tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos

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Centro Nacional de Pesquisa de Algodão

Campina Grande, PB

2011

TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTODA AGRICULTURA FAMILIAR:

BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES

1ª edição

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TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTODA AGRICULTURA FAMILIAR:

BANCOS COMUNITÁRIOS DE SEMENTES

VICENTE DE PAULA QUEIROGA

ODILON RENY RIBEIRO FERREIRA DA SILVA

FRANCISCO DE ASSIS CARDOSO ALMEIDA

Editores Técnicos

Campina Grande, PB2011

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Exemplares desta publicação podem ser solicitados à:

Embrapa AlgodãoRua Osvaldo Cruz, 1143 - CentenárioCaixa Postal 17458.428-095 - Campina Grande, PBFone: (83) 3182-4384Fax: (83) [email protected]

Fraternidade de São Francisco de Assis - FFA (ONG)Praça da Matriz, 656 centroCEP: 64.745-000 São Francisco de Assis do Piauí-PIFones: (89) 3482.1218, 3496.0058Fax: (89) 3482.1218

Universidade Federal de Campina Grande - UFCGCentro de Tecnologia e Recursos NaturaisÁrea de Armazenamento e Processamento de Produtos AgrícolasEndereço: Av. Aprígio Veloso, 882, BodocongóCampus I, UFCGCaixa Postal: 10.087CEP: 58.429-140Fones: (83) 3310.1055Fax: (83) 3310.1185www.deag.ufcg.edu.br

Revisão do texto: Marleide Magalhães de Andrade LimaNormatização Bibliográfica: Valter Freire de CastroEditoração Eletrônica: Profissional ParticularCapa: Flávio Torres de Moura1ª edicão1ª impressão: 500 exemplares

Todos os direitos reservadosA reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação

dos direitos autorais (Lei nº 9.610)CIP-Brasil, Catalogação na publicação

FFA em parceria com a Embrapa Algodão e UFCG_________________________________________________________________________

QUEIROGA, V.P., SILVA, O.R.F., ALMEIDA, F.A.C. Tecnologias para o desenvolvimento da agriculturafamiliar: Bancos Comunitários de Sementes. 1.ed. Campina Grande: Fraternidade de São Francisco deAssis / Universidade Federal de Campina Grande, 2011.

160p.il.; 20 cmISBN:

1. Gergelim - Banco Comunitário de Sementes- Agricultura Familiar- Nordeste- Brasil. I. Queiroga, V.P.;Silva, O.R.F.; Almeida, F.A.C. - Título.

CDD

@FFA 2011

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Vicente de Paula Queiroga (Dr)Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -Embrapa AlgodãoCentro Nacional de Pesquisa de Algodão - CNPACampina Grande, PB (Brasil)

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva (Dr)Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -Embrapa AlgodãoCentro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPACampina Grande, PB (Brasil)

Francisco de Assis Cardoso Almeida (Dr)Professor Associado da Unidade Acadêmica deEngenharia AgrícolaCentro de Tecnologia e Recursos NaturaisUniversidade Federal de Campina Grande, PB (Brasil)

Autores

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Apresentação

As tecnologias apresentadas neste documento e que tratam do programaBanco Comunitário de Sementes objetiva repassar aos agricultores familiaresa possibilidade de administrarem seus próprios estoques de sementes,recebendo da instituição responsável uma quantidade de sementes para oplantio, devolvendo ao final da colheita, duas vezes a quantidade recebidapara dar continuidade ao banco existente e possibilitar a formação de novosbancos comunitários de sementes, permitindo a participação de um númerocada vez maior de agricultores ao programa. Essa dinâmica do banco estimulao processo organizativo da comunidade, pois é um espaço de gestão participativacom orientação técnica onde os produtores da agricultura familiares criam asregras e são responsáveis pelos estoques.

O desenvolvimento das tecnologias foi precedido de um amplo diagnósticoem que se constatou a necessidade das técnicas e a real possibilidade deserem absorvidas pelas comunidades rurais, especialmente, as que fazem aagricultura familiar.

O produtor que faz a agricultura familiar, geralmente utiliza-se da sobra dacolheita do ano anterior para a próxima semeadura, ou obtém sementes dovizinho mais próximo ou produz sua própria semente, valendo-se de processosempíricos, que são passados de geração para geração. A questão deve-se,entre outros fatores, à falta de conhecimento do real valor do emprego desementes melhorada e do preço destas em relação à semente não melhoradageneticamente, o que dificulta a decisão do agricultor quanto à sua aquisição.Contudo, este problema pode ser resolvido mediante a implementação doassociativismo por intermédio do Banco Comunitário de Sementes, organizaçãoque conta com a participação dos agricultores para garantir o acesso a sementesde boa qualidade, em quantidade suficiente e no período certo do plantio.

Ao produzir sua própria semente, o produtor da agricultura familiar não sóterá maiores chances de obter uma boa colheita, como também, maiorprodutividade com menor custo e, consequentemente, maior lucratividade esem depender de programas de distribuição de sementes. Ademais, é assim

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que se faz com que este agricultor passe a entender que na semente temos amaterialização do trabalho de muitas pessoas que dedicam uma vida inteira àbusca das características desejadas pelo mercado, seja no melhoramentogenético, seja na produção, na armazenagem, no tratamento, no transportee na comercialização.

Esta publicação tem por objetivo tratar o tema Bancos de Sementes cominformações que vão além do tema gestão propriamente dito, tratandoparcialmente as questões técnicas sobre a produção de sementes de diversasespécies cultivadas pelos agricultores familiares do nordeste do Brasil, ouseja, um conjunto de técnicas voltadas para um sistema participativo deprodução de sementes pelos agricultores em suas propriedades com seuspróprios sistemas de cultivo e com os recursos normalmente disponíveis napropriedade.

O levantamento realizado dos aspectos comuns na comunidade e dasparticularidades de cada propriedade que a integra permite ajustar as propostastécnicas da Embrapa, de modo que a produção e a conservação de sementesseja um ato participativo, rumo às práticas agroecológicas, em que açõestécnicas e práticas agrícolas familiares estejam entrelaçadas e resultem emfortalecimento dos Bancos Comunitários de Sementes. E, também, espera-seque as associações ou comunidades de produtores rurais da agricultura familiar,interessadas na organização de um Banco Comunitário de Sementes passema dominar e praticarem os procedimentos e critérios técnicos relacionadoscom a organização da produção de sementes e, em consequência, tenhammaiores possibilidades de sucesso nos respectivos negócios.

Por fim, este material é dedicado àquelas pessoas que no futuro aprenderãoa valorizar as sementes pelo seu inestimável valor no referente àsustentabilidade da agricultura como impulsionadora da rápida evolução donível de tecnologia agrícola, que nossa agricultura familiar tanto necessita.

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da SilvaChefe Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Algodão

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Prefácio

O Banco Comunitário de Sementes é uma organização que visa suprir asnecessidades de sementes dos agricultores familiares, sem que para isso eleprecise ter dinheiro. Esta prática representa, para o o agricultor, autonomia esegurança alimentar, dois conceitos muito importante na agroecologia.Armazenar sementes em Bancos Comunitários para utilizar no próximo plantiotem sido a alternativa utilizada por centenas de famílias de pequenosagricultores que vivem no semiárido brasileiro, para enfrentar os longosperíodos de estiagem e o combate à fome.

Estes Bancos são um modelo alternativo de administração coletiva da reservade sementes necessária para o plantio. O funcionamento se baseia no sistemade empréstimo e devolução. A família associada toma emprestada uma certaquantidade de sementes, à que se acrescenta uma porcentagem quandodevolvida depois da colheita. Para o início das atividades, o Banco definecoletivamente a quantidade de sementes que cada agricultor ou agricultoratem que depositar e qual será a porcentagem que deve ser acrescentada nadevolução. Este sistema permite que cada família produza e melhore suaprópria semente sob a gestão coletiva dos produtores familiares decomunidades rurais.

A dificuldade ao acesso e os altos custos das sementes de qualidade, aliadoàs dificuldades financeiras dos agricultores familiares, juntamente com a quaseausência de assistência técnica, fazem da produção comunitária de sementesuma saída viável, tanto para as lavouras de subsistência, quanto para facilitara comercialização dos seus excedentes.

A disponibilização de conhecimento técnico na produção de sementes dediversas espécies cultivadas na região semiárida do nordeste do Brasil, assimcomo a implantação de unidades comunitárias de produção de sementes emSão Francisco de Assis do Piauí servirão de modelo para outras associaçõesde produtores, além de constituir ferramenta para a difusão e apropriação detecnologias. Espera-se que o maior impacto desta iniciativa esteja na formaçãode um Banco Comunitário de Sementes, que permitirá o acesso a umadiversidade varietal de sementes, na preservação de sementes tradicionaisaltamente adaptadas às condições locais, e de alto valor sócio-cultural paraas comunidades, culminando com a preservação e a valorização do espaçorural.

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V Encontro de Produção Científica da Embrapa Algodão - EPC 2010

Com a ajuda e o incentivo dos técnicos locais, poderá ser demonstrada aforma ideal de selecionar e armazenar as melhores sementes destinadas aoplantio seguinte, sempre tendo o cuidado de respeitar as formas tradicionaispróprias de selecionar e guardar as melhores sementes produzidas nacomunidade pelos agricultores familiares.

A semente com qualidade é uma das principais garantias da sustentabilidadealimentar do homem que trabalha a terra e da sua família. A proposta deprodução de sementes e a criação de Bancos Comunitários de Sementes vêmassegurar não somente o futuro, mas também a valorização dos saberescientíficos e tradicional, possibilitando um melhor saber fazer entre aspopulações locais, os agricultores familiares e a Embrapa. Esta atitude éfundamental para proteger as variedades nativas e pesquisar novas opçõesde cultivares não só para a sobrevivência de seus usuários mas também paraaumentar a sua qualidade de vida e competitividade produtiva.

Portanto, o Banco Comunitário de Sementes é considerado uma práticarelativamente simples que pode beneficiar muitas famílias de agricultores quevivem na zona rural. E assim, sempre que houver terra, chuva e alguém dispostoa plantar, também haverá sementes para atender esses agricultores familiares.

Os autores deste livro acreditam que todos os conhecimentos à disposiçãodos agentes de desenvolvimento brasileiro comprometidos com as organizaçõesde agricultores familiares, poderão servi-lhes no aperfeiçoamento do sistemaprodutivo de sementes, visando melhorar o potencial dos Bancos Comunitáriosde Sementes, já existentes na região semiárida do nordeste do Brasil, comoum meio de garantia da seguridade de sementes de diversas espécies cultivadasem condições adversas.

Os autores

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Sumário

Capítulo 1 - Bancos Comunitários de Sementes nas ComunidadesRurais de São Francisco de Assis do Piauí....................................

Introdução..................................................................................MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ.................HISTÓRICO DOS BANCOS DE SEMENTES NO NORDESTE............PRODUÇÃO DE SEMENTES ORGÂNICAS ...................................BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES.......................................1. Banco Mãe de Sementes..........................................................2. Gestão dos Bancos de Sementes Comunitários..........................3. Situação Atual dos Bancos de Sementes em São Franciscode Assis do Piauí.........................................................................4. Organização dos Bancos de Sementes......................................5. Tipos de Bancos de Sementes..................................................a) Banco de Sementes Alimentares, Oleaginosas e Fibrosas...........b) Banco de Sementes Forrageiros................................................c) Banco de Sementes de Adubos Verdes......................................6. Acesso à Semente do Banco.....................................................7. Estrutura dos Bancos nas Comunidades....................................8. Tipo de Embalagem Adotada pelo Banco....................................9. Normas do Banco de Sementes................................................10. Controle de Estoque do Banco.................................................REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................

Capítulo 2 - Diagnóstico da Produção Agrícola para Formação deBancos Comunitários de Sementes em São Francisco de Assis doPiauí...........................................................................................

Introdução..................................................................................ENTREVISTA COLETIVA E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS EMSÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ PARA IMPLANTAÇÃO DEBANCOS DE SEMENTES............................................................

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RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS..........................................1. Situação da comunidade...........................................................2. Sistemas de semeadura...........................................................3. Preparo do solo e sistemas de plantio........................................4. Condições do campo e participação das espécies no consórcio eforrageiro....................................................................................5. Beneficiamento da produção.....................................................6. Seleção de plantas, secagem e acondicionamento de sementes.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................

Capítulo 3 - Sistemas de Produção de Sementes OrgânicasUtilizados pelos Produtores Familiares de São Francisco de Assisdo Piauí: Um Estudo de Caso.......................................................INTRODUÇÃO.............................................................................GERGELIM.................................................................................Seleção da área..........................................................................Preparo do solo...........................................................................Plantio........................................................................................Adubação do Solo.....................................................................Isolamento..................................................................................Roguing......................................................................................Capinas......................................................................................Controle de pragas.......................................................................Preparação de macerado..............................................................- MACERADO PARA LAGARTA....................................................- MACERADO PARA PULGÃO.....................................................- MACERADO PARA PULGÃO E LAGARTA..................................- MACERADO PARA MOSCA-BRANCA ADULTA............................- MACERADO PARA NINFAS DA MOSCA-BRANCA.......................MACERADO PARA COCHONILHA................................................Planta de neem............................................................................- MACERADO PARA LAGARTAS, PULGÕES, CIGARRINHA-VERDEE MOSCA-BRANCA....................................................................Época de corte das plantas..........................................................Secagem dos feixes....................................................................Batedura dos feixes.....................................................................Peneiração e ventilação das sementes..........................................Secagem das sementes...............................................................

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Armazenamento..........................................................................Rotação de culturas.....................................................................ALGODÃO HERBÁCEO...............................................................Antecedentes..............................................................................Condições da área ......................................................................Preparo do solo...........................................................................Característica da cultivar .............................................................Sementes...................................................................................Época de plantio..........................................................................Consórcio agroecológico...............................................................Capinas.......................................................................................Controle de pragas.......................................................................a) Controle Biológico....................................................................b) Controle Cultural.......................................................................- UNIFORMIDADE DE PLANTIO....................................................- MANIPULAÇÃO DE CULTIVARES...............................................- PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO...............................................- ESPAÇAMENTO AMPLO...........................................................- CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS..............................- DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA................................- ROTAÇÃO DE CULTURA............................................................- CULTURA-ARMADILHA..............................................................- ARMADILHA DE FEROMÔNIO....................................................c) Controle Climático.....................................................................d) Controle com Produtos Naturais.................................................Colheita.......................................................................................Beneficiamento............................................................................Armazenamento...........................................................................FEIJÃO.......................................................................................Escolha da área...........................................................................Preparo do solo............................................................................Isolamento da área.......................................................................Adubação....................................................................................Sementes....................................................................................Semeadura..................................................................................Controle de pragas.......................................................................Colheita.......................................................................................MILHO........................................................................................

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Preparo do solo...........................................................................Plantio........................................................................................Sementes...................................................................................Colheita......................................................................................ARROZ.......................................................................................Escolha da área...........................................................................Sementes....................................................................................Semeadura..................................................................................Colheita.......................................................................................SORGO.......................................................................................Seleção da área e preparo do solo.................................................Característica..............................................................................Adubação e plantio......................................................................Purificação..................................................................................Colheita......................................................................................AMENDOIM................................................................................Escolha da área e preparo de solo................................................Cultivares....................................................................................Plantio........................................................................................Isolamento..................................................................................Capinas......................................................................................Colheita......................................................................................GIRASSOL.................................................................................Seleção da área e preparo do solo................................................Sementes...................................................................................Isolamento..................................................................................Colheita......................................................................................MAMONA...................................................................................Local de produção.......................................................................Época de plantio.........................................................................Densidade de plantio...................................................................Plantas daninhas........................................................................Isolamento.................................................................................Roguing.....................................................................................Polinização................................................................................Colheita.....................................................................................Secagem...................................................................................Beneficiamento............................................................................

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ADUBOS VERDES E FORRAGEIRAS..........................................Feijão Guandu, Milheto, Mucuna Cinza, Mucuna Preta e Feijão dePorco..........................................................................................REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................

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Capítulo 1

Bancos Comunitários de Sementesnas Comunidades Rurais de

São Francisco de Assis do Piauí

Vicente de Paula Queiroga

Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

Diego Antonio Nóbrega Queiroga

Fábio José de Souza

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IntroduçãoO agricultor familiar do Brasil é responsável por mais de 30% da produçãoagropecuária nacional. No tocante ao nordeste brasileiro, a agricultura familiarfica bem caracterizada pelos seguintes números: ocupa 43,5% da árearegional, engloba 88,3% dos estabelecimentos existentes e é responsávelpor 43% do Valor Bruto da Produção Regional (VBPR), utilizando apenas 26,5%dos financiamentos (TORRES et al., 2006).

Historicamente, os agricultores familiares da região nordeste do Brasil,enfrentam inúmeras dificuldades de acesso às sementes necessárias para assuas atividades agrícolas. Além dos problemas gerados pelas condiçõesclimáticas, como os longos períodos de estiagem e a concentração do períododas chuvas, a baixa oferta de sementes constitui-se como outro fator importantena problemática de acesso às estes materiais pelos agricultores familiares(FRANCO, 1970).

Os Governos Estaduais da região, muitas vezes com a participação do GovernoFederal, tem buscado responder a esta situação a partir de processos decompra e distribuição de sementes para comunidades e em alguns casos coma criação de programas estaduais de sementes. Ocorre que estas ações, emgeral, têm se revelado insuficientes, pois não têm conseguido garantir o acessopermanente dos agricultores familiares às sementes, além de representar umforte dreno de recursos públicos. Os principais problemas identificados para osucesso dessas iniciativas tem sido o baixo número de produtores com sementesadequadas para a realidade regional, a inexistência de mecanismos legais quepermitam um maior número de produtores participarem do processo deaquisição por parte dos Estados e a aquisição, em certas ocasiões, de sementescom baixa qualidade fisiológica e com características genéticas inadequadasàs condições ecológicas e ambientais da região (ALMEIDA e CORDEIRO,2002).

Outras iniciativas surgidas a partir das mobilizações de entidades locais deagricultores familiares com o intuito de gerar um processo de resgate demateriais mais adaptados à região semiárida do Nordeste e garantir a auto-suficiência das comunidades com relação às sementes, foram os bancos desementes comunitários (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Em tese, estas estruturasdeveriam servir primariamente, para a armazenagem de sementes de culturasalimentares, forrageiras e de vestuário. Além disto, deveriam também exercitar

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em seus associados, o espírito cooperativo, a prática da solidariedade, oaprendizado de técnicas de gestão, bem como o resgate e a conservação devariedades locais (ARAÚJO et al., 2004). Entretanto, em alguns municípiosdo Nordeste tem sido observada uma série de deficiências na condução destasestruturas, tornando estes bancos, depósitos de grãos e não de sementes.

Partindo desta avaliação preliminar e da necessidade de responder de formamais eficiente e articulada a problemas como as chuvas irregulares que chegama atingir frequentemente o município de São Francisco de Assis do Piauí,diversas comunidades de produtores familiares do referido município (Lagoado Juá, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra e Lagoa da Povoação)deram início à construção, em trabalhos de mutirão, de pequenos armazénspara o acondicionamento das suas sementes, denominados "Casa deSementes", cujas sementes foram adquiridas em várias unidades de pesquisada região Nordeste pela Fraternidade de São Francisco de Assis - FFA. Ofortalecimento desses bancos de sementes, como estratégia para assegurara auto-suficiência das famílias em relação às sementes, conta principalmentecom os matérias gerados pela pesquisa e adaptados às condições adversas daregião semiárida, de modo que possam garantir a preservação do meioambiente por não usar agrotóxico (cultivo orgânico) e permitir asustentabilidade alimentar dos envolvidos.

No município de São Francisco de Assis do Piauí-PI, a Fraternidade de SãoFrancisco de Assis (FFA) é a entidade coordenadora dos trabalhos nascomunidades rurais, e desde a sua criação vem desenvolvendo algumasatividades nas áreas de abrangência da paróquia local, visando à diversificaçãoda produção e a melhoria da qualidade de vida dos produtores da região. Paraisto, a FFA tem buscado apoio de algumas entidades para capacitar eacompanhar os produtores no desenvolvimento das atividades agrícolas, taiscomo: apicultura (mel orgânico), criações de animais de pequeno porte (caprinose galinhas caipiras), cultivo de espécies alimentares, oleaginosas e fibrosas(QUEIROGA et al., 2008). Com relação ao plantio, geralmente o agricultorutiliza-se da sobra da colheita do ano anterior, obtém sementes do vizinhomais próximo ou produz sua própria semente, valendo-se de processosempíricos, que são passados de geração para geração.

Nesse contexto, o projeto delineado pela FFA é organizar a participação dosagricultores para garantir o acesso a sementes de boa qualidade, mediante aimplementação do associativismo por intermédio do Banco Comunitário de

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Sementes, em quantidade suficiente e no período certo do plantio. Ao produzir

sua própria semente, o pequeno produtor não só terá maiores chances de

obter uma boa colheita, como também maior produtividade, dispor desse insumo

num custo menor que aquele praticado pelo mercado e diminuir a dependência

de programas de distribuição de sementes.

Município de São Francisco de Assis do PiauíO município de São Francisco de Assis do Piauí está localizado a uma latitude

08º14'16" sul e a uma longitude 41º41'10" oeste, estando a uma altitude de

415 metros e, tem uma das menores populações do estado do Piauí, sendo a

estimativa atual de mais ou menos cinco mil e duzentos habitantes. Segundo

Aguiar e Gomes (2004), o município ocupa uma área de 112.367 ha. A

dominância do semiárido na região faz com que o mesmo seja conhecido e

apontado pela mídia como lugar de seca e fome. Apesar dos desafios que o

clima estabelece, a maior parte dos produtores familiares vive na zona rural

(mais de dois terço da população). A sua ocupação agrícola está subordinada

às possibilidades limites das condições climáticas, havendo uma predominância

do sistema de policultivos associados com a criação de caprinos, além de ser

considerado um grande produtor de mel orgânico registrado pelo IBD (estima-

se que no município tenha mais de mil apicultores; Figura 1).

Figura 1. A) Entreposto comercial e unidade de beneficiamento de mel orgânico daFraternidade de São Francisco de Assis (FFA) de Simplício Mendes-PI (conhecida comoNutritivomel) e B) Apiário de produção de mel orgânico da propriedade Capão Bonitoda FFA em São Francisco de Assis do Piauí.

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A produção agrícola do município de São Francisco de Assis do Piauí estávoltada tanto para o abastecimento alimentar da família (subsistência) e dosanimais quanto para a produção de excedentes para a comercialização nosmunicípios adjacentes. Os policultivos estão diversificados por várias espéciesmanejadas, desde pequenas áreas isoladas até diferentes arranjos consorciados(dentro da mesma unidade produtiva). Para adquirir os conhecimentostecnológicos relativos às atividades produtivas (gergelim, algodão, apicultura,caprinocultura etc), os agricultores familiares recebem cursos de capacitaçãotécnica de algumas entidades de pesquisa, visando garantir o desenvolvimentoagrícola sustentável para a zona rural do município em apreço (QUEIROGA etal., 2008).

As famílias rurais de São Francisco de Assis do Piauí têm como tradição deproduzir e guardar sua própria semente em casa. A cada safra agrícola serepete o mesmo ciclo. As sementes são plantadas, colhidas, beneficiadas eestocadas até o próximo plantio por cada um dos produtores familiares. Diantedas inconstâncias climáticas da região, a prática de estocagem em nívelfamiliar, não se resume apenas às sementes, mas de água, alimentos e forragemassume uma importância central na estratégia de convivência com o semiárido(AGUIAR e GOMES, 2004). O programa da Fraternidade de São Francisco deAssis (FFA) de armazenamento de água superou a marca de 1.350 cisternasconstruídas (Figura 2) no meio rural, contra 20 construídas pelo poder público.

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Figura 2. Armazenamento de água em cisterna para atender os agricultores familiaresda zona rural de São Francisco de Assis do Piauí, trabalho realizado pela FFA (total de1.350 cisternas construídas até o dia 31 de março de 2009).

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Histórico dos Bancos de Sementes no NordesteNo Brasil, os bancos de sementes comunitários datam da década de setenta,a partir de ações da Igreja Católica junto às comunidades eclesiais de base, asCEBs, em diversas dioceses e paróquias do Nordeste. Segundo o relato doPadre Bernardo Holmes, na época vigário de Tauá - CE (Figura 3), os bancosde sementes tiveram como início dois motivos: 1) Falta de distribuição desementes pelo governo em quantidade e em época oportuna de início do invernono sertão nordestino para a semeadura dos campos e 2) para não deixar deplantar, os agricultores eram obrigados a vender força de trabalho ou pedirempréstimos aos grandes proprietários para poderem comprar a semente naépoca de plantio. Diante dessa realidade, os agricultores eram obrigados atrabalhar como meeiros nas terras de terceiros. Com a criação dos bancos desementes comunitários, apoiados pela igreja, os agricultores passaram aplanejar melhor os seus plantios na ocupação de suas próprias terras (ESPLAR,1992).

Com o propósito de melhorar a qualidade da semente produzida e armazenada,surgem em 1992 financiamentos para compra de silos e encontros técnicos,visando orientar o produtor com relação à seleção genética das plantas (massal)e pureza física das sementes. Também ficou evidenciada a melhoria na gestãodos bancos de sementes, a qual buscava um maior compromisso dos agricultorescom a devolução das sementes, o aumento do estoque dos bancos e umamaior responsabilidade com a administração do bem coletivo (ESPLAR, 1992).

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Figura 3. Igreja Católica da cidade de Tauá-CE.

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Desde então, muitas experiências de bancos de sementes comunitários têm

sido difundidas com força no Nordeste brasileiro, especialmente, nos estados

do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Em 1996 foram contabilizados pela Rede

de Intercâmbio de Sementes do Nordeste, 250 bancos envolvendo 9.250

famílias nesta região do Brasil (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002).

Produção de Sementes Orgânicas

Diante da crescente situação de pobreza do campo na região semiárida do

Nordeste e devido aos graves problemas de condução das áreas de produção

e comercialização dos produtos convencionais (com agrotóxicos), os

agricultores de São Francisco de Assis do Piauí encontraram um sistema

diferenciado de plantio agroecológico para as várias espécies cultivadas, como

algodão, gergelim, milho, feijão, sorgo, feijão guandu, entre outras, por tratar

de uma cadeia produtiva solidária que preserva os recursos naturais, gerando

inclusão social e um produto final diferenciado com maior valor agregado

(QUEIROGA et al., 2008). Ademais, a região semiárida do Nordeste se destaca

como possuidora de condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo de várias

espécies ecológicas, por haver microrregiões que exercem um papel

preponderante na redução natural de pragas (clima seco e quente).

Na atualidade é importante destacar o crescimento exponencial da demanda

de produtos orgânicos no Brasil, assim como as exigências do IBD (Instituto

Biodinâmico de Botucatu-SP) de que as suas áreas plantadas sejam realizadas

a partir de sementes orgânicas certificadas (QUEIROGA et al., 2008). Mesmo

assim, se constata uma insuficiência mundial de oferta de semente orgânica,

incluindo o Brasil e, finalmente, que existe um consenso da participação dos

produtores de São Francisco de Assis do Piauí em conservar o meio ambiente

da região, portanto, cabe aos mesmos tentarem explorar essa nova

oportunidade de negócios e proporem organizar esse mercado da semente

orgânica regional, que envolve diversas espécies, para sua produção e

comercialização. Ou seja, essa organização de microempresas familiares

agroecológicas produtoras de sementes permite criar a oportunidades de

ingressar no mercado brasileiro de sementes orgânicas, mas primeiro é

necessário assegurar a auto-suficiência alimentaria das famílias envolvidas e

essa missão humanitária constitui a base do programa da FFA.

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Uma vez ciente deste fato, as sementes orgânicas passariam a ser materialde grande importância para o desenvolvimento sustentável das comunidadesrurais de São Francisco de Assis do Piauí. Consequentemente, os agricultoresfamiliares poderão produzir, ao mesmo tempo, material para consumo (grãos)e material para o plantio (sementes), sendo que o excedente da produção desementes orgânicas fosse comercializado pela FFA como sementes certificadaspara algumas empresas privadas ou estaduais interessadas, mediante contratode abastecimento antecipado firmado entre ambos.

Estas relações de divisão de trabalho podem ser alcançadas pelos bancoscomunitários dos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí,desde que seja desenvolvida uma pequena estrutura de produção e logística.Ressalta-se que a organização do Banco Comunitário de Sementes deve serformada apenas com os agricultores que demonstrem interesse por essaatividade (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002).

Por outro lado, para torna-se um produtor de sementes certificadas é precisoconsultar o Ministério de Agricultura do Estado, pois o Banco Comunitário deSementes não pode comercializar as sementes excedentes, vez que a lei prevêpunição para quem comercializa sementes sem registro ou certificação dosórgãos competentes; mas é permitido por lei a comercialização da produçãoexcedente como grãos, sendo necessária a emissão de nota fiscal avulsa parao transporte do produto.

Banco Comunitário de Sementes

Este projeto de Bancos de Sementes Comunitários para o município de SãoFrancisco de Assis do Piauí pôde ser implantado com o objetivo de suprir aescassez de sementes provocada pela seca, cuja adversidade climática é umacaracterística marcante da região semiárida do Nordeste. A ação emergencialdesse projeto de bancos de sementes poderá evoluir para um programapermanente, tendo como particular o fato de promover e distribuir sementesdas cultivares mais adaptadas para o referido município.

O programa da FFA cria condições para que os produtores possam administrarcom eficiência seus próprios estoques de sementes, possibilitando a cadaprodutor cadastrado receber do Banco de Sementes mais de um recipiente(garrafa tipo pet) com sementes de distintas espécies, desde que sejaestabelecido a proporção de devolução de duas garrafas pets de sementespara cada garrafa emprestada, logo após a colheita ou no início do segundosemestre para formação, manutenção, fortalecimento e crescimento do bancocomunitário, garantindo com isso que um número cada vez maior deagricultores seja beneficiado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

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Uma vez em plena atividade, o Banco de Sementes, em janeiro de cada anoagrícola, deverá ser iniciado a distribuição de vários quilos de sementes defeijão, milho, gergelim, milheto, sorgo, algodão, arroz e feijão guandu,envasadas em garrafas pets de 2 litros, para as onze comunidades deagricultores familiares do município de São Francisco de Assis do Piauí: Lagoado Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande, BarraBonita, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra, Mulungu e Volta doRiacho (Figura 4), totalizando 450 produtores assistidos e envolvendo aparticipação efetiva de cinco Bancos de Sementes (situação atual). EstesBancos de Sementes receberão o dobro da produção de sementes emprestadaspara gerenciar e estruturar o seu programa, o qual tem o objetivo de estimulare incrementar a produção de alimentos orgânicos na região.

Figura 4. Mapa do município de São Francisco de Assis do Piauí: pontos vermelhosindicam locais dos Bancos Comunitários dos produtores familiares, ponto azul local dasede do Banco Mãe na referida cidade e os pontos pretos locais com potenciais paraconstruir outros Bancos Comunitários de Sementes.

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1. Banco Mãe de Sementes

Na cidade de São Francisco de Assis do Piauí, o Banco Mãe de sementes podeser criado e funcionar dentro do prédio de armazenamento da FFA (Figura 5).Esse Banco receberia anualmente uma cota de sementes para armazenar,sendo as mesmas provenientes de cada Banco Comunitário das comunidadesfiliadas e envolvidas na programação da paróquia local. Quando houver algumbanco filial com deficiência de sementes, o Banco Mãe emprestaria sementese também utilizaria seu estoque para formar novos bancos nas demaiscomunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí. Quando houveraquisição de sementes pela FFA, é o Banco Mãe que centraliza a recepção eredistribuição, conforme as demandas de cada comunidade. Portanto, elaapoia a gestão dos bancos comunitários no referido município ao mesmo tempoem que funciona como uma reserva estratégica (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Este banco tem por finalidade assegurar a oferta de matérias e a logística dadistribuição das sementes obtidas de cada comunidade, para a fundação decampos para a produção de grãos e, ao mesmo tempo, para a produção desementes através da seleção de plantas por parte dos produtores. A cota desementes de cada banco das comunidades destinada para o Banco Mãe poderepresentar a metade do volume de sementes arrecadadas, inserindo tal divisãoapenas sobre a fatia considerada como lucro (CORDEIRO e FARIAS, 1993).Por exemplo, se o Banco Comunitário de Sementes da comunidade VeredaComprida emprestasse para plantio um total de 30 garrafas pets de sementesaos produtores familiares de sua comunidade na safra 2009 e recebesse nofinal da colheita o dobro de tal quantidade (60), consequentemente o referidobanco ganharia como lucro mais 30 garrafas pets de sementes. Portanto, suacota para o Banco Mãe seria de 15 garrafas pets de sementes relativos aosdiferentes materiais arrecadados, o que representaria a metade do seu lucro.

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Figura 5. Armazém do Banco Mãe (depósito) da Fraternidade São Francisco de Assis,situado na cidade de São Francisco de Assis do Piauí-PI.

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Outro papel que seria desempenhado pelo Banco Mãe se refere à introduçãode novas variedades de sementes alimentícias e/ ou forrageiras na região, asquais seriam multiplicadas em maior escala na Roça da Fé de Simplício Mendes,PI, antes de repassá-las para os Bancos Comunitários de São Francisco deAssis do Piauí, em razão das unidades de pesquisas conseguirem doar apenaspequenas quantidades de sementes (entre 1 a 4 kg). Neste sentido, a EmbrapaAlgodão conseguiu repassar vários materiais para a FFA: em 2007 foram 3kg de sementes de gergelim (cultivar BRS Seda, Figura 6), em 2008, pequenaquantidade de sementes de feijão macassar (Marataão e Pujante), de milho(Sertanejo, São Francisco, Caatingueiro e Assum Preto) e de sementesforrageiras (sorgo, milheto e feijão guandu) e, em 2009, sementes de feijãode porco, mucuna preta e mucuna cinza, além de mudas de neem, gliricídio,atriplex (erva-sal) e mandacaru sem espinho.

Uma vez purificado o material na Roça da Fé, o Banco Mãe se encarregariade distribuir novamente as sementes de melhor qualidade genética em cadaBanco Comunitário das comunidades de São Francisco de Assis do Piauíassistidas pela FFA para atender a produção de grãos e de sementes dosagricultores filiados. Visando manter elevada a qualidade das sementes dosbancos comunitários, os agricultores garantiriam selecionar as melhores plantasdurante a colheita dos materiais para evitar sua segregação, pois tal operaçãojá se constitui numa prática corriqueira dos produtores familiares do Nordestedo Brasil.

Figura 6. Produção de sementes de gergelim, cultivar BRS Seda, na área irrigada daFFA, denominada Roça da Fé, em Simplício Mendes-PI, 2007.

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Um agente da pastoral poderia ser o responsável pelo Banco Mãe da sede deSão Francisco de Assis do Piauí, pois o mesmo seria o articulador e distribuidorde sementes para os bancos filiados das várias comunidades. Na última visitarealizada ao referido município, entre os dias 31 de março a 2 de abril de2009, os técnicos da Embrapa Algodão constataram em algumas comunidadesque as sementes alimentícias de feijão, milho e gergelim estão com problemasde mistura varietal, sendo importante o Banco Mãe substituí-las imediatamente.Este banco necessitaria tomar uma providência junto à unidade de produçãoirrigada de sementes de Simplício Mendes (Roça da Fé) para que no próximosegundo semestre fosse plantado 0,5 ha das cultivares mais demandadaspelos agricultores: milho Catingueiro ou Sertanejo, feijão Marataão ou SempreVerde e gergelim BRS Seda. Este trabalho de multiplicação de sementes teriaque ser desenvolvido pelo técnico responsável pelo Banco Mãe, já que o campode sementes seria submetido à operação de eliminação de plantas atípicas(roguing), visando obter maior produtividade das culturas trabalhadas quandose emprega esse método de purificação das sementes.

2. Gestão dos Bancos de Sementes Comunitários

Face à importância estratégica dos bancos de sementes para uma regiãocastigada pela seca, os bancos de sementes do município de São Francisco deAssis do Piauí foram construídos com recursos do CEFAS (Centro EducacionalSão Francisco de Assis), em trabalhos de mutirão realizados pelos produtoresdas seguintes comunidades: Vereda Comprida (Figura 7), Lagoa do Juá (Figura8), Gatinhos (Figura 9), Vereda da Serra (Figura 10) e Lagoa da Povoação(Figura 11). Além de fortalecer o surgimento de uma nova culturaassociativista, o fator mais importante que contribuiu para a expansão devários bancos de sementes comunitários no meio rural, foi o gerenciamentodos mesmos pelas associações ou por grupos organizados de agricultores(GONÇALVES, 2000).

A gestão de bancos de sementes, de forma participativa e democrática emnível comunitário, não é um processo simples. Conforme Cordeiro e Farias(1993), problemas de diversas ordens podem surgir a todo o momento, taiscomo: 1) Concentração de trabalho na mão de um grupo pequeno ou de umafamília; 2) devolução de sementes de má qualidade por parte de algunsprodutores sócios; 3) concentração de poder do presidente da associação; e4) má organização ou administração do grupo gestor poderão ocorrer

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Figura 7. Casa de sementes dacomunidade Vereda Comprida nomunicípio de São Francisco deAssis do Piauí, 2009.

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Figura 8. Casa de sementes dacomunidade de Lagoa de Juá nomunicípio de São Francisco deAssis do Piauí, 2009.

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Figura 9. Casa de sementes dacomunidade de Gatinhos nomunicípio de São Francisco de Assisdo Piauí, 2009.

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Figura 10. Casa de sementes dacomunidade de Vereda da Serra nomunicípio de São Francisco deAssis do Piauí, 2009.

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Figura 11. Casa de sementes da comunidade de Lagoa da Povoação no município deSão Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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frequentemente e são de difícil solução. Todos esses fatores, que causamprejuízo à comunidade, comprometem de alguma forma o desempenho dobanco. Os mesmos autores admitem que seja importante desenvolverinstrumentos de gestão que facilitem a transparência e a participação dosassociados e, inclusive, salientam que a questão da gestão eficiente do bancode sementes sempre passa por um processo de erros e acertos, ou seja, épossível generalizar os princípios da gestão, mas não se pode estabelecer ummodelo padrão.

Para um grupo recém-organizado de banco de sementes, os agentescomunitários da FFA têm condições de discutir mecanismos que possibilitemuma prática transparente e democrática de gestão, mesmo assim não seesquecendo de considerar que a boa gestão não depende apenas da precisãocom que estes mecanismos são definidos, mas também de um conjunto defatores subjetivos que permeiam todas as relações sociais nas comunidadesassistidas pelo programa (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

3. Situação Atual dos Bancos de Sementes em São Fran-cisco de Assis do Piauí

Atualmente, as cinco casas de sementes do município São Francisco de Assisdo Piauí estão funcionando como depósito da produção de grãos de milho efeijão nas comunidades Lagoa do Juá, Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda daSerra e Lagoa da Povoação, cujos armazenamentos desses produtos sãoefetuados em silos de zinco e mantidos por curto espaço de tempo (até 90dias) pelos produtores, com objetivo estratégico de esperar a melhoria dosseus preços no mercado polarizado por Simplício Mendes-PI (Figura 12).

Figura 12. Silos de zinco na Casa de Sementes da comunidade de Gatinhos. SãoFrancisco de Assis do Piauí, 2009.

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Além de atuar como depósito de grãos, essas casas de sementes, os produtoresda comunidade de Lagoa de Juá destinaram, na safra de 2008, pequena parteda produção para o armazenamento de sementes das seguintes espécies:milho, feijão, sorgo e gergelim, os quais foram envasados em garrafas pets eacomodadas sobre prateleiras feitas de madeira (Figura 13).

Figura 13. Casa de sementes da comunidade Lagoa do Juá no município de SãoFrancisco de Assis do Piauí-PI.

Figura 14. Armazenamento de sementes em garrafas pets realizado em casa deagricultor familiar do município de São Francisco de Assis do Piauí.

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Este tipo de comportamento adotado pela comunidade Lagoa de Juá járepresenta uma iniciativa natural dos produtores do município de São Franciscode Assis do Piauí de pretenderem se organizar e criar seu próprio Banco deSementes Comunitário. Quando os agricultores das distintas comunidadesforam indagados sobre a possibilidade de ativar os Bancos de Sementes, apenasos produtores da comunidade Lagoa da Povoação fizeram uma ressalva, deque as sementes fossem envasadas em garrafas pets por serem mais eficientesque o armazenamento em relação aos silos de zinco. Ou seja, os produtores jápossuem a tradição de armazenar em casa suas sementes de produção própria(Figura 14), utilizando no caso a embalagem garrafa pets, e admitem que émais seguro para o acondicionamento das sementes, devido ao processoeficiente de vedação da borracha existente no interior da tampa.

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Com o intuito de suplantar alguns entraves decorrentes do processo deprodução de sementes, em cada comunidade de agricultores familiares deSão Francisco de Assis do Piauí (total de onze comunidades assistidas pelaFFA) deve-se limitar uma só variedade por comunidade para o caso dasespécies sujeitas ao cruzamento natural em proporções elevadas,principalmente as espécies de plantas situadas no grupo intermediário entre aautogamia e a alogamia, tais como: milho, algodão, milheto, sorgo, etc. Estetipo de medida estabelecida pelos coordenadores dos Bancos Comunitários,contando com a supervisão do Banco Mãe, se não for colocada em práticapelos agricultores do referido município, poderá favorecer a contaminaçãodas variedades locais, através das misturas varietais, além de concorrer paraa queda na qualidade genética e fisiológica da semente, dada a heterogeneidadedo material produzido.

Durante o preenchimento do questionário sobre Banco de Sementes pelostécnicos da Embrapa Algodão com os agricultores familiares de São Franciscode Assis do Piauí também foram detectados problemas referentes à falta deisolamento da cultura do milho, fazendo com que houvesse a perda da identidadegenética dos tipos locais. Além disso, foram notados entraves advindos dabaixa viabilidade do armazenamento incorreto e do ataque de insetos pragaàs sementes colhidas. Segundo Cordeiro e Farias (1993), o conhecimentocientífico na área de produção e tecnologia de sementes foi acumulado eirradiado para a agricultura de grande escala, não chegando à agriculturafamiliar, no tocante aos Bancos Comunitários de Sementes, fator primordialpara a segurança alimentar e econômica do pequeno agricultor.

Para que haja uma elevação na viabilidade das sementes de feijão, gergelim,sorgo e milho tornam-se patente a obtenção de sementes de procedência equalidade conhecidas, a fim de proporcionar cultivos mais produtivos e estáveis.Além disto, para evitar as contaminações, especial atenção deve ser destinadaao isolamento (temporal ou físico) dos campos de milho que irão fornecer assementes, bem como o plantio, a colheita e o beneficiamento isolado dassementes de feijão, gergelim, sorgo e milho. No tocante aos problemas dearmazenamento, a utilização de embalagens ou recipientes adequados quantoa sua permeabilidade, além das opções de controle de insetos de grãosarmazenados, poderiam minimizar as deficiências encontradas. Por final, adisseminação da filosofia integrada entre produção e armazenamento desementes, via campos individuais e bancos comunitários, também contribuiriade forma ímpar na resolução dos problemas observados, instituindo aindauma administração organizada e planejada da reserva de sementes necessáriapara o próximo plantio (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

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Para melhor compreensão da proposta pelos agricultores de São Francisco deAssis do Piauí, também deverão ser estimuladas as práticas relacionadas coma importância da filosofia associativista dos Bancos Comunitários de Sementes,evidenciando a elevada interação das áreas de produção de sementes com ao armazenamento das mesmas, indicando haver uma estreita relação entrecampos de sementes bem conduzidos e qualidade das sementes armazenadas(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

4. Organização dos Bancos de SementesEm virtude de outras experiências agrícolas bem sucedidas no meio rural domunicípio de São Francisco de Assis do Piauí como: apicultura e criação deanimais de pequeno porte (caprinos e galinhas caipiras), os Bancos de Sementespodem ser considerados como organizações que visam à auto-suficiência deum grupo de agricultores familiares na provisão de sementes de determinadasespécies importantes para a agricultura local.

Esta organização de grupos de agricultores constitui na primeira tentativa oufator de motivação para o trabalho comunitário, principalmente quando setrata de uma região sujeita à seca prolongada. Com o tempo, esse grupo deagricultores pode adquirir autonomia na produção de sementes, deixando dereceber da FFA parte da semente comprada no mercado e passar a dependerapenas da sua produção própria. Cada uma dessas situações pode ocorrerpara apenas um ou mais cultivares, pois é preciso considerar ainda que oproblema envolva apenas as espécies que geram renda monetária direta, outambém os de produção para autoconsumo humano e/ou animal (CORDEIROe FARIAS, 1993).

Vale frisar que o Banco de Sementes poderá ser organizado a partir desementes produzidas pelos agricultores da região, tais como: feijão do tipoSanto Inácio, Sempre Verde, Branco, etc, mas outra parte da semente poderáser adquirida no mercado local ou produzida por empresas de sementes. Podeacontecer também do Banco Mãe partir da multiplicação de sementes básicas

adquiridas junto a alguma instituição de pesquisa.

O fundamental na formação de um grupo, que organiza um Banco de Sementes,

é que haja um nível mínimo de confiança e bom relacionamento entre os

participantes de cada comunidade, inclusive conte com estímulo externo dado

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pela FFA. O ideal é que o processo de organização do grupo por cada

comunidade aconteça com antecedência razoável em relação à época de

plantio. Pois, é comum ocorrer que, em face de um problema emergencial de

falta de sementes, os grupos sem nenhuma experiência de gestão coletiva

acumulada anteriormente sejam formados às pressas para fundar um banco.

Nesses casos, é importante garantir um momento posterior em que o diálogo

entre os participantes do grupo aconteça, pois é assim que eles assumem

melhor o controle do processo (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Outro aspecto importante para as comunidades de São Francisco de Assis do

Piauí se refere ao tamanho do grupo de agricultores. Mesmo que não haja um

limite ideal definido, mas, em geral, grupos menores facilitam o processo de

gestão do Banco de Sementes. A proximidade das moradias das famílias pode

ser um dos indicadores do tamanho ideal do grupo de agricultores, pois essas

poucas distâncias facilitam a realização de reuniões, a distribuição e a

devolução de sementes e definir melhor a época de plantio nas áreas individuais

para evitar perda de sementes. No caso da comunidade Lagoa de Juá, que

tem um grupo muito grande e que as famílias estão morando muito longe

umas das outras, pode ser mais importante formar, ao invés de um banco de

sementes, dois ou mais bancos (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Por outro lado, os Bancos de Sementes das comunidades de São Francisco de

Assis do Piauí podem trabalhar com os cultivos com maior número de espécies:

milho, feijão, gergelim, algodão, sorgo, milheto e feijão guandu. Para o caso

do milho e feijão, pode existir no banco um grande número de variedades

mantidas e utilizadas pelos agricultores ou eles podem trabalhar com apenas

uma delas.

Para evitar que a finalidade do Banco de Sementes não seja comprometida,

alguns aspectos precisam ser definidos coletivamente com todos os filiados

de cada comunidade (Figura 15) com relação às seguintes situações: a) quais

as espécies que o Banco pretende trabalhar; B) com quantas variedades de

cada espécie, principalmente para caso das culturas do milho e do feijão; e c)

onde deverão ser adquiridas e as quantidades de sementes necessárias. Estas

situações devem ser bem definidas com a participação de todos os agricultores,

para evitar que o banco se torne um depósito de grãos (CORDEIRO e FARIAS,

1993).

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Além de buscar opções que contribuam na melhoria do sistema de produçãoa partir das possibilidades locais (Figura 16), é importante conhecer bem omaterial com que se vai trabalhar, porque está intimamente relacionado aopatrimônio do Banco de Sementes. Dentro desse princípio, os principaisaspectos a serem considerados pelos agricultores de São Francisco de Assisdo Piauí são: 1) espécies e variedades adaptadas as condições locais; 2)tolerância às condições de estresse hídricas; 3) características satisfatóriaspara os usos locais: alimento humano, alimento animal, comercial, etc; 4)produtividade adequada às necessidades locais; 5) sementes das variedadesselecionadas com estabilidades satisfatórias quando submetidas aoarmazenamento prolongado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Figura 15. Reunião com agricultores familiares para discutir temas de interesse dacomunidade e do Banco de Sementes. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Figura 16. Reunião com técnico da Embrapa Algodão e agricultores do município deSão Francisco de Assis do Piauí, discutindo práticas agrícolas para a produção desementes de boa qualidade.

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5. Tipos de Bancos de SementesDependendo da finalidade das plantas utilizadas pelos agricultores, as quaisserão originadas as sementes tomadas em empréstimo nos bancos, existemtrês categorias de Bancos de Sementes:

a) Banco de Sementes Alimentares, Oleaginosas e Fibrosas - A segurançaalimentar dos agricultores e suas famílias também estão associados àdiversidade varietal dos cultivos básicos de arroz, feijão e milho, à preservaçãoe à melhoria na qualidade das sementes das cultivares tradicionais. Nestesentido, busca-se facilitar o acesso às sementes de boa qualidade agronômicapara atender os agricultores das diferentes comunidades do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí, de modo que elas sejam usadas para implantaçãode unidades individuais de produção de sementes de arroz, feijão, gergelim,milho, etc. Vale frisar que a criação de um Banco Comunitário de Sementestambém poderá garantir aos agricultores às necessárias orientações técnicas,não só na produção de sementes, mas também nas lavouras de produção degrãos e na gestão da propriedade (CORDEIRO e FARIAS, 1993). O primeiropasso dos organizadores do projeto será melhorar a qualidade das sementesdestinadas para seu consumo (arroz, feijão, milho e gergelim), principalmentedas sementes de milho de diferentes variedades que têm sido plantadas peloagricultor dentro da mesma área de cultivo sem obedecer à distância deisolamento de 300 metros entre campos.

Uma vez armazenados os grãos de gergelim para o consumo das famílias, osgrãos excedentes são pesados em balança (Figura 17) pelo agricultor antesdo seu armazenamento e, após certo tempo, a produção estocada écomercializada. Com relação às sementes de algodão, até o momento não seconstatou nenhum tipo de problemas de mistura varietal com essa espécie nomunicípio de São Francisco de Assis do Piauí, em razão do material produzidona região ser proveniente apenas da cultivar BRS 187 8H.

Figura 17. Pesagem do gergelim (excedente), antes da etapa de armazenamento. SãoFrancisco de Assis do Piauí, 2008.

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b) Banco de Sementes Forrageiros - Estima-se que no Nordeste cerca de 90%

das sementes utilizadas para a produção de alimentos e forrageiras na

agricultura familiar sejam provenientes de um sistema informal de produção

de sementes (ALMEIDA e CORDEIRO, 2002). Na maioria dos casos, as

sementes utilizadas pelos pequenos agricultores são originárias dos "melhores

grãos", que são armazenados para as plantações da safra seguinte. Com a

criação do Banco Comunitário de Sementes no município de São Francisco de

Assis do Piauí é possível diversificar seu catálogo para o estoque de sementes

forrageiras para a produção de ração (sorgo, milheto, leucena, feijão guandu,

etc), visando alimentar o rebanho de caprinos dos agricultores familiares com

uma ração mais balanceada entre gramíneas e leguminosas (Figura 18). O

milho é uma espécie ímpar da agricultura familiar, pois serve de alimento ao

homem e também aos animais domésticos (PRODUÇÃO, 2007).

Figura 18. A preparação do silo forrageiro para alimentação de caprinos no período deestiagem depende basicamente das misturas da folhagem do milho e sorgo forrageiro.São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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c) Banco de Sementes de Adubos Verdes - A iniciativa visa distribuirgratuitamente sementes de mucuna preta, feijão guandu e feijão de porco(leguminosas), para que os agricultores familiares possam reproduzi-las emsuas propriedades para uso próprio e devolver ao Banco de Sementes, no anoseguinte, sendo dobrada a quantidade restituída, para que o programa nãoseja interrompido, já que essas sementes são difíceis de ser encontradas nocomércio, além de terem o preço muito elevado (CORDEIRO e FARIAS, 1993).A estratégica adotada pelo agricultor seria deixar uma pequena área semeadareservada para a produção de sementes, enquanto a outra parte da áreacultivada seria destinada à incorporação ao solo de plantas cultivadas paraeste fim ou de outras plantas ainda verdes, em razão de ser uma forma baratae acessível de adicionar matéria orgânica ao solo (Figura 19). As plantasleguminosas são cultivadas para fixação de nitrogênio ao solo e quando aindaverdes são incorporadas no mesmo para se decomporem e seremtransformadas em matéria orgânica. Já as plantas gramíneas por apresentar

Figura 19. A) Incorporação das plantas na fase de floração ao solo, utilizando-se o rolode faca à tração animal e B) Solos arenosos e pobres em matéria orgânica dacomunidade Lagoa da Povoação. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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alta relação C/N sua decomposição é lenta pelo solo (milheto, palhada demilho), portanto, elas são espalhadas entre as fileiras de outras culturas paraproteger o solo contra ação direta das chuvas (erosão). Além disso, em terrenoacidentado, o produtor poderá implantar as culturas em faixas de retenção,que consiste na disposição da cultura comercial (feijão ou gergelim) em faixasniveladas intercaladas (plantio em curva de nível), de espaço em espaço de30 m ou 40 m, com faixas perenes de plantas protetoras. Ou seja, nos leirõesde retenção, cultivar de 3 a 5 linhas da planta protetora (em espaçamentobem adensado) e manter as plantas vivas arbóreas: leucena (Leucaenaleucocephala), neem (Azadirachta indica), sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia)etc, e em sentido contrário a inclinação do terreno (plantio em curvas denível), também têm efeitos sobre o controle da erosão provocada pelas chuvas(DIACONIA, 2007).

Com base na realidade do município de São Francisco de Assis do Piauí, oBanco de cada comunidade só atenderia plenamente os interesses dosagricultores familiares filiados, quando essas ofertas de sementes abrangessemos três tipos de categorias: alimentares, forrageiras e adubos verdes.

As comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí certamenteirão dar maior preferência para as espécies alimentares que são cultivadaspor todos os agricultores e que geram renda satisfatória (feijão, milho,gergelim). Outra categoria de sementes também deve receber atenção dosagricultores, as quais são espécies que originam adubos verdes e, portanto,essas espécies arbóreas (feijão guandu, mucuna preta, feijão de porco, leucena),poderão desempenhar um papel muito importante de recuperação da fertilidadedas áreas agricultáveis do município de São Francisco de Assis do Piauí, cujoscampos são caracterizados por solos pobres em matéria orgânica, ou seja,são solos bastante arenosos em sua maioria (AGUIAR e GOMES, 2004).

6. Acesso à Semente do Banco

O acesso à semente pode se transformar em problemas logo no início dafundação do Banco de Sementes Comunitário, pois geralmente o estoque desementes é limitado e há uma grande demanda pelas sementes de maioresretornos econômicas por parte dos produtores (CORDEIRO e FARIAS, 1993).A solução de alguns bancos é adotar uma estratégica simples, que é permitira oferta mínima da quantidade de sementes por agricultor. Em vez de umagarrafa de dois litros de sementes, o agricultor leva por empréstimo umagarrafa menor de um litro (Tabela 1), visando com tal distribuição de sementesatender um maior número de sócios do Banco Comunitário de uma determinadacomunidade.

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Dinâmica semelhante vem ocorrendo com frequência nas comunidades de

outros estados do Nordeste que trabalham com as culturas do amendoim,

pois as famílias não dispõem de recursos para aquisição de sementes, situação

esta que se agrava no início do plantio, devido à descapitalização do agricultor

e ao consumo de suas reservas para ultrapassar o verão, sendo sua única

opção não plantar ou plantar uma área menor (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

O êxito dos Bancos de Sementes Comunitários não se mede pelo grau de

acesso à semente. Mas, o índice de restituição de sementes pode ser tomado

como indicador positivo para avaliar o desempenho dos bancos (CORDEIRO e

FARIAS, 1993), porque demonstra a participação e interesse das comunidades

do município de São Francisco de Assis do Piauí pela proposta.

O Banco de Sementes somente é considerado como um instrumento

socialmente reconhecido de acesso à semente, quando existe qualidade do

material estocado. Havendo falta de qualidade, nenhum agricultor irá querer

depositar sua semente ou mesmo fazer empréstimo em um banco, quando a

riscos de que a baixa qualidade venha comprometer a produção do seu cultivo

(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Tabela 1. Comparação de valores entre a quantidade de sementes contidasdentro de uma garrafa pet de um litro e seu respectivo peso médio em gramas.

Fontes: Cordeiro e Farias (1993); Embrapa Algodão (Foto: Vicente de Paula Queiroga)OBS: Dentro da mesma espécie, os pesos entre cultivares poderão variar.

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De acordo com Cordeiro e Farias (1993), para haver maior controle de qualidadedas sementes armazenadas, a comissão responsável por cada bancocomunitário deverá adotar duas exigências fundamentais:

1. Anualmente, cada sócio deverá se comprometer a fazer o depósito comsementes devidamente secas e selecionadas com elevada qualidade fisiológica(vigorosas e isentas de doenças) e sem mistura varietal (pureza física);

2. Todos os Bancos de Sementes Comunitários de São Francisco de Assis doPiauí deveriam ter uma estrutura apropriada de secagem (piso de cimento;Figura 20) e de pequeno depósito de armazenamento, similar as casas desementes das comunidades Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra,Lagoa da Povoação e Lagoa de Juá.

Para auxiliar o sistema de controle de qualidade das sementes pertencentesaos Bancos Comunitários das diferentes comunidades do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí, o Banco Mãe deveria adquirir os seguintesequipamentos (opcionais): uma balança analítica (0,0001 de precisão), umaestufa para o teste de teor de umidade da semente e um germinador pararealizar os testes de germinação e vigor das sementes (Figura 21). Este controlede qualidade seria efetuado antes da restituição das sementes pelo agricultor,de modo que o Banco de Sementes pudesse aprovar ou rejeitar a sua qualidadee uso (PRODUÇÃO, 2006).

Figura 20. A) Secagem natural de sementes de feijão e milho usado pelos produtoresfamiliares e B) Aproveitamento das placas cimentadas das cisternas, tipo calçadãocom capacidade de 50 mil litros da FFA, como secador natural das sementesexistentes nas comunidades Mulungu e Gatinhos do município de São Francisco deAssis do Piauí.

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Para não depender do consumo de substrato papel germitest ou papel de

filtro e dispensar a compra de um germinador, uma alternativa viável seria

utilizar o substrato areia, lavada de rios, esterilizada em bandeja de alumínio

na própria estufa à temperatura 200 °C por 1 hora, mas em ambas as

situações são indispensáveis a aquisição de um pequeno destilador de água

(Figura 22), a qual é utilizada nos testes de germinação e vigor (BRASIL,

1992). Os procedimentos de laboratório para execução dos testes são descritos

a seguir:

Figura 21. Equipamentos (balança analítica, estufa e germinador) de um Laboratóriode Sementes para analisar a qualidade das amostras de sementes dos agricultoresantes do seu armazenamento no Banco Comunitário de Sementes.

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Figura 22. Destilador de água e bandejas com substrato de areia para teste degerminação.

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Pureza: é feito com uma amostra de sementes determinada para cada espécie(Tabela 2), sendo as sementes espalhadas sobre uma mesa específica doLaboratório de Sementes. No teste, são realizadas as seguintes separações:sementes puras, outras sementes, onde são incluídas as sementes de plantascultivadas não pertencentes à espécie e cultivar em exame e as sementes eoutros materiais de propagação de plantas prejudiciais à agricultura e materialinerte.

Teor de umidade (U): sua determinação se dá pelo método oficial da estufa a105 °C ± 3 °C, durante 24 horas, utilizando-se quatro amostras de sementespor cada espécie por repetição. Esta amostra é pesada numa balança analíticade 0,0001 de precisão e, a umidade expressa pela expressão:

Em que:P - peso inicial (peso do recipiente + peso da semente úmida), gp - peso final (peso do recipiente + peso da semente seca), gt - tara (peso do recipiente), g

Germinação: é realizada em quatro repetições de 100 sementes em diferentessubstratos (areia, papel germitest e solo) umedecidos com água destilada. Oteste é conduzido em germinador na temperatura recomenda para cada espéciee duas contagens são recomendadas para sua avaliação (Tabela 2). Quando oteste é realizado com areia e de acordo com a espécie pode ser feita entrecamada de areia ou sobre esta. No primeiro caso, faz-se a semeadura sobreuma camada de 5-6 cm de areia esterilizadas umedecida com água destiladae cobre-se as sementes com cerca de 2 cm de areia (EA = entre areia). Nosegundo caso, as sementes são levemente pressionadas contra a superfíciedo substrato (SA = sobre areia).

Outra estratégia que pode ser adotada pelo Banco Mãe é a de enviar asamostras de sementes para um Laboratório de Sementes mais próximo acidade de São Francisco de Assis do Piauí, por exemplo, para Teresina-PI. Asituação levantada anteriormente é uma simples simulação para o controlede qualidade do material, pois sempre os programas coordenados pelo PadreGeraldo Gereon, dirigente da FFA, têm sido encarados pelos agricultores da

região com bastante honestidade e seriedade.

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7. Estrutura dos Bancos nas Comunidades

No momento, existem duas condições de Bancos de Sementes Comunitários

apresentadas para o armazenamento das sementes dos agricultores nasdiferentes comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí:

A primeira opção se refere aos pequenos depósitos específicos paraarmazenamento de sementes, que são estruturas ideais para o funcionamentodos Bancos de Sementes já existentes nas comunidades de Lagoa de Juá,Vereda Comprida, Gatinhos, Vereda da Serra e Lagoa da Povoação (Figura23), os quais foram construídos pelos respectivos agricultores, em regime demutirão (QUEIROGA et al., 2008). A construção desses depósitos dearmazenamento, denominados de Casa de Sementes, contou também comajuda financeira do CEFAS (Centro Educacional São Francisco de Assis).

Tabela 2. Indicações da Comissão Estadual de Sementes e Mudas (CESM) para ostestes de pureza e germinação de algumas espécies.

RP = rolo de papel; EP = entre papel; SP = sobre papel; EA = entre areia; SA = sobre areiaFonte\: BRASIL (1992)

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A segunda opção de Bancos Comunitários de Sementes se destina atender ascomunidades de Queimada Nova, Veredas, Barreiro Grande, Barra Bonita,Mulungu e Volta do Riacho, de maneira que as sementes dos agricultoressejam armazenadas nas sedes de cada associação (o Banco de Sementesocuparia a divisória para depósito) construídos pela FFA, ou na casa de umdeterminado agricultor eleito (Figura 24). Esta situação de funcionamento deBancos de Sementes, considerada provisoriamente, pode evoluir para umaestrutura específica (similar a Casa de Sementes), dependendo da decisão dogrupo de agricultores de cada comunidade.

8. Tipo de Embalagem Adotada pelo Banco

Conforme as respostas do questionário aplicado aos agricultores das diferentescomunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a embalagem mais adequadae prática para o armazenamento das sementes tem sido a garrafa pet de 2litros (Figura 25).

Atualmente, os agricultores têm por tradição acondicionar as sementes emgarrafas pets de 2 litros e armazená-las em suas próprias casas. Estasembalagens descartáveis são abundantes e acessíveis mesmo na área rural,sendo também um recipiente fácil de ser transportado em moto ou bicicletapelo agricultor (Figura 26).

A maior prioridade atribuída às garrafas pets é a sua eficiência noarmazenamento de sementes em razão de ser considerada uma embalagemimpermeável e, por ser um recipiente de tamanho reduzido, só comporta umpequeno volume de sementes no seu interior (LOLLATO et al., 1993). Por serfeita de um plástico transparente, a garrafa pet facilita o trabalho de rotinado responsável pelo Banco de Sementes por permitir uma avaliação visualpreventiva da infestação de pragas no seu interior (sementes acondicionadas).

Figura 23. Local de armazenamento das sementes do Banco Comunitário,pertencentes aos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Figura 24. A, B, C) Funcionamento dos Bancos de Sementes em espaços reservadosdas sedes das associações existentes nas comunidades de Mulungu, Barreiro Grande eBarra Bonita e D) Banco de Sementes de diversas espécies na casa do agricultorRaimundo Bento de Souza eleito pela comunidade de Veredas. São Francisco de Assisdo Piauí-PI, 2009.

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Figura 25. Sementes em embalagens tipo PET, sobre estrado de madeira, no BancoComunitário de Sementes da Paraíba.

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9. Normas do Banco de Sementes

As normas de funcionamento do banco devem ser discutidas entre osparticipantes da organização, definindo em conjunto, com a participação detodos envolvidos. Essas normas devem ser colocadas no papel e assinadaspara que todos saibam seus direitos e deveres. Uma vez estabelecidos osrequisitos necessários, está formado o estatuto do Banco de Sementes e osagricultores sócios da comunidade já podem dispor dos seus benefícios(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Segundo Cordeiro e Farias (1993), nas regras de funcionamento do Banco deSementes devem constar as seguintes cláusulas:

1. Quem será beneficiado com o banco.

2. Qual a quantidade de sementes para cada agricultor.

3. Como será a devolução das sementes.

4. Qual a quantidade que cada agricultor terá que restituir de garrafas pets.

5. O tempo para devolução e entrega das sementes ao banco.

6. Quem fica responsável pelo patrimônio do banco.

7. E outros aspectos importantes para o funcionamento do banco. Não seesquecendo de citar os problemas relacionados às situações adversas,

Figura 26. Transporte de Sementes acondicionadas em embalagens de garrafas petspara o Banco de Sementes da Comunidade Lagoa do Juá. São Francisco de Assis doPiauí, 2009.

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principalmente quando ocorre uma drástica seca na região, a dívida de cada

agricultor filiado estaria quitada junto ao Banco de Sementes, em razão das

perdas ocasionadas nas suas lavouras por tal fenômeno.

O Banco de Sementes funciona como um banco comum, mas a moeda de

troca é a SEMENTE. Se o intuito é que o banco seja fortalecido, então a

quantidade a ser devolvida terá que ser superior à emprestada (EMBRAPA

MEIO AMBIENTE, 2009). O grupo de cada comunidade de São Francisco de

Assis do Piauí pode definir que a quantidade seja dobrada (100 %) em relação

à que foi emprestada (Figura 27). Por exemplo:

Neste banco, a palavra do agricultor é o principal crédito, por isso é muito

importante todos se conscientizarem do valor desta organização e se

comprometerem em devolver sementes de boa qualidade e na quantidade

estipulada (dobrada), visando aumentar o estoque do banco e assim poder

ajudar mais agricultores (EMBRAPA MEIO AMBIENTE, 2009). O Banco também

pode promover o intercâmbio de outras sementes que não seja do banco,

aumentando assim a dinâmica entre os agricultores (Figura 28).

Na organização de pequenos bancos é necessário que, em cada comunidade,

eleja duas pessoas (ideal) que se responsabilizem pela manutenção do banco,

cadastramento dos sócios, controle das retiradas e devoluções (estoque),

avaliação da quantidade e qualidade das sementes restituídas. Essa comissão

poderá ser renovada pelos sócios participantes, após um período de dois anos

(CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Figura 27. Esquema do empréstimo de sementes efetuado pelo Banco de Sementepara atender o agricultor do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Na criação de Banco Comunitário de Sementes é importante manter essaorganização sempre em atividade em cada comunidade do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí (PRODUÇÃO, 2006), em função de cumprir osseguintes objetivos:

- Fortalecer a organização dos agricultores;

- Garantir o plantio do próximo ano;

- Ter acesso a sementes de boa qualidade;

- Resgatar e valorizar as variedades adaptadas ao local;

- Diminuir a dependência de programas de distribuição de sementes.

10. Controle de Estoque do Banco

No Banco de Sementes, as sementes das várias espécies (arroz, feijão, milho,gergelim, algodão, sorgo, milheto, feijão guandu, etc) devem ser acondicionadasem embalagens herméticas (garrafa pet de 2 litros), com a umidade baixasegundo cada espécie, conforme a Tabela 3 e, guardadas em prateleiras ousobre estrados de madeira. A questão da incidência de fungos nos armazénsé mais provável que ocorra nos grãos estocados com elevada umidade emconsequência da falta de supervisão do produto armazenado ou por falha noprocesso de secagem (AUGSTBURGER et al., 2000; CARVALHO eNAKAGAWA, 1980).

Figura 28. Banco de Sementes facilita a troca entre sementes de diferentes espéciesou cultivares.

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Limpar as instalações do Banco de Sementes antes de usá-las, para nãocomprometer a qualidade do material estocado. Uma vez cumprida a limpezado depósito, o responsável pelo Banco Comunitário de Sementes podeconsiderar o local seguro para receber as sementes acondicionadas em garrafaspets correspondentes aos empréstimos tomados pelos agricultores associadosda comunidade rural no início do inverno.

Durante a entrega das sementes pelos agricultores, um membro da comissãodo Banco de Sementes de cada comunidade do município de São Francisco deAssis do Piauí deverá procurar identificar as entradas de sementes com onúmero do lote para cada garrafa pet recebida (a primeira garrafa entregueno banco seria identificada pela numeração lote 01/2009 e todas as garrafasseriam numeradas diferentemente), através de etiquetas previamentepreparadas. Uma vez preenchidos todos os espaços em branco, tais como:nome do produtor, comunidade, espécie, variedade, safra e data de entrada,então a etiqueta estará pronta para ser colada na garrafa com ajuda de umafita adesiva transparente (Figura 29). Ao mesmo tempo, anotar num cadernoou planilha os números dos lotes e demais informações correspondentes aosreferidos agricultores da comunidade de abrangência do Banco (Tabela 4),sendo uma ficha para cada variedade (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Para que fique registrado no Banco de Sementes, um modelo de recibo podeser preenchido no momento da retirada de sementes (Tabela 5). A comissãodeverá preencher um recibo para cada variedade retirada, sendo que osmesmos podem ser arquivados pelo nome do agricultor, em ordem alfabética.Pois, esses recibos são os comprovantes dos empréstimos feitos e das pessoasque estão em débitos com o banco (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Tabela 3. Teor de umidade máximo recomendado para o armazenamento de sementesem recipientes herméticos.

Fonte: Harrington e Douglas (1970).

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Tabela 4. Modelo de ficha para controle do estoque do Banco de Sementes de cadavariedade.

Banco Comunitário de Sementes LAGOA DA POVOAÇÃOFicha para controle de estoqueCultura: Milho Variedade: São FranciscoEmbalagem: Garrafa Pet de 2 litros

B= Bom; M= Média; R= RejeitadaFonte: Cordeiro e Farias (1993)

Figura 29. Etiqueta de identificação na garrafa pet das sementes restituídas pelossócios do Banco de Sementes.

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Este controle do estoque de sementes é importante para o Banco de SementesComunitário, pois numa produção de sementes de diferentes espécies queenvolvem vários agricultores com campo de produção individualizado, é possívelaparecer produtos de qualidade inferior, em razão de alguns agricultores nãoterem conduzido a lavoura adequadamente e nem os processos debeneficiamento das sementes (QUEIROGA et al., 2007). No caso do Bancode Sementes não adotar um controle rígido de identificação das sementesrestituídas pelo agricultor, com certeza irá ocorrer redução significativa noseu padrão de qualidade.

Para a identificação das sementes das diferentes espécies estocadas no Bancode Sementes se adotará uma cor diferente de tampa para cada espécie (Figura30), ou seja, o material acondicionado poderá ser organizado da seguinteforma: garrafa com tampa de cor amarela para sementes de milho; verdepara feijão, azul para gergelim; branca para sorgo, vermelha para arroz; pretapara mucuna etc.

Tabela 5. Modelo de recibo elaborado pelo Banco de Sementes para devolução deempréstimo de sementes por parte do agricultor.

Fonte: Cordeiro e Farias (1993)

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Figura 30. Sementes identificadas pela cor da tampa da garrafa pet em um BancoComunitário de Sementes.

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Dependendo da quantidade de sementes restituídas por um agricultor, umaamostra simples das sementes acondicionadas nas diversas garrafas pets podeser remetida pelo Banco Comunitário de Sementes para uma unidade deLaboratório de Sementes (Teresina-PI) credenciado pelo Ministério daAgricultura e Reforma Agrária - MARA, para serem submetidas aos testes deanálise de pureza, germinação e determinação do teor de umidade, onde depoisda realização dos referidos testes de rotina o laboratório emitirá um Boletimde Análise de Sementes (PRODUÇÃO, 2006).

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Capítulo 2

Diagnóstico da Produção Agrícola paraFormação de Bancos Comunitários de

Sementes em São Francisco de Assis do Piauí

Vicente de Paula Queiroga

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

José Francisco de Sousa Filho

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Introdução

Promover a melhoria dos sistemas produtivos das diferentes espécies cultivadas

pelos agricultores familiares para produção de sementes em seis comunidades

rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí, por meio de informações

tecnológicas sustentáveis, esta é a proposta apresentada pela Embrapa

Algodão, em parceria com a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA)

para os produtores envolvidos na implantação de Bancos Comunitários de

Sementes.

A ação proposta é pautada em um conjunto de técnicas voltadas para um

sistema participativo de melhoramento de plantas (seleção massal), que

incluem avaliação, seleção e produção de sementes pelos agricultores em

suas propriedades com seus próprios sistemas de cultivo e com os recursos

normalmente disponíveis na propriedade (MOREIRA et al., 2009).

O levantamento dos aspectos comuns na comunidades e das particularidades

de cada propriedade que a integra permite ajustar as propostas técnicas da

Embrapa, de modo que a produção e a conservação de sementes seja um ato

participativo, rumo às práticas agroecológicas, em que ações técnicas e

práticas agrícolas familiares estejam entrelaçadas e resultem em

fortalecimento dos Bancos de Sementes Comunitários (MOREIRA et al., 2009).

O trabalho teve início com um diagnóstico por meio de um levantamento de

campo, consultando lideranças e membros das seis comunidades de São

Francisco de Assis do Piauí, a fim de identificar as potencialidades de produção

de sementes próprias.

Neste sentido, é importante a realização de palestras/reuniões técnicas com

os produtores familiares sobre os campos de produção instalados no referido

município para discutir e avaliar as variedades das diferentes espécies

plantadas. Nos encontros e visitas, além do embasamento teórico genético e

experimental, deve-se apresentar e discutir metodologias participativas de

trabalho, resultados das UTDs e o planejamento das atividades, onde os

agricultores tomarão as suas decisões sobre a produção de sementes.

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Entrevista Coletiva e Aplicação de Questionário em SãoFrancisco de Assis do Piauí para Implantação de Bancos deSementes

Inicialmente, realizou-se um levantamento das condições técnicas de produçãodas espécies mais cultivadas no município de São Francisco de Assis do Piauí,mediante técnica de estudos de caso, tendo como base as informações obtidasno levantamento de questionários respondidos pelos agricultores; onde foiselecionado para o estudo, seis comunidades do município de São Franciscode Assis do Piauí no estado do Piauí, que fazem parte do semiárido nordestino,cujas entrevistas foram realizadas no início de abril de 2009. As comunidadesvisitadas foram: Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, BarreiroGrande, Lagoa do Juá e Barra Bonita.

A entrevista coletiva contou com a aplicação de um questionário com diversasperguntas para uma média de 17 agricultores, que representou o número daamostra em cada comunidade. Estes agricultores foram selecionados de formaaleatória, resultando em 101 agricultores entrevistados pelos técnicos daEmbrapa Algodão. A convocação dos agricultores para as entrevistas emcada comunidade foi realizada pela rádio local.

A aplicação dos questionários contou com a colaboração de dois agentes dapastoral da FFA, lotados em São Francisco de Assis do Piauí, PI e SimplícioMendes, PI, no que se refere à localização das comunidades dos agricultoresque seriam visitadas para as entrevistas e o preenchimento dos questionários.

Resultados dos Questionários

Dos vários itens respondidos pelos agricultores de cada comunidade, algumasinformações foram obtidas no tocante às características do armazenamentodas sementes de produção própria, tais como: se existe Banco de Sementesna comunidade e tempo de experiência com armazenamento de sementes.Enquanto nos demais itens avaliaram-se a média percentual das respostasobtidas dos agricultores dentro de cada comunidade, no que se referem aossistemas produtivos das diversas espécies cultivadas, tais como: sistema deplantio da área cultivada, preparo do solo, semeadura das culturas, culturasconsorciadas, espaçamento, forma de beneficiamento, seleciona algumassementes durante a colheita, local de aquisição de sementes, planta mais deuma cultivar por espécie no campo, isolamento da área plantada, tipo deembalagem para armazenar as sementes, secagem de sementes e o materialusado na preparação do silo forrageiro, além de algumas perguntas importantessobre a cadeia produtiva para as espécies cultivadas na região (Tabelas 1 a6).

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1. Situação da Comunidade

Na Tabela 1, observam-se os valores médios do número de produtoresentrevistados, da existência de Banco de Sementes, do local dearmazenamento, do tempo de armazenamento de sementes e da origem daaquisição de sementes da referida cultura nas amostras levantadas nas seiscomunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí.

Tabela 1. Dados médios e percentuais sobre o número de pessoas entrevistadas, aexistência de estruturas específicas de Banco de Sementes, a experiência dearmazenamento de sementes de produção própria e o local de aquisição das sementespelos agricultores nas amostras levantadas nas seis comunidades do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

Nas amostras das comunidades de Barra Bonita, Lagoa do Juá, Barreiro Grande,Lagoa da Povoação e Veredas, constata-se que o número de produtoresentrevistados variou entre 10 a 34, sendo que a comunidade de Barra Bonitaapresentou maior público com 34 produtores, ficando em segundo lugar Lagoade Juá com 22 produtores e em terceiro, Veredas com 17 produtores. Estainformação reflete também uma característica importante dos produtores

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que mais se interessam efetivamente pelo cultivo do gergelim no município deSão Francisco de Assis do Piauí, pois, atualmente, a presença dos técnicos daEmbrapa Algodão na região está mais condicionada ao cultivo dessa espécie.

Quando os produtores entrevistados foram indagados sobre a existência deBanco de Sementes, houve uma resposta positiva de 100% dos produtoresentrevistados das comunidades Lagoa do Juá e Lagoa Povoação, enquanto osoutros produtores afirmaram não existir unidade de Banco de Sementes nascomunidades de Barra Bonita, Barreiro Grande, Veredas e Queimada Nova.Para estas comunidades que não dispõe de Banco de Sementes, os agricultoresdevem armazenar as sementes nas sedes de cada associação (o Banco deSementes ocuparia a divisória para depósito) construídos pela Fraternidadede São Francisco de Assis (FFA), ou na casa de um determinado agricultoreleito, no caso da comunidade de Veredas (Figura 24 do Cap. I).

Com relação ao armazenamento das sementes em casa e, o tempo acima de10 anos com esta prática de armazenamento individual, observa-se na Tabela1 que os produtores entrevistados foram 100% favoráveis às perguntas emtodas as comunidades avaliadas. Mesmo assim, a proposta da Embrapa Algodãoé transformar esse banco caseiro individual em Banco Comunitário deSementes, em razão de que na região é bastante frequente o consumo pelosagricultores de todas as sementes alimentícias estocadas em casa para oplantio da próxima safra.

2. Sistemas de Semeadura

Na Tabela 2, observam-se os valores médios dos diferentes sistemas desemeadura utilizados pelos produtores nas seis comunidades do município deSão Francisco de Assis do Piauí para as seguintes espécies: gergelim, algodão,feijão, milho, sorgo, milheto e feijão guandu. Os valores médios de respostasdos entrevistados para as distintas modalidades de semeadura manual, máquinae matraca, em relação a cada espécie, foram para as sementes de gergelimcom as respectivas porcentagens de 57%, 43% e 0,0%.; algodão com 100%,0,0% e 0,0%; feijão com 0,0%, 0,0% e 100%; milho com 30%, 0,0% e70%; sorgo com 32%, 0,0% e 68%; milheto com 16%, 0,0% e 0,0% efeijão guandu com 0,0%, 0,0% e 67%. Ressalta-se que as sementes de milhetosomente foi plantada na comunidade de Veredas e o feijão guandu não foicultivado em duas comunidades: Barra Bonita e Veredas, porque ambosmateriais foram introduzidos recentemente no município de São Francisco deAssis do Piauí. No caso da semeadura do gergelim com a máquina manual(43%), há uma tendência de aumentar seu uso na região, devido ao fato damesma oferecer mais vantagem (semeia 01 ha em menos de 2 horas com 1,5kg/sementes e dispensa a operação de desbaste) em relação ao plantio manualcom uma lata perfurada e amarrada numa vara (gasta-se mais de 3 kg desementes e leva 3 dias para um homem plantar 01 ha, além do desbaste).

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3. Preparo do Solo e Sistemas de Plantio

Para as comunidades de Barra Bonita, Barreiro Grande, Lagoa da Povoação,Veredas e Queimada Nova, observar-se na Tabela 3 que o preparo de solopara as diferentes espécies foi realizado 100% com arado de aiveca(tombador), exceto para a comunidade de Lagoa do Juá que apresentou opreparo de solo de 23% com grade de disco e 77% com arado de aiveca.Para o solo arenoso do município de São Francisco de Assis do Piauí, o uso doarado de aiveca com tração animal seria o implemento mais recomendado,por ser considerada uma ferramenta que não causa agressão ao solo duranteseu preparo.

Tabela 2. Valores médios percentuais sobre os diferentes sistemas de semeadurautilizados nas seis comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí,2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

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Tabela 3. Valores médios percentuais sobre os diferentes equipamentos usados nopreparo do solo e sistemas de plantio das seis comunidades do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

FONTE: Dados de Pesquisa

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Com relação ao sistema de plantio para as diversas espécies: isolado ouconsorciado, houve uma superiodade nas respostas dos produtoresentrevistados em favor do cultivo isolado em todas espécies cultivadas nasseis comunidades do São Francisco de Assis do Piauí, com exceção do feijãoguandu que destacou o sistema consorciado com maior porcentagem nascomunidades de Barra Bonita, Lagoa do Juá e Barreiro Grande. Já o sistemaisolado de plantio, em comparação ao consorciado, apresentou média superiorpara as espécies de gergelim com 98%, algodão com 93%, feijão com 56%,milho com 56%, sorgo com 100% e milheto com 12%. Como para a produçãode sementes a norma não permite sistema consorciado, a maioria dascomunidades familiares do município de São Francisco de Assis do Piauí estariaobedecendo tal exigência.

4. Condições do campo e participação das espécies no consór-cio e forrageiroPara a variável "isolamento dos campos das diversas espécies" (Tabela 4),observa-se que todas as amostras levantadas nas comunidades de Barra Bonita,Lagoa do Juá, Barreiro Grande, Lagoa da Povoação, Veredas e QueimadaNova tiveram uma resposta única (100%), pois os produtores assumiram deixaruma distância abaixo de 100 m sem barreiras para o isolamento entre camposda mesma espécie ou entre diferentes cultivares. Por outro lado, verifica-sena Tabela 7 que apenas algumas espécies autógamas (feijão, arroz, amendoim,feijão de porco e mucuna preta) estão com seus campos de produção desementes isolados, enquanto as demais espécies estão sujeitas ao cruzamentogenético, o que indicam que tais espécies alógamas terão que ser renovadaspor sementes puras. No sistema de produção de sementes, a qualidade domaterial dependerá, em parte, do isolamento do campo, pois este sistemaevita a mistura varietal.

Analisando-se os dados da Tabela 4 nas amostras das seis comunidadesestudadas, observa-se que 90% dos produtores responderam que cultivam ofeijão consorciado com milho e 2% dos produtores consorciaram feijão xgergelim na mesma área, como uma estratégia espontânea para fugir dairregularidade climática, que é muito frequente na região semiárida do nordestedo Brasil. As pesquisas têm demonstrado que ao plantar diferentes espéciesem consórcio, o produtor poderá assegurar maior estabilidade de produção,melhor uso dos recursos naturais, melhor controle de pragas e doenças, alémde aspectos como otimização do uso de mão-de-obra, controle de erosão ediversificação de matéria prima. E, o plantio isolado das diversas espécies érecomendado para os pequenos produtores, quando se pretende produzircampos de sementes.

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Em toda as seis comunidades amostradas, houve uma predominância nasmédias percentuais para as seguintes respostas dos entrevistados: o materialusado na silagem foi de 45% para milho, 45% para sorgo, 8% para feijãoguandu, 1% para capim elefante e 1% para leucena. Para os feixes degergelim, os produtores de São Francisco de Assis do Piauí admitem misturarcom a silagem ou palma (alimentos suculentos), mas sua trituração na forrageiraocorre no momento da alimentação do rebanho de caprinos (QUEIROGA etal., 2008).

5. Beneficiamento da produçãoUm dos aspectos importante do beneficiamento de sementes próprias é aescolha de um sistema de processamento específico para cada espécie quenão cause danos às sementes, de maneira que não comprometa sua qualidadefisiológica. Na Tabela 5, os produtores das seis comunidades de São Franciscode Assis do Piauí responderam com maior percentual que beneficiammanualmente gergelim (100%), algodão (0,0%), feijão (69%), milho (82%),sorgo (100%), feijão guandu (83%) e milheto (16%). Para a Embrapa, obeneficiamento manual de sementes, dependendo de cada espécie, é maisapropriado para a agricultura familiar da região nordeste, sem considerar alimitação de recursos financeiros destinados aos pequenos produtores paracompra de máquinas de beneficiamento de sementes.

Tabela 4. Dados médios e percentuais de plantio isolado dos campos de produção desementes e a participação das diversas espécies cultivadas no sistema de consórcio eno enchimento dos silos forrageiros realizados pelos agricultores das seis comunidadesdo município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

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6. Seleção de plantas, secagem e acondicionamento de se-mentes

Quando os produtores das seis comunidades do município de São Franciscode Assis do Piauí foram indagados sobre: "cultiva no campo mais de duascultivares" e "realiza seleção de plantas durante a colheita", ocorreu umamédia elevada de respostas de 98% e 100%, respectivamente (Tabela 6).Para a comunidade Barreiro Grande, esta média da primeira pergunta, foi de90%, em razão de 10% dos produtores terem respondidos que plantam maisde duas cultivares em seus campos. Este fato significa que a seleção préviade plantas durante a colheita e o plantio de uma cultivar na mesma área deprodução nas amostras dessas comunidades são considerados uma alternativaimportante para prevenir misturas varietais das sementes produzidas pelosprodutores, as quais serão destinadas aos Bancos Comunitários do referidomunicípio, ou seja, tais processos adotados no campo garante a pureza genéticadas espécies cultivadas pelos produtores familiares da região.

Tabela 5. Valores médios percentuais sobre o beneficiamento das sementes dediversas espécies realizado pelos agricultores das seis comunidades do município deSão Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

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Com relação a variável "pré-secagem das sementes ao sol", 100% dos

produtores das seis comunidades admitem realizar a secagem das sementes

antes do seu armazenamento (Tabela 6). Quando aos mesmos foram

perguntados sobre o tipo de recipiente utilizado para acondicionar as diferentes

espécies de sementes cultivadas, observa-se que 83% do produtores utilizam

a garrafa pet, cujos resultados foram obtidos em todas amostras das

comunidades estudadas. Com base neste último resultado, ficou definido que

a embalagem garrafa pet seria adotada pelos Bancos Comunitários de Sementes

do município de São Francisco de Assis do Piauí.

Por sua vez, o depósito de plástico se destacou apenas nas comunidades

Barra Bonita e Lagoa da Povoação, o que contribuiu para uma média de 13%

nos resultados das respostas. A embalagem de lata apresentou uma média

insignificante de 3%, devido os produtores da comunidade de Queimada Nova

conservarem o costume de acondicionamento de sementes em lata.

Tabela 6. Valores médios percentuais sobre se planta mais de uma variedade porcampo, faz seleção do material durante a colheita, secam ao sol as sementes antes doarmazenamento e os recipientes utilizados para guardar as sementes pelos agricultoresdas seis comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

FONTE: Dados de Pesquisa

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Os dados coletados para os distintos itens abordados nas Tabelas 1 a 6 também

serão discutidos durante a apresentação de cada etapa correspondente aos

sistemas de produção ecológica das culturas do gergelim, algodão, feijão,

milho, sorgo, feijão guandu e milheto (Capítulo III).

Apesar de contar com estrutura específica de armazenamento em cinco

comunidades e possuírem mais de 10 anos de experiência de armazenamento

de sementes de produção própria (Tabela 1), os agricultores ainda não se

organizaram em grupos para criar os seus Bancos Comunitários de Sementes

no município de São Francisco de Assis de Piauí. Com base na aplicação do

questionário (Tabela 4), ficou evidenciado também que esses agricultores não

estão sabendo a distância que deve ser adotada para separar campos de

produção de cultivares diferentes, principalmente da mesma espécie com o

objetivo de evitar a contaminação genética (Tabela 7).

Tabela 7. A distância de isolamento recomendada para lavoura de produção desementes de algumas espécies.

Fonte: Cordeiro e Farias (1993)

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Obs: Distância mínima permitida entre campos plantados de diferentescultivares sem barreira vegetal, sendo a metade da distância acima paracampos de diferentes cultivares separados com cortina vegetal.

Referências Bibliográficas

CORDEIRO, A.; FARIAS, A.A. Gestão de bancos de sementes comunitários.Versão brasileira do Manual de Gestão Prática de Fernand Vicent- Rio deJaneiro: AS-PTA, 1993. 60 p.

MOREIRA, R.M.P.; FERREIRA, J.M.; MIRTVI, P.R; ROCKEMBACHER, R.;PAIVA, M; MIOTTO, A.A.; ALVES, J.H.; OLIVEIRA JÚNIOR, O.; MARINO,T.P.; UENO, S.; VARGAS, L.F.; MOSCARDI, M.L. Agricultores FamiliaresExperimentadores Selecionando, Produzindo e Melhorando Suas SementesVisando o Desenvolvimento Sustentado. Revista Brasileira de Agroecologia,v.4, n.2, p.2030-2033, 2009.

QUEIROGA, V.P.; GONDIM, T.M.S.; VALE, D.G.D.; GEREON, H.G.M.;MOURA, J.A.; SILVA, P.J. ; SOUZA FILHO, J.F. Produção de gergelimorgânico nas comunidades de produtores familiares de São Francisco de Assisdo Piauí. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2008. 127p. (Embrapa Algodão.Documentos, 190).

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Capítulo 3

Sistemas de Produção de Sementes Orgâni-cas Utilizados pelos Produtores Familiares deSão Francisco de Assis do Piaui: Um Estudo

de Caso

Vicente de Paula Queiroga

Tarcísio Marcos de Souza Gondim

Dalfran Gonçalves Vale

Paulo de Tarso Firmino

Aycê Chaves Silva

Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon

José de Anchieta Moura

Paulo José da Silva

José Francisco de Sousa Filho

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Introdução

Recentemente, a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) conseguiu a

certificação do mel orgânico junto ao Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu-

SP para atender às exigências dos mercados importadores dos USA e Europa.

Diante da importante atividade econômica do mel orgânico, há uma

conscientização efetiva por parte dos agricultores do município de São Francisco

de Assis do Piauí de cultivar gergelim, algodão, feijão comum, milho, sorgo

forrageiro, milheto, feijão guandu, amendoim, mamona, girassol etc., garantindo

sua sustentabilidade alimentar e econômica, de forma ecologicamente correta,

sem agredir o ecossistema da sua região.

Para organizar e estruturar os Bancos Comunitários de Sementes, a FFA terá

que incentivar a melhoria da qualidade de cada sistema produtivo das espécies

produtoras de alimentos orgânicos nas comunidades dos agricultores familiares

do referido município. Para conseguir tal objetivo, os agricultores foram

capacitados para atuarem nos diferentes segmentos da cadeia de produção

orgânica (QUEIROGA et al., 2008).

Neste particular, algumas etapas da produção de sementes se revestem de

grande importância, como a escolha do terreno, da espécie, da cultivar, bem

como da própria condução do campo. Ressalta-se que problemas nesta fase

podem comprometer a qualidade das sementes, por exemplo, a presença de

sementes de outras cultivares e/ ou espécies que dificilmente são eliminadas,

na sua totalidade, durante o beneficiamento (PRODUÇÃO, 2006).

Da mesma forma, a colheita realizada na época adequada e bem conduzida

contribui para assegurar o êxito do empreendimento, sendo que uma das causas

mais frequentes da baixa qualidade das sementes produzidas, também em

pequenas propriedades, é o retardamento da colheita, às vezes inviabilizando

toda a produção (LOLLATO et al., 1993).

Por outro lado, as sementes após a colheita nem sempre apresentam teor de

umidade adequado para um armazenamento seguro, necessitando de secagem.

Além da umidade, as sementes quando são colhidas, geralmente estão

acompanhadas de impurezas, cuja remoção é realizada através de operações

que compõem o processo de beneficiamento (QUEIROGA et al., 2008).

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Com base na análise dos sistemas de produção empregados pelos agricultoresfamiliares das comunidades do município de São Francisco de Assis do Piauíse apresnta a continuação de considerações técnicas relevantes para amelhoria dos referenciados sistemas de produção e pós-colheita, procurandoajustá-las às reais condições do referido município.

Gergelim

Seleção da área

A escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes degergelim deve ser uma das principais preocupações do agricultor e deve serfeita com cautela. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamentodo seu histórico, atentando para os seguintes pontos: cultivar anteriormenteplantada (BRS Seda ou CNPA G4), plantas daninhas existentes, problemaslocais de pragas e doenças (rotação da cultura), condições de fertilidade,problemas de erosão, topografia e encharcamento do terreno (TORRES et al.,2006).

Para a maioria dos agricultores de São Francisco de Assis do Piauí, o campocultivado com as diversas espécies é pequeno, (3 ha no máximo), o que dificultao agricultor colocar em prática todas as recomendações técnicas necessáriaspara evitar os problemas gerados pela má seleção da área.

Preparo do solo

Após as primeiras chuvas ocorridas no município de São Francisco de Assisdo Piauí, principalmente no mês de dezembro de cada ano, as áreas destinadaspara o plantio de gergelim, algodão, feijão, milho, sorgo, milheto, feijão guandu,sorgo forrageiro, etc, deverão ser aradas com equipamentos simples de traçãoanimal (arado de aiveca) e, no mês de janeiro, os produtores complementariamo preparo do terreno com uso do cultivador e/ou grade de dentes de traçãoanimal (Figura 1) para o nivelamento das respectivas áreas aradas no mêsanterior (QUEIROGA et al., 2008).

O plantio do gergelim requer um solo bem preparado e limpo, sem torrões erestos de plantas (garranchos secos), quando se usa uma grade leve de arrasto(Figura 2), principalmente para facilitar a semeadura das pequenas sementesde gergelim com a plantadeira mecânica manual. Por se tratar de umequipamento leve, a irregularidade do terreno, devido à falta de uma boagradagem, pode contribuir na ocorrência de falhas durante o processo dedistribuição das sementes efetuada por essa máquina (QUEIROGA et al., 2008).

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Figura 1. A) Preparo do solo com o equipamento tombador e arado de aivecareversível de tração animal; B) e C) cultivador ou grade de dentes paracomplementação.

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De acordo com os resultados médios observados na Tabela 8 (Cap.II), 96%dos agricultores responderam que o terreno era preparado apenas com oarado de aiveca de tração animal ou tombador, o que dificulta a semeadurada máquina manual (Figura 3). Enquanto que 23% dos agricultores dacomunidade Lagoa de Juá admitem usar para o preparo do solo o cultivomínimo, apenas com a gradagem leve mecanizada (Figura 4).

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Figura 2. Gradagem e nivelamento do solo ao mesmo tempo com o arrasto de umtoco roliço amarrado à grade (cultivo minimo).

Figura 3. Semeadura de campo de gergelim em solo preparo com arado de aivecareversível (tombador).

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Plantio

O plantio da safra 2009 foi realizado com a semeadora semimecânica por43% do agricultores do município de São Francisco de Assis do Piauí (Tabela2 do Cap. II) que possui 12 unidades desta semeadora destinadas à semeadurade sementes pequenas de gergelim (QUEIROGA et al., 2007). Este fatorepresenta um avanço no uso da semeadora em relação à safra anterior (2008),quando naquele ano apenas duas máquinas haviam sido adquiridas pela FFA.A comunidade Barreiro Grande foi a que obteve a maior percentagem do usoda máquina durante o plantio do gergelim em comparação as demaiscomunidades.

Antes do plantio, recomenda-se ajustar a máquina, deixando bem alinhadasas correntes e as mangueiras dos cones invertidos em relação às duas pequenasrodas de abertura dos sulcos, as quais estão posicionadas na frente doequipamento. Esta regulagem prévia do equipamento é indispensável, mesmoque se gaste mais de 30 minutos para sua regulagem, pois esse ajuste namáquina irá melhorar a eficiência de plantio das sementes de gergelim, a qualfoi programada para semear duas linhas por cada percurso realizado (Figura5), no espaçamento de 90 cm entre fileiras e 12 plantas por metro linear.Com base neste desempenho da máquina, é possível deduzir que a mesma emfuncionamento executa o trabalho de seis pessoas ao mesmo tempo(QUEIROGA et al., 2008).

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Figura 4. Semeadura de campo de gergelim em solo de topografia plana preparadocom grade leve mecanizada.

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Para que haja incentivo à cultura do gergelim, é necessário reduzir custos de

produção, assim com o uso desta semeadora agiliza-se o plantio de cinco dias

homem-1 para menos de duas horas para semear um hectare, além de

dispensar a mão-de-obra do desbaste (QUEIROGA et al., 2008).

Para o plantio adensado de sementes de gergelim com cultivares que não

produzem ramificações, os produtores de alto nível tecnológico do estado de

Goiás estão utilizando as plantadeiras convencionais de soja, onde são feitos

pequenos ajustes e adaptações em engrenagens e furos de discos, visando o

plantio da cultivar Trhébua precoce de haste única no espaçamento de 35 a

50 cm entre fileiras. Em razão das dificuldades relativas à aquisição de

equipamentos de menor porte que são escassos no Brasil, para o seu plantio,

devido ao tamanho, peso e forma da semente, as mesmas podem ser plantadas

por meio de outros equipamentos utilizados para o plantio de sementes

olerícolas (cebola) ou pastagens (brachiária) (OLIVEIRA et al., 2007). Neste

sentido, o espaçamento adensado de duas linhas do gergelim (exemplo: 40

cm entre linhas) pode ser efetuado através de um equipamento mecânico

manual de preço mais acessível ao agricultor familiar (Figura 6).

Figura 5. Alinhamento da semeadora semimecânica antes do plantio das sementes degergelim. São Francisco de Assis do Piauí, PI, 2009.

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Outro sistema de plantio de sementes de gergelim, que pode ser adotado

pelos produtores de São Francisco de Assis do Piauí, devido a baixa fertilidade

dos seus solos arenosos, é utilizando uma máquina adubadeira. Para melhorar

a eficiência da semeadura das pequenas sementes de gergelim, recomenda-

se passar uma determinada quantidade de esterco curtido numa peneira manual

para ser transformado em pó (MAZZANI, 1999). Deverá usar a proporção de

5% a 10% de sementes de gergelim para ser misturado com cada quilo de

esterco em pó. Em seguida, colocar tal mistura homogeneizada num depósito

do equipamento adubadeira manual, cujo mecanismo do distribuidor de

sementes com duas linhas tem capacidade de plantar 1 ha em menos de 2

horas (Figura 7). Além disso, o equipamento pode direcionar a distribuição em

duas linhas desde o espaçamento de 30 cm até 90 cm, sendo que uma única

lavanca regula a vazão do adubo com várias opções simétricas. Com este

sistema de plantio não é preciso efetuar o desbaste, mas devem-se considerar

as boas condições de umidade do solo.

Adubação do solo

Um método barato para o agricultor melhorar a fertilidade do solo, é investir

em adubação verde. Essa alternativa é importante quando se trata de

recuperação da qualidade dos solos arenosos e pobres em matéria orgânica

como é o caso dos solos do município de São Francisco de Assis do Piauí.

Figura 6. Plantadeira mecânica manual Gombei de uma e duas linhas do fabricantejaponês MUKAI KOGYO (Empresa Hiramaq de Mogi das Cruzes-SP), para o plantioadensado com variedades não ramificadas, capaz de funcionar com várias regulagensde espaçamento.

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A adubação verde consiste no cultivo de plantas que estruturam e enriquecemo solo com nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e micronutrientes, nocaso das leguminosas: feijão guandu, leucena, mucuna cinza, mucuna preta efeijão de porco, as quais são incorporadas ao solo durante seu estádio defloração, auxiliado com equipamento como o"rolo de- faca" traionado poranimais. Esta técnica eleva a fertilidade do terreno e aumenta a produtividadedas culturas exploradas pelo agricultor (TORRES et al., 2006).

Os agricultores de São Francisco de Assis do Piauí deveriam insistir naadubação orgânica das áreas cultivadas, com o esterco originado de sua criaçãode caprinos (20 t/ha), visando melhorar a fertilidade dos seus solos (Figura 8).

Figura 8. Aplicação de esterco curtido no solo, antes da semeadura, transportado poruma carroça.

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Figura 7. Adubadeira manual de duas linhas que pode ser adaptada para plantio desementes de gergelim quando misturadas com esterco em pó: A) peneira manual paratransformar o esterco em pó; B) máquina com distribuidores paralelos de sementes dofabricante JZ Implementos Agricolas; e C) esquema de linhas de semeadura.

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Isolamento

É uma medida adotada para separar campos de produção de cultivaresdiferentes de gergelim, mas da mesma espécie com o objetivo de evitar acontaminação genética, pois a polinização do gergelim pode sofrer a ação deinsetos (QUEIROGA et al., 2008).

Pelo fato de ser uma planta de polinização cruzada, recomenda-se umadistância mínima de 1.000 metros para o cultivo sem barreiras vegetais e, de500 m para os plantios com barreiras vegetais, entre campos de cultivares damesma espécie. Além desses tipos de isolamentos, ainda, para o cultivo emépocas espaçadas no tempo (cultivo de mais de 30 dias, dependendo do ciclodas cultivares) de cultivares distintas, pode surtir o efeito desejado comocondição de isolamento (QUEIROGA et al., 2008).

Roguing

A limpeza dos campos (roguing) de gergelim deverá ser efetuada pelosagricultores (Figura 9) nas áreas destinadas para produção de sementes, visandoeliminar as plantas atípicas e garantir a identidade genética do material. Aprodução própria de sementes pelos agricultores, visando atender os seuscompromissos assumidos junto aos Bancos Comunitários de Sementes, irácontribuir na autosuficiência do abastecimento das comunidades envolvidasde São Francisco de Assis do Piauí e, também, evita a introdução de doençasno referido município, caso a FFA for adquirir anualmente sementes degergelim produzidas de outras regiões (QUEIROGA et al., 2008).

Figura 9. Roguing em campo de gergelim para eliminação de plantas atípicas.Comunidade Lagoa de Juá, município de São Francisco de Assis do Piauí, 2008.

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A contaminação das plantas pode ser de ordem genética e mecânica. Mesmoquando se utilizam sementes com elevada pureza genética para semear, épossível detectar no campo uma pequena variação na população das plantas,devido a segregação, as quais deverão ser eliminadas pela operação de"roguing", procedimento usado nos programas de produção de sementes emgeral (BELTRÃO e VIEIRA, 2001).

No caso do gergelim é necessário realizar a operação de eliminação das plantasatípicas nos seguintes estádios fenológicos da cultura (QUEIROGA e BELTRÃO,2001):

1. Pré-floração - porte distinto, folhagem diferente, presença de pêlos nasfolhas, doentes, coloração distinta da haste;

2. Floração - tamanho e intensidade de coloração das flores, florescimentoprecoce e não uniforme;

3. Pré-Colheita - quanto ao tipo, formato e coloração dos frutos, inclusive asplantas de baixo rendimento;

4. Colheita - remoção das plantas tardias e com deiscência precoce.

A fase de colheita é também um período crítico para seleção de plantas dacultivar BRS Seda geneticamente puras. Portanto, tomando-se alguns cuidadossimples é possível evitar muitos dos problemas de mistura varietal, pois oagricultor na ânsia de selecionar as melhores sementes de gergelim, oriundasde plantas altamente vigorosas pode estar colhendo sementes de outra cultivar.

Geralmente, a seleção das sementes é feita sobre o material guardado agranel, ou seja, depois da colheita. Desta forma, perde-se a oportunidade deiniciar a seleção ainda no campo. Além de evitar mistura varietal, a seleçãoprévia é uma boa alternativa para prevenir problemas de infestação de pragase doenças (TORRES et al., 2006). Para obter sucesso em tal operação énecessário que os agricultores, com acompanhamento técnico, possamaproveitar a fase vegetativa para marcar as plantas que têm característicasmais interessantes (por exemplo: maior precocidade de floração) e fazer umaseleção direcionada a um melhoramento genético específico da variedadeutilizada, mediante a colocação nessas plantas eleitas de etiquetas coloridas(Figura 10).

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Apesar de haver uma pequena diferença no ciclo da cultura entre as cultivaresBRS Seda (85 dias) e CNPA G4 (90 dias) (QUEIROGA e SILVA, 2008), quandoos campos de ambos estão juntos, sem separação por barreira vegetal, teráque ser condenados para produção de sementes (Figura 11), em razão doinício da floração das distintas cultivares ocorrer na mesma época (36 dias) e,da polinização cruzada ser provocada pelos insetos (EMBRAPA ALGODÃO,2007).

Capinas

Nas pequenas propriedades do Nordeste, o controle de plantas daninhas nogergelim é feito, geralmente, com o uso da enxada. Seu baixo rendimentoaliado à elevação do custo e escassez de mão-de-obra no campo, torna-o umaoperação onerosa correspondendo a mais de 40% do custo de produção,porque são necessários duas capinas (QUEIROGA et al., 2008).

Figura 10. Plantas da cultivar BRS Seda, identificadas por etiquetas coloridas combase na sua precocidade de floração.

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Figura 11. Campos de gergelim das cultivares BRS Seda com ciclo precoce (à direita)e da BRS 196 CNPA G4 com ciclo médio (à esquerda), aos 80 dias do plantio.Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE.

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O pequeno produtor do município de São Francisco de Assis do Piauí utilizacomumente o instrumento denominado arado cultivador (tipo bico de pato) àtração animal (entre fileiras) e enxada (entre plantas) no controle das plantasdaninhas no campo de gergelim, sendo o cultivador regulado para aprofundarno máximo 3,0 cm do solo para não danificar as raízes das plantas (Figura12). Após a passagem com o cultivador, deve-se fazer o "retoque" com aenxada, junto as linhas de plantio (QUEIROGA et al., 2008).

Ainda vale destacar a experiência do município de São João do Sabugi-RN,onde os produtores estão realizando a capina da lavoura de gergelim(espaçamento de 90 cm entre fileiras) com os minitratores cultivadoresalugados de uma associação de pequenos produtores do referido município,do tipo Tobatta com bitola de 80 cm (Figura 13). O produtor paga R$ 15,00/hora pelo serviço prestado para essa associação, incluindo o operador damáquina, cujo rendimento por hectare do minitrator fica em torno de 4 horas(R$ 60,00).

Vale ressaltar que, no caso da cultura orgânica, não é permitido pulverizarcom nenhum tipo de herbicidas para o controle do mato das diversas plantaçõesrealizadas pelo agricultor familiar (QUEIROGA et al., 2008).

Figura 12. Controle de plantas daninhas com o instrumento arado cultivador(conhecido como bico de pato ou capinadeira), em lavoura de gergelim no municípiode São Francisco de Assis do Piauí, 2008.

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Controle de pragas

A Tabela 1, contém medidas ecológicas de controle das principais pragas dogergelim constatadas em lavouras de gergelim da região Nordeste.

Figura 13. Minitrator cultivadorutilizado pelos produtores de SãoJoão do Sabugi-RN para cultivar oscampos de gergelim.

Tabela 1. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da culturado gergelim.

Fonte: Queiroga et al., 2008.

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Preparação de macerado

Antes do plantio do gergelim, pode-se devem usar a estratégia de prepararpreventivamente os macerados para combater as pragas na fase inicial deinfestação (lagartas ainda pequenas, pulgões e cochonilhas na fase larval,cigarrinha, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois as mesmas são maisvulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar as soluções debioenseticidas, para cada praga, em depósitos de plástico lacrados (Figura14) para evitar a perda do seu princípio ativo. Além disso, devem-se armazenarcada solução na quantidade que atenda uma ou duas pulverizações do campode gergelim (QUEIROGA et al., 2008).

Figura 14. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do gergelimcomo mosca-branca, cochonilha, pulgão e lagarta, sendo o pulverizador costal de usoexclusivo para os inseticidas agroecológicos ou pulverizador de garrafa pet.

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Figura 15. Planta de gergelim atacada pela lagarta-enroladeira (Antigastra

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Segundo Beltrão e Vieira (2001), as lagartas causam danos em folhasterminais, brotos, flores, cápsulas e sementes (Figura 15).

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No início do inverno na região semiárida é freqüente o ataque de lagarta nalavoura de gergelim e recomenda-se preparar o seguinte macerado para lagarta(QUEIROZ FILHO, 2005):

Macerado para lagartaa) Pimenta malagueta (Capsicum frutescens)

200 g de pimenta malagueta;

1 litro de álcool;

Misturar a pimenta e álcool no liquidificador e deixar repousar por uma semanapara cura;

Depois desse tempo deve coar no pano e acrescentar 100 mL de detergenteneutro;

Mais 200 mL de óleo de algodão;

Utilizar apenas quatro colheres de sopa para cada pulverizador costal de 20litros;

Pulverizar a cada dois dias, nas primeiras horas da manhã, ou ao final datarde.

Segundo Beltrão e Vieira (2001), os pulgões que vivem em colônias, e o seuataque se concentra em reboleiras; propiciam o desenvolvimento de fumagina;e são vetores de viroses (Figura 16).

Figura 16. Planta de gergelim atacada por pulgões (Aphis sp).

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Recomenda-se preparar o seguinte macerado para controle de pulgão e lagarta(DANTAS, 2001):

Macerado para Pulgão

a) Cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum)

Três cebolas médias

Cinco cabeças de alho

10 litros de água

Triturar as cebolas e alho, misturando aos 5 litros de água;

Coar no pano fino para evitar entupimento do pulverizador e adicionar amistura (solução) com mais 5 litros de água;

Pulverizar ao final da tarde com pulverizador costal de 10 litros

Macerado para Pulgão e Lagarta

a) Folhas de urtiga (Fleurya aestuans L)

1 kg de folhas de urtiga picadas

2 litros de água

Passar as folhas com a água no liquidificador ou pilão (esmagar e mexer bem)e deixar de repouso por dois dias para cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador;

Adicionar o conteúdo para cada pulverizador costal e completar o volumecom água para 20 litros.

b) Folhas de angico (Piptadenia colubrina)

1 kg de folhas de angico picadas;

10 litros de água

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Passar as folhas com a água no liquidificador e deixar de molho por 8 diaspara cura;

Coar para evitar o entupimento do pulverizador costal;

Usar 5 litros do extrato no pulverizador costal com capacidade de 20 litros;

Segundo Beltrão e Vieira (2001), tanto o inseto adulto como as ninfas demosca branca causam efeito direto sob a face inferior da folha, sugando aseiva da planta. Altas infestações provocam a "mela" e atua como vetor deviroses do grupo geminivirus. Sua infestação é mais frequente em período deestiagem ou veranicos.

Recomenda-se preparar o seguinte macerado para mosca-branca adulta eninfa (BELTRÃO; VIEIRA, 2001; DANTAS, 2001; DIACONIA, 2006):

Macerado para Mosca-Branca Adulta

a) Folha de fumo (Nicotiana tabacum)

Fazer repelente do extrato, cozinhando 2 kg de folhas de fumo em 3 litros deágua, durante 10 minutos;

Depois de frio, coar o material em pano; e usar um copo da solução do extratoem 10 litros de água para pulverização. Manter o produto sempre guardadoem garrafa escura e lacrado.

Urina de vaca

Coletar urina de vaca na hora da ordenha;

Colocá-la num recipiente lacrado;

Deixar no mínimo três dias de repouso para fermentar (liberar a amônia);

Diluir 200 mL de urina para 20 litros de água do pulverizador;

Se necessário aplicar a cada três dias;

Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto.

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Macerado para Ninfas da Mosca-BrancaAplicar o detergente neutro na dose entre 180 a 200 mL em 20 litros de águaou através de sabão neutro. Dissolver 100 mL em 1 litro de água e acrescentaem 20 litros de água no pulverizador costal. Aplicar pela manhã com os jatosdirigidos à parte inferior da folha para controle dos insetos (Figura 17).

O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão paraser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bempara dissolver o sabão. Pulverizar esta mistura morna sobre as plantas (35°C) (DANTAS, 2001).

Outra praga de importância para o cultivo de sementes de gergelim é acochonilha. Segundo Guerra (1985), as cochonilhas são extremamentepequenas e o seu controle na fase larval é mais eficiente (Figura 18). Antesde o inseto formar a carapaça (escudo protetor), apresenta o corpo recobertopor secreção cérica branca, assumindo aspecto semelhante à farinha demandioca, sobre os galhos infestados, nas formas estranhas filamentosas oupulverulentas. Nesta oportunidade, os bioinseticidas também oferecem boaeficiência.

Figura 18. Ataque de cochonilhas em reboleira, no cultivo de gergelim: A) -murchamento de planta como sintomas do ataque; B) - detalhe da cochonilha epulgões na parte apical da planta.

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Figura 17. Planta de gergelim atacada pela mosca-branca Bemisia tabaci/ B.

Argentifolii, nas fases adultas e ninfas, sendo estas últimas mais vulneráveis aosbioinseticidas.

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O macerado recomendado para cochonilha foi utilizado pelo produtor RaimundoBento de Souza da comunidade de Veredas e controlou eficientemente essapraga na pequena área atacada (reboleira) da UTD de gergelim, sendo que acalda sulfocálcica usada na mistura foi adquirida pronta no comércio dePetrolina-PE (AGROBOM).

Macerado para Cochonilha500 mL de calda sulfocálcica;

300 mL de óleo bruto de algodão;

50 mL de detergente neutro;

Diluir a mistura no pulverizador costal com 19 litros de água e pulverizar acada 15 dias.

Planta de neemO neem é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto ativo,Azadirachtina indica, controla os insetos impedindo sua metamorfose em fasede larva, além de repeli-los. Os insetos que se mostraram mais sensíveis aoneem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultadosde pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-do-cartucho do milho (Figura 19), curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiroe cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem tem efeito como repelente,inibidora de crescimento da praga, fungicida e nematicida.

Para reduzir os custos de produção do gergelim, a FFA de São Francisco deAssis do Piauí distribuiu mudas de neem para serem plantadas pelos produtoresnas seis comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa daPovoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Para se tornarautosuficiente na produção de bioinseticidas à base de neem, é necessáriomanter pelo menos 50 plantas desta espécie em cada comunidade (Figura20).

Figura 19. Planta de gergelim atacada por lagarta militar do gênero Spodoptera ssp.

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O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, deacordo com o genótipo, temperatura, umidade e tipo de solo. Normalmente,50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as quais produzemem média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de sementes secascontém aproximadamente 3.000 unidades (SOARES et al., 2003).

Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem sercolocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-seevitar o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Estaoperação requer um único dia de sol, já que posteriormente, as sementesdevem ser transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cercade oito dias.

Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração dassementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. Omesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura21), embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração(SOARES et al., 2003).

Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, consisteno recolhimento e acondicionamento das sementes do neem em sacos deaniagem, para permitir boa aeração e evitar, o aparecimento de fungospatogênicos que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essascondições básicas, as sementes de neem podem ser armazenadas por maisde um ano.

Figura 20. Pequeno bosque de neem com o mínimo de 50 plantas para atender cadacomunidade de produtores familiares, podendo também funcionar com barreira quebra-vento, ou área de arborização da propriedade.

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As recomendações dos preparos dos macerados de neem para sementesdespolpadas e folhagem com talos tenros, estão indicadas respectivamentenos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003).

Macerado para Lagartas, Pulgões, Cigarrinha-Verde e Mosca-Brancaa) Sementes despolpadas

Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados;

Após isso as sementes são secas;

As sementes são raladas e imersas em água;

Na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água;

Deixar de repouso por dois dias para cura;

Cuar e acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume dopulverizador com água;

Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes.

Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. Já esteextrato pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso comobioinseticida.

b) Folhagem e talos tenros

1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a50 g de folhas por litro de água)

Figura 21. Produtor colocando as folhagens de neem (cortadas e maceradas no pilão)dentro do tambor para preparo de solução e seu posterior armazenamento em depósitode plástico.

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Passar no liquidificador com 2 litros de água (ou macerado no pilão)

Deixar os 20 litros da mistura em repouso por 2 dias para cura;

Cuar e acrescentar 10 mL de detergente neutro;

Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água

Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam paracada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas.

Época de corte das plantasO momento exato do corte das plantas de gergelim recomendado por Fonseca(1994) está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por Mazzani(1983), de que as plantas de gergelim colhidas mais tarde, quando os frutosda base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes em maior númeroe de maior tamanho. Este é o momento exato da colheita, pois daí em diantea deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando àqueles localizadosno topo da planta, mesmo que sejam constatados no campo perdas visíveis desementes, mas consideradas essas perdas insignificantes. Mesmo assim,Mazzani (1999) afirma que quando se retarda por três dias o corte das plantaspode representar incremento de 30% no rendimento de sementes imaturas,sendo essas perdas consideradas invisíveis (sementes imaturas, chochas epalhadas; Figura 22).

Figura 22. Ponto de colheita: início da abertura da primeira cápsula da base da haste(perdas visíveis), sendo maior as perdas de sementes imaturas (invisíveis) quando seantecipa esse ponto de corte da planta.

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O plantio do campo de gergelim da cultivar BRS Seda (frutos deiscentes) deveter articulação com a capacidade diária de corte das plantas do produtor.Esta falta de planejamento na instalação do campo pode resultar numa drásticaperda de sementes durante a colheita, em função da abertura natural dosfrutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes nochão pela simples ação do vento.

A colheita manual mais utilizada no nosso meio consiste no corte da base dasplantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 23), devendo ser realizadoo corte da haste das plantas na altura da inserção dos primeiros frutos (15 a30 cm), de modo a evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e nãocausem dificuldades para o agricultor durante a batedura dos mesmos sobrelona.

Figura 23. Corte manual das plantas de gergelim (frutos deiscentes) no ponto decolheita: A) Feixe de gergelim em contato com o solo e B) lona para depositar osfeixes de gergelim. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Para o caso das comunidades organizadas de agricultores familiares doNordeste que estão dispostas em tecnificar o corte das plantas deiscentes degergelim, o mercado nacional oferece a opção de alguns equipamentos (tiporoçadeira) desenvolvidos pelos fabricantes Bertolini e Husqvarna (Figura 24),os quais podem ser utilizados pelo produtor para aumentar sua capacidade decolheita diária.

Outra opção seria testar o minitrator do tipo Tobatta, adaptado na sua partefrontal com uma plataforma de uma linha de corte (tipo navalha - Figura 25).Provavelmente, esse novo protótipo ofereceria condições de corte comcapacidade de rendimento (diário) para ceifar as plantas com frutos deiscentesde gergelim de um campo com 4 ha. Além disso, o produtor precisaria de pelomenos 12 pessoas para a colheita do gergelim (4 ha/dia) com esse sistemasemimecanizado, sendo 1 operário para o corte com o minitrator tipo Tobattae onze operários para as demais atividades: agrupar as plantas em feixes,amarrá-los com barbantes e fazer a sua disposição junto as cercas de aramepara secagem.

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Figura 24. A) Roçadeira mecânica do fabricante Bertolini para uma fileira e duasfileiras de plantas de gergelim; e B) Roçadeira mecânica tipo costal do fabricanteHusqvarna para uma fileira de plantas de gergelim, sendo mais acessível para opequeno produtor.

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Figura 25. Minitrator tipo Tobatta (pequisa não validada) para o corte mecânico deuma linha de plantas de gergelim.

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Secagem dos feixes

Por ocasião da colheita, cada agricultor de São Francisco de Assis do Piauíterá que efetuar em cada parcela de 0,5 ha as seguintes etapas: cortar asplantas e agrupá-las em feixes (total de 742 feixes por 0,5 ha, tendo cada odiâmetro de 30 cm), amarrá-los com fitas de caroá e, finalmente, fazer adisposição dos mesmos nas cercas de arame para secagem, sendo todas essastarefas executadas dentro de uma jornada de 8 horas de trabalho, o queexigiria a mão-de-obra de no mínimo três pessoas para cada parcela de 0,5ha.

O comprimento dos feixes deve ser o mais curto possível (cortar a planta noinício da inserção dos frutos) e sendo amarrados com duas ou três tiras decaroá (Figura 26) ou barbante deixando com os ápices direcionados para cima,dependendo da intensidade de vento na região durante o período de secagem.

Os feixes deverão ser agrupados manualmente em medas ou arrumadosindividualmente junto às cercas de arame do campo para a secagem natural(Figura 27). Uma vez escorados nas cercas, os agricultores das seiscomunidades de São Francisco de Assis do Piauí mantiveram todos os feixesamarrados, passando uma corda ou arame de forma trançada, para que elesnão inclinassem ou caíssem ao solo pela ação do vento, o qual é frequente naregião nos meses de abril a julho de cada ano (QUEIROGA, et al., 2008).

Figura 26. Feixe de gergelim sendo amarrado com fitas de plástico ou tiras de caroá.São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Comparando com o clima da região semiárida do Nordeste nos meses secos

de maio a dezembro, observa-se que podem ocorrer em alguns anos

precipitações pluvial atípicas entre os meses de maio e julho, o que ocasionao escurecimento das sementes de gergelim em processo de secagem no campo.

Consequentemente, essa oxidação do produto é bastante depreciada pelo

mercado. Para evitar as chuvas ocasionais durante a secagem dos feixes

com ápices voltados para cima, o produtor do município de Várzea-PB agrupou

os feixes sob uma lona plástica grande (20 m de comprimento e 4 m de

largura), posicionada em redor de uma estaca de 1,8 m de altura, de maneiraque ela envolveu vários feixes de gergelim desde a parte inferior até a parte

superior, formando uma cobertura total à prova de chuvas (Figura 28). Nos

dias subsequentes, essa lona com os feixes era desenrolada quando havia a

presença do sol e, no final da tarde, os feixes voltavam a ser novamente

enrolados, de forma que esse sistema de proteção dos feixes foi mantido até

o período final de secagem do gergelim (20 dias). Esse processo de secagemcontra as chuvas é eficiente, principalmente, quando visa a obtenção de um

produto com elevada qualidade (sementes não oxidadas), mas a viabilidade

desse processo irá depender da lona plástica durar no máximo três colheitas

de gergelim (safras). Portanto, aconselha-se colocar sacos de rafe embaixo

dos feixes para não furar a lona.

Figura 27. Disposição dos feixes de gergelim junto à cerca de arame para facilitar oprocesso de secagem. São Francisco de Assis do Piauí, 2009.

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Batedura dos feixesDevido ao vento forte na região, os produtores familiares das comunidadesenvolvidas na programação da FFA fizeram três bateduras para soltar todasas sementes dos feixes, pois os frutos na planta apresentam idades diferentese também diferentes níveis de maturação. De modo geral, os batimentos dosfeixes ocorreram aos 8, 15 e 22 dias após o corte das plantas de gergelim nasdiferentes comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. A terceira bateduracorresponde as sementes do ápice das plantas, portanto recomenda-se separá-las das demais sementes da primeira e segunda bateduras, devido a sua baixaqualidade (sementes imaturas e palhas). Caso necessita complementar asecagem das sementes após a batedura, é recomendável espalhar umacamada fina de sementes sobre a lona plástica, em razão de que as mesmasterão que apresentar umidade máxima de 4,5% para o acondicionamento emgarrafa pet (QUEIROGA, et al., 2008).

No transporte dos feixes para a batedura, os agricultores conduzem os feixesna posição ereta, pois qualquer inclinação dos mesmos representa perdas desementes. Apenas os feixes secos são virados totalmente pelos carregadoresquando estão sobre a lona estendida em forma de canoa (Figura 29). Aqueleagricultor que consegue deixar os feixes de plantas mais curtos, as atividadesde virada e de sua batedura sobre a lona mostram-se ser melhor o manuseioda batedura dos mesmos, em comparação aos feixes longos (QUEIROGA, etal., 2008).

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Figura 28. Diferentes fases de preparação do sistema de secagem dos feixes degergelim com cobertura de lona plástica no campo para evitar às chuvas ocasionais.Várzea, PB, 2009.

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Para não ter que transportar os feixes em posição ereta e carregá-los semdeixar cair as sementes por longo percurso no campo até chegar à lona fixadano chão, outra sugestão dada pela Embrapa Algodão seria colocar a lonaamarrada sobre uma carroça baixa, de modo que a carroça empurrada pelosagricultores deslocaria no campo em busca dos feixes para a operação debatedura. Esta opção da carroça se movendo dentro do campo seria maisviável para as três bateduras dos feixes de gergelim, em razão de reduzirdrasticamente as perdas com sementes no chão, pois a carroça vai para juntodos feixes de gergelim que serão submetidos ao processo de batedura. Alémdisso, no caso dos feixes de gergelim receberem uma arrumação organizadano campo, similar aos estaleiros de sisal, haveria um impacto significativobem menor de 10% de perdas de sementes pela ação dos ventos (Figura 30).Para Queiroga e Silva (2008), esse índice abaixo de 10% de perdas de sementesrepresenta uma colheita eficiente do gergelim deiscente.

Peneiração e ventilação das sementesUma vez executada a operação de batedura nos feixes com auxílio da própriamão ou de um pequeno porrete, os agricultores da comunidade de Lagoa doJuá realizaram uma limpeza das sementes depositadas na lona para um carrode mão, também forrado com lona, através de uma peneira circular (Figura31). Para ajudá-los nessa tarefa de limpeza das sementes foi utilizada umabacia de plástico.

Logo após a batedura e antes do acondicionamento das sementes em garrafaspets, recomenda-se utilizar uma ventilação no material resultante para eliminartodo tipo de sujeiras encontradas junto às sementes (cascas, insetos, palhas,sementes chochas, etc). Para os agricultores de São Francisco de Assis doPiauí, a ventilação das sementes é realizada com arupembas de palhas (peneirarústica) nas horas de ventos (QUEIROGA, et al., 2008).

Figura 29. Transporte dos feixes para batedura em uma lona fixa no campo, em formade canoa para evitar a mistura das sementes com areia. São Francisco de Assis doPiauí, 2008.

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Figura 30. Circulação da carroça ou reboque para batedura dos feixes e suaarrumação bem estruturada no campo, resulta numa colheita eficiente do gergelimdeiscente.

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Figura 31. Peneiração manual das sementes de gergelim através de peneira rústica.São Francisco de Assis do Piauí, 2008.

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Outra técnica simples de ventilação natural das sementes de gergelim adotadapelos agricultores do Nordeste é utilizando uma peneira feita de madeira,contendo uma chapa de latão perfurada por prego, a qual fica no plano inferiorda coluna de descarga da semente efetuada por um operário de campo sobreum tamborete, visando reter as sujeiras pesadas e grandes presentes nassementes (QUEIROGA, et al., 2008). Ao mesmo tempo, a coluna de descargadas sementes é afetada pela ação do vento para separar as sujeiras leves epequenas (Figura 32).

Visando aumentar a pureza das sementes, após o processo de colheita seriaconveniente efetuar uma ventilação complementar num equipamento simplescom alimentação manual, o qual possui um bica de descarga na sua parteinferior por onde saem às sementes limpas. Esta máquina descascadora desementes dos frutos de mamona, produzida pela Metalúrgica GSDourado deIrecê-BA, pode ser adaptada para limpeza de sementes de gergelim, quandose substitui a peneira de mamona por outra peneira de orifícios redondos de 3mm (1/8 de polegadas). Esta máquina deve ser acionada à tomada de forçado trator com a rotação entre 350 rpm a 400 rpm (Figura 33), mas paralimpar o gergelim é necessário que o material passe primeiro por uma peneiracomum de pedreiro para tirar as impurezas pesadas (Figura 31) e depoiscomplementar a limpeza do gergelim na referida máquina para eliminar asimpurezas leves (QUEIROGA, et al., 2008). O referido fabricante pretendedesenvolver uma máquina idêntica de pequeno porte para gergelim, adaptandoum redutor de velocidade e colocando um motor na máquina pra que a mesmapossa trabalhar diretamente com energia elétrica.

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Figura 32. Ventilação natural das sementes de gergelim usando uma peneira demadeira com chapa de latão perfurada por prego.

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Secagem das sementes

Segundo Weiss (1983), as sementes de gergelim perdem rapidamente a

qualidade quando manipuladas e armazenadas sem os devidos cuidados.

Colheita fora de época, danos mecânicos na batedura, secagem inadequada

(alta umidade) e temperatura de armazenamento, se apresentam como os

principais fatores que afetam as qualidades fisiológicas (germinação e vigor)

das sementes armazenadas.

Em regiões com alta umidade ambiental, o gergelim volta a absorver umidade

e corre o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições se deveria armazenar

o gergelim num curto espaço de tempo ou em caso contrário depositá-lo em

recipiente hermeticamente fechado (garrafa pet). Bass et al. (1963), utilizando

recipientes herméticos, verificaram que sementes de gergelim se conservam

por dois anos quando mantidas em temperatura de 21 ºC, porém essa

conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi de

4% (Figura 34).

Armazenamento

Uma vez secadas ao sol, as sementes de gergelim devem ser esfriadas

naturalmente à sombra e acondicionadas em garrafas pets (Figura 35) com a

umidade máxima de 4%, conforme os trabalhos de armazenamento conduzidos

por Bass et al. (1963).

Figura 33. Máquina de ventilação utilizada na limpeza das sementes de gergelim,adaptando uma peneira de orifícios redondos de 3 mm e usando a rotação máxima de400 rpm.

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Como medida de precaução para atingir umaprodução de sementes uniformes (cor) deelevado padrão, recomenda-se ao produtorefetuar uma limpeza manual sobre a pequenaquantidade de sementes de gergelim que seráutilizada na semeadura por ha (3 kg) paraeliminação de sementes contaminantespresentes nas amostras armazenadas nasgarrafas pets, principalmente no caso dasamostras de sementes de cor branca da cultivarBRS Seda, as quais são comumente mescladascom sementes segregantes de cor creme, emvirtude da referida cultivar ter sido oriunda daseleção massal da cultivar CNPA G4 (sementesde cor creme).

Rotação de culturas

Em qualquer atividade agrícola, a prática de rotação de culturas é de sumaimportância, pois contribui para a manutenção da bioestrutura do solo e paraa sanidade vegetal, além de ser prática importante para a conservação dosolo. Silva (1983) indica as seguintes rotações para a região do nordeste:feijão/gergelim, milho/gergelim e sorgo/gergelim ou mamona/amendoim/gergelim.

Figura 34. Secagem natural ao sol: método adotado pelos agricultores familiares doNordeste para secagem do gergelim.

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Figura 35. Sementes degergelim acondicionadasem garrafas pets.

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É importante considerar que na maior parte das UTDs instaladas nascomunidades de São Francisco de Assis do Piauí a incidência de pragas edoenças nas pequenas áreas de gergelim tem sido insignificante, pois os fatoresambientais de baixa umidade e temperatura amena no período chuvoso têmcolaborado para a sua baixa infestação na região, principalmente as doenças.Preventivamente, é necessário que o produtor esteja sempre atento, fazendoanualmente a rotação da área do gergelim com outras culturas, principalmenteda família das gramíneas (sorgo, milho, arroz, etc), cujo manejo irá garantir aoprodutor de gergelim menor custo de produção e ausência de pragas na lavoura.

Algodão Herbáceo

Antecedentes

O primeiro trabalho realizado no município de São Francisco de Assis do Piauípela Embrapa Algodão foi com a cultura do algodão. Em novembro de 2003,foi ministrado pelos técnicos da Embrapa um curso teórico de capacitaçãopara 400 agricultores, sendo a duração do curso de um dia por grupo de 80participantes de cada comunidade. No mês seguinte, foram instaladas 10UTDs (Unidade de Teste e Demonstração) nas cinco comunidades, sendo duaspor comunidade do referido município: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoada Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita, visando criar uma

escola de campo para transferência detecnologia em tempo real. As orientaçõestécnicas dadas pelos pesquisadores daEmbrapa aos vários produtores reunidos naUTD matriz permitiram criar um efeitopositivo no processo de apropriaçãotecnológica pelos produtores familiares, cujosconhecimentos adquiridos foram aplicadosnos seus lotes (UTDs filiais). Na Figura 36,encontra-se o organograma das UTDs.

Com uma área individualizada de um hectarepor produtor, apenas 350 agricultoresconseguiram instalar os campos de produçãoconvencionais (não orgânico) de algodãoherbáceo da cultivar BRS 187 8H sobcondições de sequeiro, totalizando uma áreaestimada de 350 ha. A média de

Figura 36. Modelo estratégico,para transferência detecnologia, adotado pelaEmbrapa Algodão paraprodução de algodão nascomunidades de São Franciscode Assis do Piauí, em 2004.

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produtividade por cada agricultor foi de 740 kg/ha de algodão em caroço,mesmo assim houve casos de produtividade elevada de 2.000 kg/ha (Figura37). Os resultados da produção total comercializada pela FFA foram de 260toneladas de algodão em caroço ao preço de mercado de R$ 1,00 por quilo,alcançado no mês de junho de 2004. Destaca-se que o primeiro Dia de Campoficou registrado no município de São Francisco de Assis do Piauí com a UTDde algodão instalada na comunidade Barreiro Grande (Figura 38).

Figura 37. Campo de algodão (sequeiro) do produtor da comunidade de Mulungu nomunicípio de São Francisco de Assis do Piauí, 2004.

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Figura 38. Abertura do evento com momento de oração do Pe. Geraldo Gereon edepois, Dia de Campo de algodão herbáceo convencional na comunidade BarreiroGrande, município de São Francisco de Assis do Piauí, PI. Ano agrícola de 2004.

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Condições da área

A exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção do

algodão orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só

reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas

agrícolas manejadas por pelo menos 3 anos na ausência de defensivos e adubos

minerais (QUEIROGA, et al., 2008).

O algodoeiro herbáceo vegeta bem nos solos de baixada e aluvião da região

semiárida do Nordeste, consequentemente a planta fica mais sujeita a

infestação de pragas por se tratar de solos úmidos durante o período de inverno.

A incidência de pragas é menor em solos de tabuleiros da referida região,

apesar do desempenho agronômico do algodoeiro herbáceo não ser bastante

promissor, ou seja, a produtividade do algodoeiro é regular em função da

baixa fertilidade do solo (QUEIROGA, et al., 2008).

Para um melhor rendimento e uma boa produção devem ser procurados os

solos profundos, bem estruturados, de pH entre 5,5 e 6,5, não sujeitos a

encharcamento ou erosão (QUEIROGA, et al., 2008).

A topografia do solo pode variar desde plana até a ondulada, contanto que na

plana não haja problema de encharcamento e na ondulada ou acidentada,

práticas de conservação sejam observadas e seguidas para evitar erosão. Os

solos recém-desbravados são ricos em matéria orgânica e com alto teor de

nitrogênio, podendo ocasionar o desenvolvimento vegetativo do algodoeiro

em prejuízo à produção (QUEIROGA, 1983).

Preparo do solo

Um dos fatores que influenciam no rendimento da cultura é o preparo do solo.

Quando bem feito, facilita o plantio, favorece a germinação da semente e o

desenvolvimento do sistema radicular, além do controle de plantas daninhas.

O solo pode ser preparado pelo método tradicional de aração e gradagem,

preferencialmente com arado de aiveca ou de discos dependendo do tipo de

solo. Este método deve ser feito em solo úmido, no ponto da fiabilidade

(QUEIROGA, et al., 2008).

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O uso de grades aradoras é desaconselhado, pois favorece a erosão laminar,

é ineficiente no controle das plantas daninhas e principalmente porque provoca

aumento da compactação do solo devido à formação do pé-de-grade

(PRIMAVESI, 1980; SEGUY et al., 1984).

Grande parte dos agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí,

por não disporem de outros recursos, prepara o solo, apenas usando o arado

de aiveca (tombador) à tração animal. Após o preparo com o tombador,

deveriam passar o cultivador ou grade de dentes (Figura 1) até que o solo

ficasse bem destorroado para melhorar o rendimento e a eficiência deste tipo

de preparo.

Se o preparo for feito mecanicamente a trator, recomenda-se fazer aração a

uma profundidade de 15 a 20 cm antes da gradagem. A gradagem de

nivelamento deve ser feita perpendicular ao sentido da declividade do terreno

visando controlar a erosão (QUEIROGA, 1983).

Característica da cultivar

Para o plantio do algodão orgânico no município de São Francisco de Assis do

Piauí está sendo utilizada a cultivar BRS 187-8H, cujas sementes foram

adquiridas, provavelmente do projeto ESPLAR de Tauá-CE. Na Tabela 2 abaixo,

estão os seus principais caracteres de produção e tecnológicos da referida

cultivar.

Tabela 2. Principais caracteres de produção e tecnológicos do algodão herbáceoconvencional, cultivar BRS 187- 8H , para as condições do Nordeste (sequeiro).

Fonte: Embrapa Algodão (2003).

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Sementes

No plantio do algodão orgânico, as sementes devem ser deslintadasmecanicamente, o que corresponde a um processo de deslintamento parcialpor não eliminar totalmente o línter (Figura 39). Mesmo assim existe matracaapropriada ou plantadeira mecânica de tração animal apropriada para sementesde algodão com pouco línter (Figura 40).

Figura 39. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Deslintadormecânico utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes; e C) Sementesdeslintadas mecanicamente com pouco línter.

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No caso particular do município de São Francisco de Assis do Piauí, as sementesde algodão orgânico, quando descaroçadas, podem ser deslintadas pelo métodode flambagem, que é considerado um equipamento simples destinado para ascomunidades familiares (Figura 41). Nesse processo, a massa de sementescom línter é despejada numa coluna de chamas, que queima a maior parte dolínter, mas também não deixa a semente totalmente nua (QUEIROGA et al.,1993).

Época de plantio

A observância da época adequada de plantio oferece maior possibilidade deêxito para o agricultor dentro das variações de chuvas a que está sujeita alavoura nas diferentes comunidades do município de São Francisco de Assisdo Piauí, tendo em vista a grande influência da precipitação sobre a produção,tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA, 1983).

Recomenda-se iniciar o plantio quando a precipitação tenha atingidoaproximadamente 30 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições, osolo apresenta umidade suficiente para a germinação das sementes edesenvolvimento das plantas (BELTRÃO, 1999).

Em área a ser plantada até 2 ha, alguns agricultores familiares de outrasregiões do Nordeste separam as quantidades de sementes a serem semeadasno dia seguinte e deixam elas umedecidas durante toda noite, tendo comoresultado uma acelerada germinação das sementes em poucos dias apósplantio, mesmo em situações de baixa umidade do solo. Este exemplo se ajustaperfeitamente às condições dos agricultores do município de São Franciscode Assis do Piauí pelo fato da semeadura da lavoura do algodão ser realizadamanualmente, conforme os respostas obtidas nos questionários da Tabela 2(Cap. II).

Figura 40. Matraca apropriada e plantadeira mecânica adaptada de tração animal paraa semeadura de sementes de algodão com pouco línter.

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Figura 41. A) Sementes de algodão herbáceo com muito línter; B) Processo deflambagem utilizado para a eliminação parcial do línter das sementes de algodão; e C)Sementes flambadas com pouco línter.

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Consórcio agroecológico

Ao contrário do monocultivo do algodão convencional de 2004, no ano agrícolade 2009 foram instaladas duas UTDs de algodão orgânico consorciado emfaixas com outras 5 espécies (feijão comum, milho, feijão guandu, sorgo egergelim) nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande pertencentes aomunicípio de São Francisco de Assis do Piauí. O novo fato priorizou a FFA aavaliar a eficiência do plantio do algodoeiro no sistema consorciado em faixas,por ser considerada a condição básica para uma produção agroecológica, poisessa configuração de diversas espécies faz com que algumas pragas sedesorientem favorecendo os predadores.

O sistema consorciado em duas faixas distintas consiste no plantio de 6 fileirasde algodão em uma faixa e, na outra faixa, 6 fileiras de diferentes espécies,sendo uma fileira ocupada por cada espécie, num espaçamento geral entre asfileiras de 1 metro. O arranjo populacional das espécies no campo obedeceu àseguinte sequência de plantio: 6 fileiras de algodão +1 fileira de feijão + 1fileira de gergelim + 1 fileira de sorgo + 1 fileira de feijão guandu + 1 fileirade milho + 1 fileira de feijão + 6 fileiras de algodão, etc, sendo que nasbordaduras do campo (circulando toda área plantada) foram plantadas 3 fileirasde gergelim (Figura 42). Na safra agrícola de 2010, está previsto a rotaçãodas espécies entre as duas faixas consorciadas, ou seja, na faixa plantadacom as 6 fileiras de algodão deverão ser plantadas as 5 diferentes espécies e,na outra faixa ocupada com as 5 espécies, serão plantadas as 06 fileiras dealgodão.

Figura 42. Consórcio agroecológico em faixa entre 6 fileiras de algodão x 6 fileirascom cinco espécies distintas: A) Fase vegetativa e B) Fase de frutificação. Campoinstalado na comunidade Veredas, município de São Francisco de Assis do Piauí,2009.

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Capinas

As limpas devem ser realizadas no período crítico (da emergência aos 60 dias

da cultura) e rasas, no máximo 3,0 a 4,0 cm. Este controle do mato entre as

fileiras do algodoal é realizado pelos agricultores do município de São Francisco

de Assis do Piauí com ajuda do instrumento arado cultivador e, entre as covas

das plantas, realiza-se o retoque com a enxada.

Controle de pragas

As principais estratégias alternativas de controle de pragas para o algodoeiro

orgânico são: a) Controle Biológico, b) Controle Cultural, c) Controle Climático

e d) Controle com Produtos Naturais.

a) Controle Biológico. Do ponto de vista ecológico, o controle biológico é uma

parte do controle natural, o qual ocorre sem a interferência do homem.

Entretanto, também pode ter muito valor o controle biológico aplicado, quando

a introdução e a manipulação de inimigos naturais são feitas pelo homem,

visando à redução de danos causados por pragas em níveis tolerados (BOSCH

et al., 1982). Dentre os vários agentes de controle biológico existentes na

natureza, apenas o Trichogramma spp. (controle do curuquerê, lagarta rosada

e lagarta-das-maçãs) e a bactéria Bacillus thuringiensis (controle do curuquerê

e lagarta-das-maçãs) encontram-se disponíveis para aplicação pelo agricultor,

sendo que no mercado o Bacillus thuringiensis é encontrado com o nome

comercial Dipel. Já a tecnologia da produção de Trichogramma pretiosum

encontra-se à disposição de cotonicultores na Embrapa Algodão de Campina

Grande-PB.

b) Controle Cultural. Durante a condução da produção do algodão orgânico, o

produtor poderá ser orientado na manipulação de várias práticas de cultivo,

ecologicamente naturais, visando modificar o agroecossistema, cuja utilização

de diferentes estratégias de cultivo é tornar desfavorável o desenvolvimento

de pragas e, ao mesmo tempo, favorável ao desenvolvimento de seus inimigos

naturais. Estas modificações nas práticas agrícolas podem alterar a atratividade

e a suscetibilidade das plantas às pragas, que, segundo Ramalho (1994), pode

ser definido como controle cultural. As principais práticas culturais utilizadas

para reduzir problemas de pragas no algodoeiro orgânico são:

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UNIFORMIDADE DE PLANTIO - Nas áreas selecionadas para o cultivo do

algodão orgânico da região semiárida do nordeste deve ser estabelecido seu

período de plantio pelos produtores, de forma que a semeadura não deve

ultrapassar os 30 dias de um produtor para outro dentro do mesmo município,

devido a problemas de pragas, em especial o bicudo e o aumento dos riscos

de veranicos durante o ciclo da cultura (SILVA et al.; 1997).

MANIPULAÇÃO DE CULTIVARES - A pesquisa considera que a utilização de

cultivares de algodão de ciclo curto seja preferida pelo produtor de algodão

orgânico, na tentativa de reduzir o tempo de exposição das plantas à

colonização e infestação de pragas (broca, bicudo, lagarta-das-maçãs e lagarta

rosada). Espera-se que agricultor plante cultivar de ciclo curto de 100 a 110

dias, a qual atenderia melhor o controle cultural de convivência com as pragas,

sugerindo sua possível utilização para favorecer o escape da cultura ao ataque

do bicudo (SILVA e ALMEIDA, 1998).

PERÍODOS LIVRES DE PLANTIO - Devido às áreas plantadas com algodão no

Nordeste pertencerem aos pequenos agricultores, os quais em muitos casos

abandonam as lavouras por não terem recursos financeiros para controlar o

bicudo. Portanto, alguns produtores acreditam que deixando uns períodos livres

de 2 a 3 anos de intervalos sem plantar o algodão na região, o nível populacional

do bicudo fica zerado na região desde que sejam destruídas todas as plantas

de algodão e outras espécies hospedeiras, de maneira que quando eles voltam

à planta o algodão praticamente não necessitam fazer qualquer tipo de controle

para o bicudo (RAMALHO e SILVA, 1993).

ESPAÇAMENTO AMPLO - Pesquisadores da Embrapa Algodão constataram

que o espaçamento amplo (1,10 m X 0,40 m) utilizado no plantio algodão

orgânico pelos agricultores familiares do Assentamento Queimadas,

pertencente ao município de Remígio, Curimataú Paraibano, está de

conformidade com o sistema de plantio adotado pelos cotonicultores orgânicos

da Califórnia EUA, os quais utilizam menores populações de plantas em seus

algodoais para prevenir a infestação de pragas e doenças (SWEZEY et al.,

1999). Pierce et al. (2001) citam a manipulação do microclima das plantas de

algodão como estratégia de reduzir a sobrevivência de bicudos imaturos. Esses

autores verificaram que alta temperatura e baixa umidade relativa promovem

um maior percentual de mortalidade natural do inseto. Os mesmos autores

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também constataram que há uma probabilidade de que 34% dos botões floraisque caem ao solo resultarem na emergência de adultos. Ao contrário, aquelesque caem no centro da fileira têm somente 6% de possibilidade de propiciaremsobrevivência do adulto, fruto das condições microclimáticas inadequadas.

CATAÇÃO DE BOTÕES FLORAIS E MAÇÃS - Vários estudos foram realizadossobre a viabilidade desta técnica e comprovaram que a catação equivale areduzir até 60% das pulverizações com inseticidas de um campo de algodãoconvencional, dependendo das condições ambientais, da cultivar e daproximidade de outros campos, com seu respectivo controle de pragas(BELTRÃO et al., 1997). Para as pequenas áreas de algodão orgânico dosagricultores familiares, sugere-se que se faça a coleta semanal de todos osbotões florais e maçãs caídas no solo, a partir do início da queda dos botõesflorais. Para as áreas maiores, sugere-se apenas coletar nas bordaduras (15 a20 fileiras ao redor do campo) e com frequência de uma a duas vezes porsemana, dependendo do nível populacional da praga (BLEICHER, 1990). Estasestruturas reprodutivas deverão ser aproveitadas para alimentação dos animaisda propriedade ou enterradas ao solo.

DESTRUIÇÃO DOS RESTOS DE CULTURA - Com o surgimento do bicudo,tornou-se obrigatório a destruição dos restos culturais do algodoeiro apóscolheita, tais como: raízes, caules, botões florais, flores, maçãs, carimãs ecapulhos não colhidos, respectivamente, através do arranquio e/ ou coleta,para destruição e incorporação no solo. Esta operação ecologicamente corretavisa quebrar o ciclo biológico das pragas, através da eliminação dos sítios deproteção, alimentação e reprodução (SILVA et al., 1997).

ROTAÇÃO DE CULTURA - O cultivo alternado do algodoeiro com outrasculturas, em sucessões repetidas, adotando-se uma sequência definida, alémde contribuir para redução de pragas específicas associadas a uma delas,concorre favoravelmente para a melhoria das condições físicas e químicas dosolo (SILVA et al., 1997).

CULTURA-ARMADILHA - Também denominado por "planta-isca" baseia-seno plantio (antecipado ou não) de uma espécie mais atrativa (gergelim) paraas pragas (mosca branca e pulgão) do que o algodoeiro (SILVA e ALMEIDA,1998). O gergelim (hospedeiro) é plantado nas fileiras marginas do campo,visando estimular a praga em preterir ou retarda a colonização definitiva noalgodoeiro e estas pragas seriam controladas com produtos naturais. Scott etal.(1974) demonstraram a eficiência desta técnica no controle do bicudo,que, no caso do algodoeiro orgânico, esta praga poderia ser atraída pelasfaixas de plantio antecipado do algodão e eliminado através de pulverizaçõessistemáticas com defensivos orgânicos (Neem).

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ARMADILHA DE FEROMÔNIO- Refere-se à instalação de Tubo Mata Bicudo(TMB), contendo o feromônio "grandlure", antes da semeadura e após acolheita. Por se tratar de campos de algodão orgânico, não se recomendainstalar dois TMBs para cada área do produtor familiar nas faixas ou rota deentrada e saída dos adultos de bicudo, com o objetivo de reduzir a quantidadede insetos que se dirigem as áreas de refúgio, e que posteriormente retornarãoàs lavouras seguintes (AZEVEDO e VIEIRA, 2002).

c) Controle Climático. Na microrregião do Seridó do Nordeste, as condiçõesedafoclimáticas influem de forma significativa na redução do nível populacionaldas pragas (broca e bicudo). O algodoeiro orgânico cultivado, em regime deirrigação, numa área do Seridó com insolação excessiva, onde esse soloabrasador, com temperatura acima de 60 ºC funcionaria como fator limitantepara a sobrevivência, principalmente da broca e do bicudo (RAMALHO, 1994).Este controle climático através da dessecação constitui-se no principal fatorde mortalidade natural de larvas, pupas e adultos pré-emergentes do bicudo.

d) Controle com Produtos Naturais. As pulverizações preventivas nasbordaduras (6 fileiras), ao redor do campo de algodão orgânico com o neem,poderão ser eficientes no controle do bicudo, desde que essas pulverizaçõessistemáticas sejam realizadas semanalmente, a partir da fase inicial de emissãodos primórdios dos botões florais do algodoeiro. Junto com as pulverizaçõespreventivas, deveriam ser efetuadas também as catações dos botões floraisnas 6 fileiras da bordadura. Para elevar o poder residual e sua ação tóxicanatural no algodoeiro, basta aplicar o neem misturado com óleo bruto dealgodão, sendo que neste último produto vem incorporado uma substânciatóxica natural que é o gossipol (ARAÚJO et al., 2002).

De maneira resumida, observam-se na Tabela 3 as medidas de controleecológica das principais pragas do algodoeiro constatadas em lavouras doNordeste brasileiro.

Colheita

A colheita do algodão é feita manualmente (Figura 43), iniciando-se quando60% dos capulhos estiverem abertos e, a segunda 15 dias depois, quando osdemais frutos estiverem abertos. A colheita deve ser realizada com temposeco, para se evitar impurezas que possam vir junto ao capulho, o queprejudicaria o tipo de algodão. Não colher o algodão com umidade acima de12% que é o máximo permitido (BELTRÃO, 1999).

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Tabela 3. Medidas de controle ecológica adotadas para as principais pragas da culturado algodão.

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Segundo Queiroga (1983), o trabalho de colheita deve ser iniciado após às8:00 horas da manhã, quando parte da umidade noturna ou orvalho no capulhojá se dissipou. Deve-se colher somente os capulhos bem formados ecompletamente abertos, cuja fibra esteja perfeita, sem manchas ou atacadaspor pragas e doenças.

O algodão em caroço colhido deve ser colocado em saco de pano (amarrar ossacos com cordão feito de algodão), de preferência de tecido de algodãobastante arejado com capacidade para 45 a 60 kg, sendo transportado earmazenado em depósitos e galpões específicos. A umidade ideal dearmazenamento do algodão em caroço é de 8 a 10% (BELTRÃO, 1999).

Beneficiamento

Esta etapa é muito importante para que as sementes não sofram danosmecânicos durante o processo de descaroçamento na máquina de serras(QUEIROGA et al., 2001). Além disso, deve ser feito uma estimativa daquantidade de sementes da cultivar BRS 187- 8H que deve ser usada pelosagricultores de São Francisco de Assis do Piauí na safra seguinte. Por exemplo,caso a quantidade demandada pelos agricultores seja de 1000 kg de sementesde algodão com línter para o próximo plantio, a FFA terá que separar 2.000kg de algodão em caroço para beneficiar numa miniusina algodoeira maispróxima à cidade de São Francisco de Assis do Piauí. Para atingir essaquantidade desejada de sementes (1.000 kg), calcula-se o rendimento de 60%de sementes com línter sobre o total de algodão em caroço que serábeneficiado (2.000 kg).

Figura 43. Colheita manual do algodão no município de São Francisco de Assis doPiauí, 2004.

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Recomenda-se o uso de minidescaroçadores e prensas manuais ou hidráulicas,

já instalada na cidade de Paulistana-PI, a qual fica na margem da estrada que

dá acesso a cidade de Betânia do Piauí (Figura 44). Uma vez ensacado o

algodão em caroço, o transporte de 40 sacos de algodão de 50 kg cada

(exemplo de 2.000 kg) é possível realizar num só caminhão. Procurar beneficiar

o produto orgânico em máquinas limpas e sem mistura com outros tipos de

algodão, para evitar contaminação na fibra e nas sementes, principalmente,

porque esse material será utilizado novamente no plantio, uma vez que para

contaminar todo o lote são necessário apenas uma ou algumas sementes

atípicas (QUEIROGA et al., 2008).

Figura 44. Miniusina de algodão de 50 serras situada na extremidade da cidade dePaulistana-Pi, aproximadamente 76 km de distância da cidade de São Francisco deAssis do Piauí.

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A miniusina de 50 serras de Paulistana-PI tem a capacidade de beneficiar2.880 kg/dia de algodão em caroço em 8 horas de trabalho e utiliza a mão-de-obra de 5 operários na condução do processo de beneficiamento eenfardamento da pluma (Figura 45). Por trazer acoplado um pequeno limpadorsobre o minidescaroçador de 50 serras, é necessário que o agricultor colha oalgodão limpo, evitando-se restos de planta (folhas, brácteas, fragmentos decaule e ramos, plantas daninhas e suas partes, capulhos doentes ou não abertostotalmente, terra, etc), visando obter após beneficiamento uma pluma de altaqualidade e de maior aceitação pelo mercado (QUEIROGA et al., 2008 ).

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Além da miniusina de 50 serras, a FFA teria outra opção viável debeneficiamento do algodão em caroço, resolvendo definitivamente osproblemas de falta de sementes dos agricultores para plantio no início doinverno. Ou seja, seria solicitar a Embrapa Algodão o empréstimo do protótipomóvel de 20 serras de beneficiamento de algodão em caroço (QUEIROGA etal., 2008). Devido à facilidade de ser transportado por reboque, esteequipamento de menor porte é apropriado para processar o beneficiamentode pequeno volume de algodão em comunidades de agricultores familiares(Figura 46).

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Figura 45. Miniusina de 50 serras em atividades de beneficiamento do algodão emcaroço e enfardamento da pluma. Campina Grande, PB.

Figura 46. Unidade móvel de beneficiamento de algodão em caroço pertencente aEmbrapa Algodão.

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Apesar de ser uma unidade

de beneficiamento de

grande porte (Figura 47),

mesmo assim não seria

aconselhável realizar o

processamento da pequena

quantidade de algodão em

caroço produzida pelos

agricultores do município de

São Francisco de Assis do

Piauí numa algodoeira de

Picos-PI, a qual não é

p r e p a r a d a

profissionalmente para o

beneficiamento de sementes de elevada

qualidade, pois certamente haverá o grande

risco de ocorrer misturas mecânicas das

sementes orgânicas com outros tipos de algodão

por falta de limpeza eficiente dos equipamentos

da usina.

Armazenamento

Uma vez beneficiado o algodão em caroço na

miniusina e deslintadas mecanicamente ou

flambadas, as sementes com linter devem ser

secas ao sol, esfriadas à sombra e

acondicionadas em garrafa pet (Figura 48) com

a umidade máxima de 8%, segundo as

recomendações dadas por Harrington e Douglas

(1970).

Figura 48.Acondicionamento desementes de algodãodeslintadasmecanicamente com8% de umidade emgarrafa pet, sendo 1000kg de sementes dealgodão para abasteceros seis bancoscomunitários.

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Figura 47. Usina de grande porte debeneficiamento de algodão em caroço com 4descaroçadores de 80 serras.

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FEIJÃO

Escolha da área

Os agricultores de São Francisco de Assis do Piauí deverão optar por áreas

que atendam alguns requisitos básicos, no sentido de se obter sementes de

boa qualidade. Nessa área, é necessário que se proceda a um levantamento

do seu histórico, atentando para os seguintes pontos: espécies e cultivares

anteriormente plantadas, plantas daninhas existentes e optar por glebas onde

não se cultivou a espécie nos últimos 2 anos, pois isto significa um critério

rigoroso de sanidade do local de produção de sementes (TORRES et al., 2006).

Preparo do solo

O preparo do solo tradicional dos agricultores familiares de São Francisco de

Assis do Piauí é realizado apenas com o arado tombador (arado de aiveca

reversível) de tração animal para quaisquer espécies cultivadas nas suas

pequenas propriedades. Este tema já foi abordado detalhadamente para a

cultura do gergelim.

Por outro lado, vale ressaltar que o tamanho da área destinada à produção de

sementes deve ser compatível com as necessidades de cada agricultor, mesmo

que essa quantidade mínima de sementes seja para honrar seu compromisso

junto ao Banco Comunitário de Sementes da sua comunidade.

Isolamento da área

Por ser considerada uma espécie de autopolinização, o isolamento necessário

entre campos de variedades de feijão da mesma espécie deve ser em torno

de 50 metros (LOLLATO et al., 1993). Com base nos resultados da Tabela 4

(Cap. II), provavelmente essa distância entre campos de feijão de distintas

cultivares seja cumprida pelos agricultores familiares de São Francisco de

Assis do Piauí.

Adubação

Para que uma lavoura seja bem sucedida é necessário que exista uma

quantidade adequada de matérias orgânicas nos solos arenosos das pequenas

áreas agricultáveis dos agricultores familiares do município de São Francisco

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de Assis do Piauí, provenientes da incorporação de adubos verdes e de esterco

de caprino. Por sua vez, uma planta de feijão bem nutrida está em condições

de produzir sementes de melhor qualidade e em maior quantidade, obtendo-se

uma maior conversão de sementes (TORRES et al., 2006).

Sementes

O agricultor de São Francisco de Assis do Piauí deve partir de sementes deorigem conhecida e de boa qualidade, para estabelecer um campo de produçãode alto padrão, que lhe proporcione bons rendimentos de sementes de altaqualidade, ou seja, com elevada pureza varietal e física, bem como altaqualidade fisiológica (germinação e vigor) e sanitária (POPINIGIS, 1977).

Semeadura

Por ser um plantio em regime de sequeiro, a semeadura deve ser realizadanas épocas em que haja boa distribuição de chuva, normalmente no mês dejaneiro no semiárido de São Francisco de Assis do Piauí quando ocorre o iníciodo inverno.

Com base nos resultados da Tabela 2 (Cap. II), a semeadura é feita com usoda matraca com 3 sementes por cova (Figura 49) com espaçamento entre

fileiras de 1 m e de 50 cm entre covas, porse tratar de cultivares bastante ramificadas.Com esse espaçamento amplo, o agricultorrealiza com facilidade o controle de plantasdaninhas com o instrumento arado cultivador(bico de pato) de tração animal, pois oscampos devem permanecer livres de plantasdaninhas e de pragas até a colheita.

Uma média de 55% dos agricultores de SãoFrancisco de Assis do Piauí respondeu querealizam o monocultivo do feijão, sendo que44% das respostas foram para o cultivoconsorciado e, houve uma maiorpredominância para as espécies consorciadasfeijão e milho (Tabela 3 do Cap. II).

Figura 49. Uso da matracana semeadura do feijão.

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Controle de pragasEm geral, o feijão é afetado por inúmeros insetos, a maioria polífagos queafetam outras plantas, especialmente as oleaginosas como o gergelim ealgodão. Portanto, as recomendações dadas de controle agroecológica dealgumas pragas para estas duas espécies também servem para a cultura dofeijão.

ColheitaA colheita manual, embora demande muita mão-de-obra, é o método maiseficiente na manutenção da qualidade das sementes, sendo bastante utilizadoem áreas de feijão de pequenos agricultores familiares da região Nordeste.

Para uma boa colheita, as plantas devem apresentar no mínimo 90% dedesfolhas e vargens maduras com a cor típica da cultivar, estando suassementes com umidade entre 16 a 18%. Uma vez colhidas, as sementesdevem ser secas imediatamente antes da armazenagem, pois, quando úmidas,têm sua qualidade comprometida (PRODUÇÃO, 2006).

O processo de colheita manual de sementes de feijão consiste no arranquiomanual e enleiramento das plantas com as raízes para cima, submetendo-as àpré-secagem por algumas horas para o desprendimento da terra aderida àsraízes e queda das folhas. Antes da trilha manual com uso de varas flexíveis(Figura 50), as plantas deverão completar a secagem sobre lonas ou sobreterreiros, até que seja possível obter-se debulha eficiente com atrito de baixaintensidade, o que geralmente ocorre quando as sementes apresentam umidadeentre 14% e 15% (PRODUÇÃO, 2006).

Em lugar de realizar a trilha manual, as plantas podem ser beneficiadas emtrilhadora mecânica ouautomotriz estacionária(Figura 51). Esta máquinapode ser acionada à tomadade força do trator com baixasrotações do cilindro batedor,o suficiente para efetuar atrilha sem causar danosmecânicos acentuados nassementes (PRODUÇÃO,2006). Apenas os agricultoresdas comunidades de BarraBonita e Lagoa de Juáresponderam que a trilha dofeijão é operada por meio demáquina (Tabela 5 do Cap. II).

Figura 50. Trilhar manual do feijão com varaflexível sobre lona de plástico.

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Após a trilha, as sementes deverão ser submetidas à secagem sobre piso decimento, de 2 a 8 cm de espessura em camadas (LOLLATO et al., 1993), eremovidas em intervalos de até 30 minutos até valores próximos a 8% deumidade para seu acondicionamento em embalagens herméticas, tipo garrafaspets (HARRINGTON e DOUGLAS, 1970).

A grande dificuldade do agricultor de São Francisco de Assis do Piauí é realizara secagem correta das sementes, pois a determinação do grau de umidade éfeita normalmente de forma empírica, através do som das sementes sechocando, da pressão da unha, da quebra com os dentes etc (LOLLATO etal., 1993). Além disso, para conseguir um armazenamento prolongado dassementes acondicionadas em garrafas pets é necessário reduzir a umidadepara valores em torno de 8 %. Por outro lado, no caso da semente não preenchertodo espaço da garrafa pet, uma forma de expulsar a bolha de ar do seuinterior é introduzir fibra de algodão na garrafa (Figura 52); a ausência de arimpede a rápida proliferação de microorganismos existentes em algumassementes contaminadas desde o campo (POPINIGIS, 1977).

Figura 51. Trilhadora mecânica de feijão acionada à tomada de força do trator.

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Figura 52. Sementes de feijão acondicionadas em garrafas pets de forma correta eerrada.

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Alguns agricultores de São Francisco de Assis do Piauí têm por tradição utilizara lata de 20 litros para o acondicionamento de sementes de feijão, mas suaeficiência de conservação somente é conseguida quando a boca da embalagemé estreita para adaptar uma pequena tampa feita com toco de madeira, ficandosua vedação completada com cera de abelha (Figura 53). Nesse tipo deembalagem ou em garrafa pet, as sementes de feijão são tratadas com cinzasde madeira por medida de precaução (Figura 54), na proporção de 5% do seuvolume (QUEIROGA et al., 2008).

A Embrapa SNT recomenda colocar umacamada fina de folhas de eucalipto frescase de cheiro forte a cada palmo desementes estocadas em embalagenspermeáveis (sacos de pano, saco de ráfiaetc) sobre estrado de madeira emambiente do estilo da Casa de Sementesdo município de São Francisco de Assisdo Piauí (Figura 55). Depois de secas, asfolhas devem ser substituídas, pois oaroma exalado dessas folhas vai perdendoseu efeito, sendo essa a melhor formapreventiva de controlar ecologicamenteas pragas durante o armazenamento dassementes (PRODUÇÃO, 2006).

Figura 53. Embalagem de latausada por Justina Lopes de Souzada comunidade Queimada Nova.São Francisco de Assis do Piauí,2009.

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Figura 54. Sementes de feijãotratadas com cinza de madeira eacondicionadas em garrafa pet.

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Figura 55. Distribuição de folhas deeucalipto no interior da Casa de Sementesda comunidade Vereda Comprida domunicípio de São Francisco de Assis doPiauí, como controle ecológico alternativodas sementes armazenadas.

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 125

MILHO

Preparo do solo

O preparo do solo segue o mesmo sistema abordado para a cultura do feijão,

onde os agricultores familiares de São Francisco de Assis do Piauí usam o

tradicional arado tombador (arado de aiveca reversível) de tração animal para

preparar o campo de milho solteiro ou consorciado, sem a complementação

do cultivador para nivelar o terreno.

Plantio

A melhor época de semeadura para o milho terá que ser bem planejada peloagricultor de São Francisco de Assis do Piauí, de maneira que haja coincidênciada floração (pendoamento) da cultura com boa distribuição de chuvas na região.Um atraso excessivo no plantio significará menores rendimentos e maioresproblemas com controle de pragas, doenças e plantas daninhas (LOLLATO etal., 1993).

Examinando-se a Tabela 2 do Capítulo II, houve uma média de 70% nasrespostas dos agricultores de que o plantio do milho é feito com uso da matracae 30% para o plantio manual, observando o espaçamento de 1 m entre fileirase 0,50 m entre covas.

Sementes

Geralmente, as sementes de milho provenientes de agricultores familiares

apresentam uma quantidade elevada de contaminantes genéticos, originários

da falta de cuidados no isolamento da área, pois as normas de produção desementes certificadas recomendam deixar 300 m de distância entre campos.

Essas misturas varietais ocorrem em plantas alógamas como o milho e

principalmente porque o agricultor, não sabendo da distância correta de

isolamento, planta mais de uma cultivar na sua pequena propriedade (TORRES

et al., 2006). Este resultado da falta de isolamento correto dos campos de

milho foi constatado nas respostas dadas pelos agricultores da Tabela 4 (Cap.II).

Como alternativa para plantar duas cultivares de milho, o agricultor teria que

implantar um campo de produção de sementes de 25 a 30 dias de diferença

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em relação à outra lavoura para evitar que a floração das duas lavouras ocorrano mesmo período e as plantas do campo de sementes não sejam contaminadas(PRODUÇÃO et al., 2006). Por outro lado, nos campos de milho devem serevitadas as áreas já cultivadas com a espécie na safra anterior, devido àpossível presença de plantas espontâneas e também áreas com alta infestaçãode plantas daninhas.

As principais características da variedade de milho Caatingueiro, introduzidapela Embrapa Algodão em 2008 no município de São Francisco de Assis doPiauí, sendo na atualidade o material de maior demanda pelos produtores.

Tipo: variedade de polinização aberta

50% do florescimento masculino: 41 a 55 dias

50% do florescimento feminino: 43 a 57 dias

Ciclo: superprecoce

Altura da planta: 1,70 m a 1,90 m

Altura da espiga: 0,70 m a 0,90 m

Tolerância ao acamamento: boa

Tolerância ao quebramento: boa

Tipo de grãos: semiduros

Coloração dos grãos: amarelo-alaranjada

Região de adaptação: Nordeste brasileiro com foco direcionado para a regiãosemiárida

Potencial genético para a produtividade: 2-3 toneladas /hectare

Produtividade média: 1 tonelada/hectare na região semiárida

OBS: Por se tratar de valores médios, estes podem variar para mais ou paramenos, dependendo das condições ambientais.

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 127

Colheita

Antes da colheita do milho, as plantas são dobradas abaixo da espiga peloagricultor para auxiliar a secagem e evitar a penetração de água nas espigas,o que resulta na obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO et al.,1993).

A época oportuna da colheita do milho é determinada pelo agricultor combase nas seguintes condições técnicas: quando a semente estiver com 18%de umidade, as palhas estiverem secas e as espigas puderem ser facilmentedestacadas da planta, ou quando os grãos não se deixam riscar pela unha(Figura 56). Outra caracterização aproximada do ponto de maturação dassementes do milho é destacada em campo quando as sementes apresentamuma "camada negra" na região de inserção com o sabugo (LOLLATO et al.,1993; PRODUÇÃO, 2006).

Na colheita manual de sementes de milho devem-se selecionar, no campo, asmelhores espigas, oriundas de plantas sadias, vigorosas e não acamadas ouquebradas. As espigas deverão ser recolhidas logo após à colheita para terreirosou lonas, a fim de serem submetidas à pré-secagem ao sol por um ou doisdias. Em seguida, as espigas devem ser despalhadas e selecionadasmanualmente, eliminando-se aquelas com sintomas de apodrecimento,carunchamento, infecções por patógenos, com sementes de coloração outextura diferente, com granação deficiente, isto é, com falhas ou compredominância de sementes arredondadas, com sementes germinadas e outrascaracterísticas indesejáveis (LOLLATO et al., 1993).

Figura 56. O agricultor avalia na prática o momento de colheita do milho pelaausência do risco da unha na semente.

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Apenas os agricultores da

comunidade de Barra Bonita

utilizam a debulhadeira mecânica

para beneficiar o milho (Figura 57).

Antes da operação da debulha, é

recomendável a eliminação das

sementes da ponta e da base das

espigas (Figura 58), por serem

predominantemente arredondadas

e prejudicarem a regulagem das

matracas ou semeadeiras. Quando

as sementes estão com 14 a 15%

de umidade, consideram-se o ponto

em que as espigas podem ser

debulhadas manualmente ou

mecanicamente (LOLLATO et al.,

1993).

Imediatamente após a debulha, as

sementes deverão ser submetidas

à secagem ao sol em camadas de

5 a 10 cm, devendo ser revolvidas

periodicamente, para atingir a

umidade de 9%, visando

acondicioná-las em garrafas pets

(PRODUÇÃO, 2006;

HARRINGTON e DOUGLAS, 1970;

Figura 59) para o armazenamento

até a próxima semeadura. Além de

essa embalagem ser eficiente na

conservação das sementes por

longo prazo, o acondicionamento

das sementes de milho (ou feijão)

também é feito em depósito de

plástico com entrada restrita

(Figura 60) por alguns agricultores

de São Francisco de Assis do Piauí.

Figura 58. Seleção de sementes demilho, sendo eliminadas as sementesarredondadas da ponta e da base daespiga.

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Figura 57. Trilhadora mecânica demilho acionada à tomada de força dotrator da comunidade de Barra Bonita.São Francisco de Assis do Piauí,2009.

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ARROZ

Escolha da áreaApesar da avaliação ter sido feita posteriormente e envolver apenas umapequena amostra de agricultores da comunidade Barreiro Grande, em razão

disso não seria conveniente incluir a cultura do arroz junto às tabelas do Capítulo

II com as demais espécies abordadas sobre suas condições técnicas de

produção, tendo como base as informações obtidas no levantamento de

questionários respondidos pelos agricultores de seis comunidades do município

de São Francisco de Assis do Piauí.

Com relação à escolha da área de arroz de sequeiro, recomenda-se evitar

áreas já cultivadas com a espécie, pois existe o risco do aparecimento

espontâneo do arroz preto ou vermelho (LOLLATO et al., 1993).

SementesA presença de sementes de outras cultivares e de plantas daninhas é possível

ser detectadas em amostras de sementes de arroz, principalmente quando

essas amostras são coletadas diretamente de agricultores que utilizam suas

próprias sementes. Estas contaminações genéticas são decorrentes da falta

de cuidados no isolamento da área de produção (10 m) e nas misturas varietaisocorridas durante o beneficiamento das sementes (LOLLATO et al., 1993).

Figura 59. Sementes demilho acondicionadas emgarrafa pet.

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Figura 60. Acondicionamentode sementes de milho emdepósito de plástico.

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O agricultor de São Francisco de Assis do Piauí deve adquirir sementes denovas variedades de arroz de sequeiro que apresentem alto potencial produtivo,resistência ao acamamento e às principais doenças, alta qualidade de grãos(Figura 61) e maior tolerância à seca (fundamental para descaracterizar acultura como de alto risco e falta de estabilidade produtiva), conforme Lollatoet al. (1993).

Figura 61. A) Uso de variedade de arroz adaptada para a região semiárida do Nordestee B) Arrozal de sequeiro do agricultor da comunidade Barreiro Grande no município deSão Francisco de Assis do Piauí.

SemeaduraA melhor época de semeadura do arroz de sequeiro é definida pelo agricultorcomo o início do inverno, pois terá que proporcionar melhor distribuição dechuvas nos vários estádios de desenvolvimento das espécies e, ao mesmotempo, terá que haver ausência de chuvas na fase final de maturação, o quecontribuirá para a obtenção de sementes de melhor qualidade (LOLLATO etal., 1993). Este plantio do campo de arroz de sequeiro é realizado pelosagricultores de São Francisco de Assis do Piauí com auxílio de matraca (Figura62).

ColheitaA época para iniciar-se a colheita de sementes de arroz, é caracterizada pelapresença de 2/3 das panículas com sementes maduras, ocasião em que seugrau de umidade está entre 20 e 24%. Atrasos na colheita do arroz podemcomprometer a qualidade das sementes por desgrana natural e por elevaçãodo nível de infecção das sementes por patógenos (VILLAS BÔAS, 1980).

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A colheita manual do arroz consiste no corte das plantas, deixando-as no

campo, para redução da umidade. O tempo de permanência das plantas

cortadas para pré-secagem pode ser de algumas horas ou até mais de um dia,

dependendo do grau de umidade inicial das sementes (VILLAS BÔAS, 1980).

Após a pré-secagem, as plantas são amontoadas e, em forma de feixes, batidas

em cavalete de madeira até o desprendimento das sementes (LOLLATO et

al., 1993). Esta operação pode ser feita sobre piso de cimento ou sobre lonas

no campo ou empregando o sistema mecânico de beneficiamento (Figura 63).

Figura 63. A) Batedura manual dos feixes de arroz em cavalete de madeira sobre umalona e B) Equipamento com ventilador e peneira para batedura de arroz desenvolvidopela Embrapa Arroz e Feijão.

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Figura 62. Emprego da matraca na semeadura do arroz de sequeiro.

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Na trilhadeira mecânica do arroz,devem-se manter as plantascortadas na proporção de 2/3 depalhas para 1/3 de panículas, a fimde permitir uma melhor eficiênciada trilhadora (LOLLATO et al.,1993).

Após essa operação, as sementesde arroz devem ser submetidas àsecagem, em camadas de 5 a 10cm (revolvidas periodicamente),até a umidade próxima de 9% parao acondicionamento das sementesem embalagem hermética (garrafapet; Figura 64), visando seuarmazenamento prolongado até apróxima semeadura (LOLLATO etal., 1993; HARRINGTON eDOUGLAS, 1970).

SORGO

Seleção da área e preparo do soloA escolha da área para a instalação do campo de produção de sementes desorgo deve ser feita com cautela. Nessa área, é necessário que se procedaum levantamento da cultivar de sorgo anteriormente plantada para evitarmistura varietal, em razão do aparecimento espontâneo de plantas de outracultivar (TORRES et al., 2006).

O preparo do solo deve ser realizado de forma adequada, visando a facilitar agerminação rápida e uniforme das sementes, mesmo para a situação dosagricultores de São Francisco de Assis do Piauí que realizam o preparo doterreno apenas com arado tombador.

CaracterísticaO forrageiro é um tipo de sorgo de porte alto, altura de planta superior a doismetros, muitas folhas, panículas (cachos) abertas, com poucas sementes,elevada produção de forragem e adaptado ao semiárido do município de SãoFrancisco de Assis do Piauí (IPA, 2009; Figura 65).

Figura 64. Sementes de arrozacondicionadas em garrafa pet.

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Adubação e plantioNa adubação orgânica, pode-se aplicar (dependendo da disponibilidade), 10 a15 toneladas por hectare de estrume de curral, que deverão ser incorporadasà área de cultivo antes do plantio (IPA, 2009).

O plantio manual é feito em sulcos rasos. A distância entre as fileiras é de0,80 cm, sendo que 68% dos agricultores de São Francisco de Assis do Piauíadmitem realizar a sua semeadura com ajuda de matraca (Tabela 2 do Cap.II).

Por ser uma planta predominantemente de autopolinização, o sorgo forrageirorequer uma distância mínima de 200 m para ficar isolado o campo da área deoutra cultivar (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Com base nas respostas dadaspelos agricultores de São Francisco de Assis do Piauí (Tabela 4 Cap. II), adistância máxima utilizada no referido município tem sido de 100 m entrecampos com variedades distintas sem barreira vegetal.

PurificaçãoÉ a eliminação de plantas contaminantes (atípicas) em um campo de produçãode sementes, ou seja, retirada de plantas que pertencem a outros cultivaresou que estejam infestadas por doenças transmissíveis por sementes. Nessaoperação, deve-se ter o cuidado de vistoriar totalmente o campo de produção,pois isso é fundamental para evitar a contaminação e preservar a qualidadeda semente. As épocas recomendadas para essa vistoria são: pós-emergência,desenvolvimento vegetativo, pré-floração e pré-colheita (PRODUÇÃO, 2006).

Figura 65. Plantio de sorgo forrageiro no município de São Francisco de Assis do Piauí.

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Ter o cuidado de não deixar os animais se alimentarem de sorgo jovem ou dasoca (até meio metro de altura), devido à presença do ácido cianídrico (HCN).Caso isso ocorra, poderá surgir nos animais um princípio de intoxicação. Estapoderá ser controlada administrando-se Sulfato de Atropina (IPA, 2009).

Colheita

O momento do corte da planta do sorgo

forrageiro é caracterizado pelo

endurecimento das sementes (Figura 66).

Para pequenos plantios pode ser feita

manualmente, colhendo-se a planta

inteira e, dependendo do caso, passar na

forrageira (para consumo direto dos

animais) ou na ensiladeira (para

enchimento do silo). Para grandes plantios

poderá ser utilizada a colheitadeira

acoplada ao trator, onde o destino final

do material colhido é o silo (IPA, 2009).

Uma vez realizada a secagem ao sol, as

sementes de sorgo com umidade de 9%

deverão ser acondicionadas em

embalagens herméticas para seu

armazenamento prolongado até a

próxima semeadura (HARRINGTON e

DOUGLAS, 1970; Figura 67). Vale

destacar que a umidade elevada é uma

das principais causas de perda da

qualidade das sementes em geral, visto

que provoca aumento da atividade

respiratória e da ação de

microorganismos e insetos, levando a

perdas significativas no poder

germinativo e no vigor (CARVALHO e

NAKAGAWA, 1980).

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Figura 66. Campo de sorgoforrageiro no ponto decolheita.

Figura 67. Acondicionamento desementes de sorgo em garrafa pet.

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AMENDOIM

Escolha da área e preparo de solo

O amendoim tem natureza hipógea, ou seja, os frutos desenvolvem-se debaixodo solo (Figura 68). Necessita, portanto, de solos de textura arenosa ou franco-arenosa para otimizar sua produção. Estes solos, contudo, são de baixaretenção hídrica e o manejo da água é imprescindível para melhor rendimentoe economia no cultivo.

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Figura 68. Frutos do amendoim desenvolvendo dentro do solo.

Em áreas que se cultiva normalmente o amendoim, entretanto, procede-seuma aração, aplicando-se o calcário e, a seguir, uma gradagem paracomplementação da aração e incorporação do mesmo. Os equipamentosutilizados para estas operações podem ser a tração animal ou tratorizados(SANTOS et al., 2006).

O solo deve ter pH na faixa de 6,0 a 6,2. O suprimento de cálcio éimprescindível para enchimento e formação das vagens e pode ser atendidoatravés da calagem com calcário dolomítico (AUGSTBURGER et al., 2000).A quantidade de calcário a ser aplicada é baseada nos resultados da análiseda amostra de solo. Em caso de necessidade, o calcário deve ser colocado nosolo entre 30 e 45 dias antes do plantio (SANTOS et al., 2006).

Nas condições do Nordeste, em agricultura familiar, o preparo de área temsido feito por meio de uma gradagem, considerando-se a baixa coberturavegetal do terreno (SANTOS et al., 2006).

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Cultivares

Cerca de 60% do mercado interno de amendoim é voltado para os materiaisdo tipo Valência, característicos por apresentarem porte ereto, ciclo em tornode 90 dias, vagens com 3 a 4 sementes de coloração vermelha e tamanhomédio. A outra parte do mercado é voltada para os materiais do tipo Runnerou Spanish, ambos possuindo 1 a 2 sementes/vagem de coloração bege,cultivados em São Paulo e no Centro-Oeste (SANTOS et al., 2006).

A cultivar de amendoim de maioraceitação pelos agricultores doNordeste é a BR 1. Este material tembaixo teor de óleo (45%) e 29% deproteína bruta. Tem vagens com 3 a 4sementes de formato arredondado ecoloração vermelha. Seu ciclo médioé 90 dias e produz cerca de 1,8 t/hade amendoim em casca no regime desequeiro. O rendimento em sementesfica entre 71 a 73% (Figura 69).

A BRS 151 L7 é a mais precoce, comciclo de 87 dias, possuindo vagens com1 a 2 sementes alongadas, grandes ede coloração vermelha. Aprodutividade fica em torno de 1,8 t/ha no cultivo de sequeiro e orendimento médio em sementes é de71%. O teor de óleo bruto nassementes é 46% (Figura 70).

A BRS Havana tem ciclo de 90 dias,produz 1,9 t/ha e tem rendimento desementes na faixa de 72%. Suasvagens contêm 3 a 4 sementes, deformato arredondado e coloraçãobege. Apresenta o menor teor de óleoentre as atuais cultivares emdistribuição no Brasil, com média de43% (Figura 71).

Figura 69. Sementes de amendoimda cultivar BR 1.

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Figura 70. Sementes de amendoimda cultivar BRS 151 L7.

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Plantio

Na região nordeste, o plantio pode serrealizado manualmente e com auxíliode matraca (Figura 72) ou comequipamentos à tração animal.Dentro dos espaçamentos maisusuais, 60 ou 50 cm entre linhas e 5a 10 cm na linha, os gastos comsementes variam de 70-80 a 140-160kg.ha-1. A elevação do custo deprodução, devido a maior quantidadede sementes, é compensada pelaredução dos tratos culturais e maiorrendimento. A semeadura deve serrealizada em função do ciclo dacultivar e do regime de chuvas daregião, cuja profundidade da sementeno solo não deve ultrapassar 5 cm(SANTOS et al., 2006).

Isolamento

Para o amendoim, a distância entrecampos de produção de sementes decultivares diferentes, não devem serinferior a 15 m, evitando-se assimcruzamento indesejáveis (CORDEIROe FARIAS, 1993).

Capinas

A cultura deve ser mantida livre deervas daninhas nos primeiros 45 diasapós o plantio quando a floração está

em intensa atividade e os ginóforos (pegs) estão em pleno crescimentogeotrópico para desenvolvimento das vagens. A floração inicia-se entre 25 e28 dias após a emergência; é necessário cuidado no manejo das limpas paranão prejudicar a emissão dos ginóforos e as flores em desenvolvimento (SANTOSet al., 2006).

Figura 71. Sementes de amendoimda cultivar BRS Havana.

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Figura 72. Plantio de campo deamendoim com auxílio dematraca.

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As capinas, manualmente com enxada ou a tração animal com cultivador,feitas cuidadosamente para não danificar o sistema radicular e a produção doamendoim, são em número de três (no espaçamento 0,70m x 0,20m) ou duas(0,50m x 0,20m).

A prática da amontoa, também conhecida como roçagem, consiste nochegamento de terra ao pé das plantas, é procedida na primeira limpa oucapina. É uma prática imprescindível porque além de proteger a base da planta,também facilita a penetração do ginóforo ("esporões") no solo. É feita comenxadas e em áreas onde o plantio é realizado em fileiras. Quando o plantio éfeito em leirões (Figura 73), essa prática pode ser abolida (SANTOS et al.,2006). Existem implementos apropriados ao sistema de plantio em pequenaspropriedades para fazer esta operação, mas também é possível adaptar umcultivador para efetuar esse trabalho de sulcamento (Figura 74).

Figura 73. Plantio do amendoim realizado sobre leirões.

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Figura. 74. Preparação de sulco e camalhão (leirão) com superfície abaulada atravésdo cultivador adaptado para sulcamento.

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A rotação de cultura favorece a redução de doenças na lavoura do amendoim,pois é recomendado deixar a área em repouso (formação de capoeira), ou pormeio de cultivos em anos alternados (amendoim - milho-amendoim).

ColheitaEm pequenas propriedades, normalmente utiliza-se a mão-de-obra familiar nasoperações de colheita e pós-colheita. Após o arranquio manual, as plantassão enleiradas para secagem de modo a reduzir a umidade das sementes(Figura 75). Não é recomendado atrasar o período de colheita do amendoimuma vez que tal procedimento pode incorrer em germinação das sementesdentro da própria vagem, já que no Nordeste são utilizadas variedades de tipoereto, cujas sementes não apresentam dormência. O atraso na colheitatambém favorece a incidência de pragas e de doenças, que comprometem aqualidade do produto (SANTOS et al., 2006).

Figura 75. Após o arranquio do amendoim, as plantas são enleiradas (viradas) parasecagem dos frutos.

O despencamento só deve ser feito quando as vagens estiverem completamentemaduras. A secagem pode ser feita em secadores ou em terreiro, deixando-se as plantas expostas ao sol por, pelo menos, três dias seguidos. Oarmazenamento das sementes na vagens deve ser em ambientes secos earejados (SANTOS et al., 2006).

Para acondicionar as sementes em embalagem hermética (Figura 76), énecessário beneficiá-las em máquina mecânica manual ou elétrica (Figura 77)e reduzir a umidade das sementes em até 5% (HARRINGTON e DOUGLAS,1970).

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GIRASSOL

Seleção da área e preparo do soloOs campos de sementes deverão ser instalados em solos bem supridos emmatéria orgânica, bem drenados, com pH próximo da neutralidade e compoder de retenção de umidade (argilo-arenoso).

A implantação de campos de produção de sementes de girassol nasproximidades de matas naturais, que constituem abrigo natural de insetospolinizadores, é uma boa recomendação devido ao tipo de polinização dessaplanta (FANCELLI et al., 1980).

Figura 76. Sementes de amendoim acondicionadas em garrafa pet.

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Figura 77. Beneficiamento dos frutos do amendoim em máquina mecânica manual ouelétrica para liberação das sementes.

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É comum o pequeno agricultor executar aração do solo com arado de aivecade tração animal, seguida de um nivelamento do terreno com o cultivador,objetivando possibilitar um excelente desenvolvimento ao sistema radicularda planta, que é de natureza pivotante.

Sementes

As variedades atualmente em uso no Brasil apresentam ciclo médio de 100dias e altura de planta oscilando entre 140-150 cm. As sementes apresentamum teor de óleo de 43 a 45%, perfazendo rendimento de 1.300 a 1.800 kgde sementes por hectare.

A época de semeadura deve obedecer o início do inverno para a região semiáridado Nordeste. Tal operação pode ser executada com a matraca, desde quepermita uma boa regulagem, visando uma distribuição uniforme das sementese obedecendo um espaçamento de 80 a 100 cm entre fileiras e 20 a 40 cmentre plantas (Exemplo: 100 cm x 20 cm; ou 90 cm x 30 cm; ou 80 cm x 40cm), deixando-se uma planta por cova.

Isolamento

O girassol, sendo uma espécie de polinização aberta, exige certos cuidados,visando preservar a identidade genética da cultivar durante seu processo deprodução em campo.

Na multiplicação de sementes, o isolamento do campo constitui-se num dosfatores mais importantes para a obtenção de sementes geneticamente puras,sendo que a distância de isolamento não deverá ser inferior a 800 m, evitandoassim cruzamentos indesejáveis produzido pelos insetos e levando-se emconsideração a direção predominante dos ventos (FANCELLI et al., 1980).

Convém ainda frisar, que o cultivo em épocas espaçadas no tempo, devariedades diferentes, pode não surtir o efeito desejado como condição deisolamento visto que o período de florescimento do girassol é relativamenteamplo (FANCELLI et al., 1980).

Os campos para a produção de sementes devem ser periodicamentepercorridos visando a eliminação das plantas atípicas, de outras cultivares, deoutras espécies, de plantas florescidas dentro dos três primeiros dias, de plantasdoentes e de ervas consideradas nocivas (Figura 78).

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Colheita

Segundo Fancelli et al. (1980), existem três sistemas utilizados para a colheitamanual do girassol. O primeiro consiste em se cortar logo abaixo dos capítulosdas plantas, com tesoura de poda ou fações bem afiados, quando as sementesjá se apresentem bem secas. Tais capítulos devem ser recolhidosimediatamente em sacos ou balaios e transportados para terraço da casa aespera da operação de debulha. Este método de colheita tardia (colher assementes após secar no campo) pode provocar grandes perdas de sementespara o pequeno produtor, em decorrência da sua contaminação no campo eataque de pássaros.

O segundo sistema, é mais indicado por evitar desperdícios e ser bastanteprático. Nesse processo, quando as sementes já ultrapassaram a fase leitosa,e encontram-se próximas à maturação, o talo das plantas é dobrado e torcido,aguardando corte posterior, por ocasião de sua maturação completa. Hátambém o caso de determinadas cultivares, cujo capítulo da planta se curvanaturalmente durante o seu estádio de maturação (Figura 79).

Existe um terceiro método largamente usado nas plantações argentinas, queconsiste no corte do capítulo, quando os grãos ainda não atingiram suamaturação. O tal corte é executado em bisel (inclinado), sendo recomendadoa altura de 70 cm do solo. A seguir, furando-se o centro do capítulo, insere-seo disco, em posição contrária a original, esperando-se o momento oportunopara a efetiva colheita. Embora, dessa maneira, a secagem do capítulo seprocesse lentamente, as sementes ficam protegidas do ataque de pássaros enão sofrem a ação de chuvas ocasionais.

Figura 78. Campo de produção de sementes de girassol com florescimento uniforme.

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Para as sementes de girassol, asecagem é indispensável quando asemente for colhida com umidadesuperior a 9,5%, pois tal teor deumidade ocasiona manchas nassementes, as quais adquirem odordesagradável, que pode sertransmitido ao óleo, havendo aindaacentuada proliferação demicroorganismos que concorrempara a aceleração do processo dedeterioração (FANCELLI et al.,1980). Para o acondicionamento dassementes de girassol em embalagensherméticas, recomenda-se aumidade máxima de 8% (Figura 80).

Figura 79. Curvatura natural do capítulo da planta de girassol na fase de maturação,ficando menos sujeito ao ataque de pássaros.

Figura 80. Sementes de girassolacondicionadas em garrafa pet.

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MAMONA

Local de produção

As condições ambientais das áreas onde serão instalados os campos deprodução de sementes de mamona, revestem-se de grande importância paramaximizar os rendimentos e obtenção de sementes de alto padrão de qualidade.

Apesar da reputação de resistente à seca, a mamona atinge bons níveis deprodução com uma pluviosidade mínima entre 600 a 750 mm bem distribuídosdurante o ciclo da cultura. Segundo Távora (1982), a faixa ideal de pluviosidadevaria de 750 a 1.500 mm, sendo o mínimo para uma boa produtividade, cercade 500 mm/ano. Para elevadas produtividades, superiores a 3.500 kg/ha debagas (sementes) é necessário que a planta receba bastante pluviosidade(400 mm) até o início da floração. Este mesmo autor admite que chuvasfortes, quando os frutos estão amadurecendo, podem resultar emconsideráveis perdas devido à queda das cápsulas. Por outro lado, a ausênciade chuvas durante o período de colheita, são favoráveis à obtenção desementes de alta qualidade.

Em climas demasiadamente quentes e úmidos a planta tem tendência paragrande desenvolvimento vegetativo com prejuízo da frutificação. De acordocom Fornazieri Junior (1986), quando falta umidade no solo, mesmo que sejana fase de maturação dos frutos, as sementes tem pouco peso e baixo teorde óleo, mesmo tratando-se de cultivares produtivas, o que se observa porocasião de secas.

Época de plantio

A época de plantio também pode exercer grande influência quanto aorendimento e qualidade das sementes de mamona, sendo que esta épocaideal está sujeita às condições climáticas de cada região. Távora (1982)recomenda que em áreas de pouca pluviosidade os plantios devem serrealizados logo no início das chuvas, enquanto que em áreas de altapluviosidade, este plantio pode ser adiado a fim de que não ocorram pesadaschuvas quando do amadurecimento e secagem dos frutos.

O desenvolvimento de cultivares precoces deverá trazer vantagens para ascondições do semiárido nordestino, sujeito na maioria das vezes a curtosperíodos de chuva.

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 145

Densidade de plantio

A população de plantas adotada num campo de produção de sementes, que éfunção do espaçamento utilizado, é mais um fator que concorre para orendimento e qualidade das sementes (Figura 81).

Mazzani (1983) considera que os melhores resultados foram obtidos utilizando

o espaçamento de 1,05 m por 0,75 m, correspondendo a uma população de

12.500 plantas por hectare. Mantendo constante o número de plantas por

unidade de superfície, este mesmo autor observou que o comportamento de

duas populações de 10.00 plantas/ha plantadas com 1 m x 1 m e com 2 m x

0,5 m, resultou numa produção de 31% em favor do primeiro espaçamento.

Plantas daninhas

A mamoneira (Ricinus communis L.) apresenta um crescimento inicial lento,

sendo que a presença de plantas daninhas nesta fase do desenvolvimento

torna-se um problema sério, que pode ocasionar perdas consideráveis na

produção (MASCARENHAS, 1981). A cultura precisa ser mantida no limpo,

sobretudo nos primeiros estádios de desenvolvimento, até atingir 60 a 70

dias do ciclo vegetativo.

Figura 81. Campo de Produção de sementes de mamona.

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...146

Isolamento

Os campos destinados à produção de sementes de mamona devem estar

isolados dos demais campos plantados com outras cultivares, ou com a mesmacultivar, se este não preencher às exigências de produção quanto à purezavarietal. Para que não haja o risco de algum cruzamento, Lingerfelt (1976)

recomenda o isolamento de 1.000 m.

Roguing

A operação de roguing consiste na eliminação de plantas de caule e folhagens

atípicas, doentes, portadoras de anomalias e de florescimento precoce, tempor objetivo principal garantir a pureza varietal e a sanidade das sementes.

Polinização

Prevalece na mamona a autopolinização, por ser considerada uma plantanormalmente monóica, onde as flores unissexuais masculinas e femininas

ocorrem numa mesma inflorescência de cada planta (MACÊDO e WAGNER,1984). Os mesmos autores afirmam que a explosiva deiscência da anterapermite lançar o pólen a grandes distâncias. Este mecanismo da planta

favorece a polinização cruzada, a qual é obra principalmente do vento, devidoà leveza e grande produção de pólen. Segundo Mazzani (1983), a porcentagem

de polinização cruzada é variável e raras vezes menor do que 30%.

Para Távora (1982), a liberação do pólen na mamona é máxima nas horas

mais quentes do dia, podendo o grão de pólen permanecer viável, em condiçõesambientais, por um período de 48 horas. Já o estigma das flores femininas

permanece receptivo por um período de 5 a 10 dias, onde as flores masculinasestão localizadas na base da inflorescência, enquanto as femininas sãoposicionadas no seu ápice.

Colheita

A determinação do ponto de colheita da mamona é dificultada pela grandedesuniformidade de maturação dos frutos do racemo, tornando-se uma

operação dispendiosas por consumir bastante mão-de-obra, tudo por causada necessidade de repetir o processo de colheita 5 a 6 vezes durante o ano

(MAZZANI,1983).

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários... 147

Quando maior for o período de permanência das plantas no campo, após a

completa maturação, maior será a perda durante a colheita e menor será a

qualidade das sementes, principalmente quando se trata de variedades

deiscentes. Nas variedades indeiscentes, é possível esperar o amadurecimento

total da lavoura para proceder a uma só colheita, podendo obter sementes de

alta qualidade fisiológica, desde que não chova durante este período de colheita.

A colheita consiste em quebrar e/ou cortar os cachos pela base, utilizando-se

qualquer tipo de instrumentos cortantes. Um vez cortados os cachos, os

mesmos são transportados em cestos ou sacos e depois colocados sobre uma

lona para completar a secagem (GONÇALVES et al., 1981).

Secagem

A secagem natural dos frutos tem sido mais usada pelos pequenos agricultores

da região semiárida do Nordeste. No processo natural, os frutos ficam expostos

ao sol, após o seu desprendimento do cacho, em piso de alvenaria ou lona, por

um período de 4 a 15 dias dependendo da cultivar (HERMELY, 1981), até

atingir a umidade dos frutos de 10%, quando acontece a deiscência das

cápsulas (RIBEIRO FILHO, 1966). Este processo tem o inconveniente de obrigar

o recolhimento dos frutos ao final de cada dia, a fim de evitar-se a ação da

umidade sobre eles.

Beneficiamento

Após a operação de batedura dos frutos secos com varas flexíveis, recolhem-

se as sementes e procede-se a limpeza das mesmas com uma peneira comum,

sacudindo-se com os movimentos verticais para que o vento consiga retirar

as impurezas contidas. Em seguida ao processo de limpeza manual, as sementes

de mamona podem ser imediatamente ensacadas.

Para o beneficiamento mecânico dos frutos de mamona, colhido com umidade

elevada, o primeiro passo será a secagem ao sol dos mesmos. Em seguida, os

frutos passam por uma máquina descascadora apropriada, a qual, geralmente

possui adequado sistema de ventilação, dando como produto final sementes

livres de impurezas (Figura 82).

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Tecnologias para o desenvolvimento da agricultura familiar: bancos comunitários...148

A longevidade das sementes de

mamona é aumentada

consideravelmente, quando as

mesmas são colocadas em

embalagens herméticas (Figura 83),

desde que o teor máximo de

umidade das sementes seja de 5%

(POPINIGIS, 1977).

ADUBOS VERDES EFORRAGEIRAS

Feijão Guandu, Milheto,Mucuna Cinza, MucunaPreta e Feijão de Porco

O adubo verde tem diversas

funções, mas a principal delas é

proteger, recuperar e melhorar a qualidade do solo. De acordo com as

pesquisas, qualquer planta pode ser usada como adubo verde, mas a preferência

é pelas leguminosas, que têm a capacidade de fixar o nitrogênio da atmosfera

(WANG et al., 1986).

Figura 82. Beneficiamento de sementes de mamona em máquina movida àeletricidade ou acionada pela tomada de força do trator.

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Figura 83. Sementes de mamonaacondicionadas em garrafa pet.

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Outra alternativa para o adubo verde, é cultivá-lo de forma adensada paraamenizar os efeitos da compactação, desde que essas espécies cultivadas(feijão guandu, leucena, mucuna preta ou cinza, feijão de porco, etc)apresentem um sistema radicular vigoroso, que deixem canais que propiciemcondições ao desenvolvimento de raízes da cultura subsequente (WANG etal., 1986). Portanto, a compactação aumenta a resistência do solo àpenetração das raízes das grandes culturas comerciais. Para penetrar no solocompactado as raízes dessas culturas sofrem alterações na forma (morfologia)e no funcionamento (fisiologia). Estas modificações nas raízes alteram o padrãode crescimento da planta, diminuindo-o.

Apenas o feijão guandu e o milheto foram plantados em algumas comunidadesdo município de São Francisco de Assis do Piauí no início das estações chuvosas(fevereiro) de 2009. No caso do feijão guandu, o agricultor plantou consorciadono meio do plantio da palma (2,00 m x 1,00 m) com auxílio da matraca (Figuras84 e 85). Enquanto o milheto foi semeado manualmente nos sistemas deplantio de monocultivo e consorciado (Tabela 3 do Cap. II).

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Figura 84. Plantio consorciado da palma e feijão guandu na comunidade de Veredas,São Francisco de Asis do Piauí, 2009.

Figura 85. Plantio do feijão guandu em sistema de monocultivo na comunidade deVeredas, São Francisco de Asis do Piauí, 2009.

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Pequenas quantidades das sementes de mucuna cinza, mucuna preta e ofeijão de porco foram repassadas recentemente pela Embrapa Algodão paraFFA, de forma que essas espécies sejam multiplicadas na área irrigada daRoça da Fé de Simplício Mendes, PI e depois distribuídas para os agricultoresde São Francisco de Assis do Piauí plantarem no ano agrícola de 2010.Recomenda-se que o isolamento dos campos de sementes entre diferentescultivares de cada espécie devam obedecer as seguintes distâncias: feijãoguandu (360 m), milheto (300 m), mucuna cinza ou preta (5 m) e feijão deporco (5 m) (CORDEIRO e FARIAS, 1993).

Uma vez realizada a colheita, as sementes de feijão guandu, milheto, mucunacinza, mucuna preta e feijão de porco deverão ser secadas ao sol para atingira umidade aproximada de 8% (9% para milheto) (HARRINGTON e DOUGLAS,1970). Em seguida, as sementes das diferentes espécies poderão serãoacondicionadas em garrafas pets para seu armazenamento prolongado até apróxima semeadura (Figura 86).

Após a colheita das distintas espécies, os agricultores de São Francisco deAssis do Piauí poderão ressarcir em dobro ao programa Banco de Sementesem relação a quantidade de sementes que receberam para plantar. Assim,outros agricultores terão a oportunidade de participar do sistema de empréstimodo Banco Comunitário de Sementes, garantindo assim a continuidade doprograma. O excedente das sementes colhidas pelo agricultor, deverá serreplantado até que o solo seja totalmente corrigido. A correção do soloacontecerá de maneira gradativa e os benefícios da técnica de adubaçãoverde surgirão com o tempo e, certamente, serão notados pelos agricultores.

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Figura 86. Acondicionamento de sementes milheto, feijão de porco, mucuna preta emucuna cinza em garrafas pets.

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