teologia pastoral - josé deneval mendes

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Page 3: Teologia Pastoral - José Deneval Mendes

Todos os Direitos Reservados. Copyright (Q) 1988 para a língua portu-guesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.

253 Mendes, José Deneval, 1938- MENe Teologia Pastoral. Rio de Janeiro,

CPAD, 1988. 1 v.

1. Teologia pastoral. 2. Teologia pastoral - Manual. I. Título.

Casa Publicadora das Assembleias de Deus Caixa Postal 331 20001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

6o EDIÇÃO 1997

Page 4: Teologia Pastoral - José Deneval Mendes

Índice

Apresentação ................................................................................. 7 Introdução ..................................................................................... 9 1. A Chamada para o Ministério................................................. 11 2. Características do Ministério à Luz do Novo Testamento ..... 21 3. As Qualificações Essenciais do Ministro ................................. 33 4. A Preparação do Ministro ....................................................... 41 5. As Prioridades do Ministro ..................................................... 47 6. Perigos no Caminho do Ministro ............................................ 53 7. Ética Ministerial ..................................................................... 61 8. O Serviço Pastoral .................................................................. 67 9. Os Obreiros Locais.................................................................. 75

10. O Sustento Pastoral ................................................................ 83 11. O Pastor e as Reuniões ............................................................ 87 12. O Pastor e a Escola Dominical .............................................. 93 13. O Pastor como Líder .............................................................. 95 14. O Pastor e a Responsabilidade Social..................................... 101 15. O Pastor e a Construção de Templos ...................................... 107 16. A Hora de Mudança ................................................................ 111 17. O Pastor: Dificuldades e Recursos ........................................... 113 18. O Pastor e a Evangelização ..................................................... 115 Notas Bibliográficas ..................................................................... 119

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ÍNDICE DAS ABREVIATURAS USADAS NESTE LIVRO

VELHO TESTAMENTO

Gn - Génesis Ec - Eclesiastes Êx - Êxodo Ct - Cantares Lv - Levitico Is - Isaias Nm - Números Jr - Jeremias Dt - Deuteronômio Lm - Lamentações de Jeremias Js - Josué Ez - Ezequiel Jz - Juizes Dn - Daniel Rt - Rute Os - Oséias 1 Sm - 1 Samuel Jl - Joel 2 Sm - 2 Samuel Am - Amos

1 Rs - 1 Reis Ob - Obadias 2 Rs - 2 Reis Jn - Jonas

1 Cr - 1 Crónicas Mq - Miquéias 2 Cr - 2 Crónicas Na - Naum Ed - Esdras He - Habacuque Ne - Neemias Sf - Sofonias Et - Ester Ag - Ageu Jó - Jó Zc - Zacarias SI - Salmos Ml - Malaquias Pv - Provérbios

NOVO TESTAMENTO

Mt - Mateus 1 Tm - 1 Timóteo Mc - Marcos 2 Tm - 2 Timóteo Lc - Lucas Tt - Ti to Jo - João Fm - Filemon At - Atos Hb - Hebreus Rm - Romanos Tg - Tiago 1 Co - 1 Coríntios 1 Pe - 1 Pedro 2 Co - 2 Coríntios 2 Pe - 2 Pedro Gl - Gaiatas 1 Jo - 1 João Ef - Efésios 2 Jo - 2 João Fp - Filipenses 3 Jo - 3 João Cl - Colossenses Jd - Judas

1 Ts - 1 Tessalonicenses Ap - Apocalipse 2 Ts - 2 Tessalonicenses

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Apresentação

Apresentamos aqui o livro nº 1 da NOVA COLEÇÃO TEOLÓGICA DA ESTEADEB, de autoria do pastor José Deneval Mendes.

O autor trata, com muita propriedade e no seu estilo firme e concentrado, de vários assuntos que abrangem a Teologia Pastoral. 0 livro oferece, assim, um valioso ensi-no sobre a pessoa do ministro (a sua chamada, as suas qua-lificações, as suas características e o seu preparo) e sobre o serviço de um ministro: o serviço pastoral, as suas priori-dades, o pastor como líder, a sua responsabilidade social, o pastor e a Escola Dominical, o pastor e a evangelização, o sustento pastoral, etc.

Este livro representa, por isso, um valioso presente para nós, pois preenche uma lacuna na nossa Nova Cole-ção de Ensino Teológico, e será de muita utilidade para cada obreiro, e um valioso material didático para o ensino nas Escolas Teológicas e nos Seminários.

São Paulo, janeiro de 1988 José Wellington Bezerra da Costa

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Introdução

0 ministro precisa conhecer os diversos contextos nos quais vive e exerce sua missão.

Em primeiro lugar, o ministro vive num contexto espi-ritual, onde Jesus Cristo é o Senhor (Fp 3.8); a Ele deve o ministro engrandecer, com sua obediência incondicional e seu serviço abnegado. Neste contexto espiritual, três coisas são relevantes: a) O ministro conta com a presença, graça, sabedoria e poder do Senhor, sem o que, o homem de Deus nada pode realizar (Mt 28.18-19; Jo 15.5). b) A alma do ho-mem é imortal, e, restaurá-la para Deus constitui o alvo supremo do ministério evangélico, através da mensagem poderosa do Evangelho (Rm 1.16). c) Neste contexto, o mi-nistro tem um terrível inimigo, vencido, na verdade, mas que não descansa. É uma luta sem trégua, porém, no Se-nhor, há vitória plena (Ef 6.10-13; 1 Pe 5.8).

Em segundo lugar, o ministro vive e trabalha na socie-dade dos homens, da qual também é cidadão. Esta socie-dade está dividida em classes, permeada de injustiças, contaminada pelo ódio e pela promiscuidade. Ao servo de Deus é concedida a graça de conviver com os homens, sem

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envolver-se nos seus pecados; ele deve vencer as barreiras das classes sociais e dos preconceitos, e proclamar o Evan-gelho a todos, para que Cristo resplandeça nos corações e os homens sejam salvos (2 Co 4.5,6).

O ministro vive num mundo cheio de religiões. Este é o terceiro contexto. São religiões para todos os gostos, com toda forma de ritos, filosofia e princípio. Embora reconhe-cendo que não constituem solução para o problema do ho-mem, ao homem de Deus compete pregar o evangelho da graça de Deus na sua pureza de forma e conteúdo, mas sem agredir a ninguém, respeitando o direito de cada um.

Finalmente, o ministro vive num contexto institucio-nal, sendo o governo a principal instituição. Neste mundo das instituições públicas e privadas, o pastor tem de se re-lacionar de forma correta e digna, sem jamais curvar-se à corrupção, ao suborno nem associar-se a qualquer ativida-de ilícita ou ilegal. Exemplos não faltam na Palavra de Deus, os quais devem iluminar o andar cotidiano do homem de Deus. José, no Egito; Daniel, na Babilónia; Nee-mias, na Pérsia e como governador de seu povo;e muitos outros.

Com o objetivo de proporcionar maior visão e com-preensão da responsabilidade e missão do pastor é que se desenvolvem os capítulos seguintes.

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A Chamada para o Ministério

SEU MÉTODO

Deus chama homens para exercerem as mais distintas tarefas em sua obra, e, como Ele é soberano em seus desíg-nios, então não existe um método definido para a chamada divina. Existe, sim, o método divino, soberano e poderoso.

A Bíblia registra a chamada de vários servos de Deus, e, por uma questão didática apenas, queremos abordar este assunto sob dois aspectos:

a) Método direto

Deus tem chamado homens de um modo direto. En-tre esses, encontramos:

Noé. "Então disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos ho-mens: eis que os farei perecer juntamente com a terra" (Gn 6.13).

0 tempo era terrível, pois a sociedade estava corrom-pida à vista de Deus. A violência, a hostilidade e pecami-nosidade eram o ambiente natural daquela época. Em meio a esse ambiente conturbado, Deus chamou Noé e

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deu-lhe a ordem de construir uma arca. A chamada de Noé era para construir.

Podemos imaginar as ironias, pressões, contestações e até mesmo hostilidades que Noé sofreu quando começou seu projeto de construir a arca. Certamente ele foi tido como louco, paranóico. Porém Noé tinha plena certeza de sua chamada e missão dadas diretamente por Deus (Gn 6.8-12).

Abraão. "Ora disse o Senhor a Abrão: Sai da tua ter-ra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei" (Gn 12.1).

A chamada de Abraão era para deixar seu povo, sua cidade, seus parentes, amigos e até mesmo alguns bens, e ir para uma terra que ele não conhecia. Essa decisão exigiu fé e ousadia, e somente uma poderosa chamada de Deus poderia arrancar Abraão de sua terra para ir em busca de uma nova terra. Os homens consideram isso uma aventu-ra, um golpe no ar. Naquele tempo, certamente muitos amigos e parentes o aconselharam a abandonar essa ideia de ir para a terra prometida. Mas Abraão tinha certeza de sua chamada, e por isso, obedeceu (Gn 12.4).

Moisés. "Vem, agora, e Eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito" (Êx 3.10).

Moisés fracassou em sua primeira tentativa de ajudar seu povo (Êx 2.11-13), e, sem dúvida, esse revés marcou sua vida, e ele passou a se julgar incapaz para qualquer tipo de empreitada dessa ordem.

A chamada de Moisés contém o antídoto para sua frustração interior. Deus o chamou, primeiramente para si: "Vem, agora" e se identificou como o Deus de seus pais, Abraão, Isaque e Jacó (Êx 3.1-22). Moisés precisava co-nhecê-lo. Ele não tinha nenhuma experiência com Deus, a não ser os ensinamentos da infância, recebidos de sua mãe. Quem é chamado por Deus deve conhecê-lo. Em segundo lugar, Deus o enviou e o comissionou: Essa extraordinária chamada é que deu condição a Moisés de realizar tão notá-vel empreendimento. 12

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Samuel. "Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conhe-ceu que Samuel estava confirmado como profeta do Se-nhor" (1 Sm 3.20).

Os filhos de Eli, que seriam seus sucessores, tinham se tornado execráveis diante de Deus e do povo, em virtude dos abusos que praticavam, violando a Lei, que deviam cumprir e ensinar, e fazer o povo obedecer. Por esse moti-vo, a palavra do Senhor se tornou rara em todo o território de Israel, isto é, não havia profetas nem profecias. Deus se revelou a Samuel e lhe fez ciente de seu juízo sobre os fi-lhos de Eli (1 Sm 3.1-14). Essa experiência foi básica na qualificação de Samuel para o ministério profético. O re-sultado é visto quando Samuel, já velho, resigna seu cargo, e faz um balanço da sinceridade, austeridade e santidade de sua vida ministerial (1 Sm 12.1-4).

Isaías. "Vai, e dize a este povo..." (Is 6.9). A chamada de Isaías deu-se em meio a uma visão ma-

ravilhosa, onde se destaca a santidade do Senhor. Na vi-são, Isaías se conscientiza de três coisas: - Deus é Santo; ele (Isaías) é impuro e o povo está desviado dos retos cami-nhos do Senhor (Is 6.1-8).

Essa visão marca todo o ministério profético de Isaías, o que é demonstrado ao longo de seu livro. Ele compreende a grandeza da glória, perfeição, justiça e santidade de Deus, e, ao mesmo tempo, conhece a necessidade de seu povo - a redenção (Is 59).

A chamada de Isaías é muito semelhante à chamada neotestamentária: O pregador precisa conhecer a justiça de Deus e a necessidade do pecador, e a redenção em Cris-to.

Os apóstolos. "E Jesus disse: Vinde após mim, e Eu farei que sejais pescadores de homens" (Mc 1.17. Leia ain-da Mateus 4.18-22; João 1.35-42).

O Senhor chamou pessoalmente a cada um dos doze apóstolos. Houve o momento, inclusive, em que eles fa-ziam parte de um número bem maior de discípulos, porém o Senhor Jesus fez questão de separá-los novamente e fazer uma designação específica - apóstolos (Lc 6.12-16).

- Por que o Senhor Jesus fez tanta questão de chamá-los pessoalmente e ficar tanto tempo com eles? - Não te-

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mos dúvida de que a missão era por demais importante. Estes onze judeus iriam mudar o curso da história da hu-manidade. A maioria deles, e outros que seriam chamados posteriormente, haveriam de escrever com o próprio san-gue algumas páginas da História. Por esse motivo, justifi-ca-se o empenho do Mestre divino em chamá-los e prepa-rá-los.

Paulo. "Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente d visão celestial" (At 26.19).

O arrogante Saulo se considerava justo diante de Deus, pela justiça da Lei (Fp 3.6) e achava que, matando os cristãos, estava prestando grande serviço a Deus (At 8.1,3; 9.1,2).

Não seria qualquer chamada que iria mudar a vida e os propósitos deste homem. Por isso, o Senhor Jesus provi-denciou uma chamada inusitada. O impacto daquele en-contro com o Senhor foi tão marcante que o transformou completamente (At 9.3-19).

A conversão de Paulo tornou-se no acontecimento mais importante desde o Pentecoste até nossos dias. Está narrada três vezes (At 9.1-18; 22.1-11; 26.12-18). Logo após essa extraordinária conversão, Paulo já começou a teste-munhar de Cristo.

Alguns dias depois de sua conversão, Paulo foi enca-minhado para sua terra natal, a cidade de Tarso. Dez anos mais tarde, Barnabé foi buscá-lo, e é nessa época que Pau-lo inicia seu ministério apostólico (At 9.30; 11.25,26).

b) Método indireto

Deus não somente chamou de forma direta, mas também vemos na Bíblia que Ele usou método indireto com grande objetividade.

José. Ainda moço, José teve alguns sonhos que indi-cavam sua proeminência ou liderança sobre seus irmãos, porém, não se tratava de uma chamada definida (Gn 37.5-10).

Analisemos as fases da vida de José: a) Odiado e ven-dido pelos seus irmãos, b) De filho, transformado em es-cravo, c) Acusado injustamente, tornou-se prisioneiro no 14

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calabouço do rei egípcio, d) De prisioneiro, é elevado a pri-meiro-ministro do Egito.

O Egito na época de José era governado pelos hicsos e os Faraós eram considerados divinos, com poderes absolu-tos.

Governar essa nação já era uma tarefa difícil, muito mais ainda em duas fases distintas: uma de fartura e outra de extrema fome.

Quando examinamos as fases da vida de José, verifi-camos que não passam de um árduo e difícil treinamento, com o objetivo de moldar o cará ter desse servo de Deus. Entre outras coisas, José aprendeu:

- o que os homens são capazes de fazer, quando são alimentados pelo ódio, interesses, cobiça e inveja;

- o que Deus é capaz de realizar em favor e através de seus servos.

Nesse período de provação, José teve oportunidade de demonstrar fidelidade em momentos e lugares difíceis (Gn 39.1-6, 20-23); e de não ceder à tentação (Gn 39.7-13).

Por causa dessa chamada divina, José foi um líder sá-bio e justo, glorificando a Deus em sua proeminente mis-são no Egito. Aleluia!

Josué. "Então disse o Senhor a Moisés: toma para ti a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e põe a tua mão sobre ele" (Nm 27.18; Nm 27.15-23; Dt 1.38; 3.21; 31.7,8).

Josué é fruto de discipulado. Ele esteve ao lado de Moisés desde o início da jornada no deserto. A primeira missão que lhe coube foi selecionar homens para guerrear contra Amaleque (Êx 17.9). Em seguida, ele aparece como servidor de Moisés (Êx 24.13; 32.17; 33.11; Nm 11.28). Es-teve presente em todos os momentos críticos da jornada pelo deserto. Com isso, no serviço e na obediência prática, ele se transformou em um grande líder: "E Josué, filho de Num, estava cheio de espírito de sabedoria, porquanto Moisés tinha posto sobre ele as suas mãos; assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos e fizeram como o Senhor orde-nara a Moisés" (Dt 34.9).

Grandes homens de Deus aprenderam o discipulado com seus líderes espirituais. Durante anos, tiveram a opor-

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tunidade de demonstrar obediência, fidelidade e submis-são. Quando foram chamados a ocupar a liderança, esta-vam preparados, e Deus lhes falou, e confirmou a chamada para sua obra.

0 grande empecilho hoje é que muitos não querem es perar, obedecer, e submeter-se. Por isso são rejeitados.

Timóteo: "Saúda-vos Timóteo, meu cooperador..." (Rm 16.21).

Timóteo é o exemplo típico do ministro do Novo Tes-tamento, fruto do discipulado contínuo. Desde jovem tor-nou-se companheiro e cooperador do apóstolo Paulo (At 16.1; 17.14; 18.5; 19.22; 20.4). Mirou-se no exemplo, firme-za e fidelidade do grande apóstolo. A palavra enxertada por sua piedosa mãe, na infância, teve terreno e ambiente fértil para desenvolver-se. Paulo o chama de: "Meu filho amado e fiel no Senhor" (1 Co 4.17); "ministro de Deus... no evangelho de Cristo" (1 Ts 3.2) e, ainda, de "verdadeiro filho na fé" (1 Tm 1.2). Estas expressões demonstram o apreço que o apóstolo tinha por Timóteo, e também o seu caráter.

Com o passar dos anos, não foi difícil a Timóteo com-preender sua chamada ministerial.

SUA RAZÃO

Por que é importante a chamada divina para o mi-nistério? Qual a razão da chamada?

Ao descrevermos as chamadas de alguns servos de Deus, tivemos o propósito de, pelo menos parcialmente, responder a essas perguntas. Resumindo, podemos dizer que a chamada divina tem alguns propósitos importantes:

1 - Esclarecer que o ministério, seja qual for, nunca foi uma profissão na Antiga Aliança, muito menos na atual dispensação. Na Antiga Aliança o sacerdócio era privativo dos filhos de Arão, e os profetas eram chamados pelo Se nhor.

O ministério neotestamentário é um dom e uma voca-ção de Deus. "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres" (Ef 4.11). 16

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A partir desta premissa básica, o homem chamado pelo Senhor deve estar consciente de que:

a) Do Senhor vem a recompensa (1 Pe 5.2-4). b) Pelo Senhor ele será julgado (1 Co 4.3-5). 2 - A certeza da chamada de Deus faz o servo do Se

nhor superar obstáculos considerados, pelo homem co mum, insuperáveis ou além de qualquer possibilidade hu mana, senão vejamos:

a) Como compreender a posição de Moisés diante das rebeliões e tumultos que ele enfrentou no deserto? (Nm 12.1-16; 14.1-9; 16.1-19.) Como entender sua fervo rosa oração intercessória quando Deus quis destruir o povo israelita e fazer dele um novo e grande povo? (Nm 14.10- 19.) Só um homem vocacionado por Deus poderia ter capa cidade, calma e equilíbrio para vencer nesses momentos críticos. Moisés não era um super-homem, mas era um ho mem chamado pelo Senhor.

b) Como entender a perseverança de Paulo, que foi dado por morto, depois de ser apedrejado pelos judeus opo sitores do evangelho da graça, em continuar na sua missão de pregar essas boas-novas? (At 14.19-22.)

Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados. Ho-mens, que, no dizer do escritor da carta aos Hebreus, "por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obti-veram promessas, fecharam bocas de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada; da fraqueza tiraram força; fizeram-se poderosos em guerra..." (Hb 11.33,34.)

3 - A chamada é acompanhada da missão. Ninguém que é chamado pelo Senhor vive de um lado para outro, de um trabalho para outro, sem nunca ter certeza da vontade de Deus. Deus, quando chama, comissiona seu servo para uma missão específica

SUA OCASIÃO

Se Deus chama como quer, isto é, de modo soberano, é lógico que Ele também chama quando quer. Não há faixa etária privilegiada, como vemos a seguir: a) Desde o ventre, o Senhor chamou Jeremias (Jr 1.5) e Paulo (Gl 1.15,16).

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b) O Senhor chamou Samuel, sendo este bem jovem (1 Sm 3.3,4,20); também Davi (1 Sm 16.11-13) e, possivel-mente, Timóteo (At 16.1-3).

Em qualquer época de nossa existência, o Senhor pode nos chamar para o ministério ou para o cumprimento de uma missão em particular.

É evidente que, na maioria das vezes, o Senhor des-perta seus servos, em plena juventude para a obra do mi-nistério, o que lhes proporciona tempo para a preparação em escolas teológicas, no discipulado, nas atividades auxi-liares da igreja.

Quanto às circunstâncias das chamadas registradas no texto sagrado, são as mais variadas possíveis.

O Senhor chamou Davi quando cuidava do rebanho de seu pai (1 Sm 16.11); Eliseu quando andava lavrando com doze juntas de bois (1 Rs 19.19-21); Paulo a caminho de Damasco, com o objetivo de prender cristãos (At 26.12-16).

SUA NATUREZA

Quanto à natureza intrínseca, a chamada para o mi-nistério neotestamentário apresenta as seguintes carac-terísticas:

a) Divina. A responsabilidade da chamada ministe rial é do Senhor; "e Ele mesmo concedeu uns para..." (Ef 4.11). Não se trata de uma incumbência dada por conven ção, concílio ou igreja. Embora que estes possam ser ins trumentos de Deus na chamada de alguém.

b) Pessoal. A chamada para a salvação é universal. É para todos. A chamada para o ministério é pessoal; Deus tem o ministério ou missão certa para a pessoa certa. Ele é onisciente, conhecendo a capacidade de cada um, por isso, na distribuição dos talentos, estes são distribuídos segun do a capacidade de cada um (Mt 25.14,15). As responsabi- lidades diferem, por isso o Senhor chama o seu servo para o ministério e designa-lhe o lugar ou a missão, respeitando a sua capacidade, as suas características pessoais. A Paulo foi dado o ministério entre os gentios (At 9.15); a Pedro o ministério entre os judeus.

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c) Soberana. A soberania de Deus é ainda pouco en tendida por muitos, e, para se começar a entendê-la, é ne cessário que levemos em conta alguns aspectos acerca da personalidade do Senhor:

- Ele é a origem de todas as coisas. "Quem, pois, co nheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a Ele para que lhe venha a ser restituído? (Rm 11.34,35. Ler ainda Isaías 40.13; segunda Coríntios 2.16.)

- Ele é soberano porque a sabedoria e o poder são atri butos de sua pessoa (Jo 9.4; Dn 2.20).

- O servo do Senhor, ao ser chamado, deve aceitar com humildade, submissão, e como ato de soberania divi na. Certamente não conseguirá respostas para muitas in dagações imediatas. Só com o correr do tempo entenderá os desígnios do Senhor (Is 55.8,9; 1 Co 2.16).

d) Definitiva. A chamada para o ministério é também uma chamada para o discipulado. Logo, esta chamada en volve algumas condições indispensáveis, tais como:

- Que o ministro exerça seu ministério sem interesse de recompensa material (Lc 9.57,58).

- Que a prioridade maior entre as suas atividades seja o próprio Senhor Jesus. (Veja como Ele recusou o segundo lugar na vida de duas pessoas que queriam segui-lo. Lc 9.59-62).

- Que haja no ministro abnegação e renúncia. Em pri meiro lugar estará a vontade do Senhor (Mt 16.24; Lc 14.26,33).

A chamada para o ministério é definitiva. Aquele que é chamado não pode impor condições. Pelo contrário, deve agradecer a Deus o privilégio de ser chamado, como o fez Paulo (1 Tm 1.12,13).

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Características do Ministério à Luz do Novo

Testamento

O Novo Testamento dá ênfase ao ministério em virtu-de de sua importância na edificação e expansão da Igreja -o corpo de Cristo (Ef 4.15,16; Rm 12.4,5).

O grande amor que o Senhor tem pela Igreja fica de-monstrado:

a) Pela sua morte para salvá-la (Ef 5.25-27). b) Pela constante intercessão em favor dos santos (Hb 7.25; 9.24). c) Pelo derramamento de seu Espírito sobre seus servos (SI 68.18; Jo 16.7; At 2). d) Pelo cuidado permanente na edifi-cação e expansão da Igreja (Mc 16.19,20; At 8.4-8).

O ministério é o instrumento que o Senhor usa na edi-ficação e expansão da sua Igreja. O Novo Testamento rela-ta importantes características desse ministério, tais como:

CONCESSÕES DO MINISTÉRIO a)

Vocação

Como já foi estudado no capítulo anterior, os minis-tros não são profissionais, frutos de uma decisão meramente humana nem são sacerdotes separados em virtude de herança familiar. São vocacionados segundo um propósito

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divino, segundo a graça infinita de Deus. É um paradoxo, um Deus todo-poderoso chamar homens fracos e limitados para uma obra cujos resultados só a eternidade vai revelar (2 Co 4.6,7).

0 ministro não pode, portanto, questionar a vocação divina, mas deve aceitá-la como um privilégio, e manter-se humilde e temente a Deus.

A vocação divina constitui condição indispensável no exercício do ministério neotestamentário. Não havendo uma chamada específica, aquele que se arroga a exercer o ministério é um impostor.

b) Capacitaçâo

Sem entrar no aspecto da preparação para o minis-tério, o que será feito em outro capítulo, aqui desejamos abordar apenas a capacitaçâo espiritual para o desempe-nho do ministério.

Por mais capaz quanto à cultura e ao conhecimento teológico, por mais eloquente que seja o ministro, o fruto de seu ministério só será abundante e permanente se o Se-nhor capacitá-lo pelo seu Espírito. É uma capacitaçâo es-piritual, poderosa e indispensável.

O apóstolo sintetiza, de forma clara, a necessidade dessa capacitaçâo: "Não que por nós mesmos sejamos ca-pazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós: pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espí-rito vivifica" (2 Co 3.5,6 - ARA).

Ao longo do ministério, sempre há situações difíceis, problemas e decisões onde só o Espírito pode ajudar o ser-vo de Deus a agir de forma correta e justa, pois, algumas vezes, somente o Espírito conhece as consequências de uma decisão ou julgamento a ser tomado (SI 25.14; Jr 10.23; Jo 3.27; 15.5).

Um grande exemplo no Antigo Testamento de como o Senhor qualifica seu servo para o ministério encontramos em Moisés (Êx 4.1-12). 22

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c) Comissão

Em princípio, todo servo de Deus recebeu a "comis-são" de pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 16.15; Mt 28.19). Porém, o ministro, além do ministério específico que recebe do Senhor, também é comissionado para algum trabalho determinado pelo mesmo Senhor.

O apóstolo Paulo recebeu a chamada para o ministé-rio apostólico (Rm 1.1; 1 Co 1.1), mas em determinado mo-mento o Senhor comissionou para uma obra especial, a obra missionária (At 13.2-4).

Não podemos aceitar um ministro que não tenha uma missão a desenvolver; vivendo de um lado para outro, sem orientação, e, algumas vezes, trazendo problemas para pastores e igrejas.

d) Autoridade

Aqueles que são chamados para o ministério tam-bém são revestidos de autoridade para o desempenho de sua missão. O Senhor não apenas delega responsabilidades aos seus servos: concede igualmente autoridade para a sua execução.

0 apóstolo reivindica a sua autoridade para advertir e disciplinar os faltosos e presunçosos da igreja em Corinto, dizendo: "... não venha a usar de rigor segundo a autorida-de que o Senhor me conferiu para edificação, e não para destruir" (2 Co 13.10).

Cremos, ainda, que a chave da autoridade do ministro está em saber usar, com reverência e temor, pelo Espírito, o precioso nome do Senhor Jesus. Seja no ensino, na prega-ção, no aconselhamento, assim como ao repreender enfer-midades e espíritos imundos (At 3.6; 4.10; 9.34; 16.18; Ef 6.12; Lc 24.47).

OBJETIVO DO MINISTÉRIO

A tarefa primordial do ministério neotestamentário é a comunicação da Palavra de Deus. Os doze apóstolos fo-ram chamados para pregar o Evangelho do Reino de Deus (Mc 3.14; Lc 9.2; At 10.42). A Grande Comissão é uma or-dem expressa do Senhor Jesus para que seus discípulos,

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em qualquer tempo e lugar, comuniquem o seu Evangelho a todos os homens.

A comunicação das benditas verdades da Palavra de Deus se realiza de três modos distintos, porém combina-dos, como podemos verificar a partir do ministério do Se-nhor Jesus:

"Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sina-gogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo" (Mt 4.23). Esse método tríplice de comunicar a Palavra de Deus é visto em todo o ministério público do Senhor (Mt 9.35; Lc 4.17-19), e foi seguido pelos apóstolos, como podemos verificar em todo o livro de Atos (At 5.12,42; 6.2,4; 15. 35). Vejamos me-lhor em que consiste esse método tríplice:

a) A pregação

A pregação ou proclamação do evangelho consiste em anunciar as boas-novas de salvação àqueles que não a conhecem. João Batista proclamou a proximidade do reino de Deus (Mt 3.2; Lc 3.18). O Senhor Jesus deu continuida-de à mensagem de João Batista (Lc 4.43; Mt 4.23; 9.35). Os apóstolos anunciaram o Senhor Jesus, cumprindo sua missão (At 5.42; 11.20).

A pregação evangélica deve enfatizar que o Senhor Je-sus Cristo é o enviado do Pai como Senhor e Salvador. Ele não é apenas porta-voz do Reino: Ele mesmo é o Rei (At 8.5; 9.20; 1 Co 1.23; 2 Co 4.5; Fp 1.15).

O conteúdo da pregação cristã, portanto, apresenta alguns aspectos de suma importância, tais como:

- Pela pregação, é dado conhecer aos pecadores os grandes fatos salvíficos de Deus, realizados em e por Cris-to: sua encarnação (Jo 1.14), seu nascimento (Lc 2.1,14), sua morte (Mt 27.45-56; Mc 15.33-41; Lc 23.44-49; Jo 19.28-30), sua ressurreição (Mt 28.1-15; Mc 16.11; Lc 24.1-12; Jo 20.1-18) e sua exaltação (At 2.22-37; SI 16.8-11).

Pela pregação, dá-se testemunho do que Deus pode proporcionar aos homens através de Cristo: perdão, vida eterna, libertação do medo, da morte, de frustrações e po-der do Espírito Santo (Mc 16.15-18; At 10.43; 13.38; Cl 1.14; Jo 3.36; 5.24; 8.32; At 1.8). 24

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- A pregação apostólica era acompanhada de pene-trantes convites ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo (At 2.38,39; 3.19-26; 17.30-31).

Atualmente, existe a pregação que se constitui numa mera apresentação dos benefícios que recebe aquele que aceita o Senhor Jesus Cristo como seu Salvador. E a prega-ção que mostra apenas a "cura divina", a "libertação", etc. Dá ideia de uma salvação comercializada, que só mos-tra os efeitos e não a causa. Pode provocar distorções, pois dá ênfase à felicidade que desfruta o crente, e não ao se-nhorio de Cristo; realça os benefícios da salvação, e não a submissão ao Senhor. Algumas vezes despreza até a rege-neração do pecador em uma nova criatura.

A pregação, portanto, é uma forma de comunicar a Palavra de Deus, e deve ser cristocêntrica.

b)O ensino

O ensino ocupou, sem dúvida, a parte principal do ministério do Senhor Jesus, conforme registram os evan-gelhos. Na Grande Comissão, registrada por Mateus, o Se-nhor ordena: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espí-rito Santo; ensinando-os todas as coisas que vos tenho or-denado. E eis que estou convosco todos os dias até a consu-mação dos séculos" (Mt 28.19,20).

A pessoa que aceita o Senhor Jesus como seu Salvador pessoal, no dizer de Pedro, é como uma criança recém-nascida (1 Pe 2.2). Seu crescimento depende do ensino lógico e sistemático da Palavra. Esse novo crente precisa aprender a adorar, a amar e a servir a Deus; a vencer as astutas ciladas do Diabo, a combater o pecado, e viver de modo digno, de acordo com sua posição espiritual privilegiada. Isso só é possível pelo ensino da Palavra de Deus. O Mestre ensinou tudo com grande sabedoria (Mc 1.21; 6.6; Lc 4.15; Jo 6.59; 7.14; 18.20). Os apóstolos seguiram o exemplo do Mestre (At 4.2; 5.42; 11.26; 15.35; 18.11; 20.20). O apóstolo Paulo diz a Timóteo que homens fiéis devem ensinar (2 Tm 2.2), e que, ensinar deve ser uma qualificação básica dos bispos (1 Tm 3.2).

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Pelo ensino, os crentes são arraigados e edificados (Cl 2.6,7) e aprendem a vencer erros e hábitos condenáveis (Tt 1.9-11).

Portanto, todo o conselho de Deus, isto é, todas as ver-dades reveladas, devem ser objeto de ensino (At 20.27).

O ensino não é mera transmissão de conhecimento, antes, porém, é fator de mudança, correção e edificação. Logo, o ensino é um modo importante de comunicar a Pa-lavra de Deus.

c) Operação de Milagres

Os milagres se constituem numa forma de comuni-car as verdades da Palavra de Deus, como podemos verifi-car a seguir:

- Para demonstrar a autoridade do Filho em perdoar pecados: "Mas, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados, disse ao pa ralítico: Eu te ordeno: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para casa" (Lc 5.24).

- Para mostrar a unidade entre o Pai e o Filho (Jo 10.37,38; 14.31; 17.23).

- Para revelar a divindade do Senhor Jesus (Mt 27.54).

- Para despertar o espírito de investigação dos seus discípulos (Lc 8.25).

- Para despertar as multidões para a mensagem da Palavra de Deus (At 8.4-8).

Portanto, conclui-se que os milagres podem se consti-tuir numa forma de comunicar as verdades das Escrituras, despertar o espírito de investigação dos servos de Deus, ou, ainda, chamar a atenção dos homens para a própria men-sagem bíblica.

TIPOS DE MINISTÉRIOS

O Novo Testamento define diversas formas de minis-tério a ser desempenhado no âmbito da Igreja Cristã. Com-parando os diversos textos paulinos, conclui-se que essas formas de ministérios podem ser especificadas assim:

• Dons espirituais.

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• Dons ministeriais. • Serviços (Rm 12.3-8; 1 Co 12.4-6,28; Ef 4.11). Os dons espirituais são nove, e estão discriminados em

primeira Coríntios 12.8-10; os dons ministeriais em Efésios 4.11. Os serviços compreendem atividades específicas e que são realizadas de forma contínua na igreja, tais como ensino, administração, socorro, aconselhamento, etc. (Rm 12.3-8).

Uma das maravilhas que observamos ao longo das Es-crituras é que Deus se manifestou em três Pessoas divinas e age como Deus único e Verdadeiro. No estudo dos dons e serviços, a unidade divina opera através da diversidade (1 Co 12.27-30).

Pelo estudo do Novo Testamento, entende-se a impor-tância e como são indispensáveis os dons ministeriais para a edificação e expansão da Igreja de Cristo (Ef 4.9-16).

a) O Apóstolo

A sublimidade do ministério apostólico encontra-mos no seu exemplo maior - o Senhor Jesus Cristo: "Por is-so, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus, o qual é fiel àquele que o consti-tuiu" (Hb 3.1,2a).

O significado da palavra "apóstolo" no grego é: aquele que é enviado ou mensageiro. Neste sentido, os discípulos foram chamados: "Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, Eu também vos envio" (Jo 20.21).

No sentido amplo da palavra e da comissão dada pelo Senhor (Mc 16.15; Mt 28.19), todos os servos de Deus são apóstolos. Porém, no sentido restrito da palavra, o apósto-lo é chamado e comissionado a realizar uma obra específi-ca. A partir desta última premissa, conclui-se que, obser-vados os aspectos da experiência, chamada e obra realiza-da (comissão) pelos primeiros apóstolos (Paulo foi o últi-mo), eles tiveram a grande e importante missão de lançar os fundamentos da Igreja, como está relatado em Efésios 2.20: "Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e pro-fetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular".

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Todavia, não acreditamos que o ministério apostólico citado em Efésios 4.11 tenha simplesmente cessado. Ser-vos do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo realizaram obras que testemunham serem eles, verdadeiros apóstolos: Lutero, Knox, Fox, Hudson Taylor, e muitos outros.

b) O profeta

Não se pode confundir o ministério de profeta (Ef 4.11) com o dom de profecia (1 Co 14.3) nem tampouco com o ministério de evangelista e pastor. Verificamos, no livro de Atos, que se tratava de um ministério distinto (At 11.28; 13.1; 15.32; 21.10).

O profeta fala a Palavra de Deus sob inspiração do Espírito, relacionando-a com eventos futuros, interpretando as profecias com clareza, apelando à consciência dos ou-vintes pela emoção. Pode até predizer acontecimentos fu-turos (At 11.28), o que não é uma norma, pois a mensagem poderá ser para alegrar, consolar e fortalecer os crentes (At 15.32).

c) O evangelista

Para entender o tipo de trabalho do evangelista e sua importância, basta ler Atos 8.4-40, onde estão relata-das as atividades evangelísticas do diácono Filipe (At 6.5), mais tarde chamado de evangelista (At 21.8).

Apesar das escassas referências sobre o ministério de evangelista, não temos dúvida de que se constitui num mi-nistério distinto e de grande alcance.

O evangelista é um portador inflamado pelo amor de Deus de boas-novas ás almas perdidas, e cuja mensagem principal é a graça redentora de Deus.

No ministério evangelístico, é o normal Deus operar grandes milagres com o objetivo de despertar o povo para a mensagem da sua Palavra. Assim aconteceu em Samaria (At 8) e tem acontecido através dos tempos. É importante registrar que não se trata de sensacionalismo, e muito me-nos de mercenarismo; as operações divinas sempre têm ob-jetivos santos e redundam na glorificação de Deus.

Ressalte-se, ainda, que os milagres não dispensam, de forma alguma, a mensagem da Palavra. Quando Deus ope-28

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ra milagres, a atuação das pessoas é despertada e, então, o evangelista prega "Cristo crucificado".

d) O pastor

Muitos teólogos preferem agrupar pastor e mestre num só ministério. Realmente, torna-se difícil aceitar um pastor que não seja mestre, porém, podemos verificar que existiram e ainda existem mestres que, pelo menos, não exerceram o ministério pastoral.

Portanto, sem querer entrar no mérito da divergência teológica, preferimos estudar os dois ministérios separada-mente.

Trata-se do ministério mais destacado nas Escrituras, tendo como maior exemplo o Senhor Jesus (Jo 10.11; Hb 13.20; 1 Pe 2.25; 5.4).

0 ministério pastoral é muito amplo, e compreende os seguintes aspectos:

1 - Governar. Aos pastores cabe a função de supervi são (de forma sábia e competente) de reuniões, as sembleias e atividades administrativas das igrejas (1 Co 14.40; 1 Tm 5.17).

2 - Defender. Defender o rebanho de falsos mestres e profetas, que, com suas heresias, podem estragar ou desba ratar o rebanho de Deus (Tt 1.9-11; 2 Pe 2.1,3).

3- Alimentar. O rebanho de Deus necessita de alimento são e dosado pela Palavra. Aos pastores cabe alimentar de forma adequada a igreja, pelo ensino e doutrinação (1 Tm 4.11).

4 - Cuidar. Sempre existem ovelhas fracas, feridas, e algumas vezes querendo desgarrar-se do rebanho. O pas-tor, com paciência e amor, seguindo o exemplo do divino Pastor, tem de cuidar de todas (1 Pe 5.1-4; At 20.28).

e) O mestre

O ensino tem um lugar muito bem definido nas Es-crituras, e muito especialmente no Novo Testamento. É uma das formas de alimentar o rebanho. Crentes novos precisam crescer espiritualmente (1 Pe 2.2,3), e os antigos muitas vezes carecem de incentivo e correção (1 Tm 4.13).

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O mestre, conforme Efésios 4.11, não é apenas uma pessoa dotada de técnicas, habilidades e conhecimentos para ensinar. Trata-se, na verdade, de uma vocação dada pelo Senhor. Na vocação e consagração a Deus está o se-gredo da autoridade no ensino (Mt 7.29; Mc 1.22; 1 Co 2.4,5).

O mestre vocacionado não ensina de si mesmo (Jo 7.16), não busca fama, glória humana ou recompensa. En-sina para a edificação e crescimento da igreja, e para que em tudo o nome do Senhor seja engrandecido.

Concluindo, podemos dizer que os ministérios (Ef 4.11) são interdependentes e complementares. Da coopera-ção entre os diferentes ministérios depende um maior equilíbrio e crescimento da igreja. Na igreja em Antioquia, por exemplo, havia profetas e mestres (At 13.1).

Deve-se também ressaltar que nenhuma forma de mi-nistério é exclusiva, isto é, o pastor certamente será impul-sionado a fazer o trabalho evangelístico, ou vice-versa. Po-rém, Deus chama seus servos e concede-lhes o ministério adequado à sua personalidade e capacidade (Mt 25.15).

ALGUMAS DESIGNAÇÕES DADAS AOS MINISTROS

Em virtude da importância do ministério e da ampli-tude do assunto no Novo Testamento, muitas designações são dadas aos ministros. Essas designações também propi-ciam conhecer a extensão da atividade ministerial.

a) Anjo da igreja

Em Apocalipse 1.20; 2.1, o pastor da igreja é chama-do de anjo da igreja. Considerando que a palavra "anjo" significa, no grego, mensageiro, compreende-se que o pas-tor da igreja é o mensageiro de Deus pelo Espírito Santo para transmitir a mensagem que edifica, conforta e dirige a igreja.

b) Defensor da fé (Fp 1.7,16,17)

O ministro não é um mercenário ou explorador da fé nem tampouco um covarde, mas um defensor do Evange-lho. Pregando, e ensinando com o seu viver exemplar, do 30

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púlpito ele defende o evangelho dos ataques dos inimigos de Deus e da sã doutrina.

c) Despenseiro

O despenseiro é o encarregado da despensa. Atual-mente é o mesmo que almoxarife, aquele que cuida dos bens ou valores de alguém. No Novo Testamento, o ministro é designado como: 1 - Despenseiro dos mistérios de Deus (1 Co 4.1). O obreiro prega, e ensina à igreja do Deus vivo acerca dos mistérios: Cristo, os dons, as profecias, etc. 2 - Despenseiro de Deus ou da casa de Deus (Tt 1.7). O ministro deve distribuir, no devido tempo, o sustento àqueles a quem Deus lhe confiou (Lc 12.42-48; Mt 24.45-51). É um grande privilégio, mas também uma grande responsabilidade. 3 - Despenseiro da graça de Deus (1 Pe 4.10). Em Tito 2.1 lemos que "a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens", portanto, o ministro está comissionado a distribuir a graça divina pela pregação e ensino. Deve distribuir a graça e não a Lei, a graça e não a contenda e a confusão.

d) Embaixador de Cristo (2 Co 5.20)

O embaixador representa seu rei ou governante em outra nação. É um cargo de elevadíssima responsabilida-de, que exige grande preparação, pois o embaixador deve conhecer muito bem seu rei ou presidente e seus planos de governo. O ministro é um embaixador do Rei dos reis e Se-nhor dos senhores, é indispensável que o conheça; que co-nheça a sua Palavra e esteja em constante contato com Ele, para poder executar sempre a sua vontade.

e) Estrela (Ap 1.20)

Os pastores são comparados a estrelas e as igrejas a candeeiros. Nas densas trevas deste mundo, desta socieda-de corrompida, os pastores foram colocados para brilhar na igreja, pelo desempenho efetivo e fiel do seu ministério. Aqueles que cumprirem fielmente seu ministério têm grandes promessas (Dn 12.3).

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f) Cooperador (1 Co 3.9)

Cooperador é aquele que trabalha ao lado do opera-dor. Deus é o operador. Ele opera a salvação, os milagres, o crescimento (Jo 1.3-5, 12-13; 3.5; At 3.16; 1 Co 3.7). E sem Ele nada pode ser feito (Jo 15.4,5; 1 Co 3.5,6). O ministro é chamado para estar ao lado do Senhor e se constituir no instrumento que Ele usa no devido tempo.

g) Homem de Deus (1 Tm 6.11/

Este título fala muito mais do testemunho pessoal do ministro. Ele deve ser reconhecido na comunidade onde vive e serve como um homem de Deus. Na Velha Aliança, muitos deram exemplo e foram como tal reconhecidos (Dt 33.1; Jz 13.6; 1 Sm 2.27; 1 Rs 12.2; 2 Rs 1.9; 2 Cr 8.14; Jr 35.4).

h) Ministro

São muitas as qualificações nas quais se emprega este termo: ministro de Cristo, ministro da Palavra, mi-nistro da justiça, ministro de Deus, ministro do Novo Tes-tamento, ministro do Evangelho, etc. Cada uma identifi-cando o ministro dentro da sua nobre missão.

i) Servo

Paulo, Pedro, Tiago e Judas se autodenominam de servos de Deus e de Cristo (Rm 1.1; Fp 1.1; Tt 1.1; 2 Pe 1.1; Tg 1.1; Jd 1). Quando lemos os textos paulinos, parece que notamos ser este o título que mais o honrava. Realmente, o ministro consciente de sua vocação sente-se feliz de ser ser-vo de Deus. Um servo de "orelhas furadas" (Êx 21.6), isto é, para sempre pertencer ao Senhor, porque o ama. O servo não tem direitos e sempre depende de seu senhor. Sejamos servos do Deus Altíssimo e com alegria (2 Tm 2.24).

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As Qualificações

Essenciais do Ministro

O CARÁTER DO MINISTRO

O sucesso de um profissional, até certo ponto, inde-pende de sua vida particular ou privada. E é pouco prová-vel que o caráter de um arquiteto, médico ou dentista vá interferir diretamente no seu desempenho profissional. Po-rém, não é assim com o ministro de Deus.

O êxito no ministério está fundamentalmente ligado ao caráter santificado do ministro. O ministro lidera pes-soas a quem deve ensinar a verdade e por quem deve tra-balhar para promover o crescimento e o bem-estar espiri-tual. Logo, é exigido que a vida do ministro seja autêntica, isto é, transparente aos olhos dos liderados. Não significa que o servo de Deus seja perfeito, sem pecado. Os apóstolos não foram. Todos tiveram seus erros e defeitos de persona-lidade, porém, no todo, suas vidas demonstram elevado grau de piedade, sinceridade e santidade.

O ideal seria que se dissesse de todo ministro, o que se dizia a respeito de Orígenes: "Como ensina, assim vive, e como vive, assim ensina". Todavia, o mais indesejável e pernicioso para a obra do Senhor é quando se diz acerca de

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um obreiro: "0 que fazes fala tão alto que não posso ouvir o que dizes".

O exemplo do ministro falará muito mais alto do que todos os seus sermões, estudos e escritos. Não é em vão que os apóstolos Paulo e Pedro tenham descrito minuciosa-mente as qualificações espirituais essenciais para o minis-tro, das quais veremos algumas a seguir:

a) Irrepreensível (1 Tm 3.2)

Um homem cuja maneira de viver, reputação e ati-tudes, não podem sofrer qualquer reprovação. Paulo esco-lheu Timóteo para seu companheiro de viagem, porque "dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icô-nio" (At 16.2). Não havia necessidade de que ele mesmoi dissesse quem era, e nem de um punhado de certidões negativas, mas os irmãos testemunharam de sua conduta.

As fontes para informarem se o obreiro é irrepreensível são sua própria família, as famílias da igreja, os moços e moças, os seus vizinhos, os comerciantes que lhe vendem, o locador do imóvel onde mora, ou morou, etc.

b) Temperante (1 Tm 3.2)

Descreve-se aquele que é temperante ou vigilante como uma pessoa que é moderada nos seus apetites quanto à bebida, comida e sexo. O cristão amadurecido é tempe-rante, e tem um correto conhecimento da transitoriedade da vida e seus prazeres.

O ministro temperante é visto como uma pessoa de fé. Assim o foram Abel, Noé, Abraão, os profetas e apóstolos. Colocaram, pela fé, suas vidas no altar de Deus, e tiveram como de pouco valor o usufruírem os prazeres do mundo (Hb 11.13).

c) Sóbrio

São vários os versículos do Novo Testamento onde aparece a palavra "sóbrio" (1 Tm 3.2; 1 Pe 1.13; 5.8; 4.7; Tt 1.8; 2.11,12; 1 Ts 5.6).

Também é diversamente traduzido por "sóbrio", sen sato, cordato, prudente, etc. i 34

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O sóbrio é uma pessoa autocontrolada, moderada ou prudente em todos os aspectos de sua vida. Não se exalta, antes é humilde; não se precipita, antes é prudente, aguar-dando a bem-aventurada manifestação do Senhor Jesus ('risto

d) Ordeiro

Palavra também traduzida por honesto (ARC) e modesto (ARA - 1 Tm 3.2). Alguns se prendem apenas ao significado superficial da palavra, que trata do comporta-mento ordeiro ou do modo de vestir. Entretanto, original-mente, o escritor determina que o ministro deve cumprir seus deveres e ordenar sua vida interior, da qual surge o comportamento exterior.

O servo de Deus deve primeiro tratar de seus conflitos interiores, suas frustrações e ressentimentos, eliminando-os. Caso contrário, sua aparência exterior não passará de uma máscara.

Ordenando sua vida interior, o homem de Deus passa a ter um comportamento exemplar nos negócios (1 Ts 4.10-12; Cl 3.23,24); na sociedade (1 Co 10.31-33; Cl 4.5,6; 1 Pe 2.12-15); na igreja (Fp 1.27; Rm 14.19; Fp 2.3,4).

e) Nâo arrogante (Tt 1.7)

O arroeante é obstinado em sua própria opinião, tei-moso. Recusa-se a obedecer a outras pessoas. Mesmo ha-vendo evidências de que está errado, mantém obstinada-mente sua própria opinião e não aceita ponderações e con-selhos de outras pessoas. O arrogante procura sempre seus próprios interesses e direitos e não leva em consideração os direitos, sentimentos e interesses de outras pessoas.

Nunca se deveria separar para o ministério alguém que demonstre essa terrível qualidade negativa. O ministro não pode ser arrogante; ele tem de saber ouvir; de reco-nhecer, quando estiver errado; de saber obedecer para sa-ber liderar.

f) Nâo irascível (Tt 1.7)

O servo de Deus não é propenso à ira, porque aquele

que se ira com facilidade demonstra desequilíbrio, insegu-rança.

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A Bíblia não considera toda ira como pecado. Poderá haver momentos em que será preferível irar-se. A ira se constitui em pecado quando se prolonga e gera ressenti-mentos e desejos de vingança. Neste caso, é uma porta aberta para o Diabo operar (Ef 4.26,27; Rm 12.19).

As recomendações da Palavra de Deus contra o ira-cundo e contra a ira são inúmeras (Pv 22.24,25; 19.19; 20.2; Ec 7.9).

Ao servo do Senhor, portanto, não fica bem a ira, uma vez que lhe tira a condição de liderar, de aconselhar, e ain-da mais se a ira se transforma em ressentimentos de vin-gança (Rm 12.17-21).

g) Não violento (Tt 1.7)

Normalmente, a ira gera a violência. A violência, portanto, é, na realidade, a ira fora do controle, não mera-mente no aspecto verbal, mas também fisicamente.

Na tradução da Bíblia Viva, diz que o bispo não seja valentão, isto é, dado a brigas no aspecto físico.

É interessante notar que, tanto em primeira Timóteo 3.3, como em Tito 1.7, a recomendação "não violento" vem depois de "não dado ao vinho". Ora, todos sabemos que as brigas e contendas mais frequentes são fruto do uso de be-bida alcoólica. Compreendemos a preocupação de Paulo, nos dois textos, quando lemos primeira Coríntios 6.9-11, onde ele revela de onde foi tirada a Igreja. Logo, a reco-mendação é pertinente e adverte para que não haja qual-quer volta ao estado passado.

Não importa nossa origem, de onde saímos. O impor-tante é que o servo de Deus deve ter a graça de Deus, para manter-se tranquilo diante de situações de provocações, de dificuldades e angústias (Cl 3.12-15).

Deve-se entender que esta qualidade de ser não-violento é válida para todos os aspectos da vida cristã, isto é, na igreja, no trabalho secular e no lar. Muitos, às vezes, são calmos na igreja, porém são valentões em casa, espancando os filhos e até a esposa.

h) Inimigo de contendas (1 Tm 3.3)

Uma pessoa contenciosa se opõe aos outros, compe-36

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te, debate, busca sempre que as suas ideias prevaleçam. Não aceita as ideias de outras e até mesmo fica ressentido quando outras pessoas têm ideia melhor do que a sua.

O contendedor é uma pessoa perigosa porque desagre-ga o grupo e é rancoroso e invejoso: busca só os seus inte-resses, quer ser sempre o primeiro, o líder.

Por isso, o servo de Deus deve se livrar dessa perversa finalidade. "É necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e, sim, deve ser brando para com todos.. ." (2 Tm 2.24; Rm 12.16,18; 14.19; Ef 4.1-3).

i) Cordato (1 Tm 3.3)

Uma pessoa cordata é o oposto do irascível, do con-tendedor, e do violento. Busca sempre a paz e a unidade do grupo de que participa. E gentil e trata a todos com igual-dade.

O servo do Senhor participa normalmente de um gru-po de obreiros, de líderes, de cooperadores, portanto, deve ser cordato, para conquistar o respeito dos seus pares, e a coesão do grupo no qual está integrado.

j ) Justo (Tt 1.8)

O ministro enfrenta quase que diariamente situa -ções ou questões que o obrigarão a ter de julgar ou tomar uma decisão. E Paulo recomenda que o servo de Deus seja justo, isto é, não seja parcial. Não julgue pela aparência.

É evidente que a prática da justiça exige sabedoria de Deus. Só aqueles que têm sabedoria de Deus sabem discer-nir entre o certo e o errado, o justo e o injusto. O exemplo típico é o de Salomão ao julgar a causa de duas mulheres.

1) Piedoso (Tt 1.8)

Em sentido prático, o ministro deve ser justo em re-lação ao seu semelhante, e piedoso em relação ao seu Se-

nhor. "Piedoso no caráter" significa ser santo. É a santida-

de progressiva que mostra que o servo de Deus está no pro-

cesso de se tornar semelhante ao Senhor Jesus Cristo em sua vida e comportamento diários (Ef 4.1; Hb 7.26).

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A vida de oração e consagração levará o homem de Deus a desenvolver seu padrão de vida normal, de santida-de e integridade, em direção ao padrão divino. Não será fá-cil, pois o Inimigo fará constante oposição (2 Tm 3.12). Mas vale a pena, pois os homens piedosos são poderosos em palavras e atitudes.

ATITUDES DO MINISTRO NO DESEMPENHO DE SEU MINISTÉRIO

Além das qualificações especificadas no item anterior, e que entendemos serem próprias do caráter intrínseco do homem espiritual, queremos listar também, algumas ati-tudes que devem ser inerentes ao ministro no desempenho de seu ministério, diante da igreja do Senhor.

São qualificações que se evidenciam no relacionamen-to, por exemplo, do pastor com os demais obreiros da igre-ja, ou mesmo no relacionamento do pastor com os membros da igreja.

Estas qualificações afetam sobremodo o andamento da obra de Deus. Os crentes são estimulados pelos obreiros que desposam atitudes coerentes e exemplares como des-crevemos a seguir:

a) Voluntariedade

"Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangidos, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tor-nando-vos modelos do rebanho" (1 Pe 5.2,3).

No texto acima, o apóstolo Pedro fala de quatro atitu-des que o obreiro deve ter ao desempenhar seu ministério pastoral. A primeira é a voluntariedade ou espontaneida-de.

O verdadeiro obreiro demonstra sempre ser um solda-do voluntário, que trabalha porque ama seu Senhor. É como se fosse ouvida dos seus lábios esta canção: "Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei" (SI 40.8). Assim se apresentou Isaías para o ministério: "Eis-me aqui, envia-me a mim" (Is 6.8). Este foi o conselho do velho rei Davi para o seu filho Salo-38

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mão: "Conhece o Deus de teu pai, e serve-o de coração íntegro e alma voluntária..:' (1 Cr 28.9; 1 Ts 2.8).

As árduas tarefas ministeriais: o sofrer injustiça, a fal-ta de reconhecimento dos crentes, longos períodos sem qualquer descanso, podem levar o pastor a um espírito amargurado e a demonstrar estar trabalhando por obriga-ção. Então, é tempo de parar e renovar as forças físicas e mentais (com descanso mesmo) e as forças espirituais aos pés do Senhor.

b) Não Avarento

O Evangelho sofre atualmente grande desgaste no seio da sociedade por causa dos "mercenários", homens que fazem do ministério fonte de enriquecimento, verda-deiro comércio.

A avareza pode levar o servo de Deus a destruir seu ministério, pois se transforma num sentimento maligno, capaz de apagar os mais nobres anseios do espírito (Pv 15.27; Ec 5.10; Jr 17.11; 1 Tm 6.10; Tg 5.3). Eis, o que a avareza pode fazer:

- Acã apanhou o que era ilícito, mesmo sabendo que se tornaria maldito (Js 7.21).

- Balaão foi capaz de dar perverso conselho para ter os prémios de Balaque (Nm 31.15-16; 22.5; 23.8; 2 Pe 2.15; Jd 11; Ap 2.14).

- Judas Iscariotes traiu o Mestre por causa de trinta moedas de prata (Mt 26.14-16).

O pastor, portanto, deve ter cuidado para não se dei-xar dominar pelo sentimento da avareza. Em busca de bom salário, pode sair do plano de Deus, e seu ministério naufragar (Nm 16.15; 1 Sm 12.4; At 20.33).

c) Não dominador

O pastor não é um ditador, nem dono da igreja. O pastor é um servo, e como tal deve liderar o rebanho de Deus. O ensino básico sobre o governo da igreja foi dado pelo Mestre (Mt 20.25-28; Mc 10.42-45). Basta obedecer a estes princípios /fundamentais: "Quem quiser tornar-se

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grande entre vós, será esse o que vos sirva". "E quem qui-ser ser o primeiro entre vós, será servo de todos".

Nos primórdios da Igreja, o apóstolo João censura um certo Diótrefes de ter se transformado num ditador na igre-ja, porque queria exercer a primazia entre seus conservos (3 Jo 9-11). É interessante notar que nos versículos 9 e 10, João fala do comportamento de Diótrefes, e, no versículo 11, recomenda não imitarmos o que é mau, senão o que é bom.

A igreja perde substância e força na sua missão quando é governada despótica ou politicamente. A igreja deve ser dirigida na orientação do Espírito por homens submissos e tementes a Deus.

d) Modelo do rebanho

O pastor é o exemplo ou modelo do rebanho em tu-do. Como filho, como esposo, como pai, como aquele que compra ou que vende, etc. Na sua maneira de falar, de de-cidir, de se vestir, em tudo, os crentes o observarão. Feliz aquele que puder afirmar: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo" (1 Co 11.1).

Paulo e seus companheiros não tinham medo ou receio de se indicarem como exemplo para os irmãos (Fp 3.17; 2 Ts 3.9; 1 Tm 1.16). E a sua recomendação a Timóteo e a Tito era que se tornassem modelos para o rebanho de Deus (1 Tm 4.12; Tt 2.7).

Portanto, o pastor não tem como escapar, ele é o mo-delo ou exemplo dos seus liderados, obreiros ou membros.

Que Deus nos ajude a cumprir tão espinhosa missão! Muitas outras qualificações poderiam ser estudadas,

porém deixamos como tarefa aos leitores pesquisarem nas Escrituras, aplicando-se a tão edificante estudo.

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A Preparação do Ministro

a) A necessidade da preparação

É indispensável que o ministro tenha adequada pre-paração para desempenhar com êxito seu ministério. É evidente que a preparação ministerial tem variado de acor-do com a época, circunstâncias e lugar. Porém, todos os servos de Deus que escreveram páginas da história da Igreja foram homens preparados adequadamente.

Entendemos que a preparação para o exercício minis-terial compreende pelo menos três aspectos:

O Espírito Santo disse, através de Paulo, que o minis-tro "não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça, e incorra na condenação do Diabo" (1 Tm 3.6). Original-mente, "neófito" significa recém-plantado, novo converti-do, inexperiente.

A Bíblia Viva assim traduz primeira Timóteo 3.6: "O pastor não deve ser um cristão novato, pois poderia ficar orgulhoso de ter sido escolhido tãd depressa, e o orgulho vem da queda (a queda de Satanás é um exemplo)".

A experiência não se aprende na escola teológica ou secular. Aprende-se na escola da vida. Assim, compreen-

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demos porque alguns servos de Deus passaram por muitos sofrimentos:

José - Para exercer com dignidade e pleno êxito o car-go de primeiro-ministro do Egito experimentou a angústia da traição de seus próprios irmãos, a solidão do cárcere. Essas duras experiências o prepararam para o seu ministé-rio.

Moisés - Quanta diferença vemos no Moisés recém-saído do palácio, afoito e imprudente, que até cometeu um homicídio, e o Moisés quarenta anos depois, no deserto! No palácio, ele só viu a política, os conchavos, as pressões, a arrogância dos poderosos. No deserto ele teve tempo para meditar na grandeza e no poder do Criador.

Os apóstolos - Passaram três anos servindo e obede-cendo ao Senhor e o seguindo. Poderia haver melhor expe-riência?

Paulo - Recolheu-se durante dez anos em Tarso, sua cidade natal, para melhor compreender sua nova fé.

- Que diríamos dos demais profetas e ministros de Deus? - Todos tiveram tempo e oportunidade de passarem por longas e duras experiências pessoais, para se conhece-rem a si mesmos, em suas fraquezas e limitações; para co-nhecerem os homens que os rodeiam, com seus pecados, fracassos, necessidades, falsidades e maldades; para co-nhecerem o Senhor seu Deus, com seu poder, amor e verda-de. Isaías, em sua visão, narra no capítulo 6.1-8 do seu li-vro, que contemplou o Senhor em sua glória e majestade, que, nessa ocasião, conheceu-se a si mesmo como um peca-dor e viu seu povo completamente desviado.

Concluindo, a experiência pessoal leva o servo de Deus a se conhecer, conhecer os homens e conhecer o seu Senhor (Jr 17.5; Pv 28.26; SI 20.7; 1 Cr 28.9).

O ministério é coisa muito séria, por isso a primeira condição para exercê-lo é que o candidato não seja um neó-fito ou inexperiente.

A inexperiência tem conduzido muitos à soberba (1 Tm 6.4) e à presunção (Pv 3.7; Rm 12.16; 1 Co 8.2). 42

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b) A formação teológica

Muitos continuam a dizer que a formação teológica é plenamente dispensável, e, para comprovar suas afirma-ções, apontam para o fato de que os apóstolos não frequen-taram nenhuma escola teológica.

No entanto, estas afirmações são, no mínimo, ingé-nuas, pois jamais houve outra escola tão extraordinária quanto a que frequentaram os apóstolos. O professor foi o próprio Senhor Jesus Cristo, que não somente os ensinou a interpretar o Antigo Testamento, mas também, com a prá-tica, mostrou-lhes o que seria o ministério deles após sua morte e ressurreição.

Outros dizem que as Assembleias de Deus no Brasil cresceram com base no fecundo trabalho de homens iletra-dos, e que nunca cursaram qualquer escola ou faculdade de teologia. Todavia, esquecem que esses homens foram profundos conhecedores das Escrituras e que esse conheci-mento foi adquirido no discipulado de anos e anos. Foram cooperadores que, geralmente, passaram do diaconato ao presbítera to, até atingirem o ministério.

Na verdade, consciente ou inconscientemente, nas primeiras décadas, o movimento pentecostal iniciado pe-las Assembleias de Deus manteve o mesmo padrão de trei-namento do Divino Mestre. O pastor se acercava de coope-radores, trabalhando em tempo integral ou parcial, parti-cipando de estudos e escolas bíblicas temporárias, dirigin-do congregações pequenas, e, de acordo com seu desenvol-vimento espiritual, eram separados para o ministério. De modo gradual e equilibrado, muitos desses servos de Deus alcançaram a liderança de grandes igrejas.

Todavia, o que se deve ter em mente é que, indepen-dente do método ou do modo, o obreiro cristão deve ser preparado adequadamente no conhecimento teológico (2 Tm 2.15; 1 Tm 4.13; 1 Pe 1.10).

O conhecimento de Paulo ia além da teologia do Anti-go Testamento, para incluir conhecimento de teologia na-tural (At 17.22-29).

A formação teológica deve incluir, além da Teologia Sistemática, conhecimento de hermenêutica e exegese,

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história e geografia bíblica, homilética, ética cristã, etc. Tem sido considerada adequada a formação de boas esco-las e seminários teológicos ligados ao nosso movimento, obedecendo à orientação de ministérios ou convenções.

c) Formação cultural

A dinâmica social está cada vez mais' exigindo que os profissionais, das mais diferentes áreas do conhecimento humano, se preparem bem culturalmente. Por outro lado, as igrejas estão cada vez mais atingindo pessoas das di-ferentes classes sociais.

Portanto, o ministro do Senhor Jesus Cristo não deve ser uma pessoa culturalmente atrasada. A comunicação eficiente da Palavra de Deus exige bons conhecimentos da língua pátria e da atualidade.

Criar objeções contra a cultura, citando textos tais co-mo: primeira Coríntios 1.19-21; 2.6-8; Colossenses 2.8; pri-meira Timóteo 6.20, é desconhecer o verdadeiro sentido dessas passagens, pois elas não condenam o valor da ciên-cia, mas a sua má aplicação e o antagonismo criado contra Deus e sua Palavra.

A formação cultural não depende da conquista de um título de advogado, economista, sociólogo, etc. Muitas pes-soas com um ou mais títulos de bacharelado são cultural-mente retrógradas e pouco versáteis.

É interessante que o ministro tenha algum conheci-mento geral e noções de ciências sociais, como sociologia, antropologia, psicologia social, etc, pois, embora não seja isso essencial, pode ajudá-lo. Entretanto, é bom ressaltar que a cultura secular apenas o ajudará na comunicação da Palavra e no diálogo.

Na sua preparação teológica e cultural é indispensável que o pastor:

1 - Tenha o seu gabinete para oração, estudo e medi tação, por mais modesto que seja esse lugar; o importante é que seja um local silencioso e livre das constantes inter rupções do telefone e das visitas.

2 - Organize sua biblioteca própria com bons e selecio- nados livros de estudo e leitura.

3 - E o que é mais importante: crie o hábito de ter seu tempo separado para oração, estudo e meditação.

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Alguns obreiros gastam seu tempo todo no atendimen-to das inúmeras atividades pastorais e administrativas, e não conseguem ter um tempo separado para oração, estu-do e meditação, e até se dão por satisfeitos, porém esque-cem do que diz o Senhor: "Eu sou a porta. Se alguém en-trar por mim, será salvo; entrará e sairá e achará pasta-gens" (Jo 10.9). Precisamos "entrar e sair" constantemen-te na presença do Senhor.

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As Prioridades do Ministro

Uma das armas mais eficazes que Satanás tem usado contra a Igreja do Senhor Jesus é desviar os ministros de suas reais prioridades, envolvendo-os com coisas secundá-rias, ou fazendo-os inverter a ordem das prioridades.

É preciso estudar com atenção este assunto, porque muitas vezes os nossos hábitos adquiridos, e arraigados durante anos, nos impedem de aceitar uma revisão de prioridades para o nosso ministério. Preferimos continuar nos mesmos hábitos, no mesmo estilo de vida, embora a Palavra de Deus diga o contrário.

Preferimos dividir as prioridades em dois aspectos, mas, sem dúvida, não é essa a única maneira de estudáT

Ias.

PRIORIDADES PESSOAIS DO MINISTRO a)

O ministro e sua vida com Deus

A primeira tentativa de desvirtuar os apóstolos de suas reais prioridades deu-se nos primeiros dias da Igreja (At 6.1-7). Note-se que o motivo apresentado foi justo. Os helenistas achavam que suas viúvas estavam sendo prete-

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ridas na distribuição diária de alimentos, então foram aos apóstolos e exigiram uma solução para o caso. E possível que, na maneira de pensar deles, estivesse a ideia de que os apóstolos bem poderiam presidir a esse trabalho. Os após-tolos, porém, não abriram mão de suas prioridades: "Nós nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra" (At 6.4). Imediatamente, outros irmãos foram designados para o trabalho das mesas.

O versículo supracitado destaca as duas grandes prio-ridades do ministro: a pessoal e a ministerial.

A primeira prioridade pessoal do ministro é o seu rela-cionamento com Deus: "Nós nos consagraremos àoração". Ao tomarem esta decisão, estavam seguindo o exemplo do Mestre, que, embora sendo Senhor e Mestre, separou parte das horas do dia, as mais privilegiadas, para dedicar-se à comunhão plena com o Pai (Mc 1.35; 6.46,47; Lc 5.15,16; 6.12; 9.28,29; Mt 14.23).

Na relação "ministro-Deus-ministro" está a oração, a meditação na Palavra, a reflexão no trabalho desenvolvi-do. Sem esta estreita relação, não existe consistência no ministério, pois devemos entender que:

- Ele é o Senhor e o ministro um servo (Jo 13.13; Fp 2.9-11).

- Do Senhor depende o ministro em tudo (Jo 15.5; 2 Co 3.5).

- A Igreja é dele e para Ele (Ef 1.22,23; Cl 1.18).

b) O ministro e sua vida com a esposa

No casamento, duas pessoas de sexo oposto se unem de tal forma que as Escrituras dizem: "tornando-se os dois uma só carne" (Gn 2.23,24; Mt 19.4-6; Ef 5.29-31). Lendo os textos citados, convencemo-nos de que não existe união mais profunda e mais séria do que o casamento.

A esposa, portanto, é a companheira inseparável do ministro. Ninguém mais conhece tão profundamente os propósitos, a sinceridade, o sofrimento, as alegrias do servo de Deus, do que sua própria esposa.

Por esse motivo, a segunda prioridade do pastor é sua esposa, a quem ele deve dar amor, tempo e atenção, com o objetivo de que essa união não seja uma farsa. É impossí-48

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vel que o ministro tenha uma perfeita comunhão com Deus, se a sua vida conjugal é um desastre.

É preciso reconhecer que, ao nos levantarmos para pregar, diante de nós temos uma testemunha em "carne e osso" de todos os nossos atos, por mais íntimos que sejam. Nosso ensino e conselhos também são para ela, caso ela nos tenha como homens de Deus.

c) O ministro e sua vida com a família

A terceira prioridade do ministro é sua própria família, que inclui esposa e filhos. 0 apóstolo Paulo diz que o bispo "deve governar a sua própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito" (1 Tm 3.4). No versículo seguinte, inclusive, o escritor diz que aquele que não governar a sua casa está desqualificado para o minis-tério. (Leia com atenção o texto.)

É indispensável que o pastor não esqueça seus deveres para com sua família.

- Para com a esposa: - Respeitá-la (1 Pe 3.7). - Amá-la (Ef 5.25; Cl 3.19). - Ser-lhe fiel (Hb 13.4; Ml 2.14,15).

- Para com os filhos: - Amá-los (Tt 2.4). - Levá-los a Cristo (Mt 19.13,14). - Instruí-los na Palavra de Deus (Dt 4.9; Pv 22.6). - Não provocá-los (Ef 6.4; Cl 3.21). - Prover para eles (2 Co 12.14; 1 Tm 5.8). - Corrigi-los (Pv 13.24; 19.18; Hb 12.7).

Portanto, é de suma importância que o ministro cuide de sua família, dando-lhe amor, tempo, instrução e corre-ção. Em tudo seja um exemplo. Não esquecendo que sua família é uma prioridade sua, e que não pode delegar essa função e responsabilidade apenas à sua esposa.

PRIORIDADES DO MINISTÉRIO

Em virtude das múltiplas atividades que o pastor tem acumulado nos últimos decénios, com a renovação das igrejas evangélicas e seu consequente crescimento, a ver-

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dadeira prioridade do ministro tem sido ofuscada, e, até mesmo, esquecida, em algumas igrejas.

A situação é tão grave que muitos confundem a função de pastor com a de conselheiro, assistente social, adminis-trador, capataz de obras, etc.

Todavia, Pedro e os demais apóstolos foram decisivos ao responderem à comunidade dos irmãos: "Nós nos con-sagraremos à oração e ao ministério da palavra". Eles defi-niram de uma vez por todas que a prioridade do ministé-rio, seja do apóstolo, do profeta, do evangelista, do pastor ou mestre, é o ministério da Palavra.

Um pastor deve ser conhecido como um pregador, um homem da Palavra. Nenhuma outra distinção lhe é tão adequada. Seu alvo é simplesmente levar os crentes que Deus lhe deu à maturidade, pelo ministério da Palavra.

Os pastores não deveriam cair na armadilha de que o sucesso de seu ministério deve ser baseado na quantidade de membros que tem sua igreja, ou no tamanho do templo. Pois, não é esse o propósito de Deus ao dar ministros (após-tolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres) à igreja. Basta lermos com muita atenção o texto básico:

"E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pas-tores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" (Ef 4.11,12).

O texto diz clara e enfaticamente que o propósito de Deus, ao conceder os ministros à igreja, é que estes promo-vam o aperfeiçoamento dos santos. No sentido original, a palavra "aperfeiçoar" corresponde em nossa língua ao mesmo que equipar, treinar ou preparar.

Podemos representar graficamente a função dos mi-nistros:

MINISTROS FUNÇÃO OBJETIVOS:

Apóstolos

Profetas

DESEMPENHO DO

SEU SERVIÇO Evangelistas APERFEIÇOA

R

Pastores OS SANTOS EDIFICAÇÃO DO Mestres CORPO DE CRISTO

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A atividade básica do ministério é treinar, incentivar e orientar os santos para desempenharem o seu serviço de acordo com o dom ou capacidade que Deus lhes concedeu, e promover a edificação de todo o corpo de Cristo - a Igre-ja.

Este propósito está implícito na ordem do Senhor Je-sus Cristo registrada por Mateus: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28.19,20). "Fazer discípulo" subentende um exercício de treinamento e orientação, de forma que o crente seja firme, consciente e plenamente instruído na plenitude da mensa-gem das Escrituras...

Os apóstolos não perdem de vista o propósito de aper-feiçoar os santos dentro dos objetivos declarados em Efé-sios 4.11-16.

Paulo diz que a Palavra de Deus é suficiente para tor-nar o homem de Deus perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Tm 3.17), e que ele trabalhava com todo o empenho dentro desse objetivo: "o qual nós anun-ciamos advertindo a todo homem e ensinando a todo ho-mem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo" (Cl 1.28). Ao mesmo tempo de-termina a Timóteo que ministre a Palavra em todo o tem-po (2 Tm 4.1,2). O ensino das Escrituras deveria se consti-tuir na prioridade máxima do ministério de seu discípulo Timóteo (1 Tm 4.6,11-13; 2 Tm 2.2).

Portanto, através do ministério da Palavra, os pasto-res promovem o aperfeiçoamento dos santos com dois obje-tivos: a) desempenho do seu serviço, e b) edificação do cor-po de Cristo.

DESEMPENHO DO SEU SERVIÇO

Deus capacita a cada crente com dons, dentro de uma diversidade extraordinária, conforme descreve o apóstolo Paulo em Romanos 12.3-8 e primeira Coríntios 12. Ao pas-tor cabe a tarefa de cooperar com Deus na preparação par-ticular de cada crente, para que este desempenhe com

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equilíbrio, firmeza e alegria o seu ministério no corpo de Cristo.

Assim, uns serão líderes de grupos familiares, outros, socorro, outros serão usados com dons espirituais, outros participarão do ministério da música, e assim por diante.

EDIFICAÇÃO DO CORPO DE CRISTO

No desempenho de seu ministério específico, os santos também promovem a edificação da Igreja. Seja ajudando um ao outro ou ministrando conforme seu dom. Ao pastor cabe, como acima foi dito, em primeiro lugar, o aperfeiçoa-mento dos santos, e em segundo lugar coordenar as múlti-plas atividades da igreja, delegando, quando necessário; incentivando, e cobrando resultados.

O atingimento dos dois objetivos acima se desdobra em vários aspectos, conforme está descrito em Efésios 4.11-16:

1) Os crentes crescem na unidade da fé, cumprindo-se o anelo do Senhor Jesus (Jo 17.21). Desaparecem as divi sões, o partidarismo e outros males. Há uma conscientiza- ção quanto à missão da igreja (1 Co 3.1-3; Gl 4.1-3).

2) Todos buscam o pleno conhecimento do Filho de Deus. O conhecimento de Cristo leva o crente a ter expe riências profundas e crescentes (Jo 8.31,32; 17.3; Fp 3.10).

3) A edificação desenvolve-se em direção "à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cris to". Os crentes deixam de ser meninos inconstantes para se tornarem adultos na fé, na experiência cristã.

Conclui-se que a prioridade máxima do ministro é APERFEIÇOAR OS SANTOS.

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Perigos no Caminho do Ministro

Não são poucos os perigos pelos quais passa o ministro diariamente. Em virtude da elevada posição que ocupa e das responsabilidades inerentes à sua função, quando o Inimigo consegue derrotá-lo, atinge inevitavelmente mui-tas outras pessoas, dentro e fora da igreja.

Os escândalos têm terríveis consequências para a igre-ja, por isso todo cuidado é pouco, e devemos dar toda aten-ção à recomendação da Palavra de Deus: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina!" (1 Tm 4.16a.)

Tentaremos abordar alguns desses perigos, identifi-cando imediatamente algumas providências que o servo de Deus deve tomar para evitá-los.

A ACOMODAÇÃO (1 Tm 4.14)

Obreiros com a mesma mensagem de sempre, sem ini-ciativa na obra de Deus, que dizem estar sempre esperan-

do a revelação de Deus, são obreiros acomodados.

O apóstolo Paulo retrata o obreiro cristão com duas fi-

guras muito significativas: o soldado e o atleta (2 Tm 2.3- 53

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5; 1 Co 9.25-27). E, tanto o soldado quanto o atleta se dis-tinguem pela constante atividade, iniciativas, espírito de luta, e, principalmente, por perseguirem com persistência alvos certos.

O obreiro acomodado, sem ânimo e preguiçoso, nâo oferece nenhum perigo ao Diabo, pelo contrário, pode se tornar presa fácil para suas astutas ciladas.

Como vencer a acomodação

O meio de vencer a acomodação é a auto disciplina, isto é, o pastor deve cultivar a sua própria saúde pastoral, para poder fazer com alegria a obra do Senhor. Em primei-ra Timóteo 4.6-12, encontramos os passos da autodiscipli-na.

a) Alimentar-se com as palavras da fé (v 6). b) Alimentar-se com a boa doutrina (v 6). c) Abster-se das fábulas profanas (v 7a; Hb 5.11-14). d) Exercitar-se na piedade (v 7b). O pastor deve ter vida devocional particular de oração

e leitura das Escrituras para satisfazer suas próprias ne-cessidades espirituais. Rejeitar as polémicas sobre coisas fúteis e exercitar-se na piedade é necessário. "Piedade", neste texto, significa o elevado padrão da santidade e dos propósitos divinos, que o pastor deve buscar alcançar pelo treinamento necessário na oração, na Palavra e no serviço.

O PROFISSIONALISMO

Muitos pastores me têm confidenciado que se sentem constrangidos quando são obrigados a preencher fichas ca-dastrais onde consta profissão. Esses amados irmãos estão cheios de razão, pois o ministério não é profissão. O minis-tério, como já foi visto, é uma vocação divina.

Todavia, o ministro pode inadvertidamente tornar-se um profissional do evangelho. O ministro profissional é aquele que realiza a obra de Deus por dinheiro, de modo mecânico, porque não tem outro que a faça, e, por necessi-dade, sem atentar a quem serve e como deve servir.

Muitos dizem viver pela fé, mas nunca estão dispostos a pregar, cantar ou tocar sem saberem qual é a oferta. Isto, também é profissionalismo. 54

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Como vencer o profissionalismo

Basta ler o capítulo 20 do livro de Atos dos Apóstolos para cientificar-se do verdadeiro padrão do obreiro.

A força que movia Paulo a servir à igreja era o amor, amor que demonstrava de várias maneiras:

a) Amor pela profunda afeição existente entre ele e os irmãos, de modo recíproco (At 20.1,36-38). Paulo servia porque amava os irmãos, e, para servi-los sem lhes ser pe sado, trabalhava com as próprias mãos para seu sustento; na afeição entre Paulo e os irmãos, vista nos versículos 36 a 38, e várias outras passagens de Atos, constata-se que Pau lo, o grande apóstolo Paulo, não era um intocável; hoje há obreiros que se isolam do povo, são intocáveis. Cuidado!

b) Amor demonstrado pelo espírito liberal. Paulo pas sava pela Macedônia (At 20.1; 1 Co 16.1-4) para recolher uma oferta para os pobres de Jerusalém; quando lemos os textos que tratam da coleta que Paulo encarregou-se de fa zer em favor dos pobres da igreja em Jerusalém, podemos sentir o amor com que exercia este serviço; Paulo sabia dar, assim como sabia receber (Fp 4.10-20; At 20.24,33,35).

c) Amor demonstrado pela disponibilidade para o mi nistério. Paulo não tinha gabinete nem horário para servir aos irmãos (At 20.7-11; 18.21), mas ele estava sempre pronto a anunciar a Palavra de Deus, ministrando com amor e dedicação insuperáveis.

AS TENTAÇÕES

São muitas as tentações a que está exposto o homem de Deus, na sua vida e no seu ministério, embora alguns ir-mãos pensem que o ministro é um super-homem. Esta imagem é falsa, e o servo de Deus deve ter cuidado, pois o Diabo não descansa, mas graças a Deus que o servo obe-diente sempre tem vitória (1 Pe 5.8,9; Pv 1.10; 4.14; Rm 6.13; Ef 6.13; 2 Pe 2.9).

TENTAÇÕES DO SEXO

Causas principais deste tipo de tentação: a) Relaxar na autodisciplina. b) Mau relacionamento com a esposa e com a família.

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c) Deixar-se envolver com alguma irmã, com quem passa a conversar longo tempo, e até mesmo permitir con fidências.

d) Dar asas aos pensamentos pecaminosos. Sugestões para vencer este tipo de tentação: a) Reconhecer o problema e admitir que se trata de

cobiça. b) Voltar imediatamente à autodisciplina (oração/

meditação). c) Procurar eliminar os problemas da vida conjugal,

melhorando a comunicação familiar. d) Fazer da esposa a companheira inseparável na hora

do aconselhamento de irmãs e na visitação pastoral.

TENTAÇÕES DO DINHEIRO

Causas deste tipo de tentação: a) Sentir inveja daqueles que, fora do ministério, es

tão prosperando. b) Quando dedicado integralmente ao ministério, sen

tir vontade de voltar a associar a vida espiritual com ou tras atividades lucrativas, mesmo que isto vá prejudicar a sua espiritualidade, a sua família e o seu relacionamento com Deus.

c) Achar que, por ser pastor, não precisa contribuir para a igreja, é tornar-se usurário.

d) Sendo um pastor pobre, discriminar os irmãos ri cos, achando-os desonestos.

e) Administrar mal os recursos da igreja, achando que, por ser o pastor, deve dispor dos seus recursos como bem entender.

Sugestões para vencer essas tentações

Aprender com o apóstolo Paulo e outros servos de Deus (Fp 4.10-20; 1 Tm 6.6-12; Hb 13.5,6; Pv 15.16). A me-ditação nesses textos é suficiente para nos levar à plena confiança de que o importante é estarmos no centro da vontade de Deus. Ele é fiel para com aqueles a quem cha-mou para sua obra. Sejamos fiéis igualmente.

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TENTAÇÕES PELA INVEJA NO MINISTÉRIO

Alguns servos de Deus têm caído na cilada maligna do inconformismo, da inveja, da cobiça. Nunca estão satisfei-tos com o que estão fazendo. Se estão dirigindo uma igreja, acham que merecem e são capazes de dirigir outra maior ou mais bem localizada.

Certo jovem veio numa manhã a Spurgeon e lhe disse: "Eu tenho uma queixa a fazer. Minha congregação é muito pequena". Respondeu o grande pregador: "Bem, talvez ela seja do tamanho pelo qual você será capaz de prestar con-tas no dia do julgamento".

Homens de Deus há que perderam a condição de ser-virem a Deus, por que caíram no mesmo pecado de Miriã e Arão, e de Core e seus seguidores (Nra 12.1-8; 16.1-35). Querem o lugar e a função que não lhes pertence. Não se conformam em ser liderados, em permanecer no lugar onde foram colocados e esperar no Senhor. Acham que fo-ram chamados para liderar, apenas. Muitos já caíram neste tipo de tentação. Absalão (2 Sm 15.1,2,4); Adonias (1 Rs 1.5); os filhos de Zebedeu (Mt 20.20,21).

Ainda outros não se conformam em desempenhar o ministério ou serviços para o qual realmente foram voca-cionados. Sempre estão querendo mudar para fazer o tra-balho de outro irmão. É preciso ter cuidado, pois alguns já percorreram esse caminho e se deram muito mal. Uzias (2 Cr 26.16-21) e Diótrefes (3 Jo 9,10) são exemplos disso. Re-conheçamos também que existem diferentes dons e que cada um deve ser diligente segundo o dom que recebeu do Senhor (1 Co 12.12-30; Rm 12.3-8).

Sugestões para vencer este tipo de tentação

a) Duas perguntas o homem de Deus precisa fazer a si mesmo:

- "Estou no lugar onde Deus quer?" - "Estou exercendo o ministério de Deus como Ele

quer?" Caso estas respostas sejam positivas, agradeça a Deus

e prossiga para o alvo. Caso sejam negativas, coloque-se à disposição do Senhor e espere nele.

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b) Faça seu trabalho sem se preocupar com o que ou tros estão fazendo. A troca de experiência é válida, quando é feita com humildade e sinceridade, para glória de Deus.

c) Lembre-se de que ciúme e inveja são pecados, e que o ressentimento e o inconformismo podem prejudicar in teiramente sua vida espiritual (Hb 12.14,15).

d) O espírito de rivalidade só prejudica a igreja e seu próprio ministério.

e) Agradeça constantemente a Deus pelo que Ele está fazendo em sua obra. Não murmure (Mt 3.11; 1 Co 15.9).

TENTAÇÕES DO PÚLPITO

No púlpito está a grande força da igreja, pois é dele que o ministro prega e ensina a Palavra de Deus, com o ob-jetivo de aperfeiçoar os santos e salvar os perdidos.

Qualquer distorção ou enfraquecimento desse objetivo é uma derrota para a igreja, e o Diabo sabe disso; portanto, é importante que o pastor tenha cuidado com o púlpito e no púlpito.

As tentações mais comuns que sofre o ministro em re-lação ao púlpito são:

a) A auto-exaltação. O ministro é tentado a achar-se um grande pregador ou ensinador. Certo pastor descia do púlpito, depois de pregar, e um irmão lhe disse: - "O se nhor pregou maravilhosamente". O pastor respondeu: "O Diabo também me disse isso, lá no púlpito". Tenha cuida do com a auto-exaltação (Rm 12.16; Pv 13.10; 16.18; 1 Pe 5.5).

b) Confiança em sua capacidade. O ministro passa a depender muito de sua capacidade, habilidade e eloquên cia, ao invés de depender do Espírito Santo (Jo 3.27; 15.5; 16.7-11; 2 Co 3.5; At 4.33).

c) Pregar a Palavra de Deus sem que ela seja uma rea lidade em sua própria vida (2 Ts 3.9; 1 Tm 4.12; Tt 2.7; Tg 2.12).

d) Mentir ou exagerar quando está contando uma ilustração ou estória (Ef 4.25; Pv 12.19).

e) Falar aquilo que as pessoas querem ouvir ao invés de obedecer ao Espírito Santo (At 4.20).

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f) Manipular os seus ouvintes com estórias e ilustra ções emocionantes.

g) Usar o púlpito como martelo, para descarregar suas frustrações e nervosismos.

h) Relaxar na preparação da mensagem da Palavra por preguiça, e desculpar-se de que o Espírito dá a mensa-gem (At 17.11; Rm 15.4; 1 Tm 4.13-15; SI 1.2).

CLERICALISMO OU SACERDOTALISMO

Parece alguma coisa nova ou sem grande importância, porém, já se nota no seio da igreja a penetração desta cu-nha maligna.

O desvio da igreja primitiva deveu-se à institucionali-zação. E essa institucionalização deu-se em três níveis in-terdependentes: o culto, a doutrina e a organização. Com o intuito de "preservar" a "estabilidade" e a continuidade da igreja, alguns "líderes" do terceiro século substituíram a liberdade do Espírito por formas rígidas e institucionali-zadas nos três níveis.

Atualmente, o maior perigo se relaciona com o clerica-lismo ou a organização ministerial que surge quando os ministros se tornam uma classe separada do corpo e passam a dominá-lo com suas leis, regulamentos e exigências. Ou ainda, quando passam a impor a consagração de seus filhos e parentes ao ministério, mesmo que estes sejam inexperientes ou sem vocação. A tendência é a formação de uma casta sacerdotal.

É fundamental que se entenda que não se encontra em todo o Novo Testamento qualquer norma ou regulamento sobre o culto e a organização da igreja e do ministério. Nem tampouco o Senhor Jesus deixou expressa qualquer ordem nesse sentido. Donde se conclui que o culto deve ser dentro da liberdade do Espírito, preservando-se a ordem e a decência (função do ministério). A doutrina está toda re-velada na Palavra de Deus. E os ministros devem servir, cada um na vocação com que foi chamado e segundo o dom que o Senhor lhe deu. Nunca passou na mente do Senhor que eles deveriam se constituir em casta ou em clero orga-nizado.

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A prepotência de liderança de grandes igrejas também está relacionada com b clericalismo, pois basta examinar a história da Igreja Cristã para verificar que esta foi uma das formas de surgimento do bispado e, mais tarde, do papado.

Toda e qualquer distorção da forma neotestamentária do culto, doutrina ou ministério causa tristeza ao Espírito Santo e pode impedir sua ação.

A POLÍTICA E AS SOCIEDADES SECRETAS

O ministro não necessita viver alheio aos aconteci-mentos políticos de seu país. Pelo contrário, como cidadão, o pastor precisa conhecer a linha de pensamento ideológico dos partidos políticos para poder orientar seu povo.

Todavia, como ministro de Deus, o pastor sabe que a origem dos graves problemas económicos e sociais de sua pátria não está na forma de regime político, mas na deso-bediência dos homens aos preceitos de Deus. Sabe tam-bém que a solução, ao contrário do que propala a Teologia da Libertação, não está na instalação imediata do Reino de Deus na Terra, como forma de governo, mas no arrependi-mento e na aceitação de Jesus Cristo como Salvador e Se-nhor.

Pelo exposto acima, o pastor não deve atrelar-se a políticos nem a partidos, e, muito menos a Igreja. A inde-pendência do pastor e da igreja da política evitará cons-trangimentos, quando houver derrotas e ataques de adver-sários. Isso pode denegrir a vida da igreja e macular a sua imagem diante da sociedade (Jo 15.19; At 2.40; 2 Tm 2.4).

Não se pode nem pensar num verdadeiro ministro de Deus pertencendo a sociedades secretas. Ao homem que foi chamado por Deus para exercer o ministério pastoral não é permitido comprometer-se com outros senhores, socieda-des e filosofias.

Qualquer associação espúria ou subserviência a dou-trinas, filosofias ou ritos de origem pagã, deixará dúvidas sobre a legitimidade da chamada divina do pastor que a isso se sujeita.

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Ética Ministerial

Ética é a ciência dos deveres do homem; uma ciência que ensina como proceder na sociedade.

A ética vem a ser, pois, um código de regras ou princí-pios morais que regem a conduta, considerando as ações dos homens com referência à sua justiça ou injustiça, ten-dência ao bem ou ao mal.

Tomada como disciplina de ordem puramente huma-na, a ÉTICA é um ramo da Filosofia, porque examina e in-vestiga uma parte da experiência humana, a que concerne à vontade responsável e à conduta moral.

Atualmente, quase todas as profissões seculares dis-põem de um código de ética profissional, com vistas a orientar o comportamento de seus associados.

Que diremos do Ministério Evangélico? que diremos das santas normas reveladas nas Escrituras e fundamenta-das no caráter santo do Senhor?

O ministro de Deus tem de "orientar" sua vida de tal modo que "não se torne causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a Igreja de Deus" (1 Co 10.32).

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Portanto, o ministro do Evangelho não pode fugir à é-tica, sob pena de cometer falhas irreparáveis, que, acumuladas ao longo dos anos, podem comprometer seriamente seu ministério.

Não temos a pretensão de estabelecer princípios ou normas próprias ou meramente humanas, antes nosso alvo é mostrar o que diz a Bíblia, com o objetivo de ajudar nos-sos futuros ministros.

APARÊNCIA PESSOAL

Na Velha Aliança os sacerdotes vestiam-se com pom-pa, inclusive com roupas especiais, de acordo com o dia de festa (Lv 8.7-13). Era uma exigência divina.

Embora no Novo Testamento não haja qualquer refe-rência ao traje do ministro, temos certeza de que o zelo de Deus concernente a seus servos determina que os ministros se trajem com decência, elegância e discrição.

O ministro tem o dever de apresentar-se bem vestido em todas as ocasiões, a fim de evitar se expor ao ridículo. O uso de cores extravagantes e roupas completamente fora de moda não é adequado ao ministro.

Faz parte da indumentária e deve requerer certo cui-dado ao ministro o uso de sapatos limpos e engraxados. (Sapatos sujos dão ideia de relaxamento.)

Por outro lado, o ministro deve apresentar-se sempre com barba feita, cabelos cortados, unhas limpas, etc. Não pode se descuidar com a higiene pessoal. É comum o mi-nistro participar de longas reuniões durante o dia, e em lu-gares quentes. Nesse caso deve tomar tantos banhos quan-tos forem necessários, e trocar de roupa para evitar mau odor; deve escovar os dentes após as refeições para evitar o mau hálito.

O ministro é uma autoridade na comunidade onde vi-ve, e representa a igreja à qual serve; portanto, sua aparên-cia pessoal, de algum modo, reflete a aparência de seu po-vo.

Não é bom esquecer que o traje está relacionado com o meio ambiente, e o ministro não deve exagerar em usar roupas caras e de grande luxo, em lugares humildes. Pode

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humilhar, ou, pelo menos, constranger as pessoas. Isto, é uma questão de bom-senso.

A LINGUAGEM SÃ

"Torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedi-mento, no amor, na fé, na pureza" (1 Tm 4.12b) - é deter-minação do velho apóstolo e mestre ao seu discípulo, para que se tornasse um padrão na maneira de conversar. Aliás, é bom que fique claro o que envolve este aspecto do com-portamento humano:

a) Tonalidade da Voz

O ministro deve moderar sua voz para que não fale gritando, nem fale tão baixo que seja difícil ouvi-lo. Falar alto demais pode parecer exaltação, falta de convicção do que se fala, ou até mesmo falta de educação.

b) Vocabulário

O vocabulário do pastor não deve ser recheado de gírias e palavras obcenas (Ef 5.3; SI 34.13; Pv 13.3; 21.23).

Durante a pregação, devemos ter cuidado para não usar palavras "pesadas", ou então palavras incompreensí-veis aos ouvintes. O vocabulário deve ser de acordo com o auditório. Porém, é sempre preferível usar um vocabulário simples para ser compreendido.

c) Tipo de conversação

A Palavra de Deus condena a conversação torpe e vã. Conversas fúteis, anedotas e piadas constituem perda de tempo e pervertem os ouvintes. O pastor que se dá ao hábito de contar piadas ou anedotas, contar fatos de sua vida ministerial, do seu relacionamento com membros, com o objetivo de fazer gracejo ou até menosprezar irmãos humildes, perde o respeito e a autoridade (Ef 5.3,4; 1 Co 15.33; Pv 17.27; Cl 4.6; Tt 2.8; Tg 3.2; Ef 5.19).

d) Gestos

A fala também envolve os gestos, e o pastor deve ter cuidado para não ser exagerado nos seus gestos ao falar.

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Gesticular exageradamente chama muito a atenção das pessoas e, normalmente, se transfere para o púlpito na hora de pregar.

Nada justifica que o ministro de Deus venha a fazer gestos obcenos, mesmo em hora de ira.

e) Os Compromissos

O pastor tem um compromisso inalienável com a verdade. A Bíblia recomenda que o servo de Deus seja "de uma só palavra" (1 Tm 3.8). "Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar, vem do maligno" (Mt 5.37).

A mentira não tem grau. Alguns querem se desculpar que disseram uma "mentirinha" ou então que foi uma "mentira inofensiva". Toda mentira desvaloriza a pessoa humana, logo, o pastor que usa de mentiras estará se de-preciando diante de seu povo.

O pastor deve ter cuidado com seus compromissos. Ao empenhar sua palavra, ele deve fazer todo o possível para cumprir o prometido, mesmo com prejuízo. Muitas pes-soas se escandalizam ou rejeitam o evangelho porque fize-ram tratos com obreiros e depois estes se negaram a cum-pri-los (Pv 6.16,17; 19.5; Zc 8.16; 2 Co 13.8).

Dívidas são compromissos. O texto de Romanos 13.8, segundo a melhor interpretação, não proíbe tomar empres-tado, mas sim faltar com o pagamento ou contrato de de-volução, o que é contrário à vontade de Deus. O calote de-monstra falta de amor para com aquele que está sofrendo o prejuízo, e o cristão tem o dever de amar seus semelhantes (Rm 12.10; 13.8-10).

AMOR E RESPEITO DEVIDO AO COLEGA

Em virtude do conhecimento da Palavra de Deus que possuem os ministros, e da necessidade de entrosamento nas convenções ou ministérios, na dependência mútua, de-vem eles ter mais cuidado no relacionamento interpessoal, para que se evite o desgaste da imagem do pastor diante do rebanho. 64

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O amor e o respeito entre os pastores deve ser o pri-meiro exemplo a ser recebido pelo rebanho do Senhor. In-felizmente, nem sempre isso acontece.

O amor entre os ministros deve se expressar na ajuda mútua, no desejo espontâneo e sincero de ver o progresso do seu colega de ministério. Amar nosso companheiro é um mandamento do Senhor Jesus (Jo 13.34,35; 15.12; 1 Jo 4.7,20,21).

O respeito entre os ministros manifesta-se na forma como cada um se refere ao outro. Em primeiro lugar o pas-tor não deve falar mal do seu colega: "Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz". Se ele fala mal do seu colega, não pode exigir dos irmãos que vivam em paz uns com os outros, e sem falar mal uns dos outros, O pastor é o exemplo do rebanho (SI 50.19-21).

O respeito também se manifesta na forma como nos referimos a outra pessoa ou ao seu trabalho. Por isso o pas-tor, ao se referir a um seu colega, não deve fazê-lo de forma a depreciar a sua pessoa ou o seu trabalho. Ninguém é per-feito, nem todos têm o mesmo dom, e o julgamento da obra de cada um pertence ao Senhor (1 Co 4.3-5).

ALGUNS PRINCÍPIOS QUE FAZEM FALTA

Tendo em vista a sua posição social, o pastor deve es-tar preparado para todas as situações, a fim de não dar e nem sofrer constrangimentos. Por isso é recomendável que o pastor tome algumas lições, com professor ou em li-vros('), sobre as regras de boas maneiras, tais como:

- as formas e normas do cumprimento; - as formas de apresentação; - a arte de conversar; - como evitar vícios e cacoetes; - o bom procedimento à mesa (uso de talheres, modo

de sentar-se, etc), em almoços, jantares e banquetes. E muitas outras regras da etiqueta social.

O ministro não somente faz casamentos, mas também participa das recepções, onde frequentemente estão auto-ridades e pessoas da sociedade. E é vexatório ver o minis-

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tro falar com a boca cheia, mastigar fazendo barulho, pe-gar os talheres de modo errado, etc.

O ministro sempre é visto como exemplo em tudo, portanto não pode falhar nestes detalhes.

(1) Recomendamos o livro "Mil regras ilustradas de Boas Maneiras" de Maria do

Carmo Nickol - Edições de Ouro.

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8 O Serviço

Pastoral

No capítulo 6 vimos que a prioridade fundamental do ministério é aperfeiçoar os santos para a obra do ministé-rio. Do ponto de vista prático, esta prioridade se efetiva, pelo menos em grande parte, no serviço pastoral, pois ao pastor, como o "anjo da igreja" cabe a responsabilidade de liderar e orientar o rebanho de Deus.

O serviço pastoral compreende vários aspectos, que a seguir, abordaremos de forma sucinta, e dentro do ponto de vista da Teologia Pastoral.

A PREGAÇÃO E O ENSINO

Pregar e ensinar constitui a base do serviço pastoral considerando-se:

a) O ministério do Senhor Jesus era desdobrado em: ensinar, pregar e curar (Mt 4.23; 9.35; Mc 1.14,15).

b) A Grande Comissão dada pelo Senhor Jesus é regis trada em Marcos como: "Ide e pregai", e Mateus diz: "Ide, fazei discípulos, ensinando-os"

c) O apóstolo Paulo diz a respeito de seu ministério: "para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e mestre"

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(2 Tm 1.11). E em muitos outros textos ele afirma que foi chamado para pregar e ensinar (1 Tm 2.7; At 28.31).

d) Os demais apóstolos e discípulos ensinaram e pre-garam (At 4.2,18; 5.42; 1 Tm 4.11,13; 2 Tm 4.2).

0 pastor, portanto, deve estar apto a pregar a Cristo aos homens, o único meio de redenção (At 4.12; 8.5; 10.42; Rm 10.9-13). É através da pregação ungida pelo Espírito Santo que os homens são convencidos de sua situação mi-serável e recebem o Senhor Jesus como Salvador (Jo 16.7-

11). Ao pastor cumpre a missão de pregar em cultos públi-

cos, festividades, concentrações evangélicas, casamento, funerais e outras oportunidades, sempre com o santo obje-tivo de anunciar a salvação em Cristo Jesus, e edificar a igreja no verdadeiro fundamento da fé.

A pregação evangelística visa revelar Cristo aos perdi-dos, no fiel cumprimento da ordem estabelecida pelo Se-nhor. "E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evan-gelho a toda criatura" (Mc 16.15). Porém a pregação não é, necessariamente, sempre evangelística. A pregação exposi-tiva, principalmente, tem grande proveito na edificação e crescimento espiritual dos santos.

O ensino tem como objetivo incutir o conhecimento das doutrinas, história, geografia bíblica, e outras maté-rias teológicas. O ensino, em certo sentido, é mais profun-do e proporciona maior riqueza de detalhes.

Todavia, uma coisa deve ficar claro, a pregação e o en-sino são instrumentos poderosos no aperfeiçoamento dos santos.

CARACTERÍSTICAS DO ENSINO NA IGREJA

a) Abrangência

- O ensino na igreja deve ser ministrado da criança ao ancião. Todas as faixas etárias devem ser alvo do ensino bíblico (Dt 4.9; 11.19; Pv 22.6; SI 71.17; Cl 1.28).

O pastor deve sempre estar alerta para cientificar-se de que todas as faixas etárias estão sendo alvo do ensino da Bíblia em sua igreja, de forma adequada e cuidadosa. 68

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Escreva em uma folha de papel todas as atividades da igreja durante a semana, e, na frente, coloque o objetivo e a quem se dirige. É possível que o irmão chegue à conclu-são de que não tem nenhuma dirigida a crianças. (Leia com atenção Provérbios 22.6.)

b) Método

- 0 ensino deve ser ministrado com método e de for-ma sistemática. Nunca aleatoriamente. O método do Divi-no Mestre até hoje é copiado pelos ensinadores. Seu ensino era agradável e poderoso porque empregou método audio-visual nunca antes usado, e ensinava sob inspiração do Espírito Santo (Lc 4.16-22; Rm 12.7; Mt 6.28).

As igrejas têm se beneficiado com o advento da Escola Dominical, onde se ministra a Palavra de Deus, obedecen-do a princípios indispensáveis: classes por faixa etária, material didático (revistas, flanelógrafos, trabalhos ma-nuais) de acordo com a idade, salas separadas, etc.

0 pastor deve organizar, liderar e incentivar a Escola Dominical. É estranho que alguns obreiros a desprezem, não comparecendo ou não a incentivando.

c) Objetivo \

Do ponto de vista prático, o pastor deve estar preo-cupado no sentido de que o ensino da Palavra de Deus seja distribuído por todos os membros e congregados de sua igreja. Organizando de forma prática, o pastor deve:

1 - Ensinar aos membros e congregados da igreja a sã doutrina, visando mudar as más atitudes e o comporta mento e promover o crescimento espiritual, para que atin jam a varonilidade cristã (Ef 4.12-16; Cl 1.28; 1 Ts 3.12; Hb 5.14; 6.1; 1 Pe 2.2; 2 Pe 3.18; 1 Co 13.11).

2 - Ensinar e treinar obreiros para as diversas ativida des da igreja, tais como: professores da Escola Dominical, líderes de grupos familiares, dirigentes de congregações, líderes de mocidade, diáconos, presbíteros, e outros obrei ros (2 Tm 2.2; 3.10,14; Tt 1.5,9).

3 - Ensinar aos jovens. A corrupção generalizada da sociedade tem atingido principalmente a mocidade. O pastor deve dar atenção ao ensino, treinamento e aconse-

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lhamento específico para a juventude de sua igreja, pro-porcionando a eles maturidade para tomarem decisões quanto à profissão que desejam seguir, ao casamento, e ao ministério divino (1 Tm 5.1).

4 - Ensinar e aconselhar os casais. As mudanças so-ciais, ao invés de melhorar, vêm degradando a família.

A instituição do divórcio, o aborto ainda ilegal, mas praticado aos milhares anualmente, e outras violências contra a família, são as armas que Satanás vem usando para destruir esta instituição divina.

Acrescente-se, ainda, que, devido, muitas vezes, à ne-cessidade de complementar o orçamento familiar, as mães têm saído de casa para enfrentar o trabalho em escritórios, fábricas, lojas, e outras empresas. Essa situação tem con-tribuído negativamente no relacionamento conjugal e na criação dos filhos.

O pastor deve estar atento a essas circunstâncias para prover em tempo hábil o ensino adequado (cursos, pales-tras) e o aconselhamento, para noivos e casais.

VISITAÇÃO

"Visitar" significa ir ver alguém em casa ou em outro lugar com algum objetivo (afeição, cortesia, dever). O pas-tor tem o dever de visitar suas ovelhas, a fim de conhecer, aconselhar, ensinar, e prestar alguma ajuda.

O ministério do Senhor Jesus foi desenvolvido de casa em casa. Nas casas ele pregava, ensinava e fazia grandes maravilhas. Nos primórdios da igreja primitiva os apósto-los continuaram ensinando de casa em casa (At 5.42; 20.20).

Mesmo que a igreja disponha de boa equipe de irmãos voluntários para visitar, o pastor deve continuar a exercer este serviço pastoral, com oração e humildade. Todavia, precisa tomar as devidas precauções para não falhar, cair em ciladas, livrar-se da aparência do mal. Por isso, ao visi-tar faça-se acompanhar de sua esposa. No caso de sua es-posa estar impossibilitada, então convide um irmão idó-neo. 70

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Algo que o pastor não deve fazer é: - Avisar a família a ser visitada com intuito de ser re

cepcionado com almoço, jantar, lanche, etc, pois é uma atitude pouco recomendável. (Aliás, o pastor nunca deve habituar-se a fazer visitas com esse objetivo.)

- Visitar em horas inadequadas. Hora de trabalho, quando a família está envolvida com outras visitas de fa miliares distantes, etc.

- Visitar a esposa quando o chefe da família não esti ver em casa.

O ACONSELHAMENTO

O aconselhamento atinge da criança ao ancião na igreja e, às vezes, o pastor é chamado também a aconse-lhar não-crentes. É um serviço árduo, desgastante, porém, muito importante. Malaquias diz: "Porque os lábios do sa-cerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca de-vem os homens procurar a instrução, porque ele é mensa-geiro do Senhor dos Exércitos" (Ml 2.7 - ARA).

Quem quiser ser um bom conselheiro precisa depen-der inteiramente do Espírito Santo. Ele conhece as neces-sidades e anseios íntimos (Rm 8.26,27).

Atualmente, já existem nas livrarias evangélicas bons manuais sobre aconselhamento que podem ajudar.

Quanto ao dever de aconselhar, basta saber que exor-tar significa aconselhar, estimular, persuadir, etc. (Ler os textos: Rm 12.8; 2 Ts 3.12; 1 Tm 4.13; 6.2; Tt 2.15.)

A DISCIPLINA

É uma das tarefas mais difíceis para o pastor, porém indispensável, e deve ser realizada sob a direção do Espíri-to Santo - o Paracleto da Igreja, e em nome do Senhor Je-sus (Jo 14.26; 16.13; At 15.28,29; 1 Co 5.3-5).

a) Objetivo da disciplina

A disciplina não visa destruir almas, desmoronar la-res, desestimular pessoas, pelo contrário, os alvos são:

-Edificar (2 Co 10.8; 13.2,3,10). A correção oportuna edifica as vidas para serem úteis ao Senhor.

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- Preservar a sã doutrina das heresias e misturas com ensinos sem valor (1 Tm 1.3-5; Tt 1.13,14).

- Repreender e admoestar os que pecarem, afastando- os, pelo menos temporariamente, para que se arrependam e se corrijam (1 Co 5.3-5; 1 Tm 5.20; 2 Tm 4.2).

b) Como disciplinar

A disciplina exige do pastor algumas qualidades, tais como:

-Amor. A disciplina nunca deve ser feita com ódio, rancor, excessiva severidade ou dureza de coração, mas com amor (2 Co 2.6-8).

- Imparcialidade. O pastor não pode favorecer um em detrimento de outro. Diante da disciplina, todos são iguais: pobre, rico, sábio, iletrado, de qualquer cor ou posi ção social (1 Tm 5.21; Tg 3.17).

- Prudência. Todos são alvos do inimigo, portanto, de vemos agir com prudência, para que não sejamos também tentados (Gl 6.1; Rm 15.1; Ef 4.1,2).

- Justiça. A disciplina deve ser de acordo com a gravi dade da falta. Uma disciplina muito severa pode desenco rajar o servo de Deus. É preciso ter sempre em mente o va lor de uma alma e o preço pago no Calvário para salvá-la (Ef 5.9; 1 Tm 6.11; 2 Tm 2.22).

A ADMINISTRAÇÃO

Outro serviço pastoral compreende a administração espiritual e material da igreja que Deus lhe confiou. Isto significa:

a) A administração espiritual diz respeito a todo o ser viço espiritual da igreja, abrangendo cultos, ordenanças, festas, estudos bíblicos, louvor, etc. Evidentemente que o pastor não faz tudo, porém, organiza, supervisiona, desig na os que devem dirigir.

b) A administração do serviço material da igreja cor responde à sua organização jurídica (Presidência, Tesou raria, Secretaria, Património), assim como as compras de bens móveis e imóveis, construções, etc. Na administração material, o pastor deve colocar-se na posição de supervi- 72 '

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sor, delegando as tarefas e responsabilidades a pessoas realmente convertidas, dizimistas fiéis e capazes.

Conclusão: Em todo o serviço pastoral, o ministro nunca se deve julgar um super-homem, capaz de realizar tudo sozinho. Deve, pelo contrário, habituar-se a delegar tarefas e responsabilidades a seus cooperadores. 0 pastor deve ter em mente sempre a posição assumida pelos após-tolos: "E, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra" (At 6.4).

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9 Os Obreiros

Locais

O Senhor Jesus nunca cogitou de estabelecer um clero organizado hierarquicamente para dominar a igreja. Mas, deu sabedoria aos seus apóstolos, no tempo oportuno, para estabelecerem homens fiéis nos serviços indispensáveis da igreja.

O DIÁCONO

Primeiramente, foi notada a necessidade de prover a igreja de homens altamente qualificados, para servirem, principalmente, em serviços materiais. Então, foram sepa-rados os diáconos, que, no original, significa, servos (At 6.1-6).

As qualificações exigidas para ser diácono foram: boa reputação (testemunho dos de fora), cheios do Espírito Santo e de sabedoria. E, quando o apóstolo Paulo doutri-nou sobre a escolha de homens para exercerem o diacona-to, ele equiparou as virtudes morais e espirituais exigidas ao nível do ministro. Isso mostra as elevadas responsabili-dades do diácono. Entre essas qualificações estão: respeitáveis, de uma só palavra, sóbrios, não-avarentos, maridos fiéis e pais que sabem governar suas casas (1 Tm 3.8-13).

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Os candidatos ao diaconato devem ser homens prova-dos no serviço cotidiano da igreja (1 Tm 3.10).

Alguns diáconos, de acordo com o desempenho de suas tarefas, podem mais tarde vir a ocupar o ministério (1 Tm 3.13; At 8.5; 21.8).

O PRESBÍTERO

Presbítero e bispo indiscutivelmente indicam o mes-mo ofício, conforme os seguintes textos bíblicos: Tito 1.5-7; Atos 20.17,28. Entendemos que ancião ou presbítero refe-re-se à pessoa, enquanto bispo à função do ofício. Alguns fatos concernente à instituição de presbíteros são notáveis:

a) Eram separados por imposição de mãos (At 14.23; Tt 1.5).

b) Sempre são citados no plural, isto é, não é mencio nada uma só igreja onde houvesse apenas um presbítero (At 11.30; 15.2,4,6; 20.17; Tg 5.14; 1 Pe 5.1).

c) A palavra bispo vem do grego "episkopos" que sig nifica superintendente.

As funções dos presbíteros e bispos: - Governar (1 Tm 3.4,5; 5.17). - Ensinar (1 Tm 5.17). - Preservar a igreja das investidas do erro (Tt 1.9; At

15.6,22). - Pastorear o rebanho de Deus (At 20.28; Hb 13.17; 1

Pe 5.2). Chama-nos também a atenção que na igreja em Jeru-

salém havia presbíteros trabalhando com os apóstolos (At 15.2,4,6). Sem dúvida eram homens chamados por Deus para exercerem as importantes funções supracitadas.

O fato de serem citados sempre no plural e em cone-xão com uma igreja local, leva-nos a concluir tratar-se dé homens separados para exercerem um ministério local, isto é, como coadjuvantes nas funções de governar, ensi-nar e pastorear.

A contribuição dos presbíteros no crescimento e edifi-cação das Assembleias de Deus é imensurável, e só a eter-nidade poderá revelar.

Em virtude de a igreja local ser, ao mesmo tempo, uma entidade jurídica e espiritual, onde as atividades ma-76X\

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teriais, próprias das organizações, estão lado a lado com as atividades espirituais; há necessidade de que os diáconos e presbíteros estejam sob a orientação pastoral e coesos com o seu pastor, no desempenho de todos os serviços, sejam administrativos ou espirituais.

Por outro lado, devem os pastores ter o cuidado de se-parar para o diaconato e o presbiterato, homens consagra-dos e que já tenham dado provas suficientes no desempe-nho dessas funções. Separar para o diaconato e para o presbiterato com o objetivo de honrar determinadas pes-soas na igreja tem provocado sérias dificuldades para o próprio pastor e trazido consequências indesejáveis para a igreja.

DONS E SERVIÇOS NA IGREJA LOCAL

Quando lemos primeira Coríntios 12.12-30 temos a vi-são da Igreja de Cristo como seu corpo vivo, com uma infi-nidade de membros, cada um executando articuladamente sua função, dentro de uma diversidade de funções.

A essas funções a Palavra de Deus denomina de dons, que classificamos em: dons ministeriais, dons espirituais, e serviços. Numa classificação mais ampla, incluímos os dons naturais que também são uma dádiva divina, quando os crentes consagrados os colocam a serviço do reino de Deus.

Comparando primeira Coríntios 12.28,29 com Roma-nos 12.6-8, constatamos que o fato de estes dons e serviços aparecerem juntos num só texto demonstra a importância de todos sem distinção. Todos são igualmente importan-tes. A diversidade tem como objetivo o pleno funciona-mento do corpo, para seu crescimento quantitativo e quali-ficativo.

Como os dons ministeriais já foram objeto de estudo em capítulo anterior, queremos nos deter um pouco no es-tudo dos demais dons.

a) Dons espirituais

São manifestações do Espírito Santo concedidas à igreja com o objetivo de sua edificação, exortação e conso-lação. São nove, e estão citados nos capítulos doze (12) e

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catorze (14) da Primeira Epístola aos Coríntios; e que ex-plicamos sucintamente a seguir:

1 - A palavra da sabedoria, a palavra do conhecimen to e o discernimento de espíritos, constituem o primeiro grupo, também chamado de "dons de revelação". Estes dons são indispensáveis na administração espiritual e ma terial das igrejas, no estudo e exposição da Palavra, no combate espiritual contra os ardis de Satanás (At 5.1-11; 6.3,10; 16.16-18).

2 - A fé, dons de curar e operações de milagres, for mam o grupo dos "dons de poder". Paulo diz que Deus es colheu as coisas loucas, fracas, humildes, desprezadas e que nada representam, para confundir e envergonhar os sábios e poderosos deste mundo (1 Co 1.26-29). Foi munida deste poder que a igreja primitiva "transtornou o mundo" em uma só geração (At 3.1-13; 5.12; 13.6-13; 19.1-20, etc.)

3 - A profecia, variedade de línguas e capacidade de interpretá-las, constituem o grupo chamado de "dons de expressão verbal". Seu valor é indiscutível para "edifica ção, exortação e consolação", assim como para levar os ho mens à presença de Deus (1 Co 14.3,24).

Crentes consagrados a Deus podem ser instrumentos do Espírito Santo através dos dons espirituais. Porém, ou-tros crentes podem ser obreiros desempenhando "Dons em Forma de Serviço", como veremos:

b) Dons de serviço

1 - Socorro e misericórdia. Sempre há na igreja cren tes que se dedicam ao amparo dos aflitos e necessitados, à hospitalidade. O Novo Testamento registra nominalmente alguns desses servos de Deus: Dorcas, Gaio, Maria, Febe, entre outros.

2 - Doadores ou contribuintes. Constitui privilégio para alguns crentes abastados cooperarem de forma espe cial na manutenção da obra do Senhor com sua fazenda. Durante seu ministério público, o Senhor Jesus teve a coo peração de algumas mulheres voluntárias, que certamente supriam o Mestre e seus discípulos com roupa, alimenta ção e outros bens. "E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe presta- 78

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vam assistência com seus bens" (Lc 8.3 - Leia também: At 4.36,37.)

3 - Governos. Em primeira Coríntios 12.28, o apóstolo fala de "governos", em Romanos 12.8, ele fala de "o que preside" ambos como "dons". Entende-se que o escritor se refere a serviços na administração das igrejas, e que não necessariamente iguala estes dons ao de pastor. Podem existir muitos cargos na igreja que exijam habilidades ad ministrativas e que poderão ser ocupados por membros, porém, com essas qualificações.

4 - Exortação. Exortar significa aconselhar, encorajar, estimular, animar. Alguns têm ideia errada, achando que exortar é tratar com dureza o irmão. Uma só palavra de â- nimo, de conselho, pode levantar o irmão abatido ou des viado, mostrar um novo caminho para o indeciso, afastar do perigo o jovem que se deixou influenciar pelas más com panhias. Portanto, irmãos que têm estes dons são uma bênção para a igreja e grandes aliados do pastor no aconse lhamento. "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo" (Pv 25.11).

5 - Ministério. O termo usado pelo escritor sacro em Romanos 12.7 tem significado muito amplo: "Se ministé rio, dediquemo-nos ao ministério". Para entendermos, precisamos saber que o vocábulo "ministério" vem do gre go "diaconia", e significa qualquer tipo de serviço, desde a ministração da Palavra (At 6.4) até a administração dos assuntos materiais da igreja (At 6.3). Em sentido figurado, corresponde a todos os serviços dos sacerdotes e levitas no tabernáculo da Velha Aliança. Nas igrejas neotestamentá- rias está relacionado com o trabalho de secretaria, tesoura ria, assistência social, administração patrimonial, apoio logístico na realização de qualquer evento, tais como semi nários e cruzadas.

c) Dons naturais

Todos os dons e habilidades naturais, assim como as qualificações desenvolvidas durante a aprendizagem pro-fissional, devem ser colocadas à disposição do reino de Deus, pois também constituem uma dádiva divina. Aliás, o cristão não deve separar a sua vida em secular e sagrada.

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A vida cristã é vivida onde está o cristão, no lar, no traba-lho, na igreja.

Assim, o crente que tem facilidade natural para can-tar, compor, tocar, ensinar, argumentar, ou qualquer outra habilidade, deve colocá-la a serviço do reino de Deus, e se-rá um obreiro. Igualmente, o médico, o advogado, o conta-dor, o engenheiro, o carpinteiro, o pedreiro e qualquer ou-tro profissional, todos são úteis na obra do Senhor. E po-dem se tornar obreiros de Deus, na empresa secular, como na própria igreja.

Dentro desta perspectiva, os obreiros da igreja local não são apenas o diácono e o presbítero. São todos os ver-dadeiros crentes que colocam em ação o dom recebido do Senhor. Eles atuam na igreja numa diversidade de fun-ções, porém de forma harmónica, sendo de pouca impor-tância se têm algum título ou cargo.

ESTABELECENDO A COOPERAÇÃO

O exame da tipologia bíblica concernente à Igreja como corpo de Cristo, a cabeça, mostra uma riqueza inson-dável de significados. Os textos, por si só, revelam aspectos expressivos, tais como:

a) A interdependência entre a cabeça e o corpo. A ca beça se expressa através do corpo, que depende em tudo da cabeça, inclusive sua existência.

b) As interrelações que existem entre os membros de vem obedecer a dois princípios: a mutualidade (os membros dependem uns dos outros), e a harmonia (todos são importantes e necessários, e trabalham com um mes mo objetivo) . (Examine Rm 12.5; 1 Co 12.27; Ef 1.23; 4.12; Cl 1.18.)

Todavia, na realidade diária da igreja local, onde seus membros são pessoas que procedem de classes sociais dife-rentes, há formações sociais, familiares e culturais diver-sas, atitudes e ideias pessoais, e não é tão fácil conseguir que os princípios da mutualidade e harmonia se expressem em sua plenitude. Sempre existirão conflitos (At 6.1; Fp 4.2).

Ao pastor, na qualidade de homem de Deus e líder do povo, cabe a árdua tarefa de estabelecer princípios pela 80

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Palavra de Deus e na orientação do Espírito Santo, para obter a melhor cooperação entre obreiros e membros. Dois princípios são indispensáveis:

a) 0 princípio da autoridade. O pastor deve ter condi ção suficiente para decidir, orientar, ensinar, advertir (2 Co 10.8; 13.10).

b) O princípio do respeito. Deve existir respeito mútuo entre o pastor e seus cooperadores. Todos são servos de Deus, por isso, com submissão à vontade divina, humilda de e renúncia de seus propósitos e interesses, devem buscar solução para possíveis divergências.

Paulo reconhecia o valor de seus cooperadores na obra do Senhor. Em Filipenses 2.25, ele se refere a Epafrodito como irmão, cooperador e companheiro. Que relaciona-mento devia existir entre esses dois homens de Deus! Cer-tamente muito amor e respeito.

Nas cartas pastorais, vemos como o velho apóstolo de-monstra grande apreço por todos os seus cooperadores, in-clusive Marcos que, no passado, tinha sido rejeitado (2 Tm 4.11). Palavras de incentivo e exortação para que desem-penhem o ministério são abundantes.

Ganham as igrejas cujo pastor e seus cooperadores trabalham num espírito de elevada cooperação.

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10 O Sustento Pastoral

Não existe a menor dúvida quanto à legitimidade de o ministro receber seu sustento da igreja, à qual serve: "As-sim ordenou também o Senhor aos que pregam o evange-lho, que vivam do evangelho" (1 Co 9.14). "Devem ser con-siderados merecedores de dobrados honorários os presbíte-ros que presidem bem, com especialidade os que se afadi-gam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o grão. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário" (1 Tm 5.17,18).

Na Velha Aliança

Começaremos examinando este assunto a partir da Velha Aliança. Nessa dispensação, Deus fez um concerto com Arão e seus filhos, chamando-os para o sacerdócio, e com os levitas para servirem no tabernáculo (Nm 18.1-7). Deus quis que os sacerdotes e levitas se dedicassem inte-gralmente ao seu serviço (Dt 18.5), por isso tomou a provi-dência de suprir suas necessidades de sustento (Nm 18.8,12,13; Dt 18.1,3,4).

Uma das mais solenes advertências aos sacerdotes e levitas foi: "Pelo que não terão herança no meio de seus ir-

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mãos: O Senhor é a sua herança, como lhes tem dito" (Dt 18.2 - Leia também Números 18.20.) Com esta palavra, o Senhor determinava que eles deviam cuidar para não se intrometerem com os negócios desta vida. Não teriam campo para plantar ou criar, apenas restritas propriedades para manterem os animais entregues pelo povo como dízi-mos e ofertas.

Na Nova Aliança

O Senhor é o mesmo (Hb 13.8), e, nesta dispensação, tem chamado homens para serem seus ministros (Ef 4.11; At 13.2,4), tendo manifestado sua vontade no sentido de que eles se dediquem inteiramente a Ele e ao seu serviço (2 Tm 2.4), e promete cuidar deles (Fp 4.19).

Assim como na Antiga Aliança o Senhor determinou ao povo de Israel que entregasse seus dízimos e ofertas para sustento dos sacerdotes e levitas e manutenção do ta-bernáculo, assim também, nesta dispensação, o povo de Deus deve entregar seus dízimos e ofertas para manuten-ção do ministério e expansão do reino de Deus.

Em Israel, quando o povo se desviava para a idolatria, deixava de trazer ofertas e dízimos, então os sacerdotes e levitas abandonavam o altar do Senhor e partiam em bus-ca de trabalho nas outras tribos. Era um sinal evidente de decadência espiritual, tantas vezes constatada com triste-za (Ne 13.10; 1 Cr 31.4-11).

Portanto, podemos afirmar que o sustento pastoral visa levar o ministro a se dedicar em tempo integral ao mi-nistério, para cumprir fielmente a missão para a qual foi chamado.

Ao fixar o sustento do seu pastor, a igreja deve levar em consideração alguns aspectos relevantes:

a. O salário deve ser adequado ao tamanho de sua família, aos compromissos ministeriais, às exigências da própria igreja.

b. Deve ser suficiente para que o pastor e sua família tenham alimentação, vestes, meios de transportes, etc, de modo que a própria igreja sinta-se bem com o tratamento que está dando ao seu pastor.

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c. A igreja deve estar sempre atenta para despesas ex-tras de transporte, hospedagem, quando seu pastor viajar a seu serviço.

A fixação do salário pode ser função do ministério lo-cal, e sempre que possível deve se evitar explorações públi-cas quanto a valores.

Algumas igrejas são muito liberais em relação ao sus-tento de seu pastor, outras, porém, fazem de seu pastor um empregado de segunda classe, que recebe quando sobra. Os extremos são condenáveis, por isso, não concordamos com o pastor que gasta quanto quer, tampouco aceitamos que o servo de Deus sofra necessidades.

O apóstolo Paulo gloriava-se em trabalhar com as próprias mãos para se manter, sem depender da igreja (At 18.3; 20.34; 2 Ts 3.8). Não se tratava de orgulho, e sim de precaução contra falsos obreiros que tentavam acusá-lo de muitas coisas. Com essa atitude, ele tinha sempre plena li-berdade de falar com autoridade em defesa dos seus ensi-nos (1 Co 9.15; At 20.33,34; 2 Ts 3.6-11).

A humildade e a gratidão do apóstolo é demonstrada quando recebeu as ofertas da igreja em Filipos (Fp 4.14-17).

O trabalho pastoral feito com dedicação é pesado o bastante para ocupar integralmente o pastor.

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O Pastor e as Reuniões

São várias as reuniões que a igreja local realiza com fi-nalidades as mais diversas. Todas essas reuniões têm ca-racterísticas próprias. Cabe ao pastor, dentro da orienta-ção do Espírito e pela Palavra de Deus, buscar todos os meios para que, num clima verdadeiramente espiritual, o nome do Senhor seja engrandecido, os crentes edificados e os perdidos salvos.

Os recém-convertidos devem ser instruídos, e devem observar nos crentes mais antigos a maneira responsável e solene com que são tratados os assuntos da igreja.

Para melhor compreensão, procuramos dar algumas instruções sobre determinados tipos de reunião.

O CULTO PÚBLICO

Está entranhado na mente dos crentes que os cultos públicos são euangelísticos, isto é, se constituem na grande pescaria da igreja, principalmente aos domingos, à noite. Dentro desta perspectiva, a responsabilidade de cada crente é levar descrentes para ouvirem os cânticos da igreja e conjuntos corais, e finalmente a mensagem evangelís-tica do pastor ou seu preposto.

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No entanto, numa igreja cristã amadurecida, não de-veria haver esta única conotação, de que os cultos públicos são necessariamente evangelísticos. Em primeiro lugar, porque a partir da quarta perseguição movida contra a igreja, aproximadamente no ano 34 d.C, os santos assumi-ram a ordem missionária do Senhor Jesus (Mc 16.15; Mt 28.19,20), como relata Lucas: "Entrementes os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra" (At 8.4). "A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor" (At 11.21). E, como vimos em capítulo anterior, aos santos pertence a função de desem-penhar seu ministério visando ao aumento do corpo (Ef 4.11-16).

Em segundo lugar, o culto público onde a Palavra de Deus é exposta expositivamente, promove o crescimento e a edificação espiritual.

Alguns cuidados são indispensáveis na realização do culto público, para melhor proveito e a fim de que se evi-tem censuras.

Horário. Deve haver horário para começar e terminar qualquer culto, seja público ou privativo da congregação. Não é raro notar-se desleixo quanto ao horário de início dos cultos. Isso repercute muito mal para os visitantes. Quanto ao término, achamos que deve terminar no horário marca-do, exceto quando há uma "operação divina" no culto, como por exemplo, milagres, batismo no Espírito Santo ou renovação espiritual, então, seu retardamento se faz natu-ralmente. O culto não deve ser prolongado, por falta de or-ganização ou disciplina na distribuição de suas diversas partes.

Os motivos para não ultrapassar o horário estabeleci-do são vários: a atenção é dispersada, os visitantes saem, pais com crianças pequenas possivelmente terão aborreci-mentos; irmãos e irmãs que trabalham no dia seguinte muito cedo ficam aborrecidos com os pastores que prolon-gam o culto até tarde da noite, acusando-os de que assim procedem por não serem obrigados a enfrentar o trabalho secular no dia seguinte.

Cânticos. Com relação ao cântico, são diversos os cui-dados que se devem tomar. Tornou-se comum nas igrejas

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evangélicas o uso de guitarras e baterias. Particularmente, nada temos contra estes instrumentos, e sim contra o uso abusivo que deles se faz. As caixas acústicas a que estão li-gadas as guitarras e contrabaixos são dotadas de grande potência, produzindo um som ensurdecedor, e impedindo, inclusive, que se ouça o principal: o cântico da congrega-ção, conjunto e solistas.

Outro aspecto muito discutido hoje é relativo à imita-ção das músicas mundanas, tais como o samba e o rock. Ora, sabemos que a música no culto é importante na medi-da em que proporciona um ambiente espiritual agradável e propício à adoração. Não cremos que hinos com ritmo de samba ou rock, propiciem esse ambiente. É possível que estejam muito mais ligados a paixões carnais.

Ainda queremos levantar a questão da proporção do tempo gasto com cânticos e com a mensagem da Palavra.

Participamos de culto onde se gasta oitenta ou noventa por cento do tempo ouvindo cantores, conjuntos, corais e bandas. No final, ouve-se um breve testemunho ou men-sagem da Palavra. Não é outro o motivo por que muitos crentes são vazios e inconstantes.

Comportamento correio no púlpito. O comportamento do obreiro no púlpito exerce profunda influência na con-gregação, e mesmo no culto. Obreiros conversando, rindo, irreverentes na postura, que mais parecem estar assistindo ao culto do que participando, causam má impressão e pre-judicam o andamento e a reverência do culto.

O pastor, demonstrando nervosismo ou tensão, leva os cooperadores à mesma situação, e afeta também o culto.

A leitura das Escrituras. A leitura da Bíblia deve ser escolhida com antecedência e de acordo com a mensagem a ser proferida. Cada pastor tem um método de realizar essa leitura, todavia o importante é que seja feita com toda reverência e clareza.

A solenidade do culto. Todas as atividades dos obrei-

ros no púlpito devem ser reverentes. Os hinos devem ser escolhidos antecipadamente, e o período de louvor condu-

zido com alegria e reverência, de modo a preparar a con-

gregação para ouvir a mensagem da Palavra.

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Resumindo, podemos dizer que o culto deve ser sole-ne, sem, no entanto, ser rígido, formalista ou frio.

OS CULTOS DE ORAÇÃO E ENSINO

Toda igreja tem semanalmente um culto de oração e ensino. Em algumas igrejas só é permitida a entrada de membros nesse dia, e em outro dia se realiza uma reunião especial de instrução para novos convertidos e congrega-dos. Quanto a essa separação, a definição depende da con-veniência, do costume e da decisão da própria igreja. O im-portante é que a igreja mantenha essa reunião semanal para seus membros, congregados e novos convertidos. É uma grande oportunidade de efetuar estudo de temas e li-vros bíblicos de forma sistemática.

Nestes cultos não se deve perder tempo com muito cântico, anúncios, e outros assuntos de importância secun-dária. O pastor também deve ter o cuidado de planejar, com oração, evidentemente, os estudos a serem ministra-dos. Devem ser estudos doutrinários profundos e com apli-cação prática. O descuido destes itens vem sendo a alega-ção de muitos crentes para abandonarem os cultos de ora-ção e ensino.

REUNIÃO DE NEGÓCIOS

As igrejas devem ter uma reunião trimestral, semes-tral ou anual, para tratar de sua administração material. São as chamadas reuniões de negócios, quando a Diretoria presta contas e aprova o orçamento para o período seguin-te.

No seio das Assembleias de Deus é raro o procedimento de aprovar orçamento ou "previsão de receitas e despe:

sas". Porém, trata-se, de forma apropriada e pertinente, de administrar recursos financeiros, prevenindo-se de cri-ses ou dificuldades no cumprimento de compromissos.

Nessas reuniões, a participação somente de membros é mais aconselhável. Além de permitir uma discussão mais ampla dos assuntos administrativos, impede-se, um pou-co, de tornar público, aos curiosos, assuntos delicados da administração financeira da igreja. 90

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Concluindo, asseguramos que quaisquer que sejam as reuniões que se realizem na igreja, o pastor como seu líder natural, deve tomar conhecimento, e dar a devida orienta-ção, demonstrando interesse pelas diferentes atividades, mesmo que não seja necessária sua presença.

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O Pastor e a Escola Dominical

Não existe outra organização dentro da igreja local tão abrangente e de maior alcance quanto a Escola Dominical. Da mais tenra idade ao ancião, todos têm grande vanta-gem em participar de uma classe, como, por exemplo:

- acompanhamento direto, de acordo com o seu de senvolvimento físico, mental e psicológico;

- atenção direta do professor para seus problemas e dúvidas;

- maior facilidade de integrar-se nas diversas ativida- des da igreja;

- estudo sistemático e facilitado da Bíblia; - integração na igreja como comunidade religiosa e so

cial. Não se podem avaliar os efeitos benéficos da Escola

Dominical através dos tempos. Mas, se pode sentir no

coti-diano a bênção do crescimento espiritual, a salvação de almas e a integração resultante do seu bom funcionamento.

Todavia, a Escola Dominical só atinge seus objetivos

quando o pastor, como líder e exemplo do rebanho de

Deus, assume a responsabilidade:

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- de mobilizar o povo para se tornar participante; - de preparar os professores e demais obreiros, e, - de providenciar as condições mínimas para o seu

funcionamento. Para tornar claro este assunto, passamos a discutir os

itens acima.

A MOBILIZAÇÃO DO POVO

O pastor só consegue mobilizar os membros e congre-gados da igreja para se tornarem efetivos participantes da Escola Dominical, quando:

- ele mesmo e sua família são participantes entusias tas;

- ele mostra ao povo os benefícios do estudo sistemáti co da Palavra de Deus;

- ele fala constantemente sobre a responsabilidade dos pais em trazerem seus filhos à Escola Dominical.

Estes são alguns dos pontos relevantes para incentivar o povo de Deus a participar da Escola Dominical.

A PREPARAÇÃO DE PROFESSORES

Os professores precisam estar preparados para enfren-tarem o desafio de ensinar a Palavra, aproveitando a graça de Deus, a ajuda do Espírito, os recursos audiovisuais, e o seu conhecimento da Palavra.

Não se ensinem crianças como se fossem adultos e vice-versa. Cada faixa etária deve ser respeitada dentro de suas peculiaridades mentais e psicológicas.

O pastor, portanto, deve promover cursos para a pre-paração dos professores e demais obreiros. A liderança da Escola pode ser delegada a um irmão, com a supervisão do pastor.

CONDIÇÕES MÍNIMAS

Entendemos por condições mínimas: espaço físico, re-cursos audiovisuais, horário preestabelecido, estudo ante-cipado da lição, etc.

Só o pastor tem condição de providenciar esses recur-sos.

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13 O Pastor como Líder

O SIGNIFICADO DE LIDERANÇA

"Liderança", no seu significado secular, é a capacida-de de comandar (liderar) baseada no prestígio pessoal e aceita espontaneamente pelos liderados. O líder consegue atingir objetivos significativos com a participação voluntá-ria e entusiasta de outras pessoas. O líder não é apanhado de surpresa pelos acontecimentos, ele faz as coisas aconte-cerem.

O TRABALHO DE UM LlDER

Determina objetivos. Os alvos estabelecidos são men-suráveis a tal ponto que não há dúvidas sobre quando se deve atingir o quê.

Planeja atividades. Para atingir objetivos, é necessá-rio realizar atividades específicas. Essas atividades são planejadas de modo que o líder saiba o que deve acontecer a curto, médio e longo prazo.

Estabelece prioridades. Nem tudo pode ser feito ao mesmo tempo, por isso se pergunta constantemente: O quê? Por quê? Onde? Quando? Quem? Como? E, a partir das respostas, o líder estabelece o que é mais importante.

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Estabelece responsabilidades. O líder não é centrali-zador, pelo contrário, coordena as atividades por sábia de-legação. Com isso envolve muitas pessoas no seu trabalho.

Estabelece canais de comunicação. O líder não se iso-la, antes é acessível e está sempre aberto ao diálogo. Co-munica-se com clareza, evitando subterfúgios.

Desenvolve a cooperação. Cria as condições de traba-lho em grupo, estimulando a criatividade de seus compo-nentes.

Decide. Toma decisões oportunas e sábias. Não pos-terga desnecessariamente qualquer decisão.

Repreende. Repreende os comportamentos inadequa-dos com sinceridade, dizendo o que a pessoa fez errado, in-centivando-a.

Elogia. Elogia o comportamento, dizendo o que a pes-soa fez certo, encorajando-a.

A ÉTICA CRISTÃ APLICADA À LIDERANÇA

Embora saibamos que não exista uma liderança ou administração cristã propriamente, no entanto, a elevada ética cristã, devidamente aplicada à liderança, auxilia na sua otimização. Para maior compreensão, citamos alguns exemplos:

Propósito. O pastor, como líder, procura glorificar a Deus no seu serviço (SI 22.23; Mt 5.16; Jo 15.8; Rm 15.6; 1 Co 6.20). Age voluntariamente e não tem como objetivo se autopromover, mas busca a glória de Deus (Jo 5.44).

Método. Na liderança secular, o líder comanda, che-fia, com base no seu prestígio pessoal. O Senhor Jesus re-comendou aos seus servos: "Quem quiser ser o primeiro en-tre vós, será servo de todos" (Mc 10.44 - Leia Marcos 10.42-45.)

Motivação. Na vida moderna, muitas são as motiva-ções do líder: fama, dinheiro, poder, etc. Na vida cristã, a motivação errada torna todo o nosso trabalho questioná-vel. Portanto, é bom sabermos que o amor deve ser a base de todo relacionamento cristão, principalmente do pastor como líder. O pastor deve funcionar como modelo para seus liderados (1 Co 4.16; Fp 3.17; 2 Tm 1.13). O amor ver-96

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dadeiro se expressa em ação e não em mero sentimentalis-mo religioso (Tg 2.15,16; 1 Jo 3.16-18).

Percepção Escatológica. 0 pastor, mais do que qual-quer outro, deve ter uma percepção clara dos acontecimen-tos futuros. Como líder, sabe que em breve deverá dar con-tas de seu ministério, logo desenvolverá um senso de res-ponsabilidade mais aguçado (1 Co 3.10-15; Mt 25.19-30; Lc 12.48). Além disso, sabemos que há uma viva esperança para aquele que serve com integridade ao Senhor (1 Co 15.58).

Prioridades. Uma qualidade indispensável ao líder é saber estabelecer prioridades. O pastor, como líder, deve estabelecer prioridades dentro do conhecimento e da sub-missão à vontade de Deus.

Relacionamento. As relações pessoais do pastor exi-gem integridade e lisura, pelas quais se estabelece o princí-pio da autoridade pastoral.

Comportamento. Requer-se do pastor, como líder, uma vida de piedade e retidão diante de Deus e dos ho-mens (1 Tm 4.8).

PERIGOS NA LIDERANÇA

Um líder eficaz pode fracassar em plena atividade, pois são muitos os perigos a serem superados. E não é difí-cil esquecer algumas armadilhas colocadas no caminho. Ei-las:

Autoconfiança. É uma tendência natural, quando as coisas vão bem, confiar em nossas habilidades, experiên-cias, sabedoria, ao invés de depender de Deus. Esquece-mos que Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13 - medite tam-bém em Salmo 127.1; Jeremias 10.23; João 3.27; 15.5; se-gunda Coríntios 3.5).

Negligência. O pastor, como líder de uma grande obra, pode envolver-se tanto com muitas atividades, a ponto de negligenciar o maior bem, a fonte de sua própria força e motivação: a adoração. É na adoração que o pastor repassa para o Senhor seus conflitos interiores, suas frus-trações e temores, suas angústias. É na adoração que o pastor recebe novas forças e motivações (Gl 5.22; Jo 10.9).

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Não ouvir. "Risco muito sutil que ameaça os líderes cristãos experientes é a incapacidade de saber ouvir cole-gas mais jovens"('). Todos os obreiros que estão ao redor do pastor merecem ser ouvidos com atenção, e ter oportu-nidade de contribuir para a obra do Senhor, de forma par-ticipativa.

O pastor, como líder, precisa não apenas ouvir, mas ter humildade para reconhecer, quando errar, e tomar pro-vidências para corrigir-se. Assim se estabelece a autentici-dade, e em nada afeta a autoridade, até a fortalece.

Perder a Verdadeira Motivação e o Gozo de Servir. O papel mais elevado da liderança cristã é o de servo dos ser-vos. Este foi o exemplo transmitido pelo próprio Senhor Jesus que não veio para ser servido, mas para servir. Dois aspectos não podem ser deixados para trás: o amor que motiva, que leva o servo de Deus a servir sem interesse pró-prio, mas para glória de Deus; e o gozo desse serviço. "A alegria do Senhor é a vossa força" (Ne 8.10b). "Servi ao Senhor com alegria, apresentai-vos diante dele com cânti-cos" (SI 100.2). O amor motiva e a alegria fortalece, não obstante as dificuldades e os contratempos.

O PREÇO DA LIDERANÇA

O Senhor Jesus definiu claramente o preço a ser pago por quem aceita seu convite para liderar: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará" (Lc 9.23,24).

A liderança otimizada pelos elevados princípios da é-tica cristã exige um preço a ser pago pelo líder. Paulo, ao comparar o obreiro cristão com o atleta romano, afirma que sem autodisciplina não existe prémio (1 Co 9.25-27). E ao escrever a seu discípulo Timóteo, acrescenta: "Igualmente o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas" (2 Tm 2.5). O mesmo escritor dá uma visão mais prática às palavras do Senhor (Lc 9.23,24), quando afirma:

(') Liderança Crista - Visão Mundial

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"Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregi-mentou" (2 Tm 2.4).

A liderança legítima exige um preço a ser pago pelo líder, que se apresenta de muitas formas. Analisaremos al-guns destes aspectos. Porém, o leitor poderá descobrir muitos outros.

A crítica. Dependendo da forma como é feita, a crítica desestimula, aflige e pode provocar sérios problemas para o líder. Só aqueles que estão emocional e espiritualmente preparados suportam e até transformam a crítica num bem. Essa transformação se dá quando o líder, diante da crítica, faz uma acurada reflexão e leva o problema ao Se-nhor em oração.

A meditação. O líder precisa ter tempo para se dedi-car à meditação e ao pensamento criativo. Líderes muito ocupados, que não têm tempo para refletir, avaliar seu tra-balho, planejar suas atividades, etc, geralmente entram na rotina ou em crise. O exemplo maior está no Senhor Je-sus, que separava tempo para estar a sós com Deus.

Decisões difíceis. Um outro preço a ser pago pelo pas-tor como líder, está na hora de tomar decisões. Existem de-cisões difíceis que merecem tempo para avaliar suas conse-quências e pedir orientação a Deus. Outras decisões não agradáveis a certas pessoas ou grupos na igreja precisam ser tomadas, e o pastor não pode fugir à sua responsabili-dade. Afastar obreiros incapazes ou problemáticos, fazer mudanças administrativas, exigir ordem e disciplina, são algumas decisões que nem sempre agradam a todos os crentes.

Tentações. Mais uma vez temos de falar sobre tenta-ções; neste caso elas constituem um preço a ser pago pelo pastor. Rejeitá-las, manter-se vigilante, para não se deixar dominar, nem sempre é fácil. E um preço a ser pago.

Entre as tentações que mais atacam o pastor como líder estão: o abuso do poder, o orgulho, a inveja e a com-petição.

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Ao ser colocado na liderança de uma igreja, o pastor recebe autoridade legítima para exercer controle e influên-cia, com o objetivo de edificar seus membros (Mt 16.19; 18.18; 2 Co 10.8; 13.10).

O uso dessa autoridade deve ser sempre dentro do que ensina a Palavra de Deus e da orientação do Espírito San-to. O pastor nunca deve permitir que sua autoridade leve à exaltação do ego e ao autoritarismo.

A popularidade, a fama, e o poder podem afetar o de-sempenho do líder, quando ele deixa que sentimentos de orgulho e inveja o dominem. É comum tais pessoas se jul-garem indispensáveis ou infalíveis. Sentem-se tão seguras de si, e pensam que jamais podem ser substituídos à altu-ra. Em seus conceitos, as outras pessoas são incapazes -pensam -, mesmo que não expressem em palavras tal sen-timento. Por outro lado, essa falsa segurança leva-as a não reconhecerem seus erros, nem ouvirem conselhos e adver-tências.

A humildade que vem de Deus pelo seu Espírito é o preço que o pastor deve pagar para evitar o naufrágio.

O Novo Testamento compara a vida cristã a uma competição espiritual, onde o servo de Deus esforça-se por atingir o alvo estabelecido por Deus - a perfeição em Cristo (1 Co 9.24; Fp 3.14; Hb 12.1; 2 Tm 4.7,8). Porém, condena a competição no sentido de emulação, porfia, pois esta é carnal e diabólica, cujos resultados são a inveja, a disputa, a contenda (2 Co 12.20).

A competição espiritual satisfaz ao espírito, agrada a Deus, não recebe elogios nem condecoração dos homens. A emulação satisfaz ao ego, desagrada a Deus, leva o líder cristão à vulgaridade.

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O Pastor e a Responsabilidade Social

A maneira como vemos o Senhor Jesus Cristo, deter-mina, sem dúvida, nosso estilo de vida como cristãos. Al-guns só vêem o Cristo amoroso, misericordioso, porém, não conseguem ver o Cristo justo e santo. Outros vêem o Cristo que oferece alívio ao sofredor, todavia não o vêem como Salvador e doador da vida eterna ao pecador.

É bastante lógico concluirmos que o nosso serviço cris-tão é resultado de nossa visão de Cristo, da imagem que te-mos do Senhor. Por isso alguns afirmam que a igreja deve se preocupar exclusivamente em pregar a salvação pela fé; A assistência social é problema do governo. Outros fazem exatamente o contrário; esquecem a pregação da fé, porém se dedicam à obra social com todo o afinco.

O EXEMPLO DO SENHOR JESUS

Ao examinarmos os Evangelhos, podemos compreen-der que o Senhor Jesus desempenhou um ministério inte-gral, do qual analisaremos alguns aspectos fundamentais: Primeiro, Ele esteve totalmente comprometido com toda a vontade de Deus. Com o Pai, que é santo, que é amor e que

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é justiça. "Porque Eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou" (Jo 6.38 - Leia-se ainda: Lc 22.42; Jo 5.30.) A oração do Getsêmani (Mt 26.39; Lc 22.42) é um testemunho de que Ele pensou e agiu a partir do compromisso com toda a von-tade do Pai. Segundo, o seu ministério foi inteiramente co-locado no cumprimento da vontade e do plano preestabele-cido pelo Pai. O Senhor Jesus rejeitou o mínimo desvio de sua missão. Isto constatamos quando Ele replicou certo homem que desejava torná-lo juiz: "Mas Jesus lhe respon-deu: Homem, quem me constituiu juiz ou repartidor entre vós?" (Lc 12.14). Todas as atividades que o Mestre em-preendeu durante o seu ministério estavam relacionadas com sua missão. Terceiro, o Senhor Jesus cumpriu inte-gralmente o seu ministério quanto à abrangência que esta-va determinada no plano de Deus, por isso não respeitou classe social, raça, religião, ou outro obstáculo. Pregou a ri-cos e plebeus: a homens e mulheres ilustres, como a mere-trizes. Quarto, o ministério do Senhor Jesus alcançou o "homem integral", isto é, na sua triunidade: corpo, alma e espírito. O seu ministério foi uma resposta a todo corpo en-fermo, possesso, faminto, sedento; à alma triste, abatida, aflita, desconsolada; ao espírito sem paz e sem comunhão com Deus: "E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo Ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam afli-tas e exaustas como ovelhas que não têm pastor" (Mt 9.35,36).

A compaixão do Senhor era a motivação suprema de seu serviço. Jesus se comovia profundamente ao ver as ne-cessidades humanas. Seus olhos nunca estiveram fechados ante o sofrimento dos homens. Vendo, comovia-se, e, em seguida, entrava em ação, libertando, curando, ensinando ou salvando. São muitos os exemplos que os evangelhos re-latam:

Mateus 14.14: "Desembarcando, viu Jesus uma gran-de multidão, compadeceu-se dela e curou os seus enfer-mos." 102

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Marcos 1.40,41: "Aproximou-se dele um leproso ro-gando-lhe, de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me. Je-sus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o, e disse-lhe: Quero, fica limpo!"

Marcos 8.2,3,8: "Tenho compaixão desta gente, por-que há três dias que permanecem comigo e não têm o que comer. Se Eu os despedir para suas casas em jejum, desfa-lecerão pelo caminho; e alguns deles vieram de longe... Co-meram e se fartaram..."

Lucas 7.13-15: "Vendo-a, o Senhor se compadeceu dela e lhe disse: Não chores! Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o conduziam, disse: Jovem, Eu te man-do: Levanta-te. Sentou-se o que estivera morto e passou a falar; e Jesus o restituiu à sua mãe."

Lucas 18.41,42: "Que queres que Eu te faça? Respon-deu ele: Senhor, que eu torne a ver. Então Jesus lhe disse: Recupera a tua vista; a tua fé te salvou."

O EXEMPLO DA IGREJA PRIMITIVA

Os apóstolos não esqueceram os ensinos e o exemplo do Senhor Jesus. Mantiveram os mesmos princípios, aten-dendo às necessidades do corpo, da alma e do espírito. A evangelização e a assistência social mantiveram-se unidas no primeiro e segundo séculos, pelo menos.

Atos 4.32,34a: "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém lhes era comum... Pois nenhum necessitado havia entre eles..."

Atos 20.35: "Tenho-vos mostrado em tudo que, traba-lhando assim, é mister socorrer os necessitados, e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber."

Romanos 12.13: "Compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade."

Hebreus 13.16: "Não negligencieis igualmente a práti-ca do bem e a mútua cooperação; pois com tais sacrifícios Deus se compraz."

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A QUEM DIRIGIR O SERVIÇO SOCIAL

O amor em ação, isto é evidenciado no serviço social, nas boas obras, e deve começar em casa. Assim lemos em Atos 4.32-35, e assim recomenda o apóstolo: "Por isso, en-quanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé" (Gl 6.10). Está explícito no texto que o limite do serviço social cristão é o nosso amor, porque todos estão incluídos nesta ação: "Fa-çamos o bem a todos". Esta afirmativa corresponde ao en-sino do Senhor na parábola do bom samaritano (Lc 10.30-37), e quando Ele rechaçou o ensino dos fariseus: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5.43,44).

EVANGELIZAÇÃO E SERVIÇO SOCIAL

A negligência da igreja através dos séculos em relação à ação social tem levado ao extremo de colocar a evangeli-zação oposta à ação social, como se uma excluísse a outra. Ambas devem ser autênticas expressões do amor de Deus derramado em nossos corações. Os exemplos do Senhor Je-sus e da igreja primitiva demonstram que o evangelho não visa apenas à alma, ou apenas ao corpo, mas ao homem como pessoa humana integral.

Aqui não existe qualquer defesa ao que se chama de ''evangelho social" que tenta substituir as boas-novas de salvação por uma mensagem de simples promoção social.

Cabe ainda acrescentar as palavras do grande teólogo de nosso tempo, John R. W. Stott: "Muitos de nós temos sido insensíveis quanto a estes assuntos. Temos pensado e atuado como se Deus só fosse o Redentor, e não o Criador de todos os homens; como se Jesus só tivesse pregado e não tivesse sido movido pela compaixão a alimentar os famin-tos e sarar os enfermos. Naturalmente, se tivéssemos de es-colher entre evangelização e serviço social, teríamos pre-sente que a vida espiritual e eterna é mais prioritária que a material e temporal. Mas não temos de escolher, ou pelo menos, serão contadíssimas as ocasiões em que teremos de fazê-lo. Jesus não escolheu: manteve as duas coisas juntas. 104

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Uma não serviu de desculpa ou dissimulação para a outra: ambas foram expressões genuínas de sua profunda com-paixão pelos homens."

A partir do Pacto de Lausanne (1974) uma nova com-preensão surgiu sobre a evangelização e a responsabilidade social. As conclusões sobre a relação entre a evangelização e a responsabilidade social estão escritas em documento da série, Lausanne n? 2, de onde extraímos os três principais tipos de relação:

"Em primeiro lugar, a ação social é uma consequência da evangelização. Ou seja, a evangelização é um meio pelo qual Deus produz nas pessoas um novo nascimento; e esta nova vida se manifesta no serviço prestado aos outros" (Gl 5.6; Tg 2.18; 1 Jo 3.16-18).

"Em segundo lugar, a ação social pode ser uma ponte para a evangelização. Ela pode destruir preconceitos e des-confianças, abrir portas fechadas e ganhar a atenção do povo para o evangelho."

"Em terceiro lugar, a ação social não apenas vem em seguida à evangelização, como seu objetivo e consequên-cia, mas a precede, servindo de ponte para ela, e também a acompanha, como sua parceira. A ação social e a evangeli-zação são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro. Esta relação pode ser vista claramente no ministério público de Jesus, que não somen-te pregou o evangelho, mas alimentou os famintos e curou os enfermos."

ASPECTOS PRÁTICOS DO SERVIÇO SOCIAL

A realização do serviço social em nossas igrejas é im-prescindível, como vimos acima. Faz parte da missão da igreja neotestamentária. Essa realização, em termos práti-cos, pode ser levada a cabo de muitas maneiras, porém, quero simplificar a descrição, mostrando apenas dois mé-todos.

a) Método Informal

Esse foi o método usado pela igreja primitiva, con-

forme descreve o livro de Atos dos Apóstolos 2.42-47;

4.34,35, etc. E tem sido a maneira mais usual através dos

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tempos, principalmente no seio das Assembleias de Deus no Brasil. Diríamos que é a maneira mais direta e que grande fruto traz para a igreja. Os crentes juntam suas co-letas de dinheiro, alimentos, roupas, calçados, etc, e os distribuem da forma mais informal possível.

Esse trabalho geralmente é realizado pelas irmãs ab-negadas da igreja, sem muitas vezes envolver qualquer membro do ministério ou do presbitério local.

b) Método Organizado

A ordem jurídica existente nos países, a facilidade dos governos e entidades internacionais repassarem recur-sos financeiros para assistência social nos seus mais varia-dos aspectos, tem obrigado ou estimulado os pastores a or-ganizarem instituições (institutos, associações, orfanatos, etc.) vinculadas às igrejas locais, com objetivos específicos de assistir o menor, a velhice e pessoas realmente pobres.

A organização dessas instituições tem vantagens que podem ser aproveitadas e desvantagens que podem ser contornadas.

Entre as vantagens podemos mencionar: a) livra a igreja de ser declarada de utilidade pública, o que é incon-veniente, e separa as finanças da igreja e de outras receitas provenientes de fontes externas; b) estabelece objetivos claros; c) organiza o serviço social.

Entre as desvantagens, a maior é o perigo de tornar-se a atividade principal da igreja. Em segundo lugar, distan-cia o doador do beneficiário, retirando, algumas vezes, o melhor que é a demonstração de amor e afeição.

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O Pastor e a Construção de Templos

Muitos dos pastores das Assembleias de Deus no Bra-sil já tiveram a responsabilidade de construir pelo menos um templo para sua igreja. Em muitos casos o pastor assu-me a função de mestre-de-obras, construtor, pedreiro e até ajudante. Tudo isso é muito nobre, porém o principal é que os pastores tenham uma visão global das necessidades reais da igreja para que, concluído um templo, não tenha ele uma má distribuição do espaço físico: falta de comodi-dade, capacidade ociosa exagerada, etc.

Ê interessante saber que, mesmo entregando o projeto a um bom arquiteto ou engenheiro, esses técnicos necessi-tam da orientação do pastor para produzirem um bom pro-jeto, pois eles não conhecem o funcionamento, os objetivos e as necessidades da igreja.

Na hora de iniciar a elaboração de um projeto, o pas-tor não experiente, pode recorrer ao expediente de:

- Conversar com outros pastores e obreiros mais expe rientes e com boa visão no assunto.

- Visitar templos de outras igrejas.

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- Examinar com cuidado os objétivos de sua congrega-ção quanto aos serviços que ela desejar prestar no presente e no futuro.

A título de orientação, damos a seguir alguns princí-pios que devem ser motivo de reflexão na hora de construir um templo.

1 - Funcionalidade. Devemos ter o cuidado de que as diversas dependências do templo sejam dispostas da ma neira mais prática possível. Os problemas mais comuns são: a) a disposição do batistério com pouca visibilidade, o que implica na retirada do púlpito e outros móveis no dia de batismo; b) púlpito muito alto que obriga a congregação a olhar para cima; c) galerias que não oferecem visibilida de do púlpito aos que a ocupam, e são de difícil controle pelo dirigente; d) salas da Escola Dominical sem ventila ção; e) difícil acesso aos sanitários, etc.

2 - Acústica. É indispensável que, na ocasião da ela boração do projeto arquitetônico, se pense também no pro- jeto de sonorização do templo, em todos os seus aspectos.

3 - Ventilação. É comum encontrar templos, em cida des quentes, com péssima ventilação, causando sérios problemas de desconforto em dias de grandes reuniões. Todo cuidado é pouco com a ventilação. Não se trata do tamanho de portas e janelas, mas da sua colocação estraté gica.

4 - Simplicidade. Além das críticas maldosas que a construção de templos suntuosos causa, outros motivos como a evolução do estilo de construção, apontam para a construção de templos amplos, porém simples e confortá veis.

Evidentemente que o tamanho do templo está relacio-nado com o número existente de membros, com o cresci-mento quantitativo experimentado nos últimos anos, e com as atividades desenvolvidas pela igreja. Podemos, de uma forma simples, dividir o templo nas seguintes partes:

a - Santuário. É o templo propriamente dito, também chamado de salão ou nave. Localizam-se no santuário os assentos para o povo, o púlpito, o batistério.

b - Dependências Sanitárias. Devem se localizar de tal forma que haja fácil acesso do público 108

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c - Berçário. Geralmente anexo ao santuário para faci-litar o acesso das mães e pessoas encarregadas. Pode se di-vidir em dois: numa parte ficam os berços para nenés, e na outra crianças que engatinham e estão começando a an-dar.

d - Dependências Administrativas. Compreendem ga-binete pastoral, sala de espera, secretaria, tesouraria, al-moxarifado. Não há necessidade de ficarem juntas.

e - Dependências da Escola Dominical. É uma pena verificar que inúmeros grandes templos neste país não dis-põem de dependências adequadas para a Escola Domini-cal. Há necessidade de salão para um departamento infan-til, salas para diversas classes, salas para as classes de ado-lescentes e jovens. Lugar para a secretaria da Escola e guarda de material didático. Quando há dependências para a Escola Dominical, também pode se realizar a Esco-la Bíblica de Férias e outros eventos que envolvam crian-ças, adolescentes e jovens.

f - Dependências para Assistência Social. Se a igreja tem algum departamento que cuida da assistência social aos menos favorecidos, então é indispensável que existam dependências para esse fim.

g - Dependências para Eventos. Algumas igrejas cos-tumam manter Escolas Bíblicas Temporárias para obrei-ros e, às vezes, extensivas aos irmãos em geral. Neste caso, deve ser projetada cozinha, refeitório e lugar para hospe-dagem.

Dependendo da funcionalidade, as dependências para a Escola Dominical podem ser adaptadas para este fim.

h - Dependências para Zeladoria. De acordo com o ta-manho e influência da igreja, há necessidade de ter resi-dência para o zelador.

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16 A Hora de Mudança

O pastor é um servo que deve sempre estar no lugar designado por Deus e desempenhando a tarefa que Deus naquele momento determina. Por esse motivo, quando um pastor reivindica a vitalicidade para seu pastorado em uma igreja, há motivo de preocupação. É sinal evidente de queda, de apostasia.

Enquanto o Senhor não vem, haverá pastores deixan-do igrejas e pastores assumindo igrejas. Desde que dentro da vontade divina, é um movimento benéfico para o pas-tor, para a sua família e para as igrejas.

Portanto, o servo de Deus deve estar atento quanto ao término de seu tempo na igreja que pastoreia. Se houvesse obediência irrestrita por parte de todos os homens de Deus, certamente muitos escândalos teriam sido evitados.

Ao pastor que está para deixar uma igreja convém tra-balhar até o último minuto como se fosse ficar por toda a vida naquele lugar. Eis alguns princípios que deve obser-var:

a) Não endividar a igreja para seu sucessor. b) Preparar os irmãos, incentivando-os a receberem

seu novo pastor com alegria. Para isso deve realçar as qua lidades de seu sucessor, se as conhecer.

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c) Ter cuidado para não deixar dívidas pessoais, con tratos não cumpridos, e outras pendências que poderiam comprometer seu bom testemunho.

d) Não exigir indenizações sob qualquer pretexto. A igreja não é empresa, nem o ministério profissão.

Ao pastor que assume uma nova igreja recomendamos trabalhar como se tivesse de prestar contas ao Mestre na próxima semana, e ainda:

a) Não falar mal e nem desfazer o trabalho de seu an tecessor (Pv 16.5).

b) Primeiro, observar atentamente as atividades e costumes da igreja, para depois efetuar mudanças. Mu danças bruscas e sem saber o que está fazendo poderão tra zer graves consequências (Pv 13.16).

c) Procurar conhecer seus novos companheiros de tra balho. Ter cuidado com aqueles que querem aparecer de qualquer maneira, nem que seja falando mal dos outros.

Concluímos este tópico dizendo que a igreja não é uma herança ou propriedade de pastores. A igreja é do Senhor e os pastores são servos que devem sempre estar dispostos a mudar, porém no tempo. O uso da expressão "minha igre-ja" como mera identificação não tem nenhum mal, mas o seu uso, como se realmente a igreja fosse nossa é uma afronta ao Senhor Jesus Cristo (Ef 5.24-26; Rm 16.16).

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O Pastor: Dificuldades e Recursos

AS DIFICULDADES

O ministro passa por grandes dificuldades no ministé-rio, ao longo do tempo. Nesses momentos ele precisa ter plena convicção de sua chamada e de que está no plano de Deus. Entre os muitos e diferentes problemas que enfrenta o servo de Deus, destacam-se:

a) Solidão. Há momentos que até mesmo os mais che gados se distanciam e o pastor sente-se só (2 Tm 4.10,16). Em tempos de crise, não sabe em quem deve confiar, e, na maioria das vezes, o melhor é buscar apenas o socorro do Senhor (2 Tm 4.17).

b) Dificuldades na família. Quantas vezes o pastor não sente a compreensão na esposa e nos filhos, por isso sente-se frustrado e abatido. E, não raro, ele mesmo é o causador dessas incompreensões, pois envolve-se tanto na obra ministerial que não dá a atenção devida nem o tempo necessário para sua família.

c) Dificuldades na igreja. Nem sempre tudo corre como queremos. Há trabalhos fáceis e outros muito difí ceis. Outras vezes, vemos um trabalho feito com grande

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sacrifício desmoronar-se. É o caso de novos convertidos que são pervertidos por doutrinas falsas. O pastor, então, sente-se abatido e tem de resistir para não se deixar vencer pelo mal.

O PASTOR NÃO ESTÁ SÓ

O pastor deve saber aproveitar os recursos de que dis-põe para não recuar ou esmorecer diante das dificuldades.

a) O Espírito Santo. É a terceira Pessoa da Santíssi ma Trindade. É o paracleto e Consolador. Podemos contar com Ele em todos os momentos (Jo 14.16,17).

b) A Palavra de Deus está repleta de preciosas pro messas. O servo de Deus deve se apropriar dessas promes sas, e torná-las realidade em sua vida (1 Pe 1.3-9; 2 Pe 1.3- 11).

c) Oração. O altar não é apenas o lugar da reconcilia ção, é também o lugar da vitória, da resposta de Deus para todas as nossas dificuldades e necessidades pessoais. Na oração, as energias são refeitas e os propósitos são confir mados. Cristo uive!

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O Pastor e a Evangelização

Quando lemos o livro de Atos dos Apóstolos, percebe-mos que a igreja apostólica envolveu-se com amor, ousadia e poder na obra de evangelização, a ponto de em poucas décadas ter revolucionado o Império Romano com a men-sagem do Evangelho.

Alguns fatos narrados em Atos devem ser considera-dos seriamente pelos pastores:

Primeiro, a evangelização na igreja apostólica era um estilo de vida dos crentes, e não atividade esporádica ou exclusiva dos ministros. Entendemos "estilo de vida" como a nossa maneira de viver, de tratar; algo que faz par-te de nossas atitudes e comportamento. Pois bem, evange-lizar estava embutido em todos esses aspectos da vida de cada crente daquela época.

Quando saíram de Jerusalém por causa da terrível perseguição movida por Saulo de Tarso, eles iam por toda parte anunciando a fé em Jesus Cristo (At 8.4,5; 11.19-22). Igrejas em muitas cidades e vilas foram fundadas pelo tes-temunho dos crentes, e só mais tarde receberam a assistên-cia pastoral (At 8.14; 11.22).

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Um segundo fato a ser considerado é o da prioridade dos apóstolos: a oração e o ministério da palavra (At 6.2,4). Essa prioridade, aliás, foi mantida pelos missionários Bar-nabé e Paulo. Estes, onde chegavam, não apenas anunciavam a salvação em Cristo, mas dedicavam-se ao ensino para a edificação e crescimento espiritual dos crentes (At 13.1; 15.35; 18.11; 28.31).

Colocar em prática essa prioridade foi a recomenda-ção do apóstolo Paulo ao seu discípulo Timóteo: "E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idóneos para instruir a outros" (2 Tm 2.2). Um exemplo significati-vo do valor de instruir crentes na palavra, para se torna-rem discípulos, encontramos em Priscila e Áquila (At 18.25,26), os quais instruíram um pregador eloquente, po-rém superficial.

Como terceiro fato importante que notamos é a priori-dade missionária. Independente de qualquer organização missionária, o Espírito se encarregou de chamar e enviar homens para percorrerem todo o mundo conhecido de en-tão, levando a mensagem do Evangelho (At 13.1-3).

Merece nossa atenção o fato de que os primeiros mis-sionários tiveram como objetivo fundar igrejas e não con-gregações. Das viagens missionárias de Paulo surgiram inúmeras igrejas gentílicas com seus obreiros locais. Em alguns lugares, como Corinto, o apóstolo permaneceu lon-go tempo ensinando a Palavra. E enquanto o Senhor per-mitiu, ele continuou supervisionando as igrejas, principal-mente na preparação e orientação de obreiros.

A RESPONSABILIDADE DO PASTOR

Se concordamos em afirmar que a evangelização cons-titui o objeto fundamental da igreja, o pastor tem uma res-ponsabilidade muito grande, porém bem definida.

Muitos pensam que o pastor deve ser o grande ganha-dor de almas, tendo um programa de evangelização: visi-tas, cultos ao ar livre, distribuição de literatura, etc. E muitos pastores entram nesse esquema. Todavia, como afirmamos acima, o objetivo da evangelização é da igreja e 116

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não do pastor. A participação pastoral determinada em Efésios 4.11,12 é o aperfeiçoamento dos santos.

Ao pastor, portanto, compete: a) O ensino da Palavra de forma sistemática e objetiva para levar os crentes ao cresci-mento espiritual, b) Mostrar a responsabilidade de cada um na evangelização, promovendo o estudo do livro de Atos ou outro método, para que a evangelização se torne um "estilo de vida" dos membros da igreja, c) Preparar os membros para a evangelização, através de métodos escolhidos de acordo com a direção do Senhor: grupos familiares, evangelismo pessoal, distribuição de literatura, visitas a hospitais e outros lugares públicos, d) Pregar e ensinar sobre a obra missionária.

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Notas Bibliográficas

__ Tive fome. (Série Lausanne n? 1). ABU Editora e

Visão Mundial Evangelização e Responsabilidade Social. Série

Lausanne n? 2). ABU Editora e Visão Mundial __ Bíblia Vida Nova. Edições Vida Nova

__ Bíblia Viva. Editora Mundo Cristão

DAKE'S. Annotated Reference Bible FAULKNER, Brooks R. El Secreto dei Êxito Pastoral GETZ, Gene A. A medida de um homem espiritual HARVEY, H. El Pastor

OLIVEIRA, Josué A. A Excelência do Ministério RIGGS, Ralph M. O Guia do Pastor SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos (v. 2) SPURGEON, C. H. Un Ministério Ideal WILDER, John B. O Jovem Pastor

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