teoria funcionalista Émile durkheim

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1. INTRODUÇÃO A partir da Revolução Industrial no século XVIII, a Europa presenciou a eclosão de acontecimentos os quais não estava preparada para enfrentar. O surgimento das máquinas proporcionou mudanças significativas tanto espaciais quanto sociais. O grande contingente populacional que migrava do campo para a cidade, fugindo da miséria, da fome e do desemprego, promoveu um verdadeiro inchaço na área urbana. A realidade daquele período apresentou-se preocupante, pois a cidade não estava preparada para receber o grande número de pessoas que para lá se direcionavam em busca de trabalho. Portanto, estava instaurado um verdadeiro caos social, presenciando-se no espaço urbano o aumento da criminalidade, prostituição, desestruturação familiar, etc. Naquela época já havia sido desenvolvida a matemática, a física e a biologia, mais nenhuma dessas ciências era capaz de dar respostas ao caos social gerado pela Revolução Industrial. E é a partir da necessidade de solucionar tais problemas que surge em 1839 a ciência social conhecida como Sociologia, pelas mãos do filósofo e matemático francês Auguste Comte (1798-1857). Dado o pontapé inicial, a sociedade se tornou um constante objeto de estudo para vários pensadores e estudiosos da modernidade, todos analisando a sociedade do seu tempo, e claro, desenvolvendo a teorias diferenciadas a cerca da realidade estudada. Dentre os quais se destacam os autores das teorias clássicas: Karl Marx (1818-1883) – direcionando seus estudos para a teoria materialista, que tem como objeto a ênfase dada à luta de classes; Max Weber (1864- 1920) – inaugura a teoria compreensiva, que está intimamente ligada à ação social e Émile Durkheim ( 1858- 1917) – que desenvolve a teoria funcionalista, dando atenção especial ao fato social em si juntamente com a visão voltada para a moral de cada indivíduo. 1

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Page 1: teoria funcionalista Émile Durkheim

1. INTRODUÇÃO

A partir da Revolução Industrial no século XVIII, a Europa presenciou a

eclosão de acontecimentos os quais não estava preparada para enfrentar. O

surgimento das máquinas proporcionou mudanças significativas tanto espaciais

quanto sociais.

O grande contingente populacional que migrava do campo para a

cidade, fugindo da miséria, da fome e do desemprego, promoveu um verdadeiro

inchaço na área urbana.

A realidade daquele período apresentou-se preocupante, pois a cidade

não estava preparada para receber o grande número de pessoas que para lá se

direcionavam em busca de trabalho. Portanto, estava instaurado um verdadeiro

caos social, presenciando-se no espaço urbano o aumento da criminalidade,

prostituição, desestruturação familiar, etc.

Naquela época já havia sido desenvolvida a matemática, a física e a

biologia, mais nenhuma dessas ciências era capaz de dar respostas ao caos

social gerado pela Revolução Industrial. E é a partir da necessidade de solucionar

tais problemas que surge em 1839 a ciência social conhecida como Sociologia,

pelas mãos do filósofo e matemático francês Auguste Comte (1798-1857).

Dado o pontapé inicial, a sociedade se tornou um constante objeto de

estudo para vários pensadores e estudiosos da modernidade, todos analisando a

sociedade do seu tempo, e claro, desenvolvendo a teorias diferenciadas a cerca

da realidade estudada.

Dentre os quais se destacam os autores das teorias clássicas: Karl

Marx (1818-1883) – direcionando seus estudos para a teoria materialista, que tem

como objeto a ênfase dada à luta de classes; Max Weber (1864- 1920) – inaugura

a teoria compreensiva, que está intimamente ligada à ação social e Émile

Durkheim ( 1858- 1917) – que desenvolve a teoria funcionalista, dando atenção

especial ao fato social em si juntamente com a visão voltada para a moral de cada

indivíduo.

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2. FUNCIONALISMO

É uma teoria sociológica que tem como seu principal representante o

Francês Émile Durkheim. Segundo Durkheim, a sociedade é composta de várias

instituições sociais onde cada uma delas exerce uma função específica e seu mal

funcionamento implicará consequências para a sociedade como um todo.

Portanto, deve-se pensar o funcionalismo intimamente relacionado a

coletividade, pois ao cometer falhas ou manter uma postura ineficiente o mesmo

não afetará um único indivíduo. Para Durkheim, ao se deparar com situações

como essas, considerar-se-á que a sociedade estará passando por uma situação

de anomia (falta de normas, falta de regras) mais que posteriormente sua

normalidade será reestabelecida e a ordem social será retomada.

É a partir da observação de tal realidade que ele desenvolve toda a sua

teoria social baseada na funcionalidade de cada indivíduo, onde os mesmos são

moldados e condicionados pelas instituições sociais aos quais fazem parte.

Durkheim interpreta a sociedade a partir do seu objeto de estudo

denominado de Fato Social, como o estudo das representações coletivas.

2.1. Fato Social

Fatos Sociais são todas as maneiras de agir, pensar e sentir exteriores

ao indivíduo, dotadas de um poder coercitivo.

São exemplos de fatos sociais o modo de se vestir, a língua, a religião

o sistema monetário e uma infinidade de fenômenos.

2.2. Características dos Fatos Sociais

• Generalidade – É social todo o fato que é geral, que se repete em todos

os indivíduos ou, pelo menos na maioria deles.

• Exterioridade – é externo ao indivíduo. Existe muito antes do seu

nascimento. São as regras sociais, os costumes, as leis que são impostos

de maneira coercitiva.

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Page 3: teoria funcionalista Émile Durkheim

• Coercitividade – Está ligada a sanções penais. Os indivíduos são

obrigados a obedecer tudo aquilo que é estabelecido pela sociedade,

independente de sua vontade ou escolha, caso contrário, os mesmo serão

punidos.

O autor se detém em indivíduos inseridos em grupos, ajuntamentos,

reuniões, pois, segundo o mesmo, o objeto de estudo de toda a sua teoria é o

homem inserido em sociedade, fora dela o indivíduo não cria, não reproduz, não

contribui para sua permanência ou mudança. E é a partir dessa união,

agrupamento, reunião, que ele vai observar a existência de duas consciências no

indivíduo, a individual e a coletiva, enfatizando a superioridade da segunda

sobre primeira.

A definição de consciência coletiva aparece pela primeira vez na sua

obra Da divisão do trabalho social. “Trata-se do conjunto de crenças e

sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que forma

um sistema determinado e com vida própria.” A coletiva é compartilhada pelo

grupo, enquanto que a individual é própria de cada elemento.

Sem que percebam, os indivíduos agem conforme a vontade do grupo

ao qual pertencem. E é isso que constitui a idéia principal da teoria funcionalista: a

sociedade somente se consolida como uma unidade a partir do momento em que

acontece a ultrapassagem do indivíduo pela sociedade, ou seja, é ela que dita as

regras, as normas sociais enquanto que o indivíduo apenas será moldado

conforme a sua vontade. Em outras palavras: a sociedade, além de anteceder o

indivíduo, prevalece sobre o mesmo.

2.3. Solidariedade Mecânica e Orgânica

A humanidade, para Durkheim, está em constante evolução que será

caracterizado pelo aumento dos papéis sociais proporcionado pela complexidade

que a sociedade adquiriu com a Revolução Industrial. Levando-se a observar que

as sociedades existentes se estruturam de forma diferenciada, implicando dizer

que algumas se organizam sobre a forma de solidariedade conhecida como

mecânica (ou por similitudes), enquanto que outras se organizam sobre a forma

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de solidariedade conhecida como orgânica.

As sociedades organizadas sobre a forma de solidariedade mecânica

são aquelas onde é possível observar a existência de poucos papéis sociais.

Segundo Durkheim os membros viveriam de maneira semelhante e geralmente

ligados à crença e sentimentos comuns. Compete aí salientar a presença maciça

da consciência coletiva. Neste tipo de sociedade a individualidade não é tolerada.

Quando um membro começa a demonstrar atitudes dessa natureza o mesmo é

corrigido pelo grupo para que não quebre a harmonia social.

Já as sociedades organizadas sobre a forma de solidariedade orgânica

são aquelas onde nos deparamos com uma infinidade de papéis sociais. São

sociedades consideradas complexas, e que encontram a coesão social a partir

dos diferentes papéis desempenhados por cada elemento.

Esse tipo de solidariedade é característica de sociedades capitalistas,

onde a mesma é comparada a um organismo vivo, e seus órgãos vitais são

representados pelas instituições sociais. Se uma instituição social apresenta uma

dificuldade em desempenhar sua função de maneira eficaz, afetará a sociedade

como um todo, assim como dentro do organismo humano um dos seus órgãos

não funcionar de maneira saudável prejudicará o bom funcionamento dos demais.

A teoria funcionalista consiste justamente nessa dinâmica analisada por

Durkheim. Funcionalismo (do Latim fungere, que significa desempenhar).

Portanto, as instituições sociais ao desempenharem de maneira satisfatória sua

função, proporcionam a coesão social, caso contrário, considerar-se-á que a

sociedade estará passando por uma patologia, ou seja, uma doença.

Muitos funcionalistas argumentam que as instituições sociais são

interdependentes e formam um sistema estável e que uma mudança em uma

instituição irá precipitar uma mudança em outras instituições. Esse fenômeno é

denominado por Durkheim de analogia orgânica.

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3. DURKHEIM E A SUA INFLUÊNCIA NO DIREITO

Durkheim entende que o direito é um fenômeno social. A sociedade

humana é o meio onde o direito surge e se desenvolve, pois a ideia do direito

liga-se à ideia de conduta, de organização e de mudança.

Nesta perspectiva, as regras do direito são fatos sociais muito

importantes, porque impõem aos indivíduos obrigações e modos de

comportamento, aptos a garantir a coesão social.

Através desta análise, Durkheim apresenta a sua visão sobre a anomia.

Neste sentido, anomia significa “estado de desregramento”, situação na qual a

sociedade não desempenha o seu papel moderador, ou seja, não consegue

orientar e limitar a atividade do individuo. O resultado é que a vida se desregra e o

indivíduo sofre porque perde suas referências, vivendo num “vazio”

Genericamente o Direito pode ser definido como um conjunto de

normas e sanções correlatas, que organizadas e dotadas de força coativa primam

por organizar a sociedade de maneira mais efetiva, característica essa que o

diferencia de todos os outros conjuntos de normas existentes dotadas de sanções

difusas, tais como as normas morais.

Na célebre obra “Da Divisão do Trabalho Social” (De la division du

travail sócia) publicada em 1893, Durkheim expôs uma problematização sobre a

relação entre as formas de sociabilidade humana e as espécies jurídicas

existentes.

No que se refere a isso, o autor afirmou que em função do Direito

encontrar-se refletido em todas as formas de solidariedade, uma vez que ele se

constitui numa maneira de “ligar os homens entre si, prevendo e prevenindo

possíveis conflitos”, uma classificação sobre espécies jurídicas, necessariamente

representaria também, uma classificação sobre as formas de solidariedade social

existentes.

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4. CONCLUSÃO

A sociedade é dotada de uma alta complexidade de relações sociais,

onde as mesmas devem ser regulamentadas por instituições capazes de garantir

a ordem e a estabilidade social. Essa necessidade vem sendo percebida a partir

do momento em que a divisão do trabalho deixou de ser algo simples e passou a

exigir tanto de estudiosos, como do próprio Estado, uma postura mais significativa

no que se refere a organização social. A visão sociológica, acompanhada da visão

jurídica, contempla muito bem tal necessidade. Émile Durkheim, ao elaborar a

teoria do fato social, (afirma que o mesmo exerce um poder coercitivo sobre os

elementos, onde se por ventura o indivíduo tentar se rebelar contra os fatos

sociais, sofrerá castigos, aquilo que Durkheim irá chamar de pena, que será

aplicado a ele a partir do direito, ou seja, de forma jurídica, institucionalizada. Toda

sua teoria acerca da sociedade, leva a crer que a mesma não seria possível sem

a presença de um ente regulador. A ordem e o progresso de uma nação não

seriam possíveis sem a aplicabilidade das leis.

Portanto, os homens não seriam capazes de desenvolver o meio em

que vivem sem estarem sobre o julgo de uma instituição de caráter superior as

suas vontades e paixões. Sem tal direcionamento estariam fadados ao fracasso

da própria existência.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Cristina. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.

VASCONCELOS, Ana. Manual compacto de sociologia. São Paulo: Rideel, 2010.

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