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ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
A política de imigração no Estado de São Paulo
Bianca Mayumi Saijo
Graduanda do curso de História na Universidade Federal de São Paulo
Trabalho entregue como requisito
parcial para a conclusão da oficina O(s)
uso(s) de documentos de arquivo em
salas de aula.
São Paulo
2013
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Tema
A política de imigração no estado de São Paulo
Justificativa
O tema escolhido tem como pretensão abordar em sala de aula as causas e
interesses por trás das políticas de incentivo a imigração que o governo propunha no
período do Segundo Reinado. Expondo a questão do fim da escravatura e a demanda de
mão-de-obra nos complexos cafeeiros.
Considerando que os imigrantes tem papel essencial para a formação
populacional e cultural da atualidade, no caso, focando a imigração em São Paulo. Deste
modo, pretende-se utilizar, como meio de estudo, os documentos da época e bibliografia
relacionada, estimulando a análise dos mesmos.
Componente Curricular
Segundo Reinado no Brasil; Abolição da escravatura.
Ano/Série
2º ano do ensino médio.
Duração prevista
Quatro aulas.
Objetivos
• Identificar os fatores políticos, sociais e econômicos que motivaram a política de
imigração.
• Demonstrar a importância do imigrante para a futura formação populacional.
• Proporcionar o entendimento de um processo histórico.
• Reconhecer a importância de documentos nos estudos.
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Plano de aula
Sempre utilizando um método expositivo dos conteúdos na primeira parte da aula,
utilizando textos didáticos e extras como base, seguido de atividades.
Aula 1 – Desenvolver a aula em torno da questão da abolição da escravatura no período
do Brasil Império, partindo-se do presuposto que já há um embasamento apropriado
sobre o período, para que se possa compreender o contexto em que se viu a necessidade
de ser introduzida a mão de obra estrangeira, utilizando como leitura extra, para que os
alunos possam ter uma idéia mais centralizada a respeito das leis abolicionistas que
foram redigidas e suas consequências, um trecho do texto de Paula Biguelman, exposto
a seguir:
“Pelo artigo 1º da lei de 28 de setembro de 1871, eram declarados livres os filhos de
mulher escrava, nascidos no Império desde a data da lei. (...) Eram declarados libertos
os escravos pertencentes à nação (artigo 6º, § 1º), os dados em usufruto à Coroa (§ 2º),
bem como os das heranças vagas (§ 3).
Como previdência preliminar para o controle da execução da lei, o artigo 8º
determinava a matrícula especial de todos os escravos existentes no Império. Os que não
fossem levados à matrícula até um ano depois do encerramento desta, seriam
considerados libertos (artigo 8º, § 2º).
Uma vez resolvida a questão da reforma servil, irrompe o conflito, antes
represado, entre a resistência escravista e o gabinete emancipados, culminando numa
votação da Câmara contra o governo (1872). Dessa forma, através da cisão partidária, o
Partido Conservador ao mesmo tempo atendia à Coroa e expressava seu intento de
preservar o status quo escravista.”1
Atividade: Utilizando o documento 1 e o texto trabalhado em aula, propor uma
reflexão a respeito.
1 BEIGUELMAN, Paula. A economia escravista em transformação: encaminhamento político. In______ A
formação do povo no complexo cafeeiro. São Paulo: Pioneira, 1977, p. 32.
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Documento 1
Immigrante, jan. 1908, n. 1, ano 1, São Paulo. Apesp.
1. Faça uma descrição do documento apontando os dados que mais lhe chamaram a
atenção. Respondendo também as questões: Que tipo de documento é esse? Em
que ano foi produzido? Para quem foi produzido? Qual é a proposta que é
exposta no documento?
2. Segundo o texto utilizado em aula, quais as consequências da abolição da
escravidão?
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3. De que modo podemos relacionar o conteúdo do texto com o documento
apresentado?
Aula 2 – Desenvolver o assunto da política imigratória visando explorar as pretenções
da mesma e quais as suas causas, utilizando como leitura extra um trecho do texto do
Chiara Vangelista, exposto a seguir:
“Com a abolição da escravatura, os ex-escravos se introduzem nesta faixa de população
marginal que oferece ao mercado uma força de trabalho a ser empregada
irregularmente, enquanto que na fazenda o trabalho estável é executado exclusivamente
por colonos europeus. Nessa perspectiva, a imigração para o Estado de São Paulo torna-
se indispensável à manutenção e ao crescimento da economia do café. [...]
[...] Em uma segunda fase, quando, com a abolição da escravatura verifica-se a
total substituição de mão-de-obra escrava pela européia e, ao mesmo tempo, a corrente
imigratória não parece sofrer uma flexão, o Estado assume a tarefa de promover,
endereçar e organizar a imigração transoceânica, tornando-se fiador, em relação aos
proprietários das terras, de um abastecimento constante e considerável de mão-de-obra
para a plantação. Nesse momento, emerge claramente o papel que o Estado tem coomo
fiador e representante dos interesses da classe da qual é expressão. Como foi dito antes,
a classe dominante é ela mesma o Estado e é precisamente graças a essa identidade que
o fazendeiro pode confiar ao Estado a tarefa de fornecer-lhe a mão-de-obra, mantendo-
se paralelamente em um papel passivo.”2
Atividade: Propor uma análise dos documentos 2 e 3 e os trecho da música, que era
cantadas pelos imigrantes, de modo a relacionar seus conteúdos:
2 VANGELISTA, Chiara. Os braços da Lavoura: Imigrantes e “caipiras” na formação do mercado de
trabalho paulista. São Paulo: Hucitec, 1991, p. 53-54.
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Documento 2
O IMMIGRANTE. O Immigrante, São Paulo, n. 1, ano 1, p. 1, jan. 1908. Apesp.
Documento 3
VANTAGENS concedidas aos immigrantes pelo governo do Estado de S. Paulo. O Immigrante, São Paulo, n. 1, ano 1,
p. 1, jan. 1908. Apesp.
“Vamos para a América
Naquele belo Brasil
Aqui ficam os nossos ricos senhores
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A trabalhar a terra com a enxada
[...]
O carro já está em frente à porta,
Partimos com mulher e filharada,
Emigramos para a terra prometida,
Ali se encontra ouro como areia,
Logo, logo estaremos no Brasil.”3
1. Qual relação você pode identificar entre o documento e o trecho da música?
Qual o seu propósito?
2. Quais eram as motivações expostas para que os imigrantes se interessassem em
vir para o Brasil?
3. Por que houve a necessidade dessa política imigracional ser promovida? Quais
os fatores principais?
Aula 3 – Através de trechos de texto da Paula Beiguelman desenvolver a aula a respeito
da utilização da mão-de-obra imigrante nos setores cafeeiros, como era sua constituição
e o modo como as famílias trabalhavam nas terras, e como complemento, analisar o
documento junto com a sala.
“Contudo, a essa época, os fazendeiros da área mais nova em plena expansão, e que
portanto não havia ainda constituído seu quadro de trabalho escravo, já vinham
ensaiando organizar sua lavoura como base na mão-de-obra livre imigrante, integrada
na atividade fundamental da cafeicultura. Nesse processo, o imigrante percebeu as
vantagens que podia oferecer a lavoura cafeeira das terras novas, e o fazendeiro o
partido que podia tirar do interesse despertado.
Para a descoberta dessas vantagens recíprocas fora necessário entregar o cafezal
à família colona, deixando-a explorar livremente as possibilidades da situação. É nesse
sentido que Couty critica a substituição pura e simples de um ‘preto por um branco, um
escravo por um contratado, ou assalariado’ – ou seja, a inserção do imigrante no sistema
3 ALVIM, Zuleika. Imigrantes: A vida provada dos pobres do campo. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.).
História da vida privada no Brasil. República: La Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997. (História da Vida Privada no Brasil, 3). p. 218.
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fundado no quadro servil, tal como se procedera até então, seria inoperante: impunha-se
a própria substituição do trabalho coercitivo pelo incentivado.
O incentivo consistia na oportunidade de alguma acumulação econômica,
oferecida ao imigrante através da atividade intensa da família colona na expansão do
cafezal, remunerada na base de um salário fixo anual acrescido de quota por alqueire de
café colhido, e, principalmente, com a permissão do usufruto das terras intercafeeiras.”4
Documento 4
Mapa do Estado de São Paulo indicando a posição dos núcleos coloniais existentes e em projeto. Secretaria da
Agricultura/SP. 1908. Apesp.
4 BEIGUELMAN, Paula. Os estratos populares na constituição do complexo cafeeiro. In______ A
formação do povo no complexo cafeeiro. São Paulo: Pioneira, 1977, p. 68-69.
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Atividade:
1. Explique por que os imigrantes se interessavam pelo trabalho que era oferecido e
de que modo esse trabalho era organizado.
2. Por que a utilização de mão-de-obra imigrante era interessante aos fazendeiros?
Aula 4 – Promover um debate sobre os assuntos abordados até agora, para depois
solicitar que seja desenvolvido um texto em sala de aula, no qual deve-ser fazer uma
síntese e também para que seja pensada a importância futura desses imigrantes na
formação da população paulistana, usando como exemplo a formação de bairros
constituidos pelos próprios imigrantes e seus descendentes, que representam a
manutenção das tradições de alguns países no Brasil, como a Liberdade, a Mooca e o
Brás.
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Bibliografia
ALVIM, Zuleika. Imigrantes: A vida provada dos pobres do campo. In: SEVCENKO,
Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. República: La Belle Époque à Era
do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. (História da Vida Privada no Brasil,
3).
BEIGUELMAN, Paula. A economia escravista em transformação: encaminhamento
político. In______ A formação do povo no complexo cafeeiro. São Paulo: Pioneira,
1977.
VANGELISTA, Chiara. Os braços da Lavoura: Imigrantes e “caipiras” na formação do
mercado de trabalho paulista. São Paulo: Hucitec, 1991.