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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Programa de Pós-Graduação em Psicologia TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O CASO DO BURNOUT Flávio Fernandes Fontes Natal 2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O

CASO DO BURNOUT

Flávio Fernandes Fontes

Natal

2016

ii

Flávio Fernandes Fontes

TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O

CASO DO BURNOUT

Tese elaborada sob a orientação do prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Psicologia

Natal 2016

iii

Catalogação da Publicação na Fonte.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

Fontes, Flávio Fernandes.

Teorização e conceitualização em psicologia: o caso do Burnout / Flávio

Fernandes Fontes. – 2016.

130 f.

Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro

de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em

Psicologia, 2016.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão.

1. Burnout (Psicologia). 2. Stress ocupacional. 3. Psicologia. I. Falcão,

Jorge Tarcísio da Rocha. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

RN/BSE-CCHLA CDU 159.9:331

iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ATA DA 31ª SESSÃO DE DEFESA PÚBLICA DE TESE DE DOUTORADO

Aos três do mês de junho de 2016, às 14h00min, no Auditório "D" do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi instalada a Comissão Examinadora responsável pela avaliação da tese de doutorado intitulada TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O CASO DO BURNOUT, apresentada pelo doutorando, Flávio Fernandes Fontes ao Programa de Pós-graduação em Psicologia, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Psicologia. A Comissão Examinadora foi presidida pelo professor orientador Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e contou com a participação dos professores doutores Saulo de Freitas Araújo (UFJF) e lonara Dantas Estevam (UnP), na qualidade de examinadores externos ao programa, e Renata Archanjo (UFRN) e Pedro Fernando Bendassolli (UFRN), na qualidade de examinadores internos. A sessão teve a duração de três horas e meia e a Comissão Examinadora emitiu o seguinte parecer: A tese cumpre todos os requisitos necessários para aprovação, apresentando conteúdo original e trazendo contribuições para o campo, com possibilidade de desdobramentos futuros em várias áreas. Sugere-se levar em consideração as sugestões pontuais feitas pela banca, procedendo às revisões sugeridas. O doutorando foi considerado: (X) aprovado ( ) reprovado _________________________________ Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão Presidente _________________________________ Profa. Dra. lonara Dantas Estevam Examinadora Externa _________________________________ Prof. Dr. Pedro F. Bendassolli Examinador Interno _________________________________

Prof. Dr. Saulo de Freitas Araújo Examinador Externo

_________________________________ Profa. Dra. Renata Archanjo Examinadora Interna _________________________ Flávio Fernandes Fontes Doutorando

v

Agradecimentos

O processo de escrita dessa tese foi longo e foram muitas as pessoas que

ajudaram a construir o resultado final. À Jorge Falcão, por ter me incentivado ao

longo de todo o percurso e pelas reuniões de orientação, das quais eu saía

sempre com energia renovada e motivação para o trabalho. À Dra. Selma Leitão,

pela leitura atenta no momento em que o trabalho passava pelo seminário de

tese do PPGPSI. À Dra. Rosângela Francischini e Dra. Maria Bernadete

Fernandes de Oliveira, pela leitura no momento da qualificação. Aos membros

da banca, Dra. Ionara Dantas Estevam, Dra. Renata Archanjo, Dr. Saulo de

Freitas Araújo e Dr. Pedro F. Bendassolli, pelas correções, críticas e sugestões

que melhoraram a versão final do texto e me forneceram indicações para

prosseguir na pesquisa. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por me

proporcionar um ambiente de trabalho e estudo. À CAPES, pela bolsa que

possibilitou o período sanduíche. À Monalisa Carrilho e Irène Belloni, pela

inesquecível generosidade. À toda a equipe da Psicologia do Trabalho e Clínica

da Atividade no CNAM, em especial à Yves Clot, Livia Scheller, Katia Kostulski

e Jean-Luc Tomás, pela recepção, apoio e ajuda ao longo de todo o período de

estudos em Paris. À turma de brasileiros no CNAM: Katia Diolina, Fabiana

Goulart de Oliveira, Enio Rodrigues da Silva, Priscila da Silva Antonio, Danielle

Vargas e Matilde Agero Batista. Ao Cercle International de l’ARC, pelo convívio

e lições de aprimoramento da conversação em francês. À Michel Jouanneaux,

Christophe Massot, Maria Noel Close, José Luis Horta Brasil, Dylan Keegan,

Sophie Janinet, Maria Inês Campos, Mariana Sarciotto Catunda Martins,

Carolina Melo, Tiago Pereira, Bruno Karelovic Burotto e tantos outros amigos

que fizeram a vida ter sentido em um país estrangeiro. À Andrés Luis L. F. Sales,

Lucas Mafaldo e Aline Maia, pela amizade que resiste ao tempo e à distância. À

minha família, pelo apoio imprescindível. À Marina, por andar “reto entre tudo o

que há de incerto em mim”.

vi

Sumário Resumo ......................................................................................................................................... vii

Abstract ....................................................................................................................................... viii

Resumen ........................................................................................................................................ ix

Introdução ................................................................................................................................... 10

Objetivo central e estrutura dos capítulos .............................................................................. 10

Alguns pressupostos epistemológicos .................................................................................... 13

Capítulo 1: A emergência da Psicologia Teórica e Filosófica como uma área de pesquisa

acadêmica ................................................................................................................................... 19

Capítulo 2: Análise de conceitos/palavras/metáforas ................................................................ 35

2.1 A contribuição da Psicologia para a análise de conceitos ................................................. 35

2.2 Análise de conceitos e pensamento metafórico ............................................................... 39

2.3 Análise conceitual como história linguageira e social ....................................................... 42

Capítulo 3: Herbert J. Freudenberger e a criação do burnout como síndrome psicopatológica 49

3.1 Psicologia e trabalho ......................................................................................................... 49

3.2 Delimitando o objeto ........................................................................................................ 51

3.3 A criação do conceito de burnout ..................................................................................... 55

3.4 Metáforas que organizam o conceito de burnout ............................................................ 61

3.5 A dinâmica intrapsíquica ................................................................................................... 66

3.6 Indivíduo, instituições, sociedade ..................................................................................... 68

3.7 Um conceito em movimento............................................................................................. 70

Capítulo 4: Mensuração do burnout: a contribuição de Christina Maslach ................................ 74

4.1 O percurso até a quantificação ......................................................................................... 74

4.2 Contando a história ........................................................................................................... 82

4.3 Reformulando o conceito .................................................................................................. 86

Capítulo 5: Conclusão .................................................................................................................. 91

5.1 O conceito ......................................................................................................................... 91

5.2 A palavra ............................................................................................................................ 93

5.3 As metáforas ..................................................................................................................... 95

5.4. Considerações finais ......................................................................................................... 97

Referências bibliográficas ......................................................................................................... 104

Apêndice A: Bibliografia Herbert J. Freudenberger .................................................................. 118

Apêndice B: Bibliografia Christina Maslach ............................................................................... 125

vii

Resumo

Pesquisas filosóficas e conceituais vêm sendo reiteradamente apontadas como necessárias na Psicologia, dada a caracterização da disciplina como excessivamente centrada no método e na coleta de dados empíricos. Apresentamos a Psicologia Teórica e Filosófica enquanto área de pesquisa que procura responder a esse problema, constituindo um campo de reflexão e trabalho metateórico capaz de evitar as armadilhas da aplicação meramente mecânica de procedimentos metodológicos. Em seguida fornecemos algumas diretrizes sobre como realizar a análise de conceitos em psicologia. Defendemos como abordagem levar em consideração a dimensão linguageira (palavra e metáfora) de um determinado objeto psicológico e seguir seu desenrolar de transformações pela história. Com base nessa perspectiva, realizamos o estudo de uma problemática oriunda da psicologia do trabalho: a síndrome de burnout, que pode ser caracterizada como uma situação de “exaustão” em relação à atividade laboral por parte do indivíduo-trabalhador. Analisamos em profundidade a obra de dois dos teóricos mais importantes na história desse conceito: Herbert J. Freudenberger e Christina Maslach. Expomos qual o contexto de surgimento e a filosofia da ciência que embasam a criação desse novo objeto psicológico, ressaltando a diferença entre a perspectiva clínica-psicanalítica (Freudenberger) e a perspectiva de mensuração positivista (Maslach). Seguimos as mudanças conceituais e de ortografia da palavra pelas quais passou o burnout na obra de ambos os autores escolhidos, enfatizando a instabilidade das definições apresentadas. Defendemos que duas metáforas são os aspectos mais estáveis do objeto psicológico em questão: a metáfora da síndrome e a metáfora do homem como sistema de energia. A primeira encontra dificuldades de se justificar teoricamente, enquanto a segunda constitui o aspecto central do burnout através da ideia de exaustão. Palavras-chave: psicologia teórica e filosófica; história de objetos psicológicos; stress ocupacional.

viii

Abstract

Philosophical and conceptual research has been repeatedly deemed necessary

in psychology, given the characterization of the discipline as method-driven and

overly focused on data collection. Theoretical and Philosophical Psychology is

presented as a research area that tries to counter this problem, by providing a

framework for reflection and metatheoretical work within psychology, in order to

avoid the pitfalls of a mechanical application of methodological procedures. Some

guidelines are provided on how to perform conceptual analysis in psychology: it

must take into account the linguistic dimension (word and metaphor) of a given

psychological object and follow its transformation in history. Following this

approach, the study of an important object in work psychology is carried out: the

burnout syndrome, which can be defined as an exhaustion of the worker in the

context of his work activity. A detailed analysis of the contributions of the two

most important authors in the history of the concept is provided: Herbert J.

Freudenberger and Christina Maslach. The context in which it appears and the

underlying philosophy of science that gives support to this new object are

scrutinized, emphasizing the difference between a clinical and psychoanalytical

perspective (Freudenberger) and a positivist perspective focused on

measurement (Maslach). We follow conceptual and spelling changes suffered by

the psychological object in the hands of both authors, emphasizing how the

definition has been instable. It is argued that two metaphors are the most stable

elements in the history of this psychological object: the syndrome metaphor and

the metaphor of man as an energy system. The first one has difficulties in

justifying itself, while the second one establishes the central aspect of burnout,

exhaustion.

Keywords: theoretical and philosophical psychology; history of psychological

objects; occupational stress.

ix

Resumen

Investigaciones filosóficas y conceptuales han sido identificadas repetidamente como necesarias en la psicología, dada la caracterización de la disciplina como excesivamente centrada en el método y en la recolección de datos empíricos. Presentamos la psicología teórica y filosófica como una área de investigación que pretende dar respuesta a este problema, proporcionando un campo de reflexión y trabajo metateórico capaz de evitar las trampas de la aplicación puramente mecánica de los procedimientos metodológicos. A continuación ofrecemos algunas pautas sobre cómo llevar a cabo el análisis de los conceptos en la psicología. Defendemos un enfoque teniendo en cuenta la dimensión de lenguaje (palabra y metáfora) de un determinado objeto psicológico y seguimos sus transformaciones en la historia. Sobre la base de esta perspectiva, se realizó el estudio de un problema que surge de la psicología del trabajo: el síndrome de burnout, que puede ser caracterizado como una situación de agotamiento en relación con la actividad laboral por parte del individuo. Se analizaron en profundidad la obra de dos de los teóricos más importantes en la historia de este concepto: Herbert J. Freudenberger y Christina Maslach. Presentamos el contexto y la filosofía de la ciencia que apoyan la creación de este nuevo objeto psicológico, haciendo hincapié en la diferencia entre el punto de vista clínico-psicoanalítico (Freudenberger) y la perspectiva de medición positivista (Maslach). Seguimos los cambios conceptuales y de escritura de la palabra burnout en el trabajo de los autores elegidos, enfatizando la inestabilidad de las definiciones. Se argumenta que dos metáforas son los aspectos más estables del objeto psicológico en cuestión: la metáfora del síndrome y la metáfora del hombre como sistema de energía. La primera es difícil de justificar teóricamente, mientras que la segunda es el aspecto central del burnout a través de la idea de agotamiento.

Palabras clave: Psicología teórica e filosófica; historia de objetos psicológicos;

estrés ocupacional.

10

Introdução

Objetivo central e estrutura dos capítulos

Este é um trabalho de prospecção teórica que se enraíza em domínio

específico, o da psicologia do trabalho, mas que parte de problema de fundo que

transcende este domínio e se refere a todo o campo de formulação conceitual,

teórica, metodológica e epistemológica em Psicologia: trata-se da dificuldade de

muitas teorias em considerar o caráter de construção linguageira1 dos

conceitos centrais que utilizam. Dois problemas importantes decorrem desta

dificuldade: em primeiro lugar, a reificação desses conceitos, e, em segundo

lugar, porém diretamente relacionado ao primeiro ponto, a ilusão de que o “dado

empírico” é fonte suficiente e exclusiva da uma “substância ontológica”,

desconsiderando o quanto as metáforas desempenham um papel importante na

constituição mesma dos objetos psicológicos.

O presente trabalho possui capítulos com objetivos diferentes, mas que

trabalham juntos para a formulação de uma investigação teórica em psicologia,

tendo como foco deflagrador uma problemática oriunda da psicologia do

trabalho. Os capítulos um e dois abordam aspectos gerais do trabalho teórico e

da análise de conceitos, preparando o terreno para os capítulos três, quatro e

cinco, que investigam as origens e trajetória de mudanças de um conceito

específico: trata-se da síndrome de burnout, que pode ser caracterizada

1 Optamos por importar do francês o adjetivo langagier (“linguageiro”), pouco comum em língua portuguesa, por entender que ele permite expressar a ideia de “relativo à linguagem” de uma forma mais simples e econômica.

11

brevemente como uma situação de “exaustão” em relação à atividade laboral por

parte do indivíduo-trabalhador.

Realizar um trabalho teórico (e mesmo metateórico) em psicologia não é

algo tão comum (cf. Machado, Lourenço & Silva, 2000; Laurenti, 2012), e, por

isso, logo se tornou evidente que seria preciso justificar a pertinência e relevância

de uma proposta como essa, inclusive defendendo sua posição enquanto

trabalho em Psicologia e não em outra área do conhecimento, como a Filosofia.

Para isso o primeiro capítulo aprofunda aspectos relacionados ao fazer da

Psicologia Teórica e Filosófica, justificando a necessidade desse tipo de

pesquisa e explicitando a base a partir da qual trabalhos como o que realizamos

podem vir a existir. Esse é um passo importante, porque se trata de assegurar

um lugar para a produção de pesquisas teóricas em psicologia,

independentemente das opções epistemológicas que guiarão cada pesquisa

específica.

O segundo capítulo busca estabelecer as bases filosóficas e

metodológicas que tomamos como guia para realizar uma das tarefas mais

importantes de uma psicologia teórica: a análise de conceitos em psicologia.

Entendemos que não é possível analisar conceitos sem analisar a linguagem,

atitude que decorre da compreensão de que o papel da linguagem na produção

do conhecimento humano é fundamental e não somente instrumental. A tese

defendida nesse capítulo é que uma análise conceitual em Psicologia deve levar

em conta as dimensões de palavra, de conceito e de metáfora de um

determinado objeto psicológico e seguir seu desenrolar de transformações pela

história para que este possa ser estudado teoricamente em sua devida

complexidade.

12

Assim, depois de ter estabelecido o campo da Psicologia Teórica e

Filosófica e as diretrizes epistemológicas e metodológicas para uma análise

conceitual eficiente, o terceiro capítulo inicia o estudo do conceito burnout. É

possível argumentar que conceitos científicos frequentemente partem de uma

construção metafórica, na medida em que toda abstração demanda um mínimo

de “corporificação” (ou “embodiment” - cf. Lakoff & Johnson, 1999; Lakoff &

Núñez, 2000) que funcione como andaime cognitivo que auxilie a construção

abstrata: vide, nesse contexto, os conceitos físicos de “força”, “energia”, “inércia”,

bem como o conceito de “equivalência algébrica”, associado ao equilíbrio físico

que se obtém numa balança de dois pratos. Tal aspecto metafórico indica a

importância da mediação linguageira para todo e qualquer processo de

construção de significado (cf. Da Rocha Falcão & Hazin, 2014). Mas é possível

ir além: a construção conceitual encerra uma crença, acompanhada de sua

justificativa narrativo-explicativa, em que mais uma vez a mediação semiótica

das estruturas de linguagem é fundamental para a construção mesma do

conceito. É o caso do conceito de burnout, que alude originariamente a algo que

se queimou, no sentido de ter-se igualmente consumido, extinguido. Levado para

o âmbito da psicologia do trabalho, o conceito (agora psicológico) de burnout

aludirá a situações, em contexto de atividade de trabalho, de exaurimento,

desgaste e o respectivo sofrimento que as acompanha. Nesse sentido, o

conceito de burnout não é o único, mas é sem dúvida um caso ilustrativo

exemplar do objetivo maior do presente trabalho de exploração teórica e

metateórica. Ainda no terceiro capítulo, defendemos que não é possível falar de

uma síndrome de burnout antes de Herbert J. Freudenberger, que deve ser visto

como o verdadeiro sistematizador desse conceito, e discutimos em detalhes em

13

que contexto e de que maneira ele pôde transformar uma expressão de uso

corrente em uma síndrome.

No quarto capítulo abordamos o trabalho de C. Maslach, autora de grande

influência que ajudou a moldar o campo de estudos acadêmicos sobre o burnout

tal como o conhecemos hoje em dia, em grande parte através da criação de um

instrumento de medida que se transformou na forma dominante de estudo do

fenômeno. É nosso interesse particular salientar a transformação sofrida pelo

objeto psicológico burnout ao passar da abordagem de H. J. Freudenberger para

a de C. Maslach.

No quinto capítulo retomamos as diretrizes de análise de conceitos

estabelecidas no capítulo dois e as utilizamos para fornecer uma síntese do

trabalho realizado nos capítulos três e quatro. Como conclusão, acreditamos que

a abordagem histórica e linguageira desta temática afetiva no trabalho fornece

uma contribuição importante à compreensão do conceito de burnout, pois

resgatar seu contexto de origem explicita diferentes possibilidades de

conceitualização e intervenção, que interrogam o saber atual sobre o burnout.

Alguns pressupostos epistemológicos

Levando em consideração a importância das formações discursivas nos

processos de construção de conhecimento (Bakhtin, 2010; Faraco, 2003;

Oliveira, 2001), entendemos que definir uma determinada perspectiva filosófica

da linguagem é fundamental para qualquer atividade teórica e, principalmente,

para a reflexão sobre conceitos.

14

Assim, procuramos estabelecer nessa seção os pressupostos que nos

guiam em nossa compreensão da linguagem. No que se segue citamos autores

de diferentes tradições filosóficas. Isso não significa que eles concordam entre

si ou compartilham de uma mesma visão da linguagem, mas sim que foram

elementos importantes na construção do nosso ponto de vista. O objetivo não é

representar fielmente o pensamento de um ou outro autor. Se os colocamos lado

a lado, em diálogo, é para escrever um texto que é de responsabilidade nossa.

Na medida em que a linguagem e o conhecimento estão

irremediavelmente imbricados um no outro, todo conhecimento é enunciação, é

escrita e está assim fatalmente ancorado em determinadas situações concretas

e singulares – em operações linguísticas particulares, mas também em

procedimentos técnicos, escolhas éticas e relações sociais passíveis de

investigação. A ciência pode ser vista como sendo constituída de diferentes

jogos de linguagem (Wittgenstein, 1996), isto é, diferentes formas de

organização conceitual-linguística em ato, que se encontram dentro dos diversos

contextos reais onde uma determinada linguagem é utilizada.

“É o caráter de linguagem que caracteriza como tal toda nossa experiência

humana de mundo” (Gadamer, 2004, p.589). Dizer que tudo é atravessado pela

linguagem não quer dizer que tudo seja linguagem, ou mesmo que tudo seja em

última instância redutível à linguagem, mas sim que não é possível sairmos

totalmente da nossa condição de seres de linguagem para vislumbrar o mundo

a partir de um ponto de vista livre das “vicissitudes” oriundas do recurso à

linguagem.

15

Há uma dimensão de interpretação e significado na qual o homem sempre

se encontra, e da qual não pode se furtar de participar: “nós, os seres humanos,

não temos relações diretas, não mediadas, com a realidade” (Faraco, 2003,

p.48). Mesmo nas investigações das ciências naturais, a evidência é constituída

dentro de uma realidade conversacional como mostram, por exemplo, os

trabalhos de Latour e Woolgar (1986) e Amann e Cetina (1988).

Em vez de um empirismo ingênuo, temos que

O material da ciência não é constituído pelo material cru mas pelo

material logicamente elaborado que se destaca de acordo com um

determinado signo (...) tudo que é descrito como fato já é teoria (...)

o próprio ato de denominar um fato mediante a palavra supõe

superpor a ele um conceito (...) qualquer palavra já é uma teoria

(Vigotski, 1999, p. 234).

A formação de conceitos (pensamento) e o aprendizado da linguagem são

dois processos intimamente ligados, e a linguagem participa da articulação

mesma da nossa experiência do mundo. Por isso ela não é somente um

instrumento. Passamos por um longo processo de educação linguística que

estabiliza nossa percepção. A importância da linguagem nessa modelagem da

experiência e do dado é apontada por Feyerabend:

desde nossos primeiros dias aprendemos a reagir às situações por

meio das respostas apropriadas, linguísticas ou outras. Os

processos de ensino tanto moldam a ‘aparência’, ou ‘fenômeno’,

quanto estabelecem uma firme conexão com palavras, de modo

que, no final, os fenômenos parecem falar por si mesmos, sem

16

auxílio externo ou outros conhecimentos. Eles são o que os

enunciados associados asseveram que sejam. A linguagem que

‘falam’, é claro, é influenciada pelas crenças de gerações

anteriores, crenças mantidas há tempo que não mais aparecem

como princípios separados, mas penetram nos termos do discurso

cotidiano e, após o treinamento prescrito, parecem emergir das

próprias coisas (Feyerabend, 2007, p.93).

Entendemos que “não pode haver nenhum sistema de linguagem ou de

conceitos que seja científica ou empiricamente neutros” (Kuhn, 1962/2009,

p.187). Qualquer linguagem já implica algum grau de conceitualização e toda

conceitualização é parcial, relativa a determinados procedimentos e partindo de

determinados saberes.

Além de estar presente de uma maneira fundadora e não neutra, a

linguagem se caracteriza por seu caráter polissêmico. Se “a significação de uma

palavra é seu uso na linguagem” (Wittgenstein, 1996, p. 43) não há possibilidade

de haver uma fixação de sentidos ou de essências – toda afirmação acontece

em novo contexto e tem, portanto, novo significado. “O material semiótico pode

ser o mesmo, mas sua significação no ato social concreto de enunciação,

dependendo da voz social em que está ancorado, será diferente. Isso faz da

semiose humana uma realidade aberta e infinita” (Faraco, 2003, p.51).

Outra característica do modo como compreendemos a linguagem é que

esta é fundamentalmente metafórica. “A essência da metáfora é entender e

17

vivenciar um tipo de coisa nos termos de outra”2 (Lakoff & Johnson, 2003). Uma

metáfora consiste basicamente em chamar algo por outro nome, entender uma

coisa em termos de outra coisa, geralmente a partir de uma semelhança ou

analogia. No entanto, o que toda e qualquer denominação faz? Se as coisas não

tem um nome por natureza, mas passam a ter um nome por força da linguagem,

a constituição de um vocabulário pode ser vista como o ato de forjar metáforas

em parceria com o real.

Assim, se a linguagem é a nomeação do inefável, a aplicação de signos

ao que não é linguagem, isso faz com que ela seja essencialmente poética. Nas

palavras de Heidegger: “poesia nunca é propriamente apenas um modo mais

elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste

num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa” (Heidegger,

2004). E também Gadamer: “poesia (...) representa a linguagem originária do

gênero humano” (Gadamer, 2002, p.226).

Se a ciência é uma atividade discursiva de construção e negociação de

sentido em contexto histórico e social, ela pode ter um foro privilegiado, estando

em última instância submetida às características da linguagem elencadas acima.

Como ressalta Lyotard, “o saber científico é uma espécie de discurso” (1998,

p.3), a linguagem científica deve ser vista como uma especialização da

linguagem ordinária realizada por um grupo social particular.

É com base nessa visão de linguagem delineada por nós em diálogo com

os autores citados acima que nos lançamos ao estudo do conceito de burnout,

2 “The essence of metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of

another”. Realizamos traduções sempre que a referência citada não estava em língua portuguesa, disponibilizando o original em nota de rodapé.

18

empreendido nessa tese. Nossa premissa central é a de que a Psicologia não

pode ficar indiferente a essa discussão filosófica, mas sim se enriquecer e

transformar ao realizar um trabalho de reflexão sobre si que inclua a importância

da formação linguageira de seus próprios conceitos.

19

Capítulo 1: A emergência da Psicologia Teórica e Filosófica

como uma área de pesquisa acadêmica

A carência de pesquisas de natureza teórica e análises conceituais em

Psicologia têm sido apontada reiteradamente como um problema, por diferentes

autores (cf. Machado, Lourenço & Silva, 2000). Nesse capítulo discutiremos

essa temática utilizando principalmente a literatura anglo-saxã, sem pretender

dar conta das referências relevantes em outros idiomas, como o francês ou o

alemão.

Wittgenstein (1996), em uma passagem célebre, apontou que “existem na

psicologia métodos experimentais e confusão conceitual” (p.206). Harré e

Secord (1972) reclamaram da ingenuidade conceitual dos psicólogos e da sua

tendência a substituir discussões conceituais por definições operacionais e mais

experimentos, lamentando que a precisão de significado dos conceitos não fosse

tão valorizada no campo. Esse ponto de partida analítico é aqui compartilhado,

e configura premissa central justificadora do trabalho de tese ora proposto.

Moscovici (1972) lamentou o estado de negligência em que a pesquisa

teórica se encontra em Psicologia, particularmente no momento histórico atual,

em que “o sonho positivista de uma ciência sem metafísica” (p. 22) parece cada

vez mais um projeto irrealizável e não recebe mais a adesão de uma grande

parte da comunidade acadêmica. Para Moscovici, o evitamento do debate

teórico em psicologia tem aspectos emocionais: há um verdadeiro medo de cair

em debates filosóficos. No entanto, se pesquisadores de outras áreas podem se

dividir em teóricos e experimentalistas, deixando mais liberdade para que cada

20

atividade desenvolva sua própria cultura, então porque não pode haver a

realização de algo assim também na psicologia?3

Wachtel (1980) reclamou da falta de incentivos para realização de

trabalhos teóricos em psicologia apesar da sua evidente necessidade e

Wakefield (2007) recentemente retomou este artigo para afirmar mais uma vez

a necessidade de atividade teórica em psicologia. Toulmin e Leary (1985)

relacionam o estreitamento do pensamento teórico e filosófico em psicologia com

a influência positivista, que teve como resultado a formação de um verdadeiro

culto ao empirismo no campo da psicologia.

Alston (1985) destaca que a análise conceitual é uma parte importante de

qualquer empreendimento intelectual e que a relação entre filosofia analítica e

teoria psicológica pode render frutos para o campo da psicologia. Danziger

(1985) apontou a excessiva valorização de questões sobre método em

detrimento de discussão teórica, ressaltando que alguns dos autores mais

influentes da história da psicologia, como Wundt, Freud, Köhler, Wertheimer,

Lewin e Piaget não fizeram uso do teste de hipóteses baseado em estatística

inferencial para chegar a suas conclusões.

Machado, Lourenço e Silva (2000) discorreram de forma longa e

convincente sobre como a Psicologia como um todo tem se orientado

predominantemente para fatos e pesquisas empíricas, dando pouca atenção

para a atividade fundamental de análise dos conceitos. Ao final, recomendam

3 O exemplo que costuma ser lembrado prontamente é o da Física Teórica (Howard, 1998). Ver,

no entanto, a crítica de Robinson (2007), que argumenta que o trabalho teórico na física é completamente diferente do trabalho teórico na psicologia, e que esse tipo de comparação não deve ser feita. De toda maneira, Robinson (2007) concorda que uma “meta-psicologia” dedicada a questões conceituais é necessária.

21

que o estudo da história da ciência, lógica e filosofia analítica pode ser mais

benéfico do que as atuais disciplinas de estatística e métodos de pesquisa.

Machado e Silva (2007) mostraram como a análise conceitual é uma parte

integrante do método científico na física através de um estudo das análises

conceituais feitas por Galileu e recomendam que a psicologia invista nessa

estratégia para clarificar significados, expor problemas em modelos teóricos,

revelar pressupostos não explicitados e avaliar consistência de teorias. Banicki

(2011) afirma que a atividade de análise conceitual em psicologia não tem sido

desenvolvida como poderia, argumenta contra uma série de objeções feitas à

análise conceitual, e conclui que esta é uma ferramenta promissora que pode

contribuir para o desenvolvimento da psicologia.

Laurenti (2012) atualiza o diagnóstico de Wittgenstein, afirmando: “na

psicologia existem métodos (experimentais e não experimentais) e confusão

conceitual” (p.179, grifo nosso). Isto é, mesmo com as críticas ao método

experimental e o surgimento de novos métodos qualitativos a desvalorização do

trabalho teórico frente ao trabalho empírico continua forte.

Para Laurenti (2012) são diversos os problemas para quem deseja fazer

pesquisas conceituais em psicologia: poucos orientadores aceitam trabalhos

deste tipo, há dificuldades de financiamento, de estabelecimento de linhas de

pesquisa e de inserção em linhas já existentes, dificuldade de publicação em

periódicos, o que faz com que alguns dos eventuais interessados em enveredar

por este domínio de reflexão migrem para a Filosofia.

Cruz (2013) defende a importância e atualidade de se defender uma

atitude filosófica na Psicologia, em um momento em que a medicalização e o

22

sucesso das neurociências pressionam no sentido de reduzir o psicológico ao

biológico. Contribuições como as de Canguilhem (2011, 2015) e Foucault (1972,

1994) fornecem subsídios centrais para a perspectiva acima aludida, ao

trazerem elementos relevantes à consideração da dimensão conceitual,

histórica, social e cultural do saber psicológico.

Os constantes e contínuos apontamentos no sentido de que a psicologia

precisa de mais trabalhos teóricos, meta-teóricos e conceituais são sintomáticos

tanto da escassez de tais trabalhos quanto do caráter marginal/minoritário dos

mesmos. Os trabalhos acadêmicos teóricos em Psicologia que já existem são

frequentemente ignorados e desconhecidos. Dado esse contexto, pretendemos

realizar aqui uma introdução ao campo da Psicologia Teórica e Filosófica, que

permita uma primeira aproximação ao assunto, dando indicações sobre sua

formação, progresso político-institucional e sua relevância dentro da Psicologia.

A Psicologia Teórica e Filosófica já é reconhecida internacionalmente

como uma área de pesquisa. Desde 1963 a APA (American Psychological

Association) tem uma divisão voltada para a área, denominada Society for

Theoretical and Philosophical Psychology. No início da década de 1980 foi

fundada também com projeção mundial a International Society for Theoretical

Psychology. Alguns periódicos são dedicados exclusivamente ao campo, como

o Journal of theoretical and philosophical psychology, cujo primeiro número

apareceu em 19814, o New ideas in psychology que começou a ser editado em

1983 e o Theory and Psychology cujo início se deu em 1991.

4 O contexto de surgimento do periódico começa em 1966 quando uma newsletter começa a ser

realizada pela Divisão 24 da APA (Teo, 2009).

23

O estágio avançado da discussão sobre uma Psicologia Teórica e

Filosófica nos EUA pode ser averiguado pelo debate em torno do artigo de Slife

e Williams (1997). Os autores sugerem a criação de uma sub-disciplina de

Psicologia teórica como um reconhecimento de uma área que na prática já existe

e citam a fragmentação da Psicologia, a influências de perspectivas pós-

modernas e mudanças na filosofia da ciência como fatores que tornam a reflexão

teórica extremamente necessária. O artigo gerou diversas respostas, que iremos

resumir agora5.

Quinn (1998) defende que uma Psicologia teórica pode ser útil para o

campo da psicoterapia, já que este tem tradicionalmente criado várias escolas

de pensamento, e poderia se beneficiar de mais avaliação crítica de métodos e

ideias. Abi-Hashem (1998) vê na Psicologia teórica uma oportunidade para

contrabalancear o caráter demasiado específico das pesquisas acadêmicas em

Psicologia. No entanto alerta para a possibilidade de que uma Psicologia teórica

pode ser tanto um modo de conseguir uma visão mais global dos problemas

como agravar a fragmentação, por aumentar o número de sub-disciplinas, com

o incremento representado pela aludida Psicologia Teórica (questão também

levantada por Gantt, 1998).

Grace & Ferreras (1998) consideram que o argumento de Slife e Williams

(1997) não se sustenta, dado que a Psicologia vem funcionando bem sem uma

sub-disciplina de Psicologia teórica, e que a atividade teórica já está embutida

na atividade normal de qualquer psicólogo. Weems (1998) demonstra

5 Todas foram publicadas no mesmo número da American Psychologist. Deixamos de comentar

apenas o texto de Meux (1998), que possui uma preocupação específica com a axiologia e a resposta de Slife e Williams (1998) às críticas, que no nosso entendimento não acrescenta muito ao artigo original.

24

preocupação de que uma Psicologia teórica vista como subdisciplina acabe

aumentando a distância entre reflexão teórica e pesquisa experimental. Este

autor pondera no sentido de que seria melhor falar da Psicologia teórica como

uma meta-disciplina, que atravessa e engloba todas as disciplinas, sem

necessariamente constituir uma área nova.

Stam (1998) reconhece que as diferentes atividades propostas por Slife e

Williams (1997) são relevantes, mas argumenta que o papel da teoria em

Psicologia não pode ser somente o de servir às pesquisas já existentes, mas

deve estar associado ao conhecimento histórico e à possibilidade de mudar a

disciplina.

Howard (1998) afirma que os “psicólogos estão se afogando em um mar

de dados que poucos tentam juntar” (p.69) e que a síntese de achados é tão

importante quanto a fabricação de novos dados. Para este autor a criação de

uma nova sub-disciplina não é o mais relevante: o que é necessário é estimular

trabalhos que tentem integrar conjuntos de experimentos. Tarefa difícil, com

certeza, mas bastante recompensadora – afinal o procedimento de coletar dados

não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como um meio para se

adquirir conhecimento, que só pode advir através do estabelecimento de

vínculos com a teoria, que poderá fornecer aos dados empíricos um quadro de

referência que lhes dê coerência e estrutura (Howard, 1998).

Brand (1998) alerta para o que considera ser um viés pós-moderno do

artigo de Slife e Williams (1997), ou seja, a defesa de que todo empreendimento

científico se baseia em uma linguagem cujo sentido é dependente do contexto e

das relações sociais. Brand (1998) defende que uma Psicologia teórica é

25

importante, desde que não sirva como veículo para um determinado modo de

pensar (pós-moderno), devendo incluir também atividade teórica positivista, isto

é, que considera fundamental o papel de observações empíricas. Mais

importante do que estabelecer se a caracterização de Brand do pensamento pós-

moderno é exata ou se o seu apelo ao empirismo é consistente, o ponto mais

importante é que grupos com diferentes filosofias da ciência têm interesse em

trabalho teórico, e não devem ser excluídos a priori.

Em face das análises apresentadas, e em diálogo com elas,

consideramos que os diferentes níveis de atividade teórica levantados ao longo

dessa discussão não são excludentes. A atividade teórica em um primeiro nível

é algo inerente ao trabalho de todo e qualquer psicólogo; em um segundo nível

é uma atividade meta na qual alguns se engajam com mais afinco, seja em

continuidade ou em paralelo a suas pesquisas empíricas; e em um terceiro nível

é uma atividade que adquire autonomia, ocupando um lugar que não se define

mais por sua relação com um trabalho empírico (seja de introdução,

fundamentação, complementação, digressão etc.), mas que se afirma e entende

como uma pesquisa de pleno direito, com sua própria ordem de questões e

problemas.

Isto é, a proposta de uma Psicologia teórica e filosófica não é substituir as

atividades tipo 1 e tipo 2 descritas acima, nem destacá-las de seu lugar de direito

para concentrá-las em um outro lugar. A proposta é somar a essas duas um tipo

de atividade 3, e a justificação para isso é que ela é caracterizada por um nível

de autonomia que permite criar uma cultura de trabalhos teóricos capazes de

entregar resultados que dificilmente seriam atingidos ou levariam muito tempo

para serem atingidos se perseguidos somente por atividades tipo 1 e tipo 2.

26

Independentemente da criação ou não de uma sub-disciplina, o que talvez

seja uma questão mais relacionada ao número de psicólogos com interesse em

promover tal ação no plano histórico e político, entendemos como um resultado

conclusivo desse debate o fato da maioria dos autores concordar com a

relevância do desenvolvimento de pesquisas que procurem trabalhar questões

conceituais, filosóficas e teóricas dentro do campo da Psicologia.

No Brasil, embora pesquisas teóricas tenham sido feitas, não está claro

que haja uma consciência explícita de estar trabalhando em um campo distinto

que merece reconhecimento e autonomia. Um forte sinal dessa falta de

elaboração do campo é o fato de que nossa pesquisa bibliográfica não localizou

periódicos dedicados exclusivamente à pesquisa teórica em psicologia, ou seja,

que tenham se especializado nesse domínio de produção acadêmica como sua

missão principal. Uma mudança importante no cenário brasileiro é a fundação

em 2010 do Núcleo de Pesquisa em História e Filosofia da Psicologia (NPHFP)

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O mesmo grupo inaugura em

2011 uma linha de pesquisa voltada para a História e Filosofia da Psicologia no

programa de pós-gradução em Psicologia da UFJF, linha esta apresentada como

a primeira do país em seu gênero6 (Araujo, 2012a, Araujo, Caropreso, Simanke

& Castañon, 2013).

A atividade teórica/filosófica em Psicologia tem tradicionalmente estado

associada à área de história, tanto no âmbito da pesquisa (programas de pós-

graduação que envolvem os dois temas) quanto no âmbito do ensino, através da

6 O que parece ser novidade aqui é a formação de um grupo de pesquisa que envolva atividade

filosófica/teórica em psicologia como um objetivo principal e explícito e que mantém contato com o campo em nível internacional. Uma história geral da atividade teórica/filosófica em psicologia no Brasil precisaria levar em consideração muitos outros elementos e constituiria uma outra pesquisa.

27

disciplina de Teorias e Sistemas em Psicologia (Brock, 1998). O programa da

UFJF segue o exemplo de outros programas como History and Theory of

Psychology da Universidade de York (Canadá), History and Theory of

Psychology da Universidade de Edimburgo (Escócia), Theory and History of

Psychology da Universidade de Groningen (Holanda). Um programa importante

que não segue o padrão de associação com História em seu título é o da

Universidade de Calgary (Canadá), chamado de Social and Theoretical

Psychology.

Institucionalmente a associação entre atividade teórica/filosófica e história

segue uma realidade em algumas sociedades de Psicologia. Dentro da

Canadian Psychological Association, existe a seção History and Philosophy, que

edita o periódico History and Philosophy of Psychology Bulletin. Dentro da British

psychological Society existe uma seção que também é intitulada History and

Philosophy, que edita o periódico History and Philosophy of Psychology. Já a

American Psychological Association possui a já citada divisão 24, dedicada

somente a Theoretical and Philosophical psychology, separada da divisão 26,

chamada Society for the History of Psychology.

No Brasil, aquilo que mais se aproxima das seções destas sociedades

anteriormente citadas são os Grupos de Trabalho (GT) da ANPEPP (Associação

Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), embora estes não

tenham a mesma estabilidade no que diz respeito à sua existência e ao número

de identificação que recebem, que varia de simpósio para simpósio, o que às

vezes torna mais difícil sua identificação (um mesmo GT pode ter número 10 em

um encontro e número 15 em outro, ou simplesmente desaparecer de um

encontro para outro). No que diz respeito a esses GTs, destaca-se a atuação de

28

um GT em história da Psicologia desde 1996. No entanto, não há GT voltado

especificamente para atividade teórica-filosófica.

Até aqui apontamos para 1) a importância dessa área e sua constituição

no plano internacional e 2) seu desenvolvimento incipiente no Brasil. No entanto

é preciso explorar em mais detalhes o que entendemos que uma Psicologia

teórica-filosófica pode ou deveria fazer, e o que ela não é ou que atividades não

estão dentro deste domínio.

Uma confusão que a proposta desse campo pode causar é a de que se

trata de uma nova escola ou paradigma, a partir da qual se deveria ler toda a

Psicologia, estando no nível de uma Psicologia Evolucionista ou Psicologia

Sócio-Histórica, por exemplo. Na verdade a psicologia teórica-filosófica se

propõe como um campo aberto de reflexão e trabalho meta-teórico e filosófico

dentro da psicologia de uma forma geral, sem compromisso específico com uma

agenda que não seja a de criar e cultivar uma cultura de pesquisa que permita o

desenvolvimento desse tipo de trabalho como uma opção possível e desejável

de pesquisa em psicologia.

Obviamente que indivíduos dentro do campo têm posicionamentos dos

mais variados, inclusive sobre quais as atividades que uma psicologia teórica-

filosófica deveria realizar. Certamente não é nenhuma surpresa que a concepção

mesma do campo se torne alvo de disputas e que diferentes visões sejam

apresentadas, dado que ele deve refletir necessariamente a fragmentação da

própria Psicologia. Exporemos algumas dessas visões sobre o que o campo é,

presentes nos trabalhos de Slife (2000a, 2000b), Martin (2004), Teo (2009) e

Castañon (2012).

29

Slife (2000a) considera que o psicólogo teórico tem dois propósitos

principais: 1) formular e ajudar outros a formular as teorias que em última

instância serão testadas empiricamente, seja de maneira quantitativa ou

qualitativa; 2) examinar e ajudar outros psicólogos a examinar temas não-

empíricos que sejam relevantes para o trabalho do psicólogo.

Para Slife o psicólogo teórico pode servir como um consultor que ajuda

outros a examinarem e construírem teoricamente seus trabalhos, de uma

maneira análoga talvez ao trabalho de prestação de serviço de um estatístico

para um pesquisador que não domina determinados recursos. Isso ajudaria a

mudar a imagem do psicólogo teórico que muitas vezes é tido como sendo um

crítico mordaz, que não oferece soluções, mas apenas aponta problemas. A

posição de crítico seria por demais confortável – é preciso ir além e interagir

proporcionando opções construtivas.

A interação proposta por Slife se daria não só entre pesquisadores

profissionais, mas também entre psicólogos teóricos e comunidade como um

todo. A partir da noção aristotélica de phronesis, Slife (2000a) defende que todo

conhecimento envolve necessariamente um aspecto ético, de diálogo e de

interação com a sociedade, e que por isso o psicólogo teórico deveria não só

participar de publicações especializadas como também escrever para o público

leigo, recuperando a figura do intelectual público.

Epistemologia, método e fragmentação da psicologia lançam tantas

questões que exigem um trabalho específico, sendo a função do psicólogo

teórico continuar a fazer do debate sobre os fundamentos um aspecto central da

disciplina da psicologia (Slife 2000b).

30

Martin (2004) divide as atividades da psicologia teórica em 3 grandes

tipos: 1) tarefas teóricas relacionadas diretamente à pesquisa empírica; 2)

tarefas teóricas relacionadas à prática da profissão (incluindo aspectos morais e

políticos); 3) tarefas teóricas relacionadas à presença da psicologia na sociedade

como um todo. Para Martin (2004) a psicologia teórica teria um papel terapêutico

ao examinar a pesquisa, prática profissional e iniciativas públicas dos psicólogos,

debatendo sua retórica, conceitos e fazendo dialogar diferentes pontos de vista

e argumentos.

Teo (2009) defende que as psicologias teórico-filosóficas caracterizam-se

como programas metateóricos que trabalham em domínios filosóficos assumindo

perspectivas reflexivas sobre temas psicológicos. Para Teo (2009) todo

psicólogo é teórico, no sentido de que se utiliza necessariamente de teorias e

contribui para elas. O que caracteriza o diferencial da atividade metateórica é a

reflexão sobre os pressupostos implícitos e explícitos das teorias dentro do

âmbito filosófico.

Teo (2009) considera que as áreas filosóficas relevantes para esta tarefa

seriam as seguintes: 1) ontologia, que engloba discussões como o objeto da

psicologia, relação mente e corpo, natureza das categorias psicológicas; 2)

epistemologia, que aborda natureza do conhecimento e verdade nas teorias

psicológicas; 3) ética/prática, para discussões sobre fato e valor, justiça social,

etc; 4) estética, que seria pertinente através da utilização da arte na investigação

da subjetividade.

Teo (2009) considera ainda que trabalhos metateóricos podem ser do tipo

1) reconstrução, que faria integração e avaliação de teorias via meios históricos,

31

teóricos ou conceituais; 2) desconstrução, ou seja, a crítica de uma determinada

teoria, ou 3) construção, a apresentação de uma teoria nova e original.

Castañon (2012) entende que a psicologia filosófica pode ser definida de

um modo geral como o estudo das questões conceituais em psicologia e a divide

em 4 campos: 1) epistemologia da psicologia, que engloba os problemas

fundamentais da ontologia e da epistemologia da psicologia; 2) psicologia

teórica, que assume como pressuposto a aplicação da ciência moderna ao

problema psicológico e funciona como um correlato da física teórica; 3)

psicologia filosófica, um campo difuso que seria caracterizado pela abordagem

de temas psicológicos sem utilização do método científico; 4) filosofia da mente,

dedicada aos fenômenos mentais, como a consciência, memória, senso-

percepção, conceptualização, dentre outros, e sua relação com o cérebro.

Essas diferentes formas de dividir o campo revelam a riqueza de suas

possibilidades. Propomos aqui que a diferença mais fundamental seja entre, de

um lado a psicologia teórica concebida como auxiliar da pesquisa empírica –

correspondente ao sentido nº1 de Slife, nº1 de Martin e nº2 de Castañon – e a

psicologia teórica concebida de maneira mais ampla, englobando uma série de

atividades e problemas de difícil categorização – sentido nº2 de Slife, nº2 e 3 de

Martin, nº1, 3 e 4 de Castañon e talvez toda a proposta metateórica de Teo.

Embora ambas as formas tenham legitimidade e muito a fazer,

gostaríamos de discorrer mais longamente sobre a psicologia filosófica em seu

sentido mais amplo, que não se considera diretamente ligada a um modo

específico de pesquisa empírica ou ao empreendimento de aplicação da

concepção moderna de ciência à Psicologia. Restringir-se a um papel de auxiliar

32

de um determinado modo de “pesquisa empírica” nos parece potencialmente

problemático, dado que pode significar assumir alguns pressupostos sobre o que

é “empírico” sem o devido exame crítico. Exame este que consideramos

especialmente necessário e útil diante do contexto atual, de tantas

transformações na filosofia da ciência.

O que antes era concebido apenas como filosofia da ciência se tornou um

campo de estudos muito mais sofisticado, em que história da ciência, filosofia da

ciência e sociologia da ciência vieram a trabalhar de forma mais integrada

(Fagerberg, Landström & Martin, 2012; Cetina, 1991). O desenvolvimento das

pesquisas sobre o fazer ciência (Martin, Nightingale & Yegros-Yegros, 2012,

Köche, 2005) já vem demonstrando consistentemente há anos uma pluralidade

enorme de métodos, culturas, linguagens e metafísicas no fazer científico.

No entanto muitos psicólogos continuam se guiando por uma versão

limitada, simplificada e cristalizada de método científico fundado exclusivamente

na elaboração de hipóteses testáveis, operacionalização para a verificação de

tais hipóteses, utilização de ferramentas estatístico-inferenciais e/ou de resumo

de informação e discussão de resultados à luz dos novos dados produzidos.

Toomela (2010) denuncia que as questões de pesquisa são frequentemente

deixadas em segundo plano, enquanto que a definição do método e a utilização

de procedimentos quantitativos costuma ser a principal preocupação do

pesquisador, constituindo uma clara inversão de prioridades, já que o método

deveria estar subordinado às questões. A aplicação mecânica de um

procedimento metodológico e a obsessão da Psicologia com o método já foram

retratadas como metodolatria (Danziger, 2002) e fetichismo metodológico (Koch,

1981).

33

O currículo de graduação nem sempre tem conseguido acompanhar as

mudanças, se limitando muitas vezes a considerar que as grandes perspectivas

teóricas para abordar a psicologia já foram realizadas e não há necessidade de

procurar mais (Slife & Williams, 1997). Na verdade, as últimas décadas

assistiram a um vendaval de abordagens teóricas inovadoras em Psicologia

como o construcionismo social de Gergen (1973, 1985, 1996, 2009), a psicologia

narrativa (Brockmeier & Harré, 2003, Murray, 2003) e todo um conjunto de

abordagens discursivas (Potter, 2003, Edwards, 2004) e pós-modernas (Kvale,

1992).

No entanto, não são somente as grandes reformulações epistemológicas

da psicologia, avanço geral dos estudos sobre a ciência e as perspectivas pós-

modernas que exigem trabalho de reflexão por parte dos psicólogos. Estudos

teóricos específicos têm o potencial de provocar debates e mudanças

significativas no modo de se praticar ciência em psicologia. Exemplos disso são

os debates sobre a apropriação do conceito de “definição operacional” pela

psicologia (Koch, 1999, Feest, 2012), a utilização do teste da hipótese nula

(Bakan, 1966; Meehl, 1978; Cohen, 1994; Gigerenzer, 2004; Lambdin, 2012) e

o conceito de mensuração utilizado usualmente em psicometria (Michell, 1997,

2000, 2003, 2006; Sturm, 2012; cf. também Toomela, 2010).

Se o grande movimento teórico em psicologia nem sempre tem recebido

a devida atenção, a causa é muito provavelmente o caráter excessivamente

centrado no método das pesquisas em Psicologia. A ideia de que o método é o

componente essencial e garantidor da “verdade” ou “validade” continua com

grande força dentro da Psicologia acadêmica (Slife & Williams, 1997). Se a

pesquisa teórica não for estimulada como uma forma possível de fazer trabalhos

34

acadêmicos em Psicologia, a formulação dos problemas e a busca por respostas

correm o risco de continuar sendo atividades guiadas principalmente por

questões metodológicas desconectadas de reflexão que ultrapasse o domínio

interno da validade dos procedimentos utilizados (como é o caso, por exemplo,

das discussões técnicas envolvendo representatividade, viés de observação,

controle e generalização).

A psicologia não é uma ciência tão independente da filosofia quanto

imagina ou mesmo ambicionaria, em seu esforço histórico para se constituir

enquanto ciência “respeitável” no contexto das demais ciências (Koch, 1981). No

entanto, a especificidade de seus temas e os problemas epistemológicos,

teóricos e metodológicos que estes geram exigem um conhecimento de

psicologia que filósofos não costumam ter, e um conhecimento de filosofia e

abertura para reflexão que muitos psicólogos acostumados a pesquisas

empíricas tampouco possuem. Por isso compartilhamos com muitos dos autores

citados acima a ideia de que a psicologia necessita de uma área teórica e

filosófica para tratar convenientemente os problemas que lhes são próprios.

35

Capítulo 2: Análise de conceitos/palavras/metáforas

No item 2.1 expomos os resultados de uma série de pesquisas em

psicologia sobre modelos de categorização, que constituem uma contribuição

importante para a compreensão de como lidamos com conceitos. Acreditamos

que esses achados podem ser lidos como estando em consonância com a visão

de linguagem exposta na introdução. No item 2.2 detalhamos um pouco mais o

papel das metáforas no processo cognitivo de formação de conceitos e teorias,

mostrando como sua presença já vem sendo estudada no campo da psicologia.

Por fim, no item 2.3, argumentamos que a análise conceitual pode ser entendida

como o exame de conceitos/palavras/metáforas em transformação na história.

2.1 A contribuição da Psicologia para a análise de conceitos

A psicologia fez contribuições importantes para o entendimento do

funcionamento conceitual do ser humano que afetam o modo como devemos

realizar qualquer análise conceitual. Embora filósofos sempre tenham feito

análise de conceitos, o modo como esta atividade é encarada passa atualmente

por uma reformulação importante, devido ao questionamento do chamado

Modelo Clássico de caracterização dos conceitos, que será explicado adiante.

Esse questionamento teve como precursor Wittgenstein (1996) e,

posteriormente ganhou força devido a pesquisas no campo da psicologia e da

linguagem, que iremos abordar agora.

Seguiremos aqui o argumento apresentado por Ramsey (1992) para falar

sobre as consequências da pesquisa em psicologia para a análise conceitual.

Uma importante revisão de literatura sobre o tema pode ser encontrada em

36

Lakoff (1990) e discussões sobre o tema foram realizadas na literatura brasileira

por Oliveira (1991) e Lima (2010).

O Modelo Clássico é geralmente atribuído a Aristóteles, e afirma que a

análise de conceitos busca por uma definição simples, que atinge a essência de

um determinado conceito, estabelecendo uma série de notas para que algo seja

incluído ou excluído de uma determinada categoria, de forma precisa e sem

exceções. Assim, “o homem é um animal racional” estabelece a essência do

homem e constitui uma categoria dentro da categoria “animal” a qual somente o

homem pertence.

Figura 1: Ilustração que exemplifica o funcionamento do modelo clássico

No entanto, pesquisas empíricas realizadas por psicólogos como Eleanor

Rosch (1973) colocam em questão o modelo tradicional, ao mostrar que o

pertencimento a algumas categorias não acontece de maneira tudo-ou-nada. O

processo de categorização é caracterizado muito mais como uma avaliação de

semelhança ao longo de um contínuo do que como a aplicação de uma definição

que traça uma linha clara e inequívoca. O grau de maior ou menor pertencimento

de determinado item a determinada categoria varia em intensidade, e há

formação de zonas “cinzas” em que a separação entre membros e não-membros

é de difícil realização (Ramsey, 1992).

RaR

Racional

Animal

A B

Racional

37

Figura 2: ilustração do campo semântico para a categoria conceitual “pássaro” (Diessel, n.d., p. 4).

Alguns itens de uma categoria são considerados mais típicos do que

outros: Eleanor Rosch os chamou de protótipos (Rosch, 1973). A figura 2 ilustra

a ideia de protótipo e exemplares mais periféricos para a categorial conceitual

“pássaros” – nesta figura o protótipo dos pássaros seria o “robin” (pisco-de-peito-

ruivo). Colocando no contexto de outro exemplo: se for pedido a um grupo de

pessoas que citem um animal mamífero, o mais provável é que as respostas

mais frequentes sejam algo como “cachorro” ou “vaca”, e não “baleia”. O item

considerado típico é algo que pode apresentar variação de pessoa para pessoa

ou entre diferentes culturas, ou pode ter alguma estabilidade e universalidade

dentro de um determinado universo discursivo, algo que somente pesquisas

empíricas de uma população específica podem ajudar a estabelecer. No entanto,

o processo de categorização parece passar por uma comparação entre um

candidato qualquer e o membro típico da categoria.

38

Não há uma propriedade ou conjunto de propriedades que um item

deve possuir para que seja julgado uma instância de um conceito

alvo. Pelo contrário, a posse de um número significante de

características prototípicas é suficiente para gerar intuições de que

é uma instância de uma dada categoria. Além disso, a relevância

ou saliência dessas propriedades não precisa ser uma constante

fixa e pode variar em diferentes contextos (Ramsey, 1992, p. 65)7

As pesquisas de Rosch não tomaram como base a linguagem acadêmica

e científica, mas sim a linguagem ordinária. O que nos levaria a acreditar que

eles podem dizer algo importante sobre a utilização e análise de conceitos dentro

do âmbito do discurso formal em psicologia?

Ramsey (1992) sugere que estes resultados não se aplicam somente a

categorias simples da linguagem ordinária, como “pássaro” ou “mamífero”: “A

falha da filosofia analítica de produzir uma análise completamente satisfatória e

não controversa da vasta maioria dos conceitos abstratos deveria sugerir por si

só que algo está errado”8 (p. 68). É possível que a procura por uma série de

condições suficientes para a delimitação rigorosa de um conceito não

corresponda à realidade de como efetivamente lidamos com conceitos em

discursos mais teóricos e formais.

Essa hipótese dialoga bem com a concepção segundo a qual

raciocinamos metaforicamente, ou seja, por semelhanças e analogias, já que

7 “(…) there is no one property or set of properties an item must possess to be judged as an

instance of a target concept. Instead, possession of a significant number of prototypical features is sufficient to generate intuitions that it is an instance of a given category. Furthermore, the relevance or salience of these properties need not be a fixed constant and can vary over contexts”. 8 “The failure of analytic philosophy to produce an uncontroversial, completely satisfactory

analysis of the vast majority of abstract concepts should by itself suggest that something is amiss”.

39

aponta para a presença de um constante processo de comparação na formação

e manutenção de categorias conceituais. Além disso, também possui afinidade

com a concepção polissêmica e potencialmente equívoca da linguagem, já que

a categorização envolve procedimentos dependentes de contexto.

Se for correto que a linguagem científica não é tão diferente assim da

linguagem ordinária, os resultados descritos acima não se referem somente a

conceitos como “animal mamífero”, mas descortinam algo da complexidade e

imprecisão das nossas ferramentas de trabalho teórico. O estudo do burnout

desenvolvido nesta tese parece corroborar a perspectiva segundo a qual o que

encontramos rotineiramente na atividade de análise conceitual não são

entidades simples, claras e unívocas, mas sim complexas e polissêmicas.

2.2 Análise de conceitos e pensamento metafórico

Abordamos na introdução desta tese a noção de que a linguagem é

fundamentalmente metafórica, sendo a distinção entre literal e metafórico muito

mais uma questão de diferentes graus de novidade ou sedimentação do uso de

um termo do que uma diferença essencial entre duas categorias distintas.

Gergen (1994) coloca assim a questão: “palavras literais são simplesmente

aquelas que ocupam uma posição estabelecida em um jogo de linguagem que é

repetido com certo grau de regularidade”9 (p.270).

Nessa direção, nos interessa ver um pouco mais de perto a grande

reapreciação do papel da metáfora no pensamento filosófico e científico que

aconteceu principalmente a partir da década de 1970 e 1980 (conferir Leary,

9 “literal words are simply those that occupy an established position in a language game that is

repeated with some kind of regularity”.

40

1994a, para uma extensa bibliografia sobre o assunto e também o bom livro de

Carone, 2011). Durante muito tempo a concepção dominante sobre a metáfora

parece ter sido a de nutrir um sentimento de desprezo em relação ao seu valor

em teorias e argumentos filosóficos e científicos. A metáfora era então

compreendida como um elemento acessório, adorno, que não passaria de uma

ilustração do raciocínio principal que deveria ser formulado em linguagem literal.

Um exemplo tomado de Black (1954) ajuda a entender como a concepção

de metáfora mudou e porque ela passou a ser vista como um processo de

pensamento e não só como uma expressão literária. Tomemos a metáfora “O

homem é um lobo”. Ela permite uma série de afirmações sobre o homem, do

tipo: “o homem é um animal feroz”, “ele ataca suas presas”, “ele está

constantemente lutando pela sua sobrevivência”. Algumas características

humanas que possam ser abordadas a partir da metáfora “o homem é um lobo”

se tornarão proeminentes, e, por outro lado, aquelas que não combinam com

essa metáfora se tornarão menos visíveis. Isto é, a metáfora lança luz sobre

alguns aspectos e obscurece outros; em suma, “a metáfora-lobo (...) organiza

nossa visão do homem”10 (Black, 1954, p.288).

Black (1954) propõe uma metáfora para falar sobre o papel da metáfora

na visão do objeto: ela atua como um filtro. Depois de usar a metáfora vemos o

objeto principal através da metáfora – ela promove a interação entre dois

sistemas de características diferentes. Agora podemos pensar em todas as

características do lobo que o assemelham ao homem e, ao fazer isso, a metáfora

pode inclusive revelar aspectos do objeto-homem que não poderiam ser vistos

10 “The wolf metaphor (…) organizes our view of man”.

41

antes. Isto é, ao enquadrar o objeto dentro do novo quadro de referência

proposto, a metáfora permite inclusive uma atitude criativa diante dele, já que

permite gerar novas afirmações.

Foi seguindo essa pista que Black (1977) veio a falar de “pensamento

metafórico”11 (p.446) e da “forte função cognitiva”12 (p.451) de certas metáforas.

Afinal, “algumas metáforas são o que podemos chamar de ‘instrumentos

cognitivos’, indispensáveis para perceber conexões”13 (p. 454). A exploração da

metáfora dentro dessa nova visão para seu papel logo rendeu muitos frutos, que

confirmaram sua forte presença como processo central de pensamento.

Em especial Lakoff e Johnson (1980/2003, 1999) argumentaram de forma

persuasiva a favor da presença da metáfora na nossa linguagem e

representações conceituais. Seja no discurso cotidiano seja em textos científicos

ou filosóficos, estes autores demonstraram que a utilização de metáforas é uma

constante, embora muitas vezes não percebamos imediatamente sua presença.

As metáforas fazem parte do modo como raciocinamos abstratamente:

“Sistemas conceituais são plurais, não monolíticos. Tipicamente, conceitos

abstratos são definidos por múltiplas metáforas conceituais, que são

frequentemente inconsistentes umas com as outras”14 (Lakoff & Johson, 1999,

p.78).

Assim, a presença e utilização de metáforas é um dado constante que não

só não deve nos surpreender como deve ser esperado e até buscado ao realizar-

11 “Metaphorical thought”. 12 “Strong cognitive function”. 13 “some metaphors are what might be called ‘cognitive instruments’, indispensable for perceiving

connections”. 14 “(…) conceptual systems are pluralistic, not monolithic. Typically, abstract concepts are defined

by multiple conceptual metaphors, which are often inconsistent with each other”.

42

se qualquer análise conceitual. Na psicologia a situação não é diferente. A

utilização de metáforas foi apontada por Soyland (1994) e melhor explorada no

importante livro organizado por Leary (1994b) como uma parte importante da

produção do conhecimento em psicologia, por fornecer modelos e quadros

gerais de compreensão dos fenômenos.

As metáforas tem ocupado um papel de destaque na pesquisa sobre

emoções (Averill, 1994) motivação (McReynolds, 1994), memória (Roediger,

1980) consciência, mente e psicologia cognitiva, (Bruner & Feldman,1994;

Gentner & Grudin, 1985; Hoffman, Cochran & Nead, 1994) psicologia social

(Gergen, 1994), psicopatologia (Sarbin, 1994; Pickering, 2006) e na própria

afirmação da psicologia enquanto profissão (Brown, 1992).

O fato de que as metáforas são praticamente onipresentes na atividade

de produção do conhecimento não deve ser visto como um fato a ser lamentado

ou celebrado a priori. Continuamos a ter uma preocupação com o modo de sua

utilização, tal como advertem Lakoff e Johson (1999): “Deve-se aprender onde a

metáfora é útil ao pensamento, onde ela é crucial para o pensamento, e onde

ela é enganosa. Metáforas conceituais podem ser todos os três”15 (p.73).

Ao analisar conceitos é preciso estar preparado para encontrar as

metáforas utilizadas e analisá-las, perguntando o que elas revelam e o que

ocultam, qual o seu grau de detalhamento e desenvolvimento, que lugares

ocupam na teorização e quais metáforas alternativas poderiam ser propostas.

2.3 Análise conceitual como história linguageira e social

15 “One must learn where metaphor is useful to thought, where it is crucial to thought, and where

it is misleading. Conceptual metaphors can be all three”.

43

A imagem da ciência como atividade de linguagem na história fez com

que Sigmund Koch procurasse pensar o campo da Psicologia como constituído

de diferentes comunidades de linguagem. Ele nos fornece a seguinte descrição:

“em cada campo da ciência e, é claro, das humanidades, vai existir

necessariamente uma pluralidade de comunidades de linguagem consistindo em

cada caso de indivíduos possuindo diferentes repertórios de discriminações

aprendidas e capacidades discriminativas diferentemente especializadas”16

(Koch, 1961, p.638).

A linguagem aprendida condiciona quais os objetos a serem estudados:

A pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade

científica pense ter adquirido respostas seguras para perguntas

como as seguintes: Quais são as entidades fundamentais que

compõem o universo? Como interagem essas entidades umas com

as outras e com os sentidos? Que questões podem ser

legitimamente feitas a respeito de tais entidades e que técnicas

podem ser empregadas na busca de soluções? (Kuhn, 1962/2009,

p.23).

A linguagem da psicologia foi estudada por diferentes autores (Benjafield,

2012 e 2013, Richards, 1989). Dentre eles destacamos Danziger (1997), que

procurou mostrar que categorias como motivação, inteligência, personalidade,

atitude e comportamento não estiveram sempre presentes, mas fazem sua

16 “in each field of science and, of course, the humanities, there will necessarily be a plurality of

language communities consisting in each case of individuals owning differential stocks of learned discriminations and differentially specialized discriminative capacities”.

44

entrada no discurso da nascente ciência da Psicologia em determinados

momentos históricos.

Essas categorias não são resultado de investigação empírica, nem

refletem puramente a ‘realidade psicológica’, mas devem sua existência a

negociações complexas de sentido entre a linguagem ordinária e as condições

e interesses sociais do momento de sua formação. Para Danziger “a essência

das categorias psicológicas (...) reside no seu status de objetos historicamente

construídos”17 (1997, p.12) e “a linguagem psicológica deve ser estudada como

parte da vida social e isso significa levar em conta seu papel político”18 (1997, p.

185).

Levando em conta que não há estudo da realidade sem mediação da

linguagem, “no momento em que teorias psicológicas explícitas são formuladas,

boa parte do trabalho teórico já aconteceu – ele está embutido nas categorias

usadas para descrever e classificar fenômenos psicológicos”19 (Danziger, 1997,

p.8).

Danziger (2010) propõe a interessante tarefa de estudar a trajetória

histórica de objetos epistêmicos, isto é, determinar seu nascimento e

acompanhar as transformações pelas quais ele passa ao longo de sua

existência. Isso implica questionar os objetos psicológicos (definidos como

tópicos tomados como objeto de pesquisa acadêmica em psicologia), tentando

17 “The essence of psychological categories (…) lies in their status as historically constructed

objects”. 18 “Psychological language must be studied as part of social life and that means taking account

of its political role”. 19 “By the time explicit psychological theories are formulated, most of the theoretical work has

already happened – it is embedded in the categories used to describe and classify psychological phenomena”.

45

compreender como eles são construídos, quais são os seus usos e a que se

referem (Brock, 2015). “Se tratamos a história da psicologia em termos da

história de objetos psicológicos, não é necessário reivindicar mais coerência

para esse campo do que está implicado no conjunto de tais objetos”20 (Danziger,

2010, p.94).

Vamos examinar alguns exemplos de estudos que seguem a trajetória de

um determinado objeto epistêmico dentro do campo de interesse da psicologia.

McNally (2011) segue os significados da palavra esquizofrenia, desde sua

criação por Eugen Bleuler em 1908 até 1987. Suas conclusões são que a

“instabilidade na definição foi a norma”21 (p.109) e que, no que diz respeito à

observação de suas definições, a esquizofrenia “não tem sido um objeto

transhistórico estável”22 (p.109).

Morawski e St. Martin (2011), por sua vez, realizaram um estudo do termo

socialização dentro do campo da psicologia. A variação de significados mostra

incerteza sobre como a socialização deve ser concebida: ora como uma teoria

ora como “sistema, processo, fato, conceito, termo, problema e modelo” (p.15).

Os autores registraram ampla utilização de metáforas, inclusive metáforas

mistas, do tipo “a pessoa é vista como um centro orgânico de sentimento se

movimentando através de uma cultura e atraindo magneticamente para ela as

principais linhas da cultura (...) como um microcosmo de características grupais

da sua cultura”23 (Dollard, citado por Morawski & St. Martin, 2011).

20 “If one treats the history of psychology in terms of the history of psychological objects one need

claim no more coherence for the field than is implied by an assembly of such objects”. 21 “Instability in definition was the norm”. 22 “has not been a stable transhistorical object”. 23 “The person is viewed as an organic center of feeling moving through a culture and drawing

magnetically to him the main strands of the culture (…) as a microcosm of the group features of his culture”.

46

Collins (2007) rastreia o uso do termo “informação” dentro do contexto da

teoria da informação nos anos 1920-1940. A utilização do termo estava ligada

às novas tecnologias de comunicação, como o telégrafo, o telefone e o rádio.

Algumas das definições de “informação” mais influentes do momento eram

matemáticas, e estavam centradas na forma, e não no significado do que era

veiculado. A preocupação com a criptografia forneceu a metáfora para todo o

processo de comunicação, que passou a ser conceitualizado como “codificação”

e “decodificação”. Ao entrar no campo da psicologia, o termo foi aos poucos se

distanciando da sua definição inicial, e passou a significar algo muito mais amplo:

“começaram a usá-lo como um termo genérico para descrever o que era

manipulado por um programa, mente ou cérebro” (Collins, 2007, p.61).

Com a ascensão da tecnologia de computação a psicologia cognitiva

encontrou sua metáfora do homem como processador de informação e

“informação” se tornou “a nova linguagem dos não observáveis” (Collins, 2007,

p.63). Collins (2007) conclui que a utilização mais livre e vaga do conceito fez

com que usos técnicos e cotidianos do termo se tornassem cada vez mais

difíceis de distinguir.

O intercâmbio do objeto estudado com a linguagem ordinária se faz

presente no estudo de Collins (2007), assim como a ligação do objeto com o seu

momento histórico e com determinadas relações sociais que o fundamentam. Os

trabalhos de Collins (2007) e Morawski e St. Martin (2011) parecem corroborar

a necessidade de se compreender a utilização de um termo dentro do conjunto

de atividades e preocupações que o permitem surgir ou assumir tal ou qual

conotação em um dado momento.

47

Collins (2007) aponta a relação da pesquisa sobre informação com o

empreendimento de guerra, e vê na definição matemática de informação um

alinhamento aos valores militares de ordem, certeza e previsibilidade. Morawski

e St. Martin (2011) situam a emergência do conceito de socialização nos anos

1900-1960, dentro do contexto dos debates sobre democracia, fascismo e

comunismo. O conceito de socialização procurava articular indivíduo e

sociedade e fornecer uma resposta para uma sociedade mais harmônica – o

indivíduo aparece como sendo capaz de se conformar a situações cotidianas e

ser moldado, ao mesmo tempo em que é capaz de questionar situações

antidemocráticas.

Os estudos de McNally (2011), Morawski e St. Martin (2011) e Collins

(2007) mostram algumas das características que esperamos encontrar ao

analisar um conceito, levando em consideração alguns dos elementos discutidos

acima. Uma característica comum aos três é a presença da polissemia; em vez

de exceção, ela aparece como regra, ainda que se trate de conceitos científicos.

Os diferentes significados mudam no decorrer da história, e podem ser seguidos

em suas constantes transformações (2.3). A utilização de metáforas se faz

presente como um aspecto importante do pensamento sobre o objeto em

questão, seja ele esquizofrenia, socialização ou informação (2.2). Discussões

sobre fronteiras surgem: diante de tantos significados diferentes para o termo

“X”, será que ainda podemos chamar tal ou qual concepção de “X”, ou

deveríamos buscar outro nome? Diante de significados centrais e periféricos

parece não haver nenhuma linha demarcatória clara e segura para que se faça

a delimitação de conceitos (2.1).

48

Assim, chegamos ao final deste capítulo com algumas de diretrizes

norteadoras para o trabalho de análise de um conceito. Este deve ser visto em

seu caráter multifacetado de conceito/palavra/metáfora cujo percurso pode ser

seguido historicamente Essas diretrizes estabelecem expectativas e guiam

nosso olhar, constituindo assim um instrumental para realizar o estudo de objetos

psicológicos específicos, como foi o caso do burnout nesta tese.

49

Capítulo 3: Herbert J. Freudenberger e a criação do burnout

como síndrome psicopatológica

3.1 Psicologia e trabalho

A interface entre psicologia e trabalho é bastante complexa, no Brasil e no

restante do mundo ocidental, pois é preciso levar em consideração que existe

uma grande diversidade de práticas, paradigmas e tradições (Bendassolli,

Borges-Adrade & Malvezzi, 2010; Gondim, Borges-Andrade & Bastos, 2010;

Clot, 2007, 2010). Diversidade que possui inclusive desenvolvimento desigual de

acordo com o país: Estados Unidos (Katzell & Austin, 1992) e França (Clot,

2010), por exemplo, apresentam diferenças significativas no modo como

desenvolveram as discussões sobre o tema.

As diferentes denominações “Psicologia Industrial”, “Psicologia

Organizacional”, “Psicologia do Trabalho”, “Psicologia Organizacional e do

Trabalho” (POT), “Psicologia do Trabalho e das Organizações” (PT&O) são

marcas do conflito sobre qual deve ser a significação e o direcionamento das

pesquisas, bem como reflexos de transformações econômicas e sociais sofridas

ao longo do tempo (Sampaio, 1998; Coelho-Lima, 2013). Não há, portanto,

nenhuma pretensão de se fazer referência a um campo supostamente único e

uniforme, mas sim a um conjunto heterogêneo de discussões que se

entrecruzam e diferem na maneira de conceber a atuação e a produção do

conhecimento.

Entendemos que o trabalho ocupa um lugar de primeira ordem no

desenvolvimento psicológico do sujeito (Clot, 2007), e que as discussões sobre

condições de trabalho, risco psicossocial e qualidade de vida no trabalho

50

colocam em evidência o contexto de trabalho como um lugar privilegiado de

manifestações de saúde e adoecimento psíquico.

No entanto, um reconhecimento da importância do trabalho para a vida

psíquica não implica em uma concordância sobre quais conceitos, vocabulário e

abordagem utilizar para responder aos desafios propostos pela realidade laboral.

Pelo contrário, a diversidade de proposições e a rapidez com que conceitos têm

surgido e disputado um lugar no mercado de diagnósticos e soluções têm

chamado a atenção dos observadores atentos.

Dentre os vários conceitos surgidos nas últimas décadas, o burnout

aparece como um dos mais “bem-sucedidos”, a julgar pela ampla circulação e

repercussão mundial que angariou. Além da razão de ser um conceito bastante

difundido e de interesse internacional, nossa escolha por este conceito como

foco de análise se deve a vários fatores. Primeiro, é um conceito sobre o qual há

amplo material publicado, fornecendo farta matéria prima para a atividade da

análise conceitual proposta aqui. Segundo, ele tem um surgimento relativamente

recente (a partir da década de 1970) em uma língua de circulação internacional

(o inglês), viabilizando o acesso às fontes primárias que possibilitam o estudo

rigoroso do conceito. Terceiro, esta proposta se ajusta bem aos objetivos

temáticos do grupo de pesquisa a que se filia24, mais especificamente na linha

de pesquisa voltada para o tema do trabalho como operador do desenvolvimento

psíquico e saúde25. Quarto, não existem muitos trabalhos que se proponham a

analisar o burnout em uma perspectiva social, cultural, histórica e linguageira.

Friberg (2009) se aproxima bastante da abordagem aqui preconizada, porém

24 GEPET (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho) – UFRN. 25 Núcleo Trabalho, Desenvolvimento e Saúde (nTDS)

51

não aborda a questão da metáfora, além de dedicar praticamente metade da sua

discussão para aspectos particulares da história do conceito na Suécia.

3.2 Delimitando o objeto

Schaufeli, Leiter & Maslach (2009) estimaram a existência de pelo menos

6.000 trabalhos sobre o burnout. Há quem tenha encontrado semelhanças entre

a síndrome de burnout e características de personagens bíblicos, personagens

da literatura e diagnósticos anteriores (Muheim, 2013). Como delimitar o escopo

de uma pesquisa sobre o burnout diante dessas possibilidades? Nossa escolha

restritiva é a de não estudar senão aquilo que é explicitamente tratado como

burnout (e, naturalmente, suas variações burnt out, burn out, burn-out), deixando

de lado a comparação com outros diagnósticos26 e também a procura por um

burnout não nomeado enquanto tal.

Mas, mesmo dentro dos casos em que há uma utilização explícita e

averiguada da expressão, nem todos são igualmente relevantes. O poema de

Shakespeare “The passionate pilgrim” e o romance de Graham Greene “A burnt

out case” (1960/2004) são dois exemplos de trabalhos em que há utilização da

expressão e que são citados em textos de revisão e/ou história do conceito.

Shakespeare foi citado por Schaufeli e Enzmann (1998) e por Muheim (2003)

enquanto Greene foi citado por Maslach e Schaufeli (1993), Maslach, Schaufeli

e Leiter (2001), Schaufeli e Buunk (2003) e Muheim (2013). Mas qual sentido a

expressão tinha então, qual sua relação com significados atuais e qual a

utilização que pesquisadores da área fazem desses “precursores”?

26 Dentre os diagnósticos mais frequentemente associados ao burnout estão a síndrome da

fadiga crônica, a depressão e o estresse (Schaufeli & Enzmann, 1998; Zorzanelli, Vieira & Russo, 2016).

52

No romance de Greene (1960/2004) a expressão burnt-out não aparece

muitas vezes (cerca de dez), mas ela pode ser vista como um fio condutor da

história, uma interpretação que parece ser confirmada pela sua presença no

título. Ela é usada para descrever o caso de lepra em que a doença já consumiu

tudo o que podia e se extinguiu. Quando um paciente chega muito tarde para ser

ajudado apropriadamente, tudo o que resta a fazer é aguardar que a doença siga

seu curso até a exaustão. O resultado é frequentemente alguém mutilado, que

perdeu dedos, membros, mas que está curado da lepra e não representa mais

nenhum perigo de contágio.

Pouco a pouco, o leitor percebe que o caso de “burnt-out” em questão é,

acima de tudo, o de Querry, personagem principal da obra, que é um arquiteto

que decide largar tudo para ir morar em um leprosário no Congo. Ele não está

doente de lepra, mas apresenta um sofrimento peculiar: “eu não quero nada (...)

esse é o meu problema (...) eu sofro de nada” (Greene, 1960/2004, p.8). Querry

se queixa da incapacidade de sentir o que quer que seja, inclusive dor e

sofrimento (Greene, 1960/2004, p.37 e p.66) e sua aventura é uma tentativa de

cura no isolamento proporcionado por esse lugar remoto e de difícil acesso no

Congo.

Em uma pequena nota de introdução ao romance, Greene alerta que o

Congo em questão é, acima de tudo, um lugar da mente (1960/2004, p.13).

Como uma metáfora para descrever a miséria dos seres humanos frente aos

limites das suas próprias infelizes escolhas existenciais, a expressão burnt-out

passa a descrever também Parkinson, o jornalista cínico e corrupto, e Rycker, o

católico hipócrita e atormentado.

53

O romance prossegue com certa ambiguidade o percurso de cura de

Querry, que encontra na vida simples e no trabalho de construção de um hospital

para os pacientes leprosos uma felicidade que ele não conhecia. Quando a sua

estadia nesse refúgio idílico é destruída por uma complexa trama, Querry

redescobre sua capacidade de sofrimento, sofrimento este que é visto como

aquilo que o liga à condição humana : “sofro, logo existo” (Greene, 1960/2004,

p.178-179). Após sua morte, o médico Collin declara que o considerava curado,

já que ele tinha se tornado capaz de rir e de servir a outras pessoas.

Essa breve sinopse do livro é suficiente para mostrar o quanto não é óbvia

sua assimilação como um exemplo da síndrome descrita por Freudenberger ou

da síndrome mensurada por Maslach. O burnt-out de Greene é uma criação

literária complexa que permite diferentes interpretações, mas que tem sido

frequentemente reivindicada como um exemplo evidente de uma síndrome de

burnout única e transhistórica.

O estudo da utilização da expressão anterior à utilização da psicologia

acadêmica é importante, dado que a linguagem ordinária e linguagem científica

frequentemente possuem relações de continuidade. Se é possível que o

romance de Greene tenha ajudado a popularizar essa expressão e assim

preparado indiretamente o terreno para o desenvolvimento posterior da

expressão no meio da psicologia, isso constitui uma hipótese que está longe da

assimilação fácil deste romance como um exemplo evidente da utilidade do

burnout enquanto classificação psicopatológica.

Passemos então ao campo das publicações acadêmicas. A primeira

utilização do termo em periódico científico com significado próximo ao que tem

hoje parece ter sido a de Bradley (1969). Ele utilizou a expressão “staff burn out”

54

em um artigo cujo objetivo principal era o de propor e discutir um modelo para

uma unidade correcional de jovens delinquentes. Ao mencionar o tempo de

trabalho dos agentes, Bradley informa que nas primeiras quatro semanas eles

irão trabalhar 12 a 16 horas por dia, 7 dias na semana. No 2 e 3 mês a carga

horário do agente pode ser diminuída para 12 horas por dia, 6 dias na semana.

Reduções continuarão até que no final do sexto mês a carga será “normal” em

termos de horas e dias da semana.

O autor então propõe períodos de descanso, que deverão impedir que

ocorra o fenômeno de “burn out” com a equipe – fenômeno esse que “estamos

começando a observar em programas de tratamento intensivo”27 (Bradley, 1969,

p.366). A observação de Bradley é pontual. Não faz parte do seu objetivo

fornecer uma definição do conceito, que aparece entre aspas, aparentemente

em um reconhecimento de que ele é uma utilização metafórica.

O breve texto de duas páginas escrito por Sommer (1973) na American

Psychologist tem como título “The burnt-out chairman” e descreve as agruras de

um professor universitário que se torna chefe do departamento. Ao realizar uma

dissecação irônica das frustrações de ocupar o cargo, Sommer deixa

transparecer que se trata de um sofrimento ligado ao trabalho, mas o termo

burnt-out não é nunca definido e nem sequer utilizado no corpo do texto, para

além do título.

Assim, a utilização da expressão por Bradley (1969) e Sommer (1973) tem

em comum o fato de que não há uma intenção explícita de introdução de um

novo conceito, pois não há definição do burnt-out. Greene (1960/2004), por outro

27 “we are beginning to observe in intensive treatment programs”.

55

lado, embora proponha o burnt-out como uma importante metáfora aberta à

significação no contexto do romance, não tem tampouco a pretensão de

transformá-la em um conceito com uma definição.

Psicanalista judeu de origem alemã e radicado nos Estados Unidos da

América, Herbert J. Freudenberger (1926-1999) aparece então de forma justa

como “pai fundador” do conceito (Schaufeli & Buunk, 2003). Freudenberger

escreveu sobre o tema da ansiedade (Freudenberger & North, 1982) e contribuiu

para um volume sobre a história da psicoterapia (Freedheim, 1997), mas se

tornou conhecido principalmente pelo fato de ter sido o primeiro a propor uma

“síndrome de burnout” e fornecer uma definição para o fenômeno, o que justifica

nossa opção de empreender na seção seguinte um estudo aprofundado da sua

contribuição.

3.3 A criação do conceito de burnout

Não encontramos nenhum estudo dedicado somente a Freudenberger, o

que parece indicar que ele não é visto como um autor a ser estudado em si. No

entanto, considerando a importância da sua contribuição para a constituição do

conceito, entendemos que ele merece um tratamento diferenciado e procuramos

estabelecer uma lista de todos os seus trabalhos, que se encontra adiante como

apêndice A. Uma estimativa fala em mais de 90 trabalhos, considerando artigos,

capítulos de livros e monografias (Gold Medal Award for life achievemet in the

practice of psychology, 1999), enquanto outra afirma serem mais de 100 itens

(Canter & Freudenberger, 2001). Nossa busca pôde identificar 87 itens, o que a

faz certamente inacabada, mas próxima o suficiente do número total para servir

de guia na falta de uma lista mais completa. A análise que se segue se baseia

56

nos 21 textos que pudemos acessar, sendo eles 19 artigos e 2 livros. As

referências com um asterisco (*) indicam uma obra à qual não tivemos acesso,

mas cuja referência bibliográfica pode ser encontrada no apêndice.

O contexto de surgimento da metáfora burnout no trabalho de Herbert J.

Freudenberger é o movimento Free Clinic. Segundo o próprio Freudenberger

(1971a) o movimento surgiu quando a primeira Free clinic foi criada no ano de

1967 em Haight-Ashbury, São Francisco, com o objetivo de atender a população

indigente e jovem, que procurava atendimento para questões como “infecções,

bad drug trips, doenças venéreas, abscessos e problemas médicos gerais”28

(Freudenberger, 1971a, p.169).

Freudenbeger visitou o distrito de Haight-Ashbury em 1967 e 1968, antes

de ajudar a organizar a primeira Free Clinic de Nova York, que abriu em janeiro

de 1970 (Freudenberger, 1969a, 1971b, 1971c). Naquele momento Haight-

Ashbury era um centro que atraía pessoas de várias partes do país devido ao

intenso movimento hippie. O verão de 1967, chamado de “summer of love”, ficou

conhecido como o auge da efervescência do lugar, em que o uso de drogas era

comum e havia em muitos a esperança de uma revolução comportamental e de

valores que se espalharia por todo o país. O próprio Freudenberger escreveu em

pelo menos dois momentos textos que refletiam uma preocupação sobre o

conflito de gerações em curso (Freudenberger, 1969b, 1970).

No que diz respeito à Free Clinic, ela de fato teve uma forte expansão,

pois, cerca de quatro anos depois, Freudenberger (1971a) pôde afirmar que

existiam 80 delas pelos EUA e Canadá. No terceiro encontro do National Free

28 “infections, bad drug trips, venereal diseases, abcesses, and general medical problems”.

57

Clinic Council, ocorrido em 1973, o número estimado de clínicas grátis nesses

dois países era de 300, possuindo um número de 3.000 trabalhadores

(Freudenberger, 1973a).

O uso frequente de drogas no contexto da época ajuda a explicar a forte

presença do tema nos artigos de Freudenberger (1971a, 1971b, 1971c e 1973b).

Problemas relacionados ao uso de drogas são compreendidos como uma das

principais demandas de atendimento enfrentadas pelo serviço. A clínica em que

Freudenberger trabalhava, a St. Mark Free Clinic, em Nova York, monta um

atendimento odontológico, por exemplo, depois que a equipe se dá conta da

seriedade dos problemas bucais associados com o uso prolongado de drogas,

especialmente as anfetaminas.

A questão das drogas também é abordada em relação aos trabalhadores

das clínicas. Freudenberger chega a colocar que na St. Mark Free Clinic não é

permitida a venda e o uso de drogas nas dependências da instituição

(Freudenberger, 1971a), o que sugere ao leitor que em outras clínicas essa

prática era possível.

Freudenberger (1973b) alerta que o uso, venda e compartilhamento de

drogas dentro da clínica é uma prática destrutiva. No entanto, ele não justifica a

qualificação de “destrutiva” a partir dos possíveis efeitos nocivos para os

indivíduos que usam as drogas - se membros da equipe usam drogas isso é um

assunto pessoal, eles somente não devem usar dentro da clínica. A destruição

que não pode ser tolerada e que pode ser acarretada pelo uso de drogas na

clínica é a destruição da própria instituição. Afinal, o uso de drogas pode levar

ao fechamento da clínica pela polícia ou a perda de apoio por parte de

instituições que ajudam a clínica.

58

Para Freudenberger, a Free Clinic não era somente um trabalho social,

mas sim um instrumento de questionamento do modelo médico tradicional e de

provocação para mudança em uma comunidade (1971b, 1973b). Talvez Free

possa ser entendido aí não só como significando “grátis” – a clínica não cobrava

pelo atendimento e funcionava principalmente via trabalho voluntário e doações

–, mas também significando livre, já que a clínica era fruto de uma filosofia de

vida em comunidade que se propunha como alternativa à sociedade tradicional,

animada pelo espírito de questionamento e compartilhamento da cultura hippie

que lhe deu origem.

É na discussão de alguns problemas enfrentados nas clínicas grátis que

a questão do burnout irá ser tratada por Freudenberger (1973b). O primeiro

problema mencionado é a organização da clínica. Uma organização fortemente

hierárquica é justamente aquilo que o movimento buscava atacar no

Establishment, e, portanto, a clínica não deveria se organizar assim

(Freudenberger, 1973b). No entanto, sem nenhuma hierarquia se corria o risco

de uma desorganização. Assim, alguma estrutura era necessária, e

Freudenberger recomenda que decisões e responsabilidades sejam

compartilhadas para que se construa uma estrutura com a qual todos possam

viver.

O segundo problema é o do profissional que vem trabalhar na clínica e

passa a se identificar com os pacientes. Seu visual e linguagem deixam de ser

convencionais e se parecem cada vez mais com a população que ele atende:

seu cabelo cresce, a gravata desaparece, no lugar de uma camisa passa a usar

apenas uma camiseta, etc. Segundo Freudenberger, o profissional corre o risco

não só de perder a objetividade característica do seu trabalho, como também

59

entrar em uma crise de identidade e se perder como um todo (Freudenberger,

1973b).

O terceiro problema é o da síndrome “burnt out” (escrita entre aspas, com

o verbo burn conjugado no particípio passado e sem hífen), síndrome esta que

o próprio Freudenberger reconhece como tendo sofrido e que ele relaciona

diretamente com o contexto de trabalho em uma Free Clinic (Freudenberger,

1973b). A clínica St. Mark funcionava de segunda a sexta, das 18 às 22h e

recebia aproximadamente 40 pacientes por noite (1971a). Assim, Freudenberger

reflete sobre as condições desse trabalho:

a maior parte do que você faz lá você faz depois das suas horas

normais de trabalho (...) você começa seu segundo trabalho

quando a maioria das pessoas vão para casa (...) e você coloca um

bocado de você mesmo nesse trabalho. Você demanda isso de

você, a equipe demanda isso de você, e a população que vocês

estão servindo demanda isso de você. Como usualmente acontece,

mais e mais demandas são feitas para cada vez menos pessoas.

Você gradualmente constrói nas pessoas a sua volta e em você

mesmo o sentimento de que eles precisam de você. Você tem um

sentimento de comprometimento total. Todo o clima leva até aí, até

que finamente você se encontra, como eu me encontrei, em um

estado de exaustão29 (1973b, p.56).

29 “most of what you do there you do after your normal professional working (…) you start your

second job when most people go home (…) And you put a great deal of yourself in the work. You demand this of yourself, the staff demands it of you, and the population that you are serving demands it of you. As usually happens, more and more demands are made upon fewer and fewer people. You gradually build up in those around you and in yourself the feeling that they need you. You feel a total sense of commitment. The whole atmosphere builds up to it, until you finally find yourself, as I did, in a state of exhaustion”.

60

Fica claro com a descrição de Freudenberger o quanto sua compreensão

da síndrome se baseia na sua própria relação com o trabalho. Em outro texto ele

afirma que trabalhava 10 a 12 horas como psicanalista em seu consultório

durante o dia e, depois, trabalhava na clínica grátis até meia-noite ou mais

(1975). No artigo de 1973b, apesar de usar a palavra síndrome, o autor não

procura estabelecer sinais e sintomas que a caracterizam, mas sim fornece a

descrição extremamente autobiográfica reproduzida acima.

Comenta ainda que outros trabalhadores de comunidades terapêuticas

que trabalham com usuários de drogas o têm procurado em estado de

“depressão, apatia e agitação”30 (1973b, p.56) e que “para muitos, parte da

explicação era a síndrome ‘burnt out”31 (1973b, p.56). Esse trecho parece indicar

que o termo começava a ser usado por várias pessoas, o que vai ser confirmado

pela seguinte passagem do artigo mais conhecido de 1974a: “Alguns anos atrás,

alguns de nós que estávamos trabalhando intensivamente no movimento free

clinic começamos a falar de um conceito ao qual nos referíamos como ‘burn-

out’”32 (1974a, p. 159).

Esse trecho mostra que Freudenberger não se considerava como o autor

ou criador do conceito de burn-out (agora com o verbo no presente e com hífen).

Esse conceito aparece como uma criação coletiva da comunidade de

trabalhadores do movimento, criação anônima e popular que não tem uma

origem ou autor determinados, mas que passou a fazer parte do vocabulário

30 “depression, apathy, and agitation”. 31 “For many, part of the explanation was the ‘burnt out’ syndrome”. 32 “Some years ago, a few of us who had been working intensively in the free clinic movement

began to talk of a concept which we referred to as ‘burn-out’”.

61

dessas pessoas para dar conta de uma experiência que tinha sido observada

uma quantidade de vezes suficiente para merecer receber uma denominação.

3.4 Metáforas que organizam o conceito de burnout

A primeira menção da síndrome por Freudenberger (1973b) é

extremamente despretensiosa, ocupando apenas um parágrafo de uma seção

de problemas encontrados nas clínicas, dentro de um texto cujo objetivo principal

era promover e falar sobre o movimento Free clinic. Chama a atenção o tom de

alguns conselhos fornecido por Freudenberger, que parecem significativos do

modo como ele encarava o trabalho na clínica e que talvez fossem

compartilhados por outros trabalhadores do movimento: “gaste todo o tempo que

você pode gastar – e até um pouco do que você não pode”33 (1973b, p.61) e

“esteja preparado para trabalhar longas horas sem pagamento”34 (1973b, p.61).

O artigo que foi tomado pela literatura como o momento fundador e

inaugural do conceito de burnout como um objeto de estudo acadêmico foi “Staff

Burn-out” (1974a). Essa afirmação pode ser verificada por um conhecimento da

literatura da área, mas também pode ser vista em termos numéricos observando-

se o número de citações que o artigo teve e comparando-o o com número de

citações de outros artigos de Freudenberger. Enquanto “Staff Burn-out” tem

4.954 citações, o artigo que vem em segundo lugar em número de citações é

“The staff burn-out syndrome in alternative institutions” (1975), também com staff

burn-out no título e que saiu apenas um ano depois, com 655. Outros artigos

sobre burnout escritos por Freudenberger na década de 1980 tiveram menos

33 “Spend all the time you can spare—and some you cannot”. 34 “be prepared to work long hours for no pay”.

62

citações, 71 para “Issues of staff burnout in therapeutic communities” (1986d*) e

39 para “Burnout: past, present and future concerns” (1989*)35.

O artigo de 1974a se encontra em um número especial do Journal of

Social Issues dedicado ao tema das Free Clinics e editado pelo próprio Herbert

J. Freudenberger (1974b). Ele chama o número de Handbook, e afirma ter

tentado abordar o maior número possível de questões gerais e específicas,

práticas e teóricas para ajudar o leitor e o movimento Free Clinic a lutar por uma

saúde que seja “um direito de todos e não um privilégio de poucos”36 (1974b, p.

7).

O artigo sobre burn-out possui apenas três referências, todas elas de

trabalhos do próprio Freudenberger. Citar apenas a si mesmo é uma prática

bastante comum nos seus artigos (1970, 1971a, 1973a, 1974c, 1975, 1977), ou

até não fazer citação alguma (1973c). A definição de burn-out é retirada de um

dicionário que não consta nas referências: “minguar, gastar, se tornar exausto

através de demandas excessivas de energia, força ou recursos”37 (1974a, p.159).

A mesma definição também pode ser encontrada em Freudenberger (1977) e

em Schaufeli e Enzmann (1998), também sem que a referência exata do

dicionário utilizado apareça – na verdade ele é tratado nas três ocasiões como

“o dicionário”.

Seguindo o raciocínio do artigo 1974a, lemos que um dos principais sinais

precursores do burn-out é a perda de carisma do líder e o desapontamento da

equipe da clínica, que frequentemente tem altas expectativas sobre o fundador.

35 Dados retirados do Google Scholar em 06/04/2016. 36 “Health care as a right for all, not a privilege for just a few”. 37 “to fail, wear out, or become exhausted by making excessive demands on energy, strength, or

resources”.

63

Os sinais da síndrome no indivíduo são divididos em físicos e comportamentais.

Os físicos são: “sentimento de exaustão e fadiga, incapacidade de se livrar de

um resfriado, sofrer de frequentes dores de cabeça e perturbações gastro-

intestinais, insônia e respiração curta”38 (Freudenberger, 1974a, 160).

Os comportamentais envolvem dificuldade de conter sentimentos,

respostas instantâneas de irritação, frustração e rapidez em sentir raiva. Outros

sinais são a atitude de suspeita e paranoia, em que a vítima pode sentir que

todos querem prejudicá-la, bem como sentimento de onipotência, que pode levar

o indivíduo a correr riscos desnecessários. A pessoa se torna rígida, teimosa e

inflexível, sente que já passou por tudo na clínica e que sabe mais do que todos.

A pessoa age e parece deprimida, passando muito tempo na clínica.

Curiosamente, a palavra “síndrome” não aparece no artigo de 1974a,

embora ela estivesse presente em 1973b. De qualquer maneira a lista de sinais

fornecida mostra que o raciocínio segue algo da lógica de uma síndrome.

Dizemos “algo” porque é curioso notar que a divisão proposta por Freudenberger

em sinais físicos e comportamentais não parece corresponder à divisão clássica

entre sinais (objetivos) e sintomas (vivências subjetivas) como os componentes

de uma síndrome (Dalgalarrondo, 2008). Um exemplo é que Freudenberger

considera um “sinal físico” o sentimento de exaustão e fadiga, que poderia ser

pensado como sintoma dentro da definição usual de síndrome, e considera

“sinais comportamentais” fatos que podem ser observados diretamente como

choro fácil e uso de tranquilizantes.

38 “there is a feeling of exhaustion and fatigue, being unable to shake a lingering cold, suffering

from frequent headaches and gastrointestinal disturbances, sleeplessness and shortness of breath”.

64

Para além dessa compreensão idiossincrática do conceito de síndrome,

fica a pergunta: por que Freudenberger escolheu falar desse fenômeno em

termos de síndrome? Teria o contexto da clínica médica influenciado nessa

direção? A importação de um termo médico para falar do fenômeno

psicológico/comportamental descrito é uma decisão que não é auto-evidente e

que porta consequências graves para o futuro do objeto psicológico burnout. “O

burnout é uma síndrome” é uma afirmação que vai se tornar habitual na literatura

sobre o assunto e que aparece em 1973 sem uma justificativa clara.

O que parece estar em jogo é que Freudenberger nos propõe pensar o

burn-out como se ele fosse uma síndrome, isto é, ele fornece uma metáfora a

partir da qual é possível organizar um discurso sobre causas, sinais, tratamento.

No entanto essa não é uma metáfora que se pensa como tal, mas pelo contrário,

entra como uma afirmação a respeito da qual não há dúvidas. Assistimos aqui à

fabricação de um mito, no sentido dado a esta palavra por Leary (1987): tomar

uma analogia ou metáfora como uma identidade, se esquecendo de dizer “como

se”. Isto é, passamos de “o burnout pode ser visto como se fosse uma síndrome”

para “o burnout é uma síndrome”.

Outra metáfora utilizada por Freudenberger é a do homem como um

sistema de energia, cujo nível pode estar alto ou baixo, que gasta energia ou “se

abastece” de energia, repondo suas reservas. Um indivíduo que potencialmente

corre o risco de desenvolver burnout é alguém que tem necessidade de dar e

gastar energia. Como a população a ser cuidada tem muitas necessidades e

demandas, o indivíduo que quer ajudar pode fazer isso em excesso, e “se nós

não nos alimentamos de outro lugar, nós seguramente iremos nos esgotar (burn

65

out)”39 (1974a, p.162). Os suprimentos podem parecer infinitos, mas não o são,

eles podem secar (Freudenberger, 1975, p.75).

Ao sugerir medidas preventivas, Freudenberger coloca que é uma boa

ideia verificar qual o “nível de energia” do voluntário que quer trabalhar na clínica,

pois se o seu nível de energia é baixo talvez seja melhor desaconselhá-lo a

trabalhar em uma instituição como essa, que é “tão dissipadora de energia”40 (p.

163). Fazer com que os trabalhadores façam workshops e treinamentos é uma

forma muito boa de fazê-los descansar e “recarregar suas baterias esgotadas”41

(1974a, p.164). Freudenberger explica que a exaustão do burnout é mental e

emocional (“é esse tipo de exaustão que não vai te deixar dormir”42, 1974a,

p.164) e não física. Por isso, a recomendação é fazer exercícios físicos que

deixem o indivíduo fisicamente exausto para recuperar-se do desgaste mental.

Ao tratar do tema em outro contexto, o de cuidadores de crianças em

orfanatos e abrigos, Freudenberger se manteve fiel à metáfora. Os cuidadores

podem não perceber que “enquanto eles ‘abastecem’ psiquicamente dia após

dia a pessoa necessitada, eles, dia após dia, esgotam a si próprios”43 (1977,

p.92). O processo é agravado se a criança é emocionalmente carente e faminta,

o que faz alertar para os “perigos inerentes à relação de tratamento”44 (1977,

p.92).

39 “If we don’t get feeding from somewhere, we will most assuredly burn out”. 40 “such an energy drainer”. 41 “Recharging their depleted batteries”. 42 “It is this type of exhaustion that will not Iet you sleep”. 43 “as they day-in-and-day-out psychically ‘feed’ the needy young person, they day-in-and-day-

out deplete themselves”. 44 “inherent dangers that exist in the treatment relationship”.

66

“O menino ou menina procura receber, pegar, agarrar o que quer que

esteja disponível (...) os pedidos podem sair do controle”45 (1977, p.93). A

população ajudada por várias instituições de ajuda se caracteriza por

“continuamente pegar, sugar, demandar”46 (1975, p. 75). Se o trabalhador tem

dificuldade de deixar o trabalho “no escritório” e o leva para casa, as

preocupações com as crianças podem “drenar severamente suas energias e

invadir todos os aspectos de sua vida pessoal e relacionamentos”47 (1977, p. 94).

Dar confiança para a equipe é algo que a “abastece” e isso permite que

ela possa “abastecer” os clientes (1977, p.96). O investimento de energia no

trabalho precisa ser balanceado com uma vida fora dele (1977, p.97) e “qualquer

atividade física pode reabastecer a energia mental e emocional gasta no

trabalho”48 (1977, p. 97).

3.5 A dinâmica intrapsíquica

A descrição de burnout que Freudenberger fornece explora bastante a

motivação e as características pessoais do cuidador. Os dedicados e

comprometidos tendem a ser as pessoas que entrarão em burnout: “nós

sentimos uma pressão de dentro para trabalhar e sentimos uma pressão externa

para dar”49 (1974a, p. 161). O modo como os trabalhadores se sentem é expresso

45 “the young boy or girl seeks to receive, to take, to grab whatever is available (…) the ‘gimmes’

may get out of hand”. 46 “they continually take, suck, demand”. 47 “severely drain his energies and intrude on all aspects of his personal life and relationships”. 48 “Any activity that is physical may replenish the mental and emotional energy that are expended

as part of the work”. 49 “We feel a pressure from within to work and help and we feel a pressure from the outside to

give”.

67

assim: “nossas necessidades e vontades são normalmente secundárias. As

deles são primárias”50 (1975, p.75).

O indivíduo em perigo de burnout tem uma necessidade excessiva de dar

que não é realista. Ao não conseguir realizar as suas altas expectativas, o

sentimento de culpa aparece, e pode levar a ainda mais trabalho. Outro fator a

considerar é que tipo de comprometimento a pessoa tem com o trabalho.

Envolvimento e comprometimento podem ser maduros ou então apenas sinais

de uma necessidade pessoal de ser aceito e receber aprovação dos outros

(1974a).

Freudenberger diferencia 3 tipos de pessoas propensas ao burnout: 1) o

excessivamente comprometido; 2) o autoritário; 3) o administrador. O primeiro é

aquele usa a clínica como substituto para sua vida pessoal: todas as suas

gratificações na vida são provenientes da instituição, e até no seu tempo livre ele

vai até ela. Sua identificação com a instituição é tão grande que qualquer ataque

a sua pessoa é um ataque à instituição e vice-versa. O segundo tipo é o que

necessita estar sempre no controle e acredita que ninguém pode fazer o trabalho

tão bem quanto ele. O terceiro tipo é o administrador que não sabe delegar.

Ao abordar a psicologia dos cuidadores de crianças (1977),

Freudenberger aponta que eles próprios podem ter vindo da rua ou de lares

desestruturados, o que faz com que sua motivação seja “muito forte para ajudar

companheiros sofredores que vieram do mesmo lugar que eles vieram”51 (1977,

p.91). O cuidador que veio da rua pode estar se identificando com a criança que

50 “Our own needs and wants are usually secondary. Theirs are primary”. 51 “Their motivation may be very strong to help fellow sufferers who have come from the same

place they did”.

68

ajuda, através de suas próprias experiências e problemas pessoais não

resolvidos (1977, p. 92).52

Essa sentimentos são vistos por Freudenberger como transferência

(1974c) ou contra-transferência (1977). Ele os analisa também ao falar sobre o

aconselhamento terapêutico: o profissional pode transferir para o paciente o que

ele passou quando criança, ou o que ele gostaria que tivessem feito com ele

quando era criança (1974c). Ele pode chegar a dar seu telefone de casa,

encontrar o paciente no fim de semana, levá-lo a uma entrevista de emprego,

conseguir um apartamento para ele, etc. Uma relação de dependência entre os

dois pode se instaurar, e o profissional pode se sentir compelido a dar conta de

todos os problemas, e começar a se esgotar (burnout) (1974c).

3.6 Indivíduo, instituições, sociedade

Apesar desse foco no que chamamos de dinâmica intrapsíquica do

cuidador, Freudenberger estabeleceu uma relação entre o burnout e a luta

política e social mais ampla na qual situava a ação das clínicas grátis. Praticar o

aconselhamento psicológico, seja individualmente ou em grupo, “sem ser capaz

de efetuar mudança na comunidade ao redor pode ser uma tarefa frustrante. É

52 Essas reflexões podem estar relacionadas com a história de vida de Freudenberger, que

passou por momentos difíceis na rua durante sua infância, ao fugir da Alemanha nazista, passando por vários países até chegar em Nova York (Herbert J. Freudenberger, 1993, Gold Medal Award for life achievemet in the practice of psychology, 1999, Canter & Freudenberger, 2001). De fato há muitos elementos que apoiam essa ideia. O texto que menciona sua premiação em uma cerimônia na APA menciona que “ele fala de seu envolvimento com a psicologia e seu trabalho com pacientes e usuários de droga como uma maneira de dar de volta para as pessoas, quando ele mesmo frequentemente pensou que não iria sobreviver” (Gold Medal Award for life achievemet in the practice of psychology, 1999). Freudenberger continuou a se interessar por temas relacionados à infância e adolescência em situação de risco, perda e carência (Freudenberger & Torkelsen, 1984, Freudenberger & Gallagher, 1995) e relacionou diretamente seu interesse pelo tema com experiências pessoais em pelo menos duas ocasiões (Freudenberger & Richelson, 1980; Freudenberger & Gallagher, 1995).

69

como colocar um band-aid quando uma grande cirurgia é necessária”53 (1974c,

p. 85, metáfora que já havia sido utilizada em 1973b).

Fazer aconselhamento “é meramente tratar os sintomas da doença, em

vez de atacar as causas”54 (1974c, p.86). Por isso “precisamos nos preocupar

em tornar nossas instituições doentes mais saudáveis, assim como fazemos

mais saudáveis os indivíduos que vem até nós procurando ajuda”55 (1974c, p.86).

Qual a relação de tudo isso com o burnout? “sem colocar nossas energias

nessas direções [de transformação institucional e da comunidade] nunca haverá

terapeutas o suficiente. Tão rápido quanto os enviarmos, nós mesmos iremos

exauri-los [burn them out]”56 (1974c, p.86).

Outro momento em que podemos ver essa preocupação com aspectos

supra-individuais é na proposição da noção de Burn-Out funcional. Para

Freudenberger, o trabalho em grandes organizações pode se tornar fragmentado

e sem sentido, o trabalhador se encontrando em situação na qual não consegue

comunicação com as pessoas responsáveis pelas decisões na empresa. Nesse

caso, o trabalhador pode ser levado a um Burn-Out funcional, isto é, um Burn-

Out gerado pelo sistema (Freudenberger & Richelson, 1980, p.164). As

condições de trabalho o levam a examinar um caso de Burn-Out grupal, em que

toda uma equipe de sete pessoas trabalha intensamente para um candidato a

governador, que após usar os resultados desse trabalho de forma oportuna para

53 “without being able to effect change in the immediate surrounding community, can be a

frustrating task indeed. It is like doing band-aid treatment when major surgery is called for”. 54 “merely to counsel is merely to attend to the symptoms of the disease, rather than tackle the

causes of the disease”. 55 “We need to be as much concerned with making our sick institutions healthier, as with making

individuals, who come to us for help, healthier”. 56 “But without putting our energies in those directions, there will never be enough counselors to

go around. As fast as we turn them out, we ourselves will burn them out”.

70

ser eleito, passa a ignorar o projeto depois de chegar ao poder (Freudenberger

& Richelson, 1980, p.172).

Prosseguindo na perspectiva de um questionamento mais amplo da

sociedade, Freudenberger afirma: “Por que, enquanto nação, nós parecemos

estar coletivamente e individualmente na trilha de um fenômeno de rápida

disseminação – o burn-out?”57 (1980, p.3). Em outro momento, vemos que a

metáfora é relacionada a uma preocupação ecológica, levando em conta um

burn-out do mundo: “um burn-out da energia e dos recursos do planeta”58

(Freudenberger & Richelson, 1980, p. 200)59.

3.7 Um conceito em movimento

Freudenberger continuou a mencionar o burnout em artigos posteriores

que não possuíam o foco nesse tema (Freudenberger & Torkelsen, 1984,

Freudenberger, Freedheim & Kurtz, 1989, Freudenberger, 1990, 1993), porém

são nos livros de 1980 e 1986 que ele faz suas contribuições teóricas de maior

fôlego, após os artigos pioneiros nos anos 1970.

Esses dois livros são caracterizados pelo grande número de histórias

clínicas, pelo estilo de literatura de auto-ajuda, e pela interação frequente com o

leitor, como 1) a escala de Burn-Out (Freudenberger & Richelson, 1980, p.17);

2) um exercício de reflexão e auto-conhecimento voltado para descobrir

57 “Why, as a nation, do we seem, both collectively and individually, to be in the throes of a fast-

spreading phenomenon – burn-out?”. 58 “Burn-Out of the planet’s energy and resources”. 59 Esse aspecto do pensamento de Freudenberger foi retomado mais recentemente por Chabot

(2013): “o burn-out é uma doença de civilização. Nós esgotamos a terra” (p. 13). “O burn-out é o espelho da sociedade que o torna possível” (p.62). No original: “Le burn-out est une maladie de civilisation. Nous épuisons la terre” (p.13). “Le burn-out est le miroir de la société qui le rend possible” (p.62).

71

mensagens e defesas infantis (1980, p. 30-32) e 3) um checklist para prevenção

e recuperação do burnout (Freudenberger & North, 1986, p. 232).

Em “Burn-Out: the high cost of high achievement”, lemos a seguinte

definição do fenômeno: “Esgotar-se. Exaurir os próprios recursos físicos e

mentais. Desgastar-se lutando excessivamente para alcançar alguma

expectativa irrealista imposta por si mesmo ou pelos valores da sociedade”60

(Freudenberger & Richelson, 1980, p.16). Uma definição que não só não usa a

palavra síndrome, como não fornece uma lista de “sinais”. Também não há uma

relação necessária com o trabalho, e o exemplo utilizado algumas páginas após

a definição é um Burn-Out de um casamento.

O foco está no aspecto energético do esgotamento e na forma como ele

acontece, ou seja, na dinâmica que leva à exaustão. Essa dinâmica é descrita

como o conflito entre uma imagem idealizada de si mesmo e uma imagem real,

imperfeita, que é negada. O Burn-Out é descrito principalmente como fruto dessa

negação, e a cura passa por um processo de tomada de consciência e

integração da parte negada. É surpreendente que Freud não seja citado

nenhuma vez, e que não haja o uso dos termos de “repressão” ou “recalque”.

Mais adiante, uma lista de “sintomas” (e não mais sinais) é fornecida:

exaustão, distanciamento, tédio e cinismo, impaciência e irritabilidade, senso de

onipotência, suspeita de não ser valorizado, paranoia, desorientação, queixas

psicossomáticas, depressão e negação de sentimentos. (Freudenberger &

Richelson, 1980, p. 62-67). Destes sintomas, é a negação que vai receber a

60 “To deplete oneself. To exhaust one’s physical and mental resources. To wear oneself out by

excessively striving to reach some unrealistic expectation imposed by oneself or by the values of society”.

72

análise mais detalhada, e fica claro que ela é pensada de maneira freudiana,

como um mecanismo de defesa que pode se tornar um dreno de energia, na

medida em que a negação é utilizada para manter uma falsa imagem, cuja

origem se encontra geralmente na infância e nas relações familiares.

Em “Women’s burnout” a definição de burnout confirma o foco no aspecto

energético como componente central do conceito e abrange de maneira mais

explícita diferentes contextos de aplicação: “é uma exaustão nascida de

demandas excessivas que podem ser auto impostas ou externamente impostas

por famílias, trabalhos, amigos, parceiros amorosos, sistemas de valores ou

sociedade, que esgotam a energia da pessoa”61 (Freudenberger & North, 1986,

p.9).

Se o processo de negação já tinha na prática uma importância maior que

os outros sintomas no livro de 1980, em 1986 ele vai ser alçado a mecanismo

central do burnout. “Se você acha que você está se exaurindo, você pode ter

certeza que você assumiu a postura de negação em áreas críticas da sua vida”62

(Freudenberger & North, 1986, p.10).

Os sintomas são apresentados agora como um ciclo de 12 estágios:

compulsão para provar, intensidade, privações sutis, rejeição de conflito e

necessidades, distorção de valores, negação intensificada, não-

comprometimento, mudanças comportamentais observáveis,

despersonalização, vazio, depressão e exaustão total. Comparando esses itens

com os “sinais” de 1974a, fica evidente o abandono dos aspectos mais

61 “It is an exhaustion born of excessive demands which may be self-imposed or externally

imposed by families, jobs, friends, lovers, value systems, or society, which deplete one’s energy”. 62 “If you think you’re burning out, you can be certain you’ve assumed the posture of denial in

critical areas of your life”.

73

psicossomáticos ou corporais, e uma elaboração maior dos aspectos mais

propriamente psicológicos.

O burnout aparece como um movimento de compensação, de resposta a

um momento de grande privação inicial. Ele é indiscriminado, já que “se alimenta

da inanição de qualquer tipo”63 (Freudenberger, 1986, p.146-147). Quando amor,

reconhecimento e aprovação não estiveram presentes, “eles deixam um vazio

faminto” 64 (1986, p.90) e a baixa autoestima impulsiona uma busca não realista

por excelência, reconhecimento e aprovação (1986, p.17).

Ao final deste percurso é possível se perguntar se o que Freudenberger

descreveu não é uma forma particular de neurose no sentido psicanalítico do

termo. Enquanto citar o artigo 1974a se tornou praticamente um procedimento

ritualístico a ser seguido, o Freudenberger psicanalista parece ter encontrado

somente o esquecimento.

63 “It feeds on starvation of any kind”. 64 “They leave a hungry void”.

74

Capítulo 4: Mensuração do burnout: a contribuição de Christina

Maslach

4.1 O percurso até a quantificação

Maslach e Leiter (2014) afirmam que cerca de 1000 artigos são publicados

por ano sobre algum aspecto do burnout. Esse alto número pode não ser tão

indicativo de diferenças conceituais quanto pode parecer à primeira vista. Como

observou Friberg (2009), uma mudança em especial parece ter sido

particularmente importante para o conceito: a criação de um instrumento de

mensuração por Christina Maslach.

Para Friberg (2009) o MBI (Maslach Burnout Inventory) legitimou

estatisticamente o fenômeno do burnout, fornecendo um valor e um lugar para o

fenômeno que ele não tinha antes de ser estudado quantitativamente. Ao final

da década de 1990 o MBI era utilizado dez vezes mais que outras medidas em

artigos e dissertações sobre burnout (Schaufeli & Enzmann, 1998), fazendo com

que seja possível afirmar que “praticamente falando, o conceito de burnout

coincide com o MBI, e vice-versa” (Schaufeli, Leiter & Maslach, 2009, p.211).

Assim, um estudo pormenorizado do trabalho de Christina Maslach é

imprescindível para compreender melhor aquilo que podemos qualificar como a

principal corrente de pesquisa sobre o burnout. Tentaremos averiguar por quais

operações e transformações o conceito passou ao entrar nessa nova fase de

sua vida e o quanto a concepção metafórica que lhe é inerente se manteve

importante para as discussões teóricas que se seguiram com o trabalho de

Maslach. Comparando a utilização do conceito por Maslach e por

Freudenberger, é importante notar quais aspectos foram abandonados, quais se

75

mantiveram e o que essas “escolhas” podem nos informar sobre a biografia do

objeto psicológico burnout.

No percurso de Freudenberger pudemos notar que o envolvimento com a

clínica psicanalítica e o compromisso com a transformação social vêm em

primeiro lugar e a produção do conhecimento está subordinada a essa atuação

no consultório e na Free Clinic. Christina Maslach, por outro lado, tem desde o

início a atuação de uma profissional da pesquisa acadêmica. Para ela, a

repercussão social da produção do conhecimento é extremamente importante,

mas é um momento segundo em relação à pesquisa fundamental, que segue

como o objetivo principal.

Seu primeiro artigo publicado é uma reprodução de um estudo de

psicologia experimental de laboratório, que conta com o apoio da Marinha dos

EUA e investiga a possibilidade de que sujeitos venham a acreditar nas falsas

confissões realizadas por eles mesmos (Maslach, 1971). Este estudo conta com

55 estudantes universitários de Stanford, testa uma hipótese e fornece um

tratamento estatístico dos dados – algo que jamais encontraríamos em

Freudenberger, cuja abordagem clínica e autobiográfica diverge

significativamente deste modelo de ciência.

Um desenho geral de pesquisa semelhante pode ser visto também nas

outras publicações de Maslach desse mesmo período, que envolvem temas

diferentes: 1) teste do uso da hipnose para modificar a perspectiva temporal

(Zimbardo, Marshall & Maslach, 1971) e a temperatura da pele (Maslach,

Marshall & Zimbardo, 1972); 2) pesquisa sobre individuação e desindividuação

– processos opostos nos quais uma pessoa procura se diferenciar de um grupo

76

ou se tornar indistinguível nele (Maslach, 1974); 3) influência que diferentes

níveis de riqueza de um doador e de obrigação ligada ao benefício têm na

atração que o beneficiário sente pelo doador (Gergen, Ellsworth, Maslach &

Seipel, 1975). Em todos esses casos temos a utilização de uma situação

experimental de laboratório, teste de hipótese e tratamento estatístico dos

dados.

Na primeira pesquisa de Maslach sobre o burn-out que pudemos acessar65

(Maslach & Pines, 1977), é possível observar uma mudança importante: a

situação estudada não é montada experimentalmente – trata-se de conhecer o

trabalho real de equipes de cuidadores em creches. Oitenta e três funcionários

de diferentes creches respondem a um questionário e alguns destes são também

entrevistados.

Os resultados podem ser resumidos em quatro itens: 1) quanto maior a

proporção equipe/crianças; 2) quanto menor a quantidade de horas de trabalho;

3) quanto maior a possibilidade de mudar de atividades; 4) quanto maior a

quantidade de reuniões de equipe, melhor os trabalhadores se sentem. Um

programa de atividades estruturado está correlacionado com trabalhadores que

sentem que possuem menos controle e gostam menos do seu trabalho,

enquanto um programa menos estruturado está correlacionado com

trabalhadores que têm sentimentos positivos em relação ao trabalho, mas se

sentem mais exaustos emocionalmente.

O burn-out é concebido como uma síndrome que se deve muito mais a

fatores situacionais do que à personalidade dos indivíduos. O mesmo modelo de

65 Não foi possível encontrar o primeiro texto, de 1976.

77

pesquisa com questionários é aplicado em seguida a 76 funcionários de

instituições de saúde mental, com resultados semelhantes (Pines & Maslach,

1978). Outra pesquisa do mesmo período confirma a ruptura com o laboratório,

realizando análise de conteúdo das entrevistas que fornecem ou não a liberdade

condicional aos presos no estado da California (Garber & Maslach, 1977).

Uma continuidade importante entre os estudos experimentais e os não-

experimentais é que a análise estatística de correlação de variáveis segue como

uma prática importante. Em um caso, os coeficientes de significância são

apresentados de uma maneira explícita (Garber & Maslach, 1977), e nos outros,

mesmo que não haja apresentação dos números, o leitor é assegurado de que

“todos os resultados apresentados são altamente significantes segundo testes

estatísticos padrão” (Maslach & Pines, 1977, p.107) e “todas as correlações

apresentadas aqui são estatisticamente significantes no nível p < .05 ou maior”

(Pines & Maslach, 1978, p.234).

Uma exceção, já que não segue essa mesma linha metodológica, é o

artigo em que Maslach (1978) realiza uma discussão teórica sobre o papel do

cliente na relação com a equipe e como esta relação pode conduzir ao burn-out.

Esse artigo se tornará mais tarde a base para um dos capítulos do livro Burnout:

the cost of caring (1982/2003).

A concepção do burn-out como uma síndrome é um elemento que estava

presente na produção de Freudenberger, ainda que de forma inconstante.

Primeiro porque a utilização da palavra “síndrome” parece restrita a alguns textos

(Freudenberger, 1973b, 1975) e segundo porque o foco acaba se deslocando

para a dinâmica psicanalítica do fenômeno, como vimos no capítulo anterior.

78

Maslach vai utilizar a definição do burnout como síndrome de maneira

mais sistemática e continuada, ao mesmo tempo em que modifica

significativamente as características descritas por Freudenberger. Enquanto

este havia descrito em detalhes alguns “sinais” físicos (Freudenberger, 1974a),

Maslach se limita a colocar de maneira mais geral uma “exaustão física (e as

vezes até doença)” (Maslach & Pines, 1977). Em lugar de irritação e raiva

(Freudenberger, 1974a), encontramos cinismo e percepção desumanizada; em

vez de paranoia e tomada de riscos desnecessários, encontramos absenteísmo,

abuso de álcool e drogas, conflito marital, e doença mental (Maslach & Pines,

1977).

É uma mudança significativa de vocabulário, que mostra uma

transformação do objeto psicológico em questão, mas que não é apresentada

como tal por Maslach. Pelo contrário, a autora vai citar Freudenberger como um

autor que contribui para o conhecimento da mesma síndrome de burn-out, ou

seja, há uma suposição de estabilidade do objeto ao qual ambos se referem,

ainda que não só as características tenham mudado como o próprio modo de

estudá-lo.

Para Freudenberger o número de sujeitos nunca foi uma questão, e a

fronteira entre aquilo que é autobiográfico e os casos clínicos tampouco era

rígida. O que está em jogo é principalmente a descrição da dinâmica psíquica

interna que leva ao burn-out a partir do encontro clínico e da singularidade das

histórias de cada sujeito, inclusive ele próprio. Esse raciocínio clínico é

substituído por uma pesquisa que busca estudar as variáveis que participam na

produção do burn-out em determinadas populações.

79

A diferença entre os dois modelos de pesquisa também se faz presente

quando examinamos como cada um deles concebe sua relação com a ação.

Para Freudenberger a ação terapêutica e a ação investigativa coincidem com a

prática clínica individual, enquanto que para Maslach existe uma separação

entre um momento primeiro de diagnóstico e de conhecimento, e um momento

segundo de transformação, que é concebida principalmente no nível da

organização e não no nível individual.

Vejamos como isso funciona no primeiro artigo a tratar de maneira

concreta da aplicação das pesquisas. Pines e Maslach (1980) afirmam: “nós nos

enxergamos como pesquisadoras acadêmicas e agentes de transformação

social” (p.7). Em uma das creches estudadas pelas autoras (provavelmente

aquela mencionada em Maslach & Pines, 1977, p.111 como tendo realizado

mudanças estruturais) os resultados da pesquisa foram utilizados pela equipe da

creche para guiar um processo de mudança. A proporção equipe/crianças e a

estrutura de atividades foram os dois itens escolhidos para intervenção.

Antes da intervenção as crianças podiam chegar ou sair a qualquer hora

do dia na creche, bem como circular livremente por todas as salas da creche e

escolher qualquer brinquedo que quisessem. Após a intervenção, foram

estabelecidos períodos com horários específicos para a estadia na creche e

foram criadas mais salas através de uma divisão do espaço disponível, sendo

fixadas salas específicas para determinadas faixas etárias e horários específicos

para algumas brincadeiras. A creche passou de um modelo em que todos os

cuidadores eram responsáveis por todas as crianças para outro em que houve

uma divisão por salas e horários, medidas estas que elevaram a proporção

equipe/crianças.

80

A partir dessa experiência podemos concluir que, para as autoras, o papel

da pesquisa é produzir o conhecimento necessário para transformar a situação,

primeiro identificando os fatores que produzem o burnout em geral, depois, de

posse desse conhecimento, utilizando questionários para verificar como esses

fatores se comportam na situação específica investigada, para então intervir nos

pontos identificados como problemáticos. Tal como na afirmação de Auguste

Comte: “Ciência, daí previdência; previdência, daí ação” (1983, p.23). A postura

de Maslach pode ser entendida como positivista66, na medida em que coloca o

saber em uma posição primeira em relação à ação, o que é uma diferença

importante na comparação com uma concepção clínica, pelo menos quando esta

é concebida como estando implicada de saída em uma ação de transformação

que é produtora de conhecimento.

A criação de um instrumento de mensuração do burnout (Maslach &

Jackson, 1981) aparece então como um passo coerente na direção tomada

anteriormente de privilegiar um estudo de correlação de variáveis. Várias frases

representando as atitudes e sentimentos de um trabalhador sofrendo de burnout

(mas também algumas frases “positivas”) foram criadas a partir de entrevistas e

questionários preliminares. Alguns exemplos: “Sinto-me emocionalmente

exausto com meu trabalho”; “tornei-me mais insensível com outras pessoas

desde que iniciei este trabalho”; “sinto que estou influenciando positivamente a

vida de outras pessoas através do meu trabalho”67 (Maslach & Jackson, 1981,

p.102-103).

66 Seguimos aqui a caracterização do positivismo fornecida por Yves Clot, em curso dado no CNAM 2014/2015. 67 “I feel emotionally drained from my work; I’ve become more callous toward people since I took

this job; I fell I’m positively influencing other people’s lives through my work”.

81

O respondente tem que marcar uma escala de frequência e de intensidade

para cada frase avaliada. A frequência pode ser “Nunca” se o respondente não

apresenta jamais o sentimento ou atitude descrita, ou variar de um a seis, em

caso positivo: (1) algumas vezes no ano; (2) mensalmente; (3) algumas vezes

por mês; (4) toda semana; (5) algumas vezes por semana; (6) todo dia. A escala

de intensidade também apresenta a opção “Nunca”, seguida de seis opções para

uma resposta afirmativa, variando de (1) muito suave, quase imperceptível até

(6) muito forte.

Uma versão do teste com 47 itens é administrada em 605 pessoas

provenientes de diferentes profissões (policiais, professores, enfermeiras,

psiquiatras, psicólogos, advogados, etc.). Em seguida, uma versão com 25 itens

é aplicada a outro grupo de 420 pessoas e, como os resultados foram

semelhantes, é realizada uma análise fatorial das duas amostras em conjunto.

Três fatores emergiram com suficiente consistência desta análise, levando a um

conceito em 3 partes, que difere significativamente da variedade de sinais e da

dinâmica psíquica que encontrávamos em Freudenberger. Agora a síndrome de

burnout tem três componentes: exaustão emocional; atitudes cínicas e

negativas; avaliação negativa de si mesmo. Um pouco mais adiante nesse

mesmo artigo (Maslach & Jackson, 1981), os três componentes são formulados

assim: exaustão emocional, despersonalização (em vez de “atitudes cínicas e

negativas”) e realização pessoal (no lugar de “avaliação negativa de si mesmo”).

O leitor atento perceberá que a mensuração do conceito é concebida

como uma etapa superior aos modos de pesquisa anteriormente utilizados: “a

pesquisa inicial nessa área foi muito exploratória, se baseando fortemente em

entrevistas, questionários, e observações” (Maslach & Jackson, 1981, p.100).

82

Um instrumento padronizado de mensuração é visto como “uma necessidade

crítica para qualquer pesquisa sobre o burnout” (Maslach & Jackson, 1985,

p.839).

Esse instrumento é o MBI (Maslach Burnout Inventory), que vai permitir

uma verdadeira avalanche de pesquisas na direção da correlação de variáveis e

se tornará o instrumento mais utilizado para o estudo do Burnout. A relação entre

burnout e gênero (Maslach & Jackson, 1985), burnout e satisfação no trabalho,

burnout e autoconceito (Maslach & Florian, 1988), burnout e conflito de papéis,

comprometimento organizacional e contatos interpessoais (Leiter & Maslach,

1988) são alguns exemplos.

4.2 Contando a história

Maslach e Schaufeli declaram que o manuscrito sobre o desenvolvimento

do MBI foi recusado por alguns editores “com uma curta nota dizendo que ele [o

manuscrito] não havia sequer sido lido ‘porque nós não publicamos psicologia

popular’”68 (1993, p.5). No entanto, alguns anos depois o burnout em sua versão

mensurável já havia conquistado um lugar sólido e mesmo de destaque na

produção acadêmica, chegando a um ponto de maturidade em que é possível

olhar para trás e contar sua história. É isso o que fazem Maslach e Schaufeli

(1993), em um texto importante onde os autores propõem uma maneira de contar

o percurso da pesquisa sobre o burnout, dividindo-o em dois grandes momentos:

a fase pioneira e a fase empírica.

68 “With a short note that it had not even been read ‘because we don’t publish ‘pop’ psychology’”.

Acerca da abordagem de conceitos oriundos da “pop psychology”, ver reflexão de Jerome Bruner sobre conceito próximo, a “folk psychology”, no capítulo “A psicologia popular como um instrumento da cultura” (Bruner, 1997).

83

Na fase pioneira Freudenberger e Maslach são apresentados como

aqueles que identificaram e nomearam o burnout de maneira independente e

simultânea. A palavra “identificaram” é importante aqui, porque estabelece que

se trata de um mesmo fenômeno, que não só coincidiria entre Freudenberger e

Maslach, como já estaria presente e descrito em textos mais antigos.

O caráter “universal” e “atemporal” do burnout é sugerido com a ajuda de

uma leitura retrospectiva de romances de autores consagrados como

“Buddenbrooks” (1922) de Thomas Mann e “A burnt-out case” (1960) de Graham

Greene, bem como um estudo de caso de uma enfermeira publicado em 1953.

O prestígio da literatura e a diferença temporal entre esses exemplos e os

trabalhos em questão situados na década de 1970 fornecem uma áurea de

legitimação e unidade para o fenômeno - todos estariam falando de uma mesma

realidade.

Em seguida, os autores reconhecem como características da literatura

inicial sobre o burnout: 1) a definição mesma do fenômeno varia bastante de um

autor para outro; 2) o escopo de aplicação do conceito é tão grande que ele veio

a significar tudo e nada ao mesmo tempo. Essas características são

apresentadas como superadas e pertencentes ao passado, quando na verdade

elas continuam a rondar o conceito até hoje. No lugar de uma discussão que

incluiria a legitimidade de pontos de vistas radicalmente diferentes, seria a

negação da diferença uma estratégia político-pragmática que tentaria atuar

como profecia auto-realizadora para a criação de um consenso não existente?

A terceira característica da fase pioneira apontada por Maslach e

Schaufeli (1993) é talvez a mais reveladora da posição epistemológica dos

84

autores. A literatura da fase pioneira é apontada como sendo, em sua maioria,

“não-empírica”69 (Maslach & Schaufeli, 1993, p.4). A revisão de literatura citada

por Maslach e Schaufeli para embasar essa afirmação é a de Pearlman e

Hartman (1982). Estes autores analisam as publicações sobre o burnout entre

1974 e 1980, classificando-as em: a) descrições, baseadas apenas na

experiência pessoal do autor; b) narrativa, baseada em dados coletados

sistematicamente; c) apresentações estatísticas baseadas em dados coletados

sistematicamente. Dos 48 trabalhos examinados, apenas 5 ofereceram análises

estatísticas, o que é traduzido por Maslach e Schaufeli como “apenas 5 trabalhos

tinham quaisquer dados empíricos que vão além de uma anedota ocasional ou

história de caso pessoal”70 (Maslach & Schaufeli, 1993, p.4).

Essa afirmação é surpreendente por dois motivos: primeiro, porque

sugere de forma apressada que o trabalho estatístico seria a única forma de

realizar um estudo empírico rigoroso; segundo porque elimina completamente a

categoria intermediária (b) proposta no artigo original de Pearlman e Hartman

(1982), e utilizada por eles para classificar os artigos da própria Maslach! Tão

questionável quanto a oposição simplista feita por Maslach e Schaufeli entre

estatística e anedotas/histórias pessoais é classificação realizada por Pearlman

e Hartman de todos os artigos de Freudenberger publicados até aquele momento

como “descritivos”. A mensagem parece suficientemente clara: a história clínica

pessoal de Freudenberger não é empírica; dados coletados com um instrumento

de mensuração padronizado são empíricos. Hipóteses clínicas sobre as causas

do burnout não merecem sequer serem reconhecidas como existentes; apenas

69 “nonempirical” 70 “Only five of these articles had (i.e. 10%) had any empirical data beyond an occasional anecdote

or personal case history”.

85

trabalhos estatísticos podem oferecer relações causais que vão além de meras

descrições. Não estamos longe de uma desqualificação da clínica como

produtora legítima de conhecimento científico.

O texto em questão (Maslach & Schaufeli, 1993) prossegue identificando

uma tensão entre dois grupos interessados no tema do burnout, com

profissionais de um lado e acadêmicos do outro. Os primeiros estariam

implicados em intervenções e teriam pouca paciência com o lento

desenvolvimento da pesquisa, enquanto os acadêmicos, por sua vez, torceriam

o nariz diante de um tema identificado como uma moda pseudocientífica. O

caminho trilhado por Maslach parece ser o de explicar aos profissionais que a

prática não é detentora de verdade, mas a lenta acumulação de dados

estatísticos sim.

Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) escrevem um artigo de revisão

importante, no qual a divisão entre fase pioneira e empírica, que apareceu em

Maslach e Schaufeli (1993) continua como o modo escolhido de contar a história

da pesquisa sobre o burnout. “Os artigos iniciais apareceram nos Estados

Unidos na metade dos anos 1970 e sua contribuição primária foi descrever o

fenômeno básico, fornecê-lo um nome e mostrar que ele não era uma resposta

incomum”71 (Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001, p.399). Essa descrição do

passado se repete em linhas gerais em Schaufeli e Buunk (2003) que continuam

a relegar Freudenberger ao plano da mera descrição, sem nenhuma explicação.

71 “The initial articles appeared in the mid-1970s in the United States and their primary contribution

was to describe the basic phenomenon, give it a name, and show that it was not an uncommon response”.

86

4.3 Reformulando o conceito

Em 1997 há uma mudança importante no conceito de burnout quando

Maslach e Leiter (1997) fazem a proposição de um continuum burnout-

comprometimento. O comprometimento é definido como o contrário das 3

dimensões do burnout: alta energia (no lugar de exaustão), envolvimento (no

lugar de despersonalização) e eficácia (no lugar de sentimento de realização

reduzido). A ênfase de Maslach em fatores organizacionais vai ser sistematizada

na proposição de 6 áreas de discordância entre pessoa e trabalho: sobrecarga

de trabalho, falta de controle, recompensa insuficiente, perda de comunidade,

ausência de equidade, conflito de valores.

Como um artigo importante que dá notícia dessa mudança, o texto de

Maslach e Goldberg (1998) contém muitas indicações interessantes sobre o

modo como Maslach posiciona sua pesquisa no contexto maior do histórico da

pesquisa sobre o burnout, e que confirmam algumas observações feitas

anteriormente.

Primeiro, aquilo que identificamos como uma ruptura significativa entre

Freudenberger e Maslach continua a ser visto como um momento de acordo

sobre um mesmo objeto. Após uma citação em que os trabalhos fundadores de

ambos são citados lado a lado, Maslach escreve: “o retrato do burnout que foi

pintado então [nos anos 70] não mudou muito nos anos seguintes” (Maslach &

Goldberg, 1998, p.63). O desacordo conceitual sobre a definição do burnout é

novamente comentado como um aspecto do passado, já superado, e as

dimensões do MBI são apresentadas como um consenso não problemático.

87

A naturalização dos 3 componentes propostos pelo MBI é flagrante na

frase: “a medida que desenvolvemos, o Maslach Burnout Inventory (MBI), foi a

única a avaliar todos os 3 componentes do burnout, e é agora a ferramenta

padrão para toda pesquisa nesse campo”72 (Maslach & Goldberg, 1998, p.65). É

como se os 3 componentes do burnout fossem “aquilo que o burnout realmente

é”, para além dos instrumentos possíveis de mensuração, e o MBI apresentasse

a solução mais completa por avaliá-los todos. Na verdade a concepção do

burnout como possuindo 3 componentes é uma invenção do MBI, o que torna

óbvio o porquê dele ser o único a avaliar todos eles.

Trabalhos de correlação estatística de variáveis são apresentados como

“pesquisa empírica sistemática”, enquanto que outras formas de pesquisa são

apontadas como “descritivas” (Maslach & Goldberg, 1998, p.64). Mensurar o

burnout “é necessário para determinar se qualquer estratégia foi efetiva na

prevenção ou redução”73 (Maslasch & Goldberg, 1998, p. 66). A prevenção do

burnout é pensada nos mesmos moldes em que a saúde pública pensa a

prevenção de outras doenças.

A busca pelas variáveis que permitem prever o fenômeno segue agora

dentro da nova teoria do continuum, com os instrumentos MBI-GS (Maslach

Burnout Inventory – General Scale) e AWS (Areas of Worklife Scale). Eles são

utilizados para obter medidas dos três componentes do continuum burnout-

engajamento e das seis áreas da vida no trabalho, e assim tentar prever a

72 “The measure we developed, the Maslach Burnout Inventory (MBI), was the only one to assess

all three components of burnout, and it is now the standard tool for all research in this field”. 73 “A means of measuring levels of burnout is necessary to determine if any strategy has been

effective in preventing or reducing it”.

88

presença futura de um burnout (Maslach & Leiter, 2008) ou a intenção de

enfermeiras em deixar o trabalho (Leiter & Maslach, 2009).

Em um artigo escrito para o grande público, Maslach e Leiter (1999)

incentivam os trabalhadores e mudarem seu ambiente de trabalho e oferecem

as seis áreas como guias para a transformação. “Assim como cadeiras, teclados

e telefones são constantemente redesenhados para prevenir lesões e

incapacidades, os aspectos psicológicos e sociais do trabalho também podem

ser modificados para prevenir o burnout”74.

A utilização das seis categorias da vida no trabalho consiste na aplicação

de questionários em que os funcionários podem se exprimir (de um modo geral,

dentro das possibilidades pré-estabelecidas pela teoria). De posse do

diagnóstico, transformações podem ser realizadas nas áreas em que problemas

foram detectados. Depois é possível fazer uma nova pesquisa de questionários

para avaliar a mudança (Maslach & Leiter, 2005).

Esse processo, nomeado de “checkup organizacional”, tem sua

concepção e papel descritos assim:

embora nós tenhamos desenvolvido originalmente o processo de

checkup organizacional para garantir amostras de alta qualidade

para nossa pesquisa, nós descobrimos que ele pode se tornar um

processo contínuo e valioso de autoavaliação para as organizações

(...) A lição aqui é que métodos e ferramentas desenvolvidos para

pesquisa podem ter uma segunda função, uso prático no ambiente

74 “Just as chairs, keyboards and telephones are constantly redesigned to prevent injuries and

disability, so can the social and psychological aspects of work be modified to prevent burnout”.

89

de trabalho – e nós recomendaríamos que pesquisadores possam

fornecer uma função social válida ao colaborar ativamente com

profissionais para atingir esses benefícios adicionais. Isso é uma

forma diferente de pesquisa ‘aplicada’, e seu valor deve ser

reconhecido e encorajado na academia75 (Maslach, Leiter &

Jackson, 2012, p.297-298)

A proposta do continuum burnout-comprometimento foi apresentada

como aquilo que poderia servir de linguagem em comum entre pesquisadores e

praticantes (Maslach & Goldberg, 1998), resolvendo o hiato entre pesquisa e

aplicação diagnosticado em Maslach e Schaufeli (1993). No entanto, o que a

citação do parágrafo anterior mostra é que a divisão pesquisa/aplicação continua

a servir de referencial. A pesquisa fundamental segue como objetivo primeiro,

mesmo que ela possa gerar “benefícios adicionais” concomitantes, o que mostra

que continuamos dentro de um quadro de referência positivista.76

Por fim, após a proposição das seis áreas de discordância pessoa –

trabalho, ainda faz sentido pensar o burnout em termos de síndrome? Se a

metáfora da síndrome perdeu força no trabalho de Freudenberger à medida que

este avançava em uma psicanálise do indivíduo que sofre de burnout, algo

semelhante acontece aqui, ainda que em outra direção. A metáfora da síndrome

75 “Although we originally developed the organizational checkup process to ensure high quality

samples for our research, we have found that it can become a valuable, ongoing self-assessment process for organizations (…) The lesson here is that the methods and tools developed for research may have a second, practical use within the workplace—and we would recommend that researchers could provide. a valuable social function by actively collaborating with practitioners to achieve these additional benefits. This is a different form of ‘applied’ research, and its value should be recognized, and encouraged, within the academy”. 76 Danziger (2010) e Vigotski (1999) escreveram sobre o papel protagonista da psicologia

aplicada, o que inverte a lógica pesquisa básica aplicação.

90

perde importância no percurso de Maslach à medida que ela avança na análise

da relação da pessoa com o trabalho como a fonte principal do burnout.

No livro “The truth about burnout: how organizations cause personal stress

and what to do about it” (Maslach & Leiter, 1997) a palavra síndrome só aparece

duas vezes, e em ambas as ocasiões se trata de negar sua pertinência para falar

do fenômeno. “Não é um defeito de personalidade ou uma síndrome clínica. É

um problema ocupacional”77 (Maslach & Leiter, 1997, p.34). Não há explicações

sobre o que seria uma síndrome não clínica. “O MBI avalia o burnout como o

resultado de problemas no trabalho, e não como uma síndrome psiquiátrica”78

(Maslach & Leiter, 1997, p.156). Mas como o MBI seria capaz de avaliar o

burnout como o “resultado de problemas no trabalho” se ele mede componentes

relativos ao indivíduo? Em outro texto, ao responder à pergunta “o que é o

burnout?”, Leiter e Maslach (2001) não escolheram dizer “uma síndrome”, mas

sim “uma relação não produtiva com o trabalho” (p. 49).

Essas dúvidas quanto à pertinência de pensar o burnout enquanto

síndrome também se fazem presentes em um texto mais recente. Leiter e

Maslach (2014) lamentam o fato de que as intervenções sobre o burnout tem se

focalizado no indivíduo, apesar da literatura sugerir que as intervenções no

contexto de trabalho são provavelmente mais efetivas. Uma das razões para isso

pode estar “no fato de que o burnout tem sido definido e descrito em termos de

uma experiência individual (exaustão, cinismo, ineficácia)”79 (Leiter & Maslach,

2014, p. 154).

77 “It is not a personality defect or a clinical syndrome. It is an occupational problem”. 78 “The MBI assesses burnout as the result of problems at work, not as a psychiatric syndrome”. 79 “In the fact that burnout has been defined and described in terms of the individual experience

(exhaustion, cynicism, inefficacy)”.

91

Capítulo 5: Conclusão

Tendo em vista o esforço de análise do burnout nos dois últimos capítulos,

a partir das formulações de Freudenberger e Maslach, passamos presentemente

às conclusões gerais que podemos tirar a partir desse estudo histórico do

conceito (item 5.1), da palavra (5.2) e da metáfora (5.3) do burnout em

Psicologia. No item 5.4 retomamos o percurso da tese como um todo e

apresentamos algumas perspectivas de desenvolvimento a partir do que foi

realizado.

5.1 O conceito

Demonstramos que as modificações no conceito são múltiplas dentro do

percurso de cada autor e também na comparação entre um autor e outro.

Freudenberger passa de uma lista de sinais em que aspectos psicossomáticos

eram bastante importantes para um ciclo de doze estágios com ênfase na

dinâmica psicológica. Maslach passa de três componentes para o continuum

burnout-comprometimento, que promove uma ênfase positiva na produção de

comprometimento em vez de apenas um combate do burnout.

O contexto de aplicação do burnout e as fronteiras do conceito também

têm sido bastante modificados conforme a época e o autor. Se inicialmente o

burnout apareceu como uma questão restrita aos trabalhadores das Free Clinics,

logo ele amplia seu espectro de utilização e passa a ser utilizado para falar do

trabalho de professores, policiais, assistentes sociais. Freudenberger aplicou o

conceito a casamentos e relacionamentos, a grupos, sociedade e mesmo ao

planeta terra (um burnout dos recursos naturais decorrente da exploração

desenfreada promovida pela civilização humana). Maslach criou escalas

92

específicas para serviços de saúde e para contexto educacional, antes de fazer

uma versão do MBI de interesse geral, aplicável para qualquer trabalho.

Assim, consideramos que a constatada dificuldade de delimitar o burnout

com precisão corrobora a importância do raciocínio por analogias invocado no

capítulo 2, isto é, começando de casos considerados mais típicos, como o dos

profissionais de saúde e educação, o burnout passa a ser uma possibilidade para

toda e qualquer profissão, podendo inclusive ser aplicado fora do âmbito do

trabalho. Nesse sentido, o processo histórico-conceitual aqui resumido ilustra

bem os dois polos de risco aos quais estão submetidos os conceitos em sua

“vida útil”: ou bem estreitam seu campo de aplicação, e perdem o esperado poder

de abrangência (conceitos são, por definição, categorias que abarcam certa

gama da diversidade, organizando o mundo fenomênico ao recortá-lo de alguma

maneira); ou bem crescem excessivamente, passando a serem utilizados para

tal diversidade de propósitos e abarcando tantos contextos e casos que se

diluem e não aportam mais nenhuma ajuda para a descrição dos fenômenos

inicialmente visados (cf. Koppe, 201280).

Koppe (2012) chama a atenção para este último aspecto do fenômeno, o

risco de “inchaço” conceitual em diversos domínios, inclusive na Psicologia;

neste domínio, o referido autor cita, ilustrativamente, o caso de hipertrofia do

conceito de stress (bastante próximo, aliás, do conceito de burnout), que teria

atingido o “vazio teórico e conceitual” por conta da ampliação de abrangência

pela qual passou – chegando inclusive a transbordar do contexto acadêmico de

uso para a “psicologia leiga”, senso comum ou “folk psychology” (cf. Bruner, 1997

80 “(...) [the concept has been] used in so many contexts and exploited for so many different

purposes that it in itself no longer means anything” (Koppe, 2012, pg. 15).

93

e Gutman, 2010, que tece alguns comentários sobre o intercâmbio entre

terminologia técnica e leiga no caso das classificações psiquiátricas e do

burnout).

As transformações constantes do conteúdo e do âmbito de aplicação do

objeto psicológico burnout configuram um campo complexo de discursos e

ações. Sua história mostra um campo de conflito entre origens conceituais

diferentes: o burnout de Freudenberger é fruto da clínica psicanalítica, o de

Maslach, da pesquisa com questionários e entrevistas. A batalha pela

significação do burnout carrega em si o modo como cada um investe um campo

de prática: o conceito está sempre ancorado em uma ação no mundo.

5.2 A palavra

Ao observar a evolução da ortografia da palavra no trabalho de

Freudenberger e de Maslach ao longo dos anos, podemos ver variações que

ajudam a contar a história do desenvolvimento do conceito. É preciso levar em

consideração que os quadros que se seguem apresentam indicações de datas

que só podem ser aproximativas, uma vez que não obtivemos acesso a todas as

publicações, e mesmo o uso dentro de um mesmo artigo pode apresentar por

vezes pequenas variações. No entanto, de um modo geral, é possível discernir

as seguintes modificações:

Quadro 1

Evolução da ortografia da palavra na obra de Herbert J. Freudenberger

Ano Ortografia

1973b burnt out 1974a burn-out / burn out 1980 Burn-Out 1984 burnout

94

Quadro 2

Evolução da ortografia da palavra na obra de Christina Maslach

Ano Ortografia

1976 burned-out 1977 burn-out 1978 burnout

No caso de Freudenberger, a primeira utilização apresenta um “t” na grafia

do “burnt out” que deixa claro que se trata do verbo conjugado no passado (burnt

é uma variação de burned). A perda do “t” apaga essa referência à conjugação

no passado, trazendo o verbo para o presente: “burn”. A utilização das iniciais

maiúsculas no livro de 1980 parece ser uma maneira de conferir um destaque

para a expressão, mostrando que ela adquiriu um estatuto diferente do uso

corriqueiro. Por fim, ocorre a supressão do hífen, transformando a expressão em

uma só palavra. O percurso da palavra nas mãos de Maslach é semelhante, já

que começa com a conjugação no passado “burned-out”, passa pela conjugação

no presente “burn-out” e termina com a supressão do hífen, chegando ao mesmo

resultado final que Freudenberger, embora bem mais cedo que ele, já em 1978.

Uma interpretação possível para esse percurso é que o burnout foi em

primeiro lugar um verbo e só posteriormente passou a ser usado de forma mais

consistente como substantivo. É possível que a passagem do burnout de uma

metáfora no contexto das Free Clinics para uma síndrome esteja ligada ao

processo de habituação à utilização dessa expressão como um substantivo e

não um verbo. A perda do hífen pode ser vista como uma modificação que auxilia

este processo de substantivação, uma forma a abreviar e facilitar a escrita

conforme o uso da expressão foi se tornando mais frequente.

Essa tensão entre verbo e substantivo parece corresponder à discussão

teórica entre compreender burnout como um processo ou como um estado

95

(Schaufeli & Enzmann, 1998; Schaufeli & Buunk, 2003). Existe um dilema entre

considerar o burnout algo que se faz, um processo no qual se está implicado

pessoalmente, ou algo que se tem, como uma doença.

5.3 As metáforas

Identificamos duas metáforas principais que regem o conceito: o burnout

como uma síndrome e o homem como sistema de energia. Quando comparamos

a presença destas metáforas com as variações conceituais sofridas, o que

chama a atenção é o quanto elas são mais estáveis que as definições e os

componentes do burnout. Ainda que a síndrome seja concebida de maneira

diferente ou que a exaustão tenha outro significado e causa principal, é através

do arcabouço metafórico compartilhado que podemos identificar uma

continuidade entre Freudenberger e Maslach.

Ao menos quando formuladas no nível de generalidade que fizemos

acima, essas metáforas parecem fornecer o que há de mais consistente no

objeto psicológico burnout. Elas permanecem como dois fios condutores que

ligam não só diferentes formulações do conceito dentro do percurso de cada

autor, como fazem a ponte entre Freudenberger e Maslach. É somente quando

descemos aos detalhes de suas definições específicas e, principalmente, aos

modos de investigação e intervenção que as filosofias da ciência subjacentes

aparecem com todas suas disparidades.

No entanto, as duas metáforas identificadas não possuem o mesmo

estatuto. A primeira (o burnout como síndrome) parece bem mais frágil e não

essencial, dado que Freudenberger logo deixa de usar a palavra “síndrome” e

propõe definições que prescindem do termo. Maslach também se afastou da

96

utilização do MBI para definir um diagnóstico médico ao propor o continuum

burnout-comprometimento e as seis áreas de relação pessoa-trabalho. No

entanto, ainda que enfraquecida pelo próprio movimento de pesquisa de ambos,

a metáfora nunca foi completamente deixada de lado nem por um autor nem pelo

outro. Freudenberger vai continuar a falar de ciclo de sintomas e Maslach

mantém a definição do burnout como uma síndrome psicológica.

A principal consequência dessas observações é que a metáfora da

síndrome encontra dificuldade de se justificar teoricamente e deveria ser

abandonada (Cf. Milan, 2007 e Bianchi, Schonfeld & Laurent, 2015 para outras

críticas ao burnout enquanto síndrome). Esta metáfora traz o burnout para o

âmbito do vocabulário médico sem que haja elementos para sustentar essa

aproximação, já que a importância da dinâmica intrapsíquica psicanalítica

estudada por Freudenberger ou os fatores da relação pessoa-trabalho

analisados por Maslach prescindem da noção de síndrome para afirmar o que

afirmam. Além disso, a metáfora da síndrome promete uma estabilidade de

sinais e sintomas nunca encontrada e tende a individualizar e medicalizar o

tratamento (através da psicoterapia e da administração de fármacos), mesmo

sem poder entregar um agente etiológico para um problema que é

reconhecidamente multifatorial e envolve tantos determinantes psicossociais.

Já a metáfora do homem enquanto sistema de energia parece responder

ao que há de mais fundamental para o conceito de burnout. Ela permanece

praticamente inalterada e podemos observar sua presença em vários momentos:

ganhar e perder, dar e receber, equilibrar e balancear, recarregar, reabastecer,

drenar, sugar, enfim toda essa série de operações constitui um vocabulário

central. Se houve diversos questionamentos sobre sinais e sintomas, ou sobre

97

os outros componentes do modelo em três fatores proposto por Maslach, não

parece haver dúvida entre os que acreditam que o burnout é um conceito útil de

que a exaustão é seu aspecto central, e ela é concebida, em geral, em termos

energéticos.

A metáfora energética parece ter especial ressonância por dois motivos:

1) por sua capacidade de dizer de um sofrimento que reclama nomeação,

reconhecimento e tratamento; 2) por fazê-lo em uma linguagem que é ao mesmo

tempo facilmente compreensível e aberta à significação, para que cada um

interprete colocando algo de si. Se é verdadeiro que a metáfora energética por

si só dificilmente justificaria a criação de uma nova categoria nosológica, é

preciso se perguntar efetivamente se o que está em jogo aqui não é outra coisa.

Em vez da identificação de uma nova doença que supostamente seria universal

e transhistórica, o burnout parece ser o porta-voz de um sofrimento. Aqui cabe

perguntar: será que esse sofrimento adquire a roupagem de objeto universal e

transhistórico porque essa é a única forma de legitimá-lo em uma concepção de

ciência que não valoriza objetos historicamente constituídos? Será que esse

sofrimento adquire a roupagem de síndrome porque essa é a única forma de

legitimá-lo perante uma sociedade que não confere ao sofrimento psicológico o

mesmo status do sofrimento com causas orgânicas? Nesse caso o papel de uma

ciência psicológica poderia ser o de afirmar que um sofrimento psicológico e

historicamente situado não é menos legítimo nem menos científico.

5.4. Considerações finais

O trabalho de elaboração e escrita desta tese foi longo, e o projeto passou

por mudanças importantes ao longo do percurso. No momento da redação dos

98

dois primeiros capítulos a tese possuía um viés mais forte na direção de um

trabalho teórico, e os conceitos eram vistos de forma mais abstrata. A

experiência de ministrar disciplinas de história da psicologia junto ao

Departamento de Psicologia da UFRN nos semestres 2013.2 e 2014.1, bem

como o contato com as fontes para a escrita dos capítulos três e quatro fez com

que o texto se tornasse mais voltado para aspectos históricos específicos. A

experiência do doutorado sanduíche no grupo de Psicologia do Trabalho e

Clínica da Atividade do CNAM (Conservatoire des Arts et Métiers) influenciou de

forma determinante a redação dos capítulos três e quatro, trazendo a

preocupação de fazer também uma análise das práticas de intervenção de cada

autor.

Todas essas mudanças implicam em um texto menos coerente do que

gostaríamos. Apesar dos esforços e modificações que fizemos com o intuito de

manter a unidade do conjunto, cada capítulo guarda certa independência e

reflete características do momento em que foi concebido e escrito. Essas

variações de tom não devem obscurecer totalmente a mensagem central, que é

o convite a estudar em profundidade determinados objetos psicológicos de

maneira histórica e linguageira.

Uma das principais dificuldades deste trabalho foi sustentar uma

abordagem que não pode ser encerrada nos limites de uma só disciplina,

localizando-se no cruzamento entre psicologia, história, filosofia e estudos sobre

a linguagem. Psicologia, pela escolha do tema (burnout), mas também por levar

em consideração a pesquisa em psicologia cognitiva sobre categorização (item

2.1) e situar a análise conceitual como uma das tarefas de uma psicologia teórica

e filosófica (cap. 1). História, por considerar a análise do tema dentro do

99

referencial de uma história dos objetos psicológicos (Danziger, item 2.3), por

conferir especial atenção ao momento de fundação do burnout, estudando-o

através de uma leitura atenta dos artigos concebidos como fontes primárias

(cap.3), e também por acompanhar a transformação do conceito e analisar

criticamente o modo como a sua história é contada por alguns dos seus

protagonistas (cap.4). Filosofia, por fundamentar o estudo em uma concepção

de linguagem e da sua importância para a análise dos conceitos e produção do

conhecimento (introdução), mas também por analisar as epistemologias

subjacentes às concepções de Freudenberger e Maslach (cap.3 e 4). Estudos

sobre a linguagem, pela importância conferida à metáfora enquanto processo

cognitivo (item 2.2) e análise da palavra (item 5.2).

Concebido como uma área de fronteira entre vários campos do

conhecimento, esse modo de análise poderia ser melhor desenvolvido através

da comparação de diferentes propostas, tais como a história dos conceitos de

Georges Canguilhem (Canguilhem, 2015), e de Reinhart Koselleck (Koselleck,

1992), a história das palavras de Louis Gernet (Gernet, 2001), a biografia de

objetos científicos (Daston, 2000), a história das ideias (Angenot, 2014), a

história linguageira de conceitos (Guilhaumou, 2006), para citar alguns

exemplos. Isso permitiria aprofundar aspectos relativos à fundamentação e à

metodologia para se estudar objetos epistêmicos de maneira transdisciplinar,

promovendo o diálogo entre diferentes saberes.

Uma revisão de literatura, por si só, concebida como uma tarefa anterior

à pesquisa empírica, dificilmente poderia levantar as questões que trouxemos à

tona, nem tampouco poderia investigar uma quantidade de referências tão

grande do momento de criação do conceito para avalia-lo como o fizemos. Os

100

resultados atingidos argumentam em favor da realização de trabalhos teóricos e

filosóficos em psicologia como uma forma de contribuição necessária e

inovadora, tal como procuramos defender no capítulo um.

No caso do burnout a principal contribuição da abordagem que realizamos

é desfazer o caráter reificador e naturalizante do conceito de burnout e de como

a história desse conceito é considerada, trazendo à tona pressupostos e

escolhas, contribuindo assim para se evidenciar o caráter de construção

metafórica do conceito. Friberg escreve: “como leitores da história do MBI no

campo da pesquisa sobre o burnout, nós somos inseridos imediatamente em um

mundo conceitual positivista”81 (2009, p.547).

Tomar o burnout como objeto de pesquisa ou intervenção sem uma

reflexão sobre o seu percurso e sem uma análise da sua constituição conduz à

aceitação de vários pressupostos questionáveis como fundamento de toda e

qualquer pesquisa sobre o assunto. Carlotto e Câmara (2008) afirmam em uma

revisão da literatura brasileira sobre o burnout: “Já há consenso entre a maioria

dos investigadores na comunidade científica internacional, com relação à

definição, avaliação e modelo teórico de Burnout, conforme o proposto por

Maslach e Jackson” (p. 156).

Levando em consideração que a grande maioria dos trabalhos publicados

sobre o tema no Brasil utiliza o conceito de Maslach (Vieira, 2010), entendemos

que esta tese é um convite para investigar o sofrimento psíquico no trabalho de

outras maneiras. Concordamos com Vieira (2010) quando este afirma que por

trás de uma impressão superficial de homogeneidade existe um intenso debate

81 “As a reader of the history of the MBI, within the field of burnout research, one is immediately

immersed in a positivistic conceptual world”.

101

científico, com perspectivas teóricas variadas. “O burnout não é um conceito

fechado, apesar de haver uma definição dominante” (Vieira, 2010, p. 274).

No entanto, mesmo esse debate corre o risco de acontecer dentro de um

leque de opções muito estreito. Depois de discutir quatro instrumentos que se

apresentam como alternativas ao MBI, Vieira (2010) coloca que os debatedores

parecem estar à procura da verdadeira natureza do burnout, da sua essência,

partilhando “um modelo científico da etiologia (...) fundamentado no princípio de

que as doenças existem por si só, independentemente de serem nomeadas” (p.

274).

O melhor antídoto contra a naturalização e reificação do burnout é o seu

estudo histórico e teórico: é significativo que uma história tão recente quanto a

da criação do burnout por Freudenberger esteja em tal estado de

desconhecimento. Isso permite supor que outros temas de pesquisa atuais

também tenham um passado a ser descoberto, e que é possível realizar

pesquisas semelhantes com outros objetos psicológicos, ajudando a

compreender sua formação e trajetória.

Nesse sentido, “a história da psicologia deve ser exercida não como

legitimação de nosso presente, mas sim como problematização do mesmo, na

medida em que ela chama a nossa atenção para elementos ausentes ou

esquecidos nas discussões atuais” (Araujo, 2012b, p. 52). A explicitação da

construção do burnout empreendida nessa tese pode servir como um estímulo

para que formulações teóricas alternativas sejam empreendidas, levando em

conta o exame crítico do conceito. A oposição entre Freudenberger e Maslach

102

não esgota o campo de possibilidades de conceituação e intervenção, mas pode

servir como parâmetro para discussão de outras propostas.

Dentre elas, o contato que tivemos com a Clínica da Atividade (CA) no

contexto do doutorado sanduíche nos faz pensar que esta é uma alternativa

especialmente relevante, por três motivos: 1) a abordagem de Freudenberger

pode ser descrita como sendo principalmente clínica e individual, e a abordagem

de Maslach como positivista e organizacional. Ao conjugar clínica e coletivo

(Clot, 2011), a CA aproxima dois termos que se mantiveram separados nos

trabalhos destes dois autores, explorando outra maneira de pensar a atuação na

Psicologia do Trabalho; 2) enquanto a ideia de diagnóstico clínico de síndrome

parece fechar as portas para as intervenções que privilegiam o coletivo,

individualizando e medicalizando a problemática, a CA caminha na direção

contrária, de recusa da nosologia, em prol de uma clínica das situações

concretas de trabalho (Clot, 2010b; Clot e Gollac, 2014); 3) mesmo não fazendo

uso da nosologia psiquiátrica, a CA apresenta outros referenciais para falar de

saúde no trabalho, especialmente a compreensão de que a saúde não é

ausência de doença, mas sim capacidade criativa, normatividade (Canguilhem,

2011).

Pensar a relação entre saúde e psicologia no trabalho envolve lidar com

diferentes formas de reconhecer e nomear o sofrimento, que levam a

consequências específicas. As metáforas e os pressupostos que utilizamos

podem guiar discussões, formatando o problema e sugerindo intervenções. Se

a metáfora da síndrome tem se mostrado questionável, fornecer metáforas

alternativas pode levar a psicologia do trabalho a lidar com aspectos menos

103

explorados da relação homem-trabalho, ajudando a desenvolver outras

concepções de saúde e formas de atuação.

O burnout se desenvolveu cedendo demais a uma determinada

concepção de ciência que supervaloriza a mensuração e a definição através de

instrumentos de avaliação, ao mesmo tempo em que discussões conceituais

necessárias foram deixadas de lado, como a discussão sobre a fragilidade da

metáfora da síndrome. Essa distorção dificilmente aconteceria sem uma cultura

de valorização do método e do “dado empírico” que fornece pouco apoio à

pesquisa teórica e filosófica. Atualmente, falar sobre o burnout é, na maioria das

vezes, não só abordar um tema de pesquisa, mas comprar junto toda uma

filosofia da ciência. Dissociar o burnout do MBI e do positivismo que o cerca

parece ser a condição fundamental para que haja uma real discussão sobre o

conceito. Evitar essa discussão e fingir que a mensuração pode responder a ela,

seja pela via da definição operacional, seja pela via do apelo ao fato de que um

instrumento é utilizado pela maioria dos pesquisadores é fechar os olhos para

problemas reais e construir em terreno instável.

Vygotski (1997), em seus estudos sobre a aprendizagem de conceitos na

infância, apontou que os significados das palavras se desenvolvem e que os

conceitos científicos, assim como os conceitos cotidianos, também se

desenvolvem. Um conceito não é uma formação rígida e imutável, mas um

processo vivo de pensamento que responde a situações e reflete a realidade de

diferentes maneiras segundo os problemas que procura resolver. Não há

nenhuma razão para imaginar que o desenvolvimento do burnout vá terminar

aqui.

104

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Apêndice B: Bibliografia Christina Maslach

Essa é uma seleção das publicações da autora sobre o burnout, a partir do currículo disponível em http://maslach.socialpsychology.org/.

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