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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM 1 ELIEZER LUCENA DE CASTRO TEOLOGIA DA DISPENSAÇÃO E A REAL HISTÓRIA

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

1 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

TEOLOGIA DA

DISPENSAÇÃO

E A REAL

HISTÓRIA

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

2 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

3 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Dispensacionalismo I

O dispensacionalismo é uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que

a segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico,

envolvendo o arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual

ocorrerá a batalha do Armagedon e o estabelecimento do reino de Deus na Terra.

A palavra "dispensação" deriva-se de um termo latino que significa "administração"

ou "gerência", e se refere ao método divino de lidar com a humanidade e de

administrar a verdade em diferentes períodos de tempo.

Índice

1 Doutrina

2 Dispensações

3 Dispensacionalismo na Ficção

4 Ligações externas

Doutrina

Inicialmente elaborada por John Nelson Darby a partir das visões da adolescente

Margaret McDonald, o dispensacionalismo é um sistema teológico que apresenta

duas distinções básicas: (1) Uma interpretação consistentemente literal das

Escrituras, em particular da profecia bíblica, vista em várias séries de "dispensações"

de Deus na história ea (2) A distinção entre Israel e a Igreja no programa de Deus.

A teologia dispensacionalista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a

Igreja. Os dispensacionalistas acreditam que a salvação foi sempre pela fé (Em Deus

no Velho Testamento; especificamente em Deus o Filho no Novo Testamento). Os

dispensacionalistas afirmam que a Igreja não substituiu Israel no programa de Deus

e que as promessas do Velho Testamento a Israel não foram transferidas para a

Igreja. Eles crêem que as promessas que Deus fez a Israel no Velho Testamento

serão cumpridas no período de 1000 anos de que fala Apocalipse 20. Eles crêem que

da mesma forma que Deus concentra sua atenção na igreja nesta era, Ele novamente,

no futuro, concentrará Sua atenção em Israel (Romanos 9-11).

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4 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Usando como base este sistema, os dispensacionalistas entendem que a Bíblia seja

organizada em sete dispensações: Inocência (Gênesis 1:1- 3-7), Consciência (Gênesis

3:8- 8:22), Governo Humano (Gênesis 9:1 – 11:32), Promessa (Gênesis 12:1 – Êxodo

19:25), Lei (Êxodo 20:1 – Atos 2:4), Graça (Atos 2:4 – Apocalipse 20:3) e o Reino

Milenar (Apocalipse 20:4 – 20:6). Mais uma vez, estas dispensações não são

caminhos para a salvação, mas maneiras pelas quais Deus interage com o homem. O

Dispensacionalismo, como um sistema, resulta em uma interpretação pré-milenar

da Segunda Vinda de Cristo, e geralmente uma interpretação pré-tribulacional do

Arrebatamento

Dispensações

Os dispensacionalistas acreditam que há uma série de dispensações

cronológicamente sucessivas, mas variam nas ordens desses eventos.

Ordem dos capítulos

Esquemas Gênesis

1-3

Gênesis

3-8

Gênesis 9-

11

Gênesis

12

a Êxodo

19

Êxodo

20 a

Atos 1

Atos 2 a

Apocalipse

20

Apocalipse

20:4-6

Apocalipse

20-22

7 ou 8

esquema de

dispensação

Inocência

ou

Edênico

Consciência

ou

Antediluviano

Governo

Humano

ou Civil

Patriarcal

ou

Promessa

Mosaico

ou Lei

Graça

ou Igreja

Reino

Milenar

Estado

Eterno

ou Final

4 esquema de

dispensação Patriarcal Mosaico Eclesiástico Sionista

3 esquema de

dispensação

(minimalista)

Lei Graça Reino

Das sete dispensações, cinco já foram concluídas: inocência consciência, governo

humano, patriarcal e lei, e estamos vivendo a dispensação da graça que dará lugar a

milenial. O que é necessário percebermos é que Deus tendo dividido a história da

humanidade em dispensações deu para cada uma delas um propósito ou missão e

todas elas deveriam ter um inicio e um fim, portanto esta era atual, ou este período

de tempo chamado graça em que vivemos terá um fim, o que marcará este fim? Dois

grandes eventos marcarão o fim, o arrebatamento da igreja e a volta visível de Jesus

para inaugurar o milênio.

A teologia do concerto (ou teologia pactual) é uma alternativa calvinsta às

interpretações dispensacinalistas.

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5 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

O Mormonismo crê em um modelo diferente de Dispensações. Dispensação,

segundo o Mormonismo é o espaço de tempo no qual há pelo menos um servo de

Deus autorizado, que possui o Santo Sacerdócio e a missão de levar o evangelho ao

habitantes da Terra. Existiram 8 dispensações ao longo da história, cada uma

encabeçada por um profeta - Adão, o primeiro homem; Enoque, que liderou a

cidade de Sião; Noé, que preservou a humanidade no Dilúvio; Abraão, que

preservou o Monoteísmo na Antiguidade; Moisés, que instituiu a Lei (lei Mosaica);

Jesus Cristo (Dispensação do Meridiano dos Tempos); e mais duas dispensações nas

Américas, uma entre o povo Nefita e outra entre os Jareditas. Depois de Cristo veio

a Grande Apostasia (ou Apostasia Universal), encerrada no Século XIX, com Joseph

Smith, inicando a Dispensação da Plenitude dos Tempos, ou os Últimos Dias, que

precedem a Segunda Vinda e o Milênio.

Dispensacionalismo na Ficção

O dispensacionalismo é o fundamento teológico da série de ficção Deixados Para

Trás, que vendeu mais de cinquenta milhões de exemplares de livros e foi transposta

para várias línguas e outras mídias, inclusive três filmes.

Das sete dispensações, cinco já foram concluídas: inocência consciência, governo

humano, patriarcal e lei, e estamos vivendo a dispensação da graça que dará lugar a

milenial. O que é necessário percebermos é que Deus tendo dividido a história da

humanidade em dispensações deu para cada uma delas um propósito ou missão e

todas elas deveriam ter um inicio e um fim, portanto esta era atual, ou este período

de tempo chamado graça em que vivemos terá um fim, o que marcará este fim? Dois

grandes eventos marcarão o fim, o arrebatamento da igreja e a volta visível de Jesus

para inaugurar o milênio.

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Dispensacionalismo II

A Origem do Ensino de um Arrebatamento Pré-Tribulacional Brian Schwertley Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

Sempre que o cristão encontra uma doutrina que não foi ensinada por alguém de qualquer ramo da igreja de Cristo durante os dezoito séculos passados, ele deveria ter muita suspeita de tal ensino. Esse fato em e por si mesmo não prova que o novo ensino é falso. Mas, deveria definitivamente levantar suspeitas, pois se algo é ensinado na Escritura, não é absurdo esperar que ao menos uns poucos teólogos e exegetas tenham descoberto isso antes. O ensino de um arrebatamento secreto pré-tribulacional é uma doutrina que nunca existiu antes de 1830. O arrebatamento pré-tribulacional veio à existência mediante uma exegese cuidadosa da Escritura? Não! A primeira pessoa a ensinar a doutrina foi uma jovem chamada Margaret Macdonald. Margaret não era teóloga nem expositora bíblica, mas uma profetiza da seita Irvingita2 (a Igreja Católica Apostólica). O jornalista cristão Dave MacPherson escreveu um livro sobre o assunto da origem do arrebatamento secreto. Ele escreve: “Temos visto que uma jovem escocesa chamada Margaret Macdonald teve uma revelação particular em Port Glasgow, Escócia, no começo de 1830, de que um grupo seleto de cristãos seria capturado para encontrar Cristo nos ares, antes dos dias do Anticristo. Uma testemunha ocular, Robert Norton M.D., preservou o relato escrito a mão por ela da sua revelação de um arrebatamento pré-tribulacional em dois de seus livros, e disse que foi a primeira vez que alguém dividiu a segunda vinda em duas partes ou estágios distintos. Seus escritos, juntamente com muitas outras literaturas da Igreja Católica Apostólica, ficaram escondidos por muitas décadas do pensamento evangélico dominante, e apenas recentemente reapareceram. As visões de Margaret eram bem conhecidas por aqueles que visitavam sua casa, entre eles John Darby dos Irmãos. Dentro de poucos meses sua concepção profética distintiva foi refletida na edição de setembro de 1830 do The Morning Watch e na primeira assembléia dos Irmãos em Plymouth, Inglaterra. Os primeiros discípulos da interpretação pré-tribulacionista freqüentemente a chamavam de uma nova doutrina”.

Irvingitas são os seguidores do famoso pregador de Londres, Edward Irving. A nova denominação Igreja Católica Apostólica não foi fundada por Edward Irving (1792-1834), mas certamente recebeu sua influência. Ver artigo “Edward Irving: Precursor do Movimento Carismático na Igreja Reformada”, Alderi Souza de

Matos, Fides Reformata. (N. do T.)

Jornal trimestral pouco conhecido publicado pelos Irvingitas de 1829 a 1832. (N. do T.)

John Nelson Darby (1800-1882), que foi o líder do movimento Irmãos e “pai do Dispensacionalismo moderno”, tomou o novo ensino de Margaret Macdonald sobre o arrebatamento, fez algumas mudanças (ela ensinava um arrebatamento parcial de crentes, enquanto ele ensinava que todos os crentes seriam arrebatados) e incorporou-o em seu entendimento dispensacionalista da Escritura e profecia. Darby gastaria o resto de sua vida falando, escrevendo e viajando para espalhar a nova teoria do arrebatamento. Os Irmãos de Plymouth admitiam abertamente e até mesmo se orgulhavam do fato que entre os seus ensinos

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estavam alguns totalmente novos, que nunca tinham sido ensinados pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas. O maior responsável pela ampla aceitação do pré-tribulacionismo e dispensacionalismo entre os evangélicos foi Cyrus Ingerson Scofield (1843- 1921). C. I. Scofield publicou sua Bíblia de Referência Scofield em 1909. Essa Bíblia, que expunha as doutrinas de Darby em suas notas, se tornou muito popular em círculos fundamentalistas. Na mente de muitos – professores da Bíblia, pastores fundamentalistas e multidões de cristãos professos – as notas de Scofield eram praticamente igualadas à própria palavra de Deus. Se uma pessoa não aderia ao esquema dispensacionalista e pré-tribulacional, ele ou ela seria quase que automaticamente rotulado de modernista. Hoje existe uma abundância de livros advogando a teoria do arrebatamento pré-tribulacional e o entendimento dispensacionalista dos fins dos tempos. Dado o fato que entre os cristãos professos o arrebatamento prétribulacional ainda é freneticamente popular, uma comparação dessa teoria com o ensino bíblico está justificado. Veremos que os argumentos típicos oferecidos em favor dessa teoria estão em conflito com a Bíblia. Fonte: Extraído e traduzido do livreto “Is the Pretribulation Rapture Biblical?”, de Brian Schwertley.

Dave MacPherson, The Incredible Cover-Up: The True Story of the Pre-Trib Rapture (Plainfield, NJ: Logos International, 1975), p. 93. Os seguintes estudiosos são citados por MacPherson como concordando com a afirmação dele que o pré-tribulacionismo é uma doutrina totalmente moderna, que se originou em ou por

volta de 1830: Samuel P. Tregelles, Alexander Reese, Floyd E. Hamilton, Oswald T. Allis, D. H. Kromminga, George E. Ladd and J. Barton Payne. MacPherson também cita vários estudiosos dispensacionalistas e pré-tribulacionistas que admitem que a teoria pré-tribulacionista é de fato uma nova doutrina: W. E.

Blackstone, H. A. Ironside, Charles C. Ryrie, Gerald B. Stanton and John F. Walvoord.

ORIGEM E DIVULGAÇÃO

O movimento chamado de dispensacionalismo surgiu em meados do século

passado na Inglaterra, através do grupo que levou o nome de Irmãos ou Irmãos de

Plymouth, por ter nesta cidade seu quartel general. Seu principal expoente foi John

Nelson Darby (1800-1882), um irlandês que, insatisfeito com a Igreja Anglicana, da

qual era ministro (cura), juntou-se ao grupo dos Irmãos em 1827. Por volta de 1830

Darby já era o principal líder dos Irmãos, dada a sua capacidade de organização e a

sua proficiência em escrever.

I. Características Principais Desse Grupo:

a) Ênfase dada às reuniões semanais de estudo bíblicos e celebração da Ceia do

Senhor, associada a um desprezo por qualquer tipo de organização denominacional

ou forma de culto. Os Irmãos rejeitavam qualquer sistema clerical ou de classe

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ministerial, insistindo que estavam regressando à forma simples de culto e governo

eclesiástico dos apóstolos.

b) Embora não fosse o tema principal no começo, não tardou para que a doutrina da

volta de Cristo ocupasse o centro dos estudos e, com ela, surgisse com grande

ímpeto o desenvolvimento de um novo modelo de interpretação bíblica. Darby e

seus seguidores passaram a alardear que haviam “redescoberto verdades” que

foram desconhecidas ao longo de toda a história, desde os dias apostólicos, as quais

teriam ficado à margem do ensino tradicional do Cristianismo histórico. Fazia parte

desse novo modelo àquilo que passou a ser chamado até hoje, nos círculos

dispensacionalistas, de “interpretação literal das profecias” e de que devemos

também nos ocupar neste trabalho.

II. A Propagação em Relação ao Dispensacionalismo:

Esse novo modo de interpretação bíblica, especialmente de profecias, ganhou

popularidade rapidamente nos círculos evangélicos, graças ao grande trabalho de

divulgação que dele foi feito pelo próprio Darby e por seus seguidores, e graças,

principalmente, ao grande volume de livros, panfletos e artigos sobre o assunto que

foram, desde então, escritos e ainda continuam sendo. Grandes movimentos, como o

das Conferências Evangelísticas de Dwight L. Moody, eram virtualmente

controlados por dispensacionalistas. A escola fundada por Moody, que passou a

chamar-se Instituto Bíblico Moody, assim como diversas outras escolas teológicas,

como o atual Seminário Teológico de Dallas, passaram a ser verdadeiros centros de

doutrinação dispensacionalistas, nos Estados Unidos.

O mesmo se dá hoje no Brasil, especialmente com os institutos bíblicos chamados de

interdenominacionais, de modo geral. Outro fator que muito contribuiu para a

difusão do pensamento dispensacionalistas foi à publicação da chamada Bíblia de

Referência de Scofield, em 1909, a qual já vendeu mais de dois milhões de cópias desde

então. A Bíblia de Scofield ou, mais corretamente, a Bíblia de Referência de Scofield é,

na verdade, uma edição da Versão King James, com anotações feitas por Scofield, na

linha de interpretação dispensacionalistas.

William E. Cox afirma que “o pai do dispensacionalismo, Darby, assim como seus ensinos,

provavelmente não seriam conhecidos hoje, não fosse por seu devoto seguidor, Scofield”.

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Cyrus Ingerson Scofield (1843 - 1921) nasceu nos Estados Unidos (morreu aos 78

anos) e foi, até sua conversão em 1879 (36 anos), advogado e político. Três anos após

sua conversão foi ordenado ministro congregacional, sem qualquer formação

teológica, e foi assim, sem formação teológica, que escreveu sua Bíblia de Referência.

Os estudiosos e historiadores do Cristianismo são unânimes em afirmar que a Bíblia

de Scofield trouxe benefícios de uma certa ordem, pois estimulou o interesse pelo

estudo bíblico e o respeito pela autoridade da Palavra de Deus, numa época em que

a Alta Crítica e a teologia liberal atacavam o Livro Sagrado. Scofield era, de

qualquer forma, um conservador, no sentido em que acreditava na inspiração e na

inerrância da Bíblia. Mas não resta dúvidas de que trouxe também seríssimos

prejuízos à Igreja de Cristo, na medida em que, desviando-se da linha histórica de

interpretação bíblica, popularizou e erigiu à posição de quase dogma, em muitos

círculos cristãos, uma hermenêutica falha e um conceito falso a respeito do modo de

Deus tratar com os homens, a respeito da salvação e, especialmente, a respeito da

Igreja de Cristo.

III. O Dispensacionalismo Não Está Ligado a UM Grupo em Particular:

O Dispensacionalismo não se constitui propriamente numa denominação e, embora

tenha surgido com os Irmãos, que são hoje um pequeno grupo, não se restringe a

eles nem a qualquer denominação, em particular. Há dispensacionalistas hoje em,

praticamente, todos os ramos do Protestantismo e até naqueles onde a sua presença

representa uma negação de certos princípios doutrinários distintivos, como no caso

do Presbiterianismo, por contraditório que possa parecer.

Acreditamos que não há presbiterianos dispensacionalistas, mas certamente há

dispensacionalistas presbiterianos. No primeiro caso estamos usando a palavra

“presbiteriano” com conotação teológica e, no segundo, com conotação

denominacional.

IMPORTANTE: O Dispensacionalismo tem sido geralmente, confundido com o Pré-

milenismo, mas não são a mesma coisa. Todo dispensacionalista é, necessariamente,

pré-milenista, mas nem todo pré-milenista é necessariamente dispensacionalista.

É preciso dizer, também, que há pelo menos Três Tipos de Dispensacionalismo, com

marcantes diferenças entre si:

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1. Ultra-Dispensacionalismo, desenvolvido por E. W. Bullinger (1837-1913), que faz

distinção entre a “Igreja Apostólica Pentecostal” do livro de Atos e a “Igreja-

Mistério Paulina”, das Epístolas da Prisão, que ele chama de “igreja corpo” e “igreja

noiva”, respectivamente. Bullinger ainda faz distinção entre essas duas igrejas e a de

Mateus 16, que Jesus chamou de “minha igreja” e que, segundo ele, será uma igreja

judaica remanescente no futuro. O ultra-dispensacionalismo é, segundo Allis, o

método levado ao extremo ou às suas últimas conseqüências. OBS: Para Bullinger há

três tipos de igrejas.

2. Dispensacionalismo Clássico: é representado por C. I. Scofield e por Lewis S.

Chafer, fundador do Seminário de Dallas, e segundo o qual o plano de Deus para

com Israel é puramente terreno e para com a Igreja, celestial; há dois modos de

salvação (obras no VT e fé no NT) e, segundo Chafer, dois Novos Pactos. Este foi o

tipo de dispensacionalismo que prevaleceu desde o século passado até meados

deste (1800 a 1950).

3. Neo-Dispensacionalismo: é agora defendido por homens como Charles C. Ryrie,

John F. Walvoord e J. Dwight Pentecost, segundo o qual Israel e a Igreja se ajuntarão

após o milênio; há um só modo de salvação em ambos os Testamentos (fé) e um só

Pacto. É a linha atual do Seminário de Dallas.

IV. As Sete (oito) Dispensações:

Aliás, vem daí, desse ensino, o termo “dispensacionalismo” pelo qual o sistema é

conhecido. Embora a palavra “dispensação” signifique literalmente “administração”

ou “mordomia” derivada de – oikonomia Ef. 3:2), ela é empregada pelos

dispensacionalistas para designar:

“Um período de tempo durante o qual o homem é testado quanto à sua obediência a

alguma revelação específica da vontade de Deus”, segundo a própria definição de

Scofield (que é a mesma do “Dicionário Aurélio”). É dito que cada uma dessas

dispensações termina com o fracasso humano e o inevitável juízo de Deus. Diz

Scofield:

Esses períodos se distinguem nas Escrituras por uma mudança no método divino de

tratar a humanidade, ou parte dela, no que se refere a estas duas grandes verdades:

pecado e responsabilidade humana. Cada Dispensação pode ser considerada como

uma prova para o homem natural e termina sempre em juízo, demonstrando assim

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o seu completo fracasso. Cinco dessas dispensações, ou períodos de tempo, já se

consumaram. Estamos vivendo na sexta, cujo término, segundo tudo faz crer, está

para breve. A sétima, ou a última, ficará para o futuro - É o Milênio.

V. As Chamadas Dispensações São as Seguintes:

1ª) Da Inocência, que começou com a criação de Adão, e terminou com a sua

expulsão do Éden;

2ª) Da Consciência, que começou com a expulsão do Jardim (consciência do bem e

do mal) e terminou com o dilúvio;

3ª) Do Governo Humano, que começou com o dilúvio e terminou com a confusão

das línguas;

4ª) Da Promessa, que começou com Abraão e terminou com a escravidão no Egito;

5ª) Da Lei, que começou no Sinai e terminou com a expulsão de Israel e Judá da

terra de Canaã;

6ª) Da Graça, a atual, que começou com a morte de Cristo e terminará com o

arrebatamento da Igreja;

7ª) Do Reino, que começará com a Segunda Vinda de Cristo e terminará com o juízo

do Grande Trono Branco - é também chamada de Dispensação do Milênio.

VI. A Hermenêutica Dispensacionalista:

a) Em Relação à Salvação Durante os Períodos: Vetero e Neo-Testamentário:

Este é um dos pontos mais delicados do sistema dispensacionalista e aquele em que

tem havido mais hesitação e duplicidade. Embora neguem que o sistema ensine a

salvação à parte da fé, não se pode deixar de entender isso nas declarações de seus

expositores, pelo menos os do dispensacionalismo clássico. Há até quem alegue que

as sete dispensações acabam criando sete diferentes planos de salvação. A rígida

distinção entre Israel e Igreja e lei e graça leva o dispensacionalista a conclusões

indesejáveis, mas inevitáveis, no que diz respeito ao modo de salvação.

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Embora dispensacionalistas atuais reclamem que os críticos desse sistema são

injustos ao atribuir-lhe dois diferentes modos de salvação, como na seguinte citação

de Ryrie feita por Gunn, segundo a qual “nem os mais antigos nem os mais novos

dispensacionalistas ensinam dois modos de salvação, e não é justo tentar fazê-los

ensinar assim repetimos:- não se pode entender de outra forma as palavras de L. S.

Chafer, (Ryrie foi aluno de Chafer no Seminário de Dallas) que passamos a citar”:

Deve-se observar aqui uma distinção entre os homens justos do Velho Testamento e

os justificados de acordo com o Novo Testamento. De acordo com o Velho

Testamento, os homens eram justos porque eram verdadeiros e fiéis na guarda da

Lei Mosaica. Os homens eram, portanto, justos por causa de suas próprias obras

para com Deus, ao passo que a justificação do Novo Testamento é a obra de Deus

para com o homem, em resposta à fé (Rom. 5: 1).

Os ensinos do reino, como a Lei de Moisés, são baseados em um pacto de obras. Os

ensinos da graça, por outro lado, são baseados num pacto de fé. Em um dos casos, a

justiça é requerida; no outro, ela é provida, quer imputada e comunicada ou, então,

operada interiormente (infundida). Uma é uma bênção a ser conferida por causa de

uma vida perfeita, a outra é uma vida a ser vivida por causa de uma bênção perfeita

já recebida.

Bem antes de Chafer, Scofield já havia escrito em sua “Bíblia Anotada” as seguintes

palavras: “Como uma dispensação, a graça começa com a morte e ressurreição de

Cristo. O ponto de teste não é mais a obediência legal como à condição de salvação,

mas a aceitação ou rejeição de Cristo, com as boas obras como fruto da salvação”.

A dedução lógica extraída desta afirmação é de que, antes da “Graça” as pessoas

eram salvas pela obediência à lei, mas agora, pela aceitação de Cristo. A expressão

“não é mais” indica que antes o era, no entender de Scofield.

Perguntas Para os Dispensacionalistas:

1. Se a salvação era alcançada através da obediência a Lei, e muitos foram salvos por

obedecer a Lei, qual a necessidade de haver uma nova dispensação? E outra, qual a

necessidade da vinda de Cristo?

2. Se o homem no seu estado original, ou seja, no seu estado perfeito pecou, qual

sentido faz esse homem caído continuar a ser testado? (Pois não é este o propósito

das dispensações?)

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

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3. É certo que alguns dispensacionalistas já admitem que os crentes do V.T., foram

salvos pela Graça. Mas, isto não seria contraditório, já que a Graça segundo eles

mesmos só aparecem a partir do N.T.?

4. Na concepção Reformada todos os salvos, em todas as Épocas, quer passada,

presente ou futura, são somente em Cristo (Lc.24: 13-35). No V.T., os sacrifícios já

representavam Cristo. Em nenhum lugar das Escrituras fala de alguém que foi salvo

porque cumpriu com a Lei. Isto significa que a para alguém ser salvo,

necessariamente houve a Graça por parte de Deus, assim também, hoje ainda há a

Lei de Deus.

b) O Conceito de Israel e Igreja:

1. O texto de I Cor. 10: 32 diz: “Não vos torneis causa de tropeço nem para judeu,

nem para gentios, nem tão pouco para a igreja de Deus”.

A simples menção de três grupos aí é suficiente para um dispensacionalista concluir

que a própria Bíblia divide a humanidade em três partes distintas e se dirige a essas

partes (grupos) separadamente, de maneira sistemática, e que esse texto fornece a

“chave para todo estudo e interpretação da Bíblia”.

“Manejar bem a palavra da verdade” (II Tim. 2:5), conforme a interpretação

dispensacionalista, é estudar a Bíblia desta maneira, dispensacionalmente. M. R.

DeHaan, um pregador de rádio que muito contribuiu para a divulgação desse

sistema nos Estados Unidos, relacionou MANEJAR com Cortar de Maneira Correta,

e relacionou o termo aos sacrifícios do Antigo Testamento.

:

Quando o ofertante trazia um cordeiro ou outro sacrifício qualquer, o mesmo era

dividido em três partes (exceto no caso da oferta queimada, que era posta inteira

sobre o altar). Uma parte era oferecida a Deus, outra parte era oferecida àquele que

trouxera a oferta, enquanto que a terceira partilha cabia ao sacerdote. É dessa prática

que foi emprestada a expressão “que maneja bem”. Significa simplesmente, dar a

cada qual o que lhe pertence de direito. Ora, no estudo da Bíblia você deve ser

muito cauteloso em dar à Igreja aquilo que pertence ao Corpo de Cristo, a Israel

aquilo que pertence a Israel, e aos gentios aquilo que pertence aos gentios. Assim

como o sacrifício era dividido ou cortado em três partes, também a Bíblia informa-

nos que existem três espécies de povos neste mundo na presente dispensação.

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14 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Analisando esse sistema de interpretação, William E. Cox diz que alguém que

tomasse cada versículo da Bíblia e o atribuísse a uma dessas três categorias - judeu

gentio e cristão, e publicasse a Bíblia em três seções separadas, estaria prestando um

serviço valioso, se esse fosse o método correto de se manejar (dividir) bem a Palavra

de Deus.

INFELIZMENTE, noto que todos os livros de Historia da Igreja, relatam o inicio da

Igreja a partir do livro de Atos, ou seja, após o Pentecostes. Todavia, na concepção

Reformada a Igreja é fruto desde a criação. Isso não significa que todos os autores

são dispensacionalistas, mas, penso que os mesmos deveriam trazer pelo menos

uma nota de roda pé, mostrando a concepção reformada em relação à concepção

que a mesma tem do inicio da Igreja.

__________________________ Rev. José Roberto de Souza é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE; Professor e Coord. do Departamento

de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Especialista em História da Religião e da Arte

(UFRPE); Mestrando em Teologia e História.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

15 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

ARREBATAMENTO PRE-TRIBULACIONISTA:

UMA PERIGOSA HERESIA – PARTE 1 Por Dr. James S. Trimm

Traduzido e Adaptado por Sha’ ul Bentsion

1 - INTRODUÇÃO

A doutrina do arrebatamento pré-tribulacionista é uma doutrina cristã tardia que tem ameaçado o

Judaísmo Messiânico. Esta doutrina cristã só teve início no século dezenove. Tal teologia tem

agora ameaçado encontrar eco no movimento messiânico. Este artigo provará que a doutrina do

arrebatamento pré-tribulacionista é:

1 – Uma invenção moderna do Cristianismo que NÃO TEM NENHUMA raiz judaica de qualquer

tipo

2 – Uma doutrina que vai totalmente contra as Escrituras

3 – Uma doutrina de “ paz e segurança” que pode futuramente vir a destruir a fé de muitos

2 - Glossário dos Termos deste Artigo

Antes de começarmos, vamos definir alguns termos básicos que usaremos:

ARREBATAMENTO – Este termo se tornou bastante polêmico. No ocultismo, este termo foi

usado durante muitos séculos para se referir a levitação. Na Bíblia, a origem do termo está em 1

Tess. 4:17 onde lemos a palavra “ arrebatados” .

NATZAL – Palavra no hebraico que significa “ livramento” . Esta palavra tem sido usada nos

meios messiânicos numa tentativa de convencê-los sobre a teoria do arrebatamento pré-

tribulacionista.

KH’ TAF – Palavra aramaica para “ arrebatados” no texto aramaico de 1 Tess. 4:17.

PÓS-TRIBULACIONISMO – É a visão de que o KH’ TAF (arrebatamento) é simplesmente parte

da segunda vinda do Messias e portanto ocorrerá no fim da tribulação, isto é, no início do Reino

do Milênio.

PRÉ-TRIBULACIONISMO – É a visão de que o arrebatamento seria um evento separado da

segunda vinda do Messias e que ocorreria sete anos antes, imediatamente antes da tribulação

MID-TRIBULACIONISMO – É a visão de que o arrebatamento é um evento separado da

segunda vinda do Messias e que ocorreria 3 anos e meio antes, no meio da tribulação, durante o

tempo do “ sacrilégio terrível” (a revelação do Anti-Messias)

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

16 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

ARREBATAMENTO-PREMATURO – É qualquer visão de que o arrebatamento e a segunda

vinda do Messias são eventos separados e que o arrebatamento precederá por um período de

tempo a segunda vinda do Messias.

ARREBATAMENTO PARCIAL – É a visão de que apenas uma parte do Corpo do Messias será

arrebatada.

PASHAT – O sentido simples, literal de um texto segundo a Midrash Judaica (vide artigo sobre

como interpretar as Escrituras como um judeu)

3 - ONDE ESTÁ O PASHAT?

Um dos maiores problemas com a doutrina cristã do arrebatamento pré-tribulacionista é que já de

cara fere a Midrash. Segundo a Midrash, que é o sistema mais antigo de interpretação das

Escrituras, um texto nunca perde o seu Pashat. Contudo, esta doutrina em particular não tem base

de Pashat. Apesar dos pré-tribulacionistas frequentemente alegarem que as suas crenças são

baseadas numa leitura simples e literal das Escrituras, o fato é que uma leitura literal das

Escrituras é incapaz de produzir uma crença no arrebatamento pré-tribulacionista.

3.1 – SEM BASE BíBLICA

Até mesmo Hal Lindsey, o mais famoso defensor do pré-tribulacionismo, admite que a sua crença

não se baseia no sentido simples e literal das Escrituras. Lindsey admite que ele não consegue “

mostrar nenhum versículo que diga claramente que o arrebatamento ocorrerá antes… da

tribulação.” (O Arrebatamento por Hal Lindsey pág. 32). Ao invés disto, Lindsey alega que “ o

pré-tribulacionismo é amplamente baseado em argumentos de inferência e silêncio.” (ibid p. 31) Se

o pré-tribulacionismo não vem de um entendimento do Pashat das Escrituras, devemos então nos

perguntar de onde ele se originou, e porque tanta gente acredita nisto.

4 - O DISPENSASIONALISMO: UMA HERESIA GERA OUTRA

Durante as décadas de 1820 e 1830, um teólogo cristão chamado John Darby (fundador da

Irmandade de Plymoth) desenvolveu uma nova teologia sistemática chamada

Dispensasionalismo. Esta doutrina desde então tornou-se muito popular no Cristianismo. É muito

curioso que tal doutrina ainda encontre eco entre os crentes que estão retornando às raízes

judaicas dos seguidores originais de Yeshua. É fato incontestável que o Dispensasionalismo não

existiu até o século dezenove. Não tem nenhuma raíz judaica e nem existia no Cristianismo até o

século em questão.

5 - A ORIGEM DE UMA GRANDE MENTIRA

Como a maioria dos teólogos do século 19, John Darby era anti-nomiano, isto é, acreditava que a

Lei de Moshe (Moisés) tinha desaparecido na cruz. Darby se sentia incomodado com os sérios

problemas trazidos por esta doutrina. Darby percebeu que durante os sete anos da última semana

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

17 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

profética de Daniel, os sacrifícios estariam sendo feitos no Templo. Como a Lei de Moshe (Moisés)

estava CLARAMENTE sendo cumprida durante os sete anos da tribulação, Darby concluiu que a

Lei voltaria a ter validade no início da tribulação. Esta linha de raciocínio fez Darby segregar as

histórias bíblicas e proféticas em períodos compartimentadas. Darby teorizou que a “ idade da

Lei” tinha acabado na cruz e que a “ idade da graça” ou “ idade da igreja” tinha começado na

cruz. Então com a tribulação, a “ idade da Lei” volta e a “ idade da graça” termina. Isto criou um

problema grande para a teoria de Darby. Como poderia a “ idade da Lei” retornar se a igreja ainda

estaria na terra? Darby achava que na “ idade da Lei” D-us lidava com Israel e na tribulação D-us

voltaria a lidar com Israel. Então o que aconteceria com a igreja? Certamente que a igreja não sairia

da “ idade da graça” pra voltar pra Lei de Moshe (Moisés). Como consequência desta linha de

raciocíonio absurda, Darby adotou a idéia de um arrebatamento pré-tribulacionista que havia se

tornado tão popular entre os Irvingitas. Esta idéia dizia que a Igreja sairia da terra no início da

tribulação, deixando Israel pra trás para sofrer na tribulação durante o período da “ volta da Lei” .

Darby agora tinha um outro problema: se a igreja fosse arrebatada deixando Israel pra trás, o que

dizer dos judeus crentes? Eles seriam arrebatados juntamente com a Igreja ou ficariam para trás

com Israel? Darby inventou outra solução completamente louca: a dicotomia Igreja/Israel. Esta

teoria ensinava que um judeu que se tornava crente no Messias passava a fazer parte da Igreja e

não era mais parte de Israel. Como resultado disto, ninguém poderia ser parte tanto da Igreja

quanto de Israel. Segundo esta teoria, judeus crentes deixariam de ser judeus e se tornariam parte

da Igreja de D-us, que ele ensinava conter pessoas que não eram nem judeus nem gentios.

Portanto, as três mentiras que se tornaram pilares do Dispensasionalismo são:

1 – A Lei não seria para hoje

2 – O arrebatamento pré-tribulacionista

3 – A dicotomia Igreja/Israel

Obviamente, os messiânicos não podem aceitar nem a número 1 nem a número 3. A número 2 só

seria necessária por causa de uma crença na número 1. A número 2 não funciona sem a número 3,

que foi criada para resolver os problemas da número 2. Como resultado, o Judaísmo Messiânico é

incompatível com o Dispensasionalismo. Dois de seus três pilares fundamentais não são

compatíveis com a teologia bíblica original, adotada pelo movimento messiânico. Além disto, o

único pilar remanescente não se sustenta sozinho. Quando examinada à luz da Bíblia, toda a

estrutura do Dispensasionalismo é destruída. É uma doutrina do século 19 que foi inventada pelo

Cristianismo e não tem NENHUMA raiz na fé do primeiro século.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

18 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

O PEQUENO APOCALIPSE DE JESUS

MATEUS 24: 1 Tendo saído Jesus do templo, ia-se retirando, quando se chegaram a ele seus

discípulos para lhe mostrarem os edifícios do templo. 2 Mas ele lhes disse: Vedes tudo isto?

em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derribada. 3 Estando

ele sentado no monte das Oliveiras, chegaram seus discípulos em particular, dizendo-lhe:

Declara-nos, quando sucederão estas coisas, e qual o sinal da tua vinda e do fim do mundo? 4

Respondeu Jesus: Vede que ninguém vos engane. 5 Pois muitos virão em meu nome,

dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. 6 Haveis de ouvir falar de guerras e

rumores de guerras: olhai não vos assusteis; porque é necessário que assim aconteça, mas não

é ainda o fim. 7 Pois se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e

terremotos em diversos lugares; 8 porém tudo isto é o princípio das dores. 9 Então sereis

entregues à tribulação, e vos matarão; sereis odiados por todas as nações por causa do meu

nome. 10 Nesse tempo muitos hão de se escandalizar e trair-se uns aos outros, e uns aos

outros se odiarão; 11 hão de se levantar muitos falsos profetas, e a muitos enganarão; 12 e

por se multiplicar a iniqüidade, resfriar-se-á o amor da maior parte dos homens. 13 Todavia

quem persevera até o fim, esse será salvo. 14 Será pregado este Evangelho do reino por todo o

mundo em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. 15 Quando, pois, virdes a

abominação de desolação, predita pelo profeta Daniel, estabelecida no lugar santo (quem lê,

entenda), 16 então os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; 17 o que se achar no

eirado, não desça a tirar as coisas de sua casa, 18 e o que estiver no campo, não volte para

tomar a sua capa. 19 Mas ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles

dias! 20 Rogai que a vossa fuga não suceda no inverno, nem no sábado; 21 porque haverá

então grande tribulação, tal como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem

haverá jamais. 22 Se não se abreviassem aqueles dias, ninguém seria salvo; mas por amor

dos escolhidos esses dias serão abreviados. 23 Então se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo!

ou: Ei-lo ali! não acrediteis; 24 porque se hão de levantar falsos cristos e falsos profetas, e

mostrarão tais sinais e milagres que, se fora possível, enganariam até os escolhidos. 25 Vede

que de antemão vo-lo tenho declarado. 26 Se, pois, vos disserem: Ei-lo que está no deserto!

não saiais: Ei-lo no interior da casa! não acrediteis;

27 porque assim como o relâmpago sai do oriente, e se mostra até o ocidente, assim será a

vinda do Filho do homem. 28 Onde estiver o cadáver, aí se juntarão os corvos. 29 Logo

depois da tribulação daqueles dias o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas

cairão do céu e as potestades dos céus serão abaladas. 30 Então aparecerá no céu o sinal do

Filho do homem, e todas as tribos da terra se hão de lamentar, e verão o Filho do homem vir

sobre as nuvens do céu com poder e grande glória. 31 Ele enviará os seus anjos com grande

trombeta, os quais ajuntarão os escolhidos dos quatro ventos, de uma à outra extremidade dos

céus. 32 Aprendei esta parábola tirada da figueira: quando os seus ramos já estiverem tenros

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

19 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

e brotarem folhas, sabeis que está próximo o verão; 33 assim também vós, quando virdes

todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas.

34 Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas se

cumpram. 35 Passará o céu e a terra, mas não passarão as minhas palavras. 36 Mas daquele

dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão só o Pai. 37 Pois

assim como foi nos dias de Noé, assim será a vinda do Filho do homem. 38 Pois assim como

naqueles dias antes do dilúvio comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o

dia em que Noé entrou na arca, 39 e não o perceberam senão quando veio o dilúvio, e os

levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem. 40 Naquele dia de dois

homens que estiverem no campo, um será tomado e o outro será deixado; 41 de duas

mulheres que estiverem moendo em um moinho, uma será tomada e a outra será deixada. 42

Portanto vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor;

43 mas considerai que se o dono da casa tivesse sabido a que hora da noite havia de vir o

ladrão, teria vigiado e não haveria deixado arrombar a sua casa. 44 Por isso estai vós

também apercebidos; porque a hora que não pensais, virá o Filho do homem.

45 Quem é, pois, o servo fiel e prudente, ao qual o seu senhor confiou a direção da sua casa,

para que a tempo dê a todos o sustento? 46 Feliz aquele servo a quem o seu senhor, quando

vier, achar assim fazendo. 47 Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens. 48

Mas se aquele servo, sendo mau, disser no seu coração: Meu senhor demora-se, 49 e começar

a espancar os seus companheiros, e a comer e beber com os ébrios, 50 virá o senhor daquele

servo no dia em que este o não espera e na hora que não sabe, 51 e cortá-lo-á pelo meio e pô-

lo-á com os ímpios; ali haverá o choro e o ranger de dentes.

MATEUS 25: 1 Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas

lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. 2 Cinco dentre elas eram néscias, e cinco prudentes.

3 As néscias, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; 4 mas as prudentes

levaram azeite em suas vasilhas juntamente com as lâmpadas. 5 Tardando o noivo,

toscanejaram todas e adormeceram. 6 Mas à meia-noite ouviu-se um grito: Eis o noivo! saí

ao seu encontro. 7 Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas

lâmpadas. 8 Disseram as néscias às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas

lâmpadas estão-se apagando. 9 Porém as prudentes responderam: Talvez não haja bastante

para nós e para vós; ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. 10 Enquanto foram

comprá-lo, veio o noivo; as que estavam apercebidas, entraram com ele para as bodas, e

fechou-se a porta. 11 Depois vieram as outras virgens e disseram: Senhor, Senhor, abre-nos

a porta. 12 Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. 13 Portanto

vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora. 14 Pois é assim como um homem que,

partindo para outro país, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens:15 a um deu

cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade; e seguiu

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

20 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

viagem. 16 O que recebera cinco talentos, foi imediatamente negociar com eles e ganhou

outros cinco; 17 do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois.

18 Mas o que tinha recebido um só, foi-se e fez uma cova no chão e escondeu o dinheiro do

seu senhor. 19 Depois de muito tempo voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com

eles. 20 Chegando o que recebera cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo:

Senhor, entregaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que ganhei. 21 Disse-lhe o seu

senhor: Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no

gozo do teu senhor. 22 Chegou também o que recebera dois talentos, e disse: Senhor,

entregaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que ganhei. 23 Disse-lhe o seu senhor:

Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito, entra no gozo do

teu senhor. 24 Chegou por fim o que havia recebido um só talento, dizendo: Senhor, eu soube

que és um homem severo, ceifas onde não semeaste, e recolhes onde não joeiraste; 25 e,

atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu. 26 Porém o seu

senhor respondeu: Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei, e que recolho

onde não joeirei? 27 devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, vindo eu,

teria recebido o que é meu com juros. 28 Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez

talentos; 29 porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não

tem, até o que tem, ser-lhe-á tirado. 30 Ao servo inútil, porém, lançai-o nas trevas exteriores;

ali haverá o choro e o ranger de dentes. 31 Quando vier o Filho do homem na sua glória, e

todos os anjos com ele, então se assentará no trono de sua glória. 32 Todas as nações serão

reunidas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;

33 porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. 34 Então dirá o Rei aos que

estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí como herança o reino que vos está

destinado desde a fundação do mundo. 35 Pois tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e

destes-me de beber; era forasteiro, e recolhestes-me; 36 estava nu, e vestistes-me; enfermo, e

visitastes-me; preso, e viestes ver-me. 37 Então perguntarão os justos: Senhor, quando te

vimos faminto, e te demos de comer; ou com sede, e te demos de beber? 38 Quando te vimos

forasteiro, e te recolhemos; ou nu, e te vestimos? 39 Quando te vimos enfermo, ou preso, e

fomos visitar-te?

40 O Rei responderá: Em verdade vos digo que quantas vezes o fizestes a um destes meus

irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. 41 Dirá também aos que estiverem à sua

esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, destinado ao Diabo e seus anjos.

42 Pois tive fome, e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; 43 era

forasteiro, e não me recolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo e preso, e não me

visitastes. 44 Também eles perguntarão: Senhor, quando te vimos faminto, com sede,

forasteiro, nu, enfermo, ou preso, e não te servimos? 45 Então lhes responderá: Em verdade

vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o

deixastes de fazer. 46 Irão estes para o suplício eterno, porém os justos para a vida eterna.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

21 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

MARCOS 13: 1 Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que

pedras, que construções! 2 Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará

pedra sobre pedra, que não seja derribada. 3 No monte das Oliveiras, defronte do templo,

achava-se Jesus assentado, quando Pedro, Tiago, João e André lhe perguntaram em

particular: 4 Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas

estiverem para cumprir-se. 5 Então, Jesus passou a dizer-lhes: Vede que ninguém vos

engane. 6 Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e enganarão a muitos. 7 Quando,

porém, ouvirdes falar de guerras e rumores de guerras, não vos assusteis; é necessário assim

acontecer, mas ainda não é o fim. 8 Porque se levantará nação contra nação, e reino, contra

reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Estas coisas são o princípio das

dores. 9 Estai vós de sobreaviso, porque vos entregarão aos tribunais e às sinagogas; sereis

açoitados, e vos farão comparecer à presença de governadores e reis, por minha causa, para

lhes servir de testemunho. 10 Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a

todas as nações. 11 Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o

que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós

os que falais, mas o Espírito Santo. 12 Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao

filho; filhos haverá que se levantarão contra os progenitores e os matarão. 13 Sereis odiados

de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo. 14

Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê

entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes; 15 quem estiver em cima,

no eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa; 16 e o que estiver no

campo não volte atrás para buscar a sua capa. 17 Ai das que estiverem grávidas e das que

amamentarem naqueles dias! 18 Orai para que isso não suceda no inverno. 19 Porque

aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que

Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. 20 Não tivesse o Senhor abreviado aqueles

dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias. 21

Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; 22 pois

surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível,

os próprios eleitos. 23 Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito. 24 Mas, naqueles

dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, 25 as estrelas

cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. 26 Então, verão o Filho do

Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. 27 E ele enviará os anjos e reunirá os

seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu. 28

Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam, e as folhas

brotam, sabeis que está próximo o verão. 29 Assim, também vós: quando virdes acontecer

estas coisas, sabei que está próximo, às portas. 30 Em verdade vos digo que não passará esta

geração sem que tudo isto aconteça. 31 Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

22 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

não passarão. 32 Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu,

nem o Filho, senão o Pai. 33 Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será

o tempo. 34 É como um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá autoridade

aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao porteiro ordena que vigie. 35 Vigiai, pois,

porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do

galo, se pela manhã; 36 para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo. 37 O

que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai!

LUCAS 21: 1 Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. 2

Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; 3 e disse: Verdadeiramente,

vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. 4 Porque todos estes deram como oferta

daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu

sustento. 5 Falavam alguns a respeito do templo, como estava ornado de belas pedras e de

dádivas; 6 então, disse Jesus: Vedes estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre

pedra que não seja derribada. 7 Perguntaram-lhe: Mestre, quando sucederá isto? E que sinal

haverá de quando estas coisas estiverem para se cumprir? 8 Respondeu ele: Vede que não

sejais enganados; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a

hora! Não os sigais. 9 Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois

é necessário que primeiro aconteçam estas coisas, mas o fim não será logo. 10 Então, lhes

disse: Levantar-se-á nação contra nação, e reino, contra reino; 11 haverá grandes terremotos,

epidemias e fome em vários lugares, coisas espantosas e também grandes sinais do céu. 12

Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às

sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu

nome; 13 e isto vos acontecerá para que deis testemunho. 14 Assentai, pois, em vosso

coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder; 15 porque eu vos darei boca

e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem. 16 E

sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós.

17 De todos sereis odiados por causa do meu nome. 18 Contudo, não se perderá um só fio de

cabelo da vossa cabeça. 19 É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma. 20 Quando,

porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. 21

Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da

cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. 22 Porque estes dias são

de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito. 23 Ai das que estiverem grávidas e das

que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este

povo. 24 Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os

tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. 25 Haverá sinais no sol, na

lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do

bramido do mar e das ondas; 26 haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

23 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. 27 Então, se

verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. 28 Ora, ao

começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se

aproxima. 29 Ainda lhes propôs uma parábola, dizendo: Vede a figueira e todas as árvores.

30 Quando começam a brotar, vendo-o, sabeis, por vós mesmos, que o verão está próximo. 31

Assim também, quando virdes acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de

Deus. 32 Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que tudo isto aconteça. 33

Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão. 34 Acautelai-vos por vós

mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as

conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia

não venha sobre vós repentinamente, como um laço. 35 Pois há de sobrevir a todos os que

vivem sobre a face de toda a terra. 36 Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais

escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do

Homem. 37 Jesus ensinava todos os dias no templo, mas à noite, saindo, ia pousar no monte

chamado das Oliveiras. 38 E todo o povo madrugava para ir ter com ele no templo, a fim de

ouvi-lo.

Evidências do apocalipse de Jesus:

A destruição de Jerusalém

A cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos em 70 d.C. O cerco e a queda de

Jerusalém são descritos com pormenores gráficos pelo historiador judeu do

primeiro século, Flávio Josefo, no livro Guerras dos Judeus, que foi publicado cerca do

ano 75 d.C. De acordo com os Evangelhos, Jesus profetizou este evento

aproximadamente no ano 30 d.C. Vejamos o relato de Mateus da profecia de Jesus, e

comparemo-lo com a história de Josefo.

Jesus: “Quando, pois,virdes o abominável da desolação de que falou o profeta

Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judéia, fujam

para os montes; quem estiver sobre o eirado não desça para tirar de casa alguma

coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa” (Mateus

24:15-18).

Josefo: “É então um caso miserável, uma visão que até poria lágrimas em nossos

olhos, como os homens agüentaram quanto ao seu alimento ... a fome foi demasiado

dura para todas as outras paixões... a tal ponto que os filhos arrancavam os próprios

bocados que seus pais estavam comendo de suas próprias bocas, e o que mais dava

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

24 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

pena, assim também faziam as mães quanto a seus filhinhos... quando viam alguma

casa fechada, isto era para eles sinal de que as pessoas que estavam dentro tinham

conseguido alguma comida, e então eles arrombavam as portas e corriam para

dentro... os velhos, que seguravam bem sua comida eram espancados, e se as

mulheres escondiam o que tinham dentro de suas mãos, seu cabelo era arrancado

por fazerem isso...” (Guerras dos Judeus, livro 5, capítulo 10, seção 3).

Jesus: “Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!”

(Mateus 24:19).

Josefo: “Ela então tentou a coisa mais natural, e agarrando seu filho, que era uma

criança de peito, disse, ‘Oh, pobre criança! Para quem eu te preservarei nesta guerra,

nesta fome e nesta rebelião? ...’ Logo que acabou de dizer isto, ela matou seu filho e,

então, assou-o, e comeu metade dele, e guardou a outra metade escondida para si.”

(Guerras, livro 6, capítulo 3, seção 4).

Jesus: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado, porque

nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora

não tem havido, e nem haverá jamais” (Mateus 24:20-21).

Josefo: “Eu falarei portanto aberta e francamente aqui de uma vez por todas e

brevemente: que nenhuma outra cidade sofreu tais misérias nem nenhuma era

produziu uma geração mais frutífera em perversidade do que era esta, desde o

começo do mundo.” (Guerras, livro 5, capítulo 10, seção 5).

Jesus: “Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas por

causa dos escolhidos tais dias serão abreviados” (Mateus 24:22).

Josefo: “Ora, o número daqueles que foram levados cativos durante toda esta guerra

foi verificado ser noventa e sete mil, como foi o número daqueles que pereceram

durante todo o cerco onze centenas de milhares, a maior parte dos quais era na

verdade da mesma nação, porém não pertencentes à própria cidade, pois tinham

vindo de todo o país para a festa dos pães asmos e foram subitamente fechados por

um exército...” (Guerras, livro 6, capítulo 9, seção 3).

Jesus: “Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele

os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse:

Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra

que não seja derrubada” (Mateus 24:1-2).

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

25 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Josefo: “Ora, uma vez que César não foi de modo algum capaz de conter a

entusiástica fúria dos soldados, e o fogo avançava mais e mais... assim foi a sagrada

casa queimada, sem a aprovação de César.” (Guerras, livro 6, capítulo 4, Seção 7).

“Ora, tão logo o exército não teve mais pessoas para matar ou saquear ... César deu

ordens para que não demolissem mais a cidade inteira e o templo...” (livro 7,

capítulo 1, seção 1).

No artigo sobre evidências do número anterior desta revista, examinamos algumas

evidências dos manuscritos do Novo Testamento, e vimos que apontam para a

conclusão de que seu conteúdo fosse escrito quando e por quem ele declara ter sido

escrito. De fato, no caso do Evangelho de Mateus, há um fragmento recentemente

descoberto que data de algum tempo antes de 68 d.C. Como foi observado acima,

Jerusalém foi destruída em 70 d.C.

Cerco a Jerusalém: judeus e romanos em combate

Os Judeus foram massacrados por tropas romanas

Quando os judeus se rebelaram contra a autoridade romana em 70 d.C. – por causa,

entre outras coisas, dos altos impostos cobrados –, quatro legiões foram levadas por

Tito Vespasiano para sufocar a revolta.

Os 70 mil soldados logo viram que a luta não seria fácil. Especialmente quando se

defrontaram com as muralhas de Jerusalém, atrás das quais milhares de

combatentes judeus buscaram refúgio. A tentativa de invadir a cidade ou o cerco

durou seis meses ou 180 dias .

Constantemente ameaçados por ações de contra-ataque, os legionários fizeram um

dos maiores e mais complexos cercos da Antiguidade. Construíram muralhas, torres

de assalto, catapultas, escadas e diversos outros equipamentos que faziam das

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

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legiões romanas tropas únicas no mundo antigo – além de ótimos guerreiros, eram

também excelentes engenheiros.

O saque de Jerusalém, à partir da parede interior do Arco de Tito, Roma.

Ao fim do trágico combate, quando finalmente conseguiram vencer as três muralhas

consecutivas que protegiam a cidade, os legionários, irritados com a resistência dos

judeus, promoveram um verdadeiro banho de sangue (foram pelo menos 100 mil

mortos) e terminaram por incendiar o Templo de Jerusalém, escravizando os

sobreviventes.

Briga demorada

Setenta mil legionários participaram do cerco

Catapulta semelhante a usada na

Puro terrorismo

Para “estimular” os sitiados à rendição, era comum os atacantes promoverem atos

de puro terror. Os judeus apanhados pelos romanos fora das muralhas eram

crucificados na frente de todos. Um mar de cruzes servia como um aviso macabro

do que estava por vir.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

27 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Regime forçado

Uma das maneiras de forçar a rendição dos judeus era fazê-los passar fome. E, com

a muralha, não havia como fugir. Em Jerusalém, ela foi construída pelas legiões com

madeira e terra em tempo recorde: quatro dias.

Tiro ao alvo

A balística – arte de acertar os projéteis no local designado – era cumprida com

precisão pela legião romana. Para medir as distâncias dos tiros, os soldados usavam

um projétil de chumbo com uma linha amarrada. Já os judeus, a cada bala lançada,

avisavam seus camaradas para se proteger. A frase-senha era meio bizarra: “Bebê

chegando”.

Só na sabotagem

Os judeus usaram diversos e engenhosos contra-ataques, como túneis subterrâneos,

por onde saíam à noite para realizar ataques-relâmpagos contra os romanos.

Quando os romanos tomaram a segunda muralha, por exemplo, foram atacados por

milhares de guerrilheiros que haviam se emboscado nas casas e escombros do local.

Peça de ataque

A torre de assalto, de madeira e couro, era o alvo predileto dos defensores judeus –

e uma peça a ser protegida a qualquer custo pelos romanos. O único jeito de deter o

monstro era incendiando-o. E foi o que fez um grupo de judeus liderado por João, o

Idumeu, numa ousada ação de sabotagem.

Bate-estaca

O exército romano usou bate-estacas para tentar abrir vãos nas muralhas de

Jerusalém. Foi assim que a cidade caiu, ao fim do cerco. Vinte homens e um

corneteiro tomaram o local por uma brecha na fortaleza Antônia. Os judeus se

imaginaram vítimas de um ataque em larga escala e fugiram.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

28 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

Cerco de Jerusalém

Em abril do ano 66 de nossa era, quando o governador romano confiscou dezessete

talentos do tesouro do Templo, os nacionalistas judeus se rebelaram. Eles se apoderaram do

Templo, interromperam os sacrifícios diários em honra ao imperador romano e capturaram a

fortaleza de Massada.

A Revolta

A Grande Guerra, ou Primeira Revolta Judaica, foi um evento ímpar naquela região, porque

os judeus foram o único povo no antigo Oriente Próximo a lançar uma ofensiva em larga

escala contra o Império Romano. Ímpar também foi o fato de que nenhum outro conflito da

Antigüidade foi relatado com tantos detalhes por uma testemunha ocular. Essa testemunha

foi um historiador judeu do primeiro século chamado Yosef ben Mattityahu, mais conhecido

como Flávio Josefo. Josefo era um ex-fariseu e comandante das forças nacionalistas judaicas

na Galiléia. O historiador romano Dio Cássio também forneceu outro importante relato,

baseado em documentos militares oficiais.

Em resposta à insurreição judaica, concentrada principalmente em Jerusalém, Vespasiano,

principal comandante romano, foi enviado para sufocar o levante com cerca de cinqüenta mil

soldados. O ataque de Vespasiano começou no norte de Israel que, ao contrário de Jerusalém,

ofereceu pouca resistência. Por exemplo, as famílias judias que ocupavam a fortaleza galiléia

de Jotapata, defendida por Josefo, preferiram cometer suicídio a se renderem ao inimigo.

Quanto a Josefo, ele passou para o lado dos romanos.

Uma exceção foi a cidade de Gamla, nas Colinas de Golã, que, no outono do ano 67 d.C.,

tentou conter o avanço romano em direção a Jerusalém. Os romanos, porém, dizimaram a

cidade, massacrando quatro mil judeus. Para que suas famílias não fossem vítimas da

brutalidade de Roma, cerca de cinco mil judeus tiraram a própria vida, saltando para a morte

do alto dos abismos que cercavam aquela área. A atitude heróica daquela cidade lhe rendeu o

título de "Massada do Norte".

O cerco de Jerusalém no ano 70 dC foi um acontecimento decisivo na Primeira revolta

judaica. Ela foi seguida pela queda de Masada em 73 dC.

O exército romano, liderada pelo futuro imperador Tito, com Tibério Júlio Alexandre como

seu segundo em comando, sitiaram e conquistaram a cidade de Jerusalém, que havia sido

ocupada por seus defensores judeus em 66 dC. A cidade e seu famoso Templo foram

destruídos em 70 dC.

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29 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

A destruição do Templo é ainda anualmente lamentado com o jejum judaico Tishá

Be Av, e o Arco de Tito, que mostra e celebração do saque de Jerusalém e do

Templo, ainda está em Roma.

Apesar dos sucessos iniciais em repelir os cercos Romanos, o Zealotes lutavam entre

si, pela liderança. Eles não tinham disciplina, treinamento e preparação para as

batalhas que se seguiriam.

Tito cercou a cidade, com três legiões (V Macedonica, OmeuNuke XII, XV

Apolinário), no lado ocidental, e uma quarta (X Fretensis) sobre o Monte das

Oliveiras, a leste. Ele colocou pressão sobre os alimentos e abastecimento de água

dos moradores, permitindo que os peregrinos entrassem na cidade para comemorar

a Páscoa e, em seguida, recusando-lhes saída. Após os judeus terem mataram um

número de soldados romanos, Tito enviou Josefo, o historiador judeu, para negociar

com os defensores, o que acabou com os judeus ferindo o negociador com uma seta.

Em uma ocasião Tito quase foi capturado durante um súbito ataque, mas escapou.

Em meados de maio Tito definiu destruir o Terceiro muro construído recentemente,

rompendo-o, bem como a segunda parede, e voltando sua atenção para a Fortaleza

de Antônia ao norte do Monte do Templo. Os romanos foram atraídos para

combates de rua com os zelotes, que foram, então, condenada a retirar-se para o

templo para evitar grandes perdas. Josephus não em outra tentativa de negociação,

e os ataques judeus impediram a construção de torres de cerco na Fortaleza de

Antonia. Comida, água e outras disposições foram diminuindo dentro da cidade,

mas pequenas partes de forragem conseguiu esgueirar-se para o abastecimento da

cidade. Para colocar um fim às forrageiras, foram emitidas ordens para construir um

novo muro, e construção da torre de cerco foi reiniciado também.

Depois de várias tentativas fracassadas de violação ou de escalar os muros da

Fortaleza Antônia, os romanos finalmente lançou um ataque secreto, aos guardas

enquanto dormiam e tomara a fortaleza. Com vista para o recinto do Templo, a

fortaleza desde um ponto perfeito para atacar o próprio Templo. Os Aríetes tiveram

pouco progresso, mas durante a luta em si, eventualmente, as paredes ficaram em

chamas, quando um soldado romano atirou um tição em uma das paredes do

Templo. Destruir o Templo não estava entre as metas de Tito. O mais provável, Tito

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30 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

quis agarrá-la e transformá-lo em um templo dedicado ao imperador romano e um

panteão romano. Mas o fogo se espalhou rapidamente e logo estava fora de

controle. O templo foi destruído em no final de agosto, e as chamas se espalharam

nas seções residencial da cidade. As legiões romanas esmagaram rapidamente a

resistência remanescente dos judeus. Parte dos judeus restantes escaparam através

de túneis subterrâneos ocultos, enquanto outros fizeram uma última resistência na

Cidade Alta. Esta defesa parou o avanço dos romanos como eles tiveram que

construir torres de assalto para atacar os judeus remanescentes. A cidade foi

completamente sob controle romano em 7 de setembro e os romanos continuaram a

perseguir os judeus que haviam fugido da cidade.

Destruição de Jerusalém

Sulpício Severo (363 - 420), referindo-se em sua crônica de uma anterior por escrito,

Tácito (56 - 117), alegou que Tito favoreceu a destruição do Templo de Jerusalém

para ajudar a arrancar e destruir o povo judeu. O relato de Flávio Josefo Tito

descrito como moderado em sua abordagem e, depois de conferenciar com os

outros, ordenando que os mil anos de idade (na época) Templo ser poupados.

(Templo de Salomão, datado do século 10 aC, embora a estrutura física foi o Templo

de Herodes, cerca de 90 anos na época.) De acordo com Josephus, os soldados

romanos ficaram furiosos com os ataques e táticas dos judeus e , contra as ordens de

Tito, incendiaram um apartamento ao lado do Templo, que logo se espalhou por

todo.

Josephus agiu como mediador para os romanos e, quando as negociações

fracassaram, testemunhou o cerco e rescaldo. Ele escreveu:

Agora, logo que o Exército não tinha mais pessoas para matar ou roubar, porque não ficou

ninguém para ser objeto de sua fúria (por que não teria poupado algum, se houvesse

permanecido qualquer outro trabalho a ser feito), [Tito] César deu ordens para que eles agora

devem destruir toda a cidade eo Templo, mas deve deixar o maior número de torres de pé

como eles eram as de maior eminência, isto é, Phasaelus e Hípico e Mariamne; e tanto da

parede em anexo a cidade no lado oeste. Este muro foi poupado, a fim de permitir um

acampamento para os que estavam a residir na guarnição [na Cidade Alta], como eram as

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

31 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

torres [os três fortes] também poupados, a fim de demonstrar à posteridade que tipo de cidade

que foi , e como bem fortificada, que o valor romano tinha subjugado, mas para todo o resto

da parede [em torno de Jerusalém], que era tão completamente estabelecido, mesmo com o solo

por aqueles que cavaram-lo até a base, que havia deixado nada fazer aqueles que vieram de lá

que ela [Jerusalém] jamais foi habitada. Este foi o final que chegou a Jerusalém pela loucura

dos que foram para as inovações, uma cidade de outra forma de grande magnificência e da

fama de valente entre todos os homens. E realmente, o ponto de vista muito em si foi uma

coisa triste; país para aqueles lugares que eram adornadas com árvores e jardins agradáveis,

foram-se agora desolado todos os sentidos, e suas árvores estavam todas cortadas. Nem

poderia qualquer estrangeiro que anteriormente haviam visto a Judéia e os subúrbios mais

bonitas da cidade e, agora, viu-o como um deserto, mas lamento e luto, infelizmente, a tão

grande mudança. Para que a guerra tinha previsto todos os sinais de beleza muito

desperdício. Também não havia ninguém que tivesse conhecido o lugar antes, tinha chegado a

uma repentina para ele agora, ele teria conhecido lo novamente. Mas, embora ele

[estrangeiro] não eram da própria cidade, mas teria ele perguntou por ela.

Josefo afirma que 1.100.000 pessoas morreram durante o cerco, dos quais a maioria

eram judeus, e que 97.000 foram capturados e escravizados, incluindo Simão Bar

Giora e João de Gischala. Muitos fugiram para áreas em torno do Mediterrâneo. Tito

teria se recusado a aceitar a coroa da vitória, pois "não há mérito em vencer povo

abandonado pelo seu próprio Deus."

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

32 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

FLAVIO JOSEFO – ANTIGUIDADES JUDAICAS

ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - CAPÍTULO 4

Revolta dos judeus contra Pilatos, governador daJudéia,por ter feito entrar em

Jerusalém as bandeiras, que traziam a imagem do imperador. Ele as retira.

Louvores de JESUS CRISTO. Horrível ofensa feita a uma dama romana pelos

sacerdotes da deusa ísis e castigo que Tibério lhes inflige.

770. Pilatos, governador da Judéia, enviou dos quartéis de inverno de Cesaréia a

Jerusalém tropas que traziam em seus estandartes a imagem do imperador, o que é

tão contrário às nossas leis que nenhum outro governador antes dele o fizera. As

tropas entraram de noite, e por isso apenas no dia seguinte é que se percebeu.

Imediatamente os judeus foram em grande número procurar Pilatos em Cesaréia e

durante vários dias rogaram-lhe que removesse aqueles estandartes. Ele negou o

pedido, dizendo que não o poderia fazer sem ofender o imperador. Mas como eles

continuavam a insistir, ordenou aos seus soldados, no sétimo dia, que secretamente

se conservassem em armas e subiu em seguida ao tribunal que mandara erguer de

propósito no local dos exercícios públicos, porque era o lugar mais apropriado para

escondê-los.

Os judeus, porém, insistiam no pedido. Ele então deu o sinal aos soldados, que os

envolveram imediatamente por todos os lados, e ameaçou mandar matá-los se

continuassem a insistir e não voltassem logo cada qual para a sua casa. A essas

palavras, eles lançaram-se todos por terra e apresentaram-lhe a garganta descoberta,

para mostrar que a observância de suas leis lhes era muito mais cara que a própria

vida. Aquela constância e zelo tão ardentes pela religião causou tanto assombro a

Pilatos que ele ordenou que se levassem os estandarte de Jerusalém para Cesaréia.

771. Em seguida, Pilatos tentou retirar dinheiro do tesouro sagrado para fazer vir a

Jerusalém, pelos aquedutos, a água cujas nascentes distavam uns duzentos estádios.

O povo ficou de tal modo revoltado que veio em grupos numerosos queixar-se e

rogar-lhe que não continuasse aquele projeto. E, como acontece ordinariamente no

meio de uma população exaltada, alguns chegaram de dizer-lhe palavras injuriosas.

Ele ordenou então aos soldados que escondessem cacetes debaixo da túnica e

rodeassem a multidão. Quando recomeçaram as injúrias, sinalizou aos soldados

para que executassem o que havia determinado. Eles não somente obedeceram,

como fizeram mais do que ele desejava, pois espancaram tanto os sediciosos quanto

os indiferentes. Os judeus não estavam armados, e por isso muitos morreram e

vários foram feridos. E a sedição terminou.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

33 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

772. Nesse mesmo tempo, apareceu JESUS, que era um homem sábio, se é que

podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras.

Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não

somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o CRISTO

(MESSIAS). Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante

Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua

vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no

terceiro dia, como os santos profetas haviam predito, dizendo também que ele faria

muitos outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o

seu nome.

ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - CAPÍTULO 7

Guerra entre Aretas, rei de Petra, e Herodes, o tetrarca, que, tendo desposado a

filha daquele, queria repudiá-la para casar-se com Herodias, filha de Aristóbulo e

mulher de Herodes, seu irmão por parte de pai. O exército de Herodes é

totalmente derrotado, e os judeus atribuem ao fato de ele ter colocado João Batista

na prisão. Posteridade de Herodes, o Grande.

780. Nesse mesmo tempo, aconteceu, pelo motivo que passo a descrever, uma

grande guerra entre Herodes, o tetrarca, e Aretas, rei de Petra. Herodes, que havia

desposado a filha de Aretas e vivera muito tempo com ela, passou, numa viagem a

Roma, pela casa de Herodes, seu irmão por parte de pai, filho da filha de Simão,

sumo sacerdote, e concebeu tal paixão pela mulher dele, Herodias — filha de

Aristóbulo, irmão de ambos e irmã de Agripa, que depois foi rei —, que propôs

desposá-la logo que estivesse de volta de Roma e repudiasse a filha de Aretas.

Ele continuou a sua viagem e voltou após cumprir as incumbências de que fora

encarregado. A sua mulher veio a saber de tudo o que se havia passado entre ele e

Herodias, mas nada demonstrou e rogou-lhe que permitisse ir a Maquera, fortaleza

situada na fronteira dos dois territórios, que então pertencia ao rei seu pai. Como

Herodes não julgava que ela soubesse de seu projeto, não teve dificuldade em

atendê-la. O governador da praça recebeu-a muito bem, e um grande número de

soldados escoltou-a até a corte do rei Aretas.

Ela contou-lhe da resolução tomada por Herodes, e ele sentiu-se muito ofendido.

Havendo já surgido algumas divergências entre os dois príncipes, por causa dos

limites do território de Gamala, eles entraram em guerra; todavia, nem um nem

outro tomou parte dela em pessoa. A batalha travou-se, e o exército de Herodes foi

completamente derrotado, devido à traição de alguns refugiados que, expulsos da

tetrarquia de Filipe, se alistaram nas tropas de Aretas. Herodes escreveu a Tibério,

contando o que havia acontecido, e este ficou tão enfurecido contra Aretas que

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

34 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

ordenou a Vitélio que lhe declarasse guerra e o trouxesse vivo, se possível, ou lhe

mandasse a cabeça, caso ele viesse a morrer na luta.

781. Vários judeus julgaram a derrota do exército de Herodes um castigo de Deus,

por causa de João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade que

exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o batismo,

para se tornarem agradáveis a Deus, não se contentando em evitar o pecado, mas

unindo a pureza do corpo à da alma. Como uma grande multidão o seguia para

ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que ele, pela influência que exercia sobre

eles, viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre pronto a fazer

o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para depois não ter motivo

de se arrepender por haver esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo,

mandou prendê-lo numa fortaleza em Maquera, de que acabamos de falar, e os

judeus atribuíram a derrota de seu exército a um castigo de Deus, devido a esse ato

tão injusto.

782. Vitélio, para executar a ordem recebida de Tibério, tomou duas legiões e suas

cavalarias e outras tropas que os reis sujeitos ao Império Romano lhe enviaram. Na

sua marcha em direção a Petra, chegou a Ptolemaida. O seu intento era fazer passar

o exército através da Judéia, porém os maiorais dessa nação vieram pedir-lhe que

não o fizesse, porque as legiões romanas traziam em seus estandartes figuras que

eram contrárias à nossa religião. Ele satisfez-lhes o pedido e mandou que os

soldados passassem pelo campo. Acompanhado pelo tetrarca e seus amigos, foi a

Jerusalém oferecer sacrifícios a Deus, pois se aproximava o dia de uma festa. Ele foi

recebido com grandes honras e lá permaneceu três dias.

783. Nesse tempo, tirou o sumo sacerdócio de jônatas para dá-la a TeóFílon, seu

irmão. E, havendo recebido a notícia da morte de Tibério, fez o povo prestar

juramento de fidelidade a Caio Calígula, que lhe sucedera no império. Essa

mudança o fez recolher as tropas, e ele enviou-as aos quartéis de inverno e voltou a

Antioquia.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

35 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO XVIII - CAPÍTULO 8

Albino sucede a Festo no governo dajudéia e o reiAgripa dá e tira diversas vezes o

sumo sacerdócio. Anano, sumo sacerdote, manda matar Tiago. Agripa engrandece

e embeleza a cidade de Cesaréia de Filipe e a chama Neroniana. Graças que ele

concede aos levitas. Relação de todos os sumos sacerdotes desde Aarão.

856. Morrendo Festo, Nero deu o governo da Judéia a Albino e o rei Agripa tirou o

sumo sacerdócio de José para dá-lo a Anano. Anano, o pai, foi considerado como

um dos homens mais felizes do mundo, pios gozou quanto quis dessa grande

dignidade e teve cinco filhos que a possuíram também depois dele; o que jamais

aconteceu a qualquer outro. Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem

ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais

severos de todos judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o

tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um

conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e

alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao

apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que

eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis.

Mandaram secretamente pedir ao rei Agripa que ordenasse a Anano, nada mais

fazer de semelhante, pois o que ele fizera, não se podia desculpar. Alguns deles

foram à presença de Albino, que então tinha partido de Alexandria, para informá-lo

do que se havia passado e dizer-lhe que Anano não podia nem devia ter reunido

aquele conselho sem sua licença. Ele aceitou estas desculpas e escreveu a Anano,

encoleriza-do, ameaçando mandar castigá-lo. Agripa, vendo-o tão irritado, tirou-lhe

o sumo sacerdócio, que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus,

filho de Daneu.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

36 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

FLÁVIO JOSEFO – GUERRAS DOS JUDEUS

GUERRAS JUDAICAS LIVRO I - INTRODUÇÃO

Assim, começarei minha história por onde seus autores e nossos profetas ter-

minaram as suas. Referirei particularmente, com toda a exatidão que me for

possível, a guerra que se travou no meu tempo e contentar-me-ei em tocar bre-

vemente o que se passou nos séculos precedentes.

Direi de que modo o rei Antíoco Epifânio, depois de ter tomado Jerusalém e de tê-la

possuído durante três anos e meio, de lá foi expulso pelos filhos de Matatias,

hasmoneu.

Observe Josefo fala dos três anos e meio das profecias de Daniel, ou seja, um tempo,

dois tempos e metade de um tempo, que foi o tempo que durou a profanação do

Templo em Jerusalém feita pelos gregos.

GUERRAS JUDAICAS LIVRO V - CAPÍTULO 32

Espantosa miséria em que se achava Jerusalém e invencível teimosia dos rebeldes.

Tito faz erguer quatro novas plataformas.

424. Os judeus, vendo-se então inteiramente cercados na cidade, desesperavam-se

de uma vez de sua salvação. A fome que sempre aumentava, devorava famílias

inteiras. As casas estavam cheias de cadáveres de mulheres e de crianças, e as ruas,

de corpos de anciãos. Os moços, inchados e cambaleando pelas ruas, mais pareciam

espectros do que seres vivos e o menor obstáculo os fazia cair. Assim, não tinham

forças para enterrar os mortos e quando mesmo as tivessem, não teriam podido

fazê-lo, quer por seu número muito elevado, quer porque eles mesmos não sabiam

quanto tempo ainda lhes restaria de vida. Se alguém se esforçava por prestar esse

dever de piedade, morria também quase sempre de fazê-lo; outros arrastavam-se

como podiam até o lugar de sua sepultura, para ali esperar o momento da morte,

que estava próxima. No meio de tão espantosa miséria não se ouviam choros nem

lamentos, não se escutavam gemidos, porque aquela fome horrível com que a alma

estava inteiramente ocupada afogava todos os outros sentimentos. Os que ainda

viviam, contemplavam os mortos com olhos enxutos, e seus lábios inchados e

lívidos lhes faziam ver a morte esculpida no rosto. O silêncio era tão grande em toda

a cidade, como se ela tivesse sido sepultada numa noite profunda ou que lá não

vivesse mais um ser humano. Em tal contingência aqueles celerados, que de tudo

eram a causa principal, mais cruéis que a mesma fome e que os animais ferozes,

entravam naquelas casas que eram mais sepulcros que lares, e despojavam os

mortos, tiravam-lhes até as vestes, e acrescentando ainda a zombaria a tão espantosa

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

37 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

desumanidade feriam com golpes os que ainda respiravam para experimentar se

suas espadas ainda tinham gume. Mas ao mesmo tempo, por uma crueldade

contrária, recusavam-se a matar, com desprezo, àqueles que lhos pediam, ou ainda

emprestar-lhes a espada para que eles mesmos se matassem, a fim de se libertar dos

males que a fome os fazia sofrer. Os moribundos, ao entregar a alma, voltavam os

olhos para o Templo, tinham o coração partido de dor por deixar ainda com vida

aqueles celerados, que o profanavam de maneira tão horrível. Aqueles monstros de

impiedade, no começo, enterravam os mortos à custa do poder público, para se

livrar do mau cheiro. Mas não podendo mais fazê-lo, jogavam-nos por cima do

muro, ao fundo dos vales. O horror que Tito sentiu por vê-los, quando deu a volta a

toda a praça e o estranho fedor do apodrecimento dos cadáveres, fê-lo soltar um

profundo suspiro; ele elevou suas mãos para o céu e tomou a Deus por testemunha

de que não era culpado de tudo aquilo. Este é o estado mais que deplorável de tão

infeliz e miserável cidade.

Como os romanos não temiam mais os ataques dos judeus, que o desânimo, bem

como a fome, mantinha dentro de seus muros, viviam tranqüilos e nada faltava ao

seu exército, porque traziam da Síria e das províncias vizinhas trigo e todas as

outras provisões de que podiam ter necessidade. Eles os expunham à vista dos

judeus e tão grande abundância de alimentos incitava-lhes ainda mais a fome,

aumentando neles o pavor de sua miséria. Nada, porém, era capaz de mover os

rebeldes. Tito para salvar, pelo menos, tomando a cidade o mais depressa possível,

o restante desse pobre povo, de que ele sentia compaixão, mandou erguer novas

plataformas, embora tivessem de fazê-lo com grandes dificuldades, pela falta de

materiais, porque haviam empregado toda a madeira naquelas que haviam sido

destruídas pelo fogo, e os soldados deviam ir buscar novos troncos de árvores a

noventa estádios da cidade. Começaram perto da fortaleza Antônia a erguer quatro

plataformas, maiores que as precedentes, e Tito estava continuamente a cavalo, para

apressar aquele estafante trabalho, que devia tirar todas as últimas esperanças dos

rebeldes; mas eles eram incapazes de se arrepender. Parece que tinham o corpo e a

alma completamente isolados sem se comunicarem entre si, tão pouco ou nada se

comoviam com o que muito os deveria impressionar e seus corpos eram insensíveis

à dor. Eles estraçalhavam como cães os cadáveres daquele pobre povo, e enchiam as

prisões com os que ainda respiravam.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

38 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 1

Horrível miséria a que Jerusalém se encontra reduzida e incrível desolação de

todos os países dos arredores. Os romanos terminam em vinte e um dias suas

novas plataformas.

432. Os males que afligiam Jerusalém aumentavam cada vez mais; o furor dos

revoltosos aumentava também, pois a fome era tal que os roubos não impediam que

eles também começassem a se sentir envolvidos na mesma miséria geral, que já

tinha destruído grande parte do povo e que reduzia ao último extremo os que ainda

viviam. Os cadáveres que enchiam a cidade e a contaminavam com seu mau cheiro,

o que não se podia contemplar sem horror, retardavam mesmo os ataques, pois a

quantidade não era menor que a dos que poderiam ter tombado numa grande

batalha, dentro dos muros. Havia mortos por toda a parte; pelas estradas, pelas

ruas, não se podia passar sem que pisasse nalgum cadáver. Mas o endurecimento de

seu coração era tal que esse espetáculo tão horrendo não os impressionava, não lhes

causava a compaixão, e não os fazia considerar que aumentariam bem depressa o

número dos que eles calcavam aos pés com tanta desumanidade. Depois de ter

numa guerra interna manchado suas mãos no sangue de seus próprios concidadãos,

pensavam agora somente em lutar contra os romanos, numa guerra externa e

parecia que eles censuravam a Deus que adiava o castigo, pois não havia mais

esperança de vencer; era o desespero que lhes inspirava tanta coragem e ousadia.

433. Entretanto, os romanos em vinte e um dias terminaram as novas plataformas,

não obstante a dificuldade em encontrar a madeira necessária para tal obra. Eles

devastaram toda a região a oitenta estádios nos arredores de Jerusalém; e jamais

terra ficou tão desfigurada. Onde outrora havia bosques e árvores frondosas, jardins

deliciosos, não havia agora uma única árvore, e não somente os judeus, mas os

estrangeiros, que antes admiravam aquela formosa parte da Judéia, agora não

seriam capazes de reconhecer, nem ver os maravilhosos arrabaldes daquela grande

cidade, convertidos em terrenos abandonados e silvestres, sem que tão deplorável

mudança os fizesse derramar lágrimas. Foi assim que a guerra de tal modo destruiu

uma região tão favorecida por Deus, que já não lhe restava o menor vestígio de sua

beleza antiga e podia-se perguntar em Jerusalém, onde então estava Jerusalém.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

39 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 21

Espantosa história de uma mãe que matou e comeu em Jerusalém seu próprio

filho. Horror que com isso Tito veio a sentir.

459. Uma mulher chamada Maria, filha de Eleazar, muito rica, tinha vindo com

algumas outras, à aldeia de Batechor, isto é, casa de hissope, refugiar-se em Jerusa-

lém, e lá se viu cercada. Aqueles tiranos, cuja crueldade martirizava os habitantes,

não se contentaram em lhe arrebatar tudo o que tinha levado de mais precioso,

tomaram-lhe ainda por diversas vezes o que ela havia escondido para seu alimento.

A dor de se ver tratada daquela maneira lançou-a em tal desespero, que, depois de

ter feito mil imprecações contra eles, usou de palavras ofensivas, procurando irritá-

los, a fim de que a matassem, mas nem um só daqueles tigres, por vingança de

tantas injúrias ou por compaixão, lhe quis usar dessa graça. Ela se viu reduzida

assim, às últimas, não podia esperar socorro de ninguém; e a fome que a devorava, e

ainda mais, o fogo que a cólera tinha acendido no seu coração, inspiraram-lhe uma

resolução que causa horror à própria natureza. Ela arrancou o filho do próprio seio

e disse-lhe: "Criança infeliz, da qual nunca se poderá chorar bastante a desgraça de

ter nascido durante esta guerra, durante a carestia e no meio de diversas facções,

que conspiram sem trégua, para a ruína de nossa pátria, para que te haveria eu de

conservar a vida? Para ser talvez escrava dos romanos, quando mesmo eles nos

quisessem ajudar? A fome nos teria feito morrer antes mesmo de cairmos em suas

mãos. E esses tiranos, que nos pisam a garganta, não são eles ainda mais temíveis e

cruéis que os romanos e a fome? Não é então preferível que tu morras, para servir-

me de alimento, para enraivecer esses revoltosos e deixar atônita a posteridade,

com uma ação tão trágica, que não seria a única a faltar para encher a medida dos

males que tornam hoje os judeus o povo mais infeliz da terra?" Depois de ter assim

falado ela matou o filho, cozeu-o, comeu uma parte e escondeu a outra. Aqueles

ímpios, que só viviam de rapina, entraram em seguida naquela casa; tendo sentido o

cheiro daquela iguaria inominável, ameaçaram matá-la, se ela não lhes mostrasse o

que tinha preparado para comer. Ela respondeu que ainda lhe restava um pedaço da

iguaria e mostrou-lhes restantes do corpo do próprio filho. Ainda que tivessem um

coração de bronze, tal espetáculo causou-lhes tanto horror, que eles pareciam fora

de si. Ela, porém, na exaltação que lhe causava o furor, disse-lhes, com o rosto con-

vulsionado: "Sim, é meu próprio filho que vedes, e fui eu mesma que o matei. Podeis

comê-lo, também, pois eu já comi. Sois talvez menos corajosos que uma mulher e

tendes mais compaixão que uma mãe? Se vossa piedade não vos permite aceitar

essa vítima, que vos ofereço, eu mesma acabarei de comê-lo". Aqueles homens que

até então não haviam sabido o que era a compaixão, retiraram-se trêmulos, e por

maior que fosse a sua avidez em procurar alimento, deixaram o restante daquela

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

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detestável iguaria à infeliz mãe. A notícia de fato tão funesto espalhou-se

incontinenti por toda a cidade. O horror que todos sentiram foi o mesmo, como se

cada qual tivesse cometido aquele horrível crime; os mais torturados pela fome só

desejavam morrer, quanto antes, e julgavam felizes os que já haviam morrido, antes

de ter tido ciência deste fato ou ouvido narrar coisa tão execrável.

Os romanos também logo souberam de tudo, isto é, da criança sacrificada por sua

própria mãe, para que ela pudesse continuar a viver. Uns não podiam crer no que se

dizia; outros sentiam imensa compaixão, mas a maior parte viu acender-se ainda

mais o ódio que já sentiam contra os judeus. Tito, para se justificar diante de Deus a

esse respeito, protestou em voz alta que ele tinha oferecido aos judeus uma anistia

geral de todo o passado e visto que eles tinham preferido a revolta à obediência, a

guerra à paz, a carestia à abundância e tinham sido os primeiros a incendiar com

suas próprias mãos o Templo, que ele tinha se esforçado por conservar, mereciam

ser obrigados a se alimentar de tão execrável iguaria. No entanto, ele sepultaria

aquele horrível crime sob as ruínas da sua capital, a fim de que o sol, fazendo a volta

ao mundo, não fosse obrigado a esconder seus raios, pelo horror, de iluminar uma

cidade onde as mães se nutriam de carne dos próprios filhos, onde os pais não eram

menos culpados que elas, pois tão estranhas misérias não os podiam decidir a

abandonar as armas. Estas as palavras do grande príncipe, porque, considerando até

que excesso ia a raiva daqueles revoltosos, ele não achava, que depois de ter sofrido

tantos males, dos quais apenas o temor deveria trazê-los ao cumprimento do dever,

nada poderia jamais fazê-los mudar.

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 31

Sinais e predições da desgraça que sobreveio aos judeus, aos quais eles não

deram crédito.

476. Relatarei aqui alguns desses sinais e dessas predições.

Um cometa, que tinha a forma de uma espada, apareceu sobre Jerusalém, durante

um ano inteiro.

Antes de começar a guerra, o povo reunira-se, a oito de abril, para a festa da Páscoa,

e pelas nove horas da noite viu-se durante uma hora e meia em redor do altar e do

Templo, uma luz tão forte que se teria pensado que era dia. Os ignorantes tiveram-

na como um bom augúrio, mas os instruídos e sensatos, conhecedores das coisas

santas, consideraram-na como um presságio do que depois sucedeu.

Durante essa mesma festa uma vaca que era levada para ser sacrificada deu à luz

um cordeiro no meio do Templo.

Pelas seis horas da tarde a porta do Templo que está do lado do oriente, que é de

bronze e tão pesada que vinte homens mal a podem empurrar, abriu-se sozinha,

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

41 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

embora estivesse fechada com enormes fechaduras, barras de ferro e ferrolhos, que

penetravam bem fundo no chão, feito de uma só pedra. Os guardas do Templo

avisaram imediatamente o magistrado do que acontecera e lhe foi bem difícil tornar

a fechá-la. Os ignorantes interpretaram-no ainda como um bom sinal, dizendo que

Deus abria em seu favor suas mãos liberais, para cobri-los de toda sorte de bens.

Porém, os mais sensatos julgaram o contrário, isto é, que o Templo destruir-se-ia por

si mesmo e que a abertura de sua porta era presságio, o mais favorável, que os

romanos pudessem desejar.

Um pouco depois da festa, a vinte e sete de maio aconteceu uma coisa que eu

temeria relatar, de medo que a tomassem por uma fábula, se pessoas que também a

viram, ainda não estivessem vivas e se as desgraças que se lhe seguiram não

tivessem confirmado a sua veracidade. Antes do nascer do sol viram-sé no ar, em

toda aquela região, carros cheios de homens armados, atravessar as nuvens e

espalharem-se pelas cidades, como para cercá-las.

No dia da festa de Pentecostes, os sacerdotes estando à noite, no Templo interior,

para o divino serviço, ouviram um ruído e logo em seguida uma voz que repetiu

várias vezes: Saiamos daqui!

Quatro anos antes do começo da guerra, quando Jerusalém gozava ainda de

profunda paz e de fartura, Jesus, filho de Anano, que era então um simples cam-

ponês, tendo vindo à festa dos Tabemáculos, que se celebra todos os anos no

Templo, em honra de Deus, exclamou: "Voz do lado do oriente, voz do lado do

ocidente, voz do lado dos quatro ventos, voz contra Jerusalém e contra o Templo,

voz contra os recém-casados e as recém-casadas, voz contra todo o povo". Dia e

noite ele corria por toda a cidade, repetindo a mesma coisa. Algumas pessoas de

condição, não podendo compreender essas palavras de tão mau pressá-gio,

mandaram prendê-lo e vergastá-lo; mas ele não disse uma só palavra para se

defender, nem para se queixar de tão severo castigo e repetia sempre as mesmas

coisas. Os magistrados, então, pensando, como era verdade, que naquilo havia algo

de divino, levaram-no a Albino, governador da Judéia. Ele mandou açoitá-lo até

verter sangue e nem assim conseguiram arrancar-lhe um único rogo, nem uma só

lágrima, mas a cada golpe que se lhe dava, ele repetia com voz queixosa e dolorida:

"desgraça sobre Jerusalém". Quando Albino lhe perguntou quem ele era, de onde era,

o que o fazia falar daquela maneira, ele nada respondeu. Assim despediu-o como

um louco e não o viram falar com ninguém, até que a guerra começou. Ele repetia

somente e sem cessar, as mesmas palavras: "Desgraça, desgraça sobre Jerusalém",

sem injuriar nem ofender aos que o maltratavam, nem agradecer aos que lhe davam

de comer. Todas as suas palavras reduziam-se a tão triste presságio e as proferia

com uma voz mais forte nos dias de festa. Dessa forma continuou durante sete anos

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

42 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

e cinco meses, sem interrupção alguma, sem que sua voz se enfraquecesse ou se

tornasse rouca. Quando Jerusalém foi cercada viu-se o efeito de suas predições.

Fazendo então a volta às muralhas da cidade, ele se pôs ainda a clamar: "Desgraça,

desgraça sobre a cidade, desgraça sobre o povo, desgraça sobre o Templo". Tendo

acrescentado "desgraça sobre mim", uma pedra atirada por uma máquina,

derrubou-o por terra e ele expirou proferindo ainda as mesmas palavras.

Se quisermos considerar tudo o que acabo de dizer, veremos que os homens

perecem somente por própria culpa, pois não há meios de que Deus não se sirva

para procurar-lhes a salvação e manifestar-lhes por diversos sinais o que eles devem

fazer. Assim, os judeus, depois da tomada da fortaleza Antônia, reduziram o

Templo a um quadrado embora não pudessem ignorar o que está escrito nos livros

sagrados, que a cidade e o Templo seriam destruídos quando aquilo viesse a

acontecer. Mas o que os levou principalmente a encetar aquela infeliz guerra, foi a

ambigüidade de outra passagem da mesma Escritura, que dizia que se veria naquele

tempo, um homem de seu país, governar toda a terra. Eles o interpretavam em seu

favor e vários até mesmo dos mais hábeis enganaram-se. Pois aquele oráculo dizia

que Vespasiano, então, fora criado imperador, quando estava na Judéia. Mas eles

explicavam todas essas predições, segundo sua fantasia e só conheceram seus erros,

quando ficaram completamente convencidos da sua inteira ruína e destruição.

Ora o próprio Flavio Josefo havia dito que o MESSIAS profetizado nas escrituras

judaicas era JESUS. Segue texto para lembrarmos:

LIVRO XVIII - CAPÍTULO 4 : 772. Nesse mesmo tempo, apareceu JESUS, que era um

homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram

as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido

não somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o CRISTO

(MESSIAS). Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este

ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram

depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas

haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos,

os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.

Porém agora aqui ele diz com todas as letras que os judeus se equivocaram com

relação à profecia de Daniel capitulo 9:27 que diz:

Daniel: 26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o

povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

43 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. 27 Ele fará firme

aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta

de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está

determinada, se derrame sobre ele.

E assim Flavio Josefo termina concluindo que o tal MESSIAS que governaria o

mundo era o Imperador Vespasiano. Ora deve haver alguma coisa errada, ou Josefo

falou que o Messias era Jesus ou que era Vespasiano, os dois ele com certeza não

deve ter dito. De acordo com a vida que Josefo levou depois de passar para o lado

romano na guerra de 66 a.C.,sendo adotado como uma espécie de filho pelo

imperador Vepasiano e mudando de nome de Yosef Ben Matatias para Flavius

Josefus, o Flavius vem da família então agora imperial a dinastia Flaviana de Flavio

Vespasiano, Josefo teve uma aposentadoria vitalícia, e assim terminou a vida

escrevendo história dos hebreus e das guerras judaicas romanas em 66. Ora depois

de todas essas informações fica óbvio saber qual é o dito verdadeiro de Josefo, ora

aquele que exalta Vespasiano como o Messias de um povo que viria e seria

proclamado Imperador nas terras da Judéia. A passagem que fala de Jesus foi

mexida e sofreu acréscimos cristão para colocar na boca de um historiador que Jesus

era o Messias.

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 42

Depois que os romanos ergueram aqueles cavaletes, derrubaram com os aríetes

um pedaço do muro e fizeram brecha em algumas torres; Simão ejoão e os outros

revoltosos são tomados de tal terror que abandonam, para fugir, as torres de

Hípicos, de Fazael e de Mariana, que só seriam tomadas pela fome, e então os

romanos, tornando-se senhores de tudo, fazem uma horrível matança e

incendeiam a cidade.

492. Dez dias depois que os cavaletes haviam sido iniciados, foram acabados, a sete

de setembro e os romanos colocaram suas máquinas sobre eles.

Então, os revoltosos perderam toda esperança de poder por mais tempo defender a

cidade. Vários abandonaram os muros para se refugiar no monte Acra ou nos

esgotos, porém os mais corajosos atacaram os que faziam os aríetes avançar. Os

romanos não somente lhes eram superiores em número e em força, mas sua

prosperidade animava-lhes a coragem, ao passo que os judeus estavam abatidos,

sob o peso de tantos males. Os aríetes derribaram um bom pedaço de muro e

fizeram brecha em algumas torres; os que as defendiam, fugiram; Simão e Judas

foram tomados de tal horror, que imaginando o mal muito maior que na verdade

era, só pensaram em fugir, antes mesmo que os romanos tivessem chegado até

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

44 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

aquele muro. O horrível orgulho daqueles ímpios converteu-se de repente em tal

espanto que por mais malvados que eles fossem, não se poderia deixar de sentir

compaixão de tão estranha mudança. Queriam, para se salvar, atacar os que

defendiam o muro feito pelos romanos em redor da cidade, mas vendo-se

abandonados por aqueles mesmos que antes lhes eram os mais fiéis, cada qual

fugiu, como pôde; e como o medo perturba o juízo e faz que se vejam coisas que não

existem, uns vinham dizer-lhes que todo o muro do lado do ocidente tinha sido

derribado, outros, que os romanos já haviam entrado, outros, que eles se tinham

apoderado das torres. Tantos boatos falsos aumentaram de tal modo o seu terror,

que, atirando-se de rosto por terra, eles recriminavam sua loucura e, como se

tivessem sido feridos por um raio, ficavam imóveis, sem saber que deliberação

tomar.

493. Viu-se então claramente um efeito do poder de Deus e a boa sorte dos romanos;

pois a perturbação em que se encontravam aqueles tiranos, fez que se privassem por

si mesmos da maior vantagem que lhes restava, abandonando as torres, onde nada

tinham a temer, senão a fome. Assim, os romanos que tanto tinham se esforçado

para derribar os muros mais fracos foram tão felizes, que se tornaram senhores, sem

dificuldade, das três admiráveis torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, de que

falamos há pouco e cuja resistência era tão extraordinária, que teriam atacado

inutilmente, com todas as suas máquinas. Depois que Simão e João as abandonaram,

ou melhor, que Deus os expulsou de lá, eles fugiram para o vale de Siloé, onde

depois de ter retomado ânimo e se terem recuperado um tanto de seu terror,

atacaram o novo muro, não, porém, com tanta força para dele se apoderar, porque o

cansaço, o medo e tantos males que suportaram, tinham diminuído muito suas

energias. Assim foram rechaçados e retiraram-se uns para um lado, uns para outro.

Os romanos vendo-se então senhores dessas torres, hastearam suas bandeiras, bem

no alto delas, com grandes gritos de alegria, porque os últimos esforços que haviam

feito naquela guerra, os faziam desfrutar com mais prazer a felicidade de a ter

gloriosamente terminado. Mas tendo assim conquistado sem resistência este último

muro, eles não podiam imaginar que não restasse ainda outro para vencer, e

custavam crer no que viam com seus próprios olhos.

494. Os soldados, espalhados por toda a cidade, matavam sem distinção os que

encontravam e incendiavam todas as casas com as pessoas que lá estavam

escondidas. Os que nelas entravam, para saqueá-las, encontravam-nas cheias de

cadáveres de toda a família, que a fome havia feito perecer; o horror de tal

espetáculo os fazia sair de mãos vazias. Mas embora sentissem alguma compaixão

pelos mortos, não eram mais humanos com os vivos, pois matavam a todos os que

encontravam; o número dos corpos amontoados uns sobre os outros era tão grande

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

45 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

que entupia as ruas e o sangue em que nadavam apagava o fogo em vários lugares.

A matança terminava à noite, o incêndio, porém, aumentava.

495. Foi a oito de setembro que Jerusalém, depois de ter sofrido tantos males, por

fim, desapareceu sob o violento incêndio. Durante o assédio, mil sofrimentos a

atormentaram, fazendo que sua felicidade e seu esplendor, que desde a fundação

haviam sido enormes, se eclipsassem, depois de a terem tornado digna de inveja.

Mas em tal conjuntura, depois de tantos males, essa infeliz cidade não é digna de

lástima, a não ser por ter agasalhado em seu seio aquela multidão de víboras, que a

devoraram e foram a causa de sua ruína.

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 43

Tito entra em Jerusalém e admira, entre outras coisas, as fortificações, mas

particularmente as torres de Hípicos, de Fazael e de Mariana, que ele conserva,

mandando destruir tudo o mais.

496. Tito entrou na cidade e admirou, entre outras coisas, as fortificações, con-

templando com assombro a potência e a força das torres, bem como sua beleza. Os

tiranos, por fim, foram bastante imprudentes em abandoná-las. Depois de ter

observado atentamente sua altura, largura, a grandeza extraordinária das pedras e a

arte com que tinham sido unidas, umas às outras, exclamou: "Bem parecia que Deus

combatia por nós; ele expulsou os judeus destas torres, pois não há forças humanas,

nem máquinas capazes de expugná-las". Disse várias coisas aos amigos a esse

respeito e pôs em liberdade todos os que os tiranos lá tinham deixado presos.

Mandou depois destruir tudo o mais e conservou somente essas soberbas torres,

para servirem de monumento à posteridade, recordando a felicidade, sem a qual,

ter-lhe-ia sido impossível apoderarem-se das mesmas.

GUERRAS JUDAICAS LIVRO VI - CAPÍTULO 44

O que os romanos fizeram dos prisioneiros.

497. Como os romanos estavam cansados de matar e havia ainda uma grande

multidão de gente, Tito ordenou que os poupassem e não os passassem a fio de

espada a não ser os que ameaçassem defender-se. Mas os soldados não deixaram de

matar, contra sua ordem, os velhos e os mais fracos. Conservaram somente os que

eram fortes e vigorosos, capazes de servir e os encerraram no Templo destinado às

mulheres. Tito confiou-os a um de seus libertos de nome Fronto, no qual ele

depositava grande confiança, com o poder de agir conforme melhor lhe parecesse.

Fronto mandou matar os ladrões e os revoltosos que se acusavam mutuamente e

reservou para o triunfo os mais jovens e os mais formosos. Mandou com cadeias

para o Egito os que tinham mais de dezessete anos, para trabalhar nas obras

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

46 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

públicas e Tito distribuiu um grande número deles pelas províncias para servirem

de espetáculo de gladiadores e combater contra as feras. Os que tinham menos de

dezessete anos foram vendidos.

Dessa forma, enquanto estes míseros eram encaminhados como escravos, onze mil

outros morreram, uns, porque seus guardas que os odiavam não lhes deram de

comer, outros, porque não o queriam fazer, desgostosos como estavam da vida,

preferiam mesmo morrer e também porque dificilmente se encontrava trigo para

alimentar tanta gente.

LIVRO VI - CAPÍTULO 45

Número de judeus prisioneiros durante essa guerra e dos que morreram durante o

cerco de Jerusalém.

498. Foram feitos prisioneiros durante esta guerra noventa e sete mil homens e o

assédio de Jerusalém custou a vida a um milhão e cem mil homens, dos quais a

maior parte, embora judeus de nascimento, não eram nascidos na judéia, mas lá se

encontravam de todas as províncias para festejar a Páscoa e haviam ficado presos

na cidade por causa da guerra. Como não havia lugar para acomodá-los a todos,

sobreveio a peste e logo em seguida a carestia. Pode-se julgar que era difícil que

aquela cidade, sendo tão grande, estivesse de tal modo povoada, que não havia

lugar para tanta gente, principalmente esses judeus vindos de fora, mas não há

melhor prova para isso, do que o recenseamento feito no tempo de Céstio. Pois esse

governador, querendo dar a conhecer a Nero, que tinha tanto desprezo pelos

judeus, a força de Jerusalém, rogou aos sacerdotes que contassem o povo. Eles

escolheram para isso o tempo da festa da Páscoa no qual desde as nove horas até às

onze, sem cessar, imolaram-se vítimas, cuja carne era consumida pelas famílias,

que não tinham menos de dez pessoas, algumas até vinte. Concluiu-se que haviam

sido imolados duzentos e cinqüenta e cinco mil e seiscentos animais, de onde,

contando-se apenas dez pessoas para cada animal, teríamos dois milhões,

quinhentos e cinqüenta e seis mil pessoas, purificadas e santificadas. Não eram

admitidos a oferecer sacrifícios nem os leprosos, nem os que sofriam de gonorréia,

nem as mulheres que estavam no tempo do incômodo que lhes é ordinário, nem os

estrangeiros que, não sendo judeus de raça, não deixavam de sê-lo, por devoção a

essa solenidade. Assim, aquela grande multidão que se tinha dirigido a Jerusalém,

de tantos e tão diversos lugares, antes do cerco, lá se encontrou encerrada como

numa prisão, quando a guerra começou.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

47 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

GUERRAS JUDAICAS LIVRO SÉTIMO - CAPÍTULO 1

Tito manda destruir Jerusalém até os alicerces, com exceção de um trecho do muro

no lugar onde ele queria construir uma fortaleza, e as torres de Hípicos, de Fazael

e de Mariana.

501. Depois que o exército romano, que jamais se cansaria de matar e de saquear,

nada mais achou em que saciar o seu furor, Tito ordenou que a destruíssem, até os

alicerces, com exceção de um pedaço do muro, que está do lado do ocidente, onde

ele tinha determinado construir uma fortaleza e as torres de Hípicos, de Fazael e de

Mariana, porque, sobrepujando a todas as outras em altura e em magnificência, ele

as queria conservar para mostrar à posteridade, quão grandes foram o valor e a

ciência dos romanos na guerra, para se apoderarem daquela poderosa cidade, que

se tinha elevado a tal nível de glória. Essa ordem foi tão exatamente cumprida que

não ficou sinal algum, que mostrasse haver ali existido um centro tão populoso. Tal

o fim de Jerusalém, cuja triste sorte só se pode atribuir à raiva daqueles revoltosos

que atearam o fogo na guerra.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

48 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

EUSEBIO DE CESAREIA – HISTÓRIA ECLESIASTICA

LIVRO II - XXIII

[De como Tiago, chamado irmão do Senhor, sofreu o martírio]

1. Ao apelar Paulo ao César e ser enviado por Festo à cidade de Roma1, os judeus,

frustrada a esperança que os induziu a conspirar contra ele2, voltaram-se contra

Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos tinham confiado o trono

episcopal de Jerusalém. O que segue é o que ousaram fazer também contra ele.

2. Trouxeram-no, e diante de todo o povo pediram-lhe que renegasse a fé de Cristo.

Mas quando ele, contra a vontade de todos, com voz livre e falando mais

abertamente do que esperavam, diante de toda a multidão pôs-se a confessar que

nosso Salvador e Senhor Jesus era filho de Deus, já não foram capazes de

suportar mais o testemunho deste homem, justamente porque era considerado o

mais justo de todos pelo grau de sabedoria e piedade a que havia chegado em sua

vida, e mataram-no, aproveitando oportunamente a falta de governo, pois tendo

Festo morrido na Judéia neste tempo, a administração do país ficou sem chefe e

sem controle3.

3. O modo como ocorreu a morte de Tiago já foi esclarecido pelas palavras citadas

de Clemente4, que conta como o lançaram do pináculo do templo e espancaram-

no até matá-lo. Mas quem conta com maior exatidão o que a ele se refere é

Hegesipo, que pertence à primeira geração sucessora dos apóstolos5 e que no livro

V de suas Memórias diz assim:

4. "Sucessor6 na direção da Igreja é, junto com os apóstolos, Tiago, o irmão do Senhor.

Todos dão-lhe o sobrenome de "Justo", desde os tempos do Senhor até os nossos,

pois eram muitos os que se chamavam Tiago.

5. Mas somente este foi santo desde o ventre de sua mãe. Não bebeu vinho nem

bebida fermentada, não comeu carne; sobre sua cabeça não passou tesoura nem

navalha e tampouco ungiu-se com azeite nem usou do banho.

6. Somente a ele era permitido entrar no santuário, pois não vestia lã, mas linho. E

somente ele penetrava no templo, e ali se encontrava ajoelhado e pedindo perdão

por seu povo, tanto que seus joelhos ficaram calejados como os de um camelo, por

1 At 25:11-12; 27:1. 2 At 23:13-15; 25:3. 3 Verão ou outono de 62, entre a morte de Festo e a chegada de seu sucessor Luceius Albinus. 4 Vide I:V 5 Hegesipo nasceu no ano 110, pode ter conhecido alguns membros da comunidade primitiva, ainda que muito velhos, mas não pode ser de forma alguma "da primeira geração" pós-apostólica. 6 Não fica claro de quem Tiago seria sucessor.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

49 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

estar sempre de joelhos adorando a Deus e pedindo perdão para o povo.

7. Por sua eminente retidão era chamado "o Justo" e "Oblías", que em grego quer

dizer proteção do povo e justiça, como declaram os profetas acerca dele.

8. Assim pois, alguns das sete seitas que há no povo e que eu descrevi anteriormente

(nas Memórias) tentavam informar-se com ele quem era porta de Jesus, e ele

respondia que este era o Salvador.

9. Alguns creram que Jesus era o Cristo. Mas as seitas mencionadas anteriormente

não creram nem na ressurreição nem em que venha a dar a cada um segundo

suas obras7. Mas os que creram, creram por Tiago.

10. Sendo pois, muitos os que creram, inclusive entre as autoridades8, os judeus, escribas

e fariseus se alvoroçaram dizendo: todo o povo corre perigo ao esperar o Cristo

em Jesus. Reuniram-se pois ante Tiago e disseram: Nós te pedimos: retém ao povo,

que está em erro a respeito de Jesus, como se ele fosse o Cristo. Pedimo-te que

convenças a respeito de Jesus todos os que vierem para o dia da Páscoa, porque a

ti todos obedecem. Efetivamente, nós e todo o povo damos testemunho de ti, de

que és justo e não te deixas levar pelas pessoas.

11. Tu pois, convence a toda a multidão para que não se engane a respeito do Cristo.

Todo o povo e nós mesmos te obedecemos. Ergue-te pois sobre o pináculo do

templo para que do alto sejas visível e todo o povo ouça tuas palavras, pois por

causa da Páscoa reúnem-se todas as tribos, inclusive com os gentios.

12. E assim os mencionados escribas e fariseus puseram Tiago em pé sobre o

pináculo do templo e disseram-lhe aos gritos: "O tu, o justo!, a quem todos

devemos obedecer, posto que o povo anda extraviado atrás de Jesus o

crucificado, diga-nos quem é a porta de Jesus."

13.E ele respondeu com grande voz: "Por que me perguntam sobre o Filho do

homem? Ele também está sentado no céu à direita do grande poder e há de vir

sobre as nuvens do céu9."

14.E sendo muitos os que se convenceram completamente e ante o testemunho de

Tiago, irromperam em louvores dizendo: "Hosana ao filho de Davi!". Então os

mesmos escribas e fariseus novamente disseram uns aos outros: "Fizemos mal em

proporcionar tal testemunho a Jesus, mas subamos e lancemo-lo para baixo, para

que tenham medo e não creiam nele."

15.E puseram-se a gritar dizendo: "Oh! Oh! Também o Justo extraviou-se!" E assim

cumpriram a Escritura que se encontra em Isaías: Tiremos de nosso meio o justo, que

7 Rm 2:6; Sl 62:13 (62:12); Pv 24:12; Mt 16:27; Ap 22:12. 8 Jo 12:42. 9 Mt 26:64; Mc 14:62; At 7:56.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

50 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

nos é incômodo. Então comerão o fruto de suas obras.

16.Subiram pois e lançaram abaixo o Justo. E diziam uns aos outros: "Apedrejemos a

Tiago o Justo!" E começaram a apedrejá-lo, porque ao cair não chegou a morrer.

Mas ele, virando-se, ajoelhou-se e disse: "Eu te peço Senhor, Deus Pai: Perdoa-os,

porque não sabem o que fazem.

17.E quando estavam assim apedrejando-o, um sacerdote, um dos filhos de Recab,

filho dos Recabim, dos quais o profeta Jeremias havia dado testemunho10, gritava

dizendo:

Parai, que estais fazendo? O Justo roga por vós!

18. E um deles, tecelão, agarrou o bastão com que batia os panos e deu com este

na cabeça do Justo, e assim foi que sofreu o martírio. Enterraram-no naquele

lugar, junto ao templo, e ainda se conserva sua coluna naquele lugar ao lado do

templo. Tiago era já um testemunho veraz para judeus e para gregos de que Jesus

é o Cristo. E em seguida Vespasiano os sitiou11."

19. Isto é o que Hegesipo relata minuciosamente, concordando ao menos com

Clemente. Tiago era um homem tão admirável e tanto havia-se espalhado entre

todos a fama de sua retidão, que até os judeus sensatos pensavam que esta era a

causa do assédio de Jerusalém, iniciado imediatamente depois de seu martírio, e

que por nenhum outro motivo estavam eles sofrendo-o senão pelo crime sacrílego

cometido contra ele.

20. Na verdade, pelo menos Josefo não vacilou em atestar também isto por escrito

com estas palavras:

"Isto sucedeu aos judeus como vingança por Tiago o Justo, irmão de Jesus, o

chamado Cristo, porque exatamente os judeus o mataram, ainda que fosse um

homem justíssimo12."

21. O mesmo autor descreve também a morte de Tiago no livro XX de suas

Antigüidades com estas palavras:

10 Jr 35:2-19. 11 Vespasiano começou a guerra contra os judeus em 67, mas Jerusalém foi sitiada por seu filho Tito em 70. 12 Desconhece-se este trecho nos manuscritos de Flavio Josefo, como Eusébio, contrário a seu costume, não cita obra nem livro, pode tê-la recolhido de outro autor, como Orígenes.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

51 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

"Sabendo César da morte de Festo, enviou a Albino como governador da Judéia.

Mas Ananos o Jovem, sobre quem já dissemos que havia recebido o sumo

sacerdócio, tinha um caráter especialmente resoluto e atrevido e formava parte

da seita dos Saduceus, que nos juízos eram justamente os mais cruéis entre os

judeus, como já demonstramos.

22. Ananos sendo pois assim, considerando oportuna a ocasião por haver morrido

Festo e achar-se Albinus ainda a caminho, convocou a assembléia de juízes, e

fazendo conduzir perante ela o irmão de Jesus, chamado Cristo - chamava-se

Tiago - e alguns mais para acusá-los de violar a lei, entregou-os para que fossem

apedrejados.

23.Mas todos os cidadãos considerados os mais sensatos e mais fiéis observadores

da lei levaram a mal esta sentença e enviaram uma delegação secreta ao rei13 para

pedir-lhe que escrevesse a Ananos para que não levasse a cabo tal coisa, porque já

desde o começo não agia com retidão. Alguns deles inclusive saíram ao encontro

de Albinus, que viajava desde Alexandria, para informá-lo de que sem seu

parecer não era permitido a Ananos convocar a assembléia.

24. Persuadido Albinus com o que lhe disseram, escreveu irritado a Ananos,

ameaçando-o de pedir-lhe contas. E o rei Agripa destituiu-o por este motivo do

sumo sacerdócio, que exercia há três meses, e instituiu a Jesus, o filho de Dameo."

Esta é a história de Tiago, do qual se diz que é a primeira carta das chamadas

católicas.

25. Mas deve-se saber que não é considerada autêntica. Dos antigos não são muitos

os que a mencionam, assim como a chamada de Judas, que é também uma das

sete chamadas católicas. Ainda assim, sabemos que também estas, junto com as

restantes, são utilizadas publicamente na maioria das igrejas.

ATÉ O SÉCULO V AS CARTAS DE TIAGO, JUDAS E O APOCALIPSE

PRATICAMENTE FORAM BANIDAS DO CANONE DA BÍBLIA.

13 Agripa II (50-100).

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

52 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

LIVRO III – CAPITULO V

[Sobre o último assédio dos judeus depois de Cristo]

1. Depois de Nero ter exercido o poder durante treze anos, e tendo os reinados de

Galba e Oto durado um ano e seis meses, Vespasiano, que havia se distinguido

nas operações bélicas contra os judeus, foi nomeado imperador na própria Judéia,

após ser proclamado senhor absoluto pelo exército ali acampado.

Encaminhando-se então a Roma, pôs em mãos de seu filho Tito a guerra contra os

judeus.

2. Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram ao crime

cometido contra ele a invenção de inúmeras ameaças contra seus apóstolos:

Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o14; depois dele, Tiago, filho de

Zebedeu e irmão de João, a quem decapitaram15; e depois de todos, Tiago, o que

depois da ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono

episcopal de Jerusalém e morreu da forma que já descrevemos. E os demais

apóstolos sofreram milhares de ameaças de morte e foram expulsos da terra da

Judéia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de

todas as nações em meu nome 16, dirigiram seus passos para todas as nações para

ensinar a mensagem.

3. E não apenas eles. Também o povo da igreja de Jerusalém, por seguir um oráculo

enviado por revelação aos notáveis do lugar, receberam a ordem de mudar de

cidade antes da guerra e habitar certa cidade da Peréia chamada Pella. Tendo os

que creram em Cristo emigrado até lá desde Jerusalém, a partir deste momento,

como se todos os homens santos tivessem abandonado por completo a própria

metrópole real dos judeus e toda a região da Judéia, a justiça divina alcançou os

judeus pelas iniqüidades que cometeram contra Cristo e seus apóstolos, e apagou

dentre os homens toda aquela geração de ímpios.

4. Quem pois quiser saber com exatidão os males que então caíram sobre a nação

em todo lugar, e como especialmente os habitantes da Judéia viram-se

empurrados ao fundo das calamidades, quantos milhares de jovens, de mulheres

e de crianças morreram pela espada, pela fome, e inúmeras outras formas de

morte, e quantas e quais cidades da Judéia foram sitiadas, e também quantos

horrores e pior do que horrores atingiram os que se refugiaram na mesma

Jerusalém, por ser um metrópole muito fortificada, assim como a índole de toda

14 At 7:58-60. 15 At 12:2. 16 Mt 28:19.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

53 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

a guerra, os acontecimentos que nela se sucederam e como, finalmente, a

abominação da desolação anunciada pelos profetas se instalou no próprio

templo de Deus, tão célebre antigamente, que sofreu todo tipo de destruição e,

por último, foi aniquilado pelo fogo: tudo isso encontrará na narrativa escrita

por Josefo.

5. Mas é necessário assinalar que este mesmo autor refere que o número dos que se

concentraram nos dias da festa da Páscoa, vindos de toda a Judéia para

Jerusalém, como num cárcere, para usar suas palavras, era de uns três milhões.

6. Era necessário pois, que nos dias em que causaram a paixão do Salvador e

benfeitor de todos e Cristo de Deus, nestes mesmos, encerrados como num

cárcere, recebessem a ruína que os alcançava da justiça de Deus.

7. Mas passando por alto o que lhes sobreveio e o que lhes foi feito pela espada e de

outras maneiras, acho necessário apresentar apenas as calamidades causadas

pela fome, para que os que leiam este escrito possam saber em parte como não

tardou muito para que os alcançasse o castigo divino por seu crime contra o

Cristo de Deus.

CAPITULO VI

[Sobre a fome que oprimiu os judeus]

1. Assim pois, se tomas outra vez em tuas mãos o livro V das Histórias de Josefo,

leia a tragédia que lhes aconteceu então:

"Para os ricos - diz - ficar era o mesmo que perder-se, pois, sob pretexto de que

deserdavam, assassinavam qualquer um pelos seus bens. Com a fome crescia o

desespero dos rebeldes, e dia a dia uma e outro se acendiam terrivelmente.

2. O trigo estava invisível, mas eles invadiam as casas e as revistavam. Então, se o

encontravam, maltratavam-nos por ter negado; se não o encontravam,

torturavam-nos por tê-lo escondido tão cuidadosamente. A prova de ter ou não ter

eram os corpos dos desgraçados: os que ainda se agüentavam em pé pareciam ter

alimentos em abundância; os que já estavam consumidos eram deixados em paz:

parecia fora de propósito matar alguém que logo morreria de inanição.

3. Muitos davam secretamente seus bens em troca de uma medida de trigo se eram

ricos; de cevada os mais pobres. Trancavam-se no mais oculto de suas casas e,

impelidos pela necessidade, uns comiam o trigo cru; outros o coziam à medida que

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

54 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

a necessidade e o medo ditavam.

4. Não se punha a mesa, antes, tiravam do fogo a comida ainda crua e a

devoravam. O alimento era miserável e o espetáculo deplorável: os mais fortes

tomando tudo e os fracos lamentando-se.

5. A fome excede todos os sofrimentos, mas nada ela destrói mais do que o senso

de dignidade, pois o que em outro tempo seria tido como digno de respeito é

depreciado em tempo de fome. Assim, as mulheres tiravam os alimentos da

própria boca dos maridos, os filhos da de seus pais e, o que é demasiado

lamentável, as mães das bocas de seus filhos, e enquanto os seres mais queridos

se consumiam entre suas mãos, nada os refreava de tirar-lhes as últimas gotas

que os permitiam viver.

6. Mas, mesmo sendo esta sua comida, não permanecia oculta. Por toda parte caíam-

lhes em cima os rebeldes em busca dessa presa. Quando viam uma casa fechada,

era sinal de que os ocupantes tinham conseguido comida, e imediatamente

arrombavam as portas e se precipitavam para dentro, e só lhes faltava apertar as

gargantas e arrancar-lhes o bocado.

7. Golpeavam os anciãos que não soltavam seus alimentos e arrancavam o cabelo

das mulheres que escondiam o que tinham nas mãos. Não havia compaixão nem

pelos velhos nem pelas crianças, mas levantavam as crianças que seguravam seu

bocado e as deixavam cair contra o solo. Com aqueles que, adiantando-se a seu

ataque, engoliam antes o que tentariam tirar-lhes, eram ainda mais cruéis, como

se tivessem sofrido uma injustiça.

8. Usavam espantosos métodos de tortura para descobrir comida: obstruíam a uretra

dos desgraçados com grãos de legumes e trespassavam-lhes o reto com varas

pontiagudas. Padeciam-se tormentos que espantam apenas por ouvi-los, até

confessar a posse de um único pedaço de pão e descobrir um só punhado de

farinha escondida.

9. Mas os torturadores não passavam fome alguma - sua crueldade seria menor se

atendesse a uma necessidade -, mas exercitavam seu louco orgulho e iam

ajuntando provisões para os dias vindouros.

10. Seguiam os que à noite se arrastavam até os postos romanos para recolher

legumes silvestres e ervas. Quando estes pensavam que já haviam escapado dos

inimigos, aqueles tiravam-lhes o que levavam, e muitas vezes, se os infelizes

suplicavam invocando pelo terrível nome de Deus que lhes deixassem uma parte

do que com tanto perigo tinham trazido, não lhes deixavam nem isto, e ainda

podiam dar-se por satisfeitos se, além de serem despojados, não eram

assassinados."

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55 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

11. A isto, depois de outras coisas, acrescenta:

"Com o êxodo cortou-se para os judeus também toda esperança de salvação, e a

fome, abatendo-se sobre cada casa e cada família, ia devorando o povo. Os

terrenos enchiam-se de mulheres e de crianças de peito mortos, e as vielas de

cadáveres de anciãos.

12. Rapazes e jovens, inchados, vagavam pelas praças como espectros e caíam mortos

onde a dor os colhesse. Os doentes não tinham forças para enterrar seus parentes,

e os que teriam podido negavam-se, por serem tantos os mortos e pela incerteza de

seu próprio destino. De fato, muitos caíam mortos junto aos que tinham acabado

de enterrar, e muitos iam a sua tumba antes que a

necessidade o impusesse.

13. Não havia lamentos nem choro por estas calamidades: a fome afogava os

sentimentos, e os que lentamente morriam contemplavam com olhos secos os que

morriam antes deles. Um silêncio profundo e uma noite carregada de morte

envolviam a cidade. E pior do que tudo isto eram os ladrões.

14. Penetravam nas casas como ladrões de tumbas, despojavam os cadáveres e, depois

de arrancar os panos que cobriam os corpos, iam embora entre risadas. Testavam

o fio de suas espadas nos cadáveres e, provando o ferro, atravessavam alguns,

que já caídos, ainda viviam. Mas se alguém lhes pedia que utilizassem nele sua

força e sua espada, desdenhavam-no e abandonavam-no à fome. E todo o que

expirava olhava fixamente para o templo, porque deixava vivos atrás de si os

rebeldes.

15. Estes, no começo, por não suportar o fedor, mandavam enterrar os mortos às

custas do tesouro público, mas logo, quando não davam mais conta, atiravam-

nos sobre as muralhas aos barrancos. Quando Tito fez a ronda por aqueles

barrancos e viu que estavam repletos de cadáveres e o espesso líquido escuro que

manava por debaixo dos cadáveres em putrefação, pôs-se a gemer e levantando as

mãos tomava a Deus por testemunha de que aquilo não era obra sua."

16. Depois de acrescentar mais algumas coisas, continua dizendo:

"Eu não poderia deixar de expressar o que o sentimento me ordena: creio que, se

os romanos tivessem demorado em sua ação contra os culpados, o abismo teria

engolido a cidade, ou as águas a teriam submergido, ou teria sido alcançada

pelos raios de Sodoma, pois a geração que continha era muito mais ímpia do que

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

56 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

as que sofreram estes castigos. E pela demência criminosa destas pessoas, o povo

inteiro pereceu com elas."

17. E no livro VII escreve o seguinte:

"Foi infinito o número dos que pereceram na cidade por fome, e os padecimentos

eram indizíveis. Em cada casa havia guerra como se aparecesse em um canto uma

sombra de comida, e os que mais se queriam entre si pegavam-se aos tapas para

tirar o miserável sustento da vida. Nem sequer nos moribundos confiava a

necessidade.

18. Os ladrões revistavam inclusive os que estavam expirando, para que alguém não

escondesse alimentos sob a roupa e fingisse estar morto. Outros, com a boca

aberta por efeito da desnutrição, andavam cambaleando e desancados como cães

raivosos e empurravam as portas como fazem os bêbados e, em sua impotência,

entravam nas mesmas casas duas ou três vezes em uma só hora.

19.A necessidade fazia com que levassem tudo à boca, e quando recolhiam

alimentos até indignos dos animais irracionais mais repugnantes, levavam-no para

comer escondido, a assim acabaram por não abster-se nem dos cintos e dos

calçados, tiravam as peles de seus escudos e as mastigavam. Para alguns até

fiapos de ervas velhas eram alimento, outros recolhiam fibras de plantas e vendiam

uma porção mínima por quatro dracmas áticos.

20. E o que haveria para dizer sobre a impudência das pessoas presas do desânimo?

Porque vou mostrar uma obra sua que não está narrada nem entre os gregos nem

entre os bárbaros, espantosa de dizer, incrível de escutar. Eu pelo menos, para

não dar a impressão de que estou inventando para a posteridade, de bom grado

omitiria esta calamidade se não tivesse uma infinidade de testemunhos

contemporâneos meus. Além disso prestaria pouco serviço a minha pátria se

renunciasse a relatar os males que de fato padeceram.

21. Uma mulher das que habitavam na outra margem do Jordão, chamada Maria,

filha de Eleazar, da aldeia de Batezor - nome que significa "casa de hissôpo" -

notável por suas riquezas e sua linhagem, fugiu para Jerusalém com o resto da

multidão e com esta compartilhava o assédio.

22.Os tiranos tiraram-lhe todos os bens que havia reunido e levado consigo à cidade

desde Peréia. O resto de seu enxoval e o pouco alimento que encontraram foi

sendo roubado por pessoas armadas que entravam a cada dia. Foi grande a

indignação daquela pobre mulher, que muitas vezes injuriava e maldizia os

ladrões para excitá-los contra si mesma.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

57 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

23.Mas como ninguém a matava, movidos pela ira ou pela compaixão, e cansada de

buscar alimentos para outros, que já eram impossíveis de encontrar em parte

alguma, com as entranhas e a medula trespassadas pela fome, tomou como

conselheiras a cólera e a necessidade e se lançou contra a natureza, agarrou o

filho que tinha - criança ainda de peito - e disse:

24. Criatura desgraçada! Em meio à guerra, à fome e à revolta, para quem vou

guardar-te? Entre os romanos, se por acaso cairmos vivos em suas mãos, a

escravidão; mas a fome se antecipa à própria escravidão e os rebeldes são ainda

piores do que ambas as coisas. Eia! Seja alimento para mim, maldição para os

rebeldes e fábula para o mundo: a única coisa que faltava às calamidades dos

judeus!

25. E enquanto dizia estas coisas, deu morte a seu filho. Depois assou-o e comeu a

metade; o resto guardou escondido. Em seguida apareceram os rebeldes, e

farejando a ímpia exalação, ameaçaram a mulher de degolá-la imediatamente se

não lhes mostrasse o que tinha preparado. Ela então lhes disse que para eles

guardara uma boa porção e revelou o que restava de seu filho.

26. O horror e o pasmo surpreendeu-os na hora e ficaram cravados no lugar diante

daquele espetáculo. Mas ela disse: é meu próprio filho e eu o fiz. Comei, pois

também eu comi. Não sejais mais brandos do que uma mulher nem mais

compassivos do que uma mãe. Mas se por escrúpulos piedosos recusais meu

sacrifício, eu já comi por vós, fique o resto também para mim.

27.Depois disto, aqueles foram-se tremendo: foi a única vez em que se acovardaram e

que, de malgrado, cederam à mãe tal comida. Em seguida a cidade inteira encheu-se

de horror, e todo o mundo estremeceu ao ser-lhe apresentado frente aos olhos

aquele crime como sendo seu próprio. 28. E entre os esfomeados havia pressa para

morrer e uma certa inveja pelos que haviam se adiantado morrendo antes de ouvir e

contemplar semelhantes horrores."

Esta foi a recompensa dos judeus por sua iniqüidade e impiedade para com o

Cristo de Deus.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

58 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

CAPITULO VII

[Sobre as profecias de Cristo]

1. É justo acrescentar a pregação infalível de nosso Salvador pela qual mostrava estas

mesmas coisas quando profetizava assim: AÍ das que estiverem grávidas e das que

amamentarem naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno,

nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o

princípio do mundo até agora não tem havido, nem haverá jamais17.

2. Somando o número total de mortos, o escritor diz que pela fome e pela espada

pereceram um milhão e cem mil pessoas; que os rebeldes e bandidos que ainda

sobraram foram se denunciando uns aos outros depois da tomada da cidade e

foram executados; que os jovens mais esbeltos e que sobressaíam por sua beleza

física foram reservados para a cerimônia do "triunfo", e do resto da população, os

que passavam de dezessete anos, uns eram enviados acorrentados aos trabalhos

forçados no Egito, e outros, mais numerosos, foram distribuídos pelas províncias

para fazê-los perecer nos teatros pela espada ou pelas feras; e os que ainda não

tinham chegado aos dezessete anos eram conduzidos cativos para serem vendidos.

Somente destes o número dava um total de uns noventa mil18.

3. Estes acontecimentos ocorreram deste modo no segundo ano do império de

Vespasiano19, segundo as predições de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que,

por seu divino poder, havia visto de antemão estas mesmas coisas como se já

estivessem presentes e havia chorado e soluçado, segundo a Escritura dos

sagrados evangelistas, que inclusive acrescentam suas próprias palavras: umas,

as que disse dirigindo-se à mesma Jerusalém:

4. Se tu conheceras ao menos neste dia o que diz respeito a tua paz! Mas agora está

oculto aos teus olhos. Porque virão dias sobre ti, e teus inimigos te rodearão de

paliçadas, te cercarão e por todos os lados te apertarão. E te assolarão a ti e a

teus filhos20.

5. E outras como referindo-se ao povo: Porque haverá grande necessidade sobre a terra e ira

contra este povo. E cairão ao fio da espada e serão levados cativos a todas as nações. E

Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que sejam cumpridos os tempos destes povos21. E

17 Mt 24:19-21. 18 Os números dados por Josefo e citados por Eusébio devem ser exagerados levando em conta a população da Palestina na época. Para Tacitus os assediados em Jerusalém eram uns 600.000. Josefo cita como total de prisioneiros para toda duração da guerra o número de 97.000, de todas as idades. 19 Exatamente em setembro do ano 70. 20 Lc 19:42-44. 21 Lc 21:23-24.

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A GRANDE TRIBULAÇÃO DE JERUSALÉM

59 ELIEZER LUCENA DE CASTRO

outra vez: E quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei então que terá chegado

sua desolação22.

6. Se alguém comparar as palavras de nosso Salvador com os demais relatos do

escritor acerca da guerra inteira, como não ficar admirado e confessar como

verdadeiramente divinas e sobrenaturalmente prodigiosas a presciência e a

predição de nosso Salvador?

7. Portanto, sobre o acontecido à nação inteira depois da paixão do Salvador e dos

gritos com os quais a plebe judia pediu para livrar da morte o ladrão e assassino e

suplicou que tirassem de seu meio o autor da vida, não haverá necessidade de

acrescentar nada à narrativa.

8. Contudo, seria justo acrescentar o que poderia ser significativo sobre o amor da

divina providência aos homens, pois retardou a destruição dos culpados durante

quarenta anos completos depois de seu crime contra Cristo. Durante estes anos,

numerosos apóstolos e discípulos, e o próprio Tiago, primeiro bispo dali e

chamado irmão do Senhor, que ainda viviam e moravam na mesma cidade de

Jerusalém, mantinham-se fiéis ao lugar como fortíssima muralha.

9. A providência divina até aquele momento mostrava sua grande paciência, para o

caso de que se arrependessem de seu feito e alcançassem assim o perdão e a

salvação; e como se tal longanimidade fosse pouco, deixava ver sinais divinos

extraordinários do que lhes sucederia se não se arrependessem. Também estes

sinais foram considerados notáveis pelo autor citado. Nada melhor do que

oferecê-los aos que lêem esta obra.

CAPITULO VIII

[Dos sinais que precederam a guerra]

1. Toma pois, e lê o que apresenta no livro VI de suas Histórias com estas palavras:

"Naquele tempo os impostores e os que levantavam tais calúnias contra Deus

pervertiam o povo miserável, de forma que nem percebiam nem davam crédito a

tais prodígios bem claros que anunciavam de antemão a iminente desolação;

antes, como se aturdidos por um raio e como se não tivessem olhos nem alma,

faziam ouvidos surdos às mensagens de Deus.

2. Estas foram: um astro que se deteve sobre a cidade, semelhante a uma espada de

dois gumes, e um cometa que durou todo um ano. Outra vez foi quando, antes da

22 Lc 21:20.

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insurreição e dos distúrbios que levaram à guerra, estando o povo reunido para

celebrar a festa dos ázimos, no oitavo dia do mês de Jantico, à nona hora da noite,

brilhou sobre o altar e o templo uma luz tão grande que poder-se-ia pensar que

era dia, e isto durou uma meia hora. Aos ignorantes poderia parecer um bom sinal,

mas os escribas interpretaram-no corretamente antes que os fatos ocorressem.

3. E na mesma festa, uma vaca que o sumo sacerdote conduzia ao sacrifício pariu

um cordeiro no meio do templo.

4. E a porta oriental do interior, que era de bronze e muito pesada, e que havia sido

fechada ao anoitecer com dificuldade por vinte homens que a trancaram

solidamente com ferrolhos presos com ferro, além de ter gonzos profundos, abriu-

se sozinha à sexta hora da noite.

5. E passada a festa, não muito depois, no vigésimo primeiro dia de Artemisio,

apareceu um fantasma demoníaco de tamanho incrível. E o que se passará a dizer

poderia parecer mentira se não tivesse sido contado pelos mesmos que o viram e

se os sofrimentos que se seguiram não fossem dignos destes sinais. De fato, antes

do pôr-do-sol, apareceram pelo ar em redor de toda a região carros e falanges

armadas que se lançavam através das nuvens e rodeavam as cidades.

6. E na festa chamada Pentecostes, à noite, entrando os sacerdotes no templo, como

de costume, para exercer suas funções, dizem que primeiramente perceberam

movimento e ruído de golpes, e logo um grito em uníssono: Saiamos daqui!

7. E o que é mais terrível: um homem chamado Jesus, filho de Ananías, homem

simples, camponês, quatro anos antes da guerra, quando a cidade desfrutava da

maior paz e do máximo esplendor, veio à festa, pois era costume que todos

erigissem tendas em honra a Deus23, e de repente começou a gritar pelo templo:

Voz do oriente! Voz do ocidente! Voz dos quatro ventos! Voz sobre Jerusalém e

sobre o templo! Voz dos recém-casados e casadas! Voz sobre todo o povo! Dia e

noite gritava isto por todas as vielas.

8. Mas alguns cidadãos notáveis, irritados pelo mau agouro, prenderam o homem e

maltrataram-no, enchendo-o de feridas. Mas ele, que não falava em proveito

próprio nem por conta própria, continuava gritando aos presentes o mesmo que

antes.

9. Pensando então os chefes que a agitação daquele homem era algo demoníaco,

conduziram-no ante o procurador romano24. Ali, dilacerado com açoites até os

ossos, não suplicou nem derramou uma lágrima, mas, tornando sua voz tão

chorosa quanto possível, a cada ferida respondia: Ai, ai de Jerusalém!"

10.Comenta o mesmo Josefo outro fato mais extraordinário. Diz que nas escrituras

23 Era portanto a festa dos Tabernáculos (Setembro-Outubro). 24 Luceius Albinus, procurador entre 62 e 64.

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sagradas encontrou-se um oráculo com este conteúdo: que naquele tempo alguém

saído de seu país regeria o mundo. O próprio Josefo concluiu que o oráculo tinha

sido cumprido em Vespasiano25.

11.Mas este não governou a todo o mundo, mas somente à parte submetida aos

romanos. Seria pois mais justo referi-lo a Cristo, a quem o Pai havia dito: Pede-me

e te darei nações como herança e os confins da terra como tua possessão26. Pois bem, por

este mesmo tempo chegara a toda a terra a voz dos santos apóstolos e aos confins do

mundo suas palavras27.

A ABOMINAÇÃO

Este termo foi usado em relação aos hebreus, que, sendo pastores, dizem terem sido

uma abominação aos egípcios, pois eles sacrificavam os animais considerados

sagrados por aquele povo, como bois, bodes, ovelhas, etc., o que os egípcios

consideravam ilícito.

Esta palavra também é empregada nas Escrituras Sagradas com referência à

idolatria e aos ídolos, não apenas porque a adoração de ídolos é em si uma coisa

abominável, mas igualmente porque as cerimônias dos idólatras eram quase sempre

de natureza infame e licenciosa.

Por esta razão, Crisóstomo afirma que todo ídolo, e toda imagem de um homem, era

chamada abominação entre os judeus.

Alguns intérpretes supõem que a “abominação da desolação” predita pelo profeta

Daniel 9.27, 11.31, denota a estátua de Júpiter Olímpio, que Antíoco Epifânio

25 Não se sabe em que passagem da escritura poderia encontrar-se este oráculo. 26 Sl 2:8. 27

Rm 10:18.

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mandou construir no templo de Jerusalém. A segunda passagem citada acima pode

provavelmente referir-se a esta circunstância, visto que a estátua de Júpiter, de fato,

“desolava,” ao banir a verdadeira adoração de Deus, e aqueles que a praticavam, do

templo.

Mas a primeira passagem, considerada em todo seu contexto, tem relação mais

imediata com aquilo que os evangelistas denominaram a “abominação da

desolação,” Mt 24.15, 16; Mc 13.14. Isto, sem dúvida, significa as bandeiras dos

exércitos romanos sob o comando de Tito, durante o último cerco de Jerusalém. As

imagens de seus deuses e imperadores eram esboçadas nestas bandeiras, e as

próprias bandeiras, especialmente as insígnias, que eram carregadas à frente dos

regimentos, eram objetos de adoração, e, de acordo com o uso comum da Escritura,

elas eram portanto uma abominação. Essas bandeiras foram colocadas sob as ruínas

do templo depois que ele foi tomado e demolido, e, como Josefo nos informa, os

romanos sacrificaram a elas lá. O horror com que os judeus as consideravam,

suficientemente aparece do relato que Josefo dá de Pilatos introduzindo-as na

cidade, quando ele enviou seu exército de Cesaréia às bases de inverno em

Jerusalém, e de Vitélio propondo marchar pela Judéia, depois de ter recebido ordens

de Tibério para atacar Aretas, rei de Petra. O povo suplicava, protestava e induzia

tanto Pilatos a retirar o exército quanto Vitélio a pôr em marcha suas tropas para

outro caminho.

Os judeus aplicaram a passagem de Daniel acima aos romanos, como nos informa

Jerônimo. O erudito Sr. Mede é da mesma opinião. Sir Isaac Newton, Obs. sobre

Daniel 11:12, observa que no décimo sexto ano do imperador Adriano, 132 a.C., os

romanos cumpriram a predição de Daniel ao construir um templo a Júpiter

Capitolino onde o templo de Deus em Jerusalém estava localizado. Nesta ocasião, os

judeus, sob a direção de Bar Cochba, pegaram em armas contra os romanos, e na

guerra tiveram cinquenta cidades demolidas, novecentas e oitenta e cinco de suas

melhores vilas destruídas, e quinhentos e oitenta mil homens mortos à espada, e no

final da guerra, 136 a.C., eles foram banidos da Judéia sob pena de morte, e desde

então a terra permaneceu desolada de seus antigos habitantes.