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0 FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC YURI KLEMENCHUK ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING SPACES: UM OLHAR TRANSFORMADOR SOBRE PESSOAS E ORGANIZAÇÕES? Porto Alegre 2015

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FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

YURI KLEMENCHUK

ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING SPACES: UM OLHAR TRANSFORMADOR SOBRE PESSOAS E ORGANIZAÇÕES?

Porto Alegre 2015

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YURI KLEMENCHUK

ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING SPACES: UM OLHAR TRANSFORMADOR SOBRE PESSOAS E ORGANIZAÇÕES?

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Administração. Orientador: Prof. Ms. Adriano Saraiva Amaral

Porto Alegre 2015

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AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente ao excelente apoio de meu orientador, Prof. Ms. Adriano Saraiva

Amaral, que contribuiu de maneira relevante para a organização e execução deste estudo.

Também agradeço fortemente aos representantes entrevistados dos espaços TransLab; La

Casa De Pandora e Nós Coworking, bem como ao representante do SEBRAE/RS pela ótima

receptividade e oportunizarem a aplicação das entrevistas e abertura dos ambientes para

visitação. Igualmente agradeço à comunidade dos usuários destes espaços que respondeu ao

questionário contribuindo para composição de meu trabalho de conclusão de curso. Também

agradeço ao Centro Universitário Ritter Dos Reis, por ter oportunizado, de maneira geral, meu

crescimento pessoal e profissional, e, também, por proporcionar este momento.

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RESUMO

Neste estudo, de caráter exploratório e descritivo, identifica-se a estruturação organizacional

bem como as formas de relações sociais e produtivas obtidas em espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho, coworking spaces, com a finalidade de apresentar diferenças e

potencialidades em relação às organizações tradicionais. A coleta e análise de dados foram

feitas via aplicação de entrevistas, questionários e visitação dos ambientes. A ocorrência de

crises econômicas e sociais, a carência de recursos próprios para estruturar a própria empresa,

assim como a necessidade dos empreendedores em incrementar suas redes de contatos e uma

busca das pessoas por mudanças nas formas de estruturação e relacionamento são os

principais fatores motivadores deste estudo. Para embasamento do trabalho, busca-se a

concepção de organização, na qual se verifica elementos, formas e técnicas de estruturação.

As organizações também podem ser vistas como imagens organizacionais, representadas

através de metáforas, possibilitando melhor entendimento e visualização do funcionamento

das mesmas. A abordagem das influências que as relações sociais podem ter dentro das

empresas, bem como a ocorrência do contrário são itens que podem ter impacto direto nas

relações produtivas. Relações informais que por vezes são negligenciadas pelas empresas

tradicionais, as quais tendem a buscar uma comunicação formalizada. A economia

colaborativa e os coworking spaces mostram novas opções tanto para empresas como para

empreendedores individuais que indicam uma tendência em buscar, além da lucratividade,

mudanças nas relações sociais, produtivas e de consumo.

Palavras-chave: Coworking. Economia Colaborativa. Relações Sociais e Produtivas.

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ABSTRACT

In this study, an exploratory and descriptive, which identifies an organizational structures and

forms of social and productive relationships obtained in shared and collaborative workspaces,

coworking spaces, in order to present differences and capabilities over traditional

organizations. The collection and analysis of data has done by application of interviews,

questionnaires and visitation environments. The occurrence of economic and social crises, the

lack of own resources to structure the company itself as well as the need for entrepreneurs to

increase their networks of contacts and a search of people for changes in ways of structuring

and relationships are the main motivating factors of this study. As bases for the work, the

research has based of the conception of organization, in which there is elements, forms and

structuring techniques. Organizations also could been seen as organizational images,

represented through metaphors, enabling a better understanding and visualization of the

operation thereof. The approach of the influences that social relationships may have within

companies, as well as the occurrence otherwise are items that can have a direct impact on the

productive relations. Informal relationships that neglected are sometimes, by traditional

companies, which tend to seek a formalized communication. The collaborative economy and

coworking spaces shows new options for both companies and for individual entrepreneurs

indicating a tendency to seek, in addition to profitability, changes in social relations,

production and consumption.

Keywords: Coworking. Sharing Economy. Social and Productives Relations.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – As cinco partes básicas da organização .................................................................. 29

Figura 2 – Estrutura simples ..................................................................................................... 30

Figura 3– Burocracia mecanizada ............................................................................................ 31

Figura 4 – Burocracia profissional ........................................................................................... 32

Figura 5 – Burocracia divisionalizada ...................................................................................... 33

Figura 6 – Adhocracia .............................................................................................................. 33

Figura 7 – Contextualização das organizações e indivíduos nas sociedades ........................... 45

Figura 8 – Interesse mundial pelo termo coworking via Google .............................................. 54

Figura 9 – Interesse mundial pelo termo coworking via Wikipedia ......................................... 54

Figura 10 – Interesse no Brasil pelo termo coworking via Google .......................................... 55

Figura 11 – Cidades brasileiras que mais buscaram pelo termo coworking via Google .......... 55

Figura 12 – Estudo de casos múltiplos. .................................................................................... 57

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Principais conceitos das escolas tradicionalista e behaviorista .............................. 24

Quadro 2 - Principais características das técnicas de estruturação ........................................... 27

Quadro 3 - Principais conceitos das escolas tradicionalista e behaviorista .............................. 35

Quadro 4 - Sistemas organizacionais: burocracia x adhocracia ............................................... 35

Quadro 5 - Comparação de características das organizações mecanicistas versus orgânicas .. 37

Quadro 6 - Principais características das metáforas de organização ........................................ 40

Quadro 7 - Fatores motivadores da economia colaborativa ..................................................... 50

Quadro 8 - Características básicas da economia colaborativa .................................................. 51

Quadro 9 - Características básicas dos espaços de coworking ................................................. 56

Quadro 10 - Características básicas dos espaços de coworking ............................................... 61

Quadro 11 - Itens importantes de um espaço na opinião dos coworkers ............................... 107

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Áreas de atuação dos coworkers em Porto Alegre/RS ........................................... 62

Gráfico 2 - Percepção dos coworkers sobre hierarquia e autoridade dos gestores do espaço .. 74

Gráfico 3 - Percepção dos coworkers sobre normas e regras a serem cumpridas no espaço ... 74

Gráfico 4 - Percepção dos coworkers sobre processos de execução de tarefas no espaço ....... 76

Gráfico 5 - Verificação se formalização e burocracia são itens importantes para um espaço . 76

Gráfico 6 - Impactos dos cenários externos nos espaços.......................................................... 78

Gráfico 7 - Influência das pessoas e suas vivências pessoais têm sobre alterações no espaço 83

Gráfico 8 - Verificação da estruturação a partir do comportamento de usuários dos espaços . 88

Gráfico 9 - Influências do espaço sobre relações sociais dos coworkers ................................. 89

Gráfico 10 - Áreas de atuação dos coworkers em Porto Alegre/RS ......................................... 95

Gráfico 11 - Interação entre coworkers .................................................................................... 96

Gráfico 12 - Importância do networking .................................................................................. 97

Gráfico 13 - Verificação sobre custos em comparação às formas tradicionais de trabalho ..... 98

Gráfico 14 - Importância da utilização máxima de recursos disponíveis nos espaços ............. 99

Gráfico 15 - Importância do engajamento e transformação social que o espaço oferece ...... 101

Gráfico 16 - Tipos de eventos importantes em um espaço ..................................................... 102

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1 CONSTRUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA .................................................... 12

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 17

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 17

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 17

3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 18

4 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 19

4.1 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................... 19

4.2 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ............................................................................ 22

4.2.1 Técnicas de estruturação............................................................................................... 25

4.3 ELEMENTOS E TIPOS DE ESTRUTURAS .................................................................... 27

4.3.1 Elementos de estruturas ................................................................................................ 28

4.3.2 Tipos de estruturas ........................................................................................................ 30

4.3.3 Organizações mecanicistas e orgânicas ....................................................................... 36

4.4 METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO ............................................................................... 37

4.5 INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES

SOCIAIS ................................................................................................................................... 41

4.6 ECONOMIA COLABORATIVA ...................................................................................... 46

4.7 COWORKING ................................................................................................................... 51

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 57

5.1 ABORDAGEM E TIPO DE PESQUISA ........................................................................... 57

5.2 DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO E AMOSTRAGEM ......................................... 59

5.2.1 Definição das organizações participantes da pesquisa ............................................... 59

5.2.2 Definição do público-alvo para aplicação do questionário - coworkers .................... 61

5.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ............................................................................ 63

5.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................................... 65

6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 68

6.1 ELEMENTOS E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ................................................ 68

6.1.1 Empresas tradicionais ................................................................................................... 68

6.1.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho ................................................ 72

6.2 METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO ............................................................................... 81

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6.2.1 Empresas tradicionais ................................................................................................... 81

6.2.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho ................................................ 82

6.3 INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES

SOCIAIS ................................................................................................................................... 83

6.3.1 Empresas tradicionais ................................................................................................... 84

6.3.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho ................................................ 86

6.4 ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING .......................................................... 91

6.4.1 Empresas tradicionais ................................................................................................... 92

6.4.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho ................................................ 93

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 110

7.1 SÍNTESE CONCLUSIVA ............................................................................................... 110

7.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ....................................................................................... 112

7.3 SUGESTÃO PARA PESQUISAS FUTURAS ................................................................ 113

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 114

APÊNDICE A – Quadro teórico-analítico ........................................................................ 119

APÊNDICE B – Roteiros pré-estabelecidos de entrevistas .............................................. 125

APÊNDICE C – Questionário ............................................................................................. 127

APÊNDICE D – Roteiro de observação ............................................................................. 130

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INTRODUÇÃO

Dentre os principais fatores introdutórios do presente estudo, é importante salientar

que o Brasil detém amplo índice de potenciais empreendedores e empresas em início de

atividade. Aliado a este fato, é notório que o país tem, em sua maioria, cidadãos com baixa

renda ou em situação financeira intermediária, sendo a primeira situação mais comumente

observada (SEBRAE, 2014).

Outro aspecto importante que corrobora para a importância deste estudo está no fato

de que muitos jovens estão inseridos nestes grupos de baixo capital próprio e potenciais

empreendedores (SEBRAE, 2014).

Em busca de encontrar soluções para este cenário, no qual há a tentativa de

empreender com baixo custo, os indivíduos estão procurando novas maneiras para

desenvolver e executar suas ideias, empreendimentos ou profissões, buscando novas formas

de se organizar. Os espaços de trabalho colaborativos e compartilhados, coworking spaces,

indicam ser uma opção em relação às formas organizacionais tradicionais que a maioria das

empresas adota em seus processos de funcionamento. Estes novos espaços de trabalho têm

características comuns entre si, baseados principalmente na colaboração e compartilhamento

de espaço, na troca de confiança e recursos a baixo custo; além de uma forma de se contrapor

às formas verticalmente hierarquizadas impostas pelas organizações tradicionais. A tendência

é de flexibilização na forma de organizar e trabalhar (DESKMAG, 2010).

Os espaços compartilhados e colaborativos são considerados como fenômenos atuais

porque a quantidade de locais de mesma motivação e ideias está em constante crescimento no

planeta, existindo ainda a previsão de que no ano de 2018 haverá ao menos um milhão de

pessoas trabalhando em espaços de coworking ao redor do mundo (KING, 2015).

Para a composição deste trabalho, no primeiro capítulo é exposta a situação

problemática, em que através da apresentação de dados e notícias da situação empreendedora

dos indivíduos e sua carência financeira para investimentos em infraestrutura e suas

demandas, bem como o surgimento dos espaços colaborativos de trabalho, se torna

interessante verificar qual a forma de estruturação e como funcionam os espaços de

coworking, assim como examinar possíveis diferenças e funcionalidades destes em

comparação com as formas organizacionais tradicionais.

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Após esta etapa, os objetivos da pesquisa são apresentados, detalhando-os em

objetivos específicos, identificando os aspectos de funcionamento tanto das formas

tradicionais de trabalho como destes espaços compartilhados e colaborativos.

O terceiro capítulo é composto pela justificativa do estudo, na qual apresenta a

deficiência de conhecimento por grande parte da população e de profissionais e também a

escassa informação detalhada acerca do funcionamento destes espaços no Brasil é a chave

principal para o andamento da pesquisa.

O referencial teórico dá sequência e aprofunda os principais conceitos de organização,

desde o significado da palavra até as formas estruturais que as organizações se dispõem.

Também são abordadas técnicas, elementos, tipos de estruturas e uma visão de organização

através de metáforas. Outro ponto abordado é a possível influência que as organizações têm

em relação ao comportamento dos indivíduos, bem como a possível ocorrência do contrário. E

também são apresentados os conceitos de economia colaborativa e coworking. O trabalho é

fundamentado em bibliografias e autores que tiveram grande contribuição para as teorias

organizacionais e demais autores.

Após esta etapa, estão os procedimentos metodológicos, nos quais são caracterizados e

identificados a natureza da pesquisa, bem como os sujeitos que serão pesquisados. Também

são especificadas as técnicas de coleta e análise de dados para possibilitar o atingimento dos

objetivos desta pesquisa.

Tendo as técnicas de coleta e análise de dados efetuados, os resultados são

apresentados na seção seguinte, articulando a visão das organizações tradicionais junto da

visão dos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, bem como com a inclusão de

gráficos obtidos através de questionário aplicado junto à coworkers.

Por fim, há apresentação das considerações finais, resultada a partir dos dados

coletados e analisados, e, posteriormente, há a apresentação de itens que limitaram a pesquisa

e também indicação de assuntos para futuras pesquisas relacionadas.

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1 CONSTRUÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA

Notícias e acontecimentos indicam que a economia colaborativa, baseada no

compartilhamento de recursos físicos, intelectuais ou financeiros, atualmente, é uma

alternativa que vem se estabelecendo perante as tradicionais formas organizacionais,

estruturadas com alto investimento, com suas composições rígidas e fundadas, tais como

prédios, centros comerciais ou salas compradas. Além dos recursos compartilhados, este tipo

de cooperação econômica, favorece a um desenvolvimento mais dinâmico, sustentável e

eficiente, sem a necessidade de grandes investimentos a alto custo. De acordo com infográfico

publicado no jornal Estadão (2013), uma pesquisa realizada na Europa, pela organização

ShareNL, demonstra que a necessidade de serviços ou bens específicos, o networking com

profissionais em áreas próximas, a redução de custos e desperdícios são alguns dos principais

motivos que levam diversos profissionais optarem pela economia colaborativa.

De acordo com a GEM - Global Entrepreneurship Monitor (2013), uma das formas de

se medir o grau de empreendedorismo é por meio da TEA (sigla em inglês que, traduzida,

significa Taxa de Empreendedorismo Inicial), considerada uma das principais taxas utilizadas

para esse fim. Este índice busca identificar o impulso inicial na criação de novos negócios.

Em pesquisa feita pela GEM, considerando o ano de 2013, a principal faixa etária em que a

TEA é superior à média geral ficou entre os 18 e 34 anos, sendo que muitos destes jovens

acabam trabalhando sozinhos, por conta própria, já que esbarram na falta de recursos para

empregar ou investir em infraestrutura, uma vez que, em pesquisa efetuada pelo SEBRAE

(2014), utilizando dados do IBGE, nesta mesma faixa etária, 68% dos entrevistados tem o

rendimento mensal de até dois salários mínimos; valor avaliado como baixo levando em

consideração todo o investimento calculado como necessário para se tornar um

empreendedor.

Atualmente, por muitas vezes, profissionais autônomos, freelancers, empreendedores

em início de atividade e até pequenas empresas carecem de uma infraestrutura ideal para

poder desempenhar suas respectivas atividades de forma plena, com o máximo de

desempenho e resultados. Mesmo que tivessem a infraestrutura necessária, os mesmos

continuariam isolados em seus escritórios, fatalmente deixando de agregar valor aos seus

produtos e serviços, devido à falta de desenvolvimento de suas redes sociais e profissionais

por conta deste isolamento (VOCÊ S/A, 2011).

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Por este motivo foram criados os espaços compartilhados e colaborativos de

escritórios, também denominados de coworking spaces. Estes ambientes são espaços de

trabalho onde os profissionais pagam taxas que variam, de acordo com o local escolhido,

pacotes e serviços desejados, podendo ser mensal, semestral ou anual, podendo usufruir toda

composição que uma empresa tradicional com maiores condições de prover uma estrutura

física adequada oferece tais como internet Wifi, salas de reuniões, telefone, estações de

trabalho, café, entre outros itens. Como estes espaços atraem profissionais dos mais variados

segmentos, o ambiente tende a se tornar fértil para a criação de novas ideias e novos contatos

profissionais, em que as pessoas podem contribuir uma com as outras suas experiências e

habilidades, fazendo com que o trabalho de outro coworker possa ter maior valor agregado em

seu resultado final que em sua proposta inicial (EXAME PME, 2014).

Abaixo são apresentados espaços compartilhados e colaborativos de trabalho,

coworking spaces, bem como de casas colaborativas, que possuem em sua proposição a

mesma vertente colaborativa e compartilhada. As informações foram retiradas dos sites dos

próprios espaços, os quais estão situados no município de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

· 4ED: na Rua Carlos Von Koseritz, em Porto Alegre, é uma escola de design que

oferece o um espaço colaborativo de trabalho exclusivo para que seus alunos possam

pôr as aulas em prática. Conta com sala de reuniões, bibliotecas, laboratórios,

maqueteria, cozinha, gestão de recados e agenda (https://4ed.cc).

· Acervo Independente: fundado em 2013, é uma comunidade colaborativa voltada à

arte contemporânea e produções culturais. Localizado na Rua General Auto, no Centro

Histórico de Porto Alegre. Engloba a produção, pesquisa e discussões nas áreas

criativas. O espaço promove palestras, eventos, workshops, e exposições de parceiros

da instituição (http://www.acervoindependente.com).

· Casa da Cultura Digital Porto Alegre: é um espaço e uma rede de trabalho

colaborativo no quinto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, na Rua dos

Andradas. Volta-se para a reunião de profissionais e interessados em política, cultura

digital e tecnologia (http://ccdpoa.com.br).

· Catalise Coworking: localizado no bairro Menino Deus, em Porto Alegre e oferecem

recursos audiovisuais, cozinha coletiva, espaço de lazer, área verde, e a infraestrutura

de um escritório tradicional como serviço de secretariado, salas de reunião e espaço

para cursos e apresentações. Fundado em 2012 (http://www.catali.se).

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· CC100 se situa em um prédio revitalizado no bairro Floresta, local que vem se

configurando como um Distrito Criativo na cidade de Porto Alegre. O prédio,

inaugurado em fevereiro de 2014, está configurado como um prédio comercial com

salas e lojas para locação, além de possuir um espaço para eventos em geral, além de

exposições culturais. O CC100 foi pensado para o uso de empresários, profissionais da

indústria criativa e empreendedores que buscam alcançar algo "fora da curva”

(www.cc100.com.br).

· Coletivo 202 Coworking: dispõe de internet wireless, sala de reuniões, lounge,

eventos, endereço comercial, biblioteca colaborativa, cozinha, impressora, scanner,

cópias. Localiza-se no Centro Histórico de Porto Alegre, na Rua dos Andradas

(http://coletivo202.com).

· Cuento: localizado na Rua Quintino Bocaiúva, em Porto Alegre, abrange diversos

profissionais, de publicitários a advogados, de estilistas a escritores. Oferece cursos e

eventos relacionados ao coworking, além de toda estrutura de um escritório

convencional, de cozinha a sala de reuniões (http://www.cuento.cc).

· Fábrica de Ideias: é um espaço de trabalho compartilhado desenvolvido para pequenas

empresas, empreendedores e freelancers. Disponibiliza sala de reunião, secretária de

recados, ar condicionado, endereço fiscal, materiais de escritório, eventos, mentoria,

internet wireless, café, espaço para relaxar, biblioteca colaborativa e parcerias para

auxiliar o associado. Situa-se em Porto Alegre, na Rua Vigário José Inácio

(http://www.fabricadeideiascw.com.br).

· M7 Offices: é uma solução em escritórios prontos de alto padrão, no bairro Moinhos

de Vento em Porto Alegre. Rua Mariante. No local há salas executivas, de treinamento

e de reuniões, acompanhadas de serviços de atendimento telefônico e recepção

bilíngue, gerenciamento de correspondência, agenda, fax, cópias, digitalização entre

outros (http://www.m7offices.com.br).

· Nós Coworking: fundada em setembro de 2011, localiza-se dentro do Shopping

TOTAL, no bairro Floresta, em Porto Alegre. Equipado com ar climatizado, cozinha,

café, água, internet wireless, salas de reunião, auditório e espaço para eventos

multiculturais (http://noscoworking.com.br).

· Tetris Coworking: é o primeiro espaço colaborativo voltado exclusivamente para

profissionais da fotografia, oferece um estúdio fotográfico com equipamentos

profissionais, e serviços impressora de mídias e impressora de fotos; sala de reuniões e

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biblioteca coletiva. Oferece benefícios com fornecedores do ramo, através de

parcerias. Situa-se na Rua Artur Rocha, em Porto Alegre (http://tetriscw.com.br).

Também há as casas colaborativas, consideradas também como espaços

compartilhados e colaborativos de trabalho, porém mais direcionados ao viés da inovação

social, criativo e artístico, sendo algumas destas, com informações retiradas de páginas

próprias:

· Aldeia é um espaço multicultural que acredita na cultura para além da arte, com uma

organização horizontal e modo de produção colaborativo (http://aldeiaco.com.br);

· Casa Liberdade é um espaço de empreendedorismo, colaboração e cultura sem fins

lucrativos (http://casaliberdade.org).

· Fabrique LAB oferece consultorias, oficinas, cursos e palestras gratuitas e pagas com

a intenção de disseminar a cultura criativa (http://www.facebook.com/fabriquecc).

· La Casa de Pandora é um catalisador de projetos, onde novas empresas possam dar os

seus primeiros passos. A Casa é aberta para quem quiser participar e não tem fins

lucrativos (http://lacasadepandora.com.br).

· Nimbus 376, casa fundada em 2015, localiza-se no bairro Cidade Baixa, com foco em

atividades da Economia Criativa e com espaço para receber novos projetos em

empreendimentos.

· Perestroika localiza-se na Avenida Coronel Lucas de Oliveira, em Porto Alegre.

Fundada em 2007, oferece cursos, eventos, educação empresarial, instituições de

ensino, coworking (http://www.perestroika.com.br/).

· TransLab é um ambiente acolhedor e criativo, com pessoas interessadas em melhorar a

cidade. Este tipo de espaço é de experimentos sociais – projetos de inovação social

(http://www.translab.cc).

· Vila Flores além de alugar espaços para artistas e profissionais de segmentos criativos,

também é um polo de diversidade, atuando através de três eixos: cultura, educação e

negócios criativos (http://vilaflores.wordpress.com).

Em consulta feita em 31/03/2015, na ferramenta de análise Google Trends, que

informa a quantidade de vezes em que uma palavra foi buscada, foi evidenciado que o Brasil é

o terceiro país que mais busca pelo termo coworking, ficando atrás apenas de Itália e Espanha.

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De 2004 até os dias de hoje, Porto Alegre foi a terceira cidade no mundo que mais

buscou informações sobre o termo coworking. Em uma escala de 0 a 100, Porto Alegre

atingiu o índice 66, ainda que os números informados pela ferramenta estejam em frequente

atualização, este índice representa uma posição expressiva, visto a abrangência em escala

mundial que a pesquisa deste termo envolveu (GOOGLE TRENDS, 2015).

Como é um fenômeno atual, e considerando que não há no Brasil, literatura e

bibliografias suficientes que possam elucidar informações acerca deste contexto

organizacional relativamente novo no país, é ampliada a oportunidade e importância de

desenvolver estudos que busquem compreender o funcionamento de espaços colaborativos de

trabalho, coworking spaces, em comparação com as formas organizacionais tradicionais,

permitindo discutir os impactos nas formas de empreender, bem como nas relações sociais e

produtivas de trabalho.

Apresentado o contexto de crescimento da economia colaborativa no Brasil e no

mundo, a pergunta de pesquisa que orientará esse estudo é: quais as diferenças e

potencialidades nas relações sociais e produtivas de trabalho dos coworking spaces em

comparação com as formas organizacionais tradicionais?

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2 OBJETIVOS

Dado o contexto do fenômeno, a situação problemática construída e o objeto de estudo

delimitado, esse trabalho busca atingir os seguintes objetivos:

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender as diferenças e potencialidades dos espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho, coworking spaces, em comparação com estruturas organizacionais

tradicionais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentado o objetivo geral do estudo, para contribuir com seu atingimento, foram

desdobrados os seguintes objetivos específicos:

· Retomar aspectos da estrutura e funcionamento das organizações tradicionais de

trabalho;

· Identificar a estrutura e o funcionamento dos espaços compartilhados e colaborativos

de trabalho;

· Comparar espaços compartilhados e colaborativos de trabalho com organizações

tradicionais de trabalho;

· Analisar reflexos e potencialidades dos espaços compartilhados e colaborativos de

trabalho e verificar os impactos nas relações sociais e produtivas.

Com os objetivos gerais e específicos do estudo expostos, a justificativa para a escolha

do tema é apresentada na seção seguinte.

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3 JUSTIFICATIVA

Atualmente, jovens e adultos buscam e tomam a iniciativa de empreender cada vez

mais cedo, porém muitos esbarram logo no princípio de seus projetos, pois faltam recursos

financeiros e estruturais que são necessários para pôr em prática e manter seus objetivos.

Frente a esta situação, são pensadas novas formas de empreender, e uma destas formas é

concebida através dos princípios da economia colaborativa, que se baseia na troca de

conhecimentos e experiências, na qual diversos profissionais se envolvem em variados

projetos e serviços que não estão obrigatoriamente relacionados à sua área de atuação, e que,

como consequência, tende a impactar no modo comportamental do convívio social e das

relações de trabalho. Para atender a esta demanda, surgiu a necessidade da abertura de locais

que permitissem o desenvolvimento destas atividades, denominados de espaços

compartilhados e colaborativos de trabalho, conhecidos também como coworking spaces, que

serão os objetos de pesquisa deste estudo.

Visto que o coworking é um modelo de empreendedorismo relativamente novo no

mundo, concebido pela primeira vez nos Estados Unidos há quinze anos; o cenário atual

indica que há uma parcela pequena de profissionais que conhecem com detalhes o

funcionamento deste tipo de arranjo organizacional, vantagens e desvantagens destes serviços;

em decorrência disto, pode-se também constatar que não há, principalmente no Brasil,

quantidade suficiente de literatura voltada ao tema que sejam satisfatórias para elucidar o que

significam e para que servem os espaços compartilhados e colaborativos de trabalho,

coworking spaces.

Todavia, apesar do pouco conteúdo disponível até então, há, em Porto Alegre, espaços

de coworking que possam ser observados, tanto na sua estrutura e funcionamento quanto seus

frequentadores, além da utilização de bibliografia especializada estrangeira que possibilitam,

então, a viabilização da execução deste estudo.

Observando e projetando o potencial de importância que este novo modelo de negócio

pode se tornar para as teorias organizacionais como um todo, bem como para o fomento

empreendedor, o presente estudo visa colaborar com a elucidação de aspectos estruturais

quanto ao funcionamento destes espaços, bem como analisar e discutir reflexos atuais e

potenciais de espaços compartilhados e colaborativos ao resultado das formas de empreender

assim como nas relações produtivas e de trabalho. O referencial teórico a seguir serve como

base para aplicação desta pesquisa.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo serão abordadas as principais referências teóricas e conceitos

concernentes às definições e tipos de estruturas organizacionais tradicionais, no âmbito da

teoria organizacional. Também serão abordadas as influências das organizações perante as

relações sociais, bem como a ocorrência do contrário; assim como os fundamentos da

economia colaborativa. Após estas definições, ainda nesta temática, serão explorados

conceitos e características de espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, coworking

spaces.

4.1 ORGANIZAÇÃO

Nesta seção são conceituadas as estruturas organizacionais e seus objetivos, no âmbito

da teoria organizacional.

Em um primeiro momento de pesquisa, foi feita a busca da origem etimológica e

filosófica da palavra e seu sentido literal bem como sua aplicação e representatividade dentro

do contexto na Administração e suas teorias.

Como caracteriza o dicionário Michaelis, organização, quando pensada no sentido de

empresa, consiste em um conjunto de formas sistemáticas de cooperação humana para a

produção e a troca de bens ou serviços econômicos.

1 Ato ou efeito de organizar. 2 Estado do que se acha organizado. 3 Disposição de alguma coisa para poder funcionar. 4 Modo como um ser vivo é organizado. [...]. 7Constituição moral ou intelectual. 8 Constituição de um estabelecimento público ou particular. 9 Estudo dos elementos e condições da constituição e funcionamento das empresas e serviços públicos; arte ou ciência da organização. [...] configuração de cultura que se caracteriza pelo emprego abundante de máquinas, pela produção em massa e pela utilização de forças distintas das humanas. O. judiciária, Dir: conjunto das leis que dispõem sobre a criação e desdobramento de comarcas, juizados e tribunais, distribuição de juízes, serventuários e funcionários da justiça, constituindo e disciplinando, assim, o aparelho que regula e distribui. O. não governamental: entidade com finalidades culturais, artísticas, políticas etc., sem ligações com membros ou órgãos do governo. Sigla: ONG. O. social, Sociol: sistema de relações entre os membros de um grupo ou entre os grupos de uma sociedade, relações essas que envolvem obrigações e compensações recíprocas, obedecendo a padrões socialmente aprovados.

Para a melhor visualização da organização no sentido explicado acima, é preciso

entender, também, o sentido das palavras sistema e instrumento, uma vez que estas três

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expressões fazem parte de um conjunto correlacionado, e a organização necessita destes

aparatos para sua existência.

Portanto, a palavra sistema, em uma de suas abordagens, foi usada em filosofia para

indicar, principalmente, um discurso organizado dedutivamente, ou seja, um discurso que

constitui um todo cujas partes derivam umas das outras. O sistema também é tido como

unidade reunida de princípios.

Kant subordinou-a a outra condição: a unidade do princípio, que fundamenta o sistema, pois ele entendeu por S. "a unidade de múltiplos conhecimentos, reunidos sob uma única ideia"; afirmou que o S. é um todo organizado finalisticamente, sendo, portanto, uma articulação e não um amontoado (ABBAGNANO, 2007, p. 908-909)

Conceitua o dicionário Michaelis que, instrumento é, entre outras definições que não

se aplicam a este estudo, um recurso que serve para executar ou levar a efeito uma operação

em qualquer ciência ou ofício. Instrumento é todo meio utilizado para atingir um fim,

objetivando chegar a um resultado.

Diversos autores convergem seus pensamentos com estas definições citadas pelas

fontes dedicadas às origens e significados de palavras. Autores estes que serão apresentados

no decorrer deste referencial teórico. Observadas as definições anteriores, há na literatura

diversas abordagens da palavra organização, visto que a mesma possui grande abrangência de

significados, porém, neste estudo, os resultados serão voltados para a Administração e suas

teorias organizacionais.

Pode-se considerar que uma organização é uma união de esforços individuais com o

intuito de realizar e atingir objetivos comuns ao grupo de indivíduos. E é através desta

organização que se torna possível alcançar resultados que antes seriam inatingíveis se

buscados individualmente (MAXIMIANO, 2000).

A seguir, é apresentado trecho escrito por Cury (2005), referente a uma definição de

grande abrangência deste conceito, que trata da compreensão da organização como uma

junção de diversos fatores, mecanismos e recursos em busca de resultados comuns:

As organizações compreendem as formas mais racionais e eficazes que se conhece de agrupamento social. As organizações coordenam um grande número de ações humanas, que por sua vez, combina o trabalho dos seus funcionários com a apropriação de recursos, unindo em um mesmo processo, dirigentes, especialistas, trabalhadores, máquinas e matérias-primas. (CURY, 2005, p. 122)

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Tendem a concordar com estas definições mais dois autores, cujas teorias afirmam que

as organizações são compostas por um agrupamento de indivíduos que tem o mesmo objetivo

final como resultado a ser atingido após processos de trabalho. Conforme Etzioni (1980, p. 9),

“as organizações são unidades sociais intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de

atingir objetivos específicos”. Para Montana (2003, p. 170) “organizar é o processo de reunir

recursos físicos e principalmente os humanos, essenciais à consecução dos objetivos de uma

empresa”.

As organizações estão presentes na vida cotidiana desde o surgimento das primeiras

sociedades, sendo imprescindíveis para a manutenção convívio entre seus indivíduos. Para

Cury (2005), as organizações não são componentes recentes, pois há registros que as mesmas

existem desde a antiguidade, ainda que em menor quantidade que nos dias atuais; por isso o

mesmo autor defende que a sociedade atual está cada vez mais cercada de organizações à sua

volta, as quais satisfazem e conciliam variadas necessidades sociais e pessoais. As

organizações são um componente predominante na sociedade contemporânea e não há como

convivermos sem as mesmas, pois vivemos e nos tornamos uma sociedade de organizações.

No que diz respeito ao comportamento dos indivíduos, Hall (2004) afirma que os

colaboradores têm suas condutas controladas de acordo com os objetivos da empresa, através

de doutrinação ao longo do tempo que os membros vivenciam dentro da organização, já que a

mesma instrui e convence seus membros a reagir com base nas exigências das posições que

ocupam. Esta abordagem exemplifica como há a interferência através do modo que a empresa

opera e sua cultura organizacional pode intervir na mudança do comportamento de seus

colaboradores.

Araújo (2008) defende que as organizações podem ser classificadas de duas formas,

sendo elas organizações formais e informais. A primeira forma, organização formal, tem

suas regras, hierarquias estruturas e regulamentos claramente definidos e estabelecidos,

para que a mesma possa, em seu formato, atingir sua missão da maneira mais eficiente

possível. Cury (2005) afirma que as organizações informais se constituem como resultado

natural da espontânea interação de seus integrantes com o ambiente em que estão inseridos,

apresentando relações que não aparecem no organograma, tendo suas personalidades e

comportamentos impactando sobre o desenvolvimento de seus cargos e funções para quais

foram designados. Para concluir, Cury (2005) defende que a organização formal não pode

ser totalmente independente de suas ações sem que haja relação e comunicação com as

organizações informais internas da própria empresa.

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De acordo com Hull (2004), em um estudo feito por Burns e Stalker, no ano de 1961,

foram concebidos os modelos comportamentais das organizações, de nome homônimo aos

dois autores deste estudo, no qual apresenta duas formas principais que definem o

funcionamento de cada organização, que são conhecidas como organizações mecanicistas e

orgânicas.

Os autores Burns e Stalker, sociólogos industriais, idealizaram uma pesquisa sobre as

organizações, na qual observaram vinte indústrias inglesas, analisando qual o mercado que as

mesmas atendiam, bem como relacionaram como suas práticas internas contribuíam para

atingir seu público-alvo, podendo, assim, descobrir qual a influência que seus métodos e

variações administrativas proporcionavam aos seus rendimentos econômicos (CURY, 2005).

Deste modo, foram identificados processos nitidamente diferentes nas indústrias observadas,

sendo o ambiente no qual as organizações estão inseridas um fator determinante na sua

estrutura e funcionamento, classificadas como mecanicistas ou orgânicas, do ponto de vista de

Hall (2004, p. 48):

Burns e Stalker (1961) foram um passo além com o desenvolvimento de seu modelo de formas organizacionais múltiplas. Eles identificaram a forma mecânica, que é muito próxima ao tipo ideal de burocracia proposto por Weber, e a forma orgânica que se aproxima do seu oposto lógico. Portanto, em vez de possuir autoridade hierárquica, as organizações orgânicas possuem uma estrutura de controle em rede; em vez de especialização das tarefas, um ajuste contínuo e uma redefinição de tarefas; em vez de supervisão hierárquica, um contexto de comunicação envolvendo informações e opiniões, e assim por diante. Os autores veem as formas organizacionais como sendo estreitamente vinculadas ao ambiente no qual as organizações estão inseridas, particularmente naquilo que diz respeito à tecnologia empregada pela organização.

A partir da conceituação básica e literal da palavra organização, pode-se avançar para

teorias organizacionais e modelos de operação, desenvolvendo a proposta etimológica da

palavra, como a simbolização de formas organizacionais através de imagens, que transmite o

funcionamento das organizações, bem como pode gerar mais rápido diagnóstico de

dificuldades, promovendo a proposição de formas para resolução destes acontecimentos

indesejados. A seguir, serão expostas teorias referentes às estruturas organizacionais.

4.2 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS

As funções das estruturas organizacionais são produzir resultados e atingir metas com

eficácia, limitar as influências que variações individuais podem provocar no âmbito

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organizacional e também tem a função de gerenciar o poder das decisões, posições e

atividades (HALL, 2004). Porém, é pertinente ressaltar a importância da palavra estrutura,

que ainda pode ser apresentada como as estruturas físicas das empresas, como equipamentos e

espaços disponibilizados aos colaboradores. Também há de se considerar como estrutura a

organização do trabalho e os processos produtivos (CURY, 2005).

A estrutura compreende a disposição das diversas unidades que compõem a empresa [...] e as relações entre superiores e subordinados. A estrutura não deve envolver apenas o esqueleto, [...], mas todo o organismo da empresa, como deveres, responsabilidades, os sistemas de autoridade e de comunicação existentes na organização (CURY, 2005, p. 228).

Algumas características estruturais básicas são a complexidade, em que há

abrangência e profundidade e distribuição do trabalho na organização, segundo Hall (2004), é

clara a divisão do trabalho através dos títulos dos cargos e níveis hierárquicos estabelecidos,

há também a necessidade de coordenação e controle e influência sobre o comportamento dos

membros. Ainda sobre complexidade organizacional, há a divisão de tarefas para especialistas

treinados para tarefas rotineiras e repetitivas e também para tarefas não repetitivas. A

diferenciação vertical enumera cargos entre executivos principais e empregados da produção.

Na dispersão geográfica, há a pulverização de centros de poder ou tarefas. A maioria das

organizações é complexa em suas configurações (HALL, 2004).

Ainda há a característica da formalização, na qual a empresa impõe suas regras e

procedimentos, com a finalidade de facilitar a comunicação e padronizar processos internos

da organização diminuindo a variação dos mesmos, como descritas por Hall (2004, p. 61), “as

regras e os procedimentos criados para lidar com as contingências enfrentadas pela

organização constituem parte daquilo que é denominado formalização”.

Embora haja a formalização através de regras e procedimentos, é importante lembrar

que normas e padrões não especificados por escrito podem ser tão obrigatórios quanto os que

estão formalizados. Existe a concepção que funções rotineiras têm a tendência de estarem

mais associadas à alta formalização organizacional (HALL, 2004).

Segundo o mesmo autor, ainda há a centralização, que consiste na deliberação sobre

quem toma as decisões na organização, ou seja, há a distribuição de poder, e utiliza como

indicadores os níveis de participação nas decisões estratégicas. Como descrito por Van de

Vem e Ferry (1980) citados por Hall (2004, p. 71), a centralização

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é o lugar em que se situa autoridade que toma as decisões em uma organização. Quando a maioria das decisões é tomada hierarquicamente, uma unidade organizacional é considerada centralizada; uma unidade descentralizada geralmente implica que a principal fonte de tomada de decisões foi delegada por gerentes de linha a pessoal subordinado.

É importante ressaltar que há dois estilos que as teorias organizacionais ainda

consideram usuais, sendo elas as tradicionalistas, com alta influência da imposição de

autoridade, sendo mais rígida e mecânica, nas quais o controle é feito verticalmente de cima

para baixo; e a outra escola é a behaviorista, na qual o conceito de autoridade é mais brando,

pois não é imposto e sim proposto e aceito pelos demais integrantes, os incentivos não são

apenas financeiros, mas também sociais; outra diferença se encontra no ambiente de trabalho

que é democrático e aberto, ao contrário da escola tradicionalista, que é mais fechada e

autocrática (CURY, 2005).

Cury (2005, p. 31) apresenta no quadro 1 uma análise comparativa acerca dos

principais conceitos das escolas tradicionalista e behaviorista, esta tida com mais moderna

e flexível, pois dá maior importância ao comportamento social de forma mais ampla que a

escola tradicionalista.

Quadro 1 - Principais conceitos das escolas tradicionalista e behaviorista

Tradicionalista Behaviorista

Autoridade: de cima para baixo Autoridade: Aceita e não imposta

Incentivos: Financeiros Incentivos: Financeiros e sociais

Organização: como estrutura burocrática Organização: como instituição social

Mudança tecnológica: por ordem Mudança tecnológica: por consulta

Lucro: de qualquer maneira Lucro: como responsabilidade social

Informações: incompletas e imprecisas Informações: completas e precisas

Fonte: adaptado de Cury (2005, p. 31)

Para Araujo (2008), a estruturação é um modelo sistematizado, em que as atividades

são agrupadas em diversas partes organizacionais, que são definidas e separadas de acordo

com critérios estabelecidos, com a intenção de promover melhor adequação da estrutura

organizacional e sua forma de atuação. O autor ainda busca definir algumas técnicas que as

organizações utilizam para modelar sua estrutura.

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4.2.1 Técnicas de estruturação

Segundo Araujo (2008), entre os objetivos da estruturação estão aproveitar a

especialização das pessoas, com a finalidade de capacitá-las para que possam cumprir com

excelência suas atividades em tarefas complexas; a estruturação tem o intuito de maximizar os

recursos disponíveis para execução dos trabalhos, bem como controlar os indivíduos através

da delimitação de ações e incumbências; além de ter a finalidade de descentralizar, delegando

as responsabilidades e autoridades que competem a cada indivíduo. As técnicas para o

cumprimento destes objetivos são apresentadas a seguir.

A primeira parte salientada por Araujo (2008) é a estruturação por área geográfica,

evidenciada quando há desconcentração territorial das atividades da organização, então se

torna desejável que a manutenção de uma gestão local que encaminha apenas o exigido pela

administração central. O fator positivo é de a administração local conhecer melhor o lugar

onde a organização está inserida. Esse tipo de estruturação pode ser vantajoso à organização

por motivos estratégicos, porém a mesma pode determinar o aumento de custos de forma

expressiva (CRUZ, 1998).

A estruturação por cliente é descrita em seguida por Araujo (2008). Para ele, a

organização que utiliza a técnica de estruturação baseada em clientes, a mesma está voltada

para atingir determinado público-alvo. Cruz (1998) afirma que a concentração no atendimento

a este público é tida como uma vantagem, e a desvantagem considerada pelo autor mostra que

esta divisão carece de cuidados ao segmentar seu atendimento em apenas uma espécie de

cliente, visto que atualmente a sociedade exige o uso do politicamente correto e critica quando

há discriminação de algum grupo social (CRUZ, 1998).

Outra forma existente de estruturação é determinada e alinhada através de

contingência ambiental. Estrutura que é utilizada quando há a percepção de que o ambiente

em que a organização se encontra sofre constantes mutações, então adaptações estruturais se

tornam necessárias na organização para que a empresa possa se manter atualizada e

competitiva (ARAUJO, 2008).

Segundo o mesmo autor, a estruturação por funções é base de grande número das

estruturas organizacionais, uma vez que é composta pela totalização de atividades

semelhantes e de acordo com os objetivos da organização. A desvantagem é, por especializar

especificamente cada funcionário, acabar distanciando as funções, prejudicando a conexão

das áreas e a gestão dos processos. Segundo o autor, este tipo de departamentalização é

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comumente utilizado em empresas ou áreas cujas atividades sejam bastante repetitivas e ou

altamente especializadas.

Ainda de acordo com Araujo (2008), há a estruturação por número, que consiste na

divisão quantitativa de indivíduos encarregados de determinado trabalho na organização.

Segundo Cruz (1998), este tipo de estruturação é pouco utilizado porque não oferece outra

razão que a de unicamente dividir a organização pela quantidade de pessoas existentes em

cada conjunto.

A estruturação por processo é caracterizada quando existe a mitigação do produto em

partes sequenciais, que vão ocupar as pessoas incumbidas da manipulação e montagem do

produto (ARAUJO, 2008). Muito utilizada nas indústrias, esta técnica de estruturação divide a

fabricação do produto em função das operações que os funcionários terão que desempenhar

para fabricá-lo (CRUZ, 1998).

A departamentalização por produto ou serviços acontece quando há uma gama de

variados produtos ou serviços da mesma empresa (ARAUJO, 2008). Cruz (1998) salienta que

nesta estruturação, a organização é dividida em função dos produtos que fabrica, ou dos

serviços que comercializa.

Como salienta Araujo (2008), a estruturação por projeto é pouco utilizada por conta da

elevada complexidade em sua estruturação, uma vez que é necessário contar com

profissionais extremamente capacitados para a execução de tarefas difíceis. É indicada para

empresas cujo negócio seja a especificação e execução de projetos, sua vantagem principal é

de conseguir restringir a um grupo de especialistas a responsabilidade necessária para a

execução de cada projeto (CRUZ, 1998).

Outra técnica, que não é frequentemente utilizada, é a de estruturação por força tarefa

que consiste na reunião de pessoas que pertencem a variadas unidades da organização, com a

finalidade de cumprir determinada e, na maioria das vezes, temporária tarefa (ARAUJO,

2008).

Outra estruturação pouco utilizada, conforme Araujo (2008) está no emprego da

estruturação por tempo, que é limitada à indústria, uma vez que as jornadas de trabalho nestes

ambientes organizacionais são frequentemente maiores. Ainda conforme o mesmo autor, este

processo demanda continuidade na execução de tarefas.

O autor ainda considera que a técnica de estruturação organizacional por rede de

integração somente pôde ser estabelecida graças aos avanços tecnológicos, pois acrescenta

benefícios competitivos tanto em âmbito nacional como na atuação internacional das

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empresas, possibilitando a melhor utilização dos recursos disponíveis, com maior

produtividade e flexibilidade das organizações (ARAUJO, 2008).

As onze definições acima abordadas pelos autores Araújo (2008) e Cruz (1998) são

sintetizadas no quadro 2, cuja intenção é facilitar a compreensão das características básicas

presentes nas técnicas de estruturação mais comuns que as empresas atuais adotam, com o

intuito de se organizar de acordo com suas características, objetivos e possibilidades,

considerando a viabilidade de implementação das mesmas.

Quadro 2 - Principais características das técnicas de estruturação Técnicas de estruturação

Características

Área geográfica

Desconcentração territorial das atividades; gestão local; estratégica.

Cliente Feita para atingir determinado público-alvo, embora haja ressalvas quando o atendimento é voltado apenas para um nicho de clientes.

Contingência ambiental

Quando ambiente sofre constantes mudanças, se tornam necessárias adaptações estruturais.

Força tarefa Reunião de empregados de várias unidades para cumprir tarefa temporária determinada.

Funções Utilizada pela maioria das organizações; divisão feita através do ajuntamento de funções semelhantes.

Número Divisão quantitativa de indivíduos encarregados de determinado trabalho

Processo Utilizada pela maioria das indústrias; mitigação na produção dos bens ou serviços em partes sequenciais.

Produtos ou serviços

Utilizada quando há variada gama de produtos ou serviços da mesma empresa.

Projeto Pouco utilizada por ser de elevada complexidade e voltada para profissionais extremamente capacitados.

Rede de integração

Concebida pela facilidade que os avanços tecnológicos oferecem, possibilitando melhor utilização de recursos disponíveis, aumentando a produtividade e flexibilidade das organizações.

Tempo Utilização limitada às indústrias, pois possuem jornadas de trabalho maiores e continuidade na execução de tarefas.

Fonte: construído pelo autor a partir das proposições de Araujo (2008) e Cruz (1998)

Além destas técnicas comumente adotadas pelas empresas, as estruturas

organizacionais possuem elementos e tipos estruturais específicos, que são abordadas e

divididas através de partes analisadas enquanto configurações e metáforas, apresentadas

respectivamente nas próximas seções.

4.3 ELEMENTOS E TIPOS DE ESTRUTURAS

O escritor canadense Henry Mintzberg expõe outras impressões e apresenta diferentes

definições de estrutura organizacional, organizadas em cinco configurações, sendo que sua

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contribuição é significativa para a análise das organizações e também para novos estudos das

teorias organizacionais. Esta seção se dedicará, essencialmente, a revisar a contribuição desse

autor. Como ressaltado Mintzberg (2003, p. 10):

A estrutura de uma organização pode ser simplesmente definida como a soma total das maneiras pelas quais o trabalho pé dividido em tarefas distintas e como é feita a coordenação entre essas tarefas.

Mintzberg (2003) afirma que existem cinco mecanismos para a constituição das

organizações, que envolvem as diferentes, porém fundamentais, maneiras através das quais as

organizações coordenam suas tarefas, para obter o arranjo e coordenação de trabalho através

de aproveitamento da própria comunicação informal; da uniformização dos processos de

trabalho; supervisão direta através de um responsável pelo trabalho dos outros, como um

gerente, por exemplo, instruindo e monitorando os seus subordinados; padronização dos

resultados e das habilidades dos trabalhadores voltadas aos requisitos específicos que as

demandas acabam exigindo. Estas características acima citadas são consideradas como

elementos basilares das estruturas, que mantêm as organizações ligadas.

4.3.1 Elementos de estruturas

Como salienta Mintzberg (2003), as organizações ainda são divididas em cinco partes,

elementos considerados básicos e presentes em cada organização, e brevemente serão

explicadas a seguir, pois são de simples entendimento e claramente podemos visualizar estes

atributos nos modos de operação e estruturação das empresas dos dias atuais. Segundo esse

mesmo autor, estas partes organizacionais consistem em:

· Núcleo operacional: ambiente onde se localizam as pessoas que realizam o trabalho

básico, operadores, é considerado o coração das organizações, pois é parte que produz

os produtos ou presta serviços, buscando resultados essenciais que a mantém a com

vida;

· Cúpula estratégica: fazem parte deste ambiente os componentes administrativos do

núcleo operacional, que supervisionam os membros do núcleo operacional, a cúpula

estratégica é encarregada de assegurar que a organização cumpra sua missão de

maneira eficaz;

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· Linha intermediaria: Este elemento organizacional existe para manter o elo da

transmissão de decisões tomada pela cúpula estratégica e que as mesmas cheguem ao

núcleo operacional, conexão formada pela cadeia de gerentes intermediários que

possuem autoridade formal;

· Tecnoestrutura: Esta parte se encontra fora da hierarquia da linha de autoridade e

proporciona serviços semelhantes aos de assessoramento, que prestam serviços para a

organização atuando sobre as tarefas dos outros, são encarregados de efetuar formas

de padronizar na organização;

· Assessoria de apoio: Afirma que esta parte existe e funciona também como uma forma

assessoria, porém não de padronização como a tecnoestrutura. São fornecedores de

serviços indiretos para a organização, apoiando a mesma fora de seu fluxo de trabalho

operacional. Ainda segundo o mesmo autor, esta parte organizacional geralmente está

presente nas grandes organizações.

Observando a figura 1, é possível visualizar as cinco partes estruturais das

organizações em geral. A cúpula estratégica é composta pelo conselho de administração e

comitê executivo e, posicionada no alto da organização, toma decisões e comanda a

organização de maneira total, fazendo com que as informações cheguem ao núcleo

operacional, este posicionado na base, através do elo proporcionado pela linha intermediária,

entre núcleo operacional e cúpula estratégica, que é composta por gerentes com autoridade

para cumprir com tal atividade. Ao lado esquerdo, está a tecnoestrutura, e ao lado direito, a

assessoria de apoio são as partes que prestam formas de assessoria secundárias em relação à

atividade fim da organização (MINTZBERG, 2003).

Figura 1 – As cinco partes básicas da organização

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 22)

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Após a apresentação dos elementos básicos de estruturas definidos por Mintzberg

(2003) exibidos de maneira geral e que, de alguma forma, estão presentes na maioria das

organizações, é importante verificar como estes elementos estão dispostos nas organizações a

partir dos tipos de estruturas das quais as empresas se organizam, sendo estrutura simples;

burocracia mecanizada; burocracia profissional; burocracia divisionalizada e adhocracia.

Estes tipos de estruturas são abordados na próxima seção.

4.3.2 Tipos de estruturas

Como anteriormente apresentado, Mintzberg (2003) não só identificou características

básicas através dos elementos que compunham as organizações em geral como também

identificou que as mesmas se dispõem através de, no mínimo, cinco tipos de estruturas,

utilizando a que melhor se adequa às necessidades da organização.

O primeiro tipo de estrutura apresentado por Mintzberg se visualiza na figura 2.

Estrutura esta que foi denominada como forma da estrutura simples, em que está presente a

simples divisão entre o núcleo operacional e a cúpula estratégia, com a linha intermediária

praticamente nula.

Figura 2 – Estrutura simples

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 180)

A estrutura simples ocorre geralmente em micro e pequenas empresas, com ambientes

simples e dinâmicos. A estrutura simples é pouco elaborada, apresenta uma baixa

complexidade, portanto, o principal mecanismo de coordenação acaba sendo feito através da

supervisão direta.

A centralização é um significativo parâmetro de design deste tipo de estrutura. Sendo

assim, há a percepção de ser um sistema bastante restritivo (MINTZBERG, 2003).

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Nesta mesma linha de abordagem, o mesmo autor apresenta outro tipo de estrutura,

que é conhecida como burocracia mecanizada, representada na figura 3, na qual se pode

observar que, assim como é caracterizado nas organizações que apresentam atributos

remetentes à estrutura simples, há além da cúpula estratégica e núcleo operacional, a presença

de uma linha intermediaria mais desenvolvida para gerenciar as tomadas de decisões que são

conduzidas e tomadas pela cúpula estratégica. Além deste tipo de estruturação requisitar

também a presença da tecnoestrutura e assessoria de apoio, que fornecem atividades base à

estrutura.

Figura 3– Burocracia mecanizada

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 193)

De acordo com Mintzberg (2003), a burocracia mecanizada é baseada nas

organizações por funções, pois é claramente separada entre indivíduos voltados à concepção e

indivíduos voltados à execução. Um evidente e principal mecanismo de coordenação desta

estrutura é visível através da padronização dos processos de trabalho, sendo que a

tecnoestrutura é tida como a chave deste tipo de estrutura e se apresenta de maneira constante.

Os hábitos organizacionais são rotineiros e repetitivos, e também possuem grande

formalidade dos procedimentos no núcleo operacional. A estrutura, em qualquer que seja a

atividade, obedece a diversas regras e regulamentos.

Ainda na Burocracia Mecanizada, Mintzberg (2003) salienta a presença de elevada

divisão do trabalho e diferenças claras nos vários níveis hierárquicos. Também há a

centralização dos poderes de decisão, uma vez que a organização tem como seu principal item

controlar as instruções transmitidas dos níveis hierárquicos de cima para baixo.

As organizações têm dificuldades em se adequar às mudanças considerando sua

rigidez e formalidade, por isso, ficam claros os riscos que tais mudanças podem provocar

conflitos porque se trata de uma estrutura pouco flexível que é concebida para atingir um

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único objetivo. Logo, esta é uma estrutura que não tem boa adaptação em ambientes

complexos e dinâmicos (MINTZBERG, 2003).

A burocracia profissional, representada na figura 4, demonstra como se caracteriza

uma organização adotante da burocracia profissional, na qual além das características

presentes na estrutura simples, há uma maior exigência da presença da assessoria de apoio, e

pouca da tecnoestrutura.

Figura 4 – Burocracia profissional

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 218)

Para Mintzberg (2003), a burocracia profissional passa a imagem oposta da burocracia

mecânica, pois ao invés de se basear a autoridade hierárquica, esta estrutura tem seus

fundamentos baseados na autoridade de competências e habilidades.

Nesta estrutura, o principal mecanismo de coordenação está baseado na padronização

das habilidades, assim a mesma funciona através das qualificações e competências dos

indivíduos.

Outro aspecto levantado pelo autor evidencia que o núcleo operacional é parte-chave

fundamental, além da importância dos serviços de apoio, que agora tem maior participação na

estrutura, por consequência a burocracia profissional é considerada como uma estrutura

descentralizada. Ainda assim, apresenta elevada formalização, com diversos regulamentos e

regras.

Esta estrutura apresenta um melhor desempenho quando necessita sofrer mudanças

quando comparada à burocracia mecânica, uma vez que os indivíduos exibem melhores

qualificações e seguir as tendências é um fator situacional deste tipo de burocracia

(MINTZBERG, 2003).

O mesmo autor ainda apresenta a burocracia divisionalizada, em que a cúpula

estratégica transfere aos gerentes das divisões certa autonomia para a tomada de decisões,

portanto a linha intermediária se torna bastante importante para o pleno funcionamento das

organizações que utilizam a burocracia divisionalizada como estrutura. O sistema de controle

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de desempenho dos indivíduos e resultados é bastante desenvolvido, exercendo papel

importante para o monitoramento dos mesmos.

Este agrupamento tem na diversidade de mercado o fator situacional mais importante e

característico da estrutura. As organizações que se norteiam através desta estrutura funcionam

melhor em ambientes que não sejam muito complexos nem muito dinâmicos. É considerada

como uma estrutura incompleta, porque cada unidade tem a sua estrutura e frequentemente as

unidades tem a tendência de assumir a configuração da Burocracia Mecânica (MINTZBERG,

2003).

A figura 5 imprime como a burocracia divisionalizada se constitui. Com a marcante

presença das cinco características dos elementos organizacionais, com a diferença que no

núcleo operacional, as áreas acabam por se tornar semelhantes a uma burocracia mecanizada.

Figura 5 – Burocracia divisionalizada

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 250)

Para concluir a apresentação dos cinco tipos de estrutura, Mintzberg (2003) apresenta

a adhocracia, que pode ser visualizada na figura 6, ilustrando suas características estruturais,

e, em seu desenho, pode-se notar uma estrutura mais orgânica e fluida em relação às

estruturas anteriormente apresentadas.

Figura 6 – Adhocracia

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 291)

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Mintzberg (2003) define a adhocracia como uma estrutura altamente orgânica, que

possui pouca formalização do comportamento; a especialização do trabalho existe

praticamente em sua totalidade na forma horizontal.

Esta estrutura tem forte disposição a agrupar especialistas das diversas unidades

funcionais separadamente em pequenas equipes multidisciplinares para atingir os objetivos da

organização, que buscam execuções de trabalhos específicos e, sendo assim, adota a

descentralização seletiva das equipes localizadas em vários pontos da organização.

Mintzberg (2003) ainda informa que a adhocracia utiliza tanto as bases funcionais

como as bases de mercado as agrupando em uma estrutura matricial. Sendo assim, para o

autor, é nítido que esta estrutura melhor se adapta e se insere em ambientes que são dinâmicos

e estratégicos.

A adhocracia se destaca por ser, dentre todas as outras estruturas apresentadas, a que

demonstra menor seguimento dos princípios clássicos da administração, quebrando assim

padrões que há muito tempo são consagrados pelas teorias organizacionais.

A juventude, em sentido de tempo de existência da organização, também é tida como

importante fator a ser considerado para a implementação da adhocracia, ainda que seja

complicado e antinatural manter a estrutura neste formato, visto que todos os tipos de força

levam esta estrutura a se tornar burocrática à medida que a organização se estabelece e

envelhece. A adhocracia é tida como uma configuração única, pois é voltada aos indivíduos

que acreditam em mais democracia e inovação, evitando formalidades e usar como referência

a burocracia (MINTZBERG, 2003).

No caso deste estudo, dentre os elementos e tipos de estruturas até aqui apresentados,

se pode compreender que as formas estruturais que podem se aproximar ao conteúdo a ser

pesquisado são as estruturas da burocracia mecanizada e adhocracia, visto que enquanto a

burocracia padroniza e coloca ênfase na rigidez de processos, a adhocracia coloca ênfase na

simplificação e adaptação a organização a cada situação, afinal nesta estrutura que se

apresentam conceitos mais modernos, flexíveis e dinâmicos dentro dos ambientes

organizacionais. Esta modernidade, flexibilidade e dinamicidade estão presentes desde o

planejamento organizacional e tomadas de decisões como também nas execuções das ações

para atingimento do objetivo final.

Outro atributo que está presente na adhocracia são as interações e ênfases das relações

tanto dentro dos grupos quanto entre os grupos, tornando a comunicação como visível

característica presente nestes tipos de estruturas.

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A seguir, no quadro 3, são apresentadas as cinco estruturas e algumas de suas

diferenças através do quadro síntese, que auxiliará na recapitulação sintetizada e fixação da

compreensão de determinadas características básicas das estruturas apresentadas.

Quadro 3 - Principais conceitos das escolas tradicionalista e behaviorista

Estrutura simples

Burocracia mecanizada

Burocracia profissional

Burocracia divisionalizada

Adhocracia

Mecanismo-chave de coordenação

Supervisão direta

Padronização do trabalho

Padronização das habilidades

Padronização dos outputs

Ajustamento mútuo

Parte-chave da organização

Cúpula estratégica

Tecnoestrutura

Núcleo operacional

Linha intermediária

Assessoria de apoio e núcleo operacional

Formalização do comportamento, burocrática/orgânica

Pouca formalização, orgânica.

Muita formalização, burocrática.

Pouca formalização, burocrática.

Muita formalização (dentro das divisões), burocrática.

Pouca formalização, orgânica.

Grau de centralização

Centralizada Descentralização horizontal limitada

Descentralização horizontal e vertical

Descentralização vertical limitada

Descentralização seletiva

Fonte: adaptado de Mintzberg (2003, p. 310-312)

Cury (2005, p.111) apresenta no quadro 4 uma análise comparativa incluindo

resultados de outros estudos e pesquisas acerca dos sistemas organizacionais descrevidos

anteriormente por Mintzberg (2003), confrontando características de estruturas

burocráticas com as estruturas que adotam a adhocracia.

Quadro 4 - Sistemas organizacionais: burocracia x adhocracia Fechado, mecânico, burocrático.

Aberto, orgânico desburocratizado ou adhocrático.

Alta centralização do processo de tomada de decisões, geralmente afetas aos níveis superiores. Pouca delegação.

Relativo processo de descentralização da tomada de decisões, com dispersão e integração. Amplo compartilhamento de responsabilidade e de controle. Predomínio da interação vertical entre

superior/subordinado. Relacionamento do tipo autoridade/obediência.

Predomínio da interação horizontal sobre a vertical. Confiança e crença recíprocas.

Ênfase exclusivamente individual.

Ênfase nos relacionamentos entre os grupos e dentro deles.

Hierarquia rígida.

Participação e responsabilidade multigrupal sobre as tarefas da empresa como um todo.

Ênfase na doutrina tradicional.

Ênfase na doutrina behaviorista e em enfoque contingencial.

Atividades rotineiras/estáveis, profundamente normatizadas pela cúpula.

Atividades inovadoras/não estáveis. Detalhes normatizados pelos próprios níveis operacionais.

Fonte: adaptado de Cury (2005, p. 111)

Após a apresentação e diferenciação dos elementos e tipos de estruturas que compõem

as características gerais da maioria das organizações existentes, ainda existe a caracterização

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de empresas tidas como organizações mecanicistas e também como organizações orgânicas,

explicadas a seguir.

4.3.3 Organizações mecanicistas e orgânicas

Outra importante abordagem para amparo a este estudo está nas definições

organizacionais, sendo as estas caracterizadas por serem ou mecanicistas ou orgânicas. A

pesquisa efetuada pelos sociólogos Burns e Stalker, através da observação de práticas

administrativas e os ambientes em que vinte indústrias inglesas estavam praticando e

inseridas, respectivamente. A realização e posteriores conclusões desta pesquisa ficaram

conhecidas como a teoria contingencial.

Acerca desta teoria, Robbins (2002) ressalta que estas duas definições feitas através da

pesquisa, contudo, na prática, são dois extremos de caracterização das estruturas

organizacionais, sendo o modelo mecanicista tido como sinônimo de burocracia, alta

formalização e pouca ou rara participação dos níveis hierárquicos mais baixos nos processos

de tomadas de decisões. Já o modelo orgânico lembra organizações com hierarquias

horizontalizadas, abastecidas com equipes multifuncionais e de baixa formalização, tendo alta

participação dos indivíduos de vários cargos nos processos decisórios (ROBBINS, 2002).

Burns e Stalker, na pesquisa elaborada na Inglaterra, em 1961, concluíram que a forma

mecanicista de organização é a mais adequada quando a empresa tem suas condições

ambientais estabilizadas formalizadas. As demandas e tarefas são fracionadas por um

conjunto de especialistas, em que cada indivíduo se compromete unicamente na tarefa a qual

foi designado, como se esta fosse distinta dos afazeres reais da empresa enquanto vista como

totalidade em busca de seu objetivo principal. Os processos, métodos e obrigações são

precisamente definidos a cada função. A comunicação geral dentro da organização é feita de

maneira vertical, passada dos superiores das cadeias hierárquicas aos subordinados, que se

comportam de acordo com regras, regulamentos e instruções emitidas pela cadeia superior de

comando, tornando a ideia de organização mecânica mais rígida e formalizada em relação à

organização orgânica (CURY, 2005).

A forma orgânica é tida como mais adequada quando as condições ambientais em que

as organizações estão inseridas são instáveis, favorecem ou demandam a mudança e inovação,

com a finalidade da manutenção da sobrevivência organizacional. Os sistemas orgânicos,

comparados com os mecanizados, são muito mais flexíveis, e as tarefas frequentemente não

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seguem suas definições formais de outrora, como processos e métodos, por exemplo. Esta

prática demonstra nitidamente a necessidade da redefinição contínua das tarefas, o que faz

com que os organogramas tenham pouca utilidade (CURY, 2005).

Ainda assim se torna importante salientar que as organizações mecânicas e orgânicas

estão situadas em uma mesma esfera das teorias de caracterizações e estruturações

organizacionais, porém devem ser consideradas como polos opostos de uma mesma régua,

onde estão inseridas as organizações (MAXIMIANO, 2000).

Quadro 5 - Comparação de características das organizações mecanicistas versus orgânicas Variáveis

Org. Mecanicistas

Org. Orgânicas Estrutura

Burocracia

Adhocracia

Processo decisório Centralizado

Descentralizado

Comunicação Vertical

Horizontal Ambiente

Estável

Instável Ênfase

Nos indivíduos

Nos grupos

Divisão do trabalho

Hierárquica

Multigrupal

Fonte: construído pelo autor a partir da proposição de Burns e Stalker (1961)

O quadro 5 apresenta, de forma sintética, as principais abordagens e diferenças entre

as organizações mecanicistas e orgânicas, nas quais as variáveis de diferenciação são as

estruturações; processos de decisões; comunicação e ambiente; para quem é enfatizada a

atenção; bem como a maneira da divisão do trabalho.

Após esta seção se dedicar às organizações mecânicas e orgânicas, bem como

possibilitar a diferenciação uma da outra, além de considerar as outras seções que apresentam

o que são e as formas tradicionais de organizar, é importante observar outros vieses que as

organizações proporcionam. As organizações também foram observadas e interpretadas de

diferentes formas, como as que o teórico organizacional Gareth Morgan idealizou, criando um

conceito que considera as organizações vistas através de metáforas, apreciação que é validada

e utilizada por diversos teóricos organizacionais.

4.4 METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO

As organizações podem ser vistas além das definições descritas em dicionários e

conceitos tradicionais da palavra. O teórico organizacional britânico Gareth Morgan contribui

para os estudos organizacionais com importante estudo no qual as organizações são vistas

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através de metáforas. É importante dedicar uma seção especialmente para as concepções

metafóricas de Morgan, pois o mesmo é considerado um teórico original em sua

sistematização e sua obra que, traduzida para quinze idiomas, teve significativa repercussão e

contribuições para diversos estudos organizacionais. Estudo este que será apresentado nesta

seção o qual permitiu que outras pesquisas pudessem ser idealizadas, promovendo novas

descobertas e outras formas de agregar valor para as teorias organizacionais.

Para Morgan (1996), a ideia de organização é concebida através de construções das

diversas imagens metafóricas que as próprias transmitem de si aos observadores e estudiosos,

sendo as mecânicas e biológicas tidas como as principais das imagens. O mesmo autor afirma

que explorando estes conjuntos de imagens, há a abertura de possibilidades para a criação de

novos sentidos referentes à organização, bem como, se pode utilizar este modal analítico

como uma ferramenta prática, tendo como sua finalidade o diagnóstico de dificuldades

organizacionais, de administração e planejamento das organizações de maneira mais ampla.

Estas concepções podem ser úteis para a compreensão do comportamento humano em

relação às organizações. São separadas diferentes visões de imagens referentes à organização,

as descrevendo da seguinte maneira: organização como máquinas; como organismos;

cérebros; culturas; sistemas políticos; como prisão psíquica; fluxo e transformação; e

instrumentos de dominação (MORGAN, 1996).

Para o mesmo autor, na imagem da organização como máquina, tendo o pensamento

feito de forma mecanizada, o estilo burocrático, idealizado por Max Weber, tornou-se

extremamente forte em suas bases, dificultando a concepção de novas percepções de

organização.

Ainda nesta imagem, observa-se que os princípios da Administração Científica são

intensamente defendidos, contextualizando as organizações em amplas relações sociais,

enfatizando a importância dos meios utilizados com as finalidades para quais os mesmos

foram empregados, com a utilização do uso de estudos de tempos e movimentos como forma

de analisar e padronizar as atividades de trabalho dentro das organizações (MORGAN, 1996).

Na segunda imagem descrita, a organização é vista como um organismo, conceito este

baseado na biologia. As organizações e seus membros têm distintos e variados tipos de

necessidades, pois um tem a capacidade de suprir as demandas de outro, tendo as

organizações capacidade de desenvolver e moldar padrões que permitem as próprias a se

adaptarem aos ambientes nos quais estão inseridas. Morgan (1996) afirma que os sistemas

orgânicos precisam ter seus mecanismos e processos abertos, pois necessitam trocar

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constantemente com os ambientes em que estão inseridos, para que possam sobreviver nos

mesmos.

Para este estudo, que apresenta novas formas de economia, empreendimento e

trabalho; se torna importante destacar entre as principais metáforas, a quarta imagem, que são

as organizações vistas como fenômeno cultural.

De acordo com o mesmo autor, a organização pode ser vista como um fenômeno

cultural, que se transforma de acordo com o estágio de desenvolvimento da sociedade na qual

a mesma está inserida. As organizações influenciam o comportamento diário das pessoas, pois

todos se tornaram membros de sociedades organizacionais. As principais semelhanças,

diferenças e demais características culturais, hoje, no mundo, são influenciadas

principalmente pelas ocupações dos indivíduos que pelos seus costumes nacionais.

Morgan (1996) compara a forma de trabalho e rotinas de empresas orientais com as

ocidentais, diferenciando uma da outra. No oriente, as organizações são tidas como

coletividades às quais os colaboradores são entusiasmados se sentirem verdadeiramente uma

parte da empresa, ao invés de apenas frequentarem o local de trabalho que consiste em

indivíduos separados. Para Morgan (1996, p. 116) “o espírito colaborativo influencia na

experiência de trabalho, existindo grande ênfase na interdependência, nas preocupações

compartilhadas e na ajuda mútua”.

As definições de organizações como máquinas, de forma burocrática e mecanizada e

instrumentos de dominação; bem como a visão orgânica que sofre mutações através de

interações ambientais e de indivíduos para sua sobrevivência, assim como a organização

sendo imagem de fenômenos culturais podem vir a ser importantes para o entendimento e

continuidade deste estudo, em que a junção destas imagens pode amparar e auxiliar no

entendimento do propósito da economia colaborativa, dos novos estilos de composição

organizacional e formas de relações sociais e produtivas derivadas desta inovação econômica.

As próximas metáforas serão brevemente introduzidas, visto que as principais para

embasamento deste estudo já foram apresentadas anteriormente.

A terceira imagem apresentada por Morgan (1996) mostra a metáfora da organização

como cérebro e suas formas de transmissão de informações de alta complexidade, clarificando

a importância do desenvolvimento sistemas de comunicação capacitados para o entendimento

de informações com excelência. Esta imagem auxilia no entendimento da organização vista

como um sistema cognitivo, solidificando estruturas e padrões de pensamento e ações.

O mesmo autor informa que a quarta imagem é da metáfora política, na qual mostra

que os interesses, conflitos e busca pelo poder que moldam os ambientes organizacionais. As

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organizações são consideradas como sistemas de governo. O conceito de que a organização é

um arranjo de diversas pessoas para atingimento de objetivos comuns, nesta imagem da

organização, fica de lado, pois a atingir resultados pessoais está acima dos interesses comuns

da organização, fazendo com que os colaboradores ajam como políticos.

A organização vista como uma prisão psíquica constitui a quinta imagem observada, e

nela é combinada a ideia de que as organizações são acontecimentos psíquicos, consistindo

em processos conscientes e inconscientes. Nesta concepção, fica nítida a percepção de que os

humanos criam suas próprias armadilhas, tais como insegurança, preocupações e conceitos

distorcidos, ficando assim aprisionados em seus próprios medos. Assim, as pessoas se tornam

alvo de conjuntos para servir aos interesses específicos da organização.

Na sexta imagem, a organização é tida como fluxo e transformação, na qual a mesma é

um conjunto de relações em que se desdobram e procuram evoluir para o atingimento dos

objetivos perseguidos.

A organização como um instrumento de dominação é a última imagem metafórica

definida, e informa a “face repugnante” (MORGAN, 1996, p. 279) das organizações. Nesta

imagem, o foco são os aspectos exploradores da organização, que utilizam seus empregados e

o mundo econômico para atingirem os seus fins e como algumas pessoas impõem seus

desejos sobre outras. Esta imagem é considerada uma extensão da metáfora política, através

da dominação e exploração de uns sobre os outros (MORGAN, 1996).

No quadro 6, todas as metáforas idealizadas por Morgan (1996) são apresentadas com

suas principais características, com a finalidade de facilitar a fixação dos principais elementos

metafóricos trazidos pelo autor.

Quadro 6 - Principais características das metáforas de organização Metáfora Características Cérebro Transmite informações de alta complexidade, sendo vista como um sistema cognitivo.

Fenômeno cultural

Sofre transformações de acordo com o desenvolvimento e comportamento da sociedade; também influencia o comportamento cotidiano das pessoas; as diferenças e semelhanças de culturas estão intimamente ligadas às ocupações dos indivíduos.

Fluxo e transformação

Conjunto de relações em que se desdobram e procuram evoluir para o atingimento dos objetivos perseguidos.

Instrumento de dominação

Focada no aspecto explorador da organização; considerada também uma extensão da metáfora política, através da dominação e exploração de uns sobre os outros.

Máquina Forma mecanizada e estilo burocrático; utilização de estudos de tempos e movimentos para padronizar atividades.

Organismo Baseada na biologia, pois se desenvolve e molda seus padrões para se adaptar ao ambiente; sistemas orgânicos.

Política Interesses e conflitos moldam ambientes organizacionais; busca pelo atingimento de resultados pessoais está acima do objetivo comum da organização.

Prisão psíquica

Organizações consistem em processos conscientes e inconscientes, em que indivíduos criam as próprias armadilhas, como insegurança e preocupações.

Fonte: construído pelo autor a partir das proposições de Gareth Morgan (1996)

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Realizada a importante abordagem do estudo de Morgan e da visualização das

organizações como imagens e metáforas, é importante verificar também a possibilidade de

como as organizações podem influenciar nos comportamentos e relações sociais dos

indivíduos. Tema este que será abordado na seção que segue.

4.5 INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES SOCIAIS

Através de conceituações e observações, se define que a organização exerce influência

em diversos modelos comportamentais da sociedade e dos indivíduos que a compõem, e em

um prisma de maior abrangência, as organizações determinam, também, a existência e

funcionamento das sociedades como um todo, visto que os membros que compõem a

população são interdependentes e necessitam um dos outros para realizar variadas tarefas,

satisfazer necessidades e desejos (MOTTA, 1993).

O mesmo autor afirma que as interações sociais estão presentes praticamente na

totalidade dos momentos vividos pela sociedade, em que a mesma deve cooperar e coordenar

esforços para atingir resultados e propósitos.

Para Motta (1993, p. 3-4), os indivíduos e organizações frequentemente confrontam

seus hábitos e interesses:

As empresas são centrais, não só porque produzem bens e serviços, mas também porque produzem formas de comportamento e formas de raciocínio. [...] é difícil o processo de adaptação do indivíduo a uma organização que tenta moldá-lo mudando suas formas de cognição. [...] O indivíduo procurará exercer influência sobre a organização na expectativa de obter satisfação pessoal adicional.

O trecho citado por Motta (1993) mostra como a interação e troca de hábitos e

interesses que ocorrem entre organizações e indivíduos que nelas estão inseridos contribuem e

desenrolam a proposição de que as organizações são resultantes de comportamento coletivo

em busca de objetivos comuns, porém, ainda assim, estas podem restringir alguns momentos

de livre arbítrio dos indivíduos, visto que muitas vezes a liberdade de escolha é revogada em

prol da busca de objetivos comuns, como ir à empresa trabalhar no mínimo oito horas ao dia,

ou mesmo ao ir para a faculdade, realizando provas e trabalhos em grupos. Observada esta

perspectiva, fica clara a perda de uma parcela de autonomia dos indivíduos, visto que se

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tornou praticamente inevitável simplesmente existir sem participar de alguma organização

(MCAULEY; DUBERLEY; JOHNSON, 2007).

Ainda de acordo com os autores Mcauley; Duberley e Johnson (2007. p. 4-5):

Nós somos – se somos algo – seres sociais usualmente dependentes de outros membros da nossa espécie para sobreviver. Colocando de outra forma, somos mutuamente interdependentes porque contamos uns com os outros, e isso pode ser tanto uma força como uma fraqueza. Imagine se você tivesse que sobreviver sozinho por um longo período de tempo sem a ajuda de várias organizações que provêm desde comida e roupas, passando por água, combustível, abrigo, saúde, educação, transporte etc. Você conseguiria, seja fisicamente ou psicologicamente? Provavelmente não! Certamente, sua vida mudaria drasticamente.

Os mesmos autores concatenam que todas as atividades e ações que os indivíduos

tomam em suas rotinas diárias, estão implicitamente organizadas em diversos aspectos, seja

permitindo ou restringindo as atividades a serem realizadas. Os processos permissivos e

restritivos que as organizações exercem sobre os indivíduos acabam por desencadear

questionamentos relativos à quais efeitos que estas ações são capazes de interferir nas relações

sociais dos indivíduos bem como seu convívio coletivo. “Por isso, estudar as organizações é

também uma forma de se abordar que tipo de mundo nós criamos e quais alternativas

podemos desejar e visualizar” (MCAULEY; DUBERLEY; JOHNSON, 2007, p. 4-5).

Observado este último trecho, se pode abrir a possibilidade de que as atuais teorias da

administração e suas estruturas organizacionais podem ser atualizadas e transformadas para

que se alinhem junto ao estilo de vida tanto das organizações quanto das demandas exigidas

pelos indivíduos que delas se utilizam nos tempos modernos. Afinal, para os críticos, a atual

concepção de teorias organizacionais e suas estruturas não levam tanto em consideração

quanto deveriam o comportamento dos indivíduos e a necessidade das relações interpessoais

entre cada um para o atingimento de suas variadas demandas e objetivos. A abordagem

organizacional ainda é muito mecanizada e instrumental, desconsiderando as ciências sociais

que proporcionam o bom funcionamento das organizações. Esses tópicos se evidenciam na

definição que o sociólogo Guerreiro Ramos propõe:

A teoria das organizações, tal como tem prevalecido, é ingênua. Assume esse caráter porque se baseia na racionalidade instrumental inerente à ciência social dominante no Ocidente. Na realidade, até agora essa ingenuidade tem sido o fator fundamental de seu sucesso prático. Todavia, cumpre reconhecer agora que esse sucesso tem sido unidimensional e […] exerce um impacto desfigurador sobre a vida humana associada (GUERREIRO RAMOS, 1989, p.1 apud MISOCZKY, et al., 2010).

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Para uma nova visão de sentido e proveito da palavra, se deve observar que

organização tem diversificados significados, além de sua definição tradicional que é ordenar.

Afinal, não se pode ter o termo com definição única sem a reflexão de até onde o sentido da

palavra pode abranger, pois uma organização pode ser desordenada e, mesmo assim, existir

(SOLÉ, 2003, apud MISOCZKY, et al., 2010). Organização pode significar não apenas

atingimento de resultado final através dos indivíduos reunidos, mas também pode constituir

nas maneiras de cooperação e colaboração, em que o foco está justamente nos modais de

convivência e compartilhamento adotados para a obtenção de um resultado final.

Quando se olha o termo organização, logo se pensa em empresa. Sendo assim, através

desta teoria, o significado da palavra organização é bastante diminuído, porém isto não condiz

com a racionalidade das metas e objetivos que a modernidade demanda (SOLÉ, 2003, apud

MISOCZKY, et al., 2010).

Misoczky e Vecchio (2006) corroboram com a teoria de Solé, afirmando que é preciso

recuperar o papel da palavra no âmbito performático e visualizar o termo organizar também

como um método para construção de elementos que tendem a se modificar constantemente.

Ainda conforme os autores anteriormente citados, as relações informais podem ser

fatores importantes para o mantimento do entusiasmo e disposição necessários para a

realização e cumprimento de quaisquer objetivos. Portanto, se torna viável o pensamento da

definição de organização informal como diminuição das imposições e agressões do sistema

tradicional e formalizado (MISOCZKY; VECCHIO, 2006).

Portanto, o termo organizar não deve ser considerado somente como sinônimo de

empresas baseadas no modal burocrático. Organizar também é produzir e transformar

socialmente os modos de cooperação, que são sempre instáveis e em movimento, sofrendo

constantes mutações (MISOCZKY; FLORES; MORAES, 2010).

Motta e Caldas (1997) afirmam que conhecer as características culturais da população

de uma determinada região é essencial para o entendimento dos comportamentos vistos nas

organizações, assim como a cultura organizacional também define condutas específicas que

servem como parâmetros da forma na qual as pessoas devem agir dentro da organização. Esta

identificação da incisão e integração da cultura externa junto aos processos e cultura interna

dos ambientes organizacionais levam em conta os costumes, crenças e valores em que a

população integrante da organização está inserida:

Um dos fatores mais importantes a diferenciar a cultura de uma empresa da cultura de outra, talvez a mais importante, é a cultura nacional. Os pressupostos básicos, os costumes, as crenças e valores, bem como os artefatos que caracterizam a cultura de

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umas empresas, trazem sempre, de alguma forma, a marca de seus correspondentes na cultura nacional. Não há como, portanto, estudar a cultura das empresas que operam em uma sociedade, sem estudar a cultura – ou as culturas – dessa sociedade (MOTTA; CALDAS, 1991, p. 18-19).

Segundo Motta (1981), as organizações, além de ser entendidas como empresas,

devem ser também compreendidas a partir de formas de cooperação, sendo estas consideradas

como forças produtivas das organizações.

As características da sociedade interferem na organização e vice-versa, e ambas as

partes tem o poder de influenciar e moldar o comportamento um do outro. Estas trocas de

influências comportamentais se dão através da exposição e transmissão das crenças, culturas e

valores que ambos carregam consigo desde sua criação e que se manifestam nas atitudes

tomadas tanto por parte dos indivíduos como por parte das organizações (MOTTA, 1997).

Para Grant (2015), dentro de um contexto econômico e organizacional relacionado ao

comportamento da sociedade, o campo social atravessa um decisivo e determinante ponto de

curvatura, pois está havendo um fenômeno no qual tanto forças externas e quanto internas

estão desafiando as formas tradicionais de produzir e atingir resultados.

E para colaborar com este enfrentamento contra as formas tradicionais de produção e

organização, há a criação de programas que incentivam as próprias organizações e indivíduos

inseridos nas mesmas a voltarem suas atenções à colaboração e desenvolvimento social,

permitindo que transformações possam ser feitas em diversos níveis das quais a organização

pertence e participa, direta ou indiretamente. Programas estes que criam organizações

observadoras do contexto exterior, afastando, mesmo que por um momento, o ego

organizacional a serviço de uma causa maior, garantindo que a equipe e o conselho estejam

alinhados em torno de abordagens de trabalho em rede, e fomentando líderes entre pessoas de

uma próxima geração (GRANT, 2015).

Os pensadores políticos Hardt e Negri (2005) utilizam o termo common (comum) para

abordar as atuais formas e possíveis caminhos em que as organizações na época presente se

direcionam, este termo também acaba por convergir aos princípios da economia baseada na

colaboração.

Ainda nesta linha de considerações, os mesmos autores afirmam que o common é

utilizado filosoficamente e deve ser considerado como um novo desenvolvimento. A

comunicação, organização e colaboração produzem o comum, oportunizando um constante

fortalecimento das relações. O common é propenso a ser o objeto central de criação quando

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pensado através das formas de produção social, e que consiste na principal característica das

novas formas de economia.

E é este fator que baseia as transformações que estariam encaminhando a economia

tradicional e suas formas de trabalho a sofrerem rupturas em suas estruturas fundamentais,

transformando o clássico capitalismo em capitalismo cognitivo (HARDT; NEGRI, 2005).

Portanto, além do resgate no sentido performático da palavra organizar assim como a

observação das formas em que as organizações e indivíduos influenciam as condutas uns dos

outros, bem como nos comportamentos e nas relações sociais gerais da sociedade em que

vivemos e a procura de novas formas de atenuar as forças externas em internas em relação às

transformações sociais e busca de novos modos de produção; se torna viável e conveniente

pesquisar como as novas formas de empreender e suas tendências de inovação se apresentam

na atualidade, abordando o comportamento dos indivíduos e das organizações na economia

colaborativa.

Com a finalidade de auxiliar a visualização da teoria abordada nesta seção, a figura 7

foi elaborada. Nesta figura, se contextualizam as organizações e os indivíduos inseridos em

um conjunto geral de sociedades, bem como aborda a proposição da nova forma de se

organizar, modelo oposto ao tradicional modelo burocrático e formalizado das organizações.

Figura 7 – Contextualização das organizações e indivíduos nas sociedades

Fonte: construída pelo autor a partir das proposições dos autores citados nesta seção

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Tendo as influências da organização no comportamento e relações sociais sido

abordadas nesta seção, na qual se pôde observar a percepção de que tanto os indivíduos como

as organizações podem influenciar nas suas relações dentro de uma sociedade, além da

abertura de novos vieses sobre novas formas de organização com a finalidade de atenuar as

imposições do sistema tradicional, se torna importante abordar a economia colaborativa, que

indica funcionar de acordo com esta nova abordagem, criando um cenário alternativo em

relação ao panorama atual.

4.6 ECONOMIA COLABORATIVA

Após conceituação acerca das estruturas, formas e tipos organizacionais, bem como as

potenciais influências de transformação entre organizações e indivíduos, se deve entender o

funcionamento da economia colaborativa, da cooperação na produção de bens ou serviços e

por fim, os espaços colaborativos de trabalho, denominados de coworking.

Segundo Botsman e Rogers (2010), o movimento colaborativo teve o viés ambiental

como um fator motivador para a busca de novas formas e modelos que objetivam abrandar as

consequências indesejáveis da economia tradicional. Esta percepção se deu após verificação,

feita através de pesquisas, notícias e casos apurados pelos autores, das quantidades

exacerbadas e praticamente insustentáveis da produção de entulho no planeta, em decorrência

do consequente crescimento exponencial do rejeite de produtos que ainda possuem vida útil

ativa. São descartes que acontecem motivados pelo amplo estímulo dado pelas indústrias

baseadas nas formas organizacionais verticalizadas e na economia tradicional, direcionando

os indivíduos ao grande consumo de produtos, que nem sempre são produtos complementares

ou substitutos.

O volume de lixo presente no Pacífico é uma ilustração terrível da maneira como ignoramos as consequências negativas do consumismo moderno. Nos últimos 50 anos, consumimos mais bens e serviços do que em todas as gerações anteriores reunidas. Infelizmente, o mecanismo de consumo e descarte está cada vez mais acelerado. (BOTSMAN; ROGERS, 2010, p. 5).

Há outros dois fatores tidos como possíveis precursores para a necessidade de criação

e novas formas de pensar em relação à maneira do funcionamento de operações econômicas:

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as constantes crises financeiras, culturais e sociais aliadas à rapidez na propagação de

informações devido ao advento da internet.

Tapscott e Williams (2007) afirmam que as crises financeiras e sociais, que levam

empresas a enfrentar dificuldades econômicas e povos à beira do caos, assim como a grande

transformação das relações sociais através da possibilidade do veloz compartilhamento de

informações serviram como estopim para que estudiosos e especialistas dedicassem suas

atenções na busca de novas formas de economia a fim de tentar evitar novas crises financeiras

e econômicas além da tentativa de atenuação dos problemas socioeconômicos ao redor do

mundo.

Os processos colaborativos existem e são praticados desde os primeiros momentos de

existência das organizações e formas de praticar economia, porém o fenômeno atual é distinto

das ações tomadas até então. A diferença consiste na capacidade desta forma de colaboração

massiva articular indivíduos livres de subordinação e demais burocracias organizacionais, que

cooperam e buscam solucionar problemas, demandas e demais objetivos que concernem ao

seu interesse. Ou seja, o fenômeno está na colaboração dos indivíduos feita de forma

voluntariosa, não estando obrigatoriamente vinculados às empresas, que controlavam as

tarefas dos indivíduos e também os principais fluxos dos processos de colaboração

(TAPSCOTT; WILLIAMS, 2007).

Os mesmos autores, ainda nesta mesma linha de considerações, salientam que desde o

princípio da existência da economia, as empresas sempre se constituem de formas

completamente verticalizadas, baseadas em subordinação com as decisões sendo impostas

pelo topo da cadeia hierárquica, das quais o núcleo operacional deve acatar e executar.

Segundo os autores, este modo de operar vem sofrendo transformações, decorrentes das

profundas mudanças de diversas classes, sendo elas tecnológicas; demográficas e econômicas;

mudanças estas que propiciam a construção de novos modelos produtivos baseados em

comunidade, colaboração e auto-organização, caracterizando a essência e os princípios da

economia colaborativa.

Corroborando com a visão destes autores, Botsman e Rogers (2010) complementam

quando dizem que o estado atual e tradicional da economia baseada em hierarquias está sendo

substituído pelo movimento colaborativo e, segundo os autores, os sistemas baseados na

colaboração e cooperação serão tidos como forma comportamental e organizacional padrão

para que os indivíduos adquiram a troca de informações ou atinjam objetivos, tanto pessoais

como coletivos, independentemente das trocas serem feitas com outros bens, habilidades,

produtos ou serviços.

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Outros fatores relevantes para a construção deste novo cenário colaborativo são as

constantes e aceleradas transformações das quais os indivíduos estão expostos. Através da

criação e exploração da internet, as pessoas adquiriram a possibilidade de obter informações

rapidamente sobre variados assuntos de interesse, em qualquer horário e lugar que estejam. As

mudanças são cada vez mais aceleradas e produzem na sociedade transformações em todos os

domínios: economia, sociedade, tecnologia, trabalho, cultura, relações pessoais, entre outros

(CORREIA et al., 2013).

O consumo colaborativo cresce devido às disponibilidades das plataformas online,

sendo caracterizado como modelo econômico baseado no acesso aos produtos pelo

intercâmbio de recursos e trocas, comportamento este oposto ao tradicional e incentivado

conceito de posse e ao consumo de massa. Este conjunto de características conceitua o que é

conhecido como bens comuns, ou commons (BOTSMAN; ROGERS, 2010).

Benkler et al. (2007, p. 12) define o termo commons como:

Um tipo particular de arranjo institucional que governa o uso e a disposição de recursos. Sua principal característica, que os define de forma distinta da propriedade, é que nenhuma pessoa tem o controle exclusivo do uso e da disposição de qualquer recurso particular. Pelo contrário, os recursos governados pela comunidade podem ser utilizados e dispostos por qualquer um entre um dado número de pessoas.

O significado de commons permite a noção de domínio público, que se opõe aos

conceitos de bens privados. O uso do termo ainda permite a concepção de produtos ou

serviços idealizados por todos ou através de comunidades.

A ideia de commons como bem comum material, ao emergir, traz necessariamente a discussão sobre a escassez e sobre o comportamento individual baseado no homem egoísta, tão bem desenhado por Adam Smith na Riqueza das nações (SILVEIRA, 2008, p. 50).

Para Silveira (2008), as redes de comunicação e das tecnologias de informação têm

influências decisivas nas relações sociais, os commons entraram na pauta do temário cultural,

econômico, político e sociológico. Portanto, os bens comuns são entendidos como a

realização de ações para promover do bem geral de uma comunidade (COSTA; WOLFARTH,

2014).

De acordo com Botsman e Rogers (2010, p. 76) "os bens comuns [...] são um novo

paradigma para criar valor e organizar uma comunidade de interesses compartilhados”.

Costa e Wolfarth (2014) afirmam que entre os principais motivos para a adesão dos

indivíduos aos espaços colaborativos de trabalho está o baixo custo para obtenção de

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estruturas e serviços, pois se compreende que o baixo custo de operação não significa apenas

sinônimo de poucos recursos ou necessidades financeiras, mas sim uma vantagem competitiva

que este tipo de economia apresenta, tornando assim algo viável e conveniente para as

pessoas, mesmo que com poucos recursos, possam produzir produtos ou serviços; outro forte

fator motivacional para a busca desta fonte econômica se encontra na forte possibilidade de

desenvolvimento do networking, ou seja, aumento nas redes de relações sociais e

profissionais, tendo assim, por consequência, a possibilidade de debater e encadear diversos

pontos de vista alternativos em busca de melhor resultado, através da filosofia de

compartilhamento. O networking e a abertura a novas ideias, para os indivíduos inseridos nos

ambientes colaborativos, são considerados elementos fundamentais para a adesão desta

modalidade econômica. São considerados elementos característicos do consumo colaborativo

(BOTSMAN; ROGERS, 2010).

Há também a utilização de fatores buscados na sociologia, que no caso é o termo

massa crítica, que descreve a existência de fatos e eventos dentro de um sistema que amparam

o mesmo, tornando-o autossustentável (BOTSMAN; ROGERS, 2010). A massa crítica

consiste em uma série de fatos consolidados que confia a efetividade de um sistema.

O termo é importante para o consumo colaborativo, pois contém duas características

imprescindíveis: a primeira são as escolhas, uma vez que os sistemas de consumo

colaborativo precisam da disponibilidade de artigos e fatos consumados para que os

indivíduos garantam que fizeram uma boa escolha. Botsman e Rogers (2010, p. 64-68)

utilizam como exemplo os "sistemas de trocas de roupas, de aluguel de bicicletas e de

compartilhamento de ferramentas, englobando respectivamente mercados de redistribuição”.

O segundo importante item para o funcionamento da economia colaborativa se encontra na

prova social, visto que a adoção e familiarização de hábitos novos se torna popular entre os

consumidores quando estes têm a comprovação da aceitação e uso do sistema por uma massa

crítica. Os mesmos autores descrevem este hábito como um costume cognitivo primitivo, que

é estimulado pela informação e percepção de que a aceitação social positiva é capaz de

promover e ser responsável por deliberar decisões dos indivíduos. O desperdício de recursos,

tangíveis ou intangíveis, é conhecido como desperdício da capacidade ociosa. O consumo

colaborativo busca aproveitar da melhor forma todos os recursos e ferramentas disponíveis,

ou seja, visa aperfeiçoar a aplicação dos recursos para benefício geral de um grupo de

indivíduos e também da sociedade como um todo. Para Botsman e Rogers (2010), a

tecnologia de rede e geolocalização oferecem e oportunizam incontáveis maneiras de

comunicação e troca de informações, sendo as principais contribuintes para aprimorar os

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serviços existentes, oferecendo maior abrangência e potencial de uso e, por consequência,

evitar o desperdício de recursos.

Segundo os mesmos autores, a confiança é um fenômeno crescente entre os usuários

de sistemas colaborativos e também é tida como fundamental para o funcionamento de

organizações baseadas na economia colaborativa. Isto se refere ao fato de os indivíduos

criarem, ainda que algumas vezes sem a percepção deste acontecimento, familiaridade e

confiança junto às pessoas desconhecidas, oferecendo percepção de segurança na utilização

dos serviços.

Os quadros a seguir servem como auxílio para melhor compreensão dos tópicos

apresentados sobre a economia colaborativa e demais conteúdos relacionados que

compunham esta seção.

No quadro 7 são apresentados os fatores tidos como motivadores para a iniciação de

pensamentos favoráveis acerca da economia colaborativa, tendo nos fatores ambientais;

crises; o compartilhamento de informações; transformações econômicas, tecnológicas e

sociais; formas organizacionais se modificando e modelo econômico se pondo contra as

imposições atuais

No quadro 8, são então apresentadas as características básicas da economia

colaborativa, que são evidenciadas em praticamente todas as organizações baseadas na

colaboração e cooperação, sendo o voluntariado; os bens comuns; a massa crítica; a

capacidade ociosa e o crescimento da confiança fatores essenciais e características marcantes

desta economia.

Quadro 7 - Fatores motivadores da economia colaborativa

Fator Ambiental Desperdício de bens com vida útil válida exponencialmente crescente.

Incentivo ao alto consumo pelas indústrias atuais.

Crises Econômicas e financeiras.

Culturais e sociais.

Partilha de informações

Internet motiva interações, pesquisas e troca de informações.

Transformações

Demográficas (intercâmbio de indivíduos e culturas).

Econômicas (crises sustentam impulso pela busca de novas formas de economia).

Tecnológicas (facilidade de acesso e trocas).

Indivíduos (encontram informação quando quiserem e onde quer que estejam).

Forma organizacional

Hierarquia verticalizada é substituída por formas horizontais e colaborativas.

Modelo econômico

Oposição ao tradicional conceito de posse e consumo em massa, pois se baseia no intercâmbio de recursos.

Fonte: construído pelo autor a partir das proposições dos autores citados nesta seção

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Quadro 8 - Características básicas da economia colaborativa Voluntariado Fenômeno se encontra na colaboração voluntariosa.

Bens comuns Ações e produção de bens que visando promover o bem geral de uma comunidade.

Massa crítica Realização de série ações que sustentam a capacidade de determinado produto ou serviço promover o bem geral de uma comunidade.

Capacidade Ociosa

Aproveitar da melhor forma as disponibilidades de recursos e ferramentas, evitando o desperdício.

Confiança Indivíduos criam familiaridade e confiança junto às pessoas desconhecidas, oferecendo percepção de segurança na utilização de serviços.

Fonte: construído pelo autor a partir das proposições dos autores citados nesta seção

Após a apresentação dos principais pontos de referência sobre o surgimento e atuação

da economia colaborativa, se torna importante verificar os principais conceitos dos espaços

compartilhados e colaborativos de trabalho, também conhecidos como coworking spaces.

4.7 COWORKING

O fenômeno do co-working começou em hackerspaces em Berlim, no ano de 1995.

Nestes locais havia o acesso livre às redes de WiFi e também já disponibilizavam espaços

para trabalho. Porém, o termo co-working foi criado em 1999, por Bernie DeKoven, como

uma extensão do trabalho no ambiente online, baseado na forma de trabalho via home office.

(DESKMAG, 2010). A palavra foi concebida como uma forma de identificar de maneira

facilitada os locais de trabalhos colaborativos e encontros de negócios, coordenados via

computadores. Em 2005, o empreendedor Brad Neuberg funda o primeiro espaço oficial de

coworking, passando a descrever o termo como o espaço físico que reúne profissionais que

trabalham fora dos escritórios de organização convencional, sendo os indivíduos geralmente

empresários independentes, freelancers, empreendedores e profissionais autônomos que

buscam a interação humana, fora das organizações tradicionais e também fora da forma de

trabalho via home office (DESKMAG, 2010; LEFORESTIER, 2009).

Segundo Leforestier (2009), os espaços de coworking são locais onde os recursos

materiais ou imateriais, tangíveis ou intangíveis como bens, ideias e serviços são comumente

partilhados entre o quadro de indivíduos integrantes dos espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho, sendo compostos tanto por empresas quanto por profissionais

autônomos. Deste modo, neste modelo organizacional baseado em compartilhamento e

colaboração, a empresa pode obter vantagens competitivas, através da diminuição de seus

custos operacionais, como também pode se beneficiar de usufruir de um ambiente com

potencial criador e inovador, bem como também pode contar com o fortalecimento de suas

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redes profissionais de contatos, sendo composta por empreendedores em situação semelhante,

favorecendo e estimulando parcerias. A ideia central de um espaço de coworking é o

compartilhamento de espaço, experiências e conhecimentos entre os consumidores que

utilizam o mesmo prestador de serviço. Segundo pesquisa realizada, os indivíduos consideram

os baixos custos de manutenção; a interação e a autonomia como principais fatores ao

buscarem espaços colaborativos de trabalho (DESKMAG, 2010).

O espaço de coworking é um ambiente composto por pessoas que tem profissão

específica de mesmo segmento ou também, em sua forma mais comum, dividido entre

indivíduos com funções com características distintas que compartilham seus custos de

locação. O objetivo do espaço compartilhado de trabalho é, fundamentalmente, reduzir custos,

proporcionar troca de experiências, valores e desenvolver o networking. É um ambiente

considerado fértil para novos empreendedores e start-ups, pois no local é propensa a geração

novas oportunidades através de debates e conversas informais, proporcionando a criação de

novos negócios. A geração de novas oportunidades ou otimização do produto final é um

resultado típico quando o processo produtivo é realizado dentro de um espaço de coworking,

visto que os indivíduos integrantes do local tendem a acrescentar e colaborar com seus

próprios talentos, contribuindo com a melhoria no resultado final do bem ou serviço (FOST,

2008; LEFORESTIER, 2009).

Para os mesmos autores, esse modelo de organização pode atender as expectativas de

empreendedores que não querem ou não possuem condições de administrar o seu próprio

escritório, assim como também podem acomodar funcionários de empresas que estão

temporariamente na cidade, ou quando as empresas precisam manter equipes em outras

cidades ou países e não querem arcar com custos de estruturas físicas.

Embora este modelo de organização possa oferecer diversas vantagens aos

empreendedores, é necessário salientar que também existem algumas características

inconvenientes. A estrutura aberta e a circulação de indivíduos de diferentes locais e culturas

abre espaço para a falta de privacidade, tornando projetos vulneráveis e facilitando o roubo de

ideias. Outro fator que pode ser visto como um ponto indesejável ao espaço ocorre quando

usuários não de adaptam ao espaço de trabalho e, portanto, não corresponderem à proposta do

modelo, não sendo colaborativos e abertos (LEFORESTIER, 2009).

O coworking é dividido geralmente em duas formas, sendo uma delas voltada ao

desenvolvimento comunitário e o a outra forma voltada ao modo corporativo (BARBOSA,

2012).

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Segundo o mesmo autor, os frequentadores do formato comunitário usualmente não

exigem a presença de uma estrutura completa nos espaços, uma vez que os membros o

frequentam com o intuito estão voltados a potencializar a socialização e colaboração da

comunidade. O ambiente moderno e descontraído fomenta o desenvolvimento da colaboração

entre os indivíduos, fato que dificilmente existe em um ambiente de organização tradicional

hierárquico, que acaba por limitar atitudes colaborativas e espontâneas, visto a rigidez das

normas e também porque os indivíduos deste ambiente tendem a competir uns contra os

outros, remetendo a organização como prisão psíquica, descrita por Morgan (1996),

evidenciando que a busca pelo atingimento de resultados pessoais está acima do objetivo

comum da organização (BARBOSA, 2012).

A segunda forma em que os espaços colaborativos de trabalho se apresentam é

formada pelo coworking corporativo, que é principalmente utilizado por empresas e

profissionais que julgam importante as instalações dos espaços, tendo ambiente moderno,

estrutura adequada e presença de serviços de apoio, que geralmente são inviáveis quando o

profissional trabalha por conta própria. Estes custos se tornam baixos quando compartilhados

com outros profissionais e empresas. Este tipo de espaço corporativo compartilhado é voltado

principalmente para freelancers, profissionais autônomos e microempresas, e também

colaboradores em permanente viagem (BARBOSA, 2012).

Para King (2015), especialista sobre o coworking, há a previsão de que em 2018

haverá até um milhão de indivíduos utilizando os espaços compartilhados e colaborativos de

trabalho ao redor do mundo, visto o crescimento exponencial nos últimos cinco anos, sendo a

quantidade dobrada a cada ano.

A busca pelo termo coworking cresceu, no mundo inteiro, trinta e cinco pontos

percentuais em relação ao mesmo mês do ano anterior da realização desta pesquisa, e sessenta

pontos percentuais em relação há dois anos passados (DESKMAG, 2015).

Na figura 8, a seguir, se apresenta o crescimento do interesse e busca pelo termo

coworking, no mundo. Utilizando a ferramenta Google Trends, que pertence ao maior portal

de buscas do mundo Google, se pode observar que do ano de 2007 até 2015, a curva de

crescimento pela busca do termo cresceu em praticamente cem pontos percentuais, na escala

geral de 0 a 100, utilizada pela ferramenta de busca.

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Figura 8 – Interesse mundial pelo termo coworking via Google

Fonte: Adaptado de Deskmag (2015) Figura 9 – Interesse mundial pelo termo coworking via Wikipedia

Fonte: Adaptado de Deskmag (2015)

Conforme mostra a figura 9, o interesse e a busca pelo termo apresenta o mesmo

comportamento no sistema que proporciona uma enciclopédia que é baseada na economia

colaborativa, via colaboração em massa dos indivíduos online, popularmente conhecido como

Wikipedia, a enciclopédia livre. O termo foi pesquisado no site quase dois milhões de vezes,

de dezembro de 2007 a março de 2015, sendo o maior percentual nos últimos três anos, e

também é importante lembrar que a expectativa é de aumento da procura pelo termo e

serviços relacionados ao coworking nos próximos anos, conforme diagnóstico do cenário

atual, apresentado na reunião global de coworking, Global Coworking Unconference

Conference (KING, 2015).

Um fator importante levantado em pesquisa mundial pela revista alemã Deskmag,

especializada no tema, mostra que em um grupo de mais de seiscentos e sessenta

participantes, de vinte e quatro países, 87% dos indivíduos consideram que sua forma de

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trabalhar se tornou melhor após estarem em atividade dentro de um espaço de coworking por

conta da maior interação com outras pessoas. O índice de 86% deste mesmo grupo mostra sua

satisfação relativa à motivação e produtividade após ingressarem neste modelo organizacional

de trabalho (DESKMAG, 2012).

Na figura 10 e 11, considerando o período do ano de 2011 a início de 2015, pode-se

verificar o crescimento da procura no Brasil pelo termo coworking, sendo a região sul do país

a parte mais interessada em pesquisar, tendo a paranaense Curitiba como a primeira cidade do

ranking, seguida de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a segunda cidade mais ativa

em relação à procura do termo. O índice é relativo em uma escala de 0 a 100.

Figura 10 – Interesse no Brasil pelo termo coworking via Google

Fonte: adaptado de Deskmag (2015)

Figura 11 – Cidades brasileiras que mais buscaram pelo termo coworking via Google

Fonte: adaptado de Deskmag (2015)

O quadro 9 apresenta esta seção sintetizada, através do qual se pode revisar as

principais características dos espaços de trabalho, baseados em compartilhamento e

colaboração, sendo observados os frequentadores; fator comum presente nos ambientes; as

principais vantagens e desvantagens e os dois diferentes tipos de espaços compartilhados.

Características estas evidenciadas através de revisão bibliográfica dos autores especializados

no assunto.

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Quadro 9 - Características básicas dos espaços de coworking

Frequentadores Empresários independentes; freelancers; empreendedores; funcionários de empresas em viagens e profissionais autônomos.

Fator comum Compartilhamentos de recursos materiais ou imateriais, tangíveis ou intangíveis como bens, ideias e serviços são comumente compartilhados.

Principais vantagens

Ambiente criador e inovativo. Colaboração de outros coworkers pode agregar valor ao resultado final. Custo operacional baixo. Redes profissionais de contatos fortalecidas.

Principais desvantagens

Falta de privacidade. Usuários que não se adaptam podem conturbar ambiente.

Coworking comunitário

Voltados a potencializar a socialização e colaboração em prol da comunidade. Atitudes espontâneas, comportamento oposto ao de organizações hierarquizadas.

Coworking corporativo

Utilizado por empresas e profissionais. Julgam importantes as instalações disponibilizadas. Freelancers, profissionais autônomos e microempresas.

Fonte: construído pelo autor a partir das proposições dos autores citados nesta seção

Realizada a apresentação do funcionamento e objetivos coworking, bem como

economia colaborativa, as influências da organização no comportamento e relações sociais;

metáforas de organização; elementos e estruturas organizacionais; técnicas de estruturação e o

conceito fundamental de organização, torna-se importante para a continuidade do estudo,

proceder com a apresentação dos procedimentos metodológicos, a fim de levantar dados

importantes para interpretação e busca de respostas para a situação problemática.

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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o prosseguimento da elaboração deste estudo é indispensável identificar os

métodos de pesquisa mais adequados para a busca das respostas aos questionamentos

propostos pelo presente trabalho.

Nesta seção será elaborada a caracterização da pesquisa; bem como identificados os

sujeitos da pesquisa; além de apresentar as técnicas utilizadas para a coleta e análise de dados.

5.1 ABORDAGEM E TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa, por abordar um tema bastante recente e haver escassa informação a

respeito do mesmo, tem objetivos exploratórios e descritivos e sua natureza, apesar de

essencialmente qualitativa, também se apoia em análises de caráter quantitativo quando

necessário, coerente com a visão de Vieira (2004) ao ressaltar o potencial analítico quando

articulados múltiplos métodos e abordagens de investigação.

Também se utilizam casos múltiplos, que segundo Yin (2001), é apropriado para

articular diversos instrumentos de pesquisa na investigação de fenômeno sociais inseridos

dentro de seus contextos.

Figura 12 – Estudo de casos múltiplos

Fonte: adaptado de Yin (2001)

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Este tipo de enfoque costuma ser mais convincente. Uma das chaves para se

construir um estudo de caso múltiplo bem-sucedido é que este obedeça a uma lógica de

replicação, e não da amostragem (YIN, 2001). O estudo é múltiplo, uma vez que foram

selecionados espaços colaborativos que permitissem a comparação entre seus formatos de

estruturação e funcionamento com organizações tradicionais, bem como seus objetivos e

concepções acerca da economia colaborativa e compartilhada.

Importante salientar que até o presente momento foi utilizada a pesquisa

bibliográfica como principal fonte de busca para alicerçar e validar a continuidade deste

estudo. As fases que compõem a pesquisa bibliográfica são: escolha do tema; elaboração

do plano de trabalho; identificação; localização; compilação; fichamento; análise e

interpretação redação (LAKATOS; MARCONI; 2010).

Conforme Gil (2010), as pesquisas exploratórias têm em sua intenção trazer o tema

à discussão, desenvolver e proporcionar familiaridade do tema proposto, possibilitando a

concepção de uma visão geral e a construção de hipóteses acerca dos objetos de estudo.

Esclarece ainda que esse tipo de pesquisa costuma ser precursora para novas pesquisas no

campo, a fim de buscar novas ideias, modificar conceitos entre outros.

Ainda sobre os objetivos da pesquisa, este estudo também avança no caráter

descritivo de análise ao apresentar as características de determinada população e amostra,

identificar relações entre variáveis, levantar opiniões, atitudes e crenças da população

analisada (GIL, 2010).

A pesquisa é qualitativa, enquanto procura esclarecer um fenômeno social não

quantificável. A pesquisa qualitativa ocorre através do intercâmbio entre a observação e a

conceituação, entre a pesquisa empírica e o desenvolvimento teórico, entre a percepção e a

explicação (ROESCH, 2010). As pesquisas quantitativas são adequadas para apurar opiniões e

atitudes conscientes dos entrevistados, pois utilizam instrumentos padronizados para coleta de

dados, como questionários (GATTI, 2003). Roesch (2010) destaca, também, que as pesquisas

qualitativas e quantitativas, quando utilizadas em planos com objetivos exploratórios e

descritivos, servem como formas complementares de avaliação.

No caso deste estudo, se busca interpretar as respostas, percepções e opiniões dos

indivíduos inseridos nos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, bem como

analisar e discutir reflexos que estes espaços podem trazer ao resultado final dos produtos ou

serviços das empresas ou profissionais em comparação com as organizações tradicionais do

trabalho, dentro do município de Porto Alegre.

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59

5.2 DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO E AMOSTRAGEM

A definição dos participantes da pesquisa foi dividida em dois momentos.

Primeiramente foi necessário definir as organizações que representariam os espaços

colaborativos e a visão das empresas tradicionais. Foram definidos critérios para escolha das

organizações participantes e, em cada uma, buscou-se entrevistar um representante e observar

os ambientes de trabalho. Em seguida, especificamente para aplicação do questionário,

ampliou-se a população-alvo considerando os coworkers, ou seja, pessoas que participam dos

espaços compartilhados e colaborativos de trabalho.

5.2.1 Definição das organizações participantes da pesquisa

Diante do mapeamento efetuado, o qual identificou dezenove espaços colaborativos e

compartilhados de trabalho na cidade de Porto Alegre/RS, tornou-se necessário escolher

determinado número de espaços para entrevistas e observações de ambiente, de modo que,

levando em consideração tempo escasso para coleta e apresentação de resultados, quatro

espaços foram visitados e avaliados, nos quais um representa a visão tradicional das

organizações e, os outros três, fazem parte do movimento da economia colaborativa do

município. Os espaços são tidos como referência em suas áreas de atuação, por isso se

justifica a escolha dos mesmos. As entrevistas ocorreram no SEBRAE/RS, nos espaços

TransLab e La Casa de Pandora e o terceiro espaço compartilhado e colaborativo visitado foi

o Nós Coworking,

A primeira organização visitada foi o SEBRAE/RS, entidade privada de interesse

público, porque presta serviços de apoio às micro e pequenas empresas, tornando-se

referência para as mesmas e ao se relacionar constantemente com estas, pode passar uma

visão geral de como as empresas tradicionais se estruturam e comportam diante de sua

estruturação, bem como no relacionamento das relações produtivas e sociais em seu ambiente.

A segunda organização visitada foi o espaço TransLab, que existe formalmente desde

2013, porém a intenção e experimentos já eram realizados desde 2011. É tido referência em

projetos que envolvam as relações sociais. Embora os usuários do espaço oscilem, atualmente

contam com quatorze iniciativas, entre projetos e negócios. As principais áreas são: artes

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visuais, design, direitos humanos, economia solidária e consciente, permacultura, urbanismo,

empreendedorismo.

A terceira organização visitada foi o espaço La Casa De Pandora, que existe há mais

de um ano e que, atualmente, conta com a presença de onze iniciativas, as quais se enquadram

em diversos segmentos, como design de moda, produção de conteúdo (em forma de foto,

texto e vídeo), produção e planejamento direcionado à moda, publicidade e propaganda,

handmaker criativo, desenvolvimento e programação softwares, culinária, festivais de rua e

aulas de desenho. Um projeto que se destaca é o “Festival Da Boa Vizinhança”, que busca a

humanização da cidade através da ocupação de espaços públicos para a integração de pessoas

e comunidades. O último evento ocorreu em outubro de 2015, aos arredores da Casa De

Cultura Mario Quintana, no centro de Porto Alegre/RS e reuniu mais de quatro mil e

quinhentas pessoas interessadas, conforme página dedicada ao evento (FACEBOOK, 2015).

O quarto ambiente visitado foi o Nós Coworking. Fundado em 2011, atualmente conta

com aproximadamente vinte e quatro empresas fixas e empreendedores que utilizam este

espaço compartilhado de trabalho. Aparentemente volta suas atenções principalmente ao

empreendedorismo e startups, se concentrando em um viés tornado ao mercado de negócios,

como empresas que objetivam o lucro, todavia possui a mesma vertente e iniciativa

compartilhada e colaborativa. É um dos mais conhecidos espaços de coworking da cidade.

A população a ser estudada é uma amostra que se define como um subconjunto

convenientemente selecionado de uma população e que representa áreas de interesse da

pesquisa (LAKATOS; MARCONI; 2010).

Dividida em dois grupos, a população está inserida nas organizações formais

tradicionais e também nos empreendimentos baseados no compartilhamento, em Porto

Alegre, e é composta de representantes que possuam elevada participação e contribuição na

realização de projetos e objetivos de suas respectivas organizações.

Os locais escolhidos para aplicação da pesquisa foram selecionados de forma

intencional e por conveniência. Os espaços colaborativos de trabalho TransLab, La Casa de

Pandora, que tem em seu maior propósito o coworking comunitário e Nós Coworking, que

embora seja da mesma vertente da economia colaborativa, tem suas práticas voltadas ao

mercado. E para fins de comparação destes espaços com uma organização formal tradicional,

a escolha feita, também por conveniência, foi o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas do Rio Grande do Sul, o SEBRAE/RS, estabelecido há mais de quarenta anos no

município de Porto Alegre. A amostragem por conveniência é uma técnica em que os

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elementos incluídos na amostra estão disponíveis e participarão como objetos de pesquisa por

pouco ou nenhum custo (ANDERSON; SWEENEY; WILLIAMS, 2007).

Quanto aos entrevistados dos espaços escolhidos e visitados, o quadro 10 apresenta as

formas organizacionais que representam assim como traz parte de seu histórico profissional.

Quadro 10 - Características básicas dos espaços de coworking Entrevistado Visão Histórico Representante SEBRAE/RS

Economia Tradicional

Tem experiências em indústrias metais-mecânicas, e atualmente é responsável pela gestão de equipe e processos de controle orçamentário do SEBRAE/RS, tendo contato com micro e pequenas empresas da região sul do Brasil.

Representante TransLab

Economia Colaborativa

Formado em administração, possui pós-graduação em ciências do consumo. Iniciou projeto experimental, denominado de Estante Pública, em 2007. A partir disso, abriu o espaço Translab em 2011.

Representante La Casa De Pandora

Economia Colaborativa

Cursou faculdade de direito e já trabalhou na parte administrativa e financeira de empresas tradicionais. Conhece a economia colaborativa há mais de cinco anos e faz parte da comunidade La Casa De Pandora desde a criação da mesma, há mais de um ano.

Representante Nós Coworking

Economia Colaborativa

Formada em marketing, atualmente ocupa atividade que possui atribuições de área comercial, no espaço Nós Coworking.

Fonte: construído pelo autor

A técnica de amostragem escolhida foi a não probabilística, que segundo Mattar

(1996, p. 132) é

aquela em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende ao menos em parte do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo. Não há nenhuma chance conhecida de que um elemento qualquer da população venha a fazer parte da amostra.

Também é intencional, pois o interesse está nas opiniões e atitudes de elementos da

população escolhida, procurando observar os pontos de vistas de indivíduos (LAKATOS;

MARCONI; 2010) que trabalham tanto em espaços de trabalho baseados no

compartilhamento e colaboração quanto os que estão inseridos nas formas organizacionais

tradicionais. A amostra é escolhida propositadamente porque exibem características típicas

para a observação do fenômeno (GOODE; HATT, 1979).

5.2.2 Definição do público-alvo para aplicação do questionário - coworkers

Além da escolha das organizações participantes da pesquisa e seus respectivos

representantes, buscou-se verificar a percepção dos usuários dos espaços compartilhados e

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colaborativos de trabalho, chamados de coworkers, para os quais foram enviados os

questionários. É difícil estimar a população de coworkers na cidade de Porto Alegre,

especialmente pelo fato dos espaços funcionaram com uma lógica de projetos e grupos

temporários.

O envio do questionário foi feito através do contato principal de cada espaço

colaborativo e envio direto para organizações que utilizam o mesmo. Considerando os

dezenove espaços compartilhados e colaborativos de trabalho mapeados na cidade de Porto

Alegre, trinta e oito usuários responderam ao questionário. Decidiu-se não incluir a

identificação do espaço entre as perguntas para não restringir a liberdade do participante em

responder com franqueza.

Nessa amostra, estão profissionais que atuam em diversas áreas, como mostram as

respostas do gráfico 1.

Gráfico 1 - Áreas de atuação dos coworkers em Porto Alegre/RS

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Uma vez que a amostra utilizada para aplicação dos questionários foi não-

probabilística e por conveniência (especialmente considerando o acesso aos dados e

disponibilidade para resposta), destaca-se a sua diversidade em relação à áreas de atuação e

considera-se satisfatória frente aos objetivos e recursos deste estudo.

Realizada a caracterização dos sujeitos de pesquisa, é imprescindível definir as

técnicas que foram utilizadas para fazer a coleta dos dados.

5

0

12

4

8

2

6

1

0

2

4

6

8

10

12

14

Artes cênicas,

musicais ou

visuais

Biológicas,

naturais e

agrárias

Comunicação

e informação

Economia,

gestão e

negócios

Engenharia e

arquitetura

Exatas e

tecnológicas

Humanas e

sociais

Saúde

Qual sua área de atuação?

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63

5.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: levantamento e

exploração de conteúdo bibliográfico acerca do tema proposto e suas ramificações; entrevistas

com indivíduos que já experimentaram ou ainda utilizam os espaços compartilhados de

colaborativos de trabalho, bem como de quem utiliza as formas tradicionais de trabalho;

observação de características e comportamentos comuns presentes nos grupos que se

enquadram no objeto de estudo deste trabalho, usuários destes espaços também responderam a

um questionário que visa identificar características e demandas dos mesmos (GIL; 2010;

LAKATOS; MARCONI; 2010).

A etapa de levantamento e exploração de conteúdo bibliográfico abrange toda

literatura que já foi publicada em relação ao tema de estudo, tendo a finalidade de situar o

pesquisar em contato direto com determinado assunto. Este tipo de pesquisa propicia novas

abordagens e conclusões acerca dos assuntos explorados (LAKATOS; MARCONI; 2010).

A construção dos instrumentos de pesquisa foi orientada a partir do desdobramento

dos temas e categorias de análise com base no referencial teórico da pesquisa. No apêndice A

é apresentado o quadro teórico-analítico norteador da aplicação de entrevistas e questionários,

o qual busca favorecer a visualização da abordagem dos temas apresentados no referencial

teórico e a relação da construção de roteiros para aplicação de entrevistas, observações e

questionários.

O quadro teórico-analítico apresenta direcionadores para análise e a abordagem

analítica. É separado por temas centrais, que são desmembrados em categorias e respectivas

perguntas pertinentes aos mesmos. As perguntas são divididas de acordo com a visão que a

organização representa, mostradas em colunas que indicam os locais e métodos de coleta de

dados. O quadro foi construído baseando-se, principalmente, nos grandes temas abordados

durante a fundamentação teórica, que são elementos e estruturas organizacionais, onde se

procura verificar o arranjo organizacional; as relações hierárquicas e divisão de tarefas bem

como a presença de formalização e processos; também questionando sobre possíveis

transformações estruturais e as vantagens e desvantagens destas organizações.

Continuando a pesquisa, há perguntas sobre as metáforas de organização que são

buscadas através da pergunta sobre como o desenvolvimento e comportamento cultural da

sociedade pode vir a interferir nos objetivos das empresas; outro grande tema se refere às

influências da organização no comportamento e relações sociais que são verificadas por

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perguntas referentes à abordagem organizacional; influências de pessoas e organizações bem

como o senso de autonomia das pessoas e as relações informais presentes nos ambientes

estudados e, por fim, este quadro aborda a economia colaborativa e coworking quando

apresenta questões referentes aos sensos de oportunidade, propriedade e compartilhamento; a

forma de relacionamento entre indivíduos; estruturação e direcionamento dos espaços, bem

como a expectativa de futuro desta economia.

Gil (2010) destaca a entrevista como importante fonte de dados para as pesquisas

sociais, pois é uma forma eficiente de arranjar dados em profundidade acerca do assunto. A

entrevista é recomendada nos estudos exploratórios que visam abordar realidades pouco

conhecidas pelo pesquisador.

As entrevistas realizadas seguiram um roteiro semiestruturado, tendo suas perguntas

baseadas através da categorização das seções e temas abordados no referencial teórico,

desdobrando um roteiro de perguntas que possibilitassem identificar itens que contribuam

com a comparação entre as organizações tradicionais e os espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho.

Para que efetuar a coleta de dados, foi necessária a execução e gravação de

entrevistas dos representantes dos espaços visitados, que tiveram duração de

aproximadamente uma hora cada e foi utilizado, em todas as quatro entrevistas, um roteiro

pré-estabelecido, que é apresentado nos apêndices deste estudo.

Lakatos e Marconi (2010) salientam que a observação é um elemento básico para a

investigação científica e consiste na obtenção de aspectos da realidade através da utilização

dos sentidos, ajudando a identificar objetivos que orientam o comportamento de indivíduos,

que acabam por não ter consciência deste processo.

Na mesma oportunidade das realizações das entrevistas, foi possível observar como os

ambientes se estruturam em seus processos e se comportam no que se referem às

formalidades, ao modo de relacionamento formal ou informal, bem como o comportamento

geral dos indivíduos inseridos nestes espaços e clima da organização. Nesse caso, utilizou-se a

técnica de observação sistemática e participante, também de acordo com um roteiro pré-

estabelecido que organizou os pontos a serem observados em cada espaço (Apêndice D). A

elaboração do roteiro de observação também foi orientada a partir das categorias de análise.

Por fim, com a finalidade de identificar, de modo geral, as opiniões dos usuários

destes espaços pesquisados, tornou-se indispensável a obtenção de respostas por questionário

fechado, através de ferramenta disponibilizada pelo Google Docs. As perguntas do

questionário estão apresentadas no Apêndice C e foram elaboradas a partir da separação do

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referencial por temas centrais e desenrolamento destes em categorias pertinentes aos seus

respectivos assuntos.

Concretizada a demarcação das técnicas para as coletas dos dados é importante

estabelecer as técnicas para a análise dos dados coletados.

5.4 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DADOS

Após a aplicação das técnicas para a coleta de dados, é necessário analisar e interpretar

os dados coletados, objetivando sintetizar os resultados e buscar respostas para a situação

problemática central deste estudo.

Segundo Bardin (1977), a análise de conteúdo é caracterizada por um conjunto de

instrumentos metodológicos que se aplicam a conteúdos diversificados. Esta análise é feita

através do tratamento dos dados, que são geralmente advindos da natureza qualitativa e

quantitativa. É considerada importante ferramenta para estudos sociais e antropológicos, tanto

para pequenos grupos quanto para amostras consideradas muito grandes.

Os dados coletados através de questionário foram analisados de forma quantitativa. De

acordo com Roesch (2010), a análise e classificação dos dados, a distribuição amostral, por

média e proporções, estimação por parâmetros por ponto e intervalo são técnicas estatísticas

de amostragem. A tabulação dos dados foi efetuada pelo software Microsoft Excel, que

permitirá a criação de gráficos e melhor visualização dos dados coletados.

Os dados coletados através de entrevista e observação foram analisados de forma

qualitativa, que é composta pela conjectura de que os dados podem ser examinados e como

eles podem ser descritos e explicados, compreendendo vários estilos analíticos para a

explicação (GIBBS, 2009).

Conforme afirma Silverman (2009), para que a análise de conteúdo seja possível,

foram cumpridas as etapas de documentação e transcrição das entrevistas com os indivíduos

das organizações tradicionais de trabalho, bem como dos que estão inseridos nos espaços

colaborativos de trabalho. Após esta etapa, é feita a análise prévia dos dados coletados para

que sejam codificados e categorizados.

No presente estudo, as entrevistas foram transcritas e os trechos tidos como

importantes para o andamento do estudo foram colocados em uma planilha de Excel, que

serviu como banco de dados para categorizar as falas e relacionar com os autores utilizados no

referencial teórico. Após inclusão em banco de dados, as entrevistas analisadas através da

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interpretação do autor, relacionando trechos e citações diretas das declarações dos

entrevistados de acordo com o que o referencial teórico permite abordar. De forma articulada

com a apresentação e análise das declarações dos entrevistados junto do embasamento teórico

utilizado, são apresentados graficamente os resultados com os percentuais das respostas que

os coworkers respondentes sinalizaram no questionário aplicado.

O esquema 1 mostra as etapas do processo de análise de conteúdo coletado, para

melhor visualização do método e procedimentos de trabalho empregados para a realização

deste estudo.

Esquema 1 – Roteiro de análise de dados

Fonte: construído pelo autor

A análise de resultados a partir dos dados coletados foi feita de forma que fosse

possível apresentar e analisar, de forma articulada, a visão dos diferentes participantes da

pesquisa (entrevistados e coworkers respondentes dos questionários), os resultados obtidos a

partir das observações realizadas nos espaços visitados, sempre buscando sustentação no

Transcrição das entrevistas gravadas em arquivos separados por organização.

Leitura de todas as informações transcritas.

Inserção de trechos relevantes das entrevistas em banco de dados único através

do software Microsoft Excel.

Divisão das respostas em blocos de temas centrais e categorias analíticas relacionadas.

Análise a partir das informações pelos blocos temáticos e categorias analíticas

relacionadas.

Questionários

Migração das respostas obtidas no questionário para planilha do software

Microsoft Excel.

Tabulação e transformação dos dados coletados em gráficos.

Análise a partir das informações obtidas através dos gráficos identificando às categorias analíticas relacionadas.

Entrevistas

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referencial teórico que orientou o estudo. A decisão por apresentar os diferentes corpus de

análise de forma conjunta e articulada permitiu respeitar e potencializar a organização

temática e, principalmente, manter em evidência as categorias teóricas que direcionaram a

pesquisa conforme apresentado no quadro teórico-analítico (Apêndice A).

Tendo os métodos de aplicação da pesquisa definidos, assim como a apresentação da

forma de estruturação e organização da análise dos dados coletados, é possível prosseguir

para a próxima seção, que tratará de apresentar os resultados dos dados coletados e analisados

para a pesquisa.

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6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Após entrevistas, visitas aos locais e aplicação de questionário para compor a coleta de

dados, é necessária a execução da análise destas informações coletadas para apresentação de

seus resultados, que serão mostrados no decorrer desta seção.

Esta seção está estruturada a partir de uma sequência de apresentação que é respeitada

durante todo o capítulo para facilitar a compreensão e comparação dos assuntos abordados,

estes separados e organizados de acordo com as categorias que também organizam o

referencial teórico.

Primeiramente, a abordagem da organização tradicional será apresentada através de

trechos da entrevista e da observação dos ambientes. Em seguida, são apresentados,

respeitando essa mesma sequência, as organizações compartilhadas e colaborativas. Ao longo

da apresentação e discussão dos resultados da pesquisa, estão articulados, também, os

resultados obtidos com a aplicação do questionário aplicado junto a coworkers, e a todo o

momento se recorrerá ao referencial teórico para sustentar as análises e discussões dos

resultados obtidos.

6.1 ELEMENTOS E ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS

No primeiro momento da pesquisa foi necessária a identificação de como as

organizações e se estruturam e quais elementos elas se utilizam para isto.

Esta categoria tem a intenção de verificar a abordagem organizacional, bem como as

relações hierárquicas e as formalizações e processos existentes nos espaços, vantagens e

desvantagens ou desafios.

6.1.1 Empresas tradicionais

Para o representante do SEBRAE/RS entrevistado, que tem o convívio direto com

diversas empresas que adotam a forma organizacional tradicional de empreender, estas

“seguem um modelo que tem origem no fundamento da administração, militar e religioso. Na

prática, elas acabam seguindo esse modelo hierárquico”. Para ele, micro e pequenas empresas

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seguem o mesmo modelo verticalizado das grandes empresas, ainda que contem com poucos

integrantes na organização, pois “cada um acaba respondendo por sua parte, o que repete o

modelo de especialização e segmentação”, sendo um mais voltado à comunicação, outro às

finanças, comércio e entre todas as demais rotinas administrativas que são de conhecimento

da economia tradicional.

Observando e convivendo neste meio, na maioria das vezes se percebe as relações

hierárquicas e de autoridade entre os indivíduos, onde, normalmente, há organogramas a

serem respeitados e centralização de informações segmentadas por áreas especializadas em

cada atividade.

Este modelo se enquadra no que fora descrito por Hall (2004), pois há divisão de

tarefas através dos cargos e níveis hierárquicos estabelecidos, havendo, por consequência, a

coordenação e controle e influência sobre os membros. A diferenciação vertical enumera

cargos entre executivos principais e empregados da produção. Segundo o mesmo autor, ainda

há a centralização, que consiste na deliberação sobre quem toma as decisões na organização.

Também apresentam características salientadas por Mintzberg (2003), quando utilizam

mecanismos para uniformizar e coordenar suas tarefas e processos, tendo supervisão direta

executada por um responsável pelo trabalho dos outros. Características consideradas pelo

autor como bases estruturais das organizações.

Sobre formalização e processos, “as empresas dificilmente conseguem criar um

modelo que não estejam baseados no modelo burocrático tradicional, onde os presidentes ou

donos das empresas estabelecem rotinas e regras” para execução de processos. O

representante do SEBRAE/RS (2015) entrevistado afirma que:

Por exemplo, empresas de franquia, elas são um exemplo muito forte do modelo burocrático, padronizado, rígido. E muitas vezes, em casos de franquias, controlados externamente. E a própria legislação tende a induzir as empresas a ter um comportamento padronizado.

Nestes ambientes, é possível observar que há documentos com regras e regulamentos

institucionais, códigos de ética e valores a serem seguidos pelos indivíduos inseridos neste

tipo de organização.

Isto remete, mais uma vez, ao modelo mecanicista indicado por Robbins (2002), tido

como sinônimo de burocracia, alta formalização e pouca ou rara participação dos níveis

hierárquicos mais baixos nos processos de tomadas de decisões. O contrário ocorre nos

espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, como será visto no decorrer desta análise

de dados coletados.

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De acordo com Cury (2005), esta formalização facilita a comunicação e padronização,

consideradas importantes para gestão da empresa tradicional. A organização apresenta,

também, o que o mesmo autor afirma sobre a imposição de autoridade, sendo mais rígida e

mecânica, pois o controle é feito verticalmente de cima para baixo. Como afirma Mintzberg

(2003), estas empresas baseiam sua estrutura em uma burocracia mecanizada, onde os hábitos

organizacionais são rotineiros e repetitivos, e também possuem grande formalidade dos

procedimentos no núcleo operacional. A estrutura, em qualquer que seja a atividade, obedece

a diversas regras e regulamentos. Porém não se deve obter estas teorias como verdades

inquestionáveis, uma vez que os espaços compartilhados e colaborativos, que são objeto

principal deste estudo, apresentam pouca exigência de padronização em processos.

Quanto aos impactos que os cenários externos podem influenciar em transformações

organizacionais, o representante acredita que as empresas tradicionais tentam, sim, modificar

suas estruturas e se adaptar às mudanças dos cenários externos, embora encontrem bastante

dificuldade, pois nem sempre se transformam com a velocidade adequada para acompanhar

estas modificações externas, que são cada vez mais velozes. “As empresas mais verticalizadas

e tradicionais têm muita dificuldade em se adaptar a mudanças culturais da sociedade e a

cultura da sociedade acaba interferindo na criação e na organização das empresas”

(REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Ainda segundo o entrevistado:

Elas são seguidoras (dos cenários), tentam se adaptar com uma velocidade muito precária. A maioria das empresas não tem velocidade, mesmo as pequenas empresas, de acompanhar, muitas vezes, as mudanças e acabam sendo atropeladas pelas mudanças de cenários. Com certeza, o aspecto comportamental de uma sociedade e cultural da sociedade interferem diretamente no resultado duma organização, principalmente essas organizações mais verticalizadas.

Estas asserções vão de acordo com o que Motta e Caldas (1997) afirmam. Para eles,

conhecer as características culturais da população de uma determinada região é essencial para

o entendimento dos comportamentos dentro das organizações. Esta identificação e integração

da cultura externa junto aos processos bem como com a cultura interna das organizações,

ainda que complexa, levam em conta os costumes, as crenças e os valores da sociedade em

que a população da organização frequentemente convive e está inserida, refletindo e também

sendo modificados por esse conjunto de elementos culturais.

Segundo os mesmos autores não há como pesquisar sobre as empresas e suas formas

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de organização perante uma sociedade sem estudar as culturas que estas apresentam:

Não há como, portanto, estudar a cultura das empresas que operam em uma sociedade, sem estudar a cultura – ou as culturas – dessa sociedade (MOTTA; CALDAS, 1991, p. 18-19).

Perguntado sobre vantagens que essas empresas têm ao adotar uma abordagem

estrutural tradicional e verticalizada, para o entrevistado, o principal ponto positivo está na

eficiência certeira que os processos e rotinas oferecem para o atingimento de objetivos das

empresas, sem interferência (ou com a menor possível) de variáveis pessoais dos indivíduos.

Para o representante do SEBRAE/RS, as empresas atualmente ainda têm no modelo

burocrático sua base para amparar seu fluxo de atividades e delegação de atividades. É uma

opinião que pode ser identificada em diversas empresas tradicionais.

A grande vantagem de uma empresa verticalizada é a eficiência operacional. Sempre terá ganho de margem, ganho de volume, de escala, eficiência no uso de máquinas, eficiência no uso de pessoal. Quando tu tens esse modelo verticalizado, burocrático, no sentido de padronizar, este modelo é imbatível.

Quanto às desvantagens, o representante reforça que este modelo não é eficiente para

acompanhar as rápidas variações de cenários externos, podendo dificultar todo o fluxo de

execução de tarefas, por causa das mudanças dinâmicas. Segundo o representante do

SEBRAE/RS (2015), as empresas:

Não conseguem dar conta de uma mudança de cenário muito rápido, elas têm que investir em máquinas, procedimentos, pessoal e infraestrutura para ter um processo padronizado veloz e eficiente, mas aí muda o cenário. (Por conta disso) um monte de empresas fica fora de mercado.

Sendo assim, é possível perceber que a principal dificuldade apontada pelo

entrevistado que é enfrentada por este modelo está na sua capacidade adaptativa diante das

mudanças de cenários, que rapidamente se alteram. Esta dificuldade pode ocorrer por diversos

motivos, e entre eles, os investimentos a serem feitos para acompanhar as transformações,

bem como possíveis modificações dos métodos e processos burocráticos empregados em seu

funcionamento. O mesmo modelo burocrático que proporciona, segundo palavras do

entrevistado, eficiência operacional, também oferece este ponto negativo. Como menciona

Mintzberg (2003), as organizações têm dificuldades em se adequar às mudanças considerando

sua rigidez e formalidade, por isso, ficam claros os riscos que tais mudanças podem provocar

conflitos porque se trata de uma estrutura pouco flexível. Para o autor, esta é uma estrutura

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72

que não tem boa adaptação em ambientes dinâmicos, visão que o entrevistado declara que as

empresas tradicionais tendem a apresentar.

6.1.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho

Os espaços visitados possuem duas formas semelhantes de trabalhar com relações

hierárquicas e processo de trabalho.

Nos espaços TransLab e La Casa De Pandora foi possível identificar um seguimento

estrutural comparável principalmente aos modelos adhocráticos, assim como os modelos

behavioristas e orgânicos, nos quais, dentro da horizontalidade das organizações, o

comportamento dos usuários é bastante relevante e decisório para o funcionamento dos

espaços.

Estes espaços assemelham-se um modelo behaviorista, no qual o conceito de

autoridade é mais brando, pois não é imposto e sim proposto e aceito pelos demais

integrantes, os incentivos não são apenas financeiros, mas também sociais; o ambiente de

trabalho é democrático e aberto (CURY, 2005).

Vou te dar um exemplo [...] eu não sou o gestor cem por cento da casa, eu sou o mais antigo. Digamos que apenas o Couto está aqui, ele não sabe ou não quer quebrar a parede ou mexer no cano, mas tem que arrumar. Há benefício de todos, ele vai lá e chama alguém para consertar aquilo ali. O problema é resolvido, a maneira que ele é resolvido é indiferente. A busca não é ser burocratizada, é sempre pensar no todo e discutir da maneira mais informal possível para que se torne célere (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Mintzberg (2003) define a adhocracia como uma estrutura altamente orgânica, que

possui pouca formalização no comportamento; a especialização do trabalho existe na forma

horizontal. Para um dos representantes do La Casa de Pandora (2015):

Se alguém entrar aqui é cliente dele mesmo, é um espaço autogerido e ele faz parte da gestão e é cliente também. [...] a gestão é moldada de uma forma orgânica, que é natural. [...], hoje o financeiro está comigo, porque eu fazia o financeiro de outra empresa e eu sou o cara que recebe e alimenta a planilha de custos, só que essa planilha ela está aberta para todos. [...] Mas muitas vezes uma dúvida de alguém que não está entendendo uma leitura que eu consigo fazer de uma planilha faz eu querer mudar de direção para que a pessoa entenda. Todos sabem, ou se tiverem vontade de saber, como é que está o financeiro da casa. Houve uma busca de formatar núcleos de ações dentro da casa. E, hoje, ele já mudou de novo, ele continua, mas virou núcleo de ações e não núcleo de pessoas, [...]

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quando foi feita uma reunião se decidiu, Fulano ou Beltrano será isso, e isso foi descontruído de novo porque começou a se engessar.

É possível identificar, nestas declarações, que o espaço possui flexibilidade para que

todos os indivíduos possam sugerir, intervir ou indagar sobre execuções de processos

inerentes à administração do espaço, são ações que indicam a organização como orgânica e

utilizadora da forma horizontal de trabalho. E o espaço TransLab se mostrou muito

semelhante, de acordo com um dos representantes do espaço, a casa:

Passou por várias fases, desde encontros informais em grupos de pessoas [...] e disso começou a ter programa de formação e desenvolvimento de projetos até se tornar o que é hoje: uma ONG. Busca-se praticar a forma mais horizontal possível. [...] Nós nos organizamos em núcleos: de gestão, de relações institucionais, de curadoria, o administrativo financeiro, de difusão e núcleo de infraestrutura.

A adhocracia é tida como uma configuração única, pois é voltada aos indivíduos que

acreditam em mais democracia e inovação, evitando formalidades e usar métodos

burocráticos (MINTZBERG, 2003).

A gestão de ambos os espaços é “totalmente descentralizada e horizontal”

(REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

A observação destes ambientes, bem como as entrevistas, permitiu identificar que a

forma de estruturação que estes espaços utilizam discorda em alguns pontos do que Mintzberg

(2003) tem como características básicas das organizações, pois embora haja coordenação de

trabalho através do aproveitamento da comunicação informal; não há uniformização dos

processos de trabalho; tampouco supervisão direta de um responsável pelo trabalho dos outros

e nem a padronização dos resultados e habilidades dos trabalhadores. De uma maneira geral,

estas características não foram encontradas nestes espaços.

Em questionário aplicado junto à comunidade de coworkers de Porto Alegre/RS, é

possível identificar a opinião dos respondentes quanto às hierarquias e imposição de

autoridade dos espaços, revelando que há, para mais de noventa por cento dos usuários, baixa

ou, no máximo, pontual formalização.

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Gráfico 2 - Percepção dos coworkers sobre hierarquia e autoridade dos gestores do espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

A partir do gráfico 2, é possível deduzir que a imposição de autoridade e a rigidez

hierárquica não são elementos presentes com clareza pelos usuários dos espaços

compartilhados e colaborativos de trabalho, nos quais a maioria afirma que, quanto a este

item, há baixa formalização e rigidez, ou ocorre, no máximo, pontualmente.

O gráfico a seguir auxilia no entendimento da afirmação anterior, o qual exibe que,

para a maioria dos usuários que responderam, existem, sim, normas e regras básicas para o

funcionamento dos espaços, mas existem de forma bastante pontual com interferência mínima

da organização em comparação com as formas costumeiramente apresentadas nas empresas

tradicionais.

Gráfico 3 - Percepção dos coworkers sobre normas e regras a serem cumpridas no espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

O espaço Nós Coworking também não apresentou perceptível exigência de

formalizações na execução de processos que os usuários dos espaços devem seguir, na visita

ao local, se pode verificar que é um ambiente livre das imposições costumeiramente vistas nas

organizações tradicionais. Ainda que existam regulamentos ou convenções pontuais que

60%

37%

3%

Percepção dos coworkers sobre hierarquia e autoridade dos gestores do espaço

Baixa formalização e rigidez Formalização pontual Muita formalização e rigidez

42%

53%

5%

Percepção dos coworkers sobre normas e regras a serem cumpridas no

espaço

Baixa formalização e rigidez Formalização pontual Muita formalização e rigidez

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determinam um funcionamento básico do espaço, se nota que não há formalização e processos

que limitem a autonomia e a forma de trabalho dos usuários dos espaços. As pessoas são

livres para usufruir dos espaços, interagir como e quando quiserem, lembrando em parte as

organizações orgânicas descritas por Robbins (2002), o qual afirma que este modelo orgânico

possui hierarquias horizontalizadas e baixa formalização.

Os coworkers têm maneira livre. Cada um tem sua forma de trabalho. Tem empresas que tem processos e tem empresas que não tem. Então a gente cedendo espaços e, muito além disso, a gente faz a interação comunicação. Fora isso, é de empresa para empresa (a forma de abordar seus processos). Não há um requisito (REPRESENTANTE NÓS COWORKING, 2015).

Quanto às relações hierárquicas, este espaço apresentou pontos distintos em relação

aos dois espaços anteriores, com pontos que podem identificar o espaço tanto como uma

estrutura mecânica quanto orgânica e behaviorista. Além de se assemelhar com uma

organização adhocrática, orgânica e behaviorista por apresentar comunicação e ações livres

dos coworkers, provendo a liberdade de interação e de execução de tarefas por parte dos

usuários, bem como na utilização dos espaços e eventos que o estabelecimento oferece

voltados à comunidade usuária do espaço, também é semelhante às organizações mecânicas,

pois apresenta sócios, fundadores, e funcionários que se reportam a estes. “É uma empresa

privada, tem um dono, tem sócios, funcionários”. Os funcionários são divididos por áreas,

direcionados para variadas funções como relações públicas do espaço, gestor financeiro,

coordenador de eventos e operacional, e uma representante comercial:

A gente tem um gestor, co-criador, fundador, enfim, que é o Walker Massa. Então, ele passa um pouco, ele nos apodera para tomar conta e para o Nós realmente acontecer. [...] a gente está à procura de uma gestora (REPRESENTANTE NÓS COWORKING, 2015).

Este trecho da entrevista indica que o espaço também funciona como uma forma de

burocracia divisionalizada, em que a cúpula estratégica transfere aos gerentes das divisões

certa autonomia para a tomada de decisões (MINTZBERG, 2003).

Os coworkers que responderam ao questionário, assim como os entrevistados, indicam

que os espaços em que estão inseridos adotam rara formalização e rigidez em seu

funcionamento, bem como indicam baixa interferência da organização para o desempenho de

suas tarefas, embora seja natural que os espaços sigam uma organização mínima para seu

funcionamento e execução de atividades dos seus usuários.

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Gráfico 4 - Percepção dos coworkers sobre processos de execução de tarefas no espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Ao mesmo tempo, como mostra o próximo gráfico, esta população respondente

também considera que um bom espaço deve ter certo nível de formalização e burocracia para

estabelecer uma organização mínima. A maioria acredita que este fator é importante, mas não

fundamental, e isso pode significar que são indivíduos flexíveis e que podem se adaptar ao

ambiente em que estão inseridos, embora reconheçam que deva haver organização mínima

para o funcionamento do ambiente em harmonia. A segunda maior parcela dos respondentes é

indiferente, o que pode reforçar que são indivíduos que podem se adaptar aos ambientes ou

seu trabalho independe disso.

Gráfico 5 - Verificação se formalização e burocracia são itens importantes para um espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Assim como foi perguntado para o representante entrevistado que representou a visão

das empresas tradicionais sobre como as transformações que os cenários externos podem

influenciar dentro das organizações, os representantes entrevistados dos espaços

compartilhados e colaborativos acreditam que os espaços, em geral, se adaptam conforme as

demandas externas:

50%45%

5%

Percepção dos coworkers sobre processos de execução de tarefas no

espaço

Baixa formalização e rigidez Formalização pontual Muita formalização e rigidez

10%

21%

53%

16%

Formalização e burocracia para organização são importantes que um espaço de

usuários deve oferecer?

Pouco importante, dispensável

Indiferente

Importante mas não fundamental

Muito importante, indispensável

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Eu acredito no darwinismo, eu acredito que eu me adapto. Na parte social o que a casa tenta buscar, reflexo econômico [...] tu acabas ficando conhecido pelo projeto que está realizando, ou projetos de pessoas diferentes que acabam conhecendo tuas empresas, e isso tem uma intenção de economia também. Toda parte externa é influente do espaço. A sociedade, os fatores externos são muito maiores que a gente. E a consequência do fato de a gente trabalhar com adaptação, a gente tem que se adaptar também (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Este trecho da entrevista indica que o funcionamento dos espaços tem semelhança com

o que descreve Araujo (2008) sobre estruturação por contingência ambiental, adaptativa, visto

que este modelo de estrutura é caracterizado quando há a percepção de que o ambiente em

que a organização se encontra, por sofrer com mutações externas, exige que ocorram

adaptações estruturais para que a empresa possa se manter atualizada, competitiva e

produtiva. Esta asserção é corroborada com a declaração de um dos representantes do espaço

TransLab, o qual foi mudando de local e também de forma estrutural, ora em encontros de rua

e mais recentemente estruturada em uma casa. Este modelo de encontros e posterior

estruturação representa o que Barbosa (2012) caracteriza como coworking comunitário, o qual

não exige uma estrutura com ferramentas de alta complexidade, uma vez que os membros

frequentam o espaço com o intuito estão voltados a potencializar a socialização e colaboração

da comunidade. Segundo o entrevistado esteve espaço teve início quando

foi mobilizado um grupo de pessoas para discutir questões da cidade e, a partir disto, estávamos com o piloto de um laboratório na mão para ser desenvolvido, então criou-se a inciativa do TransLab. Passou por várias fases, desde encontros informais em grupos de pessoas para discutir implicações vinculadas à cidade e disso começou a ter programa de formação e desenvolvimento de projetos até se tornar o que é hoje: uma ONG. É um instituto de pesquisa em inovação social, onde são pesquisados e produzidos projetos de inovação social nas mais diferentes áreas (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

Além destas afirmações, o ambiente inovador pode ser um fator que contribua para as

transformações estruturais para acompanhar as alterações dos cenários externos sem prejuízo

ou atraso nas execuções das atividades, pois, de acordo com Correia et al. (2013), a forma

rápida de transmitir informações a qualquer momento e em qualquer lugar, através da internet,

tende a facilitar que os usuários estejam preparados para mudanças.

Para a entrevistada do espaço Nós Coworking, nem sempre os cenários externos

impõem mudanças na estrutura da organização, porém pode haver exceções: “independente

disso a gente tem um lema e a gente segue aquilo ali, a não ser que algo realmente interfira,

mas, não”.

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Como indicado pelos entrevistados, os coworkers que responderam ao questionário,

assim como os espaços visitados, também se mostraram divididos, ainda que a maioria

acredite que os cenários externos influenciam diretamente nas modificações dos espaços, ao

mesmo tempo significativo número de participantes indica que não há impactos diretos sobre

a estruturação das organizações. Os autores Motta e Caldas (1997), bem como Grant (2015),

afirmam que as organizações precisam identificar e buscar integrar suas ações junto à cultura

externa e seus costumes, que, de maneira geral, foi um item que pôde ser observado nos

espaços visitados. O espaço Nós Coworking, embora tenha uma proposta mais corporativa,

também se mostrou atento aos costumes externos da sociedade em que está inserida.

Gráfico 6 - Impactos dos cenários externos nos espaços

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Os representantes dos espaços tiveram de responder perguntas que apontassem

vantagens e desvantagens ou desafios de trabalhar e utilizar espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho. Primeiro, apresentando as vantagens, a representante do Nós

Coworking acredita que as vantagens estão “na flexibilidade, por conta da interação, por conta

da animação e trocar ideia, e de tu ter espaço para falar. E com certeza redução de custos”.

Costa e Wolfarth (2014) afirmam que entre os principais motivos para a adesão dos

indivíduos aos espaços colaborativos de trabalho está o baixo custo para obtenção de

estruturas e serviços.

Para um dos representantes do espaço La Casa de Pandora:

Se pensa mais em vantagens, até porque isso é um negócio para todos e a vantagem de troca, espaço seguro, não ter tanto julgamento, não ser tão julgado e o fato de poder testar o produto e ter várias ferramentas intelectuais na tua volta de diferentes áreas te faz ter um discernimento melhor.

Esta asserção pode indicar uma forma de criação de confiança que o espaço oferece,

por evitar julgamentos e ter a obtenção de pontos de vistas diferentes a respeito de

58%

42%

O espaço sofre modificações em seu funcionamento diante dos cenários

externos?

Sim

Não

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determinado assunto. Este fator é tido como um fenômeno crescente entre os usuários de

sistemas colaborativos e também é tida como fundamental para o funcionamento de

organizações baseadas na economia colaborativa. Os indivíduos criam familiaridade e

confiança junto às pessoas desconhecidas, oferecendo percepção de segurança na utilização

dos serviços. (BOTSMAN ROGERS, 2010).

Para um dos representantes do TransLab:

Possibilidade de interação constante que tu tens com pessoas que trazem pessoa, que trazem outras pessoas. Fluxo de pessoas circulando trazendo possibilidades de projetos e ações. E trabalhar assim é fantástico, muito dinâmico.

Esta declaração afirma que um fator motivacional para a busca desta fonte econômica

encontra-se na forte possibilidade de desenvolvimento do networking, como indicam os

autores Botsman e Rogers (2010).

De modo geral, após aplicação das entrevistas e observação dos ambientes, é possível

indicar que dentre algumas vantagens, estão a forma de execução de tarefas, que é bastante

flexível, não havendo rotinas e processos formais e rígidos definidos para o desempenho das

atividades dos coworkers. Outros itens identificados foram a pouca burocracia em processos;

redução de custos, oportunidade de desenvolvimento do networking; compartilhamento de

ideias, informações e outros recursos; são ambientes dinâmicos; bem como a oportunidade de

conhecer diversos pontos de vista em relação ao mesmo assunto.

Para a representante do espaço Nós Coworking, “como desvantagem, às vezes,

trabalhar num coworking, teu ‘vizinho’ do lado está falando alto enquanto tu estás no meio de

um Skype. As pessoas têm que entender que não trabalham sozinhas no espaço”.

Para Leforestier (2009) esta estrutura aberta e a circulação de indivíduos de diferentes

locais e culturas abre espaço para a falta de privacidade, tornando projetos vulneráveis.

O comportamento inadequado no espaço é um fator que constitui uma desvantagem,

bem como outro fato que pode ser visto como um ponto indesejável ao espaço ocorre quando

usuários não de adaptam ao espaço de trabalho e, portanto, não corresponderem à proposta do

modelo, não sendo colaborativos e abertos.

Uma desvantagem apontada por um dos representantes do La Casa de Pandora (2015):

Tem que te habituar e quebrar paradigmas. É um processo lento quando tu não estás convicto dessa ação. Pessoas estavam ainda presas ao modelo de chegar as oito, fazer horário de almoço e que não conseguem entender que eu consigo ser produtivo com liberdade. O fato de sempre ter que pensar no terceiro, que deveria ser obrigação do ser humano, mas tu esqueces. Acho que é um desafio e negativo entre

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aspas, o exercício humano dentro do processo é bom, mas é desgastante e esse desgaste é um ponto negativo.

Segundo Motta (1993), as empresas produzem formas de comportamento e o processo

de adaptação do indivíduo se torna difícil quando uma organização tenta moldá-lo mudando

suas formas de cognição. Uma desvantagem informada neste tipo de espaço é a adaptação, o

momento da migração do usuário para dentro do espaço, que vem de um trabalho baseado em

estruturas de uma empresa tradicional, então seu ajustamento ao novo estilo de gerenciamento

e execução de tarefas pode ser difícil, pois “é um choque de realidade”.

O representante também crê que as pessoas, de modo geral, têm dificuldades em

respeitar as individualidades dos outros, e para isso se deve fazer um exercício diário para

conviver com demais pessoas. Atividade esta que pode ser desgastante até se tornar um

hábito.

Segundo um dos representantes do TransLab, o maior desafio é enfrentar o dilema de

não enrijecer a estrutura organizacional, mantendo sempre uma gestão horizontal e orgânica:

O desejo e o dilema é não enrijecer o espírito da comunidade criativa dentro de uma organização colaborativa, uma vez que a tendência é ficar rígida. É uma espécie de vigília, um assunto bastante discutido para não burocratizar, hierarquizar, e verticalizar a organização. Há um cuidado especial em relação a isto (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

É possível perceber que os espaços buscam esforços para contrapor o que foi

idealizado por Mintzberg (2003), cuja teoria afirma que os modelos organizacionais, com o

passar do tempo, tendem a enrijecer ainda mais seu modo de operar, bem como seus

processos e rotinas.

O espírito colaborativo dos coworkings se perdeu muito pela prática mercadológica do coworking. É o maior desafio: como se estabelecer sem perder a essência da economia colaborativa, que não pode ser assim (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

Outro desafio apontado pelo entrevistado é a capacidade dos espaços em manter

iniciativa colaborativa ativa, tendo em vista que esta acabou por se perder em função das

práticas mercadológicas.

Após identificação das abordagens organizacionais, relações hierárquicas e verificação

dos processos existentes nos espaços, bem como suas vantagens e desvantagens ou desafios, é

possível avançar na análise dos dados, com a finalidade de examinar quais metáforas descritas

por Morgan (1996) que as organizações mais se identificam.

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6.2 METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO

Gareth Morgan (1996) apresenta as organizações e seus funcionamentos através de

metáforas, estudo este que foi predecessor de outros estudos relacionados ao tema. Por ter

ganhado notoriedade perante aos estudos organizacionais, se torna interessante verificar quais

diferenças metafóricas entre as empresas tradicionais e espaços compartilhados e

colaborativos de trabalho.

Na tentativa de identificar em qual imagem que as organizações se identificam melhor,

foi feita uma pergunta com amplas oportunidades de resposta: “Como o desenvolvimento e

comportamento cultural da sociedade podem vir a interferir nos objetivos das empresas?”.

6.2.1 Empresas tradicionais

O representante entrevistado do SEBRAE/RS, ao responder à pergunta citada

anteriormente, acredita que:

O comportamento dos empregados, do relacionamento dos empregados entre si, dentro das empresas nesse padrão verticalizado sofre mais e tem mais dificuldade a se adaptar a mudanças culturais [...] essas organizações mais verticalizadas, que no meu entender, elas se comparam mais com aqueles modelos de máquina.

Esta declaração, principalmente o último trecho, mostra como as organizações

tradicionais se posicionam diante de seus funcionários, adotando a imagem de máquina.

Através da burocracia, idealizada por Max Weber, os princípios mecanizados são defendidos

e utilizados para induzir comportamentos desejados pela organização, apresentando também

características da metáfora definida como instrumento de dominação, que é focada no aspecto

explorador da organização, onde há dominação e exploração de uns sobre os outros

(MORGAN, 1996).

Defesa de interesses, direitos, de modo geral em uma empresa verticalizada as pessoas percebem isso como importante [...] as organizações, principalmente mais tradicionais, elas induzem a um comportamento competitivo desde as vagas, promoção, funcionários, muitos funcionários do mesmo nível em condição de se habilitar para cargos superiores. Essa população de trabalhadores. Acabava sendo induzida a tentar se proteger.

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Através da entrevista e observação de ambientes em empresas tradicionais, há

predicados que caracterizam as empresas que possibilitam habilitar uma ótica metafórica de

prisão política, por meio da disputa por melhores colocações ou a maneira de buscar

resultados, e, de acordo com Morgan (1996), os interesses pessoais e conflitos moldam

ambientes organizacionais, bem como a busca pelo atingimento de resultados pessoais está

acima do objetivo comum da organização.

Portanto, pelo que a entrevista e observação indicam, as imagens mais preponderantes

dentro das organizações tradicionais são as metáforas de instrumento de dominação, por conta

das hierarquias e normas a serem respeitadas; máquina, por conta dos processos e padrões

adotados pelas empresas com finalidade de evitar variações nos resultados e prisão política,

pela motivação de conquistar objetivos pessoais de forma predatória, muitas vezes

desconsiderando as relações sociais dentro da empresa desde que a meta seja atingida. Sendo

assim, se nota que as pessoas não possuem muita liberdade para executar outras tarefas que

não sejam de interesse da organização, o que pode acarretar em sobrecarga emocional através

da pressão pelos resultados e raro tempo para o exercício do ócio criativo.

6.2.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho

Para o representante do La Casa de Pandora, as organizações compartilhadas e

colaborativas de trabalho são principalmente tidas como um organismo vivo, que vai de

encontro com o que Morgan (1996) descreve, uma vez que os espaços desenvolvem e moldam

seus padrões para se adaptar com os ambientes e clientes externos, além destas estas

organizações possuírem características de empresas orgânicas, que sofrem constantes

mutações.

Toda parte externa é influente do espaço. [...] a sociedade, os fatores externos são muito maiores que a gente. E a consequência do fato de a gente trabalhar com adaptação, a gente tem que se adaptar também. [...] talvez o jeito que a gente se explique e se movimente aqui dentro pode ser um pouco mais lúdico, mas na rua não é tão aceito. Organismo vivo. Nós somos organismos vivos (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

O espaço TransLab também apresenta esta característica por ouvir as demandas das

pessoas e buscar alternativas dentro da economia colaborativa que possam atender às

solicitações de seus clientes.

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Como instituição o laboratório, facilita os processos criativos, desenvolvendo junto com as pessoas. Utilizando de metodologia própria e específica a partir das ideias das pessoas que procuram o laboratório (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

Esta atividade adaptativa, além da imagem de organismo vivo, se assemelha à

metáfora de fenômeno cultural, onde a organização sofre transformações de acordo com

demandas da sociedade (MORGAN, 1996).

O questionário aplicado junto à coworkers de Porto Alegre/RS ajuda a identificar que

a maioria dos indivíduos inseridos nestas organizações e suas vivências pessoais podem

influenciar em possíveis alterações no funcionamento e estruturação do espaço, embora trinta

e dois por cento dos coworkers ainda acreditam que o espaço não considera experiências

pessoais influentes no processo de estruturação do espaço.

Gráfico 7 - Influência das pessoas e suas vivências pessoais têm sobre alterações no espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Esta última questão será mais bem abordada na próxima seção, na qual serão

discutidas as influencias que as organizações e o comportamento dos indivíduos podem ter

um sobre o outro, tendo seu comportamento moldado e conciliado, ou não, por conta dos

processos existentes dentro dos ambientes organizacionais ou das vidas pessoais que cada

indivíduo leva de si para dentro dos espaços em que exercem suas atividades profissionais.

6.3 INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES SOCIAIS

Nesta seção buscou-se verificar até que ponto as organizações se estruturam a partir do

comportamento dos indivíduos que nela estão inseridos. A seção foi dividida visando

32%

8%

60%

Que influência as pessoas e suas vivências pessoais tem sobre possíveis

alterações no funcionamento do espaço?

Baixa influência das experiências

pessoais

Indiferente às influências pessoais

Muita influência das experiências

pessoais

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identificar a abordagem organizacional, as influências das pessoas e das organizações entre si,

bem como o senso de autonomia que os indivíduos possuem, considerando comportamentos e

atitudes dos mesmos e como as empresas lidam com as relações informais.

6.3.1 Empresas tradicionais

Segundo o representante entrevistado do SEBRAE/RS (2015), quando perguntado se

as estruturações das empresas tradicionais são feitas a partir do comportamento dos

colaboradores ou o objetivo final das empresas se sobrepõem às vivencias pessoais; foi

relatado que as empresas direcionam muito mais seus processos em função de seus objetivos e

não do comportamento das pessoas, embora acredite também que haja raras exceções.

A maioria das empresas é direcionada aos objetivos. Ela estabelece processos e padrões de acordo com seus interesses [...] o que as empresas procuram ao contratar um profissional? Tem que contratar um perfil da nossa organização e não o contrário, adequar a organização ao perfil das pessoas (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Ao referir-se a este assunto, Hall (2004) sustenta que os colaboradores têm suas

condutas controladas de acordo com os objetivos da empresa. E esta percepção deste tipo de

organização remete ao que o mesmo autor chama de estruturação por funções, na qual é

composta é composta pela junção de atividades semelhantes e de acordo com os objetivos da

organização. A desvantagem é, por cada funcionário executar uma tarefa específica, acaba

distanciando as funções e isolando os funcionários em “ilhas desertas”, prejudicando a

conexão das áreas e a gestão dos processos.

Indagado se há alguma forma em que as pessoas e suas experiências de vida e sociais

podem vir a transformar algo nesta organização, ou o contrário, o entrevistado acredita que:

Pegando a regra dos “20/80”, vinte por cento tiveram pessoas que foram decisivas para mudar aquela organização, mas eu diria que, na maioria dos casos, as pessoas foram mudadas pela organização [...] a maioria das pessoas entram e saem da organização, e a mesma continua seguindo do seu jeito, interferindo na vida das pessoas - a tua rotina, teu horário de acordar e de dormir, etc. (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Segundo Hall (2004), a organização instrui e convence seus membros a reagir de

acordo com as posições que ocupam. Esta abordagem exemplifica como há a interferência

através do modo que a empresa opera e sua cultura organizacional pode intervir na mudança

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do comportamento de seus colaboradores. Esta característica é bastante evidente nas empresas

tradicionais, segundo observações e relato do entrevistado. Há mais influência da organização

na vida das pessoas que a ocorrência do contrário. Ainda nesta mesma linha de considerações,

Motta (1993) afirma que as empresas podem restringir momentos de livre arbítrio dos

indivíduos, visto que muitas vezes a liberdade de escolha é anulada em prol da busca de

objetivos organizacionais.

De um modo geral, as empresas proporcionam um grau de autonomia muito baixo. (Não há) capacidade de pessoas para mudar uma linha de negócio, por exemplo. Acho que o grau de liberdade que essas organizações oferecem para autonomia é em detalhes. A grande maioria tem grau de liberdade muito baixo. A maioria das empresas tem uma estrutura de pessoas definida, uma estrutura de cargos e salários definidos, uma estrutura de linha de produtos bem definido, forma de atuação mais verticalizada (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Isto vem ao encontro de Guerreiro Ramos (1989), o qual concluiu que as usuais

estruturas organizacionais desconsideram o comportamento dos indivíduos e a necessidade

das relações interpessoais para atender demandas e objetivos intrínsecos dos seres humanos.

As abordagens organizacionais são habitualmente voltadas insociavelmente à mecanização e

instrumentalização processual, desconsiderando o que as ciências e relações sociais podem

proporcionar para um melhor funcionamento das organizações. (GUERREIRO RAMOS,

1989, p.1 apud MISOCZKY, et al., 2010).

Quando questionado sobre como as empresas geralmente lidam com as relações

informais existentes, o entrevistado foi claro, afirmando que as organizações, “de modo geral,

lidam muito mal” com estas relações informais, tentando combatê-las ao invés de aproveitar

os aspectos positivos que estas formas de comunicação podem oferecer. Ainda segundo o

entrevistado, “a tendência é empurrar as pessoas para os processos formais de comunicação”.

Além disso, relata casos de empresas que “recolhem celular de pessoas quando elas entram,

para impedir de pessoas que percam tempo respondendo mensagem, etc.”. Para ele, as

empresas “estão sempre tentando bloquear e não conseguem”, ao mesmo tempo em que “não

sabem se aproveitar” das potencialidades que as relações informais podem oferecer.

Ao fazer referência a tal assunto, Cury (2005) expõe que as relações informais são

resultantes da livre e espontânea interação dos indivíduos entre si e com ambiente em que

estão inseridos, apresentando relações que não aparecem no organograma institucional, tendo

suas personalidades e comportamentos impactando sobre o desenvolvimento de seus cargos e

funções para quais foram designados. Para completar, o mesmo autor defende que a

organização formal não pode ser totalmente independente de suas ações sem que haja relação

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e comunicação com as organizações informais internas da própria empresa.

Através de entrevista e observação de ambiente, é possível identificar que as empresas

tradicionais, atualmente, buscam o atingimento de objetivos, padrões e processos, sobretudo

de acordo com seus interesses. Raramente há casos onde uma pessoa possa influenciar

modificações no modo que a organização aborda as rotinas de execução de processos e

tarefas. A abordagem organizacional tende a ser voltada para os atingimentos dos objetivos

institucionais.

Portanto, é possível observar que as empresas tradicionais geralmente adotam atitudes

opressoras para com seus colaboradores, inibindo sua espontaneidade, e, de acordo com o

entrevistado e os autores utilizados no referencial teórico, se pode interpretar que há uma

situação paradoxal nestes ambientes, pois ao mesmo tempo em que a organização força os

indivíduos a agir de acordo com as posições que ocupam, intervindo no comportamento de

seus colaboradores (HALL, 2004), as personalidades e comportamentos individuais impactam

diretamente sobre o desenvolvimento de seus cargos e funções para quais foram designados

(CURY, 2005).

6.3.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho

As mesmas perguntas feitas anteriormente foram apresentadas para os representantes

dos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, começando pela identificação da

estruturação do ambiente por conta do comportamento de seus usuários ou se o objetivo do

espaço se sobrepõe a este fator. Para a representante entrevistada do espaço Nós Coworking:

Há muitas pesquisas que mostram as pessoas precisam se sentir num ambiente bacana e descontraído. Elas precisam um momento de desligar e tudo mais, então tudo foi pensado para ser aconchegante e acomodar as pessoas. Ter esse clima um pouco mais cool e um lugar que fosse projetado para causar experiências nas pessoas. A gente recebe opinião de mais de uma pessoa a gente põe em pauta, a gente discute e, se houver necessidade de mudança a gente muda. A gente é super flexível e superabertos a ideias.

Motta (1993) mostra como a troca de hábitos e interesses que ocorrem nos espaços

organizacionais entre os indivíduos que nelas estão inseridos contribui para hipótese de que as

organizações são resultados coletivos em busca de objetivos comuns.

Seguindo este aspecto, Etzioni (1984) ressalta que as organizações são “unidades

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sociais intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos”.

Para Montana (2003) “organizar é o processo de reunir recursos físicos e

principalmente os humanos, essenciais à consecução dos objetivos de uma empresa”. Neste

último trecho, após constatação da entrevista e observação ambiental feita no espaço Nós

Coworking, se percebe certa preocupação e esforço para que ocorra a integração do ambiente

com os seus usuários, com variados ambientes, uns com mais ruídos e outros menos, uns com

mais privacidade e outros não, entre outros itens, então, por isso, acaba perceptível a busca

para encontrar sinergia entre a proposta que o espaço oferece com o que seus usuários

buscam.

Outro aspecto relevante se encontra na abordagem adaptável às diversas situações

demandadas, e isto leva a crer que os espaços são versáteis para que cada pessoa interprete a

situação problemática e, então, encontre, para si, maneiras de cooperação e colaboração,

focados nos modais de convivência e compartilhamento adotando a melhor forma de executar

suas atividades, objetivando conquistar os seus resultados finais. Portanto, não se deve possuir

o termo organização como definição única sem a reflexão de até onde o sentido da palavra

pode abranger, pois uma organização pode ser desordenada e, mesmo assim, existir (SOLÉ,

2003).

A casa não se molda ao teu projeto. Tu moldas a casa para o teu projeto. E esse teu movimento de moldar a casa tem que se preocupar com os outros que convivem aqui. A gente se baseia em relações humanas, mais ou menos moldado ao que tu podes oferecer ou que tu estás buscando e onde tu queres chegar. A ideia é receber. (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

A partir desta declaração, o espaço indica possuir característica de

departamentalização por produto ou serviços, que, segundo Araujo (2008), ocorre quando há

diversificação de produtos ou serviços da organização. Embora discorde no que Cruz (1998)

afirma, pois, a organização não é dividida em função dos produtos que fabrica ou dos serviços

que comercializa. Ela opera, no mesmo ambiente, de maneira sinérgica entre os indivíduos e

empreendedores que se envolvem, direta ou indiretamente, nos projetos de outros usuários do

espaço.

O representante ainda indica a forma que o espaço se estabelece é uma “organização

em rede”, remetendo a características semelhantes, ainda que temporárias, e não fixas, à

burocracia profissional, pois, segundo Mintzberg (2003), esta estrutura tem fundamentos

baseados nas competências e habilidades. É importante ressaltar que, de acordo com o

entrevistado, há intenção de desconstruir o mais rápido possível, com a finalidade de evitar

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enrijecimento dos processos, quaisquer que sejam as hierarquias que por vezes se tornam

necessárias para execução de procedimentos básicos de funcionamento do espaço.

Tem casos que acredito tem que se tornar vertical, e querendo ou não ela se torna, porque o mais apto ele assume a frente. E pessoas fazem o apoio, como uma pirâmide. Ele tem que ter a hombridade e humildade de dizer (quando) não está apto a isto, aí ele recua e aí volta o modelo horizontal. E aí alguém dessa linha que se sente apto, ou que tenha vontade de fazer, assume a ponta de novo, e aí verticaliza de certa forma, porem ele não é fixo. É pontual, não fixo. Até o modelo horizontal não é perfeito (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Remete também à adhocracia, pois utiliza tanto bases funcionais como as de mercado

para então as agrupar em uma estrutura matricial. Sendo assim, para o autor, é nítido que esta

estrutura melhor se adapta e se insere em ambientes que são dinâmicos e estratégicos.

Os coworkers que responderam ao questionário indicam que os espaços em que

trabalham foram, sim, estruturados a partir do comportamento de seus usuários, pergunta na

qual expressiva maioria concorda com assertiva, como mostra o gráfico a seguir.

Gráfico 8 - Verificação da estruturação a partir do comportamento de usuários dos espaços

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Os representantes dos espaços também foram perguntados sobre as influências que os

espaços compartilhados e colaborativos de trabalho podem exercer sobre o comportamento

individual que cada membro carrega para sua vida particular, o representante do TransLab

acredita que este tipo de espaço pode, sim, modificar condutas pessoais:

Sim, interfere [...] é uma estrutura organizacional em rede, e quando o indivíduo se percebe numa estrutura organizacional em rede, se constitui da intensidade das relações existem. Dentro da área inovação social, se tem o entendimento da organização colaborativa (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

A representante do espaço Nós Coworking também acredita que estes espaços podem

exercer influências comportamentais nos indivíduos:

82%

18%

Você acredita que o espaço foi estruturado a partir do comportamento

de seus usuários?

Sim, estruturado a partir do

comportamento de seus usuários

Não, o objetivo do espaço é independente

do comportamento dos usuários

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Muitos já mudaram. Muitos. Tem até uma coworker nossa que tem uma empresa e durante muito tempo ela teve um escritório, negócio engessado. Ela relutou até vir para cá porque ela achava q não ia se adaptar. E hoje em dia ela não sai daqui e ela indica e ela adora e esse ambiente mais descontraído, enfim. Acho que as pessoas mudam, sim (REPRESENTANTE NÓS COWORKING, 2015).

Segundo Mcauley, Duberley e Johnson (2007), somos indivíduos sociais dependentes

de outras pessoas para sobreviver. Isso torna as pessoas mutuamente interdependentes, e nisso

pode haver um lado positivo e o lado negativo. Esta teoria se reflete na declaração produzida

pelo representante do espaço La Casa De Pandora:

O fato de não locar salas já te impõe a compartilhar espaços, já te ensina e te induz a dividir o espaço e ter a convivência. Sobre isso tu começas a analisar que tua convivência gera reflexos em outras pessoas, então teu cuidado d já muda. Seria uma organização em rede (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Os coworkers de Porto Alegre/RS que responderam ao questionário possuem visão

semelhante quando, ao responder o questionário, a maioria indicou que os espaços tiveram,

sim, influência sobre as relações pessoais e sociais, bem como influenciaram na mudança de

percepções sobre a sociedade.

Gráfico 9 - Influências do espaço sobre relações sociais dos coworkers

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Guerreiro Ramos (apud MISOCZKY, et. al., 2010) indica que na atualidade, somente

as organizações possuem sucesso em seus objetivos, mesmo que possa desconsiderar e

desfigurar a vida humana. Porém, de acordo com entrevistas e observação dos espaços, se

nota que esta asserção proposta pelo autor não se caracteriza nestes espaços de trabalho, pois

os indivíduos participam e buscam conhecer e conviver nos espaços de forma voluntária e

interativa, tomando ações da maneira que julgam melhor para si e para o momento dos outros

frequentadores.

24%

16%60%

Que influência este espaço teve sobre suas relações pessoais e

sua forma de enxergar a sociedade?

Baixa influência

Indiferente às influências

Muita influência

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A teoria de Guerreiro Ramos (apud MISOCZKY, et. al., 2010) aparentemente não se

visualiza nestes espaços, pois os mesmos, embora funcionem como uma organização, evitam

interferir e oprimir ações livres dos indivíduos. Além dos gráficos anteriores com a opinião

dos usuários dos espaços indicarem que isto não ocorre, os representantes dos espaços

também declaram que o senso de autonomia que os indivíduos percebem e desenvolvem nos

espaços é bastante amplo.

No laboratório as pessoas têm autonomia para desenvolver o que bem entenderem em termos de projeto, ações. Aqui é totalmente diferente. Não tem regra de conduta definida. Este é o proposito e cada um se conecta da forma que se sente chamado para o sentir que deve fazer (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

O representante do espaço La Casa de Pandora concorda com a presença e incentivo

de liberdade dos indivíduos e foi categórico. Quando perguntado sobre o senso de autonomia

dos participantes do espaço, sinaliza que, além do livre-arbítrio e flexibilidade de ações, deve

haver bom senso dos integrantes:

Tudo o que tu fizeste durante toda tua vida tu pode oferecer [...] isso parte muito da intenção pessoal. A pergunta é isso vai gerar incomodo em outras pessoas? Ou isso é necessário para uma ou necessário para todas? (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

A representante do espaço Nós Coworking indica que “tudo é pensando nos

coworkers, em primeiro lugar”, indicando que o espaço foi estruturado levando em conta as

demandas e necessidades dos usuários.

Quanto ao posicionamento dos espaços sobre as formas de lidar com as relações

informais, os representantes das casas acreditam que são importantes formatos de

comunicação, algo que surge intrinsicamente não pode ser desprezado para obter melhores

resultados na produção. O processo de comunicação nos espaços é incentivado e aberto.

É uma discussão aberta, sem necessariamente chamar uma reunião. A gente tem interesse em fazer reuniões quinzenais. É bom porque acontece brainstorming, movimento, melhorias, conflitos. Estou falando contigo agora, e não precisei avisar que eu iria falar contigo sobre a casa. A casa não tem como mudar a linguagem dela. Ela é exposta dessa forma. Só que se eu for atender um cara mais formal, eu vou me adaptar. A linguagem está aberta, não tem porque ser formal. É sempre uma coisa de autodefesa, sempre se justificando. Não, quebra isso. Vamos ser producente. Vamos focar em produzir (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Assemelha-se com o que propõe Cury (2005), o qual indica que as organizações

formais não são independentes em suas ações sem relacionamento e comunicação com as

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organizações informais. Sendo assim, estes formatos de organizações colaborativas, quando

utilizam eficientemente as relações informais, indicam produzir um fato novo, o que Hardt e

Negri (2005) chamam de commom (comum, em português), o qual é o objeto central e

determinante para oportunizar o fortalecimento das relações sociais e produtivas, que consiste

em uma das principais características das novas formas de economia.

Qualquer um pode chegar a qualquer momento e dar sugestões sobre tudo. Não há centralidade de autorização das coisas. Se eu e tu nunca conversarmos, tu pega teu café e eu passo reto, não trocamos ideias, dificilmente vamos fazer algum projeto juntos, não tem uma obrigatoriedade. O que ocorre aqui é a disponibilidade de pessoas para entenderem o que está acontecendo ao seu redor e oportunamente se conectar. É algo intrínseco (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

A partir da declaração do representante do espaço TransLab, se pode cogitar que o

exercício das relações informais dentro destas organizações pode impactar não somente nos

produtos ou serviços aos quais os indivíduos produzem, como também resultar em fatores

motivacionais para se integrar, impulsivamente, aos projetos de outros indivíduos ou sugerir

melhorias seja na execução de processos ou na própria forma de se organizar.

Misoczky e Vecchio (2006) indicam que estas relações informais podem ser fatores

importantes para disposição e entusiasmo necessários para a realização e cumprimento de

objetivos. Portanto, se torna viável o pensamento da definição de organização informal como

diminuição das imposições de um sistema tradicional e formalizado.

Após a verificação de como as relações sociais e produtivas se relacionam entre si nas

organizações, e também a maneira que convivem com este tipo de interação em sua

abordagem organizacional e a forma como lidam com as relações formais e informais, bem

como a autonomia de seus integrantes, chega o momento de verificar o que é a economia

colaborativa e como seus participantes visualizam a mesma.

6.4 ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING

A economia colaborativa é uma nova ramificação da economia e os coworking spaces

são os espaços compartilhados e colaborativos de trabalho advindos desta forma de estrutura,

e ao que indica a pesquisa, se desprendem do modelo sisudo e mecânico das organizações

tradicionais. Esta seção busca verificar qual a visão dos usuários e representantes dos espaços

entrevistados acerca desta forma de se organizar.

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6.4.1 Empresas tradicionais

Indagado sobre a economia colaborativa, o representante do SEBRAE/RS entrevistado

aparenta receptividade, interesse e conhecimento acerca deste movimento:

Gosto da ideia. E procuro utilizar serviços e produtos de empresas que trabalham com este tipo de conceito. É um conceito de sustentabilidade intrínseco e que oferece caminhos alternativos, embora no curto prazo ainda vá demorar um tempo.

Segundo o entrevistado, apesar de poder levar algum tempo para ser vista como uma

forma segura de empreender e, de certo modo, equiparar seus índices econômicos com as

organizações tradicionais, este novo modelo oferece redução de custos, por exemplo, ao

anunciar produtos ou serviços. O entrevistado explica sua visão:

Uma garrafa de cerveja, por exemplo, mais de noventa por cento dos custos são para atender as questões de marketing, ou seja, tu precisa gastar dinheiro para dizer para as pessoas consumirem aquele produto. Na questão da economia colaborativa, tu vai ver quem precisa daquele produto. E como que ele vai encontrar esse produto. É entender o que o esse grupo, essa cidade, esse estado, país precisam e tratar de fazer isso (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

O “caminho alternativo” citado pelo entrevistado remete ao que Hardt e Negri (2005)

pensam, indicando que possivelmente a forma de organizar vertical e hierarquicamente esteja

sofrendo rupturas em suas principais características. São transformações que estariam

encaminhando a economia tradicional e suas formas de trabalho para uma nova forma de

organizar. A possibilidade de comunicação, organização e colaboração oportunizam um

constante fortalecimento das relações. Esta nova forma de organizar “prescinde das relações

sociais e esse é o insumo básico dela”, tendo como prováveis fatores de declínio do sistema

tradicional, uma maior percepção e empenho das pessoas em desenvolver suas relações

sociais, aliado a um possível descontentamento dos indivíduos inseridos em sistemas

organizacionais mecânicos.

O entrevistado ainda acredita que a tendência é de que as empresas tradicionais e

verticalizadas se mantenham liderando em termos de volume, argumentando que o PIB

mundial em sua maioria é composto por estas organizações, embora acredite que alguns fatos

característicos da economia compartilhada e colaborativa possam ser repensados nestas

empresas, como as questões das relações sociais humanas e de sustentabilidade, por exemplo.

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Em termos de volume a tendência é pela manutenção da sempre verticalizadas por um bom tempo [...] há fatos novos que vão induzir movimentos colaborativos, como a questão da sustentabilidade econômica, social e ambiental. Isso tudo induz para outra forma de atuação, que está mais naquela linha de produção colaborativa (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Ainda segundo o representante do SEBRAE/RS, atualmente, atitudes colaborativas

são bem-vindas e até buscadas por algumas empresas, desde que proponham a otimização dos

processos, como redução de custos. Ainda que as empresas tentem ser mais receptivas a

outras sugestões, quando as ideias são incomuns e fogem dos padrões e objetivos buscados

pela empresa, são rejeitadas em um primeiro momento, pois a mentalidade das empresas

tradicionais é voltada principalmente pela busca da lucratividade, e talvez, por isso, sejam

deixadas de lado as questões sociais. Ainda nesta linha de raciocínio, o entrevistado indica

que as empresas tradicionais estão sim, se tornando mais flexíveis para receber sugestões de

diferentes assuntos e mudar comportamentos, isto se evidencia quando há comparação com o

passado recente:

De modo geral algumas atitudes espontâneas eram ridicularizadas. Por exemplo, até pouco tempo atrás, hoje vir de bicicleta ao trabalho, que é uma mudança de comportamento, era ridicularizada. Até no jeito de vestir, há dez anos era inadmissível que um funcionário viesse trabalhar sem terno. Quando tu vinhas sem gravata ou terno, todo mundo estranhava. Era um nível alto de controle (REPRESENTANTE SEBRAE/RS, 2015).

Logo, se percebe que, mesmo lentamente, as empresas tradicionais tendem a se tornar

mais flexíveis quanto ao recebimento de sugestões sobre variados temas e busque alternativas

nas mudanças comportamentais e sejam menos restritivas sobre o comportamento de seus

integrantes.

Ao referir-se a tal assunto, Grant (2015) diz que dentro de um contexto organizacional,

o comportamento da sociedade vem provocando um importante momento de mudanças, pois

surge um fenômeno no qual tanto forças externas e internas das organizações estão desafiando

as formas tradicionais de produzir e atingir resultados.

6.4.2 Espaços compartilhados e colaborativos de trabalho

Esta parte do estudo visa entender o que os representantes e usuários dos espaços

entendem e o que buscam ao utilizar ambientes que empregam a economia colaborativa como

fundamento para se organizar e buscar resultados, procurando identificar quais as

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necessidades que esta comunidade acredita serem necessárias para o funcionamento deste

modelo econômico.

No decorrer desta seção será possível relacionar as formas de estruturação destes

espaços baseadas em clientes e departamentalização por produto ou serviços, embora não tão

claro ou exato como descrito pelas teorias organizacionais até então publicadas. Segundo

Araujo (2008), a estruturação baseada em clientes está voltada para atingir determinado

público. O mesmo autor afirma que a departamentalização por produto ou serviços ocorre

porque as organizações apresentam variados produtos ou serviços.

Através de entrevistas e observações feitas nos locais, é possível identificar algumas

características comuns dos espaços, as quais indicam que objetivo do espaço compartilhado

de trabalho é reduzir custos, proporcionar troca de experiências, valores e desenvolver o

networking. São ambientes compostos por profissionais com áreas e de atuação e

características distintas que compartilham os conhecimentos pessoais, recursos e custos do

espaço (FOST, 2008; LEFORESTIER, 2009).

O representante do La Casa de Pandora indica que a criação de espaços é advinda da

necessidade, pois, para empreendedores individuais, muitas vezes, o trabalho todo é

executado sozinho, o que pode ser dispendioso e dificultoso na busca de êxito no processo

produtivo. A necessidade de partilhar informações e ferramentas junto de outros profissionais

tende a ser outro fator preponderante para a concepção da iniciativa.

Tapscott e Williams (2007) afirmam que as crises financeiras e sociais, assim como a

transformação das relações sociais através do compartilhamento de informações servem como

motivações para buscar novas formas de organizar e promover o funcionamento da economia.

Isto indica que, de maneira geral, os integrantes destes espaços têm necessidades a serem

sanadas para produzir e executar demais atividades pertinentes ao seu trabalho.

Necessidade. Queria me juntar com mais pessoas e que todos tivessem compartilhamento de informações [...] a gente teve a visibilidade de pensar quanto mais distintos, melhor. Não preciso ter gente que trabalhe só com moda; eu posso ter um cara que tenha com conteúdo, propaganda, programadores. Aí vou ter visões de programadores, minha propaganda vai melhorar, sendo que a informação que eles precisavam não precisava tanto desprendimento de busca e valor, visto que, por sorte tinha alguém aqui que trabalha nesse meio colaborativo que se predispôs no seu tempo livre a ajudá-los e eles também se predispuseram de pedir ajuda (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

No espaço Translab, também é possível encontrar a característica de utilização do

ambiente por profissionais de diversas áreas de atuação. O entrevistado representando o

espaço informa que o público é composto por “arquitetos, publicitários, assessores de

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imprensa, designer, entre outros”.

Segundo a representante entrevistada do espaço Nós Coworking (2015), de modo

geral, a comunidade de coworkers é composta de “um público bem variado”, o qual atua em

diferentes áreas profissionais, desde comunicação e informação, também da área de economia

e negócios ou envolvidas com ciências humanas e sociais, por exemplo. Esta declaração

converge com as respostas dadas pelos coworkers de Porto Alegre/RS que responderam ao

questionário, os quais, quando questionados, indicaram seu campo de atuação e suas respostas

são apresentadas no gráfico a seguir:

Gráfico 10 - Áreas de atuação dos coworkers em Porto Alegre/RS

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Procurando identificar e descrever o perfil e características dos indivíduos, bem como

verificar o que buscam ao contatar espaços como este, a representante entrevistada do espaço

Nós Coworking (2015) afirma que a maioria dos indivíduos que procuram o espaço já são

predispostos e inclinados a trabalhar em ambientes como este, pois, em muitos casos,

conhecem a proposta e sabem como funciona um espaço compartilhado e colaborativo de

trabalho, coworking spaces.

Ainda neste item, se nota a mesma característica em outro espaço, no qual os

indivíduos que buscam o TransLab e demais atividades oferecidas pelo laboratório, segundo o

entrevistado, “naturalmente já vêm com a mentalidade contributiva e engajamento”

(REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

As declarações feitas pelos representantes dos espaços visitados indicam que, assim

como afirmam Tapscott e William (2007), o fenômeno desta economia está na colaboração

5

0

12

4

8

2

6

1

0

2

4

6

8

10

12

14

Artes cênicas,

musicais ou

visuais

Biológicas,

naturais e

agrárias

Comunicação

e informação

Economia,

gestão e

negócios

Engenharia e

arquitetura

Exatas e

tecnológicas

Humanas e

sociais

Saúde

Qual sua área de atuação?

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espontânea dos indivíduos, não estando obrigatoriamente vinculados às determinações de

empresas.

Estas declarações contribuem com o conceito de mudança da mentalidade das pessoas

em relação às formas produtivas mecânicas e tradicionais de trabalho, nas quais o importante

é produzir, obter ganho de volume e lucratividade na maior quantidade possível, independente

das pessoas e a intrínseca necessidade de relacionamento e comunicação entre elas.

O representante do espaço La Casa De Pandora (2015) acredita que quanto mais

diversificada as áreas de atuação dos usuários dos espaços, melhor, pois amplia a visão de

demanda, mercado e produção de todos os envolvidos.

É um negócio para todos a vantagem de troca. Várias ferramentas intelectuais à tua volta, de diferentes áreas, te fazem ter um discernimento melhor. (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Ainda, segundo o entrevistado do La Casa De Pandora (2015), a rede de contatos

“com certeza aumenta”.

A representante do espaço Nós Coworking acredita na oportunidade de “interação e

conexão” entre os usuários, ou seja, aumento do networking e brainstorming.

Segundo pesquisa do grupo alemão Deskmag (2010), especializado em coworking

spaces, a ideia central de um escritório de coworking é o compartilhamento de espaço,

experiências e conhecimentos entre os consumidores que utilizam o mesmo espaço.

Estas afirmações dadas pela pesquisa alemã e pelos representantes entrevistados dos

espaços visitados condizem com o gráfico anterior, que mostra diversas áreas de atuação, e

com a predisposição declarada da comunidade de coworkers de Porto Alegre/RS, que

respondeu ao questionário, em interagir com os demais usuários, na qual metade declarou que

há muita interação, troca de recursos de maneira espontânea e praticamente a outra metade

declarou estar disponível a oferecer auxilio quando solicitado por outros usuários.

Gráfico 11 - Interação entre coworkers

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

16%

34%

50%

Como é sua interação com os demais usuários?Pouca interação, baixa troca de

recursos e ideias

Interação moderada, troca de

recursos e ideias apenas quando

solicitadoMuita interação, troca de recursos e

ideias espontaneamente

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Ainda segundo os coworkers que responderam ao questionário, o networking se

configura em um item fundamental e desejado pelos indivíduos ao buscar algum espaço

compartilhado e colaborativo de trabalho. A maioria indica que é um componente muito

importante e indispensável.

Gráfico 12 - Importância do networking

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

As entrevistas e respostas dos integrantes destes espaços concordam com o que

escrevem Botsman e Rogers (2010) e Costa e Wolfarth (2014), os quais indicam que o

networking é um dos elementos fundamentais para a adesão desta modalidade organizacional.

Isto pode ser reflexo da grande variedade de profissionais que estes espaços acolhem,

facilitando a criação de novas ideias e diferentes visões acerca de um mesmo assunto.

Possivelmente nas organizações tradicionais, o networking não seja tão explorado como

nestes espaços, pois os indivíduos geralmente são separados por áreas e executam tarefas

específicas.

Neste modelo organizacional baseado em compartilhamento e colaboração, Leforestier

(2009) afirma que a empresa pode obter vantagens competitivas, através da diminuição de

seus custos operacionais, e que, como indica a representante entrevistada do espaço Nós

Coworking (2015), “com certeza é bem menor”, como também pode se beneficiar de usufruir

de um ambiente com potencial criador e inovativo, bem como contar com o fortalecimento de

suas redes profissionais de contatos.

O gráfico a seguir mostra a opinião dos coworkers que responderam ao questionário,

quando perguntados sobre possível redução de custos a partir do momento que passaram a

trabalhar neste tipo de organização. É possível notar que a grande maioria concorda com a

afirmação da entrevistada, que há, sim, redução de custos.

0% 5%

32%

63%

Networking

Pouco importante, dispensável

Indiferente

Importante mas não fundamental

Muito importante, indispensável

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Gráfico 13 - Verificação sobre custos em comparação às formas tradicionais de trabalho

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

A partir daí se nota como a opinião dos entrevistados convergem com a dos autores e

pesquisadores da economia colaborativa, pois, segundo estes, “o objetivo do espaço

compartilhado de trabalho é, fundamentalmente, reduzir custos, proporcionar troca de

experiências, valores e desenvolver o networking” (FOST, 2008; LEFORESTIER, 2009). Esta

troca de experiências e conhecimento muitas vezes não é percebida com clareza nas

organizações tradicionais, pois, como descreve Morgan (1996), nestas empresas há uma

forma de funcionamento baseada na política e na prisão psíquica, com pouco

compartilhamento de informações para a busca de interesses próprios ao invés de buscar o

atingimento de objetivo comum (BARBOSA, 2012).

Segundo o entrevistado do espaço La Casa De Pandora (2015), a economia

colaborativa tende a ser feita a partir da abertura dos processos de trabalho, e a divisão de

recursos com as pessoas pode aperfeiçoar os conhecimentos de quem está envolvido com este

tipo de iniciativa. A partir da declaração do entrevistado, há sinais que a concorrência não é

tida como um adversário a ser batido, e sim um possível parceiro, onde um indivíduo pode

aprender com o outro, mesmo que sejam do mesmo ramo profissional.

Está torcendo para que o outro consiga porque pode voltar uma coisa para si. Nosso modelo é mais opensource [...] é um trabalho aberto e o ato de dividir com as pessoas, deixa as pessoas melhor do que elas mesmas e não melhor que outras, então tu compartilhar conhecimento também é uma forma de economia colaborativa (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Para a representante do Nós Coworking (2015), o espaço “funciona como uma oficina

de ideias”, ou seja, indica que neste modelo de organização pode haver forte relação de

92%

8%

Você acredita que há redução de custos ao trabalhar nestes

espaços em comparação às formas de trabalho tradicionais?

Sim

Não

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99

comunicação e interação entre os indivíduos, bem como troca de informações e recursos

tangíveis e intangíveis. Questionada sobre como se percebem as atitudes colaborativas e

espontâneas dos usuários do espaço, a entrevistada afirma que “o ambiente é de integração,

então tem empresas que interagem mais com outras [...] o ambiente é total propício para isso”.

Através da informação dos entrevistados, é possível conceber que os ambientes e seus

usuários trocam informações e partilham conhecimento e, por consequência, aumentam seu

networking. Este fato também indica a maximização na utilização dos recursos disponíveis no

espaço propiciando maiores contatos e trocas de informações. Conforme Fost (2008) e

Leforestier (2009), este processo se configura no uso da capacidade ociosa do espaço, que,

segundo eles, consiste justamente em aproveitar da melhor forma as disponibilidades de

recursos e ferramentas, evitando o desperdício.

Os coworkers de Porto Alegre/RS que responderam ao questionário, ao procurar um

espaço compartilhado e colaborativo de trabalho para desempenhar suas atividades, mostram

opinião que converge com o que os autores e entrevistados relatam, onde a maioria considera

muito importante e indispensável a capacidade de oferta do espaço para a maximização na

utilização dos recursos disponíveis.

Gráfico 14 - Importância da utilização máxima de recursos disponíveis nos espaços

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

O entrevistado no La Casa De Pandora (2015) indica que através do convívio, além da

contribuição e compartilhamento, há a criação de uma relação de divisão e fortalecimento de

valores entre os indivíduos, promovendo o senso de confiança que propicia, como

consequência, maior obtenção de ganhos em colaboração e de produção.

Tem também a geração de confiança por parte da outra pessoa, pois tu estás convivendo com ela e tu podes contar com ela. E aí tu começas a dividir valores e ganhos, e aí também volta também o modelo de economia colaborativa, o qual todos ganham (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

0%5%

40%55%

Maximização na utilização de recursos disponíveis

Pouco importante, dispensável

Indiferente

Importante mas não fundamental

Muito importante, indispensável

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E a partir desta asserção, o representante do espaço La Casa de Pandora acredita que

as organizações irão mudar sua forma de propriedade sobre recursos, sendo mais flexíveis e

abertos na troca de informações e materiais “fortalecendo ainda mais o mercado porque vai

descontruir essa segurança de informação”, condizendo com o que Botsman e Rogers (2010)

afirmam, pois, os bens comuns são ações e produção de bens que visam promover o bem

geral de uma comunidade. Com estas asserções, é possível verificar que os usuários da

economia colaborativa consideram a atual posse extrema de informações como prejudicial à

produtividade, que pode acarretar em processos mais demorados para atingir resultados.

Como o entrevistado identifica, o espaço é formado e estruturado através de uma

organização em rede. Para Botsman e Rogers (2010), as organizações em rede oferecem e

oportunizam diferentes maneiras de comunicação e troca de informações, sendo as principais

contribuintes para aprimorar os serviços existentes, oferecendo maior abrangência e potencial

de uso e, por consequência, evitando o desperdício de recursos. A técnica de estruturação por

rede, segundo Araujo (2008) só pode ser estabelecida graças aos avanços tecnológicos, pois

acrescentando benefícios competitivos, possibilitando a melhor utilização dos recursos

disponíveis.

No espaço TransLab, o representante entrevistado indica que, dentro desta economia,

os processos e iniciativas de contribuição e compartilhamento de recursos, tangíveis ou não,

ocorrem naturalmente entre pessoas que buscam a realização de seus projetos com os serviços

e soluções propostos pelo espaço, o qual também se envolve auxiliando no desenvolvimento

das atividades propostas.

O fato de compartilhar de espaços tende ao exercício do convívio, o qual pode

despertar nos indivíduos um pensamento menos individual e mais a favor do grande grupo no

qual convivem.

Compartilhar espaços já te ensina e te induz a dividir o espaço e ter a convivência. Sobre isso tu começas a analisar que tua convivência gera reflexos em outras pessoas, então teu cuidado d já muda (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Os indivíduos inseridos no Translab trabalham na facilitação da realização destes

processos. Segundo o entrevistado:

O laboratório é um suporte para que estas pessoas se conectem e desenvolvam estes projetos. Como instituição, o laboratório facilita os processos criativos, desenvolvendo junto com as pessoas (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

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Os projetos abordados pelo espaço TransLab apresentam variados temas e demandas,

como “mobilidade urbana, educação, empreendedorismo urbano”, entre outros. O espaço La

Casa De Pandora também apresenta vieses sociais e de engajamento social.

A partir destes exemplos citados, se pode verificar que esta vertente econômica,

quando segue seus fundamentos, tende a apresentar características de espaços compartilhados

e colaborativos que tem maior concentração voltada ao engajamento comunitário e social,

como descreve o autor Grant (2015), o qual afirma que há criação de projetos que incentivam

os indivíduos das organizações envolvidas a voltarem suas atenções à colaboração e

desenvolvimento social, permitindo que transformações ocorram em diversos níveis da

organização, direta ou indiretamente. Este tipo de projeto pode afastar o ego organizacional a

serviço de uma causa maior.

Segundo Barbosa (2012), os frequentadores do formato comunitário usualmente não

exigem a presença de uma estrutura completa nos espaços, uma vez que os membros o

frequentam com o intuito estão voltados a potencializar a socialização e colaboração da

comunidade.

As respostas dadas pelos coworkers de Porto Alegre/RS que responderam ao

questionário, os quais, quando questionados sobre o que consideravam como importante na

apresentação dos projetos dos espaços, a maioria dos indivíduos indicou que projetos voltados

ao engajamento e transformação das relações sociais são importantes ou muito importantes no

processo decisório de integrar um espaço compartilhado e colaborativo.

Gráfico 15 - Importância do engajamento e transformação social que o espaço oferece

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Ainda nesta mesma linha de considerações, os coworkers acreditam que os espaços em

que estão inseridos devem promover eventos tanto voltados às interações comunitárias e

engajamento social quanto voltado ao mercado e business em sua forma pura.

5%10%

53%

32%

Engajamento e transformação social

Pouco importante, dispensável

Indiferente

Importante mas não fundamental

Muito importante, indispensável

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Gráfico 16 - Tipos de eventos importantes em um espaço

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Para o representante do espaço La Casa De Pandora (2015), “quando a gente fala em

economia criativa é como capitalizar coisas criadas, como ser criativo dentro de modelos já

existentes”. Segundo o entrevistado:

Para se tornar sustentável tem que ter renda própria, tem que render para as pessoas que trabalham. E trabalhar com valor, com dinheiro, não é feio, é energia. E isso tem que ser reconhecido. E para atender pessoas, deve ser sustentável também com respeito, para cinco mil pessoas, deve haver banheiro para todo mundo, mesas, ter um som melhor, tem que ser capitalizado (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Ainda neste mesmo tema, o entrevistado representante do espaço La Casa De Pandora

(2015) sintetiza um dos principais predicados da economia colaborativa: “Vamos todos

ganhar para ganhar junto, ao invés de poucos ganhando e muitos não ganhando”, retomando o

conceito de produção de ativos voltados aos bens comuns, ou commons que desvincula “o

comportamento individual baseado no homem egoísta” proposto por Adam Smith

(BENKLER, et al., 2007; BOTSMAN; ROGERS, 2010; HARDT, NEGRI, 2005; SILVEIRA,

2008).

Os entrevistados também foram questionados sobre quais fatores foram utilizados para

baseadas a estruturação dos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, com o intuito

de identificar as diferenças entre estes ambientes e com as organizações tradicionais.

A estrutura e o ambiente do espaço TransLab, por exemplo, “conta com cinco ou seis

empreendimentos” que compõem, além do ecossistema do laboratório, o espaço mais

específico de coworking. Há salas de convívio, assim como de reuniões. Também possui uma

rádio, composta por informações educativas e entrevistas que expõem o cenário atual da

10%

24%

66%

Quais tipos de eventos você julga importante para melhorar o

desempenho de seu trabalho?

Voltados à interação e

engajamento social

Voltados ao mercado e

business

Ambos

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educação, entre outras iniciativas culturais.

Em relação à estrutura do espaço e como os ambientes foram elaborados, a

entrevistada afirma que “tudo foi pensando nos coworkers, em primeiro lugar”. Esta

declaração sugere que o principal fator que um espaço compartilhado e colaborativo de

trabalho leva em conta ao projetar um ambiente são as demandas específicas que os

indivíduos necessitam para executar suas atividades, aliando a proposta organizacional dos

espaços compartilhados e colaborativos de trabalho, coworking spaces.

Há muitas pesquisas que mostram as pessoas precisam se sentir num ambiente bacana, descontraído, elas precisam um momento de desligar e tudo mais, então tudo foi pensado para ser aconchegante (REPRESENTANTE NÓS COWORKING, 2015).

Quanto ao espaço Nós Coworking, foi possível observar que em suas características,

também apresenta predicados de um coworking corporativo, principalmente utilizado por

usuários que julgam importante as instalações dos espaços e presença de serviços de apoio,

bem como na redução de custos (BARBOSA, 2012).

O representante do espaço La Casa De Pandora (2015), é enfático ao afirmar que o

espaço se estrutura a partir núcleo de ações, independente de pessoas específicas. Isto pode

significar que não há um representante fixo do núcleo, remetendo à ideia de flexibilização e

horizontalidade dos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho.

Núcleo de ações e não núcleo de pessoas, há uma preocupação com gestão, com infraestrutura, comunicação e projetos. Quando foi feita uma reunião se decidiu, fulano beltrano será isso, isso foi descontruído de novo porque começou a se engessar (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Sendo assim, os próprios usuários que utilizam o espaço podem atuar na gestão da

casa, pois, segundo o entrevistado, “alguém que entra aqui é cliente dele mesmo, é um espaço

autogerido e ele faz parte da gestão e é cliente também”.

A participação de todas as pessoas nos núcleos de ações parece trazer alguma

vantagem, pois, além da acessibilidade de informações a todos os usuários do espaço, há a

oportunidade dos usuários agregarem mais informações e apresentarem pontos de vista

diferentes, o que pode ampliar a conceituação dos temas abordados nestes núcleos. Para o

representante do La Casa De Pandora (2015), “tu começas a transitar por esses núcleos e

começa a agregar mais, começa a pensar diferente, começa a criar outro campo de visão

daquela pessoa”. Segundo os autores Botsman e Rogers (2010) e Tapscott e Williams (2007),

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esta é uma tendência nas organizações, nas quais irão sofrer transformações de acordo com as

mudanças tecnológicas, demográficas e econômicas, as quais buscam construir novos

modelos produtivos baseados em auto-organização e colaboração.

De maneira geral, os locais compartilhados e colaborativos de trabalho se assemelham

nesta característica, mesmo que existam formalizações mínimas e pontuais.

No espaço Translab, embora todos os indivíduos inseridos tenham ação livre para

propor ideias, a gestão da casa é feita, principalmente, por um grupo de pessoas que

assumiram compromisso direto com o espaço, se organizando em núcleos de gestão, que são

os núcleos de gestão; relações institucionais; curadoria; administrativo-financeiro; difusão e

núcleo de infraestrutura. O entrevistado explica a função de cada um destes núcleos:

Relações institucionais cuidam da parte de conexões do laboratório, aproximando laboratório de universidade, governo, empresas. Curadoria cuida da programação do laboratório como oficinas, palestras, eventos. A programação como um todo. Infraestrutura cuida da questão da casa, a estrutura física, manutenção do espaço. A parte administrativa financeira faz a gestão de contratos, contas pagar e receber. O núcleo de difusão, a parte de comunicação, é a equipe que pensa em como abrir o conhecimento e é gerado dentro do laboratório através das redes sociais, blogs, enfim divulgação (REPRESENTANTE TRANSLAB, 2015).

A partir da contribuição do entrevistado, há demonstrações nestes espaços que

indicam, de maneira geral, a adoção de estrutura aberta de gestão, ainda que em questões

pontuais sejam minimamente mais restritas. Porém, ao mesmo tempo, o espaço enfrenta o

desafio de não enrijecer processos, sendo o mais horizontal possível.

Ainda nesta linha de considerações, como visto antes, a tendência de estruturação

destes espaços é utilizar o mínimo de burocracia possível, simplificando processos, sendo o

mais horizontal possível, bem como aproveitar da melhor forma as relações informais

existentes, evitando ao máximo estabelecer hierarquias e rigidez de processos, porque o mais

importante é identificar as necessidades dos indivíduos, tanto na execução de ações como na

estruturação física do espaço. O representante do espaço acredita que, desta forma, os

processos e mudanças se tornam mais rápidas para melhor vivência dos indivíduos. Segundo

Botsman e Rogers (2010), bem como Benkler (2007), neste modelo econômico há uma

oposição ao tradicional conceito de posse e consumo em massa, pois se baseia no intercâmbio

de recursos e gestão participativa.

A busca não é ser burocratizada, é sempre pensar no todo e discutir da maneira mais informal possível para que se torne célere (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

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Além disso, segundo o mesmo entrevistado, o modelo operacional destes espaços se

baseia nas “relações humanas”. Isso indica que a organização existe e tem seu funcionamento

regido pelas necessidades humanas, atendendo as demandas e desejos dos usuários dos

espaços, quando a mudança é para o bem comum da comunidade.

Segundo entrevista da representante do espaço Nós Coworking (2015), há indícios que

os espaços tendem a buscar melhorias nos processos e no ambiente para que sejam

compatíveis com as necessidades dos usuários, tanto nas relações produtivas de trabalho

quanto nas relações sociais, que, para esta vertente econômica, são interdependentes umas das

outras. Para a entrevistada “tem que ser um ambiente que cause experiências nas pessoas, e

que elas vejam ali uma fábrica de ideias, interação e conexão” e, para isso, ocorrem reuniões

que tratam verificar possíveis melhorias tanto em processos como do espaço físico.

Se reúne a comunidade toda de coworkers para debater sobre assuntos da casa, debater o que está bom, o que não está e o que poderiam melhorar (REPRESENTANTE NÓS COWORKING, 2015).

No espaço há diferentes ambientes para que os usuários possam utilizar no momento

que achar apropriado, sem a necessidade de haver um lugar fixo para o desenvolvimento de

suas atividades.

Quando se pergunta sobre quais são as perspectivas da economia compartilhada e

colaborativa, bem como é visto o futuro dos coworkings spaces, a entrevistada representante

do espaço Nós Coworking (2015) acredita que, através de pesquisas de mercado realizadas,

esta vertente econômica está em expansão e esta configuração de trabalho “vem crescendo”.

O representante do TransLab, indica que o espaço que tem como motivação o viés de

engajamento e transformação social, acredita que

A inovação social acontece quando se consegue mobilizar pessoas através de uma construção de um processo para que essas pessoas promovam algum tipo de iniciativa para a transformação social. Este é o papel do TransLab, conectar com os negócios das empresas, facilitando criação de estratégias para colocar o negócio dos clientes em contato com essa questão (TRANSLAB, 2015).

Esta declaração remete ao que Barbosa (2012) afirma quando os membros que

frequentam este modelo de espaço compartilhado e colaborativo de trabalho têm o intuito de

voltar suas atenções à socialização e colaboração da comunidade. A partir deste trecho da

entrevista, pode-se interpretar que a economia colaborativa tende a agregar valor aos olhos da

sociedade através do desenvolvimento de trabalho e projetos em cima de determinado produto

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ou serviço, fazendo com que as pessoas se sintam conectadas aos mesmos, por meio da

empatia criada pelos projetos elaborados por estes espaços.

Para o representante do La Casa De Pandora (2015), esta economia “gira, pois, todos

tem dinheiro para se sustentar, todos conseguem movimentar a economia”, demonstrando

significativo otimismo na sustentação e melhores perspectivas de futuro da economia

colaborativa. Ainda nesta linha de considerações o entrevistado afirma que “estes espaços vão

acabar fortalecendo ainda mais o mercado porque vai descontruir essa segurança de

informação”.

Eu acho que a geração que está vindo já está caminhando para isso. E vejo também o setor de ensino, como faculdades, buscando esse modelo novo porque está vendo que é funcional (REPRESENTANTE LA CASA DE PANDORA, 2015).

Ainda em relação ao futuro da economia colaborativa e o funcionamento destas

organizações, o entrevistado avalia o momento atual como fundamental para o fortalecimento

do movimento, pois considera também as novas gerações e a facilidade na troca de

informações como importantes elementos para o sucesso deste tipo de iniciativa, além da

busca de estudos sobre esta movimentação.

Conforme as declarações dos entrevistados, é possível concordar com a asserção de

King (2015), na qual prevê, dentro de um período de três anos, até um milhão de usuários

frequentando espaços compartilhados e colaborativos de trabalho ao redor do mundo.

Tendo em vista o relato dos entrevistados em relação à de redução de custos e

desenvolvimento de networking bem como da possibilidade de ação livre dos indivíduos para

executarem suas tarefas, não é difícil que a previsão de King (2015) se confirme, uma vez que

um novo olhar sobre as relações sociais e formas de consumo estão cada vez mais em pauta

nas sociedades e nas organizações.

As respostas dadas pelos coworkers de Porto Alegre/RS que responderam ao

questionário ainda indicam outras características desejáveis em um espaço para que seja

atrativo e favoreça o ingresso nestas organizações.

A seguir, no quadro 11, são apresentados os itens julgados como importantes sobre as

demandas dos usuários dos espaços, em uma escala de importância, em seguida uma análise

referente a estes resultados obtidos, que indicam o que os coworkers que responderam ao

questionário buscam e consideram um bom espaço compartilhado e colaborativo de trabalho.

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Quadro 11 - Itens importantes de um espaço na opinião dos coworkers

Pouco importante, dispensável

Indiferente Importante mas não fundamental

Muito importante, indispensável

Engajamento e transformação social

5,30% 10,50% 52,60% 31,60%

Integração à projetos do espaço

2,60% 10,50% 23,70% 63,20%

Verificação da satisfação dos usuários em relação ao espaço

0% 7,90% 26,30% 65,80%

Identificação com a forma de gestão do espaço

0% 7,90% 31,60% 60,50%

Horários flexíveis 0% 5,30% 36,80% 57,90%

Infraestrutura (cópias, cozinha, internet, sala de reuniões, etc.)

0% 2,60% 26,30% 71,10%

Formalização e burocracia para organização

10,50% 21,10% 52,60% 15,80%

Maximização na utilização de recursos disponíveis

0% 5,30% 39,50% 55,30%

Networking 0% 5,30% 31,60% 63,20%

Preços acessíveis 0% 7,90% 47,40% 44,70%

Fonte: elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa

Um aspecto geral que deve ser observado está na inclinação dos usuários destes

espaços em indicar que estes são considerados válidos quando não oprimem as formas de

relacionamento, propiciando o aprimoramento das relações sociais e o networking entre seus

frequentadores. Assim como o espaço deve necessariamente prover infraestrutura completa e

verificar a satisfação dos coworkers em relação na forma de gestão e relacionamento do

espaço como um todo. Os usuários também sinalizam que a identificação de suas

individualidades e a forma de se organizar e gestão destes espaços devem ser compatíveis

para o funcionamento da proposta de produção e trabalho.

De acordo com o quadro apresentado, pequena parcela dos coworkers que

responderam ao questionário acredita que é dispensável a apresentação do espaço sobre

engajamento e transformação social. Isto pode indicar, ao visualizar a escolha de mais de

oitenta por cento dos respondentes, que são indivíduos que consideram a transformação das

relações sociais como item importante neste tipo de iniciativa, embora indiquem que não seja

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um elemento indispensável para ingressar em um local compartilhado e colaborativo de

trabalho.

É possível destacar que mais de oitenta por cento dos coworkers que responderam o

questionário indicaram que o trabalho de integração do espaço para participação dos usuários

aos projetos do mesmo é um fator bastante importante, alcançando um dos maiores índices

percentuais da pesquisa.

A verificação, preocupação do espaço com a satisfação de seus usuários em relação ao

espaço como um todo é tida como muito importante e indispensável, alcançando o maior

índice percentual da pesquisa, com setenta e um por cento de respondentes da opção “muito

importante, indispensável”.

Itens como horários flexíveis; infraestrutura completa e identificação com as formas

de gestão e relacionamento dos espaços foram considerada, pela maioria dos coworkers,

muito importante e indispensável como um dos fatores decisivos na escolha de um espaço

compartilhado e colaborativo de trabalho.

Os usuários acreditam que para melhor organização do espaço, alguma formalização

de processos e burocracia pode ser importante, porém não são ferramentas fundamentais. A

escolha por esta alternativa indica que os coworkers acreditem que são instrumentos

importantes quando utilizados pontualmente, para evitar enrijecimento e oprimir a livre ação

dos usuários.

É possível identificar que a maximização da utilização de recursos é, no mínimo, um

componente importante para considerar o ingresso em um espaço compartilhado e

colaborativo de trabalho, de acordo com a resposta de mais noventa por cento dos coworkers.

Estas respostas concordam com o que afirmam os autores Botsman e Rogers (2010) sobre o

desperdício da capacidade ociosa, ou seja, os espaços buscam aproveitar o máximo de

recursos disponíveis.

A oportunidade de fortalecimento de relações pessoais e desenvolvimento de

networking são considerados como item muito importante e indispensável para os coworkers,

alcançando um dos maiores índices percentuais da pesquisa.

Praticamente metade dos noventa por cento, os quais responderam que os preços

praticados pelos espaços é um item importante para decidir ingressar em uma organização

deste tipo, ficou dividida entre ser um fator indispensável ou importante, mas não

fundamental.

Em seguida, após a conclusão da análise de dados junto ao referencial teórico e

respostas obtidas através de entrevistas, observação de ambiente e análise dos gráficos obtidos

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através do questionário, é possível avançar para as conclusões e considerações finais acerca

do estudo, retomando seus objetivos e a análise de dados, bem como indicar os fatores

limitantes da pesquisa e sugerir oportunidades de pesquisa acerca deste tema inovador.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para dar início das considerações finais, é importante relembrar o objetivo principal

desta pesquisa, que é compreender as diferenças e potencialidades dos espaços colaborativos

de trabalho, coworking spaces, em comparação com estruturas organizacionais tradicionais.

Esta proposta de pesquisa foi aberta em quatro objetivos específicos que retomam aspectos da

estrutura e funcionamento das organizações tradicionais de trabalho bem como identificar as

estruturas e o funcionamento dos espaços compartilhados e colaborativos de trabalho para

posterior comparação entre estes tipos de organizações. Após estes, o último objetivo

específico consiste em analisar reflexos e potencialidades dos espaços colaborativos e

verificar os impactos nas relações sociais e produtivas de trabalho.

Retomar aspectos da estrutura e funcionamento das organizações tradicionais, bem

como identificar estes itens nos espaços colaborativos e compartilhados de trabalho foram os

dois primeiros objetivos específicos atingidos, quando se apresentou literatura referente aos

assuntos e, também, quando houve visitação dos ambientes e aplicação de entrevistas,

observação e questionários.

Após a coleta, tabulação e análise de dados, foi possível atingir, na apresentação de

resultados, os dois últimos objetivos específicos, que consistiam na comparação destes dois

tipos de organização e analisar reflexos e potencialidades dos espaços colaborativos e

verificar os impactos nas relações sociais e produtivas de trabalho

7.1 SÍNTESE CONCLUSIVA

As empresas tradicionais, de maneira geral, são hierarquizadas, rígidas e burocráticas,

desconsiderando as necessidades intrapessoais de seus colaboradores, oprimindo sua livre

ação, o que pode ser uma desvantagem, pois organizações abertas tendem a ser mais

inovadoras e se adaptar melhor às mudanças de cenários. A vantagem apontada pelo

entrevistado está na eficiência operacional e produtiva.

Os espaços compartilhados e colaborativos de trabalho observados apresentaram uma

estruturação similar às propostas de organizações horizontais e orgânicas. A comunicação e

participação de todos os frequentadores são incentivadas e desejadas. Isto indica que, ao

contrário das organizações tradicionais, são espaços baseados a partir das necessidades dos

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indivíduos, tendo sua estruturação e mudanças fundamentadas nas demandas dos seus

usuários e da sociedade em geral. As vantagens apresentadas foram o aumento da rede

profissional de contatos, redução de custos por conta da divisão da estrutura física entre

usuários, bem como indica ser um ambiente mais livre e leve em relação às organizações

tradicionais. Uma desvantagem apontada pelos entrevistados pode ser considerada na

dificuldade de adaptação a este modelo por parte de pessoas que estão acostumadas e

doutrinadas a trabalhar nas organizações tradicionais.

No decorrer deste estudo, foi possível notar que as pessoas demandam de necessidades

que as atuais estruturas organizacionais baseadas na burocracia e estruturas rígidas não se

mostram como as mais indicadas para suportar tais questões, gerando conflitos e

incompatibilidades entre empresas e seus colaboradores. Por isso, os indivíduos estão

buscando novas formas de se organizar e produzir, alicerçando seus processos de acordo com

a forma que se relacionam no âmbito organizacional.

As necessidades que surgem estão baseadas pela pouca disposição de recursos das

pessoas e na busca da redução de custos, fato que pode ser ligado às constantes crises

econômicas que o mundo vem sofrendo e, principalmente, no aprimoramento e fortalecimento

das relações humanas e sociais, possivelmente por conta do vislumbre das pessoas que estão

percebendo a cada dia que o sistema tradicional hierarquizado das organizações seja rígido

demais para atender o bem-estar individual ao preocupar-se apenas com a lucratividade e

atingimento de metas e objetivos, sendo assim, este modo de organizar ignora as necessidades

intrínsecas de relacionamento entre os indivíduos que fazem parte das organizações, o que, no

decorrer do tempo, por vir a causar frustrações e consequente aumento dos níveis de

desmotivação por parte dos funcionários.

Este novo modelo de economia e organização tem apresentado diversos itens que

corroboram para voltar maiores atenções a este formato, tais como o provimento de melhorias

no networking, facilidade na obtenção de novas opiniões e ideias acerca de um mesmo

assunto, possibilitando novas soluções, entre serviços e produtos, bem como oferece um

desafogo das imposições costumeiramente opressoras organizacionais por conta da busca pela

horizontalidade e organicidade, nos quais são estruturações que este modelo se fundamenta.

De maneira geral, as pessoas que convivem nestes espaços e este modelo

compartilhado e colaborativo de estruturação que as organizações visitadas apresentam, se

nota que há uma busca incessante para utilizar da melhor forma possível o potencial dos

recursos físicos e intelectuais bem como aproveitamento das relações humanas para executar

processos e atingir objetivos.

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112

Um fator motivacional pode ser associado às novas gerações entrantes do mercado de

trabalho, que buscam lucrar, porém sem oprimir seus anseios e necessidades básicas, evitando

a competição desenfreada, buscando conciliar o lucro, a eficiência junto da sustentabilidade e

ganhos coletivos.

De acordo com os dados coletados através de entrevistas e observação de ambientes

para comparação entre os modelos objetos de estudo, foi possível obter algumas importantes

constatações para identificar as demandas e efetuar comparação coma as tradicionais

características apresentadas até hoje pelas empresas verticalizadas.

Em todos os ambientes visitados é possível notar um alinhamento entre as propostas

dos espaços junto da comunidade que frequenta os mesmos. O engajamento e transformação

social, bem como integração aos projetos que o espaço participa são tidos como importantes

ou muito importantes e indispensáveis para este grupo de indivíduos.

Esta mesma comunidade respondente acredita que para integrar um espaço

compartilhado e colaborativo de trabalho deva se identificar com a forma da gestão (ou auto-

gestão) do espaço bem como da verificação da satisfação dos usuários em relação ao espaço.

Esta população aparentemente busca por trabalhar em horários flexíveis e acredita que

a formalização e burocracia podem ser uteis, desde que usada de forma parcimoniosa e em

momentos pontuais, visto que a maioria respondente do questionário indicou que o item pode

ser importante porem não fundamental para o funcionamento dos espaços.

É possível notar também que estes indivíduos buscam, sim, o lucro, porém a forma de

buscar o sucesso é diferente da proposta tradicional. Há, além disso, preocupação com a

sustentabilidade e bem-estar social, buscando encontrar e visualizando significados que seu

trabalho propõe. Para eles, a empresa deve ter, além do lucro, um lado humanitário bem

desenvolvido, tanto internamente, com seus colaboradores, quanto externamente, com seu

público-alvo e demais pessoas atingidas por seu produto, seja de maneira direta ou indireta.

Este modelo objeto do estudo permite a reflexão sobre temas como distribuição de

riqueza bem como torna os indivíduos aptos a repensarem estratégias dentro das próprias

organizações tradicionais que compactuem com estas novas demandas dos indivíduos.

7.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

A pesquisa, embora produtiva, possuiu alguns aspectos limitadores. Itens como pouco

tempo para a execução de coleta e análise dos dados e, por consequência, amostragem

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pequena para observação, composta de um ambiente tradicional e três ambientes

compartilhados e colaborativos dentre todos dezenove mapeados em Porto Alegre, gerando

uma descrição das características gerais, atenuando possíveis diferenças entre todos os

espaços, assim como a disponibilidade da comunidade de coworkers que respondeu ao

questionário para responder de maneira voluntária o questionário online foram itens limitantes

para a execução da pesquisa, embora este último item tenha apresentado um número

satisfatório de uma comunidade específica considerando o número de espaços compartilhados

e colaborativos em Porto Alegre/RS.

7.3 SUGESTÃO PARA PESQUISAS FUTURAS

Para elucidar ainda mais assuntos sobre estas novas abordagens organizacionais e por

ser um estudo exploratório, é possível efetuar novos estudo sobre os reflexos e

potencialidades das relações sociais e produtivas neste tipo de organização e o que podem

oferecer às organizações tradicionais, porém com maior número de amostragem tanto na

quantia de ambientes e entrevistas a ser realizadas quanto na quantidade de coworkers para

responder os questionários. Também é possível pesquisar outros itens acerca deste mesmo

tema, visto sua recente criação no mundo e aparição no município. Também pode ser

interessante a pesquisa do termo e o funcionamento do capitalismo cognitivo, ou capitalismo

consciente; ou também explorar assuntos acerca da inovação social e sustentabilidade que dão

continuidade ao enfoque de uma nova visão econômica acerca das necessidades dos

indivíduos no âmbito pessoal e organizacional bem como da estruturação das empresas,

opondo-se às ideologias dogmáticas das organizações arbitrárias e puramente rígidas,

tradicionais e verticalizadas.

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APÊNDICE A – Quadro Teórico-Analítico

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ENTREVISTA ENTREVISTAOBSERVAÇÃO DE AMBIENTE

QUESTIONÁRIO

Espaços Tradicionais CoworkersRelações hierárquicas e divisão de tarefas

Como é a divisão hierárquica, as tomadas de decisão e divisão de tarefas?

Como é a divisão hierárquica, as tomadas de decisão e divisão de tarefas?

Como você percebe as hierarquia e autoridade dos gestores do espaço?

Formalização e processos

Como são os processos para execução de tarefas? Rígidos, padronizados, burocráticos, simplificados, flexíveis, ação livre...

Como são os processos para execução de tarefas? Rígidos, padronizados, burocráticos, simplificados, flexíveis, ação livre...

Como você percebe as normas e regras a serem cumpridas no espaço e os processos de execução de tarefas?

Transformações estruturais

De que forma as empresas se adaptam em relação ao cenários externos (político, econômico ou social)? Há mudanças estruturais (física ou gestão)?

De que forma o espaço se adpta em relação ao cenários externos (político, econômico ou social)? Há mudanças estruturais (física ou gestão) ou o espaço é indepentente destes fatores?

Vantagens e desvantagens

Quais vantagens e desvantagens de trabalhar em uma empresa com este tipo de estrutura organizacional?

Quais vantagens e desvantagens de trabalhar em um espaço com este tipo de estrutura organizacional?

O espaço sofre modificações em seu funcionamento diante dos cenários externos?

Abordagem Analítica

TEMACATEGORIAS DE ANÁLISE

Espaços compartilhados e colaborativosELEMENTOS E ESTRUTURAS

ORGANIZACIONAIS

Observar grau de formalização na comunicação e como se dão as relações entre indivíduos buscando encontrar presença de hierarquias e formas de execução de processos.

Direcionadores para análise

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METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO

Como o desenvolvimento e comportamento cultural da sociedade pode vir a interferir nos objetivos das empresas?

Como o desenvolvimento e comportamento cultural da sociedade pode vir a interferir nos objetivos das espaços?

Observar comportamento dos indivíduos e atividades dos espaços

INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES SOCIAIS

Abordagem organizacional

A estruturação é feita a partir do comportamento dos colaboradores, a busca pelo objetivo da empresa se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores?

A estruturação é feita a partir do comportamento dos usuários a busca pelo objetivo da espaço se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores?

Verificar se estruturação é feita considerando o comportamento dos colaboradores, a busca pelo objetivo da empresa se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores.

Você acredita que o espaço foi estruturado a partir do comportamento de seus usuários?

Influência das pessoas

Há alguma forma em que as pessoas e suas experências de vida e sociais podem vir a transformar algo nesta organização?

Há alguma forma em que as pessoas e suas experências de vida e sociais podem vir a transformar algo nesta organização?

Observar participação dos indivíduos na proposição de ideias bem como o fazem.

Que influência as pessoas e suas vivências pessoais têm sobre possíveis alterações no funcionamento do espaço?

Influência da organização

Como as empresas podem vir a influenciar sobre a vida pessoal e social de quem a mesma atinge direta ou indiretamente?

Como a espaço pode vir a influenciar sobre a vida pessoal de quem a mesma atinge direta ou indiretamente?

Que influência este espaço teve sobre suas relações pessoais e sua forma de enxergar a sociedade?

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INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO E RELAÇÕES SOCIAIS

Senso de autonomia

Qual o grau de autonomia dos colaboradores em suas tarefas? Os interesses da organização interferem em sua autonomia?

Qual o grau de autonomia dos usuários em suas tarefas? Os interesses da organização interferem em sua autonomia?

Em seu entendimento, qual o grau de influência que o espaço tem nas relações pessoais fora do ambiente do espaço de trabalho.?

Senso de autonomia

Atitudes espontâneas e colaborativas são vistas frequentemente nesta organização?

Atitudes espontâneas e colaborativas são vistas frequentemente nesta organização?

Relações informais Como a empresa lida com o formal e o informal nas relações entre as pessoas?

Como a espaço lida com o formal e o informal nas relações entre as pessoas?

Comportamento e atitudes

Qual o tipo de comportamento e atitudes que a empresa espera de um colaborador?

Qual o tipo de comportamento e atitudes que o espaço espera de um coworker?

ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING

Oportunidade Conhece a economia colaborativa? O que acha?

Como surgiu a ideia da criação deste espaço?

Senso de propriedade e compartilhamento

Neste contexto, como é o senso de propriedade e o intercâmbio de recursos?

Observar processos, reuniões e participações com a finalidade de identificar características fundamentadas no referencial teórico.

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ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING

Relacionamento profissional

Como é o relacionamento profissional de quem está inserido nesta economia? Há acréscimo em sua rede profissional?

Estrutura Observar para que e para quem são as propostas dos espaços, bem como o objetivo das mesmas e a forma que os usuários contribuem para os espaços, como sugestões de melhorais, etc.

Quais itens mais importantes que um espaço de usuários deve oferecer? Quais tipos de eventos você julga importante para melhorar o desempenho de seu trabalho?

Direcionamento Para quem esta organização é voltada?

Qual sua área de atuação? Há quanto tempo você frequenta este espaço?

Custos Em sua opinião, os custos de quem escolhe pelo coworking seria maior ou menor se optasse pelas formas tradicionais?

Você acredita que há redução de custos ao trabalhar nestes espaços em comparação às formas de trabalho tradicionais?

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ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING

Relacionamento Como é o envolvimento e de que forma o espaço interage com o seu usuário

Contribuição e Como é a contribuição e o compartilhamento de recursos entre os colaboradores da empresa? Atitudes colaborativas, informações, materiais...

Como é a contribuição e o compartilhamento de recursos entre os usuários do espaço? Atitudes colaborativas, informações, materiais...

Como é sua interação com os demais usuários? Qual a importância do networking?

compartilhamento Em seu entendimento, há mais competitividade ou colaboração entre os funcionários nas empresas verticalizadas?

Contribuem de alguma forma para o trabalho de outros coworkers?

Expectativas Qual sua percepção para o futuro das empresas tradicionais verticalizadas? Isso pode mudar?

Qual sua percepção de futuro para a economia colaborativa e coworking?

O resultado final de seu produto/serviço, após ingressar em um espaço colaborativo, ficou

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APÊNDICE B – Roteiros pré-estabelecidos de entrevistas

Roteiro para o representante da visão das organizações tradicionais

1. Como são a divisão hierárquica, as tomadas de decisão e divisão de tarefas?

2. Como são os processos para execução de tarefas? Rígidos, padronizados, burocráticos, simplificados, flexíveis, ação livre...

3. De que forma as empresas se adaptam em relação aos cenários externos (político, econômico ou social)? Há mudanças estruturais (física ou gestão)?

4. Quais vantagens e desvantagens de trabalhar em uma empresa com este tipo de estrutura organizacional?

5. Como o desenvolvimento e comportamento cultural da sociedade podem vir a interferir nos objetivos das empresas?

6. A estruturação é feita a partir do comportamento dos colaboradores, a busca pelo objetivo da empresa se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores?

7. Há alguma forma em que as pessoas e suas experiências de vida e sociais podem vir a transformar algo nesta organização?

8. Como as empresas podem vir a influenciar sobre a vida pessoal e social de quem a mesma atinge direta ou indiretamente?

9. Qual o grau de autonomia dos colaboradores em suas tarefas? Os interesses da organização interferem em sua autonomia?

10. Atitudes espontâneas e colaborativas são vistas frequentemente nesta organização?

11. Como a empresa lida com o formal e o informal nas relações entre as pessoas?

12. Qual o tipo de comportamento e atitudes que a empresa espera de um colaborador?

13. Conhece a economia colaborativa? O que acha?

14. Como é a contribuição e o compartilhamento de recursos entre os colaboradores da empresa? Atitudes colaborativas, informações, materiais...

15. Em seu entendimento, há mais competitividade ou colaboração entre os funcionários nas empresas verticalizadas?

16. Qual sua percepção para o futuro das empresas tradicionais verticalizadas? Isso pode mudar?

Roteiro para os representantes da visão das organizações compartilhadas e colaborativas

1. Como são a divisão hierárquica, as tomadas de decisão e divisão de tarefas?

2. Como são os processos para execução de tarefas? Rígidos, padronizados, burocráticos, simplificados, flexíveis, ação livre...

3. De que forma o espaço se adapta em relação aos cenários externos (político, econômico ou social)? Há mudanças estruturais (física ou gestão) ou o espaço é independente destes fatores?

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4. Quais vantagens e desvantagens de trabalhar em um espaço com este tipo de estrutura organizacional?

5. Como o desenvolvimento e comportamento cultural da sociedade podem vir a interferir nos objetivos dos espaços?

6. A estruturação é feita a partir do comportamento dos usuários a busca pelo objetivo do espaço se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores?

7. Há alguma forma em que as pessoas e suas experiências de vida e sociais podem vir a transformar algo nesta organização?

8. Como o espaço pode vir a influenciar sobre a vida pessoal de quem a mesma atinge direta ou indiretamente?

9. Qual o grau de autonomia dos usuários em suas tarefas? Os interesses da organização interferem em sua autonomia?

10. Atitudes espontâneas e colaborativas são vistas frequentemente nesta organização?

11. Como o espaço lida com o formal e o informal nas relações entre as pessoas?

12. Qual o tipo de comportamento e atitudes que o espaço espera de um coworker?

13. Como surgiu a ideia da criação deste espaço?

14. Neste contexto, como é o senso de propriedade e o intercâmbio de recursos?

15. Como é o relacionamento profissional de quem está inserido nesta economia? Há acréscimo em sua rede profissional?

16. Como é a estrutura física do espaço?

17. Para quem esta organização é voltada?

18. Em sua opinião, os custos de quem escolhe pelo coworking seria maior ou menor se optasse pelas formas tradicionais?

19. Como é o envolvimento e de que forma o espaço interage com o seu usuário?

20. Como é a contribuição e o compartilhamento de recursos entre os usuários do espaço? Atitudes colaborativas, informações, materiais...

21. Contribuem de alguma forma para o trabalho de outros coworkers?

22. Qual sua percepção de futuro para a economia colaborativa e coworking?

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APÊNDICE C – Questionário

1. Qual sua área de atuação? *

o Artes cênicas, musicais ou visuais

o Biológicas, naturais e agrárias

o Comunicação e informação

o Economia, gestão e negócios

o Engenharia e arquitetura

o Exatas e tecnológicas

o Humanas e sociais

o Saúde

2. Há quanto tempo você frequenta este espaço? *

o Até 6 meses

o Entre 6 e 12 meses

o Mais de 12 meses

3. Como você percebe as hierarquias e processos no espaço? *

Baixa formalização e

rigidez Formalização pontual

Muita formalização e rigidez

Hierarquia e autoridade dos gestores do espaço

Normas e regras a serem cumpridas no espaço

Processos de execução de tarefas

4. Você acredita que o espaço foi estruturado a partir do comportamento de seus usuários? *

o Sim, estruturado a partir do comportamento de seus usuários

o Não, o objetivo do espaço é independente do comportamento dos usuários

5. O espaço sofre modificações em seu funcionamento diante dos cenários externos? *

o Sim

o Não

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6. Que influência as pessoas e suas vivências pessoais têm sobre possíveis alterações no funcionamento do espaço? *

o Baixa influência das experiências pessoais

o Indiferente às influências pessoais

o Muita influência das experiências pessoais

7. Que influência este espaço teve sobre suas relações pessoais e sua forma de enxergar a sociedade? * Em seu entendimento, qual o grau de influência que o espaço tem nas relações pessoais fora do ambiente do espaço de trabalho.

o Baixa influência

o Indiferente às influências

o Muita influência

8. Quais tipos de eventos você julga importante para melhorar o desempenho de seu trabalho? *

o Voltados à interação e engajamento social

o Voltados ao mercado e business

o Ambos

9. Como é sua interação com os demais usuários? *

o Pouca interação, baixa troca de recursos e ideias

o Interação moderada, troca de recursos e ideias apenas quando solicitado

o Muita interação, troca de recursos e ideias espontaneamente

10. Quais itens mais importantes que um espaço de usuários deve oferecer? * Preencher na escala, conforme seu julgamento quanto à importância do item.

Pouco importante, dispensável

Indiferente Importante, mas não fundamental

Muito importante,

indispensável

Engajamento e transformação social

Formalização e burocracia para organização

Horários flexíveis

Identificação com a forma de gestão do espaço

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Pouco importante, dispensável

Indiferente Importante, mas não fundamental

Muito importante,

indispensável

Infraestrutura (cópias, cozinha, internet, sala de reuniões, etc.)

Integração à projetos do espaço

Maximização na utilização de recursos disponíveis

Networking

Preços acessíveis

Realização de eventos sobre economia colaborativa

Verificação da satisfação dos usuários em relação ao espaço

11. O resultado final de seu produto/serviço, após ingressar em um espaço colaborativo, ficou *

o Abaixo das expectativas

o Dentro das expectativas

o Acima das expectativas

12. Você acredita que há redução de custos ao trabalhar nestes espaços em comparação às formas de trabalho tradicionais? * Formas de trabalho tradicionais: estrutura física própria, investimento em sala própria (aluguel), internet, etc., gastos operacionais.

o Sim

o Não

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APÊNDICE D – Roteiro de Observação

Tema

OBSERVAÇÃO

Verificar se estruturação é feita considerando o comportamento dos colaboradores, a busca pelo objetivo da empresa se sobrepõe, ou aliada aos dois fatores.

Observar grau de formalização na comunicação e como se dão as relações entre indivíduos buscando encontrar presença de hierarquias e formas de execução de processos.

Observar comportamento dos indivíduos e atividades dos espaços

Observar participação dos indivíduos na proposição de ideias bem como o fazem.

Observar processos, reuniões e participações com a finalidade de identificar características fundamentadas no referencial teórico.

Observar para que e para quem são as propostas dos espaços, bem como o objetivo das mesmas e a forma que os usuários contribuem para os espaços, como sugestões de melhorais, etc.

ELEMENTOS E ESTRUTURAS

ORGANIZACIONAIS

METÁFORAS DE ORGANIZAÇÃO

INFLUÊNCIAS DA ORGANIZAÇÃO NO

COMPORTAMENTO E RELAÇÕES SOCIAIS

ECONOMIA COLABORATIVA E COWORKING