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TCM informativo Edição comemorativa do centenário do Brigadeiro Faria Lima | N o 43 | Dezembro de 2009 ISO 9001 www.tcm.sp.gov.br Sessão solene lembra centenário de nascimento do patrono do TCM O Tribunal de Contas do Município de São Paulo relembrou o centenário de nascimento do patrono dessa Corte e ex- prefeito de São Paulo, Brigadeiro José Vi- cente de Faria Lima, em evento realizado no dia 05 de outubro, no plenário da Casa. Na ocasião foram lançados o selo e o ca- rimbo alusivos à data pelo Ministério das Comunicações e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Ao dar início à homenagem, o presidente do Tribunal, Roberto Braguim, disse que “poucas pessoas representaram ou re- presentam a pujança de São Paulo como o Brigadeiro”, chamado por Braguim de “eterno prefeito”. Para ele, Faria Lima “soube, como poucos, emprestar a sua marca à própria geografia da cidade, que, sob seu comando, deixou de ter limites, espraiando-se pelos quatro cantos, alar- gando-se e aparelhando-se para a moder- nidade tão almejada.” Esta edição especial do TCM Informati- vo relembra a história política do Briga- deiro, com textos, fotos e depoimentos de quem com ele conviveu ou conhece a sua história. “Faria Lima foi um homem de visão e à frente do seu tempo”. (José Roberto Faria Lima, sobrinho). edicao comemorativa.indd 1 12/3/09 10:47 AM

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Page 1: TCM informativo · assumiu a Prefeitura de São Paulo em 8 de março de 1965 e governou até 7 de março de 1969. Desde sua posse, São Paulo passou a ser alvo de importantes investi-

TCM informativoEdição comemorativa do centenário do Brigadeiro Faria Lima | No 43 | Dezembro de 2009 ISO 9001

www.tcm.sp.gov.br

Sessão solene lembra centenário de nascimento do patrono do TCM

O Tribunal de Contas do Município de

São Paulo relembrou o centenário de

nascimento do patrono dessa Corte e ex-

prefeito de São Paulo, Brigadeiro José Vi-

cente de Faria Lima, em evento realizado

no dia 05 de outubro, no plenário da Casa.

Na ocasião foram lançados o selo e o ca-

rimbo alusivos à data pelo Ministério das

Comunicações e a Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos.

Ao dar início à homenagem, o presidente

do Tribunal, Roberto Braguim, disse que

“poucas pessoas representaram ou re-

presentam a pujança de São Paulo como

o Brigadeiro”, chamado por Braguim de

“eterno prefeito”. Para ele, Faria Lima

“soube, como poucos, emprestar a sua

marca à própria geografi a da cidade, que,

sob seu comando, deixou de ter limites,

espraiando-se pelos quatro cantos, alar-

gando-se e aparelhando-se para a moder-

nidade tão almejada.”

Esta edição especial do TCM Informati-

vo relembra a história política do Briga-

deiro, com textos, fotos e depoimentos

de quem com ele conviveu ou conhece a

sua história.

“Faria Lima foi um homem de visão e à frente do seu tempo”. (José Roberto Faria Lima, sobrinho).

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P E R F I L

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De militar a político, uma trajetória marcante

José Vicente de Faria Lima teve uma trajetória notável como mi-litar e político. Em 1928, o mais

velho de cinco irmãos alistou-se no Colégio Militar do Realengo e, dois anos depois, iniciou sua carreira militar ao entrar para a Escola de Aviação do Exército. Faria Lima formou-se enge-nheiro aeronáutico na Escola Superior de Aeronáutica em Paris, França, tor-nando-se pioneiro e peça fundamental para a consolidação da aviação nacio-nal. O então futuro Brigadeiro ocupou o posto de segundo tenente do Correio Aéreo Nacional que, desde 1931, fazia o serviço postal militar no Brasil.

Em 1941, juntamente com o major Nero Moura, Faria Lima ajudou a fundar o Mi-nistério da Aeronáutica com a intenção de que fosse forte o suficiente para dar apoio aos já existentes e tradicionais Exército e Marinha. Na época, Salga-do Filho foi designado pelo presidente Getúlio Vargas como primeiro titular do Ministério e Faria Lima logo integrou o gabinete como responsável por coman-dar operações especiais no Panamá e nos Estados Unidos. No final da década de 40, ainda coronel, foi transferido à capital paulista para dirigir o Parque da Aeronáutica. Em 1958, foi empossado Brigadeiro do Ar, título pelo qual ficou conhecido nacionalmente.

Jânio Quadros, governador de São Pau-lo entre 1955 e 1959, ao perceber o de-sempenho do Brigadeiro como diretor

A convite de Jânio Quadros, presidente

da República entre janeiro e agosto de

1961, mudou-se com sua esposa Yo-

landa para Brasília, a fim de presidir o

então BNDE (Banco Nacional de Desen-

volvimento Econômico) entre fevereiro

de 1961 e setembro do mesmo ano.

Em 1962, convidado pelo agora amigo

Jânio Quadros, candidatou-se a vice-

do Parque da Aeronáutica, convidou-o para presidir a VASP (Viação Aérea São Paulo). Após sua boa administração na companhia, Jânio, ainda governador de São Paulo, nomeou o brigadeiro como Secretário de Viação e Obras Públicas. Durante o período que assumiu a Se-cretaria, Faria Lima construiu cerca de dois mil quilômetros de estradas no in-terior do Estado.

O Brigadeiro levou para a política noções de disciplina e ação que aprendeu na vida militar.

Faria Lima, que foi secretário de Estado de Viação e Obras Públicas, presidiu o BNDE e a Vasp, assumiu a Prefeitura de São Paulo em 1965.

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Com a posse do prefeito Faria Lima, São Paulo ganhou obras que a remodelaram.

A gestão Faria Lima foi marcada pela formação de equipes técnicas competentes que ele liderava com grande eficiência.

governador de São Paulo na chapa de Jânio, mas perderam a eleição. Três anos depois candidatou-se à Prefeitu-ra de São Paulo pelo Movimento Tra-balhista Renovador e pelo Partido da República. Seu slogan de campanha era “Vote em Faria Lima e ganhe uma cidade nova”.

O Brigadeiro foi eleito com 462.162 vo-tos, e grande diferença em relação aos seus oponentes Auro Soares de Moura Andrade, Laudo Natel, Paulo Egydio Martins, Pedro Geraldo Costa e Franco Montoro. Disputada em um momento em que a ditadura militar já havia sido implantada, foi a última eleição decidi-da pelo voto popular até 1985, ano do fim do regime autoritário.

Apesar de militar, o Brigadeiro Faria Lima era considerado progressista e até esquerdista, características que contribuíram para que o general Luiz Carlos Guedes, um dos líderes do

golpe de 64, consideras-se todos os candidatos à Prefeitura de São Pau-lo “subversivos”. Eleito pelo voto popular, José Vicente de Faria Lima assumiu a Prefeitura de São Paulo em 8 de março de 1965 e governou até 7 de março de 1969.

Desde sua posse, São Paulo passou a ser alvo de importantes investi-mentos para remodelar o espaço urbano. Adequar a cidade para acomodar a numerosa frota auto-

mobilística - que em 30 anos passou de 60 mil para 3,6 milhões de veículos - es-tava nos planos do novo prefeito. Para isso, abriu as Avenidas 23 de Maio, Rubem Berta, Sumaré, Radial Leste, as Marginais Tietê e Pinheiros e du-plicou a Rua Iguatemi, que mais tarde seria denominada Avenida Brigadeiro Faria Lima.

Para estruturar São Paulo como metró-pole industrial, Faria Lima traçou o pri-meiro Plano Urbanístico Básico, voltado a preparar a Capital para ser um polo de serviços e equilibrar o espaço urba-no do município em crescimento con-tínuo alavancado pela industrialização do segundo pós-guerra.

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A principal marca do mandato do Brigadeiro como Prefeito foi o início das construções que, em

1974, dariam origem ao metrô. Para executar a obra foi instalado o Grupo Executivo Metropolitano (GEM), em 1966. O trabalho de mapeamento geo-lógico e de pesquisa dos hábitos de 25 mil famílias paulistanas, desenvolvido pelo GEM, levou quase dois anos.

O bem-estar dos munícipes em outras áreas também foi preocupação do Bri-gadeiro, que criou as primeiras creches

Avenida Paulista, inaugurado pela Rai-nha Elizabeth II, da Inglaterra.

Inspirado pelo Carnaval do Rio de Ja-neiro, sua terra natal, o prefeito san-cionou a Lei 7.100/67 para a promoção do Carnaval pela Prefeitura Municipal e, por meio de investimentos públicos em infraestrutura, receber festejos na cidade. Para isso, criou a Secretaria do Turismo e Fomento dedicada a promo-ver e ampliar atividades culturais de São Paulo e, dando continuidade à exe-cução dos planos municipais em rela-ção ao Carnaval, idealizou o Anhembi, concluído em 1970.

No seu mandato também foi firmado um protocolo de intenções entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro com o objetivo de buscar soluções para problemas em comum das duas metró-poles nas áreas de saúde, organização administrativa, transporte, turismo, educação e assistências social e civil.

Faria Lima descentralizou a gestão mu-nicipal, criando as Administrações Re-gionais, que são as Subprefeituras de hoje, com vistas a atender diretamente as necessidades dos bairros de São Paulo.

O Prefeito recebia semanalmente em seu gabinete os representantes das as-sociações de moradores de bairros para ouvir suas reclamações e, assim, tentar solucioná-las. Por preservar o diálogo com grupos e organizações populares, a

municipais da cidade aptas a atender crianças de 0 a 4 anos; ampliou o ser-viço básico de saúde, construindo mais 14 postos de atendimento; e fundou a COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação), para oferecer moradia à parcela da população financeiramente menos favorecida. Todas as obras de sua administração eram acompanha-das pessoalmente por ele.

No âmbito cultural, Faria Lima concluiu a obra do MASP (Museu de Artes de São Paulo – Assis Chateubriand), na

Para Faria Lima a implantação do sistema metroviário era uma das principais metas do seu governo. Para iniciar os estudos foi criado, em 1966, o Grupo Executivo Metropolitano,

antecessor do Metrô de São Paulo, de abril de 1968.

Atento ao crescimento de São Paulo, Faria Lima dá início às obras do Metrô

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Tribunal de Contas do Município de São Paulo Nº 42 Janeiro de 2009

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administração de Faria Lima representou o último suspiro do modelo democráti-co de gestão municipal paulistana na época da ditadura. Em 1968, o Prefeito criou o primeiro Tribunal de Contas do Município do Brasil, órgão com função de fiscalizar a administração pública da cidade de São Paulo, assegurando que os tributos pagos sejam bem utilizados pela Prefeitura.

Por conta de todas as mudanças e re-formas que fez em São Paulo, em 1969, último ano de seu mandato, Faria Lima tinha 98% da aprovação dos munícipes, que consideravam sua gestão como óti-ma ou boa. Um nível de aceitação nun-ca mais igualado.

Apesar de sua administração ter apoio tanto das camadas populares como das elites, o Brigadeiro não conseguiu

No último ano de seu mandato, Faria Lima tinha 98% de aprovação, índice nunca mais igualado.

Imagem da escultura em bronze e granito do prefeito José Vicente de Faria Lima, de 1972, esculpida por Luiz Morrone, localizada na Praça Luiz Carlos Paraná.

prolongar seu mandato por mais dois anos, de 1969 a 1971, como pretendia, aproveitando-se de uma manobra do Governo Federal para coincidir as elei-ções estaduais e municipais.

Ainda em 1969, querendo candidatar-se a governador de São Paulo, Faria Lima pensou em filiar-se à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido de apoio ao governo militar, mas acabou de-sistindo. Sonhava em candidatar-se à Presidência da República, porém aos 59 anos José Vicente de Faria Lima morreu de um infarto fulminante, no auge de sua popularidade, em 4 de setembro de 1969. O Brigadeiro estava no Rio de Janeiro e, segundo algumas versões, poderia ser escolhido pelos militares para substituir o presidente Costa e Silva, já doente.

A importância dos seus feitos para o Brasil foi tão ampla, que Faria Lima foi um dos pou-cos “homens brancos” a receber uma home-nagem “post mortem” na cerimônia indígena Quarup, no Parque do Xingu, como forma de agradecimen-to pelos serviços prestados na épo-ca em que servia à Força Aérea Brasi-leira.

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E N T R E V I S TA

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Sobrinho do Brigadeiro Faria Lima e ex-deputado federal, José Ro-berto Faria Lima falou, em entre-

vista ao TCM, sobre a política, a família e a figura do Prefeito.

TCM - Qual a origem da família?

JR - O nome Faria Lima vem de uma conjunção de João Soares Lima, que era meu avô, um português que veio de uma cidade chamada Santo Antô-nio Barris, ao lado de Braga. E Casto-rina Faria, minha avó, que nasceu em São Mateus, no Espírito Santo. Eles se conheceram no Rio de Janeiro, namo-raram, casaram e tiveram cinco filhos. O mais velho é o tio José Vicente, de-pois meu pai João, o tio Rômulo, o tio Roberto e o tio Floriano Peixoto. Eles viviam no bairro de Vila Isabel. Todos os irmãos seguiram a carreira militar e estudaram no Colégio Militar do Rio. A minha avó ficou viúva muito jovem. Ela era carinhosa, mas foi muito rígida com os filhos. Era daquelas mulheres que se impunham e cuidavam dos filhos. Edu-car é muito mais do que ensinar, é incu-tir valores, e estes têm que ter origem na família. A família é a base forte. Ela era esse tipo de mulher. Morreu aos 99 anos.

TCM - E o seu tio Faria Lima, cons-tituiu família, teve filhos?

JR - O tio José se casou e teve três fi-lhos, uma menina chamada Maria Hele-na que, infelizmente, faleceu no parto.

dos ministros era feita lá em casa. Era uma grande discussão entre os dois almirantes e os dois aeronautas. O tio Faria Lima queria que meu pai fosse o presidente do Metrô, porém ele não quis abandonar a carreira militar.

TCM - Como o senhor avalia Faria Lima como pessoa?

JR - Um homem de visão e à frente do seu tempo. Lembro-me da última vez que nós estivemos juntos. Ele estava com o semblante muito triste porque queria fazer tanto ainda e não podia.

Ele ficou muito triste com a morte dela. O José Eduardo foi deputado estadual por uma legislatura - foi o mais votado dos deputados estaduais aqui de São Paulo. E a Maria Cristina, a “Tutuca”, que nasceu depois de muito tempo e se tornou o “xodozinho” dele.

TCM - Como era o convívio entre os irmãos?

JR - Eles eram muito ligados. Conver-savam muito e trocavam ideias. Quan-do o Jânio assumiu a Presidência da República, grande parte das escolhas

Sobrinho do brigadeiro Faria Lima, José Roberto Faria Lima agradece à homenagem em pronunciamento no plenário do TCM.

Faria Lima era “lógico e objetivo”, assim o define o sobrinho José Roberto

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Aí eu disse: “vai acontecer tio, espera mais um pouco, pois quando chegarem as próximas eleições você será o gover-nador de São Paulo, sem dúvida nenhu-ma, com o apoio de todo mundo”. Uma pessoa que deixa a gestão avaliada em 98% de bom e ótimo. Ele era um ho-mem à frente do seu tempo e dedicado ao trabalho.

TCM - Qual é a principal caracte-rística de Faria Lima?

JR - Eu acho que ele era lógico e ob-jetivo. Sabia mandar e, para isso, você precisa primeiro aprender a obedecer – característica que ele desenvolveu no período militar. Se você não sabe obedecer, jamais saberá mandar. E ele sabia mandar. O apelido dele era cavalo alado, porque era rápido e ágil para fa-zer acontecer. A educação militar foi o grande alicerce da personalidade dele. O militar tem honra, patriotismo, senso

de responsabilidade, pontualidade e senso de urgência. Ele usou tudo isso em São Paulo, que estava carente de senso de urgência. Na medida em que ela crescia fazia-se necessário realizar obras, tomar decisões mais rápidas, como, por exemplo, o desenvolvimento das obras do metrô durante sua gestão. Ele tinha uma imagem naquela época, chamavam-no de “anfíbio”. Anfíbio era um militar que não era mais militar, ti-nha trocado a farda pela gravata.

TCM - Qual a sua visão sobre as ações dele como político?

JR - Ele não era bem um político, era um administrador, um feitor, um execu-tor. Eu acho que na medida em que ele estava se destacando, o processo de aglutinação era natural. Mas, não era um hábil político, um homem de bas-tidores e de fazer política, não era de discurso ou de “gogó”. Estava dentro

Na comemoração do centenário de nascimento do Brigadeiro, da esquerda para a direita: o prefeito Gilberto Kassab; o presidente do TCM, Roberto Braguim; e José Roberto Faria Lima.

de uma visão pragmática no momento

em que fez a opção pelo transporte de

massa, quando fez a opção de presti-

giar as Associações dos Amigos de

Bairro, quando fez uma redistribuição

do esquema de gestão, dividindo a ci-

dade em administrações regionais ou

quando criou o Tribunal de Contas do

Município. Um dos aspectos interes-

santes do Faria Lima é que ele tentava

prever os problemas que iriam surgir.

Essa era a política dele – pragmática e

de realização.

TCM - Como o senhor avalia a cida-de após o governo Faria Lima?

JR - É verdade, existe uma cidade

antes e depois dele. A primeira coisa

que ele fez quando assumiu a cidade

foi brigar pela modificação constitu-

cional para que fossem liberados re-

cursos para as capitais, pois estavam

privadas de receber tais recursos. Ele

pegou uma herança muito interessante

do Prestes Maia, que foi um homem de

planejamentos. Era um “fazejador”, um

homem que tira do papel e transforma

sonhos em realidade. Deixou exemplos

como a estrutura das administrações

regionais, que hoje são as subprefei-

turas. Tinha experiência. Asfaltou qui-

lômetros de ruas. Muita coisa evoluiu.

Ele uniu todas as forças políticas, mar-

cou um momento. O curador do MUBE

(Museu Brasileiro de Escultura), Jacob

Klintowitz, pretende mostrar, em um li-

vro, que o Faria Lima virou um mito na

cidade de São Paulo, porque naquele

momento ele conseguiu interpretar a

alma do brasileiro que vivia aqui – von-

tade de crescer e de realizar.

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Tribunal de Contas do Município de São Paulo Nº 00 Outubro de 2008

H O M E N A G E M

No dia em que o Tribunal de Contas do Município ho-menageou Faria Lima, 05 de outubro, o Prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, caracterizou-o como “um grande Prefeito que deixou marcas inesquecíveis”, citando, como exemplo, as ações do Brigadeiro na infraestrutu-ra viária e na criação do Carnaval de São Paulo. Segundo Kassab, Faria Lima queria para São Paulo um Carnaval como o do Rio de Janeiro. “Ele deixou muitos exemplos que ainda costumam ser seguidos.”

Profissionais e amigos prestam homenagem ao Brigadeiro no TCM

Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), disse que para os paulistanos, especialmente, Faria Lima marcou a história. “Se nós tivéssemos cinquenta “Faria Lima”, o Brasil seria outro.” E acrescentou: “Indiscutivelmente, somadas todas as homenagens feitas a ele, ainda ficaremos devendo”.

Para Paulo Planet Buarque, Faria Lima não foi apenas um grande Prefeito e um grande secretário, mas, acima de tudo, “uma figura humana, um homem com perso-nalidade, um cidadão”. Por várias vezes ele o convidou para uma tarefa particular: percorrer as ruas da cidade de São Paulo para, quando encontrasse uma anorma-lidade em relação à administração, chamar à ação os administradores regionais para regularizar. “Ele foi um exemplo de administração, de caráter, de homem.”

Na foto: Da esquerda para a direita - O vice-presidente do TCM, Eurípedes Sales; Teófilo Andrade Filho, primeiro presidente do TCM; o presidente Roberto Braguim; José Roberto Faria Lima e Alencar Burti, presidente da ACSP.

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H O M E N A G E MEdição comemorativa do centenário de nascimento do Brigadeiro Faria Lima No 43 Dezembro de 2009

Poucas pessoas representaram ou representam a pujança de São Pau-lo como o Brigadeiro José Vicente

de Faria Lima, nosso eterno Prefeito.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, Fa-ria Lima, com alma de verdadeiro bandei-rante paulista, dedicou grande parte de sua vida a servir esta Cidade, oferecendo seu vigor, seu empenho e seus sonhos no sentido de torná-la uma das maiores ur-bes do planeta.

Engenheiro com formação européia, demonstrou sua competência e suas aptidões em várias áreas da atividade humana, sobressaindo-se marcadamente tanto no campo técnico como na esfera política, podendo ser apontado como ver-dadeiro farol em ambos.

Na primeira vertente, o Brigadeiro, a par de ser um dos pioneiros do Correio Aéreo Nacional, desempenhou a função de Se-cretário de Viação e Obras Públicas nas gestões dos governadores Jânio Quadros e Carvalho Pinto, tendo mais tarde ocu-pado a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE.

Com o cabedal adquirido no desenrolar dessas atividades, qualificou-se para dis-putar o cargo de Prefeito da Capital, tendo sido eleito no ano de 1965 com significati-vo número de votos, em uma das mais ár-duas eleições municipais aqui realizadas.

Nesse novo patamar, de perfil polí-tico, o Brigadeiro soube como poucos emprestar a sua marca à própria geo-grafia da cidade, que, sob seu coman-do, deixou de ter limites, espraiando-se

Brigadeiro marcou geografia da cidadeEsta é a saudação do presidente Roberto Braguim

em homenagem a Faria Lima

pelos quatro cantos, alargando-se e aparelhando-se para a modernidade tão alme jada, não fora ele o responsável pela elaboração do “Plano Urbanístico Básico” e pelo início dos estudos das obras do Metrô de São Paulo, certamente uma das mais significativas obras realizadas neste Município. Dava cumprimento, assim, ao slogan da sua campanha eleitoral: “Vote em Faria Lima e ganhe uma cidade nova”.

Tais realizações, verdadeiras interven-ções na cidade, têm sido sobejamente focalizadas por tantos quantos estudam e amam a história desta terra, símbolo de trabalho e de progresso. Por essa razão, limitar-me-ei, nesta seara, a esses singe-los apontamentos, dirigindo minha pena

para realçar outro ângulo do Brigadeiro Faria Lima, o de instituidor do Tribunal de Contas do Município de São Paulo.

Era a discutida década de 60, mais preci-samente o fervilhante ano de 1968, quan-do o então Prefeito Faria Lima enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei n.º 92, a dispor sobre a criação, competência e funcionamento do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, e que se trans-formou na Lei nº 7.213, de 20 de novem-bro de 1.968.

Na verdade, uma vez possibilitado o estabelecimento de Tribunal de Con-tas no Município da Capital, o alcaide não titubeou, determinando de pronto a realização de estudos direcionados à

Presidente Roberto Braguim e coordenador regional da Empresa Brasileira de Correios, João Carlos da Silva, durante lançamento do selo personalizado e do carimbo comemorativo.

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HOMENAGEM

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Vocação Pública de sentido nacionalelaboração do indispensável projeto de lei. Nem mesmo a Representação nº 753 oferecida ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria Geral da República, por provocação do Governador do Estado de São Paulo, alcançando dispositivos da Constituição Estadual, arrefeceu o âni-mo do Brigadeiro. Assim é que, tão logo removido tal obstáculo, o projeto de lei em causa foi submetido aos nobres edis, fin-dando por converter-se na lei mencionada.

Estava, assim, o Município de São Paulo, por iniciativa de seu visionário Prefeito, contemplado com um órgão de significa-do e matriz constitucionais e que desde logo começou a desempenhar suas atri-buições, com a análise das contas do Pre-feito e da Câmara Municipal, dos exercí-cios de 1967 e 1968.

A partir dessa semente inspiradora, a Casa de Contas do Município de São Paulo vem cuidando de seguir os passos do seu instituidor, na busca constante do aprimoramento técnico, com dedicação ao trabalho e amor à cidade.

Tanto assim é que, como sinal de reco-nhecimento, o Edifício em que se en-contra instalada a Corte leva o nome de “Brigadeiro Faria Lima”, abrigando uma cabeça em bronze do seu patrono, obra do escultor Galileo Emendabilli, e que vela pelos trabalhos nele desenvolvidos, servindo como exemplo de passado e parâmetro de futuro, na incansável e alargada batalha de fiscalização do dinheiro público.

Testemunha de tantos e tão significativos eventos, o Palácio Anchieta, que à época acolhia o Tribunal de Contas do Municí-pio de São Paulo, foi palco no dia 07 de outubro de 1970, da 97ª Sessão Especial,

convocada para prestar homenagem à memória do Brigadeiro Faria Lima, fale-cido em 4 de setembro de 1969, com a inauguração da escultura citada, pare-cendo-me oportuno destacar, na oportu-nidade em que se comemora o centenário de seu nascimento, o cunho solene dessa sessão especial.

Na verdade, a ata que se fez lavrar na ocasião demonstra a importância da figu-ra do homenageado e o reconhecimento das autoridades presentes, dos represen-tantes dos mais variados segmentos so-ciais, de auxiliares diretos, funcionários, amigos e pessoas do povo, todos irmana-dos no objetivo comum de reverenciar a memória do Brigadeiro.

Ademais, o passar do tempo conferiu a esse documento um significado histó-rico indiscutível, motivo de sobra para recomendar sua reprodução, ainda que parcial, a possibilitar a mais ampla divul-gação da força do trabalho e da memória do Brigadeiro.

Nesse objetivo, lembro e reproduzo em parte, as palavras que, na oportunidade, o então Presidente do Tribunal de Contas do Município, Conselheiro Teófilo Ribeiro de Andrade, proferiu, que expressavam e expressam o sentimento da Casa de Con-tas do Município. São elas:

“A Quatro de Setembro do Ano Passado, a notícia da morte do Brigadeiro José Vicente de Faria Lima surpreendia dolo-rosamente toda a Nação Brasileira (...).”

Tais considerações, que representavam há quase 41 anos o sentimento dos in-tegrantes do Tribunal de Contas do Mu-nicípio, podem e devem ser reafirmadas agora, com o mesmo entusiasmo e o mesmo afeto, em agradecimento pelo

muito que se deve ao Brigadeiro, como homem, como Prefeito e principalmente como instituidor do Órgão.

E é o que faz, orgulhosamente, o Tribunal de Contas do Município de São Paulo, por meu intermédio, do seu colegiado e de todos os seus servidores na semana do seu centenário.

Obrigado Brigadeiro, obrigado ao Parla-mento Paulistano, obrigado aos Conse-lheiros deste Tribunal que nos antece-deram, mantendo viva a proposta do seu patrono dentre os quais cito dois de seus maiores expoentes e que hoje aqui se encontram conosco para festejar esta data, Teófilo Ribeiro de Andrade (nosso primeiro presidente) cujo magnífico dis-curso me permiti reproduzir parcialmente nesta data festiva e histórica e Paulo Pla-net Buarque , um dos grandes guerreiros que entraram para a história desta Corte de Contas. A sua história e a deste Tribu-nal se confundem pela sua grande atua-ção ao longo da sua vida aqui conosco.

Obrigado a Deus pela oportunidade de como ex-funcionário, Conselheiro e depois Presidente com quase vinte e três anos de labuta diária nesta casa, dando continuidade ao trabalho iniciado por meu pai, Mário Braguim, um dos primeiros pro-curadores municipais convidado a inte-grar os quadros deste Tribunal, tendo sido seu primeiro diretor jurídico e responsá-vel pela elaboração de seu primeiro re-gimento interno e pelo primeiro parecer jurídico acerca das contas do municí-pio e estar hoje, aqui como Presidente, comandando os trabalhos do centenário do nosso patrono Brigadeiro José Vicente de Faria Lima.

Obrigado a todos pela presença.

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I M A G E N S

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Um grande exemplo para os nossos jovens

Prof. Lacaz explica sobre os Institutos de Medicina Tropical no mundo e ao fundo o autor do mapa, o desenhista Waldomiro Siqueira Jr.

Inauguração do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, a 5 de setembro de 1960, pelo Governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto.

Na fotografia o Brigadeiro Faria Lima, os professores João Alves Meira, Antonio Barros de Ulhôa Cintra, João de Aguiar Pupo e Carlos da Silva Lacaz.

“As características da personalidade do prefeito Faria Lima devem ser resgatadas e passadas para os nossos jovens”. (José Roberto Faria Lima).

Edição comemorativa do centenário de nascimento do Brigadeiro Faria Lima No 43 Dezembro de 2009

Com o slogan “Vote em Faria Lima e ganhe uma cidade nova”, o brigadeiro empolgou os eleitores paulistanos.

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Page 12: TCM informativo · assumiu a Prefeitura de São Paulo em 8 de março de 1965 e governou até 7 de março de 1969. Desde sua posse, São Paulo passou a ser alvo de importantes investi-

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O TRIBUNAL DE CONTAS

Entre reformas e iniciativas inova-doras na administração pública que realizou em sua gestão como

Prefeito, em 19 de janeiro de 1968, José Vicente de Faria Lima instituiu o Tribunal de Contas do Município de São Paulo, para que os gastos com o dinheiro público fossem fiscalizados de forma a terem destinação correta. No final da década de 1960, São Paulo já possuía expressiva dimensão popula-cional e geográfica, grandeza cultural e notável progresso econômico. Diante desse quadro, o Brigadeiro concluiu ser necessária a criação de um Tribunal de Contas exclusivo para controle externo das finanças municipais. Desde então, o TCM já avaliou as contas de 19 prefeitos e analisou cerca de 300 mil processos referentes ao orçamento da Prefeitura.

O TCM é um órgão de representação popular – pois é de auxilio à Câmara de Vereadores, eleita pelo voto direto dos cidadãos. Foi criado por Lei Municipal e hoje está amparado pela Constitui-ção Federal de 1988, inscrevendo-se entre suas Cláusulas Pétreas. A Cor-te de Contas da Cidade de São Paulo

ocupado pelo Tribunal, no bairro de Vila Clementino, foi inaugurado em 19 de novembro de 1976 e é um dos marcos arquitetônicos da Cidade, com sua impo-nente estrutura em concreto aparente.

No Brasil, a primeira proposta de im-plantação de Tribunais de Contas foi apresentada no Senado do Império, no século XIX. Mas só depois da pro-clamação da República, por iniciativa de Rui Barbosa, foi criado o primeiro Tribunal de Contas do Brasil, o TCU (Tribunal de Contas da União), em 1891, por meio de uma emenda à Constituição.

integra o setor públi-co municipal, mas é autônomo e possui orçamento próprio, o que lhe garante liber-dade para agir dentro dos princípios consti-tucionais da legalida-de, impessoalidade e economicidade. Para desempenhar suas funções de fiscalizar o uso dos recursos públicos, criar mecanismos para pre-venção do controle externo e cuidar da eficácia e efetividade da gestão pública municipal, o TCM realiza audi-torias de caráter contábil, operacional, financeiro, orçamentária e patrimonial, a fim de eliminar gastos abusivos, aperfeiçoar resultados e fazer reco-mendações para melhorias das ações. Seu alvo, em última instância, é o bem estar do munícipe da Capital.

Ao ser criado, o TCM teve como sede o Palácio Anchieta, que abriga a Câmara Municipal, com a qual compartilhava a estrutura física. O edifício atualmente

Pioneirismo na criação do TCM

O edifício-sede do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, inaugurado em 19 de novembro de 1976, projeto do arquiteto Gian Carlo Gasperini.

ExpedienteTCM Informativo – Especial Centenário de Nascimento do Brigadeiro Faria LimaAv. Prof. Ascendino Reis, 1.130 • CEP: 04027-000 • Tel: [11] 5080-1140• Site: www.tcm.sp.gov.br • E-mail: [email protected] • Presidente: Roberto Braguim• Vice-Presidente: Eurípedes Sales• Conselheiro Corregedor: Edson Simões• Conselheiros: Antonio Carlos Caruso e Maurício Faria

TCMinformativoEdição: Assessoria de imprensa do TCMSPJoRnAliSTA RESPonSáVEl: Pedro del Picchia – Mtb 16.793REdAção:Nadia CarlinSamira Manfrinato (Edição)Viviane BatistaSarah Moraes e deborah Vasconcelos (Reportagem)Tiago de Souza Santos (Fotografia)EdiToRAção, CTP, iMPRESSão E ACABAMEnTo: imprensa oficial do Estado de São Paulo

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