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Devocional em Tiago por Reinaldo Bui Introdução Fé em ação: assim defino o conteúdo desta carta. O propósito principal desta epístola é demonstrar que a fé no Senhor Jesus Cristo deve ser aplicada a todas as experiências de nossa vida e relações que vamos estabelecendo no percurso de nossa existência. O autor desta epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus. Dos três Tiagos citados no Novo Testamento, Tiago filho de Zebedeu e irmão de João foi morto por Herodes; Tiago filho de Alfeu somente é citado na lista dos apóstolos e é pouco provável que seja o autor desta carta. Sobrando, portanto, Tiago, o irmão do Senhor, indicado por Paulo (em I Co 17.7; Gl 1.19; 2.9) e Lucas (em At 1.14; 15.6-29; 21.18-25). Este Tiago, por conseguinte, era homem de grande influência e distinção principalmente no círculo dos cristãos judeus, ocupando uma posição de grande autoridade na Igreja Mãe de Jerusalém, que presidia as assembléias e pronunciava com poder a última palavra. O tom de autoridade desta epístola condiz bem com a posição de primazia atribuída a ele. Quando lemos sobre os destinatários desta epístola, Tiago dirige-se às doze tribos dispersas entre as nações. Prontamente entendemos que ele se dirigia à nação de Israel como um todo, pois esta era uma forma de se referir ao povo judeu. Porém, é admirável o fato de que desde os tempos de Salomão (cerca de 1000 anos antes) a nação não era tratada desta forma. Após sua morte o reino foi dividido e a situação agravou-se mais ainda no período de cativeiro, provocando uma divisão irreparável entre Judá e Israel, entre judeus e samaritanos. Voltar a referir-se às doze tribos como uma unidade, revela que em Cristo não há mais aquela separação entre eles. Todos os descendentes de Abraão agora são um, mesmo dispersos por causa da perseguição que sofriam por se tornarem cristãos. São muitas as exortações de encorajamento a uma vida que demonstre piedade e fé dinâmica. Igualmente muitas são as aplicações que podemos fazer para nossa caminhada de fé cristã. Compilado para Todah Elohim : www.todahelohim.blogspot.com

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Page 1: Devocional Em Tiago

Devocional em Tiago

por Reinaldo Bui

Introdução

Fé em ação: assim defino o conteúdo desta carta. O propósito principal desta epístola é demonstrar que a fé no Senhor Jesus Cristo deve ser aplicada a todas as experiências de nossa vida e relações que vamos estabelecendo no percurso de nossa existência. O autor desta epístola é Tiago, o meio-irmão de Jesus. Dos três Tiagos citados no Novo Testamento, Tiago filho de Zebedeu e irmão de João foi morto por Herodes; Tiago filho de Alfeu somente é citado na lista dos apóstolos e é pouco provável que seja o autor desta carta. Sobrando, portanto, Tiago, o irmão do Senhor, indicado por Paulo (em I Co 17.7; Gl 1.19; 2.9) e Lucas (em At 1.14; 15.6-29; 21.18-25). Este Tiago, por conseguinte, era homem de grande influência e distinção principalmente no círculo dos cristãos judeus, ocupando uma posição de grande autoridade na Igreja Mãe de Jerusalém, que presidia as assembléias e pronunciava com poder a última palavra. O tom de autoridade desta epístola condiz bem com a posição de primazia atribuída a ele. Quando lemos sobre os destinatários desta epístola, Tiago dirige-se às doze tribos dispersas entre as nações. Prontamente entendemos que ele se dirigia à nação de Israel como um todo, pois esta era uma forma de se referir ao povo judeu. Porém, é admirável o fato de que desde os tempos de Salomão (cerca de 1000 anos antes) a nação não era tratada desta forma. Após sua morte o reino foi dividido e a situação agravou-se mais ainda no período de cativeiro, provocando uma divisão irreparável entre Judá e Israel, entre judeus e samaritanos. Voltar a referir-se às doze tribos como uma unidade, revela que em Cristo não há mais aquela separação entre eles. Todos os descendentes de Abraão agora são um, mesmo dispersos por causa da perseguição que sofriam por se tornarem cristãos. São muitas as exortações de encorajamento a uma vida que demonstre piedade e fé dinâmica. Igualmente muitas são as aplicações que podemos fazer para nossa caminhada de fé cristã. Compilado para Todah Elohim:

www.todahelohim.blogspot.com

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1- Mente de Servo

Tiago, servo de Deus e o Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações. Saudações (Tg 1.1). Cada um de nós traz dentro de si padrões que nossa sociedade dita como um ideal a ser alcançado. Desejamos ser reconhecidos por algo em que nos destacamos, seja no meio profissional, estudantil e até mesmo pela aparência ou linhagem familiar. Tiago poderia se apresentar, e não seria mentira, por irmão de Jesus; ou por Líder da igreja de Jerusalém; ou coluna da igreja; ou ainda por o justo. Mas ao invés disto, ele se apresentou como um servo. A palavra grega que foi traduzida como servo é a palavra doulos. Servo é uma maneira amena de traduzi-la, pois esta palavra significa literalmente escravo. Se para nós é uma maneira bastante bizarra de se apresentar (ex.: sou escravo de fulano...), quanto mais na época em que foi escrita esta carta, quando escravidão era uma realidade presente naquela sociedade e trazia em si uma ideia repugnante. Por que então Tiago, irmão do Senhor, líder da Igreja em Jerusalém, tido como uma das colunas da fé cristã na Igreja primitiva apresenta-se assim? Já pensou se você tivesse estas prerrogativas? Como você se apresentaria? O que o diferenciava é que, embora antes incrédulo (ver Mc 6.3 e 3.2), num certo momento de sua vida ele resolveu dedicar-se inteiramente a Deus, e isto é o que importa. Para Tiago, as demais coisas eram secundárias. Desde então, ele passou a viver não para servir, agradar ou cumprir seus próprios interesses. Ele havia se dedicado ao Senhor. O que nos diferencia de Tiago? Reflita nesta pergunta por vários ângulos. Em determinados aspectos somos muito diferentes dele, mas no que diz respeito à fé, não devemos (ou não deveríamos) ser em nada diferentes. Haveremos nesta condição, de prestar contas a Deus e a seu Filho sobre o que fizemos com nossas vidas. Na parábola dos talentos vemos que Deus pede contas e dá o reconhecimento devido (Mt 25.19, 21, 23, 26). Tiago prestou seu serviço a Deus servindo os irmãos na igreja de Jerusalém, escrevendo esta carta, exortando, encorajando, ensinando... Dedique hoje sua vida ao Senhor. Entregue-se a Ele como servo sabendo que Seu projeto para nós é muito superior a qualquer outro. Entre os hebreus, alguém poderia ser vendido como escravo para, por exemplo, saldar alguma dívida, mas esta servidão não podia passar de seis anos. Porém, quando um escravo declarava publicamente que amava o seu senhor e desejava servi-lo por toda a vida, então era levado diante dos anciãos, e sua orelha era furada como sinal de que este lhe serviria por toda a sua vida (Ex 21.5, 6). Um servo bom e fiel vive para o seu Senhor, procura agradar o seu Senhor porque ama servi-lO. Uma fé sincera deve obrigatoriamente provocar em nós esta disposição para servir. Durante a leitura do livro de Tiago procure de que forma objetiva você pode estar fazendo a vontade de Deus e servindo ao Senhor e ao próximo. Identifique e separe em sua vida diária um tempo específico para se dedicar servindo ao Senhor.

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2- Perseverança Sempre

Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros sem ter falta em coisa alguma (Tg 1.2-4). Muitos ao lerem este texto devem se perguntar se Tiago sabia o que estava escrevendo. Considerar motivo de alegria passar por provações? Quem ri quando está passando por dificuldades? Alguns devem até pensar: se Tiago tivesse ideia do que estou passando, não diria isto... Ao invés disso, você é quem devia considerar que tipo de provação aqueles irmãos da igreja primitiva estavam passando: perseguição de morte por causa da sua fé em Cristo! Tiago bem sabia o que estava escrevendo e para quem estava escrevendo. Longe de mim a ideia de que provações não causam dor. Elas geram dor, sofrimento e muitas vezes choro e lamento. Mas como filhos de Deus, devemos olhar para todas estas situações com tranquilidade, conscientes que estão debaixo do soberano controle do nosso Pai. Então, daí vem aquela famosa pergunta: mas que pai é este que permite que seus filhos sofram? Primeiramente precisamos recordar algumas coisas. Lembre-se que todos os seres humanos sofrem, crendo ou não em Deus. Lembre-se também que todo o mal operante neste mundo é consequência direta do pecado. Lembre-se ainda que muitas vezes questionamos Deus sobre o momento que estamos passando simplesmente porque não conseguimos enxergar seus propósitos, como uma criança que não entende porque tem que tomar aquele remédio ruim. Segundo, as provações são um laboratório de Deus para o nosso crescimento. Só que algumas pessoas não enxergam. Ninguém gosta de sofrer, mas devemos nos conscientizar que neste mundo, passaremos por aflições..., invariavelmente! E quem aprende passar e suportar o sofrimento das tribulações aprende o que é perseverança, maturidade e integridade. Quando Tiago diz que a prova da nossa fé produz perseverança, não está se referindo a uma atitude passiva, mas a uma resposta desafiadora, forte e ativa às circunstâncias. Maturidade é o que Deus espera de nós ao longo da nossa vida cristã. É perfeitamente compreensível que nossos filhos chorem às portas do pré-primário, mas chorar no primeiro dia de aula da faculdade não. Esta perseverança nas tribulações aponta para um terceiro propósito de Deus para nós que é o da perfeição. Com o sofrimento, Ele espera nos aperfeiçoar, provando a nossa fé. Pode ser que você não compreenda, no momento, o porquê do sofrimento, mas quando desenvolvemos tamanha fé no nosso Senhor, podemos nos alegrar confiando que Ele está no controle e tem um propósito maior que compreenderemos mais tarde. Aqueles que têm filhos crescidos já passaram por algumas situações de “cortar o coração”, como por exemplo, vê-los chorando na porta da escola no primeiro dia de aula. O filho está sofrendo a dor da separação assim como os pais estão, mas estes sabem que há um propósito maior nisto tudo, coisa que a criança não pode entender na sua imaturidade.

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Uma curiosidade: na natureza, encontramos duas substâncias que têm a mesma composição em termos de conteúdo atômico: o grafite e o diamante. O grafite tem uma estrutura de átomos de carbono alinhados na forma de planos deslizantes e, dessa maneira, ele é um excelente lubrificante, mas se colocando o grafite sob alta pressão, ele acaba compartilhando esses átomos também no sentido vertical e assim se torna um diamante. É através de sofrimento, dor, pressão, que se acaba produzindo coisas de valor. Como você tem reagido às situações adversas da vida?

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3- Sabedoria Grátis

Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que dúvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal homem que receberá coisa alguma do Senhor; é alguém que tem mente dividida, instável em tudo que faz (Tg 1.5-8).

Aprender com os mais sábios é um conselho que todos deveriam seguir. Porém, nem todos o fazem. Mas como somos pessoas inteligentes, que desejam crescer e agradar a Deus com nosso proceder, buscaremos conselho com o homem mais sábio que já existiu: Salomão. Ele nos ensina em Provérbios, logo nos primeiros versículos do livro, o segredo de como se obter sabedoria: Salomão ensina que a sabedoria começa no temor ao Senhor (Pv 1.7). Simples, né? Daí em diante, este livro é um verdadeiro manual de procedimentos de um sábio. Voltemos para Tiago, sempre lembrando o contexto de perseguição que permeia este livro. Por que ele nos exorta a pedirmos por sabedoria numa situação de sofrimento? Por três motivos: Primeiro, é necessário obtermos sabedoria para que vejamos as situações da vida como Deus vê. Sabedoria é conhecimento aplicável à vida. Não basta saber o que devemos fazer e o como devemos agir. Temos que por em prática, interpretar as situações da vida como Deus as interpreta. Assim, Ele nos dá a orientação necessária sobre como devemos proceder e nos habilita a agir em conformidade com sua vontade. Isto é sabedoria! Segundo, também é necessário saber do caráter sábio de Deus que tem e disponibiliza a verdadeira sabedoria a todos nós. Tiago mostra que Deus é dadivoso: a todos dá (v.5). Mesquinhez é oposto ao caráter de Deus. Pense nisto: Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? (Rm 8.32). Mostra também que Deus é irrestrito. Dá a todos... e liberalmente. Fique tranquilo. Você não corre o perigo de pedir a Deus e Ele dizer que "não vai com sua cara". Ele não fará este tipo de restrição. Além disto, Deus sempre dá de boa vontade. Nós humanos facilmente nos aborrecemos com uma pessoa que pede repetidas vezes algo para nós. Julgamos que é abusada e tendemos a repelir aquela pessoa. Deus não age assim, mas nos dá sabedoria livremente, irrestritamente e de boa vontade. Por fim, é necessário conhecer a condição única para se apropriar desta sabedoria: pedir com fé, isto é, sem duvidar. A expressão homem de ânimo dobre diz respeito ao homem que está dividido entre querer fazer a vontade de Deus, mas também querer fazer sua própria vontade; querer aderir ao projeto de Deus, mas também querer seguir as coisas do mundo. Neste caso, mente dividida não é alguém que simplesmente está em dúvida se Deus vai dar ou não, mas é estar vivendo voltado para duas possibilidades Deus exige dedicação exclusiva a Ele através de uma consagração total de nossa vida. Significa dedicar-se a um só caminho, e isto envolve a família, o trabalho, os estudos, bens, ou ainda o que fazemos com nosso tempo, horas de lazer, etc.

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Sabedoria nos habilita a buscar confiantemente o entendimento para situações do dia a dia, sejam elas de dificuldade ou de alegria. Busque-a na Palavra e peça com fé.

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4- Orgulho Vs. Humildade

O irmão de condição humilde deve se orgulhar de sua elevada posição. E o rico deve se orgulhar de sua condição humilde, porque passará como a flor do campo. Pois o sol se levanta com calor ardente e seca a planta; cai então a sua flor, e é destruída a beleza da sua aparência. Da mesma forma, o rico murchará em meio aos seus afazeres (Tg 1.9-11).

Você se lembra de como foi sua conversão? O que aconteceu depois? Quais eram suas expectativas para a nova vida que você iniciara? Arrisco dizer que você esperava que tudo se consertaria e que Deus daria jeito em todos os seus problemas... Bem, pelo menos temos visto muita propaganda neste sentido ultimamente. Agora imagine: você ouve o Evangelho, crê em Jesus, passa a desfrutar de grande e alegre comunhão com Deus e com outros irmãos e de repente seus problemas se agravam... - É cristão? Fuja ou morra! Como você se sentiria? Alguns daqueles crentes eram pobres, e sofreram consequências desastrosas muito mais fortes, outros eram ricos e com recursos minimizavam as dores e dificuldades. Isto aconteceu com os destinatários desta carta (literalmente), e havia aqueles que na fuga acabaram perdendo suas casas, seus trabalhos, sua estabilidade financeira, passaram a viver com restrições, carências, fome, ameaça constante, vendo a família sofrer, etc. Inevitavelmente, muitos questionamentos surgiram nas suas mentes, porque a coexistência da riqueza com a escassez gerava dúvidas no irmão que padecia e soberba nos mais abastados – como acontece hoje em dia. Estes contrastes sociais sempre levantam muitas questões sobre os valores cultivados por nossa sociedade humana (veja o Salmo 73, por exemplo). Tiago passa a tratar este problema chamando atenção para o que realmente tem valor. Temos em nossa sociedade algumas “moedas” de grande valor que são: dinheiro, beleza e inteligência. Valorizamos demais estas coisas e consequentemente refutamos o que não se encaixa no nosso padrão de ideal no tocante em nível social, saúde, emprego, namoro, carreira, etc. Infelizmente, para muitos cristãos, o não obter este ideal é motivo de sofrimento! Tiago trata com o irmão de condição humilde, ou seja, um irmão com baixo nível social, mas que era rico de outra forma. Provavelmente estava se referindo a sua vida com Cristo. Isto sim tem valor. Conversão não tem que implicar em riqueza, pois senão, Tiago daria outras orientações. Também exorta que os irmãos mais ricos se orgulhem de sua condição humilde. Ele não está falando contra ser rico, pois o problema está na disposição diante da riqueza. 1Tm 6.9, 10 nos diz contra confiar na suposta segurança monetária que é ilusória. Podemos ter muitas decepções financeiras ainda em vida como perda de empregos, contratos, crises de mercados, enfermidades, etc., e ainda que a riqueza não bata asas, você é quem baterá as botas e nada levará. É por isso que Tiago fala sobre a fragilidade da vida. O tempo, cruel e implacavelmente, nos torna velhos e nos coloca mais próximo da morte, e a morte vai nos colocar diante de Deus, sem nada, nenhum dos bens acumulados aqui na Terra. Com eles não se compra o favor de Deus. O rico pode usar seu dinheiro para obter coisas, mas tem um fim. Aprendamos com Salomão (leia Ec 7.2)

Então, há razões verdadeiras para nos orgulharmos? Sim. Gloriar-se, ou orgulhar-se (v.9) refere-se não a arrogância, mas ao orgulho alegre que valoriza o que Deus valoriza.

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5- Tentação e Provação

Bem aventurado o homem que persevera na provação, porque depois de ser aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta (Tg 1.12-13).

Antes de qualquer coisa, precisamos entender que há uma diferença significativa entre provação e tentação. Provações são dificuldades, situações aflitivas ou sofrimentos muito grandes, que põem à prova nossa força moral, nossa fé e nossas convicções. Tentação é aquele impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável. Provações são ações externas que aparentemente ameaçam, mas são fatores que cooperam para nosso aperfeiçoamento. Tentação é um desejo veemente ou violento. As tentações se diferenciam das provações por tratarem não de ações externas, mas de tendências internas. Deus nos prova, nunca tenta. Somos tentados pela nossa própria cobiça. O Senhor não usa tentações para nos provar, mas podemos ser tentados durante as provações. Quando? Quando não compreendemos a natureza e o propósito das provações, estas parecem ameaças contrárias a nós. Começamos então questionar o amor de Deus e a sua habilidade em conduzir-nos a um fim proveitoso. Porém, quando usamos de sabedoria, passamos a assimilar a escala de valores de Deus, abrindo mão do que se restringe a esta vida, e investindo na eternidade. A impressão que dá é que o plano de Deus para o nosso aperfeiçoamento corre risco constante, pois depende da nossa fé e compreensão ver Deus fazendo aquilo que está fora de nosso alcance. Só quando superamos a provação, alcançamos o estágio de ver Deus derramar a sua graça abundante. Há uma tendência de identificarmos como ameaça o que está fora de nós ou do nosso controle, mas nós podemos ser a maior causa de nosso fracasso. Como fazer, então, para não fraquejar num período de tribulação? Todo aluno, todo soldado, todo atleta precisa se exercitar muito antes de enfrentar uma prova. Não é diferente na vida espiritual. A diferença – preste atenção – é que as provas da vida não vêm com hora marcada! Portanto devemos estar constantemente preparados. Alisto aqui algumas disciplinas que nos ajudarão a superar com êxito as provas da vida: 1. Trate preventivamente com o pecado. Não flerte com o pecado, corte-o na raiz do pensamento. Sai mais barato construir uma cerca do que sofrer o prejuízo; 2. Gaste tempo com a Palavra. Sl 119.11 diz: Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti. Ela é que vai atuar em sua mente. Jesus quando tentado usou a Palavra (está escrito...) atribuindo a ela enorme autoridade e valor; 3. Aprenda a depender de Deus. Ore para que Deus lhe livre da tentação (Mt 6.13); 4. Aprenda a confiar em Deus desde as pequenas coisas; 5. Aprenda a obedecer. É difícil? Mas é um ótimo exercício.

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6- Vitória nas Tentações

Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, quando por esta é arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter se consumado, gera morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por sua decisão Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que criou (Tg 1.14-18). Conta-se que certa vez Spurgeon estava ouvindo um pregador que dizia ter alcançado a incorruptibilidade. No dia seguinte pela manhã, quando Spurgeon chegou ao salão do café (pois estavam hospedados no mesmo hotel), pegou um jarro com água e derramou sobre a cabeça do “impecável” pregador que levantou-se furioso. Spurgeon então soltou: “Calma, colega, só queria verificar se o que você disse ontem era mesmo verdade.” Antes que alguém se iluda com esta possibilidade – que o crente pode alcançar um estágio de não pecar mais, considere o que Tiago diz. Em primeiro lugar: não ache que você está imune ao pecado. Depois de sermos perdoados e aceitos por Cristo, continuamos com esta tendência pecaminosa. Tiago afirma que cada um é tentado portanto não faça de conta que você não é. Todos o somos! O fator que faz com que sejamos tentados é a nossa própria cobiça (desejo ardente de possuir ou conseguir alguma coisa). Todos têm. Pode haver diferenças nas ênfases, mas não na essência. Alguns são tentados na área sexual, outros a vingança, ganância, orgulho, $$, etc. Jesus disse que do coração procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias - Mt 15:17-19. Este é o coração humano. Segundo: Não ache que a culpa é de outro. Temos a tendência de colocar a culpa nos outros ou na situação. A terceirização é algo tão antigo quanto o homem (Gn 3.12-13). Quando ficamos irados é por que o outro provocou; se o aluno não vai bem por que o professor não ensinou a matéria, se os filhos são rebeldes a culpa é dos pais, etc. Frequentemente culpamos o Diabo pelos nossos deslizes... Não que ele não tenha participação, mas acontece que ele nada pode fazer sem a concessão do homem. Outros podem pensar em por a culpa em Deus (já que Ele é soberano), mas Ele não pode ser tentado (não é de sua natureza) e consequentemente a ninguém tenta. Portanto, não diga isso. Pare de colocar a culpa em outros, estas são somente oportunidades de aflorar o que você é e pensa, caso contrário, você vai deixar aberto o flanco que vai destruí-lo. Terceiro: não ache que está perdendo o melhor. Quando tentados, reina o pensamento que existe uma alternativa melhor (seja no campo sexual, furto, vingança, ...). Tiago diz que a cobiça o atrai e seduz. Isto significa que há uma atração hipnótica por satisfazer um desejo. Você vê isto no caso das drogas, onde a pessoa começa com um curiosidade ingênua por algo novo, e se torna escravo sendo dominado. Assim é o caso na imoralidade, no furto,... Quantos hoje choram reconhecendo que sua opção imoral destruiu sua família. Outros nem têm consciência do que perderam. Quantos amargurados não têm consciência de que estão prejudicando a si mesmos. Quantos preguiçosos lamentam por não serem disciplinados e não terem estudado ou se dedicado para que tivessem

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uma vida melhor. Não se engane – o perfeito e bom vem de Deus. Eles são presentes de Deus (17). O que difere da conduta de Deus é sedução do pecado. Por último: não ache que você superará sozinho. Por natureza somos comprometidos com o pecado. Jesus disse que quem comete pecado é escravo do pecado. Não se pode esperar que a solução esteja somente em nós. Precisamos aprender a depender de Deus e buscar auxilio com cristãos mais maduros. Fomos regenerados por Deus, mais exatamente por sua Palavra. Isto não significa que não pecaremos mais, mas que Deus gerou em nós uma nova vida. Assim trazemos em nós duas naturezas e a condição para que a vontade de Deus reine em nossas vidas é a dependência do que vem nesta nova vida (Gl 5.16 a 25).

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7- Primeiro Ouça

Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para se irar, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que tanto prevalece, e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los (Tg 1.19-21). Sejamos honestos, não gostamos de ouvir. Estamos sempre prontos a expressar nossa opinião e nos iramos facilmente. Nossa ira visa a nossa justiça, não a de Deus. Assim a impureza e a maldade prevalecem em nossa vida. Não somos humildes para aceitarmos a Palavra que visa a nossa salvação. Isto é tão verdade hoje como era quando Tiago escreveu sua carta. A postura que ele propõe que nós assumamos tem a ver com o modo de vida que Deus espera que tenhamos e que (curiosamente!) é completamente avessa a nossa natureza. Sua orientação para revertermos este quadro começa com a área mais difícil para nós, mas que é fundamental: começa com saber ouvir. Leia isto com muita atenção: ...tenham isto em mente: sejam todos prontos para ouvir.... Ouvir é a ação mais básica para se aprender em qualquer situação. Devemos ouvir, mas ouvir o quê? Ele completa no v.21: a Palavra. Esta palavra, quando cuidada e nutrida, acaba crescendo em nós. Esta ação esperada, de ouvir, está relacionada com ter um espírito receptivo, atento ao que Deus tem a falar, pois a nova vida é o começo e isto envolve uma postura ensinável. Não seja obstinado, cabeça dura, coração de pedra. Aprenda a ouvir, por mais difícil que seja. Se você achou difícil o primeiro, o segundo passo vai um pouco além: Sejam todos... tardios para falar e tardios para se irar. Resista à tentação de responder descontroladamente, nem use a desculpa de “sou sincero e falo o que penso”. Aprenda, vença a tentação da impulsividade. Fique quieto num primeiro momento, reflita e responda depois. Esta atitude complementa-se, harmoniza-se com ser tardio a se irar. Mansidão é fruto do Espírito, e significa adotarmos uma atitude humilde gentil, doce e branda, diferente da atitude soberba, hostil e vingativa que a ira levanta. Se sabemos estas coisas, devemos dar continuidade. O processo não está concluído. As próximas medidas que devemos tomar são: livrar-se da impureza moral e da maldade. A palavra utilizada para descrever esta ação (livrar-se) é a mesma de despir-se, ou seja, tirar esta roupagem que vestimos. Despojar é tirar a roupa. As velhas vestes, hábitos e costumes precisam ser mudados. Podemos iniciar elegendo um pecado que mais nos assola e o priorize para ser tratado. Há também os pesos que não são essencialmente pecados, mas que comprometem a nossa dedicação ao Senhor, como por exemplo, tempo na frente da TV e do computador, entretenimento, diversão, leitura escolhida, etc. Aqui neste texto a palavra utilizada para impureza é um termo parecido com o empregado para descrever o cerume do ouvido, o que compromete o ouvir. Se você chegou até aqui, só falta mais um passo: livrar-se de toda maldade. Diz respeito a palavras que abordam o mal em geral, mas que se aplicam a ações objetivas. Não é nada distante de nós. Por exemplo, tem a ver com depravação e malícia, mas também com a intenção de ofender alguém. Se conservarmos estas coisas em nós, entupimos nossos ouvidos, e não ouvimos o que Deus tem a nos falar. Deste modo, nem tão pouco Ele atenta ao que falamos. O remédio? Confesse (1Jo 1.9) e abandone estes

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pecados. Dependa da graça de Deus para se livrar de todos os males. O orgulho invejoso, uma atitude agressiva que compete com outros e busca sua autopromoção pode impressionar o mundo, mas está longe do alvo que Deus propõe para nós que é produzir em nós a Sua justiça. Aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los.

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8- Da Teoria à Prática

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar (Tg 1.22-25). Quando esta carta foi escrita, a única forma de contemplar sua própria imagem era através do reflexo na água ou por meio de um metal polido. Estes eram os espelhos existentes na época. Tiago separa os crentes em duas categorias: ouvintes e praticantes. Compara o ouvinte àquela pessoa que examina sua face num espelho e mesmo constatando que sua aparência não está adequada, vira-se e logo se esquece do que viu. Faltam-lhe os dentes, seu cabelo está sujo e desajeitado, sua barba por fazer confunde-se com a sujeira impregnada no seu rosto, mas como não está mais contemplando sua face, age como se estivesse tudo bem. Já o praticante é aquele que vê, não se conforma, sabe que precisa mudar e passa a tomar medidas para melhorar este reflexo nada atrativo. Não se trata de culto à beleza, ênfase dos nossos dias, mas sim que a Palavra tem também a competência de refletir nossos defeitos. Porém, ela não nos transforma por si só. Precisamos trabalhar para esta transformação. Embora os espelhos atuais tenham uma capacidade refletiva muito superior aos daquela época, eles ainda não tem a capacidade de consertar o que está errado, assim os mais preocupados com sua aparência dependem do serviço de um profissional para se ajeitar. Mas pena que é dada mais importância para o espelho de vidro do que à Palavra (o espelho de nossa alma). Tiago continua: Mas o homem que observa atentamente a lei... diz respeito ao primeiro passo que devemos tomar para que a Palavra alcance seu objetivo em nós. Sendo a Palavra de Deus, não podemos nos limitar a "uma olhadinha", precisamos nos debruçar para dedicar cuidado. Precisamos gastar tempo com a Palavra e fazê-lo bem feito. A mesma ideia foi exprimida no Salmo primeiro: ...antes o seu prazer está na Lei do Senhor e nela medita dia e noite. Observar atentamente e meditar dia e noite na Lei é um privilégio que temos para conhecer o que Deus tem a nos ensinar. Não se trata de uma "lei de restrições e punições” como os judeus a interpretavam e como muitos ensinam atualmente. Tiago chama esta Lei de perfeita, porque ela exprime toda a vontade de Deus. Talvez ele tivesse em mente o Salmo 19 quando escreveu estas linhas, e acrescenta: Lei da liberdade. Liberdade é um conceito pouco compreendido pelos que vivem debaixo da escravidão da Lei, pois confundem com libertinagem. Libertinagem é a vazão da carne diante da liberdade. Podemos entender duas coisas deste termo Lei da liberdade. A primeira é que quando cumprimos com a vontade de Deus, garantimos a nossa liberdade e a de todos os que nos cercam com segurança. Outra é a liberdade para cumprir o princípio máximo dos mandamentos da Lei, ou seja, liberdade para amar a Deus e amar o próximo através da entrega voluntária da nossa vida. Os que são da carne não podem compreender esta liberdade que temos em Cristo, (liberdade para amar e servir) porque isto lhe parece loucura.

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Tiago continua estimulando-nos a perseverar na lei, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante. Isto significa aplicar em nossa própria vida o que temos enxergado na reflexão honesta e sincera da Palavra de Deus. Paulo nos exorta (em Romanos 12) a nos transformarmos pela renovação da nossa mente para que experimentemos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. Para renovar nossa mente precisamos passar por uma transformação, e para iniciar este processo precisamos de um espelho. Adivinhe qual é? Por fim, Tiago completa: esse será bem-aventurado no que realizar. Este é o caminho para felicidade genuína. Não vem de algo temporário, feito num momento, ou por um comprimido, por um programa, por ganhar algo, mas por verdadeira comunhão com Deus. Isto só se consegue gastando tempo com Ele!

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9- Língua e Religião

Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum! A religião que Deus nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e manter-se incontaminado pelo mundo (Tg 1.26-27). Tiago é extremamente prático. Sua preocupação ao escrever esta carta não era defender doutrinas argumentando filosoficamente. Esta passagem (e outras que veremos mais tarde) demonstra isto. A palavra aqui traduzida como religioso significa literalmente “o que teme ou adora a Deus,” referindo-se a alguém espiritual. Neste contexto Tiago alista, nestes versículos, três atitudes práticas para se demonstrar verdadeira espiritualidade. Primeira é saber refrear a língua: a maior dificuldade do ser humano. Os pecados relacionados com a língua são tão graves que várias partes das Escrituras tratam sobre o assunto (inclusive Tiago). Você já contou alguma mentira ou alguma piada maliciosa? Já falou além da conta ou a respeito de alguém que não estivesse presente? Respondeu mal para algum professor, pais ou colegas? Ridicularizou alguém? Refreie sua língua! A segunda atitude seria cuidar dos órfãos e das viúvas em dificuldades. Havia em Israel leis específicas para isto. Aliás, parte do dízimo ofertado pelos judeus era destinado a este propósito. Isto significa alguma coisa para nós hoje? Sem dúvida que sim. Embora a igreja possa se esquivar de suas responsabilidades sociais, encerrando esta responsabilidade nas costas do governo com a desculpa de precisar construir templos cada vez maiores e mais confortáveis, não pode negar que cresce a cada dia o número de crianças de rua e marginalizados em nossa sociedade. Vivemos num país laico onde os governantes ateus fazem vista grossa aos graves problemas sociais que nos assola. Isso é mais do que normal. Não era para ser, mas é. O que não é normal é a Igreja fazer o mesmo. O que podemos fazer individualmente como parte deste corpo? Cuidar dos órfãos e das viúvas é amar o próximo como Cristo nos amou. Deus quer derramar sua graça sobre os menos favorecidos, mas quer fazer isto através de nós. A Igreja é Seu instrumento para alcançar os órfãos e as viúvas da nossa geração. A terceira atitude que demonstra verdadeira espiritualidade é manter-se incontaminado pelo mundo. Contaminar é deixar-se corromper, viciar ou contagiar com as propostas atraentes deste sistema que vivemos. É diferente do ascetismo fortemente defendido por várias denominações. Paulo escreve em Colossenses que uma série de proibições e restrições a coisas materiais não tem valor nenhum para refrear os impulsos da carne (não tem nada a ver com verdadeira espiritualidade). O agravante é que muitos vírus têm maculado os crentes através de uma falsa religiosidade. O próprio Jesus disse que a contaminação pelas coisas do mundo não se dá pelo que você come, mas pelo que brota do seu coração. Quando achamos normal o que fazemos por que “todo mundo faz” é sinal que já estamos contaminados. Por exemplo: falar dos outros ou defender que matar ou manter um pivete preso é a solução para vivermos em paz já demonstra que estamos contagiados. Cada um examine a si mesmo... Tiago estava preocupado com a atitude dos primeiros cristãos de Jerusalém. Paulo igualmente se preocupava com os seus, porém mais com a igreja dos gentios. Paulo também precisou resolver problemas concernentes à espiritualidade. As cartas que ele escreveu aos gálatas e aos coríntios são demonstrações claras deste tema: ser espiritual. Uma igreja estava querendo voltar-se para a

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Lei e a outra estava entregue a carnalidade. Paulo foi duro com os coríntios, mas muito mais com os gálatas. Em ambas ele demonstra o antídoto para o mal. Se há um ‘espiritosantômetro’, seu ponteiro deve ser o amor e seus indicadores são: alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Viver a plenitude do Espírito é demonstrar as qualidades deste fruto em nossas vidas para que o mundo veja em nós o caráter de Cristo. Na prática, isto deveria afetar positivamente toda a nossa sociedade.

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10- Ame o Próximo Como...

Meus irmãos, como crentes no nosso Glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam acepção de pessoas. Supunham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas luxuosas, e também entra um homem pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas luxuosas e disserem: ‘Aqui está o lugar apropriado para o Senhor’, mas disserem ao pobre: ‘Você, fique de pé ali´ ou: ´Sente-se ao chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés’, não estarão fazendo discriminação, tornando-se juízes com pensamentos maligno? (Tg 2.1 -4.) A sequência deste texto bem poderia ser: Portanto... Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Fp 2.5-8). Aprofundamo-nos no estudo das escrituras com o propósito de conhecer mais e mais a mente de Cristo. Isto deveria gerar em nós um sentimento cada vez maior de humildade e servidão. Mas em geral – e infelizmente, não é isto que acontece. É fácil perceber a soberba de quem alcançou uma posição, um título ou acrescentou uma letra a mais no seu currículo diante dos menos favorecidos (inclusive no meio evangélico). Não se trata de uma questão cultural, mas em todos os níveis, em todas as culturas, em todos os segmentos sociais há uma tendência reinante no homem de se reconhecer “o melhor”. Hostilidade e competição fazem parte da nossa natureza. Já falamos que há três moedas de muito valor que cultuamos em nossa sociedade, que são: beleza, inteligência e riqueza. Quanto mais você possuir, mais bem aceito você será. Este é o padrão do mundo, não de Deus. A igreja por vezes assimila tal conduta e passa a viver não em função da forma que Deus espera que vivamos, mas nos padrões da sociedade humana. Este problema não é novo. A igreja nos dias de Tiago já sofria com isto. Aliás, este problema é tão velho quanto o pecado na humanidade. Os locais em que se reuniam os crentes em Jerusalém eram geralmente pouco espaçosos, sem muitas acomodações e com poucos assentos. Muitos dos que participavam dos cultos e das reuniões permaneciam em pé ou sentavam-se no chão. Nesta condição, Tiago imagina pessoas convertidas chegando à igreja pela primeira vez. Precisavam ser bem recebidas e orientadas (assim com acontece em nossas igrejas atuais). Pelo texto, podemos supor que o “pessoal da recepção” estaria dando mais importância a quem tinha dinheiro e menos atenção ao pobre e andrajoso (assim como acontece em nossas igrejas atuais). Agindo desta forma, estamos “fazendo distinção entre nós mesmos e nos tornando juízes tomados de perversos pensamentos” (ARA). Discriminação social, conforme relatado neste texto, é pecado e é um pensamento perverso! Será que este é o ideal que Jesus planejou para sua Igreja? Tiago, assim como Paulo, conhecia a mente de Cristo. O ideal da igreja é que indistintamente todos sejam honrados, não pela aparência, inteligência ou posição social, mas pelo que realmente valem. Se verdadeiramente pretendemos nos aprofundar nas Escrituras para conhecer a mente do Senhor, precisamos começar a transformar nossa mentalidade a partir deste ponto. Só para a gente se lembrar:

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1. Deus não faz acepção de pessoas; 2. Deus não julga segundo as aparências; 3. Deus resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde; 4. Deus exaltará o humilhado e humilhará o que se exalta. Paulo conclui o trecho de Filipenses com a consequência natural da atitude de Cristo: Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.9-11). Devemos incorporar o sentimento de Cristo em nossa vida, não buscando a nossa própria exaltação, mas sabedores de que agindo assim, Jesus será exaltado através do nosso proceder.

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11- A Quem Deus Escolhe

Ouçam, meus amados irmãos: Não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que Ele prometeu os que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles que os arrastam para os tribunais? Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado? Se vocês, de fato, obedecerem à lei real encontrada na Escritura, que diz: ‘Amarás a teu próximo como a ti mesmo’, estarão agindo corretamente. Mas se fizerem acepção de pessoas, cometerão pecado e serão condenados pela lei como transgressores. Pois quem obedece toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado por quebrá-la inteiramente. Pois Aquele que disse: ‘Não adulterarás’, também disse: ‘Não matarás’. Se você não comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei. Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade, porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo! (Tg 2.5-13.) Se o problema de discriminação fosse tão evidente na igreja de Jerusalém talvez Tiago precisasse gastar um pouco mais de pergaminho para abordar o assunto. Ainda que não seja o seu caso ou não aconteça na sua igreja como acontecia com nossos irmãos no passado, considere a gravidade de se quebrar este princípio da igualdade. Neste texto, Tiago lança mão de alguns argumentos para estimular os crentes a não fazer diferença entre as pessoas. O primeiro diz respeito à incoerência da nossa escolha. Já parou para pensar no porque tendemos a escolher o rico em detrimento do pobre? Embora Deus tenha criado ambos, Ele dá preferência ao pobre por este ser rico em fé, enquanto o rico confia na instabilidade da sua riqueza. Jesus chocou seus discípulos quando afirmou que era mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus porque havia naquela época um consenso que o sujeito era rico porque era abençoado por Deus, enquanto o pobre era desprezado por Ele ou estava debaixo de alguma maldição. É diferente de hoje? Amamos a riqueza, portanto amamos o rico porque este reflete o que queremos para nós. Jesus nos deixou um ‘novo mandamento’ que é “Amar o próximo como Ele nos amou”. Portanto a referência não somos nós ou nossos desejos, mas o amor de Cristo. O segundo argumento diz respeito a transgredir a Lei. Precisamos compreender que matar, para o judeu, não significava pôr fim à existência, mas cortar comunhão ou relacionamento. Assim, morte espiritual é a quebra de relacionamento com Deus, como morte física é a quebra do relacionamento com o mundo dos viventes. Creio que Tiago utiliza uma metáfora entre a comunhão e estes dois pecados (adultério e assassinato) para frisar quão grave é a discriminação, comparável com o segundo. O terceiro argumento apela para o juízo e a misericórdia. Podemos entender misericórdia em três níveis: 1. Sentimento ou desejo de ajudar quem sofre ou encontra-se numa posição desprivilegiada; 2. Ato concreto de manifestação deste sentimento (pode ser perdão, clemência,...); 3. Benefício que se presta a um sofredor (através de um auxílio). A misericórdia de Deus para conosco é plena, ou seja, abrange todos os níveis. Misericórdia significa que não recebemos aquilo que merecíamos. Além disto, fomos agraciados por Ele. Graça

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significa que recebemos aquilo que não merecemos. Quando não acudimos o necessitado simplesmente menosprezando-o, estamos demonstrando claramente falta de misericórdia. Portanto, Tiago completa, falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade. Se lembrarmos que na lei da liberdade somos livres para amar e para servir, provavelmente nosso justo Juiz perguntará: Por que você não amou? Por que não serviu? Por que não usou de misericórdia como fiz com você, pois tinha toda a liberdade do mundo para fazê-lo? Não, não seremos condenados por isto, mas profundamente envergonhados diante daquele que é rico em nos perdoar, sabe todas as coisas e sonda os nossos corações.

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12- Fé Sem Obras

De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia, e um de vocês lhe disser: Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até ficar satisfeito, sem, porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, estará morta. Mas alguém dirá: Você tem fé, eu tenho obras. Mostra-me sua fé sem obras e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. Você crê que existe um só Deus? Muito bem, até mesmo os demônios crêem - e tremem (Tg 2.14-19). Como administrar um possível erro ou discordância dentro da Bíblia? Se cada escritor da Bíblia desse sua própria ideia, então a credibilidade das Escrituras estaria comprometida. Lutero lutou contra este trecho da carta (chegando a chamá-la de epístola de palha), pois a igreja católica defendia por esta passagem a ideia de salvação pelas obras. Aparentemente há um choque com o que Paulo escreve em Romanos 3.28, onde argumenta que a justificação é exclusivamente por fé. Digo aparentemente, pois quando entendemos a mensagem de Tiago compreendemos que está em plena harmonia com a de Paulo. Precisamos entender que o assunto central deste capítulo não é obras, mas fé, com ou sem obras, e isto fica claro quando lemos os versículos 1, 5, 14, 17, 19, 20 e 22 deste capítulo. Tiago não está questionando outra coisa, se não, tipos de fé. Precisamos lembrar que os apóstolos estavam familiarizados com (e pregavam!) a doutrina da salvação pela fé. O que é ela? É a confiança de que podemos nos chegar a Deus somente por ação divina, ou seja, Cristo pagou nossos pecados, e por crer na suficiência da Sua obra, somos declarados justos. Paulo deixa isto muito bem claro em Romanos 5.1. O que Tiago questiona em sua carta é: se a fé que você declara ter não traz implicações na sua vida (v. 14), tem ela poder para salvar? Ele chama esta fé de “morta” (v. 17 e 26), inoperante (v. 20) e chega a comparar ao mesmo tipo de fé dos demônios (v. 19). Ele não está questionando a salvação pela fé, mas sim a fé estática, sem obras, diferente da fé genuína que vai muito além de ser de conversa, declaração, etc. Tiago questiona não a fé em si, mas uma fé específica, e afirma que se não há manifestações na vida, esta já é uma evidência de uma falsa fé. A genuína fé leva primeiramente a aceitação por Deus do homem como justo, para depois ir sendo aperfeiçoado dia a dia. Não fomos salvos pelas obras, mas fomos salvos para andarmos nas obras que Deus preparou de antemão para nós. Da mesma forma, de nada adiantará vivermos mergulhados em boas obras (caridade), se não cremos que é Deus quem nos justifica independentemente das obras. Esta idéia está em pleno acordo com o que Paulo escreve em Efésios 2.8-10: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Estou cada vez mais convencido de que estamos aqui (neste mundo) para fazer diferença na vida de outras pessoas. Por isso, precisamos trabalhar enquanto é dia! Lembre-se: 1. Seu testemunho é importantíssimo; 2. Suas ações podem falar mais alto do que imagina.

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13- Obras da Fé

Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil? Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? Você pode ver que tanto a fé como as suas obras estavam atuando juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras, cumprindo-se assim a Escritura que diz: Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça, e ele foi chamado amigo de Deus. Vejam que uma pessoa é justiçada por obras e não apenas pela fé. Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho? Assim como o corpo sem espírito está morto, também a fé sem obras está morta (Tg 2.20-26). Já vimos as distinções necessárias para entendermos esta passagem, conciliando-a com o apóstolo Paulo. Tiago não está questionando a salvação pela fé somente, acrescentando obras, mas está afirmando que a fé genuína repercute em obras, ou seja, as provas de autenticidade da nossa fé partem de uma verdadeira confissão e se manifestam externamente. Podemos provar esta realidade nos dois exemplos que Tiago cita: Abraão e Raabe. Ambos declararam através de suas obras (procedimento não verbal) aquilo que criam. Pode ser que nossas ações estejam tão fora de sintonia com nossa confissão que faz com que esta se torne nula e vazia, por isso devemos nos examinar diariamente. Se um diagnóstico médico equivocado pode ser tão prejudicial a nossa saúde e vida física, quanto mais um diagnóstico errado de nossa fé e conduta? Como podemos então nos avaliar? Veja por exemplo que Tiago demonstra a importância da bondade e compaixão por pessoas em sua carta. Ele menciona o socorro aos necessitados (1.27), e fala do tratamento igual que devemos ter independentemente da condição social, financeira, e isto vale para étnica, intelectual e cultural (2.1-13). São coisas simples, mas estas pequenas coisas revelam grandes verdades. Este espírito solidário e bondoso com os demais é coerente com o caráter de Deus (2.5). Suponha que haja na sua igreja alguns irmãos passando necessidade de alimento e roupa. O que você faz? É possível que você nem queira saber para não correr o risco de ter que ajudar. Então preste atenção ao que Provérbios 29.7 diz: o justo se informa da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber. Só o não querer se informar da necessidade alheia já é uma atitude egoísta e mesquinha, tachada como perversa pelas Escrituras. Pode ser ainda que você queira demonstrar um pouco mais de compaixão com o irmão e diga: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo... qual é o proveito disso? (v.16). Tiago questiona a validade desta atitude hipócrita! Há ainda os mais espirituais que levantam um grande clamor ao Senhor em prol da necessidade que nosso próximo se encontra, sem considerar o pecado de jogar sobre os ombros de Deus uma responsabilidade que é nossa. O apóstolo João escreve em sua primeira carta: Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade (1Jo 3.16-18). Repare que gastamos tanto tempo medindo nossas emoções na frente da televisão nas novelas e dramas fictícios e não nos sensibilizamos com as necessidades do nosso vizinho, parentes e irmãos. Viva a realidade e não auto-centrado em um mundo de ficção e fantasia. A indústria do

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entretenimento lucra à medida que o mundo padece. Precisamos sair do casulo egocêntrico, virtual e fantasioso e encarar a realidade da vida à nossa volta, expressando a bondade de Deus em ações concretas. Pense: o que Deus quer de você? Identifique um ponto em sua vida que você está objetivamente ignorando ou desobedecendo a Deus. Faça como Abraão: Coloque no altar aquilo que você possui de mais valioso. Além disto, identifique um necessitado acerca de quem você possa se informar e estabeleça uma forma possível de você ajudá-lo. Faça a diferença.

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14- Tropeçar na Língua

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo (Tg 3.1-2). Lembre-se que esta carta está apresentando testes comprobatórios da verdadeira fé. No capitulo um Tiago nos ensina que o verdadeiro cristão suporta o sofrimento, luta para vencer as tentações, deseja a Palavra e é obediente. No capítulo dois nos mostra que não devemos discriminar ninguém, mas ser compassivo. Agora, no capitulo três, passa a desenvolver o que talvez seja o principal assunto desta carta, pois em todos os capítulos ele fala deste assunto: o uso da nossa língua. Em 1.19 já havia dito para sermos prontos para ouvir e tardio para falar (talvez por isso nascemos com dois ouvidos e uma boca, dizem, para ouvirmos mais do que falamos), e no versículo 26 do mesmo capitulo diz que religiosidade sem o controle da língua é igual a nada. Aqui, Tiago demonstra que a língua é estratégica e perigosa, pelo fato de estar colocada em um lugar tão molhado e, por conseguinte escorregadio. Cuidado! O assunto é tão sério que Deus a posicionou atrás dos dentes como numa prisão. Como seria bom se consagrássemos não apenas nossa língua, mas também nossos dentes para mordê-la quando fosse preciso. Imagine que verdadeira bênção seria. O primeiro pecado após a queda envolveu um tropeço do falar (Gn 3.12), e a partir daí vemos a expressão da perversidade humana cada vez mais acentuada e perpetuada neste mal (Rm 3.10-14). Nenhum de nós foge desta condenação, esta é a realidade de todos. Note que Tiago escreve no v.2: todos nós tropeçamos. Assim, encontramos pessoas que mentem, justificam seus erros com falsidade, dão versões inadequadas às situações para se beneficiar, zombam do próximo para se mostrar mais engraçadas, passam a vida a “espalhar” notícias sobre a vida alheia (por mais verdadeiras que sejam) com a intenção de denegrir a imagem do outro, e assim por diante. Estas são apenas algumas proezas que nossa língua é capaz de produzir. A língua permite pecar especificamente. Você pode ser violento ou agressivo contra alguma pessoa. Assassinar alguém, desde que tenha uma arma e uma vítima. Cometer adultério desde que tenha alguém e certas condições. A língua não depende de nada disto. A pessoa não precisa nem estar presente e você é capaz de destruí-la, sem que ela sequer possa se defender. Além disto, não há limite de idade para este mal. Uma pessoa violenta com o tempo perde suas forças e deixa de ser, assim também acontece com a pessoa promíscua. Mas com a língua é diferente: pode ser uma velhinha fraquinha, toda arcada e enrugada, mas se sua língua estiver funcionando... A nossa conversão não muda a nossa conduta imediata e totalmente. Como uma criança que nasce, embora tenha a natureza de seus pais, semelhança, etc, ela precisará de tempo para que tenha as marcas presentes. Ao aceitarmos a Cristo, sua Palavra foi implantada, e nova vida surgiu, sem que a outra fosse totalmente destruída. Paulo diz que o querer do bem está nós, sem poder efetuá-lo. Não acredite que um crente não peca mais (leia 1Jo 1.8,10). Todos tropeçamos (v.2), e o primeiro passo para a correção é reconhecer. Temos escolhas a fazer no dia a dia e devemos ser aperfeiçoados. Não é possível viver verdadeira espiritualidade sem que haja controle da língua, ser espiritual, religioso, carola, sem que haja mudança no falar. A língua é a expressão mais direta do coração, ela reflete o que há no nosso interior. O Senhor Jesus conhece a natureza humana:

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Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem... (Mt 15.17-19) Não podemos ser negligentes considerando o que falamos como menos importante. A quem nós queremos enganar? O domínio da língua indica a nossa própria maturidade.

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15- Domar a Língua

Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo. Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto. Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma pequena fagulha. Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniqüidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno. Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar domam-se e é domada pela espécie humana; a língua, porém, ninguém consegue domar. Ela é um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero (Tg 3.3-8). A conversão verdadeira traz transformação no caráter e no uso da língua. Este é um assunto tão crítico e estratégico que Tiago diz que quem refreia a língua é capaz de refrear todo o corpo. Para ilustrar isto ele utiliza duas figuras: o freio na boca dos cavalos e o leme de um navio. Quando o homem controla estas pequenas coisas ele controla, nestes casos, todo o animal e/ou o navio. Assim é com a nossa língua. Se a controlarmos, estaremos traçando o destino de todo nosso ser. A língua representa você, o que você é, o que você pensa, o que se passa dentro do seu coração. Por ser estratégica, pode afetar positivamente toda a vida, e você só tem a ganhar com seu controle: evita conflitos, constrangimentos, pedidos de perdão, etc. Mas além destas, Tiago utiliza outra figura para ilustrar o estrago que o mau uso da língua pode causar: uma centelha ou uma pequena faísca. Quem já teve a experiência de apagar um incêndio no mato sabe o estrago que aquelas pequenas fagulhas causam. Elas são levadas pelo vento a um local um pouco adiante e ali se inicia um novo foco de incêndio. Nossa língua tem o mesmo poder destrutivo, demonstrando assim seu caráter mundano. Note o que Provérbios diz: 18.21; 13.3; 11.9, 11

A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto. O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se

arruína. O ímpio, com a boca, destrói o próximo, mas os justos são libertados pelo conhecimento. Pela bênção que os retos suscitam, a cidade se exalta, mas pela boca dos perversos é

derribada.

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Colocada entre a mente e o coração, quando damos liberdade a nossa língua para praticar sua corrupção inerente estamos em cumplicidade com Satanás, com as atividades deste mundo e sofreremos as consequências. Deste modo, nada se compara a seu poder destrutivo, é mundana, satânica, afeta todo o ser e a todos os seres por todo o tempo. Um comentário negativo sobre alguma pessoa pode destruí-la e também toda sua geração! Um escritor chamado Morgan Blake escreveu o seguinte sobre este assunto: “Sou mais mortal do que um ruidoso projétil de morteiro. Venço sem matar. Levo lares ao choro, quebro corações e destruo vidas. Viajo nas asas do vento. Nenhuma inocência é forte o suficiente para intimidar-me, nenhuma pureza é pura o suficiente para atemorizar-me. Não tenho consideração pela verdade, nem tenho respeito pela justiça, nem sou bondoso com os indefesos. Minhas vítimas são numerosas como as areias do mar e comumente são inocentes. Eu nunca esqueço e raramente perdôo. Meu nome é fofoca.” Queridos, não podemos ficar indiferentes diante deste veneno mortífero que potencialmente carregamos dentro de nós. Somos capazes de dominar toda espécie de animais ferozes, mas não conseguimos refrear a nossa língua? É aqui que precisamos parar de tentar agir com nossas próprias forças (que força?) e entregar nossos corpos (incluindo a língua) como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Uma fé verdadeira e consciente apresenta também este tipo de testemunho: era fofoqueira, passou a falar só do bem que pode ser falado; era ofensivo, mas se tornou dócil e terno; era murmurador e passou a dar graças a todas as coisas.

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16- Língua Doce ou Amarga

Com a língua, bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. Da mesma boca procedem benção e maldição. Meus irmãos, isso não pode ser assim. Acaso pode de uma mesma fonte sair água doce e água amarga? Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce (Tg 3.9-12). Desculpe-me se estou parecendo repetitivo, mas é que este assunto ainda não se esgotou. Ok, se você julga estar livre deste mal, está dispensado da devocional de hoje. Apenas ore por nós, para que também alcancemos a perfeição! Mas para aqueles que sabem que ainda precisam melhorar “um pouquinho,” aí vão mais algumas instruções do Senhor (através de Sua palavra). A transformação do nosso caráter cristão se dá em vários níveis da vida. Há quem lute contra imoralidade, outros contra ganância, pessimismo, preocupação e assim por diante. Aqueles que assim o fazem já detectaram suas fraquezas e preocupam-se em agradar a Deus. Estas lutas são constantes na vida de um crente fiel e aqui, no capítulo 3, Tiago tem nos mostrado uma área que todos nós precisamos vigiar, pois facilmente podemos estar enganados. Em se tratando do nosso linguajar, geralmente pensamos num sistema de crédito e débito. Achamos que bendizer a Deus e amaldiçoar o homem pode oferecer algum equilíbrio. Explico: se falamos dez coisas boas e uma abobrinha, cremos que ainda temos um saldo positivo de nove frases completas para compensar. Assim, se falo mal de minha sogra, de um colega, reclamo do vizinho, do chefe ou do professor, mas no domingo vou à igreja adorar e cultuar a Deus, então está tudo bem. Não se engane, não há este equilíbrio. Tiago questiona: acaso pode de uma mesma fonte sair água doce e água amarga? Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? A resposta é óbvia. De uma árvore de figos, esperam-se figos, não azeitonas. De uma videira, uvas, não figos. Inversão não é o desejado. Da mesma forma, de uma fonte só pode sair um tipo de água. Se uma fonte de água suja encontra uma de água limpa, esta fica completamente contaminada e compromete sua qualidade. Você beberia desta fonte? Tampouco Deus aceitaria “beber desta água”. Portanto, aquele comentário queixoso, aquela ofensa, xingamento, expressões de desejo e prazer no sofrimento do outro (bem feito...) definitivamente não devem fazer parte do nosso falar diário, pois não é este o esperado. Amaldiçoar destrói o bendizer. Embora muitas vezes não notamos nossa conduta, devemos estar conscientes que todos a nossa volta percebem (pais, irmãos, colegas, vizinhos) e Deus também percebe. Tiago tinha um exemplo muito sério neste particular. Ele havia convivido 30 anos com o irmão, Jesus, que jamais cometeu nenhum erro de fala em casa no relacionamento com os pais e com os irmãos, ou na rua com os amigos durante toda sua infância e adolescência, e mesmo no auge de seu sofrimento sequer ofendeu seus ofensores. Este deve ser o nosso exemplo de vida. Posteriormente, o apóstolo Pedro, que também conviveu com Ele, testemunhou: Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente... 1Pe 2.21-23

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É em Jesus que devemos nos espelhar. Conversão precisa alcançar nosso falar, levar-nos à maturidade, credenciar-nos ao repassar a Palavra a outros. Não se pode ser indiferente a este assunto. Está entre Deus e o Diabo. Não dá para desprezar, é profundamente contagiosa, mas o propósito de Deus para nossa vida depende do controle da nossa língua. Não podemos esquecer do juízo: Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado (Mt 12.36-37).

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17- Sabedoria Vs. Sabedoria

Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras feitas com a humildade que provém da sabedoria. Mas, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. Esta “sabedoria” não vem do céu, mas é terrena, não é espiritual e é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores (Tg 3.13-18). Após breve exortação sobre os cuidados com o nosso linguajar, Tiago passa explorar um pouco mais a questão da comunicação ampliando nossa visão sobre o testemunho diário que damos através do nosso comportamento. Comunicação não é exclusividade da língua. Comunicamos muito através do nosso proceder. Aliás, mesmo que não abrirmos nossa boca para testemunhar, nossas atitudes falarão por si, e em muitos casos elas serão o único testemunho que as pessoas enxergarão em nós. Sempre há mais de uma maneira de lidar com as situações diversas da vida, e a maneira que escolhermos definirá nosso comportamento. Tiago chama estas escolhas de “sabedoria,” distinguindo-as entre sabedoria do alto e sabedoria terrena. Uma se contrapõe à outra. Em se tratando da sabedoria terrena, somos exortados por nos gloriarmos de abrigar no coração inveja amarga e ambição egoísta! Como alguém pode se gloriar disto? Observando mais de perto, as palavras traduzidas do grego por inveja amarga dão a ideia de um zelo doentio por alguma coisa ou pessoa, ciúme, rivalidade invejosa e contenciosa. Já a palavra traduzida por ambição egoísta denota a ideia de autopromoção, soberba, desejo de colocar-se acima. É aquele espírito partidário e faccioso que utiliza a astúcia para alcançar seus fins. Podemos identificar dentro da igreja este tipo de comportamento? Há aqueles que se vangloriam de suas posições galgadas através da politicagem eclesiástica. Será que esta é a vontade de Deus para sua Igreja? Tiago chama esta sabedoria de terrena, carnal e demoníaca. Em contrapartida o modelo alternativo, que nós devemos adotar, é a sabedoria que...

1. Vem do alto: Não é uma ideia de Tiago, esta sabedoria vem do Senhor. 2. Pura: Puro vem da mesma palavra para santo e é condição para ver a Deus (Mateus 5.8). 3. Pacífica: Sabedoria verdadeira não produz conflito por razões egoístas, mas paz em

humildade. Pacificadores serão chamados filhos de Deus (Hebreus 12.14). 4. Indulgente ou amável: Demonstra um comportamento moderado, cortês, gentil, tolerante,

até sob abusos, maus tratos e perseguição, sem ódio ou malícia, mas confiando-se a Deus (2Tm 2.24).

5. Tratável ou compreensiva: Ensina-nos a viver sem rancor e disputa, mas sim sermos ensináveis, sujeitos à disciplina e que age conforme orientações. Isto é ser humilde de espírito.

6. Plena de misericórdia: Compaixão deve ser uma característica marcante em nós. 7. Cheia de bons frutos: Só posso pensar no Fruto do Espírito descrito em Gl 5.22-23. 8. Imparcial. Não abriga uma mentalidade partidarista, sem favoritismo. 9. Sem hipocrisia. Este era um dos pecados mais condenados por Jesus. Falsidade e hipocrisia

era uma característica marcante nos fariseus.

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Se colocarmos as sabedorias lado a lado, vamos encontrar pontos a favor e contra. Por qual se decidir? Cultivando a “sabedoria humana” você conquista poder, vitória, proteção, mas colhe também culpa, ofensas, tristeza, rompimento, separação, mágoa. Andando segundo a Sabedoria do Alto pode ser que você leve uma vida sem muito reconhecimento, prestígio ou privilégios; mas em compensação uma vida sem brigas, ameaças, ofensas, ressentimentos, separação, uma vida pacifica, restauradora, que edifica o próximo e comunica amor. Quem é que ganha? Ganha quem por mais que esteja com a razão, não está preocupado em preservar seus direitos, opiniões, espaço... Ganha quem deseja profundamente ser manso, pacificador, cortês, ouvinte, tratável, misericordioso, imparcial, preocupado apenas com a causa do Senhor. Sabedoria do alto se demonstra através do nosso bom procedimento. O bom procedimento é demonstrado através das boas obras, mesmo nas pequenas coisas do nosso cotidiano. Boas obras são marcadas pela humildade. Humildade é característica de quem é sábio.

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18- Guerra ou Resistência

De onde vem as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam e não alcançam; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não tem, porque não pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem intensos ciúmes? Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a escritura: Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes. Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Limpem as mãos, pecadores, e purifiquem o coração, vocês que têm a mente dividida. Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará (Tg 4.1-10). Adúlteros? Será que Tiago não está pegando pesado demais? Temo que não, pois flertar com o pecado é adultério. Só que ele não está tratando de infidelidade em termos sexuais, mas espirituais. De uma maneira geral, podemos definir adultério como um ato de infidelidade no contexto de um pacto de amor – como o que temos com Jesus. Esta era uma expressão comum no AT e um perigo constante em nossas vidas, portanto é bom que estejamos atentos às marcas que caracterizam o adultério espiritual. Primeiramente, conheça a verdadeira raiz deste mal, pois é sempre a mesma: egolatria (auto-suficiência, auto-glorificação, auto-satisfação, auto-justiça, auto-defesa, etc.). Radicalmente o adultério tem em vista a não satisfação do Senhor com quem temos um pacto, mas do EU mesmo. Por isso Tiago escreve: Vocês... pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. O que ele diz não é nenhuma novidade: nossos pedidos são sempre voltados para nossos desejos. Desfrutar da salvação que há em Cristo e se conduzir por motivações egoístas deste mundo, com ele flertando é adultério espiritual. A amizade com o mundo é inimizade com Deus, pois este flerte envolve amor emocional, intimidade, compartilhamento de interesses, objetivos e obediência a um ou a outro. Não há como conciliar o servir a Deus e a mim mesmo conforme os padrões do mundo. É necessário também, perceber como este tipo de adultério se manifesta: ... guerras e contendas... entre vocês... paixões que guerreiam dentro de vocês... cobiçam... matam e invejam... vivem a lutar e a fazer guerras... pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres... amizade com do mundo. Será que é mesmo assim? Quantas vezes somos tomados por um espírito faccioso diante de uma opinião adversa? Detestamos perder uma discussão, por mais boba que seja. Odiamos ter que pedir perdão. Abominamos a ideia de sequer admitir que estamos errados. Pode parecer bobagem, mas as consequências disto tudo são catastróficas! No âmbito social colhemos guerras, contendas e confusão; no âmbito pessoal culpa e frustração por não alcançar, não receber ou não obter o que desejamos; e, principalmente, o nosso relacionamento com Deus fica comprometido. Como reverter esta situação? O mais importante é entender que é só pela graça. O texto diz que Deus “nos concede graça maior!” A base do nosso relacionamento com Deus é sempre sua graça

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ilimitada. Paulo também tocou neste assunto quando escreveu: ... onde abundou o pecado, superabundou a graça! (Rm 5.20). Mas Tiago mostra também uma serie de ações que precisamos desenvolver para combater este mal: ...submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Limpem as mãos, pecadores, e purifiquem o coração, vocês que têm a mente dividida. Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará. Humildade é a condição para Deus trabalhar, para desfrutar de tudo o que Ele quer lhe dar. A verdadeira humildade consiste em estabelecer uma relação de submissão a Deus, resistência ao Diabo e aos nossos próprios desejos egoístas. Viver em comunhão com Deus se dá através da Palavra, oração e adoração. Quando sua razão de viver for a exaltação, a honra e a satisfação do Senhor, Ele cuidará de você.

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19- Língua de Trapo

Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo? (Tg 4.11-12) Na Idade Média os monges classificaram os pecados em sete fundamentais (capitais) que são: Orgulho, Inveja, Glutonaria, Lascívia, Ira, Ganância e Preguiça. É interessante notar que não consta desta lista a Maledicência, e se esta lista fosse elaborada nos dias de hoje, creio que também não entraria. Quer saber por quê? Porque sua popularidade e aceitação social são imensas. Porém o fato da maledicência ser aceita socialmente, não a torna aprovada por Deus. Pense nos “sete pecados” alistados por Deus em Provérbios 6.16-19. A maledicência tem a capacidade de destruir pessoas e relacionamentos. Tiago, retomando o assunto, sugere um exame mais apurado de nossa atitude diante deste tema tão grave. Facilmente caímos neste pecado por não atentarmos em quão equivocada está nossa visão em relação aos outros, em relação à Lei, em relação a Deus e em relação a nós mesmos. Nestas três linhas acima descritas, podemos perceber a gravidade da nossa atitude ao não considerar que o próximo (seja nosso irmão ou não) é alguém criado por Deus e alvo de Seu amor. Em segundo lugar, podemos também perceber o quanto falhamos ao julgar ou “passar por cima” da Lei. Falar mal ou julgar não é só falta de afeto, mas é agir contra a Lei e estar em desacordo com ela. Lei esta que protege o próximo e irmão, que não somente protege de males como lhe garante privilégios. Uma conduta diferente desta é não aceitar a Lei como autoridade, considerando a nossa perspectiva superior. Em terceiro, erramos feio também por não considerarmos a pessoa e a vontade de Deus. Tiago diz que Deus é Legislador, ou seja, é Ele quem estabelece o que é certo e o que é errado. Isto não é capricho, é a verdade e o Seu caráter. Tiago diz também que Deus é Juiz. Isto significa que todos nós nos apresentaremos diante dele para prestar contas. Por acaso você acha que pode ocupar o lugar de Deus (como Legislador e Juiz)? Além do mais saiba que estamos constantemente diante dele, que vê o íntimo dos nossos corações, nossas ações e nossas motivações. Quer falar alguma coisa de alguém? Fale diante daquele que sonda nossas mentes e corações! Por último, não percebemos o quanto estamos equivocados a respeito de nós mesmos. Ao comentar sobre a vida alheia, estamos nos colocando acima do próximo, acima da Lei e acima de Deus... Colocamo-nos numa posição de superioridade, coincidentemente o motivo da queda de Satanás. Cabe-nos a pergunta: Mas quem é você para julgar o seu próximo? Mais do que nunca, precisamos cultivar a humildade. Humildade inclui se ver como uma criatura de Deus, como qualquer um. Se ver como amado por Deus assim como todos são. Se ver como chamado para servir a Deus e fazer sua vontade. Quem é você para julgar o seu próximo? Ignorar o que Deus fala sobre julgar e falar de outros é arrogância. Julgar e condenar é se colocar em posição de superioridade. Humildade inclui se colocar sob a autoridade do Pai, ao invés de se auto-exaltar através do rebaixamento de outros. Quem é você para julgar o seu próximo?

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Falar mal é falar palavras ásperas acerca de outro, sejam verdadeiras ou não. Difamar e denegrir o próximo quebra o princípio do amor devido. Ao tomar conhecimento da falha de alguém, ao invés de falar mal, procure socorrer ou auxiliar a pessoa. Qualquer coisa que fizermos fora disso é falta de amor.

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20- Estrada Para o Futuro

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, não só viveremos como também faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas arrogantes pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. Portanto, quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado (Tg 4.13-17). Entramos em 2010 recentemente e é bem natural que cada um de nós tenha tomado decisões, feito planos ou pelo menos renovado intenções. Alguns decidiram emagrecer, outros ler a Bíblia em um ano, estudar, casar, etc. Todos temos ambições, planos de futuro, o que é muito natural. Mas se lermos esta passagem superficialmente, é possível que cheguemos a dois mal entendidos. O primeiro é: devemos planejar o futuro? Parece que os versos 13 e 14 sugerem o contrário. A resposta é sim, devemos. Lembre-se que o Senhor Jesus tratou deste assunto em Lucas 14.28-31 e Mateus 6.25. O segundo mal entendido nos leva a pensar: então devemos planejar, mas temos que repetir as palavras conforme descrito no v.15, como se fosse um talismã ou fetiche cristão. A resposta é não. Não se trata disto. Esta passagem dá continuidade ao que se iniciou em 3.13. Sabedoria deve ser demonstrada por um procedimento humilde; e humildade deve ser demonstrada em todo nosso viver (leia 4.6, 7, 10). No entanto, o v.16 fala de uma atitude oposta: Agora, porém, vocês se vangloriam das suas arrogantes pretensões. Esta tônica negativa mostra que planejamento futuro não é uma área que deva ser excluída de uma vida conforme a vontade de Deus. Podemos projetar nosso futuro conforme a sabedoria humana, isto é, em busca exclusiva da nossa própria glória e interesse, ou manifestar em nosso planejamento a visão de honrar a Deus em primeiro lugar. Há uma diferença significativa entre estas duas perspectivas! Portanto, alguns detalhes devem ser considerados em um planejamento sadio, prudente e humilde. Há um adágio popular que diz: "O futuro pertence a Deus." Embora seja verdadeiro, não significa que não temos nada a fazer. Planejar é compatível com a fé que professamos. Neemias foi alguém que viveu bem próximo de Deus e fez seu planejamento para atingir um alvo. Ele queria reconstruir a cidade de Jerusalém. Orou e planejou como tratar a questão, levantar recursos, convencer autoridades, estudar a situação, estabelecer ações para atingir seu alvo. Planejamento deve considerar a situação, tendências, sonhos, objetivos, recursos, obstáculos, etc. Quanto mais se conhecer a situação e o alvo que se quer atingir, melhor. Mas lembre-se que devemos planejar cônscios de nossa fragilidade pessoal. Tiago diz: Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Por acaso você está vivendo como se fosse estar aqui para sempre? Estamos de passagem, e não sabemos por quanto tempo. A definição que ele usa é que somos como a neblina (um vapor), que aparece e logo se dissipa. Não saber o que se passará e o que nos acontecerá amanhã deve nos dar humildade diante do futuro. Tenha bem claro em sua mente que sua vida depende de Deus. Ele é quem a dá e quem a tira. Se nossa vida está literalmente nas mãos de Deus, devemos estar submissos à Sua vontade, pois uma postura indiferente a Ele é classificada por arrogância no v.16. Devemos planejar o futuro,

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cônscios de nossa fragilidade e submissos à vontade de Deus. O verdadeiro servo busca conhecer e fazer a vontade do Senhor. Paulo escreveu em Efésios 5.15-17: Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. Existe uma série de princípios nas Escrituras como este que, se praticados, só temos a ganhar. Se não fizermos com esta atitude, estaremos pecando: Portanto, quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado. Lembre-se que suas pretensões falam do verdadeiro Senhor de sua vida.

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21- Dinheiro para Maldição

Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência (Tg 5.1-6). Entramos no capítulo cinco. A esta altura, é bom lembrar que há uma verdade central que permeia toda esta epístola: Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos (1.22). Ao longo da carta, Tiago insiste na ideia que conhecimento deve ser transformado em procedimento humilde, como escreve: quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras (3.13). Esta exortação deve ser aplicada em todas as áreas da nossa existência, seja no relacionamento com o mundo ou com os irmãos, seja no nosso linguajar, nosso planejamento, e assim por diante. Tiago agora passa a abordar outro tema crucial à nossa vida: a questão econômica. É tolice agirmos tão autoconfiantes na forma como administramos nosso dinheiro classificando este assunto como menos espiritual. Dinheiro é um tema amplamente tratado nas Escrituras. Lendo esta passagem, pode ser que você diga: ‘Ainda bem que eu não sou rico, isto não é comigo!’ Será que não? Como podemos classificar quem são os ricos aqui? Talvez você não tenha tanto dinheiro quanto gostaria de ter. Ou talvez não seja tão rico quanto o Silvio Santos... Mas pense que assim como existem homens muito mais ricos do que ele, existem também muito mais pobres que você. Dependendo da perspectiva, você é rico sim, então esta palavra é para você. Não há nada de errado em ser rico, e não é contra isso que esta passagem trata, mas há uma linha tênue quando se trata de finanças, pois elas revelam muito sobre o nosso coração: nossa atitude com finanças rege nosso coração, ou seja, nossa atitude com o dinheiro tem poder de desqualificar nossa fé em Deus. Em Mateus 6.19-21, 24 Jesus fala da impossibilidade de servir a Deus e às riquezas. Mas, na prática, quando é que servimos o dinheiro antes de Deus? Podemos ver nesta passagem que Tiago mostra três pecados relativos a finanças que nos colocam sob o juízo de Deus. O primeiro é o pecado da remuneração injusta. Alguns crentes tinham trabalhadores em seus campos e estavam retendo parte do seu salário para obter mais lucro. Trazendo para a nossa realidade, equivale a pagar um salário menor para um trabalhador (talvez a faxineira da sua casa) explorando-o por conta da sua necessidade, ou até deixar de registrá-lo e pagar seus encargos sociais ‘para não ficar muito caro.’ Saiba que o clamor deste trabalhador chegará diante do Senhor e é Ele quem pleiteará esta causa. Todo ganho deve ser honesto, e deve ser pago todo débito honesto. O segundo pecado é o do consumismo. Assim como os crentes daquela época, há hoje os que vivem regaladamente, utilizando seus recursos apenas para sustentar seu conforto e bem estar. Pode ter certeza que qualquer um aqui

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tem uma lista pronta daquilo que compraria para si caso ganhasse uma grana extra! Ao invés disto, devemos ser condescendentes e generosos com o Senhor e não conosco mesmo. Nossa vida pertence a Ele. Opulência, auto-indulgência e consumismo revelam melhor que tudo a quem a pessoa ama e serve. Terceiro pecado, o acúmulo de riquezas. Ao contrário do que prega a teologia da prosperidade tão difundida e aceita nas igrejas hoje em dia, Tiago mostra que este acúmulo (bênçãos para alguns) se corrompe e uma vez corrompido, de nada vale. O dinheiro que Deus põe em nossas mãos tem um propósito, que não é nossa ostentação! Nossa preocupação, acima de tudo, deve ser com a expansão do Reino de Deus. Somos agentes de Deus a quem Deus confere seus recursos para administrarmos não como donos, mas mordomos.

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22- Integridade e Perseverança

Sede, pois, irmãos, pacientes, até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas. Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo. Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo (Tg 5.7-12). Voltamos a tocar no assunto do início da carta: perseverança. Tiago utiliza este estilo repetitivo porque era próprio da literatura hebraica e, além do mais, estimular o fortalecimento na fé era um dos principais motivos desta carta. Os cristãos estavam sofrendo por fatores externos (perseguição) e internos na igreja (atitudes, injustiças...). Para encorajá-los a lutar e não desistir, o autor cita dois exemplos: sofrimento e paciência dos profetas, e a perseverança de Jó (digo isto porque a palavra usada para se referir ao comportamento de Jó foi hupomeno, que significa ficar em baixo, perseverar). Quando lemos as narrativas dos profetas do AT ficamos admirados com suas atitudes e imaginamos que se Deus nos colocasse em uma situação semelhante a que eles viveram nos comportaremos do mesmo jeito. Os profetas tiveram um ministério significativo, mas não foram isentos de aflições. Muitos padeceram (v.10) por falarem em nome do Senhor. Sofrimento faz parte do ferramental de Deus para produzir em nós paciência e perseverança. Jó aguentou um bocado o sofrimento que Deus permitiu que passasse. Será que reagiríamos igual a ele se enfrentássemos as mesmas provações? Tiago encoraja: sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração. Para compreender melhor este conselho: paciência (makrothumeo) significa suportar as ofensas e injúrias de outros, perseverar bravamente ao sofrer infortúnios e aborrecimentos sem perder o ânimo; e quando diz para fortalecer o coração significa ter determinação, resolução, ser estável, consistente; diferentemente do ‘coração gordo’ (5.5) e do ‘ânimo dobre’ (1.8; 4.8). A perseverança nasce no solo de um coração totalmente consagrado. Mas paciência demonstra-se em ações, e há mais um assunto que Tiago torna a tratar... Falou em todos os capítulos, não ficaria de fora deste: língua! A língua sempre aparece como uma vilã capaz de nos desviar do plano de Deus e neste caso não é diferente. Portanto, diante do sofrimento não se queixe, como costumeiramente fazemos: não aguento mais meu chefe; minha professora é uma droga; aquele cara é um mala; este pastor só enrola; minha mãe não larga do meu pé... não me deixa fazer nada do que eu quero; etc. Queixas, críticas, recriminações, julgamentos, fofocas são incompatíveis com a paciência que Deus quer trabalhar em nós. A segunda exortação é não jurar. Impaciência sempre é manifestada em murmurações, promessas precipitadas e juramentos apressados que normalmente irão se quebrar adiante. O apóstolo queria não somente evitar estes pecados como também ensinar a sermos íntegros em nossas palavras: seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. Lembre-se, prestaremos conta

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de cada palavra frívola que sair da nossa boca. Se por um lado não devemos nos deixar levar pela vida confortável e prazerosa que o mundo possa oferecer, também não podemos nos deixar abater pelas dores que a vida traz como trouxeram aos profetas do passado. Sejam o prazer e o sofrer superados e vencidos pela esperança inabalável de se encontrar com o Senhor, que negou-se a Si mesmo, e por você veio a morrer e ressuscitar. Não se deixe iludir pela proposta de que o bom de hoje é melhor do que o incerto e distante amanhã. O amoroso e poderoso Deus garante guardar em segurança o tesouro maior, de viver com Ele em honra, intimidade e glória por toda a eternidade. Não se deixe dominar pela diminuta atitude de reclamar, recriminar, se queixar e fazer votos e juramentos vãos, esquecendo-se do desafio de ser paciente e perseverante. Firme em seu coração a determinação de viver, amar, servir e agradar somente a quem é digno, na esperança e certeza de um dia ouvir soar: "Vem filho amado, quero em ti me aprazer." E com esta certeza prometida, dedicar momento e lugar, força e talento, mente e coração, à obra que Deus quer realizar, em e através de sua vida que ele diz e manifesta amar.

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23- Oração e Restauração

Está alguém entre vocês sofrendo? Ore. Está alguém feliz? Cante louvores. Há alguém doente entre vocês? Chame os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele o unjam com azeite, em nome do Senhor. E a oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, será perdoado. Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e o céu enviou chuva, e a terra produziu os seus frutos. Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta, lembrem-se disso: Quem converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e cobrirá uma multidão de pecados (Tg 5.13-20). Chegamos ao fim. Mas não sem problemas, pois esta passagem reúne uma série de históricos mal-entendidos teológicos. Foi nestes versículos que a Igreja Católica baseou-se para instituir o sacramento da extrema-unção. Já no sec. III, havia o costume de ungir enfermos consagrando-os por um bispo. No séc. X a importância deste ato cresceu tanto que decidiu-se que seria feita exclusivamente por um sacerdote católico. No séc. XII surgiu a ideia da extrema unção e restringe-se aos fiéis que estão diante da morte iminente. No séc. XIII tornou-se oficialmente um dos sete sacramentos. Por fim, em 1545 o Concílio de Trento considerou anátema negar sacramento instituído por Cristo, inclusive este. Já na Igreja Evangélica, os pregadores da ‘cura pela fé’ acreditam que esta passagem é base para que o crente não permaneça enfermo, mas seja curado. Porém, na realidade, muitos “ungidos” em seus leitos permaneceram doentes e outros vieram a falecer. O que dizer diante de todas estas coisas? O que exatamente Tiago quis comunicar nestes versículos? Observando este texto, logo de início podemos fazer três afirmações:

1. Não há aqui nenhuma sugestão de óleo especial ou consagrado; 2. Não é preparação para a morte, mas restauração para a vida; 3. A ênfase não é em cura física nem remissão de pecados, mas cura espiritual e restauração

de comunhão.

Recordando o contexto da carta, Tiago falou de perseverança na perseguição, dos erros de falar mal do outro, da exploração econômica, abordou a importância da paciência e agora fala de sofrimento (v.13) enfatizando a importância da oração. Tiago quer ensinar que o homem, pela oração, abre as portas para Deus agir. Note que dos versos 13 a 18, todos falam de orar, mais especificamente o papel da oração no cotidiano (que no caso deles incluía o sofrimento). Não somos exceção, embora as fontes e razões das nossas lutas sejam outras. Neste caso, quem é o enfermo? A palavra usada para doente (astheneo) aparece 35 vezes no NT. Destas, 16 vezes se refere a doenças físicas, principalmente nos evangelhos, mas na maioria das vezes (principalmente nas epístolas) esta palavra descreve fraqueza espiritual e emocional. A julgar o contexto aqui, podemos concluir que se trata de pessoas que traziam o resultado da perseguição e maus-tratos, ou seja, fragilizadas emocional e espiritualmente. Não sou contra a ideia de Deus

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curar doenças físicas, mas acredito que agora não é o que está sendo tratado aqui. O debilitado e fraco que Tiago se refere está precisando do apoio pastoral e os presbíteros eram aqueles que cumpriam esta função na igreja. Os presbíteros deveriam orar pelo enfraquecido e ungi-lo com óleo. Na cultura hebraica, o óleo era empregado em algumas situações como o cuidado com o corpo na higiene pessoal (Mt 6.17). Também usava-se quando queria-se honrar um visitante (Mt 26.7; Lc 7.38, 46). Usava-se no preparo do corpo de um morto (Mc 16.1). Além destas, o óleo ainda desenvolvia importante função terapêutica (Mc 6.13). Isto faz-nos pensar que quem estava fraco ou enfermo, estava por causa de maus-tratos, talvez com feridas e assim estes lhe ministrariam o medicamento disponível para seu bem estar. Nada havia nada de místico ou sobrenatural no uso do óleo naquela cultura (Lc 10.34), era meramente terapêutico. Também não há erro algum em se usar dos recursos da medicina - não se trata de incredulidade. Lucas era médico (Cl 4.14) e curava enfermos usando a medicina; Paulo indicara um medicamento a Timóteo (1Tm 5.23), e deixou Trófimo em Mileto por estar doente. Os presbíteros deveriam visitar os enfermos, ungi-los com óleo e orar. Esta ‘Oração de fé’, segundo Tiago 1.6-8, é uma oração feita por quem é fiel a Deus. Além disto, Tiago diz que se houver cometido pecados, será perdoado. Considerando todo o contexto, é possível que neste estágio o enfermo tenha percebido que estava nesta situação porque agiu em desacordo com a vontade de Deus. Pecou por falta de fé estava sofrendo com isto. Note o que escreveu o salmista: Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado (Salmos 32:3-5). O sofrimento faz parte do processo de Deus para nosso aperfeiçoamento, daí sua decisão de levar Deus mais a sério. Derrotado e abatido pelo sofrimento, ele pode pedir apoio dos pastores que orarão por ele e Deus restaurará a sua disposição espiritual. Desânimo na fé pode acontecer por diversas razões e às vezes conjuntas: pecados não tratados que minam nossas forças, males físicos que nos levam a questionamentos constantes, enfraquecimento da fé nas circunstâncias adversas, etc. Há aqui em Tiago uma preocupação com cada um que esteja vivendo nestas condições, que possa ter o socorro necessário para o fortalecimento da sua vida cristã. Em maior ou menor escala o povo de Deus passa por isso: Elias ficou desanimado após uma batalha espiritual, João Batista ficou incrédulo na prisão, Pedro negou e abandonou ao Senhor, Davi se afastou em pecado, João Marcos abandonou uma viagem missionária por medo. O verso 19 alerta sobre a possibilidade algum dos irmãos se desviar da verdade, da mensagem do Senhor. Isso é possível que aconteça. Este irmão pode se ajudar orando por si e pode ser ajudado pelos pastores, mas note que toda comunidade deve estar voltada para o irmão mais fraco. Como corpo, devemos cuidar dos membros mais fracos. Precisamos ter com quem compartilhar nossa fraquezas, e confessarmos os nossos pecados. Não somos uma comunidade de perfeitos. Talvez alguns de nós precise de oração por desânimo, medo, covardia. Pode ser que outros sofram tentações como rancor, mágoa, imoralidade, autocomiseração, etc. Confissão abre as portas para que o outro interceda por você, dando espaço para que Deus atue em sua vida. Saiba que você pode ser um agente de restauração, protegendo-o

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da sua perda de comunhão, do castigo do pecado, e ele será restaurado (v.20). Identificar um irmão em pecado é a oportunidade de agir em seu favor, seja orando, seja exortando. Caso o faça voltar, é um grande feito. Note que a súplica de um justo muito pode, tem grande poder. Você pode não ver, mas ‘sua eficácia’ (energeo), traduz a palavra que origina energia. Se aplicada aos problemas e sofrimentos, funciona. Oração de um justo, não significa de alguém perfeito, mas alguém que está buscando em tudo a vontade de Deus, e Deus atende (Jo 9.31). Tiago usa Elias como exemplo: era homem como nós. Não se tratava de um super-homem. Teve fome, medo e fugiu, ficou deprimido, mas quando ele orou, foi respondido. Ele estava pronto a fazer a vontade de Deus, fosse qual fosse. Abra a porta por sua oração e temor a Deus, para que Ele aja em sua vida e na de outros. Tenha sempre nomes de pessoas por quem orar. Não passe pelas dificuldade sem dar a Deus a oportunidade de intervir. Identifique alguém com quem você possa compartilhar suas fraquezas para que ore por você. Deixe seus pastores saberem pelo que orar por você.