temas em debate 06 - 2º semestre de 2010

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TEMAS EM DEBATE Número 6 – São Paulo – 2º Semestre de 2010 Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo Foto Gabriela Conde e Letícia Liñeira Juventude

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A revista Temas em Debate é uma publicação elaborada pelos alunos da disciplina Reportagem II do curso de jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco. Nesta edição: juventude.

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temas em debateNúmero 6 – São Paulo – 2º Semestre de 2010Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo

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Juventude

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O engajamento dos jovens saber se estamos, ou não, pre-senciando uma fase de mudanças

de comportamento dos jovens, foi o desafio que a editoria de temas em debate colocou para os alunos da disciplina Reportagem, do Curso de Jornalismo de nossas Faculdades Integradas Rio Branco.

Em contraposição à ideia cor-rente de uma juventude individua-lista, materialista e demasiado concentrada nas modernas tecno-

logias, emergiram relatos de ini-ciativas e práticas bastante anima-doras. Seja no campo da cultura e das artes, seja no campo esportivo, o leitor vai poder observar que os jovens estão mais engajados, par-ticipativos e preocupados com ofuturo.

Deixamos aqui consignado os nos-sos agradecimentos ao ex-aluno Ri-cardo Barros, pela generosidade de im-primir mais uma vez esta publicação.

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expedientetemas em debate é uma publicação dos alunos da disciplinaReportagem II do Curso de Jornalismo das Faculdades IntegradasRio Branco. São Paulo Ano III - N. 6 – Julho-Dezembro de 2010.

editorprof. dario luis borelli

diretor geralprof. dr. edman altheman

diretor acadêmicoprof. dr. alexandre ratsuo uehara

coordenadora do curso de jornalismoprofa. patrícia rangel moreira bezerra

faculdades integradas rio branco

curso de comunicação social avenida josé maria de faria, 111cep 05038-070 – são saulo, sptelefone: (011) 3879-3100www.riobrancofac.edu.br

Apoio cultural – CTP, impressão e acabamento:

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temas em debateNúmero 4 – São Paulo – 2º Semestre de 2009Faculdades Integradas Rio Branco – Curso de Jornalismo

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Jovens grafiteiros dão cara nova às ruas da cidadeApesar de ser ainda alvo de preconceito, a arte do grafite vem atraindo a atenção de turistas em razão de sua criatividade

Gabriela Conde e Letícia Liñeira

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os muros mais altos aos pré-dios mais baixos, dos bairros mais distantes aos mais cen-

tralizados. Entre a classe social fa-vorecida e a menos endinheirada, não importa: ela está em todos os lugares. Ao caminhar pelas ruas e avenidas de São Paulo, é impossível não perceber sua palheta de cores, variedade de formas e formatos e seu riquíssimo conteúdo artístico. Seja dia ou seja noite, ela contribui com a transformação diária da cidade que não para. “A arte do grafite é a grande expressão do nosso tempo, da nossa juventude. Pena que a gente não sabe ler direito e, também, não presta atenção em nossas próprias pa-redes”, afirma a filósofa Regiane Alfredo Dias, de 53 anos.

Caligrafado ou em desenho pintado, e em princípio aceito como forma de arte pela sociedade, sendo respeitado e estimulado mundialmente, o grafite aproveita os espaços públicos e privados para criar uma linguagem intencional que interfira diretamente no cenário de todos. Assim, estabelece marcas, particulariza lugares e, principalmente, recria paisagens dentro do fenômeno visual e es-tético da chamada intervenção urbana – que consiste em uma interação entre o objeto artístico (um monumento, por exemplo) e determinado local para modificar o seu significado ou as expectativas que o senso comum tem sobre ele. Por isso, ela deve acontecer na rua para pertencer a street art (arte urbana). “Eu não conheço nenhum outro tipo de arte que esteja tão próximo das pessoas. Que tome as pessoas de surpresa”, comenta o grafiteiro conhecido como Igão, de 21 anos. “Muda muito né, a cara da cidade. A capital paulista é tão carregada de coisa. Virou uma galeria de arte a céu aberto. Lindo”, elogia a professora Sandra Alves, 35 anos. Já para o comerciante Douglas Prado, 57 anos, dono de

uma pizzaria na região da Vila Madalena, tradicional reduto do grafite em São Paulo, “é algo que enfeia a paisagem e ninguém entende nada. É horrível.”

Feito na maioria das vezes por jovens da periferia, o grafite apresenta muitas vertentes “para dar voz a quem quer falar e dizer o que é esquecido”, afirma Igão.

“Há estilos que variam de pessoa para pessoa. Tem o que trabalha com a estética tridimensional, o 3D; a pintura de animal; em circulação ou movimento; a mais simples, tradicional; e o bombing, que é rápido, eficaz e associado à ilegalidade.”

O grafito, do italiano graffiti, tem também um lado transgressor

e anárquico. Originário da picha-ção, sua essência é não ter per-missão para acontecer na rua, embora atualmente tenda a ser feito em locais permitidos ou mes-mo especialmente destinados à sua realização. Mesmo assim, o grafite ainda é confundido com a pichação, que visa chamar atenção para si por meio da subversão com

a utilização da tipografia. “É como se fosse um ideograma e tem que descobrir o seu significado. E ele não é apenas alfabético e, sim, imagético. Em nossa cidade a gente consegue ver essa expressão que acho riquíssima, que é a expressão dos pichadores. Com esses, fico ainda mais encantada porque acho que fazem um movimento ver-dadeiramente político de atrapa-lhação da estética tradicional e da burguesia, da coisinha limpa e bem arrumada que não combina em nada com as artes. Então os mais radicais são os pichadores. Os grafiteiros estão no meio do caminho entre a pichação e a arte”, esclarece a filósofa Regina.

Parte construtiva das grandes metrópoles, a pichação surgiu no Brasil na época da ditadura mi-litar (1964-1985), para expressar o pensamento dos jovens que viviam à margem do regime. No decorrer dos anos, no entanto, a própria sociedade começou a usar o grafite para combater a pichação e seus valores simbólicos. “A ci-dade nos criou e agora a cidade quer nos matar. Não rola”, garante o pichador Sueco, de 19 anos. “A sociedade reduz a pichação só ao vandalismo. Ela é como uma arte só que não domesticada e não está aí pra agradar mesmo”, completa.

Novos negóciosMesmo sem entender as dife-

renças entre as duas formas de expressão artística que São Paulo acabou incorporando a sua rotina, muitas pessoas demonstram inte-resse pela intervenção urbana. O potencial turístico da cidade para os negócios já está sendo desenvolvido junto ao grafite. Empresas como a X-Tur investem em passeios de cinco horas pelos principais pontos de grafite, como os bairros de Perdizes, Pinheiros e Paraíso, para conhecer e entender melhor essa técnica de arte de rua, muitas vezes marginalizada, mas que representa parte da juventude

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Atualmente, o grafite é feito em locais permitidos ou mesmo especialmente destinados à sua expressão artística.

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de muitos cidadãos. Em cada ponto, a instrutora explica a história e técnica de cada grafiteiro, além do significado de cada obra. Ao final, os turistas – principalmente estrangeiros vindos da América do Sul – são encorajados a grafitar em um muro construído e reservado para esse fim.

Para a guia de turismo da agência, Ana Paula Gualberto, de 25 anos, esse tipo de arte ainda sofre muito preconceito por parte das pessoas que estão fora do circuito da rua. “Muitos ainda confundem o grafite com a pichação, o vandalismo. E isso, infelizmente, é normal de acontecer. Eles não sabem a diferença entre um e o outro. En-quanto a arte urbana acontece apenas no espaço público e não tem nada a ver com manifestações de caráter institucional, empresarial ou político, as pichações sempre são feitas em locais privados, de preferência com tinta preta em edifícios altos e vistosos mas sem autorização”, explica Ana Paula. Segundo o empresário da agência Grafite SP, Tiago Alves Júnior, 28 anos, esse é um negócio que tende a crescer e o que vai diferenciar uma empresa da outra é a criatividade no atendimento. “A cidade tem um imenso universo a ser explorado. Não à toa São Paulo é internacionalmente reconhecida por seus grafites e pichações, como a arte urbana dos “Osgemeos” (leia box ao lado), que estão ganhando dinheiro mundo afora.”

Saiba mais Grafite é uma imagem pintada

ou caligrafada feita em locais públicos e privados, com devida autorização do proprietário, que prioriza as formas e a vivacidade das cores do desenho.

Pichação é uma marca caligrá-fica de pouca ou uma só cor, que muitas vezes é repetida pela cidade como se fosse um carimbo. É considerada crime ambiental com pena prevista de seis meses a um ano de detenção pelo artigo 163, pois sua prática não é autorizada.

Grapicho é uma mistura de grafite e pichação que resulta em uma pichação elaborada e colorida.

m dos berços da arte urbana paulistana é o Cambuci, zona

central da cidade. Reduto da imigração italiana em São Paulo, o bairro tem um histórico de ma-nifestações culturais que vai da tradicional malhação de Judas, na rua do Lavapés, à arte de um italiano que viveu ali. Alfredo Volpi também deixou nas paredes do Cambuci e da vizinhança as marcas de sua pintura, assim como os dois artistas plásticos – e grafiteiros também – Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos

O sucesso dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo como “Osgemeos”. Influenciados pela cultura americana do hip hop, que chegou ao Brasil em meados dos anos 1980, os desenhos dos irmãos são marcados pela criatividade de seus personagens amarelos e cabeçudos.

Reconhecidos internacional-mente por seus trabalhos, “Os-gemeos” ocupam galerias e mu-seus com suas obras coloridas e engraçadas, mas sem deixar o grafite de lado pelas ruas e avenidas da maior metrópole do Brasil.

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Nova geração de humoristas dispensa cenário e figurino

A brincadeira começou de forma despretensiosa e hoje o Clube daComédia possui uma casa exclusiva para as suas apresentações

Daniel Santarosa, Donizete Henrique e Leonardo Fortunatti

grandes comediantes brasileiros, Rafinha Bastos e Danilo Gentili, apresentadores do programa CQC, da TV Bandeirantes, junto com o empresário Ítalo Gusso, criaram em São Paulo, na rua Augusta, uma casa totalmente dedicada à Stand-up Comedy nacional. Essa casa, chamada Comedians, segue o formato de um legítimo comedy club americano. Um dos grandes atrativos do local é o palco. Exigido pelos idealizadores, o palco, de tablado baixo, permite que o

apresentador fique mais próximo da plateia, tornando assim a visibilidade praticamente perfeita.

De acordo com Tamiris Maciel, estudante de Ciências Contábeis, da Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC), o Stand Up Comedy é um conceito que vem crescendo no nosso país. “O stand up no Brasil começou a ser abordado recentemente. Até alguns anos atrás, poucos sabiam o que era esse termo, isso porque não era muito divulgado. De uns tempos

pra cá, começou a ganhar espaço na televisão e no teatro, e hoje em dia é muito falado, principalmente entre os jovens. Por ser uma apresentação de comédia onde as piadas não são conhecidas, cada humorista tem um show diferente, de acordo com suas experiências do dia-a-dia, e como tem interação entre plateia e apresentador, cada show é um show diferente”, disse.

Mesmo diante desse grande e, digamos, novo sucesso, o Stand Up Comedy no Brasil encontra alguns

problemas, conforme opina Thiago Pallos, estudante de Contábeis pelo PUC, e que já presenciou diversas apresentações do gênero, em São Paulo. “O stand up brasileiro teve um desenvolvimento enorme nos últimos anos, cada vez com novos talentos. Apesar dessa evolução, o stand up ainda não é um mercado seguro para os atuantes. Claro que tem suas exceções. Considero o stand up um evento muito divertido e criativo, entretanto há um enorme defeito, os apresentadores apelam muito para conseguir as risadas de seu público, algumas vezes com piadas preconceituosas ou com a utilização explícita de sexo. Assim, torna-se um problema agravante, pois considero o stand up um evento onde é possível curtir junto com a família, como se fosse em um cinema, estádio, teatro.”

É importante informar, também, que, atualmente, um brasileiro, o humorista Bruno Motta, foi o recordista com o maior número de tempo fazendo show de humor. Com um total de 38 horas e 12 minutos, Bruno Motta entrou para o Guinnes Book, o livro dos recordes, em apresentações de Stand Up Comedy.

Sitewww.clubedacomedia.com.

br é o endereço do site oficial dos humoristas que praticam o chamado “humor de cara limpa”.

Nele há diversas informações sobre a origem do clube, perfil dos humoristas, link para blogs, e vídeos que dão uma “palhinha” do tipo de humor que se pratica nos espetáculos.

O humor realizado pelo Clube da Comédia Stand-up está nas observações inteligentes, histórias criativas e idéias originais de cada humorista prevalecendo a qualidade dos textos que são criados pelos próprios componentes do grupo periodicamente. Sendo assim, esse grupo de humoristas detém um vasto repertório sobre os mais diversos assuntos.

O Clube lançou o seu primeiro CD no dia 14 de agosto de 2006 , no bairro de Pinheiros, São Paulo. É o primeiro CD integralmente de Stand-up do Brasil.

termo Stand Up Comedy tem fortes raízes americanas, como pode ser visto pelo próprio no-

me em inglês. A expressão faz referência a um show de humor apresentado por uma pessoa. No Brasil, esse termo começou a ganhar força entre os anos de 1996 e 1998, quando, na oportunidade, os humoristas Diogo Portugal e Bruno Motta começaram a iniciar suas apresentações. Nessa época, tal conceito era fraco e desconhecido, portanto, pouco valorizado no Brasil. O estilo de apresentação ainda está em evolução no país, como afirma Rodrigo Pizcioneri, humorista de stand up e integrante da equipe que apresenta o programa Transalouca, na rádio Transamérica. “O stand up na verdade está ganhando corpo há pouco tempo aqui no Brasil. Sempre foi muito forte nos Estados Unidos e o número de humoristas que estão com esse estilo aqui no Brasil aumenta a cada dia. Bares, teatros entre outras casas já vêm o stand up como grande destaque e um atrativo para o público”, comenta.

A forma utilizada pelo hu-morista para se apresentar perante o público é muito simples. As apresentações normalmente são feitas em pé – daí o termo stand up – e, na ocasião, o apresentador não utiliza acessório. Não existem cenários e/ou caracterização pes-soal. Uma das características importantes é, normalmente, a participação da plateia em deter-minados assuntos. A não utilização de anedotas pelo humorista é caracterizada como um dos dife-renciais.

Porém, segundo afirma Kiko Correria, humorista de stand up, esse tipo de humor não está ligado às piadas ou histórias. “O humor de stand up é um tipo de comédia que não permite contar piadas ou estórias, o texto tem que conter uma sequência lógica, dos chamados ‘Set Ups’ do texto, bem como a sequência do ‘Punch’ que termina a piada de forma brusca e muitas vezes inesperada, o que caracteriza muito o tipo de humor”, disse Kiko.

Diante do grande avanço desse conceito no Brasil, dois

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Comedians é a primeira casa de espetáculo brasileira totalmente dedicada ao formato Stand Up Comedy

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A nadadora Júlia Benvenutti, de 17 anos de idade, já provou que tem potencial para representar bem o Brasil

natação é conhecida por ser o esporte que mais benefício traz à saúde do corpo humano

por movimentar praticamente todos os músculos e articulações. Muitos começam ainda bebê, alguns crescem, continuam levando como uma atividade recreativa e poucos

A nadadora que sonhacom novas conquistas

Seu desejo é chegar aos Jogos Panamericanos de 2011,no México, e às Olimpíadas de 2012, em Londres

Felipe Ramos de Araújo, Rodrigo Hoschett e Caio Fernandes de Moraes

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encaram como profissão. “Comecei aos sete meses de idade. Fiz aulas de natação durante muito tempo no condomínio onde moro, até que, aos 10 anos, por incentivo de uma nadadora máster, fiz um teste no Clube Paineiras, do Morumbi, e passei. É o clube que represento

desde 2004”, conta Júlia Benvenutti Gerotto, de 17 anos, que compete na categoria Júnior I.

A modalidade é de extrema importância dentro do cenário es-portivo. É um dos raros esportes que fizeram parte de todas as edições dos Jogos Olímpicos,

desde 1912. Júlia revela que seu principal objetivo é compor a equipe brasileira nas próximas Olimpíadas, quando o atleta chega ao seu nível máximo de superação. “Espero po-der representar nosso país ‘dentro de casa’, em 2016. Mas estou trabalhando forte para, quem sabe, chegar aos Jogos Panamericanos de 2011 e às Olimpíadas de 2012, em Londres.”

Tanta expectativa tem uma explicação. A jovem nadadora, que há sete anos participa de competições nacionais e interna-cionais, já provou ter potencial para chegar onde almeja. Entre as mais de 30 medalhas conquistadas, Júlia é a campeã nacional dos 400 metros livres, 400 metros medley e 800 metros livres desde 2006. É recordista brasileira desde 2007 para cá e recordista paulista de 2006 até 2010. É atleta da seleção brasileira desde 2007, e foi considerada a segunda melhor nadadora adulta do país nos 400 medley e terceira nos 200 borboleta nos anos de 2009 e 2010.

Seu treinador, Wladmilson Veiga, explica que os bons resul-tados não são conquistados por acaso. “Ela é realmente bastante dedicada. Treina todos os dias, três dobras por semana e só descansa no domingo. Segue uma dieta rigorosa de mais ou menos 4.500 calorias, sempre acompanhada por uma nutricionista e por um médico do clube”, diz.

O Clube Paineiras concedeu uma bolsa de estudos da sétima série até o terceiro ano do Ensino Médio para a atleta e arca com as despesas de transporte, estadia e alimentação durante as com-petições disputadas tanto em São Paulo, como em outros estados ou países.

IncentivoNo Centro Olímpico de Trei-

namento e Pesquisa, entidade pública, administrada pela Prefei-tura de São Paulo, por meio da sua Secretaria de Esportes, também existe um trabalho voltado a atletas de alto rendimento. Entre os mais de 50 nadadores, entre meninas e meninos, quem se destaca é um garoto de 13 anos que compete

na categoria Infantil I. Leonardo Cálice Pagotto de Oliveira pratica natação desde os oito anos de idade e é considerado uma das maiores esperanças do clube, segundo o professor Luiz Fernandes do Amaral. “O Leo começou a nadar por motivos de saúde e bem-estar, só que com o tempo foi adquirindo grandes habilidades aquáticas. Começou a treinar e logo conquistou bons resultados.” O treinador, de 28 anos, acrescenta: “Mas algo mais nos leva a crer que ele possa chegar a uma Olimpíada, pois é um atleta de extrema dedicação e comprometimento com o esporte. Ele se supera a cada dia durante os treinos.”

A jovem promessa do Centro Olímpico tem uma preparação de gente grande. “Treino seis vezes por semana, de segunda a sábado, com uma carga horária de quatro horas por dia”, afirma Leo, como é carinhosamente chamado por seus colegas. Como todo atleta, Leonardo também segue uma dieta especial. “Agente tem uma nutricionista aqui que nos orienta para ter uma alimentação adequada para render o máximo possível tanto nos treinamentos, como nas competições”, diz o atleta.

Durante todos esses anos, Leonardo conquistou inúmeras medalhas em torneios regionais, campeonatos paulistas e, por último, foi medalhista no Campeonato Brasileiro Infan-til de Natação realizado na cidade de Fortaleza, sendo este seu primeiro brasileiro. Nessa competição, conseguiu a inédita medalha de bronze nos 400 metros nado medley, e hoje é o terceiro melhor nadador do país na sua categoria. “Eu já somei mais de 100 medalhas conquistadas, e faço parte da seleção da 1ª Região (Capital). Acredito que sou um futuro atleta olímpico”, explica Leonardo.

O nadador mirim falou sobre a ajuda do COTP para que se torne um profissional. “Recebo do Centro Olímpico benefícios como vale transporte, lanche após o treino, e assistência médica.”

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açãoJovens atletas brasileiros

do salto com vara Fabiana Murer e Thiago Braz são as novas promessasdo salto com vara, que vem crescendo muito no Brasil

Barbara S. Cristiano e Bruna Cury

F abiana Murer, 29 anos, é uma das atletas brasileiras em des-taque na modalidade salto com

vara. Nascida em Campinas, interior de São Paulo, ela foi descoberta em uma escola de base de atletismo e conta como começou a se interessar pelo esporte. “Fiz ginástica olímpica durante 10 anos. Já estava me sentindo alta para a ginástica e velha com os meus 16 anos. Isso foi em 1997. Eu queria continuar fazendo algum esporte, mas não sabia qual. Então meu pai viu que estavam formando uma escolinha de atletismo em Campinas e minha mãe me levou para fazer o teste. Fui super bem.”

Segundo Fabiana, sua opção era salto em distância, mas pre-feriu seguir o conselho de seu atual técnico, Élson Miranda, 49 anos, que acompanhou o seu teste na época, e disse que ela se daria bem no salto com vara, já que tinha força nos membros superiores e noção do corpo no espaço.

Fabiana ganhou seu primeiro prêmio em 1998. Com o apoio de seus pais e muita dedicação, ela hoje é uma das melhores do mun-do. Em 2011, Fabiana venceu a Liga Diamante, o mundial indoor e também subiu ao pódio em todas as competições que disputou ao longo da temporada. A brasileira é dona de segunda melhor marca do salto com vara, 4,85 m, atrás apenas da norte-americana Jennifer Suhr, com 4,89 m. E, atualmente, é uma das atletas indicadas pelo Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) ao Prêmio de Atleta do Ano.

“Fiquei muito feliz de estar entre as 10 melhores atletas do ano do atletismo mundial. Essa indicação foi um grande prêmio

para mim”, comentou a atleta. Apesar de carregar toda essa responsabilidade, ela se diz tranquila e garante que buscar melhores resultados, é o que a motiva.

O técnico Élson Miranda, treinador de salto com vara há 18 anos, e atual técnico da equi-pe do Clube BM&FBovespa, disse que a indicação de Fabiana ao prêmio de melhor atleta foi uma grata surpresa. “Essa indicação me surpreendeu, pois o atletismo é muito grande, existem muitas provas e ter uma atleta minha nesse meio é uma honra muito grande”, contou.

Segundo ele, o trabalho agora é preparar Fabiana para a pró-xima Olimpíada, a realizadar-se em Londres, em 2012. “Estou treinando a Fabiana para ela chegar a próxima Olimpíada com condições de disputar uma medalha. Ela teve um ano muito bom, mas tem de continuar treinando e melhorando para conseguir isso”, afirmou.

Indagado sobre as Olimpíadas de 2016, a realizar-se no Rio de Janeiro, o técnico tem a expectativa de ter vários atletas participando do evento, já que possui muitos atletas menores que terão idade para competir em 2016.

Thiago BrazEntre eles, está Thiago Braz, de

apenas 17 anos, mas que já é visto como uma promessa do esporte brasileiro. Nascido em Marília, interior de São Paulo, começou a praticar o salto com vara aos 14 anos, com o incentivo de um amigo.

No início, treinava em Bragança Paulista, onde ficou por sete meses. Ele conta como começou a treinar com Élson Miranda, em 2009, e

como foi sua evolução em apenas um ano. “Eu já tinha vontade de treinar com ele desde o meu início do salto com vara. Foí ai que eu mandei um e-mail pedindo para ir treinar com ele. Ele aceitou e falou as condições. Já estou com ele há um ano e já melhorei em tudo. Eu sai de Bragança com 4,60 m. Hoje, estou com 5,10 m.”

Thiago foi elogiado técnico Vitaly Petrov, quando o treinador russo esteve no Brasil para uma clínica do salto com vara, como consultor do Clube BM&FBOVESPA, em novembro do ano passado. Petrov disse que Thiago saltava mais alto que Serguei Bubka, ainda hoje o recordista mundial da modalidade, quando o então atleta tinha a idade do brasileiro.

Em 2011, Thiago também te-ve uma ótima temporada. Ele participou da seletiva para os Jogos Olímpicos da Juventude, e ganhou com a marca de 4,80 m. Com essa vitória, ele foi para os Jogos Olímpicos em Cingapura, e ficou em segundo lugar, com 5,05 m. Participou também do Brasileiro Menor, que o classificou para os Jogos Sulamericanos realizado no Chile, onde ganhou a medalha de ouro saltando 5,10 m e participou do Trofel Brasil de Atletismo, em São Paulo, ficando com o terceiro lugar, saltando também 5,10 m.

Considerado como promessa para as Olimpíadas de 2016, Thiago falou sobre suas expectativas. “Olha, eu penso em fazer meu trabalho tranquilo, cumprir minhas metas e ir aos poucos conquistando meus resultados para 2016. Creio que posso alcançar o índice, ir para as Olimpíadas e ficar entre os finalistas, que seria um orgulho para mim.”

Fabiana Murer já adquiriu respeito e admiração no atletismo brasileiro

Thiago Braz encara com tranquilidade os desafios de novas conquistas

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comum se obter na mídia ma-térias sobre o voluntariado, destacando pessoas que fazem

algum benefício a alguém ou a al-guma instituição ou até mesmo ao seu bairro. Mas, afinal, o que significa ser um voluntário?

Segundo definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos...”

O voluntariado pode ser pra-ticado de muitas maneiras, como ajudar um país que tenha sofrido algum tipo de desastre ambiental, auxiliar as Organizações Não-Go-vernamentais (ONGs) com uma ati-vidade que esteja apto a exercer ou com a vontade de aprender, de participar de visitas a hospitais, escolas, igrejas etc.

Segundo um estudo realizado pela organização não-governamen-tal “Ação e cidadania”, a tendência ao individualismo é uma caracterís-tica marcante no perfil dos jo-vens brasileiros. Essa pesquisa estendeu-se por sete regiões metro-politanas do Brasil, buscando saber o envolvimento dos jovens entre 15 e 24 anos com movimentos sociais. Oito mil brasileiros de Belém, de Belo Horizonte, de Porto Alegre, do Recife, do Rio de Janeiro, de Salvador, de São Paulo e do Distrito Federal participaram do levan-tamento.

O resultado mostrou que 18,9% dos entrevistados responderam que já participaram de algum tipo de movimento ou reunião para melhorar a vida do seu bairro e da cidade. Já a maioria, cerca de 80%, disse nunca ter participado de qualquer ato de promoção à cidadania.

Voluntariado e mercadode trabalhoAtualmente, quem participa

de alguma atividade no terceiro

É

Trabalho voluntário mobiliza estudantes universitáriosTrabalho voluntário pode fazer a diferença na hora de arrumar um estágio ou conquistar uma vaga no disputado mercado de trabalho

Josiane Brito e Marília Marques

setor possui um grande diferencial, pois os empregadores consideram que o indivíduo que se propõe a ser voluntário possui mais des-dobramentos profissionais, e is-so conta pontos na seleção de can-didatos qualificados. Uma amostra está na participação de pessoas com alto nível de escolaridade: 23% dos pós-graduados brasileiros e 20% dos profissionais com ensino superior completo são voluntários. Essa proporção é bem superior à de outros níveis, como entre analfabetos (3%), e entre aqueles que cursaram o ensino fundamental completo (9%). Esses dados são da pesquisa concluída pela Ipsos-Marplan com 50.520 pessoas du-rante o ano de 2004.

Como se tornar voluntárioPara o estudante de Relações

Públicas Leandro Pellegrini, 21 anos, a pretensão de se tornar voluntário teve início a partir do momento em que deixou de pensar somente em si mesmo, adquirindo outros valores. Ele começou o seu trabalho voluntário contribuindo com pessoas que necessitam de qualquer tipo de auxílio. “Essa vontade veio na hora em que percebi que os meus sonhos poderiam ajudar a compor os sonhos de outras pessoas”, disse.

Já para a estudante de Rela-ções Públicas Camila Bellacosa, 21 anos, tudo começou com o desenvolvimento de um trabalho acadêmico no início de 2010. Ela escolheu como objeto de estudo o Rotaract Club – programa estruturado do Rotary International para jovens de 18 a 30 anos de idade, que objetiva a formação e o desenvolvimento da liderança de seus participantes por meio do desenvolvimento de projetos sustentáveis para a comunidade.

Conforme foi aprofundando os seus conhecimentos no Club para a estruturação do seu trabalho, Camila acabou identificando-se por sua cultura organizacional e,

quando menos percebeu, estava participando das reuniões e trans-mitindo as suas opiniões para os projetos. “Acredito que minhas atitudes podem mudar o mundo e, consequentemente, melhorá-lo, pois somos jovens e temos energia e vontade”, ressalta. “A união faz a força e tenho a certeza que juntos faremos um mundo melhor.”

A estudante de Administração, Daniella Siqueira, 22 anos, sentiu vontade de se tornar voluntária há três anos, quando aprendeu a realizar um trabalho de maneira profissional. Siqueira costuma pres-tar serviço voluntário nos finais de semana. “A cada dia eu aprendo e sinto que posso ajudar alguém de alguma forma”, acredita.

Locais que aceitamtrabalho voluntárioHospital Samaritano: conta

com o apoio de nove grupos de

voluntários. Um deles é o grupo “Pensamento positivo”, formado por dois voluntários que fazem visitas semanais a pacientes do hospital, visando entreter e promover o bem-estar com jogos e brincadeiras para aliviar a rotina da internação. O grupo é coordenado pela ONG Pensamento Positivo. Tel.: (11) 3821-5300.

Hospital Sírio Libanês: o corpo do voluntariado foi implementado pelo Serviço Social do Hospital Sírio-Libanês há 25 anos. Conta com mais de 200 integrantes que recebem treinamento e começam os trabalhos voluntários na Pediatria, no Banco de Sangue, no Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico, na área de Endoscopia, no Ambulatório de Pediatria Social, no Centro de Oncologia etc. Tel. (11) 3155-0200.

Corpo de Voluntários Pró-Sangue: é para que tem o objetivo

de apoiar a Fundação Pró-Sangue na divulgação de doação voluntária, abordar doadores de sangue e cadastrar potenciais doadores de plaquetas, promover a doação de sangue como ato de cidadania e solidariedade. Tel. (11) 3061-5544.

10 dicas para ser voluntário1. Escolha uma com a qual tenha afinidade;2. Dê preferência a uma atividade que já conheça;3. Escolha a entidade;4. Visite a entidade antes de começar e procure saber exatamente qual é o trabalho e o que esperam de você;5. Prefira uma entidade perto de sua casa ou escola;6. Não tenha vergonha de fazer perguntas sobre a instituição;7. Tenha seriedade profissional;8. Seja humilde;9. Tolere críticas;10. Não desista.

A estudante Camila Bellacosa recebeu o certificado de Honra ao Mérito pela participação no Rotaract Club

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Trabalho voluntário mobiliza estudantes universitários O som dos tambores dos jovens músicosdo bairro de Perus

Da garagem de casa a um espaçoonde crianças, jovens e adultos têm

acesso a diversas atividades culturais

Antonia Iraneide Roma e Débora Maria Santos

Quem vê pela primeira vez o beco ao lado da Estação de Perus, zona norte de São Pau-

lo, não imagina que atrás dos muros grafitados existe um espaço em que acontecem todos os dias cursos e oficinas aberto à comunidade. Per-cussão, circo, libras, teatro, hip hop, grafite e educação ambiental são algumas das atividades ofe-recidas pela Comunidade Cultural Quilombaque, um ponto de cultura sem fins lucrativos, fundada em 2005 por um grupo de jovens, moradores do periférico bairro de Perus, que, de acordo com dados do IBGE, concentra os piores índices socioeconômicos e culturais, e os jovens são as maiores vítimas.

Ao longo de cinco anos, a Comunidade Cultural Quilombaque manteve sua sobrevivência por meio das parcerias com outros grupos culturais da região, e recebeu o apoio financeiro de projetos como Valorização de Iniciativas Culturais (Vai), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, ganho em 2007 e 2008, e Ponto de Cultura, ação do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura (MinC).

A iniciativa da organização partiu dos irmãos gêmeos Clébio e Cleiton Ferreira, conhecidos, res-pectivamente, como Dendê e Fofão. Na época, os irmãos, apaixonados por percussão, estavam passando por momentos difíceis, pois o gru-po em que tocavam no Parque Ibirapuera havia se desfeito. “Es-távamos tristes com o fim do grupo e a nossa esperança foi montar um grupo de percussão no bairro”, relembra Dendê.

Para surpresa dos irmãos, nin-

guém no bairro sabia o que era percussão. Os instrumentos de percussão geram um som muito diferente do piano, isso porque não é “harmônico”, as notas musicais variam do médio, grave e agudos. O tambor é um instrumento mais utilizado, seguido do triângulo e dos pratos. Encontraram aí a opor-tunidade de apresentar o som dos instrumentos aos moradores. Com o objetivo inicial de dar continuidade ao grupo de percussão, os gêmeos começaram a ensinar a alguns amigos a tocar com instrumentos alternativos, com o olhar voltado para a questão da reciclagem, utilizando objetos como tampas de panelas, panelas e colher de pau. “Ainda bem que a percussão dá essa possibilidade”, diz Dendê. E assim, aos finais de semana, reuniam em festas, na garagem de sua casa, convidados para assistir as apresentações.

Aos poucos o grupo foi sendo apresentado ao bairro e as festas começaram a atrair muita gente. O grupo foi batizado com o nome Quilombaque. Quilom, de quilombo, que significa refúgio, e baque, de batida, formando assim o “Refúgio da batida”.

Paralelo à percussão, os irmãos promoveram atividades culturais, como o cinema que acontecia às quintas-feiras, quando Dendê e Fofão pegavam a televisão e o vídeo cassette da mãe, dona Domingas, para que as pessoas pudessem assistir a filmes alternativos, distin-tos dos hollywoodianos. “A galera foi se identificando, vinha gente do teatro, da dança, e chegavam

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Cleiton Ferreira, o Dendê, idealizador da Comunidade Cultural Quilombaque.

querendo agregar, e achavam o espaço legal”, conta.

Nasceu assim o objetivo da Qui-lombaque, levar atividades culturais para crianças, jovens e adultos com o intuito de promover a consciência humana, civil, social, política, ética, ecológica e democrática.

Os irmãos começaram a trazer outros grupos para tocar junto com eles. “Como tocamos muito tempo no grupo do Ibirapuera, conhecíamos vários grupos. Eles vinham para as nossas festas”, revela Dendê. O espaço começou a ficar pequeno, e com a participação das pessoas, ideias foram sendo agregadas, e as oficinas foram surgindo. “Tinha uma colega que se propôs a dar aulas de libras, o que atraiu bastante gente. Outra fazia teatro e deu início a oficina de teatro. Mais pessoas voluntárias foram chegando e tivemos que montar uma grade com alguns cursos”, explica Dendê.

Com o advento das oficinas, barreiras foram quebradas. A expli-cação para isso é que o trabalho de percussão, que tem como instrumento principal o batuque, alguns vizinhos, por não conhecerem, achavam que a

casa dos irmãos Ferreira era um centro de Ubanda. “Sempre fomos focados na questão afro, temos uma luta forte com o movimento negro, e isso soava para quem não conhecia como macumba”, disse Dendê. As primeiras barreiras fo-ram quebradas com a oficina de libras, pois vizinhos evangélicos e professores passaram a frequentar o espaço.

Integrante da equipeSilvio Luz, baiano, morador do

Recanto dos Humildes, comunidade do bairro de Perus, mora há dez anos na região. Quando cursava o segundo ano de Jornalismo, teve o seu primeiro contato com a Comunidade Cultural Quilombaque e logo começou a ajudar na divul-gação do espaço.

Conheceu a Quilombaque quan-do viu um cartaz no ponto de ônibus anunciando a exibição no fim de semana de filmes alternativos, desconhecidos por ele. “Nossa, tem isso aqui no meu bairro”, lem-bra Silvio de sua reação. Soube que, além de filmes, havia oficina de percussão. Decidu ingressar, na época, e começou a tocar tambor – e assim ocorreu o envolvimento de Silvio com o grupo.

No final de 2007, a oficina mudou de endereço, porque o espaço ficou pequeno. Silvio passou a ser o responsável pela comunicação do grupo, respondendo aos e-mails, gerenciando o Orkut, site de relacionamento, e o blog da co-munidade, ferramentas utilizadas para divulgar as atividades.

Quilombaque hoje Com a crescente demanda,

a Quilombaque teve de deixar a garagem e ocupar um espaço alu-gado. O atual espaço, localizado ao lado da estação de de trem de Perus, foi, desde o início, estratéticamente escolhido. A ideia era fazer intervenção na Praça Inácio Dias, que dá acesso ao beco onde fica a Quilombaque, porque ela é o ponto de encontro dos jovens aos finais de semana, público-alvo do grupo. Outro objetivo era revitalizar o entorno, considerado o “miquitório” da estação.

Com o apoio do Ponto de Cul-tura, hoje a Comunidade Cultural Quilombaque conta com uma rede de 50 grupos, espalhados pelos biarros Brasilândia, Taipas, Anhanguera e Jaraguá. O objetivo é integrar outros grupos para que possam desenvolver ainda mais suas atividades. Essa integração ocorre por meio de eventos abertos em praças com apresentações de teatro, cinema e bandas que vão sendo apresentados em forma de rodízio, ou seja, num mês a Brasilândia recebe cinema, no outro teatro e assim por diante.

Carina Leite, 23 anos, moradora do bairro Anhanguera, é uma das beneficiadas da integração dos grupos. Participa há cerca de um mês da oficina de vídeo em Pe-rus. A estudante salienta que, com os rodízios das atividades, pôde conhecer o curso em que está matriculada. A estudante acres-centou que não havia curso de produção de vídeos e cultura artística no seu bairro. “O problema da falta de cultura nos bairros é que as pessoas não percebem a demanda. Diferente do que aconteceu aqui na Quilombaque, em que foi identificada as necessidades dos moradores do bairro”, completa a estudante.

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Muito além de Power Ranger, acessórios da Hello Kitty e cadernos da Pucca. Adoles-

centes e jovens brasileiros que incorporaram ao seu dia-a-dia o estilo da cultura pop japonesa, passaram a se vestir com roupas coloridas, a tingir os cabelos com cores fortes, vibrantes e artificiais, a colecionar chaveiros, bonecos, séries de mangás, animes CD e DVD de maior sucesso no Japão e a se reunir em eventos como o Anime summer – um plus de shows musicais, palestras, espetáculos de dança e teatro cosplays, concursos, torneios e campeonatos de video-game.

Depois das exibições de Cava-leiros do zodíaco, Jiraya e Pokémon nas telas do cinema, a partir da década de 1990, a cultura pop

André Santos e Jessica Ferreira

Cultura pop japonesa atrai e inspira jovens brasileirosA cultura pop japonesa posou no Brasil na década de 1990 e conquistou corações e mentes de milhares de meninos e meninas

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A estudante secundarista Jacquelyne Dias, 17 anos, deseja aprender japonês e fazer design gráfico. Além de ter milhares de músicas japonesas em seu computador, ela sempre gostou do estilo nipônico de desenhar.

japonesa posou definitivamente no Brasil e conquistou corações e mentes de milhares de meninos e meninas. O estilo moderno, a música e principalmente os de-senhos japoneses frequentam o cotidiano de adolescentes que se vestem e se envolvem em tudo que diz respeito à cultura que vem do Japão.

Fã de séries adolescentes asiá-ticas, a estudante Nátalie Lima, 22 anos, possui uma coleção de DVD do programa Hana Yori Dango (“Melhor doces do que flores”), que conta a saga de uma garota pobre, estudante de um colégio da elite japonesa que se apaixona por um descendente da máfia. Em 2006, foi produzido uma adaptação de Hana Yori Dango em dorama (novela japonesa), com nove episódios,

exibidos pela rede japonesa de televisão TBS. O sucesso do drama adaptado de um “mangá shoujo” (para meninas) foi tanto que, no começo de 2007, o elenco voltou com Hana Yori Dango 2 Returns, com 11 episódios. “Adoro os personagens, as estórias, os ro-mances e sempre que posso vou até o bairro da Liberdade para comprar, porque só tem lá”, explica. Segundo a jovem, amigas do colégio em que estudava lhe apresentaram a série, e hoje até carrega fotos dos galãs nipônicos no celular. “Em meu computador tenho milhares de fotos deles, sou apaixonada pelo Doumyouji”, revela a garota sobre um dos personagens de sua série favorita.

Outra forte influência se reflete no vestuário da garotada brasileira. Os adolescentes estão de olho nos

modelitos dos frequentadores de uma área da estação de trem do município de Shibuya, em Tóquio, chamada Harajuku. Ela é famosa por reunir todos os tipos de tribos da moda urbana do país. Lá é possível encontrar movimentos como o cosplay, em que indivíduos se fan-tasiam de personagens, pessoas ou estereótipos, o estilo Lolita, garotas com vestidos vitorianos e acessórios meigos, o Decora, com muita cor e objetos que remetem ao mundo infantil, Gyaru, look bem sofisticado e materialista. A estudante Carolina Lúcio, 20 anos, pratica cosplay há cinco anos, mas, no cotidiano, prefere se vestir de “maneira ocidental”. “Meus pais não gostam muito, principalmente pelos gastos que eles têm comigo”, conta a jovem.

Os mangás (histórias em quadrinhos no estilo japonês), em forma de revistas e livros, também estão entre as febres e os objetos de desejo dos jovens brasileiros. Muitas escolas já oferecem oficinas e aulas práticas para quem quer aprender os traços delicados dos cartuns japoneses, o que oferece uma oportunidade de emprego e até mesmo inspiração para seguir uma profissão no futuro. “Aprendi a desenhas sozinha, mas também já fiz oficinas. Agora, pretendo iniciar um curso de japonês e a faculdade de design gráfico”, conta a estudante de ensino médio Jacquelyne Dias, 17 anos, que possui milhares de músicas japonesas em seu com-putador e sempre gostou do estilo nipônico de ouvir música, se vestir e desenhar.

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Personagens de animes e mangás fazem a cabeça dos jovens

Praça Franklin Roosevelt recebeu jovens com fantasias de personagens dos desenhos de animes, em especial, Sakura e Naruto

Débora Maria Santos e Flavia Martinez

Opalco para a participação do Cosplay, na última Virada Cul-tural, realizada em São Paulo,

foi montado na Praça Franklin Roosevelt, localizada próxima à esta-ção do metrô República. Durante to-da a programação, a praça juntou muitos jovens fantasiados com os seus personagens preferidos.

A jovem Carolina Michelli, de 22 anos, foi um desses personagens que despertou a curiosidade e os olhares atentos das pessoas que foram ao evento. Ela vestia uma fantasia da personagem Ryomou Shimei, do anime Ikkitousen, que significa “força”.

A pouco mais de dois anos, Carolina saiu da condição de coor-denadora e juíza para participar do evento e produzir a sua própria roupa e, assim, encarnar a sua personagem preferida pela primeira vez no evento Anime Friends.

“Eu queria tentar uma dinâmica diferente e poder competir. Tive duas semanas para produzir a minha personagem, que envolve roupa, cabelo, maquiagem. Não pode faltar nada, cada detalhe significa muito para mim”, diz a jovem cosplayer. O que a fez escolher seu personagem foi o fato de ela ter sido do lado mal e depois se tornar uma pessoa do bem.

O Cosplay permite que os seus admiradores entrem num mundo de fantasia, é o momento em que aqueles que têm vontade de ser um super herói se realize, ao menos uma vez na vida.

A paixão dos jovens é tanta que cada detalhe é fundamental para somar no seu divertimento. “A minha primeira competição foi em Londrina. Não ganhei porque tive vários problemas com a roupa. Em São Paulo consegui ganhar,

porque fiquei mais atenta a cada detalhe e possíveis defeitos”, conta a Carolina. A confecção de suas fantasias é realizada pela mãe de uma amiga, que também é cosplayer. Para alcançar a perfeição dos detalhes da roupa, foi necessário comprar uma máquina de costura Overlock.

Para Carolina, a competição é muito importante porque o vencedor brasileiro vai para o Japão disputar com vencedores de cada país. Em relação à Virada Cultural, a ex-coordenadora e juíza de Cosplay acredita ser muito importante para a divulgação do evento, principalmente para as pessoas que não conhecem ou nunca tiveram acesso ao mundo dos cosplayers.

Na Virada estiveram também presentes cosplayers novatos, que participam pela primeira vez

incorporando um personagem. É o caso dos amigos fãs de desenhos japoneses com histórias fantásticas Igor Fellipe, 14 anos, que participou do evento fantasiado de Itachi, Fernanda Maria, 12 anos, fantasiada de Sakura e Victória Luiza, 14 anos, fantasiada de Fiore.

Os personagens Itachi e Sakura pertencem ao anime Naruto, inicialmente, uma série de mangá criada por Masashi Kishomoto. A veiculação foi por meio da revista semanal Shonen Jump, desde 1999, recebendo adaptação para desenho animado em 2002. Em 2007 o desenho apareceu na TV aberta para os brasileiros, e, de lá para cá, fãs como Igor e Fernanda têm se multiplicado a cada dia.

Já a personagem Fiore, esco-lhida por Victória, pertence ao Chrno Crusade, uma série de mangá que narra a história de Chrno, um demônio chamado de “Pecador”. Nessa série, mistura-se economia e religiosidade. A história se passa nos Estados Unidos, entre 1928 e 1929. O foco central corresponde ao desenvolvimento econômico dos EUA, gerando, assim, ganância cada vez mais seres humanos. Essa ambição pelo dinheiro torna o ambiente ideal para os demônios

que seduzem os humanos fazendo com que eles acreditem neles. Porém, a realidade é outra, os demônios ou Chrono querem na realidade destruir a Igreja Católica e os padres e freiras tem a função de exorcizar e destruí-los.

OrigensNo Brasil , o Cosplay iniciou-

se na década de 1980, quando alguns fãs se fantasiavam com os personagens de “Jornada nas Estrelas”, série de ficção científica de grande sucesso, produzida na década de 1960.

Outra influência que também marcou a década de 1980 foi “Mario Bros”, um clássico dos jogos eletrônicos que divertiu e inspirou muitas crianças, jovens e adultos.

No entanto, a prática de brincar fantasiado chegou de fato para os brasileiros por volta de 1996, quando a primeira convenção de animes veio ao país, o Mangacon. O evento foi realizado em São Paulo pela Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (Abrademi) e representou um marco na difusão do Cosplay Brasil, que impulsionou o crescimento de dos praticantes e despertou a curiosidade dos admiradores.

Fotos Flavia Martinez

A estudante Carolina Michelli venceu a competição e agora espera fazer bonito representando o Brasil no Japão

Fernanda, Igor e Victória participaram pela primeira vez da Parada Cosplay

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ma pesquisa feita pelo instituto alemão Bertelsmann Stifung, em 2009, aponta que 95% dos

brasileiros entre 18 e 29 anos são religiosos. Com esse resultado, os jovens brasileiros estão entre os mais praticantes do mundo.

De acordo com o estudo realizado, a maioria dos jovens (66,2%) se declarou praticante da religião católica, como o biomédico Eric Andrade, de 22 anos, que costuma ir à igreja pelo menos uma vez por semana. “Eu tento ir às missas todos os domingos, só não vou quando realmente surge algum imprevisto.”

O jovem conta que foi influen-ciado pela família desde muito novo. Quando completou 14 anos, começou a se interessar mais pelo catolicismo. Depois de aceitar o convite do tio – que hoje é padre – para estudar em um seminário, pôde se aprofundar mais no assunto. “Quando fui para o seminário, tinha a intenção de me tornar um representante religioso, porém a minha vida mudou e desisti dessa opção, mas nunca deixei a minha fé de lado.”

Ainda com base na pesquisa do instituto Bertelsmann Stifung, 18,8% dos jovens se declaram evangélicos. “Cada vez mais eu percebo a presença dos jovens no cotidiano da minha religião”, afirma o estudante André Santos, de 23 anos. Ele ainda ressalta: “Muitos jovens procuram a paz e ela está em Deus, pois só ele pode oferecer um caminho completo.”

Santos segue a risca os cos-tumes da religião que pratica. Ele acorda uma hora mais cedo do que precisaria para cumprir sua rotina. “Antes de trabalhar, leio uma meditação e estudo a Bíblia, além de guardar o pôr-do-sol da sexta-feira até o de sábado e ir à igreja aos finais de semana.”

Assim como os católicos e evangélicos, os jovens espíritas também frequentam os centros

religiosos. A auxiliar administrativa Aline Mascaro, de 20 anos, revela que o que mais a atrai no Espiritismo é o fato de que as pessoas encontram um conforto, principalmente em momentos di-fíceis, como a morte de alguém próximo. “Na minha religião, conse-guimos encontrar uma explicação para tudo”, afirma. Ela acredita ser possível saber informações de como está o espírito do falecido.

Os jovens não estão envolvidos apenas com as religiões cristãs. Há um grande número de jovens praticantes do judaísmo. “Nasci judia, pois sou filha de pais judeus e não trocaria minha religião por nada. Ela é uma grande base para mim”, diz a estudante Camila Dentes, de 21 anos.

Os judeus também conseguem diversos benefícios por causa de sua religião. A estudante conta que viajou para Israel junto com diversos outros jovens judeus e pôde conhecer suas raízes. Tudo isso completamente patrocinado pela sinagoga onde costuma frequentar.

Mesmo com os benefícios e com todo amor a sua religião, a jovem afirma não ser uma judia ortodoxa, pois não gosta dos exageros que sua religião, como todas as outras, impõe. Para ela, se sentir próxima dos seus princípios religiosos já basta para estar em paz. “Acredito que não preciso cobrir meu cabelo, não encostar em pessoas do sexo oposto e nem deixar de sair as sextas-feiras para provar o quanto amo e acredito na minha religião.”

Por outro lado, a funcionária pública Bárbara Amaral, de 25 anos, engrossa o coro dos “sem religião”, categoria que vem crescendo muito nos últimos anos no Brasil. “Apesar de não se ligar em nenhuma religião, não deixo de ter a minha fé e esperança”, revela a jovem com entusiasmo.

Maioria dos jovens entre 18 e 29 anos tem religiãoOs jovens brasileiros estão entre os que mais professam a fé no mundo, segundo pesquisa do Instituto Bertelsmann Stifung

Aletéia Beller e Erica Seccato

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Foto Erica Seccato

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A estudante Camila Dentes, de 21 anos, viajou para Israel por conta da sinagoga que frequenta em São Paulo

O biomédico Eric Andrade, de 22 anos (primeiro da dir. para a esq.) já foi seminarista e hoje frequenta a igreja