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98 O PAPEL abril • 2001
ResumoOs aços inoxidáveis utilizados na fa-
bricação de máquinas desaguadoras e de
secagem de celulose possuem resistên-
cia frente à corrosão, devido à formaçãode uma película superficial de óxidos
aderentes, compactos e insolúveis, cha-
mada camada passiva, que protege o
material contra o ataque corrosivo domeio. Quando o meio é capaz de causar
instabilidade desta película, o aço ino-
xidável perde sua resistência e pode pas-
sar a sofrer uma corrosão severa.
O presente trabalho apresenta os pro-
cedimentos de limpeza e passivação da
Máquina de Secagem 3 da Cenibra, efe-
tuado pela equipe técnica da Logos con-
juntamente com a Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo (USP).
IntroduçãoA Máquina de Secagem 3 (MS III),
da Cenibra, já vinha apresentando pro-
blemas de corrosão. Periodicamente, por
ocasião das paradas programadas, eram
efetuadas limpezas com um produto re-
Limpeza e passivaçãode máquinas de secagemde celulose – caso prático
* Celulose Nipo-Brasileira S/A – Cenibra, Belo Oriente, MG, Brasil** Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da Universidade deSão Paulo (USP)*** Logos Química Ltda.
*Francisco C. Freire**Deniol K. Tanaka***Luigi Pepe***Daniel A. Marques
tainless steels for the pulp drying
and dewatering machines cons-
truction are corrosion resistant due to the
formation of a compact and unsolvable
oxides film adhered to the surface and re-
ferred to as passivated layer which acts as
a protective barrier against the surroun-
ding corrosive medium. When this surroun-
ding medium overcomes the protective
layer stability, stainless steel looses its re-
sistant condition and could undergoes se-
vere corrosion.
This paper presents Cenibra’s Nº 3 Pulp
Drying Machine cleaning and passivation
procedures, a work performed by the tech-
nical staff of Logos Química Ltda. in clo-
se cooperation with the Polytechnic Scho-
ol of the São Paulo State University.
Key-words: Austenitic stainless steel, pas-
sivation, pulp drying machines, corrosion
inhibitors.
SAbstractAbstractAbstractAbstractAbstract
Cleaning and passivation of pulp drying machines – case historyLimpieza y pasivación de máquinas de secado de celulosa - caso práctico
Palavras-chave: aços inoxidáveis austeníticos, passivação, máquinas secadoras de
celulose, inibidores de corrosão.
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comendado pelo fabricante dos equipa-mentos, mas após curto período de tem-
po, as manchas e produtos de corrosão
voltavam a aparecer. Através de contatos
iniciados com a equipe que opera a má-
quina, foi proposto um trabalho de lim-peza, passivação e aplicação de inibido-
res de corrosão para garantir a integrida-
de do material construtivo da máquina.
Como a literatura[3 a 6] em aços inoxi-dáveis, dos fabricantes, corrosionistas e
da indústria metalúrgica, indicam os pro-
cedimentos generalizados de prepa-
ro, limpeza e passivação de aços inoxi-
dáveis em meios corrosivos, porém, semdefinir um procedimento específico para
cada liga. Mais ainda, não indica o pro-
cedimento que se deve tomar para
meios relativamente agressivos, quandoo material já foi submetido à ação corro-
siva, com ocorrência da corrosão locali-
zada do tipo pite.
No caso específico da Máquina de
Secagem no 3, MS III, da Cenibra, queapresentava um estado avançado e in-
tenso de corrosão em frestas e por pites,
houve a necessidade de desenvolver um
programa de limpeza, passivação e con-trole da ação corrosiva do meio (água
branca). Este programa foi desenvolvi-
do a partir de estudos e ensaios labora-
toriais no Laboratório de Fenômenos deSuperfícies – LFS da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo – EPUSP,
e posteriormente em escala experimen-
tal, pela Logos Química Ltda. e Ceni-
bra, com o acompanhamento da EPUSP.O programa inicial, na própria planta da
Cenibra, mostrou-se promissor, no en-
tanto, devido ao estágio relativamente
avançado da corrosão por pites, houvenecessidade de ajustes e aprimoramen-
to. Após o período de ajuste, adotou-se
um esquema de procedimentos que é
apresentado neste trabalho. Este traba-
lho apresenta os procedimentos de lim-peza e passivação que foram aplicados
na máquina em questão.
ProcedimentosOs procedimentos para limpeza e
passivação de aços inoxidáveis austenís-
ticos podem ser assim divididos:
Limpeza mecânicaA primeira operação de limpeza con-
siste na remoção mecânica dos produtos
de corrosão, utilizando-se escovas de cer-
das poliméricas ou de aço inoxidável. Esteprocedimento não é capaz de remover os
produtos mais aderentes e, neste caso, há
a necessidade de utilização de lixas d’água
de carboneto de silício (SiC).
Neste passo é necessário atentar paraos seguintes cuidados[4, 5]:
• nunca utilizar-se de materiais de
aço carbono ou liga diferente de aço
inoxidável;• usar água, isenta de ferro e clore-
tos, em abundância, mantendo o metal
molhado;
• efetuar todos os procedimentos
manualmente, evitando o aquecimen-to do metal.
Decapagem ácidaA decapagem ácida, ou limpeza quí-
mica, tem por objetivo eliminar os pro-
dutos de corrosão extremamente ade-
rentes à superfície metálica, ou aqueles
formados durante o lixamento, prove-nientes da exposição do metal ativo à
água de lixamento. Este óxido, forma-
do durante o lixamento, apresenta pro-
priedades físico-químicas diferentes da
película passiva, não oferecendo cara-terísticas protetoras e, portanto, deve
ser eliminado. Assim, a literatura su-
gere a decapagem de aços inoxidáveisausteníticos da série 300[3], soluções
ácidas, cuja composição está apresen-
tada na Tabela 1.
PassivaçãoApesar dos aços inoxidáveis auste-
níticos possuírem elevada capacidade
de autopassivação, e como a superfí-cie decapada apresenta atividade ele-
vada, e, portanto, não apresentando
resistência adequada à corrosão, há a
necessidade da passivação. A literatu-
ra sugere inúmeras alternativas para osprocedimentos de passivação e, no pre-
sente caso, foram selecionadas solu-
ções à base de ácido nítrico com ou sem
soluções de dicromato de sódio[3], con-forme a tabela 2.
Definição do procedimentoespecífico para o caso Cenibra
A composição das soluções, bem
como o procedimento de limpeza e pas-
sivação, depende da composição real
do aço inoxidável. Variações na com-
posição química do aço podem deman-dar alterações significativas na com-
posição e/ou tempo de tratamento quí-
Tabela 2. Procedimentos de passivação para aços AISI série 300
A B C Uni.HNO
320 a 50 20 a 40 20 a 40 %
Na2Cr
2O
7- 2 a 6 2 a 6 %
Água q. s. p. q. s. p. q. s. p. %
Temperatura 21 a 38 49 a 71 21 a 38 °CTempo 30 a 60 10 a 30 30 a 60 Min.
Tabela 1. Especificações parasolução de decapagem ácida de açosAISI série 300
HNO3
6 a 25 %
HF 0,5 a 8 %
Água q. s. p.
Temperatura 21 a 60 °C
Tempo 5 a 30 min.
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Tabela 4. Pasta SELECIONADA parapassivação do AISI 316L SS
HNO3
20 %
BaSO4
36,4
Água q. s. p.
Temperatura Ambiente
Tempo 30 min.
mico para se obter uma película passi-va efetiva. Assim, foram realizados en-
saios de polarização potenciodinâmi-
ca, segundo recomendações da Norma
ASTM G61-86[2], no LFS-EPUSP, para
determinar a composição e procedi-mento de limpeza e passivação para se
estabelecer um procedimento adequa-
do para o material específico da MS
III da Cenibra.As tabelas 3 e 4 apresentam a com-
posição das soluções que apresentaram
o melhor resultado para a decapagem e
passivação, respectivamente.A utilização da pasta, obtida com a
adição de sulfato de bário, foi feita vi-
sando a melhorar a aplicabilidade da
solução pelo aumento da viscosidade e
também para minimizar a alteração dacomposição da solução decapante, pois
o ácido fluorídrico é muito volátil.
Embora a grande maioria dos proce-
dimentos recomende o tratamento a tem-peraturas superiores ao ambiente, foi es-
colhida a temperatura ambiente para a
realização dos procedimentos dadas as di-
ficuldades técnicas de se aplicar uma pasta
aquecida na MS III e para reduzir a per-da por evaporação dos compostos ativos,
notoriamente, o ácido fluorídrico, gerado
Tabela 3. Pasta SELECIONADA paradecapagem do AISI 316L SS
HNO3 12 %
NH4F.HF 3,6 %
BaSO4
36,4
Água q. s. p.
Temperatura Ambiente
Tempo 15 min.
Figura 1. Ensaios de polarização potenciodinâmica do aço inoxidável AISI 316L,após procedimentos de limpeza e passivação, em meio de H2SO4 0,5 MOL/L
Passivação A – Corpo-de-prova tratado in loco;Passivação B – Corpo-de-prova tratado em laboratório.
pela acidulação do bifluoreto de amônio.
Este foi escolhido por questões de logísti-ca de transporte e manuseio.
Avaliação inicial do estadoda corrosão
A aplicação em planta dos procedi-
mentos determinados em laboratório foi
registrada fotograficamente. A eficácia
do tratamento aplicado foi determinadapor meio de corpos de prova tratados in
loco, simultaneamente à operação de
limpeza e passivação do equipamento, e
avaliados em laboratório.
A figura 1 apresenta os resultados daavaliação do procedimento de passiva-
ção em laboratório e em planta. Nesta
figura nota-se que a transição ativo – pas-
sivo (apresentada no círculo amarelo) éreduzida, indicando a eficiência do tra-
tamento. A baixa corrente passiva tam-
bém atesta esta afirmação.
As figuras 2 a 5 apresentam o aspec-
to da MS III antes dos procedimentos.Nesta figura observa-se o intenso ata-
que na superfície metálica com mancha-
mento da mesma com os produtos de
corrosão de coloração vermelha.
Figura 2. Lateral oposta ao fluxo dafolha da 2ª caixa de sucção, vista dolado comando
Figura 3. Detalhe (Região delimitadapelo retângulo em amarelo) da figura 2
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Um dos problemas, do ponto de vistade corrosão, observados na máquina, era
a utilização de metais dissimilares na sua
montagem. Um exemplo está mostrado
na figura 4, onde se observa a utilização
de porcas de liga de cobre (no detalhe emamarelo). A análise realizada no LFS-
EPUSP indicou tratar-se de liga bronze-
silício, que também se encontrava em es-
tado avançado de corrosão, conforme podeser observado pelo depósito de pátina (óxi-
do verde azulado) na superfície.
A utilização de metais dissimilares é
problema, tanto na operação como no
procedimento de limpeza e passivação.Devido à heterogeneidade no comporta-
mento eletroquímico, na grande maio-
ria das vezes, eles são causadores de cor-
rosão por efeito galvânico. Esta açãogalvânica irá também comprometer a
eficiência da limpeza e passivação, além
de comprometer a ação química.
Além dos problemas acima menciona-
dos, em muitos pontos da superfície da cha-pa de aço inoxidável foram observados de-
pósitos de produtos escuros, conforme pode
ser visto na figura 5. Estes produtos são,
muito provavelmente, oriundos da precipi-tação de íons dissolvidos na própria água
branca, na sua grande maioria de produtos
de corrosão, que se concentraram além do
valor de sua solubilidade pela evaporaçãoda água. Devido à sua não perfeita adesão,
existem frestas entre a película depositada
e o metal, e estes pontos são locais, onde
acontecerá a corrosão em frestas, devendo-
se, portanto, fazer limpeza e passivação.
Execução da limpezaA operação de limpeza foi realizada,
utilizando-se as soluções inicialmentequalificadas em laboratório, com proce-
dimento primeiramente determinado com
corpos-de-prova. Para poder ilustrar a atu-
ação dos agentes químicos na remoção dos
produtos de corrosão, as figuras 6 a 10apresentam os aspectos superficiais, pas-
so a passo, após cada etapa do processo.
A Figura 6 mostra detalhe do aspec-to da régua formadora do lado aciona-
mento antes da limpeza mecânica. Ob-
serva-se o estado avançado do processo
corrosivo com grande formação de pro-
dutos de corrosão na superfície.O aspecto após a limpeza com esco-
vas de aço inoxidável está mostrado na
figura 7. Observa-se que o escovamento
não é capaz de remover totalmente o de-pósito, sobretudo aqueles produtos de cor-
rosão mais internos aos pites, salientan-
do a necessidade da limpeza química.
A aplicação da pasta decapante leva
à dissolução de produtos de corrosão,conforme pode ser observado na figura
8. Esta operação não foi, contudo, ca-
paz de remover completamente os pro-
dutos de corrosão, requerendo uma açãomecânica de escovamento, concomitan-
te com a aplicação da pasta. A figura 9
apresenta o aspecto da superfície metá-
lica após esta operação, mostrando a re-
moção total do produto depositado.A figura 10 mostra o aspecto após o
enxágüe, indicando a total remoção dos
produtos aderidos, o que comprova a efi-
ciência da mistura decapante e da ope-ração de escovamento.
As figuras 11 a 14 mostram as mes-
mas regiões apresentadas nas figuras 2 a
5, após o tratamento superficial completo.Na Figura 12 está apresentado um
detalhe da lateral da 2ª caixa de sucção
(retângulo amarelo da figura 11), onde
não se manifesta presença de produtos
de corrosão na superfície.Nota-se que os produtos de corrosão
foram removidos com sucesso, estando a
superfície metálica limpa e brilhante. Nos
detalhes em amarelo observam-se as por-cas que ainda apresentam parte dos pro-
dutos de corrosão. Isto porque as ligas de
cobre não têm resistência para suportar o
tratamento com as pastas selecionadas, à
base de ácido nítrico, que, por ser extre-mamente corrosivo a ligas de cobre, não
foram aplicadas sobre as mesmas.
Figura 5. Espelho inferior da caixa deentrada, vista do lado comando
Figura 6. Vista em detalhe da réguaformadora lado acionamento
Figura 7. Mesma tomada apóslimpeza mecânica
Figura 4. Sustentação de caixa desucção lado acionamento
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Figura 8. A aplicação da pasta dedecapagem remove os produtos decorrosão mais “leves”. Note odesaparecimento da coloraçãoavermelhada
Figura 9. O escovamento realizadocom a pasta decapante sobre asuperfície proporciona melhorrendimento desta. Note a dissoluçãode todos os produtos de corrosão
Figura 10. Aspecto final após apassivação. Observa-se a retirada dosprodutos de corrosão superficiais e degrande aprte dos internos aos pites
na água branca. Esta recomendação foibaseada no fato da ocorrência de corro-
são por pite. Como os produtos de cor-
rosão retidos no interior dos pites são de
difícil remoção, a sua presença pode cau-
sar a corrosão, autocataliticamente, aolongo do tempo. Um fato, este, confir-
mado através de acompanhamentos pe-
riódicos. Assim, foi recomendada a adi-
ção de inibidores de corrosão para asse-gurar a integridade do material, e deu-
se início a um esquema de tratamento.
Ao longo do tempo, procedeu-se a
ajustes na formulação e dosagem do ini-
bidor adotado, para atender às condiçõesoperacionais da máquina e das carate-
rísticas da celulose processada.
ConclusõesOs processos de limpeza e passivação
desenvolvidos e aplicados na MS III da
Cenibra foram os adequados para aços ino-
xidáveis austeníticos AISI 316L, removen-
do totalmente os produtos de corrosão.Como o material apresentava corro-
são por pite intensa, houve a necessida-
de de utilização de inibidores de corro-
são na água branca para assegurar a in-tegridade do material.
O esquema de inibição adotado para
a máquina MS III da Cenibra tem apre-
sentado desempenho adequado.
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als. Philadelphia, Pa.
Considerações finaisComo a limpeza e a passivação apli-
cadas aos aços inoxidáveis não garante
a proteção total do material, foi sugeri-
da a utilização de inibidores de corrosão
Figura 11. Lateral oposta ao fluxo dafolha da 2ª caixa de sucção, vista dolado comando
Figura 12. Vista do detalhe(apresentado no ret6angulo emamarelo) da figura 10
Figura 13. Sustentação de caixa desucção, lado acionamento
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A Designers’ Handbook Series n° 9 001,-Nickel
Development Institute, and American Iron and
Steel Institute. s