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#200 EDIÇÃO O NOBEL DA ESTUPIDEZ PRÊMIO DARWIN, ONDE QUASE TODOS OS PREMIADOS SÃO HOMENS OÁSIS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO O mundo doido dos grandes conluios e complôs CAMPEÕES DA FÍSICA As maiores descobertas do ano BRIGADA DE SUPERCIENTISTAS Para combater o fim do mundo

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#200

Edição

O NOBEL DA ESTUPIDEZPrêmio darwin, ondE quasE todos os PrEmiados são homEns

OásisTEORIAS DA

CONSPIRAÇÃOo mundo doido

dos grandes conluios e complôs

CAmPEõES DA FíSICA

as maiores descobertas do ano

BRIGADA DE SUPERCIENTISTAS

Para combater o fim do mundo

2/44OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

C om a burrice os próprios deuses lutam em vão”, escreveu o dra-maturgo Schiller em a donzela de orleans. Essas palavras soam como um epitáfio: há pouco ou nada a fazer quando o espírito

da burrice se apodera de um indivíduo ou da massa social. de todos os demônios, o da burrice é talvez o mais insidioso, já que suas vítimas não têm consciência de serem estúpidas. “o burro não sabe que é burro. isso contribui para dar mais força e eficácia à sua ação devastadora”, diz o psi-cólogo italiano Carlo Cipolla, um especialista na matéria.

nossa matéria de capa é sobre o Prêmio darwin, anualmente conferido aos casos mais aberrantes de estupidez humana, que culminaram levando à morte os próprios indivíduos que os cometeram. Uma análise sistemá-tica dos casos que fazem parte do imenso acervo desse prêmio mostra que nem mesmo as pessoas mais inteligentes estão livres de cometer, por descuido ou desaviso, atos perfeitamente burros.

De toDos os Demônios, o Da burrice é talvez o mais insiDioso, já que suas vítimas não têm

consciência De serem estúpiDas

OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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Mas, apesar de inerente à natureza humana, as estatísticas do prêmio da-rwin mostram que são os homens a ter o privilégio de cometer a imensa maioria das grandes burrices que acabam sendo fatais. a diferença é enor-me: no darwin, quase 90% das ações estúpidas fatais são cometidas por homens, e apenas cerca de 10% por mulheres...

a sabedoria é o único antídoto capaz de frear a burrice e mantê-la sob controle. ao que parece, a sabedoria é feminina, e apanágio das mulheres.

O NOBEL DA ESTUPIDEZPrêmio Darwin, onde quase todos os premiados são homens

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o final da tarde de domingo, 2 de março 2014, a estação ferroviária Intercity de Roterdam, na Holan-da, estava lotada. Centenas de tor-cedores voltavam para suas casas após uma partida de futebol entre os clubes Feyenoord e Ajax, recém terminada no De Kuip, o mais bo-nito estádio do país.

Foi então que dois amigos torcedores decidi-ram testar sua coragem. Desceram da plata-forma para os trilhos, poucos segundos antes

N

Desde 1991, um prêmio póstumo é oferecido às melhores histórias de pessoas que morreram por causa de seus atos idiotas. estudo mostra que quase 90% dos premiados são homens. uma prova de que, em matéria de comportamento estúpido, os machos são imbatíveis?

Por: Luis PeLLegrini

da passagem de um trem. Um deles deitou--se entre os trilhos, certo de que o comboio passaria inteiro sobre ele, deixando-o incólu-me. O outro, menos confiante, simplesmente se ajoelhou ao lado de um trilho e colocou sua cabeça o mais próximo possível do ponto em que, achava ele, o trem iria passar. Segundos depois, passa o trem, a 130 quilô-metros por hora. Ele era, infelizmente, mais baixo e mais largo do que os dois amigos tinham pensado. Ambos viraram picadinho no mesmo instante. Além de morrer, ofe-receram um espetáculo de puro horror aos demais que estavam na estação. Atrasaram o tráfego ferroviário durante várias horas, e deram um trabalhão para o pessoal da lim-peza, encarregado de repor ordem no peda-ço.

Até o momento, entre as centenas de histó-rias verídicas que concorrem ao Prêmio Da-rwin 2014, essa triste aventura dos dois tor-cedores holandeses tem sido a mais votada. Eles serão, provavelmente, os sucessores do jornalista inglês Lee Halpin, de Newcastle, Inglaterra, vencedor do prêmio em 2013.

O rigor do inverno

Halpin, jornalista iniciante, queria apurar como viviam os moradores de rua castigados pelo inverno, e achou que para descobrir isso teria que viver como um sem-teto e passar

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pelas mesmas provações que eles. “Eu vou dormir em condições duras, ralar pra arrumar comida, interagir com tantos sem-teto quanto eu puder e mergulhar profun-damente no estilo de vida deles”, dizia a mensagem que Halpin postou em suas redes sociais.

Três dias depois disso, ele descobriu a verdade sobre como vivem os sem-teto durante os rigores do inverno: eles não vivem – eles morrem. O corpo congelado de Hal-pin foi encontrado em um albergue vagabundo e, embo-ra a autópsia tenha sido inconclusiva, o mais provável é que ele tenha morrido de hipotermia. Por isso, o Darwin Awards concedeu o prêmio da edição 2013 a Halpin, o mais votado durante todo o ano, sob o título de “O picolé

humano de Newcastle”.

O Prêmio Darwin – cujo nome provém de Charles Da-rwin, o criador da teoria da evolução – é uma honraria concedida de forma simbólica àqueles que cometeram erros absurdos ou se descuidaram de modo idiota pondo fim à própria vida. Irônico, o prêmio se baseia no pres-suposto de que tais indivíduos, ao se autodestruírem de modo estúpido, eliminam os seus “maus genes” e assim sendo contribuem para a melhoria do pool genético da humanidade.

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Esses prêmios começaram a ser atribuídos a partir de 1991, sobretudo por iniciativa da jornalista e escrito-ra norte-americana Wendy Northcutt, criadora do site www.darwinawards.com Mas antes dela, prêmios aná-logos foram distribuídos a indivíduos que preencheram os critérios anteriormente. O caso mais antigo remonta a 1874, quando um aluno de uma universidade decidiu se fantasiar de vampiro para uma festa. Realista ao extre-mo, e para fingir que havia sido ferido por algum caçador de vampiros, tentou prender uma estaca de madeira ao peito. Mas a ponta da estaca acabou perfurando-o, atra-vessando o seu coração e provocando morte imediata.

Wendy Northcutt estabeleceu cinco condições que têm de ser observadas para que um Prêmio Darwin possa ser atribuído: 1. Incapacidade de gerar descendência - atra-

vés da própria morte ou esterilização. 2. Excelência - for-ma sensacional e estúpida com que comete o erro. Incrí-vel desuso da lógica e da razão. 3. Auto-seleção - Causa o desastre por si mesmo; com mérito incondicionalmente individual. 4. Maturidade - O indivíduo deve estar em to-tal uso das suas capacidades mentais e físicas. Deve pos-suir capacidade de julgamento e raciocínio. 5. Veracidade - O evento tem de ser verificável. Excluem-se as “Lendas Urbanas”.

O que é o comportamento idiota

Wendy Northcutt diz que seu objetivo ao criar o site e o prêmio era simplesmente divertir e instruir o leitor com séries anuais de histórias curiosas exemplares. Ela nunca

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Segundo esse estudo, idiotas seriam “aqueles comporta-mentos totalmente destituídos de sentido, cujos benefí-cios aparentes são mínimos ou inexistentes, e cujo resul-tado costuma ser extremamente negativo e muitas vezes fatal”. Pois bem: o estudo revela também que, quanto aos comportamentos que implicam em tais riscos, tudo leva a crer que os machos da espécie humana sejam os campeões em absoluto. Quase 90% das idiotices fatais são cometidas por... homens!

Observações esporádicas da vida quotidiana já indica-vam que os homens são muito mais propensos que as mulheres a cometer atos realmente estúpidos. Mas agora essa tese empírica é confirmada por um estudo baseado na análise científica sistemática.

imaginou que o conteúdo dos relatos acumulados ao lon-go dos anos pudesse um dia ser objeto de estudos científi-cos sistemáticos. Pois foi exatamente isso que aconteceu. A revista British Medical Journal acaba de publicar, em seu número de Natal, os primeiros resultados de uma pesquisa que investigou o banco de histórias do Prêmio Darwin para tentar definir o que é o “comportamento idiota”.

Exemplos de atos estúpidos fatais cometidos por homens encheriam elencos maiores que listas telefônicas. Entre os candidatos e os vencedores do Prêmio Darwin no pas-sado estão o do homem que disparou uma arma contra a própria cabeça para provar a um amigo que ela estava carregada; o do terrorista que expediu uma carta-bomba com insuficiência de selos e que abriu o envelope quando ele voltou (sim, ele tinha escrito o seu nome e endereço como remetente!); o do indivíduo que, para não pagar o bilhete, morreu depois de ter enganchado o carrinho de compras de um supermercado na traseira de um trem (ele estava dentro do carrinho, junto com as compras...) Antes de conferir o prêmio, e até mesmo antes de publi-car uma história, os organizadores do prêmio verificam atentamente se ele é verídico e se ele realmente foi con-

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cluído com a morte da pessoa. Se ela sobrevive, o prêmio não lhe pode ser conferido, pois os seus genes continuam a fazer parte do pool da espécie humana, com possibili-dade de serem transferidos. Até hoje, os resultados mos-tram que: dos 318 casos premiados, 282 são de homens e apenas 36 foram conferidos a mulheres. Quase 88,7%, portanto, são do sexo masculino, o que leva à conclusão que, em matéria e comportamentos estúpidos, existe uma enorme diferença entre os sexos.

Haverá um fundo de verdade? Alguns leitores acharão que tanto o Prêmio Darwin quan-to o estudo feito a respeito do seu conteúdo são iniciativas de péssimo gosto e, no limite, de humor negro. Têm ra

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pelo médico que o creme era inflamável. Como era fu-mante, e no hospital era proibido fumar, resolveu dar uma escapadinha. Acendeu um cigarro e sentiu-se ali-viado. Ao terminar, jogou o cigarro no chão e pisou nele. Acontece que a parafina estava lá, e além disso, havia impregnado suas roupas. Em poucos segundos o fuman-te tornou-se uma tocha humana. Não resistiu.

- Nos Estados Unidos, um casal de namorados resolveu brincar no interior de um balão de gás hélio desinflado. A voz da pessoa que respira hélio fica aguda, e eles se di-vertiam com isso. Porém devem ter faltado à aula sobre a importância do oxigênio. A perda de consciência é rá-pida quando se respira hélio na falta de oxigênio. Dentro do balão, os namorados ficaram juntos para todo o sem-pre...

zão. A própria British Medical Journal – revista científica muito séria – concorda, e só a publicou como um artigo natalino bem-humorado. Mas... o site do prêmio preten-de ser sério, e as pesquisas sobre seus conteúdos foram feitas com rigor científico. Como não reconhecer nesses resultados algum fundo de verdade?

Para quem gosta, aqui vai uma pequena coletâ-nea das melhores estórias do Prêmio Darwin:

- Num hospital inglês, um paciente fazia um tratamen-to de pele com um creme à base de parafina. Foi avisado

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ros e a oficina inteira. Pior fez um croata que tentou abrir uma granada com uma serra elétrica e teve o mesmo desfecho.

- Em Belize, na América Central, um rapaz de 26 anos, inspirado em Benjamin Franklin, resolveu empinar pa-pagaio com fio de cobre. Quando o fio tocou um cabo de alta tensão, uma descarga elétrica pulverizou nosso ami-go. O pai do rapaz disse que ele era eletricista...

- Um austríaco que trabalhava num compactador de lixo, colocou algumas caixas de papelão na prensa hidráulica e resolveu dar uma ajudinha, empurrando as caixas com o pé, com a prensa armada. A prensa, fazendo o seu tra-balho, levou não só as caixas, como pegou o pé e tragou

- Tem brasileiro na parada: numa oficina de automóveis, um homem resolveu desarmar uma granada passando com o carro por cima dela, e dando marcha-a-ré. Não conseguiu. Então resolveu bater na granada com uma marreta. O esperado (não por ele) aconteceu na segunda marretada... E ele ainda levou para os ares mais seis car-

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contra um homem na Alemanha. Tentando tornar o solo inabitável para o bicho, o homem enterrou barras de fer-ro no chão e conectou a elas corrente elétrica de alta ten-são. Foi encontrado morto ali mesmo. Na ânsia de aca-bar com a toupeira, acabou eletrificando o próprio chão onde pisava. A polícia teve que cortar a energia antes de entrar na casa.

- Em Seattle, nos EUA, dois bêbados resolveram travar uma competição de força e resistência. Ficariam pen-durados pelos braços em um viaduto sobre uma via ex-pressa. Quem resistisse pendurado mais tempo levava o prêmio. Apesar da ajuda do amigo, o vencedor não teve força suficiente para se erguer, e acabou caindo em fren-te a um caminhão que passava em alta velocidade.

nosso pobre amigo para dentro dela.

- Em Cingapura, um estudante, curtindo o seu rock and roll e pulando e se sacudindo na cama e contra as pare-des, não percebeu que a janela estava aberta. Num mo-mento de empolgação, se lançou contra ela e caiu no vá-cuo. A lei da gravidade fez o resto.

- Uma toupeira, animalzinho tímido, venceu a guerra

- Os elefantes são animais temperamentais. Foi o que descobriu um tailandês de 50 anos, que resolveu brincar com o animal, que estava acorrentado. Pegou um pedaço de cana de açúcar e ofereceu ao elefante. Mas quando o animal ia pegar, o homem o retirava. Ficou nessa brinca-deira por um bom tempo. Chegou o momento em que o pobre animal se enfureceu: numa das retiradas, cravou suas presas no estômago do homem, matando-o.

- Um operário malaio, espantado com a queima de fogos no Ano Novo lunar, notou que alguns dos fogos eram na verdade foguetes, que iam a grandes alturas. Curioso, resolveu ver o tubo de lançamento mais de perto, aliás,

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tão perto que ele entrou no tubo. O foguete disparou, levando nosso amigo para bem longe, na eternidade.

- Um surfista americano, cansado, e com uma bela noite de lua cheia na praia, pertur-bando seu sono, resolveu dormir no lugar mais escuro possível, embaixo de sua picape estacionada na praia. Foi encontrado mor-to no dia seguinte, afogado. A explicação: a subida da maré acabou amolecendo a areia abaixo da picape, e esta afundou, prendendo o surfista, não o deixando escapar enquanto a maré subia.

- Pelo amor de uma garota, dois jovens taiwaneses resolveram entrar em uma con-tenda à moda antiga. Iriam dirigir suas mo-tos em alta velocidade, um em direção ao

outro, e aquele que não desviasse teria o direito de cor-tejar a amada. Nenhum desviou, e ambos morreram na hora com o impacto. A garota? Declarou que não estava interessada em nenhum deles.

- Um austríaco, bêbado e drogado, chegou em casa e re-solveu entrar pela janela da cozinha, que tinha uma pe-quena brecha. Conseguiu passar o corpo e a cabeça, che-gou até a pia, porém ali ficou entalado. Tentando se livrar, ligou a água quente, e a pia estava com o plug. Morreu afogado com a cabeça dentro da pia. A polícia atribuiu o fato ao estado do homem. Ele poderia ter simplesmente desligado a torneira, tirado o plug, ou melhor ainda, en-trado pela porta. A chave estava em seu bolso.

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃOO mundo doido dos grandes conluios e complôs

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ada melhor que uma boa cons-piração para acalmar o medo do desconhecido. Para dar sentido ao inaceitável ou ao inexplicável, os homens precisam de explicações. Por mais loucas que sejam...N

em pleno século 21, nosso mundo é complexo e está em constante mudança. rádios, televisões, alertas nos telefones celulares e buscas na internet pipocam informações constantemente. e mostram um padrão de acontecimento caótico, onde nem sempre é fácil discernir um sentido. não admira que, mais do que nunca, as teorias da conspiração estejam na moda

Por: Dean Burnett (*) Fonte: JornaL the guarDian, LonDres

Com as sucessivas revelações sobre o pro-grama de espionagem Tempora do Governo britânico (sobre informações trocadas na internet) e a ameaça de guerras (na Ucrânia e no Médio Oriente), a época atual é propícia para as teorias da conspiração.

É como quando vamos à rua pôr o lixo no latão e reparamos num saco de papel esque-cido: nós o agarramos e ele, de tão velho, rasga-se derramando seu conteúdo no chão. E, de repente, ficamos cercados por um en-xame de moscas furibundas; corremos para dentro aos gritos e passamos três horas na ducha, tremendo. Para mim, as teorias da conspiração são um pouco isso.

Aparentemente eu próprio estou envolvido em várias conspirações. Quando a televisão inglesa Channel 5 emitiu um programa sem qualquer sentido crítico sobre a conspiração lunar (os primeiros passos do homem na Lua seriam uma farsa do Governo norte-ameri-cano e teriam sido filmados num estúdio], respondi “confessando” que era verdade e inventando outras conspirações “autênticas “, para demonstrar a que ponto a ideia era ridícula.

Imaginei conspirações tão disparatadas que pensei que ninguém ia acreditar - o que só prova a minha ingenuidade sobre aquilo de

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que as pessoas são capazes e aquilo em que estão dispos-tas a acreditar. E, como seria de esperar, disseram logo que eu tinha procedido assim por estar sendo manipula-do pelos autores da conspiração lunar...

O que leva as pessoas a ver conspiração em situações relativamente menores (como um texto num blog insig-nificante como o meu)? Não vale a pena analisar todos os elementos conhecidos a esse respeito. Isso não muda nada e, provavelmente, não viverei o suficiente para ver as conclusões. Mas há muitas razões pelas quais as pesso-as se deixam apanhar por conspirações e muitas explica-ções para o fato de essas teorias se tornarem tão comple-xas e persistentes.

Não devemos ignorar os teóricos da conspiração, cha-mando-os de “excêntricos” ou de “malucos” - ou qualquer

outro qualificativo que faça com que não sejam levados a sério. Um teórico da conspiração pode agir por efeito de perturbações mentais: ansiedade, paranoia, psicose. Entre outras. O seu estado pode não ser grave a ponto de exigir intervenção médica: ou pode o seu envolvimento numa teoria da conspiração ser uma maneira de contro-lar os sintomas, ou seja, uma forma de automedicação. A menos, claro, que a própria psiquiatria seja uma conspi-ração...

Contudo, perturbações mentais e teorias da conspiração nem sempre estão diretamente relacionadas: pode se acreditar na versão oficial do assassinato de Kennedy e

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Lee harvey oswald, o assassino de John Kennedy

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ser-se completamente esquizofrênico.

A necessidade da pertença

Mais preocupante é o fato de haver estudos que demons-tram que o cidadão comum é muito receptivo a teorias da conspiração.

Há muitas razões para isso, incluindo a tendência dos seres humanos para a pareidolia (tentativa de discer-nir motivos e padrões em fenômenos acidentais; por exemplo, quando vemos rostos e expressões humanas em formas aleatórias como nuvens, troncos de árvores, redemoinhos de água, etc). Então, por quê? Será que as teorias da conspiração respondem a necessidades básicas dos seres humanos? Segundo a pirâmide de Maslow, as

necessidades humanas mais básicas são fisiológicas (ali-mentação, abrigo, etc). Nas sociedades ocidentais, temos a sorte de essas necessidades estarem, de uma forma geral, garantidas. Vem depois a necessidade de seguran-ça. Como o medo anda muitas vezes de mãos dadas com o desconhecido, ter “conhecimento” das conspirações e maquinações urdidas por figuras misteriosas pode tor-nar-se útil.

Segue -se a necessidade de “pertença”. Os seres humanos são criaturas sociais, têm necessidade de ser aceitos pe-los outros.

As redes das teorias da conspiração surgem, para os seus adeptos, como grupos de amigos. O que leva ao nível se

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rechaçadas, o que, em termos de descrição do processo, passa por fenômenos como a distorção da confirmação (tendência para favorecer a informação que confirme a hipótese de partida).

Conspirações, Deus e o sobrenatural

Há muitas outras explicações possíveis para o comporta-mento dos teóricos da conspiração. Pode mesmo ser algo tão simples e intuitivo como a compreensão de que essas teorias são reconfortantes. É perturbador pensar que haja grupos de lagartos gigantes que controlam secreta-mente a humanidade, mas a possibilidade de vivermos num universo aleatório, onde forças desprovidas de ra-zão podem decidir nos eliminar sem motivo, será menos perturbadora?

guinte: a necessidade de realização, de reconhecimento e de respeito. A descoberta de ligações e provas que su-gerem a existência de conspirações ou de manobras para encobrir um caso garante que atraímos para nós as felici-tações do grupo conspirador a que pertencemos.

Essa necessidade de pertença a uma comunidade pode também explicar a razão pela qual algumas teorias cons-pirativas que parecem extravagantes são tão persisten-tes. No seio de um grupo, passam-se coisas estranhas. A influência normativa, o pensamento em comum, a intervenção de “polícias do pensamento”, a polarização, tudo isto são fenômenos que se conjugam para manter um grupo intacto e fazer com que as opiniões dissidentes sejam rapidamente postas à margem ou liminarmente

As redes das teorias da conspiração

Talvez seja para afastar uma eventualidade desse gêne-ro que alguns se voltam para as teorias da conspiração, como outros se ligam em Deus ou ao sobrenatural.

E antes que as mentes racionalistas que leem as crônicas científicas do jornal The Guardian comecem a demolir o que escrevi, acrescento que há opiniões mais comuns, hoje muito em voga, que podem facilmente se encaixar nos espíritos de outras pessoas que ali não veem teorias da conspiração. O sistema de saúde britânico está sen-do secretamente privatizado e os meios de comunicação social são cúmplices? Sim, seguramente. O Governo está tentando asfixiar as instituições de solidariedade social?

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Claro! Ah, tem “provas”? As pessoas as arranjam, sempre.

Mas talvez a má fama de que gozam os teóricos da conspi-ração não seja totalmente merecida. Alguns dos maiores cientistas do mundo, como Darwin ou Galileu, foram os que questionaram a versão oficial dos acontecimentos. E, claro, há sempre a possibilidade de tais conspirações serem reais. E se este blog não for uma análise da psicolo-gia das teorias da conspiração, mas um estratagema para bater o recorde dos “comentários mais delirantes” do site do The Guardian? Nunca o saberemos...

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xima, o que lançou o mistério de um segundo atirador. A CIA, a Máfia, Fidel Castro e Lyndon Johnson são fre-quentemente apontados como mentores do crime e do seu encobrimento.

2 Diana foi assassinada. Quando a Princesa do Povo morreu num acidente rodoviário, em consequência do excesso de zelo dos paparazzi em Paris, a opinião pública exigiu respostas. Era difícil acreditar que uma figura tão célebre pudesse morrer de forma tão absurda, pelo que não tardaram a surgir teorias segundo as quais alguns poderosos queriam vê-la morta. Há quem pense que es-tava grávida e pensava casar com o namorado, o milio-nário árabe Dodi Al-Fayed (filho do dono das megalojas Harrod’s e do Hotel Ritz de Paris), pensando ainda con-verter-se ao islamismo, o que poderia ser bem com

AS TEORIAS DA CONSPIRAÇAO MAIS POPULARESO Governo dos EUA provocou o 11 de Setembro? Somos controlados por répteis humanoides? O sitio ALltRNH compilou as dez teses conspiratórias mais amalucadas:

1 Lee Harvey Oswald não agiu sozinho. Talvez só o 11 de Setembro se aproxime da miríade de teorias sobre o atentado que matou John Fitzgerald Kennedy, em 1963. Ele foi baleado quando o cortejo presidencial atravessa-va Dallas. Oswald foi apontado como o assassino, mas passados dois dias foi alvejado na cadeia e morreu, o que suscitou tremenda desconfiança. Testemunhas afirma-ram ter ouvido outros tiros vindos de uma colina pró-

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homossexuais. Também há quem afirme que existe cura, que o Governo oculta por razões semelhantes.

4 Governo e 11 de Setembro. É a teoria da conspiração mais pesquisada na internet. Abundam as teorias sobre o papel do Governo dos EUA no 11 de Setembro de 2001, mas a maioria defende que a Administração Bush teve conhecimento prévio dos atentados, não fez nada para evita-lo ou até mesmo os orquestrou. Ambas as versões partem do principio de que Bush queria ganhar mais poder e apoio popular. Disseram que as torres do World Trade Center caíram devido a explosivos colocados, que nenhum avião se chocou com o Pentágono e que o voo 93 despencou na Pensilvânia por ter sido abatido. Esta teoria foi alimentada quando Donald Rumsfeld disse

plicado para Família Real britânica. Outros defendem que a família queria se livrar dela, para facilitar um novo casamento do príncipe Charles. Os otimistas creem que a princesa simulou a sua própria morte para escapar às atenções excessivas.

3 A AIDS foi fabricada. Quem faz parte da comunidade científica acredita, regra geral, que o HIV evoluiu de uma estirpe do vírus da imunodeficiência símia da África Oci-dental. Mas num grupo de 500 negros americanos ouvido em 2005 pelo Journal of Acquired Immune Deficien-ce Syndrome, mais da metade pensava que a AIDS fora criada pelo Governo. As teorias sobre os motivos alega-dos da criação do vírus vão do controle demográfico ao enfraquecimento dos grupos étnicos minoritários e dos

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6 O homem não foi à Lua. Embora a teoria da falsa alu-nagem tenha sido desmontada, ela ainda tem seguido-res encarniçados. Fotografias e vídeos manipulados, desenhos técnicos da nave que se perderam e gravações defeituosas são os supostos indícios da falsificação Um dos motivos mais populares para a falsa chegada à Lua é que a Administração Nixon queria vencer a “corrida ao espaço” com a União Soviética e gerar confiança do povo na NASA. No entanto, a maioria dos americanos acredi-ta que Buzz Aldrin e Neil Armstrong caminharam mes-mo na superfície da Lua naquele famoso dia 20 de julho 1969.

7 Ovni em Roswel. Quando o rancheiro Mac Brazel en-controu destroços estranhos no seu terreno, em 1947,

acidentalmente, num discurso de 2001, que o avião fora abatido por terroristas.

5 Elvis não morreu. Muitos acreditam que Elvis Presley está vivo e de boa saúde e não falta quem diga ter visto o cantor ao longo dos anos. A maioria indica como prova crucial um erro na lápide funerária: diz que o nome do meio de Elvis é “Aaron”, mas sua certidão de nascimento indica “Aron”. Os motivos para a morte fingida vão des-de o desejo de se afastar do público até ter sido colocado num programa de proteção de testemunhas do FBI por ser informante no combate ao narcotráfico. Esse rumor começou quando o artista se encontrou com Nixon, em 1970, e disse que queria ajudar a erradicar o consumo da droga.

alertou as autoridades. Nesse dia a base aérea de Roswell emitiu um comunicado que dizia que fora descoberto um “disco voador”; mais tarde as Forças Armadas dos EUA disseram que caíra um balão meteorológico. Esse deslize gerou uma enorme teoria da conspiração segundo a qual o governo tentara encobrir provas da existência de ovnis e seres extraterrestres. Há até mesmo quem diga que fo-ram encontrados cadáveres de alienígenas no local. A his-tória que circula agora é que o balão fazia parte do Proje-to Mogul, um esforço do governo para espionar os testes nucleares soviéticos. Roswell é hoje um destino turístico procuradíssimo pelos entusiastas dos extraterrestres.

8. Aquecimento global é fraude. Apesar do famoso do-cumentário de Al Gore e das convicções bem fundamen-

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tadas da maioria dos cientistas, ainda há quem acredite que o aquecimento global não está acontecendo. O fato de a temperatura média mundial aumentar continuamente é irrefutável, mas os adeptos dessa teoria acreditam que isso se deve à tecnologia criada pelos governantes mais poderosos para manter o povo em estado de pânico, com o objetivo de controlar ou reduzir a população mundial. Al Gore, a ONU e Maurice Strong (figura de proa da polí-tica ambiental) são frequentemente indicados como ali-mentadores do “mito” do aquecimento global.

9. Shakespeare existiu de fato? O dramaturgo mais famo-so do mundo foi um único indivíduo e escreveu as peças todas? Os amantes da conspiração debatem a vida de William Shakespeare há anos, defendendo que se trata

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10. Somos controlados por extraterrestres humanoides. Esta é, certamente, uma das teorias mais amalucadas que circulam por aí. Foi lançada em 1999, no livro The Big-gest Secret: The Book that will change the World, de David Icke. O autor explica que a maioria dos líderes mundiais – incluindo presidentes dos Estados Unidos – são hu-manoides parecidos a repteis, capazes de mudar de forma, oriundos de outros plane-tas. Eles desencadeiam guerras e são res-ponsáveis por acontecimentos hediondos como o 11 de setembro, de forma a promo-ver o medo e o ódio, sentimentos dos quais se nutrem e dos quais extraem sua força. Essa teoria inspirou uma série de televisão e vários filmes.

(*) Dean Burnett é doutor em neurociên-cias na Universidade de Cardiff. É tam-bém autor de textos humorísticos e profis-

sional de apresentações ao vivo de números de humor. Alimenta um blog na seção de Ciência do jornal britâni-co The Guardian.

va apenas do pseudônimo de um conjunto de escritores, o que explicaria certas variações da assinatura do “bar-do” ao longo da carreira. Outros pensam que ele existiu, mas era simplesmente a capa, o “laranja” dos escritos de outros, como Christopher Marlowe, Francis Bacon, ou a própria rainha Elizabeth I. O principal argumento contra a existência de Shakespeare é bem elitista: o fato de ele não ter frequentado a escola. Não obstante, essa teoria ocupa a quinta posição nas pesquisas sobre as teorias da conspiração no Google.

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renga, que disponibilizará 134 bilhões de euros para os parlamentares irem procurar emprego, caso percam as eleições”. A frase em questão apareceu inicialmente numa página do Facebook conhecida pelo seu conteú-do satírico e concebida para parodiar a vida po-lítica italiana. A frase contem pelo menos quatro mentiras: o senador Cirenga não existe, o núme-ro total de votos é superior ao dos assentos no Parlamento italiano, o montante da causa repre-senta mais de 10% do PIB da Itália e a própria lei é uma invenção.

Tal paródia, no entanto, encontrou forte eco junto aos eleitores desencantados, que a retrans-mitiram 35 mil vezes em menos de um mês! Depois, a situação ganhou um rumo estranho. A frase começou a ser replicada em outras páginas

da Internet dedicadas à análise política e acompanha-da por comentários suplementares. Essas novas versões foram retransmitidas em toda a parte mas, desta vez, com uma aparência de respeitabilidade. Desde então, em toda a Itália, os manifestantes começaram a se servir dessa pretensa lei para provar que todo o mundo político é corrupto.

Este é o mundo obscuro das teorias da conspiração. A di-fusão de falsas informações na Internet é um fenômeno á bem conhecido. Se você, por exemplo, já pensou na pos-sibilidade de que o vírus da AIDS foi criado pelo Gover-nos dos EUA para controlar a população africana, então você já foi vítima de uma fraude conspiratória.

NA INTERNET CORRE O BOATO...Os internautas que mais rapidamente aderem às teorias da conspiração são, também, os mais ávidos de infor-mação. O problema é que eles tendem a procurá-la à margem da mídia possuidora de credibilidade.

Fone: MIT Technology Review, Cambridge (Massachusetts)

Em 2013, durante as eleições italianas, uma mensagem postada no Facebook espalhou-se como um rastilho de pólvora: “O Senado italiano adotou (com 257 votos a fa-vor e 165 abstenções) uma lei proposta pelo senador Ci-

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Atração por conteúdos enganosos

Episódios desse tipo levantam questões: como são as pessoas expostas a ideias e informações falsas e como acabam por se con-vencer da sua veracidade? Pode-mos aprender muito sobre esse assunto graças ao trabalho de Walter Quattrociocchi, da Univer-sidade de Boston, que estudou o modo como as pessoas reagem a publicações no Facebook a infor-mações cuja inexatidão está com-provada.

Esse pesquisador, com sua equi-pe, estudou como foi que mais de um milhão de pessoas havia inter-pretado as informações publicadas no Facebook duran-te as eleições italianas de 2013. Observaram sobretudo quais as mensagens de que os utilizadores “gostavam” e comentavam em função das fontes consultadas: grandes órgãos de imprensa, mídias não tradicionais ou páginas dedicadas à análise política. Depois, estudaram como es-sas mesmas pessoas reagiam a notícias falsas publicadas por trolls ou seja, provocadores, em páginas conhecidas pelo seu conteúdo satírico, enganoso ou sectário.

Os resultados são fascinantes. Quattrociocchi e os seus colegas analisaram a duração dos debates, contando o tempo decorrido entre o primeiro e o último comentá-

rio. Essa duração é idêntica, qualquer que seja o tipo de conteúdo. Em outras palavras, as pessoas tendem a de-bater em páginas tradicionais, não tradicionais e satíricas durante o mesmo lapso de tempo: o seu grau de envolvi-mento é o mesmo, seja qual for a natureza da informação.

Os investigadores quiseram depois comparar a partici-pação dos internautas nos debates em função do carác-ter das informações em jogo, como no caso da lei fictícia. Concluíram que algumas pessoas eram mais propensas a participarem num debate que tivesse por base um

o homem chega à Lua

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porque as fontes tradicionais causam descon-fiança, sobretudo na Itália, onde os meios de comunicação são fortemente influenciados por um ou outro campo politico.

No entanto, essa busca de fontes independentes tem seus perigos. “Surpreendentemente, os con-sumidores de noticias que saem dos caminhos trilhados, aqueles que mais querem evitar a ma-nipulaçãoDa mídia tradicional, são também os que mais reagem às falsas declarações”, explica o artigo.

Essa conclusão sugere um mecanismo sobre a emergência das teorias da conspiração. Estas parecem nascer de um processo durante o qual uma análise satírica ordinária ou um conteúdo manifestamente fi ctício acabam sendo consi-

derados plausíveis. Este processo parece surgir entre os grupos que se expõem deliberadamente a fontes de notí-cias paralelas à corrente majoritária.

Claro que não é só desta maneira que nascem as teorias da conspiração. Algumas serão verdades, deliberada-mente suprimidas pelos grandes poderes como governos, grandes empresas, etc. O que estes estudos mostram é que há um mecanismo através do qual os acertos ga-nham plausibilidade e acabam por ser levados a sério.

A questão é como explorar esse resultado para melhorar a difusão e a classificação das informações, independen-temente das suas origens.

conteúdo enganoso. Designadamente, observaram que aqueles que se exprimiam em paginas não pertencentes à imprensa tradicional eram muito mais suscetíveis de participar num debate lançado por agitadores com base em ideias falsas. “Notámos que a maioria dos internautas que interagem com a provocação obtêm as suas informa-ções, sobretudo. de fontes não tradicionais. Por isso estão mais frequentemente expostos a dados sem fundamen-to.”

Sátiras plausíveis

É um resultado interessante. Os investigadores observam que muitas pessoas são atraídas pela mídia alternativa

CAMPEÕES DA FÍSICAAs maiores descobertas do ano

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Maquete da sonda Philae pousada na superfície do cometa

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odos os anos, dezembro é o mês das classificações. Physics World, a revista da Physical Society di Londra, elaborou uma lista das dez descobertas mais importantes na área da física durante o ano de 2014. Aqui está a lista dos traba-lhos escolhidos:T

Dos neutrinos solares ao sucesso da sonda rosetta: estas são as descobertas científicas mais importantes no campo da física em 2014, segundo a revista da physical society de londres

Por: equiPe oásis

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Descida da sonda Philae na superfície do cometa

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1 Philae pousa no cometa (novembro). O primeiro lugar não poderia deixar de ser atribuído à missão cientí-fica que reescreveu a história da exploração espacial: o encerramento da viagem da sonda Rosetta, e a descida da sonda Philae na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. No dia 12 de novembro de 2014, pela primeira vez, aterrissamos em um cometa e pudemos “cheirar” a sua atmosfera, fotografar suas cores e investigar a sua com-posição. Philae exauriu suas baterias rapidamente e entrou em letargia. Mas antes que isso acontecesse, ela conse-guiu recolher a maior parte dos dados previstos para a sua missão. ESA

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2 A luz da teia de aranha cósmica (janeiro). Utilizando o Telescópio Keck I Telescope, no Havaí, e apontando para um quasar utilizado como “tocha cósmica”, alguns astrônomos da Universidade da Califórnia de Santa Cruz obtiveram a primeira imagem dos filamentos de gás ionizado presentes nas galáxias primordiais. Esta “teia de ara-nha cósmica” de cerca 2 milhões de anos luz de diâmetro, mantida aglutinada pela força da matéria escura e quase duas vezes maior do que qualquer outra galáxia observada até agora, foi iluminada por um flash emitido pelo qua-sar UM 287, distante 10 bilhões de anos-luz de nós. A análise das imagens obtidas servirá para uma melhor compre-ensão da distribuição dos gases intergalácticos e dos processos que levaram à formação do unbiverso. Foto: Anatoly Klypin, Joel Primack e S. Cantalupo.

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3 Um passo à frente na fusão nuclear (fevereiro). No início deste ano, pela primeira vez, alcançou-se uma balança energética positiva (embora parcial) durante um teste de fusão nuclear. Nos laboratórios do NIF - National Ignition Facility, anexo ao Lawrence Livermore National Laboratory, na Califórnia, foram registradas energias su-periores àquelas implícitas do estado de plasma do combustível inicial. A técnica utilizada aproveita a inércia das partículas de plasma para contrastar a sua expansão térmica: 192 raios laser (na foto) foram reunidos no interior de uma concha para golpear a pastilha de combustível contendo uma mistura de deutério e trício (D-T) em estado lí-quido.

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4 Memória holográfica (fevereiro). Um novo tipo de memória holográfica, baseada na interferência das ondas de spin, foi criada graças a uma colaboração entre investigadores da Universidade da Califórnia e o Instituto Kote-lnikov, da Rússia. Ela é baseada na interferência das ondas de spin, capazes de armazenar os dados sob a forma de bits magnéticos, e de reunir um acervo de dados muito superior à capacidade dos dispositivos que comumente usa-mos em memórias de tipo ótico. Foto: Via Physicsworld.com

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5 Uma fibra ótica mais eficaz (março). Utilizando um efeito físico conhecido como “localização de Anderson”, pesquisadores americanos da Universidade do Wisconsin, em colaboração com o Conselho Nacional da Pesquisa e o Departamento de Física da Universidade La Sapienza de Roma, desenvolveram uma fibra ótica melhorada para a transmissão de imagens. Em relação às fibras tradicionais, este novo tipo de fibra é formado por tubos de um ma-terial similar ao plástico dispostos de maneira desordenada, como fios de spaghetti no interior de uma caixa. Deste modo é criada uma via de fuga para a luz aprisionada, a qual é empurrada e confinada ao longo do percurso deseja-do, sem se difundir em todas as direções. Na ilustração, vemos uma simulação da imagem transmitida pela nova fi-bra ótica (no alto) e da fibra ótica comumente utilizada para a obtenção de imagens endoscópicas (em baixo). Foto: Salman Karbasi.

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6 Raio atrator acústico (maio). Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Illinois conseguiu criar, pelo menos em laboratório, uma versão funcional de um dispositivo que, até há pouco, só existia nos filmes de fic-ção científica. Trata-se de um raio atrator acústico, que usa os ultrassons para atrair, e portanto deslocar, objetos de até um centímetro de largura, ao aplicar sobre eles uma força de alguns milinewtons. Esta é a primeira vez que uma tecnologia do gênero é aplicada a objetos visíveis a olho nu. O dispositivo, que poderá ser aperfeiçoado, poderá no futuro ter aplicações muito úteis no futuro, sobretudo na área médica. Poderá, por exemplo, ser empregado em intervenções sobre pequenos cistos ou cálculos, isolando-os do tecido sadio. Na imagem, um diagrama de como as ondas sonoras atratoras agem sobre um objeto triangular. Foto: Via Physicsworld.com

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7 Supernova em laboratório (junho). Utilizando o laser Vulcan do Rutherford Appleton Laboratory, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford conseguiu reproduzir em laboratório em uma única sala, uma versão em escala reduzida de uma explosão de supernova. Faixas laser muito poderosas foram direcionadas a um único ponto, um pequeno bastão de carbono com espessura pouco maior de um cabelo, gerando uma enorme quan-tidade de calor e provocando a explosão da amostra em uma câmara de gás de baixa densidade. A onda de choque criada pela explosão produziu nos gases movimentos de turbulência (ver a foto) similares àqueles que podem ser observados em certos resíduos de supernovas, como Cassiopeia A. Foto: Via Physicsworld.com

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8 O magnetismo dos elétrons (junho). Embora o campo magnético de um único elétron já tenha sido medido com grande precisão, as forças magnéticas presentes entre dois elétrons ainda não tinham sido calculadas. Isso foi conseguido pelo físico Shlomi Kotler, do Weizmann Institute of Science de Rehovot, em Israel. Kotler ligou aos elé-trons dois íons de estrôncio e analisou a interação magnética entre os elétrons ao variar a distância entre os íons. O trabalho foi publicado na revista Nature em junho. Foto: Ack Bertram, Motion Forge.

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9 O Sol em tempo real (agosto). O revelador Borexino, instalado nos laboratórios subterrâneos do Gran Sasso, na Itália, braço do Instituto Nacional de Física Nuclear, conseguiu medir em tempo real o fluxo de neutrinos produ-zidos pelas reações nucleares que acontecem no interior do Sol. Em particular, foi medida a reação de fusão de dois núcleos de hidrogênio para formar um núcleo de deutério: a reação inicial do ciclo de fusões nucleares que produz cerca de 99% da energia solar. O estudo, publicado em agosto na revista Nature, evidenciou que a emissão de ener-gia do Sol permaneceu sem variações nos últimos 100 mil anos. Foto: Borexino INFN

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10 A compressão quântica (setembro). Físicos japoneses e canadenses demonstraram pela primeira vez que é possível obter-se a compressão de bits quânticos (os assim chamados qubit), através de um processo similar àquele que se usa para comprimir os dados em um computador normal. Em particular, foi possível comprimir três qubit em apenas dois fótons, um passo que poderia permitir, no futuro, expandir enormemente a capacidade de cálculo dos computadores. Foto: Andrzej Wojcicki

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BRIGADA DE SUPERCIENTISTASPara combater o fim do mundo

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eunidos numa associação cujo nome parece o título de um ro-mance de ficção científica – o Cambridge Centre for the Study of Existential Risk (http://cser.org/), Centro Cambridge para o estudo do risco existencial – o astrofísico Stephen Hawking, o

astrônomo Martin Rees, o filósofo Huw Price e vários outros acadêmicos de mente brilhante e

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muitos cientistas estão convencidos de que o desenvolvimento da tecnologia humana poderá em breve apresentar novos riscos de extinção, tanto para a espécie humana quanto para a totalidade do planeta

Por: equiPe oásis

reconhecida fama internacional compilaram neste mês de setembro uma lista dos perigos que podem destruir o globo terrestre ou, pelo menos, os seus habitantes. Desse en-contro surgiram algumas propostas de solu-ções que, implementadas, seriam capazes de evitá-los.

As preocupações desses grandes cientistas não são anódinas e muito menos destituídas de fundamento. O fim do mundo é uma hi-pótese real, sobretudo no que diz respeito ao fim da espécie humana sobre a Terra.

Vários são os fatores que podem conduzir a esse apocalipse. A lista começa com a in-teligência artificial. Computadores e todo o séquito de funções de que são capazes atin-giram hoje um nível tecnológico tão sofisti-cado a ponto de poder assumir o controle do mundo e, em seguida, decidir o extermínio dos humanos. O cineasta Stanley Kubrick já tinha imaginado uma situação do gênero em seu filme “2001 Odisseia no Espaço”, mas as coisas agora poderiam acontecer em escala muito maior. Exagerado? Não, a possibili-dade é real, sobretudo quando se sabe que entidades puramente matemáticas como os algoritmos decidem milhões de transações financeiras a cada segundo.

A seguir, na lista, estão os ataques cibernéti-cos, uma onda de atentados terroristas digi

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tais capazes de embaralhar absolutamente tudo, do for-necimento de energia às comunicações, dos transportes às redes de computadores. Logo depois a lista das ame-aças cita-se o risco de uma infecção bacteriológica mun-dial, uma peste criada em laboratório que vá parar nas mãos de um louco niilista, um ditador sanguinário ou os comandantes de uma guerra civil fratricida. Há também a possibilidade de uma pandemia, o surgimento de um vírus resistente a todo antibiótico que nenhuma vacina poderá curar.

Outras ameaças para a humanidade aventadas nesse encontro de cientistas do Centro Cambridge: uma sabo-tagem da cadeia alimentar; condições atmosféricas ex-tremas provocadas pelas mudanças climáticas, com con-sequentes inundações, furacões, terremotos; um ou mais asteroides que se chocam com a Terra; para encerrar, a sempre presente hipótese da guerra termonuclear, ou química, ou até mesmo convencional se combatida com a devida intensidade.

“Vivemos num mundo cada vez mais interconectado, cada vez mais tecnológico e dependente da web”, afirma lord Rees, ex-presidente da Royal Society e um dos pro-motores do encontro. “A nós ocidentais o mundo atual pode parecer mais seguro do que jamais foi no passado, mas a verdade é que nosso mundo é muito mais vulnerá-vel agora do que parece. E já que os líderes políticos es-tão concentrados apenas nos problemas de curto prazo, é necessário que alguém sugira à opinião pública inter-nacional quais são os perigos mais realistas e com quais meios seria possível impedi-los”.

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Os cientistas do grupo de Cambridge não são, no entan-to, pessimistas: permanecem otimistas, apesar de tudo, convencidos de que o homem dispõe de recursos para sobreviver e enfrentar qualquer ameaça. Mas ao mesmo tempo advertem que os riscos mais graves, para o nosso planeta, hoje não provêm do cosmos ou da natureza, mas sim da ação do próprio homem. “O fim do mundo não é um roteiro de cinema”, adverte o astrônomo Rees. E o final feliz, diferente do que acontece nos filmes, depende dos espectadores. De todos nós.

Elenco dos atores do apocalipse

A tecnologia inteligente – Uma rede de computadores poderia se tornar uma “mente” e utilizar seus recursos para atingir os seus próprios objetivos, às custas das ne-cessidades humanas.

Os cyber ataques – As redes de energia, o controle do trá-fego aéreo e das comunicações estão hoje sob o comando de sistemas de computadores interconectados. Se esses networks forem destruídos pela ação de terroristas, isso representaria o colapso da nossa sociedade.

O bioterrorismo – Um super vírus criado pelo homem ou uma bactéria escapada de um laboratório ou liberada por terroristas poderia causar a morte de milhões de pessoas.A falta de alimento – Graças às mega redes de distribui-ção, muitas nações ocidentais possuem reservas de comi-da suficientes para 48 horas. Qualquer interrupção nos fornecimentos causaria revoltas populares e aquisições maciças ditadas pelo pânico.

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mundo em poucos dias.

A guerra – O aumento das populações, sobretudo nos países pobres e nos em via de desenvolvimento, poderão esgotar as reservas de comida e de água potável. Para se apoderar dos bens necessários, muitas guerras poderiam ser desencadeadas.

O apocalipse nuclear – No caso do emprego da bomba atômica por um país, poderia ser desencadeado um con-flito mundial. Ogivas nucleares poderiam cair nas mãos de terroristas.

O asteroide – O impacto de um grande asteroide com a Terra destruiria a espécie humana. Isso já ocorreu no passado remoto, causando, como tudo leva a crer, a ex-tinção dos dinossauros.

O clima – Visto que a temperatura média da Terra conti-nua subindo, poderemos chegar nas próximas décadas a um ponto crítico no qual os desastres naturais sofreriam uma piora irreversível.

As pandemias – Devido às viagens internacionais, um novo vírus assassino, surgido a partir de mutações ge-néticas de vírus animais, poderia se difundir em todo o

o astrônomo britânico Lord reeso astrofísico stephen hawking