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TECNOLOGIA VERDE NA HOTELARIA: SEUS REFLEXOS E ENTENDIMENTOS EM UM HOSTEL CARIOCA Eunice Mancebo Rodrigues Fernandes, Maria Amalia Oliveira (UNIRIO) Resumo: Decorrente de uma crescente projeção internacional, o Brasil torna-se palco de vários eventos mundiais, que virão corroborar para o aumento da oferta de unidades habitacionais podendo receber hóspedes que primam pela perenidade dos recursos naturais do planeta. Assim, faz-se necessário o estabelecimento de parâmetros e de sistemas de medição quanto ao grau de adoção dos conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade do Rio de Janeiro. O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a aderência do conceito hotelaria verde pelas empresas e identificar práticas sustentáveis e o uso de tecnologia limpa pelos gestores e hóspedes de um empreendimento situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Igualmente, por meio de uma pesquisa qualitativa e utilizando-se da técnica do estudo de caso, foi confirmada a hipótese de que o uso de novas tecnologias aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio ambiente propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista. Palavras-chaves: Sustentabilidade; Turismo; Hostel; Brasil; Tecnologia Limpa ISSN 1984-9354

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TECNOLOGIA VERDE NA HOTELARIA: SEUS REFLEXOS E ENTENDIMENTOS EM UM HOSTEL CARIOCA

Eunice Mancebo Rodrigues Fernandes, Maria Amalia Oliveira

(UNIRIO)

Resumo: Decorrente de uma crescente projeção internacional, o Brasil torna-se palco de vários eventos mundiais, que virão corroborar para o aumento da oferta de unidades habitacionais podendo receber hóspedes que primam pela perenidade dos recursos naturais do planeta. Assim, faz-se necessário o estabelecimento de parâmetros e de sistemas de medição quanto ao grau de adoção dos conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade do Rio de Janeiro. O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a aderência do conceito hotelaria verde pelas empresas e identificar práticas sustentáveis e o uso de tecnologia limpa pelos gestores e hóspedes de um empreendimento situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Igualmente, por meio de uma pesquisa qualitativa e utilizando-se da técnica do estudo de caso, foi confirmada a hipótese de que o uso de novas tecnologias aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio ambiente propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista.

Palavras-chaves: Sustentabilidade; Turismo; Hostel; Brasil; Tecnologia Limpa

ISSN 1984-9354

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1. Introdução

O turismo apresenta-se como uma importante área de interesse governamental, acadêmica,

industrial, comercial e pública. Muito embora o turismo venha sendo observado como o maior

propulsor da economia mundial, na verdade tal atividade não é imprescindível importante apenas

por seu viés econômico, mas devido ao impacto que acarreta na vida das pessoas e locais em que

estas se encontram. Desta forma, o planejamento da atividade turística é aspecto importante em

qualquer nível que compõe tal setor; sobretudo, torna-se ainda mais relevante quando há ações e

metas que orientam grandes fluxos de deslocamento de pessoas.

No Brasil, a partir de 1994 o governo central tomou a decisão de instituir a

descentralização da política e planejamento da atividade turística. Assim sendo, durante o governo

do ex Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi instituído o Programa Nacional de

Municipalização do Turismo (PNMT). Esse Programa adotou a metodologia da Organização

Mundial do Turismo (OMT), visando implementar um novo modelo de gestão da atividade

turística, simplificado e uniformizado para os Estados e Munícipios, de maneira integrada,

buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade, de forma participativa.

Já no governo do ex Presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), a proposta de

descentralização foi mantida como paradigma, sendo exposta no Programa de Regionalização do

Turismo (PRT) – Roteiros do Brasil (2004). Comparando o PNMT (1995, o Governo Fernando

Henrique Cardoso) e o PRT (2004, Governo Lula), verifica-se que o primeiro priorizava o

município como ator central do fomento da atividade e, o segundo, buscou integrar as regiões,

promovendo a sinergia entre os componentes.

O Programa de Regionalização do Turismo produziu três planos: o primeiro, Plano Nacional

de Turismo 2007-2010 recebeu o subtítulo “Uma viagem de inclusão”; o segundo plano,

compreendendo o período 2011-2014, tem seus objetivos voltados para a Copa do Mundo de 2014

e, por esse motivo, recebeu subtítulo “Plano Copa” e o terceiro plano, elaborado para os anos

2013-2016, objetiva em especial as ações que estruturarão os Jogos Olímpicos de 2016, que irão

ocorrer na Cidade do Rio de Janeiro. Este Plano foi intitulado “O turismo fazendo mais pelo

Brasil”. Neste panorama, nota-se um planejamento em nível de governo central relativo a recepção

dos mais distintos eventos esportivos que tem ocorrido no país e que a reboque, trazem outros

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tantos1, como festivais de música (Rock in Rio, por exemplo) e religiosos, como a Jornada

Mundial da Juventude.

Os planos resultantes da política de turismo brasileira revelam uma opção pelo fomento da

atividade turística através da indução do movimento de pessoas resultante de grandes eventos,

especialmente os esportivos. Os referidos programas trazem no bojo de suas diretrizes a

preocupação com a perenidade dos recursos finitos com a questão da sustentabilidade, sendo esse

aspecto entendido como inerente ao desenvolvimento turístico. Como a atividade turística é uma

prática que envolve o deslocamento de um grande número de pessoas e sua permanência nos

locais visitados, o fenômeno em questão chama atenção de estudiosos no que tange a interação

entre visitantes e o espaço ambiental e cultural visitado, a partir das considerações relativas à

sustentabilidade.

Dados extraídos dos Ministérios do Turismo e Esporte do Brasil demonstram que em 2016

com os Jogos Olímpicos sediados na cidade do Rio de Janeiro a receita líquida obtida com

hospedagem e alimentação, deverá rondar na casa dos 152 milhões de dólares apenas na cidade

durante o período do evento. Tomando-se como base o documento supracitado, a estimativa de

chegada de novos visitantes ao país em decorrência dos Jogos Olimpicos de 2016 ultrapassam ao

número de 380 mil turistas que deverão visitar a cidade durante esse período fazendo

movimentar a economia do país nos setores de serviços, comércio, alimentação e hospedagem

(Brasil. Ministerio do Esporte, 2011).

Corroborando para os dados apresentados, Oliver ( 2012) discorreu sobre a questão que

envolve o turismo e os grandes eventos trazendo como referencial uma pesquisa desenvolvida pela

Fundação Getulio Vargas e Ernst & Young em 2010 onde existe uma previsão de que o número

de turistas que transitarão em solo brasileiro deva saltar dos atuais cinco milhões para 7,48

milhões até 2014 e quase nove milhões em 2018. (Oliver, 2012, p.7 )

Quadro 1: Fluxo internacional de turistas

1 A cidade do Rio de Janeiro sediou o Campeonato Sul-Americano de Rugby Sevens 2013 – (evento classificatório para o Campeonato Mundial da Rússia, 2013 nas modalidades masculino e feminino) modalidade pouco apreciada pelo público brasileiro; e sediará o evento Copa das Confederações Fifa de Futebol 2013. Ambos consistem em importantes eventos esportivos mundiais, bem como, os XV Jogos Pan-Americanos (2007) e V Jogos Mundiais Militares (2011). 

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Fonte: Ernst & Young, 2010, p. 33.

Porém, o impacto gerado pelo aumento do número de turistas tem seu lado negativo, pois

devido a própria estrutura da atividade na cidade - sol e praia - , os agentes públicos, destinam

importante parcela dos investimentos para o desenvolvimento de infraestrutura turística localizada

no entorno de ecossistemas frágeis (restinga, mata atlântica, manguezal), indo muitas vezes, na

contramão de um dos requisitos básicos para que a atividade turística se manifeste de forma

sustentável, que vem a ser a preservação do meio ambiente das atividades antrópicas geradas pelo

próprio desempenho do setor. Desta forma, a atividade turística apresenta uma contradição que lhe

é característica: a produção de benefícios e malefícios de forma concomitante, ou seja, a indústria

do turismo ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento econômico, de forma lenta e

involuntária, corrói seu ativo principal o meio ambiente (Mancebo, Longo & Pereira, 2012).

Observando as contradições do fenômeno turístico, ao expressarem as discrepâncias do

sistema capitalista de forma concomitantemente torna-se relevante enfatizar que essa atividade

traz em si respostas a alguns problemas por ela acarretados, desde que estudos e pesquisas sejam

utilizados como instrumentos dentro do cenário do planejamento turístico. Assim sendo, a

observação e análise de aspetos relacionados à hospedagem em um panorama que abrange o

aumento do número de turistas e o meio ambiente vem a ser o tema do presente trabalho.

A ocorrência dos dois eventos esportivos de maior popularidade mundial na Cidade do Rio de

Janeiro faz com que o contexto vivenciado pela referida Cidade seja um locus privilegiado, devido

ao aumento do número de turistas, a análises que deem conta de revelar como estão sendo

percebidos e adotados os conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade. Para atender

ao crescente fluxo de turistas na cidade, algumas estratégias sustentáveis têm sido implementadas

(utilização de cabines de navios cruzeiro, por exemplo) e a construção de edifícios com

parâmetros rigorosos de sustentabilidade no projeto e na construção (certificações ambientais e

implementação de sistemas de gestão ambiental).

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) indicam que a capacidade

dos hotéis da cidade vem aumentando de forma consistente nos últimos cinco anos, a uma média

de 1.000 quartos por ano. Com base no crescimento sustentável das estatísticas do turismo no Rio,

a ABIH está confiante de que a taxa de construção de novos hotéis irá crescer, resultando em uma

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previsão de capacidade superior a 27.000 quartos até 2016. (ABIH — Associação Brasileira da

Indústria Hoteleira, 2012)

Porém, os investimentos em unidades de alojamento, devem ser acompanhados por

medidas de gestão capazes de promover práticas sustentáveis nos ambientes organizacionais do

empreendimento turístico, bem como, também nas atividades produtivas em operação.

Paralelamente, o crescimento de uma sociedade mais consciente da utilização dos recursos

naturais finitos vem modificando os estilos de vida e as práticas de gestão de forma a moldar/criar

uma nova cultura de produção que prime o equilíbrio social, ambiental e econômico e as relações

éticas na produção dos produtos e serviços disponibilizados aos consumidores.

Decorre a necessidade de estabelecer parâmetros e de sistemas de medição quanto ao grau

de adoção dos conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade do Rio de Janeiro.

Assim, pergunta-se: Questões referentes a sustentabilidade ambiental e utilização de forma ética

dos recursos naturais tem sido adotados pelos hostels2 na cidade ? A opção de escolha por um

hostel vai ao encontro ao vinculado pelo Ministério do Turismo. De acordo com o Estudo da

Demanda do Turismo Internacional no Brasil, os campings e hostels estão em quarto lugar na

preferência dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil. A participação desses meios de

hospedagem aumentou de 1,4% para 4,3% no período de 2004 a 2010.3 Soma-se à esse dado o

baixo quantitativo de pesquisas realizadas sobre a temática por pesquisadores brasileiros.

O objetivo geral da pesquisa realizada, cujos dados serviram de base para a presente

reflexão, foi analisar a aderência do conceito hotelaria verde pelas empresas e identificar práticas

sustentáveis e o uso de tecnologia limpa pelos gestores e hóspedes de um hostel situado na zona

sul da cidade do Rio de Janeiro. A suposição que permeou a pesquisa foi a seguinte: O uso de

práticas de consumo sustentáveis aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da

atividade do Turismo no meio ambiente, propiciando mudanças comportamentais refletidas na

pessoa do turista. Cabe informar que a pesquisa ainda esta em andamento e os resultados

apresentados decorrem da primeira fase do estudo.

2. Materiais e Métodos

2 Meio de hospedagem alternativo com preços mais acessíveis que os hotéis. Os hostels têm como principal objetivo oferecer um intercâmbio cultural entre pessoas do mundo inteiro. 3 http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20111014.html 

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Para os objetivos desta pesquisa é necessário o entendimento que propicie considerar a

sustentabilidade a partir do ponto de vista de suas competências capazes de promover rupturas

dentro dos métodos e processos utilizados para o fornecimento e produção de serviços. Esta

perspectiva denomina a pluralidade de sua abordagem, além de determinar sua característica

multidisciplinar. O desafio do ponto de vista epistemológico é o enquadramento e a coerência

ontológica necessária para o desenvolvimento do estudo. Igualmente, a coerência metodológica

estará apresentada na teoria, no método e nas técnicas a serem utilizadas para fins e objetivos

descritos (Martins & Teófilo, 2009).

Da mesma forma, diante de um problema de pesquisa, o pesquisador deve respeitar os seus

limites perante a um ambiente societal em que este possa transitar, ou seja, o pesquisador precisa

ter acesso a seu objeto de pesquisa, contato com os materiais necessários. Logo, este delimita o

seu campo de ação de forma a poder interagir e recolher os dados pertinentes à abordagem por ele

escolhida.

Não obstante, todo o objeto de pesquisa é resultado da urgência destinada ou promovida

pela sociedade sobre um determinado estranhamento de algo. Este estranhamento resulta na

demanda social necessária para a construção do conhecimento cientifico que sob o amparo da

metodologia busca a sua validação. A escolha do método adequado para desenvolvimento de uma

pesquisa depende do objetivo e, consequentemente, das questões que o pesquisador quer

responder.

Quanto ao método, a pesquisa esta dividida em uma abordagem qualitativa e quantitativa.

Na abordagem qualitativa é usado um questionário auto aplicado4 decorrente da revisão

bibliográfica e do objetivo delimitado pela pesquisa. O passo seguinte foi utilizar-se de uma

escala adaptada de Likert onde foi possível identificar como os hospedes do hostel estavam

sensíveis às práticas adotadas pelo mesmo bem como perceber os mecanismos disponibilizados

pelo local de forma a promover práticas relacionadas à gestão sustentável. Em seguida foi

elaborado um questionário contendo cinco questões fechadas e duas abertas que foi apresentado,

de forma aleatória, aos hospedes quando de sua entrada no estabelecimento. Quanto à amostragem

foram remetidos 82 instrumentos e houve retorno de 38%.

Quanto à abordagem quantitativa, o presente instrumento constou de perguntas com níveis

de ponderação que indicaram as características mais relevantes ou oportunidades de melhoria com

vistas à adoção de práticas ligadas à sustentabilidade e hotelaria.

4 O conceito de questionário auto aplicado vai ao encontro da metodologia de aplicação do instrumento de pesquisa no qual o próprio entrevistado, ou seja, o pesquisado, responde ao questionário sem a interferência do pesquisador. 

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Quanto à técnica, a pesquisa caracteriza-se enquanto um estudo de caso uma vez que a

pesquisa se utilizará de dados quantitativos e qualitativos reconhecidos a partir de situações do

quotidiano de um hostel especifico. Tem por objetivo explicar e descrever as práticas identificadas

em seu próprio contexto.

Quanto aos meios, foi composta da seleção de artigos através de recursos disponibilizados

em bases de dados e investigação em motores de busca que permitiu um estudo bibliométrico

acerca dos seguintes termos: hotelaria, Copa do Mundo 2016 - Brasil, Turismo Sustentável e

Tecnologias Limpas que possibilitou melhor compreensão acerca da temática, bem como,

aprofundar a relação entre as tecnologias limpas e o setor hoteleiro brasileiro. Foi respeitado o

corte temporal entre 2009 e 2013.

3. Fundamentação teórica

3.1. Motivadores para o desempenho ambiental

A sociedade pós-industrial diversificada, multiétnica convive com a velocidade de

transmissão de informações que representou um novo paradigma nas relações humanas. O

fortalecimento do capitalismo como regime ideal ao crescimento posiciona os atores sociais,

estado e as empresas em busca de um constante equilíbrio através de práticas que sejam capazes

de integrar conceitos de sustentabilidade e consumo consciente aos cidadãos.

Diante das novas perspectivas da sociedade moderna, estratégias corporativas tem sido

implementadas no meio empresarial com objetivo de apresentar conceitos relacionados às práticas

sustentáveis de consumo de produtos e serviços. Dialogando com Freire & Quelhas (2012),

Agopyan & John (2012) destacam que empresas necessitam avaliar o impacto ambiental das suas

atividades no meio ambiente e incorporar atos relacionados à proteção ambiental, responsabilidade

social e processos produtivos mais limpos aos seus objetivos. Valores e princípios éticos devem

ser incorporados às formas de gestão das empresas, constituindo uma imagem sustentável ao

mundo dos negócios.

Portanto, é importante que as empresas integrem procedimentos voltados a proteção do

meio ambiente em todas as fases do processo de tomada de decisão, ou seja, é necessário

estabelecer mecanismos, formas de comunicação que integrem a relação consumidor/fornecedor

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por meio do oferecimento dos seus serviços e formas de gestão, fortalecendo a cultura de proteção

do meio ambiente.

O surgimento de um novo perfil de consumidor5 proporciona uma mudança na forma de

agir das empresas, e as convidam a aderir princípios de sustentabilidade aos seus negócios. No

ambiente de negócios atual, é salutar conferir aumento da eficiência e eficácia por meio da

aderência de práticas que envolvam a avaliação de forma continua e integrada promovida pela

gestão ambiental.

Delinear um caminho de gestão motivado ao consumo sustentável depende da consciência

do impacto do consumo, do conhecimento das potenciais alternativas e das novas tecnologias que

podem influenciar o processo de escolha dos consumidores. Por exemplo, incorporar estratégias

como o Marketing Verde6, tem por finalidade orientar a gestão através de princípios éticos as

formas de produção, bem como, orientar os consumidores à absorção de produtos ou serviços

sustentáveis. Neste sentido é necessário compreender os motivadores e os valores íntimos para o

consumo de um produto sustentável.

Porém, a falta de informação sobre a importância da sustentabilidade para os negócios é

verdadeiro inibidor a adoção de sistemas de gestão ambiental pelas empresas. Entretanto, a crise

ambiental iminente, associada ao aumento da consciência da sociedade como um todo, tem

estabelecido mecanismos de pressão social que tendem a suplantar os desafios da questão por

meio da introdução de requisitos normativos, que fortalecem o controle sobre os processos

produtivos por meio da legislação. (Lee, Hsu, Han, & Kim, 2010)

Inovar é preciso, desenvolver produtos e serviços (eco design/eco eficiência) mais limpos e

voltados a sustentabilidade fortalecem a visão ecológica dos negócios e tornam-se imperativos

para o melhor posicionamento das empresas no mercado (carros elétricos, green buildings,

sistemas de gestão ambiental, selos verdes, estratégias para redução do desperdício, reciclagem e

coleta seletiva).

5 Ver Valls, J.F. (1996), Poon, A. (1993) e Santos Arrebola, J.L. (1992). Adyr Balastreri Rodrigues (1997) em seu livro intitulado “Turismo e espaço – Rumo a um conhecimento transdisciplinar” chama atenção para um novo tipo de consumo, denominado por ela de “consumo produtivo do espaço” e o define como tipo de consumo que parte do princípio da instalação de equipamentos turísticos que causem o menor impacto ambiental. Estes princípios estão baseados na educação ambiental que tem como objetivo a conservação do meio ambiente, além de aprofundar a consciência ecológica através da interação e do respeito à natureza. 6A expressão marketing verde reflete a preocupação de o mercado produzir e comercializar produtos ou mesmo atender as necessidades e desejos dos consumidores de forma a causar um impacto mínimo ao meio ambiente. Dias (2011) esclarece que os produtos que trazem consigo essa concepção possibilitam agregar valor à imagem da empresa bem como ao produto comercializado.

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Na sociedade atual, há forte pressão sobre o controle dos processos produtivos e aumento

da fiscalização (governos, sociedade civil organizada e movimento ambientalista) sobre a adoção

dos requisitos sustentáveis aos mecanismos produtivos. Faz-se relevante fortalecer as práticas de

gestão empresarial relacionando-as aos requisitos de sustentabilidade, fortalecendo a imagem de

utilização justa e consciente dos recursos naturais finitos pelas empresas, bem como,

fortalecer/influenciar o processo de escolha dos consumidores.

3.2. Levantamento de aspectos da Gestão Ambiental

O conceito de sustentabilidade aplicado aos negócios é reconhecidamente um diferencial

competitivo. Empresas ao aderir sistemas de Gestão Ambiental tem por finalidade melhorar as

práticas na confecção e oferta de produtos e serviços a sociedade, melhorando a sua eficiência,

promovendo o aumento da eficácia, aproveitamento da energia e distribuição justa dos recursos da

produção.

De maneira geral, incorporar requisitos de gestão ambiental aos negócios, tende a

fortalecer os canais de comunicação entre as empresas e a sociedade, bem como, abertura de

dialogo entre as empresas e os grupos afetados direta ou inderetamente pelos suas atividades

(stakeholders). Ao implementar sistemas de gestão ambiental, é necessário compreender que lida-

se com o princípio da Precaução na tomada de decisão sobre as atividades, ou seja, é necessário

compreender que existe uma relação de causa e efeito que encoraja o planejamento baseado em

metas, avaliação de alternativas a processos poluentes, além da determinação de soluções

possiveis aos danos e impactos de cada atividade de negócio.

No Brasil a Lei 6.938/1981 estabelece a politica nacional de meio ambiente que é aplicada

a toda e qualquer organização que atua de forma degradante sobre os recursos do meio ambiente e

pessoas. Para atingir estes objetivos, empresas de forma voluntária tem adotado as práticas

relacionadas a gestão de forma integrada de acordo com os princípios da norma ISO 14001 –

Sistema de Gestão Ambiental – que pretende estabelecer os requisitos gerais para redução dos

aspectos ambientais nas etapas do processo de produtos e serviços. Entre os objetivos gerais estão

: Estabelecer Politica Ambiental, Indentificar os aspectos ambientais, Identificar os requisitos

legais aplicavéis a atividade, Estabelecer objetivos e metas ambientais, Estabelecer programas

para atender a política, Planejar, controlar, monitorar e corrigir os desvios e ser capaz de adaptar-

se ãas mudanças ambientais. (Mancebo, Longo, & Pereira, 2011)

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Na gestão ambiental é imperativo identificar os aspectos relacionados as suas atividades.

Controlar aspectos ambientais das atividades de uma organização é essencial à gestão e devem ser

identificados/observados de acordo com o tipo de negócio da organização, fornecedor de matéria

prima, mercado consumidor e com a situação de disputa de recursos no mercado. Neste tipo de

avaliação é necessário identificar/considerar elementos como : 1) emissões de gases; 2)

lançamentos no solo; 3)uso de energia; 4) lançamento em corpos de água e etc. Igualmente,

identificar e monitorar aspectos genéricos : a) controle do lixo; b) descarte de embalagens;

c)distribuição e uso de água; d)qualidade do ar, e) descarte de produtos químicos e etc.

Reconhecer o importante trajeto de conhecer/reconher os seus aspectos ambiental,

possibilita avançar em direção da gestão ambiental e do SGA. Conhecer os aspectos e futuros

impactos, abre possibilidade de reconher os potenciais pontos críticos ao planejamento estratégico,

indica e possibilita avaliação de forma contínua, reduzindo custos de operação e de eventuais

passivos oriundos das atividades, mitigar os impactos na natureza, recuperar áreas degradadas e

remediar ações sobre o solo e aquíferos contaminados.

3.3. Hotelaria Verde

O turismo é o segmento de mercado que tem absorvido maior número de investimentos na

cidade do Rio de Janeiro. Sejam públicos e/ou privados, estes ultrapassam U$ 3 bilhões de dólares

americanos de investimento em áreas caras para o desenvolvimento da atividade como: construção

de estradas, reforma de aeroportos, construção de rodoviárias, mobilidade urbana e acessibilidade,

revitalização da zona portuária, construção de equipamentos esportivos e novos empreendimentos

hoteleiros. Esses investimentos em infraestrutura destinados ao turismo acabam por incentivar a

adesão de praticas sustentáveis por outras indústrias.

Uma das principais beneficiárias do desenvolvimento promovido pelos investimentos no

turismo é o setor de construção civil. Em 2012 o setor obteve crescimento do PIB setorial de 4%,

muito devido aos investimentos em casas populares e empreendimentos relacionados aos Jogos

Olímpicos e Copa do Mundo de Futebol. Historicamente a indústria é reconhecida como uma dos

maiores poluidoras globais, entretanto, metodologias e técnicas limpas tem sido implementadas

para reduzir/mitigar o impacto da atividade (sistemas de certificação de edificações,

desenvolvimento de materiais ecologicamente sustentáveis, sistemas de gestão relacionados a

redução dos desperdícios e controle de resíduos da construção).

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Na década de 1970, unidades habitacionais destinadas ao setor hoteleiro eram erguidas

sem quaisquer critérios e/ou preocupações com o meio ambiente, ou seja, nenhuma atenção

destinada aos impactos socioambientais gerados pelo turismo de forma integrada. Esse período

caracterizou-se pela falta de diálogo entre as disciplinas (Hotelaria/Construção Civil/Meio

ambiente) predominando o domínio da atividade turística sobre a natureza e comunidades

receptoras. Nas décadas seguintes, ideários de qualidade e preocupação com o meio ambiente

foram incorporados pelas grandes redes hoteleiras. A mudança paradigmática em relação ao meio

ambiente, tende a inclusão de práticas éticas nos processos de gestão de resíduos, energia e

preocupação com os atores sociais e ambientais externos e internos impactados diretamente pela

atividade produtiva. Na indústria hoteleira a incorporação de compromissos éticos pretende tornar

perene o desenvolvimento da atividade e obter retorno do investimento de forma a criar de

relações mais justas e igualitárias entre a atividade produtiva e o meio ambiente (Ruschmann,

2003).

Algumas inciativas compreendem como o uso de sistemas internos para renovação do ar

(varre poluentes como pólen, mofo e bactérias a cada 34 minutos), aspecto visual das recepções

que utilizam de vidro 100% reciclado, pintura com material de composto orgânico volátil livre.

Nas partes internas loft de higienização para as mãos contam com sistemas automatizados de

controle de agua, utilização de algodão orgânico nos materiais de acomodação e sistemas

inteligentes de iluminação. Apesar de representarem mudanças simples, o reflexo dessas

transformações é percebido não apenas no quesito custo, que, segundo a gerência do hotel hostel

estima em redução 2% dos custos operacionais acima do convencional, mas também, sobre o

aumento de reservas de clientes que buscam locais para hospedagem que possuam o compromisso

socioambiental (Motavalli, 2002).

O momento é de crescimento de consciência sobre a utilização de recursos de forma

sustentável. Também, cresce o número de consumidores que associam aos hábitos de consumo

padrões éticos. Estudos têm mostrado que os hóspedes cada vez mais procuram hotéis que

utilizam de práticas relacionadas a preservação do ambiente natural como motivadores de suas

escolhas. Essas estão relacionadas com o impacto do consumo atual nas futuras gerações, e um

sentido pessoal de bem-estar (Lee et al., 2010). O consumidor atual considera boas práticas

utilizadas por hotéis no processo de escolha. .

Hotéis como Sheraton, Parque de Boston Plaza Hotel utilizam medidas socialmente

sustentáveis nos seus procedimentos de hospedagem. A cada hospede é oferecido um pacote de

informações que transcendem a visão apenas interna de um turismo sustentável(organizações),

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mas também direciona os visitantes a uma atividade turística de menor impacto ambiental. O

pacote inclui mochila, mapas para andarilho e pontos de utilização de transporte público gratuito.

Já no aspecto interno, a construção de janelas de aproveitamento energético eficiente,

reaproveitamento da água da lavanderia, e incentivo de redução de gastos com papel, resultam em

economia significativa nas operações e na faixa de 300 árvores ao ano. (Kleinrichert, Ergul,

Johnson, & Uydaci, 2012).

Receber o rótulo de “Hotel Verde” é um conceito aplicado aos empreendimentos que são

ambientalmente amigáveis, cujos gestores estão ansiosos para instituir programas que visam a

economia de água, energia, redução de resíduos sólidos de forma a resguardar os recursos perenes.

Um hotel para ser considerado ambientalmente correto, necessita fazer mais do que não lavar

toalhas todos os dias, mas, introduzir inovações que reflitam na gestão de energia fazendo uso, por

exemplo, de lâmpadas fluorescentes, ventiladores de teto, cartões multifuncionais. No aspecto

água, a instalação de equipamento que regule o fluxo da água nos chuveiros, arejadores, válvulas

de louça a 1,6 gpm, mictórios sem água, produzem redução significativa nos custos e no

desperdício. Incentivos à prática da reciclagem de resíduos podem angariar economia

incentivando fornecedores a resgatar os materiais já utilizados para reciclagem e embalagens no

dia seguinte ao uso.

O nível de responsabilidade ambiental do negócio estimula o turista a pagar uma diária

diferenciada, no entanto, mister salientar que é suficiente um hotel adotar boas práticas ambientais

sem educar seus clientes e clientes potenciais. O hóspede, precisa adquirir práticas

ambientalmente responsáveis, explica Kleinrichert, et al. (2012).

Em um hotel verde, a cadeia produtiva deve ser considerada desde a concepção do produto

à sua distribuição que engloba desde os fornecedores à responsabilidade social com a comunidade

em que está envolvida, contratação de serviços disponíveis e mão de obra local. A inserção de

produtos e serviços verdes tornam-se extremamente importantes no desenvolvimento de uma

imagem verde,; pois atualmente, o turista considera aspectos ambientais em suas escolhas de

hospedagem. Portanto, crê-se que a escolha de um hotel verde está relacionada à percepção que é

possível realizar atividades de lazer e turismo de maneira ambientalmente saudável, sem promover

impactos severos ao meio ambiente.

Para descrever e caracterizar os principais aspectos e impactos ambientais correlacionados

a hotelaria, Dias (2003) desenvolveu um trabalho no qual aplicou a metodologia da norma ISO

14001 para classificá-los (na tabela 1). Avaliando a tabela é possível verificar que a concentração

de impactos está relacionada às variáveis: água, ar, esgoto, energia e recursos naturais.

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Quadro 2: Impactos de um hotel no meio ambiente

Atividade / Produto / Serviço Aspectos Ambientais Impactos Ambientais

Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais

Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo)

Consumo água e gás Esgotamento recursos naturais

Efluentes orgânicos (DBO) Alteração qualidade das águas

Resíduos Alcalinos Ocupação aterros sanitários (solo)

Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo)

Consumo água e gás Esgotamento recursos naturais

Efluentes Oleosos Alteração qualidade das águas

Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo)

Consumo energia elétrica Alteração da qualidade da água

Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo)

Operação Elevadores Consumo energia elétrica Alteração da qualidade da água

Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais

Emissões de CFCs Ataque à camada de ozônio

Consumo gás Esgotamento recursos naturais

Emissões de CO, NO² Alteração qualidade do ar

Operação Equipamentos geral Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais

Consumo combustível Esgotamento recursos naturais

Emissões de CO, NO² Alteração qualidade do ar

Armazenamento / Manuseio produtos químicos perigosos Derrame acidental Contaminação solo ou da água

Manutenção máquinas Resíduos óleos e graxa Contaminação solo ou da água

Limpeza Caixa de Gordura Efluentes orgânicos (DBO) Alteração qualidade das águas

Consumo água e gás  Efluentes  Esgotamento recursos naturais

Resíduos Alcalinos graxo Alteração qualidade das águas

Operação Gerador Energia Elétrica

Serviços de Lavanderia

Atividades Recepção

Banheiros / Vestiários

Cozinha

Restaurante / Bar

Operação Ar Condicionado

Operação Aquecedor água

Fonte: Adaptado de Dias, 2003, p.8

3.4. Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira

Tecnologia Limpa é um conceito que integra os processos e produtos às estratégias

econômica, tecnológica e ambiental buscando maximizar a eficiência no uso de matérias primas,

recursos naturais através da não geração de resíduos decorrentes de quaisquer processos

produtivos. A grande diferença no uso de tecnologia limpa é que são focadas para além do

tratamento de resíduos e emissões de gases gerados no processo produtivo e relacionam objetivos

de gestão ambiental aos processos de produção.

É necessário apresentar as possíveis tecnologias limpas que possam ser utilizadas nas

atividades diárias de um hotel, criando e estimulando ações ligadas à responsabilidade social no

sentido da preservação dos recursos naturais.

Medidas simples, de baixo impacto econômico podem ser implantadas no segmento

hoteleiro. Exemplificando: o hotel que implanta medidas socioambientais como o uso de energia

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renovável através de painéis fotovoltaicos. Nesse tipo de captação de energia, são utilizados

painéis que convertem energia da luz do Sol em energia elétrica. Algumas vantagens do uso de

energia solar: a) tipo de energia que não polui o meio ambiente; b) manutenção das centrais

solares é de baixo custo transformando essa alternativa de uso energético em uma solução

economicamente viável, c) em países próximo aos trópicos em que o número de horas de

exposição solar é alto esse tipo de energia passa a ser viável para toda a extensão territorial. (Dias,

2003)

Contudo, existem algumas desvantagens que devem ser evidenciadas; a) de acordo com a

variação da temperatura, as quantidades de energia podem variar, pois as condições climáticas têm

influencia direta na geração de energia solar, b) Localidades próximas as latitudes médias com

menor índice de raios solares, sofrem com quedas brutas de produção durante os meses de

inverno, além, de outras fontes (fósseis) demonstrarem-se mais eficientes.

No Brasil, quase a totalidade da energia gerada é baseada em recursos hídricos. A Lei

9433/97 Política Nacional de Recursos Hídrico nos seu objetivo “assegura à atual e às futuras

gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos

usos”. Portanto, é relevante a introdução de novas tecnologias e campanhas sobre o uso

consciente/racional do recurso hídrico por empresas, administração pública e sociedade.

Um exemplo é a Rede Burbon de Hotéis e Resorts que promoveu uma pesquisa de opinião

que culminou em uma campanha para colaboradores e hospedes sobre o uso racional dos recursos

naturais. Utilizando do sistema de comunicação interna, cartazes, mensagens informativas e

adesivos pretendem estimular a redução do consumo de água. Para os hóspedes, informações

vinculadas por folhetos o convidam a participar da campanha por meio da redução da frequência

da lavagem de roupas de cama e banho. As medidas descritas são capazes de provocar uma queda

entre 45% e 50% dos gastos de um hotel referente ao consumo de energia e água. A economia

gerada retorna para os investidores e administradores do hotel, possibilitando o investimento em

novas tecnologias.

A implantação dessas tecnologias permitirá a minimização de alguns dos principais

aspectos ambientais, tais como: redução do esgoto, emissão de efluentes orgânicos, eficiência no

uso da energia e racionalização no emprego da água.

Uma grande rede hoteleira em Auckland, Nova Zelândia está realizando uma pesquisa

interna com seus hóspedes e colaboradores buscando promover uma maior conscientização acerca

das boas praticas a serem adotadas pelo hotel, bem como, pelos hospedes quando da adoção de

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praticas ambientalmente corretas. Dados parciais demonstram que quase a totalidade dos

entrevistados, 97% concordam em usar mais de uma vez suas toalhas, lençóis e roupão; outros

87% estão comprometidos com a política do hotel de preservação dos recursos do meio ambiente;

76% acreditam que a cadeia produtiva engloba a aquisição de produtos alimentares cuja produção

seja realizada sem o uso de agrotóxicos e 89% e apoiam a reciclagem de materiais por parte da

indústria hoteleira. Esses dados parciais demonstram que a adoção de tecnologias limpas na

hotelaria corrobora para redução do desperdício, bem como estará indo ao encontro de uma

mudança cultural e paradigmática na indústria do turismo introduzindo soluções sustentáveis para

promover o turismo sustável.

4. Apresentação, análise e discussão dos resultados

A sustentabilidade aplicada aos negócios é reconhecidamente um diferencial competitivo.

Empresas ao aderir conceitos ambientalmente sustentáveis têm por finalidade melhorar as práticas

na confecção e oferta de produtos e serviços à sociedade, aprimorando a sua eficiência,

promovendo o aumento da eficácia, aproveitamento da energia e distribuição justa dos recursos da

produção. De acordo com a pesquisa realizada foi possível constatar alguns aspectos que

impactam diretamente ao tema abordado. Assim sendo, a análise dos dados constitui-se a partir

das respostas dos sujeitos quanto o entendimento do conceito tecnologia limpa.

O estudo de caso foi realizado em um hostel na zona sul da cidade do Rio de Janeiro,

sendo o critério de escolha fundamentado nos acessos e facilidades, tais como serviços de

infraestrutura básica, serviços de infraestrutura de apoio ao turismo e proximidade das atrações

turísticas, que o hostel escolhido reúne. Ao longo da pesquisa, foram identificadas campanhas

relacionadas à sustentabilidade nas práticas de gestão do negócio desenvolvida pelo hostel em tela

sendo essas campanhas de conscientização que pretendiam educar hóspedes e funcionários sobre:

uso eficiente da água, consumo de energia, coleta seletiva e controle de resíduos.

Quadro 3: Faixa Etária dos hóspedes entrevistados

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Fonte: Elaborado pelos autores

A variável faixa etária dos hóspedes entrevistados ficou distribuída em 75,5% e 5,4%,

respectivamente, jovens perfazendo o intervalo de 20 a 29 anos e adultos compreendendo 50 anos

ou mais. Esse dado foi relevante na análise das próximas questões, pois, através da faixa etária, foi

possível observar o grau de inserção dos sujeitos no assunto em questão. Posteriormente, ao serem

indagados quanto à sua nacionalidade foi observado que o continente América do Sul foi melhor

representado com 51,4% dos entrevistados sendo precedido da Europa, 32,4%, América do Norte

e Austrália, respectivamente, 10,8% e 5,4%.

Quadro 4: Nacionalidade (países)

Fonte: Elaborado pelos autores

Outras situações que envolveram seleção do hostel, uso e implantação de novas

tecnologias as respostas foram significativas. A maioria dos entrevistados não considerou a

variável meio ambiente – 83,8%.

Quadro 5: Aspectos que envolvem o meio ambiente

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Fonte: Elaborado pelos autores

No perfil elaborado a partir do questionamento se houve mudança de hábitos decorrente

do uso e implantação de novas tecnologias sendo destacado uso de tecnologias limpas, as

respostas tenderam a se posicionar entre negativo com 54,1% e positivo com 45,9%. No entanto,

esses dados não refletem o uso de novas práticas quotidianas, adotadas no hostel e percebidas

pelos sujeitos, pois essas novas práticas adotadas pelo hostel não constavam no instrumento de

pesquisa.

Quadro 6: Mudanças de hábitos no quotidiano

Considerações Finais

Fonte: Elaborado pelos autores

O conceito de sustentabilidade é hoje relevante para toda a estrutura organizacional,

independente do seu porte ou esfera em que esteja atuando. O uso eficiente dos recursos naturais,

a gestão dos resíduos sólidos e dos efluentes líquidos estão entre os temas mais discutidos. É

preciso planejar buscando consolidar aspectos que tragam ressonância com as questões que

envolvem as energias renováveis, mobilidade urbana, construções mais sustentáveis e serviços.

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A mudança de paradigma decorrente da necessidade de preservação dos recursos finitos

bem como impulsionando novas práticas e costumes na sociedade, vem ao encontro do objetivo

geral dessa pesquisa que ao analisar o entendimento do conceito tecnologia limpa em hostel da

cidade do Rio de Janeiro constatou que a grande maioria dos hóspedes não considera a variável

prática visando a perenidade dos recursos face meio ambiente como um diferencial apresentado

pelo estabelecimento. Essa resposta vai ao encontro dos dados apresentados no Quadro 2 , ao

demonstrar que a maioria dos sujeitos entrevistados está na faixa jovem – 20 aos 29 anos. Esses

jovens, apesar de concordar com a necessidade de mitigação das praticas que envolvem de forma

nociva o meio ambiente, não as relevam na hora da escolha do hostel.

Diante do atual cenário sobre questões de sustentabilidade, onde diversos estabelecimentos

do setor hoteleiro já se encontram preocupados e conscientizados com tal fato, há consenso que

existem diversos pontos nos hostels brasileiros que envolvem aspectos sustentáveis que precisam

ser trabalhados.

A questão relacionada às trocas de roupa de banho e cama aponta que praticamente 70%

dos estabelecimentos não perguntam ao hóspede se desejam realizar troca, pois essa prática se dá

de acordo com o período de hospedagem de cada um. No geral, é comum que as trocas sejam

realizadas pelo local automaticamente após 2 ou 3 dias decorridos de hospedagem, sem terem o

processo de averiguar a real necessidade. Alguns hostels oferecem um kit banho/cama no

momento do check-in e disponibilizam kits extras mediante pagamento de taxa por kit solicitado.

Os hostels que apresentam instalações com sensores de luz admitem que a prática se dê

principalmente por questões econômicas, pois a não utilização dos sensores permite que os

hóspedes deixem os interruptores sempre ligados ao deixarem os quartos e áreas comuns. A

instalação dos sensores representou um percentual significativo de economia nos gastos com

energia. A coleta de lixo para posterior reciclagem é uma realidade em pelo menos 50% dos

hostels entrevistados. Contudo, nota-se que em alguns hostels esse trabalho é realizado por um

viés mais econômico, uma medida oportuna para aumentar, mesmo que pouco, seu fluxo de caixa,

ao invés de ser uma prática pensada precisamente na sustentabilidade ambiental. Entre as práticas

sustentáveis utilizadas é de grande necessidade que se faça um alinhamento entre todos os setores

envolvendo os funcionários e suas ações.

5. Considerações Finais

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O conceito de sustentabilidade tem sido utilizado como parâmetro de condução da política

de gestão de diversas empresas, pois a preocupação com a avaliação do impacto gerado por seus

processos e produtos ao longo do ciclo de vida dos mesmos emergiu como um valor positivo na

realização de bons negócios, tendo em vista que a utilização de uma gestão sustentável por meio

da incorporação de práticas relacionadas à proteção ambiental e à responsabilidade social

disseminou-se entre as variadas camadas da população.

Organizar a produção – de bens e serviços – requer não apenas a observância de leis,

regulamentos, requisitos de instituições financeiras ou códigos voluntários de conduta - todos em

números sempre crescentes. Igualmente, requer estar atento a riscos e oportunidades futuras:

energias renováveis, mobilidade urbana de baixo impacto, construções mais sustentáveis, logística

reversa e tantos outros conceitos já incorporados ao rol das questões da atualidade e aos quais

outros vão sendo continuamente acrescentados.

Em tempos em que o tema sustentabilidade transita enquanto um dos principais temas de

discussão da atualidade é importante que esses meios de hospedagem participem da discussão e

promovam modificações. O uso de sistemas de reciclagem de lixo, reutilização de água e sistemas

de sensores devem ser implantados com a finalidade de mitigar o consumo desnecessário de

energia bem como inserir o ambiente nas praticas ambientalmente sustentáveis.

Há de se lembrar de que toda discussão permeia a literatura especifica bem como os dados

identificados ao longo da pesquisa. A questão apresentada foi que o uso de novas tecnologias

aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio

ambiente propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista. Nesse contexto,

ao serem indagados “hostels preocupados com o meio ambiente incentivaram mudanças nos seus

hábitos para com o meio ambiente” os entrevistados listaram algumas situações tais como:

economia de água e energia, comparação entre o turismo dos países que visitam com o turismo do

seu país de origem, questionam se voltarão, em uma futura viagem, se hospedar, novamente, no

mesmo hostel e percebem alterações comportamentais em sua pessoa depois de ver as mudanças

do hostel e pensam nos mesmos aspectos relacionados no quotidiano em sua vida. Essas respostas

referendam a hipótese trabalhada, pois hostel, pousadas, hotéis devem se adequar as novas

tecnologias de forma a alterar o impacto negativo ao meio ambiente e a visão de que o Turismo é

fonte geradora de tais impactos.

Torna-se relevante propor, a partir destes resultados e conclusões, a utilização de indicadores

de sustentabilidade em hostels de forma a medir com maior precisão os impactos causados pelas

práticas desenvolvidas em seus ambientes internos e externos, considerando-se também, além dos

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aspectos eco ambientais, os aspectos econômicos, sociais e culturais de modo a agregar aspectos

considerados indispensáveis na promoção de mudanças bem como subsidiar decisões de politicas

publicas.

Referências

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