teologia antropológica de ludwig feuerbach
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FILOSOFIA DA RELIGIÃO. como L Feurbach concebia a religião: o ateísmoTRANSCRIPT
I. A Teologia como Antropologia: O Ateísmo Materialista de Ludwig Feuerbach
Introdução – o Ateísmo
Sócrates foi o dos primeiros ateus na história do pensamento filosófico, afirmas Zilles
(1991:99), por ter negado os deuses atenieses sem favor do seu Daimone, nisto nota-se que o
nascimento da Filosofia como um pensar sistemático é já uma negação dos deuses gregos, nisso
pode-se ariscar afirmar-se que a “filosofia nasce do ateísmo. O termo Ateísmo provê do grego
a-Theos que para Japiassú & Marcondes (2001:19) significa “sem Deus”. Segundo os mesmo
autores, o Ateísmo é uma doutrina que nega a existência de Deus ou de deuses. Abbagnano
(2007:87) classifica o Ateísmo em duas vertentes: teórico quanto não se recorre à divindade
para se justificar ou fundamentar-se: a morte de Deus nietzschiano por exemplo: “e que faz o
santo no bosque? ... Faço cânticos e canto-os, e quando faço cânticos rio, choro e murmuro.
Assim louvo a Deus... Será possível que este santo ancião ainda não ouvisse no seu bosque que
Deus já morreu? (NIETZSCHE ;2002:12). Nisto percebe-se que para Nietzsche Deus deixou
de ser o fundamento das acções do homem. e; quer do ângulo prático – materialista, quando se
negando que a existência divina tenha qualquer influência na conduta humana. Neste sentido
temos o filósofo Feuerbach.
O objectivo deste trabalho conhecer até ponto a Teologia não passa de antropologia, e os
atributos atribuídos a Deus são atributos humano, e ao mesmo tempo Deus é um produto do
erro da razão humana: o ateísmo feuerbachiano, a origem da religião; á teologia é antropologia
e a relação da fé e razão, serão as formas de operacionalização. Foi usado o método
hermenêutico, que consistiu na revisão bibliografia, resumo e compilação do trabalho.
1.1. Feuerbach e o ateísmo
O debate sobre Deus, sempre foi um problema Filosófico. Em cada época segundo suas
caracteristicas vários filósofos foram dando suas respostas, mas é na modernidade que as
respostas tomam outro rumo com o adeísmo1 dos iluministas, mudando o rumo das respostas a
cerca de Deus e da Religião. Estes advogavam Deus único criador do universo, e das leis que
1 Deísmo é a denominação genérica dada às doutrinas filosóficas e religiosas, surgidas sobretudo no fim do século
XVII, que afirmavam a existência de Deus como exigência da razão, independentemente de qualquer revelação,
histórica e positiva, e a partir da identificação da razão com a natureza. O conceito coincide com o teísmo no fato
de admitir a existência de um Ser Supremo, criador do mundo e diferente dele; mas difere do teísmo ao considerar
que a responsabilidade desse deus em relação ao mundo é unicamente a de lhe haver dado leis: uma vez realizado
o ato de criação, não se ocupa do mundo - abandonado a suas próprias leis físicas - nem pede nenhum culto por
parte dos homens.
regem a natureza. Mas este Deus não intervém nos negócios dos homens, neste mundo; as
orações, sacramentos e ritos não passam de pantomimas inúteis; (…) (ABBAGNANO
;2007:238). Mas até aqui, ninguém tinha posto em causa a existência de Deus até que chegou
Feuerbach, disciplo de Hegel.
Hegel formulou uma filosofia que tentasse justificar a teologia, mas seus seguidores tomaram
rumos diferente, os da direita continuaram e a esquerda usaram a mesma filosofia de Hegel para
negar a religião. Feuerbach (1989:11) fogem totalmente do idealismo
“já de há muito nos ocupamos e satisfazemos bastante com o discurso e a escrita;
exigimos que finalmente a palavra se torne carne, e o espírito, matéria; estamos farto
do idealismo filosófico quanto do político; agora queremos nos tornar materialistas
políticos”.
Seu materialismo e antropologia influenciaram filosofos como Marx e Freud. Feuerbach
entende que a religião é uma forma de dominação do homem, disvincula o homem das coisas
concretas. Para Feuerbach (idem) a religião sem metafísica é política. Daí que a religião e a
politica tinha a mesma finalidade: dominar o homem. Daí que para ele a teologia (Deus) é
antropologia (homem) “o deus do homem não é nada mais que a essência divinizada do homem,
portanto a história da religião ou, o que dá na mesma, de Deus nada mais é do que a história do
homem (FEUERBACH; 1989:23). Continua Feuerbach afirmando que “o conceito Deus é
conceito-gênero do homem”, ou seja, Deus é o homem Objectivo personificado. Essa crítica
não direciona apenas para o cristianismo que dedica uma obra somente a ele “A essência do
cristianismo”, mas a todas as religiões “o deus cristão, assim como o pagão, surgiu no homem
a partir do homem” (Ibid:25).
Nestes termos, a firma Feuerbach que a “a essência da religião, tanto subjectiva quanto
objectivamente, nada mais revela e expressa que são a essência do homem” (Idem). Assim
sendo, entende-se abertamente a existência de Deus e deuses é uma forma de alienação do
homem ao idealismo que é infrutífera e noviça ao homem.
1.2. A origem da religião
Feuerbach para afirmar o seu ateísmo parte necessariamente sobre como ele cocebe a origem
da religião. Alves ao fazer análise sobre a origem da religião, comparando vários filósofos,
chega a firmar que ela surge do sentimento do vazio, expresso pela necessidade da “felicidade
da experiencia de união com o objecto de amor” (ALVES; 1989:8). Para este, o “ sofrimento
da falta é a garantia de que algo há que satisfará”. Este vazio surge da falta do amor materno e,
para preencher este vazio, o homem recorrer a ideia de Deus para preencher. Neste moldes
resume que todo o pensamento filosófico ateia afirma que a religão tem a sua origem nos
“sentimento” (Brandão, 2007:7).
É neste vazio que para Feuerbach, segundo Alves (Ibid:9) o homem inventa a religião apartir
da sua própria essência, como forma da acriação do futuro. Zilles(1991:101) aponta que para
Feuerbach a “origem da religião funda-se na diferença entre o homem e o animal, ou seja, na
consciencia do homem”. Este pensamento mesmo sendo do Feuerbach, não chega a esclarecer
no fundo a pretenção de Feuerbach.
Escreve Feuerbach (1989:29) “a essência da religião é o sentimento de dependência”, nessa
pendência o “homem projeta em seus deuses, todos os seus anseios, amores e sentimentos mais
elevados e profundos” (Idem; 2007:7). Feuerbach observa que “o objecto primitivo desse
sentimento é a natureza, logo é a natureza o primeiro objectivo da religião” (Idem; 1989:29).
Entende-se aqui que Feuerbach substitui Deus pela natureza, ou seja, a acção da criação que os
homens atribue a Deus, são as acções da natureza: “Deus criador - das estrelas, das arvores, das
pedras, dos animais e dos homens enquanto seres físicos e naturais, nada mais significa que a
essência divinizada e personificada da natureza” (Idem; 1989:27). Nisto substitui a Teologia
por Física “ o segredo da teologia física é somente a física ou a fisiologia” (Idem).
No pensamento do nosso autor, o homem chega a pensar que as coisas existentes e suas leis
naturais, são produto divino por um erro da razão, que nasce da necessidade da infinidade. O
Homem consciente da sua materialidade e consequente morte, projecta que digamos um
consolo, uma forma de imortalidade, de grande e de força, como forma de sentido à sua
existência. Nisso projecta tudo o que ele tem finito para o infinito, criando a personalidade de
Deus e da religião.
1.3 A Teologia é a Antropologia A teologia é antropologia é o culminar da obra “ A essência
do Cristianismo”, cujo objectivo é demonstrar que Deus não passa do homem divinizado “um
dia o homem descobrirá que ele adorou a sua própria essência” (Idem; 2007:31). Como já se
fez referência na origem da religião, Feuerbach afirma que o homem ao se sentir corpóreo,
finito, infeliz procura algo que lhe complete. Para isso, “O homem projecta, retira de si a sua
essência mais elevada e mais nobre para adora-la fora de si como Deus”. Justifica afirmando
que “tudo que existe no homem de bom, de constritivo, mas de modo imperfeito, existe em
Deus de maneira absoluta, perfeita, eterna”, daí de ser “Deus a suma perfeição”, a perfeição do
homem.
Para demonstrar mais essa diviização do homem Feuerbach acrescenta: “tudo que interessa ao
homem, interessa a Deus e, consequentemente, tudo que é repudiado pelo homem é odiado por
Deus, só interessa ao demónio” (FEUERBACH; 2007:17). Mas como o homem chega a se
divinizar? Feuerbach afirma que
“o homem inconscientemente abandona o mundo, a natureza, porque no mundo, na
natureza ele vê a matéria, a destruição, a transitoriedade, a morte. Por isso, o seu instinto
de ser feliz tem que criar, ainda que somente na fantasia, um outro mundo eterno, imaterial,
uma vez que este daqui não serve, é um vale de lágrimas, dores e sofrimentos”(Idem).
Entende-se a consciência da dor e a necessidade de sua superação á a causa da origem da
religião “Deus é, pois, a ânsia de felicidade ilimitada que o homem sente-se satisfeita na
fantasia”, atribuindo a Deus todos os atributos bons e infinito “Deus é um conjunto de infinitos
atributos porque não é nenhum”. (Ibid:18), ou seja, “Deus é uma mera abstração”. A Teologia
é antropologia em Feuerbach na medida que ela é fundada na base de todos os atributos
antropológicos. Em Platão diríamos que a religião é a cópia, sombra da realidade, cuja sua
forma perfeita é o homem.
1.4 A relação da fé e razão
Para Feuerbach Deus é produto da razão e não ele a causa da razão, Ele é o nada do Homem, é
um erro da razão. Daí a razão deve iluminar e libertar os homens da religião “me interessa
iluminar a obscura essência da religião com a luz da razão”(Idem;1989:28), essa iluminação da
razão visa libertar os homens para que pare de “ser explorados, para que deixem de ser joguetes
de todos aqueles poderes inimigos da humanidade que, sempre, servem-se até hoje da
nebulosidade da religião para a opressão do homem”(Idem). Para terminar Feuerbach afirma
que a religião é criação da” afectividade servil e medrosa, assim como de sua razão ignorante e
inculta” (Idem), e o homem forte deve se libertar da religião e assumir sua condição materialista
concreta.
Esta crítica “forçada” da religião de Feuerbach para Zilles (1991:104) deve-se ao facto de que
a religião desvencula o homem da realidade concreta e o aliena ao idealismo religioso. Para o
mesmo autor, Feuebach pretendia uma filosofia que possa “satisfazer todas as exigencias
humans e considerar o homem em sua realidade concreta material”. Mesma crítica da religão é
compartilha por Nietzssche. Este afirma que a religão, em particular o cristianismo, disvincula
o homem da vida concreta em troca de um paraíso que ninguém certeza que existe. Em suma o
cristianismo é a religião dos fracos, que mutilam os instintos em tronca de uma vida metafísica,
de um futuro.
Conclusao
Fazendo uma pequena crítica ao ateísmo feuerbachiano, nota-se em primeiro lugar que o
ateísmo sempre existiu em todos os homens. Ao negar o politeísmo ou o monoteísmo é uma
forma ateia num dos lado. Feuerbach é um ateu assumido, suas obras “A essência do
Cristianismo e a Essência da Religião” é uma formulação de um doutrina ateia. Mas se olharmos
de uma forma crítica, nota-se que toda a negação é acompanhada de uma afirmação, neste caso
Feuerbach afirma o materialismo, crê no materialismo, isto faz com que o materialismo tome o
lugar da religião, assim sendo, ele apenas substitui um Deus por outro igual, se o homem olhar
condição material e a considerar o fim último, estamos novamente na divinização do homem.
Nisto também a que considerar a condição religiosa nata do homem.
Olhando a época é certo que o cristianismo carecia de uma reforma, era o que importante fazer,
propor novas formas de olhar a religião, uma vez sem a qual o homem não seria o que é, a
religiosidade é uma característica humana. Marx nas “Teses sobre Feuerbach” embora concorde
com o materialismo de Feuerbach, nega que ele tenha superado a religião: “Feuerbach não vê,
portanto que o sentimento religioso é, também, um produto social e que o indivíduo abstrato
que ele analisa pertence, na realidade, a uma forma determinada de sociedade” (MARX
1999:7).
Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ALVES, Rubem. “Os nomes do Vazio.” Em Preleções sobre a Essência da Religião, por
Ludwig Feuerbach, 7-10. Campinas: Papirus Editora, 1989.
Brandão, José da Silva. Em A Essência do Cristianismo, por Ludwig Feuerbach, 7-11.
Petrópoles: Editora Vozes, 2007.
FEUERBACH, Ludwig. A Essência da Religião. Campinhas: Papirus,1989.
—. A Essência do Cristianismo. Petrópoles: Editora Vozes, 2007.
JAPIASSÚ, Hiilton & MARCONDES Danilo . Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2001.
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. Brasil: eBook, 1999.
Nietzsche, Friedrich. Assim Falava Zaratustra. Brasil: eBook,2002.
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Paulus, 1991.