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ARTIGO DE REVISÃO
TERMINOLOGIA MÉDICA E O USO DE EPÔNIMOS
Vânia Belintani Piatto1
Fernando Batigália2
Antônio de Pauda Neves3
1. Professora Assistente da Disciplina de Anatomia (FAMERP), Mestre em Ciências da Saúde - Área de Concentração em BiologiaMédica (FAMERP), Membro da Sociedade Brasileira de Anatomia, Médica Pediatra.2. Professor Assistente da Disciplina de Anatomia (FUNFARME), Membro da Sociedade Brasileira de Anatomia, Cirurgião Geral eGastroenterologista.3. Professor Assistente da Disciplina de Anatomia (FAMERP), Membro da Sociedade Brasileira de Anatomia, Cirurgião Geral.Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - FAMERPAceito para publicação em 28/10/00
RESUMO
Epônimos ainda têm sido amplamente utilizados na linguagem médica, ocasionando
confusão entre estruturas ou, até mesmo, não as identificando. Os autores dão
ênfase às definições etimológicas, relatam um breve histórico da Terminologia
Anatômica e discutem sobre a inadequação do uso dos epônimos na prática médicaatual, destacando que o exato conhecimento dos mesmos se restringe a poucos
estudiosos em anatomia humana.
Unitermos: Epônimos, Terminologia anatômica, Medicina
INTRODUÇÃO
A Anatomia é um ramo da Morfologia, ou seja,
da ciência que trata da forma e da estrutura dos
seres vivos1,2. A Anatomia Humana é definidacomo a ciência que descreve a forma externa do
corpo humano, seu desenvolvimento, sua
arquitetura, a situação e as relações dos órgãos,
além de estudar a morfologia do todo e de suas
partes1-6. A pesquisa do valor morfológico é a
avaliação das estruturas, das quais se procura
determinar a natureza, a razão de sua existência
e a função que desempenham2,3. Ao se descrever
um corpo, um órgão ou qualquer de suas partes,
deve ser intuitivo interpretar também a sua
função5,6.
O termo Anatomia, etimologicamente, tem
origem grega anatomé : ana (distributivo, em
partes) e tomé (corte) ou temmein (cortar)7-9. Aassociação das palavras significa dissecação, ou
seja, o ato ou a técnica de cortar ordenadamente
um objeto, no caso um cadáver de indivíduo da
espécie humana, para se conhecer a estrutura do
corpo humano, desde o nível macroscópico até o
microscópico 2,5,8,9. A Anatomia representa,
portanto, a dissecação, descrição, interpretação
e avaliação de um ser e de suas partes2,5.
Após séculos de elaboração de termos para
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Tabela 1. Listagem de diferentes epônimos para identificar uma mesma estrutura2,3,11-29
Tabela 2. Listagem de mesmo epônimo para identificar estruturas diferentes2,3,11-29
PIATTO VB, et al. Terminologia Médica e o Uso de Epônimos
Camada de Haller Lâmina vascular da corióide do olho
Camada de Sattler Lâmina vascular da corióide do olho
Esfincter de 4 partes de Boyden Músculo esfincter da ampola hepatopancreática
Esfincter de Oddi Músculo esfincter da ampola hepatopancreática
Fáscia de Buck (Períneo) Fáscia superficial do períneoFáscia de Gallaudet (Períneo) Fáscia superficial do períneo
Feixe de His Fascículo atrioventricular
Feixe de Kent Fascículo atrioventricular
Ligamento de Bertin Ligamento iliofemoral
Ligamento de Bigelow Ligamento iliofemoral
Ligamento de Falópio Ligamento inguinal
Ligamento de Poupart Ligamento inguinal
Ligamento de Wrisberg Ligamento meniscofemoral posterior
Ligamentos de Robert Ligamento meniscofemoral posterior
Nervo de Alderman Ramo auricular do Nervo vagoNervo de Arnold Ramo auricular do Nervo vago
Nó de Keith-Flack Nó sinoatrial
Nó de Koch Nó sinoatrial
Nódulo de Morgagni Nódulo da válvula semilunar
Nódulo de Valsalva Nódulo da válvula semilunar
Núcleo de Roller Núcleo subhipoglossal
Núcleo de Staderini Núcleo subhipoglossal
Esfincter de 4 partes de Boyden Músculo esfincter superior
Esfincter de 4 partes de Boyden Músculo esfincter inferior
Esfincter de 4 partes de Boyden Músculo esfincter da ampola hepatopancreática
Fáscia de Buck (Pênis) Fáscia do pênis
Fáscia de Buck (Períneo) Fáscia superficial do períneo
Fáscia de Colles (Escroto) Túnica dartos
Fáscia de Colles (Pênis) Tela subcutânea do pênis
Fáscia de Colles (Períneo) Camada membranácea (Tela subcutânea do períneo)
Fáscia de Gallaudet (Abdome) Fáscia superficial de revestimento
Fáscia de Gallaudet (Períneo) Fáscia superficial do períneo
Ligamento de Cooper (Mama) Ligamentos suspensores da mama
Ligamento de Cooper (Região inguinal) Ligamento pectíneo
Músculo de Müller Fibras circulares do Músculo ciliar
Músculo de Müller Músculo orbital
Nervo de Cruveilhier Nervo vertebral (Parte simpática)
Nervo de Cruveilhier Ramo lingual (VII Par Craniano)
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DISCUSSÃO
A tendência atual dos sistemas internacionais de
nomenclatura é de substituir, sempre que possível,
os epônimos por terem características
inespecíficas, para uma terminologia
localizadora, descritiva ou etiológica, que facilite
a compreensão dos fatos ou a sua ligação com a
natureza ou a causa do assunto em questão10,12,15,16.
A Terminologia Anatômica se encontra
sujeita a modificações, acréscimos e supressões,
como qualquer língua viva. As mudanças podem
ser efetuadas, por sugestão escrita, e justificada
ao Comitê Federativo da Terminologia
Anatômica, que as avaliará, votará para aceitá-
las e as submeterá para aprovação final à
Assembléia Geral da Federação Internacional da
Associação dos Anatomistas.
A terminologia na Clínica Médica, em
geral, não tem sido fundamentada nos termos
anatômicos. As doenças ou estruturas, como
entidades conceituais, não estão uniformemente
definidas, e embora os padrões internacionais de
doenças estejam disponíveis, ainda não há
consenso sobre os vários pontos-de-vista12.
A discordância entre a terminologia na
Clínica Médica e os termos anatômicos tem
contribuído para que o vocabulário clínico se
desenvolva por si só. Deste modo, alguns
epônimos são tão abrangentes que o nome próprio
do descobridor tornou-se um substantivo (por
exemplo: roentgen, de Röentgen WK;
mendelismo, de Mendel GJ; síndrome de Down,
em homenagem a Down JLH)12,16. Contudo, os
epônimos utilizados para a Terminologia
Anatômica encontram-se atualmente em desuso,
pois ao se pretender descrever uma estrutura com
certa complexidade, não se consegue expressar a
sua designação correta, levando a interpretações
ambígüas12,16,25, conforme apresentados nas
Tabelas 1 e 2.
A Terminologia Anatômica atual tem como
princípio os seguintes critérios: cada sociedade
anatômica deverá possuir somente um termo para
designar uma estrutura; os termos deverão ser
curtos, didáticos e descritivos; a classificação da
terminologia deverá ser, se possível, em latim;
todos os epônimos não deverão ser utilizados pela
anatomia macroscópica que está finalmente
estruturada e regularmente estabelecida12,16.
Versões futuras da Terminologia Anatômica
necessitam adaptar-se às necessidades de todos
que a usam, nos meios clínico e científico. O
Comitê Federativo da Terminologia Anatômica
encontra-se em contínuo trabalho integrado com
a Citologia, Histologia, Embriologia, Odontologia
e Antropologia, visando a publicação de um
dicionário de termos anatômicos, um atlas
ilustrado e versões eletrônicas de todas as
publicações10,16.
O objetivo do Comitê Federativo vigente
tem sido democratizar a Terminologia e fazê-la a
linguagem viva da Anatomia, tornando-a
internacionalmente aceita, reconhecida e
eliminando assim, as diferenças nacionais
existentes, proporcionando assim um estado de
arte e pesquisa em Anatomia Humana30.
CONCLUSÃO
O uso de epônimos, nas terminologias médica e
anatômica não deve ser realizado. As
discrepâncias e confusões secundárias à utilização
dos epônimos reforçam a aplicação da
Terminologia Anatômica vigente nas escolas
médicas.
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Agradecimento:Ao Prof. Dr. Hélcio José Lins Werneck pela
permissão em consultar sua biblioteca particular
para as pesquisas bibliográficas e pelo incentivo
à atualização e ao aprimoramento científico da
Disciplina de Anatomia da FAMERP.
Endereço para correspondência:
Vânia Belintani Piatto
Rua Frei Baltazar, nº 415 - Boa Vista
CEP:15025-390
São José do Rio Preto, SP
E-mail: [email protected]
ABSTRACT
MEDICAL TERMINOLOGY AND THE USE OF EPONYMS
Eponyms have been largely utilized in the medical language, causing confusion
among structures or even lack of identification. The authors emphasize etymological
concepts, and report a brief history of Anatomical Terminology. Also discussed is
the inadequacy on the use eponyms in current medical practice. The exact knowledge
of eponyms is limited to a few human anatomy scholars.
Uniterms: Eponyms, Anatomical terminology, Medicine
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