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 Tecnologia e informação em saúde : modelo de ensino- aprendizagem transdisciplin ar Maria Cristiane Barbosa Galvão; Ivan Luiz Marque Ricarte; Aline Priscila Daura Perspectivas em Ciência da Informação, v.16, n.4, p.73-94, out./dez. 2011 73 Tecnologia e informação em saúde: modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar Maria Cristiane Barbosa Galvão Professora da Universidade de São Paulo.  Ivan Luiz Marques Ricarte Professor da Universidade de São Paulo.  Aline Priscila Daura Egressa do Curso de Graduação Ciência da  Informação e Documentaçã o da Universidade de São Paulo. Considerando conceitos básicos sobre tecnologia, informação e saúde; a observação de propostas curriculares; a análise de softwares e hardwares destinados ao campo da saúde, e a análise crítica da literatura, esta pesquisa focou-se na questão de como formar profissionais do campo da informação e do campo da informática que possam melhor solucionar as  problemátic as relacionadas ao contexto da saúde. Para tanto, elaborou-se como hipótese inicial um modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar que abarca quatro aspectos: interação entre docentes e discentes de diferentes áreas; integração entre o contexto externo e o contexto da instituição educacional; condições institucionais; sistematização de um projeto de ensino- aprendizagem. Para analisar tal hipótese, adotou-se um método qualitativo, qual seja, a pesquisa-ação, durante o  período de ano, no qual foram ofertados dois cursos, com duração de 60 horas cada um e participação de 35 alunos. Como resultado da pesquisa, o modelo proposto se mostrou adequado para o ensino-aprendizagem em tecnologia e informação em saúde, sendo enfatizados  parâmetros do contexto educacional transdisciplinar, como a competência linguística, a harmonizacao conceitual, os padrões éticos, a linguagem dos textos selecionados, e a relação entre as problemáticas discutidas no contexto externo e interno. Palavras chave: Ensino, Informação, Tecnologia, Saúde, Transdisciplinaridade .

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  • Tecnologia e informao em sade : modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar

    Maria Cristiane Barbosa Galvo; Ivan Luiz Marque Ricarte; Aline Priscila Daura

    Perspectivas em Cincia da Informao, v.16, n.4, p.73-94, out./dez. 2011 73

    Tecnologia e informao em sade: modelo de ensino-aprendizagem

    transdisciplinar

    Maria Cristiane Barbosa Galvo

    Professora da Universidade de So Paulo.

    Ivan Luiz Marques Ricarte

    Professor da Universidade de So Paulo.

    Aline Priscila Daura

    Egressa do Curso de Graduao Cincia da Informao e Documentao da Universidade de So Paulo.

    Considerando conceitos bsicos sobre tecnologia, informao e sade; a observao de propostas curriculares; a anlise de softwares e hardwares destinados ao campo da sade, e a anlise crtica da literatura, esta pesquisa focou-se na questo de como formar profissionais do campo da informao e do campo da informtica que possam melhor solucionar as problemticas relacionadas ao contexto da sade. Para tanto, elaborou-se como hiptese inicial um modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar que abarca quatro aspectos: interao entre docentes e discentes de diferentes reas; integrao entre o contexto externo e o contexto da instituio educacional; condies institucionais; sistematizao de um projeto de ensino-aprendizagem. Para analisar tal hiptese, adotou-se um mtodo qualitativo, qual seja, a pesquisa-ao, durante o perodo de ano, no qual foram ofertados dois cursos, com durao de 60 horas cada um e participao de 35 alunos. Como resultado da pesquisa, o modelo proposto se mostrou adequado para o ensino-aprendizagem em tecnologia e informao em sade, sendo enfatizados parmetros do contexto educacional transdisciplinar, como a competncia lingustica, a harmonizacao conceitual, os padres ticos, a linguagem dos textos selecionados, e a relao entre as problemticas discutidas no contexto externo e interno.

    Palavras chave: Ensino, Informao, Tecnologia, Sade,

    Transdisciplinaridade.

  • Tecnologia e informao em sade : modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar

    Maria Cristiane Barbosa Galvo; Ivan Luiz Marque Ricarte; Aline Priscila Daura

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    Health information and technology: a transdisciplinary teaching and learning

    model

    The present research focused on the question of how professionals from the field of information and from the field of technology can be prepared to deal with health-related problems, taking into account the basic concepts of technology, information, and health; the observation of curricular proposals; the analysis of health-related software and hardware; and the critical analysis of current literature. As the initial hypothesis, a transdisciplinary teaching and learning model was proposed considering four aspects: interaction among lecturers and students from different fields of knowledge; integration between the external context with the context from the educational institution; institutional conditions; and systematization of a teaching and learning project. To analyze this hypothesis, a qualitative method, the action-research, was adopted during one year in the offer of two courses, with 60 hours each, and the participation of 35 students. The proposed model was adequate to teach and learn technology and information in health, and emphasized relevant parameters to be considered in transdisciplinary educational contexts, such as linguistic competence, conceptual harmonization, ethical standards, the language of selected texts, and the relation between problems discussed in the educational and external contexts.

    Keywords: Teaching, Information, Technology, Health, Transdisciplinarity.

    Recebido em 06.03.2011 Aceito em 12.12.2011

    1 Introduo

    O termo tecnologia da informao, sobretudo quando empregado pelos meios de comunicao de massa, muitas vezes associado tanto tecnologia propriamente dita como ao contedo semntico que ela suporta. Tal associao induz o pblico a pensar que problemas informacionais so meramente tecnolgicos ou que, em havendo tecnologia da informao, a informao estar organizada e disponvel para uso. Embora tal confuso no seja to frequente no meio cientfico, neste artigo, faz-se uma clara distino entre o termo tecnologia da

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    informao e o termo informao, embora sejam complementares e interdependentes.

    Associa-se, o termo informao a uma exposio em linguagem compreensvel ao receptor/leitor/destinatrio, como, por exemplo, o contedo apresentado em uma bula de medicamento. J o termo tecnologia associado aos meios que podem viabilizar a produo, a organizao, a disseminao e o uso da informao, mas que no se confunde com ela. Por exemplo, o editor de texto que foi empregado na produo do contedo da referida bula. De forma complementar, entende-se que existe um campo cientfico, relativamente delineado, focado na informao e denominado cincia da informao (TANG, 2004; IBEKWE-SANJUAN, 2010; PREBOR, 2010) e um campo cientfico focado na tecnologia da informao como o caso da informtica ou computao (DIETHELM, DRGE, 2010). Tais campos cientficos se interagem de variadas maneiras a depender das culturas organizacionais e cognitivas de cada contexto (local, regional, nacional ou internacional), porm, h contextos onde esta integrao insipiente e contextos onde esta integrao imprescindvel (DALRYMPLE, RODERER, 2007).

    No que se refere ao termo sade ele pode ser leigamente associado ausncia de doena ou enfermidades, mas este trabalho foca um conceito mais amplo de sade, aceito nacionalmente e internacionalmente, e que est em sintonia com a Constituio da World Health Organization, ao afirmar que saudvel o estado de completo bem estar fsico, mental e social (WORLD, 1946). A abrangncia e complexidade da sade enquanto campo cientfico, campo de assistncia em sade e campo de cultura demanda sistemas de informao refinados, rpidos, precisos, integrados tecnologicamente e informacionalmente, seja em decorrncia dos muitos atores envolvidos no mbito da sade (populao, gestores da sade, equipe multiprofissional da sade, pesquisadores e estudantes), seja pela cobertura de tais sistemas (local, regional, nacional e internacional), seja, por exemplo, pela necessidade de controle de endemias, epidemias e pandemias. Dessa forma, assume-se que a complexidade do campo da sade (TULCHINSKY, VARAVIKOVA, 2009) no que se refere a sistemas de informao, demanda a integrao de conhecimentos provenientes do campo da cincia da informao e do campo da informtica.

    Considerando os conceitos bsicos anteriores; a observao de propostas curriculares interdisciplinares (envolvendo, geralmente, o campo da informtica e o campo da sade, ou o campo da informao e o campo da sade, ou o campo da informtica com o campo da informao), que possuem dificuldades em atingir seus objetivos, at mesmo pela exiguidade de docentes interessados e aptos em integrar tais cursos; a anlise de alguns softwares e hardwares destinados ao campo da sade, em geral muito custosos, mas que no promovem o benefcio esperado dentro das instituies de sade; bem como a anlise crtica da literatura especializada que falha na proposio e avaliao de sistemas de informao em sade, esta pesquisa focou-se nos seguintes problemas: como formar profissionais do campo da informao e do

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    campo da informtica que possam melhor solucionar as problemticas relacionadas ao contexto da sade? como promover a interao entre tecnologia e informao em sade j no contexto de ensino-aprendizagem a fim de que as atividades, produtos e servios desenvolvidos por estes futuros profissionais possuam qualidade e sigam requisitos compatveis ao contexto da sade?

    Assumindo que a hiptese de pesquisa uma resposta antecipada a um problema de pesquisa (POPPER, 1985; LOPES, 2001; CRESWELL, CLARK, 2007), para responder os questionamentos elencados, elaborou-se como hiptese inicial um modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar, entendendo-se modelo enquanto um sistema idealizado e simplificado que, reunindo conceitos provenientes de uma ou vrias teorias, prope uma sistematizao acerca de um objeto. Os modelos, tal como teorias e conceitos, tendem a ser provisrios na medida em que novos conhecimentos transformam os antigos, refutando-os ou reiterando-os. A hiptese, ou seja, o modelo proposto ser detalhado na prxima parte deste artigo.

    Para analisar tal hiptese adotou-se um mtodo qualitativo de pesquisa, especificamente, a abordagem de pesquisa-ao que caracterizada pelo processo cclico envolvendo pesquisadores e profissionais atuando juntos em um ciclo particular de atividades, incluindo diagnstico de problemas, interveno ativa e aprendizagem reflexiva (AVISON et al., 1999). Na pesquisa-ao, o pesquisador exercita um modelo ou teoria juntamente com os profissionais em situaes reais, obtm retorno a partir dessa experincia e modifica o modelo ou teoria com base nesse retorno, para que o novo modelo ou teoria possa ser novamente aplicado. Deve-se considerar, no entanto, que pesquisas empregando outras abordagens exclusivamente qualitativas ou quantitativas, ou mistas, podero colaborar para refutao ou validao da hiptese proposta (CRESWELL, CLARK, 2007).

    A anlise do modelo e da hiptese compreendeu o perodo de ano, no qual foram ofertados dois cursos, com durao de 60 horas cada um, com uma participao efetiva total de 35 alunos.

    2 Proposio do modelo

    Em um texto clssico Gibbons (1998) alerta que as instituies de ensino superior, especialmente as universidades, so as instituies mais estveis e resistentes a mudanas que j existiram nos ltimos 500 anos. Baseadas no modelo de organizao em campus, na interao face-a-face professor-aluno, em um especfico formato de aula, elas se especializaram na transmisso do conhecimento de uma gerao a outra. Sem mudanas na estrutura e no mtodo, as universidades assumiram responsabilidades polticas, sociais, e tecnolgicas. Assim, pergunta o autor, que mudanas seriam necessrias universidade para atender as novas demandas sociais requeridas no sculo 21? O questionamento de Gibbons e de outros (COMISSAO, 1996) serve para ressaltar que as relaes das cincias entre si e destas com a sociedade um assunto que tem ocupado

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    uma agenda de longa data, mas especialmente aps os perodos das grandes guerras, se intensificando gradativamente no final do sculo passado.

    A crtica que se faz ao modelo tradicional de universidade recai na sua restrita relao com a sociedade (contextos externos) e na sua organizao em disciplinas relativamente isoladas. Embora as instituies educacionais de ensino superior cada vez mais ofeream recursos informacionais, tecnolgicos e interativos, o modo predominante de ensino-aprendizagem ainda traz traos de um especialista que compartilha, em sala de aula, seus conhecimentos com os aprendizes, como representado de forma esquemtica na figura 1.

    Figura 1 Modelo de ensino-aprendizagem na abordagem tradicional

    Como possibilidade para superao deste modelo de universidade, abordagens que transcendam os limites das disciplinas tm sido desenvolvidas por diferentes autores, dentre as quais a multidisciplinaridade, a metadisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

    A multidisciplinaridade, tambm chamada de pluridisciplinaridade, consiste na justaposio de disciplinas, unidas em torno de um mesmo objeto, mas sem que haja intercmbios conceituais ou metodolgicos entre elas. Dessa forma, as barreiras disciplinares permanecem intactas e o trabalho realizado entre os professores e pesquisadores complementar e de carter colaborativo, somando diferentes ngulos de viso referentes ao objeto estudado. Assim, observa-se a natureza aditiva da multidisciplinaridade (ALMEIDA FILHO, 2005; ALVARENGA et al., 2005; NICOLESCU, 2005; ALVES, REINERT, 2007; SANTOS, 2007; HOLLAND, 2008; LUZ, 2009; DOMIK, FISCHER, 2010) quando, por exemplo, h um curso de graduao com a participao de docentes provenientes de diferentes reas, cada um oferecendo sua viso sobre um tema comum mas que no trabalham conjuntamente para a transposio das barreiras disciplinares, tarefa esta que delegada aos discentes.

    J a metadisciplinaridade se caracteriza pela presena de uma metadisciplina, integradora e situada em um nvel epistemolgico superior

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    s demais disciplinas assegurando a interao e a interrelao entre elas (WERTH, 2003; ALMEIDA FILHO, 2005).

    Por sua vez, a interdisciplinaridade constitui-se numa abordagem de uma problemtica comum a um grupo de disciplinas que cria um meio de responder a questes complexas que no podem ser tratadas de forma satisfatria utilizando uma nica abordagem disciplinar. Neste caso, h certa reciprocidade de intercmbio entre elas, uma fecundao mtua, para estabelecer um novo nvel de discurso e integrao de conhecimento, o que leva ao mtuo enriquecimento e por vezes d origem a novas disciplinas ou subdisciplinas com novos mtodos de investigao e novas perspectivas tericas (ALMEIDA FILHO, 2005; ALVARENGA et al., 2005; NICOLESCU, 2005; POMBO, 2006; SANTOS, 2007; AZEVEDO, ANDRADE, 2007; ALVES, REINERT, 2007; SANTOS, INFANTE-MALACHIAS, 2008; GODEMANN, 2008; LUZ, 2009; DOMIK, FISCHER, 2010).

    A transdisciplinaridade consiste na integrao de disciplinas com produo discursiva cooperativa entre os diferentes saberes, no somente entre o campo das cincias exatas e das cincias humanas, mas tambm da arte e da cultura. A abordagem transdisciplinar procura ir alm das perspectivas disciplinares com a conceituao de novos objetos, mtodos e concepes, apresentando um desafio epistemolgico s abordagens anteriores; assim, a transdisciplinaridade no nega o disciplinar, mas o relativiza ao constituir-se num saber que organiza diferentes saberes e prope a fuso entre a teoria e a prtica, o filosfico e o cientfico, apresentando-se como um saber que da ordem do complexo, englobando as diferentes disciplinas envolvidas no processo de pesquisa em um sistema que busca desconstruir limites rgidos entre elas em prol de solues para problemticas sociais (ALMEIDA FILHO, 2005; ALVARENGA et al., 2005; NICOLESCU, 2005; SANTOS, 2007; ALVES, REINERT, 2007; GODEMANN, 2008; LUZ, 2009; DOMIK, FISCHER, 2010).

    Ressalta Gibbons (1998) que a transdisciplinaridade composta pelo esforo consensual (entre vrias disciplinas) para soluo de problemas; por uma nfase maior na relao entre teorias e prticas; pela intensificao dos canais de comunicao entre diversas instituies para produo e uso de conhecimento; bem como pela dinamicidade, sendo este modo de organizao o mais compatvel com a sociedade e as universidades do sculo XXI.

    Pelo exposto, e considerando a complexidade informacional e tecnolgica existente no contexto da sade, que demanda uma necessria integrao terica e prtica entre o campo da cincia da informao e da tecnologia com os problemas reais do campo da sade, o modelo aqui proposto segue uma abordagem de ensino-aprendizagem transdisciplinar. O objetivo final deste modelo vai alm do momento do ensino e da aprendizagem; volta-se para a construo da transdisciplinaridade, j no momento da formao, entre as reas citadas e destas com as outras esferas da sociedade, aqui entendida como a populao em geral, gestores da sade, equipe multiprofissional, instituies de assistncia, pesquisa e ensino em sade. Desse modo busca-se, como defendido por Nicolescu (2005), a construo do conhecimento que transcende as fronteiras de cada

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    disciplina e que levar compreenso do mundo atual, no de forma antagnica, mas complementar ao conhecimento disciplinar.

    De forma sinttica, o modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar voltado para a tecnologia e informao em sade apresentado na figura 2. Em relao ao modelo tradicional, apresentado na figura 1, destacam-se neste modelo trs aspectos diferenciais. O primeiro o convvio de docentes e discentes provenientes de diversas disciplinas no ambiente da sala de aula, e, em outros espaos. O segundo aspecto a integrao entre o contexto externo e o contexto da instituio educacional, por exemplo, por meio da relao com profissionais de outras instituies e da populao, pela discusso de temticas e problemas provenientes destes contextos, ou por outras formas de participao de docentes e discentes nesses contextos, como visitas, estgios, emprego, consultorias e voluntariado. O terceiro aspecto relaciona-se s condies institucionais, como a existncia de flexibilizao de currculos e da gesto acadmica, de forma a permitir a integrao das experincias transdisciplinares aos novos currculos, espaos de interao que garantam o convvio fora da sala de aula, os recursos tecnolgicos (ferramentas de comunicao e plataformas pedaggicas) e informacionais (bibliotecas e bases de dados). O quarto aspecto reside na existncia sistematizada e explicitada de um projeto transdisciplinar de ensino-aprendizagem que abarque as temticas, as problemticas e os referenciais a serem abordados, a metodologia de ensino, o cronograma de atividades, as formas de avaliao, e, as convenes comunicacionais. Cada um destes aspectos e de seus componentes ser discutido a seguir, todavia, faz-se notar, que eles encontram-se fortemente relacionados, sendo interdependentes.

    Figura 2 Modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar para tecnologia e informao em sade

    Nas palavras de Fischer e Redmiles (2008), as competncias transdisciplinares esto associadas ao conhecimento e habilidades necessrias para identificar e lidar com problemas cientficos e prticos que cruzam as fronteiras disciplinares, problemas estes que so complexos, mal definidos, e demandam a comunicao e colaborao de

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    pessoas de diferentes disciplinas e nveis educacionais. Assim, entende-se que para a concretizao deste modelo um requisito essencial a existncia de um corpo docente composto por professores das diferentes reas (neste caso, com formao no campo da informao, da informtica e da sade), ou seja, a construo de uma abordagem transdisciplinar requer diferentes vises (fundamentadas e relacionadas) sobre as problemticas estudadas. Igualmente, tal diversidade deve ser considerada na constituio do corpo discente. Alunos provenientes de diferentes reas em um mesmo ambiente podem observar mais concretamente as diversas vises de mundo, os conhecimentos convergentes ou divergentes que possuem, e serem sensibilizados para a importncia e eventuais dificuldades do dilogo entre os diferentes atores.

    Na abordagem transdisciplinar so tambm importantes os atores provenientes da sociedade, como os profissionais que atuam diretamente com problemticas semelhantes s que sero estudadas no contexto de ensino-aprendizagem, e/ou membros da populao afetada por tais problemticas. As equipes transdisciplinares organizadas com membros oriundos do contexto das instituies de ensino e do contexto externo oferecem oportunidades nicas para colaborao, estabelecendo um caminho para traduzir a pesquisa em ao (DALE, NEWMAN, LING, 2010). H que se garantir no contexto de ensino-aprendizagem a interao com estes atores oriundos do contexto externo. Assim, a proposta transdisciplinar requer uma abertura para o dilogo e para a relativizao e anlise crtica dos conhecimentos estabelecidos no contexto disciplinar.

    Tal integrao humana demanda, do contexto institucional, vrias adequaes como a garantia de que docentes e discentes com diferentes perfis e formaes participem da iniciativa transdisciplinar, seja em sala de aula, seja no processo de planejamento, preparao e aperfeioamento do curso ou cursos a serem ministrados. Como ressalta Chevaillier (2002), as instituies de ensino superior precisaro se adequar s novas concepes de currculo, de pesquisa, de relacionamento com estudantes e com outras instituies de educao superior, tornando irrelevantes as fronteiras atualmente existentes entre provedores, setores educacionais e disciplinas. Logo, imagina-se ser invivel tentar uma abordagem transdisciplinar sem que os docentes envolvidos no processo tenham condies de trabalho compatveis. De igual modo, a integrao de discentes de diferentes reas em um mesmo contexto demanda flexibilidade curricular e sistemas de gesto acadmica compatveis com esta flexibilidade. Recursos relacionados ao deslocamento dos discentes para a realizao de visitas ou atividades extraaula, e, para a vinda de convidados e colaboradores externos devem ser considerados a fim de garantir uma relao com contextos reais de aprendizagem.

    O planejamento do ensino-aprendizagem transdisciplinar demanda uma ampla discusso e negociao entre os docentes envolvidos para selecionar e definir o contedo programtico a ser trabalhado. No se trata, pois, de reunir contedos diversos e dspares sob a gide de um curso, mas de mapear temticas que potencialmente tratem das problemticas postas pela sociedade e que possam ser solucionadas pela

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    comunho de esforos. Harden (2000), que faz uma anlise de onze possveis abordagens de educao integrando diferentes reas do conhecimento, coloca a educao transdisciplinar como o grau mais elevado e, portanto, mais elaborado, de uma possvel integrao. Especificamente, no caso da relao tecnologia e informao em sade, algumas temticas so de potencial interesse, como: conjunes e disjunes entre informtica, informao e sade; sistemas de sade; ateno primria, secundria, terciria e quartenria em sade; dados em sade, informao em sade, e conhecimentos em sade; dimenso poltica e social de sistemas de informao em sade; arquiteturas de sistemas de informao em sade; interoperabilidade entre sistemas de informao em sade; linguagens empregadas na sade; documentos produzidos no contexto da sade; pronturio eletrnico do paciente; organizao, recuperao e acesso informao em sade; tica da informao em sade; qualidade da informao em sade; segurana da informao em sade; preservao da informao em sade; custos de sistemas de informao em sade; avaliao de sistemas de informao em sade; mtodos de pesquisa cientfica relacionados informtica e informao em sade; gesto de sistemas de informao em sade; sistemas de informao bibliogrfica em sade; sistemas de informao clnica; sistemas de informao epidemiolgica; sistemas de informao para a gesto em sade; eHealth e telemedicina; redes sociais e sade; direito informao em sade, etc.

    A discusso e problematizao de qualquer temtica acima relacionada requerem embasamento terico. Motivo pelo qual se integra ao modelo proposto o acesso contnuo a bibliotecas, bases de dados nacionais e internacionais de qualidade, ou seja, que possuam impacto acadmico e cientfico, a fim de que os envolvidos (docentes e discentes) na proposta transdisciplinar possam realizar a prospeco de informao atualizada ou retrospectiva, bem como compartilhar seus embasamentos tericos com o grupo, ao longo de todo o processo de ensino-aprendizagem. Deste modo, espera-se que os discentes alcancem um grau de competncia informacional (COBUS, 2008) que lhes permita exercitar a prtica transdisciplinar, no apenas ao longo do curso, mas tambm em sua carreira profissional. Esta condio fundamental para que as discusses a serem realizadas caminhem dentro de um patamar acadmico. O acesso a esses recursos deve ser garantido institucionalmente.

    O modelo proposto contempla ambientes reais e virtuais de integrao entre docentes, entre docentes e discentes, e entre discentes e discentes. No caso especfico dos docentes, estes precisaro estar em contato dirio ou semanal, a depender das caractersticas do curso proposto, a fim de discutir o planejamento, o andamento, e o encerramento do curso e negociar sobre vrias questes como mtodos de ensino, avaliao contnua discente, dissoluo de conflitos que possam vir a existir, bem como sobre os recursos pedaggicos adicionais demandados ao longo do curso. Tal forma de interao entre docentes fundamental para que o curso ganhe em consistncia e para que a

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    atuao docente influencie positivamente os discentes em busca do dilogo, negociao e compartilhamento de conhecimentos. No que se refere interao docente e discente, muito comumente, ela ocorre exclusivamente em sala de aula. Todavia, o presente modelo prope que os docentes e discentes possam se comunicar fora da sala de aula. Para transformar esta proposta ideal em uma situao concreta, muitos recursos podem ser utilizados como plataformas tecnolgicas educacionais e institucionais nas quais tanto o docente como o discente possam se comunicar sincrnica ou assincronicamente. Tais plataformas tecnolgicas tambm podem ser empregadas na comunicao discente e discente, mas no caso destes devem ser previstos espaos adicionais de interao, para trabalho em grupo e intercmbio de ideias. Pelo exposto, pode-se afirmar que o modelo proposto preconiza uma abordagem pedaggica hbrida, ou seja, com ambientes presenciais e virtuais de interao que maximizem o potencial comunicativo do grupo.

    Deve-se considerar, no entanto, que plataformas tecnolgicas para fins pedaggicos nem sempre so conhecidas e usadas por docentes e discentes, que devem, nas palavras de Ertmer (1999), vencer as barreiras tecnolgicas de primeira (externas, institucionais) e de segunda (internas, pessoais) ordem. Em situaes como esta, funcionrios habilitados e designados pela instituio podero oferecer treinamento para discentes e docentes, ou mesmo, prestar apoio tcnico para o desenvolvimento do curso.

    No que se refere aos mtodos de ensino, estes devem privilegiar o dilogo e a pr-atividade dos discentes, pois a transdisciplinaridade uma construo contnua e coletiva na qual a troca de informao condio essencial (GODEMANN, 2008). Neste contexto so favorecidas as discusses em grupo, seminrios, debates e entrevistas, em detrimento de abordagens que privilegiam principalmente aulas expositivas. Como observam Dale, Newman e Ling (2010), a construo de equipes transdisciplinares depende de muitas reunies, pois muito esforo investido em conectar as disciplinas, perspectivas, compartilhamento dos arcabouos intelectuais e mesmo no desenvolvimento da linguagem comum em torno das questes essenciais de pesquisa ou ensino que sero trabalhadas.

    Considerando que o contexto de ensino-aprendizagem transdisciplinar requer a interao de pessoas de diferentes reas, com costumes, perspectivas, crenas e linguagens distintas, algumas convenes comunicacionais, pautadas nos cdigos de tica dos campos de conhecimento e das instituies envolvidas, devem ser estabelecidas para que o dilogo e o respeito diversidade humana seja garantido. Tais convenes podem ser estabelecidas a priori pelos docentes ou serem negociadas conforme surjam situaes conflitivas. Como bem observam Ho et al. (2008), o estabelecimento das interfaces entre contextos sociais e entre as prticas profissionais um dos principais desafios da educao envolvendo profissionais de mltiplas reas.

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    3 Analisando o modelo

    Para avaliar o modelo proposto de ensino-aprendizagem transdisciplinar, ofereceu-se um curso com 60 horas de durao tendo por pblico-alvo estudantes e profissionais das reas de conhecimento cincia da informao e tecnologia da informao. O curso foi dirigido por dois docentes, um de cada rea do conhecimento, que acompanharam conjuntamente todas as etapas envolvidas no seu planejamento e oferta, interagindo e colaborando continuamente de forma a garantir o desenvolvimento transdisciplinar dos temas, como recomendado por Domik e Fischer (2010). O ttulo escolhido para denominar esse curso, Tecnologia e Informao em Sade, procurou evidenciar a perspectiva adotada, na qual tecnologia e informao esto no mesmo nvel de importncia, diferenciando-se da conceituao mais usual do termo tecnologia da informao, no qual a existncia de contedos informacionais fica apenas implcita e dependente dos conhecimentos cognitivos prvios da pessoa interpretante.

    Duas instituies educacionais de ensino superior foram envolvidas na oferta do curso. Tal opo, decorrente da disponibilidade de cooperao entre os docentes dessas diferentes instituies, foi uma alternativa que se mostrou mais vivel que estabelecer parcerias dentro de uma nica instituio. No entanto, foi necessrio que os docentes responsveis assumissem a realizao de ajustes locais, como a adequao do perodo de oferta das aulas.

    Como bem observa Godemann (2008), a estrutura das universidades permanece altamente especializada e no orientada para a cooperao e para o trabalho interinstitucional conjunto.

    Para superar a distncia geogrfica entre as duas instituies, foram utilizados, alm das salas de aula de cada instituio, recursos tecnolgicos nelas existentes, como equipamentos de videoconferncia para conexo dos grupos durante todas as aulas, conforme indicado na figura 3.

    Alm das atividades sncronas realizadas durante as aulas, o planejamento pedaggico para a disciplina considerou a necessidade de utilizar um ambiente de apoio para permitir a interao assncrona entre docentes e discentes, bem como para manter os registros de atividades e a produo discente. Para tal fim, foi utilizada uma plataforma pedaggica com recursos para divulgao de agenda de atividades; disponibilizao dos textos integrais adotados; formao de grupos; entrega de trabalhos discentes; e troca de mensagens por correio eletrnico.

    Definidas a temtica do curso e as instituies envolvidas, outro aspecto a destacar foi a seleo do pblico-alvo em cada instituio. Em ambas as instituies, o curso poderia ser oferecido em nvel de graduao ou de ps-graduao. Alguns autores, como Domik e Fischer (2010), defendem que a transdisciplinaridade seja trabalhada apenas no nvel de ps-graduao, quando os discentes teriam formao e maturidade para lidar com as questes transdisciplinares. Outros, como Rapport (1998), defendem que o momento de ensinar a

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    transdisciplinaridade no depende da maturidade dos alunos e, na verdade, o pensamento transdisciplinar deve ser ensinado em todos os nveis educacionais. A opo dos docentes responsveis foi de mesclar alunos dos ltimos anos de graduao com alunos de ps-graduao, tendo como principal motivao o fato de que negar aos alunos de graduao o contato com o pensamento transdisciplinar pode significar formar profissionais pouco preparados para as situaes que enfrentaro no mundo real. Assim, em uma instituio o curso foi oferecido primariamente a alunos de graduao do campo da informao, j nos ltimos anos de formao, com a opo de participao de ps-graduandos, enquanto na outra instituio o curso foi oferecido na ps-graduao do campo da tecnologia, com opo de participao de alunos de graduao.

    Figura 3 Avaliao do modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar.

    Em relao ao planejamento do curso, os docentes selecionaram, entre as temticas de comum interesse, dez que pudessem ser trabalhadas pelos alunos no perodo de oferta do curso, de quinze semanas. Neste caso, optou-se por cobrir um leque de temas suficiente para a promoo do dilogo, e do ensino, aprendizagem e pesquisa transdisciplinar, embora cada tema pudesse ser objeto nico de aprofundamento no curso, como ocorre embora no com o mesmo carter transdisciplinar da presente proposta em outras instituies (UNIVERSITY, 2010). Tal abordagem pode ser caracterizada pelo termo primeiro em largura (do ingls breadth-first), indicada por Domik e Fischer (2010) como adequada para iniciar estudantes na abordagem transdisciplinar.

    Para cada tema selecionado, dois aspectos foram considerados pelos docentes no planejamento da disciplina. O primeiro consistiu no levantamento de questes reais associadas a cada tema, questes essas derivadas da vivncia dos prprios docentes em projetos na rea e da interao com outros profissionais, ligados s instituies educacionais ou externas. O segundo aspecto consistiu na reviso da literatura para a

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    definio da bibliografia a ser empregada como base para discutir essas questes e para o estabelecimento do dilogo, considerando fontes de informao relevantes das trs reas envolvidas (informao, informtica e sade). Considerando a experincia do docente em cada rea, partiu-se para a busca de um consenso em relao s abordagens que seriam favorecidas em cada tema e dos textos que seriam empregados. Houve negociao a fim de selecionar textos que pudessem ser inteligveis aos discentes das duas reas do conhecimento, sem perder a qualidade e a pertinncia associadas aos objetivos propostos. Para alguns temas foi possvel adotar um nico texto base, a partir do qual as diferentes vises seriam trabalhadas. Em outros, adotou-se mais de um referencial terico de base de modo a contemplar as linguagens de cada rea. Como bem destacam Pereira e Funtowicz (2006), o exerccio da transdisciplinaridade requer mais que o simples reconhecimento de diferentes perspectivas; ele requer uma harmonizao de linguagens e uma contextualizao social, cultural e poltica. O quadro 1 apresenta os temas, textos bases adotados e exemplos de problemas que foram trabalhados em cada tema.

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    Quadro 1 Temas, textos base e exemplos de problemas

    Temas Textos base Exemplos de problemas relacionados Congruncia entre informtica e informao na sade

    CHIASSON, M. et al. Expanding multi-disciplinary approaches to healthcare information technologies: what does information systems offer medical informatics? Int J Med Inform, 76(Suppl.1):S89-97, 2007

    Nas instituies de sade quais so as competncias a serem assumidas pelos profissionais da informao e da informtica? Como elas se diferenciam e se complementam?

    Conceitos de dados, informao e conhecimento em sade

    CHEUNG, K. et al. HCLS 2.0/3.0: Health care and life sciences data mashup using Web 2.0/3.0. J Biomed Info, 41(5):694-705, 2008 ZINS, C. Conceptual approaches for defining data, information, and knowledge. J Am Soc Inform Sc, 58(4):479-93, 2007

    H, nas instituies de sade, uma confuso e disperso generalizada entre a produo de dados, informao e conhecimento em sade, com impacto para a qualidade dos sistemas de informao em sade, propriamente ditos, para a assistncia em sade, para a pesquisa e gesto em sade.

    Arquiteturas de sistemas de informao em sade

    HAUX, R. Health information systems: past, present, future. Int J Med Inform, 7(3/4):268-81, 2006

    No contexto nacional e internacional, existe uma multiplicidade de arquiteturas empregadas em sistemas de informao em sade. Quais so suas caractersticas e como otimiz-las?

    Linguagens de especialidade em sade

    GARCA-JIMNEZ, A. Instrumentos de representacin del conocimiento: tesauros versus ontologas. An Documentacin, 7:79-95, 2004 FREITAS, F.; SCHULZ, S.; MORAES, E. Pesquisa de terminologias e ontologias atuais em biologia e medicina. RECIIS, 3(1):8-20, 2009

    Nos pases anglo-saxnicos ricos existem muitas terminologias sistematizadas e atualizadas que podem e so empregadas nos sistemas de informao em sade. Como atingir este patamar nos pases de idiomas minoritrios, nos pases subdesenvolvidos ou em desenvolvimento?

    Estruturas de documentos em sade

    HYRINEN, K.; SARANTO, K.; NYKNEN, P. Definition, structure, content, use and impacts of electronic health records: a review of the research literature. Int J Med Inform, 77(5):291-304, 2008

    Muitos dos documentos produzidos nas instituies de sade so desconhecidos por alunos do campo da informao e do campo da informtica. Conhecer estes documentos, seus contedos informacionais, suas estruturas e suas funes comunicativas um passo importante para o planejamento de futuros sistemas de informao que possuam alguma aderncia dos usurios da informao.

    Integrao de sistemas de informao em sade

    EYSENBACH, G. Medicine 2.0: social networking, collaboration, participation, apomediation, and openness. J Med Int Res, 10(3):22, 2008

    Quais as metodologias existentes para viabilizar a integrao tecnolgica e a interoperabilidade semntica dos sistemas de informao em sade?

    Organizao e recuperao da informao em sade

    PFEIFFER, K.; GBEL, G.; LEITNER, K. Demand for intelligent search tools in medicine and health care. In BLANKEN, H. et al. (Orgs): Intelligent Search on XML Data, p.5-18. Heildelberg/Berlin:Springer, 2003

    Grande parte dos sistemas de informao em sade no contemplam modelos de recuperao da informao, ou seja, so focados na entrada e no na sada de dados, ou no uso da informao. Quais modelos de recuperao da informao podem ser aplicados neste contexto?

    Segurana da informao em sade

    GRITZALIS, S. et al. Technical guidelines for enhancing privacy and data protection in modern electronic medical environments. IEEE Trans Inform Tech in Biomed, 9(3):413-23, 2005

    Alguns sistemas de informao em sade trazem informaes privadas que em se tornando pblicas podem causar vrios danos pessoais, institucionais ou sociais. Assim, quais so os modelos de segurana da informao mais adequados para este contexto?

    Preservao da informao em sade

    CORN, M. Archiving the phenome: clinical records deserve long-term preservation. J Am Med Inform Assoc, 16(1):1-6, 2009

    A perda de informao de sade pode causar prejuzos pessoais, institucionais, polticos, sociais e cientficos. Por outro lado, hardware e software possuem vulnerabilidades. Como propiciar uma preservao da informao em sade em curtos, mdios e longos perodos? Que critrios assistenciais, informacionais e tecnolgicos devem ser considerados?

    Qualidade e custos na implantao e manuteno de sistemas de informao em sade

    JHA, A. K. et al. Use of electronic health records in U.S. hospitals. New Eng J Med, 360(16):1628-38, 2009 PATRICK, J. A Critical essay on the deployment of an ED clinical information system: systemic failure or bad luck? (Ensaio.) Universidade de Sydney, Austrlia, 2009 SILVA, F. G.; TAVARES-NETO, J. Avaliao dos pronturios mdicos de hospitais de ensino do Brasil. Rev Bras Educ Med, 31(2):11326, 2007

    Recursos aplicados em sistemas de informao em sade so retirados da aplicao direta na sade. Assim, preciso pensar em solues informacionais e tecnolgicas viveis e funcionais para cada contexto. Algumas empresas propem solues incompatveis com os problemas existentes nas instituies de sade. Como agir dentro de uma tica profissional, propondo solues adequadas? Como avaliar solues e projetos de informatizao no contexto da sade?

    O cronograma definido para o andamento do curso compreendeu duas semanas iniciais para adequao dos alunos ao modelo proposto; uma semana (em mdia) para a discusso de cada tema; avaliao contnua da disciplina e dos discentes; e um momento para o encerramento do curso. A dinmica planejada para a discusso de cada tema foi: leitura prvia pelos discentes do texto ou textos indicados como base para o tema; apresentao do tema pelos docentes contemplando base terica, esclarecimentos e discusses relativas ao texto base, bem como questes a serem trabalhadas pelos discentes para aprofundar a

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    temtica; trabalho realizado pelos discentes, conforme a indicao dos docentes em aula; apresentao pelos discentes dos resultados obtidos em suas pesquisas de aprofundamento, com discusso entre os pares; e anlise dos resultados obtidos pelos discentes e fechamento do tema pelos docentes. Tal dinmica foi elaborada para promover a busca pela informao de qualidade, pela interao e pela capacidade de comunicao com profissionais de outras reas, competncias consideradas essenciais no contexto transdisciplinar e para a atuao do profissional do sculo XXI.

    Para que os discentes adquirissem as habilidades necessrias ao exerccio transdisciplinar, o planejamento de atividades extraclasse foi organizado de forma a que eles as adquirissem gradualmente, medida que os temas fossem trabalhados. Assim, nos primeiros temas os discentes fizeram, individualmente, o estudo de artigo indicado pelos docentes, enquanto que nos ltimos temas os discentes realizaram, em grupos transdisciplinares, a pesquisa autnoma usando as bases de dados e fontes informacionais disponibilizadas pelas instituies. Em todas essas etapas, foi planejada a apresentao dos resultados aos pares, na forma escrita e verbal.

    Concluda a programao para o desenvolvimento do curso, a prxima etapa foi sua divulgao aos potenciais interessados. Em uma instituio, essa divulgao foi realizada pelos meios convencionais de divulgao dos cursos de ps-graduao, pela sua incluso na lista de cursos oferecidos na pgina web e em quadros de aviso da ps-graduao, sendo disponibilizadas vinte vagas. Na outra instituio, o curso foi divulgado pela lista de discusso dos alunos, sendo ofertadas, em carter experimental, oito vagas para alunos ouvintes e que desejassem cursar a disciplina como atividade extracurricular.

    A programao do curso tambm previu a participao de profissionais e docentes provenientes da rea da sade que aceitaram o convite para colaborao no curso. Dessa forma, alm dos docentes responsveis, participaram do curso de forma espordica (para palestras e/ou entrevistas) ou contnua (acompanhamento das aulas pela Web) profissionais e docentes envolvidos com enfermagem, medicina, sade pblica, epidemiologia e gesto da sade, alguns dos quais provenientes de hospitais universitrios e instituies de pesquisa da rea da sade. Os docentes responsveis tambm previram e incentivaram que os discentes visitassem instituies de sade. Efetivamente, muitos deles se empenharam em concretizar este objetivo de forma voluntria, procurando a interao com clnicas especializadas, hospitais e outros profissionais da sade, conforme representado na figura 3.

    Finalizada a primeira oferta do curso, fez-se uma avaliao entre docentes e discentes, que culminou com o planejamento de uma segunda oferta do curso nos mesmos moldes. No entanto, considerando os conhecimentos prvios dos alunos, os docentes ajustaram a sequncia de temas, incluindo uma discusso sobre o impacto do uso da informao por profissionais da sade, com algumas atualizaes na bibliografia de base. Um aluno doutorando da rea de sade, participante do programa de

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    estgio docente, acompanhou todas as aulas presencialmente e os debates por meio da plataforma pedaggica, garantindo assim a interao contnua com um profissional da sade. Alm disso, nesta segunda oferta, incluiu-se este curso como atividade regular nas duas instituies.

    Durante as duas ofertas do curso, os docentes responsveis se reuniram semanalmente, antes e depois de cada aula, para definir as aes e avaliar os resultados alcanados. Como subsdio para definir e avaliar, os docentes consideraram as comunicaes orais realizadas em sala de aula por todos os atores, assim como as comunicaes registradas na plataforma pedaggica por meio de mensagens, fruns de discusso e trabalhos realizados pelos discentes de forma individual ou coletiva e disponibilizados em seus respectivos portflios.

    4 Resultados

    Conforme preconizado no mtodo de pesquisa-ao, aps cada ciclo de pesquisa possvel avaliar, de forma consciente e sistemtica, os processos, as mudanas ou as atividades desenvolvidas. Conceitualmente, a abordagem transdisciplinar se mostrou adequada para o ensino-aprendizagem em tecnologia e informao em sade. Embora, tal abordagem demande por recursos variados, nem sempre disponveis em todas as instituies de ensino. Por outro lado, observa-se que h muitas instituies que no utilizam plenamente os recursos existentes por motivos de vrias ordens, incluindo os das culturas historicamente estabelecidas, como assinala Gibbons (1998).

    No que tange ao modelo proposto na figura 2, a estratgia para sua avaliao teve que considerar as especificidades institucionais, dentre as quais a insipiente cultura cooperativa, o modo de gesto acadmica e o estado atual de currculos, ainda focados na disciplinaridade. Tais observaes demandaram a criao de um modelo de avaliao especfico, conforme apresentado na figura 3. Dessa forma, como soluo para a interao transdisciplinar, duas instituies de ensino com competncias diferenciadas trabalharam conjuntamente, alm do apoio de outras instituies do campo da sade. Tal cooperao se mostrou benfica, pois as trocas de informao e conhecimentos foram intensas para todas as instituies e atores envolvidos.

    Como resultado deste ciclo de pesquisa-ao, h que se destacar que o modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar no pode ser esttico e seguir um fluxo de interao nico e pr-determinado. Seu estabelecimento demanda assim flexibilidade em busca de solues para sua implementao, conforme demonstrado por meio do modelo de avaliao.

    Alm das constataes anteriores, a implementao do modelo gerou transformaes acadmicas diversas. Dentre elas, destaca-se o estabelecimento de um dilogo contnuo entre os atores, no ambiente da sala de aula, por meio de videoconferncia durante a aula e fora dos horrios oficiais de aula, por meio de chats e correio eletrnico, a fim de discutir o andamento e os contedos do curso, bem como discutir e

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    analisar criticamente projetos atuais em andamento e projetos para futura cooperao. Assim, estabeleceu-se um elo de transdisciplinaridade com continuidade.

    Dentre os relatos dos discentes, os principais ganhos obtidos durante a avaliao do modelo, por meio da oferta de cursos, foram a superao de preconceitos entre as reas, um incremento na facilidade de comunicao verbal e escrita, e uma conscientizao coletiva da necessidade de se pensar os sistemas de informao em sade de forma no disciplinar. Neste sentido, de uma relao e uma comunicao interpessoal inicial relativamente tmida, talvez calcada em estranhamento mtuo com traos de baixa-estima, houve um processo de incluso no qual todos j se sentiam um pouco mais a vontade para expor seus conhecimentos e demandar esclarecimentos quando do surgimento de dvidas sobre sua prpria rea ou das outras reas. Igualmente, houve um incremento gradativo na realizao de intervenes crticas e de discordncia, mas que ao final buscavam por consensos que fossem adequados para ambas as reas.

    A participao de convidados provenientes das reas de sade foi positiva, com os discentes mostrando-se receptivos e manifestando suas vises por meio de perguntas ou observaes. Tais participaes foram extremamente relevantes na medida em que esclareceram aos discentes a necessidade da formao de equipes multiprofissionais para a soluo dos problemas em sade. No que se refere forma de interao, ressalta-se que as participaes de convidados que surtiram melhor impacto cognitivo foram realizadas por meio de entrevistas, j que pode-se canalizar a resoluo de dvidas que exigiam uma resposta transdisciplinar, e que dificilmente seriam contempladas por meio de uma palestra. Tal situao ratifica que os mtodos de ensino a serem usados numa abordagem transdisciplinar devem potencializar as oportunidades de dilogo. Cabe observar que os convidados mostraram-se positivamente surpresos em relao novidade da proposta e receptivos a novas colaboraes.

    Ainda na dimenso comunicacional, observou-se que a competncia lingustica, seja na lngua materna, seja em lngua estrangeira, um fator de sucesso no contexto transdisciplinar, j que este exige de seus atores habilidade na compreenso, traduo e representao conceitual monolngue e multilngue. No caso especfico da informao e tecnologia em sade, os conhecimentos disponveis esto dispersos em fontes informacionais e idiomas variados, como pode ser observado no conjunto de referncias do quadro 1. Por tal circunstncia, observou-se que a capacitao lingustica um quesito essencial para o desenvolvimento transdisciplinar nas instituies de ensino.

    Durante o ciclo de avaliao do modelo, a fim de estabelecer uma comunicao mais embasada, os docentes orientaram em vrios momentos os discentes para que estes incrementassem suas competncias informacionais, incluindo prospeco, seleo, anlise critica e comunicao da informao para o grupo. Percebeu-se que embora sendo discentes do contexto da informao e da informtica, poucos efetivamente tinham experincia em busca metodolgica por informao tcnica e cientfica. A

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    fim de suprimir estas deficincias, foram realizadas algumas explanaes sobre estratgias de busca e anlise metodolgica da informao. Com o andamento do curso, em ambas as ofertas, percebeu-se um incremento dos discentes na busca por referenciais tericos que melhor embasassem suas formas de pensar. Assim, iniciou-se uma habilitao dos discentes para a educao e pesquisa contnua, calcada na competncia informacional requisito indispensvel no mbito da informao e tecnologia em sade, j que estas reas possuem substanciais atualizaes diacrnicas.

    No que tange as convenes comunicacionais, os docentes tiveram que harmonizar a terminologia empregada durante o curso para que todos os alunos pudessem compreender alguns contedos (verbais escritos e verbais orais). Esta harmonizao foi fundamental para o desenvolvimento de algumas temticas, sobretudo daquelas nos quais os textos base eram muito especializados. Dada a forte interao do grupo, foi necessrio estabelecer um protocolo para o uso do microfone durante as aulas, para que todos tivessem a oportunidade de manifestar suas opinies.

    Os equipamentos utilizados para conexo das instituies durante as aulas foram de excelente qualidade, seguindo padres internacionais de videoconferncia, viabilizando boa interao em udio e vdeo e funcionando dentro da normalidade. Eventuais problemas foram solucionados pela equipe tcnica de apoio ou pelos docentes. Alm dos equipamentos, destaca-se que a equipe tcnica de apoio foi constituda, na primeira oferta, por quatro funcionrios especializados em videoconferncia, dos quais dois com ps-graduao. Na segunda oferta, o apoio dos funcionrios foi flexibilizado j que os docentes envolvidos no processo conheciam os equipamentos disponveis.

    Em relao ao cronograma do curso, entende-se que o tempo de adaptao proposta deva ser ampliado, j que se faz necessria uma transposio gradativa da cultura disciplinar para a cultura transdisciplinar. Este tempo poder ser diminudo ou eliminado em contextos futuros, quando a cultura da transdisciplinaridade esteja mais enraizada nas instituies de ensino.

    Em sntese, os resultados obtidos neste ciclo de pesquisa-ao reiteram o modelo proposto, bem como a necessidade de integrao entre as reas de tecnologia e informao em sade, no contexto acadmico e profissional, para maior benefcio da sociedade. Embora exista um grande nmero de barreiras e culturas estabelecidas, incluindo as formas rgidas de avaliao do docente e do discente, possibilidades restritas para se avanar em carreiras no convencionais, e a pouca experincia em propostas transdisciplinares (FADEEVA, MOCHIZUKI, 2010), universidades podem ser propiciadoras da transdisciplinaridade. Para tanto, gestores, docentes e discentes devem ser preparados, estimulados e empenharem-se para olhar alm de suas prprias fronteiras, para a auto-reflexividade, para se envolverem em um processo de integrao do conhecimento de forma crtica e para assumir novas posturas e idias (GOODEMAN, 2008). Dessa forma, um requisito para o sucesso da transdisciplinaridade que os participantes (gestores, docentes e discentes) estejam dispostos a se

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    envolver em novos modos de pensar e agir, assumam uma atitude humilde para com a imensido de conhecimentos e superem o sentimento de ameaa interior em relao ao ponto de vista do outro. A eficcia das relaes maior quando os participantes atuam como profissionais e tomadores de risco intelectual, confiam em seus prprios papis e identidades profissionais, respeitam uns aos outros como iguais, e compartilham responsabilidades, conhecimento e autonomia com os demais (WALL, SHANKAR, 2008).

    5 Concluso

    Este trabalho props e analisou, por meio de uma metodologia qualitativa, um modelo de ensino-aprendizagem transdisciplinar que se mostrou factvel para o contexto de sua avaliao, ou seja, conclui-se o estudo validando-se a hiptese inicial. No entanto, entende-se que novas pesquisas em mesmo contexto e em contextos diferentes podero incrementar o modelo proposto, delineando variveis quantificveis e comparveis longitudinalmente.

    Tal concluso reiterada por Creswell e Clark (2007) ao explicarem que o papel do pesquisador difere substancialmente na pesquisa qualitativa e na pesquisa quantitativa. Na pesquisa qualitativa, as reflexes, experincias e concepes do pesquisador esto na linha de frente guiando suas interpretaes e consideraes durante o desenvolvimento da pesquisa. Assim, o relato de pesquisa carrega, de forma muitas vezes explcita, os preconceitos e posicionamentos do pesquisador. Para garantir a acurcia do relatrio de pesquisa qualitativa, as discusses podem ser retomadas com os sujeitos de pesquisa, com outros investigadores, com pares ou auditores externos a fim de que checar detalhes e rever todas as fases do estudo. Na pesquisa quantitativa, o pesquisador considera largamente os resultados de pesquisas anteriores e tenta estabelecer muitos estgios para reduzir os resultados inteis derivados, por exemplo, de instrumentos de coleta de dados com palavras imparciais e susceptveis de conduzir a certas respostas. Na modalidade de pesquisa quantitativa, a acurcia e a validade no esto relacionadas aos sujeitos de pesquisa, mas nas provas acumuladas que suportam a interpretao dos escores de teste para um objetivo especfico. Tais provas abarcam a anlise da estrutura interna de um teste, as anlises tericas e empricas das respostas, a relao entre escores e variveis externas, e a anlise das consequncias intencionais e no intencionais do teste usado. Dessa forma, a combinao de dados provenientes de pesquisas qualitativas e quantitativas fornece um panorama mais completo, abarcando, de um lado, mais fortemente as perspectivas dos sujeitos participantes e, de outro, o conhecimento j acumulado por geraes. Outras situaes nas quais as abordagens qualitativa e quantitativa podem ser complementares ocorrem quando, por exemplo, desenvolve-se uma pesquisa qualitativa para explorar uma situao da qual se desconhecem variveis, taxonomias, testes de

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    aplicao ou escores. Assim, a pesquisa qualitativa pode ser um ponto de partida para estudos em larga escala (CRESWELL, CLARK, 2007).

    Neste sentido, o presente trabalho trouxe contribuies importantes ao apontar parmetros que precisam ser considerados no contexto educacional transdisciplinar, como a competncia lingustica, a harmonizacao de conceitos, o estabelecimento de padres ticos comuns, a distncia entre a linguagem dos textos adotados como base e a linguagem da rea dos discentes e profissionais envolvidos, e a relao entre as questes discutidas na instituio de ensino com aquelas provenientes do contexto externo.

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