teatro de grupo goiás

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TEATRO DE GRUPO EM GOIÁSNOVAS FORMAS DE TEATRO

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  • 22Teatro de grupo no Rio Grande doNorte, Maranho e CearFernando Yamamoto (RN/MA/CE)

    25Os grupos de teatro na ParabaBuda Lira (PB)

    28Entre espaos - teatro pernambucano aperta-se para mostrar a caraLeidson Ferraz (PE)

    31Caminhos em territrios isoladosLindolfo Amaral (AL/SE)

    34Teatro de grupo e grupo de teatroGordo Neto (BA)

    36Realidade e diversidade do teatrode grupo no Mato GrossoGiovanni Arajo (MT)

    38Teatro de grupo em Gois Marcus Fidelis (GO)

    40Um teatro que resiste Francis Wilker (DF)

    43Os grupos de teatro de Mato Grossodo Sul L Bigato (MS)

    NO

    RTE

    4Editorial

    REALIDADE E DIVERSIDADE: um mapeamento dos grupos de teatro noBrasil - 1 esboo

    8Teatro de grupo: diversidade e renovao do teatro no BrasilAndr Carreira

    12A cena na Amaznia paraense Karine Jansen (PA)

    14Tocantins, teatro fincado nas razes separatistas entre norte e sul deGois Ccero Belm (TO)

    16Teatro de grupo no Acre Luciana Pereira (AC)

    19Teatro de grupo em RondniaJria Lima (RO)

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  • 46Minas de grupos Gustavo Bartolozzi (MG)

    50O teatro e a leiWilson Colho (ES)

    52Modos de produo Antonio Guedes (RJ))

    56Teatro de grupo: um espao de aliana a favor da arteTiche Vianna (SP)

    58A cara escondida do teatroMrcio Abreu (PR)

    61Teatro de grupo em Santa Catarina:resistindo ao isolamentoAndr Carreira (SC)

    63Teatro de grupo em Porto Alegre Tribo de Atuadores i Nis Aqui Traveiz (RS)

    TEATRO E POLTICA

    68Em meio ao turbilhoLuiz Fernando Lobo

    71Teatro de grupo, grupo de teatroMarcelo Bones

    GALPO EM FOCO

    76Responsabilidade emocional doteatro Ins Peixoto

    CINE HORTO EM FOCO

    82Centro de Pesquisa e Memria do Teatro: uma ao para alm dos espetculosLuciene Borges

    SUDE

    STE

    SUL

  • A Revista Subtexto nasceu junto ao primeiro encontro do Redemoinho, em BeloHorizonte, com o claro objetivo de ser a revista de teatro do Galpo Cine Horto.Entretanto, as coincidncias de paternidade e de idade das duas iniciativasimpregnaram a gentica da revista. Nesse sentido, dedicamos tambm esta quartaedio ao movimento, oferecendo um levantamento da realidade dos GruposTeatrais em quase todos os Estados do Pas.Temos conscincia da incompletude dos dados oferecidos e da precariedade dossistemas de pesquisa. Na verdade, contamos com a boa vontade de alguns amigose artistas que se disponibilizaram, em tempo recorde, a escrever um breve relato darealidade de suas regies. Apesar dessa limitao, o resultado surpreendente. Alm de revelar uma riqueza desconhecida existente nas regies Norte e Centro-Oeste, esses dados so, acima de tudo, provocadores na medida em que explicitama urgncia de uma poltica pblica federal de fomento e apoio aos nossos vriosBrasis teatrais. Certamente, Ministrio da Cultura, Funarte, Secretarias de Estado de Cultura,polticos, empresas patrocinadoras e mesmo o Redemoinho, que pretende ser ummovimento nacional, tm que ampliar esforos e olhares nessa direo, pois, nomnimo, necessitamos de sensos e levantamentos que nos possibilitem conhecermelhor quem somos, quantos somos, o que temos, o que pensamos e o quequeremos .... Conhecer essa realidade pode, tambm, suscitar boas reflexes e avanos. Noseria interessante investigar outras formas associativas de produo, parceriascriativas com a comunidade, organizaes prticas de grupos e entidades, novasabordagens do mercado capitalista, ocupao coletiva de espaos, estruturaode grupos locais para apoio a espetculos em circulao , entre outras tantasformas criativas de colaborao ? Certamente pode haver diversas formas de apoio entre os grupos que reduziriamnossa dependncia do poder pblico. Entretanto, devemos tambm reconhecera urgncia de nos organizarmos melhor, com mais eficincia e determinao,para continuarmos nossa luta junto ao Estado em busca de uma clara polticapblica para o nosso setor.A quarta edio da Subtexto traz ainda discusses sobre Teatro e Poltica, comLuiz Fernando Lobo (RJ) e Marcelo Bones (MG); Galpo em Foco, artigo da atrizIns Peixoto sobre a Responsabilidade Emocional do Teatro e Cine Horto emFoco, que traz informaes sobre o Centro de Pesquisa e Memria de Teatro -Uma ao para alm dos espetculos, resumo da tese de Mestrado da atriz ejornalista Luciene Borges, sobre a importncia do Galpo Cine Horto e seusprojetos de fomento teatral em Belo Horizonte.

    Galpo Cine Horto

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  • REALIDADE E DIVERSIDADE:

    Um Mapeamento dos Grupos de Teatro no Brasil - 1 esboo

    No conseguimos identificar colaboradores nos Estados do Amap e Piau. De Roraima e Amazonas, os artigos no chegaram em tempo hbil para serem publicados neste nmero.

  • Teatro de

  • Andr Carreira*

    Desde o trabalho pioneiro de pessoas como lvaro e Efignia Moreira, com oTeatro de Brinquedo, ou de Paschoal Carlos Magno, com o Teatro do Estudantedo Brasil e ainda Abdias do Nascimento, com o Teatro Experimental do Negro, eJerusa Cames e Renato Vianna, com o Teatro Universitrio, o teatro de grupostem criado dinmicas fundamentais da cena nacional. Os grupos teatrais consti-turam ao longo do sculo XX tentativas significativas de se produzir um teatroindependente. Se as iniciativas dos grupos amadores citados acima contriburampara rediscutir o modelo romntico que predominava na cena nacional, nas ltimasdcadas do sculo passado a idia de um teatro de grupo constituiu, a partir deuma diversidade de formas e modos operacionais, uma tendncia que revigoranosso teatro tanto no seu projeto esttico como no seu lugar poltico.

    As formas de organizao dos grupos que podemos enquadrar dentro daquiloque chamaramos Teatro de Grupo so to variadas que seria lcito pensar que oprprio termo teatro de grupo mereceria uma discusso mais ampla. No entanto,podemos ver que sob esse nome se organizam principalmente aquelasagrupaes que se definem por uma busca de independncia com relao ao quepodemos identificar com o paradigma da indstria cultural. Essa independnciano significa necessariamente assumir uma atitude de ruptura absoluta comprocedimentos que caracterizam o mercado cultural, mas implica a busca de umespao de autonomia. O desejo de realizar um trabalho criativo autnomo uma fora que impulsiona grande parte daqueles que se reconhecem comopraticantes de um teatro de grupo, e esse sentimento a base do imaginriodesse teatro que se faz em grupo e com projetos de longo prazo.

    diversidadee renovao

    do teatro no Brasil

  • 10 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    A durao dos projetos e a manuteno de equipes estveis podem ser indicadascomo caractersticas que contribuem para estruturar o espao simblico dotrabalho que tem o grupo como eixo. Isso no impede que muitos dos grupos,especialmente aqueles situados em cidades de menor porte, soframconstantemente com o fluxo de integrantes, particularmente no que se refereao xodo para centros urbanos maiores. Assim, podemos ver grupos que tm umalonga histria assentada em um ncleo permanente reduzido, ao redor do qualcirculam participantes que periodicamente se renovam. Esse ncleo quepermanece constitui, ento, o elo entre os diferentes momentos do grupo, o quegarante a prpria noo de continuidade no trabalho.

    O desejo de um projeto de longo prazo com repercusses culturais e sociais quevo alm da prtica de criao de espetculos tambm pode ser considerado umelemento que permeia o trabalho de uma grande quantidade de grupos. Nessesentido, cabe destacar a presena de discursos que reivindicam projetos sociaiscomo um componente fundamental das prticas grupais, de tal forma quemuitas vezes pareceria que a idia de teatro de grupo deveria estar semprerelacionada a tal classe de projetos.

    Essa caracterstica deve ser observada considerando-se a diversidade de grupos,prticas e contextos culturais. O espectro to amplo que os projetos sociais vo,por exemplo, desde a criao de cursos de teatro para bairros de trabalhadoresat colaboraes com organizaes no governamentais que trabalham comquestes do gnero. A necessidade de atuar junto a setores sociais menosprivilegiados tem sido uma constante nos discursos grupais. Os projetos queampliam as atividades grupais para alm do palco (ou da rua) contribuem paraconfigurar o espao poltico que os grupos preenchem e situam os mesmos emum terreno de dilogo com instituies do poder pblico que ultrapassa asquestes imediatas do fazer artstico.

    A abertura de sedes, a organizao de espaos prprios, tem hoje uma grandeimportncia entre as iniciativas grupais. A luta pela conquista do espao ou porsua manuteno como plo cultural faz parte do imaginrio dessa forma deorganizao da produo teatral. Os grupos que conquistaram o projeto da sederepresentam um modelo para a grande maioria dos grupos do Pas, pois soconsiderados como estruturas consolidadas. Ainda que isso no seja uma verdadeabsoluta, pois aqueles que administram seus espaos sabem das dificuldadescotidianas e dos esforos para a manuteno desses locais, o fato de que muitos

  • Grupos de Teatro no Brasil: realidade e diversidade I 11

    grupos tenham sedes facilita a formalizao de redes de intercmbiointergrupais e potencializa o papel formador dos grupos.

    A existncia das sedes dos grupos, que funcionam como ncleos de refernciapara seus contextos culturais imediatos, to significativa que gerou o programainstitucional de apoio aos "pontos de cultura". O movimento de grupos responsvel, em todas as regies do Pas, pela criao e manuteno de espaoscriativos que cumprem o papel de ncleos de fomento e reunio. Nesses espaosos grupos exercem uma intensa atividade formativa de novos artistas e tambmde pblico. So diversos os projetos pedaggicos desenvolvidos pelos grupos,alguns adquirem a forma de verdadeiras escolas regulares enquanto outros seconformam mais como mbitos de encontro e aprendizagem no seio deprocessos criativos.

    A ampla diversidade de formas criativas e discursos no esconde o fato de queno seio do movimento de teatro de grupo tm se dado uma permanentediscusso sobre modos de criao cnica. O uso persistente do termo "processocolaborativo" uma demonstrao disso. Diferentes grupos tm refletido sobre aprpria escritura teatral e sobre os procedimentos de criao e preparao doator, de tal forma que se identificam no seio dos grupos movimentos de renovaoda linguagem teatral que no podem ser compreendidos separadamente daforma 'grupo'.

    Tomando esses eixos, pode-se dizer que o teatro de grupo um movimentofundamental para o teatro brasileiro contemporneo e representa uma tendnciadas mais significativas na construo de novos discursos cnicos no Pas. Essasqualidades devem ser associadas ao fato de que um enorme nmero de gruposocupa todas as regies do Pas e mantm uma atividade criativa permanente emmbitos culturais muito diversos. Isso se d com um processo de profissionalizaosistemtico que faz com que o atual momento dos grupos seja bastante diferentedo amplo movimento amador que caracterizou os anos 1970. Se antes as formasprofissionais e semiprofissionais eram caractersticas das cidades de So Paulo ouRio de Janeiro, hoje vemos que, guardadas as devidas propores, quase todos osEstados tm grupos que se profissionalizaram. Essas tendncias indicam que oTeatro de Grupo hoje uma referncia-chave quando falamos de teatro brasileiro.

    *Diretor do Grupo Teatral (E)xperincia Subterrnea e professor do Programa de Ps-Graduao em Teatro da UDESC.

  • PAR por Karine Jansen*

    O teatro no Par, composto por cerca de 40 grupos na capital, alm dosgrupos do interior, marcado pela diversidade da linguagem, e porcaractersticas referentes aos contextos em que atuam. No interior doEstado a produo teatral est intimamente ligada Federao de Teatro- FESAT, que organiza cinco mostras anuais organizadas por regio: Maraj,Baixo-Tocantins, Sul do Par, Nordeste do Par e a rea Metropolitana,mobilizando dezenas de grupos fora da capital.

    Na capital, a cena popular tem forte presena e repercusso, entretanto,nem sempre conta com o respeito e a ateno dos rgos de fomento. AsPaixes de Cristo produzem cerca de quinze espetculos realizados por gruposespecialistas nesta forma teatral, como o grupo Aldearte, de So Braz.

    O Teatro de Pssaros, definido por alguns estudiosos da linguagem comouma opereta melodramtica, teve o auge de sua dramaturgia composto nosmeados do sculo XX, com destaque para os grupos Tem Tem e Rouxinol.

    O Auto do Crio, formato criado atravs da Escola de Teatro e Dana daUFPA, existe h 13 anos e mobiliza centenas de artistas num grande cortejopelas ruas da cidade velha, no perodo da Festa do Crio de Nazar. Hoje aCia. Brasileira de Cortejos amplia a pesquisa iniciada pelo projeto, atravsdas suas aes artsticas.

    Na tradio de grupos, entre os antigos esto o Gruta, o Experincia, oMaromba, o Vivncia, o Cena Aberta, o Palha, dentre outros. O GrupoCura (25 anos), com sede prpria na Zona do Baixo Meretrcio, produzespetculos e recebe produes do Estado e do Brasil, atravs de aesartsticas junto ao Grupo de apoio a mulheres prostitutas.

    A linguagem de clown dos Palhaos Trovadores criou escola na cidade,enquanto o teatro de rua, sempre representativo na cena do Par, mobilizagrupos como Circo Lando, Ns Outros, EntreAtos, Trupe Lamento deTeatro e Cia. Madalenas.

    As intervenes urbanas e performances so com os Coletivos Arruassa eMarginlha.

    Dedicados ao pblico infanto-juvenil esto os grupos Os Desabusados,Notveis Clowns, Encenao e Luzes. A Cia. In Bust tem sua pesquisavoltada para as Formas Animadas, aliando a linguagem da televiso, casoda srie Catalendas, e o teatro.

    No teatro de pesquisa, trs projetos na categoria de Teatro de Poroganharam repercusso na cidade: Em Carne e Osso e O Imprio de SoA

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  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Lei Semear Lei Estadual (ICMS) I www.secult.pa.gov.brLei T Teixeira Lei Municipal (IPTU) I www.belem.pa.gov.brEdital do Projeto Par em Cena Estadual - seleciona espetculos de Artes Cnicas.Edital do IAP Instituto de Artes do Par - bolsas de pesquisa e experimentao.Edital do Basa Banco da Amaznia - seleciona projetos artsticos e culturais.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:FESAT Federao Estadual de Teatro I [email protected] ATAS Associao de Atores, Autores e Tcnicos de Teatro Amador de SantarmRGOS DO ESTADOSIT Sistema Integrado de Teatros I www.secult.pa.gov.brIAP Instituto de Artes do Par I [email protected] I [email protected]

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DO PAR: 93 grupos, sendo:. Grupos de Belm (filiados FESAT): 25 grupos.. Teatro de Pssaros (Belm, entre cordo e pssaros): 15 grupos.. Regio Oeste, Grupos de Santarm o Tapajs: 20 grupos (teatro amador)

    e cidades prximas, sendo trs filiados FESAT.. Regio do Nordeste Paraense (filiados FESAT): 17 grupos.. Regio do Maraj (filiados FESAT): 10 grupos.. Regio Sudeste (filiados FESAT): trs grupos.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES: Seis espaos, entre grupos e pores alternativos:Grupo Cura de Teatro R. Riachuelo c/ 1 de Maro I Sede/Teatro: 120 lugares. Palhaos Trovadores R. Dr. Malcher, 233 I Cidade VelhaTel. (91)3223.8181 (Marton Maus).Sede In Bust Teatro com Bonecos - Casaro dos Bonecos - Av. 16 de Novembro, 815 I Belm I Tel. (91)3241.8981 I Tel. (91)9941.8071Sede/Anfiteatro ao ar livre: 100 pessoas.Teatro Poro Puta Merda R. Riachuelo n 69 I Campinalotao mxima: 20 lugares. Wlad Lima (91) 3223.3759 I [email protected] da UNIPOP Av. Senador Lemos n 557 I Telgrafo - espao cnico at 40 lugares.Teatro U. Poro Travessa Campos Sales I Campina - espao cnico at 30 lugares. Leo Bitar Tel. (91) 8832.7274

    Grupos de Teatro no NORTE do Brasil: realidade e diversidade I 13

    Benedito, ligados ao Teatro Poro Puta Merda; e Frozen (espetculomultimdia), ligado ao U.Poro.

    *Performer e diretora de teatro. Professora e pesquisadora da Escola de Teatro e Dana da UFPA. Atualmente doutoranda do Programa de

    Ps-graduao em Artes Cnicas da UFBA, com tese sobre a Performance da Marujada de Mulheres da cidade de Quatipuru, regio do Salgado Par.

  • TOCANTINS por Ccero Belm*

    Falar do teatro em Tocantins, o mais novoEstado da Federao, com apenas 19 anos,nos faz lembrar um dos movimentos maisimportantes j vistos no interior do Brasil: oCircuito Timb de Teatro, realizado nos anos1980 no mdio-norte de Gois, hojeTocantins, conforme reconheceu a extintaFundacen, rgo na poca vinculado aoMinistrio da Cultura.

    Grupos de diferentes cidades da regio pro-moveram a maior circulao cnica j vistanessas bandas, ao mesmo tempo queaconteciam seminrios, festivais, oficinas ediscusses sobre o teatro. Tudo tinha umobjetivo: organizar politicamente os gruposexistentes e contribuir na formao e naesttica teatral desses saltimbancos sertane-jos. Talvez pela ausncia do Estado, tenhasido um dos acontecimentos culturais demaior relevncia para a difuso do teatro,pela grande fora de mobilizao e aoentre os grupos.

    Com o Tocantins implantado, novos grupossurgiram, outros desapareceram e poucosresistiram, embora o surgimento de umaunidade federativa tenha trazido visibilidades aes teatrais. Hoje poucos sobrevivemcorajosamente a uma realidade catica, semincentivos e sem qualquer poltica pblicade fomento e difuso por parte do poderpblico estadual.

    Embora padeam de uma discusso maisprofunda sobre a prpria condio do teatro,aos poucos algumas alternativas, ainda queisoladas, vm se consolidando. O GrupoChama Viva Cia. de Teatro de Tocantins, com22 anos de existncia, tem ganhado os palcosdo Brasil com produes relevantes, comoBodas de Sangue, de Lorca; O Jogo do Amor,de Pierre de Marivaux; O Anel de Magalo, deLuiz Alberto de Abreu; O Desejado, de Pedro

    Tierra; e, por ltimo, Bonequinha de Pano, deZiraldo, que acaba de estrear. Diretores comoAntonio Guedes, Cristina Pereira, RafaelPonzi, Marcelo Souza e Sandro Lucoseassinaram a direo dos ltimos trabalhos dogrupo que mantm ainda uma forte atuaona produo de espetculos de artistas deoutras regies que passam por Palmas e,alm disso, realiza oficinas e promoveintercmbio com diferentes regies. ABarraca Cia. Experimental de Artes, atravsdo seu ncleo de teatro Trupe Atrupelo,vem se destacando h dois anos comespetculos de teatro musical; o GrupoTeatro Livre de Palmas, que nasceu em 2002como resultado do curso livre de teatrooferecido anualmente pela Prefeitura dePalmas, enveredou-se pelo teatro de rua edesenvolve atualmente projetos de danapopular e teatro com as quadrilhas juninas,que agregam mais de trs mil jovens que sepreparam durante todo o ano para os festejosde So Joo; Os Taweras um grupo for-mado por msicos, artistas plsticos, poetas ebonequeiros e integra o Ponto de CulturaAldeia Taboka Grande; a Cima produesatua em Palmas h oito anos e trilha nabusca de uma dramaturgia prpria. Comuma atuao mais voltada para o teatro deanimao, vem a Trucks da Trupe, daAssociao Contgius de Teatro e Dana, e oGrupo Patrulha da Alegria.

    O Grupo de Teatro Ciganus se tornoureferncia em Araguana, maior cidade dointerior, no norte do Estado, e algumasiniciativas de grupos e pessoas vinculadas Universidade em Gurupi, ao sul, vmatuando com certa fora e possibilidade decrescimento.

    *Ator, diretor, produtor cultural e

    Titular da Cmara de Artes Cnicas do

    Conselho Municipal de Cultura de Palmas.

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  • ACRE por Luciana Pereira*

    Falar de teatro no Acre tarefa delicada, todavia,instigante. Delicada porque so necessrios recortes;instigante porque dialoga com elipses que nos lembramStanley Kubrick em "2001, Uma Odissia no Espao". guisa de recortes inegvel a contribuio da dcada de1970 ao teatro no Acre, posto que sociedade e teatroesto intimamente ligados. Os citadinos comearam aperceber que as mudanas ocorridas no mbito territorialtrariam conseqncias tambm no mbito cultural nosomente para aqueles que habitavam as florestas.Ouviam-se daqui os gritos dos pssaros, o rugir dosbichos, a buzina dos automveis, uma verdadeira polifoniaque confundia, no dava ao certo para perceber de ondevinha aquele grito de resistncia: cidade ou floresta?

    E nesse instante que as manifestaes artsticascolocam-se contra as formas absurdas de penetraodo capital agropecurio nas reas dos seringais,expulsando os seringueiros. E so esses mesmosseringueiros que iro ocupar os espaos perifricos deRio Branco. Esses acontecimentos vo gerar ummomento peculiar na relao entre a floresta e a cidade,uma simbiose que gerou uma relao de respeito epreocupao com as questes sociais e ambientais.

    Das vrias possibilidades artsticas, o teatro foi alinguagem mais utilizada. Podemos nos arriscar a dizerque foi um porta-voz das angstias dos povos da floresta,mais especificamente dos seringueiros. Foi uma simbioseque aconteceu entre essas instncias sociais, os artistas,os intelectuais, a igreja catlica e os recm-chegadoshabitantes do seringal.

  • Em 1979, Rio Branco tinha 11 grupos de teatro, queabordavam em suas apresentaes os seguinteseixos temticos: os conflitos de terra, a chegada doslatifundirios e o xodo rural.

    Nesse perodo possvel destacar o trabalho de doisgrupos que reforaram a relao entre a cidade e afloresta. O primeiro o grupo De olho na coisa, fundadopor Jos Marques de Souza (Mathias), ex-seringueiro,semi-analfabeto, lder de um dos grupos mais fortesnascidos atravs das iniciativas das ComunidadesEclesiais de Base, que aprofundou os interesses popularesdentro de uma linguagem que estivesse de acordo coma sua realidade. Mathias era ator, diretor e autor de suaspeas que tinham como temtica o seringueiro que saida sua terra, a violncia urbana e o xodo rural. Atravsde suas peas percebe-se que Mathias desejava denunciaras condies de vida do seringueiro. Ele faleceu em 1997,mas De olho na coisa resiste at hoje, dirigido porCludio Mathias, seu filho e ator do grupo.

    O outro grupo que destacaremos o Adsaba, fundadopor Beto Rocha, que tambm escutou os chamados dafloresta e realizou um trabalho significativo na reateatral. Diretor, ator, pesquisador e autor, Beto Rochaera um encenador extremamente inquieto e instigante- defensor de um teatro libertrio. O grande diferencialdo grupo Adsaba, alm da pesquisa, era a busca por umaorigem e uma identidade do homem, particularmentedo homem amaznida.

    O Adsaba vai do teatro de agitao e interveno aoteatro antropolgico de Eugnio Barba. A necessidadede criar algo novo com uma identidade prpria fez comque a pesquisa tomasse rumos nem sempre esperados eum grupo de quatro atores-pesquisadores chegou apassar 90 dias em uma aldeia. O contato com acosmologia indgena e o teatro antropolgico fez comque o diretor do Adsaba, no espetculo "Histrias deQuir" (1990-92), retirasse as falas dos atores e assubstitusse por narrativas em lngua madija (em off), eutilizasse danas e rituais xamansticos no espetculo. O

    Grupos de Teatro no NORTE do Brasil: realidade e diversidade I 17

  • diretor optou por uma construo cnicamais apropriada s suas inquietaes, umaplasticidade elaborada, um tempo nadacondizente com o real, um ritmo que exigiada audincia uma entrega, um descondi-cionamento. Em 2001, o espetculo abriu oFestival Internacional de Londrina.

    Criado e dirigido por Lalia Rodrigues, ogrupo Verso de Teatro surge no ano de1988, em meio universitrio. Nessemesmo ano sai da cena teatral e retomaas atividades em 1997, sob a direo doprofessor Henrique Silvestre, confirmandoa caracterstica e principal proposta dessegrupo, que estreitar a relao entrecomunidade acadmica e sociedade. Osespetculos apresentados se propunham aretratar o cotidiano das populaesribeirinhas, dando nfase relao servildo seringueiro e seu coronel.

    O grupo circulou por alguns municpiosacreanos como Xapuri, Brasilia, SenaMadureira, Plcido de Castro e a capital, RioBranco. Em 2001 encerrou suas atividadesaps participar da Terceira Edio da Bienalde Cultura da UNE, no Rio de Janeiro, e doColquio de Letras, na Universidade Federalde Rondnia.

    Em 2001, surge, em Rio Branco, o grupoCATAC (Centro de Antropologia do Teatro eAntropofagia do Cinema) que tinha como

    objetivo a realizao de uma pesquisasobre identidade nacional, culturabrasileira, alm de discutir a visoeurocntrica nas Amricas em busca do tosonhado "Paraso Terrestre", que resultaria naconstruo de um espetculo. Dirigido porFlvio Kactuz, o grupo, composto por 19integrantes, em sua maioria jovens semnenhuma experincia em teatro, inicia seutrabalho de pesquisa e experimentao,tendo como foco norteador o teatroantropolgico, determinante no estilo detexto e atuao de seus espetculos.

    Em 2003, aps a temporada do espetculoE o que mais restou do paraso, o CATACcria o projeto NEC (Ncleo Estudantil deCultura) em parceria com a Secretaria deEducao, que une linguagem do teatro alinguagem do cinema. Em 2006, lanadoo livro "Daqui onde estou d pra ver oBrasil", resultado de uma pesquisa oral comatores, diretores de teatro e de cinema,professores e pesquisadores da culturabrasileira.

    Tambm em 2003, criada a Companhiade Teatro Arkh, pela professora LaliaRodrigues e por alguns alunos do curso deLetras da UFAC. Eles apresentam um nicoespetculo, "Pactos Insustentveis", eencerram as atividades da companhia.

    *Integrante do Grupo CATAC.

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS: No existem.ENTIDADES REPRESENTATIVAS: No h informao.ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DO ACRE: No h estimativa.ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:No h estimativa.

  • RONDNIA por Jria Lima*

    Porto Velho, capital de Rondnia,tem poucos grupos de teatro,dentre os quais destacam-se os que tentam se manter emconstante produo e pesquisa.So eles: O Imaginrio, Razesdo Porto, CTB - Centro de Teatrode Bonecos, Sentidos e Cia deArtes Fiasco.

    Os grupos caracterizam-se por terum nmero grande e varivel departicipantes, que vo de oito a 18,em mdia, e por uma certa impermanncia, j que praticamente invivel viverprofissionalmente do teatro aqui,como, alis, na maior parte do Pas.A maioria dos atores ainda dejovens na faixa dos vinte anos eque desenvolvem um trabalho ouestudo em paralelo.

    No h escolas de formaoteatral e os artistas se formam apartir de oficinas e cursos livrestrazidos, em sua maioria, pelo SESCque desenvolve um importantetrabalho nessa rea cultural, sendo um plo centralizador dasprodues da cidade junto com oSEST/SENAT, possuindo cada qualum teatro para receber as produes locais e os convidadosde outras regies.

    Grupos de Teatro no NORTE do Brasil: realidade e diversidade I 19

  • A capital gira em torno do funcionalismo pblico edo comrcio que o sustenta, no tem indstrias; ointerior est baseado na agropecuria, e, portanto,no h incentivo cultura atravs de impostos ebenefcios fiscais. Essa uma realidade que tende amudar, em breve, com a construo das usinashidreltricas no Rio Madeira. Por isso, vlidodestacar o empenho dos artistas que trabalhamao mesmo tempo formando profissionais "namarra", ou seja, vo aprendendo com as prpriasapresentaes, ao mesmo tempo em que tentamformar um pblico, j que no existe o hbito de irao teatro.

    Esse o exemplo de Chico, produtor do Grupo "OImaginrio", que atua no Estado de Rondnia desde1978, incansvel e apaixonadamente, e que teminvestido na formao dos atores trazendo artistasconvidados para ministrar oficinas, como foi o casode Bia Braga (MG), que recentemente dirigiu oespetculo As sombras de Lear, uma releitura deShakespeare inspirada na mmica corporaldramtica e no folclore regional, e de Narciso Telles(RJ), que dirigiu o espetculo de rua O mistrio dofundo do pote ou de como nasceu a fome, vencedordo Prmio Myriam Muniz de Fomento aoTeatro/2006, com o qual o grupo percorreu as trilhasde Rondon pelos Estados de Mato Grosso, Rondniae Acre com a Caravana FUNARTE.

  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS: No existem.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:SATED/RO Teo Nascimento I Tel. (69) 9954.8868 SESC/RO Maringela AloiseOnofre (Coordenadora de Cultura). Tel.(69) 3229.5156 R.239

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DE RONDNIA: cinco grupos,sendo: O IMAGINRIOChico Santos I [email protected]. I Tel. (69)3043.1419/9957.5128 RAZES DO PORTO Suely Rodrigues I [email protected] CTB - CENTRO DE TEATRO DE BONECOSArlene Bastos I Tel. (69)9951.4348 I [email protected] SENTIDOS Teo Nascimento I tel. (69) 9954.8868 CIA. DE ARTES FIASCO

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES: No h estimativa.

    O Presidente da Cia. de Artes Fiasco, Francis Madison, tambm um dessesartistas polivalentes que atua, dirige e escreve para o teatro e um dos raros quetm conseguido se manter exclusivamente de suas produes. Alcanou grandesucesso com o besteirol O segredo da patroa, com o qual ficou em cartaz por trsanos consecutivos. A tambm polivalente pernambucana Suely Rodrigues, diretorado Grupo Razes do Porto, atriz, autora de textos teatrais e produtora, jradicada no Estado, que tem um pblico cativo e lota o teatro com suas produespoticas e politicamente engajadas, encanta com montagens simples e cheias deteatralidade. O Grupo Razes tem representado Rondnia em festivais nacionaise merece destaque na sua mais recente produo, o monlogo Frei Molambo,de Lourdes Ramalho, com o jovem e promissor ator Juraci Jnior.

    O SATED/RO enfrenta srias dificuldades operacionais e financeiras, mas resistebravamente graas dedicao e raa de sua atual presidente, Teo Nascimento.Ela e seu grupo Sentidos desenvolvem hapennings e trabalhos experimentais,fazendo parte desses "loucos amantes" do teatro. Afinal, no d para fazer teatrosem uma certa dose dessa loucura sagrada!

    *Atriz, diretora e dramaturga com formao livre e Ps-graduada em Arte Contempornea I PUC/Minas,

    atualmente reside em Rondnia.

  • 22 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    RN, MA e CE por Fernando Yamamoto*

    Qualquer tentativa de mapeamento de grupos de teatro passa, inevitavelmente,pela ingrata necessidade de um recorte para se definir o que , afinal, teatro degrupo. Apesar do crescente nmero de espaos de discusso e do desenvolvimentode inmeras pesquisas acadmicas sobre o tema, a questo parece ampliar-se cadavez mais. Alguns parmetros surgem como norteadores, como a perspectiva deprojetos estticos continuados, a democratizao dos meios de criao, amanuteno de um corpo de integrantes estvel, entre outros. No entanto, aindaassim encontramos excees que no podem ser excludas do rol do chamadoteatro de grupo.

    Neste levantamento sobre os grupos dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceare Maranho, procurei alargar o mximo possvel essa definio, incluindoqualquer tipo de organizao coletiva com um nvel mnimo de continuidade e,principalmente, que se considere grupo.

    Apesar das idiossincrasias que as cenas desses Estados apresentam, algumassimilitudes podem ser identificadas. A presena de grupos com muita histria,como Comdia Cearense (CE), Pesquisa (CE), Carroa de Mamulengos (CE), Grita(MA), Laborarte (MA), Alegria Alegria (RN) e Estandarte (RN), todos com mais de20 anos de vida, garante um elo entre a tradio e o panorama atual do teatrode grupo nestes Estados. Outra aparente semelhana a presena, em cadaEstado, de um grupo que vem se destacando como referncia local, no necessari-amente relacionado qualidade esttica, mas com sua forma de organizao,antenada s tendncias do movimento de teatro de grupo no Pas: possibilidadede auto-sustentao, intercmbio com grupos e com os movimentos dearticulao, e um certo nvel de projeo regional e/ou nacional que esses gruposvm conquistando com seus trabalhos, conseguindo circular pelo Pas. So elesBagaceira (CE), Tapete (MA) e Clowns de Shakespeare (RN). No entanto, algumaspeculiaridades sobre essas diferentes realidades devem ser mencionadas.

    No Cear, duas experincias ligadas formao precisam ser citadas. Uma delas o Colgio de Direo Teatral, do extinto Instituto Drago do Mar, que na segundametade da dcada de 1990 proporcionou a formao e a capacitao dediretores e dramaturgos, criando, direta ou indiretamente, um ambiente propcio

    Teatro de grupo no RIO GRANDE DO NORTE,

  • para o surgimento de grupos de pesquisa na cidade de Fortaleza. A outra oCEFET-CE, com sua graduao tecnolgica em Artes Cnicas, que vem se con-solidando como o mais importante espao de formao no Estado, conectado sprticas de grupo. Um exemplo concreto o Teatro Mquina (ex-Ba-Gu), coorde-nado pela Professora Ms. Fran Teixeira, grupo surgido das salas dessa escola.

    A geografia tem sido um grande dificultador para o movimento de grupoMaranhense. No entanto, iniciativas ligadas ao SESC (em especial com a MostraGuajajaras/Palco Giratrio), ao Centro de Criatividade Odylo Costa Filho e aoTeatro Arthur Azevedo (com destaque para a Semana do Teatro do Maranho)tm possibilitado a circulao de grupos de porte de todo o Pas, como o Lume, oMoitar, entre outros, ampliando os canais de troca entre os grupos locais.

    Por fim, no Rio Grande do Norte, devido ao empenho do Departamento de Artesda UFRN, que culminou com o recm-criado mestrado em Artes Cnicas, atuao do Centro de Formao e Pesquisa Teatral da Fundao Jos Augusto -por mrito quase que exclusivo do seu coordenador, Joo Marcelino -, e siniciativas do Centro Cultural Casa da Ribeira (em especial o projeto CenaContempornea, de 2002), a profuso de novos grupos, formados por jovensintegrantes, comprometidos com a pesquisa, o treinamento e os projetos decontinuidade, promete um futuro encorpado para o teatro de grupo potiguar.

    *Diretor e ator do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal, RN.

    Este artigo contou com a colaborao de Rogrio Mesquita e Wagner Heineck.LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:RN Lei Estadual Cmara Cascudo funciona com oramento restrito e sofre com a

    MARANHOE CEAR

    Em termos gerais, a sensao de que a retomada do

    movimento de teatro de grupo que aconteceu h pouco

    mais de uma dcada no Pas, aps a chamada era do

    diretor, finalmente ecoa na cena nordestina. Os grupos

    mais antigos, que sobreviveram a duras penas, agora

    ganham fora de uma nova gerao de coletivos, apontan-

    do para boas perspectivas para o teatro de grupo da regio.

    Grupos de Teatro no NORDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 23

  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:RN: Lei Estadual Cmara Cascudo funciona com oramento restrito esofre com a falta de uma regulamentao adequada, o que resulta em arbi-trariedades e falta de uma regulamentao adequada, o que resulta em arbitrariedades e falta de critrios da comisso.Lei Municipal Djalma Maranho funciona de forma precria, mas temeventualmente possibilitado algumas realizaes.Ambas trabalham com iseno fiscal.

    CE: Fundo Estadual de Cultura.Lei Jereissati em reviso (iseno fiscal).

    MA: Possui lei estadual, mas no saiu do papel.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:RN: COOPERARTE cooperativa no s de teatro que funciona mais como umafornecedora de notas fiscais do que realmente como entidade representativa.SATED entidade mal vista pela classe e compra constantes brigas com osartistas e grupos. H alguns anos os artistas de teatro do Estado tentaram criarum sindicato paralelo, mas a questo est parada na justia desde ento e aarticulao se dissipou.

    CE: Federao Estadual de Teatro (FESTA), SATED e a Associao deprodutores teatrais (APTECE). A federao faz um importante trabalho decatalogao dos grupos do interior do estado. A situao com o SATED semelhante ao RN.

    MA: SATED voltou a funcionar com a inteno de criar uma cooperativa e acobrar pelo funcionamento da Lei de incentivo. A classe artstica maranhenseque vinha desarticulada comea agora a se organizar, ainda a passos lentos, mascom boas perspectivas.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NOS ESTADOS: (nos trs estados, a relaodos grupos ficou restrita aos mais significativos, e queles que retornaram asinformaes solicitadas):RN: 19 grupos.CE: nove grupos.MA: quatro grupos.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:RN: seis espaos geridos por grupos.CE: trs espaos geridos por grupos.MA: dois espaos geridos por grupos.

  • PARABA por Buda Lira*

    Este breve panorama sobre o trabalho em grupo no teatro de Joo Pessoa nopretende cobrir todo o tema, apenas indicar algumas dessas agremiaes, suasprincipais caractersticas, modos de atuao, notadamente nas ltimas quatrodcadas, e que so referncias para o Teatro Paraibano.

    Comecemos pela Juventude Teatral de Cruz das Armas, formado, entre 1957 a1960, por jovens moradores de um bairro popular e populoso da capital, inspiradono teatro do estudante e estimulado pela Igreja So Jos Operrio, primeira sede dogrupo. Posteriormente, foi realizada uma campanha de doao de material e outrasiniciativas que resultaram na fundao do seu espao prprio, Teatro da Juteca.

    O grupo j no existe e a Igreja S.J.O. vem envidando esforos para a recuperaodesse Teatro que se encontra em runas desde final dos anos noventa. Novoprojeto arquitetnico j foi elaborado e h perspectivas de recuperao do equipa-mento que deve se voltar para atividades culturais diversas, inclusive como forma decontribuir para a diminuio da violncia que atinge a juventude do bairro.

    O Piollin Grupo de Teatro veio um pouco depois, em abril de 1977, e marca atrajetria de um ncleo de atores liderados por Luiz Carlos Vasconcelos e EveraldoPontes, que ocuparam, naquele perodo, salas abandonadas do antigo ConventoSanto Antnio em busca de um espao para estudos, pesquisa e produo do teatro.

    Esse grupo de atores funda a Escola Piollin, transformando-a rapidamente numcentro de articulao entre artistas e outros setores da cultura no final da dcadade setenta e primeira metade da dcada de oitenta, e mantm-se como um centrode estudo e produo do teatro, alm de colaborar na formao de crianas,adolescentes e jovens moradores do Bairro do Roger e de comunidades vizinhas,prximas da sede do grupo.

    Daquele mesmo perodo, final dos anos sessenta e incio dos anos setnta, regis-tramos o surgimento do Grupo Tenda, liderado pelo veterano diretor e ator

    OS GRUPOS DETEATRO EM JOO PESSOA PB

  • Geraldo Jorge e o diretor Leonardo Nbrega(in memoriam), com uma produovoltada para o pblico infantil, e o Teatro Bigorna, que completa quarenta anosem agosto do prximo ano. O Bigorna, que acompanha a trajetria do seu criador,o diretor e ator Fernando Teixeira, conquistou ano passado uma sede, atravs deedital pblico do Governo do Estado, onde desenvolve os seus estudos e ensaiosno antigo Grupo Tomas Mindello, no centro histrico da cidade.

    Entre a velha guarda e a jovem guarda dos grupos paraibanos, identificamosestes grupos que surgiram na segunda metade da dcada de oitenta e incio dadcada de noventa: a Agitada Gang com vinte anos de estrada e que tem no seurepertrio/produo espetculos voltados para o pblico infanto-juvenil,alternando na direo dos seus trabalhos, diretores convidados e criao doprprio grupo; a Cia. Paraibana de Comdias que atua exclusivamente naproduo desse gnero, inspirado em grupos como a Bofetada (Salvador, BA),com grande repercusso de pblico e que mantm um ncleo de atores e umasede - um casario no centro histrico da cidade; a Cia xente, tocada pelo diretorMisael Batista e os atores Genrio Dumas e Jos Maciel, dentre outros(as); e, porltimo, vale lembrar do Grupo Quem Tem Boca Pra Gritar, que produzia teatrode rua na cidade de Campina Grande e se transferiu pra Joo Pessoa, no final dosculo passado e incio deste, chegando a adquirir um prdio no centro histricoda cidade. Parte desses grupos tem como ao principal a produo de espetcu-los e a manuteno de seu repertrio, alguns procuram aliar esse trabalho deproduo com uma ao mais investigativa.

    Ainda, nessa mesma direo, com um pouco mais de dez anos de existncia,ressaltamos a atuao do Grupo Contra Tempo criado pelo ator e diretor ngeloNunes (in memoriam), o ator e diretor Dulio Cunha e a atriz Zezita Matos.Lembrando que o ngelo participou intensamente do processo de criao doespetculo Vau da Sarapalha, sendo o responsvel pela operao de luz, e eraintegrante do ncleo Piollin - centro cultural e grupo de teatro.

    Da safra nova, importante registrar os grupos Graxa, formado por universitrios,na maioria estudantes do Curso de Especializao do Departamento de Teatro daUFPB, o Geca - Grupo Experimental Cena Aberta, coordenado pelo ator e jovemdiretor Marcos Pinto (este inspirado no trabalho itinerante do diretor galegoMoncho Rodrigues), alm dos Argonautas, Deuzerohoravamoembora, Cia Bocade Cena, dentre outros.

    Essa nova leva de grupos tem uma atuao com base na existncia dos antigosgrupos e, acredito, no trabalho do Curso de Especializao em Teatro doBacharelado em Teatro, desdobramento do Curso de Educao Artstica (criado

    26 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

  • em 1977 juntamente com a retomada do chamado teatro universitrio e aesde extenso implantadas desde ento: cursos, mostras, festivais, construo doTeatro Lima Penante).

    O tema, aqui e agora, no cobre a existncia de ncleosde teatro nos bairros e outras iniciativas. No cobreespecialmente as muitas questes que atravessam aforma de organizao, criao e produo desses grupose a necessidade de uma ao integrada entre essasagremiaes. preciso mesmo dizer da ausncia de umapesquisa nesse instigante tema, tanto em Joo Pessoacomo em todas as outras regies da Paraba, querecupere a trajetria desses ncleos, pelo menos nessesltimos cinqenta anos.

    *Ator - Piollin Grupo de Teatro

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:FIC Augusto do Anjos Fundo de Incentivo Cultura do Estado.Fundo Municipal de Cultura da cidade de Joo Pessoa.Fundo Municipal de Cultura de Campina Grande.Lei Padre Alfredo Barbosa da cidade de Cabedelo (Mecenato).Fundo Municipal de Cultura da cidade de Cajazeiras.FUMINC Fundo Municipal de Sousa (a lei existe, mas funcionou apenas uma vez por ordem judicial).

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:SATED/PB Sindicato dos Artistas e Tcnicos em Espetculos de Diverso.Federao Paraibana de Teatro.Associao Campinense de Teatro (Campina Grande/PB).Associao Cajazeirense de Teatro (Cajazeiras/PB).

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DA PARABA:Aproximadamente 60 grupos de teatro.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES: 12 espaos geridos por grupos ou entidades.

    Grupos de Teatro no NORDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 27

  • Teatro pernambucano aperta-se para mostrar a cara

    PERNAMBUCO por Leidson Ferraz*

    Cerca de doze a vinte e cinco produes teatraisficam em cartaz no Recife a cada novo final desemana. Dessas, muitas so montagens modestas,que ocupam teatros menores ou espaostotalmente alternativos como a sala de estar naresidncia de um produtor, mas h tambmatraes cnicas de maior porte nas casastradicionais, alm das montagens de rua quecirculam especialmente na RegioMetropolitana. Se por um lado a quantidade deopes teatrais considervel, o que mais seescuta nas conversas entre produtores, diretorese atores que Recife uma cidade sem teatros.As dificuldades de pauta so tantas que algumascasas de espetculos apostaram num revezamentoconstante de produes, o que, de certa forma,inviabiliza o sucesso de qualquer empreitadafinanceira.

    Com tanta rotatividade cnica, grupos de teatrosurgem e desaparecem com a mesma facilidade,inclusive no interior do Estado que, vez ou outra,d sinais de intenso flego. Daqueles consideradosverdadeiramente grupos - pela seqncia detrabalhos constantes, pelos anos dedicados auma pesquisa de linguagem ou mesmo peloachado de uma esttica prpria - comummanterem uma determinada pea em atividadepor longos anos, mesmo que as apresentaestornem-se espordicas. O fato quePernambuco hoje vive uma proliferao deconjuntos teatrais que so um mix de gruposteatrais, companhias e produtoras teimando emser profissionais, muitos destes, frutos do encontroentre estudantes ou ex-alunos do nico cursoEN

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  • Grupos de Teatro no NORDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 29

    universitrio de artes cnicas no Estado, o deLicenciatura Educao Artstica naUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE).

    Sem distino alguma para quem concorre aoFundo Pernambucano de Incentivo Cultura ouao Sistema de Incentivo Cultura Municipal, daPrefeitura do Recife, nicas formas de financia-mento no Estado, at o momento, o problema que no h um projeto especfico que contemplegrupos considerados estveis, palavra prati-camente inexistente no mercado teatralpernambucano. E, assim, sofrendo devido scrises financeiras, at mesmo aqueles queperduram por uma ou pouco mais de duasdcadas em atividade acabam enfrentando umrevezamento constante na equipe, com algunspoucos lderes tentando levar adiante suatrajetria de grupo. Das entidades representa-tivas, trs so voltadas para o teatro de grupo, aFederao de Teatro de Pernambuco, aAssociao de Teatro de Olinda e o Movimentode Teatro Popular de Pernambuco, todasdestacando-se muito mais pelo ideal que as fazexistir do que propriamente por suas realizaese conquistas. No meio de tantas dificuldades,raros so aqueles grupos que conseguem manterum espao cultural com salas para ensaios ouuma casa prpria de espetculos, a receberprodues suas e de outros conjuntos, das maisdiversas tendncias, alm de oficinas ou festivais.E essa tem sido a realidade pernambucana, cujoteatro teima em se manter vivo, pulsante einstigante, no somente preso ao rtulo donordestins, mas tentando ficar antenadocom as inovaes do mundo.

    *Ator, jornalista e pesquisador teatral, organizador do projeto Memrias da Cena

    Pernambucana, com trs livros j lanados, resgatando a trajetria de grupos, companhias

    e produtoras teatrais em todo o Estado.

  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:FUNCULTURA Fundo Pernambucano de Incentivo Cultura/ (financiamento estadual direto).SIC Municipal /Recife Sistema de Incentivo Cultura Municipal (para captao de recursos).Fundo de Cultura da Cidade de Olinda -Em processo de implementao.A lei j foi sancionada.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:APACEPE Associao dos Produtores de ArtesCnicas de Pernambuco I Tel. (81)3421.8456/3423.3186 I [email protected] Associao dos Artistas de Teatro eDana de Petrolina I [email protected] Associao de Realizadores de Teatro dePernambuco I [email protected] Associao dos Artistas de CaruaruTel. (81)3722.5417 I [email protected] Estao da Cultura (Arcoverde)[email protected] Associao de Teatro do Jaboato (Jaboatodos Guararapes) I [email protected] Associao de Teatro de [email protected] Federao de Teatro de PernambucoTel. (81)3077.1441 I [email protected]/PE Movimento de Teatro Popular dePernambuco I [email protected] Sociedade dos Artistas de [email protected]/PE Sindicato dos Artistas e Tcnicos emEspetculos de Diverses no Estado de PernambucoTel. (81)3424.3133 I [email protected]

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO:So centenas de grupos ainda atuantes em todo o Estado

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:J foram contabilizados mais de setenta espaos noEstado de Pernambuco, sendo que 40% semcondies de uso e menos de 8% geridos por grupos ou entidades. Informaes sobre todos estesespaos teatrais: www.teatrope.com

    30 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

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    Grupos de Teatro no NORDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 31

    isolados

  • 32 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    e levando em considerao as prticas existentes nos Estados de Sergipe eAlagoas, que no esto distantes de outras experincias espalhadas pelo Pas.Muita coisa mudou nas relaes internas.

    Uma das caractersticas do Teatro de Grupo um elenco permanente quedesenvolve pesquisa em torno de uma linguagem cnica ou que constri umasrie de aes levando em considerao alguns princpios. Hoje so poucos oscoletivos existentes, e praticamente todos trabalham com elencos fixos eatores convidados, criando assim uma nova relao no campo da atuao e,conseqentemente, uma nova categoria surgiu dessa bifurcao: os que soproprietrios e os outros profissionais. Dessa dicotomia apareceram outrosproblemas, entre eles a fragilidade de no se ter elencos fixos e o trnsito dessesatores que esto constantemente pulando de um grupo para outro.

    Em Sergipe existem diversos grupos. So eles: Strutifera Navis, Oxente de Teatro,Cia. Mafu, Razes, Mamulengo de Cheiroso, Ciranda de Espetculos, Imagem,Usina de Teatro, Os Picaretas, Grupo Imbuaa (celebrou seus 30 anos de trabalhono ltimo dia 28 de agosto), dentre outros. Todos esto trabalhando com atoresconvidados alm do seu elenco fixo. A manuteno do repertrio uma dasdificuldades que esses grupos vm enfrentando com essa nova realidade.

    Alagoas tambm tem diversos coletivos de trabalho: ATA (um dos grupos maisantigos do Brasil), Joana Gajuru, Cia. da Meia Noite, Nega Ful e alguns outrosque vm enfrentando problemas com seus elencos.

    Como surgiu essa bifurcao e por que manter esse quadro?

    Parece que as relaes de trabalho terminam alterando algumas prticasconsolidadas dentro desse universo. No h regra nem receita. A definio sobreTeatro de Grupo est longe de ser algo fechado, pois o que serve para uns noserve para outros. dessa diversidade de relaes que as vivncias so construdas,estabelecendo-se novos parmetros para as aes coletivas. Ento, o que Teatrode Grupo ou Coletivo de Trabalho? Quem manda e quem obedece? Existe umarelao nos moldes patro e empregado ou todos so iguais, compartilham dosmesmos direitos e deveres? No se pode mascarar uma prtica vivenciada emtodo o Pas. necessrio entender esse novo momento de conquistas e retrocessos.

  • Alguns ocupam espaos (inclusive fsicos) de destaque dentro de determinadoscontextos, advindos de lutas no campo poltico-partidrio ou mesmo da lutacotidiana oriunda do trabalho desenvolvido dentro dos coletivos. Outros notiveram os mesmos xitos, continuam na periferia com suas aes, vivendo margem. So pequenos territrios isolados teimando em resistir frentica loucurado dia-a-dia, bem como falta de patrocinadores ou de qualquer outro apoio quepossa manter viva a chama de um teatro que tem compromisso com a sua gente,sua comunidade, seu povo (e no se pode abrir aqui um debate sobre o conceitode povo, porm, quando se fala para sua aldeia, deseja-se falar para o mundo).

    Com o surgimento do Programa Cultura Viva (2004), do Ministrio da Cultura,muitos grupos esto vivenciando um novo momento em suas prticas: construindouma nova perspectiva na consolidao dos seus elencos, alguns criando cursos deformao de ator e outros estabelecendo novas experincias com as suascomunidades. Para os que esto tendo essa nova oportunidade de desenvolverum projeto com a durao de, no mnimo, dois anos, existe muito para contarsobre esse novo momento entre as esferas pblica e privada.

    *Integrante do Grupo Imbuaa.

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS: SE: Existe a Lei Municipal de Incentivo Cultura, mas est desativada h seisanos.AL: Lei Municipal de Incentivo Cultura em funcionamento.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:SE: SATED praticamente desativado.AL: SATED funciona precariamente.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO:SE: 12 grupos.AL: 14 grupos.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES: SE: um grupo com espao fixo.AL: nenhum.

  • 34 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    BAHIA por Gordo Neto*

    A Bahia nunca deixou de ter o Teatro de Grupo como uma grande fora, por vezes,fundamental nas artes cnicas. Podemos relembrar alguns nomes, como Teatrodos Novos, Avelz y Avestruz, Teatro Livre da Bahia e Carranca, entre outrostantos, no menos importantes; e os mais recentes, surgidos a partir da dcada deoitenta, noventa: Los Catedrsticos, Cia. Baiana de Patifaria e Bando deTeatro Olodum - alguns dentre eles ainda em plena atividade.

    Outra fase e outra safra de grupos locais me parecem ter se formado pela iniciativado Teatro Vila Velha, a partir de 1994, ao criar os grupos residentes do teatro.Outro fator importante foi a criao da Cooperativa Baiana de Teatro que tantorecebeu grupos quanto os incentivou a surgir, e o papel da Escola de Teatro, comalguns grupos idealizados l, formados por alunos, ex-alunos e professores. Ainda preciso salientar o papel do Teatro de Rua, movimento que ganhou ainda maiorexpressividade nos ltimos anos.

    Bom, o ttulo deste pequeno texto sugere uma diferena entre o Teatro de Grupoe o Grupo de Teatro. O primeiro, no meu entender, aquilo que resulta do trabalhocontnuo de um Grupo de Teatro, que contempla outras atividades para alm dacena, artstica ou no, que fomentem as discusses esttica, tica e poltica dofazer teatral. O segundo, um agrupamento de atores - circunstancial ou de formamais duradoura - para fazer teatro.

    Grupos de Teatro podem ou no ter como resultado um Teatro de Grupo. Nissono fao absolutamente nenhum juzo de valor ao espetculo, performancedeste ou daquele grupo, mas sim, uma justa clarificao do que seja uma coisa eoutra. No podemos confundi-las. A relevncia dessa distino entre Teatro deGrupo e Grupo de Teatro me parece importante nesse momento do teatro emSalvador e em nosso Estado - mesmo que eu tenha levantado alguns grupos dointerior, este intercmbio capital/interior muito discreto, assim como modesta ,infelizmente, a nossa relao com o Nordeste.

  • Grupos de Teatro no NORDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 35

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Lei Viva Cultura / Municipal (incentivo fiscal no valor de 400 mil/ano).Lei Fazcultura / Estadual (incentivo fiscal no valor de 15 milhes/ano).Fundo de Cultura da Bahia (verba de 30 milhes/ano).

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:Cooperativa Baiana de Teatro [email protected]

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DA BAHIA:23 grupos cadastrados, h muitos outros na capital e, sobretudo, no interior,porm no esto cadastrados.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS PORGRUPOS OU ENTIDADES:

    cinco grupos residentes do Vila tm espao prprio.

    Digo que o Teatro de Grupo nos importante hoje porque poderia assumir algumlugar no pensamento das artes cnicas local. Quem estaria hoje discutindo onosso teatro? Quem estaria hoje propondo aes para alm da cena? Quemestaria hoje ocupando grande parte das salas, ruas e dos espaos alternativos dana cidade? O subjuntivo est em cada pergunta porque tenho a impresso de que,apesar de grande esforo nesse sentido, e, felizmente, algum resultado, ns noestamos fazendo isso a contento. Ou estaramos?

    *Ator, diretor e membro do Colegiado do Teatro Vila Velha.

  • MATO GROSSO por Giovanni Arajo*

    No Mato Grosso a populao procura entreteni-mento. Tanto no interior como na capital, o quetem sucesso garantido so os shows musicaisteatrais com personagens tpicos estilizados,como a dupla Nico e Lau, que se apresentam emteatros ou eventos. Uma pequena parcela dessapopulao, alm desse tipo de teatro de entreteni-mento, procura o teatro e assiste a tudo, tanto oteatro comercial como o teatro de arte. Os gruposque atuam seriamente conseguem seu pblico.Temos uma Lei Estadual de Incentivo Cultura eoutra em Cuiab, que apenas Municipal. Os grupos disputam as verbas destinadas produode seus espetculos e eventos culturais entre si eentre a canalhice politiqueira que reina por aqui.S pra citar apenas um exemplo, at festa dopastel j teve projeto aprovado, inviabilizando aexecuo de vrios projetos realmente artsticos.No podendo, entretanto, os teatreiros viver debilheteria, complementam seu tempo dandoaulas, trabalhando em teatro-empresa, fazendocomerciais de televiso e outras funes do ator.

    Realidade

    do teatro de grupo

    36 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

  • Nesses tempos em Cuiab alguns eventos teatrais comeam a se fundar profundamente pelo amor e f de se tornarem srios e teis. o caso do FestivalNacional de Teatro de Cuiab, promovido pelo Teatro Fria, que trouxe capaci-tao, intercmbio, incentivo formao de pblico e descentralizao dosespetculos; a Mostra Guan, promovida pelo SESC Arsenal que, alm da mostraanual, possui vrias iniciativas fixas semanais, mensais, semestrais e anuais,como cursos, espetculos fora do eixo Rio/So Paulo, intercmbios, oficinas etc.No temos faculdades de teatro. Os teatreiros que querem se integrar a academiageralmente viajam para So Paulo, Rio de Janeiro ou Curitiba.

    O fato dos jovens no terem Artes Cnicas como opo para o estudo acadmi-co faz com que a distncia entre artistas e sociedade aumente cada vez mais,fazendo com que a sociedade enxergue o teatro realizado aqui como algo amador,valorizando mais o teatro de outras regies, especificamente as comdias globais.

    No h muito como pulverizar os conhecimentos pouco pragmticos. Temospoucos fatos de artistas ministrando oficinas permanentes em escolas e emalguns espaos culturais, no h programas de capacitao ou cursos tcnicospara os artistas e nem para que estes artistas tenham a possibilidade de repassarseus conhecimentos.

    Espaos realmente estruturados e equipados na medida do possvel para receberespetculos so o SESC Arsenal e o Teatro da UFMT - a poltica do SESC nosbeneficia, pois abraa somente peas alternativas e cobra pela bilheteria, j aUFMT, com seu aluguel carssimo, acolhe apenas peas de outros Estados. Por esse fato, criou-se um costume na utilizao de espaos alternativos, apresentaes em sedes, casas destinadas para shows musicais, dentre outros.

    *Diretor do Teatro Fria.

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Lei Municipal de Incentivo Cultura de Cuiab.Lei Estadual de Incentivo Cultura.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:No existem.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DO MATO GROSSO: 11 grupos estimados.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPO OU ENTIDADES:nove espaos geridos por entidades.

    Grupos de Teatro no CENTRO-OESTE do Brasil: realidade e diversidade I 37

  • GOIS por Marcus Fidelis*

    O teatro de grupo em Gois padece de uma crnica falta de apoio. Noexistem programas pblicos ou privados para a manuteno, nem quecontratem apresentaes por um valor razovel. Seriam cerca de 70agrupamentos no Estado, um tero deles no interior, considerando-sedesde trabalhos comunitrios, escolares, at produtores que fazemteatro-empresa ou escola. A maioria dos grupos melhor estruturadosest em Goinia, onde tem-se valido da Lei Municipal de Incentivo Cultura de Goinia e tambm de um programa da Secretaria daEducao do Municpio que seleciona espetculos para apresentaoem sua rede. A Lei Estadual de Incentivo no funciona a contento e oSESC d os primeiros passos no fomento ao teatro: este o segundoano em que traz espetculos pelo Palco Giratrio e comeou um projetode apresentaes em um de seus clubes.

    Nesse quadro, a cultura de teatro de grupo incipiente. H um movi-mento de grupos que tm se dedicado pesquisa e para isso tm buscado arejar suas idias atravs de oficinas, intercmbios e trabalhos

  • Grupos de Teatro no CENTRO-OESTE do Brasil: realidade e diversidade I 39

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Lei Municipal de Incentivo Cultura de Goinia.Lei Estadual de Incentivo Cultura.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:FETEG Federao de Teatro do Estado de Gois - [email protected]

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DE GOIS:70 grupos estimados, sendo 45 na capital e 25 no interior.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OUENTIDADES:cinco grupos tm espao prprio ou alugado.

    de direo com artistas individuais ou grupos como Lume, Barraco, NorbertoPresta, Tadashi Endo, Imbuaa, Moitar, Luis Louis, Andr Carreira, Hugo Rodas eMariozinho Telles. Nesses grupos, encontram-se artistas com mais tempo deestrada e outros mais jovens, muitos deles egressos do curso de Artes Cnicas daUniversidade Federal de Gois (UFG), criado no fim da dcada de 1990.

    Por ser um processo recente, os grupos tm explorado vrias possibilidades, comnfase no trabalho de ator. Em diversas vertentes, tm sido utilizadas tcnicas deteatro de rua, teatro de mscara, clown, circo, but, teatro fsico, contao dehistrias, entre outras, em busca de sustentao para um estilo nico e prprio.No se tem dispensado, tambm, esforos para dar qualidade s produes,esmerando-se nos aspectos visuais e sonoros, agregando artistas de outras reas.Os grupos com maior fora nesse contexto de formao de uma cena teatralgoiana so o Teatro Reinao, a Cia. Trapaa, a Cia. de Teatro Nu Escuro , o GrupoZabriskie Teatro, o Grupo Teatro que Roda, o Grupo Teatro Ritual e o GrupoBastet. Grupos com formao mais recente e consolidando seu trabalho so a Cia.Sala 3 , o Grupo Oops!, a Cia Novo Ato, o Grupo Marula e a Cabessa de Vaca Cia.de Teatro. H dois grupos vinculados Coordenao de Arte e Cultura daUniversidade Catlica de Gois, o Grupo Arte e Fatos e o Grupo Guar. Gruposcom um trabalho de fortes razes locais so o Grupo de Teatro Exerccio, o GrupoTheatral Arte e Fogo, o Grupo Abaporu, a ACT -Associao Casa do Teatro, a Cia.In Cena e o Grupo Trupico. Possuem espaos o Nu Escuro, o Zabriskie, o QueRoda, a Casa do Teatro, e os da UCG.

    *Fundador e coordenador do Grupo Zabriskie Teatro.

  • DISTRITO FEDERAL por Francis Wilker*

    Na era do virtual-fragmentado-descartvel-veloz, entre tantos termosassociados contemporaneidade, a primeira questo que me desafiadiz respeito ao sentido de estarmos juntos: o grupo. O que significateatro de grupo hoje? Quais so as configuraes de um grupo? Quaisso as dificuldades para um grupo de teatro se manter? Qual ocenrio do teatro de grupo no DF? Braslia uma jovem senhora comseus 47 anos. Muitos so os olhares que definem a cidade. Entre os versosde Nicolas Behr inspirados na capital, um me chama muita ateno:

    Braslia a solido dividida em blocos. Partindo desse olhar para a cidade, como est o teatro na capital do Pas?Numa perspectiva histrica, muitos grupos surgiram e desapareceram nessesquase cinqenta anos. Certamente descontinuidade o melhor termo paradefinir o panorama geral do teatro de grupo no DF. Isso se deve, principal-mente, carncia de polticas pblicas de cultura que possam assegurar acontinuidade dos grupos e suas pesquisas. A produo local marcada pordiretores em torno dos quais flutuam elencos variados. Quanto aos grupos,a maioria no tem sede prpria e muitas vezes carece de espaos paraensaios; no h projetos de residncia artstica ou incentivo do governolocal para a manuteno de grupos; a produo e a difuso so concentradasno Plano Piloto, exceto raras iniciativas nas cidades de Taguatinga, Gama, Planaltina e Ceilndia. Para agravar esse quadro, dificilmente osespetculos permanecem em cartaz por mais de trs fins de semana e noh projetos estruturantes de produo e circulao nas 28 cidades satlites.

    UMTEATROQUERESISTE

  • Grupos de Teatro no CENTRO-OESTE do Brasil: realidade e diversidade I 41

    A diversidade de linguagens uma marca positiva na criao local. Entre osgrupos em atividade, poderamos distinguir os seguintes caminhos estticos: grupos que se dedicam investigao do dilogo entre teatro e astcnicas do circo e do palhao (Circo Teatro Udi Grudi, Celeiro das Antas,Companhia do Riso, Circo Teatro Artetude); outros que exploram o teatro debonecos e suas variantes (Circo, Boneco e Riso, Mamulengo Presepada,Grupo Pirilampo de Teatro de Bonecos e Atores, Bagagem Cia. de Bonecos);grupos que se dedicam comdia e ao humor e que tm pblico fiel (OsMelhores do Mundo, G7, Cia. de Comdia Os Annimos da Silva); h aindao teatro de rua que fez histria nos espaos amplos da cidade (Esquadro daVida); e um grupo voltado s conexes entre cultura popular brasileira e linguagem teatral (Cortejo Cia de atores). Outros grupos apresentam umaperspectiva interdisciplinar de livre experimentao e que, a cada processo,investigam distintas possibilidades de linguagem (O Hierofante, PiramundoCia.teatral, Mundin Cia. de teatro); j o Grupo Cabea Feita, composto porartistas negros, tem o seu foco na insero do artista negro no mercado detrabalho; o processo colaborativo e a criao a partir do depoimento pessoaldos envolvidos do a tnica dos processos criativos no Teatro do Concreto.

    Para fugir dos blocos de solido, entre as conquistas do movimento teatral,destaca-se a criao, em 2001, da Cooperativa Brasiliense de Teatro, quetem procurado dar sinergia categoria e facilitado a mobilizao, a formaoe o intercmbio. Alm dessa iniciativa, uma lista na Internet, o Frum deTeatro do DF, importante ferramenta para facilitar a comunicao, a

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    UM TEATROQUE RESISTE

  • 42 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Fundo da Arte e da Cultura (FAC) atende s finalidades do Programa de Apoio Cultura (PAC) I www.sc.df.gov.br/paginas/fac/fac.htm

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:Cooperativa Brasiliense de Teatro rene 11 grupos e diversos artistas www.teatrobrasiliense.com.br Associao Candanga de Teatro de Bonecos rene 20 [email protected] I Tel. (61)9177.5458.Frum de Teatro rene 100 artistas integrantes.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS DO DISTRITO FEDERAL: (Braslia e cidadessatlites. Ainda no h um cadastro dos grupos da regio): 45 grupos estimados.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:oito grupos possuem espao prprio ou alugado, alguns deles: Mundin Cia. deTeatro, Mamulengo Presepada, Bagagem Cia. de Bonecos, Os Melhores do Mundo,Circo, Boneco e Riso, G7.

    QUERESISTEmobilizao e a articulao poltica. O momento revela uma safra de novosgrupos que tm surgido dos cursos superiores em artes cnicas, advindos da

    Universidade de Braslia e da Faculdade Dulcina de Moraes, coletivos quecomeam a mostrar seus trabalhos e a escrever o nome numa histria recentemarcada pela resistncia. Talvez fazer teatro de grupo seja justamente a formaencontrada para enfrentar tantos desafios, sentido expresso por alguns coletivosna velha rodinha antes de entrar em cena: coloco minha mo sobre a sua, paraque possamos fazer, juntos, aquilo que eu no sei fazer sozinho! Merda!.

    *Diretor do Teatro do Concreto, graduado em Artes Cnicas pela Universidade de Braslia.

    professor do curso de teatro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes desde 2004.

  • Uma das caractersticas daproduo teatral no Estado de

    Mato Grosso do Sul a per-manncia dos Grupos de Teatro.

    Dando continuidade a uma prticaque teve incio na dcada de 1970,

    junto com um movimento nacionalencabeado pela Confederao Nacional

    de Teatro Amador - CONFENATA, os gruposse aglutinaram em torno de uma

    Federao, e comearam a desenvolver suasatividades dentro da viso daquele movimento

    nacional. Aqui no Estado a Federao Sul-Matogrossense de Teatro (embora j tenha tido

    outras denominaes) tem mais de 40 anos.

    Precursores daquele movimento, dois grupos aindamantm suas atividades: o GUTAC (Grupo Teatral

    Amador Campo-grandense) e o TRANSART. Em seguida,surgiram o Teatral Grupo de Risco, Senta Que o Leo

    Grupos de Teatro no CENTRO-OESTE do Brasil: realidade e diversidade I 43

    OSGRUPOS DETEATRO DEMATO GROSSODOSULMATO GROSSO DO SUL por L Bigato*

  • 44 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

    Manso, o Unicrnio e Anteato, todos criados na dcada de1980, e mantendo ainda sua atividade teatral. Outros grupos surgiram depois, como Repblica Cnica, Palco,Curumins, Trem Caipira, Oficina de Criao Teatral, Arte eRiso, entre outros. Existem hoje cadastrados naFundao de Cultura de MS 55 grupos de teatro, sendo30 na capital - Campo Grande - e 25 no interior doEstado, sendo que cinco deles tm sede prpria.

    Mas o grupo, na maioria das vezes, de apenas umapessoa. Isto , apenas o diretor fixo e permanecepor muitos anos na companhia. O elenco est emconstante mudana. uma caracterstica deCampo Grande, capital de MS, a rotatividadedos atores. Em cada nova montagem serene um elenco variado, e assim osatores vo passando por todos os grupos.

    Atualmente, duas companhias mantmas caractersticas de um Teatro deGrupo, com direo, elenco e corpotcnico mais duradouro: o TeatralGrupo de Risco e o Repblica Cnica. H oito anos, o Teatral Grupo de

    Risco mantm um espao para ensaios eapresentaes. Nesse perodo vem priori-

    zando os temas regionais e construindo umadramaturgia prpria. O grupo tem quatro

    pessoas na diretoria e tenta manter um elencofixo, embora sempre tenha atores convidados

    em suas peas. A companhia completa 20 anos decaminhada em 2008 e j encenou mais de 30

    espetculos no seu trajeto. J produziu tambmalguns programas para televiso e dois documentrios.

    Experincias diferentes tiveram pouco sucesso nestas terras, ou seja, a montagem de espetculos,

    com caractersticas profissionais, em que um produtorrene diretor e atores com a finalidade de montar

    somente esta ou aquela pea. Na maioria das vezes emque isto ocorreu, a pea teve um tempo muito curto de

    vida e no se obtiveram os resultados financeiros desejados.

  • Outro fator determinante a falta de patrocnio(como deve ser em diversas outras regies do

    Pas). Mato Grosso do Sul tem sua economia sus-tentada pela agricultura e pela pecuria. Isso reflete

    diretamente na produo cultural do Estado, que,sem indstrias para viabilizar as produes, conta apenas

    com patrocnios de rgos governamentais. O Fundo deInvestimentos Culturais do Municpio pequeno e no

    atende demanda. Em 2007 apenas dois projetos de teatroreceberam apoio de R$ 15.000,00 cada. O Fundo Estadual

    est h dois anos sem lanar editais.

    Nesta regio praticamente impossvel conseguir captar recursospela iniciativa privada, pela baixa densidade demogrfica do Estado,

    que tem uma populao de apenas dois milhes de habitantes.Embora consigam o certificado da Lei Rouanet, os grupos no conseguem

    captar recursos das grandes empresas, que preferem investir nos grandescentros. Nos ltimos anos grupos conseguiram aprovar projetos pelo

    Ministrio da Cultura, que vem tentando descentralizar suas aes.

    *Jornalista e atriz formada pela EAD-USP, mestre em Meio Ambiente. Reside emCampo Grande desde 1988, onde fundou o Teatral Grupo de Risco. Este texto teve

    a colaborao de Roberto Figueiredo - presidente da FESMAT- Federao de Teatrode Mato Grosso do Sul.

    LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Fundo de Investimentos Culturais Municipal.

    Fundo de Investimentos Culturais Estadual (h dois anos no lanaedital, mas deve voltar em 2008).

    H uma manifestao e boas perspectivas de que o municpio disponibilize1% da arrecadao para a cultura, o que daria em mdia R$6 milhes/ano.

    ENTIDADE REPRESENTATIVA:Federao Sul-matogrossense de teatro Presidente: Roberto Figueiredo

    Tel. (67)9221.4018.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL:55 grupos estimados, sendo 30 grupos de Campo Grande e 25 do interior.

    Contatos: Teatral Grupo de Risco I Lu Bigato I Tel. (67)[email protected]

    Repblica Cnica - Anderson Bernardes I Tel. (67)8116.3072

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:cinco tm espao prprio ou alugado.

    Grupos de Teatro no CENTRO-OESTE do Brasil: realidade e diversidade I 45

  • MINAS GERAIS por Gustavo Bartolozzi*

    ...ns avanamos no tempo como inundao avana: a guatem atrs de si a gua, por isso que se move, e isso que a move.

    Jos Saramago

    Em Minas, alguns Grupos j esto perto de completar trs dcadas de trabalhoininterruptos, em plena atividade. E, por outro lado, no existe levantamentosobre a grande quantidade de Companhias que nascem e morrem no Estado. Em pelo menos 90 cidades, em Coletivos Teatrais que a maioria dos artistaslocais desenvolve sua arte, exercendo o importante papel de sustentculo, tantoartstico quanto poltico1 do teatro feito em Minas.

    Em BH, crescente o numero de Coletivos que mantm espaos prprios2, hojeso no mnimo 20. Infelizmente, a grande maioria, aproximadamente 75%, nogoza da mesma realidade. Quase a totalidade das Sedes est fora da rea central.Muitas vezes, esses Espaos de Grupo atuam como ncleos multiplicadores e soas nicas referncias artstico-culturais para as comunidades. Como essas ativi-dades em tais localidades no so foco de interesse de investimento do mercado

    46 I Subtexto - Revista de teatro do Galpo Cine Horto

  • cultural e as aes do poder pblico no conseguem atingi-las, osegmento busca, como micropoltica, o fortalecimento dessesEspaos, atravs de trocas, compartilhamento e integrao entre si,buscando macropolticas especficas de fomento e cesses deespaos pblicos ociosos. Esses so os maiores paradigmas do Teatrode Grupo na capital. O Teatro de Rua teve o seu apogeu em meadosdas dcadas de 1980 e 1990 e foi o maior prejudicado pela polticade iseno fiscal. Hoje, algumas Companhias ainda resistem, seapresentam na rua, tentam se organizar e criar atividades.

    A pesquisa, a investigao, o desenvolvimento de linguagem e abusca pela excelncia artstica em contraponto ao produto culturalimediatista ditam o modo de produo. Isso faz com que os Grupos,alm de ter em repertrio verdadeiras obras de arte, sejam fecundosconstrutores de um conhecimento tcnico-teatral imenso e diverso.O patrimnio imaterial, artstico e cultural de que Minas Geraisdispe, atravs de seus Grupos, inigualvel.

    Grupos de Teatro no SUDESTE do Brasil: realidade e diversidade I 47

  • Politicamente o Teatro de Grupo tem um histrico de conquistas: Naquelapoca, o Teatro de Rua ainda era considerado uma aventura, a procura denovas linguagens, um risco desnecessrio, e o rtulo de experimental era pejo-rativamente pregado em nossas testas. (Depoimento de Grupos sobre a pocada fundao do Movimento Teatro de Grupo de Minas Gerais / 92 - FIT Revista1996 Nmero 2) . O segmento, mesmo que, infelizmente, siga atordoado pordesentendimentos do passado, continua vigoroso e forte, tentando superardificuldades, batalhando por novas vitrias e tentando viabilizar ao mximo assuas potencialidades estratgicas de proporcionar qualidade de vida e construir cidadania. Da luta dos que hoje labutam dependem os que vo nossuceder. Pois, como j se sabe, Grupos so minas e Minas de Grupos.

    *Ator, diretor e integrante da Cia. Candongas.

    1 Bons exemplos existem no Vale do Jequitinhonha, Vale do Ao, Tringulo Mineiro, Zonada Mata, Serra da Mantiqueira e regio metropolitana de Belo Horizonte, dentre outras.

    2 Considera-se espaos Prprios como espaos de trabalho que os Grupos mantm, nonecessariamente adquiridos.

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  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS E FOMENTOS:Lei Municipal de Incentivo Cultura.Fundo Municipal de Incentivo Cultura.Lei Estadual de Incentivo Cultura.Fundo Estadual de Cultura.Cena Minas Prmio Estado de Minas Gerais de Artes Cnicas.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:MTG Movimento de Teatro de Grupo de Minas Gerais (rene 19 grupos).Tel.(31)3224.8818 I [email protected] ATEBEMG Associao de Teatro de Bonecos do Estado de Minas Gerais (reneaproximadamente 30 integrantes).SATED/MG Sindicato de Artistas e Tcnicos em Espetculos de Diverso de MGTel. (31)3224.8628.ATU Associao de Teatro de Uberlndia (rene 35 integrantes) I Tel. (34)3236.1754.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOS NO ESTADO DE MINAS GERAIS:Aproximadamente 250 grupos.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOS TEATRAIS GERIDOS POR GRUPOS OU ENTIDADES:Aproximadamente dez espaos adquiridos e 60 alugados e/ou cedidos.

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  • O T

    EATR

    O E ESPRITO SANTO por Wilson Colho*Discorrer sobre a realidade e a diver-sidade do teatro de grupo, levando emconta o movimento de teatro de grupo

    no Esprito Santo, comea com umadicotomia. dizer que a realidade,aceita como aquilo que se realiza, noaponta muitos caminhos para o quepoderamos entender como diversidade,embora aqui o espao seja exguopara um maior aprofundamentodessas questes.

    Recorrendo um pouco histria, esem querer alimentar a idia doparaso perdido, cumpre-nos lembrarque, no final dos anos 1980, nesteEstado de 82 municpios, tnhamosmais de 90 grupos filiados FECATA(Federao Capixaba de TeatroAmador), e que - hoje - no con-seguimos atingir a casa de duasdezenas de grupos, se que podemosconsiderar como grupo apenas umalogomarca que insista em tentar seafirmar como uma unidade.

    O que poderamos considerar comoum avano, de certa forma, implicounossa derrocada, numa anlise deconjuntura. Por exemplo, fomos umdos primeiros, seno o primeiroEstado, a criar uma lei de incentivo produo cultural no Pas: a LeiRubem Braga. Se, num primeiromomento, tudo nos parecia uma

    A LEI

  • LEIS DE INCENTIVO/ EDITAIS EFOMENTOS:Lei Rubem Braga Municpio deVitria.Lei Municipal de Cariacica JooBananeira (Grande Vitria).Lei Municipal de Vila Velha(Grande Vitria).Lei Municipal de Incentivo deCachoeiro de Itapemirim (emfuncionamento).Lei Municipal de Incentivo deColatina (no est em funcionamento).No h Lei Estadual de Incentivo enem Fundo Estadual para a Cultura.

    ENTIDADES REPRESENTATIVAS:FECATE Federao Capixaba deTeatro I [email protected] Tel. (27)3223.2884SATED/ES Sindicato de Artistas eTcnicos em Espetculos deDiverso do ES I www.satedes.org.br Escola de teatro e dana FAFIWilson Colho I Tel. (27) 3381.6923.

    ESTIMATIVA DO N DE GRUPOSNO ESTADO DO ESPRITO SANTO:15 grupos estimados.

    ESTIMATIVA DO N DE ESPAOSTEATRAIS GERIDOS POR GRUPOSOU ENTIDADES:05 grupos possuem espao, sendo eles:Folgazes espao alugado.Tarahumaras espao cedido.Gota, P e Poeira utilizam umteatro municipal.Os Tio utilizam um teatro municipal.Teatro Campaneli escola de teatro.

    possibilidade de fortalecer os gruposem sua pesquisa de modo que nospropiciasse a definio de uma identi-dade para os mesmos, acabamos porinaugurar um novo personagem nomovimento cultural, um tipo produtor,elemento desagregador do movimentoteatral. Equivale a dizer que esseprodutor, ou trocador de bnus,acabou por se transformar numafigura mais importante que o artista-criador. Com um projeto aprovadona lei, quase como se pudssemosler o slogan: aluga-se corpo e voz.Assim, passou a contratar os atores-mercadoria de planto. que nesseprocesso no h o mnimo interessena manuteno de um grupo depesquisa, considerando a prefernciapelo comercial, pela rapidez da montagem e curta vida til da obra.Fazem-se algumas apresentaes paraprestar conta justificando o apoio ed-se entrada em outro projeto.

    Da, um aspecto do real que dilui adiversidade, considerando a prefernciapor uma produo artstica que se realize apenas com vistas aos resultados,um evento sem a mnima pretenso ouo compromisso com a reflexo sobre omundo e o sentido que o emprestamospara que seja aceito como tal ou pelanecessidade de transform-lo.

    *Coordenador da Escola de Teatro e Dana FAFI.

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  • RIO DE JANEIRO por Antonio Guedes*

    Os grupos teatrais do Rio de Janeiro vivem numa atmosfera muito diferentedo resto do Pas. Considerada uma espcie de Hollywood brasileira, por abrigarum grande nmero de estrelas da televiso, por sediar a principal emissora deTV do Pas e por exercer um grande fascnio sobre a populao, trabalharexclusivamente com teatro no Rio torna-se uma atitude quase revolucionria.O teatro profissional confunde-se com a televiso e os artistas vem-se refnsdessa expectativa geral.

    A ausncia do Estado inacreditvel. Apenas para dar uma idia, em se tratandode um Estado que almeja ser a capital cultural do Pas, nos ltimos dez anos, oGoverno Estadual criou apenas duas iniciativas de fomento s artes cnicas, asduas lanadas em 2001 - o que d a medida eventual da iniciativa: o ProCena,um programa de fomento produo de pouco mais de trs milhes de reais, eum prmio, de cerca de 800 mil reais, que destinava a cada categoria premiadaum valor exorbitante, que seria mais bem aplicado se voltado para a produode novos trabalhos. Num Estado cujo atual oramento para a Cultura muitoprximo do zero, o fato de haver uma lei de incentivo fiscal tornou-se o principalfoco de investimento para a regio. Ou seja: temos uma Secretaria que se preocupa com as artes cnicas apenas a partir da perspectiva da renncia fiscal.

    A Prefeitura do Rio criou, h 12 anos, uma rede de teatros municipais quedotava cada teatro de verba prpria para o desenvolvimento de atividadesque dessem um perfil para cada espao. Entretanto, esse projeto veio sendoesvaziado pela Prefeitura - incompreensivelmente, visto que continua nopoder o mesmo prefeito que o criou - chegando ao total sucateamento dosteatros verificado hoje em dia.

    MODOSDEPRODUO

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  • Num quadro como esse no qual, por um lado, o glamour da televisoexerce enorme influncia sobre a populao e sobre o empresariado e,por outro lado, o Estado exime-se de criar polticas pblicas voltadaspara a produo artstica, torna-se inevitvel a existncia de distores ediferenas abissais entre os grupos de teatro atuantes no Rio de Janeiro.

    So diversos os segmentos de grupos encontrados no Rio de Janeiro e,conseqentemente, so variados os modos de produo que encontramosno Estado. Existem desde os grupos que, num hibridismo determinadopela sobrevivncia, mesclam aos integrantes da companhia atores ouatrizes da televiso - que, diga-se de passagem, tm, em geral, umagrande vontade de experimentar o trabalho em teatro com gente deteatro - at grupos do interior que, por no encontrarem polticaspblicas voltadas para o teatro no Estado, quase nunca conseguemchegar capital.

    No meio disso tudo, alguns poucos grupos conseguem desenvolver seustrabalhos com integridade graas ao apoio da Petrobras, que subvencionaalgumas de suas atividades enquanto outros produzem de forma muitoirregular, pois dependem de editais lanados, ora pela Prefeitura, ora pelaFunarte, nunca pelo Estado. Num contexto como esse, a sobrevivnciados grupos est sempre ameaada.

    Os modos de produo dos grupos variam muito. H grupos que conseguiram se organizar de forma a usufruir das leis de incentivo e vmconstruindo uma boa relao com as poucas empresas - quas