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  • TEMAS DA ATUALIDADE Educação, Saúde e Meio Ambiente

    Volume I

  • Junior Cunha Valdenir Prandi

    Daniela Valentini (Organizadores)

    TEMAS DA ATUALIDADE Educação, Saúde e Meio Ambiente

    Volume I

    Primeira Edição E-book

    Toledo - PR 2019

  • Copyright 2019 by Organizadores EDITOR:

    José Dias CONSELHO EDITORIAL:

    Dr. Daniel Eduardo dos Santos – UNICESUMAR Dr. José Aparecido Pereira – PUCPR

    Dr. Lorivaldo do Nascimento - UNIOESTE REVISÃO FINAL:

    Editora Vivens CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:

    Junior Cunha.

    Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    Rosimarizy Linaris Montanhano Astolphi Bibliotecária CRB/9-1610

    Todos os direitos reservados aos Organizadores.

    Os textos aqui publicados são de total e exclusiva responsabilidade de seus autores.

    Editora Vivens, O conhecimento a serviço da Vida! Rua Pedro Lodi, nº 566 – Jardim Coopagro

    Toledo – PR – CEP: 85903-510; Fone: (45) 3056-5596 http://www.vivens.com.br; e-mail: [email protected]

    Temas da atualidade: educação, saúde e meio

    T278 ambiente, vol. I. / organizadores, Junior

    Cunha, Valdenir Prandi, Daniela Valentini. –

    1. ed. e-book – Toledo, PR: Vivens, 2019.

    104 p.

    Modo de Acesso: World Wide Web:

    ISBN: 978-85-92670-90-0

    1. Meio ambiente. 2. Saúde mental. 3. Resíduos

    hospitalares. 4. Psicomotricidade – síndrome de

    Down. 5. Médico-paciente (relação).

    CDD 22. ed. 600

  • SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO ................................................................... 9

    I A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO Alécio Barbosa ............................................................................... 11

    II A RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE E O DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO Valdenir Prandi ............................................................................ 25

    III A SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR FRENTE AO ESTRESSE E AS EXIGÊNCIAS DE QUALIFICAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO Anna Julia Sartori Pereira Mignoso Lidiane Sposito Valderice Cecilia Limberger Rippel ................................................ 43

    IV EDUCAÇÃO AMBIENTAL: as consequências do descarte inadequado de resíduos hospitalares Lais Fernanda Barbosa Alves ........................................................ 65

    V EDUCAÇÃO E GESTÃO AMBIENTAL: uma opção positiva e inovadora Lais Fernanda Barbosa Alves ........................................................ 77

    VI PSICOMOTRICIDADE COMO MÉTODO PEDAGÓGICO EM CASOS DE SÍNDROME DE DOWN Lucas Henrique Barbosa Alves ...................................................... 87

  • 8 Temas da Atualidade – Vol. I

  • APRESENTAÇÃO

    Com alegria apresentamos ao grande público, estudioso de temas da atualidade, dentro das áreas da Educação, da Saúde e do Meio-ambiente, esta obra coletânea que reúne seis trabalhos, formando um todo coeso por uma linha multidisciplinar que os perpassa.

    No primeiro capítulo, o professor Alécio Barbosa trabalhou o tema da importância do ensino da filosofia e sociologia na educação.

    No segundo capítulo, o professor Valdenir Prandi trabalhou a relação médico-paciente e o direito à autodeterminação.

    No terceiro capítulo, as professoras Anna Julia Sartori Pereira Mignoso, Lidiane Sposito e Valderice Cecilia Limberger Rippel trabalharam o tema da a saúde mental do trabalhador frente ao estresse e as exigências de qualificação no mercado de trabalho.

    No quarto capítulo, a professora Lais Fernanda Barbosa Alves trabalhou o tema educação ambiental: as consequências do descarte inadequado de resíduos hospitalares.

    No quinto capítulo, a professora Lais Fernanda Barbosa Alves trabalhou o tema educação e gestão ambiental: uma opção positiva e inovadora.

    No sexto capítulo, o professor Lucas Henrique Barbosa Alves trabalhou o tema da psicomotricidade como método pedagógico em casos de síndrome de Down.

    Boa leitura!

  • 10 Temas da Atualidade – Vol. I

  • I

    A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO

    Alécio Barbosa*

    RESUMO: O objetivo de deste artigo é procurar mostrar através de pesquisas bibliográfica a importância da filosofia e da sociologia no ensino aprendizado escolar. Também fazer um analise histórico das duas disciplinas durante anos até a atualidade. O ensino da filosofia e a sociologia na sociedade é necessário para que nós como seres humanos possa entender alguns conceitos e princípios essenciais dentro de uma sociedade, principalmente a brasileira. Os objetivos são demonstrar como as disciplinas de filosofia e sociologia são importantes na educação para o ensino e aprendizado para formar um cidadão consciente dentro de uma sociedade. A justificativa desse artigo é que cada vez mais necessita de pesquisas para mostrar o quanto o conhecimento é importante nessas áreas das ciências humanas. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia. Sociologia. Educação. Ensino.

    * Alecio Barbosa formado em Geografia pela Universidade Estadual do Paraná- Campus de Paranavaí período de 2013 a 2017. Pós-graduado em Metodologia em Geografia, Metodologia em História, Metodologia, Filosofia e Sociologia; Curso técnico em Meio Ambiente. E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]

  • 12 Temas da Atualidade – Vol. I

    1.1 INTRODUÇÃO

    Este artigo procura demonstrar através de referenciais teóricos como é importante o ensino da filosofia e a sociologia na educação de um modo geral. As obras dos autores são um grande referencial para podemos tomar base partindo de um pressuposto de que o que foi escrito sobre o assunto é o alicerce para construirmos esse artigo.

    Os objetivos são demonstrar como as disciplinas de filosofia e sociologia são importantes na educação para o ensino e aprendizado para formar um cidadão consciente dentro de uma sociedade. Um ser humano mais ético, um ser que conserva os valores que muitas vezes tem se perdido dentro da na nossa sociedade contemporânea.

    Também analisar e comparar o que tem essas matérias de melhor para ensinar dentro de um corpo social, nos quais são, os princípios, valores que é passado durante anos pelos clássicos que nos tem a ensinar no dia a dia.

    A justificativa desse artigo é que cada vez mais necessita de pesquisas para mostrar o quanto o conhecimento é importante nessas áreas da humana, porque em uma sociedade atual, em um sistema capitalista que o lucro está acima de tudo e os valores essenciais para nós seres humanos sobreviver está se deixando de lado e o consumo está acima de tudo no mundo contemporâneo.

    Também podemos dizer que o ambiente escolar é um campo de ensino e aprendizado para que o cidadão forma o seu valor para contribuir e construir um mundo melhor que nos rodeia, concernente aos elementos que configura, que seja um grupo ou até mesmo o ambiente de aprendizagem.

    A escola hoje tem de aproveitar as oportunidades dos conhecimentos já adquiridos para aplicar – los no momento certo no que diz respeito dos discente na aprendizagem desses alunos.

  • A importância do ensino... 13

    O professor também tem um papel importante nesse meio na hora de passar os conteúdos. É o docente que vai fazer toda a diferença, procurando direcionar esses alunos para ser na área da filosofia para ser um bom questionador, formando um ser pensante dentro do seu espaço seja ele familiar ou de trabalho. não se tornando uma pessoa alienada para ser um ser pensante no grupo que está inserido. 1.2 DESENVOLVIMENTO

    Para se ter conhecimento de um assunto é necessário

    saber os significados de cada palavras para não podemos nos perder pelo caminho. Os significados das palavras são importantes para conhecermos do que estamos falando. E falando sobre a filosofia e sociologia, qual o significado da palavra filosofia?

    A palavra é de origem do grego “amor ao saber ou busca pelo saber”. Já o filosofo pode ser uma pessoa descrita “amante do saber”. Amar o saber ou gostar do saber são para poucas pessoas. A maioria das pessoas preferem levar uma vida “alienado”, vivem como para as ideias dos outros e concordam com tudo, não procuram saber se estar errado ou menos questionar.

    Uma pergunta vem em mente, quando começamos usar a filosofia? ou o pensamento filosófico? É sempre quando começamos questionar. Alguns acham que a filosofia é muito perigosa porque quem usa essa disciplina, começa questionar. Segundo François Chatelet (apud ARANHA; MARTINS, 2009, p. 17):

    Desde que há Estado - da cidade grega às burocracias contemporâneas - a ideia de verdade sempre se voltou, finalmente, para o lado dos poderes (ou foi recuperada por eles como testemunha, por exemplo, a evolução do pensamento francês do séc. XVIII ao XIX). Por conseguinte, a contribuição específica da filosofia que se

  • 14 Temas da Atualidade – Vol. I

    coloca ao serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do ensino, da tradução, da pesquisa, da medicina, da família, da política, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la...

    De um modo geral a filosofia, tira o ser humano da

    inercia da vida, e o coloca em movimento, e as vezes podem gerar um desconforto para quem está no poder. Por outro lado, a os que defende ela porque podem fortalecer uma ideologia com seus argumentos. O certo é que a filosofia não está a serviço de ninguém, ela é livre, caminha com suas pernas.

    Já a sociologia pode ser definida segundo o dicionário Aurélio Online “Ciência dos fenômenos sociais, que tem por objeto quer a descrição sistemática de comportamentos sociais particulares (sociologia do trabalho, sociologia religiosa)” (SOCIOLOGIA, 2019).

    A sociologia pode fazer investigação dentro de uma sociedade, podemos usa-la como uma metáfora. Ela é usada como um investigador para saber um comportamento dentro de um grupo seja ele no modelo familiar a exemplo a independência da mulher dentro da sociedade. Como também um aumento do número de divórcio que acontece em determinando país. Além disso estudos da mulher dentro do mercado de trabalho e atém mesmo a criação dos filhos com um responsável.

    Quando se estuda a filosofia existem alguns nomes que são clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates funda o pensamento da filosofia ocidental quando expõem um de suas frases mais célebres” Conheça a ti Mesmo”. O ser humano quando tem o conhecimento de si é bem mais fácil de lhe dar com os seus problemas.

  • A importância do ensino... 15

    Outro filosofo conhecido é Platão, discípulo de Sócrates é lembrado pela obra “A Republica” e a sua mais famosa alegoria “O mito da caverna”. Esse filosofo pensava em um estado perfeito, sem corrupção, um estado em plena harmonia de governo. Em que justiça reinasse corretamente para todos e por todos. Uma verdadeira utopia.

    Já Aristóteles é conhecido por deixar uma vasta obra sobre várias áreas de conhecimento que nos é dada. Como a metafisica, filosofia, retorica entre outras que a compõem.

    A História do ensino de filosofia no Brasil começa desde os missionários jesuítas que chegaram aqui com uma missão de catequisar os indígenas. Tentando converter -ló a fé cristã. Com seu método Ratio Studiorum ignorando, os costumes culturais dos nativos que existia aqui. Segundo Ribeiro (2015, p. 47) “na tarefa de conversão do gentio e sua integração na cristandade, foram soldados principais o jesuíta[...]”.

    De um modo geral o ensino da filosofia era trabalhar o cidadão, as questões éticas e morais sobre o prisma da igreja católica juntamente aos interesses da coroa portuguesa, país que colonizou o Brasil. Os jesuítas não poderiam sair do foco e missão.

    Na época da republica a filosofia teve um valor maior, quando foi colocada como disciplina obrigatória nesse período. Mas também não foi nada expressivo para surgir pessoas mais crítica dentro de uma sociedade ao qual viveu naquela época. Assim não foi desconsiderada no currículo escolar daqueles anos.

    Já na era Varga não foi tão importante porque as reformas na educação que aconteceram foram para formar profissionais para o mercado de trabalho como o incentivo dos cursos técnicos. Preparando pessoas para trabalharem nas industrias com suas mãos de obras. Esse período na educação durou alguns anos até a década de sessenta especialmente, 1961.

  • 16 Temas da Atualidade – Vol. I

    Já no período da ditatura militar especialmente com a LDB n. 4.024/61 foi extinta a obrigação do ensino da filosofia nas escolas, argumentos estes dos militares que a disciplina não servia aos interesses dos governos da época. Sempre ouve e haverá uma preocupação por partes dos governantes em relação a essa disciplina e dependendo o governo ele vê muito perigosa a filosofia para ser ensinada em sala de aula. De acordo com Dceb (2008, p 43 apud (CORBISIER, 1986, p. 84-85).

    [...] foi extinto, por decreto, dias depois do golpe militar de 1964. Por que um permaneceu aberto, em funcionamento, e o outro foi fechado, extinto, pela ditadura fascista? Porque no primeiro se cultivava [...] a Filosofia acadêmica, metafísica que, separando a Filosofia da política, se torna mero jogo, divertimento ocioso, inofensivo e inconsequente, que por isso mesmo, não preocupa os serviços de segurança. O outro Instituto, o ISEB, foi fechado porque não se propunha conhecer para conhecer apenas, estudar as ciências e a Filosofia para permanecer indefinidamente em seu estudo. Não pretendia, somente, [...] compreender o mundo e nosso país na perspectiva mundial, mas contribuir, também, para sua efetiva transformação. [...] A Filosofia torna-se perigosa, subversiva, a partir do momento que deixa de ser essa interminável e estéril ruminação no interior da própria Filosofia, esse eterno repisar dos mesmos problemas, insolúveis no plano da pura teoria, para tornar-se [...]. A parti da década de 1980 quando no Brasil ocorreu

    nesses anos um espaço maior da abertura da política em nosso país. Ouve manifestação por parte dos profissionais ligado a área em todo país para mobilizar os governantes para a volta da filosofia nas escolas e universidade. Com essas manifestações pode ser criado (Seaf) Sociedade de Estudos e Atividades filosóficas. Objetivo do movimento era para trazer a filosofia de volta para os bancos escolares.

  • A importância do ensino... 17

    Porém o movimento não vingou. Somente na década de noventa especialmente nos anos de 1994 é que os professores criariam uma proposta para o ensino da filosofia no segundo grau. Esse documento teria um conteúdo de cunho histórico para o ensino da filosofia com um sentido teórico e metodológico para se ensinar essa disciplina nas escolas.

    Além disso com o tramite de governo o documento não saiu do papel principalmente no estado do Paraná e foi arquivado toda a proposta. No país ouve uma proposta do neoliberalismo ao entrar nesse momento entre os brasileiros.

    Sendo assim com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394/96, surgem uma esperança de trazer a filosofia e sociologia de volta aos currículos escolar, porém sem a obrigatoriedade. Sendo os conteúdos transversais, ou seja, assuntos que se cruzavam de uma certa forma com as disciplinas seculares.

    Com muita luta e resistência no ano de 2006 tem se uma vitória. Para a Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 47).

    Em agosto de 2006, o parecer CNE/CEB n. 38/2006, que tornou a Filosofia e a Sociologia disciplinas obrigatórias no Ensino Médio, foi homologado pelo Ministério da Educação pela Resolução n. 04 de 16 de agosto de 2006. Foi claro que no estado, principalmente o do paraná,

    foi aprovado a lei n. 15.228, em julho de 2006, que obrigava a o ensino da filosofia e da sociologia em sala de aula. E com isso os da área da filosofia vem tentando através dos anos construir um currículo mais formalizado no que se refere no ensino aprendizado dessa disciplina.

    Os que são formados na disciplina tentam buscar espaço tanto na área da educação para a filosofia como para ser respeitados dentro da sociedade. As perguntas surgem por aí por que ensinar a filosofia dentro da sala de aula? Uma das

  • 18 Temas da Atualidade – Vol. I

    justificativa é que as pessoas que ama o saber nunca podem poder perder de vista o amor a sabedoria e também a filosofia de vida cada pessoa tem seu modo de pensar e fazer as coisas diferentes, os homens para biologia não são iguais.

    Mas não para por aí passa governo e entra governantes sempre, alguns vão apoiarem essa disciplina outros vão tentar exclui-la do currículo escolar com discurso que não tem necessidade para investir nessa disciplina.

    A acompanhando a história da sociologia é uma ciência que nasceu na Europa com a intenção de explicar alguns fatos dentro da sociedade que saiu da idade das trevas e entre para o período das luzes que vem com os pensamentos do iluminismo. Baseado na pura razão e os grandes pensadores do iluminismo:

    Essa ordenação das ideias está presente no iluminismo que, aspirando à emancipação do homem guiado pelas luzes da razão e a crença no progresso da civilização, caracterizou-se como um movimento filosófico, literário, moral, político, na Europa, a partir de fim do século XVIII. Sua máxima expressão deu-se na França com Descartes (1596-1650), Voltaire (1694-1778), Diderot (1713- 1784), Rousseau (1712-1778), Condorcet (1743-1794), Montesquieu (1689-1755), mas também Bacon (1561-1626), Spinoza (1623-1677) e Locke (1632-1704) estão entre os iluministas (DCE,2018, p. 39).

    É claro que as grandes revoluções influenciaram isso,

    como a revolução industrial, a revolução francesa e surgem os problemas e com isso os grandes teóricos para explicar os fenômenos que acontecem dentro de uma sociedade.

    Um dos pioneiros foi Augusto Conte com um método positivista que tenta explicar os fenômenos que acontecem dentro de uma sociedade pelo método científico da observação e pela razão.

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    Mas foram outros pensadores que a ciência ganhou grande proporção. No campo da sociologia existem alguns autores de base como Karl Marx (1818-1883, Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). Esses homens são respeitados até hoje na sociologia porque desenvolveram métodos e teorias que são usadas em nossa sociedade para estudos de pesquisa que traz resultados positivos.

    Karl Marx é uma das pessoas mais emblemática que tem contribuído para essa ciência. Marx foi revolucionário e importante intelectual de origem alemã, esse pensador via a sociedade dívida em duas classes. Na base da pirâmide os trabalhadores para desenvolver a mão de obra e no topo da pirâmide vivem os patrões que tem muito dinheiro. Que de certa forma ficam com o lucro maior do trabalho é a sociedade capitalista.

    Émile Durkheim contribui com a sociologia, na questão do fato social existir dentro de uma sociedade e que essa sociedade é comparada como um corpo humano, se um órgão ser afetado todos saem prejudicado. Durkheim dizia que os fatos que acontecem dentro de uma sociedade, que vai estudar não pode expor seus valores suas crenças para não atrapalhar os resultados das pesquisas e tomar decisões precipitadas.

    Por outro lada Max Weber tem contribuído de forma significativa para a sociologia, analisando a sociedade com suas particularidades, o autor acreditava que cada sociedade tem o seu subjetivo jeito de viver dentro dessa sociedade. Mac escreveu algumas obras: A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-1905) e A ética econômica das religiões universais (1915).

    Como disciplina a sociologia explica os fenômenos que ocorre dentro de uma sociedade e procura estudar os teóricos que compõem essa ciência.

  • 20 Temas da Atualidade – Vol. I

    O professor de filosofia e sociologia deve ensinar as disciplinas de um modo diferentes fazendo os alunos questionarem, fazer ser uma pessoa que procura enxergar a sociedade não como algo sobre o prisma de alienação, mas como pessoas transformadoras, que move com suas ações.

    As maiores críticas a do ensino na atualidade é que nós não criamos pensadores, mas sim pessoas que só reproduzem os conhecimentos que é passado ao logo dos séculos. O professor deve levar o aluno a um patamar de conhecimentos maiores dentro de uma escala de ensino aprendizado. Tentar fazer que o aluno tenha um bom senso crítico.

    Por outro lado, o aluno tem de entender as relações que acontecer dentro da sociedade contemporânea, vale ressaltar que o professor tem de tentar resgatar os valores históricos para que esse aluno venha ter uma noção de tempo e ao mesmo tempo de espaço, esse espaço seja ele social, para ser interpretado.

    Vale ressaltar sobre que a interpretação de mundo, depende muito do contexto é que o aluno convivi, seja esse espaço cultural pode ser interpretado de várias formas e o professor sabendo disso aproveitar esse momento para enriquecer o vocabulário desse discente.

    Vale ressaltar que a escola de um como geral pode aproveitar também o aprendizado dos alunos no quesitos de ambiente, a exemplo quando se ensina sociologia , a escola pode aproveitar a região e trabalhar esses conceito na disciplina ,com uma escola que se encontra em uma comunidade, pode aproveitar para trabalhar a questão dos problemas sociais urbanos como: a violência em um modo geral ou trabalhar esse mesmo tema por critérios. Exemplo: violência contra a mulher, violência nas escolas e até mesmo a violência no trabalho com o professor.

    No campo da filosofia a escola pode trabalhar vários temos condizentes a disciplina como: a questão da ética dentro da sociedade, quais cidades desenvolver um padrão de

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    ética e moral mais apurado, o que precisa ser melhorado, a questão da ética na política, e nas organizações. É possível viver sem ética? Essas indagações podem ser feitas na hora de se trabalhar a filosofia.

    A escola pode trabalhar os valores universais que regem uma sociedade, como amor a vida, amor aos próximos, valores estes que estão inseridos em qualquer sociedade. Valores estes que pode se perder ao longo dos anos que se passam.

    Ainda persistindo no assunto a escola podem trabalhar a sociologia com questionários, a vários assuntos que queira fazer um levantamento por exemplo. Quais alunos tem internet em suas casas, e quais tem televisores, mesmo assim computadores e muito mais. Vai depender os objetivos da pesquisa e quais os resultados que queres chegar.

    1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Este artigo procurou abordar de um modo geral a

    importância do ensino da filosofia e da sociologia na educação escolar. Fazendo uma introdução desde o significado da palavra em primeiro momento.

    Também fez um apanhado geral dos principais pensadores dessas disciplinas, que levam o nome de teóricos, que aos longos dos tempos podem desenvolverem, os métodos e os princípios que regem as disciplinas como todas.

    Além disso procurou trazer um histórico desses matérias desde a chegada dos portugueses, passando pelos jesuítas, período do Brasil colonial, período da monarquia, Brasil republica, a era Vargas, tempos da ditatura, e até os dias atuais que se estabelece.

    O artigo procura trazer ainda como o professor pode abordar essas disciplinas em sala de aula, para ter um bom aproveitamento no que diz respeito do ensino aprendizado que é o bem maior e o foco que é o aluno. As vezes fazendo

  • 22 Temas da Atualidade – Vol. I

    com que esse aluno venha ser uma pessoa consciente em meio a sociedade ou o grupo que está inserido.

    No que diz respeito a escola, o artigo procurou demonstrar como é importante essas disciplinas para sociedade. A exemplo da filosofia a escola em momentos oportuno pode trabalhar várias questões que foi citado no artigo, como, aproveitar e explorar os temas os valores universais como: o valor a vida o valor de amar aos próximo, os valores éticos dentro das sociedade, que seja em qualquer sociedade ao redor do mundo todas tem seus valores e princípios para ser seguido e compreendido que seja pela comunidade que sobressai nos grupos sociais dentro das sociedade.

    Nesse contente o artigo procura demonstra também que é com muitas lutas e garra que as disciplinas sobrevivem. Entra governos e com suas ideologias procuram tirar as disciplinas com discurso que não são importantes para a sociedade. Raciocinando assim, quando uma matéria ou ciência incomoda quem está no poder pode ter certeza que essa ciência é importante para o bem do povo, e muitos que estão no poder podem ter medo de perde-lo. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia A. Filosofando: introdução a filosofia. 4. ed. São Paulo.

    Diretrizes curriculares da educação básica filosofia. Paraná, 2008.

    Diretrizes curriculares da educação básica sociologia. Paraná, 2008.

    RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 3. ed. São Paulo: Global, 2015.

  • A importância do ensino... 23

    SOCIOLOGIA. Dicionário Aurélio [online]. Disponível em: https://www.dicio.com.br/sociologia/. Acesso em: 30/01/19.

    https://www.dicio.com.br/sociologia/

  • 24 Temas da Atualidade – Vol. I

  • II

    A RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE E O DIREITO À AUTODETERMINAÇÃO

    Valdenir Prandi*

    2.1 INTRODUÇÃO

    O presente trabalho tem por objetivo analisar a

    problemática que envolve todo indivíduo quanto ao direito de ser deixado em paz na relação médico paciente. Que por sua vez o médico possui o conhecimento científico que deverá contribuir na recuperação do paciente diante da sua enfermidade encontrando-se fragilizado deposita confiança no agente de saúde. Nessa relação entre médico e paciente faz-se necessário a empatia colaborando para uma relação mais estável, na qual o paciente tem o direito de ser informado quanto ao procedimento a ser utilizado com todos os riscos possíveis e informar a lei com sua garantia em defesa de ambos. Uma vez que a informação foi bem esclarecida com linguagem compreensiva o paciente dará o Consentimento, para prosseguir ou não o tratamento.

    Em toda relação deve estar presente o processo humanizador entre profissional e paciente, o profissional da saúde tem sua formação acadêmica científica, mas não pode ser desconsiderado os aspectos morais, psicológicos do paciente. Será na relação entre ambos que diagnosticará as angústias, medos, inseguranças e incertezas do paciente uma vez que é evidenciado esse processo o paciente terá mais confiança no profissional da saúde, contribuindo para uma

    * Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Toledo-PR. E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]

  • 26 Temas da Atualidade – Vol. I

    melhor recuperação. Destacamos de forma muito abreviada documentos que contribuíram com a Bioética ao longo da sua história como: Código de Nurembergue (1947), o qual traz esclarecimentos quanto o que deve ser evitado de abusos referente ao Consentimento, livre e esclarecido, foi elaborado por advogados sendo formal em sua redação e rígido. Foi a partir desse que surge a Declaração de Helsinque (1964) que foi feita por médicos e para o uso deles, trazendo mudanças e mecanismos de proteção. Em 1993 temos as Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisa Biomédicas Envolvendo Seres Humanos, conhecida como Diretrizes do CIOMS (Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas) e OMS (Organização Mundial da Saúde). Em 1978, no Relatório de Belmonte que foi elaborado pela Comissão Nacional para a Proteção de Participantes Humanos de Pesquisa Bioética e Comportamental, que traz consigo o princípio ao respeito da pessoa destacando autonomia e proteção as pessoas com deficiências.

    Destacamos a importância dos guardiões que falam e tomam decisões em nome das pessoas incompetentes para tomar a sua própria decisão é preciso que essa escolha seja bem-feita para evitar danos às pessoas que se devem submeter ao tratamento, por sua vez a medicina está respaldada pelo auxílio jurídico diante de casos improfícuos. Por meio da Resolução nº 196/96 da Comissão de Ética em Pesquisa (Conep), associada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), destaca que o indivíduo ao dar o consentimento deve ser respeitada sua dignidade. Por meio de determinação jurídica que favorece o paciente em tomar sua decisão em relação a seu corpo a qual vê o paciente como fonte de autoridade toda pessoa adulta e de mente sadia tem o direito de determinar sobre seu corpo a garantia dada pela Constituição Federal no inciso II do art. 5º, no Brasil e no Estado de São Paulo o Código Civil no art. 15 por meio da lei nº 10.241 faz referência ao direito de decisão do indivíduo. Inferimos que uma vez o

  • A relação médico-paciente... 27

    indivíduo ao ter recebido todas as informações e esclarecimentos sobre seu estado de saúde e complexidade, tendo a probabilidade de ser curado como os riscos que poderão surgir e respaldado pela lei possa dar o Consentimento tanto para prosseguir como para interromper o tratamento.

    2.2 RELACIONAMENTO MÉDICO E PACIENTE

    O profissional da saúde é possuidor das teorias

    científicas que por sua vez irão contribuir na recuperação do paciente, ao escolher o profissional da saúde ou seus familiares depositam confiança e credibilidade no profissional ao mesmo tempo o paciente é possuidor de direitos. Será diante desse relacionamento de confiança depositada por parte do paciente e dos direitos do paciente deve-se ter muito presente a transparência da relação por meio da honestidade, isso será fator importante para dar segurança e estabilidade no tratamento obtendo resultados mais satisfatórios. O Médico terá a responsabilidade em dar as devidas informações ao paciente, juntamente com os riscos que poderão surgir ao longo do tratamento enquanto nessa relação o paciente encontra-se fragilizado física e psicologicamente por causa da enfermidade.

    Assim podemos ver a existência de um terceiro fator como em Epidemics, Hipócrates:

    Declarar o passado, diagnosticar o presente, prever o futuro; praticar todos estes atos. Quanto às enfermidades, habituar-se a duas coisas: ajudar ou, pelo menos, não causar dano. A arte tem três fatores, a enfermidade, o paciente, o médico. O médico é o servo da arte. O paciente precisa cooperar com o médico no combate à enfermidade (ENGELHARDT, 1998, p. 348).

    A presença da arte na qual está diretamente relacionada à técnica profissional por sua vez irá estabelecer

  • 28 Temas da Atualidade – Vol. I

    padrões diante dos problemas a serem enfrentados de âmbito canônico ou no âmbito da medicina. No Código de Ética Médica estabelece princípios fundamentais deixados pelos ensinamentos de Hipócrates “[...] defende o amor ao paciente como forma de amor pela arte médica” (MABTUM, MARCHETTO, 2015, p. 74), reconhecendo os princípios da bioética que garantem aos pacientes: autonomia, beneficência, não maleficência, justiça, cidadania, responsabilidade e dignidade humana.

    Conforme ressalta Engelhardt, “a cura é procurada por causa de preocupações que alcançam a própria raiz da existência humana: o medo da morte, da deformidade e da incapacidade” (ENGELHARDT, 1998, p. 349). A partir de tal constatação os profissionais que têm a missão de curar numa relação paralela com o médico, advogado, teólogo e sacerdote possuem elementos essencias da vida humana em suas mãos. Diante dessa realidade o médico e paciente com suas diferenças intelectuais, faz-se necessário um esclarecimento com linguagem compreensiva sem usar termos técnicos que dificultam a compreensão do paciente diante da enfermidade e dos riscos. Na profissão de médicos por sua vez acaba formando uma elite de intelectuais que levará a uma disputa por posições sociais e pelo dinheiro que muitas vezes pode acarretar danos na profissão e na própria relação com o paciente.

    A profissão do médico vem considerada “douta pelo fato de exigir habilidade para prevenir e controlar doenças e evitar a morte” (ENGELHARDT, 1998, p. 350). Possuidora da missão de apoiar, prevenir e por meio do tratamento aliviar a dor do paciente percebendo a aflição diante da enfermidade e o medo da morte.

    Sendo o paciente um estranho quando procura um médico que por sua vez pertence a um grupo de amigos dos quais se defendem simultaneamente diante dos riscos ou ameaças, ao adentrar o paciente na comunidade dos

  • A relação médico-paciente... 29

    profissionais da medicina existe uma distância entre ambos por causa da linguagem técnica cientifica a qual deve ser vencida pelo esclarecimento, apresentando as opções de tratamentos e eventuais riscos. É a partir desse encontro que surgem as consequências: “aceitar um diagnóstico geralmente significa comprometer-se com uma nova ordenação da própria vida, em termos dos tratamentos e regimes preventivos que o diagnóstico preconiza” (ENGELHARDT, 1998, p. 355). É chegado o momento do qual a força do diálogo e esclarecimento irão contribuir na aceitação ou não do tratamento visando as possíveis transformações na vida futura do paciente, acarretando em certas burocracias que envolvem o médico e os valores morais dos quais o paciente traz consigo.

    Esse momento no qual o médico depara com a burocracia na qual “precisam entrar em acordo com os compromissos morais e as visões dos indivíduos de várias comunidades morais, ao mesmo tempo em que preservam a textura moral de uma sociedade pacífica, secular e pluralista” (ENGELHARDT, 1998, p. 359). Diante da pluralidade o profissional da saúde deve portar-se de forma coerente visando o bem e a dignidade da pessoa humana respeitando sua posição moral e ética, para que não venha transgredir os valores do paciente, pelo diálogo e informação irá esclarecer o tratamento a ser realizado.

    Deve-se ter presente que na relação médico paciente a empatia tem uma função especial, pela acolhida do profissional verso paciente dará a ele segurança e depositará confiança contribuindo num processo de humanização na recuperação e o tratamento terá maior êxito. Quanto à humanização nessa relação nos diz:

    [...] para que se alcance um cuidado de humanizado, o profissional da saúde precisa e essencialmente, compartilhar com seu paciente experiências e vivências que resultem na ampliação do foco de suas ações exercer na

  • 30 Temas da Atualidade – Vol. I

    prática o re-situar das questões pessoais num quadro ético, em que o cuidar se vincula à compreensão da pessoa em sua peculiaridade (PESSINI, BERTACHINI, 2004 p. 3).

    O processo humanizador entre profissional e paciente

    parte de valores éticos havendo a confiança para acontecer abertura por parte do paciente ao relatar sua vida suas ações possibilitando ao profissional da saúde ter um diagnóstico mais preciso contribuindo na tomada de decisões referente ao melhor procedimento clínico a ser tomado no tratamento.

    A formação do profissional de saúde está voltada para a área científica técnica muitas das vezes vêm desconsiderados os aspectos morais e psicológicos do paciente:

    [...] a formação médica é intensamente orientada para aspectos que se referem à anatomia, à fisiologia, à patologia, à clínica, desconsiderando a história da pessoa doente, o apoio moral e psicológico. Face a essa realidade, o primeiro ponto a ser colocado para reflexão é relativo ao comportamento profissional do médico que deve incorporar cuidados ao sofrimento do paciente, possivelmente divergente do modelo clínico. Isto não significa que os profissionais de saúde tenham que se transformar em psicólogos ou psicanalistas, mas que, além do suporte técnico-diagnóstico, se faz necessário uma sensibilidade para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas queixas e encontrar, junto com o paciente, estratégias que facilitem sua adaptação ao estilo de vida exigido pela doença (CAPRARA, FRANCO, 1999, p. 650).

    Nesta perspectiva vem ressaltada a importância

    comportamental do profissional de saúde ao adentrar na relação com seu paciente diagnosticando suas angústias, receios, inseguranças e incertezas muitas vezes apresentadas diante da enfermidade a qual poderá deixar sequelas para toda a vida, acarretando em uma reestruturação e adaptação para convivência social, a readaptação traz consigo traumas,

  • A relação médico-paciente... 31

    rejeições, sentimentos de inferioridade e impotência diante de certas ações e outras que vão surgindo dependendo da complexidade de cada caso. É nesse processo de humanização e confiança que o paciente entrega sua vida, nas mãos do profissional de saúde aquele que contribuirá na recuperação restituindo ao mesmo tempo a alegria e sua dignidade de ser humano.

    2.3 DOCUMENTOS ORIENTADORES PARA BIOÉTICA

    Acima refletimos a relação médico paciente que nos

    levou a perceber sua eficácia e importância na recuperação quando ambos conseguem, obter confiança por meio da empatia que contribui para obter-se êxito no tratamento.

    Veremos de forma breve a elaboração de documentos que irão contribuir com a Bioética evitando abusos contra pacientes, na história em pesquisas com seres humanos foi constatado abusos e falta de respeito, a partir de tais constatações foi elaborado o Código de Nuremberg (1947), trazendo consigo a importância do consentimento do sujeito humano o qual deve ser capazes de consentir ser coagido, sendo necessário a devida explicação sobre o objetivo, método, durabilidade, meios que serão conduzidos e os possíveis riscos ao longo da experiência, sendo que a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento é de cada indivíduo que inicia ou dirige um experimento, são deveres e responsabilidade que não podem sem delegados a outros impunimente (LUNA, 2008, 43).

    O Código de Nuremberg é de grande importância ao esclarecer o que deve conter para evitar os abusos, porém não foi suficiente e continuou acontecendo irregularidades em pesquisas. Na “era de ouro da pesquisa” nos Estados Unidos, era a época de progresso a qual contribuiria para que enfermidades e doenças fossem resolvidas pela ciência.

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    Foi a partir dessas constatações que começa a pensar em um novo documento, pois o Código de Nuremberghe (1947) era muito formal e rígido ao ser escrito por advogados. Nesse contexto surge a Declaração de Helsinque (1964), elaborado pelos médicos e para uso deles. Portadora de mudanças quanto ao consentimento ressaltando outros mecanismos de proteção. Na Seção I da Declaração de Helsinque (1964) traz os princípios básicos relatados nos artigos:

    I.9 Em qualquer pesquisa envolvendo seres humanos, cada participante em potencial deve ser adequadamente informado quanto aos objetivos, métodos, benefícios previstos e potenciais danos do estudo, e o incômodo que este possa acarretar. Deve ser informado de que tem plena liberdade para se abster de participar do estudo e de que é livre para retirar seu consentimento em participar a qualquer momento. O médico deve então obter o consentimento informado livremente dado pelo participante, de preferência por escrito. I.10 Ao obter o consentimento informado, o médico deve ser particularmente cauteloso se o sujeito tiver relação de dependência a ele e possa consentir sob coação. Nesse caso, o consentimento informado deve ser obtido por um médico que não esteja envolvido na pesquisa e que seja completamente independente desse relacionamento oficial (LUNA, 2008, p. 44). A Declaração de Helsinque no artigo I. 11 dá

    permissão para realizar pesquisa em indivíduos que não possuem competência legal.

    Em caso de incompetência legal, o consentimento informado deve ser dado pelo guardião legal, em conformidade com a legislação nacional. Quando uma incapacidade física ou mental impossibilita a obtenção do consentimento informado, ou quando o participante for menor de idade, a permissão do familiar responsável substitui

  • A relação médico-paciente... 33

    a do participante, obedecendo-se à legislação nacional. Sempre que o menor for de fato capaz de dar seu consentimento, este deve ser obtido, além daquele de seu guardião legal (LUNA, 2008, p. 44).

    Por ser uma Declaração elaborada por médicos traz consigo uma abrangência maior voltando sua atenção não somente a pesquisas terapêuticas, mas buscando naquelas que poderiam beneficiar os que estão participando, estabelecendo parâmetros para o Consentimento livre, esclarecido com procedimentos eticamente corretos e aceitos. No ano de 1993 foi elaborada as Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisas Biomédicas Envolvendo Seres Humanos, também conhecidas como Diretrizes do CIOMS (Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), tendo por objetivo a complementação da Declaração de Helsinque (Luna, 2008, p. 44).

    Pode-se inferir que diante dos casos de abusos que foram originados por falta de um consentimento, livre, esclarecido adequado deve-se destacar a importâncias dos profissionais de saúde que por sua vez usarão de eficiência e comprometimento éticos no exercício da profissão em favor da vida. Buscar-se-á uma justificativa a partir do respeito pelas pessoas, no Relatório de Belmont (1878) elaborado pela Comissão Nacional para a Proteção de Participantes Humanos de Pesquisa Biomédica e Comportamental o qual dá três princípios éticos: respeito pelas pessoas; beneficência e justiça. Sendo o respeito pela pessoa está diretamente em relação ao Consentimento livre, esclarecido inserindo os indivíduos a serem tratados como agentes autônomos e aqueles que possuem capacidades reduzidas o direito a proteção.

    Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir em direção a tal deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar as opiniões

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    e escolhas das pessoas autônomas, evitando, dessa maneira, obstruir suas ações, a menos que sejam claramente prejudiciais a outrem (United States of America 1979, Section B). (LUNA, 2008, p. 49).

    O respeito à autonomia encontra-se em valorizar a opinião e escolha da pessoa a menos que possa prejudicar outras. O Relatório de Belmont traz o princípio ao respeito da pessoa destacando autonomia e proteção das pessoas portadoras de deficiências epistemológicas e capacidade intelectual reduzida (LUNA, 2008, p. 50). Podemos encontrar a justificativa “a prática do livre e informado consentimento é justificada tanto pelo respeito à liberdade dos indivíduos como pelo objetivo de atender a seus melhores interesses” (ENGELHARDT, 1998, p. 361). Sendo heterogêneas faz-se necessário a permissão não somente dos que irão ser tratados mas dos responsáveis por aqueles que não são capazes de tomar decisões por si mesmos. Aos indivíduos competentes podemos justificar a partir do princípio de permissão e beneficência, em tais decisões serão portadoras de tensões morais que muitas vezes são contrárias aos melhores interesses.

    Podendo acontecer com os quais indicarão um procurador para tomar decisões em seu lugar:

    A maior parte dos guardiões de facto não age com base em diretrizes formais prévias que transmitem autoridade moral e que dão instrução para orientar a decisão de um procurador. São parentes próximos, colocados na posição de precisar tomar uma decisão sobre o tratamento de um incompetente membro da família. Só uma pequena parte dos pacientes completa as diretrizes prévias, e aqueles que o fazem muitas vezes deixam instruções incompletas para seus procuradores (ENGELHARDT, 1998, p. 362). Esses guardiões falando em nome das pessoas

    incompetentes não deixarão instruções nem transmitem

  • A relação médico-paciente... 35

    autoridade, tendo um lugar diferente daqueles escolhidos, os mesmos não são extensão da liberdade individual de outra pessoa. É preciso ressaltar a devida atenção às crianças que nascem portadoras de deficiências sendo os pais responsáveis no cuidado das mesmas ou quando os mesmos não fazem os referidos procuradores irão em busca do melhor tratamento do indivíduo buscando a proteção, muitos dos procurados são escolhidos na informalidade sem diretrizes prévias ou com bases na legislação civil. O procurador consentindo traz consigo várias práticas que refletem nos valores morais e éticos do indivíduo, sendo necessário que o guardião tenha autoridade por nomeação ou indicação que transmitem autoridade e permissão para agir.

    A importância de uma boa escolha do guardião para que tenhamos clareza onde estamos entrando e nos submetemos a um tratamento ou experiência médica científica como nos diz: “Atenção. Se você não indicou um guardião ou procurador e entra no hospital ou em nosso programa de seguro, vamos considerar que você aceitou nossas práticas de indicar guardiões e procuradores para tomar decisões em seu nome” (ENGELHARDT, 1998, p. 365). É diante das complexidades que o indivíduo deve estar atento e informado dos procedimentos a serem tomados a respeito de sua vida.

    O consentimento refere-se à autoridade de outra pessoa na tomada de decisões em seu nome diante de procedimentos hospitalares no qual o paciente será envolvido nos aspectos físico, psicológico almejando bom êxito no resultado de tratamento a ser submetido, o consentimento terá validade no campo jurídico sendo necessário o deferimento na liberdade e serenidade por meio de um diálogo esclarecedor e profícuo entre o profissional da saúde com o paciente. A origem do consentimento “não é encontrada em Hipócrates, mas constitui uma contribuição da ciência jurídica para a medicina, auxiliando-a, com os ideais

  • 36 Temas da Atualidade – Vol. I

    emanados da teoria dos direitos humanos, na sua concretização como direito primário e fundamental” (MABTUM, MARCHETTO, 2015, p. 76).

    A medicina se vale do auxílio jurídico para sua proteção diante dos casos improfícuos sujeitos a esclarecimentos mais contundentes, cada vez mais ressalta a importância do esclarecimento ao paciente de todo procedimento a ser realizado, o médico é possuidor dos conhecimentos técnicos diante de um indivíduo fragilizado pela dor e enfermidade, fazendo-se necessária prudência ao anunciar “os diagnósticos e prognósticos, assim como os riscos, devem ser informados com prudência, tendo em conta os efeitos psicológicos sobre o paciente” (MABTUM, MARCHETTO, 2015, p. 78), necessária, para não agravar mais a situação do paciente aonde o profissional deverá usar de perspicácia diante da real situação do paciente em busca de compreender sua personalidade, pois o paciente deposita confiança no profissional da saúde, em busca de alívio em suas dores.

    No Relatório de Belmont temos a observação que nem todo ser humano é capaz de autodeterminar: algumas pessoas perdem total ou parcialmente sua autonomia por causa de doenças, distúrbios mentais, também temos os imaturos e incapacitados que requer proteção, assim o Relatório de Belmont analisa o Consentimento livre, esclarecido a partir dos elementos: de informação, de compreensão e voluntariedade (LUNA, 2008, p. 49). Assim sendo necessário a proteção aos que irão participar de pesquisas e tratamentos, deve-se ter mais atenção com pessoa que se encontram diante da redução de suas capacidades de decisão e precisam ser protegidas.

  • A relação médico-paciente... 37

    2.4 O DIREITO DE DECISÃO DO INDIVÍDUO DIANTE DA ENFERMIDADE

    Acima, de forma breve, fez-se uma reflexão sobre o

    relacionamento do paciente com o agente de saúde, ressaltando a importância para o bom êxito do tratamento clínico na recuperação da saúde do paciente. Depois vimos os documentos que vêm auxiliar a Bioética no seu desenvolvimento e eficácia em favor da vida humana, destacando a proteção aos que não são capazes de decidir por si mesmo, também a importância do consentimento, livre e esclarecido por meio de um diálogo sincero e transparente entre paciente, médico e aqueles que receberam a incumbência de acompanhar e decidir por quem não está apto a tais decisões. Agora faz-se necessário analisar o direito do paciente de decidir em ser tratado ou não, sendo de grande complexidade não será o objetivo adentrar tão profundamente, mas sim buscar elucidar o caminho que pode ser percorrido e condição das quais o indivíduo possa tomar a devida decisão. Direito o qual deve estar respaldado pela lei jurídica responsável de evitar abusos contribuindo para que seja construída uma sociedade eticamente igualitária.

    No ano de 1996, por meio da Resolução nº 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), associada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), os especialistas veem que as resoluções compreendem que ao dar o consentimento deve respeitar a dignidade do indivíduo, sendo que a linguagem da redação deve ser compreensiva respeitando o contexto cultural, econômico, social diante da autonomia do indivíduo. Por não possuírem norma especificas quanto ao consentimento podendo ser usadas por analogia aproveitando o que pode ser compatível ao contexto clínico. No capítulo primeiro do Código de Ética Médica, diz que o profissional deve aceitar as escolhas do paciente, levando o Conselho Federal de Medicina ter o interesse na garantia e respeito à

  • 38 Temas da Atualidade – Vol. I

    decisão do paciente, no capítulo IV proíbe o profissional de atentar contra a autonomia da vontade do paciente, que poderá recusar a terapia médico-hospitalar (MABTUM, MARCHETTO, 2015, p. 86).

    Deparamo-nos com uma determinação jurídica em favor do paciente, os quais assegurados no direito de decidirem em relação de seu corpo por meio do seu consentimento para prosseguir ou interromper o tratamento, “esta decisão não se baseia em uma visão do paciente como fonte de autoridade, mas nas preocupações com a razão pela qual seria útil obter consentimento” (ENGELHARDT, 1998, p. 367). Podemos encontrar uma orientação jurídica diante da decisão corajosa do paciente em recusar o tratamento quando o juiz Cardozo diz:

    Todo ser humano de idade adulta e mente sadia tem o direito de determinar o que será feito com seu próprio corpo; e um cirurgião que realiza uma operação sem o consentimento do paciente comete um assalto, pelo qual estará sujeito a ser processado (ENGELHARDT, 1998, p. 367).

    A real complexidade do consentimento livre e

    esclarecido pode-se perguntar quem realmente é competente para tomar tal decisão ou quem poderá tomar a decisão em nome de outro. A legislação onde expressa a vontade do paciente como pressuposto de autonomia, em respeito à dignidade humana, é uma garantia constitucional, no inciso II do art. 5º da Constituição Federal determina que ninguém será compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se não estiver previsto em lei. No Código Civil, no art. 15, também faz menção, deve-se observar que no Brasil e no estado de São Paulo, por meio da lei nº 10.241, de 1999, conhecida como Lei Covas, prevê o respeito à autonomia dos usuários dos serviços de saúde, que se dá pelo consentimento

  • A relação médico-paciente... 39

    informado, sendo permitido ao enfermo inclusive escolher o local de sua morte (MABTUM; MARCHETTO, 2015, p. 87).

    Assim por meio do esclarecimento ao paciente dos riscos e benefícios referentes ao tratamento a ser submetido, e informado da real complexidade da enfermidade o indivíduo, uma vez estando esclarecido e respaldado pela lei no uso de suas faculdades mentais, tem o direito de decidir sobre sua vida. Tem que ser levado em consideração todo o contexto moral e ético que envolve o indivíduo.

    Ao referir quanto ao direito de ser deixado em paz, “os indivíduos devem ter segurança em seu corpo contra o toque não autorizado de outras pessoas” (ENGELHARDT, 1998, p. 366), tal direito deve ser respeitado em pessoas comprovadamente sadias em pleno uso da razão, de idade adulta. Para Burger, “os indivíduos tem autoridade para recusar tratamento, mesmo que sua decisão seja baseada em premissas e interpretações do mundo que a maior parte das pessoas considera errada e irracional” (ENGELHARDT, 1998, p. 369). A fundamentação do direito de ser deixado em paz está no princípio do consentimento, o mesmo já foi demonstrado em decisões jurídicas. Pode justificar pela moralidade secular que a escolha é feita por “um indivíduo racional, autoconsciente, que escolhe livremente a ação particular ou a omissão” (ENGELHARDT, 1998, p. 370). Diante de tal decisão é suficiente que o indivíduo tenha compreensão geral da complexidade que o envolve e por meio de sua liberdade, “eu preciso escolher de maneira caprichosa, mesmo em se tratando de questões de risco” (ENGELHARDT, 1998, p. 370), essa liberdade do indivíduo deve ser consciente e responsável, ao trazer consigo valores da crença religiosa a qual o indivíduo pertence.

    Todo indivíduo em bom uso de sua razão pode decidir sobre sua vida de forma livre de qualquer instrumento coercitivo ou táticas de manipulação que possam inibir sua liberdade de decisão uma vez que foi esclarecido todo o

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    procedimento a ser realizado e informado do respaldo jurídico ele pode tomar a devida decisão de continuar ou interromper o tratamento, deve ter presente a responsabilidade do agente de saúde sempre permanece independente da decisão do paciente. Tal decisão deve ser tomada ponderadamente uma vez esclarecido todas as dúvidas essa conduta fortalece a relação médico-paciente, que é tipicamente fiduciária (MABTUM, MARCHETTO, 2015, p. 77).

    2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Neste trabalho buscou apresentar a importância de

    uma relação harmoniosa entre médico e paciente, no tratamento a ser proposto ao paciente. Mostra a profissão do agente de saúde como douta exigindo habilidades para prevenção de doença e da morte, os mesmos devem agir eticamente respeitando a história de cada indivíduo. Fazendo-se necessário um bom diálogo com linguagem compreensiva para que o paciente possa dar o Consentimento com maior liberdade.

    Encontramos respaldo em orientações jurídicas quanto o direito de ser deixado em paz optando por interromper o tratamento, a legislação auxilia ambas as partes envolvidas, ao mesmo tempo os documentos elaborados ao longo da história que são a base orientadora da Bioética para que abusos sejam evitados, em vista da dignidade da pessoa humana a qual deve ser preservada e respeitada. Espera-se que possa contribuir a uma reflexão mais ampla e contemporânea em favor de esclarecimentos aos indivíduos que serão submetidos aos tratamentos clínicos, nessa relação humana entre médico e paciente os valores morais e éticos devem ser respeitados contribuindo para uma nova visão moral na convivência em sociedade.

  • A relação médico-paciente... 41

    REFERÊNCIAS

    CAPRARA, Andrea; FRANCO, Anamélia Lins e Silva. A Relação paciente-médico: para uma humanização da prática médica. In: Cad. Saúde Pública, vol.15, n.3, pp.647-654, 1999.

    ENGELHARDT, H. Tristam Jr. Fundamentos da Bioética, Trad. José A. Ceschin. São Paulo: Loyola, 1998.

    LUNA, Florencia. Consentimento livre e esclarecido: ainda uma ferramenta útil na ética em pesquisa, Reciis – R. Eletr. De Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v. 2, Sup. 1. P. Sup. 42-Sup.53, Dez., 2008.

    MABTUM, Matheus Massaro; MARCHETTO, Patrícia Borba. Reflexões sobre o consentimento livre e esclarecido, In: O debate bioético e jurídico sobre as diretivas antecipadas de vontade. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.

    PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana (org.). Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: Loyola, 2004.

    http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=CAPRARA,+ANDREAhttp://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=FRANCO,+ANAMELIA+LINS+E+SILVA

  • 42 Temas da Atualidade – Vol. I

  • III

    A SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR FRENTE AO ESTRESSE E AS EXIGÊNCIAS DE

    QUALIFICAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

    Anna Julia Sartori Pereira Mignoso* Lidiane Sposito**

    Valderice Cecilia Limberger Rippel*** RESUMO: O mercado de trabalho contemporâneo gera impactos à saúde mental do trabalhador, pois o trabalho é cada vez mais flexível, terceirizado, cresce o desemprego, a desigualdade de renda e a competitividade para se manter empregado. Partindo deste arcabouço, e por meio de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo e natureza qualitativa, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a importância da saúde mental do trabalhador frente ao estresse às constantes exigências de qualificação no mercado de trabalho. Na primeira seção apresenta-se um panorama geral sobre as características do mercado de trabalho contemporâneo, com foco nos impactos deste sobre a saúde do trabalhador e os transtornos mentais decorrentes do trabalho. Em seguida, aborda-se com mais detalhes a característica de apropriação

    * Pós-graduada no curso de especialização em MBA Gestão de Pessoas do Operacional ao Comportamental pela Faculdade União de Campo Mourão (UNICAMPO). ** Pós-graduada no curso de especialização em MBA Gestão de Pessoas do Operacional ao Comportamental pela Faculdade União de Campo Mourão (UNICAMPO). *** Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora da Faculdade União de Campo Mourão (UNICAMPO). E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]

  • 44 Temas da Atualidade – Vol. I

    do tempo livre do trabalhador, por meio da exigência de educação e qualificação para o mercado de trabalho; ao mesmo tempo em que se discutem as possibilidades de desenvolvimento do trabalhador, com vistas a apresentar indicadores de prevenção ao estresse. Na terceira seção, apresentam-se indicadores específicos, como testes psicológicos e abordagens de gestão e desenvolvimento humano que podem melhorar a saúde mental dos trabalhadores.

    PALAVRAS-CHAVE: Estresse. Mercado de Trabalho. Saúde Mental. Qualificação.

    3.1 INTRODUÇÃO

    O mercado de trabalho contemporâneo vivencia uma

    crise econômica relacionada às mudanças no status do trabalho, pois há um outro estilo de produção que valoriza a criatividade do trabalhador, substitui trabalhadores manuais por máquinas, e enfrenta grande índices de desemprego, instabilidade e doenças mentais. Tal momento gera angústia psicológica, depressão, ansiedade, isolamento social e aumento no consumo de drogas e substâncias psicoativas (VIEIRA, 2016). Além disso, os transtornos e doenças mentais são a terceira principal causa de incapacidade e/ou afastamento no trabalho (SILVA JÚNIOR, 2016).

    Diversas problematizações são expostas na obra de Sennett (2009), o qual questiona os impactos do trabalho moderno no caráter e na saúde mental dos trabalhadores, justificando que uma sociedade de curto prazo impede o estabelecimento de vínculos e de objetivos de longo prazo. O autor defende que “o capitalismo de curto prazo corrói o caráter [do trabalhador], sobretudo aquelas qualidades de caráter que ligam os seres humanos uns aos outros, e dão a

  • A saúde mental do trabalhador... 45

    cada um deles um senso de identidade sustentável” (SENNETT, 2009, p. 27).

    Tal afirmação acaba por justificar a necessidade de realizar pesquisas sobre o tema, principalmente com o objetivo de apontar indicadores que melhorem a saúde mental e a qualidade de vida dos trabalhadores contemporâneos, tendo em vista os impactos que o atual mercado de trabalho exerce sobre eles. Justifica-se ainda que a valorização da saúde mental do trabalhador tem benefícios para o próprio mercado, pois, tal como reflete De Masi (2000), o mercado de trabalho contemporâneo necessita de trabalhadores motivados e criativos e essas características são observadas em ambientes de trabalho saudáveis.

    A partir do exposto, se propõem nesta investigação, no objetivo geral analisar a importância da saúde mental do trabalhador frente ao estresse a as constantes exigências de qualificação no mercado de trabalho. Os objetivos específicos incluem: descrever a importância da saúde mental do trabalhador considerando o estresse no mercado de trabalho contemporâneo; discorrer sobre as exigências de educação e qualificação para o mercado de trabalho; e apresentar indicadores que podem melhorar a saúde mental dos trabalhadores.

    Para respondê-lo, utiliza-se como metodologia a revisão bibliográfica, a partir da leitura de textos, livros e artigos científicos publicados em língua portuguesa. Marconi e Lakatos (2003, p. 215) explicam que a pesquisa bibliográfica é aquela que considera as respostas e dúvidas que outros pesquisadores já formularam, ou seja, uma “integração da teoria existente e análise do material já disponível”, evidenciando ideias e conclusões existentes, possíveis lacunas e reflexões pertinentes.

    Os resultados obtidos foram divididos em quatro seções. A primeira traz um panorama geral sobre as características do mercado de trabalho contemporâneo, com

  • 46 Temas da Atualidade – Vol. I

    foco nos impactos deste sobre a saúde do trabalhador. Em seguida, aborda-se especificamente a característica de apropriação do tempo livre do trabalhador, por meio da exigência de educação e qualificação para o mercado de trabalho. Apresentam-se então, alguns indicadores que podem melhorar a saúde mental dos trabalhadores, como avaliações de desempenho, acompanhamento e treinamento. Encerra-se com as considerações finais, nas quais se destaca o diálogo entre as seções abordadas.

    3.2 SAÚDE MENTAL E ESTRESSE NO MERCADO DE TRABALHO CONTEMPORÂNEO

    O mercado de trabalho contemporâneo é descrito, nas palavras de Sennett (2009, p. 9), como “capitalismo flexível”, onde os trabalhadores são constantemente solicitados a serem ágeis e dinâmicos. A ideia de “carreira”, que simboliza a atividade econômica que pode durar a vida toda ou transitar apenas por uma ou duas organizações, foi substituída pelo “job” – serviço ou emprego que é apenas parte de um trabalho, muitas vezes característico do sistema de terceirização1 –, de forma que o trabalhador de nível médio pode esperar mudar de emprego pelo menos onze vezes ao longo da vida.

    A alta rotatividade de funcionários evidencia o que Vieira (2016) chama de crise do capitalismo, no sentido de que esse sistema não tem se mostrado capaz de manter o desenvolvimento econômico e social que prometeu. Nesse cenário, a crise econômica é a mais evidente (altas taxas de juros, inflação, salários defasados em comparação com o aumento do custo de vida, entre outras características), pois afeta tanto o setor público quanto o privado e os trabalhadores são os mais prejudicados, pois precisam

    1 As empresas geralmente contratam trabalhadores temporários ou outras empresas para realizar atividades consideradas secundárias dentro das suas atribuições (SENNETT, 2009).

  • A saúde mental do trabalhador... 47

    manter-se nesse mercado de trabalho incerto para garantir sua sobrevivência.

    Após a Segunda Guerra Mundial, [...] na maioria das economias avançadas, sindicatos fortes, garantias do estado assistencialista e empresas em grande escala combinaram-se e produziram uma era de relativa estabilidade. [...] Uma mudança na moderna estrutura institucional acompanhou o trabalho a curto prazo, por contrato ou episódico. As empresas buscaram eliminar camadas de burocracia, tornar-se organizações mais planas e flexíveis. Em vez das organizações tipo pirâmide, a administração quer agora pensar nas organizações como redes (SENNETT, 2009, p. 23).

    O mundo do trabalho flexível gera ansiedade porque,

    na medida em que supostamente dá mais liberdade aos trabalhadores, aumenta seu controle sobre eles, por exigir uma constante renúncia dos desejos pessoais na busca de apenas defender seu posto de trabalho. Os objetivos dos trabalhadores acabam se resumindo em: manter a família, economizar para comprar uma casa [mesmo que financiada] e cuidar da educação dos filhos para que estes, sim, possam ter um futuro com maior liberdade e possibilidade de escolha nas suas profissões (SENNETT, 2009).

    A suposta liberdade se restringe à livre circulação de moedas e bens. Por outro lado, o trabalhador se torna cada vez mais especializado, pois o aumento dos bens disponíveis no mercado exige a especialização da função produtiva. Sennett (2009) problematiza a criação de uma nova rotina de trabalho, na qual o trabalhador é cada vez mais distanciado dos resultados e passa a ver apenas determinados processos.

    Além disso, o capitalismo contemporâneo é também impaciente porque deseja um retorno cada vez mais rápido, em curto prazo, e utiliza a flexibilidade como justificativa para manter a exploração dos trabalhadores. A organização como

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    rede tem regras fixas de demissão e contratação, porém, as tarefas e as exigências de trabalho são menos nítidas (SENNETT, 2009). Os autores Antunes e Alves (2004) concordam que o trabalho contemporâneo é marcado pela flexibilização e pela mundialização do capital, em decorrência da globalização.

    Para os autores supracitados, o mundo do trabalho possui algumas características muito marcantes que alteram o desenvolvimento da subjetividade dos trabalhadores. Diferente do proletariado industrial, manual e especializado do período taylorista e fordista (século XX), atualmente há uma diminuição no emprego formal, com consequente aumento do setor de serviços e desemprego em massa no setor industrial. Há, então, um aumento do trabalho precarizado, como o emprego terceirizado e o part-time, que, por sua vez, aumenta o desemprego estrutural e traz novas exigências, como a sobrecarga de jornada e a expansão do trabalho domiciliar (ANTUNES, ALVES, 2004).

    De acordo com Vieira (2016, p. 4), há “consequências sociais mais amplas” para esses fenômenos e “verifica-se que a perda do emprego e o aumento do desemprego provocam perdas financeiras e o endividamento das famílias, levando ao empobrecimento, ao aumento dos divórcios e da violência”.

    Aumenta também o trabalho feminino, porém, em condições desiguais de salário e regulamentação. Ao mesmo tempo, há a exclusão dos jovens, considerados pouco experientes, e a exclusão dos idosos, que reingressam no mercado apenas através de trabalho informal ou voluntário. Nesse sentido, aumentam as atividades do Terceiro Setor, que abrange o voluntariado e o trabalho de caráter assistencial, que, por sua vez, é funcional para o capital porque absorve mão de obra desempregada (ANTUNES, ALVES, 2004).

    De Masi (2000, p. 10) explica que a sociedade pós-moderna “caminha em direção à predominância do setor de serviços”, porque as máquinas tendem a realizar a maior parte

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    do trabalho manual e até mesmo intelectual – visto que as tecnologias são capazes de pensar, calcular e organizar dados. Com isso, as pessoas se sentem cada vez mais descartáveis e buscam maneiras alternativas para se manter no mercado, como por exemplo, por meio da capacitação e aperfeiçoamento das suas habilidades com as tecnologias.

    Por um lado, o uso constante das tecnologias, em especial computadores e smartphones, possibilita a comunicação e a troca de informações cada vez mais velozes, por outro exige que a força de trabalho lide com essas tecnologias, processando dados, controlando pessoas e processos, criando relatórios – o que exige conhecimento específico nessa área (SENNETT, 2009). Além disso, o alto contato com maquinário e tecnologias distancia as pessoas da sua humanidade e das relações humanas, gerando isolamento (ANTUNES, ALVES, 2004).

    Dessa forma, ao apresentar as características do mercado de trabalho contemporâneo, é possível correlaciona-las com os impactos à saúde mental do trabalhador, visto que:

    Essas condições, associadas à insegurança quanto à manutenção do emprego, ocasionam piora da saúde mental, com elevação da incidência e prevalência de ansiedade, depressão, estresse e abuso de álcool e outras drogas2. Ainda como consequência para a situação da

    2 As doenças mentais aqui citadas estão catalogadas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e também possuem indicação na Classificação Internacional de Doenças (CID), sendo descritas como quadros clínicos que possuem diversos sintomas visíveis em determinado período de tempo e que prejudicam o funcionamento “normal” do organismo, comprometendo a produtividade e a vida social, familiar e laboral. Especificamente quanto ao estresse, a literatura o define como uma alteração física ou psicológica no organismo que não está relacionada com uma doença específica e compromete o equilíbrio normal, sendo resultante da interação de três variáveis: disposição pessoal, gratificação no trabalho e situação social no trabalho. Aspectos culturais influenciam na dinâmica do estresse que, por sua vez,

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    saúde, identificaram-se o aumento dos casos de suicídio e de doenças crônicas e infecciosas (VIEIRA, 2016, p. 4).

    Além disso, devido a mundialização do trabalho (no sentido de existirem influências mundiais que determinam valores e formas de produção), dificulta-se a ação localizada dos trabalhadores. Se até o século XX, seguindo os ideais taylorista e fordista, o trabalhador era totalmente alienado da produção, atualmente ele é apropriado, ou seja, sua subjetividade também começa a ser considerada como parte do capital, ou seja, há uma captura integral do trabalhador. Os trabalhadores agora são mais participativos no processo de produção, porque suas ideias e habilidades cognitivas são exploradas pela empresa, tornam-se fonte de lucro, e assim as relações entre a vida pessoal e a vida pública tornam-se mais estreitas (ANTUNES, ALVES, 2004).

    Com isso, a vida pessoal acaba sendo deixada “à deriva”, no sentido de não possuírem tempo para conviver em comunidade e investirem tanto tempo nos seus trabalhos (porque a suposta desburocratização do trabalho, na realidade exige cada vez mais tempo de trabalho e homework) que acabam se distanciando das próprias famílias. Sennett (2009, p. 40), parafraseando Adam Smith, diz que “a separação de casa e trabalho é a mais importante de todas as modernas divisões de trabalho”.

    A divisão de trabalho aplica-se tanto às tarefas e funções quanto às divisões entre trabalho manual e mental, masculino e feminino, entre outras. A pesquisa de Silva Júnior (2016) evidencia que o trabalho feminino é o mais suscetível a doenças mentais, seguido pelo trabalho intelectual e que exige alta escolaridade, e em seguida o trabalho exercido por pessoas com idade inferior a 40 anos. Depressão e estresse têm sido as doenças relatadas em mais da metade dos casos.

    gera novos padrões de relacionamento e vulnerabilidade para outras problemáticas (GUIMÃRES, FADDEN, 1999, p. 156).

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    Tais dados também são apresentados na pesquisa de Assunção, Lima e Guimarães (2017), os quais evidenciam maior acometimento de doenças mentais em mulheres, e que o tempo de afastamento é maior nos casos de baixa escolaridade. Schwarz e Tomé (2017) explicam que a divisão sexual do trabalho gera mais impactos nas mulheres, que são vítimas de maiores desiguais sociais e laborais, tem uma jornada maior e precisam se especializar mais e cumprir mais atividades para se manter nos cargos – que em sua maioria são de trabalho informal e/ou no setor de serviços.

    Os autores fazem também uma diferenciação entre trabalho produtivo, exercido em maioria por homens e considerado mais valoroso, e trabalho reprodutivo, geralmente exercido por mulheres. O trabalho reprodutivo consiste no cuidado e manutenção das futuras forças de trabalho (ou seja, atividades domésticas e cuidado dos filhos), enquanto o trabalho produtivo é exercido no formato de emprego e necessário para garantir a subsistência (SCHWARZ, TOMÉ, 2017).

    Mesmo com tais características, há autores que visualizam possibilidades mais positivas no mercado de trabalho contemporâneo, como De Masi (2000), que defende que os seres humanos delegam a maioria das suas funções e com isso possuem mais tempo para dedicar-se às atividades criativas e de relacionamento. Nesse sentido, destaca-se que a importância da saúde mental do trabalhador consiste na possibilidade de lidar com o estresse característico do trabalho contemporâneo e pensar em formas de vida na qual se valorize a criatividade e a ação consciente dos trabalhadores, conforme será discutido nos tópicos a seguir.

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    3.3 EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PARA O MERCADO DE TRABALHO

    Conforme discutido no tópico anterior, o trabalho

    contemporâneo tem como principal característica a flexibilização, que acaba se apresentando como uma nova forma de alienação, na qual a subjetividade do trabalhador é totalmente capturada pelo capital. Um exemplo disso, discutido por Antunes e Alves (2004), é a apropriação do tempo livre, porque o próprio capital produz as formas de distração possíveis, e também se apropria do tempo livre quando o trabalhador precisa utilizá-lo para se qualificar ou se preparar melhor para o trabalho.

    Há uma clara relação entre a exigência de qualificação para o mercado de trabalho e a elaboração das políticas educacionais brasileiras: desde a segunda metade do século XX, o governo investiu em instituições de ensino visando tornar a educação uma possibilidade para todos os brasileiros. Em 1990, a Constituição Federal garante a escolarização gratuita e obrigatória, e nos anos seguintes há novos investimentos em cursos superiores e no ensino técnico, com o objetivo principal de formar mão de obra qualificada para postos de trabalho cada vez mais específicos e exigentes (KUENZER; CALAZANS; GARCIA, 2003).

    Se antigamente se buscava estabilidade nos empregos, a ordem contemporânea é “manter-se aberto à mudança e correr riscos. [...] A escola prepara [...] para frequentes mudanças e trocas de emprego” (SENNETT, 2009, p. 17). Ao mesmo tempo, a constante exigência por qualificação expressa uma tentativa de garantir a estabilidade, baseada na crença de que pessoas com escolaridade mais alta possuem mais segurança nos cargos que exercem, tal como comprovado na pesquisa de Silva Júnior (2016).

    Por outro lado, fazendo a distinção entre trabalho masculino e feminino (ANTUNES, ALVES, 2004), os

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    autores Assunção, Lima e Guimarães (2017) observam que as mulheres são alvo de maiores exigências no que se refere à formação, e explicam:

    Uma combinação de fatores favorece os homens, deixando as mulheres em prejuízo tanto para conseguir quanto para manter um emprego remunerado, especialmente no contexto da acirrada competição no mercado. Iniciativa, capacidade técnica e autonomia são exigências dos postos de trabalho na contemporaneidade que coincidem com os papeis socialmente atribuídos aos homens. [...] a divisão sexual do trabalho doméstico também lhes é desfavorável. (ASSUNÇÃO, LIMA, GUIMARÃES, 2017, s/p.)

    Além da dupla jornada exigida das mulheres, também

    há um destaque negativo para as pessoas que não tiveram acesso à escolarização ou que não a realizaram de maneira regular na infância e adolescência. Percebe-se então, uma espécie de confronto entre os sistemas de trabalho e as intenções individuais, que precisam estar alinhados para que haja algum tipo de satisfação para o trabalhador (ROGGERO, 2018).

    Parte dos autores pesquisados (DE MASI, 2000; GUIMARÃES, FADDEN, 1999) entende que há um estresse considerado saudável, pois é o que mobiliza o ser humano na busca por melhorias e por desenvolvimento pessoal e profissional, que evita o comodismo e/ou acomodação. A possibilidade de qualificar-se permite diferenciar-se e buscar novas realizações na vida, porém, deve ser realizada na tentativa de alinhar os projetos pessoais com os objetivos profissionais e da organização da qual o trabalhador faz parte.

    Roggero (2018, p. 4) complementa que a aquisição de habilidades e a qualificação profissional pertencem à esfera privada, por se tratarem de uma educação individual; porém, elas se realizam no espaço público e nas relações sociais que o trabalho proporciona, principalmente quando os

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    trabalhadores podem utilizar essa sua qualificação para valorizar sua atuação. O resultado, conforme nos mostra Silva Júnior (2016), é que a escolaridade mais alta está associada com maior rendimento no trabalho, maiores possibilidades de lidar com sintomas ansiosos, baixo consumo de álcool e drogas e retorno mais rápido ao trabalho em caso de desemprego e/ou doença.

    A necessidade de novos parâmetros de formação e qualificação profissional foi – e ainda é – amplamente divulgada e a educação continuada passou a ser fortemente estimulada. Tornou-se senso comum que qualquer profissional que queira garantir sua sobrevivência no mercado de trabalho deve aderir à ideia de manter-se atualizado por meio de um retorno aos sistemas de formação, que oferecem cada vez mais opções. [...] A educação, em especial a formação profissional, ganhou relevância [...] em termos de garantia de crescimento econômico e desenvolvimento social para o Brasil (ROGGERO, 2018, p. 1).

    De Masi (2000) também considera as tecnologias de

    comunicação em sua potencialidade para diminuir o deslocamento no trabalho e possibilitar o acesso rápido a informações e aspectos do trabalho. Para o autor, a possibilidade de realizar teleconferências ou de resolver partes do trabalho por telefone ou e-mail torna o período de trabalho mais dinâmico e menos burocrático. Roggero (2018) complementa que a habilidade de comunicação e de apresentação pessoal é fundamental para a empresa atrair clientes e investidores, ao mesmo tempo em que é um diferencial para o trabalhador, pois, como já citado, o aumento do setor de serviços coloca os trabalhadores em contato direto com o público (e menos com o maquinário), de forma que é necessário saber vender a própria imagem. O autor explica que:

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    Honestidade, caráter, criatividade, boa comunicação, iniciativa, boa aparência, empreendedorismo, liderança, são características da imagem que a empresa quer que estejam associadas aos seus produtos e serviços como estratégias mercadológicas. [...] O trabalhador torna-se parte do produto (ROGGERO, 2018, p. 4). Tal como discutido no tópico anterior, a configuração

    do mercado de trabalho contemporâneo dificulta o surgimento espontâneo das habilidades acima citadas, visto que a sociedade vivencia uma crise dos valores associados ao trabalho, à segurança e à vida em comunidade. Portanto, a educação torna-se ainda mais relevante no sentido de permitir o desenvolvimento de características pessoais. Saraiva e Masson (2018) apresentam a “pedagogia das competências”, que busca uma formação específica e continuada, promovida pelas empresas, organizações públicas e privadas e ONGs e que se baseia na resolução de problemas e avaliação das performances em contextos específicos.

    Nas pesquisas, há um destaque para a realização de treinamentos com os funcionários, pois:

    A empresa pode e deve oferecer cursos aos seus colaboradores, ou até mesmo subsidiar parcialmente os cursos que achar relevantes para a tarefa ou ao negócio da empresa. E que a empresa pode implantar plano de carreira profissional, onde para cada curso esteja ligada a nova oportunidade de promoções ou salários maiores (BORGES, 2015).

    Para, além disso, deve haver um planejamento

    educacional mais adequado a reproduzir as necessidades da população brasileira, proporcionando uma formação adequada e abrangente. Isso significa que as instituições de ensino cumprem uma função social, na medida em que precisam planejar seus conteúdos de ensino para atender às

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    demandas sociais e econômicas (KUENZER; CALAZANS; GARCIA, 2003).

    As problemáticas levantadas pelos autores Kuenzer, Calazans e Garcia (2003) e Saraiva e Masson (2018) dizem respeito à obsolescência do diploma, o qual por si só não garante emprego ou estabilidade, visto que as competências aprendidas durante a escolarização vão se desgastando ou se tornando menos úteis com o passar do tempo, exigindo a substituição por outras atividades e competências. Nesse sentido, ressalta-se a importância da educação continuada e da avaliação e acompanhamento das habilidades do trabalhador, alinhando-as com os objetivos da empresa para gerar maior produtividade para a empresa e satisfação para o trabalhador.

    3.4 INDICADORES QUE PODEM MELHORAR A SAÚDE MENTAL DOS TRABALHADORES

    Como citado anteriormente, o mercado de trabalho

    contemporâneo tem impactos diretos sobre a saúde dos trabalhadores, pois a insegurança, o desemprego e a crise econômica geram ansiedade, estresse, depressão e aparecimento de doenças crônicas (VIEIRA, 2016). A pesquisa de Silva Júnior (2018, p. 13) “encontrou prevalência de 30% de transtornos mentais, sendo 10% considerados graves”, o que implica em grande gasto do sistema previdenciário, impacta a produtividade e traz prejuízos tanto para o trabalhador quanto para a empresa, que perdem dias de atividades e tem maiores gastos.

    Ao mesmo tempo, tal crise “suscita propostas de congelamento do gasto em saúde e de desvinculação das despesas” (VIEIRA, 2016, p. 4), tendo como principal alvo a população trabalhadora, que vê negado o seu direito constitucional à saúde. Para Vieira (2016), momentos de crise econômica deveriam gerar um movimento contrário: em vez do corte de gastos, deveria haver um reforço aos programas

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    de proteção social e amparo aos trabalhadores, pois assim é possível reduzir os riscos à saúde e promover o bem-estar e a qualidade de vida deles. Sennett (2009, p. 46) justifica que “toda atenção dada aos trabalhadores como seres humanos sensíveis melhora sua produtividade”.

    Os trabalhadores precisam ser alvo de pesquisas e avaliações que possam identificar o estresse e a saúde mental e fornecer dados para tratamento e prevenção. De acordo com a proposta de Guimarães e Fadden (1999), é possível utilizar question�