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Meteorologia Geral 2011 TEMA 4 VAPOR DE ÁGUA, NÚVENS, PRECIPITAÇÃO E O CICLO HIDROLÓGICO 4.1 O Processo da Evaporação Para se entender como se processa a evaporação é interessante fazer um exercício mental, imaginando o processo microscopicamente (Vide a Figura 4.1). Figura 4.1: Processo de Evaporação. Seja o recipiente acima (Figura 4.1) parcialmente cheio de água e inicialmente com vácuo acima. Estão representadas algumas moléculas na superfície livre da água e outras no líquido, se movendo aleatoriamente em todas as direcções, com diferentes

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Meteorologia Geral 2011

TEMA 4

VAPOR DE ÁGUA, NÚVENS, PRECIPITAÇÃO E O CICLO

HIDROLÓGICO

4.1 O Processo da Evaporação

Para se entender como se processa a evaporação é interessante fazer um exercício

mental, imaginando o processo microscopicamente (Vide a Figura 4.1).

Figura 4.1: Processo de Evaporação.

Seja o recipiente acima (Figura 4.1) parcialmente cheio de água e inicialmente com

vácuo acima. Estão representadas algumas moléculas na superfície livre da água e

outras no líquido, se movendo aleatoriamente em todas as direcções, com diferentes

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velocidades. Eventualmente uma molécula no seio do líquido tem velocidade com

componente perpendicular á superfície livre da água e colide com uma das moléculas

da superfície. A molécula incidente transmite momento linear à molécula da superfície

e esta escapa para fora do líquido, passando a vagar no espaço livre acima. Esse

fenómeno é o que se chama evaporação, isto é, a passagem das moléculas do estado

líquido para o estado gasoso.

Naturalmente muitas moléculas vão colidir com as moléculas da superfície livre, e

assim, após algum tempo, muitas moléculas de água estarão se movendo acima da

superfície. Estas moléculas, por sua vez, colidem entre si e o resultado será um gás de

moléculas livres se movendo aleatoriamente acima da superfície livre.

Note-se que, da mesma forma que moléculas saem para fora do líquido, também

algumas moléculas vão retornar por terem uma componente de velocidade dirigida

para a superfície. Esse processo seria o da condensação. Neste caso, enquanto

algumas moléculas passam para o estado gasoso, outras voltam ao estado líquido, e a

taxa de evaporação líquida é a diferença entre as taxas de saída e de retorno das

moléculas.

A taxa de saída de moléculas do estado líquido para o estado gasoso depende da

temperatura do líquido. Quanto mais quente o líquido, maior é a agitação de suas

moléculas, e maior a probabilidade de colisões. Com isso, a taxa de saída de

moléculas por unidade de tempo também é maior. Enquanto a quantidade de

moléculas no estado gasoso é pequena, também é pequeno o número de moléculas

voltando por unidade de tempo. Isso significa que a evaporação líquida é maior no

início do processo e vai diminuindo à medida que vai aumentando o número de

moléculas no estado gasoso.

A taxa de evaporação líquida diminui até que a taxa de saída de moléculas seja igual à

taxa de volta de moléculas, quando então se tem um equilíbrio dinâmico. A pressão

exercida pelo vapor nesse equilíbrio equivale à máxima pressão de vapor possível,

também chamada “pressão de vapor de saturação”, indicada como es. Essa pressão de

vapor de saturação depende da temperatura. Se se aumentar a temperatura do líquido

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a agitação das moléculas aumenta e se tem uma taxa maior de moléculas saindo do

líquido.

Para refazer o equilíbrio será preciso um número maior de moléculas no estado

gasoso, aumentando portanto a pressão de vapor de saturação. O contrário ocorre se o

líquido esfriar.

Caso o espaço acima do líquido contivesse ar inicialmente, o processo seria

semelhante, havendo pouca variação nos valores da taxa de evaporação e da pressão

de vapor de saturação.

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O gráfico (Vide Figura 4.2) abaixo mostra a pressão de vapor de saturação em

função da temperatura. A Tabela 4.1 mostra a pressão de vapor de saturação mais

detalhada.

Figura 4.2: Pressão de vapor de Saturação em Função da Temperatura.

Em consequência do exposto acima, existe uma quantidade máxima de vapor que

pode ser contido pelo ar à uma dada temperatura. A evaporação líquida ocorre se a

pressão de vapor fôr menor que essa pressão máxima.

Se fôr introduzido mais vapor no ar, o excesso é condensado na forma de água,

sobre uma superfície livre de água, ou sobre uma superfície sólida, ou ainda em

gotas suspensas no ar, até que a pressão de vapor seja de novo igual a pressão de

vapor de saturação (es).

Caso e < es então poderá haver evaporação, se houver água líquida e se houver um

suprimento de energia (ou calor). Se não houver um suprimento de energia, o

processo de evaporação retira calor da própria água, que naturalmente vai esfriar.

É possível promover a condensação do vapor baixando a temperatura do ar.

Suponha-se que o ar esteja saturado de vapor à temperatura de, por exemplo,

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130C. À essa temperatura, segundo a Tabela 4.1, o ar estará saturado com a

pressão de vapor de saturação igual a 14,97mb. Se a temperatura baixar para 70C,

o ar poderá conter vapor com a pressão máxima de 10,0mb, ou seja, uma certa

quantidade de vapor deverá ser condensada de modo a baixar a pressão de vapor

para 10,0mb e manter o equilíbrio.

Tabela 4.1: Vapor de água, Tensão de saturação em função da Temperatura.

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4.2 Grandezas relacionadas com a humidade do ar.

O vapor de água é uma componente do ar cuja concentração varia no tempo e no

espaço, sendo maior próximo das suas fontes, que são o solo ou superfícies livres

de água. Existem diferentes maneiras de exprimir a concentração de vapor de água

na atmosfera, das quais algumas estão mostradas abaixo.

4.2.1 Humidade absoluta, ou densidade do vapor:

VmVV

4.2.2 Pressão parcial de vapor, ou mais simplesmente “pressão de vapor”:

TRe VV

Quanto maior fôr o número de moléculas de água, maior será a

pressão de vapor. Nota-se que a pressão total da mistura é:

epp d

Onde dp é a pressão parcial da parte seca do ar que constitui a

mistura.

4.2.3 Razão de mistura: é a razão entre a massa de vapor e a massa de ar

seco.

dV mmw

Normalmente usam-se as unidades (g/kg) porque a massa de vapor é

muito pequena em relação `a de ar seco.

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4.2.4 Humidade relativa: é expressa como a razão em percentagem entre a

quantidade de vapor existente e a máxima quantidade de vapor

possível à mesma temperatura, isto é, se o ar estivesse saturado:

)(100 swwRH

Onde sw é a razão de mistura de saturação:

)( sss epew

Note que a humidade relativa dá uma ideia do quanto falta para o ar

ficar saturado. Quer dizer, mesmo que a quantidade de vapor seja

pequena, a temperatura pode ser tão baixa que por uma pequena

diminuição posterior da mesma, o ponto de saturação seja atingido.

4.2.5 Ponto de orvalho: é a temperatura à qual a parcela de ar húmido

atinge a saturação. Assim, dada uma parcela na qual a pressão de

vapor seja e , a temperatura do ponto de orvalho ( dT ) deve obedecer à

equação:

)( ds Tee

A expressão da humidade relativa pode então ser escrita numa forma

alternativa:

)()( TeTeRH sds

Em registos e mensagens meteorológicas, normalmente são dados T

e dT a partir dos quais se podem obter as outras grandezas relativas à

humidade.

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4.2.6 Orvalho e Neblina

Outro processo interessante é o seguinte: suponha-se ar húmido à

temperatura de 160C e com pressão de vapor de 12,3mb. À essa

temperatura, a pressão de vapor de saturação é de 18,3mb. Isso quer

dizer que o ar não está saturado. Porém, se a temperatura diminuir,

sem alterar a quantidade de vapor, a pressão de vapor não vai-se

alterar e, quando atingir o valor de 100C, o ar terá exactamente a

quantidade de vapor correspondente à saturação. Uma diminuição

posterior da temperatura vai fazer condensar parte do vapor, como no

caso anterior. Este último processo é o que ocorre na formação do

orvalho e da neblina.

No caso do orvalho a superfície do solo ou das plantas esfria, devido à

perda de energia por emissão de radiação infravermelha durante a

noite, e com elas esfria o ar imediatamente adjacente, até atingir o

ponto de saturação quando então o vapor se condensa sobre a

superfície. Essa temperatura de saturação para uma dada pressão de

vapor é chamada ”ponto de orvalho”.

No caso da neblina, o resfriamento do ar faz com que se atinja o ponto

de orvalho, mas o vapor se condensa na forma de gotas suspensas.

4.3 Nuvens

Nuvem é um aglomerado de partículas de água (no formato de vapor de água

condensado) ou gelo que se forma na atmosfera terrestre (Vide a Figura 4.3). São

visíveis e podem ter cores variadas (do branco ao cinza escuro). Quanto mais

escuras, mais carregadas de vapor de água elas estão. As formas variam de acordo

com a velocidade do vento e a quantidade de água que possuem.

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Figura 4.3: Nuvens. Fundamentais para a formação das chuvas.

As nuvens são formadas a partir da evaporação da água de rios, mares, lagos,

piscinas e até mesmo do corpo humano (através da transpiração). O vapor de água

se condensa e forma a nuvem.

Quando as nuvens ficam muito carregadas de água e atingem altitudes elevadas,

diminuindo assim a temperatura, ocorrem as chuvas.

Importa salientar que através da observação das nuvens podemos observar, ou

identificar, as condições atmosféricas de determinado local, pois estas reflectem em

sua quantidade, forma e estrutura.

Para que haja a formação de nuvens é necessário que parte do vapor d’água

contido na atmosfera se condense, formando pequenas gotículas de água, ou

solidifique, formando minúsculos cristais de gelo. A esta formação, ou aglomerado

de cristais de gelo e gotículas damos o nome de nebulosidade.

Uma característica que diferencia os variados tipos de nuvens é a altura em que

elas se formam, ou onde se encontra sua base e seu topo. Mas, é importante

lembrar, que esta altura varia conforme a posição geográfica (latitudinal) da região

considerada. Por exemplo, na região tropical a altura mínima (estágio baixo) e

máxima (estágio alto) de uma nuvem costuma ser a 2 km e 18 km de altura da

superfície respectivamente, enquanto nas regiões polares e temperadas as

distâncias são, respectivamente, 2 km e 8 km, e 2 km e 13 km.

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Existem vários tipos de nuvens. Os mais comuns são: cirrus (formato delicado e

sedoso), stratus (nuvens baixas de cor cinza) e cumulonimbus (grandes e cinzas,

possuem grande quantidade de água, nuvens de trovoadas) (Vide a Figura 4.6).

Figura 4.4: Imagens de Cirrus (Esquerda), Stratus (Centro) e Cumulonimbus (Direita).

4.4.1 Processo da formação das nuvens

Quando uma parcela de ar húmido é obrigada a subir, ela se resfria

adiabaticamente até uma temperatura em que o ar contido nela fique saturado. O

nível em que isso acontece é chamado “nível de condensação por levantamento”

(NCL). Desse nível para cima, a parcela fica ainda mais fria, e a parte da humidade

é obrigada a condensar em gotículas de água que aumentam de volume à medida

que a parcela sobe e à medida que mais ar húmido chega àquele nível vindo de

baixo.

Embora os processos sejam diferentes, a neblina também é uma nuvem, formada

próximo à superfície.

Na quase totalidade das nuvens de água líquida, cada gota se forma a partir de uma

partícula higroscópica que absorve as primeiras moléculas de água.

Se não houvesse essas partículas, a temperatura teria que diminuir até muito abaixo

do ponto de orvalho para iniciar a condensação. Essas partículas, também

chamadas “núcleos de condensação”, ou “aerossóis”, têm sua origem na superfície,

podendo ser pó, fumaça, sal do mar ou compostos contidos na poluição

atmosférica. Assim, sua concentração é maior sobre cidades e florestas e menor

sobre o mar. Da concentração de núcleos de condensação depende o tamanho das

gotas formadas, uma vez que quanto menor o número de gotas, maior a

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disponibilidade de vapor de água para cada gota. Se as gotas crescem o suficiente

para vencer o arrasto da corrente de ar ascendente, elas podem cair em direcção à

superfície como chuva ou precipitação.

4.4 O Cíclo Hidrológico

O ciclo da água (conhecido cientificamente como o ciclo hidrológico: Figura 4.5)

refere-se à troca contínua de água na hidrosfera, entre a atmosfera, a água do solo,

águas superficiais, subterrâneas e das plantas. Ou pode ser definido como a

sequência fechada de fenómenos pelos quais a água passa do globo terrestre para

a atmosfera, na fase de vapor, e regressa àquele, nas fases líquida e sólida.

Figura 4.5: Esquema do Ciclo Hidrológico (ou ciclo da água).

A água se move perpetuamente através de cada uma destas regiões no ciclo da

água constituindo os seguintes processos de transferência:

Evaporação dos oceanos e outros corpos d'água no ar e

transpiração das plantas terrestres e animais para o ar.

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Precipitação, pela condensação do vapor de água do ar e caindo

para a terra ou no mar.

Escoamento da terra geralmente atinge o mar.