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 EST. ECON., SÃO PAULO, V . 36, N. 2 , P. 2 05-236 , A BR IL -J UNHO 200 6 Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil  A NA  M  ARIA  HERMETO C  AMILO DE OLIVEIRA    EDUARDO LUIZ GONÇALVES R IOS-NETO R ESUMO É feita uma análise das tendências da desigualdade salarial da força de trabalho feminina no Brasil, segundo a raça, durante as décadas de 1980 e 1990. Crescentes retornos de qualificação e crescente demanda  por trabalho qualificado resultam em uma divergência do crescimento salarial entre os trabalhadores com alta e baixa qualificação. Este crescente hiato resu lta em um aumento da desigualdade salar ial por raça. Com o propósito de interpretar as tendências, são examinadas diferenças por raça nos padrões de casa- mento, fecundidade, arranjos domiciliares, níveis educacionais, participação na força de trabalho, níveis de qualificação, alocação ocupacional e salários, distinguindo en tre medidas de período e coorte. São usado s dados provenientes das PNADs 1987-1999 para analisar a importância de mudanças inter e intracoortes  para mulheres brancas e negras. Funções salariais são estimadas a partir dos dados agregado s da série temporal de cross sections, usando mínimos quadrados ordinários e regressões quantílicas. PALAVRAS- CHAVE desigualdade salarial, diferenciais por raça, regressão quantílica A BSTRACT We analyze trends of wage inequality of the Brazilian female labor force, by race, during the 1980s and 1990s. Increasing returns to skills and increasing demand for skilled labor result in a divergence of wages  growth between high and low skilled workers. This increasing gap results in an increase of wage inequality by race. In order to interpret trends, we take into account race differences in marriage patterns, fertility, household arrangements, educational levels, labor mar ket participation, skill levels, occupational location and earnings, distinguishing between period and cohort measures. We use 1987-1999 Brazilian Household Sample Surveys data to examine the importance of within- and between-cohort changes for black and white women. Earnings functions are estimated from the pooled time-series of these cross-section data, using OLS and quantile regressions. K EY  W ORDS wage inequality, racial gap, qu antile regression  JE L CLASSIFICATION  J31, J71  Professora Adjunta do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG e do CEDEPLAR/UFMG. Endereço: Rua Cu- ritiba, 832, sala 914, 30170-120, Belo Horizonte, MG - Fone: (31) 3279.9154. E-mail: [email protected].  Professor Titular do Departamento de Demografia do CEDEPLAR/UFMG. Endereço: Rua Curitiba, 832 - 9º . 30315-430, Belo Horizonte, MG. Fone: (31) 3279.9100; Fax: (31) 3201-3657. e-mail: [email protected]. (Recebido em setembro de 2003. Aceito para publicação em junho de 2005).

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 EST. ECON., SÃO PAULO, V. 36, N. 2, P. 205-236, ABRIL-JUNHO 2006

Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes

de Mulheres Brancas e Negras no Brasil 

 A NA  M ARIA  HERMETO C AMILO DE OLIVEIRA   EDUARDO LUIZ GONÇALVES R IOS-NETO

R ESUMO

É feita uma análise das tendências da desigualdade salarial da força de trabalho feminina no Brasil, segundoa raça, durante as décadas de 1980 e 1990. Crescentes retornos de qualificação e crescente demanda

 por trabalho qualificado resultam em uma divergência do crescimento salarial entre os trabalhadores comalta e baixa qualificação. Este crescente hiato resulta em um aumento da desigualdade salarial por raça.Com o propósito de interpretar as tendências, são examinadas diferenças por raça nos padrões de casa-

mento, fecundidade, arranjos domiciliares, níveis educacionais, participação na força de trabalho, níveis dequalificação, alocação ocupacional e salários, distinguindo entre medidas de período e coorte. São usadosdados provenientes das PNADs 1987-1999 para analisar a importância de mudanças inter e intracoortes

 para mulheres brancas e negras. Funções salariais são estimadas a partir dos dados agregados da sérietemporal de cross sections, usando mínimos quadrados ordinários e regressões quantílicas.

PALAVRAS-CHAVE

desigualdade salarial, diferenciais por raça, regressão quantílica

A BSTRACT

We analyze trends of wage inequality of the Brazilian female labor force, by race, during the 1980s and

1990s. Increasing returns to skills and increasing demand for skilled labor result in a divergence of wages growth between high and low skilled workers. This increasing gap results in an increase of wage inequalityby race. In order to interpret trends, we take into account race differences in marriage patterns, fertility,household arrangements, educational levels, labor market participation, skill levels, occupational locationand earnings, distinguishing between period and cohort measures. We use 1987-1999 Brazilian HouseholdSample Surveys data to examine the importance of within- and between-cohort changes for black andwhite women. Earnings functions are estimated from the pooled time-series of these cross-section data,using OLS and quantile regressions.

K EY  W ORDS

wage inequality, racial gap, quantile regression JEL CLASSIFICATION

 J31, J71

  Professora Adjunta do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG e do CEDEPLAR/UFMG. Endereço: Rua Cu-

ritiba, 832, sala 914, 30170-120, Belo Horizonte, MG - Fone: (31) 3279.9154. E-mail: [email protected].   Professor Titular do Departamento de Demografia do CEDEPLAR/UFMG. Endereço: Rua Curitiba, 832 - 9º.

30315-430, Belo Horizonte, MG. Fone: (31) 3279.9100; Fax: (31) 3201-3657. e-mail: [email protected].

(Recebido em setembro de 2003. Aceito para publicação em junho de 2005).

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 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

 INTRODUÇÃO

 No final dos anos 1980, um século após a abolição da escravidão no Brasil, as condi-

ções dos brasileiros negros ainda se caracterizavam pela pobreza generalizada. Entreas mulheres negras, esta situação é ainda pior. Apesar da longa persistência destasituação, poucos autores reconhecem a discriminação como um fator que explica osdiferenciais socioeconômicos por raça no Brasil. (Silva, 1980). O debate sobre a dis-criminação racial no mercado de trabalho brasileiro tem duas linhas, discutidas em vários estudos. (Hasenbalg, 1979; Silva, 1980; Oliveira  et al. 1983; Lovell, 1989;Silva, Hasenbalg, 1992; Henriques, 2001). Alguns autores argumentam que brancose negros têm as mesmas oportunidades de mobilidade econômica e social: por meioda educação e da renda. Seguindo este argumento, os diferenciais ocupacionais sãointerpretados como um resultado de um processo incompleto de mobilidade social. Neste sentido, diferenças na localização de classe, mais do que a discriminação, de-terminariam os diferenciais raciais. Outros autores afirmam que as diferenças ocupa-cionais e salariais por raça se devem à discriminação no mercado de trabalho. Níveisdesiguais de educação, de acordo com este ponto de vista, seriam menos importantesna explicação da discriminação no mercado de trabalho. Evidências de que o nível deeducação média dos negros jovens é atualmente mais elevado do que a dos seus paisou avós sustentariam o argumento. E a despeito da mobilidade educacional, a discri-

minação salarial e ocupacional ainda existe entre negros e brancos no Brasil.Um dos principais aspectos da economia brasileira é uma distribuição de salários erenda extremamente desigual. A proporção da renda apropriada pelas famílias 1% maisricas (cerca de 1,6 milhões de pessoas) equivale à proporção apropriada pelas 50%mais pobres (cerca de 80 milhões de pessoas). Há uma extensa literatura discutindo asrazões por trás do alto nível de desigualdade de renda no Brasil. As explicações variamdo contexto histórico do País à composição educacional da força de trabalho e fatoresinstitucionais, tais como a segmentação e a discriminação no mercado de trabalho.

Diferenciais salariais e ocupacionais entre brancos e negros constituem apenas umlado desta história de desigualdade de renda. Na medida em que afetam os homens,os diferenciais por raça foram objeto de alguns estudos. (Hasenbalg e Silva, 1988,1998). Menos atenção foi direcionada às implicações dos diferenciais por raça entreas mulheres. (Soares, 2000; Henriques, 2001). Explorar o impacto das mudançasque variam entre as mulheres brancas e negras pode ser elucidativo. Este interesse emresultados femininos relativos advém de uma preocupação de que as mulheres negrasestão de várias formas em posições desfavorecidas no mercado de trabalho, na família

e na sociedade como um todo. (Blau, 1998).

1

1 A este respeito, vale mencionar que a mudança do peso dos estados conjugais, com a diminuição daproporção de cônjuges e o concomitante aumento da proporção de chefes dos domicílios, foi mais forteentre as mulheres negras. A proporção de mulheres chefes solteiras entre as negras está acima de 23%

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Enquanto intermediárias do impacto dos diferenciais nos indicadores acima sobrea desigualdade e a pobreza no Brasil, os diferenciais raciais no mercado de trabalho– salários e ocupações – entre as mulheres são o foco principal deste artigo. O hiato

salarial entre as mulheres negras e brancas não somente não declinou, como realmenteaumentou ao longo dos últimos 15 anos. Em média, em 1987 as mulheres negrasrecebiam 55% do que recebiam as brancas; em 1999 esta razão era de 52%. Partedeste diferencial se deve à discriminação – salarial ou ocupacional – e não a diferençasde produtividade entre os grupos. O hiato salarial é somente a forma mais visível dasdiferenças no mercado de trabalho segundo a raça.

Com relação às tendências dos diferenciais por raça ao longo do tempo, estes podemser pensados como dependentes dos efeitos de período, idade (experiência) e coortes.

Os efeitos de período incluem mudanças no ambiente econômico, tais como fatoresinstitucionais, taxas de inflação e desemprego, que afetam a força de trabalho comoum todo e determinam os rendimentos individuais. Os efeitos de idade refletem opadrão de diferenças ao longo do ciclo de vida. A idade pode ser um determinantedireto dos rendimentos por meio da experiência de trabalho e treinamento, que indicaa aquisição de capital humano ou outras atividades que aumentem a produtividadepercebida dos trabalhadores como uma função de sua experiência de trabalho, matu-ridade ou outros efeitos psicológicos, e pode ser um sinal usado pelos empregadorespara estimar a produtividade. Os efeitos de coorte refletem mudanças permanentesna composição da população devido às características dos novos ingressos no merca-do de trabalho, características tais como o tamanho da coorte, e o nível, qualidade edesigualdade de educação. Estes argumentos justificam a inclusão destas variáveis nafunção de rendimentos individuais a ser estimada, mas não a sua forma funcional. Nãoé possível estimar todos os coeficientes da equação sem restrições adicionais devido àsinterdependências conceituais entre as variáveis de idade, período e coorte. A estima-ção direta da equação por mínimos quadrados somente é possível com a imposiçãode restrições sobre seus parâmetros.

 Neste artigo são exploradas as possibilidades das informações longitudinais dos mi-crodados das repetidas cross sections da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD),2  sendo construídos quase-painéis que permitem efetuar a análise de ciclo

em 1999 e 17% entre as brancas. Isto é preocupante, tendo em vista os níveis educacionais mais baixose as taxas de fecundidade mais elevadas das mulheres negras. Com relação a este ponto, no Brasil, asúltimas décadas foram marcadas pelo processo de transição da fecundidade. A taxa de fecundidadetotal (TFT) se manteve praticamente constante entre 1940 e 1970, declinando de 6,21% para 5,76%no período. Entre 1970 e 1980, a TFT declinou para 4,35%, alcançando 2,70% no período 1980/1991e 2,11 no período 1991/2000. A divergência nas tendências de fecundidade entre os grupos raciais é

notável. A TFT era aproximadamente a mesma em 1940 e declinou, em 1999, para 1,81% entre asmulheres brancas e 2,41% entre as negras.2 Conduzidas pelo IBGE, nos anos 1980 e 1990, exceto em 1991 e 1994. A amostra média anual é de

160.000 indivíduos e é representativa nacionalmente. A variável de raça foi investigada sistematicamentea partir de 1987.

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 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

de vida e de coorte.3 Medidas de rendimentos têm fortes componentes de ciclo de vida relacionados à idade, mas os próprios perf is ascendem ao longo do tempo como crescimento econômico à medida que cada geração torna-se mais bem-sucedida do

que suas predecessoras. Neste caso, acompanhar diferentes coortes4

 ao longo de su-cessivas pesquisas permite decompor os componentes de geração dos de ciclo de vidanos perfis de rendimentos.

 Nas seções que se seguem, um conjunto de indicadores de resultados no mercadode trabalho é considerado. Primeiro, são focalizados os salários e sua distribuição etendências em algumas dimensões ocupacionais. Também são apresentados indica-dores de capital humano e  background  familiar. Depois, uma metodologia para de-composição do hiato salarial por raça é apresentada. Finalmente, alguns modelos de

determinação salarial são estimados e decompostos em seus componentes explicadose não explicados.

1. TENDÊNCIAS DOS DIFERENCIAIS POR RAÇA5 NO MERCADO DE TRA- BALHO FEMININO BRASILEIRO

Os diferenciais por raça no mercado de trabalho brasileiro têm persistido ao longo do

tempo. Nesta seção é apresentado um conjunto básico de fatos sobre estes diferenciaisentre as mulheres. São também mostradas diferenças em características pessoais, taiscomo o nível educacional, que tendem a estar relacionadas com o padrão de inser-ção no mercado de trabalho. O que mais interessa saber é se os diferenciais estão seampliando ou estreitando ao longo do tempo. Além de permitir uma avaliação doprogresso em direção a uma maior igualdade racial, o progresso relativo das mulhe-res negras é interessante porque os dados sobre as mulheres brancas fornecem umareferência útil. (Blau, 1998). As tendências absolutas dos indicadores também são

3 Estamos cientes de que a PNAD tem um desenho amostral que incorpora níveis de complexidade devidoà estratif icação, conglomeração e probabilidades desiguais de seleção. No entanto, incorporamos noscálculos somente o fator de expansão de cada unidade amostral, já que, como mostram Leite e Silva(2002), as estimativas pontuais dos parâmetros são inf luenciadas pela ocorrência de pesos amostrais dis-tintos, enquanto os efeitos de conglomeração e estratificação da amostra afetariam apenas as variânciasdas estimativas dos coef icientes. Como os resultados dos próprios autores apontam, as d iferenças sãomínimas se incorporamos o plano amostral. Além disto, os pacotes estatísticos, em geral, não possuemrotinas adequadas para incorporar as complexidades do plano amostral.

4 Por exemplo, para identificar como os rendimentos individuais mudaram, acompanham-se os rendi-mentos médios da mesma coorte ao longo do tempo, considerando os membros da coorte que são ale-atoriamente selecionados em cada período. Se uma coorte nasceu em 1962, tinha 25 anos de idade em1987. Assim, usamos a pesquisa deste ano de 1987 para calcular o logaritmo dos rendimentos médiospara todos os indivíduos de 25 anos, a pesquisa de 1988 para os rendimentos médios dos indivíduos

de 26 anos, e assim por diante, até os rendimentos médios dos indivíduos de 37 anos em 1999.5 É importante notar que o uso do termo “raça” é limitado. A divisão da variável em 2 grupos – negrase brancas – não é uma simplificação, e se justifica pela instabilidade da auto-identificação de negrose pardos ao longo do tempo. Se agregados em somente 1 categoria, estão menos sujeitos ao viés dereclassificação, que não deve ser subestimado. (Silva, 1980; Wood, 1991).

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importantes. Por exemplo, é instrutivo saber não meramente que o hiato salarial porraça está aumentando, mas também a magnitude dos decréscimos dos salários reaispara as mulheres negras.

 As últimas décadas foram um período de significativas transformações da inserçãono mercado de trabalho e da estrutura familiar das mulheres no Brasil. A participa-ção feminina na força de trabalho aumentou de forma sustentada desde 1950. Dadoscensitários indicam uma elevação da taxa de participação de 13,6% em 1950 para26,9% em 1980. Mais recentemente, a taxa de participação das mulheres urbanasaumentou de 30,3% em 1976 para 45,5% em 1999. Entre as mulheres brancas, houveum aumento de 39,3% em 1987 para 45,8% em 1999, e entre as mulheres negras, ocrescimento desta taxa ficou defasado, aumentando de 40,5% para 45,1% no período.

O aumento da participação na força de trabalho observado nos anos 1980 e 1990 foiacompanhado por uma mudança em seu perfil etário de período, o que é compatívelcom um aumento da taxa de participação das mulheres casadas e mães (Gráfico 1).Em 1987, as taxas de participação das mulheres negras eram mais elevadas em quasetodos os grupos etários, sendo que o diferencial aumentava com a idade. Em 1999, odiferencial de participação por idade entre as raças é mínimo.

GRÁFICO 1 – TAXAS DE PARTICIPAÇÃO FEMININA NA FORÇA DETR ABALHO, POR R AÇA E IDADE, BRASIL URBANO, 1987-1999

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

       2       4   -       2       6

       2       7   -       2       9

       3       0   -       3       2

       3       3   -       3       5

       3       6   -       3       8

       3       9   -       4       1

       4       2   -       4       4

       4       5   -       4       7

       4       8   -       5       0

       5       1   -       5       3

       5       4   -       5       6

       5       7   -       5       9

       6       0   -       6       2

       6       3   -       6       5

Grupos de Idade

   T  a  x  a  s   d  e   P  a  r   t   i  c   i  p  a  ç   ã  o

Brancas - 1987 Brancas - 1999 Negras - 1987 Negras - 1999

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

Os dados utilizados neste artigo foram obtidos das PNADs de 1987 a 1999. Estabase de dados foi usada porque é constituída por uma amostra grande, representativa

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em nível nacional, permitindo considerável desagregação por subgrupos. Emboraestas pesquisas  cross section selecionem diferentes domicílios a cada ano, tal que nãohá possibilidade de acompanhar os mesmos indivíduos ao longo do tempo, é possível

seguir grupos de uma pesquisa para outra. (Deaton, 1997). Neste caso, o interesse éem seguir as coortes de mulheres ao longo do tempo, sendo as coortes definidas peladata de nascimento. É possível usar estas pesquisas repetidas para seguir cada coorteao longo do tempo6 olhando para os membros da coorte que foram selecionadosaleatoriamente em cada ano. A amostra utilizada neste artigo se limita às mulheresbrancas e negras com idade entre 24 e 65 anos, em áreas urbanas, que soma 200.000observações acumuladas ao longo do período.

1.1 Salários

O Gráfico 2 mostra os salários médios por hora das mulheres brancas e negras, entre1987 e 1999. Estes dados indicam que as mulheres brancas recebem, ao longo de todoo período, quase o dobro do que recebem as mulheres negras. As tendências salariaisrevelam que embora os salários tenham aumentado a partir de 1993 para ambos osgrupos de mulheres, as diferenças por raça persistem. Os salários das mulheres negrasnunca se equipararam aos das mulheres brancas, ou seja, não houve uma melhoriarelativa. Flutuações visíveis ao longo do tempo, similares para os grupos, sugerem que

efeitos de período devem ser levados em consideração.

GRÁFICO 2 – SALÁRIOS/HORA REAIS MÉDIOS DAS MULHERES, POR RAÇA, BRASIL URBANO, 1987-1999

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

   S  a   l   á  r   i  o  s   /   H  o  r  a   R  e

  a   i  s

Brancas

Negras

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

6 Assumindo que não há diferenças por raça nos padrões de mortalidade e migração, que poderiam en- viesar a composição das coortes.

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GRÁFICO 3 – HIATO SALARIAL ENTRE AS MULHERES NEGRAS E BRANCAS, BR ASIL URBANO, 1987-1999

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

   R  a  z   ã  o   S  a   l  a  r   i  a   l   N  e  g  r  a  s   /   B  r  a  n  c  a  s

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

 Análises de hiatos salariais tipicamente enfatizam estatísticas que resumem o diferen-cial entre os salários das mulheres brancas e negras, como, por exemplo, as razões en-tre os salários médios mostradas no Gráfico 3. Os valores para as mulheres negras sãoos numeradores, tal que as razões representam a fração do que a mulher negra médiarecebe em relação à mulher branca média. De forma geral, o hiato por raça aumentouligeiramente ao longo dos últimos 15 anos, tendo em vista que a razão entre as médiasdos salários das mulheres negras e brancas diminuiu de 0,553 em 1987 para 0,517em 1999. A persistência do hiato salarial significa que as mulheres brancas enquantogrupo se beneficiaram mais do que as mulheres negras em termos do crescimento dosalário real. Os salários reais das mulheres brancas aumentaram 13,7% entre 1987 e1999; em contraste, os salários reais das mulheres negras aumentaram somente 6,2%ao longo deste período.

Com o objetivo de proceder a uma análise de coorte, os dados obtidos a partir dasmúltiplas pesquisas  cross section  foram sintetizados em tabelas de idade x período:cada célula é a média observada para cada grupo etário em um ano específico. Osintervalos dos grupos etários (I) são iguais aos intervalos entre os períodos (P): trêsanos.7  Desta forma, as diagonais da tabela correspondem às coortes de nascimento.8  A Tabela 1 mostra os salários médios para as mulheres brancas e negras, por idade ecoorte, entre 1987 e 1999.

7 A definição destes intervalos foi arbitrária, em razão de maximizar as informações disponíveis, entre1987 e 1999.

8 O número de diagonais – coortes (C) – equivalem ao número de grupos etários (I) somado ao númerode períodos (P) menos 1, ou seja, C=I+P-1.

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 212  Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

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TABELA 1 – SALÁRIOS/HORA REAIS DAS MULHERES POR RAÇA E GRUPO ETÁRIO (COORTE), BRASIL URBANO, 1987-1999

Brancas Negras

1987 1990 1993 1996 1999 1987 1990 1993 1996 1999

24-26   1,371   1,345 1,185 1,682 1,416   0,921   0,913 0,741 0,983 0,956

27-29 2,083   1,947   1,684 2,069 1,960 1,386   1,366   1,021 1,300 1,276

30 -32 2,651 2,881   2,257   2,839 2,562 1,627 1,667   1,405   1,701 1,529

33-35 3,539 3,456 2,918   3,350   3,176 2,022 1,829 1,560   1,845   1,827

36-38 4,012 4,003 3,157 3,903   3,472   2,200 1,989 1,875 2,146   1,859

39-41 4,066 3,956 3,325 4,349 3,888 2,333 2,215 1,954 2,181 2,140

42-44 3,973 4,373 3,334 5,003 4,026 2,415 1,948 1,880 2,243 2,125

45-47 4,073 4,320 3,571 4,944 4,093 2,349 2,041 1,860 2,291 2,062

48-50 3,643 4,484 3,766 4,884 4,453 2,105 2,105 1,775 2,456 2,21751-53   3,532   4,076 3,234 4,284 4,389   1,861   1,966 1,633 2,427 2,109

54-56 3,443   4,236   3,324 4,016 4,129 1,826   1,778   1,704 2,358 2,100

57-59 3,095 3,359   2,985   3,749 4,167 1,739 1,810   1,394   2,185 2,103

60-62 3,061 3,240 2,854   3,429   3,744 1,263 1,476 1,221   1,853   1,994

63-65 3,296 2,798 3,204 3,310   4,095   1,303 1,491 1,161 1,813   1,679

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

 A interpretação dos componentes desta tabela é ambígua, porque a coorte está asso-

ciada às outras dimensões temporais. Se, para uma dada coorte, os salários médiosaumentam a cada ano, isto sugere um efeito de período; contudo, simultaneamente,os salários estão aumentando para cada grupo etário, o que sugere um efeito de idade.Os dados são os mesmos, mas a interpretação é diferente, e não é possível verificarefeitos de coorte com base nestas informações. Dado que está evidente que há efeitosde idade (ciclo de vida) sobre os salários médios, as diferenças intracoortes confundemefeitos de idade e período, e as diferenças intercoortes confundem efeitos de idade ecoorte. É possível que o padrão dos salários seja completamente explicado por efeitosde idade e período e que não haja efeitos de coorte, tanto para as mulheres brancasquanto para as negras. A Tabela 1 e o Gráfico 4 mostram que as mulheres mais velhasem ambos os grupos foram mais bem-sucedidas do que as mulheres mais jovens emtermos do crescimento do salário real acumuladamente entre 1987 e 1999. Para cadagrupo etário, as mudanças para as mulheres brancas foram mais favoráveis do quepara os grupos correspondentes de mulheres negras.9 

 As informações contidas nas diagonais da Tabela 1 correspondem aos salários médiospara coortes de mulheres brancas e negras, específicos por grupo etário. Estes dados

em intervalos trienais permitem comparações entre frações de coortes de nascimentos

9 Há duas exceções: para o grupo etário 24-26 anos, o aumento salaria l é maior para as mulheres negras;e, para o grupo etário 33-35 anos, os aumentos salariais foram idênticos para os grupos.

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 Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira, Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto 213

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

entre 1934 e 1975. Os padrões mostrados, de melhor situação das mulheres brancas,confirmam as medidas de diferenciais salariais ao longo dos períodos mostradas an-teriormente. Efeitos de idade são notados tanto para as mulheres brancas quanto para

as negras, e são particularmente claros para as brancas.GRÁFICO 4 – SALÁRIOS/HORA REAIS DAS MULHERES, POR RAÇA E

GRUPO ETÁRIO, BRASIL URBANO, 1987-1999

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,53,0

3,5

4,0

4,5

5,0

       2       4   -       2       6

       2       7   -       2       9

       3       0   -       3       2

       3       3   -       3       5

       3       6   -       3       8

       3       9   -       4       1

       4       2   -       4       4

       4       5   -       4       7

       4       8   -       5       0

       5       1   -       5       3

       5       4   -       5       6

       5       7   -       5       9

       6       0   -       6       2

       6       3   -       6       5

Grupos de Idade

   S  a   l   á  r   i  o  s   /   H  o  r  a

   R  e  a   i  s

Brancas - 1987 Brancas - 1999 Negras - 1987 Negras - 1999

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

Razões salariais por raça para os grupos etários separados são mostradas na Tabela 2. As mulheres negras de todas as idades não conseguiram estreitar o hiato relativo àsmulheres brancas de mesma idade. Os hiatos permanecem maiores nos grupos etá-rios mais avançados e menores nos mais jovens. Olhando para as linhas para verificar

mudanças intercoortes, a grande maioria dos grupos etários apresenta um aumentodo hiato ao longo do tempo. Olhando para as diagonais para verificar mudançasintracoortes, todas as coortes parecem apresentar o mesmo padrão geral de crescentehiato ao longo do ciclo de vida. Não é óbvia a distinção de diferenças entre os padrõesdas coortes.

O Gráfico 5 ilustra as mudanças intercoortes entre 1987 e 1999. Parece claro queo hiato aumentou para os grupos de idades entre 36 e 56 anos, neste período.Isto sugere salários relativos declinantes para as mulheres negras entre as coortes.

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 214  Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

 Adicionalmente, salários relativos declinantes para as mulheres negras também sãoobservados dentro das coortes.

TABELA 2 – HIATO SALARIAL ENTRE AS MULHERES NEGRAS E BRANCAS, POR GRUPO ETÁRIO (COORTE), BRASIL URBANO, 1987-1999

1987 1990 1993 1996 1999

24-26   0,672   0,678 0,625 0,585 0,675

27-29 0,666   0,701   0,606 0,628 0,651

30-32 0,614 0,579   0,623   0,599 0,597

33-35 0,571 0,529 0,534   0,551   0,575

36-38 0,548 0,497 0,594 0,550   0,535

39-41 0,574 0,560 0,588 0,501 0,550

42-44 0,608 0,446 0,564 0,448 0,52845-47 0,577 0,472 0,521 0,463 0,504

48-50 0,578 0,469 0,471 0,503 0,498

51-53   0,527   0,482 0,505 0,566 0,481

54-56 0,530   0,420   0,513 0,587 0,509

57-59 0,562 0,539   0,467   0,583 0,505

60-62 0,413 0,456 0,428   0,540   0,533

63-65 0,395 0,533 0,362 0,548   0,410

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

GRÁFICO 5 – HIATO SALARIAL ENTRE AS MULHERES NEGRAS E BRANCAS, POR IDADE, BRASIL URBANO, 1987-1999

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

       2       4   -       2       6

       2       7   -       2       9

       3       0   -       3       2

       3       3   -       3       5

       3       6   -       3       8

       3       9   -       4       1

       4       2   -       4       4

       4       5   -       4       7

       4       8   -       5       0

       5       1   -       5       3

       5       4   -       5       6

       5       7   -       5       9

       6       0   -       6       2

       6       3   -       6       5

Grupos de Idade

   R  a  z   ã  o   S  a   l   á  r   i  o  s   N

  e  g  r  a  s   /   B  r  a  n  c  a  s

1987

1999

  Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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Desta forma, salários relativos declinantes para as mulheres negras foram observadostanto dentro quanto entre as coortes. A Tabela 3 pretende contribuir para a discussãodeste ponto, comparando as mudanças nos salários reais inter e intracoortes segundo

a raça. Seria de se esperar que a comparação das mudanças intra e intercoortes dossalários reais entre as mulheres negras e brancas revelasse diferenças consideráveis nasmudanças salariais intracoortes segundo a raça, mas relativamente pouca diferença nasmudanças intercoortes. Isto porque as diferenças salariais entre as mulheres brancase negras são mais acentuadas ao longo do ciclo de vida para todas as coortes do queentre as próprias coortes. Sinais negativos nas colunas das diferenças são indicativosde que a mudança para as mulheres brancas é algebricamente maior (mais positiva oumenos negativa) do que para as negras.

Olhando para os resultados mostrados na Tabela 3, as comparações intra e intercoortesindicam um crescente hiato entre os grupos. Os resultados para as mulheres brancassão mais fortes neste sentido, indicando que as mudanças intracoortes são maiores doque as correspondentes mudanças intercoortes. É possível observar que as mudançasintracoortes exibem um padrão inverso de mudanças em relação às mudanças inter-coortes; assim, há uma forte evidência de que as tendências específicas por idade sãomais relevantes do que as tendências de coorte. A predominância de sinais negativosnas colunas das diferenças corrobora a pior situação das mulheres negras. Todavia,a situação parece melhor para as coortes mais jovens, como indicado pelos menores valores negativos das diferenças intercoortes para os grupos de idade entre 27 e 41anos, e até por um valor positivo para o grupo de 24 a 26 anos de idade.

TABELA 3 – DIFERENÇAS ENTRE AS MUDANÇAS INTRA E INTERCOORTES DOS SALÁRIOS REAIS, SEGUNDO A R AÇA DAS MULHER ES, BR ASIL URBANO, 1987-1999

Grupo Etário Intracoortes Intercoortes Diferença Negras-Brancas

em 1987 Brancas Negras Brancas Negras Intracoortes Intercoortes24-26 2,53 2,02 1,03 1,04 -51,40% 0,52%

27-29 1,87 1,54 0,94 0,92 -32,25% -2,03%

30-32 1,52 1,31 0,97 0,94 -21,26% -2,67%

33-35 1,16 1,02 0,90 0,90 -13,68% 0,61%

36-38 1,11 1,01 0,87 0,85 -10,22% -2,04%

39-41 1,08 0,90 0,96 0,92 -17,55% -3,89%

42-44 1,04 0,87 1,01 0,88 -16,97% -13,34%

45-47 1,02 0,90 1,00 0,88 -12,78% -12,71%

48-50 1,03 0,95 1,22 1,05 -8,05% -16,91%

51-53 1,16 0,90 1,24 1,13 -25,72% -10,94%Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 216  Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

1.2 Distribuição Salarial

O hiato salarial médio entre as mulheres brancas e negras permaneceu estável ao longodas décadas de 1980 e 1990. Um retrato mais abrangente emerge se a distribuiçãocompleta dos salários das mulheres negras relativa à das mulheres brancas é analisada.Isto é apresentado como uma série de décimos relativos na Tabela 4. A distribuiçãorelativa é essencialmente uma razão de densidade rescalonada: a razão entre a proba-bilidade das mulheres negras e brancas de estarem situadas em cada nível da escala desalários. (Handcock and Morris, 1999). Na prática, ao salário de cada mulher negraé atribuída a posição em que estaria na distribuição salarial das mulheres brancasnaquele ano. Cada célula representa a fração de mulheres negras situada em cadadécimo da escala de salários das mulheres brancas ao longo do tempo. Se as distri-

buições salariais das mulheres brancas e negras fossem iguais, os décimos relativosassumiriam um valor uniforme de 10% ao longo da escala de salários, porque 10%das mulheres negras estariam situadas em cada décimo das mulheres brancas. Nestecaso, a distribuição relativa está longe de ser uniforme: a maior parte da massa nadistribuição das mulheres negras está concentrada no extremo inferior da distribuiçãodas mulheres brancas, e isto muda muito pouco entre 1987 e 1999. Um quarto dasmulheres negras está no décimo inferior da distribuição das mulheres brancas, e maisde 70% ganhavam menos do que a mulher branca mediana. A persistente ausência demulheres negras no extremo superior da distribuição salarial das mulheres brancasé igualmente impressionante: menos de 3% das mulheres negras se situa no décimosuperior. A distribuição relativa torna claro que não houve uma reversão da desigual-dade racial entre as mulheres ao longo dos anos.

Refinando a análise, as tendências dos salários nos percentis da distribuição de sa-lários são analisadas. Esta análise permite verificar, dado que uma mulher está situ-ada em um percentil da distribuição, quanto seus rendimentos aumentaram (razão1999/1987). O Gráfico 6 mostra o crescimento dos salários das mulheres brancas e

negras em cada percentil da distribuição entre 1987 e 1999. As mulheres de ambosos grupos nos percentis inferiores (até cerca do 25º) tiveram um ganho real maior doque o das mulheres nos percentis intermediários e superiores, as quais apresentaramuma pequena variação. Isto é importante para a diminuição da desigualdade dentrode cada grupo racial. É possível visualizar que os salários por percentil aumentarammais para as mulheres negras do que para as brancas, sobretudo nos percentis in-feriores. Por outro lado, nos dez percentis superiores, os aumentos dos salários dasmulheres negras foram bem menores.10 Isto leva a um padrão de convergência entreas mulheres negras, mas mantém a divergência entre as raças. O Gráfico 7 mostra as

razões salariais entre as mulheres negras e brancas para 1987 e 1999. Confirma-se

10 Na média do decil superior de cada distribuição, o ganho relativo das mulheres brancas foi de 6% entre1987 e 1999, enquanto para as mulheres negras a perda relativa foi de –2%.

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 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

que as mulheres brancas tiveram ganhos relativos mais baixos ao longo do períodonos percentis inferiores, mas mais elevados em outros pontos da distribuição: do 25ºao 40º e acima do 90º percentil. Isto se reflete em uma diminuição do hiato salarial

nos percentis inferiores, uma flutuação nos intermediários, e um aumento do hiatonos percentis superiores.

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS SALÁRIOS DAS MULHERES NEGR AS E BR ANCAS, BR ASIL URBANO, 1987-1999

Décimos 1987 1999

1 23,4% 25,0%

2 15,7% 15,5%

3 12,7% 12,7%

4 11,6% 10,1%5 9,8% 9,2%

6 7,6% 8,3%

7 7,8% 6,9%

8 4,3% 6,3%

9 4,0% 3,6%

10 2,9% 2,4%

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

GRÁFICO 6 – VARIAÇÃO 1999/1987 DOS SALÁRIOS/HORA REAIS DAS MULHERES AO LONGO DAS DISTRIBUIÇÕES SALARIAIS POR RAÇA, BRASIL URBANO

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

      P_

      1

      P_

      5

      P_

      9

      P_

      1      3

      P_

      1      7

      P_

      2      1

      P_

      2      5

      P_

      2      9

      P_

      3      3

      P_

      3      7

      P_

      4      1

      P_

      4      5

      P_

      4      9

      P_

      5      3

      P_

      5      7

      P_

      6      1

      P_

      6      5

      P_

      6      9

      P_

      7      3

      P_

      7      7

      P_

      8      1

      P_

      8      5

      P_

      8      9

      P_

      9      3

      P_

      9      7

   R  a  z   ã  o   1   9   9   9   /   1

   9   8   7

Brancas

Negras

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 218  Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

GRÁFICO 7 – HIATO SALARIAL ENTRE AS MULHERES NEGRAS E BRANCAS, AO LONGO DA DISTR IBUIÇÃO SALARIAL, BRASILURBANO, 1987-1999

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

      P_

      1

      P_

      5

      P_

      9

      P_

      1      3

      P_

      1      7

      P_

      2      1

      P_

      2      5

      P_

      2      9

      P_

      3      3

      P_

      3      7

      P_

      4      1

      P_

      4      5

      P_

      4      9

      P_

      5      3

      P_

      5      7

      P_

      6      1

      P_

      6      5

      P_

      6      9

      P_

      7      3

      P_

      7      7

      P_

      8      1

      P_

      8      5

      P_

      8      9

      P_

      9      3

      P_

      9      7

   R

  a  z   ã  o   S  a   l   á  r   i  o  s   N  e  g  r  a  s   /   B  r  a  n  c  a  s

1987

1999

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

Os resultados acima indicam que as tendências da desigualdade salarial foram maispositivas entre as mulheres negras. Eles podem ser adicionalmente analisados usando

uma medida resumida da desigualdade, a razão 90º/10º, que é a razão entre os salá-rios médios das mulheres no 90º percentil da distribuição salarial e os das mulheresno 10º percentil, o que pode ser visto no Gráfico 8.

GRÁFICO 8 – DESIGUALDADE SALARIAL (90º/10º) ENTRE AS MULHERES,SEGUNDO A RAÇA, BRASIL URBANO, 1987-1999

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1987 1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

   9   0   º   /   1   0   º

Brancas

Negras

  Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira, Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto 219

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

Em 1987, esta razão era de 13,33 entre as mulheres brancas e 12,29 entre as negras.Em 1999, estes valores declinaram para 10,84 entre as mulheres brancas e 8,32 entreas negras. Portanto, houve uma redução da desigualdade entre as mulheres brancas,

e em maior medida entre as negras ao longo do tempo. Isto já era de se esperar dadoo maior aumento salarial das mulheres de ambas as raças nos percentis inferioresda distribuição salarial. Novamente, esta decrescente desigualdade não foi capaz dereverter as tendências da desigualdade entre as raças. Desta forma, ao contrário dastendências evidenciadas para o caso dos Estados Unidos (Blau e Beller, 1992; Juhn et

 al., 1991, 1993), a persistência do hiato entre as mulheres brancas e negras no Brasilocorreu em um ambiente de decrescente desigualdade salarial dentro de cada grupo.Se a explicação para esta tendência fosse a mesma dada por Blau e Beller (1992) e Juhn  et al. (1991, 1993) para os Estados Unidos, estaria associada a uma diminuição

nos retornos à qualificação. Isto parece paradoxal, dado que seria de se esperar umdeslocamento da demanda relativa por trabalhadores altamente qualificados, o queaumentaria os retornos de qualificação.

1.3 Educação

Os indicadores de mercado de trabalho são fortemente afetados por diferenças educa-cionais entre os trabalhadores. Os níveis de escolaridade são um determinante-chave

das oportunidades salariais. Mudanças relativas das diferenças de escolaridade entre asraças são particularmente importantes quando são examinados os diferenciais salariaispor raça, dado que as mulheres negras continuam a apresentar um nível de escola-ridade mais baixo do que o das mulheres brancas. Estes investimentos diferenciaisem educação podem estar refletindo uma discriminação pré-mercado; há evidênciasde que os negros recebem uma educação pública mais fraca e tendem a abandonar aescola mais cedo. Comparados às mulheres brancas, as negras tendem a ter enfrentadomaiores restrições à educação, mas os diferenciais parecem estar declinando ao longo

do tempo. A Tabela 5 mostra que os níveis educacionais das mulheres negras se moveram emdireção aos níveis das brancas, mas ainda permanecem relativamente baixos, e grandesdisparidades raciais persistem entre todas as coortes.11 Entre os trabalhadores mais jovens, as diferenças nos anos médios de estudo entre as mulheres brancas e negrassão bem menores do que entre as mulheres mais velhas. A convergência dos níveiseducacionais entre as coortes levanta a hipótese de uma prospectiva convergência dossalários.

11 Os dados de coortes refletem a experiência educacional média de todos os indivíduos ao longo de todoo período estudado.

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TABELA 5 – ANOS MÉDIOS DE ESTUDO POR RAÇA E O HIATO ENTRE NEGR AS E BRANCAS, PARA COORTES DE MULHERES, BRASILURBANO

Coortes Brancas Negras Razão Negras/Brancas1973-75 9,18 7,28 0,7931970-72 8,68 7,02 0,8081967-69 8,43 6,65 0,7891964-66 8,50 6,66 0,7831961-63 8,22 6,41 0,7791958-60 8,18 6,05 0,7401955-57 7,93 5,86 0,7381952-54 7,42 5,35 0,7201949-51 6,99 4,84 0,692

1946-48 6,32 4,25 0,6721943-45 5,87 3,69 0,6291940-42 5,46 3,45 0,6311937-39 5,23 3,18 0,6081934-36 4,89 2,94 0,601

  Fonte: Elaboração própria, a part ir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

Examinando a composição educacional da força de trabalho feminina branca e negrana Tabela 6, a parcela da população com menos de 8 anos de estudo reduziu-se acentu-

adamente em ambos os grupos. Entre as mulheres brancas, aproximadamente metadeda força de trabalho tinha mais de 11 anos de estudo em 1999, o que representa umenorme avanço em relação aos 35% em 1987. Entre as mulheres negras, esta parcelatambém se ampliou, mas em 1999 alcançou somente cerca de um quarto da força detrabalho. Na medida em que fatores composicionais são importantes, seu impacto éuma questão empírica.

TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DAS MULHERES E SALÁRIOS MÉDIOS POR RAÇA E NÍ VEL EDUCACIONAL, E HIATO SALARIAL ENTR E

 NEGR AS E BR ANCAS POR NÍVEL EDUC ACIONAL, BR ASILURBANO, 1987-1999

Anos Distribuição (%) Salários Médios   Razão Salarial

de   Brancas Negras Brancas Negras   Negras/Brancas

Estudo 1987 1999 1987 1999 1987 1999 1987 1999 1987 1999

0-3 18,0 10,4 35,8 23,5 1,084 1,401 0,836 0,970 0,771 0,692

4-7 31,2 25,1 34,4 32,0 1,434 1,563 1,098 1,170 0,766 0,748

8-10 15,4 17,7 13,2 17,1 2,212 1,973 1,684 1,460 0,761 0,740

11-14 24,1 31,7 13,8 22,9 3,999 3,483 3,111 2,371 0,778 0,68115-+ 11,3 15,2 2,8 4,6 8,672 9,121 8,187 6,887 0,944 0,755

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 A Tabela 6 também mostra que as mulheres menos escolarizadas (0-7 anos de estudo)tiveram maiores ganhos do que as mulheres mais escolarizadas (exceto as mulheresbrancas no grupo superior) em termos de crescimento acumulado do salário real

entre 1987 e 1999. Em todos os grupos educacionais, as tendências para as mulheresbrancas foram mais favoráveis do que para o grupo de mulheres negras correspon-dentes. As razões salariais entre as mulheres negras e brancas específicas por grupoeducacional também são exibidas na Tabela 6. Estes dados mostram que as mulheresnegras de todos os grupos educacionais, em adição a todos os grupos etários, nãoconseguiram reduzir o hiato relativo a seus pares brancos, mas as perdas relativasforam muito diferentes em magnitude para os grupos: o aumento do hiato foi maiorentre as mais escolarizadas.

1.4 Tendências de Outros Determinantes dos Diferenciais Salariais

(a) Background Familiar: a incidência de famílias chefiadas por mulheres solteirascom filhos entre as mulheres negras estava acima de 20% em 1987 e aumentou 3,3pontos porcentuais em 1999. Este aumento foi similar ao das mulheres brancas(3,8 pontos porcentuais), mas estas se situavam em 14% em 1987. Estes aumentossignificam que cresce o segmento da população feminina cujo bem-estar econômicodepende dos seus níveis salariais. Em 1987 e 1999, os salários das mulheres negras

nestas famílias chefiadas por mulheres são os mais baixos, e correspondem a cercade metade dos salários das mulheres brancas neste tipo de família. Principalmenteentre as mulheres negras isto é muito preocupante, tendo em vista que, comparadasàs brancas, elas tendem mais a pertencer a famílias com recursos limitados. Em1999, 6% das mulheres brancas e 16% das negras estavam no décimo inferior dadistribuição de renda familiar. No décimo superior desta distribuição, a fração demulheres brancas era 15%, enquanto a de negras era somente 3%.

(b) Região: a proporção de mulheres negras no Nordeste é aproximadamente o dobrodas outras regiões. Na medida em que os mercados de trabalho locais diferem, e aforça de trabalho é pouco móvel no curto prazo, diferenças na localização regionalsão determinantes dos resultados do mercado de trabalho. Quanto aos salários mé-dios por região, há uma clara hierarquia entre as regiões. Os salários das mulheresbrancas são sempre mais elevados no Sudeste, o que se observa para as negras em1999. O hiato salarial entre negras e brancas é menor no Nordeste; em ambas asregiões este hiato tendeu a declinar ao longo do tempo.

(c) Demanda de Qualificação das Ocupações: com o propósito de investigar dife-renças por raça na estrutura ocupacional, o espectro ocupacional foi dividido emgrupos, de acordo com a demanda por qualificação de cada ocupação: alta, média,

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baixa e trabalho doméstico.12 Esta última categoria foi separada do nível baixodevido à sua magnitude e baixos salários, sobretudo entre as mulheres negras. Asdiferenças ocupacionais por raça são grandes: as mulheres negras estão muito mais

concentradas nas ocupações menos qualificadas, que remuneram pior, mas ondeo hiato salarial por raça é menor em 1999. Para as mulheres brancas e negras, ossalários médios por categoria ocupacional revelam uma clara hierarquia, que ten-de a suavizar ao longo do tempo. Enquanto em 1987 o hiato era mais baixo nasocupações mais qualificadas, o oposto foi observado em 1999.

(d) Grau de Feminização das Ocupações: visando a explorar mais as diferenças porraça na estrutura ocupacional, o espectro das ocupações foi redividido de acordocom o grau de feminização de cada uma: femininas, integradas e masculinas.13 A

razão para considerar diferenças de gênero nas distribuições ocupacionais é a suaassociação com os níveis salariais. A proporção de mulheres em uma ocupação énegativamente associada com seus salários. (Oliveira, 2001). Portanto, se as mu-lheres negras estão mais concentradas em ocupações femininas, elas provavelmenteserão mais prejudicadas. As diferenças ocupacionais por raça segundo esta tipologiasão significativas e tenderam a aumentar ao longo do tempo: as mulheres negras seinserem mais em ocupações femininas, nas quais os salários são mais baixos, masonde o hiato é menor e apresenta uma tendência descendente ao longo do tempo.O hiato salarial entre as mulheres negras e brancas é maior nas ocupações integra-das e masculinas, nas quais apresenta uma tendência ascendente. Novamente ossalários médios por categoria revelam uma hierarquia, que diminuiu pouco entre1987 e 1999.

(e) Setor de Atividade: para examinar diferenças por raça na estrutura setorial, umaclassificação foi construída tentando captar a heterogeneidade no setor industrial –moderno e tradicional14 – e no setor de serviços – distributivos, produtivos, sociais

12 A demanda por qualificação das ocupações se relaciona ao nível de instrução média necessária ao seudesempenho combinado às diferentes formas de inserção na produção. Por exemplo, empregadores,trabalhadores em ocupações técnicas, científ icas e profissionais, juntamente com gerentes e supervisores,compõem a categoria “alta”.

13 Esta tipologia usa as porcentagens de mulheres e homens em uma ocupação como base para a classi-ficação. Propõe-se um intervalo central em torno da proporção feminina média na força de trabalho,definindo o que constitui uma ocupação integrada, predominantemente feminina ou masculina. Asocupações integradas são definidas como aquelas localizadas em um intervalo em torno da razão desexo da força de trabalho como um todo, no caso, no intervalo de 20 pontos porcentuais em torno daparticipação feminina na força de trabalho para cada ano ao longo do período estudado. As ocupaçõesem cada lado da categoria média são predominantemente femininas ou masculinas; as femininas sãoaquelas que têm uma proporção de mulheres acima do limite superior do intervalo def inido em torno

da média e as masculinas são aquelas que têm uma proporção de mulheres abaixo do limite inferiordo intervalo.14 Incluem-se no setor industrial moderno as indústrias metalúrgicas, mecânicas, de material elétrico e

eletrônico, de papel e papelão, de borracha, químicas, de produção de petróleo, farmacêuticas e deprodutos plásticos. No setor industrial tradicional, estão incluídas as indústrias de transformação de

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e pessoais.15 As mulheres brancas e negras tendem a estar concentradas nos servi-ços, especialmente pessoais, onde os salários são mais baixos e o hiato é menor. Asmulheres brancas estão mais uniformemente distribuídas entre os setores.

(f) Setor Informal: a segmentação do mercado de trabalho urbano no Brasil podeser indicada pela divisão entre um setor formal, constituído por empregados comcarteira assinada e empregadores, e um informal, composto por empregados semcarteira assinada e trabalhadores por conta própria. Comparadas às mulheres bran-cas, as negras estão mais concentradas no setor informal: cerca de 60% delas estãoocupadas neste setor. Aumentos na proporção informal prevaleceram em ambos osgrupos raciais, e isto também é preocupante, dado que os salários neste setor sãoextremamente baixos quando comparados ao setor formal e o hiato salarial entre

as raças é maior.

(g) Trabalho em Tempo Parcial: com o propósito de considerar a questão da flexibi-lidade do trabalho em termos da sua jornada, as mulheres negras e brancas foramdivididas entre trabalhadoras em tempo parcial – 30 horas ou menos por semana– e em tempo integral – mais de 30 horas por semana. As mulheres de ambas asraças estão concentradas no trabalho em tempo integral, e isto parece estar dimi-nuindo entre as mulheres negras. Considerando que os salários das trabalhadorasem tempo integral são mais baixos do que os daquelas em tempo parcial, isto po-

deria ser benéfico para as negras. O hiato salarial por raça é similar entre os gruposde horas trabalhadas.

 A descrição destes aspectos da inserção diferencial das mulheres no mercado de tra-balho visa a subsidiar as hipóteses sobre a direção e a magnitude dos determinantesdos diferenciais salariais por raça, a serem incluídos na análise multivariada. Assim,os diferenciais salariais controlados pela idade, pelo período, pela coorte, pelo nível deescolaridade, pela região, pelo  background familiar e pela inserção ocupacional entre

as mulheres brancas e negras parecem ser extremamente relevantes. 2. METODOLOGIAS PARA DECOMPOR O HI ATO SALARIAL POR RAÇA

Uma maneira de explorar o hiato dos salários por raça é por meio de uma série demodelos simples de determinação salarial. Assume-se que os salários para uma mulheri podem ser escritos como:

materiais não metálicos, de madeira, de artigos de papel, de mobiliário, têxteis, do vestuário, de calça-dos, de produtos alimentícios, de bebidas, de fumo e editoriais e gráf icas.

15 Compõem a categoria dos serviços distributivos, os serviços de comércio, transporte e comunicação; osserviços produtivos são constituídos pelos serviços técnico-profissionais, serviços de diversões, radiofu-são e televisão, serviços industriais de utilidade pública e serviços auxiliares das atividades econômicas;os serviços sociais incluem os serviços comunitários, os serviços médicos e de ensino; e os serviçospessoais agregam os serviços de alojamento e al imentação, reparação e conservação e domiciliares.

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  log(Wi) = β 1Xi + β 2tR i + υ i  (1)

onde W representa o salário de uma mulher, X é um conjunto de variáveis de con-

trole individuais tais como características pessoais e ocupacionais, e R é uma variável dummy para raça (1=negras vs. 0=brancas). Esta expressão configura uma relaçãolog-linear entre o logaritmo do salário e os atributos produtivos X, tais como idade eeducação, que exercem uma forte inf luência sobre a produtividade dos trabalhadores.Este vetor de características também inclui informações sobre os atributos da inserçãoocupacional do trabalhador, tais como setor de atividade, região de residência e traba-lho formal. Nesta equação, os coeficientes β  são interpretados como o preço implícitode cada atributo que aumenta a produtividade do trabalhador. Se não há discriminaçãoracial no mercado de trabalho, os preços implícitos destes atributos seriam os mesmos

para todas as mulheres. Caso contrário, alguns atributos seriam menos recompensadosse as mulheres não fossem brancas, por exemplo. Isto significa que a discriminaçãopode assumir diferentes formas, prejudicando um ou mais atributos produtivos, sóporque as mulheres negras os possuem. A inclusão de uma variável  dummy para araça pretende avaliar a discriminação média, dado que o montante de cada atributoé controlado na estimação dos coeficientes. Portanto, R indica a identidade de raça eseu coeficiente indica a discriminação enfrentada pelo grupo racial.

 Ao usar dados longitudinais para estimar os efeitos de idade, período e coorte nasequações de rendimentos individuais pressupõe-se que a função de rendimentos doindivíduo i depende da idade ai, ano t, coorte ci e nível de escolaridade ei (omitindo asoutras covariáveis para facilitar a exposição). Vamos adotar uma função linear:

  Wi(t, ai, ci, ei) = β 0 + β 1ai + β 2t + β 3ei + β 4ci  (2)

onde W é uma transformação monotônica dos rendimentos. Todas as variáveis nestaequação podem ser consideradas como proxies para variáveis subjacentes não observa-

das, as quais não são linearmente dependentes. Como mencionado anteriormente, aidade (ai) pode ser um determinante direto dos rendimentos por meio da experiênciade trabalho e treinamento. Os efeitos de período (t) são proxies para variáveis macroe-conômicas ou variáveis gerais do mercado de trabalho que afetam a força de trabalhocomo um todo e determinam os rendimentos individuais. A escolaridade (e i) é uma

 proxy para habilidade e produtividade, atuando positivamente sobre os rendimentos. Ea variável de coorte (ci) representa vários fenômenos específicos de coorte, refletindomudanças permanentes na composição da população. Estes argumentos justificam alista de variáveis incluídas na equação, mas não necessariamente a forma funcional

da equação. Não é possível estimar todos os coeficientes da equação sem restriçõesadicionais devido às interdependências conceituais entre as variáveis: t = a i + ci. Aestimação direta da equação por mínimos quadrados é impossível devido à multico-

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linearidade entre as variáveis. A maneira pela qual são definidas as variáveis de idade,período e coorte obedece a relações lineares exatas entre elas. Isto significa que não épossível afirmar que as variáveis do lado direito variem independentemente; assim, a

equação não é identificada. O problema de identificação implica que a questão centrala ser considerada é se dados longitudinais podem ser usados para identificar parâme-tros adicionais na equação 2 e que podem ser identif icados a partir de pesquisas  cross-

 section. Esta discussão sobre identificação se aplica tanto se as variáveis são medidascomo contínuas quanto como categóricas, e não há solução sem restrições adicionais. Modelos com interações de ordem mais alta também têm problemas de dependênciaslineares, e nem todos os coeficientes podem ser estimados.

Para implementar este modelo foi preciso decidir como rotular as coortes. Neste

artigo, para os efeitos de período, já que não há um padrão óbvio  a priori, variáveis dummy foram utilizadas, mas efeitos de idade puderam razoavelmente ser modeladoscomo polinômios da idade. Tendo em vista que os dados são abundantes, não houverazão para não usar variáveis dummy para representar os efeitos de coorte, permitin-do aos dados escolher qualquer padrão. O objetivo é detectar qualquer indicação dereversão futura da tendência observada de persistência dos diferenciais salariais porraça entre as mulheres. Se verificarmos uma variação positiva entre as coortes, entãopoderemos esperar um real progresso em direção a uma maior igualdade racial. Aestimação dos efeitos separados de idade, período, coorte, escolaridade e outras cova-riáveis na equação de rendimentos individuais requer, então, a utilização de estratégiaspara lidar com o problema de identificação. No caso, foram restritos os coeficientesdas coortes mais velhas a serem iguais.

Feitas estas colocações, são então adotados procedimentos padrões de estimação deregressões com e sem controles para características pessoais e ocupacionais. A escolhadas características produtivas a serem incluídas nas equações salariais é fundamental.O panorama descrito acima acerca das diferenças no mercado de trabalho entre as

mulheres brancas e negras subsidiou esta escolha. As regressões que não controlampor estas variáveis subestimam a importância destas características sobre os resultadosde mercado de trabalho. Por outro lado, as regressões que controlam inteiramente porestas variáveis subestimam os efeitos das restrições do mercado de trabalho. Diferençasnas características ocupacionais entre os empregos das mulheres brancas e negras – taiscomo setor de atividade, trabalho em tempo parcial etc. – podem ser consideradascomo restrições que as mulheres negras encontram no mercado de trabalho. Foi mos-trado acima que há diferenças relevantes na distribuição ocupacional das mulheressegundo a raça; tais diferenças implicam grandes diferenciais nas características das

ocupações das mulheres brancas e negras. Estes diferenciais podem explicar uma partedo hiato salarial entre elas. Neste sentido, o efeito da localização ocupacional sobre ohiato por raça é uma questão-chave.

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Em seguida, é feita uma abordagem padrão para explorar o hiato salarial entre os gru-pos raciais, decompondo-o em componentes “explicados” e “não explicados”. Assume-se que o salário para uma mulher branca (grupo 1) pode ser escrito como

  log(W1i) = β 1X1i + υ 1i  (3)

e o salário para uma mulher negra pode ser escrito como:

  log(W2j) = β 2X2j + υ 2j  (4)

onde β 1 e β 2 são definidos tal que E(υ 1i|X 1i)=0 and E(υ 2j|X 2j)=0. A diferença entre ossalários médios pode ser escrita como:

  W1 - W2 = (X1 - X2)β 1 + (β 1 - β 2)X2  (5)

onde W g e X g  representam os salários médios e as características de controle paratodos os indivíduos no grupo g. O primeiro termo desta decomposição representa ocomponente explicado, devido a diferenças médias nas características produtivas dasmulheres brancas e negras. Ele indica o hiato racial previsto usando o grupo 1 – mu-lheres brancas – como referência.16 O segundo termo é o componente não explicadoe representa diferenças nos coeficientes estimados, ou seja, diferenças nos retornos a

características similares entre as mulheres brancas e negras. A parte do hiato salarialtotal devida a este componente capta os efeitos da discriminação e das diferenças nãoobservadas entre os grupos.17  

 Altonji e Blank (1998) apontam que uma desvantagem desta decomposição é que elanão fornece muita indicação sobre como o hiato salarial é afetado pela distribuição sa-larial geral (o que ocorre quando os retornos à qualificação são diferentes). Aumentosna dispersão dos salários aumentariam o hiato entre os salários médios das mulheresbrancas e negras, mesmo que estas mudanças não tenham efeito sobre a localizaçãodas distribuições dos dois grupos. Para analisar o efeito da distribuição dos saláriossobre o hiato salarial entre as mulheres brancas e negras, a técnica de decomposi-ção acima foi aplicada a diferentes percentis da distribuição salarial das mulheres.Estimativas dos coeficientes foram obtidas a partir de regressões quantílicas para o10º, 50º (mediana) e 90º percentis das distribuições salariais das mulheres brancase negras.

16 Vale ressaltar que este componente pode ser afetado por barreiras discriminatórias no mercado detrabalho ou fora dele, que afetam os Xs, as características dos indivíduos no mercado de trabalho.

17 Dado que variáveis de controle potencialmente importantes são omitidas e correlacionadas com os Xsincluídos, afetando os coef icientes β .

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 A regressão quantí lica, assim como a regressão linear, se refere à distribuição dossalários condicional ao vetor de covariáveis. Na regressão linear, assume-se que umacaracterística desta distribuição, a média, é uma função linear das covariáveis. A

regressão quantílica é útil quando, ao invés da média, se quer trabalhar com a me-diana, e assumir que as medianas dos salários condicionais às covariáveis são linearesnestas covariáveis, ou ajustar uma função linear às medianas (regressão mediana ouregressão quantílica em 0.5). Em princípio, é possível fazer o mesmo para qualqueroutro quantil da distribuição. Verificando diferentes regressões quantílicas é possí- vel explorar diferentes partes da distribuição condicional. Na relação entre saláriose escolaridade, por exemplo, a um dado nível de escolaridade, há uma distribuição(condicional) de salários, presumivelmente refletindo habilidade e outras qualificaçõespara o mercado de trabalho não observadas. Em geral, não há razão para exigir que a

taxa de retorno a um ano adicional de escolaridade seja o mesmo em todos os pontosda distribuição de qualificação condicional na escolaridade, e a regressão quantílicacapta estas diferenças. Usada desta maneira, a regressão quantílica é uma técnicasemiparamétrica que descreve a forma da distribuição empírica sem impor restriçõesanteriores, mas impondo uma forma funcional linear para os parâmetros do modelo.Se a distribuição condicional muda a forma com uma ou mais variáveis explicativas,as regressões quantílicas nos diferentes quantis têm diferentes inclinações. (Deaton,1995). A estimação das regressões quantílicas baseia-se em extensões do resultado de

que a mediana é o ponto mais próximo aos dados no sentido de minimizar a somados desvios absolutos. Os parâmetros da regressão linear mediana são dados como o valor do vetor β  que minimiza18 

( )' ' '

1 1

0.5 1( ) ( )n n

i i i i i ii i

 y x y x y x= =

− β = − ≥ β − β  ∑ ∑   (6)

 3. ESTIMANDO MODELOS DE DETERMINAÇÃO SALARIAL

 Nesta seção, os hiatos salariais por raça entre as mulheres são explorados por meio deuma série de modelos de determinação salarial, buscando estimar como os diferenciaisdos salários se relacionam a diferenças em características e diferenças no tratamento domercado de trabalho, dadas as características. Como mencionado acima, as regressõessalariais foram estimadas usando os dados a partir das pesquisas cross sections repetidas. As características pessoais incluídas foram: anos de estudo, idade e idade ao quadrado, dummies para chefia do domicílio (chefe=1), presença de filhos menores de 6 anos

18 O estimador dos outros quantis pode ser calculado por meio da minimização de uma generalização

desta expressão: ( )' '

1

arg min 1( ) ( )n

i i i i

i

 p y x y x=

β = − ≥ β − β  ∑ . Apesar destas expressões não permitirem so-

luções explícitas, os parâmetros podem ser obtidos mediante métodos de programação linear.

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(sim=1), regiões (Sudeste, Nordeste e outras) e residência em uma área metropolitana(sim=1). As variáveis ocupacionais são dummies para jornada de trabalho (tempo in-tegral=1), segmento (informal=1), setores de atividade (9), categorias da tipologia de

integração das ocupações (masculinas, integradas, feminina) e categorias do nível dequalificação das ocupações (alto, médio, baixo, trabalho doméstico). Além disto,  dum- mies para anos e coortes foram incluídas para controlar seus efeitos nos dados acumu-lados das cross sections. A Tabela 7 mostra as diferenças nos coeficientes de raça entreas especificações das regressões com e sem controles. A primeira especificação é umaregressão do logaritmo dos salários/hora sobre a variável dummy de raça (negras=1),controlando somente pelos períodos. A segunda especif icação inclui controles porcaracterísticas pessoais. A terceira inclui controles adicionais pelas características ocu-pacionais. E a quarta especificação controla pelos efeitos das coortes.

 À medida que as características de controle são adicionadas ao modelo, o efeito negati- vo da raça sobre os salários torna-se menos significativo. A inclusão das característicaspessoais à regressão reduz muito a parcela não explicada do diferencial, ou seja, osefeitos negativos da raça são substancialmente menores, sugerindo que estas caracte-rísticas são muito diferentes entre as mulheres. Adicionando as variáveis ocupacionaisà regressão, diminui um pouco mais o efeito da variável de raça sobre os salários. As mulheres negras recebem salários/hora 34% mais baixos do que as brancas senenhuma variável de controle é incluída, 19% menos controlando por característicaspessoais e 14% menos quando o conjunto completo de variáveis de controle é incluído. Acrescentar o controle pelos efeitos de coorte não altera o efeito da variável de raça.Como esperado, a partir das evidências descritivas, os diferenciais entre as coortes nãosão estatisticamente significantes, controlando pelas outras variáveis. Os resultadosda Tabela 7 mostram que há diferenças significativas e persistentes no mercado detrabalho feminino, mesmo controlando pelas características ocupacionais. Os efeitosnegativos remanescentes enfrentados pelas mulheres negras indicam que há restriçõesnão explicadas aos seus retornos do mercado de trabalho.

Com o propósito de decompor o diferencial, considerando a heterogeneidade das mu-lheres segundo a raça, é feita a análise de se os retornos às características são os mes-mos para as brancas e negras, estimando equações de mínimos quadrados para cadaraça separadamente.19 Se os retornos são equivalentes, então a mudança na penalidadepor ser negra se deve à aquisição de diferentes níveis de características entre as raças. A Tabela 8 usa o procedimento de decomposição mostrado na equação 4 para decomporo hiato do logaritmo dos salários/hora entre as mulheres brancas e negras.

19 Os coeficientes destas regressões estão no anexo.

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TABELA 7 – COEFICIENTES DAS REGRESSÕES SALARIAIS POR RAÇA

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Raça -0,571 (0,005) * -0,171 (0,004) * -0,134 (0,004) * -0,134 (0,004) *

1996 0,061 (0,008) * 0,105 (0,006) * 0,083 (0,006) * 0,072 (0,008) *1993 -0,228 (0,008) * -0,125 (0,006) * -0,171 (0,006) * -0,191 (0,014) *

1990 -0,063 (0,008) * 0,051 (0,006) * -0,033 (0,006) * -0,059 (0,020) *

1987 -0,052 (0,009) * 0,125 (0,007) * 0,044 (0,006) * 0,013 (0,026)

Idade 0,054 (0,002) * 0,051 (0,002) * 0,034 (0,003) *

Idade2 -0,001 (0,000) * -0,001 (0,000) * 0,000 (0,000) *

Estado Conjugal 0,232 (0,0 06) * 0,205 (0,0 06) * 0,205 (0,0 06) *Filhos menos

6 anos-0,007 (0,005) -0,017 (0,005) * -0,016 (0,005) *

Chefe do Domicílio 0,172 (0,007) * 0,183 (0,006) * 0,183 (0,006) *

Anos de Estudo 0,139 (0,001) * 0,089 (0,001) * 0,088 (0,001) *

Área Metropolitana 0,164 (0,004) * 0,187 (0,004) * 0,187 (0,004) *Sudeste -0,006 (0,005) 0,003 (0,004) 0,003 (0,004)

Nordeste -0,324 (0,005) * -0,365 (0,005) * - 0,365 (0,005) *

Indústria Moderna 0,296 (0,017) * 0,296 (0,017) *

Indústria Tradicional 0,117 (0,013) * 0,117 (0,013) *

Serv. Distributivos 0,207 (0,012) * 0,207 (0,012) *

Serv. Produtivos 0,332 (0,013) * 0,332 (0,013) *

Serv. Pessoais 0,074 (0,012) * 0,075 (0,012) *

Serv. Sociais 0,098 (0,012) * 0,099 (0,012) *

Administr. Pública 0,277 (0,014) * 0,277 (0,014) *

Ocup. Alto Nível 0,657 (0,008) * 0,657 (0,008) *

Ocup. Médio Nível 0,295 (0,007) * 0,295 (0,007) *Trabalho Doméstico -0,080 (0,007) * -0,081 (0,007) *

Tempo Integral -0,376 (0,004) * -0,376 (0,004) *

Setor In formal -0,132 (0,005) * -0,131 (0,005) *

Ocupação Feminina -0,219 (0,007) * -0,219 (0,007) *OcupaçãoIntegrada

  -0,036 (0,008) * - 0,036 (0,008) *

Coorte 1973-75 -0,045 (0,093)

Coorte 1970-72 -0,022 (0,086)

Coorte 1967-69 0,003 (0,080)

Coorte 1964-66 0,011 (0,074)

Coorte 1961-63 0,019 (0,068)Coorte 1958-60 0,040 (0,062)

Coorte 1955-57 0,058 (0,056)

Coorte 1952-54 0,081 (0,051)

Coorte 1949-51 0,075 (0,045) ***

Coorte 1946-48 0,089 (0,039) **

Coorte 1943-45 0,063 (0,034) ***

Coorte 1940-42 0,053 (0,029) ***

Coorte 1937-39 0,034 (0,024)

Coorte 1934-36 0,034 (0,021)

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

 Nota: *** signif icante a 0,10, ** significante a 0,05, * signif icante a 0,01.

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 A Tabela 8 mostra o hiato total dos salários/hora entre os grupos raciais, e a decom-posição deste hiato em uma parcela devida a diferenças nas características – parteexplicada – e diferenças nos coeficientes – parte não explicada – para as especificaçõesdos modelos acima. Movendo da especificação parcial do modelo 2 para a especifica-ção completa do modelo 3, a parcela do hiato salarial explicada pelas característicasaumenta. Isto já era esperado, dado que as características ocupacionais estão maiscompletamente controladas. Fica claro que os diferenciais educacionais continuama afetar negativamente os salários das mulheres negras. Adicionalmente, os retornosde educação para as mulheres brancas são maiores do que para as negras. Diferentesretornos de idade também são responsáveis por uma grande parte das diferenças nãoexplicadas, o que aumenta à medida que são incluídas mais variáveis, inclusive as variáveis de coorte no modelo 4. Uma grande fração dos efeitos dos coef icientes sedeve a um termo de intercepto mais elevado para as mulheres negras, o que compensa

parcialmente os efeitos do hiato não explicado.

TABELA 8 – DECOMPOSIÇÃO DO HIATO SALARIAL POR RAÇAModelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Explic. Não Exp. Total Explic. Não Exp. Total Explic. Não Exp. Total

Intercepto -0,186 -0,186 -0,178 -0,178 -0,234 -0,2341996 0,001 -0,001 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,0001993 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,001 0,000 0,001 0,0021990 -0,001 0,009 0,008 0,000 0,011 0,011 0,000 0,011 0,0121987 0,001 0,002 0,003 0,000 0,005 0,005 0,000 0,005 0,005Idade -0,008 0,123 0,115 -0,008 0,242 0,234 -0,006 0,389 0,384Idade2 0,007 -0,022 -0,015 0,007 -0,066 -0,059 0,005 -0,141 -0,136Estado Conjugal 0,012 0,009 0,021 0,011 0,011 0,022 0,011 0,011 0,022Filhos - 6 anos 0,000 0,011 0,011 0,000 0,009 0,009 0,000 0,009 0,009Chefe Domicílio -0,012 0,008 -0,004 -0,013 0,005 -0,008 -0,013 0,005 -0,007Anos de Estudo 0,363 0,118 0,481 0,234 0,086 0,320 0,234 0,085 0,319Área Metropolit. 0,001 0,025 0,026 0,001 0,010 0,011 0,001 0,010 0,011Sudeste 0,004 0,039 0,043 0,003 0,025 0,028 0,003 0,025 0,029Nordeste 0,070 0,017 0,087 0,079 0,015 0,094 0,079 0,015 0,094Ind. Moderna 0,003 -0,002 0,001 0,003 -0,002 0,002Ind. Tradicional 0,001 -0,001 0,000 0,001 -0,001 0,000Serv. Distributivos 0,003 -0,016 -0,013 0,004 0,001 0,005Serv. Produtivos 0,014 -0,001 0,013 0,007 -0,006 0,001Serv. Pessoais 0,003 -0,006 -0,003 0,016 -0,003 0 ,012Serv. Sociais -0,010 -0,018 -0,028 -0,008 -0,012 -0,020Administr. Pública 0,003 0,001 0,004 0,001 -0,002 -0,002Ocup. Alto Nível 0,071 -0,004 0,067 0,031 0,002 0,033Ocup. Médio Nível 0,025 0,003 0,028 0,053 -0,012 0,040

Trab. Doméstico 0,009 0,000 0,009 -0,030 0,003 -0,027Tempo Integral -0,005 0,033 0,028 -0,001 -0,002 -0,003Setor Informal 0,012 0,048 0,060 0,043 0,026 0,069Ocup. Feminina 0,019 -0,078 -0,059 0,007 0,070 0,077Ocup. Integrada -0,001 -0,006 -0,007 -0,008 -0,017 -0,024Coorte 1973-75 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1970-72 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1967-69 0,000 -0,001 -0,001Coor te 19 64 -6 6 0,0 00 0,0 01 0,0 01Coorte 1961-63 0,000 -0,002 -0,002Coorte 1958-60 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1955-57 0,000 -0,002 -0,002Coorte 1952-54 0,000 -0,004 -0,004Coorte 1949-51 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1946-48 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1943-45 0,000 -0,001 -0,001

Coorte 1940-42 0,000 -0,001 -0,001Coorte 1937-39 0,000 0,000 -0,001Coor te 19 34 -3 6 0,0 00 0,0 00 0,0 00Diferença Total 0,438 0,154 0,599 0,462 0,129 0,599 0,435 0,220 0,599

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 Tentando encontrar pistas de como o hiato salarial entre as mulheres brancas e negrasé afetado pela distribuição salarial, a decomposição do diferencial em alguns percentisda distribuição é mostrada na Tabela 9. Estimativas dos coeficientes (em anexo) foram

obtidas a partir de regressões quantílicas para o 10º, 50º (mediana) e 90º percentisdas distribuições salarial das mulheres brancas e negras. Um padrão visível é que odiferencial aumenta à medida que se sobe na hierarquia dos salários. Em todos ospercentis, a parte explicada do hiato é muito mais forte do que a parte não explicada, eesta força torna-se ainda maior no décimo superior da distribuição. As diferenças nãoexplicadas dos coeficientes, que determinam os retornos das características pessoais eocupacionais, são similares entre os percentis.

TABELA 9 – DECOMPOSIÇÃO DO HIATO SALARIAL POR RAÇA

10º 50º (Mediana) 90º

Explic.   NãoExp.   Total Explic.   Não

Exp.   Total Explic.   NãoExp.   Total

Constante -0,132 -0,132 -0,311 -0,311 -0,174 -0,1741996 0,000 0,003 0,003 0,005 0,002 0,006 -0,003 - 0,001 -0,0051993 -0,032 0,013 -0,019 -0,002 -0,004 -0,006 0,001 0,002 0,0021990 0,005 0,022 0,027 0,000 0,007 0,007 0,000 0,010 0,0101987 0,001 0,013 0,014 -0,001 0,003 0,003 0,003 0,000 0,003Idade -0,030 0,030 0,000 -0,044 0,408 0,364 0,069 0,503 0,572Idade2 0,027 0,025 0,052 0,035 - 0,147 -0,112 -0,045 -0,184 -0,230

Estado Conjugal 0,005 0,012 0,016 0,005 0,020 0,024 0,006 0,013 0,019Filhos - 6 anos 0,001 0,010 0,011 0,000 0,008 0,008 0,000 0,006 0,006Chefe Domicílio -0,011 -0,003 -0,014 - 0,013 0,010 -0,004 -0,004 0,008 0,004Anos de Estudo 0,140 0,050 0,189 0,233 0,108 0,341 0,274 0,110 0,384Área Metropolit. -0,008 0,006 -0,002 -0,008 0,021 0,013 0,022 0,009 0,032Sudeste 0,003 0,004 0,007 0,003 0,021 0,025 0,002 0,020 0,022Nordeste 0,138 - 0,006 0,132 0,075 0,008 0,082 0,046 0,041 0,086Indústria Moderna 0,003 0,000 0,003 0,009 0,000 0,008 0,001 -0,005 -0,004Ind. Tradicional 0,010 0,001 0,011 0,003 0,000 0,004 0,000 -0,004 -0,004Serv. Distributivos 0,004 -0,006 -0,001 0,003 -0,015 -0,012 -0,004 -0,042 -0,046Serv. Produtivos 0,003 0,001 0,004 0,012 0,001 0,014 0,024 -0,020 0,004

Serv. Pessoais 0,006 0,000 0,007 0,006 -0,001 0,005 0,001 -0,069 -0,068Serv. Sociais - 0,010 0,009 -0,002 -0,017 -0,008 -0,025 -0,003 -0,031 - 0,035Administr. Pública 0,004 0,000 0,004 0,004 0,002 0,006 0,013 -0,006 0,006Ocup. Alto Nível 0,006 0,001 0,007 0,052 -0,002 0,050 0,203 -0,027 0,177Ocup. Médio Nível 0,011 0,001 0,012 0,066 0,001 0,067 -0,034 -0,004 -0,037Trab. Doméstico 0,002 0,002 0,003 0,011 0,004 0,015 0,010 0,000 0,010Tempo Integral -0,040 -0,006 -0,046 -0,043 0,030 -0,013 -0,023 0,049 0,025Setor Informal 0,100 0,093 0,194 0,019 0,037 0,056 - 0,015 0,033 0,018Ocup. Feminina 0,002 -0,035 - 0,033 0,017 -0,091 -0,074 0,064 -0,086 - 0,022Ocup. Integrada 0,000 0,004 0,004 -0,001 -0,003 -0,004 -0,004 -0,009 -0,013Total 0,340 0,111 0,451 0,429 0,108 0,537 0,602 0,139 0,741

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

Este artigo é uma tentativa de analisar as tendências da desigualdade salarial da força

de trabalho feminina no Brasil, por raça, durante os anos 1980 e 1990, um períodomarcado por decrescentes níveis de fecundidade e crescentes níveis de educação eparticipação feminina na força de trabalho. A hipótese de que o hiato salarial porraça é determinado por diferenças individuais e ocupacionais foi confirmada, mas ahipótese de crescentes retornos de qualificação e demanda por trabalho qualificado,resultando em divergência do crescimento salarial entre trabalhadores com alta e baixaqualif icação, não foi sustentada. O declínio da desigualdade dentro dos grupos raciaisnão resultou em um declínio da desigualdade salarial entre os grupos raciais.

Evidências de um status mais baixo no mercado de trabalho das mulheres negras emrelação às brancas foram mostradas em várias dimensões. Isto constitui um fardo extrapara as mulheres negras. A melhor posição econômica relativa das mulheres menosqualificadas (pela posição na distribuição salarial) levanta a possibilidade de que astendências reflitam mudanças na composição da categoria menos educada mais do quemudanças em suas oportunidades ou comportamentos.

É desapontador ver a estagnação do hiato salarial por raça entre as mulheres nos últi-mos anos e não detectar qualquer indicação de futura reversão desta tendência, dadoque as tendências das coortes não são significativamente diferentes, mesmo estandoconvergindo seus níveis educacionais. Todos os outros indicadores apontam para ofato de que diferentes padrões de características ocupacionais e diferentes retornosdestas características por raça são determinantes neste fracasso das mulheres negras emconverter os ganhos educacionais em ganhos salariais. Portanto, não é razoável inferirum progresso real em direção à igualdade racial. E assim é possível concluir como seinicia o artigo: no final dos anos 1990, mais de um século após a abolição formal daescravidão no Brasil, a situação das mulheres negras ainda se caracteriza por uma po-

sição desfavorecida no mercado de trabalho. Dadas a longa persistência desta situaçãoe a falta de evidências de uma reversão potencial, a discriminação deve ser consideradacomo um fator determinante dos diferenciais de raça no Brasil. Não somente a discri-minação, mas as barreiras a uma inserção justa no mercado de trabalho.

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 234   Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

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 ANEXO 1 – MÉDIAS DAS VARIÁVEIS

Brancas Negras Brancas Negras1996 0,182 0,192 Ocup. Alto Nível 0,181 0,0691993 0,195 0,197 Ocup. Médio Nível 0,285 0,2021990 0,222 0,216 Trab. Doméstico 0,117 0,2181987 0,241 0,243 Tempo Integral 0,679 0,665Idade 37,676 37,824 Setor Informal 0,401 0,523Idade2 1509,78 1523,35 Ocup. Feminina 0,687 0,762Estado Conjugal 0,628 0,575 Ocup. Integrada 0,196 0,166Filhos - 6 anos 0,284 0,318 Coorte 1973-75 0,025 0,026Chefe Domicílio 0,253 0,321 Coorte 1970-72 0,048 0,049Anos de Estudo 8,564 6,069 Coorte 1967-69 0,070 0,075Área Metropolit. 0,428 0,423 Coorte 1964-66 0,102 0,101Sudeste 0,576 0,429 Coorte 1961-63 0,120 0,117Nordeste 0,121 0,348 Coorte 1958-60 0,117 0,115Indústria Moderna 0,033 0,020 Coorte 1955-57 0,111 0,107Ind. Tradicional 0,082 0,067 Coorte 1952-54 0,097 0,095Serv. Distributivos 0,159 0,138 Coorte 1949-51 0,084 0,081Serv. Produtivos 0,099 0,055 Coorte 1946-48 0,065 0,063Serv. Pessoais 0,247 0,197 Coorte 1943-45 0,049 0,050Serv. Sociais 0,280 0,421 Coorte 1940-42 0,039 0,042Administr. Pública 0,065 0,055 Coorte 1937-39 0,027 0,030Log. Salário/Hora 0,753 0,154 Coorte 1934-36 0,020 0,021

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999.

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 Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira, Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto 235

 Est. econ., São Paulo, 36(2): 205-236, abr-jun 2006

 A NEXO 2 – COEFICIENTES DAS REGRESSÕES SALARIAIS POR RAÇA

Modelo 2   Modelo 3   Modelo 4Brancas Negras Brancas   Negras   Brancas Negras

Intercepto -2,112 -1,926 -1,361 -1,183 -1,051 * -0,817 *1996 0,104 * 0,107 * 0,083 * 0,083 * 0,072 * 0,073 *1993 -0,126 * -0,126 * -0,169 * -0,176 * -0,188 * -0,194 *1990 0,068 * 0,021 ** -0,010 -0,068 * - 0,034 -0,093 *1987 0,127 * 0,113 * 0,055 * 0,025 * 0,026 -0,004Idade 0,055 * 0,052 * 0,054 * 0,047 * 0,038 * 0,028 *Idade2 -0,001 * 0,000 * -0,001 * 0,000 * -0,000 * -0,000 *Estado Conjugal 0,237 * 0,221 * 0,212 * 0,193 * 0,213 * 0,193 *Filhos menos 6 anos 0,006 -0,028 * -0,005 -0,032 * -0,004 * -0,032 *Chefe do Domicílio 0,180 * 0,155 * 0,188 * 0,171 * 0,188 * 0,171 *Anos de Estudo 0,146 * 0,126 * 0,094 * 0,080 * 0,094 * 0,080 *

Área Metropolitana 0,192 * 0,132 * 0,197 * 0,174 * 0,197 * 0,174 *Sudeste 0,024 * -0,068 * 0,021 * -0,038 * 0,021 * -0,038 *Nordeste -0,307 * -0,356 * -0,348 * -0,390 * -0,347 * -0,390 *Indústria Moderna 0,259 * 0,340 * 0,259 * 0,338 *Indústria Tradicional 0,104 * 0,125 * 0,104 * 0,124 *Serv. Distributivos 0,155 * 0,272 * 0,156 * 0,272 *Serv. Produtivos 0,309 * 0,326 * 0,309 * 0,325 *Serv. Pessoais 0,054 * 0,084 * 0,055 * 0,084 *Serv. Sociais 0,075 * 0,118 * 0,075 * 0,118 *Administr. Pública 0,276 * 0,250 * 0,276 * 0,250 *Ocup. Alto Nível 0,632 * 0,694 * 0,632 * 0,693 *

Ocup. Médio Nível 0,303 * 0,289 * 0,303 * 0,289 *Trabalho Doméstico -0,085 * -0,083 * -0,086 * -0,083 *Tempo Integral -0,354 * -0,403 * -0,354 * -0,403 *Setor Informal -0,096 * -0,188 * -0,096 * -0,187 *Ocupação Feminina -0,255 * -0,153 * -0,256 * -0,154 *Ocupação Integrada -0,048 * -0,011 -0,048 * -0,011Coorte 1973-75 -0,048 -0,022Coorte 1970-72 -0,022 -0,007Coor te 1967-69 0,013 0,003Coor te 1964-66 0,010 0,027Coor te 1961-63 0,020 0,030

Coor te 1958-60 0,036 0,056Coor te 1955-57 0,041 0,087Coor te 1952-54 0,080 0,090Coor te 1949-51 0,070 0,088Coor te 1946-48 0,081 0,102 ***Coor te 1943-45 0,059 0,071Coorte 1940-42 0,048 0,063Coorte 1937-39 0,034 0,038Coorte 1934-36 0,035 0,036

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999. Nota: *** significantea 0,10, ** significante a 0,05, * significante a 0,01.

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 236  Tendências da Desigualdade Salarial para Coortes de Mulheres Brancas e Negras no Brasil

 ANEXO 3 – COEFICIENTES DAS REGRESSÕES SALARIAIS QUANTÍLICAS POR RAÇA

10º 50º 90º

Brancas Negras Brancas Negras Brancas NegrasConstante -1,666 * -1,533 * -1,381 * -1,070 * -0,778 * -0,603 *1996 0,029 * 0,013 0,066 * 0,057 * 0,125 * 0,131 *1993 -0,224 * -0,279 * -0,165 -0,145 * -0,111 * -0,1221990 -0,134 * -0,216 * -0,010 * -0,085 * 0,067 * 0,020 *1987 -0,013 -0,100 * 0,053 * 0,028 * 0,098 * 0,098 *Idade 0,041 * 0,041 * 0,053 * 0,042 * 0,062 * 0,048 *Idade2 0,000 * 0,000 * -0,001 * 0,000 * -0,001 * 0,000 *Estado Conjugal 0,175 * 0,155 * 0,204 * 0,171 * 0,221 * 0,200 *Filhos menos 6 anos -0,012 -0,039 * 0,000 -0,024 * 0,003 -0,014Chefe do Domicílio 0,139 * 0,146 * 0,172 * 0,143 * 0,213 * 0,185 *

Anos de Estudo 0,082 * 0,066 * 0,091 * 0,072 * 0,097 * 0,086 *Área Metropolitana 0,179 * 0,165 * 0,202 * 0,164 * 0,209 * 0,193 *Sudeste 0,017 ** -0,001 0,032 * -0,030 * 0,015 -0,046 *Nordeste -0,438 * -0,426 * -0,338 * -0,361 * -0,266 * -0,396 *Indústria Moderna 0,283 * 0,234 * 0,278 * 0,331 * 0,147 * 0,445 *Indústria Tradicional 0,151 * 0,131 * 0,129 * 0,128 * 0,029 0,170 *Serv. Distributivos 0,080 * 0,136 * 0,139 * 0,234 * 0,148 * 0,415 *Serv. Produtivos 0,261 * 0,213 * 0,326 * 0,287 * 0,262 * 0,426 *Serv. Pessoais 0,126 * 0,117 * 0,064 * 0,072 * -0,082 * 0,105 *Serv. Sociais 0,055 ** 0,043 0,079 * 0,095 * 0,031 0,206 *Administr. Pública 0,216 * 0,192 * 0,270 * 0,225 * 0,316 * 0,377 *

Ocup. Alto Nível 0,527 * 0,480 * 0,663 * 0,762 * 0,745 * 0,869 *Ocup. Médio Nível 0,228 * 0,204 0,319 * 0,313 * 0,399 * 0,407 *Trabalho Doméstico -0,014 -0,018 * -0,086 * -0,105 * -0,178 * -0,171 *Tempo Integral -0,278 * -0,269 * -0,335 * -0,388 * -0,416 * -0,510 *Setor Informal -0,344 * -0,452 * -0,089 * -0,157 * 0,154 * 0,055 *Ocupação Feminina -0,091 * -0,047 ** -0,244 * -0,128 * -0,406 * -0,284 *Ocupação Integrada -0,010 -0,035 *** -0,041 * -0,020 -0,056 * -0,003

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD, IBGE, 1987-1999. Nota: *** significante a 0,10,** significante a 0,05, * signif icante a 0,01.