ult arProdutosProjeto

<<t rac e>>

ConsultarProdutos

<<trace>>

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Figura 4 –Diagrama de Classe Estereotipada para Aplicações Web Consultar Produtos.

5. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO NIEEL

Para diagramação da análise e projeto do website do NIEEL foi utilizada aferramenta CASE Rational Rose 2001 [11]. As interfaces gráficas foram de-senvolvidas na linguagem de programação Delphi 5.0 [3] e banco de dadosACCESS 2000, com acesso via interface JDBC - Java Database Connectivitye ODBC - Open Database Connectivity [8].

A Figura 5 mostra uma das interfaces gráficas do web site do NIEEL queapresentará os produtos desenvolvidos pelo NIEEL, por alunos especiais, e emoutras instituições com interesses afins. O menu à esquerda da interface mostraas opções disponíveis no web site.

Con sultarProd utos(from ProjetoConsultarProdutos)

cpP rodutos

<<Img>> Imagem<<Text>> Descricao<<Text>> Autor<<Hyperlink>> LinkDownload<<Text>> Nieel

spProdutos

RecuperarProduto()AcessarProduto()FazerDownloadProduto()

cpPagina

cpMenu

Conteudo

fst WebSi te

Menu

<<builds>>{target=conteudo}<<targeted link>>

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Figura 5 – Interface Gráfica de produtos do web site do NIEEL.

6. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

A elaboração do projeto, adotando-se os modelos do RUP e a documenta-ção sistemática e disciplinada da UML, durante o ciclo de desenvolvimento dosistema, permitiu identificar, através dos documentos de entrada e saída de cadafase, a interação entre os elementos do projeto em suas diversas etapas de de-senvolvimento, de forma clara e precisa, uma vez que o uso de ferramentasisoladas poderia oferecer apenas visões e soluções parciais, ou seja, o RUPatende a captura dos requisitos e a rastreabilidade do processo, mesmo em apli-cações voltadas a web.

A adoção de um processo baseado em modelos e padrões conhecidos eaceitos reduz a prática de habilidades individuais de caráter empírico,homogeneizando a comunicação entre os diversos integrantes do processo, raci-onalizando técnicas de documentação e maximizando o conteúdo das informa-ções relevantes.

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As classes de fronteira são uma excelente abstração para o analista desistemas sobre classes de projeto voltadas para web que exigem um conheci-mento específico do projetista e do arquiteto, o qual envolve detalhes da lingua-gem (HTML) e do mecanismo do funcionamento do browser. Tais detalhes, seexigidos do analista de sistemas, poderiam influenciar a análise e os requisitos,com considerações de implementação.

Por outro lado, o uso das extensões da UML para modelagem de aplica-ções web viabilizou o projeto da arquitetura em um nível de detalhe e abstraçãoapropriados aos projetistas de aplicações web, representando este tipo de domí-nio de maneira consistente.

À medida que os sistemas de software crescem em complexidade, princi-palmente em aplicações web, o processo de desenvolvimento também se tornamais complexo e passa a ser imprescindível a utilização de ferramentas e técni-cas para apoiar a realização das tarefas de desenvolvimento, de modo a se obte-rem a qualidade e a produtividade desejadas.

O RUP, por se tratar de um processo flexível, adaptou-se perfeitamente aocontexto, integrando as necessidades de especificações do desenvolvimento paraambiente web, com o restante da aplicação. Isto confirma sua aplicabilidademesmo em projetos com ambientes heterogêneos.

O uso do RUP juntamente com as extensões da UML para WEB permitiuadequar as visões do sistema de acordo com os requisitos dos papéis desempenha-dos pelos diferentes atores do processo. A visão do engenheiro de requisitos (mo-delo de caso de uso) é complementada pela visão do projetista (modelo de projeto).Esta separação de papéis é importante porque são funções e habilidades distintasque, se não forem bem coordenadas, podem interferir na construção do sistema,por exemplo, colocando restrições de projeto já na fase de concepção.

As colaborações do modelo de análise e projeto tornam a transição entreos modelos mais objetivos, sendo que uma conseqüência disto é a rastreabilidadeobtida durante todo o processo de software.

Padrões e frameworks podem ser construídos e/ou utilizados em desen-volvimentos de aplicações para web. Um exemplo disso foi o padrão usado nes-te projeto, o Thin Web Client, que, uma vez aplicado, observou-se que podemoster um ganho significativo na produtividade. Além disso, o uso de ferramentasCASE é fundamental para o desenvolvimento destes tipos de aplicativos, pois,permite a geração de código automático e reengenharia dos sistemas, aumen-tando, assim, a produtividade com um baixo custo.

Como trabalhos futuros, pretende-se explorar a aplicação de outros pa-drões de processos de software, como, por exemplo: Catalysis [5], Object-OrientedSoftware Process (OOSP) e Wisdom [6].

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAMBLER, S. W. http://www.ambysoft.com. Último acesso em 18/08/2001.BOOCH, G., RUMBAUGH, J.; JACOBSON, I. Unified modeling languageuser guide. Addison Wesley, 1999.CANTÚ, Marco. Dominando o Delphi 5 – a Bíblia. São Paulo: MakronBooks,2000.CONALLEN, J. Building Web applications with UML. USA: AddisonWesley, 2000.D’SOUZA, D.; WILLS, A. Objects, components and frameworks with UML- the catalysis approach. USA: Addison-Wesley, 1999.HARMELEN, M. V. Object modeling and user interface design. EditoraAddison-Wesley, Março de 2001.JACOBSON, I.; BOOCH, G.; RUMBAUGH, J. The unified softwaredevelopment process. USA: Addison-Wesley, 1999.JSP Brasil. www.jsp.com.br. Último acesso em 15/09/2001.JULIANI, J. Efeitos da modalidade sensorial do estímulo nodal e daexposição sucessiva a arranjos de treino na formação de classes deestímulos equivalentes. 1999. Tese de doutorado apresentada ao Instituto dePsicologia da Universidade de São Paulo.KRUCHTEN, P. The rational unified process – an introduction. EditoraAddison-Wesley, 1999.RATIONAL Software Corporation. UML notation guide. Disponível em http://www.rational.com/uml/html/notation. Último acesso em 24/02/2001.RATIONAL Software Corporation. Rational unified process. Version2001.03.00. Copyright © 1987 – 2000. Portions © Copyright IBM Corporation1999-2000.

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ENFERMEIROS E EDUCEDORES: UM DESAFIO

*Andréia Bendine Gastaldi*Alda Ap. Mastelaro Hayashi

RESUMO

Esta é uma reflexão sobre o papel de educador a ser desenvolvido pelos enfer-meiros, como uma necessidade social que se impõe no momento histórico que vive-mos. Reforça a adoção de novos paradigmas na formação dos enfermeiros para quenão se valorize tanto o aspecto tecnicista, mas, sim, o do cuidado no sentido maisamplo, como forma de relacionamento com o outro ser e com o mundo.

PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem; Educação; Cuidado; Educação em Saúde.

ABSTRACT

This is a reflection upon the role of the educator to be developed by nursesas a social need, imposed on us at the historical moment in which we live. Itreinforces the use of new paradigms on the formation of nurses so that they donot value so much the technical aspect but mostly the care in its wide sense as aform of relationship with the other being and with the world.

KEY-WORDS: Nursing; Education; Care; Education in Health.

INTRODUÇÃO

Diversas definições de Enfermagem a situam como “a ciência e aarte do cuidado”. Sem nos atermos à polêmica do aspecto ciência e arte, pode-mos neste momento refletir um pouco mais sobre a dimensão do termo cuidado.

É importante que se tenha claro o âmbito desta questão, pois delaemerge algo crucial para a profissão: o papel do enfermeiro na sociedade atual.

* Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia - UniFil.Enfermeira.Mestre em Assistência de Enfermagem pela UFSC/UFPR.E-mail: [email protected]: [email protected]

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Se acreditamos que todo homem precisa de cuidados, necessariamente todohomem precisa da enfermagem, em algum momento da sua vida, seja para nascer,ou para morrer. O cuidado é visto aqui não somente como uma atividade ou tarefacurativa, de conforto ou de tratar feridas, mas em uma dimensão maior.

Para WALDOW (1998, p.17), o cuidado é uma forma de expressão, derelacionamento com o outro ser e com o mundo, enfim uma forma de viverplenamente.

Ao nos reportarmos a um tempo específico da história da profissão, quan-do, através de Florence, iniciou-se a Enfermagem Moderna, podemos perceberque associada à aquisição de conhecimento, a profissão teve que lutar muitopara conseguir algum status, em decorrência da própria História, que lhe impôsum papel secundário, de ajudante ou paramédico.

A própria evolução histórica da profissão, no entanto, nos mostra um cami-nho de conquistas. A Enfermagem pode ser considerada uma “profissão de fu-turo”, por sua versatilidade. O enfermeiro atua hoje em diversos segmentos dasociedade, não se restringindo apenas ao seu “todo-poderoso front”: o hospital.

Dentre os diversos papéis desempenhados pelo enfermeiro, um deles ad-quire total relevância nos tempos atuais: o papel de educador. Educador no sen-tido de formação de novos profissionais, mas principalmente educador do pró-prio paciente/cliente.

Segundo IBAÑEZ (1997), vivemos atualmente sob um modelo histórico demorbi-mortalidade, onde persistem os padrões relacionados a doenças infecto-contagiosas, elevam-se as chamadas doenças crônico-degenerativas, além docrescimento das causas externas, como homicídios, acidentes, etc..

Concluímos então, que o homem não sabe mais como se cuidar. Usufrui detodos os benefícios da vida moderna, como a tecnologia, os meios de comunica-ção, a informática, as descobertas científicas, mas perdeu o controle sobre o seupróprio corpo e saúde.

Conforme CHOR et al. (1995, p.59), as doenças do aparelho circulatórionão representam, como já se acreditou, “doenças degenerativas”, conseqüênci-as “inevitáveis” da vida moderna e do envelhecimento da população, assim como“não são próprias de pessoas mais ricas e de países desenvolvidos”.

A globalização não é só da economia, mas também do processo saúde-doença. Valoriza-se tanto o aspecto mercado, que a saúde virou um bem deconsumo, onde “quem paga mais, leva”. O acesso aos serviços de saúde empaíses em desenvolvimento, como o Brasil, é a cada dia mais difícil, e a propostade universalidade e equidade do SUS acaba tornando-se uma realidade de ex-clusão.

Diante destes dados, impõe-se um desafio de transformação social que dá

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à Enfermagem um papel não mais curativo, mas de promotor da saúde, para oqual a educação é a mola-mestra.

O papel educativo do enfermeiro constitui um importante instrumento, semo qual corre-se o risco de se restringir a assistência a uma manutenção do estadovigente do indivíduo, ou seja, recuperam-se os desequilíbrios, que novamente semanifestarão, pela falta de informação quanto ao como se cuidar. É necessária aconscientização sobre o que realmente significa saúde, para se buscá-la ou semantê-la.

Essa conscientização é definida por FREIRE (1995, p.112) como ... oaprofundamento da tomada de consciência, pois, a simples tomada de cons-ciência, sem a reflexão crítica, fica no nível do senso comum. Exemplificando:“todos” sabem que o cigarro faz mal à saúde, e nem por isso “todos” deixam defumar. Falta, além da tomada de consciência de que o cigarro faz mal, a reflexãocrítica sobre “o que realmente o cigarro faz com a minha saúde em particular.”

É neste sentido que o enfermeiro pode e deve atuar junto ao cliente, seja nohospital, na unidade básica de saúde, na formação de grupos de convivência, ouem qualquer tempo e lugar em que se faça necessário. Jamais poderemos con-ceber cuidado sem este aspecto educador.

Enquanto professores, formadores de novos profissionais, nosso papel deeducador deve transpor o título, já que necessariamente nem todo professor éum educador. Se temos a intenção de formar profissionais críticos, engajados noprocesso de transformação social, e não simples reprodutores do modelo, faz-senecessário muito mais do que simplesmente transmitir conhecimento.

Para DELORS (1998, p.90), a educação deve organizar-se em torno dequatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, será de algummodo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer,aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Tradicionalmente, o ensino da enfermagem tem se constituído de um apren-der a fazer. Busca-se satisfazer as necessidades de mercado, formando profis-sionais cada vez mais executores que pensadores.

Se pensarmos no aumento da incidência das doenças de um modo geral,formam-se cada vez mais enfermeiros “curativos”. Há ainda a necessidade demais e mais especializações para acompanhar o avanço tecnológico na área dasaúde.

Não temos mais, então, o enfermeiro generalista, o que vê o homem comoum ser holístico, bio-psico-sócio-espiritual, mesmo que isso ainda seja constante-mente “pregado” nas nossas escolas. O papel do educador é, nesse caso, funda-mental.

Segundo FREIRE (1995), se ensinar e aprender fazem parte de um mes-

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mo processo de conhecer, no momento em que você ensina, você deve testemu-nhar aos estudantes como você estuda, como você se aproxima do objeto de seuconhecimento, o que significa para você a busca do conhecimento.

Se estamos formando profissionais executores, é porque estamos reprodu-zindo algo vivido por nós. Estamos apenas ensinando aprender a fazer e nãoaprender a conhecer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Aprender a conhecer, aprender a viver juntos e aprender a ser implicamestar envolvido com as questões sociais, das quais fazem parte as questões dasaúde, ser crítico, reflexivo, viver em sociedade, fazer parte dela e ajudar atransformá-la.

Mas nem tudo está perdido! Alguns esforços têm se concentrado na mu-dança dos paradigmas vigentes. Muitas escolas têm procurado mudar essa visãode formação tecnicista. A experiência dos currículos integrados já está sendoaplicada e pode ser o começo de uma nova etapa no ensino da Enfermagem.Além disso, muitos esforços individuais devem ser considerados. Existem pro-fessores realmente preocupados com a formação dos novos profissionais e, des-ta forma, engajados nesse processo de mudança; porém, esforços coletivos se-rão sempre mais produtivos.

A construção de um projeto político-pedagógico para cada escola, baseadona realidade em que ela se insere, é de fundamental importância para que seformem profissionais comprometidos com a realidade social em que vivem.

Estes enfermeiros serão, então, realmente “gente que cuida de gente”.Cuida, no sentido mais amplo da palavra, ou seja, na sua relação com o outro sere com o mundo!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCHOR, Dora et al. Doenças cardiovasculares: panorama da mortalidadeno Brasil. In: MINAYO, Maria C. S. (Org.). Os muitos brasis -saúde e população na década de 80. São Paulo: Hucitec, 1995. p. 57-86.DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo:Cortez, 1998, cap. 4, p.89-102.FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1995.IBAÑEZ, Nelson. Globalização e saúde. In: DOWBOR, L. et al. Desafiosda globalização. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997.WALDOW, Vera R. Cuidado humano: o resgate necessário. Porto Ale-gre: Sagra-Luzzato, 1998.

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A AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA DOCENTE EMESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENFERMAGEM

*Renata Guizilini Barison

RESUMO

O presente estudo teve como principal foco de interesse problematizar aprática da avaliação desenvolvida em campo de estágio de um curso de gradua-ção em Enfermagem. Por meio de análise documental e entrevistas com osdocentes, verificaram-se contradições entre o discurso e a prática docente. Con-clui-se que a avaliação está centrada no saber-fazer, subestimando a importân-cia de desenvolver o saber-ser do futuro enfermeiro.

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação; Prática Docente; Enfermagem.

ABSTRACT

The present study focused mainly on the interest to question the evaluationpractice developed in the training field of the undergraduate program on Nursing.Through document analyses and interviews with the professors, contradictionsbetween the discourse and the teaching practice were observed. The conclusiondrawn was that the evaluation is centered in the know-how to do, underestimatingthe importance of developing the know-how to be.

KEY-WORDS: Evaluation; Teaching Practice; Nursing.

1. INTRODUÇÃO

Ao se falar em avaliação, surgem inúmeras dúvidas, visto que essa práticaé permeada por controvérsias. Todos que trabalham no campo da educaçãosabem, com base em nossas práticas pedagógicas diárias, que a avaliação é umadas etapas do processo de ensino e de aprendizagem muito conflitantes paravários educadores, como também para os alunos.

* Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.Enfermeira.Especialista em Gerência Assistencial à Saúde do Adulto pela UniFil e em Metodologia da AçãoDocente pela Universidade Estadual de Londrina - UEL.E-mail: [email protected]

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Ela tem se efetivado através de métodos e instrumentos avaliativos quetendem a garantir o aprendizado dos conteúdos mínimos. Entretanto, estes méto-dos e instrumentos representam parte de um pensamento pedagógico que norteiatodo o processo do ensino e da aprendizagem.

Desde o início da vida estudantil até a graduação, o aluno vivencia e experimentadiversas situações da prática avaliativa. Algumas deixaram marcas, seja pelo resultadoalcançado (boa nota) ou pela atitude, ainda que inconsciente, de alguns professoresdescomprometidos com e/ou desconhecedores do processo de aprendizagem.

Talvez isso se deva a razões tais como a afirmação de BARTOLOMEI(1998, p. 2):

“Às vezes, nos sentimos inseguros ao avaliar o aluno, julgando não possuir-mos subsídios necessários para identificar as necessidades e dificuldades reaispelas quais estes estariam passando e que, conseqüentemente, estariam com-prometendo a aprendizagem”.

A afirmação do autor citado se coaduna com o pensamento de GAMA(1993), que considera a avaliação escolar um dos piores momentos da práticaeducacional, pois, ao invés de ser um processo dinâmico e contínuo, depara-secom a perplexidade e insegurança geral dos professores que têm de responderefetivamente às expectativas dos alunos, dos pais e da sociedade em geral. Nãose pode mais pensar em avaliação de forma simplista, ligada apenas à medida deconhecimentos, pois muitos outros fatores têm importância no processo. A for-ma como o professor avalia demonstra a sua intenção reprodutora, preservandoo autoritarismo e as desigualdades, ou sua crença de que o aluno é o sujeito desua própria história, utilizando a avaliação como instrumento mediador do cresci-mento do aluno.

No entendimento de LUCKESI (1990), a avaliação é importante auxiliarde aprendizagem e do resultado do aluno, visto que este se torna um dos sujeitos,ao lado de outros envolvidos no processo educativo. O autor também admiteque, através da avaliação, é possível verificar se o sistema de ensino está atin-gindo seus objetivos, assim como o grau de eficiência da prática docente e onível de aprendizagem em que o aluno se encontra.

Por outro lado, LIMA (1994, p. 16) denuncia que a “escola hoje está muitoreduzida ao processo de avaliação que aprova ou reprova o aluno, e muito vaziade proposta pedagógica”. Na verdade, as etapas do processo ensino e aprendi-zagem precisam estar articuladas para criar significados tanto para o aluno comopara o professor. Todas as etapas são de fundamental importância e a inadequaçãode uma delas interfere no todo do processo.

Ao assumir o trabalho como docente em uma disciplina na Área de Enfer-

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magem, surgiram algumas dificuldades, mais especificamente a avaliação.Questionamentos quanto à prática educacional geraram incômodos. A apreen-são por não estar cumprindo o papel de professora facilitadora da aprendizageme o receio de estar praticando inadequadamente a avaliação ou até mesmo injus-tamente, foram sentimentos rotineiros.

Foi decidido então centrar o estudo na prática da avaliação de EstágioSupervisionado no Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia –UniFil. O motivo desta escolha se deve ao fato de termos nele realizado nossagraduação e também por atuarmos hoje como docente nessa Instituição.

Sendo assim, objetivou-se verificar a percepção que os docentes da disci-plina de Semiologia e Semiotécnica possuem a respeito dos critérios mínimosnecessários para a avaliação do desempenho dos alunos em Estágio Supervisio-nado. A intenção foi, ainda a de identificar se estes critérios relatados pelosprofessores são realmente utilizados na prática da avaliação.

2. METODOLOGIA

2.1. Natureza do Estudo

É possível situar a avaliação da aprendizagem dentro de duas abordagensreconhecidas na literatura especializada, respectivamente, como quantitativa equalitativa. Em nosso caso específico, optou-se por um estudo com abordagemqualitativa, visto que se deseja retratar a realidade de modo mais completo eprofundo, descobrindo e interpretando os fatos num dado contexto.

Segundo MINAYO (1998, p. 21), “a pesquisa qualitativa responde a ques-tões muito particulares. Ela trabalha com o universo de significados, motivos,aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço maisprofundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser redu-zidos à operacionalização de variáveis”.

A pesquisa qualitativa, adotada neste trabalho, não se preocupa emquantificar, mas sim em entender e explicar a dinâmica das relações sociais que,por sua vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Esta linhade pesquisa trabalha com a vivência, com a experiência, com o cotidiano dasações humanas.

“O propósito da pesquisa qualitativa é compreender a situação – objeto doestudo – mediante a consideração das interpretações e aspiração daqueles que nelaatuam, para oferecer a informação que cada um dos participantes necessita a fim deentender, interpretar e intervir de modo mais adequado” (SAUL, 1999, p. 47).

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2.2. Local do Estudo

O campo desta pesquisa foi constituído pela disciplina de Semiologia eSemiotécnica, ministrada no 2o ano do curso de Enfermagem do Centro Univer-sitário Filadélfia – UniFil (na época, chamado CESULON).

Esta disciplina introduz o estudante na prática profissional de Enfermageme, por isto, precisa exercer papel determinante na definição de suas futuras atitu-des e comportamentos. Também acredita-se que a disciplina de Semiologia eSemiotécnica seja referencial básico de todo o percurso que o estudante fará atétornar-se profissional, devendo, assim, contribuir para desenvolver a responsabi-lidade nos alunos, o que irá determinar os futuros enfermeiros.

BARTOLOMEI e SORDI (1996, p. 24) afirmam que:

“A organização das experiências de ensino nas disciplinas que iniciam o es-tudante na prática profissional em Enfermagem exerce fundamental papel na de-finição de atitudes e comportamentos dos alunos diante de seu objeto de trabalho.”

Assim, todas as informações, impressões às quais o aluno é submetidoneste primeiro contato, são registradas, incorporadas pelo mesmo, servindo comoindicadores de condutas de que ele necessitará no seu percurso como estudantee profissional.

2.3. Sujeitos da Pesquisa

Os sujeitos desta pesquisa foram cinco professores que participaram dadisciplina de Semiologia e Semiotécnica, no ano de 2000, sendo quatro contrata-dos em caráter permanente e um em caráter provisório. Nesta disciplina ocorrefreqüentemente este tipo de contratação, porque o número de professores éproporcional ao de alunos matriculados e este último sofre alteração anual deacordo com a modulação prevista, que é de um professor para cada seis alunos.

2.4. Coleta de Dados

Os dados foram coletados, utilizando-se de duas diferentes técnicas, a saber:

a) análise documental: composta pela leitura e análise da ementa, ondeconstam os objetivos e conteúdos abordados na disciplina em estudo e aanálise do instrumento avaliativo aplicado em campo prático de enfer-magem pelos docentes;

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b) elaboração e análise de um instrumento em forma de questionário, comquestões abertas, para os professores integrantes da disciplina deSemiologia e Semiotécnica, com consentimento prévio dos mesmos. Estequestionário foi aplicado no mês de setembro do ano de 2000, no UniFile as respostas foram transcritas na íntegra, caracterizadas e analisadas.

2.4.1. Ementa da Disciplina

A ementa da disciplina em estudo visa o desenvolvimento e aplicação dosinstrumentos básicos de enfermagem através da utilização de uma metodologiacientífica, onde o paciente é visto como um ser biopsicossocial e espiritual. Tam-bém é considerado o ambiente hospitalar em seus aspectos preventivos, curati-vos e de reabilitação, o que viabiliza ao aluno desenvolver as técnicas básicas deEnfermagem, fundamentadas nos princípios científicos, através da realização deestágios supervisionados em Clínica Médica, Cirúrgica e Semi-Intensiva.

Em relação aos objetivos que a disciplina possui, foi decidido listá-los paramelhor compreensão e futuras discussões:

-Ao professor cabe:1) assumir responsabilidade pelo crescimento pessoal e profissional do

aluno;2) estimular o desenvolvimento do pensamento crítico do aluno;3) iniciar a utilização de uma metodologia científica na assistência de En-

fermagem;4) propiciar experiências de aprendizagem integradas com outras discipli-

nas;5) desenvolver atitude de trabalho interdisciplinar.

-Ao aluno compete:1) realizar exame físico completo e sistematizado;2) desenvolver e executar corretamente as técnicas básicas de enferma-

gem, fundamentando-as cientificamente;3) iniciar atitude profissional.

Esta disciplina possui dois semestres de duração, na segunda série do cur-so de graduação de Enfermagem, com um total de 350 horas divididas entreaulas teóricas, laboratório e estágio supervisionado. Os estágios são realizadosem um hospital particular e em postos de saúde da região.

Devido à diversidade de campos de estágio, o aluno é acompanhado por

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vários professores. Entende-se que os professores precisam compartilhar damesma proposta para então favorecer a avaliação e contribuir para a definiçãode critérios claros e socialmente válidos para as metas perseguidas.

No entanto, a existência de vários professores e a diversidade de seusvalores pessoais confirmam a impossibilidade da neutralidade da avaliação e aimportância da objetivação dos dados, uma vez que a relevância e a irrelevânciados critérios adotados nas avaliações de campos de estágio não somente depen-dem do estado emocional do professor, de seus valores individuais, como tam-bém da empatia do mesmo para com o aluno.

Frente à colocação acima, LUCKESI (1995, p. 37) afirma:

“Os dados relevantes a partir dos quais se deve manifestar o julgamento dovalor, tornam-se irrelevantes na avaliação, dependendo do estado de humor doprofessor. Ou seja, a definição do relevante ou irrelevante fica na dependênciado estado emocional e do arbítrio pessoal do professor”.

Tendo em vista que o estágio supervisionado da disciplina em estudo com-porta várias habilidades e comportamentos, como também a construção de co-nhecimentos específicos, a avaliação torna-se complexa no sentido de estar ga-rantindo a aprendizagem dos objetivos estabelecidos como necessários.

Diante de tantas variáveis, é preciso estabelecer entre o grupo de docentesalguns pontos da avaliação que sejam de consenso para evitar confusão e facili-tar a apreensão de conhecimentos e habilidades necessárias pelos alunos.

2.4.2. A dinâmica do estágio supervisionado e o instrumento avaliativo

Para melhor compreensão do processo de avaliação realizado pelos do-centes, julga-se interessante analisar o instrumento elaborado pelos mesmos, oqual é utilizado para a prática avaliativa de estágio na disciplina de Semiologia eSemiotécnica do 2o ano do curso de Enfermagem. Contudo, também é importan-te fornecer uma visão de como ocorre o estágio na disciplina tomada em estudo.

O estágio supervisionado requer grupos pequenos de alunos para facilitar oacompanhamento do professor, como também propiciar mais experiências aosalunos. Diante disto, o número total de alunos em sala de aula é dividido emgrupos com o máximo de seis integrantes, os quais permanecem um período decinco a quinze dias como o mesmo professor no campo de estágio.

No primeiro dia, é feita uma visita pelos grupos de alunos acompanhadospelo professor ao setor onde o estágio será realizado. O professor responsávelentrega ao grupo a ficha de avaliação, na qual serão registradas a auto-avalia-

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ção, a avaliação do professor, a nota de estágios e a média final. Também sãodiscutidas as orientações gerais para a avaliação de estágio e os objetivos dosmesmos e das áreas a serem avaliadas.

A avaliação do aluno em campo prático de estágio é realizada por meio dautilização de um instrumento denominado “Ficha de Avaliação de Desempenhodo Aluno em Estágio Supervisionado” (ANEXO A). Esta ficha foi elaboradapelos professores da disciplina tomada em estudo, é e composta por cinco itensconsiderados importantes para a avaliação do aluno em campo prático, bemcomo para sua formação profissional.

Os itens avaliativos do instrumento estão ligados a alguns aspectos rele-vantes da profissão de Enfermagem, os quais foram listados abaixo:

1. ligados a aspectos normativos: disciplina, assiduidade, aparência pes-soal, pontualidade;

2. relacionados ao comportamento e atitude profissional: envolverelacionamento interpessoal (paciente e família, colegas, professores,funcionários);

3. ligado à responsabilidade: reconhece e assume erros, responsabiliza-se pelas atividades assumidas;

4. relacionado ao interesse: questiona, participa, dá sugestões,criatividade, pesquisa diária;

5. ligados à metodologia da assistência: envolve o saber e o saber -fazer com base nos conhecimentos científicos e com o uso dos instru-mentos básicos de enfermagem, entre eles a destreza manual. Tambémrelaciona-se ao planejamento das atividades a serem realizadas e a iden-tificação dos problemas e necessidades do paciente.

Há ainda um espaço aberto para a AUTO-AVALIAÇÃO, onde o alunoelabora, por escrito um parecer de como foi seu desenvolvimento durante os diasde estágio. Também é dado espaço para comentários, onde o professor fornece aoaluno um feedback de sua atuação em campo prático, de modo que ele própriodescubra, permanentemente, seu nível de aprendizagem e adquira consciência dassuas limitações e das necessidades de avançar em suas atividades escolares.

A ficha de avaliação é utilizada somente ao final de cada rodízio. Nessedia, professor e aluno sentam para discutir cada item do instrumento, que já estápontuado pelo docente. Vale dizer que, no início do estágio, o professor dá aber-tura para que os alunos “tirem suas dúvidas” com relação à ficha de avaliação,porém nada é mudado, uma vez que os critérios avaliativos já foram formalmen-te estabelecidos pelos docentes.

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2.4.3. Instrumento aplicado aos docentes

O instrumento aplicado aos docentes é composto, em sua primeira parte,pelos dados de identificação, os quais envolvem nome, sexo, idade, tempo dedocência, tempo na instituição e na disciplina, nível de graduação. Com estesdados, objetivamos traçar um perfil do docente que atua na disciplina em estudo.

Em sua segunda parte, o instrumento é composto por quatro questõesdissertativas, relacionadas às práticas de avaliação docentes em campo de está-gio (ANEXO B).

2.5. Análise dos Dados

Optou-se pela apresentação dos resultados obtidos com a pesquisa em doismomentos singulares: um, refere-se ao perfil profissional dos professores queresponderam ao questionário; o outro, a leitura das respostas, com posterior aná-lise das mesmas.

O primeiro momento trouxe algumas constatações, as quais foram agrupa-das no Quadro I. Porém, para melhor compreensão dos resultados, os sujeitos doestudo foram indicados como “P” (Professor): P1, P2, P3, P4, P5, respectivamente.

Com a análise do quadro, pode-se constatar que as cinco docentes da dis-ciplina de Semiologia e Semiotécnica possuem faixa etária entre 28 e 39 anos eque atuam como professores há cerca de um a dez anos, enquanto que seutempo de atuação na instituição varia de um a seis anos.

Relacionado ao tempo de atuação na disciplina em estudo, verificou-se que(P2) está há dois meses. Isto se deve ao fato de ser contratada em caráter pro-visório, enquanto as demais docentes, contratadas em caráter permanente, atu-am por um período de um a quatro anos. Referente à capacitação, constatou-seque (P3) e (P5) possuem titulação de mestre, enquanto (P1), (P2) e (P4) sãoespecialistas.

Acredita-se que traçar o perfil profissional dos profissionais é fundamentalpara se compreender a heterogeneidade de atitudes e comportamentos dos do-centes, visto que esta diversidade está relacionada a história de vida, a bagagemteórico-prática e as experiências de cada um, influenciando na vivência práticada avaliação.

Considerando as diferenças individuais, torna-se importante que critériosmínimos, comuns a todos os docentes, sejam estabelecidos para a avaliação nosentido de diminuir ou evitar divergências que possam gerar conflitos.

O segundo momento constitui-se da leitura dos cinco questionários aplica-dos. O próximo passo foi a transcrição das respostas, como mostra o Quadro II.

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QUADRO 1 – Perfil profissional dos professores entrevistados.

Questões Interrogatórias Respostas Obtidas– Nome – P1, P2, P3, P4 e P5– Idade – R1 – 38 anos

– R2 – 39 anos– R3 – 38 anos– R4 – 28 anos– R5 – 36 anos

– Tempo de Atuação como Docente – P1 – 5 anos– P2 – 1 ano– P3 – 10 anos– P4 – 3 anos– P5 – 4 anos

– Tempo na Instituição – P1 – 3 anos– P2 – 1 ano– P3 – 6 anos– P4 – 2 anos– P5 – 3 anos

– Tempo na Disciplina de Semiologia eSemiotécnica

– P1 – 3 anos– P2 – 2 meses– P3 – 4 anos– P4 – 1 ano– P5 – 3 anos

Questões Interrogatórias Respostas Obtidas– Graduação – P1 – Especialista

– P2 – Especialista– P3 – Mestre– P4 – Especialista– P5 – Mestre

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QUADRO 2 – Leitura dos questionários; transcrição das respostas.

Analisando-se as respostas obtidas em relação à primeira pergunta, verifi-camos que todos os professores (cinco) concordam que “despertar no aluno umpensamento crítico” é um dos objetivos gerais da disciplina de Semiologia eSemiotécnica. Este objetivo também encontra-se descrito na ementa da discipli-na, sendo que compete ao professor a tarefa de desenvolver o pensamento crí-

Questões Interrogatórias Respostas Obtidas Freqüência1) Quais os objetivos

gerais pretendidos poresta disciplina?

– Despertar no aluno umpensamento crítico;

– Promover a relação do aluno como paciente e o hospital;

– Inserir o aluno no processo decuidar;

– Preparar tecnicamente o aluno;– Desenvolver o conhecimento

científico adquirido em sala aula.

5

2

3

24

2) O que você maisvaloriza quandoplaneja o estágio nestadisciplina?

– Os campos de estágio;– O conhecimento teórico que será

desenvolvido e questionado naprática;

– As experiências que serãoproporcionadas;

– O processo de avaliação.

15

3

2

3) Quais os critérios quevocê utiliza paraavaliar o desempenhodos alunos em campode estágiosupervisionado?

– Disponibilidade, iniciativa,interesse;

– Fundamentação científica dosprocedimentos dentro das técnicasde enfermagem;

– Demonstração das técnicas;– Utilização da metodologia da

assistência;– Planejamento das atividades;– Troca de idéias com o professor.

5

3

31

41

4) Em que momentos doprocesso ensino-aprendizagem vocêavalia os alunos naexperiência de campo(estágio)?

– No momento da realização datécnica;

– Todos os dias, em diversassituações;

– Ao final dos procedimentos, demaneira informal;

– No final dos rodízios,formalmente, para aferir a notafinal.

1

3

2

5

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tico reflexivo do aluno, o qual precisa ser estimulado através da interação entrepráticas de ensino e realidade concreta do mundo da enfermagem.

“Desenvolver o conhecimento científico adquirido em sala de aula” foi ou-tro objetivo comum a quatro professores, seguido por “Inserir o aluno no proces-so de cuidar” (três), ”preparar tecnicamente o aluno” (dois) e “promover a rela-ção do aluno com o paciente e o hospital” (dois).

Verificaram-se posicionamentos diferentes dos docentes em relação a es-tas últimas respostas, as quais não estão contempladas como objetivos da disci-plina na ementa. Talvez, o que se possa afirmar é que os professores ”elabora-ram outros objetivos”, os quais podem ter sido vivenciados na prática docentediária, através das relações estabelecidas com os alunos, evidenciados de modoformal e informalmente, durante a atuação de ambos em campo de estágio.

Dito isto, foram relacionadas algumas respostas que vêem ao encontro dascolocações anteriores e que valem ser discutidas:

”Inserir o aluno no processo de cuidar, com ênfase na metodologia da as-sistência, nas técnicas básicas de enfermagem, já com a preocupação dos valo-res éticos” (P3).

Observa-se neste relato que a formação do futuro enfermeiro deve sercaracterizada por um conjunto de qualidades científicas, técnicas, éticas,relacionais e humanas, abrangendo toda a dimensão do cuidado de enfermagem.

Em outro discurso, é possível verificar que a capacidade técnica do alunofoi citada como parte fundamental dos objetivos da disciplina em estudo:

“Desenvolver habilidade técnica e manual, colocando o aluno em contatodireto com o paciente” (P2).

Enquanto a técnica estiver privilegiando só o corpo biológico do paciente,sem dar conta do corpo social, os professores estarão reafirmando a técnica doFAZER por FAZER para o aluno. Em outras palavras, a preparação técnica nãoenvolve apenas destreza manual, tão essencial na execução de procedimentosem enfermagem, mas também a formação de futuros profissionais com posturaética e científica perante o paciente, visto que este não é apenas um corpo dota-do de órgãos e membros, mas, sim, um ser pensante, provido de alma e senti-mentos que interage socialmente.

SAUIPE (1998, p. 22) diz que “o ensino tecnicista vigente na enfermagemfunda-se na crença de que técnicas supostamente objetivas, neutras, situadasacima de condicionamentos econômicos, políticos e ideológicos, são a chavepara corrigir as disfunções no organismo social. Esse tipo de tecnicismo tem oinsanável defeito de já supor que a estrutura social está acabada”.

A mesma autora reconhece que a “técnica, enquanto SABER e interven-ção prática, se acha submetida às condições sócio-econômicas, políticas e ide-

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ológicas de sua constituição e seu ensino reclama necessariamente a explicitaçãodessas condições que a determinam. O ensino das técnicas mais complexas deenfermagem parte e segue com o aprofundamento do conhecimento da realidadesocial. Percebe-se, pois, o restrito caráter ideológico subjacente ao enfoquebiologizante que marca, de forma predominante e atual, o ensino de enfermagem”.

Em relação à segunda pergunta, constatou-se que os cinco professoresvalorizam “o conhecimento teórico que será desenvolvido e questionado na prá-tica”, quando planejam o estágio de Semiologia e Semiotécnica.

Cabe ressaltar que é nesta disciplina que acontece a interação dos alunosde enfermagem na prática hospitalar, funcionando como a porta de entrada, oreferencial básico da informação de uma série de comportamentos e atitudesque eles deverão ter durante todo o curso e como profissionais.

UNICOVISK e LAUFERT (1998, p. 236) afirmam que o “enfermeirodeve atuar como generalista, cuja competência e capacidade decisória só pode-rão ser conquistadas quando, paralelamente à aquisição de habilidades práticas,exista a devida orientação e construção do conhecimento, os quais oportunizemuma prática de enfermagem crítica e criativa”.

Também foi verificado que “as experiências que serão proporcionadas no está-gio” são consideradas importantes para três professores, visto que as diferentessituações vivenciadas em campo de estágio são fundamentais para o crescimentopessoal do aluno, contribuindo para a formação de opiniões e tomada de decisões.

Para REIBNITZ (1998, p. 226), “é preciso considerar o estudante de en-fermagem como pessoa que está inserida num contexto social mais amplo. Abrirespaços de relação entre os docentes e o aluno, onde ambos sejam responsáveispela aprendizagem. Este entendimento possibilita uma formação crítica, reflexi-va e inovadora”.

Em seguida, “o processo de avaliação” é valorizado por dois professoresquando planejam o estágio, ao passo que apenas um acha importante o “campode estágio” que será oferecido ao aluno.

Vale dizer que o meio ambiente em que o aluno está inserido influencia aspessoas no processo de avaliação. Na enfermagem, este meio é o ambientehospitalar, o campo prático onde relações diárias são estabelecidas entre profes-sores, alunos e o ser cliente, neste caso, o paciente.

SAUL (1998, p. 25) afirma que:

“A avaliação, em seu sentido amplo, apresenta-se como atividade associa-da à experiência cotidiana do ser humano. Freqüentemente nos deparamos ana-lisando e julgando a nossa atuação e a dos nossos semelhantes, os fatos do nossoambiente e as situações dos quais participamos. Esta avaliação, que fazemos de

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forma assistemática, por vezes inclui uma apreciação sobre adequação, eficáciae eficiência de ações e experiências, envolvendo sentimentos e podendo serverbalizada ou não”.

Analisando-se a terceira pergunta, verificou-se que todas as professoras (cin-co) citaram a “disponibilidade, iniciativa e interesse” como critérios utilizados paraavaliar o desempenho dos alunos em campo de estágio. Percebe-se que estescritérios são considerados no momento da avaliação, contribuindo para a emissãode um conceito, expresso numericamente ou não, no final de cada rodízio.

Também foi constatado que “planejamento das atividades” foi outro crité-rio avaliativo observado em campo prático por quatro professores. Esta coloca-ção pode ser evidenciada nos discursos abaixo:

“O planejamento dos procedimentos que serão realizados é essencial paraa eficiência do cuidado que será prestado” (P1).

“Planejar implica em organizar as ações de enfermagem” (P5).“O planejamento é fundamental para a execução das técnicas em enfer-

magem” (P2).Acredita-se que o planejamento está incorporado ao exercício profissional

da enfermagem. É através dele que nossas atividades são priorizadas, facilitando aexecução das tarefas diárias, o que viabiliza um melhor aproveitamento do tempo,contribuindo para a realização de outras atividades específicas da enfermagem.

Outros três professores citaram como critérios avaliativos em campo deestágio “a fundamentação científica dos procedimentos dentro das técnicas deenfermagem” e a “demonstração das técnicas”.

Percebe-se, no discurso acima, a defesa de um ensino técnico-científico,voltado para a prática do cuidado. Vale dizer que paralelamente à aquisição dehabilidades técnicas, a competência e a capacidade decisória só poderão serconquistadas se existir a devida orientação e construção do conhecimento,oportunizando uma prática de enfermagem crítica e criativa.

“Utilização da metodologia da assistência” e “troca de idéias com o profes-sor” foram critérios contemplados em menor freqüência. Contudo, entende-se quea metodologia da assistência é um dos alicerces da assistência de enfermagem.

Atualmente, a diversidade de paradigmas que permeia o dia-a-dia da Enfer-magem aponta diversas nomenclaturas utilizadas para designar a Metodologia daAssistência de Enfermagem. Segundo CARRARO (2001, p. 19), “a terminologiautilizada em cada paradigma pode variar de acordo com a finalidade e a área a quese destinam. Entre elas podemos citar: Processo de Enfermagem, Processo doCuidado, Metodologia do Cuidado, Processo de Assistir, Consulta de Enferma-gem.”

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É fundamental a compreensão de que todas as terminologias citadas acimasão sinônimos de Metodologia da Assistência de Enfermagem, pois elas envol-vem a aplicação de um método científico para o planejamento e desenvolvimen-to das ações de Enfermagem.

LEONARDI (1999) enfatiza que a metodologia da assistência de Enfer-magem é uma atividade unificadora da profissão. Demonstra a função da Enfer-magem mediante o uso da ciência e da arte, unindo teoria, tecnologia e interação.Resgata para a Enfermagem seu primeiro compromisso, que é cuidar das pesso-as numa base personalizada, humana e técnica.

A metodologia da assistência de Enfermagem é um processo dinâmico,aberto e contínuo, pois proporciona a troca de idéias entre professores e alunos,viabilizando uma melhor qualidade na assistência de Enfermagem.

Para CARRARO (2001, p. 21), “a teoria e a prática precisam estar inter-ligadas para que as ações de Enfermagem transcorram de modo congruente”.

Em relação à quarta pergunta, conforme o Quadro 2, percebeu-se quetodos os professores avaliam os alunos, de maneira formal, no final dos rodízios,onde é atribuída a nota final. Três professores realizam avaliações diárias, emdiversas situações, enquanto dois preferem avaliar o aluno informalmente, aofinal de cada procedimento executado em campo de estágio. Apenas um profes-sor avalia o aluno no momento em que ele está realizando a técnica.

Quando o assunto é avaliação verificam-se algumas divergências. As di-versidades encontradas nas respostas dos professores levam a crer que nãoexiste um perfil delineado e compartilhado em relação ao que se deva avaliar emcampo prático, visto que, muitas vezes, o instrumento avaliatório funciona comoroteiro de atividades a serem desenvolvidas pelo aluno e pelo professor.

Esta prática avaliatória está evidenciada nas seguintes falas:“Realizo a avaliação no final dos rodízios, formalmente, para aferir uma

nota final” (P4).“Faço avaliações diárias. É uma maneira de medir o que o aluno sabe.

Porém, atribuo uma nota final ao término do estágio” (P5).Nos depoimentos acima transparece a concepção de medida como

quantificação do conteúdo assimilado pelo aluno, como graduação do que foiveiculado pelo professor e também como atribuição de valores numéricos parapromover ou não o aluno ao ano seguinte.

Diferentemente da avaliação, parece que está ocorrendo a verificação daaprendizagem, o que não contribui para que o aluno descubra seu nível de apren-dizagem e adquira consciência das suas limitações e das suas necessidades deavançar em suas atividades escolares.

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Entende-se que a avaliação deve ser assumida como um instrumento decompreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, ou seja,tem a função diagnóstica e não classificatória. Deste modo, não será apenas uminstrumento para a aprovação ou reprovação dos alunos, mas sim um instrumen-to diagnóstico com a finalidade de encontrar caminhos adequados para sua apren-dizagem (LUCKESI, 1990).

A forma como se avalia alguém que está sendo formado implica em definiros objetivos técnicos, políticos e sociais que se pretendem. Na Enfermagem,percebe-se uma preocupação constante com a formação técnica do aluno, legi-timando-se o paradigma do modelo pelo qual o enfermeiro tem sido formado,evidenciado nas respostas abaixo:

“Avalio o aluno no momento da realização da técnica, com discussão edemonstração correta da mesma” (P1).

“É realizada uma avaliação ao final de cada procedimento, conscientizandoo aluno da importância de se utilizar a fundamentação científica para a execuçãode uma boa técnica” (P5).

O caráter tecnicista surge novamente nos discursos dos docentes. A exe-cução correta das técnicas propostas aos alunos é pré-requisito básico para asua avaliação em estágio. Como já afirmado anteriormente, o tecnicismo estárelacionado a habilidades manuais e técnicas, diferentemente de competênciatécnica, a qual envolve um posicionamento reflexivo e científico do aluno peran-te a execução dos procedimentos.

Este mesmo caráter tecnicista da profissão perdura até os dias de hoje, quan-do se valoriza o saber técnico em detrimento do desenvolvimento de atitudes dian-te do cliente, da equipe, de si mesmo, o que resulta na ausência de pensamentoscríticos e de visão transformadora, tão necessária à formação do enfermeiro.

As técnicas aprendidas mecanicamente não proporcionam a aquisição denovos conhecimentos pelos alunos. Basta ele decorar a seqüência de execuçãode determinada técnica e treinar suas habilidades manuais para realizar um bomprocedimento e alcançar uma boa nota de estágio. Diante disto, o saber científi-co fica relegado a segundo plano.

Para UNICOVISKY e LAUFERT (1998, p. 236), “a formação do enfer-meiro se voltará para o desenvolvimento de capacidades, em detrimento do en-sino de procedimentos isolados. Serão desenvolvidos a reflexão, o raciocínio, acriatividade e o pensamento crítico. O poder intelectual definirá a liderança.”

Com esta colocação, parece evidente que os métodos de avaliação utiliza-dos em campo prático pelos docentes deverão valorizar o pensamento crítico-reflexivo do aluno. Porém, pelos discursos anteriores, percebe-se que a avalia-ção de estágio tem priorizado o desempenho técnico, relegando as qualidades

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éticas e humanas do cuidar de em enfermagem.Diante destas constatações, não foi encontrado outro modo de expressar

nossa opinião, senão com as palavras de LUCKESI (1995, p. 180):

“O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina a um julga-mento definitivo sobre alguma coisa, pessoa ou situação, pois não é um ato sele-tivo. A avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso mesmo à inclusão; destina-se à melhoria do ciclo de vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infeliz-mente, por nossas experiências histórico-sociais e pessoais, temos dificuldadesem assim compreendê-la e praticá-la. Mas fica o convite a todos nós. É umameta a ser trabalhada, que, com o tempo, se transformará em realidade por meiode nossa ação. Somos responsáveis por este processo”.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a conclusão deste estudo, foi observado que, dos vários critérios uti-lizados pelos professores para avaliar os alunos em campo de estágio supervisi-onado, apenas dois estão contemplados na ementa da disciplina de Semiologia eSemiotécnica. São eles:

⇒ execução das técnicas corretas de enfermagem com fundamentaçãocientífica das mesmas;

⇒ utilização de uma metodologia da assistência.Talvez, os objetivos da disciplina não ficaram claros para todos os profes-

sores, pois foram elaborados novos critérios avaliativos, os quais foram utilizadospelos mesmos, como forma de avaliar o aluno em campo prático. Também veri-ficou-se que o processo avaliatório exerce função seletiva, com caráter tecnicista,ou seja, terá uma boa nota o aluno que executar corretamente as técnicas pro-postas pelos docentes.

Acredita-se que a avaliação exerce papel importante na formação profissi-onal e que é parte integrante do processo ensino-aprendizagem, desde que pro-mova a interação do professor com o aluno, viabilizando o crescimento e a cons-trução de resultados satisfatórios de aprendizagem. Isto implica dizer que a ava-liação deve contribuir para a formação de aluno crítico e reflexivo, construtor desuas ações e do seu futuro.

Partindo do princípio de que a disciplina de Semiologia e Semiotécnica in-sere o aluno em campo prático, conclui-se que é fundamental a participação domesmo, junto ao professor, na construção dos objetivos que se pretendem atingire das estratégias de avaliação a serem utilizadas em campo de estágio.

Também conclui-se ser necessário que os docentes desta disciplina refa-

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çam a leitura da ementa, com o intuito de adequá-la ao processo de avaliaçãorealizado em estágio supervisionado.

Dito isto, espera-se que este estudo traga contribuições significativas paraa prática da avaliação em Enfermagem e, conseqüentemente, para todos osdocentes envolvidos neste processo.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBARTOLOMEI, S. R. T. Reflexões sobre avaliação em Enfermagem:uma prática eticamente comprometida? Campinas, SP. 1998, 146f. (Dis-sertação de Mestrado em Educação).BARTOLOMEI, S. R. T.; SORDI, M. R. L. Formação ou conformação: des-velando os processos de iniciação do estudante de enfermagem à profis-são. Trabalho apresentado no 48o Congresso Brasileiro de Enfermagem, 1996.CARRARO, T. E. (Org.). Metodologia para a assistência de Enferma-gem: teorizações, modelos, subsídios para a prática. Goiânia, GO.: Edito-ra AB, 2001, p.154.GAMA, Z. J. Avaliação na escola de 2o grau. Campinas, SP.: Papirus, 1993,p.171.LEONARDI, M. T. Teorias em Enfermagem: instrumentos para a práti-ca. Florianópolis, SC.: Papa Livros, 1999.LIMA, A. O. Avaliação escolar: julgamento ou construção? 4.ed. Petrópolis(R.J.): Vozes, 1994, p.16.LUCKESI, C. C. Verificação ou avaliação: o que pratica a escola? São Paulo,Caderno Idéias, no 8, Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1990.__________. Avaliação: otimização ou autoritarismo. Rio de Janeiro, RJ.:Arte, 1995.MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.8.ed. Petrópolis, RJ.: Editora Vozes, 1998.REIBNITZ, R. S. __________. In: SAUIPE, R. (Org.). Educação em en-fermagem. Florianópolis, SC.: Editora da UFSC, 1998.SAUIPE, R. (Org.). Educação em Enfermagem. Florianópolis, SC.: Editorada UFSC, 1998.SAUL, A. M. Avaliação emancipatória: desafios à teoria e à prática de ava-liação e reformulação do currículo. São Paulo, SP.: Editora Cortez: 4.ed. 1999.UNICOVSKY, M. A. R.; LAUFERT, L. __________. In: SAUIPE, R. (Org.).Educação em Enfermagem. Florianópolis, SC.: Editora da UFSC, 1998.

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ANEXO 1

Ficha de Avaliação de Desempenho do Aluno em Estágio Supervisionado

CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACURSO: ENFERMAGEMDISCIPLINA:___________________________________________PROFESSOR:__________________________DATA ___/____/____

AVALIAÇÃO NOTA1) CONHECIMENTO: O aluno demonstrou: (2,0)

a – realizar as ações de enfermagem:Fundamentando suas ações ou procedimentos no referencialteórico proposto (a metodologia científica que norteia suas açõese princípios de assepsia que justificam as técnicas). (1,0)b- buscar o crescimento e aprimoramento técnico prático atravésde discussão dos casos, pesquisa bibliográfica, estudo deconteúdos novos e realização de trabalhos. (1,0)

2) OBSERVAÇÃO: O aluno desenvolveu capacidade de:(1,5)

A - detectar dificuldades e/ou problemas reais ou potenciaisexistentes (0,75)B - observar as condições do material e medicamentos (data devencimento e esterilização, final de gotejamento de soro emedicações nas enfermarias, dosagens, vias, limpeza, etc.)(0,75)

3) PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO: O alunodemonstrou capacidade de: (1,5)

a- planejar e organizar suas atividades por ordem de prioridade(0,5)b- preparar o material e/ou ambiente antes e após a execução doprocedimentoc- prever as atividades em tempo hábil (0,5)d- estabelecer uma dinâmica de trabalho, de acordo com tempodisponível ao campo de estágio (0,5)

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 119

Observações: A responsabilidade é um dos aspectos fundamentais na for-mação do enfermeiro e está implícita nas categorias de 1 a 6.

Anotações:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Professor: ____________________ Aluno:___________________

4) EXECUÇÃO: O aluno é capaz de: (2,0)a- executar com segurança as atividades previamente planejadas(0,3)b- realizar o exame físico de forma sistematizada e fundamentada(0,4)c- aplicar o histórico de enfermagem em linguagem adequada aopaciente e redigir de forma clara, e científica (0,4)d- identificar os problemas de enfermagem (0,4)e- agrupar os problemas identificados por afinidades dentro dospadrões estabelecidos pela NANDA (0,2)

f- fazer anotações de enfermagem, deforma clara, concisa, completa e científica(0,3)

5) INICIATIVA, INTERESSE, CRIATIVIDADE,PARTICIPAÇÃO: O aluno demonstrou capacidade de: (1,5)a- iniciativa e interesse ao assumir atividades que lhe foramoferecidas ou propostas. (0,5)b- participar ativamente das discussões, questionamentos e dasatividades de grupo. (0,5)c- aproveitar as oportunidades. (0,5)

6) APRESENTAÇÃO PESSOAL / POSTURA ERELACIONAMENTO: O aluno demonstrou capacidade de:(1,5)a- apresentar-se no campo de acordo com as normas pré-estabelecidas (uniformizado e de acordo com os princípios deasseio) (0,2)b- ponderar em situações embaraçosas junto ao paciente/famíliae comunidade (0,2)c- reconhecer a cidadania do paciente, garantindo suaassistência de forma digna e humanizadora (0,3)d- utilizar princípios éticos em seus posicionamentos(comentários a respeito de pacientes, princípios estabelecidospelo código de ética de enfermagem (0,3)e- relacionar-se satisfatoriamente com a equipe de trabalho,professores, colegas e outros (0,2)f- comunicar-se e se expressar com facilidade (0,3)

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ANEXO 2

Centro de Universitário FiladélfiaInstrumento de Pesquisa

Questionário para Docentes

Dados de Identificação:

Nome: .............................................................. Sexo ........ Idade ...........Tempo de docência: ...............................................................................Há quanto tempo atua na instituição? ................... E na disciplina ?...............Graduação: ( ) especialista ( ) mestre ( ) doutor

1) Quais os objetivos gerais pretendidos por esta disciplina?.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................2) O que você mais valoriza quando planeja o estágio nesta disciplina?.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................3) Quais os critérios que você utiliza para avaliar o desempenho dos alunos

em campo de estágio supervisionado?.......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................4) Em que momentos do processo ensino-aprendizagem você avalia os alunos na experiência de campo (estágio)?........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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1

IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA HUMANIZADA AOPACIENTE SUBMETIDO A CIRURGIA CARDÍACA

* Damares Tomasin Biazin** Lígia Maria Ferreira Coldibelli

*** Renata Perfeito Ribeiro**** Maria Cristina da Silva

***** Milene Aparecida de Andrade****** Elisangela Flauzino

******* Fernando Nelson Lara

RESUMO

O trabalho trata de uma experiência vivenciada por graduandos de enfer-magem do Centro Universitário Filadélfia, no projeto de extensão de “Visitas Prée Pós Operatórias de Cirurgia Cardíaca”, desenvolvido num hospital de Londri-na desde 2000. Abordamos o tema “Importância da Assistência Humanizada aoPaciente Submetido a Cirurgia Cardíaca” como pratica indispensável de inter-venção de enfermagem, para identificar a percepção do cliente acerca das in-formações recebidas antes da cirurgia. Assim, analisamos o conhecimento cap-tado através das falas dos pacientes, para enfrentarem a intervenção cirúrgica.Abrimos então um espaço que nos possibilitou conduzi-los ao reconhecimento desua dimensão existencial de vivenciar uma intervenção cirúrgica. A populaçãodeste estudo foi constitwída por 17 pacientes de pós operatório de cirúrgicacardíaca no período de 28/05/01 a 30/06/01. Como conclusão principal vimosque a sistematização da assistência de enfermagem em centro cirúrgico é amelhor forma de humanizar a assistência prestada ao paciente.

PALAVRAS-CHAVE: Cirurgia Cardíaca; Orientação Pré e Pós-Ope- ratória.

* Mestre em Enfermagem pela USP de Ribeirão Preto. Coordenadora do Curso de Enfermagem doCentro Universitário Filadélfia ( UniFil ). Docente da Disciplina de Metodologia e Ensino e da Pesquisa.** Enfermeira graduada pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Docente das disciplinasCentro Cirúrgico (CC) e Centro de Material Esterilizado (CM) da UniFil. Supervisora do CC doHospital Evangélico de Londrina.*** Enfermeira graduada pela Universidade Estadual de Londrina - UEL. Especialista de CC e CMe mestranda em Enfermagem pela Escola Paulista de Medicina.**** Enfermeira graduada pela UniFil. Enfermeira do Centro de Terapia Intensiva do HospitalMater Dei de Londrina.***** Enfermeira graduada pela UniFil. Enfermeira do Pronto Socorro do Hospital Evangélico de Londrina.****** Enfermeira graduada pela UniFil.******* Enfermeiro graduado pela UniFil.E-mail: [email protected]: [email protected]

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ABSTRACT

The present work deals with the experience undergraduate students of Nursingfrom Centro Universitário Filadélfia had in the project of extensional activities called“Pre and Post Surgical Visits to Patients of Cardiac Surgery” which has beendeveloped in a hospital in Londrina since 2000. The theme “The Importance of aHumanized Assistance to the Patient of Cardiac Surgery” as an essential nursingintervention practice was approached to identify the patient’s perception of theinformation given to him/her prior to surgery. Thus, we analyzed such perceptionusing the patients’ speech on how they would face surgery. Then, we provided acircumstance for them to recognize the existential dimension of undergoing suchsurgical intervention. The population was composed by 17 patients of a cardiacsurgery from May 28th to June 30th, 2001. The main conclusion was that asystematized nursing assistance on the different phases of the surgical process.

KEY-WORDS: Cardiac Surgery; Pre And Post Operative Orientation.

I - INTRODUÇÃO

Durante muito tempo, o coração foi considerado como fora do âmbito aces-sível da cirurgia. A cirurgia cardíaca alcançou os limites marcados pela nature-za, nenhuma nova técnica ou descoberta pôde superar as dificuldades naturaisenfrentadas ao se reparar uma laceração cirúrgica. Em meados de 1896 foirealizado com êxito a primeira cirurgia do coração. A primeira descrição doindivíduo em si, em relação à área cardíaca, se deu na segunda metade do séculopassado, onde ligações entre o coração e a psique promoveram pesquisas poste-riores em relação a este aspecto.

Até muito recentemente, acreditava-se que operar o coração não signifi-cava sobrevida para o paciente. Porém, durante as três últimas décadas, têm-seregistrado mudanças e processos extraordinários no campo da cirurgia cardía-ca. A descoberta de provas diagnósticas mais complexas, a criação de métodosmais seguros para a administração da anestesia e o advento de uma máquinaartificial segura capaz de substituir temporariamente o coração humano e ospulmões são importantes fatores contribuintes para esse avanço.

A isto se somam os conhecimentos acumulados e as novas técnicas ad-quiridas por muitos cientistas dedicados à investigações, o que possibilitou acorreção de muitas patologias que acarretam vida inútil ou morte para os enfer-mos.

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Entretanto, a intervenção cirúrgica continua sendo considerada como ummomento de crise para o indivíduo, pois por mais bem planejada que seja umacirurgia, os riscos sempre existem, e são eles que provocam um comportamentocaracterizado pela ansiedade e o “stress”.

Quando o tratamento cirúrgico se faz necessário, as reações psicológicasdo paciente são exacerbadas, pois terá que enfrentar o desconhecido, e se sentemuito próximo da finitude, o que também gera medo e insegurança. A enferma-gem, sendo uma profissão humanística, tem como meta a compreensão do ser,na perspectiva de diminuir a angústia que faz parte da existência humana e quetranscende ao cotidiano através do medo.

ZAGO (1993, p.64) afirma que “o ensino do paciente cirúrgico temsido considerado como uma estratégia de atuação do enfermeiro, com oobjetivo de facilitar a recepção e minimizar as conseqüências que possamrepercutir na qualidade de vida após a cirurgia.” Entende-se que o fatorpsicológico pode ajudar o paciente a aceitar melhor o que ocorre com ele e aadaptar-se ao ambiente hospitalar, tentando assim quebrar o processo dedespersonalização inerente à hospitalização.

Isto se torna possível com a utilização da metodologia da assistência deenfermagem em centro cirúrgico, que consiste em um estudo sistemático, orga-nizado e planejado de modo a formular princípios que possam ser efetivos naajuda ao paciente cirúrgico e na melhoria da assistência de enfermagem.

A sistematização da assistência contém como etapas básicas: o levanta-mento de dados, o diagnóstico de enfermagem, a prescrição de enfermagem, aimplementação dos cuidados e a avaliação do processo assistencial através daevolução de enfermagem.

Na etapa do histórico de enfermagem, é realizada a visita pré-operatória,na qual criteriosamente são coletados dados sobre a história do paciente. Oenfermeiro do Centro Cirúrgico, suscitando as preocupações que pode ter fun-damento direto com o curso da experiência cirúrgica, deve encorajar averbalização do paciente e deve ouvir, ser compreensivo e prestar informaçõesque ajudem a dissipar as preocupações do mesmo.

No momento da evolução de enfermagem é realizada a visita pós-opera-tória, que visa contribuir para que a assistência no pós-operatório tenha continui-dade dentro dos padrões científicos, e o profissional deve avaliar os cuidadosoferecidos no trans-operatório, garantir a comunicação e facilitar o entrosamentoentre o enfermeiro e o paciente.

A visita pré-operatória, juntamente com a visita pós-operatória, procurajustamente proporcionar o interrelacionamento das unidades de internação comcentro cirúrgico, de tal modo que o processo não seja interrompido, e que a

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equipe de enfermagem obtenha informações registradas e conheça o pacientecom quem irá interagir.

Cabe, no entanto, ressaltar que, ainda que os cardiopatas, devido à grandeevolução da cirurgia cardíaca, possam ser considerados enfermos basicamentesemelhantes a outros submetidos a cirurgia, são geralmente indivíduos com pato-logias graves que, por isto, necessitam de cuidados especiais e tratamento muitopreciso. Cabe ao enfermeiro do Centro Cirúrgico uma grande parcela destecuidados a fim de satisfazer o máximo possível às necessidades individuais físi-cas, psíquicas e sociais do paciente, visando proporcionar-lhe uma assistênciaeficaz e eficiente, assim como a reabilitação.

Justifica-se por este motivo a implantação deste projeto de extensão vi-sando melhoria da assistência prestada.

O objetivo deste trabalho é descrever uma experiência onde os autoresprocuram identificar as necessidades e expectativas do paciente em pós-opera-tório de cirurgia cardíaca, analisar a eficácia das orientações oferecidas pelosmonitores do projeto de extensão, como forma de redução do “stress” do paci-ente e, a partir da observação destes pacientes, avaliar a pratica do profissionalvoltado para as necessidades do paciente.

II - METODOLOGIA

O estudo foi realizado na cidade de Londrina, em um hospital geral degrande porte, entidade filantrópica que atende pacientes particulares, conveniadose previdenciários.

A instituição também serve como campo de estágio dos cursos de enfer-magem, nutrição e outras áreas, o que possibilitou o desenvolvimento deste tra-balho, que trata de um relato de experiência de um projeto de extensão de visitapré e pós-operatória aos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, realizado poralunos do 3º e 4º anos de graduação em Enfermagem do Centro UniversitárioFiladélfia (UniFil), sob supervisão de docentes especializadas no assunto.

O projeto vem sendo desenvolvido desde maio/2000, atendendo pacien-tes internados para serem submetidos a cirurgia cardíaca, através das visitas prée pós-operatórias, onde são dadas informações aos pacientes sobre os procedi-mentos a serem realizados.

A população deste estudo foi constituída por 17 pacientes pós-operatóriosde cirurgia cardíaca no período de 28/05/01 a 30/06/01 através de contato viatelefone. Foi elaborado um instrumento (ANEXO) contendo 6 questões abertase fechadas tipo “check-list”.

Dentre as limitações encontradas no projeto, está a dificuldade de contato

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com alguns pacientes devido a horário de internação, haja vista que o período deinternação que antecede a cirurgia é curto no intuito de diminuir o risco de infec-ção hospitalar. Outro obstáculo identificado na fase de pós-operatório tardio (do-miciliar) é que, dos 17 pacientes entrevistados via telefone, o diálogo foi possívelsomente com 11, devido a mudanças no número do telefone de 5 dos pacientes e1 óbito.

O discurso de cada sujeito foi submetido a análise de conteúdo e destaca-das frases, agrupadas e classificadas por semelhança de sentido, incluindo ter-mos em comum.

III - DISCUSSÃO E RESULTADO

Nos últimos anos, a enfermagem brasileira, em seus diversos campos deatuação, vem desenvolvendo grandes mudanças na assistência ao paciente. Asvisitas pré e pós-operatórias, tarefa designada ao enfermeiro do Centro Cirúrgi-co, tornam-se cada vez mais importantes para o paciente e sua família.

Segundo WILLIAM et al. (1994, p.25), “o preparo e a instrução pré-operatória têm uma influência positiva sobre o processo pós-operatório dopaciente de cirurgia cardíaca. Uma equipe multidisciplinar pode dar infor-mações concisas sobre os cuidados cirúrgicos e a recuperação no curtotempo disponível. Tais informações ajudam a aliviar a ansiedade e mos-tram que pacientes com orientações pré-operatórias e envolvimentos ade-quados apresentam menos problemas físicos e patológicos que influenciamna sua recuperação.”

Os pacientes da cirurgia cardíaca apresentam muitos medos, ansiedadese problemas interiores que muitas vezes atrapalham a sua recuperação. A asso-ciação do coração com a vida e a morte intensifica as necessidades emocionaise psicológicas. O enfermeiro do Centro Cirúrgico é um profissional que podeassegurar ao paciente mais confiança e aliviar as ansiedades, sendo este enfer-meiro o ser humano que irá estar próximo do paciente durante todo esse proces-so. Segundo FERRAZ (1982, p.20), “os pacientes devem conhecer sobre suacirurgia para que aceitem suas mudanças, mesmo que sejam temporárias enecessárias, ajustando-se mental e fisicamente”.

A preparação psicológica é vista como benéfica se baseada nas necessi-dades individuais do paciente, pois, na medida que ele se sente esclarecido emsuas dúvidas, diminuem os temores, prevenindo possíveis complicações no pós-operatório. Uma boa comunicação seria a prova de que a qualidade do cuidadocom o paciente estaria de excelente nível. A verbalização dos pacientes emrelação à experiência de vivenciar uma assistência humana e individual se tor-

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nou possível de ser avaliada com a 2º etapa deste projeto, que consiste em ana-lisar a eficácia das informações oferecidas. Foram destacadas frases e agrupa-das por semelhança de sentido:

“... esse trabalho não tem dinheiro que pague...”“... achei muito bom, porém são muitas informações ao mesmo tem-

po, o anestesista, médico, vocês que passaram o maior tempo, mas foi váli-do, deu para recordar algumas coisas...”

“... ajudou-me muito, muitas orientações lembrei assim que acordeina UTI”...

“... foi gratificante”...Recusou-se a falar mais sobre o assunto.“... só Deus para poder retribuir-lhes pelo que fizeram comigo”...

Relembrou todas as orientações recebidas na visita pré-operatória.“... minha mãe obitou um ano após a cirurgia (...) mas as orientações

que recebemos foram boas.”“... não há nada que pague por este serviço... Só Deus pode fazê-lo...”

Ao observar estas falas, fica bem claro quão importante foi para estespacientes ter recebido a visita de um profissional durante o momento pré-opera-tório, não só em relação às orientações recebidas, mas também como apoioemocional, fato evidenciado através da segurança com que estes expressaramseus sentimentos em relação ao procedimento cirúrgico.

Nota-se que os pacientes sentiram-se seguros diante do procedimentocirúrgico e acredita-se que a orientação pré-operatória foi fundamental paraque este sentimento se evidenciasse. A visita traz também a possibilidade de umcontato prévio com um profissional que o acompanharia durante a fase trans-operatória, o que foi significativo para que sua segurança neste momentoestressante de hospitalização.

Até pouco tempo atrás, a função do enfermeiro na Unidade de CentroCirúrgico era dirigido mais para os aspectos gerenciais, o que, na maioria dasvezes, tornava-o distante da assistência ao paciente.

A evolução técnica e científica alcançada pela enfermagem, especial-mente no que diz respeito à sistematização da assistência, despertou no enfer-meiro do Centro Cirúrgico a necessidade de prestar assistência mais direta aopaciente, no período perioperatório. Isso fez com estes procurassem uma formaque tornasse possível viabilizar a sua necessidade. Para tanto, foi utilizada comoestratégia “a visita pré-operatória de enfermagem” que, além de possibilitar-lheperceber o estado de apreensão apresentado pelo paciente e/ou família frente àcirurgia, propicia-lhe maior número de informações possíveis a respeito destes,

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bem como facilita sua interação com o enfermeiro da unidade de internação.Desta forma, a visita pré-operatória de enfermagem é um procedimento ou

recurso de que o enfermeiro de C.C lança mão para angariar dados acerca dopaciente que irá submeter-se a cirurgia. Por intermédio destes dados, detecta osproblemas ou alterações relacionadas aos aspectos bio-psico-sócio-espirituaisdo paciente e planeja a assistência de enfermagem a ser prestada no períodoperioperatório.

Do ponto de vista metodológico, cada entidade deve desenvolver o proce-dimento da visita pré-operatória, de acordo com um método adaptável à suarealidade. O importante é que esta visita seja realmente realizada pelo enfermei-ro do C.C., para possibilitar a obtenção de dados sobre o paciente que irá seroperado, oferecendo-lhe também informações sobre o ato operatório.

Os dados serão apresentados em forma de tabelas onde constam os re-sultados em freqüência relativa e absoluta.

2.1. TABELA 1: Distribuição dos Pacientes Quanto à Qualidade do Período de Internação.

Dados da Tabela 1: Os dados nos mostram que a maioria dos pacientesconsultados (91%) relatam ter uma boa qualidade de assistência durante ainternação .“Sabe-se que os primeiros momentos da internação hospitalarsão os mais críticos para o paciente, os profissionais são desconhecidos, oambiente é estranho, há dúvida a respeito do que se pode ou não fazer esobretudo há um enorme abalo emocional, frente à notícia da realizaçãode uma cirurgia cardíaca” (BOBROFF, 1992, p.25). Apesar do relato deBobroff, constata-se que, através de uma assistência humanizada e individual, épossível proporcionar ao paciente um período de internação menos crítico, ame-nizando suas ansiedades.

Através dos dados da tabela acima, podemos demonstrar que os pacien-tes sentiram-se e percebiam-se como pacientes cuidados e individualizados.

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %

Bom 10 91Regular - -Ruim 1 9

TOTAL 11 100

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2.2. TABELA 2: Distribuição dos Pacientes Quanto ao Período mais Crítico de Internação.

Dados da Tabela 2: Na população estudada, o maior índice dos pacientes(73%) relatou que o período mais crítico foi o pós-operatório imediato, pois, àmedida que o paciente recobra a consciência e progride no período pós-operató-rio, ele passa a ver e sentir os procedimentos que são realizados.

Segundo SILVA et al. (1997, p.238), “o período pós-operatório imedia-to é considerado crítico. O paciente necessita de vigilância contínua daequipe médica e de enfermagem pois, além de ter recebido drogas, foi sub-metido a agressões impostas pelo ato cirúrgico”.

Muitos pacientes relataram que grande parte das orientações que lhe fo-ram dadas na visita pré e pós operatória ajudaram no pós operatório, pois sabiamque os procedimentos eram rotina; no entanto, alguns pacientes lembraram queo pós-operatório no Centro de Terapia Intensiva é muito doloroso:

“...lembrei- me do tubo na minha boca, as mãos amarradas. É ruim, fiqueium pouco assustado, mas sabia que era tudo normal”...

“...os drenos doíam muito..., mas eu sabia que era necessário...”Apesar de a maior parte dos pacientes (73%) relatar que o período mais

crítico foi o acordar no CTI, percebe-se através de algumas falas que as infor-mações oferecidas na visita pré-operatória ajudaram muito, pois é mais tranqüi-lo quando se sabe o que está acontecendo.

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %

Pré-operatório 1 9Trans-operatório - -Pós-operatório Imediato 8 73Todo o período 2 18

TOTAL 11 100

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2.3. TABELA 3: Distribuição dos Pacientes Quanto à Lembrança das Visitas Pré e Pós-Operatórias Realizadas pelos Monitores do Projeto de Extensão.

Dados da Tabela 3: Os dados afirmaram que a maioria dos pacientes(73%) se recorda da visita pré e pós-operatória e relataram que lembraram noPOI das informações que foram dadas no pré-operatório e tentaram ficar maistranqüilos e relaxados, pois sabiam que os procedimentos eram necessários paraa sua recuperação.

Foi possível, através do diálogo por telefone, uma abordagem maisampla desta questão, constatando assim, que as informações oferecidas nas vi-sitas pré e pós-operatórias colaboraram para que o período de hospitalizaçãofosse mais tranqüilo e menos traumatizante.

Nota-se, com isso, a importância de uma boa abordagem pré-ope-ratória, no sentido de amenizar ansiedades e preparar o paciente para encarar o“desconhecido”.

Alguns pacientes relataram:“...ah! eu me lembro sim da aluna que foi me visitar...”“...depois que aluna me explicou fiquei menos curioso...”

2.4. TABELA 4 - Distribuição dos Pacientes Quanto ao Pagamento por este Serviço.

Dados da Tabela 4: Acreditamos que 73% dos pacientes responderamque pagariam por esse serviço, como mostra a Tabela 4, porque o serviço reali-zado foi de boa qualidade e é importante para amenizar os sentimentos de medoe insegurança, além de facilitar a recuperação, já que, ao saberem o que pode

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 8 3Não 3 27

TOTAL 11 100

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %

Sim 8 73 Não 3 27

TOTAL 11 100

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acontecer com eles, os mesmos acabam colaborando muito mais com a equipede saúde.

Este também é um dado que nos faz refletir sobre a pratica diária, enquan-to enfermeiros e nos preocuparmos com a importância da sistematização daassistência de enfermagem em Centro Cirúrgico.

Dos entrevistados, 27% responderam que não pagariam pela visita, porque acreditam que isto deve ser obrigatório. Alguns relataram o seguinte:

“...eu não pagaria, porque o hospital deve explicar todos os proce-dimentos para o cliente...”

“...é obrigação ir alguém explicar o que está acontecendo!...isto nãoexiste...”

A resposta a esta última pergunta feita ao entrevistados pode ser de difícilinterpretação, pois muitas pessoas ficaram com muito medo de cobrarmos pelavisita, de receberem em casa um bloqueto para pagamento. Somente depois deexplicar criteriosamente para os entrevistados que essa pergunta era somentepara uma avaliação das visitas realizadas para demonstrar a importância da visi-ta pré-operatória é que os mesmos responderam:

“...a atenção que recebi, não tem dinheiro que pague...”“...só Deus pagaria por este serviço...”

IV - CONCLUSÕES

Consideramos, com o presente estudo, o quanto é importante que os paci-entes submetidos a cirurgia cardíaca sejam preparados quanto a orientaçõescompletas e concisas a respeito do diagnóstico médico, tratamento e intervençãocirúrgica, indo ao encontro das necessidades vivenciadas pelos pacientes. Oesclarecimento de dúvidas permite aos pacientes compreender certas situaçõese, quem sabe, procurar alternativas para minimizar suas ansiedades.

Com base no respeito devido à pessoa humana, percebeu-se a necessidadeiminente de melhorar a abordagem à pessoa enferma, na tentativa de diminuir oconflito vivenciado pelos pacientes ao se submeterem a cirurgia cardíaca e con-seqüente medo de morrer ou ficarem com alguma deficiência física.

Os resultados mostraram o quanto à visita operatória, realizada pelo en-fermeiro do C. C. , é necessária para que se conheça o paciente e se possamelhorar a assistência durante seu período de internação. 91% dos entrevista-

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dos relataram ter sido bom o período de hospitalização, apesar da ansiedade;73% afirmaram que o período mais crítico é o pós-operatório na CTI. Acredita-se que realmente seja este o momento mais crítico, visto que, à medida que opaciente recobra sua consciência e progride na recuperação, pode apresentarcomportamentos que refletem negação ou depressão, que podem levá-lo a maiortemor e ansiedade frente à situação vivenciada.

A repercussão positiva deste projeto está na possibilidade de propi-ciar ao paciente uma recuperação menos marcante, pois a medida que estáorientado e sabe o que está acontecendo com ele, a ansiedade é diminuída e arecuperação é mais rápida. As orientações levam o enfermeiro ao conhecimen-to das relações entre patologia, cirurgia a aspectos sociais que determinam adoença; igualmente, requerem do enfermeiro criatividade, compreensão e odesenvolvimento de habilidades de comunicação e interação entre paciente, fa-mília, equipe cirúrgica e o trabalho em equipe multiprofissional.

Assim, analisamos o conhecimento captado através dos pacientes,seu significado e a repercussão no atendimento individual, enquanto ação quesatisfaz as suas necessidades no cotidiano do trabalho de enfermagem. Nessaexperiência de orientar os pacientes que enfrentam intervenção cirúrgica cardí-aca, o principal objetivo, que foi analisar a eficácia das orientações pré e pós-operatórias, foi alcançado.

Apesar do instrumento utilizado não ter sido suficiente, foi atravésdas conversas que tivemos com o paciente que foi possível alcançar o nossoobjetivo. Propomos para uma nova etapa deste trabalho, a elaboração de uminstrumento melhor.

Recomendamos aos enfermeiros do Centro Cirúrgico que deleguemserviços burocráticos a outros funcionários, tendo assim disponibilidade para re-alizarem as visitas operatórias.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1

PROJETO DE EXTENSÃO:VISITA PRÉ E PÓS OPERATÓRIA

DE CIRURGIA CARDÍACA

*Damares Tomasin Biazin*Lígia M. F. Coldibelli

*Renata Perfeito Ribeiro**Janaina Recanello

**Maria Caroline F. Simon**Maria Cristina da Silva

**Milene Andrade

RESUMO

O presente trabalho relata a experiência de alunos de Enfermagem doCentro Universitário Filadélfia (UNIFIL), no Projeto de Extensão Pré e PósOperatório de Cirurgia Cardíaca, desenvolvido no Hospital Evangélico de Lon-drina. O projeto atende pacientes com indicação de cirurgia cardiovascular nopré e pós operatório. No pré operatório, são fornecidas informações e orienta-ções no intuito de amenizar a tensão frente à notícia de cirurgia. Os pacientessão estimulados a expressar seus sentimentos e temores e, através do diálogo,são fornecidos esclarecimentos de dúvidas sobre o processo cirúrgico. No perí-odo pós operatório, as orientações são avaliadas por meio da observação clínicae do relato dos pacientes sobre fatos significativos de sua experiência. O desen-volvimento do projeto vem demonstrando desde o início a importância da respon-sabilidade e do compromisso do enfermeiro do Centro Cirúrgico com a assistên-cia ao paciente nas diferentes fases do processo cirúrgico.

PALAVRAS-CHAVE: Cirurgia Cardíaca; Orientações Pré e Pós- Operatórias.

*Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Filadélfia - UniFil, na disciplinaEnfermagem em Centro Cirúrgico.** Enfermeira graduada pela UniFil. Monitora em 2002 do projeto de extensão de “Visita Pré ePós- Operatória de Cirurgia Cardíaca”.E-mail: [email protected]: [email protected]

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ABSTRACTThe present work reports the experience of undergraduate students of Nursing

of UniFil (Filadelfia University Center), in the extensional activity project on thepre and post cardiac surgery care, developed at “Hospital Evangélico de Londri-na”. The project assists patients with cardiac surgery indication, on the pre andpost surgical moments. In the pre preoperative phase, information and orientationare given to the patient with the purpose of lessening the tension faced by patientswhen the surgery notification is given. Patients are stimulated to express theirfeelings and fears and, through dialogue, they are given explanations about thesurgery process. On the postoperative period, orientations are evaluated throughclinic observation and patients’ reports about the most significant aspects of theirexperiences. The project development has demonstrated, since its beginning, theimportance of the Surgical Center Nurse’ responsibility and commitment with thepatient’s assistance on the different phases of the surgical process.

KEY-WORDS: Cardiac Surgery; Pre And Post Operative Orientation.

1. INTRODUÇÃO

Nestes últimos 20 anos, com o avanço da cirurgia cardíaca, pode-se estu-dar melhor a ansiedade pré-operatória, suas conseqüências, e o pós-operatóriodos pacientes. O aspecto emocional do paciente que é submetido a uma cirurgiaé muito importante para o sucesso da mesma, bem como para o posterior retornoà uma qualidade de vida melhor, com segurança.

“As cirurgias cardíacas, raras há algum tempo, são hoje sistematicamentepraticadas, em grande número, nas diversas instituições hospitalares. Cabe, noentanto, ressaltar que, ainda que os cardiopatas, devido a grande evolução dacirurgia cardíaca, possam ser considerados enfermos basicamente semelhantesa outros submetidos a cirurgia, tratam-se, geralmente de indivíduos bastante gra-ves que por isto, necessitam de cuidados especiais e tratamento muito preciso”(LEITE, 1985, p. 238).

O fator psicológico pode ajudar o paciente a entender melhor sua doença,como ela pode, provavelmente, ser instalada, lidar com os aspectos emocionaisque advêm junto com a doença, como ansiedade, medo, fantasias, mitos, enfim,fazer com que o paciente aceite melhor o que ocorre com ele e enfrente oproblema. Este é o propósito da visita pré-operatória, além de ajudar na adapta-ção do paciente ao ambiente hospitalar e tentar quebrar o processo dedespersonalização inerente à hospitalização.

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Isto se torna possível com a utilização da metodologia da assistência de enfer-magem em centro cirúrgico, que consiste na necessidade de um estudo sistemático,organizado e planejado de modo a formular princípios que possam ser efetivos naajuda ao paciente cirúrgico e na melhoria da assistência de enfermagem.

Na visita pré-operatória, o enfermeiro deve encorajar a verbalização e deveouvir, ser compreensivo e prestar informações que ajudem a dissipar as preocupa-ções.

O desenvolvimento do presente trabalho teve como objetivos analisar aeficácia das orientações oferecidas nas visitas pré e pós operatórias como formade redução do stress; proporcionar aos pacientes a oportunidade de verbalizaremsuas ansiedade, expectativas e necessidades; permitir que os pacientes conver-sem sobre experiências relacionadas com a cirurgia e anestesia, corrigindo idéi-as distorcidas da realidade; intervir nas necessidades e fontes de stress do paci-ente através das orientações; e publicar este trabalho para a divulgação destedocumento, além de oferecer subsídios aos enfermeiros no preparo operatóriodos pacientes que serão submetidos a cirurgia cardíaca.

2. DESENVOLVIMENTO

A enfermagem brasileira tem procurado sistematizar, em suas diversasáreas de atuação, a assistência individual ou coletiva que presta à população. Anecessidade da visita da enfermeira do centro cirúrgico ao paciente que estáaguardando o momento da cirurgia tem sido descrita por vários autores, sendoque o presente estudo tratou somente dos pacientes agendados eletivamentepara cirurgia cardíaca.

O paciente cirúrgico tem medo da cirurgia, de sentir dor, da anestesia, denão acordar da anestesia, da solidão, dos aparelhos e equipamentos, do resultadoda operação e da morte. “Todo ser humano tem medo do desconhecido: oque é desconhecido gera medo e insegurança, pode ser indefinível,imprevisível e incontrolável” (SILVA, 1987, p. 145).

“Quando o enfermeiro chega a compreender o que está acontecendoentre ele e o paciente, pode-se dizer que atingiu a essência da prática deenfermagem” ORLANDO, 1978, p. 3).

Alguns pacientes relataram que até o momento da visita pré-operatórianão tiveram praticamente nenhuma orientação, e verbalizaram:

“… as pessoas não se apresentam ao sair e entrar no quarto…”“… ninguém veio me perguntar se eu queria alguma informação a respeito

da cirurgia. Vão me depilar inteiro?…”“… quanto tempo vou ficar internado? Posso receber visitas na UTI?…”

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“… por que tem que se fazer lavagem intestinal?…”A preparação psicológica é vista como benéfica, se baseada nas necessi-

dades individuais do paciente, pois, ao sentir-se esclarecido em suas dúvidas,diminuem-lhe os temores, prevenindo possíveis complicações no pós-operatório.Para as visitas no pós-operatório imediato, foi difícil a comunicação com os pa-cientes, devido ao estado que se encontravam. Então, foram propostas as visitasno terceiro e sexto pós-operatório. As verbalizações dos pacientes durante avisita pós-operatória foram:

“… Foi de grande valia a sua visita…”“… Fiquei menos ansiosa…”“… É bom saber que tem gente que se preocupa com a gente…”“… Fiquei mais segura, pois sabia o que ia acontecer comigo…”

3. METODOLOGIA

O estudo trata de um relato de experiência de um projeto de extensão devisita pré e pós-operatória de cirurgia cardíaca realizada por quatro alunas do 3ºano de graduação em Enfermagem do UNIFIL, à época denominado CESULON,sob supervisão de docentes especializadas no assunto, realizado em um hospital degrande porte de Londrina, que atende pacientes do SUS, convênios e particulares.

A população foi constituída por pacientes internados eletivamente no perí-odo de maio a setembro de 2000. Participaram do estudo 27 pacientes de ambosos sexos e sem distinção de idade.

Os dados foram obtidos através da análise de prontuário, entrevista e infor-mações fornecidas pelo paciente e/ou família. Para a coleta de dados, foi elabo-rado um instrumento pré e pós-operatório, contendo 31 questões abertas e 18questões fechadas, do tipo check-list.

O instrumento compõe-se de dados de identificação, entrevista, orientações,impressões do entrevistador, e resultado da visita pós-operatória (VER ANEXO I).

No decorrer do estudo, foram verificadas falhas no instrumento pré-opera-tório, onde havia questões que não levavam ao alcance do objetivo do trabalho.Após reformulação, o instrumento final ficou com 27 questões abertas e 6 fe-chadas (VER ANEXO II).

Para o desenvolvimento do trabalho, foi necessária busca ativa em acervosbibliográficos. Após a coleta dos dados e organização do material, iniciou-se aanálise dos dados coletados através de estatística descritiva.

O discurso de cada sujeito foi submetido a análise de conteúdo e frasesforam destacadas, agrupadas e classificadas por semelhança de sentido, incluin-do termos comuns.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1: Distribuição dos sujeitos quanto ao sexo.

Dados da Tabela 1: Observou-se maior número de pessoas do sexo mas-culino (59%), devido ao estilo de vida e sobrecarga profissional. Durante os anosque antecedem o climatério, as mulheres parecem estar protegidas contra adoença cardíaca, devido a fatores hormonais; isso explica o maior índice no sexomasculino, afinal os hormônios femininos desempenham um importante papel dedefesa no desenvolvimento desta doença (MELTZER, 1997, p. 5).

Tabela 2: Distribuição dos sujeitos por faixa etária.

Dados da Tabela 2: A Tabela 2 nos mostra que há um maior número depessoas entre 61 a 75 anos de idade (44%), sendo essas mais propensas a teremque se submeter a cirurgia cardíaca. Uma forma de conceituar é que geralmenteas doenças pioram com a idade, e que nos indivíduos idosos os mecanismosfisiopatológicos específicos que causam distúrbios nos substratos cardíacos evasculares são modificados pelo envelhecimento. Isto está relacionado às mani-festações clínicas tardias (SOUSA & MANSUR, 1996, p. 1091).

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %MasculinoFeminino

1116

4159

TOTAL 27 100

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %0 a 15

16 a 3031 a 4546 a 6061 a 7576 a 90

3046122

11015

22,244,47,4

TOTAL 27 100

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Tabela 3: Distribuição dos sujeitos quanto à cirurgia proposta.

Dados da Tabela 3: Os resultados apresentados mostram um maior nú-mero de pessoas submetidas à cirurgia de revascularização do miocárdio (59,3%),devido ao diagnóstico tardio e sintomas atípicos, resultando em aumento no tem-po de início de terapia, quadro este que pode estar relacionado ao sedentarismoe aterosclerose.

Tabela 4: Distribuição dos sujeitos quanto ao conhecimento do pré e pós-operatório.

Dados da Tabela 4: Observou-se que a maioria dos sujeitos não tinhaconhecimento pré e pós-operatório (85%), devido a falta de informações porocasião do internamento e falta de curiosidade, ou seja, não questionavam, ounão queriam saber sobre o assunto.

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %Revascularização do miocárdio

Troca de válvula mitralDupla ligadura de persistência do

canal arterialFechamento de comunicação

interatrialDrenagem

1681

1

1

59,329,63,7

3,7

3,7TOTAL 27 100

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %Tinham conhecimento

Não tinham conhecimento4

231585

TOTAL 27 100

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Tabela 5: Distribuição dos sujeitos quanto às maiores preocupações e temores.

Dados da Tabela 5: Esta Tabela nos mostra um maior índice de pessoas(29,6%) que relataram medo da cirurgia por desconhecerem o que realmenteacontece durante o ato cirúrgico, ou seja, “medo do desconhecido”, da morte, daanestesia, da dor ou medo da deformidade, ou outras ameaças à imagem corpo-ral, podendo causar desconforto e ansiedade.

Tabela 6: Distribuição dos sujeitos quanto à resposta à pergunta: as informações oferecidas na visita pré-operatória sanaram suas dúvidas?

Dados da Tabela 6: Os resultados mostram que 37,1% dos pacientes nopós-operatório opinaram que a visita pré-operatória ajudou bastante.

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %Sim, mas mesmo assim fiquei meio

tensoSim, ajudou bastante

Não tive dúvidas, lembra!Sim fiquei mais tranqüila

Os pais não encontravam-se à vistaSem resposta

Não houve pós, paciente foi a óbito

6

1026111

22,2

37,17,4

22,23,73,73,7

TOTAL 27 100

OPÇÃO FREQÜÊNCIA %Medo da cirurgia

AnsiedadeMorte

ComplicaçõesConfiança no médicoProblema financeiro

AnestesiaNenhuma

84422115

29,614,814,87,47,43,73,7

19,0TOTAL 27 100

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5. CONCLUSÕES

A reflexão favorecida pelo desenvolvimento deste estudo e pela experiên-cia de acompanhar o pré e o pós operatório de forma humanizada e individualiza-da a 27 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca no período de maio a setembrode 2000 nos possibilitou compreender que os pacientes ficam ansiosos e deprimi-dos perante o desconhecimento do que haverão de enfrentar durante o períodode hospitalização. O esclarecimento de dúvidas permite ao paciente compreen-der certas situações e, quem sabe, procurar alternativas que minimizem suasansiedades. O enfermeiro deve ser cauteloso e identificar o nível de ansiedadedo paciente, evitando dar informações excessivas, o que viria a aumentar suaansiedade. É da maior importância que o enfermeiro aprenda a colocar-se narelação com o paciente e família de forma autêntica, que trabalhe na sensibilizaçãoda sua equipe para alcançar um nível ótimo de comunicação. No entanto, aexperiência vivida neste estudo nos revela que infelizmente a função “visitadora”do enfermeiro do centro cirúrgico fica sem ser realizada e tal trabalho somente éefetuado por alunos de graduação de enfermagem, acabando com o término deum projeto.

Com base no respeito à pessoa humana, percebeu-se a necessidade imi-nente de melhorar a abordagem à pessoa enferma, na tentativa de diminuir oconflito vivenciado pelos pacientes ao se submeterem a certos tipos de cirurgias,e o medo de morrer ou ficar com alguma deficiência física.

É necessário, portanto, que os membros da equipe de saúde, particular-mente o enfermeiro, desempenhem suas atividades junto ao paciente com maishumanidade, interessando-se por ele como pessoa, por seu estado, sua evolução,esforçando-se para ajudá-lo no tratamento e recuperação.

A partir desta pesquisa, recomendamos ao enfermeiro de centro cirúrgicoque treine e delegue os serviços burocráticos aos funcionários, para que elepossa realizar a exclusiva função visitadora e realize cursos de relações huma-nas, envolvendo a equipe de enfermagem.

A busca de uma modalidade assistencial diferente daquela pautada numarelação enfermeira-paciente levou-nos a essa experiência; a procura de conhe-cimento levou-nos a entender a importância da pesquisa pela busca de respostasà indagações. Esse foi o caminho até a conquista de êxito no término desteestudo, pelo alcance dos objetivos propostos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBRUNNER, Lillian S.; SUDDARTH, Doris S. Tratado de enfermagem mé-dico-cirúrgica. 8.ed. Rio de Janeiro, 1999, p.608.CASTELLANOS, Brigitta E.P.; BIANCHI, Estela R. F. Visita pré-operatóriado enfermeiro da Unidade de Centro Cirúrgico: marcos referenciais para o seuensino no curso da graduação de Enfermagem. São Paulo: Revista Paulista deEnfermagem, v.4, n.24,1985, p.38.FERRAZ, Estela R. O paciente cirúrgico: suas expectativas e opiniões quantoao cuidado de enfermagem no período transoperatório. Revista Brasileria deEnfermagem, v.35, 1982, p.20.FERREIRA, Aurélio. Novo dicionário básico da língua portuguesa Folha/Auré-lio. São Paulo: Nova Fronteira, 1995, p.424.LEITE, Josete L. et al. Necessidades e expectativas do paciente em pós-opera-tório de cirurgia cardíaca – avaliação de uma abordagem prática. Brasília: Re-vista Brasileira de Enfermagem, v.38, n.3/4, 1985, p.328.MELTZER, Lawrence E. Enfermagem na Unidade Coronariana. São Paulo:Atheneu, 1997. p.75.ORLANDO, Ida G. O relacionamento dinâmico enfermeiro/Paciente. SãoPaulo: EPV,1987.SANTOS, M. C. O desafio da humanização do atendimento ao paciente.Belém: (Monografia, Lato Sensu, UFPa),1993, p.5.SOUSA, Amanda G. M. R.; Mansur, Alfredo J. Cardiologia. 2.ed. São Paulo:Atheneu, 1996. p.1.091.TAKAHASHI, Edna I.U.; Carmem A.;GUERRA, Grazia M. Necessidadesbásicas das esposas de pacientes infartados, na fase aguda do tratamento. SãoPaulo: Revista da Escola de Enfermagem da USP, v.24, n.1, 1990, p.177.BRAUNWALD, Eugene. Tratado de medicina cardivascular .2ed. v.1 e 2.São Paulo: Roca, 1987.EAGLE, Kim A. et al. Cardiologia. 2.ed. v.1 e 2. São Paulo: Medsi, 1993.NERSRALLA, Ivo. Cardiologia cirúrgica: perspectivas para o ano 2000.São Paulo: Fundo Editorial ByK, 1994.

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ANEXO

ROTEIRO PARA VISITA PRÉ E PÓS-OPERATÓRIA

ORIENTAÇÕES

PRÉ• Orientação com relação ao prosseguimento ou não do uso de medicações

(anticoagulante a antihipertensivo);• Interrupção ao ato de fumar;• Exercícios respiratórios;• Orientação quanto ao C. C.;• Se questionado, orientar quanto aos drenos, SNG;• Jejum;• Tricotomia total SN;• Banho com antisséptico de germante;• Enteroclisma com sol. glicemia a 6% 500 a 1000 ml;• SVD;• Roupas esterilizadas após a degeneração;• UTI – visita.

PÓS• Descrever rapidamente o estado geral do paciente (físico e psicológico);• Questionamento das orientações recebidas (dúvidas);• Exame físico rápido:• queimaduras;• alergias;• problemas para posicionamento;• incisão.

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1

USO DO LABORATÓRIO DE ENFERMAGEM

* Damares Tomasin Biazin** Ariane Guimarães Guerra

* *Maristela Chinelli de Oliveira** *Gislaine de Mari dos Santos

RESUMO

Esta pesquisa foi realizada no laboratório de enfermagem (L.E.) em umCentro Universitário na Cidade de Londrina, tendo como objetivos demonstrar aimportância da utilização do L.E. para os alunos da graduação, verificar as téc-nicas que os alunos sentem dificuldade, saber o que estimula e desestimula osalunos em estarem utilizando o mesmo e identificar o que os alunos e professo-res pensam do L.E. Para realização deste estudo foram elaborados dois instru-mentos, sendo um destinado aos alunos e outro aos professores, contendo ques-tões abertas e fechadas. Para o desenvolvimento do trabalho foi necessário es-tudo bibliográfico visando obter conhecimento sobre o assunto, além da realiza-ção de reuniões das monitoras para tabular e analisar os dados que foram coletadosatravés dos questionários. Durante todo o desenrolar do estudo, houve supervi-são e orientações por parte da docente responsável. Foram respondidos 88 ques-tionários pelos alunos e 7 pelos professores. No decorrer da análise dos dadoscoletados destacou-se a junção entre as colocações feitas pelos alunos e profes-sores para melhorar o empenho do uso do laboratório, no que diz respeito ao queestá sendo oferecido em termos de materiais e tipo de treinamento realizado.Concluiu-se que o L.E. é fundamental no desenvolvimento dos acadêmicos eque tanto os alunos como professores esperam materiais suficientes para uso,aulas e treinamentos mais dinâmicos que estimulem os alunos além do empenhoda monitoria para assessorar os mesmos. Estas colocações motivaram a monitoriaem buscar novos conhecimentos e a resolução de problemas em conjunto.

PALAVRAS-CHAVE: Laboratório de Enfermagem; Funcionamen- to do Laboratório de Enfermagem.

*Docente da disciplina Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Enfermagem no Centro Universi-tário Filadélfia – UniFil.Mestre em Enfermagem.**Acadêmica do 3º ano do Curso de Graduação em Enfermagem da UniFil.*** Acadêmica do 4º ano do Curso de Graduação em Enfermagem da UniFil.E-mail: [email protected]

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ABSTRACT

The present research has been carried out in a Nursing Laboratory (NL)at a University Center in the city of Londrina. It aims at demonstrating theimportance of the use of the NL for the undergraduate students of Nursing,verifying the techniques that pose difficulty to the students, knowing whatstimulates and what discourages them in the use of such lab, besides identifyingwhat teachers and students think about it. Two questionnaires have beendesigned, one for teachers and one for students, containing open and closedquestions. In the development of the research a bibliographic study was carriedout and meetings with the monitors to tabulate and analyze the data collectedby means of the questionnaires.

88 questionnaires were answered by students and 7 by teachers. Duringdata analysis, the opinions given by students and teachers to improve the use ofthe lab was of great importance, since they were related to what materials arebeing offered and types of training that are being carried out. The conclusionsdrawn are that the NL is essential in the Nursing students’ formation and thatboth teachers and students expect there will be materials enough for dynamicclasses and training which stimulate the students, besides the participation of themonitors in assisting them. Those reflections motivated the monitors to look fornew knowledge and for solving the problems together.

KEY-WORDS: Nursing Laboratory; Nursing Lab Functioning.

1. INTRODUÇÃO

“O laboratório de Enfermagem (L.E.) é um local, dentro da escola de en-fermagem ou do departamento, do serviço destinado ao treinamento da habilida-de psicomotora inicial de enfermagem. * Essa sala ou conjunto de salas, é cons-tituída, em geral, por equipamentos semelhantes aos das unidades hospitalares epor manequins e modelos” (FRIEDLANDER, 1986, p.7).

Também é um local muito freqüentado pelos alunos de enfermagem, sendonele iniciadas aulas de disciplinas teórico-práticas, e onde, através de situaçõessimuladas, os alunos executam procedimentos de enfermagem como se estives-sem em campo de trabalho, mas com uma grande vantagem, a de poder errar,repetir e obter habilidades no manuseio com equipamentos.

Durante as aulas, os alunos contam com a presença do professor e muitasvezes do monitor, estes auxiliam os alunos em suas dúvidas e treinamentos.

“O laboratório de enfermagem complementa o aprendizado em seus as-

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pectos técnicos, enquanto a prática de campo é imprescindível à aprendizagemdos componentes humanitários que impedem que os procedimentos de enferma-gem sejam atividades estereotipadas e tornem-se ações de assistência direta deenfermagem” (FRIEDLANDER, 1986, p. 8).

O laboratório de enfermagem é um dos recursos valiosos no desenvolvi-mento das habilidades psicomotoras. Inúmeras modalidades de ensino-aprendi-zagem tornam a prática profissional menos desgastante física e mentalmente e,ao mesmo tempo, tornam as técnicas aplicáveis à realidade, porém de formacientífica (LOURENCINE et al., 1998, p.1).

Vale ressaltar também a importância do laboratório de enfermagem paraaqueles em grau mais adiantado e que necessitam rever técnicas, ou para utilizarno desenvolvimento de pesquisas.

Assim, o laboratório de enfermagem pode ser definido como o local, dentrode uma escola de enfermagem, utilizado como recurso para o ensino prático detécnicas que exigem habilidades e o treinamento necessário para complementaçãoda aprendizagem em situação simulada (FRIEDLANDER, 1984).

Devido à escassez de trabalhos nessa área, e mesmo porque alguns alunosdemonstraram-se desmotivados a utilizar o laboratório como um recurso a mais paradesenvolver suas habilidades psicomotoras, temos como propósito mostrar a impor-tância do uso do laboratório aos alunos que o freqüentam e aprimorar conhecimentosteórico-práticos buscando junto aos alunos e docentes sugestões e críticas para me-lhorar o funcionamento do mesmo. Justifica-se a realização deste trabalho no sentidode contribuir para a conscientização de todos os alunos, em conhecer a importânciado laboratório, minimizando o medo e a ansiedade nos campos de estágio, tornando-os mais seguros na assistência prestada ao ser humano.

Diante do exposto, esta pesquisa foi realizada com os objetivos de:• Demonstrar a importância do uso do laboratório de enfermagem para os

alunos de graduação em enfermagem;• Verificar qual a técnica em que os alunos têm dificuldade e por quê;• Saber quais os fatores que estimulam e desestimulam os alunos em estar

utilizando o laboratório; e• Saber o que os alunos e os professores esperam e/ou pensam do Labora-

tório de Enfermagem.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O laboratório de enfermagem é um recurso de grande valor no treinamentodas habilidades básicas de enfermagem, tanto sob o ponto de vista ético comoeducacional (FRIEDLANDER, 1984, p. 151).

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Não é lícito que o cliente corra riscos com a finalidade do estudante desen-volver habilidades que podem ser desenvolvidas numa simulação. A falta dehabilidade do estudante provoca insegurança no cliente e cria situações extre-mamente difíceis para o aluno, o docente e o cliente. Por esse motivo é que oL.E. é de grande utilidade para o treinamento do aluno, proporcionando maiorsegurança na situação real.

A falta de habilidade também leva o aluno a apresentar ansiedade peranteuma situação, e o treinamento prévio no L.E. contribui para aliviar esta ansieda-de e proporcionar melhores condições para a aprendizagem em campo.

Segundo FRIEDLANDER (1984, p.152), apesar do grande progresso naeducação, ensino-aprendizagem segue os moldes tradicionais. O aluno continuaa ser concebido como um elemento passivo e é afastado de todos os níveis detomada de decisão. Ao professor cabe toda a responsabilidade do processo edu-cacional. A preocupação dos docentes centraliza-se no ensino e a aprendizagemé colocada em plano secundário.

Quanto aos fatores que estimulam e desestimulam, cada aluno tem suaspróprias características. O comparecimento dos estudantes no L.E. deve-se aofato deles pretenderem treinar as habilidades técnicas que exigem destreza ma-nual (FRIEDLANDER, 1990, p.59).

Para FRIEDLANDER (1990, p. 59), as condições que podem estimular ocomparecimento espontâneo do aluno ao L.E. são:

-A presença do professor ou monitor do L.E., pois os alunos sentem anecessidade de um “orientador” ou “facilitador” e a ausência dos mesmos éapontada como fator desestimulante;

-A cobrança da aprendizagem pelo professor é uma prática esperada pelo aluno;-Necessidade do aluno sentir-se seguro junto ao cliente; e-Vontade que o aluno tem de saber mais sobre as técnicas.A revisão bibliográfica deixa claro que são muito diferentes os conceitos de

motivação e de estímulo. Cabe ao professor a responsabilidade de estimular o aluno.Como fatores desestimulantes, FRIEDLANDER (1990, p. 44) relata a fal-

ta de condições do próprio laboratório quando o “espaço físico é reduzido ouexiste insuficiência de materiais em quantidade e qualidade frente a demanda dealunos.” Também pode-se citar a falta de interesse do aluno pela prática oupouca necessidade de auto-realização do estudante.

Friedlander cita que, na opinião dos docentes, os fatores estimulantes são:-Incentivo do professor ou monitor para o treinamento, e elogios pelas ha-

bilidades bem treinadas;-Presença do professor ou monitor no L.E. para auxiliar o estudante;-Cobrança das técnicas pelo professor de estágio no campo; e

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-L.E. aberto em horários convenientes aos alunos.Friedlander afirma ainda que “quanto às características do treinamento de

estudantes no L.E., nota-se significativa preferência pelo treinamento em dupla,pois, dessa forma, talvez haja oportunidade de auto e hetero-avaliação e maiorfacilidade em harmonizar o ritmo de aprendizagem.” O treinamento quando so-zinho impede a troca de opiniões e a hetero-avaliação, enquanto a aprendizagemcom um grupo dificulta a sincronização entre os diferentes ritmos de aprendiza-gem próprios de cada estudante.

“Destaca-se, por sua vez, a preferência dos alunos em usarem o colegapara simular o paciente, o que é explicado por aquele parecer mais com a reali-dade do que o manequim. A solicitação ao monitor é freqüente para a orientaçãoinicial. O aluno prefere treinar o que se refere ao preparo do material ao invés daexecução propriamente dita dos procedimentos e pretende alcançar êxito após aprimeira tentativa de treinamento” (NOCA, 1985, p. 149).

O Laboratório de Enfermagem deve ser usado como um recurso de apoio e deauxílio à prática clínica, um recurso que melhore as condições de aprendizagem juntoao cliente, uma estratégia que impeça algumas distorções dessa aprendizagem.

3. METODOLOGIA

Local da pesquisa:Esta pesquisa foi realizada em um Centro Universitário, na cidade de Lon-

drina, mais especificamente no Laboratório de Enfermagem da instituição, pelamonitora e estagiárias do curso de Enfermagem.

População/AmostraA amostra constou de 88 alunos do 2º ano de enfermagem, em uma popu-

lação de 92 alunos, que estão cursando a disciplina de Semiologia e Semiotécnicaem Enfermagem, e que aceitaram participar da pesquisa. Após aceitação, foioferecido o termo de consentimento livre e esclarecido para assinatura, confor-me estabelece a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

A amostra dos docentes foi constituída por 7 docentes, todos aqueles queutilizam o L.E. em suas aulas práticas e/ou teórico-práticas durante o Curso deGraduação em Enfermagem.

Coleta de Dados:A coleta dos dados constou de três etapas: a primeira visou realizar levan-

tamento bibliográfico para fundamentação do tema; a segunda foi um questioná-rio, onde os alunos do 2º ano de enfermagem responderam as questões; e aúltima etapa foi para a aplicação de um segundo questionário aos docentes queutilizam o laboratório.

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O questionário para os alunos foi desenvolvido pelas autoras e consta de 10questões, sendo 3 abertas e 7 fechadas (Anexo I).

O questionário para a coleta dos dados junto aos docentes foi elaboradotambém pelas autoras e contém 7 questões, sendo 4 abertas e 3 fechadas (Ane-xo II).

Os instrumentos propostos foram submetidos a um teste piloto e 4 alunos e1 professor participaram desta avaliação, que aconteceu no mês de junho/2002.

O resultado do teste piloto mostrou que os instrumentos estavam adequa-dos aos objetivos da pesquisa, não necessitando de nenhuma alteração.

O instrumento I foi aplicado a 88 alunos, pelas próprias autoras, durante apermanência dos discentes no L.E., nos meses de junho e agosto/2002.

O instrumento II foi distribuído a 7 docentes, e após estarem devidamenterespondidos, foram devolvidos às pesquisadoras. Esta coleta também aconteceudurante os meses de junho e agosto de 2002.

Análise dos Dados Coletados:Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados através de estatística

descritiva, cujos resultados estão apresentados em quadros no Capítulo 4.

4.1. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

4.1. - Alunos:

Quadro 1: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à importância da prática de técnicas no L.E.

• A maioria (82%) respondeu que é importante a prática de técnicas noL.E., porque estão conscientes da importância de estarem treinando antes daprática com o paciente.

Importância Freqüência %

Sim 73 82

Às vezes 12 13,48

Nem sempre 03 3,37

Total 88 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 149

Quadro 2: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à quantidade do material e equipamento do L.E.

• Dos alunos pesquisados, (54,54%) afirmaram que faltam materiais parapraticarem melhor a técnica, principalmente materiais descartáveis e materiaisdentro do prazo de validade.

Quadro 3. Distribuição das freqüências das opiniões dos alunos quanto ao tipo de material que falta no L.E.

* este número é diferente de 88, pois cada aluno citou mais de um material.

• 48 alunos apontaram falta de materiais para o treinamento no L.E., fican-do evidente, no quadro acima, que são diversos os materiais que estão em faltapara estes alunos.

Material

suficiente

Freqüência %

Falta Material 48 54,54

Não 24 27,27

Sim 16 18,18

Total 88 100

Materiais Freqüência %

Ampolas 20 12,73

Seringas 18 11,46

Todos os materiais 13 8,28

Scalp 11 7

Frasco para diluição de medicação 11 7

Soro 10 6,36

Agulhas 08 5,09

Aparelho de pressão 07 4,45

Boneco novo 04 2,54

Outros 42 25,75

Não responderam 13 8,28

Total 157 * 100

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Quadro 4: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à demonstração do entusiasmo dos professores ao observarem que os alunos estão treinando no L.E.

• Dos 88 alunos pesquisados, 73,86 % acham que os professores demons-tram entusiasmo, porém 23,86% acham que o professor nem sempre demonstra.Aqui se confirma mais uma vez o estudo realizado por Friedlander (1990), noqual ela afirma que a presença do professor estimula os alunos a estarem trei-nando no L.E.

Quadro 5: Distribuição das freqüências dos alunos quanto ao fato do pro- fessor elogiar uma boa técnica.

• Dos 88 alunos pesquisados, 81,81 % responderam que o professor elogiauma boa técnica, quando estão presentes com os alunos, pois na maioria das vezeso professor não está presente. Este fato confirma a “fala” de FRIEDLANDER(1990) quando cita a ausência do professor como um fator que desestimula otreinamento dos alunos.

Professor demonstra

entusiasmo

Freqüência %

Sim 65 73,86

Às vezes demonstra 21 23,86

Não 02 2,27

Total 88 100

Elogia Freqüência %

Sim 72 81,81

Não se manifesta 12 13,63

Não 04 4,54

Total 88 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 151

Quadro 6: Distribuição das freqüências dos alunos quanto às oportunidades de execução de técnicas nos campos de estágios utilizados na disciplina.

• Dos alunos pesquisados, 54,54 % acham que não são todos os locais quedão oportunidade para os alunos colocarem em prática o que treinam em labora-tório, pois nem sempre há oportunidade em campo de estágio, fazendo com quemuitas vezes o aluno vá para o ano seguinte sem realizar algumas técnicas.Segundo OHNISHI (1995), no L.E., o aluno pode “experimentar”, repetir, errare corrigir, oportunidades que ele não terá perante o paciente.

Oportunidades de

execução de técnicas

nos campo de estágio

Freqüência %

Não são todos os locais 48 54,54

Não 21 23,86

Sim 19 21,59

Total 88 100

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Quadro 7: Distribuição das freqüências dos alunos quanto às técnicas que sentem mais dificuldade.

* Este número é diferente de 88, pois cada aluno citou mais de uma técnica.

• Verifica-se que as dificuldades dos alunos são em praticamente todas astécnicas, porém a S.V.D. e a S.N.G. foram as que os alunos demonstrarammaior dificuldade, 17,39% e 15,21% respectivamente. Será falta de treinamento,ou dificuldade na aprendizagem?

Técnicas Freqüência %

SVD 24 17,39

SNG 21 15,21

Medicação 16 11,59

Aspiração endotraqueal 09 6,52

Curativo 08 5,79

Banho no leito 08 5,79

Sondas em geral 07 5,07

Punção 06 4,34

Ausculta pulmonar 06 4,34

Tricotomia 06 4,34

Gotejamento de soro 04 2,89

Exame físico 03 2,17

Nenhuma 19 13,76

Todos 01 0,72

Total 138 * 100

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Quadro 7.1.: Distribuição das freqüências dos alunos quanto ao motivo pelo qual sentem dificuldade em praticar a técnica.

• Dos 88 alunos pesquisados, 55,68 % não responderam este item. Porém,dos que responderam, pode-se observar que a dificuldade mais citada é a “técni-ca difícil” (17,04%). Friedlander (1985) relata em seu trabalho a falta de espaçofísico e a falta do professor como dificuldades apontadas pelos alunos. Masnossos resultados mostram que somente 2 alunos (2,27%) relataram a falta doprofessor e 1 aluno (1,13%) citou o laboratório pequeno como elementosdificultadores no treinamento das técnicas no L.E..

Por quê Freqüência %

Técnica difícil 15 17,04

Falta de campo de estágio 04 4,54

Não treina 04 4,54

Medo/insegurança 04 4,54

Falta de professor nos estudos 02 2,27

Realidade do hospital diferente 02 2,27

Sem dificuldade 02 2,27

Falta de oportunidade 02 2,27

Ter que imaginar a técnica 01 1,13

Trabalha 01 1,13

Dó do paciente 01 1,13

Laboratório pequeno 01 1,13

Não responderam 49 55,68

Total 88 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 154

Quadro 7.2.: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à colaboração dos professores no treinamento das técnicas.

• Dos alunos pesquisados, 61,36% não responderam este item, mas os queresponderam, 34,09 %, confirmam a colaboração do professor em auxiliar nasdificuldades durante o treinamento das técnicas.

Quadro 8: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à disponibilidade de horários para estudo no L.E.

• A grande maioria (87,50 %) acha que existe disponibilidade de horáriopara estudos no L.E. É importante ressaltar que no L.E. pesquisado existe umcronograma de utilização, elaborado pelas monitoras, contemplando os três perí-odos (manhã, tarde, e noite), a fim de facilitar para o aluno o seu uso. O alunodeve agendar com antecedência, para garantir a presença de uma monitora du-rante o período de treinamento.

Professor auxilia Freqüência %

Sim 30 34,09

Às vezes 04 4,54

Não responderam 54 61,36

Total 88 100

H o r á r io

d isp o n ív e l

F r e q ü ê n c ia %

S im 7 7 8 7 ,5 0

N ã o 1 1 1 2 ,5 0

T o ta l 8 8 1 0 0

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 155

Quadro 9: Distribuição das freqüências dos alunos quanto à estimulação do aprendizado pelo aluno monitor.

• O Quadro 9 mostra que 79,54% dos alunos afirmam que o monitor estimula seuaprendizado, o que vem corroborar com Friedlander (1990), que ressalta a importânciada presença do monitor no treinamento das técnicas como um fator estimulante.

Quadro 10: Distribuição das freqüências dos alunos quanto aos fatores que estimulam o aprendizado no L.E.

* Este número é diferente de 88, porque cada aluno citou mais de um fator estimulante.

Monitor estimula Freqüência %

Sim 70 79,54

Não 18 20,45

Total 88 100

Estimula Quantidade Freqüência %

Conhecimento teórico-prático 40 40,40

Presença dos professores 20 20,20

Adquirir Segurança 10 10,10

Materiais 05 5,05

Os monitores 05 5,05

Curiosidade 04 4,04

Treinamento 03 3,03

Relacionamento com os colegas 02 02,02

Horário flexível 02 2,02

Força de vontade 02 2,02

Menos aluno/ mais aproveitamento 02 2,02

Nota 01 1,01

Organização 01 1,01

Interesse do grupo 01 1,01

Perder o medo 01 1,01

Não responderam 15 15,15

Total 99 * 100

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• Pode-se observar no Quadro 10 que os fatores que estimulam os alunossão variados e dependem de cada pessoa, porém nota-se que a necessidade deunir a teoria com a prática (40,40%); a presença dos professores (20,20%); avontade de adquirir segurança no procedimento(10,10%); os materiais (5,05%);e a presença dos monitores (5,05%) são os fatores mais citados, como os queFriedlander (1990) descreve em seus trabalhos.

Quadro 11: Distribuição das freqüências dos alunos quanto aos fatores que desestimulam o aprendizado no L.E.

* Este número é diferente de 88, pois cada aluno citou mais de um fator desestimulante.

• Observa-se neste item que as pessoas estavam mais atentas a colocaremo que desestimula do que o que estimula, pelo número de respostas, 104, pois 13pessoas (11,11%) não responderam, deixando a questão em branco. Dospesquisados, 37,60 % acham que faltam materiais novos; 11,96 %, acham quemuita gente ao mesmo tempo atrapalha no aprendizado; e 10,25 % colocam a falta

Desestimulam Freqüência %

Falta de materiais novos 44 37,60

Muita gente ao mesmo tempo 14 11,96

Falta de professor 12 10,25

Falta de horário 07 5,98

Falta de ventilação 07 5,98

Local pequeno 05 4,27

Falta de colegas 04 3,41

Diferença da realidade 03 2,56

Todas as técnicas juntas 03 2,56

Dificuldade 01 0,85

Nada 01 0,85

Estudar para outros materiais 01 0,85

Preguiça 01 0,85

Falta de experiência da monitora 01 0,85

Não responderam 13 11,11

Total 117 * 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 157

de professor como fator desestimulante. Os outros fatores citados, apesar de esta-rem em uma menor porcentagem, também devem ser levados em consideração,visto que são de suma importância para o melhoramento do estudo no L.E.

4.2. - Professores:

Quadro 12: Distribuição das freqüências dos professores quanto ao inte- resse dos alunos em estar praticando as técnicas.

• Dos professores questionados, 57,14% acham que há muito pouco inte-resse dos alunos em praticarem as técnicas. A freqüência destes alunos no LE émuito pequena, visto que existe uma falta de conscientização dos alunos quantoà importância de treinarem as técnicas.

Quadro 13: Distribuição das freqüências dos professores quanto às suas sugestões para melhorar o interesse dos alunos.

* Este número foi diferente de 07 porque alguns professores colocarammais de uma sugestão para melhorar o interesse dos alunos.

Interesse Freqüência %

Muito pouco 04 57,14

Sim 03 42,85

Não 00 00

Total 07 100

Sugestões Freqüência %

Maior disponibilidade dos monitores para acompanhar

os alunos

03 33,33

Materiais de consumo em maior quantidade 02 22,22

Conhecer o campo de estágio para dar importância

quanto ao uso do L.E

02 22,22

Maior divulgação 01 11,11

Uso dos materiais durante as aulas teóricas 01 11,11

Total 09 * 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 158

• Das sugestões colocadas para melhorar o interesse dos alunos, 33,33 %relatam que deve haver maior disponibilidade das monitoras para acompanhar osalunos, 22,22 % colocam também que a quantidade de materiais de consumodeve ser aumentada para que haja mais interesse dos alunos, e o mesmo númerode professores, 22,22%, apontam a necessidade dos alunos conhecerem o cam-po de estágio para darem a devida importância ao uso do L.E.

Quadro 14: Distribuição das freqüências dos professores quanto à disponi- bilidade de materiais para o treinamento.

• Dos professores pesquisados, 57,14% acham que faltam materiais noL.E. para auxiliarem no treinamento dos alunos.

Quadro 15: Distribuição das freqüências dos professores quanto aos mate- riais que estão em falta no L.E.

* Este número foi diferente de 07 porque cada professor colocou mais de um material.

Material Freqüência %

Falta material 04 57,14

Sim 03 42,85

Não 00 00

Total 07 100

Materiais em Falta Freqüência %

Materiais de Oxigenoterapia 04 25

Bonecos apropriados 02 12,50

Medicamentos 02 12,50

Luvas 02 12,50

Macerador 02 12,50

Roupas 01 6,25

Materiais descartáveis novos 01 6,25

Material didático (TV, vídeo, Manual) 01 6,25

Monitor de ECG 01 6,25

Total 16 * 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 159

• Dos 7 professores pesquisados, 25% responderam que os materiais deoxigenoterapia estão escassos, e também há uma grande falta de bonecos apro-priados (12,50%); medicamentos (12,50%); luvas (12,50%); e macerador(12,50%), dificultando assim o ensino-aprendizado dos alunos.

Quadro 16: Distribuição das freqüências da opinião dos professores quanto ao aluno monitor estimular o aprendizado do aluno no L.E.

• Em referência ao estímulo do aluno monitor ao aprendizado no L.E, oquadro 16 mostra que 71,42% afirmam que o monitor estimula o aprendizadodos alunos, já que estes podem auxiliar no treinamento. Isto confirma o queFriedlander (1990) relata, quando diz que o aluno monitor serve como um“facilitador” para o aprendizado, estimulando os alunos.

Quadro 17: Distribuição das freqüências dos professores quanto às suas sugestões para melhorar o aprendizado do monitor.

• Com referência às sugestões dos professores para melhorar o aprendiza-do do monitor, 42,85% responderam que deve haver maiores orientações porparte dos docentes, pois dessa forma haverá um melhor aprendizado econscientização do monitor no que diz respeito ao L.E.

Monitor estimula Freqüência %

Sim 05 71,42

Não 01 14,28

Pode melhorar 01 14,28

Total 07 100

Sugestões de Melhora Freqüência %

Mais orientações por parte do professor 03 42,85

Maior empenho no aprendizado e nas fundamentações 01 14,28

Conscientização do monitor quanto à sua função no que

diz respeito ao seu crescimento

01 14,28

Realização de testes pelos professores 01 14,28

Não responderam 01 14,28

Total 07 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 160

Quadro 18: Distribuição das freqüências dos professores quanto às suas sugestões para melhorar o funcionamento do L.E.

* Este número foi diferente de 7 porque os professores colocaram mais de 1 sugestão para melhorar o funcionamento do L.E.

• O quadro mostra que, dos professores questionados, 18,18% sugerem oconserto dos manequins danificados e outros 2 (18,18%) acham que deve havermais monitores com remuneração (desconto em mensalidades) para melhorar ofuncionamento do L.E., entre outras sugestões, que também são importantespara que o funcionamento seja cada vez melhor, com o objetivo de treinar alunospara sua capacitação profissional.

Vale ressaltar aqui que, após esta coleta de dados, 2 manequins que esta-vam muito velhos e danificados foram trocados por 1 manequim novo, o que,acreditamos, vai proporcionar um treinamento de maior qualidade. Quanto àoutra sugestão apresentada, a escala de utilização do L.E., informamos que elaexiste e está em funcionamento desde março de 2002.

Melhorar funcionamento do L.E. Freqüência %

Conserto dos manequins danificados 02 18,18

Mais monitores com remuneração 02 18,18

Uso do L.E. para aulas mais dinâmicas 01 9,09

Gincanas relacionadas às técnicas 01 9,09

Uso do L.E. para pequenos cursos destinados aos

alunos

01 9,09

Escalas de utilização do L.E. 01 9,09

Melhorar a identificação dos armários 01 9,09

Programação de técnicas aplicadas ao RN e à criança 01 9,09

Roteiros para facilitar os estudos 01 9,09

Total 11 * 100

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 161

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Através dos dados levantados, foi possível concluir que:• A maioria dos alunos que freqüentam o L.E. (82%) sabem da importân-

cia de estarem praticando as técnicas;• Dos alunos pesquisados, 81,81% sentem dificuldade em estarem em trei-

namento, por falta de materiais suficientes;• Na opinião dos alunos (100%), todos os materiais estão em falta. Vale ressal-

tar que estes são materiais descartáveis e dentro do prazo de validade;• Dos alunos pesquisados, 97,72% acham que o professor demonstra entu-

siasmo quando existe uma boa técnica praticada e 81,81% afirmam se-rem elogiados quando existe uma boa demonstração desta técnica;

• Quanto aos campos de estágio, 78,40% dos alunos afirmam que não sãotodos os locais onde há oportunidade para adquirirem habilidades técnicas;

• As técnicas que os alunos mostram maior dificuldade são S.V.D. (17,39%),S.N.G. (15,21%) e medicação (11,59%), pelo fato de acharem estas téc-nicas de difícil aprendizagem (17,04%);

• 87,50% dos alunos afirmam que há possibilidade de horário no L.E. paraestudarem;

• Na opinião de 79,54% dos alunos, os monitores auxiliam no aprendizadoe na opinião de 20,45% deles, não;

• O que mais estimula o aluno em praticar as técnicas é a necessidade deunir a teoria com a prática (40,40%) e a presença dos professores nostreinamentos (20,20%); e o que mais desstimula é a falta de materiaisnovos (37,60%) e muita gente no L.E. ao mesmo tempo (11,96);

• Na opinião dos professores, o interesse dos alunos em praticar as técni-cas é muito pouco (57,14%);

• Dos professores pesquisados, 33,33% sugerem maior disponibilidade dosmonitores para acompanhar os alunos; 22,22% requerem materiais de con-sumo em maior quantidade e reconhecem a importância do conhecimentodo campo de estágio, para melhorar o interesse dos alunos quanto ao L.E.;

• Assim como os alunos, os professores também observam a falta de ma-teriais disponíveis para treinamentos (57,14%) e colocam materiais deoxigenoterapia (25%), bonecos apropriados, medicamentos e luvas, to-dos com 12,50%, como sendo os que mais estão em falta;

• Na opinião dos professores, o aluno monitor estimula o aprendizado noL.E. (71,42%), deixando claro que isto ocorre quando o mesmo tem co-nhecimento sobre o assunto;

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 162

• Foram sugeridas mais orientações por parte dos professores, para me-lhorar o aprendizado do monitor (42,85%); e

• E para melhorar o funcionamento no laboratório, os professores achamque deve haver concerto dos manequins danificados (18,18%) e maismonitores com remuneração (18,18%).

Acredita-se que, com a realização deste trabalho, foi possível demonstrar aimportância do L.E. aos alunos, visto que o desenvolvimento das técnicas bási-cas o L.E. é um passo fundamental no crescimento profissional dos acadêmicos.

Convém frisar que tanto os alunos como os professores esperam que oL.E. apresente mais oportunidade de estudo, como: materiais suficientes, uso detreinamentos e aulas mais dinâmicas que possam estimular os alunos a buscar oseu crescimento, e empenho da monitoria em assessorar os alunos que estãoiniciando a sua prática.

Este último fato proporcionou aos monitores a busca de novos conheci-mentos e resolução de problemas em conjunto entre professores/alunos/monitores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASFRIEDLANDER, Maria Romana. Freqüência dos estudantes ao laboratório deenfermagem como atividade de livre opção. Revista Gaúcha de Enferma-gem. Porto Alegre, v.5, n.2, p.65-70, 1984.FRIEDLANDER, Maria Romana; O ensino de procedimentos básicos no labo-ratório de enfermagem; Revista da Escola de Enfermagem da USP. SãoPaulo. v.18, n.2, p.151-152, 1984.FRIEDLANDER, Maria Romana. O laboratório de enfermagem como recurso ins-trumental. Revista Paulista de Enfermagem. São Paulo, v. 6, n.1, p.7-9, 1986.FRIEDLANDER, Maria Romana. Estímulos que favorecem o treinamento emlaboratório de enfermagem: opinião de professores e alunos. Revista da Esco-la de Enfermagem da USP. São Paulo, v.24, n.1, p.41-65, 1990.LOURENCINE, J. C. et al. Laboratório de enfermagem, um recurso deensino e aprendizagem na visão dos acadêmicos de Enfermagem. Londri-na, 1998. (texto mimeografado).NOCA, Célia Regina da Silva. Características do treinamento de estudantes nolaboratório de enfermagem; Revista da Escola de Enfermagem da USP. SãoPaulo, v.19, n.2, p.145-52, 1999.OHNISHI, Mitsuko et al. Uso do laboratório no ensino de técnicas fundamentaisde enfermagem. Semina: Ci. Biológicas/Saúde. Londrina, v.16, n.2, p.278,jun.1995.

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TERRA E CULTURA, ANO XVIII, Nº 35 163

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O ENFERMEIRO E A ERGONOMIA EM UNIDADEDE CENTRO DE MATERIAIS

*Patrícia Helena Vivan Ribeiro**Renata Perfeito Ribeiro

RESUMO

O presente estudo faz uma abordagem quantitativa para mostrar que arealização diária de atividades como a de relaxamento através do alongamentocorporal com os trabalhadores de uma Unidade de Centro de Materiais (UCM),onde os mesmos executam trabalhos exaustivos, seqüenciais e repetitivos, po-dendo trazer uma melhora na parte física como também permitir um momentode descontração e humanização do grupo de trabalho. Destacamos a importân-cia do enfermeiro proporcionar atividades como esta à sua equipe de trabalho,utilizando a ergonomia a fim de melhorar a qualidade do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Unidade de Centro de Materiais; Ergonomia; Alongamento Corporal.

ABSTRACT

A quantitative approach is used in the present study to show the performanceof daily activities, like slackening through body lengthening, for the workers of aCentral Supply Unit, where they are in charge of hard, sequential, and repetitivework. Physical activities may improve their body physically as well as allow fora humanizing and relaxing moment for the work group. The importance of thenurse in promoting these activities to their work group is emphasized, usingergonomics to improve work quality.

KEY-WORDS: Central Supply Unit; Ergonomics; Body Lengthening.

*Docente da Disciplina Enfermagem em Centro Cirúrgico e Centro de Materiais do Curso deEnfermagem do Centro Universitário Filadélfia de Londrina – UniFil. Enfermeira da Unidade deCentro de Materiais do Centro Odontológico Universitário Norte do Paraná da UniversidadeEstadual de Londrina - UEL.Enfermeira.Especialista.E-mail: [email protected]**Enfermeira. Mestranda em Enfermagem na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulistade Medicina. Docente da Disciplina Enfermagem em Centro Cirúrgico e Centro de Materiais doCurso de Enfermagem da UniFil.E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A Unidade de Centro de Materiais (UCM) é o setor responsável pelo pre-paro e esterilização de todos os materiais utilizados na assistência do pacienteem um hospital. Para se garantir a qualidade deste material, exige-se um grandeesforço físico dos trabalhadores deste setor, pois o processo de trabalho é reali-zado de forma seqüencial, repetitiva e minuciosa, podendo ser considerada exaus-tiva. Isto faz com que este setor tenha um grande potencial para a ocorrência deacidentes de ordem física.

Como afirma PRADO et al. (1999, p.22), “o ambiente hospitalar é con-siderado insalubre por agrupar pacientes portadores das mais diversasenfermidades infecciosas e viabilizar vários procedimentos que oferecemriscos de acidentes para os trabalhadores da saúde (enfermeiros, médicos efisioterapeutas) que nele atuam.”

Considerando isso, podemos concordar com trabalhos que afirmam que,nas instituições hospitalares, a maior freqüência de acidentes de trabalho é ob-servada entre os trabalhadores da enfermagem. Estes mesmos trabalhos verifi-caram que as áreas com maior freqüência de acidentes são as Unidades Cirúr-gicas de Internação e a Unidade de Centro de Material (FEREIRA et al., 1980;SANTOS et al.,1989).

Podemos citar algumas funções realizadas na UCM que podem colocar asaúde dos trabalhadores deste setor em risco: no setor de expurgo, o trabalhadormanipula materiais contaminados que, na maioria das vezes, são pontiagudos,podendo causar perfurações e/ou cortes; permanece horas na mesma posição,em pé em frente à pia para realizar a lavagem e a desinfecção de materiais, oque pode causar o desenvolvimento de alterações circulatórias em seus mem-bros inferiores. No setor de esterilização, além da temperatura elevada, o carre-gamento e descarregamento de caixas com materiais pesados das máquinasesterilizadoras exige grande esforço físico. Também podemos encontrar UCMscom pisos escorregadios e irregulares, mobílias inadequadamente planejadas,assim como trabalhadores obesos e sem a prática de atividade física rotineira.

Portanto, para que ocorra a prevenção da ocorrência de acidentes de tra-balho, podemos fazer uso da ergonomia que, para alguns autores (MENDES,1996; WEERDMEESTER & DUL, 1995), é definida como o estudo do relacio-namento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particular-mente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia nasolução dos problemas surgidos desse relacionamento. Observa-se que, nemsempre, existe essa preocupação neste setor, seja pelas características do ambi-ente, dos equipamentos, pela falta de conscientização do trabalhador da UCM edo enfermeiro que lá atua.

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Segundo COUTO & MORAES (1999), é preciso relacionar a ergonomiacom o trabalho físico e sua quantificação sem se esquecer dos limites e da tolerânciado ser humano na questão das atividades físicas. A carga diária de peso ao qual ofuncionário da UCM está exposto é grande e o paradigma norteador das atividadesrealizadas neste setor não exige dele o pensar, mas, sim, o repetir o que foi ensinado.

Considerando aquilo que Salzano, Silva e Watanabe apud PERKINS (1981,p.108) afirmam, de que a UCM “é uma das unidades mais importantes do hos-pital, tanto do ponto de vista econômico como técnico-administrativo,” acre-ditamos que cabe ao enfermeiro dessa unidade assegurar a qualidade na assistên-cia do paciente, como também zelar pela saúde de sua equipe. É certo que, se umaequipe hospitalar por algum motivo entrar em desarmonia, a qualidade do trabalhoserá prejudicada, e consequentemente estará prejudicada a assistência prestadaao paciente/cliente nas demais unidades do hospital.

Frente à problemática encontrada na UCM, concordamos e aceitamosquando ALEXANDRE & ARAÚJO (1995) recomendam que, para minimizaresse problema, se faz necessária a realização de atividade física e de relaxa-mento regularmente. Também é preciso propiciar um ambiente mais ventilado,equipamentos seguros, com manutenção preventiva e educação continuada.

Como docentes e alunos da disciplina de Centro Cirúrgico e Centro deMaterial, em estágio em uma UCM, sentimos a necessidade de contribuir para amelhoria da qualidade de saúde dos trabalhadores que ali atuam. Como opçãoescolhida, aplicamos o relaxamento através da técnica de alongamento corporalcom a equipe de trabalho dessa unidade, seguindo a recomendação de ALE-XANDRE & ARAÚJO (1995).

OBJETIVO GERAL

-Proporcionar métodos para a diminuição de problemas físicos nos traba-lhadores da UCM.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Identificar a ocorrência de alguma dor no corpo do funcionário da UCMque possa estar relacionada com a atividade desenvolvida neste setor;

-Desenvolver uma atividade de alongamento corporal avaliando sua eficá-cia e benefícios para o corpo; e

-Provocar nos alunos da disciplina de enfermagem em Centro Cirúrgico aconsciência a respeito do envolvimento do enfermeiro da UCM na ergonomiados trabalhadores deste setor.

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METODOLOGIA

• Campo de estudoO estudo foi realizado em uma Unidade de Centro de Material de um

hospital geral de grande porte da cidade de Londrina – Pr, que atende a 236leitos hospitalares e realiza em média 30 cirurgias/dia.

• PopulaçãoA população deste estudo foi constituída por 11 dos 12 trabalhadores que

atuam no Centro de Material no período da tarde (1 encontrava-se em férias). Aqualificação dos profissionais caracterizava-se por 1 enfermeira e 10 auxiliaresde enfermagem.

Todos os auxiliares de enfermagem desta UCM realizam suas funçõesna área de expurgo, preparo, esterilização, dobradura e guarda de materiais,conforme escala de revezamento, com exceção da enfermeira, que realiza asupervisão do setor.

• Coleta de dadosPara iniciar as atividades, fizemos uma abordagem aos funcionários da

UCM, para orientá-los sobre a necessidade e a importância da realização deexercícios físicos regularmente, dando ênfase à satisfação corporal do ser hu-mano.

Foram realizados 20 dias de exercícios de alongamento com os trabalha-dores da UCM, com interrupção apenas aos sábados e domingos. Utilizamoscartazes contendo figuras que mostravam os exercícios passo a passo e umfundo musical com música clássica, dois alunos monitores orientavam todos osexercícios estimulando e corrigindo os trabalhadores.

Então foi um questionário (Anexo I) com perguntas abertas e fechadaspara avaliação da atividade realizada foi aplicado aos trabalhadores que partici-param desta atividade.

A atividade e a coleta dos dados foram realizados nos meses de outubro enovembro de 2000.

• Análise dos dadosOs dados obtidos foram analisados e discutidos com base numérica e

percentual, através de tabelas. As respostas descritivas foram analisadas segun-do seus conteúdos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando esta população quanto à idade, fica constatado que é uma po-pulação mista. Embora a maioria dos funcionários apresentem idade entre 31 e40 anos (46%), temos também que considerar que a UCM deste hospital é com-posta por funcionários mais jovens, com idade entre 20 e 30 anos (18%), funci-onários mais velhos, com idade entre 41 a 50 anos (18%) e funcionários com 51a 60 anos (18%). Mais de 50% têm idade abaixo de 40 anos, população esta quese apresenta em fase de alta produtividade. Devemos considerar que 36% destapopulação são mulheres com idade entre 41 a 60 anos, que podem apresentardores físicas relacionadas à necessidade de reposição hormonal.

Outra característica típica da profissão de enfermagem e que refletiu nes-ta amostra seria quanto ao sexo dos funcionários. 91% da população são cons-tituídos por pessoas do sexo feminino, com um funcionário do sexo masculino, oque perfaz 9%. Este trabalhador do sexo masculino participa do rodízio de ativi-dades realizadas na UCM, como todos os outros funcionários do sexo feminino.

Para MONTICELLI (2000, p.52), “uma das características mais gritantesna força de trabalho em enfermagem é a feminização. Mesmo quando a parti-cipação feminina no mercado de trabalho brasileiro ainda era reduzida (antesda década de 70), a enfermagem já figurava entre aquelas profissões quetinham maior número de mulheres empregadas nas instituições de saúde.”

Quanto ao tempo de trabalho na UCM, percebemos que a maioria dosfuncionários (46%) trabalha neste setor há um tempo entre 1 e 5 anos, mastambém temos 18% que trabalham há um tempo entre 5 e 10 anos e outros 18%que trabalham neste setor há um tempo entre 10 e 15 anos.

Analisando a Tabela IV (Anexo II), observamos que a maioria dos funcio-nários da UCM (64%) afirmou não sentir dores no corpo que poderiam estarrelacionadas com o trabalho realizado na UCM. Entretanto, observou-se tam-bém que a maioria dos funcionários (55%) sentiu alguma diferença no corpoapós a realização da atividade de alongamento. Acreditamos que a atividadefísica, quando realizada de maneira rotineira, leve à satisfação corporal de 100%dos funcionários submetidos a ela.

Quando analisamos a Tabela V (Anexo II), percebemos que todos os funci-onários da UCM (100%) acharam a atividade desenvolvida pelos alunos de enfer-magem MUITO BOA ou BOA. Acreditamos, então, na possibilidade de que umaatividade física ergonômica possa fazer parte da rotina do trabalho deste setor .

Analisando a Tabela VII (Anexo II), vimos que 9 dos funcionários da UCM(82%) sentiram alguma diferença ao desempenhar as suas atividades diáriasapós desenvolverem a atividade de alongamento, como afirmam: “Antes, sentia

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muita canseira e sono; agora, não. O alongamento me ajudou muito”; e “Mais disponibilidade, menos cansaço.”

Ficamos contentes e seguras ao analisarmos a Tabela VIII (Anexo II), poistodos os funcionários da UCM (100%) gostariam que a atividade de alongamentofeita pelos alunos de enfermagem tivesse continuidade. Acreditamos que existapor parte dos funcionários a vontade de realização destas atividades físicas.

Certificamo-nos disso quando perguntamos aos funcionários o que fariampara a continuidade dessa atividade e eles responderam: “Dependeria do apoiodos colegas e da chefia”; “Achei muito importante essa experiência; gos-taria que houvesse incentivo para a continuidade da mesma.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu-nos a reflexão sobre a importância dasensibilização e conscientização por parte do enfermeiro da UCM, no que serefere à importância da realização de atividades físicas ergonômicas pelos tra-balhadores daquele setor, permitindo-lhes a satisfação corporal e momentos dedescontração, além de proporcionar mais humanização ao grupo de trabalho.

Se faz necessária a adoção de atividades de ensino-aprendizagem que per-mitam aos alunos de enfermagem a reflexão para proporcionarem atividadescoletivas de ergonomia tanto em Unidades de Centro de Materiais quanto emoutros setores, considerando que os recursos necessários para este tipo de ativi-dades não oneram a instituição hospitalar.

Levantamos a preocupação com a carga psíquica a que estão submetidosestes trabalhadores. Percebemos que a atividade desenvolvida, além de trazermelhorias físicas, pode proporcionar melhorias psíquicas. Portanto, lembramos anecessidade de realização de trabalhos que descrevam esta problemáticaergonômica, possibilitando essas melhorias.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRE, M. C. A.; ARAÚJO, I. E. M. Contribuição ao estudo de fato-res ergonômicos relacionados com a ocorrência de dores nas costas em centrocirúrgico. II CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM EM CEN-TRO CIRÚRGICO. Anais. São Paulo, 1995, p.88-93.COUTO, H. de A.; MORAES, L. F. R. Limites do homem. Revista Proteção.Ano XII, p.38-44, dez. 1999.FERREIRA, N. R. et al. Acidentes de trabalho num ambiente hospitalar e suaprevenção. In: 18º CONGRESSO NACIONAL DE PREVENÇÃO ACIDEN-TE DE TRABALHO. Salvador, 1979. Anais. São Paulo, FUNDACENTRO,1980, p.393-96.MENDES, R. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 1996, cap.1, p.5-29.MONTICELLI, M. A força de trabalho em enfermagem e sua inserção nosistema de alojamento conjunto. Revista Bras. Enf., Brasília, v.53, n.1, p.47-62,Jan./Mar. 2000.PRADO, M. A. et al. A equipe de saúde frente aos acidentes com materialbiológico. Rev. Nursing, n.19, dez. 1999.SALZANO, S. D. T.; SILVA, A.; WATANABE, E. O trabalho do enfermeirono centro de material. Rev. Paul. Enf. São Paulo, 9 (3): p.103-108, set./dez.1990.SANTOS, W. D. F. dos et al. Acidentes típicos de trabalho em pessoal de enfer-magem: fatores associados. Rev Bras. Saúde Ocup., v.17, n.68, p.38-42, 1989.WEERDMEESTER, B.; DUL, J. Ergonomia prática. São Paulo: Edgar Blucher,1995, cap.1, p.13-16.

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ANEXO I

Questionário para Avaliação da Atividade de Alongamento Desenvolvida emuma UCM

1- Dados de Identificação: Idade: ______ Peso: _______ Sexo: ( ) FEM ( ) MASC

Tempo em que trabalha neste setor: _____________________________________________________

2- Sente alguma dor no corpo, que possa estar relacionada com a atividade quedesenvolve na UCM ?

( ) SIM ( ) NÃOCaso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Local da dor:____________________________________________________Freqüência da dor:____________________________________________________

3- Como você classificaria a atividade de “ALONGAMENTO” desenvolvidapelos alunos de enfermagem?

( ) MUITO BOA ( ) BOA ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

4- Você sentiu alguma diferença no corpo, após desenvolver essa atividade deALONGAMENTO?

( ) SIM ( ) NÃOCaso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Qual ? _________________________________________________

5- Você sentiu alguma diferença ao desempenhar suas atividades, após desen-volver essa atividade de ALONGAMENTO?

( ) SIM ( ) NÃOCaso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Qual? _________________________________________________

6- Você acha importante dar continuidade a esta atividade de ALONGAMENTO?( ) SIM ( ) NÃO

7- O que você poderia fazer para dar continuidade a esta atividade?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Comentários: ___________________________________________________________________________

ANEXO II

TABELA I – Quanto à idade dos trabalhadores da UCM:

TABELA II – Quanto ao sexo dos funcionários:

TABELA III – Quanto ao tempo de trabalho na UCM:

TABELA IV – Quanto ao sentimento de dores no corpo relacionadas aotrabalho realizado na UCM:

IDADE Nº %20 – 30 2 1831 – 40 5 4641 – 50 2 1851 – 60 2 18TOTAL 11 100

SEXO N.º %FEMININO 10 91MASCULINO 1 9TOTAL 11 100

TEMPO N.º %ATÉ 1 ANO 1 91 - 5 ANOS 5 465 - 10 ANOS 2 1810 - 15 ANOS 2 18ACIMA DE 30 ANOS 1 9TOTAL 11 100

SENTIMENTO DE DORES NOCORPO

N.º %

SIM 4 36NÃO 7 64TOTAL 11 100

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TABELA V – Quanto à classificação da atividade desenvolvida pelosalunos de enfermagem na UCM:

TABELA VI – Quanto ao sentimento de alguma diferença no corpo apósas atividades realizadas na UCM:

TABELA VII – Quanto ao sentimento de diferença no desempenho dasatividades diárias na UCM:

TABELA VIII – Quanto à importância da continuidade da atividade de-senvolvida na UCM:

CLASSIFICAÇÃO N.º % MUITO BOA 6 55 BOA 5 45 RAZOÁVEL - - RUIM - - TOTAL 11 100

SENTIMENTO DE ALGUMADIFERENÇA NO CORPO APÓSREALIZAÇÃO DA ATIVIDADE

Nº %

SIM 6 55 NÃO 5 45 TOTAL 11 100

SENTIMENTO DE DIFERENÇANO DESEMPENHO DASATIVIDADES APÓS A

REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE

N.º %

SIM 9 82 NÃO 2 18 TOTAL 11 100

GOSTARIA QUE A ATIVIDADETIVESSE CONTINUIDADE

N.º %

SIM 11 100 NÃO 0 0 TOTAL 11 100

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1

ANEXOS

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ANEXO 1 -A AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA DOCENTE EM

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENFERMAGEM

Ficha de Avaliação de Desempenho do Aluno em Estágio Supervisionado

CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACURSO: ENFERMAGEMDISCIPLINA:___________________________________________PROFESSOR:__________________________DATA ___/____/____

AVALIAÇÃO NOTA1) CONHECIMENTO: O aluno demonstrou: (2,0)

a – realizar as ações de enfermagem:Fundamentando suas ações ou procedimentos no referencialteórico proposto (a metodologia científica que norteia suas açõese princípios de assepsia que justificam as técnicas). (1,0)b- buscar o crescimento e aprimoramento técnico prático atravésde discussão dos casos, pesquisa bibliográfica, estudo deconteúdos novos e realização de trabalhos. (1,0)

2) OBSERVAÇÃO: O aluno desenvolveu capacidadede: (1,5)

A - detectar dificuldades e/ou problemas reais ou potenciaisexistentes (0,75)B - observar as condições do material e medicamentos (data devencimento e esterilização, final de gotejamento de soro emedicações nas enfermarias, dosagens, vias, limpeza, etc.)(0,75)

3) PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO: O alunodemonstrou capacidade de: (1,5)a- planejar e organizar suas atividades por ordem de prioridade(0,5)b- preparar o material e/ou ambiente antes e após a execução doprocedimentoc- prever as atividades em tempo hábil (0,5)d- estabelecer uma dinâmica de trabalho, de acordo com tempodisponível ao campo de estágio (0,5)

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Observações: A responsabilidade é um dos aspectos fundamentais na for-mação do enfermeiro e está implícita nas categorias de 1 a 6.

Anotações:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4) EXECUÇÃO: O aluno é capaz de: (2,0)a- executar com segurança as atividades previamente planejadas(0,3)b- realizar o exame físico de forma sistematizada e fundamentada(0,4)c- aplicar o histórico de enfermagem em linguagem adequada aopaciente e redigir de forma clara, e científica (0,4)d- identificar os problemas de enfermagem (0,4)e- agrupar os problemas identificados por afinidades dentro dospadrões estabelecidos pela NANDA (0,2)f- fazer anotações de enfermagem, de forma clara, concisa,completa e científica(0,3)

f- INICIATIVA, INTERESSE, CRIATIVIDADE,PARTICIPAÇÃO: O aluno demonstrou capacidade de: (1,5)a- iniciativa e interesse ao assumir atividades que lhe foramoferecidas ou propostas. (0,5)b- participar ativamente das discussões, questionamentos e dasatividades de grupo. (0,5)c- aproveitar as oportunidades. (0,5)

g- APRESENTAÇÃO PESSOAL / POSTURA ERELACIONAMENTO: O aluno demonstrou capacidade de:(1,5)a- apresentar-se no campo de acordo com as normas pré-estabelecidas (uniformizado e de acordo com os princípios deasseio) (0,2)b- ponderar em situações embaraçosas junto aopaciente/família e comunidade (0,2)c- reconhecer a cidadania do paciente, garantindo suaassistência de forma digna e humanizadora (0,3)d- utilizar princípios éticos em seus posicionamentos(comentários a respeito de pacientes, princípios estabelecidospelo código de ética de enfermagem (0,3)e- relacionar-se satisfatoriamente com a equipe de trabalho,professores, colegas e outros (0,2)f- comunicar-se e se expressar com facilidade (0,3)

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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Professor: ____________________ Aluno:___________________

ANEXO BCentro de Universitário Filadélfia

Instrumento de Pesquisa

Questionário para Docentes

Dados de Identificação:

Nome: .............................................................. Sexo ........ Idade ...........Tempo de Docência: ...............................................................................Há quanto tempo atua na instituição? ................... E na disciplina ?...............Graduação: ( ) especialista ( ) mestre ( ) doutor

1) Quais os objetivos gerais pretendidos por esta disciplina?.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................2) O que você mais valoriza quando planeja o estágio nesta disciplina?.........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................3) Quais os critérios que você utiliza para avaliar o desempenho dos alunos

em campo de estágio supervisionado?.......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................4) Em que momentos do processo ensino-aprendizagem você avalia

os alunos na experiência de campo (estágio)?........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

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ANEXO - PROJETO DE EXTENSÃO:VISITA PRÉ E PÓS OPERATÓRIA DE CIRURGIA

CARDÍACA

ROTEIRO PARA VISITA PRÉ E PÓS-OPERATÓRIA

ORIENTAÇÕES

PRÉ• Orientação com relação ao prosseguimento ou não do uso de medicações

(anticoagulante a antihipertensivo);• Interrupção ao ato de fumar;• Exercícios respiratórios;• Orientação quanto ao C. C.;• Se questionado, orientar quanto aos drenos, SNG;• Jejum;• Tricotomia total SN;• Banho com antisséptico de germante;• Enteroclisma com sol. glicemia a 6% 500 a 1000 ml;• SVD;• Roupas esterilizadas após a degeneração;• UTI – visita.

PÓS• Descrever rapidamente o estado geral do paciente (físico e psicológico);• Questionamento das orientações recebidas (dúvidas);• Exame físico rápido:• queimaduras;• alergias;• problemas para posicionamento;• incisão.

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ANEXO - O ENFERMEIRO E A ERGONOMIA EMUNIDADE DE CENTRO DE MATERIAIS

Questionário para Avaliação da Atividade de Alongamento Desenvolvida emuma UCM

1- Dados de Identificação: Idade: ______ Peso: _______ Sexo: ( ) FEM ( ) MASC

Tempo em que trabalha neste setor: _____________________________________________________

2- Sente alguma dor no corpo, que possa estar relacionada com a atividade quedesenvolve na UCM ?

( ) SIM ( ) NÃO

Caso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Local da dor:____________________________________________________Freqüência da dor:____________________________________________________

3- Como você classificaria a atividade de “ALONGAMENTO” desenvolvidapelos alunos de enfermagem?

( ) MUITO BOA( ) BOA( ) RAZOÁVEL( ) RUIM

4- Você sentiu alguma diferença no corpo, após desenvolver essa atividade deALONGAMENTO?

( ) SIM ( ) NÃO

Caso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Qual ? _________________________________________________

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5- Você sentiu alguma diferença ao desempenhar suas atividades, após desen-volver essa atividade de ALONGAMENTO?

( ) SIM ( ) NÃO

Caso tenha respondido SIM à pergunta anterior, responda:Qual? _________________________________________________

6- Você acha importante dar continuidade a esta atividade de ALONGAMEN-TO?

( ) SIM ( ) NÃO

7- O que você poderia fazer para dar continuidade a esta atividade?_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Comentários: ___________________________________________________________________________

ANEXO II

TABELA I – Quanto à idade dos trabalhadores da UCM:

IDADE Nº %20 – 30 2 1831 – 40 5 4641 – 50 2 1851 – 60 2 18TOTAL 11 100

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TABELA II – Quanto ao sexo dos funcionários:

TABELA III – Quanto ao tempo de trabalho na UCM:

TABELA IV – Quanto ao sentimento de dores no corpo relacionadas aotrabalho realizado na UCM:

TABELA V – Quanto à classificação da atividade desenvolvida pelosalunos de enfermagem na UCM:

SEXO N.º %FEMININO 10 91MASCULINO 1 9TOTAL 11 100

TEMPO N.º %ATÉ 1 ANO 1 91 - 5 ANOS 5 465 - 10 ANOS 2 1810 - 15 ANOS 2 18ACIMA DE 30 ANOS 1 9TOTAL 11 100

SENTIMENTO DE DORES NOCORPO

N.º %

SIM 4 36NÃO 7 64TOTAL 11 100

CLASSIFICAÇÃO N.º % MUITO BOA 6 55 BOA 5 45 RAZOÁVEL - - RUIM - - TOTAL 11 100

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TABELA VI – Quanto ao sentimento de alguma diferença no corpo apósas atividades realizadas na UCM:

TABELA VII – Quanto ao sentimento de diferença no desempenho dasatividades diárias na UCM:

TABELA VIII – Quanto à importância da continuidade da atividade de-senvolvida na UCM:

SENTIMENTO DE ALGUMADIFERENÇA NO CORPO APÓSREALIZAÇÃO DA ATIVIDADE

Nº %

SIM 6 55 NÃO 5 45 TOTAL 11 100

SENTIMENTO DE DIFERENÇANO DESEMPENHO DASATIVIDADES APÓS A

REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE

N.º %

SIM 9 82 NÃO 2 18 TOTAL 11 100

GOSTARIA QUE A ATIVIDADETIVESSE CONTINUIDADE

N.º %

SIM 11 100 NÃO 0 0 TOTAL 11 100