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Juros moratórios e correção monetária

Termo a quo PODER JUDICIÁRIOEstado do Rio de Janeiro

Juízo de Direito da 8º Vara de Fazenda PúblicaComarca da Capital

Processo n.º 0148593-80.2011.8.19.0001

DECISÃO

Extrai-se da manifestação da Contadoria Judicial (fls. 15), que a apuração de

eventual excesso de execução, dependerá da definição: (I) do termo a quo da correção

monetária; (II) das datas a serem consideradas no cômputo dos juros legais; sendo certo

que também deverão ser definidas as taxas de juros aplicáveis a cada período.

Passo a tratar assim do termo inicial da correção monetária:

Malgrado a indexação tenha a meu sentir sido extirpada do ordenamento jurídico

brasileiro pela legislação que implementou o Plano Real em 1994, fato é que os

Tribunais prosseguiram adotando índices pré-fixados para a atualização de valores

oriundos de condenações judiciais. Desse modo, curvando-me a tal quadro fático,

reconheço que as regras sobre a incidência da correção monetária hão de advir da antiga

Lei 6899, que nos idos de 1981 já preconizava, em sucinta redação:

“Art 1º - A correção monetária incide sobre qualquer débito resultante de decisão judicial, inclusive sobre custas e honorários advocatícios.§ 1º - Nas execuções de títulos de dívida líquida e certa, a correção será calculada a contar do respectivo vencimento. § 2º - Nos demais casos, o cálculo far-se-á a partir do ajuizamento da ação. Art 2º - O Poder Executivo, no prazo de 60 (sessenta) dias, regulamentará a forma pela qual será efetuado o cálculo da correção monetária. Art 3º - O disposto nesta Lei aplica-se a todas as causas pendentes de julgamento.Art 4º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art 5º - Revogam-se as disposições em contrário”

Verifica-se assim que a correção monetária possui marcos iniciais distintos,

conforme a dívida seja líquida ou ilíquida. No tocante às primeiras (dividas líquidas) a

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correção correrá a partir da data de vencimento da dívida . Quanto às demais (dívidas

ilíquidas) será computada a partir do ajuizamento da ação.

Na integração de tal comando, teceu a jurisprudência relevante distinção ainda

quanto ao termo inicial da correção monetária, conforme se trate de responsabilidade

civil contratual ou extracontratual.

Tratando-se de responsabilidade civil contratual, observar-se-á a regra já exposta

quanto à liquidez do débito.

Cuidando-se, no entanto de responsabilidade civil extracontratual, deve-se

observar o teor da súmula 43 do STJ, no tocante aos dano materiais e atentar para o

preceito contido nas súmulas 362 do STJ e 95 TJERJ, na hipótese de dano moral.

Confira-se:

Súmula nº 43 do STJ: “incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo”,

Súmula nº 362 do STJ:“A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.”

Súmula n.º 95 do TJERJ: “A correção monetária da verba indenizatória de dano moral, sempre arbitrada em moeda corrente, somente deve fluir do julgado que a fixar”.

Portanto, na hipótese de compensação por danos morais, o termo a quo da

correção monetária é aquele preconizado pela súmula n.º 95 do Tribunal de Justiça do

Rio de Janeiro, qual seja, “a data do julgado que a fixar”.

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Logo, sendo esta última a hipótese dos autos, a correção monetária deve fluir a

partir do acórdão de fls. 148-150 que fixou o valor do dano moral no presente caso.

Estabelecido o termo inicial da correção monetária, passo a tratar do termo a

quo relativo à taxa de juros :

Aos moldes do que ocorreu com a correção monetária deve-se atentar, no

tocante ao termo inicial da taxa de juros, quanto à origem da responsabilidade civil, se

contratual ou extracontratual.

Neste sentido, a súmula 54 do STJ editada antes da vigência do CC/2002, mas

que ainda se apresenta em plena vigência, fixa a fluência dos juros moratórios a partir

do evento danoso, tratando-se de responsabilidade civil extracontratual:

Súmula: 54 do STJ“OS JUROS MORATORIOS FLUEM A PARTIR DO EVENTO DANOSO, EM CASO DE RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL.”

Diga-se que o CC/2002 em seu art. 398, trata a matéria da mesma forma,

estabelecendo a data do ato danoso com termo a quo para fluência dos juros:

“Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito considera-se o devedor em mora desde o momento que a praticou.”

Nesse sentido é pacífica a jurisprudência do STJ, sendo certo que as

condenações por dano moral submetem-se a esta regra:

AgRg no REsp 1139305 / RJ AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2009/0086196-7 Relator(a) Ministro FELIX FISCHER (1109) Órgão Julgador T5 - QUINTA

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TURMA Data da Publicação/Fonte DJe 21/06/2010 Data do Julgamento 01/06/2010EmentaAGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ANISTIA. DANO MORAL. JUROS MORATÓRIOS. INÍCIO. EVENTO DANOSO. SÚMULA N.º 54/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA. INÍCIO. FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.I - O entendimento desta c. Corte Superior consolidou-se no sentido de que, nas ações envolvendo responsabilidade civil extracontratual, os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, nos moldes da Súmula n.º 54/STJ.II - Por outro lado, a correção monetária do valor da indenização do dano moral incide, consoante os termos da Súmula n.º 362/STJ, desde a data do arbitramento, tendo em mente que, no momento em que fixada, já teria o e. Tribunal a quo levado em conta a expressão atual de valor da moeda, devendo, somente a partir daí, operar-se a correção. Agravo regimental desprovido.

Logo, tratando-se de ação que visa a compensação por danos morais, fixo o

termo a quo dos juros moratórios como sendo a data do evento danoso, qual seja,

09/01/2003 .

Feitas estas considerações resta ser definida apenas a taxa de juros aplicável ao

caso. Para tanto cabe uma breve análise histórica:

O regramento aplicável à Fazenda Pública no que toca aos juros por ela devidos

em decorrência de ações judiciais é basicamente composto de cinco estatutos distintos:

(I) o Código Civil de 1916; (II) Decreto-Lei 2.322⁄87; (III) a Medida Provisória 2.180-

35 de 2001 que incluiu o art. 1º F na lei 9494/97; (IV) o Novo Código Civil de 2002; e

(V) a lei 11.960/2009 que deu nova redação ao referido artigo 1º F da lei 9494/97.

O Código Civil de 1916 não fazia qualquer distinção entre os juros que incidem

em face do particular e os que correm em face da Fazenda Pública. Logo era aplicável a

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espécie o regramento do Art. 1062 e 1063 do CC/1916, que previa juros de 6% a.a.,

verbis:“Art. 1.062. A taxa dos juros moratórios, quando não convencionada (art. 1.262), será de 6% (seis por cento) ao ano. Art. 1.063. Serão também de 6% (seis por cento) ao ano os juros devidos por força de lei, ou quando as partes se convencionarem sem taxa estipulada.”

A partir de 26/02/1987 a hegemonia deste regramento foi quebrada pela edição

do Decreto-Lei 2.322⁄87. O referido Decreto-Lei era aplicável tão somente no que tange

às ações em que se discutia verbas remuneratórias, vencimentos e verbas trabalhistas

outras, independentemente de terem sido propostas por empregados privados,

empregados públicos ou servidores de vínculo estatutário. As demais condenações

contra a Fazenda Pública continuavam regidas pelo CC de 1916, veja:

“Art. 3º - Sobre a correção monetária dos créditos trabalhistas, de que trata o Decreto-Lei nº 75, de 21 de novembro de 1966, e legislação posterior, incidirão juros, à taxa de 1% (um por cento) ao mês, capitalizados mensalmente.§ 1º - Nas decisões da Justiça do Trabalho, a correção monetária será calculada pela variação nominal da Obrigação do Tesouro Nacional - OTN, observado, quando for o caso, o disposto no Parágrafo único do artigo 6º do Decreto-Lei nº 2.284, de 10 de março de 1986, com a redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei nº 2311, de 23 de dezembro de 1986.§ 2º - Aplicam-se aos processos em cursos as disposições deste artigo.”

Nesse sentido, a orientação do STJ:

"PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. REAJUSTE DE 28,86%. LEIS 8.622⁄93 E 8.627⁄93. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. OCORRÊNCIA. SÚMULA 85⁄STJ. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL. AÇÃO AJUIZADA ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA MEDIDA PROVISÓRIA 2.180-35⁄2001. LEI 9.494⁄97. DISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. SÚMULA 7⁄STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

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1. Nas ações ajuizadas anteriormente à edição da MP n.º 2.180-35⁄2001, que acrescentou o art. 1º-F na Lei n.º 9.494⁄97, os juros moratórios devem ser fixados no percentual de 12% ao ano nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas de natureza alimentar a servidores públicos, por incidência do disposto no art. 3º do Decreto-Lei 2.322⁄87. Precedentes.(...)4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido." (REsp 664.662⁄RS, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, DJ 19⁄9⁄2005)

“ADMINISTRATIVO - CIVIL – RECURSO ESPECIAL - AG. REGIMENTAL - SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL - PROVENTOS - JUROS MORATÓRIOS – NATUREZA ALIMENTAR – 1% AO MÊS.1 - Os vencimentos/proventos dos servidores públicos, sendo contraprestações, são créditos de natureza alimentar. Logo, há que se ponderar que a matéria não versa sobre Direito Civil, com aplicação do dispositivo contido no art. 1.062, do CC, mas sim, de normas salariais, não importando se de índole estatutária ou celetista. Na espécie, aplica-se o art. 3º, do Decreto-Lei nº 2.322/87, incidindo juros de 1% ao mês sobre dívidas resultantes da complementação de salários.2 – Precedentes (STF, RE nº 108.835-4/SP e STJ, REsp nº 7.116/SP e EREsp nºs 58.337/SP e 116.014/SP). 3 – Agravo Regimental conhecido, porém, desprovido.Data da Decisão: 04/10/2001Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA(Acórdão AGRESP 289543 / RS, AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2000/0124043-9 Fonte: DJ DATA:19/11/2001 PG:00307 Relator: Min. JORGE SCARTEZZINI)”

Por igual, a orientação do TRF3:

TRF3 - APELAÇÃO CÍVEL: AC 15357 SP 2008.03.99.015357-2:

AÇÃO CONDENATÓRIA - REAJUSTE DE VENCIMENTOS - 28,86% - PRESCRIÇÃO - JUROS DE MORA INCIDENTES SOBRE VERBAS REMUNERATÓRIAS DEVIDAS A SERVIDORES E EMPREGADOS PÚBLICOS - DECRETO-LEI Nº 2.322/1987

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E MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.180-35/2001 - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

I - Está assentado o entendimento no sentido de que não há prescrição de fundo de direito, mas apenas das parcelas vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação que postula diferenças de vencimentos de servidores públicos, conforme súmula nº 85 do STJ.

II - Os juros de mora incidentes sobre verbas remuneratórias a serem pagas aos servidores e empregados públicos, por terem natureza alimentar, conforme a jurisprudência pacífica da 3ª Seção do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, são devidos a partir da citação (artigo 219 do Código de Processo Civil), no percentual de 1%, nos termos do artigo 3º do Decreto-Lei nº 2.322/87, se a ação foi ajuizada antes da vigência da Medida Provisória nº 2.180-35/2001 (27.08.2001), sendo que esta última norma, que acrescentou o art. 1º-F na Lei nº 9.494/97 fixando os juros em 6% ao ano, por possuir natureza instrumental com reflexos na esfera jurídico-material, somente é aplicável aos processos ajuizados a partir de sua vigência, sendo também inaplicáveis disposições constantes do Código Civil (antigo ou atual) em razão da natureza especial da relação jurídica de que se trata (STJ - 5ª Turma: AGRESP 842347, J. 19/10/2006, e AgRg no REsp 491621 / ES, J. 23/03/2004, ambos da Rel. Min. Laurita Vaz; AGRESP 846913, J. 19/09/2006, Rel. Min. Gilson Dipp. 6ª Turma: AgRg no AgRg no REsp 822423 / RS, J. 17/08/2006, Rel. Min. Paulo Gallotti; AgRg no Ag 617237 / MA, J. 20/09/2005, Rel. Min. Hamilton Carvalhido).

III - No caso em exame, a ação foi ajuizada antes da vigência da referida medida provisória, pelo que são devidos juros de 1% ao mês, conforme disposto na sentença.

IV - A verba honorária de sucumbência fixada na sentença (10% do valor atualizado da condenação) atende perfeitamente a equidade para as ações da espécie dos autos (diferenças de vencimentos de servidores), em observância dos parâmetros do artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil

A partir de 27/08/2001, com a entrada em vigor da Medida Provisória 2.180-35

que incluiu Art. 1º F na lei 9494/97 o Decreto-Lei 2.322⁄87 foi derrogado no que tange

às questões remuneratórias inerentes a empregados e servidores públicos. Esta polêmica

MP determinou que nas ações remuneratórias dos servidores públicos, empregados

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públicos e pensionistas (interpretação jurisprudencial) os juros em face da Fazenda

Pública seriam de 6% ao ano:

“Art. 1o-F.  Os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não poderão ultrapassar o percentual de seis por cento ao ano."”

A jurisprudência do STJ confirmou a adoção deste índice:

"ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. LICENÇA-PRÊMIO NÃO GOZADA. CONVERSÃO EM PECÚNIA. APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE. JUROS DE MORA. PERCENTUAL. FAZENDA PÚBLICA. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.180⁄2001.1. Conforme entendimento firmado pela Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, é devida a conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada e não contada em dobro, quando da aposentadoria, sob pena de indevido locupletamento por parte da Administração Pública.2. A Medida Provisória nº 2.180⁄2001, que modificou o artigo 1º-F da Lei nº 9.494⁄97, determinando que os juros moratórios sejam calculados em 6% (seis por cento) ao ano nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores públicos, tem incidência nos processos iniciados após a sua edição.3. Recurso parcialmente provido."(REsp 829.911⁄SC, Rel. Min. PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, DJ 18⁄12⁄2006)

Muito embora tenha havido acirradas discussões tanto acerca da

inconstitucionalidade da referida Medida Provisória, já que a mesma não foi convertida

em Lei no prazo de 120 dias; quanto também por se tratar de mais um privilégio a ser

usufruído pela Fazenda Pública, prevaleceu, nos Tribunais Pátrios, o entendimento de

que os juros de mora, tratando-se de condenações impostas à Fazenda Pública e para

pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não

poderiam ultrapassar o percentual de 6% ao ano. A referida lei foi considerada

constitucional pelo STF, conforme se extrai do seguinte informativo: 8 de 20

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STF: juros de mora nas condenações impostas à Fazenda Pública são limitados a 6% a.a. Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário e declarou a constitucionalidade do art. 1º-F da Lei 9.494/97, introduzido pela Medida Provisória 2.225-45/2001, que estabelece que “os juros de mora, nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, não poderá ultrapassar o percentual de 6% ao ano”. Na espécie, impugnava-se acórdão da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro que, aplicando seu Enunciado 32, condenara a União ao pagamento integral do resíduo de 3,17% sobre os vencimentos dos servidores públicos federais, acrescidos de juros de 1% ao mês, ao fundamento de que o dispositivo em questão fere o princípio constitucional da isonomia — v. Informativo 436. Salientando-se que o conceito da isonomia, aplicado à hipótese do recurso, é relacional, exigindo modelos de comparação e de justificação, entendeu-se não haver discriminação entre credores da Fazenda Pública, haja vista que os débitos desta, em regra, são pagos com taxa de juros moratórios de 6% ao ano, a exemplo do que ocorre na desapropriação, nos títulos da dívida pública e na composição dos precatórios. Destacou-se exceção a essa regra, citando-se o indébito tributário, em relação ao qual aplica-se o disposto no art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, c/c o art. 39, § 4º, da Lei 9.250/95. Esclareceu-se que a Fazenda Pública, no caso do indébito, remunera de modo mais vantajoso, porque, quando exige o pagamento, também o faz de forma mais elevada, tratando-se, portanto, de reciprocidade que vincula a cobrança à dívida. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia, Carlos Britto, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence que negavam provimento ao recurso.RE 453740/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.2.2007. (RE-453740)”

No mesmo sentido a Jurisprudência do STJ:

"AGRAVOS REGIMENTAIS EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EX-FERROVIÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 83⁄STJ. JUROS DE MORA. PERCENTUAL. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.180-35⁄2001. PRECEDENTES.

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(...)3. Vigente a Medida Provisória nº 2.180⁄35, que acrescentou o artigo 1º-F ao texto da Lei nº 9.494⁄97, a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça consolidou-se em que os juros de mora devem ser fixados no percentual de 6% ao ano nas hipóteses em que proposta a ação após a inovação legislativa, taxa incidente não somente nos pagamentos de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos, mas também, e com igual razão, nos pagamentos das pensões delas decorrentes.4. A norma jurídica contida no artigo 406 do novo Código Civil, predominantemente de natureza dispositiva, é, por inteiro, estranha às hipóteses tais como a dos autos, de juros de mora devidos pela Fazenda Pública nas condenações ao pagamento de verbas remuneratórias aos servidores e empregados públicos, tendo incidência própria nas relações jurídicas disciplinadas pelo Código Civil e funções meramente subsidiária e supletiva, em razão das quais determina que se observe a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.5. Agravos regimentais improvidos." (AgRg no AgRg no REsp 1011163⁄PR, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, DJe 25⁄08⁄2008)”

Ainda no âmbito do STJ:"PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. REAJUSTE DE 28,86%. LEIS 8.622⁄93 E 8.627⁄93. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. OCORRÊNCIA. SÚMULA 85⁄STJ. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL. AÇÃO AJUIZADA ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA MEDIDA PROVISÓRIA 2.180-35⁄2001. LEI 9.494⁄97. DISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. SÚMULA 7⁄STJ. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.1. Nas ações ajuizadas anteriormente à edição da MP n.º 2.180-35⁄2001, que acrescentou o art. 1º-F na Lei n.º 9.494⁄97, os juros moratórios devem ser fixados no percentual de 12% ao ano nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas de natureza alimentar a servidores públicos, por incidência do disposto no art. 3º do Decreto-Lei 2.322⁄87. Precedentes.(...)4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido." (REsp 664.662⁄RS, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, DJ 19⁄9⁄2005)”

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Após 11/01/03, com a vigência do Código Civil de 2002, a taxa de juros

aplicável à Fazenda Pública, (exceto aquela relativa a pagamento de servidores e

empregados públicos, regida pelo art. 1º F na lei 9494/97, apontando 6% a.a), passa a

obedecer ao comando do art. 406 do CC/02 que determina aplicação da “taxa que

estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”,

in verbis: “Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”

Tal taxa por entendimento doutrinário é aquela estabelecida no artigo 161, § 1º,

do Código Tributário Nacional, por ser a única fixada por lei e considerada apta para

integração do referido artigo, o que acarretou a aplicação do percentual de 1% ao mês,

conforme se verifica:“Art. 161. (..)§1o. Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de 1% (um por cento) ao mês."

Esse é o teor do Enunciado 20 do CONSELHO EJ/CJF 09/02:

“A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 (Código Civil) é a do artigo 161, §1º do CTN, ou seja, 1% ao mês”.

A dualidade de regramentos persistiu até 30/06/2009, data da entrada em vigor

da Lei 11.960/2009 a qual conferiu nova redação ao art. 1º F da lei 9494/97,

determinando sua aplicação a quaisquer condenações impostas à Fazenda Pública,

independentemente de sua natureza (civis, trabalhistas, tributárias ou outras). Tal lei

determinou a aplicação dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à

caderneta de poupança.

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“Art. 1ºF. “Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta”

Diante da sucessão de tais diplomas normativos, instaurou-se acentuada

discussão quanto à natureza jurídica da norma alteradora da taxa de juros, se de direito

processual ou material.

Em um primeiro momento, jurisprudência capitaneada pelo STJ inclinou-se no

sentido de que tais normas ostentavam natureza de direito material (ou processual-

material). Confira-se:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. JUROS DE MORA NAS CONDENAÇÕES CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. LEI N.º 11.960/09. ÍNDICES DA CADERNETA DE POUPANÇA. APLICAÇÃO AOS PROCESSOS EM ANDAMENTO. DESCABIMENTO.CARÁTER INSTRUMENTAL MATERIAL. JUROS DE MORA. PERÍODO DE INCIDÊNCIA.LIQUIDAÇÃO DOS VALORES DEVIDOS. TERMO FINAL.1. Esta Corte Superior de Justiça realizando a exegese do art. 1.º-F da Lei n.º 9.494/97, com a redação dada pela Medida Provisória n.º 2.180-35/01, entendeu que este possui natureza instrumental material, na medida em que origina direitos patrimoniais para as partes, e, como corolário lógico dessa ilação, que seus contornos não devem incidir nos processos em andamento.2. Esse entendimento aplica-se, mutatis mutandis, à alteração promovida pela Lei n.º 11.960/09.3. Não se pode imputar à Fazenda Pública a demora do trâmite processual até a expedição do precatório e sua respectiva inscrição no orçamento, após a liquidação do valor devido, esta verificada após a definição do quantum debeatur, com o trânsito em julgado dos embargos à execução, como na hipótese, ou com o decurso in albis do prazo para Fazenda Pública opô-los.4. Agravo desprovido.

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(AgRg nos EmbExeMS 7.411/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/02/2011, DJe 23/03/2011)

Em outros termos, isto implicava reconhecer eficácia ultra-ativa ao comando

normativo. Ou seja, se uma nova lei alterasse a taxa de juros vigente, esta nova norma

não alcançaria os processos já em curso, cujos fatos tenham ocorrido sob a vigência da

lei antiga (lei revogada), que continuaria a reger aquele caso.

A lei revogada continuaria aplicável a todos os fatos nascidos sob a sua vigência

(principio tempus regit actum) e, excepcionalmente, continuaria a reger a taxa de juros

daquele caso, (mesmo após ter sido revogada), até o momento em que fosse satisfeita a

obrigação (eficácia ultra-ativa).

Tal posicionamento, no entanto, restou superado, tendo o STJ na sessão de

18.06.2011, por ocasião do julgamento do EREsp n. 1.207.197/RS, de relatoria do Min.

Castro Meira, entendido por bem alterar entendimento até então prevalente, firmando

posição no sentido de que os juros de mora são consectários legais da condenação

principal e possuem natureza eminentemente processual, razão pela qual têm aplicação

imediata aos processos em curso. Confira-se a ementa do acórdão:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS. DIREITO INTERTEMPORAL. PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM.  ARTIGO 1º-F, DA LEI Nº 9.494⁄97. MP 2.180-35⁄2001. LEI nº 11.960⁄09. APLICAÇÃO AOS PROCESSOS EM CURSO.1. A maioria da Corte conheceu dos embargos, ao fundamento de que divergência situa-se na aplicação da lei nova que modifica a taxa de juros de mora, aos processos em curso. Vencido o Relator.2. As normas que dispõem sobre os juros moratórios possuem natureza   eminentemente processual, aplicando-se aos processos em andamento, à luz do princípio   tempus regit actum.   Precedentes.

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3. O art. 1º-F, da Lei 9.494⁄97, modificada pela Medida Provisória 2.180-35⁄2001   e, posteriormente pelo artigo 5º da Lei nº 11.960⁄09, tem natureza instrumental, devendo   ser aplicado aos processos em tramitação. Precedentes.4. Embargos de divergência providos

No que toca à natureza dos juros, destaca-se o seguinte trecho:

“Com efeito, bem consignou o Exmo. Sr. Min. Teori Albino Zavaski, por ocasião do julgamento do Recurso Especial 745.825/RS:O fato gerador do direito a juros moratórios não é a propositura ou a existência da ação judicial e nem a sentença condenatória em si mesma, que simplesmente o reconheceu. O que gera o direito a juros moratórios é a demora no cumprimento da obrigação. Trata-se, portanto, de fato gerador que se desdobra no tempo, produzindo efeitos também após a prolação da sentença. Para a definição da taxa de juros, em situações assim, há de se aplicar o princípio de direito intertemporal segundo o qual tempus regit actum: os juros relativos ao período da mora anterior à vigência do novo Código Civil são devidos nos termos do Código Civil de 1916 e os relativos ao período posterior, regem-se pelas normas supervenientes" (sem destaques no original).”

Tal orientação passou a constituir a jurisprudência dominante no STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. VERBAS REMUNERATÓRIAS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA DEVIDOS PELA FAZENDA PÚBLICA. LEI 11.960/09, QUE ALTEROU O ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. NATUREZA PROCESSUAL. APLICAÇÃO IMEDIATA AOS PROCESSOS EM CURSO QUANDO DA SUA VIGÊNCIA. EFEITO RETROATIVO.IMPOSSIBILIDADE.1. Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de aplicação imediata às ações em curso da Lei 11.960/09, que veio alterar a redação do artigo 1º-F da Lei 9.494/97, para disciplinar os critérios de correção monetária e de juros de mora a serem observados nas "condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza", quais sejam, "os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança".

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2. A Corte Especial, em sessão de 18.06.2011, por ocasião do julgamento dos EREsp n. 1.207.197/RS, entendeu por bem alterar entendimento até então adotado, firmando posição no sentido de que a Lei 11.960/2009, a qual traz novo regramento concernente à atualização monetária e aos juros de mora devidos pela Fazenda Pública, deve ser aplicada, de imediato, aos processos em andamento, sem, contudo, retroagir a período anterior à sua vigência.3. Nesse mesmo sentido já se manifestou o Supremo Tribunal Federal, ao decidir que a Lei 9.494/97, alterada pela Medida Provisória n. 2.180-35/2001, que também tratava de consectário da condenação (juros de mora), devia ser aplicada imediatamente aos feitos em curso.4. Assim, os valores resultantes de condenações proferidas contra a Fazenda Pública após a entrada em vigor da Lei 11.960/09 devem observar os critérios de atualização (correção monetária e juros) nela disciplinados, enquanto vigorarem. Por outro lado, no período anterior, tais acessórios deverão seguir os parâmetros definidos pela legislação então vigente.5. No caso concreto, merece prosperar a insurgência da recorrente no que se refere à incidência do art. 5º da Lei n. 11.960/09 no período subsequente a 29/06/2009, data da edição da referida lei, ante o princípio do tempus regit actum.6. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ.7 Cessam os efeitos previstos no artigo 543-C do CPC em relação ao Recurso Especial Repetitivo n. 1.086.944/SP, que se referia tão somente às modificações legislativas impostas pela MP 2.180-35/01, que acrescentou o art. 1º-F à Lei 9.494/97, alterada pela Lei 11.960/09, aqui tratada.8. Recurso especial parcialmente provido para determinar, ao presente feito, a imediata aplicação do art. 5º da Lei 11.960/09, a partir de sua vigência, sem efeitos retroativos.(REsp 1205946/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe 02/02/2012)

No mesmo sentido:

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PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE.VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA 284/STF. PRESCRIÇÃO. SÚMULA 85/STJ. JUROS MORATÓRIOS CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.180-35 E LEI N. 11.960/09, QUE ALTERARAM O ART. 1º-F DA LEI N. 9.494/97. APLICAÇÃO IMEDIATA.MATÉRIA JULGADA SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC.1. As razões do recurso especial demonstram que a parte insurgente não individualizou a omissão a que se refere o art. 535 do CPC, ou seja, não indicou com precisão a questão essencial para o deslinde da controvérsia que deveria ter sido abordada no julgamento, mas não foi. Essa hipótese dá ensejo à aplicação da Súmula 284/STF.2. A decisão agravada seguiu a jurisprudência consolidada nesta Corte no sentido de que, não havendo negativa do próprio direito reclamado, não ocorre a prescrição do fundo de direito, mas tão-somente as parcelas anteriores aos cinco anos que antecedem a propositura da ação. Incidência da Súmula 85/STJ.3. A Corte Especial, por ocasião do julgamento do Recurso Especial n. 1.205.946/SP, pelo rito previsto no art. 543-C do Código de Processo Civil (Recursos Repetitivos), consignou que os juros de mora são consectários legais da condenação principal e possuem natureza eminentemente processual, razão pela qual as alterações do art. 1º-F da Lei 9.494/97, introduzidas pela Medida Provisória n.2.180-35/2001 e pela Lei 11.960/09, têm aplicação imediata aos processos em curso, com base no princípio tempus regit actum. (cf.Informativo de Jurisprudência n. 485).4. Na mesma linha de compreensão, o Supremo Tribunal Federal, após reconhecer a repercussão geral da questão constitucional nos autos do AI n. 842.063/RS, consolidou entendimento no sentido de que a Lei 9.494/97, alterada pela Medida Provisória n. 2.180-35/2001, abrange os processos pendentes de julgamento, ainda que ajuizados em data anterior a entrada em vigor da lei nova.5. Na hipótese dos autos, no pertinente aos juros moratórios, impõe-se a aplicação ao presente feito do art. 1º-F da Lei n. 9.494/97, com as alterações introduzidas pela

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Medida Provisória n. 2.180-35/2001, que determinou a incidência de juros de mora no percentual de 6% ao ano, desde a propositura da ação, em 8.09.2006, até 29.6.2009, e, a partir dessa data, os juros serão calculados nos mesmos moldes aplicados à caderneta de poupança, nos termos do art. 5º da Lei n. 11.960/2009.6. Agravo regimental parcialmente provido.(AgRg no AREsp 68.533/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 09/12/2011)

O novo entendimento esposado pelo STJ converge ainda com a jurisprudência

pacífica de ambas as turmas do Supremo Tribunal Federal:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO: JUROS MORATÓRIOS. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1º-F DA LEI N. 9.494⁄97. PRECEDENTE. APLICABILIDADE IMEDIATA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO (AgRg no AI  746.268⁄RS, Rel. Min. Carmen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 05.02.10); 

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. JUROS DE MORA. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI 9.494⁄97 COM REDAÇÃO DA MP 2.180-35.CONSTITUCIONALIDADE.EFICÁCIA IMEDIATA.1. É constitucional a limitação de 6% (seis por cento) ao ano dos juros de mora devidos em decorrência de condenação judicial da Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias devidas a servidores e empregados públicos. Precedentes.2. Aplicação imediata da lei processual aos processos em curso.3. Agravo regimental improvido (AgRg no RE 559.445⁄PR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 12.06.09); 

CIVIL. SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. INEXISTÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. JUROS DE MORA. ART. 1º-F DA LEI 9.494⁄97 COM REDAÇÃO DA

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MP 2.180-35. CONSTITUCIONALIDADE. EFICÁCIA IMEDIATA. AGRAVO IMPROVIDOI – Não houve trânsito em julgado do acórdão recorrido, uma vez que o presente recurso extraordinário foi interposto contra a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça.II - Ambas as Turmas desta Corte fixaram entendimento no sentido de que a norma do art. 1º-F, da Lei 9.494⁄97, modificada pela Medida Provisória 2.180-35⁄2001, é aplicável a processos em curso.III – Agravo regimental improvido (AgRg no AI 778.920⁄RS Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 18.11.10); 

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. JUROS DE MORA. ART. 1º-F DA LEI 9.494⁄97 COM REDAÇÃO DA MP 2.180-35.CONSTITUCIONALIDADE. EFICÁCIA IMEDIATA. AGRAVO IMPROVIDO.I – A norma do art. 1º-F, da Lei 9.494⁄97, modificada pela Medida Provisória 2.180-35⁄2001 é aplicável a processos em curso. Precedentes.II – Aplica-se a MP 2.180-35⁄2001 aos processos em curso, porquanto lei de natureza processual, regida pelo princípio do tempus regit actum, de forma a alcançar os processos pendentes.III – Agravo regimental improvido (AgRg no AI 767.094⁄RS Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 02.12.10)

Atente-se que ao se reconhecer a natureza de direito processual de tais normas,

indissociavelmente se está a afirmar o atributo da eficácia imediata.

Assim, a nova norma definidora de taxa de juros é aplicável imediatamente aos

processos em curso (mesmo os nascidos sob a égide da lei revogada), alcançando-os a

partir do início da vigência da norma, não retroagindo, contudo, a período anterior.

Em decorrência, vencendo-se os juros mês a mês, deve-se observar a norma

vigente à época de cada vencimento.

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Conclui-se, portanto que, na hipótese de sucessão de normas processuais que

alterem as taxas de juros, pode-se ter, para um mesmo fato, a incidência de taxas

distintas, cada uma a regular um dado período.

No caso em tela, tratando-se de ação de responsabilidade civil visando à

reparação por danos morais, o termo “a quo” dos juros remonta à data dos fatos, isto é

09/01/2003. Aplica-se assim, à luz do exposto, a taxa de juros vigente àquela época,

qual seja 0,5 ao mês com lastro no CC/16.

A partir de 11/01/03, data em que entrou em vigor o CC/02, a taxa de juros a ser

observada passa a ser a de 1% ao mês com lastro na conjugação do art. 406 do CC/02

com o artigo 161, §1º do CTN, a qual vigorará até 29/06/2009.

Por fim, a partir de 30/06/2009 com entrada em vigor da Lei 11.960/2009 a qual

conferiu nova redação ao art. 1º F da lei 9494/97, deverá ser observada a taxa de juros

aplicável à poupança, a qual continuará a reger a presente execução até o adimplemento

da obrigação, ou até edição superveniente de nova norma alteradora da taxa de juros.

Ante todo o exposto, determino:

1 - O retorno dos autos à Central de Cálculos Judiciais, para apurar se há excesso

de execução e, em caso positivo, especificar seu quantum.

2 – Que aquela Central adote os seguintes parâmetros:

a) correção monetária a partir do acórdão de fls. 148-150 que fixou

corretamente o dano moral;

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b) juros moratórios a contar da data dos fatos;

c) A taxa de juros aplicável será de 0,5 ao mês (consoante CC/16),

passando para 1% ao mês a partir de 11/01/03 (data da entrada em

vigor do CC/02). Esta última taxa será observada até 30/06/2009,

data em que deverá ser aplicável a taxa de juros vigente para

caderneta de poupança, consoante as disposições da lei

11.960/2009 que alterou a redação ao Art. 1º F da lei 9494/97,

passando esta ultima a reger a hipótese.

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2012.

RENATO LIMA CHARNAUX SERTÃJuiz de Direito

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