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1 Roger Camacho Barrero Junior – Unifesp Tema: A participação de grupos sociais nas lutas pela redemocratização. Justificativa: Esse trabalho é importante pelo fato de exercitar a leitura crítica dos alunos ao notarem a presença ou a ausência de determinados agentes históricos nas fontes a serem lidas. Também para fazer os estudantes terem contato mais aprofundado com um período da história do Brasil Republicano recente. A abundância de formas de estudar o tema e a possibilidade de fazer os alunos terem contato com pessoas que viveram o período, bem como com aqueles que podem ter testemunhado fatos ou participado diretamente deles é algo que deve ser ressaltado como uma importante motivação para fazer essa sequência didática. Diferente do que estão acostumados a ver, as pessoas que se mobilizaram durante os movimentos pela Anistia não eram apenas políticos ou ex-exilados, mas também trabalhadores, mulheres, estudantes e outros grupos ditos como minoritários dentro da sociedade. Por fim, justifico a sequência pelo fato dela se propor também a fazer esses estudantes terem contato com uma história que não se foca nos personagens individuais tidos como importantes, mas também com pessoas que podem estar próximas deles ou com os quais eles possam se identificar ou reconhecer algum familiar ou conhecido. Objetivos:

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Page 1: Tema: Justificativa - arquivoestado.sp.gov.br · notarem a presença ou a ausência de determinados agentes históricos nas fontes a serem lidas. Também para fazer os estudantes

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Roger Camacho Barrero Junior – Unifesp

Tema: A participação de grupos sociais nas lutas pela redemocratização.

Justificativa:

Esse trabalho é importante pelo fato de exercitar a leitura crítica dos alunos ao

notarem a presença ou a ausência de determinados agentes históricos nas fontes a serem

lidas. Também para fazer os estudantes terem contato mais aprofundado com um

período da história do Brasil Republicano recente.

A abundância de formas de estudar o tema e a possibilidade de fazer os alunos

terem contato com pessoas que viveram o período, bem como com aqueles que podem

ter testemunhado fatos ou participado diretamente deles é algo que deve ser ressaltado

como uma importante motivação para fazer essa sequência didática.

Diferente do que estão acostumados a ver, as pessoas que se mobilizaram

durante os movimentos pela Anistia não eram apenas políticos ou ex-exilados, mas

também trabalhadores, mulheres, estudantes e outros grupos ditos como minoritários

dentro da sociedade.

Por fim, justifico a sequência pelo fato dela se propor também a fazer esses

estudantes terem contato com uma história que não se foca nos personagens individuais

tidos como importantes, mas também com pessoas que podem estar próximas deles ou

com os quais eles possam se identificar ou reconhecer algum familiar ou conhecido.

Objetivos:

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Esta sequência didática tem como objetivo geral estimular o senso crítico nos

estudantes e uma leitura de um processo histórico por meio de outros pontos de vista. O

estudo do processo de redemocratização do Brasil e do fim do regime militar também

são objetivos dessa proposta e podem ser adaptados pelo docente de acordo com as suas

metodologias ou necessidades, por meio das atividades aqui propostas.

Como objetivos específicos, o professor deve estimular uma análise básica das

fontes utilizadas sem dar resultados prontos. Deve-se estimular a autonomia dos alunos,

fazendo-os pensar por si sós no que pode ser retirado dessa documentação. Obviamente

antes das atividades se deve contextualizar os alunos acerca dos conteúdos e do tema da

pesquisa. O desdobramento das aulas exige que pelo menos duas aulas sejam reservadas

para esse fim.

Conteúdo a ser abordado: Ditadura Militar no Brasil e Redemocratização.

Ano sugerido para desenvolvimento da sequência: 3º ano do Ensino Médio.

Número de Aulas: 6 aulas.

Sequência:

1ª aula – Explicação acerca do processo de redemocratização no Brasil e

retomada de conteúdos referentes ao regime militar. O objetivo é construir um

conhecimento acerca do tema. O professor não pode esquecer de mostrar que os fatos

são estudados por meio de fontes e defini-las para os estudantes terem repertório para as

aulas seguintes e para a avaliação final.

Para mostrar que havia mulheres nos movimentos pela Anistia, mostre a seguinte

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imagem:

Militante do Movimento Feminino pela Anistia. Foto de 1975. Disponível em:

http://www.brasil.gov.br/linhadotempo/epocas/1975/movimento-feminino-pela-anistia-mfa

_______________________________________

2ª aula – Continuação da explicação acerca do processo de redemocratização no

Brasil a partir de um questionamento sobre o que os alunos entenderam. O objetivo

desta parte da sequência é promover um debate acerca dos conteúdos passados para se

realizar um levantamento, por parte do docente, para ver onde é necessário enfatizar as

atividades.

Pensando na presença dos negros, há a seguinte imagem que pode ser utilizada:

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ALBERTI, Verena; PEREIRA, Amilcar Araújo. Orgulho da cor. 2008.

Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/orgulho-da-cor

_______________________________________________

3ª aula – Análise de fonte em sala. Relacionar trechos de duas fontes de papel

como suporte. Nessa etapa o foco seria o discurso geral sobre o processo histórico em

questão. Os alunos devem entregar um resumo de meia página sobre o debate na aula

seguinte. Mesmo assim, é importante não deixar de lembrar da presença de mulheres

nos movimentos tidos como subversivos. Questionar quem aparece nessas fontes.

Definir fonte para os estudantes é importante para a execução dessa atividade.

Análise das fontes em sala de aula:

1 – Essa fonte é o que? (jornal, revista, livro, etc.) 2 – Qual o assunto principal nesse texto? Quando foi escrito? 3 - Que nomes de pessoas aparecem envolvidas nesse caso? 4 – Dá para distinguir o sexo dessas pessoas? Como elas aparecem no texto? 5 – Pertencem a algum grupo? 6 - Por que elas foram presas? 7 – Qual a opinião da fonte sobre o ocorrido? Vocês percebem?

DEOPS divulga lista sobre presos políticos em 4 estados. Folha de São Paulo. São Paulo, 19 ago. 1979,

p.5. Apesp, 30/0211.

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1 – Essa fonte é igual à outra? Qual o seu assunto principal? Quando foi escrito? 2 – Que pessoas aparecem envolvidas nessa história? São trabalhadores, estudantes, etc? 3 – Qual a opinião da fonte acerca do ocorrido? 4 – Aparece o nome dos sujeitos envolvidos nessa ação? 5 – Por que eles foram punidos? Eles estão sendo perdoados de que? 6 – Qual a representação desses sujeitos no texto?

REVISÃO de punições a professores vem como projeto de anistia. Diário de São Paulo. São Paulo, 22 jun.

1979, p.13. Apesp.

Perguta de conclusão:

Com base na leitura dessas duas fontes, que pessoas vocês percebem (se são mulheres ou se há a identificação do que faziam, se eram trabalhadores, donas de casa. Dá para notar isso a partir dessas fontes?) como atuantes nos protentos em prol da anistia? Por que vocês acham que eles aderiram? Com base nisso, podemos dizer que na história também a participação de mulheres foi algo importante?

É necessário direcionar as perguntas de acordo com as respostas ou as inquietações

levantadas pelos estudantes. Deve-se manter o foco em pensar nos agentes históricos

para além dos intelectuais famosos e dos estudantes. Pensar em movimentos de gênero é

essencial para direcionar a análise nesse momento. O relatório dos estudantes deve

conter os principais pontos da discussão gerada a partir da análise das fontes em sala de

aula. Nesse sentido, incite-os (não obrigatoriamente) a buscar informação por fora, para

adquirirem mais dados para enriquecer seu trabalho.

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4ª aula – Análise de fonte em sala. Trabalho com fonte imagética. Nessa aula

entraria uma crítica pautada na comparação do que foi debatido na aula anterior e não

aparece na fonte agora analisada. Os alunos devem entregar um relatório de meia página

sobre o debate na aula seguinte. Questionar como o processo é representado e que está

desenhado nas massas. Há mulheres, negros, etc?

Análise das fontes em sala de aula:

1 – Que fonte é essa? Desenho, foto, charge... Quando foi feita? 2 – Onde ela pode ter sido colocada? (jornal, revista, livro...) Por que? 3 – Para quem vocês acham que o desenhista fez esse desenho? Qual a opinião dele sobre a anistia? Ele é a favor ou contra o regime militar? 4 – Que pessoas aparecem na representação? Políticos, mulheres, negros... Qual a situação desenhada nele? 5 – Por que a massa de pessoas persegue os dois indivíduos? O que cada grupo segura em suas bandeiras? 6 – Por que vocês acham que eles fogem? De quem? 7 – Quem no fundo persegue os políticos? São somente estudantes, na opinião de vocês? Qual a opinião de vocês?

Movimento. São Paulo, 02 jul. 1979, p. 24. Apesp.

Nesse momento é preciso pensar na participação dos agentes históricos na luta

pela anistia. Identificar quais os lados do conflito e definir as motivações de cada um.

Nesse ponto, o professor pode mostrar que fonte também pode ser feita em outros

suportes que não apenas o escrito impresso. O relatório dos estudantes deve conter os

principais pontos da discussão gerada a partir da análise das fontes em sala de aula.

Nesse sentido, incite-os (não obrigatoriamente) a buscar informação por fora, para

adquirirem mais dados para enriquecer seu trabalho.

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5ª aula – Atividade em sala de aula. Comparar fontes sobre a anistia com

trechos de notícias da época. Aqui o discurso da grande imprensa seria posta em

questionamento. Observar diferenças de discursos e que aparece ou não nessas fontes.

Análise de fontes em sala de aula:

1 – Essa fonte é o que? (jornal, livro...) 2 – Qual o assunto principal de seu texto? Quando foi escrita? 3 – Qual a opinião dela sobre o ocorrido? 4 – Que pessoas aparecem no fato descrito? 5 – São somente estudantes e políticos? 6 – Há apenas homens na ação descrita nesse recorte de jornal? 7 - Por que eles protestam?

ESTUDANTES e emedebistas em ato pela anistia ampla. Diário Popular. São Paulo, 12 ago. 1979, p.4.

Apesp, 34/0677.

1 – Essa fonte é igual à outra? Quando foi escrita? O assunto é o mesmo? 2 – Qual o assunto principal da notícia? 3 - Que pessoas aparecem no fato descrito? 4 – Há mulheres ou negros nas fotos dessas pessoas?

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5 – Por que somente aparecem homens na sua opinião? 6 - Por que ele somente se foca neles na opinião de vocês?

OS BENEFICIADOS, os mais conhecidos. Movimento. São Paulo, 07 jul. 1979, p. 06. Apesp.

Questão de conclusão:

Nas duas fontes, como aparecem as pessoas descritas? O que elas fazem? Há mulheres, negros ou pessoas trabalhadoras nesses casos? Por que vocês acham que o foco está em determinados sujeitos?

Nesse ponto é importante salientar que algumas fontes podem ter o discurso

voltado para os sujeitos históricos clássicos: Estudantes, intelectuais, jovens e políticos.

Porém, com os subsídios das outras aulas é importante questionar esse fato e reiterar

novamente que a Anistia não foi pauta apenas desses grupos, mas também de outros que

não aparecem nessas fontes, como podem vir a não ter aparecido nas outras. O relatório

dos estudantes deve conter os principais pontos da discussão gerada a partir da análise

das fontes em sala de aula. Nesse sentido, incite-os (não obrigatoriamente) a buscar

informação por fora, para adquirirem mais dados para enriquecer seu trabalho.

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6ª aula – Avaliação para verificar apreensão dos conteúdos. Produção de texto

acerca do que foi discutido durante as aulas e as reflexões construídas pelos alunos.

Nesse ponto é importante ver o estudante não apenas como receptor de conhecimentos,

mas também como produtor, dessa forma suas reflexões entram como contribuição para

debates posteriores e não como apenas absorção de conhecimentos.

Avaliação:

Redigir um texto acerca das seguintes questões:

(O professor pode adaptar as questões e o foco da avaliação de acordo com os

resultados obtidos em sala de aula ou as inquietações suscitadas por meio dos debates

ali realizados.)

Pensando nos casos e fontes estudadas em sala de aula escrevam como vocês

notaram a presença de mulheres e negros nos protestos pela anistia. A história desse fato

foi feita só por homens ou brancos? O que vocês acham disso? Dissertem.

Vocês conhecem algum protesto hoje? Nas notícias que vocês veem, quem

aparece neles? A luta desses grupos hoje é qual na opinião de vocês? Atualmente

podemos dizer que somos totalmente livres? Dissertem.

Bibliografia sugerida para o professor:

FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão (orgs.). Revolução e Democracia. Rio

de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucila de Almeida Neves. O Brasil Republicano:

Regime Militar e Movimentos Sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2007.

GIULIANI, Paola Cappellin. “Os movimentos de trabalhadoras e a sociedade

brasileira.” In: PRIORI, Mary Del (org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo:

Contexto, 2009.

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LUCA, Tânia Regina de. “A história dos, nos e por meio dos impressos.” In: PINSKY,

Carla Basanezzi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.

ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Osasco 1968: a greve no feminino e no masculino.

Tese de Doutorado apresentada à FFLCH – USP, 2012.

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências e lutas dos

trabalhadores da grande São Paulo (1970 – 1980). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

SANTANA, Marco Aurélio. “Esquerdas em Movimento: A Disputa entre PCB e PT no

sindicalismo Brasileiro dos anos 1970/1980.” In: Perseu: História, Memória e Política.

vol. 1 n.1 2007. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.

SECCO, Lincoln. História do PT. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.