tema: o sindicalismo revolucionário na história · 2019-01-04 · quismo e o sindicalismo foram...

71
Tema: O Sindicalismo Revolucionário na História

Upload: others

Post on 16-Mar-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Tema: O Sindicalismo Revolucionário na História

Bloco 1: Origem e aspectos gerais do Sindicalismo

Revolucionário

Brasília - DF Data: 27/10/2018

Horário: 09h

Esse caderno foi utilizado durante ciclo de

formação realizado no Distrito Federal no segundo semestre de 2018.

Pensamento e práticas insurgentes:

anarquismo e autonomias nos levantes e resistências do capitalismo no século XXI

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a infIuência popular do

anarquismo e do sindicalismo

Lucien van der WaltTraduzido por Ian Caetano de Oliveira1

Este capítulo examina o caráter de classe e o impacto popular da ampla tradição anarquista, com foco no período entre os anos 1870 e 1950, estabe-lecendo alguns argumentos fundamentais2. Ele demonstra que o anarquismo e o sindicalismo tiveram um significativo impacto na classe trabalhadora, sendo esta entendida de maneira ampla e incluindo trabalhadores assalaria-

1 Ian Caetano de Oliveira é estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás e membro do Programa de Pesquisa sobre Ativismo e Movimentos Antir-regime em Perspectiva Comparada/PROLUTA (proluta.blogspot.com.br). Email: [email protected].

2 O material aqui apresentado baseia-se em vários de meus trabalhos, dentre os quais se encontram: Lucien van der Walt, 2007, “Anarchism and Syndicalism in South Africa, 1904-1921: Rethinking the History of Labour and the Left,” PhD, University of the Witwa-tersrand, especialmente o capítulo 2; 2011, “The Global History of Labour Radical-isms: The Importance of Anarchism and Revolutionary Syndicalism,” nota para discurso em “Labour Beyond State, Nation, Race: Global Labour History as a New Paradigm,” University of Kassel, Germany, 26 November; 2013, “Makhan Singh’s (1914-1973) Legacy for Kenyan and African Trade Unions: Learning from the IWW, the Ghadar Party, and the East African Trade Union Congress,” Makhan Singh Memorial Lecture, Nairobi, Kenya, 5 December; 2014;“‘One Great Union of Skilled and Unskilled Workers, South of the Zambezi’: Garveyism, Liberalism and Revolutionary Syndicalism in the Industrial and Commercial Workers Union of Africa, 1919-1949,” European Social Science History Conference, Vienna, Austria, 23-26 April; Anarchism and Syndicalism in the Colonial and Postcolonial World, 1870-1940: The Praxis of National Liberation, Internationalism, and Social Revolution (2010/2014, Brill, com Steve Hirsch); e 2016, “Global Anarchism and Syndicalism: Theory, History, Resistance,” Anarchist Studies, 24 (1): 85-106.

120

Lucien van der Walt

dos sem controle de seu próprio trabalho, suas famílias e desempregados. Um dos maiores indicadores desta influência é o papel que o anarquismo teve no movimento sindical: anarquistas e sindicalistas não somente foram relevantes em sua formação, mas o próprio sindicalismo tornou-se a princi-pal ideologia das mais importantes federações sindicais em um significativo número de países do mundo todo.

A noção de que foi somente na Espanha que o anarquismo e o sindica-lismo converteram-se em movimentos de massa é comprovadamente falsa, especialmente quando se faz referência aos países do mundo colonial e pós--colonial. Contrapondo esta tese da “excepcionalidade espanhola,” o anar-quismo e o sindicalismo foram hegemônicos no movimento trabalhista na Argentina, no Brasil, no Chile, em Cuba, na França, no México, nos Países Baixos, no Peru, em Portugal e no Uruguai, desde meados dos anos 1890 até meados dos anos 1920.3

3 Alguns termos da tradução precisam de esclarecimento prévio. Ao longo do texto, a tradução de worker aparece, em determinadas situações, como “trabalhador” e, em outras, como “operário”, refletindo a intenção original do autor e a polissemia do termo em língua inglesa. Mantivemos também o uso de “movimento trabalhista” (labour movement), mas é importante observar que “trabalhismo”, em língua inglesa, tem o sentido de uma atividade feita pelos trabalhadores e não para os trabalha-dores, como é usual em português. As categorias comuns na sociologia industrial, tais como “trabalhador qualificado”, “semiqualificado”, “não qualificado” e “se-miprofissional”, indica posições na estrutura das relações de trabalho. De maneira geral, os trabalhadores não qualificados ocupavam a base da pirâmide da divisão do trabalho, ganhando menores salários. Os trabalhadores semiprofissionais, es-pecialmente os professores e artistas, são, no período estudado, que vai do final do século XIX ao início do XX, indivíduos que sobrevivem apenas parcialmente do seu salário, obtendo outras fontes de rendimento não oriundas do exercício da sua profissão (muitas vezes rendas de propriedade, mas não necessariamente). Traduzimos syndicalist unions como “organizações sindicalistas”. Em português, sin-dicalismo tem um sentido amplo que na língua inglesa melhor corresponde ao unio-nism, enquanto syndicalism representa uma corrente específica do unionismo, uma corrente construída pelos anarquistas, de caráter radical e revolucionário. Para de-marcar a diferença, empregamos “organizações sindicalistas” para indicar grupos integrantes da “ampla tradição anarquista”. A mesma lógica é aplicada na tradução do termo syndicalist unionism, que traduzimos como “associativismo sindicalista”, para designar um tipo específico de associativismo. Substituímos o termo “unionis-mo” por “associativismo”, pois é o que corresponde em português à ideia de uma união (no sentido de organização da sociedade civil). Por fim, traduzimos o termo farmer como “agricultor”, pois em português o termo fazendeiro (tradução literal) é normalmente aplicado a grandes proprietários de terras e quebra o sentido da construção original do autor que, ao empregá-lo, refere-se aos camponeses pobres ou médios. (N.T.)

121

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Mesmo nas localidades em que o anarquismo e o sindicalismo constituí-ram correntes minoritárias, eles constantemente tiveram um papel relevante, tanto como bloco organizado quanto em termos de influência em círculos mais amplos. Mesmo onde esta tradição foi minoritária no movimento tra-balhista organizado, ela exerceu uma importante influência nos trabalhado-res e na esquerda em geral, especialmente em função da promoção de uma contracultura revolucionária. Por exemplo, na Itália, onde não houve organi-zações nacionais anarquistas ou sindicalistas desde a Primeira Internacional até 1912, o movimento anarquista e sindicalista, ainda assim, exerceu uma poderosa influência local, particularmente na região central da Itália4.

Os trabalhadores que constituíram a maior parte das organizações sindi-calistas não eram, como algumas vezes foi afirmado, trabalhadores qualifica-dos de pequenas oficinas à margem da indústria moderna; eram, ao contrá-rio, trabalhadores manuais da mineração, das manufaturas, dos transportes e da agricultura. Trabalhadores manuais qualificados, funcionários administra-tivos e profissionais liberais, sem dúvida estiveram presentes, mas constituí-ram uma minoria dentro dos batalhões do movimento sindical.

Apesar do estereótipo popular, a influência anarquista entre os campo-neses foi modesta, se comparada com sua influência entre a classe trabalha-dora moderna. Movimentos anarquistas massivos de camponeses – sendo estes últimos, aqui, entendidos como os pequenos agricultores que depen-dem do trabalho familiar e que se encontram subordinados a propriedades ou senhores – certamente existiram na Ásia (Coreia/Manchúria), na Europa (Ucrânia e Espanha) e na América Latina (México). Houve também inúme-ras iniciativas organizativas locais deste tipo.

Os movimentos camponeses anarquistas de larga escala foram inco-muns e, em geral, tiveram curta duração. Eles tenderam a emergir somente em circunstâncias históricas bem específicas, que envolveram pressões rela-cionadas à terra, reestruturação das relações de classe, impacto dos estímulos externos e papel de estruturas de militância anarquista nos povoados. Em termos gerais, os principais avanços do movimento anarquista histórico nos campos deram-se, não com os camponeses, mas com os trabalhadores assa-lariados rurais das fazendas e florestais.

O anarquismo também teve uma influência importante na intelligentsia ou, ao menos, em intelectuais “tradicionais”, que tiveram um alto nível de educação em instituições como as universidades. Sem dúvida, esta cama-da foi relevante para o movimento anarquista e sindicalista, embora sempre tenha constituído uma pequena minoria, tanto em relação à intelligentsia em

4 C. Levy, 1989, “Italian Anarchism, 1870-1926,” D. Goodway, (org.), For Anarchism: History, Theory and Practice, Routledge, 34-35.

122

Lucien van der Walt

geral, quanto em relação ao próprio movimento. Deve-se mencionar aqui a importância dos intelectuais “orgânicos” da classe trabalhadora e do campe-sinato na conformação do anarquismo e do sindicalismo, na articulação e na disseminação das ideias anarquistas e sindicalistas e no desenvolvimento das doutrinas, dos temas e das teorias do movimento.

É, ainda, relevante considerar um último indicador da influência do mo-vimento anarquista e sindicalista: determinados movimentos populares apro-ximaram-se do anarquismo e do sindicalismo, mas os combinaram, de modo distinto e inovador, com outras ideias e abordagens, criando abordagens únicas e nem sempre coerentes. Exemplos destes movimentos “sincréticos” incluem: o Partido Ghadar (fundado em 1913, visando a independência da Índia); os zapatistas de Morelos, no México dos anos 1910, reunidos em tor-no de Emiliano Zapata (1879-1919); o Industrial and Commercial Workers Union of Africa (Sindicato de Trabalhadores Industriais e Comerciais da África, ICU), na África do Sul e no sul da Rodésia (agora Zimbábue), dos anos 1910 aos anos 1950; o movimento de Augusto César Sandino (1895-1934), líder do Exército Defensor da Soberania Nacional da Nicarágua (EDSNN), organização camponesa formada em 1927. O ICU espalhou-se pela África Austral nas décadas de 1920 e 1930; sua ideologia foi influenciada pelo sindicalismo do Industrial Workers of the World (IWW)5 e seu apoio foi amplamente conquistado entre trabalhadores do campo e camponeses. Por estes movimentos “sincréticos”, a ampla tradição anarquista marcou profun-damente as vidas de milhões de pessoas simples.

anarquIsmo e sIndIcalIsmo na lIteratura

O anarquismo e o sindicalismo escassamente aparecem em muitas das pesquisas que abordam os movimentos revolucionários, de esquerda, da clas-se trabalhadora e do campesinato. A magnum opus de Chris Harman, A People’s History of the World [História Popular do Mundo] reduziu a história da esquer-da global à socialdemocracia e ao marxismo; apenas 20 das 729 páginas men-cionam a ampla tradição anarquista e a única discussão substancial tem como foco a Espanha do fim dos anos 19306. Em Forging Democracy: The History of the Left in Europe, 1850-2000 [Estabelecendo a Democracia: a história da es-querda na Europa, 1850-2000], de Geoff Eley, esta tradição foi mencionada em 22 das 722 páginas, e também de passagem; ela foi descartada por estar em descompasso com o presente, por constituir uma corrente “permanen-

5 Sindicato de origem estadunidense fundado em 1905. Apesar da origem localizada, a organização tem caráter internacionalista. (N.T.)

6 C. Harman, 1999, A People’s History of the World, London: Bookmarks, 400, 402, 407, 436-37, 500-09, 665.

123

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

temente marginalizada e ineficaz, exceto em partes da Itália e da Espanha”7.A noção de que a ampla tradição anarquista, em toda parte, “não foi

mais do que uma atração das minorias,” com exceção da Espanha, e que foi somente neste país que ela tornou-se “um grande movimento social” capaz de “ameaçar o Estado”8, é bastante defendida. Ela levou à produção de toda uma literatura que buscou explicar esta aparente anomalia: Por que a Espa-nha? Várias respostas foram apresentadas9, dentre elas, a de que a Espanha era um país economicamente atrasado da “franja feudal da Europa”10, no qual a fracassada modernização, o atraso e o isolamento relativo do mundo moderno supostamente teriam criado as condições para o desenvolvimento do anarquismo11. Em anos mais recentes, tais assertivas ganharam uma aura de respeitabilidade, em função da análise do anarquismo espanhol feita por Hobsbawm, que retratou os anarquistas como “rebeldes primitivos” envolvi-dos em uma revolta quase religiosa contra o mundo moderno, conformando um movimento irracional, utópico e, ao mesmo tempo, condenado12. Esta análise conta com todos os clichês: o anarquismo foi uma revolta milenar contra a modernidade, baseou-se em forças sociais em decadência e caracte-rizou-se por ser inútil e incoerente.

Tais clichês, entretanto, possuem raízes profundas num certo tipo de marxismo, que procurou apresentar o anarquismo e o sindicalismo como expressões de forças de classe não proletárias –especialmente de forças de classe que, de acordo com a visão marxista do desenvolvimento histórico, constituem detritos abandonados na esteira do avanço capitalista ou forças de classe reacionárias, pertencentes a um passado pré-capitalista em decadên-cia. Para Marx e Engels, a base de classe do anarquismo encontrava-se entre os intelectuais pequeno-burgueses “frustrados” ou arruinados e os aldeões

7 G. Eley, 2002, Forging Democracy: The History of the Left in Europe, 1850-2000, New York: Oxford University Press, 26, 39, 43, 62, 64-65, 72-73, 85-87, 95-97, 111, 273-74, 320, 351, 418, 424, 494.

8 P. Marshall, 1994, Demanding the Impossible: A History of Anarchism, Fontana, 453. Ver também: M.M. Breitbart, 1979, “Spanish Anarchism: An Introductory Essay,” Antipode, 10/ 11 (3/ 1): 1; R. Kedward, 1971, The Anarchists: The Men who Shocked an Era, New York: Library of the Twentieth Century, 120.

9 Uma visão geral pode ser encontrada em: J. Romero Maura, 1971, “The Spanish Case”, D. Apter e J. Joll, (orgs.), Anarchism Today, Macmillan.

10 Kedward, The Anarchists, 5.11 E. Hobsbawm, 1993, Revolutionaries, Abacus, capítulo 8.12 E. Hobsbawm, 1971, Primitive Rebels: Studies in Archaic Forms of Social Movement in the

19th and 20th Centuries, Manchester University Press.

124

Lucien van der Walt

isolados13. Para Lênin, em 1918, “o anarquismo e o anarcossindicalismo eram tendências burguesas […] irreconciliavelmente opostas […] ao socialismo, à ditadura do proletariado e ao comunismo”14. Bukharin descreveu o anarquis-mo como o socialismo do lumpemproletariado15. Contudo, foi mais comum entre os marxistas clássicos o retrato do anarquismo como um movimento pequeno-burguês; o anarquismo seria a teoria dos movimentos camponeses anticapitalistas e antiestatistas e o anarcossindicalismo uma “expressão ideo-lógica pequeno-burguesa, produzida por trabalhadores de pequenas fábricas e de oficinas de artesanato,” que existem “isolados das companhias de amplas massas, sem o menor contato com as indústrias médias e de larga-escala”16.

E. Yaroslavsky combinou estas várias alegações, argumentando que os camponeses nasciam anarquistas e, ainda, que os anarquistas eram recruta-dos entre “os descendentes da pequena burguesia arruinada, os intelectuais pequeno burgueses, o lumpemproletariado e, em alguns casos, entre verda-deiros criminosos”17. Subsidiando todas estas argumentações em certo senti-do inconsistentes sobre o caráter de classe do anarquismo e do sindicalismo, está a clássica presunção marxista, de que é somente ele que representa a autêntica ideologia da revolução proletária: por definição, todas as outras ideias devem ser obrigatoriamente não proletárias em essência.

Este capítulo questiona tais afirmações e sugere que esses pesquisado-res subestimaram seriamente a enorme influência popular da ampla tradição anarquista; eles não compreenderam que sua base se desenvolveu principal-mente entre a classe trabalhadora. Contrariando a visão de que movimento anarquista constituía uma revolta das classes amaldiçoadas pela modernida-de, um movimento “reacionário” e “pequeno burguês” de artesãos e cam-poneses arruinados, que encaravam o anarquismo como uma religião secular utópica que prometia a salvação ante a modernidade, sustento que este mo-

13 F. Engels [1877] 1972, “In Italy,” Marx, Engels, Lenin: Anarchism and Anarcho-syndical-ism, Moscow: Progress Publishers, 155-6,159.

14 V.I. Lenin, [1918] 1975, “The Immediate Tasks of the Soviet Government,” Selected Works in Three Volumes, Moscow: Progress Publishers, 599, grifos no original.

15 “Socialismo lumpenproletário (anarquismo) ... Eles não representam, para a maior parte, os interesses e as aspirações da classe trabalhadora; eles representam aqueles que denominados o lumpemproletariado, o proletariado-vadio; eles representam os in-teresses daqueles que vivem em más condições sob o capitalismo, mas que são algo incapazes no trabalho criativo independente”; N. Bukharin, [1922] 1966, The ABC of Communism, University of Michigan Press/ Ambassador Books, 77-78.

16 Astrogildo Pereira, citado em E.A. Gordon, 1978, “Anarchism in Brazil: Theory and Practice, 1890-1920,” PhD diss., Tulane University, 33.

17 E. Yaroslavsky, [? 1937], History of Anarchism in Russia, Lawrence & Wishart, 26, 28, 41, 68-69.

125

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

vimento estabeleceu-se primeira e principalmente entre a classe trabalhadora urbana, seguida pelos trabalhadores do campo e, então, pelo campesinato18.

Ademais, no “período glorioso,” entre os anos 1890 e 1920, o apelo do sindicalismo foi particularmente acentuado entre os trabalhadores afetados pela segunda revolução industrial iniciada na década de 1890, a qual envolveu o crescimento das indústrias químicas e elétricas, juntamente com a expansão das técnicas de produção de massa tayloristas e fordistas; entre o campesi-nato, na maior parte dos casos o anarquismo florescia onde o capitalismo – ou a intrusão imperialista, ou a formação do Estado – rompia as relações tradicionais agrárias. Há uma importante história de camponeses que foram recrutados em organizações sindicalistas e pelo trabalho de base anarquista em importantes áreas camponesas.

Embora seja bastante enfatizado que há uma espécie de afinidade espe-cial entre o anarquismo e as culturas e interesses camponeses19, conforme apontado, revoltas ou movimentos camponeses anarquistas amplos e dura-douros são mais raros, se comparados ao movimento operário anarquista. Tal relação entre o anarquismo e o campesinato tem sido muito obscurecida, em função dos escritores que classificam diversas classes populares rurais como camponesas (utilizo o termo camponês, aqui, no estrito sentido de pequenos agricultores familiares). Isso tem feito com que os trabalhadores sem-terra anarquistas e sindicalistas, assim como outros trabalhadores rurais, sejam categorizados como camponeses anarquistas.

classe trabalhadora do mundo: analIsando o sIndIcalIsmo globalmente

Uma perspectiva global da história do anarquismo e do sindicalismo fornece um importante corretivo ao argumento da excepcionalidade espa-nhola – de que foi somente na Espanha, em função de razões peculiares, que o anarquismo e o sindicalismo tornaram-se potentes movimentos de massa –, pois permite conhecer uma série de movimentos de massa anarquistas e sindicalistas fora da Espanha.

A Federación Obrera Argentina (FOA)20, fundada em 1901, esteve sob controle dos anarquistas e, em 1904, foi transformada na Federación Obre-ra Regional Argentina (FORA)21 anarquista, inquestionavelmente o centro

18 Yaroslavsky, History of Anarchism in Russia, 26, 28, 41, 68-6919 P. E. B. McCoy, 1972, “Social Anarchism: An Atavistic Ideology of the Peasant,”

Journal of Inter-American Studies and World Affairs, 14 (2): 133-149.20 Organização de trabalhadores argentinos fundada em 1901. (N.T.)21 Nome adotado pela anterior FOA a partir de seu quarto congresso em 1904. (N.T.)

126

Lucien van der Walt

do movimento operário do país. Uma central rival menor e mais modera-da, controlada pelos socialistas políticos, a Unión General de Trabajadores (UGT)22, foi logo reestruturada na Confederación Obrera Regional Argen-tina (CORA)23, sindicalista revolucionária, em 1909, que foi mais tarde ab-sorvida pela FORA anarquista, precipitando a cisão entre uma Federación Obrera Regional Argentina do quinto congresso (FORA-V)24 “anarquista--comunista” linha dura, e a Federación Obrera Regional Argentina do nono congresso (FORA-IX)25 de um sindicalismo mais convencional.

O impacto das influências anarquistas e sindicalistas nas organizações sindicais da Argentina tem sido disputado por autores que apontam frag-mentação e enfraquecimento sindical, e autores que sublinham as ativida-des sindicais cotidianas focadas majoritariamente em objetivos pragmáticos como aumentos salariais26. Perde-se de vista, contudo, que os grandes bata-lhões do movimento trabalhista eram todos dominados pelo anarquismo e pelo sindicalismo, e que militantes do sindicalismo bem sucedidos sempre se mobilizaram em torno tanto de questões imediatas quanto de objetivos revolucionários. A Argentina é um caso em que a influência anarquista e sindicalista era tão substancial que as principais divisões no trabalhismo or-ganizado centraram-se nas táticas internas da ampla tradição anarquista, mais do que nas questões que dividiam anarquistas e sindicalistas, de um lado, e outras tradições sindicais, de outro.

Se a Argentina constitui um grande exemplo, isso não significa de forma alguma que ela conformava a única instância de massas anarquista ou sindi-calista na região. No Brasil, a Confederação Operária Brasileira (COB)27 era anarquista desde sua concepção; esta era a principal central operária e, até a década de 1920, a maioria dos sindicatos brasileiros permaneceram sindi-calistas revolucionários em sua orientação28. A Federación Obrera Regional

22 Central sindical argentina fundada em 1902. (N.T.)23 Central sindical argentina fundada em 1909; originada da fusão da anterior UGT

com outros sindicatos autônomos. (N.T.)24 Federação trabalhista dissidente da anterior FORA, fundou-se em 1915. (N.T.) 25 Federação trabalhista originária da cisão da anterior FORA, fundou-se em 1915

(N.T.)26 R. Thompson, 1984, “The Limitations of Ideology in the Early Argentinian La-

bour Movement: Anarchism in the Trade Unions, 1890-1920,” Journal of Latin American Studies, 16 (1): 81-99.

27 Criada em 1906. (N.T.)28 Gordon, “Anarchism in Brazil,” 155-63; P. Avrich, 1988, Anarchist Portraits, Princ-

eton University Press, 255.

127

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Uruguaya (FORU)29 também foi uma das principais federações sindicais e adotou um programa anarquista desde seu início. Anarquistas eram as prin-cipais figuras nos primórdios do movimento trabalhista mexicano das déca-das de 1870 e 1880 no Congreso Geral de Trabalhadores Mexicanos, e em seus sucessores do século XX, a Casa del Obrero Mundial e a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que eram também as principais centrais; o maior corpo sindical fora destas centrais era o IWW mexicano, especialmente for-te na crescente indústria petroleira30. No Peru, os anarquistas formaram os primeiros sindicatos e organizaram a central sindical nacional, a Federación Obrera Regional del Peru (FORPe)31, organização sindicalista fundada em 1919.

Desde a década de 1880, os anarquistas cubanos defenderam a criação de um sindicato nas linhas da Federación Regional Española (FORE, fun-dada em 1870, a maior seção da Primeira Internacional), com sucessos que incluem a Junta Central de Artesanos, o Círculo de Trabalhadores de Hava-na, a Federação dos Trabalhadores do Tabaco e a Alianza Obrera, seguidas pela Central de Trabajadores de Cuba (CTC)32, fundada em 189533. Apesar da aparente desintegração da CTC após a independência, os anarquistas conti-nuaram a desempenhar papeis centrais em greves e outras lutas trabalhistas, ajudando a formar a Federación Obrera de la Habana em 1921, seguida, em 1925, pela Confederación Nacional Obrera de Cuba (CNOC)34, na qual eles foram hegemônicos por anos35. Durante a erupção da Revolução Cubana em 1952, os militantes anarquistas desempenharam um papel destacado, tanto em sindicatos legais quanto clandestinos.

No Chile, os anarquistas, que já eram uma força substancial no movi-mento trabalhista na virada do século XX, formaram a Federación de Traba-jadores de Chile, em 1906. Esta organização foi seguida, em 1913, pela Fede-

29 Fundada em 1905. (N.T.)30 N. Caulfield, 1995, “Wobblies and Mexican Workers in Petroleum, 1905-1924,”

International Review of Social History, 40: 51-75.31 Organização sindical. (N.T.)32 Organização sindical cubana. (N.T.)33 J. Casanovas, 1994, “Labour and Colonialism in Cuba in the Second Half of the

Nineteenth-Century,” PhD diss., State University of New York, especialmente capítulos 6-9.

34 Central proletária cubana. (N.T.)35 Ver K.R Shaffer, 1998, “Purifying the Environment for the Coming New Dawn:

Anarchism and Counter-cultural Politics in Cuba, 1898-1925,” PhD diss., Univer-sity of Kansas, especialmente capítulos 1, 4, 7 e 8.

128

Lucien van der Walt

ración Obrera Regional Chile (FORCh)36, sindicalista. Ambas as federações não conseguiram adquirir proporções verdadeiramente nacionais, mas eram a principal força do movimento trabalhista, e o anarquismo e o sindicalismo tiveram uma grande influência em outros sindicatos; por volta desta época, o IWW chileno controlava as docas e tinha um significativo papel entre os marinheiros37. No Japão, os sindicalistas que estavam em torno do sindicato dos tipógrafos de Shinyukai, do círculo Rōdō Undō [Movimento Operário], do sindicato de jornalistas de Seishinkai e de outros grupos desempenharam inicialmente um importante papel na federação de Sodomei. Na China, onde os anarquistas e os sindicalistas fundaram os primeiros sindicatos operários modernos, havia pelo menos 40 sindicatos liderados por anarquistas no Can-tão em 1921, e a “hegemonia anarquista” dos sindicatos no Cantão e em Hu-nan durou até meados de 1920; houve ainda significativa influência sindical anarquista em Shanghai durante muitos anos38.

Esse enfoque global mostra que houve vários movimentos de massa anarquistas e sindicalistas fora da Espanha. A citada tese da excepcionali-dade espanhola surge, na realidade, a partir de algumas referências compa-rativas: Europa Ocidental e Estados Unidos são o foco da análise e é em contraposição a outros movimentos nestas áreas que o anarquismo espanhol é mensurado. Movimentos em outras partes do mundo – África, Ásia, Cari-be, Oriente Médio e América Latina – não são realmente levados em conta. Seria muito generoso referir-se a esta perspectiva como eurocêntrica, pois ela ignorou, inclusive, a Europa Oriental.

Essa ideia da excepcionalidade espanhola não dá atenção suficiente mesmo a vários casos importantes dentro da própria Europa Ocidental. Na França do início do século XX, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), sindicalista revolucionária, era a única central trabalhista e abarcava todos os principais sindicatos. Nos Países Baixos, a Nationaal Arbeids-Secretariaat (Secretaria Nacional do Trabalho, NAS), com uma plataforma sindicalista revolucionária, era a “mais ativa e influente organização entre os sindicatos holandeses” de 1893 a 190339. Esta era a maior das várias centrais sindi-cais holandesas e atingiu seu ápice com nove mil membros. Em Portugal, a

36 Organização sindical chilena. (N.T.)37 P. de Shazo, 1983, Urban Workers and Labour Unions in Chile 1902-1927, University

of Wisconsin Press, 24, 76, 91-117, 129-41, 146-74, 180-88, 194-210.38 A. Dirlik, 1991, Anarchism in the Chinese Revolution, University of California Press, 15,

27, 170; A. Dirlik, 1989, The Origins of Chinese Communism, Oxford University Press, 214-15

39 G. Woodcock, 1975, Anarchism: A History of Libertarian Ideas and Movements, Pen-guin, 413.

129

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Confederação Geral do Trabalho (CGT)40, que derivou da União Operária Nacional (UON)41, ela mesma estando eventualmente sob controle dos anar-quistas, era a única central trabalhista entre 1919 e 192442.

Se utilizarmos o critério, um pouco limitado, de influência no movimen-to sindical para aferir a influência da ampla tradição anarquista sobre a classe trabalhadora, Argentina, Brasil, Chile, Cuba, França, México, Peru, Portugal e Uruguai são países em que o anarquismo e o sindicalismo foram a força política predominante entre os trabalhadores organizados; os Países Baixos constituem um caso de influência central também. Além disso, é possível argumentar que estes movimentos foram, quando considerados em relação ao movimento sindical como um todo, maiores que a Confederación Nacional del Trabajo (CNT)43 espanhola: enquanto a CNT espanhola representava apenas metade dos trabalhadores sindicalizados (a moderada Unión General de Trabajadores, UGT44, representava a outra metade), os movimentos anar-quistas e sindicalistas da Argentina, do Brasil, do Chile, de Cuba, da França, do México, do Peru e de Portugal representavam quase a totalidade do mo-vimento sindical.

Contudo, em termos numéricos, a CNT espanhola, que tinha 1,7 milhão de membros à época do congresso de Zaragoza, em maio de 1936, foi a maior organização sindicalista já vista45. Em termos relativos, quando se compara esta organização com o tamanho da classe trabalhadora e com a estrutura do movimento sindical, esta não foi de modo algum a maior das organizações sindicalistas. Na verdade, ela foi relativamente menor que suas predecessoras espanholas, a FORE, a Federación de Trabajadores de la Región Española (FTRE)46 e o Pacto de União e Solidariedade, que não conviveram com cen-trais sindicais concorrentes; mesmo com 1,7 milhão de membros, a CNT, frente a uma UGT igualmente grande, era relativamente menor que a CGT portuguesa, que tinha aproximadamente 100 mil membros, mas sem sin-

40 Criada a partir das deliberações do 2º Congresso Operário Nacional de 1919. (N.T.)41 Construída em março de 1914, a partir do Congresso de Tomar. (N.T.)42 Para visões gerais, ver J. Freire, 2001, Freedom Fighters: Anarchist Intellectuals, Workers,

Soldiers in Portugal’s History, Montréal: Black Rose; B. Bayerlein e M. van der Linden, 1990, “Revolutionary Syndicalism in Portugal,” M. van der Linden e W. Thorpe, (orgs.), Revolutionary Syndicalism: An International Perspective, Scolar / Gower.

43 Confederação de sindicatos autônomos, fundada em 1910. (N.T.)44 Fundada em 1888, partilhando origem histórica com o Partido Socialista Operário

Espanhol. (N.T.)45 V. Richards, 1983, Lessons of the Spanish Revolution, London: Freedom Press, 163. 46 Organização anarquista fundada no Congreso Obrero de Barcelona, em 1881.

(N.T.)

130

Lucien van der Walt

dicatos rivais. As noções de que “o anarquismo esteve fora dos principais eventos,” e de que em “nenhuma classe, ou agrupamento econômico, fora da Espanha, o anarquismo era regra,” é simplesmente incorreta.47 A história do trabalho e da esquerda em muitas partes do mundo não pode ser adequa-damente compreendida se suas correntes anarquistas e sindicalistas forem ignoradas ou tratadas como insignificantes.

o ImPacto e a ImPortâncIa das correntes anarquIstas e sIndIcalIstas mInorItárIas

Mesmo onde a ampla tradição anarquista foi menos influente que o unio-nismo ortodoxo ou que o socialismo político, seu impacto foi ainda assim considerável; um status minoritário não deve ser confundido com insignifi-cância. Algumas das organizações sindicalistas minoritárias eram extrema-mente grandes, ao menos em termos numéricos; a Unione Italiana Sindicale (USI)48 italiana contava com 800 mil filiados em 1920, expressamente metade do tamanho da dominante Confederacione Generale di Lavoro (CGL)49; a Freie Arbeiter Union Deutschlands (União Livre de Trabalhadores da Ale-manha, FAUD)50 germânica, sempre foi ofuscada pelos sindicatos ligados ao Sozialdemokratische Partei Deutschlands (Partido Social-Democrata da Alemanha, SPD)51, mas com possivelmente 150 mil membros, ela pode ser legitimamente considerada como um movimento de massa52. No Japão do entreguerras o sindicalismo revolucionário não era, de forma alguma, in-significante. A Nihon roo Sodomei (abreviada Sodomei)53, o maior sindicato de trabalhadores, rachou em 1925. Este reteve 20 mil membros, sendo que a dissidência, de liderança comunista, Nihon Rodo Kumiai Hyogikai tinha 12,5 mil membros e a anarcossindicalista Zenkoku Jiren, fundada no ano seguinte, tinha 15 mil membros54.

47 Kedward, The Anarchists, 28, 117-18.48 Criada em 1912 a partir da dissidência com a Confederazione Generale di Lavoro

(CGL), rompimento em defesa do sindicalismo de inspiração anarquista. (N.T.)49 Organização centralista criada em 1906. (N.T.)50 Sindicato anarcossindicalista surgida em 1919. (N.T.)51 Fundado em 1875. (N.T.)52 G. Williams, 1975, A Proletarian Order: Antonio Gramsci, Factory Councils and the Origins

of Italian Communism 1911-21, Pluto Press, 194-95; W. Thorpe, 2000, “Keeping the Faith: the German Syndicalists in the First World War,” Central European History, 33 (2): 18, 18n76.

53 Fundada em 1918. (N.T.)54 J. Crump, 1993, Hatta Shuzo and Pure Anarchism in Interwar Japan, St. Martin’s Press,

42, 78.

131

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Além disso, dever-se tomar o cuidado de não medir a influência anar-quista e sindicalista puramente em termos do número de membros nas orga-nizações sindicais. Como as grandes formações unitárias estabelecidas pela ampla tradição anarquista, as organizações sindicais e as federações sindicais indubitavelmente fornecem uma indicação crucial de força, mas apenas uma indicação imperfeita. Uma avaliação puramente numérica do movimento não capta elementos suficientes do anarquismo e do sindicalismo nos ter-mos de uma contracultura proletária radical, que teve um impacto muito além das fronteiras das estruturas formais do movimento, além de ignorar movimentos fora do local de trabalho. Tratarei da questão dos movimentos camponeses anarquistas adiante.

A Itália nos oferece um importante exemplo da necessidade de levar em conta o impacto cultural e informal da ampla tradição anarquista. A ausên-cia de uma organização nacional anarquista ou sindicalista dos tempos da Primeira Internacional até o surgimento do USI em 1912 é facilmente inter-pretada como um indicador da insignificância da ampla tradição anarquista. Tal abordagem vem da tradição da “Velha História do Trabalho”, com sua ênfase nas organizações formais e nas lideranças. A “Nova História do Tra-balho,” que enfatiza a história social das classes populares e a necessidade de se examinar os movimentos de baixo para cima, oferece uma correção necessária a essas perspectivas, por sua atenção direta às formas culturais e às organizações informais55.

Usando uma abordagem da história social, o trabalho pioneiro de Carl Levy sobre o anarquismo italiano sugere que o movimento teve um gran-de impacto na cultura da classe trabalhadora e da esquerda em nível local, fornecendo-lhe muito de suas linguagens, símbolos e táticas, enquanto in-fluenciava as seções do PSE e da CGL56. Acadêmicos marxistas têm tendido a enaltecer o papel de figuras como Gramsci nas agitações populares que abalaram a Itália na década de 1910, tais como a Semana Vermelha insurre-cional e o bienno rosso [biênio vermelho] de 1919-1920, culminando no movi-mento de ocupações de fábricas de 1920 que envolveu centenas de milhares de trabalhadores. Um escritor chega a descrever Gramsci como o líder do movimento de ocupações de fábricas e o “mais capaz dos revolucionários de Turim”57.

55 M. van der Linden, 1999, “Transnationalising American Labor History,” Journal of American History, 86 (3): 1078-1092.

56 Levy, “Italian Anarchism”, 26, 29-30, 34-35, 44-45, 49.57 “Sob a liderança de Gramsci os trabalhadores em Turin empreenderam em cons-

truir um movimento conselhista de trabalhadores... um experimento no ‘puro’ socialismo conselhista”; D. Gluckstein, 1985, The Western Soviets: Workers’ Councils

132

Lucien van der Walt

Como Levy demonstra, contudo, a Semana Vermelha emergiu de uma greve geral liderada pelos anarquistas e pela USI, e mostrou a habilidade do amplo movimento anarquista para crescer de modo extremamente rápido. Ele adiciona que o Gramsci de 1920 não era de modo algum leninista; suas visões eram próximas do anarquismo, as principais figuras de seu círculo que se agrupavam em torno do quinzenal L’Ordino nuevo [Nova Ordem] eram anarquistas, e suas ideias, à época libertárias, tinham apelo precisamente por sua ressonância com a cultura popular italiana58. Deve-se adicionar a isso que os anarquistas e os sindicalistas revolucionários foram considerados os “mais consistentes e totalmente revolucionários grupos da esquerda” em 192059. De fato, o ordinovisti de Gramsci era um “pequeno grupo de socialistas sele-cionados ao longo de vários meses” em Turim, e o jornal deles era quinzenal e com circulação de 5 mil cópias60. Em contraste, a USI aproximava-se da casa de 1 milhão de membros, a União Anarquista Italiana (UAI), fundada em 1912, estava crescendo rápido como organização nacional, e o periódico anarquista de Malatesta Umanita Nova [Nova Humanidade] tinha tiragem de 50 mil cópias em seu ápice.

A atração do sindicalismo por parte de figuras como Connolly, De Leon e Haywood também trouxeram diversos desafios importantes às visões exis-tentes sobre a história anarquista. É tentador, embora equivocado, assumir que a Segunda Internacional foi nada mais que um posto avançado do so-cialismo político. A relação entre a ampla tradição anarquista e este agru-pamento é vista em termos simplórios: com o retorno ao anarquismo de massas, um significativo número de anarquistas e de sindicalistas revolucio-nários compareceram aos primeiros congressos desta associação, mas foram expulsos em 1891, e então excluídos, por mudanças nas regras em 1893 e 1896; porta-vozes anarquistas foram fisicamente atacados no congresso de 1896. Em muitos estudos, este é o fim da história, sem “qualquer questão posterior de união” entre socialistas libertários e políticos, e sem “qualquer tentativa posterior” por parte de anarquistas e sindicalistas “de invadir a Se-gunda Internacional”61.

Entretanto, meus estudos sugerem algo diferente. As correntes sindica-listas continuaram a surgir em muitos dos partidos da Segunda Internacional durante o século XX. Exemplos incluem: a facção sindicalista no Partito

versus Parliament, 1915-1920, London: Bookmarks, 162.58 Levy, “Italian Anarchism,” 54-58, 61, 70-71.59 Williams, A Proletarian Order, 194-95.60 Gluckstein, The Western Soviets, 239.61 Woodcock, Anarchism, 248.

133

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Socialista Italiano (PSI)62 na Itália, o IWW no Socialist Party of America (Partido Socialista da América, SPA)63 nos Estados Unidos, a transformação do SLP em um grupo sindicalista, a evolução da CORA na Argentina para uma organização sindicalista. A CGT francesa também era afiliada ao braço sindical da Internacional. Kotoku, fundador do Partido Social Democrata no Japão, tornou-se uma figura anarquista central japonesa; ele foi apenas um de uma série de anarquistas japoneses proeminentes que vieram da social democracia ou do marxismo clássico. O Partido Trabalhista Independente irlandês chegou até a adotar uma plataforma sindicalista64. Seções do Partido Socialista australiano defenderam o IWW65. Os socialistas políticos tiveram de promover uma contínua batalha para manter tais correntes fora da In-ternacional e de seus organismos afiliados; esta batalha certamente não foi ganha em 1896. Foi apenas no Congresso Sindicalista Internacional de 1913 em Londres, que objetivava a criação de uma nova Internacional, que se as-sinalou a ruptura final com a Segunda Internacional.

o caráter de classe e o conteXto das organIzações sIndIcalIstas

O caráter de classe das maiores organizações formadas pela ampla tra-dição anarquista, as organizações sindicalistas, rapidamente demonstram o equívoco de determinados argumentos que foram anteriormente apresen-tados.

Dois grupos eram particularmente bem representados no sindicalismo a partir da década de 1890: primeiro, os trabalhadores sazonais e temporários, como os trabalhadores da construção, os estivadores, os trabalhadores do campo, os marinheiros e os trabalhadores dos setores de combustível, que viviam marcados pela instabilidade, pela frequente mudança de emprego e pela mobilidade na busca de trabalho; em segundo lugar, os trabalhadores do setor elétrico e da indústria pesada, tais como trabalhadores fabris, minei-ros e trabalhadores do setor ferroviário66. Além destas categorias, havia tam-

62 Partido de linha marxista fundado em 1892. (N.T.)63 Partido de orientação socialista-democrática fundado em 1901. (N.T.)64 B. Ransome, 1980, Connolly’s Marxism, Pluto Press, 67-68; ver também K. Allen,

1987, The Politics of James Connolly, Pluto Press, 106-13.65 V. Burgmann, 1995, Revolutionary Industrial Unionism: The IWW in Australia, Cam-

bridge University Press, 35, 44, 83.66 Ver M. van der Linden e W. Thorpe, 1990, “The Rise and Fall of Revolutionary

Syndicalism,” van der Linden e Thorpe, (orgs.), Revolutionary Syndicalism, 7-12; L. Peterson, 1983, “The One Big Union in International Perspective: Revolutionary Industrial Unionism, 1900-1925,” J. E. Cronin e C. Sirianni, Work, Community, and Power: The Experiences of Labor in Europe and America, Temple University Press, 68-

134

Lucien van der Walt

bém, nas organizações sindicalistas, pequenas quantidades de trabalhadores e profissionais liberais, marcadamente jornalistas, professores, enfermeiros e médicos.

Casos nacionais demonstram consistentemente esta tendência. Na Ale-manha, a Freie Vereinigung deutscher Gewerkschaften [Associação Livre dos Sindicatos Germânicos, FVdG)67 era largamente baseada em trabalha-dores do setor da construção, enquanto a FAUD era predominantemente baseada em trabalhadores da indústria metalúrgica e das minas da região de Rühr68. Na Grã-Bretanha, incluindo a Irlanda, o sindicalismo também pareceu ter uma ressonância particular entre os trabalhadores da construção, metalúrgicos, mineiros e trabalhadores dos transportes69. No Peru, para dar outro exemplo, o anarquismo e sindicalismo estavam principalmente basea-dos nos “trabalhadores fabris semiqualificados que defendiam ações coleti-vas pragmáticas”70. O sindicalismo mexicano teve significativo apoio dos tra-balhadores qualificados de pequenas unidades produtivas, mas também teve uma base de massas entre os trabalhadores fabris (notavelmente do setor têx-til), os trabalhadores petroleiros e mineiros71. Na África do Sul, as pequenas organizações sindicalistas dos anos 1910 eram majoritariamente compostas de trabalhadores de cor semiqualificados e não-qualificados, trabalhadores das manufaturas e do setor de serviços, tais como estivadores, trabalhadores do setor de vestuário das grandes sweatshops72 e trabalhadores das fabricas de processamento de alimentos73.

75. Ver também M. Davis, 1984, “The Stop Watch and the Wooden Shoe: Scientific Management and the Industrial Workers of the World,” J. Green, (org.), Workers’ Struggles, Past and Present: A Radical America Reader, Temple University Press.

67 Organização sindical fundada em 1897. (N.T.)68 H. M. Bock, 1990, “Anarchosyndicalism in the German Labour Movement: A Re-

discovered Minority Tradition,” van der Linden e Thorpe, (orgs.), Revolutionary Syn-dicalism, 67-70.

69 Ver, por exemplo, J. White, “Syndicalism in a Mature Industrial Setting: The Case of Britain,” van der Linden e Thorpe, (orgs.), Revolutionary Syndicalism, 105-08.

70 S.J. Hirsch, 1997, “The Anarcho-Syndicalist Roots of a Multi-Class Alliance: Or-ganised Labour and the Peruvian Aprista Party, 1900-1933,” PhD diss., George Washington University, 13, 15, 27, 30, 34, 47, 59, 169.

71 J. Hart, 1990, “Revolutionary Syndicalism in Mexico,” van der Linden e Thorpe, (orgs.), Revolutionary Syndicalism, 192-98.

72 Sweatshop é um termo anglófono para designar fábricas e oficinas, notavelmente as de roupas, bastante precarizadas. Levam esse nome por, pela falta de ambiente adequado, literalmente virarem “saunas”, dada a quantidade de suor e vapor (sweat). (N.T.)

73 Van der Walt, “Anarchism and Syndicalism in South Africa,” 524-25, 589-91.

135

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Muito do apelo do sindicalismo repousa precisamente em sua habilidade de responder às preocupações da classe trabalhadora. Aos trabalhadores sa-zonais que trabalhavam em vários empregos, o projeto que preconizava Um Grande Sindicato [One Big Union] era mais prático que do que o unionismo de categorias, os laços de lealdade com os empregadores eram mínimos e a ação direta era a melhor estratégia, dados os limitados períodos de empre-go74. Os trabalhadores da indústria pesada estavam enfrentando várias mu-danças trazidas pela segunda revolução industrial dos fins do século XIX e início do XX, que incluíam o crescimento das linhas de montagem de produ-ção em massa, a desqualificação dos trabalhadores qualificados, a mecaniza-ção, o crescente aumento dos trabalhadores semiqualificados e as técnicas de “administração científica” tayloristas75. Essas mudanças criaram uma série de agravos, tais como intensificação, desqualificação, supervisão intensificada e crescente precarização, o que desencadeou um conjunto de lutas em tor-no da produção, ao mesmo tempo em que quebravam tradicionais divisões entre os trabalhadores. Isso também facilitou uma guinada rumo ao sindica-lismo, mesmo quando a emergência de corporações gigantescas76 favorecia poderosamente a criação de sindicatos gigantescos.

De 1909 a 1913, por exemplo, o IWW estadunidense liderou uma onda de greves entre os trabalhadores semiqualificados das “indústrias que es-tavam sendo racionalizadas pela administração científica e pela introdução de técnicas das novas linhas de montagem de massa,” incluindo as grandes fábricas de automóveis da Ford em Detroit77. Os Wobblies78 incorporaram uma massa de trabalhadores industriais não qualificados e semiqualificados – os quais eram ignorados pela American Federation of Labor (Federação Americana do Trabalho, AFL)79, em função de seu unionismo de categorias e de suas práticas excludentes em termos étnicos e raciais – e revoltaram--se contra as práticas de administração científica, tais como pagamentos por eficiência, trabalho por peça, racionalização e aceleração das linhas de mon-tagem. Era precisamente contra tais práticas que se direcionava a maior parte da defesa do IWW à “sabotagem” industrial80.

Seria um erro reduzir a emergência do sindicalismo durante o período glorioso à mudança do processo de trabalho em conjunto com a crescente

74 Van der Linden e Thorpe, “The Rise and Fall,” 7-12.75 Ibid., 7-12; Peterson, “The One Big Union,” 68-75.76 Aqui se traduzindo de “corporations”, em sentido de “indústrias gigantescas”. (N.T.)77 Davis, “The Stop Watch and the Wooden Shoe,” 86-87.78 Termo que designava os membros do IWW. 79 Federação de sindicatos estadunidense criada em 1886. (N.T.)80 Davis, “The Stop Watch and the Wooden Shoe,” 91-95.

136

Lucien van der Walt

concentração e centralização do capital em enormes fábricas, embora tais fatores tenham certamente desempenhado um importante papel. O sindica-lismo também era atrativo num contexto de crescente radicalização popular, em parte expressado por uma onda de greves de massa internacional durante a década de 1910, que foi, talvez, apenas superada por aquela de 1968-197481. Facilitada pelo aumento de grandes locais de trabalho e de enormes bairros da classe trabalhadora, esta radicalização foi reforçada por ideias sindicalistas e correspondeu ao crescente desencantamento com a burocracia e a modera-ção dos sindicatos ortodoxos e dos partidos trabalhistas, ganhando um novo impulso com o crescimento de categorias de trabalhadores suficientemente amplas e organizadas para deflagrarem greves gerais com êxito82. Nesse con-texto, o sindicalismo “ofereceu uma poderosa […] resposta” às “questões fundamentais da política socialista e democrática,” ao mesmo tempo em que apresentou uma alternativa radical83.

Foi crucial à emergência do sindicalismo a existência de estruturas anar-quistas e sindicalistas, com uma política clara e uma base classista, que tiveram condições de promover suas posições políticas. Grupos formais, baseados na necessidade do dualismo organizacional – grupos especificamente anarquis-tas ou sindicalistas que trabalhavam dentro e fora dos sindicatos – foram comuns: exemplos incluem a Aliança Internacional da Democracia Socialista dentro da FORE espanhola, e sua sucessora, a Federação Anarquista Ibérica (FAI, fundada em 1927), a Liga de Educação Sindicalista Industrial na Grã--Bretanha (fundada em 1910), a Liga Socialista Internacional na África do Sul (fundada em 1915), o grupo Luz/Lucha no México (fundado em 1912), a Sociedade dos Camaradas Anarcocomunistas (fundada em 1914 por Shifu / Liu Sifu, 1884-1915), a Liga Sindicalista da América do Norte (fundada em 1912). Mesmo os sindicalistas que vociferavam contra a necessidade da organização dualista frequentemente e na prática articularam tais estruturas, ainda que informalmente. Muitos sindicalistas franceses, por exemplo, ado-taram a ideia de “minoria militante” para “propagar ideias revolucionárias, padronizar suas políticas, instigar movimentos de greve e organizar seus ata-ques a forças conservadoras nos sindicatos” e formaram “grupos, noyaux, dentro dos amplos sindicatos”84.

81 Van der Linden e Thorpe, “The Rise and Fall,” 7-12; Peterson, “The One Big Union,” 68-75.

82 Van der Linden e Thorpe, “The Rise and Fall,” 7-12; Peterson, “The One Big Union,” 68-75.

83 D. Howell, 2000, “Taking Syndicalism Seriously,” Socialist History, 35-36.84 E. C. Ford e W. Z. Foster, [1912] 1990, Syndicalism, Chicago: Charles H. Kerr, 44;

P.S. Foner, 1965, The Industrial Workers of the World, 1905-17, New York: Interna-tional Publishers, 417.

137

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Ademais, como atesta a influência do sindicalismo em contextos como Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, este era um movimento per-feitamente capaz de operar nos países industrialmente mais avançados. Se o anarquismo e seu produto, o sindicalismo, emergiram no crescente mo-vimento da classe trabalhadora representado pela Primeira Internacional, então, também é fato que a maioria das pessoas organizadas pela ampla tra-dição anarquista era de trabalhadores assalariados comuns.

Ao mesmo tempo, é válido ter em mente que a Espanha do século XX dificilmente era a “água estagnada” da economia ou o “rincão feudal da Eu-ropa” que as explicações para o não existente mistério da excepcionalidade espanhola sugerem85. A economia espanhola cresceu massivamente da déca-da de 1910 em diante, em particular como resultado da habilidade espanhola, como país neutro, para vender suprimentos a todas as forças beligerantes na Primeira Guerra Mundial; uma massiva expansão industrial ocorreu, enquan-to as indústrias da segunda revolução industrial (metalurgias, indústrias de químicos e do setor de energia) eram estabelecidas em larga escala; Barcelona tornou-se uma das cidades com mais rápido crescimento na Europa86. O rápido crescimento da CNT nesse período deu-se não no contexto das pecu-liaridades espanholas, mas das condições que eram bem similares àquelas que fomentaram o sindicalismo em outras regiões; portanto, não é surpreendente ver que a CNT organizou tanto as grandes fábricas como as pequenas com-panhias. Falando do caso espanhol, J. Romero Maura argumenta que o apelo da CNT foi obscurecido pela visão de que o anarcossindicalismo era uma doutrina irrealista e messiânica, inadequada para as condições industriais mo-dernas. Ao contrário, sugere ele, foi a habilidade da CNT em mobilizar traba-lhadores, principalmente industriais, em torno de reivindicações imediatas e de práticas militantes, bem como de objetivos revolucionários, que permitiu a existência da federação87.

Essa habilidade de relacionar as preocupações dos trabalhadores ao ob-jetivo final da revolução parece ser a receita necessária a qualquer movimento sindicalista exitoso; isso porque ele requer a habilidade de uma relação com a classe trabalhadora no aqui e agora. O dramático crescimento do sindicalis-mo em seu apogeu testemunha o fato de que ele não apenas recrutava mem-bros entre a classe trabalhadora moderna, mas que o fez precisamente por-que era um tipo efetivo e relevante de associativismo para os trabalhadores na agricultura, na indústria e no setor de serviços. Em função da centralidade

85 Kedward, The Anarchists, 5.86 N. Rider, 1989, “The Practice of Direct Action: The Barcelona Rent Strike of

1931,” Goodway, (org.), For Anarchism, 80-83.87 Maura, “The Spanish Case”, 71-80.

138

Lucien van der Walt

da influência anarquista no sindicalismo, não faz qualquer sentido dizer que o anarquismo e o sindicalismo são, de algum modo, atávicos, condenados ou não proletários.

Por um lado, os trabalhadores qualificados tiveram um papel conside-rável no movimento sindicalista. Trabalhadores qualificados da metalurgia, por exemplo, eram críticos do sindicalismo britânico. Por outro, as estru-turas das associações de categorias não eram sempre repudiadas; diferente do IWW e da CNT espanhola, por exemplo, a FORA argentina e a CGT francesa incluíam diversas associações de categoria. O que se destaca como algo impressionante é a habilidade que sindicalismo teve para unir traba-lhadores qualificados, semiqualificados e não qualificados, num movimento trabalhista unificado. O sindicalismo trouxe os trabalhadores qualificados, sempre que possível, para sindicatos mais gerais ou industriais88, e ligou di-ferentes categorias e indústrias, assim como associações de categorias, gerais e industriais em estruturas territoriais como o IWW local ou as Bourses du Travail francesas89. Isso significa que os “artesãos” [artisans] que se juntaram aos anarquistas e militantes do sindicalismo não eram artesãos [craftworkers] autônomos, mas assalariados qualificados. Foram eles que engrossaram as fi-leiras do sindicalismo; como movimento associativo, o sindicalismo oferecia pouco aos artesãos autônomos [craftworkers].

trabalhadores e camPoneses anarquIstas no camPo

A ampla tradição anarquista sublinhou enfaticamente a importância da união das classes populares tanto nas cidades quanto nos campos. Ademais, ela acreditou no potencial revolucionário do campesinato de um modo que não era feito pelo marxismo clássico, ao menos antes de Mao. Dois caminhos principais foram tomados nos campos: associativismo sindicalista entre os trabalhadores da agricultura, particularmente aqueles empregados em gran-des propriedades e fazendas comerciais, mas também, algumas vezes, entre camponeses; e organização anarquista nos vilarejos. Dadas as diferentes con-dições das duas classes, as organizações anarquistas para trabalhadores e para

88 Na Espanha, o CNT organizou um único corpo sindical em cada local-de-trabalho, assim impondo “a militância da maioria dos trabalhadores não-qualificados sobre a aristocracia operária”; Maura, “The Spanish Case”, 75.

89 “A real importância da Bourse, contudo, repousa no senso de solidariedade que este estabelecia no distrito ao qual pertencia. Ele unia em ação comum trabalhadores de diferentes categorias, com diferentes interesses, que poderiam, de outra forma, permanecer divididos em seus vários syndicates [sindicatos]”; F.F. Ridley, 1970, Revo-lutionary Syndicalism in France, Cambridge University Press, 75. *A palavra “syndicates” foi mantida pelo autor, o colchete seguido desta também é original do autor, mas vinha com a palavra “unions” inserida dentro dele. (N.T.)

139

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

camponeses eram bastante diferentes90.Um exemplo inicial de sindicalismo rural ocorreu na Espanha com a

FORE, que ganhou apoio massivo entre os braceros, os “sem-terra, proletários rurais” das grandes fazendas e das maiores propriedades, ou latifúndios91. A FORE era uma organização sindicalista precursora, mas não um movimento exclusivamente urbano. Ela contava com uma boa quantidade de trabalha-dores industriais e artesãos, mas seu rápido crescimento iniciado a partir de 1872 foi, parcialmente, um reflexo de sua disseminação nas áreas rurais de Andaluzia e Catalunha92. A FORE teve diversas seções entre os agricultores a partir de 1870 e, em 1872, ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais93. Curiosamente, este recrutava não apenas trabalhadores do cam-po, mas também camponeses – os primeiros em torno da reivindicação de maiores salários e os segundos de menores valores de arrendamentos –, os quais devem ter composto entre um quarto e metade do total de membros da FORE. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais foi, mais tarde, retomado pela FTRE, seguindo uma abordagem similar, e foi notável em seu papel em unir os trabalhadores espanhóis e os portugueses migrantes contratados94. A CNT espanhola foi menos bem sucedida que seus predecessores neste sentido; a maioria dos trabalhadores do campo e dos pequenos camponeses ingressou na UGT e não na CNT95.

Na Itália, o Comitê Nacional de Resistência (CNR), predecessor da USI, encarou seu primeiro grande desafio em 1908, quando donos de terras articularam-se para destruir a Câmara do Trabalho de Parma, um baluarte sindicalista que organizava os trabalhadores do campo96. Os sindicalistas res-ponderam com uma greve geral de dois meses, mas perderam a batalha, que

90 Por exemplo, é um infortúnio que algumas fontes tratem os trabalhadores rurais e os camponeses como um único grupo; vejamos, por exemplo, M. Molnár e J. Pek-mez, 1974, “Rural Anarchism in Spain and the 1873 Cantonalist Revolution”, H.A. Landsberger, (org.), Rural Protest: Peasant Movements and Social Change, Macmillan, 161.

91 M. Bookchin, 1977, The Spanish Anarchists: The Heroic Years, 1868-1936, Harper Col-ophon, 89-110.

92 Molnár e Pekmez, 1974, “Rural Anarchism in Spain,” 167.93 Ibid., 172-84.94 T. Kaplan, 1977, Anarchists of Andalusia, 1868-1903, Princeton University Press,

143-55.95 Richards, Lessons of the Spanish Revolution, 52-53.96 T.S. Sykes, 1976, “Revolutionary Syndicalism in the Italian Labour Movement: The

Agrarian Strikes of 1907-1908 in the Province of Parma,” International Review of Social History, 21: 186-211.

140

Lucien van der Walt

foi vista pelos empregadores como a última grande batalha contra o sindica-lismo97. O IWW estadunidense organizou uma aliança multirracial de traba-lhadores da madeira no Texas e em Louisiana98. Em 1913, o IWW organizou uma greve com 20 mil trabalhadores de serralheria no noroeste do Pacífico99. Sua Organização dos Trabalhadores Agrícolas, formada por volta de 1915 e sucedida pelo Sindicato Industrial dos Trabalhadores Agrícolas, contava com 50 mil membros em 1918, constituindo expressamente metade de todo o IWW100. A CGT francesa organizava trabalhadores das fazendas e dos vi-nhedos da província de Aude, no sul, tendo impulsionado mais de 143 greves entre 1902 e 1914101. A CGT também montou um setor camponês em 1902.

No Peru, os anarquistas e os sindicalistas tentaram, com algum suces-so, organizar os trabalhadores rurais, particularmente os trabalhadores dos campos de algodão e açúcar em Chancay102. No início do século XX, os anarquistas cubanos começaram a se organizar na indústria açucareira103. Em 1911, uma Central de Trabalhadores foi organizada em Cruces, uma central de produção açucareira, seguida pelo Congresso de Trabalhadores do Cam-po e Camponeses de Cruces, além de várias campanhas organizativas que se estenderam por esta década. Em 1924 e 1925, greves explodiram no setor, em parte organizadas pelo Sindicato Ferroviário Nortenho e apoiada pela CNOC. Anarquistas também foram centrais no Sindicato Geral do Trabalho de San Cristóbal, majoritariamente rural. Na Bolívia, os anarquistas influen-ciaram fortemente a Federação Departamental Agrária, que se organizava predominantemente entre trabalhadores do campo e camponeses indígenas, no início da década de 1930; antes disso, a organização era selvagemente reprimida104.

97 W. Thorpe, 1989, ‘The Workers Themselves’: Revolutionary Syndicalism and International Labour 1913-23, Kulwer Academic Publishers/ International Institute of Social History, 36-37.

98 Ver, por exemplo, J.R. Green, 1973, “The Brotherhood of Timber Workers, 1910-1913: A Radical Response to Industrial Capitalism in the Southern U.S.A.,” Past and Present, 60: 161-200.

99 M. Dubofsky, 1987, ‘Big Bill” Haywood, Manchester University Press, 102.100 Ibid., 81, 95, 101.101 L. Frader, 1985/6, “Socialists, Syndicalists, and the Peasant Question in the Aude,”

Journal of Social History 19 (3): 457-58.102 Hirsch, “The Anarcho-Syndicalist Roots,” 13, 15, 27, 30, 34, 47, 59, 169.103 F. Fernandez, 2001, Cuban Anarchism: The History of a Movement, See Sharp Press,

capítulo 2.104 CNT, 1999, “The Libertarian Ideal in Bolivia,” Freedom: Anarchist Fortnightly, 12 de

Junho.

141

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Mesmo que o anarquismo e o sindicalismo argentinos pareçam ter ini-cialmente ignorado o campo, eles “fizeram verdadeiras incursões no trabalho rural durante os inícios do século XX,” recrutando membros entre trabalha-dores do campo e empregados das fábricas de empacotamento e processa-mento105. Em 1920, a FORA-IX formou uma aliança com a Federação Agrá-ria da Argentina, uma organização camponesa vinculada ao Partido Socialista dos Trabalhadores, e começou a sistematicamente organizar o campo, em alguns casos articulando pequenas revoltas locais e diversas greves de longa duração. Em 1922, um pacto de unidade sindical firmado na Patagônia ra-dicalizou-se para uma greve geral regional, que rapidamente se transformou numa série de convulsões em fazendas e vilarejos. A rebelião patagônica foi brutalmente esmagada, tendo como resultado entre 500 e 1000 trabalhado-res mortos106.

Houve tentativas anarquistas e sindicalistas sistemáticas e continuadas de mobilizar o campesinato, mas isso usualmente não resultou em movi-mentos de massa camponeses; a militância tendeu a restringir-se a algo local, quase sempre um tanto informal, e algumas vezes bastante isolado. Houve, claro, muitas iniciativas importantes. Na China, por exemplo, os anarquis-tas enfatizaram a centralidade do campesinato e tentaram organizar vilarejos modelo e milícias rurais, com sucesso variado. No Japão, a Zenkoku Jiren incitou um movimento unificado de operários e camponeses, e uma seção dos “anarquistas puros” formou a Jovem Associação de Vilarejos Agrícolas (Noson Seinen Sha); ambos se defrontaram com um sucesso limitado107.

Os anarquistas foram também ativos em dramáticas, ainda que curtas, lutas camponesas. Um caso em questão foi o dos violentos protestos cam-poneses gregos nas regiões do Peloponeso e de Tesaly, de 1895 em diante. Os camponeses, majoritariamente trabalhadores dos vinhedos, organizaram repetidas manifestações (muitas delas armadas); vários vilarejos foram ocu-pados. A hostilidade camponesa era diretamente contra os prestamistas, os coletores de impostos e as grandes companhias mercantis. Os anarquistas de Patras, agrupados em torno do jornal Epi ta Proso [Indo Adiante], tra-balharam ativamente nos vilarejos, assim como os anarquistas de Pyrgos, organizados em torno do jornal Neo Fos [Nova Luz]. Nenhuma organização camponesa anarquista emergiu, contudo, e muito da energia acabou canaliza-da em apelos por proteção tarifária. Os camponeses, majoritariamente pro-

105 R.A. Yoast, 1975, “The Development of Argentine Anarchism: A Socio-ideologi-cal Analysis,” PhD diss., University of Wisconsin-Madison, 226-30.

106 Ibid., 229.107 Crump, Hatta Shuzo and Pure Anarchism, 62-63, 78-79, 91-92, 104-05, 112-23, 141-

51, 157, 159-60, 172-80.

142

Lucien van der Walt

dutores de uvas secas, a principal colheita de exportação do país, e a indústria estavam arruinados pela entrada de competidores maiores no mercado e pela imposição de tarifas por parte da França108.

Contudo, apesar de inúmeros esforços, organizações ou movimentos camponeses anarquistas de massa foram pouco usuais: os casos mais impor-tantes foram os da Macedônia, da Manchúria, do México, da Espanha e da Ucrânia. No México, houve uma longa história de levantes camponeses mui-to sérios liderados por anarquistas, que datam das décadas de 1860 e 1870. O primeiro foi a sublevação de Julio Chávez López entre 1867 e 1869. Filho de camponeses pobres, Chávez López foi educado no anarquismo por militan-tes como Zalacosta e Rhodokanaty. Ele organizou uma milícia camponesa em Chalco, Puebla e Texaco, que atacou fazendas antes de ser suprimida109. Ela foi seguida pela revolta camponesa de Zalacosta em 1878, e pelo levan-te, que teve influência anarquista, do general Miguel Negrete (ativamente auxiliado por Chávez López e Zalacosta) entre 1879 e 1881110. Em 1911, o Partido Liberal Mexicano (PLM) comprometeu-se com um projeto similar, organizando uma revolta armada no estado de Baja California. O PLM já havia tentado organizar sublevações em 1906 e 1908. A revolta de 1911 – ini-cialmente planejada por Praxedis G. Guerrero, que foi morto um ano antes de seu início, e auxiliada por um destacamento do IWW estadunidense – in-tentava estabelecer uma zona do PLM sob princípios anarquistas111. Guerre-ro, rebento de uma abastada família latifundiária e educado à moda clássica, juntou-se ao movimento revolucionário, trabalhou na indústria e organizou sindicatos, morrendo aos 28 anos.

A revolução anarquista ucraniana de 1917-1920, associada a figuras como Nestor Makhno, foi majoritariamente estruturada por camponeses, embora contasse com uma substantiva presença de operários, a qual não pode ser negligenciada. Na Espanha, a influência anarquista entre o campe-sinato, como dito, remonta aos tempos da Primeira Internacional, e o cam-pesinato foi uma das grandes forças da Revolução Espanhola.

108 A. L. Olmstead, P. W. Rhode e J. Morilla Critz, 1999, “’Horn of Plenty’: The Glo-balisation of Mediterranean Horticulture and the Economic Development of Southern Europe, 1880-1930,” Journal of Economic History 59 (2): 316-18, 325-29, 337-38.

109 J. Hart, 1978, Anarchism and the Mexican Working Class, 1860-1931, Texas University Press, 32-42.

110 Ibid., 70-71, 81-82.111 Ibid., 100-3; C.M. MacLachlan, 1991, Anarchism and the Mexican Revolution: The Politi-

cal Trials of Ricardo Flores Magón in the United States, University of California Press, 32-47. Sobre Guerrero, ver também W. S. Albro, 1996, To Die on Your Feet: The Life, Times, and Writings of Praxedis G. Guerrero, Texas Christian University Press.

143

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

A revolução anarquista na Coreia / Manchúria (1929-1931) foi também primordialmente um fenômeno camponês. A Coreia, já crescentemente su-jeita ao controle japonês nos fins do século XIX, foi formalmente anexa-da em 1910. Influenciadas pelo anarquismo chinês e japonês, as correntes anarquistas emergiram e o movimento desempenhou um papel importante na massiva sublevação de 1919 contra a ocupação japonesa, chamado Mo-vimento do 1º de Março. Ele foi seguido por uma onda de atividades e pro-testos radicais e anticoloniais, incluindo o estabelecimento de um governo coreano provisório em Shanghai, na China, e pela formação, em 1919, do Bando dos Heróis (Uiyoltan), por parte de anarquistas e nacionalistas. Foi nesse período que o anarquismo realmente tornou-se uma força social na Coreia. O Uiyoltan foi influenciado pelo anarquista Yu Cha-myong (1891-1985), sua “liderança teórica,” bem como por Shin Chae’Ho112. Esta inicia-tiva foi seguida por uma série de grupos anarquistas, incluindo a Federação Anarquista Coreana (KAF)113. A KAF também estabeleceu seções na China (a KAF-C) e na Manchúria (KAF-M) em 1929; surgiu também a Federação Anarcocomunista Coreana (KACF) neste mesmo ano.

Muitas das atividades dos anarquistas coreanos ocorreram fora da Co-reia peninsular, particularmente na China e em Manchúria – esta última tinha mais de um milhão de coreanos no início da década de 1930114. Na Coreia, após um breve período de liberalização no início da década de 1920, a es-querda e os nacionalistas de linha dura eram pesadamente reprimidos, e as tentativas de lançar um Partido Comunista Coreano (KCP) dentro do país, para tomar um exemplo, rapidamente colapsaram. Uma das consequências parece ter sido que a esquerda desempenhou, no melhor dos casos, um pa-pel limitado nos movimentos camponeses e de pequenos ofícios na própria Coreia115. Mesmo os nacionalistas moderados encontraram dificuldades para operar abertamente, especialmente após o estabelecimento de uma ditadura semifascista no Japão em 1931. O significado da Manchúria para a resistência coreana não é surpreendente, também, porque a demarcação da fronteira era pouco clara e contestada; uma importante corrente do pensamento coreano, que incluía Shin (antes de ele tornar-se anarquista), considerava Manchúria

112 Seo Dong-shin, 2007, “Korean Anarchists Pursuing Third Way,” Korea Times, 26 de Janeiro.

113 Organização coreana formada na década de 1920. (N.T.)114 A. Buzo, 2002, The Making of Modern Korea, Routledge, 36.115 Ver, inter alia, Youn-tae Chung, 2001, “The Spread of Peasant Movement and

Changes in the Tenant Policy in the 1920’s Colonial Korea,” International Journal of Korean History, 2; Gi-Wook Shin, 1996, Peasant Protest and Social Change in Colonial Korea, University of Washington Press.

144

Lucien van der Walt

parte de uma Coreia Maior116. As condições de agitação e a guerra na China e na Manchúria criaram o espaço para a oposição radical que faltava à Coreia, e vale mencionar que o anarquismo coreano parece ter sido primariamente um movimento baseado em coreanos emigrados.

A partir dos fins da década de 1920, o KCP era ativo principalmente na Manchúria, onde se dividia em grupos de guerrilha que lutavam independen-temente ou em unidades coreanas das forças do Partido Comunista Chinês (CCP); um veterano notável do último grupo era Kom Il-Sung, mais tarde ditador da Coreia do Norte117. Outra força armada importante foi o Exército Independente da Coreia (KIA), que era ligado ao governo provisório exilado coreano. Um dos primeiros sucessos do KIA foi a derrota de uma brigada do exército imperial japonês na Manchúria em outubro de 1920, durante a batalha de Ch’ing-Shan (Ch’uongsan-ri). A principal figura no KIA era o simpatizante anarquista Kim Jao-jin (Kim Jwa-Jin ou Kim Chua-chin, 1889-1930), algumas vezes chamado o “Makhno coreano”. Nascido de uma abas-tada família em Hongseong County, província de Chungcheong, na Coreia, ele rompeu com seu passado quando, contando 18 anos, libertou os escravos da família e mais tarde lançou-se na luta pela independência.

Os anarquistas estavam envolvidos na administração da província de Kirin no sudeste de Manchúria, uma área efetivamente sob controle do KIA a partir de 1925. Neste ano, com a cobertura de Kim Jao-jin, os anarquistas da KAF-M e da KACF, notavelmente Yu Rim (1894-1961), estabeleceram a Associação do Povo Coreano na Manchúria, também conhecida como Liga Geral dos Coreanos (Hanjok Chongryong Haphoi). Era uma estrutura de conselhos baseada em delegados, similar às estruturas dos sovietes da revo-lução ucraniana. A associação fornecia educação, serviços sociais e defesa militar, e também promovia cooperativas camponesas. A revolução de Kirin foi atacada por forças japonesas, o CCP e o KCP, e também por autoridades chinesas, pressionados pelo Japão. Kim Jao-Jin foi assassinado em 1930 en-quanto consertava um moinho de arroz construído pela KAF-M, e as inva-sões e os assassinatos devastaram as forças anarquistas. Em meados de 1932, Kirin foi invadida e o movimento anarquista levado à ilegalidade, tendo de exilar-se no norte ou na China.

Um exame dos grandes movimentos camponeses anarquistas revela di-versas características cruciais de sua emergência. Esses movimentos campo-neses anarquistas de massa emergiram tipicamente em condições de aguda

116 Ver A. Schmid, 1997, “Rediscovering Manchuria: Sin Ch’aeho and the Politics of Territorial History in Korea,” Journal of Asia Studies, 56 (1): 26-46; H. H. Em, 1999, “Nationalism, Post-Nationalism, and Shin Ch’ae Ho,” Korea Journal, 39 (2): 295.

117 Buzo, The Making of Modern Korea, 45-47.

145

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

instabilidade e conflito sociais. Fora de situações revolucionárias, organiza-ções ou movimentos camponeses anarquistas de massa prolongados têm sido mais exceção do que regra. Sob estas condições, contudo, o anarquismo camponês articulou-se para formar organizações de massa que pudessem ri-valizar com estruturas como os partidos agrários “populistas” ou os partidos camponeses da Europa Oriental nos fins do século XIX e no século XX; mas, diferente destes partidos, os anarquistas não buscaram se sustentar em tempos de paz social. Os movimentos de massa anarquistas discutidos aqui desenvolveram-se paralelamente às sublevações populares com um caráter resolutamente anti-imperialista (Coreia e Ucrânia) ou em situações de guerra de classes (México e Espanha).

Em condições de agitação e sublevação bastante difundidas, os movi-mentos de massa camponeses em que os anarquistas eram centrais podiam emergir com incrível rapidez, organizando conselhos de vilarejos e sovie-tes, assim como milícias camponesas. Geralmente assumindo proporções e formas insurrecionais, a sobrevivência de tais movimentos camponeses anarquistas foi moldada, acima de tudo, pela habilidade destes em mobilizar forças armadas. Em parte, esse caráter insurrecional estava ligado à natureza de classe dos camponeses. Trabalhadores assalariados estão envolvidos em ciclos de produção razoavelmente curtos, e aptos a interromper a produção com efeitos dramáticos e rápidos. Camponeses podem recusar-se a vender sua produção, atrasar as colheitas e boicotar arrendamentos e impostos, mas o ciclo de produção é definido pelas estações, e uma interrupção da produção corre o risco de ocasionar uma perda catastrófica de culturas e rendimentos. Os partidos camponeses da Europa Oriental eram parcialmente capazes de se sustentar concentrando-se na política eleitoral118. Os anarquistas campo-neses lutavam para construir movimentos por meio da ação direta continua-da, exceto em períodos revolucionários, quando a ordem social cambaleava e os possíveis ganhos de uma revolta aberta pareciam dramaticamente preva-lecer sobre os prováveis custos de uma derrota.

Um exame mais próximo dos maiores movimentos camponeses anar-quistas que foram aqui identificados ajuda-nos a entender as condições sob as quais estes movimentos floresceram. Um fator crítico na emergência do movimento camponês anarquista de massa foi o rompimento com as rela-ções agrárias feudais e semifeudais, na medida em que o capitalismo penetra-va no campo, e a produção era reestruturada em caminhos que conduziam ao lucro e à produção de mercadorias. Por um lado, esta situação criou um crescente volume de camponeses empobrecidos que lutavam para ter seu

118 G. D. Jackson, 1974, “Peasant Political Movements in Eastern Europe,” H. A. Landsberger, (org.), Rural Protest, 271, 283-309.

146

Lucien van der Walt

sustento; por outro, sistemas de compromisso feudais e semifeudais, nos quais se esperava que grandes latifundiários provessem alguma medida de caridade e apoio aos pobres, acabaram.

No México, a emergência do anarquismo camponês no século XIX es-tava “profundamente enraizada” na história da “polarização de terras,” que colocou “vilarejos empobrecidos,” quase todos indígenas, contra “as grades fazendas,” as grandes propriedades ou latifúndios119. Em meados do século XIX, “contratos livres e vendas em mercado aberto” estavam substituindo os sistemas tradicionais de direitos e compromissos, enquanto a ascensão da agricultura comercial orientada à exportação intensificava o crescimento das grandes terras e das fazendas comerciais possuídas pela burguesia, ameaçan-do comunidades vilarejas. Massivas transferências de terra – algumas vezes pelo mercado, algumas vezes pela fraude e algumas vezes pela força – ocor-reram, e os aldeões camponeses lutaram desesperadamente para evitar serem rebaixados ao proletariado rural. A centralização de terras combinada com o crescimento populacional camponês criou imensas tensões. Foi “dentro deste meio social de grandes propriedades omnipresentes e de crescimento da população empobrecida e desterrada do campo que o tumulto agrário se desenvolveu”120.

Nos inícios do século XX, a Ucrânia colonial era a mais rica região agri-cultora do império russo, contando com 40% da terra cultivada121. Em 1914, este país produzia em torno de 20% do trigo do mundo; enquanto “um terço das importações de trigo da Europa Ocidental vinham do império russo,” “quase 90% das exportações do império” vinham da Ucrânia122. Da década de 1880 em diante, a agricultura na Ucrânia foi crescentemente comerciali-zada, e outras culturas agrícolas comerciais produzidas na região incluíam álcool destilado, açúcar e tabaco. A agricultura comercial era incentivada pelo Estado, que provia empréstimos e posse de terras reformadas, e a terra foi crescentemente concentrada nas mãos dos fazendeiros comerciais emergen-tes [kulaks] e dos capitalistas rurais. “Embora os camponeses mais pobres possuíssem 57% das fazendas na Ucrânia, eles ocupavam apenas 12% das terras,” e “um camponês a cada seis não tinha terra alguma”123. A província

119 Hart, “Revolutionary Syndicalism in Mexico,” 13-15, 35-37, 61-63, 85-87.120 Ibid., 13-15, 35-37, 61-63, 85-87; ver também J.D. Cockcroft, 1968, Mexico: Class

Formation, Capital Accumulation, and the State, Monthly Review Press, capítulo 3.121 C.M. Darch, 1994, “The Makhnovischna, 1917-1921: Ideology, Nationalism, and

Peasant Insurgency in Early Twentieth Century Ukraine,” PhD diss., University of Bradford, 136.

122 Ibid., 136, 138-39.123 Ibid., 141.

147

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

de Ekaterinoslav, a principal localidade do movimento Makhnovista, era ca-racterizada por grandes propriedades, crescimento da classe capitalista e dos kulaks, e por condições “extremadamente duras” para muitos camponeses124. Isso, em grande medida, explica a longa história de rebeliões camponesas violentas naquela região.

Antes da ocupação japonesa, a polarização rural já era acentuada na Co-reia feudal, que contava com numerosas revoltas camponesas. O crescente comércio com o Japão e o desenvolvimento endógeno da agricultura corea-na proveram alguns aspectos contextuais do levante camponês de Donghak [Aprendizado oriental] em 1894125. Sob a ocupação japonesa, as áreas rurais foram crescentemente utilizadas para gerar receitas fiscais, os sistemas de posse de terra foram reformados e várias manobras oficiais levadas a cabo para modernizar a agricultura; um nível de cultivo destinado à venda [cash--cropping] forçada foi executado e o campo foi crescentemente comercializa-do, na medida em que atraia investimentos da elite coreana e do um número crescente de fazendeiros japoneses126. Arrendamentos, quase sempre pagos em arroz, subiram acentuadamente, proprietários de terras intervinham cada vez mais na produção e custos com tributação (agora calculada por terra, não mais por colheita) eram frequentemente repassados aos arrendatários. Milhões de pessoas emigraram para o Japão e para a Manchúria127/ Como resultado da repressão, da pobreza ou da conscrição trabalhista, em 1945, quase 4 milhões de coreanos, em torno de 16% da população, estavam traba-lhando no exterior para o império japonês128.

Na Espanha, o anarquismo fincou profundas raízes nas vilas campone-sas de Andalusia e no levante na década de 1870 sob o contexto de “suble-vação social crônica” no campo. Em tempos anteriores, o acesso às terras comunais ajudou a compensar a falta de terras, assim como “as pretensões aristocráticas e o paternalismo da nobreza tradicional”. Na década de 1860, contudo, tanto a Igreja quanto as “terras herdadas”, que eram “a maioria mantida comunalmente por aldeões e pela municipalidade”, foram vendidas, perturbando “o equilíbrio tradicional entre as classes dominantes e oprimi-das na região”. Compromissos tradicionais estavam crescentemente sendo

124 Ibid., 146-48.125 Ha Ki Rak, 1986, A History of Korean Anarchist Movement, Taegu, South Korea: An-

archist Publishing Committee, 10-18.126 Chung, “The Spread of Peasant Movement,” 160-62; Buzo, The Making of Modern

Korea, 19-21, 26-27.127 Ha, A History of Korean Anarchist, 33-34; ver também Chung, “The Spread of Peas-

ant Movement,” 160-62.128 Buzo, The Making of Modern Korea, 38.

148

Lucien van der Walt

suspensos pelos ethos de uma “burguesia gananciosa”129.Dado o contexto de reestruturação e polarização, não é surpreendente

que o programa agrário anarquista, com seu destaque à redistribuição fundi-ária e à criação de um autogoverno aldeão democrático, tivesse um poderoso apelo à maioria dos camponeses. As revoltas camponesas anarquistas no Mé-xico envolveram milhares de camponeses; testemunho disso era a política da terra-arrasada na supressão da revolta de Chávez López. Com a primeira fase da Revolução Ucraniana em 1917, a quantidade de terras sob controle dos camponeses cresceu nitidamente de 56% para 96% do total, administradas pelo corpo aldeão tradicional, o mir ou a comuna130. Em Kirin, o veterano anarquista coreano Ha Ki Rak (1912-1997) relembra que a proposta para uma Associação do Povo Coreano na Manchúria encontrou “calorosas boas--vindas” das populações locais em toda parte”131. Nem é também surpre-endente que no mínimo 2 mil coletivos rurais auto-organizados tenham se formado durante a Revolução Espanhola, com mais de 15 milhões de acres de terra tendo sido expropriados entre julho de 1936 e janeiro de 1938, e com entre 7 e 8 milhões de pessoas direta e indiretamente afetadas pela cole-tivização, nos quase 60% de terras espanholas afetadas por este processo132.

Contudo mudanças estruturais na sociedade rural não podem prover uma explicação adequada dos movimentos camponeses anarquistas de mas-sa. Revoltas camponesas têm sido um aspecto recorrente da história moder-na, e apenas em alguns momentos elas estão entrelaçadas com o anarquismo. Muitos camponeses buscavam a salvação em movimentos conservadores, que buscavam recriar uma ordem feudal idealizada. Por exemplo, na Espa-nha, o campesinato empobrecido das províncias nortenhas agrupava-se sob as bandeiras dos monarquistas “Carlistas” conservadores; na Europa Orien-tal, camponeses forneceram apoio massivo a movimentos fascistas como a Guarda de Ferro [Iron Guard] na Romênia. Além disso, revoltas camponesas tipicamente careciam dos projetos sistemáticos de reconstrução social em-preendidos na Ucrânia nos fins da década de 1910, na Coreia/Manchúria nos fins da década de 1920 e na Espanha nos fins da década de 1930.

Dois outros fatores são cruciais. O primeiro é a existência de uma ca-mada dos militantes anarquistas estabelecida dentro do campesinato, apta a promover seu socialismo libertário e revolucionário, e a mobilizar e reunir o campesinato. Tais camadas desenvolveram-se a partir do trabalho anarquista

129 Bookchin, The Spanish Anarchists, 92-104; ver também Molnár e Pekmez, “Rural Anarchism in Spain,” 168-71.

130 Darch, “The Makhnovischna,” 149.131 Ha, A History of Korean Anarchist, 82.132 Breitbart, “Spanish Anarchism”, 60.

149

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

realizado entre os camponeses. A segunda importante questão para trans-formar a frustração e o descontentamento camponeses em ação revolucio-nária é o aparecimento de um período de sublevação e instabilidade. Onde estes dois elementos eram combinados, os resultados podiam ser explosivos. Este foi o contexto no qual figuras ligadas ao anarquismo como Chávez López, Zalacosta, Makhno, Kim Jong-jin (?-1931) da KAF-M, Kim Jwa-Jin destacaram-se. Levantes camponeses poderiam ter acontecido de qualquer forma; no entanto, sem os anarquistas, a história destes movimentos campo-neses teria sido bastante diferente; uma onda massiva de confisco de terras camponesas varreu o império russo em 1917, mas foi na Ucrânia que uma importante revolução anarquista ocorreu.

Transformações agrárias estáveis e contínuas parecem nunca ter sido suficientes para ser o estopim da revolta camponesa de massas anarquista; uma mudança súbita era vital. Lutas por terra no México e na Espanha, por exemplo, haviam sido contínuas durante o século XIX, mas grande parte deste período contava com apelações legais e com esporádicos surtos de violência, e quase sempre um clima de fatalismo e aceitação passiva prevale-cia. Da mesma forma, a comercialização agrícola estava espalhada na Ucrâ-nia na década de 1880 e, ainda assim, a maior revolta camponesa anarquista só ocorreu quase 40 anos mais tarde. A “maioria dos aldeões” na Espanha “nunca estavam ativamente ocupados com o movimento anarquista [...] e, em tempos comuns, eles ocupavam-se com seus negócios diários com bem pou-co interesse nos princípios anarquistas”. Era apenas em temos de “aflição” ou “esperança” que os aldeões hispânicos podiam ser “despertados para a ação” de massas na esteira dos núcleos anarquistas133. Na Espanha, finalmente, a tentativa do golpe de Franco contribuiu com a revolução de 1936.

Algumas vezes o estopim era uma disputa local. A revolta de Chávez López no México, por exemplo, teve lugar após uma grave disputa de terras entre uma única vila e uma fazenda [hacienda]. Algumas vezes uma súbita mudança na economia era a faísca. As revoltas camponesas gregas de 1895 seguiram-se diretamente após o rápido declínio do preço da mais importante cultura, as uvas-passas, que levou ao desemprego em massa de trabalhado-res e à ampla execução hipotecária de fazendas. Algumas vezes uma revolta camponesa emergia de condições de guerra e invasão. A economia da Rússia e da Ucrânia colapsou como resultado direto da Primeira Guerra Mundial, e famílias camponesas foram prejudicadas com a conscrição de milhões de homens ao exército. A produção caiu, assim como as exportações, a inflação subiu, e os camponeses sofreram, além disso, com as requisições do governo por produtos pecuários e pelas depredações realizadas pelas forças invaso-

133 Bookchin, The Spanish Anarchists, 91-92.

150

Lucien van der Walt

ras134. Isso ajudou a gerar um clima de radicalização entre o campesinato, que respondeu entusiasticamente à Makhno e aos anarquistas em 1917. A transferência subsequente da Ucrânia às forças germânicas pelo Tratado de Brest-Listovsk, seguida pela invasão do reacionário Exército Branco e dos nacionalistas, mais as forçadas demandas do “Comunismo de Guerra” bol-chevique, ajudaram a manter o ímpeto da luta camponesa de massas.

O caso da Coreia/Manchúria deve ser situado no amplo contexto da guerra e da instabilidade do leste asiático nas décadas de 1910 a 1940. O Mo-vimento 1º de Março de 1919 inaugurou um período de agitação de massas, frequentemente violento – a resistência armada pioneira dos anos 1910 havia sido impiedosamente esmagada, mas, naquele momento, novos grupos como Uiyoltan travavam uma luta armada e a KIA e outras forças emergiam –, ao passo que a aceleração do expansionismo japonês e a guerra civil na China fortaleciam as condições de instabilidade. Isso também abriu um período de lutas camponesas de larga escala na própria Coreia, quase sempre centradas em greves de arrendatários em torno dos arrendamentos, da segurança dos arrendamentos e das taxações135. Isso se desenvolveu nos sindicatos “cam-poneses vermelhos” dos inícios da década de 1930136. A pronunciada queda no preço do arroz nos fins da década de 1920, somada aos custos cres-centes, contribuiu diretamente com um aumento das lutas camponesas137. Juntamente com a crescente repressão na Coreia, estes desenvolvimentos, sem dúvida, contribuíram para o apelo do projeto da Associação do Povo Coreano na Manchúria entre a considerável população coreana emigrante.

os anarquIstas e a intelligentsia

Até aqui, enfatizei o caráter do anarquismo e do sindicalismo históricos como um movimento da classe trabalhadora e do campesinato. Não há dú-vida que muitos dos principais militantes e ideólogos do anarquismo e do sindicalismo tiveram algum tipo de educação superior138 ou foram recrutados entre a intelligentsia da classe média (ou mesmo da dissidência da classe do-minante): Bakunin, Ervin Batthyány (1877-1945) da Hungria, John Creagh (1841-1920) na Argentina e na Grã-Bretanha, Guillaume, De Leon, Galleani, Guerrero, Hatta, Ito, Kropotkin, Flores Mágon, Malatesta, Michel, Osugi, Reclus, Shifu, Shin e Zalacosta, bem como Pietro Gori (1865-1911) na Itália, Fábio Luz e Neno Vasco (1878-1920) no Brasil, Juan Francisco Moncaleano

134 Darch, “The Makhnovischna,” 154.135 Chung, “The Spread of Peasant Movement,” 162-68.136 Ver, em particular, Shin, Peasant Protest.137 Buzo, The Making of Modern Korea, 13-14.138 No sentido de educação para além dos níveis elementares, “tertiary education”. (N.T.)

151

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

na Colômbia e no México, González Prada no Peru e Thibedi e S. P. Bunting (1873-1936) na África do Sul.

Nesse aspecto, a ampla tradição anarquista não foi (e não é) muito dife-rente de outras correntes da esquerda radical. Não obstante, isso não diminui o aspecto básico de que a ampla tradição anarquista foi, historicamente, fun-damentalmente um movimento da classe trabalhadora e do campesinato, e que muitos de seus grandes militantes foram oriundos das classes populares, incluindo grandiosas figuras como Arshinov, Berkman, Connolly, Durruti, Foster, Goldman, Infantes, Makhno, Mann, Speras e Peirats. E, indepen-dentemente de sua origem de classe, a maioria das lideranças anarquistas e sindicalistas teve vidas de privação e morreu antes de sua hora: exilados, encarcerados, executados, em barricadas ou prostrados pelas doenças da po-breza excruciante.

Ainda que o anarquismo nunca tenha tido uma presença significativa en-tre os intelectuais tradicionais e nas universidades, se comparado, por exem-plo, ao marxismo, deve-se dizer que houve períodos em que sua influência nestes campos foi notável. Na Europa, por exemplo, grandes figuras anar-quistas como Kropotkin, um russo que se exilou principalmente na Grã-Bre-tanha, e Reclus, na França, foram internacionalmente reconhecidos como acadêmicos – Kropotkin foi, inclusive, apontado como “uma das primeiras celebridades internacionais e modernas do mundo”139. Seu trabalho acadêmi-co, ainda que relativamente negligenciado, continua a chamar a atenção140. O anarquismo teve, também, certa presença nas grandes correntes das ciências sociais, tendo sido criticado por Karl Marx, defendido por Max Weber e, surpreendentemente, exercido influência em Emile Durkheim141.

Olhando globalmente, é claro que na Ásia, na África e na América Lati-na, assim como na Europa Oriental, o anarquismo e o sindicalismo atraíram notavelmente acadêmicos e escritores. Dentre eles, é possível citar figuras como: Isabelo de los Reyes (Filipinas), Joăo Dos Santos Albasini (Moçam-bique), Har Dayal (Índia), Manuel González Prada (Peru), Li Pei Kan (Ba Jin) (China), Salama Musa (Egito), Shibli Shumayyil (sírio) e Shin (Coreia);

139 L.A. Dugatkin, 2011, “The Prince of Evolution: Peter Kropotkin’s Adventures in Science and Politics,” Scientific American Online, 13 de Setembro.

140 S. Jones, 2007, Coral: A Pessimist in Paradise, Little, Brown and Company; S.J. Gould, 1997, “Kropotkin Was No Crackpot,” Natural History, 106: 12-21; J. O. Berkland, 1979, “Elisée Reclus: Neglected Geologic Pioneer and First(?) Continental Drift Advocate,” Geology, 7 (4): 189-192.

141 C. Levy, 1999, “Max Weber, Anarchism and Libertarian Culture,” S. Whimster, (org.), Max Weber and the Culture of Anarchy, Macmillan; J. Prager, 1981, “Moral In-tegration and Political Inclusion: A Comparison of Durkheim’s and Weber’s Theo-ries of Democracy,” Social Forces, 59 (4): 918-950.

152

Lucien van der Walt

Cai Yuanpei, chanceler da Universidade de Beijing a partir de 1917, era anar-quista142. Da Europa Oriental, podemos mencionar importantes pensadores como Ervin Szabó da Hungria143.

Shin, por exemplo, continua a ser amplamente conhecido “tanto por sua militância política quanto por suas contribuições historiográficas,” den-tre as quais se encontram as obras pioneiras da história nacionalista corea-na144, ainda que narrativas posteriores tenham minimizado o papel do anar-quismo pelo qual ele morreu numa prisão japonesa; isso constitui parte de uma “amnésia histórica,” “que diz respeito ao apelo do anarquismo para os coreanos”.145 Isso também se passou com Albasini, que não era anarquista, mas que foi influenciado pelo anarquismo, e que foi o mais destacado inte-lectual de Lourenço Marques, em Moçambique, no início do século XX – um membro da pequena elite assimilada de africanos negros146.

InfluêncIas dIfusas: anarquIsmo, sIndIcalIsmo e movImentos “sIncrétIcos”

Por fim, também é válido mencionar que as ideias anarquistas e sin-dicalistas penetraram em movimentos que não eram, estritamente falando, anarquistas ou sindicalistas. Por exemplo, os países que hoje compreendem Bangladesh, Índia e Paquistão eram, até 1947, uma única gigantesca colô-nia, a Índia Britânica. Uma grande diáspora indiana ocorreu globalmente, envolvendo a África e a América, e contou com correntes revolucionárias. Migrantes operários e marinheiros foram grandes canais de ideias radicais147. O radical e anticolonial Partido Ghadar foi fundado nos Estados Unidos em 1913: havia quase 10 mil sul asiáticos na América do Norte naquele momen-

142 J.M. Allen, 1999, “History, Nation, People: Past and Present in the Writing of Sin Ch’aeho,” PhD diss., University of Washington; B. Anderson, 2006, Under Three Flags: Anarchism and the Anti-Colonial Imagination, Verso; E.C. Brown, 1975, Har Day-al: Hindu Revolutionary and Rationalist, University of Arizona Press; Dirlik, Anarchism in the Chinese Revolution, 156-57, 172-3; Em, “Nationalism, Post-Nationalism and Shin”; J.M. Penvenne, 1996, “João Dos Santos Albasini (1876-1922): The Contra-dictions of Politics and Identity in Colonial Mozambique,” Journal of African His-tory, 37 (3): 428, 443, 458.

143 For example, S. Goldberger, 1985, “Ervin Szabó, Anarcho-syndicalism and Demo-cratic Revolution in Turn-of-the-Century Hungary,” PhD diss., Columbia Univer-sity.

144 Allen, 1999, “History, Nation, People,” 4.145 Allen, 1999, “History, Nation, People,” 263-64.146 Penvenne, 1996, “João Dos Santos Albasini”, 428, 443-44, 449-51, 458.147 J. Hyslop, 2009, “Steamship Empire: Asian, African and British Sailors in the Mer-

chant Marine c.1880-1945,” Journal of Asian and African Studies, 44 (1): 49-67.

153

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

to148. Em seu jornal, The Ghadar, “declaração de guerra” do partido, ele con-vocava “bravos e abnegados guerreiros que possam promover a revolta”149:

Salário: morte;Recomepensa: martírio;Pensão: liberdade;Campo de batalha: Hindustão [Índia]...

Este agrupamento operou em muitos países do mundo e suas principais conexões na Índia eram na região de Punjab. O movimento Ghadar buscava não somente a independência do Império Britânico, mas uma Índia radical-mente transformada, sem divisões de classes ou comunais150. Ele via a luta indiana como parte de uma luta anti-imperialista mundial, que era parte de uma luta mais ampla contra o capitalismo e outras formas de opressão.

Nestes aspectos, ele foi profundamente influenciado pelo anarquismo e pelo sindicalismo, especialmente do IWW: uma figura central foi um mi-litante que viveu na América, Har Dayal, “o primeiro e decisivo teórico e propagandista”151, fundador do partido e editor de The Ghadar. Ele foi se-cretário do IWW de San Francisco a partir de 1911 e fundador, em 1912, do Instituto Bakunin na Califórnia. Ele defendeu o “estabelecimento do comu-nismo, a abolição da propriedade privada da terra e do capital por meio da organização industrial e da greve geral” (ou seja, por meio do sindicalismo), o “estabelecimento de uma cooperação fraterna e livre e a última abolição da organização coercitiva do governo,” “a abolição do patriotismo e dos senti-mentos raciais” e das “instituições baseadas na escravidão das mulheres”152. Em 1915, o Partido Ghadar promoveu um levante armado na Índia, que fracassou e foi esmagado. Ele sobreviveu durante os anos 1940 de várias formas, inclusive por meio do Kirti Kisan Lehar (o Partido dos Operários e Camponeses, fundado em 1928). O Partido Ghadar não era uma estrutura puramente anarquista: outras influências centrais foram o nacionalismo in-diano, o siquismo e, a partir dos anos 1920, o marxismo153. Entretanto, sua

148 M. Ramnath, 2011, Haj to Utopia: How the Ghadar Movement Charted Global Radicalism and Attempted to Overthrow the British Empire, University of California Press.

149 Ramnath, From Haj to Utopia, 1.150 Ramnath, From Haj to Utopia, 41, 52-53, 60, 62-69, 120, 134-35, 155-56, 162-65;

B. Singh, 2011, “The Anti-British Movements from Gadar Lehar to Kirti Kisan Lehar, 1913-1939,” PhD diss., Punjabi University, capítulo 6.

151 Ramnath, From Haj to Utopia, 8; Brown, Har Dayal.152 Citado em M. Ramnath, 2012, Decolonising Anarchism: An Antiauthoritarian History of

India’s Liberation Struggle, AK Press, 94-95.153 Ramnath, From Haj to Utopia, 12.

154

Lucien van der Walt

política não pode ser compreendida sem um entendimento da marca nele deixada pelo anarquismo.

O ICU, formado em 1919 em Cape Town, na África do Sul, entre os estivadores africanos e de cor, constitui um importante exemplo. Ele não apenas espalhou-se rapidamente pela África do Sul em 1920, chegando a, talvez, 100 mil membros, mas se tornou um movimento transnacional na África Austral. Em 1920, uma seção foi formada nas proximidades do sudo-este da África (atual Namíbia), seguida por seções na Rodésia do Sul (atual Zimbabwe) em 1927 e na Rodésia do Norte (atual Zâmbia) em 1931. Em-bora tenha começado como uma associação urbana, o ICU conseguiu uma crescente parte de seu apoio, em particular na África do Sul e na Rodésia do Sul, de trabalhadores africanos do campo e de agricultores arrendatários, que sofriam duros golpes com os cercamentos de terras para fazendeiros comer-ciais brancos154. Com isso, os dois maiores ICUs tornaram-se um dos mais importantes movimentos rurais de seu tempo.

O ICU, encabeçado pelo carismático Clements Kadalie (1896-1954), foi notavelmente influenciado pelo sindicalismo ao estilo do IWW155, assim como o ICU Yase Rodésia no Zimbábue e suas grandes figuras, como Ma-sotsha Ndhlovu. Ele tinha como objetivo, em 1920, “formar um grande sin-dicato de trabalhadores qualificados e não qualificados da África do Sul, sul de Zmavesi”156, “para unir todas as classes de trabalhadores, qualificados e não qualificados, em todas as esferas da vida, quaisquer que sejam eles”157. Em 1921, o ICU incorporou a seção da Cidade do Cabo da organização sin-dicalista Trabalhadores Industriais da África e, em 1925, adotou uma versão do Preâmbulo do IWW de Chicago158:

Visto que o interesse dos trabalhadores e aquele dos patrões são opostos um ao outro [...], sempre haverá luta pela divisão dos produtos do trabalho humano, até que os trabalhadores, por meio de sua organização industrial, tomem da classe capitalista os meios de produção, que devem ser possuídos e controlados pelos trabalhadores para o benefício de todos, e não para o lucro de poucos. Sob tal sistema, aquele que não tra-balha não deve, também, comer […]. Este é o objetivo que o ICU pretende atingir, juntamente com todos os outros trabalhadores organizados ao redor do mundo...

154 Ver Van der Walt, “One Great Union.”155 Van der Walt, “Anarchism and Syndicalism in South Africa,” capítulos 8 e 9.156 Adição do próprio autor ao corpo do excerto. (N.T.)157 Citado em P. L. Wickens, 1973, “The Industrial and Commercial Workers’ Union

of Africa,” PhD diss., University of Cape Town, 145-46.158 “Revised Constitution of the ICU,” From Protest to Challenge: A Documentary History

of African Politics in South Africa, 1882-1964, volume I, 325-26.

155

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

Embora o ICU tenha definitivamente sido influenciado por ideias, ima-gens e pelo anticapitalismo sindicalistas, e mesmo que preconizasse uma gre-ve geral que deveria devolver as terras de domínio branco às comunidades africanas, seria um exagero descrevê-lo como uma organização verdadeira-mente sindicalista. Sua estrutura era vaga, diversas vezes antidemocrática, e suas lideranças eram em muitos casos estranhas ao restante dos membros. Isso contribuiu com o dramático colapso do movimento na África do Sul, que reivindicava ter mais de 100 mil membros em 1927 e que terminou re-duzido a pequenos grupos locais no início dos anos 1930 – ainda que tenha continuado a ser uma importante força no Zimbábue até os anos 1950. Mes-mo que importante, sua ideologia era eclética e instável, montada não ape-nas sobre o sindicalismo, mas também sobre o cristianismo, o liberalismo, o marxismo e o pan-africanismo de Marcus Garvey. Mas, ainda assim, o ICU não pode ser propriamente explicado sem que seu impulso sindicalista seja reconhecido.

Ainda que o PLM tenha ajudado a iniciar a Revolução Mexicana (1910-1920) com o seu levante na Baixa Califórnia, seu impacto na revolução, se ela for considerada de maneira mais ampla, foi limitado. Várias forças opostas surgiram, dentre elas a dos constitucionalistas de Venustiano Carranza, aque-la de Francisco (Pancho) Villa e as milícias de Zapata, que surgiram em 1910 reivindicando uma reforma agrária radical. Os grupos do PLM continuaram ativos e a COM, que era sindicalista, manobrou com as diferentes facções, aliando-se controversamente aos constitucionalistas contra os zapatistas em 1915.

O Exército Libertador do Sul zapatista teve Morelos sob controle, uma província que havia passado por uma enorme mudança com a expansão do cultivo comercial de açúcar. Zapata era simpático ao PLM e alguns aspectos do pensamento zapatista vieram do anarquismo. Antonio Díaz Soto y Gama (1880-1967), veterano do PLM e fundador da COM, foi um importante za-patista. Parte do “agrarismo” zapatista era “essencialmente trabalho dele”159. O “agrarismo” zapatista também incorporou influências anarquistas dos pri-meiros levantes mexicanos160.

O movimento de Sandino na Nicarágua constitui outro exemplo. San-dino é hoje um ícone do anti-imperialismo nicaraguense, e mais particular-mente do nacionalismo radical. Mas ele não é, de modo algum, um nacio-nalista puro e simples. Criado na Nicarágua, Sandino trabalhou primeiro em Honduras como mecânico, depois como trabalhador rural na United Fruit na Guatemala; começou a trabalhar em 1923 como almoxarife e mecânico

159 J. Womack, 1970, Zapata and the Mexican Revolution, Vintage, 194.160 Hart, Anarchism and the Mexican Working Class, 72-73.

156

Lucien van der Walt

no porto petroleiro mexicano de Tampico, um bastião do IWW e da CGT do México. Sandino “combinou princípios patrióticos e anti-imperialistas, dirigindo-os majoritariamente contra a intervenção estadunidense na Nica-rágua e com uma grande preocupação pelo conjunto das classes camponesa e operaria latino-americanas”161.

Suas forças tremulavam a bandeira vermelha e negra, associada ao anar-quismo mexicano e espanhol, e sua política incorporava uma “marca pecu-liar de anarcocomunismo” e um “comunismo anarquista radical,” enraizado nas ideias de Proudhon e Flores Magón162. Esta tendência misturava-se com ideias nacionalistas e religiosas.163 Sua “educação política, realizada na ide-ologia sindicalista, também conhecida por anarcossindicalismo, socialismo libertário ou comunismo racional,” foi sempre “enquadrada no orgulho étni-co tão característico da revolução mexicana e nesta nova geração de latino--americanos”164. Como Kadalie, Sandino é um exemplo do quão longe as ideias anarquistas chegaram e do quão amplo seu apelo podia ser.

Ocupada pelas tropas estadunidenses desde 1909, a Nicarágua foi lu-gar de numerosas revoltas lideradas pelos liberais modernizadores. Tendo retornado em 1926, Sandino estava consternado, quando os liberais estabe-leceram um acordo em 1927, que garantia às forças estadunidenses inúme-ros direitos políticos e militares. Sandino foi primordial ao reunir uma força guerrilheira, o EDSNN165, que começou atacando as guarnições do exército, e estabeleceu uma base de operações da região de Las Segovias. Ele liderou a mais duradoura revolta anti-imperialista do país, que foi de 1927 a 1933. Em 1932, as tropas estadunidenses foram retiradas e o EDSNN chegou a um acordo de paz com o novo governo nicaraguense. Este exército foi am-plamente desmobilizado, mas à sua região no país, na província de Jintoega, foi garantido um status de autônoma; ali, Sandino estabeleceu inúmeros co-

161 R. E. Conrad, 1990, “Translators’ Introduction,” S. Ramiréz e R. E. Conrad, (orgs.), Sandino: The Testimony of a Nicaraguan Patriot, 1921-1934, Princeton University Press, 17n39.

162 D. Hodges, 1986, Intellectual Foundations of the Nicaraguan Revolution, University of Texas Press, 19, 49, 137.

163 R. E. Conrad tem debatido a extensão na qual o anarquismo influenciou Sandino, argumentando a ausência de referências explícitas a figuras-chave do anarquismo nos escritos de Sandino. A ausência de tais nomes não, contundo, demonstra que as ideias anarquistas não tiveram impacto no pensamento de Sandino; compare em Conrad, “Translators’ Introduction”, 17n39.

164 A. Bendana, 1995, “A Sandinista Commemoration of the Sandino Centennial: Speech Given on the 61 Anniversary of the Death of General Sandino,” Managua: Centre for International Studies.

165 Fundado em 1927. (N.T.)

157

Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo

letivos. A Guarda Nacional assassinou Sandino em 1934, e a zona autônoma, que tinha similaridades com a Morelos que era administrada pelos zapatistas, foi destruída nos três anos seguintes. O programa anti-imperialista de Sandi-no, somado à sua experimentação com a redistribuição de terras e às coope-rativas camponesas nos estágios iniciais da guerra, e seguido por seu projeto Las Segovias, assegurou-lhe apoio das massas166.

em conclusão: luta de classes, base e Poder de classe

Argumentei neste capítulo que duas formas principais de movimentos de massa emergiram da ampla tradição anarquista: organizações sindicalistas e movimentos anarquistas camponeses. Revoltas ou movimentos campone-ses anarquistas de massas – contrariamente à visão de que o anarquismo era primordialmente “pequeno-burguês” ou de que o campesinato tinha uma afinidade natural com o anarquismo – foram, na verdade, realmente raros. Primordialmente, a mais importante e influente forma de organização de massas da ampla tradição anarquista foi o associativismo sindicalista, que dominou os movimentos trabalhistas na Argentina, no Brasil, no Chile, em Cuba, na França, no México, nos Países Baixos, no Peru, em Portugal, na Espanha e no Uruguai, em diferentes momentos. Contrariamente à tese da excepcionalidade espanhola, o anarquismo e o sindicalismo tornaram-se “um grande movimento social,” que podia “ameaçar o Estado,” em diversos países167. Mesmo as correntes sindicalistas minoritárias (tais como aquelas na Alemanha, na Grã-Bretanha, no Japão, na Itália e nos Estados Unidos) converteram-se em forças sociais perigosas; mesmo os movimentos meno-res (por exemplo, na África do Sul) desempenharam papeis destacados.

A organização rural conformou uma parte crucial do sindicalismo – o sindicalismo rural provavelmente mobilizou mais pessoas no campo que o anarquismo camponês – mas os centros da força sindicalista estavam, em geral, nas áreas urbanas. Isso se deu, provavelmente, em função da concen-tração da classe trabalhadora em locais de trabalho e bairros; os campos não são normalmente fáceis de organizar. O grande baluarte do poder sindicalis-ta e anarquista eram, assim, os centros industriais urbanos. Se Barcelona foi a “rosa flamejante” do anarquismo, esta deveria ser vista como uma de várias importantes cidades vermelhas e negras, que incluem entre suas representan-tes bastiões como: Buenos Aires, Chicago, Havana, Lima, Lisboa, Montevi-déu, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo, as quais são seguidas por um segundo grupo de cidades, em que os anarquistas e sindicalistas não eram necessariamente majoritários, mas que eram, ainda assim, relevantes; dentre

166 Bendana, “A Sandinista Commemoration”.167 Marshall, Demanding the Impossible, 453.

158

Lucien van der Walt

elas, podemos incluir: Cantão, Glasgow, Hamburgo, Hunan, Johanesburgo, Santiago, Shanghai e Tóquio.

A ampla tradição anarquista deve ser historicizada e não tratada como um tipo de fenômeno universal. O material discutido neste capítulo dá su-porte a esta perspectiva. Esta tradição surgiu e tornou-se uma poderosa força social em momentos sociais e históricos particulares. Ela não foi o produto de um impulso universal da natureza humana, de “uma luta sem fim” ou de uma “profunda necessidade humana”168; mas floresceu no capitalismo moderno do período da Primeira Internacional, e desenvolveu um caráter de massas em conjunturas históricas e lutas de classe específicas. Movimentos camponeses anarquistas de massa emergiram sob circunstâncias particulares também – a penetração capitalista no campo, a quebra das antigas relações agrárias, crises e guerra, e a existência de estruturas anarquistas – e foi central às revoluções anarquistas na Ucrânia, na Manchúria e na Espanha. Do mes-mo modo, o sindicalismo extraiu muito de sua força de sua habilidade em dar respostas às necessidades da classe trabalhadora moderna em períodos específicos.

A visão de que o anarquismo estava à margem dos principais eventos e era simplesmente uma atração das minorias constitui uma concepção equi-vocada da história das lutas trabalhistas e da esquerda. Ao contrário, é sim-plesmente impossível entender adequadamente grande parte da história e da política dos movimentos revolucionários, de esquerda, da classe trabalhadora e do campesinato, sem levar o anarquismo e o sindicalismo a sério.

168 Marshall, Demanding the Impossible, xiv, 3-4.

Estudios

AUGE Y DECADENCIA DEL SINDICALISMO REVOLUCIONARIO

Marcel van der Linden y Wayne Thorpe

El sindicalismo revolucionario -empleamos el término en el sentido más amplio- l adop- tó, de forma más plena que cualquier corriente dentro del movimiento obrero organizado, una visión del poder revolucionario y la eficacia creativa de los trabajadores independien- tes, una insistencia sobre su derecho a la autogestión colectiva y una fe en su capacidad para resolver sus propios asuntos. Aunque nunca logró desplazar al movimiento laboral socialdemócrata, dentro de las experiencias de los obreros del final del siglo xix y princi- pios del xx existían unas fuerzas que formaron y forjaron esta tradición minoritaria distin- tiva, cuya visión, defensa y convicciones encontraron una expresión formal y organizativa en gran número de países. Con todas sus variaciones regionales y nacionales, el sindicalis- mo revolucionario fiie un movimiento internacional. Comparando los movimientos revolu- cionarios sindicalistas de doce países -cuya lista aparece en las Tablas 1 y 2- este artículo ofrece un análisis de algunas de las fuerzas que contribuyeron al auge y la decadencia del sindicalismo revolucionario a escala internacional, como demuestra el surgimiento y desa- rrollo de una serie de organizaciones sindicales que adoptaron la doctrina sindicalista revolucionaria. Deberíamos mencionar desde el principio, en primer lugar, que los impul- sos sindicalistas revolucionarios también eran evidentes en muchas asociaciones obreras sindicalistas no revolucionarias durante el período en cuestión, pero no podemos conside- rarlos aquí. En segundo lugar, una serie de temas interesantes e importantes - destacan entre ellos el desarrollo de la ideología sindicalista revolucionaria en países concretos, actitudes sindicalistas revolucionarias frente al nacionalismo, al patriotismo y a la guerra, diferentes respuestas a la Primera Guerra Mundial, y las dimensiones antropológicas, éti-

1 Los movimientos revolucionarios de acción directa que se comentan en este artículo pueden etiquetarse alternativamente como "industralismo revolucionario", "sindicalismo revolucionario", "anarcosindicalismo", "concilismo", o "conciliarismo", o incluso "un gran sindicalismo", y somos conscientes de que "sindicalismo revolucionario" está a veces reservado para designar a una subsección de entre ellos. Pero el término "sindica- lismo revolucionario" a veces sirve para abarcar a todas las organizaciones revolucionarias de acción directa, y aquí la usamos en este sentido.

Historia Social, n.° 12, invierno 1992, pp. 3-29. I 3

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

4 I

cas y culturales del medio revolucionario sindicalista- también quedan más allá de los límites de este artículo. 2

Caracterización del sindicalismo revolucionario

Las organizaciones y movimientos sindicalistas revolucionarios compartían una serie de características. En primer lugar, sus defensores expresaban actitudes beligerantes como clase y profesaban objetivos revolucionarios. Los sindicalistas revolucionarios veían los intereses de clase como fundamentalmente irreconciliables, y el conflicto de clases, por tanto, como algo inevitable. En consecuencia, mientras sus asociaciones obreras tenían como objetivo las mejoras para los trabajadores a corto plazo en el sistema vigente, tam- bién adoptaron el objetivo a largo plazo de derrocar al capitalismo e instituir un sistema colectivo de propiedad productiva controlado por los trabajadores. Hasta qué punto la práctica de diferentes organizaciones sindicalistas revolucionarias en diferentes épocas reflejaba objetivos reformistas o revolucionarios, es una cuestión que debe dejarse a los especialistas en movimientos nacionales o regionales. En segundo lugar, los sindicalistas revolucionarios creían que el modo más eficaz de lograr objetivos a corto y a largo plazo era la acción directa y colectiva de los trabajadores, movilizados principalmente contra los patrones en el frente de la lucha de clases, y más generalmente contra la totalidad del siste- ma sociopolítico sobre el que se erigía la economía capitalista. En tercer lugar, los sindica- listas revolucionarios insistían en que la acción directa requería la organización de los obreros en el punto de la producción, en su capacidad como trabajadores. Así, considera- ban a los sindicatos como el instrumento crucial para la lucha, tanto para objetivos inme- diatos como a largo plazo. De hecho, sus impulsos autonomistas, representados por los sindicatos, pero extendiéndose más allá de la primacía de éstos hasta la esfera cultural y política más amplia, es una de las características más sorprendentes y distintivas del movi- miento sindicalista revolucionario. 3 Para los sindicalistas revolucionarios, la clase obrera constituía la fuerza para el cambio; el ámbito económico, su campo de batalla natural; la acción directa, su arma natural, y las asociaciones obreras autogestionadas, los agentes naturales para unir, ordenar y aplicar el poder colectivo y transformador de los obreros. La actitud como clase beligerante, los objetivos revolucionarios admitidos, la primacía y auto- nomía de las organizaciones económicas de los trabajadores, la defensa de la acción direc- ta y de un futuro control obrero de una economía colectivizada: estas características -cuyo énfasis varía en diferentes movimientos en diferentes épocas- unían prácticamente a todas las organizaciones consideradas en este artículo. Cuando se utiliza aquí el término "sindi-

2 Algunos ejemplos de estudios sobre el medio revolucionario sindicalista más allá del lugar de trabajo pueden encontrarse en la revista Le Mouvement Social, tales como Lucien Mercier, "Enfance et socialisme: Jean-Pierre et Les Petits Bonshommes, deux journaux des années 1900", n.° 129 (1984) y Francis Ronsin, "La classe ouvrière et le néo-malthusianisme: l'exemple français avant 1914", n.° 106 (1979). Un ejemplo alemán: Cornelia Regin, "Hausfrau und Revolution. Die Frauenpolitik der Anarchosyndicalisten in der Weimarer Republik", Internationale Wissenschaftliche Korrespondenz zur Geschichte der deutschen Arbeiterbewegung, XXV (1989). 3 Jacques Julliard ha defendido con fuerza que el impulso autonomista fue el rasgo principal del sindica- lismo revolucionario de la Francia de antes de 1914, cuya ambición principal era transformar el aislamiento social de los obreros "en actitud voluntaria; de apropiarse de esa marginación inflingida a la clase obrera, de metamorfosearia en conciencia autónoma; de transformar la exclusión en secesión y de volver contra la burgue- sía las armas que ella dirigía contra las masas obreras". Autonomie ouvrière: études sur le syndicalisme d'action directe, p. 24. Cuando los datos de publicación no se dan en las notas a pie de página, están incluidos en la Bibliografía Selecta al final del artículo.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

calismo revolucionario", designa a un movimiento o ideología de los trabajadores que con- juga estas características.

A pesar de estos rasgos compartidos, existía una gran diversidad en cuanto a estructura interna dentro de las organizaciones que constituyen el movimiento sindicalista revolucio- nario formal. Algunos sindicalistas revolucionarios rusos, por ejemplo, y algunas asociacio- nes, como la Allgemeine Arbeiter-Union Einheitsorganisation alemana (Organización Unitaria Obrera General), eran radicalmente anticentralistas. La IWW en los Estados Unidos, por otra parte, adoptó una estructura centralizada que conectaba a los sindicatos industriales que la componían. 4 La IWW declaraba que representaba a "un tipo de organi- zación obrera revolucionaria más elevado que el propuesto por los sindicalistas [europeos revolucionarios]". Añadía, sin embargo que los Wobblies, como a veces se llamaba a los miembros de la IWW, estaban más "estrechamente aliados" internacionalmente con los sin- dicalistas revolucionarios que con ningún otro movimiento. 5 Pero la dicotomía centralista- anticentralista puede resultar confusa, por lo menos en dos aspectos. En primer lugar, a pesar de la tendencia centralista de una organización como la IWW, los anticentralistas y los centralistas competían dentro de ella. En segundo lugar, los sindicalistas revoluciona- rios europeos, principalmente los federalistas, generalmente desarrollaban alguna forma de organización o conexión industrial. El sindicalismo revolucionario se desarrolló prime- ro en Francia. Las asociaciones sindicalistas revolucionarias en este país, aunque no re- nunciaban a su autonomía, tenían que incorporarse a un sindicato local o departamental -que incluía a varios oficios- y a una federación industrial, para de este modo estar repre- sentadas en las dos secciones de la organización nacional, la CGT. El primer congreso sin- dicalista revolucionario internacional en Londres, en septiembre de 1913, adoptó el sindi- calismo industrial, la CNT española se acercó al sindicalismo industrial al introducir el sindicato único en 1918-1919, e incluso la FAUD -aunque poco dispuesta en principio- alemana aprobó la organización por industrias en vez de por oficios en 1927. Es cierto que los dirigentes de la OBU de Canadá rechazaron el sindicalismo industrial por considerarlo inferior a "un gran sindicalismo", pero muchos de los miembros iniciales de la OBU lo respaldaron plenamente. En cualquier caso, ya fueran centralistas o federalistas, sindicalis- tas industriales o no, los sindicalistas revolucionarios obviamente estaban buscando for- mas de organización obrera que aseguraran la eficacia en la acción sin renunciar al interés por los trabajadores.

¿Suponía el programa sindicalista revolucionario de acción directa un rechazo a la política? Quizá lo mejor sería considerar la pregunta en términos de medios y fines. Los fines últimos del plan sindicalista revolucionario eran sin duda políticos: la abolición del sistema político y económico capitalista, el establecimiento de una sociedad colectivista estructurada sobre las asociaciones económicas de los obreros y la transferencia del poder de decisión y la administración a los productores. Respecto a los medios, los sindicalistas revolucionarios obviamente anteponían a todo la acción directa por los trabajadores. Muchos de ellos rechazaban a los partidos políticos que pretendían hablar por los trabaja- dores, pero cuyo objetivo principal era la participación de los obreros en las votaciones a favor de sus intereses electorales y sus consiguientes compromisos. Prácticamente todos los sindicalistas revolucionarios estarían de acuerdo con León Jouhaux, secretario de la CGT francesa, el cual dijo a los dirigentes sindicales extranjeros de tendencia social- demócrata en un congreso sindical internacional en París: "Quizá para ustedes la organiza- ción política es un gran barco y la organización económica una barquita remolcada por

4 Para las siglas, ver las Tablas 1 y 2. 5 Industrial Worker, 9 de enero de 1913. I. This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AM

All use subject to JSTOR Terms and Conditions

.1

éste. Para nosotros, el gran barco es la organización sindical; es necesario subordinar la acción política a la acción sindical". 6 En su relación real con los partidos políticos, la res- puesta de los sindicalistas revolucionarios variaba considerablemente. La CGT profesaba la neutralidad política en su Carta de Amiens de 1906, la cual declaraba que los partidos políticos eran enteramente libres de procurar la transformación social, pero independiente- mente de la CGT, y declaraba que los miembros de la CGT eran totalmente libres de actuar según sus convicciones políticas, pero fuera de los sindicatos. La Carta sirvió para reducir la disensión política en los sindicatos, los cuales debían centrar su atención exclu- sivamente en la lucha económica. Los delegados de la CGT aprobaron esta declaración por abrumadora mayoría, incluso aquellos que eran socialistas políticos. Pero en la prácti- ca los límites nunca estuvieron tan claros. La libertad para actuar políticamente fuera de los sindicatos, ¿se hacía extensible, por ejemplo no sólo a los miembros sino también a los delegados de la CGT, la cual era políticamente neutra? Algunos de estos representantes habían sido elegidos como socialistas en la Cámara de Diputados. Un cambio en los esta- tutos en 1911 impedía a los representantes de la CGT que se presentaran a cargos po- líticos.

La oposición a los partidos políticos, sin embargo, no debe tomarse como una carac- terística definitoria del sindicalismo revolucionario. Cuando muchos sindicalistas revolu- cionarios rechazaban la acción "política", estaban básicamente rechazando o reduciendo lo que consideraban el callejón sin salida de la política parlamentaria y electoral. Frank Little, un organizador y finalmente mártir de la IWW, resumía esta actitud cuando afirma- ba que los trabajadores nunca podrían conseguir sus objetivos "por medio de un simple partido político [...]. Nunca podremos hacerlo mientras dependamos de ir a meter un trozo de papel blanco en una urna electoral capitalista". 7 Pero algunos políticos socialistas esta- ban de acuerdo. Charles Kerr, miembro del Partido Socialista y editor de la International Socialist Review de Chicago, expresaba el mismo punto de vista: "Se necesita algo más que votar para acabar con el capitalismo, y el sindicalismo revolucionario es ese 'algo más' ". 8 En resumen, no quedaba necesariamente excluida la colaboración entre los sindi- calistas revolucionarios y los socialistas políticos y los propios partidos que rechazaban el parlamentarismo. Varios miembros del Partido Socialista de Canadá, que repudiaban la política electoral, estaban entre los principales activistas de la OBU. En Alemania, después de la Primera Guerra Mundial, las organizaciones sindicalistas revolucionarias estaban dispuestas a trabajar con los partidos de extrema izquierda que desdeñaban el parlamenta- rismo. Y las organizaciones sindicalistas revolucionarias en casi todos los casos respalda- ban al internacionalismo comunista en sus primeros tiempos, hasta que quedó claro que el Comintern insistía en el parlamentarismo y la subordinación de los sindicatos revoluciona- rios a los partidos comunistas, momento en el cual la mayoría de ellos rompió con Moscú.

La dimensión internacional

Las dos tablas siguientes aportan alguna indicación del desarrollo y la significación de los movimientos sindicalistas revolucionarios, cuya influencia variaba considerable- mente dentro de los movimientos obreros más amplios de cada nación. Antes de 1914 Francia era el único país en el cual una organización sindicalista revolucionaria, la CGT,

6 L'Humanité, 1 de septiembre de 1909. 7 Citado en Melvyn Dubofsky, We Shall Be All, p. 135. 8 International Socialist Review, octubre de 1909, p.360.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

podía reclamar su lugar como organización sindical más importante del país. Dada su importancia nacional, sus contribuciones ideológicas y su valor como iniciadora, la CGT ocupaba un lugar de honor entre los movimientos sindicalistas revolucionarios del período anterior a la guerra. A parte de la CGT, las organizaciones sindicalistas revolucionarias consiguieron una relevancia nacional en México en 1915-1916 y, durante un tiempo en los años inmediatamente posteriores a la guerra, en España, Portugal y Argentina. Aunque nunca fue hegemónico, el sindicalismo revolucionario en Italia representaba una fuerza muy poderosa y en los EEUU la IWW se hacía notar. Las organizaciones sindicalistas revolucionarias en el resto del mundo eran generalmente pequeñas, pero ejercían una con- siderable atracción en ciertos puntos, como en Holanda y Alemania inmediatamente des- pués de la Primera Guerra Mundial. La relativa estabilidad y longevidad de la SAC sueca, que siempre fue un movimiento minoritario, la hacen digna de mención. El sindicalismo revolucionario organizado en la Alemania anterior a 1914 siguió siendo minúsculo en comparación con los masivos sindicatos socialdemócratas. Las pequeñas organizaciones sindicalistas revolucionarias de otros varios países no están incluidas en las listas de las siguientes páginas.

La Tabla 1 sugiere las dimensiones del movimiento por medio de las cifras de afilia- dos en ciertas organizaciones sindicalistas revolucionarias en diferentes momentos. Una serie de consideraciones han de tenerse en cuenta. En primer lugar, las organizaciones holandesas y alemanas adoptaron una orientación sindicalista revolucionaria sólo después del cambio de siglo. En segundo lugar, la Tabla 1 sólo incluye cifras referidas a organiza- ciones sindicalistas revolucionarias nacionales. El movimiento, sin embargo, tuvo mayor resonancia de lo que sugieren estas cifras. En algunos casos, amplias asociaciones sindica- listas cuasi revolucionarias, por ejemplo el sindicato de los trabajadores del ferrocarril, no pertenecían a la organización nacional. En otros, los partidarios del sindicalismo revolu- cionario funcionaban como una oposición dentro de organizaciones sindicalistas no revo- lucionarias. En algunos casos, sobre todo en Inglaterra y Noruega, los activistas sindicalis- tas revolucionarios rechazaban el "sindicalismo dual" -la formación de organizaciones sindicalistas revolucionarias independientes- para así poder reforzar los sindicatos ya exis- tentes. En tercer lugar, las cifras de la Tabla 1 son inevitablemente provisionales. Puesto que pocas organizaciones sindicalistas revolucionarias tenían un registro fiable de sus miembros -y además los trabajadores a menudo se consideraban miembros sin pagar las cuotas- frecuentemente los investigadores sólo pueden dar cifras estimadas de afiliados. Incluso faltan cifras fiables para la CGT de antes de la guerra. 9 Las cifras referidas a Holanda y Suécia, gracias a sus eficientes sistemas de registro, son las más fiables. Por último, algunas de estas cifras, incluidas las de España, son cifras de miembros representa- dos en los congresos nacionales, y por tanto probablemente son ligeramente bajas, puesto

9 Las cifras para Francia de 1904-191 1 están tomadas de informes financieros en las actas de los congresos de la CGT, 1906-191 1. No son totalmente fiables, ya que recogen la venta en bloque de sellos de afiliación a las asociaciones sindicales, pero los sellos no eran siempre distribuidos en el mismo período en que se compraban. Además, estas cifras en el mejor caso a penas reflejan los números de miembros que pagaban las cuotas, pero el número efectivo de miembros era siempre más alto, quizá en un 50 %. Así el acta del congreso de 1912 (p. 39) sugiere que en 1911 la CGT tenía más de 400.000 miembros que pagaban las cuotas, pero al menos 600.000 miembros. Annie Kriegel, La croissance de la CGT 1918-1921 (Paris: Mouton, 1966), da el número de miem- bros efectivo de la CGT en 1911 como 687.483 (pp. 67, 203-5). Las cifras para 1913-1914 son de Maurice Labi, La grande division des travailleurs (Paris: Éditions Ouvrières, 1964) , pp. 248-9, pero también son de informes financieros. Jouhaux, el secretario de la CGT declaro que en 1914 el número de miembros de la CGT no sobrepasaba los 350.000. Véase Georges Lefranc, Le mouvement syndical sous la troisième république (Paris: Payot, 1967), p. 410, que trata (pp. 407-9) los problemas para determinar el número de miembros de la CGT. I,

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

8 I

que no todos los sindicatos afiliados estaban representados necesariamente en todos los congresos.

Tabla 1

CIFRAS REPRESENTATIVAS DE AFILIADOS

Organización Número de País (año en que se fundó) Año miembros

Holanda Nationaal Arbeids 1895 18.700 Secretariat (NAS- 1893) 1900 12.444

1910 3.454 1915 9.242 1920 51.570 1930 17.361 1940 10.330

Alemania Freie Vereinigung 1901 18.353 Deutscher Gewerk-schaften ( 1 897) 1 907 1 7.633

1914 6.000

Freire Arbeiter-Union 1919 1 1 1 .675 Deutschland (FAUD- 19 19) 1921 71.633

1925 25.000

1930 9.584

Francia Confédération Générale 1904 158.000 du Travail (CGT-1895; 1906 203.273 se fusionó con Bourses du Travail-1902) 1908 286.321

1909 358.564 1911 400.000 1913 296.222 1914 213.968

Argentina Federación Obrera 1904 11.000

Regional Argentina (FORA- 1904) -escisión FORA V (1915) 1919 10.000

FORA IX (1915) 1919 100-120.000

EEUU Industrial Wokers of 1916 40.000

the World (IWW- 1905) 1917 125-150.000

Suécia Sveriges Arbetares 1910 696

Centralorganisation 1914 4.518

(SAC-1910) 1919 24.103 1925 37.205 1930 28.150 1935 35.494 1938 30.552

España Confederación Nacional 1911 29.315 del Trabajo (CNT- 1911) 1919 707.3 1 0

1931 548.310 1936 489.668 1937 1.500.000

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

I •3 a

Manifestación, Viena 1930

Organización Número de País (año en que se fundó) Año miembros

Italia Unione Sindacale 1913 101.729 Italiana (USI- 19 12) 1919 305.000

1922 100.000

Unione Italiana del 1918 1 37.000 Lavoro (UIL-1914) 1920 150.000

1922 70.000

México Casa del Obrero 1915 50.000 Mundial (1914) 1916 100-150.000

Canadá One Big Union 1919 40-50.000 (OBU-1919) 1921 5.000

1927 1.600

Portugal Confederação Geral do 1919 120-135.000 Trabalho (CGT- 191 9) 1922 80-90.000

1924 40.000

Fuentes: Francia: véase la nota a pie de página anterior; Portugal: Carlos da Fonseca, Introduction à l'his- toire du mouvement libertaire au Portugal (Lausanne: CIRA, p 24); las demás cifras menos una están tomadas de los capítulos sobre movimientos sindicalistas revolucionarios nacionales en Marcel van der Linden y Wayne Thorpe, eds., Revolutionary Syndicalism: An International Perspective (Aldershot: Scolar, 1990): Ho- landa, p. 54; Alemania, pp. 61, 70; Argentina, pp. 170, 173-4; EEUU, p.214; Suécia, p. 85; España (años 1911- 36), p. 126; Italia, pp. 144, 147-8, 150; Méjico, pp. 194, 197; Canadá, p. 253. La cifra para España en 1937 rue tomada de Burnett Bolloten, The Spanish Revolution. The Left and the Struggle for Power during the Civil War (Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1979), p. 526. I.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

10 I

La Tabla 2 expone brevemente algunos de sus más importantes movimientos e indica sus periodos de mayor influencia.

Tabla 2

AUGE Y DECLIVE DE LAS ORGANIZACIONES SINDICALISTAS REVOLUCIONARIAS

Período de Año de máxima

Movimiento/País fundación influencia Desarrollo posterior

Nationaal Arbeids 1893 ca 1920 Disuelto por Secretariaat (NAT, Holanda) la ocupación nazi, 1940

Confédération Générale du Travail 1895 1910-11 Cada vez más reformista a (CGT, Francia) partir de 1914

Industrial Workers of the World 1 905 1916-17 Marginal (IWW, USA)

Sveriges Arbetares Centralorganisation 1910 1924-34 Marginal; desde 1954, (SAC, Suécia) cooperación con el Estado

"Labour unrest " 1910 1910-14 No institucionalizado en su

(Gran Bretaña) mayor parte

Confederación Nacional del Trabajo 1911 1936-37 Suprimido por el régimen de

(España) Franco; (CNT marginal y escindido)

Unione Sindacale Italiana (USI, Italia) 1912 191 9-20 Liquidado por el fascismo

Casa del Obrero Mundial (México) 1914 1915-16 Reprimido y marginal

Federación Obrera Regional Argentina 1915 1 9 1 5-20 Absorbido por Unión

(FORA IX, Argentina) Sindical Argentina, 1922

One Big Union (OBU, Canadá) 1919 191 9-20 Marginal; absorbido por Congress of Labour, 1956 All-Canadian

Confer ação Geral do Trabalho 1919 191 9-20 Suprimido por el régimen de

(CGT, Portugal) Salazar

Freire Arbeiter- Union Deutschland 1919 191 9-20 Marginal; destruido por el

(Alemania) régimen nazi Para lograr una mayor consistencia, hemos considerado como punto de máxima influencia el punto de

mayor número de miembros, pues ésta es la medida más sólida que tenemos. Así, puede no coincidir con el período más activo o más fuerte, que se mediría en otros términos. La CGT francesa, por ejemplo, había entra- do en un período de inseguridad, de autoanálisis y transformación en 1909, pero su número de miembros llegó al máximo uno o dos años más tarde, antes de empezar a declinar.

La tabla muestra claramente que la vida significativa del sindicalismo revolucionario, visto internacionalmente, transcurrió entre 1900 y 1940, lo cual también es cierto de movi- mientos sindicalistas revolucionarios que no se tratan aquí, como la Federación Obrera Regional Uruguaya, la IWW chilena, la Norske Fagopposition (Oposición Sindical Noruega), la Confederación Rusa de Anarcosindicalistas, los Wobblies australianos y la Unión General de Trabajadores Irlandeses del Transporte. La tabla también sugiere que el

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

sindicalismo revolucionario experimentó su mayor vitalidad, de nuevo midiéndola desde el punto de vista internacional, en el período inmediatamente anterior y posterior a la Primera Guerra Mundial, desde aproximadamente 1910 hasta el comienzo de los años 20, con excepción de Suécia y España donde los movimientos alcanzaron su auge más tarde.

Es digno de mención, y en absoluto fruto de la coincidencia, el que el sindicalismo revolucionario surgiera durante el período denominado Segunda Revolución Industrial. La introducción de nuevas fuentes de energía, particularmente la difusión de la energía eléc- trica y el motor de combustión interna, los cambios en la importancia relativa de las indus- trias existentes y el nacimiento de otras nuevas y sobre todo la extensa innovación tec- nológica, alteraron la naturaleza de la economía y sus procesos industriales y consecuente- mente las condiciones de trabajo y de vida. Aunque un fenómeno tan complejo y difuso como la Segunda Revolución Industrial sólo puede fecharse de modo aproximado, los eru- ditos coinciden en afirmar que empezó a finales del siglo xix (se cita con frecuencia el año 1890). El período en el cual sus efectos se extendieron y profundizaron fue por tanto también el de la gestación y nacimiento del sindicalismo revolucionario. 10

Sólo puede ofrecerse una respuesta provisional. Opinamos que una explicación debe incluir por lo menos cinco factores interdependientes: la transformación de los procesos y las relaciones laborales; la insatisfacción de los trabajadores respecto a la estrategia labo- ral dominante; la posibilidad práctica de huelgas generales; las influencias espaciales o geográficas y el desarrollo de una actitud radical en la clase obrera.

Una radicalización creciente

El desarrollo de una actitud radical entre los trabajadores obviamente sólo se explica por una convergencia de factores, entre los cuales se hallan las influencias que acabamos de citar y que vamos a tratar con más detalle a continuación. La relación entre los factores contribuyentes y el correspondiente temperamento radical, además, siempre tuvo distinto color según las diversas condiciones en cuanto a oficio, región y nación. Está claro, sin embargo, que una proporción notable de trabajadores adoptaron una actitud más y más radical. La proliferación de una serie de organizaciones sindicales abiertamente revolucio-

10 El surgimiento del sindicalismo también podría relacionarse con otro concepto ofrecido por los econo- mistas e historiadores: la teoría de la "onda larga" , frecuentemente relacionada con el nombre de N. D. Kondratieff, un economista ruso activo en los años veinte. Al principio de los setenta se dio un renacimiento del interés en la capacidad predictiva y explicativa potencial de la teoría de la onda larga, la cual postula una pauta recurrente (pero no repetitiva) del desarrollo económico del capitalismo a través de períodos de expansión y de estancamiento. Divididos por máximos y mínimos, los períodos dentro de las ondas no tenían que ser necesaria- mente de igual duración, pero la teoría mantiene que cada onda dura aproximadamente cincuenta años. Las fechas de las ondas largas varían, pero la primera onda KondratiefF se sitúa a menudo en 1790-1848 (con el des- censo de 1810-1817), la segunda en 1848-1894 (1866-1875), la tercera en 1894-1945 (1913-1920), y la cuarta empezando en 1945 (1967-1974). Aunque su intención no ha sido específicamente explicar el nacimiento del sindicalismo, unos cuantos autores, como James E. Cronin ("Stages, Cycles, and Insurgencies: The Economics of Unrest," en Terence K. Hopkins e Immanuel Wallerstein, eds., Processes of the World-System [Beverly Hills and London: Sage, 1980], Ernest Mandel {Long Waves of Capitalist Development. The Marxist Interpretation [Cambridge: Cambridge University Press, 1980]), y Ernesto Screpanti ("Long Economic Cycles and Recurring Proletarian Insurgencies," Review 1 [1984]) ["Ciclos económicos largos e insurrecciones proleta- rias recurrentes", Zona abierta, 34-35, 1985], han intentado vincular las pautas de inquietud y militancia obre- ras con las ondas largas. No sería apropiado aquí entrar en un debate sobre las ondas largas, ya que los temas van más allá de nuestros intereses inmediatos y nuestro análisis no depende de las ondas largas. Simplemente queremos comentar que el período de vitalidad sindicalista claramente entra en la "tercera onda Kondratieff". I.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

.1

nanas es en sí misma un indicio, aunque imperfecto, de este temperamento rebelde. Comencemos por llamar la atención sobre el desarrollo de una actitud radical entre los tra- bajadores, tanto para citar factores decisivos potenciales más allá de los que vamos a dis- cutir más adelante como para subrayar que el surgimiento del sindicalismo revolucionario fue sólo parte de un aumento más amplio de la militancia de los obreros alrededor de la época de la Primera Guerra Mundial. Los factores que se exponen separadamente a conti- nuación, por tanto, contribuyeron a intensificar el radicalismo de los trabajadores en gene- ral, pero también ayudan a explicar por qué parte de este radicalismo se introdujo en el movimiento sindicalista revolucionario.

Independientemente de su contribución específica, la guerra en sí proporciona clara- mente una explicación insuficiente de este malestar generalizado entre los obreros y esta radicalización, ya que ocurrieron gran cantidad de luchas obreras muy militantes y parcial- mente revolucionarias en el período 1910-1920, es decir, antes de la guerra. Quizá la medida más fiable del malestar de los trabajadores es su participación en las huelgas, y precisamente un extraordinario aumento de las huelgas (medido por la frecuencia de las huelgas, el número de huelguistas y los días de trabajo perdidos) tuvo lugar durante la década que empezó en 1910, con la interrupción de la propia guerra, aunque aparentemen- te esto sólo lo retrasó y reforzó. n Ernesto Screpanti concluye a partir de su estudio de las pautas de huelgas a largo plazo, que el período 1910-1920 experimentó una sacudida sís- mica comparable sólo a las grandes oleadas internacionales de huelgas de los períodos 1869-1875 y 1968-1974. 12 Screpanti, además, limita su análisis a datos obtenidos de Francia, Alemania, Italia, Gran Bretaña y los EEUU. Es decir, él no toma en cuenta prue- bas interesantes de otros lugares, tales como la oleada escandinava de huelgas entre 1909 y mediados de los años veinte, Rusia, conmocionada por el malestar obrero en 1917, Argentina, que presenció una acción huelguista dramática en 1919, o Méjico, donde entre 1915-1916 las organizaciones revolucionarias sindicalistas obreras desafiaron al orden vigente de un modo sin precedentes en las Americas y que no ha sido igualado desde entonces.

11 Acerca de las huelgas y las pautas de las huelgas, véase Heinz-Gerhard Haupt, et. al, "Der politische Streik - Geschichte und Theorie", Jahrbuch Arbeiterbewegung 1981; Friedhelm Boll, "Streikwellen im europäischen Vergleich", en Wolfgang J. Mommsen y Hans-Gerhard Husung, eds., Auf dem Wege zur Massengewerkschaft. Die Entwicklung der Gewerdschaften in Deutschland und Grossbritannien 1880-1914 (Stuttgart: Klett-Cotta, 1984); Ernesto Screpanti, "Long Cycles in Strike Activity: an Empirical Investigation", British Journal of Industrial Relations XXV (1987); y los datos sobre las huelgas en Flemming Mikkelsen, "Workers and Industrialization in Scandinavia, 1750-1940", en Michael Hanagan y Charles Stephenson, eds., Proletarians and Protest: The Roots of Class Formation in an Industrializing World (New York: Greenwood, 1986). 12 Ernesto Screpanti, "Long Cycles in Strike Activity" (p. 107). Según Screpanti, no es coincidencia que estos trastornos más importantes ocurrieran todos durante los descensos en los ciclos de Kondratieff. En sus propias palabras, "la tensión porvocada por el desarrollo será suprimida pero acumulada durante largo tiempo; se desatará periódicamente ya sea como consecuencia directa de una gran presión, como en un motor Diesel, o en respuesta a una chispa externa, como en un motor de combustión normal" (p. 1 10). Hasta qué punto la mili- tancia de los obreros puede vincularse a puntos particulares en las ondas Kondratieff (si es que puede vincularse algo) es discutible y no nos preocupa aquí. Pero los comentarios de Screpanti en otro lugar ("Long Economie Cycles") sobre los puntos comunes entre olas de insurgencia importantes -su carácter proletario, su autonomía, su naturaleza, que en muchos casos era revolucionaria- son dignos de mención. Dicha insurgencia, alrededor de 1870, la Primera Guerra Mundial o el final de la década de los sesenta, implica, según Screpanti, "un debili- tamiento de la atracción política que las instituciones tradicionales tienen para el comportamiento de los obre- ros. En el aspecto social, el rechazo de los obreros a aceptar cualquier mediación o filtración institucional en sus propios intereses y metas lleva a la aparición de los militantes de base como protagonistas políticos, de tal modo que los grupos establecidos de líderes de sindicatos y partidos son superados por los propios trabajadores y sus organizaciones de masas a la hora de tomar decisiones" (p. 512). El nacimiento de un movimiento sindicalista con características propias ciertamente concuerda con estas características.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Era evidente que se estaba gestando una explosión potencial en las dos o tres décadas anteriores a la Primera Guerra Mundial, modelada por los factores que se exponen a conti- nuación y otros de la época, tales como la urbanización de la clase obrera, sin precedentes hasta entonces. Los obreros fueron concentrándose progresivamente en Europa y hasta cierto punto en las Americas, en ciudades tan distantes como Kristiania y Buenos Aires, en barrios progresivamente segregados y homogéneos, que a menudo servían para avivar la conciencia de clase y fomentar la solidaridad. 13 Otra característica de la época fue una acumulación triunfante de capital que superaba con mucho los beneficios colectivos de los obreros. De hecho, el panorama general, sin olvidar un grado inevitable de variación según las naciones y los oficios en cuanto a rentas, presenta no sólo una "relativa privación" para la mano de obra, sino también ejemplos significativos de estancamiento o disminución de los salarios después del fin de siglo, y especialmente después de 1910. M La convergencia de estos y otros factores tuvieron como resultado una radicalización extensa durante los últimos años previos a la guerra que fue transformada en una situación revolucionaria o semirrevolucionaria en muchos países hacia el final de la guerra. La propagación de las actitudes y organizaciones sindicalistas revolucionarias no era en absoluto idéntica al aumento de la militancia de los obreros, la cual adoptó muchos modos de expresión, pero es inexplicable sin ella y es ciertamente una de sus manifestaciones más distintivas. Ciertos avances en los procesos y relaciones laborales no sólo contribuyeron notablemente al auge del radicalismo obrero, sino que también sirvieron para realzar la atracción del sin- dicalismo revolucionario.

Procesos y relaciones laborales

En la composición por oficios de los movimientos sindicalistas revolucionarios esta- ban representadas poderosamente dos categorías de trabajadores. A la primera categoría pertenecían los trabajadores eventuales o temporeros, cuyas vidas laborales se caracteriza- ban por formas de discontinuidad: períodos de trabajo episódicos, cambios frecuentes de patrón y a menudo cambios en el lugar de trabajo e incluso lugar geográfico. Los trabaja- dores del campo, de la construcción, de los muelles y de las fábricas de gas son represen- tativos de los grupos de la primera categoría.

Los trabajadores del campo destacaban en algunas organizaciones sindicales revolu- cionarias. Los trabajadores del campo que no poseían tierras en Italia, los braccianti de

13 Acerca de los barrios obreros diferenciados y homogéneos en Europa, véase James E. Cronin, "Labor Insurgency and Class Formation: Comparative Perspectives on the Crisis of 1917-1920 in Europe", en Cronin y Carmen Sirianni, eds., Work, Community, and Power: The Experience of Work in Europe and Latin America, 1900-1925 (Philadelphia: Temple University Press, 1983) y en Argentina, Guy Bourde, Urbanisation et immi- gration en Amérique Latine: Buenos Aires (XIXe e XXe siècles) (Paris: Aubier-Montaigne, 1974). 14 Parece que incluso en la Europa anterior a 1914, aunque los salarios industriales reales estaban aumen- tando, había excepciones significativas. En Francia y el Reino Unido, los salarios reales no eran más altos ni más bajos en 1914 que lo fueron en 1900, con descensos desde 1909 o 1910. Véase V. Zamagni, "An International Comparison of Real Industrial Wages, 1890-1913: Methodological Issues and Results", en Peter Scholliers, ed., Real Wages in 19th and 20th Century Europe. Historical and Comparative Perspectives (New York: Berg, 1989), pp. 107-39, especialmente p. 112. Dentro del movimiento obrero contemporáneo la situa- ción se consideraba nada prometedora. El informe de Otto Bauer preparado para el frustrado congreso de 1914 de la Segunda Internacional presentaba los salarios reales, con algunas excepciones, en declive después de 1900. "La explotación de los proletarios se intensifica", escribió Bauer. Georges Haupt, Le congrès manqué. L 'Internationale à la veille de la première guerre mondiale (Paris: Maspero, 1965), p. 190. Para el declive de la situación en otros lugares, véase los datos mexicanos de F. Rosenzweig, "El desarrollo económico de México: 1877 a 1911", El Trimestre Económico, 23 (1965), y los datos sobre Argentina en Bourdé, Urbanisation et immigration. 13

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

14 I

Emilia-Romagna en el centro, por ejemplo, o los giornatari de Apulia en el Sur, formaban un importante núcleo del sindicalismo revolucionario. Estos campesinos sin tierras, con- tratados cada día en mercados laborales que tenían lugar por la mañana temprano, carecían de vínculos estables con un padrone en particular. Trabajar para varios patrones extendió los contactos entre tales trabajadores, favoreciendo una identificación de intereses mutuos y una percepción de las posibilidades de acción conjunta. Una descripción similar podría aplicarse a los jornaleros sin tierras del Alentejo portugués, a los de Andalucía en España, a los recolectores de cereales de América o a los vendimiadores del sureste francés. 15

Los obreros de la construcción y los estibadores fueron muy relevantes en el movi- miento sindicalista revolucionario. Los trabajadores de los oficios de la construcción cons- tituyeron una federación de notable militancia en la CGT francesa y jugaron un papel importante en muchas otras organizaciones sindicalistas revolucionarias, incluyendo las de Suécia, Holanda, Alemania, Gran Bretaña y Portugal. Su número aumentó con el rápido proceso de urbanización, mientras las relaciones laborales en la industria eran alteradas en el nuevo siglo, particularmente por el aumento de la comercialización, o la construcción especulativa, junto con la proliferación de contratistas y subcontratistas generales competi- tivos. Era un rasgo típico de la nueva situación el que los albañiles, pintores y otros traba- jadores de la construcción eran contratados para cada nueva obra y así se veían reducidos cada vez más a unas condiciones similares a las de los trabajadores eventuales. El control del empleo se vio más amenazado todavía por el deseo de los contratistas de cambiar los obreros cualificados por otros no cualificados siempre que fuera posible, o contratar a obreros no sindicados. Las huelgas contra la mano de obra no sindicada eran comunes en la construcción. 16 Los estibadores también fueron importantes en el movimiento sindica- lista revolucionario de muchos lugares, tales como San Francisco, Buenos Aires, Hull o Amsterdam. Sus empleos eran de muy corta duración. "En ninguna otra industria eran los compromisos típicos tan breves". 17 Los hombres eran contratados para cargar o descargar un sólo barco y así se quedaban sin empleo otra vez en cuanto terminaban el trabajo. 18

15 David I. Kertzer, Family Life in Central Italy, 1880-1910. Sharecropping, Wage Labor and Core- sidence (New Brunswick, N.J. : Rutgers University Press, 1984); Frank M. Snowden, Violence and Great Estates in the South of Italy. Apulia, 1900-1920 (Cambridge: Cambridge University Press, 1986); Thomas R. Sykes, "Revolutionary Syndicalism in the Italian Labor Movement: The Agrarian Strikes of 1907-08 in the Province of Parma", International Review of Social History, XXI (1976); José Cutileiro, Ricos e Pobres no Alentejo. Uma Sociedade Rural Portuguesa (Lisboa: Sà da Costa, 1977); José Pacheco Pereira, "Aslutas sociais dos trabalhadores alentejanos: do banditismo à greve", Análise Social, n.08 61-62 (1980); Edward E. Malefakis, Agrarian Reform and Peasant Revolution in Spain. Origins of the Civil War (New Haven and London: Yale University Press, 1970) [Reforma agraria y revolución campesina en la España del siglo XX, Ariel, Barcelona, 1971]; Philip Taft, "The I.W.W. in the Grain Belt", Labor History, 1 (1960); Laura L. Frader, "Paysannerie et syndicalisme révolutionnaire. Les ouvriers viticoles de Coursan (1850-1914)", Cahiers d'histoire de l'Institut Maurice Thorez, nueva serie, n.° 28 (1978).

16 Öyvind Björnson, "Kollektiv aksjon blant typografar og malarar i Trondheim 1880-1918", Tidsskrift for Arbeiderbevegelsens Historie, n.° 2, 1980; Wolfgang Renzsch, Handwerker und Lohnarbeiter in der frühen Arbeiterbewegung. Zur sozialen Basis von Gewerkschaften und Sozialdemokratie im Reichsgründungsjahrzehnt (Göttingen: Vandenhoeck and Ruprecht, 1980); Richard Price, Masters, Unions and Men. Work control in Building and the Rise of Labour 1830-1914 (Cambridge: Cambridge University Press, 1980); Robert Max Jackson, The Formation of Craft Labor Markets (Orlando: Academic Press, 1984).

17 Gordon Phillips y Noel Whiteside, Casual Labour. The Unemployment Question in the Port Transport Industry 1880-1970 (Oxford: Clarendon Press, 1985), p. 2.

I 18 H. A. Mess, Casual Labour at the Docks (London: Bell and Sons, 1916); John Lovell, Stevedores and I Dockers. A Study of Trade Unionism in the Port of London (London: Macmillan, 1969); Michael Grüttner, I Arbeiswelt an der Wasserkante. Sozialgeschichte der Hamburger Hafenarbeiter 1886-1914 (Göttingen: I Vandenhoeck and Ruprecht, 1984); Gertjan de Groot, "Door slapte gedaan gekregen". Losse arbeiders en hun I gezinnen in Amsterdam tussen 1880 en 1920", Tijdschrift voor Sociale Geschiedenis, 14 (1988).

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Estos y otros tipos similares de trabajadores 19 compartían ciertas características que ayudan a explicar su apoyo al sindicalismo revolucionario. En primer lugar, cambiaban de trabajo con frecuencia y a menudo no estaban ligados a un único tipo de empleo. Cuando la demanda en un oficio en particular declinaba, al final de un proyecto específico, o más comúnmente al final de una temporada, buscaban otros tipos de empleo (aunque para los trabajadores del campo las alternativas solían ser limitadas). Dichos intercambios eran comunes entre la industria de la construcción y el trabajo en los muelles. En sus investiga- ciones de 1916 sobre el trabajo en los muelles de Londres, donde la demanda era especial- mente alta en diciembre, enero y julio, pero mucho menor al final del verano, H. A. Mess aportó ejemplos de trabajo eventual que cruzaban las fronteras de los oficios: "Hombres de la construcción vienen a los muelles en invierno cuando su propio oficio no ofrece oportunidades de empleo. Los trabajadores de las fábricas de gas están disponibles en julio. [....] Por otra parte muchos estibadores van a cosechar en agosto y septiembre". 20 Dicha migración periódica entre oficios naturalmente estimulaba los intentos de crear organizaciones laborales que abarcaran más de un oficio. En segundo lugar, puesto que tales trabajadores compartían la característica de no estar atados a un único patrón a largo plazo, estaban libres de las restricciones informales implicadas en una relación cliente- patrón. Esto significaba que mientras estaban en una posición claramente dependiente del empleo, los riesgos derivados de la huelga se reducían, ya que los trabajadores que tienen que cambiar a menudo su puesto de trabajo tienen menos miedo del despido que aquellos cuyo patrón es semipermanente. 21 En tercer lugar, cuando ocurrían abusos en estos em- pleos, los límites impuestos por el tiempo eran muy estrechos; los trabajadores se veían forzados a actuar inmediatamente para conseguir cualquier cosa, antes de que una cose- cha, un proyecto de construcción o un trabajo fueran completados. No había oportunidad para planes de resistencia a largo plazo o para preparar un fondo para huelgas o una orga- nización sindical poderosa o para iniciar procesos largos de mediación o arbitrio. Tales condiciones de trabajo naturalmente fomentaban las tácticas de acción económica inme- diata contra el patrón. La atracción del programa de "acción directa" del sindicalismo revolucionario para tales trabajadores eventuales o temporeros resulta obvia.

La segunda categoría de obreros destacados en organizaciones sindicales revolucio- narias incluía a los mineros, los trabajadores del ferrocarril, cuyas condiciones de trabajo estaban siendo reestructuradas como consecuencia de la expansión y multiplicación de los efectos de la segunda revolución industrial a finales del siglo xix y principios del xx. Multitud de cambios técnicos y organizativos amenazaron a unas profesiones cuya pericia

19 Los trabajadores de las fábricas de gas, por ejemplo. Véase Eric Hobsbawm, "British Gas-Workers 1873-1914", en Labouring Men. Studies in the History of Labour (London: Weidenfeld and Nicolson, 1964); Giuseppe Paletta y Giorgio Perego, "Organizzazione operaia e innovazione tecnologiche. La Lega gasisti di Milano 1900-1915", Annali Istituto Giangiacomo Feltrinelli, XXII (1982). 20 Mess. Casual Labour at the Docks, d. 123.

21 Esta afirmación debe considerarse respecto a los trabajadores eventuales del campo. En general, su com- pleta falta de reservas financieras dificultó a los jornaleros en su empeño por mantenerse firmes en una huelga durante su período de ganancias más importante, pues les esperaba el desempleo estacional. "A diferencia de una huelga industrial", Edward E. Malefakis observa en su estudio de los campesinos españoles, "una huelga durante la cosecha significaba no sólo hambre durante unos días sino posiblemente inanición durante todo el año". Y, sin embargo, era precisamente cuando los campesinos sin tierras se arriesgaban más que los patrones eran también más vulnerables. Durante la cosecha "la huelga súbitamente adquiría una potencia que daba miedo". {Agrarian Reform and Peasant Revolution in Spain (New Haven: Yale University Press, 1970), p. 108). Frank M. Snowden comenta acerca de un ejemplo italiano: "Aterrorizados por una confrontación total cuando los beneficios de todo un año estaban en peligro, los propietarios de Apulia se vieron reducidos a dos alternativas: la capitulación o la fuerza física. Ambas reacciones radicalizaban aún más al movimiento obrero" {Violence and Great Estates in the South of Italy (Cambridge: Cambridge University Press, 1986), pp. 99-100). 15

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

•s

-8 o I

se había adquirido con gran dificultad, alteraron las condiciones laborales e intensificaron sus demandas. En 1910 la Comisión de Inmigración de EEUU dejó constancia por escrito de su opinión: la absorción de una masa amplia de inmigrantes no cualificados, agrarios de Europa del Sur y del Este "ha sido posible sólo gracias al invento de máquinas y proce- sos que han eliminado la destreza y la experiencia que requerían antes gran número de ofi- cios". 22 La Comisión citaba ejemplos de la industria minera y la producción textil, del

I 22 U.S. Immigration Commission, Abstracts of Reports of the Immigration Commission, 2 vols. (Washing- ■ ton, 1911), 1:495. .1

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Los trabajadores de la primera categoría, por supuesto, no fueron inmunes a los efec- tos del cambio tecnológico durante este período. En el ramo de la construcción, por ejem- plo, los carpinteros se veían amenazados por innovaciones tales como las unidades de madera prefabricadas y las sierras mecánicas, mientras la necesidad de la destreza de los picapedreros declinaba a medida que se extendía el uso del hierro y el cemento y los apa- ratos mecánicos para trabajar la piedra. El proceso de pérdida de la especialización y la demanda creciente de trabajo a consecuencia del cambio económico y la innovación tec- nológica fueron, sin embargo, especialmente evidentes entre la segunda categoría de traba- jadores, que frecuentemente se radicalizaron por ello y entre los cuales encontró seguido- res el sindicalismo revolucionario muchas veces. Así, por ejemplo, las especializaciones artesanales ya no eran esenciales en la industria del acero después de que se introdujeran métodos de producción a gran escala. En la época anterior a 1914, en Gran Bretaña, The Industrial Syndicalist, al observar que las compañías ferroviarias estaban "utilizando me- canismos automáticos para librarse de los guardavías y otros trabajadores, y cuando los ferrocarriles estuvieran electrificados, los procedimientos automáticos probablemente se emplearan más extensamente", respaldó la creación de un nuevo periódico, The Syndicalist Railwayman. 23 La extracción mecánica, por poner un solo ejemplo de la indus- tria minera, había empezado a sustituir a la minería con picos. Los comentarios de Melvyn Dubofsky sobre la zona oeste de los EEUU a finales del siglo xix podrían aplicarse con pocos cambios a muchas comunidades mineras de otros lugares:

Las innovaciones tecnológicas aumentaban la productividad, pero al hacerlo reducían la impor- tancia de las destrezas tradicionales y desorganizaban las pautas de trabajo establecidas, [éstas...] tendían a relegar a obreros cualificados a posiciones no cualificadas con menor potencial retributi- vo. [...Todas] las comunidades mineras occidentales experimentaron presiones similares acerca de los pagos a destajo, categorías laborales y destrezas establecidas.24

Además, la extensa introducción de cambios técnicos que reducían al mínimo la necesidad de obreros especializados y la consiguiente estandarización del equipamiento facilitaron la libertad con la que obreros relativamente no cualificados podían moverse por tiendas y fábricas de un oficio fácilmente aprendido a otro. 25 A causa de estos cambios las condiciones laborales de trabajadores cualificados y semicualif içados en estos sectores empezó a parecerse, a nivel superficial, a las de los obreros eventuales de los que hemos hablado anteriormente. Esta tendencia ya se observó hace tiempo. Una autoridad en edu- cación vocacional de la Universidad de Chicago, Paul H. Douglas, escribió en 1921:

El propio proceso de mecanización que hizo el trabajo más especializado hizo al trabajador menos especializado. Ahora era transferible. La historia laboral del típico artesano ilustra esta tesis. Cambia de una fábrica de zapatos a una de algodón, de la de algodón a un taller mecánico y así sucesivamente. El operador de una máquina que ha aprendido el principio general para cuidar de una máquina puede ocuparse tanto de una máquina de tejer como de una de fabricar zapatos. En realidad es una parte intercambiable en el mecanismo industrial.

23 Industrial Syndicalist, mayo de 1911. 24 Dubofsky, We Shall Be All, p. 27. También véase Wolfhard Weber, "Der Arbeitsplatz in einem expan-

dierenden Wirtschaftszweig: Der Bergmann", en Jürgen Reulecke y Wolfhard Weber, eds., Fabrik, Familie, Feierabend. Beiträge zur Sozialgeschichte des Alltags im Industriezeitalter (Wuppertal: Hammer, 1978), y Keith Dix, "Work Relations in the Coal Industry: The Handloading Era, 1880-1930", en Adrew Zimbalist, ed., Case Studies on the Labor Process (New York and London: Monthly Review Press, 1979). 25 Sanford M. Jacoby, Employing Bureaucracy. Managers, Unions, and the Transformation of Work in American Industry, 1 900-1 945 (New York: Columbia University Press, 1985), capítulo 1. 17

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Dicha movilidad obviamente militaba contra el aislamiento de cada oficio y la identi- ficación de los obreros con su oficio, facilitando en su lugar una visión unitaria de los intereses y desafíos de los obreros. "Es en las filas de esta masa flotante de mano de obra que cambia de una industria a otra", añadió Douglas, "donde las teorías del sindicalismo [revolucionario] han encontrado su principal apoyo". 26

Además de los cambios de naturaleza técnica, también se introdujeron innovaciones en la organización del trabajo. Los dos tipos de cambios no eran siempre simultáneos, ni eran las nuevas formas de la organización laboral atribuibles sólo al cambio técnico, sino que debían más al deseo de los patrones de extender su control sobre el proceso de trabajo. Es decir, la innovación tecnológica no dictaba las formas específicas de organización labo- ral, sino que -en gran parte por medio de la supresión progresiva de la especialización- facilitaba los cambios en ciertas direcciones al permitir que los patrones limitaran el papel colectivo de los obreros en la producción. Se introdujeron nuevas técnicas de gerencia, por ejemplo, que conllevaron la sustitución de los sistemas de contrato interno y empleo indi- recto -a través de los cuales los obreros cualificados contrataban, pagaban y supervisaban a sus propios ayudantes, o los jefes de equipo contrataban junto al patrón, pero formaban, controlaban y pagaban a sus propios equipos- por el empleo directo y el control burocráti- co. Aunque en su día fue predominante en la producción textil y del metal, minería y asti- lleros, y común en otras industrias, la contratación interna, una forma de gestión conjunta entre mano de obra y capital, estaba en franca decadencia en el cambio de siglo europeo y norteamericano. Además de aumentar la supervisión directa, los patrones experimentaron con varios métodos, como el trabajo a destajo, las bonificaciones, la promoción interna y la escala laboral, para conseguir más esfuerzo, docilidad y lealtad por parte de los obreros. 27

A pesar de una considerable variación de país a país y de industria a industria, un rasgo común de los nuevos procedimientos de gestión fue la consolidación del control sobre el proceso de trabajo, que suponía la transferencia de la pericia de los obreros a los patrones y que inevitablemente produjo resistencia. Craig R. Littler observa que en Gran Bretaña, a finales del siglo xix, "nuevas ideas, nuevos métodos y nuevas tecnologías influ- yeron en la decisión de muchos patrones de conseguir más control sobre el lugar de traba- jo". Antes de 1914, añade, "hubo un cambio de gran alcance hacia una mano de obra directamente contratada y directamente controlada, pero esto no supuso un avance hacia unos sistemas de trabajo más seguros. Por el contrario, según nuestros datos, aumentó el trabajo eventual". 28 Un aumento del control directo del trabajo por parte de la patronal implica un descenso en la ratio entre trabajadores y personal supervisor. Las cifras brutas

26 Paul H. Douglas, American Apprenticeship and Industrial Education (New York: Columbia Univer- sity, 1921), p. 124.

27 Acerca de la desaparición de la contratación interna, nuevas técnicas de gestión y la burocratización de la producción, véase Katherine Stone, "The Origin of Job Structures in the Steel Industry", Review of Radical Political Economics, VI.2 (Summer 1974); Michael P. Hannagan, The Logic of Solidarity: Artisans and Industrial Workers in Three French Towns, 1871-1914 (Urbana: University of Illinois Press, 1980); Craig R. Littler, The Development of the Labour Process in Capitalist Societies. A Comparative Study of the Transformation of Work Organization in Britain, Japan and the USA (London: Heinemann, 1982); y William H. Lazonick, 'Technological Changes and the Control of Work: The Development of Capital-Labour Relations in US Mass. Production Industries", en Howard F. Gospel y Craig R. Littler, eds., Managerial Strategies and Industrial Relations: An Historical and Comparative Study (London: Heinemann, 1983). Arthur L. Siinchcombe ofrece una explicación de por qué en ciertos sectores (tales como la industria de la construcción) permanecieron las viejas estructuras en "Bureaucratie and Craft Administration of Production", Administrative Science Quarterly, IV (1959).

28 Littler, Development of the Labour Process. 18 I

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

del sector fabricante de la economía en los EEUU en este período son compatibles con esta conjetura. En 1900 la ratio entre trabajadores y capataces era 16:1. En 1910 había des- cendido a 14:1 y en 1920 llegó incluso a 10:1. 29 Este período vio la rápida expansión de las industrias de producción en masa en los EEUU, acerca de las cuales William H. Lazonick escribe que

una gestión sistemática y eficaz no suponía simplemente la estandarización, mayor rapidez y coor- dinación del flujo de ingresos de capital; también significaba la estandarización, mayor rapidez y control de los obreros. La especialización artesanal y poder de decisión del obrero tenía que ser sus- tituida en la mayor medida posible, como lo era el control de los trabajadores sobre el ritmo de tra- bajo.

La frustración de los trabajadores encontró su vehículo de expresión en formas de resistencia formal e informal, en "un alto grado de movimiento, absentismo, restricción de la producción y desarrollo del sindicalismo radical". 30 Flemming Mikkelsen apunta que las mayores huelgas en Escandinávia en los quince años anteriores a 1914 probablemente estaban mucho menos motivadas por cuestiones de salarios que por "el derecho a dirigir y distribuir el trabajo". 31 Francia experimentó lo que Michael P. Hanagan llama "una guerra industrial" en el cuarto de siglo anterior a la Primera Guerra Mundial, cuando surgió allí el sindicalismo revolucionario. "En talleres y fábricas por todo el país una huelga tremenda se llevaba a cabo por el control del proceso de producción. En todas partes los patrones luchaban por ganar el control del lugar de trabajo y adquirir un monopolio sobre la pericia en el proceso de fabricación; por todas partes los obreros cualificados se resistían a estos intentos."32

Estos cambios en la tecnología y la organización del trabajo llevaron a un declive en la influencia del sindicalismo artesanal, a veces llevaban a los artesanos a aliarse con los trabajadores industriales, y actuaron como un poderoso estímulo para un sindicalismo des- tinado a unir y movilizar a todos los obreros de una industria en particular.

En muchos países, el período 1900-1940 vio la introducción de la negociación colec- tiva, un medio de institucionalizar el antagonismo de clases. Esto trajo una serie de conse- cuencias significativas. En primer lugar, los sindicatos se hicieron corresponsables de disciplinar a los obreros durante la duración del contrato. En segundo lugar, los represen- tantes sindicales empezaron a desempeñar un papel "amortiguador" entre capitalistas y obreros, lo cual les hizo ser más conservadores por un proceso de desplazamiento de sus objetivos. En tercer lugar, el modelo de salario en términos monetarios era fijo durante un período dado, a veces varios años, lo cual, según el estado de la economía, podía ir a favor o en contra de los obreros. En cuarto lugar, incluso las demandas urgentes de los trabaja- dores -excepto en los casos de violación de los acuerdos- sólo podían convertirse en obje- to de lucha después de un gran retraso. Aunque los acuerdos colectivos se estaban convir- tiendo en un rasgo permanente de las relaciones laborales, para algunos sectores de la clase obrera parecían conllevar más desventajas que ventajas en la práctica, especialmente durante períodos de "carencia relativa". 33

29 Oficina del Censo de EEUU, Historical Statistics of the United States (Colonial Times to 1970), parte 1 (Washington, 1975), pp. 142-3. 30 Lazonick. "Technological Chanee and the Control of Work". nr> 111-2. 126.

31 Mikkelsen, "Workers and Industrialization in Scandinavia", p. 47. I 32 Hanagan, Logic of Solidarity, p. 3. 33 Klaus Zapka, Politisch-ökonomische Entwicklungs- und Durchsetzungsbedingungen des Tari- I

Vertragssystems (Frankfurt/Main, etc.: Peter Lang, 1983); Colin Crouch, Trade Unions: The Logic of Collective Action (London: Fontana, 1982). I I 19

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

.1

Rechazo de la estrategia laboral dominante

Algunos trabajadores eran atraídos por el énfasis sindicalista revolucionario en la acción industrial directa y trataban de conseguir sus objetivos a corto y largo plazo por medio de los sindicatos revolucionarios como una clara alternativa a la estrategia laboral dominante representada por los partidos socialistas y laboristas y los sindicatos reformis- tas. A lo largo de la década anterior a la Primera Guerra Mundial habían tenido ocasión de presenciar los esfuerzos de tales partidos y sindicatos en nombre de los trabajadores y las habían encontrado insuficientes.

Varios partidos socialistas de diversa importancia se habían establecido en Europa y América bastante antes del fin de siglo. Los resultados de algunos de estos partidos no habían sido excesivos. En algunos países el movimiento general del socialismo político había sido irregular y desigual, a veces dividido y conflictivo. El deseo de evitar las riñas -y la pérdida de tiempo y energía consiguientes- entre grupos socialistas fixe un factor que decidió a algunas organizaciones laborales radicales, tales como la holandesa NAS y la IWW en EEUU, a declarar su independencia de los partidos políticos. Muchos sindicatos en Francia habían adoptado pronto la idea de neutralidad política frente a un movimiento socialista originalmente dividido e ineficaz. Esto se debió en gran parte a evitar que la disidencia política se introdujera en los sindicatos y mantener alejados a las facciones socialistas que tan obvio interés mostraban en captarlos. En algunos casos prevalecieron unas condiciones especiales, como en la Argentina de antes de la guerra, donde los obre- ros inmigrantes, a los que les estaba prohibido votar, dominaron el movimiento laboral organizado.

Pero algunos países como Italia y Alemania antes de la guerra ya podían presumir de tener partidos de los trabajadores de importancia y visibles, con un historial largo e impre- sionante. El Sozialdemokratische Partei Deutschland (SPD, Partido Social Demócrata Alemán), el partido más grande en Alemania desde 1912, tenía un lugar preferente entre ellos. Sin embargo, incluso donde los partidos obreros se habían extendido significativa- mente, a los ojos de muchos militantes su desarrollo no había aportado beneficios compa- rables a los esfuerzos que la clase obrera había invertido en ellos. Algunos disidentes adu- cían que el crecimiento numérico del partido no era correlativo a unos avances reales en la lucha de clases, la cual parecía haber sido subordinada a una preocupación indebida por la organización interna del partido, las elecciones y los procesos parlamentarios. Para algu- nos, los partidos parecían haber perdido su ímpetu e intención revolucionarios del princi- pio, haberse preocupado cada vez más por consolidar y extender su posición dentro del sistema sociopolítico existente, en vez de aspirar a transformaciones más fundamentales. Siempre que los partidos que decían hablar por los obreros participaban en la política par- lamentaria, representaban fuerzas de integración que se enfrentaban a la tendencia autono- mista de la clase obrera.

Abundan los ejemplos de la impaciencia creciente de los activistas radicales respecto a los partidos obreros, de los cuales se escindían a veces para fundar organizaciones revo- lucionarias sindicalistas. Antes de la guerra, los sindicalistas revolucionarios del sur de Italia rechazaban la política del partido socialista por ser "reformista monárquica". El sin- dicalismo en Apulia, según Frank M. Snowden, "conllevaba un rechazo de la burocratiza- ción y la falta de democracia interna" del partido, "del camino parlamentario hacia el socialismo, y de la estrategia de colaboración con [el Primer Ministro] Giovanni Giolitti, al cual los Apulianos llamaban 'jefe de la mafia' ". 34 En el período anterior a la guerra

34 Snowden, Violence and Great Estates, p. 95.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

surgió en Noruega un grupo de oposición partidario de la acción directa -respaldado con fuerza, incidentalmente, por obreros de la construcción y mineros- el cual, como ha escri- to Sten Sparre Nilson, rechazaba "a los líderes establecidos del Partido Laborista, cuyos pacientes esfuerzos por influir al Parlamento y los órganos municipales se consideraron demasiado lentos e ineficientes". 35 En Gran Bretaña, el Partido Laborista, de ideología totalmente reformista, surgió sólo a principios de siglo. Aunque creció gradualmente, incluso durante los disturbios laborales que precedieron a la guerra, muchos activistas esperaban obtener beneficios mucho mayores amalgamando y revolucionando los sindica- tos ya existentes que los que podrían obtener de las actividades parlamentarias. "El miem- bro más antiguo del personal del periódico recordaba a gente hablando de un Partido Laborista hace algunos años", se burlaba el militante Daily Herald en septiembre de 1913. Respecto a una cuota de cinco "shillings" para el congreso del partido que estaba a punto de celebrarse, el Herald añadía: "Ningún sindicalista obtendrá el valor de sesenta peniques del Partido Laborista. Sería una inversión totalmente negativa". 36 En Suécia, y más o menos en la misma época, el SAC, celebrando la difusión internacional del sindicalismo revolucionario, defendía sus principios basados en la acción sindical directa, la cual las "desdentadas, políticas y social demócratas verduleras han intentado falsificar en interés de sus propias mercancías sin valor."37

Los sindicatos reformistas existentes, a menudo aliados con los partidos obreros, también fueron duramente criticados por no representar los intereses de los obreros más eficazmente. Los descontentos a veces les acusaban de dar el visto bueno, oficial o extrao- ficialmente, a las empresas electorales de los partidos. A menudo les criticaban por no seguir la lucha de clases más directa y vigorosamente en su calidad de sindicatos, y fre- cuentemente les achacaban la subordinación de los intereses de la clase obrera en general a la artesanía organizada o los intereses sectoriales dentro de ella. Los críticos decían que incluso la gran expansión numérica alcanzada por algunos sindicatos obstaculizaba el bie- nestar de la clase si iba acompañada de la expansión de una oficialidad administrativa y precavida, una centralización paralizadora, que contrarrestaban las iniciativas revoluciona- rias desde la base. A juzgar por su tamaño y su dotación administrativa, los "sindicatos libres" alemanes, en la línea del SPD, eran los más prósperos en Europa. Entre 1902 y 1913 su número de afiliados aumentó en casi un 350 %, mientras su burocracia se exten- día en más de 1.900 %. Durante la misma época, los "sindicatos libres" se fueron haciendo más conservadores. 38 La organización sindicalista revolucionaria -organizada indepen- dientemente- en los años anteriores a la guerra, enemigo estrepitoso de los sindicatos libres, era minúscula en comparación con sus rivales socialdemócratas. Una amenaza más seria venía de dentro: las críticas a la moderación de los dirigentes de estas organizaciones creció antes de la guerra y el sindicalismo revolucionario apareció como una alternativa viable al inmovilismo burocrático en la crisis sindical alemana de la posguerra.

En todas partes los sindicatos reformistas establecidos se enfrentaban a acusaciones similares. A partir del cambio de siglo, se les condenaba cada vez más por estar estanca-

35 Sten Sparre Nilson, "Labor Insurgency in Norway: The Crisis of 1917-1920", Social Science History 5 (1981), p. 410.

36 Daily Herald, 27 de septiembre de 1913. 37 Syndikalisten, 8 de noviembre de 1913. 38 Las cifras son de Gary P. Steenson, "Not One Man! Not One Penny!" German Social Democracy,

1863-1914 (Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1981), p. 96. Véase también Klaus Schönhoven, Expansion und Konzentration. Studien sur Entwicklung der Freien Gewerkschaften im Wilhelminischen Deutschland 1890 bis 1914 (Stuttgart: Klett-Cotta, 1980), pp. 221-60. Para un ejemplo de crítrica contemporá- nea a la expansión de la tendencia conservadora de la burocracia sindical en Alemania, véase Rosa Luxemburg, Massentreik, Partei und Gewerkschaften (Hamburg: Erdmann Dubber, 1906). 121

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

22

dos, mutilados por la inercia burocrática, enredados en las preocupaciones a corto plazo del sindicato como negocio -descalificada por los críticos alemanes como la Magenfrage o "cuestión de estómago" y por los Wobblies americanos como "sindicalismo de la chuleta de cerdo"- y demasiado tímidos para arriesgar unas estructuras sindicales cuidadosamente construidas o unos tesoros cuidadosamente coleccionados. Los sindicatos revolucionarios nacientes, por el contrario, a menudo hacían una virtud (a veces una virtud de la necesi- dad) de una organización poco firme y una estructuración mínima. Despreciaban a las burocracias atrincheradas y los grandes fondos para la guerra por ser inherentemente con- servadores. En algunos casos los sindicatos reformistas eran criticados por identificarse demasiado por medio de las negociaciones colectivas con los patrones y por medio de los planes de ayuda social y arbitraje con el Estado. En otros casos se les criticaba por ser insensibles u hostiles a las discrepancias y las iniciativas dentro de sus propias filas y con las necesidades de los obreros no afiliados fuera de ellas. Aunque los sindicalistas revolu- cionarios de la CGT francesa instaron a sus equivalentes extranjeros a revolucionar los sin- dicatos reformistas existentes fuera de Francia -una política seguida en Inglaterra y Noruega- muchos militantes consideraban que eso era imposible. Un famoso sindicalista revolucionario belga, L.Wolter, decía que los franceses no tenían conciencia de la difi- cultad de provocar agitación en los grandes y hostiles sindicatos socialdemócratas de Alemania y Bélgica, las cuales "frustraban" las "necesidades educativas" de los sindicalis- tas y "suprimían sistemáticamente" la libertad de pensamiento. 39 En todas partes los sindi- catos reformistas se enfrentaban a sus propios miembros y los críticos del exterior que querían convertirlos a una acción más audaz y más militante. Dichos disidentes a veces llegaban a defender el abandono de los sindicatos o dividirlos en consecución de una polí- tica más decidida.

El descontento de los afiliados, sin embargo, no era obviamente sinónimo de sindica- lismo revolucionario, aunque la ecuación se hacía muchas veces por error. Durante el importante malestar laboral en la época anterior a la guerra, la prensa identificaba de forma casi indiscriminada cualquier desafío a los líderes sindicales por parte de los afilia- dos como un signo de sindicalismo revolucionario. Dichos desafíos, en Gran Bretaña o en otros lugares, eran en realidad los síntomas de una amplia radicalización de los trabajado- res que entraba en conflicto con las limitaciones de la práctica y la organización sindical, y no los síntomas del sindicalismo revolucionario a secas. En muchos casos los sindicatos existentes conseguían contener ese descontento dentro de sus límites, neutralizándolo a veces, otras simplemente retrasándolo, sin alterar fundamentalmente la organización; en algunos casos los sindicatos se veían forzados a adoptar principios sindicalistas revolucio- narios; en otros el descontento traspasaba los límites y se fundaban nuevos sindicatos de carácter revolucionario.

La huelga general

Antes de que el sindicalismo revolucionario pudiera surgir como un fenómeno inter- nacional, su programa de acción directa tenía que percibirse como una estrategia alternati- va viable al sistema laboral dominante de la política electoral y el sindicalismo reformista. La idea de la suspensión colectiva del trabajo como instrumento de la clase obrera se

i I 39 La Vie Ouvrière, 5 de abril de 1913.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Reunión del comité central de la Unión Sindical Italiana

remonta al siglo xvm y fue considerada en Francia e Inglaterra durante el período de la Revolución Francesa. Recibió una atención más seria en Inglaterra bajo la forma de "Día Festivo Nacional" de William Benbow en la década de 1830 y los partidarios de la Carta de Amiens lo adoptaron. Más adelante, los bakuninistas del resto de Europa contemplaban un paro colectivo como un "Mes Sagrado". Pero la huelga general no llegó a ser una posi- bilidad práctica hasta la década de 1890. Para convertir la idea de una huelga así en un arma realista, eran necesarios dos cambios cualitativos. Primero, la economía tenía que llegar a ser lo bastante dependiente del trabajo asalariado, lo cual quiere decir que la clase obrera moderna tenía que convertirse en una fuerza social indispensable, para que cual- quier huelga a largo plazo llevada a cabo por una masa de obreros afectara vitalmente al orden social. Segundo, y relacionado con esto, los obreros necesitaban haber conseguido un grado de organización y solidaridad suficiente, al menos en los sectores básicos de la economía, para poder convertir en realidad un paro laboral de gran alcance. Esto ocurría en la mayoría de los países capitalistas desarrollados entre 1870 y 1900. 40 Sólo estos fac- tores subyacentes hacen posible y explicable la serie de huelgas "generales" y "políticas",

40 Haupt, et al, "Der politische Streik". 123

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

24

de éxito variable, que tuvieron lugar en los años precedentes a la Primera Guerra Mundial, por ejemplo en Bélgica en 1893 y 1902, en Suécia en 1902 y 1909, en Holanda en 1903 y en Italia en 1904. El papel significativo de los paros laborales en la Revolución Rusa de 1905, además, inspiró a los partidarios de la acción directa de otros lugares y alimentó el debate sobre la huelga masiva en el movimiento obrero europeo.

Influencias espaciales y geográficas

Un estudio del sindicalismo revolucionario como fenómeno internacional sugiere que los factores espaciales influyeron en la difusión de sus actitudes y prácticas. El caso de Francia ilustra el "efecto de radiación", por el cual las actitudes dominantes de la clase obrera en un lugar o región a veces superaron las influencias contrarias para afectar a aquellos que normalmente les serían ajenos. La típica adhesión al sindicalismo revolucio- nario por parte de los empleados en la serie de pequeñas empresas que dominaban la topo- grafía fabricante del París anterior a la guerra, por ejemplo, fomentó una orientación sindi- calista revolucionaria entre obreros en una serie de empresas grandes, mientras que el reformismo en el norte de Francia era tan fuerte, por otra parte, que grupos de trabajadores que eran típicamente radicales, como los obreros de la construcción, adoptaron una actitud reformista en esta zona. H.B. Wiardi Beckman, un estudioso del movimiento francés, tenía en mente la influencia de tales factores sobre el radicalismo cuando decía que "todo el ambiente económico en que vive el trabajador le ayuda a determinar la dirección de sus pensamientos". 41

A parte de este efecto de radiación, las contradicciones regionales también jugaban un papel. En el inhóspito Oeste canadiense y americano, donde muchas veces la explota- ción aparecía más tangible, los patrones más desafiantes y la alianza entre gobierno y capital más visible que en las otras zonas de esos países, las condiciones laborales actua- ron para radicalizar a los obreros y levantar un muro entre ellos y los movimientos sindica- les reformistas artesanales del Este. Los líderes de éstos, en los mejores casos, ignoraban las condiciones laborales de los obreros del Oeste y eran insensibles o indiferentes a sus necesidades, y en los peores casos, eran hostiles a sus iniciativas. El nacimiento de la OBU en el Oeste del Canadá sin duda debió mucho a las contradicciones regionales, y sus pio- neros incluso veían como una virtud su distancia de los sindicatos más antiguos del Este. Los trabajadores occidentales llevarían el liderazgo del sindicalismo revolucionario, obser- vó el One Big Union Bulletin en mayo de 1919, ya que ellos "no estaban tan limitados por lo oficial como nuestros hermanos del Este". 42 En los Estados Unidos, los esfuerzos de la Federación Occidental de Mineros, radical, y su descendiente, el Sindicato del Trabajo Americano, por sindicar a trabajadores que habían sido ignorados por los sindicatos del Este causó una ofensiva hostil por parte de la Federación Americana del Trabajo (AFL), incluso antes de que la IWW fiiera fundada como heredera del radicalismo occidental y adversaria de la AFL. En Italia, el partido socialista -cada vez más moderado- y los sindi- catos reformistas de la Confederazione Generale del Lavoro (CGL, Confederación General del Trabajo), se habían concentrado en lograr avances por etapas para los trabaja- dores del Norte. El olvido sistemático del Sur agrario alienaba a los militantes del Sur,

i I 41 Herman Bernard Wiardi Beckman, Het Syndicalism in Frankrijk (Amsterdam: Querido, 193 1), p. 18. I 42 Citado en Gerald Friesen, ""Yours in Revolt": The Socialist Party of Canada and the Western Canadian I Labour Movement," Labour ¡Le Travailleur ; 1 (1976), p. 148.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

según los cuales el partido había abandonado su objetivo revolucionario y olvidado a los trabajadores del Sur. Según su punto de vista, observa Frank M. Snowden, "el partido había llegado a ser, no un vehículo para el cambio fundamental, sino un grupo de presión ganando concesiones en nombre de una élite obrera del Norte".43 Los sindicalistas del Sur llevaron sus organizaciones al amparo de la USI, revolucionaria y sindicalista, y no de la reformista CGL.

El sindicalismo revolucionario en declive

El relativo éxito de los movimientos sindicalistas revolucionarios estuvo en parte determinado por el nivel general de la lucha de clases. En un principio, sus portavoces y activistas querían que el sindicalismo revolucionario fuera una corriente revolucionaria dentro del movimiento obrero. Los registros históricos sugieren, sin embargo, que en com- paración con sus equivalentes reformistas, los movimientos sindicalistas revolucionarios puros siguieron siendo pequeños durante los períodos de relativa estabilidad. Esto implica que en las situaciones no revolucionarias los movimientos sindicalistas seguirán siendo una minoría dentro de la mano de obra organizada, que tales movimientos pueden conse- guir una hegemonía dentro de la clase obrera sólo si existe una situación revolucionaria. A su vez esto implica, entre otras cosas, un análisis de la CGT francesa anterior a 1914 como algo menos que un movimiento revolucionario. Sugiere, por ejemplo, que el programa de la CGT poco tenía que ver con las vidas diarias de la mayoría de sus miembros, del mismo modo que el programa revolucionario Erfurt no reflejaba la práctica cotidiana del SPD ale- mán. Haciendo esta lectura queda claro cómo, después de la huega frustrada por la jornada de ocho horas en 1906, e incluso más después del fracaso de la huelga general de 1908, la CGT podía preocuparse cada vez más de la práctica reformista y podía cooperar con sus adversarios burgueses y el estado en la Union Sacrée tan sólo unos años después. Esta conclusión respecto al movimiento francés ha sido expuesta por una serie de estudiosos. ** Jacques Julliard aduce que el potencial revolucionario en Francia había ocurrido mucho antes de que se desarrollara allí el sindicalismo revolucionario y, además, que sus mejores años (1902-1908) llegaron después de que el entusiasmo por la huelga general hubiera empezado a remitir. La falta de representación proporcional evitó que la mayoría reformis- ta dominara la organización. Sin embargo, antes de 1914 la CGT pasó de "la ideología revolucionaria a la ideología de la acción directa", lo cual preservó el espíritu autonomista del movimiento. Para Julliard, la Charte d'Amiens representó no sólo un compromiso entre reformistas y revolucionarios frente a un partido socialista nuevamente unido, también constituyó "una hábil sustitución de la ideología revolucionaria por la ideología reformis- ta". Sobre todo, la Charte defendía la independencia de los sindicatos, y así simbolizaba "el triunfo de la idea autonomista". En el análisis de Julliard, la CGT de antes de la guerra

43 Snowden, Violence and Big Estates, p. 94. 44 La cuestión del carácter reformista contra el carácter revolucionario de la CGT antes de la guerra ha generado un debate considerable, del cual aquí sólo podemos mencionar unas pocas contribuciones. Contra sus credenciales revolucionarias se declara -de forma muy notable y demasiado enfática- Peter Stearns, Revolutionary Syndicalism and French Labor; a favor de su carácter revolucionario está Barbara Mitchell, The Practical Revolutionaries, que considera la revolución como algo en aumento y la dicotomía reformista-revolu- I donaría como engañosa. Peter Schöttler, Naissance des Bourses du Travail, argumenta que los subsidios I gubernamentales a las Bourses sirvieron para mitigar los impulsos revolucionarios desde el principio. El trata- I miento del tema más matizado y provocativo es el de Jacques Julliard en sus ensayos, recopilados en I Autonomie Ouvrière. I L

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

26

debe verse como una organización profundamente autonomista pero, cada vez más refor- mista en su ideología. 45

La situación en los países en que el sindicalismo revolucionario tenía que resistir los ataques de otros sindicatos durante los períodos no revolucionarios corrobora esta obser- vación. Así, el número de afiliados de la IWW nunca fue más que un pequeño porcentaje del número de la AFL, y lo mismo puede decirse de la FAUD alemana respecto a los "sin- dicatos libres"; en su mejor momento en 1920 el número de miembros de la NAS era sólo una quinta parte del de la Nederlandsch Verbond van Vakvereenigingen socialdemócrata (Confederación Holandesa de Sindicatos) y también había grandes sindicatos cristianos en Holanda. En su apogeo en 1924 el número de miembros de la SAC sueca era aproximada- mente una décima parte del de la socialdemócrata Landsorganisation (LO, Confederación Sueca de Sindicatos). El hecho de que la revolucionaria Casa fuera hegemónica en Mé- jico 1914-1916 y que en la década de 1930 la CNT fuera comparable en importancia a la organización sindical española vinculada al socialismo, también respalda esta afirmación, ya que ambas situaciones eran claramente revolucionarias.

¿Por qué declinaron los movimientos sindicalistas revolucionarios? Una de las causas más evidentes e inmediatas fue la represión estatal. Los gobiernos autoritarios del Oeste destruyeron cinco de los movimientos comentados en este artículo (en Italia, Portugal, Alemania, España y Holanda) -del mismo modo que el gobierno bolchevique ya había destruido al movimiento ruso- y dos movimientos más (en Estados Unidos y Méjico) fue- ron debilitados significativamente por la persecución estatal. En sí mismo, no obstante, esto no explica la larga ausencia de movimientos sindicalistas revolucionarios significati- vos en estos países. ¿Por qué, por ejemplo, los herederos de la CNT fueron incapaces de recuperar el terreno perdido al final de la década de los setenta, tras el final de la dictadura de Franco? Parece que más causas básicas y subyacentes están enjuego.

Una explicación más fundamental de la desaparición del sindicalismo revolucionario como movimiento de masas debe apelar, no simplemente a factores temporales como la represión estatal, sino también a los cambios en la propia sociedad capitalista. Es obvio que las revoluciones del siglo xx todas tuvieron lugar en países preindustriales o en proce- so de industrialización, y nunca en sociedades capitalistas plenamente desarrolladas. Algunos pueden considerarlo una coincidencia, pero el hecho de que sistemáticamente no llegaran las revoluciones obreras sugiere una razón estructural. Algunos eruditos conside- ran que la causa principal fue la evolución de los beneficios del Estado intervencionista, o

45 Julliard, Autonomie ouvrière, pp. 36-7. Julliard, subrayando el carácter profundamente autonomista de la CGT, la considera una organización sindicalista hasta 1914, aunque ya no era revolucionaria. La relación de la clase obrera francesa con la sociedad en general, según él, debe medirse mediante dos ejes, integración-auto- nomía y reforma-revolución, y esos dos ejes no coinciden necesariamente. "Todo reformismo no es integrador; todo lo revolucionario no es autonomista" (p. 23). Aquí deben tenerse en cuenta dos cosas. En primer lugar, observamos antes que las organizaciones sindicales profesaban objetivos revolucionarios o transformativos. Incluso la Charte d'Amiens, que Julliard ve como causa de la sustitución de la ideología revolucionaria por la reformista, alabó -aunque sin hacer nada en la práctica- el futuro objetivo de convertir a los sindicatos en "la agrupación de producción y reparación, base de reorganización social" (p. 222), un objetivo que si se hubiera conseguido, habría revolucionado las relaciones económicas y políticas en Francia. En segundo lugar, ¿puede extenderse el análisis de Julliard más allá de Francia? ... Julliard enfatiza la integración política y el aislamiento social de los obreros franceses -eran considerados como ciudadanos e ignorados como productores- y las cir-

políticas variaban mucho fuera de Francia. Además, la CGT, en la cual se mezclaban reformistas y revolucionarios, no tenía un adversario reformista importante con el cual competir, mientras que muchas orga-

Icunstancias

nizaciones sindicalistas no francesas prácticamente se definían como alternativas revolucionarias a sus rivales reformistas. Sin embargo, el análisis esclarecedor de Julliard debería tenerse en mente por los eruditos que vuel- van a valorar los movimientos sindicalistas fuera de Francia.

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

como dice Richard Löwenthal, "el enorme aumento de la importancia de las funciones [útiles a la colectividad], y por tanto del funcionamiento, de la administración pública en la vida diaria de la gente". 46 Además del Estado del bienestar, están los efectos de integra- ción de las relaciones capitalistas avanzadas de producción y consumo (a veces llamadas erróneamente "Fordistas") por las cuales las familias obreras no sólo producían y reprodu- cían energía laboral para su venta, sino que también operaban simultáneamente como uni- dades de consumo masivo individualizado, comprando muchos de los bienes de consumo que producían dentro de un sistema que permite al capital extenderse y a los obreros mejo- rar su nivel de vida material.

El auge del Estado del bienestar y las condiciones de la integración a largo plazo de los trabajadores en las economías capitalistas avanzadas, dejaban a aquellos movimientos sindicalistas revolucionarios que no habían sido destruidos todavía por la represión estatal solamente tres opciones, cada una de las cuales significaría finalmente su desaparición. Un movimiento podía:

i) Mantener sus principios, en cuyo caso se convertiría inevitablemente en un movi- miento totalmente marginal;

ii) Cambiar su rumbo en lo fundamental y adaptarse a las nuevas condiciones, en cuyo caso tendría que abandonar sus principios sindicalistas revolucionarios;

iii) Si ambas alternativas eran inaceptables, disgregarse, o lo que viene a ser lo mismo, fusionarse con una organización sindicalista no revolucionaria.

La IWW, que todavía sobrevive, optó por la primera alternativa. La CGT francesa, que en cualquier caso nunca había sido totalmente revolucionaria, optó por la segunda. Otros movimientos optaron más tarde o más temprano por la tercera.

El caso de la SAC sueca es esclarecedor en este aspecto. La SAC inicialmente optó por la primera alternativa, pero como la marginación amenazaba con ser total, cambió de rumbo y optó por la segunda. A partir de la década de 1930, los subsidios de desempleo en Suécia eran pagados por los sindicatos a partir de fondos especiales, a los cuales el Estado también contribuía con grandes aportaciones. La SAC en un principió rehusó participar en este esquema, pero un creciente número de miembros la abandonó por la LO socialdemó- crata. La SAC sucumbía al agotamiento. En la SAC se extendía la opinión de que su supervivencia dependía de establecer un fondo de seguros de empleo propio. Como escri- bió Evert Arvidsson:

Una resolución a estos efectos fue presentada en el congreso de la SAC en 1942 y se inició un estudio detallado del asunto. El gobierno [socialdemócrata] resultó más flexible de lo que se espera- ba. Las negociaciones resultaron en un acuerdo que no sólo fue suficiente para el establecimiento de un fondo de seguros con la contribución estatal usual (cerca del 55 %), sino también para una dona- ción especial al fondo por parte del gobierno. Este capital original se fijó en 337.720 coronas, lo cual para una pequeña organización como la SAC era una suma considerable. (También debe apun- tarse que los sindicatos más amplios dentro de la federación socialdemócrata LO a menudo inicia- ban sus fondos de seguros con contribuciones de capital propias.)

Después de algunas vacilaciones, la SAC decidió aceptar la oferta, y "bajo estas con- diciones, el número de miembros de la SAC, que había estado disminuyendo durante vein-

46 Richard Löwenthal, "The "Missing Revolution" in Industrial Societies: Comparative Reflections on a German Problem", en Volker R. Berghahn y Martin Kitchen, eds., Germany in the Age of Total War (London: Croom Helm, 1981), p. 256. I I 27

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

te años, empezó a experimentar un ligero ascenso". 47 Es difícil imaginar un ejemplo más llamativo del poder de asimilación del Estado del bienestar capitalista. Frente a las fuerzas integradoras de la sociedad moderna, como lo dijo Jacques Julliard respecto al caso fran- cés, la autonomía de programa sólo podía constituir "un palier dans un combat en retrait". 48

El problema de las negociaciones colectivas anunciaba la dificultad de mantener unos principios sindicalistas revolucionarios en las sociedades capitalistas desarrolladas. Mu- chas organizaciones, dentro del movimiento sindicalista revolucionario internacional, ini- cialmente repudiaron los acuerdos colectivos con los patrones porque por medio de un reparto colaborativo de la responsabilidad por la disciplina laboral, dichos acuerdos propa- garían la burocratización dentro de los sindicatos, minarían el espíritu revolucionario y restringirían la libertad de acción que los trabajadores siempre debían mantener frente a la clase enemiga. Desde una fecha temprana, sin embargo, a veces después de un período de sospecha y resistencia, muchos trabajadores renunciaron a esta postura. En las primeras décadas del siglo quedó claro que para mantener o aumentar el número de miembros, los sindicatos revolucionarios tenían que aceptar la negociación colectiva. En Holanda, la NAS decidió, con reticencias, aceptar ese principio en 1909. La SAC sueca aceptó las negociaciones colectivas en 1929. La FORA argentina y la OBU canadiense aceptaron las negociaciones colectivas desde el principio.

El análisis que aquí se presenta sugiere que el declive de los movimientos sindicalis- tas revolucionarios de masas no es necesariamente definitivo. Aunque las sociedades con economías capitalistas desarrolladas y sistemas amplios de bienestar social han consegui- do acallar y canalizar el malestar laboral e integrar a los obreros, en otras sociedades los principios de acción directa podrían aún resultar atractivos para algunos sectores de la clase obrera. El auge de Solidaridad en Polonia en 1980-1981 es una dramática demostra- ción de la persistente atracción de la acción directa para las masas de obreros disidentes. Aunque no es sindicalista revolucionaria en sentido estricto, Solidaridad restableció muchas ideas básicas y prácticas del sindicalismo revolucionario "clásico".

Bibliografía seleccionada

Los trabajos de investigación sobre los movimientos sindicalistas revolucionarios son numerosos; sólo algunos de los trabajos publicados más importantes pueden mencionarse aquí. Los enfoques que abarcan más de un país incluyen el valioso ensayo crítico de Peter Schöttler, "Syndikalismus in der europäischen Arbeiterbewegung. Neuere Forschungen in Frankreich, England und Deutschland", en Klaus Tenfelde, ed., Arbeiter und Arbeiterbewegung im Vergleich (Munich: Oldenbourg, 1986; Andreina De Clementi, Politica e société nel sindicalismo rivoluzionario 1900-1915 (Roma: Bulzonie, 1983); y Larry Peterson, "The One Big Union in International Perspective: Revolutionary Industrial Unionism, 1900-1925", en James E. Cronin y Carmen Sirianni, eds., Work, Community, and Power: The Experience of Labor in Europe and America, 1900- 1925 (Philadelphia: Temple University Press, 1983). Una vision partidista y ahora anticuada, escrita por un par- ticipante en el movimiento es la de Rudolf Rocker, Anarcho-Syndicalism (London: Seeker and Warburg, 1938) [Anarcosindicalismo. Teoría y práctica, Barcelona, 1938]. Una investigación a nivel internacional es la ofrecida por Marcel van der Linden y Wayne Thorpe, eds., Revolutionary Syndicalism: An International Perspective (Aldershot: Scolar Press, 1990).

Francia: Volúmenes 10-15 de Jean Maitron, ed., Dictionnaire biographique au mouvement ouvrier français (Paris: Editions Ouvrières, 1977), son muy útiles, como lo es la revista Le Mouvement Social, en la cual aparecen regularmente artículos pertinentes. Monografías importantes incluyen la de Jacques Julliard, Autonomie ouvrière: études sur le syndicalisme d'action directe (Paris: Le Seuil, 1988); Julliard, Fernand

I Evert Arvidsson, Der freiheitliche Syndikalismus im Wohlfahrtsstaat (Darmstadt: Die Freie Gesell-

schaft, 1960), p. 20. I 48 Julliard, Autonomie ouvrière, p. 39. 28

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions

Pelloutier et les origines du syndicalisme d'action directe (Paris: Le Seuil, 1971); Barbara Mitchell, The Practical Revolutionaries. A New Interpretation of the French Anarchosyndicalists (New York: Greenwood, 1987); Peter Schüttler, Naissance des Bourses du travail. Un appareil idéologique d'Etat à la fin du XIXe siè- cle (Paris: Presses Universitaires, 1983); Peter Stearns, Revolutionary Syndicalism and French Labor: A Cause without Rebels (Rutgers, N.J.: Rutgers University Press, 1971); F. F. Ridley, Revolutionary Syndicalism in France (Cambridge: Cambridge University Press, 1970).

Holanda: Erik Hansen and Peter A. Prosper Jr. : "The Nationaal Arbeids-Secretariaat. Revolutionary Syndicalism in the Netherlands, 1892-1914", Societas: A Review of Social History, vol. VII, n° 2 (primavera 1977), y "The Nationaal Arbeids-Secretariaat between the Wars. Revolutionary Syndicalism in the Netherlands, 1919-1940", Histoire Sociale/Social History, n° 27 (mayo 1981).

Alemania: Dirk H. Müller, Gewerkschaftliche Versammlunsdemokratie und Arbeiterdelegierte vor 1918. Ein Beitrag zur Geschichte des Lokalismus, des Syndikalismus und der entstehenden Rätebewegung (Berlin: Colloquium, 1985); Hans Manfred Bock, "Anarchosyndikalismus in Deutschland. Eine Zwischenbilanz", Internationale Wissenschaftliche Korrespondenz zur Geschichte der deutschen Arbeiterbewegung, XXV (1989); y Bock, Syndikalismus und Linkskommunismus 1918 bis 1923. Zur Geschichte und Soziologie der FAUD(S), derAAUDundderKAPD(Mcisenheim/G'iin: Hain, 1969).

Argentina: Iaacov Oved, El anarquismo y el movimiento obrero en Argentina (México: Siglo Veintiuno, 1978); Ruth Thompson, "The Limitations of Ideology in the Early Argentine Labour Mouvement: Anarchism in the Trade Unions, 1890-1920", Journal of Latin America Studies, n° 16 (1984).

EEUU: Melvyn Dubofsky, We Shall Be All: A History of the Industrial Workers of the World, segunda ed. (Urbana and Chicago: University of Illinois Press, 1988); Joseph Robert Conlin, Bread and Roses Too: Studies of the Wobblies (Westport: Greenwood, 1970); y Joseph R. Conlin, ed., At the Point of Production: The Local History of the IWW (Westport: Greenwood, 1981).

Suécia: Lennart K. Persson, Syndikalismen i Sverige 1903-1923 (Stockholm: Federativs, 1975). Gran Bretaña: Bob Holton, British Syndicalism, 1900-1915 (London: Pluto, 1975). España: Xavier Cuadrat, Socialismo y anarquismo en Cataluña. 1899-1911: Los orígenes de la CNT

(Madrid: Revista de Trabajo, 1976); Antonio Bar, La CNT en los años rojos: Del sindicalismo revolucionario al anarcosindicalismo, 1910-1926 (Madrid: Akal, 1981); Gerald H. Meaker, The Revolutionary Left in Spain, 1914-1923 (Stanford: Stanford University Press, 1974) [La izquierda revolucionaria en España, 1914-1923, Ariel, Barcelona, 1978]; John Brademas, Anarcosindicalismo y revolución en España, 1930-1937 (Barcelona: Ariel, 1974); y Antonio Elorza, La utopía anarquista bajo la Segunda República (Madrid: Ayuso, 1973).

Italia: Alceo Ríos a, II sindacalismo rivoluzionario in Italia e la lotte politica nel partito socialista dell'età giolittiana (Bari: De Donati, 1976); y véase De Clementi, citado anteriormente, y Gian Biagio Furiozzi, // sin- dacalismo rivoluzionario italiano (Milán: Mursia, 1977). Un participante habla del movimiento en Armando Borghi, Mezzo secolo di anarchia, 1890-1945 (Nápoles: Edizioni Scientifiche Italiane, 1954).

México: John M. Hart, Anarchism and the Mexican Working Class, 1860-1931 (Austin: University of Texas Press, 1978) [El anarquismo y la clase obrera mexicana, 1860-1931, Siglo xxi, México].

Canadá: David J. Bercuson, Fools and Wise Men: The Rise and Fall of the One Big Union (Toronto: McGraw-Hill Ryerson, 1978).

Portugal: Peter Merten, Anarchismus und Arbeiterkampf in Portugal (Hamburg: Libertäre Assoziation, 1980); Edgar Rodrigues, Os Anarquistas e os Sindicatos: Portugal, 1911-22 (Lisboa: Sementeira, 1981); y Edgar Rodrigues, A Resistência anarcosindicalista à Ditadura, 1922-1939 (Lisboa: Sementeira, 1981).

Para los movimientos no tratados en este articulo, véase Paul Avrich, Les anarchistes russes (Pans: Maspero, 1979); Emmet O'Connor, Syndicalism in Ireland, 1917-1923 (Cork: Cork University Press, 1988); y Erik Olssen, The Red Feds. Revolutionary Industrial Unionism and the New Zealand Federation of Labour 1908-1914 (Auckland, etc.: Oxford University Press, 1988).

El papel de las organizaciones sindicalistas en el movimiento internacional es comentado por Susan Milner en The Dilemmas of Internationalism. French syndicalism and the International Labour Movement, 1900-1914 (New York, etc.: Berg, 1990); Wayne Thorpe, "The Workers Themselves". Revolutionary Syndi- calism and International Labour, 1913-1923 (Dordrecht etc.: Kluwer Academic Publishers, 1989); y Thorpe, "Syndicalist Internationalism before World War II", in Van der Linden y Thorpe, Revolutionary Syndicalism: An International Perspective.

i This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AM

All use subject to JSTOR Terms and Conditions

ESTUDIOS: Pilar Sánchez, La Inquisición y el control de la frontera pirenai- ca en el Aragón de la segunda mitad del siglo xvi. Vicente Comes Iglesia, Régimen corporativo y organización católica patronal en Valencia (1927- 1930). Aurora Bosch, Estados Unidos en los años treinta: ¿Un socialismo imposible? DOSSIER: NEGOCIOS, POLÍTICA, PODER: Ángel Baha- monde Magro y José Gregorio Cayuela Fernández, La creación de nobleza en Cuba durante el siglo xix. Marcos Winocur, La burguesía azucarera cubana. Estructura capitalista y definición política en la coyuntura insu- rreccional de 1952-1959. Celia Cañellas y Rosa Toran, La representación política de Barcelona bajo el signo caciquil. José Carlos Rueda Laffond, Antonio Maura: Las pautas inversionistas de un miembro de la elite política de la Restauración. LIBROS: Jean-Louis Guereña, Hacia una historia socio- cultural de las clases populares en España (1840-1920). NOTAS: Josep Torró, l.er Congrès d' Arqueologia Industrial del País Valencia. 30 I

This content downloaded from 179.178.208.141 on Fri, 12 Sep 2014 07:43:22 AMAll use subject to JSTOR Terms and Conditions