telles, vera. questão social - afinal, do que se trata

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  • 5/26/2018 TELLES, Vera. Questo Social - Afinal, Do Que Se Trata.

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    QUESTOSOCIAL: AFINAL, DOQUESETRATA?

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    QUESTO SOCIALafinal, do que se trata?

    pergunta do ttulo no retrica. Tampouco, tri-vial. Pois a questo social no se reduz ao reco-nhecimento da realidade bruta da pobreza e da

    misria. Para colocar nos termos de Castel (1995), a ques-to social a aporia das sociedades modernas que peem foco a disjuno, sempre renovada, entre a lgica domercado e a dinmica societria, entre a exigncia ticados direitos e os imperativos de eficcia da economia, entrea ordem legal que promete igualdade e a realidade das

    desigualdades e excluses tramada na dinmica das rela-es de poder e dominao. Aporia que, nos tempos quecorrem, diz respeito tambm disjuno entre as espe-ranas de um mundo que valha a pena ser vivido inscritasnas reivindicaes por direitos e o bloqueio de perspecti-vas de futuro para maiorias atingidas por uma moderni-zao selvagem que desestrutura formas de vida e faz davulnerabilidade e da precariedade formas de existnciaque tendem a se cristalizar como nico destino possvel.

    Vista dessa perspectiva, a questo social o ngulo peloqual as sociedades podem ser descritas, lidas, problemati-zadas em sua histria, seus dilemas e suas perspectivas defuturo. Discutir a questo social significa um modo de se

    problematizar alguns dos dilemas cruciais do cenrio con-temporneo: a crise dos modelos conhecidos de welfarestate (que nunca se realizou, bom lembrar), que reabre oproblema da justia social, redefine o papel do Estado e osentido mesmo da responsabilidade pblica; as novas cli-vagens e diferenciaes produzidas pela reestruturaoprodutiva e que desafiam a agenda clssica de universali-zao de direitos; o esgotamento do chamado modo for-dista de regulao do mercado de trabalho e que, nas figu-ras atuais do desemprego e trabalho precrio, indica umaredefinio do lugar do trabalho (no a perda de sua cen-

    tralidade, como se diz correntemente) na dinmica socie-tria, afetando sociabilidades, identidades, modos de exis-tncia e tambm formas de representao.

    Seria possvel dizer que, nessa encruzilhada de alter-nativas incertas em que estamos colocados, as mudanasem curso (no Brasil e no mundo) fazem vir tona a di-menso dilemtica envolvida na questo social. Com oesgotamento dos modelos conhecidos de proteo sociale regulao do trabalho, como se estivessem sendo

    reativados os sentidos das aporias, contradies, tensese conflitos que estiveram nas origens dessa histria. Essa uma primeira questo que gostaramos de enfatizar. Nes-ses tempos em que um determinismo econmico e tecno-lgico est mais do que nunca revigorado, ganhando es-pao at mesmo entre os analistas mais crticos, seriapreciso se desvencilhar do fetiche dos modelos e reativaro sentido poltico corporificado em armaduras institucio-nais nas quais se estabeleceram as mediaes entre omundo do trabalho e a cidadania. Sentido poltico anco-rado na temporalidade prpria dos conflitos atravs dosquais os trabalhadores se destacaram e, ao mesmo tempo,dissolveram o mundo indiferenciado da pobreza na qual

    estavam mergulhados, constituram-se como atores cole-tivos, ganharam a cena pblica e disputaram, negociaram,arbitraram os termos de sua participao na vida social.

    Sabemos que os tempos agora so outros, que as con-quistas sociais alcanadas esto sendo devastadas pelaavalanche neoliberal no mundo inteiro, que a destituiodos direitos tambm significa a eroso das mediaespolticas entre o mundo do trabalho e as esferas pblicase que estas, por isso mesmo, se descaracterizam comoesferas de explicitao de conflitos e dissensos, de repre-sentao e negociao (coisa, alis, que no acontece

    A

    VERADASILVATELLESProfessora do Departamento de Sociologia da USP, Pesquisadora do Ncleo de Estudos dos Direitos da Cidadania

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    assim de repente, mas que carrega as complicaes hist-ricas dos ltimos tempos); e que por via dessa destitui-o e dessa eroso dos direitos e das esferas de represen-tao que se constri esse consenso que nos dias que

    correm, ganha coraes e mentes de que o mercado onico e exclusivo princpio estruturador da sociedade eda poltica, que diante de seus imperativos nada h a fa-zer a no ser administrar tecnicamente suas exigncias,que a sociedade deve a ele se ajustar e que os indivduos,agora desvencilhados das protees tutelares dos direi-tos, podem finalmente provar suas energias e capacida-des empreendedoras.

    Sabemos tambm que, no caso brasileiro, os caminhoshistoricamente percorridos esto a mil anos luz de dis-tncia disso que se convencionou chamar, nos pases eu-ropeus, de Trinta Gloriosos Anos; que a reestruturao

    produtiva em curso e os arranjos neoliberais hoje propostosincidem sobre uma base histrica muito distinta da societsalariale de que fala Castel ao descrever as dimensessocietrias e polticas do chamado modo de regulaofordista ou, em outras formulaes tericas, modo de re-gulao social-democrata. Mas se a histria passada im-porta, no tanto para comparar modelos e lamentar (maisuma vez) a nossa tragdia social. Se essa histria podenos ensinar algo porque nos permite ver que, em tornoda questo social, essa aporia das sociedades modernasarma (ou melhor, armou historicamente) uma cena pol-tica na qual atores coletivos em conflito negociaram ostermos do contrato social.

    Como diz Ewald (1985), mais do que uma fico jur-dica e um constructo terico, o contrato a metfora pelaqual, na nossa tradio poltica (ocidental), se pensa anatureza e o contedo das obrigaes sociais. E se o di-reito a linguagem pela qual a metfora do contrato seexpressa, o que est em jogo na sua formulao um cer-to modo de problematizar e julgar os dramas da existn-cia nas suas exigncias de eqidade e justia, de tipificara ordem de suas causalidades e definir as responsabilida-des envolvidas. E isso propriamente que arma uma cenapoltica na qual os critrios universais da cidadania se sin-gularizam, no registro do conflito e do dissenso, em tor-

    no de uma negociao sempre difcil e sempre renovadaquanto medida de igualdade e regra de justia quedevem prevalecer nas relaes sociais. nessa chave que,talvez, possamos, para alm da denncia indignada dabarbrie atual, avaliar o sentido devastador da desmonta-gem das esferas pblicas de ao e representao, pelaobstruo que isso significa da elaborao das desigual-dades e diferenas nas formas de alteridades polticas, desujeitos falantes, como define Rancire (1995), que sepronunciam sobre o justo e o injusto, e negociam as re-gras da vida em sociedade.

    por referncia a essas questes que a pergunta ini-cial pode ser recolocada na indagao sobre qual seria olugar da questo social no cenrio poltico brasileiro. Sea pobreza brasileira (e sempre foi) espantosa e continua

    aumentando sob o efeito conjugado de recesso econ-mica, reestruturao produtiva e desmantelamento dosservios pblicos, o que impressiona o modo como figurada como problema que no diz respeito aos par-metros que regem a vida em sociedade e que no colocaem questo as regras de eqidade e justia nas relaessociais. Hoje, no Brasil, nossa velha e persistente pobre-za ganha contemporaneidade e ares de modernidade porconta dos novos excludos pela reestruturao produtiva.Mas no s por isso: lanando mo dessa fico regressi-va do mercado auto-regulvel que Polanyi (1980) to bemcriticou, nossas elites podem ficar satisfeitas com sua mo-

    dernidade e dizer, candidamente, que a pobreza lamen-tvel, porm inevitvel dados os imperativos da moder-nizao tecnolgica em uma economia globalizada. Entreos resduos do atraso de tempos passados e as determi-naes da moderna economia integrada nos circuitos glo-balizados da economia, a pobreza projetada para forade uma esfera propriamente poltica de deliberao, j quepertinente s supostas leis inescapveis da economia.

    Se a questo social a aporia das sociedades moder-nas, ela que nos d uma chave para compreender essaespcie de esquizofrenia de que padece a sociedade bra-sileira, nas imagens fraturadas de si prpria, entre umasociedade organizada que promete modernidade e seuretrato em negativo feito de anomia, violncia e atraso;entre a celebrao das virtudes modernizadoras do mer-cado e dessa espcie de ethos empreendedor que prometenos tirar para sempre da tacanhice prpria dos pases pe-rifricos e o social projetado em uma esfera que escapa ao responsvel porque inteiramente dependente des-sa verso moderna das leis da natureza hoje associadas economia e seus imperativos de crescimento. Essa fratu-ra traduz na verdade os aspectos mais dilemticos da ex-cluso na sociedade brasileira. E o que vem se expres-sando, sem ambivalncias, nas propostas em pauta dereforma da Previdncia Social. Alm de fragilizar a si-

    tuao social (j precria) dos trabalhadores do mercadoformal de trabalho, no promete mais do que sacramen-tar a excluso de uma maioria que, desde sempre, estevefora de qualquer sistema de proteo social em 1990,estimava-se que entre o desemprego e o trabalho prec-rio no mercado informal, cerca de 52% da populao ati-va estavam desprovidas de qualquer garantia e proteosocial (PNAD, 1990), formidvel contingente de traba-lhadores que vem sido acrescido, nos ltimos anos, dosnovos excludos do mercado de trabalho por conta do efei-to conjugado de crise econmica e reestruturao produ-

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    tiva. Fora dessa espcie de direito contratual que articulatrabalho e proteo social, uma populao excluda noapenas dos benefcios sociais, mas tambm da cena pol-tica. A controvrsia sobre a questo que tanto agitou o

    incio de 1996 emblemtica nesse sentido. As contur-badas negociaes entre centrais sindicais e governo emtorno da reforma da Previdncia tiveram ao menos o m-rito de encenar o (no)lugar da questo social no cenriopblico brasileiro. Entre os argumentos cruzados a pro-psito dos critrios de acesso aos benefcios sociais (tempode servio versus tempo de contribuio) armou-se umacena poltica na qual os termos da negociao explicitavamexatamente essa fratura entre o que conta e levado emconta como questo que diz respeito deliberao e ao,e o que est fora de um campo possvel de interveno.Fora das arenas organizadas da economia e da vida so-

    cial, o destino dessa gente parece, de uma vez por todas,estar na dependncia das promessas redentoras de ummercado capaz de absorver os que para tanto tiverem com-petncia e habilidade. Ou ento das prticas (renovadas)da filantropia pblica e privada para atender aqueles que,deserdados da sorte e incompetentes para exercer suas vir-tudes empreendedoras no mercado, esto fora do contra-to social.

    Tudo isso respira os ares desses tempos de neolibera-lismo vitorioso, traduz a ambincia social conservado-ra (Oliveira, 1995) na qual as mudanas em curso estosendo conduzidas e reatualiza uma pesada tradio dedesigualdades e excluses. Mas ainda precisamos enten-der melhor a dinmica societria a partir da qual se esta-belecem os parmetros em torno dos quais a cena polticase arma. uma cena poltica que expressa e ao mesmotempo duplica uma gramtica social muito excludente quejoga muitos fora do poder de interpelao de sindicatos,partidos e associaes de classe. E esse , poderamosdizer, o ponto cego da recente democracia brasileira: umasociedade civil restrita ou truncada, na qual as prticasde representao e negociao se generalizam com difi-culdades para alm dos grupos mais organizados, jogan-do muitos, definitiva ou intermitentemente, numa situa-o em que no h medidas atravs das quais necessidades

    e interesses possam ser formulados em termos de direi-tos, tornando factvel a representao, a negociao e ainterlocuo em espaos legitimados de conflito.

    Essa uma situao que parece corresponder ao queWanderley Guilherme dos Santos (1993) define comoconfinamento regulatrio da cidadania. Mas, ao con-trrio da suposio corrente de uma sociedade dualizadaentre organizados e no-organizados, essa fratura nocorresponde a dois mundos dicotmicos, um avesso dooutro. algo que se instaura no interior mesmo da socie-dade organizada, por conta do modo como esse universo

    legal e institucional se organiza. Instituio que articulao mundo do trabalho com o universo pblico da cidada-nia. Os termos pelos quais essa articulao se faz quepodem nos fornecer uma chave para elucidar algo da l-

    gica das excluses.De um lado, s avessas dos critrios universalistas da

    cidadania, trata-se de direitos que, indexados ao trabalhoregular, contm em sua prpria definio o princpio queexclui um formidvel e hoje crescente contingente de tra-balhadores que transitam entre o desemprego e as vriasformas de trabalho precrio no assim chamado mercadoinformal, que no tm acesso s garantias sociais e queesto fora das arenas de representao sindical. De outrolado, e no que diz respeito ao mercado formal, os direitostrabalhistas se institucionalizaram como pea de um or-denamento jurdico, mas no se instituram como valor,

    prtica e referncia normativa nas relaes sociais, de talmodo que puderam conviver to bem, ao longo da hist-ria, com um padro autoritrio e desptico de organiza-o do processo produtivo e o uso espoliativo da fora detrabalho. Nesse caso, o que se especifica um modo deregulao das relaes de trabalho subtradas das formasde representao (fabril e sindical), obstruindo o proces-so que Le Goff (1985) descreve do silncio palavra de constituio dos grupos operrios como atores cole-tivos portadores de uma palavra que desprivatiza a reali-dade fabril e titulares de direitos reconhecidos (e conquis-tados) como parmetros de uma regulao democrticadas relaes de trabalho, mediada pelas categorias uni-versais da cidadania. Se isso significa muito concretamentecondies espoliativas de trabalho e a burla rotineira dasnormas contratuais, nas prticas recorrentes de demis-so que essa esfera organizada do trabalho se encontracom a outra ponta pela qual se faz presente, ainda viva,uma tradio regulatria, autoritria e excludente, maisde 50 anos aps sua implementao.

    Talvez aqui se aloje o aparente paradoxo de uma tra-dio de organizao do trabalho, burocrtica e monol-gica, regida por uma espcie de fria regulatria sobre arealidade fabril (Paoli, 1994), mas que desorganiza o tem-po todo o mundo do trabalho, por via de reiterada obstru-

    o das mediaes pelas quais o vnculo do trabalho podese estabelecer mediaes que no esto na ordem deuma suposta compulso cega das leis do mercado, masque so construes e artifcios civis, jurdicos, polticosque definem os limites sem os quais o mercado segueimplacvel na sua lgica predatria e espoliativa. Pararetomar os termos da discusso do incio desse artigo, aqui que se abrem as aporias das sociedades modernas.E para colocar de modo menos metafrico e mais coladona dura realidade da lgica do mercado capitalista, aquique se definem as dimenses societrias e polticas do

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    mercado de trabalho questo discutida por Polanyi quan-do desmonta a fico de mercado auto-regulvel e que retomada em outra chave terica por Claus Offe (1989)ao mostrar que sem a mediao dos direitos (e das polti-

    cas sociais), o mercado de trabalho no limite no se cons-titui j que devorado pelas contradies da dinmica ca-pitalista. O trabalhador, diz Offe, s se transforma em forade trabalho quando se constitui como cidado. A situa-o brasileira o retrato em negativo do mercado orga-nizado. E as figuras da excluso que a se processa soas classes inacabadas.

    certo que esse padro de regulao estatal do merca-do de trabalho est perdendo vigncia. certo tambm se bem que muitas vezes esquecido que esse esgota-mento se iniciou muito antes da atual avalanche neolibe-ral, por conta da presena de um sindicalismo atuante que,

    desde os anos 80, vem acenando com a possibilidade deuma regulao democrtica das relaes de trabalho, porvia de prticas de negociao que retiram do Estado o atento exclusivo poder de arbitragem e definio das nor-mas trabalhistas (Paoli, 1994). Mas tambm verdade quea tradio excludente na qual se ancora essa regulaoestatal hoje reatualizada e revigorada nas propostas empauta de desregulamentao do trabalho. E uma tradi-o que se mantm operante e que cobra seus tributos emum mercado que ao mesmo tempo em que gera desigual-dades e pobreza crescentes, obstrui as possibilidades degeneralizao de direitos problema antigo e persistentee que hoje ganha configuraes inditas por conta dasnovas clivagens, diferenciaes e segmentaes produzi-das pela reestruturao produtiva em curso.

    MERCADO DE TRABALHO: EROSO DEDIREITOS E FRAGMENTAO SOCIAL

    sob esse ngulo das difceis, e hoje em dia mais doque nunca dilemticas, relaes entre o mundo do traba-lho e a cidadania, que gostaramos de discutir algumasquestes pertinentes a um mercado que e sempre foi,para colocar nos termos correntes da discusso, ummercado flexvel. O que se segue toma como referncia

    algumas evidncias do que vem ocorrendo no mercadode trabalho na Regio Metropolitana de So Paulo, combase em dados da Pesquisa Emprego e Desemprego doSeade.

    O que parece praticamente definidor da dinmica deum mercado no qual esto ausentes os direitos como pa-rmetros reguladores das relaes de trabalho esse mer-cado flexvel transparece na espantosa instabilidade ocu-pacional que atinge parcelas majoritrias da populaoativa. O tempo de permanncia no emprego pode ser to-mado como indicador disso. Em 1994, na Regio Metro-

    politana de So Paulo, considerando-se apenas o merca-do privado, praticamente a metade da populao ocupa-da estava em seus empregos h menos de dois anos(48,5%), dos quais expressivos 35% estavam h menos

    de um ano (Tabela 1). preciso desde logo lembrar queesses dados ocultam enormes diferenciaes e clivagensinternas ao mercado de trabalho: a precariedade intrnse-ca prpria atividade dos trabalhadores autnomos, muitofreqentemente montada em uma extraordinria impro-visao para mobilizar recursos e aproveitar oportunida-des (sempre incertas, sempre descontnuas) no mercado;a trama das vrias ilegalidades em meio a qual se estrutu-ram os segmentos do mercado no qual transitam os traba-lhadores sem carteira de trabalho; as prticas recorrentesde demisso no ncleo organizado da economia atingin-do sobretudo o pessoal mais desqualificado, que perma-

    nece, mesmo nas empresas mais modernas e hoje em pro-cesso de reestruturao, sujeito s formas antigas ourenovadas do velho e conhecido fordismo. certo tam-bm que esses dados no do conta da precarizao quehoje se instala no ncleo duro da economia por conta dacrescente utilizao de formas variadas de contrato tem-porrio e subcontratao. Mas esses dados indicam a or-dem de grandeza dessa instabilidade que atravessa todo omercado de trabalho e nisso, precisamente, que dizemalguma coisa quanto ao padro de funcionamento de ummercado que opera e sempre operou com base nessa ex-traordinria fragilidade dos vnculos de trabalho.

    Pode parecer uma tautologia dizer que esses trabalha-dores instveis, com pouco tempo de permanncia em seusempregos, so especialmente sujeitos ao desemprego.Afinal, o desemprego peridico constitutivo da trajet-ria errtica desses trabalhadores no mercado de trabalho.

    TABELA 1

    Distribuio dos Ocupados, segundo Tempo de

    Permanncia no Emprego Atual

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-94

    Em porcentagem

    Tempo de Ocupados (1)Permanncia noEmprego Atual 1990 1991 1992 1993 1994

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    At Menos de 2 Anos 48,9 50,1 49,7 48,9 48,5

    At 1 Ano 34,8 36,1 35,0 34,9 35,1

    1 a Menos de 2 Anos 14,1 14,0 14,7 14,0 13,4

    2 a 4 Anos 22,8 21,3 21,3 22,4 21,9

    5 a 9 Anos 13,1 13,8 14,4 14,6 15,4

    10 Anos e Mais 14,6 14,2 14,1 13,8 13,8

    Sem Declarao 0,6 0,5 0,5 0,3 0,3

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabula-es especiais da autora.(1) Excluem os funcionrios pblicos.

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    Mas isso deixa de ser uma trivialidade quando a refern-cia a ordem de grandeza que os dados indicam. Emboraseja verdade que o desemprego dos ltimos anos vem atin-gindo trabalhadores antes mais preservados em seus em-

    pregos, mais experientes e qualificados, e por mais que operfil da populao desempregada tenha tambm se alte-rado ultimamente, o fato que esses trabalhadores inst-veis compem as parcelas majoritrias da populao de-sempregada: em 1994, a taxa de desemprego entre opessoal com menos de dois anos de emprego chegava aconsiderveis 18,2% contra a mdia de 12,2% no con-junto dos desempregados com experincia anterior de tra-balho. Representavam, em 1994, 71% dos desemprega-dos, sendo que 57% no chegaram a ficar um ano em seusempregos anteriores (Tabela2).

    essa transitividade entre o trabalho instvel e o de-

    semprego que d a medida da tragdia social engendradano mercado de trabalho: entre o desemprego e o trabalhoinstvel, a vulnerabilidade no mercado de trabalho atin-gia, em 1994, cerca da metade da populao economica-mente ativa. Como era de se esperar, essa a situaoque praticamente tipifica os trabalhadores com menos de18 anos. E chega a atingir 70% dos trabalhadores jovens,entre 18 e 24 anos, e expressivos 45% dos trabalhadoresna faixa de 25 a 39 anos (Tabela3). Essa vulnerabilidadeatravessa todo o mercado de trabalho, inclusive o ncleodinmico da economia: na indstria, em 1994, entre odesemprego e o trabalho instvel, essa vulnerabilidadeatingia metade da populao ativa (49,9%), variando en-tre 43,4% nas indstrias qumicas a 61,5% nas indstriastxteis (Tabela4).

    essa vulnerabilidade que gostaramos de enfatizar.Mais do que a oposio entre mercado formal e informal,parece que essa vulnerabilidade que pode nos dar umachave para elucidar como esse mercado opera, por via deum permanente e contnuo curto-circuito no vnculo queos trabalhadores chegam a estabelecer no mercado. Seriapossvel dizer que nessa vulnerabilidade se aloja o bura-co negro que absorve, sorve e subtrai as energias polti-cas mobilizadas pela reivindicao de direitos e pelasprticas de representao. Traduz trajetrias de trabalho

    que escapam o tempo todo da trama de relaes armadaentre a sociabilidade do cotidiano do trabalho, as prticasda representao sindical e a armadura institucional etambm jurdica por onde circulam demandas de direi-tos, se expressam litgios e conflitos e se definem os ter-mos de sua possvel arbitragem. como se houvesse, nosubsolo dessa institucionalidade que articula o mundo dotrabalho com o universo formal da cidadania, um movi-mento que subtrai permanentemente sua efetividade efetividade que sempre foi muito restrita e limitada porconta do legado ainda vivo da tradio corporativa que

    TABELA 2

    Distribuio dos Desempregados com Experincia Anterior

    de Trabalho e Taxas de Desemprego, segundo o Tempo de Permanncia

    no Emprego Anterior

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-1994

    Em porcentagem

    Desempregados

    1990 1994

    Distribuio Taxas Distribuio Taxas

    Total 100,0 9,1 100,0 12,4

    At Menos de 2 Anos 73,9 13,9 71,0 18,2

    At 1 Ano 57,5 15,1 53,5 18,9

    1 a Menos de 2 Anos 16,4 10,8 17,4 16,2

    2 a 4 Anos 16,4 6,7 17,9 10,6

    5 a 9 Anos 5,5 3,8 6,8 5,6

    10 Anos e Mais 3,0 1,8 3,8 3,1

    Sem Declarao 1,3 18,7 0,5 17,5

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabula-es especiais da autora.

    TABELA 3

    Distribuio dos Desempregados e do Total de Ocupados, por Faixa

    Etria, segundo Tempo de Permanncia no Emprego Atual

    Regio Metropolitana de So Paulo 1994

    Em porcentagem

    Faixa Etria

    10 a 14 15 a 17 18 a 24 25 a 39 40 ou TotalAnos Anos Anos Anos Mais

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0Desempregados 42,9 38,0 20,1 11,0 6,9 14,2

    OcupadosMenos de 2 Anos 48,7 52 52,3 37,1 27,8 38,92 a 4 Anos 7,9 8,9 19,3 21,5 16,3 18,55 a 9 Anos 0,2 0,9 7,8 18,8 15,8 14,010 Anos ou Mais - - 0,4 11,4 32,7 14,1

    Sem Declarao 0,2 0,2 0,1 0,3 0,5 0,3

    Fonte: SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED.Tabula-es especiais da autora.

    TABELA 4

    Distribuio da PEA Industrial, por Ramos Industriais,

    segundo Tempo de Permanncia no Emprego Atual

    Regio Metropolitana de So Paulo 1994

    Em porcentagem

    Ramos IndustriaisMetal- Qumicas, Farm. Txteis, Outras Total

    Mecnica e Plsticos Vesturio Indstrias

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0Desempregados 13,6 13,7 16,4 15,7 14,8Ocupados

    Menos de 2 Anos 30,1 29,7 45,1 37,1 35,12 a 4 Anos 18,1 22,2 18,5 19,6 19,15 a 9 Anos 19,9 18,1 11,9 14,6 16,510 Anos ou Mais 18,3 16,2 7,9 12,9 14,4

    Sem Declarao 0,1 0,1 0,2 0,2 0,1

    Fonte: SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabula-es especiais da autora.

    Tempo de Permannciano Emprego Anterior

    PEA e Tempo dePermanncia noEmprego Atual

    PEA Industriale Tempo dePermanncia noEmprego Atual

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    historicamente regeu a organizao do trabalho. Mas se-ria o caso de se perguntar at que ponto essa permanentee contnua eroso por baixo da sociabilidade do traba-lho no termina por repor uma ordem institucional regida

    por uma lgica que obstrui a universalizao dos direitose a generalizao das prticas de representao. Essa no, bem o sabemos, uma questo nova. um dilema quesempre desafiou o sindicalismo mais atuante, mesmo emsuas fases mais gloriosas nos anos 80, mas que ganhanovas configuraes no cenrio atual de reestruturaoprodutiva.

    Precarizao das relaes de trabalho, heterogeneida-de ocupacional redefinida atravs de uma variedade in-dita de formas de contrato e situaes de trabalho (inclu-da a volta do trabalho familiar) e desemprego de longadurao, tudo isso vem sendo debatido, medido, analisa-

    do e no seria o caso aqui de discutir a ordem de suascausalidades ancoradas nas mudanas em curso, conju-gando uma histria de longa durao e os rumos de umamodernizao selvagem que nos projeta no sculo XXIsem que se tenha ainda resolvido as tarefas clssicas deuma modernidade incompleta (igualdade e justia so-cial). No entanto, gostaramos de enfatizar algumas ques-tes que nos parecem importantes e que dizem respeito aum novo diagrama de desigualdades que desafia a agen-da clssica de universalizao de direitos.

    Os novos requerimentos tecnolgicos e os novos pa-dres de organizao do processo produtivo sobrepems antigas e persistentes desigualdades uma segmentaocada vez maior entre setores crescentemente restritos detrabalhadores mais qualificados, mais valorizados e pre-servados em seus empregos, e uma maioria que no apre-senta as habilitaes exigidas pelo novo padro produti-vo, transitando entre o desemprego, o mercado informale as velhas e novas formas de trabalho precrio. O queest em jogo nesse processo a quebra de uma estruturaocupacional que, mal ou bem, permitiu, durante dcadas,a integrao de amplos contingentes de uma fora de tra-balho pouco ou nada qualificada, interrompendo um ci-clo histrico e de longa durao de mobilidade ocupacio-nal e social (Medeiros e Salm, 1994). Ainda ser preciso

    conhecer melhor as conseqncias societrias de mudan-as que esto retirando a eficcia de estratgias ocupa-cionais (e de vida) ancoradas na experincia de trabalhoacumulada no correr dos anos e em uma teia de sociabili-dade que sempre operou como mecanismo informal deentrada e circulao no mercado de trabalho, mobilizan-do informaes, oportunidades e chances de emprego. Nose est aqui querendo encontrar alguma virtude no padroanterior de funcionamento do mercado, mas chamar a aten-o para o fato de que o bloqueio dessa espcie de circu-lao (circulao precria, por certo) no mercado de tra-

    balho redefine por inteiro o sentido da instabilidade ocu-pacional de que se tratou anteriormente.

    certo que nos ltimos anos tem crescido relativamentea presena de trabalhadores mais estveis, com cinco a

    nove anos em seus empregos (de 13%, em 1990, a 15,4%,em 1994). Mas tambm certo que essa maior estabiliza-o muito seletiva e responde aos novos e excludentescritrios pelos quais vm se dando a reestruturao pro-dutiva, a redefinio dos modos de organizao do traba-lho e de suas hierarquias internas. No limite, essa maior(e relativa) estabilizao, longe de poder ser tomada emsi como um indicador positivo, tende a cristalizar segmen-taes e desigualdades em meio a um mercado estrutura-do entre enclaves de modernidade e uma maioria comchances cada vez mais reduzidas no mercado de traba-lho, transitando entre o desemprego, o emprego instvel,

    e as velhas e novas formas de trabalho precrio. Parececlaro que essa segmentao significa um aumento cres-cente das desigualdades e disparidades salariais. Mas noapenas isso: como vrios analistas tm enfatizado, essassegmentaes se traduzem tambm em diferenas de pa-dres de consumo e estilos de vida, abrindo um fosso quaseintransponvel entre o universo da pobreza, por ondecirculam e no qual esto fixados contingentes crescentesde trabalhadores, e os que se integram nos circuitos mo-dernizados do mercado e tambm da vida urbana, quemanipulam essas coisas modernas, de computador comodiz um jovem trabalhador ao relatar, desalentado, a difi-culdade, para ele quase intransponvel, de entrar nessemoderno mercado de trabalho.

    Essas diferenciaes e segmentaes no podem sertomadas como a traduo direta, sem mediaes, das es-truturas produtivas, mas antes como a contraface de umadestituio de direitos que hoje avana por todo o merca-do de trabalho, atingindo o ncleo dinmico da econo-mia. Trata-se de uma destituio e isso talvez tenhamosque entender melhor que, ao mesmo tempo em que gerafragmentao e excluso, ocorre em um cenrio de enco-lhimento do horizonte de legitimidade dos direitos sociais.1

    Ainda ser preciso conhecer melhor at que ponto e porque vias essa extraordinria mutao dos significados dos

    direitos que vem nas trilhas da onda neoliberal (no Brasile no mundo), agora apresentados como nus, custos eanacronismos que entravam a suposta vocao moderni-zadora do mercado e as virtudes empreendedoras dos in-divduos, afetam ou vem afetando a sociabilidade do tra-balho. Trata-se de uma mutao que se inscreve, em estadoprtico, no modo como a reestruturao produtiva vemse dando e como as segmentaes se cristalizam no mer-cado de trabalho.

    Como bem descrevem Medeiros e Salm (1994), as novassegmentaes e dualizaes vm se processando em um

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    Talvez o mais importante e tambm o mais inquie-tante que essas segmentaes se instalam no interiordos processos produtivos atravs de uma teia de diferen-ciaes que minam os espaos operrios tradicionais.

    Como as pesquisas vm mostrando, h no interior de ummesmo espao produtivo a combinao de formas mo-dernas de gesto do trabalho regidas pelos critrios daparticipao, envolvimento e comprometimento ati-vo com os imperativos de qualidade e produtividade, e apersistncia, mesmo que renovada e redefinida no inte-rior das novas hierarquias ocupacionais, dos padres for-distas de trabalho em que prevalecem as ms condiesde trabalho, a insegurana dos empregos, os despotismosde sempre mesmo que temperados pelos novos ares par-ticipacionistas e esse o ponto a ser enfatizado aexcluso dos benefcios e garantias que os trabalhadores

    integrados nos ncleos modernizados da produo nego-ciam como recompensa de seu prprio empenho na pro-duo. Se possvel dizer, com Le Goff, que os direitossignificam (ao menos em princpio, princpio nunca in-teiramente realizado e muito menos na experincia brasi-leira) uma regulao das relaes de trabalho no sujeitaaos imperativos instrumentais da economia, mas regidapelo imperativo tico de justia e igualdade, se nessestermos que a reivindicao por direitos atualiza, ao me-nos virtualmente, a vocao universalista da cidadania,estas prticas significam ou podem significar uma des-figurao da noo e da prtica dos direitos atravs desua instrumentalizao pela racionalidade econmica domercado, submetendo-os aos seus imperativos de efic-cia e produtividade. Isso afeta as concepes e represen-taes sobre o social e os direitos a ele indexados, e tam-bm a prtica e as condies do exerccio da cidadania.Para os que tm a sorte de se manter integrados e (relati-vamente) preservados em seus empregos, as garantiasnegociadas deixam de ser conjugadas na gramtica dacidadania e passam a ser percebidas sob um modo deri-vado do crescimento das empresas e das competnciasindividuais para o envolvimento e comprometimen-to com as exigncias de qualidade e eficcia. Comomostram pesquisas recentes, essa mutao de significa-

    dos dos direitos e essa eroso dos espaos operrios tra-dicionais algo que vem se processando nos modos comoas novas tecnologias vm sendo introduzidas, redefinin-do o espao e a sociabilidade operrias atravs da pro-moo de relaes individualizadas em hierarquias rede-finidas na organizao do trabalho, com nfase noscritrios do desempenho individual. Para os demais, su-jeitos insegurana nos seus empregos, a noo de direi-tos perde qualquer sentido pela impossibilidade prticade seu exerccio e por conta dessa espcie de descreden-ciamento que a prpria condio de trabalho implica para

    quadro marcado por um hibridismo ocupacional que re-mete s formas de regulao do mercado de trabalho e sedesdobra na fragmentao dos espaos de representao,introduzindo clivagens profundas entre parcelas cada vez

    mais restritas e reduzidas de trabalhadores que conseguemnegociar garantias e prerrogativas nos espaos do traba-lho e trabalhadores submetidos a relaes de trabalho semqualquer mediao representativa, sujeitos, por isso mes-mo, gesto unilateral da fora de trabalho. um quadrosocial no qual a vida sindical e as relaes formais deassalariamento convivem com um universo fragmentadoe desestruturado em situaes de trabalho incomensur-veis nas suas especificidades, sem uma medida comumque s poderia ser construda pela mediao dos direitose dos espaos de representao. nesse universo que cres-ce a precarizao. Para os trabalhadores nele inseridos,

    os sindicatos no existem, a lei funciona mal, a rotativi-dade alta e a modernizao sinnimo de desempre-go. Se isso aumenta o fosso entre segmentos diferenciadosdo mercado de trabalho, o hibridismo institucional isolaos setores mais modernos e compromete o poder de inter-pelao dos sindicatos para alm das categorias profis-sionais mais organizadas e com maior tradio sindical.

    No interior desse hibridismo institucional, as segmen-taes e diferenciaes no mercado de trabalho se desdo-bram e se duplicam nos dilemas atuais das polticas so-ciais. Parcelas ponderveis da populao trabalhadoraintegrada no mercado formal j esto vinculadas a siste-mas privados de sade, educao e aposentadoria. No quediz respeito ao acesso aos servios de sade na RegioMetropolitana de So Paulo, cerca de 45% da populaoocupada possuam convnios mdicos, proporo que, noentanto, oculta uma brutal e perversa diferenciao inter-na conforme nveis salariais e formas de integrao nomercado de trabalho, mostrando com isso a lgica regres-siva do mercado, s avessas dos critrios universalizan-tes e redistributivos que os servios sociais, em princ-pio, deveriam conter (Braglia, 1996). Como bem notaWilns Henrique (1993), esse um mecanismo perversoque solapa a construo de princpios de solidariedadesocial efetiva por conta de diferenciaes de interesse con-

    forme a qualidade dos servios e benefcios. Nesse cen-rio, os arranjos neoliberais ganham terreno, acenando coma perspectiva de uma privatizao dos servios pblicosque, se efetivada, haver de institucionalizar e sacramen-tar a segmentao da cidadania pela clivagem entre os quetm acesso aos servios fornecidos pelo mercado e aque-les que so destinados aos precrios servios pblicosestatais, vistos cada vez mais como coisa de pobre, sig-no da incompetncia ou fracasso daqueles que golpeadospelos azares do destino no puderam ou no souberamprovar suas virtudes empreendedoras no mercado.

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    a barganha de garantias transfiguradas no registro de re-compensas, e no como direitos que devem valer paratodos.

    Essa eroso dos espaos operrios tradicionais se des-

    dobra nas prticas hoje cada vez mais freqentes de ter-ceirizao, subcontratao e trabalho temporrio. Nessecaso, a realidade operria se fragmenta e se pulveriza aolongo dos circuitos de cadeias produtivas que transbor-dam as definies formais de categorias e jurisdio sin-dical, subvertendo por inteiro as relaes entre trabalho erepresentao e estendendo como nunca esse enorme emultifacetado universo das classes inacabadas, por meioda mobilizao de diversas formas de trabalho precrio,incluindo na sua ponta at mesmo o antigo e hoje cres-cente trabalho familiar. E isso coloca vrias questes.

    Por um lado, a chamada flexibilizao das normas con-

    tratuais disso que se trata est significando, alm dadegradao das condies de trabalho e deteriorao depadres salariais, uma segmentao jurdica que jogamuitos no pior dos mundos um mundo no qual no exis-tem garantias (por definio precrias) do contrato de tra-balho regular, que se estrutura s margens das normaspactuadas e dos benefcios conquistados em acordos tra-balhistas e que se fragmenta na ausncia de mecanismosestveis de representao. Se essa situao que fragmentao espao operrio tradicional, solapa referncias identi-trias, quebra a trama de solidariedades construdas emespaos de conflitos e representao, essa flexibilizaoelide a prpria questo da justia, ao menos tal como foiformulada na concepo moderna de direitos, medianteuma regulamentao do trabalho inteiramente subsumi-da aos critrios da racionalidade instrumental do mercado.

    Por outro lado, essas situaes tambm colocam ques-tes inteiramente novas. De um ponto de vista formal,podemos dizer que os direitos no significam apenas ga-rantias. Estruturam um campo de relaes pela definio e tipificao de responsabilidades e obrigaes; e ar-ticulam (ou se articulam com) uma esfera institucional naqual e pela qual sempre possvel, nos casos de litgios,de burla de normas contratuais ou de problemas referen-tes s condies de trabalho (acidentes de trabalho, por

    exemplo) proceder imputao de responsabilidades,apelar s instncias da Justia e definir os termos de umapossvel arbitragem. Se assim, ento a questo que secoloca a eroso prtica dos direitos em circunstnciasnas quais no est claro quem so os protagonistas, emque as responsabilidades no so definidas claramente eem que as esferas de deliberao esto descentradas e frag-mentadas numa rede produtiva que tende, ademais, se-guindo os fluxos da globalizao, a ser cada vez maisdesterritorializada. Se a questo comentada anteriormen-te coloca o problema das relaes entre trabalho e repre-

    sentao, aqui a questo est nas relaes de direito nointerior mesmo do processo produtivo.

    Essas questes esto longe de se reduzirem a uma es-peculao abstrata. algo que vem se colocando muito

    concretamente nessa teia de fragmentaes em que seg-mentos crescentes de trabalhadores, integrados na estru-tura multifacetada por onde as cadeias produtivas se or-ganizam, desaparecem das categorias profissionais e dosquadros da representao sindical (Rizek e Silva, 1996).E tambm dos dados que medem o perfil e a composiodas categorias profissionais, o que inclui a ns, pesquisa-dores, que lanam mo de definies e categorias e esta-tsticas que, assim parece, j no correspondem inteira-mente s novas realidades.

    por esse ngulo que talvez se possa avaliar o sentidoda precarizao e da fragmentao em curso na indstria.

    Para voltar objetividade (que nesses tempos perdeu muitode sua anterior certeza) dos dados, pode-se ter ao menosuma medida do que pode estar acontecendo:- ao mesmo tempo em que, de 1990 a 1994, h um enco-lhimento do nmero de postos de trabalho, crescem emtoda a indstria os indicadores de precarizao: assala-riados sem carteira de trabalho e trabalhadores autno-mos, e tambm os pequenos empreendimentos, de um a49 empregados, que chegavam a ocupar cerca de 26,3%dos trabalhadores industriais (versus 19,7% em 1994); seconsiderarmos os empreendimentos com 50 a 99 empre-gados, essa proporo sobe para 33,8% contra 25,7% em1990 (Tabela 5);

    -embora a presena dos assalariados sem carteira e dosautnomos seja particularmente importante nas indstriastxteis, foi no ramo metal-mecnico que se pde verifi-car as mudanas mais significativas nos vnculos de tra-balho: proporcionalmente, foi nessas indstrias que hou-ve um maior aumento relativo tanto do assalariamento semcarteira (de 3,8% para 7,5% em 1994) quanto dos autno-mos (de 2,1% para 3,1%). certo que esses trabalhadoresrepresentam uma proporo relativamente pequena nes-sas indstrias e que o vnculo formal de trabalho (ainda?)predomina amplamente. Mas no irrelevante notar queesse aumento da precariedade dos vnculos de trabalho acompanhada por um igualmente expressivo aumento dosempreendimentos com at 99 empregados (de 18,1% em1990 para 27,5% em 1994) tambm mais acentuado, emtermos relativos, do que nos outros ramos industriais;

    -mas no comportamento claramente diferenciado dasindstrias qumicas que se pode ter, paradoxalmente, umamedida do que anda acontecendo com o mercado de tra-balho: em relao s indstrias metal-mecnicas, o cres-cimento relativo da precarizao nitidamente menor no caso dos trabalhadores autnomos, apesar de terem uma

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    TABELA 5

    Ocupados na Indstria, por Ramos Industriais, segundo Posio na Ocupao, Tamanho da Empresa e Nmeros de Empregados

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-1994

    Em porcentagem

    Ocupados na IndstriaPosio na Ocupao, Tamanho daEmpresa e Nmeros de Empregados Metal-Mecnica Qumicas, Farm. Txteis, Outras Total

    e Plsticos Vesturio Indstrias

    1990TOTAL 37,8 44,2 88,8 70,6 56,4Posio na Ocupao 5,9 10,3 26,2 18,9 13,6

    Assalariados sem Carteira 3,8 4,5 11,4 9,5 6,8Autnomos para o Pblico 0,5 0,3 2,1 3,8 1,7Autnomos para Empresa 1,6 5,5 12,7 5,6 5,1

    Tamanho da Empresa 0,8 0,8 4,0 5,1 2,5Trabalha Sozinho 0,5 0,4 1,9 2,6 1,3Com Famlia e Scios 0,3 0,4 2,1 2,5 1,2

    Nmero de Empregados 18,1 21,3 40,4 30,2 25,71 a 9 Empregados 3,5 4,2 15,2 11,3 7,810 a 49 Empregados 8,7 10,2 18,0 13,7 11,9

    50 a 99 Empregados 5,9 6,9 7,2 5,2 6,0

    1994TOTAL 28,8 20,4 57,4 41,9 37,4Posio na Ocupao 10,6 12,7 32,3 23,0 18,8

    Assalariados sem Carteira 7,5 5,8 14,8 12,3 10,2Autnomos para o Pblico 0,8 0,6 4,2 4,5 2,6Autnomos para Empresa 2,3 6,3 13,3 6,2 6,0

    Tamanho da Empresa 1,3 0,7 6,4 5,9 3,6Trabalha Sozinho 0,6 0,2 2,3 3,2 1,7Com Famlia e Scios 0,7 0,5 4,1 2,7 1,9

    Nmero de Empregados 27,5 19,7 51,0 36,0 33,81 a 9 Empregados 6,0 4,5 20,6 12,6 10,710 a 49 Empregados 13,4 9,2 21,9 16,7 15,650 a 99 Empregados 8,1 6,0 8,5 6,7 7,5

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabulaes especiais da autora.

    maior participao nas indstrias qumicas, esse cresci-mento relativo foi menor do que nas metalrgicas; quan-to aos trabalhadores sem carteira, o crescimento tambmfoi menor e, em 1994, sua presena nas indstrias qumi-cas chegava a ser menor do que nas metalrgicas (5,8%versus7,5%), invertendo-se a situao que existia em 1990 3,8% nas metalrgicas e 4,5% nas indstrias qumicas(Tabela 5);

    -quando se toma como referncia apenas os trabalhado-res com carteira de trabalho, as diferenas so ainda maisacentuadas: se h, no conjunto da indstria, uma tendn-

    cia ntida maior estabilizao dos trabalhadores comcarteira, essa tendncia ainda mais acentuada nas inds-trias qumicas a presena de trabalhadores com cinco anove anos no mesmo emprego salta de 14,7% em 1990para 23% em 1994 diferena de mais de 50%, bem maiordo que a acorrida entre as metalrgicas de 18,1% em1990 para 24,9% em 1994, um diferena de um poucomais de 1/3 (Tabela 6); ao contrrio do que ocorre no con-junto do mercado industrial formal e de forma ainda maisacentuada entre as metalrgicas, h uma espantosa dimi-nuio das empresas de um a 49 empregados, de 12,3%

    para 9% em 1994, e tambm dos empreendimentos de 50a 99 empregados, de 7,1% para 5,9% em 1994 (Tabela7). E mais notvel de tudo: ao contrrio do que se verifi-ca no conjunto do mercado, os trabalhadores emprega-dos nesse setor foram os nicos que tiveram, entre 1990 e1993, um ganho relativo em termos de salrios, inverten-do-se com isso o padro que existia em 1990, quando entoos salrios mdios dos trabalhadores qumicos eram li-geiramente inferiores aos dos metalrgicos em 1993, amdia salarial dos qumicos chegava a ser 10% mais altaque a dos metalrgicos (Tabela 8).

    Como interpretar esses dados? Quanto aos ganhos sala-riais relativos dos qumicos em relao ao conjunto do mer-cado, no to evidente, na verdade pouco provvelque isso decorra de uma maior organizao e combativida-de sindical.2A explicao parece estar em outro lugar, emum processo de reestruturao que, ao mesmo tempo emque leva a uma diminuio do nmero de postos de tra-balho, mantm em seu ncleo duro os trabalhadores maisestveis, mais qualificados e mais protegidos, enquantocontingentes crescentes so externalizados para outrossetores e outros ramos de atividade que, assim, somem

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    TABELA 6

    Distribuio dos Assalariados com Carteira Assinada na Indstria, por Ramos Industriais,

    segundo Tempo de Permanncia no Emprego Atual

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-1994

    Em porcentagemAssalariados com Carteira Assinada na Indstria

    Tempo de Permanncia

    no Emprego Atual Metal-Mecnica Qumicas, Farm. Txteis, Outras Total

    e Plsticos Vesturio Indstrias

    1990

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    At 2 Anos 35,8 40,1 50,5 44,0 40,4

    2 a 4 Anos 25,8 27,8 24,4 24,8 25,6

    5 a 9 Anos 18,1 14,7 13,9 15,2 16,3

    10 Anos e Mais 20,1 17,3 11,2 15,8 17,4

    Sem Declarao 0,2 0,1 - 0,2 0,2

    1994Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    At 2 Anos 31,0 30,0 46,4 37,0 34,9

    2 a 4 Anos 21,9 27,9 25 26,3 24,3

    5 a 9 Anos 24,9 23,0 18,3 20,2 22,3

    10 Anos e Mais 22,1 19,0 10,1 16,3 18,3

    Sem Declarao 0,1 0,1 0,2 0,2 0,2

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabulaes especiais da autora.

    TABELA 7

    Distribuio dos Assalariados com Carteira Assinada na Indstria,

    por Ramos Industriais, segundo Tamanho do Empreendimento

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-1994

    Em porcentagemAssalariados com Carteira Assinada na Indstria

    Metal-Mecnica Qumicas, Farm. Txteis, Outras Total

    e Plsticos Vesturio Indstrias

    1990

    Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

    At 99 Empregados 15,3 19,4 32,7 23,7 20,4

    1 a 9 Empregados 1,8 3,0 6,9 5,6 3,6

    10 a 49 Empregados 7,8 9,3 17,0 12,2 10,4

    50 a 99 Empregados 5,7 7,1 8,8 5,9 6,4

    100 a 499 Empregados 18,9 21,8 19,4 15,3 18,4

    500 ou Mais 51,3 44,7 30,6 44,1 45,7

    Sem Declarao 14,4 14,1 17,3 16,9 15,4

    1994

    Total 100,0 100,0 99,9 100,0 100,0

    At 99 Empregados 21,8 14,9 42,4 28,3 25,9

    1 a 9 Empregados 2,4 2,1 7,2 4,9 3,8

    10 a 49 Empregados 11,2 6,9 23,3 15,3 13,7

    50 a 99 Empregados 8,2 5,9 11,9 8,1 8,4

    100 a 499 Empregados 24,1 23,6 23,3 21,7 23,2

    500 ou Mais 46,2 53,5 25,3 39,7 42,0

    Sem Declarao 8,1 8,0 8,9 10,3 8,9

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabulaes especiais da autora.

    Tamanho do Empreendimento

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    TABELA 8

    Rendimento Mdio de Assalariados com Carteira Assinada na Indstria,

    segundo Ramos Industriais

    Regio Metropolitana de So Paulo 1990-1993

    Em R$Rendimento Mdio do Trabalho (1)

    Ramos Industriais1990 1993

    Total 890,39 861,24

    Metal-Mecnica 1.009,73 1.003,79

    Qumica, Farm. e Plsticos 993,34 1.105,14

    Txtil, Vesturio 538,22 503,86

    Outras Indstrias 823,83 753,31

    Fonte:SEP. Convnio Seade-Dieese. Pesquisa de Emprego e Desemprego PED. Tabula-es especiais da autora.(1) Rendimento atualizado para valores de abril de 1995.Nota:No momento de elaborao dessas tabelas, os dados referentes a 1994 no estavamainda disponveis.

    da categoria. Ao descrever, por exemplo, os servios sub-contratados de embalagem em uma indstria qumica,Risek e Silva mostram uma terceirizao suja e predat-ria na ponta da cadeia produtiva da empresa, que incor-

    pora trabalhadores, na maioria mulheres, com base emcontratos temporrios, submetidos a pssimas condiesde trabalho, sem os benefcios dos trabalhadores contra-tados (convnio mdico, cesta bsica, transporte) e, piorde tudo, fora da rea de atuao do sindicato, pois nomantm vnculo contratual estvel, so computados comotrabalhadores autnomos em servios e desaparecem dosdados relativos ao perfil da fora de trabalho do comple-xo qumico. aqui que talvez mais se explicite o sentidomesmo da excluso. No se trata de uma gente que estfora do mercado e da vida social organizada, como sediz muito freqentemente, mas nesse lugar que, sem a

    mediao pblica dos direitos e da representao, se per-de na invisibilidade social. Isso sempre aconteceu nomercado de trabalho. o cenrio das classes inacaba-das. O peculiar aos tempos que correm algo como umadisjuno entre a palavra e as coisas (sem referncia, aqui,ao livro famoso de Foucault), uma realidade que escapas referncias identificatrias, s representaes (no du-plo sentido, de representao sindical e representao sim-blica) e se pulveriza na indiferenciao prpria dos queno tm nome as trabalhadoras pesquisadas por Rizek eSilva no sabem ao certo como se identificar, no se re-conhecem como qumicas e, quanto aos dirigentes sindi-cais, tampouco sabem ao certo seu lugar se no soqumicas e tampouco so trabalhadoras de verdade (soautnomas ou ento assalariadas com contrato tempor-rio), ento onde esto, quem so? Somem dos dados emuito provavelmente reaparecem nesse universo to gran-de quanto nebuloso que so os servios. Ou ento, comobem notam os autores, nessa caixa-preta que so as ou-tras atividades lugar dos no-classificveis.

    Difcil propor alguma concluso que no sejam ape-nas inquietaes. Se diante da avalanche neoliberal, aquesto que se apresenta hoje de refundar o horizontede legitimidade dos direitos, tambm verdade que asmudanas em curso na economia (e na sociedade) esto

    nos colocando em uma fronteira de dilemas que escapama conceitos, categorias e frmulas polticas conhecidas eque esto a exigir uma reinveno dos termos para sepensar as relaes entre trabalho, direitos e cidadania. Eisso no depende de frmulas tericas, por mais bem cons-trudas que possam ser. Est na ordem da inveno de-mocrtica e da refundao da poltica como espaos decriao e generalizao de direitos. Contra os rumos damodernizao selvagem em curso no pas, disso quedepende a possibilidade de uma redefinio das relaesentre o econmico e social, e um controle democrtico

    do jogo do mercado. Nesses tempos incertos, em que oconsenso conservador que tomou conta da cena pblicatenta fazer crer que estamos diante de processos inelut-veis e inescapveis, fazer essa aposta no pouca coisa.

    NOTAS

    1. Devemos a Cibele Saliba Risek essa mais do que apropriada expresso en-colhimento dos horizontes de legitimidade dos direitos sociais para avaliar osentido poltico das mudanas em curso. Agradecemos a cuidadosa leitura e dis-cusso da primeira verso desse artigo.

    2. Agradecemos a Leonardo Mello e Silva essa avaliao, e tambm a discussodos dados e da primeira verso desse artigo.

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