tema 99: a questÃo ambiental nos estudos, … · ecologia e meio ambiente (conceitos básicos; ......

32
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXVII SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS BELÉM PA, 03 A 07 DE JUNHO DE 2007. XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 1 TEMA 99: A QUESTÃO AMBIENTAL NOS ESTUDOS, PROJETOS E CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS. PRINCIPAIS QUESTÕES AMBIENTAIS A SEREM CONSIDERADAS EM USINAS HIDROELÉTRICAS 1 . Relator: Anastácio Afonso JURAS. Analista de Meio Ambiente - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A. RESUMO O trabalho apresenta o estado-da-arte sobre os principais temas da questão ambiental nos projetos de barragens e está estruturado em cinco capítulos: 01 - Ecologia e Meio Ambiente (conceitos básicos; desenvolvimento sustentável); 02 - Legislação Ambiental (principais leis ambientais a serem seguidas para o planejamento, construção e operação de usinas hidrelétricas); 03 – Política ambiental (sete princípios) do Grupo Eletrobrás; 04 - Principais Considerações Gerais (a) principais tópicos socioambientais (meios: físico, biótico e sócio cultural); (b) as emissões de gases de efeito estufa; (c) compensações financeira e ambiental; (d) vazão ambiental; (e) sistema integrado de gestão ambiental; 05 - Conclusões e Sugestões: integrações dos assuntos e temas discutidos; são relatadas algumas as experiências nacionais e mundiais mais recentes sobre o tema. ABSTRACT This paper presents the main environmental questions related to the projects of dams. It is organized into five chapters: 01 – Ecology and the Environment (basic concepts and sustainable development); 02 – Environmental Legislation (the main laws related to the planning, building and operation of hydro power plants); 03 – Environmental Policy (seven principles) of Eletrobras; 04 – General Topics: a) main environmental topics (studies on the abiotic and biotic systems and sociocultural 1 Esse texto apresenta os tópicos mais importantes sobre o estado da arte referente à questão ambiental e as barragens; certamente existem muitos outros temas que não foram aqui citados, visto que o objetivo geral desse artigo foi listar as principais recomendações e sugestões (baseadas na literatura especializada) a serem adotadas no aperfeiçoamento dos estudos e ações ambientais em todas das fases dos empreendimentos hidroelétricos. É desejável que sejam identificados os temas abordados nesta apresentação e que devem ser aprofundados para detalhamentos e definições de prioridades para melhoria dos projetos de barragens.

Upload: vuongkien

Post on 25-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXVII SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS BELÉM – PA, 03 A 07 DE JUNHO DE 2007.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens

1

TEMA 99: A QUESTÃO AMBIENTAL NOS ESTUDOS, PROJETOS E CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS.

PRINCIPAIS QUESTÕES AMBIENTAIS A SEREM CONSIDERADAS EM USINAS HIDROELÉTRICAS1.

Relator: Anastácio Afonso JURAS.

Analista de Meio Ambiente - Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A.

RESUMO O trabalho apresenta o estado-da-arte sobre os principais temas da questão ambiental nos projetos de barragens e está estruturado em cinco capítulos: 01 - Ecologia e Meio Ambiente (conceitos básicos; desenvolvimento sustentável); 02 - Legislação Ambiental (principais leis ambientais a serem seguidas para o planejamento, construção e operação de usinas hidrelétricas); 03 – Política ambiental (sete princípios) do Grupo Eletrobrás; 04 - Principais Considerações Gerais (a) principais tópicos socioambientais (meios: físico, biótico e sócio cultural); (b) as emissões de gases de efeito estufa; (c) compensações financeira e ambiental; (d) vazão ambiental; (e) sistema integrado de gestão ambiental; 05 - Conclusões e Sugestões: integrações dos assuntos e temas discutidos; são relatadas algumas as experiências nacionais e mundiais mais recentes sobre o tema.

ABSTRACT This paper presents the main environmental questions related to the projects of dams. It is organized into five chapters: 01 – Ecology and the Environment (basic concepts and sustainable development); 02 – Environmental Legislation (the main laws related to the planning, building and operation of hydro power plants); 03 – Environmental Policy (seven principles) of Eletrobras; 04 – General Topics: a) main environmental topics (studies on the abiotic and biotic systems and sociocultural

1 Esse texto apresenta os tópicos mais importantes sobre o estado da arte referente à questão ambiental e as barragens; certamente existem muitos outros temas que não foram aqui citados, visto que o objetivo geral desse artigo foi listar as principais recomendações e sugestões (baseadas na literatura especializada) a serem adotadas no aperfeiçoamento dos estudos e ações ambientais em todas das fases dos empreendimentos hidroelétricos. É desejável que sejam identificados os temas abordados nesta apresentação e que devem ser aprofundados para detalhamentos e definições de prioridades para melhoria dos projetos de barragens.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 2

aspects); b) greenhouse emissions; c) environmental compensation; d) environmental out-flows; e) environmental management systems; 05 – Conclusion and some Suggestion on priorities; comments on environmental issues in the light of national and international experiences.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens

3

CAPÍTULO 01 – ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE:

1.1. CONCEITUAÇÃO DE ECOLOGIA:

O termo ecologia foi usado pela primeira vez em 1866 pelo biólogo e médico alemão Ernst Heinrich Haeckel (1834/1917), em sua obra Morfologia Geral dos Seres Vivos, utilizando-se dos radicais gregos: oikos = casa e logos = estudo. De maneira que, a palavra ecologia significa estudo da casa, do local da existência, do entorno e do meio onde moram os seres vivos e onde estão os rios, lagos, solos, rochas e o ar atmosférico.

De 1866 até os dias de hoje, a ecologia foi abrangendo um universo cada vez maior de disciplinas, surgindo assim as denominações Ecologia Humana, Ecologia Social, Ecologia Urbana e outras. Essas ramificações denotam cada vez mais o papel ativo do ser humano no ordenamento do planeta Terra. Elas tendem a exemplificar melhor o papel consciente do homem em relação aos ambientes naturais e construídos, assim como a esfera da vida em sociedade [1].

1.2. CONCEITUAÇÕES DE AMBIENTE:

Ambiente, substantivo significa “o que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas por todos os lados, envolvente” (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).

Para o Prof. José Afonso Silva [2] “a palavra ambiente indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca em que vivemos. Em certo sentido, portanto, nela já se contém o sentido da palavra meio”.

“O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico” [2].

Numa perspectiva ampla, o meio ambiente seria “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais (construídos pelo homem) e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas” [1].

1.3. CONCEITUAÇÃO DE MEIO AMBIENTE EM BASES LEGAIS:

A Lei nº 6.938, de 1981 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, diz, no seu artigo 3º: “Para fins previstos nesta lei, entende-se por meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A definição é “ampla, pois vai atingir tudo aquilo que permite a vida, que a abriga e rege” [3], incluindo aí os seres humanos.

Essa definição diz respeito ao aspecto natural ou físico do meio ambiente, constituído pelo solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. Acresce dizer que, além do aspecto natural, o meio ambiente apresenta outros aspectos: cultural, artificial e do trabalho [4].

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, afirma que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 4

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Meio ambiente e desenvolvimento não constituem desafios separados. Ao contrário, estão interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de recursos ambientais se deteriora; o meio ambiente não pode ser protegido se o crescimento não leva em conta as conseqüências da destruição ambiental. O desenvolvimento sustentável não apenas é possível, como oferece novas oportunidades de emprego e renda. Em nível de País ou de região, a sustentabilidade é fruto de políticas púbicas condizentes e de ação governamental eficaz [5].

CAPÍTULO 02 - LEGISLAÇÃO AMBIENTAL CORRELATA ÀS BARRAGENS A atual legislação ambiental brasileira é considerada como uma das mais completas em termos mundiais, capitaneada pela Constituição Federal de 1988 e integrada por leis, decretos, normas e resoluções que disciplinam o uso de bens ambientais e as atividades que podem interferir com estes bens e que criam instrumentos de defesa do meio ambiente. As diversas fases de inventário, viabilidade, construção e operação de barragens devem atender a vários diplomas legais relacionados com o meio ambiente.

- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: A Constituição Federal dedica um capítulo inteiro (Título VIII, Capítulo VI, art. 225) ao meio ambiente, o qual considera ser um direito de todos o meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações. - Legislação ambiental de escopo genérico:

Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 1981): institui a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, que tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida; inclui, entre vários instrumentos, a avaliação de impactos ambientais; prevê o licenciamento ambiental para a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental; introduz o princípio da responsabilidade objetiva, mediante o qual o poluidor é obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou a reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

Resolução n° 01, de 1986, do Conama: define impacto ambiental e estipula o rol de atividades modificadoras do meio ambiente, entre elas as obras de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, cujo licenciamento depende de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA; especifica o conteúdo mínimo do EIA e do RIMA; prevê a realização de audiência pública sobre o RIMA.

Lei de crimes ambientais (Lei nº 9.605, de 1998): representa a reunião, em um único diploma legal, das várias sanções administrativas e penais anteriormente dispersas

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 5

em várias leis, e revê sanções, de forma a estabelecer uma relação mais justa entre a gravidade da infração e a pena.

Recomenda-se a consulta da síntese da legislação ambiental de interesse do setor elétrico – LAISE (nível federal) em todas as fases dos empreendimentos de geração e transmissão; essa síntese é revisada toda vez que são promulgadas novas leis (complementares, ordinárias e delegadas), emendas à Constituição, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções da área ambiental relacionadas ao setor elétrico [6].

CAPÍTULO 03 – POLÍTICA AMBIENTAL DO GRUPO ELETROBRÁS: Estão transcritos abaixo os sete princípios que atualmente sintetizam a Política Ambiental do Grupo Eletrobrás, estabelecidas no âmbito do COMAGE (disponível no site da Eletrobrás):

1. Integrar a dimensão socioambiental aos planos, projetos, processos e atividades das empresas do Grupo Eletrobrás;

2. Buscar a interação com outros setores e instituições na implementação de planos e ações socioambientais que contribuam para o desenvolvimento sustentável local e regional;

3. Promover relacionamento com os diversos segmentos da sociedade envolvidos nas etapas de planejamento, implantação e operação dos empreendimentos de energia elétrica;

4. Contribuir para que a operação e a expansão do parque gerador do Grupo Eletrobrás utilizem os recursos energéticos do País considerando as potencialidades e as especificidades locais e regionais e atendam aos princípios do desenvolvimento sustentável, e promover a utilização do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) estabelecido pelo Protocolo de Quioto;

5. Apoiar programas de conservação de energia e de eficiência energética como estratégia para a racionalização do uso dos recursos naturais e redução dos impactos socioambientais;

6. Apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico aplicado a questões socioambientais relacionadas à implantação e à operação dos empreendimentos de energia elétrica;

7. Incentivar a implementação e o aperfeiçoamento contínuo de sistemas de gestão ambiental integrados aos demais sistemas de gestão empresarial.

Assim, hoje todo o Grupo Eletrobrás possui instituída a sua política ambiental, sendo que cada empresa adequou à sua realidade os princípios que devem nortear os estudos e as ações em seus empreendimentos.

CAPÍTULO 04 - PRINCIPAIS CONSIDERAÇÕES GERAIS: 4.1. INTRODUÇÃO: Nesse capítulo iremos apresentar as principais considerações gerais de alguns tópicos referentes a diversos assuntos, não necessariamente itemizados na mesma

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 6

ordem de importância ou que estejam relacionados entre si, incluindo: (a) principais requisitos de hidrelétricas ambientalmente sustentáveis; (b) debates sobre a construção de barragens e as diretrizes do Comitê Mundial de Barragens; (c) compensação financeira; (d) sistema integrado de gestão ambiental; (e) principais questões socioambientais e o Plano Decenal (2006/2015). 4.2. ALGUNS TÓPICOS SOBRE OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DE HIDRELÉTRICAS (GRANDES BARRAGENS): A energia elétrica de origem hidráulica está entre as mais utilizadas em todo o mundo. Usinas hidrelétricas são, atualmente, a segunda maior fonte de geração de energia elétrica, representando cerca de 20% de toda a eletricidade gerada no Planeta [7]. Como todas as atividades econômicas, a implantação de aproveitamentos hidrelétricos provoca inúmeras alterações sociais, econômicas e ambientais nas áreas onde são instalados. Contudo, se antecipados e considerados desde as fases de inventário e de viabilidade, tais alterações podem ser minimizadas, tratadas, mitigadas e adequadamente compensadas [7]. Qualquer que seja a finalidade proposta, as barragens foram concebidas como instrumentos de desenvolvimento econômico e social e fazem parte de mecanismos de gerenciamento dos recursos hídricos, devendo, desta forma, ser consideradas nos modelos de desenvolvimento sustentável mundial, nacional e local [8]. Os principais problemas associados com as grandes barragens estão relacionados com a transformação física dos rios, com os impactos sobre os ecossistemas e às conseqüências sociais decorrentes da construção e da alteração do espaço físico [8]. O conceito de barragens ou hidrelétricas ambientalmente sustentáveis foi proposto primeiramente por Goodland [9] e posteriormente por [10] como aquelas que tenham um grande tempo de vida, de preferência centenas de anos, baixos custos sociais e ambientais e que estes não aumentem com o tempo, principalmente para as gerações futuras, principalmente no que se refere às mudanças climáticas. Os principais requisitos para uma barragem ser considerada sustentável encontram-se apresentados abaixo. Entretanto, a sustentabilidade não é um argumento para a contínua produção de energia elétrica. Goodland [9] argumenta que se uma pequena parcela das vendas de energia forem destinadas a atender as necessidades sociais e ambientais e isto assegurará sua aceitação [8]. Requisitos para uma barragem sustentável [9]:

Ter um reduzido número de pessoas afetadas, principalmente que necessitem de reassentamento involuntário.

Não ter sua vida útil reduzida devido a problemas de sedimentação no reservatório. Não haja declínio na produção pesqueira e na sua contribuição para nutrição da

população. Não reduza a diversidade genética de espécies como conseqüência do projeto e

não provoque ou contribua para extinções de espécies. Os ganhos com a geração de energia devem superar as perdas na produção

agrícola e terras de qualidade equivalentes ou melhores devem ser providenciadas

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 7

para os atingidos. A qualidade da água deve se manter em níveis aceitáveis.

As alterações no ciclo hidrológico a jusante não deve comprometer os outros usos da água pela população, nem os ecossistemas, principalmente as zonas úmidas

especiais. As barragens devem ter integração regional e evitar perdas culturais e estéticas. A produção de gases de efeito estufa não deve exceder a de uma termelétrica

equivalente. 4.3. DEBATES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS: Nos últimos anos, embora aparentemente houvesse um extenso debate sobre as questões relacionadas com as grandes barragens, na realidade a maioria dos grupos de discussão apenas reiterava posturas pré-determinadas (Fundo Mundial para Natureza - WWF, s/data) [8]. Assim, pouco progresso se obteve a respeito do tema com os debates que se desenvolviam, enquanto as construções das barragens continuavam da mesma maneira; algumas causas identificadas para a situação existente foram [8]: dados atualizados sobre grandes barragens são ainda escassos [8]. Antes da publicação da World Register of Dams (ICOLD, 1998), muitas das análises eram baseadas em dados com mais de 10 anos. As publicações sempre deram grande destaque à hidroeletricidade, mas não às barragens “per se”; polarização do debate (posições pré-determinadas de cada lado: opositores e defensores); o debate seguiu a estrutura Norte-Sul; países do Sul consideram que necessitam de mais energia e que as hidrelétricas significam um incremento na sua produção doméstica de energia; do outro lado, as vozes que mais se opõem às grandes barragens vêm do Norte, como parceiros do Sul [8]. A partir dos conflitos estabelecidos, as partes interessadas e, especialmente os organismos financiadores e organizações ambientalistas deram inicio aos debates mais integrados e com maior nível de imparcialidade, que finalmente redundaram na formação da Comissão Mundial de Barragens – CMB, em 1998, instituída pelo Banco Mundial e pela IUCN [8]. 4.4. A PROPOSTA DA COMISSÃO MUNDIAL DE BARRAGENS: A Comissão Mundial de Barragens teve um caráter de autonomia e participação eqüitativa de representantes dos grupos de todas as pessoas envolvidas no processo (“stakeholders”) [8]. Os resultados da Comissão Mundial de Barragens foram apresentados em seu relatório final “Dams and Development: A New Framework for Decision-Making” (WCD, 2000) [11], cujas recomendações subsidiam a tomada de decisão de todas as fases do planejamento de recursos hídricos e energia e o desenvolvimento de um projeto hidrelétrico [8]. Prioridades Estratégicas definidas pela CMB [11]: Prioridades Estratégicas Objetivos

01 Conquista da aceitação pública. 02 Avaliação abrangente das opções. 03 Aproveitamento das barragens existentes. 04 Preservação de rios e modos de subsistência.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 8

05 Reconhecimento dos direitos adquiridos e compartilhamento de benefícios.

06 Garantia de cumprimento dos acordos e compromissos prévios.

07 Compartilhamento de rios para a paz, desenvolvimento e segurança.

Os cinco Estágios e as decisões associadas (ver abaixo) fornecem uma estrutura dentro da qual os tomadores de decisão e os grupos de “stakeholders” possam ter assegurado o comprometimento dos proponentes do projeto com acordos e compromissos assumidos, mas precisam ser interpretados no contexto do planejamento de cada país [8]. Os critérios estão apresentados na forma de uma “lista” para cada estágio decisório e pretendem ser um mecanismo claro e aberto para se determinar se as recomendações da CMB estão sendo seguidas e se o processo pode seguir para a próxima etapa [8]. Apresenta-se abaixo uma correlação entre os estágios propostos pela CMB [11] e o processo de planejamento, construção e operação de hidrelétricas no Brasil, tanto no que se refere aos procedimentos do setor elétrico, quanto à legislação e normatização ambiental e para o uso dos recursos hídricos – conforme apresentado por Ghilardi Jr. [8]. Relação entre os estágios da CMB e as etapas de planejamento, construção e operação utilizadas pelo setor elétrico brasileiro [8].

Estágios da CMB Etapas e Fases do setor elétrico para hidroelétricas

Marcos da legislação ambiental e recursos hídricos

Avaliação das necessidades.

Planos de Expansão (curto, médio e longo prazos).

Plano de Recursos Hídricos (elaboração); Zoneamento Ecológico Econômico (elaboração).

Selecionando alternativas.

Plano de Expansão Decenal; Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas.

Plano de Recursos Hídricos (aprovação); Zoneamento Ecológico Econômico (aprovação).

Estudos exploratórios. Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas; Estudos de Viabilidade de Projeto.

Outorga pelo uso da água; EIA/RIMA; Licença Prévia.

Preparação do projeto. Estudos de Viabilidade do Projeto; Projeto Básico.

Projeto Básico Ambiental (programas ambientais); Licença de Instalação

Implementação do projeto.

Projeto Executivo Construção.

Licença de Operação.

Operação do projeto. Operação da usina. Renovações da Licença de Operação; Cobrança pelo uso da água.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 9

Na seção - Sugestões para melhorias dos projetos de barragens - são apresentadas os principais resultados do trabalho de Ghilard Jr. [8] da comparação qualitativa e quantitativamente às normas legais ou instruções normativas aplicadas no planejamento de grandes barragens hidrelétricas no Brasil com o padrão estabelecido pela CMB (2000), bem como propostas de aperfeiçoamento dos projetos de barragens em base as conclusões do trabalho de Ghilard Jr. [8].

4.5. RECURSOS ORIUNDOS DA COMPENSAÇÃO FINANCEIRA (VER SITE INTERNET ANEEL): A Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos para fins de Geração de Energia Elétrica é um percentual que as concessionárias e empresas autorizadas a produzir energia por geração hidrelétrica pagam pela utilização de recursos hídricos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) gerencia a arrecadação e a distribuição dos recursos entre os beneficiários: Estados, Municípios e órgãos da administração direta da União. Conforme estabelecido na Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, com modificações dadas pelas Leis nº 9.433/97, nº 9.984/00 e nº 9.993/00, são destinados 45% dos recursos aos Municípios atingidos pelos reservatórios das Usinas Hidroelétricas (UHE´s), enquanto que os Estados têm direito a outros 45%. A União fica com 10% do total. Geradoras caracterizadas como Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH´s), são dispensadas do pagamento da Compensação Financeira. As concessionárias pagam 6,75% do valor da energia produzida a título de Compensação Financeira (CF). O total a ser pago é calculado segundo uma fórmula padrão: CF = 6,75% x energia gerada no mês x Tarifa Atualizada de Referência (TAR). Para o ano de 2007, a TAR foi definida em R$ 57,63/MWh (Resolução Homologatória nº 404, de 12 de dezembro de 2006). O percentual da CF que cabe à União é dividido entre o Ministério de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal (3%) - MMA; o Ministério de Minas e Energia (3%) e para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (4%), administrado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O percentual de 0,75% é repassado ao MMA para a aplicação na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O site da ANEEL informa os valores totais pagos pelo setor elétrico brasileiro referentes a compensação financeira desde 1995-2006 (totais dos Estados) e dos royalties pagos por Itaipu, com um acumulado até dezembro/2006 de oito bilhões de reais pagos a 22 Estados, ao Distrito Federal e a cerca de 650 Municípios. Esses recursos se bem administrados pelas prefeituras, se tornam as principais fontes de renda, fazendo de suas regiões oásis de desenvolvimento na melhoria da qualidade de vida de seus habitantes em projetos de: ensino, saúde, infra-estrutura, entre outras. 4.6. SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO AMBIENTAL: É um instrumento organizacional que possibilita às instituições alocação de recursos, definição e responsabilidades, bem como a avaliação contínua de práticas,

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 10

procedimentos e processos, buscando a melhoria permanente do seu desempenho ambiental. A gestão ambiental integra o sistema de gestão global de uma organização, que inclui, entre outros, estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para implementar e manter uma política ambiental. Em conjunto com a implantação de um sistema integrado de gestão ambiental, as empresas têm adotado também as normas NBR ISO 14001 – Gestão Ambiental, que foram inicialmente elaboradas visando o “manejo ambiental”, que significa “o que a organização faz para minimizar os efeitos nocivos ao ambiente causados pelas suas atividades”. Assim sendo, essas normas fomentam a prevenção de processos de impactos negativos sobre o meio ambiente, uma vez que orientam a organização quanto à sua estrutura, forma de operação e de levantamento, armazenamento, recuperação e disponibilização de dados e resultados (sempre atentando para as necessidades futuras e imediatas de mercado e, conseqüentemente, a satisfação do cliente), entre outras orientações, inserindo a organização no contexto ambiental. A norma NBR ISO 14001 orienta a busca de certificação e registro do Sistema de Gestão Ambiental de uma organização por meio de empresa certificadora. Há de se comentar que as empresas do Grupo Eletrobrás estão trabalhando na construção, desenvolvimento e aprimoramento de indicadores de gestão ambiental com a finalidade de se conhecer as variações de valores ou estados de determinada variável (por exemplo, grau de atendimento às condicionantes das licenças ambientais), cujas oscilações temporais possam sinalizar aspectos fundamentais ou prioritários no processo de desenvolvimento, particularmente em relação às variáveis que afetam a sustentabilidade dessas dinâmicas. Deve-se destacar também que a Eletrobrás (e as demais empresas) está em fase de desenvolvimento e aprimoramento de indicadores ambientais, sociais e econômicos que são critérios de avaliação do desempenho empresarial do setor. 4.7. OS EMPREENDIMENTOS PREVISTOS NO PLANO DECENAL (2006/2015) E AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS (SITE INTERNET: MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA): Os aspectos socioambientais mais significativos associados ao Plano de Expansão são descritos a seguir: (a) a relação média “área alagada por potência instalada” para as usinas planejadas tem-se 0,27 km2/MW, apontando para uma tendência de um maior número de usinas a fio d´água; (b) dos projetos hidrelétricos previstos: 25% interferem diretamente sobre unidades de conservação e 33% interferem em áreas de Terras Indígenas; (c) estimativas de remanejamento da população: 23.800 pessoas (áreas urbanas) e 49.500 (áreas rurais)1; (d) geração de empregos diretos: 100.000 (projetos de geração e transmissão). Vale ressaltar que os projetos de transmissão permitirão a integração dos sistemas isolados da região Norte ao Sistema Interligado Nacional e contribuirão para a redução das emissões de CO2 do setor elétrico no País como um todo, por possibilitarem a substituição de geração termoelétrica local a óleo combustível ou

1 Essas estimativas se referem a um pouco mais de 50% dos empreendimentos previstos no Plano Decenal (2006/2015) visto que avaliações mais exatas serão conhecidas no 2º semestre/2007.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 11

diesel por energia proveniente de outras regiões, onde a base é predominantemente hídrica. A título de comentário, Palhano & Nuti [12] alertam sobre a insuficiência de critérios definidores de impactos ambientais em linhas de transmissão de energia elétrica (e recomendações quanto à necessidade de reflexão sobre esses impactos), visto que as barragens para geração de energia elétrica somente irão cumprir sua missão apenas após a instalação de seus sistemas de transmissão.

CAPITULO 05 - CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES: Para um melhor encadeamento das idéias apresentadas nesse capítulo, iremos dividi-lo, em três sub-capítulos, a saber: 5.1. introdução; 5.2. principais desafios do setor elétrico brasileiro na atualidade e as grandes barragens; 5.3. sugestões. 5.1. INTRODUÇÃO:

O considerável potencial hidroelétrico existente nas diversas bacias hidrográficas do território nacional é uma fonte permanente e renovável para geração de energia elétrica, constituindo uma importante riqueza da Nação brasileira. A energia fornecida pelas grandes hidrelétricas constitui importante alavanca do desenvolvimento do País, proporcionada pela auto-suficiência para a produção de energia elétrica e pelos custos baixos de geração, traduzindo-se em tarifas competitivas e em economia de divisas [13].

As usinas hidrelétricas são partes importantes do sistema interligado nacional, composto por uma ampla rede de transmissão que integra bacias hidrográficas, maximizando a eficiência desse conjunto de usinas e possibilitando a distribuição da hidroeletricidade em todas as partes de maior densidade populacional do país. Os benefícios da geração hidrelétrica são então espalhados por boa parte do território brasileiro. Assim, nos últimos 40 anos, o índice de atendimento da população tem crescido e, nesse processo, a possibilidade de contar com a participação significativa de fonte hídrica na geração de energia tem sido fator importante para a modicidade tarifária, fundamental para a parcela mais pobre da população. Assim, é inegável que a eletricidade produzida pelas grandes hidrelétricas brasileiras tem desenvolvido o País e contribuído para a redução da pobreza [13].

Não se podem ignorar os impactos bastante significativos causados por alguns empreendimentos hidrelétricos, tanto em termos da sustentabilidade dos ecossistemas quanto da sustentabilidade social. Entretanto, vale lembrar que grande parte das usinas hidrelétricas hoje em operação foi planejada e construída não só sob contexto político-institucional como também sob paradigma de desenvolvimento bastante diversos dos vigentes no momento atual [13].

Deve ser observado que, nos dias de hoje, o processo decisório que conduz à implantação dos projetos hidrelétricos no País apresenta significativa evolução, tanto no que tange a mecanismos de participação e transparência, quanto à preocupação com a distribuição de custos e benefícios. Além disso, a crescente preocupação da sociedade brasileira com a questão ambiental levou à criação de um arcabouço legal bastante rigoroso, com o objetivo de garantir a sustentabilidade social e ambiental. Tal arcabouço estende-se à fiscalização e à defesa do meio ambiente e das

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 12

minorias por meio de procuradoria especializada, sendo atualmente o Ministério Público Federal ator relevante no processo de implantação dos novos projetos [13].

A apresentação no II Plano Diretor de Meio Ambiente (1991) dos princípios de viabilidade socioambiental, inserção regional e abertura do processo decisório nortearam a explicitação de diretrizes para a implantação de usinas hidrelétricas e os manuais que detalham metodologias e procedimentos que integram os aspectos de engenharia e meio ambiente. Foram também feitos esforços com a finalidade de incorporar aos custos das hidrelétricas, principalmente aqueles relacionados aos aspectos socioambientais, desde as primeiras estimativas elaboradas nos estudos de inventário. Nas etapas subseqüentes de desenvolvimento de um projeto hidrelétrico, ou seja, viabilidade, projeto básico e projeto executivo, tais custos vão sendo cada vez mais detalhados, permitindo a consideração mais precisa dos custos de compensação e mitigação ambiental [13].

Os conteúdos destes documentos setoriais são compatíveis com as diretrizes apresentadas no Relatório da Comissão Mundial de Barragens (2000) [11].

Há de se comentar que o setor elétrico brasileiro hoje vive momentos diferentes daqueles experimentados em passado recente, sendo que hoje em dia predomina um novo contexto empresarial no tocante às questões socioambientais, pautado nos eixos: a) técnico (maior ênfase nos aspectos socioculturais, sem preterir os temas bióticos); b) político (ampliação na interlocução com os atores sociais e políticos); c) estratégico (centralidade das questões ambientais como determinantes da viabilidade de empreendimentos; d) institucional (internalização das questões ambientais nos diversos níveis hierárquicos das empresas, dada a sua relevância na execução dos projetos) [14].

Independente do seu tamanho, as novas hidrelétricas estão sendo planejadas e construídas com a crescente incorporação das lições aprendidas no passado, como por exemplo, a construção da AHE Dardanelos pela Eletronorte [15].

5.2. PRINCIPAIS QUESTÕES E DESAFIOS A SEREM CONSIDERADOS:

Principais questões da atualidade:

Enumeramos algumas questões (entre outras não menos importantes) para serem refletidas e debatidas, cujas considerações poderão servir de alguma forma para ajudar os empreendedores, os órgãos de licenciamento ambiental e a sociedade como um todo, na busca de um maior entendimento para a adoção de ações preventivas e minimizadoras na implantação de empreendimentos de hidroeletricidade. As questões são as seguintes: a) interferência com unidades de conservação; b) conservação da biodiversidade; c) competências para o licenciamento ambiental; d) a qualidade dos estudos de impacto ambiental (EIA); e) o processo do licenciamento ambiental; f) comunidades indígenas; g) remanejamentos populacionais; h) emissões de gases de efeito estufa em hidrelétricas (GEE); i) vazões ambientais.

a) Interferência com Unidades de Conservação (UC’s):

Na elaboração dos estudos de impacto ambiental (fase de planejamento), deve-se ter o cuidado de se efetuar o levantamento minucioso de todas as áreas de

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 13

Unidades de Conservação já existentes, e a obtenção de informações junto aos órgãos competentes de licenciamento ambiental sobre a intenção dos mesmos em criar novas unidades de conservação nas proximidades do empreendimento projetado. Caso isso não seja feito na fase de planejamento, o empreendedor corre o risco de embargo da obra nas fases de construção e operação.

A Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei nº 9.985, de 2000) que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Há de se comentar que a referida lei definiu percentual mínimo de compensação ambiental, mas não fixou percentual máximo, o que às vezes dificulta o entendimento entre os empreendedores e os órgãos de licenciamento ambiental.

O Código Florestal (Lei nº 4.771, de 1965) define entre outras coisas, as Áreas de Preservação Permanente (APP`s), que protegem a vegetação que margeia lagos e rios (que são tanto mais largas quanto mais largos os cursos d’água), mas prevê a possibilidade de supressão da vegetação nos casos de utilidade pública ou interesse social. A atual definição de APP dada pelo Código Florestal (art. 1º, § 2º, II) é a seguinte: área coberta ou não por vegetação nativa, “com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.

Outras Resoluções do Conama: a) nº 302/2002, que ”dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno”; b) nº 369/2006, que “dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP“. O instrumento da compensação ambiental está contido no art. 36 da Lei nº 9985, de 18 julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, e foi regulamentado pelo Decreto nº 4340, de 22 de agosto 2002, alterado pelo Decreto nº 5.566/05. A compensação ambiental é um mecanismo financeiro de compensação pelos efeitos de impactos não mitigáveis ocorridos quando da implantação de empreendimentos e identificados no processo de licenciamento ambiental. Estes recursos são destinados a unidades de conservação para a consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Informações sobre recursos da compensação ambiental (ver abaixo) foram obtidas no site do MMA (IBAMA) – que se referem apenas daqueles empreendimentos licenciados pelo IBAMA – nível federal (recursos da ordem de 126 milhões de reais) – demonstra que quase metade desse valor (61 milhões) é oriunda de hidrelétricas e cerca de 80% do total dos recursos provem do setor elétrico; atualmente cerca de 10 milhões de hectares recebem apoio em atividades de preservação, em conjunto com os organismos governamentais [13]. Valores de compensação ambiental (IBAMA – nível federal)*:

Tipologia Valor da compensação (R$) % Radiativos 1.988.250,00 1,6

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 14

Outros 2.008.836,00 1,6 Portos 2.113.100,00 1,7 Dragagem 2.249.941,00 1,8 Rodovias 5.823.625,00 4,6 Ferrovias 6.824.895,00 5,4 Térmicas 10.000.000,00 7,9 Linhas de Transmissão 33.839.871,00 26,9 Hidrelétricas 61.063.574,00 48,5 TOTAL 125.912.092,00 100,00 * Os dados se referem apenas aos processos licenciados pelo IBAMA, de maneira que os empreendimentos licenciados nos Estados não estão aqui contemplados; ao que parece nem todos os valores informados foram pagos, mas já foram negociados, pois alguns deles estão vinculados a uma Licença Prévia; a página do IBAMA não informa quando essas informações foram atualizadas. b) Conservação da Biodiversidade: No documento Biodiversity Impacts of Large Dams (2001) [16], são apresentadas algumas das principais recomendações e cuidados que devem ser tomados para a manutenção da biodiversidade em áreas sob influência de barragens: a) evitar a coincidência de impactos ambientais com áreas em biodiversidade (hotspots) e em áreas de comprovadas migrações de animais; b) manter vazões ambientais compatíveis com as necessidades da biota aquática; c) analisar os efeitos cumulativos de barragens; d) propor um sistema de gestão ambiental que contemple o uso racional e um plano de ordenamento do uso do solo no entorno de reservatórios; e) incorporar a variável socioambiental nas fases iniciais do projeto; f) criação de áreas protegidas no entorno dos reservatórios e em áreas selecionadas, para aumentar a eficiência das barragens e a conservação da biodiversidade; g) investir em pesquisas para aumentar o conhecimento científico; h) manter um sistema contínuo de monitoramento ambiental.

Comentaremos a seguir as ações desenvolvidas pela Eletronorte para manutenção biodiversidade em seus empreendimentos hidroelétricos [14]:

- Projeto de conservação de manejo da fauna vertebrada na UHE Tucuruí (Convênio Eletronorte e Museu Paraense Emilio Goeldi - desde 2004) – constitui um estudo pioneiro que envolve várias áreas temáticas de estudos em ecologia aplicada, como tópicos de biologia da conservação, teoria de biogeografia de ilhas, manejo de fauna silvestre, recuperação de áreas degradadas, manejo de áreas protegidas, dentre outros;

- Implantação do Mosaico da Unidade de Conservação do Lago de Tucuruí (Convênio Eletronorte, Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e o Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia – desde 2004) - é o primeiro em implantação no País com recursos de compensação ambiental. Ele é formado pela Área de Proteção Ambiental – APA do Lago de Tucuruí (568.667 hectares) e pelas Reservas de Desenvolvimento Sustentável - RDS Alcobaça (29.049 hectares) e Pucuruí-Ararão (36.128 hectares). As RDS, localizadas na margem esquerda do reservatório, são conjuntos de ilhas do lago habitadas por populações tradicionais de pescadores e pequenos agricultores. A APA abrange o território dos sete municípios localizados no entorno do reservatório de Tucuruí;

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 15

- O Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas, unidade estadual de conservação de cerca de 24 mil hectares localizada no município de São Geraldo do Araguaia, no Sul do Pará, destaca-se pela diversidade de fauna e flora e manifestações culturais. Desde 1987, pesquisadores identificaram mais de 30 cavernas e cerca de 140 cachoeiras na área do parque e circunvizinhanças, que integram a Área de Proteção Ambiental – APA de São Geraldo do Araguaia. A região é conhecida pelos sítios arqueológicos e gravuras de martírios. No local, já foram descritos e identificados 113 sítios e 5.740 gravuras e pinturas rupestres. É uma das principais unidades de conservação estaduais no Pará, devido ao seu tamanho e representatividade em biodiversidade;

- A Reserva Biológica - REBIO do Uatumã com mais de 900 mil hectares foi criada pelo IBAMA, em 1990, para compensar o impacto ambiental causado com a implantação da Usina Hidrelétrica de Balbina, que inundou uma área de cerca de 300 mil hectares. A área da Reserva encontra-se em excelente estado de conservação, sendo considerada uma das prioritárias para a manutenção da diversidade biológica da Amazônia e faz parte do Corredor Ecológico da Amazônia Central, o maior conjunto de áreas protegidas do planeta. A Eletronorte elaborou o Plano de Manejo da Reserva e sua subsidiária, Manaus Energia S.A., que é responsável pela operação de Balbina, está investindo recursos financeiros e participando da implantação e manutenção da mesma, destinados a atividades de proteção, administração, educação ambiental e pesquisa. As atividades do Plano de Manejo estão sendo executadas em parceria entre a Manaus Energia, IBAMA e Associação Comunidade Waimiri Atroari;

- Compensação ambiental UHE Samuel: criada em 1989, pelo Governo do Estado de Rondônia, a Estação Ecológica de Samuel, com cerca de 70 mil hectares, tem como objetivo a proteção da área representativa dos ecossistemas naturais da Bacia do Rio Jamari. Esta unidade de conservação foi criada como compensação pela formação do reservatório da UHE Samuel, de 56 mil hectares. Seu objetivo é a preservação da biodiversidade, a realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia e a educação conservacionista e está sendo administrada em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia.

Recentemente, a Eletronorte publicou um livro contendo todo os estudos e as ações realizadas na região da Ilha do Germoplasma – UHE Tucuruí – uma reserva da biodiversidade para o futuro; esse livro sintetiza os estudos realizados (1980 a 2004) em conjunto com o INPA e diversas instituições de pesquisa florestal e botânica, dos resgates do material genético das principais espécies florestais existentes na área de inundação do reservatório e pelo plantio das mesmas em um local para ser conservado para as gerações futuras. Esse local foi escolhido como a “Ilha de Germoplasma” onde centenas de espécies florestais estão sendo plantadas e mantidas [17]. c) Competências para o Licenciamento Ambiental:

Existem atualmente algumas dificuldades quanto à definição da competência para o licenciamento ambiental de obras que se situam em rios que nascem em outros estados da Federação, sendo que ainda não se tem uma clareza se seriam obras estaduais (competência dos órgãos estaduais de licenciamento ambiental) ou seriam de competência do Ibama, mesmo daqueles empreendimentos que se situem totalmente em apenas um Estado da Federação.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 16

Outra questão diz respeito às interferências indiretas das obras em unidades de conservação da esfera federal e de terras indígenas: a quem caberia licenciar essas obras? Ao Ibama ou aos órgãos estaduais de licenciamento ambiental?

Do trabalho publicado por Araújo (2002) [18], extrai-se que: a) todos os empreendimentos potencialmente capazes de causar degradação ambiental em tese sujeitam-se a licenciamento; b) o licenciamento deve ser, em regra, efetivado perante o órgão seccional (estadual) do Sisnama; c) nos casos de empreendimentos com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, o Ibama atua como licenciador, no lugar do órgão seccional.

O artigo 4º da Resolução CONAMA 237/1997 (nos incisos I a V) define os empreendimentos cujo impacto é considerado regional ou nacional para efeitos de licenciamento ambiental. Quando o texto da referida resolução define que compete ao IBAMA o licenciamento de empreendimentos cujo impacto ambiental direto ultrapasse os limites territoriais de um ou mais Estados, entra em choque com a metodologia tradicionalmente usada para avaliação de impacto ambiental, que pondera não apenas o impacto direto potencialmente causado por um empreendimento, mas também o indireto. A Resolução CONAMA 001/86 determina que sejam analisados nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) todos “os impactos positivos e negativos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e em longo prazo, temporário e permanente”. É difícil imaginar como, antes de uma avaliação técnica consistente, será definido qual é o impacto direto potencialmente gerado por determinado empreendimento, para que se decida se ele deve ser licenciado a nível federal, estadual ou mesmo, por força da própria Resolução CONAMA 237/1997, municipal [18].

Como não fica claro no texto da Resolução CONAMA 237/1997 quem tem o poder de solucionar o impasse nas decisões concretas sobre o que é ou não, impacto ambiental local, pode-se afirmar, sem qualquer exagero, que o CONAMA criou uma grande confusão [18]. Diante da confusão gerada, têm-se notícias que algumas consultorias jurídicas estão aconselhando os empreendedores a submeterem seus empreendimentos a dois ou três licenciamentos (perante ao órgão federal, estadual e municipal) [18].

O setor elétrico vem desenvolvendo ações pró-ativas no sentido de buscar entendimentos junto aos órgãos de licenciamento ambiental (níveis: federal, estadual e municipal) com o intuito de identificar as competências de licenciamento para o atendimento às exigências e peculiaridades de cada empreendimento.

A título de ilustração, podemos citar o exemplo do processo de licenciamento ambiental conduzido pela Eletronorte (desde 2003) no Aproveitamento Hidroelétrico (AHE) Dardanelos no rio Aripuanã (Estado do Mato Grosso), onde todos os passos foram (e estão sendo) seguidos relativos às consultas aos órgãos de licenciamento ambiental (níveis federal e estadual), realização de audiências públicas, atendimento das condicionantes contidas nas licenças ambientais, monitoramento ambiental, entre outras ações inerentes ao processo [15].

d) A qualidade dos relatórios de Estudos de Impacto Ambiental:

A Resolução 237/1997 (Conama – 19/12/1997) no seu artigo 1º item III define o que sejam os Estudos Ambientais. Contudo, tem-se verificado que alguns relatórios de

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 17

Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e seus respectivos Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA) nem sempre condizem com a magnitude e a importância do empreendimento.

A maioria dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) não é suficientemente rigorosa para resguardar os grandes projetos de hidrelétricas das controvérsias. A maioria dos EIA’s dispensa muita energia em assuntos menos relevantes e pouca ou nenhuma energia nas poucas questões que são realmente importantes. Impactos negativos importantes são omitidos ou até diminuídos. Os proponentes da obra serão mais bem atendidos nos EIA’s se as avaliações forem feitas com independência, franqueza e honestidade [19].

Em alguns casos, o EIA ainda é realizado, para cumprir uma formalidade e não para subsidiar a tomada de decisão. Algumas empresas de consultoria elaboram estudos em série, sem maiores considerações sobre a realidade específica do empreedimento, com conteúdo supradimensionado e excessivamente descritivo, em alguns tópicos, e deficiente especialmente em relação à análise e ao prognóstico do impacto ambiental, objetivos maiores do próprio estudo. Outro fato, na maioria dos casos, é a inexistência de verdadeiras alternativas, ficando o EIA restrito à defesa de uma alternativa previamente escolhida. Essas distorções, com o amadurecimento da implantação do EIA no País têm diminuído [18]. No entanto, deve-se sempre ressaltar que a questão da qualidade do EIA é aspecto crucial para a sua eficiência enquanto instrumento de planejamento e de controle ambiental. Note-se que, mesmo para poderem exigir qualidade do estudo, os órgãos ambientais têm que possuir, ao menos, uma equipe técnica eficiente [18].

O setor elétrico brasileiro vem incorporando uma série de experiências relativas ao aperfeiçoamento na elaboração de seus relatórios de impacto ambiental, sendo que listamos alguns cuidados que devem ser tomados na redação dos mesmos: a) evitar informações repetitivas; b) apresentar clareza na redação; c) isenção e independência; d) analisar e disponibilizar todas as informações relativas às alternativas (opções) tanto locacionais como energéticas; e) delimitar e justificar as áreas de influência direta e indireta do empreendimento; f) obtenção de dados primários e secundários abrangendo todo o ciclo hidrológico; g) apresentação de planilhas dos custos referentes aos programas de mitigação, compensação e monitoramento ambiental e a definição de responsabilidades.

e) O processo do licenciamento ambiental:

A Resolução 237/1997 (Conama – 19/12/1997), no seu artigo 1º, apresenta as definições de licenciamento ambiental, licença ambiental e de estudos ambientais.

Todo o processo de licenciamento ambiental deve ter transparência, tanto do lado do empreendedor como do lado dos órgãos competentes de licenciamento ambiental e também de toda a sociedade envolvida.

Após tantos anos de experiência com licenciamento ambiental no País, outra crítica que pode ser feita é que não existem mecanismos para intervenção popular na tomada de decisão quanto à concessão da licença, exceto quando há exigência de EIA e a audiência pública é realizada. Mesmo nesses casos, pode-se afirmar que a audiência pública não tem sido capaz de garantir a efetiva participação da comunidade no processo de tomada de decisão [18]. São necessários novos

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 18

mecanismos de participação popular, que assegurem que as soluções adotadas para os empreendimentos sejam verdadeiramente compartilhadas. Isso é importante, até, para o controle ambiental do empreendimento após a sua implantação. A esse respeito, podem ser estudados caminhos como: a obrigatoriedade de realização de, no mínimo, uma audiência pública nos casos em que se demanda EIA; a instituição de audiências públicas intermediárias em situações mais complexas; a formação de grupos de assessoramento popular; a obrigatoriedade de audiências públicas quando da renovação das licenças, etc. [18].

As normas federais que regulam o licenciamento ambiental e o EIA, em sua maioria, estão em decretos e resoluções do CONAMA, não em lei. O conteúdo sobre os dois temas presente na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente é insuficiente e, hoje, colide parcialmente com as disposições trazidas pela Resolução CONAMA 237/97. Diante disso, segundo Araújo (2002) parece extremamente bem vinda a proposta de aprovação de nova uma lei federal regulando, de uma forma ampla, o licenciamento ambiental e o EIA [18].

Como relatado acima, enquanto não for aprovada a nova lei federal regulando de forma ampla o licenciamento ambiental e o EIA, sugere-se que a construção de qualquer obra deverá ser decidida com a participação de TODOS os envolvidos. Se isso realmente for cumprido, o processo do licenciamento ambiental será apenas um rito a ser seguido, pois TODOS os envolvidos estarão a cada momento sendo informados do decorrer das obras, e o processo será rápido, devido à legitimidade que TODOS estão a TODO o momento conferindo a ele.

Dentre as experiências do setor elétrico sobre esse assunto, podemos citar o exemplo do processo de licenciamento dos estudos ambientais conduzido pela Eletronorte (desde 2003) no Aproveitamento Hidroelétrico (AHE) Dardanelos no rio Aripuanã (Estado do Mato Grosso), onde todos os cuidados foram (e estão sendo) tomados desde o início das obras: a) reuniões com as comunidades localizadas nas áreas direta e indireta para discutir todas as questões envolvidas no empreendimento; b) complementação de estudos ambientais para subsidiar a elaboração do Projeto Básico Ambiental (PBA); c) a interação dos estudos e ações socioambientais entre a comunidade e o empreendedor se reflete na legitimidade do processo de licenciamento ambiental [14], [15].

f) Comunidades indígenas:

Tem-se verificado ultimamente, a evolução no relacionamento com as populações indígenas, seguindo as diretrizes estruturadas no II Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico (1991). Apesar das dificuldades nacionais para com esta sensível questão e seus rebatimentos no tratamento de interferências setoriais com áreas indígenas, o respeito à legislação de proteção às minorias étnicas e o desenvolvimento de programas de compensação e apoio a estas comunidades constitui importante vertente de trabalho. Pode-se destacar os Programas Waimiri Atroari e Parakanã, da Eletronorte [14], como exemplares, reconhecidos nacional e internacionalmente, programados para uma duração de 25 anos (já evidenciando a recuperação cultural, demográfica, social e econômica dos grupos, que na década de 80 encontravam-se na linha de extinção de sua etnia).

Os Programas Waimiri Atroari e Parakanã, financiados pela Eletronorte em parceria com a Funai foram pensados como medida de compensação dos impactos gerados

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 19

pela construção das Usinas Hidrelétricas de Balbina (rio Uatumã) e de Tucuruí (rio Tocantins), respectivamente [20].

- Área Indígena Waimiri Atroari: atualmente (2007) vivem da caça, pesca coleta de frutos e do cultivo de roças coletivas, onde plantam, principalmente, mandioca, banana, abacaxi e cana. Pertencem ao grupo lingüístico Karib, e sob a autodenominação de Kinja; como expressões culturais maiores, são os festejos tribais denominados “Maryba, onde se realizam rituais de iniciação dos meninos, constituem casamentos e fortalecem os laços políticos [14]”.

Segundo José Porfírio Fontenele de Carvalho (indigenista consultor da Eletronorte) na época em que foram feitos os primeiros contatos pelos brancos (1970) essa comunidade indígena possuía cerca de 3.000 índios, sendo que em 1985 essa população era de 374 índios; essa violenta redução foi devida aos seguintes fatores: (a) à revogação do Decreto 68.907/71 com diminuição da Terra Indígena em 526.800 hectares; (b) à desestruturação da comunidade Waimiri Atroari pela contração de doenças transmitidas pelos construtores da BR-174; (c) pelos impactos produzidos pela implantação do projeto Pitinga (mineração) onde ocorreu invasão das terras dos índios, desmatamentos para exploração mineral (cassiterita) e pela poluição das cabeceiras dos rios que compõem a bacia hidrográfica do rio Alalaú; (d) construção da hidrelétrica no rio Alalaú do Grupo Parapanema (mineração) [14].

O Programa Waimiri Atroari é um conjunto de ações indigenístas e ambientais voltadas à valorização cultural, melhoria da qualidade de vida e preparação dos Waimiri Atroari para se relacionarem de forma igualitária, esclarecida e autônoma com a sociedade envolvente. É composto por subprogramas que atuam nas áreas de: saúde, fiscalização e vigilância de suas terras, educação, documentação e resgate da memória cultural, meio ambiente e produção [14].

A seguir, apresenta-se um quadro comparativo das condições de vida dos Waimiri Atroari antes e depois de 1987, ano em que teve início o Programa Waimiri Atroari patrocinado pela Eletronorte [14].

Programa Waimiri Atroari (UHE Balbina) – Convênio Eletronorte/Funai.

Indicadores Antes de 1987 Situação atual (mar/2007)

População 374 1.169

Crescimento populacional

Redução de 20% ao ano Crescimento de 5,84% ao ano.

Produção Pequenas roças e dependência externa de alimentos

Grandes roças, e total independência alimentar.

Cultura Em processo de perda de valores culturais.

Resgate de todas as práticas culturais e da sua dignidade enquanto povo indígena.

Escolas Inexistente e todos desconheciam a 19 escolas (37% alfabetizados 29% em

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 20

escrita. processo de alfabetização e 34% semi-alfabetizado).

Saúde Epidemias de diversas doenças e sem atendimento médico-odontológico.

Nenhuma doença nos últimos 10 anos; 100% vacinados.

Terra Sem delimitação ou demarcação; invasão da mineradora; situação fundiária irregular.

Homologada, demarcada e sem nenhum invasor; fiscalização sistemática.

Fonte: José Porfírio Fontenele de Carvalho – Eletronorte (2007). A população Waimiri Atroari continua em crescimento e em desenvolvimento, vivendo segundo as suas tradições e sua cultura num território ambientalmente equilibrado e sem a presença de predadores ou invasores. As suas terras estão demarcadas, homologadas, registradas em cartório e totalmente legalizadas em nome da comunidade Waimiri Atroari [14]. - Área Indígena Parakanã: o Programa Parakanã (iniciado em 1987 por meio de um convênio Eletronorte/Funai) tem realizado ações de apoio ao povo Awaete-Parakanã, desenvolvendo ações de apoio à saúde, educação, proteção ambiental e fomento à produção, conseguindo fazer com que aquela comunidade indígena esteja também entre as que têm o melhor nível de vida no Brasil [14].

O Programa Parakanã tem como principal objetivo prestar assistência e apoio aos Awaete-Parakanã, buscando resgatar a independência perdida por ocasião do contato com a sociedade brasileira, ocorrida durante a construção da estrada transamazônica, na instalação de colonos nas suas terras tradicionais e mais tarde com a implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí [14].

Programa Parakanã (UHE Tucuruí) – Convênio Eletronorte/Funai.

Indicadores Antes de 1986 Situação atual (mar/2007)

População 247 702

Crescimento populacional

Tendência à redução 4,98% ao ano

Produção Dependência total dos alimentos fornecidos pela Funai

Grandes roças; total independência alimentar

Cultura Em processo de perda dos valores culturais

Resgate de todas as práticas culturais

Escolas Inexistentes e desconhecimento da escrita

8 escolas com 40% da população Parakanã, e grande parte da população em processo de alfabetização

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 21

Saúde Epidemias de sarampo, malária e gripe, hepatite B, subnutrição, diarréias crônicas, nenhum atendimento odontológico, falta de vacinação e qualquer controle sobre a saúde.

Nenhuma doença imunoprevenível nos últimos 12 meses, controle total de doenças endêmicas e respiratórias, boa nutrição; controle total da hepatite B. Vacinação 100% da população contra todas as doenças imunopreveníveis. Controle informatizado da saúde; programa de saúde bucal preventivo, curativo e corretivo.

Terra Demarcada com pendências de registros e regularização; invasores em processo de desintrusão

Demarcada, homologada. Sem nenhum invasor; fiscalização sistemática dos seus limites.

Fonte: José Porfírio Fontenele de Carvalho – Eletronorte (2007). Segundo Carvalho (2006) [21] hoje os programas Waimiri Atroari e Parakanã (que são ações indigenistas financiadas pela Eletronorte em parceria com a Funai) talvez possam servir de parâmetro para a elaboração de medidas mitigadoras de empreendimentos que atingem povos indígenas. Os resultados positivos alcançados por ambos os programas são prova dos avanços nas discussões em torno do tema, ao longo de tantos anos. g) remanejamento populacional:

Remanejamentos feitos com planejamento, participação e que proporcionam melhor qualidade de vida às pessoas afetadas são fatores que certamente contribuem para aumentar a aceitabilidade na construção de barragens. [22].

Para que as populações reassentadas se desenvolvam e que haja a redução da pobreza, a política de remanejamento deve assegurar que a melhoria na qualidade de vida seja alcançada imediatamente depois da aceitação dos termos e logo depois de se mudarem. Se o cronograma de remanejamento proposto atrasar o empobrecimento será inevitável [22]. Devem ser evitados anúncios prematuros e precipitados em uma dada região que se pretenda construir uma hidrelétrica, visto que apenas a notícia da construção de uma barragem poderá ocasionar sérios transtornos à população local, tais como: eventual estagnação da economia, queda dos valores venais dos imóveis, inquietude das pessoas entre outras causas [19].

O menor tempo gasto na melhoria de vida dos reassentados é essencial; as áreas escolhidas pelos reassentados (com as devidas melhorias já implantadas e em funcionamento) devem estar preparadas antes de recebê-los. O tempo gasto deve ser medido na pronta adoção das medidas consensadas entre as partes, não no cronograma da obra. As comunidades de reassentados deverão se mudar tão logo as suas novas instalações estejam prontas, não tendo que esperar necessariamente o enchimento do reservatório [22].

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 22

A compensação aos reassentados é algo que é dado como um equivalente por serviços, perdas ou algum tipo de desvantagem que venham a ter. Compensação em dinheiro raramente é a melhor opção. Existem fortes fundamentos e razões pela qual a compensação não funciona adequadamente e na prática nunca poderá funcionar satisfatoriamente [23], [24].

A melhor prática é que, no caso de remanejamento populacional, as pessoas a serem reassentadas possam ter a liberdade em consentir a realização do processo de remanejamento para se evitar o uso institucional. Tal prática garante aos reassentados o direito de não aceitação de acordos que lhes possam ser desfavoráveis [25].

Nuti & Garcia [26] em estudo recente (2005) sobre a análise do remanejamento populacional em empreendimentos hidroelétricos no Brasil, enfoca dados totalizadores sobre a população deslocada na última década e para os futuros empreendimentos a serem construídos até o ano de 2012 em usinas com potência superior a 100MW, bem como as modalidades de tratamento utilizadas.

No período 1992/2002 observou-se que o expressivo contingente populacional remanejado (cerca de 100.000 pessoas) deve-se, ao tamanho dos reservatórios e principalmente à localização geográfica de implantação destes empreendimentos, ou seja, em rios de grande porte e com grande concentração populacional, como, por exemplo, na Região Sul, onde está concentrada 43% da população atingida. Também se observa que alguns destes projetos tiveram longo tempo de maturação, em um período de poucos investimentos no setor (mesmo que suas datas de início de construção sejam mais recentes), de mudanças no marco regulatório e redefinições no formato de participação no investimento (privatizado ou misto na execução do projeto) [26].

Quanto às modalidades de remanejamento populacional, apesar dos problemas enfrentados no levantamento dos dados, as autoras (Mirian Nuti e Márcia Garcia) fizeram uma tentativa de agrupamento, para uma melhor visualização da distribuição de atendimento às famílias atingidas por cada modalidade. Foram destacados do universo principal alguns empreendimentos devido a maior disponibilidade de informações, a representatividade numérica e relevância do processo de negociação. O grupo de empreendimentos selecionados (Itá, Machadinho, Dona Francisca, Salto Caxias, Segredo, Lajeado e Manso) é responsável por cerca de 67% da população atingida no universo de empreendimentos pesquisados. Dentre as modalidades de remanejamento utilizadas no período e passíveis de agrupamento destacam-se: indenização, reassentamento urbano ou relocação, reassentamento rural, reassentamento em áreas remanescentes, cartas de crédito e outras formas. Esta última, por vezes, engloba um número considerável de famílias, mas por falta de informações detalhadas não puderam ser avaliadas nas categorias especificamente definidas [26].

Exemplos como os citados em Nuti & Garcia [26], podem ser considerados como referência para processos onde a participação social, o atendimento à legislação e a responsabilidade na gestão propiciaram o cumprimento do cronograma do projeto com sucesso nos programas ambientais e de remanejamento populacional.

Recentemente, a Eletronorte vem realizando ações socioambientais com as populações que foram remanejadas durante a fase de enchimento da UHE Tucuruí

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 23

(com a implantação de projetos voltados ao desenvolvimento local e regional) priorizando ações junto a segmentos sociais que sofreram maior influência da usina. Foram elaborados três planos para atendimento às demandas: a) Plano de Inserção Regional da UHE Tucuruí (PIRTUC); b) Plano de Inserção Regional do Trecho de Jusante da UHE Tucuruí (PIRJUS); c) Programa Social dos Expropriados da UHE Tucuruí (PROSET – atendimento a 2.344 famílias). Os dois primeiros planos têm duração de 20 anos [14].

Os principais eixos de atuação das ações socioambientais do PIRTUC, PIRJUS e PROSET podem ser resumidos como segue: a) educação; b) saúde; c) infra-estrutura; d) fortalecimento das instituições públicas; e) saneamento; f) fortalecimento econômico – agricultura familiar; g) ordenamento territorial (apoio na elaboração do Plano Diretor dos Municípios). Essas ações estão sendo realizadas pela Eletronorte (ouvidas as necessidades das populações consultadas) e também com a participação de parcerias com órgãos dos governos federal, estadual e dos municípios envolvidos [14].

Além dessas ações, a Eletronorte vem realizando desde 2003 o atendimento a famílias que foram afetadas na época da construção das Usinas Hidrelétricas de Tucuruí e Samuel (cadastradas no Movimento dos Atingidos de Barragens - MAB), por meio de um acordo institucional entre o Ministério de Minas e Energia (MME), a Eletronorte e o MAB. Na UHE Tucuruí a Eletronorte atende a 977 famílias cadastradas no MAB e na UHE Samuel a Eletronorte está na fase de elaboração do plano de trabalho e cadastramento das famílias do MAB para os municípios de Itapoã do Oeste e Jamari [14].

São desenvolvidos projetos coletivos voltados à economia econômico-financeira das famílias cadastradas, constituição e assistência técnica de cooperativas produtivas para o desenvolvimento de atividades de geração de renda, plantio de mudas frutíferas e madeira de lei (sistema agroflorestal); piscicultura; escola de fábrica (produção de biojóias, curso de empreendendorismo, e de corte e costura). Todas essas ações estão sendo realizadas com a celebração de parcerias com os governos federal, estadual e dos municípios [14].

Essas ações da Eletronorte têm propiciado a reintegração social das comunidades afetadas pelas UHE’s de Tucuruí e Samuel com a intenção de se corrigir distorções do passado e a promoção da inclusão social por meio de programas de produção com vistas à reabilitação dos grupos sociais com o intuito da promoção do desenvolvimento sustentável.

h) emissões de gases de efeito estufa em hidrelétricas:

Hoje já se sabe que a energia hidrelétrica não é uma fonte isenta de emissões de gases de efeito estufa. O Brasil, como participante ativo da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas e do Intergovernmental Pannel on Climate Change – IPCC vem acompanhando de perto as discussões e o desenvolvimento dos estudos sobre este assunto nesses fóruns internacionais [13].

O IPCC, organismo internacional responsável pela condução e validação de estudos e modelos sobre as mudanças climáticas, recentemente montou uma equipe composta por especialistas de todo o mundo, inclusive do Brasil, para definir a metodologia para a estimativa das emissões de reservatórios artificiais [13].

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 24

O setor elétrico brasileiro, dado que sua geração de energia elétrica se baseia majoritariamente em hidroeletricidade, vem investindo, desde 1992, em cooperação científica e tecnológica para a realização de pesquisas sobre mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa nos reservatórios de usinas hidrelétricas. Este trabalho vem sendo realizado em parceria com renomadas instituições científicas, com a promoção de reuniões e workshops internacionais para troca de experiências e divulgação dos resultados obtidos [13].

A publicação da Eletrobrás intitulada Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros (2000) apresenta os estudos efetuados em alguns reservatórios de geração de energia elétrica, os quais revelaram baixas concentrações de emissões de gases de efeito estufa [27].

Segundo Mesquita & Milazzo1 [28] em função dos trabalhos realizados sobre a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em reservatórios no Brasil e em outros países, sobretudo na última década, formou-se um banco de dados importante para a avaliação geral do fenômeno. Uma das principais conclusões dos estudos realizados até o momento mostrou que, em geral, as sinas hidroelétricas apresentaram menores taxas de emissão de GEE do que as usinas termelétricas com a mesma potência. Entretanto, devido às questões ainda não suficientemente estudadas, o processo de emissões de GEE por reservatórios de hidrelétricas não foi entendido em sua plenitude, sobretudo no que se refere às emissões naturais e à extrapolação de dados amostrais [28] [29].

De acordo com pesquisas recentes, existem hidrelétricas (Itaipu, Xingó, Segredo) que emitem muito pouco carbono em comparação com suas térmicas equivalentes; há hidrelétricas intermediárias, como Miranda, e hidrelétricas que emitem bem mais carbono, como, por exemplo, Três Marias e Samuel; é importante ressaltar que, para cada caso, ainda não se tem quantificado a matéria orgânica continuamente drenada da bacia a montante para se poder separá-la da biomassa afogada pelo reservatório [30].

Segundo Mesquita & Milazzo [28], o trabalho realizado no rio Xingu, na área do futuro reservatório do Complexo Hidroelétrico de Belo Monte, aponta para a estimativa de emissão de metano de 48 kg/km2 /dia, estando na mesma ordem de grandeza que os reservatórios de Xingó e de Miranda, estando abaixo das emissões de Tucuruí (109,36 kg/km2 /dia). As atuais emissões de CH4 pelo Rio Xingu são 9,65 mg m-2 d-1 na estação seca e 23,59 mg m-2 d-1 na estação chuvosa. As atuais emissões de gás carbônico pelo Rio Xingu ficam em um nível intermediário entre os resultados dos reservatórios, que tanto podem emitir como absorver este gás, na estação seca a média das emissões é -68,6 mg m-2 d-1, absorção do gás, e na estação chuvosa 6617,0 mg m-2 d-1 emissão do gás [31].

Devem-se levar em conta que cada reservatório estudado apresenta comportamento diferenciado em função de suas características, tais como: profundidade, tipo de ecossistema alagado, distribuição da biomassa submersa, tempo de residência, latitude, microclima, idade do reservatório e grau de ocupação antrópica da bacia de

1 O trabalho de Mesquita e Milazzo está sendo apresentado neste XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens e se encontra disponível na íntegra no CD Tema 99: Meio Ambiente.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 25

drenagem. A modelagem dos fluxos de carbono nos reservatórios é bastante complexa [13].

Entretanto, os estudos realizados permitem afirmar que as emissões estão relacionadas não somente com a decomposição do estoque preexistente de biomassa, mas também com o material orgânico proveniente da bacia de drenagem a montante do reservatório, resultante da ocupação antrópica dessa área, e pela matéria orgânica produzida no próprio reservatório [13].

Outra constatação refere-se à flutuação das emissões ao longo do tempo, sendo que, provavelmente, atingem seu pico logo após o enchimento do reservatório, mas ainda é desconhecida a tendência do comportamento no decorrer dos anos. Observou-se que alguns reservatórios estabilizam suas emissões depois de alguns anos de existência. Entretanto, esse período é variável entre os reservatórios e depende ainda das condições ambientais como a decomposição da vegetação submersa e do uso do solo e atividades industriais praticadas na bacia hidrográfica. Em muitos casos, pode haver um aumento das emissões em reservatórios mais antigos. Esse aumento se deve à entrada de matéria orgânica carreada pela bacia, como por exemplo, o despejo de esgoto sem tratamento em rios e riachos, e não aos processos internos ao próprio reservatório como a decomposição da vegetação alagada [13].

No que se refere à retirada de árvores da área a ser alagada para a formação do reservatório, esta limpeza irá influenciar a qualidade da água, sobretudo nos primeiros anos do reservatório, uma vez que diminuirá a quantidade de matéria orgânica a ser decomposta [13]. A retirada ou não da vegetação deve ser criteriosamente avaliada, já que a atividade carece de toda uma logística e infra-estrutura que podem inviabilizar sua execução. Geralmente, essa limpeza compreende apenas a extração dos troncos das árvores, material de difícil decomposição. As folhas, os galhos, os frutos, materiais mais facilmente decompostos, e a própria matéria orgânica presente no solo permanecem na área [13]. Esses materiais de rápida decomposição, juntamente com o material carreado pelo rio, e agora acumulado no reservatório, são os responsáveis pela queda na qualidade da água nos primeiros anos de formação do reservatório e contribuem para uma maior emissão de gases de efeito estufa nesse período [13]. Após alguns anos a qualidade da água do reservatório apresenta uma significativa melhora, como no caso de Tucuruí (considerando somente os resultados de oxigênio dissolvido – em mg/l – obtidos no meio da coluna de água na estação próxima à barragem – 1985: 0,79; 1990: 4,16; 1995: 4,43; 2000: 4,15; 2005: 6,38) [32] [33]. Outro fator a ser considerado é o impacto da retirada dos troncos dos reservatórios já formados (“paliteiros”), especialmente o impacto sobre a ictiofauna, já que os troncos são importantes como áreas de refúgio, reprodução e alimentação para diversas espécies de peixe [13].

De acordo com os relatórios de Stern para o governo britânico e o relatório do IPCC [34], deverá tornar-se uma rotina para todos os projetos hidroelétricos o cálculo do balanço de suas emissões de gases de efeito estufa e, tanto quanto possível, a adoção de medidas para a prevenção dessas emissões.

Segundo Harvey [35] na atualidade verifica-se que continua um debate na comunidade científica mundial, muito menos para saber se os reservatórios emitem os gases de efeito estufa (GEE), e muito mais para se saber de quanto essas obras

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 26

emitem e quais os tipos de gases (CO2, CH4, óxido nitroso) [35]. Esclarecimentos quanto a essa questão poderão vir em 2008, quando o conselho de consultores intergovernamentais para mudanças climáticas (IPCC) decidir se deverá começar ou não a redação de um relatório especial sobre energias renováveis [36].

i) vazões ambientais:

A denominação de vazão ambiental está inserida no novo conceito para o gerenciamento de recursos hídricos. Há hoje uma consciência crescente de que as modificações nas vazões dos rios devem ser contrabalançadas com vazões apropriadas para manutenção dos serviços ecológicos essenciais. De acordo com a Nota Técnica C1 (Banco Mundial, 2003) essas vazões são chamadas de vazões ambientais. O termo abrange e inclui todos os componentes do rio: considera a dinâmica de variação ao longo do tempo, conhece a necessidade de sazonalidade natural das vazões e leva em consideração os aspectos econômicos e biofísicos [37]. A tendência atual de definição de vazão ambiental é bastante abrangente, contemplando todos os componentes do rio. Devido à complexidade do assunto, há necessidade de se discutir melhor a definição desse conceito com foco em duas questões principais, a vazão fixada pelo órgão ambiental e a vazão fixada pelo órgão gestor, com definição de quem seria primeiro e quem seria segundo, como forma de garantir o atendimento aos múltiplos usos e a questão ambiental. Ver site na Internet do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) - Câmara Técnica de Conselho Nacional de Recursos Hídricos - Ata da 51ª Reunião (17/05/2006). As vazões ambientais podem ser alteradas principalmente pela implantação e operação de reservatórios e por captações de água para abastecimento público ou nos casos de insumo de processo produtivo (uso por indústrias e irrigação). Como conseqüências podem ser verificadas alterações na sazonalidade das vazões dos rios e na magnitude e freqüência das cheias [37]. As vazões ambientais devem ser vistas no contexto do gerenciamento integrado dos recursos hídricos das bacias; assim, as vazões ambientais só vão assegurar a integridade de um rio se formar parte de um conjunto de medidas, tais como: proteção do solo, prevenção da poluição e restauração de habitats [37]. Uma experiência a ser relatada é o caso da implantação do Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Dardanelos pela Eletronorte no rio Aripuanã (Estado do Mato Grosso), onde foram asseguradas vazões ambientais para a preservação da beleza cênica das cachoeiras das Andorinhas e Dardanelos e da flora e fauna a elas associadas, por meio da manutenção de uma vazão a ser escoada em cada uma delas, compatível com os usos para lazer, pela população local, e para a preservação da fauna [14], [15]. 5.3. SUGESTÕES PARA MELHORIAS DOS PROJETOS DE BARRAGENS:

Scudder (2005) [38] trata o futuro das grandes barragens de duas maneiras: a primeira, a mais geral, é projetar as novas barragens de acordo com a forma avançada proposta no relatório da CMB (2000), com ênfase nos aspectos socioambientais, institucionais e políticos; a outra maneira seria a adequada projeção de futuras barragens que atendessem aos requisitos da redução dos impactos ambientais na bacia hidrográfica considerada e a conseqüente redução

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 27

dos impactos sociais (remanejamentos) provocados nas comunidades ribeirinhas [38].

Recentemente (2003) [8], uma pesquisa foi realizada para comparar qualitativa e quantitativamente as normas legais ou instruções normativas aplicadas no planejamento de grandes barragens hidrelétricas no Brasil com o padrão estabelecido pela CMB (2000). São apresentadas as principais recomendações para as adequações das normas brasileiras na busca da sustentabilidade das barragens de hidrelétricas e que venham a serem planejadas no País, nas que estejam em fase de implantação e nas já existentes; as recomendações foram integradas segundo cada uma das diretrizes estabelecidas pelo CMB (2000). Dessa forma, podem-se extrair dessa pesquisa as prioridades para a melhoria dos processos de planejamento, construção e operação das barragens no Brasil.

A título de ilustração, reproduziremos aqui algumas das conclusões da citada pesquisa: (a) as normas do setor elétrico demonstram ainda estarem distantes dos princípios preconizados pela CMB (2000), principalmente no que se refere à participação da sociedade no planejamento e na tomada de decisão, mesmo reconhecendo os avanços experimentados (1980/1990) no desenvolvimento da maioria das políticas ambientais setoriais; (b) necessidade de aperfeiçoamentos em procedimentos de macroplanejamento, (processo de aceitação pública dos empreendimentos e às melhorias das hidrelétricas existentes); (c) necessidade de maior integração do planejamento de políticas, programas e projetos entre os diversos setores públicos e privados [8].

Mesmo reconhecendo todos os avanços da legislação e da política pública brasileira no caminho da sustentabilidade dos grandes projetos de infra-estrutura, os resultados demonstraram que ainda são necessários ajustes significativos para se atingir os princípios e objetivos de sustentabilidade propostos pela CMB (2000): a) conquista da aceitação pública; b) avaliação abrangente das opções; c) aproveitamento das barragens existentes; d) sustentabilidade de rios e modos de vida; e) reconhecimento de direitos adquiridos e compartilhamento de benefícios; f) assegurar o cumprimento dos compromissos; g) compartilhamento dos rios para paz, desenvolvimento e segurança. Entretanto, adequações são possíveis e desejáveis nas leis e normas brasileiras para o alcance da sustentabilidade das barragens hidrelétricas [8].

Antes de apresentarmos as principais sugestões para a melhoria dos processos de planejamento, construção e operação das barragens, descreveremos de forma sucinta algumas especificidades ambientais da Amazônia, devido às peculiaridades socioambientais dessa região.

Considerando que a Região Amazônica concentra cerca de 30% das reservas florestais e cerca de 20% da disponibilidade de água doce no mundo, além de apresentar uma grande biodiversidade, listamos alguns desafios que o setor elétrico deverá encontrar para o desenvolvimento dos recursos hídricos e energéticos da região: a) a existência de grandes extensões de florestas ainda preservadas, justamente nos locais de potenciais hídricos ainda não explorados; b) a implementação crescente de áreas protegidas, que impõe exigências adicionais à construção de empreendimentos elétricos; c) a diversidade cultural da região, com inúmeros grupos indígenas, comunidades quilombolas e populações ribeirinhas, que constituem condicionantes importantes às propostas de intervenção; d) as pressões

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 28

crescentes sobre a Amazônia, representadas pelo avanço contínuo das fronteiras de ocupação do chamado “arco do desmatamento”; e) a compatibilização entre as demandas pelo desenvolvimento econômico e social, com geração de emprego e renda, e a preservação ambiental constitui complexo desafio a ser tratado com toda a sociedade; f) a concentração, na região, de cerca de 43% do potencial hidrelétrico brasileiro, dos quais apenas 4% estão sendo aproveitados por usinas em operação ou em construção [14].

Principais sugestões:

Scudder (2005) [38] descreve em linhas gerais a controvérsia sobre a construção de grandes barragens e o futuro das mesmas, descrevendo que tais obras são imperfeitas, mas ainda constituem uma opção necessária para o desenvolvimento. Segundo o mesmo autor, tal conclusão foi reforçada pelo Relatório da Comissão Mundial de Barragens (divulgado em 16/11/2000).

As grandes barragens são imperfeitas por muitas razões: os benefícios são superestimados e os custos são subestimados, com grandes alterações nos ecossistemas naturais e na vida das pessoas; apesar disso, as grandes barragens perduram como uma opção para o desenvolvimento para atendimento às crescentes necessidades da sociedade; grandes barragens são necessárias para armazenar e transferir rapidamente a água para diversos usos, proporcionar eletricidade às populações urbanas e rurais e às indústrias. Novos projetos de grandes barragens devem ser redesenhados para que possam ampliar os seus benefícios e reduzir os seus custos [38].

Para a redução dos impactos socioambientais dessas obras, sugere-se inicialmente:

a) o aumento das pesquisas a serem realizadas em parcerias com instituições de ensino e pesquisa para a melhoria da construção de novas barragens e das existentes, para que reduzam significativamente os impactos adversos sobre as comunidades afetadas e ao meio ambiente;

b) a melhoria na qualidade dos relatórios de impacto ambiental: criação de um cadastro de um corpo de consultores altamente qualificados em assuntos socioambientais, baseando-se em informações do CNPq, IBAMA e dos conselhos de classe; elaboração de termos de referência apropriados e adequados com a realidade da obra a ser projetada;

c) realizar estudos sobre a viabilidade da criação de um fundo com alocação de uma pequena fração da venda de energia para atender as necessidades socioambientais; esses recursos seriam geridos por uma cooperativa formada pelos reassentados em conjunto com o empreendedor e o órgão de licenciamento ambiental competente para a promoção de ações ligadas ao desenvolvimento regional [8], [9];

d) aperfeiçoamento da legislação vigente no que se refere às aplicações mais integradas dos recursos da compensação ambiental e da compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos, para que esses recursos realmente sejam aplicados na região do empreendimento, e, sobretudo, no esforço de ajudar a prevenir a ocorrência dos impactos negativos do empreendimento, bem como potencializar as oportunidades a ele associado;

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 29

e) formação de parceiras entre o empreendedor e instituições governamentais (níveis: federal, estadual e municipal) e instituições não governamentais nas fases de planejamento, construção e operação dos empreendimentos para a alocação de recursos humanos, materiais e financeiros (otimização de recursos) por meio de convênios, cooperação técnica, entre outros mecanismos, para que se possam ampliar os benefícios e reduzir os impactos negativos decorrentes da implantação dos empreendimentos;

f) analisar a possibilidade da criação de uma Comissão Permanente de Avaliação para atuar no monitoramento dos projetos de barragens existentes e futuras, com o intuito de se propor melhorias dessas obras; essa Comissão também teria a função de consolidar e divulgar as experiências do setor por meio de publicações;

g) incentivar a criação (e fortalecer os já existentes) de comitês de bacias hidrográficas atuantes que possam fazer o compatibilização dos interesses no desenvolvimento dos recursos hídricos e de energia nos três níveis políticos de governo (federal, estadual e municipal), evitando-se desta forma sobreposições ou projetos antagônicos, bem como auxiliar por meio de proposições para o ordenamento territorial.

5. PALAVRAS-CHAVE Meio ambiente, hidroelétricas, barragens, legislação ambientais, avaliação de impactos socioambientais, desenvolvimento sustentável.

6. AGRADECIMENTOS

Este artigo não poderia ter sido preparado (ou se o fosse seria de qualidade inferior) se não fossem as colaborações e os estímulos das seguintes pessoas (nomes em ordem alfabética): Andrea Figueiredo, Antonio Raimundo Santos Ribeiro Coimbra, Bela Petry, Carmélia Maria Santos, Erton Carvalho, Frederico Araujo Ramos, Humberto Rodrigues Gama, Ilidia da Ascenção Garrido Martins Juras, José Porfírio Fontenele de Carvalho, Marcio Bessa, Maria Luiza Milazzo, Mirian Regini Nuti, Pedro Paulo Sayão Barreto, Robert Goodland, Rogério Mundin, Rubens Ghilardi Junior, Silvia Helena Menezes Pires, Silviani Froehlich, Valéria Fernanda Saracura.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MILARÉ, E (2001) - Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário/Édis Milaré. 2ª Edição, revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 783 pp.

[2] SILVA, J. A. (1995) - Direito Ambiental Constitucional, p. 1. Malheiros Editores, 2ª edição.

[3] MACHADO, P. A. L. Machado. (2001) - Direito Ambiental Brasileiro. 9 ª Edição. São Paulo: Malheiros. p. 127.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 30

[4] FIORILLO, C. A. P. e RODRIGUES, M. A. (1996) - Manual de Direito Ambiental e Legislação Aplicável, pp. 54 a 66. Max Limonad.

[5] MARTINS-JURAS, I. da A. G.(1999) - Desenvolvimento Sustentável: conceito e experiências. Cadernos Aslegis. Brasília. Volume 03, nº 08, p. 49-.

[6] MENEZES, C. F. S.; DE DIOS, C. B.; SCHMIDT, A. B.; COIMBRA, N. C.; CASIUCH, C. L. T. e SILVA, R. B. (2007) - Legislação ambiental de interesse do setor elétrico (nível federal). 3ª Edição revisada e atualizada (04/01/2007). Disponível no site da Eletrobrás.

[7] TOLMASQUIM, M. T. (Coordenador) (2005) - Geração de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro – Interciência – CENERGIA. 198 páginas.

[8] GHILARDI Jr, R. (2003) - Sustentabilidade de Grandes Barragens: adequação das recomendações da Comissão Mundial de Barragens ao planejamento de hidrelétricas no Brasil e ao projeto hidrelétrico de Belo Monte. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Amazonas (UFA). 252 p. Convênio Eletronorte/UFA.

[9] GOODLAND, Robert. Environmental Sustainability in the Hydro Industry:

Desaggregatin the Debate. In: Large Dams: learning from the past looking at the future. Workshop Proceedings. IUCN e The World Bank. Gland, Suiça, 11 e 12 de abril de 1997.

[10] GOODLAND, R.; JURAS, A. A e PACHAURI, R. Can hydroreservoir in tropical

moist forest be made environmentally acceptable? Energy Policy. Ed. Butterworth-Heinemann Ltd. Junho, 1992.

[11] WORLD COMMISSION ON DAMS (WCD, 2000) - Dams and development: A

new framework for decision-making. London,.Earthscan, Publications Ltd, 404 p.

[12] PALHANO, N. & NUTI, M.R. A invisibilidade como estratégia de controle:

impactos territoriais, ambientais e sociais dos Sistemas de Transmissão das grandes barragens (notas para discussão). Anais do I Encontro Ciências Sociais e Barragens “organizado pelo IPPUR - UFRJ, 2005, Rio de Janeiro.

[13] CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S/A (ELETROBRÁS) e CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA (CEPEL). Coletâneas de arquivos, relatórios avulsos, notas, contribuições, e outros documentos internos: questões socioambientais. 2004.

[14] ELETRONORTE. Superintendência de Meio Ambiente. Estudos e ações socioambientais na área de influência de seus empreendimentos elétricos. 2007. Brasília/DF.

[15] ELETRONORTE, ODEBRECHT, LEME, PCE. AHE Dardanelos – Estudos de Impacto Ambiental (EIA). Dezembro/2004.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 31

[16] DON E. MCALLISTER, JOHN F. CRAIG, NICK DAVIDSON, SIMON DELANY AND MARY SEDDON. Biodiversity Impacts of Large Dams. IUCN/UNEP/WCD Background Paper Nr. 1. . 2001.

[17] LEÃO, N. V. M.; OHASHI, S. T.; VIEIRA, I. C. G.; GHILARDI Jr, R. (2005) -Ilha

de Germoplasma de Tucuruí – Uma Reserva da Biodiversidade para o Futuro. Brasília. ELETRONORTE. 231 p.

[18] ARAÚJO, S. M. V. G. (2002) - Licenciamento Ambiental e Legislação – Notas preliminares. Câmara dos Deputados. Consultoria Legislativa. Brasília/DF. Setembro/2002.

[19] McCULLY, P. (1996/2001) - Silenced Rivers: the ecology and politics of large dams. Zed Books. London & New Jersey. 1ª Edição de 1996 (350 p). 2ª Edição de 2001 (359 p).

[20] MAGALHÃES, J. Salto para a liberdade. Revista Brasil Indígena. Fundação Nacional do Índio (Funai). Ano III nº 04 outubro/novembro/2006. Páginas 21-26.

[21] CARVALHO, P. Índios e empreendimentos. Revista Brasil Indígena.

Fundação Nacional do Índio (Funai). Ano III nº 04 outubro/novembro/2006. Página 27.

[22] GOODLAND, R. 2004. Free, Prior and Informed Consent. Sustainable

Development Law and Policy IV (2): 66-75. [23] CERNEA, M. 2003. For a new economics of resettlement: A sociological

critique of the compensation principle. In: Cernea, M. & Kanbur, R. An Exchange on the Compensation Principle in Resettlement. Working Paper 2002-33, Cornell University, Ithaca, NY. [Reprinted in International Social Science Journal 175: 57-43].

[24] DALY, H. E. 2007. Forced Displacement: Allocative externality or unjust

redistribution? In: Cernea, M. & Mathur, H. (eds). Can compensation prevent impoverishment? Oxford: Oxford University Press.

[25] GOODLAND, R. 2007. The institutionalized use of force in economic

development. Chapter 24 in: Soskolne, C. L, Westra, L., Kotze, L. J., Mackey, B., Rees, W. E. & Westra, R. (Eds.) Environmental and human health through global governance. Lanham, MD., Lexington Books (Rowman & Littlefield Publishers) (in press).

[26] NUTI, M. R. e Garcia, M. F. Remanejamento populacional em usinas

hidroelétricas: discussão dos resultados da última década (1992/2002) e projeções para a expansão do setor elétrico. Anais do I Encontro Ciências Sociais e Barragens “organizado pelo IPPUR - UFRJ, 2005, Rio de Janeiro”.

[27] ELETROBRÁS. Emissões de Dióxido de Carbono e de Metano pelos

Reservatórios Hidrelétricos Brasileiros. Rio de Janeiro, maio de 2000.

XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens 32

[28] MESQUITA, E.N. de & MILAZZO, M. L. Emissão de gases de efeito estufa de reservatórios de usinas hidrelétricas. XXVII Seminário Nacional de Grandes Barragens. Belém/PA. 2007.

[29] CIMBLERIS, A P; BRUM, P R; SOARES, C B; ROLAND, F; CESAR, D E;

ROSA, L P; SANTOS, M A; SIKAR, B M; TUNDISI, J G; ABE, D S; STECH, J L; NOVO, E. (2005) - Carbon Budget in Two Neotropical Reservoirs – UHE Serra da Mesa and APM Manso. American Society of Limnology and Oceanography 2006. Canadá.

[30] TUNDISI, J. G.; SANTOS, M. A.; MENEZES, C. F. S. Tucuruí reservoir and hydroelectric power plant. In: SHARING EXPERIENCES AND LESSONS LEARNED IN LAKE BASIN MANGEMENT, 2003, Burlington, Vermont. Management Experiences and Lessons Learned Brief. Burlington: Lakenet Seminary at Saint Michael College, 2003. v. 1. p. 1-20.

[31] ELETROBRÁS, 2005. Emissão de gases de efeito estufa no rio Xingu (futuro reservatório hidrelétrico de Belo Monte) – Fase de pré-enchimento do reservatório.

[32] ELETRONORTE/CET. UHE Tucuruí: caracterização ambiental de limnologia e qualidade da água. 2001. Brasília.

[33] ELETRONORTE/CET. UHE Tucuruí: Programa de limnologia e qualidade da

água (consolidação dos dados: período de 2001-2005). 2007. Brasília. [34] STERN N. (2007) - The Economics of Climate Change: The Stern Review.

Cambridge Univ Press 570 p.

[35] HARVEY, L. (2006) - The Exchanges between Fearnside and Rosa Concerning the Greenhouse Gas Emissions from Hydro-Electric Power Dams. Climatic Change 75(1-2): 87-90. Artigo disponível na Internet. www.ingentaconnect.com

[36] IPCC. Climate Change (2007) - The Physical Science Basis of Climate Change, prepared by Working Group I of IPCC.

[37] GONDIM, J. Vazões de rios. Palestra proferida no dia 17/05/2006 no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Câmara Técnica do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – 51ª ªReunião.

[38] SCUDDER, T. (2005) - The future of Large Dams. Dealing with social,

environmental, institucional and policital costs. Erthscan. London. Sterling (VA). 389 p.