Tendo estudado a tentação a partir da análise do texto, vejamo-la agora por um ângulo mais devocional. Comecemos por definir o homem, tomando em conta tudo quanto já foi dito a respeito dele.

O homem é um ser espiritual, que possui uma alma e habita num corpo; criado à imagem e semelhança de Deus, traz em si mesmo o sopro divino, tendo sido investido de completa autoridade sobre as obras das mãos do Seu Criador; coroado por Deus de honra e glória, tem a responsabilidade de reinar na terra e guardá-la, protegendo-a de qualquer intruso, vivendo, falando e agindo em absoluta harmonia e comunhão com o Autor da Vida, a quem deve total obediência, honra, glória, adoração e louvor.

Quando Satanás olhou para este ser chamado Adam (homem), como já vimos, teve inveja dele e o odiou. Ora se a essência do homem é intelectual, moral e espiritual, é lógico concluir que sua tática para atingi-lo, qualquer que fosse, tinha como supremo objetivo seu espírito. Como, todavia, ele só poderia partir de fora para dentro, lançou mão de alguma coisa do mundo exterior.

Deus criou o homem e a mulher com características distintas. Um não é inferior ao outro. Embora diferentes física e psicologicamente, são iguais em sua natureza e na posse da imagem e semelhança de Deus. Por alguma razão plausível Satanás escolheu levar o homem à queda através da mulher. Escolheu esta como alvo primeiro da sua investida. Teria sido pela sua habilidade de atentar para detalhes e ser mais fácil chamar sua atenção para as características da árvore do conhecimento do bem e do mal?

Já vimos que Deus trabalha com visões. Para criar, Ele projeta a visão pelas palavras. Lúcifer, que se converteu em Satanás, foi criado. Ele não recebeu a habilidade de criar. Logo, tudo o que faz é por imitação. E não só imita, como procura perverter o que já existe, a seu favor. Ele toma os princípios que foram criados por Deus e os perverte. É o que veremos no processo da tentação e da queda.

O alvo de Satanás é o espírito do homem, seu verdadeiro ser. Ele quer projetar nele a rebelião e elabora um plano sutil, usando os mesmos princípios usados por Deus, ao reverso. • Deus tem uma visão gerada no plano espiritual; • Projeta a visão pelas palavras da Sua boca; • O Espírito Santo age nas palavras de Deus; • Da união entre a Palavra, que funciona como uma semente, e o Espírito, o que é visto e falado vem à luz.

Satanás quer alcançar o espírito do homem e para este fim ele começa no plano físico, para dali tocar a alma e o espírito. Sempre de fora para dentro. E tudo começa com uma visão. Já que a mulher é mais sensível às visões externas, apreciando detalhes, torna-se sua primeira presa. Se a mulher podia se distrair com pequenas visões, para Adão não havia visão mais bela do que a da mulher. Então era mais fácil o tentador convencer a mulher e esta convencer o homem. Não é assim que ele trabalha até hoje?

Uma Visão “Olha!” A serpente chama a atenção para a árvore. É uma visão no reino da matéria que apela para um apetite ou desejo. Eva olha e guarda a imagem do fruto. Uma visão do reino da matéria é projetada na mente. Um Pensamento Com a visão vem um pensamento. Depois que ele alcança a visão, começa a insinuar, através de pensamentos enganosos, contrários à Palavra de Deus, que aquela árvore tem o poder de torná-los como Deus.

Um Desejo Visões aliadas a pensamentos despertam desejos. Assim, o desejo de conhecer o bem e o mal, como Deus, é instilado no coração da mulher. E sempre será assim: uma visão casada com um pensamento desperta um desejo. Na forma como Deus opera, a visão vem do reino espiritual e o pensamento de Sua palavra, despertando santos desejos de agir em concordância com os propósitos Divinos. Satanás opera com visões de coisas terrenas, pensamentos de dúvida e rebelião, despertando desejos de ações contrárias aos propósitos Divinos.

Uma Ação Quando o homem se concentra na visão e no pensamento, o desejo se torna cada vez mais intenso e, consequentemente, mais próximo da ação. Uma Vitória A vitória reside em se estrangular a visão e o pensamento no seu nascedouro. A concentração neles eleva a temperatura do desejo, tornando mais difícil a vitória.

Cada tentação de Satanás vem do mesmo modo. Ele não tem um elevado número de estratégias para um sem número de pecados. Ele tem uma única certeira estratégia para toda sorte de pecado que afeta o corpo, a alma e o espírito. As circunstâncias podem ser diferentes, mas os princípios são sempre os mesmos.

Deus colocou desejos no homem. Para cada desejo existe uma possibilidade para sua satisfação. Os desejos em si não são maus ou bons. O modo de usá-los ou satisfazê-los é que podem fazer deles instrumentos do pecado ou da justiça. O chamado de Deus em nossa vida para andar em harmonia com Ele desperta em nós os mais santos e elevados desejos de agradar ao Criador. O tentador apela para os nossos desejos mais primitivos de gratificar os apetites insaciáveis da carne ou da natureza pecaminosa, em transgressão aos mandamentos Divinos. E qual a forma mais simples de despertar o desejo? A visão.

Depois de referir-se à vitória dos jovens sobre o maligno, João adverte: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a cobiça da carne a cobiça dos olhos e a soberba da vida - não provém do Pai, mas do mundo” (1 João 2:15,16).

A base sobre a qual o mundo é construído é a cobiça. Esta cobiça é referida como operando em três áreas: a carne, os olhos e a soberba da vida. Estas áreas são de fato uma referência aos elementos que compõem o ser humano: espírito, alma e corpo. •O Espírito é nosso verdadeiro ser. Com ele temos consciência do mundo espiritual e nos relacionamos com Deus. É ele que é recriado no novo nascimento. A “soberba da vida” afeta o espírito. •A alma é nossa personalidade: nossos pensamentos, sentimentos e vontade. Com ela temos consciência de nós mesmos. A “cobiça dos olhos” afeta a alma. •O corpo é o elemento material. Com ele temos consciência do mundo físico. A “cobiça da carne” afeta o corpo.

A palavra traduzida como cobiça, desejo ou concupiscência, é ephitumia, na língua grega. Strong a traduz como: “um anseio *desejo ardente+ (especialmente o que é proibido), concupiscência, desejo, cobiça.” A palavra “cobiça” aqui é usada no sentido geral de desejo ou aquilo que é objeto do desejo. A força do desejo é claramente retratada na queda da mulher. Lemos: “Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para tornar alguém sábio, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu” (Gênesis 3:6).

Primeiro, foi despertado o legítimo desejo de comer. Quantas vezes ele fora despertado e satisfeito com as demais árvores do jardim! Comer não era o problema. Comer o fruto proibido, sim. O desejo era somente uma isca. A desobediência era o alvo final.

O Desejo de Provar: “boa para se comer” A visão do fruto e o pensamento de que tem propriedades desejáveis despertam o desejo de provar. E esse é um desejo que afeta o nível da carne, usando um dos sentidos. Neste caso, o paladar. Ora, todo desejo da carne é satisfeito através de um dos cinco sentidos. O Desejo de Possuir: “agradável aos olhos” A sabedoria popular já estabeleceu: “Longe dos olhos, longe do coração.” “O que os olhos não vêem o coração não deseja.” Pura verdade. Neste nível temos a alma. Os olhos são as portas da alma. A tentação, portanto, afeta a alma através do desejo de possuir, ter algo contrário à vontade de Deus.

O Desejo de Ser: “desejável para tornar alguém sábio” Aqui a tentação atinge o nível do espírito. Do ser. É despertado o desejo de ser o que não foi projetado pelo Criador. Numa única jogada o inimigo despertou os desejos do corpo, da alma e do espírito, de forma negativa. •O desejo de provar, pelos sentidos, o que Deus proibiu provar. •O desejo de possuir, através dos olhos, o que era proibido por Deus possuir. •O desejo de ser, pela desobediência, o que Deus não intentou que fosse.

Satisfazer tais desejos pelos meios propostos pelo tentador é uma atitude de completa rebelião. É rejeitar a Soberania do Criador, tornar-se independente dele e passar a receber os males que o tentador tem para oferecer. Deixando de ser servo de Deus, o homem tornou-se servo de Satanás. Rejeitando a submissão à soberania de Deus, o homem se tornou prisioneiro da tirania de Satanás.

Vale aqui lembrar as palavras de Paulo: “Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?” (Romanos 6:16). O desejo levou à ação pecaminosa: “tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.” Aqui está a equação do pecado: Pensamento + Visão = Desejo, que leva ao pecado. O homem caiu na tentação.

A Vontade Cortejada pelo Desejo Tiago descreve o processo da tentação e da queda de forma interessante: “Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: ‘Estou sendo tentado por Deus’. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (Tiago 1:13-15).

A fonte da tentação é o “mau desejo,” que se encontra em nossos sentidos. Este apela para a vontade, que se encontra em nossa alma. É ali que a batalha terá de ser ganha. A mente é a sede da alma. O veredicto é dado pela vontade. Mas a vontade não age sozinha. Ela pode ser manipulada pelos sentimentos, quando estes não estão no controle. Os sentimentos são o subproduto dos pensamentos e estes alimentados por visões. Em outras palavras, a visão mais o pensamento despertam sentimentos ou desejos que apelam para a vontade, e esta toma a decisão quanto à ação final. Quando a vontade se casa com o desejo, gera um filho ilegítimo, e quando a ação é consumada, nasce o filho chamado pecado, que traz consigo a sentença de morte.

A mente é a sede da batalha e, portanto, o alvo do bombardeio. As visões vêm para a mente; os pensamentos também; quem manda os comandos para as sensações, os sentimentos, os impulsos, os sentidos? A mente. Quem dá autorização à ação? A vontade. E a vontade se alimenta de que? Dos comandos da mente. Então o primeiro golpe recebido pelo homem no Éden foi na mente.

O Papel da Mente na Tentação A tática inimiga não mudou. Na mente ganhamos ou perdemos as batalhas. No caso de Eva, a batalha foi perdida. Mas temos recursos para vencer. Notemos mais uma coisa: No corpo estão os cinco sentidos: visão, olfato, audição, paladar e tato. Estes sentidos são portas de entrada para a alma e são elas que Satanás usará para trazer as imagens e as sensações. Então é preciso guardar cada um desses sentidos sob vigilância para que não nos sirvam de presa. Vejamos a primeira tentação. Será que os sentidos estavam envolvidos? Sem dúvida alguma. Quais?

•A visão foi a primeira a ser usada. “Viu.” •A audição foi o veículo dos pensamentos de rebelião. •O olfato despertou o apetite pela comida. O cheio do fruto maduro aguçou o desejo de comer. •O paladar foi envolvido no próprio ato da desobediência. •O tato foi o veículo para tomar o fruto proibido. Conclusão? Os cinco sentidos estavam envolvidos na queda. Hoje não é diferente. Nossos cinco sentidos são os canais através dos quais a carne, o pecado, o mundo e o diabo nos tentarão a praticar transgressões aos expressos mandamentos de Deus.

Logo após o batismo de Jesus Mateus diz que Ele “foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo” (Mateus 4:1). Após quarenta dias, durante os quais não comeu, “teve fome” (Mateus 4:2). A coisa mais simples de despertar alguém para comer é o momento em que ele está com fome. Foi nessa hora que o tentador se apresentou e tentou a Jesus nas três áreas atacadas em nossos primeiros pais.

O escritor da carta aos Hebreus declara acerca de Jesus: “Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado” (Hebreus 4:15). Parece-nos inacreditável que o Filho de Deus haja passado “como nós, por todo tipo de tentação.” Mas é isto que a Bíblia diz. E diz mais: “Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados” (Hebreus 2:18).

Um exame cuidadoso do relato da tentação do Mestre nos Evangelhos de Mateus e Lucas leva-nos à conclusão de que a expressão “todo tipo de tentação” é uma referência ao ataque direcionado ao corpo, à alma e ao espírito, conforme ocorreu com Eva e João define.

O Desejo de Provar A Bíblia diz que Ele teve fome. No deserto só havia pedras. O sutil tentador começou a projetar em sua mente a imagem de pão. Lembre-se: Tudo começa com uma visão. É fácil imaginar o que aconteceu. Quando alguém está no deserto com muita sede e o sol bate na areia, começa e ter visão de água. É uma miragem apenas, mas a visão da água desperta mais a sede. No deserto Jesus estava cercado de pedras e com fome. É fácil começar a ver pão em vez de pedra. Satanás busca despertar o apetite, como fez com Eva no Jardim. Para ela o fruto era proibido. Então o pensamento sugestivo para a desobediência foi questionar o que Deus dissera. No caso de Jesus, ele diz: "Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães" (Mateus 4:3). Ora, por ocasião do Seu batismo o Pai proclamara: "Este é o meu Filho amado, em quem me agrado" (Mateus 3:17). Satanás quer instilar a dúvida no Filho de Deus e levá-lo a seguir sua direção, usando para tanto o desejo de provar, isto é, de comer, um desejo da carne.

O Desejo de Possuir A segunda tentação afeta os olhos e visam tocar a alma. Jesus se viu no pináculo, a parte mais alta do templo. Lá em baixo a multidão. Que pensamento sutil o inimigo traz e, desta vez, usando a própria Palavra de Deus: “Joga-te daqui para baixo. Pois está escrito: 'Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra'” (Mateus 4:6). Aquela seria a chance de Jesus possuir aceitação e popularidade. Todos diriam: “Desceu do céu.”

Como Jesus venceu? Mudando o foco da visão. Imediatamente Jesus entrou num outro reino. Levantou seu olhar para Deus, mudando o foco de sua visão de pães para Deus e Sua palavra. Sua mente passou a ser alimentada pela Palavra de Deus. Ele refletiu: “Eu sou Filho de Deus, e não tenho que provar isto, especialmente ao inimigo e em obediência a Ele. Estou na terra como Filho do homem, e não posso lançar mão daquilo que não está à disposição do homem. Eu vou viver como homem. Ele estrangulou sua fome, e bradou: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mateus 4:4). Qual é a diferença entre Jesus e Adão? A qualidade de tentação é a mesma, mas a maneira de lidar com ela é diferente. Eva se deteve ouvindo a serpente e contemplando o objeto da tentação. Jesus mudou o foco da visão da terra para o Céu e encheu seus pensamentos com os pensamentos de Deus. Ele via agora o pão espiritual e o desejou mais que o alimento. “Não me afastei dos mandamentos dos seus lábios; dei mais valor às palavras de sua boca do que ao meu pão de cada dia” (Jó 23:12).

Diante de cada tentação Jesus usou a mesma estratégia: •Mudou o foco da visão do mundo exterior para o Reino de Deus; •Mudou o foco do pensamento da voz do tentador para a Palavra de Deus; •Estrangulou o desejo dos sentidos e desejou as coisas de Deus; •Tomou uma atitude firme, confrontando o tentador com a palavra em oposição ao que ele insinuava. •Finalmente, deu uma voz de comando, para que o tentador saísse de sua presença: "Retire-se, Satanás!” (Mateus 4:10).

Esta é a receita para vencermos cada tipo de tentação. E aqui está a promessa: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Coríntios 10:13).

Esta é a receita para vencermos cada tipo de tentação. E aqui está a promessa: “Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Coríntios 10:13).

ÁREAS Gênesis 3:6

Eva

Mateus 4:1-10

- Jesus

1 João 2:15 -

Todos

Desejo de

Provar - Corpo

Agradável ao

paladar

“Transforma

as pedras em

pães”.

Cobiça da

carne

Desejo de

Possuir - Alma

Atraente aos

olhos

“lança-te

daqui abaixo”

Cobiça dos

olhos

Desejo de Ser

- Espírito

Desejável para

dar

entendimento

“A autoridade

e glória dos

reinos do

mundo”

Soberba da

vida