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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O
CASO DO BURNOUT
Flávio Fernandes Fontes
Natal
2016
ii
Flávio Fernandes Fontes
TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O
CASO DO BURNOUT
Tese elaborada sob a orientação do prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Psicologia
Natal 2016
iii
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).
Fontes, Flávio Fernandes.
Teorização e conceitualização em psicologia: o caso do Burnout / Flávio
Fernandes Fontes. – 2016.
130 f.
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, 2016.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão.
1. Burnout (Psicologia). 2. Stress ocupacional. 3. Psicologia. I. Falcão,
Jorge Tarcísio da Rocha. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.
RN/BSE-CCHLA CDU 159.9:331
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ATA DA 31ª SESSÃO DE DEFESA PÚBLICA DE TESE DE DOUTORADO
Aos três do mês de junho de 2016, às 14h00min, no Auditório "D" do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi instalada a Comissão Examinadora responsável pela avaliação da tese de doutorado intitulada TEORIZAÇÃO E CONCEITUALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA: O CASO DO BURNOUT, apresentada pelo doutorando, Flávio Fernandes Fontes ao Programa de Pós-graduação em Psicologia, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Psicologia. A Comissão Examinadora foi presidida pelo professor orientador Jorge Tarcísio da Rocha Falcão e contou com a participação dos professores doutores Saulo de Freitas Araújo (UFJF) e lonara Dantas Estevam (UnP), na qualidade de examinadores externos ao programa, e Renata Archanjo (UFRN) e Pedro Fernando Bendassolli (UFRN), na qualidade de examinadores internos. A sessão teve a duração de três horas e meia e a Comissão Examinadora emitiu o seguinte parecer: A tese cumpre todos os requisitos necessários para aprovação, apresentando conteúdo original e trazendo contribuições para o campo, com possibilidade de desdobramentos futuros em várias áreas. Sugere-se levar em consideração as sugestões pontuais feitas pela banca, procedendo às revisões sugeridas. O doutorando foi considerado: (X) aprovado ( ) reprovado _________________________________ Prof. Dr. Jorge Tarcísio da Rocha Falcão Presidente _________________________________ Profa. Dra. lonara Dantas Estevam Examinadora Externa _________________________________ Prof. Dr. Pedro F. Bendassolli Examinador Interno _________________________________
Prof. Dr. Saulo de Freitas Araújo Examinador Externo
_________________________________ Profa. Dra. Renata Archanjo Examinadora Interna _________________________ Flávio Fernandes Fontes Doutorando
v
Agradecimentos
O processo de escrita dessa tese foi longo e foram muitas as pessoas que
ajudaram a construir o resultado final. À Jorge Falcão, por ter me incentivado ao
longo de todo o percurso e pelas reuniões de orientação, das quais eu saía
sempre com energia renovada e motivação para o trabalho. À Dra. Selma Leitão,
pela leitura atenta no momento em que o trabalho passava pelo seminário de
tese do PPGPSI. À Dra. Rosângela Francischini e Dra. Maria Bernadete
Fernandes de Oliveira, pela leitura no momento da qualificação. Aos membros
da banca, Dra. Ionara Dantas Estevam, Dra. Renata Archanjo, Dr. Saulo de
Freitas Araújo e Dr. Pedro F. Bendassolli, pelas correções, críticas e sugestões
que melhoraram a versão final do texto e me forneceram indicações para
prosseguir na pesquisa. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por me
proporcionar um ambiente de trabalho e estudo. À CAPES, pela bolsa que
possibilitou o período sanduíche. À Monalisa Carrilho e Irène Belloni, pela
inesquecível generosidade. À toda a equipe da Psicologia do Trabalho e Clínica
da Atividade no CNAM, em especial à Yves Clot, Livia Scheller, Katia Kostulski
e Jean-Luc Tomás, pela recepção, apoio e ajuda ao longo de todo o período de
estudos em Paris. À turma de brasileiros no CNAM: Katia Diolina, Fabiana
Goulart de Oliveira, Enio Rodrigues da Silva, Priscila da Silva Antonio, Danielle
Vargas e Matilde Agero Batista. Ao Cercle International de l’ARC, pelo convívio
e lições de aprimoramento da conversação em francês. À Michel Jouanneaux,
Christophe Massot, Maria Noel Close, José Luis Horta Brasil, Dylan Keegan,
Sophie Janinet, Maria Inês Campos, Mariana Sarciotto Catunda Martins,
Carolina Melo, Tiago Pereira, Bruno Karelovic Burotto e tantos outros amigos
que fizeram a vida ter sentido em um país estrangeiro. À Andrés Luis L. F. Sales,
Lucas Mafaldo e Aline Maia, pela amizade que resiste ao tempo e à distância. À
minha família, pelo apoio imprescindível. À Marina, por andar “reto entre tudo o
que há de incerto em mim”.
vi
Sumário Resumo ......................................................................................................................................... vii
Abstract ....................................................................................................................................... viii
Resumen ........................................................................................................................................ ix
Introdução ................................................................................................................................... 10
Objetivo central e estrutura dos capítulos .............................................................................. 10
Alguns pressupostos epistemológicos .................................................................................... 13
Capítulo 1: A emergência da Psicologia Teórica e Filosófica como uma área de pesquisa
acadêmica ................................................................................................................................... 19
Capítulo 2: Análise de conceitos/palavras/metáforas ................................................................ 35
2.1 A contribuição da Psicologia para a análise de conceitos ................................................. 35
2.2 Análise de conceitos e pensamento metafórico ............................................................... 39
2.3 Análise conceitual como história linguageira e social ....................................................... 42
Capítulo 3: Herbert J. Freudenberger e a criação do burnout como síndrome psicopatológica 49
3.1 Psicologia e trabalho ......................................................................................................... 49
3.2 Delimitando o objeto ........................................................................................................ 51
3.3 A criação do conceito de burnout ..................................................................................... 55
3.4 Metáforas que organizam o conceito de burnout ............................................................ 61
3.5 A dinâmica intrapsíquica ................................................................................................... 66
3.6 Indivíduo, instituições, sociedade ..................................................................................... 68
3.7 Um conceito em movimento............................................................................................. 70
Capítulo 4: Mensuração do burnout: a contribuição de Christina Maslach ................................ 74
4.1 O percurso até a quantificação ......................................................................................... 74
4.2 Contando a história ........................................................................................................... 82
4.3 Reformulando o conceito .................................................................................................. 86
Capítulo 5: Conclusão .................................................................................................................. 91
5.1 O conceito ......................................................................................................................... 91
5.2 A palavra ............................................................................................................................ 93
5.3 As metáforas ..................................................................................................................... 95
5.4. Considerações finais ......................................................................................................... 97
Referências bibliográficas ......................................................................................................... 104
Apêndice A: Bibliografia Herbert J. Freudenberger .................................................................. 118
Apêndice B: Bibliografia Christina Maslach ............................................................................... 125
vii
Resumo
Pesquisas filosóficas e conceituais vêm sendo reiteradamente apontadas como necessárias na Psicologia, dada a caracterização da disciplina como excessivamente centrada no método e na coleta de dados empíricos. Apresentamos a Psicologia Teórica e Filosófica enquanto área de pesquisa que procura responder a esse problema, constituindo um campo de reflexão e trabalho metateórico capaz de evitar as armadilhas da aplicação meramente mecânica de procedimentos metodológicos. Em seguida fornecemos algumas diretrizes sobre como realizar a análise de conceitos em psicologia. Defendemos como abordagem levar em consideração a dimensão linguageira (palavra e metáfora) de um determinado objeto psicológico e seguir seu desenrolar de transformações pela história. Com base nessa perspectiva, realizamos o estudo de uma problemática oriunda da psicologia do trabalho: a síndrome de burnout, que pode ser caracterizada como uma situação de “exaustão” em relação à atividade laboral por parte do indivíduo-trabalhador. Analisamos em profundidade a obra de dois dos teóricos mais importantes na história desse conceito: Herbert J. Freudenberger e Christina Maslach. Expomos qual o contexto de surgimento e a filosofia da ciência que embasam a criação desse novo objeto psicológico, ressaltando a diferença entre a perspectiva clínica-psicanalítica (Freudenberger) e a perspectiva de mensuração positivista (Maslach). Seguimos as mudanças conceituais e de ortografia da palavra pelas quais passou o burnout na obra de ambos os autores escolhidos, enfatizando a instabilidade das definições apresentadas. Defendemos que duas metáforas são os aspectos mais estáveis do objeto psicológico em questão: a metáfora da síndrome e a metáfora do homem como sistema de energia. A primeira encontra dificuldades de se justificar teoricamente, enquanto a segunda constitui o aspecto central do burnout através da ideia de exaustão. Palavras-chave: psicologia teórica e filosófica; história de objetos psicológicos; stress ocupacional.
viii
Abstract
Philosophical and conceptual research has been repeatedly deemed necessary
in psychology, given the characterization of the discipline as method-driven and
overly focused on data collection. Theoretical and Philosophical Psychology is
presented as a research area that tries to counter this problem, by providing a
framework for reflection and metatheoretical work within psychology, in order to
avoid the pitfalls of a mechanical application of methodological procedures. Some
guidelines are provided on how to perform conceptual analysis in psychology: it
must take into account the linguistic dimension (word and metaphor) of a given
psychological object and follow its transformation in history. Following this
approach, the study of an important object in work psychology is carried out: the
burnout syndrome, which can be defined as an exhaustion of the worker in the
context of his work activity. A detailed analysis of the contributions of the two
most important authors in the history of the concept is provided: Herbert J.
Freudenberger and Christina Maslach. The context in which it appears and the
underlying philosophy of science that gives support to this new object are
scrutinized, emphasizing the difference between a clinical and psychoanalytical
perspective (Freudenberger) and a positivist perspective focused on
measurement (Maslach). We follow conceptual and spelling changes suffered by
the psychological object in the hands of both authors, emphasizing how the
definition has been instable. It is argued that two metaphors are the most stable
elements in the history of this psychological object: the syndrome metaphor and
the metaphor of man as an energy system. The first one has difficulties in
justifying itself, while the second one establishes the central aspect of burnout,
exhaustion.
Keywords: theoretical and philosophical psychology; history of psychological
objects; occupational stress.
ix
Resumen
Investigaciones filosóficas y conceptuales han sido identificadas repetidamente como necesarias en la psicología, dada la caracterización de la disciplina como excesivamente centrada en el método y en la recolección de datos empíricos. Presentamos la psicología teórica y filosófica como una área de investigación que pretende dar respuesta a este problema, proporcionando un campo de reflexión y trabajo metateórico capaz de evitar las trampas de la aplicación puramente mecánica de los procedimientos metodológicos. A continuación ofrecemos algunas pautas sobre cómo llevar a cabo el análisis de los conceptos en la psicología. Defendemos un enfoque teniendo en cuenta la dimensión de lenguaje (palabra y metáfora) de un determinado objeto psicológico y seguimos sus transformaciones en la historia. Sobre la base de esta perspectiva, se realizó el estudio de un problema que surge de la psicología del trabajo: el síndrome de burnout, que puede ser caracterizado como una situación de agotamiento en relación con la actividad laboral por parte del individuo. Se analizaron en profundidad la obra de dos de los teóricos más importantes en la historia de este concepto: Herbert J. Freudenberger y Christina Maslach. Presentamos el contexto y la filosofía de la ciencia que apoyan la creación de este nuevo objeto psicológico, haciendo hincapié en la diferencia entre el punto de vista clínico-psicoanalítico (Freudenberger) y la perspectiva de medición positivista (Maslach). Seguimos los cambios conceptuales y de escritura de la palabra burnout en el trabajo de los autores elegidos, enfatizando la inestabilidad de las definiciones. Se argumenta que dos metáforas son los aspectos más estables del objeto psicológico en cuestión: la metáfora del síndrome y la metáfora del hombre como sistema de energía. La primera es difícil de justificar teóricamente, mientras que la segunda es el aspecto central del burnout a través de la idea de agotamiento.
Palabras clave: Psicología teórica e filosófica; historia de objetos psicológicos;
estrés ocupacional.
10
Introdução
Objetivo central e estrutura dos capítulos
Este é um trabalho de prospecção teórica que se enraíza em domínio
específico, o da psicologia do trabalho, mas que parte de problema de fundo que
transcende este domínio e se refere a todo o campo de formulação conceitual,
teórica, metodológica e epistemológica em Psicologia: trata-se da dificuldade de
muitas teorias em considerar o caráter de construção linguageira1 dos
conceitos centrais que utilizam. Dois problemas importantes decorrem desta
dificuldade: em primeiro lugar, a reificação desses conceitos, e, em segundo
lugar, porém diretamente relacionado ao primeiro ponto, a ilusão de que o “dado
empírico” é fonte suficiente e exclusiva da uma “substância ontológica”,
desconsiderando o quanto as metáforas desempenham um papel importante na
constituição mesma dos objetos psicológicos.
O presente trabalho possui capítulos com objetivos diferentes, mas que
trabalham juntos para a formulação de uma investigação teórica em psicologia,
tendo como foco deflagrador uma problemática oriunda da psicologia do
trabalho. Os capítulos um e dois abordam aspectos gerais do trabalho teórico e
da análise de conceitos, preparando o terreno para os capítulos três, quatro e
cinco, que investigam as origens e trajetória de mudanças de um conceito
específico: trata-se da síndrome de burnout, que pode ser caracterizada
1 Optamos por importar do francês o adjetivo langagier (“linguageiro”), pouco comum em língua portuguesa, por entender que ele permite expressar a ideia de “relativo à linguagem” de uma forma mais simples e econômica.
11
brevemente como uma situação de “exaustão” em relação à atividade laboral por
parte do indivíduo-trabalhador.
Realizar um trabalho teórico (e mesmo metateórico) em psicologia não é
algo tão comum (cf. Machado, Lourenço & Silva, 2000; Laurenti, 2012), e, por
isso, logo se tornou evidente que seria preciso justificar a pertinência e relevância
de uma proposta como essa, inclusive defendendo sua posição enquanto
trabalho em Psicologia e não em outra área do conhecimento, como a Filosofia.
Para isso o primeiro capítulo aprofunda aspectos relacionados ao fazer da
Psicologia Teórica e Filosófica, justificando a necessidade desse tipo de
pesquisa e explicitando a base a partir da qual trabalhos como o que realizamos
podem vir a existir. Esse é um passo importante, porque se trata de assegurar
um lugar para a produção de pesquisas teóricas em psicologia,
independentemente das opções epistemológicas que guiarão cada pesquisa
específica.
O segundo capítulo busca estabelecer as bases filosóficas e
metodológicas que tomamos como guia para realizar uma das tarefas mais
importantes de uma psicologia teórica: a análise de conceitos em psicologia.
Entendemos que não é possível analisar conceitos sem analisar a linguagem,
atitude que decorre da compreensão de que o papel da linguagem na produção
do conhecimento humano é fundamental e não somente instrumental. A tese
defendida nesse capítulo é que uma análise conceitual em Psicologia deve levar
em conta as dimensões de palavra, de conceito e de metáfora de um
determinado objeto psicológico e seguir seu desenrolar de transformações pela
história para que este possa ser estudado teoricamente em sua devida
complexidade.
12
Assim, depois de ter estabelecido o campo da Psicologia Teórica e
Filosófica e as diretrizes epistemológicas e metodológicas para uma análise
conceitual eficiente, o terceiro capítulo inicia o estudo do conceito burnout. É
possível argumentar que conceitos científicos frequentemente partem de uma
construção metafórica, na medida em que toda abstração demanda um mínimo
de “corporificação” (ou “embodiment” - cf. Lakoff & Johnson, 1999; Lakoff &
Núñez, 2000) que funcione como andaime cognitivo que auxilie a construção
abstrata: vide, nesse contexto, os conceitos físicos de “força”, “energia”, “inércia”,
bem como o conceito de “equivalência algébrica”, associado ao equilíbrio físico
que se obtém numa balança de dois pratos. Tal aspecto metafórico indica a
importância da mediação linguageira para todo e qualquer processo de
construção de significado (cf. Da Rocha Falcão & Hazin, 2014). Mas é possível
ir além: a construção conceitual encerra uma crença, acompanhada de sua
justificativa narrativo-explicativa, em que mais uma vez a mediação semiótica
das estruturas de linguagem é fundamental para a construção mesma do
conceito. É o caso do conceito de burnout, que alude originariamente a algo que
se queimou, no sentido de ter-se igualmente consumido, extinguido. Levado para
o âmbito da psicologia do trabalho, o conceito (agora psicológico) de burnout
aludirá a situações, em contexto de atividade de trabalho, de exaurimento,
desgaste e o respectivo sofrimento que as acompanha. Nesse sentido, o
conceito de burnout não é o único, mas é sem dúvida um caso ilustrativo
exemplar do objetivo maior do presente trabalho de exploração teórica e
metateórica. Ainda no terceiro capítulo, defendemos que não é possível falar de
uma síndrome de burnout antes de Herbert J. Freudenberger, que deve ser visto
como o verdadeiro sistematizador desse conceito, e discutimos em detalhes em
13
que contexto e de que maneira ele pôde transformar uma expressão de uso
corrente em uma síndrome.
No quarto capítulo abordamos o trabalho de C. Maslach, autora de grande
influência que ajudou a moldar o campo de estudos acadêmicos sobre o burnout
tal como o conhecemos hoje em dia, em grande parte através da criação de um
instrumento de medida que se transformou na forma dominante de estudo do
fenômeno. É nosso interesse particular salientar a transformação sofrida pelo
objeto psicológico burnout ao passar da abordagem de H. J. Freudenberger para
a de C. Maslach.
No quinto capítulo retomamos as diretrizes de análise de conceitos
estabelecidas no capítulo dois e as utilizamos para fornecer uma síntese do
trabalho realizado nos capítulos três e quatro. Como conclusão, acreditamos que
a abordagem histórica e linguageira desta temática afetiva no trabalho fornece
uma contribuição importante à compreensão do conceito de burnout, pois
resgatar seu contexto de origem explicita diferentes possibilidades de
conceitualização e intervenção, que interrogam o saber atual sobre o burnout.
Alguns pressupostos epistemológicos
Levando em consideração a importância das formações discursivas nos
processos de construção de conhecimento (Bakhtin, 2010; Faraco, 2003;
Oliveira, 2001), entendemos que definir uma determinada perspectiva filosófica
da linguagem é fundamental para qualquer atividade teórica e, principalmente,
para a reflexão sobre conceitos.
14
Assim, procuramos estabelecer nessa seção os pressupostos que nos
guiam em nossa compreensão da linguagem. No que se segue citamos autores
de diferentes tradições filosóficas. Isso não significa que eles concordam entre
si ou compartilham de uma mesma visão da linguagem, mas sim que foram
elementos importantes na construção do nosso ponto de vista. O objetivo não é
representar fielmente o pensamento de um ou outro autor. Se os colocamos lado
a lado, em diálogo, é para escrever um texto que é de responsabilidade nossa.
Na medida em que a linguagem e o conhecimento estão
irremediavelmente imbricados um no outro, todo conhecimento é enunciação, é
escrita e está assim fatalmente ancorado em determinadas situações concretas
e singulares – em operações linguísticas particulares, mas também em
procedimentos técnicos, escolhas éticas e relações sociais passíveis de
investigação. A ciência pode ser vista como sendo constituída de diferentes
jogos de linguagem (Wittgenstein, 1996), isto é, diferentes formas de
organização conceitual-linguística em ato, que se encontram dentro dos diversos
contextos reais onde uma determinada linguagem é utilizada.
“É o caráter de linguagem que caracteriza como tal toda nossa experiência
humana de mundo” (Gadamer, 2004, p.589). Dizer que tudo é atravessado pela
linguagem não quer dizer que tudo seja linguagem, ou mesmo que tudo seja em
última instância redutível à linguagem, mas sim que não é possível sairmos
totalmente da nossa condição de seres de linguagem para vislumbrar o mundo
a partir de um ponto de vista livre das “vicissitudes” oriundas do recurso à
linguagem.
15
Há uma dimensão de interpretação e significado na qual o homem sempre
se encontra, e da qual não pode se furtar de participar: “nós, os seres humanos,
não temos relações diretas, não mediadas, com a realidade” (Faraco, 2003,
p.48). Mesmo nas investigações das ciências naturais, a evidência é constituída
dentro de uma realidade conversacional como mostram, por exemplo, os
trabalhos de Latour e Woolgar (1986) e Amann e Cetina (1988).
Em vez de um empirismo ingênuo, temos que
O material da ciência não é constituído pelo material cru mas pelo
material logicamente elaborado que se destaca de acordo com um
determinado signo (...) tudo que é descrito como fato já é teoria (...)
o próprio ato de denominar um fato mediante a palavra supõe
superpor a ele um conceito (...) qualquer palavra já é uma teoria
(Vigotski, 1999, p. 234).
A formação de conceitos (pensamento) e o aprendizado da linguagem são
dois processos intimamente ligados, e a linguagem participa da articulação
mesma da nossa experiência do mundo. Por isso ela não é somente um
instrumento. Passamos por um longo processo de educação linguística que
estabiliza nossa percepção. A importância da linguagem nessa modelagem da
experiência e do dado é apontada por Feyerabend:
desde nossos primeiros dias aprendemos a reagir às situações por
meio das respostas apropriadas, linguísticas ou outras. Os
processos de ensino tanto moldam a ‘aparência’, ou ‘fenômeno’,
quanto estabelecem uma firme conexão com palavras, de modo
que, no final, os fenômenos parecem falar por si mesmos, sem
16
auxílio externo ou outros conhecimentos. Eles são o que os
enunciados associados asseveram que sejam. A linguagem que
‘falam’, é claro, é influenciada pelas crenças de gerações
anteriores, crenças mantidas há tempo que não mais aparecem
como princípios separados, mas penetram nos termos do discurso
cotidiano e, após o treinamento prescrito, parecem emergir das
próprias coisas (Feyerabend, 2007, p.93).
Entendemos que “não pode haver nenhum sistema de linguagem ou de
conceitos que seja científica ou empiricamente neutros” (Kuhn, 1962/2009,
p.187). Qualquer linguagem já implica algum grau de conceitualização e toda
conceitualização é parcial, relativa a determinados procedimentos e partindo de
determinados saberes.
Além de estar presente de uma maneira fundadora e não neutra, a
linguagem se caracteriza por seu caráter polissêmico. Se “a significação de uma
palavra é seu uso na linguagem” (Wittgenstein, 1996, p. 43) não há possibilidade
de haver uma fixação de sentidos ou de essências – toda afirmação acontece
em novo contexto e tem, portanto, novo significado. “O material semiótico pode
ser o mesmo, mas sua significação no ato social concreto de enunciação,
dependendo da voz social em que está ancorado, será diferente. Isso faz da
semiose humana uma realidade aberta e infinita” (Faraco, 2003, p.51).
Outra característica do modo como compreendemos a linguagem é que
esta é fundamentalmente metafórica. “A essência da metáfora é entender e
17
vivenciar um tipo de coisa nos termos de outra”2 (Lakoff & Johnson, 2003). Uma
metáfora consiste basicamente em chamar algo por outro nome, entender uma
coisa em termos de outra coisa, geralmente a partir de uma semelhança ou
analogia. No entanto, o que toda e qualquer denominação faz? Se as coisas não
tem um nome por natureza, mas passam a ter um nome por força da linguagem,
a constituição de um vocabulário pode ser vista como o ato de forjar metáforas
em parceria com o real.
Assim, se a linguagem é a nomeação do inefável, a aplicação de signos
ao que não é linguagem, isso faz com que ela seja essencialmente poética. Nas
palavras de Heidegger: “poesia nunca é propriamente apenas um modo mais
elevado da linguagem cotidiana. Ao contrário. É a fala cotidiana que consiste
num poema esquecido e desgastado, que quase não mais ressoa” (Heidegger,
2004). E também Gadamer: “poesia (...) representa a linguagem originária do
gênero humano” (Gadamer, 2002, p.226).
Se a ciência é uma atividade discursiva de construção e negociação de
sentido em contexto histórico e social, ela pode ter um foro privilegiado, estando
em última instância submetida às características da linguagem elencadas acima.
Como ressalta Lyotard, “o saber científico é uma espécie de discurso” (1998,
p.3), a linguagem científica deve ser vista como uma especialização da
linguagem ordinária realizada por um grupo social particular.
É com base nessa visão de linguagem delineada por nós em diálogo com
os autores citados acima que nos lançamos ao estudo do conceito de burnout,
2 “The essence of metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of
another”. Realizamos traduções sempre que a referência citada não estava em língua portuguesa, disponibilizando o original em nota de rodapé.
18
empreendido nessa tese. Nossa premissa central é a de que a Psicologia não
pode ficar indiferente a essa discussão filosófica, mas sim se enriquecer e
transformar ao realizar um trabalho de reflexão sobre si que inclua a importância
da formação linguageira de seus próprios conceitos.
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Capítulo 1: A emergência da Psicologia Teórica e Filosófica
como uma área de pesquisa acadêmica
A carência de pesquisas de natureza teórica e análises conceituais em
Psicologia têm sido apontada reiteradamente como um problema, por diferentes
autores (cf. Machado, Lourenço & Silva, 2000). Nesse capítulo discutiremos
essa temática utilizando principalmente a literatura anglo-saxã, sem pretender
dar conta das referências relevantes em outros idiomas, como o francês ou o
alemão.
Wittgenstein (1996), em uma passagem célebre, apontou que “existem na
psicologia métodos experimentais e confusão conceitual” (p.206). Harré e
Secord (1972) reclamaram da ingenuidade conceitual dos psicólogos e da sua
tendência a substituir discussões conceituais por definições operacionais e mais
experimentos, lamentando que a precisão de significado dos conceitos não fosse
tão valorizada no campo. Esse ponto de partida analítico é aqui compartilhado,
e configura premissa central justificadora do trabalho de tese ora proposto.
Moscovici (1972) lamentou o estado de negligência em que a pesquisa
teórica se encontra em Psicologia, particularmente no momento histórico atual,
em que “o sonho positivista de uma ciência sem metafísica” (p. 22) parece cada
vez mais um projeto irrealizável e não recebe mais a adesão de uma grande
parte da comunidade acadêmica. Para Moscovici, o evitamento do debate
teórico em psicologia tem aspectos emocionais: há um verdadeiro medo de cair
em debates filosóficos. No entanto, se pesquisadores de outras áreas podem se
dividir em teóricos e experimentalistas, deixando mais liberdade para que cada
20
atividade desenvolva sua própria cultura, então porque não pode haver a
realização de algo assim também na psicologia?3
Wachtel (1980) reclamou da falta de incentivos para realização de
trabalhos teóricos em psicologia apesar da sua evidente necessidade e
Wakefield (2007) recentemente retomou este artigo para afirmar mais uma vez
a necessidade de atividade teórica em psicologia. Toulmin e Leary (1985)
relacionam o estreitamento do pensamento teórico e filosófico em psicologia com
a influência positivista, que teve como resultado a formação de um verdadeiro
culto ao empirismo no campo da psicologia.
Alston (1985) destaca que a análise conceitual é uma parte importante de
qualquer empreendimento intelectual e que a relação entre filosofia analítica e
teoria psicológica pode render frutos para o campo da psicologia. Danziger
(1985) apontou a excessiva valorização de questões sobre método em
detrimento de discussão teórica, ressaltando que alguns dos autores mais
influentes da história da psicologia, como Wundt, Freud, Köhler, Wertheimer,
Lewin e Piaget não fizeram uso do teste de hipóteses baseado em estatística
inferencial para chegar a suas conclusões.
Machado, Lourenço e Silva (2000) discorreram de forma longa e
convincente sobre como a Psicologia como um todo tem se orientado
predominantemente para fatos e pesquisas empíricas, dando pouca atenção
para a atividade fundamental de análise dos conceitos. Ao final, recomendam
3 O exemplo que costuma ser lembrado prontamente é o da Física Teórica (Howard, 1998). Ver,
no entanto, a crítica de Robinson (2007), que argumenta que o trabalho teórico na física é completamente diferente do trabalho teórico na psicologia, e que esse tipo de comparação não deve ser feita. De toda maneira, Robinson (2007) concorda que uma “meta-psicologia” dedicada a questões conceituais é necessária.
21
que o estudo da história da ciência, lógica e filosofia analítica pode ser mais
benéfico do que as atuais disciplinas de estatística e métodos de pesquisa.
Machado e Silva (2007) mostraram como a análise conceitual é uma parte
integrante do método científico na física através de um estudo das análises
conceituais feitas por Galileu e recomendam que a psicologia invista nessa
estratégia para clarificar significados, expor problemas em modelos teóricos,
revelar pressupostos não explicitados e avaliar consistência de teorias. Banicki
(2011) afirma que a atividade de análise conceitual em psicologia não tem sido
desenvolvida como poderia, argumenta contra uma série de objeções feitas à
análise conceitual, e conclui que esta é uma ferramenta promissora que pode
contribuir para o desenvolvimento da psicologia.
Laurenti (2012) atualiza o diagnóstico de Wittgenstein, afirmando: “na
psicologia existem métodos (experimentais e não experimentais) e confusão
conceitual” (p.179, grifo nosso). Isto é, mesmo com as críticas ao método
experimental e o surgimento de novos métodos qualitativos a desvalorização do
trabalho teórico frente ao trabalho empírico continua forte.
Para Laurenti (2012) são diversos os problemas para quem deseja fazer
pesquisas conceituais em psicologia: poucos orientadores aceitam trabalhos
deste tipo, há dificuldades de financiamento, de estabelecimento de linhas de
pesquisa e de inserção em linhas já existentes, dificuldade de publicação em
periódicos, o que faz com que alguns dos eventuais interessados em enveredar
por este domínio de reflexão migrem para a Filosofia.
Cruz (2013) defende a importância e atualidade de se defender uma
atitude filosófica na Psicologia, em um momento em que a medicalização e o
22
sucesso das neurociências pressionam no sentido de reduzir o psicológico ao
biológico. Contribuições como as de Canguilhem (2011, 2015) e Foucault (1972,
1994) fornecem subsídios centrais para a perspectiva acima aludida, ao
trazerem elementos relevantes à consideração da dimensão conceitual,
histórica, social e cultural do saber psicológico.
Os constantes e contínuos apontamentos no sentido de que a psicologia
precisa de mais trabalhos teóricos, meta-teóricos e conceituais são sintomáticos
tanto da escassez de tais trabalhos quanto do caráter marginal/minoritário dos
mesmos. Os trabalhos acadêmicos teóricos em Psicologia que já existem são
frequentemente ignorados e desconhecidos. Dado esse contexto, pretendemos
realizar aqui uma introdução ao campo da Psicologia Teórica e Filosófica, que
permita uma primeira aproximação ao assunto, dando indicações sobre sua
formação, progresso político-institucional e sua relevância dentro da Psicologia.
A Psicologia Teórica e Filosófica já é reconhecida internacionalmente
como uma área de pesquisa. Desde 1963 a APA (American Psychological
Association) tem uma divisão voltada para a área, denominada Society for
Theoretical and Philosophical Psychology. No início da década de 1980 foi
fundada também com projeção mundial a International Society for Theoretical
Psychology. Alguns periódicos são dedicados exclusivamente ao campo, como
o Journal of theoretical and philosophical psychology, cujo primeiro número
apareceu em 19814, o New ideas in psychology que começou a ser editado em
1983 e o Theory and Psychology cujo início se deu em 1991.
4 O contexto de surgimento do periódico começa em 1966 quando uma newsletter começa a ser
realizada pela Divisão 24 da APA (Teo, 2009).
23
O estágio avançado da discussão sobre uma Psicologia Teórica e
Filosófica nos EUA pode ser averiguado pelo debate em torno do artigo de Slife
e Williams (1997). Os autores sugerem a criação de uma sub-disciplina de
Psicologia teórica como um reconhecimento de uma área que na prática já existe
e citam a fragmentação da Psicologia, a influências de perspectivas pós-
modernas e mudanças na filosofia da ciência como fatores que tornam a reflexão
teórica extremamente necessária. O artigo gerou diversas respostas, que iremos
resumir agora5.
Quinn (1998) defende que uma Psicologia teórica pode ser útil para o
campo da psicoterapia, já que este tem tradicionalmente criado várias escolas
de pensamento, e poderia se beneficiar de mais avaliação crítica de métodos e
ideias. Abi-Hashem (1998) vê na Psicologia teórica uma oportunidade para
contrabalancear o caráter demasiado específico das pesquisas acadêmicas em
Psicologia. No entanto alerta para a possibilidade de que uma Psicologia teórica
pode ser tanto um modo de conseguir uma visão mais global dos problemas
como agravar a fragmentação, por aumentar o número de sub-disciplinas, com
o incremento representado pela aludida Psicologia Teórica (questão também
levantada por Gantt, 1998).
Grace & Ferreras (1998) consideram que o argumento de Slife e Williams
(1997) não se sustenta, dado que a Psicologia vem funcionando bem sem uma
sub-disciplina de Psicologia teórica, e que a atividade teórica já está embutida
na atividade normal de qualquer psicólogo. Weems (1998) demonstra
5 Todas foram publicadas no mesmo número da American Psychologist. Deixamos de comentar
apenas o texto de Meux (1998), que possui uma preocupação específica com a axiologia e a resposta de Slife e Williams (1998) às críticas, que no nosso entendimento não acrescenta muito ao artigo original.
24
preocupação de que uma Psicologia teórica vista como subdisciplina acabe
aumentando a distância entre reflexão teórica e pesquisa experimental. Este
autor pondera no sentido de que seria melhor falar da Psicologia teórica como
uma meta-disciplina, que atravessa e engloba todas as disciplinas, sem
necessariamente constituir uma área nova.
Stam (1998) reconhece que as diferentes atividades propostas por Slife e
Williams (1997) são relevantes, mas argumenta que o papel da teoria em
Psicologia não pode ser somente o de servir às pesquisas já existentes, mas
deve estar associado ao conhecimento histórico e à possibilidade de mudar a
disciplina.
Howard (1998) afirma que os “psicólogos estão se afogando em um mar
de dados que poucos tentam juntar” (p.69) e que a síntese de achados é tão
importante quanto a fabricação de novos dados. Para este autor a criação de
uma nova sub-disciplina não é o mais relevante: o que é necessário é estimular
trabalhos que tentem integrar conjuntos de experimentos. Tarefa difícil, com
certeza, mas bastante recompensadora – afinal o procedimento de coletar dados
não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como um meio para se
adquirir conhecimento, que só pode advir através do estabelecimento de
vínculos com a teoria, que poderá fornecer aos dados empíricos um quadro de
referência que lhes dê coerência e estrutura (Howard, 1998).
Brand (1998) alerta para o que considera ser um viés pós-moderno do
artigo de Slife e Williams (1997), ou seja, a defesa de que todo empreendimento
científico se baseia em uma linguagem cujo sentido é dependente do contexto e
das relações sociais. Brand (1998) defende que uma Psicologia teórica é
25
importante, desde que não sirva como veículo para um determinado modo de
pensar (pós-moderno), devendo incluir também atividade teórica positivista, isto
é, que considera fundamental o papel de observações empíricas. Mais
importante do que estabelecer se a caracterização de Brand do pensamento pós-
moderno é exata ou se o seu apelo ao empirismo é consistente, o ponto mais
importante é que grupos com diferentes filosofias da ciência têm interesse em
trabalho teórico, e não devem ser excluídos a priori.
Em face das análises apresentadas, e em diálogo com elas,
consideramos que os diferentes níveis de atividade teórica levantados ao longo
dessa discussão não são excludentes. A atividade teórica em um primeiro nível
é algo inerente ao trabalho de todo e qualquer psicólogo; em um segundo nível
é uma atividade meta na qual alguns se engajam com mais afinco, seja em
continuidade ou em paralelo a suas pesquisas empíricas; e em um terceiro nível
é uma atividade que adquire autonomia, ocupando um lugar que não se define
mais por sua relação com um trabalho empírico (seja de introdução,
fundamentação, complementação, digressão etc.), mas que se afirma e entende
como uma pesquisa de pleno direito, com sua própria ordem de questões e
problemas.
Isto é, a proposta de uma Psicologia teórica e filosófica não é substituir as
atividades tipo 1 e tipo 2 descritas acima, nem destacá-las de seu lugar de direito
para concentrá-las em um outro lugar. A proposta é somar a essas duas um tipo
de atividade 3, e a justificação para isso é que ela é caracterizada por um nível
de autonomia que permite criar uma cultura de trabalhos teóricos capazes de
entregar resultados que dificilmente seriam atingidos ou levariam muito tempo
para serem atingidos se perseguidos somente por atividades tipo 1 e tipo 2.
26
Independentemente da criação ou não de uma sub-disciplina, o que talvez
seja uma questão mais relacionada ao número de psicólogos com interesse em
promover tal ação no plano histórico e político, entendemos como um resultado
conclusivo desse debate o fato da maioria dos autores concordar com a
relevância do desenvolvimento de pesquisas que procurem trabalhar questões
conceituais, filosóficas e teóricas dentro do campo da Psicologia.
No Brasil, embora pesquisas teóricas tenham sido feitas, não está claro
que haja uma consciência explícita de estar trabalhando em um campo distinto
que merece reconhecimento e autonomia. Um forte sinal dessa falta de
elaboração do campo é o fato de que nossa pesquisa bibliográfica não localizou
periódicos dedicados exclusivamente à pesquisa teórica em psicologia, ou seja,
que tenham se especializado nesse domínio de produção acadêmica como sua
missão principal. Uma mudança importante no cenário brasileiro é a fundação
em 2010 do Núcleo de Pesquisa em História e Filosofia da Psicologia (NPHFP)
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O mesmo grupo inaugura em
2011 uma linha de pesquisa voltada para a História e Filosofia da Psicologia no
programa de pós-gradução em Psicologia da UFJF, linha esta apresentada como
a primeira do país em seu gênero6 (Araujo, 2012a, Araujo, Caropreso, Simanke
& Castañon, 2013).
A atividade teórica/filosófica em Psicologia tem tradicionalmente estado
associada à área de história, tanto no âmbito da pesquisa (programas de pós-
graduação que envolvem os dois temas) quanto no âmbito do ensino, através da
6 O que parece ser novidade aqui é a formação de um grupo de pesquisa que envolva atividade
filosófica/teórica em psicologia como um objetivo principal e explícito e que mantém contato com o campo em nível internacional. Uma história geral da atividade teórica/filosófica em psicologia no Brasil precisaria levar em consideração muitos outros elementos e constituiria uma outra pesquisa.
27
disciplina de Teorias e Sistemas em Psicologia (Brock, 1998). O programa da
UFJF segue o exemplo de outros programas como History and Theory of
Psychology da Universidade de York (Canadá), History and Theory of
Psychology da Universidade de Edimburgo (Escócia), Theory and History of
Psychology da Universidade de Groningen (Holanda). Um programa importante
que não segue o padrão de associação com História em seu título é o da
Universidade de Calgary (Canadá), chamado de Social and Theoretical
Psychology.
Institucionalmente a associação entre atividade teórica/filosófica e história
segue uma realidade em algumas sociedades de Psicologia. Dentro da
Canadian Psychological Association, existe a seção History and Philosophy, que
edita o periódico History and Philosophy of Psychology Bulletin. Dentro da British
psychological Society existe uma seção que também é intitulada History and
Philosophy, que edita o periódico History and Philosophy of Psychology. Já a
American Psychological Association possui a já citada divisão 24, dedicada
somente a Theoretical and Philosophical psychology, separada da divisão 26,
chamada Society for the History of Psychology.
No Brasil, aquilo que mais se aproxima das seções destas sociedades
anteriormente citadas são os Grupos de Trabalho (GT) da ANPEPP (Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia), embora estes não
tenham a mesma estabilidade no que diz respeito à sua existência e ao número
de identificação que recebem, que varia de simpósio para simpósio, o que às
vezes torna mais difícil sua identificação (um mesmo GT pode ter número 10 em
um encontro e número 15 em outro, ou simplesmente desaparecer de um
encontro para outro). No que diz respeito a esses GTs, destaca-se a atuação de
28
um GT em história da Psicologia desde 1996. No entanto, não há GT voltado
especificamente para atividade teórica-filosófica.
Até aqui apontamos para 1) a importância dessa área e sua constituição
no plano internacional e 2) seu desenvolvimento incipiente no Brasil. No entanto
é preciso explorar em mais detalhes o que entendemos que uma Psicologia
teórica-filosófica pode ou deveria fazer, e o que ela não é ou que atividades não
estão dentro deste domínio.
Uma confusão que a proposta desse campo pode causar é a de que se
trata de uma nova escola ou paradigma, a partir da qual se deveria ler toda a
Psicologia, estando no nível de uma Psicologia Evolucionista ou Psicologia
Sócio-Histórica, por exemplo. Na verdade a psicologia teórica-filosófica se
propõe como um campo aberto de reflexão e trabalho meta-teórico e filosófico
dentro da psicologia de uma forma geral, sem compromisso específico com uma
agenda que não seja a de criar e cultivar uma cultura de pesquisa que permita o
desenvolvimento desse tipo de trabalho como uma opção possível e desejável
de pesquisa em psicologia.
Obviamente que indivíduos dentro do campo têm posicionamentos dos
mais variados, inclusive sobre quais as atividades que uma psicologia teórica-
filosófica deveria realizar. Certamente não é nenhuma surpresa que a concepção
mesma do campo se torne alvo de disputas e que diferentes visões sejam
apresentadas, dado que ele deve refletir necessariamente a fragmentação da
própria Psicologia. Exporemos algumas dessas visões sobre o que o campo é,
presentes nos trabalhos de Slife (2000a, 2000b), Martin (2004), Teo (2009) e
Castañon (2012).
29
Slife (2000a) considera que o psicólogo teórico tem dois propósitos
principais: 1) formular e ajudar outros a formular as teorias que em última
instância serão testadas empiricamente, seja de maneira quantitativa ou
qualitativa; 2) examinar e ajudar outros psicólogos a examinar temas não-
empíricos que sejam relevantes para o trabalho do psicólogo.
Para Slife o psicólogo teórico pode servir como um consultor que ajuda
outros a examinarem e construírem teoricamente seus trabalhos, de uma
maneira análoga talvez ao trabalho de prestação de serviço de um estatístico
para um pesquisador que não domina determinados recursos. Isso ajudaria a
mudar a imagem do psicólogo teórico que muitas vezes é tido como sendo um
crítico mordaz, que não oferece soluções, mas apenas aponta problemas. A
posição de crítico seria por demais confortável – é preciso ir além e interagir
proporcionando opções construtivas.
A interação proposta por Slife se daria não só entre pesquisadores
profissionais, mas também entre psicólogos teóricos e comunidade como um
todo. A partir da noção aristotélica de phronesis, Slife (2000a) defende que todo
conhecimento envolve necessariamente um aspecto ético, de diálogo e de
interação com a sociedade, e que por isso o psicólogo teórico deveria não só
participar de publicações especializadas como também escrever para o público
leigo, recuperando a figura do intelectual público.
Epistemologia, método e fragmentação da psicologia lançam tantas
questões que exigem um trabalho específico, sendo a função do psicólogo
teórico continuar a fazer do debate sobre os fundamentos um aspecto central da
disciplina da psicologia (Slife 2000b).
30
Martin (2004) divide as atividades da psicologia teórica em 3 grandes
tipos: 1) tarefas teóricas relacionadas diretamente à pesquisa empírica; 2)
tarefas teóricas relacionadas à prática da profissão (incluindo aspectos morais e
políticos); 3) tarefas teóricas relacionadas à presença da psicologia na sociedade
como um todo. Para Martin (2004) a psicologia teórica teria um papel terapêutico
ao examinar a pesquisa, prática profissional e iniciativas públicas dos psicólogos,
debatendo sua retórica, conceitos e fazendo dialogar diferentes pontos de vista
e argumentos.
Teo (2009) defende que as psicologias teórico-filosóficas caracterizam-se
como programas metateóricos que trabalham em domínios filosóficos assumindo
perspectivas reflexivas sobre temas psicológicos. Para Teo (2009) todo
psicólogo é teórico, no sentido de que se utiliza necessariamente de teorias e
contribui para elas. O que caracteriza o diferencial da atividade metateórica é a
reflexão sobre os pressupostos implícitos e explícitos das teorias dentro do
âmbito filosófico.
Teo (2009) considera que as áreas filosóficas relevantes para esta tarefa
seriam as seguintes: 1) ontologia, que engloba discussões como o objeto da
psicologia, relação mente e corpo, natureza das categorias psicológicas; 2)
epistemologia, que aborda natureza do conhecimento e verdade nas teorias
psicológicas; 3) ética/prática, para discussões sobre fato e valor, justiça social,
etc; 4) estética, que seria pertinente através da utilização da arte na investigação
da subjetividade.
Teo (2009) considera ainda que trabalhos metateóricos podem ser do tipo
1) reconstrução, que faria integração e avaliação de teorias via meios históricos,
31
teóricos ou conceituais; 2) desconstrução, ou seja, a crítica de uma determinada
teoria, ou 3) construção, a apresentação de uma teoria nova e original.
Castañon (2012) entende que a psicologia filosófica pode ser definida de
um modo geral como o estudo das questões conceituais em psicologia e a divide
em 4 campos: 1) epistemologia da psicologia, que engloba os problemas
fundamentais da ontologia e da epistemologia da psicologia; 2) psicologia
teórica, que assume como pressuposto a aplicação da ciência moderna ao
problema psicológico e funciona como um correlato da física teórica; 3)
psicologia filosófica, um campo difuso que seria caracterizado pela abordagem
de temas psicológicos sem utilização do método científico; 4) filosofia da mente,
dedicada aos fenômenos mentais, como a consciência, memória, senso-
percepção, conceptualização, dentre outros, e sua relação com o cérebro.
Essas diferentes formas de dividir o campo revelam a riqueza de suas
possibilidades. Propomos aqui que a diferença mais fundamental seja entre, de
um lado a psicologia teórica concebida como auxiliar da pesquisa empírica –
correspondente ao sentido nº1 de Slife, nº1 de Martin e nº2 de Castañon – e a
psicologia teórica concebida de maneira mais ampla, englobando uma série de
atividades e problemas de difícil categorização – sentido nº2 de Slife, nº2 e 3 de
Martin, nº1, 3 e 4 de Castañon e talvez toda a proposta metateórica de Teo.
Embora ambas as formas tenham legitimidade e muito a fazer,
gostaríamos de discorrer mais longamente sobre a psicologia filosófica em seu
sentido mais amplo, que não se considera diretamente ligada a um modo
específico de pesquisa empírica ou ao empreendimento de aplicação da
concepção moderna de ciência à Psicologia. Restringir-se a um papel de auxiliar
32
de um determinado modo de “pesquisa empírica” nos parece potencialmente
problemático, dado que pode significar assumir alguns pressupostos sobre o que
é “empírico” sem o devido exame crítico. Exame este que consideramos
especialmente necessário e útil diante do contexto atual, de tantas
transformações na filosofia da ciência.
O que antes era concebido apenas como filosofia da ciência se tornou um
campo de estudos muito mais sofisticado, em que história da ciência, filosofia da
ciência e sociologia da ciência vieram a trabalhar de forma mais integrada
(Fagerberg, Landström & Martin, 2012; Cetina, 1991). O desenvolvimento das
pesquisas sobre o fazer ciência (Martin, Nightingale & Yegros-Yegros, 2012,
Köche, 2005) já vem demonstrando consistentemente há anos uma pluralidade
enorme de métodos, culturas, linguagens e metafísicas no fazer científico.
No entanto muitos psicólogos continuam se guiando por uma versão
limitada, simplificada e cristalizada de método científico fundado exclusivamente
na elaboração de hipóteses testáveis, operacionalização para a verificação de
tais hipóteses, utilização de ferramentas estatístico-inferenciais e/ou de resumo
de informação e discussão de resultados à luz dos novos dados produzidos.
Toomela (2010) denuncia que as questões de pesquisa são frequentemente
deixadas em segundo plano, enquanto que a definição do método e a utilização
de procedimentos quantitativos costuma ser a principal preocupação do
pesquisador, constituindo uma clara inversão de prioridades, já que o método
deveria estar subordinado às questões. A aplicação mecânica de um
procedimento metodológico e a obsessão da Psicologia com o método já foram
retratadas como metodolatria (Danziger, 2002) e fetichismo metodológico (Koch,
1981).
33
O currículo de graduação nem sempre tem conseguido acompanhar as
mudanças, se limitando muitas vezes a considerar que as grandes perspectivas
teóricas para abordar a psicologia já foram realizadas e não há necessidade de
procurar mais (Slife & Williams, 1997). Na verdade, as últimas décadas
assistiram a um vendaval de abordagens teóricas inovadoras em Psicologia
como o construcionismo social de Gergen (1973, 1985, 1996, 2009), a psicologia
narrativa (Brockmeier & Harré, 2003, Murray, 2003) e todo um conjunto de
abordagens discursivas (Potter, 2003, Edwards, 2004) e pós-modernas (Kvale,
1992).
No entanto, não são somente as grandes reformulações epistemológicas
da psicologia, avanço geral dos estudos sobre a ciência e as perspectivas pós-
modernas que exigem trabalho de reflexão por parte dos psicólogos. Estudos
teóricos específicos têm o potencial de provocar debates e mudanças
significativas no modo de se praticar ciência em psicologia. Exemplos disso são
os debates sobre a apropriação do conceito de “definição operacional” pela
psicologia (Koch, 1999, Feest, 2012), a utilização do teste da hipótese nula
(Bakan, 1966; Meehl, 1978; Cohen, 1994; Gigerenzer, 2004; Lambdin, 2012) e
o conceito de mensuração utilizado usualmente em psicometria (Michell, 1997,
2000, 2003, 2006; Sturm, 2012; cf. também Toomela, 2010).
Se o grande movimento teórico em psicologia nem sempre tem recebido
a devida atenção, a causa é muito provavelmente o caráter excessivamente
centrado no método das pesquisas em Psicologia. A ideia de que o método é o
componente essencial e garantidor da “verdade” ou “validade” continua com
grande força dentro da Psicologia acadêmica (Slife & Williams, 1997). Se a
pesquisa teórica não for estimulada como uma forma possível de fazer trabalhos
34
acadêmicos em Psicologia, a formulação dos problemas e a busca por respostas
correm o risco de continuar sendo atividades guiadas principalmente por
questões metodológicas desconectadas de reflexão que ultrapasse o domínio
interno da validade dos procedimentos utilizados (como é o caso, por exemplo,
das discussões técnicas envolvendo representatividade, viés de observação,
controle e generalização).
A psicologia não é uma ciência tão independente da filosofia quanto
imagina ou mesmo ambicionaria, em seu esforço histórico para se constituir
enquanto ciência “respeitável” no contexto das demais ciências (Koch, 1981). No
entanto, a especificidade de seus temas e os problemas epistemológicos,
teóricos e metodológicos que estes geram exigem um conhecimento de
psicologia que filósofos não costumam ter, e um conhecimento de filosofia e
abertura para reflexão que muitos psicólogos acostumados a pesquisas
empíricas tampouco possuem. Por isso compartilhamos com muitos dos autores
citados acima a ideia de que a psicologia necessita de uma área teórica e
filosófica para tratar convenientemente os problemas que lhes são próprios.
35
Capítulo 2: Análise de conceitos/palavras/metáforas
No item 2.1 expomos os resultados de uma série de pesquisas em
psicologia sobre modelos de categorização, que constituem uma contribuição
importante para a compreensão de como lidamos com conceitos. Acreditamos
que esses achados podem ser lidos como estando em consonância com a visão
de linguagem exposta na introdução. No item 2.2 detalhamos um pouco mais o
papel das metáforas no processo cognitivo de formação de conceitos e teorias,
mostrando como sua presença já vem sendo estudada no campo da psicologia.
Por fim, no item 2.3, argumentamos que a análise conceitual pode ser entendida
como o exame de conceitos/palavras/metáforas em transformação na história.
2.1 A contribuição da Psicologia para a análise de conceitos
A psicologia fez contribuições importantes para o entendimento do
funcionamento conceitual do ser humano que afetam o modo como devemos
realizar qualquer análise conceitual. Embora filósofos sempre tenham feito
análise de conceitos, o modo como esta atividade é encarada passa atualmente
por uma reformulação importante, devido ao questionamento do chamado
Modelo Clássico de caracterização dos conceitos, que será explicado adiante.
Esse questionamento teve como precursor Wittgenstein (1996) e,
posteriormente ganhou força devido a pesquisas no campo da psicologia e da
linguagem, que iremos abordar agora.
Seguiremos aqui o argumento apresentado por Ramsey (1992) para falar
sobre as consequências da pesquisa em psicologia para a análise conceitual.
Uma importante revisão de literatura sobre o tema pode ser encontrada em
36
Lakoff (1990) e discussões sobre o tema foram realizadas na literatura brasileira
por Oliveira (1991) e Lima (2010).
O Modelo Clássico é geralmente atribuído a Aristóteles, e afirma que a
análise de conceitos busca por uma definição simples, que atinge a essência de
um determinado conceito, estabelecendo uma série de notas para que algo seja
incluído ou excluído de uma determinada categoria, de forma precisa e sem
exceções. Assim, “o homem é um animal racional” estabelece a essência do
homem e constitui uma categoria dentro da categoria “animal” a qual somente o
homem pertence.
Figura 1: Ilustração que exemplifica o funcionamento do modelo clássico
No entanto, pesquisas empíricas realizadas por psicólogos como Eleanor
Rosch (1973) colocam em questão o modelo tradicional, ao mostrar que o
pertencimento a algumas categorias não acontece de maneira tudo-ou-nada. O
processo de categorização é caracterizado muito mais como uma avaliação de
semelhança ao longo de um contínuo do que como a aplicação de uma definição
que traça uma linha clara e inequívoca. O grau de maior ou menor pertencimento
de determinado item a determinada categoria varia em intensidade, e há
formação de zonas “cinzas” em que a separação entre membros e não-membros
é de difícil realização (Ramsey, 1992).
RaR
Racional
Animal
A B
Racional
37
Figura 2: ilustração do campo semântico para a categoria conceitual “pássaro” (Diessel, n.d., p. 4).
Alguns itens de uma categoria são considerados mais típicos do que
outros: Eleanor Rosch os chamou de protótipos (Rosch, 1973). A figura 2 ilustra
a ideia de protótipo e exemplares mais periféricos para a categorial conceitual
“pássaros” – nesta figura o protótipo dos pássaros seria o “robin” (pisco-de-peito-
ruivo). Colocando no contexto de outro exemplo: se for pedido a um grupo de
pessoas que citem um animal mamífero, o mais provável é que as respostas
mais frequentes sejam algo como “cachorro” ou “vaca”, e não “baleia”. O item
considerado típico é algo que pode apresentar variação de pessoa para pessoa
ou entre diferentes culturas, ou pode ter alguma estabilidade e universalidade
dentro de um determinado universo discursivo, algo que somente pesquisas
empíricas de uma população específica podem ajudar a estabelecer. No entanto,
o processo de categorização parece passar por uma comparação entre um
candidato qualquer e o membro típico da categoria.
38
Não há uma propriedade ou conjunto de propriedades que um item
deve possuir para que seja julgado uma instância de um conceito
alvo. Pelo contrário, a posse de um número significante de
características prototípicas é suficiente para gerar intuições de que
é uma instância de uma dada categoria. Além disso, a relevância
ou saliência dessas propriedades não precisa ser uma constante
fixa e pode variar em diferentes contextos (Ramsey, 1992, p. 65)7
As pesquisas de Rosch não tomaram como base a linguagem acadêmica
e científica, mas sim a linguagem ordinária. O que nos levaria a acreditar que
eles podem dizer algo importante sobre a utilização e análise de conceitos dentro
do âmbito do discurso formal em psicologia?
Ramsey (1992) sugere que estes resultados não se aplicam somente a
categorias simples da linguagem ordinária, como “pássaro” ou “mamífero”: “A
falha da filosofia analítica de produzir uma análise completamente satisfatória e
não controversa da vasta maioria dos conceitos abstratos deveria sugerir por si
só que algo está errado”8 (p. 68). É possível que a procura por uma série de
condições suficientes para a delimitação rigorosa de um conceito não
corresponda à realidade de como efetivamente lidamos com conceitos em
discursos mais teóricos e formais.
Essa hipótese dialoga bem com a concepção segundo a qual
raciocinamos metaforicamente, ou seja, por semelhanças e analogias, já que
7 “(…) there is no one property or set of properties an item must possess to be judged as an
instance of a target concept. Instead, possession of a significant number of prototypical features is sufficient to generate intuitions that it is an instance of a given category. Furthermore, the relevance or salience of these properties need not be a fixed constant and can vary over contexts”. 8 “The failure of analytic philosophy to produce an uncontroversial, completely satisfactory
analysis of the vast majority of abstract concepts should by itself suggest that something is amiss”.
39
aponta para a presença de um constante processo de comparação na formação
e manutenção de categorias conceituais. Além disso, também possui afinidade
com a concepção polissêmica e potencialmente equívoca da linguagem, já que
a categorização envolve procedimentos dependentes de contexto.
Se for correto que a linguagem científica não é tão diferente assim da
linguagem ordinária, os resultados descritos acima não se referem somente a
conceitos como “animal mamífero”, mas descortinam algo da complexidade e
imprecisão das nossas ferramentas de trabalho teórico. O estudo do burnout
desenvolvido nesta tese parece corroborar a perspectiva segundo a qual o que
encontramos rotineiramente na atividade de análise conceitual não são
entidades simples, claras e unívocas, mas sim complexas e polissêmicas.
2.2 Análise de conceitos e pensamento metafórico
Abordamos na introdução desta tese a noção de que a linguagem é
fundamentalmente metafórica, sendo a distinção entre literal e metafórico muito
mais uma questão de diferentes graus de novidade ou sedimentação do uso de
um termo do que uma diferença essencial entre duas categorias distintas.
Gergen (1994) coloca assim a questão: “palavras literais são simplesmente
aquelas que ocupam uma posição estabelecida em um jogo de linguagem que é
repetido com certo grau de regularidade”9 (p.270).
Nessa direção, nos interessa ver um pouco mais de perto a grande
reapreciação do papel da metáfora no pensamento filosófico e científico que
aconteceu principalmente a partir da década de 1970 e 1980 (conferir Leary,
9 “literal words are simply those that occupy an established position in a language game that is
repeated with some kind of regularity”.
40
1994a, para uma extensa bibliografia sobre o assunto e também o bom livro de
Carone, 2011). Durante muito tempo a concepção dominante sobre a metáfora
parece ter sido a de nutrir um sentimento de desprezo em relação ao seu valor
em teorias e argumentos filosóficos e científicos. A metáfora era então
compreendida como um elemento acessório, adorno, que não passaria de uma
ilustração do raciocínio principal que deveria ser formulado em linguagem literal.
Um exemplo tomado de Black (1954) ajuda a entender como a concepção
de metáfora mudou e porque ela passou a ser vista como um processo de
pensamento e não só como uma expressão literária. Tomemos a metáfora “O
homem é um lobo”. Ela permite uma série de afirmações sobre o homem, do
tipo: “o homem é um animal feroz”, “ele ataca suas presas”, “ele está
constantemente lutando pela sua sobrevivência”. Algumas características
humanas que possam ser abordadas a partir da metáfora “o homem é um lobo”
se tornarão proeminentes, e, por outro lado, aquelas que não combinam com
essa metáfora se tornarão menos visíveis. Isto é, a metáfora lança luz sobre
alguns aspectos e obscurece outros; em suma, “a metáfora-lobo (...) organiza
nossa visão do homem”10 (Black, 1954, p.288).
Black (1954) propõe uma metáfora para falar sobre o papel da metáfora
na visão do objeto: ela atua como um filtro. Depois de usar a metáfora vemos o
objeto principal através da metáfora – ela promove a interação entre dois
sistemas de características diferentes. Agora podemos pensar em todas as
características do lobo que o assemelham ao homem e, ao fazer isso, a metáfora
pode inclusive revelar aspectos do objeto-homem que não poderiam ser vistos
10 “The wolf metaphor (…) organizes our view of man”.
41
antes. Isto é, ao enquadrar o objeto dentro do novo quadro de referência
proposto, a metáfora permite inclusive uma atitude criativa diante dele, já que
permite gerar novas afirmações.
Foi seguindo essa pista que Black (1977) veio a falar de “pensamento
metafórico”11 (p.446) e da “forte função cognitiva”12 (p.451) de certas metáforas.
Afinal, “algumas metáforas são o que podemos chamar de ‘instrumentos
cognitivos’, indispensáveis para perceber conexões”13 (p. 454). A exploração da
metáfora dentro dessa nova visão para seu papel logo rendeu muitos frutos, que
confirmaram sua forte presença como processo central de pensamento.
Em especial Lakoff e Johnson (1980/2003, 1999) argumentaram de forma
persuasiva a favor da presença da metáfora na nossa linguagem e
representações conceituais. Seja no discurso cotidiano seja em textos científicos
ou filosóficos, estes autores demonstraram que a utilização de metáforas é uma
constante, embora muitas vezes não percebamos imediatamente sua presença.
As metáforas fazem parte do modo como raciocinamos abstratamente:
“Sistemas conceituais são plurais, não monolíticos. Tipicamente, conceitos
abstratos são definidos por múltiplas metáforas conceituais, que são
frequentemente inconsistentes umas com as outras”14 (Lakoff & Johson, 1999,
p.78).
Assim, a presença e utilização de metáforas é um dado constante que não
só não deve nos surpreender como deve ser esperado e até buscado ao realizar-
11 “Metaphorical thought”. 12 “Strong cognitive function”. 13 “some metaphors are what might be called ‘cognitive instruments’, indispensable for perceiving
connections”. 14 “(…) conceptual systems are pluralistic, not monolithic. Typically, abstract concepts are defined
by multiple conceptual metaphors, which are often inconsistent with each other”.
42
se qualquer análise conceitual. Na psicologia a situação não é diferente. A
utilização de metáforas foi apontada por Soyland (1994) e melhor explorada no
importante livro organizado por Leary (1994b) como uma parte importante da
produção do conhecimento em psicologia, por fornecer modelos e quadros
gerais de compreensão dos fenômenos.
As metáforas tem ocupado um papel de destaque na pesquisa sobre
emoções (Averill, 1994) motivação (McReynolds, 1994), memória (Roediger,
1980) consciência, mente e psicologia cognitiva, (Bruner & Feldman,1994;
Gentner & Grudin, 1985; Hoffman, Cochran & Nead, 1994) psicologia social
(Gergen, 1994), psicopatologia (Sarbin, 1994; Pickering, 2006) e na própria
afirmação da psicologia enquanto profissão (Brown, 1992).
O fato de que as metáforas são praticamente onipresentes na atividade
de produção do conhecimento não deve ser visto como um fato a ser lamentado
ou celebrado a priori. Continuamos a ter uma preocupação com o modo de sua
utilização, tal como advertem Lakoff e Johson (1999): “Deve-se aprender onde a
metáfora é útil ao pensamento, onde ela é crucial para o pensamento, e onde
ela é enganosa. Metáforas conceituais podem ser todos os três”15 (p.73).
Ao analisar conceitos é preciso estar preparado para encontrar as
metáforas utilizadas e analisá-las, perguntando o que elas revelam e o que
ocultam, qual o seu grau de detalhamento e desenvolvimento, que lugares
ocupam na teorização e quais metáforas alternativas poderiam ser propostas.
2.3 Análise conceitual como história linguageira e social
15 “One must learn where metaphor is useful to thought, where it is crucial to thought, and where
it is misleading. Conceptual metaphors can be all three”.
43
A imagem da ciência como atividade de linguagem na história fez com
que Sigmund Koch procurasse pensar o campo da Psicologia como constituído
de diferentes comunidades de linguagem. Ele nos fornece a seguinte descrição:
“em cada campo da ciência e, é claro, das humanidades, vai existir
necessariamente uma pluralidade de comunidades de linguagem consistindo em
cada caso de indivíduos possuindo diferentes repertórios de discriminações
aprendidas e capacidades discriminativas diferentemente especializadas”16
(Koch, 1961, p.638).
A linguagem aprendida condiciona quais os objetos a serem estudados:
A pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade
científica pense ter adquirido respostas seguras para perguntas
como as seguintes: Quais são as entidades fundamentais que
compõem o universo? Como interagem essas entidades umas com
as outras e com os sentidos? Que questões podem ser
legitimamente feitas a respeito de tais entidades e que técnicas
podem ser empregadas na busca de soluções? (Kuhn, 1962/2009,
p.23).
A linguagem da psicologia foi estudada por diferentes autores (Benjafield,
2012 e 2013, Richards, 1989). Dentre eles destacamos Danziger (1997), que
procurou mostrar que categorias como motivação, inteligência, personalidade,
atitude e comportamento não estiveram sempre presentes, mas fazem sua
16 “in each field of science and, of course, the humanities, there will necessarily be a plurality of
language communities consisting in each case of individuals owning differential stocks of learned discriminations and differentially specialized discriminative capacities”.
44
entrada no discurso da nascente ciência da Psicologia em determinados
momentos históricos.
Essas categorias não são resultado de investigação empírica, nem
refletem puramente a ‘realidade psicológica’, mas devem sua existência a
negociações complexas de sentido entre a linguagem ordinária e as condições
e interesses sociais do momento de sua formação. Para Danziger “a essência
das categorias psicológicas (...) reside no seu status de objetos historicamente
construídos”17 (1997, p.12) e “a linguagem psicológica deve ser estudada como
parte da vida social e isso significa levar em conta seu papel político”18 (1997, p.
185).
Levando em conta que não há estudo da realidade sem mediação da
linguagem, “no momento em que teorias psicológicas explícitas são formuladas,
boa parte do trabalho teórico já aconteceu – ele está embutido nas categorias
usadas para descrever e classificar fenômenos psicológicos”19 (Danziger, 1997,
p.8).
Danziger (2010) propõe a interessante tarefa de estudar a trajetória
histórica de objetos epistêmicos, isto é, determinar seu nascimento e
acompanhar as transformações pelas quais ele passa ao longo de sua
existência. Isso implica questionar os objetos psicológicos (definidos como
tópicos tomados como objeto de pesquisa acadêmica em psicologia), tentando
17 “The essence of psychological categories (…) lies in their status as historically constructed
objects”. 18 “Psychological language must be studied as part of social life and that means taking account
of its political role”. 19 “By the time explicit psychological theories are formulated, most of the theoretical work has
already happened – it is embedded in the categories used to describe and classify psychological phenomena”.
45
compreender como eles são construídos, quais são os seus usos e a que se
referem (Brock, 2015). “Se tratamos a história da psicologia em termos da
história de objetos psicológicos, não é necessário reivindicar mais coerência
para esse campo do que está implicado no conjunto de tais objetos”20 (Danziger,
2010, p.94).
Vamos examinar alguns exemplos de estudos que seguem a trajetória de
um determinado objeto epistêmico dentro do campo de interesse da psicologia.
McNally (2011) segue os significados da palavra esquizofrenia, desde sua
criação por Eugen Bleuler em 1908 até 1987. Suas conclusões são que a
“instabilidade na definição foi a norma”21 (p.109) e que, no que diz respeito à
observação de suas definições, a esquizofrenia “não tem sido um objeto
transhistórico estável”22 (p.109).
Morawski e St. Martin (2011), por sua vez, realizaram um estudo do termo
socialização dentro do campo da psicologia. A variação de significados mostra
incerteza sobre como a socialização deve ser concebida: ora como uma teoria
ora como “sistema, processo, fato, conceito, termo, problema e modelo” (p.15).
Os autores registraram ampla utilização de metáforas, inclusive metáforas
mistas, do tipo “a pessoa é vista como um centro orgânico de sentimento se
movimentando através de uma cultura e atraindo magneticamente para ela as
principais linhas da cultura (...) como um microcosmo de características grupais
da sua cultura”23 (Dollard, citado por Morawski & St. Martin, 2011).
20 “If one treats the history of psychology in terms of the history of psychological objects one need
claim no more coherence for the field than is implied by an assembly of such objects”. 21 “Instability in definition was the norm”. 22 “has not been a stable transhistorical object”. 23 “The person is viewed as an organic center of feeling moving through a culture and drawing
magnetically to him the main strands of the culture (…) as a microcosm of the group features of his culture”.
46
Collins (2007) rastreia o uso do termo “informação” dentro do contexto da
teoria da informação nos anos 1920-1940. A utilização do termo estava ligada
às novas tecnologias de comunicação, como o telégrafo, o telefone e o rádio.
Algumas das definições de “informação” mais influentes do momento eram
matemáticas, e estavam centradas na forma, e não no significado do que era
veiculado. A preocupação com a criptografia forneceu a metáfora para todo o
processo de comunicação, que passou a ser conceitualizado como “codificação”
e “decodificação”. Ao entrar no campo da psicologia, o termo foi aos poucos se
distanciando da sua definição inicial, e passou a significar algo muito mais amplo:
“começaram a usá-lo como um termo genérico para descrever o que era
manipulado por um programa, mente ou cérebro” (Collins, 2007, p.61).
Com a ascensão da tecnologia de computação a psicologia cognitiva
encontrou sua metáfora do homem como processador de informação e
“informação” se tornou “a nova linguagem dos não observáveis” (Collins, 2007,
p.63). Collins (2007) conclui que a utilização mais livre e vaga do conceito fez
com que usos técnicos e cotidianos do termo se tornassem cada vez mais
difíceis de distinguir.
O intercâmbio do objeto estudado com a linguagem ordinária se faz
presente no estudo de Collins (2007), assim como a ligação do objeto com o seu
momento histórico e com determinadas relações sociais que o fundamentam. Os
trabalhos de Collins (2007) e Morawski e St. Martin (2011) parecem corroborar
a necessidade de se compreender a utilização de um termo dentro do conjunto
de atividades e preocupações que o permitem surgir ou assumir tal ou qual
conotação em um dado momento.
47
Collins (2007) aponta a relação da pesquisa sobre informação com o
empreendimento de guerra, e vê na definição matemática de informação um
alinhamento aos valores militares de ordem, certeza e previsibilidade. Morawski
e St. Martin (2011) situam a emergência do conceito de socialização nos anos
1900-1960, dentro do contexto dos debates sobre democracia, fascismo e
comunismo. O conceito de socialização procurava articular indivíduo e
sociedade e fornecer uma resposta para uma sociedade mais harmônica – o
indivíduo aparece como sendo capaz de se conformar a situações cotidianas e
ser moldado, ao mesmo tempo em que é capaz de questionar situações
antidemocráticas.
Os estudos de McNally (2011), Morawski e St. Martin (2011) e Collins
(2007) mostram algumas das características que esperamos encontrar ao
analisar um conceito, levando em consideração alguns dos elementos discutidos
acima. Uma característica comum aos três é a presença da polissemia; em vez
de exceção, ela aparece como regra, ainda que se trate de conceitos científicos.
Os diferentes significados mudam no decorrer da história, e podem ser seguidos
em suas constantes transformações (2.3). A utilização de metáforas se faz
presente como um aspecto importante do pensamento sobre o objeto em
questão, seja ele esquizofrenia, socialização ou informação (2.2). Discussões
sobre fronteiras surgem: diante de tantos significados diferentes para o termo
“X”, será que ainda podemos chamar tal ou qual concepção de “X”, ou
deveríamos buscar outro nome? Diante de significados centrais e periféricos
parece não haver nenhuma linha demarcatória clara e segura para que se faça
a delimitação de conceitos (2.1).
48
Assim, chegamos ao final deste capítulo com algumas de diretrizes
norteadoras para o trabalho de análise de um conceito. Este deve ser visto em
seu caráter multifacetado de conceito/palavra/metáfora cujo percurso pode ser
seguido historicamente Essas diretrizes estabelecem expectativas e guiam
nosso olhar, constituindo assim um instrumental para realizar o estudo de objetos
psicológicos específicos, como foi o caso do burnout nesta tese.
49
Capítulo 3: Herbert J. Freudenberger e a criação do burnout
como síndrome psicopatológica
3.1 Psicologia e trabalho
A interface entre psicologia e trabalho é bastante complexa, no Brasil e no
restante do mundo ocidental, pois é preciso levar em consideração que existe
uma grande diversidade de práticas, paradigmas e tradições (Bendassolli,
Borges-Adrade & Malvezzi, 2010; Gondim, Borges-Andrade & Bastos, 2010;
Clot, 2007, 2010). Diversidade que possui inclusive desenvolvimento desigual de
acordo com o país: Estados Unidos (Katzell & Austin, 1992) e França (Clot,
2010), por exemplo, apresentam diferenças significativas no modo como
desenvolveram as discussões sobre o tema.
As diferentes denominações “Psicologia Industrial”, “Psicologia
Organizacional”, “Psicologia do Trabalho”, “Psicologia Organizacional e do
Trabalho” (POT), “Psicologia do Trabalho e das Organizações” (PT&O) são
marcas do conflito sobre qual deve ser a significação e o direcionamento das
pesquisas, bem como reflexos de transformações econômicas e sociais sofridas
ao longo do tempo (Sampaio, 1998; Coelho-Lima, 2013). Não há, portanto,
nenhuma pretensão de se fazer referência a um campo supostamente único e
uniforme, mas sim a um conjunto heterogêneo de discussões que se
entrecruzam e diferem na maneira de conceber a atuação e a produção do
conhecimento.
Entendemos que o trabalho ocupa um lugar de primeira ordem no
desenvolvimento psicológico do sujeito (Clot, 2007), e que as discussões sobre
condições de trabalho, risco psicossocial e qualidade de vida no trabalho
50
colocam em evidência o contexto de trabalho como um lugar privilegiado de
manifestações de saúde e adoecimento psíquico.
No entanto, um reconhecimento da importância do trabalho para a vida
psíquica não implica em uma concordância sobre quais conceitos, vocabulário e
abordagem utilizar para responder aos desafios propostos pela realidade laboral.
Pelo contrário, a diversidade de proposições e a rapidez com que conceitos têm
surgido e disputado um lugar no mercado de diagnósticos e soluções têm
chamado a atenção dos observadores atentos.
Dentre os vários conceitos surgidos nas últimas décadas, o burnout
aparece como um dos mais “bem-sucedidos”, a julgar pela ampla circulação e
repercussão mundial que angariou. Além da razão de ser um conceito bastante
difundido e de interesse internacional, nossa escolha por este conceito como
foco de análise se deve a vários fatores. Primeiro, é um conceito sobre o qual há
amplo material publicado, fornecendo farta matéria prima para a atividade da
análise conceitual proposta aqui. Segundo, ele tem um surgimento relativamente
recente (a partir da década de 1970) em uma língua de circulação internacional
(o inglês), viabilizando o acesso às fontes primárias que possibilitam o estudo
rigoroso do conceito. Terceiro, esta proposta se ajusta bem aos objetivos
temáticos do grupo de pesquisa a que se filia24, mais especificamente na linha
de pesquisa voltada para o tema do trabalho como operador do desenvolvimento
psíquico e saúde25. Quarto, não existem muitos trabalhos que se proponham a
analisar o burnout em uma perspectiva social, cultural, histórica e linguageira.
Friberg (2009) se aproxima bastante da abordagem aqui preconizada, porém
24 GEPET (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho) – UFRN. 25 Núcleo Trabalho, Desenvolvimento e Saúde (nTDS)
51
não aborda a questão da metáfora, além de dedicar praticamente metade da sua
discussão para aspectos particulares da história do conceito na Suécia.
3.2 Delimitando o objeto
Schaufeli, Leiter & Maslach (2009) estimaram a existência de pelo menos
6.000 trabalhos sobre o burnout. Há quem tenha encontrado semelhanças entre
a síndrome de burnout e características de personagens bíblicos, personagens
da literatura e diagnósticos anteriores (Muheim, 2013). Como delimitar o escopo
de uma pesquisa sobre o burnout diante dessas possibilidades? Nossa escolha
restritiva é a de não estudar senão aquilo que é explicitamente tratado como
burnout (e, naturalmente, suas variações burnt out, burn out, burn-out), deixando
de lado a comparação com outros diagnósticos26 e também a procura por um
burnout não nomeado enquanto tal.
Mas, mesmo dentro dos casos em que há uma utilização explícita e
averiguada da expressão, nem todos são igualmente relevantes. O poema de
Shakespeare “The passionate pilgrim” e o romance de Graham Greene “A burnt
out case” (1960/2004) são dois exemplos de trabalhos em que há utilização da
expressão e que são citados em textos de revisão e/ou história do conceito.
Shakespeare foi citado por Schaufeli e Enzmann (1998) e por Muheim (2003)
enquanto Greene foi citado por Maslach e Schaufeli (1993), Maslach, Schaufeli
e Leiter (2001), Schaufeli e Buunk (2003) e Muheim (2013). Mas qual sentido a
expressão tinha então, qual sua relação com significados atuais e qual a
utilização que pesquisadores da área fazem desses “precursores”?
26 Dentre os diagnósticos mais frequentemente associados ao burnout estão a síndrome da
fadiga crônica, a depressão e o estresse (Schaufeli & Enzmann, 1998; Zorzanelli, Vieira & Russo, 2016).
52
No romance de Greene (1960/2004) a expressão burnt-out não aparece
muitas vezes (cerca de dez), mas ela pode ser vista como um fio condutor da
história, uma interpretação que parece ser confirmada pela sua presença no
título. Ela é usada para descrever o caso de lepra em que a doença já consumiu
tudo o que podia e se extinguiu. Quando um paciente chega muito tarde para ser
ajudado apropriadamente, tudo o que resta a fazer é aguardar que a doença siga
seu curso até a exaustão. O resultado é frequentemente alguém mutilado, que
perdeu dedos, membros, mas que está curado da lepra e não representa mais
nenhum perigo de contágio.
Pouco a pouco, o leitor percebe que o caso de “burnt-out” em questão é,
acima de tudo, o de Querry, personagem principal da obra, que é um arquiteto
que decide largar tudo para ir morar em um leprosário no Congo. Ele não está
doente de lepra, mas apresenta um sofrimento peculiar: “eu não quero nada (...)
esse é o meu problema (...) eu sofro de nada” (Greene, 1960/2004, p.8). Querry
se queixa da incapacidade de sentir o que quer que seja, inclusive dor e
sofrimento (Greene, 1960/2004, p.37 e p.66) e sua aventura é uma tentativa de
cura no isolamento proporcionado por esse lugar remoto e de difícil acesso no
Congo.
Em uma pequena nota de introdução ao romance, Greene alerta que o
Congo em questão é, acima de tudo, um lugar da mente (1960/2004, p.13).
Como uma metáfora para descrever a miséria dos seres humanos frente aos
limites das suas próprias infelizes escolhas existenciais, a expressão burnt-out
passa a descrever também Parkinson, o jornalista cínico e corrupto, e Rycker, o
católico hipócrita e atormentado.
53
O romance prossegue com certa ambiguidade o percurso de cura de
Querry, que encontra na vida simples e no trabalho de construção de um hospital
para os pacientes leprosos uma felicidade que ele não conhecia. Quando a sua
estadia nesse refúgio idílico é destruída por uma complexa trama, Querry
redescobre sua capacidade de sofrimento, sofrimento este que é visto como
aquilo que o liga à condição humana : “sofro, logo existo” (Greene, 1960/2004,
p.178-179). Após sua morte, o médico Collin declara que o considerava curado,
já que ele tinha se tornado capaz de rir e de servir a outras pessoas.
Essa breve sinopse do livro é suficiente para mostrar o quanto não é óbvia
sua assimilação como um exemplo da síndrome descrita por Freudenberger ou
da síndrome mensurada por Maslach. O burnt-out de Greene é uma criação
literária complexa que permite diferentes interpretações, mas que tem sido
frequentemente reivindicada como um exemplo evidente de uma síndrome de
burnout única e transhistórica.
O estudo da utilização da expressão anterior à utilização da psicologia
acadêmica é importante, dado que a linguagem ordinária e linguagem científica
frequentemente possuem relações de continuidade. Se é possível que o
romance de Greene tenha ajudado a popularizar essa expressão e assim
preparado indiretamente o terreno para o desenvolvimento posterior da
expressão no meio da psicologia, isso constitui uma hipótese que está longe da
assimilação fácil deste romance como um exemplo evidente da utilidade do
burnout enquanto classificação psicopatológica.
Passemos então ao campo das publicações acadêmicas. A primeira
utilização do termo em periódico científico com significado próximo ao que tem
hoje parece ter sido a de Bradley (1969). Ele utilizou a expressão “staff burn out”
54
em um artigo cujo objetivo principal era o de propor e discutir um modelo para
uma unidade correcional de jovens delinquentes. Ao mencionar o tempo de
trabalho dos agentes, Bradley informa que nas primeiras quatro semanas eles
irão trabalhar 12 a 16 horas por dia, 7 dias na semana. No 2 e 3 mês a carga
horário do agente pode ser diminuída para 12 horas por dia, 6 dias na semana.
Reduções continuarão até que no final do sexto mês a carga será “normal” em
termos de horas e dias da semana.
O autor então propõe períodos de descanso, que deverão impedir que
ocorra o fenômeno de “burn out” com a equipe – fenômeno esse que “estamos
começando a observar em programas de tratamento intensivo”27 (Bradley, 1969,
p.366). A observação de Bradley é pontual. Não faz parte do seu objetivo
fornecer uma definição do conceito, que aparece entre aspas, aparentemente
em um reconhecimento de que ele é uma utilização metafórica.
O breve texto de duas páginas escrito por Sommer (1973) na American
Psychologist tem como título “The burnt-out chairman” e descreve as agruras de
um professor universitário que se torna chefe do departamento. Ao realizar uma
dissecação irônica das frustrações de ocupar o cargo, Sommer deixa
transparecer que se trata de um sofrimento ligado ao trabalho, mas o termo
burnt-out não é nunca definido e nem sequer utilizado no corpo do texto, para
além do título.
Assim, a utilização da expressão por Bradley (1969) e Sommer (1973) tem
em comum o fato de que não há uma intenção explícita de introdução de um
novo conceito, pois não há definição do burnt-out. Greene (1960/2004), por outro
27 “we are beginning to observe in intensive treatment programs”.
55
lado, embora proponha o burnt-out como uma importante metáfora aberta à
significação no contexto do romance, não tem tampouco a pretensão de
transformá-la em um conceito com uma definição.
Psicanalista judeu de origem alemã e radicado nos Estados Unidos da
América, Herbert J. Freudenberger (1926-1999) aparece então de forma justa
como “pai fundador” do conceito (Schaufeli & Buunk, 2003). Freudenberger
escreveu sobre o tema da ansiedade (Freudenberger & North, 1982) e contribuiu
para um volume sobre a história da psicoterapia (Freedheim, 1997), mas se
tornou conhecido principalmente pelo fato de ter sido o primeiro a propor uma
“síndrome de burnout” e fornecer uma definição para o fenômeno, o que justifica
nossa opção de empreender na seção seguinte um estudo aprofundado da sua
contribuição.
3.3 A criação do conceito de burnout
Não encontramos nenhum estudo dedicado somente a Freudenberger, o
que parece indicar que ele não é visto como um autor a ser estudado em si. No
entanto, considerando a importância da sua contribuição para a constituição do
conceito, entendemos que ele merece um tratamento diferenciado e procuramos
estabelecer uma lista de todos os seus trabalhos, que se encontra adiante como
apêndice A. Uma estimativa fala em mais de 90 trabalhos, considerando artigos,
capítulos de livros e monografias (Gold Medal Award for life achievemet in the
practice of psychology, 1999), enquanto outra afirma serem mais de 100 itens
(Canter & Freudenberger, 2001). Nossa busca pôde identificar 87 itens, o que a
faz certamente inacabada, mas próxima o suficiente do número total para servir
de guia na falta de uma lista mais completa. A análise que se segue se baseia
56
nos 21 textos que pudemos acessar, sendo eles 19 artigos e 2 livros. As
referências com um asterisco (*) indicam uma obra à qual não tivemos acesso,
mas cuja referência bibliográfica pode ser encontrada no apêndice.
O contexto de surgimento da metáfora burnout no trabalho de Herbert J.
Freudenberger é o movimento Free Clinic. Segundo o próprio Freudenberger
(1971a) o movimento surgiu quando a primeira Free clinic foi criada no ano de
1967 em Haight-Ashbury, São Francisco, com o objetivo de atender a população
indigente e jovem, que procurava atendimento para questões como “infecções,
bad drug trips, doenças venéreas, abscessos e problemas médicos gerais”28
(Freudenberger, 1971a, p.169).
Freudenbeger visitou o distrito de Haight-Ashbury em 1967 e 1968, antes
de ajudar a organizar a primeira Free Clinic de Nova York, que abriu em janeiro
de 1970 (Freudenberger, 1969a, 1971b, 1971c). Naquele momento Haight-
Ashbury era um centro que atraía pessoas de várias partes do país devido ao
intenso movimento hippie. O verão de 1967, chamado de “summer of love”, ficou
conhecido como o auge da efervescência do lugar, em que o uso de drogas era
comum e havia em muitos a esperança de uma revolução comportamental e de
valores que se espalharia por todo o país. O próprio Freudenberger escreveu em
pelo menos dois momentos textos que refletiam uma preocupação sobre o
conflito de gerações em curso (Freudenberger, 1969b, 1970).
No que diz respeito à Free Clinic, ela de fato teve uma forte expansão,
pois, cerca de quatro anos depois, Freudenberger (1971a) pôde afirmar que
existiam 80 delas pelos EUA e Canadá. No terceiro encontro do National Free
28 “infections, bad drug trips, venereal diseases, abcesses, and general medical problems”.
57
Clinic Council, ocorrido em 1973, o número estimado de clínicas grátis nesses
dois países era de 300, possuindo um número de 3.000 trabalhadores
(Freudenberger, 1973a).
O uso frequente de drogas no contexto da época ajuda a explicar a forte
presença do tema nos artigos de Freudenberger (1971a, 1971b, 1971c e 1973b).
Problemas relacionados ao uso de drogas são compreendidos como uma das
principais demandas de atendimento enfrentadas pelo serviço. A clínica em que
Freudenberger trabalhava, a St. Mark Free Clinic, em Nova York, monta um
atendimento odontológico, por exemplo, depois que a equipe se dá conta da
seriedade dos problemas bucais associados com o uso prolongado de drogas,
especialmente as anfetaminas.
A questão das drogas também é abordada em relação aos trabalhadores
das clínicas. Freudenberger chega a colocar que na St. Mark Free Clinic não é
permitida a venda e o uso de drogas nas dependências da instituição
(Freudenberger, 1971a), o que sugere ao leitor que em outras clínicas essa
prática era possível.
Freudenberger (1973b) alerta que o uso, venda e compartilhamento de
drogas dentro da clínica é uma prática destrutiva. No entanto, ele não justifica a
qualificação de “destrutiva” a partir dos possíveis efeitos nocivos para os
indivíduos que usam as drogas - se membros da equipe usam drogas isso é um
assunto pessoal, eles somente não devem usar dentro da clínica. A destruição
que não pode ser tolerada e que pode ser acarretada pelo uso de drogas na
clínica é a destruição da própria instituição. Afinal, o uso de drogas pode levar
ao fechamento da clínica pela polícia ou a perda de apoio por parte de
instituições que ajudam a clínica.
58
Para Freudenberger, a Free Clinic não era somente um trabalho social,
mas sim um instrumento de questionamento do modelo médico tradicional e de
provocação para mudança em uma comunidade (1971b, 1973b). Talvez Free
possa ser entendido aí não só como significando “grátis” – a clínica não cobrava
pelo atendimento e funcionava principalmente via trabalho voluntário e doações
–, mas também significando livre, já que a clínica era fruto de uma filosofia de
vida em comunidade que se propunha como alternativa à sociedade tradicional,
animada pelo espírito de questionamento e compartilhamento da cultura hippie
que lhe deu origem.
É na discussão de alguns problemas enfrentados nas clínicas grátis que
a questão do burnout irá ser tratada por Freudenberger (1973b). O primeiro
problema mencionado é a organização da clínica. Uma organização fortemente
hierárquica é justamente aquilo que o movimento buscava atacar no
Establishment, e, portanto, a clínica não deveria se organizar assim
(Freudenberger, 1973b). No entanto, sem nenhuma hierarquia se corria o risco
de uma desorganização. Assim, alguma estrutura era necessária, e
Freudenberger recomenda que decisões e responsabilidades sejam
compartilhadas para que se construa uma estrutura com a qual todos possam
viver.
O segundo problema é o do profissional que vem trabalhar na clínica e
passa a se identificar com os pacientes. Seu visual e linguagem deixam de ser
convencionais e se parecem cada vez mais com a população que ele atende:
seu cabelo cresce, a gravata desaparece, no lugar de uma camisa passa a usar
apenas uma camiseta, etc. Segundo Freudenberger, o profissional corre o risco
não só de perder a objetividade característica do seu trabalho, como também
59
entrar em uma crise de identidade e se perder como um todo (Freudenberger,
1973b).
O terceiro problema é o da síndrome “burnt out” (escrita entre aspas, com
o verbo burn conjugado no particípio passado e sem hífen), síndrome esta que
o próprio Freudenberger reconhece como tendo sofrido e que ele relaciona
diretamente com o contexto de trabalho em uma Free Clinic (Freudenberger,
1973b). A clínica St. Mark funcionava de segunda a sexta, das 18 às 22h e
recebia aproximadamente 40 pacientes por noite (1971a). Assim, Freudenberger
reflete sobre as condições desse trabalho:
a maior parte do que você faz lá você faz depois das suas horas
normais de trabalho (...) você começa seu segundo trabalho
quando a maioria das pessoas vão para casa (...) e você coloca um
bocado de você mesmo nesse trabalho. Você demanda isso de
você, a equipe demanda isso de você, e a população que vocês
estão servindo demanda isso de você. Como usualmente acontece,
mais e mais demandas são feitas para cada vez menos pessoas.
Você gradualmente constrói nas pessoas a sua volta e em você
mesmo o sentimento de que eles precisam de você. Você tem um
sentimento de comprometimento total. Todo o clima leva até aí, até
que finamente você se encontra, como eu me encontrei, em um
estado de exaustão29 (1973b, p.56).
29 “most of what you do there you do after your normal professional working (…) you start your
second job when most people go home (…) And you put a great deal of yourself in the work. You demand this of yourself, the staff demands it of you, and the population that you are serving demands it of you. As usually happens, more and more demands are made upon fewer and fewer people. You gradually build up in those around you and in yourself the feeling that they need you. You feel a total sense of commitment. The whole atmosphere builds up to it, until you finally find yourself, as I did, in a state of exhaustion”.
60
Fica claro com a descrição de Freudenberger o quanto sua compreensão
da síndrome se baseia na sua própria relação com o trabalho. Em outro texto ele
afirma que trabalhava 10 a 12 horas como psicanalista em seu consultório
durante o dia e, depois, trabalhava na clínica grátis até meia-noite ou mais
(1975). No artigo de 1973b, apesar de usar a palavra síndrome, o autor não
procura estabelecer sinais e sintomas que a caracterizam, mas sim fornece a
descrição extremamente autobiográfica reproduzida acima.
Comenta ainda que outros trabalhadores de comunidades terapêuticas
que trabalham com usuários de drogas o têm procurado em estado de
“depressão, apatia e agitação”30 (1973b, p.56) e que “para muitos, parte da
explicação era a síndrome ‘burnt out”31 (1973b, p.56). Esse trecho parece indicar
que o termo começava a ser usado por várias pessoas, o que vai ser confirmado
pela seguinte passagem do artigo mais conhecido de 1974a: “Alguns anos atrás,
alguns de nós que estávamos trabalhando intensivamente no movimento free
clinic começamos a falar de um conceito ao qual nos referíamos como ‘burn-
out’”32 (1974a, p. 159).
Esse trecho mostra que Freudenberger não se considerava como o autor
ou criador do conceito de burn-out (agora com o verbo no presente e com hífen).
Esse conceito aparece como uma criação coletiva da comunidade de
trabalhadores do movimento, criação anônima e popular que não tem uma
origem ou autor determinados, mas que passou a fazer parte do vocabulário
30 “depression, apathy, and agitation”. 31 “For many, part of the explanation was the ‘burnt out’ syndrome”. 32 “Some years ago, a few of us who had been working intensively in the free clinic movement
began to talk of a concept which we referred to as ‘burn-out’”.
61
dessas pessoas para dar conta de uma experiência que tinha sido observada
uma quantidade de vezes suficiente para merecer receber uma denominação.
3.4 Metáforas que organizam o conceito de burnout
A primeira menção da síndrome por Freudenberger (1973b) é
extremamente despretensiosa, ocupando apenas um parágrafo de uma seção
de problemas encontrados nas clínicas, dentro de um texto cujo objetivo principal
era promover e falar sobre o movimento Free clinic. Chama a atenção o tom de
alguns conselhos fornecido por Freudenberger, que parecem significativos do
modo como ele encarava o trabalho na clínica e que talvez fossem
compartilhados por outros trabalhadores do movimento: “gaste todo o tempo que
você pode gastar – e até um pouco do que você não pode”33 (1973b, p.61) e
“esteja preparado para trabalhar longas horas sem pagamento”34 (1973b, p.61).
O artigo que foi tomado pela literatura como o momento fundador e
inaugural do conceito de burnout como um objeto de estudo acadêmico foi “Staff
Burn-out” (1974a). Essa afirmação pode ser verificada por um conhecimento da
literatura da área, mas também pode ser vista em termos numéricos observando-
se o número de citações que o artigo teve e comparando-o o com número de
citações de outros artigos de Freudenberger. Enquanto “Staff Burn-out” tem
4.954 citações, o artigo que vem em segundo lugar em número de citações é
“The staff burn-out syndrome in alternative institutions” (1975), também com staff
burn-out no título e que saiu apenas um ano depois, com 655. Outros artigos
sobre burnout escritos por Freudenberger na década de 1980 tiveram menos
33 “Spend all the time you can spare—and some you cannot”. 34 “be prepared to work long hours for no pay”.
62
citações, 71 para “Issues of staff burnout in therapeutic communities” (1986d*) e
39 para “Burnout: past, present and future concerns” (1989*)35.
O artigo de 1974a se encontra em um número especial do Journal of
Social Issues dedicado ao tema das Free Clinics e editado pelo próprio Herbert
J. Freudenberger (1974b). Ele chama o número de Handbook, e afirma ter
tentado abordar o maior número possível de questões gerais e específicas,
práticas e teóricas para ajudar o leitor e o movimento Free Clinic a lutar por uma
saúde que seja “um direito de todos e não um privilégio de poucos”36 (1974b, p.
7).
O artigo sobre burn-out possui apenas três referências, todas elas de
trabalhos do próprio Freudenberger. Citar apenas a si mesmo é uma prática
bastante comum nos seus artigos (1970, 1971a, 1973a, 1974c, 1975, 1977), ou
até não fazer citação alguma (1973c). A definição de burn-out é retirada de um
dicionário que não consta nas referências: “minguar, gastar, se tornar exausto
através de demandas excessivas de energia, força ou recursos”37 (1974a, p.159).
A mesma definição também pode ser encontrada em Freudenberger (1977) e
em Schaufeli e Enzmann (1998), também sem que a referência exata do
dicionário utilizado apareça – na verdade ele é tratado nas três ocasiões como
“o dicionário”.
Seguindo o raciocínio do artigo 1974a, lemos que um dos principais sinais
precursores do burn-out é a perda de carisma do líder e o desapontamento da
equipe da clínica, que frequentemente tem altas expectativas sobre o fundador.
35 Dados retirados do Google Scholar em 06/04/2016. 36 “Health care as a right for all, not a privilege for just a few”. 37 “to fail, wear out, or become exhausted by making excessive demands on energy, strength, or
resources”.
63
Os sinais da síndrome no indivíduo são divididos em físicos e comportamentais.
Os físicos são: “sentimento de exaustão e fadiga, incapacidade de se livrar de
um resfriado, sofrer de frequentes dores de cabeça e perturbações gastro-
intestinais, insônia e respiração curta”38 (Freudenberger, 1974a, 160).
Os comportamentais envolvem dificuldade de conter sentimentos,
respostas instantâneas de irritação, frustração e rapidez em sentir raiva. Outros
sinais são a atitude de suspeita e paranoia, em que a vítima pode sentir que
todos querem prejudicá-la, bem como sentimento de onipotência, que pode levar
o indivíduo a correr riscos desnecessários. A pessoa se torna rígida, teimosa e
inflexível, sente que já passou por tudo na clínica e que sabe mais do que todos.
A pessoa age e parece deprimida, passando muito tempo na clínica.
Curiosamente, a palavra “síndrome” não aparece no artigo de 1974a,
embora ela estivesse presente em 1973b. De qualquer maneira a lista de sinais
fornecida mostra que o raciocínio segue algo da lógica de uma síndrome.
Dizemos “algo” porque é curioso notar que a divisão proposta por Freudenberger
em sinais físicos e comportamentais não parece corresponder à divisão clássica
entre sinais (objetivos) e sintomas (vivências subjetivas) como os componentes
de uma síndrome (Dalgalarrondo, 2008). Um exemplo é que Freudenberger
considera um “sinal físico” o sentimento de exaustão e fadiga, que poderia ser
pensado como sintoma dentro da definição usual de síndrome, e considera
“sinais comportamentais” fatos que podem ser observados diretamente como
choro fácil e uso de tranquilizantes.
38 “there is a feeling of exhaustion and fatigue, being unable to shake a lingering cold, suffering
from frequent headaches and gastrointestinal disturbances, sleeplessness and shortness of breath”.
64
Para além dessa compreensão idiossincrática do conceito de síndrome,
fica a pergunta: por que Freudenberger escolheu falar desse fenômeno em
termos de síndrome? Teria o contexto da clínica médica influenciado nessa
direção? A importação de um termo médico para falar do fenômeno
psicológico/comportamental descrito é uma decisão que não é auto-evidente e
que porta consequências graves para o futuro do objeto psicológico burnout. “O
burnout é uma síndrome” é uma afirmação que vai se tornar habitual na literatura
sobre o assunto e que aparece em 1973 sem uma justificativa clara.
O que parece estar em jogo é que Freudenberger nos propõe pensar o
burn-out como se ele fosse uma síndrome, isto é, ele fornece uma metáfora a
partir da qual é possível organizar um discurso sobre causas, sinais, tratamento.
No entanto essa não é uma metáfora que se pensa como tal, mas pelo contrário,
entra como uma afirmação a respeito da qual não há dúvidas. Assistimos aqui à
fabricação de um mito, no sentido dado a esta palavra por Leary (1987): tomar
uma analogia ou metáfora como uma identidade, se esquecendo de dizer “como
se”. Isto é, passamos de “o burnout pode ser visto como se fosse uma síndrome”
para “o burnout é uma síndrome”.
Outra metáfora utilizada por Freudenberger é a do homem como um
sistema de energia, cujo nível pode estar alto ou baixo, que gasta energia ou “se
abastece” de energia, repondo suas reservas. Um indivíduo que potencialmente
corre o risco de desenvolver burnout é alguém que tem necessidade de dar e
gastar energia. Como a população a ser cuidada tem muitas necessidades e
demandas, o indivíduo que quer ajudar pode fazer isso em excesso, e “se nós
não nos alimentamos de outro lugar, nós seguramente iremos nos esgotar (burn
65
out)”39 (1974a, p.162). Os suprimentos podem parecer infinitos, mas não o são,
eles podem secar (Freudenberger, 1975, p.75).
Ao sugerir medidas preventivas, Freudenberger coloca que é uma boa
ideia verificar qual o “nível de energia” do voluntário que quer trabalhar na clínica,
pois se o seu nível de energia é baixo talvez seja melhor desaconselhá-lo a
trabalhar em uma instituição como essa, que é “tão dissipadora de energia”40 (p.
163). Fazer com que os trabalhadores façam workshops e treinamentos é uma
forma muito boa de fazê-los descansar e “recarregar suas baterias esgotadas”41
(1974a, p.164). Freudenberger explica que a exaustão do burnout é mental e
emocional (“é esse tipo de exaustão que não vai te deixar dormir”42, 1974a,
p.164) e não física. Por isso, a recomendação é fazer exercícios físicos que
deixem o indivíduo fisicamente exausto para recuperar-se do desgaste mental.
Ao tratar do tema em outro contexto, o de cuidadores de crianças em
orfanatos e abrigos, Freudenberger se manteve fiel à metáfora. Os cuidadores
podem não perceber que “enquanto eles ‘abastecem’ psiquicamente dia após
dia a pessoa necessitada, eles, dia após dia, esgotam a si próprios”43 (1977,
p.92). O processo é agravado se a criança é emocionalmente carente e faminta,
o que faz alertar para os “perigos inerentes à relação de tratamento”44 (1977,
p.92).
39 “If we don’t get feeding from somewhere, we will most assuredly burn out”. 40 “such an energy drainer”. 41 “Recharging their depleted batteries”. 42 “It is this type of exhaustion that will not Iet you sleep”. 43 “as they day-in-and-day-out psychically ‘feed’ the needy young person, they day-in-and-day-
out deplete themselves”. 44 “inherent dangers that exist in the treatment relationship”.
66
“O menino ou menina procura receber, pegar, agarrar o que quer que
esteja disponível (...) os pedidos podem sair do controle”45 (1977, p.93). A
população ajudada por várias instituições de ajuda se caracteriza por
“continuamente pegar, sugar, demandar”46 (1975, p. 75). Se o trabalhador tem
dificuldade de deixar o trabalho “no escritório” e o leva para casa, as
preocupações com as crianças podem “drenar severamente suas energias e
invadir todos os aspectos de sua vida pessoal e relacionamentos”47 (1977, p. 94).
Dar confiança para a equipe é algo que a “abastece” e isso permite que
ela possa “abastecer” os clientes (1977, p.96). O investimento de energia no
trabalho precisa ser balanceado com uma vida fora dele (1977, p.97) e “qualquer
atividade física pode reabastecer a energia mental e emocional gasta no
trabalho”48 (1977, p. 97).
3.5 A dinâmica intrapsíquica
A descrição de burnout que Freudenberger fornece explora bastante a
motivação e as características pessoais do cuidador. Os dedicados e
comprometidos tendem a ser as pessoas que entrarão em burnout: “nós
sentimos uma pressão de dentro para trabalhar e sentimos uma pressão externa
para dar”49 (1974a, p. 161). O modo como os trabalhadores se sentem é expresso
45 “the young boy or girl seeks to receive, to take, to grab whatever is available (…) the ‘gimmes’
may get out of hand”. 46 “they continually take, suck, demand”. 47 “severely drain his energies and intrude on all aspects of his personal life and relationships”. 48 “Any activity that is physical may replenish the mental and emotional energy that are expended
as part of the work”. 49 “We feel a pressure from within to work and help and we feel a pressure from the outside to
give”.
67
assim: “nossas necessidades e vontades são normalmente secundárias. As
deles são primárias”50 (1975, p.75).
O indivíduo em perigo de burnout tem uma necessidade excessiva de dar
que não é realista. Ao não conseguir realizar as suas altas expectativas, o
sentimento de culpa aparece, e pode levar a ainda mais trabalho. Outro fator a
considerar é que tipo de comprometimento a pessoa tem com o trabalho.
Envolvimento e comprometimento podem ser maduros ou então apenas sinais
de uma necessidade pessoal de ser aceito e receber aprovação dos outros
(1974a).
Freudenberger diferencia 3 tipos de pessoas propensas ao burnout: 1) o
excessivamente comprometido; 2) o autoritário; 3) o administrador. O primeiro é
aquele usa a clínica como substituto para sua vida pessoal: todas as suas
gratificações na vida são provenientes da instituição, e até no seu tempo livre ele
vai até ela. Sua identificação com a instituição é tão grande que qualquer ataque
a sua pessoa é um ataque à instituição e vice-versa. O segundo tipo é o que
necessita estar sempre no controle e acredita que ninguém pode fazer o trabalho
tão bem quanto ele. O terceiro tipo é o administrador que não sabe delegar.
Ao abordar a psicologia dos cuidadores de crianças (1977),
Freudenberger aponta que eles próprios podem ter vindo da rua ou de lares
desestruturados, o que faz com que sua motivação seja “muito forte para ajudar
companheiros sofredores que vieram do mesmo lugar que eles vieram”51 (1977,
p.91). O cuidador que veio da rua pode estar se identificando com a criança que
50 “Our own needs and wants are usually secondary. Theirs are primary”. 51 “Their motivation may be very strong to help fellow sufferers who have come from the same
place they did”.
68
ajuda, através de suas próprias experiências e problemas pessoais não
resolvidos (1977, p. 92).52
Essa sentimentos são vistos por Freudenberger como transferência
(1974c) ou contra-transferência (1977). Ele os analisa também ao falar sobre o
aconselhamento terapêutico: o profissional pode transferir para o paciente o que
ele passou quando criança, ou o que ele gostaria que tivessem feito com ele
quando era criança (1974c). Ele pode chegar a dar seu telefone de casa,
encontrar o paciente no fim de semana, levá-lo a uma entrevista de emprego,
conseguir um apartamento para ele, etc. Uma relação de dependência entre os
dois pode se instaurar, e o profissional pode se sentir compelido a dar conta de
todos os problemas, e começar a se esgotar (burnout) (1974c).
3.6 Indivíduo, instituições, sociedade
Apesar desse foco no que chamamos de dinâmica intrapsíquica do
cuidador, Freudenberger estabeleceu uma relação entre o burnout e a luta
política e social mais ampla na qual situava a ação das clínicas grátis. Praticar o
aconselhamento psicológico, seja individualmente ou em grupo, “sem ser capaz
de efetuar mudança na comunidade ao redor pode ser uma tarefa frustrante. É
52 Essas reflexões podem estar relacionadas com a história de vida de Freudenberger, que
passou por momentos difíceis na rua durante sua infância, ao fugir da Alemanha nazista, passando por vários países até chegar em Nova York (Herbert J. Freudenberger, 1993, Gold Medal Award for life achievemet in the practice of psychology, 1999, Canter & Freudenberger, 2001). De fato há muitos elementos que apoiam essa ideia. O texto que menciona sua premiação em uma cerimônia na APA menciona que “ele fala de seu envolvimento com a psicologia e seu trabalho com pacientes e usuários de droga como uma maneira de dar de volta para as pessoas, quando ele mesmo frequentemente pensou que não iria sobreviver” (Gold Medal Award for life achievemet in the practice of psychology, 1999). Freudenberger continuou a se interessar por temas relacionados à infância e adolescência em situação de risco, perda e carência (Freudenberger & Torkelsen, 1984, Freudenberger & Gallagher, 1995) e relacionou diretamente seu interesse pelo tema com experiências pessoais em pelo menos duas ocasiões (Freudenberger & Richelson, 1980; Freudenberger & Gallagher, 1995).
69
como colocar um band-aid quando uma grande cirurgia é necessária”53 (1974c,
p. 85, metáfora que já havia sido utilizada em 1973b).
Fazer aconselhamento “é meramente tratar os sintomas da doença, em
vez de atacar as causas”54 (1974c, p.86). Por isso “precisamos nos preocupar
em tornar nossas instituições doentes mais saudáveis, assim como fazemos
mais saudáveis os indivíduos que vem até nós procurando ajuda”55 (1974c, p.86).
Qual a relação de tudo isso com o burnout? “sem colocar nossas energias
nessas direções [de transformação institucional e da comunidade] nunca haverá
terapeutas o suficiente. Tão rápido quanto os enviarmos, nós mesmos iremos
exauri-los [burn them out]”56 (1974c, p.86).
Outro momento em que podemos ver essa preocupação com aspectos
supra-individuais é na proposição da noção de Burn-Out funcional. Para
Freudenberger, o trabalho em grandes organizações pode se tornar fragmentado
e sem sentido, o trabalhador se encontrando em situação na qual não consegue
comunicação com as pessoas responsáveis pelas decisões na empresa. Nesse
caso, o trabalhador pode ser levado a um Burn-Out funcional, isto é, um Burn-
Out gerado pelo sistema (Freudenberger & Richelson, 1980, p.164). As
condições de trabalho o levam a examinar um caso de Burn-Out grupal, em que
toda uma equipe de sete pessoas trabalha intensamente para um candidato a
governador, que após usar os resultados desse trabalho de forma oportuna para
53 “without being able to effect change in the immediate surrounding community, can be a
frustrating task indeed. It is like doing band-aid treatment when major surgery is called for”. 54 “merely to counsel is merely to attend to the symptoms of the disease, rather than tackle the
causes of the disease”. 55 “We need to be as much concerned with making our sick institutions healthier, as with making
individuals, who come to us for help, healthier”. 56 “But without putting our energies in those directions, there will never be enough counselors to
go around. As fast as we turn them out, we ourselves will burn them out”.
70
ser eleito, passa a ignorar o projeto depois de chegar ao poder (Freudenberger
& Richelson, 1980, p.172).
Prosseguindo na perspectiva de um questionamento mais amplo da
sociedade, Freudenberger afirma: “Por que, enquanto nação, nós parecemos
estar coletivamente e individualmente na trilha de um fenômeno de rápida
disseminação – o burn-out?”57 (1980, p.3). Em outro momento, vemos que a
metáfora é relacionada a uma preocupação ecológica, levando em conta um
burn-out do mundo: “um burn-out da energia e dos recursos do planeta”58
(Freudenberger & Richelson, 1980, p. 200)59.
3.7 Um conceito em movimento
Freudenberger continuou a mencionar o burnout em artigos posteriores
que não possuíam o foco nesse tema (Freudenberger & Torkelsen, 1984,
Freudenberger, Freedheim & Kurtz, 1989, Freudenberger, 1990, 1993), porém
são nos livros de 1980 e 1986 que ele faz suas contribuições teóricas de maior
fôlego, após os artigos pioneiros nos anos 1970.
Esses dois livros são caracterizados pelo grande número de histórias
clínicas, pelo estilo de literatura de auto-ajuda, e pela interação frequente com o
leitor, como 1) a escala de Burn-Out (Freudenberger & Richelson, 1980, p.17);
2) um exercício de reflexão e auto-conhecimento voltado para descobrir
57 “Why, as a nation, do we seem, both collectively and individually, to be in the throes of a fast-
spreading phenomenon – burn-out?”. 58 “Burn-Out of the planet’s energy and resources”. 59 Esse aspecto do pensamento de Freudenberger foi retomado mais recentemente por Chabot
(2013): “o burn-out é uma doença de civilização. Nós esgotamos a terra” (p. 13). “O burn-out é o espelho da sociedade que o torna possível” (p.62). No original: “Le burn-out est une maladie de civilisation. Nous épuisons la terre” (p.13). “Le burn-out est le miroir de la société qui le rend possible” (p.62).
71
mensagens e defesas infantis (1980, p. 30-32) e 3) um checklist para prevenção
e recuperação do burnout (Freudenberger & North, 1986, p. 232).
Em “Burn-Out: the high cost of high achievement”, lemos a seguinte
definição do fenômeno: “Esgotar-se. Exaurir os próprios recursos físicos e
mentais. Desgastar-se lutando excessivamente para alcançar alguma
expectativa irrealista imposta por si mesmo ou pelos valores da sociedade”60
(Freudenberger & Richelson, 1980, p.16). Uma definição que não só não usa a
palavra síndrome, como não fornece uma lista de “sinais”. Também não há uma
relação necessária com o trabalho, e o exemplo utilizado algumas páginas após
a definição é um Burn-Out de um casamento.
O foco está no aspecto energético do esgotamento e na forma como ele
acontece, ou seja, na dinâmica que leva à exaustão. Essa dinâmica é descrita
como o conflito entre uma imagem idealizada de si mesmo e uma imagem real,
imperfeita, que é negada. O Burn-Out é descrito principalmente como fruto dessa
negação, e a cura passa por um processo de tomada de consciência e
integração da parte negada. É surpreendente que Freud não seja citado
nenhuma vez, e que não haja o uso dos termos de “repressão” ou “recalque”.
Mais adiante, uma lista de “sintomas” (e não mais sinais) é fornecida:
exaustão, distanciamento, tédio e cinismo, impaciência e irritabilidade, senso de
onipotência, suspeita de não ser valorizado, paranoia, desorientação, queixas
psicossomáticas, depressão e negação de sentimentos. (Freudenberger &
Richelson, 1980, p. 62-67). Destes sintomas, é a negação que vai receber a
60 “To deplete oneself. To exhaust one’s physical and mental resources. To wear oneself out by
excessively striving to reach some unrealistic expectation imposed by oneself or by the values of society”.
72
análise mais detalhada, e fica claro que ela é pensada de maneira freudiana,
como um mecanismo de defesa que pode se tornar um dreno de energia, na
medida em que a negação é utilizada para manter uma falsa imagem, cuja
origem se encontra geralmente na infância e nas relações familiares.
Em “Women’s burnout” a definição de burnout confirma o foco no aspecto
energético como componente central do conceito e abrange de maneira mais
explícita diferentes contextos de aplicação: “é uma exaustão nascida de
demandas excessivas que podem ser auto impostas ou externamente impostas
por famílias, trabalhos, amigos, parceiros amorosos, sistemas de valores ou
sociedade, que esgotam a energia da pessoa”61 (Freudenberger & North, 1986,
p.9).
Se o processo de negação já tinha na prática uma importância maior que
os outros sintomas no livro de 1980, em 1986 ele vai ser alçado a mecanismo
central do burnout. “Se você acha que você está se exaurindo, você pode ter
certeza que você assumiu a postura de negação em áreas críticas da sua vida”62
(Freudenberger & North, 1986, p.10).
Os sintomas são apresentados agora como um ciclo de 12 estágios:
compulsão para provar, intensidade, privações sutis, rejeição de conflito e
necessidades, distorção de valores, negação intensificada, não-
comprometimento, mudanças comportamentais observáveis,
despersonalização, vazio, depressão e exaustão total. Comparando esses itens
com os “sinais” de 1974a, fica evidente o abandono dos aspectos mais
61 “It is an exhaustion born of excessive demands which may be self-imposed or externally
imposed by families, jobs, friends, lovers, value systems, or society, which deplete one’s energy”. 62 “If you think you’re burning out, you can be certain you’ve assumed the posture of denial in
critical areas of your life”.
73
psicossomáticos ou corporais, e uma elaboração maior dos aspectos mais
propriamente psicológicos.
O burnout aparece como um movimento de compensação, de resposta a
um momento de grande privação inicial. Ele é indiscriminado, já que “se alimenta
da inanição de qualquer tipo”63 (Freudenberger, 1986, p.146-147). Quando amor,
reconhecimento e aprovação não estiveram presentes, “eles deixam um vazio
faminto” 64 (1986, p.90) e a baixa autoestima impulsiona uma busca não realista
por excelência, reconhecimento e aprovação (1986, p.17).
Ao final deste percurso é possível se perguntar se o que Freudenberger
descreveu não é uma forma particular de neurose no sentido psicanalítico do
termo. Enquanto citar o artigo 1974a se tornou praticamente um procedimento
ritualístico a ser seguido, o Freudenberger psicanalista parece ter encontrado
somente o esquecimento.
63 “It feeds on starvation of any kind”. 64 “They leave a hungry void”.
74
Capítulo 4: Mensuração do burnout: a contribuição de Christina
Maslach
4.1 O percurso até a quantificação
Maslach e Leiter (2014) afirmam que cerca de 1000 artigos são publicados
por ano sobre algum aspecto do burnout. Esse alto número pode não ser tão
indicativo de diferenças conceituais quanto pode parecer à primeira vista. Como
observou Friberg (2009), uma mudança em especial parece ter sido
particularmente importante para o conceito: a criação de um instrumento de
mensuração por Christina Maslach.
Para Friberg (2009) o MBI (Maslach Burnout Inventory) legitimou
estatisticamente o fenômeno do burnout, fornecendo um valor e um lugar para o
fenômeno que ele não tinha antes de ser estudado quantitativamente. Ao final
da década de 1990 o MBI era utilizado dez vezes mais que outras medidas em
artigos e dissertações sobre burnout (Schaufeli & Enzmann, 1998), fazendo com
que seja possível afirmar que “praticamente falando, o conceito de burnout
coincide com o MBI, e vice-versa” (Schaufeli, Leiter & Maslach, 2009, p.211).
Assim, um estudo pormenorizado do trabalho de Christina Maslach é
imprescindível para compreender melhor aquilo que podemos qualificar como a
principal corrente de pesquisa sobre o burnout. Tentaremos averiguar por quais
operações e transformações o conceito passou ao entrar nessa nova fase de
sua vida e o quanto a concepção metafórica que lhe é inerente se manteve
importante para as discussões teóricas que se seguiram com o trabalho de
Maslach. Comparando a utilização do conceito por Maslach e por
Freudenberger, é importante notar quais aspectos foram abandonados, quais se
75
mantiveram e o que essas “escolhas” podem nos informar sobre a biografia do
objeto psicológico burnout.
No percurso de Freudenberger pudemos notar que o envolvimento com a
clínica psicanalítica e o compromisso com a transformação social vêm em
primeiro lugar e a produção do conhecimento está subordinada a essa atuação
no consultório e na Free Clinic. Christina Maslach, por outro lado, tem desde o
início a atuação de uma profissional da pesquisa acadêmica. Para ela, a
repercussão social da produção do conhecimento é extremamente importante,
mas é um momento segundo em relação à pesquisa fundamental, que segue
como o objetivo principal.
Seu primeiro artigo publicado é uma reprodução de um estudo de
psicologia experimental de laboratório, que conta com o apoio da Marinha dos
EUA e investiga a possibilidade de que sujeitos venham a acreditar nas falsas
confissões realizadas por eles mesmos (Maslach, 1971). Este estudo conta com
55 estudantes universitários de Stanford, testa uma hipótese e fornece um
tratamento estatístico dos dados – algo que jamais encontraríamos em
Freudenberger, cuja abordagem clínica e autobiográfica diverge
significativamente deste modelo de ciência.
Um desenho geral de pesquisa semelhante pode ser visto também nas
outras publicações de Maslach desse mesmo período, que envolvem temas
diferentes: 1) teste do uso da hipnose para modificar a perspectiva temporal
(Zimbardo, Marshall & Maslach, 1971) e a temperatura da pele (Maslach,
Marshall & Zimbardo, 1972); 2) pesquisa sobre individuação e desindividuação
– processos opostos nos quais uma pessoa procura se diferenciar de um grupo
76
ou se tornar indistinguível nele (Maslach, 1974); 3) influência que diferentes
níveis de riqueza de um doador e de obrigação ligada ao benefício têm na
atração que o beneficiário sente pelo doador (Gergen, Ellsworth, Maslach &
Seipel, 1975). Em todos esses casos temos a utilização de uma situação
experimental de laboratório, teste de hipótese e tratamento estatístico dos
dados.
Na primeira pesquisa de Maslach sobre o burn-out que pudemos acessar65
(Maslach & Pines, 1977), é possível observar uma mudança importante: a
situação estudada não é montada experimentalmente – trata-se de conhecer o
trabalho real de equipes de cuidadores em creches. Oitenta e três funcionários
de diferentes creches respondem a um questionário e alguns destes são também
entrevistados.
Os resultados podem ser resumidos em quatro itens: 1) quanto maior a
proporção equipe/crianças; 2) quanto menor a quantidade de horas de trabalho;
3) quanto maior a possibilidade de mudar de atividades; 4) quanto maior a
quantidade de reuniões de equipe, melhor os trabalhadores se sentem. Um
programa de atividades estruturado está correlacionado com trabalhadores que
sentem que possuem menos controle e gostam menos do seu trabalho,
enquanto um programa menos estruturado está correlacionado com
trabalhadores que têm sentimentos positivos em relação ao trabalho, mas se
sentem mais exaustos emocionalmente.
O burn-out é concebido como uma síndrome que se deve muito mais a
fatores situacionais do que à personalidade dos indivíduos. O mesmo modelo de
65 Não foi possível encontrar o primeiro texto, de 1976.
77
pesquisa com questionários é aplicado em seguida a 76 funcionários de
instituições de saúde mental, com resultados semelhantes (Pines & Maslach,
1978). Outra pesquisa do mesmo período confirma a ruptura com o laboratório,
realizando análise de conteúdo das entrevistas que fornecem ou não a liberdade
condicional aos presos no estado da California (Garber & Maslach, 1977).
Uma continuidade importante entre os estudos experimentais e os não-
experimentais é que a análise estatística de correlação de variáveis segue como
uma prática importante. Em um caso, os coeficientes de significância são
apresentados de uma maneira explícita (Garber & Maslach, 1977), e nos outros,
mesmo que não haja apresentação dos números, o leitor é assegurado de que
“todos os resultados apresentados são altamente significantes segundo testes
estatísticos padrão” (Maslach & Pines, 1977, p.107) e “todas as correlações
apresentadas aqui são estatisticamente significantes no nível p < .05 ou maior”
(Pines & Maslach, 1978, p.234).
Uma exceção, já que não segue essa mesma linha metodológica, é o
artigo em que Maslach (1978) realiza uma discussão teórica sobre o papel do
cliente na relação com a equipe e como esta relação pode conduzir ao burn-out.
Esse artigo se tornará mais tarde a base para um dos capítulos do livro Burnout:
the cost of caring (1982/2003).
A concepção do burn-out como uma síndrome é um elemento que estava
presente na produção de Freudenberger, ainda que de forma inconstante.
Primeiro porque a utilização da palavra “síndrome” parece restrita a alguns textos
(Freudenberger, 1973b, 1975) e segundo porque o foco acaba se deslocando
para a dinâmica psicanalítica do fenômeno, como vimos no capítulo anterior.
78
Maslach vai utilizar a definição do burnout como síndrome de maneira
mais sistemática e continuada, ao mesmo tempo em que modifica
significativamente as características descritas por Freudenberger. Enquanto
este havia descrito em detalhes alguns “sinais” físicos (Freudenberger, 1974a),
Maslach se limita a colocar de maneira mais geral uma “exaustão física (e as
vezes até doença)” (Maslach & Pines, 1977). Em lugar de irritação e raiva
(Freudenberger, 1974a), encontramos cinismo e percepção desumanizada; em
vez de paranoia e tomada de riscos desnecessários, encontramos absenteísmo,
abuso de álcool e drogas, conflito marital, e doença mental (Maslach & Pines,
1977).
É uma mudança significativa de vocabulário, que mostra uma
transformação do objeto psicológico em questão, mas que não é apresentada
como tal por Maslach. Pelo contrário, a autora vai citar Freudenberger como um
autor que contribui para o conhecimento da mesma síndrome de burn-out, ou
seja, há uma suposição de estabilidade do objeto ao qual ambos se referem,
ainda que não só as características tenham mudado como o próprio modo de
estudá-lo.
Para Freudenberger o número de sujeitos nunca foi uma questão, e a
fronteira entre aquilo que é autobiográfico e os casos clínicos tampouco era
rígida. O que está em jogo é principalmente a descrição da dinâmica psíquica
interna que leva ao burn-out a partir do encontro clínico e da singularidade das
histórias de cada sujeito, inclusive ele próprio. Esse raciocínio clínico é
substituído por uma pesquisa que busca estudar as variáveis que participam na
produção do burn-out em determinadas populações.
79
A diferença entre os dois modelos de pesquisa também se faz presente
quando examinamos como cada um deles concebe sua relação com a ação.
Para Freudenberger a ação terapêutica e a ação investigativa coincidem com a
prática clínica individual, enquanto que para Maslach existe uma separação
entre um momento primeiro de diagnóstico e de conhecimento, e um momento
segundo de transformação, que é concebida principalmente no nível da
organização e não no nível individual.
Vejamos como isso funciona no primeiro artigo a tratar de maneira
concreta da aplicação das pesquisas. Pines e Maslach (1980) afirmam: “nós nos
enxergamos como pesquisadoras acadêmicas e agentes de transformação
social” (p.7). Em uma das creches estudadas pelas autoras (provavelmente
aquela mencionada em Maslach & Pines, 1977, p.111 como tendo realizado
mudanças estruturais) os resultados da pesquisa foram utilizados pela equipe da
creche para guiar um processo de mudança. A proporção equipe/crianças e a
estrutura de atividades foram os dois itens escolhidos para intervenção.
Antes da intervenção as crianças podiam chegar ou sair a qualquer hora
do dia na creche, bem como circular livremente por todas as salas da creche e
escolher qualquer brinquedo que quisessem. Após a intervenção, foram
estabelecidos períodos com horários específicos para a estadia na creche e
foram criadas mais salas através de uma divisão do espaço disponível, sendo
fixadas salas específicas para determinadas faixas etárias e horários específicos
para algumas brincadeiras. A creche passou de um modelo em que todos os
cuidadores eram responsáveis por todas as crianças para outro em que houve
uma divisão por salas e horários, medidas estas que elevaram a proporção
equipe/crianças.
80
A partir dessa experiência podemos concluir que, para as autoras, o papel
da pesquisa é produzir o conhecimento necessário para transformar a situação,
primeiro identificando os fatores que produzem o burnout em geral, depois, de
posse desse conhecimento, utilizando questionários para verificar como esses
fatores se comportam na situação específica investigada, para então intervir nos
pontos identificados como problemáticos. Tal como na afirmação de Auguste
Comte: “Ciência, daí previdência; previdência, daí ação” (1983, p.23). A postura
de Maslach pode ser entendida como positivista66, na medida em que coloca o
saber em uma posição primeira em relação à ação, o que é uma diferença
importante na comparação com uma concepção clínica, pelo menos quando esta
é concebida como estando implicada de saída em uma ação de transformação
que é produtora de conhecimento.
A criação de um instrumento de mensuração do burnout (Maslach &
Jackson, 1981) aparece então como um passo coerente na direção tomada
anteriormente de privilegiar um estudo de correlação de variáveis. Várias frases
representando as atitudes e sentimentos de um trabalhador sofrendo de burnout
(mas também algumas frases “positivas”) foram criadas a partir de entrevistas e
questionários preliminares. Alguns exemplos: “Sinto-me emocionalmente
exausto com meu trabalho”; “tornei-me mais insensível com outras pessoas
desde que iniciei este trabalho”; “sinto que estou influenciando positivamente a
vida de outras pessoas através do meu trabalho”67 (Maslach & Jackson, 1981,
p.102-103).
66 Seguimos aqui a caracterização do positivismo fornecida por Yves Clot, em curso dado no CNAM 2014/2015. 67 “I feel emotionally drained from my work; I’ve become more callous toward people since I took
this job; I fell I’m positively influencing other people’s lives through my work”.
81
O respondente tem que marcar uma escala de frequência e de intensidade
para cada frase avaliada. A frequência pode ser “Nunca” se o respondente não
apresenta jamais o sentimento ou atitude descrita, ou variar de um a seis, em
caso positivo: (1) algumas vezes no ano; (2) mensalmente; (3) algumas vezes
por mês; (4) toda semana; (5) algumas vezes por semana; (6) todo dia. A escala
de intensidade também apresenta a opção “Nunca”, seguida de seis opções para
uma resposta afirmativa, variando de (1) muito suave, quase imperceptível até
(6) muito forte.
Uma versão do teste com 47 itens é administrada em 605 pessoas
provenientes de diferentes profissões (policiais, professores, enfermeiras,
psiquiatras, psicólogos, advogados, etc.). Em seguida, uma versão com 25 itens
é aplicada a outro grupo de 420 pessoas e, como os resultados foram
semelhantes, é realizada uma análise fatorial das duas amostras em conjunto.
Três fatores emergiram com suficiente consistência desta análise, levando a um
conceito em 3 partes, que difere significativamente da variedade de sinais e da
dinâmica psíquica que encontrávamos em Freudenberger. Agora a síndrome de
burnout tem três componentes: exaustão emocional; atitudes cínicas e
negativas; avaliação negativa de si mesmo. Um pouco mais adiante nesse
mesmo artigo (Maslach & Jackson, 1981), os três componentes são formulados
assim: exaustão emocional, despersonalização (em vez de “atitudes cínicas e
negativas”) e realização pessoal (no lugar de “avaliação negativa de si mesmo”).
O leitor atento perceberá que a mensuração do conceito é concebida
como uma etapa superior aos modos de pesquisa anteriormente utilizados: “a
pesquisa inicial nessa área foi muito exploratória, se baseando fortemente em
entrevistas, questionários, e observações” (Maslach & Jackson, 1981, p.100).
82
Um instrumento padronizado de mensuração é visto como “uma necessidade
crítica para qualquer pesquisa sobre o burnout” (Maslach & Jackson, 1985,
p.839).
Esse instrumento é o MBI (Maslach Burnout Inventory), que vai permitir
uma verdadeira avalanche de pesquisas na direção da correlação de variáveis e
se tornará o instrumento mais utilizado para o estudo do Burnout. A relação entre
burnout e gênero (Maslach & Jackson, 1985), burnout e satisfação no trabalho,
burnout e autoconceito (Maslach & Florian, 1988), burnout e conflito de papéis,
comprometimento organizacional e contatos interpessoais (Leiter & Maslach,
1988) são alguns exemplos.
4.2 Contando a história
Maslach e Schaufeli declaram que o manuscrito sobre o desenvolvimento
do MBI foi recusado por alguns editores “com uma curta nota dizendo que ele [o
manuscrito] não havia sequer sido lido ‘porque nós não publicamos psicologia
popular’”68 (1993, p.5). No entanto, alguns anos depois o burnout em sua versão
mensurável já havia conquistado um lugar sólido e mesmo de destaque na
produção acadêmica, chegando a um ponto de maturidade em que é possível
olhar para trás e contar sua história. É isso o que fazem Maslach e Schaufeli
(1993), em um texto importante onde os autores propõem uma maneira de contar
o percurso da pesquisa sobre o burnout, dividindo-o em dois grandes momentos:
a fase pioneira e a fase empírica.
68 “With a short note that it had not even been read ‘because we don’t publish ‘pop’ psychology’”.
Acerca da abordagem de conceitos oriundos da “pop psychology”, ver reflexão de Jerome Bruner sobre conceito próximo, a “folk psychology”, no capítulo “A psicologia popular como um instrumento da cultura” (Bruner, 1997).
83
Na fase pioneira Freudenberger e Maslach são apresentados como
aqueles que identificaram e nomearam o burnout de maneira independente e
simultânea. A palavra “identificaram” é importante aqui, porque estabelece que
se trata de um mesmo fenômeno, que não só coincidiria entre Freudenberger e
Maslach, como já estaria presente e descrito em textos mais antigos.
O caráter “universal” e “atemporal” do burnout é sugerido com a ajuda de
uma leitura retrospectiva de romances de autores consagrados como
“Buddenbrooks” (1922) de Thomas Mann e “A burnt-out case” (1960) de Graham
Greene, bem como um estudo de caso de uma enfermeira publicado em 1953.
O prestígio da literatura e a diferença temporal entre esses exemplos e os
trabalhos em questão situados na década de 1970 fornecem uma áurea de
legitimação e unidade para o fenômeno - todos estariam falando de uma mesma
realidade.
Em seguida, os autores reconhecem como características da literatura
inicial sobre o burnout: 1) a definição mesma do fenômeno varia bastante de um
autor para outro; 2) o escopo de aplicação do conceito é tão grande que ele veio
a significar tudo e nada ao mesmo tempo. Essas características são
apresentadas como superadas e pertencentes ao passado, quando na verdade
elas continuam a rondar o conceito até hoje. No lugar de uma discussão que
incluiria a legitimidade de pontos de vistas radicalmente diferentes, seria a
negação da diferença uma estratégia político-pragmática que tentaria atuar
como profecia auto-realizadora para a criação de um consenso não existente?
A terceira característica da fase pioneira apontada por Maslach e
Schaufeli (1993) é talvez a mais reveladora da posição epistemológica dos
84
autores. A literatura da fase pioneira é apontada como sendo, em sua maioria,
“não-empírica”69 (Maslach & Schaufeli, 1993, p.4). A revisão de literatura citada
por Maslach e Schaufeli para embasar essa afirmação é a de Pearlman e
Hartman (1982). Estes autores analisam as publicações sobre o burnout entre
1974 e 1980, classificando-as em: a) descrições, baseadas apenas na
experiência pessoal do autor; b) narrativa, baseada em dados coletados
sistematicamente; c) apresentações estatísticas baseadas em dados coletados
sistematicamente. Dos 48 trabalhos examinados, apenas 5 ofereceram análises
estatísticas, o que é traduzido por Maslach e Schaufeli como “apenas 5 trabalhos
tinham quaisquer dados empíricos que vão além de uma anedota ocasional ou
história de caso pessoal”70 (Maslach & Schaufeli, 1993, p.4).
Essa afirmação é surpreendente por dois motivos: primeiro, porque
sugere de forma apressada que o trabalho estatístico seria a única forma de
realizar um estudo empírico rigoroso; segundo porque elimina completamente a
categoria intermediária (b) proposta no artigo original de Pearlman e Hartman
(1982), e utilizada por eles para classificar os artigos da própria Maslach! Tão
questionável quanto a oposição simplista feita por Maslach e Schaufeli entre
estatística e anedotas/histórias pessoais é classificação realizada por Pearlman
e Hartman de todos os artigos de Freudenberger publicados até aquele momento
como “descritivos”. A mensagem parece suficientemente clara: a história clínica
pessoal de Freudenberger não é empírica; dados coletados com um instrumento
de mensuração padronizado são empíricos. Hipóteses clínicas sobre as causas
do burnout não merecem sequer serem reconhecidas como existentes; apenas
69 “nonempirical” 70 “Only five of these articles had (i.e. 10%) had any empirical data beyond an occasional anecdote
or personal case history”.
85
trabalhos estatísticos podem oferecer relações causais que vão além de meras
descrições. Não estamos longe de uma desqualificação da clínica como
produtora legítima de conhecimento científico.
O texto em questão (Maslach & Schaufeli, 1993) prossegue identificando
uma tensão entre dois grupos interessados no tema do burnout, com
profissionais de um lado e acadêmicos do outro. Os primeiros estariam
implicados em intervenções e teriam pouca paciência com o lento
desenvolvimento da pesquisa, enquanto os acadêmicos, por sua vez, torceriam
o nariz diante de um tema identificado como uma moda pseudocientífica. O
caminho trilhado por Maslach parece ser o de explicar aos profissionais que a
prática não é detentora de verdade, mas a lenta acumulação de dados
estatísticos sim.
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) escrevem um artigo de revisão
importante, no qual a divisão entre fase pioneira e empírica, que apareceu em
Maslach e Schaufeli (1993) continua como o modo escolhido de contar a história
da pesquisa sobre o burnout. “Os artigos iniciais apareceram nos Estados
Unidos na metade dos anos 1970 e sua contribuição primária foi descrever o
fenômeno básico, fornecê-lo um nome e mostrar que ele não era uma resposta
incomum”71 (Maslach, Schaufeli & Leiter, 2001, p.399). Essa descrição do
passado se repete em linhas gerais em Schaufeli e Buunk (2003) que continuam
a relegar Freudenberger ao plano da mera descrição, sem nenhuma explicação.
71 “The initial articles appeared in the mid-1970s in the United States and their primary contribution
was to describe the basic phenomenon, give it a name, and show that it was not an uncommon response”.
86
4.3 Reformulando o conceito
Em 1997 há uma mudança importante no conceito de burnout quando
Maslach e Leiter (1997) fazem a proposição de um continuum burnout-
comprometimento. O comprometimento é definido como o contrário das 3
dimensões do burnout: alta energia (no lugar de exaustão), envolvimento (no
lugar de despersonalização) e eficácia (no lugar de sentimento de realização
reduzido). A ênfase de Maslach em fatores organizacionais vai ser sistematizada
na proposição de 6 áreas de discordância entre pessoa e trabalho: sobrecarga
de trabalho, falta de controle, recompensa insuficiente, perda de comunidade,
ausência de equidade, conflito de valores.
Como um artigo importante que dá notícia dessa mudança, o texto de
Maslach e Goldberg (1998) contém muitas indicações interessantes sobre o
modo como Maslach posiciona sua pesquisa no contexto maior do histórico da
pesquisa sobre o burnout, e que confirmam algumas observações feitas
anteriormente.
Primeiro, aquilo que identificamos como uma ruptura significativa entre
Freudenberger e Maslach continua a ser visto como um momento de acordo
sobre um mesmo objeto. Após uma citação em que os trabalhos fundadores de
ambos são citados lado a lado, Maslach escreve: “o retrato do burnout que foi
pintado então [nos anos 70] não mudou muito nos anos seguintes” (Maslach &
Goldberg, 1998, p.63). O desacordo conceitual sobre a definição do burnout é
novamente comentado como um aspecto do passado, já superado, e as
dimensões do MBI são apresentadas como um consenso não problemático.
87
A naturalização dos 3 componentes propostos pelo MBI é flagrante na
frase: “a medida que desenvolvemos, o Maslach Burnout Inventory (MBI), foi a
única a avaliar todos os 3 componentes do burnout, e é agora a ferramenta
padrão para toda pesquisa nesse campo”72 (Maslach & Goldberg, 1998, p.65). É
como se os 3 componentes do burnout fossem “aquilo que o burnout realmente
é”, para além dos instrumentos possíveis de mensuração, e o MBI apresentasse
a solução mais completa por avaliá-los todos. Na verdade a concepção do
burnout como possuindo 3 componentes é uma invenção do MBI, o que torna
óbvio o porquê dele ser o único a avaliar todos eles.
Trabalhos de correlação estatística de variáveis são apresentados como
“pesquisa empírica sistemática”, enquanto que outras formas de pesquisa são
apontadas como “descritivas” (Maslach & Goldberg, 1998, p.64). Mensurar o
burnout “é necessário para determinar se qualquer estratégia foi efetiva na
prevenção ou redução”73 (Maslasch & Goldberg, 1998, p. 66). A prevenção do
burnout é pensada nos mesmos moldes em que a saúde pública pensa a
prevenção de outras doenças.
A busca pelas variáveis que permitem prever o fenômeno segue agora
dentro da nova teoria do continuum, com os instrumentos MBI-GS (Maslach
Burnout Inventory – General Scale) e AWS (Areas of Worklife Scale). Eles são
utilizados para obter medidas dos três componentes do continuum burnout-
engajamento e das seis áreas da vida no trabalho, e assim tentar prever a
72 “The measure we developed, the Maslach Burnout Inventory (MBI), was the only one to assess
all three components of burnout, and it is now the standard tool for all research in this field”. 73 “A means of measuring levels of burnout is necessary to determine if any strategy has been
effective in preventing or reducing it”.
88
presença futura de um burnout (Maslach & Leiter, 2008) ou a intenção de
enfermeiras em deixar o trabalho (Leiter & Maslach, 2009).
Em um artigo escrito para o grande público, Maslach e Leiter (1999)
incentivam os trabalhadores e mudarem seu ambiente de trabalho e oferecem
as seis áreas como guias para a transformação. “Assim como cadeiras, teclados
e telefones são constantemente redesenhados para prevenir lesões e
incapacidades, os aspectos psicológicos e sociais do trabalho também podem
ser modificados para prevenir o burnout”74.
A utilização das seis categorias da vida no trabalho consiste na aplicação
de questionários em que os funcionários podem se exprimir (de um modo geral,
dentro das possibilidades pré-estabelecidas pela teoria). De posse do
diagnóstico, transformações podem ser realizadas nas áreas em que problemas
foram detectados. Depois é possível fazer uma nova pesquisa de questionários
para avaliar a mudança (Maslach & Leiter, 2005).
Esse processo, nomeado de “checkup organizacional”, tem sua
concepção e papel descritos assim:
embora nós tenhamos desenvolvido originalmente o processo de
checkup organizacional para garantir amostras de alta qualidade
para nossa pesquisa, nós descobrimos que ele pode se tornar um
processo contínuo e valioso de autoavaliação para as organizações
(...) A lição aqui é que métodos e ferramentas desenvolvidos para
pesquisa podem ter uma segunda função, uso prático no ambiente
74 “Just as chairs, keyboards and telephones are constantly redesigned to prevent injuries and
disability, so can the social and psychological aspects of work be modified to prevent burnout”.
89
de trabalho – e nós recomendaríamos que pesquisadores possam
fornecer uma função social válida ao colaborar ativamente com
profissionais para atingir esses benefícios adicionais. Isso é uma
forma diferente de pesquisa ‘aplicada’, e seu valor deve ser
reconhecido e encorajado na academia75 (Maslach, Leiter &
Jackson, 2012, p.297-298)
A proposta do continuum burnout-comprometimento foi apresentada
como aquilo que poderia servir de linguagem em comum entre pesquisadores e
praticantes (Maslach & Goldberg, 1998), resolvendo o hiato entre pesquisa e
aplicação diagnosticado em Maslach e Schaufeli (1993). No entanto, o que a
citação do parágrafo anterior mostra é que a divisão pesquisa/aplicação continua
a servir de referencial. A pesquisa fundamental segue como objetivo primeiro,
mesmo que ela possa gerar “benefícios adicionais” concomitantes, o que mostra
que continuamos dentro de um quadro de referência positivista.76
Por fim, após a proposição das seis áreas de discordância pessoa –
trabalho, ainda faz sentido pensar o burnout em termos de síndrome? Se a
metáfora da síndrome perdeu força no trabalho de Freudenberger à medida que
este avançava em uma psicanálise do indivíduo que sofre de burnout, algo
semelhante acontece aqui, ainda que em outra direção. A metáfora da síndrome
75 “Although we originally developed the organizational checkup process to ensure high quality
samples for our research, we have found that it can become a valuable, ongoing self-assessment process for organizations (…) The lesson here is that the methods and tools developed for research may have a second, practical use within the workplace—and we would recommend that researchers could provide. a valuable social function by actively collaborating with practitioners to achieve these additional benefits. This is a different form of ‘applied’ research, and its value should be recognized, and encouraged, within the academy”. 76 Danziger (2010) e Vigotski (1999) escreveram sobre o papel protagonista da psicologia
aplicada, o que inverte a lógica pesquisa básica aplicação.
90
perde importância no percurso de Maslach à medida que ela avança na análise
da relação da pessoa com o trabalho como a fonte principal do burnout.
No livro “The truth about burnout: how organizations cause personal stress
and what to do about it” (Maslach & Leiter, 1997) a palavra síndrome só aparece
duas vezes, e em ambas as ocasiões se trata de negar sua pertinência para falar
do fenômeno. “Não é um defeito de personalidade ou uma síndrome clínica. É
um problema ocupacional”77 (Maslach & Leiter, 1997, p.34). Não há explicações
sobre o que seria uma síndrome não clínica. “O MBI avalia o burnout como o
resultado de problemas no trabalho, e não como uma síndrome psiquiátrica”78
(Maslach & Leiter, 1997, p.156). Mas como o MBI seria capaz de avaliar o
burnout como o “resultado de problemas no trabalho” se ele mede componentes
relativos ao indivíduo? Em outro texto, ao responder à pergunta “o que é o
burnout?”, Leiter e Maslach (2001) não escolheram dizer “uma síndrome”, mas
sim “uma relação não produtiva com o trabalho” (p. 49).
Essas dúvidas quanto à pertinência de pensar o burnout enquanto
síndrome também se fazem presentes em um texto mais recente. Leiter e
Maslach (2014) lamentam o fato de que as intervenções sobre o burnout tem se
focalizado no indivíduo, apesar da literatura sugerir que as intervenções no
contexto de trabalho são provavelmente mais efetivas. Uma das razões para isso
pode estar “no fato de que o burnout tem sido definido e descrito em termos de
uma experiência individual (exaustão, cinismo, ineficácia)”79 (Leiter & Maslach,
2014, p. 154).
77 “It is not a personality defect or a clinical syndrome. It is an occupational problem”. 78 “The MBI assesses burnout as the result of problems at work, not as a psychiatric syndrome”. 79 “In the fact that burnout has been defined and described in terms of the individual experience
(exhaustion, cynicism, inefficacy)”.
91
Capítulo 5: Conclusão
Tendo em vista o esforço de análise do burnout nos dois últimos capítulos,
a partir das formulações de Freudenberger e Maslach, passamos presentemente
às conclusões gerais que podemos tirar a partir desse estudo histórico do
conceito (item 5.1), da palavra (5.2) e da metáfora (5.3) do burnout em
Psicologia. No item 5.4 retomamos o percurso da tese como um todo e
apresentamos algumas perspectivas de desenvolvimento a partir do que foi
realizado.
5.1 O conceito
Demonstramos que as modificações no conceito são múltiplas dentro do
percurso de cada autor e também na comparação entre um autor e outro.
Freudenberger passa de uma lista de sinais em que aspectos psicossomáticos
eram bastante importantes para um ciclo de doze estágios com ênfase na
dinâmica psicológica. Maslach passa de três componentes para o continuum
burnout-comprometimento, que promove uma ênfase positiva na produção de
comprometimento em vez de apenas um combate do burnout.
O contexto de aplicação do burnout e as fronteiras do conceito também
têm sido bastante modificados conforme a época e o autor. Se inicialmente o
burnout apareceu como uma questão restrita aos trabalhadores das Free Clinics,
logo ele amplia seu espectro de utilização e passa a ser utilizado para falar do
trabalho de professores, policiais, assistentes sociais. Freudenberger aplicou o
conceito a casamentos e relacionamentos, a grupos, sociedade e mesmo ao
planeta terra (um burnout dos recursos naturais decorrente da exploração
desenfreada promovida pela civilização humana). Maslach criou escalas
92
específicas para serviços de saúde e para contexto educacional, antes de fazer
uma versão do MBI de interesse geral, aplicável para qualquer trabalho.
Assim, consideramos que a constatada dificuldade de delimitar o burnout
com precisão corrobora a importância do raciocínio por analogias invocado no
capítulo 2, isto é, começando de casos considerados mais típicos, como o dos
profissionais de saúde e educação, o burnout passa a ser uma possibilidade para
toda e qualquer profissão, podendo inclusive ser aplicado fora do âmbito do
trabalho. Nesse sentido, o processo histórico-conceitual aqui resumido ilustra
bem os dois polos de risco aos quais estão submetidos os conceitos em sua
“vida útil”: ou bem estreitam seu campo de aplicação, e perdem o esperado poder
de abrangência (conceitos são, por definição, categorias que abarcam certa
gama da diversidade, organizando o mundo fenomênico ao recortá-lo de alguma
maneira); ou bem crescem excessivamente, passando a serem utilizados para
tal diversidade de propósitos e abarcando tantos contextos e casos que se
diluem e não aportam mais nenhuma ajuda para a descrição dos fenômenos
inicialmente visados (cf. Koppe, 201280).
Koppe (2012) chama a atenção para este último aspecto do fenômeno, o
risco de “inchaço” conceitual em diversos domínios, inclusive na Psicologia;
neste domínio, o referido autor cita, ilustrativamente, o caso de hipertrofia do
conceito de stress (bastante próximo, aliás, do conceito de burnout), que teria
atingido o “vazio teórico e conceitual” por conta da ampliação de abrangência
pela qual passou – chegando inclusive a transbordar do contexto acadêmico de
uso para a “psicologia leiga”, senso comum ou “folk psychology” (cf. Bruner, 1997
80 “(...) [the concept has been] used in so many contexts and exploited for so many different
purposes that it in itself no longer means anything” (Koppe, 2012, pg. 15).
93
e Gutman, 2010, que tece alguns comentários sobre o intercâmbio entre
terminologia técnica e leiga no caso das classificações psiquiátricas e do
burnout).
As transformações constantes do conteúdo e do âmbito de aplicação do
objeto psicológico burnout configuram um campo complexo de discursos e
ações. Sua história mostra um campo de conflito entre origens conceituais
diferentes: o burnout de Freudenberger é fruto da clínica psicanalítica, o de
Maslach, da pesquisa com questionários e entrevistas. A batalha pela
significação do burnout carrega em si o modo como cada um investe um campo
de prática: o conceito está sempre ancorado em uma ação no mundo.
5.2 A palavra
Ao observar a evolução da ortografia da palavra no trabalho de
Freudenberger e de Maslach ao longo dos anos, podemos ver variações que
ajudam a contar a história do desenvolvimento do conceito. É preciso levar em
consideração que os quadros que se seguem apresentam indicações de datas
que só podem ser aproximativas, uma vez que não obtivemos acesso a todas as
publicações, e mesmo o uso dentro de um mesmo artigo pode apresentar por
vezes pequenas variações. No entanto, de um modo geral, é possível discernir
as seguintes modificações:
Quadro 1
Evolução da ortografia da palavra na obra de Herbert J. Freudenberger
Ano Ortografia
1973b burnt out 1974a burn-out / burn out 1980 Burn-Out 1984 burnout
94
Quadro 2
Evolução da ortografia da palavra na obra de Christina Maslach
Ano Ortografia
1976 burned-out 1977 burn-out 1978 burnout
No caso de Freudenberger, a primeira utilização apresenta um “t” na grafia
do “burnt out” que deixa claro que se trata do verbo conjugado no passado (burnt
é uma variação de burned). A perda do “t” apaga essa referência à conjugação
no passado, trazendo o verbo para o presente: “burn”. A utilização das iniciais
maiúsculas no livro de 1980 parece ser uma maneira de conferir um destaque
para a expressão, mostrando que ela adquiriu um estatuto diferente do uso
corriqueiro. Por fim, ocorre a supressão do hífen, transformando a expressão em
uma só palavra. O percurso da palavra nas mãos de Maslach é semelhante, já
que começa com a conjugação no passado “burned-out”, passa pela conjugação
no presente “burn-out” e termina com a supressão do hífen, chegando ao mesmo
resultado final que Freudenberger, embora bem mais cedo que ele, já em 1978.
Uma interpretação possível para esse percurso é que o burnout foi em
primeiro lugar um verbo e só posteriormente passou a ser usado de forma mais
consistente como substantivo. É possível que a passagem do burnout de uma
metáfora no contexto das Free Clinics para uma síndrome esteja ligada ao
processo de habituação à utilização dessa expressão como um substantivo e
não um verbo. A perda do hífen pode ser vista como uma modificação que auxilia
este processo de substantivação, uma forma a abreviar e facilitar a escrita
conforme o uso da expressão foi se tornando mais frequente.
Essa tensão entre verbo e substantivo parece corresponder à discussão
teórica entre compreender burnout como um processo ou como um estado
95
(Schaufeli & Enzmann, 1998; Schaufeli & Buunk, 2003). Existe um dilema entre
considerar o burnout algo que se faz, um processo no qual se está implicado
pessoalmente, ou algo que se tem, como uma doença.
5.3 As metáforas
Identificamos duas metáforas principais que regem o conceito: o burnout
como uma síndrome e o homem como sistema de energia. Quando comparamos
a presença destas metáforas com as variações conceituais sofridas, o que
chama a atenção é o quanto elas são mais estáveis que as definições e os
componentes do burnout. Ainda que a síndrome seja concebida de maneira
diferente ou que a exaustão tenha outro significado e causa principal, é através
do arcabouço metafórico compartilhado que podemos identificar uma
continuidade entre Freudenberger e Maslach.
Ao menos quando formuladas no nível de generalidade que fizemos
acima, essas metáforas parecem fornecer o que há de mais consistente no
objeto psicológico burnout. Elas permanecem como dois fios condutores que
ligam não só diferentes formulações do conceito dentro do percurso de cada
autor, como fazem a ponte entre Freudenberger e Maslach. É somente quando
descemos aos detalhes de suas definições específicas e, principalmente, aos
modos de investigação e intervenção que as filosofias da ciência subjacentes
aparecem com todas suas disparidades.
No entanto, as duas metáforas identificadas não possuem o mesmo
estatuto. A primeira (o burnout como síndrome) parece bem mais frágil e não
essencial, dado que Freudenberger logo deixa de usar a palavra “síndrome” e
propõe definições que prescindem do termo. Maslach também se afastou da
96
utilização do MBI para definir um diagnóstico médico ao propor o continuum
burnout-comprometimento e as seis áreas de relação pessoa-trabalho. No
entanto, ainda que enfraquecida pelo próprio movimento de pesquisa de ambos,
a metáfora nunca foi completamente deixada de lado nem por um autor nem pelo
outro. Freudenberger vai continuar a falar de ciclo de sintomas e Maslach
mantém a definição do burnout como uma síndrome psicológica.
A principal consequência dessas observações é que a metáfora da
síndrome encontra dificuldade de se justificar teoricamente e deveria ser
abandonada (Cf. Milan, 2007 e Bianchi, Schonfeld & Laurent, 2015 para outras
críticas ao burnout enquanto síndrome). Esta metáfora traz o burnout para o
âmbito do vocabulário médico sem que haja elementos para sustentar essa
aproximação, já que a importância da dinâmica intrapsíquica psicanalítica
estudada por Freudenberger ou os fatores da relação pessoa-trabalho
analisados por Maslach prescindem da noção de síndrome para afirmar o que
afirmam. Além disso, a metáfora da síndrome promete uma estabilidade de
sinais e sintomas nunca encontrada e tende a individualizar e medicalizar o
tratamento (através da psicoterapia e da administração de fármacos), mesmo
sem poder entregar um agente etiológico para um problema que é
reconhecidamente multifatorial e envolve tantos determinantes psicossociais.
Já a metáfora do homem enquanto sistema de energia parece responder
ao que há de mais fundamental para o conceito de burnout. Ela permanece
praticamente inalterada e podemos observar sua presença em vários momentos:
ganhar e perder, dar e receber, equilibrar e balancear, recarregar, reabastecer,
drenar, sugar, enfim toda essa série de operações constitui um vocabulário
central. Se houve diversos questionamentos sobre sinais e sintomas, ou sobre
97
os outros componentes do modelo em três fatores proposto por Maslach, não
parece haver dúvida entre os que acreditam que o burnout é um conceito útil de
que a exaustão é seu aspecto central, e ela é concebida, em geral, em termos
energéticos.
A metáfora energética parece ter especial ressonância por dois motivos:
1) por sua capacidade de dizer de um sofrimento que reclama nomeação,
reconhecimento e tratamento; 2) por fazê-lo em uma linguagem que é ao mesmo
tempo facilmente compreensível e aberta à significação, para que cada um
interprete colocando algo de si. Se é verdadeiro que a metáfora energética por
si só dificilmente justificaria a criação de uma nova categoria nosológica, é
preciso se perguntar efetivamente se o que está em jogo aqui não é outra coisa.
Em vez da identificação de uma nova doença que supostamente seria universal
e transhistórica, o burnout parece ser o porta-voz de um sofrimento. Aqui cabe
perguntar: será que esse sofrimento adquire a roupagem de objeto universal e
transhistórico porque essa é a única forma de legitimá-lo em uma concepção de
ciência que não valoriza objetos historicamente constituídos? Será que esse
sofrimento adquire a roupagem de síndrome porque essa é a única forma de
legitimá-lo perante uma sociedade que não confere ao sofrimento psicológico o
mesmo status do sofrimento com causas orgânicas? Nesse caso o papel de uma
ciência psicológica poderia ser o de afirmar que um sofrimento psicológico e
historicamente situado não é menos legítimo nem menos científico.
5.4. Considerações finais
O trabalho de elaboração e escrita desta tese foi longo, e o projeto passou
por mudanças importantes ao longo do percurso. No momento da redação dos
98
dois primeiros capítulos a tese possuía um viés mais forte na direção de um
trabalho teórico, e os conceitos eram vistos de forma mais abstrata. A
experiência de ministrar disciplinas de história da psicologia junto ao
Departamento de Psicologia da UFRN nos semestres 2013.2 e 2014.1, bem
como o contato com as fontes para a escrita dos capítulos três e quatro fez com
que o texto se tornasse mais voltado para aspectos históricos específicos. A
experiência do doutorado sanduíche no grupo de Psicologia do Trabalho e
Clínica da Atividade do CNAM (Conservatoire des Arts et Métiers) influenciou de
forma determinante a redação dos capítulos três e quatro, trazendo a
preocupação de fazer também uma análise das práticas de intervenção de cada
autor.
Todas essas mudanças implicam em um texto menos coerente do que
gostaríamos. Apesar dos esforços e modificações que fizemos com o intuito de
manter a unidade do conjunto, cada capítulo guarda certa independência e
reflete características do momento em que foi concebido e escrito. Essas
variações de tom não devem obscurecer totalmente a mensagem central, que é
o convite a estudar em profundidade determinados objetos psicológicos de
maneira histórica e linguageira.
Uma das principais dificuldades deste trabalho foi sustentar uma
abordagem que não pode ser encerrada nos limites de uma só disciplina,
localizando-se no cruzamento entre psicologia, história, filosofia e estudos sobre
a linguagem. Psicologia, pela escolha do tema (burnout), mas também por levar
em consideração a pesquisa em psicologia cognitiva sobre categorização (item
2.1) e situar a análise conceitual como uma das tarefas de uma psicologia teórica
e filosófica (cap. 1). História, por considerar a análise do tema dentro do
99
referencial de uma história dos objetos psicológicos (Danziger, item 2.3), por
conferir especial atenção ao momento de fundação do burnout, estudando-o
através de uma leitura atenta dos artigos concebidos como fontes primárias
(cap.3), e também por acompanhar a transformação do conceito e analisar
criticamente o modo como a sua história é contada por alguns dos seus
protagonistas (cap.4). Filosofia, por fundamentar o estudo em uma concepção
de linguagem e da sua importância para a análise dos conceitos e produção do
conhecimento (introdução), mas também por analisar as epistemologias
subjacentes às concepções de Freudenberger e Maslach (cap.3 e 4). Estudos
sobre a linguagem, pela importância conferida à metáfora enquanto processo
cognitivo (item 2.2) e análise da palavra (item 5.2).
Concebido como uma área de fronteira entre vários campos do
conhecimento, esse modo de análise poderia ser melhor desenvolvido através
da comparação de diferentes propostas, tais como a história dos conceitos de
Georges Canguilhem (Canguilhem, 2015), e de Reinhart Koselleck (Koselleck,
1992), a história das palavras de Louis Gernet (Gernet, 2001), a biografia de
objetos científicos (Daston, 2000), a história das ideias (Angenot, 2014), a
história linguageira de conceitos (Guilhaumou, 2006), para citar alguns
exemplos. Isso permitiria aprofundar aspectos relativos à fundamentação e à
metodologia para se estudar objetos epistêmicos de maneira transdisciplinar,
promovendo o diálogo entre diferentes saberes.
Uma revisão de literatura, por si só, concebida como uma tarefa anterior
à pesquisa empírica, dificilmente poderia levantar as questões que trouxemos à
tona, nem tampouco poderia investigar uma quantidade de referências tão
grande do momento de criação do conceito para avalia-lo como o fizemos. Os
100
resultados atingidos argumentam em favor da realização de trabalhos teóricos e
filosóficos em psicologia como uma forma de contribuição necessária e
inovadora, tal como procuramos defender no capítulo um.
No caso do burnout a principal contribuição da abordagem que realizamos
é desfazer o caráter reificador e naturalizante do conceito de burnout e de como
a história desse conceito é considerada, trazendo à tona pressupostos e
escolhas, contribuindo assim para se evidenciar o caráter de construção
metafórica do conceito. Friberg escreve: “como leitores da história do MBI no
campo da pesquisa sobre o burnout, nós somos inseridos imediatamente em um
mundo conceitual positivista”81 (2009, p.547).
Tomar o burnout como objeto de pesquisa ou intervenção sem uma
reflexão sobre o seu percurso e sem uma análise da sua constituição conduz à
aceitação de vários pressupostos questionáveis como fundamento de toda e
qualquer pesquisa sobre o assunto. Carlotto e Câmara (2008) afirmam em uma
revisão da literatura brasileira sobre o burnout: “Já há consenso entre a maioria
dos investigadores na comunidade científica internacional, com relação à
definição, avaliação e modelo teórico de Burnout, conforme o proposto por
Maslach e Jackson” (p. 156).
Levando em consideração que a grande maioria dos trabalhos publicados
sobre o tema no Brasil utiliza o conceito de Maslach (Vieira, 2010), entendemos
que esta tese é um convite para investigar o sofrimento psíquico no trabalho de
outras maneiras. Concordamos com Vieira (2010) quando este afirma que por
trás de uma impressão superficial de homogeneidade existe um intenso debate
81 “As a reader of the history of the MBI, within the field of burnout research, one is immediately
immersed in a positivistic conceptual world”.
101
científico, com perspectivas teóricas variadas. “O burnout não é um conceito
fechado, apesar de haver uma definição dominante” (Vieira, 2010, p. 274).
No entanto, mesmo esse debate corre o risco de acontecer dentro de um
leque de opções muito estreito. Depois de discutir quatro instrumentos que se
apresentam como alternativas ao MBI, Vieira (2010) coloca que os debatedores
parecem estar à procura da verdadeira natureza do burnout, da sua essência,
partilhando “um modelo científico da etiologia (...) fundamentado no princípio de
que as doenças existem por si só, independentemente de serem nomeadas” (p.
274).
O melhor antídoto contra a naturalização e reificação do burnout é o seu
estudo histórico e teórico: é significativo que uma história tão recente quanto a
da criação do burnout por Freudenberger esteja em tal estado de
desconhecimento. Isso permite supor que outros temas de pesquisa atuais
também tenham um passado a ser descoberto, e que é possível realizar
pesquisas semelhantes com outros objetos psicológicos, ajudando a
compreender sua formação e trajetória.
Nesse sentido, “a história da psicologia deve ser exercida não como
legitimação de nosso presente, mas sim como problematização do mesmo, na
medida em que ela chama a nossa atenção para elementos ausentes ou
esquecidos nas discussões atuais” (Araujo, 2012b, p. 52). A explicitação da
construção do burnout empreendida nessa tese pode servir como um estímulo
para que formulações teóricas alternativas sejam empreendidas, levando em
conta o exame crítico do conceito. A oposição entre Freudenberger e Maslach
102
não esgota o campo de possibilidades de conceituação e intervenção, mas pode
servir como parâmetro para discussão de outras propostas.
Dentre elas, o contato que tivemos com a Clínica da Atividade (CA) no
contexto do doutorado sanduíche nos faz pensar que esta é uma alternativa
especialmente relevante, por três motivos: 1) a abordagem de Freudenberger
pode ser descrita como sendo principalmente clínica e individual, e a abordagem
de Maslach como positivista e organizacional. Ao conjugar clínica e coletivo
(Clot, 2011), a CA aproxima dois termos que se mantiveram separados nos
trabalhos destes dois autores, explorando outra maneira de pensar a atuação na
Psicologia do Trabalho; 2) enquanto a ideia de diagnóstico clínico de síndrome
parece fechar as portas para as intervenções que privilegiam o coletivo,
individualizando e medicalizando a problemática, a CA caminha na direção
contrária, de recusa da nosologia, em prol de uma clínica das situações
concretas de trabalho (Clot, 2010b; Clot e Gollac, 2014); 3) mesmo não fazendo
uso da nosologia psiquiátrica, a CA apresenta outros referenciais para falar de
saúde no trabalho, especialmente a compreensão de que a saúde não é
ausência de doença, mas sim capacidade criativa, normatividade (Canguilhem,
2011).
Pensar a relação entre saúde e psicologia no trabalho envolve lidar com
diferentes formas de reconhecer e nomear o sofrimento, que levam a
consequências específicas. As metáforas e os pressupostos que utilizamos
podem guiar discussões, formatando o problema e sugerindo intervenções. Se
a metáfora da síndrome tem se mostrado questionável, fornecer metáforas
alternativas pode levar a psicologia do trabalho a lidar com aspectos menos
103
explorados da relação homem-trabalho, ajudando a desenvolver outras
concepções de saúde e formas de atuação.
O burnout se desenvolveu cedendo demais a uma determinada
concepção de ciência que supervaloriza a mensuração e a definição através de
instrumentos de avaliação, ao mesmo tempo em que discussões conceituais
necessárias foram deixadas de lado, como a discussão sobre a fragilidade da
metáfora da síndrome. Essa distorção dificilmente aconteceria sem uma cultura
de valorização do método e do “dado empírico” que fornece pouco apoio à
pesquisa teórica e filosófica. Atualmente, falar sobre o burnout é, na maioria das
vezes, não só abordar um tema de pesquisa, mas comprar junto toda uma
filosofia da ciência. Dissociar o burnout do MBI e do positivismo que o cerca
parece ser a condição fundamental para que haja uma real discussão sobre o
conceito. Evitar essa discussão e fingir que a mensuração pode responder a ela,
seja pela via da definição operacional, seja pela via do apelo ao fato de que um
instrumento é utilizado pela maioria dos pesquisadores é fechar os olhos para
problemas reais e construir em terreno instável.
Vygotski (1997), em seus estudos sobre a aprendizagem de conceitos na
infância, apontou que os significados das palavras se desenvolvem e que os
conceitos científicos, assim como os conceitos cotidianos, também se
desenvolvem. Um conceito não é uma formação rígida e imutável, mas um
processo vivo de pensamento que responde a situações e reflete a realidade de
diferentes maneiras segundo os problemas que procura resolver. Não há
nenhuma razão para imaginar que o desenvolvimento do burnout vá terminar
aqui.
104
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Apêndice B: Bibliografia Christina Maslach
Essa é uma seleção das publicações da autora sobre o burnout, a partir do currículo disponível em http://maslach.socialpsychology.org/.
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